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A DICOTOMIA RURAL VERSUS URBANO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS TEORIA E ESTUDO DE CASO Celso Daniel Seratto 1 Ednaldo Michellon 2 RESUMO O presente trabalho investigou as conseqüências da delimitação e da não revisão conceitual sobre o rural e o urbano, bem como as oportunidades que propostas alternativas trazem ao futuro da Região Noroeste do Paraná. Esta pesquisa foi baseada no contraste existente entre a metodologia oficial de separação do rural x urbano, cuja base é oriunda de 1938; e as novas propostas que surgiram na década de 1990, que são hoje utilizadas pelos países mais desenvolvidos. Os resultados mostram que a Região possui municípios ou localidades muito mais rurais do que apresenta a metodologia oficial, e ainda, revelam que o rural é maior que o agrícola também no Noroeste do Paraná. Uma nova visão do continuum Rural-Urbano permite a superação da tradicional dicotomia existente, proporcionando ao futuro próximo consideráveis ganhos, permitindo melhores possibilidades às suas populações num projeto de desenvolvimento territorial sustentável. As análises e resultados obtidos podem ser utilizados para a formulação de políticas públicas mais precisas, e na orquestração dos interesses locais/regionais na busca de melhores oportunidades no campo social, econômico e cultural. Palavras Chave: Desenvolvimento Territorial; Dicotomia Rural e Urbano; Políticas Públicas. 1.0 INTRODUÇÃO Há milênios, o homem transforma o espaço para melhor adaptar-se, suprindo suas necessidades de sobrevivência, gerando o que se chama de espaço rural e espaço urbano. Durante décadas este binômio foi abordado numa visão dicotômica: o campo, analisado de modo a ser referendado como espaço, por excelência, do arcaico, do atrasado, do velho; a cidade, contrariamente, sendo o espaço do novo, de abertura ao moderno, às novas tecnologias que favoreciam prover de forma mais racional e científica as necessidades sociais. Atualmente esta ótica está sendo superada e o assunto é abordado numa perspectiva onde as funções desempenhadas pelo campo e pela cidade se complementam e se complexam. A discussão do assunto deve iniciar por desfazer os equívocos existentes na interpretação da estatística e da história, provocadas pela confusão metodológica produzida na tentativa de traduzir os fenômenos econômicos, geográficos e políticos. O conceito de cidade varia de país para país. A maioria adota o critério demográfico- quantitativo, isto é, uma localidade é considerada cidade quando atinge determinado número de habitantes. Por exemplo, no Canadá e na Escócia, esse número é de 100 moradores, enquanto na Holanda são necessários 5.000 habitantes para caracterizar uma cidade. No Brasil, Equador e Nicarágua, só as sedes de município são consideradas cidades. Por mais diversas que sejam as interpretações disponíveis, os estudos sobre o Estado Novo coincidem na ênfase ao caráter centralizado e monolítico do Estado brasileiro, durante esse momento de sua história política. Mesmo que ao longo do período 1930-1945 tenha havido uma passagem gradual para um Estado intervencionista, esse processo foi bem 1 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Agronegócios e Gerente Regional da Emater-PR, NR de Maringá. Email: regionalmaringá@teracom.com.br Endereço: Av. Cerro Azul, 261, CEP 87010-000 – Maringá - PR 2 Professor da Universidade Estadual de Maringá – UEM. Email: [email protected] Telefones (44) 9952-4658 e (44) 261-4407 Ramal 31. Endereço: Rua Saulo Porto Virmond, 504; Ap. 42 – CEP 87005-090 – Maringá – PR

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A DICOTOMIA RURAL VERSUS URBANO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS TEORIA E ESTUDO DE CASO

Celso Daniel Seratto 1

Ednaldo Michellon2

RESUMO

O presente trabalho investigou as conseqüências da delimitação e da não revisão conceitual sobre o rural e o urbano, bem como as oportunidades que propostas alternativas trazem ao futuro da Região Noroeste do Paraná. Esta pesquisa foi baseada no contraste existente entre a metodologia oficial de separação do rural x urbano, cuja base é oriunda de 1938; e as novas propostas que surgiram na década de 1990, que são hoje utilizadas pelos países mais desenvolvidos. Os resultados mostram que a Região possui municípios ou localidades muito mais rurais do que apresenta a metodologia oficial, e ainda, revelam que o rural é maior que o agrícola também no Noroeste do Paraná. Uma nova visão do continuum Rural-Urbano permite a superação da tradicional dicotomia existente, proporcionando ao futuro próximo consideráveis ganhos, permitindo melhores possibilidades às suas populações num projeto de desenvolvimento territorial sustentável. As análises e resultados obtidos podem ser utilizados para a formulação de políticas públicas mais precisas, e na orquestração dos interesses locais/regionais na busca de melhores oportunidades no campo social, econômico e cultural.

Palavras Chave: Desenvolvimento Territorial; Dicotomia Rural e Urbano; Políticas Públicas.

1.0 – INTRODUÇÃO

Há milênios, o homem transforma o espaço para melhor adaptar-se, suprindo suas

necessidades de sobrevivência, gerando o que se chama de espaço rural e espaço urbano. Durante décadas este binômio foi abordado numa visão dicotômica: o campo,

analisado de modo a ser referendado como espaço, por excelência, do arcaico, do atrasado, do velho; a cidade, contrariamente, sendo o espaço do novo, de abertura ao moderno, às novas tecnologias que favoreciam prover de forma mais racional e científica as necessidades sociais. Atualmente esta ótica está sendo superada e o assunto é abordado numa perspectiva onde as funções desempenhadas pelo campo e pela cidade se complementam e se complexam.

A discussão do assunto deve iniciar por desfazer os equívocos existentes na interpretação da estatística e da história, provocadas pela confusão metodológica produzida na tentativa de traduzir os fenômenos econômicos, geográficos e políticos.

O conceito de cidade varia de país para país. A maioria adota o critério demográfico-quantitativo, isto é, uma localidade é considerada cidade quando atinge determinado número de habitantes. Por exemplo, no Canadá e na Escócia, esse número é de 100 moradores, enquanto na Holanda são necessários 5.000 habitantes para caracterizar uma cidade. No Brasil, Equador e Nicarágua, só as sedes de município são consideradas cidades.

Por mais diversas que sejam as interpretações disponíveis, os estudos sobre o Estado Novo coincidem na ênfase ao caráter centralizado e monolítico do Estado brasileiro, durante esse momento de sua história política. Mesmo que ao longo do período 1930-1945 tenha havido uma passagem gradual para um Estado intervencionista, esse processo foi bem

1 Engenheiro Agrônomo, Especialista em Agronegócios e Gerente Regional da Emater-PR, NR de Maringá. Email: regionalmaringá@teracom.com.br Endereço: Av. Cerro Azul, 261, CEP 87010-000 – Maringá - PR 2Professor da Universidade Estadual de Maringá – UEM. Email: [email protected] Telefones (44) 9952-4658 e (44) 261-4407 Ramal 31. Endereço: Rua Saulo Porto Virmond, 504; Ap. 42 – CEP 87005-090 – Maringá – PR

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acelerado entre o golpe de Estado de 1937 e 1942 por um regime dos mais autoritários. Durante esses 5 anos, o esforço de centralização político-administrativa manifestou-se mediante a montagem de um complexo quadro jurídico-institucional que estabeleceu novos padrões de governo: ampliação dos poderes do chefe do Executivo Federal, regulamentação das relações entre o governo central e os Estados, restrição da autonomia dos Executivos Estaduais, novos instrumentos de intervenção na economia, novos meios de controle da vida política, estrutura corporativa dos mecanismos de inserção dos diferentes grupos sociais, e assim por diante.

Foi nesse contexto que o Decreto-Lei 311/1938 fez com que todas as sedes municipais existentes virassem cidades, independentemente de quaisquer características estruturais ou funcionais. Foram consideradas urbanas todas essas sedes, mesmo que não passassem de ínfimos vilarejos ou povoados. Para futuras cidades seria exigida a existência de pelo menos 200 casas, e para futuras vilas (sedes de distrito), um mínimo de 30 moradias. Mas todas as localidades que àquela data eram cabeça de município, passaram a ser consideradas urbanas, mesmo que sua dimensão fosse muito inferior ao requisito mínimo fixado para as novas. (Veiga,2001:38).

As distorções existentes na metodologia oficial, utilizada pelo IBGE na classificação da população brasileira quanto a sua localização geográfica tem provocado desequilíbrios na distribuição dos tributos arrecadados, e no sistema federativo brasileiro, o que leva a conseqüências como a distribuição desigual da arrecadação.

Na última década (1990), tem sido notória a transferência de responsabilidades da União aos Estados e Municípios nos setores de: educação, saúde, pesquisa e extensão rural.

Mais recentemente, interpretações da lei de responsabilidade fiscal por parte do meio jurídico brasileiro provoca, ao que parece, impactos diretos com conseqüências severas ao reduzirem a capacidade dos pequenos municípios na prestação de serviços básicos à suas populações. O sistema de distribuição da arrecadação tem provocado impactos negativos na capacidade de formulação e implementação de políticas públicas que permitam criar compensações às populações que habitam nestas localidades interioranas e aos cidadãos que trabalham no meio rural brasileiro.

O cidadão urbano, dos grandes centros, não sofre as mesmas privações, tende a ter mais facilidades de acesso a serviços de melhor qualidade quanto à escola, educação e saúde, acesso a laser, e a informação, e a cultura.

Para que se possa fazer uma análise deste problema, tomou-se por base de estudo o Noroeste do Paraná, constituído pelas regiões administrativas de Campo Mourão, Maringá, Paranavaí e de Umuarama, que contém 115 municípios e 1.611.521 habitantes.

A hipótese principal desta pesquisa é a de que a mudança no enfoque oficial de separar o rural do urbano trará ganhos sociais, econômicos e culturais, úteis à superação dos entraves do desenvolvimento do Noroeste no seu conjunto territorial.

