revista brasileira de biblioteconomia e documentação

196
REVISTA BRASILEIRA DE  VOLUME 8 ÚMEROS /4 JULHO/DEZEMBRO 1985 rrr...* *.?• CESSO COOPERATIVO À NFORMAÇÃO  ••••••  14 °  ONGRESSO  RASILEIRO  E  IBLIOTECONOMIA  OCUMENTAÇÃO  RECITE  E .  0  5  E  ETEMBRO  E  987  cm  Digitalizado  gentilmente  por:  

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v. 18, n. 3/4

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  • REVISTA BRASILEIRA DE

    3i3LiOLECOnOIHiA

    E DcumEniiAco VOLUME 18 NMEROS 3/4 JULHO/DEZEMBRO 1985

    rrr...*!*.? ACESSO COOPERATIVO INFORMAO

    14 CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAO RECITE - PE. - 20 A 25 DE SETEMBRO DE 1987

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • Federao Brasileira de Associaes de Bibliotecrios FEBAB Diretoria 1984/1986 May Brooking Negro Presidente Carminda Nogueira de Castro Ferreira Vice-Presidente Maria Anglica Carneiro Martorano Secretria Geral Helena Gomes de Oliveira Primeira Secretria Humberto Sampaio Lima Segundo Secretrio Pedro Luiz Martinelli Primeiro Tesoureiro Maria Arete PivarI Segunda Tesoureira Anibal Rodrigues Coelho Observador Legislativo Maria de Ftima de C. F. Zanin de Freitas Editora Maria de Lourdes Cortez Romanelli Assessora de Valoriz. e Divulg. Profissional Associaes fiiiddas: Associao Paulista de Bibliotecrios Associao Profissionar dos Bibliotecrios de

    Pernambuco Associao Profissional de Bibliotecrios do

    Rio de Janeiro Associao RIograndense de Bibliotecrios Associao Profissional dos Bibliotecrios do

    Estado da Bahia Associao dos Bibliotecrios Municipais de

    So Paulo Associao de Bibliotecrios de Minas Gerais Associao dos Bibliotecrios do Distrito

    Federal Associao dos Bibliotecrios do Cear Associao Campineira de Bibliotecrios Associao dos Bibliotecrios So Carlenses Associao Paranaense d Bibliotecrios Associao Bibliotecria do Paran Associao Profissional de Bibliotecrios do

    Amazonas Associao Profissional de Bibliotecrios do

    Estado do Maranho Associao Profissional de Bibliotecrios da

    Paraita Associao Catarinense de Bibliotecrios Associao dos Bibliotecrios do Rio Grande

    do Norte Associao Profissional de Bibliotecrios do

    Mato Grosso do Sul Associao Profissional dos Bibliotecrios do

    Esprito Santo Associao de Bibliotecrios do Estado do Piau < Associao Alagoana dos Profissionais em

    Biblioteconomia Associao de Bibliotecrios do Estado de

    Mato Grosso Associao dos Bibliotecrios de Rondnia Associao Profissional dos Bibliotecrios de

    Gois Associao Profissional dos Bibliotecrios de

    Sergipe Associao Profissional dos Bibliotecrios do

    Estado de So Paulo

    Revista Brasileira de BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAO

    rgo oficial da Federao Brasileira de Associaes de Bibliotecrios

    Editora: Maria de Ftima de C. F. Zanin de Freitas

    Redatora: Carminda Nogueira de Castro Ferreira

    Secretrios: Pedro Luiz Martinelli Maria Anglica Carneiro Martorano

    Jornalista responsvel: Maria Alice Amoroso Nunes

    (11.239 MTb-DRT-SP)

    Tradutora: Ana Maria Martinelli

    Conselho Editorial: Dra. Neusa Dias de Macedo Terezine Arantes Ferraz Carminda Nogueira de Castro Ferreira

    Publicao feita com colaborao do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Publicao: 4 n^ em 2 Nmeros atrasados: Cr$ 5.000 (sede da FEBAB) Assinatura at 1985 (2 fascculos; Pessoa fsica Cr$ 25.000 Pessoa Jurdica Cr$ 40.000) Pagamentos em cheque visado pagvel em So Paulo ou ordem de pagamento em nome da Federao Brasileira de Associa- es de Bibliotecrios, ou ao Banco do Brasil S/A. Agncia 9 de Julho, conta n9 70.599-3. Estrangeiro: US$ 30 dlares.

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • REVISTA BRASILEIRA DE

    CONTENTS ^ 3i3LiOEECOnOmiA

    E DOCUlilEnLCAO

    20

    27

    39

    54

    83

    99

    105

    111

    EDITORIAL

    ARTICLES

    Nice Figueiredo Community information as a means of democratization of the Brazilian Public Library.

    Rose iVIary Juliano Longo Information transfer and the adoption of agriculturial and cattie raising practices.

    Mitsi Westphal Tayior Library services in rural areas in Santa Catarina.

    Vera Gailo Yahn Evaluation of Brazilian journals of Agriculture.

    Maria de Lourdes Cortes Romanelli The Brazilian librarian job market formai and aiternative.

    Rosa M. de S. Lanna, Todska Badke Library associations: a comparative study.

    Cleto Joo Stival Cooperative acess to information.

    Marlia M. D. Costa Knoll State legislation Santa Catarina situation.

    Marilene R. de Oliveira et alii Document reproduction in agriculture and cattie raising research: the use of a mimeograph.

    Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao, So Paulo Volume 18, numbers 3/4, pages 1-190 Jul./Dec. 1985 ISSN 0100-0691

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  • DOCUMENTOS

    May Brookng NegrjEo Relatrio de Viagem aos Estados Unidos.

    Maria Alice Barroso Brasil: a preservao da cultura atravs da tecnologia.

    Itlia M. F. da Silveira, Ins R. P. Kruel Biblioteconomia urgente.

    Ciclo de Estudos da C.B.B.P.: Concluses e Recomendaes.

    XIH C.B.B.D. Recomendaes finais.

    Aos participantes do V COLE.

    MOVIMENTO ASSOCIATIVO

    TESES

    Maria Brascher B. Medeiros, Mestre Levantamento e anlise da terminologia brasileira em Ciffncia da Infor- mao.

    Solange Puntel Mostafa, PhD Epistemologia da Biblioteconomia.

    BIBLIOGRAFIA

    Denis Gabos Linguagers para processamento distribudo.

    LEGISLAO EVENTOS E CURSOS

    NOTICIRIO

    Toda a correspondncia para a RBBD deve ser dirigida Federao Brasileira de Associaes de Bibliotecrios

    Rua Avanhandava, 40, cj. 110 01306 - So Paulo - SP Fone: (011) 257-9979

    Digitalizado gentilmente por:

    I Sc a n st eu

    11 12 13

  • REVISTA BRASILEIRA DE

    f coKTtun ^ 3i3LiOcECOnOliHA

    E DOCUlilEneAO

    EDITORIAL

    ARTICLES

    Nice Figueiredo Community information as a means of democratization of the BrazUian Public Library.

    Rose Mary Juliano Longo Information transfer and the adoption of agriculturial and cattie raising practices.

    Mitsi Westphal Tayior Library services in rural areas in Santa Catarina.

    Vera Gallo Yahn Evaluation of BrazUian journals of Agriculture.

    Maria de Lourdes Cortes Romanelli The BrazUian librarian job market formai and aiternative.

    Rosa M. de S. Lanna, Todska Badl

  • DOCUMENTS

    May Brooking Negro 115 Report of a trave! to the U.S.: IFLA, OEA, Public Libraries.

    Maria Alice Barroso Brazil: preservation ofculture and the use of technology.

    Itlia M. F. da Silveira, Ins R. P. Kenel Library Science: URGENT!

    BrazUian Committee of Pubiic Libraries Conclusions of the Ist. Series ofStudies.

    XIII BrazUian Congress of Library Science and Documentation: Final statements.

    To the participants of the VI COLE.

    LIBRARY ASSOCIATIONS NEWS

    THESES

    Maria Brascher B. Medeiros, M.A. The Information Science terminology used in BrazH: survey and analy- sis.

    Solange P. Mostafa PhD Library Science epistemology.

    BIBLIOGRAPHY

    Denis Gabos Languages for shared processing.

    LEGISLATION

    EVENTS AND COURSES

    NEWS

    Quarterly publication "Federao Brasileira de Single number - US$ 30.00 Associaes de Bibliotecrios", abroad (1982) - US$ 15.00 Address - rua Avanhandava, 40, cj. 110 Orders should be placed to CEP 01306 - So Paulo - SP - Brazil

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • EDITORIAL

    Nice de Figueiredo, profissional que tem tentado abrir novos cami-

    nhos Biblioteconomia brasileira muito apegada ainda a conceitos ultra-

    passados, abre nossa coletnea de artigos neste nmero apresentando um

    trabalho merecedor da maior ateno, no qual estabelece os requisitos ne-

    cessrios para implantao de um servio de informao voltado para os

    grupos sociais mais necessitados de apoio. S por este artigo se justifica- ria desculpar o atraso da publicao deste nmero da R.B.B.D. Mo no

    s. O Trabalho de Rose Mary J. Longo, pelo interesse que suscitou no

    meio biblioteconmico portugus; o relato de Mitsi Westphal Taylor na

    Conferncia Geral da IFLA em Chicago; a sntese da dissertao de mes-

    trado de Vera Gallo Yahn no IBICT; e todos os demais artigos de Rosa

    Maria e Todska, do tcnico da CELEPAR, Cleto Joo Stival, da MarHa

    Knoll e da MarUene Regina e suas colegas so de uma importncia muito

    grande na abertura de novas perspectivas em nossa rea.

    De entremeio, Maria de Lourdes Cortes RomaneUi apresenta uma

    avaliao de nosso mercado de trabalho, merecedor de toda a ateno.

    A srie "Documentos" corresponde, praticamente, a outra srie de

    artigos; assim seriam considerados se no tivssemos tanto material j atra- sado na publicao.

    Chamamos ainda a ateno para a bibliografia extremamente especia-

    lizada e valiosa de autoria de Denis Gabos.

    J comum encerrar este Editorial com pedidos de desculpa pelo

    Digitalizado gentilmente por:

  • atraso. Desta vez no faremos isso. Aceitamos humildemente as crticas

    (por vezes indelicadas) que recebemos pois elas tm fundamento e, para aqueles que compreensivamente so pacientes enviamos uma mensagem:

    O esforo que a FEBAB vem desenvolvendo dentro de sua compe-

    tncia legal, para aperfeioar a formao tcnico-profissional dos bibliote-

    crios, dentro da reduo de despesas necessria na nova realidade econ-

    mico-financeira do Pas e da precariedade de suas fontes de receita, nem

    sempre bem compreendida pelos prprios bibliotecrios. Para todos os

    que trabalham no mercado editorial de revistas eruditas, o sistema de pu-

    blicao, sem lastro financeiro suficiente, aim de caro incmodo. A tei-

    mosia e abnegao de meia dzia de colegas que, com inteno de servir

    classe, assumiram postos de direo- merecem vossa compreenso.

    Muito obrigada. Colegas

    C.N. de C.F.

    "A luta contra o erro tipogrfico tem algo de homrico. Durante a reviso, os erros se escondem fazendo-se posi-

    tivamente invisveis. Mas assim que o livro sai, tornam-se visibllssimos, verdadeiros sacis a nos botar a lngua em to- das as pginas.

