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Periódico de Divulgação Científica e Tecnológica do IFCE V. 6, n.3, novembro, 2013

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CONEXÕES

CIÊNCIA E TECNOLOGIAPERIÓDICO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFCE

Page 3: Revista Conexões - Ciência e Tecnologia

Reitor Prof. Me. Claúdio Ricardo Gomes de Lima

Pró-Reitora de Pesquisa e InovaçãoProfa. Dra. Glória Maria Marinho Silva

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BibliotecáriaEsp. Islânia Fernandes Araújo

Auxiliar de Bibliotecária Lidiane de Mesquita Lourenço

Diagramação______________

Capa______________

Gráfica______________

Tiragem 1.500 exemplares

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCEPró-Reitoria de Pesquisa e Inovação

Correspondências e solicitações de números avulsos deverão ser endereçados a:[All corespondentes and claims for missing issues should be addressd to:]Av. Treze de Maio, 2081, Benfica, 60.040-531, Fortaleza, CE, Brasil

Publicação QuadrimestralÉ permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta publicação, desde que citada a fonte.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ

CONEXÕES

CIÊNCIA E TECNOLOGIAPERIÓDICO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFCE

v . x n.

mês - ano

FORTALEZA - CE ISSN 1982-176X

Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE v. x n. x p. -x Mês-ano

Page 5: Revista Conexões - Ciência e Tecnologia

ISSN 1982-176X (versão impressa)ISSN 2176-0144 (versão on-line)

Indexado por/ indexed by: LatindexQualificada pela CAPES

Publicação semestralInstruções aos autores p. 82-83

Correspondências e solicitação de números avulsos deverão ser endereçados a:[All correspondences and claims for missing issues should be addressed to:]

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFCECONEXÕES - CIÊNCIA E TECNOLOGIA.

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Telefone: (85) 3307-3600/3610Fax: (85) 3307-3711

E-mail: [email protected]

Catalogação na fonte: Islânia Fernandes Araújo CRB 3/917

CONEXÕES - CIÊNCIA E TECNOLOGIA. – Ano x, nº x, (mês. ano)

Fortaleza: IFCE, ano.

v. ; 27cm

Data de publicação do primeiro volume: out. 2007.

Semestral (Até esta data, a revista impressa teve sua periodicidade anual).

Centro Federal de Educação, Ciência e Tecnológica do Ceará – CEFETCE até Dez. 2008. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE a partir de Jan. 2009.

ISSN 1982-176X

1. EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA – PERIÓDICO

2. TECNOLOGIA – PERIÓDICO 3. CIÊNCIA - PERIÓDICO

CDD – 373.24605

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam, necessariamente, a opinião do Conselho Editorial da revista ou do IFCE. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta publicação,

desde que citada a fonte.

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SUMÁRIO

Editorial .........................................................................................................................................7

A influência do lançamento de efluentes de galerias pluviais na balneabilidade da praia do Futuro em Fortaleza-CE.Kássia Crislayne Duarte Ferreira, Marcus Vinícius Andrade e Adriana Guimarães Costa ............9

Comportamento da infiltração de esgotos domésticos tratados em sistemas enaeróbicos.José Lima de Oliveira Junior, José de Tavares de Sousa e Saionara Alexandre da Silva..............18

Ensino de álgebra abstrata com auxílio do software maple: grupos simétricos.Régis Francisco Vieira Alves, Ana Gleiceane Dias de Araujo .....................................................25

Estruturas policêntricas e desenvolvimento técnologico: perspectiva das unidades de redes gestoras de políticas públicasRodrigo Jose Lima Almeida, José Pereira Mascarenhas Bisneto..................................................36

Jogos lúdicos: recursos didáticos para o ensino de químicaTássia Pinheiro de Sousa, Raimunda Olímpia de Aguiar Gomes..................................................44

O papel do iphan na defesa do patrimônio cultural: as redes de dormir no contexto brasileiroFernanda Mara de Oliveira Macedo Carneiro Pacobahyba, Fernando Macedo Carneiro ............53

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Editorial

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIASPLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTURO EM

FORTALEZA-CE

KÁSSIA CRISLAYNE DUARTE FERREIRA 1

MARCUS VINICIUS ANDRADE2

ADRIANA GUIMARÃES COSTA3

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus de FortalezaDepartamento de Química e Meio Ambiente Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental

Av. Treze de Maio, 2081, Benfica, CEP: 60040-531 - Fortaleza, CE - Brasil1<[email protected]>

Abstract. The preservation of aquatic resources has great importance, however, the absence of basicsanitation results in the carrying of waste and effluents to the water courses and resulting in pollution.In the city of Fortaleza, the stormwater drainage systems are responsible for collecting stormwater, butoften effluents are released there clandestinely. The effluent of these drainage systems is released directlyinto the sea without previous treatment, becoming a source of pollution. In this study, we tried to framethe effluent from 8 stormwater drainage systems and examine the influence of the release of effluentsin the balneability of 3 points in Praia do Futuro in Fortaleza, from January 2010 to January 2011. Forthis purpose, we used data provided by Superintendência Estadual do Meio Ambiente. The study inclu-ded analysis of the following parameters: pH, sedimentable material, sulfide, chemical oxygen demand,oil and grease and thermotolerant coliforms. It might be noticed that all the samples of effluent fromstormwater drainage systems disagreed with legislation in at least one of established parameters, inclu-ding thermotolerant coliforms parameter of balneability, whose values were above 16000MPN/100 ml inall samples of effluent from stormwater drainage systems. However, it is concluded that the balneabilityof the points analyzed in Praia do Futuro was not affected by the release of these effluents.

Keywords: balneability, stormwater drainage systems, thermotolerant coliforms, effluents.

Resumo. A preservação dos recursos aquáticos é de suma importância, entretanto, a ausência de sa-neamento básico resulta no carreamento de efluentes e lixo para os cursos d’água com consequentepoluição. Na cidade de Fortaleza, as galerias pluviais são responsáveis pela coleta de águas da chuva.Porém, muitas vezes efluentes domésticos são lançados clandestinamente nestas. O efluente dessas gale-rias é lançado diretamente no mar, sem tratamento prévio, tornando-se fonte de poluição. Neste trabalho,buscou-se enquadrar o efluente de 8 galerias pluviais e analisar a influência do lançamento desses eflu-entes na balneabilidade de 3 pontos na Praia do Futuro, em Fortaleza-CE, no período de janeiro de 2010a janeiro de 2011. Para tanto, utilizou-se dados fornecidos pela Superintendência Estadual do Meio Am-biente. O estudo contemplou a análise dos seguintes parâmetros: pH, materiais sedimentáveis, sulfetos,demanda química de oxigênio, óleos e graxas e coliformes termotolerantes. Pôde-se perceber que todasas amostras de efluentes das galerias pluviais estavam em desacordo com a legislação em pelo menosum dos parâmetros estabelecidos, inclusive aquele de balneabilidade, coliformes termotolerantes, cujosvalores estiveram acima de 16.000 NMP/100 ml em todas as amostras de efluentes de galerias pluviais.Contudo, conclui-se que a balneabilidade dos pontos analisados na Praia do Futuro não foi prejudicadapelo lançamento destes efluentes.

Palavras chaves: galerias pluviais, balneabilidade, coliformes termotolerantes, efluente.

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1 INTRODUÇÃO

A água é um dos recursos naturais mais indispensáveis àvida. É elemento vital para a sobrevivência dos seres vi-vos. A água possui múltiplos usos, tais como abasteci-mento doméstico e industrial, irrigação, dessedentaçãode animais, preservação da flora e fauna, recreação elazer, geração de energia elétrica, navegação e diluiçãode despejos (DESIRIO, 2000). A preservação da qua-lidade da água é um dos principais enfoques da gestãoambiental e, portanto, evitar a poluição deste recurso éde crucial importância.

Von Sperling (2005) refere-se à poluição das águascomo ocasionada pela adição de substâncias ou de for-mas de energia que, direta ou indiretamente, alterem anatureza do corpo d’água de uma maneira tal que pre-judique os legítimos usos que dele são feitos.

A poluição da água está relacionada às diversas ati-vidades humanas, tais como a utilização de produtosquímicos na agricultura, a destinação inadequada dolixo, o lançamento de esgoto doméstico e industrial emrecursos hídricos sem ter sido previamente tratados, en-tre outros. Mota (1997) classifica as fontes de polui-ção em: localizadas ou pontuais e não localizadas oudifusas. As fontes de poluição das águas superficiaissão os esgotos domésticos e industriais, as águas pluvi-ais que transportam impurezas da superfície do solo ouque contêm esgotos lançados nas galerias que coletamas águas da chuva, resíduos sólidos, pesticidas, fertili-zantes, e detergentes.

A maioria destas fontes de poluição é resultante dafalta de infraestrutura urbana e de saneamento básico.O município de Fortaleza conta com sistema de coletae tratamento onde suas águas residuárias coletadas sãodestinadas ao pré-condicionamento, um tratamento pre-liminar onde é realizada a remoção de materiais gros-seiros, finos e sedimentáveis e o tratamento de odores,e ao posterior lançamento através de emissário subma-rino; e as águas pluviais são lançadas diretamente nomar (CAGECE, 2010). Em Fortaleza, o sistema de co-leta de águas pluviais e de esgoto são separados, onde aágua de chuva é encaminhada para o mar e o esgoto sa-nitário para a Estação de Pré-condicionamento (EPC).No entanto, é sabido que as galerias pluviais não pos-suem somente águas da chuva, mas sofrem contamina-ção oriunda de escoamento superficial urbano e rural,descargas de esgoto sem tratamento e excretas de ani-mais de sangue quente (PIMENTA, 2006), chegandodiretamente no mar, sem tratamento prévio, alterandoa qualidade dessas águas. Sendo assim, estas galeriaspluviais e seus efluentes são denominados fontes polui-doras.

O lançamento dos efluentes das galerias pluviais no

mar pode alterar a qualidade da água. O contato comáguas de recreação poluídas é um fator de risco para do-enças gastrointestinais, incluindo problemas sérios desaúde como infecções com Escherichia coli, protozoá-rios parasitas, vírus e outros, muitas vezes provenientesde fonte animal ou dejetos humanos (MANSILHA etal., 2009; AHN et al., 2005; PRUSS, 1998). A qua-lidade da água assegura determinado uso ou conjuntode usos e pode ser representada por características denatureza física, química e biológica (DERISIO, 2000).

A Superintendência Estadual do Meio Ambiente(SEMACE) possui programas de monitoramento dabalneabilidade das praias e qualidade dos efluentes dasfontes poluidoras, para os quais emite laudos técnicoscom a análise de parâmetros físicos, químicos e bioló-gicos. Os efluentes das galerias pluviais devem obede-cer aos padrões de lançamento presentes no artigo 4o daPortaria SEMACE no 154/02. Este artigo refere-se aolançamento de efluentes que não recebem tratamento daRede Pública de Esgoto e, por este motivo, devem aten-der aos padrões de qualidade dos cursos d’água ondeserão lançados.

Parâmetros como pH, materiais sedimentáveis, sul-fetos, DQO e óleos e graxas são alguns dos exigidospara enquadramento dos efluentes na legislação estabe-lecida. De acordo com o artigo 4o da Portaria SEMACEno 154/02, o parâmetro bacteriológico analisado é aconcentração de coliformes termotolerantes. Este pa-râmetro se refere à balneabilidade requerida pelo cursod’água onde será lançado o efluente (SEMACE, 2002).

As águas utilizadas para balneabilidade devem aten-der aos padrões da resolução no 274 do CONAMA de29 de novembro de 2000 (BRASIL, 2000). De acordocom essa resolução, as águas doces, salobras e sali-nas serão consideradas adequadas para a balneabilidadequando em 80% ou mais de um conjunto de amos-tras obtidas em cada uma das cinco semanas anterio-res, colhidas no mesmo local, houver no máximo 1.000coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichiacoli ou 100 enterococos por 100 mililitros. Os colifor-mes termotolerantes, a Escherichia coli e os enteroco-cos são organismos indicadores de contaminação. Apresença de coliformes termotolerantes indica contami-nação por fezes de animais de sangue quente, incluindoo homem. Já os enterecocos atestam a contaminaçãoexclusivamente por fezes humanas, enquanto a Esche-richia coli é um indicador de contaminação de origemfecal recente do homem e de outros animais de sanguequente (SPERLING, 1995).

Devido à alta assiduidade turística às praias de For-taleza, é necessário monitorar sua balneabilidade e poreste motivo, a área escolhida para estudo foi a Praia do

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

Futuro, local de grande frequência turística e que atraiconsiderável número de visitantes, além de possuir lan-çamento de grande parte das galerias pluviais da cidade.Outro motivo de escolha se dá pela presença em massade diversas barracas e, portanto, é importante determi-nar as condições de balneabilidade do local.

Neste trabalho, analisou-se a qualidade dos efluen-tes de galerias pluviais em oito pontos de amostragemna Praia do Futuro, em Fortaleza - CE e sua conformi-dade ou não com a legislação e investigou-se a influên-cia deste efluente na balneabilidade de três pontos dapraia.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Os dados utilizados para este estudo foram obtidos atra-vés da Superintendência Estadual do Meio Ambiente(SEMACE).

2.1 Área de estudo

O local escolhido para amostragem foi o litoral lestede Fortaleza, mais precisamente pontos selecionados naPraia do Futuro. Os pontos foram escolhidos de acordocom o acesso dos banhistas e lançamento de efluentesde galerias pluviais no local, e a representação gráficados mesmos encontra-se no mapa presente no anexo I.

2.2 Pontos de amostragem

Os pontos escolhidos para amostragem das galerias plu-viais estão relacionados na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1: pontos de amostragem na galeria de águas pluviais estu-dada.

Os pontos escolhidos para amostragem da balneabi-lidade das praias estão relacionados na Tabela 2 abaixo.

Tabela 2: Pontos de amostragem para avaliação da balneabilidade.

Os pontos para a análise de balneabilidade foramescolhidos de acordo com os pontos do monitora-mento feitos pela SEMACE, levando-se em considera-ção aqueles que de fato seriam influenciados pelo lança-mento de efluentes de galerias pluviais, obedecendo-sea premissa de que as correntes marítimas fluem de lestepara oeste (OLIVEIRA, 2010).

Desta forma, os pontos P2, P3 E P4 da balneabi-lidade serão influenciados, respectivamente, pelo lan-çamento dos efluentes dos pontos FP3, FP5 e FP7 dasgalerias pluviais. Por não haver outros pontos de bal-neabilidade influenciados diretamente pelo lançamentodos efluentes das galerias representadas neste artigo, acomparação foi realizada somente com estes três pon-tos.

Nos meses em que não houve efluente ou sua vazãofoi insuficiente, a coleta dos pontos de amostragem nãofoi realizada. Estas coletas não realizadas estão repre-sentadas na tabela que consta no anexo II.

2.3 Periodicidade de coleta

A coleta das amostras de efluentes de galerias pluviaisfoi realizada a cada dois meses, compreendendo os me-ses de janeiro de 2010 a janeiro de 2011, em períodosde maré baixa, totalizando 13 coletas e 117 amostras. Acoleta das amostras de água da praia foi realizada umavez por semana, entre os meses de janeiro de 2010 ajaneiro de 2011, no período da manhã, totalizando 52coletas e 156 amostras.

A coleta e conservação das amostras foram realiza-das em frascos de 1000 ml limpos e adequados à aná-lise realizada, seguindo os procedimentos requisitadospor APHA (2005). As amostras foram acondicionadascom gelo para a sua preservação até a chegada e ao la-boratório, e imediatamente analisadas em seguida.

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

Tabela 3: Parâmetros analisados e numeração dos respectivos méto-dos.

2.4 Parâmetros analisados

As análises de pH, materiais sedimentáveis, sulfetos,sólidos suspensos, DQO, óleos e graxas e coliformestermotolerantes foram realizadas segundo a metodolo-gia de APHA (2005), conforme a Tabela 3.

2.5 Tratamento dos dados

Para uso dos dados de monitoramento da balneabili-dade, fez-se uma média aritmética dos resultados se-manais de cada mês estudado.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO3.1 Enquadramento dos efluentes de galerias plu-

viais na legislação

Os valores de pH no período de janeiro de 2010 a ja-neiro de 2011 variaram entre 6,1 e 7,8 em todos os pon-tos e meses analisados, permanecendo sempre dentrodos padrões para lançamento de efluentes e sem gran-des variações ao longo do período de coleta. SegundoPimenta (2006), o aumento de pH pode ocorrer em pon-tos que sofrem influência marinha maior devido à pro-ximidade maior com o mar. O valor correspondente aopadrão exigido pela legislação está compreendido entreas faixas amarelas (Figura 1).

Na Figura 2, pode-se observar que as fontes 2, 5,7, 8 e 9 mantiveram-se dentro do limite de 50mg/L nodecorrer do período de estudo. A faixa em amarelo cor-responde ao padrão estabelecido pela legislação.

A fonte 6 atingiu o maior valor registrado no pe-ríodo de estudo, com 190 mg/l em janeiro de 2010,valor possivelmente atribuído ao lançamento pontual depoluição por se tratar de uma fonte localizada ao lado deestabelecimento que realiza eventos na praia, conforme

Figura 1: Variação dos valores de pH ao longo do período estudado.

Figura 2: Variação da concentração de substâncias solúveis em he-xano ao longo do período estudado.

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

observado na figura 3. Assim, a fonte 6 ultrapassouo padrão estabelecido pela legislação, apesar de decairpara 54,4 mg/l em março de 2010 (ainda fora dos pa-drões de lançamento), diminuindo gradativamente nos4 meses subseqüentes. A concentração desta fonte nomês de janeiro de 2011 foi de 5,4 mg/l, a menor detodo o período, destoando do mesmo mês no ano ante-rior, reforçando a idéia de lançamento pontual no mêsde janeiro de 2010.

Figura 3: Localização da FP 6, ao lado de uma barraca de praia.

A análise de materiais sedimentáveis mostrou que afonte com maior variação de valores foi a número 5, quenos meses de janeiro, tanto em 2010 (3,5 mg/l) quantoem 2011 (4,5 mg/l), esteve fora do padrão para lan-çamento de 1,0 ml/l, representado na figura pela faixaamarela. A fonte 9 esteve fora dos padrões nos mesesiniciais de 2010, ao atingir a concentração de 1,3 mg/lnos três primeiros meses (Figura 4). Todos os demaispontos obedeceram aos padrões de lançamento no pe-ríodo de estudo.

Figura 4: Variação da concentração de materiais sedimentáveis aolongo do período estudado.

A concentração de sólidos suspensos variou deacordo com a figura 5. O padrão de 50 mg/l é apre-sentado na figura com a faixa amarela. Pôde-se obser-var que a fonte 3 esteve fora do padrão de 50 mg/l emcinco das sete coletas, só obedecendo aos padrões delançamento nos meses de janeiro de 2010 e 2011. Emcinco coletas realizadas, a fonte 8 esteve fora dos pa-drões em três delas. A fonte 9 esteve fora dos padrõesem três das seis coletas (101,2 mg/l, 61,2 mg/l e 53,2mg/l). Vale lembrar que essas fontes estão localizadasnos bairros Praia do Futuro I e II, locais com alta con-centração popular e falta de saneamento básico, alémde se localizarem próximas às barracas de venda de ali-mentos e bebidas.

Figura 5: Variação da concentração de sólidos suspensos ao longodo período estudado.

A variação na concentração de matéria orgânica ex-pressa em DQO (Demanda Química de Oxigênio) estárepresentada na Figura 6, com seu padrão de lança-mento indicado pela faixa amarela em linha reta.

Figura 6: Variação da concentração de demanda química de oxigêniosuspensos ao longo do período estudado.

Pôde-se notar que a fonte 3 apresenta os maioresvalores de DQO, estando sempre acima do padrão de200 mg/l, exceto nos meses de janeiro, tanto de 2010como 2011. Esta fonte recebe efluentes provenientes de

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

bairros de ocupação desordenada, com ausência de sa-neamento básico, como o bairro Praia do Futuro II. Asfontes 5 e 7 tiveram valores acima dos padrões apenasno mês de janeiro de 2010. Os demais pontos analisa-dos apresentaram-se de acordo com a legislação duranteo período de estudo.

A concentração de sulfeto esteve dentro do padrãode 1,0 mg/l em praticamente todos os pontos e coletas,excetuando-se a fonte 2 nos meses março, maio e julhode 2010, (1,08 mg/l; 1,1 mg/l; 1,2 mg/l, respectiva-mente) como se pode perceber no gráfico abaixo. Afonte 3 teve altos valores no decorrer do ano, se com-parada às demais; entretanto, sempre esteve dentro dospadrões (Figura 7).

Figura 7: Variação da concentração de sulfeto suspensos ao longo doperíodo estudado.

A Praia do Futuro é um local de grande afluência tu-rística e grande adensamento popular. Por não possuirsistema adequado de coleta e tratamento de águas re-siduárias, o esgoto doméstico tem como destino o maratravés das galerias pluviais, ocasionando a poluição epossível contaminação observadas.

As areias são filtros da poluição das águas das ga-lerias (VIEIRA et al., 2003). Quando a pluviosidade ébaixa, nem todo o efluente lançado chega ao mar porficar retido na areia. Quando a pluviosidade é alta,o efluente atinge o mar, além de levar consigo possí-veis contaminantes que estivessem presentes na areia(PHILLIPS et al., 2011).

3.2 Comparação do parâmetro coliforme termoto-lerante entre pontos de fontes poluidoras epontos de praias

Para comparação e análise de influência do lançamentode efluentes de galerias pluviais na balneabilidade daPraia do Futuro utilizaram-se três pontos de galerias etrês pontos de balneabilidade.

Observa-se na Figura 8, cujos valores estão em es-cala logarítmica de base 10, que, embora em todos os

Figura 8: Variação da concentração de coliformes termotolerantessuspensos ao longo do período estudado.

pontos e todos os meses o índice de coliformes dasfontes poluidoras esteja acima do padrão para lança-mento de efluentes, que é de 5000 NMP/100 ml, emnenhum caso os pontos da praia apresentaram valoresacima de 1000 NMP/100 ml, que é o valor para bal-neabilidade. Pimenta (2006), em estudo sobre os eflu-entes de galerias pluviais da cidade, também encontrouvalores de coliformes superiores ao permitido pela re-solução. Pode-se inferir, portanto, que o problema decontaminação dessas galerias é recorrente e tende a pi-orar. Em janeiro de 2011, todos os pontos de praia ti-veram um sensível aumento com relação aos meses an-teriores, o que também pode ser associado ao alto ín-dice de chuvas durante o mês. A concentração de coli-formes aumenta significativamente no período chuvoso(SILVA; PINHEIRO; MAIA, 2009; AHN et al., 2005).No entanto, essa problemática do lançamento de efluen-tes domésticos nas galerias de águas pluviais deve serconsiderada, pois o aumento populacional no municí-pio de Fortaleza e o não investimento em saneamentobásico podem, em um futuro não muito distante, ocasi-onar prejuízos na balneabilidade da praia estudada de-vido à superação da capacidade de diluição bem comode autodepuração do meio.

