revista abipem – janeiro/fevereiro-2009

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ANO 2 - Nº 5 EM LOUVOR DA COMPETÊNCIA EM LOUVOR DA COMPETÊNCIA Ministro da Previdência, José Pimentel, elogia avanço da gestão previdenciária em estados e municípios e recomenda busca constante de qualicação Gestão Roteiro detalhado para quem começa a administrar ANO 2 - Nº 5 Legislação Carta de 1998 frusta expectativas para aponsentadoria Investimentos Contradições da crise: fundos perdem, aplicações crescem Previdência Nacional dá boas-vindas aos novos prefeitos e gestores de RPPS

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Revista ABIPEM – Janeiro/Fevereiro-2009

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Page 1: Revista ABIPEM – Janeiro/Fevereiro-2009

ANO 2 - Nº 5

EM LOUVOR DA COMPETÊNCIAEM LOUVOR DA COMPETÊNCIAMinistro da Previdência, José Pimentel, elogia avanço

da gestão previdenciária em estados e municípios e recomenda busca constante de qualifi cação

GestãoRoteiro detalhadopara quem começa a administrar

AN

O 2

- N

º 5

LegislaçãoCarta de 1998 frusta expectativas para aponsentadoria

InvestimentosContradições da crise: fundos perdem, aplicações crescem

Previdência Nacional dá boas-vindas aos novos prefeitos e gestores de RPPS

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Telefone: 11 5505.6065www.patriaeditora.com.br

Surge uma nova editora no mercado de revistas

customizadas. Nova, mas com muita experiência. Conta

com profi ssionais altamente qualifi cados, prontos para

atender as expectativas da sua empresa, executando

o projeto editorial desde a concepção até a entrega da

publicação para os leitores.

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Sumário

Carta ao leitor

Expediente

Eventos no Acre, em Goiás, em São Paulo e no Rio de Janeiro foram

preparação para 2009

Resoluções 402 e 403 do MPS uniformizam administração e buscam

garantia de equilíbrio atuarial

Contradição entre preceitos constitucionais e expectativa de

remuneração de aposentados cria horizonte de confl itos

A crise tem duas faces: fundos perdem em 2008, mas crescem

aplicações em previdência

Após a queda de um Estado onipresente, aposentado russo ganha

abaixo do mínimo indispensável

Advogado diz que mudanças tributárias em discussão estão longe de representar

uma reforma

Cursos de gestão municipal consideram insufi ciente a demanda por qualifi cação

Em Paragominas, combate ao desmatamento provoca reação popular

violenta

Jumirim, cidade paulista pequena e nova, tem equilíbrio fi nanceiro e atuarial

Professoras de escola paulistana dão aula de competência com método que

une educação e arte

Funcionários com longos anos dedicados ao serviço público orgulham-

se de suas trajetórias

Índice de pessoas entrevistadas

Agenda da Abipem

Capa 30Ministro José Pimentel diz que sucessivos

processos eleitorais contribuem para o aprimoramento da gestão dos institutos de

previdência e recomenda que sejam formados e preservados quadros técnicos

Manual do gestor 12Previdência Nacional traz roteiro detalhado

do que é necessário para iniciar institutos do RPPS. Em oito páginas, o detalhamento técnico

e jurídico dos caminhos de uma boa gestão

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Sumário Edição 5

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É uma feliz circunstância que tenhamos a palavra do ministro da Previdência Social, José Pimentel, na primeira edição de 2009, quando se iniciam os mandatos dos prefei-tos eleitos – ou reeleitos – em 2008. Pimentel traz uma mensagem de otimismo consis-tente, ao afi rmar que a gestão dos institutos previdenciários nos estados e municípios melhora a cada eleição. E recomenda, com lucidez, que quadros técnicos formados ao longo dos anos sejam mantidos em suas tarefas.

A Abipem e a Apeprem orgulham-se de contribuir de maneira expressiva para a disse-minação, em todo o Brasil, do conhecimento especializado necessário à boa gestão dos institutos. No fi nal de 2008, por sinal, tivemos proveitosos eventos no Acre, em Goiás, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Previdência Nacional dá também sua contribuição a novos e antigos responsáveis pela gestão previdenciária nos municípios, ao sistematizar as práticas mais recomendáveis. Nesta edição, oportunamente, apresentamos uma recapitulação dos roteiros que publi-camos em nossas primeiras edições. Em um só volume, muita informação útil.

As disposições introduzidas pelas portarias 402 e 403 do Ministério da Previdência são explicadas na seção Legislação, que aborda também a perspectiva de confl itos entre o que diz a lei e as aspirações de servidores a incorporar em suas aposentadorias vanta-gens que faziam parte de seu regime de remuneração.

Destacamos, na seção Gente, histórias de servidores que se orgulham de suas trajetó-rias no serviço público. Duas professoras da rede estadual paulista que se aproximam da aposentadoria – Raquel Martins e Lurdes Ribeiro – são responsáveis pelos bons resultados de uma escola pública cujo trabalho é amplamente reconhecido por alunos, professores, pais, autoridades e especialistas.

Cordialmente,

João Carlos FigueiredoPresidente da Apeprem

PN

Carta ao leitor

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Abipem (www.abipem.org.br)

DIRETORIAPresidente: Demétrius Ubiratan HintzVice-Presidente: José Maria CorrêaSecretário Geral: Wellington Costas Freitas

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO André Luiz GoulartValnei RodriguesMoacir SallesLuiz Gustavo Ávila MendonçaAntonio Cezar Leite Lobato

CONSELHO FISCAL Roberta Cabral MedeirosJosé de Anchieta BatistaGláucia Maria Barreto Silva

Apeprem (www.apeprem.com.br)

DIRETORIAPresidente: João Carlos Figueiredo Vice-presidente: Jonas Baldissera1ª Secretária: Lucia Helena Vieira 2ª Secretária: Solange Maria Maximiano de Pádua1º Tesoureiro: Antonio Corrêa2º Tesoureiro: Antonio Scamatti

CONSELHO ADMINISTRATIVO TitularesAndré Luiz da Silva Mendes, Alberto Marques Passos, Christian Petterson Antunes Lemos, Eliane Valim dos Reis, Fernando Rodrigues da Silva, Glória Satoko Kono, Kleber Vicente Cavalcante, Marcia Regina Moralez, Marcus Vinicius Esteves Nunes, Moacir Benedito Pereira, Paulo César Pinto de Oliveira, Paulo Henrique Pastori, Roberto da Silva Oliveira, Sebastião Benedito Gonçalves, Sirleide da Silva.

CONSELHO ADMINISTRATIVO SuplentesAntonio Carlos Molina, Elisa Maria Rocha, Guiomar de Souza Pazian, Francisco Carlos Conceição, Maria Aparecida Della Villa, Onésimo Canos Silva Júnior, Paulo Vicentino, Vandré Lencioni de Camargo.

CONSELHO FISCAL TitularesEdmilso Martins, José Tomaz, Nelson Rodrigues de Mello.CONSELHO FISCAL SuplentesLuiz Roberto Lopes de Souza, Varlino Mariano de Souza.

Expediente

8 Janeiro/fevereiro 2009

Editora

JB Pátria Editora Ltda.

Presidente: Jaime BenutteDiretor: Iberê BenutteAdministrativo: Fátima ConceiçãoEstagiários: Marina Beltrame e Luiz Aymar

Previdência Nacional

Publisher: Jaime BenutteConselho Editorial: André Luiz Goulart, Demétrius Ubiratan Hintz, Wellington Costa Freitas (Abipem); João Carlos Figueiredo, Lúcia Helena Viera, Magadar Rosália Costa Briguet (Apeprem); Paulo Henrique Pastori (Regime Geral); Jarbas Antonio de Biagi (Previdência complementar)

Editor: Trilogia Comunicação e Arte Ltda. - Mauro Malin, MTB 14887-67

Direção de arte: Belatrix Ltda. Marcelo Paton - Diretor de ArteGabriel de Moraes Luiz, Evandro Oliveira dos Anjos - Assistentes de Arte

Colaboradores: Américo Gobbo, Alexandre Belém, Antônio Cruz, Carlos Lopes, Carlos Vasconcellos, Dalmo Curcio, Érika Bento Gonçalves, Gabriel Luiz, Jorge Felix, Kelly Souza, Leonardo Fuhrmann, Marcelo Spatafora, Marcin Tusinski, Mauro Nakata, Pro Empresa, Sérgio Damasceno, Svilen Mushkatov, Victor Soares, Vladimir Fofanov.

Impressão: IBEP - Tiragem: 50.000 exemplares

A revista PREVIDÊNCIA NACIONAL é uma publicação bimestral da DB2 Editora, localizada na Rua Flórida, 1.703, 11º andar, Brooklin, CEP 04565-001, São Paulo – SP. Tel.: 11 5505-6065. www.patriaeditoria.com.brDúvidas ou sugestões: [email protected] textos assinados são da responsabilidade de seus autores. Não estão autorizados a falar pela revista, bem como retirar produções, pessoas que não constem desde expediente e não possuam uma carta de referência.

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Eventos

Após cursos e seminários de qualifi cação, os gestores de recursos fi nanceiros dos RPPS devem colocar em prática as metas

propostas para 2009

Hora de resultados

A troca de experiências entre os institutos parti-cipantes a respeito da política de investimen-to e da crise mundial foi citada por alguns pa-

lestrantes como o destaque dos debates nos eventos realizados entre os dias 2 e 12 de dezembro passado no Acre, em Goiás e nos estados de São Paulo e do Rio de janeiro pela Abipem (Associação Brasileira de Instituições de Previdência Estaduais e Municipais), pela Apeprem (Associação Paulista de Entidades de Previdência do Estado e dos Municípios) e pela Asso-ciação das Entidades de Previdência dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro (Aepremerj). O receio de que a crise prejudique a economia brasi-leira e o prazo estipulado pelo governo federal para a entrega dos objetivos a serem cumpridos em 2009 através da política de investimento deram relevância às palestras que abordaram estes assuntos.Com participação de entidades de diversos estados brasileiros, puderam ser discutidas reivindicações,

sugestões e propostas para fortalecer o RPPS e ampliar a qualifi cação de seus gestores.

Kleber Vicente Cavalcante, membro da administração do Instituto de Previdência Municipal de Praia Grande (IPM-PG) desde 2001, acredita que manter a mesma equipe de gestores por um grande período evita que o investimento em cursos e seminários de capacitação se perca devido às trocas de funcionários. Exemplo de administração previdenciária no país, o Insti-

Instituto da Praia Grande mostra que aliar apoio político e administração permanente

pode dar certo

Auditório do Teatro Plácido de Castro, Rio Branco, Acre

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Previdência Nacional 11

tuto da Praia Grande, através da recuperação de créditos junto ao governo via compensação previdenciária, inicia o ano com a conta da instituição positiva. – Sempre tivemos respaldo da prefeitura, que entende as reivindicações da previdência. Isso não é comum em ou-tros municípios, onde as necessidades das entidades mui-tas vezes não são tratadas com o devido respeito. Quando entrei na administração da entidade, as contas do Institu-to da Praia Grande estavam com saldo positivo de R$ 300 mil, hoje são R$ 68 milhões – diz Cavalcante.

No III Seminário de Previdência do Estado do Acre, que deu início à sucessão de eventos das associações, os par-ticipantes puderam debater temas como A Seguridade Social como Fator de Proteção Social e Distribuição de Renda, Competência dos Entes Federativos para Legislar sobre a Previdência Social do Servidor e Pensões e Aspec-tos Constitucionais do Direito Previdenciário nos Regimes Próprios de Previdência. Promovido pelo governo do estado e pela Acreprevidência, o seminário se realizou no Teatro Plácido de Castro e contou com a participação do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Acre Antônio Jorge Malheiro, que falou a respei-to do papel do Tribunal de Contas na análise dos processos de aposentadoria e pensões dos servidores públicos. – Os debates que mais suscitam a participação da platéia são, sem dúvida, aqueles em que se discutem os direitos do servidor e a aplicação das regras da legislação em vigor – avalia Malheiro.Para Kleber Vicente Cavalcante, o seminário A Crise Mun-dial – Perspectivas para 2009, animado na Praia Grande por Sérgio Cutolo, diretor do banco UBS-Pactual e ex-pre-sidente da Caixa Econômica Federal, foi relevante, devido à crise econômica. Segundo Cavalcante, a economia brasi-leira está “blindada”. “O cenário no Brasil ainda está segu-ro. Esperamos que o perigo da crise passe já no segundo semestre de 2009. É provável que as equipes econômicas sofram uma injeção de ânimo, e a tendência é que a situa-ção melhore a partir da metade do ano que vem”.Maria Verônica Bentinho, membro da diretoria da Fundação de Aposentadorias e Pensões dos Servidores do Estado de Pernambuco (Fundape), acredita que a crise “é um assunto que deve ser tratado com cautela. Não é um tema a ser discutido apenas pelo que aconteceu de um ano para cá”.

No 2º Seminário Centro-Oeste da Abipem, que ocorreu em Goiânia nos dias 10 e 11 de dezembro, a metodologia das palestras permitiu interatividade entre as instituições, que puderam trocar experiên-cias a respeito de temas como evitar fraudes nos sistemas de cadastro de aposentados e pensionis-tas. Para Maria Verônica Bentinho, mostrar alguns casos e exemplos de trabalho foi a grande evolução no modo como os seminários os quais ela participou vinham sendo realizados. – Gostei muito da apresentação do Instituto de Pre-vidência de Santa Catarina (Ipesc) que mostrou o sistema de recadastramento anual de pensionistas e aposentados através da impressão digital – diz Ma-ria Verônica. – É algo útil, que deu certo lá e poderia haver interação com outras instituições que atuam na mesma área. Exibir essas experiências foi uma evolução nas palestras, e, apesar de ser uma apre-sentação curta, os estados conseguiram passar a experiência de cada um” (ver Gestão de Qualidade, Previdência Nacional número 4).Para fi nalizar o ciclo de eventos, a Aepremerj organi-zou seu 2º Seminário em Sapucaia, no Rio de Janei-ro. As palestras viraram mesa-redonda. João Carlos Figueiredo, presidente da Apeprem e ex-presidente da Abipem, e João Luiz Meireles da Conceição, ex-presidente da Aepremerj, discutiram a questão pre-videnciária e o aperfeiçoamento dos funcionários junto a cerca de 100 participantes. Evandro Antônio da Silva, presidente da Aepremerj desde setembro de 2008, contabiliza: – Foram quatro eventos desde que assumi a pre-sidência da Aepremerj. Dois regionais e dois na-cionais, que reuniram, ao todo, mais de 450 par-ticipantes. Em 19 de setembro, quando assu-mi o cargo, a Associação tinha 11 institutos fi lia-dos. Paguei dívidas tra-balhistas, corri atrás de patrocínio e hoje temos 16 institutos fi liados.A animação de Silva não se resume ao balanço po-sitivo dos eventos realiza-dos no Rio de Janeiro em 2008. Dentre as propos-tas para 2009, cinco even-tos fazem parte do roteiro da Associação. “Um deles será em parceria com a Abipem, em março, aqui no Rio”, anuncia.

No Acre, debates para fundamentar futuras decisões

no setor e aprimorar as práticas previdenciárias

Kleber Cavalcante

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Passo a Passo

Previdência Nacional reúne nesta edição recomendações feitas em 2008 por especialistas para boa gestão dos

institutos do regime próprio

Para começo de conversa

No dia 1º de janeiro tomaram posse, ou foram reempossados, prefeitos dos quase 2 mil municí-pios brasileiros que aderiram ao RPPS. Eles logo nomearam, ou confi rmaram em suas funções, ad-ministradores das entidades de previdência mu-nicipais. Se a taxa geral de reeleição no pleito de 2008 – 60% – serve para os municípios que têm RPPS, em 800 municípios há renovação dos ges-tores. Alguns são mantidos, ainda que a oposição tenha conquistado o poder na cidade. Em com-pensação, muitos prefeitos reeleitos trocam os gestores. Ou porque não gostaram do que viram

no primeiro mandato, ou para cumprir acordos eleitorais.Previdência Nacional publicou em suas duas primeiras edições roteiros para montar e desenvolver institutos do RPPS. Novos e antigos gestores dispõem agora desse ver-dadeiro material de consulta, reunido numa só edição. Mas a revista vai para todos os municípios do país, te-nham ou não aderido ao regime próprio. Assim, o mate-rial começa indicando critérios para avaliar se vale a pena adotar esse regime. A parte sobre legislação foi escrita antes da edição das portarias 402 e 403 pelo Ministério da Previdência, cuja importância é tratada nesta edição (ver Peças que se encaixam, página 20).

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Previdência Nacional 13

Como montar e sustentar

Conhecimento e avaliação por-menorizada dos dados são as bases para a criação do Regi-me Próprio nos municípios

Sérgio Damasceno (Publicada na edição número 1, abril/maio

de 2008.)

A adesão ao Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) de-monstra que estados e municípios preferem, cada vez mais, gerenciar localmente os recursos de aposen-tadoria do funcionalismo público. Mas em que momento um municí-pio deve chamar a si a responsabi-lidade pela gestão da previdência e montar um instituto? Essa montagem deve considerar, no mínimo, três dados: a alíquota, que dimensiona se é mais vantajo-so criar o instituto ou permanecer sob a gestão do Instituto Nacional de Segurida-de Social; a reserva técnica, que demonstra se o município tem fundos para custear o RPPS; e os custos de implantação da infra-estrutura mínima para um geren-ciamento próprio. As vantagens de se ter uma admi-

nistração própria, segundo o só-cio-consultor da empresa Global-prev, Edevaldo Fernandes da Silva, são várias: “Signifi ca poupança in-terna para o município porque os recursos não se destinam a abater o défi cit do INSS; é um instrumen-to de ação que permite a alocação de recursos no mercado fi nancei-ro local; e permite que se tenha poder de representação, com fi s-calização e acompanhamento da destinação dos recursos”.

Análise precisa levar em conta o arcabouço regulatório que rege a cidade e enquadra os

servidores

O sócio da Globalprev foi supe-rintendente do Instituto de Pre-vidência Municipal de São Paulo (Iprem). Em média, os institutos locais têm uma atuação longa no país: de 30 a 50 anos. O Iprem existe desde 1909. Os textos que regem o RPPS são as leis 9.717/98 e 10.887/04 e as Emendas Constitucionais 20, 41 e 47 (ver, adiante, Bê-á-bá jurídico). Na etapa anterior à criação de um regime próprio, o município deve avaliar o arcabouço regulatório que rege a localidade e regula a contratação, remuneração e orga-nização do servidor. Em geral, de-

vem ser analisados o Estatuto do Servidor Público, a Lei Orgânica Municipal e o Plano de Cargos e Salários. “Deve ser avaliado o que já existe e o que deve ser alterado pelo impacto da previdência para que se saiba se as normas são adequadas às questões previden-ciárias”, explica Fernandes. Na metodologia proposta por Fernandes para a criação de um regime próprio de gestão da pre-vidência pública, os pontos princi-pais a serem observados antes da decisão são: análise da estrutura previdenciária municipal, das ba-ses normativas, das bases cadas-trais, da base atuarial, diagnóstico da situação do ente e proposta de modelagem. Em geral, isso é feito com o apoio de consultorias ou profi ssionais que conheçam previ-dência pública. A tecnologia da informação (TI) ou sistema que controlará o RPPS local é um elemento importante na estruturação do regime. Os bancos de dados, que gerenciam a base de servidores, têm custos mais atrativos atualmente e o RPPS precisa de sistemas parru-dos e, consequentemente, de pro-fi ssionais que entendam de TI e também de previdência pública.

Os custos da previdência própria deverão ser compatíveis com a

arrecadação esperada de recursos

O mais importante é que o municí-pio equacione, desde o princípio, os custos com a previdência própria e os recursos fi nanceiros que suporta-rão o instituto local. O conjunto de normas que regula o RPPS foi unifi -cado em 1998. Não há benefícios diferentes nas localidades brasilei-ras. O servidor

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público, em qualquer município bra-sileiro, tem os mesmos benefícios assegurados pelo INSS: aposenta-doria (por idade, tempo de contri-buição, invalidez); pensão, auxílios doença e reclusão (prisão) e salários maternidade e família. Também foram unifi cados os pa-drões de permanência no setor pú-blico. Com isso, as regras fi caram mais simples e são válidas em todo o território nacional. A lógica do sistema é uma só: o benefício não pode ser concedido ao contribuinte que não contribuiu. O êxito da entidade local depende-rá de pessoas que efetivamente de-têm o conhecimento da previdência. “Sem se cercar de base técnica e de profi ssionais qualifi cados, é compli-cado criar um ente municipal”, diz Fernandes. O conhecimento sobre previdência pública está bastante disseminado. Para o regime próprio há o intercâmbio entre entidades como a Abipem e associações es-taduais, consultorias e escolas de formação técnica.

