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Revista de Teo Online ISSN 2318 RTP 3(1) A orias e Práticas Edu 8-4760 PE ) Abril –Junho 2014 April – June 2014 1 ucacionais

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Revista de Teorias e Práticas Educacionais

Online ISSN 2318-4760

RTPE

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Abril –Junho 2014April – June 2014

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Revista de Teorias e Práticas Educacionais

Online ISSN 2318-4760

RTPE

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Abril –Junho 2014April – June 2014

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Revista de Teorias e Práticas Educacionais

Online ISSN 2318-4760

RTPE

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Abril –Junho 2014April – June 2014

Vol.3, n.1, Abr-Jun 2014, pp. 05-32 2

Título / Title: Revista de Teorias e Práticas EducacionaisTítulo abreviado/ Short title: Rev. Teor. Prát. Educ.Sigla/ Acronym: RTPEEditora / Publisher: Master EditoraPeriodicidade / Periodicity: Trimestral / QuarterlyIndexação / Indexed: Latindex, Google AcadêmicoInício / Start: Outubro, 2013/ October, 2013

Editor-Chefe / Editor-in-Chief:

Prof. Dr. Mário dos Anjos Neto Filho [MS; Dr; PhD]

O periódico Revista de Teorias e PráticasEducacionais – RTPE é uma publicaçãoda Master Editora para divulgação deartigos científicos apenas em mídiaeletrônica, indexada à base de dadosLatindex e Google Escolar.Todos os artigos publicados foramformalmente autorizados por seus autores esão de sua exclusiva responsabilidade.Asopiniões emitidas pelos autores dosartigospublicados não correspondem neces-sariamente, às opiniões da Master Editora,do periódico RTPEe/ou de seu conselhoeditorial.

The “Revista de Teorias e PráticasEducacionais – RTPE” is an editorialproduct of Master Publisher aimed atdisseminating scientific articles only inelectronic media, indexed inLatindexandGoogle Scholardatabases.All articles published were formallyauthorized by the authors and are your soleresponsibility. The opinions expressed bythe authors of the published articles do notnecessarily correspond to the opinions ofMaster Publisher, the RTPE and/or itseditorial board.

Vol.3, n.1, Abr-Jun 2014, pp. 05-32 2

Título / Title: Revista de Teorias e Práticas EducacionaisTítulo abreviado/ Short title: Rev. Teor. Prát. Educ.Sigla/ Acronym: RTPEEditora / Publisher: Master EditoraPeriodicidade / Periodicity: Trimestral / QuarterlyIndexação / Indexed: Latindex, Google AcadêmicoInício / Start: Outubro, 2013/ October, 2013

Editor-Chefe / Editor-in-Chief:

Prof. Dr. Mário dos Anjos Neto Filho [MS; Dr; PhD]

O periódico Revista de Teorias e PráticasEducacionais – RTPE é uma publicaçãoda Master Editora para divulgação deartigos científicos apenas em mídiaeletrônica, indexada à base de dadosLatindex e Google Escolar.Todos os artigos publicados foramformalmente autorizados por seus autores esão de sua exclusiva responsabilidade.Asopiniões emitidas pelos autores dosartigospublicados não correspondem neces-sariamente, às opiniões da Master Editora,do periódico RTPEe/ou de seu conselhoeditorial.

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Vol.3, n.1, Abr-Jun 2014, pp. 05-32 2

Título / Title: Revista de Teorias e Práticas EducacionaisTítulo abreviado/ Short title: Rev. Teor. Prát. Educ.Sigla/ Acronym: RTPEEditora / Publisher: Master EditoraPeriodicidade / Periodicity: Trimestral / QuarterlyIndexação / Indexed: Latindex, Google AcadêmicoInício / Start: Outubro, 2013/ October, 2013

Editor-Chefe / Editor-in-Chief:

Prof. Dr. Mário dos Anjos Neto Filho [MS; Dr; PhD]

O periódico Revista de Teorias e PráticasEducacionais – RTPE é uma publicaçãoda Master Editora para divulgação deartigos científicos apenas em mídiaeletrônica, indexada à base de dadosLatindex e Google Escolar.Todos os artigos publicados foramformalmente autorizados por seus autores esão de sua exclusiva responsabilidade.Asopiniões emitidas pelos autores dosartigospublicados não correspondem neces-sariamente, às opiniões da Master Editora,do periódico RTPEe/ou de seu conselhoeditorial.

The “Revista de Teorias e PráticasEducacionais – RTPE” is an editorialproduct of Master Publisher aimed atdisseminating scientific articles only inelectronic media, indexed inLatindexandGoogle Scholardatabases.All articles published were formallyauthorized by the authors and are your soleresponsibility. The opinions expressed bythe authors of the published articles do notnecessarily correspond to the opinions ofMaster Publisher, the RTPE and/or itseditorial board.

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Prezado leitor,

Temos a imensa satisfação de lançar a terceira edição, volume número um,do periódico Revistade Teorias e Práticas Educacionais - RTPE

AMaster Editora e o periódico RTPEagradecem aos Autores dos artigos que abrilhantam estaedição pela confiança depositada neste projeto. O periódico RPTE é um dos primeiros “openaccess journal” do Brasil, representando a materialização dos elevados ideais da MasterEditora acerca da divulgação ampla e irrestrita do conhecimento científico produzido pelasdiversas ciências relacionadas à área da Educação.

Aos autores de artigos científicos que se enquadram em nosso escopo, envie seus manuscritospara análise de nosso conselho editorial!

Nossa quartaedição estará disponível a partir do mês de Julho de 2014!

Boa leitura!Mário dos Anjos Neto Filho

Editor-ChefeRTPE

Dear reader,

We have the great pleasure to launch the third edition, volume one, of the Revista de Teorias e PráticasEducacionais – RTPE.

The Master Publisher and the RTPE are very grateful to the authors of the articles that brighten this edition.TheRTPE is one of the early open access journal in Brazil, representing the materialization of the lofty ideals ofMaster Publisher about the broad and unrestricted dissemination of scientific knowledge produced by the severalareas of Education.

Authors of scientific articles that are interested in the scope of RTPE, send their manuscripts for consideration of oureditorial board!

Our fouth edition will be available in 2014, July

Happy reading!Mário dos Anjos Neto Filho

Editor-in-ChiefRTPE

Vol.3, n.1, Abr-Jun 2014, pp. 05-32 4

Programas Educacionais

ATUAÇÃO DE ENFERMAGEM EM SERVIÇO AMBULATORIAL DE TRAUMATO-ORTOPEDIA.VANESA NALIN, JOANA BERNARDO MACHADO, SÂMIA CARINE REICHERT, ESLAINEFIGUEREDO DOS SANTOS, ROSANA AMORA ASCARI, JUNIOR PATRIK ALVES, GILMARGURALSKI, CRISTIANO ROSA DOS SANTOS OLIVEIRA ....................................................05

Pesquisa de Campo

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: O IMPACTO NAESCOLA, NA FAMÍLIA E NA SOCIEDADE.ROSIMEIRE APARECIDA MONTEIRO SILVEIRA,SONIA CRISTINA SOARES DIASVERMELHO .............................................................................................................................. 12

RELAÇÕES ENTRE SAÚDE E TRABALHO DOCENTE EM UMA ESCOLA PÚBLICARODRIGO ROCHA RIBEIRO VITOR, LARA SAAD VALADARES SANTOS........................... 18

Revisão da Literatura

A IMPORTÂNCIA DA IMPRENSA EM RELAÇÃO À REALIDADE DO IDOSO NASOCIEDADE ATUALMARIA CAROLINA GOBBI DOS SANTOS LOLLI, JONATHAN AMORIM PERES, PRISCILAROCHA LUIZ BUENO, LUIZ FERNANDO LOLLI, ELIANE ROSE MAIO................................. 28

Vol.3,n.1,pp.05-11 (Abril - Junho 2014) Revista de Teorias e Práticas Educacionais

Revista de Teorias e Práticas Educacionais Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/rtpe

ATUAÇÃO DE ENFERMAGEM EM SERVIÇOAMBULATORIAL DE TRAUMATO-ORTOPEDIA

PRACTICE NURSING IN OUTPATIENT SERVICE TRAUMATOLOGY ANDORTHOPAEDICS

VANESA NALIN1, JOANA BERNARDO MACHADO1, SÂMIA CARINE REICHERT1, ESLAINEFIGUEREDO DOS SANTOS1, ROSANA AMORA ASCARI2, JUNIOR PATRIK ALVES3, GILMARGURALSKI4, CRISTIANO ROSA DOS SANTOS OLIVEIRA4

1. Acadêmica de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC; 2. Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pelaUFRGS. Docente da UDESC; 3. Enfermeiro Assistencial do Ambulatório Ortopédico do Hospital Regional do Oeste; 4. Técnico de Enfer-magem do Ambulatório Ortopédico do Hospital Regional do Oeste.

*Rua Quatorze de Agosto, 807 E, Apto 301, Presidente Médici, Chapecó, Santa Catarina, Brasil. CEP 898001-251. [email protected]

Recebido em 31/01/2014. Aceito para publicação em 10/02/2014

RESUMOO objetivo deste estudo é descrever a primeira experiência doCurso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Es-tado de Santa Catarina no ambulatório ortopédico de um hos-pital escola no oeste catarinense. O serviço de Ortopedia destainstituição é referência em traumato-ortopedia e visa atender ademanda de pacientes com traumas e problemas ortopédicosoriundos da macro região. Esta instituição é campo de aulaprática e estágio para diversos cursos da área de saúde. Trata-sede um serviço de alta complexidade que conta com equipemédica ortopédica de várias subespecialidades, e com profis-sionais de enfermagem com anos de vivência em trauma-to-ortopedia, os quais desenvolvem de forma coletiva o aten-dimento aos pacientes da região Oeste do estado. As aulasteórico-práticas desenvolvidas em conjunto com os profissio-nais assistenciais de traumato-ortopedia possibilitou aos aca-dêmicos de enfermagem o desenvolvimento de habilidades noacolhimento ao paciente e família, nas atividades cognitivas eprocedimentais necessárias a atuação da enfermagem ortopé-dica, bem como o fornecimento de orientações específicas decuidado para seguimento domiciliar.

PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem, ferimentos e lesões, imobi-lização, Gestão.

ABSTRACTThe aim of this study is to describe the first experience of theUndergraduate Nursing at the State University of Santa Cata-rina in the orthopedic clinic of a teaching hospital in westernSanta Catarina. The service of Orthopaedics of this institutionis a reference in trauma and orthopedics and aims to meet thedemand of patients with trauma and orthopedic problems aris-ing from the macro region. This institution is a field of practiceand classroom training courses for various healthcare. This is aservice of high complexity that has various subspecialties oforthopedic medical staff, and nursing professionals with yearsof experience in trauma and orthopedics, which collectively

develop patient care in the Western region of the state. Thetheoretical and practical lessons developed together withhealthcare professionals in trauma and orthopedics allowednursing students to develop skills in welcoming to the patientand family, cognitive and procedural activities required for theperformance of orthopedic nursing, as well as providing guide-lines specific care for home monitoring.

KEYWORDS: Nursing, wounds and injuries, immobilization,management.

1. INTRODUÇÃOO trauma é uma lesão de extensão e intensidades va-

riáveis, que pode ser provocada por agentes químicos,físicos e/ou psíquicos, de forma intencional ou acidental,instantânea, ou prolongada, produzindo perturbaçõessomáticas ou psíquicas1.

Traumatologia é a ciência que estuda e trata pacien-tes fraturados por causas externas e contundentes2.

Ortopedia é a ciência interligada diretamente aos in-divíduos e deformidades dos ossos, músculos, ligamen-tos, articulações, enfim, elementos relacionados ao cor-po1.

A enfermagem tem um papel essencial junto da pes-soa em situação de dependência, sendo a promoção doautocuidado um elemento essencial dos cuidados de en-fermagem, principalmente em um contexto hospitalar3.

O serviço de Ortopedia de um Hospital escola no o-este catarinense visa atender a demanda de pacientescom trauma e problemas ortopédicos, advindos da macroregião. De forma geral, são dois tipos de atendimentos:os pacientes que são atendidos pela Emergência, e ospacientes que são atendidos de forma eletiva. Trata-se deum serviço de alta complexidade que conta com equipede Médicos Ortopedistas especialistas em diferentes

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sub-áreas, Enfermeiro, Técnicos de Enfermagem e Es-criturários, os quais desenvolvem de forma coletiva oatendimento aos pacientes da região oeste do estado deSanta Catarina. O trabalho do técnico de enfermagem éuma das profissões que exige muita responsabilidade,uma vez que desenvolve ações supervisionadas na maio-ria das vezes de forma indireta e assim como outras pro-fissões na saúde exige competência técnica. A demandapara o atendimento da enfermagem é cada vez maior eexige um quadro de enfermagem compatível com estademanda. Quando o número de profissionais é inferior àdemanda, o atendimento integral e a qualidade desteatendimento fica prejudicada.

Nos últimos anos a Universidade do Estado de SantaCatarina (UDESC) vem ampliando seus campos de aulateórico-prática e de estágios supervisionados, além deser uma universidade em constante desenvolvimento, elabusca uma melhor formação dos acadêmicos, possibili-tando o contato dos mesmos com diversas áreas da uni-dade hospitalar e de atenção básica. E é com esse intuitoque a UDESC iniciou no semestre 2013/1 os estágiossupervisionados no ambulatório ortopédico, o qual atéentão era um campo distante do contato acadêmico.

2. MATERIAL E MÉTODOSConsiderando que uma universidade tem o papel de

agregar conhecimento ao desenvolvimento regional,buscou-se proporcionar aos pacientes um atendimentohumanizado e seguro, ao mesmo tempo em que docentese discentes buscaram agregar valor a este processo deensino aprendizagem melhorando a qualidade da educa-ção com foco ao estímulo para a pesquisa e envolvi-mento dos profissionais assistenciais.

O desenvolvimento da prática educacional assis-tencial teve como cenário o ambulatório ortopédico doHospital Regional do Oeste (HRO) no município deChapecó/SC – Brasil. Contou com a participação ativade pacientes em tratamento ortopédico eletivo e de ur-gência e emergência ortopédica, acompanhantes eprofissionais de enfermagem deste setor, sendo a práticaeducacional assistencial realizada em abril e maio de2013.

Durante o processo de discussão de casos clínicos eno desenvolvimento de técnicas em atendimentos orto-pédicos, seguido de orientação específica aos pacientes eacompanhantes, a equipe de enfermagem assistencial foibastante colaborativa disponibilizando material paraconsulta e informando e demonstrando sua experiênciano atendimento, sempre envolvendo os discentes e com-prometendo-os no atendimento.

A presença acadêmica no campo prático auxiliou noatendimento a demanda da comunidade, que em deter-minados períodos sobrecarregava a equipe assistencial, aqual auxiliava no atendimento pacientes realizados por

até três profissionais médicos, distribuídos em salas deatendimentos distintas, além da sala de gesso e procedi-mentos.

Todas as etapas desta prática discente foram acom-panhadas por docente da UDESC, supervisores de está-gio.

Para o desenvolvimento deste relato, os profissionaisassistenciais listaram os tipos de atendimentos e orien-tações mais freqüentes no ambulatório ortopédico, en-quanto acadêmicos buscaram o aprofundamento teóricoacerca dos atendimentos realizados. No final de cadaperíodo de estágio, docentes, discentes e profissionais sereuniam para breve discussão de casos clínicos, o quecontribuiu significativamente para a produção de conhe-cimento.

