resumo.o novo anti-catolicismo-o último preconceito aceitável - philip jenkins

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1 O Novo Anti O Novo Anti O Novo Anti O Novo Anti-Catolicismo: O último preconceito aceitável Catolicismo: O último preconceito aceitável Catolicismo: O último preconceito aceitável Catolicismo: O último preconceito aceitável Autor: Philip Jenkins Autor: Philip Jenkins Autor: Philip Jenkins Autor: Philip Jenkins Resumo e traduç Resumo e traduç Resumo e traduç Resumo e tradução de ão de ão de ão de João Felipe Belo João Felipe Belo João Felipe Belo João Felipe Belo ÍNDICE ÍNDICE ÍNDICE ÍNDICE Capítulo 1: Limites do ódio 01 Capítulo 2: A ameaça católica 03 Capítulo 3: Católicos e Liberais 04 Capítulo 4: A Igreja odeia as mulheres 07 Capítulo 5: A Igreja mata gays 10 Capítulo 6: Católicos e a Mídia de Notícias 12 Capítulo 7: “O pervertido caminha no Sacramento da Perversão” A crise dos padres pedófilos 13 Capítulo 8: Católicos nos filmes e na televisão 15 Capítulo 9. Lendas Negras: Reescrevendo a História da Igreja 16 Capítulo 10: O fim do preconceito? 20 Capítulo 1: Limites do ó Capítulo 1: Limites do ó Capítulo 1: Limites do ó Capítulo 1: Limites do ódio dio dio dio Católicos e o catolicismo têm recebido grande parte dos insultos na América contemporânea. No entanto, a maioria dos responsáveis nunca se vê como intolerantes. Em 2002, o furor acerca do abuso sexual infantil por parte do clero católico provocou uma avalanche anti-Igreja e anti-católica numa escala nunca vista no país dede os anos 1920. Críticas sensatas e justificadas sobre o mau comportamento de algumas autoridades da Igreja deram lugar para ataques grotescos à Igreja Católica como instituição. Grande parte da mídia assumiu a definição de que a maioria do clero seria composta por pedófilos e que deveriam ser vistos como culpados enquanto não provassem sua inocência. Segundo Andrew Greeley, o anti-catolicismo é tão insidioso “exatamente por não ser conhecido, não ser reconhecido, não explícito e rejeitado pela consciência”. O autor descreve duas missas que foram profanadas: uma nos EUA e outra no Canadá. Na primeira, um grupo de ativistas aidéticos interrompeu o sermão do cardeal O’Connor, jogaram as hóstias no chão e gritaram palavras de insulto. Na segunda, feministas entraram na catedral de Montreal e picharam slogans pró-aborto e espalharam preservativos pelo templo. No entanto, ambos os casos tiveram pouca repercussão na mídia, o mesmo não teria acontecido caso uma sinagoga tivesse sido invadida durante a celebração no dia do Yom Kippur, que logo seria taxado como “terrorismo” e “crime odioso”. O grande problema da abundância da retórica anti-católica está na ausência do reconhecimento como sendo um problema social. Na mídia, o catolicismo é tema de sátiras, em vários filmes e

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O Novo AntiO Novo AntiO Novo AntiO Novo Anti----Catolicismo: O último preconceito aceitávelCatolicismo: O último preconceito aceitávelCatolicismo: O último preconceito aceitávelCatolicismo: O último preconceito aceitável

Autor: Philip JenkinsAutor: Philip JenkinsAutor: Philip JenkinsAutor: Philip Jenkins

Resumo e traduçResumo e traduçResumo e traduçResumo e tradução de ão de ão de ão de João Felipe BeloJoão Felipe BeloJoão Felipe BeloJoão Felipe Belo

ÍNDICEÍNDICEÍNDICEÍNDICE

Capítulo 1: Limites do ódio 01

Capítulo 2: A ameaça católica 03

Capítulo 3: Católicos e Liberais 04

Capítulo 4: A Igreja odeia as mulheres 07

Capítulo 5: A Igreja mata gays 10

Capítulo 6: Católicos e a Mídia de Notícias 12

Capítulo 7: “O pervertido caminha no Sacramento da Perversão” A crise dos padres pedófilos 13

Capítulo 8: Católicos nos filmes e na televisão 15

Capítulo 9. Lendas Negras: Reescrevendo a História da Igreja 16

Capítulo 10: O fim do preconceito? 20

Capítulo 1: Limites do óCapítulo 1: Limites do óCapítulo 1: Limites do óCapítulo 1: Limites do ódiodiodiodio

Católicos e o catolicismo têm recebido grande parte dos insultos na América contemporânea. No

entanto, a maioria dos responsáveis nunca se vê como intolerantes. Em 2002, o furor acerca do abuso

sexual infantil por parte do clero católico provocou uma avalanche anti-Igreja e anti-católica numa

escala nunca vista no país dede os anos 1920. Críticas sensatas e justificadas sobre o mau

comportamento de algumas autoridades da Igreja deram lugar para ataques grotescos à Igreja Católica

como instituição. Grande parte da mídia assumiu a definição de que a maioria do clero seria composta

por pedófilos e que deveriam ser vistos como culpados enquanto não provassem sua inocência.

Segundo Andrew Greeley, o anti-catolicismo é tão insidioso “exatamente por não ser conhecido, não ser

reconhecido, não explícito e rejeitado pela consciência”.

O autor descreve duas missas que foram profanadas: uma nos EUA e outra no Canadá. Na

primeira, um grupo de ativistas aidéticos interrompeu o sermão do cardeal O’Connor, jogaram as

hóstias no chão e gritaram palavras de insulto. Na segunda, feministas entraram na catedral de

Montreal e picharam slogans pró-aborto e espalharam preservativos pelo templo. No entanto, ambos os

casos tiveram pouca repercussão na mídia, o mesmo não teria acontecido caso uma sinagoga tivesse

sido invadida durante a celebração no dia do Yom Kippur, que logo seria taxado como “terrorismo” e

“crime odioso”.

O grande problema da abundância da retórica anti-católica está na ausência do reconhecimento

como sendo um problema social. Na mídia, o catolicismo é tema de sátiras, em vários filmes e

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programas de TV atacam opiniões, doutrina e líderes católicos. É legítima liberdade de expressão,

sátiras e brincadeiras que fazem parte da história americana. Mas o mesmo tipo de tolerância não se

aplica quando outras figuras estão envolvidas. Dar um tratamento cômico à Virgem Maria e ao papa

João Paulo II não tem a mesma reação ao se criticar a imagem de Martin Luther King ou Mathew

Shepard, o estudante gay que foi morto em 1998.

Na opinião pública, um discurso misógino, anti-semita ou homofóbico daria o que falar por anos,

podendo até destruir uma carreira pública. No entanto, o mesmo não acontece quando o alvo é o

catolicismo. Peter Viereck descreve o preconceito católico como sendo “o anti-semitismo dos liberais”.

Pouco se é lembrado dos milhões de católicos que foram mortos por nazistas ou daqueles que foram

perseguidos pelos regimes comunistas devido a sua fé. Enquanto o anti-semitismo é mundialmente

condenado, o anti-catolicismo é amplamente tolerado.

