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Revista de Pesquisa Científica e Tecnológica das Instituições do Grupo DeVry Brasil Volume 14 | Número 27 | Ano 14 | Jan. - Jun. 2014

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Revista de Pesquisa Cientí�ca e Tecnológica das Instituições do Grupo DeVry Brasil

Volume 14 | Número 27 | Ano 14 | Jan. - Jun. 2014

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Presidente Carlos Alberto Guerra Filgueiras Vice-Presidente de Planejamento e Ensino Maurício Garcia Vice-Presidente de Marketing e Admissões Fernando Lau Vice-Presidente de Operações Geraldo Magela de Souza Moraes Junior Diretoria Regional Marcelo Adler (BA) Mauricélia Bezerra Vidal (PE) Marcelo Lourenço (CE/PI) Diretoria Geral Ítalo Ghignone (ÁREA1 e Ruy Barbosa - Paralela) Hubert Basques Soares (FBV) Mauricélia Bezerra Vidal (UNIFAVIP) Rogério Flores da Silva (Ruy Barbosa - Rio Vermelho e Pituba). Joaquim Perúcio (FANOR) Maria Josecí Vidal (FACID) Gerência Geral Luiz Patrício Barbosa Júnior (FBV - Boa Vista) Morgana Bavaresco (FANOR - North Shopping) Rogério Flores da Silva (Ruy Barbosa - Pituba). Coordenação Geral Acadêmica Maria Mesquita Mota (ÁREA1 e Ruy Barbosa - Paralela) Humberto Barroso da Fonseca (FANOR) Ricardo Alexandre O. Ciriaco (FBV) Marjony Barros Camelo (UNIFAVIP) Cristiano A. de Aguiar (Ruy Barbosa - Rio Vermelho e Pituba) Lúcia Cristina Gauber (FACID) Coordenadores dos Cursos de Pós-Graduação Ana Beatriz F. B. de Meneses (FANOR) Cristiane Ferreira de Andrade (FBV) Cyntia Maria de M. Araújo (FACID) Gustavo Araújo (Ruy Barbosa) Osvaldo Matos (ÁREA1) Victor Hugo D'Albuquerque Lima (UNIFAVIP)

Coordenadores dos Cursos de Mestrado Lúcia Maria Barbosa de Oliveira (FBV) Conselho Editorial Dra. Cláudia Cruz (ÁREA1) Me. Raquel Barretto (FANOR) Me. Ana Karina M. C. Marques (FANOR) Me. Bárbara Caldeira (Ruy Barbosa – Paralela) Dra. Nádia Maria Rocha (Ruy Barbosa – Rio Vermelho e Pituba) Dr.. Rafael Lucian (FBV) Me. Tenaflae Lordelo (UNIFAVIP) Editor Chefe Profa. Me. Marinalva Alves dos Santos A Revista Cientefico é um periódico de publicação semestral. Definida como instrumento de incentivo à produção científica e veículo de divulgação de trabalhos acadêmicos dos alunos e professores das Instituições: ÁREA1, FACID, FANOR, FBV, UNIFAVIP e Ruy Barbosa, bem como de potenciais parceiros e público externo. O conteúdo dos trabalhos reflete o projeto pedagógico das Instituições. São publicados textos em português ou em outro idioma, a critério do Conselho Editorial. Diagramação Diego Gustavo Ferreira de Almeida Capa Equipe de Marketing DeVry Brasil Revisão ortográfica Lorena Maia Ribeiro Revisão ABNT Leilane Maria Lucena Pereira Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária Leilane Maria Lucena Pereira - CRB 3-916 Direitos reservados à: DeVry Brasil Rua Antônio Gomes Guimarães, 150 - Dunas Cep: 60.191-195 | Fone/Fax : +55 (85) 3052-4814 Fortaleza - Ceará - Brasil

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R349 Revista Cientefico / DeVry Brasil. – ano 14, v. 14, n. 27, jan./jun. 2014. Fortaleza: DeVry Brasil, 2001 - Semestral Resumo em Português e Inglês. ISSN 1677-5716 (Versão on-line) 1. Ciências sociais aplicadas. 2. Ciências da Saúde. I. Título. II. DeVry Brasil.

CDD – 658 610

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SUMÁRIO

Editorial .............................................................................................................................................. 07 ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012

Maurício Garcia ................................................................................................................................. 11 A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

Iracema Rebeca Fazio ....................................................................................................................... 23 O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

Felipe Souza Calmon de Almeida ..................................................................................................... 47 CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-ÁÇUCAR NA EECAC

Maria da Penha da Silva Viana ǀ Almir Silveira Menelau ................................................................ 67 FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

Vanessa Priscila Mamed Ali ǀ Almir Silveira Menelau .................................................................... 83

GOVERNO ELETRÔNICO E REDES SOCIAIS

Milton Correia Sampaio Filho ǀ Maria Ângela da Costa Lino Franco Sampaio ............................... 95 AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DE LENÇÓIS FREÁTICOS POR NECROCHORUME - CACHOEIRA-BAHIA/BRASIL

Aldine de Sá Dantas Amorim ǀ Cláudia Ferreira Da Cruz ............................................................. 107 VIABILIDADE ENERGÉTICA DO BIOGÁS GERADO NO ATERRO METROPOLITANO CENTRO, SALVADOR, BAHIA

Rosela Silva Oliveira ǀ Erika Cavalcante Silva .............................................................................. 121

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6 PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BA.

Amanda Silva Gonzaga ǀ Rosania Silva Lima ǀ Gardênia Tereza Jardim Pereira ........................... 135 RELAÇÕES RACIAIS NA ESCOLA: O QUE PENSAM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

Amanda Santana da Silva ǀ Bruna Vilas Bôas Almeida ǀ Drielle Caroline Bidu Duarte ǀ Gabriele Pereira de Brito ǀ Naiara Santos de Andrade ǀ Maria Rosália de Azevedo Correia .......... 145

Normas para publicação de trabalhos na Revista Cientefico ........................................................... 165

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EDITORIAL Conselho Editorial Revista Cientefico Prezados leitores, Em seu 14º ano, a Revista Cientefico reafirma seu compromisso com a qualidade acadêmica e a recepção de produções de novos temas e pesquisadores brasileiros. Da mesma forma, o Conselho Editorial vem dispensando maior atenção à circulação do nosso periódico cada vez mais crescente nas universidades, em variadas áreas de conhecimento. Assim, para além do fomento à publicação de investigações no âmbito regional, percebemos a importância do incentivo à pesquisa como chave-mestra da relação entre sujeito e conhecimento, fortalecendo assim as etapas do processo de ensino e aprendizagem de alunos e futuros investigadores em constante formação. Nesse sentido, com o objetivo de integrar os diferentes debates propostos pelos artigos, o Conselho Editorial optou por uma seleção de temáticas que apresentaram uma diversidade de perspectivas relativas a objetos e metodologias. O professor Maurício Garcia, Vice-Presidente de Planejamento e Ensino da DeVry Brasil, apresenta uma análise sobre o desenvolvimento das notas obtidas pelos participantes do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) entre os anos de 2007 a 2012, estabelecendo relações entre as notas obtidas e os indicadores de insumos do Conceito Preliminar de Curso (CPC), com base em informações de 29.173 cursos. A pesquisa baseou-se em dados institucionais do “CPC decomposto”, fornecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) e como aponta o próprio autor,

A realização de um exame nacional de concluintes no Brasil, em praticamente todos os cursos de graduação, um feito extraordinário, especialmente em um país de dimensões continentais. Realizado de forma ininterrupta desde 1996, a iniciativa coloca o Brasil como um dos poucos países que realiza um exame com essa magnitude, senão o único no mundo. Dessa forma, ainda que pesem críticas sobre sua metodologia, há que se considerar o Enade como um importante aliado para o planejamento e execução de políticas públicas visando à melhoria da qualidade acadêmica da educação superior e uma grande realização do Estado Brasileiro.

Destarte, o estudo que abre o presente número mostra-nos a relevância do monitoramento e avaliação contínuos de programas que envolvam o investimento na educação, sobretudo acerca dos indicadores que viabilizam investimentos e mudanças de paradigmas nas decisões de gestão educacional, principalmente quando pensamos em uma Sociedade e Economia da Informação.

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Enveredando pela conjuntura atual de uma Sociedade da Informação, a investigadora Iracema Rebeca Medeiros Fazio da Universidade de Lisboa/UNIME vem desenvolvendo pesquisas acerca da tutela jurídica adequada do bem intelectual. Fazio pondera que

“o monopólio exercido por alguns agentes no controle dos canais de distribuição da informação, vale dizer da qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação, ofertada pelo bem intelectual, implica sem dúvida a necessidade de escolher um determinado bem para massificar a sua circulação e ainda reduzir os custos da informação a ser transmitida”,

o que significa para a autora trazer o valor da exploração econômica como perspectiva para entender o uso do uso privado das obras protegidas pelos direitos do autor. Encerrando o conjunto de artigos na área jurídica, o advogado Felipe Souza Calmon de Almeida (Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil) analisa “a ferramenta processual do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos” a partir do ano de 2008, ferramenta criada para auxiliar o combate à morosidade jurisdicional. Os pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Maria da Penha da Silva Viana e Almir Silveira Menelau nos ofertam pesquisa acerca da experiência da UFRPE com a Estação Experimental Cana-de-açúcar de Carpina, campus do projeto sobre estratégias de melhoria no cultivo da cana-de-açúcar com metodologia baseada no modelo econométrico de regressão linear múltiplo, por meio de parceria público-privada com a RIDESA (Rede Interuniversitária de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro). Em outra investigação, Almir Silveira Menelau apresenta os resultados da pesquisa “Formação de preços nas principais feiras livres associadas aos mercados públicos do Recife” em parceria com Vanessa Priscila Mamed Ali pela UFRPE. O artigo traz as feiras livres como objeto de análise e utilizando o estudo comparativo identifica as diferentes variações de preços dos produtos hortifrutigranjeiros mais comercializados em quatro feiras do Recife (Afogados, Casa Amarela, Cordeiro e São José), tomando como referência os preços estabelecidos pela CEASA (Central de Abastecimento). Os professores Maria Ângela da Costa Lino Franco Sampaio (Universidade Tiradentes/UNIT) e Milton Correia Sampaio Filho (Faculdade Ruy Barbosa / ÁREA1 | DeVry Brasil) propõem a problematização estrutural de políticas públicas no contexto da cidadania digital na ação de seu exercício com vistas a levantar questões acerca da relação entre o Governo Eletrônico e as Redes Sociais na sociedade contemporânea. Em “Avaliação da contaminação de lençóis freáticos por Necrochorume - Cachoeira-Bahia/Brasil”, Aldine de Sá Dantas Amorim (Faculdade ÁREA1 | DeVry Brasil) apresenta resultados da investigação do projeto de iniciação cientifica sob orientação da professora Cláudia Ferreira da Cruz (Faculdade ÁREA1 | DeVry Brasil). A pesquisa aborda um tema na área ambiental ao estudar a contaminação de lençóis freáticos por meio de sepultamos de corpos em cemitérios com recorte para a ação do necrochorume.

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O espaço em questão é o Cemitério Municipal da Piedade situado na sede do município de Cachoeira – Bahia. Interessante tema, sobretudo quando resgatamos os estudos higienistas nas áreas médica e histórica quando voltaram seus olhares para a História da Morte no Ocidente com impactos culturais, religiosos e científicos que remontam o século XIX. Em orientação de outro projeto de iniciação científica, a professora Erika Cavalcante Silva e a aluna Rosela Silva Oliveira (Faculdade ÁREA1 | DeVry Brasil) discutem como o aproveitamento do biogás oriundo da “decomposição anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários para geração de energia elétrica”, pode ser uma alternativa estratégica e eficiente contribuindo assim para a oferta de um número maior de matrizes energéticas, reduzindo a “emissão de gás metano na atmosfera”. Ambos os artigos mostram como pesquisas na área de engenharia ambiental podem produzir novos procedimentos na preservação do meio ambiente. Na área de educação em interface com questões do patrimônio público e histórico, Amanda Silva Gonzaga e Rosania Silva Lima sob orientação da professora Gardênia Tereza Jardim Pereira (Faculdade de Ciência e Tecnologia/FTC) escolheram como objeto de estudo “O Cristo de Mário Cravo em Vitória da Conquista” – Bahia para analisar a relação entre história, meios de comunicação e turismo como elementos decisivos para a preservação do patrimônio edificado e da memória local. Finalmente, os estudantes do curso de Psicologia - Amanda Santana da Silva, Bruna Vilas Bôas Almeida, Drielle Caroline Bidu Duarte, Gabriele Pereira de Brito e Naiara Santos de Andrade sob orientação da professora Maria Rosália de Azevedo Correia (Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil) promovem o debate acerca de um tema cotidiano da agenda social e do contexto educacional brasileiro: a construção do imaginário e das representações concretas que as relações raciais promovem no espaço do Ensino Médio considerando variáveis como cotas, preconceito e exposição à mídia. Esperamos que o caleidoscópio de temas contribua para uma leitura variada e instigante dos nossos leitores e que os trabalhos aqui apresentados incentivem a participação no mundo criativo e formador da investigação.

Boa leitura e até o próximo número!

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O espaço em questão é o Cemitério Municipal da Piedade situado na sede do município de Cachoeira – Bahia. Interessante tema, sobretudo quando resgatamos os estudos higienistas nas áreas médica e histórica quando voltaram seus olhares para a História da Morte no Ocidente com impactos culturais, religiosos e científicos que remontam o século XIX. Em orientação de outro projeto de iniciação científica, a professora Erika Cavalcante Silva e a aluna Rosela Silva Oliveira (Faculdade ÁREA1 | DeVry Brasil) discutem como o aproveitamento do biogás oriundo da “decomposição anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários para geração de energia elétrica”, pode ser uma alternativa estratégica e eficiente contribuindo assim para a oferta de um número maior de matrizes energéticas, reduzindo a “emissão de gás metano na atmosfera”. Ambos os artigos mostram como pesquisas na área de engenharia ambiental podem produzir novos procedimentos na preservação do meio ambiente. Na área de educação em interface com questões do patrimônio público e histórico, Amanda Silva Gonzaga e Rosania Silva Lima sob orientação da professora Gardênia Tereza Jardim Pereira (Faculdade de Ciência e Tecnologia/FTC) escolheram como objeto de estudo “O Cristo de Mário Cravo em Vitória da Conquista” – Bahia para analisar a relação entre história, meios de comunicação e turismo como elementos decisivos para a preservação do patrimônio edificado e da memória local. Finalmente, os estudantes do curso de Psicologia - Amanda Santana da Silva, Bruna Vilas Bôas Almeida, Drielle Caroline Bidu Duarte, Gabriele Pereira de Brito e Naiara Santos de Andrade sob orientação da professora Maria Rosália de Azevedo Correia (Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil) promovem o debate acerca de um tema cotidiano da agenda social e do contexto educacional brasileiro: a construção do imaginário e das representações concretas que as relações raciais promovem no espaço do Ensino Médio considerando variáveis como cotas, preconceito e exposição à mídia. Esperamos que o caleidoscópio de temas contribua para uma leitura variada e instigante dos nossos leitores e que os trabalhos aqui apresentados incentivem a participação no mundo criativo e formador da investigação.

Boa leitura e até o próximo número!

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            ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012

ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012 Maurício Garcia1 RESUMO O presente estudo teve por objetivo analisar a evolução das notas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) nos anos de 2007 a 2012, bem como correlacionar essas notas com os indicadores de insumos do Conceito Preliminar de Curso (CPC). Foram usadas, como fonte de dados, as planilhas do chamado “CPC decomposto”, divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). Ao todo, foram analisados 29.173 cursos. Quanto à categoria administrativa, os resultados demonstraram que as instituições particulares apresentaram uma maior tendência de crescimento em seus resultados, quando comparados com as instituições públicas, as quais, de forma geral, mostraram uma tendência de queda. Além disso, o estudo demonstrou que o tratamento matemático de normalização adotado no cálculo do Enade torna maiores as diferenças entre as notas do que elas realmente são. Com relação à organização acadêmica, notou-se que há uma clara tendência em haver um melhor desempenho em universidades em comparação aos centros universitários, e destes com relação às faculdades. Quanto à região, o presente estudo dividiu o Brasil em duas macrorregiões: Norte (compreendendo os estados das regiões N, NE e CO) e Sul (compreendendo os estados das regiões S e SE). Foi demonstrado que os cursos de estados da macrorregião Sul tendem a apresentar resultados melhores, em comparação aos resultados da macrorregião Norte. Porém, ao longo do tempo, observa-se que essa diferença está diminuindo. No que se refere à correlação entre a nota do Enade e os insumos do CPC, o presente estudo não pôde demonstrar nenhum resultado moderado (acima de 30%) ou forte (acima de 70%). No que se refere aos insumos relacionados com o corpo docente (titulação e regime de trabalho), quando se procurou isolar o efeito de outras variáveis que sabidamente interferem no resultado do Enade, as correlações diminuíram mais ainda. Discute-se, ao final, a importância do Enade como um aliado para o planejamento e execução de políticas públicas visando à melhoria da qualidade acadêmica da educação superior, salientando a necessidade de compreender as suas características metodológicas para serem tiradas conclusões. Além disso, o estudo demonstrou a necessidade do aprimoramento dos indicadores usados no cálculo do CPC. PALAVRAS-CHAVE: Enade. CPC. Ensino. Superior.                                                                                                                1 Vice-Presidente de Planejamento e Ensino da DeVry Brasil. Graduado em Medicina Veterinária pela USP, possui mestrado pela USP, doutorado pela USP, MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e curso de aperfeiçoamento na Stanford University. E-mail: [email protected].

           

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            ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012

ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012 Maurício Garcia1 RESUMO O presente estudo teve por objetivo analisar a evolução das notas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) nos anos de 2007 a 2012, bem como correlacionar essas notas com os indicadores de insumos do Conceito Preliminar de Curso (CPC). Foram usadas, como fonte de dados, as planilhas do chamado “CPC decomposto”, divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). Ao todo, foram analisados 29.173 cursos. Quanto à categoria administrativa, os resultados demonstraram que as instituições particulares apresentaram uma maior tendência de crescimento em seus resultados, quando comparados com as instituições públicas, as quais, de forma geral, mostraram uma tendência de queda. Além disso, o estudo demonstrou que o tratamento matemático de normalização adotado no cálculo do Enade torna maiores as diferenças entre as notas do que elas realmente são. Com relação à organização acadêmica, notou-se que há uma clara tendência em haver um melhor desempenho em universidades em comparação aos centros universitários, e destes com relação às faculdades. Quanto à região, o presente estudo dividiu o Brasil em duas macrorregiões: Norte (compreendendo os estados das regiões N, NE e CO) e Sul (compreendendo os estados das regiões S e SE). Foi demonstrado que os cursos de estados da macrorregião Sul tendem a apresentar resultados melhores, em comparação aos resultados da macrorregião Norte. Porém, ao longo do tempo, observa-se que essa diferença está diminuindo. No que se refere à correlação entre a nota do Enade e os insumos do CPC, o presente estudo não pôde demonstrar nenhum resultado moderado (acima de 30%) ou forte (acima de 70%). No que se refere aos insumos relacionados com o corpo docente (titulação e regime de trabalho), quando se procurou isolar o efeito de outras variáveis que sabidamente interferem no resultado do Enade, as correlações diminuíram mais ainda. Discute-se, ao final, a importância do Enade como um aliado para o planejamento e execução de políticas públicas visando à melhoria da qualidade acadêmica da educação superior, salientando a necessidade de compreender as suas características metodológicas para serem tiradas conclusões. Além disso, o estudo demonstrou a necessidade do aprimoramento dos indicadores usados no cálculo do CPC. PALAVRAS-CHAVE: Enade. CPC. Ensino. Superior.                                                                                                                1 Vice-Presidente de Planejamento e Ensino da DeVry Brasil. Graduado em Medicina Veterinária pela USP, possui mestrado pela USP, doutorado pela USP, MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e curso de aperfeiçoamento na Stanford University. E-mail: [email protected].

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            ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012

INTRODUÇÃO No dia 7 de outubro de 2013, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, por ocasião da divulgação dos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2012, declarou que o exame havia revelado uma “melhora significativa no sistema de educação superior”, diante do aumento do percentual de cursos com resultado satisfatório (INEP, 2013). Imediatamente, vários textos começaram a aparecer na internet rebatendo a declaração (MORENO, 2013; SCHWARTZMAN , 2013; TESSLER , 2013; GREGORY , 2013). O foco das críticas está no fato de a nota do Enade ser calculada a partir da chamada “curva forçada” ou “curva normal”, ou seja, as notas obtidas na prova pelos alunos são convertidas em seu afastamento padronizado, e este, por sua vez, é normalizado em uma faixa de 0 a 5 (INEP, 2012). Na verdade, críticas a esse tipo de interpretação já vinham sendo veiculadas há algum tempo (CASTRO, 2013; CALDAS, 2013). O ponto é que a nota do Enade não diz sobre quanto acertaram os alunos de um determinado curso, ela diz qual a posição do referido curso num ranking que varia de 0 a 5. A razão pela qual houve uma variação na porcentagem de cursos com resultado satisfatório, conforme mencionado pelo Ministro, está no fato de a distribuição dos resultados não ser sempre uma normal simétrica (NETO, 2008). Por exemplo, se a curva dos resultados for uma normal assimétrica positiva, ou seja, com seu pico deslocado para a esquerda, haverá uma porcentagem menor de cursos satisfatórios, quando comparada com uma normal assimétrica negativa, ou seja, com seu pico deslocado para a direita. Entretanto, uma normal assimétrica positiva não significa necessariamente que a nota real dos alunos tenha sido pior que aquela relacionada com uma normal assimétrica negativa. Tudo depende da posição dos pontos na escala da abscissa. Ou seja, o Enade é um ranking, não uma taxa de acerto, e a evolução da nota do Enade de um ano para outro não deve ser interpretada como melhora ou piora. O que pode ser feito é somente comparar a posição de uma instituição, ou de um grupo de instituições, no ranking das notas e verificar se houve subida ou descida nessa posição. Outro ponto a ser considerado é que o Enade agrupa os cursos em ciclos de 3 anos, ou seja, um mesmo curso não é avaliado todos os anos. Portanto, o Enade de um ano não pode ser comparado com o do ano anterior, ele tem que ser comparado com aquele de 3 anos antes. Criado em 2004 pela Lei 10.861 (“Lei do Sinaes”), como um sucessor do Exame Nacional de Cursos (ENC – “Provão”), que ocorreu de 1996 a 2003, o Enade começou pelos cursos da área da Saúde. Em 2005 foram os cursos da área de Exatas e, em 2006, da área de Humanas. Fechou-se, assim, o primeiro ciclo avaliativo em 2006. Em 2007, com o advento do Conceito Preliminar de Curso (CPC), criado pelo Artigo 35 da Portaria 40/2007, o Enade passou a compor o indicador, com expressivo peso no cálculo final.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

ABSTRACT The purpose of the present study was to analyze the changes of the Student Performance National Exam (Enade) results in the years 2007-2012, as well as correlating these results with the indicators that comprise the Preliminary Program Concept (CPC). Spreadsheets called "CPC decomposto", published by the National Institute of Studies and Research Anísio Teixeira (INEP), were used as data source. A total of 29,173 programs were analyzed. Considering the administrative category, the results showed that private institutions had a higher growth trend in their results, when compared with public institutions, which, in general, showed a downward trend. In addition, the study demonstrated that the mathematical treatment adopted in the calculation of Enade accentuates the differences between the notes than they really are. With respect to academic organization, it was noted that universities have a clear better performance compared to university centers, and these with respect to isolated colleges. As for the region, this study divided Brazil into two macro regions: North (including the states of regions N, NE and CO) and South (including the states of S and SE regions). It was shown that courses of macro states of the South tend to have better results compared to the results of macro North. However, over time, it is observed that this difference is decreasing. With regard to the correlation between the Enade and the indicators that comprise the CPC, the present study could not demonstrate any moderate correlation (above 30%) or high (above 70%). With regard to indicators related faculty (credentials and work hours), when it was isolated the effect of other variables known to interfere with Enade, correlations decreased further. It is argued, in the end, the importance of Enade as an ally for the planning and execution of public policies aimed at improving the academic quality of higher education, emphasizing the need to understand their methodological characteristics to be drawn conclusions. In addition, the study showed the need for improvement of the indicators used in the calculation of the CPC. KEYWORDS: Enade. CPC. Higher. Education.

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            ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012

INTRODUÇÃO No dia 7 de outubro de 2013, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, por ocasião da divulgação dos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2012, declarou que o exame havia revelado uma “melhora significativa no sistema de educação superior”, diante do aumento do percentual de cursos com resultado satisfatório (INEP, 2013). Imediatamente, vários textos começaram a aparecer na internet rebatendo a declaração (MORENO, 2013; SCHWARTZMAN , 2013; TESSLER , 2013; GREGORY , 2013). O foco das críticas está no fato de a nota do Enade ser calculada a partir da chamada “curva forçada” ou “curva normal”, ou seja, as notas obtidas na prova pelos alunos são convertidas em seu afastamento padronizado, e este, por sua vez, é normalizado em uma faixa de 0 a 5 (INEP, 2012). Na verdade, críticas a esse tipo de interpretação já vinham sendo veiculadas há algum tempo (CASTRO, 2013; CALDAS, 2013). O ponto é que a nota do Enade não diz sobre quanto acertaram os alunos de um determinado curso, ela diz qual a posição do referido curso num ranking que varia de 0 a 5. A razão pela qual houve uma variação na porcentagem de cursos com resultado satisfatório, conforme mencionado pelo Ministro, está no fato de a distribuição dos resultados não ser sempre uma normal simétrica (NETO, 2008). Por exemplo, se a curva dos resultados for uma normal assimétrica positiva, ou seja, com seu pico deslocado para a esquerda, haverá uma porcentagem menor de cursos satisfatórios, quando comparada com uma normal assimétrica negativa, ou seja, com seu pico deslocado para a direita. Entretanto, uma normal assimétrica positiva não significa necessariamente que a nota real dos alunos tenha sido pior que aquela relacionada com uma normal assimétrica negativa. Tudo depende da posição dos pontos na escala da abscissa. Ou seja, o Enade é um ranking, não uma taxa de acerto, e a evolução da nota do Enade de um ano para outro não deve ser interpretada como melhora ou piora. O que pode ser feito é somente comparar a posição de uma instituição, ou de um grupo de instituições, no ranking das notas e verificar se houve subida ou descida nessa posição. Outro ponto a ser considerado é que o Enade agrupa os cursos em ciclos de 3 anos, ou seja, um mesmo curso não é avaliado todos os anos. Portanto, o Enade de um ano não pode ser comparado com o do ano anterior, ele tem que ser comparado com aquele de 3 anos antes. Criado em 2004 pela Lei 10.861 (“Lei do Sinaes”), como um sucessor do Exame Nacional de Cursos (ENC – “Provão”), que ocorreu de 1996 a 2003, o Enade começou pelos cursos da área da Saúde. Em 2005 foram os cursos da área de Exatas e, em 2006, da área de Humanas. Fechou-se, assim, o primeiro ciclo avaliativo em 2006. Em 2007, com o advento do Conceito Preliminar de Curso (CPC), criado pelo Artigo 35 da Portaria 40/2007, o Enade passou a compor o indicador, com expressivo peso no cálculo final.

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3.2 TABULAÇÃO DOS RESULTADOS Os dados assim organizados foram a fonte para os cálculos das médias do conceito contínuo do Enade. Ao todo, foram analisados 29.173 cursos que foram avaliados no período de 2007 a 2012 (Tabela 2).

Tabela 2 – Número de cursos avaliados de 2007 a 2012

Ciclo Grupo IES particulares IES públicas Total

Ciclo II

Saúde 1570 17% 557 18% 2127

Exatas 3089 33% 1730 56% 4819

Humanas 4722 50% 822 26% 5544

Total 9381 100% 3109 100% 12490

Ciclo III

Saúde 2340 19% 724 16% 3064

Exatas 4589 37% 2835 64% 7424

Humanas 5339 44% 856 19% 6195

Total 12268 100% 4415 100% 16683

Total geral 21649 7524 29173

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

Notar que o mix de cursos entre intuições públicas e particulares não é o mes mesmo. De forma geral, o ciclo de “Humanas” é o mais importante para as instituições particulares, ao passo que o ciclo de “Exatas” é o mais importante para as instituições públicas. 3.3 CORRELAÇÃO ENTRE ENADE E INSUMOS Para analisar a correlação entre a nota do Enade e os indicadores de insumos do CPC, foram considerados os resultados de 2007 a 2011, posto que, por ocasião da elaboração desse trabalho, ainda não havia sido divulgada a tabela com o CPC decomposto de 2012. Para os cálculos, foi utilizada a função CORREL (MICROSOFT, 2014) do programa MS-Excel, a qual retorna o coeficiente de correlação de Pearson, expresso pela seguinte fórmula:

!"##$% !,! =(! − !!é!"#)(! − !!é!"#)(! − !!é!"#)! (! − !!é!"#)!

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

Dessa forma, o segundo ciclo avaliativo, finalizado em 2009, passou a expressar o Enade no contexto do CPC. Com a divulgação do resultado do Enade de 2012, fechou-se o terceiro ciclo avaliativo do Sinaes, criando, pela primeira vez, a possibilidade de serem realizados estudos comparativos dos ciclos que ocorreram no contexto do CPC, conforme exposto na Tabela 1.

Tabela 1 – Ciclos avaliativos do SINAES

* ciclos dentro do contexto do CPC / IGC

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

2 OBJETIVOS

O presente estudo tem por objetivo analisar a evolução relativa das notas do Enade nos anos de 2007 a 2012, bem como correlacionar essas notas com os indicadores de insumos do CPC. 3 METODOLOGIA 3.1 ORGANIZAÇÃO DA FONTE DE DADOS Foram usadas como fonte de dados as planilhas do chamado “CPC decomposto”, divulgadas pelo Inep (2013). Os dados das planilhas foram inicialmente transferidos para um servidor MS-SQL Server, para que pudessem ser mais facilmente trabalhados. Como a estrutura das planilhas divulgadas pelo Inep não é uniforme, a primeira providência foi padronizar essa estrutura de forma a consolidar os dados em uma única tabela do servidor. Uma vez tabulados, os dados passaram pela padronização da designação de certos campos em que havia diferenças na forma como estavam registrados nas planilhas, como foi o caso da sigla do Estado (UF), da organização acadêmica (faculdade, centro universitário e universidade) e da categoria administrativa (particular e pública).

Ciclo I Ciclo II* Ciclo III*

Saúde 2004 2007 2010

Exatas 2005 2008 2011

Humanas 2006 2009 2012

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3.2 TABULAÇÃO DOS RESULTADOS Os dados assim organizados foram a fonte para os cálculos das médias do conceito contínuo do Enade. Ao todo, foram analisados 29.173 cursos que foram avaliados no período de 2007 a 2012 (Tabela 2).

Tabela 2 – Número de cursos avaliados de 2007 a 2012

Ciclo Grupo IES particulares IES públicas Total

Ciclo II

Saúde 1570 17% 557 18% 2127

Exatas 3089 33% 1730 56% 4819

Humanas 4722 50% 822 26% 5544

Total 9381 100% 3109 100% 12490

Ciclo III

Saúde 2340 19% 724 16% 3064

Exatas 4589 37% 2835 64% 7424

Humanas 5339 44% 856 19% 6195

Total 12268 100% 4415 100% 16683

Total geral 21649 7524 29173

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

Notar que o mix de cursos entre intuições públicas e particulares não é o mes mesmo. De forma geral, o ciclo de “Humanas” é o mais importante para as instituições particulares, ao passo que o ciclo de “Exatas” é o mais importante para as instituições públicas. 3.3 CORRELAÇÃO ENTRE ENADE E INSUMOS Para analisar a correlação entre a nota do Enade e os indicadores de insumos do CPC, foram considerados os resultados de 2007 a 2011, posto que, por ocasião da elaboração desse trabalho, ainda não havia sido divulgada a tabela com o CPC decomposto de 2012. Para os cálculos, foi utilizada a função CORREL (MICROSOFT, 2014) do programa MS-Excel, a qual retorna o coeficiente de correlação de Pearson, expresso pela seguinte fórmula:

!"##$% !,! =(! − !!é!"#)(! − !!é!"#)(! − !!é!"#)! (! − !!é!"#)!

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Tabela 3 – Média dos conceitos do Enade

Ciclo II Ciclo III Var.

IES particulares

Saúde 2,19 2,26 3,1%

Exatas 2,16 2,29 6,3%

Humanas 2,28 2,35 3,1%

IES públicas

Saúde 3,03 3,15 4,0%

Exatas 2,67 2,64 -0,8%

Humanas 2,91 2,88 -1,2%

Fonte: Elaboração do autor, 2013. O mesmo fenômeno pôde ser observado quando se analisa a porcentagem de cursos com conceito 4 ou 5 nas instituições privadas, as quais apresentaram um crescimento mais expressivo quando comparadas com as instituições públicas (Tabela 4).

Tabela 4 – Cursos com conceito 4 ou 5

Ciclo II Ciclo III Var.

IES particulares

Saúde 18,5% 19,2% 4,1%

Exatas 17,5% 21,8% 24,5%

Humanas 19,0% 21,2% 11,5%

IES públicas

Saúde 59,4% 64,9% 9,2%

Exatas 39,0% 40,3% 3,5%

Humanas 48,8% 47,5% -2,5%

Fonte: Elaboração do autor, 2013. O aumento nos conceitos do Enade observado nas instituições privadas, bem como o aumento da porcentagem de cursos com conceitos 4 ou 5, devem, todavia, ser analisados com cautela. Não significam necessariamente que os cursos das instituições privadas estão melhores, tampouco que os cursos das instituições públicas estão piores. Significam apenas que houve uma redução na diferença na performance dos alunos na prova entre ambos os tipos de instituições. A redução dessa diferença fica evidente quando se faz a média das notas nos 3 anos de cada ciclo. A Tabela 5 mostra que essa diferença caiu de 23% para 20%.

Tabela 5 – Diferença entre IES públicas e particulares quanto à nota do Enade.

IES

públicas IES

particulares Diferença

Ciclo II 2,87 2,21 23,0%

Ciclo III 2,89 2,30 20,4%

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

3.4 AJUSTAMENTO DA NOTA DO ENADE Para isolar o efeito da organização acadêmica e da região do Brasil, foi feito também ajustamento na nota do Enade. Para tanto, foram feitos dois ajustamentos: Ajustamento por organização acadêmica: nesse caso, as notas do Enade foram organizadas em 3 grupos:

Grupo 1: faculdades Grupo 2: centros universitários Grupo 3: universidades

Ajustamento por organização acadêmica e por região: nesse caso, foram 6 os grupos:

Grupo 1: faculdades do norte (regiões N, NE e CO) do Brasil Grupo 2: faculdades do sul (regiões S e SD) do Brasil Grupo 3: centros universitários do norte do Brasil Grupo 4: centros universitários do sul do Brasil Grupo 5: universidades do norte do Brasil Grupo 6: universidades do sul do Brasil

Tais grupos consideraram somente instituições particulares, para também isolar o efeito da categoria administrativa, posto que está demonstrado existir esse efeito (BITTENCOURT et al, 2010). As notas do Enade, então, foram recalculadas em cada um desses grupos, a partir dos resultados obtidos na prova de fundamentação geral (FG) e do componente específico (CE), valendo-se do mesmo procedimento usado pelo Inep para o cálculo do Enade geral (INEP, 2012).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 COMPARAÇÃO ENTRE IES PARTICULARES E PÚBLICAS Quando se comparam os resultados do Enade nos Ciclos II e III (Tabela 3), nota-se que as instituições particulares apresentaram uma maior tendência de crescimento em seus resultados, quando comparados com as instituições públicas, as quais, de forma geral, mostraram uma tendência de queda (exceto para o ciclo da Saúde).

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Tabela 3 – Média dos conceitos do Enade

Ciclo II Ciclo III Var.

IES particulares

Saúde 2,19 2,26 3,1%

Exatas 2,16 2,29 6,3%

Humanas 2,28 2,35 3,1%

IES públicas

Saúde 3,03 3,15 4,0%

Exatas 2,67 2,64 -0,8%

Humanas 2,91 2,88 -1,2%

Fonte: Elaboração do autor, 2013. O mesmo fenômeno pôde ser observado quando se analisa a porcentagem de cursos com conceito 4 ou 5 nas instituições privadas, as quais apresentaram um crescimento mais expressivo quando comparadas com as instituições públicas (Tabela 4).

Tabela 4 – Cursos com conceito 4 ou 5

Ciclo II Ciclo III Var.

IES particulares

Saúde 18,5% 19,2% 4,1%

Exatas 17,5% 21,8% 24,5%

Humanas 19,0% 21,2% 11,5%

IES públicas

Saúde 59,4% 64,9% 9,2%

Exatas 39,0% 40,3% 3,5%

Humanas 48,8% 47,5% -2,5%

Fonte: Elaboração do autor, 2013. O aumento nos conceitos do Enade observado nas instituições privadas, bem como o aumento da porcentagem de cursos com conceitos 4 ou 5, devem, todavia, ser analisados com cautela. Não significam necessariamente que os cursos das instituições privadas estão melhores, tampouco que os cursos das instituições públicas estão piores. Significam apenas que houve uma redução na diferença na performance dos alunos na prova entre ambos os tipos de instituições. A redução dessa diferença fica evidente quando se faz a média das notas nos 3 anos de cada ciclo. A Tabela 5 mostra que essa diferença caiu de 23% para 20%.

Tabela 5 – Diferença entre IES públicas e particulares quanto à nota do Enade.

IES

públicas IES

particulares Diferença

Ciclo II 2,87 2,21 23,0%

Ciclo III 2,89 2,30 20,4%

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

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Quanto à região, o presente estudo dividiu o Brasil em duas macrorregiões: Norte (compreendendo os estados das regiões N, NE e CO) e Sul (compreendendo os estados das regiões S e SE). Conforme pode ser observado na Tabela 8, está claro que os cursos de estados da macrorregião Sul tendem a apresentar resultados melhores, em comparação aos resultados da macrorregião Norte. Todavia, observa-se que os cursos da macrorregião Norte tiveram uma melhoria mais acentuada entre os Ciclos II e III, ou seja, essa diferença entre Norte e Sul está diminuindo.

Tabela 8 – Evolução do Enade por região em IES particulares

Ciclo II Ciclo III Var. Saúde

Norte* 1,95 2,08 6,2% Sul** 2,25 2,32 3,1%

Exatas

Norte 1,83 2,06 12,6%

Sul 2,25 2,36 4,8%

Humanas

Norte 2,01 2,15 6,9%

Sul 2,39 2,43 1,8%

* Norte = Estados das regiões N, NE e CO ** Sul = Estados das regiões S e SE Fonte: Elaboração do autor, 2013.

4.3 CORRELAÇÃO ENTRE A NOTA DO ENADE E OS INSUMOS DO CPC A Tabela 9 mostra o valor calculado do coeficiente de correlação entre a nota do Enade e os insumos atualmente usados no cálculo do CPC. Para analisar esses valores, foi considerado como forte uma correlação acima de 70%, média quando entre 30% e 70% e fraca quando abaixo de 30%, conforme padrão aceito pelas normas estatísticas (BARBETTA, 2006; FIGUEREIDO FILHO; SILVA JÚNIOR, 2009). Numa primeira leitura, nota-se que nenhum dos resultados encontrados foi acima de 30%, ou seja, todas as correlações calculadas se apresentaram com intensidade fraca. No que se refere aos insumos relacionados com o corpo docente (titulação e regime de trabalho), quando se procurou isolar o efeito de outras variáveis que sabidamente interferem no resultado do Enade, as correlações diminuíram mais ainda. Por exemplo, a correlação entre título de doutor e a nota do Enade caiu para 1,7% quando foram consideradas apenas IES particulares e feito o ajustamento conforme a organização acadêmica (universidade, centro universitário e faculdade) e a macrorregião do Brasil (Norte e Sul). Os resultados estão em linha com outros achados, como os trabalhos de Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, EUA. Em um de seus estudos clássicos (HANUSHEK,

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

Quando se analisa essa diferença na perspectiva da nota absoluta obtida na prova, ou seja, antes do tratamento matemático de normalização, observa-se que essa diferença é menor (Tabela VI). Em outras palavras, o tratamento matemático de normalização torna maiores as diferenças do que elas realmente são, fenômeno semelhante ao relatado anteriormente por outro estudo (CASTRO, 2011).

Tabela 6 – Diferença entre IES públicas e particulares quanto à média ponderada nas provas de FG e CE

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

4.2 ANÁLISE DO EFEITO DA ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA E DA REGIÃO DO BRASIL Para analisar o efeito da organização acadêmica e da região do Brasil, o presente estudo focou-se apenas em instituições particulares visando, com isso, a eliminar um possível efeito da categoria administrativa da instituição, tornando a amostra mais homogênea. No que se refere à organização acadêmica, notou-se que há uma clara tendência em haver um melhor desempenho em universidades em comparação aos centros universitários e destes com relação às faculdades, conforme exposto na Tabela 7. No caso dos grupos da Saúde e de Exatas, observou-se inclusive que essas diferenças se acentuaram no Ciclo III, em comparação ao Ciclo II. Já no caso do grupo de Humanas, o efeito foi o inverso.

Tabela 7 – Evolução do Enade por organização acadêmica em IES particulares

Ciclo II Ciclo III Var.

Saúde

Faculdades 2,18 2,11 -3,6%

Centros Universitários 2,13 2,24 4,9%

Universidades 2,22 2,43 9,5%

Exatas

Faculdades 2,08 2,15 3,4%

Centros Universitários 2,18 2,28 4,4%

Universidades 2,22 2,46 10,6%

Humanas

Faculdades 2,18 2,28 4,3%

Centros Universitários 2,27 2,35 3,4%

Universidades 2,45 2,51 2,8%

Fonte: Elaboração do autor, 2013.

IES

públicas IES

particulares Diferença

Ciclo II 48,5 43,7 9,9%

Ciclo III 45,1 41,2 8,5%

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Quanto à região, o presente estudo dividiu o Brasil em duas macrorregiões: Norte (compreendendo os estados das regiões N, NE e CO) e Sul (compreendendo os estados das regiões S e SE). Conforme pode ser observado na Tabela 8, está claro que os cursos de estados da macrorregião Sul tendem a apresentar resultados melhores, em comparação aos resultados da macrorregião Norte. Todavia, observa-se que os cursos da macrorregião Norte tiveram uma melhoria mais acentuada entre os Ciclos II e III, ou seja, essa diferença entre Norte e Sul está diminuindo.

Tabela 8 – Evolução do Enade por região em IES particulares

Ciclo II Ciclo III Var. Saúde

Norte* 1,95 2,08 6,2% Sul** 2,25 2,32 3,1%

Exatas

Norte 1,83 2,06 12,6%

Sul 2,25 2,36 4,8%

Humanas

Norte 2,01 2,15 6,9%

Sul 2,39 2,43 1,8%

* Norte = Estados das regiões N, NE e CO ** Sul = Estados das regiões S e SE Fonte: Elaboração do autor, 2013.

4.3 CORRELAÇÃO ENTRE A NOTA DO ENADE E OS INSUMOS DO CPC A Tabela 9 mostra o valor calculado do coeficiente de correlação entre a nota do Enade e os insumos atualmente usados no cálculo do CPC. Para analisar esses valores, foi considerado como forte uma correlação acima de 70%, média quando entre 30% e 70% e fraca quando abaixo de 30%, conforme padrão aceito pelas normas estatísticas (BARBETTA, 2006; FIGUEREIDO FILHO; SILVA JÚNIOR, 2009). Numa primeira leitura, nota-se que nenhum dos resultados encontrados foi acima de 30%, ou seja, todas as correlações calculadas se apresentaram com intensidade fraca. No que se refere aos insumos relacionados com o corpo docente (titulação e regime de trabalho), quando se procurou isolar o efeito de outras variáveis que sabidamente interferem no resultado do Enade, as correlações diminuíram mais ainda. Por exemplo, a correlação entre título de doutor e a nota do Enade caiu para 1,7% quando foram consideradas apenas IES particulares e feito o ajustamento conforme a organização acadêmica (universidade, centro universitário e faculdade) e a macrorregião do Brasil (Norte e Sul). Os resultados estão em linha com outros achados, como os trabalhos de Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, EUA. Em um de seus estudos clássicos (HANUSHEK,

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Nesse sentido, vale destacar um importante achado demonstrado nesse trabalho: a diferença no desempenho na prova do Enade entre instituições públicas e privadas é pequena. E está diminuindo. Se essa tendência persistir em longo prazo, chegará o dia em que o desempenho das instituições privadas será superior ao das públicas. De um lado, esse fato fortalece a importância do setor privado na educação superior, o qual representa a substancial parcela de quase 75% das matrículas totais no País. O orçamento de uma instituição privada é usualmente um terço ou um quarto daquele de uma instituição pública. Assim, aliado ao fato de os alunos das IES privadas serem majoritariamente adultos trabalhadores que estudam à noite, em contraste com os jovens de classe média que estudam de dia nas públicas, é significativo o resultado acadêmico que tais instituições vêm entregando. Por outro lado, não é animador que se repita no Ensino Superior o que ocorreu na Educação Básica, com o sucateamento da oferta pública de educação. A saúde do sistema depende do equilíbrio de seus componentes e cada grupo de instituição tem seu papel a desempenhar. Uma engrenagem que não funcione pode derrubar o sistema como um todo. Não se trata, assim, de uma competição entre públicas e privadas para ver quem é melhor. O País só ganha quando o sistema melhora como um todo. Dessa forma, é fundamental compreender quais são os fatores que podem contribuir com a melhoria do desempenho acadêmico dos alunos no Enade. Mas, nesse sentido, o presente estudo não conseguiu demonstrar correlação desse desempenho com as variáveis do corpo docente, dos planos de ensino e da infraestrutura, na forma como são apurados no CPC. Se, de fato, tais variáveis não possuem relação com o desempenho acadêmico, como inclusive apontam os estudos prévios citados, podemos estar diante de um problema sério. Considerando que boa parte das políticas públicas atuais estão lastreadas no CPC e no IGC, é de se esperar pouco efeito concreto na melhoria do aprendizado dos alunos. Tais resultados indicam que é o foco pode estar voltado para o lado errado. Tornam-se, dessa forma, fundamentais outros estudos que comprovem (ou não) os resultados desse trabalho, e, caso comprovem, é preciso analisar o efeito de outras variáveis, para que as políticas públicas possam se embasar em terreno mais sólido. REFERÊNCIAS BARBETTA P. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: Editora UFSC, 2006. BITTENCOURT, H. R. et al. Mudanças nos pesos do CPC e seu impacto nos resultados de avaliação em universidades federais e privadas. Avaliação, Campinas-Sorocaba, SP, v. 15, n. 3, p. 147-166, nov. 2010. Disponível em: <http://www.academia.edu/1308132/ Mudancas_nos_pesos_do_CPC_e_seu_impacto_nos_resultados_de_avaliacao_em_universidades_federais_e_privadas>. Acesso em: 10 mar. 2014.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

2006), esse autor analisou 106 trabalhos que procuraram relacionar a escolaridade do professor com a qualidade da educação, e, desses, 95 não encontraram correlação. Entre os 11 que encontraram correlação, 6 foram correlações positivas e 5 negativas.

Tabela 09 – Correlação entre a nota do Enade e os insumos do CPC em diferentes grupos de cursos.

Tipo de IES Ajuste (1)

# (2)

DOU (3)

MES (4)

REG (5)

INF (6)

PED (7)

Todas Não 20159 26,2% 24,7% 23,4% 2,1% 7,3%

Particulares Não 14278 14,9% 20,8% 10,1% 18,9% 20,7%

Particulares Org (8) 14278 5,8% 17,1% 5,0% 16,9% 18,3%

Particulares Org + Reg (9) 14222 1,7% 11,1% 2,1% 14,3% 13,4%

 Fonte: Elaboração do autor, 2013.

 (1) Ajustamento conforme descrito na metodologia (2) Número de cursos (3) Porcentagem de doutores no corpo docente (4) Porcentagem de mestres e doutores no corpo docente (5) Porcentagem de professores em tempo parcial ou integral (6) Avaliação dos alunos quanto à infraestrutura (7) Avaliação dos alunos quanto aos planos de ensino (8) Ajustamento por organização acadêmica (9) Ajustamento por organização acadêmica e por região

CONCLUSÃO A realização de um exame nacional de concluintes no Brasil, em praticamente todos os cursos de graduação, é um feito extraordinário, especialmente em um país de dimensões continentais. Realizado de forma ininterrupta desde 1996, a iniciativa coloca o Brasil como um dos poucos países que realiza um exame com essa magnitude, senão o único no mundo. Dessa forma, ainda que pesem críticas sobre sua metodologia, há que se considerar o Enade como um importante aliado para o planejamento e execução de políticas públicas visando à melhoria da qualidade acadêmica da educação superior e uma grande realização do Estado Brasileiro. Entretanto, é preciso compreender as suas características metodológicas, especialmente o seu tratamento estatístico, para serem tiradas conclusões. Conforme demonstrado, o Enade é um ranking, ou seja, as instituições que estão no topo não são necessariamente “boas”, elas são “melhores”. Da mesma forma, as instituições que estão na base não são necessariamente “ruins”, elas são “piores”. Não se trata de um jogo de palavras, trata-se de dar o devido tratamento à informação gerada pelo Enade.

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            ANÁLISE RETROSPECTIVA DOS RESULTADOS DO EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES (ENADE) DE 2007 A 2012

Nesse sentido, vale destacar um importante achado demonstrado nesse trabalho: a diferença no desempenho na prova do Enade entre instituições públicas e privadas é pequena. E está diminuindo. Se essa tendência persistir em longo prazo, chegará o dia em que o desempenho das instituições privadas será superior ao das públicas. De um lado, esse fato fortalece a importância do setor privado na educação superior, o qual representa a substancial parcela de quase 75% das matrículas totais no País. O orçamento de uma instituição privada é usualmente um terço ou um quarto daquele de uma instituição pública. Assim, aliado ao fato de os alunos das IES privadas serem majoritariamente adultos trabalhadores que estudam à noite, em contraste com os jovens de classe média que estudam de dia nas públicas, é significativo o resultado acadêmico que tais instituições vêm entregando. Por outro lado, não é animador que se repita no Ensino Superior o que ocorreu na Educação Básica, com o sucateamento da oferta pública de educação. A saúde do sistema depende do equilíbrio de seus componentes e cada grupo de instituição tem seu papel a desempenhar. Uma engrenagem que não funcione pode derrubar o sistema como um todo. Não se trata, assim, de uma competição entre públicas e privadas para ver quem é melhor. O País só ganha quando o sistema melhora como um todo. Dessa forma, é fundamental compreender quais são os fatores que podem contribuir com a melhoria do desempenho acadêmico dos alunos no Enade. Mas, nesse sentido, o presente estudo não conseguiu demonstrar correlação desse desempenho com as variáveis do corpo docente, dos planos de ensino e da infraestrutura, na forma como são apurados no CPC. Se, de fato, tais variáveis não possuem relação com o desempenho acadêmico, como inclusive apontam os estudos prévios citados, podemos estar diante de um problema sério. Considerando que boa parte das políticas públicas atuais estão lastreadas no CPC e no IGC, é de se esperar pouco efeito concreto na melhoria do aprendizado dos alunos. Tais resultados indicam que é o foco pode estar voltado para o lado errado. Tornam-se, dessa forma, fundamentais outros estudos que comprovem (ou não) os resultados desse trabalho, e, caso comprovem, é preciso analisar o efeito de outras variáveis, para que as políticas públicas possam se embasar em terreno mais sólido. REFERÊNCIAS BARBETTA P. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: Editora UFSC, 2006. BITTENCOURT, H. R. et al. Mudanças nos pesos do CPC e seu impacto nos resultados de avaliação em universidades federais e privadas. Avaliação, Campinas-Sorocaba, SP, v. 15, n. 3, p. 147-166, nov. 2010. Disponível em: <http://www.academia.edu/1308132/ Mudancas_nos_pesos_do_CPC_e_seu_impacto_nos_resultados_de_avaliacao_em_universidades_federais_e_privadas>. Acesso em: 10 mar. 2014.

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CALDAS, S.H. Sobre o posicionamento do MEC em relação aos cursos de Direito. Disponível em: <http://abmeseduca.com/?p=5446>. Acesso em: 10 mar. 2014. CASTRO, C.M. Avaliação no ensino superior: acertos e derrapagens. ABMES Cadernos, v.22, 2011. Disponível em: <http://www.abmes.org.br/abmes/publicacao/deta lhe/id/47>. Acesso em: 10 mar. 2014. CASTRO, C.M. MEC merece vivas pela avaliação do ensino superior e puxões de orelha. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/ mec-merece-vivas-pela-avaliacao-do-ensino-superior-e-puxoes-de-orelha>. Acesso em: 10 mar. 2014. FIGUEIREDO FILHO, D.B.; SILVA JÚNIOR, J.A.S. Desvendando os mistérios do coeficiente de correlação de Pearson. Revista Política Hoje, v. 18, n. 1, 2009. GREGORY, J. Avaliação: os pecados do MEC: os problemas do conceito ENADE. Disponível em: <http://abrafi.org.br/NetManager/documentos/artigo_-_gregory-avalia cao_os_pecados_do_mec.pdf >. Acesso em: 10 mar. 2014. HANUSHEK, E. The Economics of Schooling: Production and Efficiency in Public Schools. Journal of Economic Literature, v. 24, n.3, p. 1141-77, 1986. INEP. Enade revela aumento de cursos com avaliações positivas. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/6AhJ/content/exame-revela-aumen to-de-cursos-com-avaliacoes-positivas>. Acesso em: 10 mar. 2014. INEP. Nota Metodológica. Conceito Enade 2012. Disponível em: <http://download .inep.gov.br/educacao_superior/enade/notas_tecnicas/2012/nota_tecnica_conceito_enade_2012.pdf >. Acesso em: 10 mar. 2014. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resultados do Enade. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/enade/ resultados>. Acesso em: 10 mar. 2014. JOSÉ NETO. Medidas de assimetria e de achatamento. Disponível em: <http://esta tisticax.blogspot.com.br/2008/03/medidas-de-assimetria-e-de-achatamento.html>. Acesso em: 10 mar. 2014. MICROSOFT OFFICE. Correl function. Disponível em: <http://office.microsoft.com/en-001/excel-help/correl-HP005209023.aspx>. Acesso em: 10 mar. 2014. MORENO, A.C. Enade não diz se curso é bom, só se é melhor ou pior que outro: entenda. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/10/enade-nao-diz-se-curso-e-bom-so-se-e-melhor-ou-pior-que-outro-entenda.html>. Acesso em: 10 mar. 2014. SCHWARTZMAN, S. As “novidades” do ENADE e a curva normal. Disponível em: <http://www.schwartzman.org.br/sitesimon/?p=4676&lang=en-us>. Acesso em: 10 mar. 2014. TESSLER, L.R. 30% dos cursos avaliados abaixo da média do ENADE: o que isso significa? Rigorosamente NADA! Disponível em: <http://abmeseduca.com/?p=7135>. Acesso em: 10 mar. 2014.

