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O C U L T E

//expedienteed. 01 ano: 01 nov’12

Trabalho de Conclusão da disciplina Fundamentos da Comuncação (Prof. João Car-los Gonçalves), com a colabo-ração da disciplina Estrutura da Linguagem Visual (Profa. Maria Beatriz Ribola.) ESPM 2012/2.

IMPRESSÃO ÚNICADISTRIBUIÇÃO INTERNA

VENDA PROIBIDA

DIREÇÃO DE CRIAÇÃOGuilherme Boechat

CURADORIA EDITORIALMichel Nepomuceno

EDIÇÃORenan Reis

REVISÃOVictoria Oliveira

ESTRUTURA VISUALBeatriz Zaupa

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PAVILHÃO DA BIENAL

THIRTIETH

7 SET – 9 DEZ 2012

PARQUE DO IBIRAPUERA

SÃO PAULOBRASIL

SEP 7 – DEC 9 2012

THE IMMINENCE OF POETICS

WORKSHOP DE IDENTIDADE VISUAL DA TRIGÉSIMA BIENAL DE SÃO PAULO – DANIEL TRENCH

WORKSHOP DE IDENTIDADE VISUAL DA TRIGÉSIMA BIENAL DE SÃO PAULO - DANIEL TRENCH

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A Oculte é uma publicação temática que tem por objetivo a análi-se e o diálogo da arte de maneira interpretativa, fazendo com que o ocul-to se revele, que a abstração consiga ser trazida para uma linguagem ver-bal, de tal maneira que desperte interesse e satisfação pela arte. Nosso nome é um jogo entre a ocultação e a manifestação para o observador.

Diversidadepoética,inovação,organização,significado:essassãoalgu-mas características encontradas na 30° Bienal de São Paulo e, por tal motivo, essa edição da revista Oculte presta uma homenagem à essa instituição que promove desde 1962 a arte contemporânea e estimula a cultura no Brasil. Nesse ano, a Bienal chega a um dos seus melhores momentos, mais arejada e melhor disposta, todos os 111 artistas foram colocados na instalação em constelações de maneira que se valorizasse o seu individual, ao mesmo tempo permitisse o observador fazer relações entre eles. A 30ª Bienal de São Paulo é um tema muito pertinente e mais que uma oportunidade para que se faça tal revelação. Com mote “A iminência das Poéticas” que representa o silêncio que ante-cedeafala,aBienalfoidivididaem5zonas:Sobrevivências,Alterformas,Derivas,Vozes e Reverso, todas elas mostram a arte com um instrumento de expressão, onde cada obra provoca diferente emoções e sensações em cada espectador. Ao longo dessa edição, artistas como Arthur Bispo do Rosário, David Moreno, Eduardo Gil, Lucia Laguna, Tehching Hsieh e Bas Jan Ader serão apresentados e suas obras analisadas sob a perspectiva das suas exposições na Bienal e re-ferencias teóricas que permitem a compreensão mais profunda de suas poéticas.

Esperamos que aprecie!

- Oculte.

editorial ///////

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PAVILHÃO DA BIENAL

THIRTIETH

7 SET – 9 DEZ 2012

PARQUE DO IBIRAPUERA

SÃO PAULOBRASIL

SEP 7 – DEC 9 2012

THE IMMINENCE OF POETICS

WORKSHOP DE IDENTIDADE VISUAL DA TRIGÉSIMA BIENAL DE SÃO PAULO – DANIEL TRENCH

WORKSHOP DE IDENTIDADE VISUAL DA TRIGÉSIMA BIENAL DE SÃO PAULO - DANIEL TRENCH

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trigésima

bienal de

são paulo

a iminência

das poéticas

workshop de identidade visual da trigésima bienal de são paulo - matheus leston

7 set a 9 dez 2012

pavilhão da bienal

parque do ibirapuera

são paulo brasil

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trigésima

bienal de

são paulo

a iminência

das poéticas

workshop de identidade visual da trigésima bienal de são paulo - matheus leston

7 set a 9 dez 2012

pavilhão da bienal

parque do ibirapuera

são paulo brasil

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Leitmotiv de performancepor Guilherme Boechat

