revista alimentação animal nº 83

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ANO XXIV Nº 83 Janeiro- ‑Fevereiro- ‑Março‑2013-(TRIMESTRAL)-- ‑-3€-(IVA-INCLUIDO) Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais ‑ IACA BEM-ESTAR ANIMAL: CUSTO-OU-INVESTIMENTO?

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O tema desta edição da AA é o Bem-Estar Animal, expressão que corporiza um vasto conjunto de conceitos e princípios gerais, normas legislativas comunitárias e alterações nos sistemas de produção pecuária intensiva ao nível da UE. Na prática, olhando para os efeitos mais imediatos, estamos a pensar nos investimentos de adaptação das instalações de produção, sobretudo nos últimos dois anos, e relacionados com as alterações das gaiolas das galinhas poedeiras e nas porcas em grupo.

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Ano XXIVnº 83

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Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais ‑ IACA

Bem-estar animal:CUSTO­OU­INVESTIMENTO?

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 3

AlImentAção AnImAl edItoRIAl

o tema desta edição da AA é o Bem‑estar Animal, expressão que corporiza um vasto conjunto de conceitos e princípios gerais, normas legislativas comunitárias e alterações nos sistemas de produção pecuária intensiva ao nível da Ue. na prática, olhando para os efeitos mais imediatos, estamos a pensar nos investimentos de adaptação das instalações de produção, sobretudo nos últimos dois anos, e relacionados com as alterações das gaiolas das galinhas poedeiras e nas porcas em grupo.

Ao longo desta Revista encontrarão as mais variadas opiniões, comentários e preocupações quanto a este assunto. de todos, se concluirá que ninguém coloca

em causa o princípio geral. A melhoria das condições de confinamento dos animais e um maneio tecnicamente adequado, parecem permitir ganhos de eficiência e de diminuição dos custos relacionados com a sanidade dos efectivos pecuários, que ultrapassam os custos do investimento necessário para as adaptações conformes à nova legislação.

Pode‑se pôr em causa a oportunidade do investimento. mas convém não esquecer que estamos a falar de legislação publicada há mais de dez anos e que inúmeros trabalhos foram publicados sobre este assunto e inúmeras experiências foram feitas, demonstrando os caminhos mais eficientes para a sua concretização. ou seja, não faltou tempo de análise nem tempo de execução.

o que verdadeiramente faltou foram apoios dirigidos à modernização destas acti‑vidades e o entendimento pela Administração Pública do seu carácter estratégico. Se isso tivesse acontecido, a situação destes sectores em Portugal estaria hoje muito mais equilibrada.

talvez, agora, estes sectores sejam melhor compreendidos e, esperamos, mais apoiados. A progressiva atenção e interesse do mAmAot por esta área de actividade e as iniciativas que se tem vindo a tomar, como a PARCA, o Interprofissional do Porco e a “Plataforma Peço Português”, terão de ser o princípio de uma valorização cada vez maior dos produtos pecuários nacionais e determinar um maior equilíbrio negocial com as estruturas da distribuição. Sem esse equilíbrio todos sofrerão: a Produção, a Indústria, o Comércio e os Consumidores que, no fundo, somos todos nós, ou seja, o País.

A terminar, uma palavra de saudade para o dr. Fernando Anjos, que nos deixou de uma forma demasiado rápida. Fez e fará parte da história desta Associação, como técnico, director e consultor e, com muitos outros, ajudou a criar o perfil de rigor, de seriedade e de competência que é o apanágio da IACA. encontrarão, nesta Revista, um variado conjunto de textos em sua memória.

José­ Filipe­ R.­ Santos

ÍNDICE03 EDItorIal

04 tEMaDECaPa

07 BEM-EStaraNIMal

24 BIotECNologIa

28 INVEStIgaÇÃo

40 SFPM

42 FErNaNDoaNjoS

50 NotÍCIaSDaSEMPrESaS

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AlImentAção AnImAl temA de CAPA

A definição de Bem ‑estar será a de uma situação agradável do corpo e do espírito, de tranquili‑dade, de conforto ou de satisfação. em relação aos animais, podemos caracterizá ‑lo pelas boas condições ambientais, de alimenta‑ção, de estadia e de crescimento, de acordo com as características das espécies que se pretendem analisar.no caso das pessoas e dos animais de companhia ou de fruição, que também ajudam ao Bem‑‑estar dos humanos, as suas condicionantes não são consideradas factores de custo, mas sim factores de conforto e de crescimento harmonioso e saudável.nos animais destinados à produção económica de carne, leite e ovos, cuja existência, acomoda‑ção, acompanhamento, abate e transformação estão directamente ligados às várias formas de alimentação humana, essa questão assume um papel importante e não pode ser escamoteada aquando da sua análise. no âmbito da actividade da IACA é, sobretudo, a esta última categoria que dedicamos a nossa atenção. os variados artigos que compõem este número apresentam leituras e posições diversas sobre estes temas.ora, como todos sabem, a instalação e utilização de “linhas” de produção de animais para a alimentação humana obedece a critérios de racionalidade económica, regendo ‑se por princí‑pios de optimização dos factores condicionantes da sua eficiência.A opção, sempre que possível, pelas melhores práticas de alojamento, de genética, de nutrição e de maneio obriga a instalações de dimensão adequada e de acordo com metodologias testa‑das em todo o mundo. todos estes factores são fundamentais para a optimização do custo de produção, elemento fundamental para a compe‑titividade de qualquer actividade económica e, sobretudo nesta, em que as relações comerciais entre a produção e a comercialização são tão desproporcionadas.A melhoria das condições de exploração dos animais para utilização na alimentação humana (qualquer que seja a sua espécie e destino) tem constituído uma preocupação crescente ao longo das últimas décadas e está largamente difundida na legislação comunitária. Fica por resolver uma questão importante: pode­ a­ Europa­ obrigar­

os­ produtores­ de­ países­ terceiros,­ dos­ quais­importa­produtos­animais,­a­seguirem­os­mesmos­procedimentos­nas­suas­instalações­pecuárias?­Não­ haverá­ aqui­ uma­ concorrência­ desleal,­ em­relação­ aos­ produtores­ comunitários?Ao considerar regras menos restritivas para as instalações em que os animais se desenvolvem (principalmente relacionadas com a área dispo‑nível, os pisos e gaiolas e a sua socialização), a Ue vem introduzir alterações não desprezíveis na grande maioria das instalações existentes, construídas de acordo com a anterior legislação e, portanto, legais para o fim a que se destinam.A alteração das regras para a ocupação das instalações pecuárias, publicada em legislação comunitária há vários anos e cujos prazos limite terminaram nos finais de 2011 (galinhas poedeiras) e de 2012 (porcas em parques), obrigou a inúmeras e caras alterações nas instalações existentes encarecendo o modo de produção, embora sejam expectáveis melhorias de rendimento devido a melhor resposta dos animais nos seus novos ambientes e a novas formas de maneio.Criaram ‑se, assim, mais disparidades entre os diversos países comunitários, ao não considerar diferentes modelos de produção, tendo em conta as diferenças sociais, culturais, económicas e climáticas entre o norte e o sul da europa. esta questão assume maior importância em Portugal, face às fracas rentabilidades destes negócios ao longo dos últimos anos e aos constrangimentos ambientais que têm sido impostos aos diversos actores económicos. Acresce que estas alterações estão a ser feitas em ambiente social e económico desfavorável (depressivo) para todos os agentes económicos, em que a principal preocupação de todos é o Bem ‑estar... social.no entanto a europa, no seu conjunto, adaptou‑‑se. e os países periféricos ou menos inova‑dores, têm de fazer mais um enorme esforço para poderem acompanhar a evolução destes assuntos. As cadeias de distribuição o exigem, pois ao lidarem com a crescente população urbana, cada vez mais distante das realidades rurais e da produção animal e cada vez mais sensível às questões de segurança alimentar, tendem a valorizar estas mensagens, obrigando

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a produção a actualizar os seus métodos de trabalho e a adaptar ‑se às novas normas e regulamentos.não pode, assim, a produção nacional ficar alheia a este processo da evolução civilizacional. tem de mostrar capaci‑dade de se organizar, aumentando a sua capacidade negocial com a Administra‑ção Pública, de forma a obter medidas compensatórias a outros níveis para os investimentos necessários à adaptação das suas instalações.É necessário rever, agilizar e modernizar procedimentos administrativos relacio‑nados com as localizações, as protec‑ções ambientais e as deslocalizações. É necessário rever os procedimentos de cada dRAP e procurar o melhor de cada uma (no sentido pragmático do termo) generalizando ao país as melhores práticas.

A organização das fileiras (interprofissio‑nal) é fundamental, para se defenderem coordenadamente interesses próprios e comuns. mas este processo não é pacífico: a concentração de capacidade negocial da fileira pecuária mexe com outros interesses. Por que será que, desde outubro, se aguarda que o ministério da Agricultura aprove os estatutos do Interprofissional da fileira da carne de porco, cujo memorando de entendimento foi assinado na 21ª Feira nacional do Porco em Setembro do ano passado?A necessidade de aumentar a auto‑‑suficiência alimentar em Portugal, finalmente encarada de frente, tem de ser consequente; não só em termos agrí‑colas, mas também em termos pecuários. o agro ‑alimentar não dispensa estas duas valências. em qualquer parte do mundo, grande parte da produção agrícola

chega à população sob a forma de carne, leite e ovos. o aumento da procura de proteína animal continua a ser um sinal de desenvolvimento alimentar e de Bem‑‑estar das populações (veja ‑se a evolução dos consumos na China).Seremos capazes de aproveitar os constrangimentos e as oportunidades das alterações a propósito do Bem‑‑estar animal para enquadrar melhor a nossa produção pecuária, reforçar a sua dinâmica e competitividade, apostar em campanhas de promoção e sensibilização do consumidor (como a “Plataforma Peço Português”), para melhorarmos o nosso Bem ‑estar... nacional?estou convicto que sim.

José­ Filipe­ R.­ Santos

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A Copa ‑Cogeca é a voz conjunta dos agricultores e cooperativas agrícolas da União europeia. Juntos, garantem que a agricultura da Ue é sustentável, inovadora e competitiva, zelando pela segurança alimentar de 500 milhões de pessoas em toda a europa. A Copa representa mais de 13 milhões de agricultores e respetivas famílias, ao passo que a Cogeca representa os interesses de 38.000 cooperativas agrícolas. A missão da Copa ‑Cogeca é muito simples, mas muito importante: defender os interesses gerais da agricultura, manter e desenvolver relações com instituições da Ue assim como com organizações representantes ao nível da Ue, encontrar soluções que sejam de interesse comum. A Copa ‑Cogeca conta, no total, com 72 membros e 34 organiza‑ções parceiras, incluindo 38 membros dos novos estados ‑membros (em). A Copa ‑Cogeca encontra ‑se organizada em 45 grupos de trabalho que tratam da evolução do mercado e das políticas. também preparam posições conjuntas da Copa e da Cogega sobre vários temas, tais como: trocas comerciais, questões de cooperativas, desenvolvimento rural, biotecnologia, ambiente, saúde e bem ‑estar animal.Como objetivo geral, os agricultores europeus e as suas cooperativas agrícolas procuram satisfazer as necessidades e os desejos dos consumidores, fornecendo produtos agrícolas e alimentares sufi‑cientemente saudáveis e de qualidade elevada, a preços acessíveis. Ao mesmo tempo, cumprem as elevadas normas europeias em matéria de bem‑‑estar animal. têm a plena intenção de continuar a prosseguir estes objetivos no futuro. Para tal, precisam de políticas europeias coerentes que permitam às suas explorações agrícolas e empresas continuarem economicamente viáveis ao mesmo tempo que respondem eficazmente a novos desa‑fios, tais como a crescente procura de alimentos, recursos naturais limitados, efeitos das alterações climáticas, o aparecimento e disseminação de novas doenças e a livre concorrência do mercado em todos os estados ‑membros e Países terceiros. A 19 de janeiro de 2012, a Comissão europeia publicou uma nova estratégia para a proteção e bem ‑estar dos animais para o período 2012 ‑2015. esta nova estratégia visa reforçar algumas das medidas existentes, apresentadas anteriormente como parte do plano de ação 2006 ‑2010, mas também promover uma abordagem mais abrangente com vista a melhorar as condições do bem ‑estar animal na União europeia. A Copa ‑Cogeca saúda

esta nova estratégia e contribui ativamente para o seu desenvolvimento e implementação posterior.Infelizmente, a estratégia não aborda a questão do bem ‑estar animal num quadro político europeu mais alargado e mais coerente, incluindo políticas ambientais e alterações climáticas.A Copa ‑Cogeca acredita que existem oportunidades para o bem ‑estar animal mais orientado para o mercado. no entanto, é essencial que os agricultores consigam recuperar os seus custos adicionais no mercado. Isto exige que os consumidores estejam cientes das suas responsabilidades e estejam dispostos a pagar por medidas adicionais de bem‑‑estar que vão para além da legislação, juntamente com esforços para reequilibrar o poder na cadeia alimentar.em resumo, a Copa ‑Cogeca apoia a aplicação da legislação existente antes de novos requisitos de bem ‑estar animal serem sequer considerados.­Con‑tudo, são necessários incentivos para garantir que os agricultores sejam adequadamente recompensados pelas suas atividades de bem ‑estar animal e sejam capazes de cobrir os elevados custos que decorrem do cumprimento dos requisitos legais em termos de bem ‑estar animal ao nível da exploração agrícola.A Copa ‑Cogeca saúda a proposta da Comissão com vista ao desenvolvimento de um quadro legislativo mais simples na Ue no que toca ao bem ‑estar animal, mas apenas se o mesmo representar efetivamente um passo no sentido de simplificar a legislação existente, conferindo uma maior flexibilidade aos operadores e reduzindo os custos administrativos. neste espírito, os agricultores europeus apoiam o uso da ciência e os indicadores de bem ‑estar baseados em resultados desde que estes sejam desenvolvidos em estreita cooperação com os operadores e sejam simples, práticos e fáceis de implementar sem incorrer em custos ao nível da exploração agrícola devido a encargos adicionais. A flexibilidade é necessária uma vez que estamos a lidar com animais vivos e a biologia animal poderá diferir de caso para caso. no que toca à sensibilização e educação sobre bem ‑estar animal, a Copa ‑Cogeca acredita que a experiência adquirida pelos agricultores europeus deve ser devidamente reconhecida. Contudo, a documentação das competências dos agricultores não deveria criar encargos administrativos adicionais ao nível da exploração agrícola. Saudamos o reconhecimento da necessidade de mais informação sobre bem ‑estar animal, mas a

BEM-EStar aNIMalA­ PERSPETIVA­ DOS­ PRODUTORES­ EUROPEUS

Per­ Olsen Presidente do Grupo de trabalho Saúde e Bem‑estar Animal da Copa‑Cogeca

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AlImentAção AnImAl Bem-eStAR AnImAl

estratégia ainda não inclui medidas específi‑cas para melhorar a distribuição dos custos do bem ‑estar animal por toda a cadeia alimentar. Além disto, existem conflitos claros e uma falta de consistência entre a Política de Bem‑‑estar Animal e outras áreas de políticas da Ue, tais como as regulamentações ambientais que nem sequer são mencionadas. As alte‑rações nos sistemas de exploração agrícola com o objetivo de cumprir os requisitos de bem ‑estar animal têm implicações ambientais e podem afetar as emissões de gases com efeito de estufa, quer sejam intensivos ou extensivos. essas cedências devem ser mais bem examinadas, em particular no que diz respeito à política da água, biodiversidade e alterações climáticas.e por último, mas não menos importante, a Comissão europeia perdeu esta opor‑tunidade de implementar medidas ambi‑ciosas que garantam a reciprocidade das normas europeias de bem ‑estar animal em acordos comerciais com países terceiros. A Copa ‑Cogeca acredita que é importante que a Comissão continue a concentrar ‑se em iniciativas internacionais, tais como as negociações bilaterais e multilaterais e a cooperação com a omC (organização mundial do Comércio), a oIe (organização mundial de Saúde Animal) e a FAo (organização das nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), pois existe ainda muito trabalho a fazer para garantir a compreensão mútua sobre bem ‑estar animal. Contudo, o reforço da cooperação internacional sobre bem ‑estar animal não é suficiente. A reciprocidade das normas de bem ‑estar animal deve ser um dos principais requisitos em cima da mesa quando se negoceiam acordos comerciais com países terceiros.

Aplicação­de­Regulamentações­sobre­ Bem­‑estar­ Animal­os estados ‑membros (em) são responsáveis por garantir que os requisitos de bem‑‑estar são cumpridos em toda a Ue de forma harmonizada. estes devem garantir que se encontram disponíveis recursos financeiros adequados para fornecer o pessoal e outros recursos necessários às autoridades competentes para garantirem a aplicação da regulamentação sobre bem‑‑estar. Adicionalmente, os estados ‑membros têm que implementar um plano de ação. A monitorização regular e a transparência na implementação ao nível nacional são cruciais para o funcionamento adequado do

mercado interno da Ue. este plano de ação deve incluir sanções para os produtores incumpridores, tais como: multas, suspensão da atividade, etc.. no entanto, ao abrigo das regras atuais, os estados ‑membros decidem a que nível (local, regional, nacional) as taxas são definidas e cobradas, dependendo da organização das respetivas autoridades competentes.

Bem­‑estar­ e­ Suínoso debate recente na europa tem vindo a centrar ‑se na implementação da dire‑tiva do Conselho 2001/88/Ce que define as normas mínimas para a proteção de suínos e visa em particular banir, em explorações agrícolas com mais de dez porcas, a utilização de celas individuais para porcas prenhes e marrãs durante o período que vai do fim da 4ª semana após a cobrição até uma semana antes da data prevista de parição e o uso de amarras, incluindo a melhoria da qualidade das superfícies do pavimento. Além do mais, foram definidos requisitos importantes para garantir um determinado nível de formação e competência no que toca a questões de bem ‑estar para os criadores e o pessoal encarregue dos animais.

O­ que­ fazer­ em­ caso­ de­ incumprimento?A Copa ‑Cogeca apoia a proteção do bem‑‑estar animal e, em particular, a imple‑mentação das disposições da diretiva do Conselho (Ce) nº 2001/88 que define as normas mínimas para a proteção dos suí‑nos pelos estados ‑membros. A legislação sobre Bem ‑estar Animal deve ser aplicada ao nível das explorações agrícolas e não indiretamente através da discriminação de produtos animais.­ A Comissão afirmou que se irá opor a quaisquer ações unilaterais por parte de estados ‑membros que procurem criar obstáculos ao comércio de carne de porco no mercado interno tendo como base o argumento de que essa carne foi alega‑damente produzida em condições que não respeitam a diretiva.­ no entanto, nenhuma vantagem económica deverá resultar da violação da lei. As restrições à colocação dessa carne no mercado ao nível da Ue iriam interferir com o mercado interno europeu da carne de porco.­ As medidas unilaterais tomadas por estados ‑membros individuais não têm qualquer base legal e estariam em contradição com os princípios do mercado comum.

Custos­ de­ implementação­ e­ impacto­ espe‑rado­ da­ Diretiva­ 2008/120/CEde acordo com estudos recentes, o custo total médio de implementação (investimento + redução porcas/produção) pode variar entre 400 e 550 € por porca. o período de amortização pode ser entre 9 a 20 anos num mercado sem interrupção, mas é essencial‑mente a tendência do mercado em 2013 que irá determinar as margens e a sobrevivência dos agricultores.Além do mais, tendo em conta o impacto da diretiva respeitante ao bem ‑estar das galinhas poedeiras no mercado dos ovos, podemos esperar um decréscimo no número de porcas ao nível europeu em 2013 e 2014. o número de porcas pode também diminuir entre 5 e 10%. Por fim, podemos esperar uma redução na produção de carne de porco (1% em 2012, 2,3% em 2013, 2,1% em 2014) e um possível aumento no preço da carne de porco (10% mais).Além disso, alguns produtores terão deixado de produzir pois não conseguirão investir em novos edifícios e converter os seus sistemas. Com efeito, os primeiros resultados indicam que a principal categoria de estabelecimentos incumpridores previstos são as explorações agrícolas de menores dimensões (10 a 99 porcas).

Castração­ de­ Suínos­em dezembro de 2010, os representantes das organizações de agricultores europeus, indústria das carnes, retalhistas, cientistas, veterinários e onG defensoras do bem ‑estar animal assinaram a declaração de Bruxelas sobre alternativas à castração cirúrgica de suínos. A declaração define a base para a cooperação entre os intervenientes no sentido de terminarem voluntariamente a castração cirúrgica de suínos na União europeia até 1 de janeiro de 2018. Além disso, a Copca ‑Cogeca encoraja fortemente a implementação da declaração de Bruxelas e ainda acreditamos que isto pode ser possível.A Copa ‑Cogeca está atualmente a discutir no grupo de trabalho em questão a implemen‑tação da «declaração de Bruxelas» ao nível dos estados ‑membros. Uma discussão aberta e construtiva está a decorrer com todos os nossos membros. A declaração afirma que a parceria europeia deve proceder a uma avaliação para verificar as consequências do fim da castração cirúrgica, incluindo uma análise da alteração nos custos de produção nos vários sistemas de produção e os custos/

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benefícios que afetam os diferentes níveis da cadeia da carne de porco. A CoPA ‑CoGeCA destacou esta questão como sendo de impor‑tância crucial.

Bem­‑Estar­ e­ Aves­ de­ Capoeira­Diretiva­ “Broilers”­em 2007, o Conselho aprovou a diretiva 2007/43/Ce que define as regras mínimas para a proteção dos frangos para produção de carne com vista a reduzir a superlotação de explorações de frangos, definindo uma densidade máxima de 33kg/m2 ou de 39kg/m2 quando as normas de bem ‑estar mais rigorosas sejam cumpridas. esta legislação define igualmente um conjunto de outras con‑dições que asseguram um maior bem ‑estar animal, tais como requisitos de iluminação, cama, alimentação e ventilação. A diretiva possibilita ainda à Comissão introduzir medi‑das adicionais no futuro com base nos dados científicos e evidências práticas recolhidas pelos estados ‑membros. o prazo para todos os estados ‑membros transporem a diretiva para a legislação nacional e a implementarem foi junho de 2010.

