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Caminho aberto : revista de extensão do IFSC / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. - Ano 5, n.9 (dez. 2018). - Florianópolis: Publicação do IFSC, 2018.

90p. : il. ; 29,7 x 21.

SemestralPublicado também como revista eletrônica.Inclui bibliografi as.ISSN: 2359-0580

1. Educação. 2. Extensão. I. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. II. Título.

CDD: 370

Elaborada por:

Paula Oliveira Camargo - CRB 14/1375

Catalogação na fonte pelo Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia de Santa Catarina - IFSC

Reitoria

TIRAGEM: 150 exemplares

ContatoRua 14 de Julho, nº 150, Coqueiros.

CEP: 88075-010 - Florianópolis, Santa Catarina – Brasil.

Coordenação Geral da Revista Caminho Aberto

e-mail: [email protected]

A versão eletrônica da Revista Caminho Aberto

está disponível em:

revistacaminhoaberto.ifsc.edu.br

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Caminho Aberto: Revista de Extensão do IFSC.

Florianópolis, no 9, dezembro de 2018

Publicação da Pró-Reitoria de Extensão e Relações Externas do Instituto Federal de Santa Catarina.

Todos os artigos desta publicação são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores, não

cabendo qualquer responsabilidade legal sobre o seu conteúdo à Revista Caminho Aberto ou ao Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC). Os artigos podem ser reproduzidos

total ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e seu uso seja para fi ns acadêmicos.

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ReitoraMaria Clara Kaschny Schneider

Diretora ExecutivaSilvana Rosa Lisboa de Sá

Pró-Reitora de AdministraçãoAline Heinz Belo

Pró-Reitor de Desenvolvimento InstitucionalAndrei Zwetsch Cavalheiro

Pró-Reitor de EnsinoLuiz Otávio Cabral

Pró-Reitor de Extensão e Relações ExternasAndré Dala Possa

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e InovaçãoClodoaldo Machado

Diretor de ExtensãoTomé de Padua Frutuoso

Coordenadora de Desenvolvimento da ExtensãoKarla Ferreira Knierim

Coordenador de Divulgação da ExtensãoDouglas Paulesky Juliani

Assessor da Pró-Reitoria de Extensão e Relações ExternasLeo Serpa

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Editor GeralDouglas Juliani, IFSC - Centro de Referência em Formação e EaD

Editor AssistenteMarcus Vinícius Silva Gelsleuster

Conselho EditorialAltemir João Secco, IFAL - Instituto Federal de Alagoas

Angelica Conceição Dias Miranda, FURG - Fundação Universidade Federal do Rio Grande

Golberi de Salvador Ferreira, IFSC - Instituto Federal de Santa Catarina

Ionete de Magalhães Souza, UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros

Jane Lucia Santos, PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Jane Marcia Mazzarino, UNIVATES - Unidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior

Jordan Juliani, UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina

Josina Maria Pontes Ribeiro de Alcântara, IFAC - Instituto Federal do Acre

Kyldes Batista Vicente, UNITINS - Fundação Universidade do Tocantins

Manoel José Porto Júnior, IFSUL - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense

Marcelo de Souza Nogueira, CEFETRJ - Centro Federal de Educação

Tecnológica Celso Suckow da Fonseca

Maria das Neves Magalhães Pinheiro, UERR - Universidade Estadual de Roraima

Paula Borges Bastos, IFF - Instituto Federal Fluminense

Rosane Rosa, UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

Tatiana Emilia Dias Gomes, UNEB - Universidade do Estado da Bahia

Teresinha Heck Weiller, UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Vera Lucia Spacil Raddatz, UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS

Editores de SeçãoAna Paula Kuczmynda da Silveira, IFSC - Câmpus Gaspar

Cherilo Dalbosco, IFSC - Câmpus São Miguel do Oeste

Douglas Juliani, IFSC - Centro de Referência em Formação e EaD

Glauco José Ribeiro Borges, IFSC - Reitoria

Jeferson Vieira, IFSC - Câmpus São José

Juliana Rosa Carrijo Mauad, UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados

Liziane Martins, UNEB - Universidade do Estado da Bahia

Marcos de Lucca Moreira Gomes, UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

Vanessa Oechsler, IFSC - Câmpus Gaspar

Walter Widmer, IFSC - Câmpus Florianópolis

Projeto Gráfi co e DiagramaçãoGlauco José Ribeiro Borges, IFSC - Reitoria

Editores / Revisores de TextoAlcione Alves Hulse, IFSC - Reitoria

Ana Paula Lückman, IFSC - Reitoria

Crislaine Gruber, IFSC - Câmpus Gaspar

Jucelio Kullmann de Medeiros, IFSC - Câmpus Florianópolis-Continente

Karina Amorim Knabben, autônoma

Liziane Martins, Uneb - Universidade do Estado da Bahia

Mara Luiza Machado Idalencio Abatti, autônoma

Monique Bione Silva, UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Paula Clarice Santos Grazziotin de Jesus, IFSC - Câmpus Gaspar

Priscylla Alves Campos Steffen, UFBA - Universidade Federal da Bahia

Rosane Schenkel de Aquino, IFSC - Câmpus Lages

Simone Coelho Sell, IFSC - Câmpus São José

Tânia Neves Barth, Senai

Tiago Savi Mondo, IFSC - Câmpus Garopaba

Wellington Marques Rangel, IFSC - Câmpus Jaraguá do Sul

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Pala

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dito

rÉ com um grande entusiasmo que apre-

sentamos o número 9 da revista Caminho

Aberto. Esta publicação reúne relatos de

experiência e artigos produzidos por exten-

sionistas vinculados a instituições de norte

a sul do país a fi m de compartilhar com

você práticas que estão transformando a

realidade de todos os alunos, educadores e

comunidades nelas envolvidos.

Nesta edição, contamos com quatro artigos

e oito relatos de experiência que abordam

temas ligados à saúde em vários aspectos:

do homem e da mulher, da família, na esco-

la e dos idosos. Outras temáticas que tam-

bém estão presentes nesta publicação são

agricultura familiar e a segurança alimentar,

formação continuada, ofi cinas educativas e

inclusão social.

Contamos, também, com a participação do professor Leandro Schmitz, que nos concedeu uma

entrevista para contar um pouco sobre sua trajetória, em especial, seu condecorado projeto de

integração da extensão com o ensino e a pesquisa. Ele é docente da Universidade do Estado de

Santa Catarina (Udesc), vinculado ao Centro de Ciências da Administração e Sócio-Econômicas

(Esag). A referida proposta pedagógica integradora é implementada desde 2005 na disciplina

de Gestão de Projetos e rendeu diversos prêmios ao educador. A estratégia mobiliza os alunos a

aplicar os conhecimentos adquiridos em iniciativas sociais. Os trabalhos desenvolvidos a partir

da sala de aula já benefi ciaram centenas de organizações por meio de surpreendente engaja-

mento dos discentes. Aproveite para conhecer detalhes de como ele se tornou referência nessa

abordagem e observar como é possível tornar nossas práticas educacionais com maior grau de

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Ao longo deste ano estamos realizando uma série de atividades para o aprimoramento da Ca-

minho Aberto.Entre elas, destacam-se a disponibilização de informações mais explícitas sobre

o escopo da revista, natureza, alcance, critérios de avaliação; a atualização dos perfi s dos ava-

liadores e autores (incluindo o ORCID); atualização das bases de dados/indexadores; e ajustes

nos metadados, incluindo títulos e resumos em inglês de todas as publicações. Estas e outras

estratégias estão sendo executadas com a assessoria do professor Eli Lopes, do Senac/SC,

que também é editor da Revista Navus e tem vasta experiência na editoração de periódicos

científi cos. Aproveitamos para agradecer imensamente ao professor por todas as contribuições

oferecidas, que têm sido fundamentais para a qualifi cação de nossa publicação.

A equipe editorial da Caminho Aberto agradece a participação de todos os autores, avaliadores,

revisores de texto, diagramadores e demais envolvidos neste novo número.Sem a colaboração

de todos não seria possível realizar este trabalho. Desejo-lhes uma agradável leitura e deixo um

fraterno abraço!

Douglas Juliani - Editor

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Dire

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os

Categorias de trabalhos a serem publicados

Artigos apresentam os resultados de atividades de extensão resultantes de pesquisas e contêm,

necessariamente, fundamentação teórica, procedimentos metodológicos e resultados alcançados. Já

os relatos de experiência descrevem e/ou discutem experiências desenvolvidas nas áreas temáticas da

extensão e são compostos por resumo e descrição das atividades desenvolvidas.

A equipe editorial poderá propor Edições Temáticas. Nesse caso, os temas defi nidos serão previamente

anunciados.

Idiomas para submissão: português, inglês ou espanhol.

Resumo: no idioma do artigo e em inglês

Palavras-chave: no idioma do artigo e em inglês

Imagens: os artigos devem conter no mínimo três ilustrações de boa qualidade com no mínimo 300 dpi.

Formatação dos textos:

Artigos:

20 mil a 35 mil caracteres com espaços (aproximadamente de 7 a 13 páginas em tamanho A4, fonte

Times New Roman 12, entrelinha 1,5 com margens 2 cm), incluídos título, resumo, abstract, palavras-

chave, keywords, texto completo e referências bibliográfi cas.

Acesse os modelos para artigos em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/caminhoaberto

Relatos de Experiência:

5 mil a 10 mil caracteres com espaços (aproximadamente de 2 a 4 páginas em tamanho A4, fonte Times

New Roman 12, entrelinha 1,5 com margens 2 cm), incluídos título, resumo, abstract, palavras-chave,

keywords, texto completo e referências bibliográfi cas.

Acesse os modelos para relatos de experiência em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/caminhoaberto

Condições para submissão

Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a verifi car a conformidade da submissão

em relação a todos os itens listados a seguir. As submissões que não estiverem de acordo com as normas

serão devolvidas aos autores. O trabalho refere-se a uma atividade de extensão conforme as diretrizes

estabelecidas na Resolução Consup nº 61, de 12 de dezembro de 2016.

Todos os textos enviados como colaboração à Caminho Aberto devem ser encaminhados eletronicamente

pelo sistema de submissão.

Os artigos devem ser originais e inéditos. E não podem estar em avaliação em outros períodicos

concomitantemente. É considerado inédito o texto que ainda não foi publicado em outro periódico científi co.

As colaborações devem ser anexadas em arquivos eletrônicos formatados de acordo com as presentes

normas e modelos descritos no item diretrizes para autores.

São admitidas colaborações em português, inglês e espanhol.

Os trabalhos devem seguir rigorosamente os critérios constantes nas diretrizes para autores no item

Formatação dos textos.

Para cada trabalho submetido são exigidas no mínimo 3 imagens ou ilustrações que devem ser

encaminhadas em arquivos separados, em formato .jpg, com resolução mínima de 300 dpi, indicando a

ordem / numeração conforme legenda no artigo / relato.

Os textos devem seguir as normas brasileiras NBR 6023/2002 (referências), NBR 10520/2002 (citações)

e 6023/2003 (artigo em publicação periódica).

Os textos escritos em português devem estar adequados ao Novo Acordo Ortográfi co da Língua

Portuguesa.

A revista recebe colaborações de extensionistas alunos, professores e técnicos administrativos. Para os

alunos é obrigatória a autoria compartilhada com professores ou técnicos administrativos que possuam,

no mínimo, nível superior completo. São permitidos trabalhos com até 3 coautores além do autor principal.

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Leandro Costa Schmitz Um caminho aberto em um trajeto inverso 09

entrevista

A experiência da 1ª edição do programa Mulheres Sim no IFSC - Câmpus Xanxerê

Doutores Por um Triz: Porque rir é o melhor remédio

Educação em Saúde na Escola: Vivência com Estudantes do Sexo Masculino de Escolas Públicas

Formação em produção de alimentos: um fortalecimento das relações de inclusão social no Distrito do Passo Novo - Alegrete/ RS

artigos

13

20

30

41

Atividades desenvolvidas na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017: Exposições e Ofi cinas relacionadas à área de Estruturas dos cursos de Edifi cações e Engenharia Civil

Práticas comunitárias com agricultura urbana: segurança alimentar e inclusão social com as famílias da APAE de Curitibanos-SC

Literatura Brasileira Contemporânea e a Arte de Contar Histórias: um relato de experiência em ações extensionistas

Promoção da higienização das mãos através de técnicas lúdico-educativas em um hospital público

O Novembro Azul vai à escola: uma intervenção didática aplicada em uma escola estadual de Teixeira de Freitas, Bahia

Resgatando potencialidades: um trabalho em campo com idosos institucionalizados

Segurança Alimentar e Valorização do Protagonismo Feminino na Agricultura Familiar

59

73

A experiência de capacitação com profi ssionais de uma entidade sobre a tendência antissocial na perspectiva Winnicottiana 54

64

77

69

81

85

relatos de experiência

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 9

Um caminho aberto em um trajeto inversoLeandro Costa Schmitz Professor efetivo do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas

(ESAG) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Doutor em Administração - Universidade Federal de Santa Catarina

Eu gostaria de dizer que foi uma ideia deliberada da minha cabeça, que fui eu que criei, mas isso

seria mentira. O que aconteceu foi que o projeto, a dinâmica foi se criando diante da interação

com os alunos, semestre após semestre, reforçando aquilo que dava certo, deixando de lado

aquilo que não funcionava muito bem. A dinâmica foi sendo criada junto com eles. 

Eu só comecei a criar uma forma e me animar com os resultados. Primeiro pelo engajamento

dos alunos, e aqui é que eu considero que o ensino e a extensão estão muito conectados. A

extensão talvez seja a melhor forma de tornar o ensino mais signifi cativo, tu gerar signifi cado

para o aluno, dar motivo para ele fazer as coisas. E está cada vez mais complicado manter o

aluno dentro de sala engajado. E não nos cabe ser contra a tecnologia. Há aquela passagem

que se houvesse uma máquina do tempo que trouxesse alguém da Idade Média para cá e ela

caísse dentro de um shopping, fi caria aterrorizada com tudo o que mudou; mas se caísse na

universidade, estaria em casa…. (risos). Mudou muito pouco. E o aluno fi ca cada vez menos

engajado porque ele é bombardeado com muita informação de fora. E aí eu comecei a trabalhar

com essa lógica de forma empírica. E começou a funcionar.

Caminho Aberto: Na prática como funciona?

Leandro Costa Schmitz: Quarenta alunos criam um projeto, atividades, dividem metas

comuns, cada um fi ca responsável por algumas atribuições dentro do projeto, se cobram,

se gerenciam, tem hierarquia, o negócio passa a funcionar como em uma empresa, e eles

começam a ter resultados. A ligação com a extensão é basicamente essa. A extensão é o que

dá motivação para o pessoal. O aluno vai para fora, para ajudar a comunidade, é o motivo, é

o signifi cado. O trabalho tem que ter signifi cado. No fi nal a iniciativa tem um signifi cado que é

estar aprendendo e ainda gerando uma consequência, que é ajudar alguém.

Como a gente é uma instituição pública, isso sempre fez muito sentido. E aí tem alguns

paradoxos interessantes. A maior parte dos meus alunos, as associações de formaturas deles

não arrecadavam uma fração do que eles faziam com o projeto. Por que? Porque não tem

signifi cado. É “eu trabalhando para mim mesmo”. O negócio não tem muito signifi cado. Quando

tu bota o signifi cado no negócio, que é no que a extensão mais ajuda, é um estímulo. Eu não

trabalho com nenhum tipo de métrica de arrecadação, métrica fi nanceira, eu não estabeleço

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 201810

meta, não escolho instituição.

Caminho Aberto: Como avalias a relação academia como saber e comunidade como

emissor e receptor da demanda?

Leandro Costa Schmitz: Em termos de universidade eu vejo uma importância muito grande

para ela ganhar uma liderança na sociedade. Para falar a verdade, se olharmos para o tripé,

ensino, pesquisa e extensão, essa última costuma ser o “irmão pobre”. As outras duas áreas são

muito mais visualizadas, mas isso é dentro da academia. Para falar a verdade, a comunidade,

a sociedade que está em volta não vê tanto valor em publicação, em pesquisa. Porque isso

demora para voltar, se voltar.

Porém, se a instituição tem algum trabalho que se integre com a comunidade, ela sente na pele.

Isso é muito mais visível. Eu entendo que diante desse contexto é mais complicado manter os

alunos em sala de aula, mantê-los engajados, etc. A extensão vai acabar sendo cada vez mais

importante e talvez se consiga o que se espera dela: que esteja no mesmo patamar de ensino

e pesquisa porque isso hoje é muito teórico. Se alguém disser que não é teórico, é hipocrisia.

Vai ver orçamento. Isso não é na Udesc, é em todas as universidades, em todas as instituições.

Caminho Aberto: Sua metodologia faz da aprendizagem ferramenta de ação social?

Leandro Costa Schmitz: Essa é uma parte da lógica com que eu trabalho. Com o tempo,

comecei a me questionar sobre até que ponto estava desenvolvendo as competências necessárias

num gestor de projetos. A gente não é treinado para ser docente. Aí fui descobrir pelo meu

doutorado que existe uma abordagem que chama Ensino Experiencial. Começava com John

Dewey em 1930, que busca fundamentos desde Aristóteles, Rosseau, e que fala que a experiência

é o melhor professor. Ou seja, há uma base teórica que defende o que eu estou fazendo. (risos).

Gostaria de contar que estudei tudo, que eu sou um gênio, mas na realidade não é verdade (risos).

Caminho Aberto: Acreditas que o conhecimento está “guardado” dentro das

instituições de ensino?

Leandro Costa Schmitz: Eu não concordo com isso. Eu já nem concordo que conhecimento é

criado aqui dentro, ele está aí, está fora. Talvez aqui ocorra uma sistematização do conhecimento.

As pesquisas são, de fato, importantes, mas seria muita arrogância da universidade achar que

ela produz o conhecimento do mundo.

Em Ciências Sociais, costumamos estudar fenômenos que estão acontecendo nas empresas.

Então, ao pesquisá-las, observamos fenômenos acontecendo. Tu volta, analisa, sistematiza e

aí cria uma teoria. Não é criar teoria e aplicar na prática. O caminho das Ciências Sociais talvez

seja um pouco diferente, inverso, tem muito empirismo nesse caminho. E acho que mesmo nas

Hard Sciences, como Física e Matemática, cada vez se aceita mais que há muito conhecimento

fora das instituições de ensino.

Caminho Aberto: Como percebes o incremento da extensão e sua inserção nos

currículos?

Leandro Costa Schmitz: Eu, de fato, apesar da diferença orçamentária, coloco tudo no

mesmo patamar. E acho que, na minha visão, a extensão tem esse papel de se engajar com o

ensino, para tornar a experiência do aluno em sala de aula mais signifi cativa e gerar motivação

para ele estudar. Estudar problemas reais da comunidade. A gente não pode pensar na extensão

só como assistencialismo, ela é muito mais que isso.

A extensão pode ser trabalhada com empresas bem sucedidas, capacitar a comunidade, e ter

algum tipo de curso para criar demandas que as empresas estejam necessitando. É o trabalho

de interação com o mercado como um todo. Nesse momento, vejo um futuro em que o ambiente

de ensino e de extensão estarão tão entrelaçados que talvez sejam a mesma coisa. Começa

a perder o sentido separar. Eu hoje tenho difi culdade em separar nos meus projetos. O que eu

faço com essa turma é ensino ou extensão? São os dois. No fi nal eu nem saberia te dizer qual

é preponderante, porque são as duas.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 11

Caminho Aberto: O que pode ser feito para incentivar mais políticas de extensão

universitária?

Leandro Costa Schmitz: As universidades hoje, as públicas principalmente, o IFSC, a Udesc,

a UFSC, são autônomas. O governo pode estimular por meio de edital, com recurso, mas acho

que parte muito do professor, da gestão, de buscar incentivar a extensão. Tanto é que há áreas

mais articuladas, mais presentes, com mais orçamento, e outras com menos. Vamos ter alguém

mais ligado em projeto, em extensão. O próprio perfi l das pessoas fala um pouco disso. Eu sou

um cara muito mais da prática, mais empreendedor., eu quero fazer. A própria sociedade pode

puxar muito isso.

Caminho Aberto: Como?

Leandro Costa Schmitz: Batendo na porta da universidade, cobrando. A universidade

é pública. Um exemplo: Florianópolis é um polo tecnológico. Por outro lado, essa área está

crescendo muito e com uma carência grande de mão de obra, de desenvolvedores. Eu não vejo

as associações se organizando, batendo na porta, exercendo pressão nas universidades pela

abertura de mais cursos, mais graduados e profi ssionais. Cadê extensão? Se a gente for lá um

dia para conversar, eles vão dizer “ah, a gente precisa”, mas não tem uma pressão social pra

que aquilo aconteça. A sociedade pode puxar bastante extensão.

Em Boston, em várias instituições, o professor tem salário garantido oito meses por ano. Nos

demais, tem que correr atrás. De projeto de pesquisa, dinheiro para fomento externo, acordo

com empresa. Em uma universidade pública isso é quase um crime. “Ah, meu deus do céu,

a empresa tá fi nanciando a pesquisa”. Privatização na universidade, aquela discussão. Em

instituição pública é difícil. Bem difícil. Não sei como é no IFSC. Aqui não é fácil. A UFSC me

parece, de nós, a mais adiantada nesse processo, mas ainda muito aquém do que podia ser. O

mercado tá muito longe da universidade.

Caminho Aberto: Atualmente vens atuando em pesquisa sobre gamefi cação e

tecnologias inovadoras na gestão participativa?

Leandro Costa Schmitz: Eu tenho um projeto com o LabGers e um com o Sapiência. No

fi nal, os dois estão ligados. Estudo gamefi cação como forma de engajamento, ou seja, é o uso

de elementos de jogo em contextos de não-jogo. Tentamos analisar e descobrir o porquê as

pessoas fi cam tanto tempo jogando e muitas vezes sem a mesma motivação com o seu próprio

trabalho ou com as suas relações sociais.

Ele está entrelaçado à tecnologia da cidade inteligente porque neste o objetivo é criar um big

data, um data lake enorme, no qual se possa jogar lá muitas informações de dados públicos.

Temos convênios com empresas públicas, com secretarias, que vão alimentando esse data

lake para que se possa fazer pesquisa de problemas públicos ali. São multidões de pessoas

fornecendo informação, alimentando um banco de dados para que se possa tomar decisões.

Para dar um exemplo, se eu for lá e habilitar aqui no meu telefone celular o aplicativo para que

ele possa monitorar meu deslocamento, ele começa a montar um mapa de calor por onde ando

e por onde as pessoas perto de mim andam, criando uma rota, que poderia ser uma fonte de

informação para políticas públicas de transporte.

E isso é extensão também. É resolver problema urbano. No fi nal, a extensão se funde com ensino e

com pesquisa. Esse projeto está como pesquisa. Por que? Porque pesquisa tem maior orçamento.

Caminho Aberto: Como percebes o papel dos institutos federais na extensão e

potencial aproximação com a Udesc e outras universidades?

Leandro Costa Schmitz: As instituições públicas em geral como são os institutos federais,

como são as universidades federais, as estaduais, já têm uma proximidade meio natural. A gente

se fala pouco, mas a gente se gosta (risos).

Se botar todo mundo junto a gente se entende rápido. Às vezes falta motivação, falta tempo. Mas

não é má vontade de ninguém. A gente discute as mesmas coisas, tem problemas parecidos.

Eu vejo muita oportunidade de fazer muita coisa junto. E às vezes é só sentar para conversar.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 201812

Tem projeto, como o Participact que tem muito espaço para trabalhar junto, porque problema

urbano não está faltando.

Caminho Aberto: Como sentes o ensino profi ssional e tecnológico no Brasil?

Leandro Costa Schmitz: Faz pouco tempo que o status do ensino tecnológico começou a

crescer. Antes era “ah não é uma graduação”, hoje não tem discussão que é superior. Na prática,

demandas do setor, do polo tecnológico, que tem a capacidade de atender mais rápido é o IFSC;

mais rápido que a gente e que a UFSC. Porque claramente é uma capacitação profi ssional

voltada para a parte técnica. Não precisa ter muito penduricalho, é isso, desenvolve.

Me parece que é defi nitivo, com muita força. A pessoa consegue acessar mais rápido o mercado

de trabalho e para muitos contextos, aqueles mais aplicados, faz muito sentido. Diminui a

ansiedade de “será que estou aprendendo como aplicar, será que vai ser útil”. Já estás no

ensino profi ssional, no mercado.

Caminho Aberto: Como empreendedor, tens vontade de deixar essa experiência em livro?

Leandro Costa Schmitz: Ah, tenho, todo professor tem. Só que o projeto é tão mais legal,

botar para funcionar, poder ajudar, auxiliar a validar o negócio com uma start up de verdade.

Passa um semestre e o cara diz “Tu mudou a minha vida”. É tão mais gratifi cante, que no fi nal

acabo deixando isso [publicar] em segundo plano. No fi nal, publico o mínimo para manter o

mestrado, mas não mais do que o mínimo. Eu não tenho o perfi l de publicador, de pesquisador.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 13

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A experiência da 1ª edição do programa Mulheres Sim no IFSC - Câmpus Xanxerê

Jóice Konrad – [email protected]

Giovana Bianca Darolt Hillesheim – [email protected]

Guilherme Bruschi Frizzo – [email protected]

RESUMO

O presente trabalho trata-se de um estudo de caso, que tem como objetivo analisar o Programa

Mulheres SIM realizado durante o segundo semestre de 2016 no IFSC Xanxerê. Foram adotados

como procedimentos metodológicos: revisão bibliográfi ca que historiciza e fundamenta

o programa, aplicação de questionários e realização de entrevistas com egressas. Conclui-

se que, ao atender 25 mulheres, o programa oportunizou signifi cativa contribuição na sua

formação humana e profi ssional, instrumentalizando-as com novas vivências/conhecimentos

e despertando sua atenção em relação aos cuidados com a saúde, seus direitos enquanto

cidadãs, mulheres, mães e trabalhadoras.

