revista comtexto

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Fique por Dentro Saiba como a Copa do Mundo está interferindo no mercado editorial Entrevista Diretora de produção da Companhia das Letras há 23 anos, ela fala sobre a polêmica dos e-books [ Ano I Número 4 Junho / Julho 2010 R$ 10,00] Tecnologia Tudo sobre o celebrado Ipad da Apple Descubra como uma editora tão jovem se tornou uma das líderes do mercado editorial brasileiro

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Trata-se de um projeto editorial da UAM que objetivou a criação de uma revista mensal de conteúdo editorial.

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Revista Comtexto 1

Fique por Dentro

Saiba como a Copa do Mundo está interferindo no mercado editorial

EntrevistaDiretora de produção da Companhia das Letras há 23 anos, ela fala sobre a polêmica dos e-books

[ Ano I • Número 4 • Junho / Julho 2010 • R$ 10,00]

TecnologiaTudo sobre o celebrado Ipad da Apple

Descubra como uma editora tão jovem se tornou uma das líderes do mercado editorial brasileiro

2 Revista Comtexto

Revista Comtexto 3

Departamento Editorial

Editora de criaçãoKarine dos Santos Barbosa

Editora de textoGabriela Rocha Ribeiro

Editora de redaçãoLaura Sengberg Ammann

Editor de publicaçõesGuilherme Santos Rezende

Colaboradores

Adriano AguinaCarlos MessiasRafael SartoRenato Parada

Editora de arteAline Inforsato Sena

Editor de notíciasRenan Wenceslau de Jesus

Editor iconográficoJeferson Maximo Silva

4 Revista Comtexto

Sumário

23

Tudo Pode Dar Certo

Cinema

18

Seja bem vindo

Mercado editorial

22

Prateleira

Vitopel

Mundo verde

8

16

O Ipad

Tecnologia

14

Elisa Braga

Entrevista

Revista Comtexto 5

FIQUE POR DENTRO

Copa do mundo faz crescer número de lançamentos de livros sobre esporte ....... 6

O homem por trás do mito: Nelson Mandela ....................................................................... 6

Globalização x Protecionismo cultural ................................................................................... 6

Quanto vale uma boa idéia? ....................................................................................................... 7

As feiras estão chegando: Frankfurt e Paraty ....................................................................... 7

A luta pelo lucro cria a cultura dos Best-Sellers ................................................................... 7

MUNDO VERDE

Livro de plástico da Vitopel ........................................................................................................ 8

CAPA

Companhia das Letras .................................................................................................................. 10

Diversificação do Público-leitor .......................................................................................... 12

Parceria nacional ...................................................................................................................... 13

Parceria internacional ............................................................................................................. 13

ENTREVISTA

Elisa Braga ......................................................................................................................................... 14

TECNOLOGIA

O novo filho da Apple .................................................................................................................. 16

MERCADO EDITORIAL

Bem vindo a um futuro inevitável ............................................................................................ 18

PRATELEIRA

Monteiro Lobato ............................................................................................................................ 22

Fátima Ali ........................................................................................................................................... 22

Laurinda Grion ................................................................................................................................. 22

Robert Darnton ............................................................................................................................... 22

CINEMA

Tudo Pode Dar Certo ..................................................................................................................... 23

6 Revista Comtexto

Fique por dentro

A proximidade da Copa do Mundo, na África do Sul, já causa reboliço no mercado editorial brasileiro. De olho nos fanáticos pelo esporte bretão, as editoras estão lançando diversos títulos no mercado sobre o tema. Os resultados já são visíveis: a Livraria

Cultura, por exemplo, divulgou que suas vendas de obras relacionadas ao futebol cresceram 460% em relação ao mesmo período do ano passado. É torcer para que os comandados de Dunga vão bem em campo e contri-buam para as vendas do setor.

Copa do mundo faz crescer número de lançamentos de livros sobre esporte

O evento na África do Sul também já produz uma série de lançamentos so-bre um herói do nosso tempo: a vida de Nelson Mandela, ex-presidente e líder da luta contra o apartheid. São filmes, livros e documentários que chegam às lojas tendo como pano de fundo sua luta contra o regime

de segregação racial sul-africano. So-bre o líder, é possível rever passa-gens conhecidas de sua car reira política, como os anos na prisão, as primeiras eleições livres e a Copa do mundo de Rugby de 1995, espor-te dos brancos que foi abraçado por todo país.

O homem por trás do mito: Nelson Mandela

Outra polêmica em vista é a questão dos países que querem defen-der sua produção cultural, mas, ao mesmo tempo, querem parti-cipar do mercado internacional, em especial dos Estados Unidos. Acontece que países como o Cana-dá, adotaram ou estão em vias

de discussão de limitar a venda de títulos estrangeiros em seu país. Essa questão promete mais, visto o crescimento econômico da China, que já é o maior mercado em número de títulos do planeta e poderá se tornar também o mais rentável.

Globalização x Protecionismo cultural

Revista Comtexto 7

Basta deixar o livro em algum lu-gar público. Você pega, lê e depois o passa pra frente. Foi baseado nesta idéia, o Book Crossing, sur-gida nos Estados Unidos e presen-te atualmente em mais de cem pa-íses, que um grupo cariocas criou o projeto Livro de Rua, que não só

deixa os livros em lugares públi-cos, mas também cria as “bibliote-cas de rua” em áreas carentes. Não precisa se cadastrar, nem devol-ver o livro. Apenas passe-o adian-te. Em dois anos de existência, o projeto já disseminou mais de 2000 exemplares.

Quanto vale uma boa idéia?

Organizada pela Câmara Brasileira do Livro em parceria com a Apex-Brasil, o Projeto Brazilian Publishers, a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a Impren-sa Oficial do Estado de São Paulo e o Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL); a participação bra-sileira na feira de Frankfurt já está

recebendo inscrições das editoras interessadas em fazer parte dos 120m2 do estande nacional. Um pouco antes, em Agosto, a FLIP confirmou as presenças do diplo-mata Alberto da Costa e Silva, a socióloga Angela Alonso e a es-critora Isabel Allende.

