resumo - flora sussekind

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Elisabeth Lorena Alves – UFAM – Teoria Crítico Literária – 2014 Flora Sussekind Papeis Colados Rodapés, Tratados e Ensaios... O Livro Papeis Colados analisa a História da Crítica Literária Brasileira e, no capítulo intitulado Rodapés, Tratados e Ensaios, a Formação da Crítica Brasileira Moderna, a autora e crítica literária estuda principalmente as décadas de 40, 50, 60 e 70, passando pelos anos 30, pois foi nestes que se deu os primeiros passos deste segmento literário. A Crítica Literária teve seu início nos anos 30, com os Críticos-Cronistas. Era uma crítica de bacharéis, onde predominava as impressões destes ´homens das Letras´ a favor de determinado livro, mas levando em consideração apenas o nome e importância do autor e não era fundamentada em metodologia – até porque ainda não existia parâmetros para uma. A crítica era apenas uma resenha, uma crônica muitas vezes divertida, quase cômica, onde o autor expunha suas impressões sobre o livro, sem se aprofundar sobre o tema, tendo por cenário de publicação unicamente os jornais. Era a Crítica de Rodapé, que apesar, “não era como conhecemos estes apêndices literários “ - Professor Gabriel Albuquerque. Era textos de meia Página e apareciam em diversas páginas, pois alguns destes críticos escreviam muito, já que davam sua impressão sobre o que lia, apenas, sem utilizar Teorias que fundamentasse seu ponto de vista. Com o início das formações das Faculdades de Filosofia, fato que se deu nos anos 30, surge, em 40, uma nova geração literária que tem uma crítica mais aguçada, trazendo para seus textos uma visão mais acadêmica, tendo por forma de expressão, os livros e as salas de aulas – cátedras. Com o surgimento desta nova crítica, houve o enfrentamento dos seus representantes, criando-se um clima de animosidade, onde Afrânio Coutinho – crítico universitário – e Álvaro Lins – crítico de Rodapé, se estranharam e o primeiro apelidou o outro de ‘Crítico à moda antiga’. Vale salientar que mesmo havendo esta animosidade, a crítica de Álvaro Lins, embora não fosse universitária, diferenciava de seus contemporâneos por ser bem feita, seguindo moldes específicos, observando vocabulário e postura estilística do autor, além de comparar com outros escritores internacionais. Deixando de ser apenas biográfica, como eram as de seus amigos críticos de Rodapés. Sendo assim, ele é considerado o Primeiro estudioso do texto e foi ele quem apresentou Thiago de Mello para o cenário nacional, ao terminar sua crítica do primeiro livro do escritor amazonense, afirmando que este já era um escritor completo. O que impulsionou a carreira de Thiago Mello. Álvaro Lins foi considerado, por Carlos Drummond de Andrade como ‘o Imperador da crítica brasileira entre 1940 e1950’. Em 1946, uma crítica de Álvaro Lins impulsionou a venda de Sagarana, de Guimarães Rosa. Com a formação das Faculdades de Humanas, começou aluta por um Ensino Laico e Moderno, isto em consequência da luta armada de 30, que abriu as portas para a luta democrática, quebrando a hierarquia das ‘profissões liberais (Antonio Candido) e ferindo a classe média que tanto lutou para que a Faculdade de Filosofia fosse implantada e agora os

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  • Elisabeth Lorena Alves UFAM Teoria Crtico Literria 2014

    Flora Sussekind

    Papeis Colados

    Rodaps, Tratados e Ensaios...

    O Livro Papeis Colados analisa a Histria da Crtica Literria Brasileira e, no captulo

    intitulado Rodaps, Tratados e Ensaios, a Formao da Crtica Brasileira Moderna, a autora e

    crtica literria estuda principalmente as dcadas de 40, 50, 60 e 70, passando pelos anos 30,

    pois foi nestes que se deu os primeiros passos deste segmento literrio.