    Trata-se de um mistrio que a Cincia ainda no conse- guiu decifrar. . ."

    Monteiro Lobato

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAAO DA BIBLIOTECA

    PBLICA BRASILEIRA

    Nice Figueiredo*^

    RESUMO

    A importncia da implantao de servi- o de informao para a comunidade nas bibliotecas pblicas brasileiras. Conceituai terico, criticas, preparao de pessoal e descrio do desenvolvimento destes ser- vios em bibliotecas pblicas americanas e inglesas. Requisitos necessrios implan- tao destes servios, tipos de atividades desenvolvidas por bibliotecas atuando co- mo agncia direta de informao comu- nidade ou como suporte s agncias da comunidade.

    ABSTRACT

    Discussion on the need for the esta- blishment of community Information ser- vices in the Brazilian public libraries. Theoricam concepts, criticisms, training of personnel and description of the deve-

    A Biblioteca Pblica Brasileira pode se tornar uma instituio democrtica por excelncia ao prestar servio de informa- o para a comunidade, i.e., uma proviso especial de servio para aquelas pessoas, na comunidade local, que tm acesso limi- tado s fontes que podem auxiliar na so- luo dos problemas do dia-a-dia. Para is- to, a Biblioteca Pblica deve ampliar o seu servio de referncia, procurando atingir aqueles grupos sociais mais necessi- tados de apoio, inclusive dirigindo o indi- vduo s agncias que podem auxili-lo, realizando assim o que se chama de "re- ferral".

    A experincia e a prtica em outros pases atestam ser esta uma funo das mais expressivas para uma Biblioteca P- blica que deseja realmente atuar como uma instituio social. Esta atividade de

    Pesquisador Titular IBICT/ECO-UFRJ Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/41:7/9

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  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAO DA BIBLIOTECA PBLICA BRASILEIRA

    lopment of these services in American and English public libraries. Necessary steps for the establishment of these servi- ces; types of activities developed by libra- ries performing as agencies for communi- ty information or as support for agencies in the community.

    informao para a comunidade deve me- recer assim, a ateno daqueles bibliotec- rios brasileiros desejosos de realizar tare- fas que atestem o seu envolvimento com a sua comunidade e comprovem a funo social da biblioteca pblica ou, ainda, o papel da biblioteca numa sociedade em rpidas transformaes.

    Em ocasies anteriores quando trata- mos deste assunto, ou seja, em 1979 na lia. REBCI e em 1982 no Frum de De- bates sobre Biblioteconomia, ambas ocor- ridas no Rio de Janeiro, e, ainda, em 1981 em Manaus, onde lecionamos sobre servios de referncia em diversos tipos de bibliotecas e salientamos este servio de informao para a comunidade em biblio- tecas pblicas, sentimos no ter motivado suficientemente os bibliotecrios brasilei- ros para esta atividade. Atribumos este fato ao momento poltico de ento, no conducente ou propcio para este tipo de prestao de servio pblico.

    Contudo, historicamente, conforme o estudo feito por Susana Mueller, o papel da biblioteca pblica evoluiu ou foi se al- terando, de uma instituio voltada educao do cidado, do alargamento da sua cultura e do seu lazer, para estas no- vas funes, "de carter comunitrio, liga- das necessidade de informao para ati- vidades dirias". A concluso que chegou a autora no seu trabalho foi de que as funes bsicas da biblioteca pblica tm se mantido "e permanecero as mesmas, i.e., a preservao, organizao e difuso do conhecimento ou informao". Ou, conforme Shera: conservao dos regis- tros gravados, auto-educao e estmulo

    Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/41:7/19, Dez/85

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  • Nice Figueiredo

    leitura, difuso ativa da informao. O que tem mudado e continuar mudando, afirma ela, so as formas de desempenho e o uso que feito das atividades de Bi- blioteca Pblica.

    E o fator, ou a mola mestra que aciona ou condiciona estas mudanas de desem- penho e uso das bibliotecas pblicas o contexto de um dado moment histrico, e para este contexto de mudanas pol- ticas e sociais que esto ocorrendo no pas que os bibliotecrios brasileiros de- vem estar atentos. o momento propcio para a implantao de servios realmente relevantes comunidade, democratiza- dores, por assim dizer, da biblioteca p- blica, que passaria a servir no apenas queles indivduos alfabetizados da classe mdia e estudantes que procuram a bi- blioteca, mas sim a nossa grande massa de desvalidos, desfavorecidos e oprimidos que no tm conhecimento ainda do que seja uma biblioteca, e para os quais a in- formao pode significar uma melhoria real, o alcance de uma soluo, a obten- o de um benefcio social.

    Assim, a informao para a comunida- de na Inglaterra foi uma atividade que nasceu acionada pelo contexto histrico particular de uma nao em guerra. O Ci- tizens Advice Bureau (CAB) ou Escritrio para Aconselhamento dos Cidados, foi criado em 1939 para auxilair as pessoas com problemas pessoais e sociais origina- dos do estado de guerra que envolvia o pas. Este servio desenvolveu-se atravs dos anos numa organizao de carter na- cional, com uma rede atualmente de 800 escritrios pelo pas, na maior parte aten- Revlsta Brasileira de Biblioteconomia e Docume

    didos por voluntrios, com tendncia de contar com pessoal assalariado. Estes es- critrios oferecem atendimento de carter geral, com a finalidade de aliviar o infor- tnio, atravs do fornecimento de aconse- lhamento e informao gratuita, confi- dencial, imparcial e independente, sobre qualquer assunto que qualquer pessoa te- nha necessidade.

    JMos Estados Unidos, a turbulenta d- cada de 60 ocasionou mudanas em todo o pas e em muitas de suas instituies, inclusive as bibliotecas, que tiveram que se avaliar e mudar, colocando maior nfa- se na responsabilidade social de servir a todas as pessoas. Nesta poca foi publica- do o trabalho de Kahn; Neighbourhood Information Centers que relatava justamente a experincia britni- ca com os CAB e que deu origem a cria- o da Social Responsabilities Roundta- ble e o Office of Library Service to the Disadvantaged, pela ALA. Este movimen- to, por sua vez, motivou as bibliotecas a iniciarem a prestao de servios que fo- ram chamados de Information & Refel^ral (I & R) e servios de extenso (reach out) para servir as suas comunidades de manei- ra que parecia mais de acordo com a po- ca, i.e., servios de informao necessria grupos distintos da comunidade.

    Historicamente, ento, a idia de infor- mao para a comunidade nasceu na In- glaterra, mas esta idia foi transplantada para os Estados Unidos, inspirando os bi- bliotecrios a criarem estes servios den- tro das bibliotecas pblicas, o que aconte- ceu em fins da dcada de 60, sendo pio- neira a Free Library de Baltimore. Poste-

    jo 18(3/4):7/19, Dez/85 9

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  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAO DA BIBLIOTECA PBLICA BRASILEIRA

    riormente, j na dcada de 70, os bibliote- crios ingleses, vendo o exemplo america- no, comearam a desenvolver esta idia nas bibliotecas pblicas inglesas, com uma gama variada de servios, enquanto que o modelo americano de I & R tem dois ob- jetivos principais; 1. Realizar a ligao entre o usurio com

    um problema e a agncia apropriada para fornecer a resposta;

    2. Fornecer agncia provedora da infor- mao o feedback do usurio. Nos Estados Unidos outras grandes bi-

    bliotecas pblicas seguiram o exemplo de Baltimore, e com auxflio federal, torna- ram accessveis servios de informao comunidade,, salientando-se o trabalho de Clara Jones em Detroit* e o projeto deno- minado Neighbourhood Information Cen- ters Program envolvendo os sistemas de Atlanta, Cleveland, Detroit, Houston e Queens em Nova York. Este programa te- ve como objetivo mostrar a factibilidade de utilizar ramais de bibliotecas para for- necer servio de I & R; o foco da ativida- de do projeto foi a realizao de pesquisa e de levantamento das necessidades das comunidades, e a implementao prtica do servio foi feito em dois ramais de ca- da uma das cinco cidades.

    Um dos principais objetivos deste pro- grama foi: "Demonstrar aos residentes vizinhos bi- blioteca e comunidade em geral, que a biblioteca pblica urbana pode ser uma

    * vide explicao detalhada desta Implantao na nossa publicao: Avaliao de colees e estudos de usurios p. 55-60.

    10

    fora vital na vida diria, pois pode forne- cer informao gratuita e encaminhar os moradores s fontes adicionais de infor- mao e auxlio; que a biblioteca pode se adaptar as maneiras no tradicionais para atender s necessidades daqueles que no haviam previamente feito uso dos servios da biblioteca pblica, nem tinham tido qualquer experincia ou conhecimento do papel que a biblioteca pblica pode ter na vida diria dos residentes de uma comuni- dade"; e que pode fornecer informao para a sobrevivncia ou de "referral" para pessoas que esto em faixas mais baixas de salrio e que podem ter pouca ou limi- tada educao".

    Assim, na realidade, estes servios se concentram no atendimento das necessi- dades de informao dos grupos scio- econmicos mais baixos da comunidade. Bsicamente, so mantidos catlogos ex- tensos sobre as agncias de auxlio exis- tentes na comunidade e a biblioteca colo- ca o cliente diretamente em contacto com a agncia apropriada, geralmente por tele- fone.

    O momento histrico vivido pelas bi- bliotecas pblicas urbanas nos Estados Unidos, na poca do transplante desta idia da Inglaterra, era, segundo a descri- o de um autor, de uma instituio sob ataque, interna e externamente. Externa- mente, o problema pode ser visto como tendo surgido durante a dcada turbulen- ta de 60 e com aparecimento do livro de Michael Harrington, The other Amrica, que mostrou, pela primeira vez e de ma- neira contundente, o outro lado, o lado da misria existente no pas, e que incen-

    Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/4);7/19, Dez/85

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • Nice Figueiredo

    diou a conscincia nacional, dando ori- gem a estudos e coleta de estatfsticas pelo governo por anos a seguir. Do lado prti- co, provocou os amplos programas sociais do governo Johnson (The Great Society; War on Poverty) e, eventualmente, criou a preocupao federal em tornar as biblio- tecas mais relevantes s necessidades dos desvalidos. Some-se a este ambiente a grande argumentao pblica em torno do envolvimento do pas no Vietn, j nos fins da dcada de 60 e incio da de 70. Nesta poca, a largueza dos anos dos programas sociais democrticos (com a asceno do republicano Nixon) estava terminada. O financiamento federal das bibliotecas pblicas passou a representar apenas uma frao do enorme oramento do Ministrio da Sade, Educao e Bem Estar, cabendo aos governos locais a ma- nuteno das bibliotecas pblicas que ti- veram assim que lutar pelos seus oramen- tos juntamente com os outros rgos de servios pblicos. Por sua vez, os governos locais estavam se vendo a frente com ma- cios gastos para a educao, sem contar mais com o auxlio federal e comearam a questionar o gasto na educao pblica. As bibliotecas pblicas que estiveram sempre associadas educao e tinham prosperado como instituies quase edu- cacionais, as metas educacionais represen- tando a filosofia dominante nestas biblio- tecas, i.e., a biblioteca pblica estava dis- ponvel para todos que quisessem se aper- feioar, estas bibliotecas se viram envolvi- das e atingidas por este corte de verbas, tendo que criar solues para atrair os re- cursos necessrios. A criao dos servios Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documen

    de informao para a comunidade foi as- sim uma sada ideal, pois oferecia um ser- vio to necessrio comunidade como os demais servios pblicos.

