revista abipem – setembro/outubro-2009

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ANO 2 - Nº 8 ANO 2 - Nº 8 MATURIDADE MATURIDADE 43º Congresso Nacional conrma papel central da Abipem na interlocução entre instituições do Regime Próprio e com esferas de governo Bancos CEF quer o primeiro lugar na captação de recursos dos RPPS Gestão Municípios sofrem com queda de arrecadação O papel das prefeituras nos programas habitacionais

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Revista ABIPEM – Setembro/Outubro-2009

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Page 1: Revista ABIPEM – Setembro/Outubro-2009

ANO 2 - Nº 8

AN

O 2

- N

º 8

MATURIDADEMATURIDADE43º Congresso Nacional confi rma papel central da Abipem na interlocução

entre instituições do Regime Próprio e com esferas de governo

Bancos CEF quer o primeiro lugar na captação de recursos dos RPPS

GestãoMunicípios

sofrem com queda de arrecadação

O papel dasprefeituras nos

programas habitacionais

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Ministério daPrevidência Socialwww.previdencia.gov.br

O BRASIL E A PREVIDÊNCIA SOCIAL VIVEM UM NOVO TEMPO.

E O SEU CLÓVIS, QUE SE APOSENTOU EM 30 MINUTOS, TAMBÉM.

PREVIDÊNCIA SOCIAL.UM NOVO TEMPO PARA O BRASIL E PARA VOCÊ.

A Previdência Social se tornou mais rápida e eficiente. Tanto que já reconhece direitos como aposentadoria e salário-maternidade

em até 30 minutos. E ainda tem outras melhorias:

agendamento por telefone maior rede de agências extrato previdenciário eletrônico carta-aviso para quem

atinge condições de aposentadoria por idade.*

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Page 5: Revista ABIPEM – Setembro/Outubro-2009

A Pátria Editora conta com profissionais altamente

qualificados, prontos para atender as expectativas

da sua empresa, executando o projeto editorial

desde a concepção até a entrega da publicação

para os leitores.

Telefone: 11 5505.6065www.patriaeditora.com.br

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Sumário

Carta ao leitor

Expediente

Conaprev discute compensação previdenciária, políticas de investimento e melhoria de

gestão das instituições do RPPS

Apeprem recomenda a entidades que recolham Pasep

independentemente de decisões judiciais a respeito da cobrança

do encargo

Osasco melhora resultados mediante revisão de

procedimentos para concessão de licenças médicas e invalidez

Manaus ensina secretarias municipais a lidar corretamente com pedidos de aposentadoria

Consequências da crise afetam fortemente emprego na Espanha;

surgem propostas para rever benefícios sociais

Prefeituras sofrem com queda da arrecadação da União e dos estados e

põem o pé no freio das despesas

Municípios têm papel estratégico em programa habitacional lançado pelo

governo federal

Cidades apresentam emigrantes como heróis do trabalho, mas ocupações no exterior são, na

maioria, precárias

Há 60 anos Orquestra Sinfônica da PM de Minas Gerais forma instrumentistas

e difunde música clássica

Lista de entrevistados

Agenda

Capa 1043º Congresso Nacional da Abipem,

que reuniu 900 participantes e representantes de 180 entidades, consagra papel da associação na

esfera dos RPPS

Entrevista 32Vice-presidente de Ativos de

Terceiros da Caixa, Bolivar Tarragó Moura Neto, diz que banco pretende assumir a liderança no segmento dos

Regimes Próprios

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Sumário Edição 8

6 Setembro/outubro 2009

Ilustração de capa: Nakata

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Nesta edição apresentamos alguns dos aspectos mais relevantes dos intensos e provei-tosos trabalhos que marcaram o 43º Congresso Nacional da Abipem. Como organismo vivo, a entidade colocou em discussão os temas que desafi am hoje os dirigentes dos Regimes Próprios, entre eles a tábua de mortalidade do IBGE adotada em 2008 para o cálculo atuarial, a necessidade de dotar o INSS de condições materiais e humanas para tornar ágil a liberação de processos e a realização de pagamentos, e a qualifi cação de gestores para alargar a fatia de renda variável das aplicações fi nanceiras dos institutos.Esse último empenho, tornado imperioso pela saudável queda do juro real, é debatido em entrevista do vice-presidente de Ativos de Terceiros da Caixa Econômica Federal, Bolivar Moura Neto. Ele afi rma a intenção do banco de conquistar o primeiro lugar em volume de aplicações dos RPPS.

Mostramos também a peculiar situação da Espanha: vítima, como o mundo inteiro, de uma crise atribuída à desregulamentação dos mercados fi nanceiros, o país discute redução de benefícios previdenciários.

O drama das fi nanças municipais, num quadro de queda da arrecadação de impostos pela União e pelos estados, aparece em reportagem onde se dá voz a recomendações de extrema cautela com gastos.

O programa de habitação lançado pelo governo federal exige dos municípios uma con-tribuição estratégica na escolha de terrenos. Quando muito distantes da rede de servi-ços urbanos, tornam precárias as condições de vida de seus moradores.O emigrante é herói da economia de cidades como Governador Valadares, em Minas Gerais, Criciúma, em Santa Catarina, e Anápolis, em Goiás. Mas a renda média desse contingente, calculado em 3,8 milhões de brasileiros, mostra que ocupam posições na base da pirâmide social dos países para onde viajam.

Boa leitura.

Demetrius Hintzpresidente da Abipem

PN

Carta ao leitor

Previdência Nacional 7

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Expediente

8 Setembro/outubro 2009

Abipem (www.abipem.org.br)

DIRETORIAPresidente: Demetrius Ubiratan HintzVice-Presidente: José Maria CorrêaSecretário Geral: Wellington Costas FreitasTesoureiro: João Carlos Figueiredo

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO André Luiz GoulartValnei RodriguesMoacir SallesLuiz Gustavo Ávila MendonçaAntonio Cezar Leite Lobato

CONSELHO FISCAL Roberta Cabral MedeirosJosé de Anchieta BatistaGláucia Maria Barreto Silva

Apeprem (www.apeprem.com.br)

DIRETORIAPresidente: João Carlos Figueiredo Vice-presidente: Jonas Baldissera1ª Secretária: Lucia Helena Vieira 2ª Secretária: Solange Maria Maximiano de Pádua1º Tesoureiro: Antonio Corrêa2º Tesoureiro: Antonio Scamatti

CONSELHO ADMINISTRATIVO TitularesAndré Luiz da Silva Mendes, Alberto Marques Passos, Christian Petterson Antunes Lemos, Eliane Valim dos Reis, Fernando Rodrigues da Silva, Glória Satoko Kono, Kleber Vicente Cavalcante, Marcia Regina Moralez, Marcus Vinicius Esteves Nunes, Moacir Benedito Pereira, Paulo César Pinto de Oliveira, Paulo Henrique Pastori, Roberto da Silva Oliveira, Sebastião Benedito Gonçalves, Sirleide da Silva.

CONSELHO ADMINISTRATIVO SuplentesAntonio Carlos Molina, Elisa Maria Rocha, Guiomar de Souza Pazian, Francisco Carlos Conceição, Maria Aparecida Della Villa, Onésimo Canos Silva Júnior, Paulo Vicentino, Vandré Lencioni de Camargo.

CONSELHO FISCAL TitularesEdmilso Martins, José Tomaz, Nelson Rodrigues de Mello.CONSELHO FISCAL SuplentesLuiz Roberto Lopes de Souza, Varlino Mariano de Souza.

Editora

JB Pátria Editora Ltda.

Presidente: Jaime BenutteDiretor: Iberê BenutteAdministrativoFinanceiro: Gabriela S. NascimentoComercial: Walter Torres e Bete CostaRepórter: Kelly Souza

Previdência Nacional

Publisher: Jaime BenutteConselho Editorial: André Luiz Goulart, Demetrius Ubiratan Hintz, Wellington Costa Freitas (Abipem); João Carlos Figueiredo, Lúcia Helena Viera, Magadar Rosália Costa Briguet (Apeprem); Paulo Henrique Pastori (Regime Geral); Jarbas Antonio de Biagi (Previdência complementar)

Editor: Trilogia Comunicação e Arte Ltda. - Mauro Malin, MTB 14887-67

Projeto Gráfi co e arte: Belatrix Ltda. Diretor de Arte: Marcelo Paton Assistentes de Arte: Gabriel de Moraes Luiz, Vivian Balardin

Colaboradores: Américo Gobbo, Antônio Cruz, Carla Dórea Bartz, Carlos Vasconcellos, Cb PM Sabino (PM-MG), Dalmo Curcio,Emídio Montenegro, Hylda Cavalcanti, Jorge Félix, Leonardo Fuhrmann, Nakata, Paulo Fávero, Raul Junior, Robervaldo Rocha, Romulo Fasanaro Filho, Victor Soares.

Impressão: IBEP - Tiragem: 50.000 exemplares

Empresa fi liada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec

A revista PREVIDÊNCIA NACIONAL é uma publicação bimestral da DB2 Editora, localizada na Rua Flórida, 1.703, 11º andar, Brooklin, CEP 04565-001, São Paulo – SP. Tel.: 11 5505-6065. www.patriaeditoria.com.brDúvidas ou sugestões: [email protected]

Os textos assinados são da responsabilidade de seus autores. Não estão autorizados a falar pela revista, bem como retirar produções, pessoas que não constem deste expediente e não possuam uma carta de referência.

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10 Setembro/outubro 2009

43º Congresso reúne 900 participantes, de 180 instituições, e reafi rma Abipem como principal entidade do RPPS no país

Hylda Cavalcanti

Tempo de maturidade

O 43º Congresso Nacional da Associação Brasileira de Instituições de Previdência Estaduais e Municipais, Abipem, realizado

em Brasília entre 22 e 24 de julho, aprovou uma Carta em que se aponta a entidade como a prin-cipal no país na esfera dos Regimes Próprios de Previdência Social. Eles acumulam, hoje, cerca de R$ 40 bilhões e pode-se dizer que vivem um novo tempo: de amadurecimento, profi ssionalização das administrações e capacitação cada vez maior dos seus gestores. Mesmo assim, ainda têm um longo caminho a percorrer. Necessitam de maior

blindagem legal e constitucional por meio de portarias e orientações normativas do Executivo, e do aperfeiçoamen-to de instrumentos que dêm às instituições do RPPS mais condições de capitalização no mercado fi nanceiro. O Congresso reuniu aproximadamente 900 pessoas, en-tre participantes – representantes de cerca de 180 insti-tuições de administração de regimes próprios de estados e municípios brasileiros –, palestrantes e patrocinadores. Durante três dias, foram realizados debates simultâneos sobre temas diversos com os principais dirigentes dos ór-gãos de controle dos RPPS, além de professores, consul-tores e especialistas no mercado de capitais.

Capa

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Representantes de instituições de administração de previdência durante cerimônia de abertura do Congresso

Cerca de 900 pessoas participaram dos três dias do evento

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Previdência Nacional 11

Na chamada Carta do 43º Congresso, documento com as principais conclusões a respeito do que foi discutido, os participantes ressaltaram que, apesar dos muitos avan-ços, o segmento precisa da valorização constante dos gestores dos RPPS, dos quais devem ser exigidos pré-re-quisitos em termos de formação acadêmica e certifi cação específi ca, abrangendo toda a administração do sistema previdenciário. A Carta chama a atenção para a questão da compensa-ção previdenciária e a importância de prover o INSS de equipamento e recursos humanos para a liberação de processos e pagamento dos recursos. E, ainda, para que seja acelerada a modernização dos programas de tecno-logia da informação em curso por parte da Dataprev.Os institutos afi rmam no documento que a tábua de mor-talidade em vigor para os RPPS (defi nida pela Portaria 403/2008), necessária para as atualizações atuariais, precisa ser revisada. Segundo a Carta, a tábua trabalha com valores tidos pelos gestores como extremamente oti-mistas em relação à idade da população brasileira.

No texto se destaca ainda que a crise econômica global iniciada em 2008 – da qual resultou um cenário de queda de juros no Brasil – exige dos regimes próprios explorar melhor as oportunida-des oferecidas pelo mercado, tornando necessá-ria maior rapidez na mudança das normas que balizam suas aplicações fi nanceiras (ver Ambição de liderar, página 32).O público presente ao Congresso teve a oportu-nidade de conhecer experiências de entidades de todo o país em programas considerados bem-sucedidos e pôde tirar dúvidas diretamente com autoridades. Os temas abordados, em palestras e workshops, foram desde investimentos, certi-fi cação de gestores, contabilidade e aspectos jurídicos relevantes para os RPPS até questões relacionadas a perícia médica, tecnologia da in-formação, informações atuariais, benefícios, pré-aposentadoria e pós-aposentadoria.O formato do 43º Congresso permitiu maior con-tato entre os participantes, deu-lhes a opção de acumular informação sobre diferentes questões e, também, a possibilidade de participar de várias palestras sobre um único tema, como forma de aprofundar conhecimentos específi cos.

Queda dos juros exige mudança da legislação

para permitir novas modalidades de investimentos

Gestores pedem revisão da tábua de

mortalidade adotada nas atualizações atuariais

Demetrius Hintz

João Figueiredo

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12 Setembro/outubro 2009

Outro destaque foi, mais uma vez, a transmissão ao vivo do evento pela TV Abipem, que ofereceu todo o conteúdo no site da entidade. Isso per-mitiu aos representantes dos RPPS recuperar as palestras às quais não puderam assistir, assim como possibilitou a servidores dos RPPS que não estiveram presentes acompanhar de seus esta-dos e municípios a programação. “O congresso consolidou, de vez, a TV Abipem como importante ferramenta de democratização da informação para o segmento, assim como a revista Previdência Nacional”, disse o presidente da Abipem e do Instituto de Previdência de San-ta Catarina, Demetrius Hintz, ao fazer seu balan-ço do evento. “Superamos as expectativas neste 43º Congresso, o que mostra que nós, gestores, apoiados pela Abipem e por todas as demais as-sociações, assumimos de fato a responsabilidade pelo rumo do sistema, estipulando um patamar constante de exigências. Mas para chegar ao ho-rizonte pretendido não podemos nos enganar: temos um longo caminho a percorrer. Até porque a Previdência está em constante transformação,

seguindo o rumo das mudanças sociais e econômicas des-te país. Estamos administrando os benefícios de aposen-tadoria e de pensão de milhares de servidores e devemos ter essa responsabilidade sempre presente”.Segundo o tesoureiro da Abipem e presidente da Asso-ciação Paulista das Entidades de Previdência do Estado e dos Municípios, Apeprem, João Figueiredo, o Congresso consolidou uma espécie de simbiose entre todas as enti-dades do RPPS.

“O que aconteceu aqui não aconteceu isoladamente. Deu-se, primeiro, pela vontade da diretoria e pelo apoio dos parceiros, os patrocinadores do evento. Eles provaram que acreditam no projeto, confiam na Abipem e não têm medo de vincular suas marcas às atividades da associação, porque sabem que aquilo com que nos comprometemos é cumprido. Depois, pelo apoio que os próprios participantes nos deram, atestando nossa credibilidade, uma vez que os resul-tados iniciais constataram aumento de cerca de 30% do número de instituições de RPPS presentes em re-lação ao congresso anterior. Tudo isso, além de muito gratificante, revela o êxito do esforço feito pela equi-pe organizadora”, disse Figueiredo.Ao longo do Congresso, servidores e gestores procuraram abordar palestrantes e debater questões tidas por eles como fundamentais. Caso de Alberi Zanatta, do Fundo de Previdência de Taquara, no Rio Grande do Sul. – Foram extremamente importantes os assuntos aborda-dos e esperamos que a discussão de temas tão relevantes para nós, como é o caso da tábua de mortalidade adotada pelo Ministério da Previdência, leve a novos avanços nos regimes próprios, já que pudemos dialogar e discutir com representantes do próprio segmento – disse ele. – Participo dos congressos da Abipem todos os anos, mas este último me impressionou pela quantidade de temas, qualidade das palestras e pela competência dos exposito-res. Volto para casa munida de uma bagagem bem maior para tocar o trabalho e com confi ança em acertar – elo-giou Hilca Rodrigues, do Instituto de Previdência dos Ser-vidores Públicos de Cariacica, Espírito Santo.

Dirigente ressalta entrosamento entre todas as entidades do RPPS e elogia

organizadores

Congresso consolidou TV Abipem e revista Previdência Nacional

como veículos da entidade, diz presidente

Confraternização após palestras

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Previdência Nacional 13

Junto aos patrocinadores, o entusiasmo não foi diferente. Exemplo disso é o depoimento do representante da Schro-ders, João Aparecido Costa de França: – O Congresso criou num ambiente ímpar, com pessoas do Brasil inteiro. Não conseguiríamos reunir esse povo todo num mesmo lugar se não fosse em oportunidades como esta, que contribuiu muito para ampliar nossa rede de relacionamentos. O gerente chefe de Investimentos do Bradesco, Aldo

José da Silva, disse que “os RPPS têm crescido bastante, com profunda evolução no mercado de investimentos”, o que tem relação, de acordo com ele, com a maturidade das instituições e também com a profi ssionalização dos gestores desses regimes. “O evento representou a possi-bilidade de mantermos contato com potenciais clientes”, constatou.

Schroders e Bradesco saúdam a possibilidade de fazer contatos

Estandes de instituições fi nanceiras

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14 Setembro/outubro 2009

Para a gerente comercial de investimentos do San-tander, Anete Barbosa, com a grande importân-cia da Previdência no setor público e a legislação adotada nos últimos anos, desde a publicação de regras para investimentos, os bancos passaram a olhar com mais atenção para esse segmento. – É realmente um mercado bastante promissor, visto que nós, bancos, que antigamente bus-cávamos fundos de pensão, hoje encontramos nos RPPS um setor que cresce muito mais. Isso decorre do fato de que os fundos de pensão já estão maduros e os RPPS ainda estão capitali-zando suas reservas. Consistem, portanto, num excelente campo de trabalho para as institui-ções fi nanceiras – avaliou Anete.

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Santander destaca crescimento dos RPPS. Itaú valoriza trabalho

de esclarecimento

O representante da Superintendência de Investido-res Institucionais do Itaú Unibanco, Wellington Lanza, chamou a atenção para a importância de se obser-var, em congressos do tipo, quais são as dúvidas dos participantes em relação à legislação e à política de investimentos. Até mesmo como forma de ajudar a resolver tais dúvidas e para analisar as ferramentas de conhecimento de que os gestores precisam, para que possam ser oferecidas pelo mercado.