    A Crtica Literria teve seu incio nos anos 30, com os Crticos-Cronistas. Era uma crtica

    de bacharis, onde predominava as impresses destes homens das Letras a favor de

    determinado livro, mas levando em considerao apenas o nome e importncia do autor e no

    era fundamentada em metodologia at porque ainda no existia parmetros para uma. A

    crtica era apenas uma resenha, uma crnica muitas vezes divertida, quase cmica, onde o

    autor expunha suas impresses sobre o livro, sem se aprofundar sobre o tema, tendo por

    cenrio de publicao unicamente os jornais. Era a Crtica de Rodap, que apesar, no era

    como conhecemos estes apndices literrios - Professor Gabriel Albuquerque. Era textos de

    meia Pgina e apareciam em diversas pginas, pois alguns destes crticos escreviam muito, j

    que davam sua impresso sobre o que lia, apenas, sem utilizar Teorias que fundamentasse seu

    ponto de vista.

    Com o incio das formaes das Faculdades de Filosofia, fato que se deu nos anos 30,

    surge, em 40, uma nova gerao literria que tem uma crtica mais aguada, trazendo para

    seus textos uma viso mais acadmica, tendo por forma de expresso, os livros e as salas de

    aulas ctedras.

    Com o surgimento desta nova crtica, houve o enfrentamento dos seus representantes,

    criando-se um clima de animosidade, onde Afrnio Coutinho crtico universitrio e lvaro

    Lins crtico de Rodap, se estranharam e o primeiro apelidou o outro de Crtico moda

    antiga. Vale salientar que mesmo havendo esta animosidade, a crtica de lvaro Lins, embora

    no fosse universitria, diferenciava de seus contemporneos por ser bem feita, seguindo

    moldes especficos, observando vocabulrio e postura estilstica do autor, alm de comparar

    com outros escritores internacionais. Deixando de ser apenas biogrfica, como eram as de

    seus amigos crticos de Rodaps. Sendo assim, ele considerado o Primeiro estudioso do texto

    e foi ele quem apresentou Thiago de Mello para o cenrio nacional, ao terminar sua crtica do

    primeiro livro do escritor amazonense, afirmando que este j era um escritor completo. O que

    impulsionou a carreira de Thiago Mello. lvaro Lins foi considerado, por Carlos Drummond de

    Andrade como o Imperador da crtica brasileira entre 1940 e1950. Em 1946, uma crtica de

    lvaro Lins impulsionou a venda de Sagarana, de Guimares Rosa.

    Com a formao das Faculdades de Humanas, comeou aluta por um Ensino

    Laico e Moderno, isto em consequncia da luta armada de 30, que abriu as portas para a luta

    democrtica, quebrando a hierarquia das profisses liberais (Antonio Candido) e ferindo a

    classe mdia que tanto lutou para que a Faculdade de Filosofia fosse implantada e agora os

  • Elisabeth Lorena Alves UFAM Teoria Crtico Literria 2014

    egressos investiam em uma abertura de pensamento poltico, possibilitando quente e

    imigrantes e urbanos fossem anexados ela, uma vez que estes universitrios se tornaram

    liberais, portadores de um pensamento radical e diferente do vigente nas oligarquias de ento.

    Estes novos pensadores no s se levantaram contrrio ao pensamento poltico de

    ento, como tambm ao modo de fazer crtica, mas a princpio no foram notados como

    inimigos, afinal lvaro Lins os sada com aplausos, quando da formao da revista Clima

    (FFCL-USP) . Era uma gerao crtica, so os crticos-scholars, que discordam do modelo

    Impressionista dos homens de letras e no aceitam o tom anedtico-biogrfico dado

    Literatura na Imprensa.

    Por este motivo, embates ideolgicos se formaram entre representantes da Crtica

    Cronista (Rodap) e Universitria, sendo os mais conhecidos, o de Candido e Oswald de

    Andrade e de Afrnio Coutinho e lvaro Lins. No se discutia apenas a Crtica Obra ficcional

    de Oswald ou o fim da Crtica Cronista e Noticiria, mas as normas que passariam a ser

    utilizados na Crtica Moderna, que esto ligados a Competncia e Especializao que tiveram

    origem nas Universidades.