Usar o conhecimento local para não se enganar a

respeito da realidade do quadro funcional

Fernandes ressalta que o conhe-cimento local pode e deve ser lar-gamente explorado. As áreas de recursos humanos das prefeituras detêm todas as informações sobre o servidor público e o setor fi nan-ceiro, que administra a tesouraria, a contabilidade e as fi nanças da lo-calidade. São, portanto, peças-chave para o levantamento de informações que subsidiarão a criação do instituto próprio. O con-sultor sugere que os futuros gesto-res procurem o Ministério da Pre-vidência e os tribunais de contas municipais. Esses órgãos têm as in-

formações básicas sobre o RPPS. Os dirigentes dos institutos munici-pais, ao se decidirem pela criação de gestões próprias, devem apro-veitar todo o conhecimento local disponível, seja junto ao servidor público mais antigo ou junto a en-tidades e consultorias. Levantados os dados, defi nidas as alíquotas, a reserva técnica que viabilizará o RPPS e a gestão da base de dados dos servidores, a cidade estará apta para administrar sua previ-dência, com os consequentes ga-nhos para a comunidade local.

Certifi cado de Regularidade Previdenciária

Quem não atende os requisi-tos legais pode fi car sem CRP e perder repasses voluntários da União

Érika Bento Gonçalves(Publicada na edição número 1.)

O Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) completa vinte anos em 2008, mas só dez anos depois de criado ganhou contornos mais defi nidos. Sofreu emendas, pas-sou por uma reforma, em 2003, e mais dois ajustes. O último foi em 2005. Mesmo assim, ainda hoje sete estados, além do Dis-trito Federal, não se adequaram à legislação, principalmente na gestão única do sistema. Dúvidas, difi culdades, burocracia e confl i-tos de interesses fazem com que os administradores fi quem à mar-gem das novas regras, o que pode ser um péssimo negócio. Os administradores que opta-

ram pelo Regime Próprio de Pre-vidência Social têm que manter regularizada sua situação junto ao Ministério da Previdência. Caso contrário, correm o risco de não conseguir a renovação do Certifi -cado de Regularidade Previden-ciária (CRP). A validação do cer-tifi cado se dá a cada três meses e passou a exigir que o Executivo esteja em conformidade com as regras do RPPS. Sem o certifi ca-do, os estados fi cam proibidos de receber empréstimos da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, do BNDES, e repasses vo-luntários da União.

Municípios não têm autonomia para criar

legislação que contrarie regras obrigatórias para

todo o país

Estar em dia com a Previdência é, primeiramente, possuir uma lei que institua a gestão única do RPPS. Para que esta lei – tanto municipal como estadual – seja reconhecida pela Previdência, ela deve atender aos princípios cons-titucionais e previdenciários, que consistem, como explica a advogada Magadar Briguet, em “garantir o equilíbrio fi nanceiro, atuarial e da contributividade”, ou seja, estabelecer regras de con-cessão de benefícios e alíquotas de contribuição baseadas nos cál-culos atuariais, além de detalhar a forma de investimento do fundo previdenciário, sempre de acordo com a Constituição. “A autonomia do Executivo na elaboração desta lei é limitada. O município ou o estado podem determinar o percentual da contri-buição do servidor, mas têm que respeitar o mínimo de 11%, como manda a Constituição. Eles po-

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Previdência Nacional 15

dem, também, incluir todos os be-nefícios previdenciários. Mas não podem, por exemplo, transformar o que era benefício administrati-vo em benefício previdenciário. A aposentadoria do servidor não pode mais ser superior à remune-ração do cargo.” Briguet, que é Conselheira Jurídi-ca da Abipem, diz que antes da Emenda Constitucional 20, de 1998, “a administração incorpora-va outros benefícios ao salário do servidor” e, ao fi nal, mesmo que ofi cialmente ele ocupasse um car-go médio, a aposentadoria, não raro, chegava a mais que o dobro do salário de sua função inicial. As horas extras também devem ser destacadas, esclarece a advoga-da. “Isso depende de cada locali-dade. É preciso ver se a hora extra agrega-se permanentemente ao salário do servidor e se incidem os 11% da contribuição. A lei deve defi nir claramente a base da con-tribuição. Ela deve adaptar as nor-mas constitucionais à realidade de cada município e estado.” (Ver Confl itos à vista, página 26.)

Lista mínima de benefícios é requisito para Ministério da Previdência reconhecer

RPPS

Mestre em Seguridade Social e es-pecialista em regimes próprios, o procurador do Rio de Janeiro An-dré Oliveira diz que “o Ministério da Previdência só reconhece um regime próprio quando a lei que o instituiu garante aos servidores um rol mínimo de benefícios” – pensão por morte, aposentadoria volun-tária, compulsória e por invalidez. Além disso, é preciso fi car atento, também, ao prazo de 90 dias entre a criação da lei e o início das contri-buições. “Por isso, muitos municí-pios estabelecem que a lei entrará em vigor 90 dias após a publicação da mesma. É uma saída.” O gestor da previdência própria será refém do que determinar a lei que a instituiu. Por isso, o auxílio de um técnico atuarial é essencial. Quanto mais informações ele tiver, mais efi cazes serão os cálculos que vão determinar as contribuições e os benefícios e, por consequência, melhor será a saúde fi nanceira da autarquia ou do fundo responsável pelo sistema. Fazer um levanta-mento detalhado dos servidores é a base para este profi ssional. – Não adianta saber apenas quan-tos ativos e inativos a administra-ção possui. É preciso saber todos os detalhes. Se é casado, solteiro, quantos fi lhos tem, qual a idade do

marido ou esposa, idade dos fi lhos, tudo – ressalta o presidente do Instituto de Previdência dos Muni-cipiários de Ribeirão Preto (IPM), Paulo Henrique Pastori [na gestão encerrada em 2008].

Descontar na folha e não repassar para o instituto é

expediente condenável

O Instituto existe desde 1994 e já se tornou o gestor único das pre-vidências locais. Com 3.400 apo-sentados e pensionistas e 8 mil servidores ativos, o IPM tem uma despesa mensal de R$ 7,5 mi-lhões com os inativos. Atualmente, a prefeitura de Ribeirão contribui com 22% sobre os ativos e, aos poucos, o IPM está conseguindo equilibrar a situação fi nanceira. “Um dos grandes desafi os nesta área é fazer com que o Executivo respeite o repasse ao fundo dos valores previdenciários. Em mui-tos municípios isso não acontece. Eles descontam na folha, mas não repassam para o gestor correta-mente, o que prejudica fi nanceira-mente a instituição.” Pastori, que também é vice-prefeito de Ribeirão Preto [mandato encer-rado em 2008], ressalta que os gestores e administradores devem obedecer, com rigor, as normas para aplicação dos recursos fi nanceiros, acompanhar as regras do Ban-co Central e contar com uma boa equipe técnica. Professor de Direito Previdenciário e pós-gradua-do em Gestão Previdenciária, ele recomenda que o gestor faça novos cál-culos atuariais a cada seis meses.

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16 Janeiro/fevereiro 2009

Bê-á-bájurídico

Tópicos de legislação cujo co-nhecimento é indispensável à administração de institutos que aderiram ao RPPS

(Publicada na edição número 1.)

Qualquer cidadão brasileiro sabe que a letra da lei, neste país de aparência relaxada mas tradi-ção formalista, é uma barreira ao exercício da cidadania. Nem sem-pre isso decorre da vontade de criar difi culdades para exercer o burocratismo e dele tirar proveito. Em muitos casos, os legisladores são movidos por intenções perfei-tamente magnânimas. Em outros casos, recorre-se a remendos para fazer a transição da situação ante-rior para a nova sistemática que se pretende instituir. Mas nem sempre o resultado é o almejado. E sempre é difícil identifi car o mí-nimo que se deve saber para agir ao abrigo das normas vigentes. Aqui vai a contribuição de Previ-dência Nacional, em levantamen-to feito pela repórter Érika Bento Gonçalves com a colaboração da advogada Magadar Briguet.

Gestão

Lei 9.717/98, artigo 1º:1) Avaliação atuarial inicial e em

cada balanço (inciso I);2) Número mínimo de segurados

que garanta a cobertura de to-dos os riscos (inciso IV);

3) Pleno acesso dos segurados às informações sobre a ges-tão, além da participação nos colegiados e instâncias de de-cisão (inciso VI);

4) Registro contábil individual das contribuições de cada ser-vidor e dos entes estatais (in-ciso VII);

5) Demonstrativos fi nanceiros e orçamentários das despesas fi xas e variáveis com os inati-vos e encargos sobre pensões e proventos pagos (inciso VIII);

6) Sujeito à inspeção e auditorias feitas pelo Ministério da Previ-dência, Banco Central e outros (inciso IX).

Lei 9.717/98, artigo 2º:7) Insufi ciências fi nanceiras deve-

rão ser cobertas pelo respecti-vo ente federativo (parágrafo I);

8) Publicação de demonstrativo fi nanceiro 30 dias após o fi m do bimestre (parágrafo II).

Lei 9.717/98, artigo 10:9) Em caso de extinção do RPPS,

os municípios, estados, Distri-to Federal e a União assumirão o pagamento dos benefícios já concedidos e os fi rmados an-tes da extinção.

Emenda Constitucional 20/98:10) Cada ente federativo deve ter

apenas um gestor do Regime Próprio (parágrafo 20 do arti-go 40 da CF, alterado pela EC 20/1998).

Contribuição dos ativos

A alíquota da contribuição dos ativos não pode ser inferior à contribuição dos servidores fe-derais (artigo 3 da Lei 9.717/98), que está fi xada em 11% sobre a remuneração no cargo efetivo (artigo 4 da Lei 10.887/2004).Acréscimos à remuneração de-correntes de local de trabalho, de função de confi ança ou de cargo de comissão não podem ser incluídos no cálculo da remu-neração, exceto quando os ser-vidores forem aposentar-se pe-las regras do art. 40 da CF (por média) e por expressa opção dos servidores, caso em que essas vantagens poderão ser incluídas na base de cálculo.

Contribuição dos aposentados epensionistas

A Constituição Federal criou dife-rentes parâmetros de contribui-ção para os inativos e pensionis-tas federais e os dos demais entes federativos. O Supremo Tribunal Federal, porém, determinou que todos os inativos e pensionistas contribuíssem com no mínimo 11% (seguindo o ente federativo)

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Previdência Nacional 17

sobre a parcela que exceder o limi-te dos benefícios previdenciários do Regime Geral (R$ 3.038,99).Caso especial – o inativo ou pen-sionista portador de doença inca-pacitante só terá que contribuir quando o benefício for maior que o dobro do limite máximo (pará-grafo 21 do artigo 40 da CF, alte-rado pela EC 47/2005).

Contribuição Patronal

A contribuição patronal não pode ser menor que a contribuição do servidor (11%) nem superior ao dobro desta (22%) (artigo 2 da Lei 9.717/98).

Benefício da aposentadoria

1) O valor da aposentadoria dos servidores que se aposenta-rem pelo art. 40 da CF é ob-tido pela média aritmética simples das maiores remu-nerações correspondentes a 80% do período contributivo, desde julho de 1994 (ou des-de o início da contribuição, se posterior àquela data) até a aposentadoria (artigo 1 da Lei 10.887/2004).

2) O valor da aposentadoria não pode ser menor do que um sa-lário-mínimo e nem maior do que a remuneração no cargo efetivo ocupado pelo benefi ci-ário.

3) A aposentadoria com pro-ventos integrais é concedida apenas aos servidores que in-gressaram no serviço público até 31.12.2003 ou que, até essa data, já tinham direito adquirido a se aposentar com integralidade (artigo 6 da EC 41/2003).

4) Os regimes próprios não po-

dem conceder benefícios dife-rentes dos estabelecidos pelo Regime Geral (RGPS), cujo ór-gão gestor é o INSS (artigo 5 da Lei 9.717/98).

5) O servidor não poderá rece-ber mais de uma aposentado-ria, exceto:

a) Os que ocupam cargos acu-muláveis, na forma da CF (pa-rágrafo 6 do artigo 8 da Lei 9.717/98). Há, entretanto, um limite para esses benefí-cios, previsto no art. 37, inci-so XI, da CF;

b) O aposentado em cargo efe-tivo que retornou ao servi-ço público por concurso até 16/12/1998 poderá acumu-lar proventos com a remune-ração no cargo efetivo, mas não poderá obter uma segun-da aposentadoria (artigo 11 da EC 20/98);

6) Os regimes próprios não po-dem conceder outras aposen-tadorias especiais afora a dos professores. Somente uma lei complementar (federal) pode garantir aposentadoria espe-cial para outros casos, como servidores que exerçam ativi-dades de risco ou em ambien-te insalubre (parágrafo 4 do artigo 40 da CF, alterado pelo artigo 1° da EC 47/2005).

Quem pode ser fi liado do RPPS

Somente os servidores titulares de cargo efetivo podem ser fi lia-dos ao Regime Próprio. O servi-dor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão, de livre nomeação e exoneração, assim como de outro cargo temporário ou de emprego público está vin-culado ao Regime Geral (parágra-fo 13 do artigo 40 da CF, alterado

pela EC 20/98).Cada ente federativo pode incluir como fi liado ao RPPS os servido-res estáveis – na forma do dis-posto no artigo 19 do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) – e outros servido-res que ingressaram no serviço público até a promulgação da CF (1988) e que estavam submeti-dos ao regime jurídico dos servi-dores efetivos. O servidor titular de cargo efetivo que for cedido a órgão ou entida-de de outro ente da Federação permanecerá vinculado ao regi-me e origem (artigo 1º-A da Lei 9.717/98).

Fiscalização dos fundos e penalidades

Os fundos com fi nalidade previ-denciária, quando constituídos, estão sujeitos às normas, ao con-trole e à fi scalização do Banco Central. Entre elas, a realização de auditoria como parte do siste-ma de controle interno, que pode ser feita por equipe interna ou externa, desde que registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pertencente a entidade ou associação de classe ou órgão central a que esteja fi liada ou au-torizada pelo BC (resolução 3.056 do Banco Central do Brasil).O gestor que descumprir a lei pode ter suspensas as verbas vo-luntárias da União; empréstimos e fi nanciamentos de bancos pú-blicos; convênios e contratos com entidades vinculadas direta ou in-diretamente à União, e pagamen-tos devidos do INSS (artigo 7º da Lei 9.717/98). Respondem legalmente pelo RPPS os seus dirigentes e os membros dos conselhos administrativo e fi scal do órgão gestor. (E.B.G.)

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18 Janeiro/fevereiro 2009

Pisar fi rmeContratação de pessoal, be-nefícios, cadastro e recadas-tramento, saúde fi nanceira e conscientização: segredos para um bom início

(Publicada na edição número 2, junho/

julho de 2008.)

Depois de legalizar o Regime Próprio de Previdência Social, o gestor deve estar preparado para enfrentar novos desafi os que, em-bora muitas vezes delicados, não são intransponíveis. Gestores ex-perientes relacionam os principais problemas enfrentados no início da administração e o que pode ser feito para solucioná-los.As primeiras coisas a fazer são: ins-crever o regime próprio no CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Ju-rídica), abrir uma conta bancária para receber as contribuições dos servidores e do poder executivo (patrocinador) e fi rmar um convê-nio com o Ministério da Previdên-cia Social, para que a compensa-ção previdenciária possa ser feita. Até aí, sem problemas. Em segui-da começa a rotina de gestão.

Contratação de pessoal deve ser feita por concurso público autorizado em lei

A seleção da equipe poderá ser feita por concurso público, desde que autorizado pela lei que criou o regime próprio. “O que comumen-te ocorre, entretanto, é que o pa-trocinador (estado ou município) cede servidor até a formalização deste quadro”, afi rma o presiden-te da Associação Brasileira de Ins-tituições de Previdência Estaduais e Municipais, Abipem [mandato encerrado em 2008], João Carlos Figueiredo, também previdente da Associação Paulista de Entidades de Previdência do Estado e dos Municípios, Apeprem, e do Insti-tuto de Previdência de Jundiaí. O ideal seria uma equipe especia-lizada, porém “falta massa crítica previdenciária. A maioria desco-nhece totalmente o sistema de previdência. Por isso, todos os nossos funcionários passam por, no mínimo, três cursos: previden-ciário, organizacional e de quali-dade”, diz o diretor-presidente da Manausprev (Fundo Único de Pre-vidência do Município de Manaus), Sandro Breval Santiago, que está

no instituto desde a fundação, em 1983. Em 2006, o fundo recebeu o certifi cado ISO 9001 de gestão de qualidade.A falta de conhecimento das ques-tões previdenciárias também atin-ge os gestores. “A maioria destes passos [de gestão] é desconheci-da dos novos gestores, comumen-te orientados pelas consultorias que prepararam a lei de criação, o plano de cargos e salários e ou-tras providências”, afi rma o presi-dente da Abipem. Por isso, vale a mesma sugestão: informe-se. Participe de cursos e seminários oferecidos pela Abi-pem, pela Apeprem e por outras associações estaduais.

Cálculos são muito prejudicados pela falta de

padronização na concessão dos benefícios

A falta de padronização na con-cessão das aposentadorias e pensões causa um emaranhado de dúvidas e cálculos. “Para mim, esta é a maior difi culdade.”, afi r-ma Antônio Corrêa, superinten-dente do Serviço de Previdência e Assistência Social dos Funcio-nários Municipais de Indaiatuba, São Paulo, Seprev. “São muitas regras e os valores que com-põem a base de cálculo e eles dependem da lei que criou o regime próprio”, explica Corrêa. Por isso é importante ter uma equipe sempre bem informa-da sobre as normas estipuladas pelo Ministério da Previdência Social. “Tem que investir no pes-soal para garantir efi ciência não só no tratamento com o público como na concessão dos benefí-cios”, recomenda Corrêa.Além disso, a vasta documenta-ção exigida para a comprovação

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dos períodos de contribuição normalmente causa um enorme transtorno para o instituto e para o servidor. Para simplifi car esta questão, a Fundação de Apo-sentadorias e Pensões dos Ser-vidores do Estado de Pernambu-co, Funape, tem como subsídio “apenas a certidão de tempo de serviço/contribuição emitida pelo Estado, inexistindo qual-quer informação complementar quanto à efetiva utilização do pe-ríodo então apontado”, afi rma o diretor-presidente da fundação, Dácio Rossiter Filho.

Instituto de Manaus oferece cursos gratuitos para atrair o servidor

aposentado e atualizar cadastro

Um bom cadastro é essencial para o funcionamento do regime pró-prio. Fazer um recadastramento dos servidores ativos e inativos requer tempo, planejamento e es-trutura. O ideal é fazê-lo todos os anos. Mas como?Sandro Breval, da Manausprev, aplica um estratagema. O instituto oferece cursos gratuitos durante o mês de aniversário do servidor. “Assim, ele passa a ter interesse em comparecer ao instituto e, com isso, temos a chance de fazer o re-cadastramento dessas pessoas.” A efi ciência desta ação é de 97%, afi rma Breval. E, para os que não têm condições de comparecer pes-soalmente, um telefonema resolve o problema. “É antipático pedir para um aposentado ir até o insti-tuto para fazer o recadastramento. Às vezes, ele não tem condições físicas para isso. A nossa função é facilitar as coisas para eles e, ao mesmo tempo, garantir a alimenta-ção do nosso cadastro.”

