revista da anpg

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1 ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009 ISSN 2176-0683 Revista ANPG.indd 1 21/10/2009 11:26:02

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Vol1 da Revista Científica da ANPG

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ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009

ISSN 2176-0683

Revista ANPG.indd 1 21/10/2009 11:26:02

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CORPO EDITORIAL:

CONSELHO EDITORIAL (ATUAL): Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Presidente da ANPG; Guilherme Pires D’Ávila de Almeida (USP) - Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG; Luisa Bar-bosa Pereira (UFRJ) - Diretora de Comunicação da ANPG; Eric Calderoni (Uninove / Anhembi-Morumbi) - Diretor de Cultura e Eventos da ANPG; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral da ANPG; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 1º Diretor de Relações Institucionais da ANPG; Rogério Adas Pereira Vitalli (ITA) - Vice-Presidente Regional Sudeste da ANPG; Luciano Rezende Moreira (UFV) - Ex-Presidente da ANPG; Angélica Karlla Marques Dias (PUC-SP) - Ex-Vice-Presidente Regional Norte da ANPG.

CONSELHO EDITORIAL (2007-2008): Maria Luiza Nogueira Rangel (UFG) / Allan Aroni (USP) - Presidentes da ANPG; Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG; Silvia Sarzano Barchiesi (PUC-SP) - Diretora de Comunicação da ANPG; Eric Calderoni (PUC-SP) - Diretor de Eventos da ANPG; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral da ANPG; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 2º Diretor de Relações Institucionais da ANPG; Luciano Rezende Moreira (UFV) - Ex-presidente da ANPG.

CONSULTORES: Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto; Dr Vladmir Oliveira da Silveira; Dreyf de Assis Gonçalves; Fabio Palacio de Azevedo.

CORPO CIENTÍFICO:

COMITÊ CIENTÍFICO: Dr Albert Fishlow (Columbia University, EUA); Dr Antônio Carlos Caruso Ronca (PUC-SP); Dr Antônio Ibañez Ruiz (UnB); Dr Antônio Joaquim Severino (USP); Dra Arminda Rachel Botelho Mourão (UFAM); Dra Branca Jurema Ponce (PUC-SP); Dr Brett Vern Carlson (ITA); Dr Carlos José Espíndola (UFSC); Dr Carlos Sigueyuki Sediyama (UFV); Dr Cesar Augusto Minto (USP); Dr Cezar Teixeira Honorato (UERJ); Dra Dalila Andrade Oliveira (UFMG); Dr Dante Augusto Couto Barone (UFRGS); Dr Dilvo Ilvo Ristoff (UFSC); Dr Eric Hershberg (Simon Fraser University, Canadá); Dr Evaldo Ferreira Vilela (UFV); Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto (UNIB); Dr Gastão Wagner de Sousa Campos (UNICAMP); Dr Gilberto Bercovici (USP/Mackenzie); Dr Gilberto Sarfati (FIRB/ESPM/FAAP); Dr Guilherme Ary Plonski (USP); Dr Gustavo Ferreira Santos (UNICAP/UFPE); Dr Hélgio Henrique Casses Trindade (UFRGS/UNILA); Dr Hélio de Mattos Alves (UFRJ); Dr Henri Acselrad (UFRJ, março a outubro de 2008); Dr Jaime Arturo Ramirez (UFMG); Dr Jair de Jesus Mari (UNIFESP); Dr Jairton Dupont (UFRGS); Dr João Carlos Kfouri Quartim de Moraes (UNICAMP); Dr João Maurício Leitão Adeodato (UFPE); Dr Jorge Almeida Guimarães (UFRGS); Dr Jose Fernandes de Lima (UFS); Dra Laura Randall (City University of New York, EUA - aposentada); Dra Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP); Dr Marcio Pochmann (UNICAMP); Dr Marco Antonio Raupp (Parque Tecnológico de São José dos Campos); Dra Marijane Vieira Lisboa (PUC-SP); Dra Marilene Corrêa da Silva Freitas (UEA); Dra Marilene Proença Rebello de Souza (USP); Dra Mary Garcia Castro (UCSAL); Dra Mere Abramowicz (PUC-SP); Dr Milton de Arruda Martins (USP); Dr Odair Furtado (PUC-SP); Dr Paulo Bastos Tigre (UFRJ); Dr Paulo de Barros Carvalho (PUC-SP/USP); Dr Paulo Peixoto de Albuquerque (UFRGS); Dr Paulo Speller (UFMT); Dr Reinaldo Pontes (UNAMA); Dr Renato Janine Ribeiro (USP); Dra Roberta Gurgel Azzi (UNICAMP); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dr Roberto de Alencar Lotufo (UNICAMP); Dr Sergio Adorno (USP); Dr Sergio Antonio da Silva Leite (UNICAMP); Dr Vahan Agopyan (USP); Dr Vladmir Oliveira da Silveira (PUC-SP/FADISP).

PARECERISTAS EM RELAÇÃO AO MÉRITO ACADÊMICO DOS ARTIGOS RECEBIDOS PARA ESTE NÚMERO: Dr Ademir Gomes Ferraz (UFRPE); Dra Anna Sara Shafferman Levin (USP); Dr Antônio Carlos Caruso Ronca (PUC-SP); Dr Arnaldo Lopes Colombo (UNIFESP); Dr Carlos Roberto Jamil Cury (PUC-Minas); Dr Carlos José Espíndola (UFSC); Dr Cezar Teixeira Honorato (UERJ); Dante Augusto Couto Barone (UFRGS); Dra Denise Trento Rebello de Souza (USP); Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto (UNIB); Dr Gregório Bouer (USP); Dr Gustavo Ferreira Santos (UFPE); Dr Hélio de Mattos Alves (UFRJ); Dr Henri Acserald (UFRJ); Dr Jaime Giolo (UPF); Dr João Maurício Leitão Adeodato (UFPE); Dr Jorge Luiz Knupp Rodrigues (UNITAU); Dr José Carlos Espíndola (UFSC); Dr José Domingos Fabris (UFMG); Dra Laura Randall (City University of New York, EUA - aposentada); Dra Lilian Cristina Monteiro França (UFS); Dra Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP); Dra Maria Cris-tina Rodrigues Azevedo Joly (USF); Dra Maria Elizabeth Bianconcini Trindade Morato Pinto de Almeida (PUC-SP); Dra Maria Teresa de Assunção Freitas (UFJF); Dra Mariângela Braga Norte (UNESP); Dra Marijane Vieira Lisboa (PUC-SP); Dr Mario Olavo Magno de Carvalho (UnB); Dra Mere Abramowicz (PUC-SP); Dra Mirian Pacheco Silva (UFG); Dr Odair Furtado (PUC-SP); Dr Paulo Peixoto de Albuquerque (UFRGS); Dr Paulo Speller (UFMT), Dra Pollyana Notargiacomo Mustaro (Mackenzie); Dra Querte Teresinha Conzi Mehlecke (FCCAT); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dr Renato Cataluña Veses (UFRGS); Dra Roberta Gurgel Azzi (UNICAMP); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dra Sandra Gavioli Puga (IBTA); Dr Simon Schwartzman (IETS); Dra Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti (UCSAL); Dr Vladmir Oliveira da Silveira (PUC-SP/FADISP).

CORPO TÉCNICO:

ANALISTAS TÉCNICOS: Dr Ademir Gomes Ferraz; Angélica Karlla Marques Dias; Sergio Massaru Takoi.ASSESSORES TÉCNICOS: Dr Roberto Muniz Barretto de Carvalho; Camila Castanhato; Diógenes Pires; Edson Martins Junior; Elias Marco Khalil Jabbour; Guilherme Pires D’ Ávila de Almeida; Hugo Valadares Siqueira; José Ailton Garcia; Letícia de Souza Barbosa; Lívia de Paiva Ziti Afonso; Luciana Farias Santana; Maria Amelia Jundurian Corá; Natalie Braz Ponsoni; Neli Maria Mengalli; Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista; Paulo Roberto da Fonseca Filho; Priscilia Sparapani; Rafael Quaresma Viva; Renata Lopes Costa; Roberto Alan Ferreira Araújo; Rogério Adas Pereira Vitalli; Rogério Rodrigues Lima; Sergio Massaru Takoi; Thais Mikie de Carvalho Otanari; Vanessa Monteiro Bizzo; Venceslau Alves de Souza.REVISORES TÉCNICOS: Dra Laura Randall; Luciano Rezende Moreira; Gisella Martignago; Giselle Ashitani Inouye.ASSISTENTES: Iara Machado Teixeira Andrade; Ruberval Marcelo da Silva Oliveira.PRODUTORA GRÁFICA: Luana BononeDIRETOR DE ARTE: Luciano Lobelcho

APOIO INSTITUCIONAL:

PATROCINADORES: Ministério da Ciência e Tecnologia da República Federativa do Brasil; Associação de Pós-Graduandos da PUC-SP; Associação de Pós-Graduandos do ITA; Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ). Agradecemos ao Congresso Nacional, e em particular ao Deputado Flávio Dino, pela Emenda à Lei Orçamentária Anual, que garantiu, entre outros feitos, apoio à publicação desta Revista.

REVISTAS PARCEIRAS: Arquivos Sanny de Pesquisa em Saúde; Educação: teoria e prática.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS:

DIRETORIA DA ANPG (ATUAL): Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Presidente; Bruno Toribio de Lima Xavier (UFV) – Vice-Presidente; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral; Camila Castanhato (PUC-SP) – Secretária Geral; Luisa Barbosa Pereira (UFRJ) – Diretora de Comunicação; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 1º Diretor de Relações Institucionais; Angélica Muller (USP) – 2ª Diretora de Relações Institucionais; Guilherme Pires D’Ávila de Almeida (USP) - Diretor de Ciência e Tecnologia; Ana Maria Prestes Rabelo (UFMG) – Diretora de Relações Internacio-nais; Gisele Alba Natali (PUC-SP) - Diretora de Instituições Particulares; Vinicius de Lima Dantas (UFSCAR) - Diretor de Instituições Públicas; Fabio Plut Fernandes (UFSCAR) – Diretor de Movimentos Sociais; Amália Catharina Santos Cruz (UFSC) – Vice-Presidente Regional Sul; Rogério Adas Pereira Vitalli (ITA) - Vice-Presidente Regional Sudeste; Rodrigo de Camargo Cavalcanti (PUC-SP) – Vice-Presidente Regional de São Paulo; Marney Eduardo Ferreira Cruz (UnB) – Vice-Presidente Regional Centro-Oeste; Ana Paula Vieira e Souza (UFPA) - Vice-Presidente Regional Norte; Rodrigo Gayger Amaro (UFPE) - Vice-Presidente Regional Nordeste; Eric Calderoni (Uninove / Anhembi-Morumbi) - Diretor de Cultura e Eventos da ANPG; Luiz Carlos Cantanhede Fernandes Junior (UFPR) – Diretor de Saúde.

DIRETORIA DA ANPG (2007-2008): Maria Luiza Nogueira Rangel (UFG) / Allan Aroni (USP) - Presidentes; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral; Mateus Santiago Caetano (UNIFRAN) – Secretário Geral; Silvia Sarzano Barchiesi (PUC-SP) - Diretora de Comunicação; André Lemos Jorge (PUC-SP) - 1º Diretor de Políticas Institucionais; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 2º Diretor de Políticas Institucionais; Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Diretor de Ciência e Tecnologia; Ana Maria Prestes Rabelo (UFMG) - Diretora de Relações Internacionais; Fábio Soares Gomes (UCSAL) - Diretor de Instituições Particulares; Edson Luis Nunes (UFV) - Diretor de Instituições Públicas; Plínio Marcos Teixeira de Oliveira (PUC-SP) - Diretor de Movimentos Sociais; Antônio Lopes (UFSC) - Vice-Presidente Regional Sul; Henrique Rabelo de Andrade (UFRJ) - Vice-Presidente Regional Sudeste; Camila Castanhato (PUC-SP) - Vice-Presidente Regional de São Paulo; César Lignelli (UnB) - Vice-Presidente Regional Centro-Oeste; René Anísio da Paz (UFCG) - Vice-Presidente Regional Nordeste; Eric Calderoni (PUC-SP) - Diretor de Eventos; Francisco Mogadouro da Cunha (UNICAMP) – Diretor de Residência Médica.

ASSOCIAÇÕES DE PÓS-GRADUANDOS VINCULADAS À ANPG: Comissão Pró-APG UFAM; Comissão Pró-APG UFPA; Comissão Pró-APG UEPA; APG-UFC; Comissão Pró-APG UFCG; Comissão Pró-APG UPE; Comissão Pró-APG UFPE; APG FUNESO; APG-UnB; Comissão Pró-APG UFMT; APG-UFGD; APG-UFLA; APG UFU; APG-UFV; APG-UENF; APG-PUC Rio; Comissão Pró-APG FGV; Comissão Pró-APG UFF; Comissão Pró-APG UERJ; Comissão Pró-APG UFRJ; APG-UNIFESP; APG-PUC/SP; APG-ITA; APG-UFSCAR; APG-USP Capital; APG-USP São Carlos; APG-USP CENA; APG-USP ESALQ; APG-USP Ribeirão Preto; APG-USP Bauru; APG-F / UNICAMP; APG-Q / UNICAMP; APOGEEU / UNICAMP; IMECC / UNICAMP; APGFE / UNICAMP; Comissão Pró-APG Medicina / UNICAMP; APG-Química / UNESP Araraquara; Associação de Médicos Residentes / AMERESP; Comissão Pró-APG CESUMAR; APG – UFSC; APG – UPF; APG – FURG.

EXPEDIENTE

EDITOR:Dr Eric Calderoni.

EDITOR EXECUTIVO: João Carlos Azuma.

ASSESSOR EDITORIAL:Vasco Rodrigo Rodrigues Lourenço.

Tiragem: 3 mil unidades

Associação Nacional de Pós-GraduandosRua Vergueiro, 2485, Vila Mariana

CEP 04101-200 - São Paulo/SP - BrasilTel. 11 5081.5566 - [email protected]

www.anpg.org.br

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ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009

Publicação da Associação Nacional de Pós-Graduandos

ISSN 2176-0683

Associação Nacional de Pós-GraduandosRua Vergueiro, 2485, Vila Mariana

CEP 04101-200 - São Paulo/SP - BrasilTel. 11 5081.5566 - [email protected]

www.anpg.org.br

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EditorEric Calderoni

Editor ExecutivoJoão Carlos Azuma

Assessor EditorialVasco Rodrigo Rodrigues Lourenço

EditoraASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS

Rua Vergueiro, 2485, Vila MarianaCEP 04101-200 – São Paulo, SP, Brasil

Tel. 11 5081-5566 - [email protected]

Visite nosso sítio eletrônico: www.anpg.org.br

Permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Associação Nacional de Pós-GraduandosRevista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais / Associação Nacional de Pós-Graduandos. – vol. 1, n. 1 (outubro/2009) - São Paulo: Associação Nacional de Pós-Graduandos, 2009.

Semestral

ISSN 2176-0683

1. ciência e tecnologia. 2. políticas educacionais. 3. energia. 4. educação à distância. 5. desenvolvimento nacional.

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

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Apresentação

É com muita satisfação que a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) obtém mais uma glória

nos seus 25 anos de história: lança a “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, nossa

Revista Científica!

A Revista da ANPG vem fomentar um diálogo entre academia e políticas públicas, estimulando a

reflexão científica sobre assuntos do topo da agenda política – visando uma ação qualificada no âmbito das

políticas públicas, priorizando-se temas relacionados ao desenvolvimento nacional sustentável e o combate às

desigualdades sociais.

A ANPG tem orgulho de apresentar ao público uma revista pautada pelos mais rigorosos critérios de

qualidade, representativa nacionalmente e com um Comitê Editorial do mais alto gabarito. A concretização

desse projeto – materializada em nossa Revista – é fruto do esforço de centenas de pessoas, entre autores,

membros do comitê científico, pareceristas e equipe técnica. O aglutinamento de tantos colaboradores só foi

possível devido à representatividade social e política que a ANPG tem angariado desde sua fundação. Atual-

mente desempenhamos, em diversos órgãos que fazemos parte, uma importante função social em defesa do

desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil e da valorização dos pós-graduandos. Temos assento no

Conselho Técnico Científico (CTC) e no Conselho Superior (CS) da Capes, no Conselho Nacional de Saúde

(CNS), no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), participamos de diversos eventos de relevância para

a ciência e para o combate às desigualdades sociais, como reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso

da Ciência (SBPC) e de Conferências Estaduais de Direitos Humanos, bem como publicamos periodicamente

nossas atividades em boletins informativos da entidade. Também realizamos, em nossos congressos, mostras

científicas dos pós-graduandos e preparamos um livro, a ser lançado no próximo ano. A essas frentes de tra-

balho vem se somar nossa Revista.

Aproveite a Revista da ANPG!

Boa leitura!

Hugo Valadares Siqueira

Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos

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Editorial

É com grande orgulho que lançamos o primeiro número da “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e po-

líticas educacionais”, que tem por missão divulgar estudos acadêmicos das mais variadas áreas do saber sobre

temas no topo da agenda das políticas públicas.

Este primeiro número da Revista da ANPG mobilizou o esforço de milhares de pessoas: a primeira chamada

de artigos da Revista, divulgada por treze sociedades científicas, cento e trinta e quatro programas de pós-gradua-

ção, dois mil cento e quarenta e nove grupos de pesquisa, arrecadou cento e três artigos que nos foram submetidos,

vindos de vinte e três Estados da Federação mais o Distrito Federal, bem como de mais quatro países estrangeiros,

que foram triados por vinte e quatro assessores técnicos, submetidos à avaliação de trinta e sete pareceristas,

nomeados por um dos cinqüenta e três membros do Comitê Científico eleitos por dez membros do Conselho

Editorial, em um processo apoiado por três membros do corpo editorial executivo, três analistas técnicos, quatro

consultores, quatro instituições apoiadoras e trinta e quatro diretores da Associação Nacional de Pós-Graduandos.

Alguns desses artigos continuam em processo avaliativo e poderão entrar no segundo exemplar da Revista.

Para este primeiro exemplar chamamos artigos sobre “etanol, biocombustíveis e matriz energética” e

sobre “educação a distância”.

Publicamos, neste exemplar, cinco artigos sobre “etanol, biocombustíveis e matriz energética”, vindos

de distintas áreas do saber:

Afonso Lopes, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Danilo Cesar Checchio Grotta, Felipe Thomaz da Cama-

ra, Miguel Joaquim Dabdoub e Rouverson Pereira da Silva descrevem o resultado de seus experimentos sobre

o consumo em motores de tratores para diferentes misturas de diesel e biodiesel.

Elias Marco Khalil Jabbour vislumbra o desenvolvimento nacional brasileiro, descrevendo a política

energética da China que proveu condições para o desenvolvimento de sua agricultura e indústria.

Maria Cristina Gonzaga denuncia o fornecimento de ferramentas inadequadas ao trabalhador cortador

de cana e enaltece sua criatividade para se adaptar às condições de trabalho.

Marlene de Paula Pereira discute as possibilidades de sustentabilidade na produção de biodiesel.

Roberta Barros Meira analisa o processo de construção da ideologia necessária para o desenvolvimento

da indústria alcooleira no Brasil.

Thalyta Christie Braga Rabêlo apresenta um trabalho seminal sobre a possibilidade de elaboração de

fermentado alcoólico a partir do suco de abacaxi.

Publicamos, também, quatro artigos sobre “educação a distância”:

Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga e Roberta Gurgel Azzi versam sobre a falta de sentimento de

auto-eficácia por parte dos professores como uma das fontes de dificuldades para a adesão a tecnologias edu-

cacionais no ensino.

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Carla Morales Guerra, Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros, Janaina Sallas, Leandro Queiroz Santi

e Valeska de Andrade Stempliuk relatam a aplicação de um curso a distância para o controle da resistência

microbiana e uso racional de antimicrobianos por profissionais da área da saúde.

Ivana Carneiro Almeida expõe sobre um projeto pedagógico para o ambiente virtual.

Robert Kalley Cavalcanti de Menezes aventa aspectos relacionados à concepção de um modelo de sis-

tema computacional pronto para uso em educação a distância.

Na seção “acontece”, voltada para a divulgação de eventos e questões políticas sobre os pós-graduan-

dos e as políticas educacionais , este primeiro exemplar da Revista conta com dois artigos:

Rogério Adas Pereira Vitalli descreve um grandioso evento organizado pela Associação de Pós-Gradu-

andos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (APG-ITA) sobre um convênio para a concessão de bolsas para

os pós-graduandos realizarem pesquisas na Alemanha. Tal evento e o convênio firmado foram tão prestigiosos

que colaboraram para que a APG obtivesse o reconhecimento necessário, pelas instâncias do ITA, para se

consolidar como prestadora de consultoria. Esse artigo serve de exemplo para que cada uma das Associações

de Pós-Graduandos do Brasil vislumbre formas de captar mais bolsas e de firmar convênios de modo indepen-

dente da Reitoria, bem como sobre a possibilidade das APGs organizarem-se para passar a praticar a extensão

ou aprimorar a extensão já praticada.

O artigo que escrevi em co-autoria com Lauro Ishikawa, por sua vez, narra a luta dos pós-graduan-

dos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, representados por sua Associação de Pós-Graduandos

(APG-PUC/SP), para manterem seu direito à representação autônoma nos Colegiados da Universidade (e ain-

da ampliarem tal direito aos pós-graduandos lato sensu), no contexto de um redesenho institucional em que se

propunha eliminar as cadeiras reservadas aos pós-graduandos. O artigo tem o potencial de inspirar cada uma

das Associações de Pós-Graduandos do Brasil a refletirem se consideram que os espaços institucionais para

sua representação na respectiva universidade são adequados e também a refletirem sobre as relações entre

APG e pós-graduandos lato sensu.

Assim se inicia a “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, que, se continuar con-

tando com a colaboração de todos, tende a ser cada vez melhor.

Esperamos, com isso, prestar nossa contribuição, ainda que modesta, para a discussão acadêmica das

políticas públicas.

Dr Eric Calderoni

Editor

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SumárioAPRESENTAÇÃO

EDITORIAL

SEÇÃO SOBRE ETANOL, BIOCOMBUSTÍVEISE MATRIZ ENERGÉTICA

Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola varian-do o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleoAfonso Lopes, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Danilo César Checchio Grotta, Felipe Thomaz da Câmara, Miguel Joaquim Dabdoub e Rouverson Pereira da Silva

Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na ChinaElias Marco Khalil Jabbour

As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmenteMaria Cristina Gonzaga

Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?Marlene de Paula Pereira

A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-1945 Roberta Barros Meira

Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)Thalyta Christie Braga Rabêlo

SEÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficáciaCacilda Encarnação Augusto Alvarenga e Roberta Gurgel Azzi

A Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobia-nos para profissionais da área da saúdeCarla Morales Guerra, Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros, JanainaSallas, Leandro Queiroz Santi e Valeska de Andrade Stempliuk

Educação à distância: projeto pedagógico do ambiente virtualIvana Carneiro Almeida

Conceitos e considerações sobre um modelo pronto-para-uso de am-biente virtualRobert Kalley Cavalcanti de Menezes

SEÇÃO “ACONTECE”

Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Univer-sidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade Eric Calderoni e Lauro Ishikawa

Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-AlemanhaRogério Adas Pereira Vitalli

REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

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SEÇÃO SOBREETANOL, BIOCOMBUSTÍVEIS

E MATRIZ ENERGÉTICA

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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e die-sel de petróleo

AFONSO LOPES1

Professor Adjunto daUniversidade Estadual Paulista – UNESPCARLOS EDUARDO ANGELI FURLANI

2

Professor Adjunto daUniversidade Estadual Paulista – UNESPDANILO CESAR CHECCHIO GROTTA

3

Professor Doutor daUniversidade Federal do Ceará - UFCFELIPE THOMAZ DA CAMARA

4

Professor Doutor daUniversidade Federal do Ceará - UFCMIGUEL JOAQUIM DABDOUB

5

Professor Adjunto daUniversidade de São Paulo- USPROUVERSON PEREIRA DA SILVA

6

Professor Doutor daUniversidade Estadual Paulista - UNESP

O experimento foi realizado na UNESP-Jaboticabal, uti-

lizando-se de trator 4x2 TDA de 73,6 kW (100 cv) de potência

no motor e grade aradora. O biodiesel utilizado foi do tipo etílico,

filtrado, produzido a base de óleo residual. O delineamento ex-

perimental foram: blocos casualizados em esquema fatorial (5x4),

no qual se combinaram cinco proporções de mistura de biodiesel

e diesel de petróleo (0-100%; 25-75%; 50-50%; 75-25% e 100-

0%), com quatro velocidades de deslocamento (2,7; 4,3; 6,0 e 6,7

km.h-1). Avaliaram-se consumo hora (L.h-1), consumo hora (kg.h-1)

e o consumo específico (g.kWh-1). Os resultados evidenciaram que

o uso de biodiesel até a proporção de 50% de mistura não alterou

o consumo, entretanto, quando o trator funcionou com 100% de

biodiesel, não se observou anomalia no funcionamento, embora o

consumo de combustível tenha aumentado em 11%.

The experiment was accomplished in UNESP campus, Ja-

boticabal, Brazil, using a 4x2 TDA tractor of engine having 73.6 kW

(100 cv) coupled to harrow. It was used an ethylic biodiesel, filtrat-

ed, based on residual oil. The experimental design was based on ca-

sualized blocks with factorial outline (5x4) where it was combined

five proportions of biodiesel per petroleum diesel (0 and 100%;

25 and 75%; 50 and 50%; 75 and 25% and 100 and 0%), with

four displacement speeds (2.7; 4.3; 6.0 and 6.7 km h-1). The hour

consumption (L h-1), hour consummate (kg h-1) and the specific con-

sumption (g kWh-1) were evaluated. The results evidenced that the

mixing having 50% biodiesel proportion did not alter consumption,

however when the tractor worked with 100% of biodiesel, it was

not observed any working anomaly when compared to diesel, how-

ever fuel consumption increased in 11%.

Palavras-chave: biodiesel etílico; consumo de combustível; trator agrícola.

Keywords: ethyl biodiesel; fuel consumption; agricultural tractor.

Ethylic biodiesel of residual oil: fuel consumption of an agricultural trac-tor as function of the mixing with petroleum diesel

Afonso Lopes – Correspondência: Prof. Dr. Paulo Donato Castellani, s/n FCAV-UNESP-Engenharia Rural. - Jaboticabal, SP – Brasil - CEP 14884-900. Endereço eletrônico: [email protected] Eduardo Angeli Furlani – Correspon-dência: Prof. Paulo Donato Castellane s/n FCAV-UNESP Engenharia Rural – Jaboticabal - SP – Brasil - CEP 14884-900Danilo Cesar Checchio Grotta – Correspon-dência: Av. Tenente Raimundo Rocha s/n - Cidade Universitária UFC – Campus Cariri – Juazeiro do Norte - CE – Brasil – CEP 63000-000 Felipe Thomaz da Camara – Correspondência: Av. Tenente Raimundo Rocha s/n - Cidade Univer-sitária - UFC – Campus Cariri - Juazeiro do Norte - CE – Brasil – CEP 63000-000 Miguel Joaquim Dabdoub - Correspondência: Av. Bandeirantes, 3900 Monte Alegre - Ribeirão Preto, SP – Brasil - CEP 14040-901. Endereço eletrônico: [email protected] Pereira da Silva – Correspondência: Prof. Dr. Paulo Donato Castellani, s/n FCAV-UNESP-Engenharia Rural – Jaboticabal - SP – Brasil - CEP 14884-900

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5

6

RESUMO

ABSTRACT

Consumo de biodiesel etílico de aceite residual en tractor agrícola varian-do el porcentaje de mezcla de biodiesel y diesel de petróleo

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 10 - 15, segundo sem. 2009

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11

Segundo Dabdoub (2003), um fator que me-

rece destaque é que a utilização do biodiesel, obtido

de fontes 100% renováveis, deverá ser responsável

pelo ingresso de divisas devido à venda de cotas de

carbono, conforme contemplado no protocolo de

Kyoto. De acordo com o autor, as cotas de carbo-

no poderão ser vendidas para outros países, uma vez

que o uso de biodiesel diminui a poluição com a redu-

ção da emissão de gases causadores do efeito estufa

e, além disso, o incremento na área de plantio (soja,

cana, etc.) será responsável pela retirada de grandes

quantidades de dióxido de carbono da atmosfera, au-

mentando o número de cotas de carbono a serem

negociadas.

Testes preliminares com biodiesel de óleo

usado em frituras foram realizados em ônibus de

transporte coletivo da cidade de Curitiba, cedido pela

Prefeitura Municipal, por meio da Companhia de Ur-

banização (URBS), com motor turbinado e potência

de 238 cv. O ônibus percorreu 915 km em condições

normais de trabalho, utilizando 20% de biodiesel e

80% de diesel convencional. O teste foi realizado em

duas etapas e apresentou desempenho normal, exce-

to por um leve odor de óleo de frituras expelido pelo

escapamento. A média de consumo de biocombustí-

vel (2,1 km.L-1) esteve na faixa de normalidade para

veículos desse porte, que normalmente utilizam óleo

diesel puro (ZAGONEL et al 1999).

Utilizando um motor de ciclo diesel, injeção

direta, um cilindro e sem adaptações, Rabelo (2001)

El experimento se realizó en la UNESP-Jaboticabal, utilizando un tractor 4x2 TDA de 73,6 kW

(100 cv) de potencia en el motor y en la grada. El biodiésel utilizado fue del tipo etílico, filtrado, producido

a base de aceite residual. La delineación experimental fue bloques casualizados en esquema factorial (5x4),

en el cual se combinaran cinco proporciones de mezcla de biodiesel y diésel de petróleo (0-100% 25-75%

50-50% 75-25% y el 100 -0%), con cuatro velocidades de desplazamiento (2,7, 4,3, 6,0 y 6,7 km.h-1). Se

evaluó el consumo de horas (L.h-1), consumo de hora (kg.h-1) y consumo específico (g.kWh-1). Los resul-

tados mostraron que el uso de biodiesel hasta la proporción de 50% de mezcla no alteró el consumo, sin

embargo, cuando el tractor funcionó con 100% de biodiésel, no se observó ninguna anomalía en el funcio-

namiento, aunque el consumo de combustible se ha incrementado en 11%.

Palabras-claves: biodiesel etílico; consumo de combustible; tractor agrícola.

RESUMEN

INTRODUÇÃOobservou-se que a mistura de biodiesel e diesel resul-

tou em aumento discreto de potência e torque quan-

do se aumentou a proporção de biodiesel no diesel,

principalmente para faixas de rotações mais baixas. O

consumo específico dessas misturas, porém, apresen-

tou-se levemente mais elevado e a adição de BOUF

ao diesel resultou em melhoria do rendimento para

rotações acima de 1.800 rpm.

Laforgia & Ardito (1995) utilizaram motor de

ciclo diesel estacionário para a comparação de três ti-

pos de combustíveis, sendo os quais: diesel de petró-

leo, óleo cru de sementes de colza e um combustível

misto de biodiesel feito a partir do óleo de colza cru,

acrescido de 10% de metanol. Os testes realizados

em dinamômetro de bancada revelaram decréscimo

de potência ao redor de 5%, quando o motor traba-

lhava em alta rotação, movido a óleo cru e combus-

tível misto, fato esse que pode ser explicado, segun-

do os autores, pelo menor poder calorífico e maior

densidade observados nos combustíveis em questão,

comparados ao diesel tradicional; outro dado obser-

vado foi o aumento de consumo quando se utilizou

combustível misto, sendo ainda maior o consumo de

óleo cru, comparado ao consumo de diesel.

De acordo com Lopes et al. (2003a), o con-

sumo de diesel num trator 4x2 TDA, com 121 cv

no motor, teve os seguintes valores: consumo hora

(13,65 kg.h-1) e consumo específico (554 g.kWh-1). Os

autores concluíram que o consumo de combustível é

influenciado pela lastragem do trator, pela carga im-

posta na barra de tração, pelo tipo de pneu e pela

velocidade de deslocamento.

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12

Este trabalho teve o objetivo de avaliar o

consumo da mistura de biodiesel e diesel de petró-

leo de um trator em operação de preparo do solo

com grade aradora, variando a proporção de mistura

(%biodiesel - %diesel de petróleo), combinado com

quatro velocidades de deslocamento.

O experimento foi conduzido na UNESP -

Câmpus de Jaboticabal - SP. A área do presente traba-

lho apresentava solo desprovido de vegetação, com

localização geográfica definida pelas coordenadas

21º15’ de latitude sul e 48º18’ de longitude oeste de

Greenwich. Apresenta altitude média de 570 m e cli-

ma Cwa (subtropical), de acordo com a classificação

de Köeppen.

O solo da área experimental é classificado

por Andrioli & Centurion (1999) como Latossolo Ver-

melho Eutroférrico típico, textura muito argilosa, A

moderado, caulinítico-oxálico, relevo suave ondula-

do. No momento dos testes, a média de teor de água

no solo foi 10,1% e 13,2% nas camadas de 0-10 cm e

de 10-20 cm, respectivamente.

O trator de teste foi um modelo BM 100

Valtra, 4x2 TDA, com potência máxima no motor de

73,6 kW (100 cv) a 2.350 rpm e massa de 5.400 kg.

Com a finalidade de oferecer carga à barra de tração

do trator, foi acoplada uma grade aradora de arrasto,

com 16 discos recortados de 609,6 mm (24 polega-

das) de diâmetro. Nessa operação, o trator foi utiliza-

do em rotação máxima livre de 2.350 rpm.

O biodiesel utilizado no ensaio foi do tipo etí-

lico filtrado e produzido a base de óleo residual no

Departamento de Química (LADETEL) da USP, Ribei-

rão Preto. O óleo residual foi coletado no Restauran-

te Universitário da UNESP de Jaboticabal.

A tecnologia dos processos de esterificação e

de purificação do biodiesel foi desenvolvida pelo LA-

DETEL (Laboratório de Tecnologias Limpas) da USP,

Ribeirão Preto.

MATERIAL E MÉTODOS

Instrumentação do trator de teste

Para determinar a força de tração na barra,

utilizou-se célula de carga (M. SHIMIZU, modelo

TF400) com capacidade máxima de medição de 100

kN. Para medir o consumo de combustível, utilizou-

se um protótipo, conforme descrito em Lopes et al.

(2003b). Tal protótipo tem dois medidores de fluxo

instalados em série com dois medidores de tempe-

ratura. A velocidade real de deslocamento foi obtida

por meio de radar (modelo RVS II), variando-se as

marchas de trabalho. Todos os sensores enviaram os

sinais a um sistema de aquisição de dados (micrologger

CR23X), sendo o mesmo programado para obter da-

dos numa freqüência de 10 leituras por segundo.

O delineamento experimental foi em blocos

casualizados, em esquema fatorial 5x4 (cinco propor-

ções de mistura e quatro velocidades de deslocamen-

to), totalizando 20 tratamentos com quatro repeti-

ções. As proporções de mistura biodiesel e diesel de

petróleo foram [B0 (0 e 100 %), B25 (25 e 75%), B50

(50 e 50%), B75 (75 e 25%) e B100 (100 e 0%)] e as

velocidades de deslocamento [2,7 km h-1 (V1), 4,3 km

h-1 (V2), 6,0 km h-1 (V3) e 6,7 km h-1 (V4)]. Cada parce-

la experimental teve comprimento de 20 m e entre as

parcelas, no sentido longitudinal, reservou-se interva-

lo de 15 m, cuja finalidade foi realizar manobras, trân-

sito de equipamentos e estabilizar as determinações.

Consumo horário

O protótipo utilizado para determinar consumo em

todas as parcelas forneceu valores expressos em mL/

segundo, referentes ao débito da bomba injetora e

ao retorno dos bicos, respectivamente. Por meio da

diferença entre os valores, obteve-se o volume real-

mente consumido pelo trator durante o percurso da

parcela.

Com base nesse valor foi calculado o consumo horá-

rio em volume, utilizando-se a Eq.(1):

Ch.v= tC*3,6

em que,

Ch.v = consumo horário (L.h-1);

C = volume consumido (mL);

t = tempo de percurso na parcela (s), e

3,6 = fator de conversão.

(1)

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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo

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Consumo específico

PB= FT*v

CE=PB

DBn*Ch.v(n)

Para a obtenção do consumo horário expresso em

massa, foi necessário determinar a densidade em fun-

ção da temperatura nas cinco proporções de mistura.

A temperatura do combustível foi monitorada nos

mesmos pontos onde foram realizadas as medidas de

fluxo. A densidade foi determinada no intervalo de

temperatura de 10 a 70º C, em passos de 5 em 5º C.

Pela análise de regressão, obtida por meio de análise

estatística, chegou-se às Eqs. (2; 3; 4; 5 e 6):

DB0=851,04 - 0,6970*T R2 = 0,97 (2)DB25=852,08 - 0,5950*T R2 = 0,91 (3)DB50=875,60 - 0,6141*T R2 = 0,96 (4)DB75=882,34 - 0,5484*T R2 = 0,91 (5)DB100=881,10 - 0,5271*T R2 = 0,93 (6)

(9)

(8)

Ch.m=Ch.v*1000DBn (7)

Para o cálculo do consumo horário expresso em mas-

sa, utilizou-se a Eq.(7):

em que,

Ch.m = consumo horário (kg.h-1);

Ch.v = consumo horário (L.h-1);

DBn = equação de regressão de cada proporção de

mistura do combustível, e

1000 = fator de conversão.

Essa variável expressa o consumo de combustível em

unidade de massa por unidade de potência na barra

de tração e foi calculado com a seguinte equação:

em que,CE = consumo específico (g.kW h-1);DBn = densidade do combustível (n) em função da temperatura (g.L-1);Ch.v(n) = consumo horário para o combustível (n) (L.h-1), e

PB = potência média na barra de tração (kW).

A potência média na barra de tração foi determinada

de forma indireta, utilizando-se da Eq.(9):

em que,PB = potência média na barra de tração (kW);FT = força média de tração na barra (kN);v = velocidade real de deslocamento (m/s).

Os dados foram submetidos à análise de variância e

ao teste de comparação de médias de Tukey, a 5%

de probabilidade, conforme Pimentel Gomes (1987).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A síntese da análise de variação e teste de médias

encontra-se na Tabela 1.Para interpretar os resulta-

dos deve-se observar que a ausência de letras com-

parativas implica interação significativa e, nesse caso,

será explicado por tabela complementar de desdo-

bramento.

Tabela 1. Síntese da análise de variância e do teste de

médias para as variáveis de consumo horário em vol-

ume, consumo horário em massa e consumo específico.

FatoresConsumoHorário

(L.h-1

)

ConsumoHorário(kg.h

-1)

ConsumoEspecífico(g.kWh

-1)

PROPORÇÃO (P)B0 13,11 11,02 617aB25 12,64 10,66 599aB50 12,56 10,94 596aB75 12,85 11,23 673bB100 13,75 12,05 687bVELOCIDADE (V)V1 10,00 8,65 824aV2 12,12 10,47 662bV3 14,87 12,78 556cV4 14,95 12,84 498dTESTE (F)P 6,08 ** 10,10 ** 11,01 **V 189,43 ** 185,64 ** 154,68 **PxV 4,69 ** 4,56 ** 1,82 NSC.V.% 5,98 5,92 8,14

Em cada coluna, para cada fator, médias seguidas de mesma letra minús-cula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Em cada coluna, médias desacompanhadas de letras implicam interação significativa entre os fatores e, nesse caso, haverá quadro auxiliar de desdobramentoNS: não-significativo (P>0,05)*: significativo (P<0,05)**: significativo (P<0,01)C.V.: coeficiente de variação

Consumo horário em volume (L.h-1)

Pela Tabela 1, percebe-se que ocorreu interação sig-

nificativa entre os fatores avaliados; a Tabela 2 ilustra

os dados dessa interação.

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ProporçãoVelocidade

V1(2,7 km h-1) V2(4,3 km h-1) V3(6,0km h-1) V4(6,7 km h-1) B0 9,90 a A 11,93 ab B 15,08 ab C 15,53 a C B25 9,38 a A 11,48 b B 13,53 c C 16,18 a D B50 9,85 a A 11,63 ab B 14,03 bc C 14,75 ab C B75 10,20 a A 12,45 ab B 15,45 ab B 13,30 b C B100 10,63 a A 13,10 a B 16,30 a C 14,98 a C

Tabela 2. Interação entre os fatores proporção de mistura e velocidade para a variável consumo horário em vol-

ume (L.h-1).

Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e em cada linha médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Analisando-se o fator proporção dentro de cada fator velocidade, verifica-se que: na velocidade

V1, ocorreu semelhança estatística entre todas as

proporções; na velocidade V2, ocorreu semelhan-

ça nas proporções B0, B25, B50 e B75, entretanto B25

diferiu de B100, sendo essa última semelhante às de-

mais; na velocidade V3, B25 foi semelhante a B50 que

se apresentou semelhante a B0 e B75, que por sua vez

não diferiram de B100; na velocidade V4, B0, B25, B50

e B100 foram semelhantes, mas apenas B50 foi seme-

lhante a B75.

Analisando-se a velocidade dentro de cada

fator proporção de mistura, verifica-se que para as

condições B0, B50 e B100, houve diferença significativa

entre V1, V2 e V3, com V3 não diferindo de V4. Na

proporção B25, houve diferença significativa entre to-

das as velocidades ensaiadas, sendo o consumo cres-

cente de V1 para V4. Para B75, V1 foi diferente de V2,

V2 foi semelhante a V3 e V4 diferente das demais.

Consumo horário em massa (kg.h-1)

Na Tabela 1, verifica-se a síntese da análise de variância e do teste de médias, na qual se observa a influência significativa dos fatores proporção e ve-locidade, e ainda a interação entre ambos quanto ao

consumo horário em kg.h-1.

ProporçãoVelocidade

V1(2,7 km h-1) V2(4,3 km h-1) V3(6,0km h-1) V4(6,7 km h-1)B0 8,38 ab A 10,03 b B 12,65 bc C 13,05 a CB25 7,95 b A 9,75 b B 11,38 c C 13,58 a DB50 8,60 ab A 10,13 b B 12,18 bc C 12,88 ab CB75 8,95 ab A 10,90 ab B 13,48 ab B 11,60 b CB100 9,38 a A 11,53 a B 14,23 a C 13,08 a C

Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e em cada linha médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Analisando-se a proporção dentro de cada

velocidade, observa-se que em V1, B0, B25, B50 e B75

foram semelhantes estatisticamente, entretanto B25

foi diferente de B100 e essa foi semelhante às demais.

Em V2, B0, B25, B50 e B75 foram semelhantes, sen-

do B75 também semelhante a B100. Em V3, B0, B25 e

B50 foram semelhantes, sendo B50 semelhante a B75,

e B75 também semelhante a B0 e a B100. Em V4, B0,

B25, B50 e B100 foram semelhantes, entretanto B50 foi

semelhante a B75.

Analisando-se a velocidade dentro de cada

fator proporção de mistura, verifica-se que, para as

condições B0, B50 e B100, houve diferença significativa

entre V1, V2 e V3, com V3 não diferindo de V4. Na

proporção B25, houve diferença significativa entre to-

das as velocidades ensaiadas, sendo o consumo cres-

cente de V1 para V4. Para B75, V1 foi diferente de V2;

V2 foi semelhante a V3, e V4 diferente das demais.