    Por outro lado, Afrnio Coutinho foi o Primeiro Crtico Universitrio, trazia consigo o

    Mtodo catedrtico e foi o Primeiro defensor de uma Crtica Filosfica.

    Com a chegada da Crtica Universitria, ampliaram-se as reas de domnio e os crticos

    universitrios adquiriram prestgio. E com esta crtica, vale verificar a ao de dois de seus

    principais representantes, um, o j citado Afrnio Coutinho e o outro, o professor Antonio

    Candido. Entre estes tambm havia diferenas, apesar de serem da mesma escola.

    Coutinho tinha uma crtica apenas esttica e Candido tem uma crtica de jogo dialtico,

    a metodologia dos contrrios, ficada no social. Eram duas foras que acabaram por marcar o

    pensamento crtico aqueles que viriam depois deles, criando assim uma atualizao

    metodolgica e formando uma perspectiva crtico-dialtica para a Anlise Literria. Quando

    do estudo de Romero, Candido aborda o pensamento de Hegel, sobre oposio simples a dois

    contrrios, tendo a negao da negao, para obter uma nova positividade, at o esclarecer-

    se, este pensamento muito presente na crtica de Candido. Para Carlos Guilherme Mota, em

    Ideologia da Cultura Brasileira, os anos 40 trouxeram resultados dos estudos universitrios e

    Candido afirma que entre estes, a marca da gerao de 44 foi a formao do pensamento

    radical da classe mdia.

    Oswald, apesar de preferir o Estilo Crtica-Cronista, quem melhor define a Crtica

    Universitria, quando da contenda com Candido, a quem apelidou de chato-boy. Ele mostra

    que esta outra Crtica tem dico universitria, com aspectos especficos desconhecido do

    pblico, A Crtica Universitria no tem Mtodo especfico. Trabalha-se exercitando o

    conhecimento adquirido dentro das cincias especficas para observar o texto estudado. Na

    Crtica Literria Moderna, no se l uma Obra por gostar e sim estuda- a Luz das Cincias

    Humanas Modernas Filosofia, Sociologia, Psicologia, Filosofia, Histria. Agora prevalece o

    Tratado Sociolgico e a Crtica Literria especializada e acaba por tirar o prestgio dos crticos

    antigos. Antonio Candido acredita nesta mudana de Crtica pois, para ele, a Literatura

    tambm muda, tendo a cada tempo seus representantes. Exemplificando, ele compara Jos

  • Elisabeth Lorena Alves UFAM Teoria Crtico Literria 2014

    Alencar Gilberto Freire e Domingos Olmpio a Jos Lins do Rego, mostrando a importncia

    destes enquanto romancistas e socilogos e mostrando que com a Evoluo da Literatura,

    estes papis se diferenciaram.

    At os anos 60, a Crtica Universitria teve sua caminhada vitoriosa, vindo perder sua

    fora aps a vigncia de Afrnio Coutinho e Antonio Candido, justamente por duelarem em

    matria de estilos Tratados e Ensaios que os seus sucessores utilizavam, sem estes textos

    serem de fato marca de um ou do outro. Esta estagnao se deu tambm pelo

    emparedamento desta crtica, centrada apenas nas Universidades. No final dos anos 70 a

    crtica Universitria tomou flego e recuperou seu status.

    O que diferenciava Tratados e Ensaios era a estrutura do texto, sendo Tratado um

    texto rigoroso, extenso e formalista e Ensaio era mais leve, mas usando tambm da Teoria

    para argumentar e formalizar esta crtica.

    Com o Ensasmo, a Crtica se v frente a outro problema, o crescimento editorial, onde

    h apenas o interesse de promover as obras e de outro lado, o crescimento da Indstria

    Cultural, que tinha o objetivo de fazer campanha para destruir ou promover determinadas

    figuras.

