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    30 Em Extenso, Uberlndia, v. 14, n. 1, p. 30-51, jan. / jun. 2015

    RESUMO

    Este texto tem por objetivo refletir sobre o uso de tcnicas de pesquisaqualitativas em comunidades rurais. Alm disso, pretende apontar ouso dessas ferramentas em consonncia com a nova Poltica Nacionalde Assistncia cnica e Extenso Rural (PNAER), que prope umaeducao dialgica como base para essa nova extenso rural. Para isso,ser apresentado o resultado de um Diagnstico Rpido Participativo(DRP) no Assentamento Vereda I com 70 famlias, localizado no

    municpio de Padre Bernardo-GO. Para a realizao do estudo,formou-se uma equipe composta por um extensionista, um socilogo,uma economista domstica, uma veterinria e uma agrnoma. Destaca-se que a formao de uma equipe multidisciplinar foi importante paraque o conhecimento de diversas reas pudesse facilitar o dilogo comos assentados. Os resultados obtidos mostraram que, ao trabalhar coma realidade local, utilizando ferramentas participativas, elas podemcontribuir como instrumentos de compreenso das comunidadesrurais, por meio de dilogo entre os tcnicos e os agricultores.

    Palavras-chave: PNAER. Extensionista. Assentamentos rurais.Diagnstico participativo.

    ABSTRACT

    Tis paper aims to observe the use of qualitative research techniquesin rural communities. Furthermore, we intend to point out theuse of these tools in consonance with the new Poltica Nacional deAssistncia cnica e Extenso Rural PNAER (National Politic ofechnical Assistance and Rural Extension), which based this new ruralextension on a dialogical education. We will presente the result of aParticipatory Rapid Appraisal (DRP) in the settlement Vereda I, whichhas 70 families and is located in the municipality of Padre Bernardo,in the Gois State. Te research formed a team of an extensionstudent, a sociologist, a domestic economist, an agronomist and aveterinarian. We observe that a multidisciplinary team was important

    Reflexes sobre o uso de metodologias participativas como instrumentode trabalho em comunidades rurais

    Reflections on the use of participatory methods as an work instrument for rural

    communitiesMarcelo Leles Romarco de Oliveira

    Doutor em Cincias Sociais pelaUniversidade Federal Rural do Rio de

    Janeiro; professor do Departamento deEconomia Rural da Universidade Federalde Viosa ([email protected]).

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    because the knowledge of several areas facilitated the dialogue with thesettlers. Te results showed that the participatory tools this area cancontribute to understand the rural reality through dialogue betweenthe technicians and the communities.

    Keywords: PNAER. Extension. Rural settlements. Participatorydiagnosis.

    INTRODUO

    O modelo de extenso rural difundido e preconizado no Brasil,principalmente, no perodo da Revoluo Verde e/ou modernizaoda agricultura, desencadeada no final da dcada de 1960, tinha como

    objetivos principais o difusionismo, fundamentado na persuaso dosagricultores para o consumo de novas tecnologias, modificando oshbitos, habilidades e atitudes dos agricultores da poca. Um sloganmuito utilizado no perodo previa a seguinte afirmao: de usuriosde tecnologia tradicional a usurio de tecnologias modernas.

    Nessa perspectiva, a extenso rural era vista apenas como transfernciade tecnologia. As inovaes eram difundidas como forma detransmisso de qualquer informao, desconsiderando a relao entreseus aspectos tcnicos, econmicos, sociais, culturais e polticos.(FERNANDES; BOELHO, 2006).

    Esse modelo de extenso implantado pelo sistema institucional ficouconhecido como Modelo de Everett Rogers ou Paradigma Rogerianoda Difuso das eorias de Inovaes. Desse modo, a formao daextenso rural no considerava os saberes tradicionais dos agricultoresatendidos e muito menos as condies sociais, culturais, econmicase polticas em disputa.

    Esses tcnicos costumavam adotar uma postura etnocntrica, centradaem um ideal modernizante que desconsiderava os valores e sabereslocais, em que os agricultores eram vistos meramente como receptores

    passivos das inovaes e que, portanto, precisavam ser modernizados(COELHO, 2005). Evidentemente, essa postura no contribua paraa autonomia poltica e econmica das comunidades assistidas, poisos agricultores no se sentiam partcipes do processo de construofornecida pelos extensionistas rurais.

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    Essa viso etnocntrica da extenso rural fez com que diversospesquisadores, tcnicos e extensionistas refletissem sobre aspossibilidades da construo de caminhos que fossem alicerados emoutra viso, considerando, ento, as particularidades, o dilogo e o

    conhecimento de cada grupo assistido.

    Assim, a partir de 2003, surge uma proposta de Assistnciacnica e Extenso Rural (AER), com parmetros voltados parao desenvolvimento de um mecanismo alternativo, preocupadocom uma construo compartilhada e, consequentemente, com aincluso da problemtica socioambiental e de novas temticas, comometodologias participativas, polticas pblicas de fortalecimento deagricultura familiar, relao de gnero e agroecologia (CAPORAL;RAMOS, 2006).