Consumo específico

Pela Tabela 1, verifica-se que não ocor-

reu interação significativa entre os fatores. Des-

sa forma, analisando o fator proporção de mis-

tura, observa-se que o consumo específico foi

semelhante para B0, B25 e B50. Observa-se, tam-

bém, que B75 foi estatisticamente semelhante a

B100. Comparando B0 a B100 o consumo aumen-

tou 11%, considerando-se que o trator operava

com aproximadamente 65% da capacidade de

tração.

Para o fator velocidade, notou-se con-

sumo específico diferente e decrescente de V1

para V4; tal comportamento de consumo está

de acordo com Laforgia & Ardito (1995).

Tabela 3. Interação entre os fatores proporção de mistura e velocidade para a variável consumo horário em massa (kg.h-1).

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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo

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15

CONCLUSÃO

O incremento de biodiesel até o limite de

50% não alterou significativamente o consumo espe-

cífico do trator para as condições do ensaio.

Quando for possível, utilizar o consumo específico

para comparar tratamentos, pois nessa forma consi-

dera-se o combustível consumido e a potência utili-

zada.

O uso de 100% de biodiesel no trator não

limitou o seu funcionamento, entretanto, aumentou

o consumo específico em 11%, sendo isso justificado,

principalmente, pelo menor poder calorífico do B100

em relação ao diesel de petróleo.

O uso de biodiesel em tratores constitui al-

ternativa viável de combustível, entretanto, necessita

continuidade de estudos e, para tanto, recursos finan-

ceiros do governo e de instituições privadas são indis-

pensáveis.

AGRADECIMENTOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

À FAPESP e ao CNPq pelo apoio financeiro ao pro-

jeto e à COOPERCITRUS e à VALTRA do Brasil pela

disponibilidade do trator de teste e pela logística de

ensaios.

ANDRIOLI, I.; CENTURION, J.F. Levantamento detalhado dos solos da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboti-cabal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 27, 1999, Brasília. Anais. Brasília: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1999. 1 CD-ROM.

DABDOUB, M.J. Uso de novos combustíveis permitirá a redução das importações de diesel em no mínimo 33%. São Paulo, 2003. 4 p. Disponível em: http:// www.dabdoub-labs.com.br. Acesso em 10 out 2007.

LAFORGIA, L.; ARDITO, V. Biodiesel fueled IDI engines: perfor-mances, emissions and heat release investigation. Bioresource Technology, Bari, n.51, p.53-9, 1995.

LOPES, A.; LANÇAS, K.P.; FURLANI, C.E.A.; NAGAOKA, A.K.; CASTRO NETO, P.; GROTTA, D.C.C. Consumo de combustível de um trator agrícola em função do tipo de pneu, da lastragem e da velocidade de trabalho em condição de preparo dolo solo com escarificador. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.7, n.2, p.375-379, 2003a.

LOPES, A.; FURLANI, C.E.A; SILVA, R.P. Desenvolvimento de

um protótipo para medição de combustível em tratores. Revista Brasileira de Agroinformática, São Paulo, v.5, n.1, p.24-31, 2003b.

PIMENTEL GOMES, F. A estatística moderna na agropecu-ária. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1987. 162 p.

RABELO, I.D. Estudo de desempenho de combustíveis con-vencionais associados a biodiesel obtido pela transesterifi-cação de óleo usado em fritura. Paraná. 2001. Dissertação (Mestrado em Tecnologia). Centro Federal de Educação Tecno-lógica do Paraná.

ZAGONEL, G.; COSTA NETO, P.R.; RAMOS, L.P. Produção de ésteres etílicos de óleo de soja degomado: otimização e desen-volvimento de metodologia para controle da reação por FTIR. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 1, 1999, Londrina. Anais. Londrina: Centro Nacional de Pesquisa de Soja; Empresa Nacio-nal de Pesquisa Agropecuária, 1999. p.342.

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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China

Elias Marco Khalil Jabbour1

Professor colaborador do Departamento deGeociências do Centro de Filosofia eCiências Humanas da Universidade Federal deSanta Catarina (CFH-UFSC)

A questão energética reveste-se de singular importância na atual quadra de transição à 3° Revolução Industrial no centro do sistema capitalista. Porém, e não independente da problemática internacional, cabe aos países periféricos uma formulação melhor elaborada sobre a questão em si. Aos países periféricos continen-tais, como a China e o Brasil, abre-se uma grande oportunidade de relacionar a utilização de seus recursos naturais com a profícua necessidade de aprofundar seus programas de industrialização e de integração regional, de forma que a questão energética em voga não se transforme em condição objetiva à radicalização da divisão internacional do trabalho.

Palavras-Chave: energia, industrialização, questão regional, China, Brasil.

Development strategy, energy issues and the formation of a continental economy in China

Elias Marco Khalil Jabbour. – Doutorando em Geografia pela FFLCH-USP. Professor colabo-rador do Núcleo de Estudos Asiáticos (NEAS); Pesquisador da Fundação Maurício Grabois (FMG) e Pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Estudos da China, Ásia e Pacífico (IBECAP) – Cor-reio eletrônico: [email protected]

1

RESUMO

Energy has a singular importance in these days of transi-tion to the Third Industrial Revolution in the center of the capitalist system. Peripheral countries must elaborate a better formulation about the energetic issue, too. A great opportunity is opened to continental peripheral countries, as China and Brazil, to combine the use of natural resources with the necessity of deepening indus-trialization and regional integration programs, so that the energetic issue does not turn into an objective condition to the radicalization of the international work division.

Keywords: energy; industrialization; development; China; Brazil.

ABSTRACT

RESUMEN

Estrategia de desarrollo, cuestión energética y la formación de una eco-nomía continental en China

El problema energético es de singular importancia en el bloque actual de transición a la Tercera Revolución Industrial en el centro del sistema capitalista. Sin embargo, y no independiente de los problemas internacionales, tocan a los países periféricos una mejor formulación detallada sobre la cuestión en sí. A los países continentales periféricos, tales como China y Brasil, se abre una gran oportunidad para relacionar el uso de los recursos naturales con la necesidad de profundizar sus programas de industrialización y integración regional, de modo que la cuestión energética en boga no se transforme en condición objetiva a la radicalización de la divi-sión internacional del trabajo.

Palabras-claves: energía; industrialización; cuestión regional; China; Brasil.

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17

Assim como nas anteriores viragens típicas

das transições envolvendo o surgimento de novos pa-

radigmas tecnológicos (máquina a vapor e motor a

explosão), o mundo hoje, mais precisamente o centro

do sistema capitalista, é testemunho de uma retoma-

da das discussões acerca da necessidade de pesquisas

sobre novas fontes de energia, indispensáveis tanto

ao suprimento industrial quanto ao ambiente global

de reprodução humana. Os motivos são vários, mas

podemos agregar aos já existentes a uma estrutura

de demanda cada vez mais incompatível com a oferta

cartelizada do petróleo, cuja pressão sobre o balanço

de pagamentos de inúmeros países é mera expressão.

Isso sem dizer do óbice que envolve o aquecimento

global e suas conseqüências à espécie humana.

Por outro lado, pode-se dizer que convive-

mos com, talvez, 100% ou mais dos homens dedica-

dos à ciência; homens esses que em nenhum momen-

to da história foram contemporâneos – tanto nossos,

quanto de si mesmos – e que à suas disposições con-

tam com recursos materiais inimagináveis e capacida-

de de dar curso às suas elucubrações mediados por

um planejamento estatal e privado cada vez mais mi-

limétrico. O homem não cria problemas sem solução

e os resultados satisfatórios no desenvolvimento de

formas limpas e renováveis de energia (biomassa, eta-

nol, eólica etc) dão conta desta histórica verdade.

Porém, amiúde a opinião esboçada acima,

para um país periférico e continental como o Brasil, a

discussão deve ser tratada em outro nível. Este deba-

te deve partir do princípio segundo o qual a questão

energética, para nós, não é um fim em si mesmo e

sim parte de um conjunto que envolve uma batalha

de cunho político em torno de duas bandeiras-chave:

o aprofundamento de nosso processo de industrialização

e, como causa e efeito disso, da reimplementação de

uma política de integração nacional. Significa dizer, em

miúdas palavras, a redefinição de uma divisão social

do trabalho onde novas oportunidades de desenvol-

vimento devem ser reabertas, incluindo regiões me-

nos favorecidas economicamente, dando margem ao

adensamento de cadeias produtivas em todo o terri-

tório nacional e a inclusão no mercado de um grande

contingente de pessoas.

Ampliando a margem à abstração, por outro

lado, o mundo assiste neste início de século ao ad-

vento da República Popular da China como a grande

candidata a ocupar, num espaço de pelo menos três

décadas, o posto de maior potência econômica no

mundo e recolocar na ordem do dia a transição capi-

talismo-socialismo em âmbito mundial. Assim como o

Brasil, a China é um país periférico de dimensões con-

tinentais. Diferente do Brasil, onde temos um Banco

Central alienígena detentor dos instrumentos cruciais

do processo de acumulação (o câmbio, a política de

juros, o crédito e o sistema financeiro) e um Ministé-

rio do Meio-Ambiente a serviço de outrem, na Chi-

na, o desenvolvimento econômico é fator primário à

consecução de objetivos de largo alcance.

Tendo como núcleo argumentativo os inves-

timentos em energia hidrelétrica (incluindo Três Gar-

gantas), em primeiro plano nossa idéia é de expor os

pontos principais da estratégia de desenvolvimento

da China e sua expressão no território, logo, nosso

objetivo com este artigo repousará, dadas as simila-

ridades territoriais com o Brasil, na demonstração de

como a China tem relacionado a solução de sua pre-

sente questão energética com a geração de renda e

produto em pontos díspares de seu território, crian-

do, assim, as condições objetivas à formação de uma

economia de dimensões continentais em meados do

presente século.

INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTOE TERRITÓRIO NA CHINA

Desde o final da década de 1970, quando

Deng Xiaoping lança mão da política de Reforma e

Abertura, a China tem experimentado um verdadei-

ro frenesi de crescimento econômico. Sua média de

crescimento nos últimos 27 anos é de 10,1%, seu co-

mércio exterior no período cresceu mais de 30 vezes

e dentro de alguns anos passará ocupar o posto de

segunda economia mundial, passando a Alemanha e o

Japão e ficando atrás apenas dos EUA.

A geografia do mundo tem-se transformado

com a criação de um novo pólo irradiador de fluxos

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JABBOUR, E. M. K.

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18

financeiros, econômicos, políticos e culturais crescen-

tes. Em tempos em que a ciência histórica deixou de

ser a mãe de todas as ciências em detrimento de um

liberalismo e seu cerne a-histórico, é mister admitir

que tal aumento de influência advém não somente

do nível de desenvolvimento citado, mas também

pelo fato de o país: i) ser o mais populoso do mun-

do (1,3 bilhão de habitantes); ii) possuir a civilização

mais antiga (5.000 anos de existência) com institutos

milenares como o mercado (3.500 anos de existên-

cia), o planejamento territorial (modo de produção

asiático, 2.500 anos), o concurso público (1.500 anos)

e um Estado Nacional surgido antes mesmo da pro-

priedade privada (2.500 anos), assentado sobre o

terceiro maior em território (mais de 9 milhões de

km2 de área) do planeta, de onde surgiram propostas

filosóficas tolerantes e civilizatórias (confucionismo e

taoísmo) com dois séculos de antecedência às suas

similares na Grécia Antiga com diferença de que na

China, ainda, o confucionismo e o taoísmo são par-

te integrante da formação moral do povo, enquanto

no Ocidente as propostas de Sócrates e Platão já

há muito foram jogadas na lata do lixo da história

(MAMIGONIAN, 2007; JABBOUR, 2005). Tudo isso

nos leva a crer que com um passado único, à China

espera-se um futuro singular.

Seu dinamismo desenvolvimentista, expres-

são da fusão entre o Estado Revolucionário, fundado

por Mao Tsé-Tung, com o Estado Desenvolvimentista,

absorvido das experiências do leste asiático por Deng

Xiaoping (CASTELLS, 1999), tem no desenvolvi-

mento territorial uma síntese que não pode passar

desapercebida dado o fato de que a unificação do

território econômico chinês, em andamento, se

constitui no grande paradigma das relações interna-

cionais neste século XXI, algo somente comparado

com a transformação sofrida pelo mundo pós-unifi-

cação do território político e econômico dos EUA

na segunda metade do século XIX. Unificação esta

que se constituiu na principal condição objetiva à

consolidação do capitalismo e sua atual forma finan-

ceira. Raciocínio semelhante vale à consolidação do

socialismo e sua relação com a já citada unificação

do território econômico chinês.

A estratégia de desenvolvimento(agricultura e Zonas Econômicas Especiais – ZEE`s)

Em bem ao não-prejuízo do conjunto da análi-

se, em face da desinformação reinante, é muito justo

uma demonstração, mesmo que superficial, da estra-

tégia de desenvolvimento do país em tela.

O fenômeno desenvolvimentista chinês se

fez acompanhar por um espetacular dinamismo terri-

torial em fina sintonia com o tempo e o espaço. É fru-

to de uma estratégia de desenvolvimento que, apesar

de não peculiar, ganha traços originais e contornos

cada vez mais largos que vão desde a instalação das

quatro primeiras Zonas Econômicas Especiais (ZEE`s)

até o lançamento do Programa de Desenvolvimento do

Oeste na primavera de 1999 (OLIVEIRA, 1996; 2003).

O primeiro passo da governança chinesa ten-

do à testa o comunista de primeira hora e herói da

Longa Marcha, Deng Xiaoping, foi o de solucionar a

questão do abastecimento alimentar do país (via rela-

xamento de relações de produção), em simultaneidade

com a permissão de cultivos marginais por parte dos

camponeses chineses que passaram a ter permis-

são de venda no mercado de excedentes em cere-

ais, criando, assim, um mercado interno potencial a

produtos manufaturados e recompondo o pacto de

poder da revolução de 19492. Abrindo parêntese, um

passo político e de alta relevância à compreensão dos

por quês da manutenção do status quo comunista em

meio aos vendavais do final da década de 1980 e da

ofensiva contra-revolucionária de Tiananmen em ju-

nho de 1989: a classe camponesa, responsável pela

queda de todas as dinastias chinesas – e o centro de

uma rebelião rural que levou o Partido Comunista de

Mao Tsé-Tung ao poder em 1949 – estava do lado go-

verno contra as citadas ondas reacionárias.

Ao colocar o relevo à dimensão dos aumen-

tos das safras agrícolas em um curto espaço de tempo

em comparação com um período anterior mais largo,

a tabela abaixo sintetiza o sucesso da liberalização do 2Em nosso juízo, assim como Mao Tsétung apoiou-se nos camponeses

pobres para levar adiante a revolução nacional popular de 1949, Deng Xiaoping apoiou-se na capacidade empreendedora milenar dos campo-neses médios para levar adiante um novo tipo de acumulação socialista. Forma de acumulação – e transição – esta muito semelhante à enunciada por Marx.

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TABELA 1: Quadro geral do aumento da produção

agrícola na China em milhões de toneladas

1952 1957 1965 1975 1979 1982 1984

Cereais 184 195 194 284 332 353 407

Algodão 1,3 1,6 2,0 5,4 2,2 3,6 6,5

Cereais per capita (kg/hab)

285 301 301 309 342 326 400

Área cultivada per capita (ha./hab)

0,18 0,16 0,14 0,11 0,11 0,10 0,09

Fonte: JABBOUR, Elias M. K. (1997): China: Desenvolvimento e Socialismo de Mercado: Potência do Século XX”. Trabalho de Graduação Individual. Departamento de Geografia da FFLCH. Universidade de São Paulo, 1997, p. 69.

O próximo passo foi o da instalação das Zo-

nas Econômicas Sociais, ZEEs, de forma experimen-

tal, mas com forte apelo, não somente econômico,

mas também político e estratégico. Falemos mais de-

tidamente acerca deste empreendimento.

O sudeste asiático, notadamente Coréia do

Sul e Taiwan, era exemplo vivo de como retomar o

esforço comercializador chinês, obtendo, assim, di-

visas externas para seu projeto de modernização e

reservas cambiais que viabilizassem no futuro (hoje)

uma política de juros propícia ao crédito. As Zonas

de Processamento de Exportações (ZPEs) coreanas

e taiwanesas foram a inspiração para a instalação em

território chinês das Zonas Econômicas Especiais

(ZEEs) como plataforma de exportações, processa-

mento de tecnologia externa e também verdadeiros

laboratórios econômicos e sociais, nos quais as técni-

cas e habilitações capitalistas pudessem ser observa-

das e assimiladas (JABBOUR , 2006).

Outra preocupação — e por isso as ZEE’s

contêm caráter estratégico — é atrelar essas zonas

ao esforço de político de reunificação do país, enfim,

criar condições objetivas para o retorno de Hong-

Kong, Macau e Taiwan ao seio da pátria. A melhor

forma encontrada para isso seria a institucionalização

da política de “um país, dois sistemas” como forma-

tação jurídica que coube a Hong-Kong e Macau, mas

direcionada a Taiwan. Para isso as ZEEs deveriam ser

o entrelaçamento do território chinês ao chamado

mundo chinês do sudeste asiático — mundo chinês

este com acúmulos de bilhões de dólares e dotados

de técnicas de gerenciamento de produção de ponta

no mundo.

Esse entrelaçamento se dá de forma que tan-

to o tempo (história) quanto o espaço (geografia) se

encontrassem e formatassem síntese no território

chinês. Assim, as quatro primeiras ZEEs foram cria-

das (1982) em locais estudados e planejados de forma

que a ZEE de Shenzen fizesse fronteira com Hong-

Kong, a de Zhuhai com Macau, Xiamen em Fujian vol-

tada para Taiwan e a de Shantou voltada para colônias

chinesas no sudeste asiático.

Verdadeiras joint-ventures territoriais surgi-

ram entre essas zonas e seus territórios-alvo, sugan-

do investimentos externos de chineses ultramarinos

que hoje correspondem a 62% dos IEDs na China,

criando meios para a reunificação do país, via sucção

econômica, e condições objetivas para o enfrenta-

mento do desenvolvimento do oeste chinês em curso

na atualidade.

comércio de excedentes agrícolas na China confor-

mando, assim, o primeiro e essencial passo no rumo

de uma estreita harmonia entre a superestrutura de

poder e a real base econômica do país:

A estratégia de desenvolvimento (as Empresas de Cantão e Povoado e a macroeconomia)

Outra determinante da estratégia de desen-

volvimento chinesa – baseada na formação de um

mercado interno capaz de abarcar um processo ace-

lerado de industrialização – reside no surgimento e

fortalecimento das chamadas Empresas de Cantão e

Povoado (ECPs).

Tratam-se de pequenas e médias empresas

de caráter coletivo (responsáveis pela invasão no

mundo de camisas, gravatas, calças e tênis made in

China, atualmente já produzem produtos de maior

valor agregado como televisores, computadores e até

aviões em joint-venture com a brasileira EMBRAER)

e de capital intensivo absorveram a maior parte dos

excedentes de mão-de-obra agrícola que voltaram

assim suas atividades para setores ligados à indústria

rural, comportando, dessa forma, um caso sui generis

de urbanização no mundo.

JABBOUR, E. M. K.

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Para termos uma idéia, o número de em-

pregados no setor primário sobre o emprego total

da China, na década de 80, decresceu de forma mais

rápida do que o emprego rural sobre o total do país

na década de 80. Em 1994, a primeira relação era de

54,3% e a segunda de 72,6% (KOJIMA, 1996). Conti-

nuando, agora descrevendo o ambiente de incentivos

e funcionamento deste tipo de empreendimento, as

ECPs surgiram no âmbito da descentralização fiscal

promulgada na China em 1982, viabilizando o reco-

lhimento de impostos e reinvestimentos no nível da

província e/ou região autônoma, numa clara diferen-

ciação da planificação central dos tempos do “mode-

lo soviético”. As ECPs operam fora da planificação

central, socializando lucros e perdas no nível do ente

municipal.

Sobre o crescimento destas empresas vale

remeter ao trabalho feito pelos economistas Susumu

Yabuki e Stephen Harner (China’s New Political Eco-

nomy, Boulder CO., Westview Press): em 1978 havia

1,52 milhões de ECP’s no interior da China, chegando

a 23 milhões em 1996. Já pelo relatório de desenvol-

vimento do Banco Mundial (World Bank Development

Report, 1996, Oxford University Press, New York), a

porcentagem da produção das ECP’s no conjunto da

produção industrial chinesa subiu de 13% em 1985

para 31% em 1984 – sua produção teve crescimento

médio de 25% entre 1985 e 1996 e foi a responsável

pela criação de 130 milhões de empregos entre 1980

e 1986.

Com relação à expansão da renda no campo,

Singh anota que esta cresceu anualmente entre 1980

e 1988 em 9,6%, enquanto que nas cidades tal foi de

6,3% (SING, 1999).

Estes dados nos deixam claro outra relação

que é a existente entre as reformas realizadas na Chi-

na e àquelas realizadas na URSS: enquanto a URSS

tratou de “reformar” indústrias de bens de capital

que pela sua complexidade tecnológica não abriga

grandes contingentes de mão de obra, a China pri-

vilegiou, em primeiro lugar, a transformação e massi-

ficação de indústrias que abrigassem grandes contin-

gentes de trabalhadores que num processo imediato

teriam acesso primário ao mercado consumidor.

Importante, essencial demonstrar é que

toda essa base assentada na formação de um mer-

cado interno e numa política agressiva em matéria

de comércio exterior só pode ter fundamento lógico

partindo do controle e manipulação, em prol dos in-

teresses imediatos e estratégicos da nação chinesa,

dos já citados instrumentos cruciais do processo de

acumulação, permitindo que o Estado Nacional seja

o grande timoneiro de um processo lento de regio-

nalização interno (China continental) e externo (su-

deste asiático), num planejamento de altíssimo nível

e de causar surpresa aos políticos da tragédia neo-

liberal no Brasil e na América Latina. Vejamos só: a

instalação de uma plataforma de exportações base-

adas tanto no litoral (ZEE`s) quanto no interior do

país (ECPs) foi parte de um todo que envolveu uma

política macroeconômica que, a partir de um câmbio

fixo, subvalorizado, permitiu o acúmulo de superávits

comerciais suficientes tanto para o financiamento de

máquinas e equipamentos importados, quanto para a

formação de uma imensa reserva em moeda estran-

geira que, por seu turno, viabilizou uma política de

juros atraente ao crédito, leia-se, consumo interno.

Por outro lado, o estrito controle sobre a con-

ta de capitais dotou o Estado chinês de um meca-

nismo institucional que por si só serviu de indutor

de investimentos externos produtivos em detrimento de

investimentos especulativos, tornando-se, nesse caso,

um dinamizador e não um amortecedor para o con-

junto da economia (SILVA, 2004). Ainda vale notar

o alto grau de regionalização deste tipo de investi-

mento na atualidade chinesa: 62% deles são provin-

dos de chineses étnicos baseados no sudeste asiático

(JABBOUR , 2006). Eis a base macroeconômica de

uma ambiciosa política de integração nacional e in-

ternacional.

A marcha territorial do desenvolvimento (e a “Chicago” chinesa)

Os bons resultados obtidos com a instalação

das primeiras quatro ZEEs em 1980, levou o gover-

no chinês, já em 1984 estender tal experiência a ou-

tras 14 cidades costeiras, incluindo a atual “cabeça

do dragão”, Xangai. Em 1987, nos estertores do 13°

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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China

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Congresso do Partido Comunista da China (PCCh),

todo o litoral do país foi considerada como “ZEE”,

marcando a entrada chinesa definitiva na rota interna-

cional do comércio. Entrada esta muito facilitada após

a imposição, por parte dos Estados Unidos, de nor-

mas cambiais ao Japão (Acordo de Plaza assinado em

1985) com o objetivo de encarecer as importações

de bens manufaturados japoneses no mercado norte-

americano, numa clara política keynesiana praticada

pelo governo Reagan na intenção de recuperar os

espaços, tanto políticos quanto econômicos perdidos

entre as décadas de 1950 e 1970.

A depreciação do yene ante ao dólar, levou

moedas como o yuan chinês a se tornarem altamente

depreciadas com relação à moeda japonesa. Estava

posta uma condição objetiva para a reorganização do

comércio regional tendo em vista a necessidade de

empresas asiáticas de se manterem dentro do merca-

do americano. Nesta lógica, capitais foram direciona-

dos para locais onde os custos de produção e o valor

da terra urbana fosse mais convidativo. E na Ásia, a

China foi o país que melhor apresentou as condi-

ções para o deslocamento destes capitais produtivos

que vieram não somente do Japão, mas também de

Taiwan e Hong-Kong.

Com o decorrer da década de 90, empresas

européias e norte-americanas também passaram a

direcionar-se rumo à China e seu mercado, tornan-

do a China, no início do século XXI, uma verdadeira

“manufatura do mundo”, e transformando, com seu

dinamismo econômico, capitais norte-americanos

em verdadeiros “reféns”, pois a estabilidade política

do imperialismo depende muito das importações da

China dada a centralidade da manutenção de baixos

índices internos de inflação3.

Em 1992, a todas as capitais de província e

de regiões autônomas e mais 52 cidades de frontei-

ra fora estendido o estatuto de ZEE. Movimento que

dá conta de um processo de conexão não somente

pela via da Ásia do Pacífico, mas também da criação

de uma ampla área de convergência econômica entre

a China e as ex-repúblicas soviéticas fronteiriças ao

noroeste (cooperação na área energética) e a reaber-

tura de uma rota comercial entre a China e a Europa,

reavivando o que em outro momento histórico Mar-

co Pólo nomeou de Rota da Seda.

3Neste contexto, e em retrospectiva histórica, podemos facilmente

perceber que os superávits comerciais do Japão, de Taiwan e de Hong-Kong com os EUA tenderam a cair, enquanto que a China passou a ter elevados superávits que ao passar da década de 1990 e mais precisamen-te hoje são enfrentados pelos EUA sob forma de pressões, genuinamen-te políticas, para a revisão da taxa de câmbio chinesa.

Em 1997, diante da crise financeira asiática

que ameaça o bem-sucedido programa agressivo de

exportações do país, o governo central lança, no ano

de 1999, o Programa de Desenvolvimento do Oeste,

numa planejada operação que consiste na abertura de

novos campos de investimento na economia, um novo

campo de acumulação baseado na institucionalização

de uma imensa reserva de mercado com capacidade

de suportar décadas de crescimento ininterrupto do

país.

Como grande referência histórica de desen-

volvimento e, de forma literal, seguindo o conselho

de Lênin, para quem os EUA eram o exemplo de

construção nacional a ser seguido e alcançado, da

mesma forma que Chicago, cidade situada no meio-

oeste do país, Chongqing, também no meio-oeste

(porém da China), foi a escolhida para desempenhar

papel semelhante ao praticado por Chicago, em meio

à unificação territorial norte-americana, na segunda

metade do século XIX: entroncamento ferroviário e

mercado distribuidor de gêneros agrícolas e indus-

triais4. Em 1997, tal cidade foi elevada à condição de

municipalidade diretamente subordinada ao governo

central (as outras são Pequim, Xangai e Tianjin).

Estudando realizações dos EUA como a Te-

nesse Valley Authority, o Civilian Conservation Corps e o

Interstate Highway System, entre 2001 e 2010 cerca

de US$ 200 bilhões serão direcionados para Chon-

gqing, com o intuito de transformá-la não somente no

centro dinâmico da expansão ao oeste, mas num dos

maiores centros comerciais e financeiros do mundo e

pronta para alcançar o mesmo status de praças como

Xangai e Hong-Kong (JABBOUR , 2006).

Para um país de dimensões continentais,

como a China e o Brasil, é neste contexto de com-

4Chongqing, antiga capital do governo de Chiang Kaishek, próxima a

barragem de Três Gargantas conta com 30 milhões de habitantes e com um território seis vezes maior que o da Bélgica.

JABBOUR, E. M. K.

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plementaridade regional interna que se deve situar

o papel do fator energia num conjunto que envolve

interesses nacionais de curto, médio e longo prazos.

O FATOR ENERGIA E AINTEGRAÇÃO REGIONAL

De forma simultânea a este processo dife-

renciado de desenvolvimento, com a inclusão mas-

siva de centenas de milhões de pessoas ao processo

produtivo e a integração gradual de todo o país a um

único mercado nacional, o fator energia foi tornando-

se algo crucial. O problema não reside pura e sim-

plesmente sobre a estrita necessidade de insumos,

mas também em formas alternativas à dependência

do carvão mineral como forma principal de geração

energética (cerca de 65% da energia utilizada pela

China provém deste tipo de insumo). Os prejuízos,

tanto financeiros (US$ 54 bilhões anuais) quanto

ambientais,têm levado o governo central a priorizar

a importação de tecnologia que viabilize uma utiliza-

ção mais limpa do carvão. Afora isso, investimentos

em fontes como a energia hidrelétrica, o gás natu-

ral e a energia nuclear têm sido intensificados. Mas,

é idealismo acreditarmos que a China conseguirá,

num rápido lapso de tempo, substituir grande parte

do carvão por fontes limpas de energia; o grande

desafio chinês da atualidade, nesse campo, é buscar

formas de purificação do mineral, tornando mais ra-

cional sua utilização.

Em outra oportunidade poderemos discor-

rer com mais vagar acerca da questão ambiental na

China, algo que merecia algo mais detido e sério

dado o nível de ideologização que envolve a discus-

são.

Retornando, o caso do petróleo é um pou-

co diferente (desde 1993 a China é importadora

e atualmente 50% do petróleo utilizado no país é

importado), pois o nível de desenvolvimento das

forças produtivas e reservas cambiais alcançado

pela China já lhe permite um nível de planejamento

de comércio exterior que a habilite a trocar serviços

por petróleo com a periferia do sistema (África,

por exemplo).

A dinâmica e a política da transferência litoral-interior

Falando em termos que contemple nossos

objetivos neste espaço, guarda grande relevância um

determinado raciocínio: a China, durante 25 anos,

acumulou capital e tecnologia em seu rico litoral para,

em passo seguinte, passar ao interior de forma que a

máxima advogada por Deng Xiaoping acerca de um

processo de enriquecimento comum precedido pelo enri-

quecimento de alguns (YUN 1). Tal raciocínio vale tan-

to no âmbito da sociedade quanto do território. Mais,

somente é passível sob o ponto de vista empírico, sob

uma estrutura de poder que detém sob seu contro-

le os setores estratégicos da economia (setores com

alto grau de monopólio) e o planejamento econômico

como método de gestão. Não somente isso: é de pri-

mária razão que este poder político esteja compro-

metido, de forma estratégica, com o socialismo.

Para termos noção da grandeza deste projeto

de transferência, entre 1997 e 2004, cerca de US$ 1

trilhão foi investido em obras de infra-estrutura no

interior da China (JABBOUR , 2006). Neste mesmo

momento, no Brasil, foram investidos na área infra-

estrutural apenas U$ 12 bilhões, algo que vem cres-

cendo com uma velocidade muito menor – apesar do

PAC – do que as necessidades de nosso país, muito

mais preocupado com o pagamento religioso de nos-

sa dívida interna. Retornando à China, a leitura deste

dado de investimentos nos demonstra que este rela-

xamento de acumulação regional é seguido por uma

verdadeira troca de investimentos e tecnologia, do ci-

tado litoral, por energia e matérias-primas do interior.

Em nossa opinião, tal movimento regional, ainda não

estudado com a seriedade devida por nós brasileiros,

é o maior fenômeno de re-divisão inter-regional do

trabalho de nossos tempos, algo somente compará-

vel com o que ocorreu no território soviético entre

1928 e meados da década de 1960. E uma verdadeira

demonstração da capacidade dos dirigentes chineses

em enfrentar seus reais problemas, muito diferente

do que verificamos no Brasil (do “combate à inflação”

e da “estabilização monetária” à custa de um caos so-

cial sem limites). É nesta política de complementaridade regio-

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nal que a China aposta nas próximas décadas, pois o litoral rico do ponto de vista financeiro e tecnoló-gico é débil sob o prisma de recursos energéticos, enquanto que o oeste do país é o simplesmente o oposto, pois concentra 74% das existentes e poten-ciais fontes energéticas. Por exemplo, o centro-oeste da China – local onde está sendo construída a usina de Três Gargantas – detém o segundo maior poten-cial hidrelétrico do mundo, porém sua utilização não passa dos 20%. Ainda, no campo da “energia limpa”, a aplicação desta política de integração e complemen-taridade regional ganhou força, com descobertas de grandes reservas de gás natural no extremo-oeste do país (Xinjiang), com capacidade de garantir o abaste-cimento integral de uma cidade do porte de Xangai por, pelo menos, 20 anos. Sob o ponto de vista estrito da questão ener-gética, tal política vai ao encontro de uma resposta ao nó-de-estrangulamento que se constituiu tal área em fins da década de 1990 e começo da atual, tendo ex-pressão nos constantes “apagões” a que estavam sub-metidas cidades-pólo como Xangai e Shenzen. Tais “apagões” transformaram-se em fato que alimentou inúmeras discussões acerca dos próprios limites do crescimento chinês, afinal, não é nada desprezível o fato comprovado de que a China, apesar de neces-sitar – para um desenvolvimento equilibrado – de 1.000 kw per capita, contava em 2002 somente com 300 kw per capita instalados, número que evoluiu em 2005, dado o grande esforço empreendido no perío-do, para 420 kw per capita (JABBOUR , 2006). Por fim uma necessária visão de conjunto, partindo da constatação de que dos 30 milhões de chineses que ainda vivem abaixo da linha da pobreza, cerca de 80% são de minorias étnicas, cujos “lares”, em mais de 70%, estão concentrados no oeste do país. Os investimentos em energia no interior do país são parte de um todo que abriga uma necessária polí-tica de que privilegie o desenvolvimento social dessas minorias5 em tempos de contestação internacional da soberania chinesa sobre regiões como o Tibet e o Xinjiang (Turquestão chinês)6.

5 A China é um país multinacional composto por 56 nacionalidades

diferentes. 6

Porém poucos se dão conta de que as províncias que crescem de forma mais rápida na China são justamente o Tibet e o Xinjiang, sobretudo após 1999, com o lançamento do “Programa de Desenvolvimento do Oeste”.

A transferência de energia oeste-leste (ener-gia hidrelétrica)

Lançado em 2001, o projeto de transferência

de energia do oeste ao leste da China comporta ba-

sicamente a exploração e a difusão de dois tipos de

energia limpa, a fonte hidrelétrica e o gás natural.

Acerca da transferência em si, podemos ilus-

trar quatro benefícios imediatos proporcionados pelo

projeto:

1. Obtenção de resultados econômicos imediatos: As

vantagens em recursos energéticos do oeste da

China têm sido transformadas em vantagens eco-

nômicas, como por exemplo, a partir da concor-

rência entre empresas estatais e mista entre si em

busca de novos campos de investimento e acu-

mulação;

2. Aumento de renda tributária local: é auxílio decisivo

ao crescimento econômico do oeste chinês, resul-

tando em âmbito nacional na lenta diminuição das

diferenças leste-oeste do país e na relação dialética

entre interdependência x suavização da divisão so-

cial do trabalho e suas implicações;

3. Reestruturação energética: cumpre papel na ma-

ximização da relação entre utilização dos recursos

energéticos nacionais e reajustamento de sua estru-

tura;

4. Promoção de proteção ao meio ambiente: tem re-

duzido a emissão de gases tóxicos emitidos pela

queima do carvão, além disso tem se destacado,

desde seu lançamento, as perdas ocasionadas

pelas constantes enchentes nos cursos inferiores

dos rios, por exemplo o rio Yangtsé.

Exemplo de operação de complementaridade bem

sucedida com a utilização de energia hidrelétrica

(50% mais barata que a produzida por carvão e pe-

tróleo), está na relação entre a província litorânea

Guangdong (a mais rica da China) e Guangxi (inte-

riorana, uma das mais pobres da China). Guangdong,

que tem 70% de sua energia proveniente do carvão,

que por sua vez tem deixado sua marca no montante

de mais de US$ 10 bilhões em prejuízos, somente no

ano de 2005, em razão da chuva ácida. A complemen-

taridade econômica, acrescido de formas alternativas

JABBOUR, E. M. K.

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à substituição de carvão como fonte primária de ener-

gia, nesse caso, pode ser auferido na seguinte relação:

a Usina hidrelétrica de Longtan, situada na Região Au-

tônoma de Guangxi (uma das províncias mais pobres

da China), desde 2005 passou a gerar energia limpa

e barata para Guangdong, que por sua vez reduziu

pela metade os gastos em compra de energia. Já a

citada Região Autônoma, desde então tem acumulado

lucros da casa de US$ 2 bilhões gerados pela venda

de energia elétrica em Longtan. Seu PIB que em 2001

era de US$ 120 milhões, em 2010 chegará à US$ 400

milhões (JABBOUR , 2006).

A transferência de energia oeste-leste (o caso de Três Gargantas) (JABBOUR , 2006)

Falar, mesmo que de uma forma mais super-

ficial, das conseqüências de variada monta de investi-

mentos em infra-estruturas energéticas na China sem

ao menos citar a importância da Usina Hidrelétrica de

Três Gargantas, seria algo minimante temeroso ante

as polêmicas que envolvem este empreendimento.

Obra iniciada em 1993, com término previsto para

2009, esta “mega-usina” de US$ 25 bilhões – ao seu

término – terá o título de maior usina hidrelétrica do

mundo.

Sua concepção remonta aos estertores da

república chinesa fundada em 1911, como um meio

ao controle de enchentes provocadas nos cursos su-

periores do rio Yangtsé ao longo de mais de milênios,

desde a dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.). A última

delas, ocorrida em 1998, morreram 1.562 pessoas e

uma população de 2,6 milhões foi afetada. Assim, não

se pode compreender o empreendimento somente

pelos olhos da necessidade de energia. Sob este pris-

ma, em 1919, Sun Yat-sen, precursor da China mo-

derna, em artigo publicado na revista Vida do Povo,

lançou a idéia de construir uma represa artificial em

Três Gargantas. Já então ele citava três objetivos es-

senciais: 1) o controle das constantes cheias do rio; 2)

a utilização de potencial hidrelétrico e 3) a melhoria do

comércio interno com a otimização da navegação.

A idéia só veio a ser planejada de fato com a

fundação da República Popular, em 1949. Ciclicamen-

te a necessidade da obra era levantada. Mas, somente

após 1978 é que a execução da obra foi levada adian-

te.

A obra é responsável pela realocação de cer-

ca de 1.200.000 pessoas e por danos ao meio-am-

biente somente reparáveis nos próximos 100 anos,

todavia, será responsável pela substituição de cerca

energética de cerca de 50.000 toneladas de carvão

por ano. O mais simbólico, sob nosso ponto de vista,

é expressão de uma vitória política chinesa, mais que

isso: demonstração de independência e soberania.

A um ano do término da obra, muitos impac-

tos já podem ser sentidos, conforme registraremos a

seguir.

A energia gerada pela hidrelétrica iluminará

as províncias, regiões autônomas e municipalidades

num raio de mil quilômetros. A cidade de Xangai,

desde agosto de 2003, passou a beneficiar-se da ener-

gia gerada pela obra. Muitos chineses mais eufóricos

chegam a dizer que Três Gargantas iluminará metade

da China, tamanha a área geográfica beneficiada.

Outro aspecto é o controle das inundações,

uma das “centenárias” motivações da obra. Os pe-

ritos prevêem que o mecanismo de controle de en-

chentes terá à disposição, em anos normais, cerca de

US$ 300 milhões e impedirá perdas da ordem de US$

2 bilhões anuais. A situação tende a melhorar ainda

mais com a construção de outra represa no turbu-

lento rio Jinshajiang, um dos tributários principais do

curso superior do rio Yang-tsé, além da conclusão de

múltiplos projetos de reflorestamento e tratamento

florestal do solo.

Há também a navegação fluvial. O transporte

de mercadorias pelo rio Yang-tsé era demasiadamen-

te baixo e perigoso. Devido a grandes rochas ao longo

do rio, somente navios de até 1.500 toneladas conse-

guiam passar pelo seu curso superior. Com a altura da

represa chegando a 135 metros, a profundidade da

água de Três Gargantas aumenta até 60 metros, me-

lhorando o fluxo e diminuindo a velocidade da água

em até 70%, favorecendo a navegação, baixando os

custos do transporte em até 35%, com maior segu-

rança. Após o término da obra, em 2009, navios de

até 100 mil toneladas terão acesso a este “canal de

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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China

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ouro” com extensão leste-oeste de 660 km. Já nos

períodos de estiagem, o imenso caudal de Três Gar-

gantas servirá como regulador do rio, em todo o cur-

so abaixo de Yichan. Os atuais 3000 metros cúbicos

de vazão aumentarão (por abertura das comportas)

para 5.200 metros cúbicos, resolvendo as dificulda-

des da navegação em temporadas de estiagem.

O fluxo navegatório, com a canalização in-

tegral do rio Yang-tsé, aumentará de 10 milhões de

toneladas anuais, verificadas em 2003, para mais de

50 milhões em 2009. O “canal de ouro” cumprirá

papel-chave na transformação da geografia econômi-

ca da China e facilitará a transformação dos recursos

naturais do oeste da China em superioridade econô-

mica. Além de reestruturação produtiva e o benefício

direto de várias províncias, regiões autônomas e mu-

nicipalidades, o projeto de Três Gargantas trará im-

pulso econômico ao turismo e à indústria pesqueira

em torno da represa.

Um exemplo concreto e específico ilustra

como o impulso regional se traduz em vantagens: a ci-

dade de Yichang, província de Hebei. A construção da

obra de Três Gargantas acelerou o desenvolvimento

de Yichang, promovendo o aumento das receitas fis-

cais, otimizando a estrutura econômica e incremen-

tando a infra-estrutura em sua área de abrangência.

Entre 1994 e 2001, Três Gargantas proporcionou Yi-

chang a arrecadação de US$ 175 milhões em impos-

tos, carreou para a cidade cerca de US$ 300 milhões

em forma de investimentos estrangeiros diretos e

atraiu uma quantidade razoável de empresas.

Para cada quatro unidades geradoras postas

em funcionamento, cerca de US$ 8 bilhões anuais

serão acrescidos aos cofres. A idéia fixa do governo

central é que até 2009, todo o montante investido te-

nha retorno financeiro — o que tornará a obra auto-

financiada.

Continuando a política de transferência de

energia do oeste para o leste, já a partir de 2005, em

grande parte graças aos frutos do projeto de Três

Gargantas, teve início a construção de outros quatro

projetos hidrelétricos: Wudongde, Baihetan, Xiluodu

e Xiangjiaba, com capacidade de geração energética

de 38,5 bilhões de kw, o dobro de Três Gargantas. O

conjunto destas obras credenciará o curso superior

do rio Yang-tsé ao título de “maior fonte energética

do mundo” com linhas transmissoras de alta densida-

de (JABBOUR , 2003).

Enfim, um amplo esquadro de análise é aber-

to por este gigantesco empreendimento. Da mesma

maneira, o gasoduto oeste-leste de 4.221 km. inau-

gurado em 2006, responsável de transportar gás na-

tural de bacias do extremo-oeste do país até Xangai

e assim por diante. É no mínimo suficiente afirmar a

relação entre desenvolvimento de formas limpas e

baratas de captação de energia com políticas de inte-

gração regional.

E a China é um largo exemplo neste sentido.