    Internamente, o ataque s bibliotecas pblicas foi acionado pelo prprio corpo de pessoal, cada vez mais militante, de acordo com o ambiente do pas na dcada de 60; havia um engajamento cada vez maior do pessoal em atividades sindicais, e passaram a desafiar as metas e as filoso- fias de servio, questionando as metas educacionais das bibliotecas pblicas, e ci- tando as estatsticas que mostravam o au- mento crescente do analfabetismo funcio- nal e o nmero elevado de pessoas que precisavam de informao, no de educa- o, e argumentando sobre o papel da bi- blioteca na sociedade e sua relevncia di- minuta nas reas urbanas.

    No meio deste grande debate apareceu o estudo de Kahn sobre os CAB na Ingla- terra, o que trouxe ento o conceptual ncessrio para responder preocupao dos bibliotecrios americanos: uma viso de uma funo de informao que faltava sociedade americana, e cuja funo as bibliotecas pblicas estavam, bviamente, equipadas para cumprir. A obra de Kahn, na verdade, no falava em bibliotecas, mas foi um instrumento ou a inspirao para aqueles bibliotecrios que o viram como um argumento para estabelecer ser- vios de informao para a comunidade em bibliotecas pblicas. Estes bibliotec- rios, no dizer de um deles, passaram a uma ao missionria, pregando a nova idia e, ao final da dcada de 60 o movi- mento estava a pleno vapor com reunies :o 18(3/4):7/19, Dez/85 11

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  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAO DA BIBLIOTECA PBLICA BRASILEIRA

    e conferncias sobre o assunto. Information & Referral era um concei-

    to totalmente novo para as bibliotecas p- blicas americanas; desafiava a prpria filo- sofia do que a instituio era a devia ser. Demandava o reexame do qual o papel da biblioteca na sociedade deveria ser e pro- movia a idia de que a informao era um produto que deveria ser fornecido sem condies prvias. O produto real que a biblioteca deveria estar promovendo pas- sava a ser no mais o livro, educao ou cultura, mas informao para todos.

    Houve crticas, houve resistncia quan- to a esta nova funo da biblioteca pbli- ca, pois do ponto de vista poltico, pala- vras como advocacia (defesa dos destitu- dos) interferncia (em outras agncias de informao) e avaliao (dos seus servi- os) eram assustadoras para uma institui- o que havia solidificado^sua reputao na neutralidade poltica. Assim, hoje em dia se aconselha que, para a implementa- o de um servio de I & R num sistema de bibliotecas necessrio: 1. Sejam estabelecidas as metas e objeti-

    vos da biblioteca; porque o reconheci- mento do papel da biblioteca como uma agncia de informao deve ser aceito, de incio. Se o corpo de pessoal ou a administrao do sistema acredita que o produto primeiro da biblioteca ; livros, conhecimento, educao e cultura, o novo papel no vingar;

    2. envolvimento com a comunidade. Se o mtodo de operao da biblioteca in- dependente da comunidade, o novo papel no vingar. As bibliotecas deve- ro aprender a trabalhar com as outras

    12 Revista Brasileira de Biblio

    agncias de informao existentes para resolver os problemas da comunidade, atravs do fornecimento da informa- o ou de referral.

    3. as bibliotecas pblicas e as outras agn- cias fornecedoras de informao e re- ferral na comunidade no devem se ver como competidoras no oferecimento do servio. Um exemplo do esforo cooperativo

    que resultou na melhoria do acesso in- formao pela comunidade o do Pikes Peak Library District, em Colorado Springs, no Colorado; com base no sistema computadorizado, j existente na biblio- teca, ao qual foram acrescentados os cat- logos existentes nas outras agncias, o tra- balho de coleta e atualizao dos dados passou a ser compartilhado entre todas as agncias. O primeiro catlogo levantado foi manual, sendo aps algum tempo pas- sado para o on-line da biblioteca. Uma vez despertadas para as necessidades dos seus constituintes, novos servios foram desenvolvidos, podendo se mencionar; Centros de informao para empregos onde so compilados diretrios e se ajuda na feitura de curricuium vitae; centros de informao sobre educao, sade, consu- mismo, etc., uma gama imensa de servios de I & R, que podem ser encontrados nas bibliotecas pblicas americanas na dcada de 80.

    Na Inglaterra, por volta da segunda metade da dcada de 70 a informao foi descrita em documento oficial, como o quarto direito do cidado, e a disponibili- dade de informao na crescente comple- xidade da sociedade uma parte impor- ;onomia e Documentao 18(3/41:7/19, Oez/85

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • Nice Figueiredo

    tante do sistema democrtico. Assim, os bibliotecrios devem reconhecer que eles sSo essenciais s liberdades polticas da nossa sociedade e devem estar preparados para assumir uma parte na proviso de in- formao comunidade. Informao cor- reta sendo um recurso nacional vital, e importante tambm como recurso local.

    O conceptual para esta tomada de po- sio pelos bibliotecrios ingleses se ba- seia no princpio de que as bibliotecas tm fornecido informao como parte in- tegral dos seus servios desde que foram estabelecidas, apesar de, particularmente em anos recentes, a clientela das bibliote- cas pblicas ter sido principalmente da parte alfabetizada da populao, capaz de usar informao e fazer o melhor uso des- te recurso. Mas h muitas pessoas que no tm rpido acesso informao ou so in- capazes de usar a infromao provida por- que esta apresentada de maneira com- plexa para pronto atendimento. Desta maneira, numerosas agncias fornecendo informao e aconselhamento se desen- volveram, nacional e localmente, algumas gerais e outras especializadas, como os j citados CAB, os Neighbourhood Advice Centres, Legal Advice e Law Centres, Consumer Advice Centres, Housing Advi- ce Centres, Local Authority Information Centres, alm de organizaes voluntrias e departamentos do governo federal e lo- cai.

    A biblioteca pblica possui uma rique- za imensa de recursos informacionais e o bibliotecrio possui capacidade tcnica para coletar, editar e processar informa- o que podem ser desenvolvidas para o Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documei

    interesse da comunidade. Ainda, o local central da biblioteca na comunidade, sua base na vizinhana e sua imagem neutra, a tornam um local ideal para a proviso de informao e para apoiar outras agncias locais de informao. Um papel importan- te para a biblioteca pode ser: 1. Coletar informao local e produzir di-

    retrios para servirem de suporte para outras agncias;

    2. Proviso, juntamente com outras agn- cias, de um servio de informao na prpria biblioteca;

    3. Promoo de exibies de folhetos, panfletos, cartazes com informao pa- ra as pessoas se auto guiarem para re- quererem os seus direitos ou da comu- nidade;

    4. Preparao de diretrios detalhados de referral para uso de outras agncias;

    5. Apoio a outros centros de aconselha- mento ou grupos da comunidade pa- ra a proviso de informao local e na- cional relevante. Em se decidindo oferecer o servio,

    uma considerao bsica por parte da bi- blioteca a de tomar conhecimento dos servios que j existem na comunidade e fornecidos por agncias gerais ou especia- lizadas de informao. O papel da biblio- teca pblica , assim, essencialmente o de complementar e coordenar os servios lo- cais, no o de competir com eles. A bi- blioteca pode decidir limitar o servio proviso de informao apenas, mais do que aconselhamento, mas considerado que se a biblioteca pblica deseja manter sua relevncia numa sociedade em mudan- a, a informao para a comunidade deve io 18(3/41:7/19, Dez/85 13

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  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAO DA BIBLIOTECA PBLICA BRASILEIRA

    ter uma alta prioridade. Assim, o papel de coordenador ou de cooperao ativa com outras agncias essencial.

    Com base nestas conceituaes e co- mo foi relatado, as bibliotecas pblicas inglesas comearam a oferecer servis de informao comunidade.em meados da dcada de 70, algumas com nfase no mo- delo americano de I & R e outras com ga- mas variadas de servios j que se basea- ram na experincia de outras agncias j existentes, na comunidade, i.e. preenche- ram o que foi detectado como lacunas de informao. Assim, algumas bibliotecas, como a de Longsight, ramal de Manches- ter, esto preparadas a oferecer aconselha- mento e, quando necessrio, servio e advocacia dirigido s necessidades dos mais destitudos da comunidade.

    A maioria das bibliotecas, no entanto, sSo reticentes quanto a assumirem um pa- pel to ativo. Algumas bibliotecas se apoiaram em outras agncias para forne- cer o servio para o seu pblico, oferecen- do local em seu edifcio para grupos man- terem seus atendimentos independentes, ou ento trabalham cooperativamente com uma srie de agncias para fornecer servio generalizado de informao. Ou- tras ainda vem como seu papel principal o de fornecer informao s outras agn- cias, que so livres de adotar qualquer es- tilo para melhro servir aos interesses dos seus clientes; algumas bibliotecas ainda tm fornecido diretrios detalhados para referral, recursos informativos, informa- So local e at servio mensal de informa- o s agncias de aconselhamento com pessoal voluntrio.

    14

    O debate acerca do papel provvel da biblioteca pblica no fornecimento de in- formao comunidade ainda prossegue tanto na Inglaterra, como nos Estados Unidos, e h idias, conceitos e sugestes que nos parecem relevantes tomada de deciso por parte dos bibliotecrios brasi- leiros a respeito deste assunto. Assim, ve- jamos.

    inegvel que as bibliotecas obtiveram sucesso quando estabeleceram servios grupos com necessidades informacionais especficas de assuntos definidos e homo- gneos, pois nestes casos possvel plane- jar servios e prever a demanda, caso claro das bibliotecas especializadas. No caso das bibliotecas pblicas, o problema surgiu quando elas olharam da mesma forma pa- ra a informao para a comunidade, mas ento definiiKlo a comunidade geogrfica- mente e no por rea de interesse. Res- ponder a todas as necessidades de infor- mao de toda a comunidade provr um bom servio geral de referncia/informa- o. Mas uma comunidade definida geo- grf icamente ter uma gama to ampla de necessidades de informao que tornar impossvel atend-las de uma maneira de- talhada atravs do servio de referncia. A soluo ento, e a que foi adotada, di- rigir o servio para grupos particulares dentro da comunidade, partindo da pre- missa de que h uma desigualdade bsica na proviso de informao e de que esta desigualdade tende a ser com relao aos grupos scio-econmicos mais baixos. Como resultado, pode-se concentrar o ser- vio na ajuda para a soluo dos proble- mas do dia-a-dia: moradia, emprego, pro-

    Revlsta Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/41:7/19, Dez/85

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  • Nice Figueiredo

    blemas familiares e pessoais, consumismo, finanas domsticas, educao, direitos ci- vis e da previdncia, para atender grupos na comunidade que teriam menos acesso a outras fontes de ajuda como advogados, contadores, etc.