Este trabalho, tem como objetivo apontar as distorções existentes no sistema atualmente adotado da separação entre o rural e o urbano, provocadas pelo caminho histórico da política brasileira, quantificá-las e apontar caminhos para que sejam minimizadas ou equacionadas para fins de definição de políticas públicas e planejamento estratégico.

2 – MATERIAL E MÉTODOS

Tem-se no final do século XX um amadurecimento no campo destas discussões entre

o que é rural e o que é urbano. Nos países desenvolvidos, o rural é revisitado como um espaço portador, por excelência, de novas perspectivas de superação dos obstáculos à vida social, do “renascimento do rural” (Wanderley,1998:3-4).

No Brasil, esse fenômeno também é percebido. Não há apenas uma mudança de proprietários, são inúmeras relações que se ressentem: a terra deixa de ser cultivada ou o será

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parcialmente, laços de amizade e compadrio que se desfazem (devido à ausência das famílias que migram) e os novos donos são presenças esporádicas, vindo realizar tarefas ou em finais de semana, tornando o espaço - outrora local de moradia e produção - em ambiente de lazer.

Estudos realizados por Wanderley (1997:94), confirmam que a dimensão populacional continua sendo o critério mais utilizado para demarcar o espaço rural do espaço urbano. Ela ainda nos alerta para o fato de que, do ponto de vista sociológico, não podemos descartar duas características no meio rural: a relação dos habitantes do campo com a natureza, sendo este espaço onde “resultam práticas e representações particulares a respeito do espaço, do tempo, do trabalho, da família, etc”.; e também as relações sociais de interconhecimento resultantes da vivência das coletividades rurais (1997:96).

Para Juarez R. Brandão Lopes (1978:67) estudioso do desenvolvimento urbano brasileiro, as aglomerações, para serem urbanas, precisam contar com pelo menos cinco mil habitantes, possibilitando “demarcar a área onde mais intensamente se faz sentir a influência de valores, padrões e formas de organização urbana”.

O Censo Demográfico elaborado pelo IBGE, distingue os domicílios em função da situação rural ou urbana. De acordo com a legislação brasileira, quem habita nas sedes urbanas dos municípios é urbano, independentemente das profissões desempenhadas (Idem. p. 97-98.) Desta forma, o agricultor que labuta diariamente em seu roçado, mas mora na cidade, é um urbano. O IBGE, aponta como urbanos “todos os cidadãos que residem nos distritos-sedes dos municípios ou nas sedes dos demais distritos, independentemente do porte da localidade ou da cidade”.

Speridião Faissol, pesquisador do IBGE, refere-se às pequenas cidades, às vezes muito pequenas até mesmo em termos de um conceito de cidade, que existem em virtude de uma “definição legal de cidade-sede de município” (Faissol apud Wanderley, 1998:30). As pequenas cidades, com até 20.000 habitantes não integram propriamente a rede urbana, são consideradas como “não-urbanas”, ou seja, “rurais”.

Esse corte rural/urbano é uma variável utilizada para tratar as diferenças apenas quantitativas no tangente aos níveis de renda, acesso a bens e serviços, não explicitando as diferenças qualitativas entre ambos. Desta forma “a idéia de dois mundos que se opõem” vai cedendo lugar à idéia de um continuum espacial, seja do ponto de vista de sua dimensão geográfica e territorial, seja na sua dimensão econômica e social” (Silva,1997:121).

A partir do desenvolvimento do capitalismo na agricultura, da introdução das indústrias no interior e da modernização das sociedades urbana e rural, a teoria da urbanização é formulada com ênfase na integração destes dois espaços, através das trocas crescentes entre ambos. A visão dualista que opunha o rural ao urbano como realidades distintas e de negação uma a outra, associando o “rural” ao agrícola e ao atrasado e o “urbano” ao industrial e ao moderno foi superada, onde “A dicotomia entre rural e o urbano seria diluída em um continuum.” A autora (Silva,1997:182), ainda ressalta que a ruralidade não pode mais ser definida com base na oposição à urbanidade. Rural e urbano corresponderiam, então, a representações sociais sujeitas a re-elaborações de acordo com o universo simbólico em que estão inseridas (Carneiro,1997:154-155).

O crescente aumento dos meios de transporte e a multiplicação de estradas, ligando o campo às cidades, contribuiu definitivamente para pôr fim ao isolamento que, durante décadas, manteve a população rural alijada dos benefícios que os urbanos gozavam. No Paraná, em especial, programas governamentais financiados pelo BID e Banco Mundial foram desenvolvidos nas décadas de 1980 e 1990 provocaram, sob este aspecto, transformações facilmente notadas.

Em “O lugar” dos rurais: o meio rural no Brasil moderno, Wanderley (1998:6) menciona a “teoria do continuum rural-urbano”, nas relações campo-cidade. Essa teoria apresenta-se em duas vertentes. A primeira, relaciona o continuum entre o meio rural e o meio

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urbano incidindo sobre a nitidez de cada um desses espaços e cujo avanço do domínio do urbano tende a eliminar o conceito de “rural”. Este é um processo de dominação, cujo pólo urbano serve de parâmetro para a uniformização da sociedade. A segunda, considera o continuum rural-urbano como uma relação integradora dos dois pólos.

Devido à profundidade das transformações sofridas pela sociedade, diz, não se trata mais de distinguir espaços rurais e urbanos, e tampouco pequenas e grandes cidades. O campo comanda a vida econômica e social do sistema urbano, nas regiões agrícolas. Nas regiões urbanas, essa função é desempenhada pelas atividades secundárias e terciárias (Santos, 1996:68).

O espaço total brasileiro, diz o autor, está preenchido por regiões agrícolas e regiões urbanas: “Simplesmente, não mais se trataria de ‘regiões rurais’ e ‘cidades’. Hoje, as regiões agrícolas (e não rurais) contém cidades, e as ‘regiões urbanas’ contêm atividades rurais” (Santos 1996:65).

Discordando da idéia de continuum, apesar de referendar a não descontinuidade campo-cidade, Helza Junghans Lanz (1997:24), comenta “Ao contrário das formulações dicotomizadas, não vislumbramos uma descontinuidade entre o campo e a cidade, como também não concordamos com a idéia de continuidade”. Existe um entrelaçamento de traços, posturas, visões e modelos simbólicos onde tradição e modernidade se encontram, se sobrepõem, se alternam, se complexificam (Junghans Lanz,1997:24).

O caráter econômico da cidade é percebido por Weber (1979:69), onde a população recorre ao mercado, encontrando os produtos de que necessita. Parte desses produtos tem origem na própria localidade e a outra parte vem de populações vizinhas. Em essência "toda cidade é um local de mercado". O tamanho por si só não é um elemento definidor do que seja cidade. Um fator a ser considerado é a vinculação da maioria dos habitantes em atividades industriais e comerciais, estando afastados da produção agrícola.

Castells questiona a existência de uma cultura urbana não podendo ser apresentada como conceito nem como teoria. “Ela é, propriamente dito, um mito, já que, o narra, ideologicamente, a história da espécie humana.” Destarte, as temáticas desenvolvidas acerca da ‘sociedade urbana’ funcionam como palavras-chave, encerrando o significado de uma ideologia da modernidade fundidas às formas sociais do capitalismo liberal (Castells, 1983:110). E ao abordar a cidade, Castells percebe o homem enquanto pertencente a uma determinada classe social que, lutando por sua sobrevivência transforma a natureza e é por ela transformada, não sendo um ser inerte, letárgico, neste processo dialético.

Desta forma, tem-se de modo simplificado, mas abrangente, campo/cidade ou urbano/rural como adaptações do espaço que o homem modifica de forma a suprir suas necessidades básicas (Serra,1987:34). Estando estes espaços convergindo para uma mesma finalidade de caráter essencial para a sobrevivência humana, por que discutir a preponderância de um setor sobre o outro?

Ao longo do que foi exposto, através do pensamento de todos estes teóricos, pode-se apontar que o fundamental a nortear suas idéias é o fato de que o homem é o agente das transformações realizadas na natureza. Transformações que estão diretamente relacionadas à sua sobrevivência, quer tratando-se da produção de gêneros alimentícios ou da produção de abrigos para fins de moradia, entre outras necessidades - interferindo nos espaços natural e urbano. Portanto, todo espaço humano ou “produção social de formas espaciais” resulta de uma construção executada pela ação, cujo agente é o homem.

Para Park (1979:26), mais do que uma construção material artificial, a cidade “é um estado de espírito”, onde costumes e sentimentos estão organizados pela tradição. A cidade insere-se no âmago das pessoas que a formam, sendo um “produto da natureza humana”, extrapolando a mera construção física.

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Sabe-se que um aspecto, em geral, atribuído e exigido da cidade é a de um complexo demográfico composto, social e economicamente, por uma concentração populacional não agrícola - dedicada a atividades de caráter mercantil, industrial, financeiro e cultural.

Para Martins (1981:26), o primordial do rural é a ocupação de sua população: os indivíduos ocupam-se na atividade agrícola, cultivando plantas e lidando com animais.

Em síntese, anos a fio, discutiu-se a polaridade campo/cidade como sendo controversa e não compatível entre si por mostrar-se contrastante. Este debate já é fato superado e atualmente os autores abordam o assunto de modo a não mais antagonizar esse binômio, mas tratam-no de forma articulada, como um continuum.

Entre as décadas de 1940 e 1960 iniciou-se a ocupação do arenito paranaense, sudoeste Paulistano e Noroeste do Mato Grosso do Sul, que foi alicerçada na cafeicultura e na exploração pecuária. A partir dos anos 60 o Brasil começou a experimentar uma profunda transformação de sua agricultura baseada no modelo da Revolução Verde, impulsionada por estratégias de fomento implantadas pelo Governo Federal. Em 1985 os recursos do crédito rural para custeio foram pós-fixados com a correção monetária integral. E, no final dos anos 80 iniciou-se o desmonte do aparato institucional, do Ministério da Agricultura e no Ministério da Indústria e Comércio, constituído pela política de preços mínimos e mecanismos de regulação dos principais produtos (Açúcar, Álcool, Trigo, Soja, Café, etc).