    Essa discusso, iniciada em 2003, vai culminar com a nova PolticaNacional de Assistncia cnica e Extenso Rural (PNAER),promulgada pela Lei 12.188, de 11 de janeiro de 2010. Essa polticaprope uma educao dialgica compreendida como base dessa novaextenso rural. Nesse sentido, a nova lei de AER preconiza que oprofissional de extenso rural precisa ter conhecimento e habilidadesdentro de uma proposta metodolgica que vise busca de umaforma de trabalho mais participativa, em um contexto de aeseducativas comprometidas com o desenvolvimento rural sustentveldas comunidades.

    Assim sendo, o uso de metodologias participativas, como oDiagnstico Rpido Participativo (DRP), pode se constituir emuma importante ferramenta na construo desse dilogo entreextensionistas e agricultores.

    Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo trazer uma experinciasobre o uso de metodologias participativas, sobretudo o uso doDiagnstico Rpido Participativo (DRP) junto a comunidadesrurais. Para isso, foi realizada uma pesquisa em assentamentos ruraislocalizados no municpio de Padre Bernardo, estado de Gois, naregio do entorno do Distrito Federal, Brasil, entre os anos de 2001e 2006. O trabalho nesses assentamentos buscou colocar em cursoum processo educativo de articulao que possibilitou aos assentadosexercerem a cidadania, por meio da participao, contribuindopara que partilhassem do direcionamento do desenvolvimento dos

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    assentamentos.

    Portanto, a inteno deste estudo mostrar que a utilizao detcnicas de pesquisa, qualitativa e participativa, pode se constituir

    em instrumentos importantes para o levantamento de dados einformaes, propiciando aos extensionistas envolvidos um melhorconhecimento das comunidades rurais atendidas. De fato, as tcnicasde pesquisa aqui referidas podem ser uma importante ferramentadialgica entre extensionista e comunidade, como preconiza a novaPNAER.

    Destarte, o uso dessas ferramentas pode contribuir no sentido de oextensionista conhecer melhor a comunidade em que ir trabalhar,contribuindo para o desenvolvimento desse lugar, auxiliando naidentificao dos problemas e objetivos e nos caminhos para resolv-los. Alm disso, essa forma de atuao permite que os atores sociaisenvolvidos tenham um papel importante no direcionamento de suasdemandas. Nessa perspectiva, possvel afirmar que o uso dessasferramentas pode ser encarado como uma forma de romper com aideia difusionista tradicional de se fazer extenso rural.

    Metodologias participativas e o seu uso na extenso rural

    Uma das proposies da nova PNAER a construo de umapostura voltada para a relao dialtica e interativa entre agricultores eextensionistas. Nesse caso, a utilizao de ferramentas participativas dediagnsticos e planejamento um caminho para a construo de umaposio educativa, estabelecendo um dilogo entre o conhecimentocientfico e o senso comum (saber popular) para criar um conhecimentoprtico esclarecido. Dessa forma, o extensionista poder atuar comofacilitador do desenvolvimento rural, junto s comunidades, alm decontribuir para uma postura mais emancipatria dessas comunidades.

    Sobre as metodologias participativas na extenso rural, podemosentend-las como mtodos que auxiliam tcnicos e extensionistas

    nos trabalhos com as comunidades; instrumentos de trabalho quepodem contribuir para o entendimento das necessidades bsicas doindivduo ou de uma comunidade, levando em conta suas aspiraese potencialidades do conhecer e agir, buscando valorizar seusconhecimentos e sua cultura, e, na medida do possvel, incorpor-las

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    no processo de transmisso de tecnologia e aprendizado.

    Nesse sentido, o DRP um mtodo que, por meio de um conjuntode tcnicas de animao, procura incentivar o desenvolvimento

    autnomo da comunidade, independentemente de possveisintervenes exteriores, devendo considerar, sobretudo, os aspectossocioeconmicos da realidade local.

    Nesse sentido, usando as reflexes de autores como Tiollent (2011), possvel apontar que os processos de interveno participativosdevem contribuir para estimular os agricultores a se organizaremem torno de seus problemas, prioridades e demandas, valorizandosuas potencialidades e suas capacidades de organizao coletiva. Issopode ser feito por meio de reunies, seminrios, entrevistas coletivase aprendizagem conjunta na soluo dos problemas identificados.Essa postura pode contribuir para o fortalecimento da capacidadecoletiva de deciso e de controle quanto definio da utilizaodos recursos e da fixao das demandas dos agricultores de acordocom as condies sociais, econmicas e do saber tradicional existente(HIOLLEN, 2011).