As atividades desenvolvidas pelos acadêmicos foramregistradas em diários de campo e levadas em conside-ração na avaliação acadêmica desta prática

3. DESENVOLVIMENTO

Atuação profissional em serviço ambulatorialde traumato-ortopedia

A equipe que atua no ambulatório é composta por umenfermeiro, três técnicos de enfermagem, pessoal admi-nistrativo e equipe médica. Grande parte dos atendi-mentos são derivados de agendamentos prévios seguindoum cronograma de atendimentos por médico, necessáriogente aos diversos segmentos de especialidades ortopé-dicas e por este motivo cada profissional médico atendeem dias e horários pré-estabelecidos.

No primeiro dia de estágio os acadêmicos iniciaramcom o reconhecimento do local, dos materiais, do agen-damento, da atuação da equipe multiprofissional e dofluxo de atendimento.

Contudo, observando o atendimento prestado por es-ta unidade de traumato-ortopedia, percebeu-se a neces-sidade de um olhar diferenciado, pois além de ser umaunidade onde predomina atendimentos por profissionaisdo sexo masculino, o que contradiz a literatura, este ser-viço não era aberto à instituições de ensino.

A equipe do ambulatório se demonstrou bastantecomprometida com o desenvolvimento das atividadesacadêmicas e disponibilizaram tempo para demonstrardiferentes técnicas e condutas que os mesmos desenvol-viam no ambulatório ortopédico. E, foram além, estimu-lando que cada acadêmico desenvolvesse habilidadeprática em muitas técnicas de imobilização ortopédica.

O ambulatório possui duas salas de espera onde naprimeira os pacientes retiram as fichas e repassam osdados necessários para as recepcionistas de acordo comdata previamente agendada; na segunda sala de espera,os pacientes são chamados por ordem de chegada (qua-tro ou cinco pacientes por vez) para aguardar o atendi-mento médico; quando o paciente necessita somente de

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algum procedimento específico, há outra sala onde sãorealizadas atendimentos de urgência e emergência, re-moção de gesso e outros pequenos atendimentos. Aindaexistem três consultórios médicos (um deles utilizadotambém pelo enfermeiro da unidade para o desenvolvi-mento de atividades específicas de enfermagem), outrasáreas de apoio como a copa e banheiro para funcionários,e a sala de procedimentos, local onde grande parte dosprofissionais médicos atendem seus pacientes.

Uma forma diferenciada de atendimento “coletivo”.Nesta sala de procedimentos estão três macas, ou seja,são chamados três pacientes por vez para atendimento. Omédico atende um paciente por vez, sinalizando para aequipe de enfermagem os procedimentos necessárioscomo: remoção de pontos, curativos, retirada de gesso,confecção de nova imobilização, entre outros. A en-fermagem inicia o procedimento de acordo com a neces-sidade individual, que na presença do médico, o qualauxilia sempre que necessário, a enfermagem desenvol-ve suas atividades, fazendo com que o paciente se sintaacolhido. Neste momento também acontecem diversasorientações de enfermagem. Segue-se uma sequencia deatendimentos até que todos os pacientes que foram pas-sados coletivamente para a sala de procedimentos te-nham sido atendidos e orientados para o novo agenda-mento de retorno. E, reinicia uma nova chamada de pa-cientes.

Assim, o fluxo de atendimento dos pacientes segueiniciando pela acolhida do paciente se inicia na recepçãoda unidade, onde é realizada a identificação e conferên-cia da documentação de cada paciente. Na sequência,alguns pacientes são atendidos pela enfermagem pararetirar o gesso circular, tala gessada ou outra imobiliza-ção para a realização de Raio-X e são direcionados aosetor de radiologia para o exame de imagem. No retorno,aguardam serem chamados para o efetivo atendimentomédico.

Muitas vezes a equipe de enfermagem faz o primeiroatendimento, como no caso de imobilizações, até a con-sulta médica. Cada profissional médico tem um sistemade atendimento diferenciado e a equipe de enfermagemse adapta a esta conduta médica. Alguns profissionaisfazem o atendimento na sala de procedimentos e outrospreferem atender nos consultórios e encaminhar para asala de procedimentos efetivamente os pacientes que temprocedimentos a serem realizados, como infiltração ar-ticular, retirada de pontos, curativos, imobilizações, etc.Contudo, percebe-se uma harmonia da equipe multipro-fissional, primando pela humanização no atendimento,buscando desenvolver o atendimento da melhor formapossível, com segurança.

Os pacientes que farão consultas de alta complexi-dade ou que estão dando sequência ao tratamento já ini-ciado, chegam com dia e hora marcada para o atendi-mento, enquanto os pacientes com trauma são avaliados

pelo médico plantonista que decidirá a conduta. Quandoo paciente não necessita de intervenção cirúrgica, osprocedimentos são realizado no ambulatório ortopédico,como imobilizações. Quando a intervenção cirúrgica sefaz necessária, a equipe do ambulatório faz os encami-nhamentos para a internação e o agendamento cirúrgico.

Quando o paciente é avaliado pelo médico ortope-dista, que indica intervenção cirúrgica, este é adicionadoa uma fila única, por especialidade ortopédica. Nestemomento, são solicitados os exames necessários e en-tregues os documentos aos pacientes para providencia-rem as autorizações de Autorização de Internação Hos-pitalar (AIH), em seu município de origem. Após fazer oprocedimento cirúrgico estes pacientes tem um acom-panhamento no ambulatório ortopédico, com retornosagendados de um atendimento para outro, até o momen-to da alta. A cada retorno o paciente é reavaliado e ori-entado acerca da sequencia de tratamento.

Em casos de urgência/emergência há uma escala demédico ortopedista de sobre aviso. Quando os pacienteschegam a emergência com algum trauma e o médicoplantonista solicita avaliação da Ortopedia, o médico queestá no sobreaviso é o responsável por esta avalia-ção/atendimento. Nestes casos, a equipe de enfermagemdo ambulatório ortopédico, normalmente faz uma avali-ação inicial e confecção de imobilizações, quando ne-cessário. Os técnicos de enfermagem tem grande expe-riência e participam das intervenções, fazendo as imobi-lizações e principalmente orientando os pacientes e seusfamiliares. Para cada tipo de trauma existe uma imobili-zação mais indicada que a equipe de enfermagem orto-pédica está sempre pronta a realizar. Sempre é avaliado oestado do paciente para fazer a imobilização, pois háalguns detalhes que devem ser observados, como lesõesde pele, proeminências ósseas, limitação articular, entreoutras.

Como técnico de enfermagem e atuação num setorque trabalha diretamente com trauma em regiões anatô-micas diversas, faz-se necessário ter conhecimento maisaprofundado da anatomia humana. O realizar de umaimobilização exige conhecimento geral da anatomia parano ato da imobilização fazer somente a imobilização daregião com fratura preservando e deixando livre as arti-culações para que sejam movimentadas durante o perío-do que o paciente estiver com a imobilização gessada, edurante esse processo de imobilização percebeu-se que aequipe realiza várias orientações.

Foi possível acompanhar o elevado número de paci-entes atendidos diariamente, uma variedade de lesõesprovocadas por inúmeros fatores de risco, sendo quedade própria altura, queda de escada, acidente de trabalho,acidente jogando bola, entre outros. Porém, voltam-seolhares ao grande número de pacientes atendidos noambulatório ortopédico devido a acidentes de trânsito,sobretudo com moto.

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Observou-se que a equipe de enfermagem, ao recebero paciente vítima de acidente avalia através da palpação,amplitude de movimento e limitações. Observa os mo-vimentos de flexão e extensão, questiona acerca da sen-sibilidade, força muscular e grau de mobilidade domembro afetado.

O conhecimento anatômico permite à enfermagemdistinguir o tipo de fratura e a região que ocorreu a fra-tura, quando visualizada na imagem radiológica, poden-do ser classificada em fratura proximal, medial ou distal.

O tratamento é aplicado de acordo com a lesão se-guindo a conduta médica. Durante a realização de está-gio supervisionado, foi possível acompanhar o trata-mento dispensado à vítima de fratura sem desvio, co-nhecida como fratura tipo galho verde. O tratamentopode ser conservador no primeiro momento através douso da tala gessada devido a fratura ocasionar edema ecomo na tala gessada é usada atadura elástica para a i-mobilização evita-se o garroteamento e necrose da regi-ão imobilizada, e posteriormente dentro de quinze avinte dias o paciente retorna para a realização de novaconsulta médica e imagens radiológicas e então nessesegundo momento a equipe assistencial realiza a imobi-lização gessada circular, que em virtude do edema sersido reabsorvido, os risco são menores. Durante esseprocesso de imobilização que é rápido devido a fila depacientes para serem atendidos, as orientações são bre-ves e objetivas, como a movimentação dos membroscomo dedos que estão livres, não molhar o gesso, nãoapoiar o gesso para não quebrar, não utilizar instrumen-tos entre a pele e o gesso para coçar devido o risco delesão de pele, não erguer peso, realizar curativos diários,e qualquer dúvida retornar antes da próxima consulta.

Para a confecção do gesso, a equipe de enfermagemhigieniza a pele, protege a pele com malha tubular, ondeo objetivo é proteger do algodão ortopédico que é colo-cado na sequencia e pode ocasionar prurido (coceira).Em seguida a atadura gessada é molhada em água mornae após aplicada na região afetada de forma circular comose estivesse passando uma atadura, no momento desteprocedimento o gesso é moldado de forma anatômica aomembro. É alisado o gesso para ficar uniforme aindadurante a sua aplicação. Ao término do procedimento opaciente é orientado que demora algumas horas para asecagem completa do gesso e inspecionado quanto al-gum desconforto com o gesso e observado a perfu-são/circulação na extremidade afetada.

Para a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Trauma-tologia4, as lesões leves onde o tratamento é sintomático,ocorre manutenção da imobilização até a melhora dossintomas, durando entre uma e duas semanas. Já naslesões completas utilizando-se a proteção articular comimobilizadores semirrígidos possibilitou retorno maisrápido às atividades físicas e laborativas quando compa-rada à imobilização gessada, facilitando a ocorrência de

edema, dor e instabilidade em longo prazo. Outros tiposde imobilização funcional, como enfaixamento e imobi-lizadores elásticos possuem menores riscos de rejeição.

Nas fratura com desvio, ou seja, aquela que precisade tratamento cirúrgico, a equipe de enfermagem realizaa higiene do membro e imobilização do membro fratu-rado com a tala gessada, evitando assim movimentos quecausam dor ou desconforto. Também orientam o jejum epreparo para o procedimento cirúrgico.

Os fragmentos ósseos devem ser mantidos na posiçãoe no alinhamento corretos até que ocorra a união entre osmesmos. A imobilização pode ser feita através do uso defixadores externos como: bandagens, gessos, talas, tra-ções, em três outras; já os internos podem servem comotalas de imobilização interna5.

Conforme Guimarães Junior6, as técnicas de imobi-lização são descritas no Quadro 1.

Quadro 1. Tipos de imobilizações ortopédicas e sua finalidade

IMOBILIZAÇÃO FINALIDADEEnfaixamento TipoBota (SuroPodálico)

Limitar o movimento do tornozelo, ásvezes usados em entorse, contusão e tor-ção. Em alguns casos de cirurgias de tor-nozelo, após o procedimento cirúrgicopode ser usado o enfaixamento suropodá-lico, este enfaixamento serve para evitar oedema e sangramento.

Enfaixamento In-guinomaleolar ou(Jones) para Joelho

Limitar o movimento de extensão e flexãodo joelho, às vezes usados em entorse,contusão e torção de joelho. Em algunscasos de cirurgias de joelho, após o proce-dimento cirúrgico pode ser usado o enfai-xamento inguinomaleolar (Jones), esteenfaixamento serve para evitar o edema esangramento, pode ser usado tambémoutros tipos de imobilizações, como. Talatubo ou tubo gessado.

Enfaixamento ParaAntebraço e Punho(antebraquiopalmar)

Repouso e limitação do movimento dopunho, em caso de contusão e entorse.Após o procedimento cirúrgico pode serusado o enfaixamento antibraquiopalmar.Evita o edema e sangramento, pode serusado também outros tipos de imobiliza-ções, como tala luva, luva gessada.

Enfaixamento paraCotovelo.

Repouso e limitação da movimentação docotovelo, usado em caso de contusão,torção e entorse. Após procedimento ci-rúrgico pode ser usado o enfaixamento paracotovelo, que serve para evitar o edema esangramento. Pode ser usado tambémoutros tipos de imobilizações, como. TalaBraquial (Braquiopalmar), Braquial ges-sado.

EnfaixamentoTorácico

Destina-se a limitação da Caixa Torácica,de modo a restringir a Respiração. É usadoem fraturas de costelas e contusões toráci-cas. Não realizar este tipo de enfaixamentoem pacientes que tenham problemas res-piratórios, asmas, bronquites crônicas einsuficiência cardíaca.

Velpeau de Crepom Indicada para luxações de ombro e fraturasde clavícula.

Velpeau Verão Repouso e limitação da movimentação doombro. Indicada para luxações de ombro.

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Tipóia Simples Repouso de membros superiores.Colar Cervical Torcicolo e Inflamações na Região Cervi-

cal.Tala Bota (TalaSuroPodalica)

É usado em caso de entorse, luxação, e emalguns casos de fratura e pós cirúrgico.

Tala Tubo (TalaInguinomaleolar)

Imobilizar o joelho, limitar o movimentode flexão e extensão do joelho, é usado emcaso de contusão entorse, torsão, luxação epos cirúrgico.

Tala InguinoPodálica

Tudo que estiver escrito podálico refere-seao pé. Recomendado em casos de fraturasde Tíbia, Rótula/Patela. Em alguns casos atala será somente provisória, não será umtratamento conservador.

Tala Hemipelve-podálica (Tala Spica)

Fratura de fêmur, neste caso o pacienteficará imobilizado esperando a cirurgia.

Tala Luva (Ante-braquiopalmar)

Limitar a movimentação do punho, trata-mento de inflamações, luxações e torçõesno antebraço. Em alguns casos de fraturade membro superiores, usa-se a tala, Tem afunção de manter o membro fraturado emrepouso.

Tala Luva englo-bando os dedos(Antebraquiomamu-al)

Tratamento de luxações de falange dodedo, fraturas, contusões, torção e infla-mações de membros superiores. Em algunscasos de fratura de membro superiores,usa-se a tala para manter o membro (supe-rior), fraturado em repouso.

Oito Gessado É usado em caso de fratura de clavícula.Velpeau Gessado Usa-se esta imobilização em luxações de

ombro. E às vezes em alguns casos defratura de clavícula.

Braquial gessado(Áxilo Palmar ges-sado)

É usado em caso de fraturas, tendinite,contusões e luxações no cotovelo.

Luva gessada en-globando os dedos(Antebraquiomamu-al)

É usado para tratamento de luxações,fraturas de falange do dedo, contusões,torção e inflamações de membros superio-res.

Luva gessada (An-tebraquiopalmargessado

Limitar a movimentação do punho, trata-mento de fraturas, inflamações, luxações etorções no antebraço.

Tala Braquial (ÁxiloPalmar)

E usada em tendinite, contusões e luxaçõesno cotovelo, e em alguns casos de fratura.Em fratura de membro superior, usa-se atala para manter o membro fraturado emrepouso. E em alguns casos pode ser umtratamento conservador.

IguinopodalicoGessado com salto:

Imobilizar o joelho e tornozelo, usado emfratura se tíbia e fíbula (perônio). Com esteaparelho gessado o paciente poderá pisar.

InguinopodálicoGessado sem salto

Imobilizar o joelho e tornozelo, usado emfratura se tíbia e fíbula (perônio). Com esteaparelho gessado não poderá pissar, ouseja, andar com o gesso, para locomover-seo paciente terá que andar de muletas/apoio.