Diretiva­ sobre­ Produção­ de­ OvosA diretiva do Conselho 1999/74/Ce sobre a proteção das galinhas poedeiras, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2012, define que os estados ‑membros devem garantir que as gaiolas não melhoradas sejam substituídas por gaiolas melhoradas ou sistemas alternativos. esta diretiva distingue três tipos de sistemas de criação para galinhas poedeiras:

•­ ­Gaiolas­ melhoradas onde as galinhas poedeiras têm, pelo menos, 750 cm² de superfície de gaiola por galinha;

•­ ­Sistemas­ de­ gaiolas­ não­ melhoradas onde as galinhas têm, pelo menos, 550 cm² de superfície de gaiola por galinha.

•­ ­Sistemas­sem­gaiolas com ninhos (pelo menos, um para cada 7 galinhas),­poleiros adequados e onde a densidade não exceda 9 galinhas poedeiras por­ m² de superfície utilizável.

As galinhas mantidas nos sistemas de gaiolas enriquecidas e nos sistemas sem gaiolas devem também dispor de um ninho, um espaço de poleiro de 15cm por galinha, cama que permita debicar e esgravatar e acesso livre a uma manjedoura de, pelo menos, 12cm por galinha na gaiola.

Impacto­ no­ mercadoUm­ ano­ passou­ e­ a­ legislação sobre bem‑‑estar animal na indústria das galinhas poedeiras provocou graves perturbações na indústria dos ovos na qual o preço dos ovos é agora 75% mais elevado do que há um ano atrás. Ao­ nível­ europeu­ estima­‑se­que­ cerca­ de­ 4%­ das­ gaiolas­ ainda­ não­tenham­ sido­ convertidas­ para­ sistemas­ de­gaiolas­ melhoradas.os agricultores fizeram o máximo para garantir que se encontravam em posição de respeitar o prazo para a retirada das gaiolas convencionais. Contudo, alguns agricultores enfrentaram uma série de dificuldades, incluindo a disponibilidade de financiamento, adaptações de planeamento – disponibilidade de especialistas em instalação para satisfazer a procura atual – licença emitida ao abrigo da diretiva IPPC – e questões de segurança alimentar. o custo de conversão foi estimado em apro‑ximadamente 30€ por espaço de unidade, a que se deve acrescentar o custo extra de produzir ovos em gaiolas melhoradas em vez de gaiolas convencionais. os agricultores tiveram direito a algum apoio financeiro dos fundos de desenvolvimento Rural ou ajudas do estado. no entanto, tal como tem acontecido frequentemente, o­ bem­‑estar­animal­ nem­ sempre­ é­ uma­ prioridade­ nos­programas­ nacionais­ de­ desenvolvimento­rural e, como tal, o dinheiro alocado tem sido muitas vezes insuficiente ou, em alguns casos, até inexistente.

Ponto­ de­ situaçãoA 1 de janeiro de 2012, 13 estados ‑membros não conseguiram cumprir esta diretiva. A 27 de janeiro de 2012, a Comissão tinha enviado car‑tas de aviso formal aos 13 estados ‑membros, incluindo Portugal. A 21 de junho de 2012, a Comissão considerou que as observações feitas por 10 estados ‑membros não eram satisfatórias. em consequência, um parecer fundamentado sobre esta questão foi entre‑gue a esses estados ‑membros.Se o estado em causa não cumprir o parecer dentro do prazo estabelecido pela Comissão, esta poderá apresentar o caso junto do tribunal de Justiça da União europeia. Se a Comissão considerar que o estado ‑membro em causa não tomou as medidas necessárias para dar cumprimento à decisão do tribunal, poderá apresentar o caso junto do tribunal após ter dado ao estado a oportunidade de submeter as suas próprias observações.

Finalmente, se o tribunal decidir que o estado‑‑membro não cumpriu a sua decisão, poderá impor ‑lhe o pagamento de uma prestação única ou uma sanção pecuniária.

Perspetivas• A Ue enfrenta uma grave crise económica

e social. Qual será o impacto no consumo de carne vermelha, aves e ovos? e o preço?

• no seguimento da redução inicial no número de galinhas poedeiras devido à entrada em vigor da diretiva sobre Galinhas Poedeiras, a produção de ovos deu os primeiros sinais de recuperação em 2012. mas, será que a produção de ovos irá igualar os níveis de produção anteriores a 2011? Quanto tempo irá demorar?

• depois de um ano razoável (2012) em termos de preços, o setor enfrenta atualmente ajustamentos de preço. Conseguirá o setor recuperar o investimento feito para cumprir os requisitos de bem ‑estar?

• os custos da alimentação pecuária devem permanecer elevados em 2013. o mercado de carne de porco conseguirá incluir custos de produção acrescidos superiores a 10%?

• o verdadeiro impacto da diretiva sobre a proteção de suínos irá depender do preço da carne de porco (permanece elevado?) e também da pressão dos distribuidores sobre os produtores.

• do ponto de vista do consumidor, a carne branca é uma alternativa possível à carne vermelha. Qual o nível que esta substituição atinge e em que condições podem os consumidores voltar à carne vermelha e vice ‑versa?

• A Ue está a finalizar um acordo bilateral com o Canadá. Qual será o montante autorizado das exportações de carne de porco daquele país?

• Um acordo bilateral com os eUA está planeado para os próximos 2 a 3 anos: qual será o montante autorizado das nossas exportações/das exportações daquele país?

• A Ue está empenhada em negociações comerciais bilaterais com vários países da ASeAn (Associação das nações do Sudeste Asiático). tendo em vista que a malásia e a tailândia são muito ofensivas em termos das aves de capoeira, qual seria o montante autorizado das suas exportações?

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1­ –­ Introduçãoo Bem ‑estar Animal é um tema com cada vez maior relevância no espaço da União europeia. Para este cenário, tem contribuído vários fatores que importa elencar.Atualmente a produção animal não é vista exclusivamente como uma forma de produção de alimentos, mas levanta em si, questões de ordem ética, ligadas ao modo como devem ser tratados os animais. Para além disso, o Bem ‑estar Animal é considerado como um elemento integrante da qualidade dos alimentos e tem impacto na saúde animal e na segurança alimentar. A garantia do Bem ‑estar dos animais, está na maioria dos casos associada à existência de boas práticas de maneio, produção, trans‑porte e abate, tendo impacto no crescimento, reprodução e sobrevivência dos animais. Por outro lado, parece existir uma relação entre a melhoria das condições de Bem ‑estar dos Animais e a prevenção e resistência à doença.em 2010, foi realizado um inquérito à população europeia (eurobarometro, 2010), sobre questões relacionadas com a qualidade e segurança alimentar, tendo ‑se apurado que cerca de 64% dos consumidores, estão preocupados com o Bem ‑estar dos animais, considerando a sua falta como um dos fatores de risco relacionados com os alimentos.neste contexto, verifica ‑se desde há longa data, a existência a nível da europa um vasto leque de legislação na área do Bem ‑estar dos animais. esta legislação é abrangente, abarcando desde a produção, ao transporte e abate dos animais. mais recentemente, assiste ‑se a um inte‑resse crescente, nas questões de Bem ‑estar Animal, por parte de organizações mundiais ligadas à saúde e produção animal. A titulo de exemplo, poderemos referir o caso da oIe (Office Internationale des Epizoties – Organização Mundial de Saúde Animal), que tem procurado nos últimos anos, elaborar códigos de Bem ‑estar Animal (Produção,

transporte e abate), com o objetivo de estabelecer normas mínimas de Bem ‑estar à escala mundial.A direção Geral de Alimentação e Veterinária (dGAV), no âmbito das suas competências, tem desenvolvido um extenso trabalho, nas áreas da segurança alimentar, saúde e Proteção animal, nomeadamente na definição e implementa‑ção das políticas subjacentes aquelas áreas, incluindo a participação ativa nos grupos de trabalho da oIe.em matéria de Bem ‑estar Animal, a dGAV tem procurado criar as ferramentas necessárias à adequada implementação da legislação nesta área, diligenciado no sentido de se criarem soluções que tenham em conta a salvaguarda da produção nacional.

2­–­Legislação­Comunitária­e­Nacio‑nal­ na­ área­ do­ Bem­‑Estar­ AnimalA nível Comunitário e nacional, existe um vasto leque de legislação na área do Bem‑‑estar Animal. esta legislação abrange desde a produção primária (explorações pecuárias), ao transporte e ao abate.A diretiva 98/58, de 20 de Julho, transposta para o direito nacional através do decreto ‑lei nº 64/2000, de 22 de Abril, estabelece os requisitos mínimos dos animais nos locais de criação, aplicando ‑se na generalidade a todas as explorações pecuárias, independentemente da espécie animal presente. neste decreto‑‑lei, encontram ‑se definidos os requisitos das explorações, nomeadamente as obrigações dos detentores, a competência dos tratadores, as condições de alimentação e abeberamento, ins‑talações e alojamento, equipamentos, liberdade de movimentos, o tipo de registo obrigatório, as condições ao ar livre e o tipo de mutilações autorizadas.Concomitantemente existe legislação específica que define os requisitos, em matéria de Bem‑‑estar, das explorações das galinhas poedeiras, frangos, suínos e vitelo (Ver quadro 1).

O­PAPEL­DA­DIREçãO­GERAL­DE­ALIMENTAçãO­E­VETERINáRIA­NA­áREA­DO­BEM-ESTAR­ANIMAL

Maria­ Jorge­ Antunes­ CorreiaChefe de divisão de Bem‑estar Animal

AlImentAção AnImAl Bem-eStAR AnImAl

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mais recentemente e com a entrada em vigor da legislação de Proteção dos frangos nos locais de criação (decreto‑‑lei nº 79/2010, de 25 de Junho), surgiu uma nova abordagem nas politicas em matéria de Bem ‑estar Animal. Assim sendo e para além da definição dos requi‑sitos relacionados com as estruturas e alojamento dos animais, passou ‑se a considerar os chamados indicadores de Bem ‑estar Animal. no caso concreto dos frangos, está em funcionamento um sistema de avaliação de Bem ‑estar nos matadouros, no qual são utilizados um conjunto de indicadores (dermatites das almofadas plantares, taxa de mortalidade

no transporte, taxa de rejeição total e avaliação das causas de rejeição), segundo uma metodologia determinada. Sempre que os limites considerados aceitáveis, para esses indicadores, são ultrapassados, devem ser estabelecidas ações corretivas a nível da exploração (Plano de ação face a resultados relevantes no matadouro). esta abordagem, baseada na avaliação de indicadores de Bem ‑estar Animal, constitui um dos pilares da nova estratégia comunitária nesta área (estratégia para o Bem ‑estar Animal 2012 ‑2015), estando atualmente em avaliação, pela Comissão, a possibilidade de se alargar esta meto‑dologia a outras espécies animais.

em matéria de transporte de animais, o Regulamento 1/2005, de 22/12/2004 e o decreto ‑lei nº 265/07, de 24 de Junho, estabelecem os requisitos de Bem ‑estar no transporte, nomeadamente o tipo de documentação obrigatória, a formação dos condutores e/ou tratadores, a aptidão dos animais para o transporte, as condições dos veículos, o manuseamento, carga e descarga dos animais, o espaço por animal, os tempos de viagem e os requisitos dos transportes de longa duração.no que respeita ao abate, entrou em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2013, o Regulamento 1099/2009, de 24 de Setembro, o qual vem estabelecer um conjunto mais apertado de requisitos em matéria de Proteção dos animais no abate, muito em particular a obrigatoriedade de formação do pessoal que opera nos matadouros (descarga, encaminhamento, atordoamento e sangria) e a existência de um responsável pelo Bem ‑estar Animal, o qual terá como funções a implementação de procedimentos operacionais normaliza‑dos, sua supervisão e tomada de medidas correctivas em caso de incumprimento.Importa ainda referir que para além de toda a panóplia de legislação acima mencionada, existe um conjunto vasto de códigos e recomendações, na área do Bem ‑estar animal. estes códigos pela sua abrangência (ex: Códigos da oIe para o Bem ‑estar Animal), tem cada vez mais influência na forma como os animais são criados, mantidos, transportados e abatidos a nível mundial.

3­ –­ Papel­ da­ DGAV­ na­ imple‑mentação­de­políticas­na­área­do­ Bem­‑Estar­ AnimalA direção Geral de Alimentação e Vete‑rinária (dGAV), em virtude das suas atribuições, é a entidade competente na definição e aplicação das políticas nas áreas da segurança alimentar, saúde e Proteção animal.Cabe à dGAV, enquanto autoridade com‑petente a nível nacional, a promoção e

Legislação Campo­ de­ aplicação Principais­ requisitos

decreto ‑lei nº 64/2000, de 22 de Abril

todas as explorações pecuárias

obrigações dos detentores, os requisitos em matéria de alimentação e abeberamento, liberdade de movimentos, registos, instalações e alojamento, equipamentos, condições ao ar livre e mutilações

decreto ‑lei nº 48/2011, de 10 Fevereiro

explorações de vitelos (até 6 meses)

Condições de alojamento, acomodação e cuidados a ter com os animais; alimentação e dimensões dos alojamentos

decreto ‑lei nº 72 ‑F/03, de 14 de Abril

explorações de galinhas poedeiras com mais de 350 aves

Proibição de utilização de gaiolas não melhoradasRequisitos dos sistemas alternativos e das gaiolas melhoradas;

decreto ‑lei nº 79/2010, de 25 de Junho

explorações intensivas de frangos com mais de 500 animais

Sistema de avaliação do Bem‑estar dos frangos no matadouro; requisitos dos alojamentos e maneio; densidade animais

decreto ‑lei nº 135/2003, de 28 Junho

explorações de suínos

Condições de alojamento e maneio dos animais; alojamento de porcas em grupo; dimensões dos parques; pavimentos, materiais manipuláveis.

Regulamento 1/2005, de 22/12/2004 e decreto‑‑lei nº 265/07, de 24 de Junho

transporte de animais com fins comerciais

Autorização de transportador; condições dos veículos, aptidão para o transporte ; carga e descarga, espaço; tempos de viagem; formação condutores e/ou tratadores

Regulamento 1099/2009, de 24 de Setembro

Abate dos animais Formação dos operadores no matadouro; Responsável pelo Bem‑estar Animal, Requisitos das instalações; Atordoamento e sangria; encaminhamento dos animais; Procedimentos operacionais normalizados

Quadro­ 1­ –­ Resumo­ da­ legislação­ de­ Bem‑Estar­ Animal­ em­ matéria­ de­ transporte,­ abate­e­ locais­ de­ criação

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implementação da regulamentação em matéria de Proteção dos animais nos locais de criação, transporte e abate. É ainda competência da dGAV, a elaboração, coor‑denação e supervisão do Plano de Proteção Animal, no qual se definem os controlos no âmbito da Proteção dos animais nos locais de criação, transporte e abate. o Plano de Proteção animal, insere ‑se num Plano mais abrangente, no qual se definem os controlos oficiais realizados para assegurar a verificação do cumprimento da legislação relativa aos alimentos para animais, géneros alimentícios, bem como as normas relativas à saúde e ao bem ‑estar dos animais (Regu‑lamento 882/2004).Ao longo dos últimos anos, tem existido um extenso trabalho da dGAV, em matéria de Bem ‑estar Animal, que se caracteriza de uma forma geral, na participação em dife‑rentes fóruns nacionais e internacionais onde se discutem temas neste domínio, na definição da legislação nacional nesta área e na criação dos mecanismos que garantam a sua adequada implementação e controlo. tem igualmente sido preo‑cupação da dGAV, a colaboração com a Universidade, no sentido de se desenvol‑verem trabalhos científicos, em matéria de Bem ‑estar Animal, os quais venham a sustentar futuros desenvolvimentos da matéria, no plano regulamentar e que dessa forma sejam refletidas as condições de produção específicas dos países do sul da europa. Atualmente e em vista da nova estratégia de Bem ‑estar Animal para 2012 ‑2015, existe um forte interesse em trabalhos orientados para a avaliação de indicadores de Bem ‑estar Animal a nível da produção, transporte e abate, os quais possam refletir as diferentes realidades produtivas nacionais.Todo­ este­ trabalho­ é­ necessariamente­desenvolvido­ em­ colaboração­ com­ as­diferentes­entidades­envolvidas­no­pro‑cesso­ (ex:­ associações­ representativas­do­ sector),­ considerando­ a­ necessidade­de­ se­ salvaguardar­ a­ produção­ nacional­e­ de­ se­ criarem­ soluções­ que­ permitam­

adaptar­o­processo­de­implementação­da­legislação,­ à­ nossa­ realidade­ produtiva.tem sido vários os desafios colocados ao sector produtivo nacional e à dGAV enquanto autoridade competente, na implementação de legislação em matéria de Proteção Animal.Recentemente, com a proibição, a partir de 1 de Janeiro de 2012, da utilização de gaiolas não melhoradas, para galinhas poedeiras, (decreto ‑lei nº 72 ‑F/03, de 14 de Abril), houve necessidade de se proceder a uma intensa remodelação do setor nacional de produção dos ovos, a qual se traduziu na modificação do sistema de produção existente, passando os animais a estar alojados em gaiolas melhoradas ou sistemas alternativos (sistemas no solo, com ou sem acesso ao ar livre).Considerando que à data de 1 de Janeiro de 2012, a grande maioria dos produtores de ovos, ainda não se encontravam converti‑dos e que Portugal se encontrava perante um processo de infração Comunitário, foi necessário estabelecer um conjunto de medidas e controlos adicionais, com vista a garantir a finalização da conversão no mais curto espaço de tempo e a necessária diferenciação dos produtores que à data já tinham os seus pavilhões convertidos. Para este processo, em muito contribuiu o trabalho da Associação representativa do setor (ANAPO), a qual prontamente colaborou no sentido de garantir a eficácia das medidas tomadas.terminado o processo de conversão e não obstante o impacto dos requisitos legais acima mencionados, verifica ‑se que a grande maioria dos produtores de galinhas poedeiras manteve a sua actividade, estando atualmente a produzir ovos em sistemas de gaiolas melhoradas ou sistemas alternativos. Atualmente, Portugal enfrenta um novo desafio em matéria de Bem ‑estar Animal, que se prende, com a obrigatoriedade, desde 1 de Janeiro de 2013, de alojar as porcas em grupo, no período que vai desde a 4ª semana após cobrição, até

uma semana antes da data prevista do parto, (decreto ‑lei nº 135/2013, de 28 de Junho). este requisito, sendo obrigatório para explorações de porcos confinadas, com 10 ou mais porcas, tem impactos na suinicultura nacional, obrigando à reestruturação do tipo de alojamento tradicionalmente existente para este tipo de animais (celas individuais). Concomi‑tantemente a necessária remodelação dos pavimentos nos parques de leitões, porcos de engorda e porcas reprodutoras, vem criar a necessidade de proceder a alterações estruturais nas suiniculturas.Para além do impacto económico que estas medidas têm para o setor suinícola nacional, existe também a necessidade de proceder a alterações no maneio e planeamento das explorações, com vista a garantir a sua concretização.A DGAV, em colaboração com a Federa‑ção das Associações representativas do setor (FPAS), tem procurado estabelecer um conjunto de medidas que por um lado garantam a rápida finalização do processo de conversão, e por outro criem os mecanismos necessários à adaptação das explorações. Assim sendo e para além do comprometimento dos produtores relativamente às opções em curso em matéria de conversão, que se materializou na entrega dos Planos de conversão, com prazos credíveis para a finalização das obras e na entrega dos Planos de saída progressiva dos animais, para aqueles produtores que não pretendem converter, foi estabelecido um Plano específico de controlo em função do risco (explora‑ções parcialmente convertidos ou não convertidos).em face da evolução do processo de conversão, poderão ser tomadas medidas adicionais que se prendem com a circu‑lação dos animais. Concomitantemente com estas medidas, a verificação de não conformidades será alvo de sanções, conforme previsto na legislação em vigor nesta matéria (decreto ‑lei nº 135/2013, de 28 de Junho).

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os interesses excedentários da produção de Suínos do norte da europa Comunitária, impuseram ‑nos a obrigatoriedade de adaptação das nossas explorações a normas de “bem ‑estar animal”, que entraram em vigor no passado dia 01 de Janeiro.Utilizando barracões de arrecadações agrícolas sem utilidade, espalharam a palha que têm como excedente, soltaram para lá as porcas, conven‑ceram uns coloridos políticos que aquilo era bem ‑estar animal e rapidamente transformaram o seu interesse em lei, logo imposta a outros espaços comunitários.Com um tiro, mataram dois coelhos. Instalaram barato as suas porquinhas e criaram dificuldades e custos acrescidos aos produtores do Sul da europa, onde e até por questões climatéricas, as construçoes e sistemas de instalação da produção, são e devem ser diferentes.A evolução tecnológica para os níveis actuais, foi sendo feita neste últimos quarenta anos, para o modelo que temos.e de bem ‑estar animal sabe o produtor que respeita, estima e sabe, que só dando o melhor para o seu efectivo, pode potenciar a sua pro‑dutividade.Bem ‑estar são áreas de produção corretas, ins‑talações com um ambiente tão limpo (ar e área) quanto possível, água e alimento suficientes e higienizados, uma boa saúde e animais protegidos contra a agressão e a competitividade entre fortes e fracos....