A agropecuária de commodities surgiu no Brasil a partir de meados dos anos 80 e é caracterizado pela definição de agrupamentos ligados à indústria e a agropecuária focada em nichos especiais de mercado bastante predominante nos núcleos familiares, caracterizada pelo uso intensivo da mão de obra, e das atividades não agrícolas que ocupa o espaço rural (ligadas à moradia, lazer, industrias e de prestação de serviços, olericultura, fruticultura, floricultura, criação de animais de pequeno porte, bovinocultura de leite, etc.) Del Grossi (2002:20).

No Governo Collor aprofundou-se, em 1990, a abertura indiscriminada das importações que haviam sido iniciada em 1998, com o objetivo de conter a inflação, que provocou uma internalização dos baixos preços vigentes nos mercados internacionais impostos pelas políticas agrícolas protecionistas dos países desenvolvidos na forma dos subsídios (Michellon,1999:12).

A recuperação dos valores do salário mínimo, promovida no início do Governo Itamar Franco (1992 a 1994), no mesmo tempo em que criou oportunidades à parte da agricultura familiar (que produz para o mercado interno), refletiu nos salários e empregados volantes na área rural e contribuiu para o aumento nos custos de produção. Nota-se que o aumento dos custos de produção só não foram maiores pela defasagem cambial vigente até o inicio de 1999 quando então o Real desvalorizou-se, o que nesse período tornou mais baratos os insumos químicos (fertilizantes e agrotóxicos).

Del Grossi (2002:12) constata que o grande contingente de pessoas que habitam o meio rural paranaense e brasileiro, constituído por famílias que utilizam predominantemente a mão de obra familiar vem perdendo espaço, renda e oportunidades. E completa: “Essa situação de achatamento desse contingente agravou-se com a desvalorização ocorrida com o Plano Real no início de 1999, quando os insumos agrícolas sofreram fortes reajustes”.

Outro fator que contribuiu para o caminhar desse processo de distanciamento da realidade entre estes segmentos (da agricultura familiar e Empresarial) foi o processo de inovação tecnológica que se intensificou na agricultura do agribusiness e vem sofrendo arrefecimento de ritmo na agropecuária de agricultura familiar.

Ainda, outro fator exerce forte pressão e impulsiona sobremaneira a agricultura familiar e empresarial do país: observa-se que os preços das commodities agrícolas no Brasil estão em queda nos últimos 30 anos (Monteiro, 1988:26-31).

O desmantelamento das instituições públicas de pesquisa agropecuária e extensão rural do país, e em paralelo a redução de recursos para esse nicho da pesquisa agropecuária foram

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fundamentais para a redução do ritmo da inovação tecnológica, em especial a destinada à agricultura familiar, que não conseguiu ter o mesmo acesso às inovações através dos canais e de mecanismos privados, bem diferentes do que ocorreu com a agricultura patronal.

Aspectos negativos e positivos dessa estratégia adotada são discutidos por vários autores, mas entre as conseqüências mais perversas observadas foi o deslocamento induzido de grande parte da população que vivia no e do meio rural para as cidades (centros urbanos de grandes dimensões). E também para as localidades que estão próximas a estas regiões geográficas, conseqüência notada com grande intensidade na região Noroeste, apoiada em paralelo, pelo declínio econômico do ciclo cafeeiro e incremento da mecanização nas novas áreas de lavouras de grãos.

Por sua vez, existe no Brasil correntes que crêem que a população rural caminha para a extinção. Os dados rurais oficiais do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indicam que em 1991, 75% da população já residia nas cidades, e em 2000 a proporção já atingia 81,2% e projeções para 2015 indicam 90%. Sob essa ótica, a sociedade rural está cada vez mais sujeita a ficar em segundo plano no campo do desenvolvimento de estratégias para a sua dinamização e na formulação de políticas específicas.

A vigente definição do que se convencionou de “cidade” no Brasil é obra do Estado Novo, que transformou em cidades todas as sedes municipais existentes, independentemente de suas características estruturais e funcionais, e da noite para o dia, ínfimos povoados, ou simples vilarejos, viraram cidades por norma que continua em vigor, apesar de todas as posteriores evoluções institucionais. Não somente aquelas dos períodos pós-1946, pós-1964 e pós-1988, mas também as que estão sendo introduzidas pelo novíssimo Estatuto das Cidades. Por exemplo, ao dispensar da exigência de Plano Diretor quase todas as “cidades” com menos de 20 mil habitantes (Veiga,2001:7).

Para José Eli da Veiga, ex-secretário do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável - CNDRS, a explicação de tamanha diferença está na metodologia aplicada para classificar e contar a população brasileira. É considerada urbana, na metodologia em vigor, toda sede de município (cidade) e de distrito (vila), sejam quais forem suas características.

Dessa forma, em estatísticas oficiais, cidades com poucos habitantes têm o mesmo peso de metrópoles. (NEAD,2003) Um caso extremo está no Rio Grande do Sul, onde a sede do município de União da Serra é uma cidade na qual o recenseamento de 2000 só encontrou 18 habitantes. Essa não é uma exceção, já que no último censo foram identificadas 1.176 sedes de municípios com menos de 2 mil habitantes, 3.887 com menos de 10 mil e 4.642 com menos de 20 mil. Todas com status de cidade (Veiga, 2001:9).

O grande risco do que Veiga chama de ‘ficção estatística’ é fortalecer a idéia da progressiva extinção da população rural, tornando irrelevante qualquer política voltada à dinamização da sociedade rural. "No fundo, supõe-se que dar mais atenção ao Brasil rural seria como gastar vela boa com mal defunto, já que mais dia menos dia todos estarão nas cidades" (Veiga, 2001:8-9).

Para que a análise da configuração territorial possa evitar a ilusão imposta pela metodologia oficial, a combinação do critério de tamanho populacional do município com a densidade demográfica e sua localização. Seria uma tipologia alternativa, capaz de captar a diversidade dos municípios.

As três convenções - tamanho populacional do município, densidade demográfica e localização - já são utilizadas. O critério mais simples é o de tamanho populacional, em que não são consideras áreas urbanas, municípios com menos de 20 mil habitantes. Todavia, há muitos municípios com menos de 20 mil habitantes que têm altas densidades demográficas, e uma parte deles pertence a regiões metropolitanas e outras aglomerações. Nessa ótica, seria rural a população dos 4.024 municípios que tinham menos de 20 mil habitantes em 2000 (Veiga, 2001:8).

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A Organisation de Coopération et de Développement Economiques – OCDE (1996) define três categorias de regiões : "essencialmente rural", em que mais de 50% da população está em localidades com densidade inferior a 150 habitantes por quilômetro quadrado são "relativamente rurais", nas quais entre 15% e 50% dos habitantes vivem em locais com a mesma densidade demográfica; "urbana", quando 85% da população encontra-se em localidades com densidade acima de 150 hab/hm2 (apud Veiga 2001:9-10).

Na opinião de Veiga (2001:17), não é possível adotar plenamente esse padrão no Brasil, pois existem diferenças substanciais entre a superfície dos municípios brasileiros e as unidades político-administrativas dos países da OCDE, além das dificuldades de trabalhar com uma classificação tríplice, com a atual divisão entre lugares urbanos e rurais no Brasil.

Em 1991 o IBGE definiu três categorias de áreas urbanas (urbanizadas, não urbanizadas e urbanas isoladas) e quatro tipos de aglomerados rurais (extensão urbana, povoado, núcleo e outros) fortalecendo a antiga convenção, ao considerar toda sede de município ou distrito num espaço urbano, independente de sua dimensão ou função.

A nova classificação reforça a concepção de que as fronteiras entre as áreas rurais e urbanas são infra-municipais. Reforça a convenção de que são urbanas todas as sedes municipais (cidades), sedes distritais (vilas) e áreas isoladas assim definidas pelas Câmaras Municipais, independentemente de qualquer outro critério geográfico, de caráter estrutural ou funcional, sejam quais forem às funções desempenhadas pela aglomeração, o gênero de vida, a forma de civilização, e a mentalidade de seus habitantes. “Um simples absurdo na concepção de cidade como centro de região”, dizia Milton Santos há quase quarenta anos.

Entre as restrições que costumam ser feitas pelos analistas é o arbítrio do poder público municipal, para o qual seriam muito mais importantes as conseqüências fiscais, do que qualquer aspecto social, econômico, cultural, geográfico ou ambiental implicado.

Apenas 67,3% dos municípios brasileiros tinham Lei de Perímetro Urbano em 1998, embora em 87% deles existisse o cadastro imobiliário que viabiliza a arrecadação de IPTU. No mesmo ano, apenas 13% dos municípios arrecadaram IPTU de 80% ou mais das unidades cadastradas, enquanto 26% dos municípios o arrecadaram em 20% ou menos das unidades cadastradas.

Na verdade, os resultados dos Censos Demográficos - segundo os quais a taxa de urbanização teria passado de 67,6% em 1980, para 75,6 em 1991, e 81,23% em 2000 - correspondem unicamente a uma convenção normativa cujo intuito foi uniformizar a divisão territorial brasileira para o Censo de 1940. Parece não ser recomendável que essa taxa oficial continue a ser entendida como indicador da real distribuição populacional urbano/rural, característica básica da configuração territorial de qualquer espaço.

Para Veiga (2001:9) a melhor configuração territorial do Brasil é, de acordo com a pesquisa IBGE/Ipea/Nesur em 1999, uma rede urbana identificada nessa pesquisa é formada por 455 municípios, com uma população, em 2000, de 96,3 milhões (57% do total de 169.6 milhões de brasileiros). Eles são residentes de 12 aglomerações metropolitanas, outras 37 aglomerações e 77 centros urbanos. "Esse é o Brasil inequivocamente urbano".

