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Abastecer Brasil BELEZA E LUCRO PRODUÇÃO BRASILEIRA DE FLORES CRESCE MAIS DE 10% AO ANO E ATRAI CONSUMIDORES ENVELOPAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Impresso Especial 9912239796/2009/DR/MG Abracen //// CORREIOS//// TENDÊNCIAS CEASAS DEVEM ADAPTAR-SE AOS NOVOS ESTILOS DE VIDA E PADRÕES DE CONSUMO TRANSPORTES INTEGRAR A PRODUÇÃO E A DISTRIBUIÇÃO PARA AUMENTAR A COMPETITIVIDADE DO PRODUTO NACIONAL Dezembro 2013 I n o 13 I www.abracen.org.br I DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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  • AbastecerBrasil

    BELEZA E LUCROPRODUO BRASILEIRA DE FLORES CRESCE MAIS DE 10% AO ANO E ATRAI CONSUMIDORES

    ENVELOPAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECT

    ImpressoEspecial

    9912239796/2009/DR/MGAbracen

    //// CORREIOS////

    TENDNCIASCEASAS DEVEM ADAPTAR-SE

    AOS NOVOS ESTILOS DE VIDA E PADRES DE CONSUMO

    TRANSPORTESINTEGRAR A PRODUO E A DISTRIBUIO PARA AUMENTAR A COMPETITIVIDADE DO PRODUTO NACIONAL

    Dezembro 2013 I no 13 I www.abracen.org.br I DISTRIBUIO GRATUITA

  • Presidente / Mario Maurici de Lima Morais [ceagesp-sp] 1 Vice-presidente / Antonio Reginaldo Costa Moreira [ceasa-ce]

    2 Vice-presidente / Romero Fittipaldi Pontual [ceasa-pe] 3 vice-presidente / Luiz Damaso Gusi [ceasa-pr]

    Diretor Norte / Paulo Srgio Braa Muniz [ceasa-ac] Vice-diretor Norte / Marco Antnio Soares Rapozo [ceasa-pa]

    Diretor Nordeste / Jos Tavares Sobrinho [ceasa-pb] Vice-diretor Nordeste / Marco Aurlio Cas [ceasa de caruaru-pe]

    Diretor Sul / Paulino Olivo Donatti [ceasa-rs] Vice-diretor Sul / Felcio Francisco Silveira [ceasa-sc]

    Diretor Sudeste / Leonardo Penna de Lima Brando [ceasa-rj] Vice-diretor Sudeste / Jos Paulo Viosi [ceasa-es]

    Diretor Centro-Oeste / Wilder da Silva Santos [ceasa-df] Vice-diretor Centro-Oeste / Edvaldo Crispim da Silva [ceasa-go]

    Secretrio Executivo / Jos Amaro Guimares Moreira

    Vice-presidente FLAMA / Antonio Costa Moreira [ceasa-ce]

    CONSELhO FiSCAL TiTuLAr Vincius Petrnio Ferraz [ferbraz]

    Hlio Tomaz Rocha [craisa ceasa santo andr] Mario Dino Gadioli [ceasa de campinas]

    CONSELhO FiSCAL SuPLENTE Marcos Lima [ceasa-mg]

    Rodrigo Soares Gaia [ceasa-al] Francisco Estrela Abrantes [ceasa maranho co-hortifrti]

    COOrDENAO EDiTOriAL Eduardo Luiz Correia

    JOrNALiSTASCarlos Dusse, Eduardo Ritschel, Eduardo Luiz Correia, Glria Varela,

    Incio Shibata, Luciano Somenzari, Matheus Feitoza

    ABrACENSGAS, Quadra 901, Bloco A, Lote 69 Ed. CONAB Sala 101 B Cep 70390-010

    Telefone 61 3312-6237 www.abracen.org.br responsvel: Jusmar Chaves

    PuBLiCiDADE: Dnventar Comunicao e Marketing - (31) 9181-1711

    WuWM World union of Wholesale Markets: wuwm.org

    Flama Federacin Latinoamericana de mercados de Abastecimento

    Direo Executiva: Flvia SoledadeEdio: Glria Varela - Mtb 2111

    reviso: Ftima LoppiEdio Grfica: Cludia Barcellos / Grupo de Design Grfico

    Foto capa: Rodrigo VillalbaPeriodicidade: Trimestral

    Fotolito impresso: rd GrficaDistribuio: nacional

    Tiragem: 15.000 unidades

    ATENDiMENTO AO LEiTOr: [email protected]

    A revista Abastecer Brasil no se responsabiliza pelo contedo dos anncios e artigos assinados. As pessoas que no constam do expediente no tm autorizao para falar em nome da revista Abastecer Brasil ou de retirar qualquer tipo de material se

    no tiverem em seu poder autorizao formal da direo-executiva constante do expediente.

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 5

    com muita satisfao que apresentamos mais uma edio da Abastecer Brasil, a n 13. Na pers-pectiva de divulgar boas prticas, experincias bem sucedidas e apresentar uma base de subsdios para discutirmos pontos fundamentais para nossa misso, a revista vem com uma srie de reportagens e artigos que do uma ideia da complexidade que levar alimentos in natura de qualidade e com segurana para a popula-o do Brasil. Para tanto, a questo da modernizao, em seu mais amplo sentido, transversal ao longo dos textos. Ela est presente na entrevista sobre o novo en-treposto de Londres, na Inglaterra, o New Spitalfields Market, que, como aqui no Brasil, tambm sofre com a grande concorrncia dos grandes supermercados, como ainda na panormica matria da CEASA de Campinas ou na de Minas Gerais.

    O tema da modernizao est ainda na continuida-de da abordagem do Plano Nacional de Abastecimento e na do projeto de lei 174, os quais, respectivamente, tratam do estabelecimento de mecanismos de atualiza-o e melhorias para o setor e o desenvolvimento de um padro regulamentar para as centrais de abastecimen-to. Assuntos cada vez mais relevantes levando-se em considerao o alerta de Paulo Protasio, da Sociedade Nacional de Agricultura, que aponta a discrepncia en-tre a curva estatstica da produo de alimentos e a de logstica de seu escoamento para chegar com qualidade e segurana mesa do cidado brasileiro.

    E tambm h vrios aspectos a serem comemorados no abastecimento. Caso do mercado brasileiro de flores, com o expressivo crescimento entre 10 a 15% ao ano, re-gistrado na ltima dcada. Graas, entre outros fatores, ao aumento do poder aquisitivo da populao, a comer-cializao de flores e plantas deixou de ser um luxo para poucos nas palavras de Kees Schoenmaker, presidente do Ibraflor Instituto Brasileiro de Floricultura.

    Outro caso de sucesso abordado nesta edio o da produo de frutas brasileiras, uma das principais do mundo, e, por outro lado, tambm como se d o processo de importao, cujo crescimento neste ano, em relao ao ano passado, dever ultrapassar a marca dos 26%.

    Registre-se ainda a participao da delegao bra-sileira no mais recente encontro da WUWM World Union of Wholesale Markets, em Santiago, no Chile. Com a delegao capitaneada pela Abracen, o Brasil esteve representado por 12 centrais de abastecimento de nove estados. Temas fundamentais foram discutidos como rastreabilidade dos alimentos, boas prticas de gerenciamento e monitoramento de mercados, entre outros.

    E com esse mesmo esprito que faremos a prxi-ma reunio da Abracen, em Campinas (SP), no incio de dezembro, cujo tema principal de discusso ser a elaborao de um manual de boas prticas nas centrais de abastecimento.

    Boa leitura. Mrio Maurici de Lima Morais Presidente da CEAGESP e da Abracen

    MODERNIZAO e segurana

    A complexidAde que levAr Alimentos in natura

    de quAlidAde populAo.

  • 6 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    Dinamismo nas comunicaescom os recursos da tecnologia, falar com a Abracen

    est mais fcil e mais rpido. de cara nova, o site www.abracen.com.br abre espa-

    o para as principais notcias das ceasas de todo o pas. A navegao est mais simples e dinmica. l pode ser acessada, tambm, a verso digital da revista Abastecer Brasil, inclusive de edies anteriores.

    no facebook, a fan page, (www.facebook.com/abracen) lanada recentemente, j conta com quase 400 seguidores. o contedo atualizado diariamente tudo sobre os eventos da instituio e outras atividades de interesse do setor hortifrutigranjeiro.

    informao rpida e direta. A Abracen chegou tam-bm ao twitter para estreitar a relao com as centrais de Abastecimento e com o consumidor. siga @abracenweb.

    Alm do endereo [email protected], o pblico tem agora mais um canal de comu-nicao. quer sugerir uma reportagem ou um artigo para a Abastecer Brasil? escreva para [email protected]. sua crtica, seu comentrio, sua sugesto, so muito bem-vindos.

    comunicao

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 7

  • 8 Abastecer Brasil Dezembro 2013

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 9

    SUMRIOentrevistasAdoniram Sanchez o direito fundamental de no sentir fome 0

    Nigel Shepherd A modernidade do entreposto de londres 0

    matriasTransportes qual o melhor caminho para a produo

    brasileira? 0

    Marco legal plano nacional de Abastecimento e pl 174 buscam melhorias para o setor 0

    Tendncias ceAsAs devem adaptar-se para no perder espao no mercado atacadista 0

    Capa mercado de flores no Brasil cresce de 10 a 15% por ano 0

    Embalagens centrais buscam mecanismos de padronizao 40

    Ceasa Destaque campinas investe em tecnologia 0

    Desembarao alfandegrio o desafio de atuar com importao e exportao de frutas 0

    Tcnicos Experientes Henrique dourado, experincia a servio da modernizao 0

    Mercados atacadistas Brasileiros no congresso da WuWn 0

    Painel Abracen moderniza canais de comunicao 0

    Histria ceagesp do mercado da cantareira para a vila leopoldina 0

    artigosAltivo Almeida Cunha ceAsAs e circuitos curtos 0

    Gerson Madruga da Silva Flv mais sade para a populao 0

    EMBALAGENS

    CEASA DESTAQuE

    DESEMBArAO ALFANDEGriO

    MErCADOS ATACADiSTAS

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  • 10 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    entrevista

    entre os valores defendidos pela Associao Brasilei-ra de centrais de Abastecimento (Abracen) e por suas filiadas est o fomento segurana alimentar e nutricional. o assunto est ligado tambm misso da instituio, de colocar no mercado alimentos de boa qua-lidade e incentivar atividades para o desenvolvimento de uma poltica nacional de Abastecimento. o compromisso com a responsabilidade social e ambiental levou a Abra-cen a adotar em seu planejamento estratgico diretrizes de sustentabilidade, que so concretizadas por meio de programas sociais em funcionamento nos diversos en-trepostos brasileiros. dentre eles, destaca-se o Banco de Alimentos, que garante o acesso de milhares de brasileiros alimentao, por meio de doaes de produtores e per-missionrios das ceasas.