Saúde fi nanceira e conscientização, ao lado de vigilância para evitar

fraudes

No Brasil, previdência social quase sempre está associada a défi cit, o que gera desconfi ança, principal-mente para aquele que vai con-tribuir. “O rombo na Previdência Social está ligado a má gestão e fraude”, afi rma Breval. “Para difi -cultar as fraudes, nós temos uma parceria com uma junta médica que atua com rigor na concessão de aposentadoria por invalidez, por exemplo.” Para garantir a saúde fi nanceira do regime próprio – e consequen-temente seu sucesso – o gestor deve, além de pensar nas possí-veis fraudes (e como evitá-las), “ter uma boa política de investimentos e conseguir manter um equilíbrio econômico, fi nanceiro e atuarial”, resume João Carlos Figueiredo, da Abipem. Uma consultoria fi nanceira “traz tranquilidade para a diretoria executiva e para os conselhos administrativo e fi scal”, justifi ca Corrêa, do Seprev, de Indaiatuba. De acordo com o último estudo atuarial, de dezembro de 2007, o instituto, segundo Corrêa, está com um superávit de R$ 25 mi-lhões. “Se todos os nossos ser-vidores se aposentassem hoje, poderíamos pagar as aposenta-dorias e pensões para o resto de suas vidas e ainda sobrariam es-tes R$ 25 milhões.”A folga no caixa se deve não só à boa gestão dos recursos mas também a um acordo fi rmado 15 anos atrás com a prefeitura de Indaiatuba. “Tivemos uma carên-cia de dez anos para começar a pagar os benefícios. Durante esse período, enquanto a prefeitura ar-

cava com as aposentadorias, nós praticamente só capitalizamos.” Estabelecer acordo de custeio de benefícios pode ser de grande va-lia para a saúde futura do fundo e nem é preciso uma carência de uma década. “Cinco anos são sufi -cientes”, garante Corrêa.

Muitos municípios ainda têm difi culdades para receber em dia, dos estados, repasse de

contribuições

A parceria entre Executivo e pre-vidência pode não ser tão agradá-vel assim, principalmente quando se trata de previdência estadual. “Tenho conhecimento de muitos institutos que têm difi culdade para receber, do estado, o repasse das contribuições em dia”, afi rma Breval, da Manausprev. Por isso, além de medidas práticas são necessárias ações que atinjam a consciência do patrocinador e do próprio servidor. “Não há dúvidas de que se hou-ver meios que garantam a preo-cupação do servidor público com a segurança e manutenção do re-gime, e não apenas com sua pró-pria realidade, a maior difi culdade enfrentada pelos gestores, a meu ver, estará sendo vencida, pois já se terá avançado na questão fun-damental: cultura previdenciária”, diz Dácio Filho, da Funape, que possui quase 180 mil assegura-dos. Dácio é também auditor de Contas Públicas do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco e, por isso, sabe da importância de zelar pelo instituto. Um Regime Próprio de Previdência Social baseia-se em três regras fun-damentais: equipe bem treinada, cadastro atualizado e uma boa po-lítica de investimentos. (E.B.G.)

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Legislação

Ministério da Previdência Social publica portarias 402 e 403, que uniformizam critérios de administração e

regulamentam equilíbrio futuro dos RPPS

Peças que se encaixam

Leonardo Fuhrmann

O Ministério da Previdência Social bai-xou no começo de dezembro último duas portarias, a 402 e a 403, que

tratam do equilíbrio fi nanceiro e atuarial dos regimes próprios de previdência social (RPPS) de estados e municípios. Enquanto o equilíbrio fi nanceiro de um sistema é dado pelo equilí-brio das contas correntes, o atuarial é o que garante que o fundo terá como cumprir seus compromissos no futuro. Segundo o atuário Joel Fraga, da Consultoria e Seguridade Municipal, um dos pontos rele-vantes da nova legislação é que a escolha das

hipóteses para o cálculo atuarial deixa de ser uma de-cisão exclusiva do atuário e a responsabilidade passa a ser dividida também com representantes das unidades da Federação e o gestor do RPPS.

Padronização deverá ajudar institutos a calcular valores necessários para cobertura

futura de planos

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– Os agentes interessados poderão e deverão dar sua opinião, e mais: entender um pouco desta questão. As peças começam a querer se encaixar: temos agora a Po-lítica de Investimentos, que estabelece a meta atuarial, e esta terá que ser buscada, sob pena de termos que re-fazer o cálculo atuarial no futuro com outra taxa de juros (a máxima é de 6% ao ano). Há uma tentativa de padro-nização com a tábua de mortalidade do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística) – explica Fraga. Tábua de mortalidade, ou tábua biométrica, é, na defi -nição do IBGE, “um modelo demográfi co que descreve a incidência da mortalidade ao longo das idades e resume, numericamente, as condições gerais de saúde de uma po-pulação”. Segundo o Ministério, trata-se de “instrumentos

estatísticos que expressam as probabilidades de ocorrência de eventos relacionados com sobrevi-vência, invalidez ou morte de determinado grupo de pessoas vinculadas ao plano” de previdência. As tábuas biométricas são usadas por entidades de previdência públicas e privadas.O MPS estabeleceu, por meio da portaria 403, que todos os RPPS deverão utilizar a Tábua de Mortalidade elaborada anualmente pelo IBGE, ou qualquer outra mais avançada. A mudança deve ajudar os RPPS a dimensio-nar os valores necessários para a cobertura futura de seus planos, levando em conta a ex-pectativa de vida dos participantes ativos e de seus dependentes. O secretário de Políticas de Previdência Social, Helmut Schwarzer, explicou à Agência Previ-dência que a mudança vai permitir que os regi-mes façam suas projeções com maior seguran-ça. Ele afi rma que 85% dos dois mil regimes próprios existentes no Brasil vinham adotando a tábua de mortalidade americana – AT49 –, que já estava ultrapassada.

Maioria dos RPPS adotavam tábua de mortalidade

americana, que não serve para a realidade brasileira

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Fraga considera que a utilização da tábua do IBGE traz vantagens em relação à tábua de mor-talidade americana, por usar dados nacionais. – Em princípio, a tábua do IBGE deve corrigir problemas, embora, como é sabido, também apresente problemas, especialmente com a mortalidade infantil, em função do não registro dos nascimentos em partes do Brasil. O correto seria fazermos testes com as tábuas (chamados testes de aderência) para se demonstrar qual tábua seria a mais adequada para um determi-nado grupo de pessoas – propõe. Ele destaca que na previdência privada, por exemplo, não é mais utilizada a AT49, tem que ser a AT83, pois lá foi demonstrado que a mor-talidade/sobrevivência se alterou nos últimos anos. Segundo o atuário, em alguns RPPS já é possível se fazer este teste, pois contam com cálculo atuarial há 10 anos. “Na prática, em al-guns casos a utilização da tábua do IBGE pode-rá reduzir as Reservas Matemáticas e, por con-sequência, o plano de custeio”, acredita.Para ele, com a mudança proposta na porta-ria, as três partes terão de conhecer um pouco

mais da realidade de cada RPPS. “Não se pode adotar a mesma tábua de mortalidade para o RPPS da cidade gaúcha de Veranópolis, conhecida por ter uma popu-lação de alta longevidade, e para os RPPS do Norte e Nordeste do país, onde a realidade é outra. As cidades mudam pelo progresso ou falta dele, pelo nível de in-vestimento do setor público, pelas características geo-gráfi cas, e isto tem que ser levado em conta na hora do cálculo atuarial,” compara.Segundo o Ministério da Previdência Social, muitas das novas normas já eram usadas desde a portaria 4.992, de 1999. As duas novas portarias servem para consolidar a legislação existente sobre o assunto. O secretário de Políticas de Previdência Social, Helmut Schwarzer, disse à Agência Previdência que a consolidação se fazia ne-cessária por conta das diversas alterações que a portaria original sofreu nos seus quase dez anos de aplicação. Para o coordenador geral de Auditoria do Ministério, Otoni Gonçalves Guimarães, a escolha da tábua bio-métrica do IBGE como referência mínima é importante também porque os dados são atualizados anualmente e há margens estatísticas para a obtenção de resultados operacionais. O próprio Ministério já a utiliza para fazer os cálculos no caso do RGPS. Segundo Guimarães, foram feitas projeções da mudança de tábuas com dois RPPS, um com 13 mil e outro com 8 mil benefi ciados, e o im-pacto médio no montante de provisões totais foi de 4%.A portaria obriga ainda os RPPS a fazer notas técnicas atuariais que expliquem, com detalhes, os procedimen-tos adotados para elaboração de suas projeções de longo prazo. A primeira deve ser entregue até o dia 31 de março de 2010. O objetivo é garantir a utilização de critérios profi ssionais de análise e facilitar a fi scalização da administração dos fundos. A medida também unifi ca conceitos e procedimentos dos gestores.

O ministério decidiu que as hipóteses biométricas, demo-gráfi cas, econômicas e fi nanceiras adequadas às carac-terísticas da massa de segurados e de seus dependentes devem ser decididas em conjunto pela unidade da Fede-

Longevidade é muito diferente em cidades com alta qualidade de vida e

em cidades pobres

Auxílio-doença, salário-família e salário-

maternidade terão custos apurados segundo valores

efetivamente gastos

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ração, pelo gestor do RPPS e pelo atuário responsável. Segundo Guimarães, a assinatura dos três é importante porque alia o conhecimento técnico do atuário com as informações da realidade específi ca dos segurados.Os benefícios de auxílio-doença, salário-família e salá-rio-maternidade deverão ter os seus custos apurados a partir dos valores efetivamente despendidos pelo RPPS, não podendo ser inferiores à média dos dispêndios dos três últimos exercícios, exceto quando houver funda-mentada expectativa de redução desse custo, demons-trada no Parecer Atuarial.Joel Fraga destaca outros pontos importantes da nova portaria:– a restrição a valores da compensação fi nanceira para o RPPS que possua convênio ou acordo de cooperação técnica em vigor para operacionalização da compensa-ção previdenciária com os regimes de origem;– as reavaliações atuariais com dados cadastrais posi-cionados entre os meses de julho a dezembro do exercí-cio anterior ao da exigência de sua apresentação;– e a obrigatoriedade de arquivamento da avaliação atu-arial na unidade gestora do RPPS.Ele aponta ainda a obrigação do atuário de fazer, nos

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24 Janeiro/fevereiro 2009

RPPS já em funcionamento, uma análise compa-rativa entre os resultados das três últimas avalia-ções atuariais, no mínimo, e a previsão de que, no plano previdenciário que apresentar resultado superavitário com índice de cobertura superior a 1,25, em no mínimo cinco exercícios consecuti-vos, poderá ser revisto o plano de custeio.O atuário estima que, apesar de não terem pro-blemas fi nanceiros imediatos, cerca de 95% dos RPPS estão com problemas atuariais (ver Ilusões numéricas, Previdência Nacional número 4).– Os problemas são diretamente proporcionais ao tamanho e à idade do RPPS. Ou seja: quanto maior e mais antigo o RPPS, mais problemas de equilíbrio vamos encontrar. Vide a situação da maioria das capitais e dos estados. Se o RPPS é novo (recém-criado com a onda emancipa-cionista de 90) os problemas são menores. Por exemplo: o município de São José do Hortêncio (RS) foi criado em maio de 1992 e faz cálculo atuarial desde a sua criação (e cumpre o cálcu-lo). Atualmente, está com superávit técnico de mais de 28% da Reserva Matemática. Signifi ca que tem 28% a mais do que o dinheiro de que precisaria para pagar todos os benefícios atuais e futuros. São 94 servidores ativos e cinco inati-vos – explica. (Ver Folga no caixa, página 66.)Os dados disponíveis mostram que não há, em geral, problema fi nanceiro nos RPPS. Os gesto-res fecharam o ano passado com mais de R$ 35 bilhões de investimentos no mercado fi nanceiro. A situação atuarial, no entanto, é bem diferente. Segundo levantamento feito em dezembro de 2007, os sistemas federal e dos estados juntos tinham a necessidade de fi nanciamento exter-no, que deve ser feito pelo ente federativo.

A portaria 402 estabelece que a alíquota cobrada dos ser-vidores públicos municipais e estaduais não pode ser infe-rior à que é cobrada dos funcionários da União, além de estabelecer que aposentados e pensionistas devem pagar a mesma alíquota que os trabalhadores que estão na ativa.

A portaria estabelece ainda que todas as categorias de servidores do mesmo ente da Federação devem fazer parte de um mesmo RPPS. Em muitos estados, catego-rias como a dos policiais militares costumavam ter um RPPS exclusivo, que, além de custear pensões e apo-sentadorias, garantia assistência médica e jurídica para seus associados, por exemplo. Agora, os fundos admi-nistrados pelos regimes próprios só poderão ser usados para o pagamento de benefícios previdenciários. As cai-xas benefi centes das diversas categorias profi ssionais de servidores podem continuar com os seus trabalhos sociais complementares.A alíquota paga pelo ente federativo também foi estipulada entre um mínimo que é o mesmo valor pago pelo servidor e o máximo de duas vezes a contribuição do trabalhador. A unidade da Federação fi ca responsável por cobrir even-tuais problemas fi nanceiros do RPPS de seus servidores. A portaria estipula ainda que os segurados têm de ter re-presentantes nas instâncias responsáveis pela gestão do plano e autoriza a criação de uma taxa de administração para eventuais despesas, que pode ser de até dois pon-tos percentuais do valor total das remunerações. Este valor deve ser usado apenas para o pagamento de des-pesas correntes e de capital necessárias à organização e ao funcionamento da unidade gestora do RPPS, inclusive para a conservação de seu patrimônio.Mesmo que não tenha personalidade jurídica própria, o RPPS deve ter uma escrituração contábil exclusiva. A pá-gina do Ministério da Previdência na internet (www.pre-videncia.gov.br) tem o modelo de declaração que deve ser seguido. Os dados de todos os segurados e de seus dependentes devem ser cadastrados individualmente. O Demonstrativo dos Investimentos e das Disponibilidades Financeiras do RPPS e o Demonstrativo da Política de Investimentos também devem ser enviados à SPS.

Só poderá haver um regime próprio para todas as

categorias de servidores de um mesmo ente da Federação

Otoni Gonçalves Guimarães em palestra

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permanecem com a legislação inadequada, relutando em devolver o que foi cobrado de forma indébita.Como se vê, houve decisões diferentes para o mesmo assunto e os servidores que se sentem lesados recorrem à Justiça. A matéria tem grande potencial para muitas ações judiciais. Em entrevista, a advogada Magadar Ro-sália Costa Briguet, que é diretora da Associação Pau-lista de Entidades de Previdência Municipal (Apeprem), fala sobre as polêmicas em torno dessa questão.

Previdência Nacional – No que se refere ao cálculo de proventos de aposentadoria dos servidores públicos, qual a grande mudança para a previdência social des-ses servidores trazida pelas emendas constitucionais?Magadar Briguet – A Emenda 20 estabeleceu um li-mite para a fi xação dos proventos dos servidores públi-cos, ao dispor no parágrafo 2º, introduzido no artigo 40 da Constituição Federal de 1988, que os proventos de aposentadoria não poderiam exceder a remuneração no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria. Assim, hoje, para a fi xação dos proventos de aposentadoria, os

Os servidores públicos sofrem atualmen-te duas limitações para a fi xação dos valores de aposentadoria nos Regimes

Próprios de Previdência Social estabelecidos pela União, estados, Distrito Federal e municí-pios. Um limite é geral, o chamado “teto” cons-titucional da aposentadoria. O outro é pessoal, a remuneração no cargo efetivo. Esses limites foram impostos há dez anos pela Emenda Cons-titucional número 20, de dezembro de 1998, à Constituição Federal de 1988. A EC 20 estabe-leceu que os proventos de aposentadoria não podem exceder a remuneração no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria. Na prática, a legislação impede que sejam transferidas para a aposentadoria verbas transitórias, como ho-ras extras.Muitos entes federativos, na hora de instituir leis para os RPPS, acabaram não fazendo distin-ções entre as parcelas remuneratórias do cargo do servidor e as parcelas transitórias. Com isso, não excluíram da base da contribuição os valo-res transitórios. Alguns desses entes alteraram a legislação para adequá-la à Constituição. Nes-se caso, muitos têm decidido pela devolução das quantias cobradas indevidamente. Outros editaram leis autorizando a incorporação de benefícios na atividade. E há ainda aqueles que

Legislação

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Confl it o

Advogada Magadar Briguet explica que choqueentre expectativas de proventos na aposentadoria e novas

disposições legais pode multiplicar ações judiciais

Vantagens tornavam ganho na aposentadoria maior do

que o da ativa

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t os à vista

Previdência Nacional 27

servidores públicos sofrem duas limitações: um limite geral, que é o denominado “teto” constitucional, e um pessoal, que é a remuneração no cargo efetivo.

Previdência Nacional – Como eram fi xados esse va-lores antes da mudança? Magadar Briguet – A Constituição 1988 não estabe-lecia nenhum limite individual para a fi xação dos pro-ventos de aposentadoria. Era comum que a legislação dos entes federativos – União, estados, Distrito Federal e municípios – estabelecesse incorporações de vanta-gens pecuniárias quando o servidor se aposentava. Com essa medida, o servidor ia, ao longo do tempo de sua vida funcional, incorporando parcelas remuneratórias, como horas extras, adicionais de insalubridade e peri-culosidade, adicional noturno, jornadas suplementares, parcelas pelo exercício de cargos em comissão ou fun-ção de confi ança. Acrescidas na aposentadoria, essas parcelas resultavam em proventos com valores maiores que os vencimentos do servidor no cargo efetivo.

Previdência Nacional – E por que agora há essa limi-tação se antes não era assim?Magadar Briguet – A Emenda Constitucional núme-ro 20 instituiu o Regime Próprio de Previdência Social dos servidores públicos, de natureza contributiva, e me-diante critérios que preservem o seu equilíbrio fi nancei-ro atuarial. Isso signifi ca que o servidor público, assim como o trabalhador da iniciativa privada, deve custear o benefício da aposentadoria que vai adquirir ao fi m de sua vida profi ssional, de forma que as despesas com o regime mantenham, ao longo do tempo, o necessário equilíbrio com as receitas aportadas.

Antes da Emenda 20, aposentadoria tinha natureza

administrativa e não previdenciária: Estado bancava

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Previdência Nacional – Quer dizer que as horas ex-tras, por exemplo, recebidas pelo servidor durante mui-tos anos não serão levadas para a sua aposentadoria? Na prática, dá para estimar em termos percentuais de quanto será a redução na aposentadoria do servidor?Magadar Briguet – Em geral, não, porque as horas extras não são pertinentes ao cargo público. Somente quando a lei autoriza a incorporação das horas extras na atividade elas passam a ser vantagens pessoais per-manentes do servidor e, então, constituirão base de cálculo permanente da contribuição previdenciária ao regime próprio.

É difícil falar sobre os percentuais de redução do valor dos proventos de aposentadoria, já que cada ente fe-derativo estabelece as escalas de vencimentos de seus servidores e a forma de remuneração. Mas podemos dar um exemplo: suponha um servidor que tem um pa-drão de vencimentos de R$ 600,00 e recebe 20% em horas extras sobre este valor e mais 40% a título de adicional de insalubridade. Na atividade, ele recebe R$ 960,00. No regime anterior, se a lei local autorizasse a incorporação dessas vantagens por ocasião da aposen-tadoria, desde que ele as recebesse por, no mínimo, cin-co anos, o servidor teria os mesmos R$ 960,00 como proventos. Hoje, esse servidor, receberá proventos de apenas R$ 600,00.

Previdência Nacional – Houve alguma outra alteração no cálculo dos proventos de aposentadoria trazida pela Emen-da Constitucional número 41, de dezembro de 2003?Magadar Briguet – Sim. Ela extinguiu a fi xação de pro-ventos pela integralidade, para os servidores ingressantes no serviço público a partir de 2004 ou para aqueles que já estão no serviço público, mas se aposentarem com fun-damento no artigo 40 da Constituição Federal. Esse cri-tério foi defi nido em lei federal. O cálculo é feito segundo critério de média simples das maiores remunerações.

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Por outro lado, antes da EC 20 não havia essa preocupação, porque as aposentadorias – sal-vo para aqueles entes que adotavam o regime geral para seus servidores, ou os raros que já haviam instituído contribuição previdenciária –, os benefícios previdenciários eram totalmente custeados e mantidos pelo erário público, o que lhes dava um caráter administrativo e não previdenciário. As despesas dos entes federati-vos com a folha de inativos cresciam a tal ponto que comprometiam o desempenho da adminis-tração pública.

Previdência Nacional – A Constituição Fede-ral ou as emendas constitucionais defi niram o que é a remuneração no cargo efetivo? Quais as vantagens pecuniárias que a integram?Magadar Briguet – Não. Essa matéria, que é de natureza administrativa, deve ser disciplina-da pela legislação dos entes federativos. Trata-se da autonomia garantida a eles pela Carta Magna.

