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Page 1: Revista CFMV
Page 2: Revista CFMV

A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária

e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais)

e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia.

A distribuição é gratuita aos inscritos no CFMV e CRMVs, empresas e órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos

devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterináriano seguinte endereço:

SCS - Quadra 1 - Bloco “E” - Ed. Ceará - 14º andarBrasília - DF - CEP: 70.303-900

Fone: 55 (61) 322 7708 - Fax: 55 (61) 226 1326Site: www.cfmv.org.br - E-mail: [email protected]

Revista CFMV. - v. 1, n.1 (1995) -Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária,1995 -

Quadrimestral

ISSN 1517 - 6959

1. Medicina Veterinária - Brasil - Periódicos. I.Conselho Federal de Medicina Veterinária.

AGRIS L70CDU 619(81)(05)

A Revista CFMV é indexada na base de dados AGROBASE

Page 3: Revista CFMV

Ent rev is ta 3Uma vida dedicada à sanidade animal

Opin ião 7Inspeção sanitária e industrial dos produtos de origem animal

Eutanásia animal 12Eutanásia animal em centros de controle de zoonoses

Exame Nac iona l 18A necessidade do Exame Nacional de Certificação Profissional

Bioét ica 20Bioética e Medicina Veterinária: um encontro necessário

Suplemento Técn ico 27Tromboflebite Jugular Eqüina: Aspectos clínicos e perspectivas no tratamento cirúrgicoHabronemose EqüinaNatimortalidade na suinocultura industrialProbióticos e prebióticos na nutrição de aves

Bioét ica 59Reprodução e Bioética

Formação Prof i ss iona l 66Aspectos legais e éticos dos cursos seqüenciais e de pós-graduação (lato sensu) esuas consequências quanto a fiscalização do exercício profissional

Ciênc ia e Tecno log ia 72Ideologia do Progresso – Ciência e Tecnologia

His tór ia 76Departamento de Zootecnia Universidade Federal Rural de PernambucoPioneirismo no ensino de Zootecnia do País

Publ icações 80Biotécnicas de la reproducción caprina y ovinaVade-mécum de Medicina VeterináriaMelhoramento genético aplicado à produçãoManejo sanitário animal

Agenda 82

Page 4: Revista CFMV

AResolução CFMV nº 691/2001, que instituiu oExame Nacional de Certificação Profissional, é um dosdestaques desta edição. Para o Conselho Federal deMedicina Veterinária, o ENCP significa um grandeavanço no sentido de promover uma acentuada melhorana qualidade do ensino de Medicina Veterinária noBrasil.

Sabe-se das deficiências encontradas hoje nos cursos eescolas de Veterinária, provocadas pela políticagovernamental, que não possui planejamento paraautorização de funcionamento de cursos.

Instituído o Exame obrigatório, as escolas vão se ver àfrente da necessidade urgente de modernizar e adequarsuas grades curriculares e a qualidade do ensino paraque seus recém-formados tenham condições de exercera profissão, uma vez que só obterá o registroprofissional nos CRMVs aquele que for tambémaprovado no ENCP.

Além da questão do exame de certificação, estenúmero da Revista CFMV traz valorosas contribuiçõessobre diversos aspectos da Medicina Veterinária, comoo artigo "Eutanásia animal em centros de controle dezoonoses", de Antonio Carlos Coelho Figueiredo eFrancisco Anilton Alves Araújo, e "Bioética eMedicina Veterinária: um encontro necessário", deRita Leal Paixão.

O Suplemento Técnico traz, como sempre, quatro artigosde grande interesse prático e científico: "TromboflebiteJugular Eqüina: aspectos clínicos e perspectivas notratamento cirúrgico" "Habromenose eqüina","Natimortalidade na suinocultura industrial" e"Probióticos e prebióticos na nutrição de aves".

Esperamos, com esta edição, estar atendendo asexpectativas de nossos colegas Médicos Veterinários eZootecnistas e solicitamos, mais uma vez, sugestões ecolaborações, para que possamos, cada vez mais,aprimorar esta Revista.

EDITORIAL

Ano VII nº 23Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001CONSELHO FEDERAL DEMEDICINA VETERINÁRIA

Endereço: SCS - Quadra 1Bloco “E” - Ed. Ceará - 14º andarBrasília (DF) - Cep: 70303-900

Fone: (61) 322 7708 Fax: (61) 226 1326www.cfmv.org.br

[email protected]: 47 mil exemplares

DIRETORIA EXECUTIVA

Benedito Fortes de ArrudaPresidente

Alberto Neves CostaVice-Presidente

José Euclides V. SeveroSecretário Geral

Zander Barreto MirandaTesoureiro

Conselheiros EfetivosGeraldo Marcelino C. P. do Rêgo

Wilson de Souza Vieira FilhoDorvalino Furtado Filho

José Carlos Landeiro FragaAdeilton Ricardo da Silva

Marcos José de Castro LimaConselheiros Suplentes

Hélio Pires GarciaEnio Gomes da SilvaEdson Nunes Lustosa

Dalmir México MartinsJosé Carlos Sedrim Parente

José Franklin de Paula da Silva

Os artigos assinados são de inteiraresponsabilidade dos autores, nãorepresentando, necessariamente, a

opinião do CFMV

Produção:

(61) 347 3501 - 9975 8350www.mmag.com.br

e-mail: [email protected]

Jornalista ResponsávelAntonio Marcello - MTb 11747

DiagramaçãoDivanir Jr. - MTb 4536/014/49v/DF

Page 5: Revista CFMV

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Revista do CFMV - O senhorse formou onde e em que ano?

Dr. Victor Alberto Crusius -Sou formado pela Escola deVeterinária da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, dePorto Alegre, em 20 de novem-bro de 1942.

Revista do CFMV - Como foiseu início na profissão?

Dr. Victor Alberto Crusius -Minha primeira experiência foino Exército Brasileiro, comoAspirante Veterinário – R2, no 3ºRegimento de Cavalaria Divi-sionário em Porto Alegre/RS, dejaneiro a março de 1943. Logoapós tive uma rápida passagempelas atividades Clínica eCirúrgica Veterinária em SãoLeopoldo, minha terra natal epela Inspeção de Carnes comofuncionário da Secretaria daSaúde, na cidade de Jaguarão –RS, isto até abril de 1944.

Revista do CFMV - E depois? Dr. Victor Alberto Crusius -

Fui ser sanitarista, ingressandona Secção de Defesa SanitáriaAnimal da Secretaria deAgricultura do Estado do RioGrande do Sul, em 14 de abril de1944, vindo a se constituir naminha grande missão como vete-rinário e cidadão.

Revista do CFMV - O senhorfalou em sanitarismo e missão.Nessa relação, como foi sua tra-jetória profissional?

Dr. Victor Alberto Crusius -Com muita honra, prestei minhacontribuição na estruturação eimplantação de um ServiçoSanitário Oficial em uma épocade muitas e compreensíveis difi-culdades administrativas e técni-cas, além das barreiras geográfi-cas que dificultavam os desloca-mentos pela falta de estradas.Porém, com o apoio de colegas eautoridades, os quais deixo denominá-los, pois num lapso deesquecimento posso praticarinjustiça, aliado à vontade deservir ao meu estado e de vencerna profissão, foi sendo colocadoem funcionamento o ServiçoOficial de Defesa Sanitária comosistema de proteção à saúde dorebanho gaúcho. Este trabalhopioneiro me permitiu conhecer ointerior do Rio Grande do Sul,onde permaneci de 1944 a 1959,como Inspetor Veterinário nosmunicípios de Itaqui, na fronteiracom a Argentina, São Franciscode Paula, na Região da SerraGaúcha, e Taquara e SãoLeopoldo, no Vale dos Sinos,sempre prestando serviços pro-fissionais à Defesa SanitáriaAnimal. Durante nossas ativida-des como inspetor veterinário, noperíodo de 1944 a 1954, tivemosque conviver com repetidos sur-tos de raiva, transmitida pelosmorcegos hematófagos, já que asvacinas anti-rábicas então exis-tentes, para uso em bovinos, nãoofereciam a imunidade desejadae os métodos de combate aos

ENTREVISTA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Uma vida dedicada à sanidade animal

O médico veterinário Victor Alberto Crusius,nasceu no dia 10 de agosto de 1919, na

cidade de São Leopoldo (RS), sua trajetóriaprofissional está repleta de feitos,

acumulados ao longo dos quase 50 anos deformado, dedicados à Medicina Veterinária,particularmente à Defesa Sanitária Animal.

Foi um pioneiro do sanitarismosulriograndense e brasileiro, participando de

maneira ativa e com espírito solidário dostrabalhos de combate à raiva desmodina,peste suína, hemoglobinúria bacilar dos

bovinos e febre aftosa. Além de ter sido, emtempos difíceis, um difusor da atividade

médico-veterinária, nos campos gaúchos.Participou também da estruturação eadministração do primeiro Projeto de

Combate à Febre Aftosa em caráternacional, iniciado pelo Rio Grande do Sul.

O dr. Victor pertence a um grupo deabnegados e competentes médicos

veterinários, cujo pioneirismo permitiulançar a semente que sustenta a importânciada Defesa Sanitária Animal na relação comos interesses sociais e econômicos da nação

brasileira como um todo.

Page 6: Revista CFMV

morcegos hematófagos eram poucoefetivos.

Revista do CFMV - Como isso erafeito?

Dr. Victor Alberto Crusius -Lembro que eram treinados guardassanitários para auxiliar no combate aotransmissor da raiva, que faziam revi-sões de furnas, cavernas, túneis, ocosde árvores, etc, com o objetivo deidentificar o morcego hematófago ecombatê-lo, usando a aspersão degasolina no interior das cavidades eateando foto. Muitos morcegos hema-tófagos morriam, porém, lentamente,também morriam muitos não hemató-fagos que conviviam nomesmo habitat e quedesempenham papelimportante no equilíbriodos ecossistemas. Maistarde, esteve no RioGrande do Sul, o Prof.Augusto Ruschi, queclassificou os morcegosexistentes no Estado esugeriu o uso da dina-mite, mais seguro, cujoestampido rompia ostímpanos dos morcegose os impossibilitavamde voar. Felizmente, em tempo a ciên-cia nos ofertou vacinas confiáveispara imunizar os animais e tambémprodutos antecoagulantes que eramaplicados de maneira seletiva nosmorcegos hematófagos que, pelohábito de se higienizarem através delambeduras, ingerem o antecoagu-lante e morrem. Sou testemunha doquanto o Estado acumulou em prejuí-zos causados pelo vírus da raiva equanto essas tecnologias vieram darrumo ao programa de combate àdoença, provocando que seu apareci-mento se tornasse raro.

Revista do CFMV – O senhor selembra de outros trabalhos?

Dr. Victor Alberto Crusius - Em1948, surgiu, no Rio Grande do Sul,um surto de Peste Suína Clássica e,nessa oportunidade, participamos deum trabalho montado pela Secretariade Agricultura, utilizando um severocontrole de trânsito, vacinação de ani-mais sadios e sacrifício dos animaisenfermos. Essas medidas nem sempreforam bem recebidas pelos suinocul-tores à época. Vale ressaltar como foiimportante a produção de vacinaspelo Instituto de Pesquisa VeterináriasDesiderio Finamor, pois permitiu quetodo o rebanho suíno do estado fosseimunizado. Hoje, minha satisfação éque a Peste Suína está ausente daqui,

positivamente erradi-cada. Em 1959, surgiuno município de SantoAntônio da Patrulha(RS) uma mortalidade debovinos. Como essemunicípio não tinhaainda a InspetoriaVeterinária, nos desloca-mos de São Leopoldo,visitamos alguns criado-res que afirmaram nãoterem perdido e nempossuir animais doentes.Após algumas visitas,

chegamos a uma propriedade onde ocriador estava sendo bastante prejudi-cado pela doença. Lá, encontramosum animal morto que foi necropsiado,sendo constatadas hemorragia gene-ralizada e cirrose hepática, quadroque jamais havíamos visto. Foi colhi-do material e enviado ao Instituto dePesquisas Veterinárias DesidérioFinamor (IPVDF), para diagnósticolaboratorial. Dias depois, um animalcom sintomas da doença, foi encami-nhado vivo ao Instituto. As lesõesencontradas, após sua morte, foram asmesmas do bovino anterior. Outrosbovinos foram encaminhados aoIPVDF, ocorrendo o mesmo quadro.A suspeita era de hemoglobinúria

bacilar. Mesmo sem diagnóstico labo-ratorial conclusivo, foram tomadasmedidas contra essa zoonose, utili-zando vacinas procedentes dosEstados Unidos, com bons resultados.Posteriormente foram empregadasvacinas elaboradas pelo próprioIPVDF, permitindo a vacinação dosbovinos em toda região e o estanca-mento da mortalidade. Foi gratifi-cante ver um trabalho tipicamenteinvestigatório ser solucionado peloServiço de Defesa Sanitária Animal,com a participação decisiva dos cole-gas da Regional, da estrutura de apoiodo estado e dos criadores.

Revista do CFMV - E quanto àFebre Aftosa?

Dr. Victor Alberto Crusius -Muitas foram as doenças que enfren-tamos como sanitaristas, porém aFebre Aftosa, por suas característicasdevastadoras, foi a que mais alteroue movimentou a estrutura de defesaanimal do Rio Grande do Sul e doBrasil. Bem antes do lançamentonacional do combate a essa virose, oDepartamento de Produção Animal,montou, no ano de 1943, em PortoAlegre, um laboratório para produ-ção da vacina contra a aftosa, utili-zando o método Waldmann, modifi-cado pelo Prof. Sílvio Torres, quetambém foi dirigente desse laborató-rio. Em 1963, o governo federal ins-tituiu normas para a CampanhaNacional contra a Febre Aftosa, cujoapoio legal veio através da LeiOrdinária nº 4891, de 9/12/1965. Oprimeiro estado a ser atingido foi oRio Grande do Sul. A evolução dostrabalhos já havia determinado que aSecção de Defesa Sanitária Animal,em fevereiro de 1965, criasse e desseinício à estruturação do Serviço deCombate a Febre Aftosa – Secofa,sendo realizado o cadastramento dosanimais sensíveis a doença, pormunicípio.

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ENTREVISTA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

A Febre Aftosa,por suascaracterísticasdevastadoras, foia que maisalterou emovimentou aestrutura dedefesa animal doRio Grande doSul e do Brasil

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Revista do CFMV - O que maisfoi feito na ocasião?

Dr. Victor Alberto Crusius - Foitambém constituída uma equipe téc-nica coordenadora da CampanhaAntiaftosa, composta por dois veteri-nários do Ministério da Agricultura edois da Secretaria da Agricultura doEstado do Rio Grande do Sul, com afinalidade de reforçar o entrosamentodos diversos segmentos envolvidosno combate à aftosa. Considero esseum momento histórico, pois foi ela-borado o primeiro plano de ação comvisão global e objetivos definidospara desenvolver e firmar uma cons-ciência sanitária, diminuir o númerode animais suscetíveis à aftosa, redu-zir a difusão da doença e desenvolverobservações epizotiológicas. Paraalcançar os objetivos do plano, pre-viu-se duas fases: uma preparatória,com atenção à estruturação adminis-trativa, divulgação de informações etreinamento de pessoal e outra de exe-cução da campanha de vacinação,controle de trânsito, combate a focos,estudos epidemiológicos, etc. A vaci-nação de bovinos era feita de quatroem quatro meses, em quinze áreaspreviamente estabelecidas.

Revista do CFMV - Quando foifeita a primeira vacinação?

Dr. Victor Alberto Crusius - Foirealizada em dezembro de 1965, emsete municípios da fronteira oeste doestado, utilizando calendário devacinação e prévio conhecimento decada criador. Vejo o quanto impor-tante foi esse momento, quandorecordo dos surtos de febre aftosaque presenciei e os graves prejuízosque acarretaram ao estado e ao país,na comparação com o estágio em quevivemos agora, de quase ausência dadoença, da erradicação tão desejada,cujas raízes estão fincadas em atitu-des fortes como a estruturação de umserviço de defesa sanitária animal

com visão nacional, na qualificaçãoda vacina em 1979, na contribuiçãodo Centro Panamericano de FebreAftosa como órgão estratégico e areestruturação do programa com oestabelecimentos de áreas de risco,recentemente. Exalte-se aqui aimportância da Medicina Veterinária,como a ciência responsável pelaSaúde Animal e do médico veteriná-rio como agente de desenvolvimentode um País com responsabilidadeglobal no abasteci-mento de alimentos e napreservação de suanatureza produtiva. Em1964, tive uma expe-riência bastante honrosae enriquecedora comoprofessor titulado dadisciplina de Fisiologiados Animais Domés-ticos e Biofísica, daFaculdade de MedicinaVeterinária da Univer-sidade Federal deGoiás. Em 1965, retor-nei a Secretaria de Agricultura doRio Grande do Sul, onde fui chefe doServiço de Combate à Febre Aftosa,lá permanecendo até 1971.

Revista do CFMV - Como o senhortem acompanhado a Defesa SanitáriaAnimal Brasileira?

Dr. Victor Alberto Crusius -Primeiro, considero o potencial doBrasil no que diz respeito à produ-ção de carnes em posição vantajosaquanto às qualidades sanitárias, ali-mentares, de manejo e genéticos doseus rebanhos. Os recentes surtosde Encefalite Espongiforme Bovinana Europa, foram bem resolvidos noenfrentamento com o Canadá e istodemonstra nossa qualidade técnica epolítica na defesa dos interesses doPaís. A Febre Aftosa, na Inglaterra,parece ter ocorrido por falhas naVigilância Sanitária e isto parece

indicar que o produto brasileiro –apesar dos focos de Febre Aftosaocorridos no Rio Grande do Sul,que mascararam a trajetória da erra-dicação da doença – continua aconstituir-se numa fonte apreciadapara alimentar as populações domundo com a nobre proteína ani-mal. Isto significa que nossa organi-zação interna está, aos poucos, setornando mais integrada e competi-tiva. O maior entrave às exportações

de nossas carnes, re-sume-se num artifícioutilizado por outros paí-ses produtores, os sub-sídios, que provocamconcorrência deslealaos nossos produtos.

Revista do CFMV -Qual seria sua mensa-gem aos médicos veteri-nários?

Dr. Victor AlbertoCrusius - A MedicinaVeterinária, nos dias

que correm, atingiu um tal grau dedesenvolvimento, quer no que dizrespeito aos equipamentos que a tec-nologia pôs a disposição do profissi-onal, quer pelo seu elevado grau deconhecimento e cultura científica,adquiridos em tão curto prazo, dei-xando a nós, veterinários da primeirametade do século passado, surpresose, porque não, vaidosos pela nossaescolha profissional: ser veterinário!Aos colegas, em especial aos queousarem abraçar o sanitarismo, cabe-lhes lidar com e para o ser humano,transferindo-lhe conhecimentos so-bre o comportamento, a prevenção eo bem estar dos animais, fazendo aalegria de seus donos e a riqueza dopaís. Nas dificuldades, busquemforças compartilhando do olhar e dahumildade dos animais, que o resul-tado será um mútuo sentimento deagradecimento.

ENTREVISTA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Aos colegas, emespecial aos queabraçaram osanitarismo,cabe-lhes lidarcom e para o serhumano,transferindo-lheconhecimentossobre ocomportamento eo bem estar dosanimais

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OPINIÃO

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Preocupam-nos, sobremaneira,teses que chegam ao nosso conheci-mento propondo um impertinenteordenamento de procedimentos, umapretensa nova metodologia de traba-lho para a inspeção higiênico-sanitá-ria e industrial dos produtos deorigem animal. Tal iniciativa, se nãoanalisada de forma isenta e com pro-fundidade, levando em consideraçãoa história do Serviço de InspeçãoFederal e seu papel preponderante na

defesa da saúde pública e da econo-mia nacionais, poderia conquistaradeptos, os menos avisados e, princi-palmente, o que seria pior, sensibili-zar autoridades públicas, mormenteneste instante político que o país vive,face a agradável sugestão para que oMinistério da Agricultura cumpra suamissão, seu poder de polícia, sem oscustos e ônus que a atividade exige.

A inspeção sanitária dos produtosde origem animal, em razão da suacomplexidade, responsabilidade eenvolvimento com as áreas de saúde e

Inspeção sanitária e industrial dos produtos de origem animal

(controle oficial – sanitário e tecnológico)

Jessy Antunes GuimarãesMédico Veterinário, CFMV nº. 0191Rio de Janeiro - RJ

José Christovam SantosMédico Veterinário, CRMV/SP nº. 0017São Paulo - SP

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OPINIÃO

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

econômica, não pode se sujeitar aalterações ocasionais. Se algo existeque requeira modificação, dada aamplitude dos conhecimentos indis-pensáveis à tarefa, so-mente após judiciosos epormenorizados estudos,elaborados por especia-listas em diferentes cam-pos da Medicina Veteri-nária, é que se indicariaum novo modelo, se estefor o caso.

Porque, como exter-naremos no curso destaexposição, é imperiosa anecessidade de se pre-servar os fundamentos eas peculiaridades dosprocedimentos e práticas da legisla-ção reguladora, os quais tem demons-trado, desde o início do século pas-sado, pela sua indiscutível dimensãotécnico-científica, de espectro univer-sal, que visam exclusivamente o inte-resse público.

Não podemos, pois, deixar deregistrar a nossa posição quando nosdeparamos, mais uma vez, com pro-postas tidas como panacéias, salvado-ras de situações eventuais de naturezapolítico-administrativa pelas quaispassa o órgão máximo de inspeção.Apresentamos, assim, os nossos co-mentários, alinhando sugestões e, so-bretudo, justificando o nosso ponto-de-vista com o objetivo declarado detentar inibir o proselitismo contido natese, ora sujeita a nossa crítica, qualseja a da privatização das ativida-des executivas da Inspeção Federal,incluindo aquelas ligadas à inspeção"ante" e "post-mortem".

O controle oficial, sanitário e tec-nológico, dos produtos de origem ani-mal no Brasil não é uma atividadenova. De fato, ele foi objeto de regu-lamentação, pela primeira vez, nosidos de 1915 (Decreto 11.462/15),mas, realmente, tomou corpo em 1921

com a criação, no então Serviço daIndustria Pastoril do Ministério daAgricultura, da Seção de Carnes eDerivados e da Seção de Leite

e Derivados (Decreto14.711/21) e com oadvento de um disposi-tivo amplo para a inspe-ção de carnes: asInstruções para Regerema Inspeção Federal deFrigoríficos, Fábricas eEntrepostos de Carnes eDerivados (Portaria Mi-nisterial de 30/11/1921).

Em 1928, estas Ins-truções foram revistas ereceberam mais detalha-mento; não somente

quanto a técnica e julgamento da ins-peção sanitária, mas também de medi-das de higiene, de controle bromatoló-gico e de orientação tecnológica.

Em 1934, a Inspeção Federal dosProdutos de Origem Animal, já ama-durecida no exercício de sua missão,era dotada de novos regulamentosespecíficos para carnes e derivados(Decreto 24.550/34) e para leite ederivados (Decreto 24.549/34), disci-plinando os procedimentos da inspe-ção e os padrões físico-químicos, bro-matológicos, sanitários e tecnológicosda carne e do leite e seus derivados.Estes regulamentos estabeleciambases seguras e alicerçaram uma ativi-dade que já granjeara, no Brasil emesmo no exterior, sólido conceitotécnico-científico e moral e que já seconstituía num dos mais expressivosfatores do melhoramento do padrãode qualidade sanitária e tecnológicada produção e das posturas técnicasdo parque industrial brasileiro dogênero.

Em 18 de Dezembro de 1950,surge a lei básica, Lei 1283/50, regu-lamentada pelo Decreto 30.691, de 29de Março de 1952. Este, por sua vez,aprovou o Regulamento da Inspeção

Industrial e Sanitária de Produtos deOrigem Animal (RIISPOA), que veioa ser revisto pelos Decretos 30.693/52e 1.255/62 e mais, contemporanea-mente, pelos Decretos 1.236/94,1812/96 e 2244/97. Estes três últimosdecretos foram resultados dos acordosmultilaterais ocorridos no âmbito doMercosul.

A Lei 1283/50 e o RIISPOA, con-sagrando uma experiência bem suce-dida dos 35 anos anteriores, consoli-davam a legislação específica de pro-dutos de origem animal, porquanto,após rever, ampliar, atualizar e aper-feiçoar as regulamentações isoladasda inspeção de carnes e da inspeçãode leite, reunificavam-nas e a elasenglobavam as novas atividades daárea: a do pescado, de ovos e de mel ecera de abelhas.

É de se assinalar que, ao consoli-dar essa legislação, em termos especí-ficos de produtos de origem animal,no tocante a sua inspeção higiênico-sanitária, o Brasil também consolida-ria a sua determinação de manteresses produtos destacados dos demaisque integram a gama dos produtos ali-mentícios.

De outra parte, a qualidade dospreceitos dessa regulamentação a parda seriedade observada na sua aplica-ção, tem sido, indubitavelmente,poderoso fator da irrestrita confiança,do prestígio e da crescente aceitaçãodo produto nacional no mercadoexterno. A legislação e o sistema bra-sileiro de inspeção têm sido mesmoobjeto de recomendação de organis-mos internacionais. Sem dúvida, istovem demonstrar o valor e a contem-poraneidade dessa legislação apesarde alguma justificável defasagemobservável, por vezes, em pormenoresdo seu detalhamento técnico, conse-qüente ao dinamismo científico-tec-nológico que tem caracterizado osetor, e do sério vício quanto à abran-gência política, conferindo aos esta-

A legislação e o

sistema

brasileiro de

inspeção têm

sido mesmo

objeto de

recomendação

de organismos

internacionais

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OPINIÃO

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

dos e municípios autonomia de atua-ção sem qualquer vinculação ou res-peito a um organismo superior. Nestecaso, se persistir o desinteresse dasautoridades públicas, do Executivo edo Legislativo, em equacionar estagrave distorção e injustiça, imperiosa-mente exigir-se-á a intervenção doMinistério Público de forma maiscontundente e em todo o territórionacional.

Finalmente, quanto aos diplomaslegais que regeram, e ainda regem, asatividades de inspeção sanitária, obri-gatório se faz enfatizar que atéDezembro de 1971, e desde – repeti-mos – 1950, esteve em vigência a Lei1.283, de 18 de Dezembro de 1950,que fixava a obrigatoriedade do exer-cício da inspeção sanitária e industrialdos estabelecimentos de produtos deorigem animal.

Os Governos Federal, Estaduais eMunicipais, como falamos acima,dividiam autonomamente a responsa-bilidade de execução da lei: nocomércio de âmbito interestadual einternacional era competente paraaplicá-la o Governo Federal; no muni-cipal as Prefeituras Municipais; nointermunicipal, os Governos Esta-duais. Contudo, sem qualquer conota-ção discriminatória eanti-federativa, o Gover-no Federal foi inquestio-navelmente o único aexercer com eficiência amissão do cumprimentodos postulados e diretri-zes inseridos na citada leie seu regulamento.

Os estados e os muni-cípios não cumpriram oucumpriram muito mal osmandamentos daquelalei sanitária. Poucosdeles, na verdade, estru-turaram os seus serviços específicos.E, quando fizeram,o seu desempenhofoi muito precário.

Esse comportamento, profunda-mente heterogêneo dos componentesdo organismo responsável pela sani-dade dos produtos de origem animal,ensejou, podemos dizer,em linha direta, o apare-cimento e o desenvolvi-mento de estabelecimen-tos de qualificação téc-nica igualmente hetero-gênea.

Com efeito, sob ocontrole do GovernoFederal, formou-se umaindústria selecionada deacordo com os padrõestécnicos ditados pelo seuórgão sanitário. Decaracterísticas verdadei-ramente empresariais, esta indústriacom o passar dos anos evoluiu de talforma que veio alcançar os melhorespadrões internacionais. O aproveita-mento da matéria-prima e a qualidadeda produção atingiram níveis corres-pondentemente elevados, seja pelaalta qualificação técnica dos estabele-cimentos, seja pela eficiência do con-trole sanitário e tecnológico federal.

Infelizmente, sob a responsabili-dade dos estados e municípios, multi-plicou-se, pela ausência e/ou fragili-

dade dos seus órgãossanitários específicos,uma vasta gama denumerosos estabeleci-mentos de baixíssimopadrão técnico-higiê-nico. Trabalhava-se naspiores condições opera-cionais e higiênicas e aprodução irremediavel-mente comprometidapela deficiência domeio-ambiente e agra-vada pela nominalidadedo indispensável con-

trole oficial era entregue liberalmenteao consumo público, expondo a popu-lação a numerosos e sérios riscos.

Neles malbaratavam-se e relegavam-se ao desperdício preciosas matérias-primas de alto valor biológico e eco-nômico, como os sub-produtos não-

comestíveis , que, ainda,à falta do devido apro-veitamento, acarretava apoluição dos arredores,dos cursos d’água e dopróprio local de traba-lho. Diante de um con-trole sanitário mera-mente cartorial, as esta-tísticas de produção sefaziam comumente frau-dadas ou inexistiam,dando margem a vulto-sas sonegações tributá-rias, ensejando concor-

rência desleal e desigual à indústriacontrolada.

Esse estado de coisas resultou napromulgação, em 1971, da Lei 5760,de 03 de Dezembro, que veio a serpopularizada, face o seu alcancepúblico, pelo nome de Lei da Fede-ralização.

Sua implantação, criteriosa e gra-dativa, produziu, de pronto, uma sériede notáveis e comprovados resultadosnas áreas sanitária, econômica, sociale fiscal. Num cotejo objetivo, é indis-cutível que o mais relevante foi obtidono campo sanitário, alvo principal dalei. Com a Federalização, a populaçãobrasileira passou a consumir em 1977,73,9% da carne bovina e 83,7% dacarne suína inspecionadas. Dados dig-nos de qualquer país incluído no roldos humanamente desenvolvidos.

O programa da Federalização, deextraordinária amplitude, mas denatureza restritiva (inúmeros estabele-cimentos foram interditados) quantoàs suas exigências higiênicas e técni-cas e de objetivos saneadores, mora-lizadores, atingiu e contrariou inte-resses políticos (subalternos) e situa-ções econômicas (anacrônicas),sofrendo, por isso, como era natural,

O aproveitamentoda matéria-primae a qualidade daproduçãoatingiram níveiselevados, sejapela altaqualificaçãotécnica, seja pelaeficiência docontrole sanitárioe tecnológico

Sua implantação,criteriosa egradativa,produziu, depronto, uma sériede notáveis ecomprovadosresultados nasáreas sanitária,econômica, sociale fiscal

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críticas; enfrentou, portanto, ferre-nhos opositores e se deparou comsérios percalços.

Tendo em vista esses interessescontrariados e a exacerbação dessascríticas, o processo passou por umgrande hiato para, posteriormente, vira ser completamente encerrado pelarevogação da lei que lhedava amparo.

A Lei 7889, de 23 denovembro de l989,devolveu aos Estados eDistrito Federal, e tam-bém aos Municípios, aresponsabilidade da ins-peção sanitária dos pro-dutos de origem animal,permanecendo com oGoverno Federal a com-petência para a inspeçãodesses mesmos produtosquando comercializadosinterestadual e internacionalmente.

Em razão desse novo diploma e danão ou inadequada estruturação dosserviços estaduais e municipais espe-cíficos, hoje, em essência, a situaçãonão difere do "status quo" vigenteantes da lei da federalização. E maisainda com o grau dos comprometi-mentos agravado, em detrimento dobom nome do país e da sua economia,da segurança sanitária da população edos esforços de ampliação e moderni-zação do parque industrial controlado(um dos mais qualificados do mundo).

Menos lamentável, foi que a Lei7889 não revogou a l283/50, portantoo seu regulamento, o vetusto RIIS-POA, permanece vigindo, reafir-mando a todo o momento, a sua exce-lência no que tange aos seus funda-mentos, caracterizados, sobretudo,pela especificidade de controle inde-pendente dos demais alimentos, obri-gatoriedade da prévia e permanente-mente inspeção e,o que é muitíssimoimportante, a preservação aos orga-nismos oficiais do nobre mister da

execução da inspeção industrial esanitária dos produtos de origem animal.

Por oportuno, exige-nos as cir-cunstâncias, a abordagem desses fun-damentos.

As particularidades dos produtosde origem animal obrigam o seu

controle prévio, nos pró-prios estabelecimentosprocessadores, e, numaboa parte deles, de cará-ter rigorosamente per-manente. Tal controle,por sua natureza restri-tiva, revela-se uma ativi-dade de caráter essen-cialmente oficial, abso-lutamente indelegável.

Pelas suas própriascondições, os principaisprodutos, como a carne,o leite e o pescado, só

terão efetivamente as probabilidadesde uma sanidade garantida se foremobjeto de atentos e pormenorizadosexames, não só em todas as fases do processamento industrial, comonaquelas que imediatamente o antece-dem e sucedem. Isto, evidentemente,não implica na ausência de responsa-bilidade por parte das firmas proprie-tárias ou arrendatáriosdos estabelecimentosque, conseqüentemente,devem obrigar-se por leie regras, editadas peloórgão oficial compe-tente, a manterem umeficiente controle dasua produção industrial (por que não introduzir –aí sim – o sistema decontrole de qualidadeconhecido como APPCC– Análise de perigos epontos críticos de con-trole?).

