resumo - porque não ensinar gramática

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PORQUE NÃO ENSINAR GRAMÁTICA NA ESCOLA INTRODUÇÃO A primeira parte do livro apresenta um conjunto de teses em linguística seguida de justificativa, porém, não se trata de aumentar o conhecimento técnico em português, mas sim de um conjunto de princípios destinado a provocar reflexão do que aumentar o saber. Dá ênfase no ensino de língua materna, mas que não se faça experiências com alunos, transformando-os em objetos para novas teorias. Caso o experimento venha fracassar o que se desperdiça não são simples materiais, mas vidas, partes de projetos de alunos, até mesmo projetos e vidas inteiras, portanto, as teses que serão expostas são óbvias. Na esperança de que se apresente um programa de ensino que funcione, frequentemente são chamados pesquisadores e espera que através deste programa, os especialistas tragam propostas práticas, mas que sem qualquer mudança na escola e nos professores isto não resolve. Para que o ensino mude não basta preencher algumas lacunas, é necessária uma revolução. Para o ensino de português nada se resolverá se não mudar a concepção de língua e de ensino da mesma na escola, no entanto, seguem-se teses básicas em relação ao problema do ensino de língua materna. O PAPEL DA ESCOLA É ENSINAR LÍNGUA PADRÃO O autor adota sem qualquer dúvida o principio de que o objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou mais exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido. A tese de que não se deve ensinar ou exigir o domínio do dialeto padrão dos alunos que conhecem e usam os dialetos não padrões baseiam-se em parte no preconceito. Esta afirmativa é falsa, as razões pela qual não se aprende ou aprende, mas não se usa um dialeto padrão, são de outra ordem, tendo a ver em grande parte com os valores sociais dominantes.

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Resumo da Obra: Porque não ensinar gramática na escola, tras as abordagens e reflexões que dá enfase ao livro.

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  • PORQUE NO ENSINAR GRAMTICA NA ESCOLA

    INTRODUO

    A primeira parte do livro apresenta um conjunto de teses em lingustica seguida

    de justificativa, porm, no se trata de aumentar o conhecimento tcnico em portugus,

    mas sim de um conjunto de princpios destinado a provocar reflexo do que aumentar o

    saber.

    D nfase no ensino de lngua materna, mas que no se faa experincias com

    alunos, transformando-os em objetos para novas teorias. Caso o experimento venha

    fracassar o que se desperdia no so simples materiais, mas vidas, partes de projetos de

    alunos, at mesmo projetos e vidas inteiras, portanto, as teses que sero expostas so

    bvias.

    Na esperana de que se apresente um programa de ensino que funcione,

    frequentemente so chamados pesquisadores e espera que atravs deste programa, os

    especialistas tragam propostas prticas, mas que sem qualquer mudana na escola e nos

    professores isto no resolve. Para que o ensino mude no basta preencher algumas

    lacunas, necessria uma revoluo.

    Para o ensino de portugus nada se resolver se no mudar a concepo de lngua

    e de ensino da mesma na escola, no entanto, seguem-se teses bsicas em relao ao

    problema do ensino de lngua materna.

    O PAPEL DA ESCOLA ENSINAR LNGUA PADRO

    O autor adota sem qualquer dvida o principio de que o objetivo da escola

    ensinar o portugus padro, ou mais exatamente, o de criar condies para que ele seja

    aprendido.

    A tese de que no se deve ensinar ou exigir o domnio do dialeto padro dos

    alunos que conhecem e usam os dialetos no padres baseiam-se em parte no

    preconceito. Esta afirmativa falsa, as razes pela qual no se aprende ou aprende, mas

    no se usa um dialeto padro, so de outra ordem, tendo a ver em grande parte com os

    valores sociais dominantes.

  • As razes pelas quais s vezes a escola fracassa nesses objetivos so variadas, as

    razes podem ser de ordem metodolgica ou decorrente de valores sociais complexos.

    Parte dos problemas que levam ao fracasso tm a ver com a forma como se concebem a

    funo e as estratgias do ensino de lnguas.

    DAMOS AULAS DE QUE A QUEM?

    possvel trabalhar bem em certos pontos de uma linha de produo sem

    conhecer o projeto global ou at mesmo o produto final, porm, isto diferente quando

    se trata de escola e de alunos.

    Para que um projeto de ensino de lngua seja bem sucedido, deve haver uma

    condio, ou seja, que haja uma concepo clara do que seja uma lngua e do que seja

    uma criana. Quanto s poderemos pensar o que quisermos, mas no somos autorizados

    a dizer que, mesmo as menos dotadas do ponto de vista material, que so incapazes de

    aprender lnguas. Observamos diariamente que as crianas so bem sucedidas no

    aprendizado das regras necessrias para falar, tendo como a maior evidncia disso que

    falam. Se as lnguas so sistemas complexos e as crianas as aprendem, temos a a

    certeza, elas no so incapazes.

    Ter uma concepo clara sobre os processos de aprendizagem pode ditar o

    comportamento dirio do professor de lngua em sala de aula.