CONCLUSÃO

Após expor uma estratégia de desenvolvi-

mento com expressão candente num imenso terri-

tório continental capaz de interligar o desatamento

de pontos-de-estrangulamento na cadeia com uma

ofensiva contra as desigualdades regionais de um país,

fica sempre uma sensação de quão na retaguarda está

ficando nosso país em matéria de desenvolvimento e,

conseqüentemente de planejamento.

Desenvolvimento e planejamento, planeja-

mento e desenvolvimento; neste caso a ordem dos

fatores não altera o produto. Ambas palavras presen-

tes em nosso passado recente: épocas em que nos

tornamos a 8° economia do mundo, completamos

nossa industrialização com a implantação de um mo-

derno Departamento 1 da economia (indústria mecâ-

nica pesada) durante o governo Geisel, viabilizamos

estatais como a Petrobrás e centros de excelência

como a Embrapa. Tempos em que uma obra da mon-

ta da Usina de Itaipu nos proveu de tecnologia e tra-

balhadores altissimamente qualificados que, inclusive

exportamos a países como a China. Atualmente, por

incrível que pareça, a execução de grandes obras em

energia hidrelétrica dependem, no Brasil, de importa-

ção de geradores da China.

Posta as coisas nesta ordem, opinamos que

uma discussão séria sobre matrizes energéticas não

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pode ser algo que se finde por si só. É inconseqüente

se não for tratada como parte de um devido conjun-

to chamado projeto nacional de desenvolvimento. Daí

a ênfase dada – no texto – à estratégia de desenvolvi-

mento chinesa e ao real tamanho de suas políticas de

integração, em casamento com projetos em energia

hidrelétrica, nos marcos de uma política pautada em

objetivos que variam desde os planos qüinqüenais até

a marca do ano de 2049, centenário de fundação da

República Popular e ano marco do término da primei-

ra etapa da dita modernização socialista.

Tendo em mente que a batalha pela retoma-

da de um projeto nacional de fôlego ainda está a ser

ganha, fica um apelo à centralidade desta questão.

Tudo isso objetivando que não nos contentemos a ser

uma “Arábia Saudita verde”, muito pelo contrário.

Que as oportunidades abertas neste início de

século no setor energético ao Brasil, seja uma opor-

tunidade de ouro para aprofundarmos nosso processo

de industrialização, geração de renda e não pretexto

à uma radicalização da divisão internacional do traba-

lho.

Como tem ocorrido com a China, que as ja-

nelas abertas ao desenvolvimento de matrizes ener-

géticas novas, transformem-se em oportunidades

para afirmação continuada de nossas pretensões à

unidade, à soberania e ao planejamento.

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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente

Maria Cristina Gonzaga 1

Mestre em Engenharia Agrícola pelaUniversidade Estadual de Campinas - UNICAMP,Tecnologista sênior III daFundação Jorge Duprat Figueiredo deSegurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO.

O trabalho do corte manual da cana-de-açúcar é uma ativi-

dade penosa que exaure os trabalhadores, provocando dor, medo,

insegurança, doenças e sofrimento. Os trabalhadores desenvolvem

inúmeras estratégias para suportar as condições de trabalho adver-

sas. Normalmente eles utilizam improvisações que buscam minimi-

zar os efeitos oriundos de normas rígidas de produção e de ferra-

mentas e equipamentos de proteção individual (EPI) inadequados.

É rotina que as ferramentas de trabalho sejam modificadas para

possibilitar o seu uso com os EPIs ou mesmo para torná-las mais

confortáveis. O corte deve ser feito seguindo prescrições definidas

pelas empresas inseridas nos procedimentos da IS0 9002. Os traba-

lhadores criam táticas visando minimizar o desgaste físico imposto

por rotinas operacionais rígidas. O trabalho real executado e os

trabalhadores são desconsiderados por normas de produção e de

certificação de EPI.

The manual cut of sugar cane is a hard activity that exhausts

the workers, inducing pain, fear, lack of safety, illnesses and suffer-

ing. The workers develop innumerable strategies to deal with the

adverse work conditions. They build up improvisations to minimize

the effects of rigid productive norms, inadequate tools and personal

protective equipment (PPE). It is a routine that the work tools are

modified to facilitate their use with personal protective equipment

(PPE) or to make them more comfortable. The cut must follow

rules defined by the companies and inserted in the procedures of

ISO 9002, so workers create tactics to minimize the physical con-

suming consequences of rigid operational routines. The executed

real work is not considered in the prescription of productive norms

and PPE certification.

The operational strategies and improvisations used to cut sugar cane manually

RESUMO

ABSTRACT

Las estrategias operacionales y las improvisaciones utiliza para cortar la caña de azúcar de forma manual

Maria Cristina GonzagaMestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.Correspondência: Rua Capote Valente n° 710, Pi-nheiros, – São Paulo/SP - Brasil - CEP: 05409-002.Endereço eletrônico: [email protected]

1

Keywords: sugar cane; work; improvisation.

Palavras chave: cana-de-açúcar; trabalho; improvisações.

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INTRODUÇÃO

A atividade do corte manual da cana é execu-

tada no Estado de São Paulo por milhares de pesso-

as vindas de várias regiões do Brasil onde não existe

oferta de trabalho. Esta atividade vem sendo tema de

discussões em Audiências Públicas, na imprensa na-

cional e internacional, em função do crescimento do

setor que produz o etanol e das condições de traba-

lho daqueles que movem o setor: os cortadores de

cana.

Esses trabalhadores são homens e mulheres

que entram nos canaviais, muitas vezes desnutridos

e doentes, supondo que terão uma qualidade de vida

melhor do que aquela de seu local de origem.

A minha experiência durante vários anos de

pesquisa junto a essa categoria em uma agroindústria

canavieira do Estado de São Paulo, permitiu reconhe-

cer “in loco” algumas habilidades dos trabalhadores

para enfrentar um trabalho exaustivo como é o corte

manual da cana.

A tarefa a ser cumprida pelos cortadores de

cana é definida pela empresa através de procedimen-

tos que, atualmente, estão inseridos no Sistema de

Gestão de Qualidade Total (ISO 9002). Esses proce-

dimentos geram rotinas operacionais rígidas que des-

consideram o trabalho real, impondo situações que

prejudicam a execução do trabalho e, muitas vezes,

aumentam a carga laboral.

O arsenal de Equipamentos de Proteção Indi-

vidual (EPI) utilizados para proteger os trabalhadores

produz situações de risco e insegurança, pois as nor-

OBJETIVO

Entender e descrever as estratégias operacio-

nais e as improvisações desenvolvidas pelos cortado-

res de cana diante da inadequação de EPIs e das fer-

ramentas de trabalho e, também, frente à rigidez das

normas de produção.

La labor del corte manual de caña de azúcar es una actividad dolorosa que agota los trabajadores,

causando dolor, miedo, inseguridad, enfermedad y sufrimiento. Los trabajadores desarrollan numerosas

estrategias para resistir a las condiciones adversas de trabajo. En general, utilizan las improvisaciones que

buscan minimizar los efectos de las estrictas normas de producción y de las herramientas y equipos de pro-

tección personal (EPP) inadecuados. Es rutina que herramientas de trabajo sean modificadas para permitir

su uso con los EPPs o incluso a hacerlos más cómodos. El corte debe hacerse siguiendo los requisitos esta-

blecidos por las empresas incluidas en los procedimientos de IS0 9002. Los trabajadores crean tácticas para

reducir al mínimo el estrés físico impuesto por estrictas rutinas de operacionales. El trabajo real ejecutado

y los trabajadores no son considerados por las normas de producción y certificación de los EPI.

Palabras-claves: caña de azúcar; trabajo; improvisaciones.

RESUMEN

mas de fabricação destes equipamentos de proteção

desconsideram os usuários e a atividade a ser exerci-

da com os mesmos, muitas vezes dificultando o exer-

cício do trabalho.

Os trabalhadores são lesionados com o uso dos

EPIs, o que provoca dor e sofrimento, principalmen-

te, pelo fato de que a manutenção do emprego estar

condicionada ao uso destes equipamentos.

O Governo do Estado de São Paulo e a União

da Agroindústria Canavieira assinaram um protoco-

lo para consolidar o desenvolvimento sustentável da

indústria da cana no Estado de São Paulo; esse pro-

tocolo prevê a eliminação da queimada até 2017,

conseqüentemente, a mecanização do corte será im-

plementada e o desemprego dos cortadores tornar-

se-á uma realidade.

Entretanto, mesmo com a diminuição da mão

de obra que executa o corte manual da cana, valori-

zar o saber dos cortadores que moveram e movem

a produção do álcool e açúcar no Brasil é extrema-

mente importante. Em função disto, as estratégias

operacionais que buscam minimizar a carga laboral e

os efeitos das prescrições impostas por normas de

produção rígidas serão apresentadas neste artigo.

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METODOLOGIA

No período de 1996 a 2007, participei de vá-rios estudos sobre o trabalho dos canavieiros, nor-malmente atendendo às demandas formuladas pela Federação dos Trabalhadores Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP).

Entre os anos de 2001 a 2004 tive a oportuni-dade de entrar em uma grande agroindústria cana-vieira no Estado de São Paulo, onde pude observar “in loco” problemas e soluções para o uso dos EPIs no corte manual da cana.

Durante duas safras foram acompanhados dois grupos de trabalhadores, junto aos quais foram apli-cadas entrevistas semi estruturadas e questionários e feitas observações a campo.

Na safra de 2001, o grupo era formado por 35 trabalhadores; durante a safra de 2002, por 47 traba-lhadores.

Documentos da agroindústria analisada foram avaliados, principalmente aqueles que definiam o tra-balho dos cortadores.

A criatividade dos trabalhadores, junto ao cabo do facão, para conseguir utilizar a luva de proteção em raspa de couro, direcionou as ações executas du-rante o ano de 2003, quando foram analisados quatro tipos de luvas pelos trabalhadores e também foram feitos ensaios para analisar a aderência entre as luvas de proteção e a madeira do facão: limpa ou embor-rachada. Neste período, também foram analisados os procedimentos da ISO 9002 que definem o trabalho do corte manual da cana de açúcar.

Posteriormente a esse período, visitas a campo foram feitas, normalmente acompanhando os Pro-curadores da Justiça do Trabalho, onde foi possível verificar em campo problemas e soluções propostas pelos cortadores.

Improvisações para cumprir a tarefa do corta-dor de cana

Um canavial é dividido em talhões e cada ta-

lhão é composto por várias linhas de canas plantadas,

paralelas entre si. Talhão é, portanto, a designação

dada a uma área cultivada; não tem uma medida es-

pecífica e tanto pode medir dois como vinte hectares.

O espaçamento entre as linhas, formando as ruas,

varia conforme a topografia, a área, o tipo de solo,

a variedade de cana, etc, mas, em geral, mantém-se

uniforme em cada talhão. Estas linhas são agrupadas

formando os eitos. Em geral, os eitos são compos-

tos por cinco linhas de cana. A extensão de cada eito

também varia.

O corte manual da cana-de-açúcar é composto

basicamente de quatro tarefas. Com um facão afiado,

o cortador deve:

1. cortar a cana;

2. despontar a cana;

3. limpar o eito;

4. organizar a cana cortada na 3ª rua do eito.

A direção da empresa chama as tarefas de pro-

cedimentos e assim os define:

a) o trabalhador deve se colocar de frente para o

eito;

b) o corte de base deve ser rente ao solo, não dei-

xando toco nem soqueira (emaranhado de raízes

do que sobrou do corte da cana, por se tratar da

parte mais rica da cana);

c) o corte das pontas deve ser feito no último gomo,

não deixando que venha palmito (broto terminal

do caule da cana) e nem cana junto com o pon-

teiro que deve ser separado da cana cortada;

d) o desponte poderá ser feito na mão, ou no chão;

na segunda hipótese deverá ser despontado no

momento em que o feixe for jogado no chão,

não havendo necessidade de pé e ponta ficarem

no mesmo lado, ou seja, podem estar opostas;

e) a leira (restos vegetais dispostos em linha no ter-

reno) deve ser feita de maneira que fique centra-

lizada em relação às cinco ruas, isto é, na terceira

rua do eito;

f) a leira deve ficar limpa em todo o seu compri-

mento, livre de palhas no mínimo 50 cm de cada

lado.

Alguns procedimentos são questionados pelos

cortadores. Em função disto, eles criam modos ope-

ratórios próprios para facilitar o trabalho.

O procedimento “a” fixa a forma de entrar no

eito da cana: colocar-se de frente para o eito.

RESULTADOS

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GONZAGA, M. C.

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Alguns relatos feitos pelos cortadores indicam

que a entrada lateral é melhor para executar o corte da

cana, pois aumenta a produtividade e evita que o facão

atinja diretamente o joelho e a perna, porque o golpe do

facão é lateral ao corpo.

O Procedimento “d” define que o desponte da

cana deve ser feito no chão, no momento em que

o feixe da cana for cortado. Quando a cana está em

pé, os trabalhadores fazem esta ação de outra forma,

denominada no Estado de São Paulo, de “corte em

canudo” - corredores de três ruas (figura 1): eles cor-

tam 100 metros de cana de três ruas, organizando as

canas cortadas em leiras na 3ª rua do eito e somente

no retorno fazem o desponte no chão. Para as outras

duas ruas do eito o procedimento é o mesmo.

Figura 1 - Corte do eito em “canudo”

Com esta estratégia, questões relativas ao des-

gaste físico do trabalhador estão sendo contempladas,

pois no corte em canudo as vantagens são as seguin-

tes: o trabalhador anda menos, transporta o peso de

sua mochila em distâncias menores e a organização da

cana cortada na 3ª rua é facilitada, já que o item “e”

do procedimento acima é cumprido.

Wisner (2004) salienta que em situações onde

existam dificuldades operacionais, os trabalhadores ado-

tam estratégias operacionais que resultam em soluções

felizes para dificuldades desconhecidas dos organizado-

res do trabalho.

Na mochila, o cortador de cana carrega desde

roupas, ferramentas, porta lima, marmita, até garra-

Figura 2. Gancho de madeira para manusear a cana cortada

Os trabalhadores preferem ter liberdade para

entrar no eito da cana, pois a postura a ser adotada

depende da condição que a cana se apresente (em

pé, deitada, enrolada, ou enraizada) e do local a ser

trabalhado, que pode ser no meio ou na beirada do

eito, em terreno plano ou em curva de nível.

fas de água. Os trabalhadores trazem a água congela-

da em uma garrafa que pesa cerca de dois quilos e vão

quebrando o gelo durante o dia para ter água mais

fresca para beber, pois a água fornecida pela empresa

esquenta. A fala de um trabalhador enfatiza o seguin-

te: a minha mochila deve pesar uns cinco ou seis quilos,

fora o garrafão de água.

O gancho de madeira (figura 2) é um instru-

mento que também facilita organizar a cana cortada

na 3ª rua do eito. Eles puxam a cana já cortada com o

gancho apresentado na figura abaixo.

O gancho acima permite que o trabalhador se

esforce menos, pois evita que o trabalhador faça a or-

ganização da cana apenas com os braços, ajudando na

organização da cana da rua cortada ao meio do eito.

Aqueles que não utilizam o gancho são obri-

gados a abraçar a cana para carregá-la e organizá-la.

Para proteger o braço que abraça e carrega a cana,

principalmente na cana crua, onde o joça (pequenos

pêlos da folha da cana) provoca muita coceira, o man-

gote é o artifício utilizado.

Os trabalhadores fazem o mangote com tecido

de algodão derivado de uma perna de calça usada; o

tecido em algodão é usado para facilitar a transpira-

ção.

Figura 3 - Mangote em Nylon com proteção no tronco

As empresas fornecem mangote com proteção

do tronco (figura acima) que, segundo os trabalhado-

res, não é confortável, pois dificulta os movimentos

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31

A normalização dos equipamentos de pro-teção individual

A Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, al-

tera o capítulo V do Título II da Consolidação das Leis

do Trabalho (CLT), relativo à Segurança e Medicina

do Trabalho. A seção IV desta lei determina, no artigo

166, a obrigatoriedade do fornecimento gratuito dos

EPIs e a adequação ao risco, sempre que as medi-

das de ordem geral não ofereçam completa proteção

contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos em-

pregados. O artigo 167 define que o equipamento só

pode ser posto à venda ou utilizado com a indicação

do Certificado de Aprovação (CA) do Ministério do

Trabalho.

A Norma Regulamentadora nº 6 define as obri-

gações do fabricante ou importador relacionadas ao

CA. É exigido o memorial descritivo do EPI, incluindo

as características técnicas, o material empregado e

a cópia autenticada do relatório de ensaios, emitido

por laboratórios credenciados ao Ministério do Tra-

balho e Emprego2. Os CAs devem ser renovados a

cada dois anos, e também podem ser cancelados se

for comprovado que as normas de fabricação defini-

das pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

não forem cumpridas.

necessários para o corte de cana e esquenta muito. O

uso apenas como protetor do braço dá ao trabalha-

dor mobilidade e facilita seu trabalho.

O relato de uma trabalhadora exemplifica os

problemas do mangote em nylon: não gosto de tra-

balhar com o mangote sujo, pois além de esquentar ele

endurece com a sacarose e a cinza na cana queimada,

principalmente quando abraço a cana para cortar e car-

regar até a 3ª rua do eito, por isto uso o mangote de

perna de calça.

Os resultados encontrados remetem a Dejours

(2008, p. 36): trabalhar é administrar os imprevistos,

prevenir os acidentes, as disfunções, as panes, os aci-

dentes etc.

No campo de normalização de equipamentos

de proteção individual, compreendendo vestimentas

e equipamentos individuais destinados à proteção de

pessoas contra riscos, tais como: proteção respirató-

ria, proteção auditiva, capacete de segurança, luvas

de segurança, óculos de segurança e cinturões de se-

gurança, no que concerne à terminologia, requisitos,

métodos de ensaio e generalidades é de responsabili-

dade do Comitê Brasileiro 32 da ABNT.

Os resultados dos ensaios exigidos pelas Nor-

mas da ABNT são encaminhados para o Ministério do

Trabalho e Emprego para que seja emitido o CA.

A exigência compulsória dos EPIs é feita atu-

almente pela Norma Regulamentadora de Segurança

e Saúde no Trabalho, na Agricultura, na Pecuária, na

Silvicultura, na Exploração Florestal e na Aqüicultura

– NR 31 (Ministério do Trabalho e Emprego, 2005), o

item 31.20.1.2 define que o empregador deve exigir

que os trabalhadores utilizem os EPIs e o item 31.3.4

define as obrigações dos trabalhadores cabe ao tra-

balhador: adotar as medidas de proteção determinadas

pelo empregador, em conformidade com esta Norma

Regulamentadora, sob pena de constituir ato faltoso a

recusa injustificada.

A agroindústria avaliada em 2001 tinha um co-

municado demonstrando que o não uso do equipa-

mento de proteção individual pode provocar a demis-

são por justa causa:

(...)a empresa preocupada com a integridade física de seus trabalhadores vem através deste informar que todos deverão usar seus equipamentos de pro-teção individual, reduzindo desta maneira a exposi-ção aos riscos de acidentes. Lembramos que o não cumprimento desta norma de segurança acarretará em: 1. advertência verbal; 2. advertência escrita; 3. suspensão por um dia; 4. suspensão por três dias; 5. desligamento por justa causa.

Improvisações no facão e na luva de proteção em raspa de couro

2 Os laboratórios credenciados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (2008), para executar os ensaios exigidos pelas normas da ABNT para os EPIs usados no corte manual da cana são: Laboratório de Controle de Qualidade, Centro de Tecnologia de Couro e do Calçado Albano franco - SENAI/PB; Laboratório de Controle de Qualida-de, Centro Tecnológico de Calçado – SENAI/RS; CIENTEC – Fundação de Ciência e Tecnologia/RS, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Traba-lho – FUNDACENTRO/SP; CTCCA – Centro Tecnológico do Couro, Calçado e afins/RS, Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) de Franca /SP.

Os cortadores devem executar seu trabalho

usando os seguintes EPIs: luva de proteção em raspa

de couro, óculos de proteção, sapato de segurança,

perneira e mangote.

Os EPIs geram inúmeros problemas na execu-

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GONZAGA, M. C.

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(2001) também destaca que quando as ferramentas escapam das mãos, por escorregar ou serem porta-das com falta de firmeza, elas podem causar lesões. Para prevenir que as luvas deslizem ou escapem é preciso aperfeiçoar as ferramentas.

Segundo os trabalhadores, outros fatores, que não são passíveis de improvisação, foram conside-rados na escolha da melhor luva de proteção, por exemplo: o dimensionamento das costuras internas das luvas, a maciez do material com que as mesmas são fabricadas e o tamanho, embora, para minimizar o efeito do tamanho inadequado, as trabalhadoras so-brepõem luvas para ajustá-las.

Os trabalhadores afirmam que: se o cabo do fa-cão fosse mais comprido eles não precisariam abaixar tanto para cortar a cana no chão; esta é a exigência b da tarefa do cortador, onde está estabelecido o se-guinte: o corte de base deve ser rente ao solo, não dei-xando toco nem soqueira, por se tratar da parte mais rica da cana.

Para este problema, nenhuma estratégia foi ob-servada.

ção do corte manual da cana: óculos de proteção que dificultam a visão, perneiras de proteção que lesio-nam os joelhos; entretanto, neste artigo iremos enfa-tizar o EPI e a ferramenta nos quais as improvisações se fizeram mais presentes.

O facão é o instrumento de trabalho utilizado para cortar a cana de açúcar.

Os trabalhadores desenvolvem mecanismos para viabilizar o seu uso: o cabo é afinado em dois centímetros pelas mulheres para conseguir segurar com maior firmeza e os nós do cabo do facão tam-bém são retirados, pois machucam as mãos.

O formato da lâmina do facão em ângulo reto também motiva mudanças: arredondar o formato da lâmina para evitar que a mesma penetre no solo com facilidade e dificulte o trabalho.

O emborrachamento do cabo do facão, para conseguir utilizar as luvas de proteção em raspa de cou-ro na mão em que segura o facão, foi a estratégia usa-da para minimizar o efeito da baixa aderência entre o cabo e a luva de raspa, o que gerava insegurança para os trabalhadores, já que com a luva de proteção em raspa de couro o facão pode escapar da mão. Ferreira et al. (1998, p. 32) apresentam um relato que comprova o fato de que o facão escapa da mão com o uso da luva de raspa de couro: tem muita gente que não acostuma com a luva, porque com a luva a gente tem que dar um golpe mais duro. Eu mesmo só uso a luva na mão que pego a cana. Porque na outra eu não consigo pegar o podão com a luva, o podão escapa.

A luva de segurança pode dificultar o manuseio seguro, interferindo na habilidade da manipulação e contribuindo para o aparecimento de problemas ós-teomusculares (FREIVALDS E TSAOUSIDIS, 1997; MURALIDHAR, 1999 et al).

Em 2003, foram testados quatro tipos de luvas de proteção: raspa de couro e metal, kevlar, algodão e borracha e raspa de couro e nylon. A luva esco-lhida pelo grupo de trabalhadores acompanhado em 2003 foi a raspa de couro e nylon, que não era a mais aderente ao cabo do facão, mas que permitia aos tra-balhadores se utilizarem da sua estratégia “emborra-chamento” do cabo de facão, que se mostrou muito efetiva. Gonzaga (2004) demonstrou que o emborra-chamento da madeira interferiu de forma significativa na aderência com as luvas novas ou usadas.

A Organização Internacional do Trabalho - OIT

Improvisações para o porta lima

O porta lima ou protetor de lima é o instru-mento usado para proteger a mão no procedimento da afiação da lâmina do facão. Foram avaliados dois tipos de porta lima: em plástico e em metal.

No porta lima em plástico existe uma ponteira articulada para que a lima não se solte. Esse instru-mento de trabalho exige adaptações para que o seu uso se torne mais seguro, visto que a lima fica solta neste protetor. A ponteira articulada na ponta do pro-tetor que serve para virar ou trocar a lima atrapalha a própria utilização do instrumento, pois ela engancha na lâmina do facão dificultando a amolação e o encai-xe da lima.A Figura 4 demonstra a porteira articulada do porta

lima que dificulta a sua utilização.

Figura 4. Porta lima em plástico

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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente

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33

As estratégias observadas para viabilizar o uso

deste protetor foram as seguintes:

• retirada da ponteira articulada da ponta do protetor;

• encaixe de pano ou pedaço demadeira entre a

lima e o protetor, de forma que a lima fique presa.

O porta lima em metal também prejudica o tra-

balho; os motivos apresentados pelos trabalhadores

foram os seguintes: ele estraga a lima rapidamente,

porque o ferro do porta lima desgasta a lima na par-

te interna, é muito grande, pesado e desengonçado,

escorrega da mão com o suor, tem que fazer muita

força para amolar o facão.

Houve relatos sobre a insegurança que o porta

lima em metal provoca nos trabalhadores, já que um

trabalhador cortou a mão duas vezes ao utilizar este

protetor, o que gerou o relato de vários trabalhado-

res: prefiro ser punido por não usar o protetor, pois me

sinto inseguro ao afiar o facão com ele.

Os motivos esboçados para os dois modelos

de porta lima avaliados justificam o fato de inúmeros

cortadores improvisarem outros tipos de proteto-

res, por exemplo: encaixam um cabo de vassoura em

tubo de PVC onde se fixa a lima.

É pratica entre os trabalhadores encapar a lima

com papel ou com fita para protegê-la, evitando que

ela enferruje com o suor das mãos. Outra prática ob-

servada entre os cortadores é afiar o facão sem a luva

e o protetor de lima, justificando que desta forma se

sentem mais seguros.

Os procedimentos da ISO 9002 devem con-

templar as mudanças sugeridas pelos trabalhadores:

permitir a entrada lateral no eito da cana e o corte

em “canudo”. Essa recomendação está sendo feita

para facilitar o cumprimento da tarefa do cortador de

cana-de-açúcar.

Na emissão do Certificado de Aprovação para

os EPIs não é considerada a adequação à atividade re-

alizada e ao conforto dos trabalhadores, o que permi-

te que EPIs desconfortáveis e inadequados à atividade

adquiram o CA e sejam comercializados legalmente.

Recomendamos que, na emissão do CA, sejam consi-

CONCLUSÃO

derados o trabalhador e a atividade a ser executada.

A luva usada na mão que segura o feixe de cana

a ser cortado e despontado deve proteger contra o

risco de corte e perfuração. A luva usada na mão que

segura o facão deve permitir uma boa aderência com

o cabo da ferramenta, de modo que ele não escor-

regue e provoque acidentes, deve também permitir

uma boa movimentação da mão para que não haja

ferimentos.

As recomendações apresentadas acima já fo-

ram implementadas pelo Ministério do Trabalho, visto

que, alguns CAS emitidos nos anos de 2006 e 2007

diferenciam a luva da mão do facão da luva que pega a

cana, por exemplo: o CA 17.820 tem a seguinte des-

crição:

luva de segurança confeccionada em grafatex de poliéster na palma e face palmar dos dedos, dorso em material sintético com elástico para ajustes; mão direita (mão do facão) - palma e face palmar dos dedos com pigmentos em PVC antiderrapantes, po-legar em grafatex de poliéster, punho de 7 cm em malha de poliéster, mão esquerda (mão da cana) - dedos polegar e indicador em grafatex de poliéster com reforço em externo em grafatex de poliéster e fio de aço, punho de 15 cm em material sintético com elástico para ajustes (MTE, 2008).

O procedimento acima contempla o item

31.11.3 da NR31 (MTE, 2005) que descreve o se-

guinte: “os cabos das ferramentas devem permitir

boa aderência em qualquer situação de manuseio,

possuir formato que favoreça a adaptação à mão do

trabalhador”.

• queofacãodeveserfornecidocomcabocom-

patível ao tamanho das mãos dos trabalhadores;

• queaponteiraarticuladadoportalimaemplás-

tico deve ter um encaixe que prenda a lima com

segurança;

• quenãoseforneçaportalimaemmetal;

• queomangotefornecidosejaemalgodãopara

permitir a transpiração, com formato em que o

tronco fique livre, protegendo apenas o braço;

• quesejamfornecidosmaisdeummangotepara

permitir a lavagem dos mesmos.

Recomendamos também:

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 27 - 34, segundo sem. 2009

GONZAGA, M. C.

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A criatividade, associada à habilidade dos tra-

balhadores de fato, transforma as condições de tra-

balho, tornando o corte manual da cana menos des-

gastante. Isto colabora com o cumprimento do item

31.10.1 da NR 31 (MTE, 2005) que determina “o em-

pregador rural ou equiparado deve adotar princípios

que visem à adaptação das condições de trabalho às

características psicofisiológicas dos trabalhadores, de

modo a proporcionar melhorias de conforto e segu-

rança no trabalho”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente

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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?

Marlene de Paula Pereira 1

Mestranda em Direito pelaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

A produção nacional de biodiesel tem provocado discus-

sões de diversas ordens. Neste artigo será abordado o aspecto da

sustentabilidade. Discute-se em que medida a produção do bio-

combustível ameaça a sustentabilidade social e ambiental, visto que

o aspecto econômico não deve ser o único a ser analisado.

The domestic production of biodiesel has led to discussions

of various orders. In this article, the aspect of the sustainability will

be addressed. It discusses the extent of the threat of the production

of biofuel to the social and environmental sustainability, considering

that the economic aspect is not the only one that has to be ana-

lyzed.

Production of biodiesel in Brazil: is there social and environmental sus-tainability?

RESUMO

ABSTRACT

Producción de biodiésel en Brasil: ¿existe la sostenabilidad social y am-biental?

Marlene de Paula Pereira Correspondência: Av. Santo Antonio, 115/404, Viçosa - MG- Brasil - CEP 36570-000. Endereço eletrônico: [email protected]

1

Keywords: biodiesel; environment; sustainnability.

Palavras-chave: biodiesel; meio ambiente; sustentabilidade

La producción nacional del biodiésel há llevado a discus-

siones de órdenes diversas. En este artículo vamos a abordar el

aspecto de la sostenibilidad. Se discute el grado en que la produc-

ción de de biocombustibiles amenaza la sostenabilidad social y am-

biental, puesto que el aspecto económico no es el únicoque debe

ser analizado.

RESUMEN

Palabras-claves: biodiesel; médio ambiente; sostenabilidad.

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INTRODUÇÃO

O aumento dos gases de efeito estufa, a redu-

ção da camada de ozônio, o aquecimento global, o

aumento do valor do barril de petróleo, guerras. Não

restam dúvidas: é necessário encontrar rapidamente

alternativas eficazes ao uso do combustível fóssil.

O petróleo é hoje utilizado em praticamente

todas as atividades humanas. Desde a produção ali-

mentar, passando pelos procedimentos da medicina,

sistemas de esgotos, tratamento de lixo, polícia, bom-

beiros, manutenção de estradas e consumo em geral.

O petróleo e seus derivados são também os maiores

responsáveis pela poluição atmosférica.

De acordo com estudos, a quantidade de pe-

tróleo no planeta poderia ser representada através de

uma curva sino, de tal modo que, entre os anos de

2020 e 2035, esta curva atingirá o seu pico, ou seja,

a partir daí, este recurso natural limitado tornar-se-á

escasso até acabar definitivamente (SANIVAR, 1997).

Em função da certeza da escassez do petróleo

e da necessidade de redução da emissão de poluentes

na atmosfera, países de todo o mundo têm buscado

desenvolver formas alternativas de energia que, ao

mesmo tempo, supram as necessidades do homem e

degradem menos o meio ambiente.

Nesse aspecto, o Brasil tem despontado como

um potencial produtor da chamada “energia limpa”,

haja vista que possui todos ou boa parte dos recursos

naturais apontados como os prováveis substitutos do

petróleo (água, vento, sol, grande extensão territorial

para produção de grãos), além de ter em sua geogra-

fia grandes vantagens agronômicas, por situar-se em

uma região tropical, com altas taxas de luminosidade

e temperaturas médias anuais, possuir disponibilidade

hídrica e regularidade de chuvas, e contar ainda com

centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia

reconhecidos internacionalmente.

Dentre as alternativas aos combustíveis deriva-

dos de petróleo, um deles tem merecido destaque

no cenário nacional e internacional, em razão da ca-

pacidade de produzir resultados eficazes. Trata-se do

biodiesel, um combustível fabricado a partir de fontes

renováveis (soja, milho, girassol, mamona), que pode

ser usado em carros e em qualquer outro motor a

diesel.

Em países como Alemanha, França e Estados

Unidos o uso do biodiesel é uma realidade. A Alema-

nha é responsável por mais da metade da produção

européia desses combustíveis e conta com centenas

de postos que vendem o biodiesel puro, com plena

garantia dos fabricantes dos veículos.

No Brasil, as pesquisas sobre biodiesel vêm

sendo desenvolvidas há cerca de cinqüenta anos. O

país é detentor da primeira patente mundial sobre

este biocombustível, registrada nos anos oitenta,

mas, apesar disso, a produção ainda é pequena.

Nos últimos anos o governo brasileiro tem

investido em pesquisas e programas para produção

e desenvolvimento do biodiesel. No final do ano de

2004, foi lançado, oficialmente, o Programa Nacio-

nal de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB. A Lei

11.097, de 13 de janeiro de 2005, estabeleceu os per-

centuais de biodiesel que devem ser misturados ao

óleo diesel e o prazo para que tal mistura seja feita.

A principal vantagem apontada para a produção

do biodiesel em escala comercial é que isto permitirá

uma economia de divisas pelo Brasil, pois reduzirá a

dependência das importações de petróleo, asseguran-

do o suprimento interno, além de representar grande

potencial de exportação haja vista que o Brasil apre-

senta condições para tornar-se um dos maiores pro-

dutores de biodiesel do mundo. Ademais, a utilização

de um combustível renovável melhorará as condições

ambientais e, consequentemente, a qualidade de vida

da população, reduzindo gastos com a saúde.

Além do aspecto econômico e do ambiental,

existe ainda o aspecto social. Espera-se que a necessi-

dade de aumento da produção de grãos para a fabri-

cação do biodiesel funcione como forma de inclusão

social, pois as formas de financiamento e a cobrança

de impostos incentivam os fabricantes a adquirir a

matéria-prima dos agricultores familiares, o que, por

outro lado, poderá fazer com que estes obtenham

melhores condições de vida plantando grãos e ven-

dendo para os produtores de biodiesel.

A preocupação em desenvolver alternativas ao

uso de petróleo já foi observada em outros momen-

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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?

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37

tos da história brasileira. O PROÁLCOOL - Programa

Nacional do Álcool - definido em novembro de 1975

e acelerado a partir de 1979, corresponde à primeira

tentativa do governo brasileiro no que diz respeito

ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia

líquida. Por este programa, pretendeu-se, inicialmen-

te, produzir álcool para misturar à gasolina e, poste-

riormente, introduzir o uso comercial do álcool puro

como combustível.

Atualmente, em função do interesse domésti-

co e internacional que o biodiesel tem gerado, muitas

questões que foram debatidas a respeito do PROÁL-

COOL voltam a ser discutidas em razão da semelhan-

ça entre os dois programas. Algumas destas questões

são: Quais serão os efeitos na produção de alimentos?

Como e até que ponto haverá inclusão social? Quais

as conseqüências da produção de grãos em larga es-

cala em relação à biodiversidade? Como compatibi-

lizar desenvolvimento industrial e econômico com

preservação ambiental?

O presente trabalho tem por objetivo discutir a

viabilidade social e ambiental da produção de biodie-

sel no Brasil tendo como diretriz a sustentabilidade.

Pretende-se demonstrar que se a produção não for

sustentável em todos os aspectos o custo social e am-

biental superará os benefícios.

Notícia histórica e características do biodiesel

O aproveitamento de óleos vegetais como ma-

téria-prima para combustíveis não é uma experiência

nova. No ano 1900, Rudolph Diesel apresentou um

protótipo de motor na Exposição Universal de Paris,

que foi acionado com óleo de amendoim, cultura que,

à época, era muito difundida nas colônias francesas na

África. No entanto, a abundância da oferta de petró-

leo e o seu preço acessível, determinaram que, nos

anos seguintes, os derivados do petróleo fossem os

combustíveis preferidos, reservando-se os óleos ve-

getais para outros usos (KNOTHE, 2001).

Por outra parte, havia dificuldade para se ob-

ter uma boa combustão por meio dos óleos vegetais,

em função da elevada viscosidade que apresentavam,

fato que impedia uma adequada injeção nos motores.

O combustível de origem vegetal deixava depósitos

de carbono nos cilindros e nos injetores, requerendo

uma manutenção intensiva. A pesquisa realizada para

resolver esses problemas conduziu à descoberta da

transesterificação, um processo de produção paten-

teado pelo cientista belga G. Chavane, em 1937, e

que consiste na quebra da molécula do óleo, com a

separação da glicerina e a recombinação dos ácidos

graxos com álcool. Este tratamento permitiu superar

as dificuldades com a combustão (KNOTHE, 2001).

A reação do óleo com o álcool dá origem a um éster

monoalquílico do óleo vegetal, cuja molécula apre-

senta muita semelhança com as moléculas dos deriva-

dos do petróleo. O rendimento térmico deste novo

combustível, posteriormente chamado de biodiesel,

é de 95% em relação ao do óleo diesel. Os primeiros

a utilizar a denominação de biodiesel para esses com-

bustíveis foram os pesquisadores chineses, em 1988

(KNOTHE, 2001).

Estima-se que atualmente na Europa circulem

mais de dois milhões de veículos movidos a biodiesel,

produzidos a partir de óleo de colza. Existem postos

de fornecimento na Alemanha, Áustria e França. Os

Estados Unidos também produzem e utilizam o pro-

duto a partir do óleo de soja.

No Brasil a produção ainda é incipiente, sendo

a maior parte baseada em experiências com plantas-

piloto, embora o país tenha sido pioneiro em pesqui-

sas sobre biodiesel com os trabalhos do professor

Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará,

autor da patente PI-8007957, primeira patente, em

termos mundiais, do biodiesel e do querosene vegetal

de aviação, mas já de domínio público.

A escassez de petróleo estimulou a realização

de diversos estudos que aconselharam a utilização

de biocombustíveis como substitutos do combustível

diesel. A cada ano o consumo aumenta e as reservas

diminuem. Além do problema físico, há o problema

político: a cada ameaça de guerra ou crise internacio-

nal, o preço do barril de petróleo dispara. Além disso,

a queima de derivados de petróleo contribui para o

aquecimento do clima global por elevar os níveis de

CO2 na atmosfera (para cada 3,8 litros de gasolina

que um automóvel queima, são liberados 10 kg de

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PEREIRA, M. P.

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38

CO2 na atmosfera) (PNPUB, 2007).

O biodiesel pode ser utilizado em motores a

diesel, em misturas ou puro. Por ser biodegradável,

não-tóxico e praticamente livre de enxofre e aditivos

aromáticos, o biodiesel é considerado um combustí-

vel ecológico. Suas emissões são isentas de compos-

tos sulfurados, substâncias tóxicas e cancerígenas, re-

duzindo em 90% as emissões de fumaça, eliminando

praticamente as emissões de óxido de enxofre. Com-

parado ao óleo diesel derivado de petróleo, o biodie-

sel puro reduz em até 78% as emissões de gás carbô-

nico; também possui um índice de cetano maior que

o do óleo diesel, garantindo uma melhor combustão

e, conseqüentemente, a diminuição de poluentes (As

desvantagens do Biodiesel).

Foi adotada uma nomenclatura mundial para

identificar a concentração do biodiesel na mistura. É

o biodiesel BXX, onde XX é a percentagem em vo-

lume de adição de biodiesel à mistura. Por exemplo:

B2, B5, B20 e B100, são combustíveis com uma con-

centração de 2, 5, 20 e 100% de biodiesel, respecti-

vamente (BIOCOMBUSTÍVEL, acesso em 2007).

Embora relevante que o biodiesel promova

uma redução das principais emissões associadas ao

derivado de petróleo, vale ressaltar que existe uma

exceção notável. Trata-se dos óxidos de nitrogênio

(NOx). Vários estudos demonstram o aumento das

emissões de NOx quando o biodiesel é utilizado. O

incremento observado nas emissões deste poluente

não é elevado, mas deve ser considerado porque este

é um dos principais precursores de ozônio troposfé-

rico que atualmente é um dos maiores responsáveis

pela baixa qualidade do ar nas maiores cidades brasi-

leiras (BIOCOMBUSTÍVEL, acesso em 2007).

Quanto às matérias-primas mais promissoras

para produção de biodiesel, estudos da Empresa Bra-

sileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) men-

cionam a soja para as regiões Sul, Sudeste e Centro-

Oeste; a mamona para o Nordeste e o dendê para a

região Amazônica. Outros vegetais como o girassol,

o amendoim, as palmáceas e o pinhão manso tam-

bém têm sido considerados. Alguns estudos apontam

perspectivas para a produção do biocombustível a

partir de óleos e gorduras residuais (OGR).

A mamoneira (Ricinus communis L) é uma es-

pécie de oleaginosa cuja produção ocorre em quase

todas as zonas tropicais e subtropicais do mundo, in-

dependente da qualidade do solo (SOUSA, 2005).

Durante anos, o Brasil foi considerado o maior

produtor mundial de mamona e exportador do seu

óleo. No entanto essa posição vem sendo ocupada

atualmente pela Índia, seguida da China, sendo o Bra-

sil o terceiro produtor mundial de mamona. Em nível

nacional, a maior produção concentra-se nos estados

da Bahia, com 83% de toda produção do país no ano

de 2004, Mato Grosso, com cerca de 6%, e o Ceará,

com uma participação de 5% (IBGE, 2005). No nor-

deste brasileiro há aproximadamente 45 milhões de

hectares de terras agronomicamente aptas ao cultivo

da mamona (SOUSA, 2005).

Da mamona pode-se extrair o óleo, que é o

principal produto industrializado. A aplicação do óleo

é feita em diversos segmentos da indústria química,

tais como: cosméticos, lubrificantes para motores de

alta rotação, carburantes de motores a diesel e como

fluido hidráulico em aeronaves (SOUSA, 2005).

Diante de características como teor de óleo,

utilização para produção de bens não alimentícios,

precocidade da colheita, solubilidade em etanol e ge-

ração de emprego, a mamona tem-se mostrado uma

matéria-prima alternativa para produção de biodiesel

e com potencial de competitividade.

Percebe-se, no entanto, que a produção bra-

sileira de mamona vem decrescendo anualmente a

uma taxa de 6,18%, 1970 a 2004, diferentemente do

dendê, que vem crescendo, 1970 a 2003, a uma taxa

de 10,4% a.a.

Portanto, a produção de biodiesel a partir des-

sa matéria-prima dependerá da ampliação da área

plantada para suprir essa nova demanda.

O pinhão manso (Jatropha curcas L) é uma

planta arbustiva da família das Euphorbiáceas, possi-

velmente originária da América, que ocorre de forma

espontânea em diversos estados do Brasil. No pas-

sado, o pinhão manso já foi cultivado em pequena

escala em alguns países, inclusive no Brasil, mas atual-

mente é uma cultura de pequena expressão mundial.

É encontrado vegetando de forma espontânea, mas

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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?

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também em cercas-vivas ou próximo a residências,

onde tem valor folclórico ou de aplicações medicinais

(SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).