Porquanto – é particularmenteimportante a ênfase –, somente com

semelhante procedimento soem sernormalmente constatado o real estadodo produto ou sumariamente elimina-das anormalidades sanitárias, mesmasas ocasionais. Nessas oportunidades,que é dado circunstancialmente dis-por do conjunto de elementos indis-pensáveis para se chegar àquelasconstatações.

A detecção dessas anormalidadesnão seria possível sem essas condi-ções, a não ser em certos casos, toda-via de forma imprecisa e imperfeita.

A inspeção sanitária dos produtosde origem animal é matéria difícil ecomplicada. No entanto, concen-trando o nosso enfoque em apenaspoucos aspectos procuraremos, aseguir, evidenciar de forma prática oquanto é importante o trinômio prévia– permanente – oficial.

Como é sabido, os animais deaçougue estão sujeitos a uma série depatologias, muitas delas das maisgraves, em grande número transmissí-veis ao homem pela ingestão oumanuseio das carnes e de outraspartes do animal. São as transmissí-veis ao homem, as ditas zoonoses,hoje contadas em número superior a150; as demais, embora não transmis-síveis ao consumidor por um hospe-

deiro animal, podem lhecausar problemas desaúde (toxinfecções, porexemplo), alteram avalor alimentício e acapacidade de conserva-ção das carnes e acarre-tam-lhe condições apa-rentes ou subjetivas derepugnância, igualmentefatores de restrição e derejeição.

Doenças e afecções,apenas para citar as maiscomuns, como a tuber-

culose ativa e a cisticercose (zoono-ses), icterícias (carnes tóxicas erepugnantes), doenças animais res-

Os animais deaçougue estãosujeitos a umasérie depatologias, emgrande númerotransmissíveis aohomem pelaingestão oumanuseio dascarnes e deoutras partes doanimal

Os principaisprodutos, como acarne, o leite e opescado, só terãoefetivamente asprobabilidadesde uma sanidadegarantida seforem objeto deatentos epormenorizadosexames

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ponsáveis por intoxicação alimentareshumanas, doença crônica respiratóriadas aves (carnes insuficientes e repug-nantes) e processos neoplásicos(carnes repugnantes e de efeito duvi-doso para a saúdehumana), bem comooutras da casuísticasanitária rotineira nosestabelecimentos deabate brasileiros, sobInspeção Federal, res-pondem pelas conside-ráveis rejeições de ani-mais abatidos sob a cita-da Inspeção. Essasdoenças, sem a inspeçãosanitária, dificilmenteseriam detectadas e esta-riam assim com livretrânsito, pondo em risco a saúde doconsumidor.

Tais doenças só podem ser práticae objetivamente surpreendidas e iden-tificadas mediante os exames combi-nados "ante" e "post-mortem"do ani-mal, este último, o "post-mortem", nodecorrer das operações do abate dosanimais na sala de matança, quandosão minuciosa e conjugadamente ins-pecionados víscera por víscera, órgãopor órgão e carcaça por carcaça. É sóexclusivamente com os resultados dasconstatações, nesses exames, executa-dos por equipes especializadas demédicos-veterinários e auxiliares téc-nicos oficiais, é que se tem a oportu-nidade, por sinais ditos patognomôni-cos e lesões ou achados orgânicos, defirmar-se um diagnóstico e um julga-mento de caso por caso e dar-se logoo destino às carnes. À falta dessesexames, nos precisos momentos doprocessamento industrial, muitasdaquelas perigosas doenças e afec-ções, chegariam com facilidade aoconsumidor. E assim aconteceria, semoferecerem sequer condições de sus-peita, quando no consumo, porque,muitas das vezes, já aí estariam fal-

tando, nas carnes, os elementos apa-rentes ou os indicadores da anormali-dade, alguns deles passíveis de seremdeliberadamente, sem ou com má-fé,eliminados.

Os procedimentosdos exames "ante" e"post mortem" consti-tuem a rotina clássicada inspeção de carnes,de prática universal ematéria compulsória daslegislações sanitárias edos compêndios espe-cializados sobre a sani-dade e a tecnologia dascarnes e derivados. Efalar em rotina de inspe-ção de carnes é, obvia-mente, falar em inspe-

ção permanente.Igualmente, há de se destacar a

irrecusável importância do controlehigiênico-sanitário, em caráter perma-nente, do leite. De fato, também oleite é susceptível de transmitir aoconsumidor, dentre outras doençascomo a tuberculose, brucelose, cólera,colibacilose, difteria, hepatite infec-ciosa, leptospirose, listeriose, febrestifóide e paratifóide, gastroenteritesestafilocócicas e infecções estreptocó-cicas. Além disso, está sujeito a frau-des, adulterações e a contaminações,estas últimas em razão do inadequado,as vezes inescrupuloso, tratamentoque recebe, especialmente na suaobtenção e, também, nas fases deindustrialização.

Em algumas regiões do país, ascondições de captação do leite sãoparticularmente deficientes pela faltade higiene e o empirismo, obrigando,necessariamente, nos estabelecimen-tos industriais, uma redobrada vigíliasensorial e laboratorial na inspeção deplataforma.

Contudo, vale ressaltar, que para amelhoria da qualidade do leite de con-sumo, há extrema necessidade de uma

conjugação de esforços dos demaisórgãos e entidades ligados, direta eindiretamente, ao setor leiteiro, usan-do orientação técnico-higiênico-sani-tária e apoio creditício ao produtorrural. Não será a atividade de inspe-ção, isoladamente, por mais eficaz ejudiciosa, que garantirá ao leite asqualidades que lhe são inerentes.

Poderíamos continuar narrando,também, inúmeros casos de patolo-gias, fraudes e adulterações, cono-tando-as com a obrigatoriedade dainspeção prévia, permanente e oficial,na área do pescado, do mel e demaisprodutos da colméia. No entanto, paranão nos alongarmos, cabe-nos,somente, aduzir que, além da inspe-ção mandatória, mais do que nuncatorna-se evidente, nesse campo dosprodutos de origem animal, que a par-ticipação da área privada – a parceriatão decantada –, compulsoriamente,deve coadjuvar os processos de con-trole higiênico-sanitário adotando-se,se esta for a melhor opção, o sistemaAPPCC. Parece-nos que este foi ocaminho escolhido pelos ilustres ebrilhantes colegas que atuam no setor.

Voltando ao controle sanitário dacarne, vale acrescentar que o Brasilpode se orgulhar de possuir um dosmais reconhecidos serviços de inspe-ção, monitorado por freqüentes visitasde missões veterinárias estrangeiras, euma das mais sábias legislações, em-bora reconhecemos a necessidade decerta atualização.

Há a considerar, resumimos, queos produtos de origem animal são, emdeterminadas condições, verdadeirosmeios de cultura ao desenvolvimentode germes carreados pelos agentes decontaminação, entre os quais, alémdaqueles responsáveis pela deterio-ração, podem se fazer presentes, tam-bém , os patogênicos, como frisamosa pouco. Aliam-se ainda outros fatoresque desafiam constantemente a acui-dade da inspeção e requerem aperfei-

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O Brasil pode seorgulhar de possuir um dosmais reconheci-dos serviços deinspeção, monitorado por freqüentes visitasde missões veterináriasestrangeiras

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çoamento técnico-científico perma-nente dos profissionais que nela labu-tam. São estes fatores (1) a própriacomposição dos referidos produtos,basicamente hídrico-proteico-lipídica,sensível à ação fragmentadora e dete-rioradora de uma multiplicidade deenzimas autóctones (proteinases, lipa-ses, hidrogenases, catalases, peroxi-dases, etc) e à atuação enzimática bac-teriana, (2) o pH favorável à açãodesses germes e enzimas e (3) maismodernamente a constatação dos resí-duos químicos e biológicos que aci-dental ou propositalmente tambémousam estar presentes nos produtosanimais.

Aliás, são estas con-dições que fazem dosprodutos de origem ani-mal particularmente dife-rentes e, sobretudo, maisexigentes do ponto devista higiênico-sanitário.Este entendimento égeneralizado, universal.

Para reforçar, de vez,esta assertiva, bastarialembrar os nefastos efei-tos da cisticercose cere-bral humana, conformeatestam os nossos institutos especia-lizados.

Ora, tudo que procuramos aquiexplicitar, referente às ações práticas eprocedimentos higiênicos sanitários,técnicos e científicos, trata-se , única eexclusivamente, de Saúde Pública;logo, por via de conseqüência, é tare-fa, obrigação e dever do governo, oque acontece em qualquer país domundo, quer nos em desenvolvi-mento, quer, mormente, nos desenvol-vidos.

Esta afirmação, é bom que escla-reçamos, não envolve quaisquerdúvidas quanto ao desempenho pro-fissional e à conduta ética dos médi-cos veterinários que operam na áreaprivada, na produção industrial, no

controle de qualidade, em consultoriae na assistência técnica, como autô-nomos ou vinculados a empresas.Mas, o que não poderia ser diferente,esta matéria encontra-se perfeita-mente definida na ConstituiçãoFederal, logicamente por ser a saúdeum dos mais lídimos direitos docidadão, como de competência doEstado.

Quando nos referimos aos princí-pios do SIF (Serviço de InspeçãoFederal), não estamos defendendouma postura corporativista e sim pro-curamos desinteressadamente defen-der uma atividade que tem na saúde

pública o seu principalobjeto que, indubitavel-mente, induz a necessi-dade, intrínseca, doexercício do poder depolícia.

O Poder de PolíciaSanitária é intransferívele indelegável a particu-lares. Sem poder de polí-cia não se realiza, não seexecuta a atividade ad-ministrativa em umórgão fiscal do PoderPúblico.

Transferir por lei, por convênios,por credenciamento, ou por quaisqueratos legislativos ou administrativos, aparticulares, atividades que são ine-rentes à natureza do Poder Público,além de afronta irreparável e inadmis-sível aos mandamentos legais e cons-titucionais é subverter a estruturanatural do Estado.

Romper a estrutura do Estado,assegurada em princípios e dispositi-vos constitucionais, com eventualtransmutação da inspeção e fiscali-zação industrial e sanitária dos produ-tos de origem animal à área privada,significará simplesmente a sua extin-ção, advindo, como conseqüênciaimediata e efeitos tácitos e reais, ocaos na saúde pública.

Cumpre-nos, destarte, esclarecerque os comentários supra procuraramesclarecer a imprescindibilidade dainspeção prévia, permanente e ofi-cial, enaltecendo a história da institui-ção federal fiscalizadora e os princí-pios e fundamentos da legislaçãovigorante, suas disposições técnicas ecientificas, não estando inserida, nemsubentendida, nenhuma apologia aoÓrgão naquilo que ele possui de errosestratégicos, estruturais e administra-tivos. Também, não exime de críticasa Lei 1.283/50, ratificada pela Lei7.889/89, no que diz respeito à distri-buição de competências às diferentesesferas do Poder (federal, estadualmunicipal), autonomamente, semnenhuma hierarquização ou interde-pendência.

São estas as considerações quenós, Jessy Antunes Guimarães eJosé Christovam Santos, médicosveterinários, inspetores e tecnolo-gistas de produtos de origem ani-mal, egressos do Serviço deInspeção Federal, trabalhando, hoje,na iniciativa privada, como consul-tores, achamos de inadiável oportu-nidade e do nosso indeclináveldever de tecê-las. Ao fazermosjamais deixamos de nos preocuparque, acima de tudo, fossem fidedig-nas, sinceras e judiciosas com ointuito de colaborar e deixar claroque o Estado, mesmo o dito moder-no, deve possuir regras cristali-nas,precisas, para cumprir seu papelque, por óbvio, é de execução ape-nas dele, evidentemente, quando osentido for o interesse público.Mudar somente por mudar, por sernecessidade, está muito em voga.Rejeitar a história de uma institui-ção para não receber o rótulo de tra-dicional não é correto, muito menosinteligente. Antes, preferimos ficarcom o pensador Jorge Luiz Borgespara quem "as novidades importammenos que a verdade".

Romper aestrutura doEstado, comeventualtransmutaçãoda inspeção efiscalização dosprodutos deorigem animal àárea privada,significarásimplesmente asua extinção

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Nos últimos anos, pode-se obser-var uma crescente preocupação dedirigentes e técnicos que atuam nosCentros de Controle de Zoonoses dopaís com referência às questões sobreeutanásia animal. O tema, embora jámuito discutido anteriormente, sem-pre foi direcionado aos médicos vete-rinários com atuação em clínicamédica, restringindo o assunto àsquestões éticas e ao papel do profis-sional na indicação da eutanásia eposicionamento moral junto aos pro-prietários.

Por se tratar de um assunto polê-mico e pouco abordado na grade cur-

ricular da maioria dos estabelecimen-tos de ensino veterinário no Brasil, aquestão nunca foi amplamente deba-tida, tampouco houve normatizaçãosobre tais ações, o que ocasionou umadiversidade imensa de métodos e pro-cedimentos, por vezes altamente con-denáveis, em muitas das instituiçõesdo país. Esta situação nos colocafrente à necessidade urgente de expla-narmos o assunto de modo técnico erealista, para que ao menos, sejaminterrompidas as ações irregularesque colocam em questionamento, nãosó a qualificação dos profissionaisque as executam, bem como o res-peito dado às espécies animais sob osnossos cuidados.

Eutanásia animal em centros de controle de zoonoses

Francisco Anilton Alves AraújoMédico Veterinário, CFMV nº. 0540Fundação Nacional de Saúde –FUNASABrasília - DF

Antonio Carlos CoelhoFigueiredoMédico Veterinário, CRMV/SP nº. 6405Divisão Regional de Saúde deCampinas – DIR XII / S.E.S. Campinas - SP.

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EUTANÁSIA ANIMAL

Quando se aborda o termo eutaná-sia animal em Centros de Controle deZoonoses, de imediato a grande maioria dos profissionais o relacionaao controle populacional de caninos e felinos domésticos.Desde muito tempoexiste a consciência quea morte de animais emCentros de Controle deZoonoses, por si só, nãoé um mecanismo efi-ciente na regulação dapopulação dos mesmos,cabendo ao poder públi-co, em conjunto com asociedade civil, propormedidas adjuvantes aeste controle, as quaisquando empregadas iso-ladamente também não solucionam oproblema da superpopulação.

Lamentavelmente, tanto no Brasilcomo em outros países mais desen-volvidos, existem pessoas que nãoassimilam o conceito da posse res-ponsável de um animal, provocandoaumento na população de animaisvadios, e alto índice de eutanásia nosabrigos de animais. Segundo Beaver(1999), para cada 415 bebês nascidosnos EUA, há cerca de 2.000 a 3.000filhotes de cães e gatos, o que signi-fica que para se manter a populaçãoestável, 60.000 animais deveriammorrer por dia; embora as estatísticasexistentes não sejam exatas, estima-seque sejam mortos nos abrigos de ani-mais e canis públicos nos EUA algoentre 4 e 9 milhões de cães todos osanos. As causas para a superpopula-ção canina são numerosas e comple-xas, mas de modo geral, o excesso deanimais significa uma relação inver-samente proporcional entre o númerode animais nascidos e a disponibili-dade de lares para os mesmos. Umaúnica cadela, em fase de reprodução,

pode originar direta ou indiretamente67.000 cães num período de 6 anos,de acordo com publicações deThornton (1992, 1993).

Esta superpopulação animal levaconseqüentemente a umaumento de cães vadios(ou errantes, conformedenominação regional)nos meios urbanos erurais, onde o termovadio é definido, segun-do Coman (1989), comoo cão doméstico erranteque recebeu liberdadenão supervisionada paravagar, em uma baseregular ou intermitente.A partir de uma avalia-ção superficial, conclui-

se que a maioria dos cães que se tor-nam vadios é decorrente do trata-mento irresponsável por parte de seusproprietários.

Cães vadios acarretam muitostranstornos para a sociedade, ocasio-nando problemas de saúde pública,incômodos, acidentes por mordedu-ras, acidentes de trânsito, desequilí-brio ecológico de uma região quandose tornam predadores de animais sil-vestres, ou simplesmente pela sujeiraque ocasionam, derrubando latas delixo e depositando seus dejetos noambiente.

Dentre os cães e gatos direciona-dos a abrigos de proteção nos EUA,somente uma pequena quantidadedestes animais é resgatada por seusproprietários ou recolocada em novasresidências. De acordo com Moulton(1991), cerca de 66% dos animaisencontrados nestes abrigos são sub-metidos à eutanásia, e a SociedadeMundial para Proteção dos Animais(Word Society for the Protection ofAnimals) recomenda métodos huma-nitários para a morte destes animais

não resgatados ou não passíveis deadoção.

Além do grupo de animais acimaidentificados, freqüentemente os pro-fissionais atuantes junto aos Centrosde Controle de Zoonoses são solicita-dos para eliminar animais portadoresde patologias incuráveis, ou animaisperigosamente agressivos, ou aindaanimais cujos proprietários querem sedesfazer dos mesmos. É óbvio quenenhum profissional médico veteriná-rio gosta de realizar tal procedimento.A eutanásia é sem dúvida alguma, umdos aspectos mais tristes e desagradá-veis da profissão, porém o médicoveterinário não pode se eximir da res-ponsabilidade deste procedimento,delegando o mesmo a funcionários outécnicos não capacitados. Há que seter em mente que a indicação do pro-cedimento da eutanásia, bem como aescolha do método a ser aplicado é deresponsabilidade exclusiva de ummédico veterinário.

O termo eutanásia deriva dogrego, onde eu significa boa e thana-tos significa morte; portanto, eutaná-sia significa boa morte, ou mortehumanitária, misericordiosa.

Em sua mais recente publicaçãosobre o tema, a Associação Ameri-cana de Medicina Veterinária –American Veterinary Medical Asso-ciation (2001), considera que a mortehumanitária de animais deve seraquela que ocorre com o mínimo dedor e estresse possíveis. E é nestecontexto que nós temos a responsabi-lidade de assumir, como profissionaismédicos veterinários e como sereshumanos que somos, que se a vida deum animal está para ser tirada, queseja feito com o mais alto grau de respeito ao animal sob os nossos cuidados.

Desta forma, as técnicas de euta-násia devem resultar na rápida perda

Há que se ter emmente que aindicação doprocedimento daeutanásia, bemcomo a escolhado método a seraplicado é deresponsabilidadeexclusiva de ummédicoveterinário

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EUTANÁSIA ANIMAL

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de consciência, seguida de paradacardíaca e/ou respiratória, e por fimda perda da função cerebral. Paralela-mente a isto, o médico veterináriodeverá optar por procedimentos queminimizem o estresse e a ansiedadeque ocorrem anteriormente à perda deconsciência do animal.

Não existe neste trabalho a inten-ção de induzir o profissional médicoveterinário a acreditar que exista ummétodo de eutanásia totalmente isen-to de dor e estresse ao animal. Cabeao médico veterinário – e somente aele – encontrar um equilíbrio entre osmétodos disponíveis e as condiçõesapresentadas em seu local de traba-lho, levando em consideração tam-bém a espécie animal a ser submetidaà eutanásia, bem como suas condi-ções sanitárias e o número de animaisa ser submetido ao procedimento.

Segundo Hatch (1987), uma euta-násia ideal é aquela cujo método ouagente escolhido atenda aos seguintescritérios:

Não deve provocar ansiedade,comportamento de medo, luta, vocali-zação, espasmos musculares ou sinaisclínicos de ativação autonômica.Nenhum destes sinais deve ser desen-cadeado pelo método de contençãoescolhido.

Deve ser indolor, sempre quepossível, e agir rapidamente, provo-cando inconsciência e morte instanta-neas ou dentro de minutos.

Deve ser confiável, provocandoa morte na totalidade das vezes emque for adequadamente utilizado e serseguro e de fácil uso para a pessoaque adequadamente treinada o utiliza.

Não deve ser droga de abusopara seres humanos, e caso seja, devesofrer rígido controle, de acordo comlegislação vigente no local.

Deve ser esteticamente aceitá-vel, e esta condição é dependente da

personalidade das pessoas que o apli-cam ou assistem.

Deve ser econômico e ser con-dizente com o motivo e finalidade daeutanásia.

Por fim, não deve acarretar emalterações teciduais que impliquemna impossibilidade do exame denecrópsia, bem como provoquemcontaminação ambiental ou proble-mas de saneamento.

Analisando-se os critérios acimamencionados, impõe-se a verdade deque não existe um agente ideal quepossa ser utilizado em todos os proce-dimentos de eutanásia, independente-mente do número de animais, espécieem questão ou finalidade da ação.

Seja qual for o método ou agenteescolhido para indução da morte doanimal, o mesmo só poderá serempregado após o total conhecimentode seu mecanismo de ação, assimcomo domínio sobre mecanismos deprodução e percepção da dor e domedo nos animais.

Define-se dor como sendo a sen-sação que resulta de impulsos nervo-sos, alcançando o córtex cerebral viaascendente. Sob circunstâncias nor-mais, estes caminhos sãoespecíficos, mas oSistema Nervoso é male-ável o bastante para queocorra a ativação de viasalternativas, resultandona sensação de dor.

Percebe-se então quesomente após compreen-são destes mecanismospoderá o médico veteri-nário optar por um dosmétodos e/ou agentesdisponíveis.

Considerando-se porfim a questão legal da eutanásia, reco-menda-se que todo profissional médi-co veterinário somente realize o pro-

cedimento após anuência, por escrito,do proprietário do animal, e nas situa-ções onde este não for localizado, oumesmo for inexistente, tal procedi-mento deverá estar justificado emlegislação vigente, fornecendo destaforma amparo legal aos profissionaisdos Centros de Controle de Zoonoses.

Observe-se aqui que independentedo método, a morte do animal deveráocorrer por hipóxia direta ou indiretado cérebro, e sempre se garantindoque a inconsciência do animal ante-ceda a perda da função cerebral. Aconfirmação da morte só poderá ocor-rer quando houver cessação dos sinaisvitais, e tal afirmação deverá ser feitasomente pelo médico veterinário querealiza o procedimento.

Para se evitar situações de estressee angústia nos animais que serão sub-metidos ao procedimento da eutaná-sia, tais atos deverão ocorrer emambiente seguro, silencioso e total-mente isolado de outros animais,principalmente os da mesma espécie,uma vez que os animais liberam fero-mônios que indicam seu estado deangústia e medo, e tal comportamentoé imediatamente percebido pelos

outros animais (Beaver,2001).

Sinais como vocali-zação, micção, defeca-ção, rosnados e posiçõesindicativas de submis-são e/ou agressãodevem ser constante-mente monitorados,para que seja eviden-ciada qualquer hipótesedo método emprega-do não estar sendo adequado à espécie ani-mal em questão e ao

momento do procedimento.Os funcionários que auxiliarem no

procedimento da eutanásia, normal-

Seja qual for ométodo ouagente escolhidopara indução damorte do animal,o mesmo sópoderá serempregado apóso totalconhecimento deseu mecanismode ação

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EUTANÁSIA ANIMAL

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mente na condução e contenção dosanimais, devem fazê-lo de modocalmo e afável, impedindo que sejamdesencadeados mecanismos de ansie-dade e medo.

De um modo geral, todas as pes-soas envolvidas nos procedimentosrotineiros de eutanásiaanimal devem passarperiodicamente por ava-liações psicológicas, equando necessário, se-rem recapacitadas nacompreensão do métodoe na finalidade do mes-mo. Observa-se com mui-ta freqüência o desenca-deamento de problemassociais (alcoolismo, de-pendência química dedrogas, agressão fami-liar, entre outras altera-ções comportamentais) junto aos fun-cionários envolvidos neste processo.As equipes de gerência devem atentarpara constantes estímulos aos funcio-nários, provendo-os de momentos delazer e interação social.

Pode-se, então, classificar a euta-násia animal de acordo com o métodoempregado, dividindo o procedimentoem eutanásia por métodos físicos ouquímicos, que por sua vez podem serdecorrentes do uso de substâncias ina-lantes ou não inalantes.

Entende-se que a aplicação corretados métodos físicos ocasiona a morte,instantaneamente, porém, na maiorparte das vezes, tais procedimentossão esteticamente inaceitáveis, invia-bilizando sua aplicação.

Já os métodos químicos são maisaceitáveis, e dentre os mesmos, o usode substâncias anestésicas injetáveis(não inalantes) tem sido indicadocomo o procedimento mais seguro ehumanitário existente, desde quesejam obedecidas as especificações

dos produtos utilizados, quanto àdose, via de administração e intervalode tempo entre uma droga e outra, nocaso de associações (AVMA, 2001).

Uma vez que o procedimento idealde indução da morte dos animais foicompreendido, sempre que forem res-

peitadas as etapas desedação, inconsciência,parada respiratória e/oucardíaca e perda dafunção cerebral, o pro-fissional poderá estarseguro da utilização deum método confiável.

Não se pode permitir,justificando-se pela ne-cessidade de agilizaçãodo processo ou dificul-dades de manutençãodos animais durante aindução da morte, que

sejam empregadas drogas danosas aoorganismo dos animais, assim como ouso isolado de muitas delas – quemesmo promovendo a morte, nadatêm de humanitário em sua ação. É ocaso da aplicação isolada de agentescurarizantes ou então de substânciasque provoquem parada cardíaca nosanimais. Tais drogas somente serãopermitidas quando da prévia sedação einconsciência dos animais.

Faz-se necessário também um aler-ta aos profissionais, no tocante aoemprego de produtos comercialmentefornecidos já em associações medica-mentosas, as quais provocam a morterápida e de forma econômica. Em taiscircunstâncias, devemos racionalizar oemprego simultâneo de tais fármacos,considerando seus diferentes mecanis-mos de ação, tempo de absorção e dis-tribuição no organismo e a seqüênciapadrão da indução da morte, já apresen-tada anteriormente neste trabalho.

Situações desta natureza devem seranalisadas com parcimônia, buscando-

se sempre o equilíbrio entre métodos,substâncias disponíveis e o respeitoaos animais. Atualmente existe umaquantidade considerável de métodosque podem ser empregados, e a opçãopor cada um deles caberá ao médicoveterinário responsável pela realizaçãodo procedimento.

Com relação aos métodos físicosdisponíveis, recomenda-se que o usodos mesmos seja feito por pessoas alta-mente capacitadas, e somente quandonão forem disponíveis outros métodosnaquele local e momento. Têm-se, por-tanto, a possibilidade do uso de:

Arma de efeito cativo – ondetais instrumentos devam provocar demodo imediato e confiável a destrui-ção do tecido cerebral. O uso destasarmas está normalmente associado aoabate de animais para produção de ali-mentos (bovinos, eqüinos, suínos) ealguns animais de laboratório. O equi-pamento utilizado deverá liberar ener-gia suficiente (por ar comprimido oulâmina perfurante) que garanta a des-truição do tecido nervoso.

Arma de fogo – considera-seque quando bem utilizada ocasiona amorte do animal de modo rápido eindolor. Como desvantagem no méto-do, deve-se levar em consideração orisco de se portar tal equipamento ecausar acidentes aos auxiliares e tran-seuntes, além do fato de na maioria dasvezes ser esteticamente inaceitável.

Deslocamento cervical – deveráser empregado somente em animais delaboratório ou em espécies de pequenoporte. Preferencialmente os mesmosdeverão estar previamente sedados parafacilitar o deslocamento das vértebras erompimento do tecido nervoso local.Seu uso ainda está atrelado à presençade pessoal capacitado e psicologica-mente preparado para isto.

Decapitação – utilizado somentepara pequenos roedores e pequenos ani-

A aplicaçãocorreta dosmétodos físicosocasiona a morte,instantaneamente,porém, na maiorparte das vezes, taisprocedimentossão esteticamenteinaceitáveis,inviabilizando suaaplicação

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EUTANASIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

maisde laboratório.Pode-seassociaraouso de eletrocussão, porém tal procedi-mento ainda é discutível e não encontraconsenso junto aos experts no assunto.

Irradiação por Microondas –este método somente é liberado parauso em ratos e camundongos em labo-ratórios e centros de pesquisa. Comodesvantagem ao seu emprego, temos ocusto do equipamento industrial, umavez que os equipamentos de usodoméstico são totalmente inaceitáveisa esta finalidade.

Compressão Torácica – embo-ra o método seja rápido e aparente-mente indolor quando empregado empequenas aves, deve-se considerar seucaráter estético.

Já os métodos químicos podem serdescritos pelo uso dos seguintes agen-tes inalantes:

Anestésicos – substâncias comoéter, halotane, isoflurane, sevoflurane,entre outras, podem ser utilizadascomo agentes indutores de eutanásia.Comodesvantagensaoempregodestesagentes, indicamos o alto custo dosequipamentos e dos fármacos, além dapossibilidade dos animais tornarem-seansiosos e irritados durante a induçãoanestésica.

Nitrogênio e argon – são gasesinodoros, incolores, não inflamáveisque induzem a morte por hipóxia cere-bral (por competição com o O2).Apresentam-se aqui as dificuldades dese manter um ambiente com concentra-ções de oxigênio menores do que 2%.

Monóxido de Carbono/Dióxidode Carbono – Estes gases, apesar deapresentarem baixo custo e promove-rem a morte dos animais de modo rápi-do, devem ser utilizados com precau-ções, visto o risco de acidentes com osmanipuladores da câmara de gás oudos recipientes contendo o gás com-primido. Os animais mais jovens têmuma maior resistência à hipóxia e

podem permanecer vivos após a inter-rupção do fornecimento do gás. Alémdisto, questiona-se atualmente o usode métodos que promo-vam a eutanásia emmassa de algumas espé-cies animais. Quando aopção for a utilização deuma Câmara de Gás, osanimais devem ser aloja-dos no compartimento jápreviamente sedados,evitando-se assim des-conforto e a ocorrênciade brigas e acidentes.

Os agentes químicosnão inalantes podem serdescritos como:

Barbituratos – A principal van-tagem do emprego dos barbitúricos é arápida perda de consciência, com mí-nimo desconforto aos animais. Tal pro-cedimento deve prever o uso de altasconcentraçõesdoprodutoempregadoecom rápida velocidade de aplicação.Como são drogas controladas porlegislação federal, tais fármacosdevem ser mantidos sob estrito con-trole por parte dos profissionais. Leva-se ainda em consideração que para me-lhor uso destas substâncias deve-se uti-lizar a aplicação intravenosa, necessi-tando portanto de pessoal capacitadopara tal procedimento.

Hidrato de Cloral – Deve serempregado somente para grandes ani-mais, sob administração intravenosa.Não se pode permitir seu uso para cãese gatos.

T-61 – Trata-se de uma combina-ção de três drogas não barbitúricas enão narcóticas, e apresentando açãocurariforme. Deve ser empregadosomente pela via intravenosa e comverificação constante da velocidade deadministração, pois ainda existemdúvidas com relação à absorção dosdiferentes componentes do produto.

Outras substâncias são apresentadasatualmente, no mercado de produtosveterinários, e seu uso deverá ser indi-

cado baseando-se o mé-dico veterinário em co-nhecimentos farmacoló-gicos e de fisiologia dasespécies alvo da ação.

Por fim, é necessárioapresentar uma breverelação dos agentes emétodos que não sãoaceitáveis, devendo osmesmos serem abolidosem qualquer instituiçãoque os aplique: EmboliaGasosa, TraumatismoCraniano, Incineração in

vivo, Hidrato de Cloral (para pequenosanimais), Clorofórmio, Gás Cianídricoe Cianuteros, Descompressão, Afo-gamento, Exsangüinação (sem sedaçãoprévia), Imersão em Formol, Conge-lamento, Bloqueadores Neuromus-culares (uso isolado de nicotina, sulfatode magnésio, cloreto de potássio etodos os curarizantes) e Estricnina.

Diante do exposto neste trabalho,reforça-se aqui a necessidade dos médi-cos veterinários adequarem suas insta-lações de trabalho, Centros de Controlede Zoonoses ou quaisquer outros esta-belecimentos onde seja realizada amorte de animais, aos mais modernos ecientíficos conceitos existentes.

Os métodos aqui descritos têm suasvantagens e desvantagens, cabendo aomédico veterinário o imperativo julga-mento de cada um deles.

Acima de tudo, julgamos que échegado o momento de revermos con-ceitos e procedimentos. Não se podepermitir que neste início de séculoainda se promovam verdadeiras atro-cidades contra os animais, os quais,por serem frutos de uma mesmaorigem de vida, merecem nosso res-peito, admiração e cuidados.

Os métodos aquidescritos têmsuas vantagens edesvantagens,cabendo aomédicoveterinário oimperativojulgamento decada um deles

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EUTANASIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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EXAME NACIONAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VI - Nº 23 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2001

O primeiro Exame Nacional deCertificação Profissional (ENCP)será realizado no próximo dia 31 demarço e as inscrições devem ser feitasentre 15 de fevereiro e 15 de marçonas sedes dos Conselhos Regionais deMedicina Veterinária ou em locaisindicados pelos CRMVs. De acordocom a Resolução CFMV n° 691, queinstituiu o ENCP, só poderão se regis-trar para exercer a profissão os forma-dos em instituição reconhecida peloMEC, que sejam aprovados no ENCP.Sem esta última aprovação, o recémformado também não poderá realizarResidência em Medicina Veterinária.