– Para nós foi um privilégio estar aqui, pela oportuni-dade de aproximação com os administradores dos Re-gimes Próprios, de criar laços e incentivá-los – disse Tiago Freitas Netto, do núcleo institucional do Banco Cruzeiro do Sul.A mesma impressão teve o gerente nacional de Pes-soa Jurídica Governo da Caixa Econômica Federal, Milton Córdova. – Eventos desta natureza nos dão a oportunidade de discutir assuntos que dizem respeito não apenas aos RPPS como também à Previdência como um todo. Agora que os regimes próprios deverão ser obrigados a buscar outras formas de investimentos que aumen-tem sua rentabilidade, fóruns desse tipo nos ajudam dando uma idéia de quais poderão ser as opções es-colhidas pelos institutos, possibilitando uma troca de informações com representantes de todo o seg-mento – disse Córdova (ver também Parcerias anti-gas, página 37).

Presidente do INSS diz que há similaridade entre Regime Próprio

e Regime Geral

Cruzeiro do Sul ressalta estabelecimento de laços

e CEF fala da utilidade de discutir opções de investimento

Valdir Moysés Simão

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Dentre os palestrantes, o presidente do INSS, Valdir Moysés Simão, destacou a existência, hoje, de uma similaridade entre o RPPS e o Regime Geral de Previ-dência Social, no tocante aos projetos de moderniza-ção e programas de relacionamento com os servidores. Simão afi rmou que a intenção do instituto é colaborar com os regimes próprios para que tal relacionamen-to seja feito, por completo, de forma eletrônica e por meio de certifi cação digital, como modo de dar maior viabilidade jurídica a esses sistemas. – Precisamos trabalhar cada vez mais em parceria, para que a gestão da informatização dos regimes pró-prios seja compartilhada com o INSS e, assim, os servi-dores possam consultar todas as informações que lhes dizem respeito nos seus regimes. E também para que o relacionamento destes com a Previdência, no caso dos servidores que já se aposentaram, possa ser segmen-tado e especializado conforme as necessidades desse público específi co, tão diferente daquelas pessoas que ainda estão em atividade laboral – afi rmou.O presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, afi rmou que ainda não existe ninguém, no país, que possua um cadastro completo de todos os servidores públicos.

– O Regime Geral já atingiu um número de estatísticas que o Brasil conhece, e que mostra o que é feito em ter-mos de Previdência. Mas no caso dos Regimes Próprios o universo é desconhecido: cada um dos institutos de RPPS sabe o seu, mas ninguém conhece todos – disse. Segundo ele, a mesma coisa também está acontecen-do, embora de uma maneira um pouco mais diferencia-da, nos regimes privados de Previdência, no tocante à fi scalização econômica de tais regimes. – O país precisa ter noção dessas informações e a unifi -cação dos dados dos RPPS com os do Regime Geral, na minha opinião, é uma tendência inexorável – previu.Assumpção reconheceu que não há nenhuma obrigação legal que leve a isso. O presidente da Dataprev, no en-tanto, é otimista. Acredita que nos próximos cinco anos o sistema já estará interligado, em função de trabalhos

Dataprev lamenta que não exista no país um cadastro

completo de todos os servidores públicos

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que começam a ser feitos. De acordo com ele, os primeiros passos deverão ser concluídos no próximo ano. “Daí em diante, teremos uma janela de oportunidades junto aos RPPS em termos de depuração e de processamento de dados”, prometeu.O coordenador geral de Auditoria, Atuária, Contabilidade e Investimentos do Ministério da Previdência, Otoni Guimarães Gonçalves, passou boa parte das palestras orientando os participantes sobre como elaborar correta-mente os planos de contas de seus institutos. Otoni Gonçalves contou que mesmo com a ca-pacitação dos gestores, nos últimos anos, boa parte das auditorias realizadas pelo ministério nos RPPS mostram algum ponto que merece ser regularizado na documentação apresenta-da pelas entidades administradoras, tais como problemas de gestão, repasse de contribuições ou utilização indevida de recursos nas taxas de administração. O coordenador ressaltou que a Abipem, com seu trabalho, tem exercido um papel fundamental na capacitação dos gestores, na troca de informações e na orientação a es-ses profi ssionais. – Os planos de conta das entidades precisam ser transparentes e temos a ferramenta que permite e facilita a integração da contabilidade dos RPPS às contas dos entes federativos para que possa ser feita a devida prestação junto aos outros órgãos de controle, além da Previ-dência – disse.

Previdência Nacional 15

Otoni Gonçalves Guimarães

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Novas balizas

Certifi cação de gestores, mudança de dirigentes em decorrência das eleições municipais de 2008, mudança da tábua de mortalidade usada no cál-culo atuarial e necessidade de mudar conceitos na alocação de investimentos foram os desafi os apontados durante o 43º Congresso da Abipem pelo secretário de Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência, Helmut Schwarzer, para os RPPS de estados e municípios. Schwarzer anunciou que nova resolução do Con-selho Monetário Nacional (CMN) para os Regimes Próprios está em reta fi nal de negociação. Na prática, haverá mudanças para abrir novas opor-tunidades de investimento. “A queda da taxa de juro, que benefi cia a econo-mia brasileira como um todo, coloca o desafi o da rentabilidade para os investimentos dos RPPS. Vamos ter que passar a diversifi car as carteiras de investimentos dos nossos regimes. Hoje, na média do sistema, apenas 2% dos investimentos estão em renda variável”, disse.

Fundos poderão participar de projetos de desenvolvimento em suas regiões

Dentre os instrumentos a serem apresentados pelo CMN na resolução – que substituirá a Resolução 3.506 – o secretário adiantou que constam a cria-ção de um fundo de investimento em participações, FIP. O fundo permitirá que os Regimes Próprios pos-sam ter investimentos em atividades da chamada economia real, inclusive no âmbito regional, como no desenvolvimento de um projeto de infraestrutu-ra ou em empresa de porte regional ou nacional. Assim, os RPPS terão a oportunidade de, com seus

Helmut Schwarzer anuncia que regras a serem aprovadas pelo CMN para os RPPS incluirão fundo de investimento em participações

Schwarzer anunciou que nova resolução do CMN está em negociação

investimentos, também contribuir para o desenvol-vimento de determinada área ou região, chamando a atenção para o impacto que podem ter sobre as condições de vida dos cidadãos. Segundo Schwarzer, os RPPS dos estados e muni-cípios passaram por muitas inovações em pouco tempo. Nos últimos 12 meses, as entidades que ad-ministram esses regimes vivenciaram um processo

16 Setembro/outubro 200916 Setembro/outubro 2009

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de mudanças que se destacou tanto pela formação, cada vez mais consolidada, de uma ges-tão profissional, como também pela publicação de normatiza-ções e portarias do Ministério da Previdência. Além de viver a expectativa da nova resolução do CMN, muitas entidades passaram pela troca de dirigentes, em função da posse dos atuais prefeitos. Desafi os que exigiram aprimoramento e esfor-ço, mas apresentaram saldo posi-tivo, avaliou o secretário.

Mudanças recentes na vida dos Regimes Próprios caminharam no sentido da

profi ssionalização

“Os regimes próprios se fortale-ceram nesse caminho de adap-tações às mudanças observadas ao longo do último ano. Podemos olhar com confi ança para o futu-ro, com a certeza de que os nos-sos regimes de Previdência e a nossa economia têm um amplo potencial de desenvolvimento”, afi rmou. Para ele, boa parte do sucesso decorre do fato de esta-rem sendo formados, de modo gradativo, vários grupos de ges-tores profi ssionais qualifi cados dentro do sistema – equipes que chamou de “formadores da espi-nha dorsal dos RPPS”. Apesar dos elogios, o secretário chamou a atenção dos gestores para a necessidade de maior esforço em decorrência das mu-danças observadas em relação à tábua atuarial (tabela com as probabilidades de sobrevivên-cia e morte de uma população). Schwarzer explicou que, antes da portaria 403, qualquer tábua de expectativa de vida que o atuário

do RPPS pudesse, minimamente, justifi car, era tida como aceitá-vel, o que não é mais possível. O tema foi amplamente discutido durante o congresso, pois várias entidades entendem que a nova tábua apresenta exageros. O se-cretário reconheceu que a incor-poração da tábua de expectativa de vida do IBGE como referência representa um endurecimento sig-nifi cativo dos critérios, mas consi-derou ultrapassada a antiga.

Governo pensa em exigir certifi cação mais rigorosa

de municípios com recursos entre 50 e 100 milhões

de reais

Com relação ao processo de certi-fi cação dos gestores responsáveis pelos investimentos dos regimes próprios, Schwarzer destacou que a primeira etapa desse processo – a determinação de que todos os 22 estados que têm RPPS e o Distrito Federal (DF) apresentas-sem os certifi cados, cujo prazo se encerrou em 31 de dezembro do ano passado – foi atingida com êxito e o ministério executa agora a segunda etapa. No dia 30 de junho encerrou-se o prazo para que todos os municí-pios com RPPS que possuem R$ 10 milhões ou mais de recursos acumulados – 267 municípios – apresentassem o certifi cado do dirigente responsável pelos inves-timentos. Até 20 de julho, 156 o tinham encaminhado ao ministé-rio. “Na medida em que os de-mais municípios forem apresen-tando seus certifi cados, acredito que iremos completar o universo dos 267”, disse o secretário. Segundo Schwarzer, esse conjun-to – 22 estados, o DF e os 267

municípios – é responsável por 88% do estoque de investimen-tos dos RPPS. “Signifi ca dizer que 88% dos recursos dos regi-mes próprios estarão sendo ge-renciados por pessoas que têm realmente uma certifi cação”, afi rmou.Até o fi nal deste ano, outros 1.200 municípios cujos RPPS possuem recursos acumulados inferiores a R$ 10 milhões terão que apresentar os certifi cados de seus gestores de investimento. Como andamento dessa busca por capacitação, Schwarzer su-geriu, ainda, que o segmento co-mece a pensar na possibilidade de passar a ser exigida, até 2011, certifi cação num patamar mais elevado do que o CPA 10 para os municípios cujos regimes próprios possuem entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões. (H.C.)

Previdência Nacional 17Previdência Nacional 17

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Leis estaduais e municipais permitem abusosO diretor do Departamento dos Regimes de Previdência no Serviço Público do Ministério da Previdência Social (MPS), Delúbio Gomes, fez um apelo aos gestores e servi-dores dos RPPS de todo o país para que conscientizem a população dos seus estados e municípios e, principalmen-te, deputados e vereadores sobre a necessidade de serem formuladas e aprovadas leis capazes de mudar vários fato-res que tornam desequilibrados fi nanceiramente os siste-mas previdenciários. Segundo o diretor, que falou no 43º Congresso da Abipem, vários benefícios, como as pensões por morte, são concedidos durante a vida inteira a pessoas que muitas vezes possuem total capacidade de trabalho.De acordo com ele, é preciso mudar a cultura previden-ciária no Brasil e, assim, fazer a população entender que aposentadorias e pensões não devem ser vistas como fontes de renda, mas de provimento para pessoas que, em função da idade e da contribuição que já deram à sociedade, não possuem mais condições de trabalhar.

Quando duas pensões acabam indo para uma pessoa só

“Não quero ver nenhuma velhinha desamparada, mas o Bra-sil precisa entender que Previdência não existe para propiciar renda para todos e sim, para garantir renda às pessoas que não têm mais capacidade laboral”, afi rmou. O diretor citou como exemplo situações de homens que deixam pensão para a atual esposa e a ex. Em muitos regimes, contou, quando uma dessas morre, o valor que lhe era pago segue automaticamente para a outra, que passa a ter direito, então, ao dobro do valor antes per-cebido. Segundo ele, esse tipo de disfunção pode ser corrigido com leis estaduais que mudem as regras dos regimes próprios em cada ente federativo. Delúbio Gomes reconheceu que a missão de mudar tal cultura é tarefa árdua e impopular. Para o diretor, somen-

te a questão das pensões não vai resolver a solvên-cia dos RPPS. Gomes mostrou, num gráfi co, que em 2050 o país terá um universo signifi cativo de pessoas com idade acima de 60 anos.

União tem porcentagem maior de inativos e pensionistas, mas amplia

quadro de ativos

“Só conseguiremos equilibrar essa conta com medi-das de gestão. Já fi zemos a Emenda Constitucional número 20 (da Reforma da Previdência, 1998) e a Emenda 41 (2003). Ambas ajudaram nas despesas com o setor previdenciário, mas ainda é preciso mais. E os problemas serão resolvidos com avaliação, por parte dos regimes, de formas de otimização de recei-tas de administração fi nanceira e patrimonial”, reco-mendou. Ele afi rmou que eventos como os cursos e congressos promovidos pela Abipem são fundamen-tais para isso.No caso da União, dados do ano passado mostram que existem 1,118 milhão de servidores ativos, 529,5 mil inativos e 448,3 mil pensionistas. Gomes mostrou que o quadro de ativos na União está mu-dando devido ao grande número de concursos pú-blicos realizados. Já no tocante aos estados e municípios a situação é um pouco mais confortável (ver tabela). “A única maneira de enfrentar tudo isso que discutimos aqui é entender que Previdência, para o servidor públi-co, é algo muito complexo. Requer profi ssionalização, seriedade e formação. Temos obrigação de garantir o benefício de milhões de brasileiros. Para isso, precisamos melhorar a legislação e, até mesmo, ser um pouco mais radicais, como forma de garantir tranquilidade, no futuro, para os Regimes Próprios”. (H.C.)

Servidores da União, dos estados e dos municípios, 2008

Ente Ativos Inativos Pensionistas Total

União 1.118.360 529.563 448.376 2.096.299

Estados 2.793.050 1.144.698 384.509 4.322.257

Municípios 2.156.676 401.793 151.111 2.709.580

Total 6.068.086 2.076.054 983.996 9.128.136

Fonte: MPS, Secretaria de Políticas de Previdência Social

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Previdência Nacional 19

Bahia cria programa de preparação para aposentadoria

portante na vida funcional do servidor, motivo pelo qual ele precisa estar preparado para enfrentar os ganhos e as perdas que terá”, afi rmou a superin-tendente de Previdência da Su-perintendência de Previdência da Bahia, Suprev, vinculada à Secretaria da Administração do estado, Daniella Souza de Mou-ra Gomes. Sem qualquer tipo de apelo assistencial e com um cus-to mínimo, o programa é, basica-mente, focado em informações e esclarecimentos de utilidade pública sobre cursos e direitos que os servidores terão quando se aposentarem.

Programa se desenvolve por meio de palestras, com a ajuda de uma

rede de parceiros

A princípio, o nome pode soar quase como uma bomba: “Prepa-re-se”. Algo como: “Cuidado, vem aí a aposentadoria”. Mas desde que entrou em operação, há qua-se um ano, o programa intitulado “Prepare-se”, de preparação para os pré-aposentados da Bahia, tem mudado a realidade previdenciá-ria do estado e apresentando sig-nifi cativas transformações, tanto do ponto de vista humano – na forma de condução do trabalho por parte da equipe de previdên-cia dos servidores baianos – e também no estímulo aos que estão prestes a passar para uma nova etapa de suas vidas. Devido a esse êxito, a iniciativa foi apre-sentada com destaque durante o 43º Congresso da Abipem. “Entendemos a aposentadoria como uma fase de transição im-

Apresenta, ainda, um viés moti-vacional com o objetivo de ajudar essas pessoas pré-aposentadas a construir um novo projeto para suas vidas. Apesar de serem rea-lizados trabalhos de caráter pare-cido – e bem-sucedidos – em mu-nicípios brasileiros, como Manaus (ver Orientação precisa, página 30) e Joinville (Santa Catarina), o Prepare-se consiste na primeira iniciativa desenvolvida neste sen-tido no âmbito estadual. Na prática, os encontros são reali-zados com a colaboração de uma rede de parceiros que inclui Minis-tério Público, Polícia Civil (por meio da Delegacia do Idoso), Polícia Mili-tar (com o Núcleo de Interatividade do Veterano), Procon (que presta esclarecimentos sobre direitos do consumidor e endividamento na terceira idade) e Procuradoria Geral

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20 Setembro/outubro 2009

do Estado (à qual cabe abordar, nas palestras, formas de cálculo de benefícios e novas regras de reajuste desses benefícios, depois da aposentadoria).

Preparação do servidor começa um ano antes da data marcada para cessação do trabalho

Lançado em outubro passado, o programa está prestes a iniciar sua terceira etapa. Já foi realizado em Salvador e também no município de Ilhéus, devendo prosseguir no interior baiano com um público de, em média, 150 pessoas em cada palestra. De acordo com Daniella Gomes, antes da implementação do Prepare-se, os servidores em vias de se aposentar eram sim-plesmente comunicados de que a partir de tal data, quando comple-tariam 70 anos, poderiam deixar

de trabalhar. “Era quase como um aviso expresso: de tal dia em dian-te arrume suas coisas, esvazie suas gavetas e não volte mais aqui”, dis-se. Com a realização do programa, os pré-aposentados passaram a se sentir valorizados, o que levou a equipe da superintendência a trabalhar mais o lado humano dessas pessoas. Hoje, com um ano de antecedência da aposen-tadoria (no dia em que completa 69 anos), o servidor recebe uma carta assinada pelo próprio secre-tário da Administração, convidan-do-o a participar do Prepare-se. “A primeira turma veio para as palestras muito mais movida pela curiosidade do que por acreditar na nossa real intenção. Mas depois foi interessante ver o contenta-mento demonstrado e o repasse de informações deles para os colegas”, ressaltou a superintendente.Como um dos resultados, durante pesquisa de avaliação feita junto aos participantes para que dessem uma nota de zero a cinco sobre a iniciativa, a média obtida foi 4,78. “No começo as pessoas não conhe-ciam o programa e também não sa-biam o que seria abordado. Agora, por conta da divulgação, o Prepare-se está disseminado no serviço pú-blico baiano e já se tornou perene, independentemente da gestão do governo”, afi rmou Daniella.