BEM-ESTAR­ ANIMAL­ EM­ SUíNOSA imposição de áreas mínimas é um disparate. os produtores têm consciência das áreas neces‑sárias para que os seus animais estejam bem, e para estar bem, é preciso ter áreas proporcionais à sua idade e ao peso, como já fazíamos antes desta imposição. eles não sabem , que podem existir situações excepcionais nas explorações? Imaginemos um período de infertilidade, ao que se seguirá natu‑ralmente um período de excesso de cobrições. esta situação originará um período de maior vazio, a que seguirá um período, com o natural excesso de animais. o que lhes fazemos?.....Porcas soltas (reparem na foto 1), trata ‑se de uma exploracão adaptada em que nos parques cons‑truídos, ficaram uma parte das celas existentes, servindo para separar e limitar a competitividade, no acesso à alimentação.explicam ‑me porque a maioria das nossas por‑quinhas, estando livres, prefere dormir dentro das celas?não será porque se sentem melhor e mais protegidas?o que eu sei é que estão menos higienizadas.mas disparate, disparate, é a imposição das aberturas mínimas das grelhas de engorda. não consigo entender. 18 mais 3 de tolerância serve, com 22 mm de abertura significa lixo, problema ambiental e deitar dinheiro fora. em Portugal calculo que existe capacidade para 1,5 milhões de porcos em acabamento, e cada

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Foto 1

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 15

porco utiliza em média 0,5 m2 de grelhas, ao que somando as grelhas para os parques das porcas, totalizará uma necessidade de grelhas na ordem de um milhão de metros quadrados.Cada m² de grelhas custa quinze euros. Vamos andar de óculos com graduação máxima e micrómetro, para descobrir o milimetro que obrigará o produtor a contribuir para os quinze milhões de euros deitados no lixo.Reparem na foto 2, sabem dizer ‑me se estas grelhas cumprem com as aberturas impostas pela norma? não sabem, mas não se preocupem, porque os porcos também não sabem. Até vos garanto, que eles nem querem saber.mas eu sei, que nos obrigarão a estragar dinheiro. dinheiro que seria preciso para solidificar as nossas empresas e reforçar a nossa posição enquanto produtores que querem contribuir para a auto ‑suficiência

nacional, garantindo os nossos postos de trabalho e os dos que nos estão ligados, produzindo com respeito pelos animais, ambiente e consumidores.

temos esperança que sobre os espaços de abertura das grelhas, ainda haja bom senso.Perguntas de quem sente na pele este esbanjar: ‑Se estas burguesias, tornarem a Ue defi‑citária em carne de porco, a mesma será produzida por cumpridores destas normas? ‑Continuaremos a ter dinheiro para a comprar e para alimentar o desemprego?enquanto produtor e responsável no movi‑mento associativo, sei que só nos resta, a esta altura do campeonato, colaborar com a autoridade nacional, ou seja cumprir. e a não cumprir, fechar e rápido. o tempo desta discussão foi outro.Pela primeira vez torno a minha opinião pessoal pública sobre esta imposição, tendo consciência que dificilmente se vence uma guerra, sem se perderem batalhas. estamos na luta, com determinação e perseverança, continuaremos.Um abraço do Presidente da FPAS

Foto 2

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16 | A LIMENTAçãO A n I m A l

1.­ ­O­ bem‑estar­ animal­ como­ um­atributo­ da­ carne­ de­ bovino

os mercados para produtos alimentares nos países desenvolvidos são cada vez mais competitivos, chegando aos supermercados uma cada vez maior variedade de produtos, provenientes de um cada vez maior número de origens. A competitividade está consequentemente ligada à capacidade de desenvolvimento de novos produtos, diferenciados e dirigidos a diferentes segmentos de consumidores, deixando o preço de ser o único fator de diferen‑ciação (Grunert, Bredhal et al. 2004).As preferências dos consumidores por produtos alimentares cada vez mais diferenciados justificam‑se pelo facto da qualidade, na ótica do consumidor, poder ser representada não só por atributos evidenciados (a cor da carne, por exemplo) ou experimentados (a tenrura), mas também acredi‑tados (de confiança).estes atributos são aqueles relativamente aos quais o consumidor não tem a capacidade de avaliar e de elaborar uma apreciação, pelo que se baseia no julgamento ou na opinião de terceiros (Bech, Grunert et al. 2001). o modo de produção, a ausência de resíduos, etc., são exemplos desses atributos. numa explicação mais visual, nunca sabemos se os ovos de galinhas de campo são de galinhas que realmente estiveram no campo, acreditamos no que o rótulo diz.Quer isto dizer que há fatores não económicos que pesam nas escolhas dos consumidores. exemplo disso é a evolução do mercado que mostra uma procura crescente por alimentos biológicos, doP, “naturais”, “verdes”… este tipo de produto espelha exatamente o facto de terem presentes atributos de confiança que têm que ser fornecidos através de rótulos (certificados ou não) e marcas.Aspetos como o bem‑estar dos animais de produção (muitas vezes associado à segurança sanitária dos alimentos e ao impacto ambiental da produção alimentar) estão assim muitas vezes presentes nas preferências dos consumidores europeus. o bem‑estar animal pode portanto ser considerado um atributo de confiança da carne, uma vez que os consumidores têm que acreditar que um determi‑

nado produto cumpre as normas de bem‑estar que alega cumprir, uma vez que não poderá verificar pelo consumo se tal é verdade.A legislação comunitária tem seguido estas preferências e preocupações dos consumidores, condicionando os financiamentos e obrigando os produtores ao cumprimento de regras nesta área. neste sentido, a reforma da política agrícola comum tem levado a uma crescente orientação dos produtores para o mercado. deste modo, os custos de produção de alimentos no seio da União europeia (Ue) têm sido crescen‑temente afectados por força de exigente regulação governamental e empresarial (entre outros fatores como o custo crescente de fatores de produção como a energia ou a alimentação animal). À exigência do cumprimento de padrões legais míni‑mos, acresce a existência de cadeias grossistas de distribuição de alimentos que exigem o cumprimento de normas adicionais nestas mesmas áreas. os produtores pecuários não são uma excepção neste cenário, tal como qualquer operador agrícola na Ue.É ainda pertinente acrescentar que sendo o mercado da carne europeu relativamente protegido, os custos acrescidos por força da regulamentação seriam geralmente transferidos para os consumidores através de preços mais elevados. Contudo, no que diz respeito à carne de bovino (único bem alimentar sobre o qual incide este artigo) a pressão do sector da grande distribuição tem conduzido essencialmente à diminuição das margens dos produtores.deste modo é importante saber quais as preocu‑pações concretas dos consumidores portugueses relativamente ao bem‑estar dos bovinos de carne, e também se estariam dispostos a pagar pelos custos adicionais que conduzem ao aumento desse bem‑estar animal. existem incertezas acerca da possibilidade de traduzir as preocupações dos consumidores rela‑tivamente ao bem‑estar dos animais de produção em procura real de produtos com preços mais elevados, devido aos maiores padrões produtivos. Para resumir numa frase, será que o premium que os consumidores estão dispostos a pagar é suficiente para cobrir os custos de produção mais elevados?

BEM-EStar aNIMal Na ProDuÇÃoDE CarNE DE BoVINoPREFERêNCIAS­ DOS­ CONSUMIDORES­ PORTUGUESES

AlImentAção AnImAl Bem-eStAR AnImAl

Inês­ Viegasmédica VeterináriaInvestigadora na FmV‑Utl

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Caso tal se verifique, e apesar de a carne em geral ser um produto de baixo grau de diferenciação no momento da escolha do consumidor (Grunert, Bredhal et al. 2004), é possível que existam incentivos para que os produtores e seus distribuidores diferenciem os seus produtos.

2.­ ­Motivações­ dos­ consumido‑res­em­relação­ao­bem‑estar­animal

o bem‑estar animal é frequentemente asso‑ciado a atributos de qualidade dos alimentos de origem animal, não sendo um assunto irrelevante para a maioria dos consumidores (Veissier, Beaumont et al. 2007). As preocupações dos consumidores em relação ao bem‑estar animal estão não só associadas aos animais em si, mas também à relação com a segurança alimentar e a qualidade dos alimentos (mcVittie, moran et al. 2006). Para muitos consumidores existe

também uma forte associação à proteção do ambiente (de Passillé and Rushen 2005).os níveis de preocupação existentes, e as associações a outras questões, já levaram, em casos como os ovos de galinhas de campo, ao desenvolvimento e implementação de produtos mais “amigos” do bem‑estar animal. Contudo, o que se verifica em muitos casos, é que apesar de  existirem  disposições a pagar positivas como resultado de muitos estudos, no momento da compra o bem‑estar animal é ultrapassado por outros atributos de qualidade, deixando de constituir uma preocupação (Harper and Henson 2001). os mesmos autores explicam que no momento da compra ocorre muitas vezes uma disso‑ciação da decisão, ou seja, os consumidores deixam de pensar no bem‑estar animal quando escolhem os produtos a comprar. esta dis‑sociação pode ser em parte explicada pelo desconforto associado ao conhecimento real das condições de vida dos animais (um fenó‑

meno de ignorância voluntária) (Vanhonacker, Poucke et al. 2010).Assim sendo, é possível que os valores decla‑rados de disposição a pagar por parte dos consumidores sejam apenas uma forma de demonstrar o seu apoio a políticas governa‑mentais de protecção do bem‑estar animal. Contudo, a existência de alguns produtos já referidos e o sucesso de algumas marcas nacionais no nosso mercado permite antever a existência de alguns nichos de mercado para carne de bovino à qual está associado maior bem‑estar animal.numa investigação de doutoramento realizada em Portugal, ao discutir o bem‑estar animal na produção de carne de bovino, foi possível perceber que os consumidores consideram que este é um assunto bastante emocional e que reconhecem a contradição entre comer carne e ter preocupações com o bem‑estar dos animais. É também frequente referirem que não pensam no bem‑estar animal ao comprar carne.

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Quando solicitados a especificar as preocupa‑ções sobre bem‑estar dos bovinos de carne, a maioria dos consumidores é capaz de o fazer em termos muito precisos, descrevendo as condições de transporte e técnicas de abate. A produção intensiva é frequentemente considerada prejudicial para o bem‑estar animal, e questões como a diminuição do espaço para o movimento e incapacidade de ter um comportamento natural são mencio‑nadas. Além disso, a falta de cuidados dos produtores e tratadores é considerada uma preocupação.A mesma investigação mostrou que a vontade de comprar carne produzida de acordo com regras de maior proteção dos animais se revela contudo pouco consensual. Alguns consumidores enfatizam que este assunto não é uma preocupação durante as compras e que, além disso, não deve ser de responsabilidade do consumidor pagar o cumprimento das regras de bem‑estar animal. muitos destes consumidores consideram que esta deve ser uma preocupação do estado, e que todos os produtos de origem animal disponíveis para venda deverão ser produzidos de acordo com regras elevadas de proteção dos animais. Por outro lado, há consumidores que se mostram disponíveis para comprar este tipo de carne. os motivos para essa disponibilidade são vários. muitos consumidores compram quantidades relativamente pequenas de carne de bovino, o que lhes permite fazer escolhas premium. Há também consumidores que, tendo filhos pequenos, pensam que esta seria uma carne de melhor qualidade, fazendo então a asso‑ciação do bem‑estar animal com a maior segurança sanitária. Finalmente, há ainda consumidores que reconhecem a qualidade acrescida que este tipo de carne teria, dada a associação que fazem entre bem‑estar animal e qualidade sensorial. Assim sendo, para muitos consumidores as preocupações com o bem‑estar podem ser multidimensionais, relacionando‑se não só com os próprios animais, mas também quer com a segurança sanitárias dos alimentos, quer à qualidade sensorial da carne.

O­ bem‑estar­ animal­ como­ potencial­ de­diferenciação­ para­ a­ carne­ de­ bovinotendo em conta o carácter multidimensio‑nal das preocupações demonstradas pelos

consumidores pelo bem‑estar dos animais de produção, poderão existir oportunidades a ser aproveitadas pelos produtores de carne de bovino. As preferências que muitos consumidores demonstram por produtos nacionais podem ser associadas a características de bem‑estar animal que poderão potencializar as escolhas por carne de bovino Portuguesa. existem já, em Portugal e em toda a europa, sistemas de certificação que incluem padrões de bem‑estar animal e que se podem traduzir em maior benefício para os produtores.o mercado para estes produtos pode ser atraente porque fornece um mecanismo através do qual os maiores custos de pro‑dução e também de certificação podem ser transferidos para os consumidores. no entanto, não se pode ignorar o efeito do rendimento disponível sobre a procura e que este de produto representa apenas um nicho de mercado. Um exemplo destes nichos é o caso da agricultura biológica e da carne doP, que representam pequenos nichos de mercado, mas que ainda assim se têm mantido con‑sistentes, representando oportunidades de mercado interessantes para os respetivos produtores e com valor considerável para a sustentabilidade das regiões onde são produzidas.os consumidores portugueses parecem considerar as produções extensivas como promotoras de bem‑estar animal. Consideram importante a permanência dos animais em pastoreio em baixas densidades animais. Além disso, é visto como uma mais‑valia a possibilidade de expressão do comporta‑mento natural e dos animais se alimentarem de forma não artificial. o trabalho de investigação realizado mostra que os consumidores dão também valor ao que entendem ser o menor impacto ambiental deste tipo de produção. Finalmente, o recurso a raças autóctones é considerado como muito positivo, havendo associações fortes com o património cultural e a preservação da paisagem.muitos consumidores fazem fortes associa‑ções regionais e familiares por este tipo de produção e demonstram preferências por carne local. Assim sendo, uma estratégia de qualidade para a carne de bovino portuguesa poderia ser orientada para o consumidor,

concentrando‑se na promoção de um maior bem‑estar animal, no comportamento animal natural, menor impacto ambiental e maior sustentabilidade. Adicionalmente, a preservação do ambiente rural e dos ecossistemas poderiam também ser incorporados como atributos de confiança no produto final. os consumidores portugue‑ses relacionam estes atributos com carne mais segura, mais genuína e de qualidade superior, pelo que poderão estar disponíveis a pagar mais. Quando todos os noticiários europeus incluem notícias sobre fraudes associadas com a pre‑sença de carne de equinos em produtos que deveriam conter apenas carne de bovino, não é possível deixar de perceber que esta será uma oportunidade única para os produtores portugueses. A diferenciação de produtos de carne de bovino através de atributos associados a maiores níveis de bem‑estar animal é uma das vias que pode ser explorada, e onde poderão existir interessantes oportunidades de mercado.

BibliografiaBech, A., K. G. Grunert, et al. (2001). Consumers’ quality perception. Food, people and society. A european perspective of consumer’s food choices. l. Frewer, e. Risvik and H. Schifferstein. new York, Springer:­ 97‑113.

de Passillé, A. m. and J. Rushen (2005). “Food safety and environmental issues in animal welfare.” Rev. sci. tech. off. int. epiz. 24(2): 757‑766.

Grunert, K. G., l. Bredhal, et al. (2004). “Consumer perception of meat quality and implications for product development in the meat sector – a review.” meat Science 66: 259‑272.

Harper, G. and S. Henson (2001). Consumer concerns about animal welfare and the impact on food choice. Consumer concerns about animal welfare and the impact on food choice. e. Commission, european Commission.

mcVittie, A., d. moran, et al. (2006). Public prefe‑rences for broiler chicken welfare: evidence from stated preference studies. land economy Working Paper Series, SAC – Scottish Agricultural College.

Vanhonacker, F., e. V. Poucke, et al. (2010). “Citizens’ views on farm animal welfare and related informa‑tion provision: exploratory insights from Flandres, Belgium.” Journal of Agricultural and environmental ethics 23: 551‑569.

Veissier, I., C. Beaumont, et al. (2007). “les recherches sur le bien‑être animal: buts, méthodologie et finalité.” InRA Production Animale 20(1): 3‑10.

AlImentAção AnImAl Bem-eStAR AnImAl

Existem outras formas de fixar micotoxinas

T5XMuito mais que um adsorvente de micotoxinasT5X possui quatro ações principais:

- Os componentes adsorventes do T5X foram selecionados num sofisticado modelo “invivo”. As micotoxinas não passam pela parede intestinal.

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Existem outras formas de fixar micotoxinas

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AlImentAção AnImAl Bem-eStAR AnImAl

desde o início dos anos 60 do século passado que a preocupação com o bem ‑estar animal tem sofrido um crescendo. A razão relaciona ‑se com uma reformulação dos conceitos da ética animal a que não é estranha a alteração dos paradigmas sobre os quais se estrutura a exploração animal. esta transformação da agro ‑pecuária, anteriormente assente no formato da pequena quinta rural, numa indústria intensiva e competitiva, afectou decisiva‑mente a forma como o consumidor passou a olhar a produção animal. A par das exigências com a segurança e qualidade, surgiu então a salvaguarda do bem ‑estar no local de criação como um requisito essencial. Primeiro a legislação, depois os retalhistas e, mais recentemente, as próprias organizações de produtores têm procurado impor as regras que vão ao encontro da ideia que o consumidor tem (quer) da produção animal. Para que o conceito de bem ‑estar animal não seja abstracto nem envolto em extrapolações não comprovadas, é essencial que a ciência cumpra o seu papel demonstrando quais as práticas que garantem as melhores condições para os animais, nunca esquecendo a sustenta‑bilidade das explorações. o estudo de quais os indicadores, baseados no ambiente ou no animal, que melhor reflectem o estado de bem ‑estar é a tarefa hercúlea que está em curso. Segue ‑se o trabalho de certificação daqueles que cumprem as regras definidas, para que o consumidor possa fazer uma escolha consciente e bem abalizada. no fim, idealmente, teremos uma produção animal em que será possível associar a qualidade alimentar, o retorno económico e a defesa da dignidade animal.

De­ onde­ vimos,­ onde­ estamos­ e­para­ onde­ vamos.A domesticação e utilização de animais para a produção de alimento iniciaram ‑se há cerca de 10.000 anos com os ovinos, a que se seguiram os outros ruminantes e o porco, e foi um dos

factores que permitiu o estabelecimento de uma forma de vida mais gregária. muitas civilizações desenvolveram ‑se exactamente porque as popu‑lações deixaram de estar dependentes da caça e de perseguir as migrações animais. nessa altura os animais mudaram de estatuto aos olhos do Homem e passaram a ser considerados “propriedade”. Surgiu então uma espécie de contracto em que os humanos ofereciam alimento e protecção em troca dos diversos produtos. A criação de animais era feita à medida das possibilidades (área, forragens, mão de obra, etc) e necessidades próprias, sendo muito frequente a manutenção de diversas espécies “sobre o mesmo tecto”. o comércio era essencialmente local e o preço dos produtos de origem animal tinham um peso relativamente elevado no orça‑mento das famílias, sendo que em muitas ocasiões estavam restritos aos estratos mais abastados da sociedade. A selecção genética era feita a um ritmo lento – ao longo de várias gerações. este contracto relativamente harmonioso sobreviveu até muito recentemente, mais propriamente até ao período pós II Guerra mundial.o movimento da população rural para as fábricas/cidades, a redução da mão ‑de ‑obra masculina, a destruição de infra ‑estruturas e a carência alimentar, tudo consequência de 6 anos de guerra, abriu caminho a uma nova forma de exploração animal – a intensificação. o objectivo era colmatar um estado de fome generalizada e de preços incomportáveis para a maioria da sociedade. Por exemplo, em 1950 um trabalhador comprava apenas 7 ovos pelo preço de 1 hora de trabalho (van Horne et al., 2003). esta nova forma de produzir animais requeria novas abordagens e encerrava certas particularidades. Com uma população urbana a crescer era preciso produzir grandes quantidades a baixo custo e com o mínimo de mão ‑de ‑obra. Surgiram então as chamadas quintas ‑fábrica caracterizadas por uma elevadíssima densidade animal, alimentação concentrada e uma enorme dependência de pro‑cessos mecânicos. As poedeiras foram colocadas em baterias, os perus em pavilhões, as porcas em celas e as vacas em cubículos. entretanto a

o BEM-EStar EM aNIMaIS DEProDuÇÃo – o QuE NoS ESPEra?George­ Stilwell*,+,­ Ana­ Vieira*,­ Inês­ Ajuda*

*AWIn – Animal Welfare Indicators, Faculdade de medicina Veterinária, Universidade técnica de lisboa. Alto da Ajuda, 1300 ‑477 lisboa. + [email protected]

George­ StilwellProfessor na Faculdade de medicina Veterinária – Utl

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tecnologia imprimia uma outra velocidade à produção individual através do melhoramento genético e nutricional. A vaca produtora de 15 quilos de leite diários foi transformada, em poucas décadas, numa máquina capaz de atingir facilmente os 60 quilos/dia.Com esta mudança o sistema produtivo mundial evoluiu de uma forma exponencial. entre os anos de 1961 e 2000 o crescimento na produção de carne de frango foi na ordem de 500%, 1.700% ou 3.500% para a europa, China e América do Sul, respectivamente. no mesmo período a produção de carne de bovino cresceu 8.500% na China e a de leite mais de 130% nos eUA e europa.no século 21 as prioridades começam a alterar ‑se. o baixo preço dos alimentos de origem animal já não é uma questão tão premente – o tal trabalhador consegue actu‑almente comprar 100 ovos com a mesma hora de trabalho – apesar de se continuar constan‑temente a tentar baixar o preço na produção. o grande desafio para as décadas que aí vêm é garantir um alimento de qualidade para uma população crescente em número e em exigência. A organização das nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAo ‑Un) alerta para o facto de que o consumo de carne e leite deve duplicar até ao ano 2050. Isto quando o factor solo e água disponível ainda está longe de estar garantido.

A­evolução­do­bem­‑estar­animal­(BEA)Foi com o advento dos sistemas intensivos de produção animal que também nasceu a preo‑cupação com o bem ‑estar animal. É verdade que já desde o século 19 surgiam iniciativas isoladas e muito pontuais destinadas a evitar actos de crueldade para com os animais. em diversos países foram aprovadas leis que proibiam o espancamento de animais de carga, tentavam controlar o esforço a que estes eram obrigados ou regulamentavam as distâncias e o tempo que os animais de produção podiam ser mantidos em veículos de transporte sem descanso ou abeberamento. no entanto, só em 1965 surgiu a primeira tentativa de se estabelecerem regras de bem ‑estar para animais de pecuária, muito provavelmente em resposta ao livro “Animal machines” de Ruth Harrison. A Comissão liderada pelo Prof.

Roger Brambell publicou o famoso relatório que estabelecia pela primeira vez as bases para uma conveniente apreciação do estado de bem ‑estar nos animais de pecuária – as Cinco liberdades. estas linhas orientadoras diziam que os animais deveriam estar livres de: fome e sede; desconforto; dor, lesão e doença; medo e stress. e ainda, mantidos de forma a conseguirem expressar alguns dos seus comportamentos naturais básicos.o consumidor começou a conhecer melhor a forma como se produzia o alimento e não gostou do que viu. não gostou de ver galinhas apertadas em gaiolas ou vacas a coxearem até à morte ou vitelos anémicos mantidos em semiobscuridade ou porcos sangrados sem atordoamento prévio. o caminho estava aberto para conceitos como o do “prado ao prato” destinados a tornar transparente todo o processo produtivo. em paralelo cresceram em número e influência as organizações que se propunham a expor, divulgar e boicotar as más práticas. escân‑dalos relacionados com segurança alimentar (vacas loucas, dioxinas…), mas também com o pobre bem ‑estar animal, abalaram significa‑tivamente a indústria alimentar. A reputação das explorações agrícolas caiu a pique. A estatística confirmava que mais de 77% dos europeus achava que o BeA precisava de ser melhorado, e que as condições em que espécies como os suínos e frangos eram mantidas não eram aceitáveis. Por outro lado, mais de metade dos inquiridos afirmaram que pensavam no factor BeA quando compravam alimentos…, e um número crescente de consumidores iam ‑se tornando vegetarianos (~5%). mas talvez o mais importante foi o facto de o consumidor perceber que detinha o poder para mudar o estado das coisas – mais de 70% afirmaram no inquérito do eurostat (2007) acreditar que as suas opções de compra poderiam afectar decisivamente a forma como os animais eram tratados!do outro lado do Atlântico os americanos têm uma visão menos drástica, mas que está a mudar rapidamente. na Califórnia a votação para eliminação das baterias das poedeiras teve mais SIm do que a que pretendia aprovar o casamento homossexual. num relatório do the Center for Food Integrity de 2011 (Con‑sumer trust Survey http://www.foodintegrity.

org/research) os consumidores consideraram que partilhavam os meus valores dos agri‑cultores (farmers) mas… duvidavam que a produção animal continuasse a poder ser designada como pecuária (farming). ou seja, a indústria da produção animal é cada vez mais associada a lobbies interessados no lucro e com elevadas responsabilidades na poluição ambiental e na agressão ao bem ‑estar animal.