    Do rodap Ctedra

    At os anos 50 o que prevaleceu foi a crtica de Rodap, com seus textos eloquentes

    para convencer os leitores e antagonistas, escritos que oscilavam entre a crnica e o noticirio

    e seu ritmo industrial existiam muitos crticos e eles escreviam diversos textos, tendo por

    finalidade aquecer o mercado industrial e formarem ideias nos seus leitores, j que se

    consideravam diretores de ideia, como afirmava lvaro Lins.

    Os crticos que fomentavam a crtica jornalstica de ento eram: Antonio Candido,

    Tristo de Atade, Srgio Millet, Otto Maria Carpeaux, Mrio de Andrade, Srgio Buarque de

    Holanda, Wilson Martins, Nelson Werneck Sodr, Olvio Montenegro, Agripino Grieco e lvaro

    Lins. Apesar de suas colunas e rodaps viverem em harmonia nos jornais, o mesmo no

    acontecia com estes crticos, que viviam se estranhando e nos decnios de 40 e 50 o convvio

    destes era nada harmonioso, como o caso do crtico Humberto de Campos que tanto

    perseguiu Joo do Rio (Paulo Barreto - 1916) que este acabou por interromper sua seo Pall

    Mall Rio no Jornal O Pas, tambm o episdio da disputa da vaga na Academia de Letras,

    onde este venceu o escritor Lima Barreto (1919).

    Para Candido a evoluo da Crtica Literria vai alm da habilitao, uma questo

    cultural, com o enriquecimento da Cultura, seu produto se modifica e com isto o padro de

    Crtica se modula tambm se altera, mas este no era o pensamento de Afrnio Coutinho, para

    quem, Formao to ampla e complicada s pode ser adquirida no lugar adequado que so as

    universidades e faculdades de letras (Jornal de Letras, agosto de 1957). Estas diferenas

    chegaram a situaes policiais, alm de achincalhamento na mdia, quando determinado

    crtico chamou um antagonista seu de futurista e este termo tinha conotao homossexual, o

    que fez o outro vir a pblico dar satisfao de sua pessoa e desdizer o que j estava dito.

  • Elisabeth Lorena Alves UFAM Teoria Crtico Literria 2014

    Quanto a Crtica, Candido afirma ainda que no h possibilidade de intelectualidade sem

    posicionamento poltico.

    Afrnio e Candido, apesar de defenderem uma Crtica mais versada nos diversos

    saberes fundamentados, tem suas diferenas ideolgicas, tendo o primeiro centrado sua

    percepo na Crtica de Silvio Romero, onde se evita a interferncia externa ao texto, e

    baseou nisto sua Anlise que deu origem sua Obra A Literatura no Brasil(1955), aqui,

    segundo Joo Alexandre Barbosa, esta obra conjunta, da qual Coutinho foi tambm

    Organizador, obedecem perodos, estilos e aspectos sociolgicos, obra elogiada, mas o prprio

    autor encontra algumas falhas. Afrnio observa e registra as diferentes manifestaes

    literrias que se sucedem no Brasil. J Candido acredita que a Literatura no nasce, mas se

    configura no decorrer do sculo XVIII, dando corpo a um processo anterior a ela e dando

    continuidade com o tempo.

    Para Roberto Schwarz, o primeiro estudo Dialtico Brasileiro foi: Dialtica da

    Malandragem, uma crtica sobre Memrias do Sargento de Milcias, escrita por Antonio

    Candido. Este mesmo crtico acaba por mostrar a presena de Marx e Hegel na Crtica de Silvio

    Romero, em Introduo ao Mtodo Crtico. E Oswald tambm chega a praticar a teoria

    Hegeliana em suas obras, culminando em Marco Zero. Em uma anlise a obra de Sergio

    Buarque de Holanda, Significado de Razes do Brasil, Candido aborda o estilo hegeliano na obra

    Razes do Brasil, mas como se fizesse uma viagem por seu prprio modo de trabalhar o

    pensamento crtico.