    Assim, o DRP tem trazido significados positivos nos trabalhos deextenso rural, uma vez que passa a contribuir na descoberta dolocal como um espao diversificado e heterogneo, que se prope arepensar a diversidade de atores existentes e a possibilitar um ambiente

    privilegiado de mobilizao social na construo de cidadania(PEREIRA, 1998).

    Nesse sentido, nas ltimas dcadas, segundo Pereira et al. (2001),vrias Ongs e movimentos sociais tm empregado concepes detrabalhos por meio de metodologias participativas, como o DRP, quese orientam e articulam suas relaes no mbito local, procurandogarantir o reconhecimento dos valores culturais, do saber e dasdemandas materiais da comunidade e proporcionando a participaodos atores sociais envolvidos, deflagrando-se em um processoeducativo fundamentado na interao do dilogo.

    Como dito anteriormente, o DRP um mtodo constitudo porum conjunto de tcnicas de animao e dinmica de grupo queprocura estimular a participao e a interao da comunidade comos agentes de desenvolvimento. Essas ferramentas de interveno de

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    cunho dialgico e participativo tm como principal caracterstica oenvolvimento da comunidade na gerao e transformao em usuriodireto do conhecimento. Essas abordagens devem ser empregadasbuscando formar e potencializar os talentos locais, procurando

    contribuir para que a sociedade se organize melhor. Esse dilogopressupe que estamos constantemente negociando entre os diversosatores cujas aes, vontades e interesses esto presentes direta ouindiretamente no desenvolvimento da comunidade.

    O DRP pode contribuir na organizao dessas comunidades por meio,principalmente, da recuperao do trabalho em grupo, da organizaoe do planejamento das atividades coletivas e comunitrias, para ofortalecimento da vida associativa dos atores, tanto no sentido dacriao de novas associaes como na reorientao das j existentes.

    O destaque dessa abordagem a possibilidade das informaese conhecimentos serem construdos juntos, alm de respeitar apluralidade e as diversidades sociais, econmicas, tnicas, culturaise os saberes locais. Por isso, a proposta tem que ser construda deforma partilhada com a comunidade, o que nos faz refletir que ascomunidades trabalhadas devem ser vistas como um universo emtransformao, mais do que como simples clientes ou beneficirios,respeitando, assim, suas naturezas e particularidades.

    Nesse sentido, como aponta Delgado (2001), a dimenso do local

    constitui papel crucial no estabelecimento dessas vises e, comoargumentam Alencar e Gomes (1999), sobre a importncia de nodeixar de se considerar e valorizar o local, os habitusou costumes dedeterminado grupo, elementos formadores da identidade daquelacomunidade ou grupo.

    Nessa perspectiva, as metodologias participativas, como o DRP, vmsendo aplicadas nos ltimos anos, principalmente com populaesexcludas ou em situaes de vulnerabilidade, sejam elas urbanasou rurais, como no caso de trabalhadores em reas de assentamentosrurais e, tambm, grupos sociais que se inter-relacionam com anatureza, com os elementos simblicos, com a cultura, e com ossaberes e conhecimentos adquiridos empiricamente e passados degerao em gerao.

    Assim, para se trabalhar com o DRP, necessrio que o primeiro passo

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    seja considerar pontos como:

    a. conhecer a realidade para poder contribuir na sua transformao;

    b. conscientizar e compreender a realidade entre os agentesmobilizadores, tcnicos e comunidade;

    c. trocar experincias, ideias e conhecimentos entre agentesmobilizadores, tcnicos e comunidades, em um clima departicipao e respeito mtuo, visando perceber que osindivduos no so apenas consumidores de conhecimentos,mas tambm produtores;

    d. participar na produo de conhecimento, de novas orientaese novas formas de organizao;

    e. mudar as atitudes tradicionais caractersticas de algunstcnicos, agentes mobilizadores e lideranas, de dominadorapara construtivista, de fechada para aberta, de individual paragrupal e de verbal para visual;

    f. estabelecer um grau de diviso e coordenao de tarefas, demodo que o grupo todo tenha conhecimento das aes e possatomar decises;

    g. fazer com que a comunidade seja parte integrante das solues,ou seja, planeja quem executa, executa quem planeja;

    h. excluir a viso paternalista e assistencialista de muitosmobilizadores;

    i. incentivar a conscientizao, o senso de responsabilidade e avalorizao dos conhecimentos e da cultura local;

    j. articular a dinmica local com as problemticas regional enacional;

    k. utilizar tcnicas de dinmicas de grupo, buscando estabelecera comunicao e a cooperao para descobrir a realidade,levantar e priorizar os problemas e formular aes conjuntas;

    l. procurar identificar, por meio de diagnsticos, alguns pontosimportantes, como sistema de produo, mercado de trabalho,mercado de terras, mercado de produtos agrcolas, meio

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    ambiente, polticas pblicas, jogo de foras, possveis parceiros,recursos naturais e ambientais, indstrias, agroindstrias eturismo.