Para distinguir, dentre os restantes 5.052 municípios existentes em 2000, estão aqueles que pertenciam ao Brasil rural e os que se encontravam em posição intermediária entre rural e urbano. O critério utilizado pelos pesquisadores foi o de densidade demográfica que varia de acordo com o tamanho populacional dos municípios. E assim, estão classificados no Brasil rural 30% da população, ou seja, 51.6 milhões de brasileiros.

Neste capítulo serão apresentados alguns ensaios com os métodos citados anteriormente para que se possa melhor interpretar as características da realidade do Noroeste do Paraná.

Nos países desenvolvidos não houve estreita correspondência entre a evolução da população rural e agrícola e proporções dos setores na economia, a exemplo disso, nos EUA

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7% dos domicílios rurais são agrícolas e a população que reside em regiões rurais chega a 36% do montante (Veiga, 2001:11). Conforme mostra o Quadro 1.

Para melhorar a análise que se propõe é importante entender que a dimensão econômica não se limita a dimensões espaciais. Por exemplo, no século XX, nas economias dos países mais desenvolvidos a proporção da atividade primaria que caiu de 50% para 5%, no setor terciário passou de 25% para 60%. Nesses países esse fenômeno não implicou ou foi implicado pela ampliação das divisas, mesmo que conceituais sobre rural e urbano.

Possuir instrumentos adequados para avaliar a realidade pode garantir o sucesso do esforço que pessoas e governos desenvolvem para acertar no primoroso caminho de promoção do desenvolvimento sustentável. Em especial dos municípios interioranos como é o caso do Noroeste, ao que parece, menos privilegiada quanto às políticas públicas e investimentos na última década. QUADRO 1.CLASSIFICAÇÃO RELATIVA DE PAÍSES QUANTO A DISTRIBUIÇÃO DE SUAS LOCALIDADES SOB O ASPECTO DA LOCALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO – PROPOSTA DA OCDE -19963.

Classificação das localidades (em %) Países

Essencialmente Rurais Relativamente Rurais Essencialmente Urbanas

Holanda 0,0 15,0 85,0 Itália 9,0 44,0 47,0 Suíça 14,0 25,0 61,0 Reino Unido 15,0 17,0 68,0 Alemanha 18,0 26,0 56,0 Espanha 19,0 46,0 35,0 Austrália 23,0 22,0 56,0 França 30,0 41,0 29,0 Canadá 33,0 23,0 44,0 Estados Unidos 36,0 41,0 29,0 Brasil 46,8 29,8 33,1 Suécia 49,0 32,0 19,9

FONTE: (OCDE, 1996); Adaptado (Veiga, 2001:11). Adaptado (IBGE,1996).

Para dar conta desta tarefa obteve-se informações com profissionais e políticos com experiência na administração pública. Além disso, acessou-se sites do Tesouro Nacional, da Secretaria de Estado da Fazenda, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Brasileiro de Administração Municipal. E ainda Sites de busca na internet, de onde se obteve os principais dados e bibliografias que foram adaptadas para esse estudo. Trabalhou-se com dados primários e secundários obtidos do IPARDES/IBGE-Censo Demográfico 2000.

Utilizou-se dados apresentados pelo IPARDES (2002) relativos ao Censo de 2000 onde se seleciona os municípios do Noroeste do Paraná, classificando-os segundo a metodologia oficial2. Agrupou-se os municípios em estratos daqueles classificados como “Rurais de Pequena Dimensão” e os demais, onde se analisou o número de municípios e população rural e urbana. Desta mesma forma, a partir dos mesmos dados, fez-se a separação daqueles com densidade menor que 50 habitantes por quilometro quadrado, comparou-se os mesmos itens.

Assim se fez com esses dados, classificando os municípios pelo critério proposto pela OCDE1 (1996), desta vez agrupou-se aqueles considerados “Essencialmente Rurais” e “Relativamente Rurais” e comparou-se os mesmos itens descritos acima.

Analisou-se informações apresentadas por Del Grossi (2002:16) obtidas do projeto IAPAR/RURBANO, sobre tendências e características da população rural brasileira. Elaborou-se tabelas que contém as categorias que compõe a população rural do Noroeste e comparou-se sob as óticas da estatística oficial e das propostas acima descritas. Apresentou-se 3 Os municípios são classificados pela OCDE,1996, em: “Essencialmente Rurais”: são regiões onde mais que 50% da população vive em localidades rurais; ”Relativamente Rurais”: são regiões onde 15% a 49% da população vive em áreas rurais; “Essencialmente Urbanas”: são regiões onde menos de 15% da população vive em áreas rurais.

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em seguida as implicações da adoção de novos critérios estatísticos e do risco da manutenção da metodologia vigente, com o foco ao desenvolvimento territorial.

Resgatou-se a metodologia que define o rateio dos impostos arrecadados pelos dois mais importantes fundos destinados aos municípios: o FPM - Fundo de Participação dos Municípios e do FPM-ICMS – Fundo de Participação do ICMS do Estado do Paraná e apontou-se para os números, obtidos junto ao IPARDES (2002), para o que representam e a sua importância às localidades do interior, de economia predominantemente agropecuária. Obteve-se dados, junto ao Site da SEFA- Secretaria de Fazenda do Estado do Paraná, de onde se analisou a importância da atividade agropecuária na produção das riquezas destas localidades e na composição destes “fundos”.

E, por fim, analisou-se os argumentos sobre as reclamações dos administradores municipais quanto ao rateio dos impostos arrecadados; frente às responsabilidades na prestação dos serviços básicos às suas populações; bem como, as limitações que os pequenos municípios enfrentam na captação de recursos via impostos municipais e suas perspectivas com a reforma tributária.

3.0 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

O IBGE, em 1991, adotou uma metodologia para classificar os municípios brasileiros

que leva em consideração dois critérios: a taxa de urbanização e o número total de habitantes (IBGE, Censo 1991,2003). No Paraná, o IPARDES, em 2002, utilizou-se deste mesmo método para estabelecer uma tipologia4 que classifica, oficialmente, os municípios quanto ao seu perfil em seis categorias que transitam entre urbano ao rural (IPARDES, 2002). Vide Quadro 2.

Verifica-se, no quadro 2, que sob a ótica da metodologia oficial o Paraná possui 28,82 % de municípios considerados “Rurais de Pequena Dimensão”, enquanto o Noroeste possui apenas 12,17% nesta categoria. Nota-se também que a nomenclatura utilizada retrata a tendência existente no meio científico em adotar o “urbano”. QUADRO 2 - TIPOLOGIA DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO NOROESTE DO PARANÁ - SEGUNDO MUNICÍPIOS DO PARANÁ – SEGUNDO IPARDES EM 2002.

Tipologia dos municípios Número de

Municípios Segundo tipos no Paraná

% Municípios

Número de Municípios segundo tipos no

Noroeste

% Municí-

pios 1 Urbano de Grande Dimensão 5 1,25% 1 0,87% 2 Urbano de Média Dimensão 23 5,76% 5 4,35% 3 Urbano de Pequena Dimensão 107 26,82% 49 42,61% 4 Em Transição para Urbano de Média Dimensão 2 0,50% 0 0,00% 5 Em Transição para Urbano de Pequena Dimensão 147 36,84% 46 40,00% 6 Rural de Pequena Dimensão 115 28,82% 14 12,17% Total 399 100,00% 115 100,00% FONTE: (IPARDES, 2002); BASEADA EM TIPOLOGIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS (IBGE, 1991); ADAPTADAS DO CENSO (IBGE, 2000).

Por sua vez, na Tabela 1 nota-se que ao se classificar os municípios quanto à sua natureza, na região, são encontrados apenas 14 municípios com grau de urbanização menor que 75% e população menor que 50.000 habitantes, dentre os 115 existentes, e que os demais

4 A Tipologia proposta pelo IBGE em 1991 e adotada pelo IPARDES em 2002, classifica os municípios em: “Urbano de Grande Dimensão”, aqueles cuja taxa de urbanização é maior que 75% e possuem população maior que 250.000 habitantes; “Urbano de Média Dimensão”, aqueles cuja taxa de urbanização é maior que 75% e possuem população entre 50.000 e 250.000 habitantes; “Urbano de Pequena Dimensão”, aqueles cuja taxa de urbanização é maior que 75% e possuem população menor que 50.000 habitantes; “Em Transição para Urbano de Média Dimensão”, aqueles cuja taxa de urbanização está entre 50 e 75% e possuem população maior que 50.000 habitantes; “Em Transição para Urbano de Pequena Dimensão”, aqueles cuja taxa de urbanização está entre 50 e 75% e possuem população menor que 50.000 habitantes; e finalmente em “Rural de Pequena Dimensão”, aqueles cuja taxa de urbanização é menor que 50% e possuem população menor que 50.000 habitantes.

10

101 possuem grau de urbanização maior que 75% e/ou população maior que 50.000 habitantes.

Observa-se ainda que dentre os 1.323.141 habitantes urbanos, 2,2% (28.571 habitantes urbanos) estão localizados na área considerada urbana dos municípios com grau de urbanização menor que 50%. E, que 97,8% da população urbana estão localizadas nas áreas consideradas urbanas nos municípios com grau de urbanização superior a 50%.

Críticas à metodologia oficial de cálculo de taxa de urbanização são levantadas e deve-se construir tipologias alternativas que sejam capazes de considerar e assim dar tratamento adequado às populações residentes. E daí pode-se obter a visão mais realista de um enorme números de municípios de elevada diversidade característica. TABELA 1.CLASSIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO PARANÁ A PARTIR DOS CRITÉRIOS OFICIAIS, IBGE - 2000.