O critério norteador é o custeio do be-nefício previdenciário. Assim, somente

o que constitui a base sempre constante da contribuição previdenciária pode ser levado pelo servidor na sua aposentado-ria. Partindo dessa premissa, temos que a remuneração no cargo efetivo é consti-tuída pelo padrão de vencimentos do car-go fi xado em lei, acrescido das parcelas permanentes, relativas ao cargo (todos os titulares do cargo recebem) ou pessoais do servidor, adquiridas em sua vida fun-cional.Por esse conceito, excluem-se as vanta-gens transitórias, aquelas que o servidor recebe apenas em razão do exercício da função em determinadas situações, por

exemplo de risco ou de perigo (adicional de insalubridade ou periculosidade), ou

além do horário normal de trabalho (hora extra), ou por exercer cargo em comissão ou função de confi ança.

É difícil estimar a redução que as aposentadorias sofrerão,

porque as vantagens são pessoais, não do cargo

Constituição não defi ne remuneração. Manda

observar custeiodo benefício

Desde 2004, aposentadoria é calculada pela média simples das maiores remunerações

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Previdência Nacional – Estados e municípios já adap-taram suas leis a essas regras de cálculo? Existe con-fl ito entre os servidores e os regimes próprios?Magadar Briguet – Embora os entes federativos te-nham editado leis instituindo a contribuição previdenci-ária, muitos acabaram por não fazer distinções entre as parcelas remuneratórias e as transitórias, e acabaram, nessas leis, não excluindo essas últimas da base da con-tribuição. Ora, se o servidor contribuiu, nada mais justo que ele entenda ser seu direito auferir o benefício sobre o qual ele sofreu o desconto da contribuição. Daí pres-sionarem, em muitos municípios, para receber essas vantagens em suas aposentadorias ou para solicitar a devolução dos valores das contribuições indevidas.

Previdência Nacional – O que têm feito os entes fe-derativos em relação a esse confl ito?Magadar Briguet – Alguns entes federativos têm alte-rado a legislação, para adequá-la à Constituição Fede-ral, e também têm decidido pela devolução das quan-tias descontadas indevidamente. Alguns resolveram editar leis autorizando a incorporação de benefícios na atividade. Outros permanecem com a legislação inade-quada e relutam em fazer a devolução do valor cobrado indevidamente. Assim, os servidores que se julgam lesa-dos recorrem ao Poder Judiciário.

Previdência Nacional – E o que tem decidido a Justi-ça nesses casos?Magadar Briguet – No que diz respeito à devolução do valor cobrado indevidamente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao examinar o artigo 40 da Constituição e a lei que defi nia a base de incidência da contribuição previdenciária dos servidores públicos federais e o benefício dela decor-rente, entende que ela não deve ser cobrada sobre qualquer parcela ou verba que não vá se converter em benefício ao servidor na aposentadoria, sob pena de confi guração de violação ao princípio que veda o enriquecimento ilícito.

Previdência Nacional – Existe algum estudo ou es-timativa de qual seria o impacto no caixa dos entes federativos se as verbas transitórias fossem incorpo-radas à aposentadoria?Magadar Briguet – A incorporação de verbas transi-tórias só seria possível se fosse alterado o parágrafo 2º do artigo 40 da Constituição Federal, que determina

que os proventos (e as pensões) não podem ex-ceder a remuneração no cargo efetivo.Não é preciso fazer grandes estudos para saber que, considerando o caráter contributivo e atua-rial estabelecido pela emenda constitucional nú-mero 20, de 1998, o impacto dessas incorpora-ções nos recursos previdenciários seria grande.

Previdência Nacional – Como é possível solu-cionar esse problema? Incorporar vantagens transitórias na atividade?Magadar Briguet – A meu ver, políticas remu-neratórias de incorporação de vantagens pecu-niárias na atividade trazem resultados insatisfa-tórios para o poder público. Em primeiro lugar, há o crescimento das despesas com pessoal. Em segundo lugar, é certo que, incorporadas horas extras, ou outra vantagem, por um servi-dor, difi cilmente ele as realizará após isso. As-sim, outro servidor deverá ser convocado para a realização das horas extras, que por sua vez as incorporará, e assim sucessivamente. A solução está em adotar o regime de subsídio ou remune-ração única, ou com poucos acréscimos, de forma que se garanta, de um lado, base de contribuição previdenciá-ria certa e determinada, sem exclusões, e, de outro, que o servidor contribua sobre um valor que será a referência limite para o cálculo de seus proventos.

Previdência Nacional 29

STJ só aceita cobrança de contribuição previdenciária

que se converta em benefício

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Ministro da Previdência, José Pimentel, diz que gestão previdenciária nos estados e municípios, que melhora a cada eleição, deve ter quadro estável, com servidores

tecnicamente qualifi cados

Competência permanente

Previdência Nacional 31

A boa gestão no regime geral e nos regimes pró-prios está entre as maiores preocupações do ministro José Pimentel, que assumiu a pasta em

junho de 2008 com uma série de desafi os. Talvez os de maior vulto sejam a defi nição do planejamento estra-tégico até 2015, dividido em dois grandes períodos: o primeiro, de 2009 até a conclusão do governo do pre-sidente Lula. O outro, como política de Estado, corres-ponde ao Plano Plurianual 2011-2015 e se destina a facilitar o trabalho do futuro governo. O ministro recebeu Previdência Nacional em Brasília, em novembro, e destacou a melhoria signifi cativa do re-gime próprio dos servidores públicos. De posse de da-

dos estatísticos recentemente divulgados por seu ministério, Pimentel constata que, aliado à boa gestão, está havendo um consistente pro-cesso de capitalização. Para tanto, cita a evo-lução dos ativos dos RPPS, que saíram de R$ 21,77 bilhões em 2005 para R$ 31,15 bilhões em 2007. A renovação do quadro de gestores municipais, decorrente das eleições de outubro, não preocupa o ministro, que aponta a melho-ria da gestão como uma tendência verifi cada tanto na eleição de 2000 quanto na de 2004. Pimentel, no entanto, ressalta a necessidade de melhorar não só a qualidade da gestão, mas

Carlos Lopes

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lhões. E 1.900 municípios têm regime próprio, totali-zando 2,15 milhões de servidores em atividade, 401 mil inativos e 151 mil pensionistas. Portanto, em junho de 2008 tínhamos 9,128 milhões de trabalhadores com cobertura no regime próprio.

Previdência Nacional – Esses dados estatísticos vão nortear a defi nição de políticas estratégicas para o setor no período de 2009 a 2015. Quais devem ser

as linhas mestras da atuação governamental nos próximos anos?José Pimentel – Nós estamos concluindo o planejamento es-

tratégico para 2009-2015 dividi-do em dois grandes períodos: o atual

Plano Plurianual, de 2009 a 2011, e o Plano Plurianual 2012-2015, como políti-

ca de Estado, para que o governo a assumir em janeiro de 2011 encontre esse planejamen-to. Esperamos que isso facilite a boa gestão da previdência pública brasileira – o regime geral, um forte posicionamento sobre o regime próprio, a previdência complementar e o regime especial dos servidores militares. Temos três grandes olhares. Um grande olhar é para a boa gestão, seja nos regimes próprios, en-volvendo os municípios, os estados e o Distrito Federal, seja no regime geral. Outra grande preo-cupação é com a previdência complementar, com uma série de regras que assegure a boa governan-ça e, acima de tudo, com a transparência desse sistema. O terceiro olhar é para a ampliação da cobertura previdenciária, com a sustentabilidade

do sistema.

Previdência Nacional – O senhor tem trabalhado para desarmar verdadeiras “bombas” montadas no Con-gresso Nacional na forma de projetos relativos ao regime geral. A sua queixa é uma queixa antiga dos governos:

aumento de despesas sem as correspondentes verbas de custeio. Como tem se dado o entendimento entre governo e Congresso?José Pimentel – O Congresso Nacional tem todo o direito constitucional de fazer as mudanças que achar razoável no sistema previdenciário, mas tem o dever de

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a certifi cação da capacidade e da qualifi cação desses gestores, que devem constituir um qua-dro permanente, técnico e profi ssional. Confi ra os principais trechos da entre-vista com o ministro da Previdência Social.

Previdência Nacional – O Ministério da Pre-vidência divulgou recentemente um quadro estatístico referente ao regi-me geral e aos regimes próprios de previdência. O que mais chama a atenção nesses dados?José Pimentel – No Re-gime Geral da Previdência Social, é a ampliação da co-bertura previdenciária. Nós te-mos, hoje, 65% da população bra-sileira acima de 16 anos de idade com cobertura previdenciária. Se voltarmos a 1991, tínhamos apenas 52%. O outro fator que chama muito a atenção é a ampliação da cobertura dos regimes próprios. Na União, temos 1,118 milhão de ativos, 529 mil inativos e 448 mil pensionistas, totalizando cerca de 2 milhões. Já nos estados nós temos 2 milhões de ativos, 1,144 milhão de inativos e 384 mil pensionistas, totalizando 4,322 mi-

Cobertura previdenciária hoje alcança 65% da população brasileira

acima de 16 anos. Em 1991, eram 52%

‘Regime próprio tem tido melhoria signifi cativa de

1999 para cá e já tem ativos superiores a R$ 31 bilhões’

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indicar a fonte de custeio desses novos benefícios. Este é o debate que estamos fazendo com o Congresso.

Previdência Nacional – Seria, então, fundamental manter o caráter continuado da redução do défi cit no regime geral de previdência, benefi ciada pelo cresci-mento do emprego formal, por medidas de formaliza-ção do trabalho e por medidas de gestão?José Pimentel – Nós temos feito um conjunto de ações para dar sustentabilidade aos sistemas que compõem a previdência brasileira. A previdência complementar está em um processo bastante avançado de boa go-vernança e de sustentabilidade. O regime próprio dos servidores públicos tem tido uma melhoria signifi cativa de 1999 para cá. Se nós obser-varmos, eles hoje têm um ativo superior a R$ 31 bilhões. Para se ter uma idéia, em 2005 o ativo dos regimes pró-prios dos municípios e dos estados somava R$ 21,77 bilhões, e, em 2006, R$ 25,06 bilhões. Portanto, está havendo um processo de capitalização con-jugado com uma boa gestão. Já no regime geral, que tem 26 milhões de aposentados e pen-sionistas, nós estamos fazendo a separação da contabilidade entre o regime urbano e o segurado especial do regime rural. No ano de 2008, o regime urbano deverá ter necessida-

de de fi nanciamento de mais ou menos R$ 2 bilhões e caminha para ser superavitário. Por natureza, o regime do segurado especial será sempre subsidiado pela sociedade.

Previdência Nacional – Que importância o senhor atribui aos regimes próprios de pre-vidência?José Pimentel – A primeira grande importân-cia é a cobertura previdenciária de servidores públicos, sejam eles municipais, estaduais ou da

Formar poupanças em cada ente do pacto federativo

e ter servidores especializados na gestão

Grupo de funcionários estáveis, com

qualifi cação técnica, precisa garantir o

dia-a-dia dos institutos

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União. O segun-do ponto para o qual precisamos chamar a aten-ção é a formação de poupanças em cada ente do pacto federativo que permita ge-rir recursos apli-cando em títulos públicos ou em ações defi nidas previamente pe-los órgãos con-troladores. O ter-ceiro aspecto é a formação de ser-vidores públicos especial izados em gestão previdenciária. É importante a ampliação da consciência da neces-sidade da boa gestão da previdência com reper-cussão no regime próprio e no regime geral.

Previdência Nacional – Diante do universo de municípios brasileiros, como é visto pelo Ministério da Previdência o fato de haver 1.900 municípios com regime próprio. É um número razoável?José Pimentel – Nós temos 5.564 municípios no Brasil. O constituinte de 1988, ao defi nir o sistema previdenciário brasileiro, assegurou o regime geral, o regime próprio, a previdência complementar e a previdência dos militares. Portanto, é um mandamento constitucional e fi ca a critério de cada gestor público municipal optar pelo regime próprio ou pelo regime geral.

Previdência Nacional – Na sua avaliação, o que precisaria ser melhorado no âmbito dos regimes próprios?José Pimentel – A melhoria da qualidade da gestão e a certifi cação da capacidade e da qualifi cação dos gestores para gerirem bem o regime próprio da Previdência. O segundo fa-

tor é a constituição de um grupo de servidores públicos estáveis para con-duzir o dia-a-dia desse sistema. Isso porque o prefeito ou a prefeita muda e nós precisamos de um quadro per-manente, técnico e profi ssional, para administração e condução dos regi-mes próprios. Esse sistema tem me-lhorado muito, mas precisamos conti-nuar essa forma de especialização.

Previdência Nacional – Agora mesmo, com a re-alização das eleições mu-nicipais, vamos ter muitas mudanças no comando dos municípios.José Pimentel – Esse sis-tema foi constituído, em sua ampla maioria, a partir de 1999. Agora, estamos ten-

do a terceira eleição – anteriormente tivemos 2000 e 2004. Nesse processo, o que temos visto é uma melho-ria na gestão.

Previdência Nacional – O senhor foi relator na Câma-ra da Reforma da Previdência em 2003 e em 2005. Que lições o senhor tirou do encaminhamento da re-forma da Previdência?José Pimentel – O primeiro registro foi a criação de um teto máximo nacional de remuneração. Isso vinha sendo tentado no Brasil desde a Constituição de 1824 e somente com a Emenda Constitucional 41, de 2003, foi

Futuros servidores públicos terão teto de aposentadoria

igual ao do regime geral

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Teto máximo de remuneração, agora

de R$ 24,5 mil, vinha sendo tentado desde a Constituição de 1824

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Previdência Nacional – O senhor acredita que tenha melhorado a compreensão das em-presas, dos governos estaduais e das prefei-turas a respeito da necessidade de cumprir seus compromissos previdenciários, do ponto de vista da melhoria do ambiente de negócios e do desempenho administrativo do Poder Executivo em seus diferentes níveis?José Pimentel – Sim. Se observarmos a em-pregabilidade, o recolhimento das contribui-ções patronais e dos trabalhadores, no regime próprio e no regime geral, é crescente. Tanto é verdade que se tem, no caso do regime próprio, o aumento das reservas, e, no regime geral, a di-minuição da necessidade de fi nanciamento. Ao lado disso, temos feito um conjunto de ações no sentido da educação previdenciária. O Simples nacional, que foi implantado em ju-lho de 2007, tem contribuído bastante para esse processo, até porque desonera em 100% a contribuição patronal sobre a folha e traz para um percentual sobre o faturamento. Agora, estamos criando a fi gura do MEI (mi-croempreendedor individual). Com isso, que-remos trazer para a formalidade algo em torno de 10 milhões de empreendedores – o feiran-te, o pedreiro, o encanador, etc. – que estão na informalidade. Eles terão um cadastro úni-co nacional, valendo para municípios, estados e União. Têm imposto zero para o governo federal e contribuirão com R$ 1 a título de ICMS para os estados. E têm cober-tura previdenciária com aposentadoria por idade, licença-saúde e licença-maternidade, além de a família fi car protegida com pensão por morte e auxí-lio-reclusão. Para isso eles

possível fi xá-lo. Hoje, o teto é de R$ 24,5 mil. A segunda questão é a diminuição do défi cit dos regimes próprios, em especial da União. Estamos tendo uma redução sig-nifi cativa desse défi cit ano a ano. Em terceiro lugar eu citaria o aumento da idade média de aposentadoria no regime próprio. No caso concreto da União, em 2003 os homens se aposentavam, em média, aos 57 anos de idade. Hoje, a média está em 61 anos. As mulheres, que se aposentavam, em média, aos 54 anos, hoje estão em 58 anos. Quando se pega o fator previdenciário, no re-gime geral, a idade média para receber 100% da média das 80 maiores remunerações, de 1994 para cá, está em 63 anos de idade para os homens e 59 anos para as mulheres.

Previdência Nacional – Qual foi a redução do dé-fi cit obtida?José Pimentel – Em 2003 estávamos comprometendo 2,7% do PIB nos regimes próprios, índice que caiu para 2,2% em 2007. O regime geral correspondia a 1,6% do PIB em 2003, foi para 1,75% em 2007 e deve ser reduzido a 1,5% em 2008.

Previdência Nacional – Que outros objetivos foram atingidos com a reforma?José Pimentel – Nós estamos trabalhando para a im-plantação do fundo de previdência complementar do servidor público, que é o projeto de lei 1.992 de 2007. O projeto está na Câmara e é relatado pelo deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP). O que estamos fazendo é uma aproximação do regime próprio com o regime geral, para que as regras sejam semelhantes. O projeto vem nesse sentido e deve colocar as balizas para esta-dos e municípios.

Previdência Nacional – Implantada a previdência complementar, o Poder Público pode limitar as apo-sentadorias ao teto do regime geral, não é isso?José Pimentel – Isso vai valer para os futuros servi-dores públicos, que terão as mesmas regras do regi-me geral.

Cresce o recolhimento das contribuições patronais e

dos trabalhadores, no regime próprio e no regime geral

Gerações atuais precisam entender que o número

de fi lhos por família caiu muito, enquanto

aumenta a longevidade

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36 Janeiro/fevereiro 2009

Tesoureiro do PT, relatordo Orçamento da União

O ex-ministro Waldeck Ornélas (governo FHC, 1998-2001) criticou a alta rotatividade dos ministros da Previdência desde que ele mesmo deixou o cargo (Sem continuidade, Previdência Nacional número 3). Até a posse de José Pimentel, mais de um ministro por ano, em média, ocupou a pasta. Ao convidar Pimentel, o presidente Lula procurou assegurar-se de que ele fi cará até o fi m do mandato presidencial, que termina em 2010. Lastro político não falta a Pimentel. No auge da crise do mensalão, em 2005, foi a ele que o Partido dos Trabalhadores recorreu para substituir o tesoureiro da agremiação, Delúbio Soares, depois que, acusado de ser um dos principais operadores do “valerioduto” – suposto esquema de fi nanciamento irregular de ati-vidades políticas –, Delúbio se afastou. Pimentel fi cou no cargo alguns meses, até que Delúbio foi expulso do partido e um novo tesoureiro, Paulo Ferreira, foi nomeado. Pimentel exercia o quarto mandato consecutivo de deputado federal pelo PT do Ceará quando assumiu o Ministério. Em 2007, foi o relator-geral do Orçamen-to da União para 2008. Em 2003 e 2005, foi relator da Comissão Especial de Reforma da Previdência.Nascido em Picos, no Piauí, em 1953, José Barroso Pimentel é advogado, sindicalista e bancário do Ban-co do Brasil.

contribuirão com 11% sobre o salário mínimo. Esse benefício é de um salário mínimo.

Previdência Nacional – Como transpor a distância existente entre aquilo que se supõe hoje serem as necessidades e os direitos das futuras gerações de trabalhadores, de um lado, e, de outro, as resistência a mudanças oferecidas pelos grupos de segurados que têm alta capacidade de defender seus inte-resses presentes?José Pimentel – Existem dois temas que preci-samos sempre observar. Um é a diminuição da quantidade de fi lhos nas famílias. Nas décadas de 40, 50 e 60 nós tínhamos uma média de seis fi lhos por família. Em 2008, temos em torno de

dois fi lhos por família. A tendência é continuar diminuin-do. Os dados estatísticos demonstram que, a partir de 2030, a população brasileira começa a encolher. O segundo tema é a longevidade, seja em função do aspecto alimentar, das prevenções, saúde publica, sa-neamento básico... Isso está levando o homem, onde há melhores condições de vida, para uma vida média de 83 anos e a mulher para 87 anos. Hoje, essa ida-de é de 79 anos para o homem e de 82 anos para a mulher. Atualmente, o sistema que temos compromete 7,1% do PIB com os benefícios previdenciários de 26 milhões de pessoas no regime geral e 3,8% do PIB nos regimes próprios, para três milhões de benefi ciários. Isso precisará ser compreendido por todas as famílias brasileiras para que possamos, regularmente, fazer esse planejamento.

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Investimentos

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Duas faces da mesma criseFundos de investimento tiveram perda de janeiro a novembro,

mas aplicações em previdência aumentarame as reservas podem passar de R$ 145 bilhões em 2008

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de um aumento de captação, por causa do dé-cimo terceiro salário ou dos bônus recebidos das empresas, a expectativa é que as reservas cheguem a R$ 145 bilhões, ou um pouco mais, em 2008.Mas o que explica o comportamento dos apli-cadores que continuaram depositando nos fun-

dos de previdência aberta nesse período de mercado nervoso? Há algumas razões. Uma delas é que os ad-ministradores intensifi caram as campanhas de conscientização dos investidores desde que a sangria fi nanceira começou. A idéia é mostrar que um fundo de previdência é diferente de uma aplicação qualquer, voltada para objeti-vos mais imediatos, de curto e médio prazo. A previdência, explicam, é uma reserva que vai ajudar o investidor a realizar seu sonho no fu-turo. Pode ser a compra de uma casa na praia, a viagem dos sonhos ou ter uma aposentado-ria mais tranqüila. Por isso, é essencial ter uma reserva sempre, seja em tempos de turbulên-cia ou quando a maré fi nanceira está mansa, explicam.