A instituição do Exame foi trazidaa debate e aprovada pelo CFMV porduas razões fundamentais: defender asociedade, impedindo a entrada nomercado de profissionais mal-preparados, e defender os própriosestudantes de Medicina Veterinária,que, hoje, enfrentam a oferta de cur-sos de baixa qualidade.

A obrigatoriedade de aprovaçãono ENCP para que o recém-formadopossa registrar-se nos ConselhosRegionais e, assim, exercer a profis-são levará, inevitavelmente, a que asescolas e cursos da área busquemaprimorar o ensino, uma vez que seuspróprios alunos estarão pressionandoas instituições nesse sentido.

Antes da publicação da Resolução,o CFMV realizou – nos dias 28 e 29de junho de 2001 – o SeminárioPreparatório para o Exame Nacionalde Suficiência, que contou com a par-ticipação de presidentes, conselheirosregionais e federais, dirigentesacadêmicos e convidados, que deba-teram longamente as questões e pro-

blemas relacionados com oExame. Os Anais do Seminário jáforam editados em livro peloCFMV e podem ser obtidos juntoao CFMV.

Nesse Seminário, que contoucom a participação do médico ve-terinário mexicano Rafael Her-nández González, coordenadorde Programas Internacionais e deCertificação do Copevet - Con-selho Pan-americano de Educa-ção em Medicina Veterinária,foi analisada a situação dos cur-sos de veterinária no Brasil,chegando-se à constatação deque, no máximo, seis teriamclassificação "A" no ExameNacional de Cursos (o chama-do "Provão"), aplicado peloMEC, o que fortaleceu a con-vicção dos participantes danecessidade de realização doENCP.

O Dr. Rafael Hernández foi enfáti-co em demonstrar a sensível melhoriano ensino de Veterinária ocorrida emseu país, após a instituição do Examede Certificação. Segundo ele, a partirdaí, todas as escolas mexicanas deVeterinária passaram a revisar seuscurrículos e planos de estudo, no sen-tido de modernizá-los, melhorandosua qualidade, para tornar seus futu-ros formandos capazes, profissional eeticamente, de exercerem a MedicinaVeterinária.

O presidente do CFMV, BeneditoFortes de Arruda, ressaltou, na defesada realização do ENCP, a preocu-pação constante da atual diretoria doConselho com o direcionamento oradado pelo governo federal ao ensinosuperior, em todas as áreas, asfixian-do a autonomia e sucateando a uni-

versidade pública, buscando submetê-la à lógica perversa do mercado capi-talista "que não prima por um elevadopadrão de qualidade acadêmica".

Após o Seminário, foi constituídoum grupo de trabalho responsávelpela seleção e elaboração de questõespara o banco de provas do ENCP.Esse grupo de trabalho foi formadopelos membros da ComissãoNacional de Ensino de MedicinaVeterinária do CFMV e por um grupode especialistas convidados peloCFMV (veja quadro na páginaseguinte).

Tanto a Resolução quanto o Editalque instituiu as normas para a realiza-ção do ENCP podem ser encontradosno site do CFMV (www.cfmv.org.br).Pelo Edital, as provas serão realizadas

A necessidade do Exame Nacional de Certificação Profissional

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EXAME NACIONAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VI - Nº 23 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2001

em todo território nacional, em ummesmo dia e horário, em locais pre-viamente indicados pelos CRMVs.

A prova será constituída por 200questões objetivas, das quais, 50serão distribuídas em 10 casos práti-cos e, a partir de cada um deles, serãoelaboradas 5 questões.As questões daprova serão formuladas com 4 alter-nativas, sendo apenas uma correta.

O conteúdo da prova contemplaráo estabelecido nas DiretrizesCurriculares, subdividido em trêsgrandes áreas de conhecimento:a) Produção Animal e Agronegócio,

contemplado com 30% das questões;b) Medicina Veterinária, contemplado

com 30% das questões; c) Medicina Veterinária Preventiva,

Saúde Pública, Inspeção e Tecno-logias de Alimentos, contempladocom 40% das questões.Os conteúdos programáticos

serão:a) Conteúdos básicos e essenciais:

- Fisiologia animal: bioquímica,química fisiológica, fisiologia animale farmacologia; - Morfologia animal:embriologia, citologia, histologia eanatomia; - Organismos produtoresde doenças: parasitologia, microbio-logia e imunologia veterinária; -Conteúdo de conhecimentos gerais.Nesse conteúdo estão incluídas abioestatística, as ciências sociais e omeio ambiente.b) Conteúdos pré-profissionalizantes

essenciais:- Anatomia patológica veterinária:

anatomia patológica veterinária gerale especial, toxicologia, plantas tóxi-cas e animais peçonhentos; -Propedêutica clínica: patologia clíni-ca, semiologia e áreas especializadasem exames clínicos indiretos (radio-logia, ultrassonografia, endoscopia,eletro e ecocardiografia); - Técnicacirúrgica veterinária; - Epidemiologiageral, higiene e saneamento; -Economia, administração e extensão

rural; - Bromatologia, alimentação enutrição animal; - Genética, melhora-mento animal e biotecnologia.c) Conteúdos profissionalizantes

essenciais:- Produção animal: biotécnicas da

reprodução, sistemas de produção,métodos de criação, manejo, ezoog-nosia e exploração econômica debovinos, bubalinos, caprinos, ovinos,eqüinos, suínos, aves e peixes; -Clínica veterinária, patologia e clíni-cas médicas, associadas a terapêuticasclínica veterinária, quer sejam paraanimais de produção, companhia ousilvestre; - Endocrinologia, doençasnutricionais ou metabólicas dos ani-mais, quer sejam de produção, com-panhia ou silvestre; - Patologia eclínica da reprodução, incluindo gine-cologia, andrologia, patologia dosêmen dos animais, quer sejam deprodução, companhia ou silvestre; -Patologia e clínica das doenças in-

fecto-contagiosas e parasitárias dosanimais, quer sejam de produção,companhia ou silvestre; - Patologia eclínica cirúrgica dos animais, quersejam de produção, companhia ou sil-vestre; - Patologia e clínica obstétricados animais, quer sejam de produção,companhia ou silvestre; - MedicinaVeterinária Preventiva e SaúdePública: Epidemiologia das moléstiasinfecciosas e parasitárias dos animais,quer sejam de produção, companhiaou silvestre; zoonoses; higiene einspeção de produtos de origem ani-mal, compreendendo inspeção decarnes, pescado, aves, leite e mel,seus derivados e demais produtos esubprodutos de origem animal;Toxinfecções alimentares; - Tecno-logia dos Produtos de Origem Ani-mal: Classificação, processamento,padronização e conservação dos pro-dutos de origem animal e de seusderivados. Legislação.

FFORMAÇÃOORMAÇÃO DODO GRUPOGRUPO DEDE TRABALHOTRABALHO PPARAARA SELEÇÃOSELEÇÃO EEELABORAÇÃOELABORAÇÃO DEDE QUESTÕESQUESTÕES PPARAARA OO BANCOBANCO DEDE PROVPROVASAS DODO ENCPENCP

Comissão Nacional de Ensino de Medicina Veterinária do CFMV

Nome Instituição

Ney Luis Pippi (presidente) UFSMRaimundo Nelson Souza da Silva FCAP

Glênio Cavalcanti de Barros UFRPEZelson Giacomo Lóss UFRRJ

Benedito Dias de Oliveira Filho UFGAparecido Antonio Camacho UNESP (Jaboticabal)

Grupo de Especialistas

Nome Instituição

Antônio Duarte de Lima Júnior UFRPEElisabeth Gonzáles UNESP (Botucatu)

Elmo Rampini de Souza Ex-UFFEnrico Lippi Ortolani USP

Italmar Teodorico Navarro UELJoão Luiz Horácio Faccini UFRRJ

José de Carvalho Reis Ex-UFRPEJosé Ferreira Nunes UECE

Mônica Maria Oliveira Pinho Cerqueira UFMGNádia Regina Pereira Almosny UFF

Otávio Mitio Ohashi FCAP

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BIOÉTICA

Bioética não é mais um neolo-gismo desconhecido. Após três déca-das do seu surgimento nos EUA, abioética vêm destacando-se em in-fluência como um importante ramoda ética aplicada. Diversos fatosapontam o seu desenvolvimento nomundo: um crescimento constante daliteratura sobre o tema, diversosfóruns de debate, a realização do VCongresso Mundial de Bioética(Londres, 2000), o surgimento da dis-ciplina de bioética em diversos cursosacadêmicos, a multiplicação das asso-

ciações de bioética, o aparecimentodas comissões de ética e de bioética,assim como dos chamados "códigosde ética", para ilustrar alguns exem-plos entre outros. No entanto, mesmodiante da expansão da bioética, aindaé tímida a abordagem da bioética naMedicina Veterinária. Eis o que nosleva a questionar: Qual a importânciada bioética para a Medicina Veteriná-ria? Para responder a tal questãodevemos percorrer especialmenteduas trajetórias: a da ciência, ou espe-cificamente a da biotecnociência, quefaz surgir as novas perspectivas sobre"aquilo que é possível fazer", e da

Bioética e Medicina Veterinária: um encontro necessário

Rita Leal PaixãoMédica Veterinária, CRMV/RJ nº. 3.937Doutora em Ciências pelaENSP/FIOCRUZ, Professora Adjuntado Departamento de Fisiologia eFarmacologia da Universidade FederalFluminense e Pesquisadora no Núcleode Bioética e Ética Aplicada daENSP/FIOCRUZ

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BIOÉTICA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001 21

ética, ou mais especificamente da bioé-tica, que suscita debate e propõe algu-mas abordagens e soluções para osquestionamentos sobre "aquilo quedevemos fazer". É nesse contexto,que as nossas interações com os ani-mais e com o campo da saúde emgeral, âmbito de atuação da medicinaveterinária, também são atravessadaspor essas trajetórias e impõe a refle-xão de novas e velhas questões.

Um momento ímpar na históriarecente, no qual o debate entre a ciên-cia e a ética veio a tona, demons-trando o impacto dessas questões ealcançando a sociedade como umtodo, foi o nascimento da ovelhaDolly em 1996. Dolly não era umaovelha qualquer, era um clone. O pri-meiro clone de um animal adulto cria-do num laboratório, mais precisa-mente no Instituto Roslin na Escócia,por Ian Wilmut e sua equipe (Wilmutet al, 1997). Logo, Dolly tornou-sesímbolo de uma revolução biológica,

que abria as portas à reprogramaçãoda natureza e, por isso, tornou-sefamosa. Apareceram inúmeras man-chetes e discussões, que ora exalta-vam a ciência, ora a encaravam comouma engenhosidade diabólica. Muitosquestionaram os limites da ciência. Aquestão, afinal, era: "o que devemosfazer?" Não se pretende discutir aquiesses questionamentos, mas chamar aatenção para dois aspectos envolvidosna divulgação da clonagem de Dolly:1) Em 24 de fevereiro de 1997, simul-taneamente a divulgação, o presidentedos EUA solicitou que a ComissãoNacional de Bioética fizesse uma ava-liação dos aspectos éticos e legaisassociados com o uso dessa tecnolo-gia e emitisse um parecer com reco-mendações em 90 dias e, cerca deuma semana após, estabeleceu quenenhum financiamento governamen-tal seria destinado a clonagem deseres humanos, enquanto se aguar-dava o relatório da Comissão

(National Bioethics AdvisoryCommission, 1997) e 2) a abordagempela mídia foi ampla e sensaciona-lista, mas segundo a análise de trezen-tas matérias extraídas da mídiaimpressa brasileira sobre o tema, em18 meses, a partir da divulgação daclonagem, "do ponto de vista ético ouantiético, falou-se apenas da possibi-lidade do uso da técnica em huma-nos." (Costa e Diniz, 2000).

De fato, em ambos os aspectos oque se evidencia é uma preocupaçãocom a eticidade da clonagem humana.E a eticidade da clonagem animal?Será que o campo das nossas intera-ções com os animais está imune aosquestionamentos éticos? Será que omovimento da Bioética também nãoalcança as interações entre sereshumanos – animais – meio ambiente?Como essas questões estão se inse-rindo e/ou devem estar inseridas naagenda da Medicina Veterinária? Eiso que buscamos entender.

Podemos dizer que questões comoas suscitadas pelo "caso Dolly", refe-rentes ao poder de intervenção dohomem na natureza e, em particular,sobre o começo e o fim da vida, inicia-ram a sua discussão pela sociedade,como um todo, desde os anos 60,especialmente no campo da saúde.Afinal, nessa época surgiram novosrecursos tecnocientíficos: ventiladoresartificiais, as máquinas de diálise, oprimeiro transplante cardíaco é reali-zado por Christian Barnard (1967), astécnicas de reprodução assistida vãose ampliando... E com isso, aparece-

ram novas questões: quem seriam osdoadores de órgãos? Qual o critériopara se declarar se alguém está vivoou morto? Quem deve ser priorizadona utilização de certos recursos tera-pêuticos, já que não são suficientespara todos? Quais as novas relaçõesde parentesco que vão se estabelecer?Além dessas, uma série de outras situa-ções no campo médico, como denún-cias de experimentos abusivos emseres humanos, mobilizaram a socie-dade e, principalmente, fizeram renas-cer o interesse pelas questões éticas.

Também nessa época, final dosanos 60 e início dos anos 70, ocorreuuma intensa mobilização da sociedade

civil que passou a reivindicar maisdireitos e a propor mudanças nos sis-temas de valores e costumes. O movi-mento feminista, os protestos contra aguerra do Vietnã, os movimentos dasminorias étnicas, dentre outros, vãopermitindo uma maior conscientiza-ção da sociedade e, consequente-mente, um avanço até mesmo em dire-ção a âmbitos que anteriormente eramestritamente dominados por aquelesque detinham um saber específico,como é o caso dos médicos. É tambémnesse momento que as questões ecoló-gicas ganharam novas dimensões, e asrelações do homem com os outrosseres vivos e suas intervenções nomeio ambiente tornaram-se uma preo-cupação cada vez mais disseminada.De fato, o interesse pela questão ani-mal, que se tornou crescente na déca-

A trajetória da bioética e a inserção dos animais

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BIOÉTICA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

da de 70, foi possivelmente favorecidopela crise ambiental que chamou aatenção para a questão da exploraçãode toda a natureza. Todos esses fatoresiriam se apresentar no terreno ondenasce a "bioética".

Em 1970, Van Rensselaer Potterutilizou pela primeira vez o neolo-gismo "bioética", em seu artigo"Bioethics, the science of survival"(Potter, 1970), introduzindo assim onovo termo no campo da filosofiamoral. O fato de Potter ser um médi-co oncologista da Universidade deWisconsin (EUA) permitiu que eleobservasse a relação entre a ação docâncer nos indivíduos e a ação, supos-tamente desordenada, do homemsobre o meio ambiente. Logo, estabe-leceu a proposta de que homens emulheres precisavam garantir suasobrevivência, num ambiente quevinha se tornando cada vez mais dete-riorado, e portanto precisavam modi-ficar sua relação com todo o meioambiente. Para Potter, a bioéticadeveria ser essa nova "ciência dasobrevivência", ou seja, "uma ponteentre ciências biológicas e valoresmorais" (Potter, 1971), a fim degarantir a sobrevivência humana emum ambiente saudável. O que de fatoestava implícito era a necessidade dese desenvolver um entendimento doconhecimento biológico e seus limi-tes, a fim de fazer recomendações nocampo das políticas públicas.

Outros estudiosos, da Univer-sidade de Georgetown de Washing-ton, liderados pelo fisiologista fetalAndré Hellegers, começaram a utili-zar também o neologismo bioéticaalguns meses depois de Potter, porémcom um sentido diferente. Para estes,a bioética não seria uma "interciên-cia" entre ciências da vida e da saúdee humanidades, mas um novo campointerdisciplinar da própria filosofiamoral, voltado mais especificamentepara os dilemas biomédicos, isto é,aqueles que envolvem os direitos edeveres dos pacientes e dos profissio-nais de saúde, o cuidado médico e apesquisa biomédica de um modogeral. Foi especialmente nesse sen-tido que a bioética se desenvolveu.

A bioética é sobretudo uma disci-plina aplicada, ou seja, voltada paradilemas concretos que demandamanálise e propostas de solução. Váriossão os temas da bioética, tais como:aborto, eutanásia, experimentação emhumanos, manipulação genética,transplantes, distribuição de recursosem saúde, clonagem, entre tantos ou-tros, de tal forma que é possível dis-tinguir, conforme Berlinguer (1993),uma "bioética cotidiana" – relacio-nada às questões de saúde pública, euma "bioética de fronteira" – relacio-nada às questões impostas pela bio-tecnociência. A bioética tambémmantém o desafio de buscar uma res-posta sobre quais são as nossas obri-

gações para com os animais, já que apartir de uma definição mais abran-gente entende-se que "a bioética seocupa dos atos humanos que alteramirreversivelmente os processos davida" (Kottow, 1995). E, de fato,desde a década de 70, o debate sobreas considerações éticas envolvendo ouso de animais mostrou-se crescente.Inicialmente um debate marcado porpublicações filosóficas polêmicas,que embasaram os chamados movi-mentos de "liberação animal" (Singer,1977) e os movimentos em prol dos"direitos dos animais" (Regan, 1983).Tal polêmica foi abrindo espaço a umdiálogo interdisciplinar, no qual aabordagem do bem-estar animal écrescente (Paixão & Schramm, 1999).Embora, existam diferentes posicio-namentos sobre "bem-estar animal"como movimento filosófico e tambémcomo ciência, observa-se que o com-promisso com o bem-estar animalvem crescendo na medicina veteriná-ria. Na década de 90, a AssociaçãoMundial de Veterinária reconheceuem seu estatuto como sendo papel domédico veterinário a promoção dobem-estar animal (WVA, 1993) e, em1999, a Associação Americana deMedicina Veterinária (AVMA, 1999)adotou a promoção do bem-estar ani-mal como política oficial. É nessecontexto que veremos como algunsaspectos da biotecnociência relacio-nam-se aos animais.

No que se refere à utilização deanimais, embora a biotecnologia tenhauma longa história, tendo se iniciado

com o processo de domesticação hámais de 10.000 anos atrás, diferentesperspectivas se desenvolveram nosúltimos anos, a partir do advento daengenharia genética. Destacam-se a

produção de animais transgênicos queteve início em 1980, e mais recente-mente, na década de 90, a técnica daclonagem. O processo de produção deum animal trangênico pode ser defi-nido como a introdução de DNA exó-geno no genoma de um animal, de talforma que suas células tornam-segeneticamente alteradas (Dziadek,

O uso de animais na trajetória da biotecnociência

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BIOÉTICA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 22 Jan/Fev/Mar/Abril de 2001

1996). Tal fato, faz com que a enge-nharia genética apresente pelo menostrês aspectos relevantes que a diferen-ciam da biotecnologia tradicional: apossibilidade de se atravessar a bar-reira das espécies, amodificação do espaçotemporal em que ocor-rem as alterações e possi-bilidade de utilização deum número cada vezmaior de diferentes espé-cies de seres vivos paramúltiplas finalidades. Aaplicação do uso de ani-mais geneticamentemodificados varia desdea possibilidade de seobter conhecimentossobre processos genéti-cos e fisiológicos a possíveis aplica-ções na área biotecnológica em medi-cina e agropecuária. Os animais obti-dos a partir da engenharia genéticapodem se destinar à pesquisa básica, amodificações destinadas ao empregona atividade agropecuária, à produçãode "modelos" de doenças, a doadoresde órgãos, a biorreatores, isto é, ani-mais modificados geneticamente paraproduzirem proteínas com empregofarmacêutico. Um exemplo foi o casode Tracy, uma cabra transgênica quepassou a produzir a proteína humanaAAT (a1- antitripsina) em seu leite, afim de que essa proteína pudesse serutilizada, a partir do leite, pelas pes-soas que sofrem de enfizema (Reiss &Straughan, 1996). Essas novas tecno-logias, por sua vez, expõem os ani-mais a fatores de risco adicionais queterão implicações em seu bem-estar,tal como tem sido apontado por váriosautores (Morton et al., 1993; Moore &Mephan, 1995; Balls, 1998; ECVAM,1998). Tais riscos adicionais podemser categorizados em: a) efeitos demutações, b) efeitos de expressão, c)

efeitos metodológicos; e d) efeitos sis-temáticos (Moore & Mephan, 1995).Os efeitos de mutação não só podemgerar consequências imprevisíveis,como os problemas podem só se

tornar patentes algumasgerações depois. Emrelação aos efeitos deexpressão, esses podemser considerados poten-cialmente muito variá-veis. Isso pode resultarem modificações fisio-lógicas que afetem obem-estar animal e tam-bém ocasionar grandesdesperdícios de animais,já que podem tornar-senão adequados aos pro-pósitos para os quais

foram desenvolvidos. Quanto aosmétodos utilizados para a produção detransgênicos pode-se dizer que há umgrande número de animais envolvidosaté que se chegue a uma modificaçãodesejada, o que é resultante de váriastestagens de combinações, que podemcomprometer o bem-estar do animal.De fato, alguns dados revelam quemenos de 1% dos embriões resultamem animais transgênicos e muito dess-es animais apresentam graves anor-malidades, que geram sofrimentoantes de sua morte (Mephan, 1995). Equando se fala em efeitos sistemáti-cos, questiona-se também como essesanimais transgênicos serão mantidos etratados, já que dependendo do propó-sito para o qual foram criados, elespodem ser submetidos a situaçõesambientais e de manejo que tambémcomprometam o seu bem-estar(Moore & Mepham, 1995). Um dosprimeiros casos que veio a se tornarconhecido em relação ao comprometi-mento do bem-estar dos animais,decorrente da manipulação genética,foi o chamado caso dos "porcos de

Beltsville". Esses animais continhamgens do hormônio do crescimentohumano para acelerar o crescimento,mas manifestaram diversos problemastais como: úlceras, problemas repro-dutivos, doenças cardíacas (Rollin,1997). De um modo geral, é precisoconsiderar que a prioridade dada aprodutividade animal sobre o bem-estar animal é um problema ético daprodução animal como um todo,mesmo antes da engenharia genética.Tal fato torna a manipulação genéticaparte de uma discussão ainda maiorque envolve toda a produção e utiliza-ção animal, no entanto com o cresci-mento da engenharia genética o perigopara o bem-estar animal pode setornar mais amplo (Christiansen &Sande, 2000). Além disso, surgemoutros aspectos que suscitam questõesmorais quando se abordam as práticasadvindas da biotecnologia, tais comoos efeitos no meio ambiente e a ques-tão das patentes (Morton et al., 1993).

Um outro aspecto relevante da bio-tecnociência é representado pela pos-sibilidade dos xenotransplantes, isto é,a utilização de animais como fonte deórgãos para transplantes em humanos.Embora não seja uma idéia propria-mente nova, voltou a ser consideradaa partir do recente desenvolvimentobiotecnológico. O debate acerca dosxenotransplantes teve sua nova faseinaugurada com o caso "Baby Fae",no qual uma criança recebeu o cora-ção de um primata não humano, em1984, no "Loma Linda UniversityMedical Center" pela equipe do Dr.Leonard Bailey. A criança morreuvinte dias após o transplante, mas ocaso atraiu grande interesse público ecientífico (Annas, 1985). Em 1992, ocaso "Pittsburg", no qual foi trans-plantado um fígado de um primata nãohumano para um homem portador dovírus HIV, provocou intensa reação

É precisoconsiderar que aprioridade dada aprodutividadeanimal sobre obem-estar animalé um problemaético daprodução animalcomo um todo,mesmo antes daengenhariagenética

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pública e ampliou o debate (Orlans etal., 1998). A partir de então, os aspec-tos que requerem considerações éti-cas, tanto no que se refere aos sereshumanos quanto aos animais, passa-ram a ser discutidos. A possibilidadede serem utilizadas drogas imunossu-pressoras mais eficientes, para dimi-nuir a rejeição, assim como serem rea-lizadas alterações genéticas nos ani-mais "doadores", aumentaram aschances de compatibilidade dos trans-plantes. Além de certas consideraçõeséticas que podem ser colocadas emrelação à qualidade de vida dos sereshumanos envolvidos em xenotrans-plantes, os principais aspectos que sedestacam no debate ético é o risco datransmissão de doenças infecciosaspara a população e a questão dosdanos impostos aos animais em proldos benefícios humanos. Ademais dasconsiderações feitas a qualquer tipo deutilização de animais em experimen-tos, alguns problemas particularespodem surgir em relação ao bem-estardos "doadores". Por exemplo, a neces-sidade de se manter tais animais"livres" de agentes patogênicos poderequerer um isolamento e uma altera-ção genética que venham a compro-meter, de forma adicional, o bem-estardo animal (Hughes, 1998).

Todas as questões éticas advindascom toda essa biotecnologia aindaestão sendo pouco discutidas e poucaatenção tem sido dada ao aspecto dopossível sofrimento animal. É por issoque ao lado desse "paradigma biotec-nocientífico" (Schramm, 1996) cres-cente no campo da medicina veteriná-ria, deve ser também crescente o"paradigma bioético" (Schramm,1996), isto é, a colocação das questõesde dimensão ética sobre as práticas damedicina veterinária. Em torno deuma agenda prática para a abordagemdessas questões, destacam-se, hoje,

em nível internacional, três formas deatuação, que abordaremos suscinta-mente aqui, especialmente com aintenção de propor uma adoção/ampliação dessas políticas em nossopaís: as comissões de ética e de bem-estar no uso de animais, uma políticade classificação da dor animal/catego-rização dos experimen-tos e o ensino de bioéticae bem-estar animal.

Uma agenda prática

Tais formas de atua-ção devem estar com-prometidas em promo-ver o bem-estar animal,sendo importante nãoancorar essa concepçãode bem-estar numa defi-nição maior, de acordocom a intenção que sepropõe aqui, que ratifica o pensa-mento de Tannenbaum (1995): "Nãoseria científico e seria intelectual-mente suspeito começar qualquerabordagem de bem-estar animal coma visão de que todas as categorias deuso animal são obviamente aceitá-veis, e que nós devemos construiruma aprovação delas numa definiçãomaior de bem-estar". É nesse sentido,que as chamadas comissões de éticano uso de animais podem representara possibilidade de promover o bemestar animal e, não apenas se torna-rem mais uma instância burocráticano controle da utilização de animais.A maior parte das comissões são esta-belecidas no âmbito das instituições afim de realizar principalmente umaavaliação dos projetos de pesquisa,inspeções dos animais, garantia deatendimento veterinário, além dedesempenharem um papel educacio-nal no âmbito da experimentação ani-mal. A atuação dessas comissões veio

a ser realmente estabelecida nos EUAa partir da década de 80. No Brasil, ascomissões de ética no uso de animaisvão surgir especialmente na décadade 90, tendo sido identificadas emapenas 14 instituições em todo o país(Chaves, 2000). Outras formas decomissão têm surgido, como comis-

sões de bem-estar ani-mal e comissões de bioé-tica, em diversos âmbi-tos e com formas de ati-vidade diferenciadas,inclusive em agências definanciamento de pes-quisa e em revistas cien-tíficas. Recentemente,no esquema propostopara regular a produçãoe a utilização de animaistransgênicos na UniãoEuropéia, foi previstoum acompanhamento

permanente por uma comissão nacio-nal, além da avaliação da comissãolocal (ECVAM, 1998). Embora essascomissões representem muitas vezesuma arena de conflitos, o que se pre-tende destacar aqui é a relevância daparticipação do médico veterinárionesse fórum, constituido de formainterdisciplinar, a fim de elaborarquestionamentos éticos, e nos quaisvão também se configurando diretri-zes.

Em relação ao sistema de classifi-cação da dor animal, pode-se dizerque o primeiro surgiu em 1978, edesde então, tal política vêm se expan-dindo, já sendo adotada oficialmentepor alguns países, tais como o Canadáe a Holanda (Orlans, 1990). O que seentende sobre uma política de classifi-cação da dor é, de fato, uma estratégiapara se reconhecer, estabelecer e redu-zir a dor a que são submetidos os ani-mais em determinados procedimentos,geralmente no âmbito da experimenta-

O que se entendesobre umapolítica declassificação dador é umaestratégia parase reconhecer,estabelecer ereduzir a dor aque sãosubmetidos osanimais

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ção. Com isso, é possível uma catego-rização dos experimentos, o que variade acordo com o sistema de classifica-ção, mas que indica o grau de severi-dade, de brando a substancial, doimpacto ocasionado por um procedi-mento no animal. Com isso, determi-nados experimentos tornaram-se proi-bidos em alguns países, e de um modogeral, são favorecidos meios de sepromover o bem-estar animal. Essaspolíticas merecem com certeza umadiscussão maior, e até por isso, preci-samos urgente, ampliar o espaçodessas discussões, ou seja, abordá-lasno ensino.

Em 1988 foi criada uma comissãoespecial pela Associação Mundial de

Veterinária a fim de se estabelecer umapolítica em bem-estar animal, queresultou em diversas recomendações,entre as quais a necessidade de seincorporar a disciplina de bem-estaranimal nos currículos de medicinaveterinária. Além disso, recomendaainda que a abordagem em bem-estaranimal, além do seu conteúdo cientí-fico, inclua também a bioética (WVA,1993). De fato, observa-se que a partirda década de 80 houve um cresci-mento significativo de disciplinas queabordam ética e bem-estar animal emdiferentes cursos nos EUA (Balcombe,1999). No Brasil, observamos queainda são raras as iniciativas no ensinode tais abordagens. É sobretudo inte-

ressante vincular o debate bioético aciência do bem-estar animal, pois "oque se constitui em bem-estar para umdeterminado animal" (questão cientí-fica) é diferente de saber "como deve-mos tratar os animais ou por que deve-mos promover o bem-estar animal"(questão ética), e, no entanto, como jáfoi dito: "Uma ciência empírica pri-vada de reflexão bem como uma filo-sofia puramente especulativa são insu-ficientes; consciência sem ciência eciência sem consciência são radical-mente mutilados e mutilantes..."(Morin, 1994) Eis aí a resposta quebuscávamos no início do texto, aimportância da bioética para a Medi-cina Veterinária.

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/UFG

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Tromboflebite Jugular Eqüina: Aspectos clínicos e perspectivas no tratamento cirúrgico

Daniel Roulim StainkiGeraldo Eleno Silveira Alves

Ruthnéa A. L. MuzziFabiola O. Paes Leme

Habronemose EqüinaMarta Pedrosa Souto Maior

Leucio Câmara Alves

Natimortalidade na suinocultura industrialLuís Gustavo Schneider

Ivo WentzFernando Bortollozzo

Probióticos e prebióticos na nutrição de aves

Maria Marta Loddi

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Tromboflebite Jugular Eqüina (TJE): aspectos clínicos e

perspectivas no tratamento cirúrgico

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Daniel Roulim StainkiMédico Veterinário - CRMV/RS nº. 4.661, Doutorando do Curso de CiênciaAnimal - EV/UFMG, Professor Assistente - FZVA/PUCRS, Uruguaiana, RSE-mail: [email protected]

Geraldo Eleno Silveira AlvesMédico Veterinário - CRMV/MG nº. 3.612, Dr. Professor Adjunto Escola de Veterinária/UFMG, Belo Horizonte, MG

Ruthnéa A. L. MuzziMédica Veterinária - CRMV/MG nº. 4.671, Doutoranda do Curso de Ciência AnimalEV/UFMG, Professora Assistente – UFLA, Lavras, MG

Fabiola O. Paes LemeMédica Veterinária - CRMV/SP nº. 10.486, Doutoranda do Curso de Ciência AnimalEV/UFMG, Belo Horizonte, MG

A TJE é uma afecção de ocorrência comum. Com o progresso na terapêutica dasdiversas doenças que acometem os eqüinos, ocorre proporcionalmente, um acrés-cimo no emprego da fluidoterapia e de medicações intravenosas. O uso continuadoda via venosa vem aumentando gradativamente a taxa de tromboflebites iatrogênicasnessa espécie, necessitando-se de novos tratamentos que minimizem os efeitosdessa patologia e suas seqüelas.

Unitermos: Tromboflebite, jugular e eqüino

Equine Jugular Thrombophlebitis: Clinical aspects and perspectives in the surgical treatment

The equine jugular thrombophlebitis is a disorder of common occurrence. With theprogress in the therapeutics of the several diseases that affect horses, it is happeninga proportional increment in the use of the fluid therapy and of veined medications. Thecontinued use of these veined therapies is increasing the problems of iatrogenicthrombophlebitis in this specie, being necessary new treatments that minimize theeffects of that pathology and its sequels

Key words: Thrombophlebitis, jugular and equine.

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

A tromboflebite (Fig. 01) é umaafecção vascular comumente encon-trada em eqüinos, ocorrendo trom-bose venosa acompanhada de infla-mação da parede do vaso (Gardner &Donawick, 1992) e obstrução parcialou completa do fluxo sangüíneo (Fig.02), secundárias à formação do trom-bo (Dornbusch et al., 2000). A TJEocorre ainda como uma seqüelacomum de desordens gastrintestinaisgraves acompanhadas por endotoxe-mia, tais como colite, enterite proxi-mal, obstrução e estrangulação intes-tinal (Morris, 1989) e, ainda comouma condição iatrogênica, resultanteda cateterização intravenosa e da inje-ção perivascular de substâncias irri-tantes (Hay, 1998).