Tubo Gessado (Ing-no maleolar Gessa-do)

Imobilizar o joelho, para que não possahaver o movimento de flexão e extensão dojoelho, é usado em caso de contusão, en-torse, torção, luxação, fratura. Tambémusada em pacientes pós cirúrgicos.

Sarmiento Gessado(PTB) Bota paratendão patelar(Tendon PatelarBearing)

É usado quando se tem uma fratura de tíbia,Neste caso o paciente poderá pisar. Emalguns casos dependendo do ortopedista, omesmo solicitará um aparelho gessadoinguinopodálico com salto.

Férula Metálica(Tala Metálica)

Imobilizar as falanges do dedo. Imobili-zação usada em caso de fratura ou luxa-ções das falanges.

Bota gessada comsalto

Usado em caso de fratura, luxação ouentorse de tornozelo, Neste caso o pacientepoderá pisar. Dependendo da fratura omédico ortopedista permitirá que o paci-ente pise.

Bota gessada semsalto.

Usado em caso de fratura, Luxação ouEntorse de Tornozelo, Neste caso o paci-ente não pode pisar. Ou seja, ele não podeandar com o pé engessado, necessita deuma muleta/apoio para se locomover.

Imobilização comesparadrapo paradedo (pé)

Imobilizar as falanges. Para fratura ouLuxações das falanges.

Tala pinça de con-feiteiro.

Para imobilização e repouso. É usada emfratura de úmero. Pode ser um tratamentoconservador ou provisório, enquanto omédico defina o tipo de tratamento, secirúrgico ou não.

Fonte: Guimarães Junior (2013)

Com base em conhecimentos técnicos-científicos, ede acordo com a conduta médica no tratamento do trau-ma, a equipe de ortopedia orienta os pacientes quantoaos cuidados e deveres que o paciente precisa ter acercados curativos, talas gessadas, gesso, imobilização elásti-ca e retornos no ambulatório ortopédico.

O gesso é um material utilizado para imobilizaçãoexterna rígido e moldado ao corpo, para tratamento defraturas, correção de deformidades ou apoiar articula-ções5.

São necessários diversos cuidados com o gesso7, entreeles destacamos o manter, nos dias subsequentes aotrauma, o membro imobilizado elevado, o maior tempopossível, a fim de evitar o inchaço do membro dentro dogesso; movimentar os dedos, de hora em hora, enquantoacordado; apoiar o gesso em almofadas; manter o gessoseco e limpo; higienizar entre os dedos cuidadosamente;não molhar o gesso e no caso do gesso sintético, lembrarque as extremidades não são impermeáveis; utilizar capasprotetoras do gesso que vedam bem contra a água dobanho; não introduzir talco ou objetos para coçar; nãoretirar o algodão, recortar ou quebrar as bordas do gesso;não pressionar ou colocar peso sobre o gesso; não apoiaro gesso numa mesma posição por tempo prolongado; emcaso de imobilização de membro inferior, dependendo daorientação médica, pode ser necessário o uso de muletaspara marcha, sem apoio do lado imobilizado; em caso deimobilização do membro superior pode ser necessário ouso de uma tipoia para o seu conforto.

Em caso de o paciente presentar dor constante, dor-mência, inchaço, dificuldade de mobilidade do membro,febre ou calafrio, palidez cutânea, manchas, odor fétidoou qualquer alterações visíveis, o mesmo deve procurarauxilio dos profissionais, pois podem estar ocorrendoreações, gerando alterações no local ou até novos trau-mas8.

Para as imobilização elásticas apenas usa-se malha

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tubular e algodão laminado (algodão ortopédico), exem-plos são as tipoias comuns, que se usa um algodão de12cm e 1,4m de malha, já as velpo, (canadense)usa-se dois algodão de 20cm e 2m de malha, e osoito posterior são confeccionados com 6 algodão de20cm e 2,50m, essas imobilizações são para fratura deombro, fratura de clavícula, e no caso de trauma de joe-lho, entorce, colocase jhones que são duas ataduras de20cm e um algodão laminado de 15cm.

Em relação às talas de gesso existem várias formas,as suropodálicas (baixas) que são colocadas nos menbrosinferiores, (MMII). As axilopalmar que são colocadasnos membros superiores, (MMSS). O material que sem-pre é usado, são gesso, malha tubular, algodão laminado(ortopédico) e ataduras crepes.

Conforme o Instituto de Ortopedia e Fisioterapia8

deve-se ter certos cuidados com as demais imobilizaçõesmantendo-a em boas condições, seca, limpa, não tentarretira-la ou utilizar objetos para reduzir prurido, sempreinspecionar a pele observando a presença de inchaços ouvermelhidão, verificar a mobilidade, esses cuidados sãode imprescindível realização e favorecem a melhor cica-trização do membro lesado.

Também são orientados quanto ao uso de medicaçõese quanto ao retorno para reavaliação e para exames deimagem. O Raio X é o principal exame solicitado noambulatório ortopédico, e a principal referência para oatendimento e acompanhamento da evolução do paciente.Todos os pacientes são orientados para trazer as guiasautorizadas para dar sequência ao atendimento.

Por fim, durante todo o estágio curricular no serviçoambulatorial de ortopedia foi possível acompanhar esseprocesso de diálogo da equipe com o paciente, a buscade informação se faz uso de medicação para hipertensão,diabetes, medicação controlada, quais as formas de uso ese tem algum tipo de alergia a medicações. Além distofoi possível acompanhar as orientação para cuidadosdomiciliares e o preenchimento do prontuário do paci-ente com registro do atendimento realizado pela enfer-magem.

Em uma perspectiva de continuidade de cuidados, éfundamental preparar o regresso a casa do paciente demodo a promover o autocuidado mesmo existindo limi-tações, prevenir a redução da sua capacidade funcional emotivá-lo/responsabilizá-lo para o restabelecimento doseu estado de saúde e progressão para a independência3.

4. CONCLUSÃOO desenvolvimento de aulas teórico-práticas no am-

bulatório ortopédico de um hospital escola no oeste cata-rinense evidenciou a importância da equipe de enferma-gem estar engajada à equipe médica no acolhimento dopaciente/família, no desenvolvimento de uma assistênciaplanejada, participativa, com vistas ao adequado preparodo paciente vítima de trauma ortopédico para o enfren-

tamento do período de recuperação dos agravos, que porvezes é um processo demorado e penoso.

Esta prática possibilitou a socialização de experiên-cias fomentando a reflexão crítica do acadêmico de en-fermagem frente ao cenário de morbidades por causasexternas. E nesta troca de vivências com os profissionaisassistências, docentes e discentes, percebeu-se que ospacientes e familiares foram os principais beneficiados.

Como facilidade na realização das aulas teóri-co-práticas no ambulatório ortopédico, podemos destacara receptividade dos profissionais assistenciais e dos pa-cientes/familiares, sempre abertos a dialogar sobre cadacaso. Por mais que o estado físico e emocional de algunspacientes estivesse afetado, a equipe médica e de enfer-magem sempre concordaram com a participação da aca-demia na prática assistencial e mostraram-se satisfeitos emotivados com a iniciativa da universidade em abrircampo prático nesta área onde poucos gostam de atuar,pela complexidade dos atendimentos realizados.

É necessário que o enfermeiro esteja preparado paraatuar de forma acolhedora e humanizada, possibilitandomaior qualidade na atenção e condições para o enfren-tamento do trauma.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a parceria interinstitucional da Uni-versidade do Estado de Santa Catarina e do HospitalRegional do Oeste, em especial a equipe médica e deenfermagem que muito colaborou para esta prática edu-cativa.

6. FINANCIAMENTO

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

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[6] Guimarães Junior CRC. A importância da defesa pessoal ede suas técnicas de imobilização para a atuação profissio-nal dos bombeiros militares. Florianópolis, 2012. Disponí-vel em:<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=3&ved=0CDYQFjAC&url=http%3A%2F%2Fbiblioteca.cbm.sc.gov.br%2Fbiblioteca%2Findex.php%2Fcomponent%2Fdocman%2Fdoc_download%2F274-claudevan-reis-de-carvalho-guimaraes-junior&ei=BWBIUdOFDJHK9gTjwoCAAg&usg=AFQjCNEInFXoa38uwHMjUgrpZJN7kxzMQ&sig2=yc48zsqsbn0Rx8JAa9Tk9g.>. Acesso em: 19 mar. 2013.

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[8] IOF - Instituto de Ortopedia e Fisioterapia. Cuidados com aImobilização: Tipos de imobilização. Disponível em:<http://www.iof.com.br/int_default.php?p=artigos/art_imobilizacao#inicio>. Acesso em: 19 mar 2013.

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TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO EHIPERATIVIDADE: O IMPACTO NA ESCOLA,

NA FAMÍLIA E NA SOCIEDADE

ATTENTION DEFICIT DISORDER AND HIPERATIVIDADE:THE IMPACT ON SCHOOL, FAMILY AND SOCIETY

ROSIMEIRE APARECIDA MONTEIRO SILVEIRA1*, SONIA CRISTINA SOARES DIAS VERMELHO2

1. Graduada em Pedagogia pela Faculdades Integradas de Urubupungá e em Letras pelo Centro Universitário de Jales – UNIJALES.Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais – Centro Universitário de Maringá e em Neuropedagogia pelas Faculdades Inte-gradas de Urubupungá. Mestrado em Promoção da Saúde – Educação e Tecnologia – UNICESUMAR (cursando), Professo-ra/mediadora da EAD UINCESUMAR. 2. Graduação em Informática pela Universidade Positivo (1993) e Graduação em Design pelaFacnopar (2010). Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998).Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade (Educação e Ciências Sociais) pela Pontifícia Universidade Católica de SãoPaulo (2003). Pós-Doutorado pela Universidade do Porto/INESC-Porto (2013) e Pós-Doutoranda na Universidade de Brasília (2013).Atualmente é coordenadora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado Acadêmico) em Promoção da Saúde e professora titular doCentro Universitário de Maringá – UNICESUMAR..

* Rua José Lourenço dos Santos, 548A – Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87053-335. [email protected]

Recebido em 02/04/2014. Aceito para publicação em 10/04/2014

RESUMOA criança hiperativa mostra de maneira clara e abrangenteseu comportamento. Desta forma, buscamos relatar os pro-blemas causados e sofridos pelo indivíduo com este trans-torno, por sua família, pela escola e em seu convívio social.A pesquisa foi realizada por meio de uma revisão de litera-tura objetivando descrever as ações da criança hiperativa,em seus diversos lugares de atuação, e encontrar meios deuma convivência saudável entre este indivíduo, sua família,unidade escolar e a sociedade. A pesquisa foi realizada combase em livros impressos e artigos da base de dados daSciELO. Assim, concluímos que os pais junto com a criançahiperativa devem buscar ajuda profissional competente eespecializado, assim que os sintomas aparecerem, pois sóele é capaz de elaborar um diagnóstico e orientá-los a fimde melhorar a convivência familiar, não deixando que asituação tome grandes proporções e não afete a vida socialdeste indivíduo.

PALAVRAS-CHAVE: Criança, hiperatividade, TDAH.

ABSTRACTThe hyperactive child shows clearly and com-prehensively their behavior. Thus, we seek toreport the problems caused and sustained bythe individual with this disorder, their families,school and in their social life. The survey wasconducted through a literature review aiming to

describe the actions of hyperactive children intheir various places of work, and find ways to ahealthy coexistence between the individual,their family, school and society unit. The re-search was based on printed books and articlesdatabase of the SciELO. We conclude thatparents with hyperactive children should seekskilled and competent professional help assoon as symptoms appear, for only he is able tomake a diagnosis and guide them to improvefamily life, not letting the situation take majorand does not affect the social life of this indi-vidual.KEYWORDS: Child, hyperactivity. TDAH.

1. INTRODUÇÃOA literatura médica apresentou as primeiras referên-

cias aos transtornos hipercinéticos no meio do séculoXIX. Assim, sua nomenclatura vem sofrendo alteraçõescontínuas. Na década de 40, surgiu a designação disfun-ção cerebral mínima, estabelecendo uma relação entre ascaracterísticas da síndrome com as vias nervosas.

Para Rohde & Halpern (2004)1, embora se observemnomenclaturas distintas, o sistema classificatório CID-10,

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com o Transtorno Hipercinético, e o DSM-IV-TRTM,com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,apresentam mais similaridades do que discordâncias nasdiretrizes diagnósticas.

Para Cunha et al. (2013)2 o TDAH é o distúrbioneuropsiquiátrico mais comum da infância e está incluí-do entre as doenças crônicas prevalentes entre escolares.Em amostras não referidas, estima-se que de 3% a 6%das crianças em idade escolar apresentam TDAH.

O impacto desse transtorno na sociedade é enorme,considerando seu alto custo financeiro, o estresse nasfamílias, o prejuízo nas atividades acadêmicas e vocaci-onais, bem como efeitos negativos na autoestima dascrianças e adolescentes. Estudos têm demonstrado quecrianças com essa síndrome apresentam um risco maiorde desenvolverem outras doenças psiquiátricas na infân-cia, adolescência e idade adulta.

2. MATERIAL E MÉTODOSFoi realizada uma revisão de literatura objetivando des-

crever as ações da criança hiperativa, em seus diversos lugaresde atuação, e encontrar meios de uma convivência saudávelentre este indivíduo, sua família, unidade escolar e a sociedade.A pesquisa foi realizada com base em livros impressos e arti-gos da base de dados da SciELO. Foram selecionados artigosrelacionados ao tema proposto, publicados entre os anos de1985 a 2013.

3. DESENVOLVIMENTO

Identificação do hiperativo

Crianças que sofrem com o Transtorno de Déficit deAtenção e Hiperatividade - TDAH apresentam condutainapropriada para a sua idade. Assim, muitos recebem oestigma por ter um comportamento antissocial, pois lhescusta controlar seu comportamento, as emoções e pen-samentos, pois se deparam com uma grande dificuldadepara prestar atenção e concentrar-se. A inquietude fazparte de seu dia-a-dia, movendo os pés, mãos, e o corposem um objetivo claro. Levantam-se, saltam e corremquando deveria permanecer sentado e calmo.

Para Desiderio & Miyazaki (2007)3, o TDAH temorigem biológica e é caracterizada pela hereditariedade,sendo considerado um problema neuropsiquiátrico, quepossui como manifestações principais a desatenção, aimpulsividade e a hiperatividade.

Silva (2009)4, afirma que uma hipoperfusão cerebrallocalizada mais significativamente na região pré-frontale pré-motora do cérebro das pessoas com Transtorno deDéficit de Atenção - TDA resulta num menor aportesanguíneo local, e como consequência, ocorre a dimi-nuição do metabolismo nesta área, que, ao receber me-nos glicose terá menos energia e funcionará com de-

sempenho reduzido.Os indivíduos inseridos nessa realidade sofrem com a

baixa autoestima, decorrido da impopularidade com asdemais crianças que preferem permanecer perto daquelesque possuem controle sobre seu corpo e suas ações.Apresentam aborrecimento e excitação excessivos e in-controláveis, não conseguindo, por exemplo, brincar deforma tranquila; não respeitam a vez do colega; exci-tam-se e aborrecem-se com frequência. De acordo com ograu acentuado de impulsividade a criança age antes depensar, e responde antes que terminem a pergunta; sofrecom a falta de concentração, não se prende a detalhes,organização e nem às instruções, falta-lhe persistência,além de não terminar as tarefas, distrair-se com muitafacilidade, e se esquece do que tem que fazer com muitafrequência. Em casos mais extremos apresentam ainda odiagnostico de surdez fictícia. Segundo Goldsten (1996)5,“Em diversos momentos do século XX, tem se referido aestas crianças como acometidas de inquietação, falha decontrole moral, disfunção cerebral mínima, distúrbiopós-cefálico, reação hipercinética da infância, distúrbiode falta de atenção e distúrbio de atenção por hiperati-vidade, e mesmo que os rótulos tenham mudado o mes-mo não acontece com o problema que permanece aolongo dos anos” (GOLDSTEN, 19965, p. 83).

