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Page 1: RESUMO Palavras–chaves ABSTRACT. Desigualdades... · “criminalização da pobreza” e de “naturalização do social”. A perspectiva do estudo das particularidades da questão

São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009

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A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA: tecendo algumas reflexões

Michele de Souza1 Hélder Boska de Moraes Sarmento2

RESUMO

O artigo objetiva demonstrar a atualidade da “criminalização da pobreza” como resultado de uma prática histórica e de um discurso atual sobre a questão social. Para isto, busca evidenciar a disputa entre os diferentes discursos acerca da questão social. Nesse sentido, busca-se tecer algumas reflexões sobre o desenvolvimento da questão social no Brasil, destacando alguns marcos importantes acerca da constituição deste discurso. Diante dessas reflexões, são apresentadas algumas contribuições para o Serviço Social frente às demandas que lhe são colocadas no contexto de “criminalização da pobreza” e da “naturalização do social” Palavras–chaves: Questão Social, Serviço Social e Criminalização da Pobreza.

ABSTRACT

The objective article to demonstrate the present time of the “criminalização of the poverty” as resulted of one practical historical one and a current speech on the social matter. For this, it searchs to evidence the dispute enters the different speeches concerning the social matter. In this direction, one searchs to weave some reflections on the development of the social matter in Brazil, detaching some important landmarks concerning the constitution of this speech. In view of these reflections, some contributions for the Social Work are presented front to the demands that are placed to it in the context of “criminalização of the poverty” and of “naturalization of the social”. Keywords: Social Matter. Social Work. Criminalization of Poverty.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo discute a “criminalização da pobreza”, inserida em um

processo onde o discurso acerca da questão social passa por uma disputa entre

aqueles que defendem ser a questão social produto das relações capital x trabalho e 1Mestranda. Mestrado em Serviço Social. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:[email protected]. 2Doutor. Mestrado em Serviço Social. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:[email protected].

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aqueles defensores da questão social como produto das escolhas individuais,

associando-as por sua vez a “naturalização do social”.

Nesse sentido, busca-se tecer algumas reflexões sobre o

desenvolvimento da questão social no Brasil, percorrendo seus trajetos e traçando

alguns pontos acerca da constituição de seu discurso.

No decorrer da reflexão aqui estabelecida, os termos “criminalização da

pobreza” e “naturalização do social” estarão associados à questão social, visto que o

primeiro é a expressão política de como esta vem sendo tratada historicamente pelo

Estado brasileiro e a segunda é a forma como o discurso social explica a “questão

social”, ou seja, naturalizando-a.

Diante dessas reflexões, são colocadas algumas contribuições para

pensar o Serviço Social frente às demandas que lhe são postas nesse contexto de

“criminalização da pobreza” e de “naturalização do social”.

A perspectiva do estudo das particularidades da questão social e do

cotidiano enquanto espaço de intervenção do assistente social, aparecem aqui como

possibilidades para serem ampliadas suas estratégias de intervenção.

2 QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL

O Serviço Social, profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho

social, tem na questão social: “ [...] a base de sua fundação enquanto especialização

do trabalho. ‘Questão Social’ apreendida enquanto o conjunto das expressões das

desigualdades da sociedade capitalista que tem uma raiz comum: a produção social

é cada vez mais social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada,

monopolizada por uma parte da sociedade.” (IAMAMOTO, 2006, p.126).

Por ser a questão social uma preocupação central da profissão é que se

torna necessário compreender os mecanismos e processos de criminalização

(IAMAMOTO, 2008) e de naturalização do social, passando a ser dimensionada para

o campo do dever moral (YASBEK, 2001).

A “naturalização” da questão social, segundo Ianni (in TAVARES, 2007,

p.136), implica “[...] um denso processo de criminalização que afeta os grupos e

classes sociais subalternas. Ora, ao que tudo indica, a criminalização se resolve via

punição/repressão.”

O processo de “criminalização” da pobreza” marca fortemente a história

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brasileira, como demonstrando por Telles (2001) quando discorre sobre o “ modo de

figurar o lugar da pobreza na sociedade brasileira.” Pobreza transformada em

natureza, como parte do cenário brasileiro, imagem essa que neutraliza a própria

história do país.