4 Considerações Finais

Com relação ao enquadramento para lançamento, ne-nhuma das amostras dos efluentes das galerias pluvi-ais coletadas ao longo do período estudado apresentou-se em conformidade com a legislação em todos os pa-râmetros estudados. Entretanto, mesmo apresentandoo parâmetro coliformes termotolerantes em desacordocom a legislação nos pontos estudados, o mesmo pa-râmetro observado nas amostras de água das praias

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

apresentou-se em conformidade com os padrões esta-belecidos. Percebe-se, então, que o lançamento de eflu-entes, embora seja prejudicial por transportar possíveiscontaminantes para o ambiente marinho, degradando aqualidade da água do mar, não influencia de maneirasubstancial na alteração da qualidade para balneabili-dade. No entanto, providências devem ser tomadas nosentido de reverter esse quadro de poluição, pois com oaumento do volume de esgoto produzido em virtude docrescimento populacional, os padrões de balneabilidadeda praia estudada podem ser alterados.

Referências

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

Anexo I - VISUALIZAÇÃO DOS PONTOS (GOOGLE EARTH)

Figura 9: Visualização dos pontos (Google Earth).

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A INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES DE GALERIAS PLUVIAS NA BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FUTUROEM FORTALEZA-CE

Anexo II - TABELA DE PONTOS EM MESES EM QUE NÃO HOUVE VAZÃO

Tabela 4: Pontos em que não houve vazão no momento da coleta ou a vazão foi insuficiente estão marcados com (X).

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOSTRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

JOSÉ LIMA DE OLIVEIRA JÚNIOR1

JOSÉ TAVARES DE SOUSA2

SAIONARA ALEXANDRE DA SILVA3

1Instituto Federal do Educação, Ciência, Tecnologia do CearáCampus de Juazeiro do Norte. Avenida Plácido Aderaldo Castelo, Juazeiro do Norte - CE, 63040-540

2Universidade Estadual da ParaíbaRua Abelardo Pereira dos Santos, 78, Monteiro - PB, 58500-000

3Universidade Federal de Campina GrandeRua Sinfrônio Nazaré, 1, Centro, PB, 58800-240

1<[email protected]>

Abstract. Infiltration tests covered 15 days of daily feeding of 9.5 L batch proportional to a flow rateof 270 L.day−1 discharged into two pilot scale systems operated for nine months, receiving Septic Tankand UASB reactor effluent with respective volumes of 1500 L and 355 L, DQOtotal in septic tank andUASB effluent respectively of 183 mg.L−1 and 171 mg.L−1, TSS concentrations of 32 mg.L−1 and20 mg.L−1, which may be likely responsible for the significant difference between soakaways cloggingtendency, with average infiltration rates of 1.26 L.min−1 and 1.97 L.min−1 (p−value = 0.016). Thelaboratory results obtained from SUMB1 and SUMB2 confirmed the results obtained for pilot scalesystems, showing that soakaways receiving effluent from septic tanks treating predominantly domesticwastewater tended to clog 58 % faster than those treating household UASB effluents.

Keywords: UASB reactor; septic tank; infiltration; soakaways; soil clogging.

Resumo. O comportamento da infiltração de esgotos domésticos tratados em sistemas anaeróbios foiavaliado em escala de bancada com estimativa da colmatação modelada matematicamente para confirmartestes em sumidouros em escala piloto. Os ensaios de infiltração cobriram quinze dias, lançando-se trêsbateladas diárias de 9,5 L representativos e proporcionais da vazão de 270 L.dia−1 do sistema pilotooperado por nove meses recebendo efluente de Tanque Séptico e UASB com volumes, respectivos, de1500L e 355L, DQOtotal no efluente do tanque séptico e UASB, respectivamente, de 183mg.L−1 e 171mg.L−1, e SST de 32 mg.L−1 e 20 mg.L−1, concentrações provavelmente responsáveis pela diferençasignificativa entre os sumidouros em escala piloto na tendência à colmatação, com taxas médias deinfiltração, respectivas, de 1,26 L.min−1 e 1,97 L.min−1 (p − value = 0,016). Tanto os ensaios quantoos modelos empregados confirmaram a maior tendência à colmatação do sumidouro piloto a jusantedo tanque séptico, demonstrando que sumidouros construídos e operados, recebendo esgoto domésticotratado em tanque séptico em solos arenosos tenderão a colmatar 58% mais rápido do que aqueles comtratamento prévio em reatores UASB, apontando o UASB como uma alternativa no tratamento paradisposição no solo.

Palavras chaves: Reator UASB; Tanque Séptico; Infiltração; Sumidouros; Colmatação.

1 INTRODUÇÃO

A disposição de esgoto no solo pode acarretar degra-dação dos recursos naturais com potencial poluidor econtaminante tanto do solo receptor quanto de mananci-ais subterrâneos, visto que o colapso do solo, entre ou-

tros efeitos danosos podem ocorrer pela inundação deesgotos sanitários (RODRIGUES; JUNIOR; LOLLO,2010).

Tecnologias anaeróbias de tratamento utilizadaspreviamente à disposição no solo têm encontrado vastaaceitação onde o tanque séptico seguido de sumidouro

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS TRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

é a solução simplificada mais difundida (PARTEN,2010). Os reatores UASB e suas variantes são inves-tigados e sugeridos como alternativa ao tanque séptico(SABRY, 2010).

Apesar da ampla difusão desta prática, a estima-tiva dos parâmetros de projeto é muito discutida econsiderada tanto complexa quanto, em muitos casos,muito simplificada e pouco compreendida (SIEGRIST;MCCRAY; LOWE, 2004; BUMGARNER; MCCRAY,2007; PEDESCOLL et al., 2011).

A percolação da água residuária através da zona in-saturada, acima do aquífero, é predominantemente con-trolada pela formação de uma camada colmatante debaixa condutividade em meio à camada superior de solo(RICE, 1974). Essa se desenvolve devido à obstruçãofísica causada por retenção de sólidos suspensos pre-sente no efluente infiltrado. Além disso, uma camadabiológica é formada pela acumulação de células bacteri-anas e produção de polissacarídeos extracelulares (PA-VELIC et al., 2011).

A partir da compreensão destes mecanismos, maisrecentemente, a modelagem matemática, é aplicadana estimativa da falência hidráulica de solos inunda-dos com efluentes, previamente, tratados em reatoresanaeróbios. Pesquisas recentes propuseram modelospreditivos levando em conta os fatores físicos, quími-cos e biológicos intervenientes no processo de infiltra-ção (BEAL et al., 2006; LEVERENZ; TCHOBANO-GLOUS; DARBY, 2009; THULLNER, 2010).

Este trabalho tem como objetivo avaliar o compor-tamento da infiltração de esgoto doméstico tratado portanque séptico e reator UASB em sumidouros de ban-cada contendo solo arenoso quanto ao impacto da con-centração de DQO e de SST a fim de estimar, a partirde um modelo preditivo, a falha hidráulica dos sumi-douros.

2 METODOLOGIA

2.1 Configurações experimentais

O presente trabalho avaliou o comportamento da infil-tração de efluente doméstico tratado a partir de tanqueséptico e de reator UASB em sumidouros de bancada demeio poroso contendo areia classificada (ABNT, 1987)fundamentalmente quanto ao impacto da concentraçãode DQO e de SST na colmatação do meio. A partir deum modelo preditivo estimou-se a falha hidráulica (col-matação) dos sumidouros comparando com o modeloproposto por Leverenz, Tchobanoglous e Darby (2009).

Os sumidouros de bancada SUMB1 e SUMB2 fo-ram alimentados diariamente por 15 dias com três ali-mentações diárias de 9,5 L.alimentacao−1 e carga

Tabela 1: Caracterização do esgoto doméstico Bruto e efluente pro-venientes do TS e UASB.

Tabela 2: Parâmetros físico-químicos analisados com frequências,métodos e referências.

hidráulica de 0,54 m.dia−1, equivalentes a uma va-zão diária de alimentação intermitente de 270 L.dia−1

aplicada nos sumidouros em escala piloto (SUM1 eSUM2). Os sumidouros em escala piloto foram ope-rados durante nove meses.

O sistema constou de dois recipientes de 20 L gra-duados para alimentação das bateladas por gravidade,dois sumidouros cilíndricos em PVC φ 250 mm e vo-lume útil de 9,50 L preenchidos com 0,034 m3 de areia,Diâmetro EfetivoD10= 0, 3 mm, Coeficiente de Unifor-midade Cu= 3,33, Porosidade η% = 43%, Dmax = 4, 8mm, γ= 2, 602 g/cm3 e Ksat= 0, 1925 cm/s.

O efluente tratado de um Tanque Séptico, com vo-lume de 1500 L (TS), alimentava o Sumidouro de Ban-cada (SUMB1), enquanto o efluente proveniente do re-ator UASB, com volume de 355 L, alimentava o Su-midouro de Bancada SUMB2. A Tabela 1 apresenta acaracterização do esgoto bruto e do efluente tratado notanque séptico e no reator UASB.

As análises físico-químicas semanais cobriram umperíodo de monitoramento dos reatores de nove mesesentre julho de 2011 e abril de 2012 conforme recomen-dações do APHA, AWWA e WPCF (2005). Igualmente,durante os 15 dias de realização dos testes de infiltração,determinações em triplicata de sólidos foram realiza-das, diariamente, em cada batelada aplicada aos sumi-douros experimentais de bancada SUMB1 e SUMB2.Na Tabela 2 são apresentados os parâmetros analisadoscom suas respectivas frequências, métodos e referên-cias.

O teste foi realizado entre 15 e 31 de maio de 2012aplicando-se efluente previamente tratado de TanqueSéptico (TS) e de Reator UASB em três bateladas de9,5 L cada. O esgoto era coletado em baldes e ali-

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS TRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

mentado por gravidade de recipiente plástico com ca-pacidade de 20 L, cronometrando-se o tempo de inícioe fim do escoamento do líquido através da câmara su-midouro, considerando-se o tempo inicial de infiltraçãoaquele correspondente ao início do fluxo laminar con-tínuo no registro de saída do efluente. O volume in-filtrado era acumulado em béqueres de 2000 mL, 500mL e 100 mL, com tempo registrado a cada 500 mLno início do escoamento e a cada 100 mL nos últimosminutos até o tempo final estabelecido do teste de 60minutos.

O teste de bancada possibilitou avaliar, em condi-ções controladas, a infiltração de efluente tratado nosreatores TS e UASB determinando-se a variação da taxade infiltração (L.min−1) ao longo do período de testede 60 minutos em ambos os sumidouros. Na Figura 1está apresentada a configuração construtiva do experi-mento.

Figura 1: Sumidouros experimentais em escala de bancada SUMB1e SUMB2.

2.2 Cálculos da taxa de infiltração

A taxa variável de infiltração no sumidouro experimen-tal foi calculada a partir da equação 1:

Ti =(∆i− ∆f)

(∆ti − ∆tf ). (1)

Sendo:

• Ti : Taxa de infiltração do efluente no sumidouroexperimental (L.min−1);

• ∆i : Volume captado inicial parcial unitário (Li-tros);

• ∆f : Volume captado final parcial unitário (Li-tros);

• ∆ti : Tempo acumulado para captação do volumeinicial unitário (minutos);

• ∆tf : Tempo acumulado para captação do volumefinal unitário (minutos).

2.3 Modelagens da falência hidráulica

A estimativa da falência hidráulica correlacionou a taxade infiltração com os dias em operação nos sumidourosexperimentais em um modelo matemático exponencialajustado empiricamente com o objetivo de confirmar osdados igualmente modelados para os sumidouros emescala piloto operados por Oliveira Jr. et al. (2012). Asequações 2 e 3 apresentam os modelos preditivos em-pregados respectivamente para os sumidouros SUMB1e SUMB2.

Ti = 0, 8200.e−0,0128t. (2)

Ti = 0, 965.e−0,0248x. (3)

Sendo:

• Ti : Taxa de infiltração (L/min.) e

• t : Tempo de operação (dias).

Uma vez que a estimativa da falência hidráulicabaseou-se em modelos de regressão não linear comajuste empírico dos dados experimentais dos sumidou-ros, para efeito de comparação, aplicou-se os dados aoutro modelo preditivo de falência hidráulica preconi-zado por Leverenz, Tchobanoglous e Darby (2009) edescrito na Equação 4 que aponta o número de dias atéà falência hidráulica do escoamento de efluentes em so-los arenosos.

Tf ={ [19, 6 − 13, 9log(CSST )]

[5, 257 × 10−6 ×DQOi−1,318 ×Dd1,120 × Ch0,343

}1,053

(4)Sendo:

• Tf : Tempo de falha hidráulica (dias);

• CSST : Carga de Sólidos suspensos totais(g.m−2.dia−1);

• DQO : Concentração de DQO (mg.L−1);

• Dd : Dose diária de aplicação (.dia−1);

• Ch : Taxa de aplicação hidráulica (m.dia−1).Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 7, n. 3, p. 18-24, nov. 2013 20

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS TRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

Tanto os parâmetros físico-químicos como aquelesrelativos ao teste de infiltração dos sumidouros foramtratados estatisticamente, estimando-se as medidas dedispersão e a tendência central. Os resultados foramsubmetidos a dois métodos estatísticos: (1) estatísticadescritiva de distribuição; (2) análise de variância fa-tor único (ANOVA), com nível de significância de 5%(SOKAL; ROHLF, 1981).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO3.1 Concentrações de DQO nos sistemas

A concentração média de DQO no efluente dos reato-res TS e UASB foi respectivamente de 183 mg.L−1 e171 mg.L−1. Com um nível de significância de 5 %,não houve diferença significativa entre as concentraçõesmédias (p valor = 0, 333) provavelmente em virtude davelocidade ascensional elevada verificada na operaçãodo reator UASB (V > 5 m/h) que pode ter sido res-ponsável, mesmo durante os meses de partida, por au-mentar a concentração de DQO particulada no efluentedo UASB, prejudicando a eficiência (HAADEL; LET-TINGA, 1994; NUVOLARIA, 2003). Na Figura 2 sãoapresentadas as concentrações de DQOtotal no EsgotoBruto e efluente nos reatores TS e UASB.

Figura 2: Concentrações efluentes de DQOtotal no Esgoto Bruto ereatores TS e UASB.

3.2 Concentrações de Sólidos Suspensos Totais eVoláteis

As concentrações médias de SST respectivas noefluente do TS e UASB foram de 32 mg.L−1

e 20 mg.L−1 apresentando diferença significativa(p=0,00210). Não foram observadas diferenças signifi-cativas entre as concentrações do Esgoto bruto e do TS(p−value = 0,07258), havendo, porém, diferença signi-ficativa para o UASB (p−value = 0,0463).

Relativamente aos Sólidos Suspensos Voláteis,houve diferença significativa entre os resultados do TS edo UASB (p-value= 0,000118) com concentrações mé-dias respectivas de 28mg.L−1 e 18mg.L−1. Na Figura3 é apresentada a variação das concentrações de sólidosafluentes e efluentes no sistema.

Figura 3: Concentrações de sólidos afluentes e efluentes nos siste-mas.

Foi possível observar uma correlação entre a cargaacumulada de sólidos e o incremento da colmatação nossumidouros. Esse fato é confirmado pela literatura, jáque a correlação é significativa entre a diminuição nacondutividade hidráulica e a carga total acumulada desólidos suspensos (PEDESCOLL et al., 2011). Nas Fi-guras 4 e 5 apresentam-se, respectivamente, a correla-ção estabelecida entre o acúmulo de SST e SSV nos su-midouros e a redução da taxa de infiltração observadanos sumidouros SUMB1 e SUMB2.

Figura 4: Correlação entre o acúmulo de SST nos sumidouros e odecréscimo da taxa de infiltração observada nos sumidouros SUMB1e SUMB2.

Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 7, n. 3, p. 18-24, nov. 2013 21

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS TRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

Figura 5: Redução da taxa de infiltração observada nos sumidourosSUMB1 e SUMB2.

3.3 Taxas de infiltração

Na Figura 6 está apresentado o comportamento das ta-xas de Infiltração nos sumidouros de bancada SUMB1e SUMB2, onde pode ser observada a tendência maispronunciada à colmatação no SUMB1.

As taxas de infiltração nos SUMB1 e SUMB2 vari-aram na faixa, respectivamente, de 0,85-0,62 mg.L−1

e 1,01-0,59 mg.L−1. Os dados da modelagem da fa-lência hidráulica do SUMB1 e SUMB2 (Equação 2 e 3;R2 0,613 e 0,514) mostraram diferença significativa (pvalor=3, 54.10−7), confirmando maior tendência à col-matação no SUMB1 à frente do SUMB2, com previsõesrespectivas de 213 e 425 dias.

Aplicando-se os parâmetros do SUMB1 e SUMB2ao modelo de Leverenz, Tchobanoglous e Darby(2009), obteve-se uma estimativa de falência hidráulica,respectiva, de 220 e 523 dias.

A análise comparativa dos dados de previsão de fa-lha hidráulica entre os sumidouros experimentais debancada a partir do modelo proposto neste artigo eaquele proposto por Leverenz et al. (2009) são apre-sentados na Tabela 3. Os SUMB1 e SUMB2 pos-suem parâmetros hidráulicos proporcionais aos sumi-douros operados em campo, em termos de carga hidráu-lica aplicada, sendo alimentados ambos com a mesmafrequência diária e concentração média de DQO e Só-lidos Suspensos Totais. Constata-se que o modelo ex-ponencial proposto, apesar do caráter unidimensional,quando comparado com o modelo de Leverenz et al.(2009) foi capaz de estimar em uma mesma ordem degrandeza o tempo necessário para a falência do sumi-douro estudado infiltrando em solo arenoso efluentesanaeróbios tratado, tendo em vista a boa correlação en-contrada entre tempo de operação e o decaimento dataxa de infiltração.

Figura 6: Variação das taxas de Infiltração nos sumidouros SUMB1e SUMB2.

Tabela 3: Estimativa da falência hidráulica nos sumidouros SUMB1e SUMB2.

Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 7, n. 3, p. 18-24, nov. 2013 22

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS TRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

Na Tabela 3 pode ser observado que o SUMB2 maislentamente que o SUMB1 com diferença de 212 dias de(diferença relativa de 49,88 %) de acordo com o modelode Oliveira (2012). O modelo de Leverenz et al. (2009)mostrou uma colmatação de 225 dias para o SUMB1,com diferença de 304 dias entre sumidouros.

Quando são comparadas as estimativas de colmata-ção de ambos os modelos entre os mesmos sumidou-ros, observa-se que a diferença entre a estimativa doSUMB1 é de 12 dias, enquanto para o SUMB2 é de104 dias.

As diferenças observadas entre os resultados gera-dos pelos modelos podem ser explicadas pelas melhorescondições de controle no sistema de bancada, frente aosistema piloto que operou em condições operacionaise ambientais diferenciadas, incluindo falhas operacio-nais, períodos de intermitência de alimentação, expo-sição às variações climáticas (vento, chuva, insolaçãoe variações de temperatura). A literatura tem confir-mado a influência desses fatores na capacidade de re-cuperação da condutividade hidráulica nos campos deinfiltração, conferindo a estes sistemas um maior tempoprevisto para a colmatação total do solo (BEAL et al.,2006; PAVELIC et al., 2011). É possível, ainda, que adiferença na forma de infiltração e diferença de lâminasuperficial, a qual afeta a pressão hidrostática da colunalíquida que infiltra, também sejam fatores capazes deinfluenciar a diferença nos resultados, uma vez que nossumidouros de bancada a alimentação se deu vertical-mente enquanto nos sumidouros em escala piloto, a ali-mentação se deu horizontalmente através de alvenariade junta livre.

A variação do tempo de predição para a falha hi-dráulica foi observada também na comparação dos re-sultados obtidos em campo. A diferença das estimativasentre o SUM1 (270 dias (campo)/ 215 dias(modelo)) eSUM2 (574 dias (campo) / 516 dias(modelo)) foi de 55dias para o SUM1 e de 64 dias para o SUM2. Nota-seque, para os sumidouros de bancada, os dados da mo-delagem tendem a estimar a maior o tempo de falênciahidráulica do que os dados obtidos no experimento, oque pode ser explicado por: 1) maior capacidade de re-cuperação das condições favoráveis ao fluxo na matrizdo solo no sumidouro exposto às condições ambientaisde campo aberto; 2) limitações do modelo de regressãobaseado na correlação entre o decaimento da taxa deinfiltração e o tempo de operação, com ajuste de R2

= 0,61 (OLIVEIRA, 2012); 3) melhor ajuste da mo-delagem estimativa (R2=0,95) (LEVERENZ; TCHO-BANOGLOUS; DARBY, 2009) que levou em conta acarga de sólidos, de DQOtotal afluente, a carga hidráu-lica aplicada e a forma de alimentação (nível de inter-

mitência de aplicação do efluente).Não obstante essa tendência, foi possível obter da-

dos preditivos semelhantes com diferença absoluta en-tre as estimativas de 7,51 % entre os modelos.

Na Figura 7 está apresentada a regressão dos mo-delos preditivos (Equações 2 e 3) de falência hidráulicanos sumidouros SUMB1 e SUMB2.

Figura 7: Modelo Preditivo de falência hidráulica nos sumidourosSUMB1 e SUMB2.

4 CONCLUSÕES

Os sumidouros de bancada SUMB1 e SUMB2 confir-maram a tendência mais pronunciada à colmatação doSUMB1 recebendo efluente tratado do tanque séptico,à frente do SUMB2 com diferença de pelo menos 49,88%, provavelmente em virtude da maior concentraçãode sólidos suspensos afluentes ao sumidouro SUMB1,mostrando-se representativos dos sumidouros em escalapiloto SUM1 e SUM2 operados com diferença abso-luta entre eles de 3,08 % na modelagem da predição dotempo de falência hidráulica.

A correlação entre o acúmulo de sólidos suspensosnos sumidouros e o decréscimo da taxa de infiltração dosolo foi confirmada (BEAL et al., 2006).

A estimativa de colmatação do SUMB1 e SUMB2na faixa respectiva de 213 e 425 dias, mostrou-se simi-lar à prevista aplicando-se o modelo de Leverenz, Tcho-banoglous e Darby (2009) da ordem de 220 e 523 dias,respectivamente, com diferença absoluta entre os resul-tados dos modelos de 7,51 %.

Os dados sugerem o reator UASB como uma alter-nativa factível ao tanque séptico no tratamento para dis-posição de efluente em solos arenosos por apresentarmelhor eficiência global na minimização do efeito decolmatação do solo.