Classificação das Localidades e Seu Perfil

Localidades “Rurais de Pequena dimensão”

% Localidades em Transição de

“Urbano de Pequena Dimensão” para “Urbano de Grande Dimensão”

% Total

Número de Municípios 14 12,2 101 87,8 115 População Urbana * 28.571 2,2 1.295.197 97,8 1.323.768 População Rural * 40.778 14,2 246.964 85,8 287.742 População Total 69.360 4,3 1.542.161 95,7 1.611.521

FONTES: TIPOLOGIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS (IBGE, 1991); (IPARDES,2002); CENSO DEMOGRÁFICO (IBGE, 200). LEGISLAÇÕES FEDERAL E ESTADUAIS.* OBS: SOB A ÓTICA METODOLÓGICA OFICIAL (IBGE – CENSO 2002)

Para a OCDE (1996) a grande maioria dos municípios brasileiros tem características rurais, em 70% deles a densidade demográfica é inferior a 40 hab/km2, enquanto que o parâmetro considerado pela para que uma localidade seja considerada urbana é de 50 hab/Km2. Se assim o fosse em 2000 apenas 411 dos 9.907 localidades brasileiras seriam consideradas urbanas ( apud. Veiga, 2001:9). Entre os países que não adotam critérios de densidade demográfica para delimitar o que é urbano e rural são: Brasil, El Salvador, Guatemala, Equador e República Dominicana (Veiga,2001:8).

A seguir será analisada a região Noroeste pelo critério da densidade demográfica. A Tabela 2 mostra a classificação dos municípios do Noroeste do Paraná, onde se utiliza o critério da densidade demográfica. Verifica-se que a situação se inverte, pois poderiam ser consideradas localidades rurais 101 dos 115 municípios da região. E poderiam ser classificadas como populações que habitam os municípios rurais 739.367 habitantes (45,9%) e outros 872.154 habitantes (54,1%) como população que habitam centros urbanos, o que daria outra configuração para esta Região.

Os dados mostram, que mesmo com o uso do critério da densidade demográfica, que parece ser o mais apurado, ainda surgem distorções, notadamente pequenas, em relação aos critérios oficiais, pois até mesmo municípios como: Colorado; Goioerê; Astorga; Mandaguaçú; Marialva; Nova Esperança; e Paiçandú, seriam considerados “Urbanos”.

TABELA 2.CLASSIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO NOROESTE DO PARANÁ A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA - 2000.

Critérios de classificação Municípios com

densidade demográfica menor que 50 hab/km2

% Municípios com densidade demográfica maior que 50

hab/km2 % Total

Número de Municípios 101 87,8 14 12,2 115 População Urbana * 513.260 38,8 810.519 61,2 1.323.779 População Rural * 226.107 78,6 61.635 21,4 287.742 População Total 739.367 45,9 872.154 54,1 1.611.521

FONTES: FONTES: IPARDES (2002). e IBGE (Censo Demográfico de 2000). Legislações federal e estaduais. OCDE, 1996. * OBS: SOB A ÓTICA METODOLÓGICA OFICIAL (IBGE – CENSO 2002).

Um cuidado a ser considerado quanto a esse método é apresentado por VEIGA (2001:19) onde se afirma que pode ser surpreendente mas existem municípios

11

simultaneamente com pouca população e alta densidade no meio rural, por exemplo na Zona da Mata Nordestina.

Por sua vez, verifica-se na Tabela 3, os municípios do Noroeste, quando se adota o critério proposto pela OCDE (1996), na qual classificam-se como localidade essencialmente urbana aqueles municípios cujo índice de urbanização é superior a 85%, como relativamente rural àqueles com índice entre 50% - 85%, e como essencialmente rurais aqueles com índice de urbanização menor que 50%. Nota-se que as distorções provocadas pela questão metodológica poderiam ser reduzidas e a interpretação estatística da realidade seria melhorada, pois a análise sobre a realidade torna-se mais abrangente. Considere-se, que mesmo naqueles municípios relativamente rurais a influência do que é rural, seja a cultura ou dependência econômica, é muito forte.

TABELA 3.CLASSIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS (LOCALIDADES) DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO PARANÁ A PARTIR DOS CRITÉRIOS PROPOSTOS PELA OCDE - 2000.

Critérios de classificação

Essencialmente Rurais % Relativamente

Rurais % Essencialmente Urbanas % Total

Número de Municípios 14 12,2 82 71,3 19 16,5 115 População Urbana * 28.582 2,2 506.084 38,2 789.113 59,6 1.323.779 População Rural * 40.778 14,2 195.381 67,9 51.583 17,9 287.742 População Total 69.360 4,3 701.465 43,5 840.696 52,2 1.611.521

FONTES: (IPARDES, 2002); (IBGE,CENSO DEMOGRÁFICO DE 2000). LEGISLAÇÕES FEDERAL E ESTADUAIS.. OCDE, 1996. * OBS: SOB A ÓTICA METODOLÓGICA OFICIAL (IBGE, 2000)

Sob essa ótica tem-se que 96 municípios ou localidades (83,4%), poderiam estar classificados como: “Essencialmente Rurais e Relativamente Rurais”, e reuniriam 770.825 habitantes (47,8%) da região. Enquanto que os outros 19 municípios (16,5%) seriam enquadrados como “Essencialmente Urbanos”, reunindo 840.696 hab. (52,2%). Ainda, os dados brutos revelam que são encontradas distorções e pontos a serem melhorados, por exemplo, municípios como: Itambé; Paranapoema; Flórida; Colorado; Paraíso do Norte; São Carlos do Ivaí; Nova Londrina; Loanda; Astorga; Floresta; e Floraí, são considerados “Essencialmente Urbanos”.

Esse fenômeno de distorção na análise observado no Brasil, herdado da tecnocracia, que remete à análise de que existe uma tendência de declínio da participação relativa do setor agropecuário na economia, se contrapõe a existência de população não exclusivamente rural no ambiente rural e não exclusivamente urbana no ambiente das cidades, coloca em xeque a hipótese existente que pressupõe a completa urbanização do setor agropecuário brasileiro.

Sob a ótica da estatística oficial, quando se trata do país, Del Grossi (2002:16) afirma que a população ocupada na agricultura cresceu até 1985/86, período do Plano Cruzado, e depois vem se reduzindo gradativamente. A diferença entre os anos 1990 e 1992 se deve a uma mudança conceitual, não corrigida plenamente, e em 1990 tem-se uma suave recuperação do número de pessoas ocupadas na agricultura. Pode-se dizer, ao observar a Tabela 9 que, quem cuida da agricultura no Brasil, cada vez mais, são os pais homens.

Ao analisar-se o Noroeste sob essa nova ótica, a região adquire um retrato diferente do que pressupõe a lógica estabelecida. Essa nova conformação do meio rural está posta nos países desenvolvidos desde meados do século XX, e é promovida a tempos pela mudança na ótica, diga-se metodologia de análise, conseqüência da adoção de critérios mais refinados para entender e traduzir a dinâmica da movimentação populacional, conforme mostra a Tabela 4.

Observa-se que, quando comparadas às distribuições entre os componentes da população que habitam o “meio rural” e o “meio urbano” - Grupo 1, que reúne os municípios classificados pelo IBGE, como: “Rural de Pequena Dimensão”: ocorrem mais crianças (29,4%); mais pessoas na faixa economicamente ativa (64,3%) e menos idosos (6,3%) no “meio rural” que no meio “urbano”, onde se observa: 27,9%, 63,8%, e 8,3%, respectivamente.

12

E, ainda, na Tabela 4, no do Grupo 2, que reúne municípios classificados pelo IBGE como: “Em Transição para o Urbano de Pequena Dimensão” até o intervalo daqueles municípios classificados como “Urbano de Grande Dimensão”, observa-se que ao comparar os componentes da população que habitam o “meio rural” e o “meio urbano”, ocorre: mais crianças (29,0%); menos pessoas na faixa economicamente ativa (65,0%) e menos idosos (6,0%) no “meio rural” que no “meio urbano”, onde se observa: 26,8%, 66,4%, e 6,8%, respectivamente. TABELA 4. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NOS MUNICÍPIOS DO NOROESTE DO PARANÁ A PARTIR DOS CRITÉRIOS OFICIAIS, 2000.

Agrupamento dos Municípios de Acordo Com os Critérios Oficiais

Composição da População

(a)

G.1 Localida- des “Rurais de

Pequena Dimensão”

% em relação aos

componentes da população

% do Total

G.2 Localidades em Tran-sição de “Urbano de Peque- na Dimensão” até “Urbano

de Grande Dimensão”

% em relação aos

componentes da população

% do Total Total

1 Meio Considerado Rural (a): População de 0 a 14 anos 12.004 29,4 14,4 71.506 29,0 85,6 8População de 15 a 64 anos 26.224 64,3 14,0 160.550 65,0 86,0 1População de 65 anos ou mais 2.550 6,3 14,6 14.908 6,0 85,4 1Sub-Total – População Rural 40.778 100,0 14,2 246.964 100,0 85,8 2Índice de envelhecimento (b) 6,37 5,89 Razão de Dependência (c) 55,08 54,19 Razão de Sexos (d) 111,13 111,43 2 Meio Considerado Urbano População de 0 a 14 anos 7.973 27,9 2,3 346.970 26,8 97,7 3População de 15 a 64 anos 18.223 63,8 2,1 860.110 66,4 97,9 8População de 65 anos ou mais 2.386 8,3 2,7 88.117 6,8 97,3 9Sub-Total – População Urbana 28.582 100,0 2,2 1.295.197 100,00 97,8 1Índice de Envelhecimento (b) 8,52 7,70 Razão de Dependência (c) 56,72 54,85 Razão de Sexos (d) 98,33 98,00 Número de Municípios 14 12,2 101 87,8 1População TOTAL 69.360 4,3 1.542.161 95,7 1

FONTES: IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO; IPARDES - TABULAÇÕES ESPECIAIS * NOTA: (A) - SOB A ÓTICA DA METODOLOGIA OFICIAL (IBGE - CENSO 2000). (B) PROPORÇÃO DE IDOSOS (65 ANOS OU MAIS) SOBRE A POPULAÇÃO TOTAL ; (C) PERCENTUAL DE IDOSOS E CRIANÇAS (POPULAÇÃO DE 0 A 14 SOMADA À DE 65 ANOS OU MAIS) SOBRE A POPULAÇÃO DE 15 A 64 ANOS; (D) RELAÇÃO DA POPULAÇÃO MASCULINA SOBRE A FEMININA.