A­ ciência­ do­ bem­‑estar­ animalSurgiu então a grande questão – como medir e avaliar o BeA? o desígnio “Cinco liberdades” é teoricamente perfeito, mas a sua interpre‑tação é controversa e a aplicação de certas regras pode inclusivamente ser considerada utópica. Além disso, como sabemos quais os comportamentos básicos que devemos favo‑recer? ou qual o grau de stress e ansiedade que se pode considerar aceitável?tornou ‑se então óbvio que o BeA não poderia continuar a ser apenas um conceito abstracto de raízes éticas, mas tinha de ser considerada uma ciência. Iniciou ‑se um alargado processo de pesquisa na área na tentativa de estudar e escolher os indicadores que melhor reflectiam o grau de BeA. Uma primeira corrente de investigação elegeu como os mais apropriados os indicadores relacionados com o ambiente e recursos. ou seja, após definir os critérios mínimos de condições para a manutenção de animais, considera ‑se como estando garantido o BeA se essas condições forem satisfeitas. Como exemplo, veja ‑se o texto da legislação “A largura do compartimento individual deve ser pelo menos igual à altura do vitelo ao garrote, medida com o vitelo de pé, devendo o comprimento ser, pelo menos, igual ao comprimento do corpo do vitelo, medido da ponta do nariz até à extremidade caudal do tuber ischii (osso ilíaco), multiplicado por 1,1” (decreto ‑lei nº 48/2001). depressa se tornou evidente que esta abor‑dagem era errada ou pelo menos insuficiente se tomada de forma exclusiva. Um projeto europeu denominado Welfare Quality e o “nosso” AWIn ‑Animal Welfare Indicators têm interpelado a questão de uma forma diferente, procurando estabelecer quais os sinais presentes ou exibidos pelos animais que correspondem a bom ou mau BeA. este é o conceito que passará a influenciar a

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legislação futura, como é claramente expresso no documento “estratégia da Ue relativa ao bem ‑estar animal: 2012 ‑2015” onde se lê “(…) realizar inspecções ao bem ‑estar dos animais, que incidam sobre os próprios animais, em vez de se centrarem no seu ambiente”. Com esta nova aproximação será procurado nos animais os indícios de que qualquer coisa está mal. Por exemplo, uma porca a roer as barras da cela (comportamento estereotipado) é cientificamente comprovado como sendo um sinal de frustração. em Portugal a Faculdade de medicina Veterinária (Utl) lidera o projecto AWIn no estudo desses indicadores em cabras. A pergunta que tentamos responder é: quais os indicadores válidos e de avaliação exequível que nos permitem classificar o BeA em cabras? Após o estabelecimento das regras de BeA segue ‑se o processo de as aplicar nas políticas que regem os mercados. de que faria sentido eleger o BeA como prioridade, estudá ‑lo, definir modelos e depois deixar à conside‑ração de cada um a sua aplicabilidade? Se a sociedade considera como sua obrigação promover o BeA, então os preceitos devem ser universalmente aceites e respeitados. A aprovação pela Ue da frase “a União e os estados ‑membros terão plenamente em conta as exigências em matéria de bem ‑estar dos animais, enquanto seres sencientes” (tratado de lisboa) admite pela primeira vez oficialmente que os animais sentem dor, medo e prazer. esta admissão tornou obrigatória a percussão do BeA para os 2 mil milhões de aves de produção e os 300 milhões de bovinos, suínos, caprinos e ovinos que constituem a pecuária europeia.Se isto é uma realidade (?) para a europa, não é tão claro para o resto do planeta global. As negociações dentro da organização mundial do Comércio têm tendência a deixar o BeA para segundo plano, considerando protec‑cionismo as tentativas de criar barreiras à entrada de produtos de origem animal na Ue baseando ‑se no não respeito por normas de BeA. É por isso injusto para os produtores e falacioso para os consumidores europeus a possibilidade que ainda existe de entrada no nosso mercado de produtos oriundos de animais criados em condições que o europeu baniu por não considerar aceitáveis.

duas medidas exigem ‑se para combater uma concorrência deste tipo: que haja clara identificação dos produtos alimentares vindos de países onde o BeA não é respeitado; e que os consumidores sejam informados das condições reais de exploração. Por exemplo, se consideramos que as galinhas poedeiras das explorações europeias têm de viver em gaiolas melhoradas, deve ser bem evidente, através de rotulagem facilmente reconhecida, que um certo produto é fabricado com ovos que não provêm de aves criadas nessas condições. devemos referir que a situação tende a mudar como se confirma pela discussão que decorre no seio da International organisation for Standardisation (ISo) que pretende adoptar critérios globais de bem ‑estar a ser aplicados em todo o mundo. Iguais sinais chegam de países como Brasil, eUA e Austrália que adoptam ou adaptam a legislação europeia, nem que seja para garantir as boas graças do consumidor europeu. Através de cursos de formação ou vistorias de peritos europeus, muitos destes países tendem a melhorar e uniformizar o estatuto de bem ‑estar nos seus animais de produção.

Os­ produtores­ e­ o­ BEAÉ reconhecido por todos que, pelo menos numa primeira fase, a expressão BeA deixava muitos produtores de cabelos no ar. Isso sucedia porque se associava o BeA a um boicote à pecuária resultante de um acréscimo dos custos, necessidade de investimentos incomportáveis e introdução de práticas irreais. mais uma vez a ciência comprovou que, em quase todos os casos, não era assim. A investigação demonstrou que o conforto e BeA dos animais correspondiam a melhor saúde, maiores ganhos de peso, maiores produções, maior longevidade, maior fertilidade, etc… que anteriormente só era conseguido quando suportados por medidas artificiais, como seja através de promotores de crescimento, antimicrobianos e outras substâncias químicas. A inclusão do BeA na lista de prioridades do Plano estratégico da oIe 2001 ‑2005 (organi‑zação mundial de Sanidade Animal) demonstra bem a relação próxima entre bem ‑estar e saúde animal. É claro que mais saúde animal

corresponde a produtos de melhor qualidade e a maior segurança alimentar.Aliás esta relação é tão consensual que são os próprios produtores, e as suas organiza‑ções, a promover a investigação em BeA e a implementarem novas regras. Por exemplo, a Cooperl Arc Atlantique, um dos maiores produtores de carne de porco em França (20% da produção) planeia eliminar castração de leitões a partir de março 2013. A mesma garantia de BeA é procurada por inúmeros retalhistas e cadeias de restaurantes (p.e. mcdonalds) por todo o mundo. duas grandes razões impelem esta mudança (admitimos que razões éticas também entrem na equação, mas essas serão mais difíceis de comprovar): evitar perder clientes que cada vez mais procuram os fornecedores que privilegiam o BeA; a confirmação que animais criados em BeA produzem alimentos com maior segurança, qualidade e preço.mas falemos também nos casos em que a aplicação de novas regras de BeA pode influenciar o preço do produto final que chega ao consumidor. tomemos como exemplo os ovos e o acréscimo que pode advir da introdução das gaiolas melhoradas. É admitido que o aumento de preço significativo do preço dos ovos possa reduzir o consumo em 0,24 a 3,4% (lembrar que não há substituto real para ovos de galinha). Sendo assim, os produtores poderão passar grande parte do aumento para o consumidor sem grande redução no seu lucro, sendo que aqueles pagarão não mais do que uns extra 0,5 a 6 euros por ano. Poder ‑se ‑á argumentar que esse é um preço que se deveria pagar de bom grado, principalmente numa altura em que a alimentação não pesa mais do que 10% no orçamento das famílias (nos anos 60 era cerca de 25%) e em que os produtos de origem animal atingem preços ridiculamente baixos. o único cuidado a ter é que todos estejam obrigados às mesmas condições mínimas e que não haja uns que investem apenas para ver os competidores a rirem ‑se.

Conclusões:A forma intensiva de se produzir animais apresenta um enorme potencial de ameaça ao BeA, e isto é cada vez mais fácil e pron‑tamente identificado pelos consumidores. o

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público desconfia da indústria de produção de alimentos de origem animal, nomeadamente pela forma como trata os animais. Compete à Ciência demonstrar como certas práticas afectam o BeA e como a ausência deste, causa mau rendimento e produtos de fraca qualidade. Compete ao legislador transpor o que a Ciência descobre em regras e fiscalizar a adopção destas por todos. Se o consumidor for informado e tiver acesso a dados que permitem distinguir os que privilegiam o BeA, irá exercer o seu poder e beneficiar os cumpridores. Porque o resto da cadeia de produção já se apercebeu disso, é ela própria a exigir o cumprimento das regras mínimas de BeA. em suma, o BeA está para ficar e é do interesse de todos que fique mesmo.

Bibliografia:Comissão europeia (2012) estratégia da eU relativa ao bem ‑estar dos animais: 2012–2015. disponível: http://ec.europa.eu/food/animal/welfare/docs/brochure_aw_strategy_pt.pdf Horne, Plm van, n. Bondt (2003) Impact of eU Council directive 99/74/eC ‘welfare of laying hens’ on the competitiveness of the eU egg industry. Report 2.03.04; ISBn 90 ‑5242 ‑790 ‑9. the Hague, leI FAWC (2012) Brambell Report – Five Freedoms. disponível em: www.fawc.org.uk/freedoms.htm

Keeling l (2004) Appliying scientific advances to the welfare of farm animals: why is it getting so difficult? Animal Welfare. 13: 187 ‑190.von Keyserlingk mAG, Rushen J, de Passillé Am, Weary dm (2009) Invited review: the welfare of dairy cattle – Key concepts and the role of science. J. dairy Sci. 92 :4101–4111mcdonalds (2013) mcdonald’s Animal Health and Welfare disponível em: http://www.aboutmcdonalds.com/mcd/sustainability/library/policies_programs/sustainable_supply_chain/animal_welfare.html mcGlone JJ (2001) Farm animal welfare in the context of other society issues: toward sustainable systems. livestock Production Science 72: 75–81oIe (2004) oIe Guiding Principles on Animal Welfare In: terrestrial Code http://www.oie.int/index.php?id=169&l=0&htmfile=chapitre_1.7.1.htm oIe (2011) Cooperation agreement between the International organization For Standardization (ISo) and the World organisation For Animal Health (oIe). disponível em: http://www.oie.int/fileadmin/Home/eng/About_us/docs/pdf/accords/ISo_enG.pdf Viegas I., Vieira A., Stilwell G., lima Santos J., Aguiar Fontes m. (2011) Is there a link between beef quality and animal welfare in traditional beef systems? new medit. X, 3: 17 ‑25Welfare Quality (2013) www.welfarequality.net/

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no seguimento da carta enviada pela “Food and Feed Chain” ao Comissário tonio Borg, responsável pelo pelouro da Proteção e Saúde dos Consumidores relativamente às lacunas verificadas na implementação da regulamentação europeia de oGm, vimos reiterar e partilhar junto de Vossa excelência as mesmas preocupações, considerando que as políticas implementadas e a implementar devem obedecer aos seguintes princípios e orientações:

•­ ­Baseadas­ apenas­ em­ critérios­ científicos, de acordo com os pareceres da eFSA, de modo a aumentar a confiança de todos os parceiros envolvidos e evitar atrasos desnecessários nos processos de aprovação.

•­ ­Desenhadas­ a­ longo­ prazo,­ prevendo­ e­ antecipando­ futuras­tendências: a falta de sincronia entre as autorizações de eventos fora e dentro da União europeia, bem como a existência de eventos destinados apenas a países terceiros, potencia a presença de produtos não autorizados nas matérias ‑primas importadas para o espaço Comunitário.

•­ ­Práticas,­exequíveis­e­transparentes, permitindo às empresas trabalhar de forma previsível e dentro da legalidade, assegu‑rando que não ocorrem interrupções no normal funcionamento das mesmas – designadamente eventuais ruturas no abaste‑cimento de matérias ‑primas – nem custos desnecessários e perdas de lucro devido ao constante surgimento de questões e problemas que não foram antecipados.

Consideramos por isso essencial uma maior­ sincronização­ entre­ as­autorizações­ concedidas a nível comunitário e em países terceiros, bem como a harmonização­dos­processos­de­amostragem­e­análise da presença adventícia de sementes geneticamente modificadas e uma maior­ divulgação­ desta­ tecnologia dentro da União europeia, tendo presente a importância da inovação e do conhecimento no tão desejado aumento da produtividade e da produção agrícola e agroalimentar.As políticas conduzidas atualmente dentro da União europeia relativamente a esta questão põem em causa a sustentabilidade económica dos operadores dos setores alimentar (food e feed),

das sementes e dos próprios agricultores, numa palavra, da Fileira Agroalimentar, provocando também interrupções no fornecimento de produtos alimentares ao consumidor final.nesta perspetiva e numa altura em que o tema da Agricultura está bem presente na Agenda política e assume uma importância estratégica para o nosso País, que é altamente deficitário no aprovisionamento de matérias ‑primas, solicitamos a atenção de Vossa excelência para estas questões, essenciais para o aumento da eficiência da produção agrícola e pecuária nacional, assegurando a competitividade do setor e um desenvolvimento mais equilibrado do mundo Rural.

AS­ ORGANIZAçÕES­ SUBSCRITORAS

• ACICO – Associação nacional de Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e oleaginosas

• ANEB – Associação nacional dos engordadores de Bovinos

• ANIGOM – Associação nacional dos Industriais de Gelados Alimentares, Óleos, margarinas e derivados

• ANIL – Associação nacional dos Industriais de lacticínios

• APCRF – Associação Portuguesa de Criadores de Raças Frísias

• APIC – Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes

• ANPROMIS – Associação nacional dos Produtores de milho e Sorgo

• ANSEME – Associação nacional de Produtores e Comerciantes de Sementes

• CiB – Centro de Informação de Biotecnologia – Portugal

• ­FENALAC – Federação nacional das Uniões das Cooperativas de leite e lacticínios

• FEPABO – Federação Portuguesa de Associações de Bovinicultores

• FEPASA – Federação Portuguesa das Associações Avícolas

• FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agro ‑Alimentares

• FPAS – Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores

• IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais

MELhORAR­A­IMPLEMENTAçãO­DA­­REGULAMENTAçãO­EUROPEIA­DE­OGMeXPoSIção ConJUntA enVIAdA À mInIStRA dA AGRICUltURA

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A coexistência entre produtos geneticamente modifi‑cados (Gm), convencionais e biológicos é o estudo e a operacionalização de práticas que, ao longo da cadeia de produção e abastecimento agroalimentar, asseguram ao consumidor a liberdade de escolha informada. A coexistência só existe porque os atores da cadeia tomam opções diversificadas quanto aos produtos que querem trazer ao mercado. num hipotético mercado monolítico, não haveria lugar nem para a coexistência nem para a possibilidade de escolha do consumidor. no mercado real, todavia, sempre houve diversificação e competição e foi imperativo adotar sistemas eficazes de individualização (segregação) de matérias ‑primas e dos respetivos produtos finais. Por outras palavras, o mercado sempre se caracterizou pela coexistência de diversidade, ainda que tecnicamente não se usasse esta terminologia. A União europeia tem, relativamente aos produtos Gm, um quadro regulamentar próprio (diretiva 2001/18/eC) tanto para a autorização de colocação no mer‑cado de eventos (entendendo ‑se por evento a uma construção genética usada para a modificação de uma dada espécie cultivada), quanto para as normas de rotulagem (Regulamentos Ce 1829/2003 e 1830/2003 e regulamentação sucedânea, consultável em http://www.dgv.min ‑agricultura.pt) a aplicar a produtos que contêm ou derivam de organismos geneticamente modificados. do mesmo modo, tem um quadro regulamentar para o modo de produção biológico (mPB) (Regulamento Ce 834/2007). Com base no princípio da subsidiariedade, cada estado ‑membro estabeleceu, por seu turno, as normas para a coexistência ao nível da produção primária. no quadro do comércio internacional, convive ‑se com uma grande heterogeneidade quer na oferta quer nos enquadramentos regulamentares de produtos Gm. Soja, milho e colza são as matérias ‑primas alimentares em que a oferta mundial apresenta uma percentagem significativa de lotes Gm. destes, apenas parte possui os eventos autorizados para entrada no mercado europeu (publicados em http://ec.europa.eu/food/dyna/gm_register).

o tema suscitou a realização, na dinamarca, da primeira conferência europeia sobre coexistência de culturas Gm, convencionais e biológicas em 2003 (abreviada‑mente apresentada com a sigla GmCC03), mas logo se percebeu que a sua abrangência era global e as GmCC tornaram ‑se reuniões internacionais, com periodicidade bienal, reunindo académicos, operadores da fileira agroalimentar, reguladores, certificadores, decisores políticos e outras partes interessadas de todo o mundo. França, espanha, Austrália e Canadá acolheram as GmCC realizadas entre 2005 e 2011. Portugal, para além de observar as regras de adoção e rotulagem de produtos Gm e de adoção do mPB do espaço comunitário, de partilhar com a generalidade dos restantes estados membros a fortíssima dependência em proteína vegetal para a alimentação animal, que se traduz na elevada importação de soja, e de ter, como outros estados membros, indústrias (amidos, cervejas, farinhas para alimentação humana) que exigem matérias ‑primas não ‑Gm, apresenta especificidades que importa salientar: 1. A dependência externa portuguesa de soja e milho é altíssima: 100% e 67%, respetivamente. tal facto condiciona, pelas fontes, natureza e preços das matérias‑‑primas, a competitividade quer de várias indústrias agroalimentares, em especial as que se caracterizam por margens mais baixas, como a indústria de alimentos compostos para animais, quer da produção nacional de milho, já que a formação do seu preço reflete sobretudo o andamento dos valores do mercado mundial e não a variação dos custos de produção internos. 2. no seio da Ue, Portugal é um dos raros países que tem um histórico de cultivo ininterrupto de milho Bt (a única combinação cultura/evento autorizada na Ue, a que se somou episodicamente a batata Amflora), desde a publicação da legislação nacional sobre coexistência, em 2005 (decreto ‑lei n.º 160/2005, 21 de setembro); Portugal foi, aliás, o segundo estado membro a legislar sobre a matéria. A área de milhos Bt tem crescido sustentadamente ao longo deste período, cifrando ‑se

GMCC13: 6ª CoNFErêNCIa INtErNaCIoNal SoBrECoExIStêNCIa ENtrE CaDEIaS DE aBaStECIMENtoBaSEaDaSEMProDuÇõESagrÍColaSgENEtICaMENtEMoDIFICaDaS (gM) E NÃo gM

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em cerca de 6,6 % da área total de milho em 2012 (http://www.anpromis.pt).esta última especificidade faz de Portugal um bom paradigma de coexistência no cenário mundial e, sobretudo, europeu, e demonstra uma boa integração das várias partes interessadas, que têm assegurado, desde a produção primária aos produtos finais, a segregação de milho Gm e  não ‑Gm, convencional ou biológico.Por tal  facto, o Instituto Superior de Agrono‑mia (ISA), o Instituto Politécnico de Santarém (IPS), a Associação nacional dos Produtores de milho e Sorgo (ANPROMIS), a Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA) e a Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA)­propuseram ‑se organizar a  GMCC13, iniciativa que foi distinguida com uma carta de apoio da Senhora ministra da Agricultura, do mar, do Ambiente e do ordenamento do território, e que veio a merecer a confiança unânime dos organizadores precedentes. e assim está em marcha a GMCC13, que virá a ter lugar em lisboa, entre 12­e­15­de novembro próximo. A organização congratula ‑se com o apoio institucional que já recebeu também da CPlP. o website da conferência, www.gmcc13.org,  ativo  desde  agosto  de 2012, conta com um notável elenco de oradores convidados já confirmados, que irá ainda ser alargado, uma Comissão Científica  pluricontinental, pluridisciplinar e de reconhecido mérito, e apresenta um programa destinado a acolher comunicações das mais diversas especialidades e competências que giram em torno das opor‑tunidades e constrangimentos da coexistência. É ainda possível aceder a informação sobre as conferências anteriores.Cinco sessões plenárias permitirão aos partici‑pantes ver abordados, pelos oradores convidados os grandes temas (i) sistemas de agricultura e coexistência aos níveis da exploração agrícola e da paisagem, (ii)  impacto da coexistência e das molduras regulamentares contrastantes nas indústrias da alimentação humana e animal, no comércio internacional e na competitivi‑dade, (iii) novos eventos, culturas e mercados alvo em  perspetiva, (iv)  perceção  da inovação, comunicação e tomada de decisão e­(v) perspe‑tivas futuras das fileiras da alimentação humana, da alimentação animal e florestal.Consoante os seus interesses específicos, os participantes terão oportunidade de se reunir em sessões paralelas que desenvolverão e detalharão esses temas; preveem ‑se assim sessões sobre limitações e oportunidades da coexistência em sistemas baseados na biodi‑versidade agrícola, coexistência em culturas florestais, segregação na cadeia de abasteci‑mento alimentar antes e depois das culturas

Gm, deteção de eventos autorizados e não autorizados, Protocolo de Cartagena, regulação e desregulação de eventos, entre outros. e o objetivo é que nestas sessões paralelas se encontrem e debatam comunicações trazidas tanto pelos que investigam como pelos que operacionalizam cada uma destas dimensões da coexistência. o convite das Comissões organizadora e Cien‑tífica à submissão de resumos de comunicações dirige ‑se, por isso, a todos os atores da fileira agroalimentar (dos agricultores e importado‑res ao retalho, passando pela armazenagem, comércio, processamento primário das matérias primas, indústria, certificação), investigadores, reguladores e decisores, à semelhança, aliás, do que está a acontecer com os oradores convidados.