No ritmo das poéticas iminentes, a 30º Bienal de São Paulo surge como um espaço de transforma-ção e ativação do social. Os pavilhões constituem-se em constelações e manifestações e, o papel do artista é assimilado como sujeito “anti-disciplinar”, que posicio-na-se ante a ideologia de todo um mundo de experiên-cias, em que “todo existente é análogo de todo existente” (Goethe). A Bienal funciona, assim, como plataforma e território de encontro da produção cultural contempo-rânea, de natureza múltipla e mutação constante, e a obra como o ponto de representação da vida do artista. Dada a abertura imediata para permanente in-terlocução e desenvolvimento de novas constelações, o tempo todo fazemos associações de artistas, obras e referências. Das diversas associações possíveis e das que fiz, a quemaisme chamou atenção foi a deTeh-ching Hsieh (Nan-Chou/Taiwan) e Bas Jan Ader (Wins-choten/Holanda), os dois trabalham com excelência a representação do cotidiano banalizado; dos gestos que anulam o olhar e atuam como instáveis no mundo; da alienaçãodotrabalho;dafiguralidadedocorposocial;doentorno como ameaça e da intimidade que surge como estranha, como se a mesma não pudesse ser parte da realidade comum, esta que, esconde, dissimula e su-blima a verdade - que pode ser violenta e sarcástica. Em uma de suas sequências das “One Year Per-forman ce”, “Time Clock Piece” (1980-1981), o Tehching nos leva à um questionamento a cerca da pontualidade cotidia-na, do tempo efêmero e do limite entre a vivencia e a arte. Seria a arte um limite da vida ou a vida um limite da arte? O espaço representado na Bienal recria perfeitamen-te o ambiente da performance: um paredão reple-to de autorretratos feitos em quadro único com filmede 16mm mostrando as mutações do artista durante a criação da obra acompanham os pontos registra-dos cuidadosamente, incluindo as horas marcadas e a assinatura do mesmo. A máquina de ponto utilizada para registrar as horas e a câmera para os autorretra-tos também estão presentes na composição da cena.

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No chão, ao lado da máquina de ponto, há o formato de dois pés, um convite para fazer parte da obra. As marcas no chão que convidam atuam como espelhos, ao colocar-se ali, imediatamente o espectadorsevêcomooartistaereflete:estaríamosnóspresosnabanalidadecotidiana,diantedaefe-meridade do tempo e, atuando de forma inerte perante tantas possibilidades de experimentar o mundo?

Jan, remetendo-se, também, à fragilidade humana, à ex-ploração da fuga e do isolamento no espaço cotidiano, insere um novo elemento em sua composição, tratando dos riscos que es-tão iminentes em nossa existência. Na nossa essência de solidão e medo, o artista que no decorrer de uma de suas performances registradas em vídeo – “In Search of the Miraculous” (1975), de-sapareceu no Oceano Atlântico à bordo de um pequeno veleiro, é capaz de provocar e chocar, ao mesmo tempo em que coloca hu-mor em suas obras de intensa melancolia. O Corpo é colocado de forma extremamente frágil, em submissão à gravidade e outras forças da natureza. Une-se, ainda, à obra de Tehching, pois quan-do estamos a sos com a obra, somos confrontados com nosso pró-prios pesados e subitamente somos colocados no questionamen-to de alcance da arte, que pode ser levada até os limites da vida. Dotadas de estética e visibilidade, as obras de ambos vão além,eprovocamíntimasmodificaçõesnosujeitoqueasvê,sãotransformadoras em sua essência artística e quebram barreiras do sentido comum. A contemplação é inevitável e, às vezes, essencial para compreensão dos signos utilizados na constituição da aborda-gem. O que até então era ausente, faz-se presente das mais diver-sas formas, são agregadores constitutivos, denotam perspectivas.