O uso de cateteres intravenosos namedicina eqüina é amplamenteaceito, sendo recomendados quandose necessita de uma administraçãoconstante e prolongada de soluçõeseletrolíticas, sangue, medicações,agentes anestésicos e alimentaçãovenosa (Dickson et al., 1990).

Para futura terapêutica, torna-sefundamental o estudo da viabilidade,do grau de trombogenicidade e dosmeios de conservação e manutençãode materiais para enxertos, visandocirurgias vasculares em grandes ani-mais. Este artigo descreve aspectosclínico-cirúrgicos da TJE e mencionaexperimentos desenvolvidos naEscola de Veterinária da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG),que visam contribuir na terapêutica daTJE, se destinando a verificar a eficiên-

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cia de enxertos vasculares que pode-rão contribuir como biomateriais notratamento da TJE.

Sinais clínicos

O sinal clínico inicial da TJE é oaumento de volume dos tecidos proxi-mais à obstrução venosa. Como afetaas veias jugulares, comumente ocor-rem edema da cabeça e hiperemia damucosa oral. Se a tromboflebite forunilateral, o edema é menor, mas emcasos bilaterais poderá acometer a lín-

gua, a faringe e a laringe, resultandoem disfagia e dispnéia. Esse edemano trato respiratório superior pode porem risco a vida do animal, necessi-tando a realização de traqueostomia(Morris, 1989).

A jugular afetada normalmenteencontra-se distendida (Fig.03), comconsistência firme, sensível e quente,particularmente se infectada (Marr &Reef, 1995). Pirexia, anorexia edepressão podem também indicarsepse (Gardner & Donawick, 1992).

Etiologia

A tromboflebite pode ser sépticaou asséptica e, a TJE ocorre secunda-riamente a venipunção, medicaçõesintravenosas e cateterizações, particu-larmente em cavalos com endotoxe-mia ou coagulação intravascular dis-seminada (Marr & Reef, 1995).

Vários pesquisadores citam que atromboflebite associada ao cateter estáintimamente relacionada às suas pro-priedades físico-químicas quanto atrombogenicidade (Bayly & Vale,1982, Spurlock et al., 1990, Hay,

1992), mas o desenvolvimento datromboflebite está na dependência nãosomente da composição do cateter,mas também do pH da solução infun-dida, duração da infusão, tamanho dacânula, presença de bactérias, caracte-rística do fluxo venoso, preparaçãoprévia da pele, técnica e local da veni-punção (Gulick & Meagher, 1981,Dickson et al., 1990). A TJE sépticapode-se desenvolver pela contamina-ção do cateter ou agulha durante ainserção, migração de bactérias dapele ao longo do cateter, injeção desoluções contaminadas, ou por disse-minação de outro foco de infecção(Gardner & Donawick, 1992). Estu-dos laboratoriais procuram identificara freqüência e as bactérias que conta-minam os cateteres em eqüinos, e suaassociação com os sinais clínicos detromboflebite. Ettlinger et al. (1992),isolaram os seguintes microorganis-mos de cateteres venosos removidosde eqüinos: Staphylococus sp., Cory-nebacterium sp., Enterobacter sp. eStreptococcus sp.

A ocorrência desses casos estáassociada às inflamações locais edifusas do endotélio vascular, predis-pondo a aderência de fibrina, plaque-tas e células sanguíneas, por meio daexposição do colágeno sub-endotelial(Knottembelt & Pascoe, 1994).

Tromboflebite jugular e trombosesvenosas ocasionais também têm sidorelacionadas às técnicas anestésicasque utilizam infusões intravenosascom éter gliceril guaiacol associadoao tiopental, acarretando na formaçãode lesões macro e microscópicas doendotélio vascular , pelo pH alcalinodessas soluções (Dickson et al., 1990,Herschl et al., 1992).

Patogenia

A TJE é uma das seqüelas fre-qüentes em eqüinos portadores dedoenças gastrintestinais que evoluem

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Figura 1

Eqüino apresentando tromboflebite jugular iatrogênica, após administração defluidoterapia e medicações intravenosas, por meio de cateter vascular.

Figura 2

Corte transversal da jugular deeqüino apresentando trombo (coloração marrom) no centro dovaso, obstruindo parcialmente ofluxo sanguíneo.

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com endotoxemia. O clínico sempredeve considerar a relação fisiopato-lógica comum, existente entre TJE eoutras seqüelas também resultantesde quadros endotóxicos, ou sejasepse, coagulação intravascular disse-minada, choque, laminite, íleus, ade-rências etc. Entre os diversos dese-quilíbrios acarretados pela endotoxe-mia, aquele existente entre a bioquí-mica da coagulação e da fibrinóliseocupa posição de destaque na patoge-nia das seqüelas endotóxicas. Poroutro lado é relevante lembrar que aocorrência de TJE invariavelmenteestá relacionada a algum iatroge-nismo decorrente da utilização dajugular, como via de administração dedrogas. Os fenômenos locais demaior importância na patogenia sãoas injúrias na parede vascular, a hiper-coagulação e a estase sanguínea(Moore & Hinchcliff, 1994).

Das lesões trombogênicas doendotélio vascular, a mais óbvia é adecorrente de trauma mecânico, mas alesão por eletricidade, por químicos,infecção, inflamação e drogas comoepinefrina e altas doses de vitamina D,

podem produzir lesão endotelial sufi-ciente para iniciar a trombogênese(Slauson & Cooper, 1990). As jugula-res são os vasos mais freqüentementeafetados, devido às repetidas venipun-ções e a colocação inadequada decateteres em cavalos com doenças sis-têmicas graves (Deem, 1981, Moore& Hinchcliff, 1994). A tromboflebiteinicia com a formação de um coágulode fibrina nas áreas iniciais de lesão,isto é, no local onde a veia é perfuradae no ponto onde a ponta do cateterentra em contato com o endotélio dovaso (Bayly & Vale, 1982). Uma vezformado o coágulo de fibrina, plaque-tas e leucócitos se prendem na suamalha, iniciando o processo de agre-gação e liberação de fatores comoserotonina, ADP, tromboxano A2 eoutras substâncias químicas, que con-tribuem para a propagação do trombo(Slauson & Cooper, 1990).

Um estado de hiper-coagulaçãoque predispõe a trombogênese, podeocorrer devido à diminuição de fato-res anticoagulantes. Perdas de proteí-nas plasmáticas podem induzir a defi-ciência de antitrombina III (AT-III)

que se correlaciona com o grau dehipoalbuminemia. Eqüinos com glo-merulonefrite ou enteropatias graves,que acarretam em perda protéica,ficam propensos à trombose venosa(Morris, 1998).

As contribuições trombogênicasda estase ou redução do fluxo sangüí-neo são reconhecidas, podendo essesdistúrbios de fluxo ocorrerem por umavariedade de condições fisiológicas epatológicas, incluindo imobilização,gestação, choque, insuficiência cardía-ca ou durante procedimentos anestési-cos (Slauson & Cooper, 1990).

Diagnóstico

À palpação, a veia afetada apre-senta-se firme e engrossada, com pos-sível estase e edema nos tecidos peri-vasculares (Fig. 04). A tromboflebiteséptica é freqüentemente evidenciadapelo calor, dor, e pelo exsudato aoredor do sítio de venipunção (Morris,1989). A hematologia pode revelarum processo inflamatório com hiper-fibrinogemia, especialmente em eqüi-nos com tromboflebite séptica. Seocorrer suspeita de septicemia, cul-tura e antibiograma de sangue colhidoda ponta do cateter devem ser realiza-dos (Deem, 1981, Gardner &Donawick, 1992).

Ultra-sonograficamente a trom-bose é identificada como uma massaecogênica no lume da veia, comamplitude média ou baixa de ecos. Odiagnóstico ultra-sonográfico podeser usado para caracterizar especifica-mente a natureza do trombo. Porexemplo, um trombo séptico con-tendo gás mostra-se hiperecóico epode formar sombra acústica(Gardner et al., 1991). A espessura daparede e fluxo sanguíneo podem sermensurados pelo Ecodoppler (Fig.05). Rijkenhuizen & Van Swieten(1998), citaram que o Ecodopplercar-diográfico pode também ser um

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Figura 3

Aspecto clínico da TJE. Observar o grau de distensão que ocorre no vaso.

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método preciso para determinar aextensão da tromboflebite (Fig. 06).

Boswell et al. (1999) utilizaram,além dos sinais clínicos e da ultra-sonografia, a cintilografia para odiagnóstico de trombose da aorta ter-minal, e das artérias ilíacas em umeqüino, secundárias a tromboflebitedas veias jugulares.

Tratamento

Ao primeiro sinal clínico queindique tromboflebite, os cateteresdevem ser assepticamente removi-dos, e ser procedido a cultura domaterial contido no cateter (Morris,1998 , Morris, 1989).

A terapia tópica inicial deveincluir hidroterapia e pomadas anti-inflamatórias e heparinóides. Devese dar atenção ao grau de edemacia-ção da cabeça, pois em algunsmomentos a traqueostomia pode sernecessária para evitar o óbito (Marr& Reef, 1995). Terapia sistêmicacom antiinflamatórios não esteróidesestá indicada, mas o uso de fenilbu-tazona intravenoso deve ser evitado,por sua tendência em causar severairritação do endotélio vascular(Morris, 1998).

Na presença de sepse, a antibioti-coterapia deverá ser baseada nosresultados de cultura e antibiogramade material aspirado do trombo e da

ponta do cateter (Gardner &Donawick, 1992).

Heparina deverá ser administradapara prevenir a progressão da trom-bose (Moore & Hinchcliff, 1994), nadose de até 125UI / kg, via subcutâ-nea, a cada 12 horas (Dornbusch etal., 2000).

Branscomb (1968), indicou a solu-ção de gluconato de sódio 20% comoeficaz no tratamento de trombose daartéria ilíaca em um eqüino. Já Morris(1989) citou que embora várias dro-gas tenham sido avaliadas para pro-mover a fibrinólise, nenhuma é roti-

neiramente utilizada para prevenir atromboflebite em humanos ou ani-mais.

A excisão cirúrgica da veia deveser considerada nos casos não respon-sivos à terapia médica (Gardner &Donawick, 1992, Marr & Reef,1995). Rijkenhuizen & Van Swieten(1998), avaliaram a possibilidade derestabelecer a circulação da jugularpor meio de implante da veia safenaautóloga. Pesquisas vêm sendodesenvolvidas para restabelecer cirur-gicamente o fluxo sangüíneo, pormeio de enxertos vasculares homólo-gos e heterólogos, mantidos em solu-ção conservante (Fig. 07 e 08).

Prevenção

Eliminar o uso da via intravenosaem eqüinos é praticamente impossí-vel, entretanto, o veterinário podeminimizar a ocorrência de trombofle-bites, principalmente as do tipo bacte-riana e supurativa, controlando osfatores associados ao seu desenvolvi-mento além de restringir seus efeitos(Bayly & Vale, 1982).

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Figura 4

TJE caracterizada por aumento de volume localizado do tecido perivascular.

Figura 5

Imagens do EcoDoppler por mapeamento de fluxo colorido, em tomada longitudinal, para a avaliação de vasos quanto à presença ou formação de trombos, espessura da parede (A), e a velocidade máxima de fluxo sanguíneo (B)

Page 34: Revista CFMV

Segundo Deem (1981), Morris(1989) e Gardner & Donawick (1992)as medidas para diminuir a ocorrênciade TJE pelo uso de cateteres podemser assim resumidas:

Inserção – garantir a técnicaasséptica; fazer um "túnel" subcutâ-neo a fim de aumentar a distânciaentre a junção pele-cateter e veia-cateter, o que diminui a possibilidadede infecção por bactérias da pele; nãoposicionar a ponta do cateter emregião de turbulência do fluxo sanguí-neo; usar cateteres de menor calibrepossível, fixar firmemente o cateter àpele e cobrí-lo com bandagem estéril.

Uso – garantir técnica asséptica

para todas as injeções; injetarsomente soluções estéreis; trocar asconexões a cada 24 horas e lavar ocateter no mínimo a cada seis horas,com solução heparinizada.

Manutenção – trocar o cateter acada 72 horas; cateterizar outra veiasempre que possível; remover o cate-ter imediatamente na suspeita deinfecção e realizar cultura e antibio-grama de swab do cateter se houversinais de contaminação.

Como qualidade o cateter deveoferecer facilidade na aplicação, cali-bre, flexibilidade, tendência em nãodobrar ou deformar e mínima trombo-genicidade (Bayle & Vale, 1982). São

os materiais com mínima tendência osilicone e o poliuretano (Gardner &Donawick, 1992).

Prognóstico

O prognóstico para as trombofle-bites não-sépticas é favorável, e fre-qüentemente o animal recupera-sepor meio do desenvolvimento da cir-culação colateral, ou pela recanulaçãodo vaso afetado. Já nas tromboflebitessépticas o prognóstico é reservado,devendo o tratamento ser fundamen-tado na terapia antimicrobiana apro-priada (Gardner & Donawick, 1992,Marr & Reef, 1995). Em algunscasos, a presença de fibrose no vaso épersistente, promovendo diferentesgraus de oclusão venosa, e ocasio-nando quadros de edema do trato res-piratório superior, intolerância aoexercício e má performance (Marr &Reef, 1995). Deem (1981), conside-rou a periflebite, a tromboflebite e asepticemia as complicações maissérias da cateterização da jugular.

Conclusão

Como observa-se na literaturaatual, a terapêutica cirúrgica da TJEnão tem seguido o ritmo de outros tra-tamentos, tornando a aplicação dosbiomateriais na reconstrução vascularum tema promissor e necessário paraa Medicina Veterinária.

32 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Figura 5

Imagem de EcoDoppler

por mapeamento de fluxo colorido,

em tomada longitudinal, evidenciando

a presença de trombo

obstruindo parcialmente o

enxerto de veia jugular em eqüino.

Aspecto trans-operatório de enxertoheterólogo para a substituição

de segmento de jugular em eqüino

Estudo da utilização de enxerto homólogoconservado (seta azul) para restauraçãodo fluxo sanguíneo da jugular (seta amarela) experimentalmente obstruída em eqüinos

Figura 8

Figura 7

Page 35: Revista CFMV

33Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 36: Revista CFMV

34 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Habronemose Eqüina

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

A habronemose é uma helmintoseque acomete eqüinos, provocada pornematóides heteroxenos que parasitamo estômago dos hospedeiros definiti-vos e tem como hospedeiros inter-mediários muscídeos cosmopolitas dasespécies Musca domestica e Sto-moxys calcitrans, cujas larvas se de-senvolvem nas fezes de eqüinos(Freitas, 1976; Drudge e Lyons, 1989).

São três as espécies que parasitamo estômagos dos eqüinos: Habronemamuscae, Habronema majus (= H. mi-crostoma) e Draschia megastoma. Aúltima espécie, considerada a maispatogênica, invade a mucosa gástricaprovocando desenvolvimento denódulos. Segundo Lyons et al. (1984)e Pandey e Cabaret (1993) tais nódu-los se localizam principalmente na re-gião glandular. Além disso, a infecçãopor larvas destas três espécies denematóides em ferimentos na peleproduz ampla formação de tecido degranulação, causando então habrone-mose cutânea, também conhecida co-mo "ferida de verão", e a invasão des-tas na conjuntiva pode levar ao desen-volvimento de conjuntivite granular.

A habronemose acomete animaisde todas as idades (Drudge e Lyons,1989), sendo parasitoses cosmopoli-tas e sua prevalência está relacionadacom a abundância de seus hos-pedeiros intermediários (Pandey etal., 1981). Segundo Drudge e Lyons(1989) a infecção é mais prevalenteem países de clima quente e úmido,onde o ambiente é propício para aevolução de seus hospedeiros inter-mediários. Dessa forma, caracteres

Marta Pedrosa Souto MaiorMédica Veterinária - CRMV/PE nº. 1.776, Dra., Pesquisadora DCR/CNPq/UFRPE- Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n - Dois Irmãos - Recife - PE. CEP: 52.171-900. E-mail: [email protected]

Leucio Câmara AlvesMédico Veterinário - CRMV/PE nº. 1.290, Dr., Professor Adjunto, Departamentode Medicina Veterinária da UFRPE - Recife - PE

Este artigo teve como objetivo abordar os conhecimentos acumulados nos últimosanos sobre a etiologia, ciclo evolutivo, patogenia, quadro clínico, tratamento e con-trole da Habronemose eqüina.

Unitermos: Habronemose, Eqüinos, Habronema, Draschia

Equine Habronemosis

This article had as a main objective to approach the knowledge in the last years regar-ding ethiology, cycle of life, pathology, clinical record, treatment, and control of equinehabronemiasis.

Key words: Habronemiasis, Equines, Habronema, Draschia.

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35Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

bioecológicos de Musca domestica(hospedeiro intermediário preferen-cial de H. muscae e D. megastoma) ede Stomoxys calcitrans (hospedeirointermediário de H. majus) são bási-cos para o entendimento deste assun-to (Johnston e Bancroft, 1920; Melloe Cuocolo, 1943).

No Brasil, a prevalência das espé-cies de Habronema foi estudada porLanfredi (1983) na Baixada Fluminen-se, Rio de Janeiro, onde se observou quea H. muscae foi a única espécie encon-trada, parasitando 40% dos animaisexaminados. Na Região Metropolitanado mesmo Estado, Leite et al. (1997)verificaram que 90% dos animais estu-dados apresentaram-se infectados porH. muscae e 65% com H. majus. Emambos os estudos, a D. megastoma nãofoi encontrada. No Mato Grosso do SulPaiva (1988) registrou 95,45% deprevalência para H. muscae e 4,55%para D. megastoma, correspondendoapenas a um dos animais estudados.

Em alguns países D. megastomaatinge prevalência superior, como os22,9% no Chile (Alcaíno et al., 1980)e entre 37 e 62% nos Estados Unidos(Lyons et al., 1983; Lyons et al., 1990).

Ciclo evolutivo

Todas as espécies têm ciclo evolu-tivo heteroxeno e utilizam moscascomo hospedeiros intermediários. Asespécies H. muscae e D. megastomaevoluem na mosca doméstica (Muscadomestica), podendo também utilizaroutras especies de muscídeos, en-quanto o H. majus se desenvolve namosca dos estábulos (Stomoxys calci-trans) (Johnston e Bancroft, 1920;Mello e Cuocolo, 1943; Freitas, 1976;Soulsby, 1987).

Os nematóides adultos parasitandoo estômago dos eqüinos realizam aovoposição de milhares de ovos, osquais são eliminados para o meio am-biente junto com as fezes do hos-pedeiro (Figura 1). No meio ambien-te, as larvas de primeiro estágio (L1)eclodem e são ingeridas por larvas demoscas que também se desenvolvemnas fezes. O desenvolvimento das L1até a larva infectante (L3) é sincro-nizado com o desenvolvimento dasmoscas através dos estágios de larva,pupa e adulto, de forma que asmoscas que emergem do pupário já seencontram com a forma infectantedos nematóides (Freitas, 1976; Soul-sby, 1987). Segundo Mello e Cuocolo(1943), Freitas (1976) e Rebhun et al.(1981), as larvas se desenvolvem notecido adiposo dos estágios larvaresdas moscas; na cavidade geral destas,as larvas de segundo estágio (L2)mudam para o estágio infectante (L3)que migram para a cabeça indo selocalizar na probóscida do insetoadulto.

A infecção dos animais se dáatravés da ingestão das larvas que sãodepositadas pelas moscas na boca(Figura 1) ou pêlos, enquanto as mos-cas se alimentam sobre os lábios, ouatravés da ingestão das moscas juntocom água e alimentos (Trees et al.,

1984; Blood et al., 1988; Paiva, 1988).As larvas deglutidas atingem a

maturidade sexual no estômago,entretanto, formas aberrantes destainfecção podem ocorrer quando as L3são depositadas em feridas da pele oudos olhos, ou ainda quando migramerraticamente para órgãos como pul-mão, baço e cérebro (Mello e Cuoco-lo, 1943; Macruz et al., 1981; Rebhunet al., 1981; Mayhew et al., 1982;Trees et al., 1984). Nesses casos, a L3não atingem o estômago dos eqüinose conseqüentemente não completamseu ciclo evolutivo .

Patogenia e FormasClínicas

Os animais podem manifestardiferentes formas clínicas de habro-nemose de acordo com a localizaçãodos nematóides adultos e das larvasde terceiro estagio (L3) das três espé-cies, habronemose gástrica, habro-nemose cutânea, habronemose con-juntival e habronemose pulmonar(Mello e Cuocolo, 1943; Hornedo eQuiroz, 1971; Freitas, 1976; Rebhun

Figura 1

Ciclo evolutivo dos habronematídeos

Fonte: A Multimedia Atlas of InternalParasites of Horses. Annie Prestwood.Departament of Parasitology. Collegeof Veterinary Medicine.The University of Georgia, 1995

Figura 2

Nódulos provocados por Draschiamegastoma na mucosa do estômago.

Fonte: A Multimedia Atlas of Internal Parasites of Horses. Annie Prestwood. Departament of Parasitology. College ofVeterinary Medicine. The University of Georgia, 1995

Page 38: Revista CFMV

36 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

et al., 1981; Trees et al., 1984). Entre-tanto, Amaral e Macruz (1968) cita-ram casos de nódulos habronemóticosno baço e Mayhew et al. (1982) rela-taram a presença de uma fêmea grávi-da de D. megastoma no cérebro deuma égua.

Habronemose Gástrica

As larvas de D. megastoma, con-siderada a espécie mais patogênica,penetram na mucosa gástrica provo-cando o desenvolvimento de grandesmassas granulomatosas (Figura 2),estas lesões tendem a se localizar aolongo do margo plicatus na porçãoglandular do estômago (Drudge eLyons, 1989). A maioria dessas lesões,são nódulos singulares com aproxi-madamente 50 mm de diâmetro, ocupa-dos por massa de nematóides que ficamembebidos por material caseoso enecrótico; estes nódulos apresentamuma fístula central por onde os ovospassam para a luz do estômago (Bloode Radostits, 1991; Santos, 1996 eThomassian, 1997) (Figura 3).

Na maioria dos casos, as lesõesproduzem apenas uma gastrite difusa,

entretanto, em casos raros, estesnódulos podem tornar-se supurativos,levando o animal a um quadro deperitonite como resultado da per-furação da parede gástrica (Hornedo eQuiroz, 1971; Macruz et al., 1981;Lyons et al., 1983; Drudge e Lyons,1989).

Os nódulos mais antigos além deserem maiores, tornam-se absceda-dos, com conteúdo fétido e pus de coramarela devido à presença de bac-térias como Streptococcus sp, Cory-nebacterium sp, Pseudomonas aerugi-nosa e Escherichia coli (Macruz et al.,1981).

As espécies H. muscae e H. majusnão provocam a formação de nódulos,mas em infecções maciças podempenetrar nas glândulas do estômagoproduzindo inflamação (gastritedifusa) e até mesmo ulceração (Frei-tas, 1976; Blood et al., 1988; Drudgee Lyons, 1989). Eventualmente essasespécies podem causar irritação damucosa gástrica e estimular o apareci-mento de uma gastrite catarral comprodução de muco espesso e aderente(Blood e Radostits, 1991; Santos,1996; Thomassian, 1997) (Figura 4).

As manifestações clínicas sãogeralmente leves. Na maioria doscasos as duas espécies do gêneroHabronema irritam superficialmentea mucosa gástrica provocando umahipersecreção de muco e, quando hácargas parasitárias intensas, ocorregastrite crônica. Algumas vezes, alocalização de nódulos de D. megas-toma na região do piloro pode inter-ferir mecanicamente com a função doestômago, levando o animal a umquadro de dilatação gástrica, manifes-tada por desconforto abdominal(Blood et al., 1988, Drudge e Lyons,1989).

Habronemose Cutânea

Esta manifestação ocorre devido àpresença das larvas de Habronemaspp e D. megastoma, que são deposi-tadas pelas moscas transmissoras, emferidas ou escoriações na pele doseqüinos. A infecção recebe váriasdenominações, como: ferida de verão,esponja, espúndia e dermatite granu-losa (Mello e Cuocolo, 1943;Hornedo e Quiroz, 1971; Rebhun etal., 1981; Trees et al., 1984; Blood etal., 1988).

Figura 5

Lesão inicial de habronemose cutâneano pênis do eqüino.

Fonte: A Multimedia Atlas of Internal Parasites of Horses. Annie Prestwood. Departament of Parasitology. College ofVeterinary Medicine. The University of Georgia, 1995

Figura 4

Gastrite catarral devido à infecçãopor Habronema spp.

Fonte: A Multimedia Atlas of Internal Parasites of Horses. Annie Prestwood. Departament of Parasitology. College ofVeterinary Medicine. The University of Georgia, 1995

Figura 3

Nódulo provocado por D. megastoma na mucosa do estômago,mostrando a fístula central.

Fonte: A Multimedia Atlas of Internal Parasites of Horses. Annie Prestwood. Departament of Parasitology. College ofVeterinary Medicine. The University of Georgia, 1995

Page 39: Revista CFMV

37

As lesões se manifestam em váriasregiões do corpo onde ferimentos eescoriações são mais prováveis eonde o animal não possa espantar asmoscas vetoras. As partes do corpomais afetadas são: canto médio dosolhos, comissura labial, pescoço, cer-nelha, regiões distais dos membros(joelho, machinho, coroa, pênis eprepúcio).

As lesões cutâneas iniciam-secomo pequenas pápulas (Figura 5)com centros cobertos por uma casca;o desenvolvimento é rápido e lesõesindividuais podem aumentar até 30cm de diâmetro (Drudge e Lyons,1989). Ocorre prurido intenso, emalguns casos, o animal se automutila.Nestes locais as larvas ficam migran-do sem possibilidade de completar ociclo, produzindo lesões ulcerativas eocupadas por tecido de granulaçãoexuberante e friável, coberto por umamembrana necrótica acinzentada,com bordos elevados e espessos ecom acentuada depressão central(Figura 6). As larvas desaparecem daslesões em um prazo relativamentecurto, o que explica a dificuldade dese encontrar tais larvas em cortes his-tológicos das esponjas (Trees et al.,

1984). Segundo Waddel (1969), aslarvas permanecem nas lesões por umperíodo mínimo de quatro semanas,enquanto Pereira et al. (1949)relataram que as larvas levam cercade sete dias para serem totalmentedestruídas.

A manutenção desta afecçãoocorre devido à constante deposiçãode novas larvas sobre a lesão e aindapela ocorrência de invasão bacterianaou micótica secundária (Blood et al.,1988; Lacerda Neto e Pessoa, 1989).

Embora as lesões não se curemespontaneamente, elas podemregredir durante o tempo mais frio ereaparecer no verão (Drudge e Lyons,1989).

Habronemose Conjuntival

Segundo Blood e Radostits (1991)é bastante comum a ocorrência dachamada habronemose conjuntival, aqual se desenvolve quando as larvassão depositadas sobre o saco conjun-tival, ducto lacrimal e membrana nic-titante, dando origem a uma conjun-tivite granulosa também conhecidacomo blefaroconjuntivite habronemó-tica e conjuntivite parasitária (Joyceet al., 1972; Rebhun et al., 1981;Trees et al., 1984).

A invasão das larvas ocorre atravésda conjuntiva íntegra ou devido àocorrência de lesões locais (Rebhun etal., 1981; Jubb et al., 1985).

Histologicamente, as lesões sãosemelhantes às lesões cutâneas epodem causar lacrimejamento intensoe outros sinais de irritação local(Blood e Radostits, 1991).

As habronemoses cutânea e con-juntival não são fatais, mas podemcausar transtornos consideráveis.

Diagnóstico

O diagnóstico é difícil na formagástrica, pois os ovos e larvas não são

fáceis de serem encontrados nas fezesdevido não só às suas dimensõescomo também à extrema fragilidadeperante as técnicas coproparasitológi-cas convencionais (Mello e Cuocolo,1943; Rebhun et al., 1981). SegundoDrudge e Lyons (1986) as infecçõespor habronematídeos no estômagonão são detectadas pelas técnicas deflutuação porque os ovos têm parededelgada e colapsam, dificultandoassim a flutuação.

Paiva (1988) afirmou que H. mus-cae é larvípara e a habronemosegástrica provocada por esta espéciepode ser diagnosticada através de téc-nicas de recuperação de larvas, taiscomo a técnica modificada de Baer-mann modificada por Ueno. E ainda,Oliveira et al. (1988) afirmam que atécnica de Baermann é a mais ade-quada para pesquisa de Habronemaspp e Draschia sp.

A habronemose gástrica pode serainda diagnosticada através do xeno-diagnóstico, que consiste na pesquisade L3 de habronematídeos em moscascriadas em fezes de animais sus-peitos.

As habronemoses cutânea e con-juntival podem ser diagnosticadasatravés da pesquisa das L3 em corteshistológicos do tecido de granulaçãodas áreas afetadas. Feridas habrone-móticas se caracterizam por apresen-tar lesões granulomatosas, de colo-ração vermelho-amarelada., com grâ-nulos calcificados e caseosos, além deuma intensa infiltração eosinofílica(Kirkland et al., 1981; Trees et al.,1984; Lacerda Neto e Pessoa, 1989.

Há necessidade de fazer o diagnósti-co diferencial da habronemose cutâneaque se assemelha histopatologicamentecom a ficomicose, e o diagnóstico dife-rencial é feito pelo encontro das hifas deHyphomyces destruens (Campos eViana, 1975; Lacerda Neto e Pessoa,1989). E ainda, o diagnóstico diferencialda habronemose conjuntival deve ser

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Figura 6

Habronemose cutânea no membroanterior.

Fonte: A Multimedia Atlas of Internal Parasites of Horses. Annie Prestwood. Departament of Parasitology. College ofVeterinary Medicine. The University of Georgia, 1995

Page 40: Revista CFMV

feito com neoplasias oculares, ficomi-cose e oncocercose ocular (Rebhun etal., 1981).

Tratamento

Existe uma grande quantidade dealternativas propostas para o trata-mento das diversas manifestações dahabronemose.

Klei e Tobert (1980) conseguiramefeitos altamente significativos notratamento da habronemose gástricautilizando Invermectina pela viaintramuscular nas doses de 0,2 mg,0,3 mg e 0,5 mg / Kg de peso cor-póreo. Além do tratamento propostopelos autores acima mencionados,Blood e Radostits (1991) sugeriram otratamento da forma gástrica comFebendazole, usando dose de 10 mg/Kg durante cinco dias. Costa et al.(1995) mencionaram a eficácia daassociação entre o Albendazole eTriclorfon contra os nematóides adul-tos de H. muscae. E ainda, Tho-massian (1997) recomendou que otratamento da habronemose gástricaseja realizado com Triclorfon, viaoral, na dose de 20 a 30 mg/ Kg de

peso corpóreo.Com relação à habronemose

cutânea, Boyd e Bullard (1968)obtiveram sucesso no tratamento uti-lizando Triclorfon, administradointravenosamente, na dose única de2,5 mg/Kg de peso corpóreo, dis-solvido em um litro de solução fisio-lógica ou de dextrose a 5%. EnquantoCampos e Viana (1975) revelaram su-cesso do tratamento da habronemosecutânea utilizando topicamente opolímero de condensação do ácidometacreosolsulfônico com metanal,em solução aquosa a 36%, em inter-valos de 24 e 48 horas ,durante 16 a135 dias até a restauração completada área lesada.

Herd e Donham (1981) relataramo uso da invermectina no tratamentoda habronemose cutânea em dosagemúnica de 0,2 mg/Kg de peso adminis-trada por via intramuscular. Tambémno tratamento da habronemosecutânea, Lacerda Neto e Pessoa(1989) obtiveram êxito utilizandopela via parenteral o antimoniato deN-metilglucamina, na dose de 20mg/Kg de peso, associado ao usotópico do polímero de condensação

do ácido metacreosolsulfônico commetanal, na forma gel, diariamente,por um período de 20 dias.

Blood et al. (1998) indicaram aremoção cirúrgica do tecido de granu-lação utilizando o termocautério.

Controle

O controle dos parasitos adultosdeve ser realizado através da adminis-tração de antihelmínticos aos animaisinfectados, evitando que os nema-tóides realizem ovoposição; remoçãoregular das fezes de eqüinos, pro-movendo a interrupção do ciclo nomeio ambiente; A população demoscas deve ser controlada através daeliminação dos focos nos criatórios,por baias sujas e esterqueiras abertas,ou através do uso de agentes químicos(Mello e Cuocolo, 1943; Tomassian,1997; Blood et al., 1988).

Além das medidas citadas, todosos ferimentos e escoriações devem sertratados e protegidos por bandagensou repelentes para evitar a deposiçãode larvas de moscas (Boyd e Bullard,1968; Thomassian, 1997; Blood eRadostits ,1991).