Para a autora, é necessário evocar esse passado, não em sua

neutralidade, mas na base de sua conflituosidade, “[...] importa perceber o lugar que

a pobreza ocupa no horizonte simbólico da sociedade brasileira.” (TELLES, p.34,

2001).

É nesse horizonte simbólico, que a pobreza tornou-se tema de opinião

pública, e objeto de estudos, para diversos especialistas. Os quais analisavam os

modos de vida, os costumes, as formas de sentir, as formas de amar, de viver e de

morrer dessas populações, com o intuito de “tipificar patologias sociais, crimes e

comportamentos delinqüentes” (TELLES, 2001, p.34).

Esses estudos de especialistas contribuíram para fazer da pobreza uma

patologia, um perigo social, por isso os estudos buscavam resolver essas anomalias

que se desenvolviam no seio de uma sociedade a se fazer moderna.

No cerne desses estudos cria-se a “cidade insalubre” aonde os pobres,

gente perigosa, suja, não pode dividir o cenário com a cidade limpa e organizada

promulgada pelo desenvolvimento que trazia a modernidade ao país. Um país que

“precisava” de indivíduos limpos, dóceis e disciplinados para o trabalho, para ordem

e para o dever moral.

Segundo Telles (2001), foi “nessa espécie de confronto entre natureza e

cultura” que se desenvolveu a intolerância para com os pobres e a repressão em

relação ao seu modo de ser e estar no mundo. E nesse contexto, onde a pobreza é

tratada como anomalia e o social como natural, a questão social jamais poderia ser

apreendida a partir do conflito entre capital x trabalho.

A intervenção estatal, quando ocorria era de forma paternalista e

assistencialista, “[...] que propunha a legislação social não como um direito do

trabalhador, mas como 'uma preocupação de cunho sanitário e moral, tendo a

família como seu objetivo e a casa como seu campo de atuação. (GOMES,

1979:102 in TELLES, 2001,p.41)

Nos anos 1930, existem algumas alterações em relação à “pobreza”,

como a legislação trabalhista implantada por Getúlio Vargas, criando uma separação

entre trabalhadores formais e não-formais. Aos trabalhadores formais, era atribuída

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a condição de cidadão, enquanto os trabalhadores inseridos no mercado informal de

trabalho eram vistos como os “outros” “[...] não eram trabalhadores por mais que

exercessem regularmente uma atividade produtiva, não faziam parte do povo e não

mereciam proteção do Estado [...]” (TELLES, 2001, p.49).

Esse novo quadro social criado com a legislação trabalhista eleva ao

patamar de cidadãos somente aqueles inseridos no mercado formal de trabalho,

relegando os demais à própria sorte. “[...] repôs os pressupostos de um capitalismo

selvagem e predatório: promete a redenção da pobreza no mesmo ato em que a

reproduz na figura do pobre desprotegido; proclama os direitos, mas desfaz sua

eficácia nas relações entre as classes”. (TELLES, 2001, p.50).

É nessa conjuntura, que a questão social adentra a agenda pública, com

todas as contradições que envolvem esse processo.

A característica do Estado brasileiro, muito própria desde 1930, não é que ele se sobreponha a ou impeça o desenvolvimento da sociedade civil: antes, consiste em que ele, sua expressão potenciada e condensada (ou, se quiser, seu resumo), tem conseguido atuar com sucesso como um vetor de desestruturação, seja pela incorporação desfiguradora, seja pela repressão, das agências da sociedade que expressam os interesses das classes subalternas. (NETTO, 1996, p.19)

Essa característica salientada por Netto, a da operatividade do Estado

brasileiro em desestruturar a classe subalterna, também é desenvolvida por

Iamamoto em seu livro “Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche”. No qual

aborda a questão da “revolução passiva” de Gramsci, que indica:

[...] a prática restauradora das classes dominantes, que, ao se defrontarem com pressões populares carentes de iniciativas de articulação unitária, introduzem mudanças reais, que derivam progressivamente em alterações na composição anterior das forças ante o poder. A revolução passiva inclui um vetor de “restauração” - por ser uma reação à possibilidade de uma efetiva e radical transformação de “baixo para cima” - e outro vetor de “renovação” - uma vez que várias demandas populares são incorporadas e implementadas pelos antigos grupos dominantes (COUTINHO, 1989, p. 122 in IAMAMOTO, 2008, p.134)

A “revolução passiva” é uma constante na história do Brasil, embora nos

momentos que a burguesia não conseguiu utilizá-la de modo eficaz, fez uso da

repressão, como nas várias revoltas populares que marcaram a história brasileira,

embora, a história “oficial”, constantemente as negue.

A Constituição de 1988, dentre as lutas populares, por justiça, cidadania,

igualdade, foi a mais exitosa, conseguindo trazer para a agenda pública, as

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demandas dos setores subalternos3. Esse processo também foi fruto de

negociações, consensos, e conflitos visto que nem todas as demandas populares

foram incorporadas em sua redação.

Entretanto, mesmo com todas as contradições que permearam a

constituinte, ela trouxe uma importante contribuição para a publicização da questão

social no Brasil enquanto conflito capital x trabalho. Com ela, a figura dos setores

subalternos caracterizados como marginais, é destituída no que tange ao marco

jurídico-legal.

Em seu lugar se reconhece a cidadania dos setores subalternos, suas

necessidades sociais e, acima de tudo, são reconhecidos como sujeitos de direitos.

Porém, tão logo aprovada, a constituição começou a ser alvo de reformas,

desenhava-se no cenário brasileiro as reformas neoliberais devotas da

despolitização da “questão social”.

No processo de reformas neoliberais, as velhas práticas de

“psicologização do social” são retomadas levando, segundo Iamamoto, ao “risco de

cair na pulverização de inúmeras 'questões sociais', onde as famílias e os indivíduos

são culpabilizados pelas situação de empobrecimento vivenciada, levando a perda

da “[...] dimensão coletiva e o recorte de classe da questão social, isentando a

sociedade de classes da responsabilidade na produção das desigualdades sociais.

(IAMAMOTO, 2008, p.162).

Nesse contexto, surge a discussão em relação à “nova questão social”,

principalmente em relação “[...] a necessidade de enfrentamento da mesma no

marco das transformações em curso na sociedade contemporânea. Essa discussão

teve forte influência no contexto europeu, em especial, da escola francesa.

(TAVARES,2007, p.124)

Os autores Rosanvallon e Castell tiveram expressivo destaque nessa

discussão. Para Tavares a obra de Rosanvallon, “[...] 'naturaliza' as alterações no

mundo da produção, demonstrando que sua grande preocupação é manter as

relações existentes. Sua lógica encontra-se fundamentada nos princípios liberais,

uma vez que a seguridade social encontra-se atrelada à noção de contrato entre o

Estado e cidadãos.” (TAVARES, 2007, p.125)

Catell, por sua vez, assume a centralidade do trabalho, porém exclui a 3Para Yazbek [...] a subalternidade diz respeito à ausência de protagonismo de poder, expressando a dominação e a exclusão. (2001, p.34).

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perspectiva da luta de classes, concebendo o trabalho a partir da visão integradora

de Durkheim. (IAMAMOTO, 2008)

Por esses fatores que as obras de Castell e de Rosanvallon, são alvo de

críticas de Tavares (2007) e Iamamoto (2008), pois os autores não têm a luta de

classes como eixo fundante da questão social.

Pereira (2001) também rejeita a idéia de “nova questão social”,

argumentando que não houve alterações na base da “velha questão social”, pois a

relação capital x trabalho não foram alteradas na sociedade contemporânea. ”[...]

Trata-se, pois, da velha dominação capitalista, a qual sob novas roupagens

subordina mundialmente às necessidades do capital, grandes parcelas de

trabalhadores.” (TAVARES, 2001, p.130).