    Portanto, importante observar que, no DRP, a participao vistacomo um processo multidimensional que varia de situao parasituao em resposta a circunstncias particulares que podem serencontradas nos diversos grupos. Essa nova perspectiva tem queconsiderar a interveno como um mecanismo de mediao, ou seja,de fazer a ponte.

    Assim, esse tipo de interveno permite focar a percepo e omanejo das comunidades ou grupo de agricultores, possibilitandoo conhecimento de maneiras de promover a sustentabilidade e aexplorao de determinado recurso natural, privilegiando, de certamaneira, o conhecimento dos grupos em relao ao sistema deproduo.

    Alguns obstculos no uso do DRP

    Apesar de ser uma ferramenta importante para a construo dedilogo com as comunidades, h uma srie de obstculos que podemcontribuir para o fracasso dessa proposta. Entre eles, possvel citar:

    a. interesses pessoais e polticos dos agentes envolvidos no

    processo, que acabam comprometendo o trabalho;b. interveno assistencialista, por parte dos mobilizadores

    ou extensionistas, inibindo uma ao emancipadora dacomunidade;

    c. falta de compromisso da comunidade, se ela no se sentirenvolvida com as prprias solues de seus problemas;

    d. viso, por parte dos tcnicos e dos mobilizadores, que todas aspessoas da comunidade so iguais, pensam iguais e agem iguais;

    e. viso de que a comunidade alvo, cliente, paciente e nosujeito principal, como autnticos interessados e construtoresno processo;

    f. facilidade de receber as coisas dos outros, sem participao na

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    construo, em uma postura apoiada em clientelismo.

    O agente mobilizador e/ou extensionista

    Aponta-se que um dos principais problemas que os tcnicosque trabalham com extenso rural enfrentam est relacionado,principalmente, com as diferenas existentes entre a aplicao deuma interveno e a realidade local, j que ela pode apresentar outrasdemandas no enunciadas em tal interveno, ou ainda, que possammelhorar a adoo de novas tcnicas.

    Nesse sentido, as mudanas que os extensionistas propem sedeparam, muitas vezes, com uma realidade social distinta, ou seja,lidam, na prtica cotidiana, com uma variedade de costumes, de

    saberes e valores adquiridos por uma determinada comunidade ougrupo. Por isso, uma das principais caractersticas de um extensionistaque se prope a trabalhar a participao a disponibilidade paraouvir a comunidade antes de falar, assim, como a pacincia paracompreender as questes que esto sendo levantadas. Nesse espaode discusso, importante que seja construda, de forma conjunta,uma interpretao da realidade local.

    Desta feita, salutar que os extensionistas, pesquisadores e outrosmediadores tenham como norte a necessidade de compreenso dascomunidades as quais trabalham. Na viso de Morin (2007), estamosem um mundo com muita comunicao, agilizada com a revoluotecnolgica em curso, no entanto, com pouca compreenso, acomunicao est associada ideia de transmitir informao, j acompreenso significa um fenmeno que permite entender as pessoas,como sujeitos com valores, costumes e trajetrias.

    Assim, o tcnico precisa estar atento na construo das relaessociais nesses trabalhos coletivos para que nenhuma sugesto sejadescartada durante o trabalho. Para tanto, necessrio avali-la pormeio de questionamentos do tipo: Como isso pode ser feito? Quem

    se responsabiliza? O que o grupo acha?, sempre buscando um cartereducativo, pois um dos principais papis do extensionista o demediar, sistematizar, organizar as ideias e apresentar os resultados,lembrando sempre que a comunidade reunida que ser, por fim, ofiltro das decises.

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    Alencar e Gomes (1999) salientam que, durante uma reunio paralevantar prioridades dentro de uma comunidade, provavelmente,o resultado no ir coincidir com aquilo que o agente mobilizadoracredita ser o ideal. De acordo com os autores, isso o normal, pois

    o processo participativo e deve abarcar diferentes vises.

    importante deixar claro que o extensionista tem um papelimportante no processo. Alm de ser o responsvel pela animaoe pela conduo dos trabalhos nas reunies, deve garantir quetodos os membros participem, falem dos problemas, das causas, dasconsequncias e das possveis solues.

    Ademais, seu papel discutir, com os membros participantes dasreunies, a quem cabe qual ao, ressaltando sempre a necessidadedeles tomarem parte dos processos deliberativos, adquirindo,gradualmente, autonomia decisria com relao s questes e situaesenfrentadas.

    Enfim essas abordagens metodolgicas, como o DRP, tm o intuito decolocar em curso um processo educativo de articulao que possibilite comunidade exercer a cidadania por meio da participao e dodilogo, pois imperativa a condio dialgica desses mtodos.