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CALDAS, S.H. Sobre o posicionamento do MEC em relação aos cursos de Direito. Disponível em: <http://abmeseduca.com/?p=5446>. Acesso em: 10 mar. 2014. CASTRO, C.M. Avaliação no ensino superior: acertos e derrapagens. ABMES Cadernos, v.22, 2011. Disponível em: <http://www.abmes.org.br/abmes/publicacao/deta lhe/id/47>. Acesso em: 10 mar. 2014. CASTRO, C.M. MEC merece vivas pela avaliação do ensino superior e puxões de orelha. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/ mec-merece-vivas-pela-avaliacao-do-ensino-superior-e-puxoes-de-orelha>. Acesso em: 10 mar. 2014. FIGUEIREDO FILHO, D.B.; SILVA JÚNIOR, J.A.S. Desvendando os mistérios do coeficiente de correlação de Pearson. Revista Política Hoje, v. 18, n. 1, 2009. GREGORY, J. Avaliação: os pecados do MEC: os problemas do conceito ENADE. Disponível em: <http://abrafi.org.br/NetManager/documentos/artigo_-_gregory-avalia cao_os_pecados_do_mec.pdf >. Acesso em: 10 mar. 2014. HANUSHEK, E. The Economics of Schooling: Production and Efficiency in Public Schools. Journal of Economic Literature, v. 24, n.3, p. 1141-77, 1986. INEP. Enade revela aumento de cursos com avaliações positivas. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/6AhJ/content/exame-revela-aumen to-de-cursos-com-avaliacoes-positivas>. Acesso em: 10 mar. 2014. INEP. Nota Metodológica. Conceito Enade 2012. Disponível em: <http://download .inep.gov.br/educacao_superior/enade/notas_tecnicas/2012/nota_tecnica_conceito_enade_2012.pdf >. Acesso em: 10 mar. 2014. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resultados do Enade. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/enade/ resultados>. Acesso em: 10 mar. 2014. JOSÉ NETO. Medidas de assimetria e de achatamento. Disponível em: <http://esta tisticax.blogspot.com.br/2008/03/medidas-de-assimetria-e-de-achatamento.html>. Acesso em: 10 mar. 2014. MICROSOFT OFFICE. Correl function. Disponível em: <http://office.microsoft.com/en-001/excel-help/correl-HP005209023.aspx>. Acesso em: 10 mar. 2014. MORENO, A.C. Enade não diz se curso é bom, só se é melhor ou pior que outro: entenda. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/10/enade-nao-diz-se-curso-e-bom-so-se-e-melhor-ou-pior-que-outro-entenda.html>. Acesso em: 10 mar. 2014. SCHWARTZMAN, S. As “novidades” do ENADE e a curva normal. Disponível em: <http://www.schwartzman.org.br/sitesimon/?p=4676&lang=en-us>. Acesso em: 10 mar. 2014. TESSLER, L.R. 30% dos cursos avaliados abaixo da média do ENADE: o que isso significa? Rigorosamente NADA! Disponível em: <http://abmeseduca.com/?p=7135>. Acesso em: 10 mar. 2014.

             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO Iracema Rebeca Fazio1 RESUMO O presente artigo objetiva analisar a tutela jurídica adequada do bem intelectual. O estudo ora proposto é realizado sob a ótica da Constituição Federal e da revolução tecnológica que caracteriza a atual Sociedade e Economia da Informação. Para o efeito, considerar-se-á o valor da exploração econômica de suas obras, a partir das utilizações privadas das obras protegidas pelos direitos de autor, de modo a equilibrar a razoável proteção aos direitos de autor e o direito de acesso à fruição cultural. PALAVRAS-CHAVE: Bem Intelectual. Proteção Jurídica. Economia da Informação. Sociedade da Informação. Exploração econômica do bem intelectual.

                                                                                                               1 Coordenadora do Núcleo de Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade Ruy Barbosa de Direito – Campus Paralela – e da Faculdade UNIME de Ciências Jurídicas. Docente titular da disciplina de Direito Civil da Faculdade Ruy Barbosa de Direito – Campus Paralela – e da Faculdade UNIME de Ciências Jurídicas. Doutoranda em Ciências Jurídicas e Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. E-mail: [email protected].

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

INTRODUÇÃO Claro está que as transformações surgidas a partir deste movimento humano de conectividade é fruto duma revolução primeiramente tecnológica, responsável por produzir novos meios de comunicação e interação, que para a economia traduz-se em novas formas de fazer negócios. Na verdade, o grande problema sobre investigar, escrever e trabalhar com a tutela dos bens intelectuais, em certa medida, deve-se ao fato de que hoje os avanços tecnológicos criam e potencializam diferentes métodos de reprodução, transmissão e fixação das obras tuteladas pelo direito de autor. Esta mesma tecnologia permite que a obra autoral antes acessível apenas pelo suporte tangível, seja disponibilizada em arquivo digital; cuja característica principal é a capacidade de duplicação, sem que isso represente a diminuição da sua qualidade, muitas vezes alcançada mesmo em se tratando de cópia cuja fonte original é ausente. É indiscutível, por isso, constatar-se que os arquivos digitais abriram as portas para um novo mundo. Hoje, as possibilidades de comunicação e distribuição são infinitas. E daí advir mais um problema, separar o que é modismo ou profunda alteração, já que a tecnologia é por demais volátil (BENKLER, 2005). O que está posto hoje não se identifica com o de amanhã. Sem embargo, a tutela dos bens intelectuais pelo direito de autor, a noção do direito de reprodução das obras protegidas pelo direito de autor e o inquestionável direito à informação, estão em causa em tempos de democratização do uso da informação digital, do uso das redes eletrônicas abertas e das aplicações, ferramentas e produtos multimídia. (HAMMES, 1998, pp. 76-77). É assim que as alterações propiciadas pelas novas tecnologias de produção, tratamento, difusão e exploração da informação digital, assumem, hoje, um relevo histórico de profunda mutação nas práticas convencionais sociais e profissionais relativas ao uso da informação. Trata-se de uma alteração na economia da informação, cujos meios de produção passam a estar nas mãos de qualquer pessoa com acesso às referidas novas tecnologias. É assim que preleciona o Prof. Dr. Yochai Benkler ao ponderar que houve uma alteração nas preferências dos consumidores, forjada pela emergência da produção social:

Active users require and value new and different things than passive consumers did. The industrial information economy specialized in producing finished goods, like movies or music, to be consumed passively, and well-behaved appliances, like televisions, whose use was fully specified at the factory door. The emerging businesses of the networked information economy are focusing on serving the demand of active users for platforms and tools that are much more loosely designed, late-binding—that is, optimized only at the moment of use and not in advance—variable in their uses, and oriented toward providing users with new, flexible platforms for relationships. Personal computers, camera phones, audio and video editing software, and similar utilities are examples of tools whose value increases for users as they are enabled to explore new ways to be creative and productively engaged with others. In the network, we are beginning to see business models emerge to allow people to come together, like MeetUp, and to share annotations of Web

           

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ABSTRACT This article aims to analyze the adequate legal protection of the intellectual property. The study proposed here is done from the perspective of the Federal Constitution and the technological revolution that characterizes the current Society and Information Economy. For this purpose, the value of the economic exploitation of their works from private uses protected by copyright, works to balance the reasonable protection of copyright and the right of access to cultural enjoyment will be deemed to. KEYWORDS: Intellectual property. Legal Protection. Information Economics. Information Society. Economic exploitation of the intellectual property.

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

INTRODUÇÃO Claro está que as transformações surgidas a partir deste movimento humano de conectividade é fruto duma revolução primeiramente tecnológica, responsável por produzir novos meios de comunicação e interação, que para a economia traduz-se em novas formas de fazer negócios. Na verdade, o grande problema sobre investigar, escrever e trabalhar com a tutela dos bens intelectuais, em certa medida, deve-se ao fato de que hoje os avanços tecnológicos criam e potencializam diferentes métodos de reprodução, transmissão e fixação das obras tuteladas pelo direito de autor. Esta mesma tecnologia permite que a obra autoral antes acessível apenas pelo suporte tangível, seja disponibilizada em arquivo digital; cuja característica principal é a capacidade de duplicação, sem que isso represente a diminuição da sua qualidade, muitas vezes alcançada mesmo em se tratando de cópia cuja fonte original é ausente. É indiscutível, por isso, constatar-se que os arquivos digitais abriram as portas para um novo mundo. Hoje, as possibilidades de comunicação e distribuição são infinitas. E daí advir mais um problema, separar o que é modismo ou profunda alteração, já que a tecnologia é por demais volátil (BENKLER, 2005). O que está posto hoje não se identifica com o de amanhã. Sem embargo, a tutela dos bens intelectuais pelo direito de autor, a noção do direito de reprodução das obras protegidas pelo direito de autor e o inquestionável direito à informação, estão em causa em tempos de democratização do uso da informação digital, do uso das redes eletrônicas abertas e das aplicações, ferramentas e produtos multimídia. (HAMMES, 1998, pp. 76-77). É assim que as alterações propiciadas pelas novas tecnologias de produção, tratamento, difusão e exploração da informação digital, assumem, hoje, um relevo histórico de profunda mutação nas práticas convencionais sociais e profissionais relativas ao uso da informação. Trata-se de uma alteração na economia da informação, cujos meios de produção passam a estar nas mãos de qualquer pessoa com acesso às referidas novas tecnologias. É assim que preleciona o Prof. Dr. Yochai Benkler ao ponderar que houve uma alteração nas preferências dos consumidores, forjada pela emergência da produção social:

Active users require and value new and different things than passive consumers did. The industrial information economy specialized in producing finished goods, like movies or music, to be consumed passively, and well-behaved appliances, like televisions, whose use was fully specified at the factory door. The emerging businesses of the networked information economy are focusing on serving the demand of active users for platforms and tools that are much more loosely designed, late-binding—that is, optimized only at the moment of use and not in advance—variable in their uses, and oriented toward providing users with new, flexible platforms for relationships. Personal computers, camera phones, audio and video editing software, and similar utilities are examples of tools whose value increases for users as they are enabled to explore new ways to be creative and productively engaged with others. In the network, we are beginning to see business models emerge to allow people to come together, like MeetUp, and to share annotations of Web

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

qualificar o momento econômico que a sociedade vivencia. Pontue-se também que a alteração mais importante produzida pela economia da informação não se traduz especificamente numa única tecnologia, mas sim ao novo comportamento dos agentes econômicos diante da nova realidade estabelecida, que vem alcançando parcela da sociedade, responsável por constituir massa crítica e também ela produtora de informação (EVANS; WURSTER, 2000). Neste sentido, Evans e Wurster vêm apontando que o período histórico atual acaba por vivenciar um movimento de conectividade entre as pessoas. Bem verdade que este movimento traz como consequência profundas transformações na forma das organizações operarem e na necessidade destas repensarem o modo de fazer negócios, chegando até mesmo ao ponto inicial de novamente discutirem sobre quais são os fundamentos estratégicos empresariais que agora devem preponderar na atividade econômica que produzem (EVANS; WURSTER, 2000). Note-se que, como observação primeira a efetuar-se, diz respeito à terminologia apresentada, dado que no domínio da sociedade da informação o mais correto seria simplesmente apontar a tecnologia da informação, pois a tecnologia da comunicação está inserida nesta. Entretanto, consagrou-se internacionalmente o termo em epígrafe, sendo inclusive conhecida pela abreviatura de suas iniciais: TIC. Em boa medida, as tecnologias da informação abrangem a tecnologia da comunicação e do conhecimento, como bem esclarece Rover (2000, p. 208), quando descreve os sistemas especialistas da informação, apontando criteriosamente a distinção: As tecnologias de comunicação referem-se aos mecanismos e programas que facilitam o acesso às informações de maneira universal, ou seja, sem impor nenhum tipo de barreira, a não ser aquelas que se referem à segurança e integridade dos sistemas. Exemplo disto, são as tecnologias de redes de computadores. As tecnologias relativas ao conhecimento dizem respeito basicamente ao desenvolvimento de programas (softwares) que organizem, armazenem e manipulem os dados e informações de tal forma que facilitem a compreensão destes por um universo infinito de interessados. Exemplo disto são os sistemas inteligentes, dentre eles os sistemas especialistas legais. De mais a mais, o que não se pode contestar nesta observação, quer seja a tecnologia implementada de comunicação ou de conhecimento, ambas facultam soluções baratas e céleres, tanto ao nível da complexidade administrativa como técnica. Assim, destacando-se a world wide web como "a espinha dorsal da comunicação global" (CASTELLS, 2002, p. 369), a presente investigação encontra-se fulcrada nesta tecnologia, sendo, portanto, desnecessário explicar e elencar quais os mecanismos e aparelhos que precederam e os que fazem parte desta tecnologia da informação (CASTELLS, 2002; LANGE, 1996), pois ela já faz parte integrante da vida cotidiana, assumindo uma crescente importância na vida coletiva atual, introduzindo uma nova dimensão no modelo das sociedades modernas, tanto em nível nacional, como internacional.

           

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pages they read, like del.icio.us, or photographs they took, like Flickr. (BENKLER, 2005, p. 126).

De sorte que se apresenta de extrema relevância, para o desenvolvimento deste estudo, iniciar a pesquisa com a análise de duas novas realidades do mundo atual, que são a sociedade e a economia da informação, já que estão elas a por em causa os fundamentos ou justificativas das reivindicações dos titulares de direitos, fomentando a discussão sobre os limites do direito de autor. Por conseguinte, e no intuito de não se exaurir esta pesquisa num vazio de fundamentação, bem como por forma a aplicar o rigor metodológico que um trabalho desta natureza impõe, é que se apresenta imperioso desde já identificar detalhadamente os objetivos deste estudo, quais sejam: diagnosticar a revolução dos meios de comunicação como estratificação de uma nova sociedade; relacionar a evolução dos meios de comunicação com o fim das barreiras ao fluxo da informação; analisar a possibilidade do enquadramento de uma medida adequada para controlar o fluxo da informação; dimensionar o valor da produção e da transmissão dos bens intelectuais. É bem verdade que a identificação destes objetivos está umbilicalmente ligada com o enfretamento do seguinte problema: a revolução dos meios de comunicação estabeleceu a estratificação de uma nova sociedade? A resposta a esta pergunta, tentar-se-á encontrar ao longo do desenvolvimento deste estudo, mas cuja análise, necessariamente aprofundada, muito provavelmente esbarrará em mais questionamentos a serem solucionadas. 2 A ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

Não há como negar o fato concreto de que o fenômeno da world wide web e a possibilidade de realizar negócios de formas diversas fizeram surgir uma preocupação quanto ao processamento de informações necessárias à tomada de decisões no ambiente de negócios das organizações. Daí surgir a pergunta sobre a prescindibilidade ou não de novas regras para a economia e paralelamente a constatação de que as mudanças que hoje se apresentam são consequências dos avanços tecnológicos (BOLAÑO, 1997). Ao solucionar esta indagação que historicamente é comum e pode ser verificada em períodos de grandes alterações sociais, chega-se à resposta incontestável de que as normas permanecem a produzir efeitos, mesmo diante da mudança. Assim, equivale responder que também as leis da economia continuam valendo, apenas necessitam de ajustes diante da nova realidade posta. Para Venkatraman as alterações introduzidas pelas novas tecnologias de informação podem colaborar intensivamente para a obtenção de resultados novos; todavia tais alterações somente irão verificar-se caso acompanhadas de processos de gestão das informações (VENKATRAMAN, 1994). Ressalte-se, assim, que as alterações econômicas prendem-se necessariamente àquelas verificadas na forma em que se utiliza a informação disponível (SHAPIRO; VARIAN, 1999). Por isso, hoje fora largamente difundido o uso do termo informação para

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

qualificar o momento econômico que a sociedade vivencia. Pontue-se também que a alteração mais importante produzida pela economia da informação não se traduz especificamente numa única tecnologia, mas sim ao novo comportamento dos agentes econômicos diante da nova realidade estabelecida, que vem alcançando parcela da sociedade, responsável por constituir massa crítica e também ela produtora de informação (EVANS; WURSTER, 2000). Neste sentido, Evans e Wurster vêm apontando que o período histórico atual acaba por vivenciar um movimento de conectividade entre as pessoas. Bem verdade que este movimento traz como consequência profundas transformações na forma das organizações operarem e na necessidade destas repensarem o modo de fazer negócios, chegando até mesmo ao ponto inicial de novamente discutirem sobre quais são os fundamentos estratégicos empresariais que agora devem preponderar na atividade econômica que produzem (EVANS; WURSTER, 2000). Note-se que, como observação primeira a efetuar-se, diz respeito à terminologia apresentada, dado que no domínio da sociedade da informação o mais correto seria simplesmente apontar a tecnologia da informação, pois a tecnologia da comunicação está inserida nesta. Entretanto, consagrou-se internacionalmente o termo em epígrafe, sendo inclusive conhecida pela abreviatura de suas iniciais: TIC. Em boa medida, as tecnologias da informação abrangem a tecnologia da comunicação e do conhecimento, como bem esclarece Rover (2000, p. 208), quando descreve os sistemas especialistas da informação, apontando criteriosamente a distinção: As tecnologias de comunicação referem-se aos mecanismos e programas que facilitam o acesso às informações de maneira universal, ou seja, sem impor nenhum tipo de barreira, a não ser aquelas que se referem à segurança e integridade dos sistemas. Exemplo disto, são as tecnologias de redes de computadores. As tecnologias relativas ao conhecimento dizem respeito basicamente ao desenvolvimento de programas (softwares) que organizem, armazenem e manipulem os dados e informações de tal forma que facilitem a compreensão destes por um universo infinito de interessados. Exemplo disto são os sistemas inteligentes, dentre eles os sistemas especialistas legais. De mais a mais, o que não se pode contestar nesta observação, quer seja a tecnologia implementada de comunicação ou de conhecimento, ambas facultam soluções baratas e céleres, tanto ao nível da complexidade administrativa como técnica. Assim, destacando-se a world wide web como "a espinha dorsal da comunicação global" (CASTELLS, 2002, p. 369), a presente investigação encontra-se fulcrada nesta tecnologia, sendo, portanto, desnecessário explicar e elencar quais os mecanismos e aparelhos que precederam e os que fazem parte desta tecnologia da informação (CASTELLS, 2002; LANGE, 1996), pois ela já faz parte integrante da vida cotidiana, assumindo uma crescente importância na vida coletiva atual, introduzindo uma nova dimensão no modelo das sociedades modernas, tanto em nível nacional, como internacional.

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e múltiplas, com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação. Cabe assim comentar que este movimento propiciou que as partilhas de informações alcançassem índices inimagináveis, já que a barreira do meio físico fora transposta. Hoje, partilhar informações não se reconduz a um mero empréstimo do suporte físico de armazenamento da informação, mas sim uma simples transferência de bits, que por meio eletrônico cria uma cópia perfeita do original. No que diz respeito à transferência de conteúdos criativos, este movimento de conectividade fora vital para uma mudança de comportamento do homem e das organizações. Hoje, partilhar informação protegida por direito de autor não implica apenas um ato de troca do repositório físico de fixação da obra, por exemplo, por meio de fitas cassetes, discos de vinil e CD. Partilhar, hoje, significa realizar um ato de conectividade que permita a transferência online dos arquivos digitais que contêm o conteúdo criativo protegido pelo direito de autor. Resta claro, assim, que o fenômeno da conectividade trata-se duma oportunidade criada pelos desenvolvimentos oriundos das tecnologias da informação e da comunicação, sendo ela a responsável por criar este ambiente facilitador para a partilha de informações. Obviamente que para compreender este movimento em sua completude, preciso é enfrentar o caminho que segue este ambiente, iniciando-se no aparelhamento tecnológico, findando no êxito da conectividade. Portanto, analisando este percurso, convém pontuar em linhas primeiras que o termo revolução da informação, apesar de cunhado ainda no final do século passado, permanece até hoje na ordem do dia das discussões enfrentadas no seio das organizações. Porém, o conhecimento reunido sobre o sentido deste termo, bem como, sobre as suas causas, os usos e as consequências que o mesmo gerava no domínio da informação nos negócios, ainda era bastante embrionário (HERSCOVICI, 2004). Somente após o final da década de 90, no século passado, é que as teorias a respeito da revolução da informação foram mais bem debatidas, com o fito de compreender as transformações que ocorriam e as que viriam a ocorrer (COHEN, 2002). Não se pode esquecer que tais teorias encontram-se sedimentadas em fontes matemáticas, que objetivam analisar os problemas de transmissão da informação, através de mensagens. Inicialmente a preocupação residia tão somente com os números da informação transmitida num único canal e a manutenção da integridade da informação, no sentido de afastar da transmissão qualquer espécie de distorção. (SHANNON, 1948). Sendo assim, tais teorias eram apresentadas como uma técnica eminentemente da engenharia da comunicação, denominando-se Teoria Matemática da Informação ou ainda Teoria Matemática da Comunicação (SHANNON; WEAVER, 1949). Não há dúvidas, numa análise eminentemente informacional, que a informação trata-se dum agente distribuidor de incertezas, fomentador de alterações no comportamento das organizações e dos indivíduos. Entretanto, em tom eminentemente paradoxal, convém assinalar que

           

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Ademais, a presente investigação assume a world wide web como uma tecnologia de comunicação de âmbito mundial (ASCENSÃO, 2001) e, portanto, uma tecnologia de informação caracterizada pela digitalização e eliminação de distâncias. Tal tecnologia, como é óbvio, revolucionou as relações pessoais e as transações econômicas. E consequentemente trouxe implicações para a órbita jurídica. Pelo que afirmar a incapacidade dos operadores do direito em acompanhar a celeridade das mudanças frente à esta nova realidade posta, é tocar sempre na mesma ferida. É fato! O corpo de normas jurídicas não consegue acompanhar a velocidade com que se desenvolve a sociedade da informação ou a sociedade ligada em rede (CASTELLS, 2002). Por isso é que as reflexões sobre o direito de autor em face da tecnologia de informação são da ordem do dia, configurando-se num debate mundial de suma importância, já que põe em relevo mudanças de paradigmas com implicações nos interesses públicos e privados diante da transposição territorial que cerca o assunto (KEPLINGER, 1995). Aliás, o direito de autor, por excelência, é o ramo do direito que mais vem sofrendo impacto desta nova tecnologia de informação, em seus mais diversos aspectos, que vão desde a inserção de novos conceitos e a eliminação ou conservação de outros; mas, principalmente, o forte debate sobre os limites e exceções impostos aos direitos dos autores na era digital, e que se encontram regulados em alguns tratados internacionais. Pierre Lévy critica o termo impacto, afirmando que "a metáfora do impacto é inadequada", pois

a tecnologia seria algo comparável a um projétil (pedra, obus, míssil?) e a cultura ou a sociedade um alvo vivo. Esta metáfora bélica é criticável em vários sentidos. A questão não é tanto avaliar a pertinência estilística de uma figura retórica, mas sim esclarecer o esquema de leitura dos fenômenos – a meu ver, inadequado – que a metáfora do impacto nos revela. (LÉVY, 1999. p. 21).

3 A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL NA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

É incontestável que as novas tecnologias romperam os velhos paradigmas, especialmente o da necessidade da presença física do sujeito econômico, produziram melhorias na comunicação, retiraram alguns obstáculos, nomeadamente os do tempo e espaço. Obviamente que esta nova forma de fazer negócio assinala para a consequência da redução dos custos da produção. Tamanha alteração fez emergir o movimento da conectividade, que produziu um novo comportamento nos entes econômicos, tanto as pessoas como as organizações passaram a utilizar a informação como matéria prima das negociações; mais ainda, passaram estes entes a interagirem com maior frequência, a trocarem informações, quebrando as barreiras do tempo e do espaço físico. Sem embargo, o fenômeno da conectividade apresenta ao homem e às organizações uma série de facilitadores, otimizando as interações que se apresentam cada vez mais rápidas

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e múltiplas, com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação. Cabe assim comentar que este movimento propiciou que as partilhas de informações alcançassem índices inimagináveis, já que a barreira do meio físico fora transposta. Hoje, partilhar informações não se reconduz a um mero empréstimo do suporte físico de armazenamento da informação, mas sim uma simples transferência de bits, que por meio eletrônico cria uma cópia perfeita do original. No que diz respeito à transferência de conteúdos criativos, este movimento de conectividade fora vital para uma mudança de comportamento do homem e das organizações. Hoje, partilhar informação protegida por direito de autor não implica apenas um ato de troca do repositório físico de fixação da obra, por exemplo, por meio de fitas cassetes, discos de vinil e CD. Partilhar, hoje, significa realizar um ato de conectividade que permita a transferência online dos arquivos digitais que contêm o conteúdo criativo protegido pelo direito de autor. Resta claro, assim, que o fenômeno da conectividade trata-se duma oportunidade criada pelos desenvolvimentos oriundos das tecnologias da informação e da comunicação, sendo ela a responsável por criar este ambiente facilitador para a partilha de informações. Obviamente que para compreender este movimento em sua completude, preciso é enfrentar o caminho que segue este ambiente, iniciando-se no aparelhamento tecnológico, findando no êxito da conectividade. Portanto, analisando este percurso, convém pontuar em linhas primeiras que o termo revolução da informação, apesar de cunhado ainda no final do século passado, permanece até hoje na ordem do dia das discussões enfrentadas no seio das organizações. Porém, o conhecimento reunido sobre o sentido deste termo, bem como, sobre as suas causas, os usos e as consequências que o mesmo gerava no domínio da informação nos negócios, ainda era bastante embrionário (HERSCOVICI, 2004). Somente após o final da década de 90, no século passado, é que as teorias a respeito da revolução da informação foram mais bem debatidas, com o fito de compreender as transformações que ocorriam e as que viriam a ocorrer (COHEN, 2002). Não se pode esquecer que tais teorias encontram-se sedimentadas em fontes matemáticas, que objetivam analisar os problemas de transmissão da informação, através de mensagens. Inicialmente a preocupação residia tão somente com os números da informação transmitida num único canal e a manutenção da integridade da informação, no sentido de afastar da transmissão qualquer espécie de distorção. (SHANNON, 1948). Sendo assim, tais teorias eram apresentadas como uma técnica eminentemente da engenharia da comunicação, denominando-se Teoria Matemática da Informação ou ainda Teoria Matemática da Comunicação (SHANNON; WEAVER, 1949). Não há dúvidas, numa análise eminentemente informacional, que a informação trata-se dum agente distribuidor de incertezas, fomentador de alterações no comportamento das organizações e dos indivíduos. Entretanto, em tom eminentemente paradoxal, convém assinalar que

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informação pode ser importante, ter valor, fazer sentido a depender do seu utilizador. Portanto, para uma organização para uma pessoa, a informação pode não representar nenhuma mudança, mas para outros sim. (WIENER, 1948, p. 156). Frise-se que, em termos de tutela desta informação enquanto bem intelectual, esta observação gera contradições, dado que a proteção conferida pela lei não leva em consideração o uso que se faz do bem, isto é, não se importa com a sua contextualização. Para o sistema protetor, é suficiente que da informação contida num bem intelectual possa extrair-se criatividade, sendo irrelevantes os juízos pessoais. De qualquer sorte, cabem aqui algumas indagações de fundo que talvez mais à frente, no desenvolvimento deste estudo, tenham utilidade que diz respeito ao conteúdo da criatividade. Como relacionar a contextualização da informação com a proteção garantida pela lei ao bem intelectual, mesmo àquele que contém informação não aproveitável por todos, mas sim por uma parcela dos indivíduos? E ainda, paradoxalmente, a proteção conferida pela lei ao bem cuja contextualização da informação é uniforme, alcançando aproveitamento por uma grande parcela de indivíduos, para não referir duma coletividade em específico? Não será que o valor atribuído à informação, tomando como partida o fenômeno da contextualização, não modifica os critérios utilizados pela lei para atribuir proteção a um determinado bem intelectual? Contextualizar, também, não será tomar em atenção os interesses em jogo envolvidos no debate sobre o tom de tutela conferido pela lei? Sem dúvida, em linhas gerais, pode-se com clareza afirmar que a informação, bem como o conhecimento, caracteriza-se pela inexistência de exclusividade e rivalidade, ao menos parciais. Isso vale dizer que a mesma informação pode ser utilizada por vários agentes econômicos, isto é, a utilização de determinada informação por um agente econômico não implica necessariamente impedimento de uso desta mesma informação para diversos agentes (ARROW, 2000). De qualquer sorte, na hipótese da informação ser produzida a partir de organizações privadas ou indivíduos, a lei estabeleceu a tutela desta produção informacional com o fim de limitar e controlar suas modalidades de apropriação e assim rentabilizar os custos irreversíveis. É assim que as primeiras divergências entre o rendimento privado e o rendimento coletivo da informação surgem. (HODGSON, 1998). Neste sentido, aponta Arrow (1985) que, na existência de custos da transação, surgem as imperfeições ou falhas de mercado. Tais custos correspondem àqueles que as empresas têm que assumir para poder atuar nos diferentes mercados e relacionam-se diretamente com os custos de exclusão, de informação e de comunicação relativos à divulgação e à aprendizagem dos preços pelos quais as transações podem ser efetuadas, de desequilíbrio associados ao tempo necessário para calcular a alocação ótima (HERSCOVICI, 2004). Assim, partindo de uma visão mais geral, a contextualização de qualquer tipo de informação é um processo que ressalta as modalidades intrinsecamente diferenciadas da apropriação da informação pelos diferentes agentes. Observe-se, noutro ângulo, que a

           

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este mesmo agente tem como objetivo último pôr fim às incertezas (WESTPHAL BLAXTON, 1998). Claro está que a mudança no comportamento das organizações e dos indivíduos prende-se na verdade, numa alteração do comportamento de qualquer receptor de uma dada mensagem, que somente irá verificar-se se o grau de novidade da mesma for interessante para o receptor da mensagem. Assim, entende-se que, quanto maior for a taxa de novidade, maior será a mudança no comportamento das organizações e indivíduos. De sorte que se estabelece uma interação proporcionalmente direta entre taxa de informação e originalidade; pelo que mais informação resulta de maior originalidade, ou menor previsibilidade. Portanto, é a originalidade que confere valor à informação, que para produzir alterações nos comportamentos, não pode ser em excesso, nem nula (COELHO NETTO, 1980). Para identificar-se o valor duma mensagem, é preciso valer-se da noção de entropia (JAYNES, 1957), pois que terá maior valor a mensagem que tende para a entropia máxima, mas sem nela cair. Daí que a mensagem ideal caracteriza-se como aquela que possui o máximo de informação, ou com tendência à entropia. Shannon já apontou em seus estudos que: “Can we define a quantity which will measure, in some sense, how much information is “produced” by such a process, or better, at what rate information is produced”. «Podemos definir uma quantidade que será medida, em certo sentido, pela quantidade de informação "produzida" por um tal processo, ou melhor, qual a taxa de informação é produzida. (SHANNON, 1948). Observe-se, todavia, que, à medida que a taxa de informação aumenta numa mensagem, menor será a sua inteligibilidade, e vice-versa. Por isso é que Shannon e Weaver (1949) utilizaram o efeito da redundância para resolver o problema de inteligibilidade da informação. Assim, ao lançar-se mão deste efeito, a mensagem chega ao seu receptor de forma mais clara, absorvendo todos os ruídos que nela existam. Ademais, vale registrar que um dos problemas associados à teoria de Shannon (1948) é a sua conceituação de informação que está umbilicalmente ligada à noção de quantidade de informação de uma mensagem, e não ao seu conteúdo. Para ele, informação é a presença de um ou zero em um bit.. (GONICK, 1984).

Muito embora as observações dos teóricos da informação ora referidos, o presente estudo entenderá como informação qualquer conteúdo, desde que criativo, que possa ser digitalizado, ou seja, transformado em bits. Evidentemente que o conjunto destes bits somente terá valor desde que se configurem como dados estruturados, cuja forma e conteúdo possibilitem a sua apropriação para um uso em particular, o que equivale a dizer possuir significado contextual, de utilidade, proporcionando incremento ao conhecimento estabelecido. Aliás, a contextualização é a principal característica para qualquer bem que tem como objeto simplesmente a informação. Daí a observação que não se afasta de que uma

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informação pode ser importante, ter valor, fazer sentido a depender do seu utilizador. Portanto, para uma organização para uma pessoa, a informação pode não representar nenhuma mudança, mas para outros sim. (WIENER, 1948, p. 156). Frise-se que, em termos de tutela desta informação enquanto bem intelectual, esta observação gera contradições, dado que a proteção conferida pela lei não leva em consideração o uso que se faz do bem, isto é, não se importa com a sua contextualização. Para o sistema protetor, é suficiente que da informação contida num bem intelectual possa extrair-se criatividade, sendo irrelevantes os juízos pessoais. De qualquer sorte, cabem aqui algumas indagações de fundo que talvez mais à frente, no desenvolvimento deste estudo, tenham utilidade que diz respeito ao conteúdo da criatividade. Como relacionar a contextualização da informação com a proteção garantida pela lei ao bem intelectual, mesmo àquele que contém informação não aproveitável por todos, mas sim por uma parcela dos indivíduos? E ainda, paradoxalmente, a proteção conferida pela lei ao bem cuja contextualização da informação é uniforme, alcançando aproveitamento por uma grande parcela de indivíduos, para não referir duma coletividade em específico? Não será que o valor atribuído à informação, tomando como partida o fenômeno da contextualização, não modifica os critérios utilizados pela lei para atribuir proteção a um determinado bem intelectual? Contextualizar, também, não será tomar em atenção os interesses em jogo envolvidos no debate sobre o tom de tutela conferido pela lei? Sem dúvida, em linhas gerais, pode-se com clareza afirmar que a informação, bem como o conhecimento, caracteriza-se pela inexistência de exclusividade e rivalidade, ao menos parciais. Isso vale dizer que a mesma informação pode ser utilizada por vários agentes econômicos, isto é, a utilização de determinada informação por um agente econômico não implica necessariamente impedimento de uso desta mesma informação para diversos agentes (ARROW, 2000). De qualquer sorte, na hipótese da informação ser produzida a partir de organizações privadas ou indivíduos, a lei estabeleceu a tutela desta produção informacional com o fim de limitar e controlar suas modalidades de apropriação e assim rentabilizar os custos irreversíveis. É assim que as primeiras divergências entre o rendimento privado e o rendimento coletivo da informação surgem. (HODGSON, 1998). Neste sentido, aponta Arrow (1985) que, na existência de custos da transação, surgem as imperfeições ou falhas de mercado. Tais custos correspondem àqueles que as empresas têm que assumir para poder atuar nos diferentes mercados e relacionam-se diretamente com os custos de exclusão, de informação e de comunicação relativos à divulgação e à aprendizagem dos preços pelos quais as transações podem ser efetuadas, de desequilíbrio associados ao tempo necessário para calcular a alocação ótima (HERSCOVICI, 2004). Assim, partindo de uma visão mais geral, a contextualização de qualquer tipo de informação é um processo que ressalta as modalidades intrinsecamente diferenciadas da apropriação da informação pelos diferentes agentes. Observe-se, noutro ângulo, que a

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tecnológica de quatro décadas atrás, fica ainda mais latente a revolução que as novas tecnologias informacionais produziram no mundo, o que implica dizer alterando os hábitos e costumes dos homens. É assim que pretende esta investigação desmistificar o valor da produção e da transmissão dos bens intelectuais, bem como a possibilidade de identificar-se um regime de proteção adequado para os produtos modulados e bens personalizados. 4 O VALOR DA PRODUÇÃO E DA TRANSMISSÃO DOS BENS INTELECTUAIS Nas linhas acima, o presente estudo destacou o papel que a contextualização desempenha na determinação do valor do bem intelectual, uma vez que, em boa medida, a relevância que este bem apresenta é identificada pela sua capacidade de apropriação por um particular qualquer. Por isso, não sendo relevante a sua apropriação, não faz sentido economicamente a atribuição de valor ao bem intelectual, dado que o interesse para qualquer organização é a potencialidade de qualquer bem de gerar receita. Claro está que juridicamente a relevância da apropriação de qualquer bem não é levada em consideração para a determinação ou não de um regime jurídico especial de proteção. Pondere-se, todavia, que não se pode rasamente concluir deste modo sem antes investigar o conteúdo da informação, melhor dizendo, do conhecimento que transmite um bem intelectual. Com efeito, é por isso que a economia da informação identifica duas espécies de conhecimento, um chamado tácito, que se encontra diretamente ligado a determinados agentes ou instituições, e outro denominado de codificado, que se caracteriza por ser despersonalizado, descontextualizado, fixado em qualquer suporte seja tangível ou intangível (FORAY, 2000). Obviamente que o conhecimento codificado configura-se pela sua ampla utilização e pela sua circulação descontrolada, dado não se encontrar ligado intrinsecamente a um agente ou a uma instituição. Sem dúvida, a natureza do bem intelectual e as modalidades de apropriação da informação estão umbilicalmente ligadas à lógica global de acumulação. É bem verdade que em linguagem geral econômica, identificar o sentido da expressão valor é referir o quanto os consumidores estão dispostos a pagar a mais por um produto ou serviço. E, ainda, para esta mesma linguagem assegurar a lucratividade dum negócio implica o estabelecimento de valor que ultrapasse os custos de produção do bem ou serviço negociado (PORTER, 1985). Claro está que o uso massificado das tecnologias de informação possibilita o crescimento exponencial deste lucro pela redução direta dos custos de produção. Todavia, não é ela unicamente responsável por ampliar a disponibilidade do consumidor em adquirir o bem produzido por determinada organização. Já se destacou que esta organização, para compreender a disponibilidade do consumidor na aquisição do bem que produz, necessita organizar-se a um nível que permita o tratamento e a sincronização dum grande número de informação.

           

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informação é assimilada ao conhecimento e/ou ao progresso técnico; de sorte que a inovação tecnológica, como um processo intrinsecamente assimétrico, explica o aparecimento de rendas temporárias de monopólio por parte dos agentes inovadores, assim como o diferencial de taxa de lucro e de estrutura de custos no seio de uma mesma indústria (HERSCOVICI, 2002). Pondere-se, também, que a homogeneidade dos comportamentos, das expectativas e, consequentemente, das informações a partir das quais essas expectativas são elaboradas não permite explicar a realidade da troca. É assim que o exemplo da demanda de moeda por motivo de especulação ilustra perfeitamente esta tese (KEYNER, 1990). De mais a mais, a Economia da Informação defendida por Akerlof (1970), Grossman e Stiglitz (1976) demonstra que o sistema de preços não constitui um sinal eficiente e que, contrariamente ao mainstream, existem assimetrias da informação. As assimetrias da informação são estudadas em função da natureza do sistema de preços de mercado, das especificidades dos bens e dos comportamentos dos agentes. Na verdade, estudar a economia da informação e o seu reflexo na distribuição dos bens intelectuais implica, em boa medida, saber distinguir os modismos conceituais das alterações profundas introduzidas pelas novas tecnologias de informação e comunicação. Ou seja, o escopo do presente estudo a todo momento irá cruzar esta linha de fronteira, com o propósito de encontrar a mudança crítica provocada exponencialmente pelo impacto provocado pelo uso da internet como meio de comunicação e acesso a informação. Assim, seguindo esta linha de raciocínio, o que se pretende é relacionar esta profunda alteração nos comportamentos das organizações e dos indivíduos, especialmente em face da emergência da produção social. (BENKLER, 2000, p. 579). Destaque-se, entretanto, que qualquer discussão sobre os padrões de proteção do direito intelectual, quer no âmbito internacional ou nacional, bem como a garantia da proteção dos direitos fundamentais dos autores e utilizadores de obras protegidas pelo direito de autor, deve levar em consideração esta nova realidade posta da economia da informação. É inegável que esta discussão, especialmente no início do século XXI, toma vulto pela importância do crescimento exponencial da economia e da indústria cultural. Obviamente que a expansão do comércio internacional sobre os bens intelectuais assume progres-sivamente relevância na agenda política interna e externas dos países; assim, inevitável é o aprofundamento do debate sobre os efeitos potenciais destas indústrias criativas para o desenvolvimento da economia. Ao lado desta discussão, põe-se o paradigma da proteção dos direitos fundamentais que se firmam como elemento central dos ordenamentos contemporâneos, irradiando seus efeitos às diversas áreas de sistema jurídico. Ademais, claro está que num ambiente de múltiplas e rápidas transformações, no qual novos tipos de negócios são lançados, evidentemente que a discussão se apresenta sobre uma nova economia. Frise-se que a característica principal deste ambiente multi-informacional trata-se da quantidade de informação a ser colacionada e tratada. Ao comparar a capacidade

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tecnológica de quatro décadas atrás, fica ainda mais latente a revolução que as novas tecnologias informacionais produziram no mundo, o que implica dizer alterando os hábitos e costumes dos homens. É assim que pretende esta investigação desmistificar o valor da produção e da transmissão dos bens intelectuais, bem como a possibilidade de identificar-se um regime de proteção adequado para os produtos modulados e bens personalizados. 4 O VALOR DA PRODUÇÃO E DA TRANSMISSÃO DOS BENS INTELECTUAIS Nas linhas acima, o presente estudo destacou o papel que a contextualização desempenha na determinação do valor do bem intelectual, uma vez que, em boa medida, a relevância que este bem apresenta é identificada pela sua capacidade de apropriação por um particular qualquer. Por isso, não sendo relevante a sua apropriação, não faz sentido economicamente a atribuição de valor ao bem intelectual, dado que o interesse para qualquer organização é a potencialidade de qualquer bem de gerar receita. Claro está que juridicamente a relevância da apropriação de qualquer bem não é levada em consideração para a determinação ou não de um regime jurídico especial de proteção. Pondere-se, todavia, que não se pode rasamente concluir deste modo sem antes investigar o conteúdo da informação, melhor dizendo, do conhecimento que transmite um bem intelectual. Com efeito, é por isso que a economia da informação identifica duas espécies de conhecimento, um chamado tácito, que se encontra diretamente ligado a determinados agentes ou instituições, e outro denominado de codificado, que se caracteriza por ser despersonalizado, descontextualizado, fixado em qualquer suporte seja tangível ou intangível (FORAY, 2000). Obviamente que o conhecimento codificado configura-se pela sua ampla utilização e pela sua circulação descontrolada, dado não se encontrar ligado intrinsecamente a um agente ou a uma instituição. Sem dúvida, a natureza do bem intelectual e as modalidades de apropriação da informação estão umbilicalmente ligadas à lógica global de acumulação. É bem verdade que em linguagem geral econômica, identificar o sentido da expressão valor é referir o quanto os consumidores estão dispostos a pagar a mais por um produto ou serviço. E, ainda, para esta mesma linguagem assegurar a lucratividade dum negócio implica o estabelecimento de valor que ultrapasse os custos de produção do bem ou serviço negociado (PORTER, 1985). Claro está que o uso massificado das tecnologias de informação possibilita o crescimento exponencial deste lucro pela redução direta dos custos de produção. Todavia, não é ela unicamente responsável por ampliar a disponibilidade do consumidor em adquirir o bem produzido por determinada organização. Já se destacou que esta organização, para compreender a disponibilidade do consumidor na aquisição do bem que produz, necessita organizar-se a um nível que permita o tratamento e a sincronização dum grande número de informação.

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

uma natureza multifacetada. Por isso, compreender este debate teórico passa por identificar as diversas concepções sobre a natureza da informação que, como é óbvio, parte essencialmente dum debate econômico que se acirra quando a informação deixa de ser transmitida gratuitamente e passa a ser apropriada mediante a atribuição de um valor (ARROW, 1974). Numerosas são as concepções sobre a natureza da informação que ressaltam a sua multidimensionalidade e ainda destacam as diversas possibilidades de apropriação da informação. Uma destas concepções encontra-se identificada pela abordagem dos teóricos do mainstream que estudam situações de existência de imperfeições da informação, pontuando que parte desta informação deixa de ser transmitida gratuitamente por meio do sistema de preços e adquire um valor (ARROW, 1974). Já na tradição neoclássica, os teóricos concebem o mercado como uma instância abstrata, afirmando que toda a informação necessária é gratuitamente divulgada (ARROW, 1974). Para essa teoria, numa situação de concorrência pura e perfeita, o jogo de mercado representa a solução, social e economicamente, mais eficiente. Registre-se, por outro lado, que, partindo duma abordagem alternativa, tem-se que o mercado não é um lugar no qual agentes homogêneos encontram-se e maximizam certas funções a partir de uma racionalidade substantiva definida fora de qualquer norma social e no qual o sistema de preços fornece a informação necessária. De qualquer sorte, existem custos de transação, melhor dizendo, custos para obter acessos a determinados mercados (ARROW, 2000). Assim é que a economia das convenções encontra-se no mesmo sentido; isto é, intenta apresentar soluções para os problemas advindos da heterogeneidade dos agentes, das modalidades de coordenação não mercantis, mais simplesmente, do modo como tais processos atuam nos mercados concretos (RALLET, 1999). No entanto, as concepções heterodoxas, ao contrário das concepções arraigadas ao individualismo metodológico, propõem-se a analisar os processos de socialização, com o fito de demonstrar como estes cumprem um papel fundamental na regulação econômica (HERSCOVIC, 2002). Sem dúvida, não constituindo o sistema de preços um sinal adequado que permita reduzir a existência de desequilíbrios distintos, tampouco coordenar a atuação dos agentes econômicos, mister se faz a presença ativa de instituições para conter a instabilidade gerada e assegurar a regulação macroeconômica (HERSCOVIC, 2002). É bem verdade que a busca pela redução de custos é o fundamento inicial para o uso da tecnologia da informação (ZWASS, 1992). Assim é que, a despeito dos bens informacionais na economia da informação apresentarem um custo elevado de produção, os custos de reprodução são imensuravelmente reduzidos (SHAPIRO; VARIAN, 1999). Shapiro e Varian de forma esclarecedora apontam que a tarefa de produção de um bem informacional implica custos fixos altos, mas baixos custos marginais, resultando, portanto, a máxima de que a fixação do custo da informação é ponderada pelo valor que

           

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Outrossim, mister faz-se estudar também a importância das tecnologias de transmissão da informação, uma vez que estas, nesta lógica de acumulação, estabelecem-se como um processo de troca de mensagens que tem valor econômico (FREIRE, 1984). Frise-se que a comunicação da informação, para além de consolidar-se como a circulação de mensagens de conhecimento com determinado valor para a produção de bens e serviços, aprofunda-se pelas ideias de racionalização e eficiência dominantes da sociedade moderna. Aponte-se ainda que tais ideias sobre a organização dos recursos e a sua utilização de forma mais produtiva constituem o discurso ideológico da sociedade industrial, que hoje se caracteriza e desenvolve-se pela apropriação e reapropriação da visão histórica como iluminação progressiva de retorno amplo às origens, com o objetivo de construção do projeto de conexão que se propõe à sociedade moderna renovar (LYOTARD, 1987). Note-se que, dada a multiplicação dos gabinetes e centros de investigação e dos meios de comunicação e reprodução da informação, cresce a disponibilidade de energia, de bens e serviços e conhecimentos, originando a apropriação do saber científico pelo saber utilitário (MARX, 1980). De qualquer sorte, vale lembrar que a informação e o conhecimento caracterizam-se pela não exclusividade e pela não rivalidade, ao menos parciais, uma vez que a mesma informação pode ser utilizada por vários agentes econômicos. E, ainda, a utilização de determinada informação por um agente econômico não implica que ela não esteja disponível para outros agentes (ARROW, 2000). Assinale-se, nesta ordem de ideias, que a informação produz resultados positivos, com rendimentos crescentes, correspondendo a situações não concorrenciais (ARROW, 2000). Por isso é que, na hipótese da produção de informação que parte de centros privados, com o fito de dar escopo a estes rendimentos crescentes, é que se faz necessária a sua tutela, mediante o estabelecimento de direitos que limitem não só as modalidades de apropriação destes rendimentos, como também que estabeleçam os limites da utilização destes rendimentos que já foram reapropriados por terceiros. Obviamente que esta tarefa não é de fácil conclusão, especialmente em virtude das divergências que surgem entre o rendimento privado e o rendimento coletivo da informação. Denote-se, por outro lado, que não são apenas colhidos resultados positivos com o fluxo da informação, mas também negativos, que são denominados de custos de transação, ou seja, são aqueles custos que as organizações devem assumir para atuarem em inúmeros mercados; que quando identificados numa relação comercial, é sinal de que existe uma imperfeição de mercado (ARROW, 2000). Vale ainda observar que esta tarefa de identificação dos resultados positivos e negativos é importante para concretamente atribuir-se um valor à informação objeto de uma transação comercial. Claro está que todo este debate teórico sobre o valor da informação busca, sem sombra de dúvida, atribuir à informação uma natureza de ordem econômica. Mas vale destacar que nesta investigação o estudo sobre a informação toma corpo a partir da sua identificação num bem intelectual. Assim é que se compreende a informação com

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uma natureza multifacetada. Por isso, compreender este debate teórico passa por identificar as diversas concepções sobre a natureza da informação que, como é óbvio, parte essencialmente dum debate econômico que se acirra quando a informação deixa de ser transmitida gratuitamente e passa a ser apropriada mediante a atribuição de um valor (ARROW, 1974). Numerosas são as concepções sobre a natureza da informação que ressaltam a sua multidimensionalidade e ainda destacam as diversas possibilidades de apropriação da informação. Uma destas concepções encontra-se identificada pela abordagem dos teóricos do mainstream que estudam situações de existência de imperfeições da informação, pontuando que parte desta informação deixa de ser transmitida gratuitamente por meio do sistema de preços e adquire um valor (ARROW, 1974). Já na tradição neoclássica, os teóricos concebem o mercado como uma instância abstrata, afirmando que toda a informação necessária é gratuitamente divulgada (ARROW, 1974). Para essa teoria, numa situação de concorrência pura e perfeita, o jogo de mercado representa a solução, social e economicamente, mais eficiente. Registre-se, por outro lado, que, partindo duma abordagem alternativa, tem-se que o mercado não é um lugar no qual agentes homogêneos encontram-se e maximizam certas funções a partir de uma racionalidade substantiva definida fora de qualquer norma social e no qual o sistema de preços fornece a informação necessária. De qualquer sorte, existem custos de transação, melhor dizendo, custos para obter acessos a determinados mercados (ARROW, 2000). Assim é que a economia das convenções encontra-se no mesmo sentido; isto é, intenta apresentar soluções para os problemas advindos da heterogeneidade dos agentes, das modalidades de coordenação não mercantis, mais simplesmente, do modo como tais processos atuam nos mercados concretos (RALLET, 1999). No entanto, as concepções heterodoxas, ao contrário das concepções arraigadas ao individualismo metodológico, propõem-se a analisar os processos de socialização, com o fito de demonstrar como estes cumprem um papel fundamental na regulação econômica (HERSCOVIC, 2002). Sem dúvida, não constituindo o sistema de preços um sinal adequado que permita reduzir a existência de desequilíbrios distintos, tampouco coordenar a atuação dos agentes econômicos, mister se faz a presença ativa de instituições para conter a instabilidade gerada e assegurar a regulação macroeconômica (HERSCOVIC, 2002). É bem verdade que a busca pela redução de custos é o fundamento inicial para o uso da tecnologia da informação (ZWASS, 1992). Assim é que, a despeito dos bens informacionais na economia da informação apresentarem um custo elevado de produção, os custos de reprodução são imensuravelmente reduzidos (SHAPIRO; VARIAN, 1999). Shapiro e Varian de forma esclarecedora apontam que a tarefa de produção de um bem informacional implica custos fixos altos, mas baixos custos marginais, resultando, portanto, a máxima de que a fixação do custo da informação é ponderada pelo valor que

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comportado por sistemas que organizam, tratam e sincronizam um número que chega a centenas de milhares de dados (DAVENPORT, 1988). Tudo com o propósito único de estruturar uma base de dados que reúna todas as informações dispersas sobre os consumidores duma determinada organização, facilitando assim a compreensão dos desejos, hábitos e preferências de cada consumidor em particular (LITAN; RIVLIN, 2001). Mister frisar que esta revolução nos velhos processos de produção passa principalmente pela preocupação que as organizações devem ter com o perfil dos consumidores, sob pena de restarem fadadas ao fracasso nesta economia da informação. Sem dúvidas que a incorporação de novas atitudes nos processos de produção, em grande parte, fora gerada pela mudança de comportamento dos consumidores, que passaram a ter acesso fácil à informação, tornando-se assim mais seletivos e exigentes nas escolhas de aquisição de bens que realiza. Esta mudança de comportamento dos consumidores resulta em que as organizações na economia da informação devem estar completamente focadas em alcançar rapidamente inovação, dinâmica e interação, para a produção de bens; tudo isso, sem esquecer a necessidade de serem flexíveis de forma a suportar potenciais alterações de produtos e processos para a satisfação do seu consumidor (ZWASS, 1992). Em boa medida, as organizações na economia da informação estão a permitir que os seus consumidores participem do processo de criação e produção dos bens, melhor dizendo, que sejam estes a criarem os produtos (THOMKE; HIPPEL, 2002; AMOR, 2000). Assim, dada esta participação do consumidor em todo este processo, o valor do bem pode decrescer ou aumentar. Decrescerá se o consumidor identificar que ele mesmo poderá produzir o bem; em contrapartida, aumentará se o consumidor observar que as organizações criaram um produto único, que atende às suas necessidades específicas, tornando-se, portanto, interessante a sua disponibilidade para a aquisição deste bem. Note-se que, muito embora o consumidor identifique ser ele próprio capaz de produzir o bem, a sua disponibilidade para a aquisição deste bem único que atende às suas necessidades poderá aumentar se ele avaliar que lhe será mais cômodo, prático e até mesmo conveniente ostentar o bem adquirido em particular daquela organização. Portanto, a agregação de valor ao bem intelectual parte em certa e grande medida do uso que as organizações fazem com as informações que lhe chegam às mãos. Tarefa esta que independe do uso das novas tecnologias de informação, mas cujo uso provoca a redução de tempo, empenho e dedicação dos membros duma organização, fazendo assim reduzir os custos com a produção do bem intelectual e liberando estes membros para atividades mais criativas e inovadoras, tudo com o fito de satisfazer e atingir as vontades do consumidor ávido por um bem intelectual que lhe toque de perto, satisfazendo-o na aquisição da informação que procura.