    Mas se a biblioteca deseja usar o termo "informao para a comunidade" este uso j est estabelecido e deve ter o mesmo significado, sempre. Assim, enriquecer a coleo de folhetos e panfletos e tornar a informao mais acessvel, embora muitas bibliotecas necessitem desta medida, isto no informao para a comunidade. Tampouco melhorar o servio de informa- o em assuntos locais, i.e., aumentar a coleo de material no-livro, desenvol- vendo catlogos detalhados de informa- o local e publicando diretrios e atuan- do como a agncia central para outras agncias de informao, isto no infor- mao para a comunidade, mas sim um servio de informao local, uma funo muito valiosa para uma biblioteca pbli- ca.

    Informao para a comunidade a proviso especial de servio para aquelas pessoas na comunidade local que tm acesso limitado s fontes para auxiliar na soluo dos problemas do dia-a-dia. Isto quer dizer que houve uma deciso positi- va da biblioteca em concentrar-se a permi- tir que pessoas, particularmente aquelas dos grupos scio-econmicos mais baixos da comunidade, possam agir, quer indivi- dualmente, quer coletivamente, para a so- luo dos seus problemas do dia-a-dia, com bae na informao fornecida pela bi- blioteca. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Docume

    A biblioteca pode ento fornecer esta informao de duas maneiras; 1. Diretamente aos indivduos ou grupos,

    estabelecendo com efeito, o que vem a er um centro de aconselhamento, com bibliotecrios treinados adequadamen- te, ou ento em conjunto com outras agncias locais;

    2. Alternativamente, pode fornecer servi- po de informao especializada gru- pos especficos cujos papis so o de ajudar indivduos ou grupos na comu- nidade. Tipos de servio de informao/acon-

    selhamento com os quais as bibliotecas podem esperar ter de se envolverem, caso decidam oferecer um servio direto de in- formao comunidade: 1. Informao direta A maioria das

    questes requerir uma resposta ofere- cendo apenas informao fatual, como o endereo de uma outra agncia, o custo de um benefcio, etc.

    2. Explicao Esclarecendo o texto de um documento, de uma carta;

    3. Aconselhamento Alguns clientes re- queriro aconselhamento sobre o curso de uma ao. Poder haver opes e o pessoal dever ter conhecimento para aconselhar um ou outro curso. Em al- guns casos, apenas algumas palavras tranqilizadoras ou de apoio podem ser mais apropriados do que aconselha- mento.

    4. Auxlio prtico ajudando a preen- cher formulrios ou escrever cartas;

    5. Referral ativo O tipo de referral que a biblioteca deve oferecer envolve co- locar os clientes em contacto com indi-

    ao 18(3/4):7/19, Dez/85

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  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAO DA BIBLIOTECA PBLICA BRASILEIRA

    vduos em outras agncias que podem ajud-los, e esta a funo que a bi- blioteca pode realizar da maneir.a mais til, colocando as duas em contacto te- lefnico na biblioteca, ou o pessoal te- lefonando e marcando uma entrevista para o cliente ir falar com o funcion- rio da outra agncia, depois de explica- do o problema.

    6. Mediao Numa minoria de casos, o pessoal pode sentir que precisa interce- der com relao a algum cliente a quem acredita foi dada uma informa- o errada por outra agncia. neste ponto que as diferenas entre o servio oferecido pela biblioteca e o oferecido por outras agncias se tornaro aparen- tes. Como parte da administrao do poder local, a biblioteca deve somente questionar informao, particularmen- te aquela fornecida por outros departa- mentos do poder local, quando todos os fatos da situao sugerem que o diante tem uma queixa justificvel. Di- ferentemente de agncias independen- tes, a biblioteca no pode promover o caso de um cliente sem levarem conta os certos e errados da situao. Em muitos casos, isto envolver afastar o cliente com uma resposta negativa e is- to pode ser difcil, mas deve ser feito.

    7. Advocacia Isto envolve preparar um caso para um cliente e oferecer apoio, ou falar no lugar do cliente em uma corte ou tribunal. extremamente im- provvel que um bibliotecrio possa se encontrar na situao de ter que preen- cher esta funo. Se o cliente tem uma queixa justificada contra outra agn-

    16 Revista Brasileira de Bibliot

    cia, provvel que a abordagem media- dora, como acima demonstrado re- solva a situao.

    8. Campanhas Se o trabalho da biblio- teca obtm sucesso, e se torna valiosa para a comunidade local, ela ser inevi- tavelmente envolvida em campanhas locais. Entretanto, permitindo que a populao local tenha acesso aos fatos da situao, acomodaes para pro- mover suas causas, e.g., espao para reunies pblicas, publicidade, forne- cendo auxlio atravs de exibies, apresentaes audiovisuais, a bibliote- ca deve ter o cuidado de no se tornar identificada com grupos cujas causas no so de interesse comum. A proviso de informao para a co-

    munidade assim, de uma certa maneira, o desenvolvimento da tradicional funo de referncia da biblioteca, mas ento di- rigida s reas de necessidades sociais. Apesar de existirem muitas agncias, quer voluntrias, ou governamentais na Ingla- terra, para esta finalidade especfica de proviso de informao e aconselhamen- to, h ainda amplas lacunas de necessida- des no preenchidas. Umas das razes para isto, que, em reas urbanas h uma srie de agncias tratando de problemas especficos ou ento lidando com reas geogrficas apenas, o que faz com que o pblico em geral freqentemente no sai- ba onde ir para ajuda. aqui que o papel da biblioteca pode ser realmente til, di- recionando as pessoas para a agncia cor- reta e tendo a certeza de que as pessoas cheguem a agncia mais adequada para re- solver o seu problema particular. Assim, lonomia e Oocumentao 18l3/4):7/19, D9>/85

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  • Nice Figueiredo

    para assegurar-se de um servio de referral eficiente, as bibliotecas pblicas devem: 1. Ter conhecimento detalhado e manter

    contacto prximo com todas as.agn- cias locais de auxlio. As bibliotecas no podem agir isoladamente.

    2. Fazer o contacto inicial e o acompa- nhamento do referral para evitar au- mentar as chances de evaso, quando aos clientes fornecido simplesmente o endereo ou o telefone. Este acom- panhamento essencial, conforme comprovado tanto na experincia in- glesa como americana, pois pode ha- ver um nvel de at 50% de evaso, se este contato no for feito.

    3. Montar exibies para tornar conheci- das as outras agncias locais;

    4. Compilar, publicar e manter diretrios de referral. As bibliotecas so as mais indicadas para produzirem diretrios amplos e detalhados sobre as funes de outros servios locais de aconselha- mento, ou de guias para categorias es- pecficas de agncias de auxlio; Sob outro ponto de vista, se decidir

    atuar apenas como uma agncia de supor- te para outras agncias locais de auxlio, a biblioteca pode: 1. Fornecer colees de referncia bsica

    queles centros com recursos limitados e fazer publicidade sobre as prprias colees de referncia que possam ser de valia servios de aconselhamento (textos legais, diretrios diversos).

    2. Oferecer recursos, no s de materiais de informao, mas datilografia; dupli- cao e reproduo de material para organizaes locais;

    Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documei

    3. Considerar compartilhamento de espa- o, com a cesso de sala para membros de agncias de aconselhamento ou de polticos locais.

    4. Fazer intercmbio de informao, in- cluindo, por ex., informao sobre va- gas de empregos, nos quadros da exibi- o permanente;

    5. Circular informao sobre auxlios existentes na comunidade local s ou- tras agncias, como um servio de dis- seminao, isto, idealmente feito em conjunto com todas as agncias. Pode- ria trazer dados sobre: detalhes dos ser- vios prestados pelas organizaes lo- cais, informaes sobre normas, regula- mentaes, decises, etc. emanadas da Cmara ou Assemblia, publicaes correntes, cursos e treinamentos de in- teresse s diversas agncias.

    6. Auxiliar, com base na capacidade espe- cial do bibliotecrio, as outras agn- cias, quer oficiais, quer independentes, a organizar as suas colees de infor- mao e publicaes, quer ou no for- necidas pela prpria biblioteca. Estas colees no se adaptariam classifica- o de Dewey, por exemplo, sendo en- to indicado o uso da classificao pr- pria do CAB. Neste caso de agncia de suporte ape-

    nas, a biblioteca deve considerar que os seus recursos muitas vezes so generosos, quando comparados com as agncias de aconselhamento, alm do que os biblio- tecrios possuem capacidade e experin- cia no trabalho de informao; assim, este suporte deve ser dado de maneira discre- ta, evitando dar a impresso de que a bi- o 18(3/4):7/19, Dez/85 17

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  • SERVIO DE INFORMAO PARA A COMUNIDADE COMO UM INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAO DA BIBLIOTECA PBLICA BRASILEIRA

    blioteca deseja "organizar" ou "tomar conta" do servio, s ve2es estabelecido h muito tempo e com sucesso. Do ponto de vista da prpria biblioteca, que tem um papel indiscutvel na proviso de in- formao e, que desde algum tempo j aceito o fato de que seus servios devem ser mais relacionados com a sua comuni- dade, existem algumas sugestes para aperfeioar o provimento de informao para a comunidade, calcadas na experin- cia inglesa : 1. Melhorar os sistemas para aquisio e

    uso de larga coleo de folhetos, pan- fletos e cartazes, assegurando supri- mento no s para atualizao como tambm para distribuio;

    2. Exibir manuais de referncia e para cir- culao, junto com os panfletos, carta- zes e informao peridica em um lo- cal identificvel para constituir uma se- o de "self help" incluindo a prpria coleo de recortes de jornais da bi- blioteca, publicaes locais, artigos de peridicos, etc. nos tpicos de interes- se como: reformas de casas, benefcios da previdncia para mes solteiras, crianas, incapacitados fsicos, idosos, etc. Este material poderia ser a base dos pacotes de "self help" a serem dis- tribudos aos necessitados da informa- o.

    3. Melhorar o conhecimento do pblico acerca dos seus direitos e dos servios que a biblioteca tem a oferecer atravs da exibio de todas as categorias de informao para a comunidade. Estas exibies pxKem ser levadas para even- tos tais como feiras e festivais. Apenas

    Revista Brasileira de Bibliol

    ao colocar panfletos e os catlogos de informao local em acesso aberto aumentar o conhecimento do pbli- co.

    4. Explorar as possibilidades de treina- mento em conjunto com outras agn- cias de aconselhamento. Quanto a este aspecto, qualificaes

    profissionais no so vitais para o pessoal envolvido na proviso de servios diretos de informao para a comunidade. O que importante, que o pessoal seja empe- nhado no servio, tenha interesse e com- preenso para com as pessoas e os seus problemas, tenha inteligncia e uma per- sonalidade agradvel. A experincia conta muito. O treinamento deve incluir opor- tunidade de trabalhar em outras agncias de informao e aconselhamento, desde que a compreenso do servio essencial para o pessoal da biblioteca. Idealmente, programas conjuntos de treinamento de- vem ser providenciados para os funcion- rios de todas as agncias relevantes dentro de uma rea.

    No que diz respeito educao formal do pessoal para atuar em informao para a comunidade, nos Estados Unidos j existem vrias escolas com cursos regula- res cobrindo o assunto, como as da Co- lumbia, Drexel, Syracuse, California-Ber- keley, Maryland, etc., alm de um nme- ro maior que oferece informao para a comunidade como parte de outro curso. Na Inglaterra, o Center for Information Science, da City University, Londres, ini- ciou em 1980 um curso regular, o mesmo acontecendo com o Department of Infor- mation Studies da University of Sheffield, onomiae Documentao 18(3/41:7/19, Dez/85

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  • Nice Figueiredo

    alm da Politechnic de Manchester e ou- tras escolas pelo pas.