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COMPORTAMENTO DA INFILTRAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS TRATADOS EM SISTEMAS ANAERÓBIOS

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ENSINO DE ÁLGEBRA ABSTRATA COM AUXÍLIO DO SOFTWAREMAPLE: GRUPOS SIMÉTRICOS Sn

RÉGIS FRANCISCO VIEIRA ALVES 1 ANA GLEICEANE DIAS DE ARAUJO

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do CearáCampus de Fortaleza

Av. Treze de Maio, 2081 - Benfica CEP: 60040-215 - Fortaleza - CE1<[email protected]>

Abstract. In this paper, it is developed a method of research known as content analysis taking as itstheme the approach to the use of software CAS Maple which is a tool to the teaching of Abstract Algebra.In this study, it is pointed out some examples of group structure applications, particularly the symmetricgroups, symbolized by Sn. The Maple software works on various branches of Mathematics, particularlyin Abstract Algebra. The program has a package named group, which allows the users to perform variousoperations with symmetric groups Sn. Given a permutation group, it is possible from the package groupto calculate its order |G|, list all its elements; find the parity of a permutation given; determine whetherGis abelian; view a permutation as a product of cycles disjoint; determine the inverse of a permutation α−1

and other operations. Based on the situations discussed, we indicate potential elements which establisha link between the use of the program and the teaching of this subject in the classroom.

Keywords: Abstract algebra; Software Maple; Teaching; Symmetric groups

Resumo. Desenvolve-se neste artigo um design de investigação, conhecido como análise de conteúdoenvolvendo um tema relativo à abordagem sobre o uso do software CAS Maple para o ensino de ÁlgebraAbstrata. Apresentam-se exemplos de aplicações no caso da estrutura de grupo, em especial os grupossimétricos, simbolizados por Sn. O software Maple proporciona a realização de aplicações em váriosramos da Matemática, de modo particular na Álgebra Abstrata. O referido programa possui um pacotedenominado group, que permite efetuar diversas operações com os grupos simétricos Sn. Dado umgrupo de permutações G é possível, a partir do pacote group, calcular sua ordem |G|; listar todos osseus elementos; encontrar a paridade de uma permutação dada; determinar se G é abeliano; exibir umapermutação como um produto de ciclos disjuntos; determinar a inversa de uma permutação α−1 , dentreoutras. Com base nas situações discutidas, indicam-se elementos que detêm o potencial de envidar atransposição didática em sala de aula para o ensino deste conteúdo.

Palavras chaves: Álgebra abstrat; Software Maple; Ensino; Grupos simétricos

1 Introdução

O presente artigo apresenta uma proposta de abordagemsobre o uso do software Maple no ensino da disciplinade Álgebra Abstrata dos cursos de Licenciatura em Ma-temática, tendo como objeto de estudo os exemplos deaplicações envolvendo os grupos simétricos simboliza-dos por Sn .

Partimos do ponto de vista que cada vez mais astecnologias digitais, como o uso do computador, es-tão presentes no ambiente educacional e, nesse sentido,Valente (1993) explica que "na educação o computa-dor tem sido utilizado tanto para ensinar sobre com-putação - ensino de computação ou computer literacy

- como para ensinar praticamente qualquer assunto -ensino através do computador". Além disso, levamosem consideração que o Maple trata-se de um programacomputacional de fácil1 utilização, por possuir uma lin-guagem simples e direta, podendo, desta forma, ser le-vado para a sala de aula.

No artigo intitulado Grupos de Permutações como Maple, Andrade (2003) mostra através de váriosexemplos, como o Maple pode ser usado em situaçõesque envolvam os grupos de permutações. Tais exem-plos podem proporcionar significações diferenciadas,por exemplo, na disciplina de Álgebra Abstrata, a qual

1Refere-se apenas ao pacote group do software Maple.

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ENSINO DE ÁLGEBRA ABSTRATA COM AUXÍLIO DO SOFTWARE MAPLE: GRUPOS SIMÉTRICOS Sn

proporciona o contato do graduando em Matemáticacom conceitos abstratos e que detêm, até certo grau,um caráter de ineditismo. Neste sentido, para Franco(2011, p.31) "em Álgebra, conceitos como anéis e gru-pos tendem a ser complexos para os estudantes, hajavista a necessidade de abstração e representação exigi-das para a compreensão dessas estruturas matemáticas".De acordo ainda com Dubinsky et al. (1994 apud AL-BUQUERQUE, 2005, p. 19), existem pesquisas na li-teratura que "confirmam que a teoria dos grupos é vistapor professores e alunos em grande maioria como umdos assuntos mais difíceis da graduação."A partir des-tas reflexões, decidimos elaborar este artigo.

O problema central deste artigo consiste, então, empropor o uso de uma ferramenta que auxilie na compre-ensão dos conceitos e resultados que constituem a teoriados grupos por parte de alunos do curso de Licenciaturaem Matemática. No nosso caso, apoiaremos nossas ar-gumentações com referência ao uso do software Maple.

Apresentaremos uma possibilidade de contribuiçãopara o ensino da disciplina Álgebra Abstrata a partir denossas investigações a respeito do uso do software Ma-ple no caso dos grupos simétricos Sn, vislumbramosque este software possa ser concebido como uma fer-ramenta auxiliar para uso de professores e alunos doscursos de Licenciatura em Matemática.

Os resultados teóricos apresentados neste artigo fo-ram obtidos com base nas etapas de investigação pre-vistas em um design da metodologia conhecida comoanálise de conteúdo proposta por Bardin (1977). A ra-zão da escolha desta metodologia teve origem no fato deestarmos numa etapa preliminar de investigação. Destamaneira, restringir-nos-emos a uma ação investigativaque não contempla dados empíricos.

Desse modo,veremos neste artigo que o softwareMaple permite algumas aplicações com os grupos si-métricos Sn . Com o software Maple é possível realizardesde tarefas mais simples por exemplo escrever umapermutação como produto de ciclos disjuntos, comotambém, realizar tarefas sofisticadas, tais como decidirse um determinado grupo simétrico Sn é normal, de ma-neira que todas estas tarefas sejam realizadas com o em-penho de um menor tempo do que o necessário quandoefetivadas sem o auxílio de um recurso computacional,com arrimo aos instrumentos lápis e papel.

Ao final desta investigação, pretendemos verificar seo software Maple pode se visto como uma ferramentaeficiente e poderosa para tornar as aulas diferenciadas,auxiliando no ensino da disciplina de Álgebra Abstrata.Iniciaremos nossa discussão fazendo uma síntese his-tórica sobre a descoberta e construção do conceito degrupo abstrato com o intuito de mostrar sua importância

para a Matemática. Em seguida, após delimitar algunsconceitos básicos da teoria dos grupos necessários parao entendimento do nosso trabalho, exibiremos exem-plos de aplicações obtidos com o software Maple.

2 METODOLOGIA

Organizamos o nosso estudo de acordo com as três eta-pas de investigação prevista por Bardin (1977), no queconcerne a metodologia nominada análise documental.As referidas etapas são constituídas por pré-análise; ex-ploração do material; tratamento dos resultados, segui-dos da inferência e interpretação.

De modo preliminar, foi realizada uma leitura dedocumentos que permitiu um primeiro contato com otema deste artigo, proporcionando uma análise e co-nhecimento dos textos, que foi se tornando mais su-cinta à medida que foram consideradas aplicações emoutros materiais semelhantes, como por exemplo, o usodo Maple em outros ramos da Matemática como o Cál-culo Diferencial e Integral em Uma a Várias Variáveis(ALVES, 2012; ALVES, 2013). Foi possível, nesta faseda pré-análise compreender o uso do Maple como umaferramenta que pode ser utilizada num ambiente de salade aula.

Em seguida, partimos para a escolha do material aser utilizado em nossa análise que, no nosso caso, sedeu a partir do objetivo ensejado. Nesta fase da pré-análise, Bardin (1977, p. 96) sugere que depois que ouniverso de documentos é demarcado, deve-se conside-rar a constituição de um corpus que ele define comosendo "o conjunto dos documentos tidos em conta paraserem submetidos aos procedimentos analíticos". Bar-din (1977, p. 97) assinala ainda que para a constitui-ção de um corpus devem ser consideradas as seguintesregras: regra da exaustividade; regra da representativi-dade; regra da homogeneidade e, por fim, a regra dapertinência.

O universo de documentos que demarcamosconstitui-se de artigos acadêmicos (ANDRADE, 2003),livros de introdução à Álgebra Abstrata (GONCAL-VES, 2012), bem como seu papel na história da Mate-mática (BOYER, 1974), livros de instrução sobre o usodo Maple e sítios eletrônicos que tratam deste software.Posteriormente, obedecendo às regras da constituiçãodo corpus, adotamos a seguinte sistemática:

• Regra da exaustividade: consideramos os váriostextos que abordavam o software Maple como fer-ramenta auxiliar para o ensino de Matemática.Além dos textos que faziam menção às aplicaçõesdeste software na Álgebra Abstrata e livros que tra-tam desta área da Matemática.

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• Regra da representatividade: de acordo com estaregra podemos realizar a análise a partir umaamostra do material se este se prestar a essa pos-sibilidade. Em nosso estudo, demos mais atençãoao material referente ao uso do Maple na ÁlgebraAbstrata mantendo nosso foco para as aplicaçõesdeste software no caso dos grupos simétricos , queconstituem um caso específico desta área da Mate-mática, mas que podem auxiliar na compreensãode outras estruturas algébricas uma vez que en-globam vários conceitos importantes da teoria dosgrupos. Além disso, os grupos simétricos são con-siderados como uma das estruturas algébricas maisimportantes dentre os grupos.

• Regra da homogeneidade: Em nosso estudo, osdocumentos submetidos para a análise obedecemtambém a esta regra que recomenda a escolha apartir de critérios precisos e que não apresentemsingularidade fora destes critérios. Em outras pa-lavras, os documentos por nós retidos giram emtorno do Maple como ferramenta auxiliar no en-sino da Álgebra Abstrata.

• Regra da pertinência: Bardin (1977, p. 98) evi-dencia que esta última regra nos permite conside-rar os documentos que equivalem ao objetivo quesuscita a análise. No nosso caso, podemos desta-car que os documentos retidos a respeito do uso doMaple contribuíram para nosso objetivo esperado.

Dentro da pré-análise, encontramos também a fasede formulação de hipóteses e objetivos. Em nossoestudo não nos apoiamos em hipóteses levando-seem consideração que "não é obrigatório ter-se comoguia um corpus de hipóteses, para se proceder à aná-lise"(BARDIN, 1977, p. 98). Quanto ao nosso obje-tivo, este consiste em investigar como o uso do Maplepode ser tomado como uma ferramenta auxiliar para oensino da disciplina de Álgebra Abstrata no caso dosgrupos simétricos Sn.

Ainda na pré-análise, contamos com a fase de re-ferenciação dos índices e a elaboração dos indicado-res. Esta fase, conforme Bardin (1977, p. 99), se dáem função das hipóteses, caso tenham sido determi-nadas a priori, isto é, quando considerados os textoscomo uma manifestação de índices que irão tornar aanálise expressiva, estes devem ser escolhidos e orga-nizados em indicadores. Em nosso estudo, tais índicescorresponderam à fácil utilização do pacote group dosoftware Maple, reforçando o objetivo ao qual direcio-namos nosso olhar. Quanto aos indicadores, contamosprincipalmente com a linguagem que o software utilizae o tempo decorrido durante a execução dos comandos.

Finalmente, concluímos esta etapa da pré-análisecom a fase da preparação do material. Bardin (1977,p. 100) esclarece que "trata-se de uma preparação mate-rial e, eventualmente, formal (edição)". Pensando nisto,reescrevemos tudo aquilo que seria utilizado em nossaprodução textual, levando em conta ainda o que Bardin(1977, p. 101) recomenda sobre o tratamento informá-tico quando diz que "os textos devem ser preparados ecodificados segundo as possibilidades de leitura do or-denador e segundo as instruções do programa".

Concluída a pré-análise, passamos para a segundaetapa: a exploração do material. Segundo Bardin (1977,p. 101) deve-se, aqui, administrar sistematicamenteas decisões tomadas na etapa anterior. Dessa forma,procuramos estabelecer uma organização a respeito da-quilo que seria levado em consideração: no contextohistórico; nos conhecimentos necessários para a com-preensão das aplicações do Maple na Álgebra Abstrata,bem como ainda, as informações relevantes sobre aapresentação do Maple e comandos específicos.

Na terceira etapa de nossa investigação, realizamoso tratamento dos resultados obtidos e interpretação.Nossos resultados referem-se aos exemplos de aplica-ções do software Maple no caso dos grupos simétricosSn, tais exemplos foram analisados e interpretados par-tindo do possível pressuposto de que poderiam ser abor-dados em sala de aula, com vistas ao ensino de um cursointrodutório de Álgebra Abstrata. Ainda nesta etapa,Bardin (1977, p. 101) afirma que "o analista poderáainda realizar inferências caso tenha à disposição resul-tados significativos". Em relação a isto, considerare-mos que, diante da simplicidade da utilização do pacotegroup do software Maple, poder-se-ia também pensarna utilização deste software em sala de aula.

3 CONTEXTO HISTÓRICO

As contribuições para a descoberta e construção do con-ceito de grupo abstrato se deram por parte de vários ma-temáticos dentre os quais podemos destacar LeonhardEuler (1707 - 1783), Joseph L. Lagrange (1736 - 1813),Karl. F. Gauss (1777 - 1855), Niels H. Abel (1802 -1829), Augustin Louis Cauchy (1789 - 1857) e ArthurCayley (1821 - 1895), mas segundo Boyer (1974, p.432) as que mais se sobressaem se devem a ÉvaristeGalois (1811 - 1832). Galois não teve seu trabalho re-conhecido em vida, somente anos após sua morte suasdescobertas vieram a público dando origem ao que hojeconhecemos como Teoria de Galois.

De acordo com Boyer (1974, p. 433) "Galois ini-ciou seus estudos a partir dos trabalhos de Joseph L.Lagrange sobre permutação de raízes de uma equaçãopolinomial". Lagrange, por exemplo, havia demons-

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trado que a ordem de um subgrupo divide a ordem deum grupo.

E. Galois ficou impressionado com a demonstra-ção de Niels H. Abel sobre a irresolubilidade de umaequação de grau cinco e desenvolveu a ideia de grupoao descobrir "que uma equação algébrica irredutível éresolúvel por radicais se e só se seu grupo é resolú-vel"(BOYER, 1974, p. 433).

Outros vários matemáticos também deram signifi-cantes contribuições para o desenvolvimento do con-ceito de grupo. De acordo com Katz (1998 apud BUSS-MANN, 2009, p. 38), as primeiras noções sobre grupotiveram origem nos trabalhos de Leonhard Euler que emseu Tratado da Doutrina dos Números de 1750, defineo conceito de congruência módulo, e percebe que aodividir um número a por um número d existem d pos-sibilidades para o resíduo r, que podem ser separadosem classes de restos. "[...] as ideias básicas da teoriade Grupos são evidentes na discussão de resíduos, de-senvolvidas por Euler, de uma série em uma progressãoaritmética 0, b, 2b, ..., [...]"(KATZ, 1998, p. 618).

Além de Euler, podemos mencionar ainda os traba-lhos de Lagrange, que segundo Milies (2004, p. 39) foiquem iniciou os primeiros estudos sobre permutaçõesem suas pesquisas sobre resolução de equações algé-bricas em 1770, e os de Niels H. Abel, que deu conti-nuidade a pesquisa de Lagrange. De acordo com Eves(2011, p. 533) "Abel publicou um famoso artigo em1824, onde demonstrou que as equações de grau cinconão tinham solução por meio de radicais, resolvendo,dessa maneira, um problema que ocupara por séculostantos outros matemáticos".

Boyer (1974, p. 433) sublinha que Gauss estabele-ceu a solução para a equação anxn+an = 0 em termosde operações racionais e raízes quadradas dos coeficien-tes em seus critérios para construção de polígonos regu-lares, e que este resultado foi mais tarde generalizadopor Galois, que forneceu critérios para a resolubilidadeda equação a0xn+a1x(n−1)+...+a(n−1)x+an = 0 emtermos de operações racionais e raízes n-ésimas de seuscoeficientes. Boyer (1974, p. 433) acrescenta aindaque "Galois tinha como principal objetivo determinarquando uma equação polinomial tinha solução por meiode radicais".

Milies (2004, p. 39) evidencia que Augustin LouisCauchy foi quem percebeu a importância da ideia degrupo de permutações desenvolvida por Galois, tendoescrito vários artigos a respeito entre o período de 1844- 1846. De acordo ainda com Milies (1992 apud BUS-SMANN, 2009, p. 41) Cauchy definiu permutações cí-clicas, transposições, produto de duas substituições egrau de uma substituição, e inclusive uma notação para

permutações utilizada até hoje. Os trabalhos de Cauchyserviram de inspiração para Arthur Cayley.

Milies (2004, p. 39) explica que o matemático quedeu a primeira definição de grupo foi Arthur Cayley(1821-1895), salientando ainda que Cayley "sabia vera generalidade por trás dos exemplos particulares". Ostrabalhos de Cayley contribuíram para o desenvolvi-mento da Teoria dos Números e para a axiomatizaçãodo conceito de grupo. Milies (2004, p. 40) argumentaque:

Ao definir a noção de grupo abstrato, Cayleyusou uma notação multiplicativa e, para frisaro fato de que num grupo está definida apenasuma única operação, ele observa que no seuconjunto, os símbolos + e 0 não têm nenhumsignificado (MILIES, 2004, p. 40).

Boyer (1974, p. 434) afirma que o conceito de grupofoi essencial para o aparecimento das ideias abstratasna primeira metade do século dezenove. O autor evi-dencia que os trabalhos de Galois sobre resolução deequações algébricas foram considerados não apenas pe-los seus resultados específicos, mas especialmente pelanatureza de uma estrutura algébrica que Galois denomi-nou pioneiramente de grupo.

Podemos considerar que durante o período de cons-trução do conceito de grupo abstrato, os matemáticosenvolvidos neste processo não contavam com recursostecnológicos para a realização de seus trabalhos. Volta-remos nossa atenção especialmente para o uso do soft-ware CAS Maple, a fim de mostrar sua eficácia no en-sino de Álgebra Abstrata, para tanto veremos a seguiralguns conceitos básicos da teoria dos grupos necessá-rios para a compreensão das aplicações que exibiremoscom o uso deste software.

4 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE GRUPOS

A seguir exibiremos conceitos necessários para a com-preensão dos exemplos de aplicações obtidos com osrecursos do software CAS Maple sobre os grupos simé-tricos Sn . Tais conceitos exercem papel fundante naseção referente às aplicações.

Definição 1: Seja G um conjunto munido de umaoperação binária ∗ : G×G→ G, dizemos que G é umgrupo e denotamos por (G, ∗ , se satisfaz os seguintesaxiomas:

• Associatividade: (a ∗ b) ∗ c = a ∗ (b ∗ c),∀a, b, c ∈G.

• Elemento neutro: ∃e ∈ G tal que a ∗ e = e ∗ a =a,∀a ∈ G.

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ENSINO DE ÁLGEBRA ABSTRATA COM AUXÍLIO DO SOFTWARE MAPLE: GRUPOS SIMÉTRICOS Sn

• Inverso: Para cada a ∈ G,∃b ∈ G tal que a ∗ b =b ∗ a = e.

E além desses axiomas o grupo também satisfaz oseguinte axioma: = b ∗ a,∀a, b ∈ G. O grupo é deno-minado grupo abeliano ou comutativo.

Definição 2: Sejam G um grupo e H um subcon-junto deG,H não vazio, dizemos queH é um subgrupodeG e denotamos porH ≤ G seH é também um grupocom a mesma operação de G.

Preposição 1: Seja Gum grupo e H um subconjuntode G. As seguintes condições são equivalentes:

a) H é um subgrupo de G.b) i) e ∈ H; ii) ∀a, b ∈ H tem-se ab ∈ H ; iii)

∀a ∈ H tem-se a( − 1) ∈ H .c) H 6= ∅ e ∀a, b ∈ H tem-se ab−1 ∈ H .Dem.: Ver Goncalves (2012, p. 126).Definição 3: A cardinalidade de um grupo G é de-

nominada de ordem do grupo G.Notação: |G|;Teorema de Lagrange. SeG é um grupo finito eH é

um subgrupo de G então |H| é um divisor de |G|, (istoé, a ordem de H é um divisor da ordem G).

Dem.: Ver Goncalves (2012, p. 134).Definição 4: Sejam G um grupo e H um subgrupo

de G. Dado a ∈ G, chamamos de classe lateral à es-querda de G com relação a G ao conjunto

aH = {ah/h ∈ H} (1)

Analogamente, denominamos de classe lateral a di-reita de G com relação a H ao conjunto

Ha = ha/h ∈ H (2)

Definição 5: Sejam G um grupo e H um subgrupode G denotamos por

G/H == {gH/g ∈ G} (3)

o conjunto das classes laterais a esquerda de G comrelação a H .

Definição 6: Sejam G um grupo e H um subgrupode G se H é um subgrupo normal de G, então são equi-valentes as seguintes afirmativas:

i) aHa−1 = Hii) aH = Ha

5 GRUPOS SIMÉTRICOS Sn

Definição 7: Seja X 6= ∅ um conjunto não vazio, oconjunto

S(X) = {f : X → X/f seja bijetiva} (4)

com a operação composição de funções é um grupo, de-nominado grupo de permutações ou grupo simétrico deX . Em particular, se X = {1, 2, 3, ..., n} é um con-junto finito denotaremos por Sn o grupo de permuta-ções S(X). O número de elementos de Sn é dado porn!.

Os elementos f ∈ Sn costumam se representadosna forma matricial(

1 2 3 ... nf(1) f(2) f(3) ... f(n)

)(5)

Definição 8:Uma permutação chama-se permutaçãocíclica ou ciclo de comprimento k ou ciclo de ordem k,se aplica a1 em a2, a2 em a3, ... , ak−1 em ak, ak ema1, sendo a1, a2,...,an elementos de X distintos. Esteciclo denota-se por, (a1, a2, ..., ak).

Definição 9: Um ciclo de comprimento k = 2 re-cebe o nome de transposição.

Preposição 1: Dois ciclos disjuntos comutam.Dem.: Ver Iezzi e Domingues (2003, p. 201).Preposição 2: Toda permutação Sn, exceção feita

a permutação idêntica, pode ser escrita univocamente(salvo quanto a ordem dos fatores) como produto de ci-clos disjuntos.

Dem.: Ver Iezzi e Domingues (2003, p. 202).Preposição 3: Se n > 1, então toda permutação de

Sn pode ser expressa como um produto de transposi-ções.

Dem.: Ver Iezzi e Domingues (2003, p. 203).Teorema 1: As transposições (1 2), (1 3), ..., (1 n)

geram Sn.Dem.: Ver D’Azevedo (2001, p. 7).Definição 10: Uma permutação σ ∈ Sn é chamada

par ou ímpar conforme possa ser expressa por um pro-duto de um número par ou ímpar de transposições.

6 APRESENTAÇÃO DO SOFTWARE CAS MA-PLE

O desenvolvimento do CAS Maple teve inicio em 1981na Universidade de Waterloo no Canadá e a partir de1988 passou a ser comercializado pela empresa cana-dense Maplesoft.