Uma das formas do anti-catolicismo é o anti-clericalismo. Em alguns países, historicamente,

padres e bispos ocuparam um lugar de destaque na ordem política e social, o que fez com que fossem

os primeiros alvos do descontentamento popular. No imaginário anti-clerical, o clero é frívolo, hipócrita,

formado por déspotas megalomaníacos. E, obviamente, um católico pode ser anti-católico. Um exemplo

foi o monge Martinho Lutero. O mais visível grupo que combate as diversas formas de desrespeito à fé

católica é a Liga Católica pelos Direitos Civis e Religiosos (Catholic League for Religious and Civil Rights),

inspirado na Liga Judaica Contra a Difamação (Jewish Anti-Difamation League). Sempre que uma figura

vai à público com um discurso preconceituoso, a Liga Católica protesta veementemente.

Nos anos 80, foram aprovadas leis em campi universitários que limitavam o direito de se criticar

certas minorias, em especial mulheres e minorias raciais. Entretanto, católicos têm recebido bem menos

proteção que outros grupos, como nos casos das profanações das catedrais de Nova York e Montreal.

Essas leis, ou a aplicação delas, simplesmente não reconhece o anti-catolicismo como um problema

social. A questão é que para muitas pessoas nos EUA – particularmente para os formadores de opinião

na mídia de massa e no mundo acadêmico -, o catolicismo não precisa do mesmo tipo de proteção que

outras religiões necessitam. Muito pelo contrário, para muitos observadores, o catolicismo,

especialmente a Igreja como organização, em si é um problema que se opõe ao progresso.

O conflito religioso é mais antigo, o anti-catolicismo tem sua origem nos anos 1850 e 1920, onde

muitos se opunham à imigração em massa e aos novos grupos que se estabeleciam no seio da sociedade

americana. No entanto, o anti-catolicismo moderno se difere do antigo por ser liberal/esquerdista.

Especialmente por grupos feministas e ativistas gays. Apesar dos novos imigrantes serem latinos e

asiáticos, católicos em sua maioria, o anti-catolicismo contemporâneo não se dirige contra os católicos

individualmente ou como grupo, mas contra as idéias e ensinamentos da Igreja.

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Capítulo 2: Capítulo 2: Capítulo 2: Capítulo 2: A ameaçA ameaçA ameaçA ameaça católicaa católicaa católicaa católica

O catolicismo foi visto como algo anti-americano. Já no século XIX, os americanos acreditavam

que seu país fazia parte da providência divina, criticar a fé católica fazia parte do discurso, onde a Igreja

era vista com a “Grande Babilônia”. No entanto, muitas dessas idéias ainda sobrevivem através de seus

preconceitos. Podemos encontrar na própria Inglaterra protestante a origem desse pensamento, onde o

catolicismo era visto como uma força estrangeira que se opunha à liberdade (“conspiração jesuíta”).

Essa herança inglesa fez com que muitos americanos vissem que a América como incompatível com o

catolicismo e o catolicismo incompatível com a América. No século XIX e início do XX, as grandes

imigrações de católicos irlandeses, italianos, eslavos e alemães para as grandes cidades industriais só fez

aumentar a idéia de que os americanos deveriam competir por empregos com católicos estrangeiros

sem nenhuma assimilação com a América.

A partir dos anos 40, a esquerda americana passou a se opor ao catolicismo. A fé católica era

vista como um apoio a regimes fascista como o de Hitler e Franco. Também a oposição da Igreja à

maçonaria fez com que maçons se tornassem críticos ferozes da Igreja. Outra questão que incomodou

esquerdistas foi a ajuda financeira dada às igrejas paroquiais católicas, já que, em algumas regiões,

católicos eram uma parte considerável da população.

Católicos sempre tiveram liberdade política, desde que primeiro se vissem como filhos da

América. Para muitos, parece difícil que um católico possa servir um Estado estando primeiro submisso

aos ensinamentos de sua fé. Isso se intensificou num país como os Estados Unidos, de forte raiz

protestante, especialmente pelos católicos não se definirem como igreja, mas como a Igreja.

A questão sexual também é alvo do anti-catolicismo. Vida em família, sexualidade e relações de

gênero são vistos com desconfiança quando colocadas sob a ótica católica. No século XIX, o

confessionário foi muito atacado como sendo o local onde um sacerdote tem a oportunidade de seduzir

uma mulher casada ou uma jovem moça. Muitos protestantes acreditavam que a Igreja era hipócrita e o

celibato só servia para acobertar o comportamento depravado de feiras e padres, ou, também, a

pederastia e a homossexualidade de seus membros. No entanto, muitas dessas idéias sobrevivem no

século seguinte com a temática sexual, sendo sempre explorada pela literatura.

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Capítulo 3: Católicos e LiberaisCapítulo 3: Católicos e LiberaisCapítulo 3: Católicos e LiberaisCapítulo 3: Católicos e Liberais

O sentimento anti-católico só aumentou ao longo do tempo. O próprio preconceito também

mudou. Algo que contribuiu para isso foram as mudanças dentro da Igreja. Se antes exista uma grande

unidade que se posicionava contra a intolerância, as divisões dentro da Igreja reduziram o senso de

confronto entre “católicos” e “não-católicos”, entre “nós” e “eles”. Como conseqüência, muitos dos

argumentos claramente anti-católicos passaram a ter um público também católico, dando à esta

retórica uma grande legitimidade.

Nos anos 60, muitos enxergavam a Igreja como sendo uma força de esquerda. Sua posição em

relação aos direitos humanos, dos negros, dos latinos, uma certa oposição em relação à Guerra do

Vietnã, fizeram com que muitos liberais a vissem como uma aliada, especialmente durante o Concílio

Vaticano II, que era visto como uma força liberalizante. No entanto, pode-se dizer que o ano de 1968

marcou o fim dessa lua-de-mel. Isso se deu pela publicação da encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, que

proibia o uso de métodos contraceptivos. Coincidentemente, no mesmo ano, a URSS invadia a

Tchecoslováquia. Os dois atos foram vistos como formas de totalitarismos. Muitos se perguntaram:

como um bando de velhos celibatários poderiam regular a vida sexual de homens e mulheres comuns?

1968 também foi marcado pelo movimento feminista e, no ano seguinte, pela inserção do

movimento gay. Em todas essas áreas (gênero, identidade sexual, liberalização), a Igreja Católica se

colocou no lado da tradição.

O Mito da Religião de Direita: na década de 70, diante dos avanços de leis que liberavam o

aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, vários políticos e engajados políticos católicos e

evangélicos se aliaram. Pelos próximos vinte anos, liberais e feministas identificaram seus inimigos sob

os termos de “Direita Religiosa” ou “Direita Cristã”.

Indiretamente, a Igreja Católica sentiu o caso político de Watergate. Na época, a imprensa viu

uma grande teoria da conspiração em várias instituições políticas. O Vaticano nunca foi visto como uma

instituição sinistra, porém, as coisas mudaram em 1978. Com a eleição do patriarca de Veneza Albino

Luciani como João Paulo I e seu falecimento um mês depois e a eleição de João Paulo II, sua morte

passou a ser o foco de uma teria da conspiração. A tese era de que Luciani teria sido assassinado por

querer realizar reformas liberais na Igreja. Críticos do novo papado (o de João Paulo II), tido por

conservador, abundaram, e grupos considerados tradicionalistas, entre eles o Opus Dei, passaram a ser

o centro de uma elaborada teria da conspiração. A falência do Banco do Vaticano, em 1981, só fez

aumentar o clima de desconfiança e toda uma literatura onde prelados eram retratados como

desonestos e corruptos começa a aparecer, como no filme O Poderoso Chefão III.