A Comissão organizadora da GmCC13 reconhece que, numa conjuntura socioeconómica crítica, como a que vivemos, é difícil convocar a atenção das pessoas e das empresas para uma conferên‑cia internacional que, por isso mesmo, tem custos e preços de inscrição não modestos. mas está convicta que esta Conferência é uma excelente oportunidade para que os protagonistas da produção agroalimentar portuguesa possam mostrar, a uma plateia internacional, as boas práticas e a qualidade do seu desempenho, atualizar ‑se em domínios menos familiares à sua experiência própria e conhecer parceiros e peritos com quem interagir no futuro. e todos vamos seguramente querer contribuir também para consolidar uma cada vez mais interessante atividade económica do País, que é a de anfitrião de reuniões internacionais.

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A concepção e desenho de dietas de baixa proteína para leitões e suínos crescimento é um facto no mercado europeu, por um lado devido ao impacto económico que esta opção determina (conjuntura das matérias‑primas) e por outro lado à possibilidade lactente da diminuição de problemas sanitários.A disponibilidade de Aminoácidos sintéticos e respectivos preços no mercado não é alheia a esta situação.no entanto, o desenho deste tipo de dietas encerra um conjunto de cuidados na tipificação da mesma em aminoácidos digestíveis bem como a aplicação do conceito de proteína ideal como garante da performance, relegando o nível de proteína bruta da dieta para segundo plano. A redução da proteína bruta das dietas implica uma cuidadosa tipificação da matriz nos diferentes aminoácidos essenciais bem como um melhor conhecimento dos ciclos anabólicos ou catabólicos entre aminoácidos, bem como as suas inter ‑relações como garante da performance.

O­ metabolismo­ dos­ Aminoácidos­Ramificadosos nutrientes da dieta são absorvidos principal‑mente ao nível do intestino delgado. no caso das proteínas após digestão enzimática prévia apresentam ‑se ao nível do lumen intestinal sob a forma de péptidos ou sob a forma livre. Ambas as formas são absorvidas pelas células intestinais através de diferentes transportadores. A maioria dos peptidos são então hidrolisados pelas peptidases intracelulares libertando os ami‑noácidos livres para o sangue portal. Ao nível do tecido intracelular os Aminoácidos não podem ser armazenados pois ou seguem o ciclo anabólico que conduz à síntese das proteínas ou são catabolizados procedendo ‑se à separação do grupo amino do

esqueleto carbonado o qual ficará disponível para glucogénese e/ou cetogénese (Figura 1)o catabolismo dos Aminoácidos ramificados envolve dois passos enzimáticos iniciais comuns a todos os Aminoácidos ramificados (Hutson, 2005):

1. Reacção de transaminação reversível catalizada pela transaminase que cataliza os Aminoácidos ramificados (BCAt), localizada nos leitões no músculo esquelético. esta reacção tem como substracto os 3 aminoácidos essenciais (Valina, Isoleucina e leucina) e produz os seguintes catabolitos:

a. Glutamato (percursor da glutamina e da alanina)

b. nH3 (utilizado no ciclo da ureia)

AMINOáCIDOS­ESSENCIAIS­–­NUTRIçãO­DE­PRECISãO?A ImPoRtÂnCIA doS AmInoÁCIdoS RAmIFICAdoS nAS dIetAS de BAIXA PRoteÍnA

Teresa­ Carmona­ Costadirectora técnicaIndUKeRn [email protected]

AlImentAção AnImAl InVeStIGAçãoP U B

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c. 3 cetoácidos ‑ramificados (BCKA): α ‑ceto ‑isovalerato (resul‑tante da Valina), α ‑ceto ‑β ‑metilvalerato (resultante da Isoleucina) e o α ‑ceto ‑Isocaproato (resultante da leucina).

2. os3 cetoácidos ‑ramificados (BCKA) obtidos sofrem uma descar‑boxilação oxidativa catalizada por uma dehidrogenase (BCKdH) localizada no fígado. esta reacção irreversível conduz à produção de derivados de acetil ‑Coenzima A, os quais serão intervenientes na produção de corpos glucogénicos e cetogénicos (Figura 2).

O­ papel­ da­ Leucinao catabolismo combinado daqueles três aminoácidos implica que a presença em excesso de cada um destes aminoácidos leva à activação de enzimas comuns que intervêm no processo catabólico (Harper, 1984) (Langer, 2000), verificando ‑se, no entanto, ser a leucina aquela que apresenta maior poder de activação do mecanismo comparativamente à valina e à Isoleucina. Constatou ‑se que, na realidade, um excesso de leucina na dieta (superior às necessidades) aumentava a actividade da enzima BCKA e, consequentemente, o catabolismo da Valina, Isoleucina e Leucina, conduzindo a uma menor performance dos leitões devido a uma menor disponibilidade de aminoácidos ramificados na deposição proteica (Wiltafsky & Roth, 2008) (Wiltafsky M. e., 2010).este aspecto da interacção dos aminoácidos ramificados expressa ‑se por um drástico decréscimo do consumo médio diário dos leitões quando existe excesso de leucina (Wiltafsky M. e., 2010), ou mesmo em ensaios de dose ‑resposta a diferentes níveis de Valina ou de Isoleucina (Barea, 2009).Aquele facto parece estar relacionado com a capacidade de os animais serem capazes de detectar as dietas que se apresentam desiquili‑bradas em termos de aminoácidos ou que se encontram deficientes nos mesmos (Etle T., 2004) dado que o declínio na concentração dos aminoácidos essenciais é detectado no córtex cerebral (Gietzen, 1993),o que poderá implicar numa situação de excesso de leucina uma necessidade adicional de valina ou de Isoleucina conduzindo a uma deficiência relativa. A leucina parece ser o nutriente que sinaliza consumo de proteína pelo que o seu excesso regula o consumo de alimento (Wiltafsky, 2009).Por outro lado, os aminoácidos ramificados pertencem ao grupo dos aminoácidos neutros (lnAAs) os quais competem para o mesmo “transportador” através da membrana celular, membrana intestinal e barreira cerebral (Fu, 2006), pelo que poder ‑se ‑á equacionar que o excesso de um destes aminoácidos poderá resultar numa menor recepção de outros aminoácidos neutros ao nível do cérebro (por exemplo, triptofano) e, portanto influenciar o consumo de alimento. esta hipótese necessita, no entanto, de ser desenvolvida e melhor investigada para podermos aplica ‑la em termos práticos (Ajinomoto Boletim, 2010).

As­ necessidades­ em­ ValinaAs necessidades em valina em leitões têm vindo a ser objecto de numerosos estudos e têm constituído um tópico de diversas revisões (Barea R. B., 2009) (Corrent, 2009) e diferentes Institutos consideram a valina nas suas recomendações de proteína ideal (Quadro I). Considerando a média teremos a indicação de uma relação­ ideal­de­ 70%­ SID­ Val:Lis.

mais recentemente diferentes 3 ensaios dose ‑ resposta das necessi‑dades Val:lis SId (8.5 a 25.0 Kg P.V.) foram efectuados (Gloaguen M., 2010) (Vinyeta E., 2009) (Millet & al, 2010). (Quadro II) (Figura 3, 4 e 5).Gloaguen et al (2010) efectuou um conjunto de ensaios com vista a determinar as necessidades de Valina dos leitões com dietas com excesso de leucina (165% leu:lis SId). os resultados obtidos apre‑sentaram diferentes necessidades consoante o parâmetro zootécnico analisado: 72% para Ganho médio diário, 72% para o Consumo médio diário e 71% quando se calculava o melhor índice de conversão.num ensaio preliminar efectuado no Scthothorst Feed Research foram elaboradas 5 dietas com diferentes níveis da relação Val:lis SId (61% a 80%). os resultados obtidos apontaram para uma maximização do Ganho médio diário (562 g/dia) para valores 80 % SId Val:lis (Vinyeta E., 2009). outro ensaio realizado no IlVo Instituto, na Bélgica, com leitões dos 8 Kg aos 25 Kg de peso vivo, determinou que os leitões respondem a

País Referencia Relação­ Val:­ Lis­ (%)França InRA (Sève, 1994) 70USA nRC (Council, 2012) 68

Reino Unido BSAS (Whittemore .., 2003) 70Brasil UFV (Rostagno, 2005) 69espanha FednA (de Blas C., 2006) 71dinamarca dSP (Jogersen l., 2008) 70

QUADRO­ I­ –­ Comparação­ entre­ os­ níveis­ recomendados­ de­Val:Lis­SID­ em­ leitões

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um aumento da relação de Val:lis SId (millet & al, 2010). estes autores constataram que com dietas com um nível de lisina digestível de 1.06% se obtinham os melhores resultados com um nível de Val:lis SId de cerca de 68% a 71% a (dependendo do modelo estatístico considerado).

Os dados mais recentes apontam para:• Necessidades > 70% SID Val:Lis em leitões • Resultados obtidos confirmam:+15% para o GMD e ‑7% para

o I.C. considerando valores de 60 a 70% SID Val:Lys • Devido a interações entre Aminoácidos ramificados, Um

mínimo de 70% SID Val:Lis é o garante para obter a melhor performance em todas as situações de excesso de Leucina

As­ necessidades­ em­ IsoleucinaComparativamente à Valina existe uma vasta bibliografia no que refere às necessidades de Isoleucina em leitões.este facto deve ‑se, fundamentalmente, à utilização de produtos de origem animal, nomeadamente, hemoglobina e produtos derivados do sangue em dietas para estes animais. Comparativamente com a soja estas matérias primas são deficientes em Isoleucina e extre‑mamente ricas em Valina, leucina e Histidina e a sua utilização, sem ter em consideração as relações óptimas mínimas dos diferentes aminoácidos relativamente à lisina, conduz a uma deterioração expressiva da performance.Assim, no que se refere à Isoleucina teremos que considerar dois níveis de necessidades: um nível quando utilizamos dietas com

produtos derivados do sangue e outro nível (mais baixo) quando desenhamos dietas sem aquelas matérias‑primas.no que refere às necessidades a considerar em dietas com produtos derivados do sangue podemos resumir os valores obtidos em 3 ensaios (Quadro III)A inconsistência dos resultados torna difícil, numa primeira análise, concluir uma recomendação nestas condições. no entanto, analisando de perto o ensaio efectuado por Wiltafsky et al (2009), que utilizando animais dos 8 Kg aos 25 Kg desenharam as dietas com um nível de 1 % lisina SId e 2390 Kcal de energia limpa, verificou ‑se que:

• eram necessários 8.1 mg SId Ile:lis/g de Gmd em dietas sem SdBC1 para maximizar o Gmd. no caso de dietas com SdBC o valor obtido era de 9.7 mg /g de Gmd quando se considerava uma incorporação de 7.5% daquela matéria prima.

• Assim, leitões com dietas com SdBC tinham necessidade de ingerir mais 20% de Isoleucina digestível para obter a mesma resposta que animais alimentados com dietas sem aquela matéria‑primas.

Se considerarmos que os valores­de­necessidade­SID­Ile:lis­expressos­na­ bibliografia­ são­ de­ 53% (Quadro IV) e considerando que as necessidades em dietas com SdBC são de mais 20%, então poderemos esperar que, em média, a especificação mínima para este tipo de dietas é de 63% SId Ile:lis, recomendação esta dependente do tipo e do nível de incorporação daquelas matérias‑primas.

As­ necessidades­ em­ LeucinaPelo exposto parece ‑nos pertinente tecer alguns comentários às necessidades de leucina dado a importância que o seu excesso pode influir nas performances esperadas.As recomendações existentes baseiam ‑se nos trabalhos de Chung e Baker (1992) e Wang e Fuller (1989) que determinaram um mínimo de SId leu:lis de 100 e 110% respectivamente. Publicações mais

1 Produto derivado do sangue = Spray dried Blood Cells

Quantidade­­de­ SDBC

Necessidade­­SID­ Ile:Lis

Necessidade­ média­­SID­ Ile:Lis

(James­ B.W.,­ 2000) 3.2% 55%

61 %(Kerr­ B.J.,­ 2004) 7.5% 61%

(Wiltafsky­ M.­ B.,­2009)

7.5 % 59 %

(Fu­ S.­ G.,­ 2006) 10.8 % > 66 %

QUADRO­ III­ –­ Necessidades­ estimadas­ em­ SID­ Ile:Lis­ em­ dietas­com­ SDBC

Quantidade­­de­ SDBC

Necessidade­­SID­ Ile:Lis

Necessidade­ média­­SID­ Ile:Lis

(Htoo, 2009) 0 % 51 %53%(Wiltafsky m. B.,

2009)0 % 54 %

QUADRO­ IV–­ Necessidades­ estimadas­ em­ SID­ Ile:Lis­ em­ dietas­sem­ SDBC

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recentes confirmaram os valores já determinados anteriormente (Auspurger, 2004), ( Figura 6) pelo que poderemos considerar o valor­de­ 100%­ SID­ Leu:Lis como uma boa estimativa das necessidades em leucina em porcos. o valor mínimo SId leu:lis é importante mas é necessário ter presente que a leucina em excesso poderá influir negativamente na performance, no entanto, este valor ainda não está amplamente estudado. Assim é fundamental ter em consideração: as necessidades em Isoleucina e valina quando se efectua o desenho da dieta, dadas as interações entre aminoácidos ramificados que apresentámos anteriormente.

Em­ resumo­ (Figura­ 7):•­ ­Tipificar­ e­ conhecer­ o­ teor­ em­ aminoácidos­ ramificados­ das­

matérias‑primas•­ ­Evitar­ o­ excesso­ de­ Leucina­ (ex:­ redução­ da­ proteína­ bruta­

da­ dieta)•­ Considerar­ níveis­ mínimos­ de­ Valina­ e­ Isoleucina­ nas­ dietas.­

Aplicação­ prácticaa importância do conceito de proteína ideal nas dietas de baixa proteínao conceito de proteína ideal permite que o perfil dos aminoácidos essenciais se mantenha inalterado mesmo quando as necessidades

de lisina variam em função da fase de crescimento. o conhecimento actualizado das relações Aminoácidos essenciais:lisina possibilita a redução da proteína bruta das dietas sem comprometer as performances.Assim o único factor limitante no que refere a nutrição aminoacídica do animal é a ingestão de lisina. o consumo de lisina depende do consumo de alimento o qual depende da fase de crescimento, nível de proteína e nível de energia.A questão da variabilidade do consumo de alimento poderá constituir um entrave à definição dos níveis óptimos de lisina a considerar. no entanto, se expressarmos a resposta obtida do ganho médio diário em função da lisina ingerida, poderemos obter uma resposta mais precisa dos níveis a utilizar. neste sentido num estudo efectuado pela Ajinomoto – eurolysine (2010) que considerou 15 ensaios realizados desde o ano 2000 em leitões, confirma que existe uma relação linear entre o nível de lisina ingerido e o ganho médio diário (Figura 8).

desta análise é possível estimar um intervalo de nível de lisina digestível necessária para os genótipos modernos. Schneider et al (2010) estimou que para leitões com peso vivo entre os 10 e 20 Kg seria necessário 19 mg SID Lis/g de GMD esperado, o que significa que para um Gmd de 510 g/dia, as necessidades em lisina digestível são de 9.7 g SId lis/dia (Figura 9)

*caso se utilizem produtos de sangue na dieta (hemiglobina, farinha de sangue, etc) na dieta, é recomendado um valor de SID IIe: Lyi 63%

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Se assumirmos um consumo médio diário de 810 g/dia, é necessário um mínimo de 1.2% SId lis para maximizar o crescimento (Warnants, 2002) valor este em linha com os obtidos por Gaudré et al (2007) que verificou um aumento de performance acima de 1.2 g SId lys/mj energia limpa. É evidente que este nível de lisina digestível é um indicador dado que depende do consumo de alimento.

Redução­ da­ proteína­ bruta­ nas­ dietasConsiderando que existem dados que nos permitem definir:

• um nível óptimo de aporte de lisina digestível que permita a expressão do potencial genético dos animais;

• concomitantemente, ao aplicarmos o conceito de proteína ideal podemos garantir as necessidades dos animais nos outros aminoácidos essenciais, ou pelo menos, nos 9 principais (Figura 7);

• Podemos, desde já, garantir para além da metionina e treonina, o aporte de triptofano (22% SId trp:lis) e valina (70% SId Val:lis) sem depender da proteína bruta.

• As necessidades em Isoleucina estão recomendadas (53% SId Ile:lis), mas o seu aporte terá que ser efectuado pelas matérias primas consideradas na dieta pelo que será o factor que determinará o nível mínimo de proteína a considerar.

• níveis excessivos de leucina na dieta implicam a catabolismo da mesma e da valina e Isoleucina, pelo que a tipificação da matriz é fundamental para assegurar os valores mínimos das necessidades.

• níveis energéticos constantes.

Que­ resultados­ poderemos­ esperar­ ao­ redu‑zirmos­ a­ proteína­ bruta­ da­ dieta?2

lenis et al (1999) comprovou que ao reduzirmos o nível de proteína bruta compensando com a utilização de aminoácidos sintéticos há uma redução efectiva do azoto excretado e, consequentemente, menores problemas entéricos (lordelo et al, 2008). Por outro lado ensaios efectuados com a redução da proteína bruta dieta em leitões com a suplementação de aminoácidos sintéticos incluindo a l ‑valina, concluíram que a utilização complementar deste aminoácido permitia uma redução da proteína bruta da dieta em 2 pontos percentuais

2 AdG (ganho médio diário); AdFI (consumo médio diário); FCR (Índice de conversão); dietary CP (proteína da dieta)

sem resultados negativos na performance (lordelo et al, 2008) (norgaard & Fernandez, 2009) (Jansma net al, 2009) (Vinyeta et al, 2010) (Figura 10). RESUMOA redução em 2% da proteína bruta da dieta não afectou a perfor‑mance dado que foram considerados os seguintes aspectos chave:

• matriz aferida para os principais aminoácidos essenciais (lisina, metionina, treonina, triptofano, valina, Isoleucina e leucina

• disponibilidade de aminoácidos de síntese como aditivos

• Perfil da proteína ideal

• Relação 70% SId val:lis

• Relação 53% SId Ile:lis (dietas sem farinhas de sangue)

Assim poderemos afirmar que é seguro reduzir a proteína bruta das dietas para leitões sem afectar as performances

Nota:­ ­Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o Novo Acordo

Ortográfico

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legenda:2

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o rúmen, quando trabalha corretamente, tem um poder de desintoxicação importante sobre algumas moléculas, razão pela qual os ruminantes são con‑siderados menos sensíveis que os monogástricos. deste modo, o papel das micotoxinas em ruminantes, à exceção da aflatoxina, foi durante muito tempo subestimado.no entanto e por muitas razões, as micotoxinas são de novo um assunto de atualidade:

‑ A melhoria­do­conhecimento­científico: foram relatados efeitos tóxicos de numerosas micoto‑xinas, para além das aflatoxinas, em ruminantes. essas micotoxinas já foram observadas em diferentes tipos de forragens; por exemplo numerosos casos de eczema facial relacio‑nados com a contaminação das pastagens pela esporidesmina já foram evidenciados na nova‑Zelândia, Açores e em França.

‑ A percentagem­ de­ contaminações­ em­ cresci‑mento­nos­cereais foi claramente demonstrada pela pesquisa e analises efetuadas na lareal (atualmente Invivolabs). As principais razões para esta situação são a diminuição dos tra‑tamentos fúngicos, a ausência de rotação das culturas e a simplificação das práticas de cultivo, por razões ambientais.

‑ A sensibilidade­ acrescida­ nos­ ruminantes, devido a uma progressão dos níveis de pro‑

dução e a uma perda de rusticidade devido à seleção. Por outro lado algumas micotoxinas sofrem alterações no rúmen que as transforma em metabolitos mais tóxicos que a molécula original (Figura.1)

‑ As­ preocupações­ sanitárias­ crescentes­ dos­consumidores, no seguimento das inúmeras crises sanitárias recentes (BSe, melamina, dioxinas,…). o efeito cancerígeno de cinco micotoxinas (duas das quais aflatoxinas) foi demonstrado no homem.

MICotoxINaS EM ruMINaNtESUM­ PROBLEMA­ SUBESTIMADO­ MAS­ ATUAL!Carla­ Aguiar­diretora técnica da InVIVonSA Portugal­ e Erwan­ Leroux­Chefe de Produto – Aditivos, neoVIA, empresa do grupo InVIVo nSA

Figura 1. Alteração das micotoxinas no rúmen.

Matéria‑prima Condições­ favoráveis Flora­ fúngica Micotoxina

Pastagem/ erva

claviceps ergotamina (ergotismo ‑ gangrena)phytomyces esporidesmina (eczéma facial)

néotiphodium (desordem nervosa)Rhizoctonia Slaframina (sialorréia)

Forragens no campo ou colhidas Fusarium

Feno e palha

(má colheita e armazenamento húmido) Aspergillus fumigatus desordem respiratóriaSachybotris atra Satratoxinas

Penicillium Patulina

Fusarium

tricotecenes

Zearalenona

FumonisinesSobreaquecimento Aspergillus flavus Aflatoxinas

Silagem milho e erva

Conservada incorretamentePresença de oxigenio (frente de ataque)

Silagem cereais imaturos Fusarium donPenicillium Patulina

Cereaistrigo, milho, cevada

más condições climáticasFusarium tricotecenes (don, t2)

ZearalenonaFumonisines (milho)

mau armazenamento Aspergillus Aflatoxinas (raro)(armazenamento em solo) Penicillium ocratoxinas

out ras materias Primas Produção paí ses quentes e húmidos Aspergillus flavus AflatoxinasSemente de amendoim e algodão Aspergillus parasiticusoleaginosas

Bagaços de amendoim (desintoxicados quimicamente à chegada em alguns países)

A­ ORIGEM­ DAS­ MICOTOXINASAs micotoxinas são principalmente metabolitos secundários produzidos por fungos presentes nas

matérias‑primas e que se desenvolvem sob algumas condições de temperatura e humidade.

