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A ECOEDUCAÇÃO NO VALE DO RIO GRAMAME EM JOÃO PESSOA, PB: A TRILHA
ECOLÓGICA DA ESCOLA VIVA OLHO DO TEMPO.
Diego de Oliveira Silvestre – (Extensionista do LOGEPA – DGEOC/UFPB)
Brunno Gomes da Silva Pessoa – (Monitor – DGEOC/UFPB)
Ligia Maria Tavares da Silva – LOGEPA - DGEOC/UFPB, [email protected]
(orientadora)
Resumo: Esta pesquisa trata da concretização da Agenda 21 no vale do rio Gramame, ao sul do Município de João Pessoa, Paraíba, e da contribuição do LOGEPA – Laboratório e Oficina de Geografia da Paraíba (DGEOC-UFPB) nesse processo, através do levantamento ambiental e da elaboração da trilha ecológica da Escola Viva Olho do Tempo, EVOT. No Vale do Rio Gramame, a Agenda 21 desenvolveu-se através de um projeto de Ecoeducação, que alia a educação ao meio ambiente para despertar a consciência de preservação e ao mesmo tempo buscar o equilibro entre a utilização dos recursos naturais e a geração de trabalho e renda para a comunidade local, sendo a trilha ecológica uma das formas encontradas para o desenvolvimento da área e da interação dos moradores, alunos e visitantes com a natureza. As metodologias utilizadas foram: visitas in loco para o reconhecimento da escola, análise do projeto de ecoeducação, levantamento físico da área, mapeamento e elaboração do projeto da trilha ecológica para a escola.
Palavras-chaves: Ecoeducação. Agenda 21. Trilhas Ecológicas. Escola Viva Olho do Tempo
1 - INTRODUÇÃO
A Escola Viva Olho do Tempo (EVOT) localiza-se no Estado da Paraíba, no município de
João Pessoa mais precisamente na Zona Rural de Gramame, próximo à divisa com o município do
Conde. A EVOT desenvolve um projeto que tem como objetivo realizar programas e projetos
embasados em valores humanos, princípios éticos e de respeito por si próprio, às pessoas, a família,
a comunidade, a terra e ao cosmo, na busca de uma melhor qualidade de vida pessoal, comunitária e
global. Para alcançar os objetivos, a EVOT desenvolve o aprendizado empírico, concretizado
através da Ecoeducação e das trilhas ecológicas e o aprendizado profissionalizante através de
oficinas e pequenos empreendimentos. Todos os programas e projetos têm como espelho a Agenda
21 do Baixo Gramame que formula ações que respeitam a dinâmica e as relações da comunidade
local. O poder público e a sociedade civil são articulados e desenvolvem de forma conjunta
soluções para seus problemas econômicos e sócio-ambientais, visando sempre a melhoria da
qualidade de vida da população, buscando o equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais e a
geração de trabalho e renda para a comunidade local, reduzindo assim as desigualdades sociais.
Nesse contexto, foi estabelecida a parceria entre o LOGEPA – Laboratório e Oficina de Geografia
da Paraíba e a EVOT, cuja elaboração da trilha ecológica é um dos reflexos dessa parceria.
1.2 – Caracterização da Escola
A Congregação Holística da Paraíba - Escola Viva Olho do Tempo (CHP - Escola Viva
Olho do Tempo) foi criada em 16 de abril de 1998, para realizar atividades de estudos e discussão
em grupo, de acordo com os respectivos interesses (Filosofia, Psicologia, Preservação Ambiental,
Saúde, Desenvolvimento Humano, valores Humanos, entre outros).
Durante essas atividades, percebeu-se que além das discussões eram necessárias ações concretas
para contribuir com o objetivo primordial da instituição — a realização de sonhos. Assim, em
2004, por meio de recursos doados pela primeira Presidenta, adquiriu-se o terreno que hoje esta
situada a sede da Congregação Holística da Paraíba e da Escola Viva Olho do Tempo, tendo
primordialmente dois focos de atuação: a preservação de olhos d´agua, (neste terreno existem 08
nascentes) e o atendimento prioritariamente de crianças e adolescentes da circunvizinhança. Após o
início efetivo das ações, os focos de atuação aumentaram devido às necessidades das comunidades
atendidas, tendo atualmente três grandes áreas de atuação, conforme o organograma abaixo (figura
1), que com a colaboração de parceiros que visam “fazer a diferença” de forma positiva, foram se
envolvendo, acreditando e investindo no compartilhamento deste sonho, a partir de ações concretas.