No entanto, a oposição por parte da mídia não seria tão abertamente expressa se as

transformações na Igreja não tivessem ocorrido. Antes de 1965, o conceito de fé católica era

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estritamente definido e claro. Durante os anos 60 e 70, um grande número de católicos dissidentes

surgiu, formando um grande grupo de pressão que francamente criticava a hierarquia católica, com

discursos liberais sobre gênero, sexualidade e moralidade individual. Nos anos 80, observadores

chegaram a chamar esse conflito de “Guerra civil católica”. Os próprios católicos estavam usando agora

a tradicional linguagem anti-papal, utilizando termos como Roma e Vaticano como símbolo da reação e

ignorância, questionando os posicionamentos católicos sobre concepção, aborto e celibato. A mídia

secular aproveitou sem escrúpulos essas oposições.

Seria fácil reconhecer uma igreja católica na década de 30: muitas imagens de santos, da Virgem

Maria e do Sagrado Coração de Jesus. No entanto, a partir da década de 60, cada vez mais se

abandonou a utilização de imagens e devoções, e as igrejas passaram a se parecer muito com

construções protestantes. Aquilo que diferenciava o católico do protestante foi sendo abolido, como a

Eucaristia, onde pesquisas recentes demonstram que muitos católicos americanos acreditam que seja

apenas uma representação do corpo de Cristo, e não o próprio Cristo, como diz a doutrina da Igreja.

Diante da ênfase no laicato, muitos passaram a rejeitar a figura do sacerdote, principalmente no

Sacramento da Confissão. Como conseqüência das deturpações dos ensinamentos do Concílio Vaticano

II, houve uma grande queda de ordenações sacerdotais e uma grande deserção por parte de sacerdotes

que abandonaram a batina para se casarem. Atualmente, existem mais padres na casa dos 90 anos de

idade que na dos 30. A vida religiosa feminina também passou por mudanças; muitas mulheres, diante

das mudanças sociológica, rejeitaram o ideal de celibato e clausura. Hoje, existem cem mil freiras a

menos nos EUA do que a 40 anos atrás.

As escolas e universidades católicas sempre foram locais que primavam pela cultura católica. No

entanto, com o passar dos anos, foram reivindicando cada vez mais uma maior autonomia acadêmica

em relação ao Magistério católico. Professores liberais e vozes que destoam das posições da Igreja eram

cada vez mais tolerados nas universidades católicas americanas.

Pouco depois da publicação da encíclica Humanae Vitae, o prestigiado teólogo americano Charles

Curran escreveu que católicos não deveriam obedecer ao pronunciamento papal. Suas opiniões foram

corroboradas por centenas de padres e educadores católicos. Outros grupos de pressão que se

denominavam católicos também se pronunciaram contra o documento. Como um ponto de vista pode

ser anti-católico se o próprio grupo se diz católico, tem a palavra “Católico” no nome e inclui em suas

fileiras de membros padres e freiras? Mudanças na Igreja americana fizeram com que se separasse a

hierarquia católica dos católicos comuns.

O conflito extrapolou as fronteiras da Igreja, em parte porque muitos acreditavam que estava em

jogo os fundamentos da liberdade acadêmica. Por outro lado, a Igreja insistiu que teólogos se

alinhassem aos ensinamentos do Magistério para poder lecionar teologia em institutos religiosos.

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Curran estava no centro desse debate. Uma parte extensiva da intelectualidade católica apoiou o

dissidente, incluindo alguns dos mais renomados teólogos. A “Guerra Curran” foi travada em plena

mídia secular, nos jornais e comentários televisionados, sempre apoiando a dissidência contra seus

superiores clérigos.

Quando uma crítica ou ofensa se destina à um bispo ou cardeal, muitos católicos não tomam

aquilo como ofensa pessoal. Quando o ataque se destina à questões de gênero e sexualidade, uma boa

parte verá nas críticas um reflexo de seu pensamento.

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Capítulo 4: A Igreja odeia as mulheresCapítulo 4: A Igreja odeia as mulheresCapítulo 4: A Igreja odeia as mulheresCapítulo 4: A Igreja odeia as mulheres

Recentemente, em muitas ocasiões, as críticas feministas estão estritamente ligadas ao anti-

catolicismo. A Igreja é vista como uma organização retrógrada, o papa João Paulo II foi descrito pela

auto proclamada feminista católica Joanna Manning como alguém que “tem promovido o sexismo num

nível de culto na Igreja”, onde a sansão e a discriminação da mulher são incentivados.

Para observadores com perspectiva histórica, falar que a Igreja é contra as mulheres chega ser

absurdo. Um dado visível é o grande culto que a Virgem Maria recebeu ao longo da História. Assim

como diversas santas da Igreja.

A posição tradicional do catolicismo providenciou uma arma importante para feministas e

reformistas liberais. Para feministas ou ativistas gays, a oposição é genericamente atribuída ao

estereotipo “Direita Religiosa”, um termo popular que conota ignorância, ser reacionário e hipócrita.

Como os líderes da Igreja são todos homens e o fato da instituição se recusar a ordenar mulheres,

parece ser uma forma de continuar a supremacia masculina enquanto que outras instituições sociais

abandonaram tal situação há décadas. Para as feministas, o anti-catolicismo é uma estratégia eficaz para

aumentar a ideologia no debate público.

O debate sobre o controle de natalidade: na América moderna, a suposta atitude da Igreja de ser

contra a mulher está frequentemente ilustrada na sua condenação à contracepção e ao aborto. As

atitudes católicas são mais distinguíveis porque a Igreja é, atualmente, a única grande religião ou corpo

cultural na América do Norte que se opõe à idéia de controle natalício (a visão católica sobre o aborto é

mais compartilhada).

A oposição da Igreja é vista como uma forma de escravizar os católicos subordinando o mais

íntimo de suas vidas ao controle do clero e da hierarquia. Outro fato que fez com muitos vissem a Igreja

como equivocada no que diz respeito à contracepção, foi o fator de superpopulação, e a Igreja, ao se

opor, estaria colocando em risco a sobrevivência humana.

A pílula contraceptiva popularizou o controle de natalidade nos anos 60, colocando a mulher

como sujeito do controle social. Um choque foi tomado com a encíclica Humanae Vitae, que foi

colocada pela mídia como um insulto às mulheres. Com o passar dos anos, o controle natalício foi sendo

cada vez mais aceito, fazendo com que os ataques das feministas fossem amplamente bem recebido,

especialmente pelos leigos católicos.

Aborto: mais uma vez aqui a Igreja é vista como inimiga da vida e da saúde das mulheres.

Durante muito tempo, ser contra o aborto era quase um consenso: todos o viam como um assassinato.

No entanto, tal visão começou a mudar nos anos 50, quando, nos EUA, tornou-se legal abortar em casos

de estupros, incesto e má formação do feto. A reivindicação foi sendo ampliada com os anos,

especialmente nos anos 60. Em 1973, três ativistas pró-aborto fundaram as Católicas Pelo Direito de

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Decidir (Catholics for Free Choice). Em oposição, a Conferência dos Bispos dos EUA lançaram, em 1974,

a Marcha anual pela Vida. Mais uma vez, o fervor religioso que se opõe ao aborto libera as abortistas a

se apresentarem como uma autêntica reivindicação social, advogadas de uma causa popular, da

liberdade individual e pelo secularismo público.