As feiras estão chegando: Frankfurt e Paraty

Cada vez mais competitivo, o mercado editorial tem assistido nos últimos tempos a uma concentração de títulos mais ren-táveis nas lojas, enquanto o espaço para novos autores diminui. Em busca de um giro mais rápido de seus pro-dutos, as editoras apostam cada vez

mais nos Best-Sellers em um proces-so de concentração e globalização do livro. Com a diminuição do catálo-go e a aposta nas mesmas figuras de sempre, o mercado discute a questão: Qual o futuro do livro? Aguarde os próximos capítulos.

A luta pelo lucro cria a cultura dos Best-Sellers

8 Revista Comtexto

A Fundação Paula Sou-za, instituição que ofere-ce cursos técnicos no Es-tado de São Paulo, terá

uma grande novidade na con-fecção dos seus próximos li-vros: o novo material, que será o papel sintético feito a partir de plásticos reciclados. Em parce-ria com a maior produtora dessa tecnologia no mundo, a Funda-ção Paula Souza irá fabricar 261 mil livros já no novo papel, com a vantagem de maior durabili-dade e a possibilidade de escre-ver no livro usando caneta esfe-rográfica de ponta porosa, e até mesmo lápis. Além de todas es-sas vantagens, o papel pode ser reciclado sem limitações, o que também barateia seu custo.

Após três anos de pesqui-sa, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvol-veu um papel sintético fabrica-do com plásticos reciclados.

A empresa Vitopel, que é lí-der no seguimento de filmes fle-xíveis, cedeu os equipamentos necessários para o teste do pa-pel. Lorenzo Giacomazzi, coor-denador de tecnologia de pro-cessos da Vitopel, conduziu os testes com o Vitopaper.

“O grande diferencial des-se processo é fabricar um pa-pel sintético com material total-mente reciclado”, diz Giacoma-zzi. Foram usadas várias com-posições e misturas de plásticos da classe das poliolefinas. “O as-pecto final é o mesmo do produ-to feito a partir da resina virgem,

com a vantagem que se aprovei-ta o material que iria para o ater-ro sanitário ou lixões.”

O resultado do teste foi um sucesso, e a partir daí, em par-ceria com a UFSCar, a Vitopel passou a produzir esse papel em escala comercial com boas vantagens para quem produz e também para quem compra o produto.

Entre as vantagens do pa-pel de plástico, destaca-se a to-tal adequação aos equipamentos usados na fabricação do papel convencional, poder ser produ-zido a partir de qualquer produ-to feito com plástico convencio-nal, e ainda desencadear uma redução de produtos plásticos encontrados no lixo. Segundo informa o presidente da Vito-pel José Ricardo Roriz Coelho, a cada tonelada de Vitopaper pro-duzido são reciclados 850 kg de plástico das ruas, e como atual-mente o papel sintético é feito de petróleo, e o novo com plás-tico, prevê-se uma considerável redução da poluição no meio ambiente.

Outro destaque presente no papel é que ele pode ser impres-so em várias cores, o que dá um acabamento diferenciado a qual-quer projeto ou trabalho, além do fato de ser ilimitadamente reciclável.

O Vitopaper é impermeável, podendo ser usado para várias finalidades como mapas e pla-cas, e o fato de ser flexível traz uma tranqüilidade maior para

os estudantes. Por ser mais leve que os outros papéis, ele pode ser usado com mais opções.

Atualmente o papel de plás-tico já está sendo comercializado e atingiu a marca de mais de mil toneladas de papel produzido. Pelos bons resultados obtidos já se estuda a possibilidade de tri-plicar a produção.

A Vitopel tem investido por volta de US$ 2 milhões em pes-quisa por ano, e tem patente em produtos de diversos setores. Com seus escritórios de repre-sentação, a Vitopel está presen-te nos Estados Unidos, Argenti-na e Brasil, tendo em outros pa-íses importantes parcerias co-merciais. No Brasil a Vitopel é lí-der no setor de filmes flexíveis e faz exportação para muitos pa-íses das Américas do Sul, Cen-tral, do Norte, Europa e África.

O Brasil é responsável por 60% do consumo de embalagens flexíveis na América do Sul, e, no mercado nacional, a Vitopel responde por 52 % da produção desse produto.

Livro de plástico da Vitopel Por Guilherme Rezende

Mundo verde

Exemplo de um livro de plástico da vitopel

Divulgação

Revista Comtexto 9

10 Revista Comtexto

Por Gabriela Rocha

O sucesso conquistado pela Companhia das Letras é, primeiramente, fruto de uma atenta adminis-

tração: a do grande editor Luiz Schwarcz. Em entrevista a Her-mes Rodrigues Nery, do site UOL, Schwarcz conta como a editora surgiu: “A Companhia das Letras nasceu de uma inquietação mi-nha. Eu trabalhava na Brasiliense, tinha chegado a ser diretor edito-rial, por vários anos. Eu tive um contato muito bom e aprendi mui-tas coisas na minha experiência lá. Chegou um determinado mo-mento em que senti que havia um espaço para fazer aquilo de que mais gostava. Eu me sentia incli-nado, na minha profissão, e via condições de fazer uma coisa de que gostava mais”.

Schwarcz ainda comenta so-bre sua formação profissional, antes do nascimento da Compa-nhia das Letras: “Sempre tive in-teresse por livros, desde peque-no busquei conhecer um pou-co de Literatura. Desde a minha adolescência fui encaminhado para seguir uma carreira profis-sional de administrador, e por uma opção universitária acabei estudando, na GV, – Administra-ção de Empresas –, mas algo me dizia que aquele talvez não fos-se o meu caminho, não fosse a opção que mais se amoldava ao meu gosto. No percurso univer-

O homem por trás da marca

Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, vem há mais de 20

anos seguindo uma fórmula que permite, com a ajuda de uma equipe

de mais de cem pessoas, lançar aproximadamente 30 títulos por mês

COMPANHIA DAS LETRAS

Divu

lgaçã

o

Revista Comtexto 11

sitário, me aproximei muito dos livros. Passei a estudar Ciências Sociais por conta própria. Pas-sei a trabalhar com os professo-res de Ciências Sociais da GV. Formava grupos de estudos, lia muito; durante certo tempo tive esta coisa muito engraçada de só ler coisas de Ciências Sociais, e cheguei até a abandonar um pouco as leituras literárias, lia, antes de dormir, Fernando Hen-rique Cardoso, esse tipo de coi-sas; sempre preocupado com Ci-ências Humanas, acabei me for-mando, ou fazendo formação na área de Humanidades”.