    Finalmente, e para encerrar, vale a pe- na mencionar a existncia de esforos no sentido das bibliotecas pblicas brasileiras oferecerem este servio de informao pa- ra a comunidade, principalmente o que est sendo feito em Belo Horizonte e Joo Pessoa, sem dvida fruto dos cursos locais de mestrado, alm do que se reali- za em So Paulo. Mas importante, con- tudo, que haja um esforo mais concen- trado neste sentido, para que um nmero maior de bibliotecas pblicas inicie o ofe- recimento deste servio, bem como para que as escolas de graduao em bibliote- conomia se preocupem em treinar pessoal para a realizao desta tarefa altamente necessria e gratificante ao profissional bi- bliotecrio.

    REFERNCIAS

    FIGUEIREDO, Nice M. de - Biblioteca como sistema de informao. ANGULO, Lorena, 22 (1):2-3, abril/junho 1984.

    Servio de informao para a comu- nidade em bibliotecas pblicas. BOLETIM ACB, Florianpolis, 2 (2): 50-55, jul./dez. 1982.

    Information and Referral: the journal of the Alliance of Information and Referral Sys- tems, 4 (2) Winter 1982.

    LIBRARY ASSOCIATION. LIbrary Service Committee. Working Party on Community Information Services. REPORT. September 1979, 113p. Mimeo.

    MUELLER, Susana P.M. Bibliotecas e socieda- de: evoluo da interpretao de funo e papis da biblioteca. Rev. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, 13 (1):7-54, mar. 1984.

    Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/4):7/19, Dez/85 19

  • o PAPEL DA TRANSFERNCIA DA INFORMAO NA ADOO DE PRAT5CAS AGROPECURIAS

    Rose Mary Juliano Longo MSc in 1978 Canad.

    Terminando PhD no Department of Information Studies, University of Sheffieid. England, Uk.

    Um pas de grandes dimenses como o Brasil tem um enorme potencial agrcola a ser desenvolvido, principalmente se se levar em considerao a crise econmica mundial e o fato que uma grande parte da populao do mundo no se alimenta dentro de nveis mnimos de nutrio.

    O setor agrcola sempre foi parte im- portante da economia brasileira: participa com 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e com 42% do volume totai de exporta- o; financia 41% dos produtos importa- dos; etc. (FAO, 1983); e a partir de 1980, com o advento do III Plano Nacional do Desenvolvimento (III PND BRAZIL, 1981) a agricultura passou ento a ser considerada prioridade nacional.

    O III PND enfatizou o aumento da produo e da produtividade agrcola, tornando claro a necessidade de se usar novas tecnologias, que fossem adequadas melhor explorao da terra, visando 20 Revista Brasileira de Bibliot

    auto-suficincia em produtos agrcolas e agropecurios e, eventualmente, s melho- res condies de vida do ser humano.

    Os problemas de transferncia e de adoo de novas tecnologias j foram es- tudados em vrias partes do mundo.

    Um dos mais conhecidos modelos de adoo de inovaes, foi elaborado por ROGERS (1962) e conta com cinco eta- pas: 1) conscientizao; 2) interesse; 3) avaliao; 4) experimentao; e 5) ado- o.

    Mais tarde ROGERS &SHOEMAKER (1971) estabeleceram os pontos princi- pais do processo de difuso de novas tec- nologias como sendo: (1) a inovao (2) que comunicada atravs de certos ca- nais, (3) atravs dos anos (4) dentre mem- bros de um sistema social.

    No s o processo de tomada de deci- so deve ser considerado como importan- te num processo de adoo de novas tec- >nomia e Documentao 18(3/4); 20/26, Dez/85

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  • o PAPEL DA TRANSFERNCIA DA INFORMAO NA adoAo de praticas agropecurias

    nologias. Existem uma srie de fatores que influenciam a deciso de produtores rurais com relao novas tecnologias.

    Os fatores mais estudados com rerao difuso e adoo de novas tecnologias agropecurias esto divididas da seguinte forma: a) Econmicos: crdito, renda, tanhanho

    da propriedade, emprgo fora da fa- zenda, dedicao parcial atividade agrcola, arrendamento, etc.

    b) Informacionais: canais de comunicao de massa e de comunicao interpes- soal, liderana, etc.

    c) Scio-Culturais: idade, alfabetizao, educao, familismo, fatalismo, atitu- des em relao a risco e incerteza, sta- tus, tradio, etc.

    d) Psicolgicos: empatia, tendncia a mu- danas, motivao, etc.

    A maioria dos trabalhos feitos sobre adoo de inovaes agrcolas procuraram estabelecer nveis de correlao entre es- tes fatores e a varivel dependente ado- o, com o objetivo de procurar explicar de que maneira estes fatores influenciam a deciso do produtor rural em relao uma nova tecnologia.

    Tambm importantes so as caracters- ticas pessoais do produtor rural.

    A maioria dos trabalhos sobre transfe- rncia de tecnologia agrcola pressupe que produtores rurais de pases do Tercei- ro Mundo so: raramente alfabetizados; com um baixo nvel de escolaridade; com baixa renda; com pouco acesso ao crdito agrcola disponvel; tradicionais; com ex- cessivo apego terra, etc. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documei

    Outro tipo de pressuposio que s inovaes so sempre boas, indispensveis e eficientes, e que, portanto, todos os produtores devem adot-las, se querem ter um bom ndice de produo e produ- tividade; e que a no-adoo destas prti- cas indica que o produtor retrgrado, ignorante, tradicionaJ,, e pouco suscetvel s mudanas.

    Isto no necessariamente verdade. Produtores rurais so seres humanos ra- cionais, que, evidentemente, procuraro agir da melhor maneira possvel, dentre as condies que lhe forem oferecidas; e, se a tecnologia for transferida de maneira eficiente e racional, de se supor que o produto rural considerar a nova tecnolo- gia como possvel, dado que outros fato- res econmicos e sociais lhe sejam favor- veis.

    Este estudo teve como objetivo princi- pal analisar em que grau os canais de co- municao interpessoal e de massa in- fluenciam a adoo de prticas agrcolas e pecurias por produtores rurais do Distri- to Federal do Brasil.

    Outros fatores sociais, culturais, e eco- nmicos tais como: anos de experincia em agricultura, local de nascimento, alfa- betizao, escolaridade, idade, tamanho da propriedade, crdito, etc. tambm fo- ram analisados na tentativa de se explicar o padro de adoo de prticas agridas e pecurias da regio.

    A rea escolhida para este estudo foi a zona rural do Distrito Federal que con- tm um total de 2.562 proprietrios ru- rais abrangendo uma rea de 285,142.00 hectares de terra. ~

    io 18(3/4); 20/26, Dez/85 21

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  • Rose Mary Juliano Longo

    450 (18%) destas propriedades foram selecionadas de maneira aleatria e 384 produtores rurais foram entrevistados.

    As variveis dependentes analisados fo- ram:

    Y1 = proporo das inovaes agrco- las adotadas.

    Y2 = proporo das inovaes pecu- rias adotadas.

    A escolha das inovaes a serem anali- sadas foi feita de acordo com contactos mantidos com o Servio de Extenso Ru- ral do Distrito Federal (EMATER), que definiram os grupos das principais prti- cas (agrcolas e pecurias) que tinham si- do introduzidas na regio h, pelo menos, cinco anos.

    As variveis independentes analisadas foram as seguintes: XI = crdito X2 = renda X3 = emprego em tempo parcial, fora da

    propriedade X4 = arrendamento X5 = tamanho da propriedade X6 = escala da operao X7 = percepo das vantagens em adotar

    as inovaes X8 = anos de experincia em agricultura X9 = contactos com as inovaes X10=contacto e intensidade de uso dos

    canais de comunicao de massa XII =contacto e intensidade de uso dos

    canais de comunicao interpessoal XI2 = idade XI3 = alfabetizao X14 = escolaridade XI5 = local de nascimento 22 Revista Brasileira de Bibliote

    As caracteri'sticas pessoais dos produ- tores rurais entrevistados so muito dife- rentes da imagem que normalmente se faz respeito do produtor rural de pases do Terceiro Mundo.

    81% dos produtores rurais do Distrito Federal so alfabetizados; crca de 68% tm entre 5 e 23 anos de escolaridade; vm, em sua maioria, de regies do Brasil que so bastante desenvolvidas e com tra- dio agrcola; no fazem muito uso do crdito rural disponvel; 53% tm entre 30 e 50 anos de idade; tm, em sua maio- ria, uma renda agrcola no muito alta;e, crca de 42% tm outro emprego fora da propriedade rural.

    Os 384 produtores entrevistados foram divididos em trs grupos, de acrdo com a atividade principal de sua propriedade, ou seja: GRUPO I = agricultura GRUPO II = pecuria GRUPO III = ambas agricultura e pecuria

    Enquanto divididos nos trs grupos, os produtores rurais mantiveram basicamen- te as mesmas caractersticas individuais. Porm os produtores do Grupo II se dis- tinguiram pelas seguintes caractersticas: 95% so alfabetizados; 90% tm entre 5 e 23 anos de escolaridade (57,5% tm en- tre 15 e 23 anos); a grande maioria tem uma renda agrcola relativamente alta, portanto 70% dos produtores dedicados pecuria nunca fizeram uso do crdito agropecurio disponvel; 3 75% tm outro emprego fora da propriedade rural.

    A proporo de adoo por parte dos trs grupos foi muito boas. 71% dos pro- dutores dedicados somente agricultura,

    nomia e Documentao 18(3/4):20/26, Dez/85

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  • 450 (18 O PAPEL DA TRANSFERNCIA DA INFORMAO NA ADOO DE PRATICAS AGROPECURIAS

    adotaram mais que 50% das inovaes agrcolas. 72,5% dos produtores deicados somente pecuria adotaram mais que 50% das inovaes pecurias, e no grupo de produtores dedicados ambas as ativi- dades, 62% adotaram mais que 50% das

    inovaes agrcolas enquanto 61% adota- ram mais que 50% das inovaes pecurias.

    Figuras 1, 2, e 3 mostram a distribui- o dos produtores rurais de acordo com a proporo de adoo de inovaes, para os trs grupos de atividades.

    FIGURA 1: Distribuio da proporo de adoo de inovaes agrcolas. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/41:20/26, Dez/85 23

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    I Sc a n st eu

    11 12 13

  • Rose Mary Jullano Longo

    O 20 40 60 80 100 adoAo de inovaes pecurias (%)

    FIGURA 2: Distribuio da proporo de adoo de inovaes pecurias

    20 40 60 80 100 ADOO DE INOVAES

    ADOO DE INOVAES PECURIAS ADOO DE INOVAES AGRCOLAS FIGURA 3: Distribuio da proporo de adoo de inovaes agrcolas e pecurias.

    24 Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/41:20/26, Dez/85

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  • o PAPEL DA TRANSFERNCIA DA INFORMAO NA ADOO DE PRTICAS AGROPECURIAS

    A anlise de regresso conseguiu expli- car 48,1% da varincia na adoo de prti- cas agrcolas no grupo de produtores de- dicados somente agricultura; 63,5% da varincia na adoo de prticas pecurias, no grupo de produtores dedicados sonnen- te pecuria; e, no grupo de produtores dedicados ambas atividades a anlise de regresso explicou 51,4% da varincia na adoo de prticas agrcolas e 32,3% da varincia na adoo de prticas pecurias.