    MATERIAIS E MTODO

    Para a utilizao dessas ferramentas metodolgicas, foi realizado umDRP no assentamento Vereda I, no municpio de Padre Bernardo,Estado de Gois. Nesse assentamento, residem cerca de 70 famliascom trajetrias de vida muito semelhantes, ou seja, antes de virempara o assentamento, essas famlias tinham uma trajetria demigrao complexa, do campo para a cidade (Braslia) e depois parao assentamento.

    O objetivo do trabalho era elaborar o Plano de Desenvolvimento deAssentamentos (PDA), uma exigncia do INCRA, para que os recursos

    tivessem um destino adequado. Esse projeto se encontra na jurisdioda Superintendncia do INCRA do Distrito Federal e Entorno (SR-28). Por isso, optou-se pelo uso do DRP, por acreditar que essa erauma forma de dialogar junto aos assentados e de discutir como seriaa melhor forma de alocar os recursos para o assentamento, alm de

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    contribuir para que os problemas da comunidade fossem debatidosjunto com os agricultores, buscando caminhos e solues prximasda realidade do assentamento.

    Sobre o diagnstico participativo, Pereira (1998) argumenta queesse tipo de mtodo surge como possibilidade de intervir de formaplanejada na complexidade de uma comunidade rural, alm decontribuir para a compreenso das realidades do campo, por meiode dilogos entre os tcnicos e as comunidades.

    O trabalho de campo no assentamento foi realizado em duas etapasdurante o ano de 2001: a primeira, de 12 dias, foi o perodo deaproximao e de realizao do diagnstico participativo; e na segundaetapa, de uma semana, realizou-se o planejamento participativo. Cabedestacar que a segunda etapa ocorreu dois meses aps a primeira. Essaestratgia tinha por objetivo dar tempo aos assentados para resolveralgumas tarefas deliberadas no primeiro encontro e para que equipepudesse sistematizar as informaes necessrias para a prxima etapa,que seria o planejamento.

    A equipe era formada por um extensionista, um socilogo, umaeconomista domstica, uma veterinria e uma agrnoma. Destaca-seque a formao de uma equipe multidisciplinar foi importante paraque o conhecimento de diversas reas pudesse facilitar o dilogo comos assentados. Para isso, a equipe elaborou um roteiro envolvendo

    questes de infraestrutura, sistema de produo, mercado, famlia,meio ambiente e assistncia tcnica.

    importante destacar que esse trabalho teve um acompanhamentoposterior realizado entre os anos de 2002 a 2006 pelo autor desseartigo. Esse acompanhamento teve por objetivo levantar informaesque serviram de subsdio para elaborao de uma dissertaode mestrado intitulada rajetria de migrantes para Braslia eassentamentos rurais: o caso do Vereda I, defendida no Programade Ps Graduao em Extenso Rural da Universidade Federal deViosa (UFV).

    Alm disso, os dados serviram de subsdio para elaborao de umatese de doutorado, intitulada Retratos de assentamentos: umestudo de caso em assentamentos rurais formados por migrantesna regio do entorno do Distrito Federal, e que foi defendida em

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    2007, no Programa de Ps-graduao em Agricultura e Sociedadeda Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ).

    Em linhas gerais, os dois trabalhos acadmicos, ora citados, visavam

    conhecer o cotidiano, a adaptao dos assentados no novo espao,as formas de sociabilidade e as de produo nos assentamentos daregio onde se encontra o assentamento Vereda I. Portanto, esseacompanhamento posterior realizao do Diagnstico permitiuentender como esses assentados estavam se adaptando no assentamentoe como as relaes sociais estavam sendo construda.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Esta seo tem por objetivo apresentar as tcnicas utilizadas notrabalho de campo, bem como a experincia desse planejamento,no qual as demandas levantadas de forma dialgica durante asoficinas de DRP possibilitaram o estabelecimento do dilogo entre oconhecimento cientfico e o senso comum (saber popular) para criarum conhecimento prtico esclarecido.

    Os assentados se apropriaram do conhecimento cientfico, no quediz respeito s tcnicas e aos mtodos de organizao do trabalhoem grupo, e compreenderam a necessidade de se organizarem paraconseguir superar seus prprios problemas, por meio do dilogo e da

    sistematizao das ideias.Nesse sentido, a experincia vivenciada no assentamento Vereda Ifoi importante para provocar, nos tcnicos, reflexes necessrias paraelaborar um planejamento construdo a partir das reais demandasdos assentados. Alm disso, essas reflexes possibilitaram que osassentados tivessem dimenso daquilo que seria importante paraa nova vida que se iniciava no assentamento. Essas informaes,construdas coletivamente, foram entregues ao INCRA no formatode um relatrio (PDA), que serviria como norte do trabalho daqueles

    que viessem prestar servios ao assentamento.Tcnicas do DRP utilizadas

    Para realizao do trabalho, foi feito um conjugado de tcnicas

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    coletivas com tcnicas individuais para captar as diferentes percepese situaes da comunidade (PEREIRA, 1998). Portanto, nestetrabalho, foram realizadas as seguintes tcnicas provocativas paraconstruir o dilogo entre equipe e assentados:

    Mapeamento histrico

    O mapeamento foi a primeira tcnica discutida com as famliasassentadas. Seu objetivo foi entender como se deu o processo deocupao da rea e a formao do assentamento; os critrios paradiviso dos lotes; e a forma como ocorrera o sorteio desses lotes.O produto final foi um mapa da rea, apontando a diviso doassentamento e a forma como os grupos se dividiam ali.