Schwarcz é questionado so-bre como se sente investindo na publicação de livros de tão alta qualidade num país onde se lê tão pouco. O editor responde: “A gente sempre pensa que o Brasil é um país de poucos leitores, e esta talvez seja uma verdade com uma sustentação bastante frágil. O número de leitores, no Brasil, embora seja pequeno, devemos levar em conta que estamos fa-lando de um país com uma enor-me deficiência no sistema educa-cional, com uma porcentagem de analfabetismo muito grande – e, apesar disso tudo, nós temos um índice de leitores que é crescente. Se você pensar, muitas vezes as tiragens brasileiras não são mui-to diferentes das tiragens euro-péias. É que o livro no mundo in-teiro, na grande maioria dos ca-sos, não é um produto de mas-sa, e por maior que seja o mer-

Por fim, questionado sobre qual seria sua maior preocupa-ção como editor, Schwarcz re-flete: “Antes de qualquer coi-sa, ser editor é saber trabalhar em equipe e valorizar a minú-cia. Eu me preocupo muito com a escolha dos formatos dos li-vros, o tipo de corpo, de letra que está sendo impressa no li-vro. Às vezes, o leitor nem sabe que aquele tipo de letra foi de-senhado por um especialista no século XVIII... Cada letra tem uma determinada caracterís-tica, faz parte de uma política editorial a escolha da tipologia que você vai utilizar em seus li-vros, o tamanho da letra – esta é uma área que sempre me entu-siasma. Quanto mais você pensa no livro como objeto, mais você o está respeitando como sujeito. Quanto mais você se preocupar (também) com as coisas mate-riais que envolvem a produção de um livro, e procurar adequar aquele tipo de livro a determi-nada produção gráfica, você es-tará, sem dúvida, mais próximo nas idéias e essência daquele li-vro. Quanto mais você se apro-xima da concepção de livro-ob-jeto, mais você respeita o livro como sujeito. Esse exercício de minúcia editorial é onde tam-bém se exercita a criatividade de um editor. O tratamento gráfico, a escolha do papel, a determina-ção das capas, a criação das co-leções, enfim, tudo isso deve fa-zer o dia-a-dia do editor”.

cado de best-sellers, das edições de pocket americano, você tem, por exemplo, o mercado francês que é tido como um dos merca-dos onde mais se lê no mundo (e as tiragens francesas não dife-rem das brasileiras). O problema é que – e isto não é um demérito para o livro –, ele não é um pro-duto de massa”.

Sobre as grandes dificuldades de se editar no Brasil, Schwar-cz citou a questão da tradução: “Um dos problemas mais sérios é a qualidade das traduções, que não é somente um proble-ma brasileiro e sim internacio-nal. É claro que, quanto mais desenvolvido for o mercado, melhor a remuneração possível do tradutor e maior é a facilida-de que se tem para resolver es-ses problemas. Tive contato, por exemplo, com editores alemães, e ficamos impressionados com a semelhança das dificuldades que temos nessa área”.

” Quanto mais você se aproxima da

concepção de livro-objeto, mais você

respeita o livro como sujeito ”

Luiz Schwarcz, criador da Companhia das Letras

COMPANHIA DAS LETRAS

12 Revista Comtexto

Diversificação do Público-leitor

O sucesso da Companhia das Letras, porém, não se encontra somente na figura de Schwarcz; mas

também na segmentação da Edi-tora, com a criação de diversos selos com diferentes propostas e preços de mercado. Este foi um fator que contribuiu demasia-damente com a formação de um grande nome no ramo editorial.

O site da Companhia das Le-tras conta a história de seus di-ferentes selos e justifica suas criações:

“A Companhia das Letras foi fundada em 1986. Nos primeiros doze meses de existência, lançou 48 títulos; em 2009, foram mais de 230.

“Criado em 1992, o selo Com-panhia das Letrinhas tem como proposta editar livros afinados com a sensibilidade infantil, capa-zes de mobilizar nas crianças sua capacidade cognitiva, seus dese-jos de autoexpressão, sua neces-sidade de organizar o mundo. Li-vros que sejam para elas uma ex-periência cada vez mais perceptí-vel de independência.

“O selo Cia. das Letras, que surgiu em 1994, desenvolve duas linhas básicas: de um lado, publica livros de ficção e não fic-ção voltados para pré-adoles-centes e adolescentes; de outro, obras de interesse para diferen-tes faixas etárias, como O mun-do de Sofia, O menino do pijama lis-

trado e a coleção Desventuras em Série.

“Para tornar o livro ainda mais acessível e ampliar sua importância no cotidiano brasi-leiro, em 2005 foi criado o selo Companhia de Bolso, que re-lança em edição econômica os grandes sucessos da Compa-nhia das Letras. Em 2009, para atender às expectativas de um mercado cada vez mais exigen-te, foram criados mais três se-los: Quadrinhos na Cia., edi-tora Claro Enigma e Penguin Companhia.

“Quadrinhos na Cia. traz uma linha dedicada inteiramente ao gênero, que publica tanto auto-res clássicos quanto contempo-râneos, nacionais e estrangeiros, adultos e juvenis.

“A editora Claro Enigma sur-giu para suprir uma deman-da dos professores e profissio-nais ligados à educação por ma-terial paradidático de qualidade que ajude a aproximar os conte-údos pedagógicos de seu princi-pal alvo, o aluno. A partir do se-gundo semestre de 2010, o selo Penguin Companhia editará, em português, obras do riquíssimo catálogo da Penguin Classics, com o formato internacional-mente reconhecido da coleção, e uma série de clássicos em língua portuguesa, além de novos pro-jetos idealizados especialmente para a coleção”.