           

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exterioriza a informação, e não pelo seu real e concreto custo de produção (SHAPIRO; VARIAN, 1999). Assim é que, nesta investigação, imperioso é questionar se a multiplicação da circulação de bens intelectuais, que possuem eminentemente um caráter informacional, guardadas as devidas proporções, não implica diretamente a aproximação a zero do valor que os mesmos exteriorizam, dada a oferta infinita dos mesmos. Destaque-se que, para a economia industrial, o valor de um bem, seja ele de natureza intelectual ou não, é mensurado pela disposição dos consumidores em pagar o preço lançado. Assim, para que um negócio torne-se lucrativo, é preciso que haja interação direta entre a disposição dos consumidores em pagar o preço lançado e o custo da produção deste bem (PORTER, 1985). Sem embargo, em tempos de sociedade da informação, de multiplicação dos meios de reprodução da informação, melhor dizer, com o advento das novas tecnologias de informação, evidentemente que há uma alteração radical na disposição dos consumidores em pagar o preço lançado, bem como uma redução substancial dos custos da produção dum bem intelectual. Por isso, quanto mais eficiente for a reprodução permitida pelas novas tecnologias de informação, o valor do bem intelectual será substancialmente reduzido. Pelo que o acréscimo de valor ao bem intelectual dependerá hoje da criatividade em inovar, da qualidade da informação que se transmite ao consumidor, enfim, dos benefícios que este bem intelectual possa acrescentar ao mesmo, num mundo digital de completa convergência da informação (RAMIREZ, 1999). Claro está, portanto, que a disposição do consumidor em pagar o preço está umbilicalmente ligada ao acréscimo de valor ao bem intelectual. Assim, num cenário deste nível de criatividade, pouco provável será a destruição do preço lançado pelo consumidor ávido por informação não comum (STABELL; FJELDSTAD, 1988). Denote-se mais ainda que é possível identificar-se uma alternativa para a ampliação do valor do bem, que ultrapassa os limites da cadeia de valor, qual seja a coprodução do valor, uma vez que esta aponta para uma forma não linear, interativa e transitiva na cadeia de produção que conta com diversos atores (RAMIREZ, 1999). Vale ressaltar, também, que a interação entre estes diversos atores econômicos, bem como a interconectividade e a sincronização das suas ações, somente irá produzir valor acrescentado ao bem quando houver uma ligação estreita entre estes atores e os consumidores (STABELL; FJELDSTAD, 1988). Portanto, é o poder de relacionamento entre fornecedor e cliente, somado à estruturação dos diversos níveis de gestão duma organização e ainda a colaboração dos processos estruturados com o fim de organizar as informações, que contribuem para o acréscimo de valor do bem (BOWMAN, 2001). Óbvio está que a gestão dum emaranhado de informações destinada a entender as necessidades do cliente somente é possível com o uso de tecnologias de informação,

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comportado por sistemas que organizam, tratam e sincronizam um número que chega a centenas de milhares de dados (DAVENPORT, 1988). Tudo com o propósito único de estruturar uma base de dados que reúna todas as informações dispersas sobre os consumidores duma determinada organização, facilitando assim a compreensão dos desejos, hábitos e preferências de cada consumidor em particular (LITAN; RIVLIN, 2001). Mister frisar que esta revolução nos velhos processos de produção passa principalmente pela preocupação que as organizações devem ter com o perfil dos consumidores, sob pena de restarem fadadas ao fracasso nesta economia da informação. Sem dúvidas que a incorporação de novas atitudes nos processos de produção, em grande parte, fora gerada pela mudança de comportamento dos consumidores, que passaram a ter acesso fácil à informação, tornando-se assim mais seletivos e exigentes nas escolhas de aquisição de bens que realiza. Esta mudança de comportamento dos consumidores resulta em que as organizações na economia da informação devem estar completamente focadas em alcançar rapidamente inovação, dinâmica e interação, para a produção de bens; tudo isso, sem esquecer a necessidade de serem flexíveis de forma a suportar potenciais alterações de produtos e processos para a satisfação do seu consumidor (ZWASS, 1992). Em boa medida, as organizações na economia da informação estão a permitir que os seus consumidores participem do processo de criação e produção dos bens, melhor dizendo, que sejam estes a criarem os produtos (THOMKE; HIPPEL, 2002; AMOR, 2000). Assim, dada esta participação do consumidor em todo este processo, o valor do bem pode decrescer ou aumentar. Decrescerá se o consumidor identificar que ele mesmo poderá produzir o bem; em contrapartida, aumentará se o consumidor observar que as organizações criaram um produto único, que atende às suas necessidades específicas, tornando-se, portanto, interessante a sua disponibilidade para a aquisição deste bem. Note-se que, muito embora o consumidor identifique ser ele próprio capaz de produzir o bem, a sua disponibilidade para a aquisição deste bem único que atende às suas necessidades poderá aumentar se ele avaliar que lhe será mais cômodo, prático e até mesmo conveniente ostentar o bem adquirido em particular daquela organização. Portanto, a agregação de valor ao bem intelectual parte em certa e grande medida do uso que as organizações fazem com as informações que lhe chegam às mãos. Tarefa esta que independe do uso das novas tecnologias de informação, mas cujo uso provoca a redução de tempo, empenho e dedicação dos membros duma organização, fazendo assim reduzir os custos com a produção do bem intelectual e liberando estes membros para atividades mais criativas e inovadoras, tudo com o fito de satisfazer e atingir as vontades do consumidor ávido por um bem intelectual que lhe toque de perto, satisfazendo-o na aquisição da informação que procura.

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Todavia, não discordando dos conceitos tradicionais apresentados pelo fenômeno da globalização, mais acertado nesta temática é considerar que hoje, na sociedade da informação, que gerou uma revolução nos meios de comunicação, permitindo uma convergência sem precedentes das informações, é destacar o que concretamente o autor de bens intelectuais deve enfrentar para alcançar o escopo do seu direito de exclusivo, especialmente em face da multiplicação e mundialização dos espaços públicos de transmissão de informação, conhecimento e cultura. O autor depara-se com um mundo no qual o espaço físico, geográfico não é relevante, as cidades são globais e enfrentam problemas diversos, mas muitas vezes semelhantes, como por exemplo as novas formas de migração, crises financeiras, catástrofes ambientais e em especial a multiplicação das tecnologias de comunicação (SASSEN, 2012). É assim que este desenvolvimento apresenta-se como um desafio para o autor no seu intento de explorar economicamente o seu direito de exclusivo, em especial pelo fato do novo significado que se apresenta para a sociedade urbana, conectada e convergente, para a qual o espaço geográfico não se apresenta como um obstáculo, mas sim como uma possibilidade aberta para a criação de aldeias globais que, num milésimo de segundo, partilham e convergem informações múltiplas (WOLTON, 2005). Obviamente que, diante desta nova realidade, cabe ao direito compreender todas as envolventes destes inúmeros fatos que geram efeitos na órbita jurídica e assim apresentar uma tutela que seja mais adequada, equilibrada à multiplicidade e diversidade de relações que a revolução dos meios de comunicação estabeleceu. Algumas soluções para o problema que se apresentam para a tutela jurídica destes bens num cenário como este, passam pelo estabelecimento de Pactos Multilaterais relativos à Cultura, como é exemplo a Convenção para a Promoção e Preservação da Diversidade Cultural, que fora editada pela Unesco, tendo sido firmada em 2005, no mês de outubro. Refira-se que esta Convenção destaca especialmente a diversidade cultural como uma das principais características que definem a identidade humana; por isso é que atribui à mesma um relevante papel na concretização das liberdades fundamentais e garantidora dos direitos humanos. Sem embargo, a humanidade passa por um período de profundas alterações no comportamento dos indivíduos, que se relacionam muito furtivamente com um número imensurável de sujeitos, sem qualquer preocupação de vínculo quer pessoal, patrimonial ou jurídico que esta relação venha a gerar. De sorte que é premente a necessidade de um maior domínio sobre o modus operandi das novas tecnologias de informação que permitiram o surgimento de múltiplos e diversos meios de comunicação desta nova sociedade da informação. Ou seja, é de grande relevância que a Ciência Jurídica aproxime-se desta realidade já posta e passe a compreender o funcionamento das trocas de informação realizadas pelos indivíduos na sociedade da informação.

           

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5 O REGIME DE PROTEÇÃO ADEQUADO PARA OS BENS INTELECTUAIS Cumpre-se analisar, após haver-se verificado como se processa o modo de atribuir-se valor para a produção e a transmissão dos bens intelectuais, de que forma este mesmo bem adquire um regime de proteção adequado. Por isso, é conveniente neste sentido observar que, dado o processo estudado em linhas acima para a incorporação de valor acrescido aos bens, que o valor dos bens intelectuais massificados tendem a alcançar o valor zero, pois, como já destacado, a disponibilidade do consumidor em adquirir este bem será bastante reduzida ou mesmo nula; mas, contrariamente será maior esta mesma disponibilidade do consumidor em adquirir um bem que atende às suas necessidade particulares, afastando-se assim do zero o valor deste bem. Outrossim, é imperioso notar que a necessidade de analisar as atividades econômicas sobre os bens intelectuais protegidos pelo direito de autor, tem-se convencionado denominar o rol amplo destas atividades de indústrias criativas, que inclui as atividades com substancial elemento criativo, tais como o audiovisual, jogos eletrônicos, música, livros e revistas, teatro, exposições, arquitetura, design, moda, artesanato e equivalentes, e o rol restrito de indústrias culturais, que inclui apenas as atividades ligadas diretamente à expressão estética, protegida pelos direitos de autor, como a música, o audiovisual e as publicações. Na senda do que definiu a Unesco (2012), entende-se que as indústrias culturais são aquelas que produzem e distribuem bens e serviços de conteúdo criativo que sejam ao mesmo tempo intangível e cultural em sua natureza, sendo, na maior parte das vezes, protegido pelos direitos de autor. Entretanto, as indústrias criativas, na concepção elaborada pelos ingleses e internacionalmente adotada, são todas aquelas que requerem criatividade, habilidade e talento, com potencial de produção de riqueza e trabalho, através da exploração do direito intelectual (UNCTAD, 2012). Observa-se que, neste sentido, estas indústrias criativas incluem as indústrias culturais, sendo mais abrangentes, incluindo atividades como moda, artesanato e eventos esportivos, que não fazem parte da indústria cultural. Com isso, pode-se afirmar que as indústrias culturais formam um subconjunto dentro do conjunto maior das indústrias criativas. Frise-se, ainda, que estas obras artísticas caracterizam-se como expressões individuais, mas esta especificação não afasta a hipótese de que elas podem comportar também representações culturais. Na verdade, é comum que assim o seja dado o conteúdo pessoal do autor incorporado à obra e ainda o conteúdo patrimonial nela agregado, em virtude da sua capacidade de exploração econômica, por ser obra única e criativa, melhor dizendo, símbolo duma representação cultural, que pode ser ou não própria do autor da mesma (GEERTZ, 1983). Aponte-se, em boa medida, que a comercialização de bens culturais está diretamente ligada à revolução nos processos de criação destes bens, especialmente em virtude do fenômeno da globalização. (SANTOS, 1998).

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Todavia, não discordando dos conceitos tradicionais apresentados pelo fenômeno da globalização, mais acertado nesta temática é considerar que hoje, na sociedade da informação, que gerou uma revolução nos meios de comunicação, permitindo uma convergência sem precedentes das informações, é destacar o que concretamente o autor de bens intelectuais deve enfrentar para alcançar o escopo do seu direito de exclusivo, especialmente em face da multiplicação e mundialização dos espaços públicos de transmissão de informação, conhecimento e cultura. O autor depara-se com um mundo no qual o espaço físico, geográfico não é relevante, as cidades são globais e enfrentam problemas diversos, mas muitas vezes semelhantes, como por exemplo as novas formas de migração, crises financeiras, catástrofes ambientais e em especial a multiplicação das tecnologias de comunicação (SASSEN, 2012). É assim que este desenvolvimento apresenta-se como um desafio para o autor no seu intento de explorar economicamente o seu direito de exclusivo, em especial pelo fato do novo significado que se apresenta para a sociedade urbana, conectada e convergente, para a qual o espaço geográfico não se apresenta como um obstáculo, mas sim como uma possibilidade aberta para a criação de aldeias globais que, num milésimo de segundo, partilham e convergem informações múltiplas (WOLTON, 2005). Obviamente que, diante desta nova realidade, cabe ao direito compreender todas as envolventes destes inúmeros fatos que geram efeitos na órbita jurídica e assim apresentar uma tutela que seja mais adequada, equilibrada à multiplicidade e diversidade de relações que a revolução dos meios de comunicação estabeleceu. Algumas soluções para o problema que se apresentam para a tutela jurídica destes bens num cenário como este, passam pelo estabelecimento de Pactos Multilaterais relativos à Cultura, como é exemplo a Convenção para a Promoção e Preservação da Diversidade Cultural, que fora editada pela Unesco, tendo sido firmada em 2005, no mês de outubro. Refira-se que esta Convenção destaca especialmente a diversidade cultural como uma das principais características que definem a identidade humana; por isso é que atribui à mesma um relevante papel na concretização das liberdades fundamentais e garantidora dos direitos humanos. Sem embargo, a humanidade passa por um período de profundas alterações no comportamento dos indivíduos, que se relacionam muito furtivamente com um número imensurável de sujeitos, sem qualquer preocupação de vínculo quer pessoal, patrimonial ou jurídico que esta relação venha a gerar. De sorte que é premente a necessidade de um maior domínio sobre o modus operandi das novas tecnologias de informação que permitiram o surgimento de múltiplos e diversos meios de comunicação desta nova sociedade da informação. Ou seja, é de grande relevância que a Ciência Jurídica aproxime-se desta realidade já posta e passe a compreender o funcionamento das trocas de informação realizadas pelos indivíduos na sociedade da informação.

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Não restam dúvidas de que o diálogo intercultural é a peça fundamental para se compreenderem as novas modalidades da troca de informações entre os diversos entes envolvidos e preocupados em estabelecer uma tutela equilibrada, adequada e proporcionalmente legítima para os desafios que se apresentam da abertura de inúmeros e diversos canais de comunicação, de partilha de informação (WOLTON, 2005). E fora a União Europeia a responsável por dar um dos primeiros passos no sentido de concretizar a política estabelecida pela Unesco na Convenção para a Promoção e Preservação da Diversidade Cultural, já que destacou o ano de 2008 como o “Ano Europeu para o Diálogo Intercultural”. No Brasil, discute-se avidamente no Congresso o Projeto do Marco Civil para a Internet, bem como a Proposta para a alteração da Lei de Direitos do Autor. Anote-se também que os efeitos da globalização no cenário cultural implicam necessariamente a adoção de certas e concretas medidas dos diversos entes que trabalham direta ou indiretamente com a criação, publicação, reprodução e divulgação do bem intelectual. Em especial, identificar qual é o verdadeiro papel dos Estados, neste mesmo cenário, já que são eles os responsáveis por fomentar a adoção duma política adequada para estimular a valorização destes bens e ainda por estabelecer um regime jurídico adequado às necessidades especiais deste bem, que não se equipara a qualquer bem comum, pois ele agrega informação, conhecimento, cultura e educação. Inegavelmente o Estado que cria e fomenta uma política tanto interna como externa para o acréscimo de valor patrimonial, como também de agregação de informação, cultura, conhecimento e educação ao bem intelectual, estará, por via distinta, promovendo o elevado reconhecimento deste bem, como dissipador de natureza cultural própria. Desta forma, o Estado legitima o direito de exclusivo do criador do bem intelectual, promove a sua exploração econômica, facilitando a circulação destes bens, e melhor valoriza as suas expressões culturais próprias. De fundamental importância é analisar o nível de preocupação dos diversos agentes que trabalham quer direta ou indiretamente com a criação, publicação, reprodução e divulgação do bem intelectual; pois quanto maior a curva apontando para elevados níveis de discussão sobre a temática, maior será o empenho destes mesmos agentes para investir no desenvolvimento da inovação na criatividade, quer em novas expressões artísticas, ou mesmo em novas expressões tecnológicas que facilitem a circulação destes bens. Convém ainda destacar que os indicadores de qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação que os bens intelectuais possam apresentar, servirão de indicadores, claro, em conjunto com outros, para mensurar o grau de desenvolvimento social e econômico dum Estado. E, justamente, por conta desta reflexão que a UNCTAD (2008) resolveu apresentar um estudo sobre o nível de desenvolvimento da economia criativa e ainda apontou ser esta uma excelente oportunidade para os Estados em desenvolvimento para elevarem os seus indicadores de desenvolvimento.

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Cumpre, na verdade, esclarecer, sobre este assunto, que juridicamente o grau de proteção do bem intelectual não será mensurado ou mesmo atribuído consoante estes indicadores de qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação. Mas, sem sombra de dúvida, como já referido em linhas acima, o consumidor ávido por alcançar estes indicadores tenderá a decrescer, para não dizer zerar, a sua disponibilidade para a aquisição do bem intelectual que não apresente tais indicadores. CONCLUSÃO Importante é concluir, após estas observações, que a circulação destes bens intelectuais pelos múltiplos e diversos canais de distribuição da informação é procedida utilizando-se o regime de proteção de direitos intelectuais existente, não importando assim o nível de qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação que este bem intelectual distribui, tampouco o canal escolhido para a distribuição da informação, pois se trata na mesma de obra protegida em regra pelos direitos de autor. Pondere-se, todavia, que o monopólio exercido por alguns agentes no controle dos canais de distribuição da informação, vale dizer da qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação, ofertada pelo bem intelectual, implica sem dúvida a necessidade de escolher um determinado bem para massificar a sua circulação e ainda reduzir os custos da informação a ser transmitida (LESSIG, 2004). Resultado deste cenário é que também a disponibilidade do consumidor na aquisição deste bem intelectual massificado, estará bastante reduzida ou em muitos casos reduzida a zero. Na verdade, o que se pretende enfatizar, nesta parte da investigação, é que a tutela jurídica, da forma como hoje se encontra tipificada, amplia a facilidade para a monopolização dos canais de distribuição da informação; ou seja, facilita a massificação da qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação. Por conseguinte, promove a banalização da construção das identidades particulares, interfere na comunicação intercultural e enfraquece sobremaneira os estímulos criativos (COOMBE, 1998). Por isso é que o papel do Estado em revelar qual o interesse público na circulação e utilização dos bens intelectuais, apresenta-se de extrema relevância. Neste sentido, esta investigação se utiliza da expressão interesse público para definir aquele resultante do conjunto de interesses que os indivíduos pessoalmente relevam, e não propriamente o interesse do Estado como ente público; ou seja, preocupa-se com o interesse do indivíduo enquanto considerado em sua qualidade de membro da sociedade e não mais (MELLO, 2004). Importa de relevo esta clarificação terminológica, dado que convém ultrapassar a antiga presunção de que os interesses dos particulares são dissociados de interesse público, e ainda lembrar que os interesses do Estado, que são próprios enquanto pessoa jurídica, não se confundem com o interesse do indivíduo, que passa a ser público quando o seu

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Cumpre, na verdade, esclarecer, sobre este assunto, que juridicamente o grau de proteção do bem intelectual não será mensurado ou mesmo atribuído consoante estes indicadores de qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação. Mas, sem sombra de dúvida, como já referido em linhas acima, o consumidor ávido por alcançar estes indicadores tenderá a decrescer, para não dizer zerar, a sua disponibilidade para a aquisição do bem intelectual que não apresente tais indicadores. CONCLUSÃO Importante é concluir, após estas observações, que a circulação destes bens intelectuais pelos múltiplos e diversos canais de distribuição da informação é procedida utilizando-se o regime de proteção de direitos intelectuais existente, não importando assim o nível de qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação que este bem intelectual distribui, tampouco o canal escolhido para a distribuição da informação, pois se trata na mesma de obra protegida em regra pelos direitos de autor. Pondere-se, todavia, que o monopólio exercido por alguns agentes no controle dos canais de distribuição da informação, vale dizer da qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação, ofertada pelo bem intelectual, implica sem dúvida a necessidade de escolher um determinado bem para massificar a sua circulação e ainda reduzir os custos da informação a ser transmitida (LESSIG, 2004). Resultado deste cenário é que também a disponibilidade do consumidor na aquisição deste bem intelectual massificado, estará bastante reduzida ou em muitos casos reduzida a zero. Na verdade, o que se pretende enfatizar, nesta parte da investigação, é que a tutela jurídica, da forma como hoje se encontra tipificada, amplia a facilidade para a monopolização dos canais de distribuição da informação; ou seja, facilita a massificação da qualidade artística, criatividade, conhecimento e educação. Por conseguinte, promove a banalização da construção das identidades particulares, interfere na comunicação intercultural e enfraquece sobremaneira os estímulos criativos (COOMBE, 1998). Por isso é que o papel do Estado em revelar qual o interesse público na circulação e utilização dos bens intelectuais, apresenta-se de extrema relevância. Neste sentido, esta investigação se utiliza da expressão interesse público para definir aquele resultante do conjunto de interesses que os indivíduos pessoalmente relevam, e não propriamente o interesse do Estado como ente público; ou seja, preocupa-se com o interesse do indivíduo enquanto considerado em sua qualidade de membro da sociedade e não mais (MELLO, 2004). Importa de relevo esta clarificação terminológica, dado que convém ultrapassar a antiga presunção de que os interesses dos particulares são dissociados de interesse público, e ainda lembrar que os interesses do Estado, que são próprios enquanto pessoa jurídica, não se confundem com o interesse do indivíduo, que passa a ser público quando o seu

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(DAVIES, 2002). Vale lembrar que hoje o conflito entre os interesses já mencionados, seja de qualquer corrente, levanta a bandeira do interesse público para justificar a defesa da sobreposição dos seus interesses particulares sobre outros interesses ditos também de ordem particular. Todavia, registre-se que nos últimos anos as vozes daqueles que levantam o interesse público para a defesa de interesses ditos particulares, toma em atenção a possibilidade de acesso gratuito e desbloqueado ao conteúdo da informação que transmite o bem intelectual; e, não propriamente da ampliação do regime de proteção, como vinha sendo regra no discurso em nome do interesse público. REFERÊNCIAS AKERLOF, George A. The Market for "Lemons": Quality Uncertainty and the Market Mechanism. The Quarterly Journal of Economics, v. 84, n. 3, Aug. 1970. AMOR, Daniel. A (r)evolução do e-business. São Paulo: Makron Books, 2000. ARROW, Kenneth J. De la rationalité de soi et des autres dans un système économique. In: THÉORIE de l’Information et des organisations, et des organisations. Paris: Ed. Thierry Granger, 2000. ARROW, Kenneth J. L’économie de l’information: un exposé. In THÉORIE de l’Information et des organisations, Edité et présenté par Thierry Granger, Dunod.Paris: Ed. Thierry Granger, 2000. ARROW, Kenneth J. Limited Knowledge and Economic Analysis. American Economic Review, Mar.1974. ARROW, Kenneth J. Potentialités et limites du marché dans l’allocation des ressources. In: THÉORIE de l’Information et des organisations, et des organisations. Paris: Ed. Thierry Granger, 2000, p. 54-78. ASCENSÃO, José de Oliveira. Estudos sobre direito da internet e da sociedade da informação. Coimbra: Almedina, 2001. ASCENSÃO, José Oliveira. Direito de autor no ciberespaço. In: ASCENSÃO, José Oliveira. Direito da internet e da sociedade da informação. Rio de Janeiro: Forense, 2002. BARROSO, Luiz Roberto. Prefácio. In: SARMENTO, Daniel (Org.). Interesses públicos vs interesses privados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. BENKLER, Yochai. From Consumers to Users: Shifting the Deeper Structures of Regulation Toward Sustainable Commons and User Access. Federal Communication Law Journal, v.52, n.3, p. 561-579, maio 2000.

           

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interesse é incorporado ao interesse comum, já que membro duma sociedade (MELLO, 2004). Afirme-se, portanto, que a sociedade tem como primário o interesse público que corresponde à razão de ser do Estado que se reflete nos fins, de justiça, segurança e bem-estar social que deve este promover (BARROSO, 2007). Não é por sorte que constitucionalmente os bens intelectuais são protegidos como o objeto do direito de exclusivo atribuído ao seu criador. Trata-se de garantias atribuídas constitucionalmente como direitos fundamentais. Claro está que não basta o reconhecimento destes direitos como garantias fundamentais; é imperiosa a convivência harmônica das mesmas, com um justo sistema de equilíbrio dos interesses conflitantes no caso. Isto é, os interesses dos criadores que pretendem ver atribuídas à sua criação um valor patrimonial que represente a qualidade artística, criativa, bem como de transmissão de conhecimento e educação; e ainda os interesses da sociedade que pretende ter acesso aos bens intelectuais, dispondo-se a adquiri-los, desde que o valor fixado a estes bens intelectuais realmente correspondam a um preço justo que reflete as qualidades a eles atribuídas pelo seu criador. Somente partindo desta premissa de atribuição de valor aos bens intelectuais, equilibrando-se os interesses conflitantes, como já acima demonstrado, que o sistema jurídico poderá firmemente afirmar a existência de um sistema jurídico de tutela destes bens, que reconheça a justa remuneração a ser atribuída aos criadores de bens intelectuais e a disponibilidade do consumidor em pagar o preço atribuído ao mesmo. Registre-se, deste modo, que este equilíbrio de interesses resultará num sistema jurídico que reconheça o direito de exclusivo do criador intelectual a uma justa remuneração, mas também ao do utilizador desta criação intelectual, resultando assim benefício para toda a sociedade. Denote-se que uma tutela jurídica deste nível incentiva a partilha e a convergência das informações que os bens intelectuais pretendem divulgar a sociedade, o que representa uma excelente compreensão dos papéis que cada um dos interesses que aparentemente são conflitantes, mas na verdade são complementares, dado que um representa a face do outro (DAVIES, 2002). Entretanto, não é este o cenário ideal que se vive na virada do milênio, pois que a revolução dos meios tecnológicos, que permitiu a multiplicação dos meios de distribuição dos bens intelectuais, fora uma vantagem no início apenas conquistada por poucos que detinham conhecimento e capacidade econômica e de gestão. Note-se que esta mesma revolução dos meios tecnológicos permitiu o recrudescimento dos meios de fiscalização e mais ainda a centralização e monopolização dos mecanismos de circulação dos bens intelectuais, surgindo assim um sistema jurídico desajustado aos inúmeros desafios que o mundo contemporâneo expõe aos diversos agentes que trabalham direta ou indiretamente com a criação de bens intelectuais. Por isso é que representa tarefa do Estado a criação de um sistema de normas que visem a equilibrar os diversos interesses em jogo, melhor dizendo, o direito de acesso do utilizador do bem intelectual ao seu conteúdo que transmite informação, cultura e educação com a garantia do criador de um bem intelectual em particular poder explorar economicamente a sua criação intelectual, podendo dela retirar à sua justa remuneração

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

(DAVIES, 2002). Vale lembrar que hoje o conflito entre os interesses já mencionados, seja de qualquer corrente, levanta a bandeira do interesse público para justificar a defesa da sobreposição dos seus interesses particulares sobre outros interesses ditos também de ordem particular. Todavia, registre-se que nos últimos anos as vozes daqueles que levantam o interesse público para a defesa de interesses ditos particulares, toma em atenção a possibilidade de acesso gratuito e desbloqueado ao conteúdo da informação que transmite o bem intelectual; e, não propriamente da ampliação do regime de proteção, como vinha sendo regra no discurso em nome do interesse público. REFERÊNCIAS AKERLOF, George A. The Market for "Lemons": Quality Uncertainty and the Market Mechanism. The Quarterly Journal of Economics, v. 84, n. 3, Aug. 1970. AMOR, Daniel. A (r)evolução do e-business. São Paulo: Makron Books, 2000. ARROW, Kenneth J. De la rationalité de soi et des autres dans un système économique. In: THÉORIE de l’Information et des organisations, et des organisations. Paris: Ed. Thierry Granger, 2000. ARROW, Kenneth J. L’économie de l’information: un exposé. In THÉORIE de l’Information et des organisations, Edité et présenté par Thierry Granger, Dunod.Paris: Ed. Thierry Granger, 2000. ARROW, Kenneth J. Limited Knowledge and Economic Analysis. American Economic Review, Mar.1974. ARROW, Kenneth J. Potentialités et limites du marché dans l’allocation des ressources. In: THÉORIE de l’Information et des organisations, et des organisations. Paris: Ed. Thierry Granger, 2000, p. 54-78. ASCENSÃO, José de Oliveira. Estudos sobre direito da internet e da sociedade da informação. Coimbra: Almedina, 2001. ASCENSÃO, José Oliveira. Direito de autor no ciberespaço. In: ASCENSÃO, José Oliveira. Direito da internet e da sociedade da informação. Rio de Janeiro: Forense, 2002. BARROSO, Luiz Roberto. Prefácio. In: SARMENTO, Daniel (Org.). Interesses públicos vs interesses privados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. BENKLER, Yochai. From Consumers to Users: Shifting the Deeper Structures of Regulation Toward Sustainable Commons and User Access. Federal Communication Law Journal, v.52, n.3, p. 561-579, maio 2000.

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

______. Dinâmica macroeconômica: uma interpretação a partir de Marx e de Keynes. São Paulo: Educ/Edufes, 2002. ______. Economia da Informação, direitos de propriedade intelectual, Conhecimento e novas modalidades de re-apropriação social da Informação. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, v.VI, n. 3, Dep. / Dec. 2004. Disponível em: <http://www.eptic.com .br/arquivos/Revistas/Vol.VI,n.3,2004/Ala inHerscovici.pdf>. Acesso em: 03 maio 2012. ______. Economia da informação, redes eletrônicas e regulação: Elementos de Análise. Revista de Economia Política, vol. 24, n. 1 (93), p.95-114, jan./mar./2004. HODGSON, Geoffrey M.. The Approach of Institucional Economics. Journal of Economic Litterature, v. 36, Issue 1, ar. 1998. Disponível em: <http://www.unctad. org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf>. Acesso em: 20 maio 2008. JAYNES, Edwin Thompson. Information theory and statistical mechanics. Physical Review, v. 106, n.4, p. 620-630, 15 maio 1957. KEPLINGER, Michael S. La infraestructura global de la información y su marco legal. Derecho de la Alta Tecnología, ano VII, n.82-83, p.18, jun./jul.1995. KEYNER, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1990. LANGE, Deise Fabiane. O impacto da tecnologia digital sobre o direito de autor e conexos. São Leopoldo: UNISINOS, 1996. LESSIG, Lawrence. Free culture. New York: Penguin Press, 2004. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. LITAN, Robert E.; RIVLIN, Alice M. Projecting the economic impact of the Internet. The American Economic Review, v. 91, n. 2. p. 313-317, May. 2001. LYOTARD, J.F. O pós-moderno explicado às crianças. Lisboa: Publicações Don Quixote, 1987. MARCHAND, Donald A.; KETTINGER, William J.; ROLLINS, John D. Information orientation: people, technology and the bottom line. Sloam Management Review, p. 69-80, Summer 2000. MARX, Karl. Consequências sociais do avanço tecnológico. São Paulo: Edições Populares, 1980. MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2004. PORTER, Michael E. Competitive advantage. New York: Free Press, 1985.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

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             A PROTEÇÃO DO BEM INTELECTUAL EM FACE DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

______. Dinâmica macroeconômica: uma interpretação a partir de Marx e de Keynes. São Paulo: Educ/Edufes, 2002. ______. Economia da Informação, direitos de propriedade intelectual, Conhecimento e novas modalidades de re-apropriação social da Informação. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, v.VI, n. 3, Dep. / Dec. 2004. Disponível em: <http://www.eptic.com .br/arquivos/Revistas/Vol.VI,n.3,2004/Ala inHerscovici.pdf>. Acesso em: 03 maio 2012. ______. Economia da informação, redes eletrônicas e regulação: Elementos de Análise. Revista de Economia Política, vol. 24, n. 1 (93), p.95-114, jan./mar./2004. HODGSON, Geoffrey M.. The Approach of Institucional Economics. Journal of Economic Litterature, v. 36, Issue 1, ar. 1998. Disponível em: <http://www.unctad. org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf>. Acesso em: 20 maio 2008. JAYNES, Edwin Thompson. Information theory and statistical mechanics. Physical Review, v. 106, n.4, p. 620-630, 15 maio 1957. KEPLINGER, Michael S. La infraestructura global de la información y su marco legal. Derecho de la Alta Tecnología, ano VII, n.82-83, p.18, jun./jul.1995. KEYNER, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1990. LANGE, Deise Fabiane. O impacto da tecnologia digital sobre o direito de autor e conexos. São Leopoldo: UNISINOS, 1996. LESSIG, Lawrence. Free culture. New York: Penguin Press, 2004. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. LITAN, Robert E.; RIVLIN, Alice M. Projecting the economic impact of the Internet. The American Economic Review, v. 91, n. 2. p. 313-317, May. 2001. LYOTARD, J.F. O pós-moderno explicado às crianças. Lisboa: Publicações Don Quixote, 1987. MARCHAND, Donald A.; KETTINGER, William J.; ROLLINS, John D. Information orientation: people, technology and the bottom line. Sloam Management Review, p. 69-80, Summer 2000. MARX, Karl. Consequências sociais do avanço tecnológico. São Paulo: Edições Populares, 1980. MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2004. PORTER, Michael E. Competitive advantage. New York: Free Press, 1985.

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO Felipe Souza Calmon e Almeida1 RESUMO O presente trabalho aborda, num primeiro momento, o problema da morosidade do Poder Judiciário, suas causas e consequências, se valendo, inclusive, do último relatório do programa “Justiça em Números” realizado e disponibilizado pelo Conselho Nacional de Justiça, no qual é apresentado o atual panorama do Poder Judiciário brasileiro. Num segundo momento, visando uma solução ao problema da morosidade, é discorrido acerca dos chamados “recursos especiais repetitivos” e seu “julgamento por amostragem”, com base na lei, na doutrina e na jurisprudência, visando propiciar um melhor conhecimento acerca do referido instituto. O objetivo principal do presente trabalho, portanto, é apresentar a ferramenta processual do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos, introduzido no sistema no ano de 2008, como um instrumento, sem desconsiderar os demais, de combate à tão mencionada morosidade jurisdicional. PALAVRAS-CHAVE: Morosidade do Poder Judiciário. Julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos.

                                                                                                               1Bacharel em Direito graduado pela Faculdade Ruy Barbosa e pós-graduando em Processo Civil pela

UFBA. Advogado do Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade Ruy Barbosa (campus Paralela) | DeVry Brasil. Email: [email protected].

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

RALLET, Alain. A teoria das convenções segundo os economistas. Nexos, v. 1, n.2, Dez. de 1999. RAMIREZ, Rafael. Value co-production: intellectual origins and implications for practice and research. Strategic Management Journal, v. 20, p. 49-65, 1999. SANTOS, Boaventura de Sousa. La globalización del derecho: los nuevos caminos de la regulación y la emancipación. Universidad Nacional de Colombia - facultad de Derecho, Ciencias Políticas y Sociales Instituto Latinoamericano de Servicios Legales Alternativos (ILSA), 1998, 288. SASSEN, Saskian. Cities in a World Economy. Pine Forge Press, 2012, updated 4th ed. (1st ed. 1994). SHANNON, Claude E. A Mathematical Theory of Communication. The Bell System Technical Journal, v. 27, p. 379–423, 623–656, Jul./Out., 1948. SHANNON, Claude E.; WEAVER, Warren. The mathematical theory of communication. Urbana: The University of Illinois, 1949. SHAPIRO, Carl; VARIAN, Hal R. A economia da informação: como os princípios econômicos se aplicam a era da Internet. Rio de Janeiro: Campus, 1999. STABELL, Charles B.; FJELDSTAD, Øystein D. Configuring value for competitive advantage: on chains, shops, and networks. Strategic Management Journal, v. 19, p. 413-437, 1998. THOMKE, Stefan; HIPPEL, Eric von. Customers as innovators: a new way to create value. Harvard Business Review, p. 74-81, Apr. 2002. UNCTAD. Creative economy report: the challenge of accessing the creative economy: towards informed policy-making. Disponível em: http://www.unctad.org/en/docs/ditc 20082cer_en.pdf. Acesso em: 06 maio 2012. VENKATRAMAN, N. I. Enable business transformation: from automation to business scope redefinition. Sloan Management Review, p. 73-87, Winter 1994. WESTPHAL, Christopher; BLAXTON, Teresa. Data mining solutions: methods and tools for solving real world problems. New York: John Wiley, 1998. WIENER, Norbert. Cybernetics or Control and Communication in the Animal and the Machine. New York: Hermann & Cie Editeurs, 1948. WOLTON, Dominique. Il Faut Sauver la Communication. Paris: Flammarion, 2005. ZWASS, Vladimir. Management information systems. Dubuque: Wm. C. Brown, 1992.

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO Felipe Souza Calmon e Almeida1 RESUMO O presente trabalho aborda, num primeiro momento, o problema da morosidade do Poder Judiciário, suas causas e consequências, se valendo, inclusive, do último relatório do programa “Justiça em Números” realizado e disponibilizado pelo Conselho Nacional de Justiça, no qual é apresentado o atual panorama do Poder Judiciário brasileiro. Num segundo momento, visando uma solução ao problema da morosidade, é discorrido acerca dos chamados “recursos especiais repetitivos” e seu “julgamento por amostragem”, com base na lei, na doutrina e na jurisprudência, visando propiciar um melhor conhecimento acerca do referido instituto. O objetivo principal do presente trabalho, portanto, é apresentar a ferramenta processual do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos, introduzido no sistema no ano de 2008, como um instrumento, sem desconsiderar os demais, de combate à tão mencionada morosidade jurisdicional. PALAVRAS-CHAVE: Morosidade do Poder Judiciário. Julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos.

                                                                                                               1Bacharel em Direito graduado pela Faculdade Ruy Barbosa e pós-graduando em Processo Civil pela

UFBA. Advogado do Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade Ruy Barbosa (campus Paralela) | DeVry Brasil. Email: [email protected].

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, um dos maiores problemas enfrentados pelo Poder Judiciário brasileiro é justamente a sua morosidade, a sua lentidão na prestação jurisdicional. Devido a isso, fala-se com bastante frequência a respeito de reformas do Judiciário, o que resolveria este problema, propiciando ao usuário da Justiça uma prestação mais célere, eficaz e condizente com os tempos em que vivemos. Como veremos logo adiante, são fatores que contribuíram, e ainda contribuem, diretamente para a existência da morosidade jurisdicional, entre outros, o aumento da litigiosidade nos últimos tempos, a estrutura obsoleta do Poder Judiciário e os problemas de recursos humanos. O problema da morosidade do Poder Judiciário, vale ressaltar, não representa algo novo, dotado de imprevisibilidade, vez que decorre da própria estrutura anacrônica do Poder Judiciário, construída e sedimentada de tal forma, que não consegue acompanhar as mudanças havidas na sociedade. Além da má estrutura do Poder Judiciário, outra causa que pode ser indicada como fator direto ligado ao problema da morosidade da Justiça é justamente a litigiosidade exacerbada que hoje é presente, restando o Judiciário inundado por um número imenso de processos, cujo crescimento não retarda, muito menos cessa, contribuindo para o agravamento da crise. Neste sentido, cumpre mencionar que antigamente existia uma chamada “litigiosidade contida”, isto é, uma baixa demanda social pela prestação jurisdicional do Estado, notadamente devido aos complexos e custosos procedimentos processuais, os quais inibiam e afastavam o jurisdicionado. Assim, em busca da ampliação ao acesso à Justiça, foram criados, por exemplo, os Juizados Especiais Estaduais e Federais (Leis nº 9.099/1995 e 10.259/2001, respectivamente). A criação dos referidos Juizados Especiais, se por um lado diminuiu a chamada “litigiosidade contida” (promovendo uma melhora à questão da acessibilidade jurisdicional), por outro contribuiu para o crescimento de uma “litigiosidade exacerbada”. Assim, hoje em dia, muitas demandas que, no passado, não seriam submetidas à apreciação do Poder Judiciário, hoje o são, agasalhadas notadamente pela gratuidade processual em primeiro grau de jurisdição, o que resultou diretamente no acúmulo de processos jurisdicionais, contribuindo para o problema da morosidade do Poder Judiciário. Entretanto, o problema da litigiosidade exacerbada não resulta tão somente da criação dos Juizados Especiais Estaduais e Federais. Tal mazela possui raízes em outras questões, não apenas jurídicas, mas também, sobretudo, sociais.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

ABSTRACT This study discusses, at first, the problem of the slowness of the Judiciary, its causes and consequences, presenting, furthermore, the last report of the "Justice in Numbers" made available by the National Council of Justice, in which is presented the current panorama of the brazilian Judiciary. Secondly, seeking a solution for the problem of the slowness of the Judiciary is discoursed about the so-called "repetitive special recourse" and its "judgment by sampling", based on law, doctrine and jurisprudence, in order to provide a better knowledge of the institute. The main purpose of this study, therefore, is to present the procedural tool of judgment by sampling of the repetitive special recourses, introduced in the system in 2008, as an instrument, without disregarding others like, to combat such jurisdictional slowness. KEYWORDS: Slowness of the Judiciary. Judgment by sampling of the repetitive special recourses.

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, um dos maiores problemas enfrentados pelo Poder Judiciário brasileiro é justamente a sua morosidade, a sua lentidão na prestação jurisdicional. Devido a isso, fala-se com bastante frequência a respeito de reformas do Judiciário, o que resolveria este problema, propiciando ao usuário da Justiça uma prestação mais célere, eficaz e condizente com os tempos em que vivemos. Como veremos logo adiante, são fatores que contribuíram, e ainda contribuem, diretamente para a existência da morosidade jurisdicional, entre outros, o aumento da litigiosidade nos últimos tempos, a estrutura obsoleta do Poder Judiciário e os problemas de recursos humanos. O problema da morosidade do Poder Judiciário, vale ressaltar, não representa algo novo, dotado de imprevisibilidade, vez que decorre da própria estrutura anacrônica do Poder Judiciário, construída e sedimentada de tal forma, que não consegue acompanhar as mudanças havidas na sociedade. Além da má estrutura do Poder Judiciário, outra causa que pode ser indicada como fator direto ligado ao problema da morosidade da Justiça é justamente a litigiosidade exacerbada que hoje é presente, restando o Judiciário inundado por um número imenso de processos, cujo crescimento não retarda, muito menos cessa, contribuindo para o agravamento da crise. Neste sentido, cumpre mencionar que antigamente existia uma chamada “litigiosidade contida”, isto é, uma baixa demanda social pela prestação jurisdicional do Estado, notadamente devido aos complexos e custosos procedimentos processuais, os quais inibiam e afastavam o jurisdicionado. Assim, em busca da ampliação ao acesso à Justiça, foram criados, por exemplo, os Juizados Especiais Estaduais e Federais (Leis nº 9.099/1995 e 10.259/2001, respectivamente). A criação dos referidos Juizados Especiais, se por um lado diminuiu a chamada “litigiosidade contida” (promovendo uma melhora à questão da acessibilidade jurisdicional), por outro contribuiu para o crescimento de uma “litigiosidade exacerbada”. Assim, hoje em dia, muitas demandas que, no passado, não seriam submetidas à apreciação do Poder Judiciário, hoje o são, agasalhadas notadamente pela gratuidade processual em primeiro grau de jurisdição, o que resultou diretamente no acúmulo de processos jurisdicionais, contribuindo para o problema da morosidade do Poder Judiciário. Entretanto, o problema da litigiosidade exacerbada não resulta tão somente da criação dos Juizados Especiais Estaduais e Federais. Tal mazela possui raízes em outras questões, não apenas jurídicas, mas também, sobretudo, sociais.

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

realidade incompatível com o constante aumento da demanda jurisdicional, por razões óbvias, contribui diretamente para o problema da vagareza na prestação jurisdicional. Assim, tão importante quanto se aprimorar a qualidade do meio no qual será produzida e oferecida a prestação jurisdicional (estrutura do Poder Judiciário), é também necessário que haja um aumento na quantidade de sujeitos responsáveis por tal serviço (recursos humanos a serviço do Poder Judiciário). Nesta oportunidade, cumpre mencionar que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição pública com o fim específico de “aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e pessoal”2, anualmente realiza estudos com o objetivo de analisar o atual panorama do Poder Judiciário brasileiro. Assim, através do programa denominado “Justiça em Números”, iniciado nos idos de 2003, o CNJ apresenta publicamente o atual panorama do Poder Judiciário nacional, por meio de dados disponibilizados pelos próprios tribunais sobre os processos julgados, o número de cargos de juízes ocupados e ainda o número de pessoas atendidas por magistrado. Tal pesquisa permite a avaliação dos tribunais em relação à quantidade de processos, à questão financeira e ao acesso à Justiça. O estudo analisa, ainda, o perfil de cada região e Estado, com base nas informações sobre população e economia. Assim, com base no quanto portal eletrônico do CNJ3:

O objetivo do CNJ é que os dados sejam referência para a criação de uma cultura de planejamento e gestão estratégica. Outra finalidade do Justiça em Números é fornecer bases para construção de políticas de gestão e possibilitar a avaliação da necessidade de criação de cargos e funções. O estudo também enumera a relação de despesas com pessoal, recolhimentos e receitas, informática, taxa de congestionamento e carga de trabalho dos juízes. Os números são encaminhados semestralmente pelos magistrados.

No último relatório produzido em decorrência das pesquisas do programa “Justiça em Números”, datado de 2012 (ano-base 2011) e disponibilizado no portal eletrônico do CNJ4, verifica-se que o Sistema de Estatística do Poder Judiciário (SIESPJ), coordenado pelo CNJ, considera, quando da análise da questão “litigiosidade no Judiciário”, os seguintes fatores: a) carga de trabalho; b) taxa de congestionamento; c) recorribilidade e reforma das decisões.

                                                                                                               2 Nos exatos termos que constam no portal eletrônico do CNJ, disponível em: <http://www.cnj.jus.br /sobre-o-cnj>. Acesso em: 8 ago. 2013. 3 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-em-numeros>. Acesso em: 8 ago. 2013. 4 Disponível em:< http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-em-numeros>. Acesso em 8 ago. 2013.

           

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Assim, contribuíram também para o crescimento da litigiosidade jurisdicional, isto é, da demanda dos serviços do Poder Judiciário, o próprio aumento populacional brasileiro nos séculos XX e XXI; a evolução tecnológica; o êxodo rural; a conscientização por parte da população brasileira dos seus direitos e deveres, notadamente com fulcro nas diretrizes da Constituição da República de 1988; a própria “Constituição Cidadã”; entre outros fatores. Evidente que tais acontecimentos representam, mais do que meras causas de aumento da litigiosidade jurisdicional, enormes exemplos de avanços humanos e sociais. Todavia, não há como se negar que tais conquistas, tais evoluções sociais, não obstante, contribuíram direta ou indiretamente para o aumento da litigiosidade no Poder Judiciário pátrio. Ademais, faz-se mister mencionar que o problema da morosidade judiciária decorre, também e principalmente, do próprio Poder Judiciário. O Direito tem sua base na sociedade, não podendo, por conseguinte, ser separado da mesma. As funções públicas, ademais, devem pautar-se com base nos interesses sociais, acompanhando suas mudanças e evoluindo conjuntamente. Todavia, o Estado não consegue acompanhar a velocidade dos acontecimentos sociais, a realidade social. Embora o legislador, por exemplo, ao editar uma determinada lei, objetive e condicione sua eficácia em determinado tempo e espaço, tem-se por impossível que o referido ato normativo, quando do início de sua vigência, seja perfeitamente compatível com a realidade social, a qual está sempre se modificando, constante e ininterruptamente. No que diz respeito ao Poder Judiciário brasileiro, ao se deparar com a sua atual estrutura, tem-se que o mesmo não se aparelhou, não se equipou o suficiente para poder enfrentar e resolver o tamanho número crescente de demandas dos últimos tempos. Embora tal realidade venha evoluindo em decorrência, por exemplo, da criação e implementação do processo pela via eletrônica, ainda é muito presente a deficiência material nas instalações físicas existentes nos órgãos jurisdicionais, a exemplo da existência de computadores obsoletos, de um alto número de processos físicos, do costumeiro e inato acúmulo de papéis e pastas físicas, entre outras práticas não mais condizentes com o modelo que tanto se busca de prestação jurisdicional. Outrossim, com a cada vez mais forte inserção da informática no mundo atual, não mais se justificam as práticas e exigências arcaicas adotadas pelo Poder Judiciário, práticas estas que resultam na manutenção de um modelo totalmente desatualizado e, por conseguinte, incapaz de atender aos anseios jurisdicionais da parcela da sociedade que demanda por justiça. Outra causa da morosidade jurisdicional que está ligada diretamente ao Judiciário é a questão dos recursos humanos. O baixo número de juízes e serventuários da Justiça,

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realidade incompatível com o constante aumento da demanda jurisdicional, por razões óbvias, contribui diretamente para o problema da vagareza na prestação jurisdicional. Assim, tão importante quanto se aprimorar a qualidade do meio no qual será produzida e oferecida a prestação jurisdicional (estrutura do Poder Judiciário), é também necessário que haja um aumento na quantidade de sujeitos responsáveis por tal serviço (recursos humanos a serviço do Poder Judiciário). Nesta oportunidade, cumpre mencionar que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição pública com o fim específico de “aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e pessoal”2, anualmente realiza estudos com o objetivo de analisar o atual panorama do Poder Judiciário brasileiro. Assim, através do programa denominado “Justiça em Números”, iniciado nos idos de 2003, o CNJ apresenta publicamente o atual panorama do Poder Judiciário nacional, por meio de dados disponibilizados pelos próprios tribunais sobre os processos julgados, o número de cargos de juízes ocupados e ainda o número de pessoas atendidas por magistrado. Tal pesquisa permite a avaliação dos tribunais em relação à quantidade de processos, à questão financeira e ao acesso à Justiça. O estudo analisa, ainda, o perfil de cada região e Estado, com base nas informações sobre população e economia. Assim, com base no quanto portal eletrônico do CNJ3:

O objetivo do CNJ é que os dados sejam referência para a criação de uma cultura de planejamento e gestão estratégica. Outra finalidade do Justiça em Números é fornecer bases para construção de políticas de gestão e possibilitar a avaliação da necessidade de criação de cargos e funções. O estudo também enumera a relação de despesas com pessoal, recolhimentos e receitas, informática, taxa de congestionamento e carga de trabalho dos juízes. Os números são encaminhados semestralmente pelos magistrados.

No último relatório produzido em decorrência das pesquisas do programa “Justiça em Números”, datado de 2012 (ano-base 2011) e disponibilizado no portal eletrônico do CNJ4, verifica-se que o Sistema de Estatística do Poder Judiciário (SIESPJ), coordenado pelo CNJ, considera, quando da análise da questão “litigiosidade no Judiciário”, os seguintes fatores: a) carga de trabalho; b) taxa de congestionamento; c) recorribilidade e reforma das decisões.

                                                                                                               2 Nos exatos termos que constam no portal eletrônico do CNJ, disponível em: <http://www.cnj.jus.br /sobre-o-cnj>. Acesso em: 8 ago. 2013. 3 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-em-numeros>. Acesso em: 8 ago. 2013. 4 Disponível em:< http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-em-numeros>. Acesso em 8 ago. 2013.

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(aproximadamente 90% dos gastos anuais), tal fato, por si só, não conseguiu resolver o problema da litigiosidade. Assim, o estudo em comento confirmou que houve um crescimento de novos processos na ordem de 8,8%, em relação ao ano de 2010. Ademais, considerando apenas os casos novos dos tribunais que já haviam sido objeto de estudo em 2010, verificou-se que houve um aumento de 7,3% no total de processos. Estas conclusões, repita-se, resultado de um estudo realizado anualmente pelo CNJ com base nos dados informados pelos próprios tribunais, encontra-se em consonância com tudo quanto até aqui afirmado no presente trabalho, sobretudo no que diz respeito ao fator litigiosidade e sua direta relação com o problema da morosidade do Poder Judiciário. Em seguida, revela o CNJ que:

Pela primeira vez na história do Justiça em Números, é conhecido o total da movimentação processual de toda Justiça, já que nesta versão foram incluídos novos tribunais que anteriormente não eram considerados. Dessa forma, pode-se observar que, tramitaram, ao longo de 2011, quase 90 milhões de processos, sendo que, desse quantitativo, 71 % (63 milhões) já estavam pendentes desde o início do ano e os 26 milhões restantes ingressaram durante o ano. Foram baixados aproximadamente 26 milhões de processos, quase o mesmo quantitativo ingressado, e foram proferidas 23,7 milhões de sentenças e decisões. [...] o total de processos baixados no ano de 2011 apresentou aumento de 7,4 % em relação ao ano anterior, sendo, inclusive, o maior aferido nos últimos três anos. Entretanto, isto não foi suficiente para gerar uma redução do estoque de processos. Pelo contrário, segundo o infográfico, este teve um crescimento constante nos últimos três anos, sendo de 3,6 % no período entre 2010 e 2011. Em muito, esta situação tem como origem o aumento da demanda, visto que somente no último ano o número de casos novos aumentou 8,8 %, não sendo equilibrado, portanto, pelo crescimento do total de processos baixados. (p. 448).

Inicialmente, com base nas informações publicadas pelo CNJ, conclui-se que existe, aproximadamente, um processo para cada dois brasileiros, considerando-se os resultados do ano-base do último Justiça em Números (2011), realizado pelo CNJ, combinado com os dados do último Censo Demográfico5 (2010), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ademais, 71% dos 90 (noventa) milhões de processos existentes em 2011 já preexistiam, o que materializa a chamada “taxa de congestionamento” retromencionada, isto é, o total

                                                                                                               5 Conforme consta no portal eletrônico do IBGE, o “Censo 2010 compreendeu um levantamento minucioso de todos os domicílios do País. Nos meses de coleta de dados e supervisão, 191 mil recenseadores visitaram 67,6 milhões de domicílios nos 5.565 municípios brasileiros para colher informações sobre quem somos, quanto somos, onde estamos e como vivemos. Os primeiros resultados definitivos, divulgados em novembro de 2010, apontaram uma população formada por 190.732.694 pessoas”. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm>. Acesso em: 8 ago. 2013.

           

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a) Carga de trabalho: indicador ligado ao magistrado. Representa a quantidade de processos em tramitação por juiz. Tal fator possibilita o conhecimento da média aritmética de processos por magistrado, o que serve de base na busca por soluções para o problema do grande número de processos pendentes por juiz.

b) Taxa de congestionamento: indicador ligado à produtividade do tribunal.

Representa o percentual de processos que não foram baixados durante o ano-base do relatório. Tal fator possibilita o conhecimento do número de processos que estão estagnados no Poder Judiciário, o que serve de base na busca por soluções que viabilizem o “enxugamento processual” do Poder Judiciário.

c) Recorribilidade e reforma das decisões: indicador ligado aos processos.

Representa o percentual de decisões recorridas e posteriormente reformadas, ou não, pelos tribunais. Tal fator possibilita o conhecimento do número de decisões que são objeto de recurso, bem como do êxito recursal ou não já no segundo grau de jurisdição, o que serve de base para a busca por soluções para o problema do abuso do “direito recursal” ou do “duplo grau de jurisdição”, a exemplo dos filtros recursais e das ferramentas de concentração recursal.

Após analisar os dados fornecidos pelas Justiças Estadual, Federal Comum, do Trabalho, Eleitoral, Militar Estadual, bem como pelos Tribunais Superiores, através de mapas, infográficos, gráficos de fronteira, análises de eficiência, impacto da execução e outros critérios e procedimentos, o CNJ, em suas considerações finais e recomendações, concluiu no sentido de que:

[...] o que se percebe pelos números é que o Poder Judiciário ampliou-se, seja em termos orçamentários, seja em números de servidores. [...] A despesa total da Justiça alcançou a cifra de R$ 50,4 bilhões, sendo que aproximadamente 90 % refere a gastos com recursos humanos, um total de R$ 45,2 bilhões. Importante explicar que as despesas com RH consideram todos os servidores ativos, inativos, instituidores de pensão, servidores que não integram o quadro efetivo, além de incluir a remuneração e todos os demais encargos tais como: ajuda de custo, diárias, passagens, auxílios, entre outros. [...] Se em relação às despesas e aos totais da força de trabalho o impacto da inclusão de novos tribunais foi relevante, o mesmo não se verifica na litigiosidade. As variações demonstradas no infográfico são muito próximas daquelas calculadas sem os novos ramos de justiça incluídos. O total de casos novos cresceu 8,8 % em relação a 2010. O mesmo cálculo feito apenas para os casos novos dos tribunais que participaram do relatório em 2010 revela um incremento de 7,3 % no total de processos. Ainda sobre a litigiosidade, houve um crescimento no total de casos baixados (6,1 %), do total de sentenças (1,4 %) e do volume de processos em tramitação (4,6 %), formado pelo somatório dos casos novos e pendentes, que, em termos absolutos, chegou a quase 90 milhões em 2011. (CNJ, p. 447-448)

Com base nas conclusões acima transcritas infere-se que, a despeito do massivo investimento realizado pelo Poder Judiciário na área dos recursos humanos

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(aproximadamente 90% dos gastos anuais), tal fato, por si só, não conseguiu resolver o problema da litigiosidade. Assim, o estudo em comento confirmou que houve um crescimento de novos processos na ordem de 8,8%, em relação ao ano de 2010. Ademais, considerando apenas os casos novos dos tribunais que já haviam sido objeto de estudo em 2010, verificou-se que houve um aumento de 7,3% no total de processos. Estas conclusões, repita-se, resultado de um estudo realizado anualmente pelo CNJ com base nos dados informados pelos próprios tribunais, encontra-se em consonância com tudo quanto até aqui afirmado no presente trabalho, sobretudo no que diz respeito ao fator litigiosidade e sua direta relação com o problema da morosidade do Poder Judiciário. Em seguida, revela o CNJ que:

Pela primeira vez na história do Justiça em Números, é conhecido o total da movimentação processual de toda Justiça, já que nesta versão foram incluídos novos tribunais que anteriormente não eram considerados. Dessa forma, pode-se observar que, tramitaram, ao longo de 2011, quase 90 milhões de processos, sendo que, desse quantitativo, 71 % (63 milhões) já estavam pendentes desde o início do ano e os 26 milhões restantes ingressaram durante o ano. Foram baixados aproximadamente 26 milhões de processos, quase o mesmo quantitativo ingressado, e foram proferidas 23,7 milhões de sentenças e decisões. [...] o total de processos baixados no ano de 2011 apresentou aumento de 7,4 % em relação ao ano anterior, sendo, inclusive, o maior aferido nos últimos três anos. Entretanto, isto não foi suficiente para gerar uma redução do estoque de processos. Pelo contrário, segundo o infográfico, este teve um crescimento constante nos últimos três anos, sendo de 3,6 % no período entre 2010 e 2011. Em muito, esta situação tem como origem o aumento da demanda, visto que somente no último ano o número de casos novos aumentou 8,8 %, não sendo equilibrado, portanto, pelo crescimento do total de processos baixados. (p. 448).