Com o advento do Programa Brasileiro de

Biodiesel, o pinhão manso foi incluído como uma al-

ternativa para fornecimento de matéria-prima. Esta

escolha baseia-se na expectativa de que essa planta

possua alta produtividade de óleo, tenha baixo custo

de produção, por ser perene, e seja extremamente

resistente ao estresse hídrico, o que seria uma vanta-

gem significativa principalmente na região semi-árida

do país (SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).

No entanto, o incentivo ao plantio do pinhão

manso em extensas áreas tem gerado preocupação

aos técnicos agrícolas brasileiros, pois, segundo eles,

trata-se de uma cultura sobre a qual o conhecimento

técnico é extremamente limitado (SEVERINO, GON-

ÇALVES E EGUIA, 2006).

Em observações preliminares que estão sendo

feitas em lavouras cultivadas em diversas regiões do

Brasil, nota-se que a planta é muito atacada por doen-

ças e pragas e a maturação dos frutos é desuniforme,

obrigando os produtores a realizar inúmeras passa-

gens na lavoura durante a fase de produção, o que

pode aumentar significativamente os custos de pro-

dução (SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).

Outro problema apontado é a falta de opções

de venda. Possivelmente, o produtor ficaria destimu-

lado sabendo que não encontraria outro mercado

para o produto além da indústria de extração (SEVE-

RINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).

A discussão a respeito da viabilidade do pinhão

manso para a produção de biodiesel deixa clara a ne-

cessidade de realização de mais pesquisas sobre esta

cultura para que as atividades possam chegar a resul-

tados definitivos.

Com relação à utilização de OGRs (Óleos e

Gorduras Residuais) oriundos de frituras como ma-

téria-prima para a produção de biodiesel, trata-se de

assunto que tem sido bastante estudado especialmen-

te quanto à sua viabilidade técnica e econômica.

Não havendo legislação sobre como e quando

deve ser efetuada a troca do óleo em restaurantes e

estabelecimentos em geral, a troca segue um critério

particular e, por esta razão, é difícil estimar o volume

de OGR que é descartado (SEVERINO, GONÇAL-

VES E EGUIA, 2006).

A produção de biodiesel a partir desta matéria-

prima enfrenta problemas de viabilidade econômica,

haja vista que o litro de óleo acaba custando bastante

caro ao produtor de combustível. Segundo Luciano

Hocevar (ANO e incluir na bibliografia), os fatores

que geram o alto custo do produto são os seguintes

(SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006):

1. Existe um mercado para aquisição de óleo usa-

do que destina o produto à reciclagem, como,

por exemplo, a produção de sabão;

2. Há pouca margem de negociação na compra

de OGR, já que a referência de cada estabeleci-

mento é o preço de compra do óleo ou gordura

novos e a granel, produto que não tem diminuí-

do o preço;

3. O produto tem que ser transportado separado

dos outros, pois os locais de coleta – normal-

mente lixeiras – são sujos;

4. Há necessidade de força física para a movimen-

tação dos recipientes dos locais de coleta para

os veículos de transporte e destes para os de-

pósitos, pois cada recipiente pesa até 120 qui-

los, sendo sua movimentação manual;

5. A rede de coleta é micro-pulverizada, com

grande número de pontos e pequeno volume

em cada ponto. Segundo Hocevar, um típico

ponto de coleta fornece em média 60 litros de

OGR ao mês, o que significa cerca de 3 mil pon-

tos de coleta para um volume de 180 mil litros

de OGR bruto ao mês, volume que, após a eli-

minação de água e impurezas, cai para 120 mil

litros.

Assim, problemas de logística e de custo da

matéria-prima fazem com que o biodiesel a partir de

óleo usado não seja produzido comercialmente.

Insustentabilidade: a ameaça de desmatamen-to e a insegurança alimentar

Apesar de as vantagens do biodiesel serem am-

plamente divulgadas, algumas desvantagens também

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são observadas em relação à produção deste com-

bustível. A primeira delas refere-se ao custo da pro-

dução, que é bastante elevado. Os custos de produ-

ção do biodiesel dependem essencialmente do custo

da matéria-prima e dos custos de processamento

industrial. É reconhecido internacionalmente que o

biodiesel, atualmente, não é competitivo em relação

ao óleo diesel, sem que haja fortes incentivos fiscais.

O litro de biodiesel custa cerca de uma e meia a três

vezes mais do que o litro de óleo diesel.

Outro aspecto relevante são os grandes volu-

mes de glicerina, subproduto do biodiesel, que serão

gerados e que só poderão ter mercado a preços mui-

to baixos, pois o uso deste produto ainda é bastante

restrito, limitando-se basicamente à indústria cosmé-

tica e de fármacos.

Porém, os aspectos que mais têm despertado

preocupações e que configuram o tema central des-

te trabalho relacionam-se à sustentabilidade ambien-

tal e à segurança alimentar. Sabe-se que a segurança

alimentar depende não apenas da existência de um

sistema que garanta, presentemente, a produção, a

distribuição e o consumo de alimentos em quantidade

e qualidade adequadas, mas que também não venha

a comprometer a mesma capacidade futura de pro-

dução, distribuição e consumo. A agricultura, como

é concebida nos padrões convencionais, gera dois ti-

pos de ameaça à sua sustentabilidade. A primeira se

dá através da intensificação da atividade agrícola, pela

adoção de práticas monocultoras e de uso excessivo

de insumos químicos e mecanização pesada. A se-

gunda ocorre pela grande exploração dos recursos

naturais e pela mobilização de ecossistemas extrema-

mente frágeis (MALUF e MENEZES, 2006). Então,

questiona-se: a utilização de grandes extensões de

terra e outros recursos naturais para plantio de grãos

a serem utilizados pela indústria produtora de com-

bustível pode gerar insegurança alimentar no país?

De acordo com o relatório da Organização

das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

(FAO), publicado em maio de 2007, a utilização de

cereais como matéria-prima na produção de bioe-

nergia deve evitar os cultivos que necessitam de alto

fornecimento de energia fóssil, como os fertilizantes

tradicionais e as terras de trabalho de qualidade que

apresentam baixo rendimento energético por hec-

tare. O mesmo relatório ressalta que a utilização de

cultivos vegetais como matéria-prima para a bioener-

gia pode ameaçar o abastecimento alimentar huma-

no, uma vez que a terra, a água e outros recursos dei-

xam de ser aplicados na produção alimentar. Neste

contexto, o acesso aos alimentos pode também estar

ameaçado pelo conseqüente aumento do preço de

alimentos de primeira necessidade.

A este respeito, vale mencionar a posição de-

fendida por Jean Ziegler, relator especial da ONU so-

bre o direito à alimentação, de acordo com o qual

a expansão indiscriminada dos cultivos destinados à

produção de biocombustíveis no Brasil é uma ameaça

ao direito à alimentação das camadas mais pobres da

população.

Ziegler apresentou um relatório em 25 de ou-

tubro de 2007 no qual pediu que se aplicasse uma

moratória de cinco anos à produção de biocombustí-

veis a partir das colheitas. Ele afirma que a produção

de biocombustíveis deve ocasionar um aumento no

preço dos alimentos e colocar em risco a segurança

alimentar para os mais pobres. Conforme o relatório

de Ziegler, para cada 1% de aumento real no preço

dos alimentos, o contingente de pessoas subalimen-

tadas no planeta é acrescido em 16 milhões (IHU,

2008).

Além de Ziegler, entidades do movimento so-

cioambientalista brasileiro concordam com esta posi-

ção. Segundo o Greenpace, a esse fator de pressão à

produção de alimentos somam-se outros como, por

exemplo, o aumento do consumo em países emer-

gentes com grande população, como a China e a Índia

(IHU, 2008).

Entretanto, esta posição não representa una-

nimidade, sendo contestada inclusive pelo governo

brasileiro que, na Conferência da FAO realizada em

outubro de 2008, defendeu inexistir concorrência

entre a produção de biocombustíveis e a produção

de alimentos no Brasil. Segundo o governo, a área

plantada com oleaginosas no Brasil ainda é muito pe-

quena e tem todas as condições de se expandir sem

ameaçar a produção de alimentos. Além disso, argu-

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menta-se que 80% da soja colhida no país é destinada

à alimentação e 20% à produção de óleo. O desen-

volvimento de novas tecnologias produtivas também

é apontado como um fator que permitirá a expansão

da área plantada para a produção de biocombustíveis

sem que isso coloque em xeque a produção de ali-

mentos no país (THUSWOHL, 2008).

Para evitar problemas de insegurança alimen-

tar, a FAO sugere um conjunto de salvaguardas in-

dissociáveis dos programas regionais de agroenergia,

dentre elas:

1. Zoneamento rural para impedir que a agroener-

gia desaloje lavouras destinadas à alimentação

humana;

2. Aperfeiçoamento dos contratos ao longo da ca-

deia produtiva; garantia dos direitos sociais, es-

pecialmente direitos trabalhistas, no campo;

3. Expansão da pesquisa e assistência técnica e do

cooperativismo, de modo a garantir a participa-

ção dos pequenos produtores também na gera-

ção de agroenergia e não apenas como ofertante

de matérias-primas.

Além destas, o relator da ONU também apon-

tou a necessidade de se acelerar as pesquisas para o

desenvolvimento de biocombustíveis de segunda ge-

ração, sintetizados a partir de resíduos provenientes

de plantas não-alimentícias e outros rejeitos agroin-

dustriais.

No entanto, parece claro que conseqüências

maléficas só ocorrerão se os produtores deixarem

de produzir alimentos para, no lugar, produzir grãos

para a indústria energética, em função dos incentivos

ou do preço de venda. Se, ao contrário, o cultivo dos

grãos ocorrer nas terras agricultáveis ainda não culti-

vadas e, ainda, se junto com o cultivo de grão for rea-

lizado o plantio consorciado de um alimento, a oferta

de alimentos poderá até aumentar.

Sobre este assunto, segue o comentário de

José Graziano da Silva, representante regional da

FAO para América Latina e Caribe (VALOR ECONÔ-

MICO, 2007):

Não se pode atribuir à agroenergia a ori-

gem de desequilíbrios sociais e ambientais que já

marcam a vida atual. Vale dizer que hoje pratica-

mente metade (49%) das terras agricultáveis do

mundo não são cultivadas ou são utilizadas como

pastagens naturais extensivas. Os biocombustíveis

líquidos demandam atualmente apenas 14 milhões

de hectares em todo o mundo e oferecem em tro-

ca 1% do abastecimento mundial de energia para

transporte. Para atender a meta mais ambiciosa de

mistura de biodiesel ao óleo diesel (25%), estima-

se que 20% das terras agricultáveis teriam que ser

destinadas a essa finalidade. Mas essa área poderia

diminuir significativamente com as inovações tec-

nológicas em curso. Tudo converge para a consta-

tação de que a capacidade produtiva potencial no

século XXI excede, de longe, o consumo neces-

sário, ou seja, a fome, em nosso tempo, tem cada

vez menos a ver com a produção e cada vez mais

com as desigualdades no acesso aos alimentos. É

isso que explica que um bilhão de seres humanos

- 20% da população mundial - continue a enfren-

tar condições de pobreza extrema, e o que é mais

grave: um em cada quatro deles na América Latina,

principal região produtora de alimentos do plane-

ta.(SILVA, 2007).

No contexto atual em que está organizada a

produção de alimentos, muldialmente, a compatibili-

zação da sustentabilidade com a segurança alimentar

é um desafio cercado de dificuldades, mas também

carregada de muitas oportunidades. A necessidade de

manter a oferta de alimentos em condições de aten-

der milhões de consumidores em cada país traduz a

maior dessas dificuldades. A FAO propõe a intensifi-

cação da produção com diversificação, mas sua viabi-

lidade parece duvidosa já que a intensificação se faz a

partir da especialização e da dependência crescente

dos insumos industriais.

O melhor caminho na busca de um sistema

alimentar sustentável parece ser o fortalecimento da

agricultura familiar ou camponesa, enquanto forma-

ção social mais adequada para garantir a segurança

alimentar em condições sustentáveis. Isto devido às

próprias características que lhes são inerentes. De

um lado, por a sua identificação com modelos pro-

dutivos que dão ênfase à diversificação da produção.

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Por outro lado, pela maior mobilidade para diferentes

destinações do resultado de seu trabalho, podendo

variar entre os extremos de depender exclusivamen-

te de fontes externas do mercado ou recuar até o

completo auto-abastecimento.

Além da insegurança alimentar ou insustentabi-

lidade social, existe o outro lado da moeda caracte-

rizado pela degradação de grandes áreas para plantio

dos grãos. Trata-se da (in) sustentabilidade ambiental.

O uso comercial do biodiesel e, portanto, a

produção do combustível em grande escala imporá

um aumento da produção de grãos. O plantio das ole-

aginosas, especialmente a soja, requer a disponibilida-

de de grandes extensões de terra. Sabe-se que atu-

almente no Brasil o cultivo de soja e dendê, mesmo

ainda não destinados à produção do biodiesel, está

invadindo as florestas tropicais e ameaçando a biodi-

versidade. Calcula-se então que, uma vez implantada

a produção do combustível em escala industrial, a de-

manda pelos grãos aumentará; ocorrerá uma valori-

zação dos mesmos de modo que os produtores se

sentirão incentivados a desmatar para produzir mais

e vender aos fabricantes de combustível. Em outras

palavras, pode-se dizer, então, que a produção de

biodiesel representa uma ameaça à sustentabilidade

ambiental.

Atualmente, cerca de 40% das florestas do pla-

neta já desapareceram. No Brasil, foram desmatados

26.130 km² de florestas na Amazônia Brasileira entre

agosto de 2003 e agosto de 2004, segundo as estima-

tivas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O

estado do Mato Grosso é o líder de desmatamento da

floresta amazônica brasileira (Relatório do Desmata-

mento na Amazônia 2003/2004).

Sabe-se que florestas destruídas nem sempre

significam terras adequadas para atividades agrícolas e

pecuárias. Se a terra não for bem manejada, ela pode

se tornar infértil rapidamente. Quando convertidas

em terras para lavoura, as florestas permanecem fér-

teis por poucos anos. Estas terras que vão se tornan-

do inférteis vão sendo abandonadas e, então, outras

áreas de floresta têm de ser destruídas e o processo

se repete.

A remoção da camada que cobre o solo da

floresta gera sérios efeitos colaterais. As florestas

são diretamente responsáveis pelas chuvas, pois as

gigantescas árvores absorvem grande parte da água,

devolvendo-a lentamente ao meio ambiente sob for-

ma de umidade. A devastação da floresta, reduzindo a

quantidade de chuva na região, pode levar a um pro-

cesso de desertificação. Desprovido de sua cobertura

vegetal, o solo fica mais vulnerável à erosão (Relatório

do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).

A destruição das florestas tem também graves

conseqüências em escala mundial. As florestas tropi-

cais ajudam a regular os padrões climáticos globais.

Fenômenos como ciclos de chuvas desregulados e

o aumento de dióxido de carbono na atmosfera são

possíveis resultados do desmatamento registrado. A

devastação pode levar a um aquecimento generaliza-

do da atmosfera, conhecido por “efeito estufa” que,

por sua vez, acelera o derretimento das calotas pola-

res e contribui para a elevação do nível do mar (Re-

latório do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).

Uma vez destruída, a floresta não pode ser

plenamente recuperada. Mesmo removendo apenas

as árvores maiores, o frágil ecossistema florestal não

resiste. Com a destruição de uma floresta, comunida-

des inteiras de plantas e animais ficam perdidas, mui-

tas das quais de valor incomensurável.

Além da extinção de espécies animais e vege-

tais, a destruição de florestas tem por conseqüência o

deslocamento das populações nativas e o desapareci-

mento de conhecimentos tradicionais, reconhecidos

pela própria ciência moderna pelo seu valor econô-

mico e cultural.

O desmatamento é maior na região centro-

oeste do Brasil, especialmente no estado de Mato

Grosso, considerado o epicentro do cultivo de soja

no país. Economicamente, a soja tem-se mostrado o

vegetal mais viável para a produção de combustível,

razão pela qual esta oleaginosa tem sido preferida pe-

los investidores do setor.

A utilização da soja como matéria-prima base

para a produção de biodiesel tem conseqüências

importantes, principalmente após a divulgação dos

resultados de um estudo coordenado pelo Instituto

Socioambiental (ISA), que demonstra que o plantio

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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?

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de soja provoca, tanto direta como indiretamente, a

derrubada das matas (FBOMS, 2004/2005).

Este estudo contrapõe-se a outro realiza-

do pelo Instituto de Pesquisa Econômica Avançada

(IPEA), em 2004, que afirma que a soja não ameaça

a floresta amazônica (IPEA, 2007). De acordo a pes-

quisa do IPEA, há uma espécie de simbiose entre o

setor sojicultor e o pecuarista, de modo que o último

arrenda as terras para o primeiro em troca de sacas

de grãos e o retorno das propriedades com melhora

na qualidade do solo. O principal argumento utilizado

neste estudo é o de que não haveria tempo hábil para

converter floresta primária em área de cultivo (IPEA,

2007). Esse estudo afirma ainda que o cultivo do grão

avançou principalmente sobre pastagens degradadas

e não sobre áreas virgens e defende o asfaltamento

da BR 163 para escoar a produção de grãos das regi-

ões norte e centro-oeste. Para os técnicos do IPEA, a

soja na região da floresta amazônica aumenta o custo

da terra e afasta da região os agricultores, madeirei-

ros e pecuaristas que, sem recursos tecnológicos e

infra-estrutura, são os verdadeiros responsáveis pela

derrubada da mata (IPEA, 2007).

No entanto, segundo os técnicos do ISA, ao

concluir que as plantações de soja avançam sobre

áreas de pastagem degradadas e não sobre floresta

o estudo do IPEA não leva em conta a situação exis-

tente no norte do estado do Mato Grosso, onde, de

acordo com dados do governo federal, é o local em

que o desmatamento atingiu índices recordes nos úl-

timos anos. O IPEA tampouco utiliza dados do Insti-

tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), uma das

maiores referências no monitoramento por imagens

de satélite, a respeito do ritmo e rumo dos desmata-

mentos no Brasil (IPEA, 2007).

O levantamento coordenado pelo ISA demons-

tra que, de fato, a soja ocupa áreas antes utilizadas

como pasto. Mas, ao fazê-lo, empurra o gado para

novas fronteiras, ampliando as áreas desmatadas. Ou

seja, a expansão da área cultivada com soja provoca o

desmatamento de áreas de floresta amazônica e cer-

rado, tanto direta como indiretamente.

Nos últimos quatro anos, o Brasil emitiu, a par-

tir do desmatamento, 996 milhões de toneladas de

carbono. Entre agosto de 2005 e agosto de 2006, o

desflorestamento na Amazônia foi responsável por

mais de 60% do total de nossas emissões. Alguns

cientistas acreditam que os gases, com efeito, estufa

liberados na produção dos biocombustíveis podem

anular os benefícios trazidos pelos mesmos.

CONCLUSÃODe todo o exposto, pode-se concluir que é pos-

sível alcançar o desenvolvimento sustentável através da

produção de bioenergia, mas para isto não basta que a

matéria-prima utilizada seja natural. A sustentabilidade

envolve vários aspectos. O processo de produção deve

ser economicamente viável, além de ser social e am-

bientalmente sustentável.

A produção de biocombustível baseada no des-

matamento de matas e florestas, uso intensivo da agri-

cultura de extensão, uso excessivo de fertilizantes e de

sementes geneticamente modificadas, contraria a idéia

de desenvolvimento limpo e pode resultar em elevados

custos sociais e ecológicos. A superação de tais carac-

terísticas e a busca de maior eficiência e qualidade sob

padrões não socialmente excludentes tornam-se, então,

elementos cruciais. Nesta direção podem atuar os pro-

gramas de reforma agrária e de fortalecimento da agri-

cultura familiar e das comunidades indígenas, a regulari-

zação das relações de trabalho no campo e a previdência

social rural, a revisão do pacote tecnológico, as alterna-

tivas de agroindustrialização de pequena e média escala,

o aprimoramento do pequeno varejo, etc.

Faz-se necessário uma agricultura que seja pro-

dutiva sem destruir as bases naturais da produção, que

seja geradora de mais e melhores empregos e promo-

vam a apropriação mais justa e equilibrada do território

(PÁDUA, 2002).

Para implementar este paradigma, a agricultura

familiar vem sendo valorizada e reconhecida por muitos

especialistas como um espaço privilegiado. Este concei-

to foi inserido na Lei 11.097, que tem como um de seus

objetivos a geração de renda e a fixação do homem no

campo. Mas, além da lei, são necessárias políticas sociais,

econômicas e fiscais que estimulem o desenvolvimento

desta agricultura familiar de base agroecológica.

Por outro lado, é importante também reco-

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nhecer o lugar da agricultura empresarial neste pro-

cesso. O setor empresarial deve ser fiscalizado para

respeitar os direitos trabalhistas no campo, aprovei-

tar e treinar mais mão-de-obra, diminuir ao máximo

o impacto negativo sobre os recursos naturais e ado-

tar uma postura de crescimento vertical da produtivi-

dade, com base em técnicas adaptadas às condições

ecológicas da região, ao invés de insistir no cresci-

mento horizontal predatório herdado do passado

(PÁDUA, 2002).

É essencial que seja realizado o zoneamento

econômico-ecológico distinguindo-se as terras im-

próprias para a agricultura ou mesmo para outros

usos, as terras de uso restrito e aquelas mais indica-

das para o cultivo. Deve haver ainda a concessão de

estímulos (preços de suporte, crédito agrícola, etc.)

para aqueles que adotam tecnologias benignas ou de

recuperação ambiental, incentivando-se um modelo

agrícola de base agroecológica. O combustível pro-

duzido em conformidade com as normas ambientais

e trabalhistas deve receber uma certificação. Órgãos

competentes devem se encarregar de exercer a fis-

calização e a certificação, de forma séria e criteriosa,

para que o produto obtenha credibilidade no merca-

do nacional e internacional.

A produção de biocombustível à custa do des-

matamento traduz déficit na relação custo/benefício,

pois os gases que deixarão de ser emitidos com o uso

do biocombustível serão incorporados à atmosfera

durante as queimadas, sem contar que as árvores

destruídas deixarão de realizar a função de seqüestro

de gás carbônico, ampliando o efeito estufa e contri-

buindo para as alterações climáticas.

Por fim, deve-se ressaltar a necessidade de in-

centivar a economia de energia e o uso consciente

dos combustíveis. O fato de o biodiesel ser produzido

a partir de um recurso natural não viabiliza o seu uso

irracional. Toda atividade humana implica em danos

ambientais, em maior ou menor grau, além disso, a

maior economia de energia ocorre quando ela não é

utilizada, ou seja, a produção de biocombustível não

dispensa os investimentos em educação ambiental e o

incentivo à redução do consumo, que poderá ocorrer,

por exemplo, com a disponibilização de transporte

coletivo de qualidade (movido a biodiesel, inclusive).

Planejamento e estratégia de desenvolvimento

serão determinantes. Produzir com precaução, qua-

lidade e regularidade pode ser muito mais vantajoso

do que produzir com velocidade. É importante esti-

mular uma articulação harmônica entre padrões de

produção, consumo e sociabilidade presentes nos

espaços urbanos e rurais. Estimular políticas públicas

de gestão territorial que promovam uma apropriação

mais equilibrada do espaço geográfico, diminuindo a

desigualdade entre regiões e classes, estimulando um

revigoramento demográfico e sócio-econômico do

meio rural e garantindo a continuidade das fontes de

água e biodiversidade que constituem a grande rique-

za do espaço brasileiro.

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A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-19451

Roberta Barros Meira2

Doutoranda em História Econômica pelaUniversidade de São Paulo – USP

Este trabalho pretende contribuir para a análise sobre o desenvol-vimento da indústria alcooleira desde a Primeira República. Nosso enfoque principal será o processo de construção de uma ideologia traçada em torno desse novo produto, visto como a solução para a crise de superprodução do açúcar. Nesse caso, enfatizaremos o trabalho de seus principais ideólogos, a Sociedade Nacional da Agri-cultura e o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Por fim, o período 1930-45 foi analisado, uma vez que defendemos que o Primeiro Governo Vargas, por meio do Instituto do Açúcar e do Álcool, apenas colocaria em prática as idéias defendidas no período anterior.

Palavras-Chave: Indústria alcooleira; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministé-rio da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.

The construction of an ideology for the alcohol production in Brazil: 1889-1945

O presente artigo representa parte de uma pes-quisa ainda inconclusa de doutorado em História Econômica (FFLCH-USP), financiada pela Fapesp.Roberta Barros Meira. – Correspondência: Avenida Professor Mello Morais 1235 bloco G apto. 410, Butantã - São Paulo SP – Brasil - CEP - 05508-030. Endereço eletrônico: [email protected]

1

2

RESUMO

This work intends to contribute for the analyses on the ethanol in-dustry since the First Republic. Our main purpose will be to under-stand the process of building an ideology based on this new prod-uct, seen as the solution to the crisis of overproduction of sugar. In this case, our emphasis will be on the work of its main ideologists, the Sociedade Nacional da Agricultura and the Ministério da Agri-cultura, Indústria e Comércio. Finally, the period 1930-45 has been examined because we defend that the First Government Vargas, through the Instituto do Açúcar e do Álcool, only puts into practice the ideas defended the previous period.

Keywords: Ethanol industry; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministério da Ag-ricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.

ABSTRACT

RESUMEN

La construcción de una ideología para la producción de alcohol de Brasil: 1889-1945

Este trabajo pretende contribuir para el análisis sobre el desarrollo de la industria alcoholera desde la Primera República. Nuestro objetivo principal será de comprender el proceso de cons-trucción de una ideología basada en este nuevo producto, conside-rado como la solución a la crisis de sobreproducción de azúcar. En este caso, nuestro principal énfasis será la labor de sus principales ideólogos, la Sociedade Nacional da Agricultura y el Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Por último, el período compren-dido entre 1930-45 ha sido examinado, porque defendemos que el Primer Gobierno de Vargas, por Instituto do Açúcar e do Álcool, sólo puso en práctica las ideas defendidas en el período anterior.

Palabras-claves: Industria alcoholera; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministé-rio da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.

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INTRODUÇÃO

As tentativas de utilização do álcool como

combustível em automóveis iniciaram-se no final do

século XIX, na Europa. Devido à crise que assolava

a produção açucareira mundial, rapidamente a idéia

foi adotada pelos principais países produtores. No

final do Império, a indústria alcooleira ainda não se

sobressaia como forma de minimizar a crise do açú-

car brasileiro, uma vez que o principal problema era

a modernização do setor. Ademais, nesse período, a

venda de álcool, rum e melaço não chegava a atingir

um quinto da comercialização do açúcar em si (Eisen-

berg, 1977, p. 53).

Em verdade, essas tentativas de modernização

culminaram na implantação do sistema de engenhos

centrais e a sua substituição pelas usinas, na Primei-

ra República. Releva notar que as usinas herdariam as

inovações tecnológicas oriundas da malograda tenta-

tiva de introdução dos engenhos centrais, apesar do

retorno do velho sistema de produção colonial, no

qual o usineiro detém o controle da produção indus-

trial e agrícola., herdaria as inovações tecnológicas

oriundas da malograda tentativa de introdução dos

engenhos centrais.

Sobre tudo isso, acrescenta-se o fato de que

com a perda definitiva do mercado externo, a pro-

dução açucareira, na Primeira República, voltar-se-ia

para o abastecimento interno. Nesse momento, a

produção Nordestina, destinada desde os seus pri-

mórdios para o mercado externo, foi obrigada a esco-

rar-se no consumo interno. E há que se ter em conta

que o crescimento econômico do Sudeste transfor-

maria essa região na principal consumidora. Dessa

forma, surgiram grupos de grandes comerciantes e

refinadores que passaram a manipular as relações en-

tre a produção, os estoques e o consumo e acirraram

a disputa entre os produtores de açúcar, aprofundan-

do, ainda mais, a crise de superprodução.

Em meio a essa tumultuosa crise, surgiram as

primeiras defesas de que o desenvolvimento da indús-

tria alcooleira seria a saída para a crise de superpro-

dução, uma vez que para ela podiam ser destinados

todos os excessos. Esse pensamento, não desprezível

entre os representantes do setor, é encontrado, já em

1902, na defesa de Quintimo Bocayuva (Rio de Janei-

ro, 1902, p. 72):

(...) para o álcool estão voltadas as esperan-

ças da lavoura da cana e fundamentalmente na mi-

nha opinião. (...) A excessiva produção do açúcar

tinha de acompanhar forçosamente a fabricação

de álcool.

Mas deve-se levar em conta que nesse mo-

mento o maquinário ainda era precário e seriam ne-

cessários ainda muitos estudos para o aperfeiçoamen-

to do novo combustível. Não se pode desconsiderar

que o Estado teria um papel fundamental na divulga-

ção do álcool. A principal defensora e divulgadora do

álcool era a Sociedade Nacional da Agricultura, que

controlou durante todo o período o Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio. Assim, nos Con-

gressos e Conferências organizados pela Sociedade e

depois pelo MAIC, a utilização do álcool passou a ser

defendida como um substitutivo para a gasolina, para

a indústria farmacêutica, para a iluminação e outras

diversas atividades.

Os benefícios do álcool também seriam bastan-

te divulgados na Europa. A Alemanha, produtora de

álcool de batata, criou uma central de propaganda e

venda do álcool em 1899. Como incentivo foram do-

ados lampiões às principais cidades e administrações

como forma de disseminar o papel do álcool na ilumi-

nação. E, já no final do século XIX, tiveram início na

Alemanha e na França experiências para a utilização

do álcool em automóveis (Morelli, 1920, p. 53).

Certamente os interesses da agricultura de

exportação tornar-se-iam cada vez mais importantes

com a hegemonia política dos cafeicultores. No en-

tanto, os incentivos para a produção voltada para o

mercado interno começaram a ser discutidas pelos

setores contrários à dominação da política do café

com leite. Ademais, devido às oscilações do preço

do café com a crise de superprodução, os próprios

cafeicultores passaram a defender a necessidade de

diversificar a produção, ou seja, a policultura.

Com esse intento, as políticas governamentais

começaram a criar as bases para a construção de um

parque alcooleiro no país. No período, foram vários

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os decretos visando incentivar o uso do álcool para

fins indústrias. Exemplos ilustrativos dessa ação go-

vernamental foram: o decreto nº. 4812, de 1º abril de

1903, pela qual o Governo concedeu um crédito de

50:000$000 para o Ministério da Indústria, Viação e

Obras Públicas auxiliar ou promover um concurso ou

exposição de aparelhos destinados às aplicações in-

dustriais, a fim de vulgarizar o álcool por todo o país;

e o decreto nº. 4977, de 22 de setembro de 1903,

que atribuiu uma quantia de 150.000$000 para au-

xiliar a Exposição Industrial de Aparelhos a Álcool, a

ser realizada em outubro de 1903, no Rio de Janeiro,

sob o patrocínio da Sociedade Nacional da Agricultu-

ra (Conselho Nacional do Petróleo, 1978, p. 57-58).

As várias funções do álcool serviram como

a sua principal propaganda e como forma de os

seus defensores cobrarem diferentes medidas

legislativas para assegurar cada uma dessas no-

vas aplicações. Como não poderia deixar de ser,

esse modo de pensar era constantemente alar-

deado pelos seus defensores (Rio de Janeiro,

1902, p.73).

O seu emprego como combustível, como

elemento de força motriz e força iluminante, abriu

um novo e largo horizonte a esse produto que

pode ser, - sobretudo no nosso país e com grandes

vantagens para as populações do interior -, o suce-

dâneo ao petróleo e de todos os óleos destinados

à iluminação das casas e das povoações.

No Brasil, a principal forma de divulgar os be-

nefícios da indústria alcooleira foram as diversas ex-

posições realizadas pela SNA e pelo MAIC. Nesse

quadro, destaca-se a Exposição Industrial de Apare-

lhos a Álcool. Essa exposição foi dividida em várias

secções, de acordo com as principais funções que o

álcool poderia desempenhar. A primeira secção vol-

tou-se para o emprego do álcool nos vários tipos de

motores, sendo, assim, subdividida em motores fixos,

locomoveis, automóveis, carburantes e motores para

navegação; a segunda secção tencionava incentivar a

utilização de aparelhos para iluminação e foi separada

em duas secções: a de lâmpadas que queimam com o

álcool puro e a de lâmpadas de gaseificação; a terceira

secção tratava dos aparelhos para aquecimento e a

quarta e última secção buscava difundir os pequenos

aparelhos de fabricação e retificação do álcool (Con-

selho Nacional do Petróleo, 1978, p. 57-58).

Pela análise dos pontos defendidos nessas ex-

posições, é possível comparar os principais avanços

da indústria alcooleira. Assim, percebe-se que no I

Congresso de Aplicações Industriais do Álcool, em

outubro de 1903, foram delineadas as primeiras con-

clusões sobre a utilização do álcool como solução

para a crise de produção açucareira. O Congresso

traçou as principais diretrizes a serem seguidas nos

próximos anos para o desenvolvimento da produção

alcooleira no país. Estabeleceu como objetivo princi-

pal de seus trabalhos: promover a prosperidade da

lavoura de cana pela vulgarização das aplicações in-

dustriais do álcool. Ademais, entendia e proclamava

que o estado precário dessa lavoura era oriundo da

situação do mercado, quer para o açúcar, em virtude

da barreira que o excesso de similar impusera à sua

exportação, quer para o álcool, pelas restrições im-

postas no país à sua propagação durante os últimos

anos corridos (IAA, 1941, p. 277-278).

Por reconhecer a dificuldade e a lentidão de

ampliar o mercado de açúcar, no país ou no exterior,

o Congresso julgava que a vulgarização das aplicações

do álcool de cana, como agente de luz, calor e for-

ça motriz, dilatando rapidamente o consumo desse

produto, prestaria ao açúcar nacional, o necessário

amparo, o que permitiria equilibrar a produção de

ambos com o respectivo consumo e garantir-lhe-ia

remuneradores preços, resolvendo desse modo a

crise da lavoura de cana.

Por último, os representantes do setor concluí-

ram que a Exposição Internacional de Aparelhos a Ál-

cool demonstrou a conveniência e superior vantagem

das mais variadas aplicações desse líquido em substi-

tuição de seus concorrentes como agentes de luz, ca-

lor e força mecânica. Para o Congresso, os lavradores

de cana e os poderes públicos da União e de todos os

Estados da República deveriam fazer convergir maio-

res esforços para: vulgarizar as aplicações industriais

do álcool, ampliar a sua produção e baratear o seu

custo (IAA, 1941, p. 277-278).

A SNA e o MAIC tentavam demonstrar que a

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sua defesa da importância do álcool não era tão des-

cabida assim. Tudo se tentava na persistente busca

de uma saída para a crise de superprodução. Embora

ainda não fosse produzido em larga escala, percebiae-

se a luta para obter a expansão da produção do álco-

ol. Nesse sentido, no Primeiro Congresso Brasileiro

de Carvão e outros Combustíveis Nacionais foram

apontadas novas medidas para o incremento da pro-

dução alcooleira, perpassando por diversos medidas

como, por exemplo: o desenvolvimento do ensino

de fabricação cientifica do álcool, especialmente em

escolas e instituições, tanto oficiais como particula-

res; favores do transporte e a circulação do álcool

industrial e, especialmente, do álcool combustível e,

também, dos aparelhos e motores que o empregam

exclusivamente; a criação, em ordem sucessiva de co-

operativas centrais de álcool, na capital da República e

nos estados produtores mais importantes; e a criação

de uma sobretaxa especial para a aguardente, cuja

renda reverteria às cooperativas centrais que estabe-

lecessem prêmios em favor dos agricultores, a fim de

ser conseguido o barateamento do álcool industrial

(Brasil, 1922, p. 48).

Essas cooperativas deveriam realizar a monta-

gem de institutos de fermentação, de grandes destila-

rias centrais, de instalações para desnaturar o álcool,

de aparelhagem para fabricar o material de acondi-

cionamento e, bem assim, a aquisição e emprego de

tonéis, tanques e vagões destinados ao depósito e

transporte do álcool (Primeiro Congresso Brasileiro

de Carvão e outros Combustíveis Nacionais. Rio de

Janeiro: outubro/novembro de1922).

Desde o início da divulgação do álcool com-

bustível, um ponto negativo para o aumento do seu

consumo era a dificuldade de adaptação dos motores

dos automóveis. Releva notar que foram freqüentes,

no período, acusações de que o álcool corroia e res-

secava os motores.

Dizia-se que o álcool, ressecando horrivel-

mente as máquinas e, ainda, intumescendo os cilin-

dros com fuligem, a ponto até de fazer voar pelos

ares os tampões, deveria ser condenado; o seu uso

arriscava a vida humana à destruição por estilhaços

de carcaças. As corrosões e inutilizações das má-

quinas pelo ataque ao metal; a perfuração dos tan-

ques e canalizações e outros danos representavam

sério prejuízo e anulariam qualquer vantagem que

pudesse haver, de ordem econômica, pelo uso do

moderno combustível (Belo Lisboa, 1942, p. 41).

Ocorre que se encontravam em desenvolvi-

mento as primeiras pesquisas de adaptação do novo

combustível, qual seja, a melhor mistura de álcool

e gasolina, como forma de tornar viável a utilização

do produto em motores originalmente fabricados

para a gasolina. Somente assim, naturalmente, seria

possível a circulação de carros com essa mistura car-

burante. No entanto, os apontamentos de Sanchez

Gondora, técnico da SNA, afirmavam que essa pés-

sima fama do álcool seria conseqüência da má von-

tade e desconhecimento técnico dos proprietários

de automóveis:

Os insucessos têm sido devido a várias cau-

sas das quais não foi a menor a má vontade dos

condutores de automóveis que com o emprego do

álcool ‘in natura’ tinham que procurar modificar as

condições de carburetação; sua ignorância por um

lado e seu comodismo por outro emprestavam ao

problema proporções exageradas. Daí nascia a fá-

bula do ‘ressecamento dos motores’ e do estrago

conseqüente (Gondora, 1923, p. 497).

Apesar de a defesa do técnico da viabilidade

do álcool e de novas pesquisas tentarem resolver os

freqüentes problemas advindos da utilização das mis-

turas à base de álcool motor, as críticas continuaram a

serem feitas. Assim, só no Governo Vargas adotar-se-

ia, oficialmente, a obrigatoriedade da mistura de 5%

de álcool anidro à gasolina importada.

Na década de 1910, a produção alcançou 30

milhões de litros de álcool e 100 milhões de litros

de aguardente. Mais de 90% do álcool fabricado

era oriundo do melaço (Szmrecsányi, 1979, p. 62).

Apesar disso, o dobro dessa quantidade poderia ser

fabricado se houvesse consumo. Porém, a falta de

mercado e o preço inviabilizavam os investimentos

dos usineiros em destilarias. Assim, nessa década e na

subseqüente, as políticas voltadas para o álcool foram

relegadas para um segundo plano. Além dos fatores

elencados no parágrafo acima, ocorreu uma recupe-

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ração dos usineiros do Nordeste e de sua influência

política com o controle momentâneo dos preços dos

mercados açucareiros do sudeste. Ademais, a Primei-

ra Guerra aumentou as exportações, favorecendo o

apoio à produção do açúcar em si mesma (Guima-

rães, 1991, p. 45 e Santos, 1997, p. 11).

Outro fator que inviabilizaria um maior incre-

mento do álcool motor era a existência de um nú-

mero muito pequeno de automóveis no Brasil até a

década de 1920 e, por conseguinte, a quase inexpres-

siva importação de gasolina pelo Brasil. Tal quadro,

no entanto, começou a mudar com as dificuldades

encontradas para a importação de petróleo durante a

Primeira Guerra Mundial. A partir desse momento, a

necessidade de encontrar um combustível alternativo

começava a ser uma necessidade premente. Em 1916,

o Brasil comprou 22,4 milhões de litros de gasolina e,

em 1917, somente conseguiria adquirir 17,7 milhões.

Por outro lado, no período Pós-Guerra surgiram es-

peculações sobre o término do petróleo mundial. Es-

sas divagações sobre o fim eminente do petróleo, no

momento em que ocorria um grande crescimento da

indústria automobilística, começaram a preocupar os

países importadores de gasolina. No Brasil, tal con-

texto levou o deputado federal Geminiano Lyra Cas-

tro, vice-presidente da SNA, a defender a criação de

um Instituto do Álcool no Ministério da Agricultura

(Dé Carli, 1979, p. 99-101 e Santos, 1997, p. 1-18).

Assim mesmo, a produção de álcool combus-

tível era incentivada pelo crescimento da indústria

automobilística no país, principalmente após 1920.

Em 1922, o país já possuía 40.390, passando para

220.914 automóveis em 1929. Em 1930, somente

o estado de São Paulo consumiu 140 milhões de

litros de gasolina, no valor aproximado de 140.000

contos de réis Acompanhando essa demanda, a

produção de álcool aumentou de 3.542.624 litros

em 1921, para 70.321.900 litros, em 1929. (San-

tos, 1997, p. 18) Em 1930, o álcool já era defini-

do pelo Vice-Presidente do estado de São Paulo,

Heitor Teixeira Penteado, como a nova válvula re-

gularizadora do mercado açucareiro, pois as suas

aplicações eram numerosas. Porém, para isso seria

necessário:

(...) para que esta industrialização do álco-

ol como motor possa alcançar o desejado êxito,

torna-se necessário remover certos obstáculos de

ordem fiscal, facilitar o seu transporte e o seu co-

mércio, e intensificar a sua fiscalização (São Paulo,

1930, p. 38).

Em 1922, no Terceiro Congresso Nacional de

Agricultura e Pecuária, vê-se facilmente que a ques-

tão do álcool combustível assumia proporções maio-

res, uma vez que ocorreu uma expansão da demanda

pelo produto no mercado interno. Nesse caso, o pa-

pel do Governo seria crucial, visto que os congres-

sistas defendiam a transformação do álcool em um

produto de utilidade pública e de interesse nacional.

Afora isso, o Estado deveria facilitar o seu transporte

com a compra de vagões-tanque, a construção dos

primeiros centros de consumo, de armazéns ligados

às estradas de ferro, o aprimoramento do estudo e

do ensino de técnicas para a fabricação do álcool, fi-

nanciamentos para a modernização das salas de fer-

mentação e incentivos para a criação de fábricas de

éter, etc. (IAA, 1949, p. 82-95).

Percebe-se pelos objetivos apontados nesses

congressos que os usineiros acreditavam ser impres-

cindível para o desenvolvimento da indústria alcoolei-

ra o apoio estatal. Essa política de incentivos deveria

ser ampla e abranger o controle da política de preços,

tributária, tarifaria, de transporte e, principalmente,

de financiamentos para a introdução do maquinário

necessário para a montagem do parque alcooleiro.

À vista de todo o exposto, percebe-se que,

apesar da produção alcooleira não ter se sobressaído

nesse período, a propaganda conjunta do MAIC e da

SNA firmou a ideologia do álcool como o combus-

tível nacional, posto que, além de controlar a crise

de superprodução e recuperar a decadente indústria

açucareira nacional, substituiria a gasolina como o

principal combustível para motores de explosão.

Como aponta o Sr. Heitor Teixeira Penteado,

para que essa indústria tomasse o impulso necessário

seriam necessárias certas medidas por parte do Es-

tado. E foi esse pensamento, de modo geral, que foi

adotado no Pós 30, pelos principais dirigentes do Go-

verno. Nesse caso, destaca-se o decreto n.º 19.717,

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de 20 de fevereiro de 1931, a obrigatoriedade da mis-

tura de 5% de álcool em toda a gasolina importada.