O software CAS Maple desenvolvido inicialmentepara a resolução de problemas de caráter matemáticostambém pode ser visto como uma ferramenta pedagó-gica para o ensino de Matemática. Sua utilização en-volve temas variados na Matemática, alguns mais bási-cos, como simplificação de uma expressão algébrica, eoutros mais avançados, como cálculo diferencial e inte-gral, equações diferenciais, construção de gráficos pla-nos e tridimensionais, estruturas algébricas, entre ou-tros (ANDRADE, 2003).

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ENSINO DE ÁLGEBRA ABSTRATA COM AUXÍLIO DO SOFTWARE MAPLE: GRUPOS SIMÉTRICOS Sn

O software Maple conta com vários pacotes, tratare-mos especialmente do pacote group, este é utilizado emsituações que envolvem os chamados grupos simétricosSn.

A seguir, apresentaremos os comandos do pacotegroup que nos possibilitam resolver problemas de es-truturas algébricas. Antes disso, vejamos como utilizaresse pacote:

• Os grupos com os quais trabalharemos devem sergrupos de permutações;

• Os elementos do grupo de permutações devem serfornecidos como produto de ciclos disjuntos. Umgrupo de permutações pode ser definido da se-guinte forma:

permgroup(grau,{geradores})

"O Maple interpreta uma lista [a1, a2, ..., an] for-mada com os inteiros de 1 a n como sendo uma permu-tação f de Sn na qual f(i) = ai"(ANDRADE, 2003).

Depois de iniciar o Maple, podemos listar os co-mandos do pacote group, basta digitar um with(group);como é visto na figura 1.

Figura 1: Comandos do pacote group do software Maple.

O pacote group do Maple conta com os seguintescomandos:

group[areconjugate], group [core] ,group[DerivedS], group[inter],group[issubgroup], group[normalizer],group[pres], group[transgroup],group[center], group[cosets],group[elements], group[invperm],group[LCS], group[orbit],group[RandElement],

Transitive Groups Naming Scheme,group[centralizer], group[cosrep],group[groupmember], group[isabelian],group[mulperms], group[parity],group[SnConjugates], type/disjcyc,converter / disjcyc,converter / permlist,group [derived], group [grouporder],group[isnormal], group[NormalClosure],group[permrep] e group[Sylow].

Neste artigo, é discutida a utilização do Maple noensino de Álgebra Abstrata, com o intuito de mostrar aeficácia deste software no ensino desta disciplina.

7 EXEMPLOS DE APLICAÇÕES UTILIZANDOO PACOTE GROUP DO CAS MAPLE: GRU-POS SIMÉTRICOS Sn

Selecionamos alguns comandos do pacote group, apre-sentado anteriormente, para mostrar exemplos de apli-cações do CAS Maple envolvendo os grupos simétri-cos Sn. Os comandos que exibiremos foram escolhidoscom base nos seguintes critérios: fácil compreensão eutilização, tornar determinadas tarefas mais rápidas ereferirem-se a conceitos de um curso introdutório deÁlgebra Abstrata.

Iniciaremos com o comando convert / disjcyc quepermite converter uma permutação como produto de ci-clos disjuntos, vejamos um primeiro exemplo:

7.1 Exemplo 1

Seja α =

(12345673657124

)∈ S7, utilizando o comando

convert / disjcyc, obtemos:

> convert([3,6,5,7,1,2,4],’disjcyc’)>[[1,3,5],[2,6],[4,7]]

É fácil obter esta representação sem o amparo deum recurso computacional, não obstante, quando con-sideramos um grupo simétrico Sn de grau n >> 1,o trabalho aumenta de modo considerável. Utilizandoo comando convert / disjcyc o tempo de obtençãodo resultado pode ser otimizado. De fato, vejamos osexemplos a seguir:

7.2 Exemplo 2

Seja , obtemos com o Maple o seguinte resultado:

> convert([5,16,6,7,1,2,4,11,12,9,10,8,19,18,13,20,15,17,14,3],’disjcyc’)

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>[[1,5],[2,16,20,3,6],[4,7],[8,11,10,9,12],[13,19,14,18,17,15]]

7.3 Exemplo 3

Seja, como denota o Maple, a permutaçãoα =

[1,5,3,8,9,4,2,6,7,11,16,13,12,10,14,17,15,20,18,24,19,26,21,23,30,29,22,25,27,28,50,45,49,31,37,46,43,38,32,47,40,35,33,39,36,34,41,42,44,48],

com α ∈ S50.Utilizando o convert / disjcyc, obtemos o resul-

tado apresentado na figura 2.

Figura 2: Exemplo de aplicação do comando convert/disjcyc do pa-cote group do software Maple.

Dado um grupo simétrico Sn, à medida que o grau naumenta, torna-se mais exaustivo escrever, sem o auxí-lio de um instrumento computacional, uma permutaçãopertencente a este grupo como um produto de ciclos dis-juntos, entretanto, vimos nos exemplos 2 e 3 que como uso do comando convert disjcyc esta tarefa pode serexecutada com o uso de um menor tempo.

É possível realizar o processo inverso, isto é, dadoum produto de ciclos disjuntos, podemos escrevê-lo como uma lista que representa a permutação cor-respondente, para tanto devemos utilizar o comandoconvert / permlist. Vejamos os próximos exemplos:

7.4 Exemplo 4

Seja o produto de ciclos dado por (23)(517), que re-presenta uma permutação do grupo simétrico de grau

sete. Fornecendo o grau do grupo de permutações e uti-lizando o comando convertc / permlist, obtemos:

> convert([[2,3],[5,1,7]],’permlist’,7)> [7,3,2,4,1,6,5]

7.5 Exemplo 5

Seja γ ∈ S70, onde γ é representada pelo produto

(32)(517)(6812)(303648)(574254)(676570),

novamente com o comando convert / permlist, obte-mos:

>convert([[3,2],[5,1,7],[6,8,12],[30,36,48],[57,42,54],[67,65,70]],’permlist ’,70)>[7,3,2,4,1,8,5,12,9,10,11,6,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,36,31,32,33,34,35,48,37,38,39,40,41,54,43,44,45,46,47,30,49,50,51,52,53,57,55,56,42,58,59,60,61,62,63,64,70,66,65,68,69,67]

Assim como o comando convert / disjcyc acelerao processo de escrever uma permutação como produtode ciclos disjuntos, o comando convert / permlisttambém torna mais rápido o processo inverso. É possí-vel, a partir do comando mulperms, efetuar uma compo-sição de duas permutações dadas, que devem ser forne-cidas como produto de ciclos disjuntos, como veremosa seguir:

7.6 Exemplo 6

Sejam β =

(12345674127653

)e µ =

(12345672354167

)per-

mutações pertencentes ao grupo S7, vamos primeira-mente escrever cada uma como produto de ciclos dis-juntos:

> convert([4,1,2,7,6,5,3],’disjcyc’)[[1,4,7,3,2],[5,6]]

> convert([4,6,5,1,7,2,3],’disjcyc’)> [[1,4],[2,6],[3,5,7]]

Finalmente, utilizando o comando mulperms obte-mos:

> with(group):> mulperms([[1,4,7,3,2],[5,6]], [[1,4],[2,6],[3,5,7]])> [[2,4,3,6,7,5]]

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7.7 Exemplo 7

Sejam α, β ∈ S30, tais que α =

[1,8,9,4,30,6,13,2,3,10,14,12,7,11,15,25,19,18,17,20,23,22,21,24,16,26,29,28,27,5]

e β =

[14,27,6,15,11,9,13,2,3,10,1,12,7,30,4,25,18,19,17,20,23,22,21,24,16,26,5,28,8,29],

temos então com Maple o seguinte resultado:

Figura 3: Exemplo de aplicação do comando mulperms do pacotegroup do software Maple.

> with(group):>convert([1,8,9,4,30,6,13,2,3,10,14,12,7,11,15,25,19,18,17,20,23,22,21,24,16,26,29,28,27,5],’disjcyc’)> [[2,8],[3,9],[5,30],[7,13],[11,14],[16,25],[17,19],[21,23],[27,29]]> with(group):>convert([14,27,6,15,11,9,13,2,3,10,1,12,7,30,4,25,18,19,17,20,23,22,21,24,16,26,5,28,8,29],’disjcyc’)> [[1,14,30,29,8,2,27,5,11],[3,6,9],[4,15],[7,13],[16,25],[17,18,19],[21,23]]

> with(group):> mulperms([[2,8],[3,9],[5,30],[7,13],[11,14],[16,25],[17,19],[21,23],[27,29]],[[1,14,30,29,8,2,27,5,11],[3,6,9],[4,15],[7,13],[16,25],[17,18,19],[21,23]])> [[1,14],[4,15],[5,29],[6,9],[8,27],[11,30],[18,19]]

Utilizando o comando mulperms vimos que a tarefade compor duas permutações é bastante simples. Valeressaltar que, dependendo do grupo simétrico ao qualpertençam as permutações, esta tarefa poderá não sertão fácil sem o auxilio de um recurso computacionalcomo o software Maple.

Dada uma permutação é possível encontrar sua in-versa, para tanto basta utilizar o comando invperm.

7.8 Exemplo 8

Consideremos a permutação Sejam β =(1234567827581436

)∈ S8, que pode ser escrita como

(1 2 7 3 5)(4 8 6). Vamos, agora, através do comandoinvperm, calcular sua inversa β−1:

> with(group):> invperm([[1,2,7,3,5],[4,8,6]])> [[1,5,3,7,2],[4,6,8]]

Novamente, à medida que consideramos um gruposimétrico Sn, com n >> 1, uma estratégia semelhanteà anterior pode se tornar inexequível sem o amparocomputacional. Vejamos, pois, o próximo exemplo:

7.9 Exemplo 9

Vamos calcular a inversa da permutação do exemplo 2:

> with(group):> invperm([[1,5],[2,16,20,3,6],[4,7],

[8,11,10,9,12],[13,19,14,18,17,15]])>[[1,5],[2,6,3,20,16],[4,7],[8,12,9,10,11],[13,15,17,18,14,19]]

7.10 Exemplo 10

(Higino, 2003, p. 207) Qual é a inversa da permutaçãoσ = (12)(35)(789) no grupo S10?

> with(group):> invperm([[1,2],[3,5],[7,8,9]])> [[1,2],[3,5],[7,9,8]]

Se fossemos calcular a inversa destas permutaçõessem nenhum recurso computacional, empenharíamosmaior esforço, enquanto que, com o comando invpermo resultado é obtido quase que de imediato.

Podemos também encontrar a paridade de uma per-mutação, isto é possível com a utilização do comandoparity. Vale observar o uso da definição 12. Quando apermutação é par o comando parity retorna 1, e caso apermutação seja ímpar retorna -1.

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7.11 Exemplo 11

Seja G ≤ S4, um grupo cujos geradores são (2 3) e(1 4). Vamos utilizar o comando RandElement, que nospermite obter um elemento de G aleatoriamente, e emseguida, através do comando parity, vamos determinarse a permutação obtida é par ou ímpar.

> with(group):> pg:=permgroup(4,{[[2,3]],[[1,4]]}):> a:=RandElement(pg)> [[2,3,6,5,4]]> parity(a)> 1

7.12 Exemplo 12

Seja H ≤ S8, um grupo cujos geradores são (1 3) e(2 4 7 5) e novamente utilizando comando RandEle-ment vamos obter uma permutação pertencente a H ve-rificar determinar sua paridade:

> with(group):> pg:=permgroup(8,{[[1,3],[2,4,7,5]}):

> γ:=RandElement(pg)

> [[2,4,7,5]]> parity(?)> -1

Para calcular a paridade de γ, sem o uso de qualquerrecurso computacional, devemos primeiro escrevê-lacom produto de transposições e em seguida contarquantas transposições foram obtidas. Com o comandoparity isto não é necessário. Podemos verificar atravésdo comando groupmember se uma dada permutação αpertence a um grupo simétrico Sn. Veremos um exem-plo disto a seguir:

7.13 Exemplo 13

> with(group):> pg := permgroup(4,{[[1,4,3,2]]}):> groupmember([[1,3,2]],pg)> false

7.14 Exemplo 14

Seja G ≤ S9 um grupo com (1 4) e (5 3 7 2 8) seu ge-radores, vamos determinar se a permutação (2 5 7 8 3)pertence a G:

> with(group):> pg := permgroup(8,{[[1,4],[5,3,7,8]]}):> groupmember([[2,5,7,8,3]],pg)> false

Dado um grupo simétrico Sn, vimos que é fácil de-terminar se uma permutação pertence a este grupo, paratanto devemos fazer uso do comando groupmember.

Através do comando, grouporder é possível calculara ordem de um grupo de permutações.

7.15 Exemplo 15

SejaG um subgrupo de S7, cujos geradores são (1, 2, 3)e (3, 4, 5, 6, 7). Utilizando o comando grouporder po-demos calcular a ordem de G:

> with(group):> grouporder(permgroup(7,{[[1,2,3]],[[3,4,5,6,7]]}))> 2520

Vale ressaltar que estamos considerando nesteexemplo um subgrupo de S7 e não o próprio S7, a or-dem de S7 é dada por 7!. Calcular a ordem de S7

sem nenhum recurso computacional é uma tarefa razoá-vel. No entanto, no caso de um subgrupo de S7 para oqual conhecemos seus geradores o ideal é ter o auxíliode alguma ferramenta computacional, como o comandogrouporder do software Maple.

Calculada a ordem, em seguida podemos tambémgerar os elementos de um grupo de permutação utili-zando o comando elements.

7.16 Exemplo 16

Seja G um subgrupo de S5 cujos geradores são(1, 4)(2, 3) e (1, 2)(35), o comando group [elements]permite listar todos os elementos de G:

> with(group):> pg := permgroup(5,{[[1,4],[2,3]],[[1,2],[3,5]]}):> elements(pg)> {[ ], [[1, 3], [4, 5]], [[2, 5],[3, 4]],[[1, 2, 3, 4, 5]], [[1, 2],[3, 5]], [[1, 5],[2, 4]], [[1, 4],[2, 3]], [[1, 4, 2, 5, 3]];[[1, 5, 4, 3, 2]], [[1, 3, 5, 2, 4]]}

7.17 Exemplo 17

Seja G um subgrupo de S7 cujos geradores são (2 3),(5 7) e (4 6), vamos então através do comando elementsdeterminar todos os seus elementos.

> with(group):> pg := permgroup(7,{[[2,3]],[[5,7]],[[3,5]]}):> elements(pg)

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> {[ ],[[2,3]],[[4,6]],[[5,7]],[[2,3],[4,6]],[[2,3,[5,7]],[[4,6],[5,7]],[[2,3],[4,6],[5,7]]

7.18 Exemplo 18

Seja o grupo simétrico S4, vamos a partir dos comandosgrouporder e elements, respectivamente, determinar aordem e listar todos os elementos deste grupo.

> with(group):> pg := permgroup(4, {[[1,2]],[[1,3]],[[1,4]]}):> grouporder(pg)> 24> elements(pg)>{[],[[1,2]],[[1,3]],[[1,4]],[[2,3]],[[2,4]],[[3,4]],[[1,2,3]],[[1,2,4]],[[1,3,2]],[[1,3,4]],[[1,4,2]],[[1,4,3]],[[2,3,4]],[[2,4,3]],[[1,2,3,4]],[[1,2,4,3]],[[1,3,2,4]],[[1,3,4,2]],[[1,4,2,3]],[[1,4,3,2]],[[1,2],[3,4]],[[1,3],[2,4]],[[1,4],[2,3]]}

Quando consideramos grupos simétricos Sn de graun com n >> 1, a tarefa de listar todos os seus elemen-tos se torna impraticável. É o caso, então, de recorrerao uso do comando elements que facilita significante-mente este processo. O comando issubgroup possibi-lita verificar se um determinado conjunto H não vazioé subgrupo de um grupo G, se H for subgrupo de G éretornado true, caso contrário é retornado false, comoexemplificado a seguir:

7.19 Exemplo 19

Sejam G < S4 cujo gerador é (1 4 3 2), e H ⊂ G cujogerador é (1 2 3). Vamos determinar a partir do Maplese H < G:

> with(group):> pg:=permgroup(4,{[[1,4,3,2]]}):> sg:=permgroup(4,{[[1,3,2]]}):> issubgroup(sg,pg)> false

Em algumas situações a tarefa de determinar que umgrupo é subgrupo de um outro grupo não é tão sim-ples, uma vez que é necessário usar técnicas de de-monstrações, como as utilizadas por Goncalves (2012,p. 126), que dependendo dos grupos em questão pode-se ter mais dificuldades, com o Maple basta saber quem

são os geradores dos grupos em questão e utilizar o co-mando issubgroup.

A partir do comando isnormal é possível determinarse um dado grupoH é subgrupo normal de um grupoG(ver definição 6, p. 9), levando em consideração que Hdeverá ser subgrupo de G. O exemplo seguinte mostracomo isso é possível:

7.20 Exemplo 20

(ANDRADE, 2003, p. 4)

> with(group):> G := permgroup(6,{[[1, 2], [3, 4]],[[1, 4]], [[5, 6, 1]]}):> H := permgroup(6, {[[2, 3], [5, 6]],[[3, 6]], [[1, 4], [2, 6, 5, 3]]}):> isnormal(G, H)> false

Com o comando isabelian podemos saber se um de-terminado grupo G é ou não abeliano, como é visto nosexemplos adiante:

7.21 Exemplo 21

SejamG o grupo cujo gerador é (1 4 3 2) eH cujo gera-dor é (1 3 2), com G < S4 H < S4. Vamos determinaratravés do Maple se G e H são abelianos:

> with(group):> pg:=permgroup(4,{[[1,4,3,2]]}):> sg:=permgroup(4,{[[1,3,2]]}):> isabelian(pg)> true> isabelian(sg)> true

7.22 Exemplo 22

Seja G < S8 cujos geradores são (1 3), (2 7) e (3 8):

> with(group):> pg:=permgroup(8,{[[1,3]],[[2,7]],[[3,8]]}):> isabelian(pg)> false

8 CONCLUSÃO

Neste estudo, exibimos exemplos de aplicações do soft-ware Maple a respeito dos grupos simétricos Sn, quepodem ser explorados em sala de aula.

A respeito dos exemplos discutidos, vimos que,dado um grupo simétrico Sn, é possível com facilidade

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e, com o uso do pacote group do software Maple, des-crever todos os seus elementos, calcular sua ordem; de-cidir se um elemento lhe é pertencente; determinar se éabeliano; verificar sua normalidade, dentre outras ques-tões. Desta forma, durante a etapa da pré-análise, pro-posta por Bardin (1977), pudemos verificar que, atravésdo uso do pacote group, no que diz respeito aos gru-pos simétricos Sn, foi possível abordar conceitos e re-sultados importantes referentes aos grupos abstratos emgeral.

Sem o auxílio de um recurso computacional comoo software Maple, pudemos constatar, durante a fasede referenciação de índices e elaboração de indicadoresproposta por Bardin (1977), que os exemplos discutidosseriam realizados com maior dificuldade e empenho deum maior tempo conforme tivéssemos um grupo simé-trico Sn com n >> 1.

Pudemos verificar com facilidade que os coman-dos do pacote group do software Maple são executa-dos de forma simples, tornando fácil a compreensão atémesmo daqueles que não têm familiaridade com este re-curso computacional. Neste escrito, tratamos o Maplecomo uma proposta de ferramenta auxiliar no ensino deum curso introdutório de álgebra abstrata, isto é, comouma proposta ao professor de nível superior que queiraacrescentar às suas aulas um lado computacional a fimde buscar inová-las.

Considerando o que Bardin (1977) sugere na etapade tratamento dos resultados, podemos pensar em umapróxima pesquisa onde seria realizado um estudo sobreo uso do pacote group do software Maple em sala deaula.

AGRADECIMENTOS

O presente artigo constituiu parte das investigações deiniciação científica no curso de licenciatura em Mate-mática do IFCE. Outrossim, o mesmo representa umrecorte do objeto estudado no período de vigência dabolsa de iniciação, sob orientação do Prof. Dr. Fran-cisco Regis Vieira Alves. A exequibilidade do projetotornou-se realidade consoante o apoio fundamental daPró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação -PRPI do Institutop Federal de Educação Ciência e Tec-nologia do Ceará.

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ESTRUTURAS POLICÊNTRICAS E DESENVOLVIMENTOTÉCNOLOGICO: PERSPECTIVA DAS UNIDADES DE REDES

GESTORAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS

RODRIGO JOSE LIMA ALMEIDA 1

JOSÉ PEREIRA MASCARENHAS BISNETO 2

Universidade Federal do Recôncavo da BahiaMestrado em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social

Avenida Alberto Passos, 294 - Centro, BA, 44380-0001<[email protected]>

Abstract. This article presents a theoretical discussion on the use of polycentric structures in publicadministration, in view of the prospect of technological development in the formation of public policiesmanagement networks. Considering that management models are the basis of an organization, we haveas the main objective of this study the presentation of the management model through Polycentric Struc-tures or Networks and their association with new technologies in the shaping of public policies. Themethodology refers to a literature review conducted through the observation and comparison of scientificjournal articles, texts and books on the subject. The research is guided by a descriptive analysis, includingstudies of everyday situations disclosed in documents on the subject, as an alternative understanding.

Keywords: Networks; Technological development; Public policies

Resumo. Este artigo realiza uma discussão teórica sobre o emprego de estruturas policêntricas na ges-tão pública, atenta para a perspectiva do desenvolvimento tecnológico na formação de redes gestoras depolíticas públicas, considera que os modelos de gestão são a base de uma organização. Tem-se comoobjetivo central deste estudo a apresentação do modelo de gestão por meio de Estruturas Policêntricas ouRedes e sua associação com as novas tecnologias na formação de políticas públicas. A metodologia uti-lizada reporta-se a uma revisão bibliográfica mediante a constatação e comparação de artigos de revistascientíficas, textos e livros sobre a temática. A pesquisa norteia-se pela análise descritiva, inclui-se, comoalternativa de compreensão, estudos de situações cotidianas, divulgadas em documento sobre o tema.

Palavras chaves: Redes; Desenvolvimento Tecnológico; Políticas Públicas

1 Introdução

Com o advento da globalização 1 , aumentaram as ne-cessidades das organizações se modernizarem. Decor-rência disso é o fenômeno da concorrência, que está fre-quentemente nos mais diversos ambientes sociais. Umaferramenta que emergiu nesse ambiente e vem se soli-dificando em uma alternativa viável para a competitivi-dade, é a formação de estruturas policêntricas ou em re-des. Esses arcabouços organizacionais envolvem distin-tos atores, nódulos e organizações que, vinculadas entre

1"(...) Processos que promovem a interconexão internacional (...)- aumentando os fluxos de comércio, investimento e comunicação en-tre as nações"(Hirst e Thompsom, 2002, p.247). "(...) um processo(ou uma gama de processos) que incorporam uma transformação naorganização espacial das relações sociais e das transações"(Held, et.al., 1999, p.16).

si, estabelecem objetivos comuns, buscam manterem-sesólidas no mercado (HELD et al., 1999).