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Natimortalidade na suinocultura industrialLuís Gustavo SchneiderMédico Veterinário, CRMV/RS nº. 6.159Mestrando do curso de pós-graduação em Ciências Veterinárias - UFRGS

Ivo WentzMédico Veterinário, CRMV/RS nº. 556Dr., Professor Adjunto - FAVET - Faculdade de Veterinária da UFRGS.Setor de Suínos. Porto Alegre - RS

Fernando Pandolfo BortollozzoMédico Veterinário, CRMV/RS nº. 4.199Dr. Professor Adjunto - FAVET - Faculdade de Veterinária da UFRGS.Setor de Suínos. Porto Alegre - RSwww.ufrgs.br/setorsuinos

A natimortalidade na suinocultura industrial causa extenso prejuízo, sendo relatadasvárias causas capazes de produzir natimortos pré-parto e intraparto. Os natimortospré-parto normalmente estão associados a causas infecciosas enquanto que os intra-parto a causas não infecciosas. A determinação do momento da morte dos leitões érealizada através de visualização externa e necrópsias. Para se tomarem medidas decontrole da natimortalidade é sugerida a obtenção do perfil do problema na granjaobservada, a adequação da confecção dos registros dos partos e a análise da prová-vel influência das causas existentes, sendo que são encontradas algumas alternati-vas para o controle da natimortalidade, as quais devem ser analisadas economica-mente. Esta revisão apresenta as principais causas da natimortalidade, o diagnósticodo momento da morte dos leitões, resultados parciais de uma análise observacionalda natimortalidade em algumas granjas tecnificadas e opções de controle.

Unitermos: Suínos, leitões, natimortos.

INTRODUÇÃO

Na suinocultura industrial, a nati-mortalidade é a maior causa de perdasde leitões, seguida pela mortalidadeneonatal, na qual o esmagamento,inanição e leitões fracos são as causasmais freqüentes (Dial et al., 1992).

Uma das formas de medir a efi-ciência produtiva da fêmea suína e dosistema de criação como um todo, éatravés do número de leitões desma-mados/fêmea/ano, que, em granjascomerciais, não deve ser inferior a 23leitões. Para se obter essa produtivi-dade, é necessário um bom número deleitões nascidos vivos/parto e em con-dições de se desenvolverem integral-mente até o desmame. Considerandoque o custo de um leitão ao nascer,nas condições de granjas comerciaisbrasileiras, encontra-se em torno de12 a 15 reais, para viabilizar a produ-ção de suínos torna-se de extremaimportância, entre outros aspectos, aredução do número de natimortos porleitegada.

Segundo Dial et al. (1992), nati-mortos são aqueles leitões que seencontravam vivos no início do parto,mas morreram durante o mesmo.Entretanto, na ausência de mudançasautolíticas óbvias, leitões que morremantes do início do parto, também sãodenominados pelos suinocultores,como natimortos, o mesmo ocorrendopara leitões que morrem logo após onascimento. Em outras definições osnatimortos são classificados em tipoI, quando as mortes ocorrem no pré-parto, e tipo II quando as mortes ocor-rem no período intraparto (English eWilkinson, 1982). São consideradoscomo natimortos os fetos mortos apartir dos 90 dias de gestação(Sobestiansky et al., 1999).

Natimortality in the swine industry

The mortality in the swine industry causes extense loss, with many causes being ve-rified, and these are capable of producing prepartum and intrapartum stillbirths. Theprepartum stillbirths are normally associated to infections causes, while the intra-partum happenings are related to non-infections causes. The determination of themoment of the swines’ death is carried out through an external visualization andnecropsy. Timing to take measures to control the natimortality, the acquisition of theoutline of the problem at the farm observed is suggested, as well as, the adequationof the confection of records of berths and the analysis of the probable influences ofexhistant causes, with some alternatives being found for the control of natimortality,which should be economically analyzed. This review presents the main causes of nati-mortality, the diagnosis of the moment of the piglets’ death, partial results of an obser-vational analysis of the mortality in some technified farms and control options.

Key words: Swine, piglets, stillbirths

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O índice de natimortos totais con-siderado por muitos autores comoaceitáveis, em granjas tecnificadas,encontra-se entre 5 a 7% (Curtis,1974; Stanton e Carroll, 1974;Sobestiansky et al., 1999), sendo que70-90% dessas perdas ocorremdurante o parto (Randall, 1972b).

A mortalidade pré-parto geral-mente está associada a causas infec-ciosas (Sprecher et al., 1974), relacio-nando-se com agentes infecciososcausadores de doenças da reprodução(Sobestiansky et al., 1999). Por suavez, a mortalidade intraparto normal-mente resulta de causas não-infeccio-sas (Sprecher et al., 1974), sendo aanóxia fetal, que ocorre durante oprocesso de parto, reconhecida comoa maior causa dessas perdas (Curtis,1974; Sprecher et al., 1974; Stanton e

Carroll, 1974; English e Wilkinson,1982). Leitões que demonstram sinaisde vida após o nascimento (batimen-tos cardíacos e/ou movimentos respi-ratórios), mas que morrem imediata-mente após, devem ser incluídos namortalidade pré-desmame (Randall,1972b). Entretanto, na prática, os lei-tões mortos antes e durante o parto

são registrados, de uma maneirageral, como natimortos (Dial et al.,1992).

O objetivo dessa revisão é efetuarum resumo das principais causasinfecciosas e não infecciosas da nati-mortalidade em leitões e salientar osaspectos ligados ao diagnóstico danatimortalidade, com relação ao períodoem que as mesmas ocorrem, discu-tindo também situações de natimortali-dade reais, em granjas industriais.

2 Revisão bibliográfica

2.1 Causas infecciosas de natimortalidade em leitões

Quando a taxa de natimortos emgranjas é igual ou superior a 10%,

sempre devem ser colocadas sob sus-peita possíveis causas infecciosas(Sprecher et al., 1974).

Nesse aspecto, existe uma série depatógenos primários que causam oaumento da taxa de natimortos emsuínos, entretanto, vários patógenosoportunistas e facultativos têm sidoisolados (Tabela 1) (Dial et al., 1992).

Na suinocultura industrial brasi-leira, a leptospirose e a parvovirosesão as doenças mais importantes cau-sadoras de perdas. Epidemias de lep-tospirose são freqüentemente associa-das com o aumento na taxa de nati-mortos, elevadas taxas de abortos emortes neonatais (Sobestiansky et al.,1999).

O parvovírus suíno normalmentecausa elevação na taxa de mumifica-dos. Porém, em leitoas infectadas,que desenvolvem imunidade duranteo terço médio da prenhês, tambémpodem ser encontradas elevadas taxasde natimortos (Dial et al., 1992).

Na Europa e América do Norte asíndrome reprodutiva e respiratóriasuína (PRRS) é uma doença bastanteprevalente, causadora de grandes pre-juízos para a suinocultura, incluindo

entre outros, mumificação fetal, nati-mortalidade e leitões nascidos fracos(Dial et al., 1992), podendo tambémocorrer uma combinação de natimor-tos, natimortos parcialmente macera-dos, leitões fracos ou fetos mumifica-dos, sendo variável o número de nati-mortos paridos por leitegada(Benfield et al., 1992). No Brasil, a

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TABELA 1: Relação de patologias e agentes causadores de abortos (AB), natimortalidade (NM), mumificação (MM), mortalidadeneonatal (MNN) e fraqueza ao nascimento

Patologia/agente Possíveis efeitos na leitegadaLeptospirose AB, NM e MNN.Parvovirose MM e NM.Encefalomiocardite viral NM e MNN.Gripe suína AB e NM.Doença de Aujesky AB, NM e MNN.Clamydia NM e fraqueza ao nascimento.Paramixovírus NM e MNN.Vírus da encefalite japonesa NM.Toxoplasmose AB e NM.PRRS MM, NM e fraqueza ao nascimento.Erisipela NM.Fontes: Sobestiansky et al., 1999; Dial et al., 1992.

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doença ainda não foi detectada, o quenão torna menos importante o conhe-cimento dessa patologia.

2.2 Causas não-infecciosasde natimortalidade em

leitões

2.2.1 O papel da anóxia na mortalidade intraparto

A alta percentagem de leitões nati-mortos, especialmente naqueles ondeas causas infecciosas não estão presen-tes, resulta de anóxia (Curtis, 1974;Sprecher et al., 1974; English e Wilkin-son, 1982). A suplementação de oxigê-

nio para o leitão é interrompida após aruptura ou impedimento do fluxo san-güíneo pelo cordão umbilical (Curtis,1974). Os fetos suínos apresentambaixa tolerância à anóxia, sendo que aasfixia e danos cerebrais irreversíveisocorrem cerca de 5 minutos após a rup-tura do cordão umbilical (Curtis, 1974,Randall, 1972a; Randall, 1972b).Portanto, a asfixia é bastante severa emleitões, e, infelizmente, muito comum(Stanton e Carrol, 1974).

Durante o processo de expulsão, atensão sangüínea de oxigênio (O2) nofeto declina, enquanto a de dióxido decarbono (CO2) aumenta. Isto se deve,principalmente, à redução das trocasgasosas respiratórias entre o feto e a

mãe, através da placenta. As contra-ções uterinas diminuem o fluxo san-güíneo placental, podendo tornar aplacenta parcialmente separada doútero, comprimir o cordão umbilicalou causar a sua ruptura prematura(Curtis, 1974). Em 93,6% dos leitõesclassificados na mortalidade intra-parto, o cordão umbilical encontrava-se rompido no momento de suasexpulsões (Randall, 1972b).

A tensão sangüínea de CO2 é oprincipal fator no controle da respira-ção. Neurônios do centro respiratórionormalmente sensibilizam-se devido àelevação da tensão de CO2 e iniciamuma resposta respiratória apropriada,na tentativa de aumentar as trocas

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TABELA 2. Causas de natimortalidade não infecciosa ligadas a vários fatores. Considerações, comentários gerais e referênciasbibliográficas utilizadas.

CAUSAS DE NATIMORTALIDADE RELACIONADAS À PORCA, À LEITEGADA E AO LEITÃOCausas Comentários gerais Referências

Duração da gestação Gestações curtas (<112 dias) e gestações longas (>117 dias) (Dial et al., 1992)podem apresentar elevadas taxas de natimortos.

Ordem de parto e Com a elevação da ordem de parição, até o 4o e 5o parto, aumenta o número (Sprecher et al., 1974;tamanho da leitegada de natimortos. Entretanto, altas porcentagens de natimortos podem ser Dial et al., 1992)

encontradas em leitegadas com menos de 4 e mais de 9 leitões nascidos.

Duração do parto Comparando partos de curta (<1,66 h) e longa duração (>6,66 h), (Fraser et al., 1997)observa-se um aumento de 2,0% para 11,0% no percentual de natimortos.

Local de fixação Aproximadamente 80% das mortes intraparto ocorrem no terço final do parto. Cerca (Sprecher et al., 1974).do feto no útero de 90% dos cordões umbilicais dos leitões mortos durante o parto apresentaram-se

rompidos à expulsão.

Comprimento uterino Há uma correlação negativa entre comprimento uterino e mortalidade pré-natal (Wu et al.,1987)(r=-0,46, P<0.001) quando fêmeas de mesma taxa ovulatória são comparadas.

Intervalo entre O intervalo médio entre o nascimento de leitões natimortos é de 70 minutos e de (Spicer et al., 1986)nascimentos 21 minutos em toda a leitegada (natimortos, mumificados e leitões vivos).

Peso do leitão Demonstrou-se que cerca de 25% dos leitões nascidos com menos de 800 gramas (Spicer et al.,1986)ao nascer podem são natimortos, quando a taxa de natimortos média foi 8,3%

Leitões envoltos O leitão ao nascer pode estar envolto na placenta que impede a respiração, (Carr e Walton, 1990)na placenta conduzindo o neonato a asfixia.

Caracteristicas Aproximadamente 60% das porcas podem apresentar partos sem natimortos e apenas (Cutler e Prime, 1988)individuais da porca 17,5% parir 70% dos natimortos. Porcas com vários natimortos no parto anterior, podem

apresentar taxas superiores a fêmeas sem estes antecedentes.

Partos distócicos Fêmeas com parto distócico podem apresentar uma taxa de natimortos de 19,9%, (Jackson, 1975)índice este, três vezes maior ao de fêmeas com partos normais.

Genética Certas raças ou linhagens podem apresentar taxas de natimortos mais elevadas. (Randall e Penny, 1970)

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gasosas. Entretanto, quando a tensãode CO2 torna-se muito elevada e,especialmente quando a tensão de O2encontra-se muito baixa, o processocontrário pode ocorrer, com depressãodos quimioreceptores nervosos cen-trais. Portanto, a asfixia pré-natal podedesencadear arfadas pré-natais, tradu-zidas por movimentos respiratóriosprofundos, na tentativa de elevar atensão sangüínea fetal de O2 e dimi-nuir a tensão de CO2 (Curtis, 1974).

A asfixia também desencadeia,entre outras conseqüências, umaumento no peristaltismo intestinal erelaxamento do esfíncter anal, sendoobservado, com freqüência, o esva-ziamento do conteúdo intestinal dofeto. Isso pode ser observado pelapresença de mecônio no líquido amni-ótico, que pode ser encontrado sobre apele e também no trato respiratóriodos leitões mortos durante o parto,como conseqüência de movimentos

respiratórios intra-uterinos (Curtis,1974).

Na atualidade, são conhecidasvárias causas não infecciosas que con-duzem à natimortalidade de leitões taiscomo fatores ligados à porca, à leite-gada e ao leitão, aspectos ambientais,nutricionais, entre outros (Dial et al.,1992). A Tabela 2 apresenta algumascausas da natimortalidade de origemnão infecciosa que, na maioria dasvezes podem se apresentar interagidas.

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TABELA 2. Causas de natimortalidade não infecciosa ligadas a vários fatores. Considerações, comentários gerais e referênciasbibliográficas utilizadas (continuação)

CAUSAS DE NATIMORTALIDADE RELACIONADAS AO MEIO AMBIENTE, INSTALAÇÕES E AO MANEJOCausas Comentários gerais Referências

Níveis de monóxido Elevados níveis de monóxido de carbono atmosférico, proveniente do uso de (Wood, 1979)de carbono aquecedores à gás, em salas pouco ventiladas, podem causar um aumento

repentino nas taxas de natimortos.

Estresse calórico e O estresse pelo calor, durante o período final da gestação ao parto aumenta o (Dial et al., 1992)alojamento na percetual de mortes intraparto. Fêmeas transferidas para a maternidade aos 102maternidade dias de gestação apresentam baixas taxas de natimortos, quando comparadas com

fêmeas transferidas aos 112 dias.

Fatores estressantes A maioria dos fatores estressantes induz a secreção de adrenalina e de determinadas (Baxter e Petherick,em geral catecolaminas que podem bloquear a ação da ocitocina, interferindo nas 1980).

contrações uterinas.

Comportamento da Pode ocorrer um aumento na taxa de natimortos em partos de fêmeas em gaiolas (Parry, 1986; Fraser porca e instalações quando comparadas a partos de porcas em baias. Entretanto, poucos estudos et al., 1997).

demonstram que o fornecimento de espaço maior para a fêmea durante o parto contribui para a redução da taxa de natimortos ou duração do parto.

Supervisão de partos Foi observada uma taxa de natimortos de 6,4% quando os partos não foram assistidos, (Dial e Holyoke,5,4% quando os partos foram supervisionados apenas no período diurno e 4,5% quando 1996)

os partos foram atendidos continuamente.

CAUSAS DE NATIMORTALIDADE RELACIONADAS À NUTRIÇÃOCausas Comentários gerais Referências

Condição corporal Fêmeas obesas podem ter estreitamento da via fetal e contrações uterinas fracas, (Bos, 1987).da fêmea o mesmo podendo ocorrer com fêmeas sem restrição alimentar nas imediações do

parto as quais apresentam grande volume de matéria fecal nos intestinos.

Deficiência de 1. Aumento na taxa de natimortos, parto prematuro, nascimento de leitões fracosvitamina A (1), zinco (2), e hipogalaxia. 2. Taxa aumentada de natimortos em leitoas associada a partos longos.

ferro (3) e cobre (4) 3. Elevadas taxas de natimortos em fêmeas diagnosticadas com níveis de hemoglobinadurante a gestação abaixo do normal. 4. Aumento na taxa de natimortos por envolvimento deste mineral no

desenvolvimento do sistema músculo-esquelético e na síntese da hemoglobina. (Dial et al., 1992).

Micotoxinas A ingestão de rações contaminadas com zearalenona e ocratoxina durante a (Dial et al., 1992)gestação é associada com o aumento na taxa de natimortos.

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2.3 Diagnóstico situacionalda natimortalidade na

granja

Para a implementação de um pro-grama de controle de natimortos emgranjas, é necessária a determinaçãoprévia do percentual de leitões mortosantes, durante e logo após o parto(Dial et al., 1992). Dessa forma podeser assegurado se o problema estárealmente relacionado a leitões nasci-dos mortos, e não à mortalidade pós-parto (Wilson, 1986), o que pode serconhecido conforme o grau de autó-lise dos fetos e outros achados ànecropsia, em cada fase de mortali-dade (Tabela 3) (Glastonbury, 1977a).

2.4 Tentativas de controleda natimortalidade

2.4.1 Fase de avaliação

Para serem adotadas medidas decontrole da natimortalidade em umagranja de suínos, é necessário, previa-mente, a efetuação das seguintesmedidas: obtenção do perfil da nati-mortalidade e como essa é classifi-cada (Dial et al., 1992); análise dohistograma de partos na granja, paraverificar em qual grupo de fêmeasestá ocorrendo uma taxa de natimor-tos mais elevada (Wilson, 1986);diagnóstico provável das causas danatimortalidade pré e intraparto e ava-

liação da oferta e qualidade da assis-tência ao parto (Dial et al., 1992).

2.4.2 Observações práticas da natimortalidade em

granjas tecnificadas

Como citado anteriormente, o pri-meiro passo para que sejam efetuadasmedidas de controle da natimortali-dade é a obtenção do perfil da nati-mortalidade da granja analisada.

Com esse objetivo, foi realizadauma análise observacional de acom-panhamento de partos em granjas tec-nificadas (Tabela 4, Figuras 1, 2, 3, 4e 5) (Schneider et al., 2001- dadosnão publicados). A análise observa-

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

TABELA 3: Características externas do leitão ao nascer e principais alterações macroscópicas à necropsia, relacionadas aomomento da morte deste (pré-parto, intraparto e pós-parto).

Momento da morte Principais alterações macroscópicas à necropsiaCaracterísticas do leitão após a expulsão

Pré-parto*

Órgãos parenquimatosos friáveis e descoloridos;excessivo volume de líquidos serosanguinolen-tos no tecido subcutâneo e cavidades corporais(Glastonbury, 1977a). Os pulmões não flutuamna água (Carr e Walton, 1990).

Freqüentemente estes fetos são expulsos envolvi-dos nas membranas fetais, as quais sofrem descolo-ração e alterações degenerativas (Randall, 1972b).Pele descolorida e olhos "profundos" podem serobservados (Dial et al., 1992).Também pode ser observada as córneas azuladas(autólise), indicando que o feto morreu a mais de24 horas (Carr e Walton, 1990).

Intraparto

Edema subcutâneo; volume excessivo de líqui-dos serosos e congestão das vísceras; pulmõesde coloração vermelho púrpura, firmes e semevidências de aeração; presença de fragmentosde mecônio sobre a pele, na laringe, traquéia ebrônquios (Glastonbury, 1977a). O estômagopode estar repleto de mecônio e os pulmões nãoflutuam na água (Carr e Walton, 1990).

Leitão com aparência normal ao ser expulso (Dialet al., 1992). O natimorto intraparto também podese apresentar úmido e com cianose, particular-mente ao redor da face. Nas extremidades dosmembros, os leitões apresentam extensões de teci-do cartilaginoso nos cascos ("slippers" ou "chine-las") que no leitão vivo são perdidos dentro de 15minutos pós-nascimento (Carr e Walton, 1990).

Pós-parto

Congestão subcutânea; congestão visceral(Glastonbury, 1977b); pulmões com evidênciasde aeração, flutuando na água (Wilson, 1986).Se o leitão morreu após ter mamado, o estô-mago pode conter leite no seu interior (Carr eWalton, 1990).

Leitão com aparência de normal ao ser expulso,podendo apresentar batimentos cardíacos e/oumovimentos respiratórios (Dial et al., 1992). Estesleitões podem não apresentar as extensões doscascos ("slippers" ou "chinelas") se morreram após15 minutos de nascimento (Carr e Walton, 1990).

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cional foi aplicada em granjas indus-triais com um número de matrizesalojadas variando de 1.030 a 3.800. Oestudo foi efetuado em um períodomédio de 2 semanas em cada granja,onde foram coletados os resultados de100% dos partos no período, durnte24 horas ao dia. Todos os leitões nati-mortos ocorridos nos partos observa-dos foram necropsiados logo após asua expulsão para a obtenção do diag-nóstico do momento da morte desses(segundo a Tabela 3).

Como observado na Figura 1, ataxa de mumificados e natimortos(pré-parto, intraparto e mortes pós-nascimento), nas granjas analisadas,variaram de 2,3% a 5,75% e de 7,43%a 9,71% respectivamente.

O perfil da natimortalidade, comrelação ao momento da morte dos lei-tões, foi bastante diferente entre asgranjas (Figura 3). Com relação à

mortalidade pré-parto, a granja 4obteve o maior percentual dessas per-das sobre o total de leitões mortos(36,5%). Nessa granja pode ser con-siderado o envolvimento de possíveiscausas infecciosas contribuintes paraa alta natimortalidade pré-parto. Nasgranjas 1, 2 e 3 a natimortalidade pré-parto apresentou valores reduzidos,com percentuais não superiores a10%, o que pode ser explicado porum manejo correto na aclimatação deleitoas e esquemas de vacinações. Anatimortalidade intraparto é esperadaque seja a mais evidente das três clas-ses de mortes. Entretanto, o elevadopercentual de perdas nessa categoria(55-77%) poderia indicar falhas naassistência ao parto, como no diag-nóstico de distocias entre outros pro-blemas. Com relação às mortes pós-nascimento, que também podem estarrelacionadas às falhas na assistência

ao parto, mais especificamente aomanejo dos leitões após as suasexpulsões, as mesmas apresentaramíndices de 8-19%. Possivelmente,muitos desses leitões poderiam serreanimados após o nascimento. Opercentual de leitões que poderia res-ponder às mudanças de manejo aoparto, nascendo vivos, é dado pelasoma dos valores das mortes intra-parto e pós-nascimento. Portanto, nagranja 4, por exemplo, somente63,5% dos leitões computados comonatimortos poderiam nascer vivos emdecorrência de um manejo ao partomais eficiente, entretanto, na granja3, esse índice sobe para 90,9%(Figura 3).

Os resultados referentes aos errosde registro durante a análise observa-cional indicam que os fetos mumifi-cados encontram-se na categoria quemais apresenta falhas nos registros,

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Tabela 4. Características gerais das granjas observadas

Granjas No matrizes genética Período da análise Nº de partos observadosGranja 1 2.400 Média 08/01/2001 – 17/01/2001 144Granja 2 3.700 Média 18/01/2001 – 25/01/2001 168Granja 3 1.030 Média 06/02/2001 – 21/02/2001 118Granja 4 2.400 "de ponta" 05/03/2001 – 14/03/2001 131

2,3

0

2

4

6

%

8

9,04

7,43

2,41

9,71

2,25

9,08

5,75

Figura 1Taxa de fetos mumificados enatimortos (pré-parto,intraparto e mortes após onascimento) segundo aanálise observacional(Schneider et al., 2001 -dados não publicados).

granja 1 granja 2 granja 3 granja 4

% mumificados

% natimortos

10

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sendo que as discordâncias nas anota-ções desses foram bastante amplas emtodas as granjas (Figura 4), variandode 19% a 67%. Os erros severos naanotação dos fetos mumificados sãopossivelmente causados pela ausênciade apontamento dos fetos de tamanhoreduzido, que podem estar envolvidosnas placentas, principalmente devidoao desconhecimento da importânciado registro desses.

Com relação aos leitões natimor-tos, também foram deixados de seranotados, porém, em um nível menor.O percentual de leitões natimortos

deixados de ser registrados, durante operíodo da análise, variou de 6,02% a34,54%. As falhas na anotação dosnatimortos podem ser intencionais, natentativa de baixar o índice desses, epara que seja atingida a meta estipu-lada. Porém, durante o período daanálise observacional a diferençaentre os registros da mão-de-obra esegundo a equipe de pesquisa podeser reduzida, pois os registros dosfuncionários da granja podem sofrer o efeito de pessoas estranhas ao am-biente de trabalho (PEAT), fazendocom que os resultados registrados por

esses sejam mais próximos à reali-dade (segundo a análise observacio-nal) (Figura 4).

O percentual de leitões nascidosvivos deixados de ser registradosdurante a análise observacional va-riou de 0,89% a 1,69%, sendo princi-palmente deixados de ser anotados osleitões de tamanho reduzido e combaixa viabilidade. Na granja 4 a dife-rença percentual dessa variávelchegou a ser positiva, o que demons-tra a excelente qualidade das anota-ções para leitões nascidos vivos pelosfuncionários da maternidade nessa

unidade de produção. As falhas deanotação quanto aos leitões nascidostotais, da mesma forma como para osfetos mumificados, foram diferentesem todas as granjas, variando de2,34% a 5,01%, refletindo os erroscometidos nas demais categorias deleitões (mumificados, natimortos evivos).

Porém, quando são avaliados com-parativamente os resultados segundoa mão de obra da granja, em períodoanterior à pesquisa e segundo a aná-lise observacional, a fim de ser mini-mizado o efeito PEAT, foi observado

que os erros nos registros podem ser,supostamente, mais pronunciados(Figura 5). Com relação à mumifica-ção fetal, a diferença variou de53,57% a 70,37%. Quanto à natimor-talidade, as falhas variaram entre47,32% a 82,14%. Da mesma forma,os registros dos leitões nascidos vivosmostraram uma diferença de até5,47% e os nascidos totais falhas deaté 16,52%. Em algumas granjas foiobservada uma diferença numérica deaté 1 leitão nascido vivo (granja 1) ede até 2,18 nascidos totais (granja 3).

Todos esses erros nos registros,

discutidos anteriormente, podemfazer com que o técnico, ao realizaruma intervenção em uma unidade deprodução de suínos, dirija os seusesforços para outros setores de produ-ção que não a maternidade. Como,por exemplo, segundo os resultadosda mão-de-obra na granja 3 (Figura5), a ocorrência de mumificados enatimortos parece estar controlada e onúmero de leitões nascidos vivos etotais encontra-se baixo. Essa situaçãopode fazer com que o técnico detenhaa sua atenção para o setor de reprodu-ção da granja (cobertura e gestação),

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%

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10,05

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11,5310,4

12,33

granja 1 granja 2 granja 3 granja 4

nasc. vivos

nasc. totais

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6

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18

14

10

Figura 2Números de leilões nascidosvivos e totais por leitegadasegundo a análiseobservacional.

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quando na realidade, segundo osresultados da análise observacional, aocorrência de mumificados e natimor-tos precisa ser reduzida, elevando-se,com isso, a média de leitões nascidosvivos e totais por parto.

2.4.3 Formulação e adoção deestratégias de controle

Como constatado nos resultadosparciais do estudo citado anterior-mente, observa-se que a primeiramedida a ser tomada com relação ànatimortalidade, em qualquer granja,é a adequação dos registros de partos.Se esses não são fielmente anotados,o técnico pode não perceber que

existe um "problema de natimortos"na granja, mantendo a sua atençãopara outros setores da unidade, comopor exemplo, o setor de cobertura-gestação. A importância da anotaçãocorreta da taxa de natimortos edemais resultados do parto deve sersalientada em treinamentos de funcio-nários, com o objetivo de aprenderema identificar/reconhecer todas as alte-rações, e, a partir daí, efetuaremregistros mais confiáveis.

Ao serem identificados problemasde natimortalidade (mortes pré eintraparto > 6%), as medidas cabíveisa serem adotadas para o controle damesma dependem das possíveiscausas diagnosticadas/identificadas(Wilson, 1986).

Para o controle das causas infec-ciosas de natimortalidade é impor-tante assegurar a imunização ade-quada do plantel de reprodução paraaquelas doenças que, potencialmente,podem causar um aumento no númerode natimortos. Nesse contexto, aten-ção especial deve ser dada à parvovi-rose que é envolvida em transtornosreprodutivos como mortalidade em-brionária, mumificação fetal, nati-

mortalidade e nascimento de leitega-das com tamanho reduzido, quandoatinge fêmeas não imunes ou combaixa imunidade na fase de gestação(Sobestiansky et al., 1999).

É sugerido que o procedimentomais efetivo para o controle de nati-mortos intraparto é a presença de pes-soal treinado para o acompanhamentodo parto (Sobestiansky et al., 1999),pois o funcionário qualificado deveráter capacidade para reconhecer os pro-

blemas que possam acontecer com afêmea durante a gestação, parto e lac-tação, e dessa forma pode antecipar asua atuação no sentido de reduzir osproblemas decorrentes (Stanton eCarroll, 1974). O fator mais impor-tante é determinar quais os momentosem que deve haver intervenção noparto, para evitar ações desnecessáriase o risco de vida para os leitões, pornegligência no atendimento ao parto(Silveira et al., 1998). O primeiroleitão deve nascer, no máximo, apósuma hora depois do início das contra-ções uterinas em porcas e 1-1,5 horasem leitoas (Bos, 1987). O limite detempo entre o nascimento de leitõesnão deve ultrapassar 30 minutos

(Wilson, 1986). Caso a fêmea já tenhaexpulsado um leitão e continue apre-sentando contrações, sem no entantoparir mais nenhum, é indicativo deque algo está obstruindo a via fetal.Em todas as situações citadas anterior-mente, faz-se necessária a interven-ção ao parto com o objetivo de redu-zir as perdas relacionadas aos partosdistócicos (Silveira et al., 1998).

Caso o parto esteja demorado, nãosendo observado nenhum obstáculo ao

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2

4

6

%

8

granja 1 granja 2 granja 3 granja 4

pós-nascimento

pré-parto

intraparto

1019,23

71

9,61

18,6

71,42

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77,27

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Figura 3Percentual de leitões mortosperíodo pré-parto, intraparto epós-nascimento nas granjasanalisadas.

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mesmo, com as fêmeas apresentandobaixa intensidade de contrações uteri-nas, é recomendada a aplicação de oci-tocina, que não deve ultrapassar 10 U.I.Nos dias quentes pode ser necessária arealização de banhos nas fêmeas, por10-15 minutos, antes da aplicação deocitocina, para diminuir o estresse pelocalor (Silveira et al., 1998).

Para que as parições sejam con-centradas durante o dia, permitindo oacompanhamento de todo o processode parto, é possível induzir o partocom a aplicação de prostaglandinaF2α ou análogos (English eWilkinson, 1982). O intervalo médioentre a injeção de prostaglandinaF2α, até a parição, varia de 24-28horas. Porém, somente 50-60% dasfêmeas induzidas parem durante as 8-10 horas diárias de trabalho, e cercade 20% das porcas podem iniciar otrabalho de parto antes de transcorri-das 22 horas após a injeção (Guthrie,1985). Peixoto et al. (2000), indu-zindo o parto através da aplicação deanálogo da prostaglandina F2α (clo-prostenol), pela via sub-mucosa vul-var (da dose recomendada, via intra-muscular), observaram que, aproxi-

madamente, 60% das fêmeas pariramentre 22-32 horas após a aplicação. Ataxa de natimortos do grupo de porcasinduzidas neste tratamento foi 4,8%,enquanto que no grupo controle foi de 6,8%.

Os leitões nascidos "aparente-mente mortos", ou seja, aqueles neo-natos com parada respiratória, mas

com batimentos cardíacos, os quaispodem ser observados através da pul-sação da artéria umbilical, na base docordão umbilical, ou através da palpa-ção da parede torácica esquerda, apósserem removidas as secreções dasvias respiratórias do leitão, podem serreanimados através da respiração arti-ficial com o uso de um pequeno funilcolocado sobre o focinho, forçando-se os movimentos respiratórios atéque o leitão volte a respirar normal-mente. Com este procedimentopodem ser reanimados 25 a 30% dosleitões nascidos "aparentemente mor-tos" (Sprecher et al., 1974).

Com relação à nutrição, é reco-mendado que, no 2o e 1o dia pré-parto,a ração fornecida à porca (2,5kg) sejareduzida para 1,0 e 0,5kg, respectiva-mente. No dia do parto a fêmea deve

receber somente cerca de 100 gramasde ração. Este manejo tem o objetivode reduzir o conteúdo intestinal dasfêmeas, o que poderia causar o estrei-tamento da via fetal (Bos, 1987).Entretanto, esse manejo é bastantedifícil de ser realizado pelo fato doperíodo de gestação durar em média114 + 2 dias. Na maioria das vezes na

sala de parto existem fêmeas que estãoem trabalho de parto e aquelas queainda não iniciaram o parto. Estas,caso não recebam ração, ou recebammuito pouco, ficam agitadas podendoestressar as outras fêmeas da sala.Portanto, esse manejo é bastante difí-cil de ser aplicado.

Deve ser, também, controlada acondição corporal das fêmeas duranteo período de gestação, assegurando-se de que as fêmeas não estejammuito obesas ao parto (Wilson, 1986;Bos, 1987).