Inicialmente, com base nas informações publicadas pelo CNJ, conclui-se que existe, aproximadamente, um processo para cada dois brasileiros, considerando-se os resultados do ano-base do último Justiça em Números (2011), realizado pelo CNJ, combinado com os dados do último Censo Demográfico5 (2010), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ademais, 71% dos 90 (noventa) milhões de processos existentes em 2011 já preexistiam, o que materializa a chamada “taxa de congestionamento” retromencionada, isto é, o total

                                                                                                               5 Conforme consta no portal eletrônico do IBGE, o “Censo 2010 compreendeu um levantamento minucioso de todos os domicílios do País. Nos meses de coleta de dados e supervisão, 191 mil recenseadores visitaram 67,6 milhões de domicílios nos 5.565 municípios brasileiros para colher informações sobre quem somos, quanto somos, onde estamos e como vivemos. Os primeiros resultados definitivos, divulgados em novembro de 2010, apontaram uma população formada por 190.732.694 pessoas”. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm>. Acesso em: 8 ago. 2013.

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interpretação e de aplicação das normas federais, o que, antes da nova disciplina constitucional, era realizado mediante recurso extraordinário perante o Supremo Tribunal Federal (STF). O recurso especial, objeto do presente estudo, portanto, possui como finalidade a preservação da unidade do ordenamento jurídico federal, visando à tutela do interesse público, que deverá sobrepujar os interesses particulares das partes recorrente e recorrida, em vista de que a legislação federal deverá ser sempre corretamente interpretada e a jurisprudência, por sua vez, devidamente uniformizada. Em outras palavras, o que justifica a interposição do recurso especial não diz respeito à sucumbência da parte, mas sim à lesividade da ordem jurídica federal decorrente da existência de uma decisão eivada de vício infraconstitucional federal. É justamente por isto que o recurso especial, conforme já pacificado na doutrina e na jurisprudência, não se destina a reexaminar matéria de fato, sendo sim um instrumento manejado para a revisão de decisões fundadas em lei federal (discussão, tão somente, de questão de direito infraconstitucional federal), de modo a assegurar que o ordenamento jurídico seja interpretado e aplicado de forma correta e uniforme em todo o País. Na doutrina de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart6, em referência aos recursos extraordinário e especial:

Conclui-se, então, que tais recursos objetivam propiciar a correta aplicação do direito objetivo. Não se discute, portanto, em recurso especial e extraordinário, matéria de fato ou apreciação feita pelo tribunal inferior a partir da prova dos autos (Súmula 279 do STF e Súmula 7 do STJ). O âmbito de discussão aqui se limita, exclusivamente, à aplicação dos direitos sobre o fato, sem mais se discutir se o fato efetivamente existiu ou não.

Neste mesmo sentido a jurisprudência do STJ traz a seguinte decisão:

PROCESSO CIVIL – RECURSO ESPECIAL – REVOLVIMENTO DE MATÉRIA DE FATO – SÚMULA 7/STJ – RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. Inviável recurso especial que demanda análise do contexto fático-probatório (7/STJ). 2. Recurso especial não conhecido. (STJ. Processo: Resp. nº 1348929-MA 2012/0215871-0. Relator(a): Min. Eliana Calmon. Julgamento: 15/08/2013. Órgão Julgador: T2 – Segunda Turma. Publicação: DJe 22/08/2013). AGRAVO REGIMENTAL – RECURSO ESPECIAL – MATÉRIA DE FATO – VERBETE N. 7 DA SÚMULA DO STJ. 1. É inadmissível o reexame de matéria de fato em sede de recurso especial, a teor do verbete nº 7 da Súmula do STJ. 2. Agravo regimental improvido.

                                                                                                               6 MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento (Vol. II). 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 570.

           

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de processos que não foram baixados naquele ano, ou seja, o total de processos que se encontram estagnados na máquina judiciária. Ao final do fragmento de texto supratranscrito, o CNJ confirma o problema do aumento excessivo da litigiosidade no País, ao afirmar que, a despeito do aumento do número de processos baixados em 2011 (7,4% em relação a 2010), houve um crescimento no estoque de processos (3,6% entre 2010 e 2011), o que comprova que houve um significativo aumento na demanda (8,8%), via de regra, da litigiosidade, o que contribui para o problema da morosidade jurisdicional, conforme já disposto ao longo do presente trabalho. Portanto, já encaminhando-se para a parte final deste capítulo introdutório, conclui-se que o mal da morosidade judiciária decorre de todas as causas acima listadas, cada qual com seu grau de influência. Em outras palavras, conforme visto acima, tem-se que a somatória dessas variáveis acabou por criar o atual cenário que vivenciamos no Poder Judiciário. Entre as diversas soluções apontadas pelos doutrinadores e pelos operadores do Direito para o problema da morosidade do Poder Judiciário (por exemplo, a pacificação social através de vias alternativas à Justiça: mediação, conciliação e arbitragem; a melhoria do aparelhamento estatal posto à disposição do Judiciário; o aumento quantitativo de recursos humanos a serviço do Judiciário; a limitação ao direito recursal; etc), abordaremos e apresentaremos no presente trabalho, sem desconsiderar a efetividade das demais, a efetividade da utilização do instrumento processual do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos neste sentido. Assim sendo, como veremos logo adiante, o julgamento por amostragem dos chamados “recursos especiais repetitivos”, notadamente por concentrar a atividade cognitiva a ser realizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o qual julgará um ou alguns poucos recursos representativos da controvérsia (chamados “paradigmais” ou “modelo”), representa um mecanismo processual que, inobstante outras soluções apresentadas pela doutrina, certamente contribuirá para a mudança da atual realidade do Poder Judiciário brasileiro. 2 O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

2.1 O RECURSO ESPECIAL 2.1.1 Introdução O recurso especial, instrumento recursal instituído no ordenamento jurídico por inovação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), constitui o meio de impugnação de decisão judicial, de competência do STJ, cuja finalidade é a garantia da uniformidade de

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interpretação e de aplicação das normas federais, o que, antes da nova disciplina constitucional, era realizado mediante recurso extraordinário perante o Supremo Tribunal Federal (STF). O recurso especial, objeto do presente estudo, portanto, possui como finalidade a preservação da unidade do ordenamento jurídico federal, visando à tutela do interesse público, que deverá sobrepujar os interesses particulares das partes recorrente e recorrida, em vista de que a legislação federal deverá ser sempre corretamente interpretada e a jurisprudência, por sua vez, devidamente uniformizada. Em outras palavras, o que justifica a interposição do recurso especial não diz respeito à sucumbência da parte, mas sim à lesividade da ordem jurídica federal decorrente da existência de uma decisão eivada de vício infraconstitucional federal. É justamente por isto que o recurso especial, conforme já pacificado na doutrina e na jurisprudência, não se destina a reexaminar matéria de fato, sendo sim um instrumento manejado para a revisão de decisões fundadas em lei federal (discussão, tão somente, de questão de direito infraconstitucional federal), de modo a assegurar que o ordenamento jurídico seja interpretado e aplicado de forma correta e uniforme em todo o País. Na doutrina de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart6, em referência aos recursos extraordinário e especial:

Conclui-se, então, que tais recursos objetivam propiciar a correta aplicação do direito objetivo. Não se discute, portanto, em recurso especial e extraordinário, matéria de fato ou apreciação feita pelo tribunal inferior a partir da prova dos autos (Súmula 279 do STF e Súmula 7 do STJ). O âmbito de discussão aqui se limita, exclusivamente, à aplicação dos direitos sobre o fato, sem mais se discutir se o fato efetivamente existiu ou não.

Neste mesmo sentido a jurisprudência do STJ traz a seguinte decisão:

PROCESSO CIVIL – RECURSO ESPECIAL – REVOLVIMENTO DE MATÉRIA DE FATO – SÚMULA 7/STJ – RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. Inviável recurso especial que demanda análise do contexto fático-probatório (7/STJ). 2. Recurso especial não conhecido. (STJ. Processo: Resp. nº 1348929-MA 2012/0215871-0. Relator(a): Min. Eliana Calmon. Julgamento: 15/08/2013. Órgão Julgador: T2 – Segunda Turma. Publicação: DJe 22/08/2013). AGRAVO REGIMENTAL – RECURSO ESPECIAL – MATÉRIA DE FATO – VERBETE N. 7 DA SÚMULA DO STJ. 1. É inadmissível o reexame de matéria de fato em sede de recurso especial, a teor do verbete nº 7 da Súmula do STJ. 2. Agravo regimental improvido.

                                                                                                               6 MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil: Processo de Conhecimento (Vol. II). 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 570.

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

proferida por Turma Recursal de Juizado Especial8. Analisando-se as finalidades implícitas presentes nas alíneas acima transcritas, podemos concluir que o recurso especial ora visa à garantia da disciplina e da vigência positiva da lei federal (alínea a), ora a sua autoridade (alínea b) e ora a sua uniformidade de interpretação (alínea c). A palavra “contrariar”, empregada na alínea a do inciso III do artigo 105 da CF/88, retro, significa “negar vigência”, isto é, representa toda e qualquer forma de ofensa ao texto legal federal, seja deixando de aplicá-lo às hipóteses nas quais o deveria ser, seja aplicando-o de forma diversa, seja, por fim, interpretando-o de modo diverso. Ademais, a expressão “lei federal”, para fins de recurso especial, abarca, além da lei ordinária federal, as demais espécies normativas, a exemplo da lei complementar federal, da lei delegada federal e da medida provisória federal. No tocante à alínea b do inciso III do artigo 105 da CF/88, cumpre esclarecer que a expressão “julgar válido” pressupõe um contraste entre o ato de governo local e o dispositivo federal violado. Logo, sendo acolhido o ato de governo local, resta prejudicada, violada, a legislação federal. Com base em tal hipótese de cabimento, portanto, poderá o STJ, via recurso especial, ser provocado para se manifestar acerca de tal contraste, decidindo, ao final, a favor do ato administrativo ou da lei federal. Por fim, em vista da função do STJ de uniformizar a jurisprudência nacional, caberá recurso especial com base no disposto no art. 105, III, c, CF/88, ou seja, em caso de divergência jurisprudencial. Esta deverá ser comprovada no recurso especial, demonstrando-se que o acórdão recorrido está em desacordo com outro acórdão (paradigma), proferido por tribunal diverso9. Ademais, com base no enunciado nº 83 da Súmula do STJ, abaixo transcrito, não caberá recurso especial, com fulcro em divergência jurisprudencial, acaso a jurisprudência do STJ esteja em conformidade com o acórdão recorrido.

STJ Súmula nº 83 - 18/06/1993 - DJ 02.07.1993 - Recurso Especial - Divergência - Orientação do Tribunal - Decisão Recorrida: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.

Em suma, conforme mencionado na seção anterior, a principal finalidade do recurso especial é justamente a defesa da integridade e da uniformidade do ordenamento jurídico federal, bem como a unificação da jurisprudência em torno de tal legislação. Com base

                                                                                                               8 Em consonância, o enunciado nº 203 da Súmula do STJ dispõe que: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais”. 9 De oportuno, cumpre mencionar que, para fins de cabimento de recurso especial com base no art. 105, III, c, CF/88, com base no enunciado nº 13 da Súmula do STJ, a "divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial", devendo o acórdão paradigma ter sido, necessariamente, proferido por tribunal diverso.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

(STJ. Processo: AgRg. no Ag. nº 1391426-MG 2011/0033134-8. Relator(a): Min. Cesar Asfor Rocha. Julgamento: 02/02/2012. Órgão Julgador: T2 – Segunda Turma. Publicação: DJe 10/02/2012).

Segue mais abaixo o teor dos enunciados nº 279 e 7 das Súmulas do STF e do STJ, respectivamente:

STF Súmula nº 279 - 13/12/1963 - Simples Reexame de Prova - Cabimento - Recurso Extraordinário: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. STJ Súmula nº 7 - 28/06/1990 - DJ 03.07.1990 - Reexame de Prova - Recurso Especial: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

Todavia, acerca da disciplina do enunciado nº 7 da Súmula do STJ, adverte Fredie Didier Jr.7 que:

No entanto, há possibilidade de recurso especial por violação às regras do direito probatório, entre as quais se incluem os dispositivos do CPC e CC que cuidam da matéria – notadamente quando tratam da valoração e da admissibilidade da prova [...] É preciso distinguir o recurso excepcional interposto para discutir a apreciação da prova, que não se admite, daquele que se interpõe para discutir a aplicação do direito probatório, que é uma questão de direito e, como tal, passível de controle por esse gênero de recurso.

Após a CF/88, portanto, o STJ passou a ser o órgão jurisdicional responsável pelo zelo e pela uniformização da interpretação e aplicação da legislação federal em todo o território nacional, sendo provocado para tanto mediante o recurso especial. 2.1.2 Hipóteses de cabimento No que diz respeito às hipóteses de cabimento do recurso especial, dispõe a CF/88, em seu artigo 105, inciso III, que:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Inicialmente, cumpre esclarecer que, nos termos acima transcritos, o cabimento do recurso especial está adstrito às decisões proferidas pelos “Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios”, em causas decididas em “única ou última instância”, não sendo possível, por óbvio, em face de decisão

                                                                                                               7 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 9. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, vol. III, 2011, p. 256-257.

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proferida por Turma Recursal de Juizado Especial8. Analisando-se as finalidades implícitas presentes nas alíneas acima transcritas, podemos concluir que o recurso especial ora visa à garantia da disciplina e da vigência positiva da lei federal (alínea a), ora a sua autoridade (alínea b) e ora a sua uniformidade de interpretação (alínea c). A palavra “contrariar”, empregada na alínea a do inciso III do artigo 105 da CF/88, retro, significa “negar vigência”, isto é, representa toda e qualquer forma de ofensa ao texto legal federal, seja deixando de aplicá-lo às hipóteses nas quais o deveria ser, seja aplicando-o de forma diversa, seja, por fim, interpretando-o de modo diverso. Ademais, a expressão “lei federal”, para fins de recurso especial, abarca, além da lei ordinária federal, as demais espécies normativas, a exemplo da lei complementar federal, da lei delegada federal e da medida provisória federal. No tocante à alínea b do inciso III do artigo 105 da CF/88, cumpre esclarecer que a expressão “julgar válido” pressupõe um contraste entre o ato de governo local e o dispositivo federal violado. Logo, sendo acolhido o ato de governo local, resta prejudicada, violada, a legislação federal. Com base em tal hipótese de cabimento, portanto, poderá o STJ, via recurso especial, ser provocado para se manifestar acerca de tal contraste, decidindo, ao final, a favor do ato administrativo ou da lei federal. Por fim, em vista da função do STJ de uniformizar a jurisprudência nacional, caberá recurso especial com base no disposto no art. 105, III, c, CF/88, ou seja, em caso de divergência jurisprudencial. Esta deverá ser comprovada no recurso especial, demonstrando-se que o acórdão recorrido está em desacordo com outro acórdão (paradigma), proferido por tribunal diverso9. Ademais, com base no enunciado nº 83 da Súmula do STJ, abaixo transcrito, não caberá recurso especial, com fulcro em divergência jurisprudencial, acaso a jurisprudência do STJ esteja em conformidade com o acórdão recorrido.

STJ Súmula nº 83 - 18/06/1993 - DJ 02.07.1993 - Recurso Especial - Divergência - Orientação do Tribunal - Decisão Recorrida: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.

Em suma, conforme mencionado na seção anterior, a principal finalidade do recurso especial é justamente a defesa da integridade e da uniformidade do ordenamento jurídico federal, bem como a unificação da jurisprudência em torno de tal legislação. Com base

                                                                                                               8 Em consonância, o enunciado nº 203 da Súmula do STJ dispõe que: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais”. 9 De oportuno, cumpre mencionar que, para fins de cabimento de recurso especial com base no art. 105, III, c, CF/88, com base no enunciado nº 13 da Súmula do STJ, a "divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial", devendo o acórdão paradigma ter sido, necessariamente, proferido por tribunal diverso.

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Por fim, cumpre aqui mencionar a existência do enunciado nº 320 da Súmula do STJ, segundo o qual “a questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento”. 2.2 A DISCIPLINA DO ART. 543-C DO CPC E O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS A Lei n° 11.672 de 8 de maio de 2008 introduziu o art. 543-C no Código de Processo Civil (CPC), dispositivo este que possibilita, em suma, a reunião de recursos especiais fundados em idêntica questão de direito (os chamados “recursos especiais repetitivos”), elegendo um ou alguns para modelo, enquanto os demais ficam sobrestados na origem aguardando o julgamento dos primeiros. Ademais, não é necessário que os atos jurisdicionais decisórios que ensejaram a interposição dos recursos especiais sejam idênticos, nem sequer importando o resultado do decisum, mas sim que tratem da mesma questão de direito, vez que as questões de fato, conforme visto anteriormente, não podem ser rediscutidas no STJ. O julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos consiste, justamente, na reunião e sobrestamento, no tribunal de origem, dos recursos especiais quando conexos em relação a uma matéria de direito específica, de modo que serão submetidos à apreciação do STJ apenas um ou alguns poucos representativos da controvérsia (recursos especiais “paradigmais” ou “modelo”), ensejando efeito vinculante ou parâmetro de julgamento aos sobrestados.

Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo. § 1o Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça.

A atribuição de sobrestar os recursos especiais repetitivos, portanto, será do Presidente do tribunal de origem, estadual ou federal, em juízo de admissibilidade, restando o julgamento dos mesmos suspenso até que seja proferido o pronunciamento definitivo do STJ. A parte que teve seu recurso especial sobrestado na origem poderá, por sua vez, acompanhar a movimentação dos recursos especiais paradigmais pelo portal eletrônico do STJ13. A seleção dos recursos paradigmais deverá ser realizada criteriosamente, dando-se preferência aos que contenham uma maior diversidade e riqueza de argumentos. Ademais, uma vez selecionado o recurso modelo, deixará o mesmo de ser visto sob a ótica das partes envolvidas, passando a representar um instrumento processual de uniformização

                                                                                                               13 Disponível em: <http://www.stj.jus.br/webstj/Processo/Repetitivo/relatorio_retorno.asp>. Acesso em: 15 ago. 2013.

           

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nisso é que se justifica o fato de que a simples sucumbência da parte não é suficiente, por si só, para fundamentar o cabimento do recurso especial, devendo haver, na decisão impugnada, afronta a uma norma federal. 2.1.3 Pressupostos de admissibilidade No que diz respeito aos pressupostos de admissibilidade do recurso especial, além dos requisitos gerais (legitimidade de partes, interesse recursal, tempestividade, entre outros) e das hipóteses de cabimento acima mencionadas, para a interposição do mesmo faz-se necessário que seja presente o prévio esgotamento recursal (inclusive os embargos infringentes, conforme enunciado nº 207 da Súmula do STJ10) e que a causa tenha sido decidida em única ou última instância. Ademais, em sede de recurso especial, existe também o requisito do prequestionamento11, isto é, deverá a questão federal ventilada em sede de recurso especial ter sido previamente suscitada e analisada no tribunal de origem. Assim sendo, enfrentada a questão federal pelo tribunal recorrido, haverá prequestionamento, sendo cabível, pois, o recurso especial perante o STJ. Acaso a questão federal suscitada pela parte não tenha sido discutida e decidida no juízo a quo, deverá aquela opor embargos de declaração para que o órgão jurisdicional se manifeste, suprindo sua omissão. Acaso esta persista, por sua vez, como bem aponta Fredie Didier Jr.12, nossos tribunais superiores possuem diferentes posicionamentos:

Conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça, consagrada no enunciado nº 211 da súmula de sua jurisprudência, não haverá prequestionamento, devendo o recorrente interpor recurso especial por violação ao art. 535, CPC, por exemplo, para forçar o pronunciamento do tribunal de origem. (…) O posicionamento do STF, porém, é diferente. Admite o STF o chamado prequestionamento ficto, que é aquele que se considera ocorrido com a simples interposição dos embargos de declaração diante da omissão judicial, independentemente do êxito desses embargos. STJ Súmula nº 211 - Recurso Especial - Questão Não Apreciada pelo Tribunal A Quo – Admissibilidade: Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal "a quo".

                                                                                                               10 STJ Súmula nº 207 - 01/04/1998 - DJ 16.04.1998 - Recurso Especial - Admissibilidade - Cabimento de Embargos Infringentes em Acórdão: É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra o acórdão proferido no tribunal de origem. 11 Há quem não visualize o prequestionamento como um “requisito”, a exemplo de Nelson Nery Jr., segundo o qual: “Trata-se, na verdade, de etapa no exame do cabimento dos recursos extraordinários. É passo na verificação da incidência do suporte fático hipotético do recurso extraordinário no suporte fático concreto; é, sobretudo, exame da tipicidade do texto constitucional." In NERY JR, Nelson; WAMBIER, Teresa (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2000, p. 855; apud DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 9. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, vol. III, 2011, p. 261. 12 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 9. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, vol. III, 2011, p. 263.

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Por fim, cumpre aqui mencionar a existência do enunciado nº 320 da Súmula do STJ, segundo o qual “a questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento”. 2.2 A DISCIPLINA DO ART. 543-C DO CPC E O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS A Lei n° 11.672 de 8 de maio de 2008 introduziu o art. 543-C no Código de Processo Civil (CPC), dispositivo este que possibilita, em suma, a reunião de recursos especiais fundados em idêntica questão de direito (os chamados “recursos especiais repetitivos”), elegendo um ou alguns para modelo, enquanto os demais ficam sobrestados na origem aguardando o julgamento dos primeiros. Ademais, não é necessário que os atos jurisdicionais decisórios que ensejaram a interposição dos recursos especiais sejam idênticos, nem sequer importando o resultado do decisum, mas sim que tratem da mesma questão de direito, vez que as questões de fato, conforme visto anteriormente, não podem ser rediscutidas no STJ. O julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos consiste, justamente, na reunião e sobrestamento, no tribunal de origem, dos recursos especiais quando conexos em relação a uma matéria de direito específica, de modo que serão submetidos à apreciação do STJ apenas um ou alguns poucos representativos da controvérsia (recursos especiais “paradigmais” ou “modelo”), ensejando efeito vinculante ou parâmetro de julgamento aos sobrestados.

Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo. § 1o Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça.

A atribuição de sobrestar os recursos especiais repetitivos, portanto, será do Presidente do tribunal de origem, estadual ou federal, em juízo de admissibilidade, restando o julgamento dos mesmos suspenso até que seja proferido o pronunciamento definitivo do STJ. A parte que teve seu recurso especial sobrestado na origem poderá, por sua vez, acompanhar a movimentação dos recursos especiais paradigmais pelo portal eletrônico do STJ13. A seleção dos recursos paradigmais deverá ser realizada criteriosamente, dando-se preferência aos que contenham uma maior diversidade e riqueza de argumentos. Ademais, uma vez selecionado o recurso modelo, deixará o mesmo de ser visto sob a ótica das partes envolvidas, passando a representar um instrumento processual de uniformização

                                                                                                               13 Disponível em: <http://www.stj.jus.br/webstj/Processo/Repetitivo/relatorio_retorno.asp>. Acesso em: 15 ago. 2013.

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origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça. § 8o Na hipótese prevista no inciso II do § 7o deste artigo, mantida a decisão divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do recurso especial.

Com a publicação do acórdão do STJ, serão produzidos os seguintes efeitos nos recursos especiais sobrestados nos tribunais de origem: a) terão seguimento denegado na hipótese dos acórdãos de origem terem a mesma orientação do STJ; ou b) serão novamente examinados, na origem, na hipótese dos acórdãos de origem terem orientação divergente do STJ. Neste último caso, na hipótese em que devam ser novamente examinados, acaso mantida a decisão no tribunal de origem, agora divergente do entendimento do STJ a respeito da matéria controvertida, submeter-se-á o recurso especial interposto ao exame de admissibilidade já instância superior.

Art. 543-C. [...] § 9o O Superior Tribunal de Justiça e os tribunais de segunda instância regulamentarão, no âmbito de suas competências, os procedimentos relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos previstos neste artigo.

Por fim, nos termos do § 9º do art. 543-C do CPC, acima transcrito, visando regulamentar o procedimento do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos, foi editada pelo STJ, também em 2008, a Resolução nº 8, cuja íntegra pode ser encontrada no portal eletrônico do referido tribunal14. O Processo Civil brasileiro vem sofrendo, ao longo dos últimos anos, modificações legislativas no sentido de oferecer maior acessibilidade, celeridade e efetividade à prestação jurisdicional, bem como também uma cada vez maior uniformidade entre os julgados, a exemplo da improcedência prima facie (art. 285-A, CPC), da súmula impeditiva de recursos (art. 518, § 1º, CPC), da repercussão geral no recurso extraordinário (arts. 543-A e 543-B, CPC), da súmula vinculante (art. 103-A, CF/88, regulamentado pela Lei nº 11.417/2006), entre outros. Antes da vigência da Lei nº 11.672/2008, um grande número de recursos especiais repetitivos, isto é, de idêntica matéria de direito, era levado a julgamento no âmbito do STJ, o que representava um obstáculo à tutela jurisdicional célere e, sobretudo, efetiva. Da análise dos dispositivos legais supramencionados, conclui-se que a aprovação da Lei nº 11.672/2008 teve como fundamento a busca por um processo mais satisfatório, representando assim um instrumento de combate à tão mencionada morosidade jurisdicional, reduzindo-se, através de uma ferramenta de concentração recursal, o número de "recursos especiais repetitivos" no âmbito do STJ. Atualmente, devido à redução do número de processos viabilizada pela nova ferramenta processual, por óbvio, cada ministro disporá de mais tempo para apreciar e formar seu

                                                                                                               14 Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/17559/Res_8_2008_PRE.pd f?sequence=4. Acesso em: 15 ago. 2013.

           

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de jurisprudência em torno de uma determinada questão de direito, isto é, de interesse de um número imensurável de pessoas, coletivamente consideradas.

Art. 543-C. [...] § 2o Não adotada a providência descrita no § 1o deste artigo, o relator no Superior Tribunal de Justiça, ao identificar que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado, poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.

O § 2° do art. 543-C prevê, portanto, que acaso a providência de sobrestamento não seja adotada na origem, poderá o ministro relator do recurso no STJ, identificando que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado, determinar a suspensão dos recursos com controvérsia estabelecida nos tribunais de origem.

Art. 543-C. [...] § 3o O relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de quinze dias, aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsia. [...] § 4o O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça e considerando a relevância da matéria, poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia. § 5o Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o disposto no § 4o deste artigo, terá vista o Ministério Público pelo prazo de quinze dias. § 6o Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

Com base no exposto, poderão os ministros do STJ, ainda, solicitar informações a respeito da controvérsia, para serem prestadas pelos tribunais de origem no prazo de 15 (quinze) dias. Tal dispositivo serve, portanto, para que o STJ tenha conhecimento da orientação dos tribunais de origem a respeito da matéria jurídica controvertida. Ademais, conforme dispuser o regimento interno do STJ e considerando a relevância da matéria, poderá admitir a manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, conforme disposto nos parágrafos 4º, 5º e 6º acima transcritos. Amicus curiae (ou “amigo da Corte”) é aquele que integrará o processo a fim de se manifestar acerca das teses jurídicas discutidas. Atualmente, representa uma espécie peculiar de intervenção de terceiros no processo, em que uma pessoa, entidade ou órgão com profundo interesse em uma questão jurídica ventilada processualmente, intervém, a priori como parte “neutra”, na qualidade de terceiro interessado na causa, para servir como fonte de conhecimento em assuntos dos mais diversos, muitas vezes estranhos ao mundo jurídico.

Art. 543-C. [...] § 7o Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na origem: I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou II - serão novamente examinados pelo tribunal de

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origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça. § 8o Na hipótese prevista no inciso II do § 7o deste artigo, mantida a decisão divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do recurso especial.

Com a publicação do acórdão do STJ, serão produzidos os seguintes efeitos nos recursos especiais sobrestados nos tribunais de origem: a) terão seguimento denegado na hipótese dos acórdãos de origem terem a mesma orientação do STJ; ou b) serão novamente examinados, na origem, na hipótese dos acórdãos de origem terem orientação divergente do STJ. Neste último caso, na hipótese em que devam ser novamente examinados, acaso mantida a decisão no tribunal de origem, agora divergente do entendimento do STJ a respeito da matéria controvertida, submeter-se-á o recurso especial interposto ao exame de admissibilidade já instância superior.

Art. 543-C. [...] § 9o O Superior Tribunal de Justiça e os tribunais de segunda instância regulamentarão, no âmbito de suas competências, os procedimentos relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos previstos neste artigo.

Por fim, nos termos do § 9º do art. 543-C do CPC, acima transcrito, visando regulamentar o procedimento do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos, foi editada pelo STJ, também em 2008, a Resolução nº 8, cuja íntegra pode ser encontrada no portal eletrônico do referido tribunal14. O Processo Civil brasileiro vem sofrendo, ao longo dos últimos anos, modificações legislativas no sentido de oferecer maior acessibilidade, celeridade e efetividade à prestação jurisdicional, bem como também uma cada vez maior uniformidade entre os julgados, a exemplo da improcedência prima facie (art. 285-A, CPC), da súmula impeditiva de recursos (art. 518, § 1º, CPC), da repercussão geral no recurso extraordinário (arts. 543-A e 543-B, CPC), da súmula vinculante (art. 103-A, CF/88, regulamentado pela Lei nº 11.417/2006), entre outros. Antes da vigência da Lei nº 11.672/2008, um grande número de recursos especiais repetitivos, isto é, de idêntica matéria de direito, era levado a julgamento no âmbito do STJ, o que representava um obstáculo à tutela jurisdicional célere e, sobretudo, efetiva. Da análise dos dispositivos legais supramencionados, conclui-se que a aprovação da Lei nº 11.672/2008 teve como fundamento a busca por um processo mais satisfatório, representando assim um instrumento de combate à tão mencionada morosidade jurisdicional, reduzindo-se, através de uma ferramenta de concentração recursal, o número de "recursos especiais repetitivos" no âmbito do STJ. Atualmente, devido à redução do número de processos viabilizada pela nova ferramenta processual, por óbvio, cada ministro disporá de mais tempo para apreciar e formar seu

                                                                                                               14 Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/17559/Res_8_2008_PRE.pd f?sequence=4. Acesso em: 15 ago. 2013.

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relação ao critério da relação entre a recorribilidade, o êxito recursal e a reforma das decisões recorridas, viabilizando a tão almejada uniformização jurisprudencial, finalidade maior idealizada quando da criação do STJ, conforme já visto.

A adoção do instrumento preconizado no art. 543-C do CPC, portanto, assim como os demais instrumentos acima mencionados, visa a conferir uma maior efetividade à resolução de demandas idênticas em sua matéria jurídica, o que contribui diretamente para uma prestação jurisdicional mais célere e uniforme, servindo, portanto, como um valioso e precioso instrumento para o combate ao tão mencionado problema da morosidade do Poder Judiciário. CONCLUSÃO Ante tudo quanto até aqui exposto no presente trabalho, cumpre encerrá-lo com algumas considerações. Como visto, nos dias atuais, um dos maiores problemas enfrentados pelo Poder Judiciário brasileiro é justamente a sua morosidade, problema este que dá azo a diversos questionamentos no sentido de reformas com vistas a propiciar, ao usuário da Justiça, uma prestação mais célere e satisfatória. Ademais, além de outros, são fatores que contribuíram e ainda contribuem no sentido do problema da morosidade jurisdicional: o aumento da litigiosidade, a estrutura obsoleta do Poder Judiciário e os problemas de recursos humanos. Foi mencionado no presente trabalho, também, o programa "Justiça em Números", do CNJ, mediante o qual é apresentado o atual panorama do Poder Judiciário pátrio, com base em informações prestadas pelos próprios tribunais participantes, acerca do número de processos julgados, baixados e pendentes, bem como do número de juízes e auxiliares a serviço do Poder Judiciário. Assim, em vista da existência do problema da morosidade do Poder Judiciário, e sem desconsiderar a eficácia de outras medidas apontadas pela doutrina e pelos operadores do Direito para a solução de tal mazela, valemo-nos do presente trabalho para apresentar o instrumento processual do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos como uma ferramenta de enorme valia para tanto. Logo, o julgamento por amostragem dos chamados "recursos especiais repetitivos" – objeto de estudo – notadamente por concentrar a atividade cognitiva a ser realizada pelo STJ, o qual julgará um ou alguns poucos recursos representativos da controvérsia (chamados “paradigmais” ou “modelo”), representa um mecanismo processual que, inobstante outras soluções apresentadas pela doutrina, certamente contribuirá para a mudança da atual realidade do Poder Judiciário.

           

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convencimento no que diz respeito à questão de direito controvertida, o que se dará por meio do chamado julgamento por amostragem, proferindo sua decisão em um recurso especial paradigmal, cuja ratio decidendi será aplicável aos demais que foram sobrestados na origem. Em outras palavras, o julgamento por amostragem dos chamados recursos especiais repetitivos viabiliza, sobretudo, a redução do número de recursos especiais a cargo do STJ para devida tramitação e julgamento, o que contribui, por conseguinte, para uma maior celeridade e uma melhor qualidade da prestação jurisdicional. Outrossim, através do sobrestamento na origem de um número imenso de recursos especiais de idêntica questão de direito ("repetitivos") com a consequente tramitação e julgamento, no STJ, de alguns poucos representativos da controvérsia ("paradigmais"), selecionados criteriosamente como tal, por óbvio, contribui para a uniformidade da decisão final, "desafoga" o próprio STJ e aproxima a prestação jurisdicional emanada pela instância superior da tão idealizada garantia fundamental da duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII) e do princípio da eficiência da administração pública (art. 37), ambos de natureza constitucional. Resgatando-se, nesta oportunidade, os critérios apontados pelo CNJ quando da verificação do problema da litigiosidade jurisdicional (que está diretamente ligado ao problema maior, da morosidade do Poder Judiciário), do programa "Justiça em Números", apresentados no capítulo inicial, quais sejam a carga de trabalho, a taxa de congestionamento e a recorribilidade e reforma das decisões, tem-se que o julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos contribui diretamente para a melhoria do atual panorama da Justiça, a mencionar:

a) Em relação à carga de trabalho: o julgamento por amostragem via recursos especiais modelo proporciona uma drástica redução do número de processos por julgador. Antes da Lei nº 11.672/2008, cada recurso especial interposto, ainda que repetitivo, era distribuído por relator, ao passo que agora, após a vigência da lei, apenas alguns poucos chegam ao conhecimento do STJ, o que contribui para uma maior celeridade e uma melhor qualidade no julgamento da questão de direito controvertida.

b) Em relação à taxa de congestionamento: em vista da enorme redução do número

de recursos especiais que chegam ao conhecimento do STJ, o julgamento por amostragem via recursos paradigmais representa uma solução ao problema da estagnação processual nos nossos tribunais, "enxugando", em específico, o STJ e, também, contribuindo para uma maior celeridade e uma melhor qualidade no julgamento da questão de direito controvertida.

c) Em relação à recorribilidade e reforma das decisões: o julgamento por

amostragem dos chamados recursos especiais repetitivos, como já visto, constitui um mecanismo de concentração recursal, o que contribui positivamente em

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             O JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO

relação ao critério da relação entre a recorribilidade, o êxito recursal e a reforma das decisões recorridas, viabilizando a tão almejada uniformização jurisprudencial, finalidade maior idealizada quando da criação do STJ, conforme já visto.

A adoção do instrumento preconizado no art. 543-C do CPC, portanto, assim como os demais instrumentos acima mencionados, visa a conferir uma maior efetividade à resolução de demandas idênticas em sua matéria jurídica, o que contribui diretamente para uma prestação jurisdicional mais célere e uniforme, servindo, portanto, como um valioso e precioso instrumento para o combate ao tão mencionado problema da morosidade do Poder Judiciário. CONCLUSÃO Ante tudo quanto até aqui exposto no presente trabalho, cumpre encerrá-lo com algumas considerações. Como visto, nos dias atuais, um dos maiores problemas enfrentados pelo Poder Judiciário brasileiro é justamente a sua morosidade, problema este que dá azo a diversos questionamentos no sentido de reformas com vistas a propiciar, ao usuário da Justiça, uma prestação mais célere e satisfatória. Ademais, além de outros, são fatores que contribuíram e ainda contribuem no sentido do problema da morosidade jurisdicional: o aumento da litigiosidade, a estrutura obsoleta do Poder Judiciário e os problemas de recursos humanos. Foi mencionado no presente trabalho, também, o programa "Justiça em Números", do CNJ, mediante o qual é apresentado o atual panorama do Poder Judiciário pátrio, com base em informações prestadas pelos próprios tribunais participantes, acerca do número de processos julgados, baixados e pendentes, bem como do número de juízes e auxiliares a serviço do Poder Judiciário. Assim, em vista da existência do problema da morosidade do Poder Judiciário, e sem desconsiderar a eficácia de outras medidas apontadas pela doutrina e pelos operadores do Direito para a solução de tal mazela, valemo-nos do presente trabalho para apresentar o instrumento processual do julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos como uma ferramenta de enorme valia para tanto. Logo, o julgamento por amostragem dos chamados "recursos especiais repetitivos" – objeto de estudo – notadamente por concentrar a atividade cognitiva a ser realizada pelo STJ, o qual julgará um ou alguns poucos recursos representativos da controvérsia (chamados “paradigmais” ou “modelo”), representa um mecanismo processual que, inobstante outras soluções apresentadas pela doutrina, certamente contribuirá para a mudança da atual realidade do Poder Judiciário.

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REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números de 2011. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-em-numeros>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico de 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default. shtm>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Código de processo civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Lei nº 11.672, de 8 de maio de 2008. Acresce o art. 543-C à Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, estabelecendo o procedimento para o julgamento de recursos repetitivos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11672.htm>. Acesso em: 15 ago. 2013. _______. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Recurso Especial nº 1348929-MA. Acórdão eletrônico. Julgado em 15/08/2013. Publicado em DJe 22/08/2013. _______. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 1391426-MG. Acórdão eletrônico. Julgado em 02/02/2012. Publicado em DJe 10/02/2012. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Vol.2. 15.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil. 9.ed. Salvador: Jus Podivm, 2011. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. Vol.2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. 2. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

           

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Neste sentido, foi apresentado o teor da Lei n° 11.672/2008, a qual introduziu o art. 543-C no CPC, dispositivo este que possibilita, em suma, a reunião de recursos especiais fundados em idêntica questão de direito, elegendo um ou alguns para modelo, enquanto os demais ficam sobrestados na origem aguardando o julgamento dos primeiros. Outrossim, o julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos consiste na reunião e sobrestamento, no tribunal de origem, dos recursos especiais quando conexos em relação a uma matéria de direito específica, seja por determinação do Presidente do tribunal a quo, seja por determinação do ministro relator do STJ (§§ 1º e 2º do art. 543-C, respectivamente), de modo que serão submetidos à apreciação do STJ apenas um ou alguns poucos representativos da controvérsia, ensejando efeito vinculante ou parâmetro de julgamento aos sobrestados. A seleção dos recursos paradigmais, ademais, deverá contemplar os que contenham uma maior diversidade e riqueza de argumentos. Como visto, uma vez selecionado o recurso modelo, deixará o mesmo de ser visto sob a ótica das partes envolvidas, passando a representar um instrumento processual de uniformização de jurisprudência em torno de uma determinada questão de direito, isto é, de interesse de um número imensurável de pessoas, coletivamente consideradas. Ao final, com a publicação do acórdão do STJ, serão produzidos os seguintes efeitos nos recursos especiais sobrestados nos tribunais de origem: a) terão seguimento denegado na hipótese dos acórdãos de origem terem a mesma orientação do STJ; ou b) serão novamente examinados, na origem, na hipótese dos acórdãos de origem terem orientação divergente do STJ. Neste último caso, na hipótese em que devam ser novamente examinados, acaso mantida pelo tribunal de origem a decisão, agora divergente do entendimento do STJ a respeito da matéria controvertida, submeter-se-á o recurso especial interposto ao exame de admissibilidade já na condição de instância superior. Em vista das pesquisas e conclusões produzidas no presente trabalho, constata-se que a aprovação da Lei nº 11.672/2008 teve como fundamento maior, entre outros, a busca por um processo mais célere e efetivo, representando assim um instrumento de combate à tão repudiada morosidade jurisdicional. Portanto, o julgamento por amostragem dos recursos especiais repetitivos viabiliza, sobretudo, a redução do número de recursos especiais a cargo do STJ para devida tramitação e julgamento, o que contribui, por conseguinte, para uma maior celeridade e uma melhor qualidade da prestação jurisdicional, viabilizando, ademais, a uniformidade do provimento final e a aproximação da prestação jurisdicional dos ideais de celeridade e efetividade preconizados na Carta Magna.

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REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números de 2011. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/eficiencia-modernizacao-e-transparencia/pj-justica-em-numeros>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico de 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default. shtm>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Código de processo civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 8 ago. 2013. _______. Lei nº 11.672, de 8 de maio de 2008. Acresce o art. 543-C à Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, estabelecendo o procedimento para o julgamento de recursos repetitivos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11672.htm>. Acesso em: 15 ago. 2013. _______. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Recurso Especial nº 1348929-MA. Acórdão eletrônico. Julgado em 15/08/2013. Publicado em DJe 22/08/2013. _______. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 1391426-MG. Acórdão eletrônico. Julgado em 02/02/2012. Publicado em DJe 10/02/2012. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Vol.2. 15.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil. 9.ed. Salvador: Jus Podivm, 2011. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. Vol.2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. 2. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR NA EECAC Maria da Penha da Silva Viana1 Almir Silveira Menelau2 RESUMO O presente trabalho trata da contribuição que a Universidade Federal Rural de Pernambuco, através da Estação Experimental Cana-de-açúcar de Carpina, realiza com a intenção de efetuar melhorias no cultivo da cana-de-açúcar no estado de Pernambuco. Essas pesquisas são desenvolvidas e repassadas para onze usinas do estado, bem como, para outras em mais quatro estados da região Nordeste. As pesquisas são desenvolvidas a partir de uma parceria público-privada com a RIDESA e mais onze universidades do Brasil, as quais efetuam o melhoramento genético, adequando a cultura da cana ao solo apropriado, verificando também as melhores condições de irrigação e drenagem, controle biológico de pragas, adubação e após, em média, doze anos as variedades são liberadas para comercialização. Através de um modelo econométrico de regressão linear múltiplo, mostrou-se que a EECAC contribui, através de suas pesquisas, para o aumento da eficiência de cultivo da cana-de-açúcar do estado de Pernambuco. Mostra-se, dessa maneira, que a UFRPE cumpre com o seu papel formador de recursos humanos nas áreas das ciências agrárias, bem como as diversas pesquisas realizadas sobre o melhoramento genético da cana-de-açúcar.

PALAVRAS-CHAVE: Cana-de-açúcar. EECAC. Melhoramento genético. UFRPE.

                                                                                                               1 Adm. Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural. E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. Dep. de Letras e Ciências Humanas (DLCH), UFRPE. E-mail: [email protected].

           

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR NA EECAC Maria da Penha da Silva Viana1 Almir Silveira Menelau2 RESUMO O presente trabalho trata da contribuição que a Universidade Federal Rural de Pernambuco, através da Estação Experimental Cana-de-açúcar de Carpina, realiza com a intenção de efetuar melhorias no cultivo da cana-de-açúcar no estado de Pernambuco. Essas pesquisas são desenvolvidas e repassadas para onze usinas do estado, bem como, para outras em mais quatro estados da região Nordeste. As pesquisas são desenvolvidas a partir de uma parceria público-privada com a RIDESA e mais onze universidades do Brasil, as quais efetuam o melhoramento genético, adequando a cultura da cana ao solo apropriado, verificando também as melhores condições de irrigação e drenagem, controle biológico de pragas, adubação e após, em média, doze anos as variedades são liberadas para comercialização. Através de um modelo econométrico de regressão linear múltiplo, mostrou-se que a EECAC contribui, através de suas pesquisas, para o aumento da eficiência de cultivo da cana-de-açúcar do estado de Pernambuco. Mostra-se, dessa maneira, que a UFRPE cumpre com o seu papel formador de recursos humanos nas áreas das ciências agrárias, bem como as diversas pesquisas realizadas sobre o melhoramento genético da cana-de-açúcar.

PALAVRAS-CHAVE: Cana-de-açúcar. EECAC. Melhoramento genético. UFRPE.

                                                                                                               1 Adm. Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural. E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. Dep. de Letras e Ciências Humanas (DLCH), UFRPE. E-mail: [email protected].

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar (Saccharum spp.), gramínea de clima tropical, tem sido cultivada em regiões de clima quente com solos férteis e de boa drenagem, com características climáticas compatíveis com as exigências técnicas da cultura. A planta é cultivada principalmente como matéria prima para produção de açúcar, álcool, fermento e inúmeros outros derivados, tanto para utilidades alimentícias como para indústria química. O centro de origem da cana-de-açúcar ainda é muito discutido, porém, alguns pesquisadores consideram que ela seja nativa das ilhas do Arquipélago da Polinésia (CESNIK, 2004). Ao ser levada para o sul da Ásia, a cana-de-açúcar foi usada de início, principalmente, para produção de xarope. A primeira evidência do açúcar em sua forma sólida data do ano 500, na Pérsia (SEGATO, 2006). A importância da cultura da cana-de-açúcar tem raízes antigas na economia brasileira. Introduzida no período colonial, a cana-de-açúcar se transformou em uma das principais culturas da economia brasileira, As primeiras mudas da planta chegaram ao Brasil por volta de 1515, sendo o primeiro engenho de açúcar construído em 1532, na Capitania de São Vicente. Mas foi no Nordeste, especialmente nas Capitanias de Pernambuco e da Bahia, que os engenhos de açúcar se multiplicaram. No século seguinte, já éramos o maior produtor e fornecedor mundial de açúcar, posição mantida até o fim do século XVII (CIB, 2009). O Brasil não é apenas o maior produtor de cana, é também o primeiro do mundo na produção de açúcar e etanol e conquista, cada vez mais, o mercado externo com o uso do biocombustível como alternativa energética. Para as exportações, o volume previsto para 2019 é de 32,6 milhões de toneladas (MAPA, 2012). O Brasil retoma à sua posição de 1º lugar no ranking mundial de produção da cultura da cana-de-açúcar. Segundo o MAPA (2012), a política nacional para a produção da cana-de-açúcar se orienta na expansão sustentável da cultura, com base em critérios econômicos, ambientais e sociais. O Programa Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar (ZAECana), regula o plantio da cana, levando em consideração o meio ambiente e a aptidão econômica da região. A partir de um estudo minucioso, são estipuladas as áreas propícias ao plantio com base nos tipos de clima, solo, biomas e necessidades de irrigação. Está previsto também um calendário para redução gradual, até 2017, da queimada da cana-de-açúcar em áreas onde a colheita é mecanizada, proibindo o plantio na Amazônia, no Pantanal, na Bacia do Alto Paraguai (BAP) e em áreas com cobertura vegetal nativa (MAPA, 2012). As variedades comerciais de cana-de-açúcar cultivadas atualmente se originam de cruzamentos realizados no início do século XX, na Ilha de Java. Àquela época, algumas

           

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ABSTRACT This paper deals with the contribution that the Federal Rural University of Pernambuco, through the Experimental Station cane sugar Carpina, performs with the intention of effecting improvements in the cultivation of sugar cane in the state of Pernambuco. These surveys are developed and passed on to eleven plants in the state, as well as for others in four states in the Northeast. The research is built on a public-private partnership with the RIDESA and eleven universities in Brazil, which perform genetic improvement, adapting to the culture of sugarcane suitable soil, also checking the best conditions of irrigation and drainage, biological control pest management, fertilization and after, on average, twelve years, the varieties are released for sale. Through an econometric model of multiple linear regression showed that the EECAC contribute, through their research, to increase the efficiency of cultivation of sugar cane in the state of Pernambuco. It is shown in this way that UFRPE fulfills its formative role of human resources in the areas of agricultural sciences, as well as various research on the genetic improvement of cane sugar.

KEYWORDS: Cane sugar. EECAC. Breeding. UFRPE.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar (Saccharum spp.), gramínea de clima tropical, tem sido cultivada em regiões de clima quente com solos férteis e de boa drenagem, com características climáticas compatíveis com as exigências técnicas da cultura. A planta é cultivada principalmente como matéria prima para produção de açúcar, álcool, fermento e inúmeros outros derivados, tanto para utilidades alimentícias como para indústria química. O centro de origem da cana-de-açúcar ainda é muito discutido, porém, alguns pesquisadores consideram que ela seja nativa das ilhas do Arquipélago da Polinésia (CESNIK, 2004). Ao ser levada para o sul da Ásia, a cana-de-açúcar foi usada de início, principalmente, para produção de xarope. A primeira evidência do açúcar em sua forma sólida data do ano 500, na Pérsia (SEGATO, 2006). A importância da cultura da cana-de-açúcar tem raízes antigas na economia brasileira. Introduzida no período colonial, a cana-de-açúcar se transformou em uma das principais culturas da economia brasileira, As primeiras mudas da planta chegaram ao Brasil por volta de 1515, sendo o primeiro engenho de açúcar construído em 1532, na Capitania de São Vicente. Mas foi no Nordeste, especialmente nas Capitanias de Pernambuco e da Bahia, que os engenhos de açúcar se multiplicaram. No século seguinte, já éramos o maior produtor e fornecedor mundial de açúcar, posição mantida até o fim do século XVII (CIB, 2009). O Brasil não é apenas o maior produtor de cana, é também o primeiro do mundo na produção de açúcar e etanol e conquista, cada vez mais, o mercado externo com o uso do biocombustível como alternativa energética. Para as exportações, o volume previsto para 2019 é de 32,6 milhões de toneladas (MAPA, 2012). O Brasil retoma à sua posição de 1º lugar no ranking mundial de produção da cultura da cana-de-açúcar. Segundo o MAPA (2012), a política nacional para a produção da cana-de-açúcar se orienta na expansão sustentável da cultura, com base em critérios econômicos, ambientais e sociais. O Programa Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar (ZAECana), regula o plantio da cana, levando em consideração o meio ambiente e a aptidão econômica da região. A partir de um estudo minucioso, são estipuladas as áreas propícias ao plantio com base nos tipos de clima, solo, biomas e necessidades de irrigação. Está previsto também um calendário para redução gradual, até 2017, da queimada da cana-de-açúcar em áreas onde a colheita é mecanizada, proibindo o plantio na Amazônia, no Pantanal, na Bacia do Alto Paraguai (BAP) e em áreas com cobertura vegetal nativa (MAPA, 2012). As variedades comerciais de cana-de-açúcar cultivadas atualmente se originam de cruzamentos realizados no início do século XX, na Ilha de Java. Àquela época, algumas

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Desenvolve também pesquisas referentes à Fitopatologia, Solos e Adubação, Controle Biológico, Irrigação e Drenagem além da pesquisa de biopolímeros, que são um material constituído a partir do bagaço da cana e serve como material cirúrgico. Desta forma, as pesquisas geradas na UFRPE através da EECAC orientam-se para o desenvolvimento da cultura canavieira na região Nordeste. Essa pesquisa tem como objetivo analisar a contribuição dos trabalhos desenvolvidos pela UFRPE, em particular, pela EECAC/UFRPE, para o crescimento da produção e eficiência produtiva da exploração canavieira no Estado de Pernambuco. 2 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada no período de abril a novembro de 2012. A princípio, utilizaram-se dados secundários obtidos em livros, sites, documentos, artigos científicos e publicações direcionados ao tema da pesquisa. A pesquisa de campo, para obtenção de dados primários, foi realizada na Estação. Durante o período de visitas coletou-se várias informações referentes à EECAC, através de questionário e entrevista aberta com a Coordenação da Estação Experimental. 2.1 PROCEDIMENTO PARA ABORDAGEM ECONOMÉTRICA DO PROBLEMA Na segunda etapa do trabalho, visando a avaliar a efetiva contribuição da Estação Experimental de Cana-de-açúcar de Carpina da Universidade Federal Rural de Pernambuco, para o desenvolvimento da exploração canavieira de Pernambuco, experimentou-se, à luz da literatura pertinente, alguns modelos: o modelo de Hayami e Ruttan (1970), através do qual tentou-se estimar os acréscimos de produtividade agrícola devido aos esforços (gastos) com a pesquisa; um segundo modelo, o de Bowden e Moris (1972), com o qual tentou-se determinar o índice de modernização da exploração canavieira e, como consequência, as medidas parciais de produtividade, a exemplo do que foi feito por Saylor (1974), na Tanzânia; tentou-se também determinar a oferta de cana-de-açúcar no Estado de Pernambuco, tendo como argumentos para estimação da função de oferta, a área de produção, a produção, a produtividade, os preços recebidos pelos produtores, o número de produtores assistidos e os investimentos realizados em pesquisa (no caso na EECAC) com cana-de-açúcar, conforme fizeram Rodigheri e Menelau (1996) para cebola, em Pernambuco. Além desses modelos analíticos, tentou-se também utilizar o modelo desenvolvido e aplicado por Menelau e outros (1995) para analisar a contribuição da pesquisa agropecuária no desenvolvimento de Pernambuco, tomando como base a cultura da cebola. Considerando os modelos tratados e com base no modelo desenvolvido por Menelau (1997), trabalhou-se com o seguinte modelo para análise da eficiência do cultivo de cana-de-açúcar em Pernambuco, tendo como base informações referentes ao período 2000 – 2010:

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

   

variedades da espécie Saccharum officinarum – rica em açúcar, mas muito suscetível a doenças – foram cruzadas com outra espécie, a Saccharum spontaneum, que é pobre em açúcar e muito rústica, ou seja, mais resistente aos problemas do campo. Os híbridos obtidos tinham maior capacidade de armazenamento de sacarose, resistência a doenças, vigor, rusticidade e tolerância a fatores climáticos. Apesar de S. officinarum e S. spontaneum terem sido as espécies que mais contribuíram para a obtenção das atuais variedades comerciais de cana-de-açúcar, outras espécies, a exemplo de S. sinense, S. barberi e S. robustum, ainda que em menor proporção, também foram importantes para a composição genética das variedades modernas de cana (CIB, 2009). No Brasil existem três grandes programas de pesquisas que trabalham com o melhoramento genético da cana-de-açúcar: Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi o precursor da pesquisa agrícola no Brasil. Em cana-de-açúcar, iniciou em 1892, com Franz W. Dafert, cientista austríaco que desenvolveu o primeiro estudo envolvendo 42 variedades de canas nobres (Saccharum officinarum,L.), em duas condições de cultivo. Centro Técnico Canavieiro (CTC) – desde 2004, a Cooperativa de Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (COPERSUCAR), mantém o CTC, associação que sucedeu o Centro de Tecnologia Copersucar, tradicional centro de pesquisa, criado em 1970, é responsável por grande desenvolvimento tecnológico no setor. Rede Interuniversitária de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (RIDESA) surgiu após a extinção do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR). Estão sendo destacadas nesse trabalho as pesquisas desenvolvidas pela Estação Experimental de Cana-de-Açúcar do Carpina (EECAC), particularmente a de melhoramento genético distribuídas pela RIDESA. A rede é composta por onze universidades (Figura 1) e absorveu todo o trabalho de pesquisa desenvolvido, até então, pelo PLANALSUCAR. 1.1 ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CARPINA

No ano de 2005 a EECAC fez o lançamento de cinco novas variedades de cana RB desenvolvidas em Pernambuco e mais duas variedades RB originárias, respectivamente, de Alagoas e Minas Gerais. Essas variedades foram estudadas e direcionadas para as condições de clima e solo próprias do Nordeste (SCIELO, 2005). A EECAC desenvolve programas de pesquisas sobre melhoramento genético para obter novas variedades mais resistentes às pragas e doenças, tornando as cultivares mais produtivas, mais adequadas ao clima, ao solo, e à topografia da região Nordeste.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Desenvolve também pesquisas referentes à Fitopatologia, Solos e Adubação, Controle Biológico, Irrigação e Drenagem além da pesquisa de biopolímeros, que são um material constituído a partir do bagaço da cana e serve como material cirúrgico. Desta forma, as pesquisas geradas na UFRPE através da EECAC orientam-se para o desenvolvimento da cultura canavieira na região Nordeste. Essa pesquisa tem como objetivo analisar a contribuição dos trabalhos desenvolvidos pela UFRPE, em particular, pela EECAC/UFRPE, para o crescimento da produção e eficiência produtiva da exploração canavieira no Estado de Pernambuco. 2 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada no período de abril a novembro de 2012. A princípio, utilizaram-se dados secundários obtidos em livros, sites, documentos, artigos científicos e publicações direcionados ao tema da pesquisa. A pesquisa de campo, para obtenção de dados primários, foi realizada na Estação. Durante o período de visitas coletou-se várias informações referentes à EECAC, através de questionário e entrevista aberta com a Coordenação da Estação Experimental. 2.1 PROCEDIMENTO PARA ABORDAGEM ECONOMÉTRICA DO PROBLEMA Na segunda etapa do trabalho, visando a avaliar a efetiva contribuição da Estação Experimental de Cana-de-açúcar de Carpina da Universidade Federal Rural de Pernambuco, para o desenvolvimento da exploração canavieira de Pernambuco, experimentou-se, à luz da literatura pertinente, alguns modelos: o modelo de Hayami e Ruttan (1970), através do qual tentou-se estimar os acréscimos de produtividade agrícola devido aos esforços (gastos) com a pesquisa; um segundo modelo, o de Bowden e Moris (1972), com o qual tentou-se determinar o índice de modernização da exploração canavieira e, como consequência, as medidas parciais de produtividade, a exemplo do que foi feito por Saylor (1974), na Tanzânia; tentou-se também determinar a oferta de cana-de-açúcar no Estado de Pernambuco, tendo como argumentos para estimação da função de oferta, a área de produção, a produção, a produtividade, os preços recebidos pelos produtores, o número de produtores assistidos e os investimentos realizados em pesquisa (no caso na EECAC) com cana-de-açúcar, conforme fizeram Rodigheri e Menelau (1996) para cebola, em Pernambuco. Além desses modelos analíticos, tentou-se também utilizar o modelo desenvolvido e aplicado por Menelau e outros (1995) para analisar a contribuição da pesquisa agropecuária no desenvolvimento de Pernambuco, tomando como base a cultura da cebola. Considerando os modelos tratados e com base no modelo desenvolvido por Menelau (1997), trabalhou-se com o seguinte modelo para análise da eficiência do cultivo de cana-de-açúcar em Pernambuco, tendo como base informações referentes ao período 2000 – 2010:

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Biológico, Irrigação e Drenagem além da pesquisa de biopolímeros. Desta forma, as pesquisas geradas na UFRPE, através da EECAC, orientam-se para o desenvolvimento da cultura canavieira na região Nordeste. No Quadro 1 são apresentadas as linhas de pesquisas trabalhadas pela EECAC na cultura da cana-de-açúcar. São tecnologias voltadas para dar assistência às usinas parceiras da Estação através da RIDESA.