Pereira ainda coloca que a pobreza absoluta, o desemprego estrutural, a

violência urbana, são temas que ainda não adentram a agenda pública, mesmo

estando freqüentemente sob o foco da mídia. “[...] apesar de produzirem e

reproduzirem efeitos deletérios, nunca se transformaram em uma questão de caráter

social que obrigasse os poderes públicos a tomar medidas decisivas para o seu

mais eficaz equacionamento. (PEREIRA, 2001, p.59).

As reflexões de Pereira abrem um espaço para se pensar à questão da

“criminalização da pobreza”, que precisa urgentemente ser colocada na pauta da

agenda pública4.

Nesse sentido, o Serviço Social pode contribuir de maneira relevante para

tornar a “criminalização da pobreza”, pauta da “agenda pública”, por ser uma

demanda que é posta cotidianamente aos assistentes sociais em seu exercício

profissional.

Entretanto, antes de contribuir de maneira mais efetiva com esse

processo, os assistentes sociais têm que superar as dificuldades enfrentadas no

desenvolvimento da ação profissional em criar estratégias de intervenção, que

venham a atender essas demandas.

Dificuldades essas, que podem ser atribuídas aos limites desta área em

discutir as particularidades em que se expressa essa criminalização e oferecer

4Conforme denúncia o mapa da violência de 2006, lançado pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), que durante o período de 1994 a 2004, realizou uma pesquisa com jovens na faixa de 15 a 24 anos. O estudo revelou que 93% das vítimas de homicídio no Brasil são homens de raça negra e que “os jovens negros têm um índice de vitimização 85, 3% superior aos brancos. ( ATHAYDE,2007, p.56).

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subsídios teóricos e políticos para seus profissionais.

Segundo Iamamoto a questão social tem sido abordada mais em sua

dimensão genérica, correndo o risco de esvaziá-la de suas particularidades “[...],

perdendo o movimento e a riqueza da vida, ao desconsiderar suas expressões

específicas que desafiam ‘a pesquisa concreta de situações concretas’ (como

violência, o trabalho infantil, a violação dos direitos humanos, os massacres

indígenas)”. (IAMAMOTO, 2008, p.164)

Essa dimensão da particularidade expressa em sua dimensão cotidiana,

também é abordada por Westphal em 2005, em seu ensaio “Vida cotidiana e relação

indivíduo-sociedade: um tema no/ do Serviço Social?”

O ensaio discute como o debate acerca da vida cotidiana e a relação

indivíduo-sociedade, são incorporados na produção teórica do Serviço Social.

Para a realização do ensaio a autora analisou como o estudo acerca da

vida cotidiana realizado por Berger/Luckmann, alinhados à sociologia compreensiva,

e da autora Agnes Heller, quando ainda se alinhava a perspectiva marxista, foram

incorporados na produção teórica do Serviço Social.

Westphal constatou que embora a categoria cotidiana, seja

constantemente citada na produção teórica do Serviço Social, existe pouca reflexão

acerca da mesma. Colocando à necessidade de problematizar os fenômenos que

são objetos do Serviço Social, como a vida cotidiana, que embora seja incorporada

na produção teórica, essa ocorre de forma naturalizada, como uma “realidade dada”.

Diante dessa questão a autora coloca um dilema-desafio para o Serviço Social. Ao Serviço Social fica colocado um dilema-desafio. Este é concernente ao conjunto do arcabouço teórico que tem orientado as reflexões acadêmico-científicas e práticas do Serviço Social, no sentido dele abarcar a amplidão e a complexidade da realidade social, ou seja, da permanente revisão das fontes técnico-científicas. O dilema refere-se ao aspecto de seu desenvolvimento como campo científico, ou seja, da relação entre o analisar, refletir e pesquisar processos sociais e ao mesmo tempo neles intervir. (WESTPHAL, 2005,p.35).

Diante das questões colocadas por Iamamoto (2008) e por Westphal

(2005), verifica-se que para o Serviço Social possa contribuir para colocar a crítica

da “criminalização da pobreza” na pauta da agenda pública, torna-se necessário

discutir as particularidades em que essa se expressa, tais como: o policiamento das

famílias, a perseguição aos movimentos social, à violência policial, o preconceito

contra os modos de ser e estar das populações periféricas, etc.