    A informao transferida atravs de ambos os canais de comunicao interpes- soal e de massa, tem uma relao altamen- te positiva e estatisticamente significativa com a adoo de prticas agrcolas.

    E, embora normalmente se acredite que os canais de comunicao interpes- soal sejam mais eficazes nos pases em de- senvolvimento, os resultados da anlise de regresso mostram que os canais de comu- nicao de massa explicam 23% da varin- cia na adoo de prticas agrcolas para o Grupo I e 20% para o Grupo III; en- quanto os canais de comunicao inter- pessoal explicam 2% da varincia na ado- o de prticas agrcolas para o Grupo I e 6% para o Grupo III.

    A transferncia de informao, seja atravs de canais de comunicao de mas- sa, ou atravs de canais de comunicao interpessoal, aparentemente no teve ne- nhuma relao com a adoo de prticas pecurias.

    Este resultado nos leva a crer que alm de se considerar os fatores externos que Revista Brasileira de Biblioteconomia s DocumE

    influenciam a adoo de inovaes (ex: crdito, renda, educao, etc.), necess- rio se levar em conta as caractersticas en- dgenas das inovaes.

    O processo de adoo de inovaes no est, ento, limitado somente s ca- ractersticas pessoais do produtor rural, nem apenas aos fatores sociais, econmi- cos, culturais, etc. que podem afetar o processo decisrio do produtor rural, mas tambm s caractersticas intrnsecas das inovaes a serem adotadas.

    Os resultados deste estudo s podero ser extrapolados para outras regies do Brasil ou para outros pases do mundo, que possurem caractersticas individuais e caractersticas regionais semelhantes s da populao aqui estudada.

    Embora Brasil e Portugal possuam al- gumas caractersticas semelhantes (veja Tabela 1), as diferenas entre estes dois pases ainda so muitas, no permitindo portanto que os resultados deste estudo possam ser usados para Portugal.

    Como pode se observar na Tabela 1, o setor agrcola portugus ainda necessita de muitas melhorias antes de poder com- petir em nvel de igualdade com outros pases do Mercado Comum Europeu. Para que o setor agrcola portugus se torne eficiente e competitivo, necessrio um aumento de produo e de produtividade agrcola, atravs do uso de novas tecnolo- gias e da modernizao do setor, visando o aumento na exportao de produtos agrcolas. ao 18(3/4); 20/26, Dez/85 25

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  • Rose Mary Juliano Longo

    TABELA 1:COMPARAO ENTRE OS SETORES AGRltOLAS DO BRASIL E PORTUGAL

    CARACTERSTICAS BRASIL PORTUGAL {%) (%)

    Participao do Setor Agrcola em relao ao PIB total (1979) 13 16 Populao agrcola em relao populao total (1981) 37 30 Exportao agrcola em relao exportao total (1981) 42 6 Importao agrcola em relao importao total (1981) 9 21 Proporo do total de Importaes financiado pela exportao agrcola (1981) 41 5 ndice de crescimento do PIB agrcola no perodo 1970-78 23 15 Quantidade de propriedades agrcolas com menos de 20 hectares 85 97 Quantidade de propriedades agrcolas com menos de um hectare 14 44

    Fontes: FAO, 1983; OECD, 1984; IBGE, 1984

    Um estudo desta natureza poderia ser efetuado em Portugal, na tentativa de se analisar as caractersticas dos produtores rurais portugueses, e de se avaliar de que maneiras prover o homem rural portugus com informao'e recursos suficientes pa- ra a modernizao do setor agrcola.

    LITERATURA CONSULTADA

    BRAZIL. Planning Secretarlat of the Presidency. BrazWs 111 National Development Plan 1980- 1985. Braslia: 1981.

    26

    FAO. The state of food and agricultur. Rome: 1983.

    IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- tstica. Anurio Estatstico do Brasil 1983. Rio de Janeiro: 1984.

    OECD. Economia surveys 1983-1984: Portugal. Paris: 1984.

    ROGERS, E.M. Diffusion of innovations New York: The Free Press; 1962.

    ROGERS, E.M. & SHOEMAKER, F.F. Com- munication of innovations, a cross-cultural approach 2. ed. New York: The Free Press; 1971.

    Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/4): 20/26, Dez/85

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  • SERVIOS BIBLIOTECRIOS AS REAS RURAIS NO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL*

    MITSI WESTPHAL TAYLOR Coordenadora do

    Sistema de Bibliotecas Pblicas de Santa Catarina Fundao Educacional de Santa Catarina

    Florianpolis, SC - Brasil

    Palavras chaves: bibliotecas em pases em desenvolvimento, planejamento de bibliote- cas pblicas. servios bibliotecrios a reas rurais.

    1. INTRODUO

    O desenvolvimento econmico e social agudamente reclamado pelos pases em desenvolvimento passa fatalmente pela democratizao do acesso e utilizao da informao.

    Nesses pases a grande maioria da po- pulao justamente aquela que no par- ticipa em condies de igualdade da dis- tribuio dos bens e servios que a socie- Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documc

    dade pode oferecer e que se acham vincu- lados quantidade e qualidade de infor- mao disponvel.

    Cremos que em tais contextos o papel da Biblioteca Pblica, cujo adjetivo - P- blica lhe d a prerrogativa de ser do po- vo, deva ser examinado a partir da tica das desigualdades sociais o que nos leva a concluir que cabe a ela cumprir importan- te e estratgica funo; reduzir a distncia que separa realidades to diferentes, me- diante a efetiva democratizao de seu uso. Nesta Biblioteca Pblica requerido do bibliotecrio desempenhar o papel de agente da mudana e ele deve estar capa- citado a planejar, isto , diagnosticar a situao presente e prever sua evoluo buscando ir ao encontro de propsitos de- terminados.

    Considerando as condies usualmente disponveis em pases em desenvolvimen- to para a efetivao de servios bibliotec- o 18(3/4): 27/38, Dez/85 27

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  • SERVIOS BIBLIOTECRIOS S REAS RURAIS NO ESTADO DE ST. CATARINA, BRASIL

    rios, acredita-se que no planejamento de servios em bibliotecas pblicas dois pon- tos so considerados essenciais:

    a) O planejamento deve ser enraizado, isto , fundamentado nas necessidades sentidas ou latentes na maioria da popula- o. Tendo em vista que diferentes grupos de vida humana associada possuem valo- res, aspiraes e necessidades caractersti- cas, o planejamento de servios da Biblio- teca Pblica precisa ser legitimado pelo usurio, antes de o ser pelo Estado. Aus- cultar em primeira instncia o indivduo, depois sua comunidade, o municpio a re- gio onde vive o cidado uma necessida- de bsica. E so tais realidades particula- res que devem servir d base para a pro- gramao das aes.

    b) O p^anejamento deve ser pragmti- co. Nele deve prevalecer o bom senso e a criatividade deve ser intensamente utiliza- da para tirar o melhor partido dos recur- sos disponveis. Enquanto aguardamos que os grandes planos do Governo, quan- do existem, sejam postos em prtica, no podemos nos satisfazer apenas com as constataes, que so to evidentes. No necessrio nenhum esforo para verifi- car quo distante esto os acervos e servi- os tradicionalmente oferecidos pela bi- blioteca pblica do dia a dia da maioria de nossas populaes. Eles precisam ser seguidos de aes para que mudanas ocorram no menor prazo possvel.

    Idealmente a implantao e implemen- tao de um processo de planejamento re- quer uma srie de condies favorveis em termos institucionais, administrativos e tcnicos^. A prtica nos autoriza a dizer 28 Revista Brasileira de Bibliotec

    que mesmo na ausncia das citadas condi- es, alguma coisa pode ser feita. Este tra- balho apresentar a experincia do Siste- ma de Bibliotecas Pblicas do Estado de Santa Catarina (Brasil) (SBPSC) ond ser- vios bibliotecrios na rea rural foram postos em execuo com um mnimo de sustentao do governo. Na verdade deve- se essencialmente a uma conscincia de necessidade aliada ao esprito empreende- dor do povo desse estado os resultados que esto se obtendo.

    Antes de tratarmos da experincia do SBPSC planejamento e execuo de ser- vios na rea rural algumas informaes se fazem necessrias para melhor entender o contexto onde a experincia vem sendo realizada. Iniciaremos iluminando o con- ceito de biblioteca pblica no Brasil. Em seguida localizaremos o SBPSC no Siste- ma Nacional de Bibliotecas Pblicas. Pos- teriormente apresentaremos a experincia em si, nos seguintes termos: perfil scio- econmico cultural do estado de Santa Catarina, bases tericas que serviram de sustentao para o modelo de servio bi- bliotecrio adotado, prioridades eleitas, diagnstico do estado atual dos servios bibliotecrios na rea rural e perspectivas para o futuro.

    2. A BIBLIOTECA PBLICA NO BRASIL

    A biblioteca pblica no Brasil, a exem- plo de outros pases considerada "mis- so indelegvel do Estado". Entretanto a falta de uma legislao a respeito do as- sunto implica na no existncia de recur- nomia e Documentao 18(3/41:27/38, Dez/85

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  • Mitsi Westphal Taylor

    SOS especficos no oramento do Estado para a sua manuteno, na no existncia de um enunciado claro sobre seus reais objetivos bem como no desconhecimento, por parte dos cidados quanto a seus di- reitos sobre servios bibliotecrios^.

    A biblioteca pblica no Brasil na sua grande maioria municipal e como tal os recursos para a sua manuteno so garan- tidos mediante convnio firmado entre o Instituto Nacional do Livro e as Prefeitu- ras Municipais. "O convnio ale;itrio, depende excessivamente da boa voftade, do grau de conscientizao, do interesse dos prefeitos e nada garante sua manuten- o em anos seguintes. . . Em suma, a bi- blioteca pblica vive da inciativa de pre- feitos e outras autoridades e, alternativa- mente, do apoio de outras entidades co- mo sejam: secretarias de educao, funda- es culturais, instituies religiosas, clu- bes de servios e entidades tipo SESC (Servio Social do Comrcio)"^.

    3. O SISTEMA NACIONAL DE BIBLIO- TECAS PBLICAS

    "Com a finalidade de propiciar meios para a produo e o aprimoramento do li- vro e a melhoria dos servios bibliotec- rios" em 1937 foi criado no Brasil o Insti- tuto Nacional do Livro (INL) o qual pas- sou Incorporar a partir de 1968, o Servio Nacional de Bibliotecas vindo conseqen- temente coordenar o Sistema,Nacional de Bibliotecas e tendo como meta prioritria a Biblioteca Pblica. A partir de 1976 ini- ciou a Implantao do Sistema Nacional de Bibliotecas Pblicas. O projeto disps Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documei

    de recursos para implantar em cada Uni- dade Federada um Sistema Estadual de Bibliotecas Pblicas, as quais, articuladas comporiam um Sistema Nacional. Conse- qentemente "as Bibliotecas Pblicas Mu- nicipais deixariam de funcionar isolada- mente" vindo a compor "um sistema ins- titucionalizado de colaborao mtua"'*. Entretanto, se a existncia de um plano nacional de bibliotecas e sistemas de in- formao coloca como primeiro requisito a incluso de "uma deciso poltica, feita pelo governo, sobre o desenvolvimento global" e este dever claramente indicar os objetivos que o governo determina pa- ra o SI B (Servio de Informao e Biblio- teca), as prioridades bsicas e as bases fi- nanceiras^, podemos dizer que o Brasil ainda no dispe de um Plano Nacional de Bibliotecas Pblicas. que o Sistema Nacional de Bibliotecas Pblicas carece ainda de uma base jurdica e econmica, uma vez que a nvel de subsstemas esta- duais, nem todos se encontram legalmen- te institucionalizados e contando portan- to com garantias para um desenvolvimen- to integrado, continuado e conseqente- mente. A nvel nacional, passados quase dez anos desde sua implantao (1976- 1985) o Projeto Sistema Nacional de Bi- bliotecas Pblicas ainda no foi aprovado pelo Ministrio da Educao e Cultura, atualmente Ministrio da Cultura.