O ambiente, na sala de parto, deveser o mínimo estressante possível,com a temperatura ambiental emtorno de 21-22oC. Temperaturas supe-riores à 29oC conduzem a parturienteao estresse calórico o qual pode acar-retar um aumento na duração do parto

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%

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6,021,69 3,22

19,23

14,28

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67,82

-0,57

6,252,59

granja 1 granja 2 granja 3 granja 4

mumificados

natimortos

vivos

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10

30

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50

67,82

34,54

1,395,01

Figura 4Percentual de leitõesdeixados de ser registradossegundo a diferença entre oregistro dos funcionários e daanálise observacional (sob ainfluência do efeito PEAT).

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As referências bibliográficas deste artigo podem ser obtidas diretamente com os autores

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

e, conseqüentemente, elevadas taxasde natimortalidade (Wilson, 1986).

3 Conclusões

Como observado, a natimortali-dade na suinocultura industrial éuma importante fonte de prejuízos,podendo ser citadas várias causascapazes de conduzir à morte dos lei-tões no período pré e intraparto.Pode ser constatado também que,

muitas vezes, os leitões mortos logoapós o nascimento, são erradamenteclassificados como natimortos. Paraserem realizadas tentativas de con-trole de natimortos em uma granja,primeiramente, é imprescindível acerteza de que os registros da nati-mortalidade estão sendo realizadoscorretamente, sendo necessária tam-bém a avaliação do perfil da nati-mortalidade, bem como dos fatoresenvolvidos na morte dos leitões.

Antes de serem adotadas medidasde controle da natimortalidade, énecessária uma avaliação econô-mica das opções de controle emcada granja analisada, observando arelação custo-benefício. Contudo,mais estudos nessa área devem serrealizados, com o objetivo deencontrar alternativas para o con-trole e conseqüentemente minimiza-ção das perdas de leitões no períodoperinatal.

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%

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granja 1 granja 2 granja 3 granja 4

mumificados

natimortos

vivos

totais

10

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3,71

16,52

Figura 5Percentual de leitõesdeixados de ser registradossegundo a diferença entre osperíodos pré-análise(funcionários) e segundo aanálise observacional (seminfluência do efeito PEAT).

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Probióticos e prebióticos na nutrição de aves

Os alimentos funcionais são utilizados como uma alternativa ao uso de antibióticos naração de aves, visto que são destinados a reforçar ou restabelecer a probiose do tratointestinal, conseqüentemente, favorecendo a formação de uma microbiota saudável eequilibrada. Neste artigo são discutidos aspectos relacionados com a microflora intes-tinal, composição, utilização, propriedades e mecanismos de ação dos probióticos,prebióticos e simbióticos, objetivando uma melhor compreensão acerca do uso destesaditivos na indústria avícola.

Unitermos: alimentos funcionais, microbiota intestinal, bactérias probióticas, aves

Definição de Probióticos

Probióticos são produtos constituí-dos por microrganismos vivos queuma vez introduzidos no organismoanimal influenciam beneficamente ohospedeiro através da melhoria dobalanço microbiano intestinal (Fuller,1989). O Food and Drug Admi-nistration (FDA) dos EUA define pro-biótico como uma fonte de microrga-nismos viáveis que ocorrem natural-mente, os quais podem ser utilizadosdiretamente na ração de animais(DFM: direct-fed-microbial).

Vale lembrar que probiose é acapacidade dos microrganismos nor-mais do trato intestinal de resistir aocrescimento exagerado de cepas nor-mais e ao estabelecimento de cepasinvasivas, enquanto que os probióti-cos são utilizados para reforçar ourestabelecer esta probiose quando forquebrada por fatores adversos.

2. Histórico dos probióticos

A história desses aditivos é conhe-cida há centenas de anos, massomente no início do século passadofoi estudada racionalmente e pesqui-sada com bases científicas. O uso deorganismos probióticos surgiu noOriente Médio, onde médicos pres-creviam iogurtes e outros leites fer-mentados como terapêutica para afec-ções do trato gastrintestinal e tambémcomo estimulante do apetite.

A primeira informação sobre leitesfermentados, influenciando a saúdehumana, foi publicada por IlyaMetchnikoff (1907), pesquisador doInstituto Pasteur de Paris, após obser-var a longevidade de camponeses búl-

Maria Marta LoddiZootecnista, CRMV/SP nº. 1294-ZDoutoranda da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,UNESP-Jaboticabal-SP; Membro da Comissão de Tecnologias Avançadas do CFMVe-mail: [email protected]

Probiotics and prebiotics on the nutrition of birds

The functional feedings have been used as an alternative for the use of antibiotics inpoultry nutrition, considering that they are destined to reinforce or reestablish the pro-biosis of intestinal tract, consequently, improving the formation of a healthy and balan-ced microbiota. In this article aspects related to intestinal microflora, composition, uti-lization, properties and mechanisms of action of the probiotics, prebiotics and simbio-tics are discussed, with the objective of a better comprehension concerning the use ofthese additives in poultry industry.

Key words: functional feeding, intestinal microbiota, probiotic bacteria, birds.

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garos e atribuir o fato à dieta constituí-da basicamente de leite fermentado.Pesquisando os componentes do leite,Metchnikoff isolou o Bacillus bulga-ricus, identificado depois como Lac-tobacillus bulgaricus. No seu livro"The prolongation of life" Met-chnikoff (1907) especulou que mi-crorganismos nocivos ao aparelhointestinal expelem substâncias preju-diciais ao hospedeiro. Então, pormeio da ingestão de alimentos benéfi-cos, no caso o leite fermentado, pode-se melhorar o ambiente intestinal(hoje referida como manipulaçãomicrobiana), fortalecendo a saúde eaumentando a expectativa de vida doindivíduo.

Lilly e Stillwell (1965) foram osprimeiros a utilizar o termo probió-tico, verificando a ação de microrga-nismos como promotores de cresci-mento.

O marco do uso de probióticos emaves foi dado por pesquisadores fin-landeses (Nurni e Rantala, 1973). Emseus experimentos, os autores obser-varam que o conteúdo intestinal deaves adultas normais, administradosoralmente às aves com um dia deidade, alterava sua sensibilidade àinfecção por Salmonella spp., preve-nindo o estabelecimento desta nointestino. Esta idéia foi conceituadacomo "Exclusão Competitiva", tor-nando-se conhecida como "conceitode Nurni".

A década de 70 foi marcada peloinício do uso de um probiótico parafim animal, o Lactobacillus acidophi-lus. Este fato culminou com a preocu-pação, por parte das autoridades eórgãos de saúde animal internacio-nais, com as rações animais contendoantibióticos. A preocupação resultouna interdição do uso de algumasdessas substâncias alegando que a efi-cácia desses componentes poderia serdiminuída quando utilizados emhumanos, se administradas continua-

mente em animais. A União Européia,em 1997, proibiu o uso de avoparcinae, em 1998,de bacitracina de zinco,espiramicina, virginiamicina e tilo-sina. Os produtores europeus atual-mente podem recorrer a apenas quatropromotores de crescimento: monen-sina, salinomicina, avilamicina e fla-vomicina; os dois primeiros são ionó-foros bastante utilizados como agen-tes anticoccidianos para aves, res-tando apenas os dois últimos comopromotores de crescimento para fran-gos de corte e outras aves. No Brasil,em 1992, a Portaria no. 159, doMinistério da Agricultura veda o usode antimicrobianos para ação comoaditivos sistêmicos, promotores decrescimento ou conservantes comotetraciclinas, penicilinas, cloranfeni-col e sulfonamidas. O Ofício circular19/98 de 16/11/98 do Ministério daAgricultura, suspende o uso deAvoparcina e a Portaria 448 de10/9/98 proíbe a fabricação, importa-ção e uso de Cloranfenicol, Fura-zolidona e Nitrofurazona. Atual-mente, os aditivos autorizados comopromotores de crescimento de fran-gos de corte são: ácido 3-nitro, ácidoarsanílico, avilamicina, colistina, fla-vomicina, lincomicina, nitrovin, ola-quindox, tilosina, virgjniamicina,bacitracina de zinco, espiramicina eenramicina, de acordo com o Minis-tério da Agricultura.

Pesquisadores sensibilizados como problema procuraram alternativasao uso de antibióticos na ração ani-mal, pois a simples retirada desse pro-duto provocaria grandes danos econô-micos.

3. Microflora Intestinal

O feto no útero é estéril, masassim que passa através da genitáliafeminina durante o nascimento é rapi-damente contaminado por microrga-nismos. O recém-nascido adquire um

microflora intestinal que é caracterís-tica de cada espécie. No estado selva-gem, o animal obtém sua flora intesti-nal a partir do ambiente contaminadocom bactérias da mãe. Esta micro-flora, uma vez estabilizada no intes-tino, forma um sistema complexo edinâmico de 1014 microrganismos,constituído de aproximadamente 400tipos diferentes de bactérias. Estaflora, uma vez estável, auxilia o ani-mal a resistir à infecções, particular-mente do trato digestório.

As aves representam um excelenteexemplo deste fenômeno, pois o ovoé retirado da mãe e eclodido em umaincubadora limpa, não havendo, por-tanto, o contato com a galinha. Assim,o pintinho recém eclodido adquireparcialmente sua microflora atravésdo ambiente do incubatório, enquantoque as aves silvestres obtêm as bacté-rias benéficas logo após o nascimentovia bico, papo ou excremento dasmães. Os pintinhos provenientes deincubadoras comerciais não têm estaoportunidade e ficam susceptíveis atodo tipo de contaminação microbia-na, geralmente patogênica. De acordocom Mead (2000), nas condições cita-das acima, uma população bacterianasimilar à do adulto está presente emduas semanas no intestino delgado eem cerca de 30 dias no ceco, em nívelsuperior ao que ocorreria em condi-ções naturais.

O fornecimento imediato demicrorganismos vivos favorece a for-mação de uma microbiota saudável eequilibrada.

Gedek (1986) relatou que existeuma microflora natural no trato gas-trintestinal de difícil definição e com-posta de aproximadamente 400 espé-cies em equilíbrio entre si e com ohospedeiro. A presença dessa floraintestinal normal, em equilíbrio, é tãonecessária quanto benéfica para obem estar do animal. Estima-se que90% da microbiota seja composta por

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bactérias facultativas (aeróbicas/anae-róbicas) e produtoras de ácido láctico(Lactobacillus spp, Bifidobacteriumspp), incluídas as bactérias exclusiva-mente aeróbicas como os Bacte-rioides spp, Fusobacterium spp e Eu-bacterium spp. Os 10% restantes des-ta flora são constituídos de bactériasconsideradas nocivas ao hospedeiro,entre estas, a Escherichia coli, Esche-richia enterococci, Clostridium spp,Staphylococcus spp, Pseudomonasspp, Blastomyces spp. O desequilí-brio, em favor das bactérias indesejá-veis, resulta em infecção intestinalsevera que, muitas vezes, pode serfatal.

4. Composição e utilizaçãodos probióticos

Os probióticos podem conter bac-térias totalmente conhecidas e quanti-ficadas ou culturas bacterianas nãodefinidas. Enterococcus, Bacteroides,Eubacterium e especialmente Lacto-bacillus e Bifidobacterium estão pre-sentes em todas as misturas de cultu-ras definidas. Quando as bactériascom capacidade probiótica são isola-das do seu habitat convencional esubcultivadas e/ou liofilizadas, algu-mas das suas propriedades são perdi-das. Por outro lado, não se conhece,ainda, nem a composição total, nem aperfeita combinação entre as que me-lhor estimulam as propriedades probió-ticas "in vivo". Estas são as razõespelas quais os produtos com culturasnão definidas, ou fezes frescas, têmmelhor ação probiótica do que as cul-turas definidas.

Há probióticos com diferen-tes composições de microrganismose, mesmo aqueles pertencentes àmesma espécie, podem ter diferentescepas. A eficácia do produtos é estri-tamente dependente da quantidade ecaracterísticas das cepas do microrga-nismo utilizado na elaboração do pro-

duto a ser utilizado como aditivo ali-mentar. Portanto, é importante que seanalise os probióticos como produtosseparados, da mesma maneira com éfeita com os antibióticos.

As espécies animais para asquais existem produtos comerciaisdisponíveis são aves, suínos, bovinos,ovinos, eqüinos, cães e gatos. Asespécies de bactérias mais comunsutilizadas no preparo dos probióticossão: Lactobacillus bulgaricus, L. aci-dophilus, L. casei, L. lactis, L. saliva-rius, L. plantarum, L. reuteri, L. jo-honsii, Streptococcus thermophilus,Enterococcus faecium, E. faecalis,Bifidobacterium spp, Bacillus subtilise B. toyoi. É importante que as bacté-rias sejam hospedeiro-específicaspara que a máxima eficácia do pro-duto seja atingida (Butolo, 2001).

Os probióticos podem seraplicados de várias formas, como:adicionados às rações; na água debebida; pulverização sobre os ani-mais; em cápsulas gelatinosas; inocu-lação em ovos de aves embrionados ena cama usada de aves.

5. Propriedades desejáveisde um probiótico

Segundo Gibson e Roberfroid(1995) um bom probiótico deve:

- Sobreviver às condições adver-sas do trato gatrintestinal (ação dabile e dos sucos gástrico, pancreáticoe entérico) e assim ter condições depermanecer no ecossistema intestinal.

- Não ser tóxico nem patogênicopara o homem e para os animais.

- Ser estável durante a estocagem epermanecer viável por longos perío-dos, nas condições normais de estoca-gem.

- Ter capacidade antagônica àsbactérias intestinais indesejáveis.

- Promover efeitos comprovada-mente benéficos ao hospedeiro.

De acordo com Tournut (1994)

algumas normas foram adotadas pelaExpert Commission on Animal Feedspara a avaliação da eficácia de umproduto probiótico. Primeiramente, oprobiótico é avaliado por checagemde suas características genéticas e, emseguida, são feitos ensaios onde oprobiótico em questão deve permane-cer estável sob diversas condiçõespor, no mínimo, um ano em condi-ções de estoque para apresentaçãocomercial, por dois meses no ali-mento comercializado sob a formapeletizada e por três meses quandosubmetido à temperatura de 80oC.Com a finalidade de garantir a efi-ciência do produto em questão, tam-bém é recomendada a dose mínima de106 organismos viáveis por grama dealimento, bem como durante períodosexperimentais é indicada a contagemde organismos viáveis na ração, nolúmen intestinal (no mínimo no íleo,ceco e cólon), e no trato gastrintesti-nal depois de cessada a administraçãodo probiótico.

6. Mecanismo de ação dosprobióticos.

O mecanismo ou mecanismos deação dos probióticos não estão intei-ramente elucidados. Especula-se queum ou mais processos, associados ounão, alterariam a atividade e a compo-sição bacteriana intestinal. O equilí-brio entre os diferentes componentesda microbiota intestinal parece serfundamental para o funcionamentonormal e saudável da função digestivae geral do hospedeiro. A intensifica-ção dos sistemas de criação resul-tando no constante estresse a queestão expostos os animais, invariavel-mente, pode alterar o equilíbrio intes-tinal e predispor a diversas infecções,além de reduzir os índices de produti-vidade.

Os principais modos de ação des-critos para os probióticos são: compe-

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tição por sítios de ligação, produçãode substâncias antibacterianas e enzi-mas, competição por nutriente e estí-mulo ao sistema imune.

6.1 Competição por sítiosde ligação

Este conceito ficou tambémconhecido como o nome de "Exclu-são Competitiva" (Nurni e Rantala,1973). As bactérias probióticas ocu-pam sítios de ligação (receptores oupontos de ligação) na mucosa intesti-nal formando uma barreira física àsbactérias patogênicas. O bloqueio dossítios de ligação na mucosa entéricapelas bactérias intestinais pode redu-zir a área de interação nos cecos pelasbactérias patogênicas. É necessárioaproximadamente 40 bactérias pararecobrir a superfície de uma célulaintestinal. Assim, as bactérias patogê-nicas seriam excluídas por competi-ção. As fímbrias são os elementos deaderência bacteriana mais conhecidos

e estudados. São estruturas compostaspor fosfoglicoproteínas que se proje-tam do corpo bacteriano. Seus recep-tores são específicos e diferem entreespécies e os diferentes locais aolongo do trato intestinal. Algumasbactérias somente se aderem à super-fície superior (glicocalix) dos enteró-citos, enquanto que outras residemsomente nas criptas onde são produzi-das as novas células epiteliais quemigram até as vilosidades. Algumasdestas fímbrias podem ser bloqueadaspela manose. Assim, o uso de mana-noligossacarídeos (MOS) pode blo-quear a aderência das bactérias pato-gênicas com este tipo de fímbria.

6.2 Produção de substân-cias antibacterianas e

enzimas

As bactérias da microbiota intesti-nal e/ou componentes dos probióticospodem produzir e liberar compostoscomo as bacteriocinas, ácidos orgâni-

cos e peróxidos de hidrogênio, que têmação bacteriana especialmente em rela-ção às bactérias patogênicas. As bacte-riocinas são substâncias antibióticas deação local, que inibem o crescimentode patógenos intestinais. As bactériasácido lácticas produzem nisina, diplo-coccina, lactocidina, bulgaricina e reu-terina. Estas substâncias apresentamatividade inibitória tanto para bactériasgram-negativas quanto para gram-pos-titivas, como a Salmonella spp., E. colie Staphylococcus spp.

As bactérias intestinais, utili-zando-se de ingredientes alimentaresnão absorvidos integralmente pelohospedeiro (prebióticos) produzemalguns ácidos orgânicos, como o pro-piônico, o acético, o butírico e o lác-tico, além do peróxido de hidrogênio,cujos espectros de ação incluem tam-bém a inibição do crescimentos debactérias patogênicas. Aparentemen-te, a ação bacteriostática dos ácidograxos é dependente do pH, poisquanto maior a redução deste, maior a

Tabela 1. Respostas no ganho de peso e na eficiência alimentar de frangos de corte recebendo probióticos na ração, em porcentagem sobre o tratamento controle, em experimentos realizados no Brasil, 1993-2000

Referência Probiótico Idade (dias) Ganho de peso Eficiência alimentar% de resposta

Bertechini e Hossain (1993) L. acidophilus + 49 5,2 5,3E. faecium + S. cerevisiae, 3x108/kg

Franco et al. (1993) Idem 49 2,1 -1,0Cavalcanti (1995) Idem 28 0,4 1,1Henrique et al. (1998) Idem 42 1,4 0,5Silva(1999) Idem 42 -1,7 -1,0Zuanon et al (1998) Bacillus toyoi, 2,5x108/kg 42 1,0 0Loddi et al (1998) E. faecium, 4x108/kg 42 -1,5 0Henrique et al. (1998) B. subtilis, 3x1010/kg 42 1,8 1,0Loddi et al. (2000) Idem 21 -1,0 0Vargas Jr et al. (2000) B. subtilis, 3x1010/kg + 21 2,6 0,7

L. reuteri, 6,6x109/kg +L. johnsoni, 3,3x109/kg

Fonte: Adaptado de Menten (2001)

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quantidade de ácido e efeito antibac-teriano mais intenso. Não deve serdescartada a idéia de que todas estassubstâncias antibacterianas podematuar em associação, não só entre sicomo fatores desencadeantes e pro-cessantes, mas também como blo-queio físico.

Algumas bactérias secretam enzi-mas com a b-glucoronidase e hidrola-ses de sais biliares que liberam com-postos como ácidos biliares com açãoinibitória sobre as outras bactérias(Jin et al. 1997).

6.3. Competição por nutrientes

A competição por nutrientes nãoocorre entre o animal e a bactéria; elaocorre entre as bactérias intestinaispor seus nutrientes específicos. Aescassez destes nutrientes disponí-veis na luz intestinal que possam sermetabolizados pelas bactérias pato-gênicas é fator limitante de manuten-ção das mesmas neste ambiente. Asbactérias dos probióticos se nutremde ingredientes que foram parcial-mente degradados pelas enzimasdigestivas normais, ou que foramintencionalmente adicionados à dietacomo prebióticos.

6.4 Estímulo ao sistemaimune

As bactérias probióticas têm acapacidade de modulação de respos-tas imunes sistêmicas aumentando onúmero e a atividade de células fago-cíticas do hospedeiro. Um animalsimplesmente não consegue sobrevi-ver se não desenvolver uma microbio-ta intestinal normal. A maior partedeste conhecimento veio de experi-mentos com animais desprovidos ecriados em condições de esterilidade,chamados de animais axênicos ougnotobióticos.

Alguns gêneros de bactérias intes-tinais, como o Lactobacillus e oBifidobacterium estão diretamenterelacionados com o estímulo da res-posta imune por aumento da produ-ção de anticorpos, ativação de macró-fagos, proliferação de células T e pro-dução de interferon (Fuller e Gibson,1997), entre outros. Entretanto, o ver-dadeiro mecanismo, pelo qual essasbactérias estimulam o sistema imune,ainda, permanece com muitos pontosa serem esclarecidos.

O trato intestinal das aves é oórgão de maior responsabilidade nodesenvolvimento da imunidade geralinespecífica. Diferentemente de todasas outras espécies animais, as avesnão apresentam linfonodos. Seusórgãos linfóides, espalhados ao longodo trato intestinal, são as placas dePeyer, tonsilas cecais, inclusive aBolsa de Fabricius que é uma invagi-nação da parte final do trato diges-tivo. Estes tecidos captam antígenosdisponibilizados no trato digestivoque estimulam as células B, precurso-ras de IgA e células T, colaboradorasdas placas de Peyer, para o desenvol-vimento de imunidade geral e inespe-cífica. Através do estímulo imunoló-gico da mucosa, há produção de anti-corpos tipo IgA que bloqueiam osreceptores e reduzem o número debactérias patogênicas na luz intestinal(Jin et al. 1997).

Além disso, outras ações benéfi-cas podem ser atribuídas ao uso deprobióticos, como: auxílio na diges-tão e absorção de nutrientes (envol-vimento na bioquímica intestinal,especialmente em relação a açãosobre os sais biliares); produção denutrientes para células da mucosaintestinal; redução da produção deamoníaco e auxílio na eliminação deaminas biogênicas tóxicas; produçãode vitaminas do grupo B; melhoriada absorção de minerais; protegemos vilos e as superfícies absortivas

contra toxinas irritantes produzidaspelos microrganismos patogênicos,permitindo assim, a regeneração damucosa intestinal lesada; e restaura-ção da microbiota intestinal apósantibioticoterapia.

7. Resultados práticos naavicultura

Os resultados de pesquisas utili-zando diferentes bactérias probióticassão bastante conflitantes. Compilaçãorealizada por Menten (2001) envol-vendo vários experimentos (Tabela 1)mostra a divergência nos dados obti-dos. Para ganho de peso nove respos-tas foram positivas e quatro negativase para eficiência alimentar não ocor-reu resposta aos probióticos em trêsexperimentos e apenas dois estudostiveram respostas negativas. Um pon-to que deve ser enfatizado é que pode-se esperar que em condições de cam-po as vantagens do uso dos probióti-cos sejam maiores do que aquelasencontradas em condições de experi-mentos; portanto, o impacto real dosprobióticos na produtividade das avesé, provavelmente, superior aos cita-dos acima.

8.Prebióticos

Gibson e Roberfroid (1995) defi-niram prebióticos como ingredientesalimentares não digeríveis que afe-tam beneficamente o hospedeiro,estimulando seletivamente o cresci-mento e atividade de uma ou maisbactérias benéficas do colon, melho-rando a saúde do seu hospedeiro.Atualmente iniciou-se a utilização dotermo prebiótico também para ani-mais. A principal ação dos prebióti-cos é estimular o crescimento e/ouativar o metabolismo de algumgrupo de bactérias do trato intestinal.Portanto, segundo esses autores, paraque um componente do alimento seja

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BUTOLO, J.E. Utilização de ingredientes líquidos na alimentaçãoanimal. In: SIMPÓSIO SOBRE INGREDIENTES NAALIMENTAÇÃO ANIMAL, Campinas, 2001. Anais...Campinas: CBNA, 2001, p.295-334.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

considerado um prebiótico, este nãopode ser hidrolisado ou absorvidonos segmentos iniciais do trato diges-tório, deve ser substrato para bacté-rias benéficas, ser capaz de alterar amicrobiota intestinal, favorecendouma composição mais saudável einduzir efeitos benéficos sistêmicosou na luz intestinal.

As substâncias que têm sido maisestudadas como aditivos em alimen-tação animal são os oligossacarídeos,especialmente mananoligossacarí-

deos, (MOS) frutoligossacarídeos(FOS) e glucoligossacarídeos (GOS).Os MOS e os GOS são obtidos a par-tir de parede celular de levedura queconsiste principalmente em proteínase carboidrato, o qual contém os doisprincipais açúcares (glucose emanose) em proporções semelhantes.Os FOS são polímeros ricos em fru-tose, podendo ser naturais, derivadosde plantar ou sintéticos, resultante dapolimeração de frutose (Gibson eRoberfroid, 1995)

9. Simbióticos

Mais recentemente deu-se inicioao uso do termo simbióticos. Este sefaz pela associação de prebióticos eprobióticos em um só produto. Destaforma, pode-se fornecer componentesda microbiota intestinal e também subs-tâncias prebióticas específicas que emconjunto podem estimular o desenvol-vimento e a atividade desta mesmamicrobiota, podendo potencializar oefeito de ambos os componentes.

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INFORMAÇÕES GERAIS

A Revista do Conselho Federal de Medicina Veterináriatem como objetivo principal a publicação de artigos de revisãoe de educação continuada, básica, geral ou profissionalizante,que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreasde Medicina Veterinária e Zootecnia, podendo ser apresenta-dos também manuscritos de investigação científica. Os arti-gos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos au-tores, devem ser originais e previamente submetidos à apreci-ação do Conselho Editorial do CFMV, bem como, de assesso-res ad hoc de reconhecido saber na especialidade. A publica-ção do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Nor-mas Editoriais e de pareceres favoráveis do Comitê Científicoda Revista. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. Aperiodicidade da publicação será quadrimestral.

Os artigos e toda a correspondência pertinente deverãoser encaminhados para:

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Os textos de revisão e de educação continuada e cientí-ficos devem ser inéditos, de primeira submissão, escritossegundo as normas ortográficas oficiais da língua portu-guesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract eKey Words que serão apresentados em inglês.

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vos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Unitermos,Key Words, Introdução, Material e Métodos, Resultados,Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas,Agradecimento(s) (quando houver) e Tabela(s) e Figura(s)(quando houver). A critério do(s) autor(es) e/ou do Conse-lho Editorial, os ítens Resultados e Discussão poderão serapresentados como uma única seção. Quando a pesquisaenvolver a utilização de animais, os princípios éticos deexperimentação animal preconizados pelo Conselho Brasi-leiro de Experimentação Animal (COBEA) e aqueles conti-dos no Decreto n° 24.645 de 10 de julho de 1934 e na Lein° 6.638 de 8 de maio de 1979 devem ser observados.

ApresentaçãoOs manuscritos deverão ser encaminhados na primeira

submissão em três vias (uma original e duas cópias). A pri-meira página da via original conterá o título do trabalho, o no-me completo do(s) autor(es), suas respectivas afiliações e onome e endereço, telefone, fax e endereço eletrônico do autorpara correspondência. As diferentes instituições dos autoresserão indicadas por número sobrescrito. Nas duas cópias, apágina de rosto deve omitir o(s) nome(s) do(s) autor(es). Umavez aceita a publicação, além de uma cópia impressa, deve serenviada uma gravação do artigo em mídia magnética (disque-te de 3” ou compact disk) de alta densidade, identificado como título do trabalho e nome do(s) autor(es).

DigitaçãoO texto será digitado com o uso do editor de texto Mi-

crosoft Word for Windows, versão 6.0 ou superior, em for-mato A4 (21,0 x 29,7 cm), com espaço simples em uma sóface de papel, com margens laterais de 3,0 cm e margenssuperior e inferior de 2,5 cm, fonte Times New Roman de16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para roda-pé e informações de tabelas e figuras. As páginas e as li-nhas de cada página devem ser numeradas.

TítuloO título do artigo, com 25 palavras no máximo, deverá

ser escrito em negrito e centralizado na página. Não utili-zar abreviaturas.

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Resumo e AbstractO Resumo e a sua tradução para o inglês, o Abstract,

não podem ultrapassar 250 palavras, com informações quepermitam uma adequada caracterização do artigo comoum todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve in-formar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultadosprincipais e conclusões.

Unitermos e KeywordsNo máximo 5 palavras serão apresentadas em seguida

ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas dotexto e não necessariamente do título.

Texto principalNão há número limite de páginas para a apresentação

do artigo. No entanto, recomenda-se que sejam concisos.Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sis-tema Métrico Internacional; exemplo kg, g, cm, mL, EM,etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apre-sentadas no rodapé da primeira página do trabalho; exem-plo GH = hormônio do crescimento, etc. As citações bi-bliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) au-tor(es) seguido do ano. Quando houver 2 autores, ambosdevem ser citados. Com mais de dois autores, somente osobrenome do primeiro será citado, seguido da expressãoet al. Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Sil-va e Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves etal., (1998), (Gonçalves et al., 1998).

Referências BibliográficasA lista de referências bibliográficas será apresentada

em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo coma Norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenomedo(s) autor(es) seguido do(s) prenome(s), exceto aqueles deorigem espanhola ou de dupla entrada, registrando-se os doisúltimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados.

Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigoou pela entidade responsável por sua publicação. A refe-rência deve ser alinhada à esquerda e a sua segunda linhainiciada abaixo do terceiro caractere da primeira linha. Ostítulos de periódicos da referência podem ser abreviados,segundo a notação do BIOSES (BIOSIS. Serial sourcesfor the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996.468p). Abaixo são apresentados alguns exemplos de Re-ferências Bibliográficas.

l. Artigos de periódico

EUCLIDES FILHO, K., EUCLIDES, V.P.B., FIGUEI-

REDO, G.R., OLIVEIRA, M.P. Avaliação de animais ne-lore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina,em três dietas l. Ganho de peso e conversão alimentar. Re-vista Brasileira de Zootecnia, v.26, n. l, p.66-72, 1997.

2. Livros

MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiolo-gia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: FU-NEP,1994. 296p.

3. Capítulos de livro

WEEKES, T.E.C. Insulin and growth. In: BUTTERY, P.J.,LINDSAY, D.B., HAYNES, N.B. (ed.). Control and ma-nipulation of animal growth. Londres: Butterworths,1986, p.187-206.

4. Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado)

MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre Salmo-nel-la na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998.53p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências Agrá-rias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista.

5. Artigos apresentados em congressos, reuniões, seminários, etc

RAHAL, S.S., SAAD, W.H., TEIXEIRA, E.M.S. Uso defluoresceína na identificação dos vasos linfáticos superfi-ci-ais das glândulas mamárias em cadelas. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23, Reci-fe, 1994. Anais... Recife: SPEMVE, 1994, p.19.

Tabelas e Ilustrações

As Tabelas e Ilustrações (gráficos, fotografias, dese-nhos etc.) devem ser apresentados nas últimas páginas doartigo, uma em cada página. Serão numeradas consecuti-vamente com números arábicos. A tabela deve ter a sua es-trutura construída segundo as Normas de Apresentação Ta-bular do Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est.,v.24, p.42-60, 1963).

Revisões

Os artigos sofrerão as seguintes revisões antes da publi-cação: 1) Revisão técnica por consultor ad hoc; 2) Revisãode língua portuguesa e inglesa por revisores profissionais;3) Revisão de Normas Técnicas por revisor profissional;4) Revisão final pelo Comitê Editorial; 4) Revisão finalpelo(s) autor(es) do texto antes da publicação.

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BIOTECNOLOGIA

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Reprodução e Bioética

Introdução

No dia 7 de agosto de 2001 omundo “surpreendia-se” com o anún-cio feito pelo médico italianoSeverino Antínori, especialista emfertilidade humana, secundado porPanayotis Zavos e Brigitte Boisselierde que estavam prontos a efetuarclonagem humana em casais inférteis(ver na revista VEJA, de 29 de agos-to de 2001, entrevista de SeverinoAntinori). Cinco dias antes (2/8/2001), fazendo a conferência de aber-tura do XIV Congresso Brasileiro deReprodução Animal, tecemos comen-tários sobre a clonagem e outrosassuntos também momentosos e pal-pitantes relacionados com ética ereprodução.

Com intuito de chamar a atençãopara os aspectos éticos das pesquisasrecentes, fizemos uma comparaçãocom pequenos trechos do Gênesis

acompanhada de fotografias de pintu-ra de Michelangelo na Capela Sixtinado Vaticano, feitas quando o Brasilestava nos primeiros anos após o“descobrimento”(1508-1512). A figu-ra inicial que projetamos foi a“Criação do Homem”, no momentoem que os dois dedos, de Adão e deDeus, quase se tocam, recebendo osopro divino. A mesma exibida porAntinori em sua histórica apresen-tação na “National Academy ofScience”. Na conferência de encerra-mento do Congresso, dias depois(05/08/2001), o Dr. Andrew Simpson(líder da equipe que decifrou o códigogenético da Xylella fastidiosa), proje-tou, como última figura, os mesmosdois dedos da criação do homem pin-tadas por Michelangelo mas uma vezdo sopro divino, a cadeia espiraladado DNA. Por simples acaso, aprimeira e a última figura. Magnificosimbolismo.