Art. 1º. – A partir de 1 de julho do corrente

ano, o pagamento dos direitos de importação da

gasolina somente poderá ser efetuado, depois de

ter feito a prova de haver o importador adquiri-

do, para adicionar à mesma medida de álcool de

procedência nacional, na proporção mínima de

5% sobre a qualidade de gasolina que pretender

despachar, calculada em álcool a 100%. Até 1º

de julho de 1932, tolerar-se-á a aquisição de ál-

cool de grau não inferior a 96 Gay Lussac a 15º

C., tornando-se obrigatória, dessa data em diante,

a aquisição de álcool absoluto (anidro) (Velloso,

1952, p. 7).

Além disso, esse decreto estabeleceu que os

automóveis a serviço da União, Estados e Municípios

deveriam utilizar álcool ou, na falta deste, um carbu-

rante com pelo menos 10% de álcool. As estradas de

ferro também só poderiam cobrar um frete inferior a

50% do estabelecido para a gasolina e os automóveis

de carga ou de passageiros com motores de com-

pressão um para seis, teriam um abatimento de 20%

sobre os direitos de importação.

Como a intenção era claramente incentivar a

produção alcooleira, em 4 de agosto de 1931, o Es-

tado criaria a Comissão de Estudos sobre o Álcool-

Motor. Caberia à CEAM receber todas as reclama-

ções, petições e sugestões referentes à questão do

álcool, além de, propor medidas para o desenvolvi-

mento dessa produção. Essa Comissão seria compos-

ta tão-somente por representantes do Ministério da

Agricultura, da Fazenda e do Trabalho, Indústria e Co-

mércio, não contando com a participação de repre-

sentantes dos produtores de açúcar e fornecedores.

Essa organização administrativa pode ser considerada

como um demonstrativo da centralização, por parte

do Governo Federal, da produção alcooleira no país

(Velloso, 1952, p. 43-44).

Para tanto, os próprios representantes do

Governo legitimaram as suas ações utilizando-se do

ideário defendido tradicionalmente desde a Primeira

República, isto é, o incremento da indústria alcooleira

seria o principal meio para debelar a crise de super-

produção e diminuir os gastos com a importação de

gasolina. Essa visão pode ser encontrada nos apon-

tamentos de um dos presidentes do IAA, Gileno Dé

Carli:

Ocorrerá, fatalmente, portanto, o aumento

da matéria prima. Impossibilitado de produzir açú-

car, abre-se-nos o caminho da fundação de um gi-

gantesco parque industrial para álcool anidro. Rota

acertada. Diretiva econômica lógica. Conseqüên-

cia: - gradativa nacionalização do combustível e se-

gurança absoluta dos justos preços do açúcar. (...)

O Brasil, em matéria de combustível, é um país co-

lônia. Andamos arrastando cifras fantásticas, para

transformação em movimento, em circulação, em

força. Porém, nem sempre é motivo de orgulho a

ostentação nas colunas de importação, de núme-

ros astronômicos (Dé Carli, 1942, p. 46).

É preciso não esquecer que o grande cres-

cimento populacional, como ocorreu em São

Paulo, impulsionado principalmente pela imigra-

ção, aumentaria os gastos do país com a impor-

tação de gasolina. Em torno dessas idéias estava

o desenvolvimento de pesquisas a muito financia-

das pelo Governo, tanto para aperfeiçoar o car-

burante nacional como para justificar a sua su-

premacia frente a outros produtos. Assim, já em

1931, o chefe do Serviço Geológico do Ministé-

rio da Agricultura, Luiz Flores de Morais Rego, na

conferência organizada pela SNA, afirmava que

dentre os recursos brasileiros em carburantes de

substituição:

o álcool, derivado da indústria do açúcar

e futuramente extraído de outros produtos ve-

getais por processos modernos, é incontestavel-

mente o produto nacional mais apto ao empre-

go intensivo como carburante de substituição.

Diversas razões concorreram para tanto: a

multiplicidade de fontes capazes de produzi-lo,

espalhadas por todo o país; a facilidade de inten-

sificação imediata de sua produção pela indús-

tria açucareira, com melhor aproveitamento dos

melaços e aumento de rendimento da fermen-

tação, e pelo tratamento por processos moder-

nos de outros produtos vegetais e, finalmente, a

possibilidade de obtê-lo por preço muito baixo

pelo fator de aperfeiçoamento dos processos de

fabricação (Rego, 1931, p. 72).

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Uma vez superadas as primeiras dificuldades

técnicas de utilização do álcool, o Governo tentaria in-

centivar a iniciativa privada a investir na indústria alco-

oleira. Assim, estabeleceu um premio de 50:000$000

para a primeira destilaria produtora de álcool anidro

construída no país. Porém, o elevado custo de mon-

tagem de uma destilaria que orçava no período em

torno de Rs 2.000:000$000, acabaria desestimulando

os produtores. Aliás, nenhuma destilaria seria cons-

truída. O próprio Governo criaria casualmente um

dos principais empecilhos, uma vez que, pelo decreto

n.º 22.008, o preço do álcool foi fixado em Rs1$000 o

litro, - inviável para o produtor.

Dessa forma, o Governo tomaria como uns

dos seus fins específicos a transformação dos exces-

sos de açúcar em álcool. Para isso, designaria a CPDA

e o CEAM. Malgrado os esforços, nenhuma dessas

Comissões conseguiu desenvolver a indústria alcoo-

leira. Releva notar que, uma das últimas medidas da

CPDA, a fim de incentivar a produção alcooleira no

país, foi conceder uma verba de Rs 2.400:000$000,

como forma de auxiliar na montagem do parque in-

dustrial alcooleiro.

Porém, é incontestável que essa e as outras

medidas implantadas pelo órgão foram insuficientes

para debelar a crise de superprodução açucareira

através do direcionamento dos seus excessos para a

produção alcooleira. É importante acentuar que es-

sas medidas só seriam eficazes em longo prazo, isto

é, com o desenvolvimento do parque alcooleiro. No

entanto, a julgar pelas amostras iniciais da atuação da

CPDA, pode-se dizer que foi somente com a criação

do Instituto do Açúcar e do Álcool que se iniciou o

efetivo planejamento da produção alcooleira no Bra-

sil (Guimarães, 1991, 63-65 e Szmrecsányi, 1979, p.

176-178).

Para além desses aspectos, cabe também

apontar a imaturidade dessas primeiras medidas.

Acreditamos que um dos principais pontos de en-

trave das políticas implementadas pela CEAM e pela

CPDA tiveram pouca eficácia por tratar separada-

mente o problema do açúcar e do álcool. O que fez

supor a assertiva de nossa hipótese foram os dizeres

de um dos presidentes do Instituto do Açúcar e do

Álcool, Autarquia sucessora dessas Comissões, Gile-

no Dé Carli:

Reunia o Governo os dois problemas – o do

açúcar e o do álcool – que até então se estudavam

e se encaminhavam separadamente. E essa fusão

deu ensejo a criar uma feliz situação para a indús-

tria açucareira do Brasil, pois que, sendo um país

de economia nitidamente agrária, não foi obrigado

a reduzir os seus canaviais. Aliás, a limitação açu-

careira, entre nós, têm um sentido “sui generis”,

pois, como veremos, não se diminui e produção.

Ela foi simplesmente estabilizada. Não houve sa-

crifícios profundos. Coibía-se somente que a am-

bição de maiores e crescentes lucros levassem o

produtor a aumentar progressivamente suas safras

(Dé Carli, 1942, p. 28-29).

Por outro lado, o IAA incentivaria muito mais a

política de desenvolvimento do álcool-motor do que

o açúcar em si. Para nós, tal fato relaciona-se a pró-

pria visão do álcool como alternativa para a produção

açucareira ou, ainda, uma forma de controlar a crise

de superprodução e diminuir os gastos com combus-

tíveis. Em relação a isso, Moacyr Soares Pereira, já

destacava, em 1942, que:

o Governo já incentivava a produção alcoo-

leira antes de cuidar de proteger a do açúcar. No

caso do álcool, tão pouco, a intervenção revestia-

se do caráter de defesa. O que se visava em pri-

meiro lugar era ajudar a balança comercial do país,

restringindo as importações. Diante do colapso de

nossa exportação arrastada para baixo, principal-

mente pela queda do café (Pereira, 1942, p. 10).

Esse discurso seria efetivado no próprio Esta-

tuto de criação do Instituto do Açúcar e do Álcool que

justificaria a atuação do Estado em relação ao álcool

devido às assertivas anteriores e à própria expansão

do mercado desse produto.

Considerando que, desde as medidas iniciais,

de emergência e preparatórias, sempre se considerou

que a solução integral e a mais conveniente à econo-

mia nacional para as dificuldades da indústria açucarei-

ra, está em derivar para o fabrico do álcool industrial

uma parte crescente das matérias-primas utilizadas

para a produção de açúcar. (...) considerando que o

consumo de álcool industrial oferece um mercado

cada vez maior, com possibilidades quase ilimitadas

(Velloso, 1952, p. 85).

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O Estatuto de criação do IAA ilustra o alto grau

de controle que o IAA teria sobre a produção alcoo-

leira. Vale ainda ressaltar que devido à complexidade

do assunto, o Instituto criaria uma Secção para cuidar

das questões especificas da produção alcooleira, - a

Secção do Álcool-Motor -. Assim, essa Secção cuida-

ria do:recebimento do álcool destinado à mistu-

ra, entrega da parte pertencente às companhias e

empresas importadoras de gasolina, preparação e

venda do novo carburante para as repartições pú-

blicas e distribuição por todos os centros de con-

sumo (IAA, 1942, p. 323).Essa Secção era responsável por todas as ope-

rações relativas ao álcool, estipuladas anualmente nos

planos de safra elaborados pela Comissão Executiva.

Não por acaso, inicialmente, as suas funções se res-

tringiram principalmente para a produção e comer-

cialização do álcool-anidro resultante de sua mistura

à gasolina. Assim, tão-somente com o advento da Se-

gunda Guerra Mundial, passaria a abranger também

o controle da produção e da distribuição do álcool

hidratado. Foi graças a essa Secção que o Instituto

conseguiu implementar a política de difusão do em-

prego do álcool-motor nos automóveis oficiais e par-

ticulares, o que acabou minando as resistência iniciais

ao consumo do álcool-motor (Szmrecsányi, 1979, p.

227-228).

Diante dos diagnósticos apresentados acerca

do agravamento da crise do setor açucareiro, em

1932, o Governo implementaria uma forte campa-

nha para a divulgação do álcool-motor, chegando a

autorizar misturas contendo 60% de álcool de baixa

qualidade com 40% de gasolina. Além disso, para in-

centivar o consumo, o preço da mistura foi fixado em

$875,00 em concorrência aos 1$100 cobrados pela

gasolina na Capital Federal. Não por acaso, a incidên-

cia de variação da percentagem das misturas de re-

gião para região era o principal problema relatado no

período. Tal fato é perceptível quando comparamos

as misturas utilizadas em Pernambuco e no Distrito

Federal. Enquanto no primeiro estado, a mistura era

composta de 94% de álcool hidratado, no segundo

caso, o álcool representava somente 10,2% (Truda,

1937, p. 97).

Claro está que um dos primeiros problemas

sérios que o IAA deveria resolver era a questão do

aperfeiçoamento da mistura carburante, para que

não houvesse problemas de danificação dos moto-

res. Essa parte ficaria a cargo do Instituto Nacional de

Tecnologia. Em relação a esse aspecto, o seu diretor

Ernesto Lopes da Fonseca Costa, em setembro de

1934, discorre em seu relatório para a Presidência do

IAA:

As experiências realizadas na França e na

Alemanha, tendo por base a natureza da gasolina

e os tipos de motor e carburador comumente uti-

lizados nesses países, levaram os respectivos go-

vernos a fixar o carburante álcool-gasolina na pro-

porção de perto de 25% de álcool anidro e 75%

de gasolina. As experiências realizadas na América

do Norte confirmaram, porém, esses resultados,

ou porque fosse diferente a gasolina empregada

ou porque fossem diversos os tipos de motor ou

carburador. Era imprescindível, por conseguinte,

que o Instituto Nacional de Tecnologia procuras-

se resolver, diretamente o assunto, estabelecen-

do, de modo sistemático, ensaios sobre todos os

tipos de mistura com as diferentes gasolinas que

vêm ao nosso mercado e o maior número possível

de motores, antigos e modernos de forma a ob-

ter conscientemente, a melhor fórmula da mistura

carburante a ser utilizada no país (Brasil açucarei-

ro, 1934, p. 13).

Vale ainda ressaltar, nesse estudo, a própria

conclusão do Instituto. Segundo o IAA, as vantagens

dessa mistura era a resistência a detonação, devido

ao valor anti detonante do álcool. Além disso, a me-

lhoria do índice de octana sobre a própria gasolina

pura, a potência do motor permanece praticamente

constante, apesar do maior poder calorífico da mis-

tura, maior aceleração e consumo praticamente igual

ao da gasolina pura. As experiências que levaram a

percentagem ideal de álcool em carros com motores

a gasolina foram relatadas pelo engenheiro Eduardo

Sabino de Oliveira:

As experiências por nós executadas nos

laboratórios do Instituto Nacional de Tecnologia

mostraram que, embora várias marcas de motores

aceitem misturas de percentagem relativamen-

te elevadas de álcool (25%) devido à riqueza da

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mistura fornecida pelos respectivos carburadores,

há vários outros motores que não aceitam senão

percentagens reduzidas, notadamente os moto-

res Ford 1934 e La Salle 1934, que não toleram

mais que 10% de álcool anidro sem necessidade

de regulagem da carburação. Assim sendo, a mis-

tura está fixada: 90% de gasolina e 10% de álcool

anidro (Oliveira, 1942, p. 28).

O IAA teria um sucesso maior ao diversificar

os incentivos à produção alcooleira, como na atuação

paralela de incentivar as destilarias privadas e cons-

truir destilarias estatais. Dessa forma, a primeira des-

tilaria privada montada com incentivos do Instituto

foi construída em Piracicaba e pertencia à Société de

Sucreries Brésiliennes. A sua capacidade inicial seria de

12.000 litros, mas, em 1933, já produzia 100.000 li-

tros de álcool anidro. O Instituto também construiria

duas destilarias centrais, uma em Campos e outra em

Pernambuco.

O projeto inicial era construir três destilarias

centrais localizadas nos estados de Pernambuco, Rio

de Janeiro e São Paulo. Porém, só as destilarias cen-

trais dos dois primeiros estados seriam construídas,

porque os produtores paulistas preferiram o apoio do

IAA para dotar cada usina individualmente de destila-

rias particulares. Porém, os produtores ainda manti-

nham certo receio em relação à produção de álcool

anidro, principalmente porque, o preço do açúcar era

mais elevado. Essa situação só mudaria com o adven-

to do Estado Novo e as conseqüências da Segundo

Guerra, que favoreceram enormemente a produção

alcooleira (Guimarães, 1991, p. 148-153).

Dessa forma, o IAA teria que solucionar a ques-

tão dos preços, deixada pendente durante a atuação

do CEAM e da CPDA. Como já foi dito, os produto-

res se recusavam a converter os seus excessos devido

aos baixos preços do álcool. Assim, apesar dos esfor-

ços do Presidente do IAA, Leonardo Truda, durante

os anos de 1932 e 1937, a produção alcooleira não

tomaria fôlego. Guimarães afirma que “enquanto os

preços do álcool bruto e hidratado ficaram liberados

no mercado, o preço do álcool anidro permaneceu o

mesmo e mais baixo que os outros dois, no período

1934 e 1941. Somente a partir de 1942, em virtude

da Guerra e da pressão dos produtores, foi que o IAA

tomaria uma série de resoluções referentes ao álco-

ol combustível e, entre essas, estaria a elevação do

preço de compra do álcool anidro dos produtores.

(Guimarães, 1991, p. 76).

Segundo palavras de Gileno Dé Carli, o Institu-

to não teve outra saída para implantar definitivamente

a indústria alcooleira senão tomar para si a instalação

das destilarias centrais e a fixação do preço do álcool

pelo IAA.

Se o Instituto estivesse enveredado, exclu-

sivamente pela solução de empréstimos a particu-

lares, com a educação econômica dos produtores

brasileiros, teríamos de arcar com inúmeros tro-

peços e obstáculos. Em primeiro lugar, o exclusi-

vismo industrial tornaria difícil proporcionar den-

tro de sua fábrica, um trabalho de sentido coletivo.

Depois, a ambição natural do usineiro, encontran-

do melhores preços para o açúcar que para o ál-

cool, procuraria sempre a produção que melhor

atendesse o seu interesse. Seria difícil finalizar a

exata aplicação das percentagens de açúcar e de

álcool, para a vazão de toda a produção canaviei-

ra. Ficaria para a solução dos excessos, o Instituto

subordinado ao interesse do usineiro, quando este

é que deve estar sob a vontade do Estado. Por to-

dos esses motivos, e, sendo a destilaria central um

órgão de equilíbrio entre a produção e o consumo,

é plenamente louvável à orientação do Governo

Federal, pendendo para a instalação das destilarias

centrais (Dé Carli, 1939, p. 153).

Em várias ocasiões, como nos congressos orga-

nizados pelo Instituto, os dirigentes explicitavam essa

defesa. Entretanto, a mudança em relação ao posi-

cionamento dos produtores em relação ao álcool só

ocorreria após a implantação do Estado Novo. Para

Gnaccarini, a indústria álcool-motora teria um novo

destaque nesse período, pois a “questão do açúcar

como um problema nacional e a idéia do dirigismo es-

tatal firmava-se na ideologia dominante”. (Gnaccarini,

1972, p. 72).

Releva assinalar que, nesses anos, ocorreria um

acerbamento da crise de produção, o que levou mui-

tos produtores de açúcar a repensarem o papel da

indústria alcooleira. Esse novo posicionamento modi-

ficou a própria matéria-prima utilizada na fabricação

do álcool, que passou a ser feito realmente com os

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excessos da produção açucareira. Como se sabe,

durante o Governo Provisório, o álcool era feito so-

mente com os resíduos do açúcar e as sobras dos

canaviais.

Segundo Guimarães, essa nova fase da indús-

tria alcooleira foi um reflexo direto da ampliação dos

poderes do Estado após o golpe que daria início ao

Estado Novo. Dessa forma, o IAA também ganharia

mais força para atuar. Assim, o autor defende que:

isso permite reconhecer que, a partir do

Estado Novo, a idéia do dirigismo econômico,

combatido pelos produtores açucareiros, passaria

a se configurar na política dominante do IAA. As

mudanças ocorridas na estrutura administrativa do

IAA, fazendo com que ocorressem mudanças na

composição da Comissão Executiva, bem como a

criação de diversas seções referentes à produção

açucareira e alcooleira, de demonstra a inserção

da agroindústria canavieira no projeto corporativo

do Estado Novo (Guimarães, 1991, p. 94).

O forte crescimento industrial do período in-

centivaria a indústria alcooleira, em razão dos eleva-

dos gastos com a importação de petróleo. Durante

o período da Guerra até 1943, o país gastou Cr$

4.137.528.000,00 só com a importação de petróleo

e derivados. Assim, o álcool passou a ser visto tam-

bém como uma forma de poupar divisas. Além disso,

o IAA desenvolveria estratégias para convencer a po-

pulação da importância do álcool-motor, através de

congressos, patrocínios de corridas, como no caso

da Subida da Tijuca, em 1938 e o Grande Prêmio da

Cidade do Rio de Janeiro, em 1939. O principal obje-

tivo do Instituto era aumentar o consumo nas cidades

mais industrializadas, como no caso de São Paulo, que

já consumia no período 50% da gasolina importada.

(Guimarães, 1991, p. 97-103).

Em 1938, o IAA, numa atuação conjunta com

o Conselho Federal de Comércio Exterior, obrigaria

as companhias importadoras de gasolina a manterem

bombas destinadas à distribuição de álcool anidro.

Nesse caso, essas medidas pretendiam conciliar as

disposições referentes ao petróleo e o álcool anidro.

Mas o principal foco era atender a “imperiosa necessi-

dade de proteger e desenvolver a indústria de fabricação

do álcool anidro”, como forma de “debelar as crises de

superprodução da indústria açucareira, estabelecendo o

equilíbrio entre a produção e o consumo” e da mesma

forma “diminuir a importação de carburante estrangei-

ro”. (Conselho Federal do Comércio Exterior, 1944,

p. 83-84).

Em 1940, o país já possuía 38 destilarias de álco-

ol anidro, com capacidade anual de produção de 85,8

milhões de litros anuais. O plano de safra 1940/41 au-

torizou os produtores a dissolver o açúcar de excesso

de sua produção, transformando-o em álcool de qual-

quer tipo. Dessa forma, 43% da produção do álcool

registrada naquela safra foi proveniente diretamente

da cana ou de açúcar dissolvido. A produção de álcool

anidro também atingiu 67 milhões de álcool anidro,

superando, pela primeira vez, a produção de álcool

hidratado. Já nesse ano, 60% da gasolina importada,

que orçou em 598 milhões de litros, possuía uma per-

centagem de álcool. (Santos, 1997, p. 61-64).

Em 21 de fevereiro de 1941, com a resolução

da Comissão Executiva, o Instituto daria um novo im-

pulso para a indústria alcooleira, com a elevação para

20% do teor da mistura álcool-gasolina. Tal medida

foi tomada em razão do aumento da produção de ál-

cool anidro nas destilarias do país e a conseqüente

necessidade de escoar essa produção. Pode-se dizer

que a partir desse momento, iniciou-se uma política

mais acentuada do setor alcooleiro, pois não levaria

em conta a capacidade de consumo do país ou as in-

dicações técnicas, mas sim as necessidades de esco-

amento da produção das destilarias. (Velloso, 1952,

p. 524).

Alguns meses depois, o Estado criaria a Comis-

são Nacional de Combustíveis e Lubrificantes. Essa

Comissão era composta pelo Presidente do Conselho

Nacional do Petróleo, pelo Presidente da Comissão

Executiva do IAA, por um membro da Comissão Na-

cional de Gasogênio e por um membro do Conselho

de Minas e Metalurgia. No entanto, percebe-se a im-

portância vital dessa Comissão ao verificarmos que

dentre os seus quadros constava um representante

do Ministério da Guerra, um do Ministério da Mari-

nha e um do Ministério da Aeronáutica. Além disso, a

sua sede localizar-se-ia na Sede do Conselho Nacio-

nal de Segurança, cujo Secretário Geral teria o voto

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de minerva. A função da Comissão seria coordenar

a política geral da produção e distribuição de álcool.

(Velloso, 1952, p. 459-460).

O que se pode desprender desse período, em

relação à produção alcooleira, é a mudança do posi-

cionamento tanto dos dirigentes da política de defesa

da produção alcooleira como da própria população.

Em 1930, o álcool era visto como uma atividade al-

ternativa, isto é, uma forma de minorar a crise de su-

perprodução açucareira.

Pode-se dizer que a ação governamental para

estimular a produção e o consumo do álcool-motor

foi o principal responsável pelo desenvolvimento des-

sa indústria. Para isso, o Governo muitas vezes teve

que impor as suas decisões aos produtores. Assim, a

aceitação relativa a essa política foi uma conseqüência

do papel de financiador do Instituto como: os em-

préstimos para a construção de destilarias particula-

res, a construção de destilarias centrais nos estados

mais afetados pela crise do açúcar, a facilitação para

a importação de maquinários, a isenção de impostos

para a produção do álcool-motor, a utilização do álco-

ol nos automóveis oficiais para incentivar o consumo.

O Instituto atuou como o principal responsável pelas

pesquisas na área de aperfeiçoamento do carburante

e pela fiscalização e distribuição da produção alcoo-

leira nacional. Enfim, claro está que o IAA controlaria

quase que na sua totalidade esse setor produtivo.

Retomar-se-ia à velha ideologia defendida

pela SNA, que delegava ao álcool a tarefa de tábua

salvadora da indústria açucareira, ou seja, um fator

de equilíbrio. Essa seria a forma de conter a crise de

superprodução sem limitar a expansão dos canaviais.

Tal ideologia fica explicita nas palavras do primeiro

presidente do IAA, Leonardo Truda:

Limitar, porém, a produção açucareira,

como essa limitação a entendemos e nas condi-

ções a que a subordinamos, não importa, absolu-

tamente, estancar uma fonte possível de riqueza,

impedindo a uns de abeberar-se nela, para que ou-

tros não o deixem de fazer. Ao contrário, o que se

quer é defender mais eficientemente essa rique-

za, é resguardar a riqueza atual, para aumentá-la

quando esse primeiro objetivo haja sido realiza-

do, mediante uma obra indispensável mais relati-

vamente fácil, de adaptação e de transformação.

Essa defesa, que queremos tornar definitiva, é a do

açúcar pelo álcool (Truda, 1971, p. 57).

Essa defesa ganharia ainda mais força com a

deflagração da Segunda Guerra. Os dirigentes do Ins-

tituto passaram a afirmar de forma mais enfática que

a produção do carburante nacional auxiliaria o país a

poupar divisas e a direcionar uma parte da produção

açucareira para essa indústria, já que as exportações

não aumentaram no período. Generalizava-se, por

essa via, a defesa do álcool-motor. A despeito dos di-

versos problemas, o Instituto conseguiria fortalecer

a produção alcooleira no país, criando as bases para

a sua futura expansão, como podemos observar no

gráfico abaixo:

Fonte: (Anuário Açúcareiro, 1941, p. 149).

Joaquim de Melo, redator do Brasil Açucareiro,

- o mais importante meio de divulgação da ideologia

dominante do Instituto do Açúcar e do Álcool -, expli-

cita claramente a ideologia que se formou em torno

da indústria alcooleiro ao afirmar que:

As usinas eram como velhas imprudentes

que desperdiçavam a sua riqueza, produzindo-a

excessivamente e depreciando-a cada vez mais.

As destilarias são os filhos moços que, educados

na economia e na técnica moderna, corrigíramos

desperdícios paternos, transformando-os em no-

vas riquezas.

À guisa de conclusão, poderíamos dizer que a

construção da indústria alcooleira, no Brasil, surgiu

da necessidade de controlar a crise de superprodu-

ção. Mais ainda, a execução das medidas de natureza

econômica voltadas para a produção alcooleira, prin-

cipalmente para recuperar uma produção há séculos

ameaçada por uma crise quase ininterrupta, não era

novidade no país, nem as medidas adotadas na sua

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maioria o eram. Acerca de tudo o que foi exposto,

não se pode deixar de pressentir que a indústria al-

cooleira estruturou-se segundo os planos traçados,

desde a Primeira República, pelo MAIC e pela SNA.

Debalde todos os esforços dos seus ideólogos, o ál-

cool não conseguiu a relevância esperada. Nesse

sentido, releva notar que esse ainda era um produto

novo. Assim, a sua expansão no pós-30 viria apoiada

na própria conjuntura do período, ou seja, havia um

pensamento econômico e político propícios a uma

maior intervenção estatal no setor, o que levaria à

aplicação de quase todas as medidas propostas, - fato

inimaginável no período predecessor.

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Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009

MEIRA, R. B.

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Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)

Thalyta Christie Braga Rabêlo1

Mestranda em Engenharia Química pelaUniversidade Federal de Alagoas - UFAL

Visando produzir uma bebida fermentada com características quí-micas, aromáticas e sensoriais de vinho, foi realizado experimento de fermentação alcoólica utilizando suco de abacaxi, como subs-trato. Em razão de o teor de açúcares presentes no mosto não ser suficiente para atingir a graduação de vinho de mesa, foi necessária a adição de açúcar. Observa-se que o suco de abacaxi, como os de outras frutas, é meio propício para fermentação alcoólica, atingin-do, com a adição de açúcar, teor alcoólico de cerca de 11 % em volume. A finalização do produto final foi feita com ajustes das con-centrações por adição de etanol e de açúcares totais para atingir 16 % e 9,5 %, respectivamente.

Palavras-Chave: Fermentação; abacaxi; vinho.

Production of alcoholic fermented from pineapple juice (Ananas comosus)

Thalyta Christie Braga Rabêlo .Correspondência: Rodovia AL 101 Norte, 235, Garça Torta.- Maceió – AL – Brasil. Endereço eletrônico: [email protected]

1

RESUMO

Aiming to produce a fermented beverage with chemical characteris-tics, as flavor and taste of a wine, alcoholic fermentation experiments were carried out with the use of pineapple juice. Since it was found that the amount of sugar in the fresh juice was not enough to meet the standard alcoholic grade of a table wine, more sugar was added. It is observed that the pineapple juice, similarly to juices from other fruits, enables fermentation environment, meeting, with the addition of sugar, alcoholic content of about 11 % in volume. The completion of final product was made with adjustments by the addition of con-centration of 16 % ethanol and 9.5 % total sugar, accordingly.

Keywords: Alcoholic fermentation; pineapple; wine.

ABSTRACT

RESUMEN

Elaboración de fermentación alcohólico desde el jugo del ananás (Ananas comosus)

Proponiéndose producir una bebida fermentada con caracte-rísticas químicas, aromáticas y sensoriales de vino, ha sido realizado ex-perimento de fermentación alcohólica utilizando jugo de ananás como sustrato. Por el hecho de el tenor de azucares presente en el mosto no ser suficiente para lograr la graduación característica del vino de mesa, ha sido necesaria el añadido de azúcar. Amaitinase que el jugo de ana-nás, como los de otras frutas, es un medio propicio para fermentación alcohólica, logrando, al añadirse el azúcar, tenor alcohólico alrededor de 11 % en volumen. La finalización del producto final he sido hecha con arreglos de las concentraciones por añadido de etanol y de azuca-res totales al fin de lograr los 16 % y los 9,5 %, respectivamente.

Palabras-claves: Fermentación; ananás; vino.

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INTRODUÇÃO

O Brasil, pelo clima dominante em grande par-

te do território, destaca-se como propício ao desen-

volvimento da fruticultura tropical. Há, no entanto,

ainda, grande desperdício no processamento pós-

colheita de muitas culturas, com significativas perdas

econômicas para o produtor e para o consumidor fi-

nal. [14], [17].

Do ponto de vista do metabolismo celular das

leveduras, as matérias-primas utilizadas na produção

de bebidas fermentadas podem ser diretamente ou

indiretamente fermentescíveis. Entre as frutas tropi-

cais, o abacaxi (Ananas comosus) destaca-se por ser

de relativamente fácil manejo, cultivo e de alto valor

energético; é rico em carboidratos fermentescíveis e

o suco proporciona ótimas condições à fermentação

alcoólica. A conversão desses açúcares em etanol é

realizada com o emprego de leveduras, agentes da

fermentação alcoólica, utilizados em escala industrial.

Vários estudos (Faria, 1994; Dias, 1996; Abreu,

1997) têm sido realizados visando minimizar a perda

de matérias-primas, através da elaboração de bebi-

das, como vinhos suave, seco gaseificado, suave ga-

seificado etc. Porém, a obtenção de um produto com

padrão de qualidade aceitável ao consumo, como

vinho de frutas, ainda depende de alguns fatores a

serem estudados (Casimiro et al., 1989; Medeiros,

1990). [1], [22].

Alternativas visando a redução dos desperdí-

cios na pós-colheita com agregação de valores, como

bebidas fermentadas, podem ser obtidas por proces-

sos de industrialização de frutos, obtendo-se produ-

tos que pode ser armazenados por períodos mais

longos.

Praticamente toda fruta pode ser utilizada na

produção de um fermentado alcoólico ou vinho. En-

tretanto, não há uma tecnologia totalmente voltada

para a produção de vinho que não seja de uva, no que

se diz respeito à levedura a ser utilizada, à tempe-

ratura ideal de fermentação, à forma de preparo do

mosto e às condições da fermentação.

As tecnologias vinícolas tiveram de ser adequa-

das, historicamente, em evolução tecnológica, mui-

to baseadas na experiência individual de técnicos e

pequenos produtores, ou em escala empresarial. A

essas experiências somam-se recentes avanços cientí-

ficos que estão sendo obtidos através de investimen-

tos na atividade produtiva, mais organizada em bases

mercadológicas. Contudo, pelas diferenças, sobretu-

do climáticas, inerentes às regiões tropicais (onde a

videira vegeta durante todo o ano, produzindo uvas

em períodos - de inverno, por exemplo - não tra-

dicionais, não comparáveis ao regime de cultivo de

regiões temperadas, ou mesmo ao longo de todo o

ano), há muito o que se conhecer para se caracterizar

a região tropical como potencial de desenvolvimento

vitivinícola. O mesmo ocorre com a tecnologia apli-

cada à produção de vinhos de frutas tropicais, que

ainda está por ser desenvolvida, mesmo em contexto

internacional.

Os vinhos tropicais são comumente produzi-

dos em volumes comparativamente menores, não

são conhecidos do consumidor, tampouco no mer-

cado internacional. Pode-se dizer que os vinhos tro-

picais ainda não criaram identidade própria. É pre-

ciso, ainda, enfrentar o desafio de se ampliar a base

tecnológica para se seguir avançando em qualidade,

bem como conquistar espaço e competitividade no

mercado. Certo é que os vinhos tropicais possuem

características particulares que poderão ser progres-

sivamente valorizadas no plano competitivo em rela-

ção aos produtos tradicionais. Por outro lado, consta-

ta-se que cada país produtor de vinhos tropicais tem

trabalhado, isoladamente, nesse propósito. Por este

diagnóstico, fica evidente que toda ação articulada

entre os países produtores de vinhos de regiões tro-

picais possibilitaria avançar mais rapidamente, através

de mecanismos de intercâmbio de experiências e de

tecnologias, bem como através de estratégias comuns

de promoção da qualidade e da imagem dos vinhos

tropicais no mundo.

A fermentação alcoólica de suco de frutas pro-

duz álcool etílico, como produto principal, e muitos

outros componentes secundários, como o glicerol, al-

deídos, metanol, alcoóis superiores, ácidos e ésteres,

que contribuem para as características sensoriais dos

produtos fermentados. A natureza e a qualidade dos

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PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

componentes dependem da matéria-prima utilizada,

das características do agente da fermentação, da con-

dução do processo e do sistema de envelhecimento

(Dato et al., 2005).

As reações enzimáticas responsáveis pela trans-

formação química do açúcar em etanol e gás carbôni-

co acontecem no interior da levedura: a molécula de

glicose é metabolizada por um processo anaeróbico

constituído de doze etapas, culminando com a trans-

formação em etanol e gás carbônico. Cada reação é

catalisada por uma enzima especifica e todo processo

enzimático acontece no citoplasma celular. A reação

global pode ser genericamente representada pelas

equações químicas: [4], [8], [12], [13]

Figura 1 – Fluxograma do processo de produção do fermentado alcoólico de suco de abacaxi.[17]

A figura 1 apresenta o fluxograma das eta-

pas do processo de produção do fermentado alco-

ólico partir de suco de abacaxi.

Foram adquiridos cerca de 47kg do fruto, de

fornecedores comerciais, do mercado público de

Maceió, AL. Os frutas foram previamente seleciona-

das, passaram pelo processo de sanitização com a fi-

nalidade de redução da carga microbiana impregnada

na casca. Foi retirada a casca, reservada e aproveita-

da para a produção de polpa e de licor.

A extração do suco da polpa foi feita utilizan-

do-se liquidificador industrial e despolpadeira, a fim

de se obter o máximo de rendimento em mosto. A

polpa foi filtrada, inicialmente, com peneira de ma-

lha de 1,0mm e, posteriormente, em peneira de 0,3

mm, visando retirar o máximo de resíduo sólido. Do

filtrado, foi recolhida amostra para as determinações

químico-analíticas.

O mosto (suco de abacaxi), inicialmente com

12,1Brix, foi adicionado ao fermentador e processa-

da a adição de fermento. Foi utilizado fermento gra-

nulado seco (levedura, Saccharomyces cerevisiae) co-

mercialmente utilizado em panificação. A proporção

utilizada foi de 20g para 8,5L de mosto.

A adição do mosto ao fermentador foi feita em

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Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)

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61

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Resultados analíticos do suco de abacaxi uti-lizado na fermentação:

SUCO do ABACAXI (MOSTO)BRIX 12,1ACIDEZ (g/100g) 0,609pH 3,79A.R. (g/100g) 2,40A.R.T (g/100g) 9,71SACAROSE (g/100g) 6,94

três etapas, com intervalos de 24horas entre uma e

outra alimentação. Antes de cada alimentação era fei-

ta a determinação do Brix do meio em fermentação.

Depois da última alimentação, quando o meio

atingiu Brix “zero”, foi processada adição de açúcar

(chaptalização) visando elevar o teor alcoólico ao li-

mite máximo suportado pela levedura. Após atingir o

limite máximo de etanol, o meio fermentado foi divi-

dido em duas partes: uma foi considerada “vinho de

mesa”; na outra, a concentração de etanol e de açú-

cares totais foram corrigidas, respectivamente, para

17 % e 12 %, visado a obtenção de um fermentado

alcoólico do tipo “vinho fortificado” licoroso, como

Porto ou Xerez.

Análises físico-químicas

Para monitoramento das características quími-

cas do fermentado, utilizou-se métodos analíticos de:

(i) refratometria para medição do índice de refração

das soluções e sua conversão a sólidos solúveis totais

(Brix); (ii) método Eynon-Lane para se obter o teor

de açúcares redutores (A.R.) e de açúcares redutores

totais (A.R.T.); (iii) potenciometria para determinação

do pH; (iv) titulometria para determinação da acidez

total e (v) ebuliometria para determinação do teor al-

coólico. [7], [11].

Figura 2 – Resultados analíticos do suco de abacaxi

De acordo com os resultados apresentados na

figura 2, observa-se que o Brix do suco é relativamen-

te baixo se comparados com o suco de uva, que pode

chegar a 25 g/100 mL de açúcares totais. Este valor

daria, previsivelmente, um teor alcoólico de cerca

12,5% v/v, concentração típica de vinho de mesa.

Como no suco de abacaxi a concentração de

açúcar é de 9,71 %, o teor alcoólico máximo a ser

atingido seria de cerca de 4,9 a 5,0 % (vol/vol). Para

elevar o teor alcoólico a cerca de 12,5 % foi necessá-

rio adicionar açúcar (chaptalização) ao meio em fer-

mentação.

A relação entre o suco extraído e o peso total

dos frutos foi de 0,649 L/kg ou de 64,9 %. Consi-

derando uma perda de cerca de 25 %, durante as

operações de clarificação, trasfegas, filtração e outros

tratamentos finais, o rendimento deverá ser de cerca

de cerca de 490 L de vinho por tonelada de abacaxi.

Com relação aos resíduos do processo de ex-

tração do suco os seguintes dados são expressos na

tabela da figura 3:

Resíduos CascaBagaço da

despolpadeira(kg/kg) 0,306 0,08

Figura 3: Resíduos gerados por cada quilo de fruto processado

Uma parte da casca foi utilizada na elaboração de li-

cor, o restante, em polpa congelada visando a pro-

dução de suco. Com do bagaço foi elaborado o licor,

além do doce fibroso. Portanto, foi utilizado o resíduo

por completo com a finalidade viabilizar um aprovei-

tamento total dos frutos.

Fermentação e Obtenção do Fermentado:

Dos resultados químico-analíticos do suco do

abacaxi, observou-se que se trata de uma amos-

tra de fruto com acidez elevada, mas não a ponto

de inibir a fermentação alcoólica. A fermentação

ocorreu durante 20 dias. Foi obtida uma bebida

com graduação alcoólica de 11,6 °GL. O proces-

so ocorreu de acordo com gráfico apresentado na

figura 3.

Figura 4 – Evolução da produção de etanol durante o processo fermen-tativo

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Para se conseguir vinho com teor alcoólico

mais elevado, adicionou-se, progressivamente, açú-

car ao mosto em fermentação até o limite de tolerân-

cia de teor alcoólico pela levedura. Esse limite foi um

teor alcoólico de 11,6 GL.

Sabe-se, porém, que para vinhos de outras fru-

tas que não seja uva (como de abacaxi) tornarem-se

encorpados e com boas características sensoriais, o

substrato deve possuir teor alcoólico e concentra-

ções dos açúcares nos níveis de vinhos fortificados,

como o Porto e o Xerez. São, portanto, necessários

ajustes do teor alcoólico para cerca de 16,0 GL e de

açúcares redutores para 9,5 g/100 g.

CONCLUSÃO

De acordo com os dados obtidos conclui-se que:

•A concentração dos açúcares redutores totais no mosto é suficiente para se conseguir um teor alcoólico no vinho de apenas 5,0 a 5,5% de eta-nol, em volume (GL);

•Para se conseguir um vinho com teor alcoólico mais elevado, é necessário adicionar açúcar ao mosto em fermentação, até o limite de tolerân-cia de teor alcoólico suportado pela levedura. Esse limite foi um teor alcoólico de 11,6 GL;

• Sabe-se, porém, que para vinhos de outras frutas que não seja uva (como, neste caso, de abacaxi), tornarem-se encorpados e com boas características sensoriais, devem possuir teor alcoólico e concentrações dos açúcares nos níveis de vinhos fortificados como o Porto e o Xerez. São, portanto, necessários ajustes do teor alcoólico para cerca de 16,0 GL e de açú-cares redutores para 9,5 g/100g;

•O rendimento em “vinho” por tonelada de aba-caxi é da ordem de 500 L/ton;

• Foi observado que as características sensoriais do produto obtido são, com o produto ainda recém produzido, de regular a bom. Entre-tanto, para se ter uma conclusão final, deve-se deixar envelhecer o vinho por um período de seis meses a um ano. Esse é o procedimento comum a qualquer processo de produção de

bebida alcoólica, fermentada ou destilada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 58 - 63, segundo sem. 2009

Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)

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[16] SILVA, P.H.A.; FARIA F.C.; TONON, B.; MOTA, S.J. D; PIN-TO, V.T.; Avaliação da Composição Química de Fermentados Al-coólicos de Jabuticaba (Myrciari jabuticaba); Química Nova, Mar. 2008.

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[18] ROSSI, N.D.; TAMBOURGI, E.B.; Recuperação e Concen-tração da Bromelina, a partir do Abacaxi Utilizando Pro-cesso de Separação por Membrana; XIII Congresso Interno de Iniciação Cientifica da UNICAMP, Faculdade de Engenharia Química - FEQ, UNICAMP; 28 e 29 Setembro 2005.

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[21] http://www.ibravin.org.br/ < Acesso em: 24 Nov. 2007>.

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SEÇÃO SOBREEDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Formação de professores para o uso de tecnologias com-putacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia

Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga1

Doutoranda em Psicologia Educacional pelaUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Roberta Gurgel Azzi2

Docente do Departamento de Psicologia Educacional daUniversidade Estadual de Campinas- UNICAMP

O artigo tem como objetivo promover uma reflexão sobre a potencial contribuição do constructo de auto-eficácia no plane-jamento de programas de formação de professores para o uso de tecnologias no ensino, a partir da apresentação de alguns estudos internacionais. Os estudos apontam que a falta de uso do computa-dor no ensino pelos professores pode estar relacionada a uma baixa auto-eficácia computacional e que programas de formação podem auxiliá-los a aumentarem sua auto-eficácia para o uso didático de tecnologias.