Ordenação de mulheres: nos anos 60, o movimento feminista conseguiu grande sucesso

removendo obstáculos estruturais no trabalho e no Estado. Nos anos 70, era de opinião comum o

pensamento de que “mulheres são inferiores” é que fazia com que fossem excluídas de altos postos nas

instituições. Gradualmente, muitas confissões cristãs passaram a permitir que mulheres fossem

ordenadas como clérigas ou episcopesas. No entanto, a Igreja Católica não se rendeu à pressão, mesmo

com o surgimento da Women’s Ordenation Conference (Conferência das Mulheres Ordenadas) e dos

resultados de pesquisas que mostravam um amplo percentual de americanos católicos que apóiam a

ordenação feminina.

O que livrou os católicos americanos de seguir denominações liberais do protestantismo foi a

dimensão global do catolicismo, o fato de sua autoridade residir em Roma e no papado. Em 1977, uma

comissão papal decidiu que o sacerdócio masculino representava a clara intenção de Cristo e da Igreja

primitiva. As decisões da Santa Sé fizeram com que católicas feministas radicalizassem seu discurso,

disseminando suas idéias em encontros, conferências, eventos, muitos desses promovidos por

instituições católicas. Diante do conflito, a Igreja foi taxada de antidemocrática, alienada política e

culturalmente, e, acima de tudo, misógina.

Guerra de Culturas: os ataques das feministas católicas se disseminaram já que eram pessoas

que se auto titulavam católicas. Em 1984, Geraldine Ferraro, católica, ao se candidatar, colocou suas

posições abortistas na pauta de sua campanha e foi criticada pela hierarquia da Igreja, que cobrou

coerência em suas opiniões. O jornal The New York Times publicou numa matéria uma crítica aos bispos

como se impusessem uma visão religiosa aos seus políticos. A linguagem sugeria que políticos católicos

podem ser tolerados desde que não tenham uma visão tão entusiástica de sua religião. A controvérsia

sobre o aborto foi publicada na forma de uma declaração da CFFC no The New York Times advertindo

que “a diversidade de opinião existe dentro do catolicismo”, o documento era assinado por freiras e

religiosos (o “Vaticano 24”).

A polarização ajuda a explicar a profunda hostilidade ao Vaticano, o que ficou evidente na

metade dos anos 90. No século XIX, o Vaticano era especialmente odiado por ser um Estado soberano,

fazendo com que os católicos estivessem vulneráveis como se estivessem numa lealdade divida: a pátria

original ou a espiritual. Durante os anos 1990, estes temas políticos estavam extremamente evidentes

devido a participação da Igreja em conferências e congressos internacionais que tratavam das mulheres,

o que naturalmente abordou questões como controle populacional, métodos contraceptivos e aborto.

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Em 1994, na conferência que ocorreu no Cairo, controvérsias surgiram em torno da expansão

populacional e contracepção, o que serviu de veneno para a plataforma anti-católica, com feministas

retratando a Igreja como a grande inimiga do progresso mundial e das mulheres, onde o papa e bispos

eram retratados em charges como fanáticos islâmicos.

Católicas Pelo Direito de Decidir: a organização CFFC tem muitas vezes servido de foco para

protestos feministas contra a Igreja, tornando-se o grupo com voz pública mais anti-católica. Para

muitos, se o próprio nome já soa como um absurdo, já que a o catolicismo declarou sua fundamental

oposição ao aborto, qualquer um que o defenda não se pode intitular católico. Sempre muito ouvidas

pela mídia, as CFFC é apresentada ao público como um grande grupo de pressão católico, de forma

respeitosa e simpática, como expoentes críticos liberais das posições da Igreja, enquanto que a própria

Igreja é apresentada como reacionária. A mídia, de maneira geral, tem aceitado de forma ampla o

discurso da CFFC como sendo o de milhões de liberais ou católicos esclarecidos que se opõem ao

obscurantismo da liderança católica.

Olhando para a Igreja das mulheres: Nos anos 70, feministas passaram a publicar trabalhos

acadêmicos onde colocavam sua visão de mundo, fazendo disso uma plataforma anti-católica e também

anticristã. Principalmente nas áreas de História e Estudos das Religiões. Estes estudos apresentavam o

machismo não somente como o resultado de preconceitos pessoais de líderes católicos e homens da

Igreja, mas como algo construído na estrutura da religião. A Igreja foi acusada de silenciar mulheres,

especialmente durante o cristianismo primitivo. Alegam que Jesus havia sido um protofeminista,

especialmente ao venerar Maria Madalena. No entanto, seus ensinamentos teriam sido deturpados por

São Paulo, dando uma visão machista e homofóbica. O apóstolo teria imposto sua visão obscura e

repressiva à Igreja nascente. Esta seria na realidade, uma conspiração patriarcal para reprimir as

mulheres, especialmente através do celibato e da autoridade papal.

A Era da Fogueira: Uma lenda que muitas feministas gostam de propagar é a da papisa Joana.

Segundo a lenda, uma mulher vestida de homem, teria sido eleita para papa e deu à luz a um filho numa

procissão. A lenda era uma piada de mau gosto criada no século XIII e mais tarde propagada por

protestantes como forma de invalidar a sucessão apostólica dos católicos. A história servia de pretexto

para mostrar a suposta hipocrisia da Igreja e reivindicar a ordenação de mulheres.

Entre outros crimes, a Igreja é acusada de ser culpada pelo massacre de milhares de mulheres

acusadas de bruxaria durante a “Era da Fogueira”, uma espécie de holocausto feminino. Alguns ativistas

acusam ser 9 milhões o número de vítimas; porém, historiadores argumentam que tenham sido menos

de mil ao longo de muitos séculos. De acordo com muitas versões da teoria da Era da Fogueira, muitas

das executas eram membros de antigos cultos pagãos, e o papa acabou por dar a “solução final”. Assim,

a moral católica é vista como uma continuação das perseguições que se deram no passado.

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Capítulo 5: A Igreja mata gaysCapítulo 5: A Igreja mata gaysCapítulo 5: A Igreja mata gaysCapítulo 5: A Igreja mata gays

Como a Igreja se coloca visivelmente contra a maioria das causas gays, isso se tornou um símbolo

de opressão, mas também de hipocrisia. Como a mídia tem se tornado cada vez mais simpática à causa

gay, a retórica anti-católica se tornou cada vez mais usual. Como disse o autor Andrew Sullivan, “a

maioria dos mais virulentos anti-católicos são gays”.

Igreja e homossexualidade: No Antigo Testamento, muitas passagens condenam as relações de

pessoas do mesmo sexo. Também nas Epistolas de São Paulo, homens que se relacionam com homens e

afeminados não entrarão no Reino dos Céus. Presume-se que essa também tenha sido a posição da

Igreja primitiva.

A oposição tradicional da Igreja em relação à homossexualidade acabou por gerar conflitos com

movimentos pelos direitos dos gays, que começou nos anos 60 e ganhou força na América entre os anos

80 e 90. Neste período, o movimento gay mudou substancialmente, passando da luta contra o

preconceito à uma busca pela igualdade entre as relações heterossexuais. No novo clima social,

qualquer sentimento que discordasse das reivindicações homossexuais seriam vistas como um

problema social. Legisladores passaram a restringir o sentimento anti-gay e suas palavras. A

aceitabilidade social pode ser vista nos filmes produzidos a partir da década de 80, onde gays são

retratados de forma positiva e os personagens que têm uma posição contrária aos homossexuais são

vilões cuja homofobia é normalmente expressão de uma psicose e obsessão religiosa.