Concessão de aposentadorias era

espalhada por diversos órgãos da

administração estadual

O Prepare-se é um dos lados mais criativos do regime próprio de Pre-vidência da Bahia, que também apresenta problemas e requer desafi os por parte dos seus ges-

Daniella Gomes: no começo, as pessoas era movidas só

por curiosidade

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tores. A primeira vitória, entretan-to, foi a criação da Suprev, há um ano e meio. Antes disso, segundo a superintendente, a Previdência baiana era totalmente descentra-lizada. Uma parte fi cava a cargo da Secretaria da Fazenda, que tinha a missão de administrar o fundo de previdência do estado, o Funprev. Outra era de respon-sabilidade da Secretaria de Admi-nistração, que tinha uma diretoria de previdência, responsável ape-nas pela concessão das pensões. As aposentadorias, então, eram espalhadas por diferentes setores do governo no estado. A superintendência surgiu com a exigência constitucional de cria-ção de uma unidade gestora, até mesmo para que a Bahia não fosse punida com a suspensão do Certifi cado de Regularidade Previdenciária, CRP. Foi criada depois de proposta por comissão multissetorial formada por repre-sentantes de todos os poderes – Judiciário, Ministério Público, Legislativo e Executivo estaduais.

Recursos chegam a R$ 100 milhões,

mas cálculo atuarial aponta défi cit técnico de

R$ 37 bilhões

“A partir daí nós também segrega-mos a massa de segurados em dois pontos: o Funprev, que é um fundo fi nanceiro regido pelo sistema de caixa, e o Baprev, que é um fundo novo, totalmente capitalizado”, afi r-mou a superintendente. De acordo com Daniella, eles possuem recur-sos acumulados da ordem de R$ 100 milhões ao longo desse ano e meio. O problema é que, a exemplo de outros RPPS do país, conforme o cálculo atuarial, estão defi citários em R$ 37 bilhões. “Estamos cami-

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nhando com a nossa capitalização, que ainda é muito incipiente. Temos 72 mil aposentados e 18 mil pen-sionistas, ou seja, uma clientela de 90 mil pessoas. E contamos com 160 mil servidores ativos”, explicou a gestora, ao acentuar que o esta-do tem recursos aplicados, mas a maior parte em renda fi xa.

Face humana tem tanta importância

quanto aprimoramento técnico da gestão

A Suprev tem gestão própria dos investimentos, por meio da sua diretoria de gestão previden-ciária de investimentos. Além disso, conforme estabelecem as regras, o diretor e o coordena-dor de investimentos são certi-fi cados pela Anbid. Como forma

de atingir sua meta atuarial, a Suprev está investindo, ainda, na capacitação de técnicos, bem como na realização de cursos de capacitação interna entre os de-mais servidores da entidade.Segundo Daniella Gomes, a va-lorização do servidor não passa exatamente pela pauta salarial. “Sabemos que existem outros mecanismos, outras ações que aumentam a autoestima do ser-vidor, tanto o que está em ati-vidade como também aquele que está prestes a se aposentar. Percebemos que, muitas vezes, os institutos se preocupam com gestão de ativos, gestão de bene-fícios, recadastramento, ações de controle sobre a folha de paga-mento, e se esquecem um pouco desse outro lado, que também é importante. Na verdade a Previ-

dência é tudo isso e, também, a valorização dessas pessoas. Não dá para promover uma ação sem outra, caso contrário será gerada uma situação de desequilíbrio”, acentuou ela, num depoimento que vale como recado para as outras entidades de RPPS inte-ressadas em realizar trabalho semelhante. (H.C.)

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Eventos

Conaprev cria grupos de trabalho para discutir compensação previdenciária, políticas de investimento

e melhoria de gestão dos RPPS

Alinhamento

D iante da perspectiva de aprovação, em breve, de resolução do Conselho Monetá-rio Nacional (CMN) com novas regras de

investimento para os RPPS, o Conselho Nacional dos Dirigentes de Regimes Próprios de Previdên-cia Social, Conaprev, aprovou, durante a última reunião ordinária, realizada em Brasília nos dias 20 e 21 de julho, a criação de dois grupos de trabalho para discutir a compensação previden-ciária, o aperfeiçoamento das políticas de inves-timento e a gestão dos Regimes Próprios.Caberá ao primeiro grupo analisar como as me-didas de capacitação dos Regimes Próprios po-derão ser mais bem atendidas, de forma a apri-morar o processo de profi ssionalização. E, com isso, fazer com que seja cumprido um programa de modernização e capacitação previsto para ser concluído até o fi nal de 2009, quando todos os RPPS dos estados e municípios terminarão de apresentar, ao Ministério da Previdência, os certi-fi cados dos gestores.O segundo grupo terá a missão de criar alternati-vas para uniformizar, em conjunto com o Ministé-rio da Previdência, os procedimentos de análise

de processos de compensação previdenciária entre esta-dos, municípios e União. Uma primeira reunião foi realizada no dia 3 de agosto, em São Paulo, para apresentação de sugestões para o blogue e o fórum da Conaprev, a serem criados dentro de curto espaço de tempo. Essas ferramentas de informação para o setor fi carão localizadas no site do Ministério da Previdência e estão passando por uma reformulação que abrange novos con-teúdos, além de uma janela própria onde serão veicula-das notícias produzidas para o conselho. No blogue, os conselheiros poderão trocar informações, discutir ações em andamento e encaminhar demandas uns aos outros.Para o secretário de Políticas de Previdência Social do ministério e presidente do Conaprev, Helmut Schwarzer, as sugestões apresentadas na reunião refl etem a neces-sidade do setor tanto em termos de conhecimentos mais

Para ministério, reunião refl etiu interesse dos Regimes Próprios em aprimorar gestão

Hylda Cavalcanti

Blogue e fórum fi carão no site da Previdência

http://www.mpas.gov.br/

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Previdência Nacional 23

detalhados sobre carteiras de investimento como tam-bém para fazer projeções e planejamento que orientem a presença de cada RPPS no mercado de capitais, já que valores signifi cativos estão em jogo. O secretário destacou ainda que, apesar de a maior parte dos regimes ter optado pela certifi cação profi ssional da An-bid na série 10, a chamada CPA 10, o ministério pretende ampliar a certifi cação dos gestores e dirigentes dos RPPS por intermédio de cursos rápidos com noções técnicas e avaliação de investimento, informações gerais sobre como funciona o mercado de capitais e as principais regras aplica-das aos investimentos dos Regimes Próprios.Um interesse que também é compartilhado pela Abipem. De acordo com o tesoureiro e representante da entida-de no Conaprev, e presidente da Associação Paulista das Entidades de Previdência dos Estados e Municípios, Ape-prem, João Figueiredo, a Abipem tem se destacado na preocupação em capacitar cada vez mais os gestores dos institutos de RPPS em cursos de graduação, pós-gradua-ção e gestão dos regimes próprios desde 2005. E se pre-para para novos rumos no segmento, com o lançamento de um curso de pós-graduação em parceria com a Escola de Formação Previdenciária.

Segundo o representante da escola e coordena-dor dos cursos, Edevaldo Fernandes da Silva, já foram preparadas turmas em vários estados bra-sileiros, sem falar de tribunais de contas, órgãos reguladores, entidades estaduais e municipais interessados em oferecer melhor aprimoramento profi ssional na gestão e administração dos RPPS para seus servidores. “É uma experiência que vem se consolidando muito nestes anos”, afi r-mou Silva. Ele disse que já foram formados, ao longo desse período, cerca de 1.200 gestores, de norte a sul do país.

Silva explicou que a busca desse aprimoramento se dá porque os RPPS até o fi nal da década de 90 tinham uma visão muito pouco técnica. Era muito mais um uso político ou de fl uxo de caixa que se fazia com esses recursos. Os governos escolhiam pagar menos pela previdência em lugar de efetiva-mente criar uma entidade de gestão. A partir do fi nal dos anos 90, entretanto, começou a haver uma construção diferenciada de tais regimes, em que cada vez mais se pensa na temporalidade, na vida do servidor em si e nas condições de prover renda e sustentabilidade a essa condição.“Isso tem cobrado dos institutos uma visão mais técnica, mais profi ssional e extremamente mais dinâmica”, disse Silva. A Abipem e a Apeprem, relatou, se comprometeram desde o início em pensar a Previdência de uma maneira mais forte, por meio da educação previdenciária como meio de transformação. Também foi apresentado no Conaprev, na mes-ma linha, o curso de pós-graduação do Centro Brasileiro de Estudos Previdenciários, em Per-nambuco, pelo diretor-presidente da Fundação de Aposentadorias e Pensões dos Servidores daquele estado, Dácio Rossiter Filho. Rossiter Fi-lho afi rmou que o curso com especialização em RPPS tem duas turmas confi rmadas, com início previsto para os próximos dias de agosto.

Centro Brasileiro de Estudos Previdenciários

também terá curso de alto nível

Abipem vai lançar pós-graduação em parceria

com Escola de Formação Previdenciária

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Biometria é usada contra fraudes em SC

Outra discussão que chamou a atenção dos participantes da reu-nião do Conaprev foi a implantação em Santa Catarina, a um custo pra-ticamente zero, de um trabalho pio-neiro de biometria (identifi cação de pessoas a partir de alguma carac-terística física) para cadastramento dos aposentados e pensionistas no estado. Conforme informações do gerente de tecnologia da informa-ção do Instituto de Previdência de Santa Catarina, Iprev, Dayan Thives

Oening, lá foi criado um software na área em parceria com a empresa Data Mobile. E desde o ano pas-sado todo servidor, no mês do seu aniversário, precisa provar que está vivo numa das agências, onde é fei-to um reconhecimento por meio da impressão digital.Para o presidente da Abipem e também presidente do Iprev, De-métrius Hintz, o êxito partiu de uma necessidade criada pela descober-ta de fraudes no sistema. Para se ter uma idéia, contou Hintz, apenas uma única pessoa cometeu fraude da ordem de R$ 600 mil em 2005. “Era algo tão bem arquitetado que tinha certidão atualizada em cartó-rio, ou seja, o fraudador chegou a ir até um cartório e obter uma de-claração como se a pessoa morta estivesse presente. Munido dessa declaração, conseguiu fazer vários empréstimos em bancos, utilizando o nome de um aposentado falecido havia mais de sete anos”, relatou. Hintz disse que a situação chegou um ponto tal que os instrumentos

utilizados para garantir a seguran-ça do repasse de recursos aos apo-sentados não estavam adiantado mais para evitar tais fraudes.

Ausência de aposentados no recadastramento resultou em bloqueio

de contas

Embora ainda não tenha uma no-ção do tamanho da economia ge-rada com o novo sistema, Hintz argumentou que uma prova de que o sistema coibiu esse tipo de prática foi o bloqueio mensal de contas sempre que aposentados deixaram de comparecer às agên-cias para fazer o recadastramento no dia do aniversário. “Além da segurança que nos proporcionou, o sistema teve custo muito baixo em termos de manutenção e até mesmo implantação de software e hardware. Trouxe um retorno exce-lente e acredito que possa vir a ser utilizado no Brasil inteiro”, acen-tuou o dirigente.

A reunião do Conaprev também foi importante para divulgar, junto aos conselheiros, o impac-to para os Regimes Próprios da ratifi cação pelo Brasil da Convenção 102 da Organização Inter-nacional do Trabalho, OIT. Na prática, a conven-ção defi ne nove ramos de seguridade social e

estabelece padrões mínimos para cada um desses, re-ferentes a percentagem mínima de cobertura individual, patamar mínimo para benefícios, período máximo para carência de acesso aos benefícios e duração mínima de benefícios. De acordo com a apresentação feita pelo secretário Hel-mut Schwarzer, com a ratifi cação da Convenção 102 o Brasil poderá se benefi ciar da experiência da OIT no cam-po da proteção social e da assistência técnica, incluindo conselhos a respeito de políticas e estudos atuariais, bem como recebimento de apoio estatístico e desenho de le-gislações. Além disso, explicou o secretário, o compro-misso do país com a Convenção 102 levará a benefícios regulares e sustentáveis, o que incrementará a confi ança das pessoas seguradas no regime e na administração na-cional da seguridade social.

Ministério diz que ratifi cação da Convenção 102 da OIT pelo Brasil

aumenta confi ança no sistema

Dayan Thives Oening

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26 Setembro/outubro 2009

Legislação

Apeprem recomenda quitação de Pasep independentemente de contestações em

curso na Justiça por bitributação

É melhor pagar

A Apeprem (Associação Paulista das Entidades de Previdência do Estado e dos Municípios) recomenda aos seus associa-dos que mantenham o pagamento do Pasep (Programa de

Formação do Patrimônio do Servidor Público) apesar das dúvidas quanto à cobrança dupla de tributos, conhecida como bitributação. A polêmica em alguns casos está na Justiça e alguns institutos de previdência já conseguiram liminares para a suspensão do paga-mento até decisão judicial sobre a legalidade da cobrança.O parecer pelo recolhimento do tributo foi feito pela advogada Ma-gadar Briguet, consultora jurídica da Apeprem. Ela destaca que os institutos podem e devem questionar a cobrança da parte patronal do tributo tanto em processos administrativos como pela via judici-ária, pois o mesmo valor acaba sendo cobrado duas vezes: da pre-feitura ou estado e do instituto de previdência. Pondera, no entanto, que enquanto não encontram uma solução para o caso, é recomen-

Leonardo Fuhrmann

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Previdência Nacional 27

dável que mantenham o pagamento em dia, até para evi-tar as rejeições de seus demonstrativos fi nanceiros pelos tribunais de contas. Além disso, os institutos de previdência que optarem por não fazer os pagamentos correm o risco de ter os valores cobrados depois com juros e multas pelo atraso.A advogada analisou concretamente o caso do Instituto de Previdência de São João da Boa Vista, município do interior paulista localizado na região de Campinas. O Tri-bunal de Contas do Estado de São Paulo apontou a falta de recolhimento do Pasep como um problema na aná-lise anual das contas do instituto. A Superintendência Regional da Receita Federal (SRRF) também o intimou para comprovar o recolhimento do tributo nos últimos cinco anos.O instituto consultou a Apeprem por ter dúvidas quanto à alíquota de cálculo do valor a ser pago e mesmo se o tributo deve ser recolhido também pelos institutos de previdência. Explicou ainda que encaminhou as suas dú-vidas para a Secretaria da Receita Federal e para o De-partamento de Regimes Próprios de Previdência Social e que elas não foram devidamente esclarecidas por ne-nhum dos dois órgãos.

O instituto questiona se a base de cálculo deve recair so-bre a contribuição dos segurados ou se deve levar em conta também os recursos patrimoniais e correntes de capital. Aponta como dúvida, ainda, se cabe a ele reco-lher os valores apurados a partir da contribuição patro-nal, de responsabilidade, no caso, do município.O Pasep foi criado por lei de 1970 e foi unifi cado com o PIS (Programa de Integração Social) cinco anos depois. Seu objetivo inicial era constituir um fundo de participação dos servidores na receita de órgãos, entidades e fundações da

administração direta e indireta nos três níveis de poder (União, estados e municípios). A partir da promulgação da Constituição de 1988, no entanto, o PIS/Pasep perdeu a sua co-notação de cunho social e passou a ter um cará-ter de contribuição com natureza tributária. Com isso, a distribuição de cotas deixa de existir e o dinheiro dos programas passa a ser usado para fi nanciar o seguro-desemprego e o pagamento de abonos.

Magadar destaca em sua análise que a jurispru-dência dos tribunais superiores entende que a arrecadação do PIS/Pasep é um encargo social e constitui inclusive despesa com pessoal na apli-cação da Lei de Responsabilidade Fiscal.A advogada aponta que o recolhimento da par-cela patronal do Pasep cabe ao ente federativo, segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça de 2002, no recurso especial 316.413, vindo de Santa Catarina. A relatora do caso foi a ministra Eliana Calmon, em análise de um pedido feito pela administração do município de Concórdia. Na decisão, a ministra afi rma que, “pelo princí-pio da universalidade que rege as contribuições previdenciárias, é irrecusável que os municípios contribuam no custeio do Pasep”. A decisão foi tomada por três votos a dois pela segunda tur-ma do tribunal.Magadar lembra que a lei federal 9.715, de 1998, estabeleceu também a base de cálculo para o recolhimento do Pasep pelos institutos de previdência. “Pelas pessoas jurídicas de direito público interno, com base no valor mensal das receitas correntes arrecadadas e das transferên-cias correntes e de capital recebidas”, destaca a advogada, citando a lei. Para ela, esta informa-ção deve servir de parâmetro da base de cálculo do instituto de previdência para a arrecadação de sua parte do Pasep, antes mesmo da resposta ofi cial dos órgãos consultados.

Tribunal de Contas paulista cobrou de São João da Boa Vista pagamento do encargo

Cortes superiores computam Pasep para aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal

Concórdia, em Santa Catarina, teve solicitação

negada pelo STJ em 2002

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28 Setembro/outubro 2009

Passo a Passo

Osasco revê procedimentos para concessão de licenças médicas e aposentadorias por invalidez. Essas chegavam a

44% dos pedidos, comparados a 27% no INSSLeonardo Fuhrmann

Servidores e previdência saudáveis

Quando assumiu a presidência do Instituto de Previdência do Município de Osasco (IPMO), na Grande São Paulo, José Amando Mota avisou ao prefeito da cidade, Emídio de Souza (PT), que precisaria de respaldo para tomar decisões que provocariam reações dentro do governo. As re-clamações de servidores logo chegariam a vere-adores e secretários e a pressão mais cedo ou mais tarde seria sentida pelo prefeito. Com o aval de Souza, Mota, que é médico, decidiu mudar o

sistema de concessão de licenças médicas e aposentado-rias por invalidez. – Cada dirigente de instituto de previdência tende a levar a sua experiência profi ssional para a administração do regime. A situação me chamou a atenção especialmente pela vivência que tenho na área de saúde – diz.O que mais se tornou evidente para ele, no início, foi o alto número de funcionários públicos municipais apo-sentados por invalidez, em torno de 44% do total de pe-didos de aposentadorias aceitos. Para se ter uma ideia,

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o Regime Geral de previdência tem uma média de 27%, mesmo incluindo profi ssões com riscos de acidentes muito maiores do que as que são exercidas pelos agen-tes municipais. Mota percebeu ainda que a maioria dos funcioná-rios que recebiam auxílio-doença tinha a depressão como causa do afastamento.