Quadro 1 – Tecnologias Empregadas pela EECAC na Cana-de-açúcar

PESQUISAS

Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar

Fitopatologia

Solos e Adubação

Controle Biológico

Irrigação e Drenagem

Fonte: EECAC/UFRPE. Dados da pesquisa, 2012.

Quanto à difusão das tecnologias geradas, a Estação é uma disseminadora de conhecimento científico através de projetos de extensão desenvolvidos por alunos, desde o ensino médio até os universitários de titulação máxima, onde o apoio dado pela equipe técnica sempre se faz presente para que os mesmos atinjam suas metas e objetivos. Segundo o Coordenador da Estação, além da programação das diversas pesquisas, estágios a estudantes do Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (CODAI), assim como aos alunos da graduação, pós-graduação, orientação a novos pesquisadores, a Estação também orienta um Curso de Especialização Pós-Técnico em Cana-de-açúcar ofertado aos alunos do CODAI. Segundo ainda o Coordenador da Estação, atualmente as tecnologias disponibilizadas são empregadas para desenvolver melhor a produtividade da cultura da cana-de-açúcar nas usinas assistidas pela parceria existente entre a UFRPE/EECAC e a RIDESA. Além disso, a EECAC atende a cinco Estados da Região Nordeste promovendo assistência tecnológica através das usinas parceiras em cada um dos estados. Em Pernambuco, encontra-se o maior número de usinas, no total de onze, para as quais a Estação desenvolve suas tecnologias, contribuindo para a aproximação entre a pesquisa científica da UFRPE e o meio rural.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

   

Yi = A0 . X1

a1 . X2a2 . X3

a3 . εi , que, por transformação logarítmica fica: log Yi = log Ao + a1 . log X1 + a2 . log X2 . + a3 . log X3 + εi onde: Yi – eficiência de cultivo (relação entre a produtividade em Pernambuco e a produtividade no Brasil) (t/ha); A0 – intercepto;

X1 - representa a quantidade de recursos financeiros aplicados (água, luz, telefone em R$); X2 - quantidade de área colhida (hectares); X3 - trabalho especializado (pagamento de professores e técnicos em R$); ai - parâmetro do modelo; εi - variável aleatória de erro. A escolha do modelo foi baseada na disponibilidade de informações estatísticas sobre a atividade canavieira e na adequabilidade do mesmo ao objetivo perseguido com a pesquisa. Para tanto, tomou-se como base de informação as estatísticas oficiais sobre cana-de-açúcar em Pernambuco e no Brasil, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As demais informações foram obtidas nos relatórios técnicos da EECAC e nos relatórios e orçamentos da UFRPE. Para efeito das informações de produtores assistidos, buscaram-se estatísticas da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar de Pernambuco, no período de 2000 a 2010, por se caracterizar como um período em que todo um conjunto de esforços foi desenvolvido pela EECAC e dispor-se de registros de ações praticadas. Para se encontrar os parâmetros do Modelo de Regressão Linear Múltiplo, utilizou-se a ferramenta Análise de Dados do Programa EXCEL 2010 da MICROSOFT. 3 RESULTADOS 3.1 ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CARPINA

No ano de 2005 a EECAC fez o lançamento de cinco novas variedades de cana RB desenvolvidas em Pernambuco e mais duas variedades RB originárias, respectivamente, de Alagoas e Minas Gerais. Essas variedades foram estudadas e direcionadas para as condições de clima e solo próprias do Nordeste (SCIELO, 2005). A EECAC desenvolve programas de pesquisas sobre melhoramento genético para obter novas variedades mais resistentes às pragas e doenças, tornando as cultivares mais produtivas, mais adequadas ao clima, ao solo, e a topografia da região Nordeste. Desenvolve também pesquisas referentes à Fitopatologia, Solos e Adubação, Controle

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Biológico, Irrigação e Drenagem além da pesquisa de biopolímeros. Desta forma, as pesquisas geradas na UFRPE, através da EECAC, orientam-se para o desenvolvimento da cultura canavieira na região Nordeste. No Quadro 1 são apresentadas as linhas de pesquisas trabalhadas pela EECAC na cultura da cana-de-açúcar. São tecnologias voltadas para dar assistência às usinas parceiras da Estação através da RIDESA.

Quadro 1 – Tecnologias Empregadas pela EECAC na Cana-de-açúcar

PESQUISAS

Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar

Fitopatologia

Solos e Adubação

Controle Biológico

Irrigação e Drenagem

Fonte: EECAC/UFRPE. Dados da pesquisa, 2012.

Quanto à difusão das tecnologias geradas, a Estação é uma disseminadora de conhecimento científico através de projetos de extensão desenvolvidos por alunos, desde o ensino médio até os universitários de titulação máxima, onde o apoio dado pela equipe técnica sempre se faz presente para que os mesmos atinjam suas metas e objetivos. Segundo o Coordenador da Estação, além da programação das diversas pesquisas, estágios a estudantes do Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (CODAI), assim como aos alunos da graduação, pós-graduação, orientação a novos pesquisadores, a Estação também orienta um Curso de Especialização Pós-Técnico em Cana-de-açúcar ofertado aos alunos do CODAI. Segundo ainda o Coordenador da Estação, atualmente as tecnologias disponibilizadas são empregadas para desenvolver melhor a produtividade da cultura da cana-de-açúcar nas usinas assistidas pela parceria existente entre a UFRPE/EECAC e a RIDESA. Além disso, a EECAC atende a cinco Estados da Região Nordeste promovendo assistência tecnológica através das usinas parceiras em cada um dos estados. Em Pernambuco, encontra-se o maior número de usinas, no total de onze, para as quais a Estação desenvolve suas tecnologias, contribuindo para a aproximação entre a pesquisa científica da UFRPE e o meio rural.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Quadro 3 – Base de dados utilizada na mensuração da eficiência produtiva da Cana-de-açúcar em Pernambuco.

ANOS Y X1 X2 X3

2000 0,734 56.543,68 304.499 320.268,47

2001 0,678 68.212,52 339.350 315.221,75

2002 0,709 73.071,04 348.217 301.598,24

2003 0,699 79.324,85 359.387 310.510,98

2004 0,709 82.710,30 363.554 315.416,82

2005 0,640 87.660,70 367.022 321.116,94

2006 0,705 119.700,32 332.368 329.056,14

2007 0,709 124.144,89 356.520 324.898,05

2008 0,691 187.717,71 371.474 320.479,67

2009 0,688 172.689,65 352.276 325.365,26

2010 0,690 173.532,41 361.253 320.449,91

Fonte: IBGE, 2010; UFRPE, 2012. Dados da pesquisa, 2012.

Para construção do Quadro 3, o valor de Y foi o resultado da divisão do rendimento da cana-de-açúcar do Estado de Pernambuco pelo rendimento Nacional, segundo dados do IBGE; para a variável X1 foram coletados dados na Gerência de Contabilidade e Finanças (GCF/UFRPE), referentes às despesas fixas de custeio (água, luz e telefone) da Estação; para X2 foram utilizados dados através do site oficial do IBGE e referem-se à área colhida de cana-de-açúcar, em hectares, no estado de Pernambuco; já os dados para X3 foram fornecidos pela Superintendência de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (SUGEP) da UFRPE e referem-se ao pagamento da remuneração do pessoal (técnicos, professores, pesquisadores) da EECAC mais 35% de encargos sociais. Os valores fornecidos referem-se ao ano de 2012 e foram deflacionados pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de cada ano referente ao período da pesquisa, levando-se em consideração que não houve aumento no quantitativo de pessoal da EECAC no período analisado.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

   

No Quadro 2, observam-se as usinas parceiras da EECAC, sendo que, no Estado de Pernambuco, acontece o maior número de parcerias com a Estação, seguido da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Quadro 2 – Usinas Parceiras da EECAC

ESTADOS USINAS PARCEIRAS

MARANHÃO TG Agroindustrial (01)

PARAÍBA Destilaria Japungú, Giasa, Tabu, Monte Alegre, Miriri, Peniel e ASPLAN (07)

PERNAMBUCO Bom Jesus, Cruagi, Cucaú, Ipojuca, JB, Laranjeira, Petribu, Santa Tereza, São José,

Trapiche e União e Indústria. (11)

PIAUÍ Comvap (01)

RIO GRANDE DO NORTE

Destilaria Baia Formosa, Usina Estivas e Eco São Francisco (03)

Fonte: EECAC/UFRPE. Dados da pesquisa, 2012

3.2 A MENSURAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DA EECAC PARA A EFICIÊNCIA PRODUTIVA DA CANA-DE-AÇÚCAR EM PERNAMBUCO Conforme discutido anteriormente, ajustou-se o seguinte modelo estatístico no sentido de explicar o comportamento do rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco. Yi = A0 . X1

a1 . X2a2 . X3

a3. εi , onde: As variáveis apresentadas no Quadro 3 correspondem a: Yi – eficiência de cultivo (relação entre a produtividade em Pernambuco e a produtividade no Brasil) (t/ha); A0 – intercepto;

X1 - representa a quantidade de recursos financeiros aplicados (água, luz e telefone em R$); X2 - quantidade de área colhida (hectares); X3 - trabalho especializado (pagamento de professores e técnicos em R$); ai - parâmetro do modelo; εi - variável aleatória de erro.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Quadro 3 – Base de dados utilizada na mensuração da eficiência produtiva da Cana-de-açúcar em Pernambuco.

ANOS Y X1 X2 X3

2000 0,734 56.543,68 304.499 320.268,47

2001 0,678 68.212,52 339.350 315.221,75

2002 0,709 73.071,04 348.217 301.598,24

2003 0,699 79.324,85 359.387 310.510,98

2004 0,709 82.710,30 363.554 315.416,82

2005 0,640 87.660,70 367.022 321.116,94

2006 0,705 119.700,32 332.368 329.056,14

2007 0,709 124.144,89 356.520 324.898,05

2008 0,691 187.717,71 371.474 320.479,67

2009 0,688 172.689,65 352.276 325.365,26

2010 0,690 173.532,41 361.253 320.449,91

Fonte: IBGE, 2010; UFRPE, 2012. Dados da pesquisa, 2012.

Para construção do Quadro 3, o valor de Y foi o resultado da divisão do rendimento da cana-de-açúcar do Estado de Pernambuco pelo rendimento Nacional, segundo dados do IBGE; para a variável X1 foram coletados dados na Gerência de Contabilidade e Finanças (GCF/UFRPE), referentes às despesas fixas de custeio (água, luz e telefone) da Estação; para X2 foram utilizados dados através do site oficial do IBGE e referem-se à área colhida de cana-de-açúcar, em hectares, no estado de Pernambuco; já os dados para X3 foram fornecidos pela Superintendência de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (SUGEP) da UFRPE e referem-se ao pagamento da remuneração do pessoal (técnicos, professores, pesquisadores) da EECAC mais 35% de encargos sociais. Os valores fornecidos referem-se ao ano de 2012 e foram deflacionados pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de cada ano referente ao período da pesquisa, levando-se em consideração que não houve aumento no quantitativo de pessoal da EECAC no período analisado.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

da variação do rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco é explicada pelas variáveis constantes do modelo.

Tabela 1 – Estatística da Regressão Ajustada  

R múltiplo 0,9948

R-Quadrado 0.9129

R-quadrado ajustado 0,8900

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Além disso, observa-se na Tabela 2 que as variáveis constantes do modelo são estatisticamente significativas ao nível de 5%, pois se verifica que os valores P são inferiores a 5%.

Tabela 2 – Valores dos Estimadores  

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P

Interseção 6,5061 1,9780 0,9989 0,0003

Variável X 1 0,0446 0,0555 2,0482 0,0031

Variável X 2 -0,5439 0.1123 0,2764 0.0040

Variável X 3 -0,7036 0.1367 1,6277 0,0001

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

   EQUAÇÃO AJUSTADA logŶi = 6,5061 + 0,0446logX1 – 0,5439log X2 -0,7036 logX3 + εi

Conforme se verifica, o modelo escolhido para explicar o comportamento do rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco confirma, em parte, a assertiva proposta na hipótese, ou seja, o rendimento é explicado pelas variáveis X1, X2 e X3, haja vista o grau de ajustamento do modelo (R2 = 89,00%). Ao se analisarem em separado as relações de cada variável com a eficiência de cultivo, constatou-se que a relação linear entre o rendimento e a quantidade de recursos financeiros aplicados (relação de 60,66%) define que aumentos na quantidade de recursos aplicados provoca aumento na eficiência de cultivo. R2 = 0,6066 Y = 0,051 X + 46203

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

   

Quadro 4 – Comparação da Eficiência do Cultivo da Cana-de-açúcar em Pernambuco no período de 1990/1999 – 2000/2010

ANOS Y ANOS Y

1990 0,794 2000 0,734

1991 0,812 2001 0,678

1992 0,800 2002 0,709

1993 0,624 2003 0,699

1994 0,716 2004 0,709

1995 0,742 2005 0,640

1996 0,702 2006 0,705

1997 0,717 2007 0,709

1998 0,705 2008 0,691

1999 0,557 2009 0,688

2010 0,690

Fonte: IBGE 2010; Dados da pesquisa, 2012.

Conforme se verifica no Quadro 4, no ano de implantação da Rede Interuniversitária RIDESA/EECAC/UFRPE, a eficiência de cultivo de Pernambuco era de 0,794. Após doze meses de trabalho da Estação, ocorreu um aumento da eficiência, a qual passou para 0,812. Em média, no período 1991 a 1998 constatou-se um índice de eficiência 0,727. Ressalte-se que foi suprimido o ano de 1999, pois em tal ano ocorreu baixíssimas precipitações pluviais e, em consequência, a cana planta não pôde exuberar a sua performance. Comparando estes oitos anos da década de 1990 com oito anos da década de 2000, constata-se que o índice da primeira década foi sempre mais (ano a ano) do que o da segunda década. Isso se deve, provavelmente, à deterioração tecnológica, ou seja, nos primeiros anos de uso da tecnologia gerada pela Estação (mudas melhoradas através do micropropagação in vitro de mudas) a produtividade é mais alta, mas com o passar do tempo existe a degeneração, ou seja, é necessário replantar. Porém, em função do número de produtores beneficiados, ínfimo em relação ao total existente, não foi possível dispor-se da tecnologia adotada em todos os canaviais de Pernambuco. Assim, a tecnologia embora disponível, não foi plenamente adotada pelos produtores, o que justifica também o decréscimo do índice na segunda década. 3.2.1 Resultados do modelo Para se encontrar os parâmetros do Modelo de Regressão Linear Múltiplo, foi utilizada a ferramenta Análise de Dados do Programa EXCEL 2010 da Microsoft. Vemos na Tabela 1 que, sob o ponto de vista estatístico, o modelo de regressão estimada ajusta-se bem aos dados. O valor de R2 (ajustado) 0,8900 significa que cerca de 89,00%

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

da variação do rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco é explicada pelas variáveis constantes do modelo.

Tabela 1 – Estatística da Regressão Ajustada  

R múltiplo 0,9948

R-Quadrado 0.9129

R-quadrado ajustado 0,8900

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Além disso, observa-se na Tabela 2 que as variáveis constantes do modelo são estatisticamente significativas ao nível de 5%, pois se verifica que os valores P são inferiores a 5%.

Tabela 2 – Valores dos Estimadores  

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P

Interseção 6,5061 1,9780 0,9989 0,0003

Variável X 1 0,0446 0,0555 2,0482 0,0031

Variável X 2 -0,5439 0.1123 0,2764 0.0040

Variável X 3 -0,7036 0.1367 1,6277 0,0001

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

   EQUAÇÃO AJUSTADA logŶi = 6,5061 + 0,0446logX1 – 0,5439log X2 -0,7036 logX3 + εi

Conforme se verifica, o modelo escolhido para explicar o comportamento do rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco confirma, em parte, a assertiva proposta na hipótese, ou seja, o rendimento é explicado pelas variáveis X1, X2 e X3, haja vista o grau de ajustamento do modelo (R2 = 89,00%). Ao se analisarem em separado as relações de cada variável com a eficiência de cultivo, constatou-se que a relação linear entre o rendimento e a quantidade de recursos financeiros aplicados (relação de 60,66%) define que aumentos na quantidade de recursos aplicados provoca aumento na eficiência de cultivo. R2 = 0,6066 Y = 0,051 X + 46203

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Ao se analisar, por seu turno, a relação linear entre o rendimento e a eficiência do cultivo (relação de 20,95%), constata-se significativa informação para análise, não obstante o baixo grau de ajustamento. E não era de se esperar diferente, afinal, a eficiência de cultivo reflete o rendimento; então, eficiência versus rendimento poderia significar extrema correlação. Todavia, mesmo diante deste fato, a informação revelada é importante. Observe-se, ainda, que o gráfico revela concentração de pontos no nível de rendimento de 50 toneladas/ha, associado a eficiência em torno de hum (1,0), ou seja, quando a eficiência de Pernambuco reflete o rendimento nacional, a produtividade média estadual situa-se em 50t/ha, o que, de fato, remete à realidade do estado no período analisado. R2 = 0,2095 (15) Y = 15480 X + 40678 (16)

Gráfico 3 – Relação entre Rendimento e Eficiência do Cultivo

Fonte: Dados da pesquisa, 2012. Deste modo, embora saiba-se que a base de dados não contempla período de tempo minimamente longo para refletir um ajustamento mais eficiente e uma análise de variância assentada em graus de liberdade mais adequados, constatou-se que existem relações lineares positivas entre a eficiência de cultivo e os recursos aplicados (custeio e pessoal), quer em conjunto, quer em separado. Isto denota que o sentido de relação confirma a assertiva da hipótese, ou seja, quanto maior a quantidade de recursos aplicados em pesquisa com cana-de-açúcar, maior é a eficiência de cultivo da atividade canavieira.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

   

Gráfico 1 – Relação entre Rendimento e Recursos Financeiros Aplicados

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao analisar-se, por sua vez, a relação linear entre o rendimento e o trabalho especializado (relação de 13,46%), constatou-se resultado importante para refletir o esforço da pesquisa, ou seja, o rendimento da cana-de-açúcar aumenta na medida do aumento dos gastos com pessoal especializado. Isto denota, com clareza, que os objetivos perseguidos pela EECAC foram realmente atingidos vez que, como resultados dos seus esforços, os rendimentos da cana-de-açúcar aumentaram no tempo, conforme se verifica no Gráfico 3. R2 = 0,1346 (13) Y = 0,1475 X + 4887,7 (14)

Gráfico 2 – Relação entre Rendimento e Trabalho especializado  

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

Ao se analisar, por seu turno, a relação linear entre o rendimento e a eficiência do cultivo (relação de 20,95%), constata-se significativa informação para análise, não obstante o baixo grau de ajustamento. E não era de se esperar diferente, afinal, a eficiência de cultivo reflete o rendimento; então, eficiência versus rendimento poderia significar extrema correlação. Todavia, mesmo diante deste fato, a informação revelada é importante. Observe-se, ainda, que o gráfico revela concentração de pontos no nível de rendimento de 50 toneladas/ha, associado a eficiência em torno de hum (1,0), ou seja, quando a eficiência de Pernambuco reflete o rendimento nacional, a produtividade média estadual situa-se em 50t/ha, o que, de fato, remete à realidade do estado no período analisado. R2 = 0,2095 (15) Y = 15480 X + 40678 (16)

Gráfico 3 – Relação entre Rendimento e Eficiência do Cultivo

Fonte: Dados da pesquisa, 2012. Deste modo, embora saiba-se que a base de dados não contempla período de tempo minimamente longo para refletir um ajustamento mais eficiente e uma análise de variância assentada em graus de liberdade mais adequados, constatou-se que existem relações lineares positivas entre a eficiência de cultivo e os recursos aplicados (custeio e pessoal), quer em conjunto, quer em separado. Isto denota que o sentido de relação confirma a assertiva da hipótese, ou seja, quanto maior a quantidade de recursos aplicados em pesquisa com cana-de-açúcar, maior é a eficiência de cultivo da atividade canavieira.

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

entre eficiência (rendimento) e trabalho especializado, o que demonstra, de forma inconteste, os efeitos dos esforços de pesquisa para o rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco. É necessário ressaltar que, não obstante todo esforço desenvolvido com a pesquisa, a captação deste esforço e seu reflexo na exploração canavieira ainda requer um trabalho mais intensivo de difusão dos resultados gerados e, principalmente, a adoção destes resultados pelos produtores. É imperioso que isto seja feito, posto que o sucesso da exploração canavieira em Pernambuco passa, necessariamente, pelo esforço da pesquisa, a exemplo do que é realizado em Carpina, na Estação Experimental de Cana-de-açúcar da UFRPE. No trabalho para a aproximação entre a pesquisa científica da UFRPE e o meio rural, do qual a EECAC é parceira em Pernambuco, são envolvidas onze usinas para difusão de suas tecnologias, repassadas através da RIDESA. Tal rede que envolve onze universidades, entre as quais está inclusa a UFRPE, é desenvolvida através de uma parceria público-privada, que tem como objetivo difundir a pesquisa e a tecnologia da cana-de-açúcar em todo o território nacional. No estudo, contatou-se que na UFRPE (SEDE), no período de 2000 – 2010, houve um total de 4.470 egressos na área das ciências agrárias a partir do esforço de oito cursos de graduação. REFERÊNCIAS CESNIK, R. Melhoramento da cana de açúcar. Brasília: Embrapa Informações Tecnológicas, 2004. CONSELHO DE INFORMAÇÕES SOBRE BIOTECNOLOGIA. Guia da Cana-de-açúcar: avanço científico beneficia o país. Set.2009. Disponível em: < http://cib.org.br /wp-content/uploads/2011/10/guia_cana.pdf>. Acesso em: 10 de nov. 2011. Hayami, Y. & Ruttan, V.W. Agricultural productivity differences among countries. American Economic Review, n.60, p.895-911, 1970. MENELAU, A. S. ; GOMINHO, M. S. F. ; PIRES, C. B. ; ALBUQUERQUE, R. M. . CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA AGROPECUARIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO: A CULTURA DA CEBOLA. Pesquisa Agropecuária Pernabucana, v. 8, n.ESPECIAL, p. 81-88, 1995. MENELAU, A. S. INTRODUÇÃO Á ECONÔMIA RURAL. CAMPINA GRANDE: UFPB/PEASA/PAGTC/PB, 1997. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Disponível em: www.agricultura.gov.br. Acesso em: 20 nov. 2012.

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

   

CONCLUSÃO Considerando as discussões levadas a efeito no presente trabalho, conclui-se que a UFRPE contribui com a formação de pesquisadores em todas as áreas de conhecimento desenvolvidas na Universidade, em particular as de ciências agrárias, formando recursos humanos habilitados para o mercado de trabalho, bem como pesquisadores com condições de contribuírem com as suas pesquisas para o desenvolvimento do estado de Pernambuco. Conclui-se ainda que a EECAC, na condição de estação que desenvolve pesquisas referentes à cultura e desenvolvimento da cana-de-açúcar, tem gerado tecnologias à luz do melhoramento genético da fitopatologia, dos estudos com solos e adubação, do controle biológico, da irrigação e drenagem, que efetivamente contribuem para aumentar a produção e o rendimento da cana não somente em Pernambuco, mas em outros estados brasileiros. Com efeito, a partir dos estudos da Estação Experimental de Cana-de-açúcar de Carpina, foram lançadas cinco novas variedades de cana RB e mais duas originadas de Alagoas e Minas Gerais, mas que foram adaptadas às condições do território de cultivo em Pernambuco. Além dessas variedades, a EECAC contribuiu significativamente para as pesquisas envolvendo pragas e doenças da cana-de-açúcar, bem como outras pesquisas envolvendo solos e adubação, irrigação e drenagem. Como consequência deste esforço de pesquisa (cujos resultados se estendem a cinco estados da Região Nordeste: Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte), no caso particular de Pernambuco, foi constatado que a produtividade média da cana-de-açúcar no período de 2000 – 2010 foi de 51.868,36 t/ha, sendo assim 3,97% superior a produtividade do início da década, tendo-se, todavia, anos (2007 e 2009) em que o rendimento apresentou-se em torno de 10,58% superior aquele do início da década. Além disso, a cana-de-açúcar explorada em Pernambuco apresentou eficiência de cultivo médio de 0,69, com evolução no período 2000 – 2010, significativa comparando-se os demais estados da região nordeste. Por outro lado, a pesquisa também constatou que a eficiência de cultivo da cana-de-açúcar em Pernambuco pode ser explicada pela quantidade de recursos aplicados em pesquisa, a dimensão da área colhida e pela quantidade de trabalho especializado. Deste modo, a eficiência de cultivo da cana-de-açúcar em Pernambuco, ao ser descrito pelo modelo econométrico Yi = A0 . X1

a1 . X2a2 . X3

a3. εi, demonstra que as variáveis referentes ao esforço de pesquisa (recursos aplicados, área de colhida e quantidade de trabalho especializado) explicam 89% da eficiência de cultivo da cana-de-açúcar em Pernambuco, no período analisado. Ressalte-se que, ao se analisar em separado a contribuição das variáveis selecionadas sobre a eficiência, constatou-se que esta cresce diretamente com a quantidade de recursos aplicados na pesquisa. Além disso, constatou-se que existe uma relação positiva direta

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             CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DA UFRPE PARA A CULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NA EECAC

entre eficiência (rendimento) e trabalho especializado, o que demonstra, de forma inconteste, os efeitos dos esforços de pesquisa para o rendimento da cana-de-açúcar em Pernambuco. É necessário ressaltar que, não obstante todo esforço desenvolvido com a pesquisa, a captação deste esforço e seu reflexo na exploração canavieira ainda requer um trabalho mais intensivo de difusão dos resultados gerados e, principalmente, a adoção destes resultados pelos produtores. É imperioso que isto seja feito, posto que o sucesso da exploração canavieira em Pernambuco passa, necessariamente, pelo esforço da pesquisa, a exemplo do que é realizado em Carpina, na Estação Experimental de Cana-de-açúcar da UFRPE. No trabalho para a aproximação entre a pesquisa científica da UFRPE e o meio rural, do qual a EECAC é parceira em Pernambuco, são envolvidas onze usinas para difusão de suas tecnologias, repassadas através da RIDESA. Tal rede que envolve onze universidades, entre as quais está inclusa a UFRPE, é desenvolvida através de uma parceria público-privada, que tem como objetivo difundir a pesquisa e a tecnologia da cana-de-açúcar em todo o território nacional. No estudo, contatou-se que na UFRPE (SEDE), no período de 2000 – 2010, houve um total de 4.470 egressos na área das ciências agrárias a partir do esforço de oito cursos de graduação. REFERÊNCIAS CESNIK, R. Melhoramento da cana de açúcar. Brasília: Embrapa Informações Tecnológicas, 2004. CONSELHO DE INFORMAÇÕES SOBRE BIOTECNOLOGIA. Guia da Cana-de-açúcar: avanço científico beneficia o país. Set.2009. Disponível em: < http://cib.org.br /wp-content/uploads/2011/10/guia_cana.pdf>. Acesso em: 10 de nov. 2011. Hayami, Y. & Ruttan, V.W. Agricultural productivity differences among countries. American Economic Review, n.60, p.895-911, 1970. MENELAU, A. S. ; GOMINHO, M. S. F. ; PIRES, C. B. ; ALBUQUERQUE, R. M. . CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA AGROPECUARIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO: A CULTURA DA CEBOLA. Pesquisa Agropecuária Pernabucana, v. 8, n.ESPECIAL, p. 81-88, 1995. MENELAU, A. S. INTRODUÇÃO Á ECONÔMIA RURAL. CAMPINA GRANDE: UFPB/PEASA/PAGTC/PB, 1997. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Disponível em: www.agricultura.gov.br. Acesso em: 20 nov. 2012.

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE Vanessa Priscila Mamed Ali1 Almir Silveira Menelau2 RESUMO As feiras livres dos produtos agrícolas são condicionadas ao sistema de organização e produção dos mercados, dos municípios que se localizam. A maior parte dos produtos hortifrutigranjeiros vendidos nas principais feiras livres do Recife são proveniente da CEASA. Neste contexto o presente artigo busca comparar os preços dos produtos hortifrutigranjeiros mais comercializados em quatro feiras livres do Recife (Afogados, Casa Amarela, Cordeiro e São José). Os resultados foram obtidos em forma de quadros e constatou-se que os preços das frutas, legumes e verduras praticados nas feiras livres associadas aos mercados públicos do Recife apresentam valores semelhantes. Esta semelhança é devida a origem dos seus que é proveniente da CEASA e os feirantes têm como base os preços estabelecidos pela CEASA. PALAVRAS-CHAVE: Feiras livres. Comercialização. Frutas, legumes e verduras. ABSTRACT The open street markets of agricultural products are conditioned to the system of organization and markets production, from municipalities they are located. Most horticultural products sold in main open street markets of Recife are from the CEASA. In this context, this paper aims to compare the prices of horticultural products more commercialized in four open street markets of Recife (Afogados, Casa Amerela, Cordeiro and São José). The results were obtained in the form of frames and found that the prices of fruits and vegetables practiced in the open street markets associated with public markets of Recife have similar values. This similarity is due to the source of products that are sold in open street markets, much of it comes from the CEASA and fair dealers are based on prices set by CEASA. KEYWORDS: Fairs. Marketing. Fruits and vegetables.

                                                                                                               1 Eng. Agr. Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural. E-mail: [email protected]. 2 Eng. Agr., Dr. Prof. da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. E-mail: [email protected].

           

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MORIS, Jon R. Moris; BOWDEN, E. Social Characteristics of Progressive Baganda Farmers. East African J. of Rural Development, Vol. 2, no. 1, 1972. RODIGHERI, H. R. ; MENELAU, A. S. . DETERMINANTES DA OFERTA DE CEBOLA DE PERNAMBUCO.. Pesquisa Agropecuaria de Pernambuco, v. 9, n.01, 1996. SAYLOR, G. Farm Level Cotton Yields and The Research and Extension Services in Tanzania. East african jornal of rural development, v.2, n.1, 1974. SEGATO, S. V.(Org.). Atualização em produção em cana-de-açúcar. Piracicaba: CP, 2006.

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE Vanessa Priscila Mamed Ali1 Almir Silveira Menelau2 RESUMO As feiras livres dos produtos agrícolas são condicionadas ao sistema de organização e produção dos mercados, dos municípios que se localizam. A maior parte dos produtos hortifrutigranjeiros vendidos nas principais feiras livres do Recife são proveniente da CEASA. Neste contexto o presente artigo busca comparar os preços dos produtos hortifrutigranjeiros mais comercializados em quatro feiras livres do Recife (Afogados, Casa Amarela, Cordeiro e São José). Os resultados foram obtidos em forma de quadros e constatou-se que os preços das frutas, legumes e verduras praticados nas feiras livres associadas aos mercados públicos do Recife apresentam valores semelhantes. Esta semelhança é devida a origem dos seus que é proveniente da CEASA e os feirantes têm como base os preços estabelecidos pela CEASA. PALAVRAS-CHAVE: Feiras livres. Comercialização. Frutas, legumes e verduras. ABSTRACT The open street markets of agricultural products are conditioned to the system of organization and markets production, from municipalities they are located. Most horticultural products sold in main open street markets of Recife are from the CEASA. In this context, this paper aims to compare the prices of horticultural products more commercialized in four open street markets of Recife (Afogados, Casa Amerela, Cordeiro and São José). The results were obtained in the form of frames and found that the prices of fruits and vegetables practiced in the open street markets associated with public markets of Recife have similar values. This similarity is due to the source of products that are sold in open street markets, much of it comes from the CEASA and fair dealers are based on prices set by CEASA. KEYWORDS: Fairs. Marketing. Fruits and vegetables.

                                                                                                               1 Eng. Agr. Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural. E-mail: [email protected]. 2 Eng. Agr., Dr. Prof. da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. E-mail: [email protected].

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

de comercialização. Mesmo representando menos de 15 % do total de pontos de venda (MENDES, 2007).

Entende-se por comercialização o desempenho de todas as atividades necessárias ao atendimento das necessidades e desejos dos consumidores e produtores expressados no mercados. Planeja-se o volume da produção, efetua-se a transferência de propriedade de produtos, prover-se meios para a sua distribuição física e facilita-se a operação de todo o processo de mercado. (BRANDT; OLIVEIRA, 1979, p. 71).

Comercialização agrícola é uma série de atividades de transformações e adição de utilidade em que bens e serviços passam dos produtores para os consumidores (MARQUES; AGUIAR, 1993). A escolha do mecanismo de comercialização envolve ações que se adaptem à escala, ao tipo de qualificação do produtor, ao relacionamento do produtor com os fornecedores, clientes e prestadores de serviços e à existência de estratégia competitiva a ser adotada. A comercialização inicia-se com a produção, passando pelo beneficiamento, embalagem, compra, venda e atividades de logística, o que, muitas vezes, é difícil para os produtores que apenas pretendem entregar os seus produtos aos atravessadores, para estes poderem comercializar (SEPULCRI; TRENTO, 2010). Os produtores necessitam operar com volume estável de produção, qualidade do produto e regularidade na oferta, pois os consumidores precisam ter esses produtos diariamente, e os fornecedores devem estar preparados para essa demanda. Para comercializar os seus produtos em feiras livres (Frutas, Legumes e Verdura - FLV), muitos agricultores sofrem dificuldades em definir preços em seus produtos, porque não conhecem as regras de mercado, principalmente quando estes produtos são perecíveis. Estes produtos muitas vezes são colhidos fora do ponto de colheita, são mal classificados, são embalados indevidamente, não têm rastreabilidade e são transportados incorretamente (TRENTO et al., 2011). Na comercialização de produtos agrícolas que compreende o deslocamento do produto de espaço e tempo somente se materializa quando muda a posse do produto, os indivíduos que efetuam essa atividade são remunerados pelos serviços prestados (realizam os processos produtivos e comerciais) para que esses produtos encontrem-se disponíveis na época, local e na forma desejada pelo consumidor. A comercialização ocorre no mercado, que se caracteriza pelo local onde os atores da demanda e da oferta dos produtos oriundos da agricultura se encontram para formar o preço de mercado e onde ocorre a transferência de bens para o consumidor final em troca de valor monetário (MARQUES; AGUIAR, 1993). Os canais de comercialização também são conhecidos como canais de distribuição. Um canal de distribuição é um conjunto de organizações interdependentes cuja função é disponibilizar os produtos para uso e consumo (KOTLER, 2000). A distribuição de

           

Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

   

INTRODUÇÃO É comum encontrar várias feiras livres espalhadas no Brasil, sendo estas um lugar público, onde pessoas comercializam e compram produtos. É um espaço onde circulam culturas, tradições e bens. A feira é também considerada uma exposição comercial, industrial, tecnológica, cultural ou recreativa. Os produtos agrícolas comercializados, em sua maioria, são provenientes da agricultura familiar (AF). Essas feiras recebem pouco ou nenhum apoio do governo. Segundo Gonzaga (1994), as feiras livres surgiram há muito tempo quando produtores agrícolas se encontravam em algum lugar pré-determinado da cidade para realizar as trocas dos produtos provenientes de excedente de produção (excesso de uns contra a falta de outros) Com o passar do tempo o número de pessoas foi aumentando, e o poder público se apercebeu da enorme quantidade de pessoas que frequentavam a feira e interveio com o objetivo de fiscalizar, organizar e cobrar impostos. Com o passar dos anos, apesar da existência de supermercados, as feiras livres continuam sendo as grandes responsáveis pela distribuição e comercialização de alimentos junto à população urbana, principalmente os mais carentes. No interior do País, as feiras livres funcionam como principal “lócus” de comércio, pois é um local onde as pessoas se sentem à vontade para discutir os preços, comprar do vendedor com que têm melhor afinidade, pagar o preço que acham justo e ter a opção de escolha sobre o que comprar. É necessário destacar a importância das feiras livres no mercado como um todo. A falta do seu planejamento eficaz coloca em risco os consumidores, que adquirem produtos em condições precárias, e para os próprios vendedores, que trabalham com o mínimo de condições de higiene das instalações. Mesmo com essa situação de visível abandono, as feiras livres continuam desempenhando um papel de extrema importância na oferta de alimentos que, pela sua estrutura de comércio a varejo e baixos custos operacionais, provê o atendimento às necessidades das populações de menor renda. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO Nos anos 70 ocorreram várias transformações nos canais de comercialização de alimentos no Brasil, uma vez que 70 % dos canais tradicionais de vendas de produtos alimentícios eram compostos por feiras livres, mercearias e mercados. No início da decada de 80 esta realidade mudou; supermercados e hipermercados com áreas enormes passaram a responder por três quartos do volume de oferta contra 25% dos antigos canais

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

de comercialização. Mesmo representando menos de 15 % do total de pontos de venda (MENDES, 2007).

Entende-se por comercialização o desempenho de todas as atividades necessárias ao atendimento das necessidades e desejos dos consumidores e produtores expressados no mercados. Planeja-se o volume da produção, efetua-se a transferência de propriedade de produtos, prover-se meios para a sua distribuição física e facilita-se a operação de todo o processo de mercado. (BRANDT; OLIVEIRA, 1979, p. 71).

Comercialização agrícola é uma série de atividades de transformações e adição de utilidade em que bens e serviços passam dos produtores para os consumidores (MARQUES; AGUIAR, 1993). A escolha do mecanismo de comercialização envolve ações que se adaptem à escala, ao tipo de qualificação do produtor, ao relacionamento do produtor com os fornecedores, clientes e prestadores de serviços e à existência de estratégia competitiva a ser adotada. A comercialização inicia-se com a produção, passando pelo beneficiamento, embalagem, compra, venda e atividades de logística, o que, muitas vezes, é difícil para os produtores que apenas pretendem entregar os seus produtos aos atravessadores, para estes poderem comercializar (SEPULCRI; TRENTO, 2010). Os produtores necessitam operar com volume estável de produção, qualidade do produto e regularidade na oferta, pois os consumidores precisam ter esses produtos diariamente, e os fornecedores devem estar preparados para essa demanda. Para comercializar os seus produtos em feiras livres (Frutas, Legumes e Verdura - FLV), muitos agricultores sofrem dificuldades em definir preços em seus produtos, porque não conhecem as regras de mercado, principalmente quando estes produtos são perecíveis. Estes produtos muitas vezes são colhidos fora do ponto de colheita, são mal classificados, são embalados indevidamente, não têm rastreabilidade e são transportados incorretamente (TRENTO et al., 2011). Na comercialização de produtos agrícolas que compreende o deslocamento do produto de espaço e tempo somente se materializa quando muda a posse do produto, os indivíduos que efetuam essa atividade são remunerados pelos serviços prestados (realizam os processos produtivos e comerciais) para que esses produtos encontrem-se disponíveis na época, local e na forma desejada pelo consumidor. A comercialização ocorre no mercado, que se caracteriza pelo local onde os atores da demanda e da oferta dos produtos oriundos da agricultura se encontram para formar o preço de mercado e onde ocorre a transferência de bens para o consumidor final em troca de valor monetário (MARQUES; AGUIAR, 1993). Os canais de comercialização também são conhecidos como canais de distribuição. Um canal de distribuição é um conjunto de organizações interdependentes cuja função é disponibilizar os produtos para uso e consumo (KOTLER, 2000). A distribuição de

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

Tipo II: o produtor vende diretamente ao consumidor; é o caso alguns feirantes que vendem os seus produtos diretamente aos consumidores finais.

Figura 02 – Canal de Distribuição

Fonte: Hoffmann e outros, 1987. Segundo Hoffmann e outros (1987), o canal de distribuição é afetado por vários fatores:

a) Natureza do mercado: mercadorias de consumo restrito são intermediadas por canais de comercialização curto, e produtos que exigem um maior trabalho e são mais consumidos precisam adotar um canal de comercialização mais longo. Quanto maior for o volume médio de vendas por consumidor, menor é a possibilidade de realizar a comercialização direta. O prolongamento do canal de comercialização é favorecido pelo caractér estacional das vendas.

b) Natureza do produto: produtos mais perecíveis exigem canais de comercialização mais curtos, os locais de produção não podem ser muito distantes dos centros de consumo para evitar perdas. Se o valor do produto unitário for alto, maiores são as chances de sucesso na comercialização direta, pois o lucro é proveniente da venda de pequenas quantidades desse produto.

2.2 FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS FEIRAS LIVRES De acordo com Dias (2006, p. 254), “[...] preço é o montante pago em troca do uso de um beneficio proporcionado por um produto ou serviço”. Para Churchill e Peter (2005, p. 314) “[...] preço é o valor monetário do bem ou serviço. É expressopelo montante financeiro que o consumidor desembolsa para adquirir à propriedade ou o direito de uso de um determinado produto”. O preço do produto depende da oferta e da procura. O número de consumidores e de concorrentes e os custos são outras influências que incidem na procura e na oferta (CALLADO, 2007). No processo de formação de preço, o agente de oferta busca materializar (em longo prazo), o máximo de lucro possível por unidade de produto vendido. Depois deve buscar a otimização lucrativa do mercado, ou seja, controlar uma fatia maior no mercado com o máximo de lucratividade (SOUZA; DIEHL, 2009). Considerando que os preço dos produtos agrícolas são inconstantes, os produtores necessitam ficar atentos para que em cada ciclo produtivo o mercado lhes proporcione melhores rendimentos (OLIVEIRA, 2010). Isto porque o preço é definido pelo mercado, mas o consumidor é quem decide se o preço pago por ele é justo ou não; são os consumidores que analisam se o valor cobrado pelo produto ou serviço compensa as vantagens de adquiri-lo (CALLADO, 2007).

           

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hortifruti pode ser realizada de várias formas até chegar ao consumidor final: compra direta no polo agrícola por meio de feiras livres, quitandas, sacolões, supermercados, e por agentes que facilitam a comercialização, chamados atravessadores. O produtor ou fabricante é o elo inicial do canal. É ele que dá origem ao produto que está sendo vendido, criando utilidade de forma (MACHADO; SILVA, 2003). O canal de distribuição é o caminho percorrido pela mercadoria desde o produtor agrícola até o consumidor final. É a sequência de mercados pelos quais passa o produto, sob a ação de diversos intermediários, até atingir a região de consumo. O canal de distribuição mostra como os intermediários se organizam e se agrupam para o exercício da transferência da produção ao consumo (MENDES, 2007, p. 54). Segundo Colla e outros (2007), “[...] a estrutura do canal varia de acordo com o ramo, a localização, o tamanho de mercado, entre outras variáveis”. Quanto maior o grau de serviços que o produto exige, maiores tendem a ser os níveis de intermediários utilizados e a distância com o consumidor final. O nível do canal é determinado pela extensão do canal. Cada patamar de intermediação na cadeia de suprimentos forma um nível do canal. Quanto mais intermediários estiverem no processo, mais níveis terá o canal e mais complexo ele se torna (NOVAES, 2007). Para Novaes (2007), a classificação do canal de comercialização ou de distribuição depende da sua complexidade e do seu comprimento. Os tipos mais comuns de canais de distribuição são: Tipo I: nestas operações para fazer o produto alcançar o consumidor, são utilizados os intermediários: a complexibilidade do canal é variada, dependendo do número de operações e de pessoas envolvidas.

Figura 01 – Modelos de Distribuição

Fonte: Hoffmann e outros, 1987.

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Tipo II: o produtor vende diretamente ao consumidor; é o caso alguns feirantes que vendem os seus produtos diretamente aos consumidores finais.

Figura 02 – Canal de Distribuição

Fonte: Hoffmann e outros, 1987. Segundo Hoffmann e outros (1987), o canal de distribuição é afetado por vários fatores:

a) Natureza do mercado: mercadorias de consumo restrito são intermediadas por canais de comercialização curto, e produtos que exigem um maior trabalho e são mais consumidos precisam adotar um canal de comercialização mais longo. Quanto maior for o volume médio de vendas por consumidor, menor é a possibilidade de realizar a comercialização direta. O prolongamento do canal de comercialização é favorecido pelo caractér estacional das vendas.

b) Natureza do produto: produtos mais perecíveis exigem canais de comercialização mais curtos, os locais de produção não podem ser muito distantes dos centros de consumo para evitar perdas. Se o valor do produto unitário for alto, maiores são as chances de sucesso na comercialização direta, pois o lucro é proveniente da venda de pequenas quantidades desse produto.

2.2 FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS FEIRAS LIVRES De acordo com Dias (2006, p. 254), “[...] preço é o montante pago em troca do uso de um beneficio proporcionado por um produto ou serviço”. Para Churchill e Peter (2005, p. 314) “[...] preço é o valor monetário do bem ou serviço. É expressopelo montante financeiro que o consumidor desembolsa para adquirir à propriedade ou o direito de uso de um determinado produto”. O preço do produto depende da oferta e da procura. O número de consumidores e de concorrentes e os custos são outras influências que incidem na procura e na oferta (CALLADO, 2007). No processo de formação de preço, o agente de oferta busca materializar (em longo prazo), o máximo de lucro possível por unidade de produto vendido. Depois deve buscar a otimização lucrativa do mercado, ou seja, controlar uma fatia maior no mercado com o máximo de lucratividade (SOUZA; DIEHL, 2009). Considerando que os preço dos produtos agrícolas são inconstantes, os produtores necessitam ficar atentos para que em cada ciclo produtivo o mercado lhes proporcione melhores rendimentos (OLIVEIRA, 2010). Isto porque o preço é definido pelo mercado, mas o consumidor é quem decide se o preço pago por ele é justo ou não; são os consumidores que analisam se o valor cobrado pelo produto ou serviço compensa as vantagens de adquiri-lo (CALLADO, 2007).

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

As variações estacionais dos preços dos produtos agrícolas, por sua vez, referem-se à variação cíclica entre as estações do ano. Na época em que a produção é maior (ou época de safra), o preço é baixo, e vai aumentando à medida que a produção torna-se mais escassa. A amplitude da variação do preço do produto depende da intensidade das variações no volume de produção ao longo do ano, da perecibilidade do produto e dos custos de armazenamento (HOFFMANN et al., 1989). As outras variações dos preços dos produtos agrícolas ocorrem em produtos que apresentam colheitas anuais. Quando a safra é pequena, o preço dos produtos é alto; isso faz com que os produtores se programem para produzir mais no ano seguinte. Como consequência do aumento da oferta, o preço cai. Em função disso, muitos produtores deixam de produzir, fazendo com que no ano seguinte o preço se eleve e o ciclo se repita. Estas variações da produção também podem ocorrer devido ao aparecimento de intempéries climáticas, ocorrência de pragas e/ou doenças e variações na demanda de mercado (HOFFMANN et al., 1989). 2.3 PRODUÇÃO DE FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS (FLV) Segundo Amaral (2007), o Brasil é o terceiro maior produtor de FLV, e o seu consumo é de 86 quilos per capita por ano, ficando atrás da China e do Japão. No que diz respeito à produção de frutas, em 2005, o Brasil destacou-se atingindo a cifra de 38,2 milhões de toneladas (IBGE, 2008). Apesar da grande produção nacional, Farina (2002) constatou que somente 44% da populacão urbana brasileira consome frutas e 58% consome outros vegetais. Todavia, com o passar dos anos, esse percentual vem aumentando devido a mudanças da sociedade em relação à alimentação. De modo geral, a população se preocupa cada vez mais com a saúde e bem-estar, e como consequência procura alimentos mais saudáveis, incluindo em seu cardapio diário maior quantidade de FLV. No Brasil, a perda de FLV é bastante elevada. No caso da banana e do mamão, perde-se 40%; todavia, existem outros produtos em que, para cada dois produtos colhidos, um é perdido (BORGES, 1997). Os FLV são produzidos em grandes quantidades, e por isso há uma difícil padronização, o que torna incerta a sua qualidade, que depende do clima favorável, qualidade das sementes, controle de pragas e doenças, entre outros fatores que contribuem para que o produto satisfaça ao seu consumidor (PASSADOR, 2006). Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a produção brasileira de FLV é a terceira maior no mundo, estimada em 43 milhões de toneladas, perdendo apenas para a China e Índia. Farina (2002), na sua pesquisa, ressaltou que cerca de 70% do total demandado está concentrado na região metropolitana de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. E no Brasil a maior comercialização destes produtos é feita em feiras livres.

           

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Para Sato, Martins e Bueno (2007), os preços das Frutas, Legumes e Verduras (FLV) variam muito devido às alterações nas condições climáticas, sazonalidade, e à perecibilidade, que é o fator principal. Estes produtos sofrem variações significativas de preços em varias épocas do ano. A perecibilidade das frutas, legumes e verduras na comercialização acontece sempre, e não há garantia para realização de compra no mercado futuro (OLIVEIRA, 2010). Nas feiras livres, para a formação de preço, usa-se muito o metodo de mark-up. Segundo Churchill e Peter (2005), o mark-up é uma forma de adicionar uma porcentagem padrão ao custo do produto para chegar a um preço de venda; também corresponde a uma taxa aplicada sobre os gastos realizados para obter determinado produto. Para Reis e Carvalho (2007, p. 135).

[...] mark-up é um conceito de margem, em que a base é sempre o preço de compra em cada nível ou instituição de mercado; o que se objetiva é verificar o acréscimo do preço em cada “ponto” do mercado, em relação a seu preço de compra.

Sua função principal é de facilitar o preço de venda das mercadorias, tendo em conta os custos de aquisição; o mark up é um indicador para o preço de venda (THESE; MATOS; BRAMBILLA, 2010). Os preços dos produtos agrícolas sofrem alteracões constantes. Estas podem ser diárias, semanais ou mensais. Os preços destes produtos opõem-se visivelmente aos preços de bens industriais, visto que os produtos agrícolas têm uma variação maior. Isto acontece por causa da estacionalidade da produção agrícola; por isso estes produtos estão sujeitos ao preço estabelecido pelo mercado (HOFFMANN et al., 1989). Os mesmos autores classificam as variações nos preços dos produtos agrícolas em: prazo muito curto, estacionais, outras variações cíclicas e variações seculares. As variações de preços dos produtos agrícolas no prazo muito curto ocorrem com o produto já no mercado. Segundo Lefwitch (1991), essas variações referem-se a situações nas quais as ofertas ou produtos já estão disponíveis. Como o mercado de varejo de FLV, os varejistas compram produtos perecíveis; uma vez adquiridas, as mercadorias devem ser vendidas rápido, antes que se estraguem. Estas variações ocorrem em período inferior a um mês, provocadas por alterações dos hábitos e costumes de compradores e vendedores, no mercado. O que comumente ocorre em feiras livres é que os preços dos FLV variam de um dia para outro (HOFFMANN et al., 1989).

O período do mercado (curtíssimo prazo), refere-se ao período no qual a oferta de mercado do produto é completamente fixa. Quando se trata de produtos perecíveis, os custos de produção são irrevelantes na determinação do preço, e toda a oferta do produto é oferecida para a venda a qualquer preço que se possa alcançar. (SALVATORI, 1996, p. 253).