    Na Figura 1, possvel verificar o resultado do trabalho com a divisoespacial do assentamento na percepo dos prprios assentados.Destaca-se que cada nmero no mapa representaria um lote de 20hectares e as demais reas no mapa so alguns pontos de referncias,como cursos dgua ou reas destinadas para reserva legal e/oupermanente.

    Figura 1 Mapa histrico do assentamento Vereda I.

    Fonte: O autor (2002).

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    O mapeamento foi importante para que os tcnicos tivessem umapercepo a respeito do meio ambiente local e os assentados de comopercebiam esse novo espao escolhido por eles para viverem.

    Para a realizao do mapeamento, foram reunidos, principalmente,aqueles assentados que melhor conheciam a rea, sendo-lhes solicitadoque desenhassem, no cho, como era o mapa do assentamento, comsuas divises e estratificaes, conforme apresentado na Figura 1.

    Caminhada transversal

    Na caminhada, foi possvel, juntamente com um grupo de assentados,circular no assentamento; identificar os ecossistemas presentes erealizar um levantando das possveis aptides agrcolas para a rea, dasnascentes, do desmatamento e de reas que poderiam ser destinadaspara construo coletiva. A caminhada foi um complemento domapeamento e provocou a reflexo do grupo sobre a importncia dapreservao ambiental do assentamento.

    Entrevista semiestruturada

    As entrevistas foram realizadas com representantes das primeirasocupaes da fazenda. Alm disso, foram entrevistados outros agentes,assim discriminados: um assentado que fazia o papel de agente de sade;uma ex-moradora da fazenda originria da rea do assentamento; uma

    professora que cuidava da escolarizao das crianas desde a fase deacampamento. Essas entrevistas visaram levantar informaes nosmbitos da sade, educao e processo histrico da ocupao da rea,local onde foi institudo o assentamento.

    importante destacar que levantar informaes sobre a fase doacampamento foi importante para entender como o grupo estavaplanejando ocupar as reas. Nesse sentido, segundo observaes feitaspor Alentejano (1997), um dos elementos centrais para entendero uso do espao nos assentamentos a contextualizao histrica

    da ocupao das reas onde foram criados os assentamentos e dassuas peculiaridades ambientais. Em sua viso, esses elementos soimportantes para entender a dinmica do uso e a apropriao doespao.

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    Rotina diria

    Essa tcnica consiste em uma espcie de entrevista, feita na forma deum diagrama que ilustra rotinas dirias das pessoas. No assentamento

    Vereda I, ela foi usada para entender a realizao das tarefas, a cargahorria de trabalho e as diferenas de atividades entre os homens e asmulheres. Alm disso, permitiu explorar questes como alimentao,higiene, educao e sade da famlia. Com essa tcnica, buscou-setambm compreender como era constituda as relaes de gnero noassentamento.

    A construo do espao social: maquetes

    Para a realizao dessas tcnicas, os assentados se organizaram em

    cinco grupos, com aproximadamente 20 pessoas. Cada grupo recebeumateriais encontrados no assentamento, como gravetos, pedras esaibro, dentre outros. O objetivo foi a construo de maquetes, comum tempo limitado, nas quais os assentados simbolizaram o espaosocial em que vivem e refletiram sobre a possibilidade de utilizarrecursos locais para a construo de suas casas, alm da projeo decomo seria esse assentamento no futuro. Na Figura 2, possvelobservar uma das maquetes projetadas pelos assentados.

    Figura 2 Maquete simbolizando o assentamento ideal.

    Fonte: O autor (2014).

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    Essa tcnica possibilitou a todos a visualizao da organizao espacialdesejada e como eles planejavam organizar os espaos produtivos esociais no assentamento. Ao final da dinmica, os grupos apresentaramseus projetos, demonstraram os problemas e as necessidades que

    sentiam no espao produtivo e na socializao entre as famlias, bemcomo qual assentamento eles gostariam que aquele espao se tornasse.

    Matriz de realidade/desejo

    Essa tcnica foi estimulada para refletir, junto aos assentados, quaiseram os problemas e desejos da comunidade e descobrir como elespoderiam fazer parte do processo de atuao na resoluo e alcancede tais problemas.

    Nessa tcnica, o carter educativo foi estabelecer um dilogo, noqual os tcnicos perguntaram aos assentados sobre a realidade dosprincipais problemas da comunidade e como poderiam ser a atuaoe as possveis solues para a resoluo desses problemas.