– A depressão é uma doença, mas era preciso saber que método os médicos usavam para decidir pelo afastamento e o período que o pa-ciente fi caria sem trabalhar. Senão, o servidor tem um problema de re-lacionamento com seu chefe na re-partição e pega um mês de licença para deixar a poeira baixar – exem-plifi ca.Ele conta que a unifi cação do pro-cedimento dos médicos que con-cedem as aposentadorias e auxí-lios-doença não foi tarefa simples, inclusive porque os profi ssionais são ligados à prefeitura e não ao instituto de previdência. Em alguns casos, esses médicos precisam ne-gar benefícios pedidos por seus superiores dentro da hierarquia do município ou para colegas de seu convívio. Além disso, pela própria relação que os funcionários muni-

cipais têm com vereadores e secre-tários, a rejeição de um pedido de benefício pode causar algum tipo de constrangimento. – Proibimos, por exemplo, os pe-ritos de receberem qualquer pre-sente dos pacientes. É uma medi-da que resguarda tanto o médico como o servidor, que não se sente na obrigação de levar um ‘agrado’ a quem vai examiná-lo – explica.Para Mota, esta situação também mostra a importância de o Regime Próprio de previdência ter um mé-dico entre seus dirigentes. – Sugiro aos presidentes que não são médicos que tenham um médico entre seus assessores para que pos-sam analisar as classifi cações das doenças nos pedidos de aposenta-doria por invalidez e os períodos nos casos de auxílio-doença – diz. Existem parâmetros internacionais para a classifi cação das doenças e Mota defende a presença de um profi ssional capacitado para inter-pretar as decisões médicas que vão resultar em novos gastos do institu-to de previdência. – Os peritos são obrigados a en-quadrar cada caso dentro dos parâmetros desta tabela e são responsáveis por seu preenchi-mento. Eles podem ser responsa-bilizados por erros ou omissões nessas guias – afi rma.

O prazo de reavaliação dos funcio-nários afastados também mudou. Antes, o normal era que os servi-dores só fossem reavaliados quan-do o prazo inicial de afastamento estivesse para vencer. – Um trabalhador recebia três me-ses de licença e só seria examinado de novo por aquele médico quando passassem os três meses, para que fosse decidido se a licença seria ou não prorrogada. Agora, a recomen-dação é para que esses pacientes sejam reavaliados ao longo desse período, para que o médico sai-ba mais sobre a evolução de cada caso – relata.Mota afi rma que a mudança me-lhora não só a situação fi nancei-ra do regime previdenciário mu-nicipal como garante condições adequadas de trabalho para os servidores. – A classifi cação dos problemas de saúde dos guardas municipais, por exemplo, nos ajudou a propor ao prefeito melhorias nas condições de trabalho deles, como equipa-mentos mais ergonômicos – diz.

José Amando Mota

Difi culdade de relacionamento com chefe não pode ser fator

para concessão de licença por

depressão

Avaliação do benefi ciário de afastamento

agora é feita com mais frequência

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Passo a Passo

ManausPrev dissemina conhecimento na administração municipal para facilitar processos de aposentadoria e

poupar tempo do próprio instituto

Orientação precisa

Falta informação aos servidores públicos sobre a aposentadoria e outros benefícios legais, constatou a presidente do ManausPrev, Danielle Leite, logo depois de assumir o cargo, no início do ano. Ela percebeu ainda que a falta de conhecimento não era um problema isolado, pois mesmo os funcioná-rios dos departamentos de recursos humanos das secretarias tinham diversas dúvidas sobre os requi-sitos para que um servidor entre com um pedido de aposentadoria. “Havia casos em que as pessoas que deveriam orientar outros servidores não sa-biam, por exemplo, a diferença entre aposentado-ria por idade e por tempo de serviço”, afi rma.

Além de ser importante que os trabalhadores conheçam seus direitos e deveres, Danielle percebeu que informar os servidores também aumentava a efi ciência do próprio ins-tituto de previdência, que acabava perdendo muito tempo com o início de análise de documentações incompletas ou fora das condições necessárias.

Instituto oferece cursos para funcionários de secretarias e

autarquias municipais

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Manaus encurtou a espera da aposentadoria

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– Alguns casos acabavam esbar-rando na burocracia, mas não era por culpa dos profi ssionais do Ma-nausPrev. Tínhamos de devolver porque faltava alguma coisa. Isso fazia com que aumentasse o tem-po entre a entrada dos pedidos de aposentadoria e a concessão dos benefícios – diz Danielle. Atualmente, uma aposentadoria lá demora 25 dias para ser concedida, a pensão sai em 15 e a análise de um pedido de revisão demora 40 dias.A solução encontrada foi criar cur-sos sobre aposentadoria dados pelo instituto para os funcionários das secretarias e autarquias da ci-dade. Funcionária da secretaria de Educação, Eleny Caranhas de Sou-za já participou de dois encontros sobre previdência promovidos pelo ManausPrev. – É importante que, além dos trei-namentos internos, eles criem a possibilidade de esclarecermos nos-sas dúvidas. Tem sido uma oportuni-dade para trocar ideias e aprimorar procedimentos – elogia Eleny. Ela destaca que, além de se informar sobre as mudanças de legislação, os cursos são importantes para que os servidores conheçam melhor as pe-culiaridade de cada caso, como as aposentadorias especiais. – Na Educação, onde trabalho, a contagem do tempo é diferente, por exemplo – cita.O programa, chamado Manaus-Prev Itinerante, começou em abril com um encontro para 60 funcio-nários públicos na sede do insti-tuto. A partir do mês seguinte, o ManausPrev começou a fazer visi-tas a diversas repartições públicas

para explicar os procedimentos usados nos pedidos de aposenta-doria e pensão. Além da palestra, um terminal computadorizado que simula a aposentadoria é instalado por 72 horas em cada unidade por onde o projeto passa, para que o segurado tenha noção de como é o processo nos casos de aposenta-doria por idade, tempo de serviço, invalidez e compulsória.Para Danielle, o trabalho não passa apenas por ensinar melhor os pro-cedimentos aos funcionários de re-cursos humanos das secretarias, é preciso conscientizar todos os servi-dores sobre seus direitos e deveres. – O trabalhador precisa ter cons-ciência de que o tempo de apo-sentadoria começa a contar no primeiro dia de trabalho, para que ele possa cuidar melhor dos seus direitos já a partir do início de sua carreira. Até mesmo para depois ter consciência de que a aposen-tadoria não é um último passo de uma carreira, é apenas outra etapa

da vida do trabalhador – acredita.De olho na situação dos trabalhado-res após a aposentadoria, o Manaus-Prev criou o programa Vitalidade,

que ajuda os profi ssionais a planejar a vida depois do serviço público. – Em muitos casos, as pessoas entram em depressão quando se aposentam porque não se progra-maram para ter qualidade de vida depois que deixam de trabalhar – explica Danielle. As ações incluem atividades de lazer, como passeios, cursos de qualifi ca-ção, palestras sobre temas de inte-resse dos aposentados e auxílio para a volta ao mercado de trabalho.Aposentada há mais de dez anos, a servidora Maria Coeli da Silva Câmara já participou dos cursos de artesanato em tecido, sandálias e bijuterias. Agora, estuda inglês, faz terapia de grupo e participa da equipe de memória. – Gosto também de participar dos passeios. Tem sido muito bom, vou lá todas as terças e quintas – conta. Manaus tem atualmente 4 mil ser-vidores aposentados pelo instituto e 12 mil em atividade. (L.F.)

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Danielle Leite

Terminal computadorizado permite que segurados tirem dúvidas sobre diferentes tipos de aposentadoria

Depressão, às vezes, é causada

por falta de planejamento da

nova etapa de vida

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Entrevista Bolivar Tarragó Moura NetoFo

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Vice-presidente de Ativos de Terceiros diz que CEF, graças a relação estreita com estados e municípios, caminha para

assumir o primeiro lugar na gestão de ativos do RPPS

Ambição de liderar

Previdência Nacional 33

O vice-presidente de Ativos de Terceiros da Cai-xa Econômica Federal, Bolivar Tarragó Moura Neto, prevê que a Caixa, hoje a segunda ins-

tituição com maior volume de recursos dos fundos do Regime Próprio de Previdência Social – cerca de R$ 8 bilhões –, caminha para conquistar a primeira colocação, graças ao relacionamento que tem com os entes públicos. – Nossa principal vantagem é o estreito relaciona-mento que mantemos com os estados e municípios e que temos fortalecido com os RPPS nos últimos anos. Ações como ofi cinas de treinamento para certifi cação de gestores (CPA-10 Anbid), realizadas pela Caixa em diversas regiões do país e destinadas a RPPS de to-dos os portes, nos dão a oportunidade de conhecer melhor as necessidades de nossos clientes e agregar valor ao nosso portfólio de fundos de investimento destinados a este público – diz Moura Neto.A CEF presta também serviços de assessoramento aos RPPS, tais como consultoria técnica, jurídica e organizacional, avaliação atuarial, elaboração de es-tudos para constituição de Regimes Próprios e rees-truturação de institutos defi citários (ver “Parcerias antigas”, na página 29).

Executivo elogia avanço na gestão dos RPPS

e trabalho do Ministério

– Nossa gestão é muito cautelosa, pois temos consciência de que, para os RPPS, aplicar na Caixa é ter a segurança de que nós seremos responsáveis na gestão de seus recursos – afi r-ma. – Entregamos o que vendemos. Se é um fundo mais conservador, seremos conservado-res. Recentemente, criamos fundos mais arroja-dos, para dar mais opções de investimento para os RPPS. Nesses fundos, buscamos ativos que permitam uma melhor performance, mas nunca perdemos de vista o fato de estarmos adminis-trando recursos públicos.A gestão dos fundos mantidos por instituições do RPPS é elogiada por Moura Neto: – Para nós, que acompanhamos o segmento há

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caso a estabilidade econômica e a queda dos juros reais perdurem (ver “Tempo de juros baixos”, PN 6, 2009). – Deve aumentar o perfi l de renda variável nas cartei-ras. Os ativos privados já têm aumentado e esse é um movimento que deve crescer – diz ele, que considera incorreta a ideia de que a queda dos juros “vai acabar com a indústria de fundos”.– Não vai acabar – afi rma. – Se fosse assim, a maior indústria de fundos do mun-do não seria a dos Estados Unidos, que têm juro zero. O que vai mudar é o perfi l da indústria brasileira. Nos Estados Unidos, ativos de renda variável são 70% da indústria de fundos. Trinta por cento são de renda fi xa. Desses 30%, grande parte é de ativos privados. Títu-los públicos, dentro da carteira desses fundos, somam um percentual em torno de 20%, 15%. Aqui, são 65%, 70%. Isso vai mudar, se continuar a tendência atual no Brasil, que a gente espera que continue, de queda de juros, estabilidade da economia. – O futuro traz um desafi o grande em matéria de mu-dança na forma de alocação, não só para esse seg-mento, mas para os investimentos de modo geral – diz

Moura Neto. – Nós já diversifi camos nosso portfólio de fundos para o RPPS. Trabalhávamos mais focados em renda fi xa. Atualmente temos também um fundo Refe-renciado DI, um fundo de ações e um fundo multimer-cado com estratégia long-short. Estamos criando agora um fundo voltado mais para crédito privado. Ele insiste na previsão de que, em alguns aspectos, o mercado terá que mudar. “Por exemplo, esse fundo de crédito privado que devemos lançar será um fundo aber-to, mas terá uma janela dilatada para resgates, de 365

Liquidez diária prejudica a rentabilidade para gestor de fundo previdenciário

Estabilidade econômica e queda dos juros provocarão aumento da renda variável nas carteiras dos fundos

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bastante tempo, a percepção é de que a gestão dos RPPS melhorou. Há maior maturidade, os prefeitos respeitam mais os institutos de previ-dência, procuram nomear pessoas mais qualifi -cadas, pelo menos alguém da área fi nanceira. Moura Neto diz que a quebra do Banco Santos, em 2004, que envolveu dezenas de institutos do RPPS (ver “Perdas e danos”, PN número 3, 2008), “ajudou um pouco a aumentar a maturidade dos investimentos e a diminuir o espaço para aven-turas”. Ele imagina que os RPPS recebam diaria-mente propostas mirabolantes, do tipo “Você vai ganhar muito sem ter risco nenhum”. Para o vice-presidente da CEF, o trabalho da SPPS (Secretaria de Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência) “é muito bom, e a mu-dança recente na regulamentação é positiva para o mercado” (ver “Novas normas”, PN 7, 2009). Moura Neto vê como inevitável uma mudança no perfi l dos fundos de investimento no Brasil

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dias”, anuncia. E explica:– Para um gestor de longo prazo, a liquidez diária tem um custo. As pessoas não costumam se dar conta dis-so. Quando o gestor de um fundo tem que manter uma parte signifi cativa dos ativos em carteira com liquidez diária, a remuneração do fundo tende a ser menor. Des-sa forma, uma das maneiras de melhorar a rentabilidade é buscar fundos de investimento com menor liquidez, possibilitando ao gestor alocar ativos privados de prazo mais longo e com melhor remuneração. Moura Neto acrescenta que, para os RPPS, “esse tipo de fundo preenche uma lacuna existente na legislação atu-al, que não permite a aquisição direta de títulos privados pelos institutos, e possibilita o acesso a oportunidades interessantes existentes no mercado, como é o caso dos DPGE – Depósitos a Prazo com Garantia Especial do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), papéis com baixo risco de crédito e com remuneração atrativa, atualmente”.

Para Moura Neto, o quadro de redução dos juros re-ais em que o país ingressou vai requerer uma mudan-ça de mentalidade.– No ano passado, quando a taxa de juros começou a subir, os fundos de renda fi xa que tinham papéis longos, pré-fi xados, sofreram. Então, vimos um movimento de saque e transferência para fundos mais conservadores, fundos DI cuja referência é o CDI – conta. – Para o investidor de longo prazo, esse movimento não se justifi ca. Se eu sou um RPPS, tenho que garantir a aposentadoria do meu funcionário daqui a 15 ou 20 anos. Ao invés de conferir o resultado de minhas aplica-ções diariamente, preciso olhar para a meta atuarial e traçar uma estratégia de investimento que atenda aos

Compromissos de longo prazo não combinam com

aflições de curto prazo

Previdência Nacional 35

Fundos do Regime Próprio ainda não estão autorizados a comprar títulos privados

meus objetivos de longo prazo. O vice-presidente da Caixa entende que essa é uma mudança de comportamento não só do RPPS, mas de todo investidor brasileiro. – Ficar olhando a cota do fundo diariamente é um comportamento da época em que havia infl ação. Mesmo o investidor de varejo mudará seu comportamento. Como procurar liquidez diária para tudo quanto é investimento? Vai aumentar o percentual de renda variável nas carteiras dos fundos – prevê. – E já estão aumentando os ativos privados. Es-tamos lançando alguns fundos com títulos priva-dos – informa. – Há alguns papeis, como CDBs de bancos com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que pagam uma remuneração interessante com risco baixo. Mesmo a procura de debêntures de empresas deve crescer muito.

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Ativos de R$ 200 bi

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Conselhos de administração também precisam levar em conta a nova conjuntura econômica

Outra questão apontada por Moura Neto é a dos cus-tos operacionais:– Uma taxa de juro alta encobre qualquer custo ope-racional. Com uma rentabilidade menor, é preciso tra-balhar mais ajustado. Se formos fazer um retrato dos RPPS, vamos ter situações muito díspares. Há os que já trabalham muito ajustados e outros que ainda pre-cisam fazer ajustes. Mas o importante é que, com essa taxa de juros, para cumprir meta atuarial, que já vai ser difícil, vão ter que trabalhar ajustados. Moura Neto aponta igualmente a necessidade de uma mudança de comportamento dos conselhos de admi-nistração dos RPPS.O acompanhamento do conselho sem uma calibragem à altura do contexto pode, segundo o vice-presidente da Caixa, levar a duas situações: cobrar um desempe-nho frenético, ou, ao contrário, induzir a um conserva-dorismo muito grande do gestor. – O gestor não arrisca nada porque se arriscar e errar, o conselho o critica – diz Moura Neto. – Tem que haver equilíbrio. É preciso deixar uma mar-gem para diversifi car mais os investimentos. Não é pos-sível fi car olhando o tempo todo o fundo de ações: hoje deu 5, amanhã dá 4. Tira daqui, põe ali, muitas vezes para exibir ao conselho um desempenho melhor. É preci-so considerar as coisas no longo prazo. Os fundos de pen-são ganharam rios de dinheiro na Bolsa. No ano passado, perderam 30%. Se a pessoa olhar só 2008, vai dizer: são uns incompetentes, não sabem nada.

Bolivar Tarragó Moura Neto, 41 anos, nasceu em Uru-guaiana, Rio Grande do Sul. Formou-se e fez mestrado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É funcionário de carreira do Ban-co Central. Foi diretor comercial do Banco do Estado do Rio Grande do Sul por quatro anos e trabalhou no Ministério da Fazenda durante a gestão de Antonio Palocci. Antes de assumir a vice-presidência de Ativos de Terceiros, há quase dois anos, foi vice-presidente de Risco da CEF.

Na Caixa, diferentemente do que ocorre em outras instituições fi nanceiras, a área de gestão de ativos não é uma empresa diferente. “Mas ela é segregada, responsável exclusivamente pelas tarefas de gerir fun-dos de investimentos e carteiras administradas que reúnem hoje um montante de R$ 200 bilhões, dos quais R$ 90 bilhões de fundos e R$ 110 bilhões de carteiras”, diz Moura Neto.O vice-presidente afi rma que esse montante coloca a Caixa entre os maiores gestores de recursos de terceiros do país.

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Previdência Nacional 37

Parcerias antigas

A Caixa Econômica Federal atua diretamente junto a governos estaduais e prefeituras na estruturação e manutenção dos Regimes Próprios de Previdência Social desde 1998, informa o gerente nacional de Pessoa Jurídica Governo do banco, Milton Córdova Junior. “O porte do município é fator preponderante na decisão de aderir ou não ao RPPS”, diz Córdova, entre outras razões devido aos custos para montar um instituto – custos administrativos e de pessoal focado exclusivamente numa tarefa que exige conhe-cimento especializado. O dirigente da Caixa conta que, entre prefeitos que foram a Brasília no início de fevereiro, convocados pelo governo federal para o anúncio de um “pacote de bondades”, cir-culou a ideia de formação de consórcios previdenciários capazes de compartilhar uma mesma estrutura adminis-trativa. Hoje, a legislação não dá essa possibilidade. Um fator que pesa favoravelmente, apontado pelo ge-rente de produto Pedro Watanabe, é o “bolso”. Wata-nabe explica:– O ônus para o Tesouro Municipal é menor. No Regi-me Geral, o município paga no mínimo uma alíquota de 20% e não tem a contrapartida de nenhum tipo de rendimento. No Regime Próprio, a alíquota é defi -nida pelo perfi l demográfi co do quadro de funcioná-rios. Quanto mais jovens são, menor ela é, porque é maior a possibilidade de acumular recursos durante o período laboral.