    Atenta ao debate sobre o tema, a Abastecer Brasil en-trevistou Adoniram sanches peraci oficial de polticas para Amrica latina e caribe da organizao das naes unidas para a Alimentao e Agricultura (FAo). Agrno-mo, Adoniram exerceu o cargo de secretrio nacional da Agricultura Familiar, do ministrio do desenvolvimento Agrrio Brasil, de 2006 a 2010.

    A Cpula Mundial de Alimentao, organizada pela FAO, publicou a Declarao de Roma, em novem-bro de 1996. O documento foi assinado por 126 pases-membros, que se comprometeram a reduzir metade

    O DIREITO fUNDAMENTALde no sofrer fome

    o nmero de pessoas atingidas pela fome, at 2015. Na poca, 1/6 da populao mundial sofria o flagelo da fome. Desde ento, o que foi feito para atingir esse objetivo? Qual o quadro atual?

    Houve avanos significativos na reduo do contin-gente de pessoas que passam fome. em nvel mundial, o nmero foi reduzido para 1/8 da populao apro-ximadamente 628 milhes de pessoas. especificamente na Amrica latina e no caribe, avanou-se mais ainda: 1/12 cerca de 47 milhes de pessoas. porm, em pleno sculo 21 e com tantas facilidades tecnolgicas, o nmero aceitvel sempre ser zero.

    interessante entender o motivo pelo qual alguns pases impulsionaram a meta de reduo pela metade, mesmo antes de 2015, mostrando um vigoroso sistema que vincula os saldos positivos do crescimento econmi-co com um sistema de polticas socioeconmicas, como a melhoria do salrio mnimo (e todos os benef cios que isso acarreta frias remuneradas, sistema de acesso sade, capacitao etc.); criao e fortalecimento dos sistemas de transferncia condicionada, poltica que no Brasil chamamos de Bolsa Famlia, adotada tam-bm em outros 18 pases na regio; fortalecimento dos programas nacionais de alimentao escolar; criao de polticas especficas de apoio agricultura familiar, entre outras.

    ou seja, os pases fazem comparaes entre suas polticas e reproduzem as experincias bem-sucedidas.

    10 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    Vinculao da agricultura familiar com programas de alimentao escolar considerada uma poltica verstil e dinmica

    por GlriA vArelA

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 11

    isso nos traz a esperana de que encontramos alguns caminhos de sucesso e de que poderemos erradicar a pobreza nessa nossa gerao, ou chegar muito prximo disso, em 2025.

    outro aspecto importante que a fome se caracteriza como um problema de acesso aos alimentos pela popu-lao mais pobre, j que o mundo produz alimentos para todos. estima-se que a populao mundial siga crescendo at 2050 e, com o padro de tecnologia atual, podemos afirmar que a produtividade agrcola, principalmente nos pases em desenvolvimento, tem muito a aumentar. o mesmo dever acontecer com o perfil da agricultura familiar mundial que, por muitas dcadas, foi esquecida pelas polticas pblicas e agora entra nas estratgias de segurana alimentar, pela sua imensa vocao para a produo de alimentos.

    A fome um problema que tende a persistir, ou mesmo aumentar, devido ao crescimento da populao. Ao mesmo tempo, necessrio encontrar solues para a presso exercida pela produo de alimentos sobre os recursos naturais. Como conciliar esses interesses?

    os nmeros mostram que a fome est reduzindo, mas poder persistir em pases com elevado grau de instabi-lidade poltica e econmica. os pases que estabilizaram minimamente suas democracias tratam do tema fome como um problema tico da humanidade.

    de fato, necessrio aumentar a produo de alimen-

    tos, porm, sem comprometer os recursos naturais, a gua principalmente. o que est acontecendo o aumento da produtividade, sem a necessidade de aumentar a rea plantada.

    A Alimentao Escolar um dos seis programas mantidos pelo acordo de Cooperao Internacional Brasil FAO e governos de pases da Amrica Latina e Caribe, no mbito da luta contra a fome e a pobre-za. Por esse programa, a compra e a distribuio de alimentos a estudantes de diferentes nveis de ensino e idades tm uma relao estreita com a agricultura familiar. Quais os benef cios dessa vinculao?

    essa uma das polticas mais versteis e dinmicas que enfrenta a dupla carga da m nutrio: a fome e a obesidade. com essa poltica, faz-se a distribuio de alimentos para crianas pobres, que muitas vezes tm nesses produtos a nica fonte de alimentao. em con-traposio, a ao possibilita a educao de crianas que esto com sobrepeso ou obesas, por meio da formao de hbitos alimentares saudveis. pases que superam a fome entram em outro problema, a obesidade. isso se deve ao estilo de vida atual, no qual as pessoas esto, cada vez mais, comendo alimentos processados com elevada quantidade de acares, sais e gorduras.

    A escola, por meio da alimentao, permite discutir esse problema e suas causas, formando crianas com nova cultura alimentar, o que acaba tendo reflexos tambm

    Dezembro 2013 Abastecer Brasil 11

    A AGriculturA FAmiliAr, esquecidA

    pelAs polticAs pBlicAs durAnte

    dcAdAs, entrA AGorA nAs estrAtGiAs de

    seGurAnA AlimentAr, pelA suA vocAo pArA

    A produo de Alimentos.

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  • 12 Abastecer Brasil Dezembro 201312 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    nos hbitos alimentares de sua famlia. outro aspecto importante para o qual a organizao mundial de sade (oms) tem chamado a ateno que o vnculo positivo das compras pblicas da agricultura familiar com os pro-gramas de alimentao escolar oferece a possibilidade de fugir da padronizao cada vez maior de alimentos pro-cessados que inundam o mundo. ou seja, uma maneira de resgatar a diversidade de alimentos tpicos, que so extremamente importantes tanto nos aspectos nutritivos quanto nos culturais. temos visto em escolas dos pases da bacia Amaznica, por exemplo, a substituio de bo-lachas, doces e refrigerantes por sucos de frutas tropicais, peixes e outros alimentos regionais.

    Os agricultores familiares, de modo geral, no tm

    know how de distribuio de seus produtos. Qual deve ser o papel das Centrais de Abastecimento para aten-der s demandas de comercializao da agricultura familiar, tendo em vista o compromisso das Ceasas de colocar no mercado alimentos de boa qualidade?

    de maneira impressionante as centrais de Abaste-cimento tm se reproduzido ao longo do tempo, se mo-dernizado e sido extremamente importantes para essa discusso de circuitos curtos de produo de alimentos e na definio de polticas de segurana alimentar e nutricional dos municpios mdios e grandes. Acredito que essas centrais ganharo muito mais protagonismo, pois estima-se a tendncia de estabilizao da populao entre 70% e 80%, em 2025. A FAo tem chamado muito a ateno para as estratgias de segurana alimentar com foco nos produtos regionais e frescos. As centrais constituem o elo necessrio e imprescindvel entre os agricultores familiares e a populao urbana, com a grande vantagem de que aplicam o conceito de demo-cratizao do mercado, enfrentando um outro problema, o de concentrao do varejo.

    ressalto que todos esses argumentos foram enten-didos pelos pases que aprovaram o ano de 2014 como o Ano internacional da Agricultura Familiar, no qual o tema da distribuio de alimentos ser abordado em diversos fruns.

    As grandes cadeias de distribuio vinculadas iniciativa privada tm atuao destacada no mercado de alimentos, principalmente nas cidades de mdio e grande porte. A FAO reafirma o direito de todos terem acesso a um alimento seguro e nutritivo e reconhece como fundamental o direito de no sofrer fome. Como agregar os grandes canais de distribuio ao esforo dos

    governos dos pases latino-americanos por esse direito fundamental?

    depois da crise de 2007 e 2008 nos preos dos alimen-tos e sua continuidade pela volatilidade dos preos dos mesmos produtos para a prxima dcada, os governos deram mais ateno s estratgias de segurana alimentar, sobretudo aos importadores de alimentos, repensando as estratgias de circuitos curtos e diversos mecanismos de distribuio, associando e combinando os mecanismos pblico e privado. H um consenso sobre a importncia dessa combinao de mecanismos, pois o direito Hu-mano Alimentao na Amrica latina e caribe ca-racterizado cada vez mais como um problema de acesso, pois a regio exportadora de alimentos e as pessoas em situao de vulnerabilidade alimentar no tm acesso aos alimentos por falta de renda.

    o caso brasileiro um bom exemplo. o programa Bol-sa Famlia garante a execuo desse direito, entregando s mulheres os recursos para a compra de alimentos. e, alm disso, h uma imensa e complexa rede de associaes e cooperativas de agricultores, ceasas, varejistas, feiras, supermercados, entre outros, que facilitam esse acesso.

    importante ter em mente que o pas que no possui uma boa estratgia de segurana alimentar ir cada vez mais enfrentar obstculos diversos, inclusive o problema inflacionrio na economia.

    Qual o impacto de uma poltica de reduo de desperdcio, implantada no sistema de abastecimento, no combate fome?

    essa outra inovao dos mecanismos pblico e privado e por meio dos quais as centrais de Abasteci-mento ajudam bastante, j que os nmeros de alimentos desperdiados desde a produo at o consumo, passando pelo processamento, so escandalosos em todo o mundo.

    este ano a FAo publicou um estudo em que mostra o volume global de desperdcio de alimentos estimado em 1,6 bilho de toneladas no equivalente de produtos primrios. o desperdcio total de alimentos para a parte comestvel desse volume de 1,3 bilho de toneladas. esse desperdcio provoca no apenas grandes perdas econ-micas, como tambm graves danos aos recursos naturais, dos quais a humanidade depende para se alimentar.

    com uma diferena interessante entre os pases ricos e pobres, os pases em desenvolvimento sofrem mais perdas de alimentos durante a fase de produo agrcola, enquan-to nas regies de renda mdia e alta, o lixo tende a ser maior no mbito do comrcio varejista e no consumo.

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 13

  • 14 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    transportes

    QuaL o MELHOR CAMINHO Para a PRODUO BRASILEIRA?

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  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 15

    Gerenciar um pas com uma extenso continental e com peculiaridades geogrficas e culturais um desafio para qualquer gestor pblico. distribuir bem as verbas de infraestrutura, fiscalizar a utilizao dos recursos e garantir um bom funcionamento das es-truturas estatais nem sempre so tarefas fceis. e quando o assunto o transporte de cargas, o desafio ainda maior. no Brasil, por essas vias que trafegam as riquezas do pas os produtos que geraro recursos para a economia nacional.