Esse novo mecanismo de gestão cristaliza-se poratingir diferentes segmentos gerenciais, na medida emque conseguem estruturar-se de forma a compor redesde natureza gerencial, política, de movimentos soci-ais, de políticas públicas, dentre outros. A proliferaçãodesse organismo interfere em diversos segmentos queincidem no papel gerencial das organizações, uma vezque as formações dessas estruturas impactam no pro-cesso de desenvolvimento tecnológico, na inovação egestão das organizações.

Relacionada aos diversos paradigmas de gestãoexistentes, o uso das linhas gerencias, sob a perspec-tiva da formação das unidades de redes organizacionais,

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transcendem a um novo viés para a administração pú-blica, de modo que essa utilização possibilita uma rees-truturação das atividades públicas, sobretudo dos servi-ços públicos,configura-se , em tese, em um novo para-digma da administração pública.

O modelo de gestão das políticas públicas subjaz dediversas metodologias e técnicas alinhadas que cami-nhem para a transformação do cenário existente, umavez que as distintas ações realizadas mostram uma au-sência significativa de eficiência, eficácia e efetividadepor parte do governo na administração das políticas pú-blicas. A mudança do direcionamento da administraçãopública, em relação ao aspecto da formação das polí-ticas públicas, perpassa o emprego de novas ferramen-tas de gestão e desenvolvimento tecnológico, alternativapossível com a estruturação em redes.

2 CONCEITO DE ESTRUTURAS POLICÊNTRI-CAS

Muitas são as ferramentas adotadas por uma organiza-ção durante o processo de sua gestão e as metodologiasempregadas visam, sobretudo, alcançar um funciona-mento que permita a sustentabilidade organizacional. Acompetição, fortalecida pela globalização, desenvolvi-mento tecnológico e diversidade cultural dos povos, im-buiu as organizações de proverem constantemente no-vos métodos e soluções para problemas destinados a suaadministração. Essa nova filosofia de atuação, em que acompetitividade argúi as instituições a inovarem-se nasmais distintas concepções, colaborou para a formaçãode estruturas centradas em redes.

A concepção de estruturas em redes é apresentadapor Castells (2005, p. 255), como "componentes fun-damentais das organizações [...] capazes de forma-see expandir-se por todas as avenidas e becos da econo-mia global porque contam com o poder da informaçãopropiciado pelo novo paradigma tecnológico". SegundoGoldsmith e Eggers (2006), a intenção de um governoatuar em rede permite uma elevação na amplitude deações, como também uma diminuição da dependênciade servidores públicos em papéis tradicionais.

A configuração de um paradigma em que predominaa associação de diversas organizações, destinada à satis-fação de objetivos comuns, é algo presente na contem-poraneidade e defendida por diversos pensadores. ParaFleury e Ouverney (2007), a etapa que amplia as redesna administração pública brasileira tem como marcoinicial o ano de 1990; todavia, a literatura internacio-nal já mencionava alguns estudos sobre o emprego dagestão em rede pelo Estado, anterior a esse período.

Para distintos autores, o desenvolvimento tecnoló-gico é fator crítico de sucesso no processo de for-

mação de estruturas policêntricas. Segundo Jacobi(2000), as redes de gestão inserem-se numa lógicaque demanda articulações e solidariedade entre pes-soas/organizações, redução de conflitos e atritos, defi-nição de objetivos comuns e articulação de demandaspor meio de modernas tecnologias para disseminar seusposicionamentos.

O relacionamento entre desenvolvimento tecnoló-gico e estruturas policêntricas é algo indissociável,sendo, portanto, um elemento essencial na formaçãode modelos de gestão. Para (MARANDO; FLORES-TANO, 1990), a ideia de gestão intergovernamental, naperspectiva de estruturas em rede, é entendida como umtópico emergente de junção de disciplinas da política eda administração. Em Brasil (2007, p. 17), as Redessão entendidas como:

iniciativas voltadas para o desenvolvimentoda cultura associativa e participativa muitasvezes já existente na comunidade, emboranem sempre percebida. Seu maior desafioé fortalecer a capacidade de relacionamentodo ser humano com seus semelhantes [...] otrabalho em Rede constitui um poderoso re-curso, capaz de gerar resultados positivos emresposta aos esforços empreendidos pelos di-versos protagonistas envolvidos nas etapas doprocesso de regionalização.

Do ponto de vista epistemológico há uma conver-gência para a definição do termo estruturas policêntri-cas. Em geral, o termo é entendido como

um sistema aberto altamente dinâmico susce-tível de inovação sem ameaças ao seu equi-líbrio. Redes são instrumentos apropriadospara a economia capitalista baseada na inova-ção, globalização e concentração descentra-lizada; para o trabalho, trabalhadores e em-presas voltadas para a flexibilidade e a adap-tabilidade; para uma cultura de desconstru-ção e reconstrução contínuas; para uma po-lítica destinada ao processamento instantâ-neo de novos valores e humores públicos; epara uma organização social que vise à su-plantação do espaço e a invalidação do tempo(CASTELLS, 1999, p. 497)

Para Storper e Harrison (1991), as organizações em redeconfiguram-se em: Redes Simétricas ou Flexíveis, Le-vemente Assimétricas em Coordenação, Redes Assimé-tricas com Empresa Líder e Hierárquicas. E essas sãoconceituadas da seguinte maneira:

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ESTRUTURAS POLICÊNTRICAS E DESENVOLVIMENTO TÉCNOLOGICO: PERSPECTIVA DAS UNIDADES DE REDESGESTORAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS

• Redes Simétricas ou Flexíveis: igualitárias na re-lação entre os integrantes, sem qualquer espécie dehierarquia entre eles;

• Redes Levemente Assimétricas com Coordena-ção: apresentam leve grau de hierarquia devido àrelativa influência da empresa coordenadora, po-rém limitada e não determinante da sobrevivênciadas empresas participantes do sistema;

• Redes Assimétricas com Empresa Líder: apre-sentam forte assimetria hierárquica entre a em-presa líder e os integrantes, cuja sobrevivênciacondiciona-se à estratégia da líder;

• Redes Hierárquicas: estruturadas por meio daplena formalidade entre a empresa líder e as de-mais integrantes.

Apesar da existência de variedade em definições, asestruturas em rede ou policêntricas é explicada sucin-tamente em Brasil (2007) que considera as estruturaspolicêntricas como "um modo de organização, com acaracterística de ser autônomo e que de forma horizon-tal cooperam entre si. Todavia, o desenvolvimento tec-nológico é um elemento indispensável no processo decooperação".

3 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E ACONFIGURAÇÃO DAS REDES

O surgimento de uma nova técnica de gestão permitea consumação de algumas interpretações, sejam positi-vas e/ou negativas. Trabalhar a perspectiva de rede oude forma policêntrica é o que existe de mais emergentena administração pública. Nesse contexto, alguns au-tores configuraram o estabelecimento dessas redes, ob-jetivam apresentar uma concepção identificável, clara ede fácil entendimento.

A forma das estruturas policêntricas, sejam estas si-métricas, assimétricas ou definidas com outro formato,tiveram sua proliferação a partir do desenvolvimentotecnológico. A transformação das técnicas perpassapelo processo de inovação, sendo esta uma ferramentainerente ao desenvolvimento de novas tecnologias. Se-gundo Freeman (1998), a inovação é um processo in-terativo em que a organização não só adquire conheci-mentos a partir de sua própria experiência nas etapasde desenho, desenvolvimento, produção e comerciali-zação, como também está em processo permanente deaprendizagem em função de suas relações com diversasfontes externas como fornecedores, clientes, concorren-tes, consultores, universidades e centros de pesquisa.

A inovação como parte integrante do desenvolvi-mento das tecnologias permitiu a elaboração de diversas

ferramentas que interconectaram os povos de modo ins-tantâneo e preciso. Damanpour (1991) sustenta a ideiade inovação tecnológica como aquela relativa aos pro-dutos, serviços e à tecnologia dos processos de produ-ção, sendo relacionada às atividades básicas do traba-lho. Nesse sentido, o processo de inovação emergiucomo o pilar de sustentação para diversas ferramentas,inclusive a gestão em redes. Para Lopes e Judice (2010),a crescente utilização da tecnologia possibilitou a inte-ração entre diversos grupos e aumentou o processo deformação para a colaboração entre parceiros.

Um dos principais aspectos na formação e manu-tenção de organizações em rede é a comunicação entreos distintos nós que a compõem. Essa conectividadesó é possível graças aos mecanismos tecnológicos exis-tentes. Matheus e Silva (2006) informam que os inte-grantes de uma rede de cooperação estabelecem laçosde conexão entre si, responsáveis pela forma e configu-ração da rede; além disso, esses laços estabelecidos sãofundamentais ao fluxo do conhecimento e aprendizadoao longo da rede de cooperação.

Para Castells (1999), as estruturas policêntricas pos-suem formação aberta capaz de expandir de formailimitada, integram novos nós desde que consigamcomunicar-se dentro da rede, ou seja, compartilhem osmesmos códigos de comunicação. Observa-se que a re-lação existente entre os diversos segmentos de uma es-trutura policêntrica deve-se a interligação existente en-tre pontos, estes dependentes das ferramentas tecnoló-gicas.

O emprego dessa metodologia de gestão decorre,consubstancialmente, do processo proveniente do de-senvolvimento tecnológico. Segundo Furtado (2003), atecnologia incorporada nos bens de capital se relacio-nava a uma pequena parcela da sociedade que detinhaa possibilidade de usufruir da modernidade, formandoum cenário de heterogeneidade tecnológica.

Através da globalização, as fronteiras mercadoló-gicas se expandiram rapidamente, permitiram que odesenvolvimento tecnológico ganhasse perspectivas alongo alcance. Para Claro (2009), a transformaçãotecnológica permitiu o surgimento de novas melhoriaseconômicas à sociedade.

O desenvolvimento tecnológico trouxe à tonaa internet, acompanhada de um avanço dossistemas informatizados onde se criou ummercado global, que realiza atividades econô-micas virtualmente. Essas atividades econô-micas englobam desde pagamentos efetuadospela internet até da comercialização de produ-tos entre seus usufrutuários, variando de sim-ples usuários a grandes negociadores (DEL

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CLARO, 2009, p. 02).

Como o crescimento tecnológico popularizou-se di-namicamente, atingiu todos os mercados econômicos,as organizações tiveram que se adequar a novas práticasexigidas pela sociedade. Nessa perspectiva, a adminis-tração pública foi condicionada a estabelecer novas es-tratégias de gestão que permitissem uma nova dinâmicagerencial, cuja linha de base é formada pela aplicaçãode um método de redes de gestão, embasada nas ferra-mentas provenientes do desenvolvimento tecnológico.

A associação entre a implantação de uma metodolo-gia estratégica de organização em rede e o desenvolvi-mento das tecnologias são resultantes de uma dinâmicasocial, demandadas pelos diversos segmentos da socie-dade que, no afã das necessidades e escassez de recur-sos, requerem das instituições ações mais voláteis, di-nâmicas e eficazes. "Fundamentais em um momento deescassez de recursos, estas técnicas orçamentárias de-ram impulso à implementação das outras reformas ad-ministrativas"(CAIDEN, 1991, p. 85). Com base nessadinâmica social, Abrucio (1997) contemporiza sua per-cepção sobre essa transformação requisitada à adminis-tração pública, afirma que

Diante da atual realidade do Estado contem-porâneo, pressionado pela globalização e pe-las mudanças tecnológicas, com menos podere recursos, de fato a eficiência adaptativa éum valor mais importante para a administra-ção pública, capaz de dotá-la da flexibilidadenecessária para responder melhor às deman-das internas e externas (ABRÚCIO, 1997, p.18).

Na visão de Abrucio (1997, p. 22), "a descentra-lização, no entanto, não basta para aumentar o poderdo consumidor. É preciso que haja opções caso de-terminado equipamento social não esteja funcionandoa contento". Nessa perspectiva é que surge à metodolo-gia das redes policêntricas, sendo, portanto, uma ferra-menta que utiliza do desenvolvimento promovido pelastecnologias para aplicar uma nova forma de gestão, ca-paz de permitir a eficiência, eficácia e efetividade naformulação das políticas públicas.

4 REDES GESTORAS DE POLÍTICAS PÚBLI-CAS

A administração pública brasileira fundamenta-se naconfiguração de alguns cenários, vistos como paradig-mas. Desde a concepção do modelo patrimonialista atéa ideologia gerencial, presente na modernidade, diver-sas ações foram criadas para visar a efetividade das po-

líticas públicas. Obviamente que o avanço na última dé-cada foi substancial, já que a era patrimonial e burocrá-tica da gestão pública não deixou sinais valorativos deefetividade para a sociedade. Na lógica patrimonialista"todos os cargos de governo que constituem suas estru-turas administrativas estão sob o domínio pessoal (co-munidade doméstica) de um soberano"(JUNQUILHO,2010, p. 47). Já a percepção burocrática "compara-se às outras organizações exatamente da mesma formapela qual a máquina se compara aos modos não mecâ-nicos de produção"(WEBER, 1982, p. 249). Nesse as-pecto, a Administração Gerencial caracterizada por serum contraponto entre essas duas acepções, patrimoniale burocrática, é idealizada e consumada.

Segundo Carvalho (2004), a estrutura da sociedadebrasileira ( 1500-1930 ) possuía, como aspecto princi-pal, uma hierarquia bastante definida e simples e emcuja parte elevada da pirâmide, estavam os grandes pro-prietários rurais e os grandes comerciantes das cidadesdo litoral; ao centro, localizavam-se os pequenos pro-prietários rurais e urbanos, mineradores, comerciantes,além de funcionários públicos; logo abaixo ficavam osartesãos, capangas, agregados e povos indígenas e nabase mourejavam os escravos. Iglésias (1989) acres-centa que havia poucas possibilidades de grupos médioscom especialização em serviços, manufaturas e comér-cio, já que a sociedade convencionalmente formava-sepela relação de senhores e escravos. Após o ano de1930, já na era burocrática, a gestão pública evoluía,mas surgiam outros percalços. Para Secchi (2009), oaxioma fundamental do paradigma burocrático está noseu aspecto formal, impessoal e profissional, fatores es-tes que possibilitaram a supremacia sobre a técnica pa-trimonial de gestão.

A transformação do paradigma burocrático para ogerencial introduziu diversas modificações na gestãopública do país. Atrelado às necessidades sociais eao desenvolvimento tecnológico, a administração pú-blica viu-se inserida no contexto de realização e fomen-tação de políticas públicas que requeriam maior rapi-dez e abrangência. Nessa perspectiva, Rhodes (1986)informa que a implantação da estrutura policêntrica éum elemento-chave do processo político, pois os objeti-vos iniciais podem ser substancialmente transformadosquando levados à prática. Para avançar nesse sentido,pode-se propor um novo arcabouço para a articulaçãoentre o Estado e suas ferramentas de gestão. Esque-maticamente, como representado na Figura 1, a engre-nagem da nova administração pública perpassa pela in-terconexão entre o paradigma de gestão Gerencial e asEstruturas Policêntricas.

Migueletto (2001) corrobora que as redes são ca-Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 7, n. 3, p. 36-45, nov. 2013 39

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Figura 1: Nova engrenagem da Administração Pública Fonte: Ela-boração própria com base em Rhodes (1986).

racterizadas pela condição de autonomia das organiza-ções e pelas relações de interdependência que estabele-cem entre si, sendo um espaço no qual se produz umavisão compartilhada da realidade, articulada por dife-rentes tipos de recursos que conduzem ações de formacooperada. Dessa forma, é possível identificar o graude importância das redes, tendo como parâmetro o pa-pel das organizações públicas; isso porque o uso de ummodelo de gestão caracterizado pela associação de di-versos órgãos públicos, sobretudo daqueles destinadosà aplicação das políticas públicas, permite uma maiorabrangência e efetividade na formação destas políticas.

Se o mundo tornou-se global - isto é,mundializou-se categoricamente e viu suasáreas específicas integrarem-se sempre mais,não temos como apreendê-lo sem rata-locomo um complexo, um todo que é tecidojunto. Precisamos de uma perspectiva que in-tegre, organize e totalize (NOGUEIRA, 2004,p. 37).

A nova gestão pública protagonizou-se em se trans-formar, não apenas pela evolução dos tempos, mas, so-bretudo, pelas mudanças sociais, políticas, econômicase culturais. Diversas são as organizações que propõema realização de políticas voltadas ao público; entretanto,na esfera pública, devido à volatilidade da moderniza-ção, há a necessidade de adequação a contemporanei-dade.

5 O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, ASESTRUTURAS POLICÊNTRICAS E AS RE-DES DE GESTÃO

A maturação de atividades relacionadas ao desenvolvi-mento tecnológico decorre de uma estreita relação entreciência e tecnologia. Carvalho (1997) informa que, apartir da revolução industrial, os conhecimentos tecno-lógicos e a estrutura social foram modificados de formaacelerada. A ideia defendida por Miranda (2002) as-socia a relação existente entre tecnologia e ciência, demodo que a tecnologia é fruto da aliança entre ciência etécnica, a qual produziu a razão instrumental. Nessaperspectiva, produzir ou idealizar o desenvolvimentotecnológico subjaz experimentar, reinventar e testar téc-nicas ou procedimentos já existentes.

Assim para compreender a derivação do desenvol-vimento tecnológico requer o entendimento de outrasnomenclaturas, a terminologia estruturas policêntricasremete a opiniões de alguns conceitos para o seu ade-quado entendimento. Segundo Mandell (1990), algu-mas variáveis são necessárias para ajudar a análise dostipos de redes. De acordo com o referido autor, fato-res como compatibilidade dos membros, ambiente emque se dá a mobilização de recursos e ambiente sociale político em que opera são exigências que a utilizaçãodesse mecanismo requer para melhor análise e compre-ensão.

Para Britto (2002), o exame morfológico das redesdeve ser feito com base em quatro indicadores, defini-dos como:

• Nós: podem ser descritos como um conjunto deagentes, objetos ou eventos presentes na rede emquestão. Existem duas perspectivas para o estabe-lecimento dos nós da rede: a primeira tem as em-presas como unidade básica de análise e a segundaconsidera as atividades como os pontos focais doarranjo.

• Posições: definem as localizações das empresas ouatividades (os nós) no interior da estrutura. A po-sição está diretamente associada à divisão do tra-balho dos diferentes agentes.

• Ligações: determinam o grau de difusão ou den-sidade dos atores de uma rede. BRITTO (2002)destaca que nas redes de empresas é necessárioum detalhamento dos relacionamentos organizaci-onais, produtivos e tecnológicos entre os membrosda rede.

• Fluxos: podem ser classificados em tangíveis (in-sumos e produtos) e intangíveis (informações).

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Essa subdivisão representa uma esquematização dacomposição principal das estruturas policêntricas e aderivação desses fatores, sendo possível associar a per-cepção da estrutura formal de uma rede e o direcio-namento com o arcabouço necessário na fundamenta-ção da gestão de políticas públicas. Nessa vertente,constata-se que os indicadores do processo morfológicode formação das redes possuem interação com algunselementos que são essenciais no processo de gestão deuma organização, a saber: articulação entre nós, empre-sas e atividades (ver Figura 2). Nesse viés, as associa-ções desempenhadas pelas partes envolvidas na cons-trução das ramificações são pacotes indispensáveis naetapa de modernização da administração pública.

Figura 2: Elementos morfológicos das redes Fonte: Britto (2002).

Atualmente, o cenário mercadológico requer dosentes públicos ações cada vez mais eficazes. O empregode um novo modelo de gestão visa à contemplação dealternativas para o aumento da efetividade nas açõesdesempenhadas pelos organismos públicos, de modo aproduzir, eficientemente, políticas públicas que ampa-rem os anseios sociais.

Considerando a necessidade do atendimento as de-mandas eminentes e emergentes, a gestão pública detémalguns mecanismos capazes de amenizar os apelos dasociedade. Desse modo, a estruturação de organismosem estruturas policêntricas faz parte do rol de ferramen-tas capazes de melhorar os serviços e políticas públicasproduzidas e realizadas pelos entes públicos. Assim,Rodrigues (2003) menciona algumas novas formaçõesprovenientes da cooperação entre organizações (ver Ta-bela 1).

Ainda nessa perspectiva, a Tabela 1 apresenta quea concepção de estruturas policêntricas adquire novosarranjos de gestão, permite a proliferação de seus con-ceitos e a disseminação de novas ideologias sobre a me-todologia de gestão pública com base em redes de admi-nistração. Infere-se também para a presença de quatrodenominações ligadas ao método de estruturas policên-tricas que fazem parte do processo de surgimento denovas técnicas, sob a ótica da inovação, do desenvol-vimento tecnológico e da formação de novas estraté-gias para a administração pública: clusters, organiza-ções virtuais, incubadora de empresas e parques tecno-lógicos.

A associação do desenvolvimento tecnológico como

Tabela 1: Formas de cooperação entre empresas. Fonte: Rodri-gues(2003).

um fator crítico de sucesso na formação de estruturasem redes, capaz de prover a transformação da gestão depolíticas públicas, já é perceptível nas categorias ine-rentes à esfera pública. A derivação gerada pelas es-truturas em rede permite a interconcatenação entre dis-tintos ambientes da sociedade, o que possibilita a ges-tão pública dinamizar suas ações, para garantir assimmaior efetividade no desempenho de suas atividades.Malmegrin (2010) apresenta um quadro que demonstraos aspectos estratégicos das redes estatais, tendo comoparâmetro a categoria dos serviços públicos (ver Tabela2).

Nos indicadores levantados por Malmegrin (2010),identifica-se, sob a ótica estratégica, a presença de re-sultados gerenciais capazes de colaborar com a gestãopública na etapa de tomada de decisão. Conforme pre-coniza o Quadro 2, as categorias de serviços públicos,do ponto de vista estratégico, estão embasadas em trêsvertentes: Intervenção Legal, Disponibilização de In-fraestrutura e Atendimento Direto. Todas elas mostramsingularidades que permitem a administração públicavislumbrar as diversas tipologias utilizadas, bem comoas organizações que participam do processo. Avan-çando nesse direcionamento, a gestão pública, de formaestratégica, pode observar, com base nas característicasdos serviços públicos, as melhores práticas na aplica-ção dos serviços públicos que utilizam o mecanismo deredes de gestão.

Considera-se também a compreensão de uma gamade autores, que destacam a coesão de afirmativas dire-cionadas para a integração existente entre: Desenvolvi-mento Tecnológico, Estruturas Policêntricas e Redes deGestão. O quadro apresentado por Malmegrin (2010)

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Tabela 2: Redes estatais: serviços públicos, composição e tipologias.Fonte: Malmegrin(2010).

aponta para uma tendência das instituições públicas defomentar a prática por ações com viés estratégico, cujoemprego das ferramentas emergidas com o desenvolvi-mento tecnológico e a prática da gestão em forma de es-truturas policêntricas serão inevitavelmente fatores crí-ticos para o sucesso da administração pública. Destaca-se, portanto, que essa trilogia, associada às inúmerastransformações nas organizações, forma um diferencialcompetitivo, sendo, desse modo, uma estratégia neces-sária para o atual contexto mercadológico.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O emprego de mecanismos que possibilite à gestão pú-blica melhorar seus processos de formação de políticaspúblicas é substancial na atual conjuntura social, dadaa grande volatilidade das transformações no contextoeconômico, político e social. A percepção de que de-vam ser aceitos e adotados novos caminhos estratégicosdetermina a formação de um ambiente pautado na asso-ciação direta e/ou indiretamente de entes públicos e/ouprivados, de modo que essa cadeia produza elementoscapazes de transformar a realidade existente.