Resolução permite que estados e municípios com direito a royalties usem antecipação

para capitalizar Regimes Próprios

Milton Córdova diz que uma possibilidade interes-sante para os Institutos de previdência de estados e municípios que têm direito a receber royalties é que “a Lei 10.195/01 autoriza a utilização desses recursos para a capitalização de fundos do RPPS. A Resolução 43/2001 do Senado permite a cessão dos direitos dos royalties para a capitalização de Fundos de Previdência, o que na prática é uma an-

Caixa ajuda a organizar RPPS estaduais e municipais desde 1998

ENTREVISTA

Milton Córdova

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tecipação de parte dos royalties que o estado ou município rece-beria ao longo de um determina-do período”.– A transição de um regime de repartição simples para o regi-me de capitalização possui um custo imediato muito alto, pela necessidade do estabelecimen-to de um colchão fi nanceiro que possa ser remunerado a juros – diz Córdova. – Nesse caso, os recursos oriun-dos dos royalties poderão ser uti-lizados para a integralização de re-servas do fundo em capitalização.

Falta de estrutura adequada levou muitos municípios a recuar da

adesão ao Regime Próprio

É algo semelhante ao que aconte-ceu quando o governo do Paraná fez um aporte para a ParanaPre-vidência com royalties das hidre-létricas do estado, entre elas Itai-pu (ver Fim do berço esplêndido, PN 7, 2009).– Essa iniciativa possibilitará a mi-gração de um número maior de segurados para o fundo capitali-zado, equilibrado fi nanceira e atu-arialmente, desonerando a futura cobertura por parte do ente fe-derado da insufi ciência fi nanceira quando os recursos arrecadados de contribuição previdenciária não forem mais sufi cientes para o pagamento dos benefícios prome-tidos pelo plano previdenciário – afi rma o gerente nacional da CEF. Segundo Pedro Watanabe, muitos municípios desistiram do Regime Próprio porque no início não ha-via regulamentação e foram cria-

dos RPPS sem base técnica, co-meçando pela falta de avaliação atuarial e estudo que indicasse a alíquota adequada. Ao mesmo tempo, foram concedidos aos ser-vidores benefícios que tornaram cara demais essa modalidade de previdência.– É preciso ter uma cultura pre-videnciária – diz o funcionário da Caixa. – Até porque, quando detectam procedimentos que consideram inadequados, os tribunais de contas não homologam as apo-sentadorias.

CEF ajuda institutos a fazer avaliação atuarial e

recadastramento

Segundo Córdova, a CEF está ca-pacitada para orientar prefeituras graças a uma série de atividades que desenvolve, como “participa-ção em seminários e congressos sobre o tema previdência pública, e permanentes estudos sobre le-gislação previdenciária e questões atuariais”. Além disso, diz ele, há estreito relacionamento com o Mi-nistério da Previdência Social. Entre os serviços que a Caixa ofe-rece estão avaliação atuarial e re-cadastramento, que inclui a análise dos bancos de dados de servido-res estaduais e municipais ativos e inativos, e de pensionistas. – Nessa linha de atuação, buscan-do a profi ssionalização dos RPPS, a Caixa assinou convênio com o Ministério da Previdência, para disseminar e efetuar treinamento do Sistema de Informações Pre-videnciárias, Siprev, um sistema informatizado desenvolvido pelo

Ministério para auxiliar os esta-dos, o Distrito Federal e os muni-cípios na gestão de informações e operação dos seus RPPS– relata.

Melhoria das fi nanças previdenciárias permite a estado ou município

investir mais em desenvolvimento

Outro produto oferecido pela Caixa é o recadastramento do servidor público, por meio de sis-tema que atualiza a base de da-dos dos servidores públicos ati-vos e inativos, dos pensionistas e dependentes, “permitindo, além de maior exatidão do resultado atuarial, identifi car pagamentos indevidos e possíveis benefícios fraudulentos, o que resulta em redução do custo previdenciá-rio”, diz Córdova. Ele argumenta que “a ampla rede de atendimento da Caixa, presente em todas as regiões do país, proporciona maior como-didade aos recenseados” e que “um melhor conhecimento da base de servidores ajuda tam-bém o planejamento de recur-sos humanos para a concessão de benefícios”.Segundo o gerente nacional da Caixa, um sistema organizado e equilibrado fi nanceira e atuarial-mente “traz consigo o ajuste sus-tentável das contas públicas e se constitui em um dos principais instrumentos para a retomada dos investimentos em serviços essen-ciais, como saúde, educação, se-gurança e infra-estrutura urbana, projetos prioritários dos governos municipais e estaduais”.

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Frederico Mesnik

Humaitá Investimentos

[email protected]

Publieditorial

Quando perguntaram a Albert Einstein qual era a força mais poderosa do universo, ele respondeu: “Os juros compostos!” A alocação inteligente de ativos traz a oportunidade de ver nossos investimentos crescendo com a mágica dos juros sobre os juros.Durante anos, grandes fortunas foram perdidas porque gestores ignoraram os preceitos básicos de uma boa alocação de ativos: diversifi cação, rebalanceamento e análise de riscos. No longo prazo é preciso dar atenção a cada uma dessas variáveis.Na sua base, alocação de ativos é buscar aplicações que não só podem se valorizar como também se comportar de uma maneira diferente das outras aplicações na carteira. Quando um ativo está perdendo seu valor por algum evento econômico-fi nanceiro, é bom ter outro na carteira que sobe de valor no mesmo cenário. Chamamos isto de não-correlação. No fundo, a essência da diversifi cação é a busca pela não-correlação. A boa diversifi cação é aquela que envolve várias classes de ativos que têm resultados diferentes nos diversos cenários de mercado. Vamos pensar em uma seleção de futebol: para vencer no mundo dos investimentos precisamos de um time forte e balanceado. Precisamos de bons atacantes quando o tempo está favorável e de bons defensores que protegem o nosso campo quando as coisas não vão bem. Do mesmo jeito que um time precisa ter um goleador, nossa carteira precisa de ativos que entregam resultados constantes acima da média, independentemente das condições de mercado.Um técnico monta sua equipe avaliando cada jogador: seus pontos fortes e fracos, histórico de desempenho e, acima de tudo, sua integração com a equipe. O técnico precisa saber o que

cada jogador pode e não pode fazer, quais são os seus limites e sua posição ideal. Construir uma carteira é a mesma coisa. A combinação de ativos precisa ter harmonia e integração para atacar no momento propício e defender em momentos de turbulência. Dessa maneira, teremos um retorno consistente com os nossos objetivos e sem surpresas.De tempos em tempos devemos olhar nossa carteira para realizar os lucros daqueles investimentos que subiram acima da média e comprar aqueles que estão abaixo. O rebalanceamento faz com que a carteira mantenha suas alocações originais. O famoso mantra “Compre na Baixa e Venda na Alta” é alcançado com essa atividade. Conforme os ativos vão se valorizando e ocupando uma porção grande da carteira, a boa alocação manda vender e reinvestir em ativos que não estão indo bem, e assim por diante, pois o cenário é dinâmico. Um bom técnico está sempre atento ao jogo pensando em coisas que podem dar errado, e é assim que devemos pensar. Analisar o risco não é nada mais do que avaliar o quanto estamos dispostos a perder. Devemos sempre estar atentos aos tipos de risco que estamos correndo e como eles podem afetar nosso portfólio para tomar medidas e reduzi-los ou até anulá-los.Não há muito segredo para se ter sucesso na alocação de ativos. O processo exige muita arte, paciência, perspicácia, curiosidade e inteligência profi ssional. Como um terno feito sob medida: em alocação de ativos todos temos o mesmo tecido, mas cada um tem seu gosto e seu corte. Para os bons ternos busquemos um bom alfaiate para nossa carteira, um bom gestor!

Obrigado, leitor, pela atenção.

Seleção brasileira de ativosFrederico Mesnik

Esta coluna de opinião é patrocinada pela Humaitá Investimentos.

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Modelos de gestão Espanha

Estragos na economia provocados por crise fi lha da desregulamentação fi nanceira ameaçam proteção social espanhola, uma das mais frágeis da

Europa Ocidental

Alvo ilusório Embora a crise econômica internacional tenha sido provocada por uma desregu-lamentação fi nanceira que dura quase

três décadas – na prática, desde a ascensão da Dama de Ferro inglesa, Margareth Tha-tcher, em 1979 –, seu desdobramento, cada vez mais, aponta para uma consequência que nada tem a ver com sua origem. Enquanto os países ricos encontram resistências para im-por algum controle sobre o mercado fi nancei-ro, cresce em todo o planeta a tendência de culpabilizar os sistemas de previdência públi-ca pelos défi cits públicos – ampliados, agora, pela necessidade de socorrer as instituições fi nanceiras e as indústrias, e de intensifi car os investimentos públicos para fazer frente à de-bilidade do setor privado. A Espanha é um dos

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melhores exemplos dessa distorção.O presidente do governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, do Partido So-cialista Operário Espanhol (PSOE), está sendo pressionado a promover uma re-forma da Seguridade Social sob a alega-ção de que em 2009, devido à recessão crônica, o sistema registrará um défi cit. O motivo do rombo seria a alta taxa de desemprego – quase 18% da população economicamente ativa no segundo tri-mestre. A falta de vagas, sobretudo para os jovens (entre estes a desocupação bate em 35%), resiste até mesmo ao pa-cote de investimentos de 11 bilhões de euros lançado pelo governo para gerar 300 mil postos de trabalho. Outros 14 bilhões foram destinados ao crédito. Não funcionou. Sem emprego, o trabalhador deixa de contribuir para a previdência e reduz-lhe a receita.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) fez as suas contas. Mesmo após re-forma promovida em 2001, acreditam os economistas da OCDE, a Espanha sofreria um desequilíbrio nas con-tas previdenciárias a longo prazo. De acordo com esses cálculos, o pagamento de benefícios pularia dos atuais 10% do PIB para 18% em 2050 em decorrência do en-velhecimento populacional, mesmo que o país reverta o desemprego e possa contar com imigrantes. A Fundación Empresa y Sociedad estima que o país irá necessitar de 2 milhões de imigrantes jovens até 2020 para fazer frente ao envelhecimento da população.Diante desta realidade, que coloca a Espanha na pior si-tuação econômica entre os vizinhos da União Européia, Zapatero começa a enfrentar pressões dentro do próprio governo por revisão das regras do sistema público de aposentadorias. O primeiro a levantar a voz pela reforma

foi Miguel Angel Fernández Ordóñez, presidente do Banco de Espanha (o banco central do país), com o apoio do Círculo de Empresários. “Podemos alargar progressivamente a idade mí-nima para a aposentadoria”, afi rmou Ordóñez, provocando uma polêmica no primeiro escalão do governo do PSOE, legenda tradicionalmen-te defensora do sistema de bem-estar social do

país – por sinal, um dos mais fracos da Europa ocidental. A reação mais forte partiu do ministro do Trabalho, Celestino Corbacho. “Não se pode criar insegurança sobre algo que funciona, nem jogar com a intranquilidade de mais de 8 milhões de aposentados”, declarou Corbacho, recomendando a Ordóñez que fosse tratar de combater a crise fi nanceira. Segundo o ministro, o sistema de previdência deve registrar um superávit tímido este ano, de 0,4%, mas fe-chará as contas no azul. A vice-presidente do governo, María Teresa Fer-nández de la Vega, entrou no embate com o pre-sidente do Banco de Espanha e garantiu que o governo tem um fundo de reserva de 57 milhões de euros para honrar os compromissos previden-ciários em caso de redução da receita em conse-quência do desemprego.

No entanto, em meio ao bate-boca público, Or-dóñez conseguiu abrir a discussão sobre uma elevação da idade mínima de aposentadoria de 65 para 67 anos e, por tabela, aqueceu o debate

OCDE calculou que envelhecimento fará

pagamento de benefícios previdenciários chegar a18%

do PIB em 2050

Presidente do banco central propõe elevação da idade mínima para

aposentadoria

Legislação trabalhista garantiu aumento real de salário de 3,5% em ano no

qual o PIB deve cair 4%

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em favor da desregulamentação do mercado de trabalho. A legislação trabalhista da Espanha é vista como um entrave ao aumento do emprego. Em maio, os trabalhadores, graças a dispositivo legal, obtiveram ganho real de salário de 3,5%, apesar da recessão. O PIB, este ano, deve enco-lher 4% e mais 0,8% em 2010, de acordo com previsão do FMI. Segundo a revista The Economist, isso pode fazer com que os trabalhadores concluam que a crise é benéfi ca. Cresce, porém, o número de trabalha-dores espanhóis ilegais ou em contratos de curto prazo (um terço da PEA). “O problema não é a regulação trabalhista”, re-agiu Toni Ferrer, negociador chefe do Sindicato Geral de Trabalhadores, lembrando que os sa-lários têm aumentado, em média, apenas 0,5% ao ano desde 2005. “O que precisa mudar é o modelo econômico”, recomendou em entrevista à publicação britânica.

Por convicção política ou de olho em sua difícil si-tuação eleitoral, Zapatero, por enquanto, ignora as pressões por reformas. Seu maior argumento é que o sistema de seguridade social espanhol é

um dos menos generosos da Europa. Os gastos sociais do governo, per capita, param em pouco mais de 5 mil euros anuais contra 7 mil da França e 8 mil da Alemanha. Por outro lado, os defensores da reforma afi rmam que é alto o valor médio dos benefícios, de 854,96 euros. A dúvida é se Zapatero conseguirá sustentar o sistema nos próxi-mos anos de recessão e défi cit.O sistema espanhol é baseado em dois pilares: o esta-tal, obrigatório e majoritário, e o privado, opcional e de ainda pouca relevância. O setor estatal é confi ável e fun-ciona com cobertura médica e seguro desemprego. Essas garantias atraem inclusive os estrangeiros. O problema apontado pelos céticos quanto a sua sustentabilidade é que os espanhóis podem se aposentar a partir de 60 anos, proporcionalmente, ou amparados por um acordo com a empresa. São os chamados “relevistas”, que acei-tam a redução de salário de 25% a 85% em troca de uma jornada parcial. A partir de 61 anos, o trabalhador tam-

bém tem o benefi cio assegurado no caso de ser demitido com 30 anos de contribuição. Essa fl exibilidade da regra acaba reduzindo a idade mínima de aposentadoria – que, de fato, na média, é inferior a 65 anos. Além de criar empregos e atrair imigrantes, a Espanha tem o desafi o de reduzir o ritmo de envelhecimento da população. Desde 2005, o país introduziu incentivos para aumentar a taxa de fecundidade – uma das mais baixas da Europa. No ano passado conseguiu a proeza de regis-trar uma taxa de 1,46 fi lho por mulher (embora acima do 1,16% de 1996, ainda bem abaixo de 2,0 fi lhos por mulher necessários para haver a reposição populacional). Com uma expectativa de vida de 77,8 anos para os ho-mens e 84,3 anos para as mulheres, o país vê seu sistema de previdência aumentar o numero de benefi ciários em 1,7% ao ano. Um problema que, como afi rma o governo, não é a causa do défi cit público, mas que, devido à crise econômica mundial, poderá se tornar o primeiro alvo da ação governamental.

Gasto social da Espanha é de € 5 mil anuais per capita. França gasta € 7 mil e Alemanha, € 8 mil

Incentivos aumentam fecundidade, que ainda cresce menos do que o

número de benefi ciários do seguro social

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Gestão Finanças municipais

Prefeituras atravessam o período mais difícil do ano, quando a arrecadação de tributos cai no país. No primeiro

semestre, reduziu-se 2,1% em relação a 2008

Hora de apertar o cinto

Carlos Vasconcellos

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“Manter o nível do repasse do ano passado, como prome-teu o governo, ajuda, senão seria muito pior. Mas é lógico que isso não é sufi ciente.”Que o digam os pequenos municípios, excessivamen-te dependentes do FPM. Edson Rios, secretário de Ad-ministração e Finanças da prefeitura de Itarema, Ceará, tenta equilibrar as contas como pode. Um projeto de recuperação de nove quilômetros de estradas com recursos federais que exigia contrapartida municipal foi adiado. O reajuste dos servidores que ganham aci-ma do salário mínimo, também. “Mantivemos serviços essenciais, mas tivemos que cortar gastos em todas as áreas, especialmente na folha de terceirizados”, diz Rios. “São não houver uma recuperação nos repasses, teremos de fazer cortes também nos estatutários”.Rios explica que o gasto com funcionalismo chegou a 51%, muito perto do limite de 52% estabelecido na Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse limite é calculado pela média dos últimos doze meses. Ou seja, a queda mensal na arrecadação – somada a eventuais aumen-tos de despesa – ameaça o equilíbrio fi scal dos muni-cípios. “Dentro de dois ou três meses talvez estejamos fora da lei”, admite.

Para Ângelo Roncalli, prefeito de São Gonçalo do Pará e vice-presidente da Associação de Municípios de Minas Gerais, a crise é global e o problema está fora do alcance das prefeituras. Mesmo assim, a associação tem orien-tado os municípios mineiros a trabalhar em três frentes para compensar as perdas de arrecadação. A primeira é simplesmente cobrar tributos. “Apertar o cerco aos de-vedores, cobrar judicialmente débitos inscritos na dívida ativa, fi scalizar a evasão”, especifi ca Roncalli. O segundo passo seria reprogramar a gestão do orça-mento prevendo pelo menos 6% a menos de receita. Mesmo recebendo os valores de 2008 como piso do FPM, os municípios perderam receita. “A recessão tam-bém diminui os repasses de ICMS, especialmente nos

A queda nos repasses do Fundo de Par-ticipação dos Municípios por causa da crise fi nanceira internacional foi um dos

destaques do noticiário político do primeiro se-mestre. Prefeitos de todo o país fi zeram pere-grinação para pedir ajuda ao governo federal. Ela veio na forma de uma pacote de socorro às prefeituras que assegurou a manutenção do nível de repasse do FPM no ano passado como piso este ano. Anunciada a medida, o assunto sumiu das manchetes.Problema resolvido? Longe disso. Apesar de o governo federal ter cumprido sua promessa, o equilíbrio fi scal dos municípios continua ameaça-do. Ainda mais depois de abril, quando tradicio-nalmente a arrecadação de impostos em todos os níveis sofre uma forte queda e se mantém em baixa até outubro, voltando a aumentar a partir de outubro, quando o aquecimento da economia para o Natal impulsiona a receita e os repasses.Apesar de uma recuperação em maio e junho, o primeiro semestre fechou com uma queda de 2,1% em relação à primeira metade do ano pas-sado. “A crise é aguda”, diz Paulo Ziulkoski, presi-dente da Confederação Nacional dos Municípios.