PALAVRAS-CHAVE

Cidadania. Empoderamento feminino. Vulnerabilidade social.

1 Doutoranda em Geografi a pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Câmpus Presidente Prudente, São Paulo

e Professora do Instituto Federal de Santa Catarina – Câmpus Xanxerê, Santa Catarina;

2 Doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Santa Catarina – Câmpus Florianópolis, Santa Catarina e Professora

do Instituto Federal de Santa Catarina – Câmpus Xanxerê, Santa Catarina;

3 Estudante do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de Santa Catarina – Câmpus Xanxerê,

Santa Catarina.

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ABSTRACT

The following work is a case study, which aims to review the “Programa Mulheres SIM”

implemented during the second semester of 2016 at IFSC Xanxerê. To develop this work was

adopted as methodological procedures: bibliographic review that historicizes and underpins

the project, application of questionnaires and a personal interview with the graduates. It was

concluded that, on attending 25 women, the program provided a signifi cant opportunity in their

human and professional formation, providing them new perceptions/knowledge and awaking

their attention to health care, their rights as citizens, women, mothers and workers.

KEYWORDS

Citizenship. Female empowerment. Social vulnerability.

1 Introdução

O Mulheres Sim é um programa do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), vinculado à Pró-

Reitoria de Extensão e Relações Externas (Proex). Ele é estruturado por meio de quatro projetos

de extensão: a) Curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) em Educação e Gênero ou Geração

de Renda, Tecnologia e Valorização do Trabalho Feminino, ambos os componentes curriculares

dão sustentação para a construção de conhecimentos visando o exercício da cidadania, geração

de renda e a melhoria da qualidade de vida; b) Feira de Economia Solidária, com fi nalidade

pedagógica de incentivar a economia criativa, coletiva e a inclusão social; c) Ciclo de palestras

e d) Acompanhamento das Egressas.

Trata-se de um programa de extensão de cunho social, sendo a extensão a responsável por

interligar os demais pilares da instituição: o ensino e a pesquisa. Essa ligação visa levar à

comunidade externa o conhecimento produzido no IFSC, correlacionando docentes, discentes,

servidores e comunidade externa, potencializando o “alcance social à produção de conhecimento”

científi co (WITT; SOUZA, 2016). Os projetos de extensão também convidam a comunidade a

repensar o seu entorno, identifi car situações problemáticas e maneiras de resolvê-las. Nesse

sentido, o Programa Mulheres SIM apropria-se dessa ligação visando a inclusão da mulher nas

dimensões educacional, econômica, social e cultural da sociedade. Esse programa tem como

enfoque a questão de gênero, buscando atender mulheres em vulnerabilidade social e sem

escolaridade. Uma das possibilidades é a maior especifi cação do público-alvo, objetivando que

o programa esteja intensamente conectado à realidade local.

A edição piloto aconteceu em 2014, englobando oito câmpus. Um deles foi o Câmpus Caçador,

que voltou sua atenção para a população carcerária feminina do município. A proposta era

“estimular nessas mulheres o afl oramento das suas potencialidades individuais para geração

de renda” (ULLRICH, 2016, p. ). Neste caso, assumiu-se uma responsabilidade dupla: preparar

essas mulheres para um mercado de trabalho que não irá vê-las somente como mulheres (o

que, por si só, já é uma situação de vulnerabilidade), mas também como ex-carcerárias.

Apesar dos avanços sociais recentes, mulheres continuam a vivenciar histórias de vulnerabilidade

e a protagonizar papéis considerados economicamente periféricos. Em Xanxerê, 15,34% do

total de mães/chefes de família são mulheres que não possuem ensino fundamental completo

e possuem fi lhos pequenos (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DO BRASIL, 2010).

Quanto à renda e trabalho no município, 15,18% da população apresenta-se vulnerável

à pobreza, aliando-se aos 27,11% da população de 18 anos ou mais que não tem ensino

fundamental completo e possui ocupação informal. Diante dessa realidade, o Câmpus Xanxerê

submeteu a proposta do projeto FIC Educação e Gênero ao Edital Proex – Nº 06/2016, tendo

como objetivo oferecer oportunidades de refl exão e instrumentalização para que as mulheres em

vulnerabilidade social tivessem acesso à formação profi ssional qualifi cada.

O projeto foi selecionado e executado no segundo semestre de 2016. Tinha como público-

alvo mulheres com mais de 15 anos, preferencialmente jovens mães/chefes de família, sem

escolaridade, moradoras dos bairros mais carentes do município, que desenvolviam atividades

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informais ou estavam desempregadas, que apresentavam-se em situação de vulnerabilidade

social e que estavam/foram assistidas pelas unidades do Centro de Atendimento de Assistência

Social do município.

O presente artigo trata-se de um relato articulado a estudo de caso, que tem por objetivo

analisar a primeira edição do Programa Mulheres SIM desenvolvido no IFSC - Câmpus Xanxerê.

2 Metodologia

Para o desenvolvimento deste artigo utilizamos como procedimentos metodológicos: revisão

bibliográfi ca, aplicação de questionário e entrevistas com as participantes do programa. A fi m

de caracterizar o Programa Mulheres SIM, realizamos busca de material bibliográfi co, como

documentos, editais e artigos referentes ao desenvolvimento desse programa. Utilizamos ainda

os resultados obtidos da aplicação dos questionários socioeconômicos e as entrevistas realizadas

durante a execução do programa no câmpus. Os questionários foram aplicados com 14 alunas

durante a aula inaugural, buscando caracterizar o perfi l delas. Já as entrevistas, realizadas

oralmente no último dia de atividade do programa e transcritas posteriormente, envolveram 20

alunas, tendo como objetivo a avaliação das atividades desenvolvidas. Diante disso, foi possível

traçar as considerações que este artigo propôs inicialmente.

3 Resultados e discussão

A execução do Programa Mulheres SIM ocorreu de agosto a dezembro de 2016 com atividades

todas as quartas-feiras e sextas-feiras, no período vespertino, totalizando 116 horas. O

ingresso no programa ocorreu por meio de sorteio via Edital de Ingresso/DEING/PROEN. Foram

ofertadas 30 vagas, tendo como pré-requisitos ser mulher e ter mais de 15 anos de idade.

Entretanto, apenas 17 alunas matricularam-se, somadas às oito matrículas através das vagas

remanescentes, totalizando 25 alunas. Com base nos dados do Registro Acadêmico, do total

de matriculadas, duas alunas cancelaram e cinco alunas evadiram. Em um dos casos a evasão

ocorreu após a aluna obter vaga de emprego; outras duas alunas não atingiram a frequência

mínima de 75%; as demais desistiram no decorrer do curso. Ao total, 18 alunas concluíram o

curso com êxito, o que signifi ca um satisfatório índice de conclusão de 72%.

O FIC implantado foi o de Educação e Gênero, com 96 horas dedicadas às unidades

“Conhecimento histórico-cultural”, “Saúde da mulher e da família”, “Ética e cidadania”,

“Linguagens”, “Informática”, “Desenvolvimento social e sustentável”, “Vivência matemática” e

“Geração de Renda”. As unidades curriculares trabalhadas tinham como objetivo fornecer às

alunas subsídios para a construção de conhecimentos para o exercício da cidadania, melhoria

da sua qualidade de vida e de sua família e desenvolvimento de habilidades manuais que

permitissem o trabalho autônomo, inclusive no ambiente doméstico.

Com o auxílio de questionário traçamos o perfi l socioeconômico das participantes. O grupo

atendido era composto por mulheres brancas (71%), residentes na área urbana de Xanxerê

(86%). Esperava-se atingir um número maior de mulheres entre os 15 e os 30 anos, o que não

aconteceu: 57% da turma era formada por mulheres acima dos 40 anos. Isso não se mostrou

um problema, apenas demandou uma adaptação dos métodos de ensino, de modo a tornar as

aulas teóricas atrativas para este público.

Tabela 1 – Número de fi lhos(as) das alunas do “Programa Mulheres SIM” – 2016/2

NÚMERO DE FILHOS(AS) Nº DE ALUNAS

Um Um 55

DoisDois 55

Três Três 11

Quatro ou maisQuatro ou mais 33

Fonte: Dados desta pesquisa.

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Com relação ao perfi l de organização familiar, todas as 14 alunas tinham fi lhos(as), variando

somente o número (Tabela 1), e 42,7% delas não estavam em nenhum tipo de relação estável.

Outro aspecto a se destacar é que 36% das alunas relataram terem sofrido violência física,

psicológica e/ou moral em algum momento de suas vidas. Esse dado mostra-se preocupante

quando relacionado ao histórico de feminicídios no município. Um deles tendo acontecido no

dia 20 de fevereiro de 2018, a vítima foi encontrada nua e com o rosto queimado (G1, 2018).

Sendo assim, faz-se de extrema importância proporcionar-se mais espaços para discussões

sobre esse e outros temas referentes à questão de gênero, visto que isso é um instrumento de

conscientização contra a naturalização dessas prática s.

Os níveis de escolaridade (Tabela 2) foram os índices que mais variaram: 7,1% da turma

declarou-se como analfabeta e 71,5% (11 alunas) não chegou a concluir o Ensino Médio. No

entanto, foi possível identifi car que 57% manifestava interesse em concluir seus estudos. Como

nem todas as alunas eram alfabetizadas, as atividades desenvolvidas em sala de aula contaram

com práticas pedagógicas diferenciadas, como trabalho expositivo, dinâmicas dialogadas com

as atividades teóricas e atividades práticas; isso tornou ainda mais importante a valorização das

experiências não-formais, adquiridas ao longo da vida das alunas.

Tabela 2 – Escolaridade das alunas do Programa Mulheres SIM – 2016/2

NÍVEL DE ESCOLARIDADE Nº DE ALUNAS

Nunca estudouNunca estudou 11

Ensino Fundamental I (1ª a 4ª série) IncompletoEnsino Fundamental I (1ª a 4ª série) Incompleto 33

Ensino Fundamental I (1ª a 4ª série) CompletoEnsino Fundamental I (1ª a 4ª série) Completo 11

Ensino Fundamental II (5ª a 8ª série) IncompletoEnsino Fundamental II (5ª a 8ª série) Incompleto 22

Ensino Fundamental II (5ª a 8ª série) CompletoEnsino Fundamental II (5ª a 8ª série) Completo 22

Ensino Médio IncompletoEnsino Médio Incompleto 22

Ensino Médio CompletoEnsino Médio Completo 22

Ensino Superior CompletoEnsino Superior Completo 11

Fonte: Dados desta pesquisa.

Um exemplo de adequação metodológica é a aula retratada na Figura 1, da Unidade Curricular

“Linguagens”. O objetivo era que as alunas (divididas em grupos de cinco) pensassem em algum

produto ou serviço com o qual já tivessem certa familiaridade (crochê, bordado, pintura, etc) e

vendessem-no para a turma, utilizando os conceitos trabalhados na Unidade de “Linguagens” e

“Geração de Renda”. Essa atividade podia ser realizada de forma escrita ou oral considerando

que muitas alunas não dominavam a escrita), tendo o auxílio de cartazes e demais recursos

audiovisuais de sua escolha.

Figura 1: Aula da unidade curricular “Linguagens”.

Fonte: Acervo desde projeto.

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Além das aulas, as alunas participaram do projeto ciclo de palestras e ofi cinas, que complementou

a sua formação. Foram 12 horas em que as alunas tiveram a oportunidade de aprofundar seus

conhecimentos sobre questões pertinentes aos dias atuais, como a importância do pensamento

pró-ativo e assuntos relacionados à educação de jovens e adultos. Este último ainda mais

conectado com a realidade do programa, atuando como a motivação necessária para essa fase

de novas experiências e aprendizados na vida das alunas. Também foram desenvolvidas ofi cinas

de artesanato com a reutilização de materiais recicláveis, a fi m de desenvolver habilidades

manuais e aperfeiçoar os saberes sobre geração de renda e desenvolvimento sustentável.

A Feira de Economia Solidária (8 horas de duração), a segunda promovida no câmpus, tinha

como propósito a exposição e a comercialização dos produtos confeccionados pelas integrantes

durante a execução do Programa Mulheres SIM, valorizando a produção manual sem deixar

de lado a preocupação ambiental. A presença de artesãs profi ssionais, discentes, docentes e

servidores do IFSC, além da comunidade externa, fez com que a feira se transformasse em algo

além do planejado: um ambiente de aprendizado, troca de conhecimentos e estabelecimento

de novas amizades. Ela ainda contou com atividades culturais em parceria com os estudantes

dos Cursos Técnicos em Alimentos/Informática Integrados ao Ensino Médio: apresentação

musical, declamação de poemas e uma exposição fotográfi ca – resultado do projeto “Marílias”,

desenvolvido de forma paralela ao programa.

“Marílias” fotografou as alunas em interação com lenços de voil por elas decorados no

desenrolar do componente curricular “Conhecimento histórico-cultural” (Figura 3). Neste âmbito,

o projeto produziu dois ambientes de aprendizado. O primeiro, a socialização entre as alunas dos

Cursos Técnicos em Alimentos/Informática Integrados ao Ensino Médio e as alunas do Mulheres

SIM. Essa socialização foi capaz de tornar visíveis as “concepções de mundo distintas e que

[…] reproduzem confl itos presentes na sociedade global, muitas vezes difi cultando as relações

interpessoais” (CALLIARI, 2017). Uma vez percebida, foi possível reverter essa diferença

ideológica em algo positivo, capaz de proporcionar a troca de conhecimentos.

Figura 2: Alunas do “Mulheres SIM” durante a 2ª Feira de Economia Solidária realizada no Câmpus Xanxerê.

Fonte: Acervo desde projeto.

Figura 3: Imagem da série “Marílias”.

Fonte: Acervo deste projeto.

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O segundo, a produção dos lenços. Eles tinham por intuito resgatar fatos marcantes da vida de

cada aluna, estando, portanto, carregados de material simbólico. A idade de cada mulher, por

exemplo, estava simbolizada no número de franjas dos lenços. Além disso, o formato triangular

dos mesmos foi utilizado como suporte para representar a infância, a juventude e a maturidade

de cada mulher. Esse fazer estético foi alimentado por poesia e apresentação de personagens

históricas femininas. Uma delas retirada do poema “Este é o lenço”, da poetisa brasileira Cecília

Meireles: Marília de Dirceu, alegoria que representa Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão,

personagem importante da Inconfi dência Mineira. O lenço foi o companheiro de Maria (ou de

Marília) durante o exílio do companheiro, Tomás Antônio Gonzaga, exílio esse que impediu o

casamento entre os dois. Para o Mulheres SIM o lenço assume um sentido mais otimista,

de estimular um olhar para o passado a fi m de perceber que cada uma das fases (infância,

juventude e maturidade) tem igual importância na gênese do “eu” atual.

O Programa mostrou-se muito signifi cativo na vida dessas mulheres, à medida que possibilitou,

sobretudo, o empoderamento4, a refl exão, o acesso aos direitos, à cidadania e a inclusão

social e educacional das alunas. Para entrevistada 01 (2016), “foi muito bom, aprendi muita

coisa e renovei o que eu sabia um pouco […]”. Além disso, o conhecimento sobre “direitos e

deveres que a gente tem né, não exerce, e que é livre, né. A gente não é obrigada. Que nem eu,

pensava assim quanta coisa, […] fazia por medo, achava que complicava”. Sobre as fragilidades

encontradas no programa, a entrevistada 02 (2016) apontou que as disciplinas deveriam ter

carga horária maior, possibilitando maior aprofundamento teórico. Outra questão levantada pela

entrevistada 01 (2016) foi a necessidade de um espaço físico adequado para as atividades

práticas. Inclusive, estes foram os aspectos sugeridos para melhorar nas próximas edições.

4 Conclusões

O Programa Mulheres SIM contribuiu, a partir de diversos estímulos, à inclusão educacional,

profi ssional e social de mulheres em situação de vulnerabilidade no município de Xanxerê.

A avaliação das egressas (disponível nas entrevistas) demonstra uma grande aceitação do

programa e das metodologias aplicadas. Isso demonstra que o trabalho desenvolvido superou

suas expectativas iniciais; reforçando a necessidade de rever a estrutura física do Câmpus

Xanxerê, problema apontado por grande parte dos discentes.

O índice de evasão de 28% não mostrou-se preocupante, considerando que, dessa porcentagem,

14% abandonou o curso por ter conseguido emprego e 92,8% indicou interesse em continuar

estudando no Instituto (segundo o questionário socioeconômico). É satisfatório que os

apontamentos das alunas (principalmente os tópicos que mais as interessavam, compartilhados

oralmente durante a aula inaugural) puderam ser utilizados para o melhor planejamento das

edições futuras do programa no IFSC Câmpus Xanxerê. Ainda, segundo dados do Registro

Acadêmico do Câmpus Xanxerê, 36% das alunas do Mulheres SIM voltaram para o IFSC e

fi zeram outros cursos, transformando o programa numa porta de entrada, um divisor de águas

na carreira profi ssional das egressas.

Os resultados positivos mostram a efi cácia dos projetos de extensão de cunho social quando

aplicados à realidade local. Por este motivo, faz-se necessário pesquisar e localizar os

demais grupos enquadrados atualmente em vulnerabilidade social no município de Xanxerê,

possibilitando pensar-se em outras alternativas e novas abordagens, mantendo um objetivo em

mente: qualifi car profi ssionalmente e reinserir essas pessoas na sociedade, nas esferas social,

econômica, política e cultural.

4 O termo empoderamento é compreendido neste relato a partir da concepção de Paulo Freire. Empoderamento (no inglês

empowerment) está relacionado ao ato comunitário de mapeamento e incorporação de valores comuns a determinados grupos,

possibilitando que estes realizem transformações sociais. Trata-se de um termo bastante usado na Educação.

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5 Referências

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atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfi l_m/5359>. Acesso em: 25 jul. 2016.

CALIARI, Hellen Christine et al. Arte como mediadora de confl itos geracionais. 2017.

Disponível em: <https://drive.google.com/fi le/d/0B2GxHiEWdveTYmI2Ym1qMnNzOWs/view>.

Acesso em: 28 fev. 2018.

ENTREVISTADA 01. Aluna do Programa Mulheres Sim – IFSC Xanxerê. Xanxerê-SC, 04 de

dezembro de 2016. Entrevista concedida a Jóice Konrad.

ENTREVISTADA 02. Aluna do Programa Mulheres Sim – IFSC Xanxerê. Xanxerê-SC, 04 de

dezembro de 2016. Entrevista concedida a Jóice Konrad.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.

G1. Mulher é encontrada morta e sem roupas em mata de Xanxerê. Disponível em:

<https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/mulher-e-encontrada-morta-e-sem-roupas-

em-mata-de-xanxere.ghtml>. Acesso em: 28 fev. 2018.

MEIRELES, C. Este é o Lenço. In: Romanceiro da Inconfi dência. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1989.

SENAC MINAS GERAIS. Maria Doroteia Joaquina de Seixas. Disponível em: <http://

www.descubraminas.com.br/Turismo/DestinoAtrativoPagina.aspx?cod_destino=2&cod_

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ULLRICH, Danielle Regina. A construção de saberes no cárcere: a experiência do Programa

Mulheres SIM no Presídio Regional de Caçador. NAU Social, v. 7, p. 23-30, 2016. Disponível

em <http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/rs/article/view/586> Acesso em 23 dez.

2016.

WITT, Ania Tamilis da Silva; SOUZA, Paula Clarissa de. Programa de extensão Mulheres SIM:

um estudo sobre suas alunas e sua efetividade nos câmpus. Caminho Aberto – Revista de

Extensão do IFSC, ano 3, nº 4, julho 2016 p.71-83 Disponível em < https://periodicos.ifsc.

edu.br/index.php/caminhoaberto/article/view/1822> Acesso em: 23 dez. 2016.

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Doutores Por um Triz: Porque rir é o melhor remédioClaudia Mariza Braga1 - [email protected]

Déborah Luisa Vieira dos Santos2 - [email protected]

Thainá Gomes Rodrigues3 - [email protected]

RESUMO

O Projeto de Extensão “Doutores... Por um Triz”, em atividade desde maio de 2001, é uma

iniciativa do grupo de teatro amador Por um Triz, inspirada no trabalho de Hunter Adams,

médico que nos anos 60 propôs modifi cações no tratamento médico. Resultado prático das

possibilidades de intervenção da academia na comunidade, o projeto “Doutores... Por um

Triz” contempla a necessidade de humanização da medicina em discussão nos ambientes

hospitalares e a promoção um tratamento alternativo, a partir da relação estabelecida entre arte/

saúde. A humanização se instala como tendência que discute a qualidade das relações humanas

e torna-se cada vez mais uma temática recorrente, visto pelo número crescente de voluntários

em hospitais e a quantidade de grupos que se utilizam da máscara do palhaço: mais de 1100

grupos cadastrados4 no Centro de Estudos Doutores da Alegria.

PALAVRAS-CHAVE

Doutor-Palhaço; Arte; Saúde; Interdisciplinaridade.

1 Coordenadora do projeto de extensão “Doutores... Por um Triz”, professora Titular do Departamento de Letras, Artes e Cultura

(DELAC) da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

2 Mestranda em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e voluntária no projeto de extensão

“Doutores... Por um Triz”.

3 Graduanda em Teatro pela Universidade Federal de São João del-Rei e bolsista do projeto de extensão “Doutores... Por um Triz”.

4 Dados disponíveis em: <https://www.doutoresdaalegria.org.br/escola/palhacos-em-rede/>. Acesso: 09 jan. 2018.

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ABSTRACT

The extension project: “Doutores... Por um Triz”, in activity since May 2001, is an initiative

of an amateur theatre group called “Por Um Triz”, inspired by the work of Hunter Adams, a

doctor who in the sixties proposed modifi cations in medical treatments. As a practical result

of Academy intervention possibilities in the community the project “Doutores... Por um Triz”

contemplates the need of medicine humanization in discussion in hospital environments and the

promotion of an alternative treatment, based on the relation established between art and health.

The humanization set itself as an inclination that a recurring theme, as seen by the increasing

number of volunteers in hospitals and the number of groups that use the clown mask: more than

1100 groups registered in the studies centre of group “Doutores da Alegria”.

KEYWORDS

Clown doctor; Art; Health; Interdisciplinary.

Figura 1: O grupo “Doutores... Por Um Triz” caracterizado para visita ao Hospital Nossa Senhora das Mercês (São João Del-Rei, MG)

Fonte: Doutores Por Um Triz.

1 Introdução

A humanização é uma questão necessária em ambientes de altíssima sensibilidade, como

o hospital, contudo, muitos funcionários já habituados à sua rotina acabam mecanizando o

trabalho com pessoas que estão em situação de fragilidade, em consequência disso, algumas

mudanças foram realizadas.

Para iniciar a abordagem, cabe ressaltar as mudanças, embora ainda pequenas, ocorridas na

área da saúde a partir da Lei 8.080/90 (Lei do SUS), que indicam uma preocupação crescente

por parte da Medicina em mudar a dinâmica hospitalar, com o intuito de melhor atender à

população. A partir da Política Nacional de Humanização (PNH), criada como parte do Sistema

Único de Saúde (SUS) em 2003, reconheceu-se a importância de grupos humanizadores para

a melhora dos resultados esperados em um contexto hospitalar. Assim, é possível observar nos

últimos anos um aumento gradativo de grupos agindo neste sentido, em instituições hospitalares.

O contexto hospitalar é confi gurado a partir de uma complexidade de elementos que, muitas

vezes atravessado pelo caráter institucional, resulta em um processo de despersonalização do

sujeito. Este, em muitos momentos, é submetido a rotinas e técnicas alheias ao seu conhecimento

e ao processo de escolha. Tal situação contribui para a instalação de um quadro de passividade

do sujeito que recebe o tratamento, uma vez que o foco é a doença e não o paciente em si. Esse

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enfoque na doença levou a medicina a desconsiderar aspectos importantes como, por exemplo,

a capacidade inata de curar-se por ser essa a sua condição natural (MASSETI, 2000).

No que se refere à hospitalização, Mendéz, Ortigosa e Pedroche (1996) classifi cam-na a partir

de aspectos como ambiente físico incomum; rotina hospitalar; ruptura das atividades cotidianas;

ausência dos familiares, parentes e amigos; procedimentos médicos invasivos; distorção de tempo

e espaço. Estes, por sua vez, podem ser potencializados pela gravidade da doença e agressividade

do tratamento, como é o caso do câncer, podendo desencadear na criança, por exemplo, reações

de stress, como o retraimento, a apatia, o choro, a irritabilidade, entre outras (LIPP, 1991).

No contexto hospitalar, a racionalidade tem papel fundamental. E, desta maneira, a emoção

aparece como forma secundária. A formação dos médicos é essencialmente baseada neste

caráter racionalista, o que também desencadeia um atendimento clínico considerado mais “frio

e impessoal”. É uma fi gura que se estrutura a partir da relação de poder, de um suposto saber, e

muitas vezes o conhecimento a respeito do tratamento e dos recursos utilizados fi cam restritos

a seu uso. Tal procedimento contribui para a alienação do sujeito frente ao seu processo de

adoecimento. Desta forma, difi cilmente um médico sente-se à vontade para expressar seus

sentimentos, o que pode ser visto como um “sinal de fraqueza”. A valorização da competência

profi ssional do médico dá-se, equivocadamente, mediante o ocultamento de seus sentimentos:

do paciente e até de si mesmo (MASSETI, 2003).

Qualquer equipe disposta a trabalhar em instituições hospitalares deve, então, atentar para essa

questão, uma vez que o próprio caráter institucional atua enquanto obstáculo a esse processo,

visto por alguns autores os quais destacam que as instituições tendem a seu fechamento. Além

deste fato, é importante ressaltar a organização social, enquanto processo sócio-histórico tem

privilegiado um modelo calcado na racionalidade e no tecnicismo.