Com base nesse entendimento, o desenvolvimentode novas tecnologias torna-se um fator crítico de su-cesso para as organizações públicas, haja vista a diversi-dade e abrangência de suas ações. Assim para desenvol-ver técnicas e metodologias rápidas e seguras, insere-se a necessidade de adotar novas ferramentas de gestãoque viabilizem a mudança organizacional sob a pers-pectiva de atingir as demandas sociais com base nos

princípios da eficiência, eficácia e efetividade. Emerge-se, portanto, um grande paralelo na associação entre astécnicas de administração e o desenvolvimento tecnoló-gico, já que estão diretamente ligados entre si. Diantedisso, identifica-se a necessidade de transformar ou re-organizar o paradigma utilizado pela Gestão Pública naformação das políticas públicas. Não há como desen-volver novas estratégias sociais, sem a percepção de quea sociedade está fundamentada com base em uma estru-tura de rede, ou seja, interconectada e que o desenvol-vimento tecnológico é peça chave nesse processo.

Por fim, constata-se também que o novo modeloorganizacional público, cuja essência estratégica con-siste na formação de estruturas policêntricas, é o viésque faltava no incremento da rotina de formação de po-líticas públicas. A utilização dessa ferramenta, asso-ciada às práticas do desenvolvimento tecnológico e ino-vação, impactará positivamente na mudança do cenárioadministrativo e social dos órgãos públicos, de modoa possibilitá-los melhor efetividade na produção e re-alização de seus serviços. No entanto, a implantaçãodesse paradigma perpassa, dentre outros fatores, peloprocesso de transformação cultural dos gestores públi-cos, o que por si só não é algo fácil.

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JOGOS LÚDICOS: RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE QUÍMICA

JOGOS LÚDICOS: RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DEQUÍMICA

TÁSSIA PINHEIRO DE SOUSA 1

RAIMUNDA OLÍMPIA DE AGUIAR GOMES 2

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE - Campus de MaracanaúAvenida Contorno Norte, 10 - Distrito Industrial, Maracanaú - CE, 61925-315

1<[email protected]>

Abstract. Education in Brazil has faced important changes over the last decade. The promulgation ofthe Lei de Diretrizes e Bases in 1996 (LDB/96) - a law that sets the guidelines to the Educational Systemin Brazil - and the creation of the Parâmetros Curriculares Nacionais in 2002 (PCN’s) - a NationalCurriculum for High School level - brought to the Brazilian education important features to turn thelearning process a more meaningful event. It is a common idea that Chemistry is a hard discipline to belearnt and also it is said that school has failed to help teachers to prepare more interactive and dynamiclessons, in this context it is necessary to develop new teaching tools, such as educational games. Havingthis in mind, this work aimed to understand the influence of the game as a tool in the teaching andlearning process of high school Chemistry students, in this way, fun games are taken as teaching strategyto boost classes, using low cost materials. As the method this paper is based on a case study, and asour field research it was taken a public school in the city Maracanau. Then, it was analyzed that it ispossible to make low cost didactic elements and it was also mentioned that the use of games can be analternative methodology for content assimilation and for the development of a working together feelingand partnership between student-student and student-teacher. It was concluded that the game brings outa spontaneous learning and the game must be considered an useful instrument to build up new skills andknowledge.

Keywords: Learning; ludic games; Chemistry teaching.

Resumo. O ensino no Brasil passou por mudanças importantes na última década. A promulgação daLei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB/96) e a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para oEnsino Médio (PCN’s) em 2002 trouxeram para o ensino brasileiro conceitos importantes para tornar aaprendizagem mais significativa. Sabendo que para os alunos, a Química é muitas vezes uma disciplinade difícil assimilação e que a escola pode não dispor de material que auxilie aos professores na prepa-ração de aulas mais interativas e dinâmicas, observou-se a necessidade de desenvolver novos recursos,como jogos lúdicos. Dessa premissa surgiu este trabalho cujo objetivo foi compreender a influência dojogo como recurso pedagógico no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do ensino médio emQuímica, a partir da confecção de jogos lúdicos, como estratégia de ensino para dinamizar as aulas,utilizando materiais de baixo custo. Metodologicamente, se inscreve como um estudo de caso, tendocomo campo de pesquisa uma escola pública estadual do município de Maracanaú. Identificou-se que épossível confeccionar elementos didáticos de baixo custo. Também inferiu-se que o uso dos jogos podeser uma alternativa metodológica para a assimilação dos conteúdos e o desenvolvimento do espírito deequipe e da parceria entre aluno-aluno e aluno-professor. Concluiu-se que a brincadeira tem um valor deaprendizagem espontânea e deve ser considerado um instrumento com poder suficiente para provocar aconstrução de novas habilidades e conhecimentos.

Palavras chaves: Aprendizagem; jogos lúdicos; ensino de Química

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1 Introdução

A Química é a ciência da matéria e das mudanças. Omundo da química inclui tudo que nos rodeia, seja ani-mal, vegetal ou mineral, e ao longo das transforma-ções do desenvolvimento humano, foi fator preponde-rante, desde a descoberta do fogo (BRADY; HUMIS-TON, 2006). Vale salientar que várias reações químicasocorrem a todo o momento no cotidiano, desde a maissimples até as mais complexas, como: cozinhar, dirigir,aplicar produtos como agrícolas, agrotóxicos, aditivosalimentares, tintas, vernizes, fibras têxteis, produção dovidro, material de limpeza, refrigerantes e até mesmono simples ato de abrir a geladeira. Dessa forma, pode-se afirmar que a Química é uma ciência prática e seapoia nas observações da natureza (BRADY; HUMIS-TON, 2006).

Por outro lado, o laboratório de química é o lugaronde estas observações são feitas em condições con-troladas, onde os resultados podem ser reproduzidos.Acredita-se que um bom laboratório oportuniza ao pro-fessor demonstrar para os alunos que eles podem fazerdescobertas importantes para a humanidade. Assim, osprofessores podem despertar nos alunos o interesse emapreender com prazer os conhecimentos químicos siste-matizados pela humanidade. Brady e Humiston (2006,p.2) afirmam:

[...] a intensidade com que a Química temmodificado a nossa civilização é evidente portoda a parte. Boa parcela de nossas roupas, osautomóveis e outros objetos de uso cotidianosão feitos de materiais que simplesmente nãoexistiam na virada do século. Os remédioscriados nos laboratórios tornaram as pessoasmais saudáveis e, através da cura de doenças,prolongaram suas vidas.

Entretanto, identifica-se que os alunos têm grande difi-culdade em assimilar os conteúdos de química aborda-dos em sala de aula, ou seja, as aulas, em sua grandemaioria, são apenas teóricas. Isso proporciona desen-tendimento e até mesmo um desinteresse em relaçãoà disciplina. Espera-se que aliar o lúdico às aulas deQuímica contribua para uma visão mais abrangente doconhecimento, colocando em ênfase, na sala de aula,conhecimentos que sejam relevantes e possam interagirno cotidiano do aluno. Desse modo, eles compreende-rão e/ou descobrirão, desde cedo, que estudar químicapode ser fácil e divertido, principalmente quando isso éfeito de forma prática.

Diante desse contexto, a disciplina torna-se umamatéria não estimulante, monótona e desinteressante,resultando por vezes em lacunas no processo de ensino

e aprendizagem. Perante o exposto, é necessária a buscade estratégias de ensino que possam proporcionar umamotivação para que os discentes sintam curiosidade emconhecer, vivenciar estes conhecimentos e difundi-los.E um método que pode ser usado nesse âmbito é a apli-cação de jogos didáticos, levando em consideração anecessidade em desenvolver habilidades para tornar otrabalho do professor mais dinâmico e eficiente.

A pesquisa tem como objetivo geral: compreendercomo o jogo pode auxiliar no processo de aprendizageme como objetivos específicos identificar na perspectivados alunos como o jogo pode ser auxiliar na sua apren-dizagem e avaliar o uso do jogo no processo de ensinoaprendizagem.

Como metodologia, utilizou-se como instrumentoda investigação uma enquete do tipo Survey. Optou-sepor este método, pois a pesquisa survey pode ser des-crita como uma coleta de dados ou informações sobrecaracterísticas, ações ou opiniões de determinado grupode pessoas e apropria-se neste método segundo o objetode interesse ocorre no presente ou no passado recente(YIN, 2010). O processo de obtenção de dados foi re-alizado através de um questionário, no qual os alunosexpuseram os aspectos positivos e negativos das aulas.

Na fundamentação teórica esse trabalho foi emba-sado pelos estudos de Santana (2011), Junior e Marcon-des (2010), Brougere (2010), Elkonin (2009), Vygotsky(2008), Zanon, Guerreiro e Oliveira (2008), Murcia(2005), Soares, Okumura e Cavalheiro (2003), Antunes(2002), Santos, Piassi e Ferreira (2000), e (PIAGET,1986).

Nas discussões dos resultados poderemos compro-var a eficácia da utilização dos jogos em sala de aula,pois de forma bastante proveitosa os alunos se apro-priam dos conhecimentos químicos e se divertem jo-gando. Finalizou-se com as considerações finais apro-ximando os objetivos propostos aos resultados encon-trados e discutindo expectativas e proposições.

2 METODOLOGIA

Nesse item apresentam-se o universo da pesquisa, ossujeitos da investigação e os passos da investigação.

2.1 O universo da pesquisa

A escola campo de pesquisa está situada no municí-pio de Maracanaú que integra a região metropolitanade Fortaleza, fica a 20 quilômetros da capital, tem umaárea de 105.696 km2, com 199.808 habitantes (BRA-SIL, 2008), sendo em termos estaduais o quarto Muni-cípio mais populoso do Ceará. Conta com 19 escolasde Ensino Médio, acompanhadas pela Coordenadoria

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Regional de Desenvolvimento da Educação - CREDE1 - que abrange os Municípios de Maracanaú, Caucaia,Eusébio, Aquiraz e Maranguape.

Possui a segunda maior economia do Ceará, umavez que está centrada fundamentalmente no setor in-dustrial, apesar da participação do setor de serviço (quetambém engloba o comércio) ter crescido bastante nosúltimos anos. É considerado o maior centro industrialdo Ceará - a produção do Distrito Industrial é escoadapara o Estado e o restante do País por vias ferroviárias erodoviárias e ao exterior pelo porto marítimo do Mucu-ripe e do Pecém, todo esse desenvolvimento com ape-nas 30 anos de emancipação (MARACANAU, 2012).

2.2 Os sujeitos investigados

Foram sujeitos da pesquisa 50 alunos do 1o ano do En-sino Médio de uma escola pública estadual do municí-pio de Maracanaú, cuja faixa etária varia entre 15 e 17anos e que participaram dessa pesquisa no momento emque eu, pesquisadora desse projeto e na ocasião profes-sora dos mesmos, apliquei essa metodologia na sala deaula.

O perfil socioeconômico e cultural dos alunos par-ticipantes da pesquisa pode se considerado como des-favorável, proveniente do ambiente no qual os estudan-tes estão inseridos, pois são moradores de um conjuntohabitacional periférico, filhos de pais na maioria assa-lariados e que enfrentam problemas sociais tais como:violência, desemprego, drogas, ociosidade, dificuldadesfinanceiras, pais com baixa escolaridade, entre outros.

Apesar desses relatos, os alunos da escola pesqui-sada são considerados um referencial por terem bomdesempenho no Exame Nacional do Ensino Médio -Enem e no Sistema Permanente de Avaliação da Edu-cação Básica do Ceará - SPAECE, e outros vestibularese concursos, como também, participam ativamente emfeiras regionais, nacionais e internacionais sendo desta-ques em quase todas elas.

2.3 Os passos da investigação

Baseada na dificuldade dos alunos aprenderem a TabelaPeriódica optou-se por proporcionar uma aula mais di-nâmica e interativa, dessa forma apresentou-se aos mes-mos o jogo "UNO"Químico. Para esse fim elegeu-se 50elementos químicos para trabalhar com os estudantes:os elementos das famílias 1A a 8A e alguns de transi-ção mais conhecidos.

Foi-se trabalhado da seguinte maneira:Na primeira etapa explanou-se o assunto sobre Ta-

bela Periódica, com a utilização dos seguintes recursos:livro didático, lousa e pincel, laboratório de Informática

para a utilização de um documentário sobre o conteúdoabordado e discussão em grupo.

Na segunda etapa explicou-se aos estudantes as re-gras do jogo e os dividiu em equipes. Essa atividadefoi baseada no jogo original "Uno"Químico e adaptadoao conteúdo de Tabela Periódica a fim de unir o lúdicocom o aprendizado dos elementos químicos e suas de-terminadas características. O material pedagógico foifabricado no programa de computador Corel Draw eimpresso (Figura 1). A regra do jogo é: cada partici-pante deve jogar uma carta que contenha o elementoda mesma família ou que a carta seja da mesma cor,quando o jogador ficar com apenas uma carta, ele de-verá falar "química". Ganha quando o mesmo baixar aúltima carta.

Figura 1: Cartas do jogo "Uno"Químico. Fonte: elaboração própria.

Na terceira etapa da pesquisa, foi aplicado um ques-tionário de avaliação de múltipla escolha para saber aopinião dos alunos sobre a metodologia aplicada. E porfim, analisamos os resultados obtidos e descrevemos emforma de gráficos.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o EnsinoMédio foram elaborados para guiar a prática docenterumo a uma reforma educacional pretendida para o mo-delo brasileiro, em consonância com a Lei de Diretri-zes e Bases da Educação Brasileira. Porquanto, as Ori-entações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL,2006; BRASIL, 1996) sobre o ensino de Química ex-põem a utilização de novas abordagens para a temáticaem sala de aula, novas metodologias no processo ensinoe aprendizagem.

No entanto, sabe-se que ensinar química sempre foium desafio para os educadores, pois se sabe que osalunos têm grande dificuldade de assimilar os conteú-

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dos desta disciplina que são abordados em sala de aula.Tal dificuldade pode estar relacionada ao ensino que é,em geral, tradicional, centralizando na simples memo-rização e repetição de nomes, fórmulas e cálculos, bemcomo desvinculados do dia-a-dia e da realidade em queos alunos se encontram. Soares, Okumura e Cavalheiro(2003), ao tratar sobre a relação aluno/professor, faz aseguinte menção: no método de ensino considerado tra-dicional, há um distanciamento entre aluno e professor,causado pela ideia de que o primeiro é um transmissore o segundo um receptáculo do conhecimento.

A reversão desse quadro requer do professor a ela-boração de trabalhos dinâmicos que estimulem o apren-dizado através do raciocino lógico, do pensamento, dacriatividade e a capacidade de cada aluno. A atividadelúdica em sala de aula surge como uma alternativa dedinamização.

Essa dinamização no ensino de ciências, por exem-plo, exige que o professor se utilize de um modelo didá-tico baseado na experimentação para despertar interessedos alunos. Os autores Santos, Piassi e Ferreira (2000)defendem que a experimentação, sobretudo quando re-alizada com materiais simples que o aluno tem condi-ções de manipular e controlar, facilita o aprendizadodos conceitos, desperta o interesse e suscita uma atitudeindagadora por parte do estudante.

Em sua pesquisa sobre modelos didáticos, Junior eMarcondes (2010) referenciam que há quatro modelosdidáticos, o tradicional que é transmitir ao aluno con-teúdos já consagrados da cultura vigente; o tecnológicoque proporciona ao aluno uma formação moderna e efi-ciente; o espontaneísta que é capacitar o aluno para quepossa compreender sua realidade e o alternativo.

O modelo alternativo, que representa um en-sino em que o aluno vai aos poucos au-mentando seus conhecimentos e consequen-temente podendo atuar no mundo que o ro-deia. Tanto o professor quanto o aluno exer-cem um papel ativo, os primeiros como in-vestigadores de suas práticas pedagógicas eos segundos como construtores e reconstruto-res de suas aprendizagens, que são alcançadaspela implantação de situações problema queexigem do aluno posturas investigativas paraa sua resolução (SANTOS e MARCONDES,2011, p.103).

Vale salientar que todos os meios didáticos são bonsindicadores do desenvolvimento escolar. A introduçãodos cadernos nas escolas no século XIX ou mesmo dascalculadoras nas aulas de matemática no século XX, aelaboração de novos recursos de ensino, bem como a fa-

bricação e a aplicação dos jogos para melhorar a apren-dizagem, surge como bom exemplo da maneira em quea educação se adapta aos materiais disponíveis na soci-edade ou procura criar novas alternativas.

Isso torna relevante a necessidade do professor com-preender como ocorre o desenvolvimento. Vygotsky(2008) defende que existem dois níveis: o do desen-volvimento real, representado pelas atividades que ascrianças conseguem realizar sozinhas; e o do desenvol-vimento potencial, representado pelas etapas posterio-res ao desenvolvimento real, nas quais as interferên-cias de outras pessoas afetam de forma significativa oresultado da ação individual. Nesse intervalo do nívelde desenvolvimento real com o desenvolvimento poten-cial, encontra-se a zona de desenvolvimento proximal(ZDP), definida como a zona das atividades que a cri-ança não pode desenvolver sozinha, mas com a ajudade outras pessoas mais maduras na habilidade a ser tra-balhada (VYGOTSKY, 2008). Revela-se dessa forma oespaço da ação docente.

Murcia (2005) reforça que desenvolver a inteligên-cia significa fomentar a curiosidade, estimular o sensode humor, bem como o estado de espírito, além de al-cançar a felicidade são objetivos prioritários da educa-ção para evitar a reprovação e evasão escolar. E umaalternativa para o alcance desses objetivos da educaçãoé o uso de jogos como recurso de aprendizagem.

Por outro lado, alertam Zenon et al(2008) que o en-sino de química praticado nas escolas não estão propi-ciando ao aluno um aprendizado que possibilite a com-preensão dos processos químicos em si e a construçãode um conhecimento químico em estreita ligação como meio cultural e natural, em todas as suas dimensões,com implicações ambientais, sociais, econômicas, éti-cas, políticas, científica e tecnológica.

Tecnologias que podem ser viabilizadas com a in-serção de jogos na prática pedagógica têm como obje-tivo proporcionar ao estudante a diversão e o prazer as-sim como a ampliação do conhecimento. O jogo é umeixo que conduz a um conteúdo didático específico re-sultando em um empréstimo da ação lúdica para a aqui-sição de informações. (ZANON et AL, 2008, p. 73).

Em sua pesquisa, Santana (2011) defende que os jo-gos apresentam um diferencial frente a outras atividadesjá conhecidas e difundidas no âmbito da comunidadede profissionais voltados ao Ensino de Química no Bra-sil, pois são elementos valiosos no processo de apropri-ação do conhecimento, permitindo o desenvolvimentode competências no âmbito da comunicação, das rela-ções interpessoais, da liderança e do trabalho em equipee utilizando a relação cooperação/competição em umcontexto formativo, uma vez que, no jogo, o aluno co-

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opera com os colegas de equipe e competem com asoutras equipes que são formadas pelos demais colegasda turma.

No jogo há regras e eles existem com uma de-terminada função e com finalidade pré-determinada.(BROUGERE, 2010).

[...] é chamado de jogo (...) pressupõe a pre-sença de uma função como determinante nointeresse do objeto e anterior a seu uso legí-timo: trata-se da regra para um jogo de socie-dade ou de princípio de construção (encaixe,montagem) para as peças de um jogo de cons-trução. (BROUGERE, 2010, p. 12).

Piaget (1986) dá ao jogo uma atribuição cognitivae o relaciona diretamente à brincadeira como a gêneseda inteligência. Dessa forma, o jogo como uma brinca-deira pode aproximar o professor do aluno promovendoa aprendizagem de conhecimentos, no caso específicodesse estudo, conhecimentos em química.

4 ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO DOS DA-DOS

Nessa seção, analisaremos e interpretaremos os dadoslevantados nessa investigação em seu contexto natural,que teve como objetivo geral compreender como o jogopode auxiliar no processo de aprendizagem.

No questionário identificamos inicialmente os da-dos pessoais dos estudantes envolvidos, como série,idade e sexo. Foram sujeitos da pesquisa 50 alunos do1o ano do Ensino Médio, sendo 22 alunos do sexo mas-culino e 28 alunos do sexo feminino, cuja faixa etáriavaria entre 15 e 17 anos, conforme a Figura 2.

Figura 2: Faixa etária dos alunos, Maracanaú em 2012. Fonte: Ela-boração própria.

Pode-se perceber a predominância do sexo femininonessa última etapa da educação básica que é o Ensino

Médio. Coincidindo com a maturidade sexual dos ado-lescentes, compreendida também como uma importanteetapa da vida para a maturidade intelectual, sendo queé nesse período que se constitui a capacidade do pensa-mento conceitual (BRASIL, 2006).

A primeira pergunta do questionário foi "O que vocêacha sobre o uso de jogos na sala de aula?". Como re-sultado, 100% dos estudantes afirmaram que o jogo osajudou na assimilação do conteúdo com melhor facili-dade. Portanto, com esse resultado comprovamos queo jogo é um bom recurso para ser aplicado durante asaulas. Podemos visualizar de acordo com a Figura 3.

Figura 3: Faixa etária dos alunos, Maracanaú em 2012. Fonte: Ela-boração própria.

Em relação ao segundo questionamento, "O quevocê sentiu quando jogou com seus colegas na sala deaula?". O resultado é apresentado na Figura 4.

Figura 4: Sentimento expresso pelo aluno ao jogar com os colegas,Maracanaú em 2012. Fonte: Elaboração própria.

Observa-se que nenhum entrevistado marcou quenão gostou da metodologia proposta, 40% dos estudan-tes sentiram-se desafiados a ganhar o jogo e 60% senti-ram alegria e entusiasmo. Vemos aqui que o caráter lú-dico desempenha também um papel fundamental, por-

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que envolve o aluno não somente no âmbito cognitivo,mas também no afetivo e no volitivo. O aprendizadode ciências se dá a partir de problemas relevantes parao estudante com os quais ele deseja se envolver e quetrazem para ele uma satisfação.

No terceiro questionamento, perguntou-se aos estu-dantes o seguinte "Quando o professor usou o jogo nasala de aula você achou que a aula dele ficou?", 30 alu-nos, 60% dos estudantes, sentiram a aula mais interes-sante e atrativa e 20 alunos, 40 % dos estudantes, disse-ram que se sentiram mais motivados a estudar. Nenhumaluno apontou não ter gostado da metodologia aplicada.

Segundo Elkonin (2009, p. 35) "essas relações po-dem ser de cooperação, de ajuda mútua, de divisão detrabalho e de solicitude e atenção de uns com outros".