    Aumentar continuamente a ca-pacidade de levar os produtos das propriedades rurais at a mesa do consumidor fundamental para incrementar a participao do Brasil na economia global. em tempos de fortalecimento dos mercados emer-gentes, como o caso dos Brics, grupo do qual o Brasil faz parte, a necessidade de implantao de uma infraestrutura adequada torna-se ainda mais evidente para a garantia de um futuro promissor.

    o caso do Brasil bem peculiar. A concentrao dos portos nas regies sul e sudeste um dos entraves no processo de escoamento da produ-o nacional. Alm disso, o fato de o desenvolvimento estar concentrado nas regies em torno das capitais dos estados e a negligncia com os polos agrcolas do interior do pas acentuam ainda mais o problema, principalmente por conta do aumen-to da produo e do crescimento da economia brasileira.

    em 2013, o Governo Federal realizou leiles para transferncia de trechos de rodovias federais inicia-tiva privada. o objetivo diminuir os gargalos do escoamento da produo.

    em setembro deste ano, foi leiloado um trecho da Br-050, que liga o esta-do de Gois ao tringulo mineiro. J o trecho da Br-262, que faz a ligao entre o esprito santo e minas Gerais, tambm ofertado em leilo, no rece-beu nenhum lance.

    Apesar de ser um passo impor-tante na busca por melhorias no setor de transporte, muitos outros ainda precisam ser dados. Apenas os atrasos na finalizao da ferrovia norte-sul geram prejuzos anuais de 12 bilhes de reais ao pas, segundo estudo da prpria valec, empresa responsvel pela obra dessa estrada.

    o diretor da sociedade nacional de Agricultura, paulo protasio autor de um estudo sobre a situao atual e as perspectivas da infraestrutura de transporte e logstica no pas. se-gundo ele, existe um paradoxo entre a curva de crescimento da produo agrcola brasileira e a de logstica para o seu escoamento. enquanto a primeira cresce, a segunda decresce. para protasio, a acentuada deficincia na estrutura de transporte e armaze-namento dos produtos encarece os custos logsticos e afeta, diretamente, a competitividade do produto agrco-la brasileiro.

    O ESTADO SE MOVIMENTA

    no interior das propriedades rurais de todo o pas, os produtores contam com uma srie de recursos para o incentivo da produo. em 2013, o Governo Federal lanou o plano nacional de Armazenagem para a construo de equipamentos de estocagem da produo. o aporte de 25 bilhes de reais. A esse plano somam-se outros estmulos produ-o como, por exemplo, subsdios em

    sementes e financiamentos agrcolas. no entanto, para muitos desses pro-dutores, o problema comea quando o produto ultrapassa a porteira da fazenda para seguir rumo aos con-sumidores.

    vitorino caliman um pequeno produtor rural de planaltina, regio administrativa do distrito Federal. ele reclama da manuteno das rodo-vias do centro-oeste brasileiro. um grande problema que enfrentamos a falta de acostamento nas estradas. muita coisa j melhorou, mas pre-ciso muito mais para a gente chegar com o produto nas cidades, afirma caliman.

    com a inteno de tratar a logs-tica de escoamento da produo de maneira estruturante, o ministrio dos transportes, em parceria com o ministrio da defesa, iniciou, em 2006, o plano nacional de logstica e transporte (pnlt), com o objetivo de analisar de forma continuada a infraestrutura de transporte brasi-leiro. o pnlt prope a modificao da malha viria brasileira, de forma que o pas seja menos dependente do sistema rodovirio nacional.

    de acordo com as projees do pnlt, em 2025 a dependncia da matriz brasileira de transporte em relao s rodovias ser de 30%. Atu-almente, 58% de toda a produo bra-sileira escoada por essas estradas. J o transporte ferrovirio crescer 10%, passando de 25% para 35% da matriz. o crescimento da malha aquaviria ser ainda maior, saltando de 13 para 29%. por fim, o transporte dutovirio passar de 3,6% para 5% e o areo, de 0,4% para 1%.

    outro fator a ser considerado e que, medida que o tempo passa, alm dos velhos problemas do setor

    atualmente, 58% de toda a produo brasileira escoada por rodovias. reduzir essa dependncia para 30%, at 2025, um dos objetivos do

    Plano nacional de Logstica e transporte

    por mAtHeus FeitozA

  • 16 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    de transporte, surgem outros novos. A intensificao do trnsito nas gran-des cidades um deles. A dificuldade para a entrega de produtos na capital federal o maior entrave vivenciado pelo produtor de hortalias Willian Florencio. distribuidor de produtos na ceasa de Braslia, ele conta que o nmero de entregas foi reduzido com o passar dos anos, em decorrncia do trnsito intenso que j existe nas rodovias e nas cidades do distrito Federal. Antigamente a gente fazia cinco ou seis entregas em um s dia. Hoje, no conseguimos fazer, em Braslia, mais de trs, conta.

    no mesmo rol do lanamento do pnlt, o Governo Federal criou a empresa de planejamento e logstica (epl), responsvel por ser a ponte entre o governo e a iniciativa privada nesta nova fase de fortalecimento do setor de transporte nacional. a epl a responsvel pelas concesses das estradas federais para obras de me-lhoria e posterior explorao dessas vias pela iniciativa privada. Alm dis-so, a epl realiza estudos frequentes sobre a logstica nacional e prope melhorias para o setor.

    mas o desafio grande. Alm de ter uma extenso continental, o Brasil possui um padro complexo de deslocamento e exige uma estrutura de integrao logstica para escoar a produo de maneira efetiva. de acordo com paulo protasio, para o de-senvolvimento da malha viria no ser suficiente apenas a promessa de recursos ou a abertura para o setor privado, mas a adoo e incorpo-rao de novos valores que possam atrair um grande volume de capital e iniciativas.

    NOVAS PROPOSTAS PARA O SETOR: A INTEGRAO COMPETITIVA

    As pesquisas para o melhora-mento do setor virio brasileiro convergem para uma concluso: o Brasil necessita de mecanismos de in-

    tegrao dos sistemas de transportes, apoiados na intermodalidade. e essa integrao precisa levar em conta os critrios microeconmicos dos locais onde a empresa est inserida, eviden-ciando ainda mais a importncia do planejamento no setor.

    A interligao dos vrios modais se daria nos centros de integrao logstica (cil), que serviriam como pontos de inteligncia na distribuio dos produtos, o que proporcionaria ganhos de competitividade ao pro-duto nacional. paulo protasio aponta a importncia do investimento em capacitao profissional para aqueles que iro atuar neste novo cenrio: desde que iniciou-se a corrida da globalizao, atividades de logstica empregam cada vez mais pessoas. o sucesso do transporte e das ope-raes logsticas depende, decidida-mente, da qualidade e da qualificao de seus funcionrios.

    uma vez identificados os locais onde sero instalados os cils, os recursos oramentrios de fomento produtivo municipais, estaduais e fe-

    derais podem ser aplicados de manei-ra mais inteligente e efetiva em deter-minadas regies, descentralizando os polos nacionais de desenvolvimento. Alm disso, entidades estatais como o ministrio dos transportes e a epl devero ter um papel fundamental na regulao desses centros.

    protasio destaca, ainda, o papel das ceasas neste novo desenho logstico nacional: As centrais de abastecimento representam verda-deiras plataformas de integrao competitiva para o dia de amanh, com influncia direta no futuro do desenvolvimento agrrio regional, desde que migrem para esse novo tempo. o novo tempo de que prota-sio fala um perodo menos focado nos modelos clssicos e f sicos de transporte, voltado mais para al-ternativas inteligentes e integradas de escoamento da produo. A integrao dos setores produtivos e de distribuio a chave para evitar o anunciado colapso no transporte brasileiro e para o aumento da com-petitividade do produto nacional.

    Alm de ter umA extenso continentAl, o BrAsil possui um pAdro complexo de

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    escoAr A produo de mAneirA eFetivA. Paulo Protasio

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    marco legal

    As centrais de Abastecimento representam um polo agregador de comrcio e tambm de atra-o de produtores rurais. por esses ambientes, circula grande parte da produo nacional, no trajeto entre o campo e a mesa do brasileiro. mais de 18 milhes de toneladas de produtos so comercializados dentro das centrais, o que representa um aporte significativo nas economias locais.

    Apesar da importncia dessas estruturas no mbito local e na gerao de renda dos brasileiros, as centrais de Abastecimento ainda carecem de mecanismos de integra-o nacional para que se fortaleam e possam trabalhar conjuntamente na distribuio dos produtos alimentcios em todo o territrio nacional. Alm disso, so escassos os incentivos para a criao e a disseminao de novos cen-tros de distribuio em todo o pas, o que impulsionaria ainda mais as economias locais.

    Atualmente, dois projetos buscam estabelecer meca-nismos de atualizao e melhorias para o setor de abaste-cimento no Brasil. um deles est sendo discutido dentro do ministrio da Agricultura, pecuria e Abastecimento (mapa). o outro, no congresso nacional.

    o primeiro o plano nacional de Abastecimento (pnA), que analisa propostas para um novo modelo de abastecimento para o pas, em diversos setores, entre eles o de alimentao. o segundo o projeto de lei 174, que pretende desenvolver um padro regulamentar para as centrais de Abastecimento brasileiras.

    forTaLeCer as CENTRAIS DE ABASTECIMENTO

    em Todo o Pas, eIs a QuesTo

    O Plano Nacional de Abastecimento e o PL 174 buscam mecanismos de atualizao e melhorias para o setor

    por mAtHeus FeitozA

    POLTICA DE ABASTECIMENTO

    o Governo Federal, com o intuito de instituir uma poltica de estado para solucionar os gargalos do abaste-cimento no Brasil, tomou a iniciativa de propor o debate de um plano nacional para o setor. surgiu, ento, o plano nacional de Abastecimento. para subsidiar a discusso, o governo convidou diversas entidades ligadas a cada um dos setores envolvidos para apresentar propostas con-cretas para o pnA.

    no captulo referente alimentao, foram convida-dos tcnicos das centrais de Abastecimento, da organi-zao das naes unidas para Agricultura e Alimentao (FAo) e da companhia nacional de Abastecimento (co-nab). o grupo elaborou uma srie de propostas de aes governamentais para a modernizao das estruturas de abastecimento e de segurana alimentar no Brasil.

    de acordo com o gerente de modernizao do merca-do Hortigranjeiro, da companhia nacional de Abasteci-mento (conab), newton lima, o pnA um instrumento de estado e inclui uma poltica para ultrapassar as esferas governamentais: o pnA no simplesmente da conab ou das ceasas. ele engloba tudo. nasceu para ser uma estratgia de abastecimento para o pas, afirma. newton Jnior foi um dos integrantes do grupo que elaborou as propostas apresentadas ao ministrio da Agricultura.

    no mbito do abastecimento alimentar, o ponto central levantado na proposta a descentralizao do

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    gerenciamento dos polos de distribuio e a estruturao de melhores mecanismos de comercializao e abasteci-mento de alimentos, o que favorece produtores e consu-midores. porm, o pnA prope a criao de um rgo capaz de articular as aes das centrais de Abastecimento e criar diretrizes no mbito nacional.

    outra estratgia abordada no pnA o trabalho de conscientizao dos produtores e distribuidores de ali-mentos para conseguir melhor valor agregado para os produtos. segundo newton Jnior, o pnA oficializa o protagonismo das ceasas no trabalho de conscientizao de todos os atores das cadeias produtivas. As ceasas tm que fazer um trabalho extra-muros. devem considerar todo o processo que existe desde a sada do produto da propriedade agrcola at chegar ao consumidor. elas tm tcnicos que conhecem o mercado, conhecem os pro-dutores e podem fazer isso com competncia, garante o gerente da conab.

    no final de 2012, o ministrio da Agricultura instituiu um grupo de trabalho para dar prosseguimento execuo do pnA, em conjunto com o projeto de abastecimento alimentar do conselho nacional de segurana Alimentar e nutricional. Atualmente, o grupo trabalha na busca por estratgias de implementao do plano, seja por meio de polticas pblicas, seja por meio de projeto de lei a ser apresentado ao congresso nacional.

    durante um encontro realizado na Associao Brasileira das centrais de Abastecimento (Abracen), o secretrio de desenvolvimento Agropecurio e coo-perativismo do ministrio da Agricultura, caio rocha, destacou a importncia do pnA. o plano uma forma de promover o fortalecimento das ceasas, por meio da regionalizao do abastecimento e da comercializao, apontou o secretrio.

