review e teste de retenção de fio do cimo tomahawk

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Review e teste de retenção de fio do CIMO Tomahawk. Recebi um grande presente de um amigo muito generoso: um canivete CIMO Tomahawk! Como se não bastasse, ele ainda veio escoltado por um CIMO Heeler, da subespécie com “Heeler” estampado no clip de bolso! Apenas como nota, devo salientar que a qualidade dos Heelers é idêntica, mostrando a boa padronização da CIMO. Peço paciência aos amigos pois o review ficou longo pois incorporou também um teste de retenção de fio e que foi feito de forma comparativa com o Heeler. Vale a pena a leitura completa pois os amigos vão se surpreender... Mas vamos ao que interessa, o Tomahawk! Ficha técnica:

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Page 1: Review e teste de retenção de fio do CIMO Tomahawk

Review e teste de retenção de fio do CIMO Tomahawk. Recebi um grande presente de um amigo muito generoso: um canivete CIMO Tomahawk! Como se não bastasse, ele ainda veio escoltado por um CIMO Heeler, da subespécie com “Heeler” estampado no clip de bolso! Apenas como nota, devo salientar que a qualidade dos Heelers é idêntica, mostrando a boa padronização da CIMO.

Peço paciência aos amigos pois o review ficou longo pois incorporou também um teste de retenção de fio e que foi feito de forma comparativa com o Heeler. Vale a pena a leitura completa pois os amigos vão se surpreender...

Mas vamos ao que interessa, o Tomahawk!

Ficha técnica:

Comprimento total aberto: 19,5cmPeso ( já modificado ): 129gComprimento total da lâmina: 8,5cmComprimento efetivo do fio: 7,2cmLargura max da lâmina: 2,4cmFormato: spear point

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Espessura max da lâmina: 3mmEmpunhadura: talas de alumínio com liners de açoLargura max da empunhadura: 1,4cmTipo de trava: liner lockDetalhes: thumb stud e clip de bolsoAço: 420J2Dureza: 58 RC

Como o Heeler, ele vem em uma embalagem tipo blister e com a lâmina aberta para que possa ser facilmente visualizado pelo consumidor.

Logo de cara ele impressiona pela sensação de robustez que é conferida pelo peso e pelo fato das talas de sua empunhadura serem de alumínio. Apesar de ser de construção aberta com a ausência de um espaçador, os pinos pilares unem e sustentam as talas de alumínio, que juntamente com os liners integrais de aço dão tanta rigidez ao conjunto que mesmo fazendo-se muita força praticamente não se consegue aproximar as duas metades.

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Seu sistema de trava é do tipo liner lock e como os liners tem cerca de 1,25mm de espessura, esta também é a espessura do liner lock. As talas de alumínio tem espessura variável devido aos seus entalhes e contornos e vai desde 2 até 3mm. O travamento é bastante eficaz com a trava se engajando exatamente no meio da face do batente da lâmina. O sistema conta ainda com um pino batente de 4mm de diâmetro que serve para apoiar a porção posterior da lâmina e com isso proteger o liner lock das eventuais sobrecargas geradas no uso.

A tala de alumínio esquerda apresenta uma texturização em sua metade posterior para conferir maior grip ( mas não é muito eficaz ). Na tala do lado direito há um recesso retangular onde se encaixa a porção do clip de bolso que é fixado por um único e mais robusto parafuso, ou seja, só há uma opção de posição do clip, que no caso leva a um porte do tipo tip up.

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Ele conta com washers de plástico, o que não é uma boa opção; teflon ou idealmente fósforo-bronze seria o material de eleição já que o canivete tem um apelo tático e se os washers fossem neste último material sua abertura seria fluida, suave e rápida. Com os washers de plástico é simplesmente impossível abri-lo apenas dando um golpe com o dedão. Na verdade nem mesmo usando a flexão rápida do pulso isto é possível.

Para mim não faz a menor diferença pois jamais pensaria em portar este canivete com esta função específica ( tática ). Pode ser que afrouxando-se o parafuso do pino-pivot o movimento de abertura fique facilitado, mas isto potencialmente levaria a um movimento lateral da lâmina o que de forma alguma é desejável pois pode vir a implicar em falha da trava e desengajamento da mesma.

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A tensão do clip de bolso é boa, porém como a tala de alumínio é lisa, sua retenção no bolso não é tão forte. Isto pode ser facilmente corrigido com uma pequena lixadinha na empunhadura sob o clip.

O acabamento geral e os ajustes são apenas razoáveis, pois as talas não casam perfeitamente com os liners, havendo alguns locais em que elas “sobram”. O revestimento negro da lâmina é bem uniforme e com boa resistência. Quando fechada a lâmina fica perfeitamente centralizada.

