revista arqviva #002

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arq Uma nova Linha verde: venda de potenciaL constrUtivo na BoLsa de vaLores promete impULsionar o desenvoLvimento da região. esta ideia vai dar certo? # 002 cUritiBa_BrasiL viva ® ARQUITETURA _ CULTURA _ ARTE _ CIDADE prestes a se tornar carBono zero copenhagUe shopping center: o outro lado do “viLão” da vida UrBana reforma no teatro gUaíra resgata modernismo paranaense

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Olhe em volta. É fácil perceber que a arquitetura está em todos os lugares, presente em cada momento do nosso dia a dia. São escolhas técnicas e estéticas que, muitas vezes, passam sem serem notadas por olhares leigos. A maneira como as construções são erguidas e como a cidade se organiza e, ao final, como tudo isso se integra com a paisagem. A principal proposta da revista ArqViva é treinar olhares. Debater a arquitetura e reforçar sua importância no cotidiano da cidade e das pessoas. A publicação aborda temas que envolvem o universo arquitetônico: história, cultura, sustentabilidade, inovações tecnológicas e arte. Tudo isso de forma dinâmica, atual e aprofundada. Como o próprio nome da revista diz, viva.

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arq

Uma nova Linha verde: venda de potenciaL constrUtivo na BoLsa de vaLores promete impULsionar o desenvoLvimento da região. esta ideia vai dar certo?

# 002

cUritiBa_BrasiL

viva®

ARQUITETURA _ CULTURA _ ARTE _ CIDADE

prestes a se tornar carBono zero

copenhagUe shopping center: o outro lado do

“viLão” davida UrBana

reforma noteatro gUaíra

resgata modernismo paranaense

Page 2: Revista ArqViva #002

www.construtorabaggio.com.br

Há 30 anos, a Baggio constrói confiança com qualidade, responsabilidade e muita segurança.São mais de 1.000.000m² construídas e entregues com atenção em cada detalhe.Tudo para transformar cada cliente, num cliente satisfeito.

Curitiba 41 3025 611141 3025 6111Campinas 19 3255 636319 3255 6363Belo Horizonte 31 3546 006631 3546 0066

Page 3: Revista ArqViva #002

www.construtorabaggio.com.br

Há 30 anos, a Baggio constrói confiança com qualidade, responsabilidade e muita segurança.São mais de 1.000.000m² construídas e entregues com atenção em cada detalhe.Tudo para transformar cada cliente, num cliente satisfeito.

Curitiba 41 3025 611141 3025 6111Campinas 19 3255 636319 3255 6363Belo Horizonte 31 3546 006631 3546 0066

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_ EDITORIAL

_ EXPEDIENTE

Oanode2012temum

saborespecialpara

aAssociaçãoBrasileirados

EscritóriosdeArquiteturado

Paraná(AsBEA-PR):completamos

emagosto15anosdeuma

trajetóriaquemuitonos

orgulha.Duranteesseperíodo

conquistamosrespeitoe

credibilidadejuntoàsociedade,

fortalecemosnossaatuação

comoarquitetoseparticipamos

ativamentedediscussõesque

interferemnopresenteeno

futurodeCuritiba.

Emcomemoraçãoaesta

importantedata,lançamoso

segundonúmerodarevista

ARQVIVA,umapublicação

quepromoveadiscussãoda

arquiteturacomprofissionais

daáreaecomtodososquea

consomemdiariamente,mesmo

semsedarconta.

Nestaediçãovocêiráficarpor

dentrodetudooqueenvolvea

vendadepotencialconstrutivoda

regiãodaLinhaVerde.Conversamos

comdiversosespecialistas,que

traduziramdeformasimples

estacomplexaoperaçãoque

envolvepoderpúblicoeiniciativa

privada.Naseção“Viagem”você

descobreoqueCopenhague,

acapitaldaDinamarca,está

fazendoparatornar-secarbono

zero.Otemasustentabilidade

estápresentetambémemuma

reportagemsobreorestauro

doTeatroGuaíra.Aintervenção

temodesafioderecuperaresta

importanteconstruçãomodernista

seminterferirnoprojetooriginal.

Arevistatrazaindaoprojetode

revitalizaçãodaavenidaCândidode

Abreu,umadiscussãosobreouso

deedifícioshistóricosporshopping

centerseumaagendacompletade

exposiçõesculturaisemcartaz.

Boa leitura!

Presidente GustavoPinto

Vice-Presidentes

WaldenyFiuza,ElaineZanon,

OrlandoRibeiro,FrancisoAlmeida,

GilsonWerneck,MargarethMenezes,

ClóvisInácioBohrerFilho,

CristianeLacerda

diretores AdolfoSakaguti,

FredericoCarstens,KeiroYamawaki

conseLHo editoriALGustavoPinto,WaldenyFiuza,

CrisLacerda,ElaineZanon,

AdolfoSakaguti,FranciscoAlmeida,

MargarethMenezes,KeiroYamawaki

eOrlandoPintoRibeiro

AsBeA-Pr • Av.CândidodeAbreu,427,

cj.307-A80530-903.Curitiba-PR

Fone/Fax.:(41)30240090

www.pr.asbea.org.br/[email protected]

ArqVivaéumapublicaçãodaAsBEA-PR

(AssociaçãoBrasileira de Escritórios de

Arquitetura)emparceriacomaIDDesign

ePubliqueEditorial.Areproduçãoparcial

destematerial é permitida desde que

citadaafonte.Oconteúdodasmatérias

publicadaséderesponsabilidadedosautores.

©Todososdireitosreservados.

Para anunciarentre em contato pelo email:[email protected]

Projeto gráfico e Projeto editoriAL ID Design e Publique Editorial

Editora-chefe: LucianaZenti(MTB4059-PR)

Direção de arte:IraisiGehring

Colaboraram nesta edição:

DiogoCavazotti,LuiseTakashina,Fernanda

Peruzzo,PatríciaRibas,RosaBittencourte

RosângelaOliveira(textos).EduardoMacarios,

GersonLimaeFernandaPeruzzo(fotos).

NatáliaRichert(diagramação).

SimonDucroquet(infográficos).

Revisão: JairoHenriqueRodrigueseFaustoTiemann

Tratamento de imagens: CleversonCassaneli

arqviva®

Foto

Ger

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Lim

a

Um novo olharpara a arqUitetUra

Gustavo Pinto (àdireita)

Presidente da AsBEA-PR

(2008-2010 / 2010-2012)

Orlando Ribeiro (àesquerda)

Presidente da AsBEA-PR

(2012-2014)

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Page 12: Revista ArqViva #002

24

48

especial Quem paga mais?Venda de potencial construtivo na Bolsa de Valores promete impulsionar o desenvolvimento da região da Linha Verde.

História

pausa para o intervaloRestauro do Teatro

Guaíra resgata a história da arquitetura modernista no Paraná.

ÍNDICE

mais _

16 agende-se Exposições e mostras

culturais em Londres,

Nova York e São Paulo.

58 novidades & inovaÇÕes

Criatividade e soluções

arquitetônicas inusitadas.

+Fo

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36viagem

metrópole verdeA ousadia de Copenhague a favor do desenvolvimento sustentável.

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Page 13: Revista ArqViva #002
Page 14: Revista ArqViva #002

72Urbanismo

a vez é dos pedestresProjeto da nova avenida

Cândido de Abreu retoma a vocação da cidade

para os calçadões.

60

80

entrevista ConsUmo x História: esta relação dá Certo?Os arquitetos Yumi Yamawaki e Fábio Duarte debatem a construção de shopping centers em edifícios históricos.

design & ConCeito

lUxo italianoEdifícios condenados ganham vida com reformas ousadas e sustentáveis.

ÍNDICE

Foto

Edu

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mais _

82reCorte da CidadeO artista plástico João

Dias retrata uma cena de rua.

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Page 16: Revista ArqViva #002

EmCuritiba,astemperaturasjácaíram,os

pinhõesestãodevoltaealutadiáriapara

ficarmaistemponacamatorna-seacadadiamais

intensa.Masnadadissodeveserdesculpapara

ficaremcasa,especialmenteparaquemgostade

arteecultura:nesteinverno,acapitalparanaense

estácomumabelaexposiçãoemdestaqueno

MuseuOscarNiemeyer: Poty, de todos nós. A mostra é um presente a todos os

paranaenses:nosalãoprincipaldomuseu,o

Olho,estãodispostoscercade800itensque

compõematrajetóriadePotyLazzarotto,umdos

maisimportantesartistasdoParaná.Desenhista,

ilustrador,muralista,gravadoreprofessor,o

curitibanoNapoleonPotyguaraLazzarotto–o

Poty–ganhounotoriedadeporseutraçomoderno

ediferenciado.Namostrahámaterialinédito,

comofotosfamiliaresecorrespondências,além

deilustraçõesfeitasparaobrasliterárias(muitas

deoutroparanaensenotório,ovampiroDalton

Trevisan),bemcomoesboçoseestudosnãotão

conhecidosdopúblico,feitosemviagens.Uma

lindahomenagem.

arqviva16/

Poty Lazzarotto no Mon

aGEnDE-SE

SErVIÇo: Poty, de todos nósAté 30 de setembroMuseu Oscar NiemeyerRua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico, Curitiba41 3350 4400

Curitiba

Foto

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ção

Imag

em re

prod

ução

Por Patrícia ribas

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Page 18: Revista ArqViva #002

EstáemexibiçãonoMASP,emSãoPaulo,

amaiorexposiçãojáreunidanaAmérica

doSuldogênioitalianoMichelangeloMerisi

daCaravaggio.Consideradoumdosprincipais

representantesdobarroco,criadordeumatécnica

ímpardecontrasteentreluzesombra–oque

trazdramaticidadeeveracidadeaosquadros

–,oartistachegaaosbrasileirosemseistelas,

querepresentamboapartedaproduçãototal

conhecidadopintor:háapenas62obrastidas

comooriginaisdeCaravaggio.

AmostraCaravaggio e seus Seguidores,queépartedaprogramaçãodoeventoMomento

Itália-Brasil2011-2012,reúneaspinturasSão

JerônimoqueEscreve,SãoFranciscoem

Meditação,SãoJanuárioDegolado,Retrato

doCardealeMedusaMurtola.Estesdoisúltimos

trabalhos,aliás,nuncahaviamdeixadoaItália.

Aexposiçãoaindadestacaoutras14obras

deartistasimportantesdasegundametade

doséculo16einíciodoséculo17queforam

influenciadospelatécnicaepeloestilodo

artista,chamados“Caravaggescos”.

Segundoosorganizadoresdoevento,a

produçãodeCaravaggiosefundamentaem

trêstemáticasprincipaisequeestãopresentes

naexibição:temasbíblicos,mitológicosedo

cotidiano.Aspinturasexpostasretratamvários

períodosdavidadoartistaeforamdivididasem

blocos:trabalhosconsagradoseconhecidos,

novasdescobertasequadrosconsiderados

“problemas”pelaHistóriadaArte–obras

aindaemestudoededifícilclassificação.

Alémdeintegraremcoleçõesparticulares,

aspinturasprovêmdeimportantesmuseus

italianos–GalleriaBorghese(Roma),Palazzo

Barberini(Roma)eGalleriadegliUffizi(Florença).

Oportunidadeímparparaapreciarotalentode

umgrandegênio.DepoisdoBrasil,amostra

segueparaaArgentina.

arqviva18/

Foto

Ora

zio

Borg

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i

recebe obras do grande mestre da luz e sombra

agende-se

serVIÇo: Caravaggio e seus SeguidoresAté 23 de setembro

Museu de Arte de São Paulo – MASPAvenida Paulista, 1578, São Paulo

11 3251 5644

são Paulo

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Page 20: Revista ArqViva #002

do que uma instalação arquitetônica: uma

verdadeira “máquina despoluente”, com

canhões de água e purificadores de ar. A

intenção é remover a emissão de poluentes

do equivalente a 260 veículos durante o

período em que ficar em exibição. Uma

vitrine e tanto para novos talentos.

Outro programa imperdível é o Museu de Artes e Design, o “MAD” (The Museum of Arts

and Design). Com uma coleção permanente

incrível e voltado a mostras que valorizam a

criatividade e o contemporâneo, este museu

tem como diferencial a visita guiada, que foge

do conceito tradicional. Em vez de funcionários

sisudos, os responsáveis pelo tour são voluntários,

verdadeiros apaixonados por design e arte

moderna. Isso faz do passeio uma experiência

rica e interativa. Leva em média 45 minutos e

já está incluído no preço da entrada.

arqviva20/

AGENDE-SE

Nova Iorque SERVIÇO:Wendy, por HWKN11 West 53 StreetAté setembroNova York, NY 10019 momaps1.org/yap/view/15

Museu de Artes e Design - MAD2 Columbus CircleNova York, NY 10019www.madmuseum.org

A cada ano o mundo da arte e da arquitetura volta os olhos

a Nova York para a divulgação do Young Architects Program (YAP), concurso realizado pelo Museu de Arte Moderna

de Nova York e pelo MoMA PS1. Os ganhadores de 2012, a 13ª

edição do evento, são os nova-iorquinos Matthias Hollwich e Marc

Kushner, que vão apresentar a obra Wendy. Aliando conceitos

de arquitetura e sustentabilidade, o projeto se propõe a ser mais

A visita guiada do “MAD” (The Museum ofArts and Design) é um dos destaques do museu.

ApRESENtA EStRElAS DA ARquItEtuRA

Imag

em c

orte

sia d

e H

WKN

Page 21: Revista ArqViva #002
Page 22: Revista ArqViva #002

arqviva22/

Ofogsefoienoverão,comdiasmaislongoseensolarados,

Londresfervedeatrações.Dosmuseusecentrosculturais

aospubs,hámuitooquesefazernacapitalbritânica,

sobretudonesteano,emqueacidaderecebeasOlimpíadas(27

dejulhoa12deagosto)easParaolimpíadas(29deagostoa9de

setembro).Assim,hámuitasnovidadesparaencantarosvisitantes.

Limitar-seaoroteirobásicodeBigBeneParlamento,comdireitoa

cháefishandchips,sóparaquemnãoquersedivertir.