    PL 174 E PLANHORT

    o outro projeto em discusso, o projeto de lei 174, busca instituir o plano nacional de Abastecimento de Hortigranjeiros (plAnHort). o projeto de lei que tramita na cmara dos deputados, em Braslia, prope estabelecer padres tcnicos para as centrais de Abaste-cimento do pas.

    de autoria do deputado Weliton prado (pt/mG), o pl 174 pretende estimular a produo e o consumo de hor-talias, frutas, flores, plantas ornamentais e medicinais, entre outros. Busca, tambm, promover o desenvolvi-mento e a difuso de tcnicas e boas prticas de produo, transporte, embalagem, armazenagem e comercializao dos produtos naturais.

    um dos pontos cruciais do projeto a construo de novas centrais de Abastecimento em todo o pas, por

    meio de parcerias pblico-privadas. A proposta est em anlise na comisso de Agricultura, pecuria, Abasteci-mento e desenvolvimento rural (cApAdr), da cmara dos deputados. o relator da proposta, deputado federal Junji Abe (psd-sp), explica que cada setor ter um papel nesse novo cenrio. o poder pblico federal, dos estados e dos municpios seriam os responsveis por proporcionar as reas adequadas, em locais estratgicos e com acessos rodovirios e ferrovirios. A construo das centrais de Abastecimento, dotadas de equipamentos e instrumentos modernos para que as operaes e transaes mercantis se efetivem, ficaria a cargo da iniciativa privada, explica Junji Abe.

    Atualmente, o pl 174 est tramitando na comisso de Agricultura, pecuria, Abastecimento e desenvolvi-mento rural (cApAdr) da cmara dos deputados. mas, por ser um marco regulatrio, precisa passar por uma discusso mais consistente.

    entre outras especificaes tcnicas, o projeto de-fine os seguintes temas: prazos de contratos, previses de prorrogaes, transferncias de concesses, inde-nizao para os concessionrios em todo o ambiente

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    As ceAsAs cArecem de mecAnismos de inteGrAo nAcionAl pArA que

    se FortAleAm e possAm trABAlHAr conJuntAmente nA distriBuio

    dos produtos Alimentcios em todo o territrio nAcionAl.

    O presidente da Abracen, Mrio Maurici de Lima Morais, defende a criao de um marco legal para o setor

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    concorrencial, questes de formao de pessoal como espaos f sicos para a realizao de cursos tcnicos nas centrais, especializao nas culturas, capacitao profis-sional, pavilhes de exposies para mquinas e insumos.

    uma vez aprovado na comisso de Agricultura, o projeto segue para discusso na comisso de Finanas e tributao e, posteriormente, para a comisso de cons-tituio, Justia e cidadania da cmara dos deputados (ccJ). A princpio, o projeto no precisa ser votado no plenrio da cmara dos deputados. Aps a aprovao na ccJ, ele seguir para o senado Federal e, caso no sofra alteraes, vai direto para a sano presidencial.

    AUDINCIA PBLICA DISCUTE O PL 174

    o presidente da Abracen, mrio maurici, participou da audincia pblica, realizada no dia 12 de novembro, na cmara dos deputados, para discutir o pl 174. par-ticiparam da reunio, convocada pelo relator do projeto na comisso de Agricultura, pecuria, Abastecimento e desenvolvimento rural (cApAdr) da cmara, deputado Junji Abe, todos os segmentos do setor. o encontro serviu para que as entidades apontassem sugestes ao texto em anlise na comisso.

    na audincia, o presidente da Abracen reforou a importncia do projeto de lei para as centrais de abasteci-mento. o planhort de suma importncia para ns, pois, por meio dele, est se construindo um marco legal para o setor. sempre haver divergncias nas discusses sobre o

    projeto, mas o nosso esforo construir um consenso, ao longo da tramitao do pl, afirmou maurici.

    o presidente cobrou, ainda, um regime especial de compras para as centrais de Abastecimento, assim como acontece com outras empresas e autarquias federais. o processo de compra pblico lento e acaba tornando-se caro. o agravante que o custeio desse processo rateado entre os comerciantes. um regime especial de compras significaria um avano para a administrao das ceasas e para a relao entre os administradores e os comerciantes.

    representando o ministro da Agricultura, pecuria e Abastecimento, o secretrio de desenvolvimento Agropecurio e cooperativismo, caio rocha, afirmou que o ministrio est acompanhando as discusses. ns analisamos todas as sugestes apresentadas, para que o ministrio da Agricultura, como rgo executor do pla-nhort, possa criar polticas pblicas de incentivo ao setor.

    o gerente de modernizao do mercado Hortigran-jeiro, da companhia nacional de Abastecimento (conab), newton Jnior, apoiou o texto do projeto. A conab aprova integralmente o pl 174. A instituio participou de todas as fases de elaborao do projeto e vai auxiliar na imple-mentao do planhort, disse.

    o relator Junji Abe pediu mais sugestes s entida-des que participaram do encontro, que sero avaliadas e incorporadas ao relatrio a ser apresentado na comisso de Agricultura da cmara. segundo ele, a iniciativa ser um reforo para que o texto final possa contemplar as expectativas de todos os setores participantes na imple-mentao do planhort.

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    Audincia pblica na Comisso de Agricultura, Pecuria, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR), da Cmara dos Deputados

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    artigo

    Um fenmeno relativamente recente na histria das polticas agrcolas em todo o mundo a efetivao de programas pblicos que enfatizam a dimenso local como geradora de valor para a produo agrcola e para a melhoria do bem-estar dos consumidores.

    com a crescente valorizao, por parte dos consumidores, de produtos saudveis e de produtos tpicos como uma res-posta massificao alimentar da globalizao , observou-se um con-sistente comportamento de consumo em que os consumidores diferenciam e premiam os produtos que carregam informaes que permitem estabe-lecer conexes e associaes com o local de produo, com os mtodos de produo empregados e com as relaes sociais envolvidas no pro-cesso produtivo.

    nesse sentido, a diferenciao associada ao jargo clssico da agre-gao de valor ao produto passa a ser tratada em uma nova dimenso, ao identificar que essa agregao de valor no est restrita produo de especiarias ou ao atendimento a nichos de consumidores especficos. ela pode acontecer tambm pela valorizao de elementos que esto associados ao local, forma de produ-o e identificao dos produtores e tcnicas. trata-se, portanto, da valo-rizao de elementos que distinguem a produo diferenciada do processo

    CEASASe CIrCuITos CurTos

    de massificao e industrializao alimentar, que j esto embutidas nos produtos tradicionais.

    uma forma de descrever e anali-sar esses valores locais se d pela an-lise dos circuitos de comercializao, como no caso dos circuitos curtos ou cadeias curtas. na definio da organizao das naes unidas para Alimentao e Agricultura (FAo), circuitos curtos so uma forma de comrcio baseada na venda direta de produtos frescos ou de safra, que implicam nenhum ou eventualmente s um intermedirio entre os produ-tores e os consumidores.

    esses circuitos so caracterizados por pequena escala produtiva, baixo grau de transformao industrial de seus produtos, alm do nmero re-duzido de instncias comerciais entre o produtor e o consumidor final. os produtos comercializados tm como caracterstica comum a preservao de elementos que esto associados ao territrio de origem, s especifi-cidades agroecolgicas e s tcnicas de produo e transformao que remetem s referncias culturais da localidade ou comunidade produ-tiva (em alguns casos do produtor especfico).

    o comrcio dos produtos locais tem sido crescentemente valorizado pela preferncia dos consumidores por produtos autnticos, com sani-dade, elevada qualidade e abundncia associadas sazonalidade da produ-o. essa preferncia dos consumi-dores cria condies para que alguns produtores rurais aumentem sua

    renda com a valorizao de ativos imateriais como autenticidade, lao social e identificao da origem. o aumento da renda decorre tambm da economia de gastos em etapas como transporte e armazenagem ou conservao mais elaborada.

    As cadeias curtas normalmente se apresentam em trs tipos bsicos:

    1) As do tipo face-a-face, carac-terizadas pela venda realizada por produtores, ou seus representantes e familiares, diretamente para o consu-midor final, como ocorre em feiras li-vres, vendas em domiclio, vendas na porta da fazenda e em rotas tursticas.

    2) As de proximidade espacial, associadas a atributos do territ-rio produtivo e das caractersticas tcnicas ligadas tradio local e produo artesanal. o comrcio se d mediante algum nvel de regulao contratual ou relao de clientela comercial, e caracteriza as vendas a varejistas locais, restaurantes, vendas institucionais como a alimentao escolar, feiras e mercados regionais.

    3) As de configurao espa-cialmente estendida, que abrange processos de certificao e indica-o geogrfica que caracterizam os bens de comrcio justo (fair trade), produtos orgnicos e os produtos socialmente referenciados (produtos de origem comunitria, da agricul-tura familiar, de assentamentos e quilombos).

    diversas abordagens de valori-zao dos atributos locais e modelos de interveno pblica foram desen-volvidas em contextos nacionais que

    Altivo AlmeidA cunHA*

    22 Abastecer Brasil Dezembro 2013

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 23

    enfatizam aspectos de produo, de impacto ambiental e hbitos alimen-tares como os programas Foodsheds (euA), slow Food (itlia), Alianza cocinero-campesino (peru), Food miles (reino unido).