O código faz-se, então, claro, e a entropia, unidade íntima.As cores costumam ser pálidas e tristes, ao mesmo tempo que podem trazer ao plano a sensação de humor. Pouca luz para comporascenas,filtrostambémfazempartedocontextodecria-ção e o equilíbrio sempre concentrado no objeto central de estu-do, como forma de realçar a mensagem a qual se quer transmitir.

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Loucura ou genialidade? Brilhante ar-tista ou esquizofrênico paranoico? São essas as perguntas que os visitantes da 30 Bienal de Arte se deparam ao visitar o seu segundo andar e olhar as 348 obras expostas das 800 feitas pelo sergipano Arthur Bispo do Rosário. Dispostas por todo um corredor, as criações desse Bispo chamam atenção e se consagram como uma das melhores da Bienal de 2012. Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba em 14 de outubro de 1911, em-bora nunca tenha proferido onde nasceu para ninguém em sua obra “Dicionário dos No-mes” é possível ver gravado “Augusto dos Santos - Missão Japaratuba município Ser-gipe”. Em 1925 saiu do nordeste e foi tentar

“Um dia, eu simples-mente apareci”

a vida no Rio de Janeiro aonde foi pugi-lista, marinheiro, guarda-costas e jardineiro, mas em 1938 após um delírio é internado na Colô-nia Juliano Moreira, aonde retorna de novo em 1964eficaatésuamorte1989.Nesses50anosde internamento nunca recebeu uma visita e foi enterrado como indigente em uma cova, apenas 14 anos depois teve o devido reconhecimento e hoje se encontra enterrado em sua cidade natal. Sua vida artística teve inicio com um delí-rio, se auto intitulando Jesus Cristo dizia ter uma missão de reconstruir o mundo na Terra e isso aconteceria no juízo final ,foi assim então quesua vida artística começou, produzindo diversas coisas dentro do próprio hospício embora o pró-prio nunca tenha visto suas criações como arte.

por Victoria Oliveira

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Ao caminhar por suas criações na Bienal percebe-se que elas foram dis-postas de maneira que se preze o todo das criações e não apenas o individual, mistu-rando-se os bordados, maquetes e pinturas, é possível notar também que todas elas fo-ram feitas de maneira original e são registros da sua passagem na Terra através da sua percepção de mundo, existindo elementos culturais que em algum momento estiveram presentes na sua vida como influências docristianismo e do candomblé, dos grupos so-ciais no qual esteve inserido, tudo isso está presente na sua obra como em "Grande Ve-leiro" onde cada bandeira contém o nome de cada estado nacional, fazendo ligação a sua vida de marinheiro ou na obra "Boxer". Objetos como jornais, lençóis, chine-loseramusadoseseussignificadosrecriadospelo Bispo, aproximando assim suas criações ao movimento dadaísta (que também pegava objetoseressignificavaeles),naobra"Cane-cas” é possível notar bem essa característi-ca. Dentro da própria Bienal percebe-se como sua obra tem relação com outros artistas como Nicolás Paris, artista colombiano que assim como Bispo do Rosário utilizava objetos e dava outro sentido a eles, reinterpretando a própria vida. Uma obra que merece atenção especial é o “Manto da apresentação”, feita pelo Bispo paraservestidanodiadojuízofinal,umco-bertorquetemsímbolos,figuras,númerosbor-dadosquerepresentaaomesmotempoofime o começo, ela é a junção de todas as suas influências e características presentes nasoutras obras, essa criação se tornou sua pró-pria memória e sua vida em uma obra de arte.