Há duas formas de observar os fundos de previ-dência neste momento de crise econômica. Do ponto de vista do desempenho, difi cilmente eles

devem atingir sua meta de rentabilidade este ano. Da perspectiva da captação, no Brasil eles vêm andando na contramão da turbulência que espanta os investidores das bolsas de valores pelo mundo e espalha o temor de uma recessão global. É isso que mostram os números. Enquanto a indústria de fundos de investimento como um todo amarga saques de R$ 31 bilhões de janeiro a novembro, os fundos de previdência aberta tiveram no mesmo período uma captação positiva de R$ 22,6 bilhões. É um aumento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado.

Tome-se a captação desse tipo de investimento apenas no mês de setembro, período em que a crise mundial se aprofundou. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), os 9 milhões de brasileiros que possuem uma previdência complemen-tar depositaram R$ 2,4 bilhões nos fundos de previdên-cia aberta. É um crescimento de 23,2% sobre os R$ 1,9 bilhão captados no mesmo mês do ano passado.Com esse desempenho, os fundos de previdência aberta acumulam reservas de R$ 136 bilhões até novembro, um crescimento de 20,6% em relação a 2007. E como nos últimos dois meses do ano a tendência histórica é

Campanhas convencem poupadores a ter objetivos

mais demorados e engordam, entre outros, planos para

crianças

Previdência Nacional 39

Mesmo diante de boas oportunidades criadas

pela desvalorização de ações promissoras, muitos se abrigam na

cautela

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bons ganhos obtidos na Bolsa nos últimos anos –, essa proporção está mudando nos últimos meses.Na Icatu Hartford, no primeiro semestre, aproximada-mente 75% dos aportes em fundos iam para carteiras com ações. Agora, só 45% estão indo para fundos com este perfi l.– Apesar das boas oportunidades na Bolsa nesse mo-mento de baixa, são poucos os que arriscam colocar

novos recursos em ações agora. As notícias de perdas tornam o investidor mais conservador – diz Oliveira.É no desempenho dos fundos previdência privada e nos do regime próprio que a crise econômica mostra sua cara. Eles também foram apanhados pelo furacão que sacode a praça fi nanceira mundial. Principalmente as aplicações que têm um pé na Bolsa de Valores.Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Inves-timento (Anbid), os fundos de previdência com ações acumulam, em média, rendimento negativo de 12%, enquanto os que aplicam em renda fi xa estão no azul: apresentam rentabilidade de cerca de 10% no mesmo período. A volatilidade do mercado vai fazer com que os fundos com ações deixem de bater a meta de rentabilidade para o equilíbrio atuarial. Para isso, seria preciso ter em 2008 uma rentabilidade de 13,1%, que é o resultado do Índi-ce Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais 6%. O último ano em que os fundos não bateram a meta de rendimento foi 2002, quando o INPC mais 6% chegou a 21,6%, comparado a uma rentabilidade de 16,5%.

40 Janeiro/fevereiro 2009

– A idéia de ter uma reserva fi nanceira explica o crescimento dos aportes nos fundos de pre-vidência. É um tempo de insegurança. Por isso, a pessoa sabe que precisa poupar para obter algo no futuro. A crise acentua esse sentimento – diz o consultor Miguel Ribeiro de Oliveira.Esse tipo de campanha surtiu resultado. Bra-desco, Itaú, Brasilprev, HSBC tiveram captação expressiva no mês de outubro. Algumas foram até recorde. Os planos destinados a crianças, por exemplo, foram uma das fatias que mais cresceram no bolo.

Outra explicação para o crescimento das re-servas de previdência privada é o próprio per-fi l desse tipo de investidor. É gente que quer fugir da gangorra das bolsas neste momento, mesmo que os analistas digam que há boas oportunidades no mercado de ações depois de uma desvalorização excessiva. Quando se olha com lupa para onde vão os depósitos de quem aplicou em previdência privada em meio ao turbilhão econômico, percebe-se que 90% dos recursos foram para a renda fi xa, segundo os dados da Anbid. Embora no ano a captação dos fundos de previdência com recursos em ações esteja bastante positiva – refl exo dos

Depois de período longo com alta rentabilidade, temporada de oscilação não é o melhor

momento para realizar perdas

Fundos de previdência privada e de regime

próprio também sofrem com a crise. Volatilidade

derruba metas de rentabilidade

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De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complemen-tar (Abrapp), José Mendonça de Souza, as perdas são equivalentes à desvalorização das ações de companhias onde os fundos têm recursos aplicados. – Passamos muito tempo tendo retorno considerável. Investimentos em renda variável oscilam. O que não é re-comendável é realizar a perda neste momento – diz ele.Para se ter idéia do impacto da turbulência econômica nas aplicações dos fundos de previdência, até outubro houve perda de R$ 20 bilhões sobre o total de ativos (de R$ 440 bilhões). Só na Previ, o fundo de previdência do Banco do Brasil, que tem 60% de seus recursos em ações,o impacto foi entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bi-lhões sobre o ativo de R$ 128 bilhões. O Petros, fundo de previdência da Petrobras, com patrimônio de R$ 40 bilhões e 125 mil participantes, difi cilmente cumprirá

sua meta de rentabilidade. Houve uma redução de R$ 1,5 bilhão entre o primeiro trimestre e o terceiro. Mas o fundo vem diminuindo sua exposição à renda variável. No começo do ano, 31% dos recursos eram aplicados em ações. Agora são 28%. Nos últimos cinco anos, o Petros rendeu, em média, infl ação mais 12%, bem aci-ma de sua meta de rentabilidade anual. O Petros já está comprando ações de empresas mais sólidas, como Vale, Petrobras e empresas do setor de energia, aproveitando a queda de preços no pregão.

O Economus, fundo de previdência dos fun-cionários da Nossa Caixa, não teve grandes impactos com a queda das bolsas de valores.

O fundo tem 10% de seu patrimônio em ren-da variável. Em época de crise, as perdas não comprometem os resultados de longo prazo.No Brasil, os fundos de previdência podem apli-car até 49% de suas reservas em ações. Mas difi cilmente chegam a esse nível, o que acaba sendo uma prevenção contra perdas muito elevadas em épo-ca de turbulência. Nos EUA, onde os fundos podem aplicar até 100% em papéis ne-g o c i a d o s na Bol-sa na b u s c a de um re-torno me-lhor do que o obtido com juros, o impacto da crise foi terrível. Um levantamento da consultora Merrill Lynch aponta que até 346 fundos de empresas americanas correm o risco de não ter dinheiro para hon-rar os compromissos com os participantes por culpa da queda das ações das companhias em que investiram. No total, segundo a Mer-rill Lynch, poderiam faltar US$ 640 bi-lhões aos fundos de pensão. Um abismo se considerados os superávits obtidos por esses fundos em 2000 e 2001, de US$ 215 bilhões e US$ 500 bilhões, respectivamente. Mais de 470 mil trabalhadores já perderam as

Previdência Nacional 41

Merrill Lynch constatou que até 346 fundos de empresas americanas correm risco de não

honrar compromissos

Quem tem parcela pequena investida em ações está conseguindo preservar

resultados de longo prazo

De acordo com o presidente da Associação Brasileira

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Desencontros

Fundos mostram captação positiva e desempenho negativo

Previdência referenciado DIPatrimônio Líquido R$ 1,3 bilhãoRentabilidade no ano 9,68%Captação no ano -35,87%

Previdência renda fi xaPatrimônio Líquido R$ 94,9 bilhõesRentabilidade no ano 10,15%Captação no ano 3.020%

Previdência renda fi xa (médio e alto risco)Patrimônio Líquido R$ 83 milhõesRentabilidade no ano 10,66%Captação no ano 29,4%

Previdência balanceadosPatrimônio líquido R$ 5,5 bilhõesRentabilidade no ano -19,17%Captação no ano 1.041%

Previdência multimercado sem renda variávelPatrimônio líquido R$ 80 milhõesRentabilidade no ano 9,73%Captação no ano -91,77%

Previdência multimercado com renda variávelPatrimônio líquido R$ 4,1 bilhõesRentabilidade no ano -12,01%Captação no ano 2.194%

Previdência cambial dólarPatrimônio líquido R$ 5 milhõesRentabilidade no ano 21,64%Captação no ano -4,36%

(Até 17 de novembro, dados da Associação Nacional dos Bandos de Investimento - Anbid)

suas aposentadorias. No Brasil, não há sinais de uma situação como essa. Nos fundos de previdência brasileiros, 60,5% dos recursos estão em renda fi xa, 33% em renda variável, outros 2,7% em imóveis, 2,4% em empréstimos aos próprios participan-tes, e 1,4% em outras modalidades. A renda

variável leva R$ 145,4 bilhões dos R$ 440 bilhões. Se a economia crescer entre 3,5% e 5% em 2009, como apontam as previsões dos economistas, a tendência é que as ações voltem a ganhar brilho e a fatia dos fun-dos de previdência aplicada em renda variável tenderá a crescer. Quem tiver comprado na baixa, como agora, poderá se dar bem.

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Modelos de Gestão Rússia

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Mesmo em dias de muito frio, é comum ver nas ruas de Moscou – e de outras cidades russas – idosos vendendo especiarias típicas, como

pasta de cogumelos negros ou caviar. Eles não montam barracas, como camelôs brasileiros. Em geral, fi cam em pé e seguram suas escassas mercadorias expostas a poucos interessados. Este fenômeno começou após o colapso da União Soviética, no início da década de 1990, com a crítica falta de alimentos e produtos bási-cos, e perpetuou-se até hoje menos por culpa da oferta – apesar de ela ser ainda inferior à demanda – e muito por imposição de uma renda em acelerado declínio. Embora a Rússia amargue uma expectativa de vida só verifi cada em países nada emergentes – na última dé-cada, na contramão da tendência mundial, caiu de 64 anos para 58, com peso maior para os homens devi-do à elevação do número de suicídios, assassinatos e alcoolismo –, alguns desses idosos têm, às vezes, mais de 75 anos e nunca imaginaram continuar trabalhando na velhice. No entanto, com um sistema de previdência social debilitado após a transição para o capitalismo, en-velhecer, para os russos é, cada vez mais começar a viver abaixo da linha da pobreza.– Dado o aumento dos custos e do número de idosos, é muito difícil desenvolver um sistema que seja acessível e

também garanta um padrão de vida adequado – diz John Round, doutor em Economia, professor da Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Round entrevistou aposentados em várias ci-dades e constatou que o problema do sistema rus-so, com cobertura bastante ampla, é o baixo valor dos benefícios pagos. – Na maioria dos casos, a aposentadoria não refl ete os custos do dia-a-dia e assim os aposentados precisam conti-nuar a trabalhar – afi rma.

O gosto amargodo desamparo

Num país em que o Estado foi tudo durante sete décadas, debilidade crescente da previdência faz com que velhice jogue

muitos russos abaixo da linha da pobreza

Jorge Félix

Pela primeira vez na história, aposentados russos têm benefício abaixo do nível de

subsistência

Previdência Nacional 45

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recessão nos Estados Unidos e na Europa diminuindo a demanda por petróleo e gás – commodities que represen-tam quase metade das exportações russas e, até agora, custeavam o défi cit do sistema de previdência, equivalen-te a 1,5% do PIB. De 2001 a 2006, a economia russa cresceu em média 6,2 % ao ano, 43,5 % em termos acumulados. (No Bra-sil, o crescimento médio no mesmo período foi de 2,90 %, e o acumulado, de 18,7%.) Essa pujança econômica conseguiu mitigar algumas defi ciências, embora o de-semprego ainda permaneça em torno de 7%. O fenômeno do envelhecimento populacional tem sido mais agudo na Rússia, entre todos os países do grupo Bric, já impondo uma relação de dependência de um aposentado para cada 1,3 trabalhador e com 17% da população acima dos 60 anos. Diferentemente de Brasil, Índia e China, a Rússia apre-

46 Janeiro/fevereiro 2009

De acordo com estudo de Evsey Gurvich, do Mi-nistério da Fazenda da Rússia, o valor real dos benefícios em 2001 era 47% daquele de 1990. Essa perda excedeu, de longe, constatou Gurvich, a queda da renda disponível no país (38%), em-bora tenha fi cado abaixo da redução real dos salários dos trabalhadores ativos (53%). Entre os fatores causadores do encolhimento estão a crise fi nanceira do fi nal da década de 1990 e a infl ação persistente, ainda em seus 9,8%. Os aposentados russos entraram no século XXI com um benefício, pela primeira vez na história, abaixo do nível de subsistência, conforme Gur-vich destaca em seu texto. Segundo Round, a crise fi nanceira mundial deve agravar ainda mais o problema previdenciário na Rússia em alguns aspectos, sobretudo com a

Redução da demanda por petróleo e gás, cujas exportações fi nanciam défi cit da previdência,

cria problemas

Em 2007, menos 7 milhões de habitantes do que

em 1990. Incentivo ao segundo fi lho ainda não deu resultado

A catedral de São Basílio, na Praça Vermelha, em Moscou

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senta queda na taxa de fecundidade há muitos anos e sua população caiu de 148 milhões em 1990 para 141 milhões em 2007. Até 2025, as projeções indicam que a população de 15 a 64 anos, padrão mundial para a idade economicamente ativa, diminuirá em 16%. A mor-talidade aumentou de 13,6 por mil em 1998 para 16,4 em 2003, reduzindo-se em 2006 para 15,2. O governo russo, recentemente, adotou ações de incentivo ao se-gundo fi lho, mas ainda sem resultado signifi cativo.Esses índices, segundo especialistas como Round e ou-tros acadêmicos, são os principais resultados da política contracionista verifi cada na fase pós-soviética. Em 1998, o total de gastos do governo chegava a 42,5% do PIB, mas em 2006 caiu para 35,4%, atendendo às regras de equilíbrio fi scal impostas por organismos multilaterais como o FMI e o Banco Mundial.A restrição implicou corte de investimentos em saúde e educação e uma reforma da Previdência, em 2002, com a intenção de incentivar a poupança privada. No entanto, o país criou o sistema privado com uma lei de duas páginas assinada por Boris Yeltsin em 1992, sem oferecer nenhuma segurança. Resultado: mesmo com a reforma, 98% das aposentadorias ainda são administra-das pelo Estado.A imprensa russa tem previsto que, com a vitória eleito-ral que deu a presidência a Dmitri Medvedev e garantiu a manutenção do poder nas mãos de Vladimir Putin, o governo tratará de adotar medidas impopulares que es-

tavam à espera do resultado das urnas.A reforma de 2002 introduziu três pilares: bási-co (igual para todos), pilar de contribuição (com desconto de 28% para sustentar o pilar básico) e um pilar mandatário, no qual o contribuinte escolhe sua forma de aplicação – onde o go-verno esperava a migração para o setor priva-do. Como isso não ocorreu, a dinâmica de-mográfi ca servirá de desculpa, acreditam os especialistas, para Putin elevar as regras de elegibilidade e aumentar a idade mínima, já que 27% dos aposentados russos conse-guem o benefício com cerca de 40 anos de idade – como é o caso dos militares e de outras profi ssões de risco. Tanto Gurvich quanto Round desta-cam alguns aspectos positivos do sistema previdenciário russo, como a cobertura abrangente e a idade

Previdência Nacional 47

Governo distribui remédios para aposentados, mas muitos pagam máfi a de

intermediários para recebê-los

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relativamente baixa para eleger-se à aposenta-doria: 60 anos para homens e 55 para mulheres. No entanto, o governo considera que o benefício pago é sufi ciente porque parte do pressuposto de que muitos serviços estão disponíveis para os aposentados, sobretudo o fornecimento de re-médios gratuitos. “Esses subsídios, como os de transporte e telefone, são um vestígio do perí-odo soviético e não são feitos testes para saber quem pode recebê-los. O sistema é inefi ciente e o idoso precisa, como muitos entrevistados nos falaram, pagar propina para receber medicamen-tos de uma chamada máfi a dos medicamentos”, conta Round.

Um dos maiores problemas do sistema de previ-dência russo é estar baseado no conceito de renda de subsistência. Segundo Round, um conceito bas-tante vago. Outro problema é que após a reforma de 2002 o governo criou vários tipos de pensionis-tas, tornando o sistema muito mais heterogêneo em todos os aspectos, sobretudo em termos de valores e regras de elegibilidade. “Isso acentuou a diferença entre os vencedores e os perdedores da fase pós-soviética, ou entre a elite e os marginali-zados”, afi rma Round. Como em outros sistemas reformados, os militares conseguiram conservar intactas suas regras soviéticas. Em seu trabalho “A construção da pobreza na Rússia pós-soviética”, o economista sustenta que atualmente 20% da população russa, segundo os dados ofi ciais, estão na linha de pobreza, ou seja, cerca de 30 milhões de russos. Porém, se for le-vado em consideração que, mesmo ainda sendo importante para a sobrevivência da população mais pobre, a previdência social passou a dar be-nefícios muito baixos, o número de pobres seria acentuadamente maior. “É necessária uma reconfi guração da construção do Estado e uma nova quantifi cação da pobreza

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Sistema se tornou mais heterogêneo e acentuou

diferença entre elite e marginalizados no período pós-soviético

Incentivo do governo à informalidade só faz agravar a questão previdenciária a

médio e longo prazo

para que o crescimento econômico possa levar à meta de redução da pobreza no país”, diz Round, que destaca em seu estudo a grave situação dos idosos residentes nas áreas rurais e o incentivo do governo à economia informal, que só faz agravar a situação da previdência a médio e longo prazo.Round cita outros economistas e acadêmicos que con-sideram o crescimento da economia russa nos últimos anos como uma “economia virtual”, “uma involução eco-nômica” e um “capitalismo caótico”. Na visão do profes-sor inglês, as ações do governo no campo social – in-cluindo a previdência – têm colaborado para quebrar as relações do indivíduo com o Estado e agravado a per-cepção da crise demográfi ca

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Estátua de Lênin, fundador do Estado soviético

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50 Janeiro/fevereiro 2009

Entrevista Roberto Pasqualin

Advogado diz que propostas de mudanças tributáriasnão têm envergadura de reforma e que tramitação legislativa

sempre provoca deformações

Colcha de retalhos

Roberto Pasqualin

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Previdência Nacional 51

A proposta de reforma tributária mais uma vez adiada, agora para 2009, é uma “colcha de re-talhos”, na opinião do advogado tributarista

Roberto Pasqualin. Entre outras razões porque, duran-te a tramitação, esse tipo de legislação sempre sofre profundas alterações. “Uma medida provisória na área tributária chega ao Congresso com três artigos e, quan-do se transforma em lei de conversão, tem 60 artigos”, diz Pasqualin. E isso não acontece apenas porque par-lamentares, para atender a diferentes interesses de instâncias da administração pública, introduzem novos dispositivos. O setor privado também interfere. (Ver, adiante, Imposto é política.)Na entrevista abaixo, Pasqualin, que dirige o Grupo de Trabalho da Reforma Tributária da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, Amcham-SP, explica por que, na sua opinião, o atual esforço legislativo não irá muito longe. Ele enxerga modestas possibilidades de melhoria para a arrecadação dos estados e municípios se o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e a CSLL, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, vierem a ser unifi cados sob o nome de Imposto sobre Valor Adicio-nado, IVA. Os impostos têm que ser repartidos entre os entes federativos, ao contrário das contribuições, que vão todas para a União.