A escola tem um papel fundamental na observaçãoda criança hiperativa, pois geralmente ela costuma en-volver-se em brigas, ou brincar sempre sozinha, cha-mando atenção, ou se comportando como se fosse alie-nada. Para Fu et al. (2000)6 os sintomas são mais fre-quentes em meninos que em meninas, mas quandoacontece com as meninas é com maior intensidade.

Existem várias características que ajudam a identifi-car a criança hiperativa, mas, isto não quer dizer que esteseja um trabalho fácil, pois o TDAH pode ser facilmenteconfundido com falta de limites e para este tipo de erronão ocorrer a criança deve receber uma avaliação deta-lhada de seu comportamento. O reconhecimento precocedo TDAH e o manejo adequado dessa condição podemredirecionar o desenvolvimento educacional e psicosso-cial da maioria dessas crianças.

De acordo com Kaippert et al. (2003)7, esse trans-torno não é obrigatoriamente acompanhado de hiperati-vidade e é uma doença de fato. Isto porque o THAD estárelacionado à determinados neurotransmissores produ-zidos em maior ou menor quantidade no nosso sistemanervoso central, regulando seu funcionamento.

O critério diagnóstico preciso para o TDAH estácompilado no DSM-IV19. A escala diagnóstica adapta adescrição fenomenológica dos sintomas sob a forma deperguntas. Para isso, é necessário um conjunto significa-tivo de sintomas para considerar a dimensão positiva. Noentanto, uma vez que este primeiro critério é atendido, éindispensável à avaliação de outros: a existência dossintomas em pelo menos dois ambientes, o início de al-

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guns dos sintomas antes dos sete anos, a evidência docomprometimento funcional, ou seja, escolar, social efamiliar, e o diagnóstico diferencial que os sintomas sãoinespecíficos, onde não podem ser mais bem atribuídosem outro transtorno.

De acordo com Silva (2009)4 e com o DSM-IV19 oTDA subdivide-se em três tipos: 1) TDA com predomí-nio de sintomas de desatenção; 2) TDA com predomíniode sintomas de hiperatividade/impulsividade; 3) TDAcombinado. O tipo com predomínio de sintomas de de-satenção é mais frequente no sexo feminino e pareceapresentar, conjuntamente com o tipo combinado, umataxa mais elevada de prejuízo acadêmico.

[...] a prevalência das dificuldades de leituraem crianças com TDAH não é uma consequênciade uma desordem de linguagem de base fonoló-gica, mas sim uma consequência secundária dosproblemas de autorregulação e de atenção ine-rente ao TDAH. Os autores argumentaram que,inicialmente, a decodificação de palavras de-manda atenção e autorregulação, áreas que fre-quentemente são difíceis para as crianças comTDAH, por isso há uma forte associação entreTDAH e incapacidade de leitura (CUNHA, 20128

p.29).

Rohde & Halpern (2004)1 acreditam que as criançascom TDAH com predomínio de sintomas de hiperativi-dade/impulsividade, por outro lado, são mais agressivase impulsivas do que as crianças com os outros dois tipostendem a apresentar altas taxas de rejeição pelos colegase de impopularidade.

Embora sintomas de conduta, de oposição e de desa-fio ocorram mais frequentemente em crianças comqualquer um dos dois tipos de TDAH do que em crian-ças normais, o tipo está mais fortemente associado aesses comportamentos. Além disso, o tipo combinadoapresenta também um maior prejuízo no funcionamentoglobal, quando comparado aos dois outros grupos.

De acordo com Reinhardt & Reinhardt (2013)9. Émuito provável que um paciente com TDAH seja avali-ado por causa dos prejuízos causados por estes sintomas.Assim, um paciente não será avaliado pela desatenção,mas por um acidente que sofreu por este sintoma.

O relacionamento familiar, escolar e na socie-dade

No relacionamento familiar é importante que umarotina estável seja estabelecida em casa. Para diminuir aconfusão e a quantidade de estímulos diários, devem-sedefinir horários específicos para comer e dormir. Faz-senecessária a busca dos pais pela terapia para adquirireminformação e apoio, diminuindo assim o sentimento defrustração e isolamento que atinge a família.

O envolvimento da família pode ainda serressaltado sob a perspectiva que o ser humanonasce, cresce e morre dentro de uma família. As-sim, a família é provavelmente o melhor contextopara compreender e auxiliar as dificuldades vi-venciadas por qualquer um de seus membros(DESIDERIO &; MIYAZAKI, 20073,p. 170).

O relacionamento entre pais e filhos depende muitodo clima emocional que se estabelece no lar e que paraobter um bom clima emocional é preciso que haja har-monia do casal e tratamento igual aos filhos. Muitasvezes as crianças deixam de ter um relacionamento sau-dável na sociedade, por que em casa são desvalorizadose desprezados, por serem diferentes do que os pais espe-ravam que fossem. A partir disso, surgem grandes con-flitos e por parte dos pais, sentimento de decepção e fra-casso.

De acordo com Silva (2009)4, em família, pode-seobservar claramente o desenrolar desse processo. A cri-ança TDAH, em geral é punida com castigos físicos, enão são poucos os comentários que fazem a seu caráter.

Para Barros & Silva (2006)10, o ambiente para a cri-ança com TDAH deve ser emocionalmente estável econsistente, no qual tenha experiência de aceitação eamor incondicional. Sob tais condições, pode exprimirseus sentimentos sem medo e sem culpa, de forma quenão existe necessidade de fuga e ressentimento, tendoem vista que quanto menor a criança maior a necessida-de de segurança.

A pesquisa apresenta diferenças nítidas de personali-dade, ligadas ao tratamento emocional recebido durantea primeira infância. Acredita-se que o tratamento afetu-oso dos bebês conduza ao desenvolvimento de uma per-sonalidade desembaraçada, generosa e confiante, en-quanto as crianças criadas na atmosfera fria de orfanatossão frequentemente, indiferentes e incapazes de ligaçõesemocionais intensas.

Estes desajustes emocionais da criança podem ocor-rer por vários motivos, sendo eles: nascimento de umnovo membro da família, perda (morte) de um membroda família ou brigas ou separação entre os pais. Nesseambiente é que crianças apresentam mais problemas deajustamento e mais dificuldades sérias do que outrascrianças. Um fator que agrava esse quadro é a disciplinasevera e a apreensão. Para Silva (2009)4, enquanto cri-ança TDAH convive apenas nomeio familiar, muitas desuas características repousam em estado de latência.

De acordo com o psiquiatra Andrade (2000)11, a hi-peratividade só fica evidente no período escolar, pois équando precisa aumentar o nível de concentração paraaprender. A inteligência de pessoas hiperativas não écomprometida com a doença, mas o principal empecilho

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para elas é a impulsividade e a falta de atenção, ferra-mentas importantes para o progresso dos estudos. Ao setratar do paciente hiperativo, é notada marcante melhoriano seu rendimento escolar.

Os pacientes que não apresentam dificuldadesno aprendizado conseguem executar as tarefas demodo rápido e eficiente, mas como terminam an-tes que os outros ficam a atrapalhar o trabalhodos colegas por conta da hiperatividade. Essecomportamento causa insatisfação ao grupo, quepassa a reclamar e a interferência do professor,ao chamar a atenção do aluno, tem como objeti-vo primordial o de manter a classe organizada,provocando uma reação agressiva por parte doaluno, além de acentuar a hiperatividade (TO-PAZEWSKI, 199912, p. 57).

Se o convívio social é importante para o desenvol-vimento da criança, para quem tem TDAH não é dife-rente. Cabe ao professor observar sinais como agitação edificuldade de assimilação.

Para Costa et al. (2009)13, as meninas que sofrem dadoença são mais distraídas, falam demais ou simples-mente se isolam, pois os sintomas nas meninas são maisacentuados. Os meninos não conseguem manter amiza-des por muito tempo, são agitados e interrompem a aulaconstantemente. É preciso levar em conta que criançashiperativas não podem ser julgadas como rebeldes, tendoem vista que sofrem de uma doença que provoca difi-culdades de concentração, e não se dão conta das ordensque recebem.

Essas crianças são fonte de medo e insegu-rança por parte dos educadores por não teremuma ampla visão de desenvolvimento ou de es-tratégias pedagógicas que favorecem a aprendi-zagem daqueles que se mostram diferentes ou quedesafiam uma rotina escolar (SANTOS &VASCONCELOS, 201014, p. 720).

Desta forma não cabe ao professor ou a escola fazero diagnóstico, mas é possível observar o aluno e con-versar com os pais para que um especialista seja procu-rado.

O trabalho livre e diversificado pode favore-cer esse tipo de criança que também se mostrasatisfeita na incumbência de realizar tarefas au-xiliando o professor.Proporcionar atividades va-riadas que ocupem a criança o maior períodopossível, dando a ela liberdade de escolha e demovimentos (RIZZO, 198515, p. 307).

De acordo com Santos & Vasconcelos (2010)14, al-

gumas crianças desenvolvem o transtorno bem precoce-mente, porém, antes de quatro ou cinco anos é muitodifícil se fazer um diagnóstico preciso. O transtorno é deorigem orgânica, sendo que em casos de pais hiperativosa chance de o filho ser portador desse transtorno é de50%, irmãos (5 a 7%), quando gêmeos (55 a 92%) esendo que de 50 a 60% ainda persistem os sintomas nafase adulta,pois não há cura.

Todavia, muitos pesquisadores acreditam que não éhereditário e que isto aconteça como consequência dealgum desequilíbrio da química do cérebro.

O diagnóstico não é uma tarefa difícil para um pro-fissional especializado, pois, existe uma série de testesneuropsicológicos, e nas avaliações existe a questão daobservação ambiental-comportamental.

Kaippert et al. (2003)7, acreditam que o diagnósticode adultos com TDAH, mais importante ainda é conse-guir o histórico cuidadoso da infância, do desempenhoacadêmico, dos problemas comportamentais e profissio-nais. À medida que aumenta o reconhecimento de que otranstorno é permanente durante a vida da pessoa, osmétodos e questionários relacionados com o diagnósticode um adulto com TDAH estão sendo padronizados etornados cada vez mais acessíveis.

Há algumas diferenças notáveis entre um portador deTDAH e um indivíduo dito mal-educado. O portador deTDAH continua agitado diante de situações novas, isto é,não consegue controlar seus sintomas, já o mal-educado,primeiro avalia bem o terreno e manipula situações bus-cando obter vantagens sobre os outros. Reinhardt & Re-inhardt (2013)9 afirmam que os indivíduos com estetranstorno são significativamente mais agressivos notransito, assim necessitando de um diagnostico preciso ede tratamento adequado.

Para Nagel (2010)16, este transtorno é mais um tipode violência escolar, assim Na verdade, o desejo de en-tender por que nossos filhos procedem, hoje, diferente-mente dos filhos de ontem, só surge quando determina-dos comportamentos, de modo extensivo, começam aperturbar os pais ou a sociedade em geral. Enquanto es-ses comportamentos (hoje considerados problemáticos)estavam sendo produzidos, ainda em fase de desenvol-vimento, eles provocavam muito entusiasmo e pouca, ounenhuma, preocupação nos defensores das novas formassociais.

Para Santos & Vasconcelos (2010)14, três tipos detratamento estão sendo empregados em casos de TDAH,são eles: farmacológico, terapia comportamental e acombinação das terapias farmacológica e comportamen-tal.

A pesquisa apresentou que o tratamento do TDAHenvolve uma abordagem múltipla, englobando interven-ções psicossociais e psicofarmacológicas. O primeiropasso para um tratamento preciso deve ser educacional,através de informações claras e precisas à família e aos

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amigos a respeito deste transtorno. Muitas vezes, é ne-cessário um programa de treinamento para os pais, a fimde que aprendam a manejar os sintomas do filho. É im-portante que eles conheçam as melhores estratégias parao auxílio de seus filhos na organização e no planeja-mento das atividades, como um ambiente silencioso,consistentes e sem maiores estímulos visuais para estu-darem.

Para Desiderio & Miyazaki (2007)3, a indicação depsicofármacos para o TDAH depende das comorbidadespresentes. A literatura apresenta os estimulantes como asmedicações de primeira escolha. Existem mais de 150estudos controlados, bem conduzidosmetodologicamente, demonstrando a eficácia destesfármacos. É importante frisar que a maioria dessesestudos restringe-se a crianças em idade escolar, sendoque no Brasil, o único estimulante encontrado nomercado é o metilfenidato. A dose terapêuticanormalmente se situa entre 20mg/dia e 60mg/dia.Geralmente utiliza-se o esquema de duas doses por dia,uma de manhã e outra ao meio dia. Cerca de 70% dospacientes respondem adequadamente ao estimulante e ostoleram bem. Essas medicações parecem ser a primeiraescolha nos casos de TDAH.

4. CONCLUSÃOEste estudo buscou relatar algumas considerações

sobre o TDAH na escola, na família, e na sociedadeapresentando suas principais consequências e formas deabordagem. A partir das pesquisas, considera-se funda-mental que os atores envolvidos na realidade do portadorde TDAH, principalmente pais e professores, tenhamconhecimento dos transtornos e deficiências, e ao reco-nhecer suas peculiaridades possam auxiliar no processode desenvolvimento dos indivíduos.

O TDAH é concebido por um transtorno dos quaisinfluenciam e alteram o modo de vida de quem o possui,com aspectos que devem ser reconhecidos e tratadosadequadamente.

O tratamento do TDAH envolve uma aproximaçãomúltipla, englobando intervenções psicossociais e psi-cofarmacológicas, sendo o metilfenidato a medicaçãocom maior comprovação de eficácia neste transtorno;mas para isso, deve ser administrado de acordo com ograu de limitações impostos pela doença.

Para alguns casos, administram-se medicamentospsicoestimulantes, bem como, neuroestimulantes, paraque estimulem os neurotransmissores deficientes, equi-librando o doente para um autocontrole. Em casos maisleves, o auxílio de uma terapia comportamental com acriança e com a família torna-se suficiente. Por outrolado, em casos mais graves, exige-se uma ação multidis-ciplinar: pais, professores, médicos, terapeutas e medi-camentos.

A escola, a família e os amigos quando trabalhamjuntos auxiliam muito no tratamento do TDAH, na soci-alização, não esquecendo, porém de impor limites, poiseste se faz necessário, visto que esta criança vive emsociedade e por isso deve obedece regras.

Diante dos avanços de pesquisas sobre hiperatividade,o tratamento ameniza fortemente os sintomas, propici-ando ao portador de TDAH uma vida mais tranquila econdizente com sua realidade.

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RELAÇÕES ENTRE SAÚDE E TRABALHO DOCENTEEM UMA ESCOLA PÚBLICA

RELATIONS BETWEEN HEALTH AND TEACHING WORK IN A PUBLIC SCHOOLRODRIGO ROCHA RIBEIRO VITOR1*, LARA SAAD VALADARES SANTOS2

1. Psicólogo formado pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, UNILESTE, Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Acadêmico do curso deMedicina do Centro Universitário do Espírito Santo, UNESC, Colatina, Espírito Santo; 2. Médica formada no Instituto Metropolitano de EnsinoSuperior, IMES, Ipatinga, Minas Gerais. Residente em Pediatria pelo Hospital Municipal de Governador Valadares, Governador Valadares, MinasGerais.