    A definio de circuitos curtos aparenta uma contradio com o modelo comercial das centrais de Abastecimento (cA). de fato, aspec-tos de especificidade dos produtos hortigranjeiros relacionados com a perecibilidade, a escala produtiva e comercial e os atributos de qualidade suscitam diferentes formatos organi-zacionais entre agentes econmicos. esses formatos geralmente envolvem um grande nmero de intermedirios e agentes comerciais.

    A questo central o modo como as centrais de Abastecimento podem lidar de maneira efetiva e potencializadora da dimenso local do abastecimento, se o seu modelo comercial no prioriza essa dimen-so. A essncia dessa argumentao a de que as limitaes histricas e institucionais no constituem uma barreira para uma converso, ou reconverso de prioridades das cA para tornarem-se uma instncia ativa de valorizao da dimenso local dos produtos hortigranjeiros.

    essa reconverso de posiciona-mento estratgico ancorada em alguns elementos favorveis que per-meiam a conduta e os papis recentes que as principais cA brasileiras tm exercido. o primeiro aspecto positivo que as cA so agentes operacionais importantes nos sistemas de agricul-

    tura de governos locais, nucleando, ainda que de forma assistemtica, iniciativas pertinentes s polticas agrcolas estaduais, bem como po-lticas de segurana alimentar. um grande mrito e uma vantagem no explorada nesse sentido residem no fato de que as principais cA coletam sistematicamente dados estatsticos sobre quantidade comercializada e origem dos produtos, o que permite identificar os municpios e microrre-gies ofertantes, categorizando sua relevncia em quantidade de oferta, a diversificao ou especializao de sua pauta comercial e a sazona-lidade dessa oferta. esses tipos de informao tm um valor estratgico significativo, uma vez que os dados do censo agropecurio indicam apenas os locais de produo e os dados das cA captam a origem do forneci-mento comercial para os entrepostos atacadistas dos centros urbanos.

    outro dado relevante o fato de que a pauta dos encontros tcnicos da Associao Brasileira de centrais de Abastecimento (Abracen), e os temas abordados na revista tcnica da enti-dade, nos ltimos anos, tm includo sistematicamente discusses sobre a pertinncia de identificar, valorizar e priorizar produtores locais como agentes de fornecimento para con-sumo local.

    Algumas cA de grande porte de-senvolvem, em parceria com gover-nos estaduais, programas ou projetos de desenvolvimento ps-colheita em plataformas logsticas perto das reas de produo. o caso do projeto Bar-

    raco do produtor, em minas Gerais, um exemplo referencial desse tipo de iniciativa.

    A ideia defendida nessa argumen-tao a de que os circuitos curtos, embora possam se estabelecer em modelos de comercializao fora das centrais de Abastecimento, no so contraditrios ou antagnicos s cA pela questo de escala produ-tiva e acesso aos mercados. As cA podem estimular e potencializar os quesitos adicionados e valorizados pela dimenso local, orientar sua estruturao e servir posteriormente como canal de comercializao para as produes que atinjam escalas comerciais que visem a maiores mercados.

    para isso, alguns programas e projetos estratgicos devem ser de-senvolvidos para incorporar s cA uma funo e um papel ativo como promotoras do desenvolvimento rural sustentvel. essas iniciativas devem se desenvolver de forma es-timulada em diversos nveis, desde programas que determinem novas diretrizes, bem como projetos ou aes especficas que permitam de forma objetiva e efetiva firmar esse novo papel das cA. isso passa pela sistematizao, padronizao e difuso das informaes coletadas, sua elaborao como informaes estratgicas e pela criao de novas normas operacionais, como espaos dedicados a produtos com diferencia-o dada por sua territorialidade.

    *Agrnomo e doutor em economia (unicamp).

    As limitAes HistricAs e institucionAis no constituem

    BArreirA pArA umA converso, ou reconverso de prioridAdes dAs centrAis de ABAstecimento pArA

    tornArem-se umA instnciA AtivA de vAlorizAo dA dimenso locAl dos produtos HortiGrAnJeiros.

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    tendncias

    Os dados sobre a comercializao nas Ceasas, nos ltimos 10 anos, mostram uma relativa estabilidade ou, no mximo, um aumento no muito expressivo no movimento. Em contrapartida, o consumo no Brasil cresceu significativamente no perodo, devido ao aumento tanto da populao como da renda de parcelas da sociedade principalmente aquela que se beneficia da maior oferta de empregos, do crescimento do Salrio Mnimo e dos programas oficiais de transferncia de renda. A anlise desses dados sugere que as Ceasas esto perdendo espao no mercado atacadista. Segundo Walter Belik, professor da Unicamp e estudioso do tema, hora de discutir o modelo das Centrais de Abastecimento, tendo como meta sua renovao.

    As ceasas ainda apresentam, de modo geral, uma estrutura organizacional muito parecida com a que possuam na dcada de 1970, quando foram criadas. na poca, os supermercados tinham uma pre-sena limitada e as feiras livres, que se abasteciam nas ceasas, dominavam o varejo de alimentos. esses fatores ampliavam o horizonte da centrais, mas, desde ento, muita coisa mudou.

    as CEASAS devem adaPTar-se aos

    novos ESTILOS DE vIDA e PADRES DE CONSUMO

    por GlriA vArelA

    segundo Walter Belik, a partir dos anos 70 ocorreram importantes mudanas tributrias na forma de cobrana do icms e na legislao trabalhista favorecendo os super-mercados. Graas a acordos entre patres e empregados, os supermercados funcionam, atualmente, no regime de 24 horas e nos fins de semana, uma caracterstica impen-svel nos anos 70. com as transformaes na tecnologia de informaes, os supermercados puderam promover tambm uma revoluo na logstica. o antigo modelo organizacional baseado em cadeias locais ou regionais foi deslocado para uma rea de atuao mais ampla e formao de grandes redes de distribuio de alimentos.

    outro fator que fortalece a atuao dos supermer-cados hoje em dia o encurtamento do circuito entre o produtor e o consumidor (ver artigo na pgina ...). com a formao de um quadro de fornecedores, os supermerca-dos conseguem fazer essa ponte com relativa facilidade e ainda manter um estrito controle de qualidade. o caso, por exemplo, dos produtos frescos, em que a venda ao consumidor quase imediata.

    todas essas mudanas levaram ao esvaziamento da velha estrutura produtor/atacado/varejo/consumidor. muita gente chegou a pensar que a funo atacadista tinha chegado ao fim, mas esse elo da cadeia permaneceu. Ao observar outros pases, constatamos que o atacado se renovou. no Brasil, os supermercados avanaram e ocu-param um espao que a eventual modernizao poderia garantir s ceasas, explica Walter Belik.

    8 - A matria do Wal-ter Belik - tendncia, tem duas marcaes rosa, A da pgina 27 tem que sair, refere-se a embalagens. preencher a da pgina 24. tirar o ponto final da legenda de foto da pgina 25.

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    A vAlorizAo dos entrepostos reGionAis

    e locAis dAriA mAis rAcionAlidAde Ao sistemA, AproximAndo o produtor

    do consumidor e evitAndo o pAsseio de produtos, pois o

    vAi e voltA oBviAmente os encArece.

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    NOVO PAPEL

    criadas numa poca de inflao elevada, quando a palavra carestia era um verdadeiro bicho-papo para a sociedade, as ceasas faziam parte de uma poltica pblica de abastecimento. Foi o perodo do auge das centrais de abastecimento. esse canal atacadista, associado s redes pblicas de varejo cobal e somar , dava ao estado con-dies de controle de preo, entre outras funes. Agora, com uma situao econmica totalmente diversa, qual ser o papel das ceasas, em termos de poltica pblica?

    como outras pessoas que pesquisam o setor, o profes-sor Walter Belik afirma que as ceasas, entre outros papis, podem executar uma poltica pblica de abastecimento, ao fazerem a ponte entre a agricultura familiar e o consu-midor, principalmente aquele que no tem acesso fcil a supermercados ou feiras-livres. o modelo supermercado para quem chega de carro para fazer compras. existem supermercados de vizinhana, mas o destaque o hiper-mercado. mas grandes contingentes da populao vivem em bairros de periferia, andam de nibus, e no tm acesso a esse tipo de mercado, lembra o professor.

    H, ainda, outro estrato, que caracteriza uma ten-dncia mundial e que precisa ser atendido. o pblico que ocupa o topo da pirmide social, de renda elevada, interessado em gastronomia ou em uma alimentao dife-renciada. Busca produtos de especialidade orgnicos ou frescos , e quer garantias sobre a origem do que compra.

    segundo Walter Belik, o papel fundamental das ceasas est ligado segurana alimentar, seja ao aproximar o pro-dutor do consumidor, seja ao regular preos. o fato de deter

    informaes privilegiadas sobre as condies dos diversos mercados d s centrais de abastecimento mecanismos capazes de sinalizar para o produtor o que ele deve produzir ou em que segmento ele poder obter mais lucro.

    NOVAS TENDNCIAS

    uma tendncia que j se registra no pas est direta-mente ligada abrangncia de atuao dos centros ataca-distas nacional, regional ou local. As ceasas de mbito nacional podem funcionar como um hub um ponto irradiador de organizao de todo sistema de distribuio. J a valorizao dos entrepostos regionais e locais, por sua vez, daria mais racionalidade ao sistema, aproximando o produtor do consumidor e evitando o passeio de produ-tos, pois o vai e volta obviamente os encarece.

    Alm da regionalizao, outra tendncia para o fun-cionamento das ceasas a virtualizao. A mudana contraria a comercializao presencial que caracteriza o modelo atual. mas essa mudana s ter xito se forem implantadas medidas para o fortalecimento da normati-zao e classificao de produtos, tarefa a ser executada pelo conjunto das ceasas, ou por sua entidade represen-tativa, a Abracen, diz Walter Belik. quem compra de longe, sem ver o produto, precisa ter a certeza de que a oferta corresponde ao padro certificado. A confiana a base do sistema.

    os principais clientes desse modelo seriam os varejis-tas e as indstrias processadoras sorvetes, sucos, doces, temperos, entre outros. A virtualizao da logstica viria

    A tendnciA de virtuAlizAo do FuncionAmento dAs centrAis

    de ABAstecimento contrAriA A comerciAlizAo presenciAl que

    cArActerizA o AtuAl modelo. mAs essA mudAnA s ter xito se

    Forem implAntAdAs medidAs pArA o FortAlecimento dA normAtizAo e clAssiFicAo de produtos, tAreFA A

    ser executAdA pelo conJunto dAs ceAsAs, ou por suA

    entidAde representAtivA, A ABrAcen.Walter Belik

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    como um desdobramento da comercializao virtual. com esse modelo, encostar um caminho em qualquer ceasa, sem saber de quem vai comprar ou para quem vender, ser coisa do passado. As dificuldades e as restri-es de trnsito, nas grandes cidades, tornam evidentes os ganhos desse novo modelo, para todos os envolvidos (ver reportagem na pgina...).

    o que visto hoje como segurana, a venda em dinhei-ro vivo, muito comum nas centrais de abastecimento de todo o pas, tornou-se um elemento de insegurana, pois pode aumentar o risco de assaltos. virtualizadas, as tran-saes financeiras seriam um elemento real de segurana para os usurios do sistema.