De21dejunhoa9desetembro,aconteceo London 2012 Festival,eventoquepegacaronanafebredosjogosolímpicose

quemobilizarápraticamentetodososespaçosculturaislondrinos.

São12milatraçõesdiversas,envolvendoarteedesign,música,

literatura,cinema,modaegastronomia,além,éclaro,deteatro

(afinal,estamosnaterradeWilliamShakespeare).Háapresentações

emdiferentespontosdacidade,inclusiveemparques.Eomelhor:

muitasdelassãogratuitas.Ésóficaratentoàprogramação.

Dentrodasatraçõesprevistas,umdos

destaqueséamostradoartistaplásticobritânico

Damien Hirst, umdosmaisinfluentes–epolêmicos

–desuageração,nagaleriaTateModern.Orçadas

emmilhõesdereais,asobrasdesteinglês

ganharamaatençãodamídiaemtodomundo

porumfatorinusitado:alémdeteramortecomo

temapredominantedostrabalhos,Hirstusacomo

matéria-primacorposdeanimais–preservados

emformolouefetivamenteapodrecendoem

público(comonainstalaçãoAthousandyears,de

suamostradeestreia,em1990,quetrazacabeça

deumavaca,cobertademoscas,emavançado

estadodeputrefação).Alémdessaobra,estará

emexibiçãoumdostrabalhosmaisconhecidos

doartista:Thephysicalimpossibilityofdeathin

atrações para além das Olimpíadas

AGENDE-SE

Obras do artista plástico Damien Hirst estão em exposição na Tate Modern. Tubarão preservado em formol é uma das atrações.Londres:

Foto

divulga

ção

Page 23: Revista ArqViva #002

themindofsomeoneliving,umimensotubarão

preservadoemformol,suspensoemumtanque

deacrílico.Impactante.

TambémnaTateModernaimperdívelmostra

Edvard Munch: The Modern Eye. Sevocêacha

queconhecetudosobreopintornorueguêsvai

sesurpreender.Poucosartistasmodernossão

tãoconhecidose,aomesmotempo,tãopouco

compreendidoscomoMunch(1863-1944).A

exposiçãoapresentaatrajetóriadotrabalho

dopintornoséculo20,incluindo60quadros

–muitosdeleslevadosdoMunchMuseum,

emOslo(Noruega),paraLondres.Podemser

vistasaindaproduçõesrarasdoartistaemfilme

efotografia.Munchétidocomoumpintor

simbolista,masaexposiçãorevelacomoelefoi

influenciadopelamodernidadeeavidaforado

estúdio,usandofatosrelatadosnaimprensae

cenasdasruascomoinspiração.

SERVIÇO: Damien HirstTate Modern, Londres, Bankside, SE1, 9TGAté 9 de setembrowww.tate.org.uk

Edvard Munch: The Modern EyeTate Modern, Londres, Bankside, SE1, 9TGAté 14 de outubrowww.tate.org.uk

London 2012 FestivalDe 21 de junho a 9 de setembroLondres, vários locaishttp://festival.london2012.com

Mostra revela uma face pouca conhecida do pintor norueguês Edvard Munch.

London Festival mobiliza quase todos os espaços culturais da cidade.

arqviva /23

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LOCO

G

Page 24: Revista ArqViva #002

E se fosse possível contar com

a ajuda da Bolsa de Valores

para fazer dinheiro e financiar

o desenvolvimento urbano?

A ideia, que à primeira vista

pode parecer inusitada, já é realidade em

Curitiba. Para alavancar a ocupação plane-

jada da cidade, a prefeitura municipal está

pedindo uma mãozinha aos investidores.

A moeda de troca é o chamado potencial

construtivo, que nada mais é do que a compra

do direito de construir mais do que a Lei de

Zoneamento permite em determinado local.

O alvo da Prefeitura é certeiro. O governo

municipal está de olho na Linha Verde – não

apenas na via, mas em toda a região próxi-

ma que faz parte de uma imensidão de 44

milhões de metros quadrados, algo como 30

vezes a área do Parque Barigui. É a chamada

Operação Urbana Consorciada (OUC) Linha

Verde, nome técnico dado ao instrumento

legal que o poder público tem para tirar do

papel melhorias urbanas com a ajuda do

setor privado e da própria população. Em

poucas palavras, um complexo consórcio

de regras muito bem definidas.

A operação prevê a realização de diversas

obras no entorno dos 30 quilômetros da Linha

Verde. Entre as melhorias estão áreas de lazer

e convivência, reurbanização de vias transver-

sais e implantação de trechos de ciclovia. Os

recursos necessários estão sendo obtidos pela

venda de Certificados de Potencial Adicional

de Construção – os CEPACs – na Bolsa de

Valores de São Paulo (Bovespa).

A ideia não é nova. Surgiu na França na

década de 70, ganhou os Estados Unidos

anos depois e nos últimos tempos vem sendo

usada como instrumento de transformação

urbanística em diversas cidades brasileiras,

especialmente em São Paulo (leia quadro na página 31). O que impressiona no exemplo

curitibano são as dimensões da operação, que

estabelece diretrizes para o trecho urbano

da antiga BR-116 e da qual fazem parte 22

bairros no eixo norte e sul (veja o mapa na página 27). Cerca de 82 mil habitantes serão

afetados. Um estudo realizado pela Fundação

Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),

a pedido da Prefeitura, aponta que com a

evolução da operação urbana, em 28 anos,

perto de 135 mil pessoas estarão ocupando

a região – sem a operação, seriam 85 mil.

Quem paga mais?

A região onde está a Linha Verde pode sofrer uma completa mudança de perfil nos próximos anos. O impulso será dado por uma operação inédita em Curitiba realizada pela Prefeitura, que irá vender potencial construtivo na Bolsa de Valores para financiar grandes obras no local. A operação, no entanto, envolve riscos e ainda gera muita desconfiança

POr rOsângeLA OLiVeirA e LuCiAnA Zenti

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arqviva24/

Page 25: Revista ArqViva #002

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_especial_urbanismo

arqviva

Uma área de 44 milhões de metros quadrados faz parte da Operação Consorciada Urbana Linha Verde. O investimento abrange a via e os bairros próximos.

Page 26: Revista ArqViva #002

arqviva26/

A operação é audaciosa. Lançada no final

de 2011, quando foi aprovada a lei específica,

é tida como promessa de uma nova Curitiba

dentro de Curitiba. Se tudo correr de acordo

com as expectativas otimistas do governo mu-

nicipal, teremos finalmente a polêmica Linha

Verde – a via, propriamente dita – concluída.

Isso incluiria as tão reivindicadas trincheiras

que podem ajudar a aliviar o pesado tráfego

e os constantes congestionamentos locais.

Para isso, no entanto, é preciso dinheiro.

Pelo projeto, a Prefeitura irá disponibilizar

4,83 milhões de títulos com valor mínimo

de R$ 200,00. Toda a operacionalização do

processo na Bovespa está sendo feita pelo

Banco do Brasil, que já recebeu da adminis-

tração municipal R$ 550 mil pela realização

do serviço por um período de dois anos, e

ainda receberá outras comissões que irão

variar de 1% a 1,25% pelas vendas dos CEPACs.

Já a Caixa Econômica Federal é quem está

gerindo os recursos e irá fiscalizar as obras.

Quem decide investir leva para casa os

títulos. A pergunta é: quem lucra com esses

papéis? O investidor, que vende o certificado

para construtoras, que precisarão de auto-

rização para construir empreendimentos

maiores. A Prefeitura, que pode desenvolver

a região sem precisar colocar a mão no bolso.

E a população, que deve usufruir de uma

região melhor planejada e adequada do

ponto de vista urbanístico. Quem também

acompanha com interesse as discussões são

os arquitetos. As grandes dimensões da Linha

Verde e a compra de potencial construtivo

adicional podem ser o pontapé para que sejam

desenvolvidos projetos inovadores aliando

modernidade nas construções a amplas

áreas verdes e de convívio social. “A Linha

Verde é a última grande área para desenvol-

vimento imobiliário vertical em Curitiba e a

operação é uma forma fantástica de captar

recursos baratos no mercado para investir

em infraestrutura”, defende o presidente da

Associação dos Dirigentes de Empresas do

Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR),

Gustavo Selig. “Trata-se de um modelo de

gestão do dinheiro público transparente e

objetivo”, resume o presidente da Associação

Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do

Paraná (Asbea-PR), Gustavo Pinto.

Entre as obras previstas ao longo de 30 quilômetros da Linha Verde estão as “trincheiras verdes”, que devem desafogar o complicado trânsito na região.

A Prefeitura ainda precisa ter um entendimento melhor das necessidades do mercado imobiliário no local para garantir o sucesso do plano.”Gustavo Pinto, presidente da Asbea-PR

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Page 27: Revista ArqViva #002

arqviva /27

_especial_urbanismo,

LINHA VERDE

1 km

N

Vitor Ferreira do Amaral

Rodovia Curitiba-Paranaguá (277)

Av. das Torres

Av. Marechal Floriano Peixoto

BR-1

16

Canal BelémJóckey Clube

Pinheirão

CentroPolitécnico

PUC

ATUBA

PINHEIRINHO

1

2

34

TARUMÃ

JARDIM BOTÂNICO

JARDIM SOCIAL

BACACHERI

BAIRRO ALTO

CAJURU

GUABIROTUBA

HAUER

CAPÃO RASO

FANNY

LINDÓIA

PAROLIN

PRADO VELHO

Centro

30 km

LINHA VERDE

O Que É a LiNHa VeRDeTrecho da antiga BR-116 que foi transformado em uma via municipal a partir de 2007, com a conclusão do contorno rodoviário.

Contorno Sul:Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

Gestão dos recursosO dinheiro gerado nos leilões vai para uma conta específica da operação e só poderá ser usado para obras na área de influência da Linha Verde.

Bolsa de ValoresOs CEPACs são vendidos na Bovespa. Os principais investidores são empresas ligadas à construção civil.

Andares acima do permitido, que serão negociados via Cepacs

Limite de construção permitida

Potencial ConstrutivoPara desenvolver a região da Linha Verde, a prefeitura de Curitiba vende potencial construtivo adicional, que é o direito de construir acima do que permite a Lei do Zoneamento. O número de andares e o total da metragem quadrada variam conforme a localização. As áreas onde poderão ser usados os CEPACs atingem 22 bairros da cidade (No mapa, área dentro do traçado verde)

Linha Verde NorteEste é o trecho que deve receber os maiores investimentos. Para isso, a prefeitura de Curitiba pretende captar R$ 48 milhões da iniciativa privada por meio de leilões de potencial construtivo na Bolsa de Valores.

Locais onde a iniciativa privada poderá construir além do limite da Lei de Zoneamento. Para isso, será preciso comprar Certificados de Potencial Construtivo Adicional (CEPACs). Ao todo, R$ 1,2 bilhão serão investidos na área beneficiada pela operação.

Polos de desenvolvimento: regiões de maior investimento. A altura das edificações será livre, limitada apenas pelos padrões da Aeronáutica

eNteNDa cOmO fuNciONaa OpeRaçãO uRbaNa

cONsORciaDa LiNHa VeRDe (Ouc)

aLgumas ObRas pReVistas Na OpeRaçãOArborização Iluminação

Calçadas SinalizaçãoNovas vias Áreas

de lazer

CicloviaPavimentação

Trincheiras

Trecho em construção: financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento

Trecho NorteTrecho Sul: já concluído

tRecHOs

Fonte: Prospecto de Registro da Operação Urbana Consorciada Linha Verde

Vila olímpica do Tarumã:

projeto prevê a integração das

várias estruturas esportivas da região.

Info

gráfi

co S

imon

Duc

roqu

et

Page 28: Revista ArqViva #002

nem tudo são floresPara que tudo isso se concretize, ainda

existe um caminho cheio de obstáculos a ser

percorrido. Depois de um atraso de quase

três meses, a Prefeitura finalizou em junho

os projetos das obras do primeiro lote de

CEPACs encaminhado para a Comissão de

Valores Mobiliários (CVM) – um investimento

da ordem de R$ 2 bilhões que será arcado

pela própria operação por meio de verbas

orçamentárias e financiamentos. Para que

os papéis fossem lançados na Bovespa, a

Prefeitura precisou detalhar as obras pre-

vistas para a região. Isso serve para que

os investidores tenham real dimensão do

potencial do negócio e se interessem pela

compra dos certificados.

No dia 26 de junho, foi realizado o pri-

meiro leilão de CEPACs na Bolsa. A operação

foi um sucesso e atraiu 18 investidores. “Em

operações similares, como a Faria Lima, em

São Paulo, tivemos apenas um interessado

no primeiro leilão”, conta a diretora de Mer-

cado de Capitais e Investimentos do Banco

do Brasil, Paolla Gray Caldas. Ao todo, foram

arrecadados R$ 28,3 milhões. Dos 300 mil

títulos ofertados, 141.588 foram negociados.

“O resultado mostrou o interesse do mercado

imobiliário e da construção civil no planeja-

mento urbano de Curitiba”, diz asecretária

municipal de Urbanismo, Suely Hass.

Um único grupo comprou 70% dos CEPACs

disponibilizados nesta primeira etapa. São

os investidores do Jockey Plaza Shopping

Center, do qual fazem parte as empresas

Casteval, Paysage e Melton (que pertence

ao grupo Tacla). “A compra foi fundamental

para viabilizar o projeto”, afirma o diretor-

-proprietário da Casteval, Osvaldir Benato.

“Com a possibilidade de aumento do poten-

cial construtivo, o empreendimento dobrará

de tamanho.” O grupo espera estar com o

alvará da obra em mãos em breve para dar

continuidade ao projeto.

Por enquanto, não há data prevista para

novos leilões na Bovespa. De acordo com a

secretária de urbanismo, o agendamento vai

depender da avaliação do mercado financeiro

e da demanda por mais potencial construtivo

na Linha Verde. Até lá o governo municipal

terá que fazer a lição de casa. “A Prefeitura

ainda precisa ter um entendimento melhor

das necessidades do mercado imobiliário

no local para garantir o sucesso do plano”,

alerta Gustavo Pinto. Por causa da compra de

CEPACs, o preço final dos imóveis na região

da Linha Verde será o mesmo encontrado

em locais como Água Verde e Portão, que

costumam ser mais procurados pelo consu-

midor final. “A concorrência pode inviabilizar

o interesse na região, gerando um vazio

urbano até que se esgotem os terrenos nos

bairros mais nobres de Curitiba.” , acrescenta

o presidente da Asbea-PR.”