* Rua Castro Alves, 115, apto 102, Cidade Nobre, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. CEP: 35162-360. [email protected]

Recebido em 06/05/2014. Aceito para publicação em 08/05/2014

RESUMOO presente estudo teve como objetivo investigar as relaçõesentre saúde e trabalho docente em uma escola pública. Pa-ra tal, foi aplicado o Inventário sobre Trabalho e Riscos deAdoecimento (ITRA) e realizadas entrevistas individuaiscom os docentes. Ao todo o inventário foi aplicado em trin-ta e quatro professores e sete professoras foram escolhidasaleatoriamente para as entrevistas. Das categorias avalia-das pelo inventario as mais indicadas como geradoras desofrimento foram: o contexto de trabalho; as exigências dotrabalho; o sentido do trabalho, no que diz respeito ao re-conhecimento das atividades executadas; e por fim os efei-tos do trabalho para a saúde, sendo encontrados quatroprofessores com indicação de presença de doenças ocupa-cionais. Assim, foi possível identificar na escola pesquisadaelementos nas relação de trabalho que indicam uma pre-dominância de vivências de sofrimento sobre as de prazer.

PALAVRAS-CHAVE: Educação psicodinâmica, professo-res, saúde mental, prazer/sofrimento.

ABSTRACTThe present study aimed to investigate the relationship be-tween health and work teaching in a public school. To this end,we applied this on Labor and risks of illness and conductedindividual interviews with teachers. The entire inventory wasadministered to thirty-four teachers and seven teachers wererandomly selected for interviews. The categories assessed bythe most appropriate inventory as generators of suffering werethe work context, the demands of work, the meaning of work,with regard to the recognition of the activities performed, andfinally the effects of work on health, being found four profes-sors indicating the presence of occupational diseases. Thus, itwas possible to identify the elements studied in school workingrelationship that indicate a predominance of experiences ofsuffering over pleasure.

KEYWORDS: Psychodynamic, teachers, mental kealth,pleasure /pain.

1. INTRODUÇÃOCom o crescimento dos processos mundiais da glo-

balização o mundo do trabalho passou por fortes mu-danças. Essas mudanças geram impactos no psiquismodos trabalhadores, atingindo vários setores e instituiçõesda sociedade, modificando antigas relações e estabele-cendo novas demandas. Uma das demandas surgidas éendereçada à escola. Espera-se que a instituição escolarmelhor prepare os alunos para as condições do mercadode trabalho.

Porém essas exigências não vieram acompanhadas dadevida preparação de todo o contexto de trabalho. Osprofessores precisam capacitar os alunos para lidaremcom o mundo do trabalho, mas eles próprios não estãosendo preparados para estas novas demandas. É nestecenário que observamos o número crescente de adoeci-mento dos docentes, uma vez que precisam lidar não sócom as questões específicas da educação, mas com todosos aspectos que perpassam seu trabalho.

Foi pensando nesta condição dos professores, e par-tindo-se da hipótese de Dejours (1992)1 que o trabalhopode ser fonte de prazer ou de sofrimento, que a pesqui-sa se desenvolveu, propondo estudar o trabalho do pro-fessor, avaliando os aspectos que podem levá-lo ao so-frimento psíquico e como ele lida com esse sofrimento.

Da Psicopatologia à Psicodinâmica do trabalho:um breve histórico

A preocupação sobre a saúde do trabalhador não éum fenômeno recente e novo na história da humanidade.Os registros históricos e estudos mais aprofundados esistematizados, sobre o adoecimento dos trabalhadoresdatam dos séculos XVI e XVII, principalmente, atravésdas contribuições de Ramazzini7. Foi a partir desse estu-dioso é que a medicina e outras áreas do conhecimento,foram influenciadas e passaram a se preocupar, cada vezmais, quanto ao entendimento do adoecimento do traba-lhador.

Porém, foi somente na primeira metade do séculoXIX, com o advento da Revolução Industrial, que a Me-dicina do Trabalho surgiu enquanto especialidade médi-

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ca na Inglaterra8. A partir de então muitos autores e pes-quisadores se preocuparam com o adoecimento cada vezmais crescente dos trabalhadores. Assim, os casos deacidentes, adoecimentos e sofrimento mental no e porcausa do trabalho fizeram emergir na França, no final dadécada de 40, um novo campo de estudo: a Psicopatolo-gia do Trabalho9.

A Psicopatologia do Trabalho é uma área no campoda Saúde Mental e Trabalho, que se preocupa em estudaros componentes psicológicos do adoecimento do traba-lhador a partir da profissão e/ou a situação de trabalho.Pode ser definida como “a análise da dinâmica dos pro-cessos psíquicos mobilizados pela confrontação do su-jeito com a realidade do trabalho”3.

É um campo de estudo que teve seu surgimento apartir do movimento da Psiquiatria Social, e com issosofreu influência de seus estudiosos. Segundo Lima(2002) este movimento deu origem pelo menos duascorrentes que vieram a contribuir com os estudos daPsicopatologia do Trabalho: a organogênese e a socio-gênese. A organogênese influenciou os estudos de PaulSivadon. Este teórico foi que primeiro utilizou, a ex-pressão “Psicopatologia do Trabalho”, em um artigointitulado e publicado em 19529. Enquanto que a socio-gênese, influenciou Louis Le Guillant, que propôs umaabordagem de saúde mental no trabalho em “que permi-tisse demonstrar a existência de uma relação entre talcondição de vida ou de trabalho e o surgimento, a fre-quência ou a gravidade dos distúrbios mentais”9. Se-gundo Zambroni de Souza & Athayde (2006)10 a pro-posta de Le Guillant não era enfatizar a condição socialpatogênica em si, mas as contradições, incompatibilida-des e conflitos que essa condição contém e que ela tentaimpor ao sujeito.

Outro estudioso e grande expoente da Psicopatologiado Trabalho, que tem trazido importantes contribuiçõespara a Saúde Mental e do Trabalho é Christophe Dejours.As contribuições das pesquisas e estudos desenvolvidaspor este autor são de fundamental importância para oentendimento do sujeito no trabalho.

Para Seligmann-Silva (2007)11 a produção intelectualde Dejours revela um olhar amplo e integrador, que cor-responde justamente ao desafio do campo que escolheu:o de articular saberes originados de diferentes áreas doconhecimento humano. Foi através de Dejours que osaportes teóricos da psicanálise entraram na discussão docampo da Saúde Mental e do Trabalho.

O conceito sobre estratégias defensivas elaboradospor Dejours é central em sua obra. Em A Loucura doTrabalho (1992)5 o autor se dedica a descrever: as prin-cipais estratégias defensivas utilizadas pelo coletivo dostrabalhadores; as funções dessas estratégias, e os meca-nismos de defesa individual criado pelos trabalhadorescontra a organização do trabalho.

Dejours, Abdoucheli & Jayet (2007)3 definem as es-

tratégias como mecanismos pelo qual o trabalhador bus-ca modificar, transformar e minimizar a percepção darealidade que o faz sofrer. Essas estratégias podem serconstruídas no plano coletivo dos trabalhadores. Umavez erigidas pelo coletivo tomam o formato de ideologi-as defensivas: mecanismo defensivo criado pelo grupode trabalhadores e compartilhado entre eles para aliviarao até mesmo afastar o sofrimento, o medo e a angústiaque o trabalho traz. Assim o fracasso ou a ruína das es-tratégias defensivas erguidas pelo trabalhador pode le-vá-lo ao adoecimento tanto físico quanto psíquico. Essasestratégias têm como função protegê-lo das ameaçasexistentes no trabalho que ocasionam o seu adoecimento.

O adoecimento dos professores: alguns estu-dos

Enquanto categoria profissional, historicamente, osprofessores não tiveram devida importância nos estudosno campo da Saúde Mental e do Trabalho. Observando areferência das publicações sobre o tema no Brasil, ape-nas recentemente estudiosos e pesquisadores tem-sepreocupado com esses trabalhadores.

Um estudo mais específico sobre a relação das con-dições de trabalho e o adoecimento físico e mental dosprofessores foi realizado por Gasparini, Barreto & As-sunção (2005)12. Trata-se de uma pesquisa documentaltendo como base o Relatório da Prefeitura Municipal deBelo Horizonte, juntamente, com o Sindicato Único dosTrabalhadores em Educação em Minas Gerais –sind-UTE12. Segundo os dados apresentados no artigo, aGerência de Saúde do Servidor e Perícia Médica (GSPM)realizou dezesseis mil quinhentos e cinquenta e seisatendimentos de servidores da educação no período demaio de 2001 a abril de 2002, sendo que, noventa e doispor cento dos atendimentos provocaram afastamento dotrabalhador. “Os afastamentos no grupo geral de servi-dores são concentrados na categoria dos professores,totalizando 84% dos servidores afastados”12.

As autoras chamam a atenção que os dados por si sónão podem expressar os problemas de saúde vividospelos professores, ou que seja possível, estabelecer cor-relação direta desses problemas com o trabalho por elesdesenvolvido. Contudo tais fatores são indicadores quepermitem elaborar hipóteses articuladas com os dados daliteratura12. Foi ainda identificado nesta pesquisa, que ostranstornos psíquicos ocuparam o primeiro lugar entre osdiagnósticos que provocaram o afastamento, correspon-dendo a 15,3% dos afastamentos.

Além das pesquisas sobre o adoecimento dos pro-fessores, que enfatizam os aspectos biológicos e psico-lógicos, alguns pesquisadores têm voltado sua atençãopara entender o adoecimento do professor como burnout.Vasques-Menezes (2005)13 realizou uma pesquisa atra-vés de entrevistas com professores da rede pública doensino fundamental de Brasília, DF, para o entendimento

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do processo de sofrimento mental no trabalho, mas es-pecificamente com relação ao sofrimento como burnout.Em seu trabalho a autora traz uma articulação de diver-sos autores sobre o conceito de burnout, caracterizandocomo estado decorrente de uma tensão emocional crôni-ca gerada a partir do contato direto e excessivo com ou-tras pessoas na situação de trabalho, particularmentequando envolve atividade de cuidado. Uma síndrome pormeio do qual o trabalhador perde o sentido da sua rela-ção com o trabalho, de forma que este já não importa damesma maneira que antes e qualquer esforço lhe pareceser inútil13. Para a autora, os efeitos do burnout podemser “percebidos tanto na esfera individual como na pro-fissional e organizacional, afetando aspectos que ultra-passam o plano pessoal, afetivo e institucional”13. Assim,para a realização de estudo na perspectiva do burnout, énecessária uma análise não apenas do trabalhador emquestão. Mas sim um estudo mais detalhado que com-preenda o trabalhador no seu contexto de trabalho, ascondições organizacionais e institucionais que permitema execução de suas tarefas.

Partindo do conceito de saúde como o bem estar bi-opsicossocial, é importante ressaltar que a saúde nãodeve ser interpretada apenas pelo adoecimento físico doprofessor. Lidar com o sofrimento pode levar o professora desenvolver, muitas das vezes, vivências adoecidas. Obem estar do professor não é algo que passa apenas peloorgânico. Sua saúde mental e social deve estar em equi-líbrio para considerá-lo como saudável.

Os estudos apresentados demonstram o adoecimentodo professor em diversos níveis e diversas explicaçõespara o entendimento desse adoecimento. Apesar dosprofessores no Brasil estarem influenciados por variáveissemelhantes14, existe as particularidades de cada escolaque não podem deixar de ser consideradas, como influ-enciadores no entendimento da dinâmica saú-de-adoecimento dos professores. Entender como os pro-fessores adoecem, passa por uma análise e compreensãodo contexto de trabalho, do que é comum a todos; atéchegar às particularidades de cada sujeito professor ecomo este, constrói suas vivências e relações de traba-lho.

Assim, desenvolveu-se uma pesquisa com o objetivode investigar as relações entre saúde e trabalho docente,a partir do levantamento dos aspectos de seu contexto detrabalho e dos relatos de suas vivências de prazer/ sofri-mento. Foram selecionados para investigação os profes-sores de uma escola da rede pública de ensino do muni-cípio de Ipatinga - MG.

O estudo tratou-se de uma pesquisa de campo, emque os dados da pesquisa, receberam um tratamentoquantitativo e qualitativo: quantitativo pois, foi aplicadoum inventário com os sujeitos da pesquisa e, a partirdesse inventário os dados foram quantificados e anali-sados. Qualitativo uma vez que ainda foram realizadas

entrevistas individuais com os docentes visando analisaro conteúdo e complementar as informações advindas daaplicação do inventário.

2. MATERIAL E MÉTODOSO fenômeno escolhido para o estudo foram as

vivências de prazer e os sofrimento de professores deuma escola pública do município de Ipatinga - MG. Ini-cialmente foi realizado um contato com a diretora deuma escola da rede estadual de ensino, em que foi apre-sentado o projeto de pesquisa. Com aprovação da dire-tora foi marcada um encontro com os professores paraapresentação da proposta.

No encontro com os professores, o pesquisador ex-plicou a proposta da pesquisa e entregou o Termo deConsentimento Livre e Esclarecido, em que os partici-pantes concordavam em participar da pesquisa e que suaparticipação ocorria de livre e espontânea vontade, deacordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde196/96; e o instrumento de coleta para os professores,para que os mesmos respondessem naquele momento.

Assim, a pesquisa contou com amostra de trinta ecinco sujeitos, sendo, trinta e três professores e duaspedagogas. Desses apenas um professor era do sexomasculino. O instrumento utilizado nessa amostra foi oInventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento(ITRA) e, posteriormente, os professores foram selecio-nados aleatoriamente para a realização das entrevistasindividuais.

O ITRA tem como objetivo mensurar distintas e in-terdependentes modalidades de representações dos res-pondentes relativas ao mundo do trabalho. Essas repre-sentações se estruturam em quatro categorias: contextode trabalho, exigências, sentido do trabalho e efeitos dotrabalho. Este instrumento foi criado e validado por Fer-reira & Mendes (2007)2, tendo sido adaptado e revali-dado em 2004, e novamente submetido à validação, emfunção de pequenos ajustes, no ano de 2006. Sobre ainterpretação dos resultados Mendes instrui que deve serfeita com base nas médias gerais dos fatores e percentualde respondentes nos intervalos das médias, ou seja, onúmero absoluto de trabalhadores. Também é importanteanalisar os dois itens do fator avaliados com médiasmais altas e mais baixas, a fim de verificar quais situa-ções estão influenciando os resultados gerais2.

Ainda sobre a interpretação dos resultados, cada fatore suas categorias podem ser analisados pela avaliaçãorecebida como satisfatório, crítico e grave. Sendo Satis-fatório um resultado positivo e produtor de prazer notrabalho, aspecto a ser mantido e consolidado no ambi-ente organizacional. Crítico é um resultado mediano,indicador de ‘situação-limite’, potencializando o custonegativo e o sofrimento no trabalho, sinaliza estado dealerta, requerendo providências imediatas a curto e mé-dio prazo. E grave é um resultado negativo e produtor de

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custo humano e sofrimento no trabalho, indica forte ris-co de adoecimento, requerendo providências imediatasnas causas, visando a eliminá-las e/ou atenuá-las2.

Assim, cada categoria possui escala própria de ava-liação. As categorias contexto e exigências do trabalhopossuem os mesmos valores de escala para a classifica-ção: a Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho(EACT) e a Escala de Custo Humano no Trabalho(ECHT), respectivamente.Tabela 1. Escala de avaliação do contexto de trabalho (EACT) e escalade custo humano no trabalho (ECHT).