Revista Comtexto 13

parceria nacional

parceria internacional

O Estado de S. Paulo noticiou em setembro de 2009 o fecha-mento da parceria entre a Com-panhia das Letras e a Penguin Books. O acordo entre as edito-ras consiste no lançamento dos clássicos da Penguin em um selo que terá o nome Penguin Com-panhia Clássicos.

Luiz Schwarcz, presidente da Companhia das Letras, expli-ca por quê escolheu a Penguin como parceira: “Alguns dos di-ferenciais da coleção da Penguin em relação aos clássicos publica-dos pelas outras editoras no Bra-sil são os textos de introdução e as notas do editor”. Sobre as edi-ções brasileiras, Schwarcz aten-ta: “Fernando Henrique Car-doso escreverá o prefácio de O

Príncipe, de Nicolau Maquiavel. Mas as apresentações da edição britânica serão mantidas”.

Por fim, Chacra analisa a cria-ção e o desenvolvimento de am-bas as editoras e o que elas pos-suem em comum: “As duas edi-toras consolidaram seu nome de uma forma diferente, mas acaba-ram, segundo seus presidentes, adotando perfis similares. Fun-dada em 1935, de acordo com o histórico divulgado pela edito-ra, a Penguin foi criada por Al-len Lane para oferecer livros de qualidade a um preço acessível. A idéia surgiu depois de perce-ber a falta de boas obras à ven-da em estações de trem. A cole-ção dos clássicos surgiria 11 anos mais tarde e a marca Penguin

conseguiu tornar-se um ícone da literatura em inglês. Já a Compa-nhia das Letras foi fundada por Luiz Schwarcz em 1986, 40 anos depois do lançamento dos clás-sicos. Ao avaliar sua trajetória, o editor acrescenta que o objeti-vo sempre foi ‘primar por uma linha editorial de qualidade’. Re-centemente, buscando oferecer livros a preços mais baixos, a edi-tora relançou antigos títulos com o selo Companhia de Bolso”.

Uma grande parceria foi fechada entre a Companhia das Letras e a Livraria Cultura, que é refe-rência em canal de distribuição.

A loja da Livraria Cultura, localizada no Conjunto Nacio-nal, abriga hoje todo o catálogo da Companhia das Letras, em uma loja exclusiva, que rece-be o nome de “Companhia das Letras por Livraria Cultura”. A editora concordou em pagar uma taxa mensal pelo espaço exclusivo. Nenhuma das duas empresas revela os valores do acordo ou do investimento na nova loja.

Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, afirmou à Folha de S. Paulo que “a iniciativa é única no mundo”. E esclareceu: “Tivemos a idéia de ter não uma ‘store in store’, um quiosque da Compa-nhia dentro da loja, como acon-tece em outros tipos de negócio,

mas sim de dedicar uma loja inteira a uma marca que tem a nossa cara e com a qual já fi-zemos ótimas parcerias”. Por seu lado, a Companhia das Letras afirma que o espaço possibilita uma “interferên-cia maior” na forma de expo-sição dos livros à venda.

Em visita à Livraria Cul-tura do Conjunto Nacional, visitamos também a loja da Companhia das Letras. De acordo com os funcionários, o gênero mais procurado é Literatura Estrangeira (prin-cipalmente norte-america-na), com foco em literatu-ra fictícia, uma das especia-lidades da Companhia das Letras. Esta demanda de li-vros, ainda de acordo com os funcionários, gera grande lu-cro no período de dezembro a fevereiro, quando escolas e

universidades estimulam os jo-vens a lerem mais, selecionan-do livros da Companhia das Le-tras. Além deste período, exis-te também uma demanda con-siderável durante os meses de junho e julho.

É importante destacar que fora destes períodos a livra-ria mantém uma venda favorá-vel, graças ao lançamento de li-vros premiados. Um livro a ser destacado para essa temporada é “Riso e Melancolia” de Sergio Paulo Rouanet; além dos livros que viraram filmes, como o livro “Ilha do medo” de Dennis Leha-ne, que deu origem ao filme ven-cedor do Oscar 2010.

14 Revista Comtexto

Rena

to Pa

rada

E mbora o e-book seja uma grandiosa novidade, o há-bito de possuir e-readers ainda não está consolida-

do no Brasil ou no exterior. Por enquanto, os clássicos da Pen-guin lideram a posição de mais vendidos para o Kindle.

Em entrevista a Marília Neus-tein, do blog Direto da Fonte, em abril de 2009, Luís Schwarcz se mostrou otimista em relação ao futuro do livro: “As teorias apo-calípticas têm sempre seus arau-tos de plantão. Mas a leitura não vai acabar. Se acabar, espero não estar aqui para presenciar seu féretro. Não acho também que o livro de papel vá ser substituído, por enquanto. Porque ainda é o melhor formato para o desfru-te literário. O livro é algo pesso-al, que você cria ao ler, em que o tato é importante. As relações que possuem um grau de sub-jetividade ainda necessitam de algo material. São como as rela-ções pessoais, não dá para ima-ginar ter uma relação afetiva com alguém sem poder ver , to-car, encostar na pele”.

Segundo o site PublishNews.com.br, o presidente executivo da Penguin Books afirma que o desafio é manter o romantismo

do livro impresso: “precisamos manter o foco na relação emo-cional do leitor com o livro, pois ainda é importante produzir um livro impresso bonito, com um bom design, que fique bonito numa prateleira, e que se possa dar de presente a um amigo”.

Porém, uma editora que pen-sa no mercado e reconhece novas oportunidades não pode sim-plesmente ficar de fora de um período inovador, e, por isso, no dia 5 de Abril de 2010, a Compa-nhia das Letras anunciou o lan-çamento dos primeiros e-books da editora, mostrando que tem tudo para adaptar-se à era digital e lucrar com ela. Os dois primei-ros representantes digitais são os títulos Antes do Baile Verde, de Lygia Fagundes Telles e A Cida-de Ilhada, de Miltom Hatoum. Em breve outros exemplares es-tarão disponíveis e, entre eles, Leite Derramado, de Chico Bu-arque e Caim, de José Saramago. A venda será realizada median-te o site da Livraria Cultura, que é a única a comercializá-los atu-almente. A editora deverá priori-zar as literaturas em língua por-tuguesa inicialmente.