Palavras-Chave: tecnologias no ensino; auto-eficácia; formação de professores.

Teacher training for the use of computer technology in education: consid-erations on the importance of self-efficacy

Cacilda Encarnação Augusto AlvarengaCorrespondência:Av. Alexandre Cazelato, 2689, 21-A,Paulínia - SP -.Brasil - CEP – 13140-000Endereço eletrônico: [email protected]

Roberta Gurgel AzziCorrespondência: Alameda Gomides de Olivieria, 811.- Bragança Paulista - SP – Brasil – CEP 12919-601. Endereço eletrônico: [email protected]

1

2

RESUMO

The objective of the paper, based in international studies, is to promote a reflection on the potential contribution of self-efficacy in the planning of training programs for teachers in order to allow them to use technologies for teaching. Studies indicate that the lack of the computer usage in teaching can be related to a low computa-tional self-efficacy and that training programs can assist teachers to increase their self-efficacy to use technologies for teaching.

Keywords: technology in teaching; self-efficacy; training teachers.

ABSTRACT

RESUMEN

Formación de profesores para el uso de tecnologia informática em la edu-cación: consideraciones sobre la importância de la autoeficacia

El artículo tiene como objetivo promover una reflexión so-bre el potencial contribución de la autoeficacia en el planejamento de programas de calificación de profesores para el uso de las tec-nologías en la enseñanza, a partir de estudios internacionales. Los estudios señalan que el no uso didáctico de la computadora por los profesores se puede relacionar con la autoeficacia baja y que los programas de calificación pueden asistir a los profesores para au-mentar su autoeficacia para el uso de tecnologías en la enseñanza.

Palabras-claves: tecnologías en la enseñanza; autoeficacia; calificación de profesores.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65 - 71, segundo sem. 2009

ALVARENGA, C. E. A. & AZZI, R. G.

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66

INTRODUÇÃO

As tecnologias de informação e comunicação

têm mediado, cada vez mais, processos econômi-

cos, sociais e culturais. A grande maioria das pessoas

não ignora a importância dessas tecnologias nas mais

diferentes esferas da vida: estudo, trabalho e lazer.

O não-acesso às tecnologias, especialmente as de

informática, é visto como um problema denomina-

do “exclusão digital”, que pode causar desemprego

e desigualdades entre as pessoas. Conforme Silvei-

ra (2001), em uma sociedade considerada da infor-

mação, aqueles que não dominarem o computador

e a comunicação em rede, não souberem organizar,

processar e analisar informações, ficarão distantes da

produção de conhecimento e estarão sujeitos a se-

rem excluídos do mercado de trabalho.

Educadores que participaram, na condição de

alunos, tutores ou docentes, de um estudo realiza-

do por Augusto (2004), que teve entre seus objetivos

avaliar o uso didático das tecnologias de comunica-

ção e informação no ensino (computador, tele e vi-

deoconferência), tiveram opiniões semelhantes às de

Silveira (2001). Eles dizem que as tecnologias estão

presentes em praticamente todas as atividades do

dia-a-dia, conhecê-las é fundamental para inserir-se

no mercado de trabalho e não ser um “excluído digi-

tal” e, além disso, são fontes de interesse dos alunos

de hoje, imersos na chamada sociedade da comunica-

ção e informação e, portanto, precisam ser conside-

radas e incorporadas à educação.

Os estudos de Pfromn Neto (2001); Valente

(1999) e Niskier (2000; 1972); permitem constatar

que a televisão e o computador são as tecnologias de

informação e comunicação que mais têm sido utili-

zadas na educação. Programas de televisão educati-

vos podem assumir o papel da aula tradicional e os

vídeos (filmes, documentários etc) podem auxiliar

professores no ensino de conceitos mais dificilmente

compreendidos sem o recurso audiovisual (AUGUS-

TO, 2004). As tecnologias, como os ambientes mul-

timídia, tornam possível a apresentação de conteú-

dos de uma forma lúdica e dinâmica, facilitando, por

meio da associação entre textos, sons e imagens em

movimento, o entendimento dos alunos de conceitos

considerados abstratos, difíceis de serem entendidos

apenas a partir da leitura de um texto ou da explica-

ção do professor. “É muito mais fácil entender, por

exemplo, como age a insulina no corpo humano vi-

sualizando uma animação que simule o processo de

ação da insulina, do que somente lendo ou ouvindo

uma explicação” (AUGUSTO, 2003, p.39).

Zimmerman e Schunk (2003) destacam que,

segundo a visão de Bandura (1999), a aprendizagem

humana é um evento social no qual as crianças apren-

dem sobre o mundo ao seu redor por meio de transa-

ções sociais e recursos midiáticos. Grande parte des-

sa aprendizagem social não está sob o controle direto

de professores ou pais, mas surge do contato com

irmãos e irmãs, pares, colegas de trabalho e meios

de comunicação de massa. Constata-se, nesse con-

texto, a relevância de que os meios de comunicação

abordem conteúdos criteriosamente desenvolvidos e

sejam também diretamente incorporados ao ensino.

Experiências internacionais e iniciativas na-

cionais sobre o uso da informática na educação, na

década de 70 e início dos anos 80, contextualizam o

interesse do governo, do Ministério de Ciência e Tec-

nologia (MCT) e de pesquisadores na disseminação da

informática na sociedade e na implantação de progra-

mas educacionais voltados para uso do computador

na educação. Em 1997, foi criado o Programa Nacio-

nal de Informática na Educação (ProInfo), vinculado a

Secretaria de Educação a Distância – SEED, do MEC

(Ministério da Educação e da Cultura), que tem como

objetivo principal informatizar as escolas públicas e

auxiliar no processo de incorporação e planejamento

da nova tecnologia, no suporte técnico e na formação

dos professores e equipes administrativas das escolas

(TAKAHASHI, 2000).

Programas de formação de professores e ges-

tores da rede pública de ensino para utilização de

tecnologias da informação em sala de aula, como o

Programa Nacional de Formação Continuada em Tec-

nologia Educacional (ProInfo Integrado), implementa-

do pelo Ministério da Educação em abril de 2008 e

que tem como expectativa formar 240 mil professo-

res até 2010, vem sendo vistos como solução para

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Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia

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que os professores de Educação Básica consigam de

fato utilizar o computador e a internet como recur-

sos didáticos (INOVA BRASIL, 2008). A iniciativa,

sem dúvida, merece ser valorizada, e uma avaliação

do Programa, que investigue a prática dos professo-

res a curto, médio e longo prazo, poderá dizer se os

seus objetivos foram de fato atingidos, pois estudos

como os de Ertmer (2005), Hanks (2002), Ertmer et

al (1996) e Honey e Moeller (1990) mostram que por

mais que os professores tenham acesso às tecnolo-

gias computacionais e/ou passado por programas de

formação, muitos deles não foram capazes de inte-

grá-las às suas aulas de maneira efetiva. A natureza

do currículo a ser desenvolvido, a falta de tempo e a

capacidade para utilizar as tecnologias são fatores que

também podem influenciar o seu uso pelos professo-

res (ALBION, 1999).

Estudos internacionais sugerem que o pouco

uso do computador no ensino, pelos professores,

quando não há problemas de infra-estrutura ou a in-

terferência de outros fatores ambientais, pode estar

alicerçado em questões de confiança do professor

quanto a sua capacidade de usá-lo ou em suas crenças

de auto-eficácia. O baixo uso de recursos tecnológi-

cos no ensino pode significar um problema de baixa

auto-eficácia, ou seja, o professor não se percebe ca-

paz de utilizá-los para atingir os objetivos pedagógicos

esperados. Existe a necessidade, portanto, de mudar

a percepção dos professores para que eles possam

de fato ensinar utilizando-se de tecnologias computa-

cionais (ALBION, 1999; OLIVIER e SHAPIRO, 1993;

ERTMER et al, 2003, MILBRATH e KINZIE, 2000).

Programas de formação de professores para o uso

de tecnologias são apontados como uma estratégia

eficiente para que os professores mudem sua per-

cepção de eficácia e as utilizem no ensino (WATSON,

2006; ROSS, ERTMER e JOHNSON, 2001; WANG,

ERTMER e NEWBY, 2004; WANG e ERTMER 2003,

ERTMER et al, 2003; MILBRAT e KINZIE, 2000; FA-

SEYITAN, LIBII e HIRSCHBUHL,1996 e OLIVIER e

SHAPIRO,1993).

A partir dos dados de alguns desses estudos

realizados, a proposta do artigo é promover uma re-

flexão sobre a potencial contribuição do constructo

de auto-eficácia, formulado por Bandura (1997), no

planejamento de condições de formação de profes-

sores para o uso de tecnologias. A compreensão de

como os programas de formação de professores para

o uso de tecnologias podem auxiliá-los na alteração

da auto-eficácia requer o entendimento do conceito

de auto-eficácia e de como ela é construída, apresen-

tados a seguir.

As crenças de auto-eficácia:conceito e como são construídas

As crenças de auto-eficácia, de acordo com

Bandura (1997, p.3), referem-se às “crenças que um

indivíduo tem para organizar e executar cursos de

ação que são requeridos para produzir certas reali-

zações”. Essas crenças, em outras palavras, consti-

tuem-se em percepções de confiança que o indivíduo

tem sobre sua capacidade para realizar determinadas

ações, as quais têm se mostrado poderosas predito-

ras de comportamento. Para Bandura (1997), as pes-

soas agem muito mais por meio de suas crenças de

auto-eficácia do que pelo que são realmente capazes

de realizar. Conforme Pajares e Olaz (2008), essas

crenças ajudam a determinar o que os indivíduos fa-

zem com seus conhecimentos e habilidades.

A “auto-eficácia computacional” é definida

como a crença do indivíduo em sua capacidade para

utilizar o computador. No contexto docente, refere-

se, portanto, à crença do professor em sua capaci-

dade para utilizar tecnologias computacionais (como

computador, softwares e internet) no ensino (OLI-

VIER e SHAPIRO, 1993; ALBION, 1999).

Segundo Albion (1999), há fortes evidências

que sugerem que as crenças dos professores em sua

capacidade para trabalharem efetivamente com tec-

nologia é um fator significativo para determinar o uso

do computador na sala de aula. Professores que têm

alto nível de eficácia para ensinar com tecnologias são

mais motivados, despendem mais esforços e persis-

tem em tarefas que envolvem tecnologias muito mais

que professores que têm níveis baixos de eficácia

(ERTMER et al, 2003).

Conforme Azzi, Polydoro e Bzuneck (2006), é

importante assinalar que a percepção de auto-eficá-

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cia não é estática, pode mudar ao longo do tempo e

refere-se a contextos específicos. As pessoas diferem

quanto à área, à tarefa e ao nível em que apresentam

auto-eficácia. Um professor pode se perceber alta-

mente eficaz para usar o computador para assuntos

pessoais, como para se comunicar, pagar contas ou

elaborar documentos e apresentações, mas não se

sentir eficaz para utilizá-lo durante as suas aulas ou

na elaboração de propostas de atividades para que os

alunos o utilizem.

As crenças de auto-eficácia são construídas a

partir de quatro fontes principais de informação: ex-

periências de domínio (diretas ou vivenciadas pelo indi-

víduo) que servem como indicadores de capacidades;

experiências vicárias (observadas pelo indivíduo) que

atuam através da transmissão de competências e da

comparação com os sucessos obtidos pelos outros;

persuasão verbal ou social (encorajamento verbal) e

outros tipos de influências sociais que informam o

indivíduo acerca de suas capacidades e estados fisio-

lógicos e afetivos (por exemplo, cansaço, ansiedade,

estresse) a partir dos quais as pessoas parcialmente

julgam suas capacidades, força e vulnerabilidade dian-

te de situações. Uma ou mais dessas fontes de infor-

mação podem operar conjuntamente para a constru-

ção da auto-eficácia (BANDURA, 1997).

De acordo com Bandura (1997), as experiên-

cias de domínio (ou diretas) são as mais influentes

fontes de informação de eficácia. A visualização de

desempenhos de sucesso de pessoas semelhantes

(experiências vicárias) também exerce papel no forta-

lecimento de crença. Conforme Pajares e Olaz (2008,

p. 104), as experiências vicárias exercem maior influ-

ência sobre as crenças principalmente quando as pes-

soas não têm certeza de suas próprias capacidades

ou tiveram pouca experiência anterior com a tarefa.

No entanto, “mesmo indivíduos experientes e auto-

eficazes aumentam a sua auto-eficácia se modelos en-

sinarem-lhes maneiras melhores de fazer as coisas”.

Quando os programas de formação de profes-

sores possibilitam, por exemplo, que os participantes

desenvolvam atividades pedagógicas utilizando-se di-

retamente do computador (experiências de domínio)

ou que observem outros participantes realizando as

tarefas (experiência vicária), estão possibilitando tam-

bém a construção ou aumento da crença de auto-

eficácia.

Importante mencionar que a visão teórica aqui

abordada vê o indivíduo como agente, ou seja, com

possibilidade de intencionalmente agir sobre o am-

biente, não sendo descolado de seu contexto, pois,

como assinala Bandura:

a agência pessoal e a estrutura social atuam

de maneira interdependente. As estruturas sociais

são criadas pela atividade humana, e as práticas só-

cio-estruturais, por sua vez, impõem restrições e

proporcionam recursos capacitantes e estruturas

de oportunidade para o desenvolvimento e funcio-

namento pessoais. (2008, p.84).

Programas de formação comoestratégia para construção ou

aumento da auto-eficácia

Os estudos de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl

(1996), Wang e, Ertmer et al, (2003) e Wang, Ertmer e

Newby (2004), tiveram entre suas propostas verificar

a influência de programas de formação para o uso de

tecnologias de informática no ensino e experiências

de aprendizagem vicária ou observacional na percep-

ção de auto-eficácia. Os participantes foram docentes

em exercício e alunos de graduação (futuros profes-

sores) que estavam realizando cursos ou disciplinas

voltadas para a questão das tecnologias educacionais.

A metodologia dos estudos contemplou a realização

de atividades, voltadas para o uso didático de tecno-

logias computacionais ou de informática, a aplicação

de questionários de caracterização dos participantes

referentes ao uso das tecnologias e escalas para me-

dida da auto-eficácia. Os resultados mostraram a efe-

tividade dos programas na construção ou aumento da

auto-eficácia dos participantes.

Na seqüência, detalha-se o estudo de Faseyi-

tan, Libii e Hirschbuhl (1996) por ser um estudo que

exemplifica um programa de formação realizado que,

considerando as diversas fontes de auto-eficácia des-

critas por Bandura (1997), apresenta mais especifica-

mente os resultados obtidos nos demais estudos que

constatam a relevância dos programas para a constru-

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ção ou aumento da auto-eficácia para o uso de tecno-

logias no ensino.

O estudo de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl

(1996) descreve um programa de formação que foi

planejado e desenvolvido considerando as quatro

fontes de informação que os indivíduos usam para jul-

gar sua auto-eficácia, descritas por Bandura (1997),

com o propósito de aumentar a auto-eficácia com-

putacional de professores para o uso do computador

como recurso didático no ensino. Esse programa foi

realizado com 115 professores universitários. Dentre

as atividades desenvolvidas estavam: showcases (de-

monstração e discussão de exemplos de uso do com-

putador no ensino por professores de diversas áreas

do conhecimento: Língua Estrangeira, História, Quí-

mica etc); seminários (discussão por todos os partici-

pantes interessados de estratégias efetivas do uso do

computador na sala de aula) e workshops (ensino aos

participantes sobre como familiarizarem-se e usarem

pacotes de softwares específicos em suas atividades

de ensino).

O programa foi avaliado a partir de dois ques-

tionários: um aplicado antes da sua realização e outro

depois. O questionário aplicado antes foi o Instruc-

tional Computing Questionnaire (FICQ), que continha

39 itens agrupados em quatro sessões. A sessão 1

mostrava dados descritivos de cada sujeito; a sessão

2 revelava o tipo e a freqüência de atividades reali-

zadas no computador; a sessão 3 indicava o nível de

suporte organizacional percebido para atividades

com o computador e a sessão 4 apontava o perfil dos

participantes em relação auto-eficácia para o seu uso.

O questionário aplicado depois do programa solicitou

aos participantes que julgassem como sua participa-

ção nas atividades propostas afetou seu entendimen-

to, consciência, exposição, desejo e confiança no uso

de computadores no ensino.

Os autores constataram um aumento da au-

to-eficácia dos participantes após a realização das

atividades do programa de formação, bem como

a percepção de uma maior habilidade e desejo de

utilizarem-se do computador no ensino. De todas as

atividades, o workshop foi a que gerou o maior im-

pacto no aumento da auto-eficácia dos participantes,

favorecendo a adoção do computador como recurso

didático. Os resultados confirmaram duas hipóteses:

a de que a experiência direta com computadores au-

menta a auto-eficácia para usá-los e que a demons-

tração de como usar softwares é uma metodologia

efetiva para melhorar a auto-eficácia para o uso do

computador.

Quando os professores não familiarizados

com as tecnologias observam, por exemplo, outros

colegas professores utilizando-as ou ouvem as expe-

riências de sucesso (experiências vicárias), eles pas-

sam a sentirem-se mais encorajados para utilizá-las

(WANG; ERTMER e NEWBY, 2001 e WANG e ERT-

MER, 2003). Wang e Ertmer (2003) constataram em

seu estudo, realizado com 20 estudantes de gradua-

ção inscritos em um curso de Introdução à Tecnologia

Educacional, que a exposição às experiências vicárias,

ou seja, a observação de modelos ou conhecimento

de práticas bem-sucedidas de uso das tecnologias,

realizadas, por exemplo, por outros professores ou

geradas por softwares instrucionais, promove um sig-

nificativo aumento nos julgamentos de auto-eficácia

para o seu uso.

O estudo realizado por Ertmer et al (2003)

comprovou a hipótese de que modelos eletrônicos

ou conteúdos multimídia, como vídeos, que apresen-

tam exemplos ou modelos de práticas de professores

utilizando-se de tecnologias nas aulas, podem ser usa-

dos como estratégia para que professores visualizem

melhor como é possível utilizar as tecnologias no en-

sino e também para aumentar sua auto-eficácia para

o uso das mesmas.

Os exemplos de como as tecnologias podem

ser utilizadas no ensino foram apresentados aos 69

participantes do estudo de Ertmer et al (2003) por

meio de um CD-ROM chamado de VisionQuest (VQ),

que apresenta e caracteriza práticas de professores

no uso didático de tecnologias, as quais servem como

modelos. Esse material foi desenvolvido com o pro-

pósito de exemplificar estratégias de uso das tecnolo-

gias no ensino e propiciar uma reflexão sobre como

é possível, aos professores, implementá-las em suas

aulas e avaliar os impactos de seus esforços.

Os autores mencionam que os “futuros profes-

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sores” descreveram várias idéias que eles obtiveram

a partir dos modelos do VisionQuest e ressaltaram sua

intenção de aplicá-las em suas “futuras salas de aula”.

Houve uma significante correlação entre as idéias dos

participantes para o uso das tecnologias e confiança,

sugerindo que quando os professores visualizam no-

vas possibilidades para usar as tecnologias eles desen-

volvem altos níveis de confiança sobre sua habilidade

para utilizá-las.

Os conhecimentos e habilidades adquiridas

pelos professores nos programas de formação pos-

sibilitam o uso bem-sucedido da tecnologia, a vivên-

cia de experiências de sucesso capazes de alterar a

percepção de auto-eficácia. Conforme Pajares e Olaz

(2008, 102), “nenhum grau de confiança ou de auto-

compreensão pode produzir sucesso na ausência de

habilidades e conhecimentos necessários”.

Entre os resultados imediatos gerados pelos

programas de formação para o uso de tecnologias,

além do número substancial de docentes capazes

de utilizar o computador no ensino, está o fato de

mencionados programas funcionarem como incenti-

vos para que os professores incluam, no planejamen-

to das aulas que ministrarão futuramente, atividades

utilizando-se do computador (FASEYITAN, LIBII e

HIRSCHBUHL,1996).

Os autores mencionam que a influência de in-

centivos para que os professores usem o computador

já foi anteriormente estudada. Faseyitan e Hirschbuhl

(1992 apud Faseyitan, Libii e Hirschbuhl, 1996), con-

cluíram que incentivos externos não levam os pro-

fessores universitários a adotarem computadores em

suas atividades instrucionais. Aqueles que desejam

adotar o computador em suas atividades de ensino

o fazem porque são intrinsecamente motivados. Os

que são confiantes em suas capacidades são mais pro-

vavelmente capazes de explorar o uso do computa-

dor na sala de aula, de desenvolver atividades inova-

doras e investir, tempo e esforço, por exemplo, para

identificar e aprender sobre softwares educacionais.

Altos níveis de auto-eficácia tendem a promover mo-

tivação intrínseca (BANDURA, 1982). Sendo assim,

aqueles cuja auto-eficácia é alta são geralmente mais

motivados a usarem o computador no ensino. Pode-

mos dizer, portanto, que o programa desenvolvido

por Faseyitan, Libii e Hirschbuhl (1996) serviu de in-

centivo porque alterou a percepção de auto-eficácia

dos professores e, conseqüentemente, tornou-os

também motivados intrinsecamente a utilizarem o

computador no ensino.

Segundo os autores, além dos resultados ime-

diatos relatados, trazidos pelo programa de formação,

criou-se uma comunidade de docentes interessados

em compartilhar idéias sobre o uso do computador

na sala de aula.

Embora as considerações apresentadas tenham

associado a falta de uso pedagógico do computador

pelos professores à baixa crença de auto-eficácia, a

qual pode ser aumentada pelos programas de forma-

ção, tem-se consciência de que há outros fatores que

podem influenciar também a utilização. Conforme

nos lembra Dusick (1998), além dos fatores pessoais,

sociais e cognitivos que afetam um professor a visuali-

zar vantagens nos recursos disponíveis (atitude, auto-

eficácia, competência, tempo, risco de usar a tecno-

logia, relevância percebida e falta de conhecimento)

há também os fatores ambientais que influenciam os

professores a usarem ou não o computador para fins

instrucionais (suporte administrativo e técnico, dis-

ponibilidade dos computadores na sala de aula ou na

escola).

A literatura internacional sinaliza a necessida-

de de encontrar caminhos e estratégias para auxiliar

os professores a sentirem-se altamente capazes de

utilizarem o computador no ensino. Entre os educa-

dores e estudiosos brasileiros da área de tecnologia

educacional, há muitos posicionamentos a respeito

do papel do professor diante das tecnologias, afirma-

ções de que os professores não sabem como utilizá-

las didaticamente e sobre a importância também de

prepará-los.

Apesar de termos abordado a literatura inter-

nacional, os assuntos aqui tratados devem ser conside-

rados apenas como fonte de reflexão, interlocução e

inspiração. Contata-se a necessidade de estudos sobre

auto-eficácia computacional entre professores brasilei-

ros uma vez que fatores culturais compõem diferentes

contextos de desenvolvimento de crenças e valores.

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72

Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensi-no a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde

Carla Morales Guerra 1

Doutoranda pela UniversidadeFederal de São Paulo - UNIFESPEduardo Alexandrino Servolo Medeiros

2

Professor Adjunto daUniversidade Federal de São Paulo - UNIFESPJanaina Sallas

3

Especialista em Educação em Saúde pelaUniversidade de Brasília - UnBConsultora Técnica da Gerência de Bacteriologia-Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde.Leandro Queiroz Santi

4

Mestre em Saúde Pública pelaUniversidade Federal da Bahia - UFBAValeska de Andrade Stempliuk

5

Doutora em Ciências pelaUniversidade de São Paulo - USP

Infecções por microrganismos multirresistentes aumen-

tam o custo do tratamento e apresentam alta taxa de mortalidade.

Objetivo: descrever a realização de um programa de educação a

distância para profissionais da área da saúde, em âmbito nacional,

sobre medidas de prevenção e controle da resistência microbiana e

uso racional de antimicrobianos. Método: foram produzidos e apli-

cados dois cursos com metodologia de ensino a distância durante

os anos de 2007 e 2008 com a participação de 1172 profissionais

de saúde no Curso 1, Controle da Resistência Microbiana – www.

rmcontrole.org.br, e 917 médicos e dentistas no Curso 2, Uso Ra-

cional de Antimicrobianos – www.atmracional.org.br .

Infections by antimicrobial resistant organisms increase the

therapeutic costs and risk of death. Objective: to describe the per-

formance of a nation-wide distance education program for health

professionals in order to disseminate measures on prevention and

control of microbial resistance and rational use of antimicrobials.

Method: two educational programs were developed and applied

based on distance education during the years of 2007 and 2008

with the participation of 1172 health professionals in Program 1,

Control of Microbial Resistance - www.rmcontrole.org.br, and 917

physicians and dentists in Program 2, Rational Use of Antimicrobials

- www.atmracional.org.br.

Description of the creation and implementation of a distance learning environment for the control of antimicrobial resistance and rational use of antimicrobials for health professionals

RESUMO

ABSTRACT

Descripción de la creación y aplicación de un entorno de aprendizaje a distancia para el control de la resistencia a los antimicrobianos y el uso racional de los antimicrobianos para los profesionales de la salud

Carla Morales Guerra:Médica infectologistaMestre em Ciências pela UNIFESP.Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690 – 2° andar - São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002.Endereço eletrônico: [email protected] Alexandrino Servolo Medeiros:Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690 – 2° andar - São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002. Endereço eletrônico: [email protected] Sallas:Correspondência: SCS Quadra 4 Bloco A lote 67/97 - Edifício Principal – 3° andar Brasília/DF – BrasilEndereço eletrônico: [email protected] Queiroz Santi:Correspondência: SHIN, QL 11, Cj 4, casa 7, Lago Norte - CEP: 71515-745- Brasília – DF Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] de Andrade Stempliuk:Enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Sírio Libanês – São PauloCorrespondência: Rua Napoleão de Barros, 690, 2°andar – São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002.Endereço eletrônico: [email protected]

1

2

3

4

5

Keywords: antimicrobial resistance; distance education; appropriate use of antimi-crobial agents.

Palavras-chave: resistência microbiana; educação à distância; uso racional de an-timicrobianos.

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Infecciones por organismos multirresistentes aumenta el costo del tratamiento y tienen un alto

índice de mortalidad. Objetivo: describir un programa de educación a distancia para los profesionales de la

salud en el plano nacional en las medidas de prevención y control de la resistencia microbiana y el uso racio-

nal de los antimicrobianos. Método: se elaboró y ejecutó dos cursos sobre metodología de la enseñanza a

distancia durante los años 2007 y 2008 con la participación de 1172 profesionales de la salud en el Curso 1,

Control de la resistencia microbiana - www.rmcontrole.org.br, y 917 médicos y dentistas en el Curso 2, uso

racional de los antimicrobianos - www.atmracional.org.br.

ABSTRACT

Palabras-claves: resistencia microbiana; educación a distancia; uso racional de los antimicrobianos.

INTRODUÇÃO

Atualmente, a medicina depara-se com um

grande desafio: o surgimento de microrganismos

resistentes à maioria dos antimicrobianos desen-

volvidos (WEBER, 2005). Infecções causadas por

bactérias multirresistentes prolongam o tempo de

internação, elevam o custo do tratamento e apre-

sentam alta taxa de mortalidade (COURVALIN,

2005; FILE, 2000).

Sabe-se que o treinamento dos profissionais

da área de saúde constitui importante parte do

programa de diminuição da resistência aos antimi-

crobianos (DAVIS, 1999).

Guerra (2007) avaliou crenças, atitudes e co-

nhecimento de 310 médicos, diretamente envolvi-

dos na prescrição de antimicrobianos, no Hospital

São Paulo, em relação à resistência microbiana aos

antimicrobianos. Neste estudo 44,2% dos médicos

afirmaram que gostariam de receber mais informa-

ções sobre antimicrobianos.

A educação continuada dos profissionais da

área da saúde deve ser considerada como parte das

estratégias para manutenção de um sistema de saú-

de nacional, adequado e eficaz.

Infelizmente, garantir que os avanços cien-

tíficos da área da saúde sejam oferecidos a todos

os profissionais, ao mesmo tempo, em um país de

dimensões continentais como o Brasil é particular-

mente difícil.

Neste contexto, a educação a distância na

área da saúde tornou-se uma estratégia adequada

e eficaz, oferecendo ao profissional a possibilidade

de aquisição e atualização de conhecimento técni-

co sem precisar se afastar de suas atividades pro-

fissionais, além de proporcionar um ambiente de

troca de experiências com profissionais de todo o

país (COOK, 2008). Também diminui os custos de

um treinamento presencial, evitando gastos com

transporte permitindo, ainda, o treinamento con-

comitante de um maior número de profissionais

(LEWIS, 2005).

Em experiência anterior, um programa de

educação a distância criado por meio de um convê-

nio entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) e a Universidade Federal de São Paulo

(UNIFESP) promoveu o treinamento de aproxi-

madamente 500 profissionais da área da saúde. A

maioria dos alunos (98,0%) que participou desse

programa referiu que o curso foi muito importante

para sua formação técnico-científica (MEDEIROS,

2008).

Dessa forma, a criação de um curso a dis-

tância sobre o uso adequado dos antimicrobianos

e a prevenção da resistência bacteriana aos anti-

microbianos poderia ser uma ótima estratégia para

capacitar os profissionais de saúde no Brasil, consi-

derando que o problema da resistência microbiana

está difundido por todo o país e profissionais de

todas as regiões brasileiras devem ter acesso a in-

formações sobre como enfrentar este desafio.

O objetivo deste artigo é apresentar nos-

sa experiência com a criação e aplicação de dois

cursos a distância: RMcontrole – Medidas de Pre-

venção e Controle da Resistência Microbiana e

Programa de Uso Racional de Antimicrobianos em

Serviços de Saúde e ATMracional - Uso Racional de

Antimicrobianos para Prescritores.

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MATERIAL E MÉTODO

Planejamento e realização

O Programa de Educação a Distância para a

Prevenção e o Controle da Resistência Microbiana

foi idealizado e patrocinado pela Organização Pan-

Americana da Saúde (OPAS), Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA) e Coordenação Geral

de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) da Secre-

taria de Vigilância em Saúde (SVS) como parte de um

Projeto para o Monitoramento e Prevenção da Resis-

tência Microbiana em Serviços de Saúde – Rede RM.

O conteúdo dos cursos e o acompanhamento

a distância dos alunos através de tutores foi realizado

pela Universidade Federal de São Paulo, por meio da

Disciplina de Infectologia e do Departamento de In-

formática em Saúde.

Os cursos foram oferecidos gratuitamente para

alunos selecionados através de critérios estabeleci-

dos pelas instituições participantes, com o objetivo

de permitir a participação de profissionais de saúde

de todo o país, promovendo o intercâmbio de expe-

riências regionais, apoio aos profissionais de regiões

mais distantes das capitais, sem retirar o profissional

de suas atividades diárias.

Público alvo e critérios de seleção

Para o curso RMcontrole foi programado o

treinamento de 1.000 profissionais da área da saúde

de todo o Brasil. Como a idéia era capacitar profis-

sionais que pudessem atuar como multiplicadores em

seu local de trabalho, foi dada preferência aos profis-

sionais com atuação em serviços de saúde (médicos,

enfermeiros, microbiologistas, biólogos e farmacêu-

ticos, médicos veterinários, fisioterapeutas, nutricio-

nistas e outros) dos seguintes estabelecimentos:

1. Vigilâncias Sanitárias e Epidemiológicas (Estaduais e Municipais);

2. Coordenadores Estaduais e Municipais de programas de Controle de Infecção Hospitalar;

3. Profissionais que atuem em Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) em hospitais universitários, federais, estaduais, municipais e privados;

4. Gestores da Saúde.

Para o curso ATMracional foi programado o trei-

namento de 700 profissionais envolvidos diretamente

com a prescrição de antimicrobianos (640 médicos e 60

cirurgiões-dentistas), com preferência para:

1. Médicos que trabalhassem em hospitais partici-

pantes da Rede de Monitoramento e Controle

da Resistência Microbiana em serviços de saúde

(Rede RM);

2. Médicos que participassem de Comissões de

Controle de Infecção Hospitalar;

3. Médicos que trabalhassem em unidade de tera-

pia intensiva adulto, pediátrica e neonatal;

4. Médicos clínicos, cirurgiões e dentistas que tra-

balhassem na assistência a pacientes, com priori-

dade para atuação acadêmica.

Também optou-se por disponibilizar, propor-

cionalmente, mais vagas para regiões mais distantes

dos grandes centros, como Norte e Centro-Oeste.

Desta forma, criou-se um índice pelo qual foi multipli-

cado o número de estabelecimentos de saúde dessas

regiões, fazendo com que, proporcionalmente, fos-

sem selecionados mais profissionais de saúde desses

locais.

Inscrições

As inscrições e todo o material didático foram

oferecidos aos participantes gratuitamente. As ins-

crições foram realizadas, exclusivamente, pela “in-

ternet”, já com o intuito de trazer os alunos para o

ambiente onde as atividades obrigatórias seriam re-

alizadas. (“sites”: www.rmcontrole.org.br e www.

atmracional.org.br)

Após o preenchimento da ficha de inscrição,

foi solicitado aos profissionais que respondessem um

questionário. Antes de responder o questionário, foi

apresentado ao profissional um termo de consenti-

mento livre e esclarecido que garantia o anonimato

e desvinculava o conteúdo das respostas com o pro-

cesso seletivo para participação no curso. O intuito

foi conhecer a situação dos hospitais brasileiros, em

relação às estratégias para controle e prevenção da

resistência microbiana e avaliar o conhecimento dos

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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde

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profissionais que são essenciais para o desenvolvi-

mento e implantação dessas estratégias de controle.

Conteúdo dos cursos

O conteúdo do curso RMcontrole foi dividido

em cinco módulos:

1. Antimicrobianos - bases teóricas e uso clí-

nico: entender as propriedades farmacológicas,

mecanismos de ação e resistência dos antimicro-

bianos, indicações clínicas e efeitos colaterais;

2. Legislação sobre a propaganda e prescrição

de antimicrobianos: conhecer a legislação bra-

sileira e de outros países direcionadas aos medi-

camentos, com ênfase nos antimicrobianos, com

ênfase na legislação direcionada à publicidade e

propaganda de medicamentos;

3. Resistência microbiana – mecanismos e im-

pacto clínico: entender os mecanismos de re-

sistência, seu impacto clínico e ações para pre-

venção e controle da resistência;

4. Implantação de um programa de uso racio-

nal de antimicrobianos: identificar a importân-

cia do uso adequado dos antimicrobianos para

o controle da resistência microbiana e conhecer

estratégias para a implantação de um programa

de uso racional de antimicrobianos;

5. Intervenções e medidas de prevenção e con-

trole da resistência microbiana: conhecer as

principais estratégias de prevenção e controle da

resistência microbiana nos serviços de saúde.

•Uso racional de antimicrobianos e resistên-

cia microbiana: importância do uso adequado

de antimicrobianos para o controle da resistência

microbiana, principais mecanismos de resistência

e seu impacto clínico e estratégias para a implanta-

ção de um programa de uso racional de antimicro-

bianos;

•Interpretação de dados microbiológicos: ba-

ses teóricas sobre a realização da cultura e inter-

pretação de testes de sensibilidade;

•Tratamento das principais infecções: diretrizes

atualizadas sobre o tratamento de infecções co-

munitárias e infecções relacionadas à assistência à

saúde, bem como recomendações para a realiza-

ção da profilaxia antimicrobiana em cirurgias;

•Uso de antimicrobianos em populações es-

peciais: particularidades da utilização de antimi-

crobianos em pacientes com insuficiência renal e

insuficiência hepática e o uso de antimicrobianos

em gestantes e neonatos.

O conteúdo foi elaborado por profissionais

com grande experiência no estudo da resistência mi-

crobiana e no uso de antimicrobianos na prática clíni-

ca. Todo conteúdo foi baseado em estudos atualiza-

dos e de acordo com a legislação brasileira.

Após a elaboração do conteúdo teórico, o tex-

to era revisado por uma equipe de pedagogas para

adequação e aperfeiçoamento da didática. Posterior-

mente, foi revisado por outros profissionais especia-

listas em infectologia e, a seguir, transformados no

formato de apresentação na “internet”, material im-

presso e gravado em CD-ROM.

Metodologia e didática

O aluno poderia acompanhar o curso por meio

de três mídias: recebia via correio o material didáti-

co impresso (uma apostila com todo o conteúdo do

curso), um CD-ROM (que também apresenta todo o

conteúdo do curso) e uma senha pessoal para acesso

na “internet” (Figura 1).

Pela “internet”, o aluno poderia acompanhar o

curso, tirar dúvidas, trocar experiências com profis-

sionais de todo o Brasil e realizar as atividades didáti-

cas obrigatórias para comprovação de sua participa-

ção no curso.

Para ser aprovado e receber o certificado, o

aluno deveria responder todos os questionários e al-

cançar uma média final de 70% nas atividades pro-

postas e obrigatórias.

Durante todo o período em que o curso ficou

disponível na “internet”, as atividades foram acom-

panhadas por tutores, que orientavam os alunos em

suas dúvidas, incentivavam a discussão entre os pro-

O conteúdo do curso ATMracional foi dividido

em quatro módulos:

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fissionais, forneciam suporte científico e pedagógico.

Os tutores são profissionais com formação na

área da saúde, pós-graduandos, sem vínculo empre-

gatício com a Universidade Federal de São Paulo e

com experiência na atuação de tutoria em outros

cursos já realizados pela instituição. O contato com a

tutoria podia ser pela “internet”, por telefone ou fax

e até mesmo pelo correio.

Os cursos ficaram disponíveis na “internet”

por nove semanas cada um e, posteriormente, o alu-

no poderia rever o conteúdo e multiplicar o conhe-

cimento adquirido para outros profissionais através

do CD-ROM e da apostila que acompanha o material

fornecido aos alunos.

Figura 1. Capa da apostila e rótulo do CD-ROM do curso RMcontrole

Figura 2. Capa da apostila e rótulo do CD-ROM do curso ATMracional

Análise Estatística

Foi realizada a análise descritiva das caracterís-

ticas demográficas e das respostas de cada participan-

te nos questionários inicial e final, bem como compa-

ração entre os principais grupos e entre a pontuação

inicial e final (qui-quadrado).

Para as variáveis qualitativas foram apresenta-

das as freqüências absolutas (n) e as freqüências rela-

tivas (%). Para a pontuação fina, que é uma variável

quantitativa, foram utilizadas como medidas, resumos

a média e a mediana e desvio-padrão, mínimo e má-

ximo para apontar a variabilidade. Para a comparação

entre os grupos das variáveis, o teste utilizado foi a

análise de variância (ANOVA).

Caracterização dos profissionais inscritos

RMcontrole

As inscrições “on line” ficaram disponíveis de

18 de junho a 31 de agosto de 2007 (total de 11 se-

manas). Ao final das inscrições, obtivemos 6.256 ins-

critos distribuídos por todo o Brasil, como pode ser

visto na Figura 3. Podemos observar o predomínio

de inscritos provenientes da região Sudeste, porém

com número de inscritos representativo em todas as

regiões (Gráfico 1).

RESULTADOS

Figura 3. Distribuição dos inscritos no curso RMcontrole por Estado (n=6256)

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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde

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77

A distribuição dos inscritos pela profissão mos-

tra também grande diversidade dos profissionais na

procura do curso, bem como em relação ao tipo de

serviço:

As inscrições “on line” ficaram disponíveis de

26 de novembro de 2007 a 12 de janeiro de 2008

(total de 8 semanas). Ao final das inscrições tivemos

2.856 inscritos distribuídos por todo o Brasil, como

pode ser visto no Gráfico 4. Aproximadamente

65,0% dos inscritos eram médicos e os demais cirur-

giões dentistas.

Caracterização dos profissionais selecionados

RMcontrole

Foram selecionados 1.172 alunos, sendo 72,3

% do sexo feminino e a média de idade dos selecio-

nados foi de 39,3 anos de idade.

Conforme definido inicialmente, a seleção pri-

vilegiou profissionais das regiões Norte e Centro-

Oeste do Brasil.

ATMracional

Foram selecionados 917 alunos, conforme de-

finido inicialmente, a seleção privilegiou profissionais

das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.

Realização dos cursos

Cada curso teve duração de nove semanas,

período em que os participantes poderiam se comu-

nicar com outros participantes de qualquer região

do país e enviar perguntas aos tutores por meio dos

fóruns de dúvidas. Em média, foram encaminhadas

1000 mensagens em cada curso, referentes a dúvidas

ATMracional

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sobre o conteúdo do curso e sobre questões práticas

do dia-a-dia dos profissionais.

No questionário inicial, antes da realização do

curso, perguntamos ao profissional como ele avalia-

va seu conhecimento sobre antimicrobianos e 60,5%

responderam que consideravam seu conhecimento

sobre antimicrobianos regular e que gostariam de

conhecer mais sobre o assunto. Aproximadamente

metade dos participantes (48,5%) respondeu que

não participavam de um curso sobre antimicrobianos

há mais de um ano e apenas 14,3% haviam partici-

pado de alguma atualização sobre o tema no último

mês. Ao final do curso, foi perguntado novamente aos

alunos como avaliavam seu conhecimento sobre an-

timicrobianos e a maioria (64,7%) afirmou que seu

conhecimento era atualizado.

No questionário final foram apresentadas ques-

tões aos participantes para que pudéssemos avaliar

a efetividade do curso e do modelo de ensino, bem

como para encontrarmos sugestões para aprimora-

mento dos próximos programas.

Para a maioria dos profissionais, esta havia sido

sua primeira participação em um curso a distância

pela “internet”. Foi perguntado aos participantes qual

o grau de dificuldade que haviam encontrado em re-

lação ao estudo via “internet” e 71,8% afirmaram que

não haviam encontrado dificuldade alguma e 87,4%

referiram que fariam outro curso a distância sobre o

tema.

Em relação à satisfação dos alunos com o cur-

so, 86,8% afirmaram estarem muito satisfeitos ou

satisfeitos. As vantagens citadas pelos participantes

neste curso a distância foram: a relevância e atualiza-

ção do conteúdo do curso, o apoio científico presta-

do pela equipe de tutores e a oportunidade de trocar

experiências com outros profissionais.

A maioria dos participantes (60,7%) prefere o

material impresso como sua primeira opção de estu-

do e 22,7% dos participantes preferem estudar via

“internet”.

A média de acertos no questionário inicial

(questões que avaliavam o conhecimento) foi de

55,5% (±13,3%) e ao final do curso, a pontuação nas

questões de conhecimento foi de 76,8% (±13,9%).

A análise estatística das pontuações iniciais e finais

dos alunos que finalizaram o curso mostra que houve

diferença estatisticamente significativa entre as notas

iniciais e finais, permitindo-nos concluir que houve

aquisição de conhecimento entre os participantes do

curso (p < 0,001).

A porcentagem média de aprovação foi acima

de 95%, cerca de 5% dos selecionados não iniciaram

suas atividades nos cursos e de 3 a 5% foram repro-

vados por não atingirem a pontuação mínima de 70%

de acertos.

DISCUSSÃO

Vários países e instituições têm direcionado in-

vestimentos em campanhas nacionais para orientação

de médicos e pacientes sobre a importância da aderên-

cia às medidas de prevenção e controle das infecções

relacionadas à assistência à saúde e sobre a ameaça da

resistência bacteriana (DELLIT, 2007; SUNESHINE,

2004).