Valores Classificação

Acima de 3,7 Avaliação mais negativa, grave

Entre 2,3 e 3,69 Avaliação mais moderada, crítico

Abaixo de 2,29 Avaliação mais positiva, satisfatório

A categoria sentido do trabalho é composta de poruma escala de sete pontos, que avalia a ocorrência devivências de prazer e sofrimento no trabalho. Essa escalaé denominada Escala de Indicadores de Prazer - Sofri-mento no Trabalho (EIPST). Os fatores do prazer (reali-zação profissional e liberdade de expressão) são consi-derados itens positivos e avaliados de maneira diferentedas escalas anteriores, enquanto que os fatores de sofri-mento (esgotamento profissional e falta de reconheci-mento) são interpretados de maneira negativa.

Tabela 2. Escala de indicadores de prazer-sofrimento no trabalhoValores Classificação

Vivências de Prazer Vivências deSofrimento

Acima de4,0

Avaliação mais positiva,satisfatório

Avaliação mais negativa,grave

Entre 3,9 e2,1

Avaliação moderada,crítico

Avaliação moderada,crítico

Abaixo de2,0

Avaliação para raramente,grave

Avaliação menos nega-tiva, satisfatório

Por fim, a última categoria, efeitos do trabalho, pos-sui escala denominada Escala de Avaliação dos DanosRelacionados ao Trabalho (EADRT), sendo composta desete pontos e avaliada, em quatro níveis.

TABELA 3. Escala de avaliação dos danos relacionados ao trabalhoValores Classificação

Acima de 4,1Avaliação mais negativa, presença de doenças ocupa-cionais

Entre 3,1 e4,0 Avaliação moderada para freqüente, graveEntre 2,0 e3,0 Avaliação moderada, críticoAbaixo de1,9 Avaliação mais positiva, suportável

Com base nos resultados encontrados através do

ITRA, foi possível a construção de um roteiro de entre-vista semiestrutura, a ser realizada com os professores.Ao todo foram realizadas sete entrevistas com professo-res, sendo que, dessas entrevistas quatro foram gravadase três não gravadas devido a problemas técnicos com ogravador, que impediram a gravação das entrevistas.

Para a análise das entrevistas, utilizou-se como téc-nica a Análise dos Núcleos de Sentido (ANS), tem comofinalidade agrupar o conteúdo latente e manifesto dotexto, com base em temas, que constituem um núcleo desentido, em definições que deem maior suporte às inter-pretações2.

Por fim, o aporte teórico que possibilitou fazer umaleitura dos dados foi primordialmente a Psicodinâmicado Trabalho, apoiando-se principalmente nos escritos deDejours (2007, 1996,1992,2007b)3,4,5,6. Das obras doautor, as principais utilizadas são a Loucura do Trabalhoe Psicodinâmica do Trabalho: Contribuições da EscolaDejouriana à Análise da Relação Prazer, Sofrimento eTrabalho.

3. RESULTADOS e DISCUSSÃOAs vivências de prazer e sofrimento: os resul-tados

Os resultados encontrados pelo ITRA foram analisa-dos segundo cada escala pertencente a sua categoria. Apartir desses dados, foi construído um roteiro de entre-vista semiestruturada que permitiu aprofundar os princi-pais aspectos que obtiveram resultado relevante da apli-cação do ITRA. As entrevistas foram analisadas pelatécnica de ANS e sua relação com os dados do ITRAforam apresentadas em cada categoria. Assim os dadosque seguem constaram dos resultados do ITRA e daaplicação do ANS para cada categoria.

Análise do contexto de trabalho

A categoria contexto de trabalho é dívida em três fa-tores: organização do trabalho, relações socioprofissio-nais e condições de trabalho. Os resultados encontradospara a categoria indicam uma avaliação mais moderada,crítica. Contudo, ao realizar a soma dos resultados críti-cos com os graves, notamos que a categoria apresentauma avaliação grave, produtora de custo humano e so-frimento no trabalho.

No fator organização do trabalho, 79% dos professo-res realizaram uma avaliação mais moderada, crítica e21% avaliaram mais negativa grave. A organização dotrabalho é definida como a divisão e organização dastarefas, normas, controles e ritmos de trabalho. Os itensdo inventário do fator organização do trabalho, que re-ceberam avaliação negativa, grave foram: existe fortecobrança por resultados e existe fiscalização do desem-penho. Nas entrevistas pode-se perceber que essa co-brança é realizada através de reuniões com o grupo de

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professores ou até mesmo individualmente. As profes-soras colocaram que a cobrança realizada pela escola,vem do Estado, que cobra a melhoria do desempenhodos alunos.

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Organização do Trabalho RelaçõesSocioprofissionais

Condições de Trabalho

Categorias

Res

ult

ado

s

Avaliação mais negativa, grave Avaliação mais moderada, crítico

Avaliação mais positiva, satisfatória

Figura 1. Escala de avaliação do contexto de trabalho

[...] a gente trabalhava assim, mais a vontade, não ti-nha assim, muito uma direção pra gente tomar. Não tinhaessa cobrança do Estado. Então, de um tempo pra cá,depois dessas avaliações, que viu que o desempenho nãoestava bom, a cobrança do Estado é muito grande. Muitogrande! Tem que mostrar resultado de qualquer jeito, eessa cobrança do Estado afeta na escola. Porque o Esta-do cobra da supervisora, e a supervisora cobra da gente(informação verbal)1.

Dado o exposto percebe-se que a cobrança realizada,através das avaliações de desempenho é vista como con-traditória, uma vez que, de acordo com as entrevistadas,não é condizente com a realidade enfrentada por elas,sendo vivenciada de forma negativa e gera sofrimento.

Nas relações socioprofissionais, conceituada como osmodos de gestão do trabalho, comunicação e interaçãoprofissional, os resultados foram: 71% dos professoresavaliaram como positiva, satisfatória e 29% dos profes-sores avaliaram como moderada, crítico. A vivência po-sitiva sobre o relacionamento interpessoal entre os pro-fessores foi também encontrada nas entrevistas realiza-das. Pelos resultados encontrados e em se tratando docoletivo dos professores, Silva assim nos diz:

O grupo mantém, dentro do seu universo, indivíduosque estão muitas vezes, em profundo sentimento de uni-ão, amor e identificação. Mas também podemos presen-ciar nos grupos elementos de rivalidade, ódio e contraidentificação (...). Esses laços emocionais de simpatia eantipatia representam a grande teia que demarca os pon-tos de conflito e os pontos de concordância dentro dosgrupos15.

Nota-se que as relações socioprofissionais são viven-ciadas de forma positiva, uma vez que ao lidarem com

1 Informação repassada por “P3” em entrevista.

situações semelhantes do dia-a-dia da escola, facilita oprocesso de identificação. Pode-se ainda sugerir que orelacionamento interpessoal é uma estratégia defensivadesse grupo de professores, uma vez que é no grupo queeles se unem e se fortalecem e lutam contra um sofri-mento comum: o contexto de trabalho, as condições or-ganizacionais, entre outras.

As condições de trabalho são definidas como a qua-lidade do ambiente físico, posto de trabalho, equipa-mentos e material disponibilizados para a execução dotrabalho. Esse fator recebeu avaliação mais positiva,satisfatória de 12% dos professores, avaliação mais mo-derada, crítico por 62% e avaliação mais negativa, gravepor 26%. Ou seja, 88% dos professores se encontraminsatisfeitos com as instalações físicas da escola, avali-ando como inadequado para a prática profissional. Dessaforma, podemos indicar que a estrutura física da escola ea organização da mesma é fonte de insatisfação para osprofessores. A falta de instalações físicas adequadas aotrabalho docente gera sofrimento no trabalho.

Semelhante resultado foi encontrado nas entrevistasindividuais. As professoras entrevistadas queixaram-se,da estrutura física da escola e dos materiais disponibili-zados para a execução das atividades. Sobre a estruturafísica, as professoras relataram que, pelo prédio serconstruído por placas, é muito quente, e quando chega operíodo de calor a dificuldade de dar aula aos alunosaumentam. Quanto aos materiais disponibilizados, sãoinsuficientes, ou os professores não possuem preparopara lidar com o material disponível.

Análise das exigências do trabalho

A segunda categoria, exigências do trabalho, diz res-peito à descrição das exigências e são representaçõesrelativas ao custo físico, custo cognitivo e custo afetivodo trabalho. Essa categoria é avaliada pela Escala deCusto Humano no Trabalho (ECHT).

0

5

10

15

20

25

30

35

Custo Afetivo Custo Cognitivo Custo Físico

Categorias

Res

ulta

dos

Avaliação mais negativa, grave Avaliação mais moderada, crítico

Avaliação mais positiva, satisfatório

Figura 2. Escala de custo humano do trabalho.

O primeiro fator dessa categoria é o custo afetivo,definido como o dispêndio emocional, sob a forma dereações afetivas, sentimentos e de estados. Esse fator

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indica que 18% dos pesquisados avaliaram mais positiva,satisfatória o custo afetivo empregado em suas tarefas;62% como moderada, crítico e 20% avaliação mais ne-gativa, grave. Assim, temos que 82% dos professorescom avaliação grave desse fator.

Expressar afetos e sentimentos no contexto de traba-lho tem sido vivenciado, pelos docentes, de forma nega-tiva, sendo gerador de sofrimento. Pelos resultados doITRA, neste fator os itens que receberam avaliação maisnegativa, grave, foram: ter controle das emoções, tercusto emocional e ser obrigado a lidar com a agressivi-dade dos outros. Essas informações também puderam sercoletadas nas entrevistas realizadas, em que as professo-ras relatam as dificuldades de lidar com os alunos prin-cipalmente em manter o respeito deles por elas. Asqueixas giram em torno, dos alunos ofenderem os pro-fessores em sala de aula, através de provocações e “xin-gamentos”, e as mesmas terem que se calar e “não po-derem retrucar”.

Tem aluno que te faz às vezes, você senti, um poucoassim de raiva, de você sentir as vezes assim ... comovou dizer; ele te ofende, você se sente ofendida e vocênão pode retrucar. Então você assim, normalmente otempo todo, na sala de aula, eu tenho aluno assim, queinsulta a gente o tempo todo, te fala assim, te chama detudo quanto é nome, coloca apelido inadequados e coisae tal. Então a gente reprime o tempo todo na sala (infor-mação verbal)2.

Além da realidade de sala de aula, algumas profes-soras relatam sobre a falta de apoio de outros professorese do corpo administrativo da escola.

[...] na hora que eu preciso do apoio, eu não tenho, agente não tem. Apoio dos superiores a gente não tem. Agente exige, mas a gente não tem proteção, a gente nãotem, aquilo que, como diz, você vai e faz, se você faz evocê errar é problema seu. Eu não vou te apoiar, aqueleque ... entendeu!? Meus sentimentos, às vezes dá assimuma certa angústia, uma mágoa, de certas ... essa ... sa-be?! ... essa maneira de oferecer a risco aquilo que mepede a fazer, aquilo que me autoriza fazer. E, no entantoa gente não tem apoio dos superiores (informação ver-bal)3.

O segundo fator dessa categoria, o custo cognitivo,que significa o dispêndio intelectual para aprendizagem,resolução de problemas e tomada de decisões no traba-lho. Encontraram-se como resultados que: 85% dos pro-fessores avaliam como mais negativa, grave os itensdessa categoria e, 15% de avaliação mais moderada,crítico. Nos dados gerais por fatores, o custo físico nãorecebeu avaliação mais positiva, satisfatória.

Os dados desse fator são de certa forma, preocupan-tes e previsíveis. Preocupantes, pois, do ponto de vista

2 Informação repassada por “P1” em entrevista.3 Informação repassada por “P2” em entrevista.

cognitivo, é uma atividade que exige muito dos profes-sores, que provoca um cansaço mental muito grande,desmotivando-os a realizarem outras atividades quando,por exemplo, chegam à suas residências. Previsíveistambém, pois, como já afirma Pessanha (1994)16, o sur-gimento do trabalho do professor, está vinculado à divi-são social do trabalho, diferenciando o trabalho manualdo intelectual. Assim, temos que o trabalho docente éuma atividade intelectual que exige, constantemente, doprofessor um exercício de suas competências e habilida-des cognitivas.

O terceiro fator avaliado nessa categoria é o custo fí-sico, é definido como dispêndio fisiológico e biomecâ-nico imposto ao trabalhador pelas características docontexto de produção. A avaliação encontrada foi: 59%avaliação mais positiva, satisfatória; 9% de avaliaçãomais moderada, crítico; e 32% de avaliação mais nega-tiva, grave. As atividades físicas realizadas pelos pro-fessores são vistas, pelo mesmo, de forma natural, comoalgo característico e necessário da atividade, podendoafirmar, que as mesmas são vivenciadas de forma satis-fatória. Contudo não se pode afirmar que as atividadesfísicas sejam geradoras de vivências de prazer. Os itensdo inventário para este fator que receberam avaliaçãomais negativa, grave foram: usar os braços de formacontínua, caminhar, ser obrigado a ficar em pé, usar aspernas de forma contínua e usar as mãos de forma repe-tida. Neste fator o único item que recebeu avaliação maispositiva, satisfatório foi: subir e descer escadas, uma vezque, o prédio da instituição não possui escadas e sim,rampas de acesso.

Análise do sentido do trabalho

A terceira categoria descreve o sentido do trabalho,sendo composta por quatro fatores: dois para avaliar oprazer – realização profissional e liberdade profissional– que receberam avaliação satisfatória, e dois para avali-ar o sofrimento no trabalho – falta de reconhecimento eliberdade de expressão. Essa categoria é medida pelaEscala de Indicadores de Prazer-Sofrimento no Trabalho(EIPST).

Sobre as vivências de sofrimento, indicada pelos fa-tores: falta de reconhecimento e esgotamento profissio-nal, neste a avaliação se apresentou de maneira maisequilibrada, e aquele recebeu uma avaliação mais mode-rada, crítico. O gráfico comparativo se encontra abaixo.

Analisando cada fator separadamente, a liberdade deexpressão, definida como a vivência de liberdade parapensar, organizar e falar sobre o seu trabalho, recebeuavaliação mais positiva, satisfatória de 82% dos profes-sores, e 18% de avaliação moderado, crítico. As vivên-cias de expressar suas opiniões e pensamentos no con-texto de trabalho são avaliados pelos professores comopositivas. Os docentes possuem espaço que os faz sentir

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a vontade de expressar aquilo que pensam, sem haveruma punição ou coerção sobre o que é falado. Nas entre-vistas individuais as professoras relatam que sentemliberdade de falar o que pensam, dar opiniões, e que sãoouvidas, mas que, não necessariamente quer dizer quesão aceitas. Ou seja, o corpo administrativo e pedagógi-co da instituição ouve os professores, mas nem sempreatende a suas opiniões e sugestões.

05

1015202530

Liberdade de Expressão Realização Profissional

Categorias

Resu

ltad

os

Avaliação mais positiva, satisfatório Avaliação moderada, crítico

Avaliação para raramente, grave

Figura 3. Indicadores de prazer no trabalho

0

5

10

15

20

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Esgotamento Profissional Falta de Reconhecimento

Categorias

Resu

ltad

os

Avaliação mais negativa, grave Avaliação moderada, crítico

Avaliação menos negativa, satisfatório

Figura 41. Indicadores de sofrimento no trabalho

Sinto. Aqui na nossa escola... é o terceiro ano que euestou aqui, tem pouco tempo né! Mas eu acho esse am-biente muito bom, assim, a gente pode falar o que pensa,se não gostou a gente fala que não gostou, não tem muitapressão nesse sentido não (informação verbal)4.