Nesse sentido, o projeto “Doutores... Por um Triz”, iniciado em 2001 a partir do grupo de teatro

amador “Por um Triz”, surge com o intuito de contemplar a necessidade de humanização nos

ambientes de saúde, por meio da fi gura do doutor-palhaço, convidando o paciente a sair da situação

de passividade para tornar-se agente do próprio processo de recuperação. Desde 2002, o grupo é

vinculado à Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) enquanto projeto de extensão e, além

de atender aos ambientes de internação e participar de eventos da área da saúde em no município de

São João del-Rei (MG) e região, conta com a participação de voluntários da própria comunidade local.

Segundo a metodologia de Lecoq (2014), pesquisador que criou a metodologia das máscaras na

França, o palhaço é uma criação única, dado que ele é desenvolvido a partir do ridículo de cada

um. Para isso, a pessoa tem que ter consciência da exposição e perder o medo de esconder da

sociedade o fracasso. É como se fosse necessário, a cada um, aprender a rir dos próprios defeitos

para expô-los. Desse modo, o doutor-palhaço, mediante a interação entre arte e afeto, permite que,

ao colocar o nariz vermelho, o voluntário esteja disposto a vivenciar o presente, estando disponível

ao desconhecido, para assim construir uma relação com o “aqui-agora”, de que tanto se fala no

teatro. A utilização da máscara do palhaço torna possível a aproximação com o cliente: trata-se

de um transporte momentâneo da situação de internação para um mundo mágico de infi nitas

possibilidades e alívio da dor. Todavia, o trabalho não consiste apenas em colocar o nariz de

palhaço e proporcionar jogos, busca-se ainda compreender a construção da fi gura do palhaço para

ter propriedade para atuar nos quartos e no albergue. Para isso, todo o processo de construção e

manutenção do doutor-palhaço é fundamental para continuidade do grupo.

2 Metodologia de trabalho: do “oiante” a o

“doutor-palhaço”

O projeto “Doutores… Por um Triz” realiza semanalmente visitas no Albergue Santo Antônio,

e quinzenalmente, as visitas entre a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital Nossa Senhora

das Mercês são realizadas e, em específi co, a seu setor de hemodiálise, Renalclin Clínica de

Doenças Renais, em São João del-Rei. Uma vez por mês o grupo visita, ainda, o Lar de Idosos

em Tiradentes, MG. Os métodos de intervenção variam de acordo com o ambiente visitado.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 23

Nos hospitais, a intervenção consiste em uma forma de “consulta médica” aos clientes e seus

acompanhantes, com jogos já prontos e também de improviso, sempre associados à área

médica e da saúde. Já nos abrigos de idosos, a intervenção torna-se diferente, uma vez que

a clientela é sempre a mesma. Todos os “doutores-palhaços” fazem a intervenção juntos e as

entradas costumam ser um momento bastantes marcantes aos internos do Albergue, espaço

em que o grupo trabalha mais com a musicalização e distribui balões coloridos, dando atenção

especial a cada idoso e suas particularidades.

O projeto está aberto à participação de membros voluntários da comunidade de São João del-Rei e

região, havendo uma preparação dos mesmos através de um processo “medieval” de observação

e aprendizado contínuos. Para tanto, os membros passam por 4 etapas de preparação, sendo

elas: “oiante”, “doutor-assistente”, “doutor-graduado” e “doutoiante” (uma categoria específi ca

de reciclagem, que consiste em que um doutor-palhaço que já passou por todas as três etapas

anteriores volte a “olhar” para verifi car tanto seu próprio trabalho quanto o efeito das intervenções

dos colegas). Vale ressaltar que cada membro tem um tempo de aprendizado diferente que é

respeitado e observado por todo o grupo, e desse modo, a transição de etapas se dá a partir do

momento em que o membro e o grupo sentem que o mesmo está preparado para tanto.

Na primeira etapa, o novo membro frequenta os ambientes visitados sem se caracterizar como

palhaço, apenas portando a placa de “Oiante”. Nesse momento, o iniciante observa desde a

caracterização dos doutores-palhaços até as intervenções nos ambientes de internação, levando

as impressões principais às sessões de terapia para compartilhá-las com o grupo. É um período

de observação sistemática, aprendizado dos jogos, as formas de interagir com os clientes e da

própria construção do seu futuro palhaço.

Com o passar do tempo e de acordo com o desenvolvimento e observações das visitas,

este “olhante” passa a realizar as visitas como “doutor-assistente”. O doutor-assistente já se

caracteriza como palhaço e participa das intervenções, sempre acompanhado de um membro

mais experiente do grupo (doutor-graduado). Todo o trabalho é realizado em equipe. Assim, as

visitas são feitas em duplas ou trios, o que oferece mais segurança durante as intervenções e

facilita a aproximação entre os doutores-palhaços e os clientes.

A partir das características adquiridas durante o período como doutor-assistente e, mais uma vez,

de acordo com seu desenvolvimento, o membro recebe um nome e, assim, é promovido a “doutor-

graduado”. Dra. Mc. Irene, Dra. Neusa ou Dina, Dr. Insistente, Dra. Xarópata, Dra. Hérnia de Vinil,

entre tantos outros nomes criados de acordo com tais características dos personagens e que, em

muitos casos, se relaciona ao ambiente hospitalar, mas, na maioria deles, às características de

cada participante. Esse “batismo” reforça a intenção de que, durante a intervenção, o membro

deixe sua verdadeira identidade para assumir uma nova, a identidade do seu palhaço, que lhe

permite, através da arte e do afeto, intervir no ambiente hospitalar e facilita o processo de cura.

Figura 2: Entrada dos doutores-palhaços e dos oiantes no Albergue Santo Antônio (São João Del-Rei).

Fonte: VAN (Vertentes Agência de Notícias).

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É necessário informar que foi muito recentemente incorporada ao processo a etapa de

“doutoiante”, na qual um doutor-palhaço já graduado tem a oportunidade de visitar novamente

como oiante. Essa etapa foi compreendida como necessária posto que o grupo observou

conjuntamente que o aprendizado não se encerra nunca e que a observação proporciona

sempre uma renovação, mesmo aos mais experientes, trazendo-lhes um novo olhar e a chance

de aprender e de rever as formas de intervir nos ambientes de internação.

Todo o processo tem um acompanhamento psicológico semanal, necessário à continuidade

dos trabalhos, visto que as relações saúde-doença, vida-morte estão fortemente presentes nos

ambientes visitados. Nesse sentido, como o grupo é aberto à participação de toda a comunidade,

não se restringindo a profi ssionais ou estudantes da área de saúde, e sendo formado, na realidade,

mais substancialmente por voluntários, justifi ca-se e faz-se necessário o acompanhamento nas

terapias em grupo, para a própria continuidade no projeto. Os novos voluntários sempre iniciam pela

terapia, que proporciona o primeiro contato com os trabalhos desenvolvidos nos projeto. Para além

dessa apresentação inicial, a terapia é mais um momento de aprendizado, já que nela os membros

compartilham suas experiências mais relevantes, difi culdades e acertos. Dessa forma, não há visita

sem terapia, sendo esta crucial na continuidade do próprio projeto e bem-estar dos membros.

Outro fator importante na preparação do doutor-palhaço é a participação nas ofi cinas de

improvisação, musicalização e para desenvolvimento do palhaço de hospital, oferecidas

frequentemente. Nelas, os membros mais antigos aprimoram as técnicas a serem aplicadas nas

intervenções e os iniciantes têm a oportunidade de entrar em contato com o palhaço interior, sendo

este momento uma etapa de preparação, aprendizado e de maior interação entre os integrantes

do projeto. Essas ofi cinas são oferecidas pela coordenadora do projeto, membros do grupo com

maior experiência em técnicas teatrais e palhaço, ou por membros externos ao grupo, como

as ofi cinas realizadas em 2014, 2016 e 2017, sob a responsabilidade de Bianca Lucia Ghirello

Bertalot, clown em atuação na Inglaterra. Todo o processo de construção do doutor-palhaço,

acompanhamento do grupo e aprendizagem, compõem de modo padronizado a metodologia de

trabalho do grupo, preservando a continuidade do mesmo e a qualidade nas intervenções.

3 Resultados e discussão

No que se refere ao tratamento do ser humano em sua totalidade, um modelo estritamente

racional é pobre e restrito quando se trata de estender um discurso sobre o homem e a

sociedade, já que este é um problema de valor pelo qual “a civilização deveria se edifi car em

esperanças, segurança e instituições construídas segundo uma medida humana, no domínio das

coisas para qual a ciência nos faz competentes” (MATOS, 2003, p. 53). Tal questão perpassa e

articula o pensar, sentir e agir, bem como atinge aspectos fundantes da consciência, identidade,

afetividade e atividade (SAWAIA, 1994). Assim, surge o questionamento a respeito do processo

saúde/adoecimento. Segundo Sawaia, “saúde é uma questão eminentemente sócio-histórica,

e portanto, ética, pois é um processo da ordem da convivência social e da vivência social”

(SAWAIA, 1994, p. 157). Assim, a atuação no campo da saúde exige um diálogo entre muitos

elementos que dizem do indivíduo e da maneira como se relacionam. A autora ressalta ainda

que “promover saúde equivale a condenar todas as formas de conduta que violentam o corpo,

o sentimento e a razão humana, gerando, consequentemente a servidão e a autonomia”

(SAWAIA, 1994, p. 157). Na realidade, portanto, o conceito de saúde abarca uma dimensão

mais ampla que um modelo restrito a concepções centradas no biológico ou no psíquico, mas

revela a intensidade da dimensão ético-afetiva.Considera-se que sentir é estar implicado, é

avaliar o signifi cado e o conhecimento tanto das determinações sociais como das subjetivas

que atuam no sentido de promover um direcionamento rumo ao bem-estar e à articulação entre

ação, afetividade e consciência. É importante considerar que a saúde não advém da primazia

das emoções somente, mas elas são “mobilizações para que o social seja introjetado como

operacionalidade cognitiva, como proibição de outros conteúdos” (SAWAIA, 1994, p. 160).Por

outro lado, é possível considerar que o discurso racionalista foi construído dentro do contexto

social. Para Kant (1786/1960, Apud Afonso, 2006), havia uma hierarquia entre a razão e as

emoções, sendo a última associada à fragilidade ou mesmo à loucura. Tal fi losofi a repercute

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 25

diretamente na sociedade atual, sob formas – camufl adas ou não – de controle dos sentimentos

e de um discurso que sinaliza a importância do tecnicismo e das decisões racionais como sendo

as únicas sensatas.

Para Sawaia (2000), a emoção é o tema central da história das ideias. O que se relaciona ao

mencionado por Vygotsky (apud Sawaia, 2000), que não considera a emoção em seu caráter

negativo nem prejudicial para o conhecimento ou para a ordem social, mas fundamental para a

construção dos mesmos. Segundo esse autor, o conceito de emoção de Vygotsky se aproxima muito

do que Espinosa chama de afeto, considerando-o como afecções instantâneas de uma imagem de

coisas em mim, nas relações que estabeleço com outros corpos. Dessa forma, os afetos são vistos

como modifi cações, pois envolvem sempre um aumento ou diminuição da capacidade dos corpos

para a ação e obriga o pensamento a mover-se em uma direção determinada.

Assim, considera-se que o sofrimento do sujeito vai muito além do sofrimento físico, é também

psíquico. A vivência das emoções neste sentido pode atuar enquanto facilitador, estimulando a

implicação do sujeito dentro do processo saúde/doença

Paradoxalmente, a estrutura hospitalar se mantêm sob essa lógica, na medida em que tenta

introduzir formas para analisar o sujeito como se ele fosse fragmentado. Quando se diz “é

preciso ver o doente além da doença, a enfermidade além do enfermo” (MASSETI, 2003, p.

29), na verdade se reforça um discurso que privilegia a cisão, pois, na realidade, dialeticamente,

o doente é a doença, a doença é o doente sendo, portanto, necessário se apropriar de todas as

implicações dessa relação (MASSETI, idem).

Considerando-se a necessidade de transformar o ambiente hospitalar em busca de um

ambiente mais propício para os tratamentos médicos, é importante verifi car a contribuição

dos grupos humanizadores, visto que esta questão está mais ligada à qualidade das relações

estabelecidas e ao modo como são manejadas e desenvolvidas entre a equipe e o cliente, de

forma assim a evidenciá-la. Ao estabelecer essas relações, o grupo é reconhecido como fator de

humanização na comunidade na qual se insere, sendo uma referência na área de saúde. Neste

contexto, ressalta-se o trabalho desenvolvido pelo “doutor-palhaço”, pois ele chama a atenção

para uma certa necessidade de religar as pessoas ao conceito de saúde. É essa característica

que torna esse trabalho tão comovente a quem esteja aberto a observá-lo um pouco mais

de perto. O riso é a expressão mais pura de saúde que podemos observar em alguém. Sua

inserção no contexto hospitalar lembra possibilidade de ampliar o conceito de cura. Esse

conceito chega em um momento de necessidades de mudança nessa área e dá direções com

resultados impressionantes: maior aceitação e participação no tratamento médico, diminuição

da ansiedade da internação, redimensionamento da visão da hospitalização, equipe médica e

doença (MASSETI, 2000).

O “doutor-palhaço” fala da necessidade da entrega à única condição possível da existência: as

relações humanas. Segundo Masseti (2003), ele nos reconecta com essa potencialidade e com

a essência da medicina, esse fascinante universo pelo qual anda nosso imaginário sobre vida e

morte, por onde circulam afetos e desejos impressos nos corpos: “espaço em que os sentidos

do olhar, ouvir e tocar fazem circular esses acontecimentos” (MASSETI, 2003, p. 456).

Por meio da máscara, é permitido que o personagem opere em uma lógica de pensamento não

racional e linear. É o ser da transformação que, através da arte, desperta dimensões muitas vezes

negligenciadas e questiona o sentido de realidade e as construções sociais aparentemente bem

fundamentadas, dentro da lógica racional e capitalista. O erro, o ridículo, o absurdo são bem-

vindos, como materiais que tornam efetivo esse olhar. De acordo com Masseti (2003), novos

pontos de vista são criados: o porta-soro pode se transformar em um porta-balão que precisa

ser trocado por estar vazando e sem cor; e o posto da enfermagem pode virar uma distribuidora

de cartas. Ou seja, o foco é totalmente concentrado no presente e na construção de uma relação

lúdica, que possibilita a construção das intervenções e contato com o outro.

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3.1 O riso como facilitador terapêutico

Figura 3: Dra. Ricota, Dr. Lorota, Dra. Melody,

Dra. Índia e Dra. Pompom.

Fonte: VAN (Vertentes Agência de Notícias).

A fi gura 3 mostra o grupo preparado para ir a uma visita, esta confi guração é composta por

“doutores-palhaços”, estes que proporcionam a fl uidez da comunicação entre o paciente e seus

acompanhantes com a equipe interdisciplinar do hospital. As brincadeiras, palhaçadas e gargalhadas

possibilitam a quebra entre o poder instituído do hospital e a pessoa que necessita dos cuidados

médicos naquele momento. Elas desafi am, então, as estruturas sociais vigentes quando falam de

sentimentos e fogem da rigidez previamente estabelecida (ALMEIDA, 2000). Nesse sentido, alguns

cientistas chegam a acreditar que as brincadeiras são parte essencial da formação do caráter e,

como sugere esse mesmo autor, o riso e o humor diminuem o estresse e a ansiedade dos que

passam por um estado de internação, aliviando a tensão e liberando emoções positivas.

Segundo um estudo divulgado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 20025,

o tratamento pelo riso alivia a tensão, pois, mesmo em momentos de nervosismo, o riso pode

reduzir o stress e a ansiedade, atenuando o sofrimento, pois libera a endorfi na, hormônio

produzido no cérebro que produz sensação de bem-estar e alivia a dor; diminuindo a pressão

arterial. No sistema cardiovascular, rir aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial. Isso

promove a vasodilatação das artérias ocasionando uma queda de pressão benéfi ca para os

hipertensos; aumenta a quantidade de oxigênio captada pelos pulmões e facilita a saída de

gás carbônico; fortalece o sistema imunológico. Jara (2000) confi rma que médicos, cientistas

e psicólogos reconhecem os benefícios citados que o riso proporciona e acrescenta que isto

contribui para encerrar as más experiências e a confi ar em um futuro melhor.

Para além das constatações científicas, chegam até o grupo relatos das próprias

instituições ou de pessoas que presenciaram as intervenções dos doutores-palhaços e

notaram melhoria nos quadros de saúde dos internos. Um desses relatos chegou ao grupo

por meio da psicóloga do Albergue Santo Antônio, que contou que a interna conhecida

carinhosamente pelos membros do grupo como “Menina da Porteira” (por gostar da música

de nome similar) e portadora de Alzheimer recordava-se das visitas dos doutores-palhaços.

Os próprios membros na época relataram que a mesma senhora, além de se recordar da

música, lembrava-se sempre do dia da visita.

Os relatos eventualmente chegam até os membros do projeto durante a própria intervenção e

são compartilhados com todos, nas sessões de terapia em grupo: “ela sentia muita dor, então

os doutores falaram que iriam tirar a dor dela, tiraram com a seringa (uma das brincadeiras) e

continuaram a intervenção. Quando acabou a intervenção, a moça agradeceu e disse que a

dor realmente tinha diminuído”, contou a membro Carolina Capistrano Tibúrcio, Dra. Shayenne.

5 Matéria “As faces do riso”, de Maria Alice da Cruz, publicada em junho de 2002 no Jornal da Unicamp. Disponível em:

<http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/177-pag09.pdf> Acesso em: 09 jan. 2018.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 27

A ideia é que esses relatos e experiências sejam coletados e transformados em um livro sobre

o projeto “Doutores… Por um Triz” nos próximos anos, como forma de registro e difusão

dos trabalhos para as pessoas que passaram pelo projeto, comunidade e demais grupos que

desenvolvem ou desejam desenvolver trabalho similar.

3.2 Reconhecimento da comunidade

Após mais de 15 anos de trabalhos e visitas às instituições de São João del-Rei-MG,

o projeto é convidado a visitar novas instituições, como foi o caso do Lar de Idosos em

Tiradentes, como também é convidado a participar de eventos relacionados à saúde. Todos

os anos o projeto “Doutores… Por um Triz” é chamado a participar de diversos eventos,

como campanhas de vacinação à prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s)

“Outubro Rosa”, Caminhada pela Vida no “Setembro Amarelo”, entre outros. Isso demonstra

como o projeto é reconhecido e respeitado pela comunidade local, sendo referência em saúde.

Além da familiaridade com os eventos relacionados à saúde na cidade, os membros do

grupo não é composto só com alunos da universidade, existe a possibilidade de participação

de membros de fora da comunidade acadêmica aproximando ainda mais o contato entre

universidade, projeto e comunidade local. As pessoas que desejam fazer parte do projeto mas

não podem por incompatibilidade de horário, ajudam de outras formas, por meio da doação de

fi gurino, divulgando o projeto, entre outras formas. Isso também é prova do reconhecimento da

comunidade em relação à causa e o desejo de continuidade do grupo.

3.3 Sementes espalhadas, novos grupos semeados

Como o núcleo de integrantes do projeto costuma ser bastante rotativo, pois muitos são

universitários e vão embora ao fi nal do curso e outros começam a trabalhar, as pessoas que

vivenciam a experiência como “oiante” ou doutor acabam sendo afetadas e querem continuar

participando de ações similares. Assim, o projeto não fi ca restrito à região das Vertentes em

Minas Gerais. Os “Doutores… Por um Triz” já serviram de inspiração para trabalhos semelhantes

em outras localidades. Os participantes que passaram pelo projeto e que por algum motivo

tiveram de se mudar para outras cidades, buscaram ingressar em outros projetos com atuação

em hospitais ou ajudaram a criar grupos de doutores-palhaços nas localidades de destino.

Divinópolis, Diamantina e Ouro Branco, em Minas Gerais, foram algumas das cidades que

puderam contar com o apoio dos “Doutores… Por um Triz” para implantação de novas sementes.

3.4 sensibilidade no olhar e transformação pessoal

O “Doutores… Por um Triz”, ao longo de seus 17 anos em atividade, além de levar alegria às

pessoas em situação de internação, auxiliando no tratamento das mesmas e proporcionando

momentos de alívio, também contribui para o crescimento e transformação pessoal de cada um

de seus membros. Cada visita, cada dia de trabalho é diferente e proporciona um aprendizado

novo. Aprende-se a perceber o outro, respeitando seu espaço, suas limitações. Aprende-se,

assim, a ter um olhar mais sensível para com o outro.

Independente dos membros seguirem ou não para a área da saúde, é notável que os mesmos

tornam-se profi ssionais melhores, preocupados com as pessoas à sua volta, profi ssionais

mais humanos. Professores, enfermeiros, secundaristas, engenheiros, universitários das mais

diversas áreas de conhecimento, pessoas diferentes trabalham e aprendem juntos, trocam suas

experiências e levam o somatório dessa experiência também para a vida pessoal e profi ssional.

Valores como empatia, trabalho em grupo, responsabilidade, confi ança, respeito, sensibilidade e

estar presente e atento passam a nortear e compor a vida de cada membro, tanto dentro quanto

fora do projeto. A vivência de um doutor-palhaço marca e ultrapassa o próprio projeto.

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4 - Considerações fi nais

Considerando-se a proposta inicial desde a criação do grupo e sua receptividade nas apresentações

realizadas, conclui-se que o grupo atinge seus objetivos culturais, sociais e comunitários, visto que

os mesmos estão conectados a uma temática de discussão ampla a respeito da humanização nas

instituições, por meio do tratamento via afeto. Neste sentido, o olhar diferenciado para o sujeito

contribui com o seu tratamento, pois propicia urna atividade extracotidiana dentro do ambiente

hospitalar, benefi ciando o indivíduo que ali se encontra, de forma a implicá-lo em seu processo

de cura. Por outro lado, com relação aos participantes, sejam discentes, sejam da comunidade

externa, os membros deixam sua verdadeira identidade para assumir uma nova, a identidade

do seu palhaço, que lhe permite, através da arte e do afeto, intervir no ambiente hospitalar e

facilita o processo de cura. Este tipo de intervenção estimula um crescimento individual de cada

componente no sentido de sua humanização e na sua relação com o outro.

O projeto também contempla o tripé da extensão: pesquisa, ensino e extensão. A pesquisa

está relacionada à constante busca de conhecimento dos membros para aprimorar o trabalho

por meio de novas referências bibliográfi cas a respeito do uso da máscara, do palhaço como

método terapêutico, técnicas de improviso e musicalização. O ensino, atrelado à pesquisa, é

vivenciado nas ofi cinas e sessões de terapias, as quais proporcionam a troca de experiências e

conhecimentos entre todo o grupo. Por fi m, a extensão é alcançada pelo fato do grupo ser feito

pelos membros da própria comunidade e em benefício da comunidade.

A partir da experiência de trabalho realizada há mais de 17 anos pelo grupo “Doutores... Por um

Triz”, da literatura consultada e do contato com outros grupos, podemos concluir que os recursos

utilizados para as intervenções, a fi gura do “doutor-palhaço”, assim como a estruturação do

projeto e atuação do grupo, alcançam seus objetivos de forma satisfatória e efetivamente

confi guram um modo de tratamento efi caz que se baseia sobretudo no afeto, composto de

ludicidade e muita brincadeira como o olhar de uma criança que deseja um balão colorido.

Figura 4: Dr. Assistente

Fonte: Doutores Por Um triz

5 Referências bibliográfi cas

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 29

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Educação em Saúde na Escola: Vivência com Estudantes do Sexo Masculino de Escolas Públicas

Maria Isabelle Barbosa da Silva Brito1 - [email protected]

Jéssica Kelly Coutinho de Melo2 - [email protected]

Valéria Alexandre do Nascimento3 - [email protected]

Yasmim Guimarães Tavares4 - [email protected]

RESUMO

O objetivo do estudo foi desenvolver a autonomia nos indivíduos do sexo masculino em questões

de saúde, através de intervenções educativas, utilizando a metodologia de Círculos de Cultura,

sob a perspectiva Paulo Freire. Foi realizada uma pesquisa-ação em quatro escolas públicas

da cidade do Recife/PE, com cerca de 70 adolescentes do sexo masculino, estudantes do

ensino médio. A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo

Hospitalar HUOC/PROCAPE (CAAE nº 18295713.2.0000.5192), recebendo parecer favorável

(nº 563.770). As intervenções foram compostas por cinco encontros, cada um deles abordando

temáticas como: níveis de atenção à saúde; sexualidade e paternidade precoce; violência;

consumo de álcool e outras drogas e alimentação saudável. Pôde-se perceber a importância da

1 Enfermeira pela Universidade de Pernambuco (UPE). Recife, PE, Brasil. Residente em Saúde Coletiva pelo Instituto Aggeu

Magalhães (IAM)/FIOCRUZ-PE. Recife, PE, Brasil

2 Enfermeira pela Universidade de Pernambuco (UPE). Recife, PE, Brasil. Residente em Enfermagem Obstétrica pela Escola de

Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE). Recife, PE, Brasil.

3 Enfermeira pela Universidade de Pernambuco (UPE). Recife, PE, Brasil. Residente em Saúde da Família pela Universidade Federal

de Pernambuco (UFPE). Recife, PE, Brasil.

4 Enfermeira pela Universidade de Pernambuco (UPE). Especialista em Gestão e Auditoria em Sistemas de Saúde. Recife, PE, Brasil.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 31

desconstrução da ideia de invulnerabilidade do homem e possibilitar aos mesmos a expressão

de seus medos e fragilidades, para que se sintam mais confortáveis em procurar ajuda.

PALAVRAS-CHAVE

Círculos de cultura. Estudantes. Saúde do homem. Educação em saúde.