Em Itarema, Ceará, recuperação de nove

quilômetros de estradas foi adiada

Projeção indica que na maioria dos municípios folha

chegará a 60% da receita

Itarema adiou obras

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municípios de médio porte”, afi rma. Por fi m, as prefeituras devem recalcular suas folhas de pagamento para evitar ultrapassar o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Se você projetar os gastos, a maioria das prefeituras vai chegar a uma folha que corresponde a 60% da receita. E não adianta querer cortar só em outubro, porque não vai dar certo”, diz. “Estamos fazendo esse alerta, juntamente com o Tribu-nal de Contas do Estado.”A tensão pelo corte de gastos e o adiamento de rea-justes, no entanto, não chegou a provocar em Minas grandes atritos com os sindicatos de servidores. “Eles sabem que não adianta esticar a corda neste momen-to”, afi rma Roncalli. Afi nal, a crise atinge toda a cadeia econômica. Em Minas, embora o setor industrial tenha sido menos afetado que em outras regiões, a economia sente o efeito da recessão nas áreas de mineração e agronegócio, dois setores fundamentais para o estado. “Isso criou problemas especialmente no Sul de Minas.”Enquanto isso, governos federal e estaduais combatem os efeitos da crise a golpes de isenção fi scal para setores considerados estratégicos. As vendas de carros, material

de construção e eletrodomésticos de linha branca responderam bem ao pacote. Mas a arrecadação sentiu o golpe. Segundo previsão da Receita Federal, em 2009, se atingir a meta de crescimento do PIB de 1%, o Brasil terá queda na arrecadação federal pela primeira vez em seis anos. A receita administrada chegaria a R$ 675 bilhões, valor inferior ao de 2008 se descontada a infl ação. Caso o crescimento fi que abaixo da meta, o valor nominal também pode cair. E isso, obviamente, é preocupante para a saúde dos cofres municipais.“Quando o governo federal reduz IPI ou o governo do estado reduz ICMS estão concedendo benefí-cios com recursos alheios”, reclama Ricardo Bulga-ri, secretário de Fazenda do município de Parana-guá e presidente do Conselho dos Secretários de Fazenda dos Municípios do Paraná. “Vinte e três vírgula quatro por cento dos recursos de IPI e do Imposto de Renda pertencem aos municípios. Aqui no estado, o governador reduziu o ICMS de milha-res de produtos. Tudo isso signifi ca menos repasses para os municípios, que já estão sufocados”.

Isenções fi scais reanimaram vendas em setores estratégicos, mas o país terá

queda de arrecadação

São Gonçalo do Pará, em Minas,

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Programa federal usa subsídio para reduzir em 14% o défi cit habitacional. Municípios escolhem terrenos e devem garantir

serviços públicos

Teto mínimo

Conhecida por abrigar um dos maiores por-tos do país, Paranaguá tem cerca de 130 mil habitantes e 8 mil famílias vivem em

áreas classifi cadas como de preservação ambien-tal. Desde 2005 o município paranaense guarda-va um projeto de construção de moradias para população de baixa renda, com o objetivo de re-mover ocupações. Agora, as primeiras 384 unida-des começam a ser erguidas, com término previs-to em 16 meses. Os futuros moradores pagarão 10% de sua renda por 10 anos e estarão entre os primeiros benefi ciários do programa Minha Casa, Minha Vida, do Ministério das Cidades, cuja meta é construir 1 milhão de moradias – 400 mil delas para famílias com renda mensal de até três salá-rios mínimos, ou R$ 1.395.– Há 15 anos não eram construídos conjuntos ha-

bitacionais em Paranaguá. A preocupação existia, mas fal-tava verba. Quando veio o anúncio, já tínhamos o projeto pronto para pleitear aprovação – conta Georgette Pesche, secretária de Habitação do município.A situação de Paranaguá não é muito diferente da do res-tante do país. Desde a extinção do BNH (Banco Nacional da Habitação), em 1986, o Brasil não tinha um plano para o se-tor. O assunto veio à tona em 1993, quando o Ministério da Ciência e Tecnologia promoveu um debate nacional sobre

Gestão

Brasil não tinha plano de construção de casas desde

a extinção do BNH, na década de 80

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pesquisa habitacional, com o objetivo de estimular o conhecimento e o desenvolvi-mento de novas tecnologias na área. Sub-sídios, porém, estavam fora de cogitação.O programa Minha Casa, Minha Vida, anunciado em abril, prevê recursos de R$ 34 bilhões, R$ 16 bilhões dos quais são subsídios à habitação popular. A intenção é reduzir em 14% o défi cit habitacional do país, calculado em 6,273 milhões de domicílios. Das famílias que precisam de um teto, 89,4% têm renda inferior a três salários mínimos. O núme-ro, divulgado em junho pelo Ministério

das Cidades, é resultado de pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNud), para dimensionar e quali-fi car o défi cit habitacional do país. Como se lerá adiante, há polêmica em torno do tamanho e da localização dos imóveis. A Caixa Econômica Federal diz que a escolha dos terrenos cabe aos municípios.Fazem parte do contingente a atender famílias que moram em favelas, cortiços, áreas de risco ou simplesmente ocu-pam cômodos na casa de parentes, forçosamente, por não ter outra opção. A metodologia incluiu ainda as que pagam aluguel alto – de 30% ou mais da renda familiar –, se aglo-meram em moradias improvisadas em imóveis comerciais ou até mesmo sob pontes e viadutos.De acordo com os dados, 40% das famílias incluídas no défi cit habitacional vivem em situação de coabitação e ou-tras 32% se sujeitam a pagar aluguel excessivo. As demais moram em condições precárias.Listadas as situações e excluídos os que vivem em condi-ções de coabitação por opção, a conclusão é que apenas os estados do Sudeste precisam de 2,223 milhões de resi-dências em área urbana. O Nordeste aparece em segundo lugar entre as regiões, com carência de 1,462 milhão de

moradias em zonas urbanizadas e 683 mil em áre-as rurais (ver tabelas).O maior nó está nas regiões metropolitanas. De acordo com a pesquisa, o entorno das grandes capitais necessita de 1,855 milhão de unidades habitacionais, quase 30% do défi cit total. Para se ter uma idéia, apenas a Região Metropolitana de São Paulo teria de criar 611.936 novas moradias.Os números, monumentais, revelam que a redu-ção do défi cit é trabalho para bem mais do que uma década, mas os subsídios foram capazes, só por terem sido anunciados, de reverter o marasmo que o setor de construção vivia desde setembro de 2008, por temor à crise econômica mundial.– O lançamento do programa, em abril, serviu como estímulo e o mercado voltou a crescer. A classe média voltou a comprar e as construtoras preparam novos empreendimentos. Ficamos vin-te anos, desde a extinção do BNH, sem nada. É louvável começar algo – diz Fábio Nogueira, da Brazilian Mortgages, especialista em soluções fi -nanceiras para o mercado imobiliário.É sabido que o setor de construção civil usa mão de obra intensiva (e de baixa qualifi cação). Por isso, a opção de investir nele é também uma decisão de estímulo à economia. Cada unidade habitacional gera 1,5 emprego. Na conta do BNDES, cada mi-lhão aplicado no programa de construção de mora-dias vai gerar 52,7 empregos – 812 mil apenas até o fi m de 2009. Daqui a dois anos, em 2011, 1,105 milhão de vagas deverão ser abertas em função do investimento público em habitação.

Inês da Silva Magalhães, secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, reconhece o poder do programa habitacional de aquecer a economia, mas afi rma que gerar emprego não foi a principal preocupação do governo, apesar da crise global. O desafi o, segundo ela, é social.– A intenção é dar unidades em condições de ha-bitação ao maior número de famílias, embora não se resolva integralmente o problema do défi cit.

Situação é mais complicada nas regiões

metropolitanas. Só a de São Paulo tem défi cit de 611

mil moradias

Benefícios econômicos são reais, mas a maior

preocupação do governo é social, diz ministério

Casas populares em Campinas

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É como o Bolsa-Família, que tirou 11 milhões de pessoas da linha de pobreza – compara.Segundo Fábio Nogueira, o crescimento demográ-fi co brasileiro deve manter o mercado ávido por moradias por, pelo menos, mais vinte anos. Se nada for feito, o défi cit só tende a crescer e a produzir cidades ainda mais caóticas, seja do pon-to de vista social ou urbano.O setor imobiliário vê como comprador poten-cial todo brasileiro entre 20 e 40 anos de idade. Normalmente, é nesta faixa etária que as pessoas mais sonham com a casa própria, mas a realidade mostra que até o fi m da vida as pessoas ainda va-lorizam ter a propriedade do local onde moram.

Terrenos para construir, afi rma o especialista, não faltam, já que os incorporadores aplicaram pelo menos R$ 20 bilhões na compra de áreas vagas nos últimos anos, principalmente nos grandes centros. Além disso, há áreas disponíveis nas peri-ferias das cidades.O problema é que a lógica do mercado não é a lógica do défi cit. A grande maioria das áreas onde o capital foi aplicado não se destina a erguer teto para quem está na base da pirâmide social. Para as famílias com renda até três salários mínimos, são as prefeituras que têm de doar os terrenos

para viabilizar os empreendimentos. – O problema da moradia é o do acesso à terra. A po-pulação de baixa renda não tem acesso à cidade formal, regulada pelo zoneamento. Como não consegue comprar, vai para as áreas onde as construtoras não podem atuar, como dunas, morros e mangues – explica Elson Manoel Pereira, doutor em urbanismo e secretário-executivo da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Pla-nejamento Urbano e Regional (Anpur), que reúne institui-ções universitárias e entidades sem fi ns lucrativos.

Normalmente, as terras destinadas a moradias para a po-pulação de baixa renda fi cam longe dos equipamentos urbanos, são desprovidas de serviços públicos e distantes dos locais que concentram empregos. Com isso, acentua-se cada vez mais um dos grandes problemas atuais das cidades, o da locomoção.– Por enquanto, os tetos estão voando. Só se constrói um teto se tiver chão e é preciso dar chão a quem ganha até três salários mínimos. Temos que arrumar terrenos – diz Rafael Greca, presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), que foi prefeito de Curitiba de 1993 a 1997 e ministro de Esporte e Turismo (governo FHC).O governo do Paraná criou um comitê gestor para locali-zar mais rapidamente áreas para construção de moradias. De acordo com o programa federal, o Paraná deve rece-ber investimentos para a construção de 44.172 unidades, das quais 12.202 na região metropolitana de Curitiba e 19.971 em cidades com mais de 100 mil habitantes.Segundo Greca, a intenção é identifi car o maior número possível de terrenos públicos situados a, no máximo, um quilômetro de uma escola ou creche.O primeiro projeto coordenado pelo grupo foi a construção de 437 casas no município de Irati, a 138 km de Curitiba, anunciada em meados de julho. Ali, o terreno já pertencia à Cohapar. Das 437 unidades, 189 têm 35 metros quadra-dos de área construída e serão erguidas em lotes de 10 x 20. São estas as destinadas às famílias com renda mensal até três salários mínimos. As demais têm 52 ou 63 metros quadrados e se destinam a famílias com renda de três a dez salários mínimos.O tamanho das residências oferecidas às famílias de baixa

Paraná criou comitê com a tarefa de localizar

rapidamente terrenos próximos de creche ou escola

Existem terrenos, comprados pelos

incorporadores, mas lógica do mercado não é a do défi cit de moradias

Conjunto em Campinas

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renda – 35 metros quadrados – é alvo de críticas da Anpur. Calcula-se que, para morar com o mínimo de conforto, uma habitação deva ter pelo menos 15 metros quadrados por pessoa. Numa família tradicional – pai, mãe e dois fi lhos – o tamanho seria de 60 metros quadrados.– Nunca tivemos tanto dinheiro para investir em habita-ção. Mas não adianta usar mal, construir um milhão de moradias ruins. È preciso ainda garantir o “direito à cida-de”, direito de poder usar os serviços disponíveis – diz El-son Manoel Pereira, da Anpur.Uma saída para erguer imóveis populares em áreas bem localizadas, segundo ele, seria a criação prévia de um “ban-co de terras públicas”. Esse banco usaria verba orçamentá-ria ou fundos de habitação para reduzir a dependência da compra de terrenos no mercado imobiliário convencional, que encarece os projetos.– Ninguém compra um terreno por R$ 34 mil aqui em Flo-rianópolis – diz Pereira, referindo-se ao valor médio por moradia da verba do programa Minha Casa, Minha Vida.Ele acredita que o repasse de verba federal deveria privile-giar as cidades que mostrassem, efetivamente, projetos de inserção social por meio das moradias.

Para Doris Catharine Kowaltowski, professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Uni-camp, o Brasil sequer tem projetos prontos de construção de habitação popular em número sufi ciente para usar a ver-ba e, por isso, o governo corre o risco de, na corrida para utilização dos recursos, fi nanciar projetos inadequados.– Esse tipo de programa pode criar muitos problemas urba-nos no futuro. Não se pensa nas necessidades das pessoas, mas na divisão dos recursos – diz ela.Doris defende que as unidades tenham, no mínimo, de 45 a 60 metros quadrados.– Se forem apartamentos, as pessoas fi carão amontoadas. Se forem casas, começam a surgir puxadinhos e vai se re-criando o modelo das favelas – afi rma a professora.Responsável pela aprovação dos projetos e liberação da ver-ba, a Caixa Econômica Federal ressalta que as áreas escolhi-das são de responsabilidade dos municípios, mas só serão aprovados projetos com infraestrutura básica, como forneci-mento de energia elétrica, água e drenagem.

– Não tem que ter uma escola a 200 metros das unidades, mas estados e municípios terão de demonstrar capacidade de oferecer soluções de acesso aos serviços públicos – explica a superin-tendente nacional de Habitação da Caixa, Berna-dete Pinheiro Coury.Segundo Bernadete, a edifi cação imóveis de 35 metros quadrados destinados a famílias com ren-da até três salários mínimos tem como base de cálculo os custos da cidade de São Paulo, onde o terreno é mais caro. Em outras regiões do país, onde o preço da terra é menor, as edifi cações ten-dem a ser maiores.Ela reconhece, porém, que difi cilmente as mora-dias populares propostas pelo programa serão erguidas na capital paulista.Inês Magalhães, do Ministério das Cidades, resume:– Sabemos das difi culdades das regiões metropoli-tanas, mas o programa se propõe a subsidiar mora-dias e não pode servir para resolver o problema de planejamento urbano do país, que vem de anos.A secretária de Habitação admite que as unidades de 35 metros quadrados são pequenas, mas diz que o espaço é aceitável diante do tamanho do défi cit habitacional e adequado aos recursos dis-poníveis. Os puxadinhos, adianta, virão.– Nas unidades horizontais (casas) os projetos já

Ação feita às pressas poderá criar no futuro muitos

problemas urbanos, alerta pesquisadora

CEF diz que casas são menores em São Paulo devido ao custo

dos terrenos

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podem prever mecanismos de ampliação. É uma tradição muito arraigada na população. Se a uni-dade fi car pequena para a família, ela pode ser ampliada aos poucos depois – afi rma Inês.Para Rafael Greca, da Cohapar, mais importante do que o tamanho da casa é a titulação do terreno e ver-se livre do aluguel ou da moradia de favor.– O tamanho de 35 metros quadrados é pequeno para o padrão burguês. As famílias entram nestes conjuntos habitacionais e no dia seguinte começam a surgir varandas, coberturas para o carro, quartos ex-tras. Nenhum fi ca intacto como o arquiteto sonhou.Para Pereira, da Anpur, prédios vazios do centro de São Paulo poderiam ser destinados à mora-dia da população de baixa renda. A pesquisa do Ministério das Cidades mostra que o Brasil tem 7,051 milhões de imóveis vagos em condições de serem ocupados (outros 300 mil imóveis vagos es-tão em ruínas). Destes, 5, 216 milhões situam-se em áreas urbanas e São Paulo abriga cerca de 1,5 milhão deles.Não se pode dizer que os arquitetos sonhem com a beleza da obra ao erguer conjuntos populares. Nas grandes cidades, o que se vê são prédios que mais se assemelham a caixotes. Para especialis-tas, é possível construir habitações populares me-lhores do que as que são feitas hoje.A professora Doris Kowaltowski coordena uma

pesquisa destinada à melhoria do padrão de construção de habitação popular, com base em avaliações feitas pelos pró-prios moradores após a ocupação. As primeiras informações vieram de pesquisas em conjuntos da CDHU, a companhia de habitação do governo paulista, na região de Campinas.No lugar de apenas perguntar se o morador está satisfeito (e geralmente está, pois veio de algum lugar pior), foram apre-sentados cartões para que as pessoas formassem uma escala de valor. Uma das descobertas foi que a segurança é a princi-pal preocupação também entre a população de baixa renda. Hoje, a construção dos blocos de apartamentos da CDHU, em formato de H, impede a visibilidade. Segundo Doris, das jane-las, que são pequenas, não se enxerga absolutamente nada.– Se a construção permite que o usuário enxergue a en-trada e a saída do prédio, as pessoas fazem um controle natural do acesso – diz ela. Os moradores ressentem-se também da falta de convi-vência com a natureza e pedem que os projetos incluam árvores e fl ores no entorno. Paisagismo é caro, diz Doris, mas o poder público poderia ceder o projeto para que os moradores o realizem.

Ex-prefeito diz que 35 metros quadrados é

tamanho pequeno “para padrão burguês”

Em um mês, 840 projetosRegulamentado pela lei 11.977 em 7 de julho, o programa Minha Casa, Minha Vida tem mobiliza-do cidades de todo o país. Até o dia 25 de julho, a Caixa Econômica Federal recebeu 840 projetos, dos quais cerca de 30% estavam em andamento e foram adaptados para receber os recursos do pro-grama, que chegam a R$ 34 milhões.Segundo Bernadete Pinheiro Coury, superintenden-te Nacional de Habitação da Caixa, foram recebidos

até então 264 projetos para a população de renda mais baixa, num total de 79.040 unidades. Até o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, a CEF levava de seis a sete meses para aprovar um projeto de fi nanciamento de construção. O compromisso assumido com o Ministério das Cidades foi reduzir o prazo de avaliação para um período entre 30 e 45 dias. Para os primeiros 149 projetos aprovados até a terceira sema-na de julho, o prazo médio fi cou em 44 dias.