PAssAdO ingLóriO. FuturO PrOmissOr?

Há mais de 20 anos a Linha Verde é protagonista de uma história recheada de polêmicas. Como termina

o próximo capítulo, ninguém sabe ainda

O primeiro lote de obras da Operação Urbana Consorciada deve contemplar projetos para a conclusão da Linha Verde. Essa é a

principal promessa. Desde que a rodovia BR-116 foi transformada em via urbana – com a concessão pelo Governo Federal ao município na década de 90 – nem tudo foi totalmente implementado em função da demora e do alto custo das obras.

Em 1999, a proposta era transformar a via em um sistema de transpor-te de alta capacidade com financiamento do Japan Bank For Internacional Coorperation. Mas dois anos depois o recurso não saiu. O planejamento foi alterado para o Projeto Linha Verde, que recebeu recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Dos quatro trechos previstos, só o Linha Verde Sul foi concluído em 2009. O Linha Verde Sul do Pinheirinho até o Contorno Sul serão execu-tados com recursos do PAC da Copa de 2014 (PAC da Mobilidade). Já o Linha Verde Norte foi dividido em quatro lotes, e somente um teve início em 2011. Os demais lotes fazem parte das intervenções da OUC.

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APrefeituradeSãoPauloutilizaoinstrumentodeoperaçãourbanaconsorciadadesde1990.Noinício,ascontrapartidas

paraseconstruiralémdozoneamentodaregiãoeramopagamentocomconstruçõesdeinteressesocial.Apartirde2011,comacriaçãodoEstatutodasCidades,passaramaoperarcomautilizaçãodosCEPACs.Atualmenteomunicípiopossuiquatrooperaçõesemvigor:Centro,ÁguaBranca,FariaLimaeÁguaEspraiada;eatéofinaldoanodevelançarasoperaçõesLapa–Brás,Mooca–VilaCariocaeVilaVerde–Jacu. OarquitetosuperintendentededesenvolvimentodaSãoPauloUrbanismo–empresapúblicavinculadaàSecretariadeDesenvolvimentoUrbano–,VladirBartalini,comentaqueavantagemdessamodalidadedefinanciamentodeobrasviainiciativaprivadaéterumagestãocompartilhadacomaprefeitura,empresáriosesociedadecivilegarantiracontinuidadedeprojetos,independentedosciclospolíticos.“Essaéagrandeforçadosconsórcios”,pondera. Masaolongodessesanosdeoperação,aPrefeituradeSãoPaulovemsentindoanecessidadedefazeralgumasmudançasnasleisdasoperaçõesparaseadequaràdinâmicadomercado.Bartaliniadmitequeemdeterminadosmomentosaadministração

municipalficourefémdomercadoimobiliário,poisasobraspúblicassópuderamserexecutadasquandohouveinteresseporpartedasempresaseminvestiremdeterminadasoperações.Paratentarequacionarisso,aPrefeituravemprocurandodirecionarointeresseimobiliáriopararegiõesdistintasdacidade,“ecomissoficamosumpoucomenosdependentes”,dizosuperintendente. Outradificuldadesentidafoiemrelaçãoàarquiteturadasedificações,poissegundoBartalini,muitasempresasrepetemamesmatipologiaeinvestememnovidadesquenãoagregamquasenadaàregiãoondeestãoinseridas.“Asnovidadesforamespaçogourmetechurrasqueiranavaranda.Issosãoapenaspenduricalhos”,critica.Emfunçãodisso,estãorevendoaoperaçãoparaprojetosmaisdirecionadosàrealidadedascomunidadesafetadaspelasintervenções.Osprédiosaltosembairroshorizontaisdevemsersubstituídosporprédiosmenorescommaishabitações,semáreasverdeseespaçosdeserviçosdentrodoscondomínios.“Queremosqueaspessoascirculemnasáreasverdescomunsnasruasdobairroequeosserviçoscomolavanderiaecabeleireiroseinstalemnocomérciojuntoàscalçadas,gerandoempregoerendaàcomunidade”,afirma.

Outra condição determinante para a

procura pelos certificados que ainda restam

é o investimento em uma boa estrutura

urbana. “Só assim a região da Linha Verde

poderá tornar-se interessante para os nossos

clientes. Hoje, o local ainda é muito carente

em equipamentos públicos”, diz Gustavo

Selig. A Prefeitura, no entanto, diz que irá

observar os movimentos do mercado para

tomar suas decisões. “As obras públicas

serão definidas de acordo com o perfil dos

investimentos que serão lançados na região”,

afirma o administrador regional da Matriz

e ex-presidente do Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc),

Luiz Hayakawa. “A demanda das obras será

consequência da ocupação e caberá ao

poder público acompanhar essa dinâmica.”

A lei que regulamenta a operação prevê que

na região ocorra uma mescla de uso residencial

e comercial. Suely Hass ressalta que haverá uma

exigência para que os empreendimentos sejam

concebidos com menor impacto ambiental

e seguindo parâmetros diferenciados dos de

outras regiões da cidade. “Será necessária a

implantação de dispositivos de retenção de

águas pluviais e incentivada a implantação

de áreas arborizadas e permeáveis”, comenta.

Suely diz ainda que para evitar as escavações

e todos os transtornos técnicos e ambientais

dessas operações, a nova legislação incentiva

e premia a solução arquitetônica de estacio-

namentos cobertos acima do solo.

A definição das obras com eficiência e

agilidade é, no entanto, a menor das dificul-

dades a serem enfrentadas. Cabe ao governo

municipal, agora, convencer a opinião pública

de que esse é o melhor caminho para fazer

decolar a região da Linha Verde. No início

do ano, uma audiência pública reuniu mo-

radores das regiões afetadas, e outras seis

reuniões foram feitas com representantes

de entidades ligadas ao setor da construção

civil. Mas, depois disso, pouco tem sido feito

para prestar esclarecimentos à população.

Ao contrário do que muita gente acredita,

os investimentos não estão restritos às áreas

de frente para a antiga rodovia. Na realidade,

toda a região próxima – e seus respectivos

moradores – será afetada. Hoje, a maioria

das ocupações no local é de imóveis de

baixo e médio padrão. O que muitos temem

é que a especulação imobiliária altere esse ALinhaVerdeéaúltimagrandeáreaparadesenvolvimentoimobiliárioverticalemCuritiba.Aoperaçãoéumaformadecaptarrecursosbaratosparainfraestrutura.”GustavoSelig,presidentedaAdemi/PR

A grAmA do vizinho...AcidadedeSãoPaulofoiumadaspioneirasnoBrasilaolançarasoperaçõesurbanasconsorciadas.

Aexperiênciapaulistanaajudaaentenderoquevemporaíeevitararepetiçãodoquenãofuncionou.

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ideiA importAdA: dA FrAnçA pArA A LinhA verde

As operações Consorciadas Urbanas surgi-ram na França, com as chamadas zones

d’Aménagement Concerté (zACs). de lá, foram levadas para os estados Unidos. no Brasil, a ope-ração já foi usada por cidades como rio de Janeiro e Belo horizonte, mas é em São paulo que estão os casos mais conhecidos.

Fells Point (Baltimore, EUA) e Píer 17(Nova Iorque, EUA) A renovação desses bairros portuários é considerada exemplo de sucesso de operações consorciadas público-privadas. Nos dois casos as intervenções objetivaram a revitalização de áreas degradadas, valorizando o uso do porto e alavancando oportunidades econômicas voltadas para o turismo e o lazer. Além de espaços públicos centrais bastante dinâmicos, também houve um incentivo para a reocupação com uso residencial.

Zones d’Aménagement Concerté (ZAC)(França) Nessa iniciativa, áreas degradadas são adquiridas pelo Estado (por direito de preferência ou por simples desapropriação), que decide um novo uso para elas. Depois de receberem intervenções, que vão desde o projeto arquitetônico até construções, as áreas são valorizadas e comercializadas. Sua utilização é tanto por órgãos públicos como pela iniciativa privada.

Calle 30(Madri, Espanha) É a estrada principal em Madrid, em torno do núcleo central da cidade, que sofreu um impacto urbanístico e ambiental. A remodelação da antiga M-30 deu lugar a uma infraestru-tura com segurança e modernidade para o tráfego. Um grande parque linear foi criado ligando florestas, parques e jardins históricos, dando à cidade uma conexão diferen-ciada em meio ao concreto das grandes metrópoles.

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padrão e acabe empurrando a população

menos favorecida para áreas ainda mais

distantes e com menos infraestrutura. “A

nova legislação exige para alguns terrenos

a compra de até 10 vezes mais potencial

do que antigamente. Isso inviabiliza novos

empreendimentos para o público de baixa

renda”, explica Gustavo Pinto. O arquiteto e

urbanista Rivail Vanin de Andrade, professor

da Universidade Positivo e membro do

Conselho da Cidade de Curitiba (Concitiba),

afirma que essa segregação poderá ocorrer,

a exemplo do que aconteceu em outras

regiões da cidade, como nas imediações

do Parque Tingui. “Houve uma mudança de

zoneamento e em dois anos uma grande

valorização dos imóveis. Muitas pessoas

venderam os terrenos e não aproveitaram

as benfeitorias feitas na região”, diz.

O estudo realizado pela Fipe mencionado

no início desta reportagem também iden-

tificou que existem 15 áreas de habitações

irregulares na região de abrangência da

operação. Mas Suely garante que o projeto

contemplará programas de relocação dessas

famílias, e que logo na primeira emissão

de CEPACs estão previstos recursos para

a urbanização da Vila Paraná – conhecida

como Vila Papelão –, no bairro Capão Raso.

AumentodepreçosO mercado está apreensivo com uma

possível especulação financeira que as ven-

das dos títulos poderão gerar. Gustavo Selig

defende a pulverização das negociações para

minimizar o problema. “Hoje os custos da

construção civil estão muito elevados e se

houver um aumento no valor do potencial

para revenda, pode-se frear o desenvolvi-

mento imobiliário na Linha Verde”, diz. Essa

também é uma preocupação do Sindicato

da Indústria da Construção Civil no Estado

do Paraná (Sinduscon/PR). O vice-presidente

administrativo da entidade, Ubiraitá Antonio

Dresch, afirma que o sindicato incentivou

as empresas interessadas em investir na

Linha Verde a adquirir os CEPACs logo no

primeiro leilão para evitar a especulação

e até mesmo o esgotamento dos títulos.

“Estamos alertando as empresas para se

antecipar, pois para a aprovação do alvará

é necessário ter os títulos.”

O representante do Sinduscon conta

que diversas empresas estão desenvolvendo

estudos para obras na Linha Verde, e outras

até já adquiriram terrenos na região antes

mesmo do primeiro leilão dos CEPACs na

Bovespa, para conseguir a aprovação do

projeto. No mesmo compasso de espera

está o diretor da Hafil Inc, Caio Napoli, que

possui dois empreendimentos a serem lan-

çados na Linha Verde: um edifício residencial

com cerca de 240 unidades no bairro Novo

Mundo e outro comercial com 200 salas no

Capão Raso. A empresa integra o Grupo Hafil,

do qual fazem parte outras duas incorpo-

radoras imobiliárias com forte atuação no

Sul do Brasil. Napoli está otimista, mas teme

a valorização do preço dos CEPACs pelo

mercado. “Muitas vezes é preciso antecipar

a compra dos títulos mesmo antes de se ter

uma finalização do projeto, caso contrário

ficamos à mercê da oscilação do mercado

e dos especuladores”, pondera Napoli, que

já participou de uma operação consorciada

urbana em São Paulo e conhece bem essa

modalidade construtiva.

OresultadodoprimeiroleilãodeCepacsmostrouointeressedomercadonoplanejamentourbanodeCuritiba.”SuelyHass,SecretáriaMunicipaldeUrbanismo.

Os empreendimentos da região terão que atender a critérios de redução de impacto ambiental como coleta de água da chuva e amplas áreas permeáveis.

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A lógicA do negóciopor José pio Martins *

APrefeituradeCuritiba

anunciouaOperaçãoUrbana

ConsorciadaLinhaVerde,por

meiodaqualopoderpúblico

municipalvenderálicençaspara

construçõesafimdearrecadar

dinheiroparaaplicaçãoem

obrasurbanas.

Otemanãoébementendido

pelapopulação,maspodeser

resumidodemaneirasimples.

Digamosqueumaprefeitura

fazoplanejamentourbanoe

ozoneamentodedeterminada

região, definindo que as

construçõesnolocalpossam

ter,nomáximo,quatroandares.

Aomesmotempo,umaleié

aprovadaautorizandoopoder

municipalaconcederlicenças

paraconstruções,digamos,

comatéoitoandares,mediante

pagamentoaoscofrespúblicos.

Quem quiser construir

atéquatroandares,poderá

fazê-lonostermosdaleide

zoneamento; quem quiser

construirprédiosmaisaltosterá

depagarpelopotencialadicional

deconstrução.Trata-sedeum

mecanismocapazdecarrear

maisdinheiroparaaprefeitura,

quepodeserusadoparaobras

demelhoriasnaprópriaregião

ouforadela.Aquestãoprincipal

ésabersefazsentidopermitir

construçõesacimadequatro

andaresnaquelelocal.Sefizer

sentidoenãoforprejudicialao

urbanismolocal,aprefeitura

estaráapenassendo“esperta”,no

sentidodeobtermaisdinheiro

dosinvestidoresinteressados

emobrasmaisaltas.

Se a lógica urbanística

mostrarque,emtalregião,as

construçõesmáximasdeveriam

serdequatroandares,nessecaso

aprefeituraestariavendendo

licençasadicionaisprejudiciais

àcidade.Serialamentável,visto

queopoderpúblicoteriadeabrir

mãodesuaresponsabilidadepara

comobemcomumapenaspara

conseguirmaisdinheiro.Eisaí

umaquestãoparaserexaminada.

