resumoresumo em breve síntese, o presente estudo versa sobre a teoria da desconsideração da...

73
RESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e recepcionado pelo direito pátrio, que visa coibir as fraudes e os abusos de direito praticados por uma determinada pessoa jurídica em detrimento dos direitos de eventuais credores ou da sociedade como um todo. A personalidade jurídica é uma atribuição que o ordenamento jurídico brasileiro confere à certos agrupamentos de pessoas ou conjunto de bens, para que estes possam atuar no campo da atividade empresarial, com um menor esforço do que faria o homem individualmente. Assim sendo, nada mais justo do que conferir a esse mesmo Estado que possibilita a constituição de uma determinada pessoa jurídica, o poder de ignorar a separação patrimonial decorrente dela, quando a mesma estiver funcionando com uma finalidade diferente daquela para a qual fora inicialmente constituída, incompatível, pois, com a ordem jurídica. Destarte, toda vez em que a autonomia patrimonial de uma sociedade comercial estiver sendo manipulada pelos seus sócios ou administradores para furtar-se de adimplir com suas obrigações e responsabilidades assumidas, cabe desconsiderar-se a sua personalidade jurídica, a fim de responsabilizar pessoalmente os sócios ou administradores pelas dívidas contraídas em nome da pessoa jurídica.

Upload: others

Post on 12-Nov-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

RESUMO

Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da

Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e

recepcionado pelo direito pátrio, que visa coibir as fraudes e os abusos de direito

praticados por uma determinada pessoa jurídica em detrimento dos direitos de eventuais

credores ou da sociedade como um todo. A personalidade jurídica é uma atribuição que

o ordenamento jurídico brasileiro confere à certos agrupamentos de pessoas ou conjunto

de bens, para que estes possam atuar no campo da atividade empresarial, com um menor

esforço do que faria o homem individualmente. Assim sendo, nada mais justo do que

conferir a esse mesmo Estado que possibilita a constituição de uma determinada pessoa

jurídica, o poder de ignorar a separação patrimonial decorrente dela, quando a mesma

estiver funcionando com uma finalidade diferente daquela para a qual fora inicialmente

constituída, incompatível, pois, com a ordem jurídica. Destarte, toda vez em que a

autonomia patrimonial de uma sociedade comercial estiver sendo manipulada pelos seus

sócios ou administradores para furtar-se de adimplir com suas obrigações e

responsabilidades assumidas, cabe desconsiderar-se a sua personalidade jurídica, a fim

de responsabilizar pessoalmente os sócios ou administradores pelas dívidas contraídas

em nome da pessoa jurídica.

Page 2: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................7

CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O INSTITUTO DA PESSOA

JURÍDICA........................................................................................................................9

1.1

CONCEITO................................................................................................................9

1.2

SURGIMENTO........................................................................................................10

1.3

TEORIAS..................................................................................................................12

1.4

CLASSIFICAÇÃO...................................................................................................14

CAPÍTULO 2 - TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURÍDICA.....................................................................................................................16

2.1

CONCEITO..............................................................................................................16

2.2

EVOLUÇÃO HISTÓRICA......................................................................................20

2.3

DIREITO COMPARADO........................................................................................24

2.3.1 - Estados Unidos........................................................................................25

2.3.2-Na Inglaterra..................................................................................25

2.3.3Na França .................................................................................................26

Page 3: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

2

2.3.4 Na Alemanha....................................................................................26

2.3.5 Na Suíça.....................................................................................................27

2.3.6 Na Itália....................................................................................................27

2.4 TEORIA DA MAIOR E MENOR.............................................................27

CAPÍTULO 3 – APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA.................................................................................31

3.1CRITÉRIOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS PARA APLICAÇÃO..................31

3.2 FORMAS DE EFETIVAÇÃO – DIRETA, INCIDENTAL, INVERSA E

INDIRETA...........................................................................................34

3.2.4 Efetivação direta.......................................................................................34

3.2.2 Efetivação Incidental..............................................................................34

3.2.3 Efetivação Inversa....................................................................................35

3.2.1 Efetivação Indireta..................................................................................36

3.3 EFEITOS DA DECISÃO JUDICIAL................................................................36

CAPÍTULO 4 - DESCONSIDERAÇÃO NOS DIVERSOS RAMOS DO DIREITO

BRASILEIRO......................................................................................................39

4.1 SISTEMATIZAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO...........................................39

4.2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR....................................................41

4.3 LEI DE DEFESA DA ORDEM ECONÔMICA................................................45

4.4 LEI DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE.................................................46

4.5 NOVO CÓDIGO CIVIL....................................................................................48

4.6 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA E TRABALHISTA...........................51

Page 4: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

3

CONCLUSÃO...............................................................................................................60

REFERÊNCIAS............................................................................................................63

Page 5: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

4

INTRODUÇÃO

O presente trabalho abordará o controverso e polêmico tema

“Desconsideração da Personalidade Jurídica” no Direito Brasileiro, onde será

mostrada sua origem no direito alienígena, sua inserção no direito pátrio e sua

aplicabilidade no ordenamento jurídico nacional.

Importante ressaltar que não se visa, de maneira alguma,

esgotar-se o tema em comento. Visa-se, primando pelo ineditismo, inserir, em

uma única obra, as diversas formas e possibilidades de aplicação da referida

teoria nos mais variados ramos do Direito Brasileiro, bem como as

controvérsias existentes em tão polêmico tema.

A metodologia utilizada na presente obra é a pesquisa

bibliográfica e descritiva do tema escolhido, com utilização de obras literárias

de diversos doutrinadores, leis e textos da internet.

A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica é um

instrumento criado pelo ordenamento jurídico moderno que permite, em

síntese, que o patrimônio dos sócios de uma determinada sociedade comercial

seja atingido quando esta for utilizada para fraude, abuso de direito, ou ainda,

quando se constituir em obstáculo ao ressarcimento de prejuízos aos

consumidores , meio ambiente ou ainda de qualquer atividade oriunda de

Page 6: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

5

ilicitude, nas falências, insolvência e encerramento irregular decorrentes de má

administração dolosa.

Nesses casos, os tribunais começaram então a desconhecer a

pessoa jurídica, visando responsabilizar os seus sócios, quando era constatado

o fato de que a personalidade jurídica da mesma estaria, na realidade, servindo

para prática de atos fraudulentos ou com abuso de direito, em benefício desses

mesmos sócios.

No primeiro capítulo será abordado o instituto da pessoa jurídica

como um todo, onde será feita sua conceituação de acordo com o

entendimento de vários doutrinadores, bem como o seu surgimento, suas

teorias e suas classificações.

No segundo capítulo estudar-se-á o conceito de Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica propriamente dita, sua evolução

histórica, sua aplicação no direito comparado e as teorias existentes sobre o

tema.

O terceiro capítulo abordará a aplicação da teoria em comento,

onde serão demonstrados os critérios autorizadores para sua aplicação, as

formas de efetivação e os efeitos da decisão judicial que autoriza a

desconsideração da personalidade jurídica.

Page 7: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

6

Por fim, no quarto capítulo ver-se-à a sistematização da

desconsideração da personalidade jurídica, bem como sua aplicação no

Código de Defesa do Consumidor, na Lei de Defesa da Ordem Econômica, na

Lei de Proteção ao Meio Ambiente, no Novo Código Civil, no Direito Tributário e

no Direito do Trabalho.

Page 8: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

7

CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O INSTITUTO DA PESSOA

JURÍDICA

Preliminarmente, antes de entrar no mérito da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica, é imperioso tecer alguns

comentários acerca do instituto “pessoa jurídica” propriamente dito. Importante

ressaltar que neste capítulo não há o propósito de discorrer profundamente

sobre a pessoa jurídica, e sim fazer uma abordagem geral e ampla, de maneira

que possibilite uma melhor compreensão da matéria a ser apresentada no

presente trabalho monográfico.