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Padrões são quase sempre insatisfatórios

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Total de famílias

Regiões metropolitanas

Demais áreas

Habitação precária

169.236 506.587

Coabitação familiar

685.541 1.467.313

Outra reclamação nos conjuntos habitacionais é o barulho. Os moradores querem privacidade e a estrutura dos pré-dios, em H, coloca janelas uma diante da outra, além de permitir uma passagem muito grande de som.– Dizem que o brasileiro é barulhento, mas demonstra-mos que não é verdade. As pessoas valorizam o sossego dentro de casa e a acústica é muito ruim. O projeto cria reverberação do som e a distância entre as janelas é pe-quena. Há como melhorar isso.Segundo a professora, se mesmo em condomínios de

classe média há brigas, também não é possível colocar as pessoas nesses conjuntos habitacio-nais e esquecê-las lá.– Como eles não têm o hábito de viver em con-domínio, surgem problemas entre os moradores. A Rossi Engenharia, por exemplo, tem uma ONG que age como ouvidora dos problemas e uma as-sistente social é acionada para ajudar na solução. O mesmo pode ser feito nos conjuntos habitacio-nais da CDHU – sugere.

Défi cit habitacional

Por região

Brasil 6.272.645

Sudeste 2.335.415

Nordeste 2.144.384

Sul 703.167

Norte 652.684

Centro-Oeste 436.995

Défi cit habitacional urbano por faixa de renda, em salários-mínimos

Até 3 89,4% (4,616 milhões)

De 3 a 5 6,5% (333 mil)

De 5 a 10 3,1% (160 mil)

Mais de 10 1% (49 mil)

Domicílios vagos em áreas urbanas (*)

Sudeste 2.549.841

Nordeste 1.230.202

Sul 809.873

Centro-Oeste 416.638

Norte 309.178

(*) Em condições de serem ocupa-dos ou em construção.Obs.: exclui domicílios em ruína.

Fontes: Fonte: IBGE/Pnad 2007/Fundação João Pinheiro

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Gestão Trabalhar no Exterior

Municípios fazem do subemprego dos seus cidadãos emigrados política econômica; resultado é dependência

externa e falta de desenvolvimento sustentável

A economia da faxina

Carla Dórea Bartz

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Municípios fazem do eemigrados política ecoo

externa e falta de

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A o longo das últimas décadas alguns mu-nicípios brasileiros adotaram a emigração como política econômica. Apesar de se

benefi ciarem das remessas que, de certa forma, aqueceram suas economias, não fi zeram nada para entender este processo, para ajudar sua população e, principalmente, criar alternativas de desenvolvimento. Com a crise econômica, enfrentam agora ameaças de estagnação mais severas do que em outras regiões do país. Dados do Banco Central mostram que, em 2008, foram remetidos cerca de US$ 2,9 bilhões. Esti-

mativas não-ofi ciais dão conta de que este nú-mero pode chegar a US$ 5,6 bilhões, visto que boa parte entra no país fora do sistema bancá-rio. Pode parecer muito. Mas uma simples con-ta prova que esse dinheiro, como gerador de ri-queza, é ilusório. Levando-se em conta somente as estimativas de remessas, visto que boa parte da renda do emigrante tem que fi car no local de origem, basta comparar o tamanho da economia emigrante com a do Uruguai e a do Amazonas para perceber as disparidades econômicas entre essas populações:

Criciúma passou a exportar gente depois que a abertura comercial atingiu carvão e cerâmica

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População PIB (US$) Renda Per Capita (US$)

Amazonas 3,3 milhões 17 bilhões 5,2 mil

Uruguai 3,3 milhões 40 bilhões 12 mil

Brasileiros emigrados 3,8 milhões 5,6 bilhões 1,5 mil

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A renda per capita dos brasileiros emigrados está próxima à de países pobres do mundo. Conclui-se que se as condições de investimen-to, renda, geração de emprego e qualifi cação fossem adequadas, provavelmente a riqueza gerada pelos brasileiros em suas cidades seria muito maior do que as remessas enviadas. Isso se dá pelo simples fato de que este dinheiro é fruto, na sua grande parte, do trabalho de faxineiras e pedreiros, que – pela própria na-tureza dessas profi ssões – ganham pouco em qualquer lugar do mundo e não podem ser responsáveis pela economia de um município, como acontece em alguns casos.

Ações do poder público são praticamente ine-xistentes. O Ministério do Trabalho e Emprego, por exemplo, mantém o Conselho Nacional de Imigração, mas não tem nenhum órgão volta-do para o emigrante. Em 2007, o MTE lançou a Cartilha Brasileiros e Brasileiras no Exterior, uma de suas poucas iniciativas nesta área. O portal www.brasileirosnomundo.mre.gov.br, do Ministério das Relações Exteriores, foi lançado em junho deste ano sem informações demo-gráfi cas precisas – o caso do Japão é exceção –, como mostra a tabela.

Nos estados e municípios, a situação não é me-lhor. Das cidades procuradas pela reportagem – Criciúma (SC), Anápolis (GO) e Governador Vala-dares (MG) – somente a última tem um programa municipal específi co para essa população (ver “A moeda tem dois lados”, página 48), pois leva em consideração não só seu perfi l econômico, mas também suas características psicossociais. Crici-úma procura acompanhar a evolução do fenôme-no. Anápolis, que tem considerável quantidade de cidadãos vivendo na Irlanda e nos Estados Unidos, não se manifestou.

O perfi l socioeconômico do emigrante brasi-leiro é de homens e mulheres jovens (20 a 45 anos), com pelo menos oito anos de escolari-dade. Seus objetivos, ao emigrar, são satisfazer necessidades imediatas de consumo, de status e de ascensão social, baseadas em dois pilares: a conquista da casa própria e do carro novo, como símbolos do sucesso desse projeto, e a abertura do próprio negócio, como símbolo de independência fi nanceira. Acadêmicos chamam essa lógica de “cidadania do consumo”. O proje-to de emigração é muito simples: conseguir tra-balho (no caso, subemprego) no país receptor e economizar.No artigo “Emigrantes da Microrregião de Go-vernador Valadares nos EUA: Projeto de Retorno e Investimento”, a pesquisadora Sueli Siqueira, da Universidade Vale do Rio Doce, Univale, con-ta que o fascínio pelos Estados Unidos começou nos anos 60. Alguns brasileiros de classe média alta decidiram emigrar e foram bem-sucedidos. Nos anos 80 e 90, o movimento acentuou-se “de tal forma que, hoje, todas as famílias da ci-dade têm um parente ou amigo que é, já foi ou deseja ser um emigrante nos EUA”, escreve. Atu-almente, a situação é mais difícil. No entanto, ninguém admite. Fonte: www.brasileirosnomundo.mre.gov.br

Dados sobre emigração são imprecisos

e políticas públicas, inexistentes

76,6% dos valadarenses que emigram têm

emprego; renda média é de três salários mínimos

Estimativas do Número de Brasileiros no Exterior

Maior Estimativa

Menor Estimativa

Estimativa de Embaixadas e Consulados

Estados Unidos 1.528.307 872.715 1.278.650

Europa 1.010.130 503.589 766.594

Paraguai 515.517 204.840 487.517

Japão 310.751 310.000 310.000

Outros 371.121 168.479 202.003

Total 3.735.826 2.059.623 3.044.762

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anos 90, com a crise econômica nas indústrias de carvão e de cerâmica da cidade, provocada pela abertura dos mercados. Segundo a pesquisadora Gláucia de Oliveira Assis, da Universidade Estadual de Santa Catarina, apesar da ascendência alemã e italiana de grande parte da po-pulação, o que lhes permite conseguir passaporte da co-munidade européia, 59% dos trabalhadores preferem os Estados Unidos por causa das redes sociais já existentes. O emigrante catarinense é de classe média e 40% têm o ensino médio ou superior. “São bancários, professo-

Previdência Nacional 55

A professora da Univale afi rma: “Só quando se está lá é que é possível se dar conta da precariedade da vida dessas pessoas. O emigrante não mente, mas também não relata toda a verdade. Não conta, por exemplo, so-bre as humilhações. Utiliza mecanismos psicológicos em que o sacrifício é sublimado pela elevação dos benefícios. Assim, só o lado bom – o acesso a bens de consumo – aparece. A parte ruim é colocada debaixo de um tapete do qual toda sociedade participa”. Dessa forma, o ciclo se mantém, pois alicia novos cidadãos através de redes de contato e relações de parentesco.Em uma cena do fi lme Jean Charles, que conta a histó-ria do brasileiro executado pela Scotland Yard em Lon-dres, o personagem principal repete para uma amiga: “Pô, aqui é Londres, Londres”. Isso defi ne boa parte dos brasileiros que emigram: espírito de aventura aliado à busca de oportunidades. Jean Charles de Menezes era natural de Gonzaga, cidade que tem cerca de 20% de sua população vivendo na Europa ou nos Estados Unidos. A cidade faz parte de uma região ao redor de Governador Valadares acostumada a exportar mão de obra e que inclui mais 20 municípios.

Na média, 52% dos valadarenses que emigram o fazem com visto de turista; 44% utilizam a fronteira do México ou um passaporte falso, correndo riscos e aumentando as estatísticas do tráfi co internacional de pessoas. A pesquisa da professora de Governador Valadares apon-ta também que 76,6% dos valadarenses exercem algu-ma atividade profi ssional ao decidir emigrar, enquanto apenas 4,3% são desempregados. A renda da maior parte deles (53%) é de até três salários mínimos. Em Criciúma, a emigração intensifi cou-se no fi nal dos

Sueli Siqueira: toda família valadarense conhece alguém que morou, mora ou quer morar fora do país

Quem sai do país não mente, mas também não conta toda

a verdade, diz professora

Catarinenses têm passaportes da União Européia, mas

muitos preferem ir para os Estados Unidos

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A emigração para o Japão também se intensifi cou nos anos 90, impulsionada por uma política do governo ja-ponês de substituição de imigrantes asiáticos ilegais por trabalhadores descendentes de japoneses provenientes da América do Sul (Brasil e Peru). A pesquisadora Eli-sa Sazaki, no artigo “A Imigração para o Japão” (Dossiê Emigração, revista Estudos Avançados – USP), afi rma:“Trata-se de uma população que atende às necessi-dades raciais e ideológicas do governo japonês e, ao mesmo tempo, atende às demandas do mercado de trabalho por mão de obra barata e não qualifi cada”. Nipo-brasileiros partem de todo o território nacional, com destaque para cidades como Maringá (PR) e São Paulo. Com a crise internacional, o governo japonês co-meçou a pagar para os brasileiros retornarem.

Segundo Gládis Sorvalaio, da Casa do Catarinense, ONG que auxilia os familiares de emigrantes em Crici-úma, é possível perceber que uma grande quantidade de pessoas retornou, principalmente dos Estados Uni-dos. “O sonho americano acabou”, constata a catari-nense, que também viveu dez anos por lá e retornou há quatro. O secretário de Desenvolvimento Econô-mico da cidade, Cloir DaSoller, que possui parentes nos EUA, também confi rma o recuo das viagens e a diminuição das remessas.

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res, comerciantes”, afi rma a pesquisadora. Nos Estados Unidos, eles se submetem às mesmas condições dos valadarenses. “O projeto de emi-gração baseado no consumo tem como pers-pectiva o Brasil. Assim, a perda de status social é compensada pela capacidade de compra que os dólares permitem”. Com a bolha do subprime, a população come-çou a retornar. Outros decidiram aproveitar a oportunidade da legalização permitida por sua ascendência e viajaram para a Europa, princi-palmente para Inglaterra, Portugal e Espanha. O passaporte da Comunidade Européia permite ao cidadão trabalhar legalmente em qualquer país pertencente ao bloco. Apesar do docu-mento, o emigrante que tem como projeto ga-nhar dinheiro para investir no Brasil continua a trabalhar em subempregos. “A maioria não fala inglês, requisito necessário para se conseguir outras formas de sustento”, afi rma Assis.

Perda de status social é compensada pela capacidade de compra dada pelo dólar

Dekasseguis enquadram-se em necessidades de

hegemonia racial no Japão

‘Nunca pensei que num país como aquele podia

acontecer isso, achava que era só no Brasil’

DaSoller: viagens se tornaram menos frequentes

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– No momento, há mais pessoas retornando do que indo – informa. – Sentimos uma redução de 50% das remessas, que estão fazendo falta à cidade. Diante da crise, surge a questão: se um brasileiro se su-jeita a entrar clandestinamente nos Estados Unidos, a trabalhar 18 horas por dia, a ter dois ou três subem-pregos, a acordar às 4h da manhã e a enfrentar uma temperatura de até 14 graus negativos, a viver em um porão com cinco, dez estranhos, por que ele não usa essa energia produtiva aqui? A resposta não está só nos dólares convertidos em reais, mas na falta de políticas de geração de emprego, renda e empreendedorismo nos próprios municípios. Siqueira, da Univale, aponta: “A história de Governador Valadares é formada por ciclos econômicos predatórios, sem projeto de desenvolvimen-to a longo prazo”. Com a emigração de seus cidadãos, soma-se mais um.Alan P. Marcus – professor brasileiro da Towson Univer-sity (Maryland, EUA), no artigo “Back to Piracanjuba and Governador Valadares: Returnees, Geographical Imagi-nations and its Discontents” (De volta a Piracanjuba e Governador Valadares: retornados, imaginação geográ-fi ca e suas insatisfações, em tradução livre) – vai além e avalia que há conivência e interesse de que a situação se mantenha assim. Ele estuda o fenômeno em Piracanjuba (GO), onde os retornados formam uma parte conside-rável da comunidade de 25 mil habitantes e o poder publico os trata como se fossem heróis. “Vejo nesse incentivo uma invocação da lógica da Lei do Gerson. Há uma manipulação estratégica por parte dos segmentos sociais que mais se benefi ciam com as remessas, apoiados pelo poder público. Esse discurso ajuda a perpetuar a emigração, sustenta a dependência fi nanceira local e esconde problemas culturais, sociais e econômicos mais sérios”. Outro exemplo da mitifi cação da fi gura do emigrante acontece em Governador Valadares, cuja prefeitura ins-tituiu o dia 4 de julho como o Dia do Emigrante, com o intuito de “prestar tributo e justiça ao trabalho de heróis que contribuem para o desenvolvimento da cidade”. O dia 4 de julho é o da independência americana.No artigo “A crise econômica nos EUA e o Retorno à Terra

Natal”, apresentado em junho, no Rio de Janeiro, durante o 18º Encontro Anual da Latin American Studies Association, Siqueira aponta que “18% dos emigrados possuem renda no Brasil, ou seja, casas de aluguel, comércio ou propriedade rural. Outros 51% estão retornando com capital para investir e 21% não possuem nenhum investimento. Pretendem entrar para o mercado de trabalho”. Dos que pretendem investir, boa parte poderá perder os seus investimentos e, provavelmente, emigrará no-vamente. Isso acontece pela falta de conhecimentos básicos de empreendedorismo, noções de mercado e da economia local e pela incapacidade de suas ci-dades de auxiliá-los nessa tarefa. O município perde oportunidades imensas de geração de emprego e renda por não orientar esses futuros empresários.Os que pretendem entrar no mercado de trabalho enfrentam outro tipo de problema. Esses trabalha-dores pouco fi zeram para se qualifi car enquanto estavam no exterior. Uma faxineira com dez anos de carreira será somente isto: uma faxineira com dez anos de carreira. Al-guns mal falam inglês. Também enfrentam uma economia pequena, com poucas oportunidades. O padrão de vida ao qual estavam acostumados cai, e muitos re-emigram.Sueli Siqueira avalia: “O emigrante que re-torna devido à crise da

Governador Valadares é a única cidade a ter

uma política pública voltada ao emigrante

Conhecimentos básicos de empreendedorismo

não existem; oportunidades de

crescimento são perdidas

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conseguia pagar minhas contas’”.Como resultado, muitos dos emigrados voltam com pro-blemas de saúde. Há casos de depressão, de síndrome do pânico, problemas de coluna, de estômago, de pele (inclusive câncer), devido às precárias condições de tra-balho e às longas jornadas a que se submeteram. Há problemas de readaptação, de inserção social e de con-vívio com os familiares que fi caram. Há famílias que se desfi zeram. A conta acaba sendo do Estado brasileiro. Estudiosos são unânimes em dizer que o custo social da emigração não compensa seus benefícios.Com a emigração, o Brasil inseriu-se na nova ordem mundial de deslocamentos de trabalhadores, impulsio-nados pela globalização. A função principal do país neste processo é exportar mão de obra barata e temporária.

Dados da Organização Internacional para a Migração – OIM (agência ligada à ONU e da qual o Brasil participa) afi rmam que há 192 milhões de pessoas vivendo fora de seus locais de origem, 3% da população mundial. Para a OIM (www.oim.int), esse novo fenômeno é positi-vo tanto para as sociedades receptoras quanto para as de origem, deve ser encarado como uma forma de dimi-nuição das desigualdades no planeta e até incentivado. No entanto, o que se vê ainda é que, se a globalização facilita a circulação de mercadorias, dinheiro e informa-ção, esse benefício não se estende à circulação de pes-soas. As leis de imigração seguem princípios de sobe-rania nacional, são restritivas, punitivas e, muitas vezes, arbitrárias e discriminatórias. Por causa disso, a OIM mantém campanhas em prol dos direitos humanos do migrante e pela regularização e facilitação dos fl uxos de trabalhadores. Na prática, contudo, o que tem aconte-cido é aumento das restrições. “Políticas internacionais tentam criminalizar o migrante”, avisa Sueli Siqueira.A professora Neide Lopes Patarra, no artigo “Mi-grações internacional: teorias, políticas e movimen-tos sociais” (Dossiê Migração, Estudos Avançados, USP), alerta para o perigoso jogo da dependência entre sociedades ricas e pobres por causa das re-

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economia, independentemente de sua condi-ção econômica, além de todas as difi culdades apresenta um profundo sentimento de desespe-rança e frustração”. O emigrante não consegue acreditar na situação: “A percepção de que es-tavam no país mais rico do mundo e que uma crise pudesse abalar a sua economia era inacre-ditável. Nas palavras de um emigrado: ‘Nunca pensei que num país como aquele podia acon-tecer isso, achava que era só no Brasil. (....) Só acreditei quando doeu no meu bolso e eu não

Quem volta derrotado pela crise sente desesperança e frustração. Muitos têm

problemas de saúde

Brasil faz parte dos novos fl uxos migratórios

impulsionados pela globalizaçãoGláucia: com passaporte europeu,

emigrantes de Criciúma preferem EUA

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Previdência Nacional 59

Pesquisadora diz que dependência de remessas

reforça subdesenvolvimento

messas. O artigo ressalta o fato de que aos países receptores chega uma mão de obra flexibilizada, su-jeita a todo tipo de exploração de trabalho, e que, antes de migrar, exigiu investimentos de seus países de origem em formação, educação e saúde. Essa situação reforça, pela via da remessa, a situação de subdesenvolvimento dos países exportadores de trabalhadores. A pesquisadora ressalta que as campanhas da OIM não levam em conta a necessidade da discussão da migração globalizada no âmbito também da Organi-zação Mundial do Trabalho, OMT, e da Organização Mundial do Comércio, OMC: “Se isolada, a chamada ‘política migratória coerente’, ancorada em direitos humanos, pode se tornar uma armadilha, que novamente só garante os interesses dos países desenvolvidos”, afirma. “Esses países ca-nalizam seu apoio para os movimentos de migrantes temporários e para o envio de remessas de dinheiro conseguidas a partir de atividades econômicas sabi-

Casa construída com dinheiro de remessas em Piracanjuba

Cartilha é o único documento do governo federal voltado para o emigrante

damente de seu interesse e que são apresen-tadas como sua contribuição para o combate à pobreza dos países de origem”, adverte.