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As variações estacionais dos preços dos produtos agrícolas, por sua vez, referem-se à variação cíclica entre as estações do ano. Na época em que a produção é maior (ou época de safra), o preço é baixo, e vai aumentando à medida que a produção torna-se mais escassa. A amplitude da variação do preço do produto depende da intensidade das variações no volume de produção ao longo do ano, da perecibilidade do produto e dos custos de armazenamento (HOFFMANN et al., 1989). As outras variações dos preços dos produtos agrícolas ocorrem em produtos que apresentam colheitas anuais. Quando a safra é pequena, o preço dos produtos é alto; isso faz com que os produtores se programem para produzir mais no ano seguinte. Como consequência do aumento da oferta, o preço cai. Em função disso, muitos produtores deixam de produzir, fazendo com que no ano seguinte o preço se eleve e o ciclo se repita. Estas variações da produção também podem ocorrer devido ao aparecimento de intempéries climáticas, ocorrência de pragas e/ou doenças e variações na demanda de mercado (HOFFMANN et al., 1989). 2.3 PRODUÇÃO DE FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS (FLV) Segundo Amaral (2007), o Brasil é o terceiro maior produtor de FLV, e o seu consumo é de 86 quilos per capita por ano, ficando atrás da China e do Japão. No que diz respeito à produção de frutas, em 2005, o Brasil destacou-se atingindo a cifra de 38,2 milhões de toneladas (IBGE, 2008). Apesar da grande produção nacional, Farina (2002) constatou que somente 44% da populacão urbana brasileira consome frutas e 58% consome outros vegetais. Todavia, com o passar dos anos, esse percentual vem aumentando devido a mudanças da sociedade em relação à alimentação. De modo geral, a população se preocupa cada vez mais com a saúde e bem-estar, e como consequência procura alimentos mais saudáveis, incluindo em seu cardapio diário maior quantidade de FLV. No Brasil, a perda de FLV é bastante elevada. No caso da banana e do mamão, perde-se 40%; todavia, existem outros produtos em que, para cada dois produtos colhidos, um é perdido (BORGES, 1997). Os FLV são produzidos em grandes quantidades, e por isso há uma difícil padronização, o que torna incerta a sua qualidade, que depende do clima favorável, qualidade das sementes, controle de pragas e doenças, entre outros fatores que contribuem para que o produto satisfaça ao seu consumidor (PASSADOR, 2006). Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a produção brasileira de FLV é a terceira maior no mundo, estimada em 43 milhões de toneladas, perdendo apenas para a China e Índia. Farina (2002), na sua pesquisa, ressaltou que cerca de 70% do total demandado está concentrado na região metropolitana de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. E no Brasil a maior comercialização destes produtos é feita em feiras livres.

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compra, e como o produto é do dia anterior, podem baixar ou não o valor dependendo do aspecto do mesmo. Ao se questionar aos feirantes se os seus preços variavam durante o dia, a maior parte afirmou que não, que os produtos só baixam de um dia para o outro, ou em outros casos nas feiras que não acontecem todos os dias, como é o caso da Feira do Cordeiro e de São José, os preços baixavam somente no último dia, pois os feirantes têm a necessidade de se livrar dos produtos para não evitar prejuízos. Com a pesquisa feita nas feiras livres, foi possível observar que, pelo período da manhã, período do dia no qual os produtos estão mais frescos, o preço é mais alto, e no final do dia os preços de alguns produtos baixam consideravelmente. Isso contrasta com as respostas dadas pelos feirantes nos questionários. Ao se procurar conhecer as unidades para referência dos preços de medida praticados para venda de produtos nas feiras livres, em comparação com os preços na Ceasa, constatou-se, no caso da laranja, couve e do pimentão, que os feirantes vendem a laranja por dúzia, a couve por maço, e o restante dos produtos é por quilo, ou por pé, como o caso da alface. Na Ceasa os preços se referem a quilogramas para: cenoura, tomate, melancia e repolho. Em unidade para laranja e pimentão. E a alface é vendida por unidade. Na tabela 1, é possível observar os preços dos produtos vendidos nas feiras livres.

Tabela 1 – Preços praticados pelos feirantes nas Feiras livres do Recife 2012  

Afogados Casa Amarela Cordeiro São José

R$ R$ R$ R$

Frutos

Tomate (Kg) 1,50 2,50 1,50 2,00

Laranja (Un) 0,15 0,20 0,20 0,25

Melancia (Kg) 1,00 1,00 1,00 1,00

Legumes

Cenoura (Kg) 1,50 2,50 2,00 1,50

Verduras

Alface (pé) 0,50 1,00 1,00 1,00

Pimentão (Un) 0,35 0,50 0,30 0,50

Couve (molho) 0,50 1,00 0,50 0,70

Repolho (Kg) 2,00 2,50 3,00 2,00

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

           

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3 METODOLOGIA A pesquisa foi realizada na cidade de Recife; a metodologia utilizada foi mediante a visitação in loco em quatro feiras livres nomeadamente: Afogados, Casa Amarela, Cordeiro e São José, no período compreendido entre outubro e novembro de 2012, para identificar os preços dos produtos hortufrutigranjeiros (tomate, laranja, melancia, cenoura, alface, pimentão, couve e repolho) praticados pelos feirantes nessas feiras livres, bem como identificar o preço de compra desses produtos na Central de Abastecimento (CEASA). Foram identificadas 155 bancas que comercializam estes produtos. Foram aplicados 40 questionários, uma vez que se trata de uma amostra representativa, pois não há documentos nem pesquisas que apontem o exato número de feirantes ou de barracas nessas feiras livres. Apontaram-se aspectos como informações pessoais do feirante; dados sobre a feira e feirante; sistema de produção; a feira; preços; vendas e rendas. Após as entrevistas, foi realizado o levantamento dos dados obtidos; estes foram analisados, realizando o agrupamento, considerando as variáveis acima, possibilitando assim aproximar indivíduos ou variáveis numéricas em conjuntos de dados, buscando conhecer os preços praticados pelos feirantes dos produtos hortifrutigranjeiros. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES As feiras livres são conhecidas pela comodidade e pelos preços baixos praticados quando comparados com aqueles dos supermercados. Com efeito, ao se pesquisar sobre os preços praticados pelos feirantes, foi possível observar em todas as feiras analisadas os feirantes utilizam preços de venda melhores do que os utilizados nos supermercados segundo a opinião dos consumidores. Os preços praticados de um modo geral dependem do preço da Ceasa pois basicamente todos os produtos que se encontram na feira são provenientes da Ceasa. Existem dias que o preço dos hortifrutigranjeiros estão mais elevados, assim o preço nas feiras livres é mais alto, e quando o preço no Ceasa é mais baixo, o preço praticado nas feiras também diminui. Como a feira livre representa a mais próxima aproximação de mercado de concorrência perfeita, os feirantes precisam ter em conta os preços praticados pelos outros feirantes, porque, se os preços dos seus produtos forem muito elevados em relação aos demais, acabam por afastar os clientes, pois estes buscam por produtos de melhor qualidade a preços mais reduzidos. Deste modo, os preços dos produtos não apresentam muita diferença de um feirante para o outro e muito menos tem diferença significativa de preço. Caso haja diferença, esta é devida à qualidade do produto. Isto acontece porque nem todos os feirantes realizam as compras todos os dias e eles baseiam-se no preço de

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             FORMAÇÃO DE PREÇOS NAS PRINCIPAIS FEIRAS LIVRES ASSOCIADAS AOS MERCADOS PÚBLICOS DO RECIFE

compra, e como o produto é do dia anterior, podem baixar ou não o valor dependendo do aspecto do mesmo. Ao se questionar aos feirantes se os seus preços variavam durante o dia, a maior parte afirmou que não, que os produtos só baixam de um dia para o outro, ou em outros casos nas feiras que não acontecem todos os dias, como é o caso da Feira do Cordeiro e de São José, os preços baixavam somente no último dia, pois os feirantes têm a necessidade de se livrar dos produtos para não evitar prejuízos. Com a pesquisa feita nas feiras livres, foi possível observar que, pelo período da manhã, período do dia no qual os produtos estão mais frescos, o preço é mais alto, e no final do dia os preços de alguns produtos baixam consideravelmente. Isso contrasta com as respostas dadas pelos feirantes nos questionários. Ao se procurar conhecer as unidades para referência dos preços de medida praticados para venda de produtos nas feiras livres, em comparação com os preços na Ceasa, constatou-se, no caso da laranja, couve e do pimentão, que os feirantes vendem a laranja por dúzia, a couve por maço, e o restante dos produtos é por quilo, ou por pé, como o caso da alface. Na Ceasa os preços se referem a quilogramas para: cenoura, tomate, melancia e repolho. Em unidade para laranja e pimentão. E a alface é vendida por unidade. Na tabela 1, é possível observar os preços dos produtos vendidos nas feiras livres.

Tabela 1 – Preços praticados pelos feirantes nas Feiras livres do Recife 2012  

Afogados Casa Amarela Cordeiro São José

R$ R$ R$ R$

Frutos

Tomate (Kg) 1,50 2,50 1,50 2,00

Laranja (Un) 0,15 0,20 0,20 0,25

Melancia (Kg) 1,00 1,00 1,00 1,00

Legumes

Cenoura (Kg) 1,50 2,50 2,00 1,50

Verduras

Alface (pé) 0,50 1,00 1,00 1,00

Pimentão (Un) 0,35 0,50 0,30 0,50

Couve (molho) 0,50 1,00 0,50 0,70

Repolho (Kg) 2,00 2,50 3,00 2,00

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

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Tabela 2 – Preços dos produtos na Ceasa – Recife, 2012

Frutos Legume Verdura

Tomate(1) Laranja(2) Melancia(3) Cenoura(4) Alface(5) Pimentão(6) Couve(7) Repolho(8)

Preço 1,20 0,150 0,50 1,00 0,25 0,17 1,00 * 1,20

Fonte: Ceasa, 08 nov. 2012.

(1) Unidade de comercialização é caixa. O Kg é vendido por R$ 1,20. (2) A unidade de medida é o centro (cem unidades); o preço da unidade é R$ 0,15. (3) Unidade de medida Kg (4) Unidade de medida Kg (5) Unidade de medida pé (6) Unidade de medida Un (7) Unidade de medida Kg (8) Unidade de medida Kg

CONCLUSÃO

Considerando-se em conta os preços praticados nas feiras livres associadas aos mercados públicos do Recife, constatou-se que os preços das frutas, legumes e verduras pesquisadas apresentam valores semelhantes. Esta semelhança é devida à origem dos produtos que são comercializados nas feiras livres; grande parte deles é proveniente da Ceasa, e os feirantes têm como base os preços estabelecidos pela Ceasa, colocando sobre eles uma margem de lucro. Os feirantes também fazem uma pesquisa de mercado com os outros feirantes para conhecer os preços praticados. Uma vez que na feira livre encontram-se vários vendedores, não é favorável para eles a existência de preços elevados em relação aos demais, pois o consumidor busca produtos de qualidade a preços baixos. Analisando as feiras livres de Afogados, Água Fria, Casa Amarela, Cordeiro e São José, observou-se que os preços praticados na feira de Casa Amarela de certos produtos como tomate, cenoura, couve e repolho são mais elevados em relação as demais.

           

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Comparando-se os preços praticados entre as feiras estudadas, constatou-se que estes não variam muito, pois todos os feirantes compram os seus produtos na Ceasa e praticam na feira preços tendo como base os preços da Ceasa. A feira livre que apresentou os preços mais elevados foi a de Casa Amarela, devido a sua localização e pela renda de pessoas que frequentam essa feira. Além disso, em relação às demais, ela apresenta melhor estrutura, melhor organização e encontra-se rodeada por bairros nobres do Recife. Por conta disso, os feirantes praticam preços de forma diferenciada. Os que trabalham com clientes abastados, praticam preços mais elevados, porém suas mercadorias apresentam qualidade superior perceptível, os que trabalham com os menos abastados praticam preços menores, contudo vendem quase que exclusivamente produtos de segunda, ou seja, de menor qualidade perceptível. Tomando como referencial os preços praticados na Ceasa, constatou-se que os preços de mercado das feiras livres crescem significantemente para alguns produtos e para outros não há crescimento em algumas feiras. No primeiro caso as margens de comercialização provocam crescimento descontrolado dos preços. O tomate apresenta crescimento variando de 0,85 a 2,08 vezes o preço da Ceasa. A melancia estabilizou seu crescimento multiplicando o preço da Ceasa por 2. A cenoura oscilou em 1,5 a 2,5 vezes o preço da Ceasa. A alface chegou a multiplicar o preço entre 2 e 4 vezes. O pimentão cresceu entre 2 e 2,9 vezes, e o repolho cresceu entre 1,6 a 2,5 vezes o preço da Ceasa. No caso da laranja, contatou-se que seu preço somente não cresceu na feira de Afogados. Isto se deve possivelmente porque os preços da Ceasa que se tomaram como referencial referiram-se a preços médios. Logo, é provável que a aquisição do feirante, no dia da visita da pesquisa, tenha sido realizada a preços inferiores ao da média. No caso da couve, não houve condições de comparar os preços, pois as unidades de comercialização das feiras são diferentes daquelas usadas na Ceasa. Nas feiras, a couve é vendida por molho, com uma média de 6 folhas. Na Ceasa, a couve é vendida por quilograma. Como a quantidade de folhas por quilograma varia em função do tamanho e de turgidez das folhas, torna-se impraticável definirem-se as margens de comercialização praticadas. Como já foi dito anteriormente, os preços praticados pelos feirantes estão sujeitos aos preços estabelecidos na Ceasa. Como os feirantes não realizam as compras no Ceasa todos os dias, os seus preços podem apresentar diferença em relação a outros feirantes na mesma feira. Muitos feirantes que trabalham todos os dias vão 3 vezes ou mais por semana à Ceasa, para abastecer as suas bancas. Geralmente não fazem a compra de tudo, o grosso dos produtos é feito apenas uma vez na semana. Quando os produtos terminam, os feirantes voltam para complementar os produtos que faltam. Na tabela 2, apresenta-se uma visão dos preços (preços médios) praticados na Ceasa em 08 de novembro de 2012.

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Tabela 2 – Preços dos produtos na Ceasa – Recife, 2012

Frutos Legume Verdura

Tomate(1) Laranja(2) Melancia(3) Cenoura(4) Alface(5) Pimentão(6) Couve(7) Repolho(8)

Preço 1,20 0,150 0,50 1,00 0,25 0,17 1,00 * 1,20

Fonte: Ceasa, 08 nov. 2012.

(1) Unidade de comercialização é caixa. O Kg é vendido por R$ 1,20. (2) A unidade de medida é o centro (cem unidades); o preço da unidade é R$ 0,15. (3) Unidade de medida Kg (4) Unidade de medida Kg (5) Unidade de medida pé (6) Unidade de medida Un (7) Unidade de medida Kg (8) Unidade de medida Kg

CONCLUSÃO

Considerando-se em conta os preços praticados nas feiras livres associadas aos mercados públicos do Recife, constatou-se que os preços das frutas, legumes e verduras pesquisadas apresentam valores semelhantes. Esta semelhança é devida à origem dos produtos que são comercializados nas feiras livres; grande parte deles é proveniente da Ceasa, e os feirantes têm como base os preços estabelecidos pela Ceasa, colocando sobre eles uma margem de lucro. Os feirantes também fazem uma pesquisa de mercado com os outros feirantes para conhecer os preços praticados. Uma vez que na feira livre encontram-se vários vendedores, não é favorável para eles a existência de preços elevados em relação aos demais, pois o consumidor busca produtos de qualidade a preços baixos. Analisando as feiras livres de Afogados, Água Fria, Casa Amarela, Cordeiro e São José, observou-se que os preços praticados na feira de Casa Amarela de certos produtos como tomate, cenoura, couve e repolho são mais elevados em relação as demais.

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             GOVERNO ELETRÔNICO E REDES SOCIAIS

GOVERNO ELETRÔNICO E REDES SOCIAIS Maria Ângela da Costa Lino Franco Sampaio1 Milton Correia Sampaio Filho2 RESUMO O presente trabalho levanta questões estruturantes de pesquisa que culminarão com a proposição de um modelo teórico de políticas públicas para o exercício contemporâneo da cidadania digital. A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema - Qual a correlação entre Governo Eletrônico e Redes Sociais e seus impactos na cidadania? - e ajuda a identificar os fatos relevantes que devem ser investigados, elaborada como parte do doutoramento em Administração. A discussão para o G2C (Government to Citizens) orienta-se a partir dos elementos constituintes do governo eletrônico. O Exercício da cidadania digital, os meios tecnológicos de fazê-la efetiva (através das redes ou mídias sociais) demanda entender e saber viver nesse contexto - as cidades digitais e entender como as redes são usadas como elementos de mediação das novas transformações sociais rumo a uma hipo ou hipercidadania derivadas da visão ético-política de seu uso. PALAVRAS-CHAVE: Redes sociais. Governo eletrônico. Cidadania digital. ABSTRACT This work raises questions, guidelines to the research that will culminate with the proposition of a theoretical model of public policy for the exercise of contemporary digital citizenship. Exploratory research aims to provide greater familiarity with the problem - What is the correlation between e-government and social networks and their impact on citizenship? - And helps identify the material facts that must be investigated, developed as part of the Ph.D. in Business Administration. The discussion for G2C (Government to Citizens) is guided by the components of e-government. The exercise of citizenship, digital media technology to make it effective (via networks or social media) demand to understand and know how to live in this context - digital cities and understand how networks are used as elements of mediation of social transformation towards new hyper- citizenship derived a hypo-or ethical-political vision of their use. KEYWORDS: Social networks. Electronic government. Digital citizenship.

                                                                                                               1 Mestre e Doutoranda em Administração pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Informação Estratégica pela Universidade Federal da Bahia, Doutorando em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador (UNIFACS). Coordenador acadêmico do bacharelado em Engenharia de Produção da ÁREA1 Faculdade de Ciência e Tecnologia. E-mail: [email protected].

           

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REFERÊNCIAS AKUTSU, R. C. et al. Avaliação das boas práticas em duas visões: técnica e da empresa. Brazilian Jornal of Food Technology, v. 12, p. 19-23, jan. 2009. AKUTSU, R. C. et al. Adequação das boas práticas de fabricação em serviços de alimentação. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 3, p. 419-427, 2005. BRANDT, S. A.; OLIVEIRA, F. T. G. O planejamento da nova empresa rural Brasileira. São Paulo: APEC, 1973. BRASIL. Lei 11.326, de 24 de Julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diário Oficial da União, 25 jul.2006. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano Agrícola e Pecuário: safra 2003/2004. Brasília: MAPA/spa, 2003. ______. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Apresentação: Microcrédito Rural: Pronaf B. Disponível em: http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/pronaf/2258903. Acesso em: 1 maio 2012. ______. Ministério da Saúde. Portaria nº 326. Resolução RDC nº 266, de 22 de setembro de 2005. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União, Brasília, 2005. ______. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 216 de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União, Brasília, 16 set.2004. CALLADO, A. L. C. et al. Custos e formação de preços no agronegócio. Faces R. Adm, BH, v. 6, n.1, jan./abr. 2007. CARMO, R.B.A. A questão agrária e o perfil da agricultura brasileira. Disponível em: <http://www.cria.org.br/gip/gipaf/itens/pub/sober>. Acesso em: 25 abr. 2012. CHURCHILL, G. A.; PETER, J. Marketing: criando valor para os clientes. São Paulo: Saraiva, 2005.

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GOVERNO ELETRÔNICO E REDES SOCIAIS Maria Ângela da Costa Lino Franco Sampaio1 Milton Correia Sampaio Filho2 RESUMO O presente trabalho levanta questões estruturantes de pesquisa que culminarão com a proposição de um modelo teórico de políticas públicas para o exercício contemporâneo da cidadania digital. A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema - Qual a correlação entre Governo Eletrônico e Redes Sociais e seus impactos na cidadania? - e ajuda a identificar os fatos relevantes que devem ser investigados, elaborada como parte do doutoramento em Administração. A discussão para o G2C (Government to Citizens) orienta-se a partir dos elementos constituintes do governo eletrônico. O Exercício da cidadania digital, os meios tecnológicos de fazê-la efetiva (através das redes ou mídias sociais) demanda entender e saber viver nesse contexto - as cidades digitais e entender como as redes são usadas como elementos de mediação das novas transformações sociais rumo a uma hipo ou hipercidadania derivadas da visão ético-política de seu uso. PALAVRAS-CHAVE: Redes sociais. Governo eletrônico. Cidadania digital. ABSTRACT This work raises questions, guidelines to the research that will culminate with the proposition of a theoretical model of public policy for the exercise of contemporary digital citizenship. Exploratory research aims to provide greater familiarity with the problem - What is the correlation between e-government and social networks and their impact on citizenship? - And helps identify the material facts that must be investigated, developed as part of the Ph.D. in Business Administration. The discussion for G2C (Government to Citizens) is guided by the components of e-government. The exercise of citizenship, digital media technology to make it effective (via networks or social media) demand to understand and know how to live in this context - digital cities and understand how networks are used as elements of mediation of social transformation towards new hyper- citizenship derived a hypo-or ethical-political vision of their use. KEYWORDS: Social networks. Electronic government. Digital citizenship.

                                                                                                               1 Mestre e Doutoranda em Administração pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Informação Estratégica pela Universidade Federal da Bahia, Doutorando em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador (UNIFACS). Coordenador acadêmico do bacharelado em Engenharia de Produção da ÁREA1 Faculdade de Ciência e Tecnologia. E-mail: [email protected].

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Administração Pública através da incorporação e da potencialização das tecnologias de informação e comunicação (TIC), quer no plano das relações internas (G2G), quer no das relações externas (G2B e G2C), oferecendo serviços públicos mais eficientes e orientados ao cidadão. Alguns elementos surgem dessa breve exposição:

a) G2G (Government to Government): refere-se às relações internas entre diferentes níveis do governo (união, estados, municípios) ou diferentes departamentos quer em nível horizontal (por exemplo: entre serviços pertencentes a dois ou mais Ministérios) quer em nível vertical (por exemplo: entre os Municípios e Governo do Estado).

b) G2B (Government to Business): refere-se às relações externas de interação governo (qualquer instância) e as empresas, envolvem, por exemplo, processos de licitação, compras e estabelecimento de contratos para prestação de serviços por empresas, assim como funções reguladoras e de transmissão de informação (dados fiscais, por exemplo).

c) G2C (Government to Citizens): refere-se às relações externas de interação governo (qualquer instância) e pessoa física – os indivíduos enquanto cidadãos, por exemplo na transmissão de dados do imposto de renda, na prestação de serviços e também em procedimentos de consulta e participação (eleições).

Tais elementos levam à reflexão de que se necessita de estratégia de implementação do governo eletrônico orientada ao uso de princípios de boa governança nos modelos tradicionais de gestão, adaptados para o governo eletrônico, seguindo a sugestão de Leitner (2003, p. 14):

a) Princípio da coerência na concepção de políticas impacta na facilitação de coordenação de políticas interdepartamentais e interministeriais, com agências governamentais e outros setores da Administração Pública.

b) A Democracia participativa ao nível das políticas públicas Possibilita o envolvimento ativo dos stakeholders (interessados) nas políticas públicas.

c) Consistência, eficácia, eficiência na implementação das políticas, “O Estado faz

aquilo que diz”, facilita a implementação cooperativa e em rede das políticas de forma mais rápida e econômica.

d) Transparência e abertura do processo político no seu conjunto, “O Estado informa

sobre o que faz”, disponibiliza a informação de forma acessível e com baixo custo.

           

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INTRODUÇÃO O presente trabalho levanta questões problematizadoras estruturantes de pesquisa que culminarão com a proposição de um modelo teórico de políticas públicas para o exercício contemporâneo da cidadania digital. A pesquisa exploratória visa a proporcionar maior familiaridade com o problema – Qual a correlação entre Governo Eletrônico e Redes Sociais e seus impactos na cidadania? – e ajuda a identificar os fatos relevantes que devem ser investigados, elaborada como parte do doutoramento em Administração. A presente pesquisa é de natureza aplicada, uma vez que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais. Utilizam-se meios de investigação não experimentais, já que o pesquisador somente observa e mede o comportamento ou situação, não havendo manipulação ou mudança do ambiente. Do ponto de vista da abordagem do problema de pesquisa, caracteriza-se o aspecto qualitativo, já que se analisam os significados, motivos, aspirações, crenças, valores e se fazem as correlações entre os fenômenos sociais e suas causas e consequências. Em geral busca as explicações dos fenômenos que podem ter sido analisados quantitativamente. Busca o porquê de ocorrerem os fenômenos descritos quantitativamente – os dados foram coletados através de pesquisa bibliográfica, sendo que numa segunda fase será empírica, com trabalho de campo, através de um estudo de caso (lócus). Pesquisa bibliográfica foi elaborada através da base EBSCO via seleção de artigos científicos em revistas e anais, colocando-se as palavras-chave governo eletrônico, redes sociais – em português e em inglês – e após leitura sistemática com fichamento de cada obra, ressaltando os pontos abordados pelos autores pertinentes ao assunto em questão.

2 O GOVERNO ELETRÔNICO

As pesquisas avançadas em tecnologia de informação e comunicação geram não só impacto social, econômico e científico, como também permitem um aumento significativo da eficiência e qualidade dos serviços através do estudo e implantação das melhores práticas existentes no mercado, envolvendo vários segmentos, destacando-se os que envolvem a gestão da informação, dos meios financeiros e dos recursos humanos, ou seja, ganhos na prestação de serviços associadas assim à gestão das organizações complexas. A velocidade de circulação e acesso à informação (nem sempre associada à confiabilidade de seu conteúdo) é facilitada pela configuração de estruturas em rede: opções tecnológicas que permitem melhorar a qualidade dos processos operacionais e de decisão com consequente redução de custos e obtenção de ganhos de eficiência e eficácia. Tais ganhos certamente não são ignorados pelos Estados. O entendimento de governo eletrônico surge para designar o processo de transformações nas estruturas e relações internas e externas dos vários níveis do Estado e da

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Administração Pública através da incorporação e da potencialização das tecnologias de informação e comunicação (TIC), quer no plano das relações internas (G2G), quer no das relações externas (G2B e G2C), oferecendo serviços públicos mais eficientes e orientados ao cidadão. Alguns elementos surgem dessa breve exposição:

a) G2G (Government to Government): refere-se às relações internas entre diferentes níveis do governo (união, estados, municípios) ou diferentes departamentos quer em nível horizontal (por exemplo: entre serviços pertencentes a dois ou mais Ministérios) quer em nível vertical (por exemplo: entre os Municípios e Governo do Estado).

b) G2B (Government to Business): refere-se às relações externas de interação governo (qualquer instância) e as empresas, envolvem, por exemplo, processos de licitação, compras e estabelecimento de contratos para prestação de serviços por empresas, assim como funções reguladoras e de transmissão de informação (dados fiscais, por exemplo).

c) G2C (Government to Citizens): refere-se às relações externas de interação governo (qualquer instância) e pessoa física – os indivíduos enquanto cidadãos, por exemplo na transmissão de dados do imposto de renda, na prestação de serviços e também em procedimentos de consulta e participação (eleições).

Tais elementos levam à reflexão de que se necessita de estratégia de implementação do governo eletrônico orientada ao uso de princípios de boa governança nos modelos tradicionais de gestão, adaptados para o governo eletrônico, seguindo a sugestão de Leitner (2003, p. 14):

a) Princípio da coerência na concepção de políticas impacta na facilitação de coordenação de políticas interdepartamentais e interministeriais, com agências governamentais e outros setores da Administração Pública.

b) A Democracia participativa ao nível das políticas públicas Possibilita o envolvimento ativo dos stakeholders (interessados) nas políticas públicas.

c) Consistência, eficácia, eficiência na implementação das políticas, “O Estado faz

aquilo que diz”, facilita a implementação cooperativa e em rede das políticas de forma mais rápida e econômica.

d) Transparência e abertura do processo político no seu conjunto, “O Estado informa

sobre o que faz”, disponibiliza a informação de forma acessível e com baixo custo.

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4. Gestão do Conhecimento como instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas;

5. Racionalização dos recursos; 6. Adoção de políticas, normas e padrões comuns; 7. Integração com outros níveis de governo e com os demais poderes.

Ressalta-se que a prioridade do Governo Eletrônico é a promoção da cidadania, sendo a Inclusão Digital indissociável do Governo Eletrônico. O Software Livre é um recurso estratégico para a implementação do Governo Eletrônico, e a Gestão do Conhecimento e o Capital Social são os instrumentos estratégicos de gestão das informações e de integração de redes organizacionais do Governo Eletrônico à sociedade brasileira. A Gestão do Conhecimento é compreendida, no âmbito das políticas de governo eletrônico, como um conjunto de processos sistematizados, articulados e intencionais, capazes de incrementar a habilidade dos gestores públicos em criar, coletar, organizar, transferir e compartilhar informações e conhecimentos estratégicos que podem servir para a tomada de decisões, para a gestão de políticas públicas e para inclusão do cidadão como produtor de conhecimento coletivo. O Capital Social é visto como fator fundamental para melhoria da capacidade de um país obter maiores vantagens competitivas, por meio do estímulo ao capital intelectual e a crescente percepção da sociedade com relação à sua inserção em uma Nova Economia baseada em redes de informações e os seus possíveis impactos no desenvolvimento do país. Nesse sentido, torna-se vital enfatizar o papel das políticas de construção do Capital Social para melhor compreender como o Brasil pode adequar-se à sociedade em rede. Para tanto, englobando os conceitos de redes, normas e de confiança compartilhada, o Capital Social facilita a coordenação e a cooperação entre processos, pessoas, fluxos e capacidades, com vistas a produzir ganhos ou resultados mútuos, no qual tem como um de seus principais impactos o estímulo a processos inovadores cumulativos. Desse modo, as políticas de governo eletrônico contemplarão uma série de iniciativas referentes à gestão do conhecimento, como:

1. Trabalho em rede de aprendizagem interinstitucional; 2. Tratamento estratégico da informação produzida no âmbito das administrações

públicas brasileiras, bem como aquelas produzidas pelas empresas e pelos cidadãos e suas organizações em seu relacionamento com os governos;

3. Uso intensivo de tecnologias da informação com aplicações relacionadas às práticas de gestão do conhecimento no governo eletrônico. As diretrizes alinhadas a essa estratégia são: a. A definição clara e objetiva de conceitos referência sobre os princípios afetos

à aplicação da gestão do conhecimento no setor público,

           

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Essas estratégias ressaltam a orientação pela transparência na relação governo-cidadão na discussão e execução das políticas públicas. O Comitê Executivo do Governo Eletrônico (2004) ressalta o Governo Eletrônico como elemento de transformação social, pontuando que o mesmo quando tratado como instrumento de transformação profunda da sociedade brasileira, obriga-nos a levar em conta os múltiplos papéis do governo federal neste processo, a saber:

1. O de promotor da cidadania e do desenvolvimento: deve orientar-se para as demandas dos cidadãos enquanto indivíduos e também para promover o acesso e a consolidação dos direitos da cidadania especialmente: o direito ao acesso aos serviços públicos; o direito à informação; o direito ao usufruto do próprio tempo pelo cidadão (economia de tempo e deslocamentos); o direito a ser ouvido pelo governo; o direito ao controle social das ações dos agentes públicos; o direito à participação política. Ressalta-se ainda que o governo eletrônico terá nos cidadãos e nas suas organizações os parceiros mais importantes para definição do conteúdo de suas ações, de forma a implementar uma via de mão dupla nas relações Estado/cidadãos por meio de tecnologias de informação e comunicação.

2. O de funcionar como instrumento de mudança das organizações públicas, de melhoria do atendimento ao cidadão e de racionalização do uso de recursos públicos: não devem simplesmente reproduzir as lógicas tradicionais de funcionamento do Estado brasileiro, mas de fazer com que a sua presença na Internet beneficie o conjunto dos cidadãos e promova o efetivo acesso ao direito aos serviços públicos, não promover um discurso vazio de “transparência” desqualificada, mas de construir capacidades coletivas de controle social e participação política.

3. O de promover o processo de disseminação da tecnologia de informação e comunicação para que este contribua para o desenvolvimento do País: não funcionar como exemplo indutor para a sociedade na utilização de documentos eletrônicos e implantação do Governo Eletrônico, mas efetivamente promover a Inclusão Digital para um número cada vez maior de pessoas.

Esse mesmo comitê (a gestão do governo eletrônico brasileiro é da atribuição do Comitê Executivo do Governo Eletrônico – CEGE, presidido pelo Chefe da Casa Civil da Presidência da República, criado através do Decreto de 18 de outubro de 2000) apresenta sete princípios ou diretrizes estratégicas como referência geral para estruturar as estratégias de intervenção, adotadas como orientações para todas as ações de governo eletrônico, gestão do conhecimento e gestão da TI no governo federal. São elas:

1. Promoção da cidadania como prioridade; 2. Indissociabilidade entre inclusão digital e o governo eletrônico; 3. Utilização do software livre como recurso estratégico;

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4. Gestão do Conhecimento como instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas;

5. Racionalização dos recursos; 6. Adoção de políticas, normas e padrões comuns; 7. Integração com outros níveis de governo e com os demais poderes.

Ressalta-se que a prioridade do Governo Eletrônico é a promoção da cidadania, sendo a Inclusão Digital indissociável do Governo Eletrônico. O Software Livre é um recurso estratégico para a implementação do Governo Eletrônico, e a Gestão do Conhecimento e o Capital Social são os instrumentos estratégicos de gestão das informações e de integração de redes organizacionais do Governo Eletrônico à sociedade brasileira. A Gestão do Conhecimento é compreendida, no âmbito das políticas de governo eletrônico, como um conjunto de processos sistematizados, articulados e intencionais, capazes de incrementar a habilidade dos gestores públicos em criar, coletar, organizar, transferir e compartilhar informações e conhecimentos estratégicos que podem servir para a tomada de decisões, para a gestão de políticas públicas e para inclusão do cidadão como produtor de conhecimento coletivo. O Capital Social é visto como fator fundamental para melhoria da capacidade de um país obter maiores vantagens competitivas, por meio do estímulo ao capital intelectual e a crescente percepção da sociedade com relação à sua inserção em uma Nova Economia baseada em redes de informações e os seus possíveis impactos no desenvolvimento do país. Nesse sentido, torna-se vital enfatizar o papel das políticas de construção do Capital Social para melhor compreender como o Brasil pode adequar-se à sociedade em rede. Para tanto, englobando os conceitos de redes, normas e de confiança compartilhada, o Capital Social facilita a coordenação e a cooperação entre processos, pessoas, fluxos e capacidades, com vistas a produzir ganhos ou resultados mútuos, no qual tem como um de seus principais impactos o estímulo a processos inovadores cumulativos. Desse modo, as políticas de governo eletrônico contemplarão uma série de iniciativas referentes à gestão do conhecimento, como:

1. Trabalho em rede de aprendizagem interinstitucional; 2. Tratamento estratégico da informação produzida no âmbito das administrações

públicas brasileiras, bem como aquelas produzidas pelas empresas e pelos cidadãos e suas organizações em seu relacionamento com os governos;

3. Uso intensivo de tecnologias da informação com aplicações relacionadas às práticas de gestão do conhecimento no governo eletrônico. As diretrizes alinhadas a essa estratégia são: a. A definição clara e objetiva de conceitos referência sobre os princípios afetos

à aplicação da gestão do conhecimento no setor público,

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1. Exclusividade: a tendência de não se permitir a organização de uma força concorrente;

2. Universalidade: a capacidade de se tomar decisões para toda a coletividade; 3. Inclusividade: a possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as

esferas possíveis de atividades de membros do grupo e de encaminhar tais atividades aos fins desejados ou de desviá-las de um fim não desejado.

Será que o cidadão sabe utilizar-se desse exercício de política (e de poder)? O cidadão é o habitante da cidade, mas no olhar político, cidadão é o habitante de um Estado livre, com direitos civis e políticos. Não são apenas os direitos políticos que definem o cidadão, mas os direitos civis e sociais: de forma resumida, pode-se dizer que os direitos de cidadania reúnem os direitos políticos, civis e sociais, e que a concepção de Direitos Humanos que derivou da criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos procura fortalecer e estreitar as relações entre direitos individuais e direitos sociais, de modo a afirmar a indivisibilidade de todos os Direitos Humanos. Este é o entendimento universal do que é ser cidadão, apoiado num conjunto de direitos e deveres que definem a cidadania. Dos elementos constituintes do governo eletrônico, tal discussão tem impacto direto no G2C (Government to Citizens), nas relações externas que envolvem a interação com os indivíduos-cidadãos. O interesse específico nesse recorte de pesquisa justifica-se pela lacuna de conhecimento estruturado no assunto. Mesmo envolvendo diferentes áreas de pesquisa, como Ciência Política, Sociologia, Comunicação Social, Administração Pública, Ciência da Informação, Ciência da Computação, Filosofia, Geografia, Arquitetura, entre outras, os estudos desse campo ainda aparentam estar pouco desenvolvidos: ainda são poucos pesquisadores e grupos de pesquisa estudando diretamente tais estudos. O Exercício da cidadania digital, os meios tecnológicos de fazê-la efetiva (através das redes ou mídias sociais) demandam um olhar epistemológico científico e, por isso mesmo, estruturado. Exercer o papel de cidadão digital é viver num contexto que permita isso; tal contexto são as cidades digitais. Lemos (2006) discute que o termo Cidade Digital (ou Cibercidade) abrange quatro tipos de experiências que relacionam cidades e novas tecnologias de comunicação:

1. Cidade Digital entendida como projetos governamentais, privados e/ou da sociedade civil que visam criar uma representação na web de um determinado lugar: é um portal com informações gerais e serviços, comunidades virtuais e representação política sobre uma determinada área urbana (um dos projetos pioneiros foi “De Digitale Stad”, da cidade de Amsterdã, criado em 1994 por uma organização civil hoje transformada em entidade de utilidade pública);

2. Cidade Digital entendida como a criação de infraestrutura, serviços e acesso público em uma determinada área urbana para o uso das novas tecnologias e redes telemáticas, objetivando criar interfaces entre o espaço eletrônico e o

           

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b. Sistematicamente identificar, acompanhar e compartilhar as melhores práticas em gestão do conhecimento entre os atores do Governo Eletrônico (governo, cidadãos e sociedade civil);

c. A gestão do conhecimento no setor público deve ser objeto de política específica no âmbito das políticas de governo eletrônico.

O Governo Eletrônico deve racionalizar o uso de recursos além de contar com um arcabouço integrado de políticas, sistemas, padrões e normas que garantam a Integração das ações de Governo Eletrônico com outros níveis de Governo e outros poderes.

3 CIDADANIA DIGITAL: COMO O CIDADÃO (DIGITAL) EXERCITA A POLÍTICA NESSE CONTEXTO? Política é a arte de governar, é o uso do poder para defender seus direitos de cidadania. A ideia da Política é ter uma forma de organizar a sociedade, em seus diversos âmbitos, evitando que chegue a um caos, tratando-se da convivência dos diferentes. É isso que a torna tão complexa em sua execução e finalidade, o de manter a ordem pública, defesa do território nacional e o bem social da população. Ela é fundamental na vida de todos, pois através da política se constrói a vida da população; não podemos ingenuamente nos abster, cabe à população a discussão e pressão dos governantes. A palavra tem origem nos tempos em que os gregos estavam organizados em pólis ou cidades-estado (daí derivam palavras como politiké, ou seja, política em geral e politikós, ou seja, pertencente aos cidadãos), indicava todos os procedimentos relativos à pólis ou cidade-Estado. Política denomina arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados, quer aplicada aos assuntos internos da nação (política interna) quer aos assuntos externos (política externa). Nos regimes classificados como democráticos, a exemplo do Brasil, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância. A política, como forma de práxis humana, está estreitamente ligada ao poder. O poder político é o poder do homem sobre outro homem. O poder político se baseia na posse dos instrumentos com os quais se exerce a conjunção de três outros poderes:

1. O poder normativo ao obedecer-se a normas, procedimentos, protocolos; 2. O poder manipulativo oferecendo-se reconhecimento – recompensa pelo

exercício da obediência; 3. O poder coercitivo com as punições vinculadas à não obediência.

Um jogo político equilibrado de poder envolve o entender e o saber usar dos poderes pelos envolvidos no processo, resumidamente governo-empresas-cidadão. Nesse jogo há três características:

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1. Exclusividade: a tendência de não se permitir a organização de uma força concorrente;

2. Universalidade: a capacidade de se tomar decisões para toda a coletividade; 3. Inclusividade: a possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as

esferas possíveis de atividades de membros do grupo e de encaminhar tais atividades aos fins desejados ou de desviá-las de um fim não desejado.

Será que o cidadão sabe utilizar-se desse exercício de política (e de poder)? O cidadão é o habitante da cidade, mas no olhar político, cidadão é o habitante de um Estado livre, com direitos civis e políticos. Não são apenas os direitos políticos que definem o cidadão, mas os direitos civis e sociais: de forma resumida, pode-se dizer que os direitos de cidadania reúnem os direitos políticos, civis e sociais, e que a concepção de Direitos Humanos que derivou da criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos procura fortalecer e estreitar as relações entre direitos individuais e direitos sociais, de modo a afirmar a indivisibilidade de todos os Direitos Humanos. Este é o entendimento universal do que é ser cidadão, apoiado num conjunto de direitos e deveres que definem a cidadania. Dos elementos constituintes do governo eletrônico, tal discussão tem impacto direto no G2C (Government to Citizens), nas relações externas que envolvem a interação com os indivíduos-cidadãos. O interesse específico nesse recorte de pesquisa justifica-se pela lacuna de conhecimento estruturado no assunto. Mesmo envolvendo diferentes áreas de pesquisa, como Ciência Política, Sociologia, Comunicação Social, Administração Pública, Ciência da Informação, Ciência da Computação, Filosofia, Geografia, Arquitetura, entre outras, os estudos desse campo ainda aparentam estar pouco desenvolvidos: ainda são poucos pesquisadores e grupos de pesquisa estudando diretamente tais estudos. O Exercício da cidadania digital, os meios tecnológicos de fazê-la efetiva (através das redes ou mídias sociais) demandam um olhar epistemológico científico e, por isso mesmo, estruturado. Exercer o papel de cidadão digital é viver num contexto que permita isso; tal contexto são as cidades digitais. Lemos (2006) discute que o termo Cidade Digital (ou Cibercidade) abrange quatro tipos de experiências que relacionam cidades e novas tecnologias de comunicação:

1. Cidade Digital entendida como projetos governamentais, privados e/ou da sociedade civil que visam criar uma representação na web de um determinado lugar: é um portal com informações gerais e serviços, comunidades virtuais e representação política sobre uma determinada área urbana (um dos projetos pioneiros foi “De Digitale Stad”, da cidade de Amsterdã, criado em 1994 por uma organização civil hoje transformada em entidade de utilidade pública);

2. Cidade Digital entendida como a criação de infraestrutura, serviços e acesso público em uma determinada área urbana para o uso das novas tecnologias e redes telemáticas, objetivando criar interfaces entre o espaço eletrônico e o

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c) a expansão de uma nova geração de direitos humanos, na qual se incluiria o acesso universal à informática (informação automática), à difusão de ideias e crenças sem censura nem fronteiras e por meio das redes abertas;

d) a promoção de políticas de inclusão digital, o processo de criação de uma inteligência coletiva que seja um recurso estratégico para inserir uma comunidade ou um país em um ambiente globalizado;

e) o desenvolvimento criativo de serviços de governo eletrônico que aproximem a gestão dos assuntos públicos dos cidadãos;

f) a extensão da luta contra a exclusão digital e outras exclusões históricas de caráter cultural, econômico, territorial e étnico que ferem, na prática, o exercício de uma plena cidadania;

g) a proteção frente às políticas de controle e às atividades das instituições de vigilância social;

h) a aposta no software livre, no conhecimento livre e no desenvolvimento de múltiplas formas de cultura popular, com o objetivo de consolidar uma esfera pública interconectada.

4 DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO NO SETOR PÚBLICO As tentativas de adoção de qualquer “tecnologia de gestão” por parte do governo brasileiro, como a da gestão do conhecimento, por exemplo, devem atentar para a necessidade de serem tratadas, de forma estratégica, situações ou condicionantes associadas aos seguintes aspectos:

1. Desprestígio dos serviços e dos servidores públicos junto à sociedade; 2. Abandono das iniciativas de padronização e de melhoria dos procedimentos

administrativos; 3. Problemas éticos, legais e de legitimação associados à administração pública e ao

Estado; 4. Desequilíbrios entre cargos em comissão, contratações temporárias e quadro

efetivo; 5. Descontinuidade administrativa de objetivos, estruturas e projetos, e de políticas

públicas; 6. Permanência de modelos, estilos e atitudes gerenciais inadequadas; 7. Irracionalidade das diferenciadas estruturas de carreiras, cargos, salários e

benefícios concedidos; 8. Inadequação do quantitativo de pessoal e/ou dos níveis de capacitação e de

motivação do corpo funcional; 9. Falta de padrões de interoperabilidade e de adequação (quantitativa e qualitativa)

da infraestrutura de tecnologia da informação; 10. Fragilidade do sistema de recompensas, reconhecimento e punições, voltado à

melhoria do desempenho funcional e dos resultados organizacionais;

           

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espaço físico através de oferecimento de teleportos, telecentros, quiosques multimídia e áreas de acesso e serviços (há inúmeras iniciativas no Brasil, por exemplo ao se levar banda larga a todo o País, articulando-se ações de inclusão digital);

3. Cidade Digital entendida como a modelagem 3D a partir de Sistemas de Informação Espacial (SIS, spacial information system e GIS, geographic information system) para criação de simulação de espaços urbanos, servindo como instrumento estratégico do urbanismo contemporâneo;

4. Cidade Digital entendida de forma metafórica, formada por projetos que não representam um espaço urbano real, chamados por alguns autores de “non-grounded cybercities”, cidades não enraizadas em espaços urbanos reais, são sítios que criam comunidades virtuais (fóruns, chats, news etc.) utilizando a metáfora de uma cidade para a organização do acesso e da navegação pelas informações. Nesse caso, não há uma cidade real, como por exemplo “Twin Worlds”, “V-Chat”, “DigitalEE” ou o popular “Second Life”.

Atualmente, as tecnologias e redes sem fio imprimem novas transformações sociais (redes de sociabilidade por SMS, microblogging), novas práticas culturais (acesso e consumo da informação em mobilidade) e novos desenhos no espaço urbano (zonas de acesso para Wi-Fi e celular, navegação por GPS, mapeamento, geolocalização). Nessa reorganização das cidades existentes, nessa nova relação entre o espaço urbano (e suas práticas) e as tecnologias digitais de informação e comunicação e governo, há, ao menos no discurso, a promoção de um vínculo social, a inclusão digital, democratização do acesso à informação, permitindo melhor e maior exercício da política pelo indivíduo-cidadão digital, ou o cibercidadão. Bustamante (2010) já apresenta duas atitudes resultantes possíveis nesse contexto:

1. O caminho até a hipocidadania, a eliminação paulatina da consciência cidadã por meio de várias dinâmicas políticas: aumento do controle social; expansão da informática por padrões proprietários; monopolização dos padrões de hardwares, softwares e padrões de comunicação; promoção de um uso simplesmente lúdico das tecnologias, fomento de um uso superficial e não comprometido das redes sociais virtuais etc., numa dinâmica desiquilibrada tendenciosamente às instituições, desfavorável ao cidadão;

2. O caminho até uma hipercidadania, um exercício mais profundo da participação política que poderíamos chamar cidadania digital, baseada nos elementos:

a) a apropriação social da tecnologia, empregando-a para fins de relevância social;

b) a utilização consciente do impacto das tecnologias sobre novas formas de democracia participativa;

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             GOVERNO ELETRÔNICO E REDES SOCIAIS

c) a expansão de uma nova geração de direitos humanos, na qual se incluiria o acesso universal à informática (informação automática), à difusão de ideias e crenças sem censura nem fronteiras e por meio das redes abertas;

d) a promoção de políticas de inclusão digital, o processo de criação de uma inteligência coletiva que seja um recurso estratégico para inserir uma comunidade ou um país em um ambiente globalizado;

e) o desenvolvimento criativo de serviços de governo eletrônico que aproximem a gestão dos assuntos públicos dos cidadãos;

f) a extensão da luta contra a exclusão digital e outras exclusões históricas de caráter cultural, econômico, territorial e étnico que ferem, na prática, o exercício de uma plena cidadania;

g) a proteção frente às políticas de controle e às atividades das instituições de vigilância social;

h) a aposta no software livre, no conhecimento livre e no desenvolvimento de múltiplas formas de cultura popular, com o objetivo de consolidar uma esfera pública interconectada.

4 DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO NO SETOR PÚBLICO As tentativas de adoção de qualquer “tecnologia de gestão” por parte do governo brasileiro, como a da gestão do conhecimento, por exemplo, devem atentar para a necessidade de serem tratadas, de forma estratégica, situações ou condicionantes associadas aos seguintes aspectos:

1. Desprestígio dos serviços e dos servidores públicos junto à sociedade; 2. Abandono das iniciativas de padronização e de melhoria dos procedimentos

administrativos; 3. Problemas éticos, legais e de legitimação associados à administração pública e ao

Estado; 4. Desequilíbrios entre cargos em comissão, contratações temporárias e quadro

efetivo; 5. Descontinuidade administrativa de objetivos, estruturas e projetos, e de políticas

públicas; 6. Permanência de modelos, estilos e atitudes gerenciais inadequadas; 7. Irracionalidade das diferenciadas estruturas de carreiras, cargos, salários e

benefícios concedidos; 8. Inadequação do quantitativo de pessoal e/ou dos níveis de capacitação e de

motivação do corpo funcional; 9. Falta de padrões de interoperabilidade e de adequação (quantitativa e qualitativa)

da infraestrutura de tecnologia da informação; 10. Fragilidade do sistema de recompensas, reconhecimento e punições, voltado à

melhoria do desempenho funcional e dos resultados organizacionais;

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11. Coexistência de culturas e climas organizacionais impróprios à colaboração e ao compartilhamento de conhecimentos.

12. Formas de comunicação inadequadas às necessidades de governança e transparência para as organizações públicas na atualidade.

Além disso, é importante ressaltar que os processos de comunicação dependem de uma estrutura organizacional, do estilo de liderança e do componente principal – as pessoas. CONCLUSÃO No sintético contexto descrito nesse trabalho, pretendeu-se iniciar um debate contemporâneo da influência das redes digitais sociais num clássico problema de filosofia política, a cidadania: serão as redes sociais digitais intermediadoras efetivas de cidadania? Qual tipo de cidadania? Um debate das redes não como fenômeno tecnológico, mas em sua dimensão instrumental da construção e gerenciamento do conceito de cidadania. As redes, como tecnologias, são elementos de mediação com a realidade, e sua neutralidade estará fortemente relacionada aos objetivos e ao ideário dos que a utilizam em sua visão ético-política. Vários aspectos a contemplar nessa temática tão específica: as redes sociais como intermediadoras da construção da cidadania. Todas as mudanças que vêm ocorrendo na morfologia do tecido social causam grandes impactos nos processos de gerenciamento, implicando a admissão de novas estratégias de enfrentamento às mudanças ocorridas, sejam eles na gestão da esfera pública, do conhecimento ou de pessoas. Apesar das organizações públicas possuírem propósitos distintos das organizações privadas (para o setor público, a eficiência está associada ao atendimento das demandas da sociedade e, para o setor privado, a eficiência está vinculada a aspectos ligados à lucratividade dos empreendimentos). Atualmente, as estratégias e as tecnologias utilizadas para a consecução de seus objetivos tendem a ser semelhantes; por isso, este estudo busca suprir uma demanda relacionada à necessidade da gestão pública, do conhecimento e de pessoas serem mais analisadas, compreendidas e, consequentemente, melhor aproveitadas pelas diferentes esferas do poder público. Pode-se constatar a importância e a complexidade da gestão do conhecimento e a existência de um grande desafio para a implantação de projetos deste gênero no âmbito da administração pública brasileira, principalmente pelo predomínio de critérios políticos que moldaram um setor público carente de recursos e estruturas minimamente capazes de responderem aos seus desafios operacionais básicos. Cada vez mais o capital humano está agregando valor às atividades desenvolvidas pelas organizações, acarretando mudanças no relacionamento organizacional. Neste cenário, cabe ressaltar a importância do gestor público e da interação com seus públicos internos e externos, pois, cabe a ele mediar as relações dentro das organizações, desenvolvendo suas atividades de forma flexível, sendo de vital importância uma comunicação produtiva.

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             GOVERNO ELETRÔNICO E REDES SOCIAIS

REFERÊNCIAS BUSTAMANTE, Javier. Poder comunicativo, ecossistemas digitais e cidadania digital: expansão da cidadania e redes digitais. In: SILVEIRA, Sergio Amadeu da (Org.). Cidadania e redes digitais. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2010. BRASIL. Comitê executivo do governo eletrônico. Relatório consolidado das Oficinas de Planejamento Estratégico, maio. 2004. Disponível em: <www.governoeletronico. gov.br/anexos>.Acesso em: 05 abr. 2012. LEITNER, Christine (Ed.). EGovernment in Europe: The State of Affairs, Maastricht, Institut européen d’administration publique, 2003. Disponível em: <www.europa.eu.int/ information_society/eeurope/egovconf/doc/egov_in_europe_the_state_of_affairs.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2012. LEMOS, André. O que é cidade digital?, 2006. Disponível em: <http://www.guia dascidadesdigitais.com.br/site/pagina/o-que-cidade-digital>. Acesso em: 05 abr. 2012.

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             AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DE LENÇÓIS FREÁTICOS POR NECROCHORUME – CACHOEIRA – BAHIA / BRASIL

 

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DE LENÇÓIS FREÁTICOS POR NECROCHORUME – CACHOEIRA – BAHIA / BRASIL Aldine de Sá Dantas Amorim1 Cláudia Ferreira da Cruz2 RESUMO Este trabalho se propõe a abordar a questão ambiental que envolve a prática de sepultamento dos corpos em cemitérios, seus efeitos podem resultar em um impacto ambiental de grandes proporções. Estudos já realizados demonstram uma possível contaminação de lençóis freáticos por necrochorume, para isso foi realizada avaliação da possível contaminação de lençóis freáticos por necrochorume utilizando como exemplo o Cemitério Municipal da Piedade situado na sede do município de Cachoeira – Bahia. A metodologia utilizada neste trabalho compreende as etapas de pesquisa teórica, exploratória, coleta de amostra e análise em laboratório químico. Os principais resultados obtidos considerando os parâmetros: nitrogênio e fósforo totais demonstram que a área não se encontra totalmente protegida da ação do necrochorume. Aliado a isto este material teórico será útil para posteriores estudos e adequação de cemitérios existentes no Brasil às condicionantes legais estabelecidas pela resolução CONAMA de Nº 355/2003.

PALAVRAS-CHAVE: Cemitérios. Solo. Estudos.

                                                                                                               1 Técnica química pelo CEFET-BA; Bacharelanda em Engenharia Ambiental pela Faculdade ÁREA1 | DeVry Brasil; e, Graduanda em Licenciatura em Química na UFBA/BA. E-mail: [email protected]. 2 Orientadora do TCC, Bióloga e Dr.ª em Geologia Ambiental – UFBA/BA, professora na Faculdade ÁREA1 | DeVry Brasil. E- mail: [email protected].