ABSTRACT

The objective of the study was to develop autonomy in the male subjects in health issues,

through educational interventions, using the Circles of Culture methodology, under the Paulo

Freire perspective. An action research was conducted in four public schools in the city of

Recife / PE, with about 70 male adolescents, high school students. The research was approved

by the Research Ethics Committee of the Hospital Complex HUOC / PROCAPE (CAAE nº

18295713.2.0000.5192), receiving a favorable opinion (nº 563.770). The interventions were

composed of fi ve meetings, each addressing topics such as: health care levels; sexuality and

early paternity; violence; consumption of alcohol and other drugs and healthy eating. It was

possible to perceive the importance of deconstructing the idea of invulnerability of man and

to enable them to express their fears and weaknesses, so that they feel more comfortable in

seeking help.

KEYWORDS

Crop circles. Students. Human health. Health education.

1 Introdução

A adolescência, transição entre infância e idade adulta, é um período único, caracterizado

por marcantes transformações anatômicas, fi siológicas, psicológicas e sociais, estando a

personalidade em fase fi nal de estruturação. Alguns adolescentes conseguem lidar bem com

essa situação de modifi cações, enquanto outros sofrem grande estresse e se submetem a

atitudes de risco que podem afetar seu bem estar (NAU et al., 2013).

O método pedagógico de Paulo Freire possibilita aos jovens o papel de sujeito do processo

educativo proposto e valoriza as fontes culturais e históricas dos indivíduos, que podem ser

desveladas nos Círculos de Cultura. Este é um termo criado por Freire, representado por um

espaço dinâmico de aprendizagem e troca de conhecimentos, e é uma opção capaz de promover

o processo de aprendizado em diversas áreas, inclusive da saúde, permitindo o levantamento

e refl exão dos temas vividos pelos participantes. Estes se reúnem no processo de educação

para investigar temas de interesse do próprio grupo. Representa uma situação-problema de

situações reais, que leva à refl exão da própria realidade, para, na sequência, decodifi cá-la e

reconhecê-la (NAU et al., 2013).

Os Círculos de Cultura tiveram grande aplicabilidade na alfabetização de adultos, no exercício

pedagógico de Paulo Freire, iniciado na década de 60. Constituem uma ideia que substitui a de

“turma de alunos” ou de “sala de aula”. A escolha por desenvolver um Círculo de Cultura tem a

fi nalidade de ensejar uma vivência participativa com ênfase no diálogo e uma educação em saúde

emancipatória. Estabelecendo uma estratégia da educação libertadora, o Círculo de Cultura é

um lugar onde todos têm a expressão, onde todos leem e escrevem o mundo. É um espaço de

trabalho, pesquisa, exposição de práticas, dinâmicas, vivências que possibilitam a elaboração

coletiva do conhecimento (MONTEIRO; VIEIRA, 2010). Estudos científi cos têm evidenciado

maior vulnerabilidade dos homens ao desenvolvimento de doenças graves e crônicas, quando

comparados às mulheres, além de apresentarem maior índice de mortalidade precoce (NARDI

et al., 2007; COURTENAY, 2007; IDB, 2006 LAURENTI et al., 2005; LUCK et al. 2000). Apesar

disso, os homens não costumam buscar os serviços de atenção primária e grande parte dessa

resistência está relacionada a variáveis culturais. Os estereótipos de gênero presentes há

séculos em nossa cultura patriarcal induzem práticas baseadas em crenças e valores do que é

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ser masculino. Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação privilegiam as ações de

saúde para a criança, o adolescente, a mulher e o idoso (BRASIL, 2009a).

Verifi ca-se que a maioria dos homens acessa os serviços de saúde por meio da atenção

terciária, quando já existe um quadro clínico de morbidade instalado, muitas vezes cronifi cado,

demandando altos custos sociais e econômicos. Assim, incluir os homens na atenção à saúde

é um desafi o às políticas públicas, pois estes não reconhecem a importância da promoção

da saúde e prevenção de doenças como questões associadas a sua saúde. O cuidar de si

e a valorização do corpo no sentido da saúde não são questões colocadas na socialização

dos homens. Como consequência, pode-se afi rmar que esta construção sociocultural do ser

humano tem produzido comportamentos e atitudes que infl uenciam negativamente nos seus

determinantes do processo saúde-doença (MOREIRA et al., 2014).

O potencial das ações de promoção da saúde na infância e adolescência é enorme. A infância e a

adolescência são períodos do desenvolvimento humano no qual se estabelece o comportamento,

caráter, personalidade e estilo de vida, e o ambiente em que o jovem está inserido é um dos

principais fatores infl uenciadores (CARVALHO, 2012).

O ambiente escolar constitui-se como um importante espaço para formação cidadã de

adolescentes, preparando-os para conviver e agir em sociedade mediante mecanismos de

sociabilidade e integração entre as diferentes visões de mundo (BRANDÃO NETO et al., 2014).

Dessa forma, é possível traçar ações que busquem interligar educação e saúde com o objetivo

de mobilizar e benefi ciar a comunidade do sexo masculino (BRASIL, 2009b).

Devido à maior vulnerabilidade da população masculina no que diz respeito a doenças e agravos

à saúde, torna-se evidente a necessidade de ações educativas para promoção da saúde de

adolescentes do sexo masculino, justifi cando, assim, a realização deste estudo, que tem por

objetivo desenvolver autonomia nos indivíduos do sexo masculino através de intervenções

educativas, utilizando a metodologia de Círculos de Cultura proposta por Paulo Freire. 

2 Caminhos metodológicos

O estudo teve base no Relatório Final do Projeto de Extensão intitulado Saúde do Homem no

Cenário Escolar, desenvolvido com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade

de Pernambuco (PROEC/UPE), vigente de maio de 2013 a fevereiro de 2014. Trata-se de um

método qualitativo, do tipo pesquisa-ação, fundamentado na metodologia de Círculos de Cultura

proposta por Paulo Freire.

Os Círculos de Cultura constituem um espaço de encontro e descoberta do outro como sujeito,

com aspirações, sentimentos e vivências que precisam ser desveladas a partir do diálogo no

grupo, da participação nas discussões e da troca de conhecimento e experiências (MONTEIRO;

VIEIRA, 2010).

Os Círculos de Cultura na sua dimensão epistemológica podem perfeitamente se circunscrever

no marco da pesquisa-ação, pois ela é um tipo de pesquisa social, com base empírica que

é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um

problema coletivo, e na qual os pesquisadores e os integrantes da situação ou do problema

estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2007).

O estudo foi realizado em quatro escolas públicas estaduais localizadas no bairro de Santo Amaro,

Recife-PE, Brasil. Após autorização formal e escrita obtida na Gerência Regional de Educação -

Recife Norte (GRE – Recife Norte), as declarações foram encaminhadas às unidades escolares, para

que as direções das mesmas tomassem conhecimento do estudo que seria desenvolvido. Antes de

dar início às atividades, o projeto foi apresentado em cada sala de aula, momento em que também

foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), para que cada estudante menor

de 18 anos obtivesse autorização dos pais ou responsáveis para participar da pesquisa.

A amostra foi constituída por aproximadamente setenta alunos do sexo masculino, regularmente

matriculados no ensino médio e que se enquadravam nos critérios de inclusão: 1) Estudantes

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do sexo masculino que frequentavam a escola no turno da manhã e/ou tarde; 2) Que se

disponibilizaram a participar dos encontros; 3) Que obtiveram o TCLE assinado pelos pais ou

responsáveis.

O estudo foi composto por cinco etapas (MELLO et al., 2012):

1) Planejamento: Através de pesquisas bibliográfi cas foi possível identifi car quais as

principais problemáticas que atingem adolescentes do sexo masculino e, com base nos

achados, elaborar um Círculo de Cultura com o objetivo de obter a opinião e conhecimento

dos alunos sobre tais temáticas.

2) Coleta de Dados: Realização do Círculo de Cultura elaborado na etapa de planejamento

e registro dos relatos obtidos.

3) Análise de Dados e Planejamento: Tabulação das falas obtidas e identifi cação das

principais necessidades dos alunos. Posteriormente, foram planejadas as atividades e

temáticas a serem trabalhadas nos próximos encontros.

4) Implementação de Ações: Desenvolvimento dos Círculos de Cultura para trabalhar as

principais temáticas propostas e coletar falas e expressões dos alunos acerca de suas

dúvidas e anseios.

5) Avaliação dos Resultados e Construção de Relatório: Avaliação, através das falas dos

alunos, da efi cácia das atividades. Posteriormente foi redigido o relatório fi nal da pesquisa.

O estudo atendeu às determinações preconizadas pela Resolução nº 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde (CNS), que normatiza as pesquisas envolvendo seres humanos e foi aprovado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco, com parecer de nº 563.770

e registro CAAE: 18295713.2.0000.5192.

3 Resultados

Em cada escola, as intervenções foram compostas por cinco encontros, cada um deles abordando

as seguintes temáticas: níveis de atenção à saúde; sexualidade e paternidade precoce; violência;

consumo de álcool e outras drogas e alimentação saudável. Entre as dinâmicas utilizadas para

trabalhar cada tema, pode-se citar a utilização de questionários para debate; atividades lúdicas

com recortes e colagens; uso de imagens e textos (Figuras 1-3). Ao fi nal do estudo, foi feita uma

síntese de toda a vivência, para comparar o conhecimento e opinião dos alunos antes e após a

realização das atividades.

1º encontro: Momento para estabelecer o primeiro contato com os estudantes e avaliar o

Figura 1: Alunos utilizando uma das dinâmicas escolhidas para atividade.

Fonte: Acervo deste trabalho.

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conhecimento dos mesmos sobre as temáticas escolhidas para compor os Círculos de Cultura.

Foram selecionadas algumas falas que se destacaram durante o encontro.

Quando questionados se a mulher deve ter mais cuidado com a saúde do que o homem,

relataram:

A mulher deve ter mais cuidado, porque tem maior fragilidade imunológica. (J.R., 19 anos)

A mulher tem mais tendência para adoecer... (I.S., 16 anos)

As mulheres devem se cuidar mais, porque são mais sensíveis. ( T.M., 17 anos)

Sobre sexualidade e paternidade precoce:

Eu não costumo usar preservativo nas minhas relações sexuais... (S.F.S., 17 anos)

Eu estaria preparado pra ser pai, pois sou maduro o bastante e estou preparado

psicologicamente. (E.V., 18 anos)

Não costumo conversar com meus pais sobre sexo e a importância de se prevenir... (G.A.,

16 anos)

Em relação à violência, afi rmaram:

Já agredi meus amigos psicologicamente por motivos banais. (R.V.S., 17 anos)

Figura 2: Alunos utilizando uma das dinâmicas

escolhidas para atividade.

Fonte: Acervo deste trabalho.

Figura 3: Alunos utilizando uma das dinâmicas

escolhidas para atividade.

Fonte: Acervo deste trabalho.

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Já briguei muito, principalmente em brigas de torcida organizada e galera de bairro. (T.J., 16 anos)

Briguei pra ajudar o outro cara que estava comigo. (I.N., 16 anos)

Sobre consumo de álcool e outras drogas:

Gosto de beber, porque fi camos mais animados! (A.S., 16 anos)

A vida é simples demais sem fumar e sem beber. (A.G., 16 anos)

De droga ilícita, eu já usei maconha e loló... (C.H., 17 anos)

Quando indagados sobre alimentação saudável:

Uma má alimentação pode ocasionar sangue fraco. ( T.J.,16 anos)

Todos os dias eu lancho biscoito e guaraná... ( V.E., 14 anos)

Uma alimentação saudável é comer uma salada básica no almoço e frutas. (L.R.N., 17 anos)

2º encontro: Neste encontro foi realizada a primeira intervenção. Foi abordada a temática

de níveis de atenção à saúde. Através de recortes e colagens, os estudantes foram colocados

em situações práticas, e posteriormente, foram questionados sobre qual o nível de atenção

(primário, secundário ou terciário) procurariam em tais situações. Diante do sentimento de

invulnerabilidade da população masculina, foi enfatizado o espaço que existe para a prevenção

de doenças, e não apenas para a intervenção das existentes. Por fi m, foi destacada a importância

de manter uma alimentação saudável e do uso de preservativos durante as relações sexuais,

exercitando sempre a autonomia dos estudantes como responsáveis por sua própria saúde.

3º encontro: A temática escolhida para o terceiro encontro foi sexualidade e paternidade

precoce. Foram utilizados textos com depoimentos de adolescentes que foram pais

precocemente e questionado os estudantes sobre a temática. O objetivo foi conscientizar

sobre a responsabilidade de ser pai e a importância do planejamento familiar. No debate sobre

sexualidade, foi destacada a importância do uso de preservativos durante as relações sexuais e

a importância de conhecer as doenças sexualmente transmissíveis e as formas de transmissão.

Foram utilizadas imagens e defi nições dessas doenças, para que os alunos pudessem associá-

las e, a partir disso, puderam-se esclarecer as dúvidas existentes sobre a temática.

4º encontro: Os temas escolhidos para serem debatidos no quarto encontro foram violência e

consumo de álcool e drogas. Os alunos foram indagados sobre o que entendiam como violência.

Muitos associavam apenas com a violência física, sem se atentar as outras formas, como a

verbal. Através de uma conversa, os pesquisadores puderam conscientizar os estudantes sobre

os danos causados pela agressão verbal e física, que são bastante frequentes nas escolas. Os

pesquisadores estimularam a conscientização dos alunos, fazendo com que eles refl etissem

como seria estar na condição de vítima. Para abordar sobre consumo de álcool e drogas, foi

solicitado que os estudantes elaborassem uma lista com os pontos que eles consideravam

positivos e negativos do consumo. O objetivo foi demonstrar a prevalência de pontos negativos e

as consequências físicas e sociais que o consumo de álcool e drogas pode acarretar.

5º encontro: Para debater sobre alimentação saudável, foi disponibilizada uma cadeia alimentar,

a qual os estudantes precisaram preencher de acordo com a sua alimentação diária. A partir

disso, foram debatidos os malefícios que certos alimentos causam à saúde e as opções para

substituí-los e manter uma alimentação saudável. Por fi m, houve o encerramento das atividades,

na qual os alunos puderam expressar os benefícios da troca de experiências e saberes realizada

no decorrer dos encontros. Observou-se uma melhora da concepção dos alunos, quando

comparado com o primeiro Círculo de Cultura realizado. Foram destacadas algumas falas, que

confi rmaram uma mudança benéfi ca signifi cativa:

Agora sempre uso preservativo, porque além de evitar fi lhos, me previno de doenças. (C.C.,

18 anos)

Ser pai não é só ter o fi lho e pronto. Para ser pai, deve-se ter uma estabilidade fi nanceira e

psicológica para ajudar na criação do fi lho. (A.G., 17 anos)

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Já pratiquei violência psicológica na escola, mas hoje eu vejo como era idiota... (H.R.S.,

17 anos)

Não vejo motivo pra me embriagar quando eu posso aproveitar outros prazeres da vida. (A.P.,

16 anos)

Acho que agora não preciso beber, e sim estudar... (M.H.O., 14 anos)

Uma má alimentação pode causar várias doenças, como pressão alta, diabetes, obesidade...

(H.F., 17 anos)

4 Discussão

O primeiro encontro nas escolas foi um momento oportuno para identifi car o conhecimento dos

estudantes sobre os níveis de atenção à saúde; sexualidade e paternidade precoce; violência;

consumo de álcool e outras drogas e alimentação saudável. Através dos relatos, foi perceptível a

existência de limitações de informação sobre as temáticas que os alunos traziam, confi rmando

a suscetibilidade às doenças que o sexo masculino sofre.

Por meio das respostas dos estudantes é possível afi rmar que eles traziam consigo a ideia do

sexo masculino ser intangível às doenças, principalmente quando comparados às mulheres.

Esse achado é condizente com a alarmante epidemiologia encontrada nos altos índices de

morbimortalidade e a resistência que a população masculina brasileira tem em procurar os

serviços de saúde, visto que estar doente e buscar a atenção básica é considerado um sinal de

fragilidade do sexo masculino, contribuindo assim para que o homem se julgue invulnerável em

todos seus ciclos vitais (CAMARGO et al, 2011; DUARTE; SOUZA, 2012).

Os adolescentes devem encontrar auxílio em um ambiente aberto para o diálogo, dúvidas,

descobertas, medos e carências, no qual eles possam suprir as inseguranças, a descrença, para

potencialmente tornarem-se capazes de se autogerir dentro de uma sociedade. A escola é um

desses ambientes; porém, os alunos mostraram que mesmo estando diariamente no ambiente

escolar, e mesmo sendo alertados sobre os riscos iminentes para a saúde, os professores não

conseguem convencê-los a mudarem seus hábitos e pensamentos (REIS; SILVA, 2009).

Por isso, percebe-se que a promoção da saúde no ambiente escolar precisa ser efetivada

com parcerias, abandonando o antigo modelo de educação, onde apenas a fi gura do

professor é o centro do ensino. Os alunos, as famílias, os profi ssionais de saúde e os

educadores devem ser dotados de pensamentos voltados para as reais necessidades da

população. Dessa forma, a interdisciplinaridade ganha espaço, e a escola passa a ser um

palco para transformações de pensamento e construção de saúde dentro do seu contexto

social (COSTA; SILVA; DINIZ, 2008).

No segundo encontro foram explicados e detalhados cada nível de atenção à saúde e qual deles

deve ser recorrido em cada situação específi ca. Os estudantes mostraram ser conhecedores

dos serviços que existem e quais devem buscar, porém, afi rmaram não frequentá-los, apenas

quando não há outra alternativa. É perceptível que há uma dissonância entre o que se conhece

para que o cuidado à saúde possa ser efi caz e o que é efetivamente praticado. Esse dado vai

de encontro com alguns estudos que apontam a prevalência do sexo masculino na procura dos

serviços de emergência, farmácia e o pronto-socorro, por serem mais rápidos e terem acesso

mais fácil (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).

Quando se compara a procura dos serviços de saúde entre homens e mulheres, observa-se que

a resistência do sexo masculino é bem maior que a do sexo feminino. Isso torna-se um problema

de saúde pública, de modo na maioria das vezes em que os serviços de saúde são buscados

pelos homens, já se tem um quadro clínico de morbidade crônica instalado, podendo levar à

morte (STARFIELD, 2004).

A necessidade de priorizar a saúde masculina como uma meta para as políticas públicas colaborou

para o desenvolvimento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).

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Os profi ssionais são conhecedores da vulnerabilidade do homem, por isso precisam praticar a

PNAISH o mais precocemente e reduzir as complicações para saúde do homem (STARFIELD,

2004). É esperado que, a partir da execução dessa política, ocorra uma modifi cação na forma

dos homens lidarem com a própria saúde e, com isso, os indicadores epidemiológicos nacionais

que comparam morbimortalidade masculina e feminina sejam diminuídos (FONTES et al, 2011).

No terceiro encontro pôde-se observar o quanto os adolescentes estão iniciando sua atividade

sexual cada vez mais cedo, o que possibilita o aumento das consequências imediatas dessa

sexualização infanto-juvenil, como por exemplo as doenças sexualmente transmissíveis e a

paternidade precoce (UTIAMADA, 2012).

Quando questionados sobre o uso de preservativos, alguns estudantes afi rmaram não

utilizá-los, o que torna o quadro ainda mais preocupante. Alguns também afi rmaram estar

preparados para assumir um fi lho, o que comprova a falta de conhecimento acerca da enorme

responsabilidade de ser pai.

Ser adolescente e ser pai difi cilmente serão condições complementares. Isso indica que os

adolescentes experimentariam mais eventos estressores do que os adultos ao se depararem

com a paternidade. As possíveis causas desta situação estressora estariam relacionadas à

imaturidade psicológica e à falta de condições estruturais para lidar com a nova fase. Diante

disso, os adolescentes precisam assumir responsabilidades e desempenhar papéis que estariam

fora de seus planos de vida imediatos (MEINCKE; CARRARO, 2009).

A violência no cenário escolar tem crescido signifi cativamente nos últimos anos, apresentando

diversas situações confl ituosas, sendo a agressão física por meio de brigas a manifestação

mais corriqueira da violência interpessoal (MALTA, 2010). Quando indagados sobre o conceito

de violência, os alunos associaram-na primeiramente à violência física, por relacionarem esta às

agressões físicas e por ser a forma mais comum entre eles. Os alunos usaram da naturalidade

ao exibirem a frequência dos atos agressivos que acontecem na escola.

Porém, quando as pesquisadoras expuseram o conceito de violência e apresentaram seus

diferentes tipos, enfatizando a violência verbal, que é comum no meio escolar, os alunos puderam

perceber que também a praticavam no dia-a-dia. A existência de outras formas de violência não

deve ser esquecida, visto que quando um aluno é vítima de qualquer forma de violência, isso

interfere em sua autoestima, no processo de aprendizagem e nas interações sociais, podendo

causar um sentimento de revolta, tornando-o assim um ser agressivo (MONTEIRO; VIEIRA, 2010).

É na escola que as atitudes de constrangimento a que os jovens são submetidos ganham ênfase,

pois ocasionam impactos no desenvolvimento do alvo e em diversos âmbitos da vida deles

(MONTEIRO; VIEIRA, 2010). Os relatos da identifi cação com a prática do bullying se assemelha

a outros estudos (MALTA, 2010; MONTEIRO; VIEIRA, 2010). Que utilizaram os achados da

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, onde, com relação ao gênero, a pesquisa apontou uma

frequência maior entre os indivíduos do sexo masculino envolvidos.

Para que exista uma redução de atos violentos nas escolas, é necessário que se tenha o respeito

entre os alunos e que aconteçam debates constantes sobre esta problemática, fazendo com que

haja uma frequente refl exão crítica sobre os malefícios causados por práticas que antes eram

vistas como inofensivas.

Quando questionados sobre consumo de álcool e outras drogas, os jovens associaram essas

substâncias a momentos de diversão, como festas e comemorações. A cultura de preponderância

masculina e a associação do álcool aos momentos d e folga, lazer, relaxamento e descontração

exercem forte infl uência para que essa realidade seja estabelecida.

Estudos mostram que entre as drogas mais utilizadas estão o álcool (68,9%), tabaco (22,7%),

solventes (10,1%), maconha (6,6%), ansiolíticos (3,8%), anfetaminas (2,6%) e cocaína (1,6%). E

destacam o sexo masculino como maior consumidor (GUIMARÃES, 2004).

Muitos adolescentes consomem álcool e outras drogas sem que seus pais saibam ou, em outros

casos, o problema encontra-se em casa, quando um parente é quem incentiva o consumo.

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Pesquisas apontam que o uso nocivo de álcool pelos pais e a falha no controle e supervisão

sobre o consumo dos fi lhos expressam o aumento do risco de uso nocivo e dependência na

idade adulta (GRUNBAUM et al, 2004; KUNTSCHE, REHM; GMEL, 2004).

O consumo de álcool e outras drogas é um dos principais fatores que acarretam a vulnerabilidade

na adolescência, através, por exemplo, dos suicídios, violência, acidentes, transmissão

de doenças por via sexual e endovenosa, nos casos das drogas injetáveis, e a gravidez não

planejada. Além disso, ainda existe outra problemática atrelada ao consumo de drogas, que

é o seu uso nas escolas, sendo, no Brasil e em outros países, risco para estabilidade social

(VENDRAME, 2009).

A maioria dos estudantes relataram ser consumidores das drogas lícitas, ilícitas ou de ambas.

Diferentes estudos epidemiológicos trazem o estudante do sexo masculino como predominante

quanto ao consumo de álcool e outras drogas (STRAUCH et al, 2009; GALDURÓZ et al, 2010).

Essa realidade comprovada por nosso estudo torna necessária que haja ações preventivas

a partir de políticas públicas e articulação de escolas com os serviços de saúde para que

problemas oriundos da exposição precoce dos adolescentes ao álcool sejam evitados.

No último encontro foram abordadas questões relacionadas à alimentação. Uma alimentação

saudável contribui para o adequado crescimento e desenvolvimento, bem como para reduzir

os riscos de doenças relacionadas à má nutrição (GALDURÓZ et al., 2010; LEME, PHILIPPI;

TOASSA, 2013). Os adolescentes passam uma boa parte do seu dia nas escolas e assim

precisam se alimentar de alguma forma, às vezes de forma inadequada. Por exemplo, no recreio

algumas escolas fornecem merendas, que na maioria das vezes é saudável, mas alguns preferem

ir à cantina e comprar uma coxinha com refrigerante. Com isso, os problemas de saúde como

a obesidade só fazem aumentar. Alguns adolescentes citaram não gostar da merenda por que

era sempre a mesma coisa todos os dias e eles enjoavam. Percebemos que muitos deles não

sabiam de fato o que era uma alimentação saudável, sua importância e seus benefícios. Depois

de explicada a dinâmica da pirâmide alimentar, pôde-se observar a mudança benéfi ca de alguns

pensamentos para melhor, vale salientar. Por fi m, fechamos o encontro com uma discussão

integrando todas as temáticas vistas anteriormente e percebemos o quanto foi proveitoso para

os alunos esses encontros. Ficou nítido como a informação é importante para a sociedade,

percebemos como as ideias e os pensamentos de cada um mudou para melhor.

5 Conclusão

Este estudo proporcionou a vivência dos participantes nos Círculos de Cultura, sendo um

momento de encontro e descoberta do outro como sujeito, com anseios, sentimentos e vivências

que precisam ser reconhecidas a partir do diálogo em grupo, da participação nas discussões, da

troca de conhecimentos e experiências.

Com tais vivências, pôde-se concluir a importância da desconstrução da ideia de invulnerabilidade

do homem e possibilitar aos mesmos a expressão de seus medos, ansiedades, fragilidades,

para que estes se sintam mais acolhidos e confortáveis para procurar ajuda às suas questões

de saúde.