Dequalquerforma,avenda

depotencialconstrutivoéum

meiodetrazermaisrecursos

para a prefeitura, além de

valorizarospreçosdosimóveis

naregião.Surgeaíasegunda

questão:odestinoqueserádado

aodinheiroadicionalarrecadado.

Emgeral,essetipode“negócio”

nãofazsentidoseodinheiro

nãoforusado,pelomenosem

boaparte,paramelhorarolocal

quegerouaarrecadação.

*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.

"A venda de potencial construtivo é um meio de trazer mais recursos para a prefeitura, além de valorizar os preços dos imóveis na região.”

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verdemetrópole

Prestes a ser tornar a primeira capital carbono zero no mundo, Copenhague prova que ousadia e criatividade transformam a arquitetura em uma aliada do desenvolvimento sustentável

Por Fernanda Peruzzo, de CoPenhague

Apesar do inverno rigoroso, a integração com o meio externo é a marca da nova arquitetura de Copenhague. O premiado projeto do The Royal Danish Playhouse é um dos cartões-postais da cidade.

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Suécia

COPENHAGUE

Alemanha

DINAMARCA

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Há algo de podre no reino da Dinamarca. E eles se orgulham disso. Todos os dias, 40% de todo o lixo produzido na capital

Copenhague é transformado em biogás e bioetanol, combustíveis que abastecem a rede de aquecimento central da cidade e permitem que seus habitantes espantem o frio com a consciência limpa. Por ano, mais de 800 mil toneladas de material orgânico – como sobras de madeira e palha – são processadas com essa finalidade. Até 2025, esse número será ainda maior. A construção de uma nova usina de biomassa, com maior capacidade de produção, é um dos projetos de sustentabilidade que fazem parte do Plano de Ação Climática CPH 2025, programa lançado recentemente pelo governo dinamarquês e que pretende fazer de Copenhague a primeira capital carbono zero do mundo.

Condições para isso não faltam. A cidade já é considerada a Capital Verde da União Europeia, segundo estudos desenvolvidos pela Siemens, em 2009, e pelas Nações Unidas,

em 2011. A vocação para a sustentabilidade pode ser confirmada antes mesmo de se pisar em solo nórdico. Da janela do avião, vê-se dezenas de turbinas eólicas fincadas mar adentro, a poucos quilômetros da costa. Esses gigantes brancos são responsáveis por 20% da energia consumida no país.

Toda essa consciência ecológica, claro, não surgiu à toa. Nos anos 70, a crise do petróleo implodiu os sonhos de crescimento da Dinamarca, obrigando essa que é uma das mais antigas monarquias do mundo a buscar fontes alternativas de energia e novos modelos de desenvolvimento. Eficientes e criativos, os dinamarqueses logo perceberam que a natureza poderia ser a sua maior aliada e passaram a adotar políticas de incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte, remodelando as ruas e liberando a população do jugo dos combustíveis fósseis. Foi nessa época também que um grupo de hippies formou a comunidade anarquista de Christiania, uma área de 34 hectares repleta de casas ecoeficientes, hortas orgânicas e ideais de subsistência.

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Projeto da nova usina de biomassa Amager Slope, do escritório de arquitetura BIG: montanha artificial vai transformar lixo em energia.

Uma nova CopenhagueA partir dos anos 90, projetos de

revitalização urbanística modificaram mais

uma vez a vida por lá e criaram novos bairros,

como o Orestad, que é considerado o primeiro

marco urbanístico dessa nova Copenhague.

Um concurso público lançado em 1994

escolheu um projeto finlandês, do escritório

Arkki, para planejar o crescimento de uma

área de 310 hectares na região sul que estava

deserta. A ideia era criar um centro comercial

e residencial que oferecesse novos conceitos

de estilo de vida e moradia, onde a natureza

pudesse ser inserida num contexto urbano.

A proposta do escritório vencedor foi criar

uma região na qual os prédios altos fossem

cercados por áreas verdes e os terrenos

que ainda estivessem vagos ocupados por

equipamentos públicos temporários, como

canchas de esportes, parquinhos ou praças.

Para os canais que cortam a região eles

imaginaram um aproveitamento inteligente,

transformando-os em espaços de lazer e, ao

mesmo tempo, reservatórios pluviais.

A posição geográfica também deveria

reforçar os laços da capital com Malmo, na

Suécia, finalmente conectadas pela construção

de uma ponte de 16 quilômetros entre os

dois países, a mais longa estrutura desse

tipo na Europa.

Em 2000, os primeiros edifícios foram

inaugurados e hoje o distrito concentra

empresas, corporações, duas universidades

e a rede de comunicação nacional Danish

Broadcasting. Pelo menos 7 mil pessoas

vivem ali e outras 10 mil trabalham na região.

Nos próximos vinte anos, estima-se que os

residentes cheguem a 20 mil e a população

flutuante entre 60 e 80 mil.

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O telhado da usina de biomassa servirá como área de lazer e pista de patinação. Durante o inverno, a falsa montanha se transformará em estação de esqui.

rumo ao carbono zeroa proposta do programa CPh 2025 é ousada: reduzir 20% das emissões de dióxido de carbono até 2015 e garantir que até o prazo final toda a energia venha de fontes limpas

Das 50 ações previstas para zerar a cota de emissão, 44 já estão em andamento. O resultado é que pelos próximos treze anos

a cidade parecerá um grande canteiro de obras. Entre as medidas mais importantes, está a instalação de 100 novas turbinas eólicas, o que au-mentará em 50% a contribuição dos ventos para a eficiência energéti-ca. O lixo responderá por outra importante fatia das reduções.

A nova usina de biomassa Amager Slope, na região de Orestad, terá capacidade 20% maior que a planta atual. Mesmo obtendo a energia de um processo de incineração do material orgânico, ela emitirá entre 50 e 60 mil toneladas de dióxido de carbono a me-nos na atmosfera, graças a sistemas especiais de filtragem. De suas chaminés, círculos de fumaça limpa serão expelidos em intervalos determinados de tempo. O que mais chama a atenção nesse proje-to, porém, é a sua face externa. Concebida pelo escritório dinamar-quês Bjarke Ingels Group (BIG) como uma espécie de montanha artificial, 90 metros acima do solo, ela funcionará como um parque

aberto. Enquanto suas laterais farão o papel de jardins verticais, o telhado será transformado em uma pista de esqui.

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O governo dinamarquês lançou recentemente um plano de ação climática para reduzir a emissão de Co2 na capital. Um dos projetos previstos é a construção de uma nova usina de biomassaque transforma o lixo gerado pelos habitantes em combustível.

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CaPital das bikes

Congestionamento de ciclistas: diariamente mais de 35 mil pessoas cruzam a cidade sobre duas rodas.

Vista da calçada, a hora do rush em Copenhague é um espetáculo interessante. Nos horários de pico, nada menos

que 35 mil ciclistas cruzam as ciclovias centrais em direção a suas casas, escola ou trabalho. Ao todo, 55% da população da cidade se locomove assim, sobre duas rodas, percorrendo inacreditáveis 1,2 milhão de quilômetros todos os dias.

Mas quando são considerados os moradores das cidades vizinhas e da região metropolitana, esse número cai para 37% de usuários. É por isso que campanhas de incentivo ao uso das magrelas como meio de transporte jamais saem da pauta de prioridades da prefeitura: a meta é transformar 50% da população da Grande Copenhague em ciclistas ativos na próxima década.

Para isso, os 350 quilômetros de ciclofaixas e 40 quilômetros de estradas cicláveis existentes serão expandidos em mais cem, garantindo assim a integração com os bairros mais distantes e também com outros municípios num raio de 50 quilômetros da capital. Quatro novas pontes para ciclistas e pedestres serão construídas sobre o canal que separa as regiões leste e oeste, facilitando a vida de quem vai do centro histórico para a moderna região das docas em Christianshavn. A sinalização exclusiva para ciclistas será melhorada, com a sincronização de semáforos em favor de quem pedala. “Como eliminar os carros é impossível, nós vamos promover soluções cada vez melhores para os ciclistas, criando verdadeiras autopistas”, afirma, animado, o diretor-executivo do projeto climático, Jorgen Abildgaard.

Com tudo isso, fica fácil entender por que Copenhague foi eleita cinco vezes seguidas como a mais bike friendly do mundo pela União Internacional dos Ciclistas. Recebendo hordas de urbanistas ávidos para estudar seu modelo de transporte, a cidade deu até origem ao verbo copenhagenizer, que em inglês significa estimular e viabilizar o uso de bicicletas.

a bicicleta é o meio de transporte de 55% da população da cidade.1,2 milhão de quilômetros é quanto os copenhaguenses pedalam por dia

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Os prédios residenciais exibem a mistura

tão desejada e incentivada no Plano Diretor

de unir forma e função à arte. Diversos deles

foram premiados e alguns já são considerados

referências da arquitetura moderna, como

a Universidade IT, o residencial 8Tallet e o

VM Mountain.

O recém-inaugurado Bella Sky Comwell,

projetado pelo escritório 3XN para abrigar o maior

hotel da Escandinávia, por exemplo, reúne 812

quartos em duas torres de 23 andares cada, sem

que nenhuma das janelas tenha vista obstruída.

Como um casal dançando, cada uma das torres

se projeta em direções opostas, criando nessa

figura escultural uma abertura que assegura a

vista, a ventilação e a boa iluminação interna,

apesar da proximidade entre elas.

Na residência universitária Tietgen Hall, dos

arquitetos Lundgaard & Tranberg, 360 estúdios

foram agrupados em cinco andares, num prédio

de forma circular que se integra perfeitamente à

paisagem verde recortada por canais. Inspirado

nas edificações chinesas tulou, caracterizadas

pela forma de arena que estimula o senso de

coletividade, todas as unidades têm vista para

os canais ou para o pátio interno, onde está a

área de convívio social e jardim.

Do outro lado da cidade, o bairro de

Nordhavn deve seguir o mesmo caminho.

A área industrial e portuária é alvo do maior

projeto de desenvolvimento metropolitano em

andamento em toda a Escandinávia. A proposta,

tão visionária quanto a de Orestad, é criar uma

espécie de comunidade sustentável do futuro.

As casas serão projetadas para emitir o menor

índice de CO² possível. Serão abertos canais e

píeres, além de passarelas sobre as águas para

colocar a população em contato com a natureza

e incentivar os passeios a pé e de bicicleta.

Projeto dos arquitetos do escritório Lundgaard & Tranberg oferece vista

privilegiada para os canais de Copenhague ou para o jardim cultivado no pátio interno.

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Anfitriã exemplArMesmo sem saber, os turistas que visitam

Copenhague também colaboram com as políticas ambientais. Atualmente, 63% de todos os quartos de hotel são verdes. Ou seja, exibem certificados de sustentabilidade indicando que o estabelecimento reaproveita água, usa fontes de energia limpa e servem alimentos sem agrotóxicos.

A alimentação orgânica, aliás, é assunto de estado por lá. Pelo menos 68% de todos os alimentos e bebidas servidos nas escolas e instituições públicas têm selo verde. Pelas ruas, essa política também é evidente. Restaurantes, cafés e até mesmo barraquinhas de cachorro-quente exibem orgulhosos seus menus à base de ingredientes frescos e livres de pesticidas.

O BioMio é um dos mais aficionados entre eles. Instalado na antiga região dos açougues e abatedouros, Vesterbro, o restaurante garante que é 100% orgânico. Por lá, desde alimentos, bebidas e produtos de limpeza, passando pelo tecido usado na confecção dos uniformes, até a tinta das paredes, tudo é biodegradável e tem origem certificada.

O restaurante BioMio é um espelho da nova Copenhague: instalado no antigo bairro dos abatedouros (Kødbyen), oferece alimentos orgânicos em um ambiente irretocável.

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Turismo arquiTeTônico

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Black DiamondInaugurada em 1999, essa extensão da Biblioteca Real desenhada pelos arquitetos Schmidt, Hammer e Lassen recebeu esse nome graças à sua fachada de vidro preto que reflete a água do mar e a faz brilhar.

The Royal Danish Playhouse

Concebido pelos arquitetos Lundgaard e Tranberg, o prédio serve ao teatro e complementa

o complexo da Opera House, em frente. Seu projeto foi premiado pela

RIBA European Award, em 2008.

Endereços imperdíveis para quem quer conhecer o melhor da arquitetura local

The Danish Design CentreOutro projeto de Henning Larsen, inaugurado em 2000, é um centro de apoio e pesquisa ao design que reúne exposições imperdíveis de grandes nomes da história, como Verner Panton, ou novidades, como novos materiais e suas aplicações.

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The Opera HouseTambém à beira do canal central, a estrutura imaginada pelo arquiteto Henning Larsen soma 41 mil metros quadrados, parte deles subterrâneos. Sua fachada combina mármore, calcário e vidro e seu interior conta com obras de artistas nórdicos, como Olafur Eliasson.

ITU BuildingO prédio é um dos símbolos do novo bairro de Orestad. Com 19 mil metros quadrados e cinco andares, é banhado por luz natural graças a sua configuração em H.

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The VM Houses Esse conjunto residencial, construído em Orestad pelo grupo Bjarke Ingels, realmente parece uma montanha habitada. Seus 10 andares escalonados reúnem 80 unidades, todas com jardins particulares.

Radisson Blu Royal Hotel Desenhado por Arne Jacobsen, em 1960, o hotel é uma espécie de Meca para os amantes do design. Foi para decorar os seus salões, quartos e hall que o arquiteto criou as poltronas Egg e Swan.

8Tallet Também em Orestad, esse complexo residencial do escritório BIG foi premiado como melhor projeto de moradia pelo Festival Mundial de Arquitetura, em 2011.

Danish Centre of Architecture Instalado num antigo casarão na região das docas, em Christianshavn, reúne exposições e um acervo de toda a história da arquitetura dinamarquesa.

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Page 46: Revista ArqViva #002

46/arqviva

Cultura e qualidade de vidaA revitalização da cidade trouxe tam-

bém novas atrações culturais em zonas

antes abandonadas. A Biblioteca Real The

Black Diamond ganhou um moderno pré-

dio no porto central. O nome faz referência

à fachada de vidros pretos. No interior do

prédio está a maior coleção de gravuras e

fotografias históricas do país, com cerca de

200 mil peças, além de áreas de lazer, cafés

e restaurante. A poucos passos de distância,

outras duas construções de tirar o fôlego: a

Playhouse (casa da Companhia de Teatro

Real Dinamarquesa) e a Opera (que abriga

as companhias de balé e ópera do país).