Fonte: EVOT
Figura 1 – Organograma de Atividades EVOT
1.3 – Caracterização do Projeto de Ecoeducação
O Projeto Ecoeducação do Vale é uma iniciativa de educação, não formal, que visa
proporcionar à comunidade nele envolvido, a apropriação de conhecimento, de experiências e
práticas que possam ser utilizadas para modificar e edificar a sua própria realidade, propocionando
espaço de convivência educativa intergeracional. A sua idealização prevê ações destinadas a 120
crianças e adolescentes e aos seus pais ou responsáveis, sendo 60 crianças e adolescentes
cadastradas no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) da Prefeitura Municipal de
João Pessoa e 60 crianças e adolescentes já atendidas em anos anteriores nas atividades da
Instituição(não cadastradas no PETI).
Uma maneira de envolvê-los nas ações propostas, será oferecer possibilidades atrativas, e ao
mesmo tempo formativas, baseados em conceitos holísticos, ecológicos e na interação de todos os
elementos que compõe os ambientes aonde vivem. É importante que tenham noção dos elos que
existem entre todas as formas de vida, os elementos da natureza e as consequência de suas formas
de conviver e interagir com tudo isso.
Como estratégia para a consecução de tal pleito, todas as atividades são desenvolvidas tendo
como eixo estruturante o meio ambiente, o esporte e a cidadania:
1. O cuidado com a terra visto como um cuidado com todas as coisas vivas ou não, tais como o
solo, a água, a atmosfera, os animais e as plantas.
2. O cuidado com as pessoas de forma que as necessidades básicas de alimentação, moradia,
educação, trabalho e saúde sejam supridas. O cuidado com as pessoas trabalhando o
respeito, companheirismo, cooperaçao mútua, união e humildade.
3. O cuidado consigo mesmo de modo a buscar melhoraria da sua autoestima, através do
autoconhecimento e crescimento pessoal, acreditando no seu potencial e na sua força
interior.
4. A crença na possibilidade de mudança, quanto a sua forma de pensar e agir; no intuito de
promover mudanças na forma de pensar e agir desta comunidade e conseguentimente
fomentar o desenvolvimento humano, fundamentamos suas ações nos 04 pilares da
educação sugeridos pela UNESCO:
a. Aprender a conhecer – instrumentalizar-se para a compreensão da vida;
b. Aprender a fazer – intervir na realidade;
c. Aprender a viver juntos – participar e cooperar nas atividades humanas;
d. Aprender a ser – saber agir nas diferentes circustâncias da vida.
O projeto está organizado de forma a cumprir as seguintes etapas sequenciais:
1. Formação inicial e continuada para educadores e demais equipe, com base na filosofia,
metodologias e conteudos previsto no Projeto.
2. Complementar a formação das crianças e adolescentes no contra turno da educação formal,
com atividades educativas, culturais, socio ambientais, iniciação esportiva e inclusão digital.
3. Integração e interação entre todos os seguimentos envolvidos no projeto, através de reuniões
e seminário de avaliação dos resultados alcançados, redimencionamento do projeto,
disseminação das atividades executadas e propostas.
1.4 – Caracterização das Ações para a promoção do desenvolvimento sustentável
As ações para o desenvolvimento sustentável dão-se através de cursos oferecidos aos
habitantes da região de Gramame, Mituaçú e Engenho Velho, cursos estes de noções de horta
orgânica para que os agricultores da área evitem utlizar produtos tóxicos nas lavouras, evitando
assim a contaminação do solo. Dentro deste mesmo curso são ensinadas formas de produção de
doces artesanais de frutas e de pimenta; oficina de bordados; alimentação alternativa, que consiste
no preparo de novas receitas com produtos retirados das hortas orgânicas e há ainda a oficina
turismo rural, que consiste em capacitar o morador na forma de agir para com o turista que chegam
à região, dentro desta oficina inclui-se noções de fotografia, primeiros socorros e cuidados pessoais,
guia de trilhas e noções de preservação ambiental.
Essas oficinas têm como objetivo principal capacitar os moradores da região, para que estes
tornem-se melhor preparados para recepcionar os turistas e que, ao mesmo tempo, possam obter o
retorno financeiro desejado, e sobretudo preservando o meio ambiente.