Diante da problemática, algumas igrejas protestantes passaram a aceitar clérigos gays e a tratar

a condenação bíblica da homossexualidade como sendo algo do mundo antigo, assim como as

passagens da Bíblia que tratam da escravidão ou dos relatos que revelam uma visão pré-copernica do

sistema solar. Para esses grupos, relativizar a moral não é trair a fé fundamental. No entanto, dois

grandes grupos tradicionais na América do Norte rejeitaram a proposta de mudar seus ensinamentos

diante da revolução de atitudes. Uma foi a vertente evangélica ou fundamentalista do protestantismo,

que baseia seus valores nas Escrituras. Outro corpo religioso foi a Igreja Católica, baseada na Tradição e

nas Escrituras.

Nos Estados Unidos e na Europa, alguns teólogos foram silenciados desde os anos 60 por

adotarem uma postura tão liberal quanto algumas denominações cristãs. Um exemplo foi o grupo

“Dignidade”. Fundado pelo sacerdote jesuíta John McNeill, que foi silenciado pelo Vaticano em 1977, o

Dignidade se tornou influente nos escritos sobre homossexualidade. Com o papado firme de João Paulo

II, em 1986, a Igreja ordenou a McNeill a desistir de ministrar para o público gay, sob pena de ser

expulso da Companhia de Jesus, o que ocorreu no ano seguinte. Também no mesmo ano, o Dignidade

foi proibido de operar nas igrejas, uma prática que dava a impressão de que o grupo operava com

aprovação oficial.

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A Igreja é fortemente marcada pela obediência e, como uma instituição global, não segue

tendências particulares de uma determinada sociedade, clamando seus conceitos na concepção universal da

Lei Natural. Para a fé católica, a tendência homossexual em uma pessoa não é um pecado em si, no entanto,

a inclinação à pessoas do mesmo sexo é uma desordem. Ao mesmo tempo, condena qualquer tipo de

perseguição anti-homossexual ou violenta.

Uma área em que a Igreja se tornou mais controversa do que os evangélicos, é na questão dos

preservativos. Por ser contra o uso da camisinha sob qualquer hipótese, e, por pregar a castidade e a

abstinência, diante da contaminação de AIDs nos anos 80, a hierarquia católica passou a ser acusada de se

opor aos princípios básicos de higiene, contra a saúde, impondo um dogma irracional que custaria a vida de

milhares de pessoas.

O papa, junto com outros clérigos, são amplamente demonizados pelo público gay e feminista. Com a

vinda de João Paulo II aos Estados Unidos, protestos em Denver o aclamaram como “o maior homofóbico do

mundo”. Também o cardeal de Nova York, John O’Connor, era descrito como um “canibal gordo”. Sua morte,

em 2000, foi comemorada em um jornal lésbico.

Impedindo a Igreja: Mais sério que figuras gays carnavalescas que desrespeitam símbolos católicos

em paradas gays é o ataque frontal com a Igreja, em que as autoridades católicas são denunciadas

literalmente como assassinos. Assim como o movimento feminista, o veneno do anti-catolicismo gay deve

ser entendido em seu contexto de tática de retórica. Essencialmente, o movimento gay enfatiza diretamente

suas reivindicações como necessidades urgentes, uma forma de autodefesa. A mensagem é que os direitos

gays não são uma opção, mas algo essencial para salvar vidas. Enfatizar os crimes de ódio e a Aids, onde

vidas correm riscos. Políticas que vão contra suas idéias são vistas como inimigas e culpadas pela morte e

pelo ódio. O discurso é de que a opinião anti-homossexual não é somente errada e preconceituosa, mas

também nociva. Dessa forma, o Vaticano é visto como um incentivador da descriminação. Se alguém

acredita que a religião católica ou os ensinamentos morais estão tão intimamente envolvidos com a

violência, então, por mais conflituosos ou violentos que sejam, os protestos contra a “homofobia” são

justificados como uma forma de conter a violência e forma de autodefesa.

Diante das controvérsias de protestos contra o desrespeito de peças teatrais e outras manifestações

que desrespeitam a fé cristã, os argumentos nunca são vistos como legítimos, e o ato de protestar é visto

como manifestação de fanatismo cristão.

Como forma de invalidar o discurso que se opõe à luta gay, todo argumento contra é taxado de

homofóbico. E para ser homofóbico, sugeri-se que é um ódio a si mesmo, concluindo que todo homofóbico é

no fundo um homossexual que não se aceita. Se líderes religiosos se opõem à homossexualidade,

logicamente, é provavelmente uma contradição interna. Para Mark Jordan, autor do livro “O silêncio de

Sodoma”, “os maiores homofóbicos são clérigos que são gays”.

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Capítulo 6: Católicos e a Mídia de NotíciasCapítulo 6: Católicos e a Mídia de NotíciasCapítulo 6: Católicos e a Mídia de NotíciasCapítulo 6: Católicos e a Mídia de Notícias

Ao contrário de 50 anos atrás, temas anti-católicos estão amplamente presentes na cultura e

mentes populares. Para jornais e revistas, para a televisão e filmes, para maioria de livros publicados, a

Igreja Católica tem sido grosseiramente estereotipada como uma pública vilã.

Silenciando teólogos: A mídia tem demonstrado um forte ânimo contra a Igreja Católica quando

se trata de atitudes que regulem clérigos e professores que expressam opiniões contrárias à Doutrina.

Esses casos têm ocorrido com freqüência desde os anos 70. Ficou claro no caso do teólogo Charles

Curran, suspenso de ensinar teologia em 1986. Ao reportar o caso, Curran era retratado como um

dissidente, alguém que resistia à tirania. Por outro lado, as atividades da Igreja eram taxadas de

inquisitoriais e perseguidoras, onde disciplinar alguém lembrava o caso Galileu, ganhando a simpatia do

público pelo herói dissidente. A utilização da palavra ortodoxia indica intolerância e fanatismo e, no

contexto popular, heresia sugere independência de pensamento contra a obediência convencional.

Guerra das Artes: Grande parte da hostilidade da mídia ao catolicismo se tornou evidente com

controvérsias em torno das artes visuais, particularmente em torno de exibições denunciadas como

blasfemas e anticristãs. Qualquer exposição que atinja a sensibilidade católica é automaticamente

defendida como expressão artística e condenam-se as críticas feitas.

Muitos artistas têm por objetivo chocar o público com seus trabalhos artísticos e, inúmeras

vezes, chegou-se a criar trabalhos que desrespeitam grupos políticos e raciais, o que gerou protestos por

parte do público. Quando isso aconteceu, a mídia deu grande importância e as instituições artísticas que

expunham seus trabalhos tiveram que retirar as obras sem grandes problemas. O mesmo aconteceu

com uma exposição de ossos que pertenceram à indivíduos de tribos indígenas, expostos e considerados

um ato ofensivo para vários grupos nativos. Mais uma vez, a exigência foi atendida: a exposição foi

desfeita. Diante de tantas controversas, podemos concluir que o único grupo que não se encontra

protegido são os católicos.