Os arquivos estão em for-mato ePub, que pode ser lido

em PC, Mac e e-readers com-patíveis. Já aqueles que não são compatíveis a esse formato são o iPad e iPod Touch.

A Revista Comtexto está in-teressada em descobrir em que proporções o e-book fará par-te do futuro da Companhia das Letras e qual é sua perspecti-va a curto, médio e longo prazo. Quais são as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades que atingem a editora?

Para conseguirmos informa-ções a respeito de sua postura no mundo digitalizado, os editores Guilherme Rezende, Jeferson Má-ximo e Laura Ammann, da Revis-ta Comtexto, foram até a editora Companhia das Letras, em São Paulo, recebidos por Elisa Braga, diretora de produção há 23 anos.

Revista Comtexto – Como fun-ciona o departamento editorial? E como são escolhidas as publi-cações, determinando quais te-mas são mais relevantes?Elisa Braga – Nós temos algu-mas agentes literárias no exterior e um scouter em Nova York con-tratada para verificar os autores e livros que estão em voga para passar-nos em primeira mão; isso com relação aos livros estrangei-

ElisaBragaDiretora de Produção da Companhia das

Letras há 23 anos, Elisa Braga conta à equipe da Revista Comtexto sobre as projeções de

futuro da editora

Entrevista

Revista Comtexto 15

ros. Temos também um departa-mento grande que recebe os jor-nais do exterior e os livros para nós vermos qual o interesse. De-pois de uma pré seleção o mate-rial vai para o departamento edi-torial. Com relação aos livros na-cionais recebemos muita coisa pelo correio - no nosso site tem explicação de como fazer isso – ou os próprios autores, consagra-dos ou não, nos procuram. No caso do Jorge Amado, sua família abriu uma concorrência para as editoras, e então pudemos apre-sentar um projeto bastante com-pleto, com todo o conteúdo edi-torial, de marketing e de capaci-tação de professores para traba-lhar em sala de aula.

RC – Qual a visão de vocês em relação ao livro digital? Há espa-ço para esse tipo de publicação?EB – Nós já temos três livros que estão na Livraria Cultura para download pois achamos que não podemos ficar de fora, mas por enquanto ainda é uma coi-sa muito incipiente que vai cres-cer de forma vagarosa. O apare-lho é muito caro no Brasil e este mercado ainda não está conso-lidado; os direitos autorais ain-da estão em discussão e nem to-dos os autores no momento es-tão de acordo, tanto aqui quan-to lá fora. Devemos entrar com 50 títulos até o final do ano, mas trabalhando com muita calma, pois queremos ter o mesmo cui-dado na produção de livros di-gitais que temos com os impres-sos. Por isso lançamos somente três títulos até o momento; é um processo muito mais demorado do que pensávamos.

RC – Vocês acreditam que no fu-turo este pode ser um meio con-solidado como os impressos? EB – É difícil dizer, no mundo inteiro há uma discussão for-

vinculado ao de outra editora. A editora fez a mesma parceria na Índia e na Coréia, mas manteve o nome Penguin. Estamos muito contentes; o Luiz Schwarcz já fez um estágio de um mês na Pen-guin de NY. A questão dos clás-sicos acessíveis é muito impor-tante para nós. Começamos com a Companhia de Bolso aqui no Brasil e acreditamos que dará certo com a Penguin Companhia das Letras.

RC – Vocês praticamente não têm livros com páginas brancas. Por quê a decisão do papel Off White? EB – No começo da editora o Off White ainda não existia no Bra-sil, então pedimos para a Com-panhia Suzano de Papel e Celu-lose desenvolver esse papel cre-me que possibilita maior tempo de leitura e agora muitas outras editoras usam esse tipo de papel também.

RC – Para encerrar, em sua opi-nião o que faz a Companhia das Letras ser esta editora consolida-da e bem respeitada? O que no passado influenciou para que se chegasse até aqui?EB – Acho que a Companhia das Letras foi um marco na editoração no Brasil por trazer o cuidado edi-torial com a capa, layout, papel e miolo bem escrito. O que foi um detalhe fundamental no passado, é que dávamos para os jornalistas uma prova xerocada do livro an-tes dele chegar às livrarias, e isso dava tempo ao jornalista de lê-lo e escrever a resenha um dia an-tes do lançamento do livro. Acho que temos que ver o livro como um produto, onde temos que tra-balhar o gosto pela leitura e, para isso, incentivamos fazendo capa-citações, cartilhas e apostilas para professores e concursos para alu-nos do ensino médio.

te sobre o assunto. Na feira de Frankfurt, em outubro do ano passado, o assunto foi o livro digital, e, por coincidência, eu estava em uma palestra na Câ-mara Brasileira do Livro so-bre o e-book. Quando voltei, a Amazon queria publicar nossos livros no Kindle e recebemos muitas ligações de quem estava na Feira de Frankfurt, também a respeito do livro digital. Parti-cularmente, acho que quando o e-book estiver nas escolas à dis-posição dos alunos, a dissemi-nação será mais rápida e maior. Mesmo nos EUA, o mercado de livros digitais ainda gira em tor-no dos 3 a 4%.

RC – Existe algum proje-to para o futuro que possa ser comentado? EB – Tem um que é secreto (ri-sos)... Temos a biografia do Ba-rack Obama na obra ‘A ponte’ de David Remnick, prevista para no-vembro. Temos publicado uma média de 25 livros por mês (...) te-mos muitas novidades, mas nada que eu possa falar já.

RC – Qual o tempo médio para um livro ser confeccionado desde o manuscrito ate o seu lançamento?EB – Esse tempo está ficando cada vez menor. Quando entrei na editora demorava-se muito mais; atualmente, por conta até da tecnologia, a média são três meses de produção além do tem-po de tradução. O tempo recor-de foi o da produção de ‘A Ques-tão dos Livros’, efetuada em um mês.