2 – LEVANTAMENTO AMBIENTAL DA TRILHA ECOLÓGICA
Uma das formas encontradas para a aproximação da ecoeducação com a natureza foi através
das trilhas ecológicas que, de acordo com MACHADO (2005), deve propiciar uma experiência
enriquecedora ao visitante, ordenando as atividades através da condução pelas trilhas interpretativas
e seu planejamento, instalação e manutenção, que têm como premissas trilhas óbvias, sem favorecer
aventuras desnecessárias, ser o caminho mais fácil a ser percorrido e ser o caminho mais
conveniente a ser explorado. Mas antes da implantação da trilha faz-se necessário uma análise
ambiental da área para que a mesma possa atender ao seu objetivo, que é o de aproximar o homem
da natureza e, ao mesmo tempo, levá-lo à sustentabilidade. A trilha ecológica da EVOT situa-se
numa área de um hectare, possui 438 metros de comprimento, próxima às várzeas do Rio Gramame,
na margem esquerda e possui uma altitude que varia entre 0 e 50 metros.
Sua execução foi realizada sobre a uma trilha já existente, que servia de caminho dos
moradores da área e seus pontos interpretativos foram selecionados a partir do seu destaque na
trilha, pontos que foram referenciados através do GPS (Global Positioning System), em escala
UTM, para posteriormente produzir o traçado da trilha no mapa do terreno e no mapa do Google
Earth (figura 2).
Figura 2 – Trilha Ecológica da EVOT
2.1 -Características Físicas do Local
Esta mesma região é caracterizada pelo clima tropical úmido com estação seca moderada,
cujas temperaturas médias variam muito pouco durante o ano (HECKENDORFF & LIMA, 1985),
devido ao clima os solos da região caracteriza-se em dois tipos principais Podzólico Vermelho
Amarelo (PV 5) e Podzol Hidromórfico (HGd). (Figura 3)
Fonte: Embrapa Solos
Figura 3 – Mapa Pedológico do município de João Pessoa
O solo Podzólico Vermelho-Amarelo compreende uma classe de solos que apresentam
horizonte diagnóstico B textural com seqüência de horizonte A, Bt e C ou A, E, Bt e C. Os
horizontes são bem diferenciados e apresentam nítido gradiente textural, cujo incremento de argila
do horizonte A para o Bt é facilmente perceptível. A textura, atividade da argila e fertilidade natural
são muito variáveis. Esta classe é bastante expressiva e ocorrem nos mais variados domínios
morfoestruturais, de unidades e classes de relevo. Em geral, predominam nas encostas côncavas e
plano-inclinadas das superfícies onduladas e fortemente onduladas. A fitofisionomia da vegetação
natural é bastante diversificada e, na área de estudo, é composta de formações florestais.
No solo Podzol hidromórfico, integram variedades hidromórficas de podzol, as quais
apresentam lençol freático próximo à superfície, sazonalmente. Não apresentam cores neutras
cinzentas devido ao material originário ser de natureza areno-quartzosa e desprovido, totalmente de
qualquer material argiloso.
Devido a esses tipos de solos e variabilidade de altimetria, podemos encontrar no entorno e
dentro da trilha, uma diferenciação visível no nível de dificuldade. Para se ter acesso ao início da
trilha foi construída uma rampa para que se evite o pisoteamento do solo, já que está é a parte mais
íngreme da trilha e que possui o solo mais propício à erosão. O solo podzol hidromórfico da trilha
propicia o surgimento no entorno da trilha pequenos olhos d’água (oito no total) (figura 4) e estes
fazem surgir pequeno córregos que cortam a trilha em diversos pontos (figura 5).
Figura 4 – Olho d´agua
Foto: Brunno Gomes da Silva Pessoa
Figura 5 – Pequeno córrego cortando a trilha
Foto: Brunno Gomes da Silva Pessoa
À medida que a altimetria da trilha diminui o seu nível de dificuldade também decresce o
terreno e o entorno da trilha torna-se mais aberto, surgindo verdadeiras clareiras (figura 6), abertas
pelos idealizadores da trilha. Cabe aqui lembrar que a retirada das árvores deu-se de forma
ecologicamente correta e em certos casos as árvores retiradas representavam perigo para os
utilizadores da trilha. As árvores retiradas serão utilizadas para confecção de bancos e pontes para
travessia sobre os córregos. No percurso da trilha podem-se encontrar espécies endógenas como
aroeira mansa (Schinus terebinthifolius), cajueiro (Anacardium occidentale), imbira (Eschweilera
ovata), murici da mata (Byrsonima sericea), coqueiro (Cocos nucifera) e também se pode encontrar
espécies exógenas que se adaptaram ao solo e ao clima, como bananeira (Musa sp.), abacateiro
(Persea americana), mangueira (Mangifera sp.), jenipapo (Genipa americana). No que tange à
fauna encontra-se apenas pequenos artrópodes como aranhas, centopéias e gafanhotos e aves de
pequeno porte.