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Calcule o improvisopor Beatriz Zaupa

Um dos grandes destaques brasilei-ros na 30° Bienal é a artista Lucia Laguna, cuja principal temática é a paisagem. Essas são retratadas de forma pictórica, mesclando a paisagem urbana real com as imagens de sua imaginação. Suas obras tem aparência de um espelho quebrado evocando o rigor da abstração informal, pois, conta com justapo-sições de formas, cores e linhas. Apesar de quase abstrata, as composições são calma-mente calculadas, com objetivo de produ-zir uma imagem permanente viva e mutável. A artista nasceu em Campo dos Goytaca-zes, RJ, em 1941, e iniciou sua vida artística em 1990 por meio de cursos de pintura e história da arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, posteriormente participou do Panorama de Arte Brasileira, MAM-SP, fez parte do Programa Ru-mos Artes Visuais e em 2006 foi premiada pelo Instituto Itaú - Prêmio CNI SESI Marcantônio Vilaça. A maior parte das obras suas estão no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Lucia Laguna realizou 35 obras exclu-sivas para a 30° Bienal, entre elas, a obra “ Ateliê/Bienal” é a principal. Esta possui 35 te-las em acrílico e óleo em dimensões variadas, são predominantes na imagem a horizonta-lidade de listras, retângulos e outras formas geométricas. O nome do quadro faz jus ao tema, os elementos presentes na figura sãocomplementares e retratam a Bienal reconfi-gurada perante às imagens surreais da artista. Alguns cortes presentes na obra, ilus-tram os andares que estão repletos das com-posiçõesdiversificadas.Alémdisso,asrampase escadas estão representadas pelas placas de acrílicosmaissuperficiais,embranco.Aformacomoessafigurafoiestruturada,permiteinter-pretaracomplexidadeeaunificaçãodasobrasque compõe a exposição. Ou seja a pesar das obraspossuíremumsignificadoparticular,háalgoqueasunepermitindoumaressignificação.

O quadro ainda relaciona elementos fun-damentais da vida pessoal da artista que por viver no Rio de Janeiro em frente ao Morro da Manguei-ra se sente instigada a utilizar as cores rosa e ver-de e a retratar algumas peças do seu cotidiano. Na obra “Construcíon II – Cajamarca#2 “ de Edi Hirose, também presente na Bienal, pode-se notar o oposto. O artista foca sua criação em aspectos realistas que expressem a vida das pes-soas sem o movimento e sem o abuso das cores de “Ateliê/Bienal”, a obra de Edi, trabalha a frieza e a solidão e principalmente a falta de diversida-de. Obras que retratam a sociedade podem ter di-ferentes perspectivas, e o ponto de vista de Lucia Laguna transmite sua visão positiva do mundo.

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Nosso Legadopor Michel Nepomuceno

David Moreno nasceu em Los Angeles, em 1957 e atual-mente vive em Nova York, possui exposições no PS1 – Museu no Brooklin (braço experimental do MOMA). O artista gosta de articularsuasobraslevandoemcontaafiguralidadedosomeasonoridadeda imagem,pormeiode instalações, fotografiasalém de se utilizar de muita experimentação de formas geométri-cas em pinturas, às vezes rabiscadas, deformadas, subvertidas. Os temas da mortalidade do corpo, a condição animal do ser humano são recorrentes em sua obra. O próprio David Moreno definemuitobemasuaobranaseguintecitação:“Sópossodizerque quando alguém deseja saber algo, esse algo sempre parece fora de alcance (e com o tempo pode ou não ser entendido). Mi-nhas imagens beiram o absurdo porque esta parece ser a única maneira de representar um estado de querer saber”, diz o artista. Com a obra Touch (Toque) de 1992, David Moreno real-mente consegue representar um estado de querer saber, com sucessivas fotos mórbidas em paginas de livros de pessoas que representaram um papel importante na historia da humanida-de,personalidadescomo:NapoleãoBonaparte(politico),AlbertLortzing (compositor), Richard Wagner (compositor), Christian Rauch (escultor), Eduard Morike (poeta), Thomas Paine (ativista politico),FriedrichNietsche(filosofo),AdolfMenzel(artistaplás-tico).Eemcadafotografiatemborrõesdetintaemseusolhos,como se essas pessoas estivessem cegas, mas observando a obra mais atentamente, se consegue reparar, e como já disse Jose Saramago: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. O olhar dessas pessoas esta transbordando, como se a percepção deles, sua visão de mundo, estivessem muito além do que esta escrito nas paginas dos livros. Existe tam-bém os dois borrões laterais da fotografia, observando comatenção se percebe que essas paginas estavam dobradas, e que os borrões laterais são efeito da tinta colocada na foto, e que acabou passando para a pagina de trás. Essas pesso-as possuíam uma visão aprofundada de uma tal maneira que transpassa para a pagina seguinte, como se aquelas paginas não fossemo suficiente para conter o olhar, a visãodemun-do e as palavras daquelas personalidades. Cada um atuou de maneira diferente, alguns através do poder e da politica, ou-tros através das esculturas, poesias e artes plásticas em geral.