RC – Qual foi a importância da parceria da Companhia das Le-tras com a Penguin Books?EB – Ela vai ser muito importan-te para nós; é a primeira vez que a Penguin deixa seu nome ser

16 Revista Comtexto

Tecnologia

O novo filho da Apple

O iPad, mais recente aparelho lançado pela empresa norte americana Apple, vem trazendo grande alvoroço ao mercado editorial desde o seu anúncio

Por Jeferson Maximo

No dia 27 de Janeiro deste ano, em uma conferên-cia para imprensa no Yerba Buena Center for

the Arts (YBCA) em São Fran-cisco (apresentação do produ-to pode ser conferida no site da Apple Inc.). Anteriormente, é verdade, já existiam outros ta-blet de empresas concorren-tes como a Sony e a Amazon; apresentando, inclusive, tablet próprios. Porém, a repercus-são do iPad está se mostrando um intenso marco no mercado editorial.

A Apple, ao lançar o iPad, trouxe inovações que muda-ram a idéia que se tinha peran-te os tablets. O aparelho pos-sui uma tela Multi-Touch wi-descreen de alta resolução re-

troiluminada por LEDs de 9,7 polegadas (diagonal) com tec-nologia IPS em resolução de 1024 por 768 pixels, 132 pixels por polegada (ppp). Possui um chip Apple A4 de 1GHz de alto desempenho e baixo consumo de energia desenvolvido espe-cialmente para o iPad. Sua ba-teria tem resistência de até 10 horas para navegar pela web em Wi-Fi, assistir vídeos ou escutar música. Assim, o iPad está equipado com uma tecno-logia semelhante a encontrada no iPhone e iPod touch, permi-tindo que o leitor não só leia li-vros, mas também ouça suas musicas e assista a vídeos em uma estrutura fina e leve (ver-são Wi-Fi pesa 680g, enquanto a 3G pesa 730g).

VantagensO aparelho é Wi-Fi e 3G (depen-dendo do modelo), leve e por-tátil, Além do tablet, o aparelho apresenta várias outras intera-ções coexistentes a de ler um li-vro. Incrível Sensor de luz am-biente não prejudicando tanto a legibilidade do leitor.

DesvantagensNão possui câmera, (porém pos-sui um kit opcional que permi-te conectar o aparelho a uma câ-mera digital, via cabo USB, para descarregar as suas fotos na me-mória do iPad). Apesar de ser um aparelho revolucionário, o iPad deixa a desejar, pois não executa dois aplicativos de uma vez só.

Revista Comtexto 17

Vídeos Calendário Notas

FotosMapas Contatos

Navegador de internet próprio da

AppleSafari Mail iPod

Exclusivo e diferente no iPad

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18 Revista Comtexto

Observando o mercado editorial em sua ampli-tude percebemos que é preciso obter formas

elevadas de lidar com o nosso público alvo, que pensa e reage às novas tendências editoriais e agora se coloca em categorias di-ferentes: aqueles que gostariam de ler ou já leram um livro di-gital e os que nunca deixariam de ler um livro impresso. Ten-do isso em mente, surgem algu-mas dúvidas: como, onde, em que e quando investir o dinhei-ro para buscar o melhor lucro da empresa.

Essas questões vêm sendo discutidas em encontros edito-rias. Na Bienal do Livro em Mi-nas Gerais, por exemplo, livrei-ros e editores debateram sobre o uso do livro digital e sua comer-cialização. Para Galeno Amo-rim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura, em meio a es-ses debates “não podemos ficar deitados em berço esplêndido esperando sermos surpreendi-dos por eles”.

Acompanhar o rendimento e as negociações de empresas que já aderem às novas tecnologias, principalmente em outros paí-ses, pode contribuir para uma decisão mais concreta. É impor-

tante também adotar um ponto de vista controlado e, desde já, ver a existência do lucro de ven-das para livros digitais.

O que é um E-book?Um e-book é um livro digital que pode ser lido em equipamentos eletrônicos, em computadores, PDAs (Personal Digital Assis-tants, em português, Assisten-te Pessoal Digital) ou até mes-mo em celulares que aceitem os recursos. Os formatos mais comuns do e-book são o PDF e HTML.

O que é um E-reader?O E-reader é um leitor de livros digitas com a função de mos-trar ao leitor o conteúdo dos e-books. O mais famoso entre eles é o Kindle, criado pela Amazon em 2007 e lançado em novembro de 2009. É importante lembrar que este foi o primeiro e-reader, com uma tela de 9,7 polegadas. O aparelho sem fio ainda inclui leitor de documentos em forma-tos de PDF’s, com uma memória de 3G e capacidade para quase 3,5 mil livros.

Vendido pela Amazon.com, o Kindle e-reader e também o Kin-dle for PC, vêm sendo adquiri-

Bem vindo a um futuro inevitávelÉ tempo de pensar em como o mercado editorial pode reagir sobre as novas tendências

Por Karine Barbosa

do por diversos internautas. Há cerca de 280 mil títulos para a sua compra, a maioria best-sel-lers e as outras obras são de clássicos da literatura. A des-vantagem do aparelho é a não aceitação de PDF’s e do progra-ma Adobe Digital Editions como formato de textos, diga-se de passagem, os mais comuns no Brasil.

Assim como o Kindle, exis-te também o Sony Reader, que foi lançado em 2009. Ambos são bem semelhantes, mas a versão da Sony é um pouco mais flexí-vel, uma vez que aceita outros formatos de e-books.

O Ipad, como o maior smar-tphone e menor laptop já lançado, navega na internet, troca e-mails, compartilha imagens, toca mú-sicas e tem um leito eletrônico. É o maior lançamento da Apple desde o Iphone.

O leitor

Pesquisa realizada em quatro ca-pitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), produzi-da pela Câmara Brasileira do Li-vro (CBL) e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, divul-gou dados e valores de oito gru-pos, sendo que dois já tiveram

Mercado editorial

Revista Comtexto 19

algum contato com o livro digi-tal pelo computador.