Quanto mais os católicos protestarem contra o desrespeito à suas crenças, mais a mídia

apresenta o artista como um herói. Organizadores de exibições têm um vasto interesse nessa

publicidade controversa ao criarem exibições polêmicas; estariam perdendo muito se grupos religiosos

ignorassem a provocação. A aplicação das críticas é que seria cinicamente uma vantagem política (da

“Direita Cristã”), contra os defensores da liberdade artística.

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Capítulo 7: Capítulo 7: Capítulo 7: Capítulo 7: “O pervertido caminha no Sacramento da Perversão” A crise dos padres pedófilos“O pervertido caminha no Sacramento da Perversão” A crise dos padres pedófilos“O pervertido caminha no Sacramento da Perversão” A crise dos padres pedófilos“O pervertido caminha no Sacramento da Perversão” A crise dos padres pedófilos

A longa hostilidade da mídia americana ficou claramente expressa em 2002, com aquilo que

ficou conhecido na nação como crise dos “padres pedófilos”. Até respeitáveis noticiários retrataram o

sacerdócio como estando infestado de pervertidos e molestadores infantis, tendo superiores e bispos

como cúmplices. Foi uma oportunidade para revisar antigos estereótipos anti-clericais e anti-católicos.

Algumas autoridades eclesiásticas responderam de maneira insatisfatória ao problema do abuso.

No entanto, a reação contra o clero veio de maneira desproporcional, sugerindo a existência de uma

criminalidade permissiva, que só pode ser entendida à luz do acúmulo de preconceitos, especialmente

quando se trata sexualidade e gênero. Com o anúncio do escândalo, dando um caráter totalmente

sensacional ao caso, o jornal The Boston Globe, colocou um telefone disponível para denunciar padres

pedófilos. Todo sacerdote passou a ser visto como um pedófilo, a hierarquia como uma rica e corrupta

instituição com o objetivo de encobrir os casos de abuso. Sair na rua de hábito clerical era se expor à

insultos públicos.

Quantos padres?: Um observador casual da mídia teria a impressão de que a Igreja é uma

instituição ligada a perversão, conspiração e criminalidade. A crise permitiu que o imaginário anti-

católico viesse à tona.

Outra questão foi a manipulação dos números de padres envolvidos em pedofilia. Alguns

chegaram a dizer que 18% do clero americano havia se envolvido com menores, enquanto que estudos

mais sérios apontavam para 1 ou 2%. Mesmo assim, nem todos os menores eram propriamente

crianças, já que muitos eram adolescentes.

Um problema católico?: Contradizendo o pensamento usual, não existe nenhuma evidência que

clérigos tenham uma maior tendência ao abuso do que grupos não-clericais que têm um contato com

crianças como professores, escoteiros, supervisores de colônias de férias. Mesmo olhando para o clero

total, o número de sacerdotes católicos não é menor (ou maior) do que entre pastores batistas,

mórmons, budistas, testemunhas de Jeová, devotos de Hare Krishna. No entanto, quando um caso não-

católico vem à tona, é tratado pela mídia como caso isolado, não como um problema institucional.

Nos últimos anos, tem sido retratado em livros, histórias e romances de jovens homossexuais

que iniciaram a sua vida sexual com professores do mesmo sexo. As obras são descritas como uma

“história de um amor gay” ou “o caso de um primeiro amor e iniciação sexual”. Normalmente, os jovens

retratados têm entre 16 e 18 anos e se envolvem com pessoas mais velhas. A questão é que, nesses

casos, não são usadas as palavras “molestado”, “pedofilia” ou “estupro infantil”. No entanto, ao relatar

o caso de padres com jovens da mesma idade, a mídia passa a utilizar de um vocabulário moralista em

que o sacerdote é o pederasta e o jovem é a vítima.

A mídia e os padres pedófilos: Uma charge num jornal de New Jersey trazia a mensagem de que

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terroristas, por sua natureza, atacam cidades; padres atacam crianças. Segundo a psiquiatria, um

sacerdote que abusou de um adolescente mais velho, pode ser tratado com sucesso com menor risco de

reincidência, portanto, o retorno à um paróquia não é uma decisão irresponsável. O fato da diocese de

Boston ter atuado de forma deplorável no caso do padre Geoghan (sacerdote que, ao longo de décadas,

abusou de crianças na várias paróquias em que atuou) não quer dizer que outras dioceses tenham agido

de forma desonesta ao enviarem outros padres ao serviço paroquial: algumas vezes foi uma atitude

errada, ouras vezes não. Seria injusto concluir que padres católicos sejam propensos à pedofilia e que

seus superiores são irresponsáveis como foi mostrado pela mídia americana.

Igualmente duvidosa é a ligação entre a má conduta de clérigo e o celibato, o que também foi

comum nas reportagens. A imagem do padre pedófilo é uma forte arma nas mãos de feministas,

abortistas, grupos gays ou qualquer um que se opõe aos ensinamentos da Igreja no que diz respeito a

moral e família.

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Capítulo 8: Católicos nos filmes e na televisãoCapítulo 8: Católicos nos filmes e na televisãoCapítulo 8: Católicos nos filmes e na televisãoCapítulo 8: Católicos nos filmes e na televisão

Não é de se surpreender que o catolicismo tenha recebido um tratamento hostil nos filmes e na

televisão. Vários estudos foram feitos de como minorias são retratadas na cinematografia como latinos,

nativos americanos, asiáticos, homossexuais, judeus e assim por diante. Entretanto, católicos têm sido pouco

estudados, o que é contraditório com o grande número de imagens existentes nos últimos vinte anos. Nos

anos 40, o clero era retratado de maneira heróica e por grande atores como Gregory Peck e Spencer Tracy.

No entanto, com os debates dos anos 60, a imagem do catolicismo foi sendo mudada.

Desde o começo dos anos 80, católicos têm denunciado filmes e programas de TV por conteúdo anti-

católico. Em alguns casos, a charge era indiscutivelmente prejudicial, enquanto outras vezes, seria mais

questionável. Uma boa sátira não deixa de ser uma forma de debater posições extremas. Como disse G. K.

Chesterton, “um bom teste é saber se você faz uma piada sobre sua fé”.

Enquanto existe a grande preocupação de não ofender negros ou americanos nativos por parte de

Hollywood, o mesmo não acontece com o catolicismo. Em 1998, quando o filme The Siege mostrou a cidade

de Nova York sendo tomada por terroristas árabes, os produtores fizeram uma política junto a americanos

árabes e grupos islâmicos. No entanto, nada acontece quando se faz um filme sobre o catolicismo. Qualquer

consulta a autoridades católicas seria visto como uma forma de cesura e uma grosseira interferência da

religião na expressão artística.

Na televisão, shows de comédia também apresentam uma imagem anti-católica e estereótipos anti-

clericais. Mais uma vez, sacerdotes são apresentados como depravados sexuais. No seriado South Park, no

episódio “Grande Gay” foi dito: “uh-oh, olhe em volta, todos opressores: cristão, republicanos e nazistas”.