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Em ambas as obras (Touch e Silence), o artista colocou quantos anos a pessoa viveu, sua data denascimentoesuadatadeóbito,issoéumconvitedoartista,umconviteareflexãosobreavidaeamorte e o legado que esses seres humanos construíram no tempo de vida que tiveram, uma intimação constrangedora que o artista faz, nos obrigando a pensar na existência e no sentido dela, e a partir dessa intimação a comparação se torna inevitável, entre as nossas vidas, o nosso legado e o daquelas pessoas já mortas. Nos obriga a pensar qual legado estamos construindo com os anos de vida que nos restam, e pelo o que seremos lembrados. Todos esses homens e mulheres, tanto na obra Touch, quanto na obra Silence,deixaramalgo,umlegado,asduasobrasnoslevamaseguintepergunta:Eonossolegado? As mensagens de David Moreno necessitam de um alto repertorio, reconhecer os no-mes de cada pessoa na obra e o seu papel na historia da humanidade é essencial para o enten-dimento da obra, o que acaba causando uma maior modificação, e também consequentemen-te acaba por diminuir o tamanho da audiência que a mensagem vai atingir. Como o numero de modificações que ela pode causar é grande, seu valor também se torna alto.A obra possui pou-ca previsibilidade, necessitando de repertorio. Tanto na obra Touch como na Silence, o espectador não vai ao objeto, mas é o objeto que vai ate o seu espectador testando o seu repertorio. Acredito que ambas as obras tem maior valor pois, tendem a entropia máxima, sem cair nela, assim sen-do possuem uma taxa alta de informação, mas de maneira sem prejudicar a inteligibilidade.

Na obra Silence de 1992, outras personalidades, tem suas fotos em paginas de livros assim como naobraTouch,entreelas:GeorgeWashington(politico),JohannWolfgangvonGoethe(escritor),WilliamShakespeare (dramaturgo). Mas dessa vez com megafones em suas bocas, como se a sua voz quisesse ser ouvida, como se a voz dessas pessoas tivessem ecoado para fora das paginas dos livros de historia, doslivroscientíficosetivessemsidoouvidaspelomundo,oucomosepossuíssemessedesejodesairdes-ses livros e alcançar a humanidade. Apesar da morte eles não foram silenciados, como se as paginas dos li-vros que eles se encontram agora atribuíssem voz equivalentes as de um megafone, e que vão muito além.

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Colchões de Históriaspor Renan Ferreira