A utilização da “internet” como fonte de infor-

mações atualizadas na área da saúde já está bem es-

tabelecida e, nos últimos anos, cursos a distância para

profissionais da área da saúde tem sido oferecidos em

diversos países com sucesso (COOK, 2008; LEWIS,

2005).

Nosso estudo confirmou que os profissionais da

área da saúde brasileiros tinham muito interesse por

este tema e pudemos observar que a maioria estava

preparada para a utilização desta ferramenta de ensi-

no, mesmo sem experiência prévia com outros cursos

à distância. Também foi possível evidenciar que hou-

ve aquisição de conhecimento quando comparamos

as pontuações iniciais e finais dos participantes. Além

disso, encontramos baixa taxa de desistência e repro-

vação.

No questionário aplicado após o curso, a maioria

dos participantes relatou satisfação em participar desse

programa, principalmente pela oportunidade de troca

de experiência com outros profissionais.

Particularmente no Brasil, um país com grande

área demográfica e recursos financeiros restritos, tanto

para a área da saúde como para a área educacional, esta

ferramenta educacional apresenta várias vantagens:

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79

1. Possibilita o acesso de profissionais de todas as

regiões do país a informações técnicas atuali-

zadas, incluindo profissionais de áreas distantes

dos grandes centros;

2. Permite a troca de experiências entre profis-

sionais de diferentes regiões que muitas vezes

estão enfrentando os mesmos problemas;

3. Garante o treinamento de grande número de

profissionais ao mesmo tempo;

4. Mantém o profissional em seu local de traba-

lho, evitando prejuízo da rotina de trabalho;

5. Evita gasto com transporte e hospedagem de

profissionais que de outra forma teriam que

se deslocar de suas cidades para realização de

cursos.

Acreditamos que o aprimoramento desta me-

todologia em nosso país, poderá se transformar em

um importante instrumento de formação, inclusive na

área de prevenção e controle de infecções relaciona-

das à assistência à saúde, setor que requer atualiza-

ções freqüentes.

A descrição de nossa experiência poderá ser-

vir de exemplo para outras instituições de saúde e

até mesmo outros setores da sociedade que tenham

interesse nessa ferramenta educacional, mas desco-

nhecem os primeiros passos.

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80

Ensino a distância: projeto pedagógico do ambiente virtual

Ivana Carneiro Almeida 1

Doutoranda em Administração pelaUniversidade Federal de Lavras – UFLA

São inúmeras as variáveis que interferem no processo de

ensino e aprendizagem na educação a distância. Interessa ao pre-

sente trabalho discutir em termos teóricos a importância da criação

de um projeto pedagógico em uma “Comunidade Virtual”. Faz-se

necessário também a consideração dos recursos técnicos e audio-

visuais, as condições que viabilizem a mediação das atividades pre-

senciais e a distância pelas tecnologias de informação.

Many variables interfere in the process of teaching and

learning in distance education. This work concern is to discuss in

theory the importance of the creation of a teaching project in a

“Virtual Community.” It is also necessary to consider technical and

audiovisual resources, the conditions that allow the mediation of

presence and distance activities by information technologies.

Distance education: pedagogical project of the virtual environment

RESUMO

ABSTRACT

Educación a distancia: proyecto pedagógico del entorno virtual

Ivana Carneiro Almeida Correspondência: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.Av. Luiz Boali, 352 Castro PiresTeofilo Otoni, MG – Brasil - CEP 39800-000Endereço eletrônico: [email protected]

1

Keywords: Pedagogical project; distance education

Palavras-chave: Projeto pedagógico; educação a distância.

Hay muchas variables que afectan el proceso de enseñanza

y aprendizaje en la educación a distancia. Interés al presente trabajo

debatir, en el plano teórico, la importancia de crear un proyecto

educativo en una “comunidad virtual”. Es necesario también tener

en cuenta las condiciones técnicas y audiovisuales que permitan la

mediación de las actividades en el aula y en la distancia por la tec-

nología de la información.

RESUMEN

Palabras-claves: Proyecto pedagógico; educación a distancia.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 80 - 83, segundo sem. 2009

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81

O desenho e a forma da proposta de um am-

biente virtual interativo com os alunos devem partir

do pressuposto que os mesmos deveriam se sentir

“convidados e à vontade para participar com suas

idéias, pensamentos e ações e se possível promoves-

sem ações de ordem colaborativas e cooperativas en-

tre eles”, de forma democrática e participativa.

Para se produzir um projeto pedagógico em

uma “Comunidade Virtual”, é importante considerar

os recursos técnicos e audiovisuais, as condições que

viabilizem a mediação das atividades presenciais e a

distância pelas tecnologias de informação.

Gómez (apud ANTONIO, 2005) afirma que:

deve-se observar que o fato de serem tec-

nologias interativas não implicará necessariamente

em processos democráticos, já que podem estar a

serviço de pessoas ou instituições interessadas em

manter as interações autoritárias e de dependên-

cia (ANTONIO, 2005).

Não basta desejar ter uma ação pedagógica na

elaboração de um ambiente virtual interativo, pois

se faz condição importante e necessária haver um

gestor educacional, liderando uma equipe multidisci-

plinar. Neste sentido, deve ser montada uma equipe

multidisciplinar, formada por várias áreas de atuação,

visando um ambiente que procure obter informações

seguindo a orientação da equipe de “conteudistas”

dos programas, assim como algo que contemplasse

espaços menos rígidos.

Ensinar e aprender exige, hoje, muito mais

flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo,

menos conteúdos fixos e processos mais abertos de

pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades

atuais é conciliar a extensão da informação e a varie-

dade das fontes de acesso com o aprofundamento da

sua compreensão em espaços menos rígidos, menos

engessados. Temos informações demais e dificuldade

em escolher quais são significativas para nós e de con-

seguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa

vida. A aquisição da informação e dos dados depen-

derá, cada vez menos, do professor. As tecnologias

podem trazer hoje dados, imagens, resumos de for-

ma rápida e atraente. O papel do professor – o papel

principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados,

a relacioná-los, a contextualizá-los (MORAN, 1997

apud GOMEZ, 2004, p.47).

Convém ressaltar que o design deste ambien-

te virtual interativo deve ser resultado de uma ação

pedagógica que demanda estudo e prática da peda-

gogia na esfera digital, como cita Gómez (2004), além

de requerer uma contextualização, na dimensão do

real/virtual, para logo problematizá-la, ou mesmo

por meio de uma “escuta densa”, no dizer de Frei-

re (1995), há que se conhecer a visão da equipe de

produção e dos professores sobre o que deve ser a

educação em rede no seu contexto cultural, conec-

tando os elementos emergentes com as situações de

ensino-aprendizagem específicas.

Importante aspecto a ser considerado na esfe-

ra digital, não diferente da esfera presencial, está na

coordenação das atividades de montagem do curso

na Internet. Aquela necessita ser capaz de conjugar

conhecimentos de pedagogia, informática, psicologia,

sociologia, comunicação, marketing, dentre outros

e ser de responsabilidade de um designer educacio-

nal, na qualidade de educador, corroborando Gómez

(2004) que completa:

além de identificar as necessidades e os

problemas, ele desenha o mapa, escreve o roteiro

com critérios didáticos que superam a segmenta-

ção, o verbalismo, o dogmatismo e o conhecimen-

to do senso comum. Para isso, deverá primeiro es-

tudar a realidade com a qual se pretende trabalhar

(GÓMES, 2004, p. 128).

Sabe-se que o conhecimento de modernas

multimídias e as possibilidades de os professores es-

tarem atentos às rápidas mudanças de sua área e ao

destino das gerações futuras são exigências pontuais

de uma proposta teórico-metodológica, tanto para a

mediação pedagógica como para o desenho educati-

vo. Sendo que:

A proposta considera a construção do co-

nhecimento contextualizado em relação à cultura,

INTRODUÇÃO

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para fugir à idéia superficial de se criar protótipos

ou modelos de mediação e design educativo. Por

isso, os instrumentos de pesquisa deverão ser

construídos com os participantes do projeto. Só

quando um projeto educativo on-line for divulga-

do e discutido com a equipe de produção e a co-

munidade participante é que ajudará os gestores a

analisar melhor a potencialidade do processo de

desenho e mediação pedagógica (GÓMEZ, 2004,

p.21).

Para Antônio (2005), a criação de um Projeto

Pedagógico do Ambiente Virtual Interativo requer

considerar gestões administrativas, pedagógicas e

tecnológicas que permitam integrar, assegurar e sus-

tentar o registro de informações produzidas, tanto

na parte de criação e desenvolvimento de um curso

como também no momento de contar com disposi-

tivos que possibilitem a organização, a distribuição e

a atualização das informações, sem dizer no conheci-

mento atualizado referente aos dispositivos tecnoló-

gicos que permitam “processos de fala, leitura, escrita

na rede que incidam na constituição de subjetividades

democráticas” (GÓMEZ, 2004, p.95).

Vale ressaltar que o ambiente por si só não ga-

rante a aprendizagem, ele traz sim uma concepção de

educação e de projeto político-pedagógico em rede,

que o sustenta bem e não só da tecnologia utilizada.

Concorda-se com Gómez (2004), quando ele diz:

Assim como não há uma educação neutra,

também não há um desenho nem projeto educa-

tivo neutro. Os universos epistêmicos e os prin-

cípios ético-estéticos que o atendem podem ser

múltiplos. O importante é que os profissionais

desse setor possam participar dos sistemas semi-

óticos e lingüísticos, para melhorar a sua prática

educativa e a aprendizagem dos alunos, enquan-

to sujeitos da montagem e não enquanto objetos.

(GÓMEZ, 2004, p. 134).

Ao conceber um projeto de ambiente virtual

interativo, convém lembrar que se trata de um dispo-

sitivo que deve permitir a criação de um espaço para

desenvolver um projeto criativo e, desta maneira,

faz-se necessário uma análise de particularidades da

situação específica. Isto é confirmado quando Gómez

(2004, p.138) diz que podem ser usados “vários dis-

positivos metodológicos como: ‘brainstorming’, gru-

pos de trabalho, dinâmicas de grupos, questionários e

entrevistas, realizados face-a-face e/ou on-line.”

A existência de uma equipe multidisciplinar

somada ao fato de a passagem da capacitação virtu-

al não ser uma mera transposição da presencial, mas

sim fruto de um reestudo da forma de disponibilizar

informações, definir conceitos e, acima de tudo, ins-

tigar os professores a uma ação reflexiva sobre seu

trabalho e com os trabalhos de seus alunos, resultou

na preparação de um roteiro inicial de produção do

material. Este roteiro foi definido por Antônio (2005)

como “sistema de desenvolvimento de cursos à dis-

tância”. Estas fases foram determinadas em função da

área de atuação de cada elemento da equipe e fica-

ram assim definidas:

•Análise do desenvolvimento dos cursos presen-

ciais, assim como das avaliações elaboradas pelos

professores a respeito do curso presencial;

•Gravação do curso presencial e transcrição da

forma como a pesquisadora desenvolvia o curso

presencial durante a capacitação do público alvo;

•Comparação do material escrito - material do

curso oferecido presencialmente e análise das

avaliações realizadas;

•Elaboração do formato gráfico da interface, com

o apoio de um web designer;

•Pesquisa e busca em sites nacionais e internacio-

nais a respeito do conteúdo “Internet e seus re-

cursos básicos”, bem como sobre a existência de

cursos a distância e de seus vários formatos;

•Reescrita do conteúdo adequando-o ao públi-

co-alvo com o apoio técnico de uma analista de

sistemas visando às especificidades do novo am-

biente;

•Revisão pedagógica e definição das telas e anima-

ções, uma vez que se trata de requisito necessá-

rio para o processo de ensino-aprendizagem;

•Desenvolvimento das telas e animações no com-

putador pelos web designers;

•Revisão gráfica e produção escrita do roteiro

para gravação final;

• Filmagem do módulo desenvolvido pelo software

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Ensino a distância: projeto pedagógico do ambiente virtual

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I3, o qual concilia arquivos elaborados pelo editor

de apresentações, no caso, power point, com a

exibição em vídeo realizada pelo Windows Media

Player.

•Montagem dos materiais desenvolvidos pelas mí-

dias, pelo webdesigner e disponibilização no am-

biente de aula.

CONCLUSÃO

Este artigo não se preocupou em aprofundar

na concepção de ensino e aprendizagem, mas indicar

que um projeto pedagógico possui paradigmas e que

a construção do ambiente virtual de aprendizagem

deve estar articulada junto a um projeto político-pe-

dagógico. O ambiente virtual precisa, assim, refletir

em suas estratégias de ensino e aprendizagem quais

são seus objetivos, o que se pretende com essa nova

de construção do saber.

O importante é perceber que o uso das tec-

nologias da comunicação não muda, em princípio,

as questões inerentes a qualquer projeto educativo.

Há sempre que se responder: para quem? Para quê?

Como o projeto será desenvolvido?

Quando se desenvolve um ambiente de apren-

dizagem, faz-se uma opção teórico-metodológica que

tem subjacente uma abordagem de desenvolvimento

e de aprendizagem humana.

Não basta desejar ter uma ação pedagógica na

elaboração de um ambiente virtual interativo, pois,

se faz condição importante e necessária, haver um

gestor educacional liderando uma equipe multidisci-

plinar. Vale ressaltar que o ambiente por si só não ga-

rante a aprendizagem, ele traz sim uma concepção de

educação e de projeto político-pedagógico em rede.

Assim sendo, os profissionais que estão com o

desafio de desenvolver ambientes virtuais de aprendi-

zagem precisam investir no desenvolvimento de uma

base epistemológica múltipla e convergente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HEIDE, A., STILBORNE L. Guia do Professor para a Internet: completo e fácil. Tradução: Edson Furmankiewz. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. 335p.

SCHON, D. A. Formar professores como profissionais reflexivos In: NÓVOA, António (org). Os Professores e a sua formação. Portugal: Publicações Dom Quixote,1995. p. 77-91.

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VALENTE, J. A. Computadores e o conhecimento. São Paulo: Editora Nied, 1993.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 80 - 83, segundo sem. 2009

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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual

Robert Kalley Cavalcanti de Menezes 1

Professor Adjunto naUniversidade Federal de Campina Grande

Este trabalho apresenta alguns conceitos de ambiente virtual como atividade de transferência de conhecimento na rede a partir de técnicas pedagógicas e de comunicação, com apoio das tecnologias da informação. Espaços em escala global foram abertos para divulga-ção do conhecimento, proporcionando a criação de novos projetos educacionais e corporativos de grande impacto. O ambiente virtual é uma tendência que veio para evoluir e exige planejamento rápido para respostas que mudam a cada instante. Dentro desta dinâmica, conce-ber um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual demonstra ser uma opção interessante para clientes e usuários do sistema.

This work presents some concepts of e-Learning as knowl-edge transfer activity on the Web through pedagogical and communi-cation techniques, with the support of information technology. Spac-es, on a global scale, were opened for dissemination of knowledge, providing the creation of new educational and corporate projects of wide impact. The e-learning is a trend that has come to evolve and demands rapid planning for responses that change quickly. Whithin this dynamic, designing a “turn-key” e-learning model proves to be an interesting option for customers and users of the system.

Concepts and considerations for a “turn-key” model of e-learning

RESUMO

ABSTRACT

Conceptos y consideraciones para un modelo “llave-en-mano” del entor-no virtual

Robert Cavalcanti de MenezesCorrespondência: Av. Manoel Alves Oliveira 1095Campina Grande – Paraíba – BrasilCEP 58410-860Endereço eletrônico: [email protected]

1

Keywords: e-learning; web; information technology.

Palavras-chave: Ambiente virtual; rede; tecnologias da informação.

Este trabajo presenta algunos conceptos de entorno virtual como actividad de transferencia de conocimientos en la red, utili-zando técnicas pedagógicas y de comunicación, con apoyo de las tecnologías de la información. Espacios a escala mundial se abrieron a la difusión de los conocimientos, ofreciendo la creación de nue-vos proyectos educativos y corporativos de gran impacto. Entorno virtual es una tendencia que llegó para evolucionar y exige planifi-cación rápida a respuestas que cambian a cada momento. Dentro de esta dinámica, el diseño de un modelo “llave-en-mano” de en-torno virtual ha demostrado ser una opción interesante para los clientes y usuarios del sistema.

RESUMEN

Palabras-claves: entorno virtual; red; tecnologías de la información.

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INTRODUÇÃO

Modelos de ensino-aprendizagem que permi-

tem a transferência de conhecimentos a distância e

com separação temporal entre tutor e aprendiz já

têm alguma tradição no país. A interligação entre as

duas partes do ensino-aprendizagem tem ocorrido

através do correio (cursos por correspondência), rá-

dio (programas de alfabetização), televisão (teleduca-

ção), vídeos (estudos dirigidos) e, recentemente, pela

Internet.

A educação a distância, portanto, é um concei-

to abrangente, que envolve um ambiente de ensino-

aprendizagem sem a presença física dos participantes

do processo. Atualmente, é exigido um planejamento

sistemático dos conteúdos e das mediações pedagó-

gicas, além da elaboração de recursos interativos que

facilitem a comunicação entre tutor e aprendiz. O

ensino com tecnologia e a educação à distância mu-

daram para a educação online e para o treinamento

baseado em Web, tendo recebido a designação de e-

Learning.

Para Finn (2004), “a introdução do e-Learning

adicionou novos significados para o treinamento e as

possibilidades para entrega de conhecimento e informa-

ção para os estudantes em um compasso acelerado e

abriu um novo mundo para a transferência de conheci-

mento.” Para Carvalho (2007), o e-Learning é diferen-

te da educação a distância, uma vez que integra a dis-

tância o aluno em grupo de aprendizagem, enquanto

na educação a distância, o aluno está sozinho com o

tutor. Desta forma, e-Learning apresenta como carac-

terística própria a interação multidirecional entre to-

dos os participantes, suportada pelas tecnologias do

conhecimento.

A partir da Web, surgem novos espaços de co-

municação e vivência em ambiente virtual de aprendi-

zagem na perspectiva do trabalho colaborativo, supe-

rando-se a presencialidade, substituída pelas mídias

de comunicação que atraem e permitem potenciali-

zar redes de interações em grande escala.

Desta forma, distintas abordagens educacionais

que variam desde processos altamente interativos

até a virtualização da prática de sala de aula podem

ser usadas a partir de princípios educacionais que

valorizam a construção do conhecimento, a autoria

dos conteúdos, a geração de novos conhecimentos

de forma colaborativa e a aprendizagem continuada.

Seja qual for a abordagem adotada, a educação à dis-

tância não pode ser entendida pela transferência de uma

abordagem pedagógica presencial para o virtual, mesmo

quando ambas se apresentam pelos mesmos princípios

educacionais (ALMEIDA & PRADO, 2007).

Além disso:

não se pode conceber que a educação à

distância e a educação presencial estejam com-

petindo entre si. São modalidades distintas, com

características próprias e muito ricas que podem

ser vistas e tratadas de maneira complementar em

diversos contextos de ensino e aprendizagem em

que essas modalidades se entrelaçam e realimen-

tam, permitindo expandir o espaço físico da sala de

aula ao tempo que integram novas possibilidades

de interação e registro que propiciam comparti-

lhar concepções, valores e sentidos (ALMEIDA &

PRADO, 2007).

O contexto presencial de formação educacio-

nal é parte de nossa cultura de aprendizagem. As re-

lações sociais se expressam na comunicação verbal e

gestual. Contudo, por maior que seja a diversificação

das dinâmicas pedagógicas, a escola tradicional esgo-

ta-se em relação ao tempo de aula, número de alunos

e organização disciplinar, diante do novo espaço mi-

diático explosivo e atraente do e-Learning, que pode

tornar o processo de ensino-aprendizagem mais inte-

ressante e motivador.

No contexto virtual, a aprendizagem po-

tencializa uma rede de interações, negociação e

produção compartilhada de significados que pro-

porcionam condições favoráveis aos processos de

assimilação e acomodação implícitos na constru-

ção/reconstrução de conhecimentos. Mas, para

que essa rede se estabeleça é necessário que se

tenham intenções pedagógicas norteadoras de

estratégias presentes desde a concepção, planeja-

mento, implementação e avaliação do curso, en-

volvendo as interações do professor com os alunos

e entre os alunos (ALMEIDA & PRADO, 2007, p.).

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009

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A ESSÊNCIA DO E-LEARNING

Um projeto de e-Learning possibilita um design

educacional concebido como rede dinâmica de convi-

vência humana onde os participantes têm a possibilida-

de de assumir postura de “aprendente” e “ensinante”

um do outro, administrando-se conflitos, contradições

e ambigüidades, objetivando valorizar a interdependên-

cia e a colaboração entre pessoas. Trata-se de um setor

com grandes perspectivas para a educação formal e in-

formal e treinamento corporativo.

Especialistas do setor imaginam que o crescimen-

to do e-Learning no Brasil não se dará por razões exclusi-

vamente acadêmicas, por outro lado, sua capacidade de

multiplicar conhecimento para decisões inovadoras de-

verá também atrair mais aplicações alinhadas às estraté-

gias empresariais e promover benefícios diretos para os

negócios. Para Botelho (2007), “os conteúdos educacio-

nais (gerenciais, técnicos, operacionais, inter-relacionais)

estarão centrados naquelas habilidades que impactarão a

produtividade dos processos e a competitividade das em-

presas.”

É importante destacar que:

(...) muito se fala também na utilização da Web como veículo para promoção e realização de negócios, como canal de comunicação e como fonte ilimitada de informação e geração de conhecimento. O que pouco se fala (ainda) é que um programa de e-Learning pode representar um pouco de tudo isso ao mesmo tempo. Em outras palavras, um projeto de e-Learning pode significar para a empresa, muito mais do que apenas redução de custos em treinamen-to. Um projeto de e-Learning bem estruturado, tem efetivamente o potencial para se tornar uma unidade estratégica de negócios de extrema importância para a organização (LUCENA, 2007).

Neste sentido, é de se esperar que as expec-

tativas e preocupações dos investidores e usuários do

e-Learning estejam motivadas pelas suas necessidades

mais urgentes de gerar conhecimento como vantagem

competitiva. O e-Learning tanto como estratégia de ne-

gócios, ou como solução para aplicações específicas, ou

mesmo para aprendizado combinado (blended learning),

necessita de um roteiro de planejamento que contem-

ple todos os aspectos essenciais para sua estruturação:

gente, tecnologias, propósitos, conteúdos, mediação

pedagógica e demais aspectos multidisciplinares

O ponto de partida para estudo do e-Learning

é reinvenção do processo de ensino-aprendizagem

para suportar a demanda crescente dos trabalhado-

res do conhecimento2 para experiências de aprendi-

zagem apropriadas para o desenvolvimento de habili-

dades de pensamento crítico.

Pesquisas sobre aprendizagem e ensino su-

gerem, enfaticamente, que tais habilidades de pen-

samento crítico são mais desenvolvidas através de

métodos que envolvem conversação sobre pro-

blemas e temas – conversação esta que pode ser

entre aluno e mentor (Diálogo Socrático) ou entre

grupos de estudantes interessados, engajados em

discussões organizadas que focalizam criativas so-

luções de problemas (ROMISZOWSKI, 2003, p.).

Como conseqüência, embora esses métodos

sejam efetivos, envolvem um pequeno número de

alunos presenciais com um professor qualificado, o

que gera custo e impossibilidade de atendimento a

uma demanda crescente pelo conhecimento.

O e-Learning apresenta-se, portanto, como um

desafio da tecnologia para reproduzir, com design

educacional diferenciado, em larga escala, através da

Web, a eficácia do ensino presencial de qualidade em

ambientes acadêmicos ou corporativos.

Como já mencionado anteriormente, não se

trata de uma transferência de uma abordagem pe-

dagógica presencial para virtual, simplesmente. Ao

contrário, trata-se de uma produção multidisciplinar

que envolve em sua configuração mínima: aprendizes,

tutores, conteúdos e tecnologias do conhecimento,

em projeto de interação multidirecional com a utili-

zação das inovações da Web 2.0, mais interativas e

atraentes.

Em e-Learning, não se deve pensar em produ-

to, mas em experiência; não se deve pensar em ser-

viço, mas em soluções. Pesquisa publicada nos EUA

2 “Os trabalhadores do conhecimento gerenciam a si mesmos, têm a aprendizagem e o ensino contínuos como parte de sua função, têm alta mobilidade e são parceiros do empreendimento.” – Cidade do Conheci-mento – USP: http://www.cidade.usp.br/projetos/dicionario/gestao.htm

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009

Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual

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87

pelo Delphi Group3 envolvendo empresas de desta-que em Fortune 500, comprova que aplicações do e-Learning nas corporações ainda está em estágio inicial mesmo nos mercados mais avançados.

Neste sentido, pesquisadores e corporações têm desenvolvido experiências antes mesmo de uma base referencial teórica de aceitação universal. Pesquisa reali-zada por Romiszowski (2003) revela que em 100 artigos sobre e-Leaning, acessados online, o termo foi definido quase 50 vezes, sendo encontradas mais de 20 defini-ções diferentes. Outros 50 artigos não apresentaram qualquer definição. Neste sentido, é válida a questão: O que é mesmo e-Learning?

De uma forma resumida, o e-Learning pode ser entendido como um processo de ensino-aprendizado que possibilita a interação multidirecional entre apren-dizes e tutores, com possibilidade de intercâmbio entre aprendizes, através de um design instrucional imple-mentado na Web, estruturado por mediações pedagó-gicas que permitem comunicação síncrona ou assíncro-na, através de sessões virtuais ou presenciais, apoiado pelas tecnologias do conhecimento e viabilizado pelas necessidades estratégicas de uma organização. Franco (2001) faz referência ao artigo “O que não é e-Learning” de Cher P. Lin, no qual o autor apresenta o processo de e-Learning como faca de dois gumes, caso os quatro principais mitos, no Quadro1, não sejam destruídos:

Quadro 1 - Os Quatro Principais Mitos do e-Learning

MITOS EXPLICAÇÃO

e-Learningtem a ver com

tecnologia.

Estudos comparativos mostraram que nenhuma mídia é superior a outra. O su-cesso tem mais a ver com o contexto em que ela é usada. E-Learning deve tratar de

processo, não de produtos.

e-Learning tem a ver com

informação.

Nós já estamos bombardeados com uma quantidade exorbitante de informação. O que as corporações necessitam são pes-soas capacitadas a sintetizar significado, a partir da enorme diversidade de conheci-mento. Informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria e sabedo-

ria não é visão de mundo.

e-Learning trata de aprendizado

baseado na web.

Com essa orientação as pessoas tentam transferir o aprendizado tradicional para a nova mídia, sem alterar os princípios pedagógicos. E-Learning então, deve

ser sobre o aproveitamento da força e tratamento das fraquezas do aprendizado baseado na Web para criar um ambiente

de aprendizado significativo.

e-learning é baseado em

interação entre computador e

aprendiz.

Na verdade, este tipo de atividade pode garantir controle sobre atividades e se-

qüências, mas não necessariamente apren-dizado. O aprendizado de um indivíduo é o resultado das interações com a sua comunidade. Esta comunidade consiste de seus colegas, empregados, clientes,

parceiros e investidores.

Para Massie (1999):

o e-learning é um grande conceito, capaz

de englobar muito mais que apenas o treinamento

baseado na Web, CBT, educação à distância ou ou-

tras expressões. Com a difusão do termo através

de press releases, trade shows e novos planos de

negócio, temos uma oportunidade única de defi-

nir o que esse “e” REALMENTE deve representar

(MASSIE, 1999, p.).

Para Massie (1999), o “e” significa, literalmen-

te, a personificação “eletrônica” de uma relação co-

mercial, de compras ou de aprendizado. Contudo,

também quer dizer moderno, era da Internet, “pron-

to para o capital de risco” e online.

A EXPERIÊNCIA é um componente es-

sencial do e-learning, porque é nele que está o

VALOR. Se não nos concentrarmos na dimensão

EXPERIÊNCIA do aprendizado, correremos o ris-

co de errar na divulgação de informações sobre

aprendizado e treinamento. Converter, simples-

mente, um esboço de curso em HTML não é o

melhor do e-learning. Isso é o mesmo que apenas

oferecer material de leitura pela rede (MASSIE,

1999).

A experiência a que se refere Massie (1999) leva em consideração os fatores apresentados no

Quadro 2, a seguir:

FATORES EXPLICAÇÃO

ComprometimentoComo motivar o aprendiz a se envolver totalmente.

CuriosidadeComo aproveitar o poder da curiosidade e da exploração.

Simulação e prática

Como oferecer ao aprendiz oportunida-des instigantes de simulação e prática.

AperfeiçoamentoComo fornecer conteúdo educacional de correção e extensão.

TreinamentoComo ministrar treinamento humano e di-gital para aprendizes.

Aprendizadoem Grupo

Como formar comunidades que abram ca-minho para as dimensões sociais do apren-dizado online. Como explorar o aprendi-zado em grupo.

Aprendizado Ativo

Como elaborar projetos que incentivem o aprendizado ativo e que se aliem com os desafios do ambiente de trabalho.

Apoio aoDesempenho

Como criar programas de e-Learning dura-douros e que incrementem o desempenho do aprendiz no seu dia-a-dia profissional.

Quadro 2 - Fatores Relevantes para o E-Learning (Elliot Massie)

Fonte: Conexão Mercado – Revista Eletrônica: http://www.conexaomer-cado.com.br/VerMateria.aspx?id=30

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009

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IntensidadeComo criar experiências memoráveis e de alta intensidade.

Avaliação e Feedback

Como ajudar o aprendiz a perceber me-lhor seu próprio conhecimento e suas carências. Como a organização pode ge-renciar capital humano utilizando-se o e-Learning.

Cultura do Ensino

Como o e-Learning pode ampliar o volu-me de ENSINO que ocorre na organiza-ção, motivando a transmissão de conheci-mento mais vezes em um dia de trabalho.

Observa-se que as funções tecnológicas do e-

Learning não foram consideradas por Massie (1999)

nesta percepção de negócio. O e-learning dos meus so-

nhos tem a intensidade de um simulador de vôo, o apoio

via e-mail de um mentor de confiança, a atração de um

grande romance literário - e cria a EXPERIÊNCIA do alu-

no que o faz dizer “UAU”. O “UAU” tem a ver com sua

conexão com o conhecimento, não com a tecnologia. O

“e” é o poder da EXPERIÊNCIA. Vamos inventar e criar

isso! (MASSIE, 1999).

Por outro lado, Khan (1997) sugere oito di-

mensões-chave para o design dos projetos a serem

avaliadas, incorporando os seguintes aspectos: pe-

dagógicos, institucionais, tecnológicos, design de in-

terface, avaliação, gestão, suporte técnico e aspectos

éticos. Cada dimensão pode ser ainda dividida em

subdimensões e fatores específicos relacionados ao

design de ambientes.

A metodologia “A Framework for E-Learning”4

de Khan (1999) está sendo atualmente utilizada por

pesquisadores em diversos países.

A decisão mais simples na implementação

de e-Learning são o hardware e o software a se-

rem utilizados. Busque as alternativas disponíveis,

selecione uma boa ferramenta de autoria, adquira

um gerenciador de e-Learning – LMS – e imple-

mente aulas virtuais. Todas essas decisões depen-

dem unicamente de uma seleção criteriosa. A eta-

pa mais difícil é criar e implantar novos métodos

para o desenho de cursos, desenvolvimento pes-

soal e mudanças organizacionais. Esse é o grande

desafio do e-Learning! (MASSIE, 1999).

Atualmente, alguns LMSs podem dar suporte

ao processo de e-Learning. Entretanto, como produ-

to, nenhum LMS pode fazer de tudo. A tecnologia em

si mesma não é solução. Para Finn (2004), soluções

efetivas de entrega de conhecimento precisam trabalhar

externamente bem como internamente para conectar

unidades de negócio, fornecedores e clientes. O Websi-

te da empresa McWeadon Education5 comercializa o

LMS McWeadon utilizando a estratégia do Free Demo

Course para clientes em potencial, que recebem um

resumo do ambiente de tecnologia educacional, en-

volvendo os aspectos: Planejamento e Gestão do

e-Learning (compreensão de projetos de e-learning

e blended e-learning para suas necessidades, apren-

dizagem organizacional, gestão das tecnologias e as-

pectos estratégicos do negócio) e Design Instrucional

de e-Learning (planejamento da questão instrucional,

necessidades de avaliação, análise das atividades, ca-

racterísticas dos aprendizes, objetivos instrucionais,

recursos instrucionais, seqüência de conteúdos, e ou-

tros aspectos relacionados à geração dos conteúdos).

Outros produtos estão disponíveis como pla-

taformas computacionais, formadas por diferentes

ferramentas de interação, comunicação, inserção de

documentos, gerenciamento de informações, en-

tre outras funções, a exemplo de diversas platafor-

mas abertas como ProInfo, Teleduc, Moodle, além de

plataformas proprietárias como Blackboard, WebCT,

LearningSpace. Neste aspecto, a tecnologia não é a

questão crítica. Para concluir este tópico, é razoável

distinguir dois aspectos-chave na concepção do e-

Learning:

O primeiro consiste em perceber o processo

como uma questão educacional em si mesmo e suas

potencialidades em larga escala. O segundo, como

conseqüência, consiste em elaborar o planejamento

estratégico para definir o projeto, recursos humanos

e tecnológicos necessários e seu alcance como em-

preendimento, traduzido pelo seu custo-efetividade.

A CONFIGURAÇÃODE UM MODELO

E-Learning é uma tendência que veio para evo-

luir. É inconcebível que, com tanta tecnologia a favor

e tantas necessidades humanas a serem atendidas

4 A Framework for E-Learning - http://asianvu.com/bookstoread/fra-mework/ 5 McWeadon Education - http://www.asianvu.com/courses/

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009

Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual

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89

na área de ensino-aprendizagem, não sejam criadas novas modalidades de transferência e distribuição de conhecimento em escala de crescimento propor-cional às novas demandas que surgem em todos os setores: ambientes acadêmicos, treinamento corpo-rativo, educação continuada para profissionais libe-rais, intercâmbio de conhecimento entre grupos de interesse comum. A velocidade de transferência de informação e o novo comportamento colaborativo, talvez como conseqüência, estão, conforme sugere Tapscott (2007), criando novos e poderosos modelos de produção baseados em comunidade, colaboração e auto-organização.

Os clientes estão colaborando para a criação de bens e serviços em vez de consumirem apenas o pro-duto final. Esse novo modelo de inovação e criação de valor, chamado de peer production, está tornando-se comum entre as grandes empresas inovadoras que buscam novas fontes de criatividade e inovação em colaboradores externos.

Diante dessa nova dinâmica social, o indivíduo amplia sua necessidade de experiência e conhecimen-to. É inegável o interesse das pessoas pelo aperfeiço-amento de seus conhecimentos em qualquer área de trabalho. Profissionais de todas as áreas estão tornan-do-se trabalhadores do conhecimento, mesmo para aquelas atividades de baixa remuneração. Saber fazer através da melhor técnica ou procedimento é critério essencial na contratação de novos colaboradores.

O novo comportamento colaborativo e parti-cipativo exige, contudo, aquisição de conhecimento, o que implica em custo e tempo de aprendizagem. Devido ao seu potencial multiplicador, o e-Learning pode suprir necessidades de aprendizagem de uma comunidade de interessados ou atender a aplicações corporativas a custo reduzido e em tempo adequado.

Como tendência que veio para evoluir, o e-Learning apresenta um cenário de oportunidades no mercado de transferência do conhecimento. Em to-dos os setores da economia multiplicam-se os empre-endimentos que utilizam a Web como ambiente para treinamento, capacitação e formação de recursos hu-manos. Universidades e corporações divulgam seus programas de ensino e treinamento em escala global.

As Tecnologias da Informação e Comunicação geram mudanças comportamentais e organizacionais, e tornam possível a existência de um mercado con-corrente além das fronteiras. Os empreendimentos estão em permanente processo de destruição criativa e o planejamento tradicional é substituído pelo fazer,

testar, ajustar e agir rápido. Nestas circunstâncias, é válido se pensar na padronização das melhores práti-cas para negócio, como se um protótipo de franquia estivesse sendo construído.

Segundo Gerber (2004), o empreendimento deve ser algo dissociado do indivíduo que o concebe. Desse modo, é importante que os processos estejam definidos de modo a serem executados de forma in-dependente por qualquer pessoa que tenha interesse em operacionalizá-los.

O e-Learning como modelo Turn-key – pronto para uso com eficácia – apresenta-se como um pro-duto atraente para os clientes e usuários. Alguns as-pectos adaptados de Gerber (2004), que podem ser associados à concepção do e-Learning com este pro-pósito, são: 1) O modelo irá fornecer vantagens reais a seus clientes, usuários e colaboradores, acima da expectativa deles; 2) O modelo será operado e usado por pessoas com o mínimo possível de conhecimen-to profissional; 3) O modelo se comportará como um sistema interativo multidirecional onde tudo flui e funciona; 4) Todas as tarefas do modelo serão do-cumentadas em Manuais de Operação; 5) O modelo oferecerá o serviço de forma previsível e uniforme ao cliente; e 6) O modelo utilizará padronização de co-res, códigos, letras, mensagens, avisos, mídias e sons, tudo conseqüência do design instrucional adequado.

Segundo Gerber (2004), modelos de negócios com base em formato de franquia estão baseados na crença de que o verdadeiro produto de um negócio não é o que ele vende, mas como é vendido: o verdadeiro produto de um negócio é o próprio negócio. Modelos de e-Learning com esta configuração devem ser robustos nos seguintes aspectos: conteúdos, design instrucio-nal, facilidade de uso, atualização do conhecimento, comunicação e interatividade, certificação legal, fle-xibilidade para o usuário com opções síncronas ou assíncronas, mediação pedagógica, gestão do treina-mento/capacitação, pontualidade nos prazos e preço.

As palavras-chave do e-Learning são: conexão, acesso, interação, compartilhamento, respostas rápi-das, aprendizado e satisfação – práticas do marketing estratégico.

CONCLUSÃO

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009

MENEZES, R. K. C.

A tendência de crescimento dos negócios na

Web garante a expansão do e-Learning, em esca-

la global, como sistema de divulgação e distribuição

do conhecimento em todos os níveis de aplicação:

Revista ANPG.indd 89 21/10/2009 11:26:11

90

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASacadêmicas, corporativas ou pessoais. As mudanças

tecnológicas envolvendo e-Learning e suas aplicações

tornam o setor atrativo em oportunidades de empre-

endedorismo de valor – novos negócios baseados em

novos conceitos com a finalidade de gerar novos pro-

dutos ou serviços.

Para Baron (2007), pesquisadores revelaram

que a mudança tecnológica é a fonte mais importante

de oportunidades de empreendedorismo de valor que

viabiliza o começo de novos empreendimentos. Ainda,

segundo Baron (2007), novos negócios são mais bem-

sucedidos quando suas idéias estão baseadas em capi-

tal humano. Projetos de e-Learning são tão complexos

quanto produções cinematográficas. Envolvem tecno-

logia, gente e talentos, design de interação, conteúdos

e linguagens, gestão de processos, lideranças, custos e

outros fatores. Pensar nas melhores práticas, mesmo

que a experiência própria seja pouca e copiar seja neces-

sário, é o melhor caminho para iniciar projetos na área.

Criar ambientes de desenvolvimento e aplicações que

reagem interativamente com os protótipos e sistemas

produzidos, de modo a possibilitar rápidas modificações

e atualizações, garantindo capacidade de resposta para

o usuário, é a grande estratégia do e-Learning. O mode-

lo Turn-key – pronto para uso com eficácia – semelhan-

te a uma franquia, mesmo que não tenha por objetivo

ser franqueado, apresenta um roteiro de pré-requisitos

indispensáveis para a compreensão do novo empreen-

dimento que, segundo Peters (2004), exige novo con-

ceito, nova tecnologia, novo valor, nova marca, novos

mercados, novo trabalho, novas pessoas e nova gestão.

O novo conceito para re-imaginar as potencia-

lidades do e-Learning. A nova tecnologia que transfor-

ma, considerando-se que as Tecnologias da Informação

apresentam grande potencial de inovação nos negócios.

O novo valor centrado nos custos e na oferta de ser-

viços profissionais. A nova marca que fornece experi-

ências memoráveis aos seus usuários. Os novos merca-

dos que expandem as escalas e aumentam o retorno.

O novo trabalho que deve ser criativo e compensador

para quem faz. As novas pessoas abertas à inovação e a

novas experiências. Finalmente, a nova gestão que pen-

sa fora do convencional e busca a excelência numa era

de desordem.

ALMEIDA, E. B. & PRADO, M. E. B. B. Educação à Distância: De-sign Educacional e Redes de Significados. Disponível em: http://www.gestaoelideranca.com.br/educacao/principal/conteu-do.asp?id=2316. Acesso em: 12/03/08.

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Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009

Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual

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SEÇÃO“ACONTECE”

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Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pon-tifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Univer-sidade

Eric Calderoni 1

Ex-Diretor de Política daAssociação de Pós-Graduandos daPontifícia Universidade Católica de São Paulo

Lauro Ishikawa2

Representante dos Pós-Graduandos noConselho Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

O presente artigo relata a campanha da Associação de Pós-Graduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para garantir direito à representação autônoma dos pós-graduandos nos Colegiados de sua universidade, bem como para ampliar o direito a voto também para os pós-graduandos lato sensu.

This article reports the campaign of the Graduate Students Association of the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo to ensure the right to autonomous representation of graduate students in the University Board and other collective bodies of the University, as well as to broaden the right to vote for lato sensu graduates.

Graduates gain recognition from the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo of their right to autonomous representation in the University Board and other collective bodies of the University

RESUMO

ABSTRACT

Estudiantes de posgrado obtienen el reconocimiento de la Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo de su derecho a la representación autó-noma en los consejos de la Universidad

Eric CalderoniEx-Diretor de Política da Associação dePós-Graduandos, por ocasião da campanha“PUC: não rejeite quem te ama!”.Correspondência: Av. Paulista 509, Piso P, cj4São Paulo/SP - Brasil - CEP 01311- 000Endereço eletrônico:[email protected]

Lauro IshikawaCorrespondência: Associação de Pós-Graduandos da PUC-SP. Rua Monte Alegre, 984Edifício Reitor Bandeira de Mello, 4º andar, PerdizesSão Paulo/SP - Brasil - CEP 05014-901.Endereço eletrônico: [email protected]

1

2

Keywords: institutional redesign; student representation.

Palavras-chave: Redesenho institucional; representação discente.

Resumen: Este artículo relata la campaña de la Asociación de Estudiantes de Posgrado de la Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para garantizar el derecho a la representación autóno-ma de los estudiantes de posgrado en los consejos de la universi-dad, y para ampliar el derecho al voto también para los estudiantes de posgrado lato sensu.

RESUMEN

Palabras-claves: Rediseño institucional; representación de los estudiantes.

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INTRODUÇÃO

Devido à crise financeira em 2005, a Cúria Me-

tropolitana, mantenedora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (PUC-SP), teve que assinar um

Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que im-

punha reformas administrativas com os objetivos de

corte de gastos e concentração de poder.

Dentre as medidas enunciadas no TAC, incluía-se

a necessidade de uma reformulação do Estatuto da Uni-

versidade que lograsse um enxugamento da estrutura

organizacional, com redução de cargos e instâncias.