1.1 CONCEITO

Pessoa jurídica, de acordo com uma definição simples, mas

extremamente bem formulada por Fran Martins1 é o ente corpóreo que, da

mesma forma que a pessoa física, pode ser sujeito de direito. As pessoas

jurídicas, entretanto, não se confundem com as pessoas físicas que as

constituem. Muito pelo contrário. Elas se distanciam destas, exercendo direitos,

contraindo obrigações e constituindo patrimônio em nome próprio, tendo,

portanto, uma vida autônoma.

Tendo em vista que o homem é um ser eminentemente social, por

sua própria natureza, desde os primórdios fez-se necessária a união deste com

outros homens para, em conjunto, atingirem um objetivo em comum. Na pré-

1 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial, Rio de Janeiro: Forense, 2010.

Page 9: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

8

história, a probabilidade dos antepassados dos homens lograrem êxito nas

caçadas era muito maior se o fizessem em conjunto, agindo em grupos. Na

idade média, quanto maior, mais populoso e mais coeso fosse o feudo, maior

força teria o senhor feudal. E na idade moderna não poderia ser diferente.

O homem, ao longo da vida, se lança a fazer diversos projetos, quer

seja para a garantia de um futuro promissor e bem estar para si e para sua

família, quer seja para a própria realização pessoal, ou ainda pelo simples

prazer em amealhar riqueza. Na medida em que esses projetos vão tomando

um maior vulto, alcançando dimensões que impossibilitem serem controlados e

administrados por uma única pessoa, se faz necessária a criação de um

organismo que viabilize controlar tais projetos. Estes são os motivos pelos

quais o homem criou o instituto da pessoa jurídica.

Pessoas jurídicas, portanto, são de acordo com as lições de Sílvio

Rodrigues2 “entidades a que a lei empresta personalidade, isto é, são seres

que atuam na vida jurídica, com personalidade diversa da dos indivíduos que

as compõem, capazes de serem sujeitos de direitos e obrigações”.

1.2 SURGIMENTO

Inicialmente foram os direitos romano, germânico e canônico os

precursores e principais influentes na atual concepção de pessoa jurídica.

2 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil – Parte Geral, São Paulo: Saraiva: 1985.

Page 10: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

9

Para os romanos, o conceito de pessoa jurídica era desconhecido, só

vindo a se conhecido no direito pós-clássico3. A desvinculação das pessoas

naturais das pessoas jurídicas demorou a acontecer, pois, para eles, o conjunto

de bens ou patrimônios pertencentes a várias pessoas não poderia chegar a

formar uma corporação ou outra entidade abstrata. O patrimônio pertencia, de

acordo com seus entendimentos, a cada uma das pessoas que constituíam

esse conjunto de bens, sendo cada qual titular de uma parcela deste.

Somente no direito clássico, quando passaram a encarar o Estado,

em sua existência, como uma forma abstrata, é que os romanos conseguiram

ter uma idéia de corporação.

A partir de então surgiram duas categorias de pessoas jurídicas:

universitates personarum, que possuíam personalidade e patrimônio próprios

distintos daqueles que as integravam, e as universitates rerum, que eram

equiparadas ao que hoje conhecemos como fundações (hospitais, igrejas,

conventos), formadas por bens com fins determinados.

Depois, de forma mais lenta e gradual ocorreu no direito germânico o

desenvolvimento da teoria da personalidade jurídica e das pessoas jurídicas,

quando se passou da universidade para a unidade.

3 REALI, Ronaldo Roberto, A desconsideração da personalidade jurídica no direito positivo brasileiro. Disponível em < http://www1.jus.com.br..

Page 11: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

10

Por último, vislumbra-se a importante contribuição do direito canônico

para a formação da concepção de pessoa jurídica, uma vez que todos os

institutos pertencentes à Igreja passaram a ser reputados como entes ideais,

fundados por uma vontade superior e divina. Desta forma, todo e qualquer

ofício eclesiástico dotado de um patrimônio passa a ser tratado como uma

unidade autônoma. Cada novo ofício criado corresponde a entidade

independente, surgindo o conceito de fundação, tal como o hospitalis, o pium

corpus e a sancta domus.

Até o início do século XX não era conhecido no direito pátrio o

instituto da pessoa jurídica. Ressalta-se, por oportuno, que o Código Comercial

não reconhece, de forma expressa, a personalidade jurídica das sociedades

comerciais.

Somente quando por ocasião da promulgação do Decreto 1.102 de

21 de novembro de 1903, que instituía regras para o estabelecimento de

empresas e armazéns gerais é que foi introduzida no direito brasileiro a

expressão “pessoa jurídica”.

Depois disso, em 1907, tem-se o Decreto 1.637, que reconhecia a

personalidade jurídica dos sindicatos. Posteriormente, em 1916, a figura da

pessoa jurídica foi inserida nos artigos 16 e 20 do Código Civil4. Atualmente, o

Código Civil de 2002 contempla a personalidade jurídica de forma ampla.

4 BRASIL, Código Civil. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916.

Page 12: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

11

1.3 TEORIAS

Existem diversas teorias justificativas da existência das pessoas

jurídicas, que podem ser agrupadas em duas tendências: teorias da ficção da

pessoa jurídica e teorias da realidade.

De acordo com a Teoria da Ficção, defendida, dentre outros, por

Ihering, Savigny e Laurent, as pessoas jurídicas são seres fictícios criadas de

maneira artificial pelo direito natural. Desta forma, a existência da pessoa

jurídica é uma criação da lei, dependendo da vontade do legislador. Esta teoria

foi desenvolvida na Alemanha, perdurando por certo tempo, sendo, para a

maioria dos juristas do século XIX, o fundamento da noção de personalidade

jurídica.

A teoria da realidade, que combateu as concepções de Sauvigny, e

que teve como defensores mais conhecidos Otto Gierke e Zitelman admite as

pessoas jurídicas como entidades de existência indiscutível, distintas dos

indivíduos que as compõem e caracterizadas por finalidades específicas. O

objetivo desta teoria é afirmar e demonstrar a real existência de um ente

coletivo, embora não signifique o reconhecimento de um grupamento com

existência exatamente igual a uma pessoa física.

A partir de então, cinco razões vieram a lastrear a existência das

pessoas jurídicas, quais sejam: biológica, fisiológica, sociológica, institucional e

técnica.

Page 13: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

12

Para a primeira razão, estabeleceu-se a idéia de que não é somente

o homem o sujeito de direito. A pessoa jurídica forma uma realidade natural,

resultante da existência de vários membros. Como uma pessoa física, a

coletividade possui um conjunto de órgãos, cada qual com uma função própria,

e, embora não sejam constituídas dos mesmos órgãos dos seres humanos,

alguns de seus membros - pessoas físicas e independentes - representam

seus órgãos.

Sob o ponto de vista fisiológico os indivíduos, ao se associarem,

criam um novo ser, real e vivo, resultado da reunião de vários elementos, os

quais resultam na formação de uma vontade una.

Os sociólogos defendiam a idéia de que a existência da

personalidade jurídica das pessoas coletivas se dá em razão da sua existência

objetiva. O grupamento possui suas bases a partir de sua origem e se revela,

com isso, capaz de terem direitos e contrair obrigações. A noção de

responsabilidade jurídica repousa numa realidade social.

Na teoria da instituição, desenvolvida por Harriou - uma das mais

aceitas pelos juristas brasileiros, a personalidade jurídica constitui um atributo

que a ordem jurídica estatal confere a entes que o merecem. Esta teoria

desconsidera, contudo, o fato de que as pessoas de direito público ou os

grupos naturais não se formam da vontade pura do grupamento, e a teoria da

instituição faz da vontade geral a base da personalidade jurídica.