Previdência Nacional – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está de fato empenhado em pro-mover uma reforma tributária?Roberto Pasqualin – O governo Lula quer muito fa-zer essa reforma. Em 2003, na primeira tentativa, só conseguiu prorrogar a CPMF (extinta pelo Congresso no fi nal de 2007) e a DRU, e introduzir algumas autoriza-ções para cobrança do PIS e da Cofi ns em importações. Naquela ocasião, não conseguiu aprovar um ICMS na-cionalizado. A tentativa de 2008 foi costurada durante um ano e meio por Bernard Appy, que nesse meio tempo (desde julho de 2008) deixou de ser secretário de Política Eco-nômica do Ministério da Fazenda e passou a ser asses-sor especial do ministro Guido Mantega para reformas

Em 2003, governo Lula fez a primeira tentativa de aprovar

uma reforma tributária e obteve resultados pálidos

econômico-fi scais. Appy apresentou um projeto inicial de grande envergadura. Previa a unifi ca-ção do IPI, do PIS, da Cofi ns e da Cide, na esfera federal, e, na esfera dos estados e municípios, a unifi cação do ICMS e do ISS. Isso mexia com prefeitos e governadores.Appy percorreu o país apresentando as propos-tas em Power Point. Daí nasceu a brincadeira de que nos diversos grupos com os quais ele deba-teu eram feitas “emendas ao Power Point”. Ele foi à Amcham-SP logo no começo de sua missão.

Previdência Nacional – Como evoluíram as expectativas, ao longo dessa peregrinação?Roberto Pasqualin – No começo, Appy dizia: “Acho difícil passar o ISS unifi cado”. Depois, pas-sou a dizer: “Acho difícil passar o ICMS nacio-nalizado”. Nos últimos tempos, havia reduzido

Primeiro caiu a mudança do ISS. Depois, a

do ICMS. No fi nal, expectativa se reduziu a

tributos federais

Bernard Appy apresenta seu Power Point em outubro de 2008

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as expectativas: “Vamos fi car só com a reforma do que é federal, unifi car esses tributos”. Mas, aí, alguém disse: “As mudanças no IPI terão um efeito devastador na Zona Franca de Manaus”. E saiu fora o IPI. Ficaram o PIS, a Cofi ns, que já têm uma legislação praticamente unifi cada, e a Cide cobrada sobre combustíveis, que não é muito relevante.

Para isso, não precisa ser feita uma reforma constitucional. Tirando o IPI, os tributos fede-rais já são praticamente um só. A CSLL e o Im-posto de Renda da Pessoa Jurídica coexistem, sob uma legislação praticamente igual, e o mes-mo ocorre com PIS/Cofi ns. Do ponto de vista do contribuinte, não se trata de reforma, mas de dar um nome novo.

Previdência Nacional – Mas isso não muda nada?Roberto Pasqualin – Se tivermos um IVA fe-deral que substitua o Imposto de Renda e a CSLL, o que isso muda? Talvez a repartição da arrecadação. Quando o tributo tem o nome de “imposto”, ele é repartido com estados e muni-cípios. Quando se chama “contribuição”, a arre-cadação vai toda para a União. Então, teorica-mente, isso melhoraria as coisas para estados e municípios. Digo “teoricamente” porque uma série de disposições infraconstitucionais pode-

riam mudar o resultado, como aumento de alíquota, ou mudança da base de cálculo.

Previdência Nacional – Por que o senhor diz que não se trata de reforma constitucional?Roberto Pasqualin – Porque para isso basta legislação ordinária. Quando Bernard Appy diz que “pelo menos a parte federal sai”, não propõe uma reforma tributária no sentido de mudar o sistema tributário como um todo. Melhora, sim, na medida em que simplifi ca a legislação. Mas eu pergunto: até que ponto essa simplifi cação é relevante?

Previdência Nacional – O que o governo pretendia em 2003?Roberto Pasqualin – Dotar o ICMS de uma legislação única para todos os estados, editada pela União, com um regulamento único editado pelo Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária). Já se tem aí uma ex-crescência técnica, porque esse é um fórum de secre-tários estaduais de Fazenda. Ou seja: o regulamento para todo o país seria feito por um colegiado de pes-soas mais focadas em interesses regionais. E, em geral, os estados mandam para as reuniões alguém abaixo do secretário. Havia a proposição de unifi car as alíquotas, adotando cinco para o país todo. E a cobrança de todo o imposto no destino, não no local de produção. Perderiam os es-tados produtores que não são grandes importadores. Se o estado é também grande importador, ou seja, grande consumidor, não perderia tanto.

Reforma do ICMS, imposto que mais arrecada no país,

acabaria com a guerra fi scal entre estados

Existe uma perspectiva de simplifi cação, mas é preciso saber até que ponto é simplifi cação

relevante

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Previdência Nacional – Como é feita a cobrança hoje e como seria com a nova legislação?Roberto Pasqualin – Hoje há uma antecipação para o estado produtor. Tomando-se um imposto médio de 17%, o produtor retém na origem de 7% (Norte e Nor-deste) a 12% (Centro-Oeste, Sudeste e Sul). A diferença é cobrada no destino. O que se propõe é que sejam cobrados 2% na origem e o resto no destino. Não se sabe quanto, porque a alíquota ainda não foi defi nida – embora não se acredite que ela seja modifi cada.

Previdência Nacional – Essa mudança não seria im-portante?Roberto Pasqualin – Seria. É uma reforma tributária para o ICMS, o imposto que mais arrecada no país. Aca-ba com a guerra fi scal, ao circunscrever a 2% a margem de manobra dos estados para conceder isenções ou ou-tros benefícios. Mas é a mesma que deixou de ocorrer em 2003. Trata-se do mesmo conceito geral.

Previdência Nacional – E como se chegou às propo-sições de 2003?Roberto Pasqualin – Ao longo do governo de Fernan-do Henrique Cardoso houve uma grande discussão de reforma tributária que não chegou a termo. Durante cinco, seis anos se fi zeram extensos trabalhos no Con-gresso, liderados pelos deputados Mussa Demes – que morreu recentemente – e Germano Rigotto (depois go-vernador do Rio Grande do Sul). Do meio para o fi nal

do governo FHC, trabalhou-se muito. Era um assunto “quente”. Se Lula tivesse conseguido fazer uma reforma tributária em 2003, isso representaria um grande cacife político para o presidente. Além disso, era um assunto que aparecia como primeira ou segunda priorida-de nas enquetes feitas junto a empresas. O PT tem um projeto de reforma tributária e era uma promessa de campanha.

Previdência Nacional – E por que não se aprova a mudança?Roberto Pasqualin – Dizem que são os go-vernadores que barram. Essa mudança implica retirar do Executivo estadual – e das Assem-bléias Legislativas – o poder de legislar sobre ICMS. Os governadores fi cariam só com a ar-recadação. Hoje, cada estado tem seu próprio regulamento do imposto.Previdência Nacional – Mas a proposta do governo tem boa qualidade legislativa?Roberto Pasqualin – Tem problemas. Por exemplo, a substituição tributária na origem determinaria que, numa alíquota de 17%, 2% fi cariam para o estado onde se dá a produ-ção e 15% para o estado onde se dá o con-sumo. Esses 15% seriam calculados sobre o

Na segunda metade do mandato de Fernando

Henrique houve uma grande discussão sobre reforma

tributária

Proposta do governo para o ICMS deixa muitos pontos na

sombra. E o prazo de adaptação é longo

demais

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preço presumido de venda. Haveria um fundo de com-pensação para esses 15%. Seriam criadas câmaras de compensação entre estados. Quem vai gerenciar? Que poder teria o gestor dessas câmaras? Seria criada uma única câmara ou seriam criadas diferentes câmaras para compensar as transações de cada estado com os demais? Isso está derrubando a proposta.

Previdência Nacional – O fato de se propor um período de 12 anos de implantação progressiva não ameniza os problemas?Roberto Pasqualin – Não. Cria um risco enorme de insegurança jurídica. Em tese, em 12 anos podem pas-sar pelo poder três presidentes da República e três go-vernadores diferentes... É um período muito longo. A transição deveria ser mais rápida.

Previdência Nacional – Na sua opinião, já houve uma reforma tributária digna do nome no Brasil?Roberto Pasqualin – A verdadeira reforma tributária bra-sileira foi feita em 1965-66. Era fácil. Regime militar. Con-vocaram equipes competentes. O governo aprovava o que queria. Saiu a Emenda Constitucional nº 18 [à Constituição de 1946], em 1965. Uma legislação rígida. Sem pendurica-lhos. O Código Tributário de 1966 está em vigor até hoje. Previdência Nacional – Por que o quadro se deteriorou?Roberto Pasqualin – Começaram a colocar pendurica-lhos. A Constituição de 1967 deu a primeira abertura.

Vieram outras com a Constituição de 1969 [na verdade, uma emenda à Carta de 1967 que incorporava ao texto constitucional toda a legislação repressiva decretada sob a vigência do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968]. A Constituição de 1988 também permite a incorporação de vários penduricalhos, como, por exem-plo, Cide e CSLL. São fi guras tributárias que reduzem a qualidade do sistema. Hoje, temos vários impostos inci-

dindo sobre a mesma coisa. Previdência Nacional – O senhor pode dar exemplos? Roberto Pasqualin – O imposto é um pedaço da ri-queza do contribuinte que vai para o Estado. Ele é co-brado sobre a propriedade, a renda ou a venda. A propriedade é uma fonte secundária. Para que a pro-priedade tenha sido comprada, alguma atividade preci-sou gerar a renda. Mas temos IPVA, IPTU, ITR. A renda de quem adquiriu patrimônio já foi tributada antes.O mesmo acontece na venda: ISS e/ou ICMS, IPI, PIS, Cofi ns, Cide sobre combustíveis. IR da Pessoa Jurídica sobre a receita e CSLL sobre a receita com base em lucro presumido. Há uma incidência múltipla de tributos sobre a mes-ma riqueza. Nada mais múltiplo do que uma CPMF. Isso seria eliminado com um imposto único para cada fato gerador de imposto.

“A verdadeira reforma tributária brasileira foi

feita em 1965. Não tinha penduricalhos”, diz Pasqualin

Incidência múltipla de tributos sobre a mesma riqueza seria eliminada com imposto único

para cada fato gerador

Cide:• Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico.Cofi ns:• Contribuição para o Financiamento da Seguri-dade Social. CPMF:• Contribuição Provisória sobre Movimentação Fi-nanceira (extinta).CSLL:• Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.DRU:• Desvinculação de Recursos da União.ICMS:• Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação.

IPI:• Imposto sobre Produtos Industrializados.IPTU:• Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana.IPVA:• Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores.IR:• Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza.ITR:• Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural.IVA:• Imposto sobre Valor Adicionado (por enquanto, apenas uma proposta)ISS:• Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza.PIS:• Programa de Integração Social.

Cipoal de siglasConheça os nomes de batismo dos principais tributos.

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As ambições de Lula e Serra são legítimas na medi-da em que fazem parte da política concebida den-tro de padrões democráticos. Mas nem sempre é assim. Outros interesses frequentemente se mistu-ram com formulações pomposas sobre os interes-ses da nação.No livro A arte da política: a história que vivi, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz da re-forma tributária e da reforma do Judiciário que são “espécies de panacéias com as quais todos se dizem de acordo no genérico mas divergem no específi co”. Essa é uma das difi culdades para a tramitação de uma efetiva reforma tributária. Mas há outra, mais ampla, relacionada com o modo como se aprovam as leis no Brasil. O mesmo FHC, que teve larga expe-riência como senador, escreve, em outra passagem:“Muitas vezes os obstáculos criados pelo jogo de in-teresses estritamente parlamentares se somam aos que decorrem dos interesses organizados da socie-dade… Nos escaninhos do processo legislativo, os interesses estabelecidos vão se entrincheirando nas várias comissões e desfi gurando as propostas do Executivo. Em plenário, para obter as maiorias ne-

O que está por trás das discussões teóricas de econo-mistas e advogados sobre a reforma tributária? Políti-ca. Isto é: a representação e o confl ito de interesses, sejam eles de regiões, de classes e estratos sociais, de categorias profi ssionais, de empresas ou segmentos econômicos. Nas últimas décadas, poucos exemplos deixam mais clara a natureza política dos impostos do que a refor-ma do imposto municipal (poll tax) promovida pela pri-meira-ministra britânica Margaret Thatcher em 1990. Os protestos contra a medida – considerados os mais violentos em Londres em um século, com 113 feridos e 341 pessoas presas – custaram à Dama de Ferro o cargo, que exercia desde 1979.

Impostos podem ser o combustível para batalhas de imagem, que nada mais são do que disputas pelo voto do cidadão na eleição vindoura. Na segunda semana de dezembro, diante do agravamento dos refl exos da crise fi nanceira e econômica mundial, o presidente Lula e o governador de São Paulo, José Serra, anunciaram quase ao mesmo tempo medidas tributárias para facilitar a vida das montadoras de automóveis – e de quem os compra.

Previdência Nacional 55

A maneira como se aprovam as leis no

Brasil permite que, nos meandros da tramitação, se introduzam distorções

Quase no mesmo dia, ao terminar 2008, Lula e Serra

anunciaram redução de impostos para facilitar vendas

de carros

Imposto é política

Por trás de enunciados técnicos estão a representação e o choque de interesses de grupos sociais, empresas e indivíduos

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Em entrevista dada ao Jornal do Comercio do Rio de Janeiro no iní-cio de novembro passado, o presi-dente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, afi rmou que em 2007 os brasilei-ros pagaram R$ 948 bilhões em impostos, dos quais 60% fi caram com o governo federal, 25% com os estados e 15% com os municí-pios. E argumentou: “Ora, tudo foi produzido no município e pago ali. O dinheiro é retirado e levado para Brasília. A União cria programas

para devolver parte desse dinheiro. E aí nasce todo o pro-blema. Há um clientelismo que facilita a corrupção. Todas as denúncias, como as das operações Navalha [maio de 2007] e Sanguessuga [maio de 2006], surgem nesses programas”.Ziulkoski opinou que a reforma tributária em discussão não toca no pacto federativo e na redistribuição dos re-cursos. “Todo mundo está enganado, ela é neutra”, disse. “Não mexe na questão federativa. Ela realinha os tributos,

mas troca seis por meia dúzia”.A proposta do dirigente municipalista é “envolver a socieda-de brasileira para discutir o que se quer para o Brasil. Isso não está sendo feito. A mãe das reformas é o pacto federati-vo. Vamos discutir o Estado, que está quebrado há 20 anos e continua numa situação de penúria, vamos discutir a União, o custo de uma Câmara de Vereadores, se é preciso ter tan-tos secretários. Isso tem que se discutir. Essa é a reforma da Federação. Vamos discutir qualidade do ensino, saúde. Mas hoje, o que vemos, por exemplo, são candidatos a prefeito discutindo segurança. Isso tem cabimento dentro da ótica federativa? Quando o prefeito cuida da segurança, que não é responsabilidade dele, está tirando dinheiro da creche, que é só dele”.O presidente da CNM considerou ideal “defi nir as atribuições proporcionalmente ao recurso. Até 1988, tínhamos 11% do bolo nacional. Com a Constituinte, fomos para 19,5%. Hoje estamos com 15% da arrecadação”, com despesas aumen-tadas, como no caso da saúde, por exemplo: “Os municípios tinham 42 mil servidores na saúde em todo o Brasil. A União tinha 250 mil. Vinte anos depois, estamos com 830 mil fun-cionários na saúde e a União com menos de 80 mil”.

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cessárias, principalmente para as emendas constitucio-nais, novas negociações (a imprensa as chamará sempre de ‘barganhas’, e às vezes o são realmente) adulteram ainda mais o propósito inicial”.

Não se pode, entretanto, isentar de responsabilidade os proponentes das medidas, como se os governos fossem anjos e os parlamentares, demônios. Mais do que pro-curar culpados pelas distorções e pelos entraves a um funcionamento mais racional da esfera pública, importa entender as raízes da atual situação.Há no Brasil uma tensão permanente entre centralização e descentralização. Durante o período colonial, as uni-dades administrativas – fossem estados ou capitanias

– tinham muito contato direto com Lisboa e quase ne-nhum entre si. “Brasileiro” foi de início, pejorativamente, o português que havia retornado rico à terra natal. O gentílico para nascido no Brasil – e a identidade que ele traduz – não é muito anterior à independência. A República estruturou o federalismo – hoje cláusula pétrea da Constituição, o que não é o caso do próprio regime republicano, submetido a plebiscito em 1993 –, mas um federalismo a léguas de distância do modelo utilizado, o dos Estados Unidos. Como escreveu Aspásia Camargo, socióloga e historia-dora, hoje vereadora do Partido Verde no Rio de Janei-ro, em Brasil: um século de transformações, livro publi-cado em 2001:“Sem dúvida, o pecado original do federalismo brasilei-ro foi o regionalismo oligárquico, que acabou debilitado por ciclos sucessivos de centralismo intervencionista, embora, como Fênix, esteja sempre pronto a renascer das cinzas, cada vez que tem início um novo ciclo de abertura política. Tais condições irão perdurar enquanto os bolsões de pobreza do mundo rural e urbano forem capazes de alimentar um eleitorado socialmente caren-te e politicamente passivo”.

“Regionalismo oligárquico foi o pecado original do federalismo brasileiro”,

escreveu socióloga

Do clientelismo à corrupçãoMunicipalista critica mecanismo usado pela União para devolver fatias de tributos e diz que proposta de reforma não toca no essencial, o pacto federativo

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Gestão MunicípiosIlu

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Aumenta a demanda por capacitação de servidores públicos das prefeituras, mas a procura

ainda está longe do ideal

Formação defi ciente

Carlos Vasconcellos

Previdência Nacional 59

em 2008, ano eleitoral, completamos três no-vas turmas envolvendo setenta e cinco alunos, sendo uma turma no nosso campus de São Pau-lo, uma no nosso campus de Ribeirão Preto e outra em Santana de Parnaíba, todas em anda-mento”, informa.

Segundo ele, o curso de pós-graduação da Faap já formou cerca de 2.500 profi ssionais em 19 ci-dades brasileiras. O trabalho para convencer os

Em 2007, segundo dados do IBGE, os mu-nicípios brasileiros tinham mais de cinco mi-lhões de servidores públicos. Um verdadei-ro exército de trabalhadores a serviço das prefeituras. No entanto, um dos maiores problemas dessa tropa é sua falta de prepa-ro, um foco permanente de inefi ciência na administração dos municípios. Para Francis-co Barone, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, o momento é propício para discutir o tema. “Com a renovação dos prefeitos cria-se um efeito-cascata de mudança para a base da pirâmide na máquina pública”, diz.Mário Pascarelli, coordenador do curso de Pós-Graduação em Gerente de Cidades da Fundação Armando Alvares Penteado, confi rma que a demanda por capacitação cresceu neste ano. “A evidência disso é que

Quem mais procura aprimorar-se são

secretários municipais ou funcionários de primeiro

escalão

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municípios a investir na formação dos servidores é árduo. “Realizamos seminários e workshops, ressaltando a necessidade da profi ssionalização da administração pública”, conta, destacando o lobby da equipe de professores do curso, “todos ou com passagem por cargos públicos, ou con-sultores em administração municipal.”Pascarelli aponta, no entanto, que a maior procura pelo curso não vem exatamente das prefeituras, mas de secretários municipais ou funcionários de primeiro escalão das prefeitu-ras. “Há um processo seletivo, no qual focamos o público-alvo dos nossos cursos – prefeitos, secretários, gestores, vereadores, candidatos a cargos eletivos municipais e prestadores de serviços públicos. A faixa etária, em média, é de 38 anos, com destaque para a grande parti-cipação de mulheres.”

Apesar da empolgação de Pascarelli, o aumento da de-manda pelos cursos de formação nos municípios precisa ser relativizado. Para que ele tenha um efeito profundo e duradouro sobre as administrações municipais, esse crescimento deve ser permanente e ganhar muito mais escala, pois a defasagem de formação de quadros é mui-to grande. “Para cada aluno do nosso curso de adminis-tração pública, dez se matriculam na administração de empresas”, compara Barone, da Ebape/FGV.Ele lamenta que não haja uma cultura permanente vol-tada para a formação da força de trabalho nos diversos níveis da máquina pública. “Não adianta realizar um cur-so hoje e outro depois de vinte anos. A formação precisa ser contínua”, propõe Barone. “Fora de grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, o investimento em capacitação é pequeno, em cursos seja de curta ou longa duração.”