Em 2007, iniciou-se, pelo Conselho Universi-

tário, o debate sobre como ficaria o novo Estatuto,

processo esse, que ficou conhecido como o “Redese-

nho Institucional” da PUC-SP.

Ao abrir consulta pública irrestrita, quatro pro-

postas completas chegaram à Comissão de Redese-

nho Institucional: a proposta dos pós-graduandos, re-

presentados por sua Associação de Pós-Graduandos

(APG-PUC/SP) e mais três outras – uma da Reitoria

do momento, outra do Centro de Educação (CE-

DUC) e outra da Faculdade de Economia, Adminis-

tração, Contabilidade e Atuária (FEA).

Pelas três últimas propostas, tanto por aque-

la da Reitoria, como pela do CEDUC, como pela da

FEA, os pós-graduandos perderiam sua representa-

ção autônoma nos Conselhos Superiores da PUC-SP.

Antes do redesenho, havia seis cadeiras dis-

centes em cada um dos Conselhos Superiores (Con-

selho Universitário, Conselho de Ensino e Pesquisa,

Conselho Comunitário e Conselho de Administração

e Finanças): cinco cadeiras reservadas a alunos de

graduação, um de cada Centro (Centro de Ciências

Humanas; Centro de Ciências Jurídicas, Econômi-

cas e Administrativas; de Ciências Exatas e Tecnolo-

gia; de Ciências Médicas e Biológicas) e uma cadeira

geral para os pós-graduandos. Assim, a estrutura da

PUC-SP identificava até então a peculiaridade dos

pós-graduandos como pesquisadores, portanto com

necessidades diferentes dos alunos de graduação; em

uma posição intermediária entre a condição de aluno

na própria PUC-SP, mas com perfil para ser docente,

portanto em um estágio da carreira já de profissional;

reconhecendo a história de representação política da

APG-PUC/SP. Por critérios meramente burocráticos,

no entanto, os três referidos proponentes inicialmen-

te tentaram ignorar tais aspectos.

A APG-PUC/SP iniciou de pronto ampla cam-

panha batizada de “PUC, não rejeite quem te ama!”,

que contou com o apoio da Associação Nacional de

Pós-Graduandos (ANPG).

Escrevemos artigos, divulgamos panfletos, visita-

mos cada Centro, firmando posição intransigente, res-

paldados no Estado Democrático de Direito, no sentido

do reconhecimento da nossa condição destacada, da

ampla participação e representação dos pós-graduandos

na vida da Universidade, como membros ativos da co-

munidade universitária e com peculiaridades próprias,

em nossa condição de pesquisadores, que traz necessi-

dades que precisam de canais de representação.

A Universidade, nas palavras do Prof. Ricardo

Sayeg, como solo sagrado, santuário da democracia,

não pode marginalizar nenhum grupo que a compõe,

sujeitando-o a um regime de dominação que lhe ne-

gue condições de se expressar com voz e participar

com voto na decisão sobre seus próprios rumos. So-

mente com liberdade e autonomia de gestão, pode-

se levar a cabo integralmente a liberdade de pensa-

mento que requer a pesquisa e o ensino crítico.

Como estávamos com a razão, conseguimos

criar, aos poucos, um consenso na Universidade. Após

alguns meses de intensa luta, aqueles três proponen-

tes, tanto a Reitoria, como o CEDUC e a FEA, deram

razão à APG/PUC-SP e modificaram sua proposta ini-

cial, de modo a acolher, na estrutura organizacional,

a representação autônoma dos pós-graduandos nos

Conselhos Superiores, na Câmara de Pós-Graduação

e nos Conselhos das Faculdades.

Entretanto, nossa vitória apenas não foi com-

pleta, pois os estudantes da Pós-Graduação lato sen-

su continuaram sem direito a voto na Universidade. A

luta da APG/PUC-SP continua para que sua dignidade

seja reconhecida. Em relação a essa reivindicação,

merece destaque o apoio que, na ocasião, recebe-

mos do então diretor do Centro de Ciências Jurídicas,

Econômicas e Administrativa (CCJEA), eleito poste-

riormente como Reitor, o Prof. Dr. Dirceu de Mello.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 92 - 94, segundo sem. 2009

CALDERONI, E. & ISHIKAWA, L

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94

Discurso do então Diretor de Política da APG/PUC-SP, Eric Calderoni, na audiência pública para debater o Redesenho. (em cima)

O Presidente da ANPG na ocasião, Allan Aroni (ao centro) apoiando a luta da APG/PUC-SP. Eric Calderoni (direita), então Diretor de Política da APG e Thiago Lopes Matsushita (à esquerda), na liderança da campa-nha. (ao lado)

Leandro Pires Salvador e Eric Calderoni, da Comissão de Política da APG (à esquerda), Lauro Ishikawa e Etelma Tavares Souza, representan-tes titular e suplente dos pós-graduandos no Conselho Universitário, no auditório do campus Sorocaba da PUC-SP, onde se realizou a votação na qual se sagrou a vitória dos pós-graduandos em 31 de março de 2008.

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Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade

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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha

Rogério Adas Pereira Vitalli1

Ex-Diretor Acadêmico da APG-ITA,Mestrando em Mecatrônica e Sistemas Aeroespaciais

A Associação de Pós-Graduandos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica organizou um evento de grande importância para os alunos de graduação, pós-graduação, professores e pesquisado-res do Instituto Tecnológico de Aeronáutica; esclarecendo as mais diversas dúvidas sobre diferentes formas de intercâmbio na Alema-nha.

Palavras-Chave: Associação dos Pós-Graduandos; Instituto Tecnológico de Ae-ronáutica; Deutscher Akademischer Austrausch Dienst.

Event of the Deutscher Akademischer Dienst Austrausch: academic ex-change Brazil-Germany

Rogério Adas Pereira Vitalli Correspondência:Instituto Tecnológico de AeronáuticaCTA / ITA /IEMP,Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, São José dos Campos/SP - Brasil. CEP 12.228-900.Endereço eletrônico: [email protected] 601. Endereço eletrônico: [email protected]

1

RESUMO

The Graduate Students Association from the Instituto Tec-nológico de Aeronáutica organized an event of great importance for the undergraduate and graduate students, professors and research-ers of the Instituto Tecnológico de Aeronáutica; clarifying the most diverse doubts on different forms of exchange in Germany.

Keywords: Graduate Students Association; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Austrausch Dienst.

ABSTRACT

RESUMEN

Evento de la Dienst Deutscher Akademischer Austrausch: Intercambio Académico Brasil-Alemania

La Asociación de Estudiantes de Posgrado del Instituto Tec-nológico de Aeronáutica organizó un evento de gran importancia para los estudiantes graduados y posgrados, profesores y investi-gadores del Instituto Tecnológico de Aeronáutica, explicando las varias preguntas sobre diferentes formas de intercambio en Alema-nia.

Palabras-claves: Asociación de Estudiantes de Posgrado; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Dienst Austrausch.

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96

INTRODUÇÃO

SOBRE O DEUTSCHERAKADEMISCHER DIENST

AUSTRAUSCH - DAAD

A Associação de Pós-Graduandos do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica (APG-ITA), instituída em

23 de junho de 1995, vinculada à Associação Nacional

de Pós-Graduação (ANPG), é uma entidade jurídica

de direito privado sem fins lucrativos, apolítica e de

duração indeterminada.

A APG-ITA é a entidade representativa dos

pós-graduandos e pós-graduados pelo Instituto Tec-

nológico de Aeronáutica (ITA) e reconhece a Asso-

ciação Nacional de Pós-Graduandos como entidade

legítima de representação dos pós-graduandos em

nível nacional, reservando perante esta, sua autono-

mia. Para este efeito, são pós-graduandos pelo ITA os

alunos regularmente matriculados nos programas de

pós-graduação desta Instituição.

A APG-ITA tem, por seus objetivos estatutá-

rios: estimular a pesquisa e o desenvolvimento no

campo da tecnologia avançada, da ciência e do en-

sino, complementando e apoiando, prioritariamente,

as atividades exercidas pelo Instituto Tecnológico de

Aeronáutica – ITA; estimular a formação, a especia-

lização e o aperfeiçoamento de recursos humanos

para empresas e entidades públicas privadas; incre-

mentar o intercâmbio de especialistas e de material

didático e científico, entre as instituições nacionais e

internacionais por meio da concessão de auxílios à

pesquisa e desenvolvimento, na forma de bolsas de

ensino, pesquisa, extensão, estudos, estágio, ou de

desenvolvimento e apoio, planejando e organizando

atividades e empreendimentos nos setores de tecno-

logia e ensino, tomando o encargo de executá-los ou

prestando-lhes as assistências técnica e administrativa

necessárias; manter, em atividade permanente, sem

qualquer discriminação e de acordo com seus planos

de atividades, centros de estudos e pesquisas, de se-

leção e orientação de ensino, de documentação e ou-

tros, próprios ou em regime de cooperação com en-

tidades nacionais e estrangeiras, públicas ou privadas.

Em 3 de abril de 2008, a APG-ITA ofereceu

um evento de grande importância para sua comuni-

dade iteana, esclarecendo as mais diversas dúvidas

a respeito do intercâmbio na Alemanha, com pales-

tras ministradas pela Dra. Gabriele Althoff (Diretora-

Executiva do DAAD); Prof. Dr. Jefferson de Oliveira

Gomes (Coordenador do Centro de Competência

em Manufatura – CCM); Prof. Dr. Karl Heinz Kienitz

(Coordenador do Curso de Graduação de Engenha-

ria Eletrônica) e Prof. Dr. Luiz Carlos Sandoval Góes

(Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica

Aeronáutica). Com a iniciativa de um grupo de pós-

graduandos e ações coordenadas por Hudson Bode

(Presidente) e Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico), o

acontecimento foi um marco na história da APG-ITA,

até então, “fechada” aos eventos acadêmicos exter-

nos e em processo de reconhecimento pela Reitoria

do ITA.

O Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico

foi fundado em 1925 e reinstituído em 1950. É uma

associação sem fins lucrativos, cujos membros são

231 Instituições de Ensino Superior e 127 grêmios

estudantis da Alemanha. Subsidia anualmente cerca

de 40.000 alemães e 27.000 estrangeiros por meio

de mais de 200 programas de bolsas. Possui sua sede

principal em Bonn na Alemanha e um escritório em

Berlim. No exterior é representado por 13 escritó-

rios e 35 centros de informação. Assim, é uma orga-

nização mediadora de política exterior da cultura, de

política universitária e científica e de cooperação para

o desenvolvimento no âmbito da educação superior,

bem como oferece diversos programas de bolsas de

estudo e de apoio a pesquisa para estudantes de gra-

duação e pós-graduação, professores e pesquisado-

res universitários.

O escritório do DAAD no Rio de Janeiro, fun-

dado em 1972, coordena atualmente mais de 30 pro-

gramas de intercâmbio para estudantes e pesquisa-

dores brasileiros e atua em parceria com as agências

brasileiras de fomento (principalmente com a CAPES,

o CNPq e a FAPESP).

O escritório fica no prédio do Consulado Ale-

mão, aberto aos interessados em maiores informa-

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p.95 - 101, segundo sem. 2009

Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha

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97

ções sobre o ensino superior da Alemanha. Estão à

disposição diversos materiais sobre todos os aspec-

tos do estudo na Alemanha, inclusive os catálogos das

matérias oferecidas nas universidades alemãs.

Desde as primeiras fundações do século XV,

as universidades alemãs têm apresentado uma lon-

ga tradição em excelência acadêmica. Com a refor-

ma no ensino superior por Wilhelm Von Humboldt

(1767-1835) foi estabelecida a união da pesquisa e do

ensino nas universidades alemãs, o que resultou em

instituições que não somente ensinam, mas também

realizam pesquisas independentes e aplicadas. Após a

reforma nos anos 70, o estudante passou a ter maior

liberdade na escolha das disciplinas.

O EVENTO NOINSTITUTO TECNOLÓGICO DE

AERONÁUTICA - ITAO evento ocorrido no Instituto Tecnológico

de Aeronáutica – ITA em 3 de abril de 2008, contou

a presença do Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pes-

quisa, Prof. Dr. Homero Maciel do ITA, que relatou

a importância de um evento como esse para a insti-

tuição. Além disso, estavam presentes pesquisadores

do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e

professores de outras universidades da região do vale

do Paraíba.

Programação

Tabela 1. Programação do Evento [ Fonte APG-ITA ]Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA / Associação de Pós-Graduandos do ITA - APG / Intercâmbio Acadêmico - DAAD

TEMAS CONVIDADOS HORÁRIOS

Abertura do Evento Rogério Vitalli(Diretor Acadêmico da APG – ITA) 14:00 hs

APG do ITA Hudson Bode (Presidente da APG-ITA) 14:05 hs

Pós-Graduação do ITA Prof Dr. Homero Maciel (Pró Reitor de Pós Graduação e Pesquisa do ITA) 14:15 hs

Oportunidades de Estudoe Pesquisa na Alemanha Dra.Gabriele Althoff 14:30 hs

Ralato de caso: Doutorado na Alemanha Prof. Dr. Jefferson de Oliveira Gomes - ITA 15:30 hs

Ralato de caso: intercâmbio Alemão Prof. Dr.Luiz Carlos Sandoval Góes - ITA 15:45 hs

Relato de caso: Experiência com a bolsa de pós-doutorado da Fundação Humboldt Prof. Karl Heinz Kientz - ITA 16:00 hs

Mesa Redonda: perguntas e respostas Rogério Vitalli(Diretor Acadêmico da APG – ITA) 16:15 hs

Encerramento do evento Hudson Bode (Presidente da APG-ITA) 17:30 hs

Fonte APG-ITA

Discurso do Presidente da APG-ITA

“... e demais autoridades, senhoras e senhores,

boa tarde. É com grande orgulho que nos envolve-

mos na vinda da Dra. Gabriele Althoff, do DAAD, ao

ITA. Agradecemos à doutora Gabriele que, com tan-

tas ocupações, conseguiu nos dedicar um pouco do

seu tempo, prestigiando-nos com sua visita. Antes de

passar a palavra aos convidados externo e internos do

ITA, gostaria de falar um pouco sobre a APG: quem

somos e quais os nossos objetivos.

A Associação de Pós-Graduandos do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica (APG-ITA), instituída em

23 de junho de 1995, cadastrada na Associação Na-

cional de Pós-Graduação (ANPG), é uma entidade ju-

rídica de direito privado sem fins lucrativos, apolítica

e de duração indeterminada.

A APG-ITA é a entidade representativa dos

pós-graduandos e pós-graduados pelo Instituto Tec-

nológico de Aeronáutica (ITA).

Peço licença a todos para, aqui, falar um pouco

dos objetivos estatutários da APG-ITA, para aqueles

que ainda não tem conhecimento de sua existência e

mesmo aos que já vislumbram alguma idéia.

Figuram dentre os nossos objetivos (talvez se-

jamos um pouco prepotentes):

1. Representar os pós-graduandos regularmen-

te matriculados e pós-graduados no ITA junto aos ór-

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98

gãos colegiados do ITA;

2. Promover a integração entre os alunos e de-

senvolver sua participação nos vários aspectos da vida

acadêmica do ITA;

3. Defender os direitos e interesses dos pós-

graduandos do ITA e, em especial, propor ou reivindi-

car condições de estudo, de pesquisa e de atividades

correlatas;

4. Promover a participação efetiva dos pós-

graduandos e pós-graduados nas propostas relativas

à estruturação e ao funcionamento do ITA;

5. Criar um fórum permanente para troca de

experiências, discussões e apresentação de oportuni-

dades profissionais e acadêmicas aos associados;

6. Estimular a formação, a especialização e o

aperfeiçoamento de recursos humanos para empre-

sas e públicas e privadas;

7. Incrementar o intercâmbio de especialista e

de material didático e científico, entre as instituições

nacionais e internacionais por meio da concessão de

auxílios à pesquisa e desenvolvimento, na forma de

bolsas de estudos, estágios ou pesquisas.

Esses objetivos são cumpridos com muita de-

dicação por seus Diretores eleitos pelos pós-gradu-

andos em Assembléia Geral, que têm mandatos de 3

(três) anos. Hoje temos firmados diversos convênios

com empresas dos setores públicos e privado, que

resultam em:

•Bolsas para alunos e pesquisadores dessa e

de outras instituições. Além disso, esses recursos são

destinados à compra de equipamentos, livros, custeio

de bens e serviços para o ITA;

•Convênioscomprofessoresparaoensinode

idiomas, como o alemão, o inglês, o francês e o russo.

Esses cursos são oferecidos no Memorial Aeroespa-

cial Brasileiro a todos do CTA. Temos interesse em

trazer esses cursos para o ITA;

•Convênios médicos, odontológicos e para

compra de medicamentos com descontos para os as-

sociados da APG.

A APG tem se tornado referência para outras

APGs, que nos solicitam orientação para implementa-

rem o nosso modelo em suas associações. Um exemplo

foi a APG-USP de Ribeirão Preto que, no último CO-

NAP (Conselho Nacional de Pós-Graduandos), convi-

dou-nos para uma palestra sobre nossas experiências.

A APG participa da CONGREGAÇÃO, que é

o órgão máximo dessa Instituição. Atualmente, a par-

ticipação se faz por convite; entretanto, com as mu-

danças que em andamento no regimento da Congre-

gação, a APG logo terá assento permanente e direito

a voto nesse Colegiado.

Somos membros do Conselho de Pós-Gradua-

ção do ITA (CPG), que é o Fórum de decisão em últi-

ma instância de questões concernentes à Pró-Reitoria

de Pós-Graduação e Pesquisa. Estamos de maneira

atuantes em todas as reuniões, representando os

pós-graduandos.

Estamos na Comissão de Política Educacional

do ITA (CPE), que possui a incumbência de analisar

e criticar o Modelo Educacional do ITA, por meio da

preparação de um documento oficial.

Somos membros da Comissão Própria de Ava-

liação (CPA) que é formada para conduzir os processos

de avaliação internos da instituição, no contexto e para

fins do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su-

perior (SINAES) e para sistematizar e prestar as infor-

mações solicitadas pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Nós da APG gostaríamos de ter nossos esforços

coroados com o reconhecimento pleno, em todas as

instâncias do ITA. Dos alunos, esperamos maior parti-

cipação. Dos nossos mestres, desejamos maior incen-

tivo às nossas atividades. Das instâncias superiores civis

e militares, ansiamos pelo reconhecimento formal da

APG no ITA. Tal reconhecimento deverá vir por meio

de um convênio abrangente, que está em fase final de

análise. Com isso, esperamos praticar todas as ativida-

des fins da APG, de modo regular e permanente, visan-

do ao benefício da comunidade iteana.

Em linhas gerais, é isso que tenho para falar a

todos os presentes.

Muito Obrigado”.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p.95 - 101, segundo sem. 2009

Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha

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99

Figura 2. Dra. Gabriele Althoff do DAAD Figura 4. Hudson Bode (Presidente da APG-ITA)

Figura 3. Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico da APG-ITA)

Figura 5. Prof. Dr. Góes

Figura 7. Prof. Dr. Kienitz

Figura 6. Prof. Dr. Jefferson

Figura 8. Público Presente

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100

Figura 9. Janete (Secretária da APG – ITA) Figura 10 Dito (Técnico do APG - ITA)

A Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

do ITA convidou os novos alunos regulares (Mestra-

do/Doutorado) da Pós-Graduação para um encontro

de boas vindas em 5 de março de 2009, às 16 horas e

30 minutos, no Auditório B da Divisão de Ciência da

Computação. Na ocasião foram apresentados alguns

aspectos importantes das normas da Pós-Graduação

e elementos do modelo iteano, com ênfase particu-

lar no conceito de Disciplina Consciente (DC). Em

seguida foi feito o anúncio de uma oficina para pre-

paração de artigos científicos e uma apresentação

da APG-ITA, que foi oficialmente reconhecida pelo

ITA. Ao término do encontro foi oferecido um co-

quetel aos novos alunos. Em 6 de junho realizou-se

a solenidade de colação de grau das turmas 2009 de

Pós-Graduação Stricto Sensu do Instituto Tecnológi-

co de Aeronáutica (ITA), que teve como paraninfo o

Prof. Dr. Luis Fernandes, presidente da Financiado-

ra de Estudos e Projetos (Finep). Na ocasião foram

conferidos os diplomas aos formandos nos cursos de

Doutorado, Mestrado e Mestrado Profissionalizante,

no total de 29 Doutores, 118 Mestres e 62 Mestres

Profissionais. Foi mencionado que o “ITA SEDIARÁ

O PRIMEIRO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGE-

NHARIA AEROESPACIAL E APLICAÇÕES”; um dos

motivos desse acontecimento decorreu dos esfor-

ços da APG-ITA para a realização pioneira do evento

“DAAD no ITA”, ocorrido em meados de abril de

2008. Entre 14 e 16 de setembro foi realizado, no

Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o 2009

Brazilian Symposium on Aerospace Engineering and Ap-

plications, presidido pelo Prof Luiz Carlos Sandoval

Góes, da Divisão de Engenharia Mecânica do ITA,

juntamente com o Dr. Ing. Ravindra Jategaonkar, do

DLR, Alemanha. Dentre os principais temas aborda-

dos destacam-se: sistemas aeroespaciais, propulsão,

estruturas e materiais aeroespaciais, aerodinâmica,

produção e manufatura aeronáutica, controle de

tráfego aéreo, ensaio em vôo e formação em enge-

nharia aeroespacial.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p.95 - 101, segundo sem. 2009

Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha

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101

RESULTADOS

A Dra. Gabriele Althoff, estudou Ciencias So-

ciais e Germanística nas Universidades de Bochum

e Paderborn. Possui Doutorado em Sociologia e foi

Professora Visitante em Nairobi, Kenia. Desde 1995

está no DAAD, em 2004 assumiu sua Direção Execu-

tiva no Rio de Janeiro.

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALTHOFF, G. Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico. Palestra realizada no ITA em 03/04/2008. Disponível em: www.apgita.org.br. Acesso em: 05 de maio de 2008.

1950 1960 1970 1980 1990 2000 2005 2006Total de

fomentados DAAD

426 4.861 10.883 21.813 33.959 46.659 51.478 55.229

Alemães 230 1.710 2.035 7.699 11.985 20.063 20.457 21.248Estrangeiros 196 3.151 8.848 14.114 21.974 26.596 31.021 33.981

Foi uma imensa satisfação para todos nós do

ITA apreciar essa fabulosa palestra, discutir os resul-

tados apresentados e ter nossos esforços coroados

com o reconhecimento plena APG-ITA em todas as

instâncias do ITA

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VITALLI, R. A. P.

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102

TÍTULO I

DO OBJETIVO

Art. 1º A Revista da ANPG: Ciência, Tecnolo-

gia e Políticas Educacionais, periódico científico ins-

titucional editado pela Associação Nacional de Pós-

Graduandos (ANPG), tem por objetivo a difusão de

estudos, pesquisas e documentos referentes a temas

em ciência, tecnologia e políticas educacionais, prio-

rizando os temas mais relevantes para o desenvolvi-

mento nacional sustentável e a redução das desigual-

dades sociais.

TÍTULO II

DO PÚBLICO - ALVO

Art. 2º A Revista da ANPG: Ciência, Tecnolo-

gia e Políticas Educacionais tem como público-alvo

toda a comunidade acadêmica e científica, sobretudo

docentes e pós-graduandos, pesquisadores e gesto-

res de instituições de ensino superior e de pesquisa,

gestores de políticas de ciência e tecnologia, gesto-

res de associações científicas e profissionais, dirigen-

tes e técnicos de órgãos do Ministério da Educação

(MEC) e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT)

e demais órgãos envolvidos na formação de pessoal,

produção científica e desenvolvimento sustentável

nacional.

TITULO III

DAS RESPONSABILIDADES

Art. 3° As responsabilidades da Revista da

ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais

serão exercidas por um Editor ou por editores, por

um Conselho Editorial e por um Comitê Científico.

Art. 4º Compete ao Presidente da ANPG no-

mear o Editor ou os Editores da revista.

Parágrafo único - Compete ao Editor ou com-

petem aos Editores:

I. convocar e coordenar as reuniões do Conse-

lho Editorial;

II. distribuir os artigos recebidos para as seções

ii, iii, iv e v da Revista para os membros do Comitê

Científico e/ou para os pareceristas ad hoc indicados

por membros do Comitê Científico e aprovados pelo

Conselho Editorial para que emitam parecer em rela-

ção ao mérito científico dos artigos;

III. coordenar os trabalhos de editoração, pro-

dução e divulgação da revista, bem como sua distri-

buição, se e quando passar a existir versão impressa.

Art. 5° Compete ao Conselho Editorial elabo-

rar a política editorial do periódico.

Parágrafo primeiro. Integram o Conselho Edi-

torial da Revista:

I. o Editor ou os Editores do periódico;

II. o Presidente da ANPG ou representante por

ele indicado;

III. o Diretor de Comunicação da ANPG ou re-

presentante por ele indicado;

IV. o Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG

ou representante por ele indicado;

V. o Diretor de Cultura e Eventos da ANPG ou

representante por ele indicado;

VI. eventuais outros membros designados de

comum acordo entre os quatro membros listados nos

itens ii, iii, iv e v acima.

Art. 6° Compete aos membros do Comitê

Científico emitir pareceres sobre os artigos encami-

nhados à Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Po-

líticas Educacionais, opinando sobre sua qualidade e

relevância.

Parágrafo 1° Os membros do Comitê Cientí-

fico são escolhidos por sua competência acadêmica

REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG

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103

e científica em áreas relacionadas à linha editorial da

Revista, convidados e podendo a qualquer momento

ser substituídos pelo Conselho Editorial.

Parágrafo 2° O Conselho Editorial, quando ne-

cessário, pode autorizar os membros do Comitê Cien-

tífico a solicitarem pareceres de consultores ad hoc.

Art. 7° Compete a toda diretoria da ANPG

colaborar para o ótimo andamento do periódico, in-

cluindo sua divulgação.

TÍTULO IV

DA PERIODICIDADE E DAS

SEÇÕES DA REVISTA

Art. 8º - A Revista da ANPG: Ciência, Tecnolo-

gia e Políticas Educacionais terá periodicidade semes-

tral e contará com as seguintes seções:

I. Editorial;

II. Seção sobre tema relacionado à Ciência,

Tecnologia e Desenvolvimento Nacional com tema

específico definido pelo Conselho Editorial e divulga-

do com antecedência;

III. Seção com tema livre relacionado à Ciência,

Tecnologia e Desenvolvimento Nacional;

IV. Seção sobre tema relacionado a políticas

educacionais com tema específico definido pelo Con-

selho Editorial e divulgado com antecedência;

V. Seção com tema livre relacionado a políticas

educacionais;

VI. Entrevistas;

VII. Seção “acontece”, de análise e/ou divul-

gação de portarias, leis, estudos, experiências ino-

vadoras, etc., nacionais ou estrangeiros, ou acordos

internacionais, eventos organizados por APGs, pela

ANPG ou outras entidades científicas ou profissio-

nais, comentados, apenas resumidos ou divulgados

na íntegra, julgados de interesse do público alvo do

periódico pelo Conselho Editorial.

Parágrafo 1º - As seções e a periodicidade da

revista podem ser alteradas pelo Conselho Editorial

ad referendum do CONAP ou do CNPG.

Parágrafo 2º – É facultado ao Conselho Edi-

torial publicar somente algumas das seções em cada

número da revista.

Parágrafo 3º – As seções ii, iii, iv e v recebem

artigos científicos e ensaios de reflexão originais.

Parágrafo 4º – Elaborar artigos para a seção i

é de exclusiva competência do Conselho Editorial; a

seção vi é de competência do Conselho Editorial ou

de iniciativa livre, desde que pré-aprovada pelo Con-

selho Editorial; as contribuições para a seção vii se-

rão avaliadas exclusivamente pelo Conselho Editorial;

sendo as seções ii, iii, iv e v abertas sem restrições à

livre contribuição de qualquer autor sendo os textos

submetidos para estas quatro seções avaliados pelo

Comitê Científico.

Art. 9° O periódico terá publicação na forma

eletrônica e poderá, no futuro, passar a ter também

publicação na forma impressa.

Parágrafo 1º - A Revista da ANPG: Ciência, Tec-

nologia e Políticas Educacionais, somente poderá pas-

sar a ter também edições impressas, se solicitado pelo

Conselho Editorial e aprovado pela executiva da ANPG,

mediante parecer emitido pelo tesoureiro da entidade.

Parágrafo 2º - A versão eletrônica do periódico

terá acesso público e gratuito.

TÍTULO V

DA ORIENTAÇÃO EDITORIAL

Art. 10 Somente serão aceitos trabalhos inédi-

tos, exceto nos casos previstos no inciso VII, do Art.

8°.

Art. 11 O autor será comunicado do resultado

da avaliação do seu trabalho em até 90 (noventa) dias a

contar da confirmação do recebimento do manuscrito.

Parágrafo único O autor deverá ser comunica-

do do recebimento de seu manuscrito em até 8 (oito)

dias a contar desde seu envio.

Art. 12 A publicação de artigos não é remune-

rada, sendo permitida a reprodução total ou parcial

dos mesmos, desde que citada a fonte.

Art. 13 Os artigos assinados serão de respon-

sabilidade exclusiva de seus autores, não refletindo,

necessariamente, a opinião da ANPG.

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REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG

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104

Art 14 O envio espontâneo de qualquer cola-

boração implica automaticamente a cessão dos direi-

tos autorais à ANPG.

Art. 15 Serão aceitas colaborações em língua

portuguesa e em inglês, francês e espanhol, incenti-

vando-se especialmente aquelas em espanhol.

Art. 16 Os originais podem sofrer pequenas

adaptações que não alterem seu conteúdo, para fins

de editoração.

Art. 17 As colaborações para a Revista da ANPG:

Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais devem ser

enviadas à ANPG, de acordo com as normas editoriais

a serem publicadas pelo Conselho Editorial.

Art. 18 Toda autoria dos pareceres e dos artigos,

durante o processo de avaliação, será mantida em sigilo.

Art. 19 Todo artigo receberá dois pareceres in-

dependentes, recomendando publicação sem altera-

ções, publicação com alterações ou rejeição do artigo

e justificando o encaminhamento.

Parágrafo 1º Em caso de desacordo entre os

pareceristas, caberá ao Conselho Editorial julgar o mé-

rito, podendo recorrer a um terceiro parecerista em

caso de dúvidas.

Parágrafo 2º Assim que comunicado das suges-

tões de alteração indicadas pelos pareceristas, o autor

terá o prazo de 15 (quinze) dias para efetuar as alte-

rações indicadas ou apresentar justificativa para não

realizá-las.

TÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art 20 Os casos omissos e as dúvidas suscitadas

na aplicação do presente Regulamento serão dirimi-

dos pelo Conselho Editorial da revista.

TÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art 21 A revista somente poderá ser descon-

tinuada mediante aprovação do Congresso Nacional

de Pós-Graduandos (CNPG) ou por ordem do presi-

dente da ANPG ad referendum do CNPG.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 102 - 104, segundo sem. 2009

REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG

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105

1. A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e

Políticas Educacionais, periódico científico institu-

cional da Associação Nacional de Pós-Graduandos

(ANPG), nos termos de seu regulamento, aceita para

publicação trabalhos inéditos de autores brasileiros e

estrangeiros em forma de artigos científicos teóricos

ou baseados em pesquisa empírica, bem como en-

saios com reflexões.

2. A revista recebe contribuições de qualquer

autor, desde que respeitadas estas normas.

3. A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e

Políticas Educacionais publica colaborações referen-

tes à ciência, à tecnologia e às políticas educacionais,

priorizando os artigos mais relevantes para o desen-

volvimento nacional sustentável e o combate às desi-

gualdades sociais, de acordo com as seguintes seções

da revista:

a) Seção sobre tema relacionado a Ciência,

Tecnologia e Desenvolvimento Nacional com tema

específico definido pelo Conselho Editorial e divulga-

do em chamada de artigo específica com prazo de-

terminado;

b) Seção com tema livre relacionado a Ciência,

Tecnologia e Desenvolvimento Nacional;

c) Seção sobre tema relacionado a políticas

educacionais com tema específico definido pelo Con-

selho Editorial e divulgado em chamada de artigo es-

pecífica com prazo determinado;

d) Seção com tema livre relacionado a políticas

educacionais;

e) Entrevistas cujos projetos contendo nome

do entrevistado e justificativa para sua escolha, bem

como roteiro de perguntas tenham sido pré-aprova-

dos pelo conselho editorial;

f) Seção “acontece”, de análise e/ou divulgação

de portarias, leis, estudos, experiências inovadoras,

etc., nacionais, estrangeiros ou acordos internacio-

nais, eventos organizados por APGs, pela ANPG ou

outras entidades científicas ou profissionais, comen-

tados, apenas resumidos ou divulgados na íntegra, jul-

gados de interesse do público-alvo do periódico pelo

comitê científico.

Para as seções de a) a e) acima somente deve-

rão ser submetidos artigos inéditos e que não sejam

submetidos simultaneamente para a publicação em

quaisquer outros veículos de comunicação impressos

ou eletrônicos.

4. O envio espontâneo de qualquer colabora-

ção implica automaticamente a cessão dos direitos

autorais à ANPG.

5. A publicação de artigos não é remunerada,

sendo permitida a sua reprodução total ou parcial,

desde que citada a fonte.

6. Os artigos assinados serão de responsabili-

dade exclusiva de seus autores, não refletindo, neces-

sariamente, a opinião da ANPG.

7. A critério do Conselho Editorial, poderão ser

aceitas e publicadas colaborações em língua estrangeira,

sobretudo em espanhol, inglês e francês, encorajando-se,

entre estas, especialmente as colaborações em espanhol.Envio de colaborações

8. As colaborações deverão ser enviadas para

o Editor, no endereço de correio eletrônico (e-mail)

[email protected], sob a forma de documento

anexado à mensagem, respeitadas as orientações de

apresentação e formatação fixadas, contendo obri-

gatoriamente:

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

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106

- Mensagem:

a) título do trabalho;

b) os seguintes dados pessoais e acadêmicos

do autor ou autores: nome, CPF, endereço, telefo-

ne, endereço de e-mail (correio eletrônico), mais alta

titulação acadêmica, instituição de vinculação e atual

cargo na instituição mencionada;

c) A área do conhecimento principal do tra-

balho e as áreas do conhecimento complementares,

dentre as seguintes alternativas: Oceanografia; Geoci-

ências; Matemática; Química; Física; Ciência da Com-

putação; Astronomia; Engenharias; Biofísica; Zoologia;

Parasitologia; Neurociências; Morfologia; Microbio-

logia; Imunologia; Genética; Fisiologia; Farmacologia;

Ecologia; Botânica; Bioquímica; Biologia; Enfermagem;

Ergonomia; Fisioterapia; Terapia Ocupacional; Fonoau-

diologia; Nutrição; Farmácia; Odontologia; Saúde Co-

letiva; Medicina; Agronomia; Ciência e Tecnologia de

Alimentos; Zootecnia; Medicina Veterinária; Recursos

Pesqueiros e Engenharia de Pesca; Recursos Florestais

e Engenharia Florestal; Engenharia Agrícola; Gestão e

Administração; Serviço Social; Educação Física e Espor-

tes; Documentação e Informação Científica; Comuni-

cação; Desenho Industrial; Demografia; Planejamento

Urbano e Regional; Arquitetura e Urbanismo; Direito;

Turismo e Hotelaria; Economia; Antropologia; Socio-

logia; Psicologia; Educação; Ciência Política; História;

Geografia; Filosofia; Arqueologia; Antropologia; Artes;

Semiótica; Lingüística; Literatura; e/ou Letras.

d) a seguinte declaração (copie e cole): “De-

claro que o texto do artigo anexo nunca foi publica-

do, não está sendo submetido para publicação em

nenhum outro veículo impresso, digital ou eletrônico

nem será submetido a publicação em nenhum veiculo

impresso, digital ou eletrônico enquanto não termi-

nar seu processo avaliativo na Revista da ANPG. De-

claro ainda que todos os autores listados como auto-

res aprovaram seu encaminhamento para publicação

nesta revista e que qualquer pessoa que tenha sido

citada como fonte de comunicação pessoal aprovou

a citação. O(s) autor(es) autoriza(m) a realização de

eventuais pequenas alterações formais no texto pela

equipe da Revista, desde que não comprometam seu

conteúdo, para que o texto melhor atenda às normas

para publicação.

- Documento a ser anexado:

a) título do trabalho;

b) resumo em português em até 10 (dez) li-

nhas e com de 3 a 6 palavras-chave;

c) abstract em inglês em até 10 (dez) linhas e

com de 3 a 6 keywords;

d) resumo em espanhol com até 10 (dez) li-

nhas e com de 3 a 6 palabras-clave;

e) Se o artigo tiver sido escrito em francês,

deve conter também résumé em francês com até 10

(dez) linhas e com de 3 a 6 mots clés;

e) texto do artigo ou matéria, incluindo notas e re-

ferências, com a formatação estabelecida nestas normas;

f) tabelas e gráficos, se utilizados.

Só serão aceitos artigos submetidos em forma-

to .doc ou .dot.

9. Não serão aceitas colaborações que não

atendam às normas fixadas.

10. Os textos devem ser digitados em fonte

Times New Roman ou/e Arial, fonte 12 para o texto

e fonte 10 para as citações/nota de rodapé, espaço

simples para o resumo e de 1,5 para o artigo. Não

podem exceder 50 mil caracteres, incluindo os espa-

ços e consideradas as referências bibliográficas, cita-

ções ou notas, quadros, gráficos, mapas, etc. Títulos

e subtítulos devem estar em negrito, sendo títulos em

corpo 14 e subtítulos em corpo 12.

11. Os quadros, gráficos, mapas e imagens

devem ser numerados, intitulados, ter as unidades

explicitadas e apresentar indicação das fontes corres-

pondentes.

EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE GRUPOS DE PESQUISA NAS 10 INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COM MAISGRUPOS DE PESQUISA EM NÚMEROS ABSOLUTOS E PERCENTAGENS EM RELAÇÃO AO TOTAL NACIONAL

1993 1995 1997 2000 2002 2004

Instituição Grupos % Grupos % Grupos % Grupos % Grupos % Grupos %

USP 902 20,5 1.056 14,5 1.067 12,4 1.356 11,5 1350 8,9 1884 9,7

UFRJ 246 5,6 577 7,9 520 6,0 679 5,8 750 4,9 963 4,9

UNESP 335 7,6 405 5,6 369 4,3 359 3,1 593 3,9 716 3,7

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

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107

UNICAMP 153 3,5 659 9,1 816 9,5 537 4,6 614 4,1 657 3,4

UFMG 80 1,8 281 3,9 337 3,9 400 3,4 445 2,9 566 2,9

UFRGS 228 5,2 267 3,7 355 4,1 422 3,6 489 3,2 543 2,8

UFSC 126 2,9 118 1,6 190 2,2 219 1,9 350 2,3 398 2,0

UFF 98 2,2 114 1,6 111 1,3 204 1,7 236 1,6 371 1,9

UFPE 76 1,7 150 2,1 164 1,9 273 2,3 334 2,2 354 1,8

UFBA 69 1,6 67 0,9 130 1,5 200 1,7 225 1,5 348 1,8

Observação: A referência completa ao CNPq/GrupoStela (2005) deve integrar as referências bibliográfica no formato estabelecido no item 12 abaixo

12. Todas as referências bibliográficas devem

obedecer às normas atualizadas da ABNT (Associa-

ção Brasileira de Normas Técnicas), de acordo com

os exemplos abaixo:

Para livros no todo:

TERRA, J.C.C. Gestão do conhecimento: o

grande desafio empresarial - uma abordagem

baseada na aprendizagem e na criatividade. São

Paulo: Negócio Editora, 2000.

Obs.: o título de livro ou de artigos pode ser

em itálico ou negrito.

Para parte de livros:

ROMANO, G. Imagens da juventude na era

moderna. In: LEVI, G.; SCHIMIDT, J. (Org.). História

dos Jovens. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

p. 7-16.

Para artigo e/ou matéria de revista, boletim:

GURGEL, C. Reforma do Estado e segurança

pública. Política e Administração, Rio de Janeiro, v. 3,

n. 2, p. 15-21, set. 1997.

Para teses acadêmicas:

SILVA, A. S. Acampados no “Carlos Mari-

guela”: um estudo sobre a formação da consciência

política entre famílias do Movimento dos Trabalhado-

res Rurais Sem Terra no Pontal do Paranapanema -

SP. 2006. 609 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia

Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

São Paulo.

Para artigo e/ou matéria de revista, boletim em

meios eletrônicos:

VARGAS, R. T. Reflexões sobre a integração

universidade-empresa estudo de caso: mestrado pro-

fissionalizante. Disponível em www.geocities.com/

anpgbr/mestp.phpl. Acesso em: 30 set. 2001.

13. As citações a autores, no corpo do texto,

devem subordinar-se à forma: autor (data) ou (AU-

TOR, data).

Exemplo: Fischer (2002); (PEREIRA e FONSE-

CA, 1997, p. 120); (BRAGA, 2001; SILVA, 1998).

14. As notas de rodapé devem ser reduzidas

ao mínimo e sempre exclusivamente explicativas. To-

das as notas deverão ser numeradas e aparecer no

pé-de-página.

15. As referências devem conter exclusiva-

mente os autores e textos citados no trabalho e ser

apresentadas ao final do texto, em ordem alfabética.

Seleção de matérias

16. As colaborações dos tipos mencionados

nas alíneas de a) a d) do item 2 destas normas serão

submetidas aos pareceres independentes de pelo me-

nos dois membros do Comitê Científico da revista ou

colaboradores ad hoc por eles indicados, sem identi-

ficação do autor. Tais pareceristas deverão julgar os

artigos em relação a sua relevância e oportunidade,

qualidade técnica, atualização e originalidade dos ar-

tigos. As colaborações para a seção “acontece” serão

avaliadas pelo Conselho Editorial e as colaborações

para a seção de entrevistas serão avaliadas pelo Con-

selho Editorial devendo ter sido pré-aprovadas em

seu roteiro conforme especificado na alínea e) do

item 2 destas normas.

17. Se a matéria for aceita para publicação, a

revista permite-se introduzir ajustes de formatação e

de revisão ortográfica e gramatical. Modificações de

estrutura ou de conteúdo, sugeridas pelos parece-

ristas, só serão incorporadas mediante concordância

dos autores.

18. Artigos aprovados com restrições serão

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

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encaminhados para a reformulação por parte dos au-

tores ou para que justifiquem, caso considerem que

as reformulações sugeridas seriam inadequadas. O

Conselho Editorial se reserva o direito de recusar o

artigo caso não tenha havido alterações, neles intro-

duzidas, que atendam às solicitações feitas pelos pa-

receristas, podendo-se recorrer, em caso de dúvidas,

à avaliação de um novo parecerista.

19. Os autores devem ser comunicados do

recebimento da sua colaboração e se esta atende

aos quesitos para ser encaminhada para avaliação no

prazo de até 8 (oito) dias a partir da submissão de

sua colaboração e devem ser comunicados do re-

sultado da avaliação de sua colaboração no prazo de

(90) noventa dias a contar a partir da confirmação do

recebimento. Toda a comunicação da revista para os

autores será feita através do e-mail do primeiro autor

do artigo. Os autores que não receberem mensagem

da revista nos prazos supra-citados devem procurar

novo contato com o Editor para esclarecer se houve

extravio de correspondência eletrônica.

Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009

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