Evidenciou-se que a execução do Círculo de Cultura permitiu que os adolescentes explorassem

e discutissem sobre diversos temas. Esse fato favoreceu a harmonia e o envolvimento entre os

participantes do círculo.

Observou-se como é importante o aprendizado emergir do próprio grupo, pois eles se perceberam

no seu contexto e puderam refl etir sobre sua própria realidade. Vale ressaltar que pelo fato deste

grupo ser composto apenas por meninos, estes se sentiram mais à vontade para abordarem

assuntos peculiares do seu universo.

Em suas falas foi evidente que os estudantes estavam pouco esclarecidos sobre alguns temas

que foram abordados no início dos encontros. Porém, no transcorrer das intervenções foi

perceptível uma mudança de entendimento dos mesmos.

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A complexidade dos determinantes de saúde nos conduz à necessidade de investigações nesta área

de conhecimento, visando promover ações educativas que sejam capazes de agir sobre o indivíduo.

Dessa forma, criando e ampliando suas potencialidades para inserir-se nos grupos que o englobem

e em redes sociais, abrindo-se para experiências coletivas através do diálogo, construindo uma

consciência coletiva para impulsionar mudanças, exercendo seu papel no controle social.

Foi constatado com este estudo que são necessárias ações de educação em saúde, como

o Círculo de Cultura, que propiciem os jovens expor suas dúvidas e conhecer os meios de

prevenção, capacitando-os a repensar condutas, favorecendo uma melhor qualidade de vida e

sendo um método efi caz para a aprendizagem.

Referências

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para a enfermagem no contexto escolar. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v.

18, n. 2, p. 195-201, 2014.

BRASIL. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e

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BRASIL. Caderno de Atenção Básica: Saúde na Escola. Brasília: Ministério da Saúde,

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Formação em produção de alimentos: um fortalecimento das relações de inclusão social no Distrito do Passo Novo - Alegrete/ RS

Lidiane Moreira Chiattoni1 - [email protected]

Josiane Pasini2 - [email protected]

Yasmim Sena Vaz Leães3 - [email protected]

Suzi Enéas Garcia Vilaverde4 - [email protected]

RESUMO

O Brasil é um país rico em recursos naturais. Entretanto, há disparidade na distribuição dos

mesmos, o que promove a desigualdade social. Faz-se necessário o desenvolvimento de projetos

visando minimizar a fome e viabilizar a inclusão social do indivíduo, gerando renda e melhoria da

qualidade de vida. O objetivo deste trabalho é apresentar um relato de extensão que promoveu

um curso de Formação Inicial e Continuada em Masseiro, direcionado às produtoras rurais da

Vila do Passo Novo e dos Assentamentos Novo Alegrete e Unidos pela Terra - Alegrete/RS.

1 Doutora em Engenharia e Ciência de Alimentos - Universidade Federal do Rio Grande. Professora da Faculdade Anhanguera

Câmpus São José-SC.

2 Mestra em Fitotecnia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do EBTT no Instituto Federal do Rio Grande do

Sul - Câmpus Bento Gonçalves.

3 Tecnóloga em Agroindústria – Instituto Federal Câmpus Alegrete. Mestranda em Ciência e Tecnologia dos Alimentos –

Universidade Federal de Santa Maria.

4 Tecnóloga em Agroindústria Instituto Federal Farroupilha Câmpus Alegrete.

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Participaram do curso, realizado nas dependências do IFFar – Câmpus Alegrete, 40 mulheres.

Verifi cou-se que, através de ações como esta, é possível transformar a realidade de comunidades

e propiciar sua inclusão na sociedade, bem como expandir as atividades do meio acadêmico.

PALAVRAS-CHAVE

Ações de extensão. Panifi cação. Qualidade de vida.

ABSTRACT

Brazil is a rich country in natural resources, however, there is a disparity in the distribution of

these, which promotes social inequality. It is necessary to develop projects to minimize hunger

and enable the social inclusion of the individual, generating income and improving the life quality.

The objective of this work is to present the activities of the extension project that promoted a

Initial and Continuing Training Coursein bakery products directed to the rural producers from Vila

do Passo Novo and Novo Alegrete and Unidos pela Terra settlements - Alegrete/RS. A total of 40

women participated in the course, held in the premises of the IFFar - Campus Alegrete. It was

verifi ed that through actions like this one, it is possible to transform reality of communities and to

promote their inclusion in society, as well as to expand the activities of the academia.

KEYWORDS

Extension actions. Bakery. Quality of life.

1 Introdução

Segundo Calgaro, Alfonso e Araújo (2013), para acabar com a fome no Brasil, faz-se necessária

a garantia ao acesso de toda a população, em todo o momento, a alimentos nutritivos e seguros,

em quantidade sufi ciente para uma vida ativa, saudável e garantindo a segurança alimentar.

Deve haver uma intensifi cação dos esforços para atingir a mesma e assim acabar com a

fome e a desnutrição, junto com suas consequências, para as gerações atuais e futuras. O

aproveitamento total de alimentos atua no âmbito familiar, promovendo benefícios para a própria

família, aumentando a variedade de alimentos nas refeições e contribuindo para o incremento

da dieta nutritiva e saudável.

A produção para o autoconsumo designa a satisfação das necessidades de um determinado

indivíduo ou grupo familiar através da utilização de produtos ou serviços produzidos por ele

próprio. Na agricultura familiar, traduz-se especialmente pela diversidade da produção de

alimentos, originados dos sistemas de obtenção que visam satisfazer as necessidades

alimentares de subsistência dos agricultores e de suas famílias, embora nem todos os alimentos

indispensáveis possam ser produzidos pela família, o que permite estabelecer relações com os

mercados através da comercialização de parte da produção (GRISA, 2007).

O pão é um gênero alimentício de primeira necessidade e, ao longo dos séculos, os padeiros

artesãos de todo o mundo desenvolveram as tradicionais variedades de pães, utilizando seu

conhecimento acumulado sobre como empregar, da melhor maneira possível, as matérias-

primas disponíveis para obter a qualidade desejada. Em geral, isso ocorreu pela adaptação e

pelas mudanças das técnicas de fabricação pré-existentes. Hoje em dia, o estudo científi co e

o desenvolvimento técnico proporcionam maneiras mais rápidas e de melhor custo-benefício

para a sua fabricação, levando-se também em consideração novas matérias-primas disponíveis

e os métodos de fabricação, satisfazendo a demanda dos clientes por produtos fermentados

frescos, saudáveis e saborosos (CAUVAIN, 2009). Segundo levantamento realizado pelo Instituto

Tecnológico de Panifi cação e Confeitaria (ITPC) em parceria com a Associação Brasileira da

Indústria de Panifi cação e Confeitaria (ABIP) realizado em mais de 400 empresas de todo o país,

abrangendo representantes de todos os portes, registrou-se um crescimento no setor de 3,08%

em 2016, o que equivale a um faturamento de R$ 87,24 bilhões (ABIP, 2018).

Projetos que visem minimizar a fome e viabilizar a inclusão social do indivíduo é o grande desafi o

de muitos países, como o Brasil, onde a miséria e a pobreza atingem grande parte da população,

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deixando-a excluída e em estado de vulnerabilidade social. Apesar de rico em recursos naturais

que podem ser utilizados para a alimentação humana, o Brasil os utiliza pouco, bem como não

orienta sua população em relação às formas de exploração. De acordo com o trabalho de Witt e

Souza (2016), apesar de atualmente existir o “Plano Brasil sem Miséria”, conjunto de ações que

consolidam as políticas públicas e diretrizes governamentais de inclusão educacional, social e

produtiva de mulheres em situação de vulnerabilidade no Brasil, no período entre 2011 e 2013,

o “Programa Mulheres Mil” no IFSC verifi cou que mulheres poderiam ser excluídas da oferta via

Progama Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec em função do perfil de

baixa escolaridade.

Dessa forma, o objetivo do presente estudo é apresentar o relato de atividades de extensão,

como o curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) em Masseiro e ofi cinas de capacitação

em diversos temas para mulheres em situação de vulnerabilidade social da Vila do Passo Novo

e dos Assentamentos Novo Alegrete e Unidos pela Terra, localizados na cidade de Alegrete/RS,

com vistas ao autoconsumo, segurança alimentar da família, geração de renda e melhoria da

qualidade de vida.

2 Metodologia

2.1 Equipe de trabalho e local de execução das atividades de

extensão

Para realização das atividades, houve engajamento de 14 docentes das mais diversas áreas

(Segurança do Trabalho, Tecnologia de Alimentos, Química Ambiental, Administração, Medicina

Veterinária, entre outras), 3 técnicos (médico, assistente social, psicólogo), 10 alunos do curso

superior em Agroindústria e 2 do curso técnico em Agroindústria – modalidade Proeja do Instituto

Federal Farroupilha – Campus Alegrete, situado na rodovia RS 277, s/n, Passo Novo, Alegrete/

RS. O curso FIC foi realizado no Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Panifi cação

(LEPEP – Panifi cação) e as ofi cinas em salas de aula da instituição de ensino.

2.2 Descrição da comunidade

A escolha das comunidades rurais para a realização da ação de extensão foi embasada na

demanda potencial existente, tendo em vista as áreas de produção da agricultura familiar e os

assentamentos da reforma agrária. Cerca de 35 km longe do centro da cidade de Alegrete/RS,

o distrito do Passo Novo, também conhecido como “Vila de Passo Novo”, possui cerca de 2.800

famílias, e os assentamentos são compostos por cerca de 100 famílias, que se sustentam

pela agricultura familiar e se utilizam da sua produção para alimentação (IBGE, 2018). Os

assentamentos da reforma agrária Novo Alegrete e Unidos pela Terra, distantes cerca de 15 km

do distrito, dedicam-se, assim como a Vila do Passo novo, às atividades agropecuárias, como

fruticultura, olericultura, gado leiteiro, ovinocultura e gado de corte.

2.3 Evento de socialização

Inicialmente foi realizado na Escola Barros Cassal, localizada no distrito do Passo Novo – Alegrete,

um evento de socialização e divulgação do projeto “Formação em produção de alimentos: um

fortalecimento das relações de inclusão social no Distrito do Passo Novo - Alegrete/ RS”. Nesse

dia, professores e alunos bolsistas e voluntários, em parceria com a Associação Tabatinga de

Usuários Familiares Amigos da Saúde Mental da Vila do Passo Novo e com os Assentamentos

Novo Alegrete e Unidos pela Terra, explanaram os objetivos, metodologia e cronograma da

proposta para a comunidade.

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2.4 Seleção do público benefi ciado

Na comunidade do distrito do Passo Novo e dos assentamentos ali situados, as mulheres

comumente são as responsáveis pela produção dos alimentos e das refeições servidas

diariamente na família. Além da aprendizagem das técnicas de produção e higienização dos

alimentos, o excedente da produção pode ser utilizado para a comercialização na própria

comunidade e para auxiliar no aumento da renda da família. Sendo assim, o público alvo da

atividade de extensão foi mulheres da comunidade com baixa escolaridade e renda.

2.4.1 Identificação de interesse pelo curso FIC

No dia da socialização, houve a identifi cação das mulheres interessadas em participar do

curso FIC. A seleção foi baseada na quantidade de pessoas a serem comportadas na LEPEP -

Panifi cação, bem como idade, escolaridade e situação fi nanceira das mulheres.

2.4.2 Identificação de interesse pelas oficinas

Junto ao evento de socialização, foi identifi cado o público interessado em participar das ofi cinas

a serem ministradas por uma equipe multidisciplinar, composta por servidores do IFFar - Campus

Alegrete. A seleção foi baseada na idade, escolaridade e situação fi nanceira das mulheres.

Como o número de mulheres interessadas foi menor que a quantidade comportada pelas salas

de aula, algumas ofi cinas foram disponibilizadas também para o público masculino.

2.5 Realização das atividades de capacitação

Para facilitar a participação, um ônibus fretado pela instituição realizou o deslocamento dos

participantes entre a comunidade atendida e o local de execução das atividades. O curso FIC

foi realizado no período de junho a novembro de 2016, sendo distribuído em aulas práticas/

teóricas semanais (4h cada) sobre Produção de Alimentos Panifi cáveis, totalizando 160h. Já as

ofi cinas ocorreram entre os meses de agosto e novembro de 2016, contemplando um total de

40h, as quais desenvolveram os seguintes temas: “Segurança dos alimentos” (12h); “O papel da

associação em uma comunidade” (12h); “Segurança do trabalho e gestão de resíduos” (12h) e “O

bem estar da mulher no ambiente do lar” (8h). Esta última foi direcionada somente às mulheres.

Durante a execução do projeto, houve o controle de presença através de lista de assinaturas e

entrega de material instrutivo. Ao fi nal do curso FIC, bem como de cada ofi cina, os participantes

responderam a um questionário adaptado para cada capacitação. No mês de novembro foi

realizado o evento de encerramento do projeto. Neste dia houve uma confraternização fi nal,

divulgação dos resultados atingidos e certifi cação aos participantes do curso FIC.

3 Resultados e Discussão

3.1 Identifi cação do público benefi ciado

A LEPEP de Panifi cação do IFFar Câmpus Alegrete comporta 40 pessoas. Deste modo, 40

mulheres, com idade entre 18 e 75 anos, cadastradas em algum tipo de benefício social do

Governo Federal, foram inscritas no curso FIC. Do total, 39 se mantiveram presentes até o fi nal

das atividades. Participaram das ofi cinas de extensão 40 pessoas da comunidade, sendo 36

do sexo feminino.

Cerca de 96% das famílias do Distrito e dos Assentamentos são benefi ciárias de programas

sociais. Em relação à renda familiar, de acordo com os dados levantados, 59% das famílias

possuem renda inferior a meio salário mínimo, ou seja, têm como principal renda os benefícios

sociais adquiridos. O desemprego também assombra os moradores da Vila do Passo Novo, uma

vez que 80% dos responsáveis pelos domicílios estão nessa situação. A subsistência da família

provém dos benefícios assistenciais e da produção própria de alimentos. Estes dados foram

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fornecidos pela Escola Estadual de Ensino Fundamental Barros Cassal, que possui contato direto

com as famílias e coletam dados da comunidade por terem alunos oriundos desses locais e com

o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), vinculado à Secretaria de Promoção e

Desenvolvimento Social do município de Alegrete/ RS, que atendem essas comunidades.

3.2 Produção da atividade de capacitação

Ao longo da ação de extensão, as participantes tiveram contato direto com a produção de

massas caseiras, pães e biscoitos tradicionais e funcionais, além de produtos de confeitaria

como bolos, tortas e doces de festa. Abaixo, nas Figuras 1 a 12, pode-se visualizar algumas das

atividades promovidas durante o curso FIC.

Figura 1: Integrantes do curso FIC no primeiro dia de atividades.

Fonte: Acervo desde projeto.

Figura 2: Produção de biscoitos.

Fonte: Acervo desde projeto.

Figura 3: Produção de pães.

Fonte: Acervo desde projeto.

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Figura 4: Produção de bolos.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 5: Produção de bolos decorados.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 6: Produção de recheios e coberturas.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 7: Produção de doces festivos.

Fonte: Acervo deste projeto.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 2018 47

Figura 8: Produção de cupcakes.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 9: Produção de cucas.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 10: Produção de massas frescas.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 11: Produção de massas e molhos para pizzas.

Fonte: Acervo deste projeto.

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3.3 Encerramento e avaliação das atividades de extensão

Na Tabela 1, estão expressas as respostas das 39 alunas participantes do curso FIC quanto ao

grau de satisfação do curso, em forma de porcentagem.

Item %

MÉDIO BOM EXCELENTE

Divulgação do cursoDivulgação do curso 2525 7070 55

Programação do cursoProgramação do curso -- 55 9595

Organização do cursoOrganização do curso -- -- 100100

Temas abordados no cursoTemas abordados no curso -- -- 100100

Conhecimento dos professores em relação ao tema Conhecimento dos professores em relação ao tema -- -- 100100

Data e horário de realização do cursoData e horário de realização do curso -- 3030 7070

Foi solicitado às alunas, ainda, que relatassem e/ou realizassem sugestões acerca do curso. Em

relação aos relatos ao fi nal da capacitação, a grande maioria se demonstrou satisfeita com a

aprendizagem adquirida. Pode-se destacar:“...excelentes professores e alunas. Não tenho palavras

para agradecer este curso divino e maravilhoso. Peço em meu nome que em 2017 tenha outro.”

“O curso foi um ótimo desenvolvimento de criatividade e aprendemos muito.” “É um meio de

colocarmos em prática as experiências que aprendemos e temos a oportunidade de aumentar

a renda familiar.”

“Aprendemos a manipular alimentos que são fantásticos para fazermos para o comércio e para

a família.”

“É um curso para uso doméstico ou industrial.”

“Sugiro que ao longo do tempo possamos ter novas oportunidades de estar no IFFar para novos

cursos e ofi cinas, pois nos ajuda muito.”

“Muito obrigado a todas as pessoas que nos proporcionaram esta oportunidade e parabéns a

todos os envolvidos.”

Quanto às ofi cinas, os participantes se mostraram emocionados e agradecidos pelos

conhecimentos adquiridos e pela oportunidade de trocarem experiências nas suas comunidades

(Quadro 1).

Figura 7: Produção de frios.

Fonte: Acervo deste projeto.

Tabela 1: Respostas obtidas através da fi cha de avaliação

do FIC de Masseiro.

Fonte: As autoras, 2017. Observação: as notas

“péssimo” e fraco não foram dadas pelas alunas.

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OFICINA QUAIS OS PONTOS POSITIVOS OU NEGATIVOS E SUGESTÕES SOBRE A OFICINA?

Segurança dos alimentos (12h)

Ministrada pelos servidores: Nádia Hermel Gobbi; Paulo Duran dos Santos Molina; Patricia Alessandra Meneguzzi Metz Donicht.

“Serviu para ter melhor conhecimento tanto no lar como com o que forneceremos a outras pessoas.” “Para ter um melhor conhecimento profi ssional e poder comercializar os produtos produzidos por mim.” “Melhorou meu aprendizado sobre cuidados de higiene.” “Está sendo muito bom porque através do dialogo a gente aprende muito.”

O papel da associação em uma

comunidade (12h)

Ministrada pelos servidores: Suelen Deleal Rodrigues; Vinicius Radetzke da Silva.

“Foi muito bom aprendi e tirei minhas dúvidas, e a apresentação estava excelente.” “Em minha opinião foi tudo bem explicado e de bom entendimento.” “Que sempre tenhamos mais oportunidade de mais ofi cinas e curso como este, está tudo bom e só tenho a agradecer.”

Segurança do trabalho e gestão de

resíduos (12h)

Ministrada pelos servidores: Alex Leal de Oliveira; Keylla Pedroso.

“Professores ótimos e os temas abordados foram satisfatoriamente entendidos por todos.” “A ofi cina foi de grande aproveitamento pra nós que participamos desta ofi cina, pois o tema abordado pelos professores nos trouxe bons ensinamentos que vamos usar no nosso dia a dia.” “As ofi cinas serviram para nos esclarecer muitas dúvidas, melhorou nossos conhecimentos além da integração que tivemos com outras pessoas.”

O bem-estar da mulher no ambiente do

lar (8h)

Ministrada pelos servidores: Anderson Flores; Denise Margareth Borges Ancini; Evelise Freire de Azambuja dos Reis; Luciana de Oliveira Fortes.

“Nós moramos longe da cidade e é de grande importância que alguém venha nos relatar temas de muito valor, como por exemplo, o câncer de colo do útero”“Que sempre tenhamos mais oportunidade de mais ofi cinas e curso como este, está tudo bom e só tenho a agradecer.”

As Figuras 13 a 15 mostram algumas das atividades promovidas através das ofi cinas realizadas

com o público alvo.

Quadro 1: Relatos dos participantes sobre as ofi cinas de extensão.

Figura 13: Alunos durante a Ofi cina “Segurança dos alimentos”.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 14: Alunos durante a Ofi cina “Segurança do trabalho e gestão de resíduos”.

Fonte: Acervo deste projeto.

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Ao fi nalizar o curso e após verifi cação dos alunos com frequência superior a 75%, foi realizado um

evento de confraternização com lanche preparado pelos alunos do Instituto Federal Farroupilha

Câmpus Alegrete. Neste dia houve entrega de certifi cados ao público atendido (Figuras 16 a 19).

Figura 15: Alunos durante a Ofi cina “Segurança do trabalho”, na Planta de Panifi cação, sendo abordados os

perigos e os cuidados quanto ao uso de equipamentos e utensílios.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 16: Parte da equipe de docentes envolvidos na execução do projeto.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 17: Evento de fi nalização e certifi cação.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 18: Entrega de agendas do IFFar a uma das alunas.

Fonte: Acervo deste projeto.

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3.4 Contribuições da atividade de extensão

Ao longo da ação de extensão foram discutidos assuntos relacionados principalmente à produção

de alimentos, ou seja, como produzir estes alimentos seguros ao consumidor através de práticas

higiênico-sanitárias adequadas; como garantir a segurança do manipulador de alimentos por

uso de equipamentos de proteção individual, entre outros; como descartar corretamente o

resíduo gerado a fi m de garantir a preservação do meio ambiente em que se vive. Foi discutido

ainda sobre a importância desta associação que produz (ou não), como o tema foco do projeto

de extensão “o importante papel destas mulheres na comunidade em que se encontram”.

De acordo com Valente (2002), o ato de se alimentar é uma das atividades humanas que

mais refl ete a enorme riqueza do processo histórico de construção das relações sociais que se

constituem no que se pode chamar de “humanidade” e está intrinsecamente ligado à identidade

cultural de cada povo ou grupo social. Assim, a produção para o autoconsumo em determinada

localidade é uma forma de internalizar recursos locais, estimular a segurança alimentar, ampliar

o leque de estratégias sob o qual está assentada a continuidade do grupo familiar e assim

minimizar a sua vulnerabilidade.

É uma forma de economização na medida em que aperfeiçoa a utilização dos fatores de produção

(terra e força de trabalho) e dos recursos fi nanceiros; restabelece a coprodução entre homem,

natureza e trabalho, potencializando os recursos locais; possibilita atender a demanda alimentar e a

realização de valores de troca em virtude da característica da alternatividade; alimenta relações de

sociabilidade e reciprocidade contribuindo para a coesão da estrutura social; e fortalece a identidade

social dos agricultores, conferindo legitimidade e reconhecimento perante os demais (GRISA, 2007).

De acordo com Cunha (2017), em entrevista à Caminho Aberto - Revista de Extensão do

Instituto Federal de Santa Catarina, um dos principais papeis da extensão é a inclusão social

de uma determinada comunidade. Ou seja, quanto maior a qualifi cação, mais chances de

colocação no mercado de trabalho e, consequentemente, melhor remuneração e contribuição ao

desenvolvimento da localidade. Os autores do presente trabalho acreditam ter contribuído com

a qualifi cação de pelo menos 39 mulheres do distrito do Passo Novo, as quais poderão aplicar o

conhecimento adquirido para obtenção de emprego e geração de renda.

Além disso, foi possível uma aproximação do câmpus com as diversas populações, estimulando-

se a participação e o comprometimento da equipe (alunos, professores e técnicos administrativos)

em dar continuidade a projetos dessa natureza, expandindo as atividades a um número maior de

grupos sociais, criando espaços de trocas de conhecimentos com os educandos.

4 Considerações fi nais

Diante do alto índice de permanência, os autores esperam ter contribuído para o aumento do

consumo de produtos mais nutritivos, diversifi cados e de baixo custo; melhoria da participação

das mulheres na comunidade relacionada à prática alimentar e, principalmente, com a geração

Figura 19: Entrega de certifi cado a uma das alunas.

Fonte: Acervo deste projeto.

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de renda e, consequentemente, da qualidade de vida de famílias da Vila do Passo Novo e

dos Assentamentos Novo Alegrete e Unidos pela Terra. De acordo com Mézsáros (2008),

construir uma educação para além do capital, potencializando o processo de formação dos

indivíduos, permitindo um processo educacional que promova a transformação da sociedade,

é extremamente necessário, principalmente para a população em estado de vulnerabilidade.

Assim, acredita-se que os cursos ofertados por meio das ações de extensão aqui apresentadas

sejam um exemplo concreto dessa transformação descrita por Mézsáros (2008),

Uma das formas que as Universidades e os Institutos Federais possuem para formar um

profi ssional cidadão é a efetiva participação dos discentes na comunidade, ou seja, a Extensão.

Segundo Saraiva (2007), através da extensão ao aluno é possibilitada a vivência signifi cativa

com a comunidade, o que lhe proporciona refl exões acerca das grandes questões da atualidade

e, consequentemente, uma formação compromissada com as necessidades nacionais, regionais

e locais. Portanto, além da expectativa da contribuição para com a comunidade da Vila do Passo

Novo e dos assentamentos ali localizados, se presume também ter contribuído com a formação

profi ssional cidadã dos discentes dos cursos de nível Superior e Técnico do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Câmpus Alegrete/RS.

Com a presente publicação, os autores esperam divulgar as ações realizadas e instigar a outros

docentes e discentes a execução de atividades em prol de comunidades em questões de

vulnerabilidade social e, consequentemente, a aproximação entre as comunidades acadêmica e

não acadêmica, especialmente, através de uma execução contínua.

5 Agradecimentos

As autoras agradecem ao Instituto Federal Farroupilha pelo apoio fi nanceiro; à Associação

Tabatinga de Usuários Familiares Amigos da Saúde Mental da Vila do Passo Novo e a todos os

servidores e discentes envolvidos na na realização deste trabalho.

6 Referências

ABIP – Associação Brasileira da Indústria de Panifi cação e Confeitaria. Indicadores 2016.

Disponível em: <http://www.abip.org.br/site/wp-content/uploads/2017/02/INDICADORES-

2017-performance-2016.pdf>. Acesso em: junho de 2018.

CUNHA, J. A inclusão social é um dos principais papeis que a Extensão tem de desempenhar.