Até as águas frias do mar Báltico, que

banham a capital e correm por seus canais,

passaram por um processo de despolu-

ição. Antes contaminado por resíduos das

indústrias instaladas às suas margens e por

boa parte do antigo esgoto da cidade, o

porto foi revitalizado em 2002, quando

todo o sistema foi modernizado. Hoje, os

600 mil moradores da região podem se

orgulhar de ter uma praia limpa, com vida

marinha e própria para banho. Piscinas

foram construídas no principal canal, que

corta a cidade ao meio e curiosamente é

chamado pelos copenhaguenses de porto.

Amager, Islands Brygge e Copencabana

(um trocadilho com o nome da famosa

praia brasileira) reúnem áreas de lazer,

areia, cadeiras e toda a estrutura necessária

para quem deseja nadar, compondo uma

das principais opções de lazer no verão.As águas limpas (e geladas) do mar Báltico enchem cinco piscinas na “praia” de Islands Brygge.

A partir dos anos 90, projetos de revitalização urbanística transformaram a cidade e criaram novos bairros, como o Orestad, que é considerado o primeiro marco urbanístico da nova Copenhague.

Foto

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Page 48: Revista ArqViva #002

PausaPara o intervalo

Pela primeira vez desde que foi inaugurado, o Teatro Guaíra passará por um grande restauro. Os corredores do centro cultural, projetado por Rubens Meister, guardam curiosidades que ajudam a contar a história da cultura paranaense

POR DiOGO CavazOTTi

Não faz muito tempo, o ator

paulistano Emílio de Mello

deu voz às insatisfações

do público e dos artistas

do Centro Cultural Teatro

Guaíra. Ao final da peça In on It, em 2010, Mello

interrompeu os aplausos e reclamou, em alto e

bom som, do forte cheiro de mofo que afetava

o palco, a plateia e os camarins do Guairinha.

O assunto repercutiu na imprensa e trouxe à

tona o debate sobre a urgente necessidade

de recuperar o espaço.

Dois anos depois, começa o segundo ato.

Em breve, o som de óperas e sinfônicas será

substituído pelo barulho de martelos, furadeiras

e marretas. No lugar de atores e dançarinos,

o espetáculo será regido por arquitetos e

executado por um elenco de pedreiros. Pela

primeira vez desde a sua inauguração, em

1974, o Teatro Guaíra passará por um grande

restauro. A previsão é de que até o final do

ano seja entregue o projeto executivo que irá

definir as obras necessárias para recuperar o

teatro. Apenas no projeto, será investido R$

1,2 milhão. Depois disso, ainda há pela frente

pelo menos um ano inteiro de obras.

arqviva48/

A vista aérea do teatro revela toda a imponência do edifício e a interessante

integração com a Praça Santos Andrade.

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Ao longo de quase 40 anos, este importante exemplar da arquitetura

modernista do Paraná sofreu com a ação do tempo e hoje tem problemas estruturais

e acústicos, além de excesso de umidade.

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sani

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_ história_teatro Guaíra

Page 50: Revista ArqViva #002

arqviva50

O imenso painel de Poty Lazzarotto vai ganhar ainda mais destaque com uma iluminação especial.

O esforço vale a pena. O mofo, provocado

pelo Rio Belém, que passa embaixo da

construção, não afeta apenas o Guairinha,

mas também os outros dois espaços do Centro

Cultural Cultural, o Miniauditório Guaíra e o

Guairão. O cheiro desagradável está longe de

ser o único problema. As instalações elétricas

estão precárias, há rachaduras por todos os lados

e diversos pisos quebrados. Não há conforto

para a plateia, que é obrigada a usar banheiros

antigos e ocupar poltronas barulhentas. Com

a recuperação, que irá passar por diversos

ambientes do Guaíra, a promessa é que o local

seja completamente revitalizado (leia o quadro

Um Novo Espaço, na página 54)

A acústica do teatro vai merecer atenção

redobrada na reforma. Afinal, é considerada

um dos pontos altos do projeto de Rubens

Meister, arquiteto que desenhou o Guaíra.

Para garantir a melhor qualidade de som

do auditório, Meister consultou autoridades

mundiais e aprendeu com elas. Caso do ar-

quiteto alemão Ben Schlanger, que projetava

cinemas em Hollywood e inspirou algumas

das inúmeras pesquisas de Meister em busca

da acústica perfeita.

O DesafiO De MexeR em uma esTRuTuRa como a do Guaíra é grande.”Rosina Parchen, coordenadora do setor de Patrimônio Culturalda Secretaria de Estado da Cultura

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_ história_teatro Guaíra

Porém, o que era top de linha na década

de 1970, hoje está defasado. “Na época em

que o edifício foi projetado não se imaginava

chegar aos atuais níveis sonoros dos espe-

táculos”, explica o arquiteto Sérgio Izidoro,

funcionário do Guaíra há 20 anos. Para resolver

o problema, um projeto específico vai garantir

isolamento acústico entre os auditórios. Isso

permitirá que os três teatros sejam utilizados

simultaneamente sem interferência de som

entre as salas. E para garantir a qualidade da

acústica, não haverá aumento no número

de lugares disponíveis. As 2.167 poltronas do

Guairão, garante ele, são fundamentais. “Elas

exercem papel importante na acústica do

teatro, tanto pela sua composição material

quanto pela posição que ocupam no auditório”,

diz o arquiteto.

Rubens Meister fez do Guaíra sua obra mais emblemática,

mas também deixou em Curitiba outros marcos da arquitetura modernista, como o Centro Politécnico da Universidade Federal, a Rodoferroviária e o edifício do Sesc da Esquina. Ele foi, também, um dos principais responsáveis pela criação do curso de Arquitetura da UFPR na década de 60. Nasceu na cidade de Botucatu, no estado de São Paulo, em 1922. Mas foi em Curitiba que fez sua vida.

“Não dá pra entender a arquitetura curitibana sem Rubens Meister. Quanto mais o tempo passa,

mais as qualidades do trabalho dele são ressaltadas. É um exemplo de boa arquitetura, sóbria, sem excessos ou exageros”, opina Irã Dudeque.

Em depoimento ao arquiteto Salvador Gnoato, um dos autores do livro “Rubens Meister – Vida e Arquitetura”, Meister fez revelações sobre o Guaíra: “Ao projetar o teatro, parti do princípio de que a acústica deveria ser resolvida com a arquitetura, e não com o uso de equipamentos mecânicos. O auxílio eletrônico poderia ser usado, mas não para corrigir os defeitos de acústica”. Meister morreu em Curitiba, em 2009, aos 87 anos.

O hOmEm POR tRáS da ObRa

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As tradicionais poltronas vermelhas são fundamentais para a qualidade da

acústica. Serão reformadas, mas não haverá aumento de lugares disponíveis.

Aos 25 anos, o arquiteto Rubens Meister inovou ao apresentar um projeto em linguagem modernista.

Page 52: Revista ArqViva #002

arqviva52

Era o ano de 1948 quando o governador do Paraná,

Moysés Lupion, decidiu ceder aos apelos da elite

curitibana, que desejava um espaço adequado para receber

apresentações de música e de teatro. Lupion anunciou um

concurso público para a escolha do projeto de construção

do maior teatro do Paraná, que seria erguido no meio da

Praça Rui Barbosa. Era o novo Teatro Guaíra.

Novo, sim. O primeiro Teatro Guaíra de Curitiba funcionava

na Rua Dr. Muricy, no centro da cidade, ao lado de onde

hoje está a Biblioteca Pública do Paraná. Foi inaugurado

em 1884 com o nome de Theatro São Theodoro, serviu

de prisão política entre 1893 e 1895 durante a Revolução

Federalista e, depois de uma ampliação, foi reinaugurado

em 1900 com o nome de Guayrá – palavra indígena que

significa “além da fronteira”. Não durou muito. Em 1937, o

prédio foi demolido, pois corria o risco de desabar.

A perspectiva de ter um novo e grandioso teatro animou

a população curitibana. O que ninguém esperava era que

o assunto fosse dar tanto o que falar. O projeto vencedor,

da Construtora Nacional, contemplava uma construção art déco. O segundo lugar foi para o arquiteto Carlo Barontini,

autor de proposta que lembrava a Ópera de Paris. Na terceira

colocação vinha o jovem Rubens Meister, de 25 anos, que

apresentou um projeto de linguagem modernista.

Certo de que a escolha do primeiro lugar não era acer-

tada, um dos julgadores, Fernando de Azevedo, levantou a

bandeira a favor de Meister. Os ruídos chegaram ao sucessor

de Lupion, Bento Munhoz da Rocha Neto, que concordou

em levar adiante o projeto modernista. O prêmio ao primeiro

colocado do concurso foi pago, mas apenas Meister viu o

próprio projeto sair do papel.

Muitos, sobretudo a imprensa da época, não concordavam

com o resultado oficial do concurso. Acreditava-se que a

construção deveria ser o símbolo de uma nova era, ou seja,

moderna. A confusão foi parar nas páginas dos jornais. “Era

uma polêmica que existia no Brasil inteiro. O país passava

por um momento de afirmação da arquitetura moderna”,

explica o historiador e arquiteto Irã Dudeque, membro do

Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). “Havia muitas dúvidas

sobre o estilo moderno do prédio. Hoje temos a certeza de

que a escolha foi acertada”, opina Dudeque. Por achar que

praça não era lugar para receber uma construção, e sim para

O arquiteto Rubens Meister perdeu o concurso para o projeto do Teatro Guaíra. Mas caiu nas graças do governador Bento Munhoz e entrou para a história como um dos pioneiros da arquitetura modernista em Curitiba.

mOdERniSmOart Déco x

O primeiro Teatro Guaíra foi inaugurado em 1884 e ficava na Rua Doutor Muricy, ao lado de onde hoje está a Biblioteca Pública do Paraná.

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Teat

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Page 53: Revista ArqViva #002

arqviva /53

circulação de pessoas, o governador mudou a localização

do teatro para a rua ao lado da Praça Santos Andrade.

A construçãoOs curitibanos, que tanto ansiavam por um teatro de

porte, ainda tiveram que esperar muito. Da aprovação do

projeto até finalizar a construção, passaram-se mais de duas

décadas. Em 1952 o Paraná – ainda um estado basicamente

agrícola – vivia um bom momento econômico. Três invernos

sem geadas haviam impulsionado a lavoura de café. Com

dinheiro em caixa, o governador Bento Munhoz autorizou

o início da obra do Teatro Guaíra. Paralelamente foram

iniciadas as construções do Centro Cívico e da Biblioteca

Pública. As obras marcariam as comemorações do cente-

nário de emancipação política do Paraná.

Três anos depois, no entanto, um forte inverno assolou

o campo e o governo ficou sem verba. A construção pas-

sou mais de uma década parada. Governadores entraram

e saíram e nada do Teatro Guaíra ficar pronto. No final

da década de 60, o cenário mudou novamente. O Brasil

tornou-se a 9ª economia do mundo, o dinheiro voltou ao

caixa e as obras do teatro finalmente ganharam fôlego.

A promessa era de que em 1970 os paranaenses teriam

o maior auditório, o Guairão, em funcionamento. Mas no

dia 25 de abril daquele mesmo ano, um incêndio destruiu

tudo e a estrutura do Guairão desabou. A real causa do

incêndio nunca foi descoberta.

Foram mais quatro anos de obras. Finalmente, em

12 de dezembro de 1974, o Guairão abria as cortinas.

A primeira noite foi do musical “Paraná, Terra de Todas

as Gentes”, escrito por Paulo Vítola e Adherbal Fortes. O

espetáculo fazia um retrato da colonização do Paraná em

forma de paródia: no palco, mais de 70 atores em cena,

acompanhados de coral e orquestra sinfônica, represen-

tavam as diversas etnias do estado. O publicitário Paulo

Vítola, atualmente diretor-presidente da e-Paraná (Rádio

e Televisão Educativa do Paraná), lembra-se da noite em

que Meister assistiu ao ensaio daquele espetáculo para

testar a acústica da sala. “Ele se movimentou por todos

os pontos da plateia, apenas ouvindo, sem mover um

músculo da face. Quando chegou ao último balcão, para

alívio de todos, aprovou o próprio projeto.”

_ história_teatro Guaíra

Passaram-se mais de duas décadas desde a aprovação

do projeto até o final da construção do Teatro Guaíra.

Page 54: Revista ArqViva #002

arqviva54

O restauro do Guaíra não será tarefa fácil.

Tombado como patrimônio cultural do estado

desde 2003, o projeto de recuperação do edifício

deve respeitar a arquitetura original da obra.

“O desafio de mexer em uma estrutura como

a do Guaíra é grande”, diz a coordenadora do

setor de Patrimônio Cultural da Secretaria de

Estado da Cultura, Rosina Parchen. “O mais

importante é adaptar as funções do teatro

para as necessidades atuais sem alterar as

características do prédio histórico.” Antes de

aprovado, o projeto deve passar por análise do

Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e

Artístico do Paraná (Cepha), composto por dez

consultores - cada um deles é qualificado em

áreas específicas de preservação arqueológica,

histórica, artística e natural.

O edifício foi tombado em 2003, por isso o restauro terá que respeitar a arquitetura original.

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havia muitas dúvidas sobre o estilo moderno do prédio, inclusive se aquela não seria uma moda passageira. hoje temos a certeza de que a esCOlha fOi aCeRTaDa.”irã dudeque, historiador e arquiteto

uM nOvO esPaçOo restauro do teatro Guaíra tem o importante desafio de resgatar a grandiosidade da construção e preservar a memória cultural da cidade

controle dA umidAdea obra prevê a recuperação de todo o reves-timento do prédio, incluindo a impermeabi-lização para eliminar infiltrações ocorridas principalmente nas áreas revestidas com mármore travertino, bastante poroso.

modernizAção Os sistemas de movimentação de cenário, luminotécnica cênica, sonorização e imagem serão modernizados. O teatro vai ganhar um gerador para atender a luz cênica, pois o equipamento existente funciona apenas para as saídas de emergência e principais circula-ções. Um sistema de detecção de incêndio, específico para salas de espetáculos, também está previsto.

comodidAde pArAArtistAs e públicoOs camarins serão equipados com mobiliário novo e os banheiros, que estão com sistema hidráulico defasado, louças antigas e peças quebradas, receberão melhorias. Os assentos das poltronas dos auditórios serão recupera-dos para ficarem mais silenciosos e evitar que quebrem com facilidade.