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Essas particularidades da questão social expressas na vida cotidiana, já

estão enraízas na formação da sociedade brasileira, que não causam mais

estranhamento, o mesmo ocorre com algumas práticas do Serviço Social. Para

muitos assistentes sociais realizar uma visita domiciliar, e depois comentar “sobre os

padrões de higiene” de determinado grupo familiar é uma ação incorporada a sua

prática profissional, totalmente destituída de sua dimensão reflexiva.

Contudo, a partir dessas práticas muitas vezes naturalizadas no exercício

profissional, torna-se necessário refletir: qual a contribuição da área de

conhecimento para “desnaturalizar” o apreendido acerca da questão social?. É

preciso investir nesta resposta para que os assistentes sociais em sua intervenção

não contribuam para o processo de “criminalização da pobreza” e de “naturalização

do social”, mas com o processo de desconstrução do discurso social que as

constroem.

3 CONCLUSÃO

O presente artigo debateu a “criminalização da pobreza”, inserida no

processo onde o discurso acerca da questão social passa por um processo de

disputa entre grupos com posições políticas muito distintas. De um lado a uma

perspectiva que analisa a questão social enquanto produto dos conflitos entre

capital x trabalho, de outro, a tendência que interpreta a questão social enquanto

produto das escolhas individuais, associando-as por sua vez a “naturalização do

social”.

Através do estudo, pode-se perceber o quanto às medidas de “ajuste

social”, “psicologização do social”, ainda se fazem presente nos debates públicos

que buscam “explicá-la”, bem como a dimensão punitiva/repressiva liga ao

“combate” da questão social.

No que tange ao Serviço Social, sobretudo aquele setor alinhado a teoria

crítica, muito ainda precisa se avançar no debate teórico, em relação às demandas

que são colocadas aos assistentes sociais ligadas a “criminalização da questão

social”.

Embora se tenha um grande número de estudos que discutam a questão

social enquanto preocupação central do Serviço Social, analisando-a em sua

trajetória e conflitos. Ainda há uma lacuna na produção teórica, no que tange a

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estudar as particularidades da questão social, bem como a dimensão cotidiana em

que ela se expressa, conforme deflagrado por Iamamoto (2008) e Westphal (2005).

Acredita-se que esses estudos devam ser realizados pela área de

conhecimento do Serviço Social, mesmo que com as transformações no mundo do

trabalho e a redução das políticas sociais, restringem-se as possibilidades de

realização de pesquisa pelos profissionais que intervêm diretamente na realidade

social em seus diferentes espaços sócio-ocupacionais.

Assim, conclui-se que ainda há lacunas na produção teórica sobre as

particularidades da questão social, bem como a dimensão cotidiana em que ela se

expressa, isto exige, um maior alinhamento entre as agendas de pesquisa e as

demandas que são colocadas para os profissionais de Serviço Social para que

possam articular de forma mais efetiva aquilo que tanto defendem, uma maior

associação entre teoria e prática.

REFÊRENCIAS

ATHAYDE, Phydia d. Um Tiro no Futuro. Carta na Escola.São Paulo, n.13,54/59, fevereiro. 2007. IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de Capital e Fetiche: Capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2008. IAMAMOTO, M.V. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo. Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006, p.116-196. NETTO, José P. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1996. PEREIRA-PEREIRA. Potyara. A Questão Social Serviço Social e Direitos de Cidadania. In: Temporalis,n.3, ABEPSS, ano 2, jan/jun. de 2001. TAVARES, Maria Augusta da Silva. O debate contemporâneo acerca da questão social. In: Serviço Social & Sociedade. São Paulo, ano 92,2007, p.118-138. TELLES, Vera da Silva. Pobreza e Cidadania. São Paulo: Editora 34, 2001. WESTPHAL, Vera Herweg. Vida cotidiana e relação indivíduo-sociedade: um tema no/do Serviço Social?, 2005.mimeo. YAZBEK, Maria Carmelita. Pobreza e Exclusão Social: expressões da questão social no Brasil. In: Temporalis,n.3, ABEPSS, ano 2, jan/jun. de 2001.