Figura 5: O que o aluno achou quando o professor usou o jogo nasala de aula, Maracanaú em 2012. Fonte: Elaboração própria.

Na quarta pergunta, questionamos, "Você prefere jo-gar em equipe ou individualmente?". E foi pedido paraque os alunos justificassem sua resposta. Os discentesmostraram que preferem jogar em equipe: pois dos 50alunos entrevistados, apenas 4 responderam que prefe-ririam jogar individualmente. O motivo que os levou aoptarem por jogar individualmente se justifica por que:

"Bom, porque ele desperta a concentraçãonos jogadores, pois eles querem memorizaros símbolos, o nome e as características decada elemento". (Aluno 1).

"Eu acho que essa modalidade de jogo facilitao pensamento e a concentração, contribuindopara o êxito no jogo, por isso prefiro jogarsozinho". (Aluno 2).

De acordo com Brasil (2006), a obtenção do conhe-cimento, mais do que a simples memorização, pressu-põe habilidades cognitivas lógico-empíricas e lógico-formais. Alunos com divergentes histórias de vida po-dem desenvolver e apresentar diferentes leituras ou per-

Figura 6: Preferência do aluno em jogar em equipe ou individual-mente, Maracanaú em 2012. Fonte: Elaboração própria.

fis conceituais sobre fatos químicos, que poderão inter-ferir nas capacidades cognitivas. O aprendizado deveser conduzido levando-se em conta essas diferenças.

No processo coletivo da construção do conheci-mento em sala de aula, valores como respeito pela opi-nião dos colegas, pelo trabalho em grupo, responsabili-dade, lealdade e tolerância têm que ser enfatizados, deforma a tornar o ensino de Química mais eficaz, assimcomo para contribuir para o desenvolvimento dos valo-res humanos que são objetivos concomitantes do pro-cesso educativo.

Santana (2011, p. 1) afirma que:

as atividades lúdicas não levam à memoriza-ção mais fácil do assunto abordado, mas in-duzem o aluno a raciocinar, a refletir. Alémdisso, essas práticas contribuem para o desen-volvimento de competências e habilidades,aumentando ainda a motivação dos alunos pe-rante as aulas de Química, pois o lúdico é in-tegrador de várias dimensões do aluno, comoa afetividade, o trabalho em grupo e das rela-ções com regras pré-definidas, promovendo aconstrução do conhecimento cognitivo, físicoe social.

É importante ressaltar que durante a aplicação dojogo o aluno não tinha simplesmente que memorizar,ele tinha que formular estratégias com sua equipe paraque todos pudessem prosseguir no jogo, e a memoriza-ção foi uma das ferramentas para que o mesmo pudessepersistir, porém não foi à única, nem a mais relevante.Por fim, perguntou-se aos estudantes: "Você acha queaprendeu com mais facilidade através do jogo?". Efoi sugerido que os alunos justificassem sua resposta.

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100% dos entrevistados disseram que sim, o uso do jogofacilitou o processo de aprendizagem dos mesmos, bemcomo tornou os conteúdos mais fáceis de compreender,permitiu, ainda, aprender com mais entusiasmo, vistoque a metodologia aplicada fugiu da aula tradicional,despertou a curiosidade em relação ao conteúdo abor-dado e, dessa forma, conquistou a atenção e houve umacumplicidade entre os colegas, uma vez que uns ajuda-ram aos outros por meio dos conhecimentos que iamadquirindo. Merecem destaque algumas opiniões:

"Com essa que tive pude perceber que a quí-mica está presente na minha casa". (Aluno11).

"Os jogos ajudaram no aprendizado das fa-mílias e os períodos da tabela periódica".(Aluno 16).

"Muito criativo, nós aprendemos química jo-gando. Além de ampliar nossos conhecimen-tos". (Aluno 29).

Figura 7: Opinião do aluno em relação ao aprendizado por meio dojogo, Maracanaú em 2012. Fonte: Elaboração própria.

Ao apresentar o jogo, notou-se uma grande curiosi-dade por parte dos alunos. Eles queriam saber de ime-diato como funcionava o jogo, quais as regras e quandoiriam jogar. Para os autores Santos et al. (2000), a pro-posta de se lidar com materiais simples, não advém ape-nas do fator custo, mas da necessidade de que o alunopossa dominar todo o processo de conhecimento, atra-vés da construção, por seus próprios meios e dos apara-tos que servirão de objeto de estudo.

A familiaridade com os materiais utilizados apro-xima o aluno do conhecimento científico, porque mos-tra que a ciência se aplica ao mundo real, que está a suavolta. Mais do que isso, permite a ele testar hipóteses deforma criativa a partir das propriedades conhecidas ou

supostas dos materiais e dos testes realizados com eles.A atividade de produzir um brinquedo ou um aparatoexperimental proporciona vivências artísticas criativas,o desenvolvimento de habilidades motoras e de raciocí-nio lógico, interação com o grupo, trazendo à tona umasérie de habilidades, atitudes e capacidades cognosciti-vas que de outra forma não se fariam presentes. Taisaspectos, no processo de aprendizagem de ciências, sãofundamentais.

Segundo matéria assinalada pela jornalista Ma-chado, publicada no site de notícias do Globo, de 25 deMaio de 2011, denominada "Professores buscam alter-nativas para fazer alunos gostarem de química", espe-cialistas admitem que a disciplina de Química é difícilde ensinar e de aprender. Um dos entrevistados afirmouque:

É preciso utilizar novos recursos no compu-tador, jogos interativos e novas metodologiasde ensino os alunos vão conseguir ser atraí-dos pela disciplina. Se o professor ficar sóno giz não vai conseguir atrair a atenção doestudante. Hoje, o aluno precisa que o as-sunto que está sendo ensinado seja transmi-tido numa forma diferente, com muita tecno-logia (MACHADO, 2011, p.1).

Outro entrevistado reforçou, "existe uma dificuldadenatural de se ensinar as ciências, pois elas vão contrao nosso senso comum". Outro aspecto é cultural, poissegundo o entrevistado. "O Brasil não desenvolveu tec-nologias próprias". Isso de certa ’maneira’ alienou aspessoas do conhecimento"(??, p. 1).

O uso do jogo explicitou que há um entusiasmo ecuriosidade dos mesmos, motivando o interesse dos alu-nos a participarem das aulas. Comprovando a afirmaçãode Murcia (2005), ao defender que:

outra propriedade que diferencia o jogo dequalquer outra atividade é seu caráter volun-tário relacionado com a motivação intrínseca.Motivação interna que leva a iniciar diferen-tes formas de brincadeira sem a ajuda de fa-miliares e educadores, se impõe a ela algumaatividade por mais prazerosa que nos pareça,deixará de se interessar, poderá se aborrecer ese livrar dela rapidamente"(MURCIA, 2005,p.31).

A brincadeira tem um valor de aprendizagem espon-tâneo que devemos considerar como um instrumentocom poder suficiente para provocar a aquisição espontâ-nea de novas habilidades e conhecimentos, sem perderde vista o fato de que o tipo de jogo é limitado pelas

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JOGOS LÚDICOS: RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE QUÍMICA

possibilidades cognitivas, físicas e sociais do indivíduo(MURCIA, 2005, p.43).

Uma adequada aprendizagem escolar promove umtipo de desenvolvimento capaz de permitir uma maiorcapacidade de abstração, como a que se necessita paraproduzir um pensamento coerente e fundamentado emargumentos sobre determinado contexto ou sobre de-terminada situação em um contexto mais amplo. Essacapacidade é básica, porém não é inata nem de desen-volvimento espontâneo, isto é, precisa ser constituídana relação pedagógica. (BRASIL, 2006).

De acordo com Antunes (2002), existem algunsitens importantes capazes de gerar e fazer os alunos pro-gredirem através das ZPD mencionadas anteriormente,e uma delas são, construir um clima de relacionamentoafetivo com os alunos; atuar especificamente na cons-trução de significados por parte do aluno sobre o con-teúdo abordado; permitir que em um dado momentoem sala o professor motive os alunos a discutir sobreo conteúdo trabalhado para que assim possa identificarse está ocorrendo à apropriação do conhecimento, po-dendo neste momento contextualizar o momento da dis-cussão; diversificar a atividade com materiais de apoiosdiversos; despertar no aluno sua autonomia; desenvol-vimento cognitivo; a linguagem do professor deve seaproximar a linguagem utilizada pelos seus alunos paraque o professor seja compreendido; recontextualizar ereconceituar o que foi aprendido (ANTUNES, 2002).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com essa pesquisa foi possível observar como ocorre oprocesso de ensino e aprendizagem por meio de ativi-dades lúdicas e como o jogo é um recurso pedagógicobem aceito pelos alunos.

Assim, o jogo passa a ser uma opção para que oprofessor possibilite ao seu aluno uma forma agradávele divertida de aprender, bem como o desenvolvimentodas atividades afetivas, fazendo com que haja uma me-lhor interação na sala de aula e o companheirismo entretodos os envolvidos.

Compreender como o jogo pode auxiliar no pro-cesso de aprendizagem dos alunos, nos mostra que commaterial simples e de baixo custo o professor pode pro-porcionar ao seu educando momentos de alegria e des-contração sem deixar de lado o foco, que é a aprendiza-gem.

Pudemos comprovar que ao utilizar nas aulas essesrecursos didáticos desperta nos estudantes perspectivassobre a aula e como ela será abordada, fazendo com queele procure estudar o assunto antes mesmo de ser veicu-lado em sala, dessa forma, o mesmo já estará preparadopara questionamentos.

Identificamos na perspectiva dos alunos que o jogopode ser auxiliar na sua aprendizagem, e comprovamosatravés dos olhares curiosos, dos sorrisos nos lábios, davibração entre eles, com a demonstração de alegria aoganhar e até de tristeza ao perder as jogadas. Mas osentimento de aprendizado e de conquista é o que nosdeixa com a sensação de dever cumprido, de ter contri-buído para a apropriação do conhecimento de cada umde nossos alunos.

São infinitas as possibilidades que o educador tempara utilizar os jogos no ensino de química. É uma me-todologia que deveria fazer parte do planejamento detodos os professores, pois proporciona aulas mais dinâ-micas e interativas, como também há um envolvimentomaior entre todos, proporcionando companheirismo ecumplicidade.

Referências

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O PAPEL DO IPHAN NA DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL: AS REDES DE DORMIR NO CONTEXTO BRASILEIRO

O PAPEL DO IPHAN NA DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL: ASREDES DE DORMIR NO CONTEXTO BRASILEIRO

FERNANDA MARA DE OLIVEIRA MACEDO CARNEIRO PACOBAHYBA 1

FERNANDO MACEDO CARNEIRO 2

1Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE

1<[email protected]>2<[email protected]>

Abstract. Sleeping hammocks are genuinely Brazilian objects which accompany the whole nationalhistoriography. Created by native indians and copied by the country’s early explorers as a necessary itemto explore the dense forest, hammocks have always been present in important moments of our history,watching distinguished people or distinguished anonymous who have contributed to the formation ofthe national identity. Being used as children’s bed, cradling entire generations, as well as a last bedfor the dead, hammocks belong to the popular imagery. They are especially common in the Northand Northeast regions. From 1870 on, they became like a fever in the South and Southeast of Brazil,reaching its popularity peak, driven from a phenomenon of Europeanization, followed, afterwards, bya severe decline, becoming used only in the humblest homes or as a mere adornment, a decorativeelement, of wealthy families. In such historical-cultural context, they are of undeniable importance inthe Brazilian scenario, which, ideally, includes them among the items that make up the national culturalheritage. However, the role of public administration to protect this heritage, despite broad provisionsin the constitutional text, is shy or even nonexistent concerning this matter. The objective of this studyis to identify sleeping hammocks as Brazilian cultural heritage, charging a positive role from publicadministration, in particular from IPHAN, as to identify such importance and guard it. The methodologyis bibliographic, descriptive and exploratory. The importance of analyzing this theme arises from theaccelerated forgetting process through which hammocks are passing, relegating their relevance to theconstruction of the Brazilian heritage.

Keywords: Sleeping hammocks, historical-cultural heritage, insertion, public administration, perfor-mance.

Resumo. As redes de dormir são objetos genuinamente brasileiros e que acompanham toda a historiogra-fia nacional. Criadas pelos índios e copiadas pelos primeiros desbravadores do país como item necessáriopara se explorar a densa floresta, as redes sempre estiveram presentes nos momentos marcantes da histó-ria, acompanhando pessoas ilustres ou ilustres anônimos que contribuíram para a formação da identidadenacional. Seja como leito da criança, embalando gerações inteiras, seja como último leito dos mortos,as redes pertencem ao imaginário popular, sendo especialmente comuns nas regiões Norte e Nordestedo país. A partir de 1870, viram febre no Sul e no Sudeste do Brasil, alcançando o ápice de populari-zação para, em seguida, a partir de um fenômeno de europeização, sofrer grave declínio, passando a serutilizadas apenas em casas mais humildes ou como mero adorno, objeto decorativo, das famílias maisabastadas. Nesse contexto histórico-cultural é indiscutível sua importância no cenário brasileiro, o que,idealmente, a inclui dentre os itens formadores do patrimônio cultural nacional. Contudo, a atuação daadministração pública na defesa desse patrimônio, apesar de largas prescrições no texto constitucional,encerra-se tímida ou mesmo inexistente ao se tratar desse patrimônio. O objetivo do presente trabalhoé identificar as redes de dormir enquanto patrimônio cultural brasileiro, cobrando uma atuação positivada Administração Pública, em especial do IPHAN, no sentido de identificar tal importância e tutelá-lo.A metodologia é bibliográfica, descritiva e exploratória. A importância da análise de tal tema surgeem face do processo acelerado de esquecimento pelo qual passam as redes de dormir, olvidando-se daimportância delas para a formação do patrimônio brasileiro.

Palavras chaves: Redes de dormir; patrimônio histórico-cultural; inserção; administração pública; atu-ação

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1 INTRODUÇÃO

Ao se iniciar um estudo mais aprofundado sobre a his-toriografia nacional, considerando-se todo o arcabouçodoutrinário e relatos históricos desde quando o Bra-sil passou a assim ser identificado, percebe-se que de-terminados itens acompanham a verdadeira evoluçãoda sociedade, ocupando-se da realidade indígena e seespraiando-se pelos demais habitantes, em ritmo queenvolve um complexo câmbio de valores, de gosto, deidentidade e tudo o mais que forma a identidade nacio-nal.

É nesse sentido que sobreleva de importância as re-des de dormir. As "hamacas"sul-americanas, enquantoitens genuinamente brasileiros, originadas nas tribos in-dígenas, tornaram-se itens obrigatórios a serem utiliza-dos pelos primeiros desbravadores, dada a conveniênciae utilidade indiscutíveis.

Especialmente pela característica das florestas naci-onais, com matas fechadas e cuja evolução no terrenose dá a duras penas, as redes permitiam o descanso dosbravos e, com o passar dos tempos, foram incorpora-das facilmente nos lares de milhões de brasileiros. Nes-ses lares, propiciaram o sono das crianças, o descansodos trabalhadores, momentos de divagação e de prazer,que se sucediam facilmente, tornando as redes de dor-mir uma preferência nacional ao se falar em momentosde ócio.

Com isso, as redes de dormir, na formação cultu-ral nacional, tiveram papel relevante e exclusivo, alcan-çando o auge no país a partir do século XIX, quando oseu uso se populariza nas regiões Sul e Sudeste, apóslarga disseminação nas Regiões Norte e Nordeste, cujarealidade já incluía a utilização desse bem.

Contudo, a partir da adoção de costumes estrangei-ros, com o alvorecer do século XX, as redes de dormirpassam a ficar esquecidas pelas elites locais, restandoexclusivamente como leito das classes menos favoreci-das ou como mero item decorativo nas suntuosas casasde descanso, em uma última referência de identidadenacional.

Nesse sentido, o presente artigo, a partir do des-taque da importância das redes de dormir no cenáriohistórico-cultural, e em virtude das disposições cons-titucionais, há de se prestigiar esse bem material en-quanto integrante do patrimônio cultural nacional, nostermos do art. 215 e seguintes da CF/88, a qual elaste-ceu a proteção conferida.

Dessa forma, a partir de uma atuação coordenadadas administrações públicas federal, estadual, distritale municipal, deve-se enaltecer a importância das redesde dormir, valorizando e criando memória relativa aomodo de fazer peculiar da indústria de redes e dos arte-sãos, e, também, enquanto objeto cultural que acompa-nha toda a historiografia nacional

Com tudo isso, espera-se despertar o interesse pelatemática, visto que o passar dos anos só distancia cada

vez mais a sociedade dos laços com o passado, espe-cialmente a partir de mudanças de hábitos bruscas edescontínuas que caracterizam a sociedade brasileiraatual, em alguma medida, negando as origens e desen-volvendo um sentimento de inferioridade quanto à redede dormir.

De início, então, aspectos pontuais da historiografianacional serão enaltecidos para destacar as redes desdea realidade indígena até os dias atuais para, a seguir,apontar a administração pública como uma das respon-sáveis pelas medidas que promovam o adequado trata-mento a esse patrimônio cultural brasileiro.

2 AS REDES DE DORMIR E SUA IMPORTÂN-CIA NA FORMAÇÃO CULTURAL DO BRA-SIL

A fim de se adentrar em um estudo acerca das redesde dormir e sua importância na formação cultural brasi-leira, necessário se faz identificar tal objeto de uso cor-riqueiro no país e que, por isso mesmo, passa desper-cebido aos olhos comuns. Nesse sentido, para se em-preender uma aproximação científica do tema é mistercompreender o problema histórico, em virtude da liga-ção necessária que há entre a formação cultural e osinstrumentos que acompanham essa evolução. Assim,pela absoluta impossibilidade de se fazer ouvir o rangerdos punhos neste trabalho, o que já está plasmado noideário nacional e certamente reproduzido no íntimo doleitor nesse momento, aqui vale a transcrição de Cas-cudo (1983, p. 12), para quem a rede de dormir foiobjeto de aprofundado estudo:

Depois verifiquei que a primeira citação ori-ginal da rede datava de abril de 1500. Daípara nossos dias constituía um elemento in-dispensável e normal na existência de mi-lhões e milhões de brasileiros em quatro sé-culos. Nasciam, viviam, amavam, morriamna rede. Eram conduzidos para o cemité-rio na rede. Quando a seca os expulsavado sertão de fogo o matulão, que continha osaldo de todo o possuído, era enrolado, de-fendido, pela rede, a derradeira fiel. Signi-ficava assento para a janta, encosto para asesta, abrigo para o sono. "Mãe Veia", Mãevelha, chamavam-na os de outrora. Criadosna Mãe Velha, desacostumados com os leitosimóveis, queixavam-se das camas dos hotéisou grabates da caserna quando do serviço mi-litar. Alguns nunca admiraram outra maneirade dormir.

É o mesmo estudioso acima quem aponta a data denascimento da rede, em obra praticamente única acercado tema, como sendo 27 de abril de 1500, quando PeroVaz de Caminha denomina a hamaca sul-americana de

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rede, (também chamada de "ini"no linguajar indígena),ao descrever as casas dos índios, encontrando "umarede atada pelos cabos, alta, em que dormiam", sendoconsiderado o padrinho da rede de dormir.

Qualquer museu, enciclopédia bem infor-mada, mostram a história dos leitos em quasetodos os quadrantes da terra. Um leito sus-penso não aparece em paragem alguma destemundo velho antes que Cristóvão Colombopisasse areia de Guananaí e Pedro ÁlvaresCabral a praia brasileira de Porto Seguro.(CASCUDO, 1983, p. 81)

Batiza-a, assim, pela semelhança com a rede de pes-car (CASCUDO, 1983, p. 19), aprofundado o estudodas redes de dormir e indicando diversos documentosredigidos por europeus e que se referem às redes encon-tradas nas aldeias indígenas, nos idos do século XVI, asaber:

Uma das mais antigas menções fá-la o PadreManoel da Nóbrega, escrevendo da Cidadedo Salvador em 10 de agosto de 1549, in-formando sobre a cerimônia de sepultamentotupi: - "Quando morre algum lhe põem de co-mer com uma rede e aí dormem e dizem queas almas vão pelos montes e ali voltam paracomer". Na "Informação das Terras do Bra-sil", no mesmo 1549, pormenoriza: - "Dor-mem em redes de algodão junto ao fogo, quetoda a noite têm aceso, assim por amor dofrio, porque andam nus, como também pelosDemônios que dizem fugir do fogo". (...) No"Navigazione e Viaggi"(Venecia, 1550-1559)João Batista Ramuzio divulgou narrativa dodescobrimento do Brasil atribuída ao PilotoAnônimo. Na retradução portuguesa reapa-rece a "rede"num dos seus registros veneran-dos: - "As suas casas são de madeira, cobertasde folhas e ramos de árvores, com muitas co-lunas de pau pelo meio, e entre elas e as pare-des pregam redes de algodão, nas quais podeestar um homem; e debaixo de cada uma des-tas redes fazem um fogo, de modo que numasó casa pode haver quarenta ou cinquenta lei-tos armados a modo de teares"

Apesar de serem normalmente identificadas aos in-dígenas, que nasciam e morriam nelas, as redes de dor-mir tornaram-se um hábito nacional, não apenas cir-cunscrito às regiões Norte e Nordeste brasileiras mastambém sendo motivo de orgulho para sulistas e paulis-tas, que proclamavam o orgulho em usá-la, e tornaram-se febre no Rio de Janeiro, a partir de 1870. Em suaconfiguração inicial, possuíam malhas de dois a quatrocentímetros, sendo uma contribuição portuguesa a redede malha unida (CASCUDO, 1983, p. 15, 22, 23 e 27).

Koster (2003, p. 178-179), ao indicar a divisão detarefas em uma família indígena, aponta o lugar da rede:

Enquanto a mulher está em casa, ele buscaágua no rio e lenha no mato, construindo suacabana, ficando a esposa num refúgio pelasredondezas. Viajando, ela carrega os filhospequeninos, o pote, o cesto, as cabaças, en-quanto o marido leva o saco de pele de cabra,sua rede enrolada aos ombros, seu aparelhode pesca, suas armas, e caminha atrás. (des-tacado).

Tal descrição que, se vista completa, e conforme in-dicado por Luís Câmara Cascudo, que profere comentá-rios nesta obra, leva à errada impressão de que a mulherindígena seria "uma mártir sacrificada"pelos homens desua tribo. Freyre (2002, p. 189), em narrativa de idên-tica situação, assim se manifesta:

(...) vê-se que para a mulher tupi a vida decasada era de contínuo trabalho: com os fi-lhos, com o marido, com a cozinha, com osroçados. Isto sem esquecermos as indústriasdomésticas a seu cargo, o suprimento de águae o transporte de fardos. Mesmo grávida amulher índia mantinha-se ativa dentro e forade casa, apenas deixando de carregar às cos-tas os volumes extremamente pesados. Mãe,acrescentava às suas funções a de tornar-seuma espécie de berço ambulante da criança,de amamentá-la, às vezes até aos sete anos;de lavá-la; de ensinar as meninas a fiar o al-godão e a preparar a comida.