AcessibilidAdedeve ser finalizada a implantação de acessibi-lidade aos auditórios, trabalho que teve início em 2008 com a instalação de rampas, espaço para cadeirantes e elevador de acesso.

FAchAdAdo lado de fora, a beleza do teatro será res-saltada por uma iluminação especial, que irá valorizar o imenso painel do artista paranaen-se Poty Lazzarotto na entrada principal, em frente à Praça Santos andrade.

Page 55: Revista ArqViva #002
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arqviva56/

Termos e conceiTospor Maria da Graça rodriGues santos *

Oexercíciodaarquiteturanos

impõeumainfinidadedeações,

queabrangemdesdeosonhode

projetarnovasedificaçõesatéo

projetoeacompanhamentode

obrasdealteraçãodeedificações

existentes.Taisaçõescostuma-

mosdesignarcomoreforma,re-

cuperaçãoourestauração,sem,

muitasvezes,nospreocuparmos

emdarmaisprecisãoacadaum

destestermos.

Seconsultarmososdicionários

iremosencontraradefiniçãoclara

paracadaumdeles.Tomandoo

DicionárioAuréliocomoreferência,

porexemplo,encontraremosque

reformardizrespeito“aaçãodere-

construir,fazerdenovo”.Pararecu-

peração,encontramosadefinição

de“atoouefeitoderecuperar”.

Ambossãoconceitosamplos,que

abrangemnãoapenasouniverso

daarquitetura.Quantoàrestau-

ração,odicionário,dentreoutras

definições,trataotermodemodo

específico,apresentando-ocomo:

“...7. Conjunto de intervenções

técnicasecientíficas,decaráter

intensivo,quevisamagarantir,

noâmbitodeumametodologia

crítico-estética,aperenidadedum

patrimôniocultural.8.Arquit.Con-

juntodeintervençõesquevisam

aorestabelecimentototaloupar-

cialdeumaedificaçãoaumafase

anterior.Ӄespecificamentena

questãodarestauraçãoquereside

apreocupaçãodeprofissionais

voltadosparaapreservaçãodo

patrimôniocultural,quandose

deparamcomaçõesdeinterven-

ção,quemuitasvezesentendem

eutilizamotermoapenaspara

nomearintervençõessobreedifi-

caçõesantigas,reconhecidasinsti-

tucionalmentecomopatrimônio.

Se observarmos a própria

definição do Aurélio, veremos

a preocupação em detalhar o

termo,referindo-seànecessidade

deseadotaruma“metodologia

crítico-estética”paraorientaras

intervençõesegarantirqueoque

odicionáriodefinecomo“resta-

belecimentototalouparcialde

umaedificaçãoaumafaseanterior”

nãosefaçacombaseemdecisões

arbitráriasesentimentais.

Paraevitarerros,quepodem

levaràmutilaçãodepartesim-

portantesdeedifícioshistóricos,

oumesmoàsuatotaldescaracte-

rização,éimportanteconsultaros

órgãospúblicosvoltadosàpreser-

vaçãodopatrimônio,nasinstân-

ciasfederal,estadualemunicipal.

Complementarmente,épossível

munir-sedeinformaçõesedocu-

mentos,quepodemauxiliarnato-

madadedecisões.Especialistasna

áreadapreservaçãodopatrimônio

cultural,emâmbitointernacional,

organizamencontrosquedãoori-

gemadocumentosconhecidos

comoCartas Patrimoniais, que

sãopreciososparaorientar-nos

sobreaquestão.Diriaaquique

aCartadeVenezaeaCartado

RestaurodaItáliasãodocumentos

imprescindíveisparaquempretende

desenvolverprojetoseacompanhar

obrasderestauração.ACartade

Veneza,especificamente,explica

tambémsobreopróprioconceito

derestauração.Quenossirvam

ascartascomoreferência,para

garantirquesepreserveonosso

patrimônio,quersejaeleantigo

oumoderno.

*Maria da Graça Rodrigues Santos Doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade de

São Paulo. Professora titular da Universidade Positivo.

"É especificamente na questão da restauração que reside a preocupação de profissionais voltados para a preservação do patrimônio cultural.”

Artigo_

Ilustraçã

oNataliaRiche

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ConstrutCuritiba.indd 1 8/3/12 10:18 AM

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Apesardeparecerumcenáriodefilmedeficçãohollywoodiano,orecém-inauguradoGardens by the Bay,nabaíadeCingapura,ébastantereal.Construídosobreumaáreade101hectaresnaregiãodaMarinaBay,oprojetodosescritóriosbritânicosWilkinsonEyreArchitectseGrantAssociatesreúnemodernasestufas,canteirose18árvoresgigantes.Comalturaentre25e50metros,essasestruturasfeitasemconcretoarmadoeaçofuncionamcomoumjardimvertical,sobreasquaiscrescemcentenasdeespéciesdeorquídeas,samambaiasetrepadeiras.

Dentrodelas,oambienteéodeumaestufatropicalondesãocultivadasmaisde200espéciesdeplantas,especialmentebromélias.Nacopadessasárvoresestãoinstaladospainéisdeenergiasolar,quealimentamoseusistemadeiluminação,econectadasaosseustroncosestendem-seaspassarelasqueconduzemosvisitantesporboapartedoparqueequegarantemumavistaespetaculardoespaço,22metrosacimadosolo.www.gardensbythebay.com.sg

PaisaGem futurística

NOVIDADES&INOVAÇÕES

arqviva58/

OsistemadeencaixesiXXi criadopelosholandesesRoelVaessen,EricSlootePaulienBerendsenéperfeitoparaquemgostadedecorarcomarte.Aspeçasconstruídasemformade“I”e“X”sãousadasparaconectarcartõesde20cmx20cmque,unidos,formamfotografiasampliadas,muraisouatémesmoreproduçõespixeladasdegrandesobrasdearte.Oscartõessãoconfeccionadosempapelespecial,comgramaturade300g,àprovad’águaeresistenteaosraiosUV.Porcontadisso,ascoresnãodesbotameopainelpodeserinstaladoemqualquercômododacasa.Inclusivenomeiodasala,comosefosseumadivisóriasuspensa(paraissoháumtrilhoparafixaçãonoteto).Vendidaspelainternet,aspeçaspodemserproduzidasapartirdobancodeimagensoferecidopelaequipeoucomimagenspessoais:bastafazerouploaddoarquivo.Osprodutossãoentreguesnacasadosclientes,emqualquerpartedomundo.www.ixxi.nu

encaiXe esPecial

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arena ciclável Nadacomoumaáreadelazerdedicadaàbicicletaparaincentivarapráticadociclismo.PelomenosessaéajustificativadadapelosarquitetosdoescritórioWeAreYoueErikHallbergparaoprojetocycling center,emGotemburgo,conhecidacomoamaischuvosaentreasgrandescidadessuecas,etambémacomomenornúmerodeusuáriosdebikes.Ovelódromoconcebidoemformadearenamisturapistasparaquemdesejapraticaraatividadedemaneiraintensaeatléticaeáreasdepasseio.Tudodevidamentecobertoporumtelhadotensionado.

Page 59: Revista ArqViva #002

arqviva /59

Oportuguêsalexandre farto–maisconhecidocomoVhils–jáéapontadocomooMichelângelodastreetart.Aproveitandoafachadadeedifícioscomosuporteeusandoferramentasdignasdepedreirosemarceneiros,eledescasca,quebra,riscaeexplodeasparedesexternas.Édessaformaqueconseguecriarretratosgigantesembaixorelevoquerevelamaestruturadosimóveisebrincamcomjogosdeluzesombra,claroeescuro.AmaneiradeVhilstransformarapaisagemurbanacaiunogostodaclasseartística.Emmenosdequatroanos,elejásomadezenasdeexposiçõespelomundo,incluindoumaparticipaçãonaBienaldeSãoPaulo.Nadamalparaquemtemapenas25anos.www.magda-gallery.comhttp://alexandrefarto.com

Desconstrução artística

Oprojetoderelocaçãodafeira Dominical de santo antônio,emBarcelona,executadopeloescritórioRavetllatRibasArquitecteséaprovadequetudooqueummercadoderuaprecisaterparasetornaraindamaisatraenteéumteto.Aestruturademetalerguida4,5metrosacimadochãocobreaspistasderolagemdaruaUrgell,garantindoaosfeiranteseclientestodooconfortoparasuascompras,mesmoquandooclimanãoestáamigável.Partedotelhadoéretrátil.Aosdomingos,quandoaconteceafeira,éacionadoeseestendeporcimadascalçadas,aumentandooespaçodeexposiçãocoberto.Duranteosdemaisdiasdasemana,oespaçocobertoéocupadopeloscarroseseusmotoristas.

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Page 60: Revista ArqViva #002

Consumox História:esta relação dá Certo?Curitiba é recordista em número de shoppings entre as cidades de médio porte. Boa parte deles está em prédios históricos. Esta é uma contribuição importante para a cidade? Os arquitetos Yumi Yamawaki e Fábio Duarte, autores de um estudo publicado na Europa, foram atrás da resposta e descobriram que é possível tirar boas lições do exemplo curitibano

pOr LuisE Takashina FOTOs EDuarDO MaCariOs

Entre os arquitetos, a crítica é quase unânime. A construção desenfreada de shopping centers cria cidades dentro da cidade. Muralhas sem qualquer

comunicação externa, limitam-se a beneficiar uma parcela de consumidores de alta renda e inviabilizam o comércio de rua local. Some-se a isso o impacto ambiental: lixo gerado em quantidades extraordinárias, altíssimo consumo energético. Seriam, afinal, os shopping centers os modernos vilões da vida urbana?

Os arquitetos Yumi Yamawaki e Fábio Duarte (ela autora de uma dissertação de mestrado sobre o tema e ele professor do curso de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUC-PR) descobriram que em Curitiba essa história tem um ingrediente que faz toda a diferença. Por aqui, três dos quatro shoppings localizados na região central são construções históricas que foram revitalizadas. Romperam o ciclo degradação-demolição e hoje são importantes referenciais para a população. Entre as principais capitais brasileiras, Curitiba é a que tem maior número de

shopping centers na região central. A área construída é quase três vezes maior que a da terceira colocada, Belo Horizonte – motivo mais do que suficiente para chamar a atenção dos estudiosos.

Em 2010, a dupla de arquitetos apresentou um artigo científico sobre o assunto no International Laboratory of Architecture and Urban Design (ILAUD), encontro itinerante que reúne estudantes e profissionais de arquitetura de várias partes do mundo, realizado na China com o tema “Regeneração de Áreas Urbanas”. O evento deu origem ao livro Where Does The New City Come From?, lançado recentemente. Fábio e Yumi figuram como os dois únicos autores brasileiros convidados para fazer parte da obra. Eles escreveram um capítulo analisando dois casos de reconversão de edificações históricas em shoppings centers: Estação e Müeller. Em um longo bate-papo com a reportagem da revista ARQ VIVA, os entrevistados defenderam que a transformação de espaços históricos em centros comerciais em Curitiba foi positiva, criticaram o excesso de shoppings na região central e alertaram para o crescente impacto ambiental dessas construções.

_ entrevista_sHOPPinG Centers

arqviva60/

Page 61: Revista ArqViva #002

Yumi Yamawaki e Fábio Duarte acreditam que o uso de edifícios históricos em Curitiba fez com que o ciclo degradação-demolição fosse rompido.

arqviva /61

Page 62: Revista ArqViva #002

arqviva62/

arQ ViVa: Por que a construção de um shopping é um tema tão polêmico entre arquitetos e urbanistas?

Fábio Duarte: É polêmico porque no

Brasil é permitida a construção de shoppings

centers muito grandes e fechados dentro da

cidade. Nos Estados Unidos, na Europa e até

em alguns países da América Latina, os grandes

centros comerciais fechados só são permitidos

em regiões mais afastadas. E por que isso

é melhor? Quando você cria um shopping

center, você mata o comércio de rua local.

Porque é um lugar seguro, fácil de chegar de

carro e de estacionar. Para pessoas de classe

média e alta, é mais cômodo e barato. Só que

há impactos grandes, como no trânsito. Por

isso é importante ter medidas de controle.

O [Park Shopping] Barigüi, por exemplo, fez

uma via de acesso separada da via de tráfego.

Mesmo assim, essas são medidas paliativas. O

impacto seria muito menor se os shoppings

fossem permitidos apenas em rodovias. Yumi Yamawaki: A questão viária, no

entanto, é apenas um dos problemas. É preciso

também adotar medidas para que o comércio

de rua não morra. No Shopping Estação, mesmo

com acesso pela Av. Sete de Setembro, onde há

transporte público, não houve uma dinamização

da área que fica no entorno. O público é quem

tem carro e não quem usa ônibus.

Fábio Duarte: Além disso, há um problema

de objeto arquitetônico que está sendo muito

pouco visto no Brasil: o espaço fechado do

shopping precisa ter aquecimento, resfriamento,

iluminação. O impacto de consumo energético

é fabuloso. Em relação à arquitetura, você não

cobra do shopping que ele gere um percentual

X da sua energia. A tarifa que ele paga é a

mesma que você paga na sua casa e o local

é um consumidor intensivo de energia. Nessa

lógica, temos que pensar em quais os impactos

que os grandes empreendimentos têm na

cidade e o que a gente tem que fazer para

que eles compensem ou mitiguem isso. Pensar

em um shopping energeticamente eficiente

é uma lição de arquitetura a se aprender. arQ ViVa: Curitiba impressiona pela quantidade de shoppings. E chama a atenção porque alguns estão em prédios históricos que foram reaproveitados. Esta é uma contribuição importante para a cidade?

Fábio Duarte: A gente não pode cair na

dicotomia de que um shopping na cidade é

sempre ruim. Não há dúvidas de que um grande

centro comercial pode ser uma forma de dar um

uso público a um prédio histórico.