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Tecnologia de Santa Catarina. Ano 4, n. 7, p. 9-12, 2017.

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GRISA, C. A produção “pro gasto”: um estudo comparativo do autoconsumo no Rio Grande

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RS. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/alegrete.

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MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.

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Instituto Federal deEducação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. Ano 3, nº 4, p.

72 – 83, 2016.

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A experiência de capacitação com profi ssionais de uma entidade sobre a tendência antissocial na perspectiva WinnicottianaAndréa Kioko Sonoda Gomes 1 - [email protected]

Danielle Cerci Mostagi 2 - [email protected]

Ana Paula Batini 3 - [email protected]

RESUMO

Este relato apresenta um trabalho de capacitação realizado por psicólogas em uma Entidade

sem fi ns lucrativos, que atende crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. O

objetivo foi abordar o tema Tendência Antissocial, utilizando o referencial teórico de Winnicott.

Observou-se que os participantes (re)construíram suas compreensões sobre o tema exposto,

contribuindo para suas refl exões e formação profi ssional.

PALAVRAS-CHAVE

Tendência Antissocial. Capacitação de profi ssionais. Vulnerabilidade Social. Desenvolvimento

Emocional. Prevenção.

ABSTRACT

This report presents a training work carried out by psychologists in a Non-Profi t Entity, which

serves children and young people in a situation of social vulnerability. The objective was to

approach the theme Anti-Social Trendy, using the theoretical reference of Winnicott. It was

1 Psicologia (UEL); Especialista em Psicologia Hospitalar (USP); Mestranda em Psicologia (UEL).

2 Psicologia (UEL); Especialista em Psicologia Clínica (UEL); Mestranda em Psicologia (UEL).

3 Psicologia (UNIFIL); Especialista em Psicologia Clínica (UEL).

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observed that the participants (re)constructed their understandings on the exposed subject,

contributing to their refl ections and professional formation.

KEYWORDS

Anti-Social Trend. Training of professionals. Social Vulnerability. Emotional Development. Prevention.

1 Relato de experiência

Este trabalho de capacitação foi desenvolvido com os profi ssionais de uma Entidade sem fi ns

lucrativos, situada na cidade de Londrina/PR. Tal instituição realiza um trabalho com crianças

e adolescentes, de 6 a 14 anos, em condições de vulnerabilidade social, com o objetivo de

contribuir para o desenvolvimento integral destes jovens.

Deste modo, este relato de experiência se justifi ca por apresentar uma possibilidade de ampliar

o olhar destes profi ssionais para a realidade enfrentada, refl etir sobre a vulnerabilidade social

e seus efeitos, apontando também uma possibilidade de trabalho em enquadres distintos

do tradicional setting clínico, contribuindo na formação dos educadores, enquanto agentes

potencializadores nos processos de cuidado e prevenção.

Participaram da capacitação a fundadora da Entidade, educadores sociais, uma pedagoga, e demais

funcionários, totalizando nove pessoas. O curso, com duração de aproximadamente cinco horas, foi

ministrado em formato de palestra e dinâmicas por três psicólogas, duas delas discentes do Programa

de Mestrado de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina e uma psicóloga autônoma.

Inicialmente, foi realizada breve introdução sobre a proposta da palestra, a escolha do referencial

teórico de D. W. Winnicott para discorrer sobre a Tendência Antissocial, a importância dos

cuidados iniciais com a criança, focando posteriormente nos comportamentos apresentados e

nas formas de lidar diante das atitudes antissociais. Após este momento, iniciou-se a primeira

dinâmica, solicitando que os participantes formassem grupos e escrevessem a compreensão que

tinham sobre o signifi cado do termo Tendência Antissocial, a fi m de perceber o ponto de vista

dos mesmos. As fi guras 1 e 2 ilustram os materiais produzidos pelos grupos, que foram divididos

em Grupo A e Grupo B. O Grupo A (Figura 1) relacionou a tendência antissocial com os seguintes

aspectos: a retração por condições sociais, sentimentos de insegurança, desenvolvimento da

personalidade e comportamento. Quando solicitados a explicarem suas compreensões, o Grupo A

referiu que as pessoas com comportamentos antissociais têm atitudes de isolamento e agressão,

são pessoas que não se socializam com as outras e tais comportamentos, para eles, estariam

também relacionados às situações vivenciadas pelas crianças no ambiente familiar.

Figura 1: Cartaz produzido pelo Grupo A.

Fonte: Dados desta pesquisa.

Por outro lado, o Grupo B (Figura 2) relacionou a tendência antissocial com: difi culdades de

relacionamentos, traumas que impedem a pessoa de se relacionar, de forma a criar obstáculos

antes de vivenciar as situações, não pertencimento ao meio social, não aceitação, isolamento;

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a pessoa que apresenta conduta antissocial, para eles, se comporta de forma a parecer

ser a dona da verdade ou mal-educada. Este grupo explicou a sua produção relacionando

os comportamentos antissociais com problemas internos, nos quais as difi culdades de

relacionamento não são percebidas pelos outros. Para eles, são pessoas que não conseguem

conviver bem nos grupos aos quais se vinculam.

Figura 2: Cartaz produzido pelo Grupo B.

Fonte: Dados desta Pesquisa.

Acreditamos que os relatos provenientes dos grupos, antes de um aprofundamento teórico,

contribuíram mais signifi cativamente para a (re)construção de um conhecimento conjunto. Deste

modo, após a confecção dos cartazes e escuta das percepções dos grupos, salientamos que

alguns elementos trazidos por eles seriam abordados ao longo da palestra, pois expunham

atitudes importantes referentes ao tema. A seguir, discorreu-se de maneira aprofundada sobre o

desenvolvimento emocional, enfocando as fases de dependência absoluta e dependência relativa,

dentro da perspectiva Winnicottiana, a fi m de apresentar a importância dos cuidados maternos

iniciais para o amadurecimento saudável da criança (LONDERO, SOUZA, 2016). Destacou-se que

a atitude antissocial é uma falha ambiental em uma fase específi ca na vida da criança, quando

ela já está amadurecida o sufi ciente para percebê-la, podendo apresentar comportamentos

regredidos na esperança de recuperar o cuidado que perdeu (WINNICOTT, 2016).

Ao enfocar os principais conceitos dessa teoria, o grupo trouxe suas vivências sobre gestação,

maternagem, histórias pessoais e experiências com crianças e jovens em outras instituições,

de modo que as psicólogas, enquanto mediadoras, realizavam as conexões entre o vivido, o

experienciado e o referencial adotado. Este formato de vivência grupal é citado por Enrique

Pichon-Rivière no trabalho com grupos, cujas contribuições permearam a atuação das

psicólogas, no qual, partindo de uma realidade concreta, os sujeitos que dela participam podem

transformá-la em uma atitude orientada para a aprendizagem (PEREIRA, 2013).

Buscou-se construir um conhecimento conjunto, de um lado com os profi ssionais da Entidade

trazendo sua prática diária, de outro, as profi ssionais de Psicologia fornecendo um referencial

teórico, uma teoria do desenvolvimento afetivo que pudesse orientar o trabalho desses

profi ssionais, com uma explicação da origem da tendência antissocial e de seus sintomas.

Desta maneira, possibilitou-se uma refl exão sobre suas vivências como educadores, clareando

algumas questões de ordem afetiva. Durante estes momentos, foram salientados a importância

do ambiente no desenvolvimento da criança, onde a mãe se constitui como o primeiro ambiente

facilitador (ambiente-mãe), prolongando-se para outros (ambiente-pai; ambiente-família;

ambiente-sociedade; ambiente-instituição). Com isso, ressaltou-se o relevante papel dos

educadores, enquanto potencializadores ambientais e a necessidade destes em compreender

que a criança repetirá na instituição as falhas sentidas anteriormente (LABRUNETTI, 2014).

A partir dos relatos trazidos pelos participantes, apareceram vivências permeadas pela agressividade,

roubo e mentiras das crianças, atitudes antissociais que demandam uma compreensão e manejo

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por parte deles. Uma participante relatou ter recebido um “copo de leite na cara” e, mesmo

demonstrando uma atitude não punitiva frente ao fato, também exprimiu uma falta de compreensão

a respeito do que estaria na origem desse comportamento.

Ao explicar os signifi cados das atitudes (roubar, mentir, agredir), sob o referencial Winnicottiano,

foi possível (re)signifi car as formas de manejo diante das manifestações da tendência antissocial

relatadas pelos participantes.

Uma vez que a proposta da Instituição é propiciar um espaço de acolhimento para o desenvolvimento

desses jovens, foi destacada a importância da sustentação ambiental para a promoção de mudança

de atitudes (WINNICOTT, 2016). Deste modo, assim como a mãe necessita sobreviver à destruição

provocada pela criança, o ambiente-instituição também precisa sobreviver às manifestações dos

comportamentos antissociais, de forma que atitudes punitivas, retaliativas ou o encaminhamento

para outras instituições acabam por repetir “falhas”, prejudicando o desenvolvimento emocional da

criança. A prática e a postura devem ser inversas para que haja a possibilidade de algum tipo de

mudança no comportamento (LABRUNETTI, 2014).

Importante salientar, que para Winnicott (2016), essas crianças estão doentes

emocionalmente.  Além da necessidade de cuidados frente a esta problemática, a atividade

de educar também pode apresentar um caráter preventivo. No momento em que estes

comportamentos são percebidos como doença, a atitude deve ser de tolerância, de colocação

de limites e de sobrevivência aos ataques, uma vez que sobreviver possibilita à criança a

percepção de que alguém permaneceu para cuidar dela (LABRUNETTI, 2014).

Foi salientado com o grupo que, quando a criança demonstra atitudes antissociais, esses

comportamentos devem ser vistos como um pedido de limite por parte de uma fi gura de

autoridade que seja amorosa e, ao mesmo tempo, confi ável. Embora a palavra doença se torne

apropriada nos contextos em que essas crianças nunca sentiram o sentimento de segurança,

quando há a esperança de encontrar no ambiente externo aquilo que falhou em um estágio

anterior de seu desenvolvimento, signifi ca que ainda existe um desejo de cura, um sinal de

saúde (LONDERO, SOUZA, 2016).

Para os participantes do grupo, refl etir sob este ponto de vista pareceu algo inusitado, uma vez

que as atitudes antissociais eram vistas como algo a ser evitado. Por outro lado, em um dos

relatos, uma participante descreveu que, apesar do comportamento agressivo de uma criança,

cuja história de vida era permeada por momentos de falhas ambientais bem graves, sempre

acreditou que a melhor forma de lidar com ela era demonstrando seu afeto e, com o tempo,

percebeu uma mudança, mesmo que pequena, na atitude dessa criança.

Ao fi nal da capacitação, com o objetivo de verifi car a assimilação dos conteúdos e se estes

foram pertinentes, no sentido de responder as indagações dos profi ssionais referentes aos

comportamentos das crianças, convidamos todos a escrever uma palavra que melhor defi nia

o tema após a palestra. Foram descritos os seguintes termos: desenvolvimento, aprendizado,

cuidados, compreensão, afetividade e crescimento, conforme ilustra a Figura 3.

Figura 3: Produção de todos os participantes.

Fonte: Dados desta Pesquisa.

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Deste modo, pela Figura 3 foi percebida uma mudança no olhar sobre o tema, diverso da

produção elaborada pelos grupos no início da capacitação.

Consideramos que a capacitação dos profi ssionais da Entidade atingiu o objetivo proposto de

tratar o tema Tendência Antissocial, pois, além de proporcionar a oportunidade de troca de

experiências, refl exões sobre os signifi cados das atitudes apresentadas pelas crianças e jovens,

inclui um espaço para expressão dos sentimentos de impotência, inerentes quando se trabalha

com jovens em situação de vulnerabilidade social e modifi cação da forma de olhar o tema.

Além disso, as percepções dos seus possíveis signifi cados podem trazer efeitos importantes

para a saúde das crianças, dos adolescentes e dos educadores.

O tema desencadeou muitas discussões, na qual constatou-se a atualidade dessa teoria, assim

como a necessidade de novas refl exões sobre o tema. Isso foi percebido através dos feedbacks

recebidos após o trabalho e da solicitação de futuras capacitações.

2 Referências

LABRUNETTI, Sylvia Fernandes. Contribuições de Winnicott para estudo e prevenção da

atitude antissocial no ambiente escolar. 2014. 213 p. Tese (Doutorado em Psicologia) -

Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2014. Disponível em http://tede.

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LONDERO, Angélica Dotto; SOUZA, Ana Paula Ramos de. Prevenção e intervenção em casos

de tendência antissocial em uma perspectiva winnicottiana: alterações de linguagem como

sintoma inicial da deprivação ambiental. Rev. CEFAC,  São Paulo ,  v. 18, n. 2, p. 544-554,

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PEREIRA, Thaís Thomé Seni Oliveira. Pichon-Rivière, a dialética e os grupos operativos:

implicações para pesquisa e intervenção. Rev. SPAGESP,  Ribeirão Preto ,  v. 14, n.

1, p. 21-29, 2013. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_

arttext&pid=S1677-29702013000100004&lng=pt&nrm=iso> Acesso em 30 jan.  2018.

WINNICOTT, Donald Woods. Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes, 2016

(original de 1987).

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Atividades desenvolvidas na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017: Exposições e Ofi cinas relacionadas à área de Estruturas dos cursos de Edifi cações e Engenharia CivilMárcia Maria Machado Steil 1- [email protected]

Fernando Toppan Rabello 2 - [email protected]

RESUMO

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do ano de 2017 foi um grande momento de

apresentar à comunidade interna e externa ao IFSC todo o potencial na área de estruturas

trabalhado nos cursos técnico e de graduação do Departamento Acadêmico de Construção Civil

(DACC). Com o objetivo de aproximar o público dessa área que tantas vezes a repele, criou-

se espaços para manipulação de game estrutural, manuseio de simuladores de estabilidade

dos elementos estruturais e concurso para identifi car a ponte de palitos mais resistente. Para

aumentar a integração da comunidade externa ao IFSC com esse evento, nesta edição da SNCT

alunos de outras universidades puderam se inscrever e participar do concurso de pontes de

palitos.

PALAVRAS-CHAVE

Estruturas. Ofi cinas. Exposição. Elementos estruturais.

1 Mestre em Engenharia Civil. Docente da área de Estruturas do Departamento Acadêmico de Construção Civil (DACC) do Instituto

Federal de Santa Catarina (IFSC), Câmpus Florianópolis.

2 Doutor em Engenharia Civil. Docente da área de Estruturas do DACC/IFSC, Câmpus Florianópolis.

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ABSTRACT

The National Science and Technology Week of 2017 was a great moment to show to the internal

and external community of the IFSC the full potential in the area of structures presented in

the technical and undergraduate courses of the DACC. With the aim of bringing the public

closer to this area that often is repelled, spaces were created for structural simulator video

game, manipulation of structural stability miniature systems and competition to identify the most

resistant wood stick bridge.

KEYWORDS

Structures. Workshops. Exposition. Structural elements.

1 Relato de experiência

1.1 Justifi cativa

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia é um evento que visa aproximar a população em

geral da ciência e tecnologias desenvolvidas nas instituições de ensino no país. Procurando

colocar esse preceito em prática, uma comissão formada por professores do Departamento

Acadêmico da Construção Civil, DACC, procurou organizar e desenvolver ofi cinas e exposições

das quais tanto alunos da instituição como a comunidade em geral pudessem participar.

Assim, desenvolveu-se uma série de atividades ao longo da semana em que os visitantes,

entre eles alunos de instituições de ensino da Grande Florianópolis, pudessem acompanhar o

desenvolvimento de algumas atividades, além de terem a oportunidade de participar ativamente

das ofi cinas e exposições.

A cada novo grupo de alunos que chegava, eram dadas as boas vindas e feita a apresentação

do professor responsável pela respectiva ofi cina. Nesse primeiro contato era feita uma breve

apresentação sobre o tema “Estruturas” e como ele é abordado nos cursos do DACC.

1.2 Apresentação de vídeo game sobre estruturas

Os jogos eletrônicos possuem características com bastante apelo, principalmente por conta de

seus desafi os, competição e recompensas, combinados com uma curva de aprendizado inicial

bastante íngreme, o que permite que qualquer um já possa interagir com o jogo quase que

imediatamente.

O game adotado para os visitantes foi o Cargo Bridge 2, um jogo gratuito de acesso livre na

internet cujo objetivo é construir uma ponte treliçada com uma quantidade limitada de material

disponível. Os visitantes puderam aplicar a física de maneira a testar suas habilidades como

construtores e, de uma maneira lúdica, trabalharam os conceitos de teorias das estruturas.

Sob orientação (Figura 1), os visitantes puderam manusear o game e praticar um pouco dos

conceitos estruturais de uma maneira simples e divertida.

Durante as visitações, percebeu-se que o game atraía bastante a atenção dos jovens, tanto do

público externo do ensino fundamental quanto do público interno de nível técnico e de graduação

(Figura 2). Estimou-se que a familiaridade que os jovens possuem com jogos eletrônicos os

deixou mais à vontade para interagir com a atividade. A expectativa era de que o visitante

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pudesse enxergar o game de uma maneira mais funcional e talvez relacionar algumas de suas

características, como desafi os e recompensas, com a prática profi ssional.

1.3 Apresentação do comportamento estrutural com modelo

físico reduzido

O aluno visitante pôde montar diferentes sistemas estruturais, visualizando os movimentos e

deformações do conjunto de barras e nós e ter uma experiência sensorial do comportamento

das estruturas interagindo diretamente com o modelo (Figura 3). Para tanto, foi utilizado

um kit estrutural didático composto de molas e ímãs, o Mola Structural Kit, que simula o

Figura 1: Alunos manuseando o game sob orientação do professor.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 2: Alunos de graduação interagindo com o jogo.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 3: Análise do comportamento estrutural.

Fonte: Acervo deste projeto.

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comportamento de estruturas reticuladas. Os visitantes tiveram a oportunidade de experimentar

várias combinações diferentes de estruturas reticuladas e verifi car principalmente suas

deformações em função das cargas utilizando as próprias mãos e a necessidade da inclusão de

certos elementos para que fosse garantida a estabilidade (Figura 4).

1.4 Montagem e avaliação de pontes de palitos de picolé

Essa atividadde teve como objetivo incentivar estudantes dos diversos cursos do Câmpus

Florianópolis do IFSC, bem como alunos de outras universidades, a verifi carem o comportamento

estrutural de uma treliça de madeira sob a ação de carga concentrada. Os alunos puderam

aplicar conhecimentos de mecânica dos sólidos e análise estrutural, além da otimização pelo

design da ponte e de planejamento e execução do grupo para resolver o problema proposto.

Figura 4: Alunos experimentando um sistema estrutural.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 5: Carregamento e ruptura das pontes de palitos na prensa hidráulica.

Fonte: Acervo deste projeto.

Outras instituições já fazem concursos similares a este e a ideia foi buscar o que já vinha sendo feito

com sucesso e adaptar e melhorar o que fosse possível dentro da realidade do Câmpus Florianópolis.

Um grande diferencial do concurso feito pelo IFSC na SNCT em relação às outras universidades foi

a utilização de uma prensa hidráulica (Figura 5) para medição da carga de colapso das pontes em

contraste à utilização de anilhas de musculação, como é feito em concursos externos.

Além de fornecer maior precisão nas cargas de falha das pontes, o uso deste equipamento ainda

favoreceu enormemente o entendimento dos participantes sobre o comportamento estrutural.

Graças à aplicação de carga com incremento constante ao longo do tempo, foi possível verifi car

os elementos ou ligações onde ocorreram as falhas, e percebia-se, quase que imediatamente,

as equipes se reunindo após cada falha para tentar entender o que havia causado o colapso e

como deveriam ter feito para que este fosse evitado.

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Além do comportamento estrutural, houve uma preocupação dos participantes com relação ao

planejamento e execução da ponte (Figura 6).

Figura 6: Projetos estruturais e executivos das pontes de palitos.

Fonte: Acervo deste projeto.

As equipes tinham desde o dia da inscrição até o dia da montagem da ponte (aproximadamente

duas semanas) para prepararem dimensionamentos, projetos e planejamento. Os materiais e o

tempo para a execução foram iguais para todos: foram fornecidos para cada equipe 400g de

palitos de picolé, 40g de cola de secagem rápida e um período de quatro horas para a construção

da ponte, que deveria vencer um vão de 50 cm. Algumas pontes superaram a carga de 300kgf.

2 Considerações fi nais

Ao término das ofi cinas e exposições os visitantes eram novamente informados da importância

do tema “Estruturas” nos cursos envolvidos e, com a experiência obtida, podiam perceber o

quão interessante e estimulante pode ser estudar os assuntos pertinentes ao tema.

A montagem das pontes de palitos, em particular, foi uma ótima oportunidade para os alunos

envolvidos colocarem em prática o aprendizado obtido nas aulas, uma vez que normalmente as

disciplinas de estruturas são bastante teóricas e muitas vezes abstratas para os estudantes.

Esta difi culdade em relacionar teoria e prática acaba sendo agravada pela escala das estruturas

- pequenas deformações, altas resistências, além de outras características que difi cultam a

visualização física do comportamento estrutural - o que aumenta o valor didático da atividade

com os palitos de picolé. O que se percebeu com a atividade foi uma grande elucidação

sobre a relação das teorias em sala de aula e a prática, mesmo que em pequena escala. Os

alunos puderam perceber ainda a necessidade da interdisciplinaridade como o planejamento e

organização juntos ao dimensionamento e desenvolvimento de projetos para que se atingissem

os objetivos dentro das limitações existentes nos cursos, como a carência de laboratórios de

Estruturas e o pequeno número de aulas nos demais laboratórios existentes, o que poderia

contribuir, e muito, para o enriquecimento e aprendizado das disciplinas.

Para o público externo, a SNCT mostrou-se como uma vitrine do que fazemos, onde a integração

entre a teoria e a prática são essenciais na formação dos alunos, além de sua capacitação para o

mercado de trabalho. O grande diferencial desse ano foi alunos de outras universidades terem a

oportunidade de participar do concurso da ponte de palitos. A integração de alunos de diferentes

instituições trouxe benefícios para todos os envolvidos, uma vez que a troca de experiências é

muito importante para o crescimento dos alunos e aprimoramento dos cursos ministrados.

São ocasiões como essa que permitem apresentar o quão abrangente e dinâmico podem ser

nossos cursos, tanto de nível técnico como de graduação, uma vez que esses visitantes, além

de poderem interagir nas ofi cinas e exposições, puderam esclarecer muitas dúvidas sobre os

cursos oferecidos, aproximando, assim, a ciência e a tecnologia da população.

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Literatura Brasileira Contemporânea e a Arte de Contar Histórias: um relato de experiência em ações extensionistasMaria Regina Andreatto 1 - [email protected]

Maiara Soares Fragoso 2 - [email protected]

Vilson Cesar Schenato 3 - [email protected]

Mariana Becker 4 - [email protected]

RESUMO

Este artigo apresenta o relato de experiência do Projeto de Extensão “Literatura Brasileira

Contemporânea e a Arte de Contar Histórias”. O projeto visou incentivar o desenvolvimento

cultural da região por meio da formação de novos contadores de histórias e a realização de outras

atividades culturais na biblioteca do Câmpus Tubarão do Instituto Federal de Santa Catarina

(IFSC). O trabalho foi desenvolvido pelo IFSC em parceria com o Museu Ferroviário de Tubarão.

O público total participante foi de 124 pessoas. Formaram-se 16 contadores de histórias.

Palavras-Chave

Contação de histórias. Literatura brasileira contemporânea. Contadores de histórias.

1 Especialista em Formação Pedagógica para Educação Profi ssional e Tecnológica (IFSC, 2017) e bibliotecária no IFSC - Campus

Tubarão (SC).

2 Graduada em Museologia. Museóloga no Museu Ferroviário de Tubarão e Contadora de Histórias no Grupo Encantado Contadores

de Histórias.

3 Aluna do Curso Técnico em Informática do Campus Tubarão do IFSC.

4 Aluna do Curso Técnico em Informática do Campus Tubarão do IFSC.

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ABSTRACT

This article reports an experience withthe “Brazilian Contemporary Literature Extension Project

and the Art of Storytelling”. The project aimed to encourage the cultural development of the region

by promoting new storytellers’ training, among other cultural activities held in the library of IFSC’

Campus Tubarão. The work has been developed in partnership with the Tubarão Railway Museum.

124 people took part in all the activities proposed in the project. 16 storytellers completed the course.

KEYWORDS

Storytelling. Storytellers. Brazilian Contemporary Literature.

1 Relato de experiência

Incentivar a leitura da literatura é um desafi o porque há tantas formas de lazer disponíveis na

atualidade. Diante disso, entendemos que unir a tradição oral de contar histórias à literatura

brasileira contemporânea é um meio de promover o incentivo à leitura, ao mesmo tempo em que

aproxima das novas gerações o hábito de ouvir a palavra falada.

Matias (2010, p. 72) diz que “A prática de contar histórias é ancestral; pode-se dizer que

coincide com o próprio desenvolvimento da linguagem oral e que a partir de então adquiriu

especifi cidades e de acordo com a cultura e o momento histórico”. Assim, vinculado às

tradições orais, o ato de contar sempre foi agregador, unindo toda a comunidade na partilha de

conhecimentos, sabedorias, histórias, mitos e fé. E permitindo transmitir valores aos mais jovens

por meio de valiosas lições lúdicas e essenciais.

Busatto (2012, p. 37) afi rma que

O conto de literatura oral serve a muitos propósitos, a começar pela formação psicológica, intelectual e espiritual do ser humano. Através do conto podemos valorizar as diferenças entre os grupos étnicos, culturais e religiosos, e introduzir conceitos éticos.