Na trigésima edição da Bienal de São Paulo é possivel encontrar uma obra que chama bastan-tante atenção do público. Eduardo Gil através de sua genialidade transformou colchões de um orfanato emumobradeartecheiadesignificadosehistórias.Eduardo Gil, nasceu na Venezuela e se formou na Metropolitan University em Caracas como en-genheiro civil. O engenheiro acabou se tornando também um artista que expôs o seu trabalho em diversos lugares como: Lisa Sette Gallery, Institu-to Cervantes e Queens Museum of Art nos EUA, e ainda se tornou um jogador de Tênis profissional. A obra Urine Readings ou Leituras de Urina comecou a ser preparada desde a vigésima sétima bienal em2006eficouprontasomentenessaedi-ção do evento. Ela foi feita com 18 colchões vindo de diversos orfanatos de São Paulo, todos estavam com marcas de urina e bem desgastados. Em troca, os orfanatos receberam brinquedos e colchões no-vos para repor os que haviam sido doados ao artista. Os colchões foram levados a “médiuns” liga-dosaoespiritismoquefizeramumaleituradasman-chas nos colchões da mesma forma em que se lê bor-ras de café, analisando o passado, presente e futuro da criança que lá dormiu. Cada leitura foi gravada e colocada em uma caixa de som dentro dos seus res-pectivos colchões. A leituras são na sua maioria his-tórias tristes e sofridas da vida dos garotos e garotas. A peça não presa pela beleza estética, mas pela mensagem que a obra quer transmitir. Eduardo Gil foi brilhante, e a bienal diz exatamente isso. A obra do artista, assim como as outras obras da Bienal, não são de fácil interpretação, elas são carregadas de sig-nos e com uma alta entropia. É necessário entender a conotação que a obra traz, não simplesmente le-la de formasupérflua,poisnãoserápossívelalcaçarosig-nificantedacriação.Alémdissoépossívelencontrarequiilíbro e simetria na sala onde a obra se localiza, trazendo uma organização e um sentimento de paz e calma. Um paradoxo com o que a obra apresenta.

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Na obra Urine Readings, Eduardo Gil busca sensibilizar o leitor sobre sofrimento que as crianças já passaram. O autor buscou trazer do orfanato um mundo desconhecido para a maior parte das pessoas, as sensações e os sentimentos que cada criança passou. A falta de bel-za estética é proposital, pois tem o intuito de trazer um mal estar psicológico, trazendo à tona o que as crianças passaram e até mesmo de alguma forma relembrar a infância desse leitor. Analisandoosignificadodaobraeamensagemqueelanosquerpassar,osomdasgra-vações saindo de dentro dos colchões mostra que não importa o quanto uma pessoa mude e se transforme, comforme acontece em algumas histórias das crianças contadas pelos mediuns, o seu passadoficaráparasempremanchadoemcadaobjetoepessoacomasquaisconviveu,mostrandoque mesmo se morrermos nossa história continuará viva, até mesmo em uma mancha de urina.

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OBRA DE ARTEAUTOMATIZADApor: coletivo oculte

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Na Bienal, um artista que chama atenção pela sua obra fotográfica é Nino Cais, pormeio da fotografia ele funde seu corpo com utensílios domésticos, tudo na tentativa de ex-trair poesia dessa relação física, uma maneira do indivíduo adquirir uma gama de identidades.NinoCaisatravésdafotografia,seafastadarealidadedemodorepresentativo,apesardafotografiaserumretratofieldarealidade,oartistadeixamargemàinterpretações.Essamargemtornaaimagemrepresentativa e não uma imagem pura, pois na imagem pura não existe uma necessidade de cogni-ção, de interpretação. Na imagem pura se recebe uma sensação, os elementos puros, e claramente sepodeperceber,seressaumaimagemtotalmentefigurativaquenecessitainterpretação.A inter-pretação mesmo sendo livre, não se pode trazer a realidade através da linguagem verbal. Apesar de ser uma imagem representativa, ela ainda possui um alto nível de abstração, pois não se sabe ao certo o que o artista quer passar com a foto, e nunca conseguiremos interpretar a imagem em sua totalidade.

ComoAumontdizemseulivroAImagem:‘’Aimagemrepresentativa,sempre,foitambémima-gemabstrata’’.ObservandoasobrasatravésdosvaloresplásticosqueAumontestabelece,podemosconsiderarafotografiahoje,comosendoumaarteplástica,poisaquelaideiaantigaerudimentaremqueafotografianãopossuimaleabilidadeestácompletamenteequivocadaeatrasada.Pode-seutilizardagramaticaplásticaparasemodelaraestruturadeumafotografia,superfície,cor,gamadevalores,etc.