Yumi Yamawaki: No caso dos shoppings

Müeller, Curitiba e Estação, havia três soluções:

derrubar tudo e fazer habitação; projetar um

centro cultural correndo o risco de ninguém

frequentar e, por último, transformar o local em

um espaço privado ocupado por escritórios.

No caso desses shoppings, as edificações

históricas adquiriram uma nova função e

foram mantidas como espaços públicos.

arQ ViVa: Nesses casos, o impacto negativo é menor?

Fábio Duarte: Acredito que sim. Curitiba

teve um momento de reaproveitamento desses

espaços históricos. O Shopping Estação, por

exemplo, é um bom exemplo de como reutilizar

edificações centrais que são históricas. Criou-se

um empreendimento que atrai gente. E uma

parte da área da estação de trem antiga é usada

para a memória ferroviária. Você consegue entrar

no shopping pelo antigo saguão da estação

que antes era fechado. Acho que foi inteligente.

Vale o mesmo para o Shopping Müeller. Não

teria o que fazer com uma quadra inteira. Ou

derrubávamos o prédio ou dávamos um uso

para aquele conjunto arquitetônico inteiro.

Então a saída foi manter pelo menos a casca.

Mais ou menos a mesma coisa que foi feita com

o Shopping Curitiba [que antes era um quartel].

São os únicos três casos em que se justifica ter

um shopping dentro da cidade em Curitiba

do ponto de vista urbanístico e arquitetônico.

arQ ViVa: Mesmo que os shoppings fossem deslocados para regiões mais afastadas da cidade, ainda assim seria um desafio valorizar o entorno. Como resolver essa equação?

Fábio Duarte: É quase insolúvel. Eu preferiria

que um shopping do tamanho do Müeller

não estivesse onde está. Mas se não fosse

aproveitado, talvez o prédio histórico nem

existisse mais. No entanto, é preciso destacar

que esse é um caso completamente diferente

do que está acontecendo com o bairro Batel.

Sem o Shopping Crystal e o Pátio Batel [que está

sendo construído], aquilo seria tudo perfeito. Os

projetos desses shoppings são muito diferentes

do Shopping Novo Batel, que está na mesma

região, e é bem aberto, quase uma galeria.

Composto por 13 capítulos, o livro tem a colaboração de arquitetos da China, Índia, Itália, Argentina, Japão, Esta-

dos Unidos e África do Sul. Para saber onde adquirir, entre em contato com o ILAUD ([email protected]). Até o fechamento des-ta edição, o livro estava disponível apenas em versão digital.

Mais sobrE o livroWhErE DoEs ThE NEW CiTy CoME FroM?

Page 63: Revista ArqViva #002

arqviva /63

Em alguns países os grandes shoppings só são permitidos em regiões afastadas. “Este cuidado

preserva o comércio local”, explicam os arquitetos Yumi e Fábio.

arqviva /63

_ entrevista_sHOPPinG Centers

O ideal é que o espaço funcione como se fosse galeria para que o público passe por dentro. Quando a construção permite a relação interior/exterior, as pessoas ficam com a sensação de que parece uma rua.” Yumi Yamawaki

Page 64: Revista ArqViva #002

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Yumi Yamawaki: É um shopping que tem

uma permeabilidade boa, entradas pelos três

lados, lojas voltadas para o exterior. E tem alguns

equipamentos culturais que chamam outro público,

como teatro para crianças e cinema. Eles fazem até

feirinhas lá. E ele tem uma função local. Quem usa o

shopping são as pessoas que moram no entorno.

arQ ViVa: Não há como negar que os shoppings são um sucesso e que se proliferam rapidamente. Projetos como esse, em que há comunicação com o espaço todo, seriam o caminho do meio?

Fábio Duarte: O shopping tem que ser

permeável para a rua e criar um espaço externo,

quase como se fosse uma praça pública em

frente à construção. Assim se torna menos

impactante para a cidade e também mais

convidativo. Deve ser obrigado a se abrir, até

para a segurança do usuário.

Yumi Yamawaki: O ideal é que funcione

como se fosse galeria para que as pessoas

atravessem por dentro. Quando a construção

permite a relação interior/exterior, as pessoas

ficam com a sensação de que parece uma

rua. Percebo que há um pequeno processo

de mudança. Antes os shoppings eram mais

fechados. Os shoppings mais novos pensam

na relação do entorno, do exterior e do interior.

Usam, por exemplo, telhados de vidro. Só que,

infelizmente, essa tem sido uma iniciativa do

empreendimento e não do poder público, que

poderia exigir esse diferencial para preservar o

espaço urbano. A prefeitura deveria normatizar.

O empreendedor quer utilizar o potencial

máximo daquele terreno. Ele não vai fazer uma

praça na frente e colocar uma fonte porque

quer aquele espaço como área de venda, de

lojas. Mas se for obrigado, ele vai ter que fazer.

Se não normatizar, não tem jeito.

Prédios fechados geram alto consumo de energia. Os

arquitetos defendem que os projetos incluam soluções para reduzir o

impacto ambiental.

Pensar em um shopping energeticamente eficiente é uma lição de arquitetura a se aprender.” Fábio Duarte

Page 65: Revista ArqViva #002
Page 66: Revista ArqViva #002

Na contramão do atual boom da construção civil, arquitetos

defendem o caminho inverso para o desenvolvimento.

Permitir a prédios velhos um uso novo. Essa é a ideia

central por trás do retrofit. Uma técnica que consiste

em dar segunda vida ao que parecia condenado.

Nesta equação, todos saem ganhando. A obra ganha valorização

no mercado imobiliário, os moradores passam a viver com mais

qualidade e uma infinidade de matéria-prima deixa de ser consumida.

São duas as palavras de ordem: tecnologia e sustentabilidade. É por

meio da primeira que se alcançam os resultados da segunda. “Retrofit

nada mais é do que uma reforma de altíssima qualidade”, ensina

Orlando Pinto Ribeiro, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade Positivo e vice-presidente da AsBEA-PR. “Dizer que

a obra é um retrofit é elogiar.” Quem fica com o maior crédito, no

entanto, é a própria cidade. “Toda a população sai ganhando com a

mudança da paisagem urbana”, destaca Orlando.

é aquio futuro

Telhado verde, transporte público não poluente e reaproveitamento de água e energia são apenas algumas das proposições do escritório BIG para um grandioso centro comercial francês

por fernanda peruzzo

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O centro comercial Europa City é um complexo de compras e lazer que será construído na próxima década na cidade de Gonesse, nos arredores de Paris.

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_pelo mundo

Page 68: Revista ArqViva #002

O escritório dinamarquês Bjarke Ingels

Group (BIG) parece ter elevado o termo

sustentabilidade a um novo nível com

seu projeto para o centro comercial Europa City, um

complexo de compras e lazer que será construído

na próxima década em Gonesse, município que fica

a 16 quilômetros da capital francesa e próximo ao

Aeroporto Charles de Gaulle, na Grande Paris.

Instalado em uma área de 80 hectares, o projeto

sugere a criação de um cenário improvável, onde

a paisagem natural e a estrutura construída se

fundem de um modo tão sutil que será possível

ter acesso ao jardim cultivado no telhado a partir

da calçada. Simulando o que seria uma área rural

montanhosa, a elevação formada pelo edifício não

ultrapassará os limites de altura permitidos para a

região, que é de três andares (cerca de 15 metros).

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A paisagem natural e a estrutura construída se fundem no projeto. A partir da calçada, será possível ter acesso ao jardim cultivado no telhado.

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Page 69: Revista ArqViva #002

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Do alto dele, porém, será possível avistar os principais

monumentos da capital francesa. Nos meses de inverno

o amplo jardim estará coberto por neve, como toda

paisagem europeia, e será transformado em uma área

para a prática de esqui e snowboard.

Embaixo dessa estrutura, entre 500 e 600 lojas serão

distribuídas em seis zonas distintas, cada uma fazendo

referência a uma zona de comércio famosa no continente,

da La Rambla espanhola à Champs-Élysées parisiense. O

percurso entre elas será constituído por vielas – como nas

cidades medievais – e grandes boulevards – idênticos aos

encontrados nos centros modernos –, culminando numa

grande praça central. Um sistema público de bicicletas

e pequenos ônibus elétricos colocado à disposição dos

visitantes permitirá um deslocamento rápido e agradável

de um ponto a outro da planta. Pelo menos uma dúzia de

hotéis, uma sala de espetáculos com capacidade para duas

mil pessoas, uma pista de esqui e um parque aquático, mais

áreas para exposições e apresentações culturais devem

confirmar a vocação cultural e turística do Europa City.

Mas é na infraestrutura que essa representação

de uma cidade europeia clássica oferecerá seu maior

espetáculo. Boa parte da energia consumida virá de

fontes renováveis, incluindo energia solar e eólica.

Para garantir a eficiência energética do espaço foi

imaginado um sistema de reaproveitamento do calor

residual das centrais de aquecimento e iluminação, que

será reconvertido em energia, dessa vez para manter a

temperatura interna das áreas de lazer, spa e piscina.

Toda a água utilizada no complexo será reaproveitada

na irrigação do parque construído sobre o telhado. O

lixo será separado e reciclado ali mesmo, minimizando

o envio de dejetos para o aterro sanitário local.

_pelo mundo

Entre 500 e 600 lojas serão distribuídas pelo centro comercial. Um sistema público de bicicletas e pequenos ônibus elétricos permitirá o deslocamento dos visitantes.

Page 70: Revista ArqViva #002

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A elevação formada pelo edifício será de no máximo três andares, altura permitida para a região

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Page 71: Revista ArqViva #002

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O grupo Immochan,

incorporadora responsável

pelo projeto do centro comercial

Europa City, estima atrair entre 25 e 40

milhões de visitantes por ano com essa

mistura da cultura norte-americana

do shopping center com a preferência

europeia pelas áreas de convívio social.

O investimento total é de 1,7 bilhões de

euros. Para escolher o melhor projeto, o

grupo está promovendo um concurso.

Além da planta proposta pelos

dinamarqueses do BIG – apresentada

nesta reportagem –, outros três

escritórios europeus estão na

competição. O projeto do francês

Valode & Pistre (foto 1) é baseado

na cidade de Paris e até mesmo o

Sena é recriado. O também francês

Manuelle Gautrand Architecture (foto

2) propõe a integração com o meio

externo a partir de elevações e telhados

verdes. E os noruegueses do escritório

Snohetta (foto 3) pretendem recriar

a paisagem agrícola da França usando

canteiros que simulam plantações

e bosques com árvores típicas.

A previsão é de que até o final de

2012 seja anunciado o vencedor. As

obras, no entanto, só terão início em

2020, quando for concluída a construção

da linha D do trem metropolitano

que integrará a região à capital.

para saber mais acesse

www.europacity.com.

ConCurso InTernaCIonal

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_pelo mundo

Page 72: Revista ArqViva #002

arqviva72/

Curitiba vai ganhar um novo

espaço para os pedestres. Na

avenida Cândido de Abreu

será construída uma rambla

– tipo de via pública com

calçadão central e também espaço para o

tráfego de veículos. A obra retoma a voca-

ção da cidade para o caminhar. Às margens

do calçadão serão mantidas as vias para

carros, marca registrada do Centro Cívico.

“Esta é uma proposta urbanística pouco

difundida nas cidades brasileiras e que está

sendo sugerida como solução de desenho

urbano”, explica o arquiteto e urbanista Or-

lando Ribeiro. “Permite que as pessoas que

passam diariamente por ali, mas que não

usam as calçadas para acessar os edifícios

comerciais, circulem de uma maneira mais

agradável (Leia o quadro na página 76 e en-

tenda o que são ramblas).”

A visão dos pedestres será de 360 graus.

Com os pés em cima de um granito e não

mais do polêmico petit pavé, os usuários

poderão girar a sua cabeça e de qualquer

lugar poderão ver o histórico prédio da an-

tiga metalúrgica dos Irmãos Müeller (hoje o

Shopping Müeller), além de todos os outros

prédios residenciais e comerciais da região.

Ao final do percurso pelo calçadão, estarão

a mais famosa praça do Centro Cívico –

Nossa Senhora da Salete – e as construções

que abrigam os poderes máximos da capi-

tal e do estado. A revitalização está orçada

em R$ 18 milhões, com recursos da Prefei-

tura Municipal de Curitiba (deste total, R$ 4

milhões são do PAC da Mobilidade Urbana

para a Copa 2014).

A obra da Prefeitura de Curitiba, prevista

para começar em 2013 e ser entregue antes

da Copa do Mundo, não será somente um

ir e vir dos engravatados do Centro Cívico.

Pelo projeto, haverá pontos móveis para

café, banca de revistas e outros utilitários

que priorizem o ficar no local. Nas entreli-

nhas da obra está um convite para que seus

usuários aproveitem o espaço ao máximo e

iniciem um caminho a pé pela nova Cân-

dido de Abreu. Os pontos de partida são

muitos, a começar pela Praça Tiradentes e

o Centro Histórico.

pedestresA vez é dos

A proposta de revitalização e reforma da avenida Cândido de Abreu mostra que o uso do espaço público pelos moradores é mais do que uma tendência. É uma necessidade

por rosA BittenCourt

Page 73: Revista ArqViva #002

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_ urbanismo_centro cívico

A obra retoma a vocação da cidade para o caminhar. Às margens do calçadão, serão mantidas as vias para carros, marca registrada do Centro Cívico.

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Outra opção será iniciar o percurso di-

reto do eixo da revitalização, a Praça 19 de

Dezembro. Com os pés no granito, a partir

desse ponto caminham-se exatos 870 me-

tros num espaço de 18 metros de largura

e chega-se à sede da Prefeitura Municipal.

A partir dali, é possível seguir até a Pra-

ça Nossa Senhora da Salete (onde estão o

Palácio Iguaçu e a Assembleia Legislativa).

Mais alguns passos e tem-se a vista do Mu-

seu Oscar Niemeyer. “A nova via tem como

objetivo imediato a valorização de um es-

paço voltado para o pedestre e propiciar

um circuito cultural e histórico a partir do

Centro em direção ao Centro Cívico”, ex-

plica o autor do projeto, Reginaldo Reinert.