Page 14: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

13

E por último, mas não menos importante, há a concepção da

realidade técnica, na qual a idéia da vontade comum não se coloca no plano

filosófico, mas, no plano jurídico. De acordo com esse pensamento, os atos

emprestados aos grupamentos são atos de vontade dos indivíduos, e

juridicamente falando são atos de vontade da coletividade. Assim sendo, uma

pessoa jurídica pode adquirir a sua personalidade quando seus interesses

distintos são assumidos pela organização, de maneira que possibilite a

formação de uma vontade coletiva.

1.4 CLASSIFICAÇÃO

As pessoas jurídicas no direito pátrio podem ser classificadas5

quanto à: nacionalidade, estrutura interna, funções e capacidade.

Quanto à nacionalidade, a pessoa jurídica pode ser nacional ou

estrangeira, devendo ser levado em conta sua subordinação e articulação,

pouco importando a nacionalidade dos seus membros ou a origem do controle

financeiro.

No que diz respeito à estrutura interna tem-se a universitas

personarum e a universitas bonarum. A primeira é um conjunto de pessoas que

gozam , coletivamente, de certos direitos, através de uma vontade única, tal

como as associações e sociedades. A segunda é o patrimônio personalizado

que se destina a um determinado fim que lhe dá unidade, como as fundações.

5 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

Page 15: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

14

No que concerne às funções e capacidades, as pessoas jurídicas

são de direito público e de direito privado. As de direito público se dividem em

pessoas jurídicas de direito público externo, tais como as nações estrangeiras,

regulamentadas pelo direito internacional, e pessoas jurídicas de direito público

interno, como a União, os Estados e Municípios, autarquias, etc, fazendo parte

da administração direta ou indireta.

No que tange às pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por

iniciativa dos particulares, estas se dividem, nos termos do artigo 44 do Novo

Código Civil6 em fundações particulares, sociedades, associações,

organizações religiosas e partidos políticos.

As fundações são constituídas pela destinação de um patrimônio

para um determinado fim, geralmente altruístico, cujo instituidor pode ser

pessoa natural ou jurídica. As associações podem ter fins econômicos ou não,

sendo constituídas pelo agrupamento de indivíduos que a ela se associam ,

associando haveres ou congregando esforços em um sentido comum. As

sociedades mercantis têm como finalidade o lucro, com a exploração de uma

determinada atividade. Os partidos políticos são associações civis que têm por

objetivo assegurar, dentro do interesse do regime democrático, a autenticidade

do sistema representativo. Por fim, as organizações religiosas são criadas para

dar assistência religiosa à população, sendo livre a sua criação, a organização,

6 BRASIL, Código Civil. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002.

Page 16: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

15

a estruturação interna e funcionamento , vedado ao poder público negar-lhes

reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu

funcionamento.

Page 17: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

16

CAPÍTULO 2 - TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURÍDICA

Nesse capítulo o instituto da Desconsideração da Personalidade

Jurídica será conceituado e terá sua evolução histórica apresentada. Além

disso, será demonstrada a aplicação do referido instituto no Direito Comparado

e algumas teorias desenvolvidas pela doutrina.

2.1 CONCEITO

A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica é um

instrumento criado pelo ordenamento jurídico moderno que tem como objetivo

primordial apenar os sócios e administradores das sociedades comerciais, uma

vez apurada sua responsabilidade, permitindo que o seu patrimônio pessoal

seja atingido quando esta for utilizada de forma fraudulenta, com abuso de

direito, ou ainda, quando se constituir em obstáculo ao ressarcimento de

prejuízos a consumidores , meio ambiente ou ainda de qualquer atividade

oriunda de ilicitude, nas falências, insolvência e encerramento irregular

decorrentes de má administração dolosa. A aplicação da disregard doctrine

atinge tão somente aquele ato que está sendo objeto da fraude, permanecendo

a personalidade jurídica válida para os demais atos praticados pela sociedade

comercial que está sendo penetrada. Tal teoria visa atingir o detentor do

comando efetivo da empresa, isto é, o acionista controlador, e não os diretores

assalariados e os empregados, que não participam do controle acionário.

Page 18: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

17

De acordo com Fran Martins 7, os tribunais começaram a

desconhecer a pessoa jurídica, visando responsabilizar os seus sócios, quando

era constatado o fato de que a personalidade jurídica da mesma estaria, na

realidade, servindo para prática de atos fraudulentos ou com abuso de direito,

em benefício destes mesmos sócios.

A desconsideração deve ser precedida da mais absoluta lucidez

na verificação real das condicionantes de sua aplicabilidade, a fim de evitar-se

a desestruturação de toda uma legislação tradicionalmente assentada e

sazonada no que concerne à pessoa jurídica. A sua utilização inadequada

pode acarretar prejuízos irreparáveis à credibilidade do Poder Judiciário, bem

como desencadear danos irremediáveis à economia de um país, gerando

desemprego e recessão. Ademais, se o empresário está realmente mal

intencionado, ele tem outras formas de camuflar seu patrimônio, tornando-o

inatingível, como, por exemplo, colocando-o em nome de terceiros.

Como já dito anteriormente trata-se de uma situação excepcional,

justificada e não duradoura, visto que uma vez atingido o patrimônio pessoal

dos sócios, naquela situação em particular, a sociedade cobre-se novamente

com o véu da personalidade jurídica. A regra é a prevalência da autonomia

patrimonial, sendo a desconsideração uma exceção à desconsideração.

7 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial, Rio de Janeiro: Forense, 2010.

Page 19: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

18

É a desconsideração, pois, um remédio para evitar o uso

desvirtuado da pessoa jurídica, importante instrumento para a atividade da vida

negocial. É uma forma de adequar a pessoa jurídica aos fins para os quais foi

criada, limitando e coibindo o uso indevido da pessoa jurídica.

Tomazette 8entende que a personificação das sociedades é

dotada de um altíssimo valor para o ordenamento jurídico, entrando em conflito

inúmeras vezes com outros valores, como, por exemplo, a satisfação dos

credores. A solução desse conflito deve se dar pela prevalência de valor mais

importante. O progresso e o desenvolvimento econômico proporcionado pela

pessoa jurídica são mais importantes que a satisfação pessoal de um único

credor. Desta forma, deve normalmente, prevalecer a personificação.

Somente quando um valor mais alto for posto em jogo, tal como a

finalidade social do direito, em conflito com a personificação, é que esta deverá

ceder espaço. Quando o interesse ameaçado é valorado pelo ordenamento

jurídico, como mais desejável e menos sacrificável do que o interesse volimado

através da personificação societária abre-se a oportunidade para

desconsideração sob pena de alteração da escala de valores. Com a aplicação

da teoria, a personalidade jurídica da sociedade atingida permanece intacta.

Não se anulam os efeitos de seus atos constitutivos, que apenas perdem

eficácia temporária, episódica, naquele caso concreto. Aí reside a razão pela

qual não se deve a desconsideração da personalidade jurídica com a

8 TOMAZETTE, Marlon, A desconsideração da personalidade jurídica: a teoria, o CDC e o Novo Código Civil, Disponível em < http://www1.jus.com.br .

Page 20: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

19

despersonificação. A despersonificação é a anulação definitiva da

personalidade jurídica. Já a desconsideração é apenas a retirada momentânea

da eficácia da personalidade jurídica. Não deve, portanto, ocorrer a

despersonificação da pessoa jurídica, e sim sua desconsideração. Ademais, o

instituto da pessoa jurídica é muito importante para ser destruído.

É certo, porém, que a sociedade permanece. Levanta-se o véu

corporativo (lifting the veil) para o caso concreto onde tal medida extrema

momentaneamente se faz necessário, para depois recobrir-se novamente.