Na Tabela 5, utiliza-se a classificação por densidade demográfica, comparando-se as

distribuições dos componentes da população que habitam o “meio rural” e o “meio urbano” da Região Noroeste. E, no estrato que reúne os municípios que apresentam densidade demográfica menor que 50 hab/km2, ocorrem: mais crianças (29,1%); mais pessoas na faixa economicamente ativa (64,7%) e menos idosos (6,2%) no “meio rural” que no meio “urbano”, onde se observa: 27,7%, 64,4%, e 7,9%, respectivamente.

Observa-se, ainda na Tabela 5, dentro do estrato, “Municípios com densidade demográfica maior que 50 hab/km2” que, quando se comparam componentes da população que habita o “meio rural” e o “meio urbano”, ocorre: mais crianças (28,8%); menos pessoas na faixa economicamente ativa (65,5%) e menos idosos (5,7%) no “meio rural” que no “meio urbano”, onde se observa: 26,2%, 67,6%, e 6,2%, respectivamente.

Na Tabela 6, observa-se a comparação simples entre os critérios oficiais e a proposta adotada de densidade demográfica (comparativo entre o Grupo 1 da Tabela 10 e Grupo 3 da Tabela 11).

Nota-se o acréscimo de 454,5% no número relativo de habitantes no “ambiente rural” e acréscimo de 1.695,7% no número relativo de habitantes do “ambiente urbano”, e ainda: uma redução do índice de envelhecimento da população (-6,2%), e redução na razão de dependência entre os componentes da população (-1,6%). Pode-se afirmar que nestas

13

localidades com características rurais, a população é relativamente mais jovem, menos dependente, e possuem 4,54 vezes mais habitantes no “ambiente rural” e 16,95 vezes mais habitantes no ambiente “considerado rural”, de que os números oficiais apresentam.

TABELA 5. DISTRIBUIÇÃO DOS COMPONENTES DA POPULAÇÃO NOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO NOROESTE A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA, 2000. Agrupamento dos Municípios de Acordo Com os Critérios de Densidade Demográfica

Composição da População

(a)

Grupo 3 -Municípios com

densidade demográfica

menor que 50

% em relação aos

componentes da população

% em relação ao Total

Grupo 4 - Municípios com

densidade demográfica maior que 50

% em relação aos

componentes da população

% em relação ao Total

Total

1- No Meio Rural: População de 0 a 14 anos 65.770 29,1 78,8 17.740 28,8 21,2 83.510 População de 15 a 64 anos 146.391 64,7 78,4 40.383 65,5 21,6 186.774 População de 65 anos ou + 13.946 6,2 79,9 3.512 5,7 20,1 17.458 Sub-Total - População Rural 226.107 100,0 78,6 61.635 100,0 21,4 287.742 Índice de envelhecimento (b) 5,99 5,62 Razão de Dependência (c) 54,47 53,07 Razão de Sexos (d) 111,43 111,11 2-No Meio Urbano: População de 0 a 14 anos 142.361 27,7 40,1 212.582 26,2 59,9 354.943 População de 15 a 64 anos 330.371 64,4 37,6 547.962 67,6 62,4 878.333 População de 65 anos ou + 40.528 7,9 44,8 49.975 6,2 55,2 90.503 Sub-Total - População Urbana 513.260 100,0 38,8 810.519 100,0 61,2 1.323.779 Índice de Envelhecimento (b) 7,98 7,80 Razão de Dependência (c) 55,81 55,08 Razão de Sexos (d) 98,42 98,04 Número de Municípios 14 12,2 101 87,8 115 População TOTAL 739.367 45,9 872.154 54,1 1.611.521

FONTES: IBGE - Censo Demográfico; IPARDES - Tabulações Especiais. * Nota: (a) - Sob a ótica da metodologia oficial (IBGE - CENSO 2000). (b) Proporção de idosos (65 anos ou mais) sobre a população total. (c) Percentual de idosos e crianças (população de 0 a 14 somada à de 65 anos ou mais) sobre a população de 15 a 64 anos. (d) Relação da população masculina sobre a feminina. TABELA 6. COMPARAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NOS MUNICÍPIOS DO NOROESTE DO PARANÁ ENTRE OS CRITÉRIOS OFICIAIS E DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA – 2000. Comparativo Entre os Critérios de Classificação

Composição da Família (a) Comparação: Grupo 2 / Grupo 4 (em %)

Comparação: Grupo 2 / Grupo 4 (em %)

1- No Meio Considerado Rural (a): População de 0 a 14 anos 447,9 % - 75,2 % População de 15 a 64 anos 458,2 % - 74,8 % População de 65 anos ou mais 446,9 % - 76,4 % Sub-Total 454,5 % - 75,0 % Índice de envelhecimento (1) - 6,0 % - 4,5 % Razão de dependência (2) - 1,1 % - 2,1 % Razão de sexos (3) 0,3 % - 0,3 % 2- No Meio Considerado Urbano (a) População de 0 a 14 anos 1.685,5 % - 38,7 % População de 15 a 64 anos 1.712,9 % - 36,3 % População de 65 anos ou mais 1.598,6 % - 43,3 % Sub-Total 1.695,7 % - 37,4 % Índice de envelhecimento (1) - 6,2 % 1,3 % Razão de dependência (2) - 1,6 % 0,4 % Razão de sexos (3) 0,1 % 0,0 % Número de Municípios 0,0 % 0,0 % População TOTAL 966,0 % - 43,4 %

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FONTES: OCDE (1996). IPARDES (2002). E IBGE (CENSO DEMOGRÁFICO DE 2000); LEGISLAÇÕES FEDERAL E ESTADUAL. * OBS:(A) - SOB A ÓTICA DA METODOLOGIA OFICIAL (IBGE - CENSO 2000).

Na Tabela 7, apresenta-se os números sob a ótica da classificação mediante os critérios

da densidade demográfica, compara-se às distribuições dos componentes da população que habitam o “meio rural” e o “meio urbano” do Noroeste.

Ainda na Tabela 7, observa-se que, no estrato que reúne os municípios ou “Localidades Essencialmente Rurais” + “Relativamente Rurais” – Grupo 5, ocorrem: mais crianças (29,%); mais pessoas na faixa economicamente ativa (64,8%) e menos idosos (6,1%) no “meio rural” que no meio “urbano”, onde se observa: 27,7% da população na faixa de 0 a 14 anos; 64,5% na faixa de 15 a 64 anos; e 7,8% na faixa acima de 75 anos. TABELA 7. DISTRIBUIÇÃO DOS COMPONENTES DA POPULAÇÃO NOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO PARANÁ A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA UTILIZADOS PELA OCDE (1996) – 2000. Agrupamento dos Municípios de Acordo Com os

Critérios de Densidade Demográfica Utilizados pela OCDE

Composição da População

(a)

Grupo 5 - Localidades

Essencialmente Rurais +

Relativamente Rurais (b)

% em relação aos

componentes da população

% em relação ao Total

Grupo 6 - Localidades Essencial-

mente Urbanas

% em relação aos

componentes da população

% em relação ao Total

Total

1- No Meio Rural (a): População de 0 a 14 anos 68.584 29,0 82,1 14.926 28,9 17,9 83.510 População de 15 a 64 anos 153.145 64,8 82,0 33.629 65,2 18,0 186.774 População de 65 anos ou mais 14.430 6,1 82,7 3.028 5,9 17,3 17.458 Sub-Total 236.159 100,0 82,1 51.583 100,0 17,9 287.742 Índice de envelhecimento (b) 6,13 5,95 Razão de Dependência (c) 54,58 54,68 Razão de Sexos (d) 111,33 110,99 2- No Meio Urbano a): População de 0 a 14 anos 147.886 27,7 41,7 207.057 26,2 58,3 354.943 População de 15 a 64 anos 345.118 64,5 39,3 533.215 67,6 60,7 878.333 População de 65 anos ou mais 41.662 7,8 46,0 48.841 6,2 54,0 90.503 Sub-Total 534.666 100,0 40,4 789.113 100,0 59,6 1.323.779 Índice de Envelhecimento (b) 8,21 6,84 Razão de Dependência (c) 56,27 50,67 Razão de Sexos (d) 98,25 97,27 Número de Municípios População TOTAL 14 12,2 101 87,8 115 FONTES: IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO; IPARDES - TABULAÇÕES ESPECIAIS. NOTA: (A) - SOB A ÓTICA DA METODOLOGIA OFICIAL (IBGE - CENSO 2000); (B) PROPORÇÃO DE IDOSOS (65 ANOS OU MAIS) SOBRE A POPULAÇÃO TOTAL; (C) PERCENTUAL DE IDOSOS E CRIANÇAS (POPULAÇÃO DE 0 A 14 SOMADA À DE 65 ANOS OU MAIS) SOBRE A POPULAÇÃO DE 15 A 64 ANOS; (D) RELAÇÃO DA POPULAÇÃO MASCULINA SOBRE A FEMININA.

Já no estrato que reúne os municípios considerados “Localidades Essencialmente Urbanas” – Grupo 6, continua ocorrendo em seu “meio rural”: mais crianças (28,8,%); porém menor proporção de pessoas na faixa economicamente ativa (65,2%). E como no estrato anterior, menor proporção de idosos (6,1%) no “meio rural” que no meio “urbano”, onde se observa: 26,2% da população na faixa de 0 a 14 anos; 67,6% na faixa de 15 a 64 anos; e 6,2% na faixa acima de 75 anos.