“Esse trajeto não é só para profissionais ou

estudantes do eixo entre o Centro e o Cen-

tro Cívico, muito menos voltado só para os

turistas. Será um convite para que o curiti-

bano saia de sua casa e aproveite este novo

espaço de lazer e cultura”, completa o arqui-

teto, que trabalha na área de planejamento

do Instituto de Pesquisa e Planejamento de

Curitiba (Ippuc).

reConheCimento pArA o modernismo

No anos 50, Curitiba inovou ao projetar o Centro Cívico, um espaço

compartilhado pelos Três Poderes.

O Centro Cívico foi o primeiro projeto em linguagem moderna no Brasil. Foi desen-

volvido pelo arquiteto David Xavier de Azambuja e uma equipe de alunos de Lúcio Costa (que ao lado de Oscar Niemeyer projetou Brasília), então professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanis-mo da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. O projeto antecipou as concepções adotadas na capital federal uma década depois. A ideia era construir uma grande praça desti-nada ao uso exclusivo dos pedestres, com edifí-cios dispostos nas laterais e avenida monumental de acesso que se vincula com o conjunto ao cen-tro tradicional da cidade. O desenvolvimento das obras – iniciadas em 1950 – se arrastou ao longo dos anos 60, com grandes alterações. Apesar de não ter sido con-cluído em totalidade, o Centro Cívico é um marco da comemoração do Centenário da Emancipação Política do Estado do Paraná e da decisão do go-vernador Bento Munhoz da Rocha em patrocinar a arquitetura moderna. O conjunto arquitetônico do Centro Cívico está incluído entre as Unidades de Preservação da Prefeitura Municipal de Curiti-ba no acervo da arquitetura moderna e está em processo de tombamento.

A nova via tem o objetivo de valorizar um espaço voltado para o pedestre.” Reginaldo Reinert, arquiteto do Ippuc

A Cândido de Abreu da década de 1940 não lembra em nada a movimentada avenida dos dias atuais.

Page 75: Revista ArqViva #002

Uma das novas linhas que passará por ali é a do Ligeirão (Centro-Boqueirão). As demais serão mantidas.

O calçadão central terá 950 metros de extensão, com nova iluminação, paisagismo, espaços de lazer, quiosques de café e outros serviços como internet sem fio de graça.

Ao longo dos 970 metros haverá uma pista tátil para deficientes visuais. Os cruzamentos terão pistas elevadas para garantir a segurança dos pedestres. Nestes pontos, obrigatoriamente, os veículos deverão reduzir a velocidade para passar pelo cruzamento.

Toda a fiação será subterrânea.

Uma faixa será de uso preferencial dos ciclistas.

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_ urbanismo_centro cívico

A novA cândido de Abreuum investimento de

R$ 18 milhõesestá sendo feito pArA remodelAr A AvenidAe torná-lA um espAço AdequAdo

pArA motoristAs e pedestres

Page 76: Revista ArqViva #002

arqviva76/

“incentivo fantástico”Raphael Hardy Fioravanti, mestre em

Antropologia Social pela UFPR e professor

do curso de Ciência Política da Facinter,

acredita que por mais que o curitibano seja

conhecido por manter um perfil fechado e

mais recluso em sua casa, há pessoas de todas

as partes e regiões que moram em Curitiba e

a maioria delas aproveita os espaços públicos

da capital nos fins de semana. “No Museu do

Olho, milhares de jovens vão para lá, vindos

da periferia e das cidades metropolitanas.

Qual é o significado do museu para estes

jovens? Eles não o veem como um local de

acesso à cultura e às artes. É mais um espaço

para curtir com os amigos”. O professor cita

que espaços de mobilidade, em geral, não

são usados para sociabilização. Ele acredita,

no entanto, que se forem criados ambientes

agradáveis, seguros e limpos, que estimulam

a permanência destes usuários, “será um

incentivo fantástico e a obra redefinirá o

uso do espaço urbano.”

Para Fioravanti, a redefinição do uso cul-

tural de um espaço não ocorre do dia para

noite. “Alguns lugares são feitos apenas para

passagem, outros propiciam a relação entre

as pessoas”, destaca. “Os equipamentos que

serão disponibilizados, sua manutenção e as

ações promovidas nestes locais é que dirão

qual será o perfil da população e que uso

esta dará ao novo calçadão.”

Com o novo calçadão, haverá um ir e vir do setor histórico para o Centro Cívico e toda região que ele compreende.” Paulo Chiesa, professor de Arquitetura da UFPR

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Você sabe o que é uma Rambla? A palavra tem origem no idioma árabe e significa “leito de rio seco”. Ou seja, nos projetos de rambla o rio é o calçadão e as margens são as vias para veículos. O diferencial está justamente nessa maneira de conciliar a necessidade dos motoristas com um ambiente harmônico, que atenda às pessoas que estão a pé. O calçadão deixa de ser um prolongamento natural de uma calçada e vai para o centro da via. As ramblas mais conhecidas ficam em Barcelona, na Espanha. Elas têm, ao todo, 1,2 quilômetro. Possuem uma espécie de calçadão onde os pedestres podem caminhar e são margeadas por ruas onde passam os carros. No centro, a movimentação cultural é intensa. São lojas, cafés, restaurantes, floriculturas e artistas que fazem performances para o público. Na prática, mais qualidade de vida aos moradores graças a uma solução urbanística adequada.

Page 77: Revista ArqViva #002

arqviva /77

As obras que vão deixar a Cândido de

Abreu com uma nova proposta de uso,

segundo o professor do departamento de

Arquitetura da Universidade Federal do Paraná

(UFPR) Paulo Chiesa, já passaram da hora. Nos

últimos dez anos, a via se configurou como

um eixo entre o Centro Cívico e o Centro,

com a construção de edifícios residenciais

e comerciais. “Muito antes da construção

de Brasília, Curitiba ousou com as obras em

torno da Praça Nossa Senhora da Salete e

ali se estabeleceu a nossa Praça dos Três

Poderes. O uso pela população ainda é muito

tímido. Com o novo calçadão, haverá um ir

e vir do setor histórico para o Centro Cívico

e toda região que ele compreende, como,

por exemplo, o Museu Oscar Niemeyer”.

Chiesa lembra que Curitiba merece essa

nova Cândido de Abreu, justamente porque

é a capital do estado.

O arquiteto e professor da PUC-PR Carlos

Hardt afirma que um projeto que tenha como

prioridade o pedestre é sempre positivo.

“A preocupação é com a acessibilidade a

este novo espaço”, observa. O risco de uma

travessia de uma calçada, passando pela

rua até o calçadão, que ficará no centro da

via, na avaliação do professor, merecerá

sinalização especial para evitar acidentes

entre pedestres e veículos nos cruzamentos.

Hartd faz a seguinte observação sobre o

novo piso de granito no calçadão: é preciso

que o material dê condições de fluxo para

pedestres e cadeirantes ou pessoas com

dificuldade de locomoção, como os idosos.

Com o novo projeto, serão cinco pistas no sentido Praça Tiradentes, sendo

uma de uso exclusivo dos ônibus.

evAporAção do tráfegoTeoria europeia defende que, a longo prazo, as pessoas irão

deixar de usar seus carros por falta de espaço nas regiões centrais

A explosão da presença de carros, não só em Curitiba, mas no mundo todo, colabora com um movimento que prioriza o fechamento de ruas para os

veículos e volta seu uso para os pedestres. O fenômeno é conhecido como “evaporação do tráfego”. A lógica está em pensar que quanto menos ruas e estacionamentos disponíveis houver, menos as pessoas irão utilizar seus carros. Assim, aos poucos, os veículos poderiam “evaporar” da cidade. Em 2004, a Comissão Europeia reconheceu essa teoria oficialmente com a publicação do relatório Reclaiming city streets for people – Chaos or quality of life? (Recuperando ruas da cidade para as pessoas – Caos ou qualidade de vida?). O estudo traz alguns exemplos de sucesso em cidades como Kajaani (Finlândia), Londres (Inglaterra), Nuremberg (Alemanha) e Strasbourg (França). Nesses locais, os governos encararam de frente o problema do tráfego no centro e investiram em soluções alinhadas ao conceito de “evaporação do tráfego”. O resultado foi a redução do espaço para os carros e a valorização dos ambientes de convívio social.

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_ urbanismo_centro cívico

Page 78: Revista ArqViva #002

arqviva78

Gentilezaéumavirtude.Não

éetiqueta,nãosãonormasde

civilidadeenemummanualde

boasmaneiras.Significacorte-

sia,amabilidade,fidalguia,bom

tratamento.Temmuitopoder,

relaçãodiretacomainteligência

edenotaelevaçãomoral.Agen-

tilezadependedoexemploedo

hábito.Éumaquestãoracional.

Quandosepraticaagentileza,

usa-seainteligênciaeaintenção

emproldobem-estar.

Gentilezaurbanaéumtermo

relativamentenovo,utilizado

edifundidoporarquitetose

urbanistasdetodoomundo

comopropósitodeenfatizare

estimularohábitovoluntário,

individualoucoletivo,dasaçõese

atitudesvoltadasparaamelhoria

daqualidadedavidaurbana.O

resultadoéa(re)criaçãodeuma

cidademaisamável,aprazível

e humana, e que incentiva

oexercíciodacidadanianos

âmbitospessoaleprofissional

públicoeprivado.

Manifesta-sedeformadiver-

sificadaatravésdeiniciativasde

valorizaçãodolugarpormeio

deintervençõesarquitetônicas

dignasdemérito;açõesdere-

cuperaçãodapaisagemurbana

edepreservaçãoevalorizaçãodo

patrimônioculturalmaterialeima-

terialdascidades;açõesconcretas

decidadania,equilíbriourbanoe

sustentabilidadeambiental.

AcidadedeCuritibaficou

conhecidainternacionalmente

por conceber e implantar

inúmerasestratégiasurbanísti-

casgentisdeiniciativapública.

Dentreasmaisconhecidase

replicadas,destacam-se:

•Osparquesurbanos:ampla-

menteutilizadospelapopulação,

preservamosrecursoshídricose

simultaneamenterecuperama

paisagemurbanadeáreasam-

bientalmentedegradadas;

•Ocalçadãodeusopúblico:

umgrandestreetmallno

centrodacidade;

•Asfeiraslivres(artesanato,

gastronomia,orgânicos,

hortifrutigranjeiros);

•ARua24horas:queoferece

serviçosecomérciode

conveniência;

•Arecenterevitalizaçãodazona

centraldacidade(MarcoZero).

Porsuavez,asociedade

organizada,emborareconheça

osesforçoseméritosdopoder

público nessas iniciativas,

aindaémuitoincipienteem

suascontribuições.Nãosão

comunsnacidadeintervenções

arquitetônicase/oupaisagísticas

quepossamserclassificadas

comogentilezasurbanas,maselas

existem.Equandoissoacontece,

devemteroméritoreconhecido

paraincentivarnovasações.

Gentileza urbanapor orlando ribeiro *

*Arquiteto e urbanista, Orlando Ribeiro é a o atual presidente da

AsBEA-PR e sócio-proprietário da Contexto Arquitetura.

[email protected]" A gentileza urbana é um termo novo difundido pelos arquitetos. A proposta é tornar a cidade mais aprazível e humana.”

Artigo _

Ilustraçã

oNataliaRiche

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Page 79: Revista ArqViva #002
Page 80: Revista ArqViva #002

arqviva80/

Luxo itaLiano

" Os revestimentos são feitos à base de uma pedra chamada Pierre Bleu, que ganha efeitos decorativos contemporâneos ao ser esculpida.

Criados pelo designer Raffaello Galiotto, os revestimentos de pedra da Lithos Design são esculpidos de forma a refletir a luminosidade do ambiente e criar poesia na decoração

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poR LuCiana zenti

Page 81: Revista ArqViva #002

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_ design e conceito

arqviva /81

Alta tecnologia, arte e bom gosto dão origem

a peças únicas quando combinados na

dosagem perfeita. A Lithos Design é prova disso

e tem se destacado por fazer com maestria

essa combinação. A empresa italiana cria e

desenvolve revestimentos de luxo à base de

pedras naturais, como o mármore. Criada em

2007, a Lithos é hoje reconhecida como uma

das mais inovadoras do setor no mundo todo.

Na linha Luxury Collection, são quatro

modelos que seguem diferentes tendências,

do clássico ao moderno. Os revestimentos são

feitos à base de uma pedra chamada Pierre Bleu,

que ganha efeitos decorativos contemporâneos

ao ser esculpida profundamente, dando a

sensação de que foi arranhada. O resultado

é um poético jogo de linhas, pontos e curvas

douradas e prateadas que refletem a luz do

ambiente e criam um belo efeito decorativo.

As peças são criações do designer

Raffaello Galiotto. Depois de estudar pintura

na Accademia di Belle Arti (Academia de Belas

Artes) em Veneza, na Itália, ele passou a se

dedicar ao design industrial. Conquistou diversos

prêmios internacionais pelas criações em pedra

e hoje leciona como professor convidado em

universidades italianas, além de desenvolver

pesquisas relativas aos diferentes aspectos do

mármore, como a capacidade de refletir luz e

a sustentabilidade do material.

Serviço:

Lithos Design

www.lithosdesign.com

Os detalhes do modelo Luxury 4, da italiana Lithos

Design, lembram folhas varridas pelo vento e conferem estilo ao revestimento. Disponível

em acabamento dourado.

Page 82: Revista ArqViva #002

Paisagem curitibana tela de paulo dias

arqviva82/

Ao retratar uma esquina da Rua Inácio Lustosa, em Curitiba, Paulo Dias brinca com o abstrato e o figurativo. A luz guia formas e textu-ras, que criam o desenho real dos espaços e objetos retratados no quadro feito em óleo sobre eucatex. Vire a página de ponta cabeça e você verá um quadro abstrato. “A natureza apresenta formas, cores e texturas que são, muitas vezes, mais interes-santes do que aquelas que podemos imaginar”, resume o artista autoditada que se dedica à arte contemporânea.

_ RECORTE DA CIDADE

" A arte é a razão de ser da minha vida. Dedico-me a ela inteiramente.”Paulo Dias, artista plástico

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