Suspende-se, não elimina-se.

Para que se proceda de forma legal e responsável a

desconsideração da personalidade jurídica, duas palavras devem servir para

nortear a questão; excepcionalidade e justificadamente. Tal medida, portanto,

tem caráter excepcional, e só pode ser adotada de maneira justificada, sob

pena de trazer enormes prejuízos à sociedade. O mero inadimplemento jamais

poderá ensejar a desconsideração da personalidade jurídica, o que iria gerar a

banalização de tão sério instituto.

A aplicação da Teoria da Desconsideração da Personalidade

Jurídica, ao contrário do que muitas vezes possa parecer, não visa desvalorizar

o importante instituto da pessoa jurídica. Na realidade, o que se pretende é

valorizar o referido instituto, impedindo que as sociedades comerciais que ajam

Page 21: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

20

em desconformidade com a lei gozem dos mesmos direitos e prerrogativas

daquelas que agem dentro da lei, sendo sancionadas por isso.

Conforme os ensinamentos de Alexandre Couto Silva9, não se

visa, em hipótese alguma, que a teoria da desconsideração destrua ou

questione o princípio de separação da personalidade jurídica da sociedade da

dos sócios. Na realidade, tal teoria funciona mais como um reforço ao instituto

da pessoa jurídica, adequando-o a novas realidades econômicas e sociais,

evitando-se que seja utilizado pelos sócios como forma de encobrir distorções

de seu uso.

Desta forma, a excepcional adoção da desconsideração da

personalidade jurídica deve ser procedida, frise-se novamente, de análise

muito criteriosa e parcimoniosa, visto que sua utilização irresponsável e

descriteriosa podem tornar difícil a canalização de investimentos para as

atividades produtivas no país, uma vez que o investidor pensará várias vezes

antes de comprometer todo o seu patrimônio em atividades de risco.

Destarte, além de gerar desemprego e, por conseguinte

recessão, as poucas sociedades comerciais que permanecerem em atividade

acabarão por repassar para seus preços esse novo “risco empresarial”

decorrente da inobservância dos princípios primordiais da separação

9 SILVA, Alexandre Couto. Aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no direito brasileiro. São Paulo: LTR, 1999, p. 35.

Page 22: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

21

patrimonial e da limitação de responsabilidade, atingindo de forma direta o

consumidor.

O espírito que deve nortear a disregard doctrine é, de forma

excepcional e responsável, deixar de lado, momentaneamente a personalidade

jurídica, e sair à “caça” do seu dirigente ou sócio que praticou o ato ilícito,

desrespeitando disposição legal, com abuso de poder e violando norma

estatutária.

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A origem histórica da teoria em comento é alvo de disputa entre

os ingleses e os americanos. De forma isolada, a autora Susy Koury10 sustenta

que o instituto da desconsideração já havia sido utilizado em 1809, nos

Estados Unidos, no caso Bank of United States v. Deveaux, no qual o Juiz

Marshall, com a intenção de preservar a jurisdição das cortes federais sobre as

corporations, conheceu a causa como sendo de sua competência. Ressalta-se

que a Constituição Federal americana, no seu artigo 3º, seção 2ª, limita tal

jurisdição às controvérsias entre cidadãos de diferentes estados.

Como bem assinala Maurice Wormser 11, não cabe aqui discutir a

decisão em si, a qual foi, na verdade, repudiada por toda a doutrina, e sim o

fato de que já em 1809 as cortes levantaram o véu que encobria a pessoa

jurídica e consideraram as características dos sócios individuais. 10 KOURY, Susy Elisabeth Cavalcante, A desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) e os grupos de empresas, Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 63. 11 WORMSER, Maurice, apud KOURY, Ibidem, p. 64.

Page 23: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

22

Entretanto a maioria esmagadora dos doutrinadores,remonta a

origem da teoria da desconsideração da personalidade jurídica ao famoso caso

julgado na Inglaterra em 1897, conhecido como “Salomon Vs Salomon & Co

Ltda”.

Conta a história12 que o Sr. Aron Salomon era um homem muito

rico, proprietário da empresa Salomon & CO, grande produtora de sapatos e

bolsas, e que, no ramo há mais de 30 anos havia constituído um próspero

negócio, possuindo crédito e reputação ilibada.

Ele possuía cinco filhos, uma filha e esposa, que trabalhavam na

referida empresa como empregados. Provavelmente descontentes com essa

situação, os seus filhos o pressionavam para lhes dar uma participação na

empresa. Diante dessas pressões familiares o Sr. Salomon viu-se obrigado a

transformar sua companhia em uma Limited Stock Company, a fim de

aumentar seu negócio e prover sua família.

Desta forma, foi então constituída essa nova companhia em 1892,

na qual os subscritores das ações foram o próprio Sr. Saloman, sua mulher e

cinco dos seus filhos maiores, ficando o Sr. Saloman e dois de seus filhos mais

velhos como diretores.

A nova companhia, de responsabilidade limitada, passou a se

chamar Aron Saloman and Company Limited, na qual £ 40.000,00 foram

12 BASTOS, Eduardo Lessa, Desconsideração da Personalidade Jurídica, Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2003.

Page 24: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

23

divididos em 40.000 quotas, no valor de £ 1 cada uma. Entretanto o valor

colocado no contrato da transferência desse negócio foi exorbitante, o que iria

gerar problemas futuros para o Sr. Saloman, como será visto a seguir.

O Sr. Saloman emitiu debêntures em favor de si mesmo, as quais

foram negociadas com o Sr. Broderip, que ficou com as mesmas em garantia

de um empréstimo, que após seu vencimento, foi renegociado, pactuando-se

um juro de 8% ao ano pelos títulos.

Porém, a nova companhia não teve vida longa, em razão da

depressão no mercado de bolsas e sapatos e às greves no setor. A situação

tornou-se ainda pior porque o Sr. Salomon, na tentativa de levar o negócio

adiante, abarrotou seu armazém de mercadorias, que não foram vendidas em

razão da recessão.

Como os juros das debêntures não foram pagos o Sr. Broderip

ingressou em juízo para cobrar seus créditos, que então foram satisfeitos.

Depois disso, veio a liquidação judicial e a venda dos ativos da companhia do

Sr. Saloman. Ocorre que ainda deveriam ser pagas outras debêntures de

propriedade do Sr. Saloman e os credores quirografários. O liquidante

defendeu a companhia sob a alegação de que o valor do negócio, quando por

ocasião da transferência da mesma fora superfaturado, havendo fraude. O juiz

da causa considerou que a emissão de debêntures para si, feitas pelo Sr.

Page 25: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

24

Saloman, constituía uma fraude, com objetivo de obter preferências deste sob

seus credores.

Houve apelação para a House of Lords, onde foi firmado o

entendimento de que é indiscutível o fato de que, quando uma companhia é

legalmente incorporada, essa deve ser tratada como um ente diferente, com

seus direitos e obrigações próprios, e que os motivos daqueles que a

constituíram eram irrelevantes na discussão dos direitos e obrigações.