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 ABSTRACT This work sets out to address the environmental issue that involves the practice of burial of bodies in cemeteries, its effects can result in a major environmental impact. Studies already carried out demonstrate a possible contamination of groundwater by Digweed, for this evaluation was conducted of the possible contamination of groundwater by Digweed using as an example the Municipal Cemetery of Mercy located at the seat of the municipality of Waterfall-Bahia. The methodology used in this work comprises the steps of theoretical research, exploratory, sample collection and laboratory analysis. The main results obtained considering the parameters: total nitrogen and phosphorus shows that the area is not fully protected from the action of Digweed. Allied to this this theoretical material will be useful for further studies and adaptation of existing cemeteries Brazil legal conditions established by CONAMA resolution No. 355/2003.

KEYWORDS: Cemeteries. Soil. Studies.

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             AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DE LENÇÓIS FREÁTICOS POR NECROCHORUME – CACHOEIRA – BAHIA / BRASIL

 

INTRODUÇÃO Foi no período da Idade Média que o costume de sepultamento, manifestação de respeito aos mortos em igrejas e mediações começou, pois se acreditava ser uma forma de aproximação entre vivos e mortos. Porém, com a observação de aumento significativo da incidência de epidemias como tifo, peste negra entre outras, esta prática foi modificada para sepultamentos em locais mais distantes (SILVA; MALAGUTTI FILHO, 2008). Silva e Malagutti Filho (2008) explicam em seu estudo que a palavra cemitério começou a ter o sentido atual a partir do século XVIII, quando, por razões de saúde pública, se proibiu o sepultamento nos locais habituais. Desde então, tornou-se costume os sepultamentos ao ar livre, o mais longe possível do perímetro urbano. Os cemitérios que no passado estavam distantes da população, atualmente, acham-se no meio das cidades devido à urbanização acelerada e desordenada, e é comum a visualização dos cemitérios pelas janelas das residências, tamanha é a sua proximidade das residências. O procedimento de sepultamento tem sido uma prática contínua durante décadas, do ponto de vista ambiental, sem a devida proteção ao solo e consequentemente ao lençol freático. A contaminação do lençol freático por necrochorume é sutil e constante e tende a se difundir pelo entorno do local do sepultamento. O impacto causado pelo necrochorume, líquido intermitente liberado pelos corpos em estado de decomposição, que pode variar no período de meses a anos a depender dos fatores ambientais, transportado pela água da chuva e contato dos corpos neste estado com o solo, possibilita a contaminação das águas superficiais e subterrâneas por microrganismos e substâncias químicas liberadas durante o processo de decomposição dos cadáveres, além dos constituintes das urnas e metais pesados presentes nas alças e dobradiças, tintas e vernizes utilizados na madeira ou por substâncias utilizadas como conservantes, tais como formaldeído (FINEZA, 2008). Na década de 50 alguns autores relatavam a necessidade de estudos geológicos, hidrogeológicos e sanitários para avaliar as possíveis contaminações por necrochorume dos solos, águas subterrâneas e superficiais (BÉRGAMO, 1954 apud FINEZA, 2008). Almeida e Macedo (2005) relatam que a contaminação evidenciada de águas subterrâneas nas proximidades de Berlim, água utilizada para o consumo humano, apresentava vetores que permitiram a proliferação de febre tifoide, no período de 1863 a 1867. Estes mesmo autores descrevem também o sabor adocicado e odor desagradável em água subterrânea nas proximidades de cemitérios em Paris. Cerca de 30% da água doce disponível para uso da humanidade encontra-se no subsolo, na forma de água subterrânea, acumulada entre gretas, fraturas e espaços vazios que existem nas rochas e solo (ANA, 2013).

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 Frente à crescente demanda dos recursos hídricos, a exploração das águas subterrâneas é uma alternativa bastante atraente para abastecimento, em virtude de sua abundância, qualidade e relativo baixo custo de captação, principalmente considerando-se a condição inadequada de qualidades das águas superficiais associada ao elevado custo do tratamento dessas águas para os diversos usos e a escassez verificada em algumas regiões. Assim, o recurso hídrico subterrâneo vem se tornando estratégico para desenvolvimento econômico da sociedade, devendo, portanto, ser protegido contra a poluição (CETESB, 2013). Os mananciais subterrâneos são estratégicos, e a tendência é que sejam explorados para atender às necessidades do planeta, que cresce cada vez mais em população e cujas fontes superficiais de água doce estão continuamente sendo contaminadas. A escassez de água já é um grave problema em muitas regiões do globo. A fim de estimular a colaboração entre os países em torno desse recurso essencial, a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou 2013 o Ano Internacional de Cooperação pela Água. Esse recurso escondido no subterrâneo é cerca de cem vezes mais abundante do que a água que aflora na superfície na forma de rios e lagos, de acordo com a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS). Estima-se que o volume total dos mananciais subterrâneos do mundo todo ultrapasse 5 milhões de Km3 (GIRALDI, 2013). Ante a grande relevância da contaminação desses mananciais, este artigo tem como objetivo analisar se há contaminação dos lençóis freáticos em Cachoeira/Bahia-Brasil pela percolação de necrochorume no solo proveniente do Cemitério Municipal da Piedade. 2 MATERIAL E MÉTODOS

Pesquisa teórica: utilizam-se as referências em trabalhos, teses e artigos já apresentados, bem como referencial teórico em bibliografias técnicas e específicas inerentes ao objeto de estudo deste trabalho de conclusão de curso. (sites de pesquisa, biblioteca, etc.). Pesquisa exploratória: esta pesquisa será realizada no município de Cachoeira do Estado da Bahia com visita de campo e busca ao acervo de informações da região, obtenção de registros fotográficos e dados de pesquisas anteriores. O procedimento metodológico escolhido foi o estudo de caso do cemitério Municipal da Piedade construído no ano de 1874, localizado na sede do município de Cachoeira – Bahia com coleta de amostra de água subterrânea, em ponto determinado e representativo, localizado no interior do cemitério para posterior análise química de parâmetros específicos em laboratório químico acreditado, SENAI CETIND, a fim de evidenciar se há contaminação dos lençóis freáticos pela ação do necrochorume. Os parâmetros selecionados foram fósforo total e nitrogênio total. A amostra foi coletada no poço de água subterrânea localizado na entrada do cemitério em 15 de abril de 2013

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para análise dos parâmetros supracitados. A figura 1 a seguir apresenta o Cemitério Municipal da Piedade, local do referido estudo.

Figura 1 – Cemitério Municipal da Piedade, Cachoeira – Bahia

Fonte: Amorim, 2013. A figura 2 a seguir permite a visualização do nível da entrada principal e nível do local de sepultamento do Cemitério Municipal da Piedade, local do referido estudo.

Figura 2 – Visualização do nível do local de sepultamento e nível da entrada principal do Cemitério Municipal da Piedade,

Cachoeira – Bahia.

Fonte: Amorim, 2013.

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 O local de sepultamento existente no fundo do cemitério conforme mostrado na figura 3 a seguir.

Figura 3 – Local de sepultamento do Cemitério Municipal da Piedade, Cachoeira – Bahia.

Fonte: Amorim, 2013

A seguir, conforme representado na figura 4, a localização de um poço no interior do cemitério de fácil acesso.

Figura 4 – Localização do poço no interior do Cemitério Municipal da Piedade, Cachoeira-Bahia.

Fonte: Amorim, 2013.

Após a coleta da água subterrânea no poço apresentado, utilizando o recipiente ambientado, a amostra foi armazenada em frasco previamente preparado e preservado

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com ácido sulfúrico e acondicionado em caixa de isopor com gelo para posterior análise em laboratório químico dos parâmetros: nitrogênio total e fósforo total conforme representado na figura 5 a seguir.

Figura 5 – Armazenando a amostra em frasco previamente preparado.

Fonte: Amorim, 2013.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Em 03 de abril de 2003, foi promulgada a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de Nº 335, que dispõe sobre o licenciamento ambiental de cemitérios horizontais e verticais a serem implantados no Brasil. Com a promulgação dessa resolução, os órgãos ambientais estaduais passam a ter a obrigação de licenciar e, portanto, fiscalizar a implantação de novos cemitérios. Aos cemitérios já existentes foi dado um prazo de dois anos após aquela data, para se adequarem às exigências junto aos órgãos ambientais competentes, inclusive no que se refere à recuperação da área contaminada e a indenização de possíveis vítimas da contaminação ambiental. O descumprimento das disposições desta resolução implicará sanções penais e administrativas. A principal causa de poluição nos cemitérios, durante a decomposição dos cadáveres, consiste na liberação de um líquido denominado necrochorume, solução aquosa rica em sais minerais e substâncias orgânicas degradáveis, de tonalidade castanho-acinzentada, viscosa, de cheiro forte e com grau variado de patogenicidade (MACEDO, 2004 apud NEIRA et al., 2008). A contaminação do lençol freático por necrochorume é sutil e constante e tende a se difundir pelo entorno do local do sepultamento, conforme ilustrado na figura 6 a seguir.

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 Figura 6 – Contaminação de lençol freático por necrochorume.

Fonte: Lozzano e outros, 2009.

A toxicidade química do necrochorume diluído na água subterrânea relaciona-se principalmente aos teores altos de compostos de fósforo e nitrogênio (ROMANÓ, 2001).

Fineza (2008) acrescenta também a presença de metais pesados e aminas, entre as quais se destacam duas diaminas muito tóxicas: a putrescina (1,4 Butanodiamina) e a cadaverina (1,5 Pentanodiamina), que são tóxicas. O quadro 1 a seguir apresenta os valores encontrados durante análise da amostra coletada.

Quadro 1 – Resultados da análise da água do poço do Cemitério Municipal da

Piedade, Cachoeira-Bahia

Fonte: SENAI CETIND, 2013.

O valor encontrado de nitrogênio total, ou seja, a soma de todos os íons de nitrogênio em diversos compostos em amostra do poço localizado dentro do cemitério, foi 6,6 mg.L-1 e encontra-se dentro dos padrões de potabilidade conforme Portaria MS (Ministério da Saúde) 2914/2011, que indica V.M.P (Volume Máximo Permitido) para este parâmetro inorgânico 10 mg.L-1. A análise da amostra do poço identificou também a presença de 0,148 mg.L-1 de fósforo total. É importante salientar que se deve continuar o monitoramento a fim de confirmar se a presença de nitrogênio indica a possível contaminação sofrida pelo lençol freático devido

Parâmetro Data Unidade Valor Encontrado Nitrogênio Total 15/04 mg.L-1 6,60

Fósforo Total 15/04 mg.L-1 0,148

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à ação do necrochorume, uma vez que o poço amostrado encontra-se localizado no interior do cemitério. Entende-se que durante o processo de decomposição orgânica, além dos líquidos liberados há emissão também de alguns tipos de gases, entre eles principalmente os característicos da decomposição anaeróbica, como o gás sulfídrico (H2S), identificados popularmente como cheiro de “ovo podre”, incluindo dióxido de carbono, gás carbônico (CO2), metano (CH4), amônia (NH3) e hidrato de fósforo, a fosfina (PH3). A presença do fósforo indica possível contaminação das águas subterrâneas do local. Os resultados apresentados necessitam de maior acompanhamento e de maiores análises de monitoramento, bem como análise de ponto-controle para melhor eficácia e resultados significativos em relação a este tema. O nitrato tem alta mobilidade tanto em solos saturados quanto insaturados; por ser solúvel em água, não se ligar a partículas do solo e apresentar carga negativa (NO-3), tornou-se um dos principais poluentes das águas subterrâneas (LIBÂNIO, 2008). A forma predominante do nitrogênio pode fornecer informações sobre o estágio em que se encontra a contaminação da água. A presença de nitrogênio orgânico e de amônia está associada à poluição mais recente enquanto a poluição mais remota está associada à presença de nitrato (LIBÂNIO, 2008). Em águas, o fósforo (P) pode se apresentar nas formas orgânica ou inorgânica, solúvel (matéria orgânica ou sais de fósforo) ou particulada (biomassa ou compostos minerais) (LIBÂNIO, 2008). Em águas não poluídas as concentrações de fósforo são em geral baixas (0,01 - 0,05 mg. L-1), porém as atividades antropogênicas podem ser fontes de consideráveis teores de fósforo, a exemplo de esgotos sanitários, dejetos de animais, detergentes, fertilizantes e pesticidas. Em águas subterrâneas os teores de fósforo tendem a apresentar valores baixos (FINEZA, 2008). Observando os estudos anteriores em cemitérios no Brasil, ressalta-se a importância de monitoramento destas áreas, sobretudo em cemitérios mais antigos ou cuja construção antecedeu ao ano de 2003, no qual entrou em vigor a Resolução CONAMA de N° 355, pois até então não existia legislação específica abordando este assunto. A localização dos cemitérios próxima às residências, conforme mostra a figura 7 a seguir, traz à tona também uma problemática ambiental que consiste em exposição dos moradores aos gases de alguma forma liberados durante a decomposição.

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 Figura 7 – Área de sepultamento com localização próxima a residências

Fonte: Amorim, 2013.

A proximidade do aquífero à superfície, como mostrado na figura 8 a seguir, além de possível contaminação, favorece também a ocorrência de saponificação (fenômeno que consiste em conservar os corpos não permitindo a decomposição dos mesmos). Fineza (2008) afirma que a saponificação é o processo que transforma o cadáver em substância untosa, mole ou quebradiça, motivado pelo contato em terrenos alagadiços que impedem o fenômeno de oxidação.

Figura 8 – Proximidade da superfície ao lençol freático

Fonte: Amorim, 2013.

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É importante ressaltar que o índice de morbidade na cidade é baixo se comparado a outras cidades e capitais. Segundo dados do IBGE (2010), é em torno de 0,22% ao ano; logo, há uma menor probabilidade de sepultamentos e consequentemente de altos valores de nitrogênio e fósforo total no local. A avaliação da susceptibilidade dos aquíferos relaciona-se à natureza, à severidade da fonte poluidora e a alguns fatores contemplando a toxicidade do contaminante, o volume ou descarga passível de atingir o manancial, a distância aos poços e a própria possibilidade de contaminação (LIBÂNIO, 2008). CONCLUSÃO O resultado encontrado apresenta indícios de contaminação, considerando que ao entorno do cemitério não foram visualizados postos de combustíveis, lançamento de esgotos domésticos, entre outros. As águas subterrâneas são mais suscetíveis à presença de contaminantes do que as águas superficiais. Então o resultado das análises mostra que o local não se encontra totalmente protegido do necrochorume proveniente da decomposição dos corpos neste cemitério. Esses resultados, aliado aos estudos anteriores a respeito deste assunto, vem ressaltar a importância da realização de pesquisas mais criteriosas e contínuas, com o emprego de métodos mais específicos para a detecção da contaminação por necrochorume a fim de identificar o estágio de contaminação nas áreas onde cemitérios foram ou serão implantados. O estudo enfatizou o risco de possível contaminação sofrida pelas águas subterrâneas pela ação do necrochorume pelo Cemitério Municipal de Piedade, localizado na sede do município de Cachoeira – Bahia e, apesar dos teores baixos encontrados na análise não descarta a possibilidade de posteriores estudos na região para certificar que não há indícios de contaminação. Embora a Resolução CONAMA de N° 335/2003 enfatize que o prazo para os cemitérios se adequem às condicionantes legais tenha sido até o ano de 2005, muitos no Brasil continuam sem a devida estrutura do ponto de vista ambiental para funcionamento. Não foi evidenciada, durante a visita e coleta da água do poço, a presença de sistema de drenagem adequado bem como adequação do cemitério aos parâmetros previstos na lei.

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VIABILIDADE ENERGÉTICA DO BIOGÁS GERADO NO ATERRO METROPOLITANO CENTRO, SALVADOR, BAHIA Rosela Silva Oliveira1 Erika Cavalcante Silva2 RESUMO O acondicionamento dos resíduos sólidos urbanos de forma inadequada pode trazer grandes prejuízos ao meio ambiente. O aproveitamento do biogás proveniente da decomposição anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários para geração de energia elétrica é uma forma de diversificar a matriz energética e reduzir as emissões de gás metano na atmosfera, já que este é vinte uma vezes mais nocivo que o dióxido de carbono (CO2). Este estudo avalia o grau de interferência das variáveis meteorológicas na produção de biogás no Aterro Metropolitano Centro, nos períodos secos e chuvosos, observando-se a eficiência de produção do metano nas células impermeabilizantes. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos sólidos urbanos. Aterro sanitário. Gás metano. ABSTRACT The conditioning of solid urban residues in an inadequate way can bring serious issues to the environment. The utilization of biogas produced by the anaerobic decomposition of organic materials originated from landfills to produce energy is a way of diversifying the energy sources and reduce emissions of methane gas in the atmosphere, since the last is twenty-one times more harmful than carbon dioxide (CO2). In this context, this paper aims to assess the degree of interference of meteorological variables for the production of biogas at landfill Metropolitan Centre, in dry and wet periods in order to estimate the efficiency of production of this gas in the cell waterproofing. KEYWORDS: Solid urban residues. Sanitary landfill. Methane gás.

                                                                                                               1 Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária (ÁREA1), Técnica em Processos Industriais (IFBA). E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Biotecnologia pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: [email protected].

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 INTRODUÇÃO O desenvolvimento econômico, o crescimento populacional, a urbanização e a revolução tecnológica vêm sendo acompanhados por alterações no estilo de vida e nos modos de produção e consumo da população. Como decorrência direta desses processos, vem ocorrendo um aumento na produção de resíduos sólidos, tanto em quantidade como em diversidade, principalmente nos grandes centros urbanos. Além do acréscimo na quantidade, os resíduos produzidos atualmente passaram a abrigar em sua composição elementos sintéticos e perigosos aos ecossistemas e à saúde humana, em virtude das novas tecnologias incorporadas ao cotidiano (FERREIRA, 2001; VELLOSO, 1995). Zanta e Ferreira (2003) definem resíduos sólidos urbanos (RSU) como sendo os materiais resultantes das inúmeras atividades desenvolvidas em áreas com aglomerações humanas, abrangendo resíduos de varias origens, como residencial, comercial, de estabelecimentos de saúde, industrial, da limpeza pública (varrição, capina, poda e outros), da construção civil e, finalmente, os agrícolas. Outros autores consideram que os resíduos sólidos urbanos compreendem, estritamente, os resíduos de origem residencial, comercial, de serviços de varrição, de feiras livres, de capinação e poda (BIDONE; POVINELLI, 1999; SCHALCH, 1992). No Brasil, cerca de 228.413 toneladas de resíduos sólidos urbanos são coletadas diariamente, sendo 125.258 toneladas (54,8%) correspondentes aos resíduos sólidos domiciliares (PNSB, 2000). A região Nordeste gera 41.568 (18,2%) toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia, ficando em segundo lugar entre as regiões brasileiras (JUCÁ, 2003). No ano de 2006, a média nacional de geração diária de resíduos sólidos domésticos por habitante estava em torno de 1,2 kg (IBGE, 2006). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da norma NBR 1004 – Resíduos Sólidos: Classificação (2004), define os resíduos sólidos como sendo resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. A busca por soluções técnicas mais viáveis para disposição e tratamento desses resíduos é objeto de estudo de muitos pesquisadores em diferentes áreas do conhecimento. A problemática dos RSU levou o Brasil a aprovar no ano de 2010 a Lei nº 12.305, que estabelece a política nacional com objetivo de solucionar os agravos ambientais ligados à geração incontrolada, disposição final e tratamento inadequado desses materiais (SANTOS, 2011). Historicamente, as três formas mais adotadas pela sociedade urbana para disposição final de resíduos sólidos são: lixão ou vazadouro a céu aberto, aterro controlado e aterro sanitário (ABRANTES et al., 2005).

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O lixão é uma forma de disposição final de RSU, na qual estes são simplesmente descarregados sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Essa forma de disposição final tende a ser paulatinamente extinta, tendo em vista que a Lei nº 12.305 estabelece que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, em seu conteúdo mínimo, deve levar em consideração metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis (BIDONE; POVINELLI, 1999). O aterro controlado é uma técnica de disposição de RSU no solo, na qual este geralmente remete-se aos antigos lixões que passaram por um processo de remediação, ou seja, recobrimento e impermeabilização do lixo exposto, canalização do chorume para tratamento adequado e remoção dos gases produzidos em diferentes profundidades do aterro (PALÁCIOS, 2010). Apesar de os aterros controlados possuírem melhores características que os lixões na disposição dos resíduos sólidos, eles também não garantem total proteção ao meio ambiente (NASCIMENTO, 2007). Os aterros sanitários são locais previamente tratados e preparados para receber os resíduos. A sua operação inclui não só a cobertura dos resíduos, mas também a drenagem dos líquidos e gases formados na decomposição dos mesmos; além de um sistema de impermeabilização da base, utilizam-se camadas de solo argiloso compactado e manta plástica de alta resistência, tipo PEAD (Polietileno de Alta Densidade) ou PVC (Poli Vinil Clorado). Portanto, o aterro sanitário é um equipamento utilizado para a disposição de RSU no solo, que, fundamentado em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permite uma confinação segura em termos de controle da poluição ambiental e proteção à saúde publica (BRITTO, 2006). Baseados nos dados do PNSB, Jucá (2003) apresenta a evolução da destinação final dos resíduos sólidos domiciliares no Brasil desde 1991 até o ano de 2000, sendo observado o aumento acentuado da quantidade de resíduos produzidos em decorrência de uma melhora no quadro político econômico do Brasil e o aumento de métodos de disposição mais adequados, como os aterros controlados e os aterros sanitários (Figura 1).

Figura 1 – Evolução da destinação final dos resíduos sólidos no Brasil

Fonte: Jucá, 2003.

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 O biogás é um combustível de alto valor energético, proveniente da decomposição anaeróbica dos resíduos sólidos. É uma mistura gasosa de proporções variadas, que são influenciadas pelo tipo de substrato e pelas condições em que o processo é realizado. Os principais gases constituintes do biogás são o dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) (ZACHOW, 2000). A reação de combustão do metano presente no biogás, entre outros produtos, libera gás carbônico. Essa simples queima do metano, ao gerar gás carbônico, traz consequências positivas, já que o metano é 21 vezes mais tóxico na intensificação do efeito estufa do que o gás carbônico. Assim, a utilização do biogás para produção de energia elétrica gera benefícios ambientais e econômicos (OLIVEIRA; GOMES, 2009). O aproveitamento do biogás produzido nos aterros pode gerar benefícios para os governos locais com a venda de créditos de carbono, estimulando a adoção de práticas de engenharia que maximizam a geração e a coleta do biogás e reduzindo também os riscos de contaminação do meio ambiente. Com essa finalidade e para atender ao Protocolo de Kyoto, o qual estabelece uma redução de 5,2% do valor das emissões atmosféricas de países poluidores correspondente ao ano de 1990, muitas empresas investiram em soluções para diminuição da emissão de gases tóxicos, tornando-se, ao longo do tempo, uma atividade lucrativa (BRITTO, 2006). A geração do biogás em aterros sanitários, por meio da digestão anaeróbia dos RSU, tem tido relevância ambiental e econômica devido a três prerrogativas: possibilidade de substituição energética dos combustíveis fósseis, controle da poluição ambiental que ameaça a saúde humana e contribuição na redução do estresse sobre os sistemas convencionais que já não suprem a demanda energética da sociedade (MANDAL, T.; MANDAL, N., 1997). Dentro deste contexto, o objetivo deste artigo é estimar a eficiência de produção do biogás, no período seco e chuvoso, avaliando o grau de interferência das variáveis meteorológicas na geração de metano no Aterro Metropolitano Centro (AMC).

2 ÁREA DE ESTUDO

O AMC está localizado na Região Metropolitana de Salvador (RMS), na Bahia, na cidade do Salvador, a cerca de 10 km do Aeroporto Internacional de Salvador – Deputado Luís Eduardo Magalhães. O AMC localiza-se na rodovia BA-526 (Centro Industrial de Aratu-Aeroporto), Km 6,5, s/n - Zona Norte. As Coordenadas Cartográficas UTM do AMC são as seguintes: N: 0568316,43 e E: 8578436,75. A Figura 2 representa uma vista aérea do AMC (SANTOS, 2011).

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Figura 2 – Vista aérea do AMC

Fonte: SOLVÍ, 2010.

As atividades de disposição final de RSU no AMC tiveram início em 1997. Nessa data a operação do aterro era realizada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), que transferiu essa atividade para a Prefeitura Municipal do Salvador (PMS) no ano de 1998. No início de 2000, uma empresa privada, Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos S/A - Battre, passou a operar o AMC por meio de um contrato de concessão com prazo fixado em 20 anos, ficando a Battre responsável por todos os serviços realizados no empreendimento (implantação, operação, tratamento do chorume, tratamento do biogás e manutenção). Dessa maneira, a Battre tornou-se responsável pela garantia da disposição final dos RSU com base nos critérios de engenharia civil/sanitária e em procedimento técnicos operacionais que definem cuidados para controle da poluição ambiental e proteção à saúde pública (SOLVÍ, 2010). Atualmente, AMC recebe diariamente cerca de 2.700 toneladas de RSU por dia, provenientes dos municípios de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho. Os RSU encaminhados para o AMC correspondem a resíduos domiciliares, resíduos comerciais, resíduos das varrições das praias, resíduos das feiras livres e resíduos das capinações e de podas de jardins (SANTOS, 2011). Grande parte dos RSU produzidos na cidade de Salvador é levada por caminhões compactadores para uma estação de transbordo localizada no bairro de Canabrava, na área do antigo lixão da cidade. Da estação de transbordo, o resíduo é transportado por carretas, com capacidade para grandes volumes, direto para o AMC. No caso de locais mais próximos ao aterro e das cidades vizinhas atendidas pelo AMC, os resíduos são transportados diretamente em caminhões compactadores (NASCIMENTO, 2007).

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 Figura 03 – Vista aérea da Estação de Transbordo

Fonte: SOLVÍ, 2010. A Usina Termoverde Salvador é uma das empresas pertencentes ao grupo Solví e está situada no AMC. Foi criada em 2008, com objetivo de receber o biogás proveniente do aterro, para produção de energia elétrica. A Usina dispõe de uma capacidade em torno de 15MW de potência oriundos de uma fonte alternativa incentivada. Uma parte da energia gerada na Termoverde é consumida no próprio empreendimento e a outra parte é vendida para região Sudeste. 3 MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia adotada para produção deste artigo foi a pesquisa teórica e exploratória. A pesquisa teórica foi realizada em livros, artigos científicos, entre outros, com levantamento de dados secundários. Em conjunto com a mesma foram realizadas pesquisas exploratórias na unidade do AMC e na Usina Termorverde com o objetivo de conhecer as instalações do aterro, o sistema de disposição do lixo em células impermeabilizantes e o processo de obtenção de energia elétrica, a partir do biogás. Além da pesquisa exploratória, realizaram-se entrevistas com os engenheiros que prestam serviços nas unidades citadas acima com o objetivo de coletar informações e dados primários que serão imprescindíveis para a apresentação e discussão dos resultados.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO O AMC foi criado em 1997, porém a Battre passou a operá-lo em janeiro de 2000, fazendo uso das células já existentes para disposição dos resíduos que chegam ao aterro. A disposição de RSU nas células 01, 02, 03 e 04, que juntas formam a Macrocélula, iniciou-se em outubro de 1997. As células mais recentes no aterro são 05 e 06, que iniciaram suas operações no período de 2003 e 2004 respectivamente. A figura 04 retrata a produção total de metano no aterro no período de 2010 a 2012. Esta produção está representada pelas células descritas acima que atualmente são operadas pela Battre. A quantidade de gás metano produzido é proporcional a quantidade de resíduo disposta no aterro, logo observou-se que em 2012 a quantidade de resíduo disposta é maior que 2010 e 2011. Máquinas como o rolo compactador são utilizadas, e outros estudos estão sendo realizados para verificar se, devido à densidade dos resíduos sólidos ser maior, em um mesmo volume, há uma correlação com a quantidade de gás produzido. Segundo informações da equipe de operação, a partir do ano de 2011 evidenciou-se um aumento na produção de metano devido à construção e operação da Termoelétrica (Termoverde), com isso a Battre aprimorou o seu sistema de captação para poder fornecer uma quantidade que atendesse a demanda dessa usina. Com a expansão do aterro, aliado à eficácia do sistema de captação do Biogás e por questões contratuais a Battre passou a fornecer uma cota mínima de metano a Termoverde. Portanto, para atender a cota exigida, a Battre teve que buscar melhorias no sistema de captação e passou a utilizar novas técnicas de captação, como exemplo os variados modelos de drenos encontrados no aterro: DT – Dreno Transversal, DP – dreno perfurado, DE – dreno de espinha, DS – dreno de superfície, DC – dreno de cobertura.

Figura 04 – Produção total de metano do AMC nos anos de 2010 a 2012.

Fonte: Termoverde, 2012.

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 Variações na produção de biogás em aterros sanitários podem ser decorrentes de diferentes fatores, como a composição do resíduo, condições climáticas e de operação do aterro. Segundo Brito Filho (2005), a capacidade de um aterro gerar gás vai depender de muitos fatores como:

1. Composição do resíduo – quanto maior a porcentagem de material orgânico no resíduo, maior será o potencial de produção de biogás no aterro. Resíduos de alimentos são exemplos de matéria orgânica facilmente decomposta, o que acelera a taxa de produção do gás. Materiais que se decompõem lentamente, como grandes pedaços de madeira, não contribuem significantemente com a geração de gás;

2. Umidade – depende da umidade inicial do resíduo, da infiltração da água da superfície e do solo e da água produzida na decomposição. Para uma quantidade considerável de biogás é necessário um teor de umidade alto, assim a produção de biogás será maior se a umidade for elevada;

3. Tamanho das partículas – o tamanho das partículas influencia a velocidade de decomposição. Quanto menor as partículas, mais rápido ocorrerá a decomposição e a produção de biogás;

4. pH – o pH ótimo para a produção de metano é 6,7 a 7,5, fora dessa faixa o pH influencia a atividade bacteriana, restringindo a produção de metano;

5. Temperatura – este fator influencia nas bactérias que prevalecem, pois existem duas temperaturas ótimas para produção de metano. A mesofílica, que varia entre 32 a 42 °C e que apresenta a maioria das bactérias metanogênicas e a termofílica, em que existem poucas bactérias metanogênicas, pois a temperatura é de 50 a 58 ºC;

6. Outros fatores – demais fatores que influenciam a produção de metano são nutrientes, tipo e quantidade de bactérias, dimensões do aterro, entre outros.

Entre os fatores citados acima, selecionaram-se os parâmetros temperatura externa e umidade relativa para se estabelecer uma correlação com a quantidade de metano produzida nas células 05 e 06 na estação seca e chuva. Para a escolha das células, levou-se em consideração a proximidade do tempo de operação entre as mesmas. Os dados de temperatura e umidade são fundamentais para determinar o comportamento da vazão de metano, nas diferentes épocas do ano e foram coletados no site do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). A estação utilizada para a coleta dos dados foi Salvador Ondina – BA. De acordo com os resultados representados pelas figuras 05 e 06, pode-se verificar que a vazão de metano no AMC foi maior nos meses de abril a julho para a célula 05 e de março a junho para a célula 06. Os dados mostram que nesses meses ocorreu uma redução da temperatura externa em decorrência de o período representar a estação chuvosa.

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Ainda segundo as figuras, é possível também observar que no período seco, caracterizado pelos meses de outubro a março, a vazão de metano também foi maior para as células 05 e 06, que tiveram suas temperaturas maiores do que se comparado ao período chuvoso.

Figura 05 – Produção de metano da célula 05 em função do tempo utilizando a temperatura como

Parâmetro

Fonte: INMET, 2013.

Figura 06 – Produção de metano da célula 06 em função do tempo utilizando a temperatura como Parâmetro.

Fonte: INMET, 2013.

CÉLULA  5  

36,00

38,00

40,00

42,00

44,00

46,00

48,00

50,00

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGOS SET OUT NOV DEZ

TEMPO

VAZÃ

O  DE  METAN

O  

20

21

22

23

24

25

26

27

28

METANO  %

TEMPERATURA  ºC

CÉLULA  6

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41

42

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JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGOS SET OUT NOV DEZ

TEMPO  

VAZÃ

O  DE

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O

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TEMPERATURA  ºC

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Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 Os resultados das figuras 07 e 08 mostraram que a vazão de metano no AMC foi maior nos meses de abril a julho para a célula 05 e março a junho para célula 06. Os dados mostram que nesses meses de maior produção de metano, o índice pluviométrico da região em estudo variou em torno de 197 mm a 1911 mm mensais, o que elevou a umidade relativa do ar.

Figura 07 – Produção de metano da célula 05 em função do tempo utilizando a umidade como parâmetro

Fonte: INMET, 2013.

Figura 08 – Produção de metano na célula 06 em função do tempo utilizando a umidade como Parâmetro

Fonte: INMET, 2013.

CÉLULA  5

36

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50

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGOS SET OUT NOV DEZ

TEMPO

VAZÃ

O  DE

 METAN

O  

74,00

76,00

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82,00

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88,00

METANO  %

UMIDADE  %

CÉLULA  6

39,00

40,0041,00

42,00

43,00

44,0045,00

46,00

47,0048,00

49,00

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGOS SET OUT NOV DEZ

TEMPO  

VAZÃ

O  DE  METAN

O

74,00

76,00

78,00

80,00

82,00

84,00

86,00

88,00

METANO  %

UMIDADE  %

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             VIABILIDADE ENERGÉTICA DO BIOGÁS GERADO NO ATERRO METROPOLITANO CENTRO, SALVADOR, BAHIA

Segundo Angelidak e Sanders (2004), a temperatura afeta a sobrevivência e o crescimento dos microrganismos e também influência as suas atividades metabólicas. Para Van Elk (2007), quanto maior a temperatura, maior será a atividade bacteriana e, consequentemente, a geração de CH4. Porém alguns autores sugerem distintas faixas de temperatura para otimização da geração de biogás. As temperaturas no interior da massa de lixo são de grande importância principalmente no que se refere à atividade de microrganismos que promovem a degradação dos diversos componentes do lixo. Os microrganismos existentes dentro da massa não controlam a sua própria temperatura, ficando altamente condicionados à temperatura do meio, o que propicia o surgimento de diferentes tipos de bactérias para faixas variadas de temperaturas (JUNQUEIRA, 2000). Segundo Van Elk (2007), dois aspectos relacionados à temperatura devem ser levados em consideração, respectivamente, a temperatura desenvolvida dentro da massa de resíduos e a influência da temperatura externa sobre os processos que ocorrem internamente. A umidade relativa é, talvez, o parâmetro mais importante, uma vez que favorece o meio aquoso indispensável para o processo de geração de gás e possibilita o transporte dos microrganismos dentro do aterro sanitário (BIDONE; POVINELLI, 1999). Van Elk (2007) ressalta que a decomposição da matéria orgânica depende da presença de água nos interstícios do maciço de resíduos, necessária em uma determinada quantidade que permita o processo de decomposição realizado pelos microrganismos. A análise dos parâmetros temperatura externa e umidade relativa do ar se mostrou bastante eficaz, pois foi possível estabelecer uma correlação entre a quantidade de metano produzido nas células e o grau de interferência dessas variáveis meteorológicas na região em estudo. Essa correlação permitiu que pudesse ser estimada a quantidade de metano gerado em estações secas e chuvosas. Observou-se que a grande produção de metano ocorreu no período chuvoso e que o parâmetro determinante para este aumento foi a umidade do ar, que foi influenciado pelas precipitações pluviométricas ocorridas na área em estudo. A estação seca também foi contemplada por um período de maior produção de metano. Entretanto, se compararmos os dois períodos, é possível concluir que no período chuvoso ocorreu a máxima eficiência de produção do biogás. A umidade é um elemento fundamental na degradação dos compostos orgânicos presentes na massa de lixo, uma vez que a maior parte das reações se dão apenas em presença de água (MONTEIRO et al., 2001). O teor de umidade do lixo é fortemente influenciado pelas condições climáticas locais e pela época do ano (seca e chuvosa). Determinados valores de umidade favorecem o aumento da produção de chorume e a presença de água no lixo; consequentemente, promovem o aumento do seu estágio de degradação. Nas precipitações ocorre a entrada

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Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 de oxigênio dissolvido na água, favorecendo a degradação do material orgânico. Alguns autores acentuam a importância do teor de umidade nos processos de degradação do lixo, uma vez que a presença de água no lixo propicia o habitat inicial dos microrganismos pela presença de nutrientes dissolvidos, além de possibilitar a propagação desses nutrientes por toda a massa de lixo (MONTEIRO et al., 2001). CONCLUSÃO As variáveis meteorológicas, temperatura externa e umidade relativa, influenciaram diretamente na eficiência de produção do biogás, em períodos chuvosos e secos da região em estudo. A estação chuvosa apresentou um desempenho energético favorável à produção de metano, visto que as maiores taxas de umidade ocorrem neste período. O aproveitamento do biogás proveniente da decomposição anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos no AMC é uma boa alternativa para diversificar a matriz energética do Brasil, contribuindo significativamente a redução das emissões de gases intensificadores do efeito estufa e gerando lucros através da comercialização de créditos de carbonos. REFERÊNCIAS ABRANTES JR, E. A.; MEDEIROS, R. C. SILVA, R. C; SILVÉRIO, R. P.; SOUZA, W.P.; BOLZAN, M. Avaliação ambiental do aterro sanitário de Jacareí. In: ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 9; ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO, 5. Anais... – São Paulo: Universidade do Vale do Paraíba, 2005. ANGELIDAKI, I.; SANDERS, W. Assessment of the anaerobic biodegradability of macropollutants. Reviews in Environmental Science and Bio/Technology, Netherlands, v. 3, n. 2, p.117-129, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: resíduos sólidos: classificação. Rio de Janeiro, 2004. BIDONE, F. R. A; POVINELLI, J. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos: EESC/USP, 1999. BRITO FILHO, L. F. Estudo de gases em aterros de resíduos sólidos urbanos. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. 218 f. BRITTO, M.LC.P.S. Taxa de emissão de biogás e parâmetros de biodegradação de resíduos sólidos urbanos no Aterro Metropolitano Centro. 2006. 187 f. Dissertação

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             VIABILIDADE ENERGÉTICA DO BIOGÁS GERADO NO ATERRO METROPOLITANO CENTRO, SALVADOR, BAHIA

(Mestrado em Engenharia Ambiental – DEA), - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2006. FERREIRA, J. A.; ANJOS, L.A. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cad Saúde Pública, 2001, v. 17, n. 3, p. 689-696. JUCÁ, J.F.T (2003). Disposição final dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOTÉCNICA AMBIENTAL, 5. Anais...2003. Porto Alegre, 2003. JUNQUEIRA, F. F. Análise do comportamento de resíduos urbanos e sistemas dreno-filtrantes em diferentes escalas, com referência ao Aterro do Jóquei Clube. 2000. 283 f. (Tese) – Universidade de Brasília, Brasília-DF, 2000. MANDAL, T.; MANDAL, N. K. Comparative Study of Biogás production from different waste materials. Energy Conversion and Management, v. 38, n. 7, p. 679-683, 1997. MONTEIRO, V. E. D.; JUCÁ, J. F. T.; Rêgo, C.C. Influência das Condições Climáticas no Comportamento do Aterro de Resíduos Sólidos da Muribeca. In: CONGRESSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21. João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2001. NASCIMENTO, J. C. F. Comportamento mecânico de resíduos sólidos urbanos. 2007. 160 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos - EESC, USP, São Carlos, 2007. OLIVEIRA, K. T. L. L.; GOMES, R. A. Contribuições da recuperação do biogás de aterro sanitário: uma análise para Goiânia. Conjuntura Econômica Goiana, Goiânia-GO, v. 12, p. 24 - 34, 01 dez. 2009. SANTOS, A,C. Geração de metano devido à digestão anaeróbia de resíduos sólidos urbanos: estudo de caso do Aterro Sanitário Metropolitano Centro, Salvador-BA. 2001. 155p. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Engenharia Ambiental – DEA, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011. SCHALCH, V. (1992). Análise Comparativa do Comportamento de Dois Aterros Sanitários e Correlações dos Parâmetros do Processo de Digestão Anaeróbia. 1992. 220p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. VAN ELK, A. G. H. P. Redução de emissões na disposição final: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo aplicado a resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2007, 40p.

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Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 VELLOSO, M. P. Processo de trabalho da coleta de lixo domiciliar na cidade do Rio de Janeiro: percepção e vivência dos trabalhadores. 1995. (Dissertação) – Fundação Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1995, 149f. ZACHOW, C. R. Biogás. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUI, Panambi: RN, 2000. ZANTA, V. M.; FERREIRA, C. F. A.. Gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos. In: RESÍDUOS sólidos urbanos: aterro sustentável para municípios de pequeno porte. São Carlos, SP: PROSAB, Rima Artes e Texto, 2003.

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             PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BA Amanda Silva Gonzaga1 Rosania Silva Lima2 Gardênia Tereza Jardim Pereira3 RESUMO O estudo traz a importância da conservação e valorização de um patrimônio, bem como a influência dos meios de comunicação na divulgação do mesmo para a comunidade. Assim, este estudo objetivou verificar a relevância que a comunicação tem nas suas variadas formas de influenciar e divulgar o turismo em uma determinada região, obter a opinião pública em relação ao patrimônio, como também, de dar importância merecida ao patrimônio histórico, já que esse meio pode promovê-lo enquanto atrativo turístico. A partir disso, conclui-se que, havendo interesse por parte das autoridades em criar um planejamento para restauração e divulgação de um patrimônio cultural, haverá maior atratividade, desenvolvimento e fortalecimento da economia local. A coleta de dados se deu a partir de entrevista feita com o secretário de cultura e com base nisso se obteve as conclusões, as quais enfatizam que não há um incentivo do poder público para divulgação e conservação do patrimônio cultural em questão. PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio. Publicidade. Atrativo turístico.

                                                                                                               1 Graduanda do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC. E-mail: [email protected]. 2 Graduanda do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Faculdade de Tecnologia e Ciência – FTC. E-mail: [email protected]. 3 Graduada em Turismo. Mestre em Cultura e Turismo – UESC. Professora da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC.

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 ABSTRACT The study presents the importance of conservation and recovery of an asset, as well as the influence of the media in the dissemination of the same to the community. Thus, this study aimed to verify the relevance of communication in its various forms has to influence and disseminate tourism in a given region, to obtain public opinion in relation to equity, but also to give importance to the heritage deserved, since this medium can promote it as a tourist attraction. From this it follows that there is interest on the part of the authorities to create a plan for restoration and dissemination of a cultural heritage, there will be more attractive, development and strengthening of the local economy. Data collection occurred from interview with culture secretary and on that basis was obtained conclusions, which emphasize that there is an incentive for disclosure of public power and conservation of cultural heritage in question. KEYWORDS: Heritage. Advertising. Attractive tourist.

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             PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

 

INTRODUÇÃO Acredita-se que patrimônio cultural se baseia em obras, podendo ser uma escultura, um quadro, uma construção antiga, um museu, uma obra de arte, entre outros, que seja merecedor da admiração e do reconhecimento de alguém e que atraia a atenção das pessoas. Desse modo, o patrimônio cultural é possuidor de importância subjetiva, coletiva ou individual e pode-se afirmar, ainda que em boas condições possa contribuir para o fomento da atividade turística. As visitações ao atrativo turístico promovem desenvolvimento para a localidade e para as pessoas que ali vivem, pois há um incentivo direto na economia local. Além disso, a transformação do patrimônio cultural em atrativo turístico contribui para que o lugar torne-se cada vez mais fortalecido em relação à cultura e à tradição, pois o mesmo será exposto para novas gerações como forma de conhecimento dos seus antepassados. Um patrimônio cultural, numa determinada localidade, tem capacidade de atrair turistas e dessa maneira melhorar a vida das pessoas que vivem ali, pois fortalece a economia e gera lucros para toda a população e para as empresas de turismo. A publicidade seria então capaz de aumentar os conhecimentos sobre esse atrativo turístico, uma vez que tem o olhar voltado diretamente para o mercado e busca o reconhecimento de cada empresa por meio das campanhas promocionais e institucionais. A publicidade, como meio comunicativo, tem a responsabilidade de levar à sociedade informações sobre um patrimônio. Percebe-se, então, a relevância do marketing como ferramenta de utilização da publicidade para que este patrimônio seja vislumbrado por uma quantidade significativas de pessoas. Para isso, faz-se necessário o uso da propaganda, para a divulgação desse atrativo visando a ampliar o conhecimento da população e o interesse da mesma sobre o local turístico em questão. Esta pesquisa tem por finalidade verificar a relevância que a comunicação tem nas suas variadas formas de influenciar e divulgar o turismo em uma determinada região, como também de dar importância merecida ao patrimônio histórico, especificamente o Cristo, de Mário Cravo, na cidade de Vitória da Conquista – BA. O estudo teve a intenção de observar como está a conservação deste patrimônio e o que está sendo feito por parte do poder público para que o mesmo seja reconhecido de uma maneira positiva e atrativa. O objetivo geral norteador desse estudo seria analisar a importância da publicidade enquanto ferramenta capaz de valorizar o atrativo turístico. Como objetivos específicos, foram determinados: demonstrar de que maneira a propaganda foi ou está sendo responsável pela valorização do patrimônio em questão e analisar a percepção da iniciativa pública sobre o atrativo turístico em questão.

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2 PATRIMÕNIO HISTÓRICO

Em se tratando de patrimônio histórico, sabe-se que uma obra pode representar um passado ainda vívido, pois envolve tudo que remeta à identidade das pessoas que ali vivem, fazendo com que o seu valor histórico seja alvo da admiração e se torne mais atraente para os visitantes. Entende-se patrimônio histórico como uma ponte entre o passado e o presente que aproxima as gerações, trazendo referências culturais, compreendendo e fortalecendo sua própria história. Com isso, percebemos a importância da conservação do patrimônio histórico como meio de levar informação à população futura. De acordo com Barretto (2002, p. 10), “O patrimônio transformado em monumento passou a ser considerado um mediador entre passado e presente, uma âncora capaz de dar uma sensação de continuidade em relação a um passado nacional, [...] capaz de permitir a identificação com uma nação”. Além da importância cultural, o patrimônio tem outra função, que é a de movimentar a economia local, tornando-se fonte lucrativa para os moradores da região. Isto é um incentivo para que o monumento esteja em boas condições de preservação para a visitação. Diante de todos esses benefícios, compreendemos a importância da divulgação positiva para o turismo, economia e cultura da região. Um patrimônio material pode ser um monumento, uma obra de arte, casa e igrejas antigas, museu, fotos, enfim, algo material que tenha um valor histórico para a população da região onde se localiza. Sob o mesmo ponto de vista, o Cristo de Mário Cravo, situado em Vitória da Conquista – BA, é um patrimônio material por ser uma obra artística e também por ter valor para muitos religiosos. O Cristo de Mário Cravo refere-se a uma paisagem construída que pode contribuir para o aumento de visitações na cidade. Não por acaso, muitas cidades criam um patrimônio material de forma organizada, uma vez que, a partir do planejamento, pode-se obter atratividade para a região. De certa forma, um patrimônio pode vir a ser atrativo para as cidades, mas para isso faz-se necessário um planejamento turístico, em que se deverá pensar em investimentos com infraestrutura urbana, saber ouvir a opinião pública, ou seja, as necessidades da sociedade. 3 ATRATIVO TURÍSTICO E PUBLICIDADE Acredita-se que turismo e publicidade coexistem à medida que a atividade turística necessita da publicidade para ser vislumbrada pelo visitante, que passa então a se sentir motivado a praticar deslocamentos, o que concretiza a atividade turística. Destinos turísticos de sol e praia são vendidos diariamente pelas páginas das revistas através dos anúncios, da mesma forma que os bens culturais materiais e imateriais também são

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             PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

 

comercializados. É importante que essa divulgação também tenha o incentivo das autoridades, através de campanhas institucionais. Dá-se, assim, a possibilidade de melhorar também a vida da comunidade, sendo que muitas vezes o turismo é a fonte principal de renda. Desse modo, entendemos que o poder público tem uma grande responsabilidade para tornar o patrimônio de sua região propagado. Segundo Kuazaqui (2000, p. 19) “Historicamente as atividades turísticas sempre proporcionaram grandes movimentações e impactos”. Dessa forma, com a intenção de obter lucros, a comunidade local busca maneiras de investir em alguma atividade turística que possa gerar algum lucro. As campanhas publicitárias são bastante eficientes nessas localidades, para obtenção de grandes resultados em que a economia gira em torno da visitação de turistas. Uma das maneiras de tornar um patrimônio conhecido é através das propagandas que conseguem, através de pesquisas, atingir público específico de cultura específica, gênero, idade e poder aquisitivo específico. Pode-se perceber, assim, a necessidade de cultivar a conscientização de tudo aquilo que é considerado patrimônio, sendo esta a principal conexão entre o passado e as próximas gerações que dependem desta preservação para ter conhecimento da própria história. Barretto, ao falar de patrimônio, destaca que, para proteger o mesmo dessas ameaças,

São necessárias políticas de preservação. Essas políticas não são neutras, espelham a ideologia dos que fazem as leis. Determinar o que é digno de preservação é uma decisão político-ideológico, que reflete valores e opiniões sobre quais são os símbolos que devem permanecer para retratar determinada sociedade ou determinado momento, donde os grandes questionamentos sobre quem tem ou deveria ter autoridade para decidir. (BARRETO, 2002, p.13)

Portanto, não basta que se deposite a consciência de preservação do patrimônio histórico somente na iniciativa de cada indivíduo, faz-se necessário que as autoridades assumam as responsabilidades que lhes foram confiadas para tomar medidas que possam assegurar a conservação deste passado tão precioso. Cabe também à sociedade fazer valer os direitos e deveres da democracia, fazendo a sua parte enquanto cidadão e exigindo dos políticos ações enérgicas de valorização e conservação histórica. De acordo com Bomfim e Argôlo, o planejamento na atividade turística tem a capacidade de gerar efeitos positivos.

O fundamental é a intenção de planejar, buscando a sustentabilidade em modelos de gestões de políticas públicas coordenadas e integradas, aumentando a capacidade socioeconômica, ambiental e cultural da atividade. [...] envolve a escolha de um cenário futuro que atenda aos interesses da maioria da população de um município, estabelecendo limites e regras e condições que contribuem para o sucesso. (BOMFIM; ARGÔLO, 2009, p.05)

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Cientefico. V. 14, N. 27, Fortaleza, jan-jun, 2014

 

 

Assim, é importante que haja um planejamento turístico, ou seja, um desenvolvimento sustentável, em que é possível satisfazer as necessidades dos visitantes sem provocar uma agressão ao meio ambiente, pois existe uma grande preocupação quanto aos desperdícios ocasionados por turistas. Portanto, os órgãos competentes devem ter como base o conceito de valorização e preservação do seu patrimônio, que será passado de geração em geração como uma herança coletiva. Para isso, devem-se usar as campanhas publicitárias com o objetivo de reforçar na sociedade a conscientização de conservação do patrimônio cultural e valorização do atrativo turístico. 3.1 VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO Os meios de comunicação têm papel fundamental para que, além de conhecido, o monumento tenha o valor histórico que lhe é digno, pois podem influenciar de forma direta a população, como também os visitantes, para que se sintam estimulados a conhecer o local mesmo estando em uma região distante. “As estratégias de propagação são bastante significativas no que se refere à sazonalidade da demanda turística, uma vez que os períodos de baixa demanda poderão causar grandes prejuízos à oferta turística” (MOTA, 2001, p. 169). Assim, pode-se certificar que por maior que seja o valor histórico da obra, sem estratégias para torná-lo público não é possível que o mesmo seja um atrativo turístico. Os veículos de comunicação têm por objetivo atingir o público através da sua identidade, seus costumes, as características do indivíduo na sociedade (SILVA FILHO, 2009, p. 05). Assim, em cada local as mensagens propagadas são passadas de acordo com o que faz parte da realidade de cada região e seus costumes, o comportamento e o modo como a população vive, devendo esta representar cultura para interagir com a sociedade. A internet é um veículo cada vez mais usado para que as pessoas possam conhecer um pouco de outros lugares e seus atrativos turísticos sem sair de suas cidades. Isto tem um impacto positivo, causando ainda entusiasmo para estarem no lugar em que desejam conhecer. 4 METODOLOGIA UTILIZADA Inicialmente, utilizou-se de pesquisa exploratória por meio de levantamento bibliográfico em livros, sites e artigos, complementada por pesquisa documental, através de postais e fotos extraídas de arquivos públicos (LAKATOS; MARCONI, 2007). Quanto à natureza da pesquisa, pode ser definida como qualitativa, que traz uma abordagem naturalista e interpretativa. De acordo com Silva (2003, p. 93), “essa abordagem naturalista e interpretativa significa que os pesquisadores estudam as coisas e seus cenários naturais,

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             PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

 

na tentativa de entender ou interpretar os fenômenos em termo dos significados que as pessoas a eles atribuem”. Em um segundo momento, houve pesquisa de campo realizada na Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Vitória da Conquista – Ba, através do então Secretário. Para determinação desse sujeito, optou-se por amostragem por conveniência (SILVA, 2003). Quanto à análise e tratamento dos dados, após a realização das entrevistas por meio de gravadores, a mesma foi posteriormente transcrita, avaliada e discutida. Com a preocupação em registrar as respostas, pode-se garantir que as mesmas fossem completas e suficientes. Por isso, coube ao entrevistador dispor de estratégias habilidosas para se adequar a realização da entrevista (GIL, 2007). 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da entrevista sobre o Patrimônio Cultural (Cristo de Mário Cravo), realizada com o Secretário de Cultura do Município, Sr. Gildelson Felício, percebeu-se que, ao questionar sobre a percepção do mesmo sobre o monumento, o poder público reconhece a grandiosidade da obra, ressaltando a fisionomia nordestina do Cristo e ainda o referência como ponto estratégico devido a sua localidade.

[...] Sem dúvida eu acho que o Cristo, junto com a Praça Tancredo Neves e a Catedral são os três pontos mais referenciais do ponto de vista fotográfico, mas o Cristo sem dúvida supera todos os outros monumentos da cidade em relação à visibilidade pela sua posição estratégica. (G.F., 2013)4.