Segundo o professor da Ebap, embora os prefeitos elei-tos ou reeleitos tenham de cumprir promessas de cam-panha e compor a ocupação de cargos com seus aliados, a máquina pública não deveria parar. Mas ela emperra constantemente por causa da má formação da mão-de-obra. “Especialmente nos quadros técnicos”, diz Barone, que aponta os setores de responsabilidade social, ética na administração pública e fi nanças como falhas impor-tantes na formação dos servidores.Pascarelli também aponta problemas na capacitação dos funcionários na área fi nanceira – o que pode custar caro em tempo de crise. E acrescenta que há grandes carên-cias em outras áreas, como o planejamento de políticas públicas e as ligadas ao campo das ciências humanas,

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Mário Pascarelli

Não adianta realizar um curso agora e outro daqui a vinte anos. A formação

deve ser contínua

Cumprir compromissos com aliados de campanha,

mas sem paralisar a máquina pública

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Previdência Nacional 61

tais como formação gerencial e em recursos humanos. Por outro lado, afi rma que a carência em conhecimentos jurídicos é bem menor.E se a demanda cresce – embora menos do que seria desejável – a oferta de cursos específi cos na área au-menta. Mas serão sufi cientes? Os cursos de gradua-ção em administração pública podem ser contados nos dedos. A oferta em pós-graduação, no entanto, cresce mais rápido. “São cursos de menor duração, mais ágeis e adaptáveis às demandas dos municípios”, especifi ca Barone, da Ebape/FGV, o mais antigo curso de gradua-ção do país na área. Ainda assim, em cada 20 MBAs tradicionais há apenas um voltado para o setor público, aponta o professor.

Outro obstáculo para a capacitação permanente da mão-de-obra municipal é a falta de recursos específi cos para esse fi m. Claro, há programas como o Pmat (Programa de Modernização da Administração Tributária e Gestão dos Setores Sociais Básicos) e o PNAFM (Programa Na-cional de Apoio à Gestão Administrativa e Fiscal dos Mu-nicípios Brasileiros), com recursos de organismos como o BNDES e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Mas não são linhas de fi nanciamento exclusi-vas para formação profi ssional. “A maioria dos municípios tem problema de caixa e não possui recursos próprios para isso”, lamenta Barone. “Com tantas demandas, é difícil – especialmente para as pequenas prefeituras – criar programas de capacitação sem ajuda federal.”“Poderíamos criar um Fundeb (fundo federal destinado à educação básica) para a formação dos servidores”, sugere o professor. Para evitar mal-entendidos, no entanto, Barone se apressa a dizer que isso teria de ser feito com dotação orçamentária de algum ministério, provavelmen-te o das Cidades. “Criar um imposto, uma ‘CPMF’ para isso é que não pode ser”, pondera. Apesar de todas os percalços, o fato é que pouco a pouco as prefeituras despertam para a importân-cia da formação profi ssional do funcionalismo (ver Competência permanente, entrevista do ministro da Previdência Social, José Pimentel, página 30). “O preparo dos gestores tem forte impacto para uma administração pública efi caz, efi ciente e efetiva”, diz Pascarelli. “Deste modo, as prefeituras podem maxi-mizar a utilização dos recur-sos humanos, materiais e fi -nanceiros das cidades.” E se essa idéia fi nalmente pegar nos municípios brasileiros, cidadãos, cofres públicos e servidores serão profunda-mente gratos.

Francisco Barone

Faltam recursos para pagar os cursos. Os programas federais de ajuda não são exclusivos para formação

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Gestão

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Fúria em ParagominasViolência em cidade do Pará indica que a proteção da fl oresta

amazônica ainda é uma intenção em busca de políticas consistentes

Previdência Nacional celebrou no número 4 (Horizonte promissor) a pujança do desenvol-vimento de Paragominas, Pará, em entrevista do presidente de seu Instituto de Previdência, Ráulison Dias Pereira. Logo em seguida, porém, no dia 23 de novembro, a cidade foi sacudida por uma onda de violência contra a apreensão de 400 m3 de madeira considerada ilegal pelo Ibama, Instituto Brasileiro dos Recursos Natu-rais Renováveis. Os fi scais suspeitavam que a madeira, carregada em 14 caminhões, havia sido extraída de uma reserva indígena.Cerca de três mil manifestantes foram até o escritório do Ibama e depredaram o prédio, atearam fogo na garagem e tentaram agredir os fi scais do instituto responsáveis pela opera-ção, chamada Rastro Negro. O hotel em que eles estavam hospedados chegou a sofrer uma tentativa de ataque por tratores. A Polícia Mili-tar conseguiu impedir o pior, mas para isso foi preciso até mesmo o uso de bombas de gás la-crimogêneo.

No dia 27 de novembro, os fi scais apreende-ram mais 7,9 mil m³ de madeira em uma ser-raria no nordeste do Pará. De acordo com o Ibama, havia evidências de que as toras de ipê,

maçaranduba e jatobá encontradas na serraria teriam sido retiradas da terra indígena Alto Rio Guamá, da tri-bo dos Tembés. Na reserva, os fi scais constataram nas árvores marcas feitas por uma serra encontrada dentro da serraria. Em 12 de dezembro, o Ministério Público Federal no Pará entregou à Justiça um pacote de ações contra 107 empresas e 202 pessoas por irregularidades ambientais – no caso, o desvio de 1,7 milhão de m³ de madeira. Paragominas possui a maior área fl orestal certifi cada do Brasil, que corresponde a mais ou menos metade da área fl orestal certifi cada de toda a Amazônia. O Projeto Verde, desenvolvido pela prefeitura, já plantou mais de 50 milhões de árvores e deve plantar mais 50 milhões nos próximos cinco anos. Realiza ainda monitoramento via satélite do desmatamento, com foco no manejo fl o-restal legal e desmate zero. Marco Vidal, coordenador da Operação Rastro Negro no estado, afi rma entretanto que, da lista dos 100 maiores desmatadores do Ministério Público, a maior parte age em Paragominas. “A região é formada por re-servas indígenas e áreas de reserva legal permanente. Mas essas duas áreas são atacadas constantemente por madeireiros ilegais”, diz. O fi scal do Ibama contesta as ações ambientais da prefeitura de Paragominas. “As grandes forças de re-fl orestamento são para o plantio de eucaliptos, pínus e paricás, que serão utilizadas posteriormente para a produção de celulose”, critica. “O que eles chamam de refl orestamento é, na verdade, troca de fl oresta nativa por monocultura”. A violência da reação popular no fi nal de 2008 em Para-gominas sugere que as autoridades ainda estão distantes de uma política fl orestal que seja entendida e acatada. Para muitos habitantes da Amazônia, a mata é um obstá-culo a ser vencido – quase sempre, a ferro e fogo.

Ibama diz que área fl orestal certifi cada do município, a maior do país, troca espécies

nativas por monocultura

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Entrevista Greliz Silvestrin

Jumirim, uma das menores e mais novas cidades de São Paulo, é também uma das raras do país cujo Regime Próprio de

Previdência Social tem superávit atuarial

Folga no caixaPaisagem de Jumirim vista da prefeitura: região de suaves colinas

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Dos 2 mil municípios brasileiros que aderiram ao RPPS, só 5% têm superávit atuarial. Jumirim é um deles. A cidade emancipou-se de Tietê em

1996 e começou vida própria no ano seguinte com o prefeito Tadeu Fávero, do PSDB, eleito novamente em outubro passado. É, portanto, nova, e pequena (2.205 habitantes em 2007, segundo o IBGE, e 57 quilôme-tros quadrados). A cidade adotou o RPPS. Até prova em contrário, a pre-vidência local tem vida mansa, disse no fi nal de 2008 o contador da prefeitura Greliz Silvestrin, que adminis-

trava o Fumap – Fundo Municipal de Aposen-tadoria e Pensão do Município de Jumirim – na gestão do antecessor de Fávero, Darci Schiavi, PMDB, prefeito por oito anos. Silvestrin enume-rou: 154 funcionários ativos em abril de 2008, apenas três benefi ciários de aposentadorias.O fundo de Jumirim, relatou Silvestrin, foi constituído em 1997, mas suas contas não eram separadas das da Prefeitura. Em 2004, devido à Emenda Constitucional número 41, aprovada em 2003, o fundo foi obrigado a ter

Greliz Silvestrin

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contabilidade separada. Começaram a ser fei-tos relatórios para o Ministério da Previdência Social e os cálculos atuariais passaram a ser le-vados em conta. Naquele ano, a prefeitura contribuiu com 11% para o fundo, mesma contribuição de ativos, aposentados e pensionistas. Segundo Silvestrin, as projeções determinaram que essa contribui-ção tenha sido elevada para 13% em 2008. Ela deverá crescer meio ponto percentual adicional até 2017, e mais um pouquinho, 0,19%, até 2018, quando chegará a 16,69% e poderá se estabilizar. A empresa Actuarial, de Curitiba, é responsável pela mais recente avaliação atuarial do fundo de Jumirim, concluída em junho. Fez projeções que vão até o ano de 2083, baseadas no atual grupo de funcionários. Essas projeções são feitas sem o que os técnicos chamam “reposição de massa”, ou seja, como se a prefeitura não fosse contra-tar mais ninguém até o último servidor hoje em atividade se aposentar, em 2045. Isso, é claro, desde que a projeção de longevidade e de vida ativa não seja truncada por invalidez ou morte. Nesse contexto, o plano de custeio vigente indi-cou que o saldo fi nanceiro do exercício de 2045 seria de R$ 20.575.648,19.

A tabela abaixo contém os elementos iniciais em que se baseia o cálculo.

Fundo tem aplicação de R$ 3,5 milhões na única agência

bancária da cidade, a do Banco do Brasil

Médias gerais dos servidores ativos

Item Mascu-lino

Feminino Total

Nº de servidores 60 94 154

Idade média 39,2 37,5 38,2

Tempo de INSS anterior

2,2 1,9 2,0

Tempo de serviço público

4,4 5,0 4,8

Tempo de serviço total 6,6 6,9 6,8

Diferimento (*) médio 24,4 19,4 21,4

Remuneração média (R$)

866,2 939,55 910,97

(*) Diferimento: tempo que falta para o servidor cumprir chegar à aposentadoria Fonte: Actuarial

Um núcleo urbano pequeno, mas ordenado

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As mulheres são mais numerosas e ganham mais do que os homens, em média, na administração muni-cipal de Jumirim. A vantagem numérica se explica pelo fato de que a maior parcela de servidores mu-nicipais, cerca de 40%, é da educação, que empre-ga poucos homens. E a vantagem salarial média é devida ao fato de que praticamente todos os fun-cionários englobados na categoria “serviços gerais” – trabalhadores manuais, serventes, varredores, etc. – são homens. Formam a categoria que tem a menor remuneração média. A remuneração média dos funcionários de Jumi-rim, como se vê na tabela da página 66, era de R$ 910,97 no fi nal de 2008. A dos homens, de R$ 866,20. A das mulheres, de R$ 939,55. Entre os salários mais elevados estavam os dos médicos: R$ 3.100 por 20 horas semanais.As professoras, que são quase 19% do total, apo-sentam-se mais cedo do que as demais mulheres. E mulheres aposentam-se mais cedo do que homens, como se vê na tabela ao lado.

Mulheres em vantagem

Item Masculino Feminino Geral

Idade média de ingresso

34,8 32,5 33,4

Tempo médio de contribuição

31,0 26,3 28,1

Idade média de aposentadoria

65,8 58,8 61,6

Fonte: Actuarial

“Na média, os servidores ativos já contribuíram com 6,8 anos, ou 24,1%, do tempo médio total necessário para a aposentadoria, aproximadamente 28,1 anos no geral, sendo 26,3 anos para as mulheres e 31,0 anos para os homens”, lê-se no relatório da Actuarial.A partir desses dados básicos se constata como o cál-culo atuarial é complexo. Porque eles dão um retrato da situação atual sem qualquer “desvio”. Como se o quadro atual pudesse permanecer estático. Se, por hipótese, houvesse na cidade um surto de do-ença que incapacitasse um número considerável de funcionários, aumentaria subitamente a despesa com benefícios, sem aumento correspondente da receita do fundo de previdência. Imagine-se uma situação oposta: todos com boa saú-de, o município vive cinco ou dez anos de desenvol-vimento econômico contínuo, a arrecadação aumenta e a prefeitura precisa contratar, por concurso, novos funcionários. E esses novos funcionários efetivados são relativamente jovens – vão demorar a se aposentar. A base de contribuintes crescerá, enquanto o número de benefi ciários evoluirá como anteriormente previsto. Ou seja, a situação fi nanceira do fundo permanecerá larga-mente superavitária.

Silvestrin informou que o fundo tem hoje uma aplicação de R$ 3,5 milhões, em números re-dondos, na agência do Banco do Brasil da cida-de – a única de Jumirim. Trata-se de um fundo de renda fi xa composto em 95% por títulos do Tesouro Nacional. Criado para atender a legislação que rege as aplicações de fundos de previdência do regime próprio (ver Para começo de conversa, página 12).É uma das maiores somas de investimentos des-sa agência. Por isso, ele sempre pede alguma reciprocidade do gerente. “No ano passado o banco doou um notebook que está patrimonia-do no fundo. Agora, os funcionários da prefei-tura pensam em criar um clube. Provavelmente o fundo vai pedir ajuda para a construção de uma sede, ou de uma quadra esportiva”, disse Silvestrin. As relações são boas também com o Tribunal de Contas do Estado: “Nenhum apontamento relativo ao fundo”, comemorou o contador.

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Gente

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Compromisso com o paísProfessoras estão entre servidores para quem a missão pública tem

primazia. Usam a arte como método pedagógico para manter em patamar invejável escola pública paulistana

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Eis a reportagem.Quando o sinal bate para o começo das aulas do dia, as crianças têm uma tarefa a executar antes de abrir livros e cadernos. Todas a postos, começam a cantar. Por alguns minutos, elas se entregam às notas musicais de canções adapta-das para as vozes infantis, que variam desde o folclore popular até música popular brasileira. Se for algo temático, melhor. Como foi o caso dos Jogos Olímpicos realizados na China, quan-do os alunos se divertiram cantando a marchi-nha de Oswaldo Santiago e Paulo Barbosa Lig, lig, lig, lé: “Lá vem o seu china na ponta do pé! Dez tões, vinte pratos, banana e café!”.Somente depois de cantar – algumas vezes ba-tendo palmas ou executando coreografi as – é que a aula efetivamente começa. E se algum aluno chegar atrasado, não tem problema: an-tes de entrar em sala, senta em algum lugar do pátio e também canta. É a melhor maneira de alimentar a alma antes de aprender na escola.Assim começa o dia-a-dia da Escola Estadual

Previdência Nacional procura mostrar, edição após edição, diferentes aspectos da vida dos funcio-nários públicos brasileiros. É um campo vastís-

simo, daqueles que só podem ser expostos por meio de sínteses. Nas duas reportagens a seguir, de Renata Rondino, a revista captura o trabalho de uma estirpe de servidores sem nenhuma identifi cação com o este-reótipo do funcionário público que povoa o imaginário brasileiro e que entrou para o anedotário com a pejora-tiva defi nição de barnabé: o homem de gabinete, pouco comprometimento com o trabalho, preguiçoso, e que sempre dá um jeitinho de tornar as coisas mais fáceis para ele, mesmo que fi quem mais difíceis para os outros cidadãos. Duas professoras da rede paulista e seus comandados na Escola Estadual Bibliotecária Maria Luisa Monteiro Costa, na capital, Lurdes Ribeiro e Raquel Martins, fa-zem parte desse contingente, felizmente numeroso em todo o país. São pessoas que desafi am a visão negativa ancorada, muito objetivamente, na defi ciência da pres-tação de serviços essenciais em todas as esferas da má-quina estatal brasileira. Num país em que, como dizia da Itália o antigo político Pietro Nenni, o Estado é “forte diante dos fracos e fraco diante dos fortes”.Lurdes foi de oposição nos anos do regime militar. Afi r-ma que seu compromisso com a educação pública vem “de uma postura política, mas não partidária”. “É o com-promisso com o país”, diz. (Leia mais sobre a trajetória de Lurdes Ribeiro em Da sociologia à educação artísti-ca, abaixo.)

taçãquinda IdianLurdma

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Antes de começar o dia de aulas, a tarefa dos

alunos é cantar. Aquecer a alma prepara a mente

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am para os projetos de Lurdes e Raquel. A Nespresso, por exemplo, trouxe ao Brasil em 2008 um dos oito exemplares do novo lançamento mundial da empresa – a máquina de café Le Cube – autografados pelo ator George Clooney, para fazer um leilão: seria presenteado com a máquina quem fi zesse a maior doação para o programa Parceiros da Educação, voltado para a forma-ção integral de alunos da rede pública por meio de par-cerias que ajudem a melhorar a qualidade do ensino. A soma, R$ 17 mil, foi conseguida pela Associação G12, grupo de 12 jovens empresários presidido por Marcos Andrade. A entrega do prêmio, destinado à escola do Rio Pequeno, foi feita a Raquel Martins pelo ator Rodri-go Santoro, em São Paulo, no Shopping Iguatemi. Um dos integrantes do G12, André Skaf, que visitou a escola, mostrou-se surpreendido com as idéias adota-das na EE Bibliotecária Maria Luisa. A empresária Ana Ruas, outra participante do G12 que foi conhecer de perto os métodos de Raquel e Lurdes, avaliou:– Nunca vi um trabalho tão bom sendo realizado em uma escola estadual.

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Bibliotecária Maria Luisa Monteiro da Cunha, no Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo. Com 20 anos de história, 720 alunos que estudam da 1ª à 4ª série, a instituição se tornou um referencial para as redes de ensino, pela sua proposta de articular educação e arte. “Acredi-tamos que a arte é o que cria o entusiasmo do aluno por qualquer assunto, mesmo que seja matemática ou geografi a”, explica a coordena-dora Lurdes Ribeiro, que, ao lado da diretora, Raquel Martins, garante que o projeto dá certo.

Em relação ao método usado na EE Bibliotecá-ria Maria Luisa, Lurdes explica:– Nosso trabalho é baseado em dois conteúdos: arte e movimento. Queremos trabalhar com o corpo, pela manifestação artística. Misturamos ética e estética e mostramos que beleza e ver-dade estão ligadas.A escola já ganhou prêmios e costuma ser bem-recebida quando busca parcerias que contribu-

Os professores lêempara as crianças, todosos dias, seja qual for a matéria que ensinam

Um método pedagógico: combinar ética e estética para mostrar o que liga

beleza e verdade

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Em agosto, a cantora Paulah Gauss, participante da G12, realizou na loja feminina Claudeteca o show de lançamento do seu CD Vou Livre. Parte da renda do evento foi em prol da EE Bibliotecária Maria Luisa.

Na escola, o desenvolvimento artístico tem um foco ini-cial: leitura. É ela a peça fundamental de todo o projeto. – Queremos que os alunos se apropriem da cultura. Nós temos que garantir o contato deles com as letras. Se a criança é defasada culturalmente, é responsabilidade da escola mudar este quadro, e não cruzar os braços – defende Lurdes. E na escola, de fato, a leitura é intensa. Primeiro porque todos os professores lêem para as crianças todos os dias. Essa é uma atividade permanente, não importa a matéria que esteja sendo dada em sala de aula. Depois, todos os alunos são frequentadores vorazes da bibliote-ca da escola. Frequentadores e administradores. Na EE Bibliotecária Maria Luisa são os alunos que controlam os livros, dão indicações de leitura, cuidam do acervo e

garantem a integridade de cada livro. – Daquela biblioteca saem 700 livros por sema-na emprestados. E os alunos controlam tudo com um esquema extremamente simples e prático. Os livros não somem, não são estragados e são lidos, de fato – orgulha-se Raquel, a diretora.E não se trata de livrinhos simples. Os alunos da 3ª e 4ª séries devoram livros de Arthur Conan Doyle (o “pai” do detetive Sherlock Holmes), Monteiro Lobato, livros de mitologia e clássicos como a Odisséia e A Saga de Gilgamesh. – Esta é uma idéia que dá certo, tem custo zero, mas ninguém faz. Ninguém confi a. Mas quando se tem confi ança, o projeto tem sucesso – ava-lia Lurdes. – Por motivos como esse, aqui a lei-tura é puro prazer.

Todas as idéias desenvolvidas na EE Bibliotecá-ria Maria Luisa, que carregam charme artístico

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Os alunos são zelosos guardiães dos livros. Por

semana, são emprestados 700, que voltam intactos

O que pode parecer improvisação segue uma linha de trabalho fi rme. E os mestres têm liberdade

para se expressar

Para encerrar as atividades de 2008, os alunos da 1ª e da 2ª série fi zeram, na manhã de sábado, 6 de dezembro, apresentações natalinas que incluíram corais, jograis, dramatização e apresentação de uma “banda” cujos sons eram produzidos por chocalho, triângulo, casca de coco duro e outros materiais improvisados. O presépio vivo encantou alguns pais presentes. Outros se comoveram ao ouvir as vozinhas infantis entoando canções de natal.