    Apesar dessas caractersticas negativas presentes no todo, os subsistemas esta- duais vem se esforando no sentido de ex- plorar de melhor maneira possvel as con- dies disponveis em sua Unidade Fede- rada. E, dada as diferenas regionais pre-

    ao 18(3/4): 27/38, De2/85 oq

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  • SERVIOS bibliotecrios S areas rurais no estado de st. catarina, brasil sentes num pas com a extenso do Brasil onde populao se acha dividida em clas- ses sociais de diferentes nveis de vida e diferentes nveis de cultura, os subsiste- mas estaduais vem adquirindo feies e ritmo de desenvolvimento prprios. Quadro I

    4. O SISTEMA DE BIBLIOTECAS P- BLICAS DE SANTA CATARINA Santa Catarina um estado localizado

    na regio sul do Brasil. Possui rea 95.483 km^ compreendendo duas realidades dis- tintas: o litoral e o planalto.

    Regio % rea Nmero de Densidade % Populao % Participao cidades Populacional na economia

    Litoral 36 90 57 pessoas km2

    Planalto 64 109 27 pessoas km2

    Fonte: Mattos, F.M. de Santa Catarina, 1978. O quadro I fornece dados numricos a respeito de seu perfil scio-econmico- cul- tural.

    Como comum em todo o Brasil os 199 municpios do Estado de Santa Cata- rina possuem entre si uma variedade mui- to grande com relao a seu tamanho, va- riando a extenso entre 5.271 km^ (o maior) a 43 km^ (o menor), sendo que todos eles comportam uma parte urbana onde se localiza a sede do municpio o que pode inclusive significar a existncia de uma cidade e uma parte rural que em alguns casos pode abrigar um ou mais n- cleos populacionais claramente definidos, chamados distritos. Dos municpios de Santa Catarina, 54% possuem rea supe- rior a 300 km^ o que explica o elevado ndice de populao rural tendo em vista que a sede do municpio (parte urbana) geralmente de pequeno porte. Desse modo (entre os 199 municpios catarinen-

    ses, 127 possuem populao rural nume- ricamente superior sua populao urba- na).

    Em Santa Catarina 43% da .populao possui idade inferior a 15 anos. A popula- o de Santa Catarina composta de: por- tugueses, alemes, italianos, poloneses e mais recentemente japoneses.

    O estado de Santa Catarina encontra-se dividido em 20 micro-regies polarizadas com finalidade de regionalizao da ao do governo e de seu planejamento. Os aglomerados tnicos, a distribuio espa- cial das cidades e a vocao agro-indus- trial do ao perfil scio-econmico-cultu- ral de Santa Catarina duas caractersticas especficas; desconcentrao e diversifica- o.

    Em agosto de 1979, poca em que se 30 Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentao 18(3/41:27/38, Dez/85

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  • Mitsi Westphal Taylor

    iniciou a implantao do Sistema de Bi- bliotecas Pblicas, Santa Catarina contava com 187- Bibliotecas Pblicas Municipais (B.P.M.) de acordo com os registros do INL, espacialmente distribudas em toda a extenso do estado. O levantamento efetuado pelo SBPSC encontrou algumas unidades desativadas. As demais apresen- tavam uma grande diversidade de estgios quanto a recursos fsicos, materiais, hu- manos e a nvel de organizao. Apenas duas executavam servios de exienso sendo estes executados na periferia urba- na.

    Estas duas bibliotecas localizam-se nos municpios de maior ndice de populao urbana e alcanaram os maiores ndices em termos de qualificao de recursos hu- manos e conseqentemente qualidade a nvel de organizao do acervo. Quando foi iniciada a implantao do SBPSC deci- diu-se considerar o rico mosaico que o es- tado apresentava, acreditando que a diver- sificao oferecia pontos de apoio espec- ficos para vantagens localizadas, a descon- centrao, uma oportunidade para abran- ger desde o primeiro momento, toda a ex- tenso do estado. A malha viria dispon- vel aliada a um eficiente sistema de trans- porte e comunicao oferecia o suporte indispensvel para a articulao das unida- des. E, a conseqncia natural da intera- o de diferentes bibliotecas pblicas mu- nicipais, a partir do momento em que ini- ciassem a troca de experincias, seria o enriquecimento do todo.

    O Ano Internacional do Livro (1984) pode ser tomado como um marco inaugu- ral para uma srie de estudos em torno do Revista Brasileira de Biblioteconomia e Docume

    papel do livro na sociedade. E, a interrela- o entre o livro e os meios de comunica- o de massa passou a ser um dos tpicos previlegiados da pesquisa estimulada pela Unesco, sendo o assunto abordado sob di- ferentes pontos de vista'. A nvel interna- cional, a literatura a respeito da biblioteca pblica, a partir de ento, convida os bi- bliotecrios a ampliar seu conceito de ma- terial informativo e a aceitar novas defini- es de "leitura" em funo dos tipos de comunidades que a biblioteca pblica ve- nha a servir. Ao mesmo tempo as biblio- tecas pblicas so propostas com locais de atividade cultural em geral como uma es- tratgia para manter e/ou conquistar e/ou ampliar sua clientela.

    No Brasil acontecimentos polticos, econmicos e sociais ocorridos na dcada de 80 encontram respaldo no III Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND 1980-1985) o qual tem como objetivo sntese construo de uma sociedade de- senvolvida, e livre em benefcio de todos os brasileiros, no menor prazo possvel. No setor da educao, cultura e despor- tos, as populaes menos favorecidas so alvo de ateno especial, condio essen- cial para a democratizao das oportuni- dades. Na literatura brasileira em Bibliote- conomia, posicionamentos tcnicos ques- 'tionavam a interface biblioteca pblica comunidade, chamando a ateno para as contradies existentes entre as intenes oficiais comprometidas com a cultura eru- dita e as reais expectativas provindas da cultura popular. Estudos exploratrios so sobre o desempenho da biblioteca pblica ao lado de experincias enovadoras, pro-

    tao 18(3/41:27/38, Dez/85 31

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  • SERVIOS BIBLIOTECRIOS S REAS RURAIS NO ESTADO DE ST. CATARINA, BRASIL

    curando transformar a biblioteca pblica em centro cultural da comunidade teste- munhavam um movimento no sentido de recriar a imagem da biblioteca pblica, buscando sua credibilidade junto s co- munidades. E, destaca-se com insistncia que o novo perfil a ser conferido a biblio- teca pblica ser conseqncia dos papis a serem assumidos pelo usurio: sujeito participante, em funo do qual sero de- cididos acervos e servios a serem oferta- dos e, pelo bibliotecrio: agente de trans- formao social, preocupado em auscultar e interpretar constantemente os anseios informacionais da comunidade.

    O diagnstico da realidade do estado de Santa Catarina associado a base terica citada e, as limitaes impostas pelos re- cursos fornecidos pelo convnio INL/ FESC(a) nos forneceram os elementos ne- cessrios para a formulao das polticas e planejamento dos servios do SBPSC.

    O SBPSC a partir de sua implantao, passou a ser parte da FESC e a dela de- pender financeiramente. A FESC mantm o ncleo e os servios que ele executa.

    Para orientar as decises sobre objeti- vos, metas e diretrizes gerais do planeja- mento, adotamos os seguintes pressupos- tos:

    a) O sucesso de um sistema de biblio- tecas pblicas no depende apenas do res- paldo oficial, o que significa sua institu- cionalizao, mas exige especialmente o respaldo popular, o que depende de a bi- blioteca pblica encontrar um sentido diante dos valores particulares de cada co- munidade.

    b) Diferentes grupos de vida humana Revista Brasileira de Bibliote

    associada so portadores de caractersti- cas particulares e como tal com necessida- des e interesses informacionais especiais, bem como com habilidades especficas quanto utilizao de diferentes veculos de informao.

    c) Populaes rurais possuem um per- fil scio-econnico cultural que limita a prtica da leitura da palavra escrita.

    d) A democratizao do uso da biblio- teca pblica em pases em desenvolvimen- to passa fatalmente pela adoo de dife- rentes veculos de comunicao na utiliza- o de seus acervos e servios.

    e) Investir na criana hoje garantir o usurio de amanh.

    4.1. OBJETIVOS

    a) Motivar os poderes pblicos esta- dual e munioipal e as comunidades no sentido de criar e manter bibliotecas p- blicas operantes.

    b) Promover a melhoria e funciona- mento das bibliotecas pblicas existentes atravs de um ativo servio de divulgao de seus acervos e servios, seleo orienta- da e centralizao do processo tcnico;

    c) Promover um melhor aproveitamen- to do acervo das bibliotecas pblicas no nosso estado, atravs de programas de cooperao bibliotecria e servios de ex- tenso;

    d) Manter o controle efetivo dos acer- vos das bibliotecas pblicas existentes no estado, atravs do catlogo coletivo.

    4.2. METAS a) Trabalhar no primeiro ano a nvel

    monvia e Documsnt^jo t8(3/4): 27/38, Dez/85

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  • Mitsi Westphal Taylor

    de projeto piloto com 19 bibliotecas p- blicas municipais, preferencialmente loca- lizadas nas cidaqes polos das microregies em que se acha dividido o estado (na po- ca 19 microregies).

    b) Posteriormente envolver progressi- vamente o maior nmero possvel de bi- bliotecas pblicas municipais.

    vcl de projeto piloto, o Sistema de Biblio- tecas Pblicas de Santa Catarina foi con- siderado implantado. Passamos a seguir a trabalhar com um nmero crescente de bibliotecas pblicas municipais, paralelo a efetivao de trs programas especiais: servios a infncia, servios rea rural e programa de aquisio centralizada (PAC).

    4.3. DIRETRIZES GERAIS

    Priorizar a atividade fim da biblioteca pblica.

    Qualificar seus acervos, servios e re- cursos humanos.

    Desenvolver servios especiais para as seguintes categorias de usurios; crian- as e populao rural.

    Acelerar o processamento tcnico dos acervos das vrias bibliotecas com o menor custo possvel. Os pr requisitos necessrios para o

    funcionamento do SBPSC so: a) Criao de um ncleo central do sis-

    tema, definindo-lhe a composio e com- petncias.

    b) Integrao efetiva das bibliotecas municipais no sistema mediante cortvnio entre a FESC e Prefeituras Municipais.

    c) Disponibilidade de recursos fsicos, materiais, humanos e financeiros para a operacional izao do ncleo.

    d) Aprovao da estrutura do sistema pela instituio FESC e seu reconheci- mento como uma unidade da instituio.