    NO H LINGUAS FCEIS OU DIFICEIS

    Afirmar que h lnguas primitivas um equivoco que equivale a afirmar que a lua

    um planeta, que o sol gira ao redor da terra. Estes equvocos foram correntes, mas

    hoje, h um argumento forte contra eles: o conhecimento cientifico.

    Da mesma maneira, hoje sabemos que todas as lnguas so estruturas de igual

    complexidade. Isto significa que no h lngua simples e lngua complexa, primitiva e

    desenvolvida, o que h so lnguas diferentes.

  • NO EXISTEM LINGUAS UNIFORMES

    Para quem pretendem ter uma viso mais adequada do fenmeno da linguagem,

    dois fatos so importantes: primeiro, todas as lnguas variam, isto , no existe nenhuma

    sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma. Segundo, a variedade

    lingustica o reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma

    diferena de status ou de papel entre indivduos ou grupos, estas diferenas se refletem

    na lngua, ou seja, a primeira verdade que devemos encarar relativa ao fato de que em

    todos os pases existem variedades de lngua.

    Uns dos tipos de fatores que produzem diferenas na fala de pessoas so externos

    lngua.

    Os principais so geogrficos, de classe, de idade, de sexo, de etnia etc., tambm

    h fatores internos lngua, ou seja, a variao de alguma forma regida por uma

    gramtica interior da lngua, como por exemplo: pode haver erro em palavras como

    caixa, peixe, outro, na linguagem no padro se eliminaria a semivogal (caxa, pexe,

    outro). Nunca se ouve dizer (peto ou jeto) ao invs de peito e jeito, ou seja, h erros

    que ningum comete, porque a lngua no permite.

    NO EXISTEM LINGUAS IMUTVEIS

    Aprendemos na escola que o portugus veio do latim, ou seja, o portugus uma

    lngua que no foi sempre o portugus. Se estudssemos um pouco mais, veramos que

    o latim tambm uma lngua que veio de outras lnguas. Portanto a lngua tem sofrido

    mudanas e adaptaes no decorrer dos anos.

    FALAMOS MAIS CORRETAMENTE DO QUE PENSAMOS

    Uma das frases frequentemente usada sobre alunos ou outros cidados pouco

    cultos que falam tudo errado. Ela tem sido empregada tanto em relao aos alunos

    quanto a pessoas de classes sociais menos favorecidas, ou de outras regies do pas.

    No h nada mais errado do que pensar que aqueles de quem se diz falar errado

    falam tudo errado. Sabemos que essa ideia cientificamente problemtica, j vimos

  • quanto preconceito h embutido nela. Mesmo se admitssemos que falar diferente seja

    falar errado, devamos, pelo menos, analisar os fatos para sermos objetivos na avaliao

    dos erros com os seguintes questionamentos: Quais so os erros e quantos so? Qual o

    percentual de formas erradas numa pgina escrita ou em quinze minutos de fala?

    S pode haver resposta depois de uma anlise, fora disso preconceito ou pura

    impresso, equivocada geralmente.

    ENSINAR LINGUA OU ENSINAR GRAMTICA?

    Tudo que foi dito at aqui, s faro sentido se os professores estiverem

    convencidos ou puderem ser convencidos de que o domnio efetivo e ativo de uma

    lngua dispensa o domnio de uma metalinguagem tcnica, ou seja, se ficar claro que

    conhecer uma lngua uma coisa e conhecer sua gramtica outra, saber uma lngua

    uma coisa e saber analisa-la outra.

    No convm recolocar a discusso pr ou contra a gramtica, mas preciso

    distinguir seu papel do papel da escola que ensinar lngua padro, isto , criar

    condies para seu uso efetivo. perfeitamente possvel aprender uma lngua sem

    conhecer os termos tcnicos com os quais ela analisada.

    Quando se discute ensino de lngua e se sugere que as aulas de gramtica sejam

    abolidas, ou abolidas nas sries iniciais ou pelo menos que sejam as nicas aulas

    existentes na escola, logo se levantam objees com bases em vestibulares, concursos,

    nos quais seria impossvel ser aprovado sem saber gramtica. Este fato deve ser

    considerado, mas adequadamente. Se verificssemos os fatos e no nossa representao

    deles, veramos que o conhecimento explicito de gramtica no to relevante nessas

    circunstncias.

    Falar contra a gramatiquice no significa propor que a escola s seja prtica,

    no reflita sobre questes de lngua, seria contraditrio propor esta atitude, porque se

    sabe que refletir sobre a lngua uma das atividades usuais dos falantes e no h razo

    para reprimi-las na escola, trata-se apenas de reorganizar a discusso, de alterar as

    prioridades.

  • Alm de tudo, se quiser analisar fatos de lngua, j h condies de fazer segundo

    critrios bem melhores do que muitos dos utilizados atualmente pelas gramticas e

    manuais indicados nas escolas.

    Por ltimo, as nicas pessoas em condies de encarar um trabalho de

    modificao das escolas so os professores. Qualquer projeto que no considere como

    ingrediente prioritrio os professores, e que por sua vez faam o mesmo com os alunos,

    certamente fracassar.