A obra de Nino Cais é apenas um exemplo de que as batalhas no terreno da plasticidade sobre fotografiaecinemaseremdesconsideradosobrasdeartejáestãomaisqueultrapassadas.Aobraémuitoexpressiva,seforlevadaemconsideraçãoadefiniçãoformaldeexpressividadedafilósofaamericanaSuzanne Langer, a expressividade está em todas as obras de arte, o que é expresso são os sentimen-tos, a expressividade nada mais é do que a encarnação de uma forma abstrata. Se a arte não-imitativa quetransformaarealidadeévistacomofortementeexpressiva,aarteimitativa(umafotografia),masque não seja uma cópia pura e simples das aparências e que se dedique um pouco à abstração será consideradaexpressiva.Aumonttambémdisse:‘’Aarteimplicasempreumprocessodeabstração’’.

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Nino surpreende, inova, inventa visivelmente, e essa ideia também está totalmente liga-da à expressividade, mas não se pode dizer que a deformação faca parte da obra em questão.Quando falamos em valor aurático de uma obra, ou o seu status de obra de arte, pode-mos acabar por marginalizar obras de fácil reprodução consideradas automatizadas, como aprópriafotografia.DeacordocomAumont,essavisãoseriaunilateraleprejudicada,poisafotografiaeatémesmoaimagemanalisadanesteartigopodemserconsideradasobrasde arte, e de acordo com o autor tem o seu valor aurático de obra de arte. A época em que vivemos acabou associando a aura artística à uma assinatura de um determinado artista, ou seaobraéhistoricamenteimportantenocontextodahistóriadaarte,eessadefiniçãocomcerteza será mudada no futuro, pois em qualquer imagem podemos encontrar valor aurático.

Obras de Vermer ou de George de La Tour foram vistas como banais em suas res-pectivas épocas e hoje possuem valor aurático incontestável. Na era da reprodução em massa, a arte automatizada com certeza terá seu valor aurático. Obras como essa, são representativas e ao mesmo tempo possuem abstração, com expressividade incontestá-vel, e na era da reprodução e massa, pode possuir status de obra de arte e valor aurá-tico. As obras de Nino Cais estampam nossa capa e a página que fecha nossa revista.

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O incrívelNino Cais.

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//// ENSAIO VISUAL COLETIVO

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Nosso ensaio visual coletivo, são recortes e ampliações de fotos tiradas enquanto o grupo faz a arte de “Werksatz” (1963-1969), que foi desenvolvida pelo alemão Franz Erhard Walther.Oartista,fazpartedageraçãodosanos60,quedesafiouospadrõeseapostounainteração entre o espectador e a obra. Para ele, não era necessário ser muito complexo ,atos simples de andar, caminhar, deitar já davam base para seu trabalho minimalista . A obra ana-lisada, segue a linha de pensamento de Wather e só ganha sentido por meio da dessa intera-ção com os espectadores, trata-se de um grande retângulo preto no chão , onde grupos de até 6 pessoas recebem diferentes formas de tecidos e utilizando o corpo e a imaginação dão vida à obra. Para as pessoas que visitam a 30° Bienal, e participam dessa ideia , a experiência de deixar de ver a obra, para ser a obra, atinge um resultado positivo, pois, intensas trocas poé-ticas e momentos de reconhecimento e intimidade acabam acontecendo. A mudança de posi-cionamento,nãoinfluenciaapenasosparticipantes,mastambém,comopúblicoaoredordoretângulo, que se sente instigado acompanhar cada segundo, já que a criação passa por um processo de mudança simultâneo. A arte feita por nos mesmos, mostra muito sobre a relativiza-ção do conceito de obra de arte, e o nosso ensaio tem intuito de brincar com essa relativização.

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///////////////////////////// NÓS

// Na foto (da esq. para a dir.): Renan, Beatriz, Guilherme, Michel e Victoria.

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