Nesse sentido, declarou o seu voto o Lord L.C. Halsbury:13

“Para mim a lei dá à companhia uma existência legal, com direitos e obrigações, quaisquer que tenham sido as idéias ou esquemas que a criaram.. A companhia limitada era uma entidade legal ou não. Se ela era, o negócio pertence a ela e não ao Sr. Salomon.. Continuando com suas razões, Lord Halsbury L.C., referindo-se ao Juiz da instância inferior: Van Willians J. me parece ter utilizado do argumento que a companhia (que para esse propósito ele assumiu ser uma entidade legal) foi fraudada na compra do negócio de Aron Salomon porque, assumindo que o preço pago pelo negócio foi exorbitante, do que eu não estou convencido, mas assumindo que tenha sido, o Juízo inferior deveria cogentemente observar que, quando todos os quotistas têm conhecimento das condições de compra, é impossível se alegar que a companhia tenha sido fraudada.... O apelante, em minha opinião, não fez nem pretendeu fazer nada desonesto mas apenas sofreu uma grande má sorte nos negócios, sem culpa”

Interessante observar que neste leading case a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica acabou não prevalecendo, não

13 Ibidem, p. 6.

Page 26: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

25

obstante a mesma ter sido aplicada nas instâncias inferiores da justiça . A

chamada House of Lords, que é a corte suprema da Inglaterra, equiparada ao

Supremo Tribunal Federal do Brasil, reformou as decisões anteriores, sob a

alegação de que devesse prevalecer o entendimento do qual não se permite

confundir a pessoa jurídica e seus sócios, fulcrado no princípio societas distat a

singulis, isto é, a sociedade tem existência distinta de seus sócios, e por

conseqüência, tem obrigações e direitos próprios, os quais não se devem

confundir com os de seus membros.

Na realidade, pouco importa qual dos dois leading case foi o

precursor da aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

O que importa é observar que em ambos os casos não havia doutrina que

sequer mencionasse o fenômeno da disregard doctrine, tendo sido, a partir de

então, os julgados sendo feitos em cima de construções jurisprudenciais, tendo

em vista que somente muitos anos depois é que surgiria uma legislação

correlata.

O grande precursor da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica no Direito Brasileiro foi o Professor Rubens Requião,

tratando do assunto em uma conferência intitulada “Abuso de direito e fraude

através da personalidade jurídica”, proferida no final da década de 60 na

Universidade Federal do Paraná. De acordo com Maurício Cunha Peixoto 14, o

referido autor, à época, destacava a satisfação com que recebera do direito

14 PEIXOTO, Maurício Cunha de, A desconsideração da personalidade jurídica e o art. 50 do Novo Código Civil, Disponível em < http://www.almg.gov.br > Acesso em 25 jan 2004.

Page 27: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

26

alienígena o aclaramento para indignação que lhe dominava o espírito, diante

da questão que até então lhe parecia insolúvel: a de coibir fraudes e abusos

praticados por intermédio da pessoa jurídica.

Aqui, no entanto, a teoria, encontrou, em princípio, certa

resistência à sua aplicação, em razão da tradição do Direito Brasileiro, que

sempre foi vinculado ao sistema jurídico romano-germânico (com ampla

tradição de sistematização e codificação) e da filosofia, bem arraigada entre

seus aplicadores, de que todas as questões devem ser resolvidas à luz de uma

regra existente. Havia grande dificuldade em se achar, no direito positivado,

uma norma ou princípio geral que afastasse a regra expressa e até então

absoluta do art. 20 do Código Civil15. Talvez o fato de a teoria não ter se

originado entre brasileiros, não tendo se desenvolvido no país um processo de

indução lógica que nela desaguasse, seja a razão dos desacertos tanto de

ordem jurisprudencial como legislativa ocorridos no âmbito do Direito Pátrio.

2.3 DIREITO COMPARADO

A seguir será visto como a Teoria da Desconsideração da

Personalidade Jurídica vem sendo aplicada em alguns países do mundo.

2.3.1 Nos Estados Unidos

Apenas em casos excepcionais os Tribunais Norte-Americanos

vinham aplicando a “disregard of legal entity”, desde que ficasse comprovada

15 BRASIL, Código Civil, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916.

Page 28: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

27

fraude à lei, ao contrato ou a credores. Entretanto, houve uma ampliação desse

entendimento, justificando-se a aplicação da teoria desconsideração da

personalidade jurídica, sempre que, de acordo com as circunstâncias do caso

concreto, a aplicação das normas vigentes levasse a resultados injustos.

Importante salientar o fato de que os americanos visam, no seu ordenamento

jurídico, alcançar, sobretudo, a justiça, mesmo que para tal necessitem deixar a

técnica um pouco de lado.

Desta forma, a teoria em comento é aplicada com mais

freqüência nos casos de sociedades unipessoais familiares, nos quais os

interesses legítimos do sócio encontram terreno fértil para sua concretização,

razão pela qual se exige maior fiscalização nos atos da sua constituição e

funcionamento. Também se aplicam às companhias abertas e fechadas.

2.3.2 Na Inglaterra

O primeiro caso em que cogitou-se a aplicação da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica, como anteriormente exposto, foi

no denominado “Salomon vs Salomon & Co”, no ano de 1897, no qual a

referida teoria foi aplicada em 1ª e 2ª instâncias, tendo sido reformada na

instância superior.

Em virtude deste acontecimento, houve um desestímulo dos

juristas britânicos em aprofundaram-se no tema, razão pela qual as

Page 29: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

28

contribuições doutrinárias e jurisprudenciais inglesas são singelas, resumindo-

se em algumas jurisprudências isoladas, que não merecem destaque.

2.3.3 Na França

Sob o ponto de vista do Direito Francês a pessoa jurídica deve

ser considerada levando-se em conta determinados fins, os quais são

responsáveis, também, pela limitação de seu campo de abrangência. De

acordo com a esquematização proposta por Erlinghagenb, a desconsideração

da pessoa jurídica deveria ser aplicada nos casos de simulação, aparência ou

interposição de pessoas. Importante destacar a contribuição de Josserand, que

sistematizou a teoria do abuso do direito a partir da jurisprudência dos

Tribunais Franceses, na qual apregoava a finalidade social do Direito de servir

como instrumento que possibilitasse a conservação da sociedade, enfatizando

que todo ato, ainda que estivesse respaldado na lei, mas que fosse contrário a

essa finalidade, seria abusivo e, por conseguinte, atentatório ao direito e à

dignidade da justiça.

2.3.4 Na Alemanha

Na Alemanha foi o local onde a Teoria da Desconsideração da

Personalidade Jurídica mais se desenvolveu, através de sua utilização pelas

cortes de justiça. Grande parte das decisões dos tribunais alemães visa impedir

e coibir a utilização da pessoa jurídica para fins ilícitos, praticados pelos sócios.

No entanto, cumpre ressaltar que quase não se encontra norma jurídica que

Page 30: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

29

tenha adotado os princípios da desconsideração, uma vez que a sua presença

é basicamente jurisprudencial.

Os estudos de Rolf Serick propiciaram larga difusão da teoria

neste país, onde, inclusive, foi elaborada uma teoria semelhante, denominada

de Durchgriff. Da mesma forma que em outros países, desconsidera-se a

personalidade jurídica nos casos de ser a mesma utilizada de forma abusiva

para fins ilícitos, bem como nos casos de infração as obrigações contratuais e

de prejuízo fraudulento a terceiros.

2.3.5 Na Suíça

De acordo com o Código Civil suíço vigente, a Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica é aplicada com base no princípio

da boa-fé. As regras de boa-fé devem ser obedecidas no exercício dos direitos

e nas execuções das obrigações, excluindo-se da proteção legal os casos de

abuso de direito.

Não de verifica no direito suíço, da mesma forma que em outros

diversos países, e até recentemente no Brasil, a desconsideração da

personalidade jurídica expressamente prevista em lei. No entanto, os seus

tribunais repelem o uso indevido da pessoa jurídica, utilizando-se do princípio

da boa-fé, que deve nortear toda e qualquer relação jurídica, motivo pelo qual a

disregard doctrine tem sido muito utilizada, ainda que não haja previsão

expressa no texto legal.