De acordo com os resultados, os entrevistados afirmaram que não têm interesse imediato em aderir ao e-reader, principalmen-te porque pensam que logo uma tecnologia será novamente su-perada por outra.

Segundo Galeno Amorim, existe hoje 95 milhões leitores no Brasil e cerca de 77 milhões não lêem livros. Em 2008, 4,6 mi-lhões de brasileiros disseram ler livros digitais (aqui como leitu-ras feitas pelo computador) e 7 milhões realizaram o download dos livros gratuitamente. Dos entrevistados, apenas um dis-se que não compraria um livro digital, já que a princípio, ele re-presenta uma forma de saber, um conhecimento. Por isso, “ao deixar sua forma original, o li-vro perde essa função e passa a ser um meio comunicativo”.

Para os demais participantes, o e-reader é considerado um pro-duto mais simples, com maior luminosidade, melhor capacida-de de armazenamento, prático e leve. Sendo assim, o leitor espe-ra do e-book um formato mais in-terativo e dinâmico e não apenas mais um mero PDF em seu com-putador ou e-reader.

Galeno sugeriu para os edi-tores que “escutassem constan-temente o seu consumidor, re-fletissem sempre sobre os novos modelos de negócios, amplias-sem a interação e a comunicação com seus consumidores e inter-pretassem as pistas dadas pelas pesquisas aqui citadas”.

Como o mercado vem lucran-do com isso?

De acordo com Patricia Aran-cibia, uma das palestrantes do I Congresso do Livro Digital, nos Estados Unidos a venda de livros digitais subiu 261% em 2009, principalmente com livros de ficção científica.

Nos EUA, as vendas de Ipads chegaram a 1,5 milhões de dóla-res. Cerca de 12 milhões de apli-cativos já foram baixados pelos usuários e mais de 1,5 milhões de e-books já passaram por do-wnload. Isso nos leva a pen-sar de que forma os brasileiros irão reagir a essa nova tecnolo-gia quando tiverem maior aces-so a ela.

O livro em papel irá acabar?Essa é uma das questões mais

polêmicas discutidas pelas edi-toras. Porém, segundo pesqui-sa realizada pela CBL isso não irá acontecer tão cedo. Os leito-res apegados aos livros impres-

sos continuarão tendo a prefe-rência por eles. Há quem acre-dite que levará tempo, décadas ou até anos, mas que a tendên-cia é o mundo deixar de lado as “formas ultrapassadas” e acabar aderindo por completo a novas tecnologias.

Onde investir?A conclusão a ser tirada desse debate, pelo menos à curto pra-zo, é que as editoras devem sim investir nas publicações digitais, mas sem abandonar as impres-sões. Os dois suportes deverão coexistir por um longo período.

Depois de tudo issoNão há dúvidas de que o e-book é uma tendência irreversível, e o surgimento de um mercado ade-quado com equipamentos de e-readers cativará uma boa parte dos consumidores. Mas isso não representa a extinção do livro impresso, pois sua tradição, pra-ticidade e encanto continuarão sendo a preferência de bilhões de pessoas em todo o mundo. Para Rosely Boschini, presiden-te da Câmara Brasileira do Li-vro, “mais do que uma preo-cupação, o e-book deve ser visto como oportunidade de ampliar

20 Revista Comtexto

o universo do público leitor e desenvolver uma nova vertente de negócios”.

Em coexistência com os dife-rentes conceitos, existe uma re-alidade na qual todos os seto-res da atividade deveriam pen-sar: Como explorar o grande po-tencial aberto confluindo com a multiplicação de possibilidades mercadológicas, para criar no-vas tendências e atender de ma-neira mais eficaz à demanda.

Em relação ao livro impresso, a mescla de tecnologias já sig-nificou um avanço importante. A impressão digital, por exem-plo, viabilizou tiragens peque-nas, com qualidade quase idên-tica à do offset e possibilitou lan-çar e testar um maior número de títulos, sem custar demais às editoras.

Cabe ao setor livreiro avaliar as novas possibilidades de ven-da, desenvolvendo uma tendên-cia de mercado capaz de con-tribuir para o aumento do nú-mero de leitores. A partir deste momento, as editoras serão for-necedoras de conteúdos dispo-

nibilizados para o público con-sumidor em diversas mídias. As livrarias que já vendem com su-cesso CD’s e DVD’s terão espaço para os equipamentos de livros digitais.

A reprodução ilegal de con-teúdos digitais é uma preocupa-ção atual de todos os setores do mercado editorial. Caso ocorra a legalização da cópia digital ela incentivará a reprodução não le-gal e a falsificação, além das má-quinas copiadoras. Será preciso conviver com as transformações e adaptar-se a elas, para que seja possível converter oportunida-des reais de investimento.

Para isso, é fundamental o trabalho das entidades de clas-se como tem feito a Câmara Bra-sileira do Livro (CBL), por meio de seu Grupo Digital. A aborda-gem ampla do tema no 1º Con-gresso Internacional do Livro Digital, que foi promovido pela CBL nos dias 29 a 31 de mar-ço, situou livreiros e editores no contexto atual de mercado.

O relatório produzido pela Comissão do Livro Digital apre-

senta o levantamento das ques-tões importantes, sugerindo me-didas e considerações. Ele será dividido em três categorias: ma-peamento de mercado, modelos de negócios e aspectos legais.

O intercâmbio de informa-ções com os mercados mais avançados, promoção de estu-dos, debates, análise de expe-riências bem-sucedidas, pales-tras e a defesa intransigente dos direitos de todos, contribuirão para que o livro digital seja mais um meio para converter o Brasil num país de leitores.

Dica ComtextoA chave é projetar e repensar o seu mercado editorial partindo dos conceitos, estatísticas e pes-quisas. As informações contidas nessa matéria podem ajudar em suas decisões.