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A moeda tem dois lados

A socióloga Devani Tomaz Domin-gues é gerente do Programa Emi-grante Cidadão de Governador Valadares. Ela diz que é fácil re-conhecer os benefícios do êxodo, leia-se remessas em moeda forte, mas é necessário também identi-fi car os problemas, como custos sociais e econômicos e problemas de saúde e educação.

Previdência Nacional Como fun-ciona o Programa Emigrante Ci-dadão, PEC?Devani Dominguez O PEC foi ins-tituído em 2001 com o objetivo de atender às famílias que sofrem com o falecimento de um parente no exterior e não têm condições fi nanceiras para o traslado do cor-po e para estabelecer contatos para localizar cidadãos tidos como desaparecidos. Hoje, o PEC está inserido na estrutura da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e tem outras atribuições.

PN A Prefeitura mantém estatísti-cas de emigração?

DD Não. Recorremos aos resulta-dos de pesquisas acadêmicas.

PN É perceptível na economia da cidade a diminuição do fl uxo de re-messas com a crise econômica?DD Não há números confi áveis para mensurar quantos estão retornan-do. Porém os casos de deportação e de retorno têm sido veiculados na mídia com mais frequência; as instituições bancárias reconhecem uma diminuição na recepção de remessas; o setor empresarial e o mercado imobiliário relatam queda ou estagnação nas vendas direcio-nadas a emigrantes; e as áreas da educação e saúde apontam au-mento de demanda.

PN Valadares planeja uma situa-ção de prosperidade econômica sem depender da emigração, que a ajudou nos últimos vinte anos? DD A prefeitura reconhece os efei-tos da emigração no município e elabora projetos para a promoção do desenvolvimento local, que possam impactar na decisão do cidadão de não emigrar. Entre eles estão a instalação de uma universi-

dade pública, a garantia da escola de tempo integral, o incentivo ao empreendedorismo e à promoção da política da economia solidária, através de grupos, associações e cooperativas. Se os pontos posi-tivos da emigração são imedia-tamente reconhecidos [envio de remessas], devemos, no entanto, perceber o outro lado do proces-so – custos sociais e econômicos que incluem a especulação imo-biliária e fatores ligados a saúde, organização familiar, educação das crianças, “estranhamento do lugar” no retorno e difi culdades para a readaptação do emigrante.

PN Qual a importância de os mu-nicípios manterem programas de assistência às comunidades emi-gradas/retornadas?DD Programas de promoção do ci-dadão são fundamentais. Por expe-riência, sabemos que os municípios terão sempre problemas orçamen-tários para essa fi nalidade. O inova-dor é inserir as ações e projetos das diversas secretarias e organismos executores de políticas públicas no plano político do município.

CEF lança programa de capacitação

Em junho, a Caixa Econômica Federal, o Sebrae e o Banco Interameri-cano de Desenvolvimento lançaram o Programa de Remessas e Capa-citação para Emigrantes Brasileiros e seus Benefi ciários no Brasil, com o objetivo de orientar emigrantes sobre empreendedorismo e ampliar a utilização do sistema bancário formal. Por enquanto, o projeto destina-se prioritariamente aos brasileiros residentes na região de Massachus-setts, Estados Unidos, originários da microrregião de Governador Vala-dares, e seus benefi ciários residentes no Brasil. A meta é capacitar 10 mil pessoas. A iniciativa tem orçamento de US$ 1,064 milhão.

Devani Domingues

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Gente

Polícia Militar de Minas Gerais mantém há 60 anos orquestra que ajudou a formar músicos e levou repertório

clássico a diferentes pontos do país

Sinfônica fardada

Quis o destino que o policial militar José de Oliveira não lhe desse, como tanto queria Iara, um fi lho homem para se-

guir a carreira do pai e vestir a farda que tanto orgulho lhe trazia. O menino não veio, mas as três meninas do casal batem continência na Po-lícia Militar de Minas Gerais – Carla, 33 anos, é capitã, Cíntia, 28, é soldado da Cavalaria e a primogênita, Maria Luísa, é sargento.Vindo de uma família de professores de música e ele mesmo violoncelista, Oliveira desde cedo fez também as fi lhas tomarem gosto pelos ins-trumentos. Foi assim que Maria Luísa Oliveira Lourenço, 35 anos, 18 de profi ssão, que já tocava violão clássico aos 17, quando ingressou na PM, não demorou a perceber que, ali mesmo, em meio a tantas patentes, estava a oportunidade de aliar as duas paixões da família – o gosto pela

Sebastião Vianna, regente da orquestra, foi durante anos assistente de Villa-Lobos

música e o apreço pela farda. Em menos de um ano, prestou concurso e migrou para a Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Mi-nas Gerais, a única do gênero de que se tem notícia na América Latina.

– Quando chegamos para tocar, todos sentem que será um momento especial. Só tocamos fardados, é música ostensiva – brinca a sargento.Idealizada pelo coronel Egídio Benício de Abreu e tirada do papel pelo então governador Mílton Campos, a Or-questra Sinfônica da PM mineira fez sua primeira apre-

Sargento Luíza Foto

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Orquestra reunida

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sentação pública em 18 de março de 1949. Mas foi no início da década de 50 que a infra-estrutura da orquestra cresceu, quando Jus-celino Kubitschek, então governador de Minas Gerais, comprou mais instrumentos musicais para a PM.Nesse período de progresso musical, Sebas-tião Vianna – pianista, fl autista e acordeonis-ta – tornou-se regente da orquestra. Durante anos, fora assistente e revisor de obras de Hei-tor Villa-Lobos. Numa época em que poucas orquestras con-seguiam se sustentar no país, a Sinfônica da Polícia Militar de Minas Gerais não só ajudou a formar músicos, como o violoncelista Watson Clis, como levou a cultura da música clássica a vários cantos do país. No currículo da orquestra estão as duas únicas apresentações da ópera O Sertão, baseada no livro de Euclides da Cunha e composta pelo francês Fernand Jouteux (1866-1956), que morou em Garanhuns, Pernambuco, e dedicou a ela dez anos de sua vida.A traição da mulher a Antônio Vicente Mendes Maciel – que o levou a perambular pelo sertão nordestino e se transformar em Antônio Con-selheiro – foi encenada pela primeira vez em 1954. Só voltaria aos palcos em 2002, no Pa-lácio das Artes de Belo Horizonte, depois que o fl autista João Jorge Soares, aluno do curso superior de Regência da Universidade Federal de Minas Gerais e assistente de regência da Sinfônica da PM, recuperou partituras da pri-meira encenação e reconstituiu boa parte dos pentagramas no tom original.

Os músicos da orquestra, hoje, sonham resgatar os tempos em que era chamada “cinco estrelas” – uma a mais do que ostentam generais, brin-cam – e dela saíam profi ssionais de renome. Até a década de 80, a orquestra tocava em rádios e em grandes concertos públicos pelo país.Aos poucos, porém, as grandes apresentações minguaram. Uma das razões é que a PM de Minas Gerais parou de bancar sozinha os cus-tos de viagem da orquestra, que não são bai-xos. Agora, quem paga é o solicitante. Além de hospedagem e alimentação, é preciso mobilizar pelo menos um ônibus para transportar os 42 integrantes e um caminhão-baú para levar os instrumentos.– Éramos muito requisitados por prefeituras. Depois da Lei de Responsabilidade Fiscal, os prefeitos reduziram os gastos com cultura. Pre-ferem aplicar em outras áreas – conta o maes-tro Bernardino de Araújo Filho, 44 anos. O tenente Bernardino ingressou na Corporação Musical Santa Cecília, em Ipatinga, aos 11 anos para estudar clarinete. Tocou profi ssionalmente até concluir, como ele diz, que era melhor “unir o útil ao agradável” e prestar concurso para a

Viagens são raras desde que a PM deixou de

assumir sozinha custo elevado das apresentações

da orquestra

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Quando tocam, termina a distinção entre soldados e

ofi ciais: são apenas músicos

Tenente Lacerda

Orquestra Sinfônica da PM mineira.– Era uma oportunidade de emprego. Hoje, di-fi cilmente alguém sai daqui para o mercado da música. Lá fora é muito mais difícil fazer carrei-ra – reconhece.O maestro prefere o repertório erudito. Obras de Tchaikovsky são as suas prediletas, mas Mo-zart e O Guarani, de Carlos Gomes, são os mais executados pela orquestra.O motivo é que a maioria das apresentações da sinfônica é em eventos ofi ciais – não estri-tamente culturais – e tem sido cada vez mais difícil juntar a orquestra toda. Como os espaços de apresentação são pequenos e o deslocamen-to custa caro, o mais comum é a apresentação de câmaras, quando apenas parte dos músicos sobe ao palco.– Fazemos muitas apresentações, como de quarteto de cordas, em posse de secretarias ou de juízes. Quem decide o calendário de apre-sentações é o Comando da PM – diz o tenente Marco Aurélio Araújo Lacerda, primeiro violino e autor do livro Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Minas Gerais, 60 Anos de Contribui-ção à Cultura e à Imagem da PMMG.

Hoje, a maior parte dos compromissos é em

eventos ofi ciais, e com a participação de apenas

partes do grupo

Sem um calendário anual de apresentações previamente estabelecido, como as orquestras tradicionais, os policiais músicos acabam ensaiando para eventos determinados. A agenda de apresentações é lotada, de quatro a cinco por semana, mas quase sempre para públicos restritos.Como em qualquer quartel, os músicos da Sinfônica da PM mineira batem continência seguindo a hierarquia. En-saiam pela manhã e fazem tarefas burocráticas da corpo-ração à tarde. O policiamento de rua só é engrossado por eles em datas especiais, como carnaval e eleições.São iguais aos demais policiais, mas não o tempo inteiro.– Quando a gente começa a tocar, não tem como. Músi-ca não tem tenente nem soldado, um depende do outro – diz o maestro. Alguns dos integrantes da orquestra participam dos tra-balhos sociais da PM dedicados a ensinar música em co-munidades carentes. A corporação não repete, porém, a facilidade de formação do passado, quando o garoto ingressava na escola de música da PM com 13 a 15 anos e passava a receber salário de soldado. O projeto agora é social, de aproximar a polícia da comunidade num tra-balho preventivo – a favela Morro das Pedras, ao sul de Belo Horizonte, é um dos alvos, Para Bernardino, a música da orquestra serve quase como instrumento de relações públicas da PM, fazendo com que a corporação transite em vários segmentos sociais, dos po-bres à elite. Só com as bandas – são 19 na polícia mineira – não é possível atrair a classe mais alta. Não é raro, porém, que os policiais da Orquestra sejam tratados por seus pares como a “turma da tranquilidade”.Enquanto o público externo fi ca “maravilhado”, diz o maestro Bernardino, muitos colegas da PM não enten-dem o trabalho dos policiais-músicos. Bernardino admi-te que, agora, é chegada a hora de fazer o trabalho de relações públicas para o pessoal interno.– Estamos estudando apresentações para a própria PM – revela o primeiro violino Lacerda.

Tenente Bernardino

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Alberi Zanatta(“Tempo de maturidade”, página 10)Fundo de Previdência de Taquara – RSTelefone: (51) 3542-1223 Aldo José da Silva(“Tempo de maturidade”, página 10)Banco BradescoTelefone: (11) 2178.65.40e-mail : [email protected]

Anete Barbosa(“Tempo de maturidade”, página 10)SantanderTelefone: (11) 5538-8473 Ângelo Roncalli(“Hora de apertar o cinto”, página 43)Prefeito de São Gonçalo do ParáTelefone: (37) 3234-2339 Bernadete Pinheiro Coury(“Teto mínimo”, página 46)Caixa Econômica FederalTelefone: (61) 3206-8022 Bernardino de Araújo Filho(“Sinfônica fardada”, página 62)Polícia Militar de Minas GeraisTelefone: (31) 2123-9579E-mail: [email protected] Bolivar Tarragó Moura Neto (“Ambição de liderar”, página 32)Caixa Econômica FederalTelefone: (61) 3206-8022E-mails: [email protected] Cloir DaSoller(“A economia da faxina”, página 52)Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Criciúma - SCTelefones: (48) 3431-0352 / (48) 3431-0088 Daniella Souza de Moura Gomes(“Tempo de maturidade”, página 10)SuprevTelefones: (71) 3116-5440 / (71) 3116-5437 E-mail: [email protected] Danielle Leite(“Orientação precisa”, página 30)ManausprevTelefone: (92) 3186-8030

Dayan Thives Oening(“Tempo de maturidade”, página 10)Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina Telefone: (48) 3229-2600 E-mail: [email protected] Delúbio Gomes(“Tempo de maturidade”, página 10)Ministério da Previdência SocialTelefone: (61) 2021-5000 Demetrius Hintz(“Tempo de maturidade”, página 10)Abipem e Instituto de Previdência de Santa CatarinaTelefone: (48) 3229-2689E-mail: [email protected] Devani Tomaz Domingues(“A economia da faxina”, página 52)Programa Emigrante Cidadão de Governador ValadaresTelefone: (33) 3271-6706E-mail: [email protected] Doris Catharine Kowaltowski(“Teto mínimo”, página 46)UnicampTelefone: (19) 35212390 Edevaldo Fernandes Silva (“Tempo de maturidade”, página 10)Escola de Formação PrevidenciáriaE-mail: [email protected] Edson Rios(“Hora de apertar o cinto”, página 43)Prefeitura de ItaremaTelefone: (88) 3667-1340 Elson Manoel Pereira(“Teto mínimo”, página 46)AnpurE-mail: [email protected] Fábio Nogueira(“Teto mínimo”, página 46)Brazilian MortgagesTelefone: (11) 4081-4455

Georgette Pesche(“Teto mínimo”, página 46)Secretaria de Habitação de Paranaguá E-mail: [email protected] Gládis Sorvalaio(“A economia da faxina”, página 52)Casa do CatarinenseE-mail: [email protected] Gláucia de Oliveira Assis (“A economia da faxina”, página 52)Universidade Estadual de Santa CatarinaTelefone: (48) 3321-8000 Helmut Schwarzer (“Tempo de maturidade”, página 10)Ministério da Previdência SocialTelefone: (61) 2021-5000 Hilca Rodrigues(“Tempo de maturidade”, página 10)Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Cariacica – ESTelefone: (27) 3216-8578 Inês da Silva Magalhães(“Teto mínimo”, página 46)Ministério das CidadesTelefone: (61) 2108-1000 João Aparecido Costa de França(“Tempo de maturidade”, página 10)SchrodersTelefone: (11) 3054 5155E-mail: [email protected] João Carlos Figueiredo(“Tempo de maturidade”, página 10)Abipem e ApepremE-mail: joaofi [email protected] José Amando Mota (“Servidores e previdências saudáveis”, página 28)Instituto de Previdência do Município de OsascoTelefone: (11) 3682-2130

Marco Aurélio Araújo Lacerda(“Sinfônica fardada”, página 62)Polícia Militar de Minas GeraisTelefone: (31) 2123-9579E-mail: [email protected]

Maria Luísa Oliveira Lourenço (“Sinfônica fardada”, página 62)Polícia Militar de Minas GeraisTelefone: (31) 2123-9579E-mail: [email protected] Milton Córdova Junior(“Parcerias antigas”, página 37)Caixa Econômica FederalE-mail: [email protected] Otoni Guimarães Gonçalves(“Tempo de maturidade”, página 10)Ministério da Previdência SocialTelefone: (61) 2021-5000 Paulo Ziulkoski (“Hora de apertar o cinto”, página 43)Confederação Nacional dos MunicípiosTelefone: (61) 2101.6000 Rafael Greca(“Teto mínimo”, página 46)CohaparTelefone: (41) 3312-5700 Rogério Assumpção(“Tempo de maturidade”, página 10)DataprevTelefone: (61) 3321-4780 Valdir Moysés Simão(“Tempo de maturidade”, página 10)INSSTelefone: (61) 2021-5000 Wellington Lanza(“Tempo de maturidade”, página 10)Itaú UnibancoE-mail: [email protected]

Eis os dados para contato com as pessoas entrevistadas nas reportagens desta edição de Previdência Nacional. Se encontrar

alguma difi culdade, por favor entre em contato conosco:

55-11-5505-6065 [email protected]

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Serviço Lista de entrevistados

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Agenda

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Agenda de eventos

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ABIPEM

A) 23 a 25 de setembro 3º Seminário Norte da Abipem, em parceria com a Associação das Instituições de Previdência do Pará, ASSIPABelém

B) Novembro2º Encontro Sul da Abipem, em parceria com a Associação dos Institutos Municipais de Previdência e Assistência de Santa Catarina, ASSIMPASC Florianópolis

ACIP

C) 10 e 11 de Setembro III Seminário Capixaba de Previdência e IX Encontro de Gestores Previdenciários do Espírito SantoGuaraparí

D) 06 de NovembroIV Seminário Capixaba de PrevidênciaMimoso do Sul

ACREPREVIDÊNCIA

E) 27 de outubro4º. Seminário de Previdência do Estado do Acre

APEPREM

F) Outubro 22º. Encontro Regional da ApepremJacareí

G) Dezembro 23º Encontro Regional da ApepremLocal a ser defi nido

APEPREV

H) Segundo Seminário Paranaense de Previdência PúblicaFoz do IguaçuData a ser defi nida PN

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