    LOCALIZAO URBANA

    outra tendncia de mudana no funcionamento das ceasas est vinculada sua localizao na zona urbana. os entrepostos foram instalados em regies de pouca densi-dade populacional e constituem um reduto parte, restri-to a atacadistas. A situao hoje, com o crescimento das cidades, bem diferente. segundo Walter Belik, as centrais tm agora uma funo bem maior do que simplesmente distribuir os alimentos. como acontece em outras partes do mundo, essas reas oferecem opes comerciais e, ao mesmo tempo, quase ldicas, como restaurantes, espaos gourmets, lojas de especialidades, cursos de gastronomia e jardinagem, j que tambm comercializam plantas, equipamentos e produtos de jardinagem. tm, enfim, uma nova funo na cidade. um exemplo a sopa de cebola da

    ceagesp, um grande sucesso h algumas dcadas, que foi retomada e volta a interessar o pblico paulista, atrado pelo lazer ou por um varejo noturno.

    essa nova dinmica exige uma atualizao do layout das centrais. A necessidade dessa mudana reforada pela modernizao de outros setores. no existem mais caminhes de 20 ou 25 toneladas, como na dcada de 70. o transporte de longa distncia, hoje, feito em carretas que no cabem nas plataformas de descarga das ceasas. e mais: o transbordo da carga para cmaras frias no pode mais ser feito em carrinhos, por carregadores que no tm registro. ou seja, a readequao do espao e a integrao das ceasas ao meio urbano ganharam importncia e ur-gncia, defende Walter Belik.

    FUNO EDUCATIVA

    As alteraes no estilo de vida, nos padres de con-sumo, na logstica financeira e de transporte mudaram o modelo de comercializao e trouxeram para as ceasas mais uma funo. cabe aos centros de abastecimento a tarefa de explicar aos produtores como acondicionar os produtos, reduzir perdas e operar de forma eficaz. cabe-lhes ainda orientar os consumidores, por meio de campa-nhas de incentivo ao consumo de determinados produtos, por exemplo, sobre a melhor utilizao dos produtos de poca, receitas mais nutritivas e aproveitamento integral dos alimentos. A concluso de Walter Belik que a mo-dernizao ampliou o papel das ceasas, dando-lhes novas e importantes tarefas.

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    mundo

    enTrePosTo de LONDRES um dos maIs

    MODERNOS do mundo

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    o new spitalfields market, em londres, detentor de alguns indicadores que no apenas justificam sua importncia entre os entrepostos de alimen-tos (frutas, legumes e verduras) in natura e de flores da inglaterra, mas colocam-no entre os mais modernos e bem equipados do mundo. nem por isso o spitafields est imune a problemas tpicos dos mercados de abastecimen-to, como em qualquer pas no mundo. e, nesse aspecto, o entreposto londrino tem alguns pontos em comum com as ceasas brasileiras, como a forte concorrncia com os gigantes do setor supermercadista.

    A histria do spitalfields comeou no sculo xiii, mas ele s obteve os contornos de mercado de alimentos em 1682, quando o rei carlos ii concedeu a um produtor de seda o direito de utilizar o espao da praa spital, no leste de londres, para comercializao de frutas e legumes, s quintas-feiras e aos sbados. em 1920, a prefeitura londri-na adquiriu o controle direto do entreposto, ampliando suas edificaes. como em toda grande metrpole, o cres-cimento da populao tornou o old spitalfields market muito pequeno para atender demanda e, no incio da dcada de 1990, suas instalaes foram transferidas para a regio de leyton, subrbio da capital britnica, onde foi construdo o new spitalfields market, especialmente desenhado para esse fim, e prximo s rodovias e outras vias de acesso ao sul da inglaterra, a portos e aeroportos.

    frente desse complexo de entrepostagem, que ocupa uma rea de 13 hectares e ostenta um volume de neg-cios em torno de r$ 2,6 bilhes, est o superintendente nigel shepherd. desde 2009 ele se ocupa das principais operaes do spitalfields, auxiliado por Janet Hutchinson, da spitalfields market tenants Association, uma espcie de associao local dos permissionrios. em entrevista revista Abastecer Brasil, shepherd contou um pouco sobre o funcionamento do spitalfields no dia a dia e sobre como se d o relacionamento com os seus permissionrios, l chamados de inquilinos. uma das muitas curiosidades do new spitalfields a sua especializao em produtos exticos. cerca de 60% das frutas, legumes e flores co-mercializados so originrios da sia, do caribe, da frica

    e Amrica do sul, especialmente de pases como turquia, china e egito.

    Como o dia a dia do New Spitalfields Market no trabalho de receber e distribuir alimentos frescos e flores da Europa e do resto do mundo?

    nossos alimentos so provenientes de produtores de todo o mundo, direto da fazenda, por meio de uma organizao de cooperativas operadas regionalmente ou de agentes intermedirios, baseados no reino unido ou no estrangeiro (a Holanda, por exemplo, um centro europeu de oferta de produtos vindos de vrias partes do mundo). os produtos chegam ao nosso mercado por via area, depois por caminho a partir do aeroporto de He-athrow, em londres , e por caminhes frigorficos vindos do sul da europa. J os produtores locais do reino unido fazem o transporte em caminhes ou vans, dependendo da quantidade. os alimentos que chegam da Amrica do

    por luciAno somenzAri

    Nigel Shepherd, superintendente do New Spitalfields Market, aponta a concorrncia com os grandes supermercados como um dos seus maiores desafios

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    sul so transportados por navios e depois transferidos por terra, tambm por caminhes. A distribuio das mercadorias do entreposto de spitalfields realizada pelos prprios clientes, que usam transporte prprio, ou pelas empresas de beneficiamento de alimentos que atendem a escolas, hospitais, prises, hotis, bares, restaurantes etc. essa distribuio cobre aproximadamente uma rea de 200 quilmetros em torno de londres.

    Qual o volume de vendas de frutas, verduras, legu-mes e flores feito no New Spitalfields Market?

    sempre muito dif cil quantificar isso, pois nossos comerciantes no entreposto operam como empresas privadas. tambm no h nenhuma obrigao por parte da prefeitura de londres em coletar dados estatsticos. no entanto, estimamos que o volume de negcios gire em torno de $ 750.000.000 (cerca de r$ 2,6 bilhes), correspondentes a cerca de 750 mil toneladas.

    Como a relao do New Spitalfields Market com seus permissionrios? Como funcionam, por exemplo, os processos de contrato de locao e que problemas ainda existem nessa rea?

    A relao entre o spitalfields e seus inquilinos (per-missionrios) amigvel e profissional. trabalhamos em parceria para o bem maior do mercado. H pontos de desacordo, s vezes, mas trabalhamos juntos de maneira aberta e transparente, consultando-os sempre. os termos gerais nos contratos de locao dizem que os inquilinos tm prazo de seis anos, com direito renovao prati-camente automtica depois que expirar esse tempo, de acordo com a lei (landlord and tenant Act ). os inquilinos pagam por todos os custos de funcionamento do mercado, que chamamos taxas de servio, entre eles o referente ao aluguel, alm de pagar a prefeitura de londres. A taxa de servio proporcional rea ocupada. os custos para reas vazias so pagos pela prefeitura, no entanto, os espaos no mercado quase sempre esto 100% ocupados. A municipalidade procura manter os custos sob controle

    rigoroso para tornar o valor do espao comercial com-petitivo para os comerciantes, na maioria pequenas e mdias empresas que sofrem presso cada vez maior por conta da atual crise econmica. sempre que possvel, os problemas so resolvidos entre as duas partes, usando a consulta e a negociao, dentro da estrutura do contrato de arrendamento.

    No Brasil, h vrios problemas em relao oferta

    de alimentos frescos, muitos deles devido grande extenso territorial do Pas. Os vrios centros de abastecimento existentes no funcionam de forma integrada, dentro de um sistema nacional de abaste-cimento, por exemplo. No Reino Unido, existe um sis-tema nacional de abastecimento que d as diretrizes para o trabalho dos centros de abastecimento como o Spitalfields Market?

    no existe no reino unido nenhuma poltica de in-tegrao dos mercados de alimentos frescos. o comrcio no pas funciona dentro dos princpios do livre mercado, utilizando a mesma lei da oferta e da demanda do setor privado e operando por intermdio de cadeias de abaste-cimento dentro desse ambiente econmico.

    Na dinmica de funcionamento do Spitalfields Market, voc poderia apontar quais os principais avanos ou benef cios conquistados recentemente?

    especificamente para o spitalfields market, como os produtos que comercializamos so perecveis, a chave para um negcio bem-sucedido minimizar o desper-dcio e maximizar o volume comercializado, a partir do espao existente no mercado. por isso, recentemente con-seguimos ampliar o setor de armazenamento refrigerado e o nosso mezanino, para maximizar o espao e manter os custos baixos.

    Quais foram as grandes dificuldades superadas na

    comercializao de alimentos frescos no Reino Unido? E quais dificuldades ainda persistem?

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    como comerciAlizAmos produtos perecveis, A cHAve pArA um neGcio Bem-sucedido minimizAr o

    desperdcio e mAximizAr o volume comerciAlizAdo, A pArtir do espAo existente no mercAdo.

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 31

    os problemas com o transporte, por exemplo, foram bastante amenizados depois da mudana na localizao do nosso entreposto. com uma posio geogrfica me-lhor, hoje h condies de acesso facilitado para rodovias em todo o sudeste da inglaterra, tanto para abastecimento quanto para distribuio.

    As dificuldades de fornecimento tambm tm sido superadas, uma vez que precisamos competir com os grandes supermercados para garantir uma ampla oferta, a despeito do enorme crescimento da indstria de alimen-tos in natura no reino unido. Alm disso, conseguimos expandir globalmente a logstica de distribuio, permi-tindo o fornecimento da maioria dos nossos produtos durante os 12 meses do ano.

    tambm h uma demanda maior por alimentos pou-co comuns no nosso pas, que os consumidores acabam conhecendo e experimentando nas suas viagens pelo mundo. e o spitafields market o nico capaz de atender a esses pedidos. contudo, algumas dificuldades permane-cem, como o desafio de equilibrar a oferta e a demanda diante dos problemas relacionados com o clima, o custo

    crescente dos transportes, a viabilidade da importao de produtos ou a sua produo no mbito local, bem como incentivar os agricultores locais a plantarem novas cultu-ras para atender demanda do pblico.