Na Tabela 8, comparam-se os critérios oficiais à proposta adotada pela OCDE, (Grupo 1 da Tabela 4 e Grupo 5 da Tabela 6). Lembra-se que na metodologia proposta pela OCDE (1996) também é utilizado o critério da taxa de urbanização, assim como pelo IBGE, porém com um outro enfoque conceitual, onde a OCDE difere por considerar ainda “Localidades Relativamente Rurais” aquelas com a taxa de urbanização entre 50,00% e 84,99%.

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Ainda, na Tabela 8 apresenta-se a comparação entre os municípios considerados pelo IBGE “urbanos” ou “Em Transição para o Urbano de Pequena Dimensão para Rural de Pequena Dimensão”, que sob a ótica dos critérios propostos pela OCDE (1996) podem ser consideradas “Localidades Essencialmente ou Relativamente Rurais”. E nota-se que a população é: relativamente mais jovem; menos dependente; e que o extrato dessas localidades, dentro do “meio considerado rural”, possuem 4,79 vezes mais habitantes. Existem 17,70 vezes mais habitantes que de os números oficiais tratam no “meio considerado urbano” dessas localidades rurais.

TABELA 8. COMPARAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS COMPONENTES DA POPULAÇÃO DOS MUNICÍPIOS ENTRE OS CRITÉRIOS OFICIAIS E OS CRITÉRIOS PROPOSTOS PELA OCDE (1996) NA REGIÃO NOROESTE DO PARANÁ – 2000. Comparativo entre Critérios de Classificação dos Municípios

Composição da Família (a) Comparação: Grupo 1 / Grupo 5

Comparação: Grupo 2 / Grupo 6

1- No Meio Considerado Rural (a): População de 0 a 14 anos 471,3 % - 79,1 % População de 15 a 64 anos 484,0 % - 79,1 % População de 65 anos ou mais 465,9 % - 79,7 % Sub-Total 479,1 % - 79,1 % Índice de envelhecimento (1) - 3,9 % 1,0 % Razão de dependência (2) - 0,9 % 0,9 % Razão de sexos (3) 0,2 % - 0,4 % 2- No Meio Considerado Urbano (a) População de 0 a 14 anos 1.754,8 % - 40,3 % População de 15 a 64 anos 1.793,9 % - 38,0 % População de 65 anos ou mais 1.646,1 % - 44,6 % Sub-Total 1.770,6 % - 39,1 % Índice de envelhecimento (1) - 3,6 % - 11,1 % Razão de dependência (2) - 0,8 % - 7,6 % Razão de sexos (3) - 0,1 % - 0,7 % Número de Municípios 0,0 % 0,0 % População TOTAL 1.011,3 % - 45,5 % FONTES: (IPARDES, 2002), (IBGE - CENSO 2000), (OCDE, 1996.) * OBS:(a) - SOB A ÓTICA DA METODOLOGIA OFICIAL (IBGE – CENSO, 2000).

Em síntese, observa-se que, nas convenções adotadas e anteriormente discutidas, os

resultados são bastante semelhantes. E permitem afirmar que no “meio rural” desta região se encontra um número maior de cidadãos do que o método oficial nos apresenta. Observa-se, em especial, mais crianças e pessoas entre a faixa de idade economicamente ativa (entre 15 e 64 anos).

3.1. AS IMPLICAÇÕES DE UMA NOVA ÓTICA PARA O RURAL DO NOROESTE DO PARANÁ A existência de núcleos familiares nos estabelecimentos agrícolas, e nas localidades

rurais são importante trunfo de desenvolvimento rural ou local, e constitui-se de um importante manancial de habilidades empreendedoras de onde nascem muitas das pequenas empresas comerciais, artesanais ou micro-industriais que trazem diversidade às economias locais. Criam oferta de trabalho flexível, e negócios instalados nas propriedades, e oportunidades ao suporte de atividades geradoras de renda consideradas não rurais que permite flexibilidade ao mercado de trabalho e minimizam o impacto de desemprego. Daí a importância de políticas adequadas, diga-se: equilibradas, afirmava Veiga (2001:13).

O processo de desenvolvimento tende a separar o surgimento de novos empregos do grau de urbanização regional. Foi o que mostrou o amplo programa de pesquisas desencadeado pela OCDE (1996) quando ficou evidente que certas regiões rurais dos países mais desenvolvidos voltariam a ter dinamismo econômico, enquanto que as mais urbanas

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estagnavam ou até decaiam. Também já revelaram o segredo dessa inesperada alteração de tendência: o grau de diversificação das economias regionais. Uma constatação que inverteu a anterior avaliação das formas de produção do setor agropecuário. Muito do que sempre foi considerado ineficiente do ponto de vista setorial, agora é tido com um dos mais preciosos trunfos de desenvolvimento local (Veiga, 2001:15).

Essa mudança conceitual condena qualquer fatalismo sobre o suposto declínio inexorável das economias rurais. As economias rurais mais dinâmicas são as polivalentes e diversificadas pois, simultaneamente importam consumidores de seus atributos territoriais e exploram economias de escala e de escopo na exportação de seus produtos. Deve-se considerar também que não é muito comum uma região dispor de condições naturais e humanas tão privilegiadas. (Veiga, 2001:15). Daí nota-se a importância de que possua políticas públicas que oportunizem a população rural, preparando-a para o futuro.

Uma afirmação que não teria sido confirmada, caso a tipologia tivesse abrangido aos municípios que abrigam essas “pequenas cidades”. Teria ficado claro que: não houve êxodo em grande número de municípios rurais de todas as regiões e estados e que ocorreu até o inverso em um quarto desses municípios, fenômeno com sérias implicações para o desenvolvimento, cujas razões precisam ser mais conhecidas para que possam orientar as políticas públicas.

Sob essa lente é possível afirmar que os conceitos atuais carecem de revisão e torna necessário o desenvolvimento de políticas específicas que atendam a esta realidade. Nota-se, pelo que foi apresentado nas Tabelas 4, 5, 6 e 7 quanto à distribuição dos componentes da população do Noroeste, que aquilo que pode ser chamado “rural”, é diferente do que se convencionou até hoje.

Um exemplo de contraponto a essa nova conceituação (de observar a geografia econômica sob outro ângulo, e então, permitir a implementação de políticas públicas compensatórias às populações rurais) é reproduzido pela interpretação da Lei de responsabilidade fiscal (estabelecida a partir de 2001), que tem provocado aos cidadãos do meio rural algumas limitações no seu acesso aos serviços de educação.

Observa-se na região Noroeste, que os municípios tem enfrentado dificuldades legais e operacionais para manter o transporte escolar de estudantes que vivem em regiões rurais. Diga-se, o transporte escolar é uma das formas de estímulo ou política pública compensatória capaz de facilitar que os jovens do meio rural possam ter acesso a esse serviço “obrigatório”.

Entretanto, o executivo municipal encontra-se legalmente impedido de fazê-lo, uma vez que o Ministério Público, no cumprimento de suas atribuições, tem proposto ações para caçar o mandato de prefeitos que ainda insistem em transportar escolares do meio rural às escolas situadas nas localidades mais próximas, ou àquelas mais graduadas, localizadas nos grandes centros urbanos.

3.2. RECEITAS PARTILHADAS PELA UNIÃO E ESTADO COM OS MUNICÍPIOS O objeto de análise, neste tópico, concentra-se na metodologia que define os índices

que compõe o rateio do FPM-ICMS; e na metodologia que define os índices que compõe o rateio do FPM. É um dos pontos centrais na divisão dos recursos arrecadados com impostos pela União e Estado aos municípios, pois são os valores de maior expressão.

Quanto ao FPM, observa-se na Tabela 9 que, dentro do montante dos repasses realizados pelo Governo Federal, via fundos federais aos municípios, estes são os maiores valores dentre os recebidos, quando comparado aos repasses realizados: pela União ao Estado; Pelo Estado aos municípios; e às receitas próprias. Em 2002 os montantes do FPE ao Paraná, por exemplo, representa 1,41% do montante, e que o FPM aos Municípios do Paraná representa 3,43%.

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TABELA 9. DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS PELOS ESTADO E MUNICÍPIOS DO PARANÁ VIA FUNDOS FEDERAIS - EM MILHÕES DE R$ CORRIGIDOSA PARA MAIO/03

Fundos 1999 % 2000 % 2001 % 2002 % FPE1B ao Paraná 488,03 1,35% 548,24 1,40% 584,79 1,41% 647,42 1,41% FPE B Total aos Estados 16.926,72 46,85% 19.015,04 48,73% 20.282,80 48,83% 22.455,24 48,83% FPMC dos Mun. Do Paraná 1.320,14 3,65% 1.360,70 3,49% 1.443,39 3,47% 1.593,51 3,46% FPMC Total aos Municípios 19.203,89 53,15% 20.007,55 51,27% 21.255,30 51,17% 23.533,63 51,17% Soma – FPE + FPM 36.130,61 100,0% 39.022,59 100,0% 41.538,10 100,0% 45.988,87 100,0% DADOS EXTRAÍDOS DO MINISTÉRIO DA FAZENDA, SIAFI/ STN/COFIN/DIREV. NOTA: A VALORES CORRIGIDOS PELO IGP-DI/FGV/O ESTADO DE SÃO PAULO (2003). B FPE – FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS – REPASSADO DA UNIÃO. C FPM – FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS – REPASSADO PELA UNIÃO

Comprova-se na Tabela 10 que, o grau de dependência dos municípios do Noroeste em relação aos Repasses de recursos dos Governos Estadual e Federal são elevados, apenas 3,31% dos recursos obtidos provém de receitas próprias. TABELA 10. TRANSFERÊNCIAS DA RECEITA CORRENTE DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO NOROESTE E DO ESTADO DO PARANÁ EM PERCENTAGEM, 2000.