Milton Thiago de MelloMédico Veterinário, CFMV nº. 0243Pesquisador Associado Senior,Faculdade de Agronomia e MedicinaVeterinária e Ex-Decano de Pesquisa ePós Graduação, Universidade deBrasília. Secretário Geral da SociedadeBrasileira de Medicina Veterinária

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BIOTECNOLOGIA

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A Criação

21. E Deus criou as baleias e os seres vivos que deslizam e vivem na água,conforme a espécie de cada um, e as aves de asas conforme a espécie decada uma. E Deus viu que isso era bom.

21. E Deus os abençoou e disse: “Sejam fecundos, multipliquem-se eencham as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”

24. Deus disse: “Que a terra produza seres vivos conforme a espécie de cadaum: animais domésticos, répteis e animais selvagens, cada um conformesua espécie”. E assim se fez.

26. Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e emelhança. Queele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todosos animais selvagens e todos os répteis que rastejam sobre a terra

27. E Deus criou o homem à sua imagem ; criou-a à imagem de Deus; criouo homem e a mulher.

28. E Deus os abençoou e disse: “Sejam fecundos, multipliquem-se, enchame submetam a terra; dominem os peixes do mar, as aves do céu e todosos animais que se arrastam sobre a terra”.

O Paraíso

7. Deus modelou o homem com o barro do solo, soprou-lhe nas narinas umsopro de vida e o homem tornou-se um ser vivente

15. Deus tomou o homem e colocou-o no Jardim do Eden para cultivá-lo eguardá-lo.

16. Deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as árvores dojardim;

17. Mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porqueno dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente.

18. Deus disse: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para eleuma auxiliar que lhe seja semelhante”.

19. Então Deus formou do solo todos os animais selvagens e todas as avesdo céu. Levou-os ao homem para ver com que nome ele as chamaria;cada ser vivo levaria o nome que o homem lhe desse.

20. O homem deu então nome a todos os animais, às aves do céu e a todosos animais selvagens. Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhefosse semelhante.

21. Então Deus fez o homem cair num sono profundo. Enquanto ele dormia,tomou- lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar.

22. E da costela que tinha tomado do homem, Deus modelou uma mulher eapresentou-a para o homem.

O Pecado Original

5 .“Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes vossos olhos seabrirão e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.”.(palavras da serpente).

19. “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra deque fostes tirado. Porque és pó e voltarás a ser pó”.

Alguns conceitos de biologia estãocontidos nos trechos iniciais doGênesis: criacionismo, espécie, clona-gem, taxonomia, sistemática, repro-dução, antropocentrismo, bem estar,comportamento, ciência, ética, onto-genia. Aí não se fala em evolução,conceito que só apareceu muitos sécu-los após as compilações que deramorigem ao Velho Testamento, e que foise insinuando até culminar comDarwin. Entretanto, em muitasreligiões de povos primitivos e atémesmo em alguns países civilizados,como nos Estados Unidos da Américado Norte, existe uma forte correnteque não admite o evolucionismo(“Science”, 18/05/2001). Para eles, sóexiste o criacionismo: “as espécies sãoaquelas que Deus fez”. Filosofiateológica, não científica.

Reprodução

A reprodução permeia todas asatividades da humanidade. Demaneira simples podem ser grupadascomo mostra a Figura 1.

O homem foi à Lua e voltou.Dentro de muito pouco tempo chegaráa Marte e mais outros planetas. Esta-mos em plena era da biologia molecu-lar nela encaixando-se a biotecnologia.Marchamos aceleradamente para a na-notecnologia, nanobiologia e nanome-dicina (“Scientific American”, númeroespecial sobre nanotecnologia, 2001,285, 3; “National NanotechnologyInitiative”, EEUU, 2000). Mas a taxade fertilidade feminina em países nãoindustrializados continua elevada. E asprevisões não são boas a curto e amédio prazos (Figura 2).

Crescei e multiplicai-vos, diz aBíblia. E assim se fez durantemilênios. Num passado relativamenterecente, todos os seres vivos repro-duziam-se sujeitos às leis da natureza.Nasciam, cresciam e morriam.Voltavam ao pó.

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O homem, entretanto, a espécie do-minadora, foi aos poucos utilizandooutras espécies, enquanto se repro-duzia, com elevadas taxas de fertili-dade. O correto era um casal ter muitosfilhos. Quanto mais, melhor. Mas amaioria dos nascidos não passava de 1ano de idade. E chegamos aos temposmodernos, com a sombria e popula-rizada previsão de Malthus: a huma-nidade cresce em proporção geométri-ca e os alimentos em progressão arit-mética. Com todos os avanços da ciên-cia, o impasse continua.

Os predadores naturais do homem,nutridos por ele mesmo, metaforica-mente representados pelo 4 cavaleirosdo Apocalipse – FOME, PESTE eGUERRA, resultando em MORTE –não foram e não são suficientes paracontrolar o aumento da populaçãohumana. Há poucos meses chegamosaos 6 bilhões.

A esperança de controle daexplosão demográfica está no grau de“civilização”, que é, muitas vezes,anti-biológica. Está ao alcance detodos mas precisa ser usado, apesardos protestos de alguns líderes reli-giosos. Dois exemplos: onde se fazplanejamento familiar e onde não sefaz: Itália e Nigéria

O mesmo ocorre com algumasespécies animais que também sob aproteção direta ou indireta do homemreproduzem-se de tal modo que pas-sam a constituir praga, como os gatose cães nas grandes cidades, coelhosna Austrália, macacos em Mauritius,etc.

A fome está matando milhares,talvez milhões na África e noutroscontinentes. E produzido cenaschocantes e deprimentes de procurade restos de comida em lixões e deviolência com saques a mercados e

meio de transportes de alimentos.Simplisticamente pode-se dizer que éum problema sócio-econômico, pelamá distribuição de riquezas. Umagrande motivação para revolu-cionários de todos os matizes ideo-lógicos. Mas a raiz está na explosãodemográfica.

As doenças humanas e dos ani-mais que dão alimentos ao homem oulhes servem de companhia estãosendo controladas e, em raros casos,erradicadas. A peste bubônica, porexemplo, símbolo da morte emmassa pelas epidemias que causou edeu origem à medicina científico-pro-filática no Brasil, com a fundação doInstituto Oswaldo Cruz e outras insti-tuições de renome, está sob controle.Mesmo que reapareça a partir dospoucos focos inveterados, como os deExu, em Pernambuco e os do interiorda Bahia, poderão ser prontamente

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controlados por meio de vacinas,medicamentos, raticidas e inseticidaseficazes. Entretanto, outros flagelossubsistem em certas partes do mundo,como malária e a AIDS no homem e afebre aftosa em várias espécies ani-mais domésticas e silvestres, princi-palmente bovinos.

As guerras sempre estiveram pre-sentes no mundo, pelo caráter agressi-vo da espécie dominadora – ohomem. Ao contrário das outrasespécies que lutam apenas com seusrecursos corporais, o homem temusado sua inteligência para fabricarengenhos e artefatos que aumentam acapacidade de destruição muito alémdos limites corporais. Com o passardos tempos as guerras vão sendo cadavez mais destrutivas. Matam milhões

em pouco tempo mas ainda assim nãosão suficientes para impedir aexplosão populacional.

Na Segunda Guerra Mundial mor-reram milhões em ações diretas decombate e nos bombardeios deLondres, Berlim, Tóquio, Hiroshimae Nagasaki. As guerras internas, comdepurações ideológicas ou étnicastambém cobram seu tributo, como naantiga União Soviética sob Stalin, naAlemanha de Hitler culminando como holocausto, na China com Mao TséTung, em Cuba com Fidel Castro enas muitas guerras étnicas na África eno Oriente Médio. Mais recente-mente, nos países em que se dividiu a antiga Iugoslávia e seus vizi-nhos albaneses, sérvios, croatas,macedônios...

Biotecnologia

Os avanços da biotecnologia,resultantes dos progressos na biologiamolecular, com inversão de vultososrecursos para pesquisas, muitas vezesnos fazem esquecer a simples e pro-saica reprodução humana e de outrasespécies. Em recentes viagens peloBrasil coordenando Cursos deEspecialização, vimos com os partici-pantes, a necessidade imperiosa eurgente de se ampliarem os esforçosisolados de heróis e, principalmente,heroinas, em remotos rincões do país,como na Amazônia, no Cerrado, noNordeste e no Pantanal, com suaspesquisas sobre reprodução de ani-mais silvestres. Há muita coisa porfazer!

TABELA 1 – Temas relacionados com biotecnologia (XIV Congresso Brasileiro de Reprodução Animal)

- CLONÉTICACLONAGEM HUMANACLONAGEM ANIMALOUTRAS CLONAGENS

- GENÔMICAGENOMA HUMANOGENOMA DE ANIMAIS DOMÉSTICOSGENOMA DE OUTROS ANIMAIS E PLANTASGENES RELACIONADOS COM CAPACIDADE

REPRODUTIVAANIMAIS TRANGÊNICOSGENETERAPIA

- SEQÜENCIAMENTO DE DNAPCR

- PREDIÇÃO DE FERTILIDADE- TESTES DE PATERNIDADE- DIAGNÓSTICO PRE-NATAL- CELULAS TRONCO (STEM CELLS)

DE EMBRIÕESDE PLACENTADE CORDÃO UMBELICALDE MEDULA OSSEADE ADULTOS

- PROTEÔMICA- NANOBIOTECNOLOGIA- BIOINFORMÁTICA

EMBRIOTECNOLOGIA

- REPRODUÇÃO ASSISTIDA- SELEÇÃO DE RECEPTORAS- CONTROLE DE CICLO ESTRAL- INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL- SINCRONIZAÇÃO DE CIO- SUPEROVULAÇÃO- COLHEITA DE ÓVULO- COLHEITA DE ESPERMATOZÓIDES- SEXAGEM DE ESPERMATOZÓIDES- FERTILIZAÇÃO IN VIVO- FERTILIZAÇÃO IN VITRO- SEXAGEM DE EMBRIÕES- CLASSIFICAÇÃO DE EMBRIÕES- CLIVAGEM DE EMBRIÕES- CRIOPRESERVAÇÃO

SÊMEMÓVULOSEMBRIÕES

- IMPLANTAÇÃO DE EMBRIÕES- MÃES POSTIÇAS

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Nesta altura devemos voltar asvistas para o resultado mais impor-tante para o Brasil, sob o ponto devista econômico, da reprodução ani-mal: o impressionante avanço da pro-dução de alimentos de origem animalno País. O Brasil possui o maiorrebanho bovino do mundo para pro-dução de alimentos (170 milhões). Eisto sem a plena utilização da insemi-nação artificial, como seria de desejar.A Índia tem mais bovinos porém estesnão podem ser abatidos para alimen-tação, por motivos religiosos. O país étambém o 2º produtor de carne, mal-grado os problemas com a aftosa,agora em vias de solução. E o 2ºmaior exportador de frangos. Hápoucos meses a maior parte do paísfoi considerada pelo “OfficeInternational des Épizooties” (OIE)livre da febre aftosa, com vacinação(a nosso ver a medida sanitária maisacertada) representando mais de 90milhões de bovinos, em vários cir-cuitos pecuários.

Até agora falamos na macrobiolo-gia, na macrorreprodução. Mas o ho-mem não se contenta com isso. Temque esmiuçar até chegar , como agoraà nanotecnologia, à nanobiologia.

Os assuntos saem das bancadasdos laboratórios para as revistascientíficas especializadas ( Ciênciae Cultura, “Science”, “Nature”,etc). Daí para as de divulgaçãocientífica de alto nível ( CiênciaHoje, “Scientific American”, “NewScientist”, etc). Finalmente, para asrevistas semanais (Veja, Época, IstoÉ, “Time”, etc) e para a mídiamundial: jornais, revistas, televi-são, rádio. Qualquer cidadão quesaiba ler, ouça rádio ou veja televi-são, em qualquer lugar do mundo,pode falar e dar opinião como“douto”. Às vezes sem nada saberou compreender, porque aparecemtermos novos a cada momento.Assim como existe o economês, o

sociologês e o informatês, tambémexiste o biotecnologês, com pala-vras novas, siglas e símbolos in-compreensíveis para os não inicia-dos, mas que vão ficando populari-zados.

A tabela 1 mostra assuntos rela-cionados com biologia molecular eembriotecnologia, alguns deles já dedomínio público graças à mídia.

Clonagem

No caso da clonagem, tendo emvista o sucesso obtido com a ovelhaDolly, imediatamente pensou-se emfazer o mesmo com humanos.Grande discussão mundial: religiosa,ética, cientifica e política. Há 2 dias(31-7-2001), a Câmara dosDeputados dos Estados Unidos daAmérica do Norte aprovou lei queproíbe as pesquisas de clonagemhumana e quem as fizer estarásujeito a 10 anos de cadeia. No casodos animais domésticos a polêmica émais branda e as perspectivas denatureza econômica até estimulam aspesquisas. Há poucos meses foimerecidamente festejada a clonagemda bezerra Vitória, por pesquisadoresda EMBRAPA.

Transgênicos

Animais transgênicos e alimen-tos transgênicos ou geneticamentemodificados têm sido motivo dequebra-quebras semelhantes aosdas badernas contra as medidassanitárias e a vacinação no tempode Oswaldo Cruz; também asreações iniciais contra a vacinaçãopreventiva da varíola (Jenner) eda raiva (Pasteur), a pasteurizaçãoe a irradiação de alimentos. Aonda vai passar. Na maioria doscasos as motivações têm raízescomerciais aproveitadas politica-mente.

Genoma

Enorme propaganda tem sido feitana mídia sobre outro grande aconteci-mento científico: a decifração docódigo genético humano – o genomahumano – constituindo a culminaçãode novo ramo da ciência: a genômica.Efetuou-se uma corrida semelhante àcorrida espacial, envolvendo grandesinstituições (“Human GenomeProject”, consórcio multinacionalliderado pelo “National HumanGenome Research Institute” dosInstitutos Nacionais de Saúde – NIH e“Celera Genomics”, empresa privadanorte- americana) e bilhões dedólares, também com interessescomerciais ao fundo. Um triste resul-tado dos avanços da genômica foi orecente fechamento de una das maisimportantes instituições do mundoem pesquisa básica sobre imunologiada Suíça (“Basel Institute ofImmunology – BII”), financiada pelaHoffmann – La Roche, substituídapor um laboratório de genômica(“Roche Center for MedicalGenomics”), a fim de acompanhar atendência comercial do momento(“Science”, 13/07/2001). Outrosorganismos têm tido seu códigogenético decifrado (“ScientificAmerican”, July 2000): diversos ani-mais, plantas, fungos, bactérias (debananas a camundongos e animaisdomésticos). Um dos mais impor-tantes exemplos foi a decifração, noBrasil, do codigo genético da Xylellafastidiosa, bactéria causadora de sériadoença em laranjas; trabalho de umagrande equipe, multiinstitucional dedezenas de laboratórios brasileiros(“Nature”, 13/07/2000). Pesquisa-dores do Instituto de CiênciasBiológicas da Universidade deBrasília participam do projetoGenoma Brasileiro e um dosprimeiros objetivos consiste noseqüenciamento do genoma de

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Chromobacterium violaceum, bac-téria produtora de antibiótico promis-sor contra os protozoários causadoresde doenças de Chagas e leishmaniose.

Células embrionárias primordiais

Um grande debate hoje, no mundointeiro mas sobretudo nos EstadosUnidos da América do Norte, temcomo tema as células embrionáriasprimordiais , tronco, mãe ou primiti-vas (stem cells). São células obtidasde embriões humanos de 5 a 7 dias deidade, capases de se transformaremem mais de 200 tipos de outras célu-las que compõem o corpo humano.Daí, a possibilidade de serem usadaspara tratamento de algumas doenças,substituindo células ou tecidos lesa-dos. Experiências promissoras, alémdas efetuadas em animais de labo-ratório, têm sido realizadas com vis-tas ao tratamento do mal deParkinson, doença de Alzheimer,lesões medulares e diabetes. Aspesquisas com tais células motivou aoutorga do Prêmio Nobel deMedicina de 2000 a Greenberg.Células primitivas semelhantespodem ser obtidas do sangue docordão umbelical, da placenta e até demedula óssea de adultos mas não têma mesma potencialidade de amploespectro.

Ética

O debate sobre as pesquisas e ouso das células embrionárias é umaboa oportunidade para comentarbrevemente o assunto ética ou bioéti-ca. Passou-se do campo cientificopara o político, religioso e ético.Discursos inflamados a favor e contraas pesquisas e o uso dessas célulascom finalidade terapêutica. Até oPapa tem se pronunciado. O presi-dente Bush, com quem está a palavra

final, por estes dias, quanto ao finan-ciamento de pesquisas com célulasembrionárias usando recursos fede-rais norte-americanos está sendopressionado de ambos os lados porparlamentares e opinião publica(“Science”, 13/07/2001; J. Brasília,24/07/2001)

Os avanços tecnológicos são de talmagnitude, principalmente nos casosde clonagem, células embrionárias etransgênicos, que já está sendo bana-lizada a expressão de que “o homemestá brincando de Deus”. Exa-tamente o que a serpente disse aosprimeiros humanos, segundo a Bíblia:“...os vossos olhos se abrirão esereis como deuses, conhecedoresdo bem e do mal”.

Da discussão científica passou-seà discussão ética. Para obter as célu-las serão necessários embriões. Eestes morrerão. Volta a grande dis-cussão, onde entra a religião.“Quando começa a vida? Desde aunião dos gametas? Ou mesmo antes,no óvulo e no espermatozoide?”

Outras perguntas: “De onde sãoobtidos os embriões?”. Em geral diz-se que são de abortos não provocadosou sobras ou excedentes de tentativasde reprodução assistida, que estavamno congelador (criopreservados). Se aprimeira tentativa de implantação nãodeu certo, usa-se o que ficou deposi-tado. Donde se vê que deveriam serobtidos somente os embriões emnúmero essencial para obter-se agravidez. Então não sobrariam. “Oque fazer com as centenas deembriões que se encontram ‘dormin-do’, congelados pelo mundo inteiro?”Ainda não existem respostas satis-fatórias.

Tudo indica que os cientistas vãovencer, neste e nos outros assuntos,como clonagem e transgênicos. Adecisão entre o bem e o mal, o livrearbítrio, base da ética, ficará paradepois. Assim aconteceu com a

descoberta da dinamite por Nobel(desgostoso com o uso do explosivoem guerras, instituiu o Prêmio queleva seu nome), com a energia atômi-ca, a tecnologia espacial, a microbio-logia e, agora, a biotecnologia. Po-derão ser usadas para o bem e para omal.

Ponto importante é que a ética, ouseja, a escolha entre o bem e o mal éextremamente variável. Num aspectoela pode ser individual – o livrearbítrio – noutro, coletiva. É umaclassificação que tem de ser aindaencarada sob o ponto de vista dos cos-tumes (mores ’ moral). Lembremos, apropósito, que a palavra ética vem dogrego ethos que também significahábitos ou costumes.

Assim, o que é ético para uns, nãoo é para outros. Um exemplo: naCoréa e noutros países de ExtremoOriente, é usual comer carne de cãese de gatos. Esses animais são criadospara tal finalidade. Uma instituiçãoprotetora dos animais, ocidental, quermudar esse hábito. Caricaturalmente,até sería o caso de mandar para aCoréa os gatos e cães que constituempraga nas grandes cidades ocidentais.Nossa ética, entretanto, prefere esteri-lizá-los.

Nesse ponto, a ética vai con-fundirse com o bem estar animal. Épreciso, contudo não confundir bemestar animal com bem estar humano,ou seja, atitude antropocêntrica.

Trabalho apresentado no XIV Congresso Brasileiro deReprodução Animal, BeloHorizonte, 1-5 Agosto de 2001.Plenária: Fertilidade, Bioética eBem Estar Animal

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Segundo registros históricos quetratam dos primórdios da civilizaçãohumana, os indivíduos cuja missãoera cuidar da saúde destacavam-sepor seu elevado espírito humanístico,que centravam no homem o seugrande referencial de valores, deforma que ele pudesse elevar-se doponto de vista da sua capacidade cria-tiva e do respeito aos preceitos daética, resguardando sempre o princí-pio da racionalidade. Tal fundamentosempre foi exercido com inusitadasabedoria pelos povos antigos, comênfase em civilizações seculares, aexemplo da China, do Egito, daGrécia e da Roma antiga, onde orelacionamento entre ciências como aMedicina e a Filosofia, serviam paraprojetar a figura do médico no âmbitodas sociedades antigas.

Na atualidade, os crescentesavanços da ciência e da tecnologia,principalmente nas áreas médica ebiológica, respectivamente, exigemque os profissionais de diferentescampos do saber promovam umgrande esforço no sentido de ampliare/ou aprimorar os seus conhecimen-tos técnico-científicos, inclusive,como forma de garantir à sua sobre-vivência no disputado mercado detrabalho, em vias de tornar-se cadavez mais globalizado. Tal constataçãosempre traz em seu bojo uma grandepreocupação para todos aqueles quese consideram, de alguma forma,comprometidos com os destinos daprofissão que abraçaram. Isto porqueas inúmeras exigências "tecnicistas"do mundo moderno – e que balizamde maneira inquestionável a acirradacompetitividade profissional – fazemcom que o senso individual prevaleça

Aspectos legais e éticos dos cursos seqüenciais e depós-graduação (lato sensu) e suas consequências quanto

a fiscalização do exercício profissional

Alberto Neves CostaMédico Veterinário, CRMV/PE nº. 0382,Ph.D, Professor Adjunto doDepartamento de Medicina Veterináriada UFRPE e Vice-Presidente do CFMV

Glênio Cavalcanti de BarrosMédico Veterinário, CRMV/PE nº. 2318,Ph.D, Professor Adjunto doDepartamento de Medicina Veterináriada UFRPE e Membro da ComissãoNacional de Ensino de MedicinaVeterinária do CFMV

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sobre o coletivo. Neste cenário deso-lador percebe-se, claramente, que acondição humanística outrora desfru-tada pelos sábios antigos, vê-se hojerelegada a um plano secundário,surgindo como decorrência destanova ordem social, gerações de indi-víduos extremamente "qualificados"para o exercício de uma determinadaespecialidade ou mesmo sub-espe-cialidade profissional, que não dis-põem, em sua grande maioria, de um

alicerce cultural necessário àquelesque ostentam um título universitário.

Sob este prisma, pretendemos con-textualizar a situação atual da for-mação do profissional da MedicinaVeterinária, face a constatação de quenas universidades e mesmo na rotinados serviços prestados à sociedade, osconceitos técnico-científicos sobre-pujam em muito aqueles de naturezahumanística, fazendo com que disci-plinas de cunho deontológico e de

grande relevância na formação domédico-veterinário, tais como, a Éticae a Bioética não sejam devidamentecontempladas nos conteúdos curricu-lares, nem consigam motivar osdocentes e os estudantes de gradua-ção e pós-graduação das nossas Es-colas, para uma discussão mais amplae profunda acerca de uma orientaçãode conduta sintonizada com os pre-ceitos legais que regulamentam oexercício da nossa profissão.

Nos últimos anos, as discussõessobre o ensino superior brasileiroestão sob a égide da Lei de Diretrizese Bases da Educação Nacional – LDB(Lei nº 9.394 de 20/12/1996), que emseu Artigo 44 disciplinou a abrangên-cia dos cursos e programas de edu-cação superior, inclusive, introduzin-do inovações quanto às modalidades aserem oferecidas, ou seja, aos tradi-cionais cursos de graduação, pós-graduação (sentido lato e estrito) e deextensão universitária, foi adicionadaa modalidade dos cursos seqüenciaispor campo de saber. A partir da pro-mulgação da lei supra citada, desen-cadeou-se um crescimento explosivoe desnecessário de Universidades,Centros Universitários e Escolas iso-ladas, na sua grande maioria comqualidade pífia de ensino. Emconexão com tais fatos, e buscandoatender a convocação do Edital nº04/97, da SESu/MEC, o ConselhoFederal de Medicina Veterinária pro-moveu à época, através de suaComissão Nacional de Ensino de

Medicina Veterinária, análises e dis-cussões acerca das propostas deDiretrizes Curriculares, cujos resulta-dos foram encaminhados posterior-mente ao MEC, e que resultou aindana publicação do trabalho "DiretrizesCurriculares para o Curso deMedicina Veterinária ede Zootecnia" peloCFMV. O referido docu-mento, que substituiu ochamado CurrículoMínimo, tem servidopara nortear àsCoordenações de Cursoe encontra-se já à algumtempo na Câmara deEducação Superior doMEC para ser promulga-do. É importanteressaltar que asDiretrizes Curriculares aserem estabelecidas para o curso deMedicina Veterinária não devem fugiraos preceitos da Lei nº 5.517 de23/10/68 e do Decreto 64.704 de17/06/69, que são os diplomas legaisque regulamentam o exercício daprofissão de Médico Veterinário e cria

os Conselhos Federal e Regionais deMedicina Veterinária.

A flexibilização dos sistemas deensino nas instituições formadorastraz uma grande preocupação para osConselhos Profissionais, encarrega-dos da fiscalização do exercício

profissional, particular-mente, no que tange aoschamados cursos pós-médios que não visamum título universitário, aexemplo dos CursosSeqüenciais, seja o decomplementação deestudos ou, principal-mente, o de formaçãoespecífica. Esta modali-dade de ensino já foihomologada pelaResolução nº 01 de27/01/1999, da Câmara

de Educação Superior do MEC, sob oargumento de que tal diversificaçãovisa democratizar o acesso àUniversidade. Na ótica do GovernoFederal, a demanda social para cri-ação de novos cursos deve ser relega-da a um plano secundário, respeitan-

Na ótica doGovernoFederal, ademanda socialpara criação denovos cursosdeve serrelegada a umplanosecundário

Competência e ética na formação profissional

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do-se tão somente a liberdade dosempreendimentos na área educa-cional, o que significa dizer que taisiniciativas não devem ser cerceadasem nenhuma parte do territóriobrasileiro, visando à formação degraduados nos mais diversos camposdo conhecimento, mesmo que as leisdo mercado funcionem de maneiraexcludente para a maioria deles, prin-cipalmente, por nãoestarem devidamentequalificados paraexercerem uma profis-são. Em verdade, valen-do-se do discurso daautonomia universitária,seja ela acadêmica,financeira ou adminis-trativa, o modelo neolib-eral do Governo vemescamoteando daopinião pública o seuinteresse velado em se desobrigar,gradualmente, do financiamento dasuniversidades públicas, subjugando-as à lógica perversa do mercado cap-italista, como forma de angariarrecursos suplementares para a suasubsistência.Esta lógica foi estabele-cida no Brasil a partir de 1990, quan-do o Governo propôs que a dis-tribuição de recursos as IES fossecondicionada a critérios e indicadoresde desempenho e produtividade copi-ados de esquemas de gestão desen-volvidos nas empresas privadas(Paula et al., 2001). Ora, a Universi-dade enquanto formadora de recursosintelectuais para a sociedade nãopode ser vista de forma simplista,como um balcão de negócios ou umaagência prestadora de serviços.

Nesta perspectiva, vislumbramosque a Universidade Brasileira precisaavançar na maneira de garantir quali-dade na formação dos seus egressos.Um dos caminhos que pode vir a ser

adotado, brevemente, é o processo deAcreditação Institucional, que deverácomeçar pelas universidades mais tradi-cionais e consolidadas, e que tem ense-jado profundas discussões em semi-nários internacionais, tanto no âmbitodo Mercosul como da América Latina.Seguindo este raciocínio, seria prudenteressaltar que, num futuro próximo, con-cluir um curso superior numa institu-

ição universitária e portarum diploma não habili-tará o bacharel ao exercí-cio profissional. Anteci-pando cenários futuros, oConselho Federal de Me-dicina Veterinária de-cidiu, com a aprovaçãounânime dos Regionais,instituir o Exame Nacio-nal de Certificação Pro-fissional, a partir de 2002,como pré-requisito es-

sencial para o registro profissional, eque funcionará como um mecanismoimportante de credenciamento do diplo-mado para o ingresso no mercado detrabalho.

Tomando como base os postuladosmaiores da Medicina Veterinária, oConselho Federal e os Regionaisvalem-se dos diplomas legais queregulamentam o exercício profission-al, para pugnar pelo respeito aos pre-ceitos éticos, morais e legais que esta-belecem competências privativas parao médico veterinário em todo o ter-ritório nacional, a despeito de políti-cas oficiais equivocadas e até clien-telistas geradas pelo Governo, porintermédio do MEC, no campo doensino superior.

Entendemos que a qualificação aser exigida do médico veterinário, nosentido de atender as crescentesdemandas da sociedade brasileira,ensejará nas Escolas e Faculdadesuma reflexão profunda acerca do per-

fil profissional a ser obtido pelofuturo graduado. Isto porque aUniversidade, enquanto formadora derecursos humanos qualificados,emerge do contexto social no qualestá inserida, sem esquecer danecessária geração e transferência detecnologias compatíveis com asnecessidades do mundo contemporâ-neo. Isto significa dizer que, asociedade espera contar com osserviços de um profissional com sóli-da formação técnica e humanística,permeada por princípios éticos emorais, que lhe credencie a estabele-cer uma visão crítica da nossa reali-dade e a encaminhar soluções concre-tas para os múltiplos desafios iner-entes ao exercício da profissão. Talconstatação implica em que o profis-sional, ao ingressar no mercado detrabalho, possua como escopo doispré-requisitos indispensáveis: com-petência e ética.

Segundo a visão de Pasquarelli(2000), revisando outros estudos, acompetência consiste em "querer epoder fazer bem" o "saber fazer bem",num ambiente de bom convívio inter-pessoal, enquanto que a ética avalia aconduta do ser humano em relação asi e em relação aos outros, sob a óticado bem e do mal, de acordo comcritérios geralmente ditados pelamoral. Contudo, não se pode con-fundir ética e moral. A Ética represen-ta um dos pilares da Deontologia,termo grego que significa dever, estu-do, juízo – prescrição de deveres, eenquanto ciência ela extrai dos feitosmorais os princípios gerais a elesaplicáveis. A ética convida o indiví-duo ou o sujeito da ação a tomar partena elaboração das regras de sua con-duta. Por outro lado, a Moral, cujaraiz formadora da palavra está aindicar – do latim mor, mores, cos-tume – remete-nos a regras de condu-

A ética convida

o indivíduo ou o

sujeito da ação

a tomar parte

na elaboração

das regras de

sua conduta

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Os programas de estudos queconduzem o médico veterinário a umaformação em nível de pós-graduaçãolato sensu (aperfeiçoamento, espe-cialização e residência) ou strito sensu(mestrado e doutorado) tem recebidogrande atenção por parte das universi-dades no Brasil, principalmente aspúblicas. Por outro lado, em face davertiginosa mercantilização do nossoensino universitário, tem havido umrápido crescimento de cursos de espe-cialização e até de mestrado, alguns dequalidade duvidosa. Deve-se ter nadevida conta que montar uma estrutu-ra de pós-graduação exige muito dequalquer Instituição, tanto do ponto devista da massa crítica dos docentesenvolvidos com docência e pesquisa,como de infra-estrutura de biblioteca,experimentação e treinamento de estu-dantes. Por esta razão deve o postu-lante a um certificado ou diploma depós-graduação optar por uma institui-ção credenciada, com um programaacadêmico bem estruturado e consoli-dado, além de um corpo docente alta-mente qualificado.

Primeiramente, parece-nos opor-tuno tecer algumas consideraçõesacerca de inovações que foram intro-duzidas no ensino superior, através daLei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei nº 9.394/96), que pre-coniza em seu Artigo 44 ..."a edu-cação superior abrangerá os seguintescursos e programas: sequenciais,graduação, pós-graduação e de exten-são". Posteriormente, a Resolução nº01/99 do Conselho Nacional deEducação/CES-MECestabeleceu em seuArtigo 3º que os CursosSeqüenciais são de doistipos: (1) de formaçãoespecífica e (2) de com-plementação de estudos.

Certamente, se anali-sarmos as característicasdos Cursos Seqüenciais,verificaremos que, os deformação específica temdestinação coletiva econduz a diploma, e aIES que vai oferecerprecisa dispor de autorização do MECe de reconhecimento após o primeiroano de funcionamento, ou até um anoantes de formar a primeira turma.Aqueles de complementação de estu-dos, com destinação coletiva ou indi-vidual, conduzindo a certificado, nãodepende de autorização do MEC, nemde reconhecimento. Portanto, destina-dos à atualização de profissionais queefetivamente precisem voltar à uni-versidade para adquirir novos con-hecimentos nas áreas em que atuem,

se preparando para uma melhorprestação de serviços à sociedade.