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e podem parecer até, muitas vezes, improvisa-das, apóiam-se numa linha de trabalho seguida à risca. Toda semana, a direção do colégio se reúne com professores para discutir metodolo-gia de ensino, didática, atuação do professor, ideias que foram aplicadas em sala e os resulta-dos de cada uma delas. A intenção é que, além de discutir a questão pedagógica, os professores troquem experiên-cias sobre o que encontram em sala de aula: as difi culdades dos alunos, a maneira como a so- lução foi empregada, a resposta do

aluno, o rendimento de cada um. – Eles precisam vivenciar situações no papel de professor e no papel de aluno. A refl exão tem que partir de como os professores percebem tanto as difi culdades como o en-cantamento do aluno. Há a liber-dade de se debater tudo isso – diz Lurdes. – O professor encontra aqui espaço para o protagonismo.

Equipe docente é pequena, mas há pouca

rotatividade, o que permite realizar passo a passo o planejamento

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Isildinha, mãe de aluno, elogia evolução e lamenta que a

escola não vá além da 4ª série

– É importante ter em mente a valorização de cada in-divíduo e também do coletivo. Aqui todas as crianças têm nome e uma história, assim como funcionários e professores. Desenvolvemos a idéia de que precisamos formar cidadãos críticos, íntegros e colaborativos, e não apenas ensiná-los a ler e escrever, ou a contar – espe-cifi ca Raquel. Alguns fatores, é claro, contribuem para que o projeto continue a todo o vapor na escola. Um deles, diz Lurdes, é o fato de haver pouca rotatividade de professores.

– Isso nos ajudou a implementar o trabalho passo a pas-so, o que já dura 15 anos. Nosso grupo é pequeno, mas permanece. Os professores da rede estadual de ensino escolhem vir para cá. Sabem que aqui se trabalha mui-to, mas que há a valorização do profi ssional – afi rma.Mas, afi nal, como se dá a autonomia da EE Bibliotecária Maria Luisa em relação às tradicionais fórmulas aplica-das na rede pública de ensino? – Não temos contraposições com o poder público – diz

Raquel. – Na rede pública, aliás, como direto-ra ou coordenadora, temos mais autonomia do que alguém com cargo semelhante em uma escola privada. Cumprimos todas as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), mas vamos além. Nesses 15 anos, tivemos a convicção fi rme de que nossa tarefa é fortale-cer as crianças, e temos certeza de que nossa metodologia não vai sobrepujar a essência do ensino.Os pais aprovam. “Essa é a melhor escola públi-ca da região”, diz Isildinha Malagodi de Oliveira, mãe de Breno, de 10 anos, que estudou no lo-cal desde a 1ª série. Ela, aliás, lamenta o fato de 2008 ter sido o último ano do fi lho na Maria Luisa, pois agora ele está na 5ª série. – A escola tem problemas, não dá pra negar. Mas de um tempo para cá eles vêm desenvol-vendo trabalhos muito bons, parcerias muito boas – elogia Isildinha. Ela destaca que a di-reção da escola está sempre aberta a ouvir os pais dos alunos: – Nem sempre eles conseguem resolver tudo rapidamente, como foi o caso de uma profes-sora que estava sempre doente e faltava muito, mas estão sempre acompanhando e mostrando interesse em nos ouvir e nos ajudar.

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“Esse fui eu que fi z. Eu ajudei bastante na exposição”. Foi o que Breno Malagodi de Oli-veira, de 10 anos, aluno da 4ª série da Escola Estadu-al Bibliotecária Maria Luisa Monteiro da Cunha, apres-sou-se em dizer ao fotógrafo que registrava os trabalhos feitos pelos alunos para ho-menagear o Dia da Consciên-cia Negra, celebrado em 20 de novembro. Entre bonecos, desenhos, pintura em tecido, mapas e outros trabalhos, ele sabia dizer quais foram os alunos que fi zeram cada um deles.Por lei, todas as escolas pú-blicas precisam dedicar um espaço especial em seus currículos para falar sobre a questão da consciência e a cultura dos negros. – Mas nós, em especial, acha-mos que não se trabalhava com profundidade a cultura

do povo africano. Nos acostumamos a falar apenas so-bre a escravidão ou sobre o preconceito – diz a coorde-nadora pedagógica da escola, Lurdes Ribeiro. – Parecia um tabu falar de mitologias, lendas e religiões, além de toda a riqueza geográfi ca da África.Decidiu-se, então, fazer diferente. Os alunos foram con-vidados a mergulhar profundamente em tudo aquilo que se referia à África.

Dia da Consciência Negra

– Começamos com a literatu-ra. Fomos descobrir o máxi-mo possível sobre o continen-te. Cada um foi atrás de um assunto. E isso despertou um entusiasmo ímpar. As crian-ças se apaixonaram a tal pon-to que os pais também se dis-puseram a participar – conta a coordenadora.De livro em livro, de pesqui-sa em pesquisa, foram sain-do histórias, lendas, a fami-liarização com os elementos geométricos que formam a estamparia dos tecidos, ilus-trações muito bonitas, fotos, fi lmes, música, danças, sim-bologias. – E tudo isso também estava relacionado aos rios, monta-nhas, desertos, climas, vege-tações, pois tudo está conta-do nas histórias – argumenta Lurdes. – Eles fi caram ma-ravilhados ao saber que em um mesmo continente temos fl orestas, um deserto árido

e montanhas com neve. Esses assuntos estavam liga-dos às crenças, às danças, aos rituais e até mesmo às ilustrações. Foi uma descoberta muito importante para eles, pareciam estar resgatando suas próprias histórias, falando de seus ancestrais.Por causa dos trabalhos, com a proximidade da data co-memorativa os cantos das crianças antes do início das aulas eram todos africanos. E, em muitos momentos,

Sempre que se compartilha há uma experiência

enriquecedora

Conduzir os alunos a um mergulho profundo em tudo

que se refere à África

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A trajetória da professora Lurdes Ribeiro tem as marcas da epo-péia metropolitana brasileira das últimas décadas. Filha de operá-rio e de dona de casa, nascida em Santo André, Grande São Paulo, estudou da 1ª à 4ª série em escola pública. Depois fi cou sem estudar. Aos 14 anos, foi trabalhar num escritório imobiliá-rio e estudar à noite numa esco-la particular. Fez escola normal enquanto trabalhava em banco, até entrar para Ciências Sociais na USP, em 1967. Morava em república estudantil e dava aula em cursos supletivos e prepara-tórios de vestibular. Em época de forte repressão po-lítica, não concluiu Ciências So-ciais na USP. Cantar no Coral da universidade a havia inspirado a estudar educação artística na Faap (Fundação Armando Álva-res Penteado), mas não aguen-tou pagar as mensalidades e acabou se formando pelo Insti-tuto Musical de São Paulo, hoje extinto. Foi a partir dessa forma-ção que estruturou sua propos-ta pedagógica. Em meados da década de 80 fez concurso para o magistério estadual paulista, onde atua como coordenadora há dez anos.

Da sociologia à educação artística

incluíam danças também.De todo o processo de aprendizado nasceu a Vó Nhã Nhã, uma boneca feita pelos pais dos alunos, com base em uma personagem do livro A Galinha de Angola es-colhida pelos alunos. A boneca é puramente maternal, pois está abraçada a várias crianças. “Na história, a Vó Nhã Nhã tem um baú, de onde ela tira histórias da Áfri-ca para contar para as crianças. Os alunos acabaram adotando a vovó”, diz Lurdes, divertida, ao lado da bo-neca feita de meias pretas, enchimento e tecidos.“Essa não fui eu que fi z, mas todo mundo gosta dela”,

vibra Bruno. Mas ele não fez um trabalho espe-cífi co, e sim vários. Lurdes conta que os alunos circularam por diferentes projetos. Cada aluno fazia um pouco e passava para outro acrescen-tar, mexer, dar uma visão nova:– A idéia era o trabalho individual com inter-ferência do coletivo. Sempre que se divide, há uma experiência enriquecedora. O aluno aprende a prestar atenção no que o outro tem a acrescentar.(Ver Justo orgulho, página 76.)

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Quatro veteranos do funcionalismo revêem trajetória profi ssional que deixou boas lembranças

e sentimento do dever cumprido

Justo orgulho

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Nesta segunda reportagem, Renata Rondino en-trevista um dirigente do Ibama, Antônio Carlos Hummel, um funcionário aposentado do muni-

cípio de São Paulo, José Wladimir Klein, uma também aposentada inspetora federal de ensino do Ministério da Educação, Geninha da Rosa Borges – atriz em ativi-dade, aos 86 anos –, e a assistente social Celi Barone, que trabalhou num hospital psiquiátrico da cidade pau-lista de Adamantina. Em comum, o orgulho que têm de sua atividade profi ssional.

Quando subiu ao palco para receber o prêmio Top of Mind na categoria meio ambiente, em outubro de 2008, o diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas (DBFLOR) do Ibama, Antônio Carlos Hum-mel, resolveu dedicá-lo a todos os servidores do insti-tuto, incluindo os analistas ambientais que combatem crimes contra a natureza nos locais mais remotos do país. “Tenho muito orgulho de ser integrante de carreira do instituto”, afi rmou o engenheiro fl orestal, que há 28 anos se dedica a proteger e a desenvolver a fauna e a fl ora do Brasil.O prêmio foi merecido: o Ibama é a marca mais lembrada quando se fala em meio ambiente, mesmo que o instituto não faça uso de estratégias de marketing e nem de agên-

cias de propaganda. “O marketing do Ibama é o seu próprio trabalho”, diz Hummel. Ele é um profi ssional de ponta, que qualquer grande empresa gostaria de ter em seus qua-dros. Como ele, há muitos outros, gente que derruba o velho mito do servidor público.O diretor é funcionário de carreira do Ibama e se or-gulha em afi rmar que em nenhum outro lugar fora do serviço público teria sido possível realizar toda a sua lista de conquistas. “Na iniciativa privada, nada do que eu fi z seria possível”, afi rma Hummel.

Para Hummel, diretor do Ibama, só no serviço público teria sido possível realizar as

conquistas acumuladas

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– Não consegui estudar. Mas consegui me preparar e pude dar conta de todas as minhas responsabili-dades. Tanto que nos últimos dez anos fui chefe da seção – destaca.Klein praticamente saiu do curso primário para ajudar nas despesas da casa. Perdeu o pai antes dos 15 anos e sua mãe passou a trabalhar como cozinheira. O único diploma de que dispõe é do Grupo Escolar Paulo Eiró, onde fez até a quarta série do primeiro grau. – Trabalhei em escritório de despachante, casa de mó-veis, ofi cina mecânica, empresa de produtos alimentí-cios, em tudo quanto é lugar – relembra o aposentado. – Em uma delas, eu saía de casa às seis da manhã para viajar 45 minutos de bonde. Descia na Praça da Sé e ia a pé até a Rua Vitória, onde tomava café da manhã, sentado na calçada, e iria jantar às nove da noite, quan-do chegava em casa. Mas isso foi até começar a traba-lhar na Light, de onde eu passaria para a CMTC.Klein, aos 80 anos, mora em São Bernardo do Campo e dedica-se a escrever livros. – Sempre fui muito ligado às pessoas. Em nosso traba-lho, o relacionamento humano era estreito. Hoje, esse contato eu estabeleço através dos livros. Nunca deixa-mos de sonhar, porque as pessoas não são unicamente forjadas nas universidades, mas também nas adversida-des. Se soubermos colher em nossas atividades os en-sinamentos que a vida poderá nos fornecer, poderemos vencer – fi losofa o autor de 14 livros, contente por ter se casado novamente em 2008.

Toda vez que, ao fi nal de uma peça, a pernambucana Geninha – Maria Eugênia – da Rosa Borges agradece ao público pelos aplausos, ela diz que o faz por 68 mu-lheres. São elas todas as personagens que viveu duran-te os 67 anos que respirou o teatro. Os atuais 86 anos não lhe tiraram a disposição, mostrada novamente em janeiro numa participação na novela A Favorita, da TV Globo, como mãe do personagem Silveirinha. Mas não foi nos palcos que Geninha construiu todas as suas buas histórias. Formada em línguas anglo-germâni-cas nos anos 1950, ela prestou concurso para inspetora

Hummel está em Brasília desde 2002, após passar muitos anos na Amazônia, cuidando de um projeto de cooperação internacional de ma-nejo fl orestal. Durante todos esses anos no instituto, pôde presenciar e participar de uma série de avanços no que se refere ao controle do desmatamen-to, ordenação da atividade madeireira, comba-te ao comércio de animais silvestres, além do atual trabalho de educação ambiental para pe-quenos pescadores, de forma consciente e não depredatória.Hummel, a exemplo de milhares de servido-res públicos federais, estaduais ou municipais, sempre remou contra a idéia pejorativa que boa parte da população faz da categoria. Ele se inclui entre as pessoas que apreciam o trabalho e que sempre buscaram maneiras de implantar projetos e trazer novas idéias, porque estabili-dade não signifi ca acomodação, nem estagna-ção. E fi cam felizes quando seus esforços dão resultado.

– Se eu pudesse recomeçar minha vida pro-fi ssional do zero, teria trabalhado exatamente onde trabalhei – diz José Wladimir Klein, que se aposentou pela antiga Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC). Ele passou 32 anos e quatro meses na Tesouraria da empresa pública, sucessora da Light.

Em mais de duas décadas, especialista testemunhou muitos

avanços no controle do desmatamento

Geninha estudou nos Estados Unidos e no Japão sistema de teleducação que aplicou

na volta a PernambucoSe fosse para começar

tudo de novo, Klein voltaria à CMTC, onde

passou mais de 32 anos

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federal de ensino do Ministério da Educação. Aprovada, foi para os Estados Unidos e para o Japão fazer cursos e estágios sobre uma nova forma de ensinar: o sistema teleducativo, que ministraria aulas pelo rádio e pela televisão. Numa época em que a internet estava fora dos planos de qualquer vidente e uma parcela sig-nifi cativa da população vivia em áreas rurais, seria praticamente uma revolução.

Entusiasmada, Geninha voltou para Pernam-buco e cuidou de aplicar o projeto. – Foi uma maravilha ver pessoas do campo aprendendo, fazendo as provas. Viajei o esta-do todo para acompanhar esse trabalho. Eles se tornavam engenheiros, médicos... e eu era a madrinha de formatura de todos. Eu vibrava com eles, como se fosse a própria professora – entusiasma-se. Geninha perdeu a conta de quantos alunos foram benefi ciados à distân-cia, mas os tem a todos eternamente como seus “meninos”.O projeto foi desenvolvido na época em que a política cultural era atribuição do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Anos depois, separaram-se: MEC de um lado, Ministério da Cultura (Minc) de outro. “Me lotaram no Minc, onde me aposentei”, diz Geninha, que ainda não pretende aposentar-se do teatro. Ela ocupa a cadeira de número 33 da Acade-mia de Letras e Artes do Nordeste.

Trabalhadores do campo que nem tinham passado

direito pela escola se tornaram engenheiros

e médicos

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A atriz e servidora pública descobriu o palco em 1941, quando se preparou para encenar a peça Noite de Estrelas junto com um grupo de moças da sociedade recifense. A fi nalidade era arrecadar fundos para um hospital. – Mas elas mal apareciam nos ensaios. Estavam to-das preocupadas com seus namorados. E eu, que era a mais dedicada, acabei me destacando – diz. Na platéia, o médico e dramaturgo Waldemar de Oliveira gostou do que viu e levou Geninha para integrar o grupo fundador do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), por ele criado. Além das de-zenas de peças, ela já atuou com diretora e partici-pou de curtas e longas no cinema, incluindo Paraí-ba, Mulher Macho, de Tizuka Yamasaki.Em Pernambuco, Geninha ocupou diversos cargos na área da educação, como a Diretoria do Departa-mento de Recursos Tecnológicos para a Educação. Foi diretora de Eventos do Museu da Cidade do Re-cife e supervisora de Artes Cênicas no Instituto de Assuntos Culturais da Fundação Joaquim Nabuco.

O resgate da dignidade foi o caminho escolhido pela assistente social Celi Barone no hospital psiquiátrico de Adamantina, interior de São Paulo, onde traba-lhava pela prefeitura da cidade. O hospital operava pelo SUS e sempre ia mal das pernas, com muita difi culdade para atender a população de baixa ren-da. Celi, junto com a equipe de médicos, professores de educação física, psicólogos, enfermeiros e outras assistentes, conseguiu uma parceria entre a promo-

toria pública, a assessoria jurídica do hospital e a pre-feitura para garantir o sustento de 60 pacientes adultos com defi ciência mental profunda e cujas famílias eram carentes, ou que eram totalmente sozinhos. A parceria permitiu que esses pacientes obtivessem o Benefício de Prestação Continuada – pagamento de um salário mínimo pelo INSS –, dinheiro que começou a pro-piciar-lhes um mínimo de qualidade de vida.

– Alguns não tinham nem certidão de nascimento. Conseguimos tudo através dessa parceria. E então eles puderam comprar alimentos, roupa e calçados, ir a ex-cursões ou festas – conta Celi. O convênio também per-mitiu que alguns deles fi zessem tratamentos odontoló-gicos ou pudessem cuidar da saúde em outras cidades. Resultados como esse acabaram inspirando a fi lha de Celi, Carol Barone, que decidiu seguir os passos da mãe e tornar-se assistente social, ainda que tenha escolhido trabalhar no setor privado. “Sempre a admirei profi ssio-nalmente, a forma como ela se dedicava ao trabalho, como apreciava o que fazia”, diz Carol. “E eu percebia os benefícios diretos e indiretos que a profi ssão poderia ter na vida de outras pessoas.”(Ler também Compromisso com o país, página 68.)

Celi conseguiu parceria com promotoria pública e prefeitura para ajudar

internos em hospital psiquiátrico

Estréia no palco foi em 1941. Arte e vida

profi ssional continuaram em paralelo

Alguns pacientes nem tinham certidão de nascimento.

Ajuda lhes permitiu comprar comida e roupa

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Celi Barone

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Antônio Carlos Hummel(“Justo orgulho”, página 76)IBAMAE-mail: [email protected]

Evandro Antônio da Silva(“Hora de resultados”, página 10)AepremerjTelefone: (24) 9212-4899

Francisco Barone(“Formação defi ciente”, página 59)FGVTelefone: (21) 2509-5399 (Assessoria de Comunicação)

Greliz Silvestrin (“Folga no caixa”, página 50) Telefone: (15) 3286-8072 E-mail: [email protected]

Helmut Schwarzer (“Peças que se encaixam”, página 20)Ministério da Previdência SocialTelefone: (61) 3317-5873

Joel Fraga(“Peças que se encaixam”, página 20)CSM ConsultoriaTelefone: (51) 3212-9917E-mail: [email protected]

José Mendonça de Souza(“Duas faces da mesma crise”, página 38)AbrappTelefone: (11) 3043-8745

José Pimentel(“Competência Permanente”, página 56)Ministro da PrevidênciaTelefone: (61) 3317-5102 (Assessoria de Comunicação)

José Wladimir Klein (“Justo orgulho”, página 76) E-mail: [email protected]

Kleber Vicente CavalcanteIPMPG(“Hora de resultados”, página 10)Telefone: (13) 3476-1500E-mail: [email protected]

Lurdes Ribeiro(“Compromisso com o país”, página 68)Telefone: 11-3782-6691

Magadar Briguet (“Confl itos à vista”, página 26)APEPREMTelefone: (11) 4586-0203

Maria Verônica BentinhoFundape(“Hora de resultados”, página 10)Telefone: (81) 3183-3849E-mail: [email protected]

Mário Pascarelli (“Formação defi ciente”, página 59)FAAPTelefone: (11) 3662-7270 (Assessoria de Comunicação)

Otoni Gonçalves Guimarães (“Peças que se encaixam”, página 20)Ministério da Previdência SocialTelefone: (61) 3317-5776

Raquel Martins(“Compromisso com o país”, página 68)Telefone: 11-3782-6691

Roberto Pasqualin(“Para come;o de conversa”, página 12)Amcham-SPTelefone: (11) 3055-6700

Eis os dados para contato com as pessoas entrevistadas nas reportagens desta edição de Previdência Nacional.

Se encontrar alguma difi culdade, por favor entre em contato conosco:

55-11-5505-6065 [email protected]

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Serviço Lista de entrevistados

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