É exatamente ao indicar a índia como espécie deberço ambulante de seus bebês que Gilberto Freyre re-porta a utilização das redes - "cama ambulante e mó-vel"que teria se tornado conhecida na Europa sob onome de "Brazilian bed"(FREYRE, 2002, p. 241).

No auge do estrelato, as redes passam de objeto dedormir a verdadeiras joias no leito familiar, que expres-savam a riqueza do Nordeste que se aristocratizava emfunção dos canaviais:

Quando se afirma, fundada no massapê doscanaviais, a aristocracia rural do Nordeste,em sua linha mestra a rede é, tanto quanto ocavalo senhorial que só o amo montava, umsigno heráldico. Armada e branca no orgu-lho da varanda orgulhosa da Casa Grande va-lia como o trono baixo, o estrado rutilante doGrão-Mogol. Dali supervisionava o mundopovoado de escravos e chaminés fumegantes.(...)

A rede sim, era quase tudo. Dizia sua pre-sença constante uma insígnia dominadora da

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preguiça poderosa. AMADEU AMARAL("Dialeto Caipira"falando da rede presta-lhea homenagem lógica). "Em São Paulo fazas vezes de espreguiçadeira; é o assento dehonra, que se oferece às visitas respeitá-veis". Deduza-se no Nordeste, onde a tradi-ção e clima valorizam a comodista e deleitá-vel companhia (CASCUDO, 1983, p. 28-29).

Em sentido oposto, Freyre (1977, p. 380-381), aojá destacar um processo de europeização dos costumeslocais, aponta a cama como verdadeiro status para o ho-mem rico:

Dormir em cama foi, também por longotempo, sinal de distinção social - de classe,de raça, e de região culta ou rica - no meio douso generalizado da rede para leito e não ape-nas para repouso - repouso móvel - duranteo dia ou transporte aristocrático - na falta dopalanquim - do indivíduo - principalmente dasenhora - de uma casa a outra e até de umacidade a outra ou de cidade a engenho ou fa-zenda. Com relação à área paulista, o histori-ador Sérgio Buarque de Holanda já destacouo fato de terem sido raras as camas nos pri-meiros séculos de colonização. Só os indiví-duos muito opulentos possuíam cama.

Com isso, a "cama brasileira"acompanha a histori-ografia nacional desde o descobrimento, já tendo sidoobjeto de prosa1 e verso2 , cantada e falada pelas vozesmais destacáveis3 e que não poderiam deixá-la passar

1Conforme indica a pesquisa na versão virtual de "Iracema", deJosé de Alencar, considerado um clássico da literatura nacional, há39 menções à palavra "rede", destacando-se: "A dona da casa, ternae incansável, manda abrir o coco verde, ou prepara o saboroso cremedo buriti para refrigerar o esposo, que pouco há recolheu de sua ex-cursão pelo sítio, e agora repousa embalando-se na macia e cômodarede"e "Escrevi-o para ser lido lá, na varanda da casa rústica ou nafresca sombra do pomar, ao doce embalo da rede, entre os múrmuresdo vento que crepita na areia, ou farfalha nas palmas dos coqueiros".(Prólogo à 1a edição); "O mancebo sentou-se na rede principal, sus-pensa no centro da habitação"(Cap. 3); - Guerreiro branco, disse avirgem, o prazer embale tua rede durante a noite; e o Sol traga luza teus olhos, alegria à tua alma"(Cap. 4); "Iracema cantava doce-mente, embalando a rede para acalentar o filho"(Cap. 31), dentreoutros (ALENCAR, 1865).

2Como exemplo de poesia romântica em que faz menção às re-des, pode-se destacar os versos de Fagundes Varela, disponíveisno Acervo Digital da Biblioteca Nacional: "O balanço da rede, obom fogo/ Sob um teto de humilde sapé;/A palestra, os lundus, aviola, O cigarro, a modinha, o café;/ Um robusto alazão, mais li-geiro do que o vento que vem do sertão,/ Negras crinas, olhar detormenta,/ Pés que apenas rastejam no chão;/E depois um sorrir deroceira, Meigos gestos, requebros de amor; / Seios nus, braços nus,tranças soltas, Moles falas, idade de flor; (...)". Disponível em:<http://bndigital.bn.br/redememoria/promantica.html>. Acesso em27 dez. 12.

3Aqui se pode destacar os versos imortalizados pela voz de LuizGonzaga, e que tratam do tema na música "Rede Véia": "Eu tava coma Felomena/ Ela quis se refrescar/ O calor tava malvado / Ninguém

despercebida. Desde o nascer, acompanhando a alegreinfância, a rede serve de leito, de brinquedo e de alentopara o choro, objeto que permite sentimentos os maisvariados. Na adolescência, com a efusão de sentimen-tos, serve de recato às primeiras descobertas. Na matu-ridade, meio de descanso e ócio. Na velhice, ampara asdoenças e serve de leito de morte.

Para abastecer o consumo desse item, Cascudo(1983, p. 131) relata que o Serviço Nacional de Re-censeamento indicava que, em 1950, funcionavam 296fábricas de redes-de-dormir, todas no Norte e Nordestedo Brasil. Contudo, não havia indicação do volume deprodução. Já em 1956, o número dessas indústrias pas-sou para 378.

Contudo, uma mudança radical opera-se no velhohábito de utilizar a rede, com fortes influências euro-peias, o que vem a caracterizar o descaso observadona atualidade. Ainda no século XIX, Koster (2003, p.61) observa essas mudanças que se processaram na so-ciedade brasileira sob nuanças generalizadas mas quepodem ser aqui assemelhadas ao processo de esqueci-mento das velhas redes:

O fato é que a sociedade sofreu uma trans-formação rápida. Não que o povo imitasseos hábitos europeus embora esses tivesseminfluência, mas à proporção que a prosperi-dade aumenta, maior luxo é exigido; quandoa educação se aperfeiçoa, os divertimentossão mais polidos e altos, e, alargando-se o es-pírito, pelas leituras, muitos costumes tomamforma diversa. As mesmas pessoas vão insen-sivelmente mudando e já olham com ridículoe desgosto, em poucos anos, os hábitos que ashaviam subjugado longamente.

Nesse mesmo diapasão, Freyre (1977, p. 392-393)indica o "desprimor"que determinadas expressões esté-ticas e recreativas da cultura nacional foram adquirindo,ao longo do século XIX, destacando-se "a cozinha, adoçaria, e a confeitaria mestiças, de repente repelidasou perseguidas sob a acusação de serem ’africanas’,’grosseiras’, ’indignas de paladar de gente fina’, (...);como as redes de fio de algodão e de plumas feitas porindígenas(...)".

A partir do século XX, então, com a intensificaçãoda globalização e com o crescimento vertical dos gran-des centros, mais difícil se torna a manutenção de tradi-ções locais, que passam a se identificar ainda mais comaquilo que há de ser trocado, eliminado, posto que aonda de padronização mundial há de ser empreendida aqualquer custo. As varandas das casas, que se abriampara o mundo enquanto espaços praticamente públicos,

podia aguentar/ Ela disse meu Lundru / Nós vamos se balançar/ Arede veia como foi fogo/ Foi com nós dois prá lá e prá cá". Disponívelem: <http://letras.mus.br/luiz-gonzaga/261204>. Acesso em 27 dez.12.

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são substituídas por muros altos com proteção elétrica,e o ócio é demonizado.

Bauman (1999, p. 29), em obra que trata exclusiva-mente acerca da globalização, descreve o confinamentoa que os indivíduos se acham sujeitos, com essa novaonda padronizante:

As elites escolheram o isolamento e pagampor ele prodigamente e de boa vontade. Oresto da população se vê afastado e forçadoa pagar o pesado preço cultural, psicológicoe político do seu novo isolamento. Aquelesincapazes de fazer de sua vida separada umaquestão de opção e de pagar os custos de suasegurança estão na ponta receptora do equi-valente contemporâneo dos guetos do iníciodos tempos modernos; são pura e simples-mente postos para "fora da cerca"sem que sepergunte a sua opinião, têm o acesso barradoaos "comuns"de ontem, são presos, desviadose levam um choque curto e grosso quando pe-rambulam às tontas fora dos seus limites, (...).

"Os objetos que fazem parte do cotidiano dos ci-dadãos perderam a territorialidade"(VIEIRA, 1999, p.98). Nesse sentido, pode-se apontar como caracterís-ticas importantes do mundo atual a descentralização, asegmentação do mercado, a produção flexível e o plu-ralismo, estabelecendo uma cultura mundial que separao indivíduo de suas raízes nacionais (VIEIRA, 1999, p.99-100).

Quanto ao aspecto cultural, o qual engloba eviden-temente a temática aqui abordada, vale transcrever aslições de desorientação empreendidas por Lipovetsky eSerroy (2011, p. 24-25) e que tanto identificam a trans-formação do cultural em mero objeto de lucro de gran-des empresas:

Estamos no momento em que a cultura seimpõe como uma aposta importante da vidaeconômica, em que as demandas culturaisfragmentam o social, em que as indústrias doimaginário e do consumo parecem ameaçaros valores do espírito e a própria escola. (...)Na época da globalização das indústrias doimaginário e do ciberespaço, a cultura é umaindústria, um complexo midiático-mercantilfuncionando como um dos principais moto-res das nações desenvolvidas. (...) A cultura(...) é pensada em termos de mercado, de ra-cionalização, de montantes de negócios e derentabilidade.

Com tudo isso, pouco espaço resta ao enaltecimentodas redes de dormir enquanto importante aspecto cultu-ral nacional, notadamente do Norte e Nordeste do país,

verificando-se, na atualidade, uma inserção de tal ob-jeto enquanto mera figura decorativa e item de exposi-ção para admiradores deslumbrados.

Assim, de item de primeira necessidade, associadoao descanso pelos nativos, a rede se glamouriza e al-cança mercados internacionais, tal peça de exposiçãoque se destaca pela beleza mas que se perde em utili-dade. Essa foi a alternativa encontrada pelos produto-res para se encaixar na sociedade de mercado descritaacima, fabricando itens cada vez mais sofisticados e queatendam às elites consumidoras. Exemplo disso podeser observado na cidade cearense de Jaguaruana, queconcentra o mais importante polo de confecção de redesde dormir, a partir da associação de artesãos e indústriaslocais:

De acordo com dados do Arranjo ProdutivoLocal da rede de dormir (APL), em 2004, aatividade gerava em torno de 5 mil empre-gos sendo 1000 diretos, dentro das fábricasde tear, e 4 mil indiretos, artesãos terceiri-zados que trabalham no acabamento da rede.Em sua fábrica, Pinheiro trabalha diretamentecom dez funcionários, que cuidam da etapade preparação dos fios e tear, e no transportepara cerca de 60 famílias que ele terceirizapara realizar o processo de colocação dos cor-dões, punho e varanda. Segundo ele, o levan-tamento do APL não teve atualização, desdeaquele ano. Porém, estima que não aconte-ceram mudanças expressivas no setor. ’Hoje,pouca coisa mudou’, disse ele. O comércio derede teve seu auge por volta dos anos 70 e 80quando era vendida para os Estados vizinhos.A Paraíba foi grande compradora da produ-ção local. Nos anos 90, com o aparecimentode indústrias mais modernas do setor em ou-tros Estados do Nordeste, Jaguaruana foi per-dendo alguns compradores, mas foi se des-tacando no comércio internacional da peça.’Entre os anos de 1990 e 2000, fabricávamosquase exclusivamente para Alemanha, Françae Portugal. Enviávamos para a Europa umamédia de três mil redes por mês’, afirma Pi-nheiro.

Dessa forma, e estabelecido a conexão histórica dasredes de dormir, as quais se identificam com toda a evo-lução da sociedade brasileira, mister se faz identificá-lacomo verdadeiro patrimônio cultural do país, a ser de-fendido por toda a sociedade e pelos poderes públicoscompetentes.

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3 A ATUAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-BLICA NA DEFESA DO PATRIMÔNIO CUL-TURAL: UMA ATUAÇÃO COORDENADADOS ENTES POLÍTICOS PARA DESTACARAS REDES DE DORMIR COMO PATRIMÔ-NIO HISTÓRICO-CULTURAL BRASILEIRO

A Constituição Federal de 1988, no tocante à defesa dopatrimônio histórico e cultural, veio recheada de dispo-sitivos protetivos, englobando uma atuação coordenadada União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-cípios. Nesse sentido, a atuação dos entes públicos sedá de duas maneiras distintas: a primeira delas, a par-tir do estabelecimento de competência concorrente paraque a União, os Estados e o DF legislem sobre "prote-ção ao patrimônio histórico, cultural, artístico e paisa-gístico"(art. 24, inciso VII, CF/88).

Ademais, estabelece como competência comum daspessoas políticas a proteção dos documentos, obras eoutros bens de valor histórico, artístico e cultural (art.23, inciso III, CF/88). Ainda no tocante à defesa do pa-trimônio cultural, cabem aos Municípios as ações quepromovam a proteção do patrimônio histórico-culturallocal, observada as competências federal e estadualacerca da matéria.

Por fim, ainda no elenco de manifestações protetivasincluídas na CF/88, vale ressaltar que na seção relativaà cultura, ficou estabelecido que lei ordinária discorre-ria acerca do "Plano Nacional da Cultura, de duraçãoplurianual, visando ao desenvolvimento cultural do paíse à integração das ações do poder público que condu-zam à defesa e valorização do patrimônio cultural bra-sileiro", dentre outras ações estabelecidas no § 3o do art.215, CF/88. Assim, apesar do mandamento constituci-onal datar de 2005, quando da promulgação da EmendaConstitucional no 48, tal plano plurianual ainda não foiaprovado, estando em tramitação no Congresso Nacio-nal desde 2006.

Um aspecto importante a ser destacado na realidadebrasileira refere-se às marcas da "cultura senhorial,conflitos de natureza socioeconômica, poder oligár-quico, racismo, exclusão social, monopólio econômico-financeiro pelas potências estrangeiras e monopóliodos capitais simbólicos pelas elites e setores médios-urbanos"(CARDOSO, 2006, p. 67), os quais acabampor relegar as manifestações de cultura local a pla-nos inferiores, a identificá-la como uma não-cultura oumesmo com algo abjeto, a ser renegado pelos pseudo-intelectuais, que recusam manifestações de cultura po-pular, julgando-as inferiores.

Nesse sentido, de objeto de descanso de utilizaçãoobrigatória dos primeiros desbravadores do país, a par-tir de cópia fidedigna de objeto pertencente à culturaindígena local e verdadeira criação nacional, a rede dedormir alcança o ápice de importância na sociedade bra-sileira, entre os séculos XVI e XVIII, ao ser identificadacomo objeto luxuoso na casa-grande, símbolo de poder

e status nas varandas das casas dos coronéis.Contudo, a partir da reconstrução dessa mesma so-

ciedade, em épocas posteriores, a cama passa a domi-nar os leitos das casas ricas e as redes são identifica-das ao leito dos pobres ou a mero objeto decorativo,olvidando-se da relevância sempre pujante na historio-grafia nacional.

Com tudo isso, a partir do acompanhamento histó-rico realizado no capítulo anterior, que torna indiscutí-vel a importância das redes de dormir para o desenvol-vimento histórico-cultural brasileiro, necessário se fazalçar esse item tão caro na historiografia brasileira à ver-dadeiro patrimônio cultural nacional, que assim podeser abordado doutrinariamente (RODRIGUES, 2008, p.34):

O patrimônio cultural é inerente a todo e qual-quer processo civilizatório, por não se conce-ber desenvolvimento cultural subestimando ovalor das experiências, das invenções artísti-cas e sociais consagradas pela tradição. O quese denomina de patrimônio cultural englobatanto a arte erudita, acessível, geralmente, àelite, como também a denominada arte popu-lar, sendo, ambas, a comprovação das marcasda história e da identidade de diversos grupossociais que constituem a memória coletiva,fator indispensável à evolução de uma soci-edade. (...) Não se pode admitir que os bensformadores do patrimônio cultural sirvam deadmiração pelo passado, mas, ao contrário,devem se integrar à vida de hoje, participandocom sua carga de valores históricos, artísticose sociais, da construção do nosso futuro.

Com isso, destaca-se o caráter circunstancial queenvolve a identificação de determinado bem como pa-trimônio cultural, visto que, a depender do estágio evo-lutivo de uma determinada sociedade, pode-se ter aidentificação ou não daqueles bens, materiais e ima-teriais, que contribuíram forçosamente para que o paísconstruísse a sua identidade. Dessa forma, sociedadesem que a preocupação com a preservação do passado émais evidente, tendem a incorporar mais facilmente taisbens à vida atual, em um evolver de emoções e de signi-ficações que tornam a vida mais complexa e prazerosa.

Ao revés, em países nos quais não se investe na pre-servação do passado, incluindo o cuidado com os bensmateriais e imateriais portadores de referência à identi-dade, à ação, à memória dos diferentes grupos forma-dores da sociedade brasileira, tem-se um processo deaculturação, o qual pode levar, em situações mais com-plexas, à negação de toda a realidade que circundou asociedade em determinada época.

Nesse tocante, faz-se fundamental um apelo de re-valorização das redes de dormir na sociedade brasi-leira, enquanto criadora desse item que tantas memó-

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rias agradáveis suscita na imaginação de todos. Nofundo de uma rede, gerações passaram a infância dor-mindo, grandes desbravadores conhecerem os momen-tos de tranquilidade e de prazer e a muitos o sossegoabraçou, em balanços intermitentes e prazerosos, mar-cantes em momentos de reflexão ou volúpia. De igualmaneira, serviram as redes de caixões para defuntos,como leito final após uma vida cheia de tribulações,como era rotineiro nos sertões brasileiros.

Assim, tal enaltecimento deve-se dar, inicialmente,pela identificação das redes de dormir com o patrimô-nio histórico cultural a ser preservado, voltando-se osestudiosos e a Administração Pública para a cristaliza-ção do modo de fazer e de usar as redes, das técnicasde trançar o fio, de costurar a varanda e o punho, e deidealizar cores e desenhos, que formam imagens ines-quecíveis e que encantam os olhares mais sensíveis.

Há de se destacar que a definição do que deva serconsiderado como patrimônio cultural brasileiro estádisposta na própria Carta Magna, aqui sendo incluídosos "bens de natureza material e imaterial, tomados in-dividualmente ou em conjunto, portadores de referên-cia à identidade, à ação, à memória dos diferentes gru-pos formadores da sociedade brasileira", aqui incluídosos modos de criar e de fazer, sob cuja ótica pode serapropriado o processo singular de fazer as redes de dor-mir, bem como os objetos que reflitam manifestaçõesartístico-culturais, outra forma bastante interessante dese mirar as redes (art. 216, incisos II e IV, CF/88).

Nesse sentido, a atuação do Instituto sobre o Pa-trimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ór-gão federal incumbindo na defesa do patrimônio histó-rico nacional, há de ser direcionada para firmar as redesde dormir no contexto da proteção desse patrimônio.Ademais, nada impede, do contrário, deve-se estimulara proteção pelos órgãos municipais, nas poucas cidadesque ainda mantém a produção de redes, como identifi-cador da cultura local.

Por fim, em sentido amplo, à Administração Públicasobreleva o papel do patrimônio cultural material, a seridentificado em todas as sociedades modernas, e queengloba ações diversificadas e complexas, teóricas oupráticas, e cuja "gestão envolve mecanismos objetivosque garantam a sua integridade física, requerendo nãosó conhecimento sobre o comportamento dos materiais,os mecanismos e causas da sua deterioração, (...) mastambém inúmeras ações que envolvam a obtenção e aadministração dos recursos"(ALENCAR, 2008, p.19).

Nesse ponto, a educação patrimonial é de suma im-portância para promover a "formação e a informaçãoacerca do processo de construção de identidades plu-rais e de propiciar o desenvolvimento em torno do sig-nificado coletivo da história e das políticas de preser-vação"(PELEGRINI, 2009, p. 37). Tal ponto deve serenfatizado ao se tratar de reforçar a identidade de bensmateriais que constituem patrimônio histórico-cultural

nacional.Contudo, o que se vê, especialmente a partir da en-

tronização de modos de viver que se dissociam da cul-tura local, é um verdadeiro esquecimento e, pior ainda,um desprezo por parte da sociedade e do Poder Públicoem todas as esferas acerca daquilo que deve ser preser-vado, posto que representa a memória do país.

Nesse sentido, faz-se necessária a reflexão acercadesse tema, a ser tomada pelos pesquisadores, comoaqui se faz, pelo Ministério Público, pela Administra-ção Pública federal, estadual, distrital e municipal, pe-los empresários que mantêm a produção de redes dedormir, posto que detêm o modus operandi das fábri-cas do produto, pelos artesãos, que sobrevivem da con-fecção desses itens e da sociedade como um todo, quedeve ter interesse em imortalizar parcela importante dahistória nacional.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se analisar a historiografia nacional, especialmenteapontando o foco para as tradições indígenas, percebe-se o quanto foram incorporados hábitos e costumes da-queles povos, que originaram a nação brasileira em umacomplexa miscelânea de valores, gostos, cores, credos,dentre outros.

Nessa complexidade, destacam-se as redes dedormir enquanto artefatos criados pelos índios sul-americanos e que, em especial no Brasil, tornou-se itemde superior importância pela comodidade que oferecia,pela facilidade no transporte e pelo descanso que pro-porcionava.

Nesse sentido, o presente artigo pretendeu lançarmão de temática pouco pesquisada no país, a partir doolhar sobre um objeto relegado a segundo plano na atu-alidade mas que influenciou sobremaneira todo o de-senrolar evolutivo do país, desde a atuação dos desbra-vadores até o olhar dos poetas ou daqueles que queriamapenas o descanso.

Daí, a partir da promulgação da Constituição Fede-ral de 1988, como se viu, a legislação passa a albergarinúmeras possibilidades de proteção e de resgate das re-des enquanto patrimônio cultural a ser protegido. Talproteção, assim, pode-se dar a partir do modo de fabri-car as redes, bem como do próprio objeto, individual-mente considerado.

Nesse tocante, destacou-se o papel da administraçãopública federal, estadual, distrital e federal, atribuídotambém pela CF/88, na defesa do patrimônio cultural,competência que há de ser exercida harmoniosamente ecom vistas à preservação da identidade nacional.

Aqui, sobrelevou-se o papel do Instituto sobre o Pa-trimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ór-gão federal incumbindo na defesa do patrimônio histó-rico nacional, e que deve ressaltar a importância das re-des de dormir, especialmente no cenário atual em que as

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identidades locais estão sendo esquecidas e substituídaspor padrões que não pertencem à realidade nacional.

Assim, espera-se que esta abordagem desperte nosórgãos competentes e na sociedade em geral o desejode preservar item tão caro na historiografia brasileira,de importância indiscutível na construção do país e queevoca sentimentos de bem-estar e de sensibilidade, des-canso e paz em face às atitudes caóticas que são a tônicada atual realidade.

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