O fator realização profissional é conceituado como avivência de gratificação profissional, orgulho e identifi-cação com o trabalho que faz. Nos resultados encontra-dos no ITRA, 73% dos professores realizaram uma ava-liação positiva, satisfatório, 21% avaliação mais mode-rado, crítico e 6% para raramente, grave. Pelos dados

4 Informação repassada por “P3” em entrevista.

encontrados podemos indicar que a maioria dos profes-sores se encontram realizados profissionalmente, po-dendo essa realização ser geradora de prazer para osmesmos. Os professores que indicam uma avaliaçãograve para este fator vivenciam o trabalho docente deforma negativa, com vivência de sofrimento. Nas entre-vistas individuais, quando perguntadas sobre a realiza-ção profissional, algumas professoras responderam, quesentiam que estavam realizadas profissionalmente. Ou-tras colocaram que a escolha da profissão de professorase deu por, no momento de suas vidas, não poderem se-guir outra carreira. Seja por condição financeira, seja porser a “opção existente”. A professora P5 relatou na en-trevista que na verdade ela gostaria de ser médica oudentista, mas como não possuía condições de pagar afaculdade, optou por ser professora (informação ver-bal)5.

O esgotamento profissional avalia as vivências defrustração, insegurança, inutilidade, desgaste e estresseno trabalho. Para este fator, foram apresentados os se-guintes resultados: 41% de avaliação mais negativa,grave; 24% de avaliação moderado, crítico; e 35% deavaliação mais negativa, satisfatório. Pelos resultadosindicados as vivências de frustração, insegurança, inuti-lidade, desgaste e estresse são constantes nas atividadesexecutadas pelos professores, sendo vivência de sofri-mento para os mesmos. Os relatos de vivências de frus-tração são apresentados por todas as professoras entre-vistadas. Algumas chegam a expressar que não acredi-tam mais na educação. Entre os principais fatores defrustração apresentados pelas professoras, podemos citar:os alunos não aprenderam, não respeitam o professor emsala de aula, a família do aluno deixa toda a responsabi-lidade da educação nas mãos do professor, a estruturafísica da instituição, entre outros.

Sobre a família repassar para a escola a responsabi-lidade de educação dos filhos já foi apontado EsteveSaragoza (1987)6 apud Vasques-Menezes (2005)13 quecom a inibição dos vários agentes de socialização dacriança no seio da família, coube à escola absorver oessa função, sobrecarregando ainda mais o professor.

O fator falta de reconhecimento é entendido comovivências de injustiças, indignações e desvalorizaçãopelo não-reconhecimento do seu trabalho. Segundos osresultados do ITRA, 15 % dos professores possuem vi-vências mais negativa, grave em relação ao reconheci-mento ao seu trabalho; 59% de avaliação moderado,crítico; e 26 % de avaliação mais negativa, satisfatório.Pelos resultados encontrados podemos sugerir que oprocesso de reconhecimento do trabalho dos professores,seja através do corpo administrativo-pedagógico, dos

5 Informe repassado por “P5” em entrevista.6 Esteve Saragoza JM. Teacher burnoutand teacher stress. In:Cole M, Walker S. Teaching and stress. Milton Keynes. OpenUniversity Press. 1987.

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próprios professores, ou até mesmo, dos pais dos alunos,é precário. Encontramos que 74% dos docentes da insti-tuição possuem vivência de sofrimento, seja por causade injustiças, indignação, desvalorização enão-reconhecimento do trabalho executado. A falta dereconhecimento gerar nos professores desmotivação paraa execução das tarefas, influenciando diretamente emseu desempenho. Sobre o reconhecimento do trabalho,Chanlat realiza uma análise social da situação profissio-nal do docente enquanto um servidor público:

No decorrer dos últimos vinte anos, os empregadosdo setor público e notadamente os funcionários sofrerammais ou menos fortemente o discurso sobre sua supostaineficiência, sua fraca produtividade, até sua verdadeirautilidade. Ora, o reconhecimento, como mostra a psico-dinâmica do trabalho, está no âmago do prazer e do so-frimento no trabalho (Dejours, 1990; 1993). Como po-deriam os funcionários serem motivados se, não somentenão têm sempre os meios de trabalhar, mas também sãoobjeto de escárnio da população [...]. Atinge-se aí umelemento central de sua identidade profissional17.

A questão do reconhecimento também foi levantadanas entrevistas individuais.

Pesquisador: E você sente reconhecimento pelo tra-balho?

P3 – Muitas das vezes não. Não pela última avalia-ção que eu tive mesmo, que eu tomei o maior susto queminha avaliação não foi das legais, não foi muito boa.Quem viu fora, quem me reconhece, quem vê o trabalho,que está ali fora comigo, [...], quem viu ficou admirado:“quer dizer que sua nota foi esta?”. Eu reclamei até [...](informação verbal)7.

Análise dos efeitos do trabalho para a saúdeA última categoria avalia os efeitos do trabalho para

a saúde, sendo composta por três fatores: danos físicos,danos psicológicos e danos sociais. Essa avaliação érealizada pela Escala de Avaliação dos Danos Relacio-nados ao Trabalho (EADRT). Esta é a única escala doinventário diferente das demais, principalmente no quediz respeito à mensuração.

Dessa forma encontramos, como resultado da amos-tra coletada apenas uma professora com avaliação maisnegativa, indicando a possibilidade de doenças ocupaci-onais. Esta professora alcançou escores de 4,10 nestacategoria, o necessário para inferir a possibilidade deadoecimento. Nos fatores: danos físicos, danos sociais edanos psicológicos, a pesquisa alcançou 3,58; 4,42; e 4,5respectivamente. No fator danos físicos, foram encon-tradas quatro professoras indicando avaliação mais ne-gativa, presença de doenças ocupacionais. Os resultadoscomparativos podem ser observados no gráfico abaixo.

7 Informação repassada por “P3” em entrevista.

05

101520253035

Danos Físicos Danos Sociais Danos Psicológicos

Categorias

Re

su

lta

do

s

Avaliação mais negativa, presença de doenças ocupacionais

Avaliação moderada para frequente, grave

Avaliação moderada, crítico

Avaliação mais positiva, suportável

Figura 5.2 Avaliação dos danos relacionados ao trabalho

O fator danos físicos é definido como dores no corpoe distúrbios biológicos. Obtiveram-se como resultadosdesse fator que 12% dos professores com avaliação maisnegativa, presença de doenças ocupacionais; 15% deavaliação moderada para frequente, grave; 38% comavaliação moderada, crítico; e 35% de avaliação maispositiva, suportável. Assim, temos que 65% dos profes-sores em situação de sofrimento em relação aos aspectosfísicos do trabalho. Os itens desse fator, que receberamavaliação mais moderada para frequente, grave foram:dores no corpo, dores nos braços, dores nas costas e do-res nas pernas. A atividade docente é, por vezes, caracte-rizada por muita movimentação (locomoção em sala deaula e pela escola) e, observamos que o espaço de salade aula, principalmente, oferece poucas condições ergo-nômicas para o trabalho docente. Cadeiras e mesas nãosão adaptadas e confortáveis, o que pode gerar as doresacima mencionadas.

O fator danos sociais é definido como isolamento edificuldades nas relações familiares e sociais. Na avalia-ção realizada pelos professores, apenas 3% apresentam apossibilidade de presença de doenças ocupacionais; 12%de avaliação moderada, crítico; e 85% de avaliação maispositiva, suportável. Pelos itens avaliados pelo ITRA,pode-se afirmar que as vivências de trabalho dos pro-fessores não possuem interferência direta em seus rela-cionamentos familiares e sociais. Na análise das entre-vistas, as professoras não relataram qualquer ligaçãoentre o trabalho e suas relações extra laborais.

Quanto aos danos psicológicos, definidos como ossentimentos negativos em relação a si mesmo e à vidaem geral, encontraram-se como resultados que 3% dosprofessores realizaram uma avaliação mais negativadesse fator, indicando a possibilidade de presença dedoenças ocupacionais; 17% de avaliação moderada parafrequente, grave; 15% de avaliação moderada, crítico; e65% de avaliação mais positiva, suportável. Apesar daavaliação mais positiva, suportável, ser superior aos 36%

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dos professores indicam uma avaliação negativa quantoaos sentimentos em relação a si mesmo e à vida em geral,são valores que devem ter um olhar mais cuidadoso, poisdiz respeito a imagem que o professor tem dele mesmo eque influencia de alguma forma, a execução das suasatividades. Nas entrevistas individuais, as professorasquando perguntadas, quais os sentimentos em relação asi mesmas, responderam que se sentem bem. Algumas,porém, manifestaram que apesar de se sentirem bem,possuem frustrações quanto o trabalho na escola.

Pesquisador: Quais são os sentimentos que vocêtem em relação a você mesma?

P1: Nossa que pergunta difícil! (risos) Profissio-nal, ou não?

Pesquisador: No profissional e pessoal.P1: Pessoal sou extremamente satisfeita com a

minha vida. Sou muito feliz, tenho uma família queeu amo muito, estou muito satisfeita. Agora questãoprofissional, eu sou totalmente frustrada, insatisfeita,infeliz pelo o que acontece, pelo o que eu vejo, peloo que é a educação hoje em dia. Em geral. O proble-ma não está só aqui, está no Brasil. Então fico insa-tisfeita porque eu queria ver esses meninos de umaforma diferente, agirem diferente, falarem diferente ea sociedade leva para um meio que realmente medeixa muito frustrada (informação verbal)8.

4. CONCLUSÃOPodemos observar pelos resultados da pesquisa que

para o entendimento do sofrimento do trabalhador, sejafísico ou mental, é necessário um estudo mais detalhado,envolvendo os trabalhadores e o trabalho em si. Foi pos-sível ainda identificar que este sofrimento está além daspatologias, envolvendo as vivências e os vínculos que ostrabalhadores estabelecem com suas relações laborais.Partindo do conceito da Organização Mundial de Saúde(OMS), que saúde é o bem estar biopsicossocial, nãoapenas a ausência de doenças entende-se que o adoeci-mento do trabalhador pode envolver aspectos do meiosocial e do clima psicológico presente no contexto detrabalho.

O trabalho pode ser ainda entendido como um espaçode contradição. É fonte de sofrimento (seja a nível orgâ-nico, seja a nível psíquico), mas também é fonte de pra-zer. É no campo do trabalho que os trabalhadores bata-lham entre as exigências do trabalho, e as suas exigên-cias individuais. Dejours, através de seus estudos, jádemonstrou essa “contradição” existente no trabalho.

O conceito de ideologias defensivas já fora apresen-tado por Dejours, porém sua identificação exige um es-tudo mais detalhado do que o apresentado. Pelos resul-tados encontrados e a bibliografia estudada, encontramos

8 Informação repassada por “P1” em entrevista.

apenas indicadores de quais seriam as ideologias criadaspelo conjunto de professores utilizados como amostra napesquisa, mas que exigiriam uma pesquisa mais apro-fundada

Quanto aos mecanismos de defesa individuais cria-dos pelos professores, entende-se que a descoberta dosmesmos, exige uma investigação clínica, utilizando co-mo referencial a psicodinâmica do trabalho.

Sobre os resultados da pesquisa retratados neste es-tudo, podemos afirmar que, de modo geral, as condiçõesde trabalho da escola pesquisada, ainda não se encon-tram de maneira satisfatória, de modo a permitir que ogrupo de trabalhadores vivencie situações laborais maisprazerosas. As vivências de sofrimento relatadas pelasprofessoras e indicadas pelos resultados do inventário,demonstram que elas têm superado as situações de pra-zer.

Os danos aos professores não chegaram a um nívelcrítico, o que não quer dizer que não mereça uma devidaatenção. Um olhar mais atencioso, com ações preconi-zando a saúde dos professores (pensando a saúde peloconceito enunciado pela OMS), do corpo administrativoe pedagógico, pode transformar as vivências de sofri-mento em vivências de prazer. O diálogo poderia ser umprimeiro caminho para as mudanças.

Sobre a cobrança realizada, através das avaliações dedesempenho, vista como contraditória pelos professores,uma vez que, de acordo com as entrevistadas, não é con-dizente com a realidade enfrentada por elas, sendo vi-venciada de forma negativa e gera sofrimento. Este dadoencontrado na pesquisa levanta uma questão sobre osprocessos de avaliação, que poderiam ser objeto de fu-turas investigações afim de minimizar seus impactos.

Os resultados da Escala de Indicadores de Pra-zer-Sofrimento no Trabalho, nos fatores EsgotamentoProfissional e Falta de Reconhecimento, percebe-se altosíndices, indicando sofrimento grave em relação aos itensinvestigados, principalmente sobre a sobrecarga de ati-vidades. A insatisfação, o estresse e o esgotamento emo-cional são outros sentimentos que vem contribuindo paraas vivências de sofrimento. Contudo, percebe-se que asatisfação pelas atividades e a liberdade para a execuçãodas tarefas, são pontos positivos, que permitem ao pro-fessor vivenciar situações de prazer na escola.

Espera-se que a organização do trabalho escolar sejadirecionada de modo a permitir que os professores pos-sam produzir uma prática profissional significativa parasi mesmos. A escola deveria criar espaços para que osdocentes expressem seus sentimentos em relação àquiloque produzem e sobre as condições de trabalho, propor-cionando uma construção coletiva da resolução dos pro-blemas, que por vezes, levam as vivências de sofrimento.A qualidade de vida deve ser o eixo norteado da cons-trução da organização escolar, como das práticas profis-sionais.

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Sabe-se ainda que algumas transformações no traba-lho escolar não dizem respeito apenas à escola em ques-tão, mas também ao sistema educacional do Brasil. Me-lhores condições de trabalho, salários, valorização doprofissional, entre outras questões, deveriam ser resol-vidas em diálogos com secretarias de educação e gover-no de Estado. Proporcionar vivências de prazer, priori-zando o bem estar dos trabalhadores é uma alternativaque, não apenas contribui para a saúde individual e cole-tiva dos professores, mas que influi diretamente no pro-cesso de educação, melhorando a qualidade da mesma.

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copatologia do trabalho. São Paulo: Cortez – Oboré. 1992.[2] Mendes AM, Ferreira MC. Inventário de trabalho e riscos de

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[5] Dejours Christophe. A loucura do trabalho: estudo de psi-copatologia do trabalho. São Paulo: Cortez – Oboré. 1992.

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Vol.3,n.1,pp.28-32 (Abr - Jun 2014) Revista de Teorias e Práticas Educacionais

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A IMPORTÂNCIA DA IMPRENSA EM RELAÇÃO ÀREALIDADE DO IDOSO NA SOCIEDADE ATUAL

THE IMPORTANCE OF THE PRESS IN RELATION TO THE ELDERLY REALITYIN CURENT SOCIETY

MARIA CAROLINA GOBBI DOS SANTOS LOLLI1, JONATHAN AMORIM PERES2, PRISCILA ROCHALUIZ BUENO1, LUIZ FERNANDO LOLLI3, ELIANE ROSE MAIO4

1. Alunas do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá; 2. Aluno do Curso de Pós-Graduação em Pedagogia do Unicesumar; 3. Docente Adjunto do Departa-

mento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá e Faculdade Ingá. Coordenador do Mestrado Profissional em Odontologia da Faculdade Ingá; 4. Docente Adjunta do Departamento de

Teoria e Práticas da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá.