Mas há problemas de monta com a empunhadura! Todas as quinas das saliências são pronunciadas e bem desagradáveis ao se empunhar com mais força o canivete. Qualquer tarefa que exija um pouco mais de força na pegada ou que se prolongue por pouco tempo será extremamente desconfortável para a palma da mão que empunha. Outro fator bastante negativo é a dobra do clip que também causa bastante desconforto na palma da mão na região logo abaixo do dedo anular. As arestas dos liners também são bem vivas e vão judiar da mão quando em agarramento de força para tarefas como por exemplo cascar uma cana ou apontar uma estaca.

Com relação à lâmina, é uma spear point, apesar de que já vi vídeos em que o usuário a classificou como drop ou clip point, não me recordo bem. Entretanto para mim ela é

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claramente uma spear point com um desbaste hollow ground raso em quase 3/5 da largura. Apresenta um contra-fio com duplo bisel mas também apresenta um real afilamento em direção à ponta ( distal taper ). Isso lhe confere bom poder de perfuração e graças a uma linha central com um pouco mais de espessura uma robustez adequada fica garantida.

A lâmina conta com um thumb stud bilateral para abertura com ambas as mãos e próximo à eles duas guardas, uma inferior mais pronunciada e uma superior mais discreta, Aqui há novo problema, pois apesar destas guardas terem sido colocadas devido à questão “tática”, para se evitar um possível deslocamento da mão à frente em uma possível ação defensiva, a meu ver elas são muito mais um problema que uma solução!

Seus contornos são mais retos e potencialmente podem se enroscar ou travar em peças de roupa, promovendo um tranco inesperado que poderia eventualmente sacar o canivete da mão que o empunha. Mais realisticamente, elas são absurdamente desconfortáveis para os dedos da mão que empunha! Posicionar o dedão por exemplo no dorso da lâmina, sobre a guarda superior para cortes mais controlados é penoso! Quanto a inferior pode-se até tentar fazer o chamado agarramento enforcado, com o dedo indicador se posicionando na guarda, mas ele fica no mesmo nível do fio, o que é

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um risco e também é desconfortável.

Nossa, será que só tem aspecto negativo neste canivete? Absolutamente não!!! A primeira coisa que fiz assim que o retirei do blister foi verificar o fio. É razoável, dá para se usá-lo imediatamente desde que não se seja muito exigente como eu. Mas o que mais me interessou foi a dureza! Aferi usando minha técnica tradicional de quina de espinha contra quina de espinha e cheguei a uma dureza em torno de 58 RC. Retestei contra diversas lâminas e as indicações eram constantes. Testei inclusive contra o meu Heeler 0 Km e marcaram igual. Contra o Meu Sak Victorinox ( 56 RC ) ela marcou o SAk e praticamente não foi marcada por ele.

Passei um email para a CIMO, na pessoa do Júnior, que prontamente me respondeu que o aço era o 420J2 e a dureza almejada pela CIMO de 55 RC.

Hehehehehehe, acho que recebi um “erro”, pois repetidos testes, principalmente após esta resposta do Júnior, sempre me indicavam dureza ao redor de 58 RC. No limite máximo de conteúdo de carbono do 420J2 esta dureza é sim factível!

Como apesar dos problemas que elenquei vi que o canivete tinha um bom potencial, parti para algumas modificações para tentar sanar os problemas encontrados e deixar o canivete mais ao meu gosto e mais de acordo com os meus usos.

Como podem observar nas imagens a seguir, as modificações consistiram em eliminar aquelas guardas, que para mim não tinham a menor função; no lugar da guarda inferior fazer um verdadeiro finger choil, onde o dedo indicador pode segura e confortavelmente ser encaixado para propiciar uma pega enforcada para maior controle e precisão; a guarda superior também foi eliminada e substituída por um jimping, que agora além de permitir apoiar o dedão na espinha da lâmina com bastante conforto, ainda lhe confere adequado grip de forma que o dedo não deslize à frente.

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Todas as quinas das porções mais salientes das talas de alumínio foram arredondadas assim como as arestas dos liners, o que eliminou o problema do desconforto. Só o danado do clip que não teve jeito, pois apesar de eu ter dado uma arredondada nas arestas da sua dobra, o que melhorou mas não eliminou por completo o desconforto no agarramento de força ( como quando se empunha um cabo de martelo ).