Referências bibliográficashttp://www.cbl.org.brhttp://www.publishnews.com.br

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Prateleira

A autora é Fátima Ali, fundadora e editora da Revista Nova. Fátima Ali partici-pou da implantação da MTV no Brasil e da Vice-presidência do Grupo Abril. A Arte de Editar Revistas é um guia prático para ajudar a desenvolver concei-tos e designs de revistas. Segundo a própria autora, o público alvo vai de estu-dantes a diretores de redação e “deve-se pensar que as linguagens e o públi-co são diferentes, mas os princípios de clareza, formas de chamar a atenção de leitores e a ética são os mesmos”. A obra pode ser adquirida por R$ 72,00 e, contendo 400 páginas, é publicação da Ibep- Companhia Editora Nacional.

Fátima AliA arte de editar

revistas

Esta é uma publicação da Editora Saraiva que tem como objetivo tirar dú-vidas ortográficas de forma rápida e objetiva, uma vez que, atualmente, é reconhecida a importância de uma boa escrita e correta comunica-ção. Questões mais freqüentes na elaboração de um texto são esclareci-das pela autora Laurinda Grion. A autora é consultora empresarial e cos-tuma palestrar sobre Redação Empresarial e Administração do tempo. A obra contém 328 páginas, com dimensões de 16,5x13,8cm e é vendida por R$ 29,90.

Laurinda GrionErros que um

executivo comete ao redigir – mas não deveria cometer

De Robert Darnton, fundador do Projeto Gutenberg - que consiste em promo-ver a digitalização de obras literárias para sua preservação, a obra foi inspira-da pela última década, na qual o autor foi convidado diversas vezes para pa-lestrar sobre o suposto fim do livro. A nova publicação da Companhia das Le-tras é uma análise inteligente que discute assuntos polêmicos como a digitali-zação de bibliotecas, os novos dinâmica e interesses de livreiros, autores e edi-tores. A abertura da obra é objetivamente anunciadora: “Este é um livro sobre livros, uma apologia descarada em favor da palavra impressa e seu passado, presente e futuro”. O livro de Darnton está à venda por R$ 42,50, contendo 232 páginas e 21x14cm.

Robert DarntonA Questão dos

Livros

Premiado como melhor livro do ano no Prêmio Jabuti 2009, foi escrito por Mari-sa Lajolo, professora da Unicamp e Universidade Mackenzie, e João Luís Cec-cantini, professor de Literatura Brasileira na UNESP. Participaram de sua produ-ção, professores e alunos de diversas instituições de ensino nacionais e a pu-blicação ficou nas mãos da Editora Unesp. Cada capítulo do livro é dedica-do a uma das obras infantis de Monteiro Lobato. A obra pode ser comprada por R$ 62,00, contém 512 páginas com dimensões de 23x16cm.

Monteiro Lobato Livro a livro

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Cinema

Em Tudo Pode Dar Certo, Woody Allen volta a fil-mar em Nova York após cinco anos. O diretor é no-

vaiorquino por excelência, e fez questão de protagonizar os seus filmes mais famosos rodados na cidade americana - Noivo Neu-rótico, Noiva Nervosa ou Manhat-tan, por exemplo. Por isso causa estranheza, num primeiro mo-mento, ver alguém que não ele no papel principal. Para inter-pretar Boris, um físico aposenta-do com QI elevadíssimo, Woody escolheu o humorista Larry Da-vid - co-criador e principal rotei-rista de um dos melhores seria-dos já criados pela TV americana, Seinfeld. A estranheza desapare-ce logo nas primeiras cenas. Da-vid logo se revela o melhor entre os vários atores que Woody Al-len já colocou em cena para de-sempenhar personagens inspi-rados nele próprio (entre esses alter-egos, destaca-se John Cusa-ck como o dramaturgo fracassa-do que se envolve com a máfia numa das melhores comédias de Woody, Tiros na Broadway).

Apesar de sua inteligência aci-ma da média, Boris é tão neuróti-co e frustrado quanto os protago-nistas habituais do diretor. Ele ga-nha a vida ensinando xadrez para crianças, com as quais não tem o menor tato. Passa o resto do tem-po isolado em casa, ouvindo mú-

sica clássica, ou reclamando do mundo para seus amigos. Seu co-ração revoltado ameaça dar uma amansada quando conhece a per-sonagem vivida por Evan Rachel Wood, uma interiorana de 17 anos com semblante angelical. A dife-rença de idade é algo que já ren-deu controvérsia na vida de Woo-dy, desde que o diretor largou a atriz Mia Farrow, para se casar com a enteada Soon-Yi Previn, dé-cadas mais jovem. Em Tudo Pode Dar Certo, ele não apenas satiriza a situação, como fornece respos-tas bem convincentes para esse tipo de atração. Afinal, que tipo de parceira seria mais adequa-da para um sujeito autocentrado e prepotente do que uma garo-ta deslumbrada e fácil de mano-brar? Conforme esse casal enfren-ta o desafio da convivência, a nar-rativa sofre várias reviravoltas.

Como o próprio se descreve no começo do filme, Boris é um sujeito que desistiu do mundo e se tornou insensível perante a

aleatoriedade da vida. Sua fala mais emblemática é: “No final das contas, as aspirações român-ticas da nossa juventude se redu-zem a o que for que funcione” (daí vem Whatever Works, o títu-lo original). Ele é tão egocêntri-co, neurótico e pessimista quan-to os principais personagens que Woody interpretou ao longo da carreira, só que ligado em 220 volts. Suas falas são bem articu-ladas e ele demonstra um vigor que Woody Allen jamais exibiu. É como uma versão caricata, im-pulsiva e catártica de seu criador. Woody usa David para expres-sar uma intensidade que, mesmo tendo sido indicado ao Oscar por melhor atuação em 1977, jamais conseguiria manifestar.

Referências bibliográficashttp://bravonl ine.abr i l .com.br/c o n t e u d o / c i n e m a / t u d o - p o d e -dar-certo-critica-554054.shtml

Tudo Pode Dar Certo Em “Tudo Pode Dar Certo”, o ator Larry David interpreta um neurótico novaiorquino com uma intensidade de fazer inveja ao diretor do filme

Por Carlos Messias

Larry David, o Boris de Tudo Pode Dar Certo. Pessimista e irônico como os protagonistas de Manhattan e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa

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