Afi nal, é através do imaginário maravilhoso que o contador penetra no presente de todos os

tempos, comungando com seu ouvinte um ensinamento profundo. Busatto também fala que

[…] os povos orientais consideravam o conto oral mais do que um estilo literário a serviço do divertimento. Sabiam que neles estão contidos o conhecimento e as ideias de um povo, e que através deles era possível indicar condutas, resgatar valores e até curar doenças. (BUSATTO, 2012, p. 17)

Portanto contar histórias é uma das formas mais antigas de educar, legada pelos ancestrais de

diferentes culturas aos contadores de hoje. É também uma forma de aproximar os ouvintes da

literatura. Ouvir histórias de diferentes autores, épocas e nacionalidades serve para despertar a

curiosidade e o interesse pela leitura destas narrativas curtas. Percebe-se então que por meio

do conto e da arte de contar histórias é possível promover o incentivo a leitura. Por isso, contar

histórias é uma ferramenta imprescindível para educadores de qualquer tempo.

Vinculando-se diretamente à arte da literatura, contar histórias é promover uma educação lúdica

do leitor. Seja criança ou adulto, ao ouvir uma narrativa, despertam-se no indivíduo o desejo e

a curiosidade de ter contato com outro objeto, mais palpável e íntimo, sendo porta de entrada

para aquele mundo da história: o livro.

Este é o suporte material da palavra contada. E não concorre com a contação, ao contrário,

um e outro se complementam para criar uma atmosfera interativa com o imaginário do leitor.

Com essas experiências distintas, porém complementares, cada um vai criando seu próprio

repertório de contos e textos, falas, mundos, personagens e lugares imaginados ou não. Ler

também é um ato de ouvir, contar histórias é também um modo de ler. Assim, o projeto de

extensão “Literatura Brasileira Contemporânea e a Arte de Contar Histórias” visou incentivar

o desenvolvimento cultural da região por meio da promoção da formação de contadores de

histórias, dentre outras atividades culturais realizadas na biblioteca do câmpus como: Café

Literário, Workshop e apresentações de contação de histórias.

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2 Metodologia

O projeto foi criado após ser identifi cada a demanda pelo curso de formação de contadores de

histórias, a fi m de atender educadores, bibliotecários e demais pessoas que desejassem se

tornar um contadoras de histórias na região da AMUREL (Associação dos Municípios da Região

de Laguna). O projeto foi executado após ser aprovado no Edital PROEX Nº 001/2017 do IFSC

e no Edital PROEX 005/2017 do IFSC Câmpus Tubarão, o que possibilitou o apoio fi nanceiro do

projeto de extensão.

Para execução do curso de contação de histórias foi realizada uma parceria com o Museu

Ferroviário de Tubarão, que viabilizou a vinda da professora e contadora de histórias Silvana Silva

de Souza para ministrar o curso.

O projeto compreendeu a realização de um workshop de contação de histórias, de um curso

de formação de contadores de história, de espetáculos de contação de histórias e ainda do IV

Café Literário do câmpus.

O curso inicialmente consistiu em abordar a linguagem da contação de histórias por meio de

suas tradições, técnicas e seu uso como ferramenta pedagógica.

No segundo momento, o curso foi desenvolvido com exercícios e jogos que favorecessem

aos participantes a compreensão prática do ato de contar, estimulando sua ludicidade, a

compreensão literária dos contos, a abordagem cênica, a criatividade, a segurança na interação

com o público e a descoberta de uma maneira própria e particular na forma de contar histórias.

O terceiro momento do projeto foi realizado no espaço da biblioteca do Câmpus. Nesta ocasião,

apresentaram-se espetáculos de contação de histórias para alunos, servidores e comunidade externa.

Figura 1: Espetáculo de contação de histórias.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 2: Espetáculo de contação de histórias.

Fonte: Acervo deste projeto.

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Também foi realizado o IV Café Literário na biblioteca do câmpus. Esta ação visou incentivar

o hábito da leitura por meio de um debate literário. No início do semestre em que aconteceu

o Café Literário, foi proposto aos participantes (discentes e servidores do Câmpus Tubarão,

e comunidade externa) que fi zessem a leitura da obra Morangos Mofados, de Caio Fernando

Abreu. Esta obra contemporânea é composta por vários contos e foi sugerida porque o curso

de contação de histórias trabalhou as apresentações a partir de contos. No momento do Café

Literário, a docente de língua portuguesa Juliene Marques apresentou o livro e promoveu a

discussão do estilo literário da obra. Para encerar o evento, a professora e contadora de histórias

Silvana Silva de Souza apresentou um conto da obra debatida. O período de realização do projeto

foi de maio a novembro de 2017.

Figura 3: IV Café Literário.

Fonte: Acervo deste projeto.

3 Resultados

Principais resultados obtidos com o projeto:

1. Possibilitou a formação de contadores de histórias na região, tendo sido formados 16 alunos.

Profi ssionais contadores de histórias estimulam o gosto pela leitura, por meio das apresentações

em bibliotecas, escolas, eventos culturais e demais espaços onde haja público para prestigiar a

arte da literatura. Percebe-se que haverá um grande estímulo nas escolas, pois 90) dos alunos

do curso eram professores. Assim, o projeto possibilitou capacitar pessoas da Região AMUREL

na arte ancestral de contar histórias, na construção de conhecimentos e saberes, oportunizando

a formação e profi ssionalização de contadores de histórias.

2. Promoveu o acesso a cultura e informação à comunidade interna e externa por meio da

realização do Café Literário; do workshop de contação de histórias e das apresentações dos

alunos do curso.

3. Permitiu o envolvimento dos alunos bolsistas com a comunidade externa. Assim, os bolsistas

puderem experienciar o projeto de extensão, compreendendo sua importância para comunidade

e também para o câmpus. Perceberam a necessidade de aproximar as pessoas da cultura,

promover a literatura e o lazer a partir da arte de contar histórias.

Com a realização deste projeto também foi possível a divulgação do Câmpus Tubarão do IFSC

na região da AMUREL. A partir da divulgação do curso de contação de histórias e das demais

atividades culturais realizadas, um número maior de pessoas teve conhecimento da presença

do IFSC na cidade de Tubarão. Isto contribu i para que cada vez mais o IFSC Câmpus Tubarão

passe a ser procurado , realizando assim, sua missão de instruir e compartilhar conhecimento

com a comunidade da região.

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4 Referências

ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. São Paulo: Brasiliense, 1982.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: Pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes,

2003.

MATIAS, Lígia Borges. O valor da narrativa na pós-modernidade. In: TIERNO, Giuliano (Org.).

A arte de contar histórias: abordagens poética, literária e performática. São Paulo: Ícone,

2010.

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O Novembro Azul vai à escola: uma intervenção didática aplicada em uma escola estadual de Teixeira de Freitas, BahiaGabriel Leandro Gomes 1 - [email protected]

Édila Dalmaso Coswosk 2 - [email protected]

Liziane Martins 2 - [email protected]

RESUMO

No Brasil o câncer de próstata é a segunda doença mais signifi cativa em número de diagnósticos

entre os homens. Esse índice está ligado à aceitação dos exames clínicos para a detecção do

câncer. Como resposta a essa cultura machista, foram desenvolvidas campanhas, denominadas

no Brasil como Novembro Azul. Uma intervenção foi aplicada nas turmas de 1º, 2º e 3º anos

do ensino médio, através do Programa PIBID/Capes, tendo como ponto norteador os aspectos

históricos do movimento, bem como a saúde do homem.

PALAVRAS-CHAVE

Escola. PIBID/Capes. Novembro Azul. Saúde do homem.

ABSTRACT

In Brazil, prostate cancer is the second most signifi cant disease among men. This index is linked

to the acceptance of clinical examinations for the detection of cancer. In response to this male

chauvinist culture, campaigns were developed in Brazil called Blue November. An intervention

1 Bolsista de Iniciação à Docência do PIBID/UNEB - Licenciando em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia,

DEDC / UNEB / CAMPUS X.

2 Coordenadora de área do PIBID/UNEB – Profª. do curso de Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia, DEDC /

UNEB / CAMPUS X.

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was applied in the 1st, 2nd and 3rd years of high school, through the PIBID/Capes Program,

having as the historical aspects of the movement, as well as the health of man.

KEYWORDS

School. PIBID/Capes. Blue November. Health of man.

1 Relato de experiência

No Brasil, o câncer é um problema de saúde pública, sendo o câncer de próstata a segunda

doença mais signifi cativa de diagnóstico entre o sexo masculino, com uma representatividade

de 10% (SOARES, 2014). Esse índice está ligado à difi culdade de os homens aceitarem os

exames clínicos para a detecção de um possível câncer devido a posicionamentos relativos a

heterossexualidade masculina (DE LIMA & HAHN, 2016).

Esse modelo de masculinidade é desenvolvido durante a formação do indivíduo, ultrapassando

relações biológicas do corpo humano, sendo, assim, ligados a atribuições sociais que, por

sua vez, fundamentam-se com base no machismo, onde se estabelecem os padrões da

heterossexualidade. Qualquer contraponto a esses padrões, ou alusão à homossexualidade,

são rejeitados (DE LIMA; HAHN, 2016).

Como resposta a essa cultura machista, foram desenvolvidas campanhas de sensibilização,

denominadas no Brasil como Novembro Azul, estabelecidas pelo Instituto Lado a Lado pela

Vida (BOAVENTURA; ELOI; MARINS, 2017). Devido a essa mobilização nacional, espaços

foram gerados para discussões sobre o tema em diversas esferas da sociedade, porém uma se

destaca pelo seu natural objetivo instrutivo: o espaço escolar formal.

Sob essa perspectiva, atividades extensionistas desenvolvidas pelo projeto intitulado “A

transversalidade da Saúde no Ensino de Ciências Biológicas: Uma interlocução entre Educação

Superior e a Educação Básica”, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à

Docência (PIBID/Capes), foram realizadas acerca dessa temática, tendo como ponto norteador

os aspectos históricos do movimento, assim como os aspectos biológicos relacionados ao

sistema reprodutor masculino, bem como a saúde do homem.

O presente relato tem como objetivo apresentar uma intervenção desenvolvida pelo Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/Capes), em parceria com Colégio

Democrático Ruy Barbosa, na qual se buscou sensibilizar os alunos acerca da campanha

Novembro Azul, fomentando discussões sobre aspectos relacionados à saúde do homem.

A intervenção foi aplicada nas turmas de 1º, 2º e 3º anos do ensino médio no período matutino,

localizado na cidade de Teixeira de Freitas, extremo sul da Bahia, através de aulas expositivas

e dialogadas, com duração de 140 minutos para cada turma. A intervenção foi dividida em três

datas diferentes com o intuito de contemplar todas as turmas do ensino médio.

As discussões foram norteadas a partir do levantamento prévio acerca da campanha Novembro

Azul (Figura 1), pontuando os principais aspectos sobre a saúde e bem-estar do homem, voltados

ao cuidado para com o sistema reprodutor masculino, dando ênfase para a próstata e os riscos

ocasionados pelo surgimento do câncer e a negligência da não realização dos exames clínicos.

Figura 1: Aula inicial sobre o Novembro Azul na turma de 1º ano do ensino médio.

Fonte: Acervo do PIBID/Capes.

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Posteriormente, foi lido o relato de Fernando Maia intitulado “Eu tive Câncer de Próstata!”,

publicado em 2012 na plataforma blogger.com (https://papodehomem.com.br/eu-tive-cancer-

de-prostata/). Nesse relato, o autor conta as suas experiências com o câncer, com o intuito de

humanizar as discussões, gerar espaços para refl exão e desmistifi car paradigmas.

As turmas tiveram diferentes repostas no decorrer da intervenção. Os primeiros anos do ensino

médio possuem um aporte teórico menor com relação aos outros anos. Apesar de terem visto

conceitos básicos sobre a anatomia humana, houve difi culdade em compreender algumas

estruturas, principalmente devido à nomenclatura (Figura 2).

Figura 2: Aula de anatomia sobre o sistema reprodutor masculino para o 1º ano do ensino médio

Fonte: Acervo do PIBID/Capes.

Figura 3: Aula sobre o processo de desenvolvimento de um câncer e porque ocorrem estas mudanças.

Fonte: Acervo do PIBID/Capes.

Nas turmas de 2º ano do ensino médio, as observações sobre o ensino de anatomia continuam

sendo evidentes, porém os termos são mais familiares. Já as turmas de 3º ano possuem um

aporte teórico mais amplo e com isso, os aspectos discutidos sobre a formação do câncer

foram mais bem compreendidos, ainda que alguns pontos se repitam no que diz respeito às

discussões relatadas nas demais séries (Figura 3).

Os exames clínicos foram os assuntos mais comentados, principalmente o toque retal. Aspectos

como o machismo e a visão de homem heterossexual ainda permearam as discussões sobre

o toque, assim como a associação à homossexualidade. Segundo Gomes et al. (2008),

os constructos masculinos atravessam justamente pontos de insegurança regidos pela

homossexualidade e impotência.

Nas turmas de 1º e 2º anos, o engajamento feminino foi maior, demonstrando uma preocupação

pelo assunto devido às relações que as meninas possuíam com pessoas do sexo masculino,

o que refl ete sobre as questões socioculturais do cuidado em saúde, como atribuição ao sexo

feminino (PEGORARO; CALDANA, 2008). Discutir questões de saúde masculina conduz a

inquisições acerca das constituições de gênero na sociedade e revela o desafi o da busca por

igualdade, seja no cuidar ou no ser cuidado.

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Diferente das outras turmas, nos 3º anos não houve uma predominância feminina, mas também

não houve muitas reações positivas por parte dos homens com a ideia do exame de toque.

Possivelmente essa reprovação para com o exame está relacionada com uma conotação sexual

(BELINELO et al., 2014).

Diferente do que De Lima e Hahn (2016) relatam, a próstata em si não permeou o imaginário

masculino dos alunos, mas o fato de ser tocado nas regiões associadas à mulher gera os

sentimentos de impotência. Entretanto, mesmo que a visão seja outra, a saúde do homem ainda

é ameaçada pelas difi culdades clássicas relacionadas ao toque (LOURO, 2016).

No que tange às discussões, após a leitura do texto de Fernando Maia, as discussões foram

mais fomentadas novamente pelas mulheres do que pelos homens, ainda que perguntas fossem

direcionadas para eles. Entretanto, foi possível perceber uma abertura no processo de discussão.

As ações educacionais em saúde poderão contribuir para que aspectos incoerentes, oriundos

do machismo, sejam descontruídos, reduzindo a taxa de homens acometidos com o surgimento

de um câncer. Discutir e questionar as questões da construção social de gênero foi importante

neste trabalho.

Vale salientar que o PIBID/Capes se fez indispensável para a organização e execução da

intervenção, demonstrando, mais uma vez, a importância do desenvolvimento de projetos

voltados à prática docente.

Por fi m, ainda é necessário um intenso trabalho de sensibilização devido ao pensamento machista

predominante na formação sociocultural do nosso país, e a escola em parceria, juntamente com

projetos e/ou universidades, pode ser uma grande aliada no processo de redução de mortes por

câncer de próstata no Brasil.

2 Referências

BELINELO, R. G. S. et al. Exames de rastreamento para o câncer de próstata: vivência de

homens. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 18, n. 4, 2014, p. 697-704.

BOAVENTURA, ELOI, N. & MARINS, I. Novembro Azul: campanha de conscientização sobre o

câncer de próstata nos telejornais locais da TV Globo Nordeste. XIX Congresso de Ciências

da Comunicação na Região Nordeste. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares da Comunicação. Fortaleza. 2017.

DE LIMA, R. B.; HAHN, G. V. Câncer De Próstata E Sua Relação Com A Sexualidade Masculina:

Produção Científi ca Brasileira. Revista Destaques Acadêmicos, v. 8, n. 3, 2016.

GOMES, R. et al. As arranhaduras da masculinidade: uma discussão sobre o toque retal

como medida de prevenção do câncer prostático. Ciência & saúde coletiva, v. 13,

p. 1975-1984, 2008.

LOURO, G. L. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, [S.l.], v. 19,

n. 2, p. 17-23, fev. 2016.

MAIA, F. C. T. Eu tive Câncer de Próstata! 2012. Disponível em http://

eutivecancerdeprostata.blogspot.com.br/2012/. Acesso em 06 Fev. 2018.

PEGORARO, R. F.; CALDANA, R. H. L. Mulheres, loucura e cuidado: a condição da mulher

na provisão e demanda por cuidados em saúde mental. Saúde soc., São Paulo, v. 17, n. 2,

 p. 82-94. 2008.

SOARES, A. S. Câncer de Próstata As Barreiras para realização do toque retal. Trabalho de

conclusão de curso (especialização) em Atenção em Saúde da Família. Universidade Federal

de Minas Gerais. 2014. 26p.

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Práticas comunitárias com agricultura urbana: segurança alimentar e inclusão social com as famílias da APAE de Curitibanos-SCCleber José Bosetti 1 - [email protected]

Zilma Isabel Peixer 2 - [email protected]

Natália Camargo Rodrigues 3

Jeanie Ribeiro Wendt 4

RESUMO

A ação de extensão ora relatada consistiu em desenvolver um trabalho de recuperação e

construção de hortas urbanas com famílias vinculadas à Associação dos Pais e Amigos dos

Excepcionais (APAE) da cidade de Curitibanos. O objetivo foi melhorar as condições de segurança

alimentar das famílias envolvidas. Após um ano de intervenção, foram observados avanços

signifi cativos na relação das famílias com o trabalho nas hortas, assim como a replicação das

iniciativas fomentadas pelos extensionistas.

PALAVRAS-CHAVE

Segurança alimentar. Horta urbana. Produção agroecológica.

1 Doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC. Professor de Extensão Rural na UFSC.

2 Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC. Professora de Sociologia Rural na UFSC.

3 Graduanda em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC Campus Curitibanos.

4 Assistente social APAE Curitibanos-SC.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 201874

ABSTRACT

The present extension action consisted of developing, together with the families associated with the

Association of Parents and Friends of the Exceptional - APAE of the Curitibanos city, a work of recovery

and construction of urban gardens with the objective of improving the food security conditions of these

families. After a year of work, we observed signifi cant advances in the relationship between families

and work in the gardens, as well as identifying that these initiatives were replicated.

KEY-WORDS

Food security. Urban Garden. agroecological production.

1 Relato de experiência

A agricultura urbana é uma prática que vem crescendo nos últimos anos. A adaptação de técnicas

para cultivos em terrenos urbanos e a percepção da possibilidade de aproveitamento de espaços

ociosos – bem como as iniciativas tanto de organizações não governamentais quanto de cidadãos

para recuperar terrenos abandonados – são algumas das ações sociais que têm impulsionado o

desenvolvimento da agricultura urbana em diversas cidades do Brasil. Nesse contexto, práticas

de produção de alimento via agricultura urbana, como é o caso das hortas urbanas, ganham

importância pela contribuição que trazem à segurança alimentar da população.

Segundo Belik (2003), o conceito de segurança alimentar leva em conta três aspectos principais:

quantidade, qualidade e regularidade no acesso aos alimentos. A partir desse entendimento, Arruda

(2011) afi rma que a agricultura urbana vem sendo apontada, cada vez mais, como uma importante

ferramenta para o manejo ambiental, para a diminuição da pobreza e para a geração de renda e

emprego, desempenhando, consequentemente, um papel fundamental na construção da cidadania.

Partindo dessa perspectiva, a prática de extensão relatada neste texto – uma ação vinculada ao

projeto Agricultura Urbana e Periurbana na região de Curitibanos/SC da Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC) - Campus de Curitibanos – buscou incentivar e desenvolver práticas de

agricultura urbana com as famílias de alunos da APAE local.

Por meio de articulações entre a UFSC e a APAE, um grupo de 10 famílias foi contemplado com

a participação nas atividades propostas, a saber: (1) ofi cinas de extensão e de troca de saberes;

e (2) assessoria semanal para a construção e/ou manutenção das hortas e para a elaboração

de composteiras domésticas. Em termos gerais, a intervenção promoveu o desenvolvimento

de espaços de produção de alimentos agroecológicos e também de espaços terapêuticos.

Enquanto aqueles visavam subsidiar a segurança alimentar e nutricional das famílias, estes

buscavam fortalecer a interação entre os jovens com defi ciência e seu grupo familiar.

Para a sua operacionalização, a prática extensionista contou com a colaboração de dois alunos

bolsistas e dois alunos integrantes do Programa de Educação Tutorial (PET)/Ciências Rurais,

além de dois professores orientadores e uma assistente social da APAE.

No que se refere ao perfi l das famílias participantes, do ponto de vista econômico, todas podem

ser caracterizadas como de baixa renda. Nesse sentido, como as difi culdades socioeconômicas

se refl etem na confi guração do espaço doméstico, o que inclui o terreno da casa e o seu uso,

foi identifi cada, inicialmente, a falta de cuidado com o solo e a circulação de animais em meio

às plantas já cultivadas. Na maior parte das famílias, o trabalho nas hortas é realizado pelas

mulheres, que, paralelamente a essa função, zelam pela casa, cuidam dos fi lhos e netos e, em

alguns casos, ainda trabalham fora, como assalariadas ou diaristas.

Foi nessa realidade que a equipe procurou construir, a partir das metodologias participativas de

extensão, os espaços de produção de alimentos, visando melhorar a qualidade de vida das famílias.

O primeiro passo da intervenção foi realizar visitas às famílias para: analisar as condições

socioeconômicas e a confi guração sociocultural; observar o espaço disponível para implantação

das hortas urbanas; e proporcionar o conhecimento entre os envolvidos no projeto, em especial

os estudantes da APAE. A partir dessa etapa, foi possível planejar, entre outras técnicas, os

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modelos de horta (Figura1), as variedades dos cultivares, a organização dos espaços de plantio,

o período de semeadura e a barreira de inimigos naturais.

Figura 1: Horta tradicional.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 2: Horta vertical.

Fonte: Acervo deste projeto.

O segundo momento foi dedicado ao trabalho de reativação ou construção das hortas, com

atividades de limpeza dos terrenos, preparo do solo e dos canteiros, elaboração de hortas verticais

(Figura 2) e produção de mudas, tendo em vista as necessidades específi cas de cada família.

O acompanhamento das atividades para a manutenção das hortas foi realizado semanalmente,

com a intenção de estimular tanto a autonomia das famílias participantes na produção de

alimentos saudáveis em seus quintais (Figura 3) quanto a possibilidade de replicação dessa

experiência com os respectivos vizinhos.

Ao longo da intervenção, foi observado um aumento gradativo do empenho e da dedicação das

famílias no cuidado com as suas hortas, bem como a replicação das hortas em casas vizinhas

àquelas participantes do projeto.

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O princípio norteador das atividades com as hortas urbanas foi a agroecologia, que preconiza a

utilização exclusiva de recursos disponíveis no local da produção, dispensando o uso de insumos

externos e agroquímicos (MACHADO; MACHADO, 2005). Nessa perspectiva, procurou-se

desenvolver as técnicas da compostagem para o aproveitamento dos resíduos orgânicos, o que, além

de aliviar o problema do lixo urbano, contribui para a melhoria do solo e da produção de alimentos.

Após um ano de trabalho, observaram-se importantes progressos nas famílias participantes do

projeto. As hortas já existentes foram revitalizadas, e as famílias ampliaram o cuidado com elas.

Nas famílias que não possuíam hortas, foram criados diferentes modelos, incluindo os verticais.

Ressalta-se que, para a consecução dos resultados esperados, foi essencial o desenvolvimento

integrado de ações de inclusão social, terapia ocupacional e segurança alimentar.

Por fi m, entende-se que ação de extensão aqui relatada contribuiu diretamente para as famílias,

no que se refere aos seus processos de empoderamento, formação cidadã, utilização sustentável

de solos urbanos e produção de alimentos saudáveis.

2 Referências

ARRUDA, Juliana. Agricultura Urbana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro:

sustentabilidade e repercussões na reprodução das famílias. Tese (doutorado). Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro. 2011.

BELIK, Walter. Perspectivas para a segurança alimentar e nutricional no Brasil. Saúde e

Sociedade, São Paulo, v. 12, n. 1, p.12-20, jan-jun 2003.

MACHADO, Cyntia Torres de Toledo; MACHADO, Altair Toledo. Agricultura de base

ecológica em sistemas urbanos: potencialidades, limitações e experiências. Planaltina-DF:

EMBRAPA, 2005.

Figura 3: Horta no quintal.

Fonte: Acervo deste projeto.

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Promoção da higienização das mãos através de técnicas lúdico-educativas em um hospital público Bianca Clasen Gonçalves 1 - [email protected]

Patrícia dos Santos Bopsin 2 - [email protected]

RESUMO

A higienização das mãos é considerada um ato simples, que causa um grande impacto na saúde,

tornando-se prática indispensável em relação à assistência de enfermagem. Este trabalho tem por

objetivo evidenciar o uso de técnicas lúdicas frente ao papel do enfermeiro como educador permanente,

evidenciando a prevenção e promoção da saúde em um hospital público do Rio Grande do Sul, por

meio de simulação realística. Destacou-se o défi cit no processo de higienização as mãos, quanto

à desinfecção, principalmente nas regiões do dorso das mãos e na porção superior dos polegares.

PALAVRAS-CHAVE

Educação em Enfermagem. Educação Continuada. Higiene das Mãos. Treinamento por Simulação.

ABSTRACT

The higienização of the hands is considered a simple action, that it causes a great impact in the health,

becoming indispensable practice in relation to the nursing attendance. This work has for objective to evidence

the use of techniques playful front to the nurse’s paper as permanent educator, evidencing the prevention

and promotion of the health in a public hospital of Rio Grande do Sul, by means of realistic simulation.

The defi cit in the hand sanitization process was highlighted, as for disinfection, especially in the

regions of the back of the hands and the upper portion of the thumbs.

KEYWORDS

Education in Nursing. Continuous education. Hygiene of the Hands. Training for Simulation.

1 Acadêmica de Enfermagem da Faculdade Inedi - Cesuca.

2 Enfermeira. Mestre em Ciências Médicas (UFRGS), Especialista em Gestão de Riscos e Segurança Hospitalar (UNISINOS).

Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Inedi - Cesuca.