    No Quadro 1, apresentado o que cada coluna da matriz Realidade/Desejo significa, sendo mostrado, como exemplo, um problema (gua)discutido no assentamento Vereda I.

    Quadro 1 Matriz realidade/desejo do assentamento Vereda I: rea social

    Problemas Caminho DesejoNesta coluna, foramelencados os principaisproblemas do assentamento.Para cada problema foiinserida uma linha.

    Nesta coluna, foi discutidocom o grupo formas para aresoluo dos problemas. Quecaminho deviam seguir? Quem ogrupo precisava procurar?

    Nesta co luna, fo iprojetado como osassentados gostariamque fossem a situaosem o problema ou eleresolvido.

    Exemplo: gua

    Falta de gua paraconsumo humano, animale agricultura.

    Qualidade e distribuio.

    Fazer anlise da gua das cisternas,nascentes e rio (INCRA/Universidade).

    Ver o custo de poos artesianos.Liberao de crditos juntoao INCRA, para construodesses poos.

    er gua, principalmentepor meio de poosartesianos suficientes para

    atender todas as famliasdo assentamento.

    Fonte: Adaptado de Pereira et al. (2001).

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    Esse foi o momento em que os assentados apresentaram, coletivamente,os principais problemas da rea social e de produo. Para cadaproblema apresentado por eles, foram discutidos, detalhadamente,as suas causas e indicados os respectivos desejos. Em seguida, foram

    discutidos e apresentados os caminhos possveis para atingir os desejos,atribuindo responsabilidades para cada instituio e a cada uma daspessoas envolvidas no Plano de Desenvolvimento do Vereda I. Oapresentado no Quadro 1 apenas uma sntese de um ponto (gua)dessa discusso.

    A eleio de prioridades

    Segundo Pereira (1998), essa tcnica consiste na apresentao dedemandas existentes nas comunidades por parte dos assentados, tendo

    como objetivo eleg-las em ordem crescente de prioridade.A eleio no assentamento Vereda I foi feita com os resultados dasprincipais demandas levantadas pelos assentados. Para se chegara esses dados, utilizou-se a Matriz de Realidade/Desejo descritaanteriormente, pois, a partir dessas demandas levantadas na matriz,os assentados apontaram os seus principais problemas.

    Assim, foi realizada a eleio de prioridades, por meio de uma eleiosimulada, utilizando-se cartolinas coloridas2 cortadas na forma denotas, que, simbolicamente, representavam pontuao para atribuir

    valores aos votos. Na abela 1 possvel observar o resultado dadinmica.

    Tabela 1 Resultado da eleio de prioridades da rea social noassentamento Vereda I.

    rea Social Azul (10) Branco (5) Amarelo (1) otal (valor)

    gua 54 (540) 8 (40) 2 582

    Casa 10 (100) 35 (175) 7 282

    Escola 2 (20) 11 (55) 19 94

    Energia eltrica 2 (20) 6 (30) 18 68Posto de sade 0 7 (35) 14 49

    Estrada 0 5 8 13

    Fonte: Pereira et al. (2001).

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    47Em Extenso, Uberlndia, v. 14, n. 1, p. 30-51, jan. / jun. 2015.

    Esse foi um momento importante, pois permitiu, por meio de umprocesso educativo, que aquilo que era mais prioritrio fosse decidido,democraticamente, durante a dinmica.

    Desejo temporal

    Para a realizao dessa tcnica, os assentados dividiram-se em grupospara discutirem o planejamento da comunidade, dentro de umhorizonte temporal de dez, cinco e um ano. Por meio desta tcnica,foi possvel identificar a viso dos assentados em relao aos seusobjetivos no curto, mdio e longo prazo e as respectivas limitaespara a sua realizao. O resultado dessa dinmica foi a projeo desuas demandas para um perodo entre um a dez anos, conforme podeser observado no Quadro 3, alguns exemplos, dessas demandas.

    Quadro 3 Matriz desejo temporal do assentamento Vereda I.

    Perodo Objetivos Limitaes

    Dentro de 1 ano Poo ar tes iano, casa eenergia;

    Faltam informaes a respeitoda liberao de recursos doINCRA para a prefeitura e oEstado;

    Dentro de 5 anos F u n d a r c o o p e r a t i v a(industrializao)

    Fal ta informao sobrecooperativismo

    Dentro de 10 anos Pagamento das parcelas Faltam recur sos para o

    pagamentoFonte: Pereira et al. (2001).