* Endereço para correspondência: Universidde Estadual de Maringá. Av. Colombo, 4750 – Maringá-Paraná. E_mail: [email protected]

Recebido em 28/04/2014. Aceito para publicação em 07/05/2014

RESUMOA população mundial está envelhecendo e este fato traz novasexigências para a sociedade. Nesse sentido, a imprensa tempapel fundamental no sentido de eliminar estereótipos e reduzirbarreiras para a interação desses indivíduos. Trata-se de umarevisão de literatura com o objetivo de discutir como o idosovem sendo tratado pela imprensa. Conclui-se que o debatesobre o envelhecimento na imprensa deveria ser maisfrequente, manifestando para a sociedade não só preocupaçãocom a velhice, mas também a importância destes indivíduostambém para a administração pública, já que eles têm cada vezmais voz ativa, poder de consumo e desejo de melhorescondições de qualidade de vida.

PALAVRAS-CHAVE: Idoso, envelhecimento, imprensa.

ABSTRACTThe world population is aging and this fact brings new requirementsfor membership. In this sense, the press plays a fundamental role ineliminating stereotypes and reduce barriers to these individualsinteraction. This is a review with the aim of discussing how theelderly are being treated by the press. We conclude that the debateabout aging in the press should be more frequent, expressing tosociety not only concern with old age, but also these individualsimportance also for public administration, because they haveincreasingly active voice, power consumption and desire of a betterlife quality.

KEYWORDS: Education elderly, aging, press.

1. INTRODUÇÃOO mundo está envelhecendo. Com esta mudança nos

padrões da humanidade, surgem novas exigências paraque a realidade seja adaptada a fim de fornecer subsídiospara a inclusão de todos. É fato que permanecer jovemcaracteriza-se como um desejo da maioria da população,influenciando a sociedade relacionar a velhice com aideia de fim, morte, inatividade.

A imprensa tem papel relevante neste sentido já quedeveria informar a realidade diversa e plural dos idosos,suas capacidades e necessidades, no sentido de eliminarestereótipos entre as gerações e reduzir as barreiras para aintegração. Como esta faixa etária é representada pelamídia? Estaria a imprensa brasileira capaz de suprir asnecessidades dos idosos?

2. MATERIAL E MÉTODOSTrata-se de revisão da literatura objetivando discu-

tir como o idoso é tratado pela imprensa na atualidade.Para tanto a pesquisa foi efetivada com base em livrosimpressos, dissertações e artigos da base de dados“SCIELO” sobre a temática: “idoso e imprensa”. Osdados referentes ao tema foram agrupados, analisados eorganizados nos tópicos “Considerações sobre o Enve-lhecimento”, “O Envelhecimento e a Sociedade Atual” ea “Imprensa e o Idoso”.

3. DESENVOLVIMENTOConsiderações sobre o envelhecimento no Bra-sil

A proporção de idosos na população brasileira crescedesde a década de 1960, quando se pôde observar maisclaramente a queda das taxas de fecundidade e o au-mento da expectativa de vida, propiciando uma redefi-nição nas responsabilidades familiares e nas demandaspor políticas públicas1. Na concepção de Nóbrega(2005)2, estima-se que em meados de 2025 a populaçãobrasileira terá um aumentado cinco vezes em relação ade 1950, ao passo que o número de pessoas com idadesuperior a 60 anos terá aumentado aproximadamente 15vezes. Como consequência deste aumento, o Brasil as-

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sumirá a sexta posição entre os países que são velhos?Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia3, apon-

tam para um aumento de mais de 27 anos na expectativade vida do brasileiro. Assim, para este instituto, em 2050,os idosos no país alcancem 81,29 anos de idade. Estesdados podem ser explicadas por inúmeros avanços tec-nológicos, sobretudo na área da saúde, que vêm acom-panhados das melhorias na condição de vida da popula-ção3.

Os números anteriormente apresentados refletem anecessidade de mais ações pertinentes ao atendimentodeste grupo com o intuito de integrá-los favorecendo oenvelhecimento mais ativo. Para que isto aconteça, Skli-ar (2006)4 salienta que a luta contra a exclusão englobanão apenas diferenças de gênero, grupo étnico, sexuali-dade, deficiências, mas também questões relacionadas àidade e convivência.

O envelhecimento e a sociedade atualVivemos em uma realidade que juventude é um ob-

jeto de desejo, sendo assim, o fato de envelhecer distan-cia-se deste padrão social. Aquilo que é velho traz con-sigo preconceitos, estereótipos e conotações pejorativassendo então vinculado àquilo que lembra morte, falta debeleza e inatividade5.

De acordo com Almeida (2008)6, o desenvolvimentohumano compreende o desenvolvimento mental e ocrescimento orgânico. Ele ainda é entendido como umprocesso de evolução das capacidades do indivíduo derealizar funções cada vez mais complexas. O desen-volvimento mental é uma construção contínua, que secaracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturasmentais que se vão se aperfeiçoando e solidificando atéo momento em que todas elas, estando plenamente de-senvolvidas, caracterizarão um estado de equilíbrio su-perior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva erelações sociais.

Algumas dessas estruturas mentais permanecem aolongo de toda vida. Por exemplo, a motivação está pre-sente como desencadeadora da ação, seja por necessida-des fisiológicas, seja por necessidades afetivas ou inte-lectuais. Essas estruturas mentais que permanecem ga-rantem a continuidade do desenvolvimento. Outras es-truturas são substituídas a cada nova fase da vida do in-divíduo.

A maioria dos estudiosos sobre o desenvolvimentohumano concorda que o desenvolvimento se processaem etapas divididas por mudanças que ocorrem em vá-rias dimensões. Essa concordância possibilita que sejamcriadas condições ideais para o aparecimento de certascondutas. “São pontos formais ou informais na vida so-cial. Por exemplo, lojas e restaurantes se utilizam dessespontos de referência para atingir determinado públicoque lhes interessa, ou seja, uma faixa etária específica7”.

Assim, Cória-Sabini (2004)7 divide a vida humana

em fases ou períodos que possibilitam a estipulação deum sistema de comportamento adequado para cada umadela. Segundo o autor, nossa sociedade os períodos dodesenvolvimento são:

Pré-natal: da concepção até o nascimento. Infância: do nascimento aos 12 anos. Adolescência: dos 13 aos 18 anos. Adulto jovem: período dos 18 aos 40 anos. Adulto intermediário/meia-idade: dos 40 aos 65

anos. Adulto idoso/terceira idade/senescência: a partir

dos 65 anos.Assim, em cada fase de vida a sociedade espera e di-

ta como as pessoas devem se comportar de maneira aatender às suas expectativas. Então, uma criança deve irà escola, o adulto deve trabalhar e se aposentar na velhi-ce. Conclui-se que o ápice das atividades produtivas évisualizado na juventude e na fase adulta do ser humanoque passa a declinar com sua velhice8.

Santana (2005)9 assegura que apesar de existirem in-divíduos com mais de 60 anos fragilizados e dependen-tes que realmente necessitam de mais atenção, podem-seobservar muitos indivíduos nesta faixa etária que apesarde envelhecerem preservam suas capacidades, permane-cendo ativos e produtivos e fugindo dos estereótipostraçados, fato que é ignorado. Em resumo, o idoso po-de ser considerado como potente ou pode ser taxadocomo incapaz da convivência social e aprendizado10

(NOVAES, 2000).Conforme o pensamento de Camarano (2008)11, o

mito presente em nossa sociedade é de que a velhice éuma etapa da vida totalmente negativa. Para Inouye(2008)12, políticas inclusivas como forma de desmargi-nalizar os idosos são um grande desafio proporcionandouma atuação transformadora na construção da história doidoso, já que a velhice é uma fase peculiar por possuircaracterísticas tanto positivas quanto limitadoras.

Pessini (2002)13, diz que a visão patológica do enve-lhecimento deveria ser substituída pelo incentivo à in-tervenção oferecida pelos processos de reabilitação. A-inda complementa que o idoso deve ser visto como umindivíduo que vai além de perdas funcionais e fisiológi-cas, mas é um indivíduo que tem história, identidade,convive socialmente e tem capacidade de adaptação paracompensar suas dificuldades. Fica evidente que muitosidosos não se preocupam com sua idade cronológica,mas sim com o seu “estado de espírito”. Este fator inti-mamente ligado ao bem estar físico e mental, pode sercaracterizado como qualidade de vida. As alterações sãosim inevitáveis, mas não devem ser tomadas como nega-tivas, já que a experiência de vida, a sabedoria e a visãodo mundo proporcionada pelos anos vividos são exem-plos positivos desta fase.

Para Neri (2006)14, as pessoas precisam se prepararpara envelhecer. Pode-se dizer que estes projetos e pla-

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nos demandam criatividade, autonomia e educação per-manente. É neste sentido que vários autores reconhe-cem quanto é válida a contribuição da imprensa e da áreada Educação para o envelhecimento15.

A imprensa e o idosoConforme os estudos de Debert (2003)16, assistimos

a uma progressiva socialização da gestão da velhice:problemas que antes eram tratados no âmbito familiar ena esfera privada dos indivíduos, hoje são debatidos naesfera pública do poder, pela sociedade, por campos es-pecializados como a Gerontologia e pelos próprios ido-sos, cada vez mais conscientes de seus direitos.

No mundo contemporâneo, a mídia e a imprensa o-cupam papel central na vida das pessoas. A comunicaçãoserve para legitimar discursos, comportamentos e açõesConforme relata Rodrigues, (1994)17, a imprensa veiculacertas representações dos velhos, da velhice e do enve-lhecimento e, nesse sentido, exerce a função de ponto dereferência. Desta forma, os textos, as imagens e as falasapresentados aos leitores, ouvintes e telespectadores têmuma importância significativa.

Com os avanços dos meios de comunicação, todas asculturas estão fazendo uso deste meio. Rádio, jornais,revistas, televisão, abrangem meios significativo e pro-curados para transmissão de informação, tornando-se eloentre todas as idades. Os meios de comunicação têmevidenciado os idosos atualmente, em novelas, comerci-ais. Fraiman (1995)18 vaticina que na década de 80, osidosos tinham pouca participação na imprensa, já quesua imagem era desprovida de representatividade. Com oaumento da participação da população idosa em nossasociedade, na década de 90, o mesmo autor relata queeste grupo passou a ser mais representativo na mídia.

Furtado (1997)19 assegura que o idoso tem ocupadodestaque em vários setores da sociedade. As empresasentão começaram a destinar mais produtos para os ido-sos e com isto a maior veiculação da imagem da terceiraidade.

É necessário compreender a complexidade desta fai-xa etária da sociedade que visivelmente passa a estarcontribuindo com sua experiência, sua sabedoria, suavisão de conjunto. Para ilustrar, o artigo 24 do Estatutodo Idoso20 destaca que os meios de comunicação deve-riam manter espaços ou horários especiais voltados aosidosos, com finalidade informativa, educativa, artística ecultural, e ao público, sobre o processo de envelheci-mento21.

Campos, et al. (2010)22 comentam que a lei deveriaser possível encontrarmos uma variedade de programa-ção que se encaixasse neste perfil, uma vez que o Brasilconta com aproximadamente 30 canais de longo alcancena TV aberta, mas ao contrário disto, temos disponíveispouquíssimos programas de televisão voltados para aterceira idade.

Para Larose & Straubhaar (2004)23, a segmentação damídia está cada vez mais sofisticada, atendendo aos in-teresses mais diversos dos públicos. Porém, a terceiraidade ainda é um segmento excluído, pois é considerada,preconceituosamente, como a faixa etária não-ativa, quenão produz e não consome. Uma pesquisa intitulada“Panorama da Maturidade”, feita pela Indicator GFK,em 2003, indica que a terceira idade é uma faixa etáriaconsiderada como forte consumidora de produtos decomunicação. Esta pesquisa ainda aponta que cerca de87% dos idosos entrevistados afirmam assistir televisãoe 59% ouvem rádio diariamente. Pelo menos 92% veemtelevisão e 72% ouvem rádio uma vez por semana. Essassão as principais atividades domésticas que estão incluí-das na rotina diária. Se os idosos consomem os produtosdos meios de comunicação, assim como os adultos ouadolescentes, é necessário que haja programas destina-dos a essa faixa etária. Porém, Campos et al. (2010)22

afirmam que não é isto que se verifica. Para os pesqui-sadores, apesar de os programas televisivos, revistas ecadernos de jornais impressos estarem bastante segmen-tados (por faixa etária, gênero e classe social).

É válido evidenciar os estudos de Campos (2007)24

que cita que nos Estados Unidos da América, encon-tra-se, por exemplo, um canal de televisão, a saber, a“Retirement Living TV”, que transmite programaçãoexclusivamente voltada para a Terceira Idade 24 horaspor dia. Já na Espanha existem em veiculação pelo me-nos seis grandes revistas dedicadas aos idosos Club Sê-nior, Vivir com Jno úbilo, Sessenta y Más, Entre Mayo-res, Hablamos de Ti, Senda Sê-nior y Plus es Más

Campos et al. (2010)22 salientam que o rádio é outromeio de comunicação que tem extrema importância nadivulgação de informação e continua tendo seu espaço,mesmo com o avanço da internet. Além de sua impor-tância, consideram que a maioria dos brasileiros tempelo menos um rádio em casa. Ele, então, continua sendoum meio de comunicação que participa da vida de quemhoje é idoso, poderia ser o primeiro a inovar e transmitirprogramas especializados.

Os jornais representam o produto e reflexo da própriasociedade. Eles fornecem os temas sobre os quais osleitores devem pensar, ao criarem imagens, símbolos,estereótipos etc. Sendo assim, podem espelhar a situaçãoexistencial do idoso, seu papel vivido no espaço públicoe privado e o sentido da velhice, bem como seu estig-ma25.

O jornalismo é uma das instituições sociais contem-porâneas e, portanto, uma instituição na qual, das mani-festações ali colocadas, algumas se cristalizam em signi-ficados26. Considerado enquanto instituição, os jornaispodem ser caracterizados como destinadores do discursosobre o envelhecimento e a longevidade por eles produ-zidos, como aquilo que faz esse sujeito ser e existir. Aconstituição do humano e sua complexidade impossibi-

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litam falar-se de “objetividade jornalística”. Portanto, abusca pela objetividade do fazer jornalístico não passade uma lacuna, pois os profissionais da imprensa emgeral, enquanto sujeitos que narram, são os organizado-res das notícias que relatam26. Assim, as notícias sãoconstruídas a partir da linguagem, havendo sempre algoque escapa à suposta divisão raciona/irracional, objeti-vo/subjetivo, consciente/inconsciente. Nessa perspectiva,a informação não é o que mais importante que há nosjornais, mas as notícias, vistas como produtos culturais egeradoras de conhecimento público.

4. CONCLUSÃOConsiderar que os idosos têm necessidades específi-

cas e por vezes especiais em vários aspectos da vida,incluindo o entretenimento, é uma ação cidadã, um atode inclusão social e o reconhecimento da importânciadeste estrato populacional que cresce em todo o mundo.

As práticas discursivas relacionadas às questões daimportância dos mais idosos, da manutenção de sua sa-úde e dos seus direitos na mídia como um todo influen-ciam, sem sombra de dúvidas, a construção da memóriasocial e, consequentemente, no direcionamento de polí-ticas de saúde pública e de previdência, entre outraspreocupações sociais. Isto pode ser explicado pelo fatoda imprensa ocupar um espaço central na sociedadecontemporânea, elaborando um discurso e influenciandoo contexto que revela a importância e a atualidade dotema.

Desta forma, o debate sobre o envelhecimento naimprensa deveria ser mais frequente e comum, manifes-tando para a sociedade não só preocupação com a velhi-ce, mas também a importância destes indivíduos tambémpara administração pública, já que eles têm cada vezmais voz ativa, poder de consumo e desejo de melhorescondições de qualidade de vida.

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