    Como o senhor avalia o mercado de alimentos frescos no seu pas?

    para os custos continuarem competitivos e o negcio dos alimentos frescos permanecer vivel, importante que os mercados mantenham fortes ligaes com os fornece-dores, tanto no reino unido quanto no resto do mundo. se a produo se tornar demasiadamente escassa, ou muito cara, no ser capaz de manter o negcio de forma eficiente e no incentivar os comerciantes a ocuparem espaos dis-ponveis. o nosso entreposto prospera porque completo. com tantas empresas similares operando uma ao lado da outra, o mercado mantm-se competitivo. os entrepostos so geralmente um barmetro para medir preos, e isso possvel por terem empresas que atuam localmente, por conta da experincia e do conhecimento dos seus negcios, fazendo com que o mercado opere com eficincia.

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    capa

    34 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    Pela delicadeza da atividade, grande o nmero de mulheres que trabalham

    na Produo de flores. dePendendo do Produto, so emPregados at sete

    funcionrios Por hectare

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    fLORES E fOLHAgENS um merCado Que CombIna

    beLeza, suavIdade e muITa foraO crescimento renova as expectativas desse segmento capaz de produzir

    e faturar mais, alm de fixar os trabalhadores no campo

    por eduArdo ritscHel

    so muitos os fatores que podem explicar o forte crescimento, de 10 a 15% por ano, apresentado pelo mercado brasileiro de flores na ltima dcada. o poder aquisitivo mudou muito e as flores e plantas deixaram de ser um luxo para pou-cos, explica Kees schoenmaker, presidente do instituto Brasileiro de Floricultura (ibraflor). At h algum tempo, encontrar flores e plantas era dif cil e os supermercados eram luga-res para se comprar apenas comida, completa.

    A fotografia do setor, formado por flores de corte e em vaso, plantas ver-des, forraes, paisagismo e gramas, mudou, impulsionando essa econo-mia. se a rea de plantao s cresce 2% ao ano, o faturamento salta 12% no mesmo perodo, demonstrando a eficincia do sistema e a elevao dos preos nos ltimos anos.

    de acordo com estudo realizado pelo ibraflor, houve um aumento considervel da qualidade e diver-sidade dos produtos ofertados ao consumidor, alm de ganhos de efici-ncia na cadeia produtiva, com me-nor perda no perodo de frio, maior agilidade logstica, mais informaes

    disponveis nas embalagens e menor diferena de preo entre o produtor e o consumidor.

    com todas essas mudanas, os produtos esto mais prximos do consumidor. so encontrados, ago-ra, em larga escala em floriculturas, supermercados, garden centers e quiosques, e amplamente requisita-dos tambm por decoradores.

    no Brasil, so cerca de 7.600 produtores, atuando numa rea de 11.800 hectares. mais de 350 espcies so produzidas, com 3 mil varieda-des. o mercado atacadista de flores do pas conta com mais de 60 centrais e 600 empresas. As plantas agregam valor comercial ao imvel, explica carlos Alberto pitolli, permission-rio em um dos maiores mercados permanentes de flores e plantas da Amrica latina, a ceasa campinas. o entreposto responsvel pela dis-tribuio de 40% das flores e plantas ornamentais do setor atacadista do pas.

    o sudeste a principal regio produtora. so paulo rene 30% dos produtores nacionais e 36,4% do faturamento, com destaque para as cidades de Holambra, Atibaia, Jarina,

    registro e limeira. o mercado de Flores da ceasa campinas, inaugu-rado em 1995, o grande centro de distribuio dessa produo. ocupa uma rea de 100 mil metros quadra-dos, com um movimento de 6 mil to-neladas de mercadorias por ms, algo em torno de r$ 10 milhes mensais.

    so mais de 20 mil itens de flores cortadas e em vasos, plantas orna-mentais, forraes, mudas diversas e frutferas, alm de outros 5 mil pro-dutos de acessrios para decorao, eventos, paisagismo e acabamento de arranjos e cestas. o espao tem 504 pontos de venda e cerca de 350 atacadistas que comercializam pro-dutos vindos de quase 70 municpios brasileiros e de outros pases, como colmbia e equador. o principal es-pao de escoamento dos produtores de flores de Atibaia, a 2 maior regio produtora do setor no pas.

    se so paulo lidera na produo e faturamento, o distrito Federal (dF) lder no consumo per capita de flores. cada habitante do distrito Federal gasta por ano, em mdia, r$ 33,70 com flores, o que equivale a um consumo 68,5% maior do que a mdia nacional. os dados so da empresa

  • 36 Abastecer Brasil Dezembro 201336 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    de Assistncia tcnica e extenso rural (emater). o distrito Federal tem atualmente mais de 100 produ-tores de flores, e, segundo a emater, o mercado cresce cerca de 10% ao ano. em todo o distrito Federal existem cerca de 500 hectares utilizados para o cultivo de flores de vaso, flores de corte, plantas ornamentais, flores de corte tropicais, folhagens de corte e grama.

    de acordo com a emater, as flores de corte tropicais so uma especiali-dade do dF. A produo dessas esp-cies praticamente autossuficiente, e parte da produo vendida para Gois, minas Gerais e so paulo.

    OUTROS POLOS

    A produo de folhagens de corte, flores e plantas tropicais tem crescido em um ritmo de 9% ao ano no rio Grande do norte, sobretudo nos municpios da Grande natal, o principal polo produtor. A expecta-tiva de crescimento para as plantas tropicais est tambm associada realizao da copa do mundo da FiFA, j que elas so propcias decorao de ambientes, principal-mente em funo do volume e maior durabilidade. o evento vai deman-dar um alto consumo desse tipo de flores para ornamentao de salas de aeroportos, meios de hospedagem, salas vip, restaurantes e camarotes nos estdios. estima-se que o consu-mo dever crescer cerca de 40% em funo dos jogos do mundial.

    outro estado desponta como polo produtor com mdia anual de trs mil horas de sol, o cear tem o ambiente perfeito para o desenvolvi-mento da floricultura, o que garante uma produtividade de 180 botes de rosas por metro quadrado e colheita em 45 dias. esse ndice maior do que o observado em pases vizinhos e com maior tradio nesse cultivo, como o equador e a colmbia.

    com o crescimento da produo, o estado detm o segundo lugar em exportao. de acordo com a As-sociao dos produtores de Flores e plantas ornamentais do cear (Florece), nos ltimos anos, as vendas externas aumentaram de us$ 3,3 milhes para us$ 5 milhes, o que representou um crescimento de 52%.

    As pessoas do sudeste que foram trabalhar nas produes de soja, milho e algodo, na regio centro-o-este, tambm ampliaram a demanda por flores e servios de paisagismo naquelas fronteiras, realidade per-cebida na ceasa campinas pelo au-mento do nmero de pedidos vindos desse ponto do pas.

    quem conhece bem a realidade desse mercado snia Yukie saito, proprietria da tradeflora, que h 12 anos despacha flores por atacado de campinas para vrias regies do Bra-sil. As flores e plantas so entregues

    por via area ou terrestre, cumprindo as normas de fitossanidade e garan-tindo agilidade na entrega, um fator crucial no comrcio de plantas vivas, pois o tempo um fator determinante na qualidade e no tempo de vida na prateleira.

    o sucesso dessa atuao est em baixar o peso da mercadoria, pois o frete aumenta o preo em at 10 ve-zes, explica snia. cada quilo de pro-duto transportado sai por at r$ 11, mas isso no tem afetado o interesse de clientes do par e do Amazonas, por exemplo.

    POTENCIAL

    se os nmeros nacionais so bons, o potencial de crescimento da floricultura brasileira ainda maior. enquanto nos pases europeus consomem-se em mdia de u$ 70 a

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  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 37Dezembro 2013 Abastecer Brasil 37

    u$ 100 per capita por ano, no Brasil esse nmero de aproximadamente u$ 11 (r$ 23).

    para aproveitar esse potencial, o Brasil tem que superar alguns gargalos. de acordo com o ibraflor, a legislao fitossanitria, comercial, tributria e produtiva ultrapassada, ineficiente e onerosa, com interpre-tao dbia e com alto grau de risco. existem poucas aes de marketing com continuidade, h um alto ndice de informalidade no setor e o trans-porte e acondicionamento ainda so deficitrios. um estudo do instituto aponta, ainda, problemas de acesso do consumidor aos produtos e do produtor s novas espcies.

    Ana rita pires stenico, gerente do mercado de Flores da ceasa campi-nas, comenta a importncia das cam-panhas oficiais de incentivo ao con-sumo de flores para dinamizar esse segmento produtivo. elas devem ser realizadas com frequncia, a exemplo do que ocorre com as frutas, legumes, verduras e peixes, recomenda.

    MO DE OBRA

    esse um captulo parte nos pro-blemas enfrentados pelos produtores de flores. pela delicadeza da atividade, grande o nmero de mulheres que trabalham na produo. dependen-do do produto, so empregados at sete funcionrios por hectare. o uso intensivo de mo de obra, favorvel e benfico gerao de emprego e ren-da, pode ser uma dor de cabea para os produtores. A mo de obra escassa, disputada pelas indstrias que saram da Grande so paulo e seguiram para o interior do estado. Assim, os produ-tores de flores esto com dificuldade para encontrar trabalhadores e mo de obra especializada. muitos no tm sucessores na famlia, pois os filhos preferem ir para a cidade, explica Ana rita.

    o crescimento da produo de carlos Alberto pitolli, que atua com forraes, plantas arbustivas e mu-das, est limitada oferta de mo de obra. cerca de 70% da minha produ-

    o j est programada para daqui a um ano, explica pitolli. em sua mesa de trabalho na ceasa campinas, ele quase no recebe pedidos de entrega imediata, a grande maioria para os prximos meses. se houvesse mo de obra disponvel, acredito que poderamos dobrar a produo, informa o produtor, que destaca tambm a importncia de acessar novas tecnologias para mecanizar o processo de produo.

    Houve muitos avanos na ltima dcada, como o alinhamento das aes entre a cmara setorial de Flores do ministrio da Agricultura e o ibraflor. os produtores conquista-ram maior representatividade peran-te o Governo Federal, por meio das cmaras setoriais, e maior acesso s linhas de crdito para custeio e inves-timento, com menor custo e maior prazo. o desafio, para os prximos anos, aproveitar o potencial desse mercado, e fixar mais trabalhadores no campo, com ganhos crescentes para todos os envolvidos.

    O permissionrio Carlos Alberto Pitolli recebe pedidos com meses de antecedncia

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    Consumo de fruTas, Legumes e verduras MAIS SADE PARA A POPULAO

    Gerson mAdruGA dA silvA*

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    O consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras (FLV) um dos principais fatores de risco de doenas em todo o mundo. Fontes de micronutrientes, de fibras e de outros componentes com propriedades funcionais, esses alimentos so importantes na composio de uma dieta saudvel. As FLV tambm apresentam baixa densidade energtica, ou seja, poucas calorias em relao ao volume do alimento consumido, o que favorece a manuteno saudvel do peso corporal do ser humano.