    Aps o primeiro ano de suas atividades (agosto de 1979 a agosto de 1980) pero- do em que estruturamos o Ncleo e traba- lhamos com 20 bibliotecas pblicas, a n- Reviita Brasileira de Biblioteconomia e Oocumei

    5. SERVIOS REA RURAL

    Teoricamente entende-se como servi- os rea rural os programas levados s populaes residentes fora do permetro urbano das cidades.

    Uma anlise do perfil scio-econmico cultural do Estado de Santa Catarina apontou como uma das prioridades a cria- o de servios rea rural.

    A programao dos servios rea ru- ral segue uma orientao geral do ncleo do sistema, entretanto toda a prtica se sustenta inteiramente nos recursos infor- macionais e materiais disponveis pelas B.P.M. Cabe ao ncleo sugerir, orientar e incentivar programaes, avali-las e, di- vulgar os resultados obtidos.

    Cabe B.P.M., dentro de suas limita- es especficas utilizar e/ou criar as con- dies necessrias para a execufSo do pro- grama.

    Desse modo a programao de aes voltadas rea rural fazem parte do pla- nejamento das B.P.M. as quais so inten- samente incentivadas nesse sentido. Se fez necessrio, entretanto que o ncleo do sistema criasse as condies indispensveis para a implantao de servios na rea ru- ral, bem como se preocupasse em manter

    io 18(3/41:27/38, Dez/85 33

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  • SERVIOS BIBLIOTECRIOS S REAS RURAIS NO ESTADO DE ST. CATARINA, BRASIL e aprimorar tais condies. Isso porque como j foi antecipadamente citado, tra- balhamos com bibliotecas pblicas bas- tante heterogneas em termos de recursos informacionais, fsicos, materiais e huma- nos e especialmente, com comunidades diferenciadas.

    5.1. CONDIES NECESSRIAS PARA O PLANEJAMENTO

    a) Treinamento de recursos humanos: So de 2 categorias: Treinamento Forma! na qualidade de um curso prtico at 25 alunos e com durao de 60 horas/au- la. Tem como objetivo preparar pessoal para trabalhar em consonncia com os objetivos e diretrizes gerais do Sistema de Bibliotecas Pblicas de Santa Catarina. Nele, dado nfase especial s atividades fins de biblioteca, com destaque especial para a utilizao de instrumentos para co- nhecer a comunidade, estratgias para di- namizar o desempenho da biblioteca e di- vulgar seus acervos e servios, princpios de seleo e servio aos usurios. Treina- mento Informal com durao em torno de 12 horas, individual. Objetiva a intro- duo do responsvel pela biblioteca na sistemtica de trabalho do SBPSC e pro- cura corrigir falhas de conhecimentos ou habilidades que essa pessoa possa ter en- contrado durante o treinamento formal. Em ambas, a criatividade da pessoa esti- mulada no sentido de buscar solues prprias com base nos recursos locais para responder seus problemas ou suportar programas na rea rural.

    b) Diagnstico da situao scio-eco- 34 Revista Brasileira de Bibliotai

    nmico-cultural do municpio executado pelo responsvel pela B.P.M. com acess- ria do ncleo. Para a maioria dos munic- pios o servio a rea rural uma priorida- de tendo em vista a realidade locai, isto : a populao rural superior a populao urbana.

    c) Diagnstico da B.P.M. em termos de acervo e servios, quando comum se detectar os vcios que tradicionalmente ocorrem em bibliotecas pblicas de pases em desenvolvimento: nfase na aquisio de ttulos em literatura erudita (cpia de modelos de pases desenvolvidos) e em ttulos na rea do ensino :suprindo a falta de bibliotecas escolares), tendo em vista o conceito elitista a que est sujeita a bi- blioteca pblica. Estratgia utilizada para corrigir tal distoro: PAG (Programa de Aquisio Centralizada) mediante o qual o ncleo assessora a seleo dos novos t- tulos a serem adquiridos, excuta a compra e remete as obras s bibliotecas pblicas j tecnicamente processadas e acompa- nhadas dos jogos de fichas.

    d) Recursos para a execuo de servi- os rea rural, mediante programas de extenso so inteiramente dependentes das condies naturais locais e da criativi- dade do responsvel pela biblioteca.

    e) Acompanhamento, controle e ava- liao, so executados atravs de: relat- rio bimestral encaminhados ao ncleo do sistema o qual relata todas as atividades que a biblioteca vem desenvolvendo, bem como o movimento do bimestre e relato oral nas reunies de responsveis por B.P.M. que ocorrem 3 (trs) vezes no ano.

    O desempenho das B.P.M. divulgado nonia e Documantaio 18(3/4) :27/38, Dez/85

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  • Mitsi Westphal Taylor

    atravs do Boletim Informativo do SBPSC (semestral), reunies quadrimestrais, par- ticipao do SBPSC em Encontros, Con- gressos e Simpsios. Os meios de comu- nicao de massa so tambm intensa- mente utilizados seja a nvel de munic- pio, seja a nvel estadual.

    6. caractersticas do servio REA RURAL DO SISTEMA DE BIBLIOTECAS PBLICAS DE SAN- TA CATARINA

    Dos 70 (setenta) municpios que entre agosto de 1979 a junho de 1985 se vincu- laram ao SBPSC, 45 deles tem uma base econmica essencialmente agropecuria. A zona urbana de tais municpios pe- quena e bastante primitiva e apresenta traos indelveis de uma vivncia rural. Em tais municpios a biblioteca pblica se destina essencialmente populao rural e sua clientela tanto na "sede" da biblio- teca quanto nas suas "extenses" so pra- ticamente idnticas. Em 21 (vinte e um) municpios a populao urbana duas ve- zes maior que a populao rural. Nestes, a zona urbana est claramente definida, "sede", atende especialmente a uma po- pulao com caractersticas urbanas e, de- senvolve programas de extenso na rea rural, trabalhando portanto com 2 cate- gorias de clientela. Quatro municpios possuem a populao igualmente dividida entre a zona rural e urbana.

    a) Categorias de servios Os servios rea rural se desdobram em duas catego- rias, com objetivos prprios tendo em vis- ta a clientela alvo. Categoria A Servios Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documei

    infncia Objetivo desenvolvimento e manuteno da alfabetizao funcional, atravs da prtica da leitura da palavra es- crita e desenvolvimento do gosto pela lei- tura. Preocupa-se em investir no adulto de amanh enquanto usurio da informao escrita e como tal capaz de usufruir df uma educao continuada. Categoria B - Servios a adultos Objetivos: Manuten- o do estado de alfabetizao funcional; fornecimento de informaes de natureza utilitria; resgate e preservao dos traos culturais caractersticos da comunidade. Preocupa-se em fornecer meios para auto- educao e lazer queles indivduos cuja educao formal parou num estgio pre- coce, responder aos anseios informacio- nais de natureza prtica mediante a utili- zao de diferentes veculos de informa- o, respeitar os valores particulares dos diferentes grupos de vida humana associa- da.

    b) Acervos Livros para adultos procura-se na medida do possvel atender s solicitaes dos usurios. Livros para crianas so adquiridos mediante com- pra e doaes do INL. Hoje o Brasil tem uma produo literria infantil relativa- mente grande e de boa qualidade.

    Informaes de natureza utilitria So levadas de acordo com as necessida- des expressas ou latentes na comunidade.

    c) Veculos de comunicao utilizados Dada a falta de textos escritos de uma maneira simples que possam oferecer res- postas s solicitaes de informao de natureza utilitria e, de outro, a freqente utilizao de canais orais para a transfe- rncia da informao nessas comunidades,

    ao 18(3/4): 27/38, Dez/85 35

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  • SERVIOS BIBLIOTECRIOS S REAS RURAIS NO ESTADO DE ST. CATARINA, BRASIL a biblioteca pblica usa essencialmente a comunicao oral, face a face. executa- da tanto informalmente (em respostas s necessidades individuais) como formal- mente (mediante palestras e cursos prti- cos). Costuma-se convidar "experts" da prpria comunidade para proferir as pa- lestras ou ministrar cursos. As vezes as pa- lestras e cursos so enriquecidos com audio-visuais ou demonstraes prticas. Na divulgao dos acervos, servios e pro-

    " moes especiais da biblioteca so utiliza- das; Ifderes de opinio locais (especial- mente padres e pastores) cartazes afixa- dos em pontos de reconhecida afluncia de publico (correio, farmcia, agncia bancria, casas comerciais, etc.). O rdio e o jornal (quando existem) so bastante utilizados.

    d) Pontos de servios na rea rural So utilizados geralmente escolas e igre- jas. Cabe a elais executar o emprstimo do material sob seus cuidados e oferecer es- pao ffsico para eventuais programas es- peciais da biblioteca.

    e) Embalagens e meios de transportes e controle Variam de acordo com os re- cursos naturais de cada municpio. Aqui o que manda a criatividade do respdns- vel. Os livros so embalados em caixas (madeira, papelo ou plstico) ou sacolas (aniagem, algodo, plstico). Como meio de transporte ^o utilizados especialmen- te veculos da prpria Prefeitura, que as- sociam s suas funes regulares o trans- porte das "bibliotecas ambulantes".

    Em alguns casos o responsvel pela bi- blioteca pblica acompanha a "biblioteca ambulante" at seu destino e l faz o em- 36 Rsvista Brasileira de BIbliotec

    prstimo. Em outros casos, a "biblioteca ambulante" encaminhada e, um mem- bro (da escola ou da igreja) executa o em- prstimo.

    As "bibliotecas ambulantes" quando operadas atravs de escola visam especial- mente o usurio infantil. Quando opera- das atravs de igrejas se destinam especial- mente ao usurio adulto. Neste ltimo ca- so o emprstimo das obras feito aps o servio religioso. As "bibliotecas ambu- lantes" so encaminhadas aos pontos de servios acompanhadas de uma listagem de seu contedo e uma cpia permanece na biblioteca pblica. O controle do em- prstimo feito utilizando do Sistema Newark (simplificado).

    f) Programao Especiais Ao lado do fornecimento da leitura e da informa- o de natureza utilitria tais bibliotecas desenvolvem programaes especiais com e para seus usurios. Para a faixa infantil, a hora do conto, teatro de bonecos, es- petculos musicais, recitais e celebraes de dias especiais, funcionam como moti- vadores de leitura e transmissores de edu- cao de base. Para os adultos, as datas nacionais associadas s atividades agrco- las e pecurias so usadas como base para a promoo de palestras e exposies (de produtos, de artefatos e ferramentas, de fotos antigas, etc), valorizando o homem do campo e seu trabalho. Durante os eventos e datas tradicionalmente festej?- das em tais comunidades, a biblioteca p- blica geralmente procura garantir um. es- pao para promover seus prprios acervos e levantar recursos para ela prpria,

    g) Resgate e preservao da memria >nomia e Documentao 18(3/41:27/38, Oez/8S

    cm 1 Digitalizado

    gentilmente por:

  • Mitsi Westphal Taylor

    local Algumas dessas bibliotecas pbli- cas esto desenvolvendo um arquivo his- trico (fotografia e documento) outras, um museu (objetos e utenslios perten- centes aos primeiros colonizadores) e uma delas est levant