Page 31: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

30

2.3.6 Na Itália

O Código Civil Italiano, nos seus artigos 2.208 e 2.267, dispõem

que aqueles que agirem em nome e por conta da sociedade para fins ilícitos,

terão responsabilidade pessoal e solidária. A aplicação da teoria pelos tribunais

italianos ocorre sempre que for necessário para impedir que, com o auxílio da

pessoa jurídica, sejam lesados interesses do Estado um de terceiros.

2.4 TEORIA MAIOR E MENOR

No Brasil existem duas formulações diferentes sobre a Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica: a teoria menor e a teoria maior,

sendo a segunda mais difundida no Brasil.

A Teoria Maior, também denominada subjetiva, é a teoria de

maior aceitação nos nossos tribunais, onde se condiciona a ocorrência de

fraude ou abuso de direito como critérios para ensejar a desconsideração da

personalidade jurídica. O maior responsável pela difusão dessa teoria no

Brasil foi Rubens Requião, que a introduziu em nosso país, “importando-a” do

direito alienígena, traduzindo seu nome para “desconsideração da

personalidade jurídica” e a adequando ao ordenamento jurídico pátrio,

respeitando o instituto da pessoa jurídica. De acordo com o seu raciocínio

sempre que o juiz brasileiro se encontrar diante da fraude ou do abuso de

direito no uso da personalidade jurídica, este tem por direito e dever indagar,

de acordo com o seu convencimento próprio, “se há de consagrar a fraude ou o

Page 32: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

31

abuso de direito, ou se deva desprezar a personalidade jurídica, para,

penetrando em seu âmago, alcançar as pessoas e bens que dentro dela se

escondem para fins ilícitos ou abusivos.” 16.

Tal teoria baseia-se em requisitos sólidos e identificadores da

fraude, possuindo como regra a consideração da personalidade jurídica, onde a

diferenciação do patrimônio da sociedade e dos seus sócios deve prevalecer.

O véu societário, portanto, só pode ser ignorado de forma excepcional, diante

de situações específicas que autorizem tal ato extremo.

A insuficiência patrimonial, a falência, a insolvência, a

inadimplência ou a iliquidez do patrimônio da sociedade, por si só não se

apresentam como causas ensejadoras para aplicação da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica.

Visa-se, portanto, preservar ao máximo o consagrado instituto da

pessoa jurídica, evitando-se a separação da sociedade de seus sócios,

somente sendo aplicada a desconsideração nos casos previstos em lei, quando

presentes no caso concreto a fraude ou o abuso de direito, no qual poderá o

juiz aplicar a desconsideração da personalidade jurídica em razão do caráter

subjetivo comportado pela teoria.

A Fraude é um meio pelo qual se tenta ludibriar, enganar, iludir,

com o objetivo de prejudicar terceiro. A fraude cometida com o uso da

16 REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais 410/12

Page 33: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

32

autonomia patrimonial de pessoa jurídica, em geral, resulta em imputar-lhe

responsabilidade de um ato ou de diversos atos praticados em seu nome, com

o objetivo único e exclusivo de ocultar uma ilicitude.

A sociedade comercial garante a certas pessoas determinadas

prerrogativas. O abuso dessas prerrogativas, ou seja, o uso excessivo e

injustificado de determinado instituto, caracteriza o abuso de direito.

A Teoria Menor foi elaborada por Fábio Konder Comparato17, na

qual a desconsideração da personalidade jurídica é vista de uma forma mais

objetiva, onde é deixada de lado sua subjetividade, elencando-se fatores

necessários para determinar se há ou não possibilidade de haver a

desconsideração da personalidade. Dispensa-se, pois, um raciocínio mais

acurado para a incidência do instituto da desconsideração da personalidade

jurídica, bastando que a diferenciação patrimonial da sociedade e do sócio seja

vista como um obstáculo para a satisfação de credores.

Nessa teoria não existe a preocupação em se averiguar a

ocorrência ou não de fraude ou abuso de direitos pela sociedade através de

seus sócios. Visa-se unicamente verificar a ocorrência de fatores objetivos, tais

como ausência do pressuposto formal estabelecido em lei, desaparecimento do

objetivo social específico ou do objetivo social e confusão entre estes e uma

atividade ou interesse individual de um sócio para fundamentar a

desconsideração. 17 SARAI Leandro, A doutrina da desconsideração da personalidade jurídica e alguns de seus reflexos no ordenamento jurídico brasileiro: Lei nº 8.078/90, Lei nº 8.884/94, Lei nº 9.605/98 e Lei nº 10.406/02. Disponível em <www.jus.com.br> Acesso em 22 jan 2005.

Page 34: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

33

Assim, toda vez em que se verificasse que a pessoa jurídica não

possui patrimônio suficiente para a satisfação dos credores, ou ainda em razão

da iliquidez deste, haveria a responsabilização dos sócios.

No entanto, a aplicação do instituto em comento não pode e nem

deve se resumir a tão superficial aspecto, sob pena de abalo da segurança

jurídica que se faz necessária ao bom convívio social.

Essa doutrina é falha, pois a simples insolvência, ou a falência da

sociedade, ensejaria a quebra da autonomia patrimonial visando atingir o

patrimônio particular do sócio, de maneira que o credor fosse prejudicado,

tornando ineficaz o instituto da pessoa jurídica.

CAPÍTULO 3 - APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA

O presente capítulo versa sobre os critérios objetivos e subjetivos

da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, bem como as

formas de efetivação e os efeitos da decisão judicial que a decreta.

3.1 CRITÉRIOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS PARA APLICAÇÃO

Existem dois critérios que servem para embasar a aplicação do

instituto da desconsideração da personalidade jurídica: o critério objetivo e o

Page 35: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

34

critério subjetivo. O primeiro não visa perquirir a intenção do agente, e sim tão

somente o dano em si. Para os defensores desta corrente, conforme assevera

Elisabeth Cristina Campos Martins de Freitas18, desconsiderar a personalidade

jurídica significa “uma correção de uma primeira imputação de direitos e

obrigações da pessoa jurídica para aquele que à sua sombra atuam e vice-

versa”.

Os opositores desta formulação sustentam, com razão, a

dificuldade de se provar o elemento subjetivo na conduta do sócio, já que na

maioria das vezes o demandante não consegue reunir elementos convincentes

da intenção de fraudar.

A corrente subjetivista, por sua vez, visa elevar a intenção do

agente como requisito da mais relevante importância para aplicação da Teoria

da Desconsideração da Personalidade Jurídica.

Segundo a doutrina, pela formulação subjetiva, a aplicação da

teoria ficaria condicionada não só ao uso abusivo ou fraudulento da pessoa

jurídica, como também, e principalmente, à comprovação de que o sócio ou

administrador tenha agido propositadamente com a intenção de fraudar o

interesse do credor.

18 OLIVEIRA, Lamartine Corrêa de, apud FREITAS, Elisabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica: análise à luz do código de defesa do consumidor e o novo código civil. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 98.

Page 36: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

35

De acordo com Ronaldo Reali19 a formulação é a própria

consagração dos postulados defendidos por Rolf Serick, o sistematizador da

teoria na Alemanha, e que hoje servem de fundamento para seu estudo em

todos os outros ordenamentos.

Para Fábio Ulhôa Coelho, conforme assevera Leandro Sarai 20 é

essencial à aplicação da teoria o fato de haver deliberada intenção por parte

dos sócios na utilização fraudulenta da pessoa jurídica, não bastando apenas

que sobrevenha prejuízo a terceiro em decorrência da autonomia patrimonial.

O simples prejuízo suportado pelo credor em virtude da ausência de bens

suficientes no patrimônio da sociedade, não justifica a desconsideração da sua

personalidade jurídica. Faz-se necessário, ainda, que o credor prove ter

ocorrido o abuso ou atividade fraudulenta por intermédio da pessoa jurídica,

bem como a intenção de prejudicar os credores.