AlImentAção AnImAl InVeStIGAçãoP U B

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 35ALIMENTAçãO A n I m A l | 35

Podemos suspeitar de contaminação com micotoxinas quando existe presença de fungos que aparecem devido à má conservação das forragens ou das matérias‑primas, no entanto, estas toxinas são muito resistentes e não são destruídas pela temperatura ou acidificação que elimina os fungos, pelo que a quantidade de bolor presente numa amostra não está forçosamente correlacionada com o seu teor em micotoxinas, podendo este ultimo ser o resultado de uma contaminação anterior à observação da amostra. Pela mesma razão os subprodutos de cereais (sêmea, glúten de milho, drèches) estão normalmente mais contaminados do que os cereais que lhe deram origem.A repartição das contaminações nas forragens e lotes de matérias‑primas está longe de ser homogéneo, fazendo‑se pelos chamados “hot spots” que são zonas com elevada contaminação. A recolha de amostra, para uma análise de micotoxinas, deve ser feita com muito cuidado e seguindo procedimentos de amostragem bem definidos!os principais fungos responsáveis pela contaminação por micotoxinas nas forragens e matérias‑primas são o Fusarium,­ Aspergillus­ e­Penicillium. A maior parte das contaminações são multi‑contaminações, com várias micotoxinas: por um lado a microflora fúngica raramente é homogénea; por outro lado, cada fungo pode produzir diferentes toxinas!

Micotoxinas Ação­ do­ rúmen­ sobre­ as­micotoxinas Substrato­ potencial Efeitos­ principais­ possíveis

Aflotoxina B1, B2, G1, G2 10% degradado no rúmen

Grãos e bagaços: * necroses, edemas (fígado, rins )

− amendoim * Abortos

− algodão * disfuncionamento do rúmen

− oleaginosas importadas dos países quentes (*fenos húmidos mal conservados )

* diminuição da ingestão e da produção leiteira!Passagem dos metabolites para o leite

Zearalenona

transformação e zearalenol ‑ mais tóxico

Forragens húmidas (feno, palha, erva…)

* desordens na reprodução, edemas, hipertrofia dos orgã os genitais… diminuição da taxa de sobrevivência dos embriões, diminuição da produção do leite

Cereais (trigo, milho, cevada) ! Passagem possível das metabolites para o leite

Silagens milho planta inteira (na reabertura do silo) * Possibilidade de baixa na produção leiteira

tricotecenosdon

Fortemente degradadas no rúmen

Forragens húmidas (feno, palha, erva…)

* Perca de peso, dermatoses

* Baixa da imunidade

Cereais (trigo, milho, cevada)

Silagens milho planta inteira (na reabertura do silo)

Silagens imaturas

tricotecenost2

Fortemente degradadas no rúmen

Forragens húmidas (feno, palha, erva…) muito tóxico

Cereais (trigo, milho, cevada) * necrose pele

Silagens milho * diarreias, problemas digestivos

Silagens imaturas * Baixa da imunidade

* Úlceras do rúmen

ocratoxina A(otA)

degradação pela flora do rúmen Silagens milho * necroses dos rins

metabolitos menos tóxicos Forragens secas mal conservadas * Baixa da imunidade

Patulina

Silagens (planta intei ra, cereais imaturos)

* disfuncionamento do rúmen (paralisia dos reservatórios gástricos)

Polpas de beterrabas muito comprimidas

PRINCIPAIS­ EFEITOS­ DAS­ MICOTOXINAS­ NOS­ RUMINANTES

os efeitos das micotoxinas nos ruminantes são frequentemente pouco específicos e podem ser classificados em vários tipos:

‑ Ação­ sobre­ o­ rúmen: se o rúmen tem o poder de desintoxicar algumas micotoxinas, outras, como a patulina, inibem a flora ruminal levando a uma diminuição da digestibilidade do alimento.

‑ Ação­ sobre­ o­ fígado: órgão de desintoxicação por excelência. As aflatoxinas, em especial, têm um efeito altamente tóxico sobre este órgão. Isto é particularmente problemático no início da lactação.

‑ Diminuição­ das­ performances­ de­ reprodução: função particu‑larmente sensível a qualquer desequilíbrio. Casos de abortos precoces e infertilidade foram relacionados com contaminações importantes com zearalenona e casos de infertilidade temporária ou permanente com a absorção de fitoestrógeneos.

‑ Imunossupressão: a elevada toxicidade da don e da toxina t2 é devida em parte ao seu grande efeito imunossupressor, causando doenças não específicas, como as mamites, problemas respiratórios ou diarreia.

‑ Queda­ da­ ingestão­ e­ da­ produção­ leiteira são muitas vezes associadas à contaminações por inúmeros tipos de micotoxinas.

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36 | A LIMENTAçãO A n I m A l

AlImentAção AnImAl InVeStIGAção

Alimentação­ animal AF­ B1 DON ZEA OTA Fumo

matérias-primas

Sub‑produtos de milho 0,02 mg/kg 12 mg/kg 3 mg/kg 80 mg/kg

Amendoins 0,02 mg/kg

Cereais e subprodutos cereais 8 mg/kg 2 mg/kg 0,25 mg/kg 80 mg/kg

outras materias Primas 0,05 mg/kg

alimentos completos e complementares

Ruminantes adultos 50 mg/kg

Animais em produção leite 0,005 mg/kg

Vitelos e borregos 0,01 mg/kg

Bovinos de carne, ovinos e caprinos 0,05 mg/kg

outros animais 0,01 mg/kg 5 mg/kg

micotoxina Aflatoxinas Zearalenona don toxina t2

nivel max. no tmR 20 ppb 500 ppb 500 ppb 250 ppb

embrião de 7 meses com aspergilose

Limites­ máximos­ em­ ruminantes:os limites de sensibilidade às micotoxinas não são bem conhecidos, pois as multi‑contaminações, que são muito frequentes,

aumentam a sensibilidade dos animais. Podemos no entanto recomendar os níveis máximos preconizados por mike Hutjens para o alimento completo:

na União europeia, a Recomendação da Comissão de 17 de Agosto de 2006, define limites para as matérias‑primas e alguns alimentos para animais (tabela 3).

A boa qualidade e preservação das forragens (compactação do silo, estado de desen‑volvimento, utilização de conservantes de silagem…), e a limitação das contaminações no campo (enterrar as culturas precedentes, estado da planta na colheita, correta utilização dos tratamentos antifúngicos e luta contra os insetos…) são as medidas prioritárias que permitem limitar as contaminações pelas micotoxinas.A seleção das forragens e a eliminação das frações contaminadas permite limitar os

riscos. È também recomendável não forne‑cer forragens com qualidade duvidosa aos animais mais sensíveis do rebanho (vacas no início da lactação, ovelhas em período de reprodução…)em caso de risco de contaminação é conve‑niente estar atendo aos seguintes aspetos que podem ser afetados:

‑ Funcionamento­ do­ rúmen: Aumentar o ndF do alimento, utilizar tamponizantes;

‑ Saúde­do­fígado: utilizar protetores hepá‑ticos (colina e metionina protegidas…)

‑ ­Imunidade: necessidades acrescidas em minerais e vitaminas, nomeadamente os antioxidantes.

Finalmente, a utilização de produtos anti‑micotoxinas adicionados aos alimentos, permite limitar fortemente a pressão con‑taminante. existem diferentes produtos no mercado, no entanto, a sua eficácia é muito variável e poucos foram testados conve‑nientemente devido à complexidade de tais ensaios. A neovia tem vindo a aperfeiçoar um modelo animal, com patos que são dos

animais mais sensíveis às micotoxinas e que permite testar eficazmente novas soluções.Em­ conclusão, o risco de contaminação por micotoxinas é bem real nos ruminantes e se ainda estamos longe de conhecer tudo acerca deste assunto, existem já medidas preventivas eficazes que permitem limitar significativamente as consequências desta contaminação.

PREVENçãO­ DOS­ RISCOS­ RELACIONADOS­ COM­ MICOTOXINAS­ EM­ RUMINANTES

Fusarium Graminearum em milho

Silagem de milho contaminado por bolor

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AlImentAção AnImAl InVeStIGAção

nas últimas décadas, a resistência aos antibióticos no tratamento de infeções dos seres humanos e dos animais, cresceu de forma assustadora. existe efetivamente um número crescente de bactérias extensivamente resistentes a antibióticos e um pequeno mas relevante número de bactéria resistentes a todos os antibióticos. Por outro lado, o número destes medicamentos em fase de investigação e desenvolvimento para efeitos de introdução no mercado é praticamente nulo tanto no setor humano como no setor veterinário, o que nos coloca atualmente um enorme problema de saúde pública, à escala mundial, contabilizando‑se só na europa e anualmente, cerca de 25 000 mortes de pessoas, por infeções não tratáveis, devido a microorganismos resistentes.os antibióticos são medicamentos muito particu‑lares porque não só têm implicações no indivíduo tratado, homem ou animal, como também nos que com ele vivem e/ou convivem e ainda no meio ambiente, pelo que o risco decorrente do seu uso incorreto ou indevido é não só individual mas também coletivo.Com perfeita e integrada consciência deste pro‑blema, promoveu‑se em Portugal o «Programa nacional para a Prevenção de Resistências Antimi‑crobianas» no âmbito da direção‑Geral de Saúde, do qual a ex‑direção‑Geral de Veterinária, atual direção‑Geral de alimentação e veterinária (dGAV) fez parte, no sentido de se promoverem iniciativas de pedagogia várias e bem assim de vigilância nesta área. mais recentemente, a dGAV assinou também, juntamente com várias outras entidades nacionais, a «Aliança Portuguesa para a Preservação do Antibiótico», na qual se compromete, designada‑mente, a fomentar o respeito estrito da prescrição médico‑veterinária, a privilegiar a biossegurança e a vacinação na medicina veterinária, a promo‑ver a investigação da epidemiologia infecciosa e resistência antimicrobianas, a emanar e cumprir normas e orientações de utilização de antibióticos na medicina veterinária e a erradicar esta utilização como substituição de más práticas de maneio nos animais, promovendo um uso responsável de medicamentos nos animais, e dos antibióticos em particular.Iniciativas semelhantes de luta contra as antibior‑resistências acontecem simultaneamente por toda a parte do mundo. na União europeia, a Comissão europeia comunicou ao Parlamento europeu e

ao Conselho o seu próprio Plano de Ação para 5 anos e do qual fazem parte 12 propostas de ação concretas, nomeadamente aquelas que dizem respeito ao reforço dos sistemas de vigilância das resistências aos antimicrobianos nos seus estados membros. em 4 de Julho de 2012 já tinham sido adotadas, pelo Conselho da União europeia, as conclusões sobre o impacto das resistências aos antimicrobianos nos setores humanos e veterinário, sob a perspetiva de “Uma só Saúde” e durante a sua sessão plenária de 11 de dezembro de 2012, o Parlamento europeu adotou o Relatório sobre «o desafio microbiano – Aumento das Ameaças decor‑rentes da Resistência aos Antimicrobianos» e foi efetivamente solicitado à Comissão europeia e aos estados membros a procura de maior cooperação e coordenação na deteção precoce, nos alertas e nos procedimentos de resposta coordenada no que respeita a bactérias patogénicas resistentes, nos seres humanos, nos animais, incluindo peixe e nos alimentos, no sentido da monitorização contínua da extensão e do crescimento das resistências aos antimicrobianos.este apelo, não sendo ainda uma determinação ou imposição, exige contudo uma resposta ade‑quada e responsável por parte das autoridades nacionais dos diferentes estados membros, de tudo fazerem para que se detenha ou contorne, estrategicamente e habilmente, um problema por todos reconhecido e que a todos afeta. É o que a dGAV está a diligenciar através do «Plano nacional para a Redução do Risco das Resistências aos Antibióticos», ainda em fase de elaboração e para o qual conta naturalmente com a colaboração e contributos de todos quantos lidam com antibióticos em medicina veterinária.A dGAV pretende, no presente ano de 2013, aprovar e implementar este Plano, o qual divulgará junto de todos quantos dele são parte interessada e nele colaborarão ativamente como objetivo de diminuir os consumos de AB em Portugal, cujas quantidades estão já devidamente contabilizadas para o ano de 2010 e disponíveis para consulta pública no sítio da emA (Agência europeia do medicamento) sob a designação do projeto eSVAC (european Surveillance of Veterinary Antimicrobial Consumption), prevendo‑se que também os dados respeitantes a 2011 aí sejam publicados brevemente. o relatório das vendas de antibióticos em Portugal, constam igualmente do sítio da dGAV (www.dgav.pt), sob a rubrica de medicamentos veterinários.

rESIStêNCIa aoS aNtIBIótICoS

helena­ Pontediretora de Serviços de meios de defesa Sanitária

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 39

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40 | A LIMENTAçãO A n I m A l

AlImentAção AnImAl SFPm

SFPM

Pré-MISturaSSECçãO­DOS­FABRICANTES­DE­PRé-MISTURAS

• o ano de 2013 começou com a esperança de ser um bom ano para a produção animal (preços das matérias‑primas a baixarem, previsões de boas colheitas, mercados de futuros de produtos pecuários em alta,...), mas infelizmente com nuvens negras para a Indústria de Alimentos para Animais : diminuição da produção preocupante, com tendência para aumentar face às novas regras de produção, dificuldades financeiras dos produtores, fabricantes e da economia em geral...).

• em relação à Secção de Pré‑misturas e para a Indústria em geral,  infelizmente tenho  de destacar a enorme perda do dr. Fernando Anjos (por falecimento, ver noticias) e a reforma profissional  de um grande amigo, o dr. luis Capitão Valente.

em relação a este último, quero aproveitar este espaço, para em meu nome e da SFPm, agradecer‑lhe toda a colaboração e apoio que durante muitos anos  sempre nos deu, desejar‑lhe as maiores felici‑dades para esta nova fase da sua vida e dizer‑lhe que continuamos a contar com a sua experiência e conhecimentos.

• As II Jornadas de Alimentação Animal vão‑se realizar a 15 de maio, em Fátima, este ano apenas com a participação das empresas associadas da SFPm ( ver programa na pág. seguinte). Principalmente com temas relacionados com a nutrição animal, mas também com a tecnologia de fabrico e preocupações ambientais.

Há mais de 40 anos com as pessoas na Saúde Animal

40 AN

OS

1972-2012

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 41

NotÍCIaS Da SFPMConheci o dr. Fernando Anjos no inicio da minha vida profissional, quando lhe sucedi no cargo de director técnico das extintas rações Vitamilo (Sociedade nacional de Sabões). teve na altura a amabilidade de se encontrar pessoalmente comigo e de me explicar a empresa e o seu modo de funcionamento.Após a sua entrada para a IACA, primeiro como dirigente e depois como consultor técnico, aumentei o meu reconhecimento pelos seus conhecimentos e experiência profissional. este aspecto acentuou‑se com o estreitar

do nosso relacionamento, derivado da minha colaboração com a SFPm/IACA, pelo que passei também a admirar a sua capacidade de organização e de trabalho e em particular a sua filosofia de vida, num estilo muito “british”, sem stresses, sempre positivo com o mundo e com as pessoas.A Indústria de Alimentos Compostos portu‑guesa ficará para sempre em dívida com o dr. Fernando Anjos. A Secção de Fabricantes de Pré‑misturas agradece‑lhe a enorme colabora‑ção e o apoio prestado durante muitos anos.

Infelizmente, já não o vamos ter como moderador nas nossas próximas Jornadas de Alimentação Animal. Que descanse em paz.

Pedro Folque

FALECIMENTO­ DO­ Dr.­ FERNANDO­ ANJOS

Principais assuntos discutidos:• declaração dos compostos/substâncias

fornecedoras de oligoelementos minerais: em relação à rotulagem dos oligoelementos nos alimentos compostos, o impasse entre a  Indústia  e a dGSAnCo mantém‑se, mas as posições das autoridades dos diferentes países não são coincidentes ‑ por exemplo, a Alemanha e a Holanda mantiveram a declaração quantitativa de oligoelementos; a Irlanda adoptou uma rotulagem mista, com o teor total de oligoelementos nos “nutrientes” e os compostos adicionados nos “Aditivos”.

• Re‑autorização / utilização de aditivos:1. Compostos Aromáticos ‑ o Comité enten‑

deu que não faz sentido estabelecer limites máximos de utilização, baseados em preocupações de segurança alimen‑

tar. Foram reforçadas duas questões: as dificuldades de controlo analítico e de fazer a distinção entre compostos aromáticos naturais e artificiais.

2. Sais de Cobalto ‑ como recomendação, a dGSAnCo decidiu propor como limite máximo de suplementação 0,3 ppm.

3. leveduras de Selénio ‑ a FeFAC não apoia, sem a validação da eFSA, a proposta da dGSAnCo de limitar a suplementação de selénio a 0,2 ppm e a proibição de utilizar conjuntamente os compostos orgânicos e inorgânicos de selénio.

4. Iodo ‑ após uma recente publicação da eFSA sobre a utilização de com‑postos de iodo, o FeedAP recomenda os seguintes máximos em alimentos completos para animais: vacas leiteiras

(2 ppm); galinhas poedeiras (3 ppm); cavalos (3 ppm); outras espécies (man‑tém‑se os 10 ppm). o Comité exprimiu as suas preocupações sobre o nível de iodo nos alimentos para vacas leiteiras tendo em conta as deficiências que algumas dietas alimentares humanas apresentam e para a possibilidade de regimes ricos em bagaço de colza dimi‑nuirem a disponibilidade do iodo devido à presença de factores nutricionais (glucosinolatos).

5. metionina ‑ o Comité considerou a proposta da dGSAnCo, de  este ami‑noácido ser utilizado no futuro apenas na forma de pré‑mistura, de irrealista e inconsistente com as actuais formas de fabrico, não sendo esta posição inclusive apoiada pela eFSA.

23º­ COMITé­ DE­ PRé-MISTURAS­ E­ MINERAIS,­ FEFAC,­ BRUXELAS,­ 5­ DE­ MARçO­ DE­ 2013

PROGRAMA­ DAS­ II­ JORNADAS­ DE­ ALIMENTAçãO­ ANIMAL­ DA­ IACA­ A­ REALIZAR­ EM­ FáTIMA­NO­ DIA­ 15.MAIO.2013•­ PROGRAMA­ SOBRE­ A­ QUALIDADE­ DA­ SOJA­ DOS­ EUA:­ IMPLEMENTAçãO­ E­ DESENVOLVIMENTO drª lola Herrera (USSeC, US SoYBeAn eXPoRt CoUnCIl)

•­ ­ INTEGRIDADE­ INTESTINAL­ EM­ FRANGOS­ DE­ CARNE­ dr. dominique Chavatte (InVIVonSA Portugal)

•­ ­ TECNOLOGIA­ DE­ FABRICO­ DE  ALIMENTOS­ PARA­ ANIMAIS:­ NOVIDADES­ E­ DESAFIOS­ DA­ ­ ATUALIDADE engº Juan Acedo‑Rico (ReAGRo)

•­ ­ GESTãO­ NUTRICIONAL­ DA­ PORCA­ hIPERPROLIFICA­ ­­ dr. Philippe mazerolles (InVIVonSA Portugal)

•­ ­ ASPECTOS­ NUTRICIONAIS­ PARA­ OBTER­ LEITÕES­ EM­ 10­ SEMANAS­ ­­ ‑­ PREPARAçãO­ PARA­ A­ ENGORDA­ dr. Ignasi Riu (teCnIPeC)

•­ ­ NOVOS­ PARADIGMAS­ DA­ NUTRIçãO­ DE­ RUMINANTES­­ engº Jerónimo Pinto (eURoCeReAl)

PATROCINADOR APOIO

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42 | A LIMENTAçãO A n I m A l42 | A LIMENTAçãO A n I m A l

AlImentAção AnImAl FeRnAndo AnJoS

A morte do dr. Fernando Anjos, ocorrida no dia 13 de fevereiro

de 2013, com 75 anos, apesar da doença que se manifestou uns

meses antes, surpreendeu ‑nos a todos e deixou ‑nos mais pobres.

A sua importância na Indústria e na vida da IACA, sobretudo nos

últimos anos da sua longa e bem ‑sucedida carreira profissional,

quer em Portugal, quer a nível internacional, justificam um

caderno de destaque na Revista “Alimentação Animal”, naquela

que foi também a sua Revista desde a primeira hora.

Sem quereremos ser “pesados” neste ato, singelo e simples

como ele, que encarou a morte como se fizesse parte da vida e

é isso mesmo que devemos interiorizar, solicitámos a diversos

amigos que o conheceram, que partilharam momentos, pessoais

e profissionais, bons e menos bons mas todos inesquecíveis,

que aqui deixamos para os nossos leitores e naturalmente

para memória futura, para que nunca se apaguem e fiquem

registados. Como o Fernando merece.

o dr. Fernando Anjos – Fernando José Pinheiro Jardim

Anjos – nasceu em 15 de maio de 1937, em lisboa, apesar

das suas raízes ao Alentejo, mais concretamente a Campo

maior. licenciou ‑se em medicina Veterinária em 1960 e

começou a trabalhar no lnIV (laboratório nacional de

Investigação Veterinária), até 1962, passando pela direção

Geral dos Serviços Pecuários, onde se manteve de 1964 a

1965. de 1965 a 1972 esteve na empresa Sabiol, de onde sai

para integrar a CUF, onde está até 1977, ano em que aceita

o desafio da empresa morgado Rações, ficando ligado a

esta unidade até 1984. de 1985 a 1987 integrou a empresa

Vitamealo e ainda nesse mesmo ano tem uma passagem,

breve, pela Iberil ‑Zoon. de 1987 a 1989 ingressa na Quimigal,

que se transforma na nutasa e é aí que se mantêm até 1999,

ano em que passa a exercer a sua atividade de consultadoria

no domínio da alimentação animal.

da sua passagem pela IACA e das suas atividades associativas,

destacamos os cargos de vogal da direção (entre 1982 e 1984)

e posteriormente de 1991 a 1993, também como membro da

direção. Foi ainda membro e coordenador de diversos grupos

de trabalho e Vice ‑Presidente da direção da FIPA, no mandato

1991 ‑93.

Para além do seu contributo em iniciativas da IACA, como

as Fichas técnicas ou a Ct 37, sobre matérias ‑primas ou

intervenção em Seminários, Conferências e Jornadas técnicas,

enquanto assessor, esteve diretamente ligado ao funcionamento

quotidiano desta Instituição desde 1999 até 2013 e a dossiers

importantes como o desenvolvimento e implementação do

Código de Boas Práticas, o HACCP e controlo da qualidade,

o Catálogo de matérias ‑primas para a alimentação animal,

dioxinas, ambiente, o BReF, segurança alimentar quer na IACA,

na FIPA, nos contactos com as autoridades, moderando painéis

em múltiplas iniciativas e em Bruxelas, ao nível dos Comités

da FeFAC. era uma pessoa eclética, simples, humilde e com

um grande sentido de humor; calmo nas situações de maior

stress e recordo ‑me a serenidade com que viveu algumas das

crises que atravessámos no setor como as dioxinas, a BSe ou

os nitrofuranos. tinha sempre uma palavra amiga e vontade de

ajudar a resolver. nunca falhava, “estava sempre lá”, cúmplice

de todas as situações. A palavra amiga e reconfortante, quando

era preciso.

não é certamente por acaso que tantos amigos, de diferentes

áreas aceitaram e sentiram ‑se honrados em deixar o testemunho.