Principais Transferências de Receitas (em%) Médias Transferências da União Transferências do Estado Receitas Próprias Média da Região Noroeste 54,14 % 27,15 % 3,31 % Média dos Municípios do Estado 41,30 % 28,97 % 7,45 %

FONTES: (IPARDES, 2002), TABULAÇÕES ESPECIAIS ADAPTADAS PELO AUTOR.

Lembre-se que o recebimento dos recursos transferidos pela União e os Estados independe da aprovação de planos de aplicação. A liberação da parte que lhe cabe fica, no entanto, a depender da liquidação das dívidas do Governo local ou de seus órgãos da Administração indireta para com a União, o Estado ou suas autarquias, inclusive as oriundas de prestação de garantias.

Quanto ao FPM a participação de cada Município é determinada pela aplicação de coeficientes variáveis de acordo com o número de habitantes. Os coeficientes são reajustados sempre que, por meio de recenseamento demográfico geral, onde seja conhecida oficialmente a população total do país, são estabelecidos pelo Decreto-Lei nº 1.881/81 e Decisão do Tribunal de Contas da União nº 44/01. Observa-se porém que, os coeficientes de Municípios com população até 10.188 habitantes são os mesmos, e um mesmo coeficiente (0,6) é utilizado para a divisão dos recursos aos municípios com 2.000, 5.000, ou 8.000 habitantes. Já aqueles com população entre 10.189 a 13.584 possuem um coeficiente de 0,8; os de população entre 13.585 a 16.980 habitantes possuem um coeficiente de 1,0; e assim por diante. Na região Noroeste existem 79 municípios com população menor que 10.188 habitantes e 36 deles com população acima deste número.

Quanto ao FPM-ICMS, observa-se que no cálculo dos índices que o compõe, a Secretaria de Estado da Fazenda – SEFA (2003), consolida as informações do valor adicionado dos dois últimos exercícios com as informações do último Senso existente. A participação de cada Município é determinada pela aplicação de coeficientes variáveis e estabelece-se um peso relativo aos itens a seguir: 75% é composto pelo índice de Valor Adicionado; em 8% pelo índice da Produção Agropecuária; em 6% pelo índice do Número de Habitantes Rurais; em 5% pelo Fator Ambiental; em 2% pelo índice de Propriedades Rurais; em 2% pela Área Territorial; e em 2% por um Fator Fixo Estadual.

Observa-se também que, conforme o exposto anteriormente o peso do Valor Adicionado (de 75%) na composição do índice é bastante razoável; que o peso do Valor Bruto da Produção Agropecuária (de 8%) é bastante modesto; e que o peso da população rural é

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pequeno (de apenas 6%). Na Tabela 11, nota-se que, o valor adicionado produzido pelo setor primário participou com: 24,1% em 1999; 22,1% em 2000; 22,8% em 2001.

TABELA 11 - IMPORTÂNCIA DOS SETORES DA ECONOMIA NA COMPOSIÇÃO DO VALOR AGREGADO REGIÃO NOROESTE DO ESTADO, 1999 A 2001 – EM MILHÕES DE R$ CORRIGIDOSA PARA MAIO/03. Composição do Valor Agregado

Ano Produção Primária % Indústria % Comércio % Rec./Autos % TOTAL 1999 1.613,8 24,1% 1.243,5 18,6% 1.587,1 23,7% 27,8 0,41% 6.702,7 2000 1.621,4 22,1% 1.479,2 20,2% 1.837,8 25,1% 32,4 0,44% 7.329,0 2001 2.088,8 22,8% 1.753,7 19,1% 2.289,6 25,0% 51,4 0,56% 9.165,8

Fonte: (SEFA, 2003). NOTA: A Valores corrigidos pelo IGP-DI/FGV/O Estado de São Paulo (2003)

Nota-se, na Quadro 3, a importância econômica que a agropecuária possui aos municípios da Região Noroeste. Note-se, no ano de 2001: em 72,2% dos municípios o “Valor Agregado da Produção Primária” é superior a 25% do montante; em 91,3% o “Valor Bruto da Produção Agropecuária” é superior a 25% dos demais setores; e em 41,7% o “Valor Bruto da Produção Agropecuária” é superior a 50% do montante entre os três setores da economia.

Observa-se que no ano de 2000, em 79 municípios o valor agregado de produção primária representava mais de 25% do PIB municipal; em 104 deles o Valor Bruto da Produção Agropecuária representava mais que 25% do PIB; e em 50 municípios o Valore Bruto da Produção Agropecuária representava mais de 50%. QUADRO 3. CLASSIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUANTO A PARTICIPAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO VALOR AGREGADO E VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM RELAÇÃO AO TOTAL DE RIQUEZAS GERADAS DE 1999 A 2001.

Ano Valor Agregado da Produção Primária

Maior que 25% %

Valor da Produção Agropecuária Maior

que 25% %

Valor da Produção Agropecuária Maior

que 50% % Total

1999 87 75,7% 108 93,9% 48 41,7% 115 2000 79 68,7% 104 90,4% 50 43,5% 115 2001 83 72,2% 105 91,3% 48 41,7% 115

FONTE: (SEFA,2003) E (IPARDES, 2002), ADAPTADOS PELO AUTOR. Resgata-se os números apresentados nas Tabelas 5 e 7, e nota-se também um outro

aspecto muito importante: com a adoção de um novo critério de classificação entre rural e urbano, o número de habitantes considerados “rurais” seriam 1.695,7 %, e 1.770,6 %, respectivamente, superiores aos números atualmente utilizados.

Pode-se então, dependendo do critério a se adotar, aumentar a proporção deste índice em 16,9 ou 17,7 vezes, apesar deste critério compor apenas 6% do índice para o cálculo de FPM-ICMS.

4.0 - CONCLUSÃO

Esta pesquisa mostrou que a forma que a estatística oficial está sendo tratada,

enfocando a separação do rural e do urbano no Brasil, desde 1938, tem causado problemas sociais, econômicos e culturais, especialmente às populações rurais, aos pequenos municípios e a economia de regiões chamadas “agrícolas”.

O repasse de verbas do FPM-ICMS do Paraná para os municípios é determinado pela aplicação de coeficientes variáveis, pelos quais são estabelecidos um peso relativo dos índices. Conforme foi visto, eles são dados por: 75% Valor Adicionado; 08% Valor Bruto da Produção Agropecuária; 06% Número de Habitantes Rurais; 05% Fator Ambiental; 02% Número de Propriedades Rurais; 02% Área Territorial; e, 02% por um Fator Fixo Estadual. Observou-se também que, o peso do Valor Adicionado na composição do índice é razoável, que o peso do Valor Bruto da Produção Agropecuária é modesto e, que o peso da população

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rural é pequeno, revelando-se, assim, a importância de rever o critério do que seja população rural para efeito de ampliar o recebimento de verbas pelos municípios menores

Isto é, com a adoção de um novo critério de classificação entre o rural e o urbano, o número de habitantes considerados “rurais” aumentaria entre 1.695,70% e 1.770,60%, no Noroeste, o que é muito superior aos números atualmente utilizados. Pode-se, então, dependendo do critério a se adotar, aumentar a proporção deste índice de 16,9 a 17,7 vezes, apesar de a lei em vigor permitir o repasse de apenas 6% do índice para o cálculo de FPM-ICMS.

Além dos ganhos de caráter econômico que possíveis mudanças na sistemática de mensuração da população e uma nova ótica possam trazer, talvez o maior ganho seja no aspecto cultural. Pois, ao considerar “o rural é maior do que o agrícola” a região é vista no seu todo, num continuum, onde não há separação do campo e da cidade, como tem se verificado alhures. Esse novo enfoque permite a formulação de políticas públicas de longo alcance a partir da idéia de se promover o desenvolvimento territorial.

É que, aquelas definições atribuídas à cidade também tem chegado ao campo, especialmente com o advento da globalização financeira, que transformou os lugares em mercado, nos quais a produção passou a ter um caráter revigorado de mercadoria, não importando onde é produzida, se no campo ou na cidade.

Esta realidade também tem se verificado na região Noroeste do Paraná, na qual a mensuração da população rural e urbana stritctu sensu a cada dia torna-se mais difícil de ser feita pelo entrelaçamento daqueles que moram na cidade e trabalham no campo e daqueles que moram no campo e trabalham nas atividades ditas urbanas até há pouco tempo.

É necessário aperfeiçoar o método de análise estatística oficial com a utilização de critérios de densidade demográfica, tamanho das populações e localização relativa aos grandes centros, além da taxa de urbanização, para que se possa dimensionar adequadamente a situação e a dinâmica das populações.

Por outro lado, a adoção do critério metodológico proposto pela OCDE (1996), permitiria ao menos a padronização e a comparação com outros países.

A criação e a manutenção de políticas públicas mais adequadas e compensatórias, pode ainda assegurar certa reserva de mão de obra nos municípios menores, de modo que possa ser disponibilizada, por pressão de demanda e de concorrência, às pequenas cidades ou até mesmo às propriedades rurais, como uma reserva de população e de capital intelectual, disponível aos novos ciclos econômicos.

A alteração do paradigma criado há 65 anos é, sobretudo, fruto da decisão política de mudar o convencional, no intuito de melhorar a performance dos territórios distantes dos grandes centros.

E, ensaios que indiquem caminhos para a melhoria das responsabilidades dos entes federados e na distribuição das riquezas produzidas de maneira mais equilibrada, passa por deter uma visão de realidade mais apurada e precisa. Por isso, sugere-se que novas pesquisas sejam feitas, com vistas a lançar luzes sobre essa questão, que é das mais urgentes para que se possa viabilizar a sobrevivência dessas populações rurais e das pequenas localidades.

5.0 - BIBLIOGRAFIA

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