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1 Relato de experiência

Por caracterizar o cuidado integral, a equipe de enfermagem está exposta a diferentes riscos

ocupacionais constantemente no dia a dia, sendo o risco biológico o mais frequente (BATHKE

et al., 2013). De modo que as infecções hospitalares infl uenciam diretamente nos custos do

atendimento decorrentes de terapêuticas complementares, além do aumento do tempo de

permanência hospitalar e das taxas de morbimortalidade.

A Organização Mundial da Saúde reconhece a relevância da Higienização das Mãos (HM) e

lançou em 2007 o programa Cuidado Limpo é Cuidado Seguro, estabelecendo estratégias

de adesão à higienização das mãos. Este programa recomenda a HM frequente no contexto

assistencial à saúde, enfatizando cinco momentos de oportunidades, sendo: 1) antes do contato

direto com o paciente, 2) antes da realização de procedimento asséptico, 3) após exposição a

fl uidos corporais próximo ao paciente, 4) após o contato com o paciente e 5) após o contato com

as áreas próximas ao paciente (WHO, 2009).

A higienização das mãos é considerada um ato simples, que causa um grande impacto na saúde,

tornando-se prática indispensável no que tange à assistência em enfermagem. Esta técnica, se

realizada corretamente, torna-se efetiva, atendendo o objetivo de eliminar os agentes patogênicos.

Este trabalho foi realizado a partir da disciplina Prática de Gestão em Enfermagem da Faculdade

Inedi – Cesuca, em um hospital público e de pequeno porte da região metropolitana de Porto

Alegre, no período de agosto a dezembro de 2017.

O estudo se justifi ca por ser um tema estratégico dentro das organizações de saúde e por

promover a conscientização da importância da higienização das mãos corretamente por todos

os profi ssionais envolvidos no cuidado, desde colaboradores administrativos aos profi ssionais

que prestam cuidado direto ao paciente, enaltecendo o papel do enfermeiro como educador

permanente. E também reduzindo a transmissão de possíveis infecções e agravos à saúde.

Através do trabalho dos acadêmicos de enfermagem do 8º semestre junto ao Controle de

Infecção Hospitalar, viu-se a oportunidade de abordar ativamente o tema Higienização das

Mãos com os colaboradores mediante a participação em cinco dias consecutivos na Semana de

Enfermagem da instituição, tendo em vista a educação em saúde.

Foi utilizada como instrumento de educação uma caixa confeccionada de madeira, onde havia

na parte anterior, duas entradas para as mãos, na porção superior um feixe para visualização

interna e no interior, uma luz negra. A caixa foi pintada na cor preta fosca em seu interior para

intensifi car a luz negra. Utilizando álcool gel 70% com luminol para a demonstração das partes

não limpas adequadamente.

Com o objetivo de aliar a ludicidade à prática assistencial, a dinâmica baseou-se em três

personagens, caracterizados de “Sra. Bactéria”, “Detetive” e um Enfermeiro. A bactéria

“infectava” por onde passava, de modo que o detetive identifi cava a sujidade (Fig 1).

Figura 1: “Sra. Bactéria” e “Detetive”.

Fonte: Acervo deste projeto.

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Logo após, a enfermeira disponibilizava o álcool gel com luminol ao profi ssional “infectado” para

a higienização das mãos, conforme a prática diária e posteriormente o mesmo inseria suas mãos

na “Caixa Misteriosa” para verifi car a efi cácia da higienização e de fricção (Fig. 2).

Figura 2: Colaboradores observando a técnica de higienização das mãos.

Fonte: Acervo deste Projeto.

Figura 3: Efeito da luz negra com luminol.

Fonte: Acervo deste Projeto.

O luminol junto ao álcool gel 70% destacava as regiões onde a fricção foi efetiva, bem como nas

regiões mais escurecidas, mostrava uma fricção não efetiva pela falta de álcool gel ou tempo

de fricção (Fig. 03).

Com a visualização de suas próprias mãos, houve questionamentos e esclarecimentos sobre

quantidade de vezes do uso de álcool gel, tempo de fricção, quantidade de álcool gel a ser

utilizado, fazendo com que suas práticas de HM fossem postas à prova.

Como resultado desta ação conjunta, destaca-se o défi cit no processo de higienização as mãos,

quanto à desinfecção, principalmente nas regiões do dorso das mãos e na porção superior dos

polegares. Os enfermeiros foram os profi ssionais mais sucedidos no processo de HM.

A dinâmica teve 46 participações, alcançando todas as unidades da instituição, assim possuindo

um caráter multidisciplinar, caracterizado por uma metodologia ativa de ensino. Este momento

oportunizou uma refl exão sobre o ato de HM com diferentes categorias profi ssionais, além de

esclarecer as dúvidas que foram surgindo.

A dinâmica realizada evidenciou, não somente a importância do ato de lavar as mãos, mas

também a importância quanto aos recursos materiais disponíveis e estrutura física para que esta

prática seja efetiva. Também, considera-se a motivação do profi ssional educador e a atualização

periódica das técnicas de higienização das mãos.

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O uso de simulação realística é uma estratégia inovadora para realização de treinamentos em

instituições hospitalares, por reproduzir experiências do cotidiano sustentando um ambiente

de interações entre os participantes, facilitando o processo de ensino-aprendizagem dos

profi ssionais acerca da prevenção de infecções hospitalares.

2 Referências

BATHKE, Janaína et al. A. Infraestrutura e adesão à higienização das mãos: desafi os à

segurança do paciente. Rev Gaúcha Enferm, v. 34, n. 2, p.78-85. 2013.

World Health Organization. WHO Guidelines on Hand Hygiene in Health Care: First Global

Patient Safety Challenge Clean Care is Safer Care. p.123. 2009.

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Resgatando potencialidades: um trabalho em campo com idosos institucionalizadosBeatriz Rodrigues C. Lourenção1 - [email protected]

João Eduardo C. Pereira2 - [email protected]

Maíra Bonafé Sei3 - [email protected]

RESUMO

Relata-se uma ação extensionista, realizada por estudantes de Psicologia, em uma instituição

asilar privada. Foram desenvolvidas ofi cinas grupais com objetivos de promoção e prevenção em

saúde, utilizando-se de recursos artístico-expressivos, de culinária e de jardinagem. Percebeu-

se que a intervenção favoreceu a convivência, o resgate de potencialidades, tendo promovido

um estreitamento dos laços entre a universidade e a comunidade.

PALAVRAS-CHAVE

Intervenção em saúde. Psicologia. Recursos artístico-expressivos. Idosos institucionalizados.

Potencialidades.

ABSTRACT

An extensionist action, carried out by students of psychology, is reported in a private asylum

institution. Group workshops were developed with goals of health promotion and prevention

using artistic-expressive resources, cooking and gardening. It was noticed that the intervention

favored the coexistence, the recovery of potentialities, having promoted a closer bond between

the university and the community.

KEY WORDS

Intervention in health. Artistic-expressive resources. Institutionalized elderly. Potentials.

1 Graduanda em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina.

2 Graduando em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina.

3 Graduação em Psicologia -Universidade de São Paulo. Licenciatura em Psicologia -Universidade de São Paulo. Pós-doutorado em

Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo.

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1 Relato de experiência

A experiência foi uma ação extensionista vinculada à área da saúde em uma instituição asilar

privada, cujo público abarcado foi de idosos lúcidos que aceitaram participar das atividades

ofertadas, ocorridas ao longo de oito encontros. A intervenção pautou-se nos pressupostos

da promoção da saúde, em concordância com a ideia de Segre e Ferraz (1997), que propõem

uma saída da visão dicotômica da saúde somente enquanto ausência de doença. Considera-

se a saúde e o adoecimento como um processo adaptativo intimamente relacionado às

vivências subjetivas do indivíduo e suas inserções em seu meio.

Entendem-se, assim, os estados de saúde como um resultado do conjunto de ações que

objetivam o delineamento “de políticas públicas, reforço da ação comunitária, criação de

habilidades pessoais, participação popular e reorientação dos serviços de saúde” (RUMOR et

al., 2010, p. 675). Com isso, as ações não recaem apenas no tratamento, mas na prevenção e

promoção da saúde, que se processa tanto em nível individual como coletivo. No que se refere

especifi camente à Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), tem-se, entre outros, a

valorização de intervenções que favoreçam a convivência, o fortalecimento de vínculos, a

solidariedade e o respeito às diferenças geracionais, culturais, sociais e reativas às pessoas

com defi ciências e necessidades especiais (BRASIL, 2014).

Realizou-se um grupo com os idosos para que se pudesse trabalhar o resgate e o fortalecimento

da vinculação afetiva com colegas da instituição, e incentivar o aprendizado social e a partilha

de memórias, pois, em consonância com Vasconcelos (1999), “a Educação popular tem um

caráter coletivo, passa por um processo de ação grupal e é vivida como práxis concreta de

um grupo, ainda que o resultado do que se apresente seja absorvido individualmente”. As

atividades e seu manejo foram propostos de acordo com o perfi l etário dos participantes e

suas implicações na vivência subjetiva individual, levando em consideração a relação entre os

participantes e o ambiente no qual eles estavam inseridos.

Além disso, buscou-se fomentar o resgate do potencial criativo dos participantes, por

intermédio de ofi cinas expressivas, respeitando a individualidade, as limitações e o desejo

de cada um. Retoma-se, então, a teoria de Winnicott (1975) quanto à capacidade de criar,

que, para ele, encontra seu desenvolvimento em potencial relação ao modo como o bebê

interage com o ambiente à sua volta. Com isso, pensa-se que o dispositivo escolhido para

a intervenção pôde contribuir para uma recriação de um ambiente sufi cientemente bom,

propício à emergência desta criatividade.

As atividades distribuíram-se em oito encontros quinzenais, ao longo de quatro meses,

consistindo em ofi cinas de expressão artística, de culinária e de jardinagem. O primeiro

encontro consistiu em uma apresentação e conhecimento da instituição e suas possibilidades.

Para as demais ofi cinas, propôs-se uma continuidade temática entre elas.

Dessa forma, no segundo encontro, foi construída uma horta comunitária, deixada aos

cuidados dos participantes, visando o cultivo de especiarias. No terceiro encontro, as

atividades consistiram em experiências sensoriais, a fi m de despertar memórias afetivas

relacionadas aos ingredientes utilizados no preparo das receitas preferidas.

Já no quarto encontro, houve a preparação e a cocção de bolachas, em que os participantes

puderam resgatar o hábito de cozinhar, confeitando seus biscoitos da maneira como

desejassem. O quinto encontro destinou-se à produção de massa de modelar caseira, como

forma de se expressarem. No sexto e sétimo encontros, houve a construção e a decoração de

caixinhas individuais com a temática natalina, atendendo ao desejo dos idosos de enfeitar a

instituição e de presentear seus familiares (Figura 1).

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No último encontro, houve um encerramento que simbolizou a colheita dos frutos plantados ao longo

da intervenção, com a preparação de uma receita (Figura 2) com os condimentos colhidos da horta.

Além disso, confeccionou-se um pertence, materializando o resgate da potencialidade de produção.

Figura 1: Presentes confeccionados pelos participantes.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 2: Ofi cina de culinária.

Fonte: Acervo deste projeto.

Em duas ocasiões, somaram-se às atividades músicas indicadas pelos participantes, o que

contribuiu para o resgate das memórias afetivas e engajamento nas atividades.

A partir da intervenção, os participantes tiveram a oportunidade de desenvolver atividades que

resgataram o seu potencial criativo (Figura 3), afi nal “pensa-se que a atividade de fazer arte se

mostra como uma atividade simbólica que abrange infl uências das emoções do passado que

passam a ser novamente experienciadas no presente” (SEI, 2011, p. 32), bem como tiveram

um espaço para expressar e realizar seus desejos. A fala de um dos participantes demonstra

a valorização desse trabalho: “hoje, mais do que nunca, eu faço questão de fazer a atividade!”.

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Caminho Aberto - Revista de Extensão do IFSC | ano 5 | n. 9 | dezembro 201884

A criação do vínculo foi fundamental, estabelecido a partir do compartilhamento de afetos e

experiências, criando-se uma relação de confi ança entre coordenadores e participantes. Ao

fi nal, os idosos se despediram com muitos agradecimentos, demonstrando a satisfação com o

trabalho, e até um pesar pelo fi m das atividades, evidenciando um desejo de continuidade da

parceria. Pensa-se que a vinculação às atividades foi satisfatória, haja vista que dos oito idosos

lúcidos institucionalizados, seis participaram das atividades ativamente e com frequência.

Cabe pontuar que essa ação se justifi ca pelo fato de que a instituição não contava com o

trabalho de Psicologia em sua equipe multidisciplinar, tendo passado por experiências, nesse

campo de trabalho, com estagiários que ofertavam apenas psicoterapia individual.

Nesse sentido, a intervenção trouxe importantes contribuições à prevenção e promoção da

saúde dos participantes, sendo uma experiência diferente com a área da Psicologia, ofertada

através de atividades coletivas, incentivando a criatividade e a expressividade, como formas de

construir uma outra dinâmica de trabalho terapêutico.

Considera-se, então, essa proposta desenvolvida como uma experiência a ser reproduzida

e pesquisada, fomentando o desenvolvimento de tecnologias de intervenção junto a idosos

institucionalizados.

Por fi m, acredita-se que essa modalidade de trabalho, em seu cumprimento da proposta de

intervenção no campo da promoção da saúde, bem como a concretização da parceria entre

universidade e a sociedade, pela via da extensão, reitera a validade dessa ação.

2 Referências

BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 2.446, de 11 de nov. de 2014. Redefi ne a Política

Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Diário Ofi cial União. Brasília, DF, dez. 2014.

RUMOR, P. C. F.; BERNS, I.; HEIDEMANN, I. T. S. B.; MATTOS, L. H. L.; WOSNY, A. M. A

Promoção da Saúde nas Práticas Educativas da Saúde da Família. Cogitare Enfermagem,

v. 15, n. 4, p. 674-680, 2010. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.

oa?id=483648973012>. Acesso em: 27 fev. 2018.

SEGRE, M.; FERRAZ, F. C. O conceito de saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.

31, n. 5, p. 538-542, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_

arttext&pid=S0034-89101997000600016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 27 fev. 2018.

SEI, M. B. Arteterapia e psicanálise. São Paulo: Zagodoni, 2011.

SILVA, R. C. Metodologias participativas para promoção de saúde e cidadania. São

Paulo: Vetor, 2002.

VASCONCELOS, E. M. Educação popular e atenção à saúde da família. 2ª ed. São Paulo:

Hucitec, 1999.

WINNICOTT, D.W. O Brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975.

Figura 3: Composição grupal durante ofi cina de massa de

modelar.

Fonte: Acervo deste projeto.

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Segurança Alimentar e Valorização do Protagonismo Feminino na Agricultura FamiliarVictória Luiza Schelbauer de Lima 1 - [email protected]

Maiara Soares Fragoso 2 - [email protected]

Vilson Cesar Schenato 3 - [email protected]

RESUMO

Este relatório discute sobre uma experiência de projeto de extensão que tem como objetivo

refl etir sobre a desigualdade de gênero no meio rural e abordar questões de segurança

alimentar. Na dinâmica produtiva da Agricultura Familiar, as mulheres têm conquistado mais

espaço, porém, em muitos casos, ainda sofrem com a cultura machista que as coloca apenas

como meras ajudantes nas atividades. Para atingir os objetivos do projeto, foram realizadas

palestra, seguidas de entrevistas e discussões sobre o assunto.

PALAVRAS-CHAVE

Agricultoras. Atividades Rurais. Valorização da Mulher. Alimentação Segura.

ABSTRACT

This report discusses an extension project experience aimed at refl ecting on gender inequality

in rural areas and addressing food security issues. In the productive dynamics of family farming,

women have gained more space, but in many cases still suffer from the sexist culture that places

them only as mere helpers in activities. To achieve the project objectives, a lecture was held,

followed by interviews and discussions on the subject.

1 Concluinte do Superior de Tecnologia em Alimentos (IFSC – Campus Canoinhas).

2 Concluinte do Superior de Tecnologia em Alimentos (IFSC – Campus Canoinhas).

3 Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande, professor da área de Ciências Humanas e Sociais,

atuando em diversos cursos do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC – Campus Canoinhas).

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KEYWORDS

Women Farmers. Rural Activities. Appreciation of Women. Safe Feed.

1 Relato de experiência

O objetivo deste projeto de extensão foi compartilhar conhecimentos com comunidades rurais,

fazendo uma refl exão sobre a atividade produtiva das mulheres, bem como sobre sua condição

feminina. Os minicursos foram organizados para numa primeira etapa abordar aspectos sobre

a Segurança Alimentar e, logo em seguida, numa segunda etapa, estabelecer debates sobre

direitos, a violência contra a mulher, machismo e as diferenças entre os gêneros no trabalho rural.

A divisão de gênero está agudamente ligada com as representações construídas socialmente,

compartilhadas e socializadas favorecendo a dominação masculina que se impõe nas relações

de gênero. Assim, no meio rural brasileiro, a fi gura masculina é tida como executora do trabalho

pesado, enquanto a mulher realiza o trabalho doméstico e ‘’auxilia’’ o marido no trabalho rural.

Desta forma, no meio rural, assim como em outras áreas da sociedade, o homem é mais

valorizado do que a mulher (PAULILO, 1982).

O caminho metodológico se deu de início pelo levantamento bibliográfi co sobre o tema. Em

seguida houve a defi nição do público-alvo, tendo em vista o recorte de gênero e produtivo, ou seja,

mulheres rurais que trabalham com a produção de alimentos. No estabelecimento dos primeiros

contatos com as localidades rurais do município de Canoinhas, houve de início certa difi culdade

para a participação das mulheres, visto que, entre os meses de fi m de ano, a lavoura de fumo

demanda muito trabalho de toda a família, inclusive das mulheres. Apesar das difi culdades, foi

possível reunir agricultoras interessadas nas seguintes comunidades rurais: Salto da Água Verde,

Forquilha e Rio do Pinho. No total foram 20 (vinte) participantes que trocaram conhecimentos,

interagiram, contaram suas experiências e histórias ligadas à condição feminina.

Sob a coordenação do Prof. Dr. Vilson Cesar Schenato foi elaborado e aplicado um minicurso

de 4 horas em cada uma das localidades, dividido em quatro momentos e realizado de forma

verbal, através de debates, meios audiovisuais, slides e atividades práticas demonstrativas,

estimulando a participação ativa do público, que, apesar da timidez inicial, iam, aos poucos, se

soltando e se envolvendo nas discussões.

A primeira parte do minicurso nas comunidades foi uma breve introdução sobre o projeto de

extensão e a aplicação de questionário prévio para conhecer melhor o perfi l das agricultoras do

projeto, principalmente nos aspectos produtivos dentro do meio rural e sobre as suas relações

familiares e de gênero. Foi possível constatar que as agricultoras trabalham em todas as fases do

ciclo produtivo do fumo, desde o plantio até a sua colheita e secagem nas estufas. Além disso,

elas produzem alimentos em conserva, biscoitos e derivados lácteos para incrementar a renda

familiar, atividades que podem ser entendidas como estratégias de resistência à dominação

masculina, pois se constituem em rendas alternativas ao fumo, elevando a autonomia das

mulheres pesquisadas nas entrevistas.

Desta forma, destaca-se a importância da segunda parte do minicurso, na qual foi realizada

uma palestra sobre Segurança Alimentar e Boas Práticas de Fabricação aplicadas aos produtos

mais produzidos por elas. Tais conhecimentos foram proveitosos, tendo em vista que cerca

de 80% das agricultoras participantes nunca tiveram a oportunidade de realizar cursos de

aperfeiçoamento na área. Naquela ocasião, as dúvidas foram sanadas e era perceptível o

interesse das participantes em buscar mais conhecimento relacionado ao tema.

A capacitação e os conhecimentos adquiridos agregam valor ao trabalho e elevam o nível de qualidade

dos produtos por elas produzidos, além de auxiliar no desenvolvimento intelectual de cada uma.

A terceira parte do minicurso foi uma palestra sobre o trabalho da mulher dentro da Agricultura

Familiar, abordando o acesso às políticas públicas e aos direitos das mulheres. Em seguida,

abriu-se para debates, troca de informações e depoimentos acerca do protagonismo feminino,

o homem e a sua posição de liderança, serviços domésticos, desigualdades reforçadas pelo

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machismo, preconceitos e a falta de reconhecimento da mulher na agricultura e em geral. Pode-

se notar que muitas delas não são valorizadas no trabalho que fazem “fora” de casa, pois tais

atividades, principalmente na lavoura, são vistas como “ajuda”, ou seja, apenas como atividades

secundárias e que “auxiliam” a fi gura masculina.

Historicamente para homens e mulheres foram reservados lugares sociais desiguais na

sociedade e essa assimetria é sinônimo de opressão para com as mulheres. Além disso, as

mulheres da classe trabalhadora sofrem ainda mais, pois existe ainda distinção entre elas e as

mulheres da classe burguesa (TOLEDO, 2005 apud GONÇALVES et al., 2015). Ao pensar a

realidade rural, a condição feminina fi ca ainda mais precária, pois as difi culdades de acesso a

serviços e direitos básicos de cidadania são ainda maiores.

Cada localidade, apesar da proximidade territorial, apresentou as suas particularidades. Na

localidade do Salto da Água Verde (Figura 1), todas as agricultoras produzem conservas e

geléias e realizam os trabalhos domésticos. Quando questionadas sobre a participação dos

maridos na execução destas atividades, apenas uma afi rmou que este divide as tarefas com ela.

Em relação às decisões no interior da família, afi rmou que o homem decide sobre as questões

da lavoura e a mulher sobre as questões da casa.

Uma participante relatou que já sofreu violência doméstica e outra afi rmou que mesmo fazendo

as mesmas atividades, e às vezes até mais, sempre foi vista como “ajudante” do marido.

Figura 1: Ministrantes e Agricultoras da localidade Salto da Água Verde.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 2: Ministrantes e Agricultoras da localidade Forquilha.

Fonte: Acervo deste projeto.

Na localidade da Forquilha (Figura 2) cerca de 60% das agricultoras relataram que as decisões,

tanto da casa quanto da lavoura, são tomadas por toda a família. Uma delas expôs que na

sua casa os afazeres domésticos fi cam por conta das mulheres e que estas ainda realizam

atividades na lavoura, destacando que realizam muitas atividades e raramente são valorizadas

por isso. As demais participantes não relataram experiências, porém concordaram com o relato.

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Na localidade de Rio do Pinho (Figura 3) todas relataram produzir conservas, já em relação à

tomada de decisões em casa e na lavoura, algumas responderam que o marido toma todas

as decisões e outras relataram que as decisões da lavoura são centralizadas no marido e as

decisões relacionadas a casa fi cam por conta das mulheres. Não houve nenhum tipo de relato

relacionado à violência, entretanto, todas concordaram que a mulher não é valorizada da maneira

que deveria e que o homem, na maioria das vezes, possui privilégios, que são restrições para as

mulheres, tais como: sair à noite e encontrar os amigos.

Figura 3: Ministrantes e Agricultoras da localidade

Rio do Pinho.

Fonte: Acervo deste projeto.

Figura 4: Coordenador do Projeto, Ministrantes e

Agricultoras de Rio do Pinho.

Fonte: Acervo deste projeto.

Nos questionários, ao pedir para enumerarem o que as suas famílias mais valorizam em relação

ao trabalho realizado por elas, o que mais aparece nas respostas é: 1º fazer comida, 2º limpar

e arrumar a casa, 3º lavar roupa; seguidos de trabalhos “fora de casa” como: cuidar / tratar

animais, trabalhar na horta, cuidar do jardim e trabalhar na lavoura. As respostas delas podem

indicar que, no universo social desigual em que vivem, os outros membros da família veem como

mais importantes as atividades das mulheres no espaço doméstico da casa e adjacências. A

lavoura é representada socialmente como o espaço masculino por excelência e os rendimentos

ali ganhos fi cam geralmente sob o controle do homem.

Com base no projeto de extensão, nota-se que a cultura machista permanece no meio rural

do Planalto Norte Catarinense, fazendo com que as agricultoras familiares trabalhem de forma

igual, mas sejam vistas apenas como “ajudantes” no campo, o que resulta no enfretamento de

inúmeras opressões resultantes da desigualdade de gênero. Tais questões serão aprofundadas

em um futuro projeto de pesquisa.

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A troca de saberes dentro da ação extensionista promoveu a refl exão e aprendizagem coletiva.

Foram debates enriquecedores que fi zeram com que todas as participantes saíssem pensando

diferente dos minicursos. São refl exões como estas que podem contribuir para o empoderamento

feminino na sociedade mais ampla e também nas comunidades rurais, diminuindo a desigualdade

de gênero nas tarefas domésticas e da propriedade familiar como um todo.

Por fi m, o projeto possibilitou a aproximação e interação do IFSC com a comunidade local,

através dos extensionistas, agregando conhecimento para professor, bolsistas e agricultoras.

A rede de contatos que se estabeleceu permite que futuramente possamos desenvolver novos

trabalhos com as agriculturas e /ou as comunidades a que pertencem.

2 Referências

GONÇALVES, Micheli Suellen Neves; MOLINA, Mônica Castagna; CORDEIRO, Georgina

Negrão. Gênero e Constituição da Mulher Camponesa: Um estudo das Produções

Acadêmicas sobre Gênero na formação proposta pela Educação Superior do Campo no Brasil

de 2011 a 2015. Universidade Estadual de Maringá. 2016.

PAULILO, Maria Ignez S. O Peso do Trabalho Leve. Ciência Hoje, n. 28, 1987.

TOLEDO, C. Mulheres o gênero nos une, a classe nos divide. São Paulo: Instituto José

Luís e Rosa Sundermann, 2005.

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