As mensagens de condolências mostraram a dimensão do

Homem e os seus valores e amizade que cultivou. nas reuniões

de direção e outras a que se seguiram ao seu falecimento,

respeitou ‑se um minuto de silêncio. em Bruxelas, onde estes

gestos não são habituais, o mesmo sentimento de união em torno

do Fernando. mais recentemente, em 13 de abril, em Arronches,

tive a honra de, em nome pessoal e da IACA, de o homenagear

numa iniciativa promovida pela Confraria Gastronómica do

norte Alentejano, à qual estava ligado.

eficiência, capacidade técnica, amizade, dinâmica profissional,

inteligência, saber, espírito de equipa e de missão, conhecimento,

tolerância são palavras comuns e repetidas nos diferentes

testemunhos.

FeRnAndo AnJoS(1937 ‑2013)

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 43

o Fernando prestigiou e dignificou a IACA em Portugal e no

estrangeiro e conquistou rapidamente o respeito em Bruxelas.

A sua competência e profissionalismo deve ser um exemplo, até

na forma como encarou a doença e as dificuldades, sabendo

aceitar o que deus lhe tinha reservado. o seu desaparecimento

deixou ‑nos mais pobres mas a sua presença em nós enriqueceu‑

‑nos. o Fernando tocou ‑nos porque se deixou tocar e esse é o

privilégio dos Homens Bons, Justos e que vivem em Paz. Um

homem sensível, atento e disponível.

As pessoas só desaparecem verdadeiramente quando nos

esquecemos delas. no caso do Fernando isso não vai acontecer

nunca. Com o seu exemplo, a ligação a projetos em curso, mas

sobretudo com os seus valores, exemplo e dedicação, será

sempre uma referência no património genético e na Herança

da IACA e da Indústria da alimentação animal em Portugal. É

habitual ouvirmos dizer que esta nossa casa e este Setor são

diferentes, têm uma outra cultura. Agora percebemos porquê.

o Fernando também ajudou a construir essa diferença.

Jaime Piçarra

A­ IACA­ perde­ um­ Amigo­ e­ uma­ Referência

Cheguei à IACA em 2007 aquando do Congresso da FeFAC

para integrar a direção e foi nessa altura que conheci o dr.

Fernando Anjos. Responsável pelos dossiers técnicos, tinha em

mãos um trabalho ambicioso e que muito prestigiou a nossa

Associação: a implementação de um Código de Boas Práticas,

com visitas frequentes às empresas associadas e entre as quais

a Raporal. Rapidamente me dei conta de que era uma pessoa

afável, meticulosa, profundamente conhecedora do Setor e

das suas realidades, bastante experiente. Atento e disponível.

Posteriormente, e em particular quando fui eleita Presidente

da IACA, fui contactando com ele e conhecendo melhor o

técnico e o Homem. em Bruxelas e nas reuniões com as

entidades oficiais, designadamente com a dGAV, nos debates

que moderava, fui ‑me apercebendo do respeito e admiração

de todos os meus colegas e a forma como falamos dele, dos

vários testemunhos, demonstram isso mesmo. Sempre calmo,

ponderado, todos esperávamos dele uma opinião, um conselho,

como se fosse um sábio. nunca falava de nenhum assunto sem

o estudar, era um admirador de livros e lia todos os documentos

técnicos necessários para que as suas posições ou respostas

fossem as mais adequadas, as mais corretas e acertadas.

Um profissional de mão cheia.

Para além da Revista “Alimentação Animal” o dr. Fernando

Anjos ficará ligado a 2 projetos de grande mais ‑valia para a

nossa Indústria: a Plataforma “Peço Português” e o QUAlIACA.

em ambos participou e infelizmente não os viu ganhar “forma”.

Até por isso vai continuar a estar presente na vida da IACA.

Perdemos um amigo, uma referência mas os seus valores e

ideais ficarão a fazer parte do nosso património.

Cristina de Sousa

Em­ memória­ de­ um­ Amigo

Conhecia o Fernando Anjos há longos anos, tendo partilhado

com ele a direção da IACA nos mandatos de 1982/84 e de

1991/93. A sua posterior ligação à IACA permitiu ‑nos uma

vivência profissional continuada.

Foi, desde sempre, uma pessoa com uma postura pessoal cor‑

retíssima, profissional muito competente e muito independente

nas suas ideias. A IACA esteve sempre presente ao longo da

sua vastíssima vida profissional e, quer como associado quer

como consultor, participou ativamente em todos os principais

projetos que a Associação dinamizou nos últimos 30 anos,

tendo liderado muitos deles.

lamento profundamente a forma imprevista e brutal como a doença

o atingiu e, em tão pouco tempo, o afastou do nosso convívio.

Paz à sua alma.

José Filipe R. Santos

Page 44: Revista Alimentação Animal nº 83

44 | AL IMENTAçãO A n I m A l44 | AL IMENTAçãO A n I m A l

estávamos no inicio dos anos setenta e as empresas de rações

modernizavam ‑se quer nos equipamentos, quer no recrutamento

de quadros com formação superior. Surge a utilização dos

computadores na formulação e das estatísticas e estudos

de mercado ao serviço do marketing. A industria “ferve” na

procura do conhecimento para melhor servir o mercado e poder

ter visibilidade nas instâncias nacionais e internacionais. É,

assim, a época em que os médicos veterinários, economistas, e

engenheiros agrónomos, constituem o núcleo duro dos técnicos

admitidos pelos industriais de rações.

È neste contexto, que eu conheci o Fernando Anjos, na altura

quadro superior da CUF. embora fossemos concorrentes, e

diferentes nas missões que exercíamos, ele na área técnica e

eu na área comercial, os contactos que mantivemos através da

IACA vieram mais tarde a consolidar ‑se numa estreita amizade.

Recordo o comportamento exemplar do Fernando, quando

da crise dos nitrofuranos, era eu Presidente da IACA e ele

assessor técnico da direção. Conhecedor da problemática e

principalmente dos métodos laboratoriais em uso, contribuiu

para o esclarecimento deste dossier que conduziu a que a

Industria fosse ilibada.

o seu percurso profissional foi transversal na Industria, no

sentido em que esteve ao serviço de várias empresas, mas

sempre com empenho e dedicação e principalmente com

lealdade. no que acompanhei de perto, na IACA, a sua postura

foi de inegável serviço à Industria.

o Fernando era franco ,leal, generoso para com os amigos,

com aquele seu porte algo britânico, embora nas suas veias

corresse sangue alentejano e espanhol, responsável pelo seu

apego às corridas de toiros ditas “à espanhola”, gosto que eu

compartilhava com ele. Falava ‑me com carinho do neto que

toureava em novilhadas e que o enchia de orgulho.

nos últimos anos e já estávamos ambos reformados, tive o

prazer da sua companhia em viagens de férias, onde era um

ótimo companheiro, convívio que jamais esquecerei.

Adeus Fernando, até sempre!

Alberto Campos

Fernando y yo coincidíamos en los Comités técnicos de FeFAC.

Cuando nos encontrábamos, compartíamos confidencias,

preocupaciones, temas comunes como buenos compañeros.

A veces en las cuestiones europeas, los países del sur nos

sentimos como los hermanos pobres y con Fernando podía

coincidir en las mismas inquietudes e impresiones. Él siempre

me brindaba su cercanía y su buena disposición para defender

nuestros intereses. le eché de menos en el último comité.

Fernando siempre estará en nuestros pensamientos.

Ana Hurtado ‑CESFAC

Tribute­ to­ Fernando

If we would have to choose a single qualifier for the kind of

person that Fernando was, gentleman is the one coming to

our mind. Beyond his excellent professional skills making of

Fernando an excellent ambassador of the Portuguese feed

industry, Fernando was first and foremost respected in the

different FeFAC Committees for his gentleness and friendship.

As members of the Secretariat, we have always appreciated

his willingness to help whenever we needed a hand. Fernando,

your colleagues of the FeFAC Committees and the FeFAC

Secretariat miss you. our thoughts are with you and with yours.

Alexander Döring and Arnaud Bouxin (FEFAC)

Para além da sua competência, profissionalismo e disponibili‑

dade, que nos permitiram enfentar com serenidade e combater a

grave crise que a nossa indústria atravessa, queremos destacar

também o relacionamento humano e a amizade que granjeou

com todos que com ele privamos.

obrigado dr. Fernando Anjos.

Humberto Novais

Fernando­ Anjos­ –­ um­ Profissional,­ um­ Amigo­ e­ um­ Senhor

Falar do Fernando é simultaneamente fácil e difícil. Fácil porque

imediatamente nos vem à memória as passagens e os momentos

marcantes do nosso relacionamento, mas ao mesmo tempo difícil

porque nos preocupa a possibilidade de esquecermos vivências

que poderiam, eventualmente, ser importantes. Feita esta

ressalva aqui fica a visão que guardo do amigo, do profissional

e do colega que me habituei a respeitar e a considerar.

Profissionalmente, bem cedo o Fernando se afirmou no setor

da Produção Animal em Geral e da Industria de Alimentos

Compostos em particular. era um estudioso com uma grande

capacidade para adaptar a inovação e as novas tecnologias

à realidade empresarial. Acompanhou toda uma evolução

de modas e tendências, em particular no que se refere às

Formulações, aceitando sempre as novas propostas com

AlImentAção AnImAl FeRnAndo AnJoS

Page 45: Revista Alimentação Animal nº 83

ALIMENTAçãO A n I m A l | 45

espirito critico mas pragmático. era um “pivot” entre o mundo

académico e o mundo empresarial, considerado por uns e

respeitado por outros foi sempre ouvido por todos. Atento

aos mercados, conhecedor da lógica da Produção Animal em

contexto comercial, elaborava pareceres e relatórios muito

equilibrados e realistas.

Ponderado nas suas opiniões era raro pronunciar ‑se de

forma precipitada ou irrefletida recorrendo a umas pausas,

muito suas, meditava primeiro e só depois opinava. esta

sua característica granjeava ‑lhe o respeito dos Colegas e

produtores num mundo muito acelerado e sempre em busca

de soluções fáceis, mágicas e imediatas.

Aliava a tudo isto uma forma de estar onde se destacava a

simpatia, a diplomacia e o trato cordial mas sem cedências,

privilegiando sempre o primado da verdade e da coerência.

obviamente que também teve os seus dissabores e as suas

desilusões com quem não entendia estes princípios, mas no

seu longo percurso acabou por merecer o reconhecimento

da maioria dos técnicos e dos profissionais que com ele

trabalharam.

Profissionalmente privei bastante com o Fernando, mas gostaria

aqui de destacar um Projeto conjunto eZn/IACA que consistiu

na implementação do Código de Boas Práticas da IACA na

Industria de Alimentos Compostos para Animais. Juntamente

com o Colega Jaime Piçarra e o José Batista da eZn percor‑

remos o País a visitar Fábricas de Alimentos Compostos. Cada

Fábrica era uma realidade diferente, propúnhamos mudanças e

ajustamentos aos processos de fabrico ou aos procedimentos

de Controlo de Qualidade e com frequência o Fernando nos

surpreendia com uma sugestão ou uma proposta que acabava

por ir ao encontro dos nossos objetivos e se mostrava viável e

aceitável por parte dos Industriais. tinha uma visão profunda

do processo fabril, dos mercados de matérias ‑primas e da

realidade dos Produtores.

nunca lhe vi uma atitude arrogante ou de sobranceria antes

pelo contrário sabia escutar e estava sempre disponível para

aprender.

trabalhando num setor muito especial onde se movimentam

interesses, legítimos é certo, mas nem sempre conciliáveis, o

Fernando soube encontrar o seu espaço sem abdicar das suas

convicções e opiniões quando as considerava as mais adequadas.

Como Colega habituei ‑me a ver nele o “especialista” que aliava

o rigor científico à realidade prática.

A sua sólida formação Académica permitia ‑lhe ser um interlo‑

cutor privilegiado para debater com os Colegas dos Serviços

oficiais a exequibilidade de medidas que a Administração Central,

por si ou por indicação da Comissão europeia, pretendia aplicar

ao Setor da Industria de Alimentos Compostos em particular

ou da Produção Animal em geral.

Amigo do seu amigo tinha sempre uma palavra de conforto nos

momentos menos bons. Por experiencia própria tive oportu‑

nidade de sentir esse cuidado assim como a forma, discreta,

que encontrava para expressar o seu afeto e a amizade que

tão bem sabia cultivar.

Passamos largas horas em amena cavaqueira, tinha um apurado

sentido de humor, falávamos de tudo, mas nunca o ouvi dizer

mal de um Colega, de um amigo ou de um conhecido. obvia‑

mente que razão teria, mas esquivava ‑se, evitava o assunto e

contornava a conversa.

era um Senhor.

o Fernando faz ‑nos falta, não só aos Amigos, como à Profissão,

aos Produtores e aos Industriais, mas a vida é assim prega ‑nos

partidas e altera ‑nos os planos.

Fica ‑nos a certeza da imagem indelével que deixou à sua

passagem, do seu exemplo e da sua obra.

Pela minha parte resta ‑me agradecer ‑lhe o muito que com

ele aprendi, como Colega, como Profissional e como Homem.

obrigado Fernando, até sempre.

JMC Ramalho Ribeiro

Convivi com o dr. Fernando Anjos praticamente metade da

minha vida profissional, desde os saudosos tempos do Grupo

morgado, ele em morgado Rações como nutricionista e eu em

morgado Pecuária como director de Produção.

Recordo dele a sua invulgar capacidade de trabalho, o culto

da competência e o rigor da verdade, sustentadas em valores

éticos e morais consubstanciados na nobreza da palavra, na

elegância do trato e sobretudo na tolerância com aqueles que,

eventualmente, consigo pudessem não concordar.

Quis o destino que o nosso ultimo contacto fosse exactamente

através dum Correio electrónico que me escreveu como

Confrade da CGnAlentejano, manifestando, com elegância, a

sua discordância com uma atitude que eu acabara de tomar (eu

desconhecia na altura o problema de saúde que já o afectava…)

Fernando Anjos era um Homem que concedia a si próprio uma

enorme e permanente curiosidade cultural, assumindo sempre

com naturalidade e superior humildade, a inquietude da dúvida

e a certeza da falibilidade humana.

Ao longo de trinta e poucos anos partilhamos momentos

inesquecíveis quer pessoais quer profissionais os quais serviram

Page 46: Revista Alimentação Animal nº 83

46 | A LIMENTAçãO A n I m A l

de profundos alicerces para a edificação duma forte Amizade;

(palavra pequena, mas onde tudo está dito…)

Guardarei dele a saudade e a memória de um grande profissional

e de um Bom AmIGo!

Joaquim da Conceição Dias

Un­ enamorado­ del­ sector­ –­ Fernando­ AnjosEs difícil a veces ilusionarse con nuestra industria. Aunque

somos un sector estratégico que hace posible el acceso de

la sociedad a la proteína, no recibimos de la opinión pública,

de las Administraciones y poderes políticos, ni incluso a veces

de nuestros clientes ganaderos, la consideración que merece

nuestra labor y el esfuerzo de los miles de profesionales que

con su trabajo día a día hacen posible un suministro continuado

y sostenible de alimentación animal de calidad.

Fernando Anjos era uno de esos buenos profesionales ena‑

morado y orgulloso de su oficio y que nunca dejó de trabajar

por mejorar continuamente nuestra industria y ello, tanto

en los momentos buenos como en los malos. Muy serio en

su trabajo, supo al mismo tiempo ser cordial y entrañable y,

desde sus responsabilidades técnicas en el Secretariado de

IACA, apoyar decididamente la coordinación de la industria de

piensos/ raçoes ibérica en pro de objetivos comunes.

Desde Cesfac, agradecemos la amable invitación de nuestros

queridos compañeros de IACA para sumarnos al reconocido

homenaje a un gran técnico y mejor persona.

Jorge de Saja

O­ Dr.­ Fernando­ Anjos­ /­ O­ homem­ e­ o­ TécnicoÉ com o maior gosto que, a solicitação da IACA, venho abordar

as Qualidades Pessoais e técnicas do meu Grande Amigo e

Colega de trabalho dr. Fernando Anjos , recentemente falecido.

Conhecia ‑o já lá vão muitos anos quando em finais de

1974,vindo da Compal, fui trabalhar para a “CUF ‑SAndeRS”.o

Fernando nessa altura integrava uma magnífica equipa de

Gestores de que recordo com Saudade os também já desa‑

parecidos engº José Parreira e engº luis Sacadura Botte. ele

era ,para além de outras funções, o homem da formulação.

Com a sua generosa e sempre pronta colaboração, dei os

primeiros passos no Sector de Alimentação Animal. era o

técnico por excelência. Homem estudioso, rigoroso, ponderado

e que encontrava sempre tempo para o debate de situações

ou ideias novas. A Gestão por objetivos, então desenvolvida

na CUF, era o seu Guião. no desenvolvimento das suas

funções de formulador era sua constante preocupação, não

esquecendo os fatores económicos, o aliar aos diferentes

aspetos de nutrição animal não só os constrangimentos

fabris ou tecnológicos, como a jusante as consequências no

desenvolvimento pecuário.

Para além da sua enorme simpatia era uma pessoa que irradiava

confiança. Sempre disso tive testemunho.

mais tarde trabalhámos de novo juntos na “morgado Rações”.

também aqui a Qualidade e a Gestão da Qualidade eram para

ele desígnios fundamentais. Voltámos depois a encontrarmo ‑nos

profissionalmente quando a convite da IACA pertencemos ao

Grupo de trabalho patrocinado pelo ex ‑lnetI, coordenado

pela Saudosa dra. Armanda Severo, equipa essa destinada à

caracterização das diferentes matérias ‑primas para a alimen‑

tação animal. Por essa altura, salvo erro, estava o Fernando

na empresa Vitamealo que pertencia ao Grupo da Sociedade

nacional de Sabões.

Faço aqui um ligeiro interregno nesta explanação da vida

profissional para uma palavra sobre as suas características

pessoais.

o Fernando era uma pessoa de extrema educação e naturalmente

simpático e conversador. Assim granjeava amigos por onde

passava. Calmo de feitio, mesmo em situações delicadas ou

difíceis nunca se alterava. Um Senhor, que enfrentava e ultra‑

passava com a maior serenidade e sentido de responsabilidade

as situações mais complexas.

Volto ao profissional e agora por altura do seu ingresso na

IACA. novos desafios. dava gozo ouvir o Fernando a explicar

os novos desenvolvimentos da sua carreira. era a época dos

Códigos de Boas Práticas e das Certificações Industriais.

eram as constantes reuniões no País e no estrangeiro ao

serviço da IACA. era quanto a mim a sua satisfação plena

não só do enfrentar dos novos desafios como também do

implementar as novas normas e procedimentos vários.

estou certo aliás, que ao longo dos anos de IACA, não

faltarão exemplos e testemunhos, da sua enorme dedicação

e competência profissionais, que mais afirmaram o seu

prestígio quer no País quer em Bruxelas.em súmula e por

último, gostava de reafirmar que as suas características

pessoais e profissionais, fizeram do meu querido Amigo

Fernando Anjos, uma referência como Homem e técnico

que deixa já uma enorme Saudade em todo o Sector de

Alimentação Animal.

José de Mello e Castro

AlImentAção AnImAl FeRnAndo AnJoS

Page 47: Revista Alimentação Animal nº 83

ALIMENTAçãO A n I m A l | 47

Deixou­‑nos,­ O­ FERNANDO!

Quando comecei a privar mais de perto com ele nos já lon‑

gínquos anos de 1979 fazia ele parte de um, ainda pequeno,

grupo de veterinários que se dedicavam à alimentação e

nutrição animal.

tudo aconteceu, nestes anos em que a nossa indústria viveu

euforia e tristezas que nos marcaram, e ajudaram a sedimentar

amizades entre tantos homens de diferentes origens e quereres…

Quando às vezes as coisas se começavam a complicar e todos

buscavam uma saída, o Fernando calmamente e sem grandes

alardes propunha o consenso e seguíamos, mais tranquilos,

em frente!

no trabalho e no divertimento…

em 1981 fomos ao Peru num grupo que representava uma boa

e importante parte da nossa indústria.

Fora de horas, num momento de relaxe a tomar um copo,

criou ‑se uma “confusão”…

Quando as coisas se começaram a complicar, eu que era o

mais novo e o menos experiente, temi pelo sucesso do nosso

regresso (íntegros e sãos) ao hotel …

e quando me preparava para “o pior” o Fernando, sem perder

a calma, diz ‑me: “pega neles que eu já trato do resto”.

e assim nos safámos de boa.

Podem crer.

na IACA, e sempre que eu precisava de uma ajuda para “tentar

perceber” o que quereriam “os sábios da industria europeia …” o

Fernando não faltava com o seu comentário tranquilo e avisado.

do seu saber, outros poderão dizer mais que eu.

Por vicissitudes da vida, só percebi que estava (muito doente)

tardiamente!

Visitei ‑o logo que me deu luz verde para o ver, poi não queria

ser visitado em “desalinho”!

Parecia animado!

de repente, deixou ‑nos!

Sentimos a tUA falta!

desejo ‑te uma viagem tranquila para o lugar dos Homens Bons!

Um abraço

Luís Capitão Valente

É com muita tristeza e emoção que presto a minha homenagem

a um grande Amigo, o dr. Fernando Jardim Anjos, que nos

deixou no passado dia 13 de Fevereiro.

encontrava ‑me em tondela, numa das frequentes e pro‑

longadas estadas que periodicamente faço ao meu torrão

natal, quando manhã cedo recebi um telefonema do engº

Jaime Piçarra para me transmitir o infausto acontecimento.

Vim nesse mesmo dia a lisboa para, pessoalmente, prestar

a minha sentida homenagem a tão ilustre como generoso

Amigo, quer nesse dia quer no seguinte, para depois regres‑

sar à Beira Alta pois compromissos locais determinaram

que não pudesse participar na missa de sufrágio onde fui

representado pela minha Filha.