Deve ser ressaltado que até omomento, não se sabe quais asatribuições desses "diplomados" pelauniversidade, fazendo supor que seintegrarão ao mercado de trabalho

com atribuições defi-nidas em legislação pró-pria, sendo que no âm-bito da Medicina Veteri-nária não encontra am-paro em seus diplomaslegais (Lei nº 5.517/68 eDecreto nº 64.704/69).Mesmo assim, tal cená-rio é motivo de preocu-pação para os Órgãos deFiscalização do exercí-cio profissional, tendoem vista que o Governodefiniu carga horária

(mínima 1.600 horas) e período(mínimo de 400 dias) do curso, porémnão definiu as atribuições quanto aoexercício profissional. Como se nãobastassem os problemas que normal-mente ocorrem quando da fiscaliza-ção do exercício profissional, somar-se-ão aos mesmos, os problemas quecertamente ocorrerão com os "novosdiplomados" pela universidade, osquais realizaram algum curso seqüen-cial de formação específica e que con-cluíram o curso pós-médio, conforme

Os demaiscursos incluídosna pós-graduação (latuou stricto sensu)estãoregulamentadospelo MEC, comexceção daResidênciaMédico-Veterinária

ta já instituídas, segundo os costumesde determinado grupo social em deter-minada época (Corrêa, 2000).Também precisamos refletir sobre osignificado do termo Bioética – querepresenta a ética da vida, pois, é pre-

ciso que se defina melhor os objetivose limites dessa ciência, sem que istorepresente um "patrulhamento ético" àliberdade na condução de pesquisasmédicas e biomédicas, a exemplo doque acontece no campo da engenharia

genética. Portanto, cabe-nos pautar anossa conduta profissional pelo queestabelece a Resolução CFMV nº 322,de 15/01/81, que criou o Código deDeontologia e de Ética Profissional doMédico Veterinário.

Considerações sobre os cursos de formação universitária

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RETRANCAFORMAÇÃO PROFISSIONAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

estabelecido recentemente pelaResolução nº 04/99, da Câmara deEducação Básica do CNE/MEC.

Os demais cursos incluídos napós-graduação (latu ou stricto sensu)estão devidamente regulamentadospelo MEC, com exceção daResidência Médico-Veterinária, queestá reconhecida e regulamentadapelo Conselho Federal de MedicinaVeterinária, e que vem se constituindonum treinamento em serviço degrande relevância na formação profis-sional em várias especialidades médi-co-veterinárias.

Nos cursos de aperfeiçoamento,especialização e residência, o con-trole de qualidade de tais programas éda competência das instituições man-tenedoras, que deverão zelar pelaoferta de condições adequadas detreinamento (docentes titulados –mestres e doutores, hospital, clínicas,laboratórios, casuística de atendimen-to clínico-cirúrgico, biblioteca etc).Porém, a Resolução CES nº 3, doConselho Nacional de Educação,estabelece normas para a oferta dosCursos de Especialização, tornando-os passíveis de avaliação pelaCAPES, a despeito do fato dasInstituições que ostentem o status deUniversidade, estarem amparadas,legalmente, quanto à sua autonomiaacadêmica e administrativa, para aoferta de tais programas de atualiza-ção. Cabe aqui um questionamentoimportante acerca deste tema: con-siderando que é competência privati-va do médico veterinário dirigir e fis-calizar o ensino da medicina veter-inária (Lei nº 5.517/68, Art. 5º, alíneal), não deveria o Colega responsávelpor tal atividade fazer uma reflexãoética e moral acerca da qualidade dotreinamento ofertado por sua institui-ção aos postulantes a um determinadotítulo? A conivência de tais profis-

sionais com situações inadequadas naoferta de tais cursos não representauma infração ao Código deDeontologia e de Ética Profissionaldo Médico Veterinário? Creio que taissituações devem ser levadas à dis-cussão em nível da Plenária dosConselhos Regionais de MedicinaVeterinária para que sejam adotadasas providências legais e cabíveis.

Diferentemente, todos os progra-mas de Mestrado e Doutorado autori-zados pelo MEC são avaliados, perio-dicamente, através da CAPES, erecebem um conceito oficial emfunção do seu desempenho acadêmicoe técnico-científico (número dedoutores no corpo docente, dedicaçãoexclusiva dos docentes, relevância daslinhas e projetos de pesquisa, produçãocientífica em periódicos indexadosetc.). Afirmamos que, em sombra dedúvidas, o Brasil dispõe, na atualidade,de um dos melhores sistemas de ava-liação de programas de pós-graduaçãonas Américas.

Neste contexto, o ConselhoFederal de Medicina Veterináriavisando salvaguardar o aprimora-mento técnico-científico dos médi-

cos veterinários brasileiros, têmpropiciado legislações específicas epertinentes, tais como, a Resoluçãonº 625, de 16/03/95, que "dispõesobre o Registro de Título deEspecialista", e que tem motivado oencaminhamento de solicitações dereconhecimento de título por váriosColégios e Associações de Espe-cialistas, e a Resolução nº 684, de 16de março de 2001, que "reconhece eregulamenta a Residência Médico-Veterinária", como forma de con-tribuir sob ponto de vista ético elegal, na habilitação profissionalpara o exercício das diversas espe-cialidades, haja visto que tal tipo detreinamento em serviço ainda não foireconhecido pelo MEC. A título deexemplo, gostaríamos de registrarque nos Estados Unidos da América,os programas de residência emMedicina Veterinária tem representa-do um sólido instrumento de apoiona formação de especialistas, emparticular para aqueles profissionaisque desejam atuar nas áreas de clíni-ca médica e cirúrgica de eqüinos,bovinos e, principalmente, de ani-mais de companhia.

Mesmo considerando que oCódigo de Deontologia e de ÉticaProfissional do Médico Veterinárioestabelece em alguns ítens do seuArtigo 1º que o profissional deve"prestigiar iniciativas em prol dosinteresses da Classe, por meio deseus órgãos representativos", bem

como, "vincular-se às entidadeslocais, participar das suas reuniões edefender a profissão através das mes-mas", geralmente o médico veteri-nário não conhece o funcionamentodas suas entidades de representaçãogremial, tais como, o Conselho, aSociedade e o Sindicato, destinando,quando muito, algum tempo àsAssociações e/ou Colégios de

Relacão do profissional com as entidades de classe

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Conselho Federal de Medicina Veterinária. Manual delegislação. Brasília: CFMV, 2001. p.15-26, 33-48,285-290, 603-606.

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CORRÊA, J. A. Da deontologia médica à bioética. In:PETROIANU, A. Ética, moral e deontologia médi-cas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p. 8-12.

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PASQUARELLI, M. L. R. Médico veterinário: com-petência e ética. Revista de Educação Continuadado CRMV-SP, v. 3, f. 2, p. 78-79, 2000.

PAULA, M. F. C.; SINDER, M.; SILVA, W. C. et al.Universidade e sociedade no Brasil: oposiçãopropositiva ao neoliberalismo na educação supe-rior. Niterói: Intertexto; Rio de Janeiro: Quartet, 2001.160p.

SOUZA FILHO, Z. A.; FILHO, A.C.C.K. Consideraçõessobre a residência em cirurgia. In: PETROIANU, A.Ética, moral e deontologia médicas. Cap. 11, Rio deJaneiro: Guanabara Koogan, 2000. p. 67-72.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Especialistas. Claro que tal situação éem parte justificada pela rotina pro-longada e estafante de trabalho, comono caso dos Clínicos de PequenosAnimais, absorto na labuta diária dosconsultórios, clínicas e hospitais.Contudo, torna-se imperioso e impres-cindível o fortalecimento das nossasagremiações, as quais embasadas emprincípios éticos, morais e deon-tológicos, buscam uma forma de defen-der os ideais da profissão e consolidar avalorização e o reconhecimento dosprofissionais perante a sociedade quecontrata os seus serviços.

De acordo com o que preconiza oArtigo 8º da Lei nº 5.517/68, o Con-selho Federal de Medicina

Veterinária tem por finalidade, alémda fiscalização do exercício profis-sional, orientar, supervisionar e dis-ciplinar as atividades relativas àprofissão de médico veterinário emtodo o território nacional, direta-mente ou através dos ConselhosRegionais de Medicina Veterinária.Por outro lado, enquanto asSociedades visam proporcionar cul-tura, reciclagem e lazer aos seusassociados, aspectos hoje tão rele-vantes na vida de um profissional denível superior, os Sindicatos cuidamda defesa dos direitos e interessescoletivos ou individuais da Classe,inclusive em questões judiciais ouadministrativas. Mesmo consideran-

do as especificidades de cada umadas nossas entidades médico-veteri-nárias, torna-se imprescindível umaparticipação efetiva de todas elas nasdiscussões travadas acerca das políti-cas governamentais no âmbito daeducação, saúde animal e pública,defesa sanitária animal, biossegu-rança e bioética, agronegócios etc,despojadas de qualquer visão ideo-lógica ou partidária que se con-traponha aos interesses maiores daprofissão. Acreditamos que tal posi-cionamento contribuirá decisiva-mente para aumentar a nossa repre-sentatividade político-social e forta-lecer as nossas conquistas no campoprofissional.

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Certas questões apresentadas àhumanidade no contexto da vida, dahistória dos fenômenos que nosrodeiam, dependem daquilo que sechamaria de criação temporal. Sig-nifica que as sociedades humanasexistem num determinado espaço,num determinado tempo, que os gru-pos sociais que as constituem sãomutáveis e que tudo, visões, institui-ções e leis do mundo são provisórios,passageiros em constante dinamismoe potencialmente tudo está para ser

transformado. Portanto, tanto os indi-víduos com os grupos e também ospesquisadores, são frutos de seutempo histórico.

De acordo com o desenvolvimen-to das forças produtivas, com a orga-nização particular da sociedade e suadinâmica, desenvolvem-se visões demundo características, verdadeira-mente singulares, e muitas vezes difí-ceis de serem superadas.

Do ponto de vista antropológico,pode-se dizer que sempre existiu apreocupação do homem com o co-nhecimento da realidade. As tribos

Ideologia do Progresso – Ciência e Tecnologia

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VI - Nº 23 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2001

Zander Barreto MirandaMédico Veterinário, CRMV/RJ nº. 1.807Professor Adjunto, Dr., Faculdade deVeterinária/UFF - DepartamentoTecnologia de Alimentos - Niterói - RJTesoureiro do CFMV

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

primitivas através dos mitos, já ten-tavam explicar os fenômenos que cer-cam a vida e a morte. Asciências, desde aAntigüidade até os diasatuais, assumiram opapel de se constituircomo os esquemas deexplicações dominantes,consideravelmente maisplausíveis e intelectual-mente aceitos.

A valorização daciência, apenas pelaracionalidade científica,onde a humanidade teriapassado por estágiossucessivos (teológico e metafísico)até chegar ao ponto superior doprocesso (Augusto Comte) trazinúmeros questionamentos quanto aorigor do saber, e ao mito do cientifi-cismo.

Existe, no entanto, a suposição deque tudo pode ser abordado de umaforma puramente científica. A ciênciase constitui em uma abordagem do-minante e nem por isso se tornaexclusiva e conclusiva.

A ciência, por vezes, é essencial-mente analítica e, portanto, tende a seperder na complexidade inesgotáveldos fenômenos. Não há normas mági-cas e univocamente consagradaspara a apreensão do real. Há práticascientíficas diferenciadas, desigual-mente desenvolvidas e que têm comosubstratos "visões de mundo" teorica-mente diversas.

A pesquisa científica mostra-se,muitas vezes, incapaz de compreen-der a realidade, numa visão simplistae unilateral, desprezando outras abor-dagens para o objeto a ser entendido,como o mito, a religião, o bom sensoda vida cotidiana, a vida efetiva, aarte e a filosofia, "sendo então todasas coisas causadas e causadoras, aju-

dadas e ajudantes, mediata e imedia-tamente, e todas se relacionando por

um vínculo natural einsensível que liga asmais afastadas e maisdiferentes, creio ser tãoimpossível conhecer aspartes sem conhecertodo o conhecer, o todo,sem conhecer particular-mente as partes" (PAS-CAL).

A explicação nosdiferentes níveis deabordagem da realidade,considera os caminhosseguidos através dos

métodos para referenciar a apropria-ção do conhecimento. No entanto,esta abordagem será sempre relativaao que nos é colocado, ou aquilo quelidamos, pois "o mundo não está sub-metido às novas questões".

As diferentes teorias queabrangem aspectos particulares erelegam outros, nos rev-elam o inevitável imbri-camento entre conheci-mento e interesse, entrecondições históricas eavanço das ciências,entre identidade dopesquisador e seu obje-to, e a necessidade indis-cutível da crítica internae externa na objetivaçãodo saber.

Inicialmente, o saberera contemplativo, ouseja, voltado para a com-preensão desinteressada da realidade,transformado gradualmente em saberativo, em um conhecimento capaz deatuar sobre o mundo, transformando-o.Essa relação irá marcar a conexãoentre a ciência e a técnica. A ciência éum conhecimento rigoroso capaz deprovocar a evolução das técnicas.

Apesar do rigor do método, não éconveniente pensar que a ciência é umconhecimento certo e definitivo, poisela avança em um contínuo processode investigação que supõe as alte-rações e ampliações necessárias àmedida que surgem novos fatos. Oconhecimento científico é provisório,ou seja, as leis e teorias continuamsendo de fato hipóteses que podem sersuperadas ou aperfeiçoadas.

A confiança total na ciência, noentanto, valoriza apenas a racionali-dade científica, como se ela fosse aúnica forma de resposta às perguntasque o homem se faz e a única capazde revolver os problemas humanos.

Existe, no entanto, a crença noprogresso, e a convicção de que ahistória não pode trazer senão melho-rias à condição humana graças as ino-vações técnicas, a ciência, ao cons-tante refinamento dos costumes, àpropagação da democracia.

Sabemos, hoje, que essa crença noprogresso, em que sepreza a novidade atravésdas descobertas da ciên-cia, na utilização destefator como permanentetransformação, a qual éconsiderada indisponív-el para a melhoria dacondição humana, vemsendo desmentida pelosfatos, especialmente,pela história sombria doséculo XX. É precisoquestionar a ideologiado progresso que justifi-

ca as ilusões e preconceitos dohomem.

Muitos pensam que a ciência é umsaber neutro, isto é, as pesquisas cien-tíficas não sofreriam nenhumainfluência social ou política e visa-riam apenas o conhecimento puro edesinteressado.

A pesquisacientífica mostra-se, muitas vezes,incapaz decompreender arealidade, numavisão simplista eunilateral,desprezandooutrasabordagens

A confiança totalna ciência noentanto, valorizaapenas aracionalidadecientífica, comose ela fosse aúnica forma deresposta àsperguntas que ohomem se faz

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

A técnica é um poder cujas conse-qüências nem sempre aparecemmuito claramente no início do proces-so, daí não se desprezar a discussãosobre os fins para os quais esta se des-tina. A produção científica não serealiza fora de um determinado con-texto social e político cujos objetivosestão claramente definidos.

São profundas as alteraçõesprovocadas pelo advento da tecnolo-gia em todos os setores da vidahumana. Em nenhum lugar e emtempo algum da humanidade ocor-reram transformações tão fundamen-tais e com tal rapidez.

Ressaltando este aspecto BrunoLatour, "em quem tem medo da ciên-cia", relembra a representatividade

objetiva das ciências e seu sentidopolítico ou de representação de umanação.

Embora sejam incontestáveis asconseqüências nocivas da poluição,do extermínio das espécies animais,da destruição das florestas e dos sítiosnaturais, os indivíduos, em sua maio-ria, não reagem enquanto a situaçãonão se tornar intolerável para eles.Esses efeitos eram previsíveis atravésde pesquisas científicas conduzidashá muito tempo.

Cabe analisar as condições em quese realizam as pesquisas científicas,investigar os fins e as prioridades aque a ciência se propõe, bem comoavaliar as conseqüências das técnicasutilizadas.

Importante lembrar, também, quea pesquisa passou a significar umcampo de interesse científico que temimplicações imediatas do poderpúblico de conhecer, regular e contro-lar a sociedade civil, frente ao qual asociedade faz as suas mediações etambém expressa sua autoria eresistência.

As questões conceituais oriundasdas ciências operam pela captura dodireito e do interesse múltiplo suscita-do por estes. Daí o contexto "pura-mente científico" dado a algumasquestões em relação a outrasreforçando o poder da ciência.

"A transformação de nossas idéiassobre a realidade e a transformação darealidade caminham juntas".

1. ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE SAÚDE PÚBLICA.Saúde e sociedade: cidades saudáveis. Faculdade deSaúde Pública da USP, São Paulo.v.6, n.2, p.1-83.1997.

2. SOUZA, M.C. O desafio do conhecimento: pesquisaqualitativa em saúde. 6ª ed. São Paulo, Ed. Hucitec/Abrasco, p.1-225. 1999.

3. MORAIS, J.F.R. Ciência e tecnologia: introdução àmetodologia e crítica. 2ª ed. rev. São Paulo, Ed.Cortez & Moraes, p.1-180. 1978.

4. FERRETI, C. J; ZIBAS, D.K.L; MADEIRA, F.R; et al.Novas tecnologias, trabalho e educação: um debatemultidisciplinar. 3ª ed. Rio de Janeiro, ed. Vozes, p.1-347. 1996.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 81: Revista CFMV
Page 82: Revista CFMV

O começo

Quando o ensino de Zootecnia noBrasil havia se iniciado em Uruguaia-na, RS, professores da UniversidadeFederal Rural de Pernambuco - UFRPE,nos anos 1969 e 1970, trilhavam, con-fiantes, o caminho da nova profissão

que surgia. Ainda, em 1970, foi cria-do o Departamento de Zootecnia daUFRPE. Em seguida, resultado doesforço desses professores, foi apro-vada a criação do curso de graduaçãoem Zootecnia (Resolução nº 12/70 de13.7.1970), que recebeu sua primeiraturma no primeiro semestre de 1971,

e teve seu reconhecimento em 1976(Decreto nº 77.416 de 12.4.1976,publicado no DOU de 13.4.1976). Delá para os dias de hoje, são 30 anosininterruptos de existência, comemo-rados por todos que contribuíram parao crescimento da Zootecnia naUFRPE.

Departamento de ZootecniaUniversidade Federal Rural de Pernambuco

Pioneirismo no ensino de Zootecnia do País

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HISTÓRIA

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P r é d i o c e n t r a l d a U F R P E

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O Departamento de Zootecnia daUniversidade Federal Rural de Per-nambuco, com 31 anos de existência,é o principal suporte para as discipli-nas profissionalizantes do curso deZootecnia. Conta atualmente com 14doutores e nove mestres, estando qua-tro desses últimos, em doutoramentono país (1) e exterior (3). Dividido emcinco áreas (Produção de Ruminan-tes, Produção de Não Ruminantes,Forragicultura, Nutrição Animal eMelhoramento Animal), o Departa-mento de Zootecnia atende, essencial-mente, ao Curso de Zootecnia, alémdos cursos de graduação em MedicinaVeterinária, Agronomia e ao recém-criado curso de Engenharia Agrícola.Cabe, também, ao Departamento deZootecnia a responsabilidade sobre oPrograma de Pós-Graduação em Zoo-tecnia e o Programa de DoutoradoIntegrado em Zootecnia, juntamentecom o Centro de Ciências Agráriasdas universidades federais da Paraíba(Areia) e do Ceará (Fortaleza).

Com isso, já se vão 30 anos de umahistória de muito sacrifício, muitaslutas e de muitas diferenças, mas quesoaram como verdadeiras "alavancas"para fazer do Departamento deZootecnia, da UFRPE, o que ele éhoje. Uma história que começou comabnegados profissionais, entre agrô-nomos e médicos veterinários, quepossibilitaram a formação dos zootec-nistas que formam a atual base dessaimportante unidade acadêmica daRural d Pernambuco.

Curso de graduação em Zootecnia

Completados 30 anos de existência,o atual curso de graduação emZootecnia tem duração de cinco anos,funcionando em sistema de seriadosemestral, desde 1990, possibilitandoao aluno, dessa forma, ter um horário

livre (matutino ou vespertino) paraserem ocupados com outras atividadesfundamentais à sua formação profissio-nal, como estágios, iniciação científica,participação em eventos, tempo parabiblioteca etc. Esse arranjo em blocosdas disciplinas também facilita a inte-gração de conhecimentos das diversasáreas do saber que compõem o Cursode Zootecnia. São 11 DepartamentosAcadêmicos que oferecem disciplinasao Curso de Zootecnia, evidenciando aformação eclética dos zootecnistas daUFRPE. Os alunos dispõem de uma

Biblioteca Central, cujo acervo é com-posto por, aproximadamente, 51.409volumes de livros/folhetos/teses/dis-sertações/ monografias, 1.289 títulosde periódicos e cerca de 300 fitas devídeo, conectada à rede mundial decomputadores, além de contar comsalas de vídeo, serviços de consulta ele-trônica de periódicos, salas de estudoem grupo, individual etc. A existênciade quadra de esportes, piscina, campode futebol e pista de atletismo permiteaos alunos a prática esportiva em váriasmodalidades.

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HISTÓRIA

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L a b o r a t ó r i o d e n u t r i ç ã o a n i m a l

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Em apoio às suas atividades aca-dêmicas e à sua formação, os alunoscontam, dentro do Departamento deZootecnia, com os setores de pro-dução (Campo agrostológico, Buba-linocultura, Cunicultura, Avicultura,Caprino-ovinocultura, Apicultura eSuinocultura), que estão passando porprocessos de reforma para melhoratendimento aos objetivos acadêmi-cos. Também conta com um Labo-ratório de Nutrição Animal, em viasde reestruturação, que dá suporte avárias disciplinas e aos programas deiniciação científica e de estágios.Além de salas de aulas bem equipa-das, o Departamento de Zootecniaoferece, ainda, uma sala de estudo emgrupo e de leitura, sala de vídeo e umlaboratório de informática conectadoa internet.

O Departamento de Zootecnia ofe-rece aos alunos de Zootecnia o Progra-ma Especial de Treinamento (PET),Iniciação científica (PIBIC/ CNPq ePIBIC/FACEPE) e participa da orien-tação de alunos na Consultoria Júniorda UFRPE, integrando também os

alunos nos projetos de pesquisa apro-vados pelos docentes do DZ e, igual-mente, nos projetos de extensão.

Outros suportes importantes paraos alunos de Zootecnia da UFRPE sãoos campi avançados, como a Estação dePequenos Animais de Carpina, quedista 45 km de Recife, e conta comsetores de criação de frangos de corte ede postura, codornas, incubatório, aba-tedouro, suinocultura, bovinocultura deleite e ovinocultura.Além desse, quatrooutros campi, espalhados pelo interiorde Pernambuco (Tapera, SerraTalhada, Ibimirim e Parnamirim), pos-suem setores com criação de animaisde produção. Nesses campi avançadosda UFRPE muitos dos alunos deZootecnia realizam seus estágios extra-curriculares e o Estágio Supervisiona-do Obrigatório (ESO); este último tam-bém é realizado em empresas privadase em instituições de ensino e pesquisa,nacionais e internacionais.

O futuro do curso de Zootecniaestá em estudo com a discussão de umnovo projeto pedagógico e nova gradecurricular, que deverá reduzir o tempo

de formação para 4,5 anos, e ficar emsintonia com as atuais DiretrizesCurriculares, permitindo a flexibiliza-ção curricular e fortalecimento dashabilidades profissionais, além deobjetivar a formação de zootecnistascada vez mais sintonizados com a rea-lidade brasileira e os novos paradig-mas da sociedade atual.

Nesses 30 anos, o curso de gradu-ação em Zootecnia da UFRPE foi res-ponsável pela formação de, aproxi-madamente, 800 Zootecnistas, vindosdos mais diversos lugares da regiãoNordeste, do país e do exterior, hojeocupando cargos importantes e sendoreconhecidos pela sua capacidadeprofissional, fruto da sólida formaçãoque receberam.

Pós-Graduação

Mestrado: Em 1978, o Departa-mento de Zootecnia da UFRPE propôs eteve aprovado o seu Curso de Mestradoem Nutrição Animal, que somente em1981 recebeu seus primeiros alunos.Atualmente, completados 20 anos de

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HISTÓRIA

G a l p ã o d e a v e s d e p o s t u r a - E s t a ç ã o e s p e r i m e n t a l d e C a r p i n a

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Page 85: Revista CFMV

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funcionamento, denomina-se Programade Pós-Graduação em Zootecnia(PPGZ), com três áreas de concentração(Produção Animal, Forragicultura eNutrição Animal), já tendo formadocerca de 100 mestres, que hoje atuam,principalmente, nas mais importantesinstituições de ensino, pesquisa e exten-são do Nordeste. O Programa tem con-ceito 4, na avaliação da CAPES, e suasinscrições ocorrem, anualmente, durantetodo o mês de setembro.

Dentro de um contexto fortementeregionalizado, as linhas de pesquisadetêm um perfil identificado com osprincipais problemas da pecuária nor-destina, entre as quais se destacam:manejo de pastagens e capineiras, fixa-ção biológica de nitrogênio, avaliaçãode sistemas agroflorestais, identifica-ção e melhoramento de plantas exóti-cas para o semiárido, avaliação de ali-mentos para ruminantes e não rumi-nantes, exigências nutricionais pararuminantes e não ruminantes, produ-ção de leite a pasto, sistemas de produ-ção de pequenos ruminantes, ambiên-cia e produção animal e avaliação dedesempenho de rebanhos no Nordeste.

Doutorado: O primeiro doutoradoem Zootecnia da região Nordeste, comsede no Departamento de Zootecnia daUFRPE, foi aprovado pela CAPES, em1999, quando realizou sua primeira sele-ção, iniciando suas atividades em marçode 2000. Trata-se de uma experiênciapioneira, extremamente inovadora, em

que as Universidades Federal Rural dePernambuco, Federal do Ceará e Federalda Paraíba, após dois anos de debates ediscussões, integraram-se para oferecero Programa de Doutorado Integrado emZootecnia (PDIZ), um programa forte,resultado da experiência das três institui-ções, todas com cerca de 20 anos emProgramas de Pós-Graduação, ofere-cendo curso de Mestrado em Zootecnia.As três universidades somam, nesse pro-grama, recursos humanos, infra-estru-tura e, o mais importante, possibilidadesde interação e integração de grupos depesquisa e de projetos na busca de solu-ções para os problemas enfrentados pelapecuária nordestina.

O PDIZ possui três áreas deconcentração, Forragicultura, Pro-dução Animal e Nutrição Animal, esuas inscrições ocorrem, anual-

mente, no mês de setembro, para15 vagas.

Extensão Universitária: ODepartamento de Zootecnia ofereceanualmente cursos, mini-cursos, simpó-sios e palestras que atendem demandasde técnicos, estudantes e produtores.Além disso, são mantidos convênioscom empresas privadas e criadores emtermos de projetos de extensão conti-nuada, a exemplo dos produtores deleite do Município de Cachoeirinha, PE.Para 2002, quando a UniversidadeFederal Rural de Pernambuco estarácompletando 90 anos de sua fundação, oDepartamento de Zootecnia terá a honrade realizar, na cidade do Recife, a 39a

Reunião Anual da Sociedade Brasileirade Zootecnia, que é o evento técnico-científico mais importante da produçãoanimal no Brasil.

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

E N D E R E Ç O S

Departamento de Zootecnia e Curso de Graduação emZootecnia:

Universidade Federal Rural de PernambucoAv. Dom Manoel de Medeiros s/n - Dois Irmãos

52.171-090 - Recife-PE - Tel/fax: 55 (81) 3302.1550Diretor do Departamento de Zootecnia: Prof. Dr.

Francisco Fernando Ramos de CarvalhoE-mail: [email protected]

Coordenadora do Curso de Graduação em Zootecnia:Profa. Dra. Lúcia Helena de Albuquerque Brasil

Tel: 55 (81) 3302.1553

Programa de Pós-Graduação em Zootecnia e Programade Doutorado Integrado em Zootecnia

Coordenador: Prof. Dr. Marcelo de Andrade FerreiraE-mail: [email protected]

L a b o r a t ó r i o d o D e p a r t a m e n t o d e Z o o t e c n i a d a U F R P E

Page 86: Revista CFMV

Biotécnicas de la reproducción caprina y ovinaJosé Ferreira NunesDimas René Pérez Fernández

O livro busca apresentar, de forma clara e simples,questões relacionadas às biotécnicas de reprodução,mostrando a evolução das investigações existentes naárea caprina e ovina, com destaque especial para ainseminação artificial, a tecnologia do sêmen e otransplante de embriões, como métodos alternativosque promovem o melhoramento genético dos rebanhosde forma rápida e eficiente. A obra é dirigidaespecialmente para produtores, estudantes, professorese investigadores da exploração caprina e ovina, que,com ele, têm à mão análises especiais sobre aevolução do conhecimento sobre a reprodução dessespequenos ruminantes.

Gráfica e Editora 2M Ltda.Rua Dom Jerônimo, 270

Bairro Otávio BonfimCEP 60.011-170

Fone: (0xx85) 281-5457Fortaleza (CE)

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PUBLICAÇÕES

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Vade-mécum de Medicina VeterináriaM. FontaineJ.L. Cadoré

Esta é a 16ª edição da obra, atualizada pela mesmaequipe de professores da Escola Veterinária deLyon (França). Revista, corrigida e atualizada,levando em conta observações e contribuições deusuários da edição anterior, esta permite maiorfacilidade na consulta, trazendo um índiceremissivo totalmente refeito. O "Vade-mécum"procura ter um papel de referência no diálogoentre o veterinário, o técnico, o criador ou oproprietário do animal. Mantendo a menção deprincípios ativos que a moda ou o modernismo nãoconseguiram deixar no esquecimento e cujo uso éproveitoso universalmente, o "Vade-mécum"também pode ser útil em muitas regiões onde aprovisão de medicamentos é difícil.

Organização Andrei Editora Ltda.Caixa Postal 4989 – São Paulo (SP)

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PUBLICAÇÕES

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VII - Nº 23 Maio/Jun/Jul/Agosto de 2001

Melhoramento genético aplicado à produção animalJonas Carlos Campos Pereira

Professor titular da Escola de Veterinária da UFMG,o autor dirige esta obra aos estudantes demelhoramento animal, com o propósito de umatentativa didática de vincular a genética domelhoramento animal aos aspectos mais aplicados daprodução, na tentativa de mostrar a questão de formasimplificada. Segundo ele, os espetaculares avançoslogrados pela genética nas últimas décadas,especialmente com o uso rotineiro de novasmetodologias de avaliações genéticas, e a perspectivapotencial do uso, em futuro que não parece distante,da biologia molecular como ferramenta adicional aosprogramas clássicos, exigiu dele um trabalho extrapara reeditar e atualizar a obra.

FEP-MVZ EditoraFundação de Estudo e Pesquisa em Medicina

Veterinária e ZootecniaEscola de Veterinária da UFMG

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Manejo sanitário animalPaulo F. DominguesHélio Langoni

Trata-se de obra didática destinada aos alunos doscursos de Medicina Veterinária, bem como aos quetrabalham em Ciências Agrárias, envolvidos comprodução animal. Oferece informações relacionadasao processo produtivo, considerando-se os aspectosde higiene, saneamento e epidemiologia. Inclui,ainda, medidas gerais de profilaxia, desinfecção edesinfetantes, higiene das instalações, do solo, daágua e dos alimentos, manejo de dejetos, controlede moscas e roedores, vacinas e vacinação.Segundo os autores, a intenção não foi a de esgotaro assunto, mas sim de reunir informaçõesimportantes, que contribuem para a aplicaçãoracional do manejo sanitário animal, visandomelhor produção e produtividade animal.

EPUB – Editora de Publicações Biomédicas Ltda.Rua Major Suckow, 30-36 – Rocha

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Abril

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AGENDA

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Março

III Curso de Vídeo-Endoscopia em MedicinaVeterinária

São Paulo (SP), 21 a 23 de março de 2002Informações: (11) 3818 4259 - Fax: 3818 4238

VI Enconcro Nacional dos Serviços de InspeçãoSanitária Estadual

Cuiaba (MT) 15 a 18 de abril de 2002Informações: (65) 613 6006

IV Congresso Estadual da ANCLIVEPA/RJ

Rio de Janeiro (RJ) 19 a 21 de abril de 2002Local: Colégio Brasileiro de CirurgiõesInformações: (21) 2569.0209 - 2587.9123 - 2587.9041 E-mail: [email protected]

Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária

Cuiabá (MT), 12 a 14 de março de 2002Informações: www.enipec.com.br

I Seminário de Meio Ambiente e MedicinaVeterinária e de Zootecnia

Parque Nacional de Itatiaia (RJ), 6 a 9 de março de 2002Informações: (21) 2576.7281 - CRMV RJ

V Curso de Transferência de Embriões em Bovinos

São Paulo (SP), 23 a 28 de março de 2002Informações: [email protected]

V Simpósio Goiano de Avicultura

Goiânia (GO) 17 a 19 de abril de 2002Informações: (62) 203 3665e-mail: [email protected]

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AGENDA

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JulhoSetem

bro

Outubro

Congresso Latino Americano de Suinocultura

16 a 18 de outubro de 2002Informações: home page: www.porkworld.com.bre-mail: [email protected]

II Congresso Paulista de Clínicos Veterinários dePequenos Animais

São Paulo (SP) 24 a 26 de outubro de 2002Informações: (11) 3813 6568e-mail: [email protected]

XXXIX Reunião Anual da Socieedade Brasileirade Zootecnia

Recife (PE), 29 de julho a 1º de agosto de 2002Informações: (81) 3302 1550Home page: www.sbz.gor.bre-mail: [email protected]

XXI Congresso Brasileiro de ParasitologiaVeterinária

Setembro de 2002Informações: e-mail: [email protected]

XXVII Congresso Mundial de MedicinaVeterinária

Tunis (Tunísia), 25 a 29 de setembro de 2002Informações: e-mail: [email protected]

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