    Diagrama de organizao da comunidade (Diagrama de Venn ou jogodas bolas)

    O Diagrama de Venn foi elaborado para ajudar os tcnicos eassentados a compreenderem como eram constitudas as relaes queas instituies formais e informais mantinham com o assentamento.Portanto, foi realizada uma reunio coletiva com a presena de cerca

    de oitenta assentados.Assim, essa dinmica serviu, tambm, para refletir nas oportunidadesde melhor comunicao com as entidades envolvidas com oassentamento: INCRA (Instituto Nacional de colonizao e reforma

    2 No caso do assentamento Vereda Iforam utilizadas trs cores de cartes compesos diferentes. Para a construo datcnica Eleio de Prioridades, foramdistribudos cartes (cartolinas cortadas),representando simbolicamente uma

    pontuao para atribuir valores aosvotos, da seguinte forma: Azul =10,00; Branco = 5,00; Amarelo = 1,00(PEREIRA et. al, 2001).

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    agrria), Grupo de rabalho de Reforma Agrria da Universidade deBraslia, Sindicato dos rabalhadores Rurais, Prefeitura Municipalde Padre Bernardo e CONAG (Confederao Nacional dosrabalhadores na Agricultura).

    Para chegar a essas instituies, foi solicitado que os assentados listassemtodos os grupos ou instituies importantes para o assentamento oucom as quais eles se relacionavam. importante deixar claro que ostcnicos precisavam ficar atentos para no influenciar nas escolhasdos grupos.

    Logo em seguida, foi explicado para os assentados que o jogo dasbolas tinha duas regras: a) a primeira est relacionada importncia,ou seja, ao tamanho da bola, quanto maior mais importante sera organizao; b) a segunda regra est relacionada com a distnciada bola em relao a que representa a comunidade, assim, quantomais perto da bola da comunidade, mais atuante ou mais contato ainstituio tem com a comunidade, e, quanto mais distante, poucaatuao ou nenhum contato entre a instituio e a comunidade. NaFigura 3, possvel visualizar o resultado da dinmica.

    Figura 3 Diagrama de Venn (Jogo das Bolas).

    Fonte: Pereira et al. (2001).

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    Essa dinmica permitiu que os assentados, assim como os tcnicos,entendessem melhor como as relaes constitudas entre assentadose entidades, possibilitando, inclusive, o mapeamento de instituiesou grupos que poderiam ser parceiros dos assentados.

    CONSIDERAES FINAIS

    Procurou-se, por meio deste trabalho, apresentar algumas reflexessobre como o uso de metodologias participativas, como o DRP, podecontribuir para discusso do processo de transformao participativojunto s comunidades.

    Nesse sentido, anos aps a realizao dessa experincia do

    planejamento participativo, um casal de assentados participante daelaborao do Plano de Desenvolvimento de Assentamento (PDA)narrou que a experincia partilhar das oficinas de elaborao tinhasido fundamental para que pudessem entender qual o papel ocupado,no s no assentamento, mas tambm, na sociedade e seus direitos.Disseram que a experincia tambm tinha sido importante parapromover reflexes e estratgias de organizao e de planejamento,visando melhorias para o assentamento e para suas prprias vidas, eque essas reflexes s foram possveis a partir dessa relao dialgicaconstruda na poca de elaborao do PDA.

    importante destacar que a escolha dessa experincia nesseassentamento no ocorreu por acaso, pois, alm do diagnsticoparticipativo e o uso das ferramentas de DRP, ela foi um importantecatalisador nas reflexes para elaborao de um planejamento, no qualas famlias pudessem se reconhecer.

    No entanto, preciso reiterar que, para que haja um processo departicipao, importante que a comunidade se sinta envolvida,porque uma das principais caractersticas do mtodo a busca desseenvolvimento. Alm da comunidade, o envolvimento do poder

    pblico local ou de entidades parceiras da comunidade fundamentalpara o alcance dos objetivos.

    Outra questo a ser observada o papel fundamental dos agentesmobilizadores ou extensionistas, visto que eles so um dos principaisdeflagradores desse processo. importante ressaltar que a postura

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    desses tcnicos tem que estar direcionada aos interesses da comunidadee no aos interesses polticos ou pessoais.

    ambm, ressalta-se que tudo que for produzido (relatrios, mapas,

    planos etc.) em conjunto com a comunidade e mobilizadores deveser discutido e apresentado a todos os envolvidos, pois essa ao seconfigura como um dos principais momentos de retorno e de reflexoe que qualquer tipo de interveno em uma comunidade deve levar emconta vrios aspectos que lhe so comuns, como localizao, histriada comunidade, nmero de famlias, envolvimento dessas pessoascom a comunidade e outros.

    Enfim, pelos objetivos traados neste estudo, pode-se observarque abordagens participativas como o DRP configuram-se comomecanismos educacionais geradores de conhecimento e promotoresde transformaes que, pelo processo dialgico, levam comunidadee participantes a refletirem sobre as reais e as principais intervenesem curto, mdio e longo prazo, de forma a construir novas aese parcerias com as comunidades atendidas para o crescimento e odesenvolvimento social e econmico dessas comunidades.

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    Submetido em 20 de outubro de 2014.Aprovado em 14 de janeiro de 2015.