    As centrais de abastecimento brasileiras desem-penham papel importante na comercializao e distribuio de frutas, legumes e verduras, visto que comercializam mais de 18 milhes de toneladas em 72 entrepostos no pas. Assim, caracterizam um espao importante para o desenvolvimento de polticas pblicas que visem educao alimentar e nutricional.

    pesquisas do instituto Brasileiro de Geografia e es-tatstica (iBGe, 2011) revelam que o consumo mdio de frutas, legumes e verduras pela populao brasileira in-ferior metade do que recomenda a organizao mundial da sade (oms) o ideal consumir pelo menos 400g/dia. A participao diria de Flv na dieta dos brasileiros atinge 132 gramas e apenas 18% da populao brasileira consomem o indicado pela oms.

    esse cenrio, associado ao maior consumo de alimen-tos industrializados e baixa prtica de atividade f sica, tem impacto direto na sade dos brasileiros, contribuindo para o aumento da prevalncia de excesso de peso e das doenas crnicas no transmissveis (dcnt), princi-palmente das doenas cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de neoplasias.

    A pesquisa da vigilncia de Fatores de risco e proteo para doenas crnicas por inqurito telefnico (vigitel), divulgada em 2012 pelo ministrio da sade, revela que 51% da populao brasileira est acima do peso e que 17% apresentam obesidade, sinalizando a necessidade de implementar programas e aes de incentivo a uma alimentao saudvel.

    Baseado nesses dados que o ministrio da sade (ms), ministrio do desenvolvimento social (mds), ministrio da Agricultura, pecuria e Abastecimento (mApA), a companhia nacional de Abastecimento (co-nAB), o instituto Brasileiro de Horticultura (iBrAHort) e a Associao Brasileira das centrais de Abastecimento (ABrAcen) lanaram, em 2013, a campanha de incenti-vo ao consumo de Frutas, legumes e verduras nas ceA-sAs, que tem por objetivo desenvolver aes de educao

    Alimentar e nutricional nas ceAsAs. A primeira etapa da iniciativa ter foco no pblico interno dos entrepostos, ou seja, produtores, concessionrios e permissionrios, enfatizando a importncia desses atores na oferta de frutas, legumes e verduras com boa qualidade. o alvo da segunda etapa ser o pblico externo, composto de con-sumidores que frequentam as centrais de abastecimento, os supermercados e feiras, entre outros estabelecimentos que comercializam frutas, legumes e verduras.

    A tarefa de cada "ceaseiro", produtor, atacadista ou comerciante do varejo apresentar as condies ideais de inocuidade dos alimentos. para tanto, devem comer-cializar seus produtos em vasilhames higienizados, com informaes de procedncia por meio de rotulagem e rastreabilidade, classificao e padronizao, monito-ramento de agrotxicos, logstica adequada e oferecer embalagens com processamento mnimo dos alimentos, procurando evitar perdas e aumento de resduos. Alm disso, devem destinar o excedente no comercializado aos Bancos de Alimentos, para atender a populaes com vulnerabilidade alimentar e nutricional.

    Assim, fica evidente a necessidade de polticas pbli-cas e programas de educao nutricional que incentivem o consumo de Flv, afirmando a importncia de que as centrais de abastecimento no so apenas ambientes de comercializao, mas tambm espaos importantes de ateno sade pblica e segurana alimentar e nutri-cional. * diretor tcnico operacional da ceAsA do rio Grande do sul.

    pesquisAs do iBGe revelAm que o consumo mdio de FrutAs,

    leGumes e verdurAs pelA populAo BrAsileirA inFerior

    metAde recomendAdA pelA orGAnizAo mundiAl dA sAde.

    Gerson Madruga

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    desde o incio da produo de alimentos, uma srie de cuidados precisa ser adotada para garantir um produto saudvel e de boa qualidade. preparao da terra, seleo de sementes, escolha da melhor tcnica para o plantio e pessoal ca-pacitado para a colheita so alguns deles. mas, mesmo com todo esse esforo na fase inicial da produo, se o produto no passar por um adequado processo de embalagem, haver perda de valor na hora da venda ao consumidor final.

    A acomodao de produtos perecveis como frutas e hortalias frescas delicada e exige ateno especial. Atualmente, a maioria das embalagens no cumpre a funo de proteger os produtos hortifrutigranjeiros, nem de facilitar a movimentao e a exposio desses alimentos. se o esforo para que o produto chegue distribuio com a mesma qualidade que possua na hora da colheita, uma nova estrutura de embalagens precisa ser estudada e, posteriormente, implantada em todo o pas.

    na busca por um padro para as embalagens dos produtos alimentcios, a central de Abastecimento do distrito Federal - ceasa/dF, decidiu dar o primeiro passo rumo melhoria do sistema. em outubro de

    emBalagens

    NO DISTRITO fEDERAL, UMA fORA-TAREfA PARA A PADRONIZAOO Brasil perde 30% da produo de frutas e hortalias no caminho entre a colheita e o consumidor. Viabilizar uma estrutura capaz de reduzir esse percentual uma tarefa das Centrais de Abastecimento ao longo dos prximos anos

    por mAtHeus FeitozA

    40 Abastecer Brasil Dezembro 2013

  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 41

    2013, realizou um encontro com a Associao dos supermercados de Braslia para discutir um plano conjunto de padronizao das embalagens, envolvendo produtores e consumidores.

    na reunio, a ceasa apresentou uma proposta para que os donos de supermercados tambm aderissem ao projeto de padronizao. os compradores seriam parte integrante desta nova lgica. cada vez que o comprador chega ceasa com a prpria embalagem e o produtor precisa transferir os produtos de caixas, perde-se parte desse produto. com o projeto, buscamos evitar as perdas desnecessrias, explica Wilder santos, presidente da ceasa/dF.

    A ceasa/dF j conta com o Banco de caixas, mas nem todos os produtores utilizam o servio. os per-missionrios so os que mais buscam o centro para a higienizao das embalagens. com esta padronizao realizada, vamos integrar tambm os produtores na utilizao do Banco de caixas, afirma Wilder.

    A adequada acomodao dos produtos crucial no momento da venda ao consumidor final e a busca pela padronizao das embalagens uma tarefa rdua que as centrais de Abastecimento precisaro enfrentar ao longo dos prximos anos.

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  • 42 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    ceasa destaQue

    Um dos maiores centros de distribuio de alimentos e flores do Pas, com quase 40 anos de histria, investe na infraestrutura para dar mais conforto ao seu pblico: permissionrios, produtores e consumidores.

    A vocao para o crescimento uma das principais caractersticas da centrais de Abastecimento de campinas, uma empresa da administrao indireta da prefeitura de campinas, sua maior acionista. crescer, mantendo a qualidade e a variedade de produtos, o atual desafio, anunciado pelo presidente mrio dino Gadioli. com recursos prprios e de parcerias, a ceasa campinas deve investir r$ 65 milhes, em trs anos.

    o projeto de modernizao visa acompanhar o desen-volvimento do pas, de olho no posicionamento estratgi-co do entreposto, s margens da rodovia d. pedro i, com acesso s principais estradas interestaduais da regio e ao aeroporto de viracopos, que passa por obras de expanso

    CEASA CAMPINASde oLho no fuTuro

    para tornar-se um dos maiores terminais do Brasil. preci-samos acompanhar o ritmo nacional, pois estamos numa regio que um grande polo de desenvolvimento, e seguir na mesma velocidade do crescimento de viracopos, analisa Gadioli. A empresa pretende, tambm, manter as aes sociais e de segurana alimentar que j desenvolve, outro de seus pontos fortes.

    entre as benfeitorias projetadas est a construo de duas novas estruturas para carregamento e descarrega-mento de cargas, para melhorar a logstica e o trfego de veculos do mercado de Hortifrutigranjeiros. As platafor-mas logsticas norte e sul sero cobertas, cada uma com uma rea de 3.500 metros quadrados, sendo 970 metros quadrados de piso, com capacidade para o trabalho simul-tneo de cerca de 140 veculos leves, mdios e pesados. A obra vai beneficiar os atacadistas e os clientes da ceasa, que podero operar com mais rapidez e conforto.

    nove cancelas eletrnicas j esto em funciona-mento nas portarias de entrada e sada de veculos do entreposto. A novidade traz mais segurana e agilidade no acesso dos mais de cinco mil veculos que circulam

    por eduArdo ritscHel

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  • Dezembro 2013 Abastecer Brasil 43Dezembro 2013 Abastecer Brasil 43

    em uma rea de 500 mil metros quadrados, a ceasa camPinas recebe em torno de 15 mil Pessoas Por dia

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  • 44 Abastecer Brasil Dezembro 201344 Abastecer Brasil Dezembro 2013

    diariamente pela central. Alm de maior conforto para clientes, comerciantes e trabalhadores, a automao o primeiro passo para aperfeioar o controle de acesso ceasa, explica Gadioli. o que se pretende com o aprimo-ramento logstico reduzir as filas de carros e caminhes nos horrios de pico.

    numa segunda etapa, tanto os veculos como o pblico que frequenta a empresa, inclusive os pedestres, sero cadastrados. com o software que gerencia as cancelas ser possvel gerar relatrios sobre o perfil do pblico do entreposto, com dados como frequncia, horrios, e tempo de permanncia na empresa. A ampliao das in-formaes sobre a circulao no mercado ajudar a ceasa no planejamento e em diversas outras iniciativas.

    para o presidente da Associao dos permissionrios da ceasa campinas (Assoceasa), marco Adami, investir na melhoria das condies de atendimento o ponto de partida para ampliar o processo de fidelizao dos clientes. com mais conforto e tratamento diferenciado, poderemos ampliar o fluxo de todas as classes de clientes interessadas na qualidade e no preo dos produtos ofere-cidos aqui, explica Adami.

    POTNCIA

    A estrutura que abriga dois mercados um de horti-frutigranjeiros e outro para flores e plantas ornamentais reflete a potncia da ceasa campinas. os nmeros impressionam: os mercados somam cerca de 1.300 lojas para comercializao (boxes e pedras), onde cerca de 920 permissionrios movimentam uma mdia de 66 mil tone-ladas de produtos por ms, o equivalente a r$ 105 milhes mensais. so aproximadamente 5,3 mil empregos diretos e mais de 20 mil indiretos.

    em uma rea de 500 mil metros quadrados, a central recebe em torno de 15 mil pessoas por dia. o estaciona-mento oferece mais de 3 mil vagas para veculos de pas-seio e de carga, motos e bicicletas. na rea operacional, a ceasa campinas conta com plataformas cobertas para carga e descarga de produtos, reas de beneficiamento e de depsitos e mais de 100 cmaras frias, com capacidade para conserv