Figura 6 – Clareira aberta
Foto: Brunno Gomes da Silva Pessoa
A construção da trilha ecológica na EVOT acabou gerando uma premiação de incentivo ao
conhecimento sobre a mata atlântica, da seguinte forma: cada criança do projeto recebeu uma muda
de uma determinada espécie da mata atlântica para plantar no lugar das árvores que foram retiradas
para abertura da trilha, ficando essa mesma criança incumbida de pesquisar tudo sobre a árvore que
plantou para apresentação de seminários aos colegas da turma. As crianças são também
responsáveis pela árvore que plantou, durante todo o tempo que permanecerem na escola.
As trilhas são de fundamental importância no projeto de Ecoeducação, pois, conforme
PERES-ESPIRITO SANTO (2001), as trilhas constituem-se num instrumento pedagógico
importante, por permitir que em áreas naturais sejam criadas verdadeiras salas de aula ao ar livre e
verdadeiros laboratório vivos, suscitando o interesse, a curiosidade e a descoberta, possibilitando
formas diferenciadas do aprendizado tradicional e, sobretudo, incentivando a preservação
ambiental.
As trilhas não se resumirão apenas em forma de aprendizado para as crianças e adolescentes,
mas tambem será uma geradora de renda para os adultos da região, pois toda trilha terá um guia da
região, capacitado na EVOT, podendo as demais pessoas da comunidade vender seus produtos aos
freqüentadores e visitantes turistas da trilha.
CONCLUSÃO
Foi possível observar que a região atendida pela Escola Viva Olho do Tempo e pelo projeto
de Ecoeducação sofreu uma modificação bem intensa desde a implantação do projeto. A população
da área possui hoje um nível de consciência ambiental bem mais elevado. Isso pode ser observado
através dos reflorestamentos feitos na área, da preservação dos recursos naturais e da participação
da comunidade nas atividades da Escola. Outro ponto relevante é melhoria do nível de vida dos
moradores, embora pequeno, mas bem significativo se comparado ao passado, isso graças às
capacitações da EVOT. Portanto, a Escola está alcançando aos poucos o tripé da Agenda 21, ou
seja, promovendo ações ecologicamente corretas, economicamente viáveis e, sobretudo,
socialmente justas. Neste contexto, a Geografia Física, através da elaboração da trilha ecológica,
realizada em parceria com o Laboratório e Oficina de Geografia da Paraíba – LOGEPA
representaram uma pequena, porém, significativa contribuição nesse processo.
Bibliografia Consultada
GUERRA, Antonio José Teixeira e Cunha, Sandra Batista da (org.). Geomorfologia e Meio
Ambiente. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil. 1ª Edição, 1996, 394p.
LIMA, P. J. & HECKENDORFF, W. D. Climatologia. In: Governo do Estado da Paraíba Universidade Federal da Paraíba (Eds.). Atlas Geográfico do Estado da Paraíba. João Pessoa: Ed. Universitária, 1985. pp. 34-43.
MACHADO, Álvaro. Ecoturismo: um produto viável: a experiência do Rio Grande do Sul. Rio de
Janeiro: Ed. Senac Nacional, 2005. 232p.
PERES-ESPIRITO SANTO, A; GONÇALVES, T.V. O; FERRARI, M. A. L; ALMEIDA, L. F;
ZORRO M. C. 2001 /a interpretação Ambiental através de trilhas ecológicas e do estudo
Ecológico dos Lagos água Preta e Bolonha no Parque Ambiental de Belém. Projeto de Ensino,
Pesquisa e Extensão. (Proint, 2001)
GARCIA, Loreley, FRANCH, Mônica (Orgs.). A Pimenta e o Sonho: Gênero e
Empreendedorismo na Zona Rural de João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2008.
GOVERNO FEDERAL. MINISTÉRIO DO TURISMO. MINISTERIO DO
DESENVOLVIMENTO AGRARIO. Caminhos do Brasil Rural: Agricultura Familiar Turismo
e produtos associados. Brasília, 2008.
Projeto de Ecoeducação da Escola Viva Olho do Tempo. (Mimeo)
Sítios
www.mma.gov.br
http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/
http://www.sudema.pb.gov.br/index.php
www.olhodotempo.net