Um programa de 1979 que exemplifica bem o preconceito existente é o “Sister Mary Ignatius Explains

It All to You” (“Irmã Maria Ignatius Explica Tudo para Você”), que recebeu grande atenção ao ser reprisado

na TV à Cabo em 2001. Na primeira parte, irmã Mary (interpretada por Diane Keaton) apresenta respostas

sobre fé, família, universo, pecado, sempre parodiando os aspectos da religião católica. Catolicismo, como é

sugerido, é para estúpidos, imaturos emocionalmente, repressores e fanáticos. Irmã Mary não acredita num

Deus “tolerante” e não entende a razão não ter aniquilado as “Sodomas modernas” (Nova York, San

Francisco e Amsterdã). Sua família inclui vinte e três irmãos, alguns padres e freiras e outros que são insanos

ou com retardamento mental. Sua mãe “odiava criança pequena, mas não podia fazer controle de

natalidade”. Na história, estudantes denunciam a freira por destruir suas vidas. Entre eles estão um

homossexual, uma mulher que havia abortado e uma mãe solteira. A mensagem é de que estes pecadores

são mais éticos, melhores seres humanos que a religiosa. O programa chegou a ganhar prêmios e foi

reprisado pelo canal diversas vezes. Críticos sugeriram que apenas os hipersensíveis é que não poderiam

assistir ao programa, elogiando o tipo de humor ali adotado. O caso “Sister Mary” nos faz questionar a razão

de se legitimar ataques ao catolicismo e reprovar quando se ataca raças, classes sociais ou grupos.

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Capítulo 9. Lendas Negras: Reescrevendo a História da IgrejaCapítulo 9. Lendas Negras: Reescrevendo a História da IgrejaCapítulo 9. Lendas Negras: Reescrevendo a História da IgrejaCapítulo 9. Lendas Negras: Reescrevendo a História da Igreja

Desde a Reforma Protestante, a escrita da História se tornou talvez a mais forte arma do arsenal

anti-católico. As supostas atrocidades e distorções têm se tornado best-sellers: Cruzadas, Inquisição, os

Borgias e Pio XII envolvem mais do que eventos específicos ou individuais; trata-se da memória coletiva

que evoca um profundo e hostil imaginário sobre o catolicismo.

Quando se comenta sobre supostos horrores do passado da Igreja, não estão interessados na

história eclesiástica, mas em polemizar. O historiador do início do século XVIII Edward Gibbon, ao

escrever os horrores da superstição monacal e da brutalidade das Cruzadas, estava tentando

desacreditar os sacerdotes de seu próprio tempo. Hoje, podemos observar o mesmo em debates sobre

moralidade e sexualidade.

Muitos dos autores da literatura anti-católica se definem como católicos, e que suas críticas têm

o objetivo de ajudar a Igreja. No entanto, as conseqüências dessas publicações são grandes. Quem

chega numa livraria e vê tantos títulos acusando a Igreja de atrocidades na conquista do Novo Mundo,

durante o Holocausto, acredita que o catolicismo carrega o peso da culpa por suas atrocidades

históricas.

Mas é preciso fazer uma distinção entre polêmicas e academia. Alguns autores sérios, alguns até

católicos e clérigos, escreveram sobre específicos pontos, como papas não muito santos ou sacerdotes

que almejavam apenas o poder. No entanto, quando o estudo está mais interessado em polêmicas, os

horrores são relatados como parte do sistema do catolicismo, sugerindo que a fé católica é baseada no

horror, na malícia e na violência.

Inimigos da Igreja moderna concordam com seus predecessores do século 19 de que a Igreja

Católica traiu as verdades apontadas por Jesus e seus primeiros discípulos, colocando no lugar práticas

opressivas herdadas do Império Romano. Feministas têm sido ativas nesse processo de reescrever a

história do cristianismo de acordo com suas estratégias ideológicas.

Um mito moderno é de que, um dia, existiu um nobre reformador religioso chamado Jesus de

Nazaré, que pregava a simples mensagem do amor acima de tudo. Porém, seus ignorantes discípulos

foram se afastando da mensagem original do Mestre e acabaram criando estruturas burocráticas. Daí

surge a Igreja Católica, que viveu seu apogeu na Idade Média, exatamente o ponto mais baixo da

civilização humana (“Idade das Trevas”). Para a Igreja, o importante era manter o poder e a riqueza,

custe o que custar. Qualquer pensador independente ou dissidente era tido como herege e passava a

ser vítima das brutalidades da Inquisição. Como resultado, o Cristianismo tolhia qualquer forma de

avanço social e intelectual por um milênio, até que alguns heróis rebeldes resolveram questionar o

monopólio da Igreja, resultando na Reforma, na Renascença e nas revoluções científicas.

O poder dessas mentiras não se encontra em apenas um artigo, mas num acumulativo retrato

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eclesiástico que emerge. E ninguém pode negar que certos fatos são verídicos: a Inquisição existiu, as

Cruzadas ocorreram, grupos de cristãos foram considerados hereges e algumas minorias foram

massacradas.

Outro mito moderno que tem repercutido muito recentemente é a origem do celibato.

Especialmente durante a crise aberta pelos abuso sexual de padres, a mídia noticiou regularmente a

idéia – também encontrada no imaginário popular – de que o celibato é uma imposição ocorrida no

século VII ou no XII, na Idade Média, era de bruxas queimadas, Inquisição e Cruzadas. Quando o termo

“medieval” é usado de forma favorável? Para muitos, as razões para a criação do celibato não são

espirituais, mas sim herança e poder. De acordo com o mito amplamente reproduzido pela mídia, a

Igreja só estava tentando garantir que os filhos dos padres não herdassem as terras.

Sabemos que a obrigatoriedade do celibato não era uma prática da Igreja primitiva. São Pedro

tinha uma sogra, alguns apóstolos viajavam com suas esposas. No entanto, o celibato é bem anterior a

Idade Média, se não, remonta à época dos apóstolos. Tal prática se tornou usual durante o fim do

Império Romano, por volta do século IV. É claro que existiram sacerdotes casados na Idade Média, assim

como encontramos padres molestadores hoje, o que não significa que, em ambos os casos existiu a

aprovação da Igreja.

Outro fato histórico usado para desacreditar o catolicismo são as Cruzadas. Mais uma vez, a

origem do preconceito se encontra no Iluminismo e que os tempos modernos adotaram o discurso. As

Cruzadas estiveram nos noticiários após os ataques terroristas de setembro de 2001, quando jornalistas

fizeram um paralelo com o moderno fundamentalismo islâmico. A sugestão é de que o cristianismo era

o pai do terrorismo moderno. Assim, surge o mito de que a ocupação islâmica era pacífica e respeitava a

pluralidade religiosa; enquanto que o cristianismo recusava qualquer outra religião dentro de seus

territórios. Em alguns locais, os mulçumanos foram realmente respeitosos com a diversidade, já em

outros não; até foram feitos progroms contra católicos e ocorriam conversões forçadas em territórios

ocupados originalmente por sociedades cristãs, sobretudo no Norte da África.

Inquisidores: Um argumento similar pode ser feito quando católicos são ligados à “Inquisição”,

que é apresentada como uma sangrenta polícia secreta. Nunca existiu algo como uma Inquisição de

forma abrangente, algo terrível e unida como NKVD ou Gestapo. É mais real pensarmos em inquisições

operando extensivamente em áreas numa grande descentralização. Algumas inquisições foram

altamente repressivas: a espanhola do período moderno é notória, mas a estrutura pioneira, originária

na França que combateu os hereges do século XIII, foi bem mais moderada.

Também o número das “vítimas da Inquisição” tem sido absurdamente exagerado. Alguns

autores, como o evangélico Dave Hunt, falam em centenas de milhares, outros falam em até milhões de

mortos. O número real é bem mais baixo. As maiores estimativas da inquisição na Espanha é de entre 3

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e 5 mil execuções em um tempo total de 350 anos.