Neste sentido, sem a prova do elemento subjetivo não se há de

falar em desconsideração. Isso porque a separação patrimonial entre a

sociedade e os seus sócios é um princípio jurídico plenamente justo e legal,

sendo que somente em casos bem definidos poderá ser ignorado.

Os opositores desta formulação sustentam, com razão, a

dificuldade de se provar o elemento subjetivo na conduta do sócio, já que na

19 REALI, Ronaldo Roberto Reali, A desconsideração da personalidade jurídica no direito positivo brasileiro (disregard of legal entity. Disponível em <www.jus.com.br> Acesso em 25 jan 2005. 20 COELHO, Fábio Ulhôa apud SARAI Leandro, A doutrina da desconsideração da personalidade jurídica e alguns de seus reflexos no ordenamento jurídico brasileiro: Lei nº 8.078/90, Lei nº 8.884/94, Lei nº 9.605/98 e Lei nº 10.406/02. Disponível em <www.jus.com.br> Acesso em 22 jan /2005.

Page 37: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

36

maioria das vezes o demandante não consegue reunir elementos convincentes

da intenção de fraudar.

Pela formulação objetiva, basta que haja confusão patrimonial

entre a pessoa jurídica e os seus sócios para que a personalidade jurídica

possa ser desconsiderada. Se a partir da escrituração contábil, ou da

movimentação de contas de depósito bancário, por exemplo, percebe-se que a

sociedade paga dívidas do sócio, ou este recebe créditos dela, ou o inverso,

então não há suficiente distinção, no plano patrimonial, entre as pessoas.

No Brasil o maior defensor desta posição é Fábio Konder

Comparato21, que entende que, sendo a personalidade jurídica uma técnica

jurídica utilizada para se atingirem determinados objetivos práticos – autonomia

patrimonial e limitação ou supressão da responsabilidade individual – nada

mais indicado que afastar o efeito desta separação patrimonial quando faltar

um dos pressupostos estabelecidos pela lei.

Por isso é que o referido autor não vislumbra somente na fraude

ou no abuso de direito hipóteses de desconsideração. Ele ensina que quando

desaparecer a especificidade do objeto social da empresa ou quando sua

atividade confundir-se com a atividade ou interesse individual de determinado

sócio, ineficaz deverá ser declarada a garantia da separação patrimonial.

21 COMPARATO, Fábio Konder apud SARAI Leandro, op. cit.

Page 38: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

37

É certo que a formulação objetiva não exaure todas as hipóteses

em que caberia a aplicação da teoria, tendo em vista que existem fraudes que

não se identificam, necessariamente, com a confusão patrimonial. Não se pode

negar, no entanto, que ao estabelecer presunções em que a fraude estaria

ocorrendo, como por exemplo a confusão patrimonial, esta formulação tem o

mérito em facilitar a pretensão do autor, já que não exige a plena comprovação

da fraude ou do abuso de direito, nem tampouco o elemento subjetivo da

conduta.

3.2 FORMA DE EFETIVAÇÃO – DIRETA, INCIDENTAL, INVERSA E

INDIRETA

A aplicação da desconsideração da personalidade jurídica possui

diversas formas de efetivação, definidas pela doutrina e jurisprudência.

3.2.1 Efetivação Direta

A efetivação direta da aplicação da desconsideração da

personalidade jurídica ocorre quando a fraude é de plano aferida, havendo

flagrante utilização de anteparo protetor. Neste caso haverá a intenção

preliminar de se pugnar pela aplicação da teoria, a fim de alcançar àquele que

efetivamente praticou o ato lesivo. Porém, ainda que se verifique a

possibilidade de alcançar diretamente o patrimônio dos sócios, penetrando-se

na sociedade e levantando-se o véu, é aconselhável que se ajuíze a demanda

não apenas em face destes, mas contra a sociedade também, a fim de que se

evite, desta forma, que os primeiros arguam ilegitimidade passiva.

Page 39: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

38

3.2.2 Efetivação Incidental

Muitas vezes a fraude cometida pelos sócios é de difícil

percepção inicial, só podendo ser visualizada e percebida com a propositura da

demanda e ao longo do processo cognitivo. Com a propositura desta em face

da sociedade, é possível que, durante o curso cognitivo processual, verificada

a ocorrência de fraude, aplicar-se o desconsideração da personalidade jurídica,

com o objetivo de alcançar o autor de determinado ato.

Existem discussões doutrinária acerca da possibilidade de ser

decretada a desconsideração da personalidade jurídica no mesmo processo,

de forma incidental, ou se far-se-ia necessário o ajuizamento de uma demanda

autônoma. Entretanto, observando-se o problema à luz do princípio da

economia processual, não faria sentido exigir-se a propositura de uma nova

ação, quando verificado a fraude existente em uma sociedade, desde que

fossem respeitados os princípios processuais da ampla defesa e do

contraditório.

Desta forma, nossa jurisprudência tem se manifestado favorável a possibilidade

da aplicação da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica de

forma incidental, sendo indispensável a existência do contraditório.

3.2.3 Efetivação Inversa

Neste caso, em vez do sócio utilizar a sociedade como um

“escudo” para a prática de fraudes, ele é que passa a agir de forma ostensiva,

escondendo seus bens na sociedade. Como exemplo, pode ser citado o

Page 40: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

39

cônjuge que, pretendendo se separar do outro, esvazia o patrimônio do casal,

transferindo seus bens para a sociedade. Desta forma, quando por ocasião da

separação do casal, ao ser procedida a partilha dos bens, a meação do

cônjuge que foi enganado estará reduzida a praticamente nada.

Outro exemplo muito comum é o de uma determinada pessoa natural que

“divide” o seu patrimônio, constituindo, para tal, uma pessoa jurídica, que irá

guarnecer o ativo (sociedade), ficando o passivo a cargo desta mesma pessoa

natural (sócio). Tal fato pode levar terceiros a crerem, de maneira errônea, que

esta pessoa é merecedora de crédito, em razão do aparente estilo de vida

desta, quando na realidade, os bens pertencem à sociedade. Desta forma, o

patrimônio da sociedade não poderia ser alcançado por uma obrigação

contraída pela pessoa natural.

3.2.4 Efetivação Indireta

Neste tipo de desconsideração, geralmente existente entre

controladora e subsidiária, existe a necessidade de se retirar “vários véus” para

alcançar os sócios. Nestes casos, a aplicação da desconsideração da

personalidade jurídica para alcançar quem está por trás de uma determinada

sociedade comercial não se demonstra como sendo suficiente para tal, uma

vez que existem outra ou outras sociedades que integrantes das constelações

societárias, que também têm por objetivo encobrir algum fraudador. De acordo

com o entendimento de Marçal Justen Filho22 "é a ignorância, para casos

concretos e sem retirar validade de ato jurídico específico, dos efeitos da

22JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da Personalidade Societária no Direito Brasileiro.São Paulo: RT, 1987 p. 57.

Page 41: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

40

personificação jurídica validamente reconhecida a uma ou mais sociedades, a

fim evitar um resultado incompatível com a função da pessoa jurídica.".

3.3 EFEITOS DA DECISÃO JUDICIAL

Quando ocorre a desconsideração da personalidade jurídica de

uma determinada sociedade comercial por uma decisão judicial, ao contrário do

que se pensa, não há o questionamento da validade dos seus atos

constitutivos, uma vez que este sequer é objeto de conhecimento judicial.

Como anteriormente exposto, só haverá a desconsideração naquele caso

concreto, somente alcançando eficácia o ato levado ao conhecimento do

Judiciário e ao crivo desse. Ficarão preservados, portanto, todos aqueles atos

praticados pela sociedade e que não estão maculados pela fraude ou pelo

abuso de direito. Conforme afirma Elisabeth Cristina Campos Martins de

Freitas23o instituto da desconsideração deve ser encarado como uma teoria

autônoma e individualizada. Não se visa, pois, discutir em juízo a validade dos

atos constitutivos da pessoa jurídica, questionando-se apenas a sua eficácia.