Ao perguntar ao como avaliava a percepção do morador em relação ao Patrimônio Cultural, o secretário falou que quem observa a obra como monumento admira-a pela sua grandeza e ainda pelas suas peculiaridades. Porém, destaca que, para os conquistenses católicos, a visão vai além da imagem material, dando margem ao aspecto de identidade espiritual. O Secretário ainda ressaltou sobre a vista que se tem da cidade, quando percebida do alto, onde o monumento se encontra. Ao perguntar como o poder público avalia o uso do mesmo com o intuito de atrair visitantes, o secretario afirmou:

É fundamental. Acho que o principal atrativo turístico da nossa cidade, claro, acrescido essa questão do frio, nós temos uma cidade que se desenvolve mais pelo turismo do negócio e de eventos. Eu acho que esse é o fraco de Vitória da Conquista, nossa infraestrutura é mais voltada pro turismo de eventos e de negócios. (G.F., 2013)

                                                                                                               4 Depoimento concedido por Gidelson Felício em 2013.

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Neste comentário, Sr. Gildelson também cita que a imagem do Cristo sempre é introduzida nas peças publicitárias de festas municipais, demonstrando assim que o monumento é, sem dúvida, um referencial da cidade de Vitória da Conquista. Assim, pessoas que visitam a cidade por outros motivos acabam sendo atraídas pela imagem do Cristo, sendo tentadas a conhecê-lo. Com relação ao que a iniciativa pública tem feito no sentido de preservação do patrimônio, o Secretário da Cultura reconhece que há uma necessidade de manutenção não só da obra, mas também do local. Reforça que esta questão não é só de responsabilidade da Secretaria da Cultura, por isso, salienta que para haver a revitalização do local é necessário que haja uma sintonia entre os setores, a exemplo da Secretaria do Meio Ambiente. Ao perguntá-lo sobre as ações que a secretaria tem realizado, a fim de divulgar o monumento, o secretário diz que não há divulgação específica devido aos problemas de infraestrutura. Acrescenta a este questionamento que a divulgação é feita de forma conjunta a outros eventos e ainda que a publicidade específica seja feita quando houver uma total restauração e garantia de segurança no local. O Secretário ainda destaca que “a visão é muito bonita então, se houver segurança, é algo que virará rotina pras pessoas...”. Ressalta-se que nesse momento ele acaba por afirmar sobre a falta de segurança pública no local, já que o monumento localiza-se um pouco afastado do centro da cidade. Perguntou-se o que os órgãos competentes têm feito com relação a esta questão:

[...] Então, existe já parte desta infraestrutura, a gente precisa colocar para funcionar tendo realmente esta parceria de um posto policial permanente lá, [...] paralelo a isso a restauração da obra para que fique realmente, toda uma estrutura bem montada. (G.F., 2013)

O que fica evidenciado nas considerações do Secretário da Cultura do Município é que o potencial turístico do patrimônio cultural é perceptível, porém o poder público admite que a falta de infraestrutura, seja ela de segurança ou até mesmo de acessibilidade, são obstáculos que dificultam uma visitação e até mesmo a divulgação do monumento. Com isso, percebe-se que há certo comodismo e desinteresse de reestruturação da obra e da localidade em si. Então, pôde-se perceber que, de acordo com o problema levantado e os objetivos citados no início da pesquisa, não está havendo publicidade específica para divulgação da obra. Fica evidenciado se que trata de uma obra de grande importância para a cidade, bem como para seus moradores; porém, o fato de não estar sendo valorizada, demonstra que está faltando empenho e interesse por parte do poder público. Nesta perspectiva, acredita-se que existindo o investimento necessário para a revitalização da obra, e ainda promovendo uma publicidade efetiva, haverá um maior

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             PATRIMÔNIO HISTÓRICO E OPINIÃO PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE O CRISTO DE MÁRIO CRAVO EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

 

fluxo de pessoas interessadas em conhecer a obra, podendo ser um atrativo turistíco para a cidade, sendo que esta possui características relevantes para tal propósito. CONCLUSÃO Os meios de comunicação possuem diversas formas de divulgar um patrimônio e influenciar o turismo nas mais diferentes localicades. A partir disso, pôde-se perceber que as campanhas publicitárias têm muita importância para o turismo; logo, a propaganda tem o dever de lavar à sociedade informações desse tipo, visto que todo atrativo necessita de publicidade específica para divulgação da uma obra. Portanto, é evidente que, havendo interesse por parte das autoridades em criar um planejamento para restauração e divulgação de um patrimônio cultural, haverá maior atratividade, desenvolvimento e fortalecimento da economia local. A partir dessas considerações, acredita-se que, existindo investimento necessário para a revitalizações de obras, seja ela um museu, um monumento ou qualquer outro patrimônio histórico, e ainda promovendo uma publicidade efetiva, haverá um maior fluxo de pessoas interessadas em conhecer o local, podendo ser um atrativo turístico para a cidade, uma vez que com o planejamento específico e organização haverá melhoria de vida para a comunidade local, além de ampliar o conhecimento sobre o patrimônio. REFERÊNCIAS BARRETTO, Margarita. Turismo e legado cultural: fonte de empregabilidade e desenvolvimento para o brasil. Campinas: Papirus, 2002. BOMFIM, Natanael Reis; ARGÔLO, Djaneide Silva. Análise discursiva da relação entre atividade turística, apropriação do território e patrimônio: contribuições para o planejamento sustentável do turismo na Bahia - Brasil. Disponível em: <http://www.pasosonline.org/Publicados/7209/PS0209_11.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2012. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. KUAZAQUI, Edmir. Marketing turístico e de hospitalidade: fonte de empregabilidade e desenvolvimento para o Brasil. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2000. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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MOTA, Keila Cristina Nicolau. Marketing turístico: promovendo a atividade Sazonal. São Paulo: Atlas, 2001. SILVA FILHO, Urbano Cavalcante Da. Publicidade turística: fenômeno social, sistema simbólico e produto cultural: uma abordagem à luz dos estudos culturais. Disponível em: <http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/edicao5/artigo_2.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2012. SILVA, Luzia Wilma Santana da (Org.). Família em contexto: multiversas abordagens em investigação qualitativa. Salvador: s.n., 2012.

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RELAÇÕES RACIAIS NA ESCOLA: O QUE PENSAM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO Amanda Santana da Silva1 Bruna Vilas Bôas Almeida1 Drielle Caroline Bidu Duarte1 Gabriele Pereira de Brito1 Naiara Santos de Andrade1 Maria Rosália de Azevedo Correia2 RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar as percepções que jovens de 1ª a 3ª série do ensino médio têm com relação às questões raciais na escola, dentre elas, cotas, preconceito e exposição à mídia. Em se tratando de uma pesquisa exploratória, realizada na disciplina Psicologia Social do 4º semestre, do curso de Psicologia, havia a intenção de aproximar-se do tema e entender as vinculações possíveis dessa temática com a Psicologia e o papel do psicólogo. Foram aplicados 58 questionários em estudantes do ensino médio de escolas públicas e particulares de Salvador e 5 questionários em professores dessas mesmas escolas, abordando questões referentes as relações raciais no âmbito escolar. Há uma recorrência no enfrentamento deste tema no âmbito educacional. Os dados revelaram que a maioria dos estudantes se identifica como negro, o que se contrapõe a dados verificados em pesquisas outras realizadas em âmbito nacional. Esses estudantes acreditam que a cor da pele não influencia no convívio escolar e a maioria relata que não sofre preconceito e nem brincadeiras de cunho racial dentro da escola. Pode-se atribuir a essa percepção o fato de haver uma maioria de alunos negros nessas escolas. Os professores, por sua vez, informam que a escola aborda as questões sobre desigualdade racial e que isso interfere na concepção dos alunos. A pesquisa nos mostrou um grupo diferenciado no qual as condições socioculturais que vivencia o racismo e o preconceito na escola não se configuram como questões de peso. Entretanto, no âmbito social a discriminação racial é fato. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Relações Raciais. Preconceito.

                                                                                                               1 Graduandos do Curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa, Salvador, Bahia. E-mails respectivos: [email protected];[email protected];[email protected];[email protected];[email protected]. 2 Psicóloga, Mestra e Doutora em Educação. Coordenadora dos cursos de Pós-Graduação em Psicologia e Professora do curso de graduação em Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa, Salvador, Bahia. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT The objective of this study is to investigate the perceptions that young people from 1st to 3rd grade of high school have about racist issues in school, among them quotas and prejudice and media exposure. In the case of an exploratory survey conducted in the discipline of Social Psychology 4th semester, the Psychology course, was the intention of bringing up the topic and understand the possible linkages of this theme with the psychology and the role of the psychologist. Questionnaires were administered in 58 high school students from public and private schools of Salvador and five questionnaires in these same schools teachers, addressing issues of race relations in schools. There is a recurrence in addressing this issue in the educational field. The data revealed that the majority of students identify themselves as black, which contrasts the data recorded in other surveys conducted nationwide. These students believe that skin color does not influence the school life and most reports that it suffers no prejudice and racial jokes die within the school. One can attribute this perception to the fact that there is a majority of black students in those schools. Teachers, in turn, inform the school that addresses issues about racial inequality and that this interferes with the conception of students. The research showed us a distinct group in which the sociocultural conditions who experience racism and prejudice in school are not depicted as weight issues. However, in the social racial discrimination is fact. KEYWORDS: Education. Race relations. Prejudice.

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INTRODUÇÃO O presente trabalho constitui uma reflexão sobre as questões raciais, propondo-se a compreender, do ponto de vista dos alunos, como se constituem as relações raciais entre jovens estudantes de escolas públicas e particulares do ensino médio, em Salvador, Bahia. Recorre-se ao levantamento bibliográfico, aplicação de questionários e à análise dos dados, dialogando a literatura e as respostas dos estudantes, com o objetivo de entender a atuação do profissional de educação e do psicólogo no que tange a essas questões. O presente artigo apresenta informações sobre os principais termos acerca das questões raciais e a inserção do psicólogo, definições e concepções da área da Psicologia, e perspectivas históricas. O termo “Raça” pode ser usado com vários significados, pois, como outros conceitos, possui campo semântico e dimensão temporal. Pena e Birchal (2006) asseguram que o conceito de raça é uma invenção recente na história da humanidade, é produto cultural da mesma. Foi criado com a intenção de justificar a dominação de um grupo sobre o outro ou sobre outros grupos e ganhou força a partir de interesses de determinados grupos. Guimarães (2002) afirma que, na história das ciências naturais, este conceito serviu para classificar as espécies animais e vegetais, enquanto no latim medieval designou a descendência, ou seja, um grupo de pessoas que possuíam características físicas em comum. E prossegue, esclarecendo que, em 1684, esse termo passou a ser empregado no sentido moderno da palavra pelo francês François Bernier, ou seja, para classificar a diversidade humana em grupos fisicamente contrastados, denominados raças. A partir do final do século XVII, na França, o conceito de raça passou efetivamente a ser usado como uma relação entre classes sociais. Mediante esses e outros estudos, percebe-se que raça não é uma realidade biológica, mas apenas um conceito “cientificamente inoperante” para explicar a diversidade humana e para dividi-las em raças, baseando-se pela cor, como afirma Santos (2007). Assim, esse conceito é apresentado como ideológico, estando em uma categoria étnico-semântica, pois os conceitos de negro, branco e mestiço são significados de maneiras diferentes em diferentes lugares, sendo determinados pela estrutura global da sociedade e pelas relações de poder existentes nesta. Santos (2007) ainda assegura que é a partir desse contexto de divisão de classes, usando-se o termo raça, que surgem o preconceito e o racismo. O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis (1998) define preconceito como um “conceito ou opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; ideia preconcebida”. Desta forma, o preconceito corresponde a uma primeira compreensão de algo, uma opinião formada sem reflexão, sem haver um conhecimento claro e profundo sobre determinado assunto. Complementando esse conceito, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, o IBASE, (2006, p. 20) afirma que preconceito são “[...] ideias negativas sobre pessoas ou grupos de pessoas pelo simples fato de elas possuírem uma determinada característica como a cor da pele, por exemplo”. Existem inúmeras formas de preconceitos, entre eles, preconceitos contra

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classe social, religião, cultura, opção sexual e/ou cor da pele. E ainda segundo Michaelis (1998), o racismo é entendido como doutrina que defende a pretensa superioridade de certas raças humanas. No Brasil, racismo é considerado crime. As ideias de discriminação e preconceito que os negros sofrem até hoje surgiram com a divisão social de classes, que sempre colocou os negros numa posição de escravo, servo, empregado. Nesse contexto, surgem questões sobre uma suposta democracia racial, que seria a crença de que no Brasil não há conflitos de raça, proporcionando o desenvolvimento da ideia de que não existe raça no Brasil e, dessa forma, justificando uma nação justa. A democracia racial, hoje em dia, pode ser considerada como mito. O Brasil está longe disso; pesquisas revelam que em todos os âmbitos, sejam eles a educação, o trabalho, a política, entre outros, os negros têm menos oportunidades do que os brancos. Como afirma Guimarães (2002), o racismo age de forma silenciosa no Brasil. O mito da democracia racial está inserido na construção de uma identidade racial e de um reconhecimento da cor. Como exemplo, podemos citar a resposta dada por uma jovem a uma pesquisa realizada por Guareschi e outros (2002), com 16 entrevistados, entre 15 e 18 anos, moradores de uma comunidade (favela) oriunda de êxodo rural. Nessa pesquisa, numa perspectiva histórico-crítica, que traz esse mito como a ideia de que questões raciais não constituem um fator de exclusão, analisaram-se os discursos dos jovens entrevistados. No primeiro momento, enuncia-se a não existência de diferenças entre raças e, em outros momentos e contextos, enunciam situações nas quais é possível notar o preconceito racial:

Eu conheço uma menina que é negra, que foi ao supermercado para procurar um emprego e eles disseram que não havia pessoas negras trabalhando lá. Eles foram racistas com ela, mas eu acho que aqui na comunidade todo mundo é igual. A menina só ficou triste porque ela é de uma cor diferente, mas não deveria haver nenhuma diferença, para mim todo mundo tem que ser igual (GUARESCHI et al., 2002, p. 60).

Nessa discussão, é possível identificar uma contradição na concepção de democracia racial presente na sociedade. Quando o assunto é cotas, há muita discussão. O sistema de cotas raciais surgiu nos Estados Unidos da América, no ano de 1961, sob a presidência de John Kennedy, como uma forma de ação afirmativa voltada para combater os danos causados pelas leis segregacionistas que vigoraram entre os anos de 1896 e 1954, as quais impediam que os negros frequentassem a mesma escola que os brancos americanos (TAVARES, 2008). De forma semelhante, a ação afirmativa no Brasil, defendida pelo projeto de Lei N.º 180/08, utiliza o critério cor da pele para beneficiar negros e pardos ao ingresso no ensino superior, sob o argumento de proporcionar um resgate social àqueles que foram discriminados ao longo da história. Há partidários de que, pelo fato de a maioria dos negros no Brasil serem pobres, não significa que as cotas devem ser raciais. E argumentam que esses sistemas de ações

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afirmativas (cotas, privilégios) podem ser entendidos como mais uma forma de preconceito, pois de forma subentendida afirmam que os negros que necessitam de cotas precisam de certos privilégios para ingressar em uma faculdade, ou conseguir algo. E concluem que esse sistema de cota, como forma de compensar a educação pública, deveria ser voltado mais para a questão econômica e social do que para a raça, efetivamente. As cotas destinadas aos negros com o intuito de dar oportunidade para que estes ingressem em uma universidade, na verdade, deveriam ser destinadas a estudantes de escolas públicas, pois, devido ao baixo nível na educação pública, outro problema da nossa sociedade, esses alunos não teriam como competir com alunos de colégios particulares, sejam eles brancos ou negros (AMORIM, 2004). Na discussão sobre cotas e educação, surge a necessidade de identificar responsabilidades na abordagem desse tema. A escola tem um papel fundamental na construção das relações raciais. Tem o dever de oferecer palestras, trabalhos, dinâmicas que contribuam para a diminuição do racismo que se vê nas escolas. Identificadas de cunho racista, as brincadeiras entre alunos devem ser analisadas e proibidas. Como afirmam Croso e Souza (2007), essas brincadeiras, de uma forma silenciosa, contribuem para que o racismo permaneça na sociedade brasileira. Croso e Souza (2007), especialistas nessa temática, descrevem, no livro “Igualdade das relações étnico-raciais na escola”, que a escola tem um papel fundamental no processo de reeducação das relações étnico-raciais. Afirmam que é necessário tomar partido de um papel transformador, pautado sistematicamente em questões conflituosas e inegavelmente de difícil abordagem, mas promovendo, junto à sua comunidade escolar, o caminho do diálogo e do debate aberto e plural. Ainda no âmbito escolar, Costa (2010), em seu artigo: “Relações Raciais e Educação: Um Estudo sobre o Processo de Construção de Identidade Étnico-Racial de Estudantes Afrodescendentes”, aponta o quanto a dimensão racial não pode passar despercebida nas instituições:

O preconceito étnico-racial é fortemente reproduzido dentro das escolas e precisa, portanto, ser discutido entre os atores da escola. A escola nesse sentido torna-se um importante espaço de luta contra o racismo o que é tarefa de todos os que nela convivem, independente do seu pertencimento étnico-racial, crença, religião, ou qualquer outra posição social. (COSTA, 2002, p. 2)

Portanto, as repercussões das questões raciais, no contexto escolar, não estão alheias à realidade e ao mundo social e deve ser melhor compreendida (GUIMARÃES, 2005). Os deveres de debater, entender e respeitar essas questões no âmbito escolar não é um papel que deve ser exercido apenas pelos professores. É uma tarefa pertinente ao profissional da Psicologia que atua no âmbito escolar e atende às orientações do Código de Ética (CFP, 2005, p. 9) que, no Art. 2º, descreve:

Ao psicólogo é vedado: a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou

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opressão; b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais.

O trabalho do psicólogo nas situações de preconceito racial na escola, tanto com os alunos quanto com os professores, é de extrema importância. Sabemos que a Psicologia Social tem como objeto de estudo o ser humano de natureza social, o que significa entender que existem múltiplas relações baseadas nas questões das diferenças de gênero, de raça, de classe social, opção religiosa, entre outras. A Psicologia se preocupa em entender como as situações de desrespeito e preconceito afetam as subjetividades, defendendo e trabalhando na busca de uma sociedade mais justa e igualitária para todos, independente de cor, raça ou classe social, enfrentando as desigualdades sociais e étnico-raciais. Compreende-se assim o quanto é necessário esse diálogo entre a escola e o trabalho do psicólogo no que tange a essa problemática (CRP03, 2012). 2 MÉTODOS

De acordo com Gil (2002), a pesquisa exploratória proporciona familiaridade com uma problemática a fim de torná-la mais explícita e possibilita as considerações dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado e um planejamento bastante flexível. Na presente pesquisa, foram aplicados dois questionários distintos, sendo o primeiro com 17 questões e outro com quatro questões abertas destinadas respectivamente a alunos e professores, abordando o tema ‘relações raciais’, no que se refere à discriminação e educação. Os sujeitos foram escolhidos mediante uma amostragem aleatória, por conveniência dos pesquisadores, como local de fácil acesso. Foram abordados 58 alunos de séries e escolas distintas, sendo 75,59% da rede pública e 24,5 de rede particular. Foi visitada uma única escola pública, na qual foram entrevistados 25 estudantes (43,6%) e os cinco professores que participaram da pesquisa. Atendendo aos princípios éticos e científicos estabelecidos para pesquisa com seres humanos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, os sujeitos foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa, e todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Concluída a aplicação dos questionários, os dados obtidos foram quantificados, categorizados e inseridos em um banco de dados, utilizando-se do pacote estatístico SPSS for Windows 20.0 (Statistical Package for the Social Sciences). De posse dos resultados, foi feita uma análise crítico-discursiva confrontando-os com os referenciais teóricos previamente pesquisados.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 O PONTO DE VISTA DOS ALUNOS O primeiro dado relevante que surgiu na pesquisa refere-se ao fato de que 40% dos sujeitos assumiram a sua condição de negro quando responderam a questão “Qual é a sua cor?”. Isso contrasta com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2008, que analisou a percepção racial dos brasileiros. Essa pesquisa contou com a participação de 15 mil famílias distribuídas em diferentes estados, e os dados mostraram que apenas 7,8% dos entrevistados afirmaram de forma espontânea que a sua cor ou raça é "negra" ou "preta". Ainda segundo essa mesma pesquisa, muitos brasileiros se declararam como sendo "morenos" para evitar se declarar como negros e que, 21,7% dos entrevistados se disseram "morenos" e 13,6% como "pardos", enquanto que 49% disseram ser "brancos" e 1,5% "amarelos". O restante se autodenominou de outras formas, como "brasileiro", "mulato", "mestiço", "claro", "alemão", "italiano", "indígena", entre outras. Esses dados levaram a questionar o significado de “ser negro”, uma vez que a questão da negritude não está só na cor da pele. Segundo Silva (2007), ser negro possui vários significados, que resulta da escolha da identidade racial que tem a ancestralidade africana como origem (afrodescendente) e é um posicionamento político, em que se assume a identidade racial negra. Como se sabe, a população brasileira se diverge de muitas outras por ser fruto de uma ampla miscigenação (TARANTO; ANDERSON, 2005). A mistura de raças entre europeus, índios e africanos, na história do Brasil, fez com que hoje o mesmo seja considerado o país de diversas culturas/costumes em uma só nação. De um lado há índios; de outro, é ampla a presença da herança da negritude e costumes africanos, enquanto no sul do País a presença da cultura europeia é extensa (GUIMARÃES, 2002). Ser negro, para o ator e pesquisador Teles citado por Taranto e Anderson (2005, p.1), não é uma questão só de cor da pele:

A questão da negritude é a de assumir-se negro, identificar-se negro, sentir-se negro. É mais reconhecer-se, independentemente da cor da pele. Por que eu posso me assumir negro, embora não seja preto. Sou de uma família numerosa. Sou o mais negro. Tenho cabelos crespos, olhos puxados. Ser negro é sentir-se negro pela minha ascendência.

Acredita-se que o fato de a pesquisa ter sido realizada na cidade de Salvador-Bahia, que tem a maior população de negros do País, foi decisivo para a obtenção de tais resultados, pois a cultura africana é presente no dia a dia, seja nas comidas, nas danças, na religião, nas vestes, entre outros fatores que modelam a identidade dos baianos (TARANTO; ANDERSON, 2005). Segundo Teles citado por Taranto e Anderson (2005), identificar-se como negro exige coragem e depende da cultura. Os movimentos negros são os mais velhos “novos atores

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sociais” que se podem registrar na história brasileira. Para o IBASE (2006), a luta pelo fim do racismo e de seus efeitos cruéis sobre toda a sociedade é antiga. O movimento negro no Brasil, a partir da década de 1970, vem pressionando o Estado para a prática de políticas de combate à discriminação racial. A partir disso, algumas medidas foram implantadas.

O fato que melhor ilustra a mudança da abordagem do Estado em relação à questão racial foi às manifestações ocorridas em 1995, quando o movimento negro brasileiro deu visibilidade às comemorações pelos 300 anos de resistência contra o racismo. A data foi escolhida por marcar os 300 anos da morte de Zumbi, líder negro do Quilombo dos Palmares, assassinado em 1695. (IBASE, 2006, p. 15)

Diante desses cenários de intenso debate, surgiram muitos grupos de defesa dos direitos dos negros no País. Principalmente no final da década de 1980, o Brasil presenciou um período de importantes mudanças no que tange à temática étnico-racial e à construção da identidade nacional. Um importante movimento criado nesse período foi o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNU), criado em 07 de julho de 1978 em São Paulo com a proposta de reagir contra a violência racial (OLIVEIRA, 2009). Concomitante aos movimentos nacionais, vários movimentos sociais de cunho racial estão presentes no contexto social da Bahia, como é o caso do bloco carnavalesco Ilê Ayê que expõe e exalta a cultura negra, de raízes africanas com sua riqueza sonora nas vozes e nos tambores africanos. Este bloco carnavalesco é considerado como um dos que mais contribui para o desenvolvimento pleno e abundante do carnaval afro da Bahia, resgatando o sentimento, o valor e o orgulho da raça negra. E outros movimentos servem como formas de protesto e criam, ao mesmo tempo, alternativas de mudança e melhoria na vida de suas comunidades. A banda Ara Ketu, surgida nos anos 80, por sua vez, tinha como intenção promover uma maior interconexão e mistura entre as músicas, ritmos e culturas entre a África e a Bahia. A banda realiza um trabalho baseado na pesquisa da música africana tradicional, devidamente readaptada musicalmente para a temática brasileira (nos sambas, músicas nordestinas e toques de candomblé). Esta banda realizou a maior revolução experimentada pela música afro-baiana em toda a história e, consequentemente, cativou sucessores em anos subsequentes. Esses e tantas outras iniciativas de grupos e entidades que trabalham pela valorização do negro e pela igualdade social e política modelam uma cultura própria da Bahia como uma escultura em que ao seu redor, a cultura negra se faz predominante3. Quando perguntados sobre a influência da cor no convívio na escolar, 73,6% dos entrevistados afirmou que não há. Quanto a esse dado, comprovado com a pergunta “Na sua escola há brincadeiras que colaboram com a discriminação racial ou preconceito?”, 80,9% dos alunos responderam que não há brincadeiras de cunho racial. Mais uma vez, aparece a realidade baiana, porque mostra uma disparidade dessas escolas com outras do Brasil onde há muitas brincadeiras, ofensas referentes à “raça” dos alunos. Acredita-se                                                                                                                ³ Informações extraídas do site www.ileaiye.com.br, do O Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê, Salvador, Bahia, sem informações de data.

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que esses alunos declararam que não sofrem discriminação racial na escola devido ao fato de que a maioria dos alunos que frequentam a rede pública de Salvador é negra. Esse dado pode ser comparado a uma pesquisa realizada numa escola pública, em Paulo Afonso (Bahia), por graduandos em Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia, na qual os resultados mostraram que o percentual de discriminação sofrido por jovens não é baixo, sendo que a maior percepção sobre o racismo é, via de regra, confrontado com a percepção dos brancos, já que é no cotidiano dos pardos e negros que se verificam os indícios que remetem a essa temática (GOMES et al., 2010). Os 17,6% dos alunos que afirmaram haver brincadeiras de cunho racista na escola relataram que estas são do tipo: colocação de apelidos e comparações entre eles e também com funcionários do colégio, como é o caso de: “O bullying que é presente na maioria das escolas, como exemplo a colocação de apelidos” (RPB, 16 anos); “Com apelidos entre os alunos e até com funcionários” (JPB, 17 anos); “Brincadeiras raciais, como apelido como negrinho, mulato” (RSS, 17 anos). Questionados sobre a interferência das escolas nessas situações, a maioria relatou que a escola não interfere muito, apenas em casos mais graves, e poucos afirmaram que as escolas promovem algo para evitar esses tipos de brincadeiras. Há depoimentos que dizem: “A escola só interfere quando acontece algo mais grave, como uma briga” (JPB, 17 anos); “Não há preocupação institucional, apenas o diálogo em casos que interfiram em outras áreas” (João, 18 anos); “A escola não interfere em nada” (RSS, 17 anos). Com essas respostas, percebe-se que é como se tudo fosse visto como simples brincadeiras entre alunos, que nada sofrem com elas. Porém, sabemos que não é tão simples assim. Sofre-se o preconceito racial, mesmo que seja com “simples” colocações de apelidos. Só quem sente na pele o preconceito é quem sabe o quanto é difícil lidar com ele (GUIMARÃES, 2002). É importante ressaltar que foi relatado em algumas pesquisas, como a de Guareschi e outros, sobre “As relações raciais na construção das identidades” (2005), que, muitas vezes, as relações raciais de preconceitos ocorridos nas escolas são justificadas pelos professores como apenas “brincadeiras” entre colegas que, muitas vezes, não percebem a gravidade da situação e negam a existência do racismo nas escolas. As relações entre alunos são consideradas positivas quando carregam afetividade entre elas; desta forma, tende-se a negar que existem práticas racistas nas escolas e assim colaboram para que não se discutam e não se proponham formas de identificar sutis manifestações de discriminação. O comum é a afirmação de que na escola todos são tratados como iguais (ABRAMOVAY, 2007). Dados referentes ao ingresso no ensino superior mostram que, de uma maneira geral, os alunos oriundos de escolas públicas não recebem uma preparação adequada, apresentando dificuldades para ingressar nas universidades. Para suprir essa demanda e compensar esse déficit, o governo criou ações afirmativas, como o sistema de cotas, que destinam vagas para o ingresso nas universidades públicas e particulares do Brasil

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(AMORIM, 2004). Segundo Grin citado por Maio e Santos (2005), essa ação afirmativa diz respeito a um recurso político-administrativo do governo, que busca, por meio de intervenções ou de incentivos nos setores públicos e privados, diminuir os efeitos da discriminação nas oportunidades, nesse caso, em educação, para a população negra e outras minorias. O IBASE traz, em 2006, um dado revelador, qual seja, apesar de representar quase metade da população brasileira, 44,2%, apenas 14,38% das pessoas com nível superior completo são negras. Embora as políticas de ação afirmativa tenham conquistado, nos últimos anos, enormes destaques em diferentes espaços da nossa sociedade, elas são apenas maneiras de adiar o tema, que realmente deveria ser discutido com urgência e muita seriedade em nosso país: a qualidade da educação na rede pública de ensino.

O principal objetivo das ações afirmativas é dar um novo significado à noção de justiça social. São medidas que buscam garantir um tratamento universal por parte do Estado a todos os seus cidadãos e cidadãs – como descrito no Artigo 5o da Constituição, o qual afirma que todas as pessoas são iguais perante a lei. No “universalismo”, criou-se a noção de que “justo” é tratar todas as pessoas de maneira uniforme. (IBASE, 2006, p. 25)

Quando perguntados se concordam com o sistema de cotas para o ingresso de negros à universidade, a maioria, 67,3% dos sujeitos da pesquisa, disse que não concordam, enquanto 30,9% concordam e 1,8% não opinaram. Os que não concordam alegam que esse “privilégio”, na verdade, trata de preconceito. Dados de uma pesquisa Datafolha, realizada por Collucci (2006), divulgada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, indicou que 65% da população brasileira apoia o sistema de cotas para que os negros ingressem na universidade, observando que, entre os entrevistados por eles, quanto maior o grau de escolaridade e renda, maior a rejeição a este sistema. Entre os sujeitos da pesquisa, aqueles que acham necessárias as cotas, justificam afirmando a divergência entre ensino público e privado.

Muitos acham que não, mais os negros ainda sofrem por práticas racistas, sejam elas de formas diretas ou não, tendo em vista que em sua maioria, os negros só ingressariam em escolas públicas, não tendo como concorrer com o grande número de alunos do ensino privado. (M.N. E, 16 anos) Por que foi um grande passo para a participação do negro na universidade. (M.P.C. N, 20 anos)

Alguns estudantes, nas suas respostas, demonstraram que acreditam no mito de democracia racial4, posicionando-se da seguinte forma: “Não, porque somos todos iguais, não importa a cor, raça e etnia” (T.R. Q, 17 anos). “Não, pois dessa forma os negros estariam sofrendo preconceito”. (E.S. S, 17 anos).

                                                                                                               4 Antonio Alfredo Guimarães (2002) traz a ideia da falsa democracia racial, pode-se dizer que não há "democracia racial" no Brasil; contudo, não pelo fato de haver desentendimento entre as raças, mas sim pelo fato de não haver uma democracia efetivamente sólida de modo geral entre a população, seja ela branca, negra ou mestiça.

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O questionário permitiu constatar que existe uma grande complexidade em torno desse assunto, pois de certa forma esta é uma medida criada para de alguma maneira compensar as injustiças sociais impostas por algum tipo de opressão racista. Porém, historicamente, a prática não corresponde ao planejado, pois acabam por se transformar em instrumento de divisão da sociedade em classes e da concessão de privilégios – os quais, no lugar de remediar conflitos, somente servem para incitar preconceitos (AMORIM, 2004). Os dados mostram ainda que, mesmo aqueles que concordaram com o sistema de cotas para o ingresso de negros a universidade (30,9% dos alunos), em sua maioria, veem esse “privilégio” como algo discriminativo, afirmando que, se não existisse o sistema de cotas, os negros continuariam sem alternativas, sendo a maioria deles marginalizados pela sociedade. A pesquisa revelou algo curioso: os estudantes, enquanto pessoas, não se acham racistas (94,5% dos entrevistados afirmaram não ser racista), mas consideram o País racista (94,5% dos estudantes acreditam que o Brasil é um país racista). Inúmeras pesquisas reforçam essa contradição no Brasil. Esses dados corroboram aqueles obtidos numa pesquisa de Venturi e Bokani (2004), que revelaram o Brasil como um país racista por 87% de seus entrevistados. E, quando perguntados se brasileiros são racistas, 96% disseram que não. Ou seja, os brasileiros não se consideram racistas e gostam de ostentar uma imagem de gente sem preconceito à mistura racial; por outro, fornecem indicadores que apontam para um preconceito racial latente. No Brasil, o preconceito e o racismo são camuflados! Isso pode ser percebido em pesquisas e relatos. Segundo Soffiati (2005), o racismo está presente em todas as sociedades e está tão impregnado na sociedade brasileira, que certas expressões racistas acabam sendo tomadas como naturais. Entre elas o famoso “negro de alma branca”, “é negro, mas é gente boa”, ou em outro caso, o “serviço de preto”, desmascaram o racismo. Então, com essas questões, percebe-se que apesar de muitos negarem a existência do racismo, quando relacionado a si próprio, reconhecem que ele existe. Supõe-se que as pessoas têm preconceito de ter preconceito e têm receio de serem rotuladas como racista, visto que existem sanções a esses comportamentos. Outras vezes, as pessoas, de maneira geral, não consideram racismo e nem preconceito quando apenas riem ou fazem graça com algo relacionado a diferenças. Isso ocorre por falta de conhecimento do que, de fato, é o racismo. Não se reconhecem como racistas, mas, vez ou outra, têm um tipo de atitude em que o racismo fica evidente. Por meio do riso, o brasileiro encontra uma via intermediária para extravasar seu racismo latente, contornando a censura e a reflexão crítica sobre seu conteúdo e sobre o alcance de satisfação simbólica que o riso propicia ao mesmo tempo em que ele não compromete sua “autorrepresentação” de não racista. Uma produção falsa e confusa dá a impressão de que o objeto do riso não tem nenhuma relação com o prazer que ele produz, ou seja, o

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fato de rir de uma piada racista não define o indivíduo como racista (GUIMARÃES, 2002). A Constituição Brasileira de 1988 (em seu artigo. 5º, inciso 42º) passou a considerar a prática do racismo como crime. A partir da promulgação desta lei, é interessante perceber que a participação do negro na mídia tenha aumentado. Obviamente que o negro ainda não ocupa uma posição valorizada na mídia. A hegemonia segue sendo a da raça branca. Entretanto, mesmo com projetos de lei como tentativa de equilibrar a participação mais equitativa entre negros e brancos, a posição do negro não avança, continua a ser superficial e estereotipada (BRASIL, 1988).

Tabela 1 – Quadro de respostas dos estudantes, quando perguntados “Como você vê o racismo na mídia?”

Fonte: Autoria própria, 2013.

Os alunos foram questionados como eles veem o racismo na mídia, e 26,4% disseram que viam de forma exagerada, enquanto 21,8% considera de forma subentendida, como mostra a Tabela 1. O que querem dizer a maioria destes jovens estudantes que responderam que o racismo estava na mídia brasileira de forma subentendida? Pode-se verificar, sem dificuldade, que a maioria dos atores negros de novelas, filmes e peças aparecem em papéis como empregados, bandidos, moradores de favela e outros congêneres. Essa é uma das maneiras de o racismo estar subentendido na mídia. Pouco se veem personagens negros bem sucedidos. Além disso, poucos são os jornalistas negros vistos nas emissoras de televisão. Isso foi verificado na fala dos estudantes entrevistados,

Respostas dos estudantes

Total

Nº %

Exagerado 15 26,4

Sub-entendido 13 21,8

Banalizado 3 5,5

Ignorado pela Mídia 4 6,4

Positivamente 6 10,9

Não há racismo na mídia 2 3,6

Ignorado/Não Obtido 15 25,5

Total 58 100,0

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como se pode perceber: “Uma esculhambação, os negros são empregados ou assaltantes nas novelas” (JBJS, 20 anos); “Vejo como a mídia coloca o negro no lugar inferior, por exemplo: mulheres negras nas novelas, muitas vezes, fazem papel de empregada doméstica” (TBA, 16 anos). Sendo a mídia um veículo de informação formador de opinião, acredita-se que deveria ser mais preocupado em diminuir essa visão negativa do negro. Outra maneira pela qual pode-se perceber o racismo na mídia é fazendo uma comparação entre o percentual da população negra brasileira – 44%, com o espaço que o negro tem na mídia. Os negros ocupam menos do que 10% deste espaço. O deputado Paulo Paim (PT-RS) criou o projeto que determina uma cota de participação do negro em propagandas, filmes de televisão e peças de teatro. Os programas e filmes mostrados pelas emissoras de televisão deverão apresentar imagens de negros em proporção de 25%. E as peças publicitárias, filmes, programas deverão apresentar a imagem do negro em uma proporção não inferior a 40%. Esse projeto é uma tentativa de mostrar a realidade brasileira na qual 44% da população é negra (SÁVIO; SANTANA, 2001). Sabe-se que os negros ascendem socialmente desde o período colonial, embora essa ascensão ainda seja tímida, como afirma Francisco Ladeira (2009) em seu trabalho acadêmico sobre a relação entre Classe e Cor. A população negra brasileira corresponde a apenas um terço da classe média do País, assim como dados do IBGE (1991) demonstram que entre os chefes de família que ganham mais de 3 salários mínimos, os negros representam apenas 14,69%. Assim, a maior presença de negros nos meios de comunicação pode não estar ligada somente ao escopo do mercado de promover a igualdade racial, mas também pela necessidade cada vez maior do mercado publicitário em direcionar anúncios para esse consumidor, atraindo um novo segmento que compõe considerável parte da população brasileira. 3.2 O PONTO DE VISTA DOS PROFESSORES A construção da identidade de um indivíduo diz respeito a um modo de ser, de viver, de se reconhecer com seus pares e se diferenciar dos demais. A identidade racial da população que se considera negra fornece alguns caracteres somáticos semelhantes aos indivíduos deste grupo, que é a matriz africana (SILVA, 2007). Como já foi apresentado anteriormente, 83,6% dos alunos acreditam que a escola influencia na construção de suas identidades sociais. Isso ratifica o quanto é importante o papel da escola e dos professores na construção das relações raciais e da identidade social, e o quanto pode ajudar a construir laços de tolerância. O número de brincadeiras e discriminação racial nas escolas pode ser analisado como pouco representativo, já que 80,9% dos sujeitos relatam que não sofreram brincadeiras de cunho racial. Referente a esse resultado, quando foram perguntados aos professores: “Quais são as estratégias que os profissionais de educação têm desenvolvido para lidar com a desigualdade racial na escola?”. Foram obtidos relatos tais como: “Promovendo

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conscientização dos alunos quanto à diversidade cultural”. E “seminário, vídeo, filmes, debates, etc., oficinas para passar ao alunado que todos são iguais e que essa desigualdade não leva a nada”. Castells (1999) utiliza o autor Calhoun, que define identidade como forma de distinção entre o eu e o outro, nós e eles. Do seu ponto de vista, o autoconhecimento – invariavelmente uma construção, não importa o quanto possa parecer uma descoberta – nunca está totalmente dissociado da necessidade de ser conhecido, de modos específicos, pelos outros. Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, há identidades múltiplas; e essa pluralidade é fonte de tensão e contradição tanto na autorrepresentação quanto na ação social. Segundo Teodoro (1996), o racismo seria a expressão mais forte e violenta, resultante de preconceitos não discutidos, de discriminações não questionadas ou não percebidas, ao longo de um determinado processo histórico-cultural. Esse autor acredita que é necessário dar visibilidade à questão mediante palestras, informativos, entre outros. E isso foi percebido na fala dos professores como fator fundamental para minimizar práticas racistas na escola, quando, por exemplo, foram perguntados sobre o que pode ser feito nas escolas:

Não sei informar se há um projeto na escola voltado para esta questão, mas no decorrer das unidades, na minha disciplina, procuro desenvolver atividades, inclusive com dinâmicas que abordam essas questões. (PROFESSOR DE FILOSOFIA). Através de textos informativos, debates etc. (PROFESSOR DE LINGUAGEM). Mostrando aos alunos que eles são vítimas, mas também algozes. (PROFESSOR DE PORTUGUÊS).

A educação sobre as questões raciais deve extrapolar o âmbito escolar, não se restringindo apenas a professores. A família é uma esfera onde devem, também, diminuir as contingências de incidentes de cunho racial, de preconceito e brincadeiras, como adverte um professor: “Acredito que essa desigualdade deve ser combatida dentro de casa também, pois a educação vem da família que é o primeiro grupo social, mas nem todos vivem em família e o governo deve fazer uma política que não exclua as pessoas” (PROFESSOR DE SOCIOLOGIA). Aos professores de História e Sociologia é possível dar ênfase (como mostra a Tabela 2) ao debate sobre o tema, pois seu conteúdo programático é voltado para discussões sobre a história do Brasil, que contempla todos os contextos de desigualdades sociais tratando da historicidade dos mesmos, dentre eles o racismo.

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Tabela 2 – Quadro de respostas dos estudantes, quando perguntados “Qual disciplina trata sobre questões raciais?

Respostas dos estudantes

Total

Nº %

História 11 19,1

Sociologia 10 17,3

Literatura 1 1,8

Filosofia 1 1,8

Não tem disciplina 26 44,5

Outras 7 12,7

Ignorado/Não Obtido 2 2,7

Total 58 100,0

Fonte: Autoria própria, 2013.

Quando foi perguntado: “É interessante debater sobre questões raciais na escola, tendo em vista a diversidade que compõe o universo escolar brasileiro?”, o professor de História respondeu que: “Muito interessante, principalmente em razão da nossa matriz cultural: África, Índio e Europa”. Isso nos mostra o quanto é importante entender a História do Brasil e sua diversidade cultural, desenvolvendo a tolerância entre os alunos. O fenômeno do racismo influencia não apenas os indicadores sociais de forma desfavorável para os negros, como também outras questões como a autoestima, sendo, dessa maneira, um objeto de estudo para o campo psicológico (SILVA JÚNIOR, 2002). O Conselho Regional de Psicologia (CRP-03), nos anos de 2005 e 2006, iniciou discussões relacionadas às questões dos Direitos Humanos, entre eles a subjetividade e o racismo. Em 2007 surge o Grupo de Trabalho “Psicologia e Relações Raciais”, evidenciando assim o quanto esse debate é novo no campo da Psicologia e indica o quanto ainda deve ser trabalhado (CRP-03, 2012). Nessa perspectiva, o psicólogo deve intervir de forma interdisciplinar e mediadora na formação dos Direitos Humanos. Deve combater o preconceito e a humilhação social (não apenas na escola), garantindo a dignidade das condições de vida dos seres humanos e contribuir para redução da desigualdade social, podendo realizar eventos temáticos: cines-debate e palestras (CRP-03, 2012).

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CONCLUSÃO A pesquisa nos mostrou um grupo diferenciado no qual as condições socioculturais em que se vivencia o racismo e o preconceito na escola não se configuram como questões de peso. Entretanto, no âmbito social a discriminação racial é fato. Verifica-se que o processo educativo pode ajudar a minimizar os preconceitos, como foi visto na pesquisa. Brincadeiras e imagens distorcidas sobre os negros devem ser abolidas, prevenindo a exclusão social e incorporação do preconceito pelas crianças negras. É possível mudar a realidade a partir da educação, desenvolvendo pensamentos mais críticos nas crianças e nos jovens, possibilitando a estes a sensibilidade de identificar não apenas a violência física, mas também a simbólica, evitando que a discriminação racial seja ignorada e confundida com “brincadeiras”, e não permaneça de forma sutil no ambiente escolar (CASTRO, 2005). A desigualdade racial existe. A Psicologia se insere e contribui neste debate, posicionando-se contra qualquer forma de preconceito e aviltamento dos Direitos Humanos, engajada na luta por uma sociedade menos desigual. Além do mais, pode reconhecer, no espaço escolar, as relações desiguais e combater o racismo mediante união de educadores e psicólogos. É preciso otimizar as relações entre todos, sem distinção de cor, classe, raça, etnia, nos níveis cognitivo, sociocultural, lúdico e físico. Apesar de o preconceito racial não ser uma questão de peso, podemos perceber que, de acordo com a literatura utilizada e com algumas afirmações dos alunos, existem brincadeiras de cunho racial, porém de forma sutil. Desta forma, as respostas obtidas pelos professores evidenciam a necessidade do espaço escolar como ambiente que pode proporcionar discussões e palestras sobre essa temática, favorecendo a valorização da cultura e desenvolvendo a tolerância entre os alunos. Proporcionam também um saber crítico, em que o aluno possa desenvolver ferramentas para que, além de aprender com o mundo, possam contribuir com ele, ações que podem reconstruir relações mais saudáveis na escola. Isso será possível se, além de ensinar os alunos a combaterem o racismo, os professores admitirem que a discriminação racial existe sim, pois, segundo Delors citado por Castro (2005), os professores costumam reagir considerando que não há racismo nas escolas ou que é função exclusiva da família ensinar a convivência com outras pessoas (CASTRO, 2005). Assim como foi citado pelos professores entrevistados, é necessário que assuntos como estes sejam expostos em sala de aula, e os alunos possam expressar suas opiniões em conversas, sendo conscientizados dos possíveis danos que a discriminação racial pode trazer ao indivíduo e à sociedade (CASTRO, 2005).

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             RELAÇÕES RACIAIS NA ESCOLA: O QUE PENSAM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

 

SANTOS. A. R. Educação e relações raciais: estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. Disponível em:< http://www.pgsocio.ufpr.br/docs/defesa/dissertacoes/2007/ABEL.pdf.> Acesso em: 20 mar. 2012. SÁVIO, R.; SANTANA, M. Racismo na mídia: verdades e mentiras, 2011. Disponível em: <http://direito2.com/acam/2001/ago/9/racismo-na-midia-verdades-e-mentiras>. Acesso em: 5 de nov. 2011. SILVA JÚNIOR, G. A. Reflexões étnicas sobre o processo formativo a partir de uma perspectiva psicológica. Psicologia: ciência e profissão, Conselho Federal de Psicologia, Brasília, v. 22, n.4, p. 56-67, ago. 2002. SILVA, M. H. P. D.. Identidade racial e sistema de cotas: um estudo psicossocial com alunos negros na Universidade Federal de Alagoas. In: Associação Brasileira de Ensino de Psicologia - ABEP. (Org.). Coletânea de trabalhos vencedores do Prêmio Silvia Lane. Brasília: Associação Brasileira de Ensino de Psicologia - ABEP, 2009. SOFFIATI NETTO, A. A. A ocupação histórica do território brasileiro. Santa Rosa: s.n., 2005. TARANTO, I.; ANDERSON, J. Ser negro é uma questão da cor da pele? Revista Raça Brasil, n. 88, 2005. Disponível em: <http://racabrasil.uol.com.br/Edicoes/88/artigo9206-1.asp>. Acesso em: 16 nov. 2011. TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. TEODORO, M. L. Elementos básicos das políticas de combate ao racismo brasileiro. In: MUNANGA, Kabengele (Org.). Estratégias e políticas de combate à discriminação racial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Estação Ciência, 1996. VENTURI, G.; BOKANI, V. Discriminação racial e preconceito de cor no Brasil: teoria e Debate. Fundação Perseu Abramo, 2004. Disponível em: <http://www.fpabramo .org.br.>. Acesso em: 20 mar. 2012.

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Normas para Publicação de Trabalhos na Revista Cientefico Apresentação

A Revista Cientefico (ISSN 1677-5716 - versão online e ISSN 1677-1591 - versão impressa), produzida, fomentada e editada pelo grupo DeVry Brasil, propõe-se a estimular a produção acadêmico-científica, visando instigar a transdisciplinaridade entre as áreas de interesse das Instituições do grupo DeVry Brasil. As diretrizes gerais da revista são definidas pelo Conselho Editorial e as sugestões, críticas e observações efetivadas pelos leitores devem ser encaminhadas à Equipe Editorial, através do e-mail: [email protected].

Atualmente, a periodicidade da revista é semestral, além de contar com a versão online de livre acesso no site das IES.

I. Orientação Editorial

Os textos produzidos deverão ser originais e serão submetidos a exame pela Equipe Editorial, a quem cabe elaborar o conteúdo do parecer e deliberar sobre a publicação.

A Equipe Editorial poderá assessorar-se de pareceristas ad hoc, a seu critério, omitida a identidade dos autores, bem como dos respectivos avaliadores. O prazo de entrega do parecer dos avaliadores será de no máximo três (03) meses.

As revisões necessárias serão sugeridas pela Equipe Editorial, seguindo as observações técnicas do(s) revisor(es), e a devolução dos textos avaliados deverá ocorrer no prazo de trinta dias, pelo seu autor, uma vez que ele tenha recebido a notificação. É permitida a reprodução parcial dos textos, desde que citada à fonte.

II. Apresentação do Manuscrito

§ Os trabalhos, digitados em Word for Windows, devem ser encaminhados a

Revista Cientefico através do e-mail [email protected]. O recebimento só será considerado mediante confirmação por e-mail emitida pelo editor da revista;

§ Os textos terão no mínimo 15 e no máximo 25 páginas em papel A4 e configuradas de modo a apresentar margem esquerda e superior de 3,0 cm e margem direita e inferior 2,0cm, em todo documento, em espaço 1,5 entrelinhas, justificado;

§ A fonte usada deverá ser Times New Roman, tamanho 12 em estilo normal. O resumo deverá ser tamanho 11, em itálico, em texto corrido, sem parágrafos. E as

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citações deverão ser apresentadas em tamanho 10, sendo que as citações de até 3 linhas deverão ser incorporadas ao parágrafo e àquelas de 3 linhas ou mais sofrerão recuo de 4 cm, à esquerda, com espaço simples e justificado.

§ Não faça espaço no início dos parágrafos, deixando uma linha entre eles;

§ O título do trabalho deverá ser apresentado em letra maiúscula, tamanho 12, em

negrito, com alinhamento centralizado, não devendo exceder duas linhas;

§ Após o título do trabalho, inserir nome completo do(s) autor(es), alinhado à direita;

§ Na primeira página, em nota de rodapé, em tamanho 11, deverão constar a

titulação acadêmica e a vinculação institucional de cada um dos autores bem como o endereço eletrônico de todos eles;

§ Os artigos devem conter resumo com no máximo 350 palavras e de três a cinco

palavras-chave. Também deve haver um resumo em língua inglesa, abstract, com a mesma quantidade de palavras-chave neste idioma;

§ Recurso tipográfico Itálico deve ser utilizado apenas para palavras e/ou

expressões estrangeiras;

§ Não deve ser incluída moldura no texto;

§ Os artigos deverão conter, obrigatoriamente, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões e Referências.

Vale ressaltar que, algumas áreas do conhecimento, principalmente as Humanidades não trabalham com os títulos abaixo, apesar de representar o mesmo conteúdo, ou seja, há sim a descrição do método, dos procedimentos de coleta quantiquali, mas em geral os pesquisadores nomeiam tais itens com outros títulos.

a) Introdução: descrição breve do tema, objetivos e hipóteses;

b) Métodos: procedimentos científicos utilizados;

c) Resultados: descrição panorâmica dos dados levantados para propiciar ao leitor a

percepção adequada e completa dos resultados obtidos de forma clara e precisa, sem interpretações pessoais;

d) Discussão: argumentos convincentes e adequados como: equações, exemplos,

provas matemáticas, estatísticas, padrões, tendências, além de dados coletados e tabelados, onde devem ser feitas comparações com resultados obtidos por outros pesquisadores, caso existam;

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e) Conclusões e/ou Considerações Finais: devem responder às questões da pesquisa, correspondentes aos objetivos e hipóteses.

f) Referências: fontes de pesquisa que foram utilizadas e/ou consultadas para a

confecção do artigo. § Os textos e as referências devem obedecer às normas da ABNT (NBR 6023 -

Informação e documentação: Elaboração de referências bibliográficas); § As citações devem obedecer às normas da ABNT (NBR 10520 - Informação e

documentação: Citações em documentos: apresentação);

§ Caso exista financiamento ou apoio o mesmo deve ser explicitado; § Pesquisas que envolvam seres humanos serão publicadas mediante o parecer do

comitê de ética;

§ Para as tabelas e desenhos devem ser utilizados os recursos apropriados do editor de texto (Word). As equações devem ser editadas no Microsoft Equation 3.0 ou similar;

§ As ilustrações, fotografia e mapas devem ser inseridas no tamanho máximo de

15x20 cm, ter boa qualidade e no formato de arquivo jpg. Gráficos e tabelas deverão ser colocados na ocorrência do texto, com as respectivas indicações de localização e explicação.

§ As notas de rodapé devem ser utilizadas, minimamente, para destacar alguma

explicação e colocadas no pé das páginas por meio de números sequenciais, seguindo as referências numéricas constantes no corpo do texto.

§ Os trabalhos que estiverem distintos das normas sugeridas, não serão remetidos

aos pareceristas, mas devolvidos aos autores para a devida adequação às normas.

§ Os autores serão responsáveis pelos dados, conceitos emitidos e Referências citadas em seus artigos.

§ Os trabalhos serão submetidos, sigilosamente, à apreciação do Conselho

Científico ou a relatores de pareceres ad hoc, sendo publicados após o parecer favorável de, pelo menos, dois membros, de acordo com a programação a ser definida pelo Conselho Editorial, dependendo da quantidade de trabalhos aprovados, obedecendo-se a ordem cronológica de submissão.

§ Os autores receberão as informações sobre a aceitação do trabalho via e-mail

pessoal.

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§ Os autores, dos trabalhos recusados, serão informados via e-mail pessoal. § As possíveis sugestões dos pareceristas ou do Conselho Editorial de modificações

nos trabalhos, serão remetidas, sigilosamente, aos autores.

§ Os autores, ao submeterem os seus trabalhos, estão concordando com a Cessão dos Direitos Autorais à Revista Cientefico, conforme disposições de veiculação e acesso livre dos leitores aos textos, desde que citando a fonte de referência e os respectivos créditos do autor.

III. Tipos de textos acolhidos

Artigos, artigos de revisão, relato de pesquisa ou experiência, resenhas, reflexão filosófica e artigo especial.

§ Artigos: Relato de investigação. Deve conter resumo e palavras chave em língua

vernácula e estrangeira, introdução, métodos, resultados, discussão, considerações finais e referências;

§ Artigo de revisão: Revisão de literatura e crítica sobre determinado tema. Deve conter resumo e palavras chave em língua vernácula e estrangeira, introdução, desenvolvimento, considerações finais e referências;

§ Relato de pesquisa ou experiência: Explicitação dos passos do processo de

pesquisa ou experiência vivenciada;

§ Resenhas: Abordagem de obras publicadas. Não é necessário resumo e palavras-chave;

§ Reflexão filosófica: Abordagem relevante para o conhecimento científico e para a área acadêmica. Não é necessário resumo e palavras-chave;

§ Artigo especial: Texto escolhido pelo corpo editorial. Geralmente de um

especialista ou teórico de áreas de interesse para o meio acadêmico. Deve conter resumo e palavras chave em língua vernácula e estrangeira, introdução, métodos, resultados, discussão, considerações finais e referências;

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IV. Termo de Autorização Cada um dos autores deverá preencher o Termo de Autorização e enviar no momento da submissão do manuscrito, devidamente assinado, pois o envio do mesmo será condição sine qua non para que o texto seja publicado na Cientefico (vide modelo abaixo).

Cidade (Estado), _____ de __________ de _____.

________________________________________ Conselho Editorial

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TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, _____________________________________________________________, CPF nº _________________________, autorizo o grupo DeVry Brasil, responsável pela edição do periódico Cientefico, (ISSN 1677-5716 - versão online e ISSN 1677-1591 - versão impressa), a publicar o texto de minha autoria intitulado __________________________ _____________________________________________________, em versão eletrônica e disponibilizá-lo, em formato eletrônico ou outras mídias, para bases bibliográficas de indexação, repositórios e bancas de dados de referências e de periódicos científicos, dispensando qualquer tipo de remuneração ou contra prestação econômica pela divulgação do referido trabalho. Declaro que o presente manuscrito é contribuição original, não tendo sido publicado anteriormente, nem integralmente nem partes, sob nenhuma forma de mídia impressa ou eletrônica, e não foi encaminhado concomitantemente a outros periódicos, nem o será até concluído o processo de avaliação pela Revista Cientefico. Informo ainda que participo suficientemente do trabalho para tornar pública minha responsabilidade pelo seu teor. Caso necessário e se solicitados, forneceremos as informações e dados referentes ao estudo apresentado no manuscrito para análise do editor da revista.

__________________, ______ de ____________ de ______.

_________________________________________________ Assinatura

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