De fato, antes do Iluminismo, todas as tradições religiosas agiram de forma semelhante quando

tiveram o poder de fazer. Sociedades islâmicas e nações protestantes, até as mais liberais como

Inglaterra e Holanda, agiram com violência em determinados períodos. Até mesmo no século XVII –

quando as inquisições estavam no seu auge – o Japão xintoísta/budista se engajava num feroz massacre

contra os cristãos. Em 20 anos, a perseguição religiosa japonesa matou mais que séculos de inquisição

espanhola.

Nesses outros casos, observadores modernos não vêem a violência como parte integral do

sistema religioso. A repressão nesses outros modelos é vista como acidental, esporádica, quando muito

um resultado social de tensões políticas. Acrescentando, regimes ateus secularistas têm sido

responsáveis por muito mais assassinatos do que todas as inquisições católicas somadas.

O papa de Hitler?: Muitos acusam a Igreja de ter sido fundada sobre o anti-semitismo, como se

Cristo e os apóstolos não fossem judeus. Nessa linha, líderes recentes são acusados de preconceito em

relação aos hebreus. Uma grande bibliografia foi editada nos últimos anos ligando a Igreja ao Nazismo,

especialmente a figura do papa Pio XII, pontífice entre 1939 e 1958, enquanto que livros que o defendem

são difíceis de encontrar nas livrarias. O termo “Pio XII” já se tornou um jargão do preconceito como as

“Cruzadas”.

Pio XII reinou num período conturbado da história européia e foi forçado a confrontar tanto

Hitler quanto Stálin. O pontífice denunciou as atrocidades, massacres e deportações em massa. Por

muito anos, existiu o consenso de que Pio XII fez o melhor que poderia ter feito naquela situação.

Sabemos que o papa apoiou espiões secretos contra Hitler e que nazistas planejavam seqüestrá-lo e

levá-lo para a Alemanha.

A oposição do papa a regimes totalitários – junto com sua indubitável piedade – fez com que

ganhasse muitos admiradores. O jornal The New York Times escreveu no Natal de 1941: “A voz de Pio XII

foi uma voz solitária no silêncio e escuridão que envolvem a Europa no Natal”. Pio foi defendido pelo

Comitê de Assistência aos Judeus e, em sua morte, a ministra de reações exteriores de Israel Golda Meir

falou que “quando o martírio veio para o nosso povo na década do terror nazista, a voz do papa estava

ao lado das vítimas”. Durante a perseguição, muitas igrejas serviram de esconderijo aos judeus. Tudo

com a aprovação de Pio XII.

Um silêncio nada santo: algumas das críticas à Pio XII dizem respeito de seu silêncio. No entanto,

durante os anos 30, Pio e o Vaticano acusaram os abusos do Nazismo em termos que nós associaríamos

à Winston Churchill. Em 1935, o cardeal Eugênio Pacelli (futuro Pio XII) publicou uma carta aberta

descrevendo os nazistas como “falsos profetas com a vaidade de Lúcifer”. Também em 1937, escrevia

outra carta onde condenava a “ideologia da raça”. Cópias de suas cartas eram levadas para a Alemanha

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para serem lidas nas igreja, enfurecendo o regime Nazista. Isso pode ser considerado silêncio?

Comparando com as atitudes das democracias do Ocidente na década de 30, Pio seria um herói.

Durante os anos de Guerra, o Vaticano se tornou mais cauteloso. Pio XII sabia que atacar

o Nazismo poderia provocar uma reação ainda maior contra os próprios judeus, contra judeus

convertidos e contra os próprios católicos. De certa forma, sua precaução foi justificada. Era visível que

os nazistas poderiam iniciar uma perseguição à cristãos ou católicos caso houvesse uma declaração

condenatória explícita vinda de lideranças religiosas. Em países católicos ocupados por nazistas como

Polônia, clérigos e leigos foram perseguidos e mortos.

Para alguns historiadores (Cornwel, Ketzer, Carrol, Goldhagen), anti-semitismo seria um valor

intrinsecamente católico. A Igreja seria uma instituição centrada na noção de que todos os judeus são

assassinos de Cristo. No entanto, esses acadêmicos se baseiam em fatos isolados e muitas vezes acabam

por distorcer os fatos, algo fácil de se observar quando o assunto é Pio XII.

Outro exemplo claro de falsidade intelectual é o livro “O Pecado Papal” (The Pope Sin), de Garry

Wills. O autor se considera católico, diz crer no Novo Testamento e se diz um seguidor de figuras como

Santo Agostinho e G. K. Chesterton. No entanto, a obra tem o objetivo de mostrar os supostos erros da

hierarquia católica, especialmente do papado. Wills acusa o Vaticano de cristianizar o Holocausto ao

canonizar santos como São Maximiliano Kolbe e Santa Edith Stein, recusando seu passado anti-semita

sob o papado de Pio XII. João Paulo II é apresentado como desonesto, tanto histórico quanto doutrinal.

O Concílio Vaticano II é apresentado como um período de iluminismo e liberalismo que acabou por

entrar em decadência e obscuridão sob João Paulo II.

Wills defende o fim do sacerdócio, o que ele chama de “mágicos da transformação eucarística”.

Em sua igreja ideal, mulheres seriam ordenadas, o celibato seria abolido, a supremacia papal acabaria. A

sucessão apostólica, a Imaculada Conceição e a Assunção, os ensinamentos da Igreja sobre a

homossexualidade são criticados. Em seu trabalho, Wills frequentemente se refere à Chesterton, um

autor que ele claramente admira como sendo uma autoridade no assunto. No entanto, a visão de

Chesterton, nessas questões, se aproxima muito mais do mundo intelectual de João Paulo II do que o do

autor da obra.

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Capítulo 10: O fim do preconceito?Capítulo 10: O fim do preconceito?Capítulo 10: O fim do preconceito?Capítulo 10: O fim do preconceito?

Quando assistimos um filme em que o vilão morre ou é destruído no final, sabermos que ele

voltará no próximo episódio. Assim é o anti-catolicismo: resistente e aparentemente indestrutível, com

uma grande capacidade de adaptação às circunstâncias. A Igreja continuará a ser retratada como

inimiga do progresso e da liberdade, padres molestam crianças, bispos odeiam mulheres e gays, a Igreja

sustentou o Holocausto.

Para se ter uma idéia, uma pesquisa recente demonstrou que a maioria dos americanos pouco

sabe sobre o debate a respeito das pesquisas com células tronco embrionárias. No entanto, a questão é

apresentada como sendo um debate irracional entre dogma católico versus saúde dos enfermos. As

questões são mostradas como bispos católicos contra advogados do progresso, da liberdade pessoal e

da separação entre Igreja e Estado.

Após o Concílio Vaticano Terceiro: Muitos imaginam um novo papa que dê início à mudanças

radicais que eliminem tudo que diferencie um católico americano de um não-católico. Como resultado

de um Concílio Vaticano Terceiro, a Igreja permitiria padres casados, ordenação de mulheres, o fim da

oposição ao aborto, contracepção e homossexualidade. A Igreja americana atingiria uma grande

independência em relação a autoridade romana. Assim, o anti-catolicismo terminaria, simplesmente

porque não há nada mais a que se opor.

O sentimento anti-católico está tão enraizado que é difícil eliminá-lo em uma década, o que não

significa que deva ser ignorado. O que deve acontecer é o reconhecimento de que é um preconceito tão

pernicioso quanto qualquer outro.