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E claro, apliquei o meu fio “quase” padrão com desbaste de alívio de 5 graus de cada lado, seguido de outro de 10 graus de cada lado, arredondamento dos ombros com uma lixa 600 e finalmente um micro-fio de 15 graus de cada lado. Normalmente o micro-fio seria de 20 graus, mas vocês vão entender o porque disto mais à frente... além do que, o 420J2 nesta dureza, deve ter uma boa estabilidade de fio!

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Agora sim o Tomahawk está do meu agrado! Como seu aço naturalmente, mesmo sem o revestimento negro protetor já é extremamente resistente à corrosão, acho que ele irá se tornar o canivete oficial das pescarias; mas não só por isso, pois seu formato de lâmina agora livre das guardas fazem dele um eficiente eviscerador e apto para quaisquer outros cortes que se façam necessários, podendo agora inclusive ser usado para cortes apoiados sobre uma tábua ou superfície outra, o que a guarda inferior tornava se não impossível, pelo menos muito pouco prático! E para quem desejar, também pode tranquilamente ser usado como EDC.

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Como já afiei o novo Heeler da mesma forma, e os desbastes das lâminas são semelhantes, fiz um teste comparativo de retenção de fio em papelão.

O teste consistiu de fatiar papelão em tiras de mais ou menos 10cm de comprimento cada. Eram efetuados 5 cortes com cada canivete em uma mesma lâmina de papelão de forma alternada, para que cortassem o mesmo tipo de papelão e que o cansaço muscular não inteviesse contra nenhum dos dois. Foram 150 cortes com cada um no total.

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Ambos foram testados cortando papel fino e ambos rapavam cabelo muito facilmente antes do teste do papelão. De início já ficou claro que apesar de ter maior espessura de lâmina o Tomahawk apresentava uma habilidade de corte um pouco maior que o Heeler. Isto se manteve até o final dos 300 cortes totais.

Após os primeiros 50 cortes com cada um dos canivetes o fio foi avaliado com uma lupa de 20x, sob luz fluorescente e com claridade matinal. O Heeler mostrava um ou outro pontinho reflexivo; o Tomahawk mostrava menos pontos e ambos continuavam cortando de forma suave em papel fino.

Após 100 cortes com cada um, nova avaliação. O Heeler já mostrava claramente finíssimas linhas reflexivas descontínuas e vários pontinhos reflexivos. O Tomahawk uma linha reflexiva mais tênue que as do Heeler, mas mais homogênea em termos de continuidade, além de alguns pontinhos. No corte em papel o Tomahawk mostra um corte mais suave que o Heeler.

Após 150 cortes com cada o Heeler mostra uma linha reflexiva contínua e vários pontinhos. O Tomahawk também mostra uma linha contínua mas com menos pontinhos reflexivos. No corte de papel o Tomahawk é marcadamente mais suave que o Heeler.

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Agora, para tentar saber o que realmente ocorreu com os fios, usando uma chaira lisa de aço, passei cada canivete apenas duas vezes de cada lado de seus fios, sem pressão e em ângulo igual ou pouco superior aos 15 graus de seus micro-fios.

Com Heeler em sua primeira passada, percebia-se claramente os pequenos bumps, o que já não ocorreu na segunda passada. O Tomahawk deslizou de forma suave desde a primeira passada.

Agora fica patente a diferença de comportamento dos dois aços! O 440C do Heeler apresentou um nível de melhora bastante perceptível, deixando claro que além de algum rolamento, houve despreendimento de carbonetos de cromo da matriz, mas o desgaste foi mínimo.

Já o Tomahawk apesar de também ter apresentado melhora, ela não foi tão perceptível quanto no caso do Heeler, o que confirma duas coisas que eu já esperava do aço 420J2: ele realmente apresenta boa estabilidade de fio, entretanto apresenta uma resistência à abrasão significativamente menor que o 440C do Heeler.

Cabe aqui ressaltar que o ângulo usado de 15 graus de cada lado nos micro-fios de ambos os canivetes favorece o aço 420J2 do Tomahawk devido a sua muito boa

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estabilidade de fio; já o 440C fica prejudicado por este ângulo mais agudo pois apresenta baixa estabilidade de fio, com carbonetos de cromo se despreendendo da matriz.

Mas ambos os canivetes após as duas passadas de cada lado na chaira lisa de aço se mostraram ainda afiados, com ambos passando fácil no teste da unha e cortando papel fino com relativa suavidade, entretanto não eram mais capazes de rapar cabelo. Ou seja, em termos práticos ambos os canivetes ainda poderiam prestar serviço tranquilamente e seriam considerados bem afiados pela maioria absoluta dos usuários que não são barbeiros e não costumam ficar rapando cabelos!

Abraço