Conheci o dr. Fernando Anjos há cerca de 37 anos quando

este exercia a sua actividade profissional na CUF (associada

e co ‑fundadora da IACA) na divisão de Produtos para a

Pecuária ‑dPP. A nossa relação intensificou ‑se, nomeadamente

a partir da sua participação na direcção da IACA no mandato

de 1982 ‑1984 em representação de “morgado Rações” e no

de 1991 ‑1993 pela nUtASA (ex dPP da C UF), sendo então

presidentes da IACA os engº Pedro Corrêa de Barros e dr.

Jaime lança de morais, respectivamente.

em representação da IACA foi eleito Vice ‑Presidente da FIPA

no período de 1991 ‑1993.

tive o privilégio de trabalhar e conviver com o dr. Fernando

Anjos quer na sua qualidade de director da IACA durante os

seis anos dos dois mandatos, quer depois como Assessor

técnico da nossa Associação, funções que iniciou em Abril de

1999. A colaboração do dr. F. Anjos estendeu ‑se à nossa revista

AlImentAção AnImAl na redacção de textos no âmbito da

nutrição animal tendo, inclusivé, feito traduções de artigos

da mesma índole redigidos por especialistas estrangeiros,

para além de ser um douto membro do Conselho editorial e

técnico da AA.

Posteriormente à sua actividade como dirigente da nossa

Associação prestou, ainda, relevantes serviços ao organismo

e consequentemente à Indústria na Comissão de Alimentação

Animal (dGV), no Grupo de trabalho InetI ‑IACA /Apoio labo‑

ratorial à Indústria coordenado pela saudosa dra. Armanda

Severo, da Ct 37 – Alimentos para Animais, do Código de Boas

Práticas de Fabrico de Alimentos Compostos e de Pré ‑misturas

tendo sido o coordenador e dinamizador da nova versão deste

código que serviu de base às visitas de estudo efectuadas pela

Comissão de Avaliação eZn ‑IACA às fabricas de alimentos

compostos e de pré ‑misturas.

Participou, ainda, pela IACA em vários grupos de trabalho e

comissões de estudo nomeadamente a nível do ministério da

Agricultura, tendo representado a IACA em comités FeFAC em

cujas reuniões, efectuadas em Bruxelas, teve uma presença

regular, bem como em outras missões de índole técnica efectu‑

adas no País e no estrangeiro, nomeadamente nos congressos

Page 48: Revista Alimentação Animal nº 83

48 | A LIMENTAçãO A n I m A l

da nossa federação europeia e em reuniões e visitas de estudo

aos eUA e outros países.

A sua vincada personalidade, capacidade técnica, eficien‑

cia e dinâmica profissional, eram predicados do Homem

estudioso e ponderado que, aliados ao seu trato pessoal

e à sua contagiante simpatia, grangearam ‑lhe a admiração

e a estima de todos quantos laboram nas indústrias de

alimentos compostos para animais e das pré ‑misturas e na

própria actividade agropecuária.

o desaparecimento precoce do dr. Fernando Anjos deixou ‑nos

mais pobres pois a eficiente e meritória acção que sempre

desenvolveu em prol da Indústria e da IACA não serão fáceis

de colmatar não só pela sua inteligência como pelo espírito

de missão sempre disponível para os projectos/missões que

lhe eram propostos.

Após a minha aposentação e sempre que estou em lisboa

visito regularmente a IACA, onde normalmente encontrava no

seu gabinete de trabalho o dr. Fernando Anjos.

depois do cumprimento habitual punhamos a nossa conversa

em dia abordando temas da Indústria e, também, a situação

do nosso Sporting e as suas vitórias e também insucessos,

alcançados nos torneios de Bridge em que participava. e a

propósito da actividade bridgística era ‑me grato recolher, ainda,

notícias dos muitos amigos que grangeei enquanto dirigente

que fui da Federação da modalidade do bridge de competição.

Para concluir o meu depoimento, onde tentei pôr em relevo os

enormes contributos profissionais, quero também destacar a

competência e a sua nobreza de caracter na superior acção

com que, durante muitos anos, desenvolveu a sua missão. Justo

é referir, ainda, a sua dedicação, companheirismo e sentido de

responsabilidade a todos quantos com ele trabalhavam. As

palavras por mim aqui expressas, sendo verdadeiras e sentidas,

não serão suficientemente expressivas para enaltecer toda a

estatura humana e profissional do dr. Fernando Anjos.

Finalmente deixo aqui reiterado o meu agradecimento pela

amizade, dedicação e solidariedade que sempre me transmitiu

e que ficaram indubitavelmente reproduzidas no testemunho

que escreveu na revista AlImentAção AnImAl nº 62, de

outubro/novembro/dezembro 2007 aquando da homenagem

que a IACA me consagrou ao cessar as minhas funções de

Secretário ‑Geral, bem como pela sua participação no jantar

de homenagem organizado pela Associação em 26/02/2008

em Carcavelos e pela sua presença no almoço de convívio

que promovi em tondela no dia 21 de Fevereiro de 2009, em

que também estiveram presentes outros bons Amigos ligados

à nossa Indústria.

orgulho ‑me do grande Amigo dr. Fernando Anjos, lamento

o seu triste passamento, com a certeza que a sua memória

perdurará infinitamente e estará sempre no nosso espírito.

Até sempre, bom Amigo,

Luís Elso Marques

não posso deixar de recordar o dr Fernando Anjo em primeiro

lugar como um grande Amigo e uma Pessoa com uma dignidade

extraordinaria.

Foi sem duvida alguma um Profissional que me marcou quando

o visitava nas diferentes empresas onde trabalhou.

Recordo as palavras do P. Antonio Viera que diziam “... quando

não Somos, apenas existimos...” .

Sinto um privilégio enorme em o ter conhecido.

Manuel Fialho

tive a sorte de conhecer o dr. Fernando Anjos no meu primeiro

emprego, onde foi meu diretor. Sinto que a ele devo muito do

que hoje sou, não só em termos profissionais mas também

numa certa atitude perante a vida.

Acabada de sair da faculdade, sem nenhuma experiência

profissional, guardo desses tempos as melhores recordações.

A sua postura, a sua seriedade intelectual, mas sobretudo a

sua dimensão humana marcaram ‑me para sempre. Recordo com

particular carinho uma épica viagem a mogadouro (ainda no

tempo pré autoestradas), que me alargou horizontes para outras

realidades, e onde o dr. Anjos se revelou a pessoa extraordinária

com que depois tive o privilégio de conviver ao longo dos anos,

mesmo após a minha vida profissional ter seguido outro rumo,

e que recordarei sempre com enorme saudade.

Mariana Matos

Conheci o dr. FeRnAndo AnJoS no ano de 1978. tive o privilégio

de trabalhar diretamente com ele durante um ano. estava então

eu, a começar a minha atividade profissional no setor. devo ‑lhe

muito do que aprendi, quer profissionalmente, quer como a

postura a ter perante os inúmeros problemas que nos surgem

nesta atividade, ligada à indústria alimentar. Continuámos a ter

um relacionamento profissional, onde falávamos das questões

técnicas ligadas ao setor, nos esclarecimentos que lhe pedia.

Isto até à uns meses atrás.

AlImentAção AnImAl FeRnAndo AnJoS

Page 49: Revista Alimentação Animal nº 83

ALIMENTAçãO A n I m A l | 49

o dr. FeRnAndo AnJoS, foi e continuará a ser uma

referência no que respeita à Indústria da Alimentação

Animal, não só como técnico, mas também como pessoa,

devido aos seus conhecimentos específicos e postura

perante todos e tudo.

Ainda recordo o embaraço que surgia muitas vezes, no fim dos

colóquios , no período das perguntas, e quando elas não surgiam,

lá aparecia sempre as questões postas pelo dr. FeRnAndo

AnJoS, a salvar a situação.

não sei que diga mais, mas muito mais haverá para dizer e

recordar, tenho pena de não conseguir expressar mais do que

um muito obrigado SenHoR dr. FeRnAndo AnJoS.

Nuno Burguette

Infelizmente, não foi surpresa o anúncio da morte do Fernando.

Surpresa havia sido quando recebi a notícia, pelo Jaime, do

stroke que ele havia sofrido no ano passado. eu tinha falado

com ele pouco tempo antes. Conhecia ‑o como uma pessoa

saudável e, como tal, fiquei em choque.

era mais velho que eu, 3 ou 4 anos e havia ‑o conhecido, em

Parede, através de amigos comuns, mas só muito esporadica‑

mente nos encontrávamos. estávamos nos anos 60, numa altura

em que eu, ainda universitário, me preparava para ingressar na

marinha. depois, por várias vicissitudes, só nos voltaríamos a

encontrar já na IACA.

o nosso contacto profissional aconteceu nos finais dos anos

75/76, quando ele estava ligado, penso que à CUF. depois, já

nos 80s, alicerçámos uma amizade que perdurou até ao fim.

Guardo dele essa amizade que sempre me dedicou e que, julgo,

sempre lhe retribui. era um técnico (médico Veterinário) e um

estudioso permanente, que com o arrastar dos anos, acabou

por integrar os quadros da IACA, como que director técnico,

dessa casa. Porque, ao tempo, eu mantinha uma estreita

ligação à Associação, os nossos contactos eram frequentes e

pude, de perto, avaliar as suas elevadas qualidades humanas e

profissionais, já que me assessorou, com elevada competência,

especialmente quando estive na FeFAC.

As suas qualidades estão bem expressas nos muitos comen‑

tários, que ao longo dos 30 e muitos anos que convivemos,

fui ouvindo em diversos fóruns e situações, sobre a forma

minuciosa e competente como preparava as suas intervenções

para as quais, com frequência, era solicitado em Portugal ou

no estrangeiro.

Foi um excelente companheiro, sempre alegre e disponível,

sempre interessado e competente, sempre Amigo e conselheiro.

Paz à sua Alma.

Pedro Corrêa de Barros

o que dizer quando se perde um amigo? talvez muito pouco

ou nada!

limito ‑me a preservar no meu espólio emocional os momentos,

as palavras, os gestos!

Recordar como se fosse hoje, agora, sempre!

Guardar o privilégio dos nossos tempos se terem cruzado!

Pedro Queiróz

Page 50: Revista Alimentação Animal nº 83

50 | A LIMENTAçãO A n I m A l

AlImentAção AnImAl notÍCIAS dAS emPReSAS

A IACA orgulha‑se do facto de mais uma empresa sua associada ter obtido um sistema de Certificação, o que demonstra a vitalidade do Sector e a vontade das empresas em con‑tinuar a investir e a apostar na Qualidade e na Segurança: trata‑se da nossa Associada VA‑Indústria­e­Comércio,­Ldªque foi certificada pela lloyd’s Register Assurance no âmbito das normas ISo 9001:2008 e nP en ISo 9001:2008 para a conceção e produção de pré‑misturas a incorporar em alimentos compostos para animais. esta certificação resulta da parceria estreita com a empresa TECNIPEC­ –­ Serviços­Pecuários,­ SA.

Va EM ParCErIa CoM tecnipec,CErtIFICaDaS CoM a ISo 9001:2008 E NP EN ISo 9001:2008

no passado dia 12 de janeiro de 2013, a Agrolex promoveu um almoço de convívio com todos os seus colaboradores e respetivas famílias, sendo uma oportunidade para a entrega do Prémio Pme líder que já aqui tínhamos divulgado numa anterior edição da Revista “Alimentação Animal”. o prémio foi entregue pelo vice‑Presidente da Câmara municipal do Cartaxo, dr. Bernardo Pereira que realçou o desempenho da empresa, a importância do sector para a economia do concelho e as ações de motivação que a Agrolex tem vindo a realizar junto dos seus colaboradores para que o “Projeto Agrolex” tenha sucesso, num contexto de grandes dificuldades, sem esquecer a vertente externa. o evento contou ainda com a participação do Secretário‑Geral da IACA que teceu algumas considerações sobre a conjuntura do Setor e da atividade pecuária, a inserção da Agrolex nos dados económicos da produção de alimentos compostos para animais, abordando ainda as perspectivas de curto e médio prazo e o que podemos esperar no futuro. A enquadrar a “festa”, teve lugar um espetáculo de Stand Up Comedy, da autoria do comediante Ricardo Vilão, a que se seguiram momentos de karaoke, com a participação de todos.

Parabéns aos Administradores da Agrolex, designadamente aos amigos José manuel maria, margarida Antunes e luís Antunes, e a toda a equipa, pela Festa, pelo Prémio e pelo convite que nos foi endereçado. É sempre com orgulho e um enorme prazer que nos associamos aos momentos marcantes na vida das nossas empresas associadas.

aGrOleXProMoVEalMoÇoCoMColaBoraDorESNaENtrEgaDoPréMIo PME lÍDEr

Page 51: Revista Alimentação Animal nº 83

ALIMENTAçãO A n I m A l | 51

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nos últimos anos, a Sorgal tem vindo a apostar fortemente na área de negócio de Pet Food, sendo hoje o líder em Portugal neste mercado. Apesar do forte contexto recessivo que o País atravessa, a realidade é que este mercado tem demonstrado um dinamismo muito interessante, com várias oportunidades de acrescentar valor e em que a Sorgal está apostada em reforçar a liderança. desta forma, foi tomada a decisão estraté‑gica de reconverter a unidade de produção da lamarosa (torres novas) – atualmente dedicada à área de Alimentos Compostos para bovinos, suínos e aves ‑ numa unidade

de produção de Pet‑Food, que será dotada das melhores tecnologias disponíveis e que terá como mercado alvo prioritário a exportação. Para que tal seja possível, esta unidade fabril será encerrada no dia 1 de Julho do corrente ano e está prevista a abertura no 4ª trimestre de 2013, já como unidade de produção de Pet Food. Assim, a produção de Alimentos Compostos da Sorgal ficará concentrada nas Unidades Industriais de ovar e de oliveira de Frades. esta é uma decisão que assenta na visão estratégica da Sorgal, sendo reconhecida como fazendo parte de um grupo empre‑sarial de referência e excelência no sector

da indústria agro‑alimentar, desenvolvendo as suas atividades suportadas em cinco pilares: foco no cliente, sustentabilidade, inovação, eficiência operacional e gestão de risco. A maior concentração das unidades de produção permitirá aumentar a qualidade dos produtos suportados em soluções integradas e à medida das necessidades de cada um dos seus clientes.A Sorgal está convicta de que esta é a melhor decisão para reforçar a confiança que os seus clientes diariamente depo‑sitam na qualidade dos seus produtos e serviços.

sOrGal aBrE NoVa FáBrICa DE PEt FooD

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52 | A LIMENTAçãO A n I m A l

AlImentAção AnImAl notÍCIAS dAS emPReSAS

A Zoetis, anteriormente unidade de negócio de saúde animal dos laboratórios Pfizer, lda é agora uma empresa multinacional exclusivamente dedicada à saúde animal. Com uma experiência de 60 anos, dispomos de medicamentos e produtos veteri‑nários de qualidade, oferecemos adicionalmente um leque de

serviços complementares aos nossos clientes, incluindo meios diagnósticos e testes de genética. trabalhamos diariamente para conhecer melhor focarmo‑nos nos verdadeiros desafios e dificuldades que aqueles que criam e cuidam dos animais enfrentam

FICha INForMatIVaINStItuCIoNal

Portefólio­ Diversificado­ de­Produtos

Integra cinco categorias importantes de produtos: vacinas, desparasitantes, anti‑infecciosos, pré misturas medicamentosas, e outros produtos veterinários, respeitantes a mais de 300 linhas de produtos destinadas, em primeira linha a oito espécies de animais.

As­ Espécies­ que­ Cuidamos oito espécies principais: Bovinos de leite e de carne, ovinos, suínos, aves, peixes, cães, gatos e cavalos.

Presença­ Local,­ Alcance­ Global Comercializamos os nossos produtos em mais de 120 países, e com presença local em cerca de 70.

Os­ Nossos­ Clientes Produtores, médicos veterinários, engenheiros

Fabrico Gerimos uma rede de 29 fábricas em 11 países produzindo produtos de qualidade e confiança.

Investigação­ &­ Desenvolvimento

Além da nossa sede de I&d em Kalamazoo, michigan, a rede de investigação da Zoetis abrange equipas de I&d em várias estados dos eUA (Califórnia, Iowa, maryland, missouri, nebrasca, nova Jérsia e Carolina do norte), no Canadá, na europa (Bélgica, França e espanha), na Austrália, e nos principais mercados emergentes (Brasil, Índia e China).

Volume­ de­ Negócios­ Anual2011 ‑ $4.2 mil milhões de dólares norte‑americanos (ver Fig. 1)66% do nosso volume de negócio é gerado por produtos para animais de produção e 34% por produtos para animais de companhia

Cotação­ na­ Bolsa nYSe: ZtS

Número­ de­ Colaboradores 9.500+

Sede­ madison, nova Jérsia, estados Unidos

Endereço­ Internet www.Zoetis.com

Fig.­ 1:­ Volume­ de­ negócios­ de­ 2011­ por­ área­ geográfica

estados Unidos (39%)

europa, África, médio oriente

(27%)

Ásia Pacífico (15%)

Canadá, América latina

(19%)

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ALIMENTAçãO A n I m A l | 53ALIMENTAçãO A n I m A l | 53

ALLTECh laNÇa NoVa gEraÇÃoDEaDSorVENtEDEMICotoxINaS,o MyCoSorB a+A Alltech levou a cabo na passada quinta‑feira, dia 21 de Fevereiro, no Campo Real Hotel, um encontro técnico dedicado à problemática das micotoxinas, que reuniu mais de 50 profissionais do setor. Com o tema “Inovação­ na­ Identificação­ e­ Con‑trolo­ de­ Micotoxinas”, a reunião teve como objetivo desafiar os participantes a considerarem ideias inovadoras que irão revolucionar a forma como responderemos a este desafio tecnológico e de gestão, que efetivamente irão restringir e reduzir os inevitáveis e imprevisíveis desafios das micotoxinas.É importante o uso de uma abordagem holística para gerir corretamente o problema das mico‑toxinas, dando aos produtores um diagnóstico preciso segundo o nível de contaminação nos alimentos e oferecer uma estratégia à medida para anular os seus efeitos nocivos.durante o encontro, os palestrantes destacaram a importância da gestão de micotoxinas na elaboração e distribuição de rações e alimentos.

• engº Pedro Caramona, membro da european mycotoxin management da Alltech, apontou que o verdadeiro nível de contaminação nos alimentos e forragens por micotoxinas na europa e a subestimação generalizada do problema é resultado das limitações das técnicas de diagnóstico.

o Programa 37+ da Alltech foi criado para facilitar a interpretação analítica de mico‑toxinas. Utilizando UPlC mS/mS como método analítico para a deteção de mais de 37 micotoxinas, incluindo as micotoxinas produzidas pelo fungo Penicillium, este programa ajuda a adaptar as estratégias de redução do impacto das micotoxinas no rendimento do animal. também foi fundamental para o desenvolvimento do mycosorb A+, o adsorvente de mais largo espectro do mercado.

engº Pedro Caramona falou ainda sobre a importância da utilização de estratégias de gestão de risco, como o Programa mIKo da Alltech. Baseado nos principios de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo (HACCP), o Programa mIKo está desenhado para identificar os riscos de micotoxinas numa exploração ou fábrica de rações e criar um plano para minimizar os riscos para o animal e, consequentemente, para os consumidores.

• dr. Antonio Gonzalez, Alltech espanha, destacou a dimensão do problema das micotoxicoses a nível da exploração, como é difícil de diagnosticar e as ferramentas que estão à nossa disposição para ajudar a minimizar os fatores de risco.

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alimentaÇÃO animalRevista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACAnIPC ‑ 500835411

trimestral - anO XXiV nº 83Janeiro / Fevereiro / março

DiretOrCristina de Sousa

cOnselHO eDitOrial e tÉcnicOAna Cristina monteiroGermano marques da SilvaJaime PiçarraPedro Folquemanuel Chaveiro Soares

cOOrDenaÇÃOJaime PiçarraAmália SilvaServiços da IACA

aDministraÇÃO, seDe De reDaÇÃO e pUBliciDaDe(incluindo receção de publicidade, assinaturas, textos e fotos)Amália SilvaIACA ‑ Av. 5 de outubro, 21 ‑ 2º e 1050 ‑047 lISBoAtel. 21 351 17 70telefax 21 353 03 87

[email protected]

sitewww.iaca.pt

eDitOrAssociação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA

eXecUÇÃO GrÁFicaSersilito ‑ empresa Gráfica, lda.travessa Sá e melo, 209 4471 ‑909 Gueifães ‑ maia

prOprietÁriOAssociação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais ‑ IACAAv. 5 de outubro, 21 ‑ 2º e1050 ‑047 lisboa

DepÓsitO leGalnº 26599/89

reGistOnº 113 810 no ICS

Imagens: Photoxpress©

FICha téCNICa

agENDa DErEuNIõES Da IACA

TOTAL NUTRITIONFEEDING ANIMALS FOR HEALTH AND GROWTH

Kemin AgriFoodsCampo Grande, 35 8D, 1700-087 Lisboa, Portugal

tel:+351.214.157.500 fax: +351.214.142.172

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© 2011 Kemin Industries, Inc. and it group of companies 2011 All rights reserved. ® ™Trademark Registered by Kemin Industries, Inc. USA

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Data JaneirO 2013

9 Comissão executiva

11 Plataforma “Peço Português”

12 entrega do Prémio Pme lider á associada AGRoleX

16

Plataforma “Peço Português”(Reunião preparatória do evento na Presidência da República)

Plataforma “Peço Português”  (Reunião com a Comunicação Social na Presidência da República)

18 Plataforma “Peço Português”

Comissão Consultiva dos Cereais e Arroz

22 a 24ComAGRI Parlamento europeu (Aprovação do Relatório sobre a Reforma da PAC)

28Grupo Consultivo sobre “Aspetos Internacionais da Agricultura – Acordos Comerciais”

29 Comissão executiva

30 Reunião da direção

30 e 31 IX Congresso nacional do milho

Data FeVereirO 2013

5 Plataforma “nutrição e Alimentação Animal”

13 Colégio dos dG em dublin com presidência da Irlanda

20 Comissão executiva

27 Ct 37

Data marÇO 2013

5 direção

6 Comité “Alimentos Compostos da FeFAC”

7 e 8 Preasidium

13Audiência da Plataforma “Peço Português” com Sec. estado da Alimentação

15Grupo Consultivo dos Cereais da Comissão europeia em representação da FeFAC

15 e 16 VII Jornadas Internacionais de Suinicultura

19 a 21 FImA GAnAdeRA

21 Comissão executiva

27Audiência da Plataforma “Peço Português” com Sec. estado da Agricultura

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