De tal sorte, a decisão que desconsidera a autonomia da pessoa jurídica

declara tão somente a ineficácia periódica e temporária da personalidade

jurídica.

Ademais, o efeito da aplicação da Teoria da Desconsideração da

Personalidade Jurídica é o alcance daquele que se utilizou de forma indevida

da diferenciação patrimonial propiciada pelo instituto da pessoa jurídica, e que

23 FREITAS, Elisabeth Cristina Campos Martins de: Desconsideração da personalidade jurídica: análise à luz do código de defesa do consumidor e o novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 110.

Page 42: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

41

responderá com seu patrimônio pessoal por todas as fraudes ou abusos de

direito cometidos.

Importante ressaltar que a desconsideração se dará para aquele

caso concreto, de forma momentânea, de maneira que, ao levantar-se o véu

societário e penetrar-se na sociedade, alcança-se aquele que perpetrou

determinado ato e, logo depois, reveste-se novamente a sociedade com seu

véu protetor. Não é porque uma sociedade comercial teve a desconsideração

da sua personalidade jurídica declarada pela autoridade judicial, que os seus

sócios passarão então a arcar com todas as responsabilidades e obrigações

desta. Aplica-se a desconsideração, conforme anteriormente exposto, de forma

momentânea e no caso concreto. Terceiros que não fazem parte da lide não

podem se aproveitar da desconsideração chancelada pelo Juízo. Se quiserem

adentrar no patrimônio pessoal dos sócios, devem comprovar, em via própria e

adequada, a fraude e o abuso de direito praticado por estes.

Urge salientar que não há que se falar em despersonalização da

sociedade, mas sim desconsideração. A despersonalização acarreta no fim da

personalidade, o que somente adviria com a extinção da sociedade, tal como

assevera Rubens Requião24: "não se trata, é bom esclarecer, de considerar ou

declarar nula a personificação, mas de torná-la ineficaz para determinados

atos.”. E, quando por ocasião da aplicação da Teoria da Personalidade

Jurídica, a sociedade não se extingue ou acaba. Apenas, de forma

24 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 22. ed., 1° vol. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 279.

Page 43: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

42

momentânea e somente naquele caso concreto torna-se ineficaz sua

personalidade jurídica, com o objetivo de alcançar o causador de uma fraude

ou de um abuso de direito.

CAPÍTULO 4 - A DESCONSIDERAÇÃO NOS DIVERSOS RAMOS DO

DIREITO BRASILEIRO

Nesse capítulo será apresentada a aplicação da Desconsideração

da Personalidade Jurídica nos diversos ramos do Direito Pátrio. Importante

ressaltar que não se encontram presentes todos os casos e ramos do direito

em que se aplica a teoria em comento, e sim os principais, uma vez que em um

trabalho monográfico seria impossível fazer uma apresentação de forma tão

abrangente.

4.1 Sistematização da Desconsideração

O direito positivo brasileiro passou a adotar a teoria em comento,

de forma clara e expressa com o advento da Lei nº 8.069/9025 – Código de

Defesa do Consumidor -, que em seu artigo 28 "caput" estabelece a

possibilidade de o juiz desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade

quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de

poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação do estatuto ou contrato

social, ou ainda nos casos de falência, encerramento ou inatividade da pessoa

jurídica provocados por má administração.

25 BRASIL, Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.069 de 11 de setembro de 1990.

Page 44: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

43

Entretanto várias outras leis, em determinadas circunstâncias já

aplicavam essa teoria, porém não com a amplitude dada pela lei consumeirista,

como se observa abaixo:

a) Lei nº 4.137/62 que trata da repressão ao abuso do poder econômico – a

referida lei, no seu art. 6º determina a responsabilidade dos diretores e

gerentes da pessoa jurídica que praticarem ilícitos previstos na lei ;

b) Lei nº 4.729/65 que versa sobre a sonegação fiscal – Nesta lei é imputada

a responsabilidade penal a todos os que, ligados à pessoa jurídica, tenham

praticado ou concorrido à prática de sonegação fiscal;

c) Decreto Lei. nº 22.626/33 , conhecida como lei da usura - dispõe serem

responsáveis os representantes das pessoas jurídicas que incidirem na prática

do delito de usura;

d) Lei nº 5.172/66 - dispõe sobre a responsabilidade dos diretores, gerentes e

representantes das pessoas jurídicas pelos créditos correspondentes a

obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poder ou

infração da lei ou contrato social;

e) Lei nº 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais - prevê

sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao

meio ambiente.

Com a entrada em vigor do Novo Código Civil, que entrou em

vigor em 11-01-2002, é que a referida teoria ganhou maior impulso, uma vez

que houve a inclusão da desconsideração da personalidade jurídica na nova

legislação civil, conforme será devidamente estudado a seguir.

Page 45: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

44

4.2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Preceitua o artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor26:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste Código. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste Código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

O referido dispositivo, que trouxe grandes inovações ao Direito

Brasileiro, por ter colocado no texto de lei uma construção doutrinária há muito

tempo já utilizada no Brasil e oriunda do direito alienígena, visa dar ampla

proteção ao consumidor, assegurando-lhe o livre acesso aos bens patrimoniais

dos administradores de uma determinada sociedade comercial, sempre que

esta aja com abuso de direito, excesso de poder, infração de lei, ato ou fato

ilícito e violação dos estatutos ou do contrato social27.

O pressuposto para que haja a aplicação da teoria em questão é

a lesão de interesses do consumidor. Este é o elemento integrante de todas as

hipóteses que requerem, para sua efetividade, que a pratica abusiva ou ilícita o 26 Ibidem 27 PELLEGRINI, Grinover... [et al.]. Código brasileiro de defesa do consumidor : comentado pelos criadores do anteprojeto. Rio de Janeiro, Forense. 2001.

Page 46: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

45

seja em virtude da preterição do direito do consumidor. Não faria sentido

suscitá-la na aplicação em defesa de interesses outros como os dos demais

sócios, ou os da personalidade societária. Ademais, a desconsideração há de

supor a incapacidade da pessoa jurídica para reparar o dano. Quando a

empresa tiver capacidade financeira para ressarcir o consumidor, não há razão

para aplicá-la, visto a condição de tratamento excepcional e parcimonioso que

deve ser dispensado à disregard doctrine.

Para fins de análise, pode-se dividir em três grupos as hipóteses

legais de incidência da desconsideração contidos no art. 28 e incisos: abuso de

direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito, violação de

estatutos ou contrato social. (caput, 1ª parte); falência, estado de insolvência,

encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocadas por má

administração. (caput, 2ª parte) e qualquer hipótese em que a personalidade da

pessoa jurídica seja, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos

causados aos consumidores. (§ 5º) .

No primeiro grupo de hipóteses, vislumbra-se a prática de atos

que implicam infração da lei, dos estatutos ou exarcebação na utilização de

direitos. Estes fatos, quando por si não acarretem a responsabilidade pessoal

do agente, previstos na Lei das Sociedades por Quota de Responsabilidade

Limitada e pela Lei das Sociedades Anônimas, servirão de embasamento a

desconsideração, com o fito de alcançar o patrimônio dos sócios. Visa a

desconsideração, em tais casos, que os bens dos sócios infratores sejam

Page 47: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

46

também garantia do ressarcimento do prejuízo causado ao consumidor.

Importante ressaltar que deve haver inafastável nexo de causalidade entre a

conduta inadequada e o prejuízo experimentado pelo consumidor.

No excesso de poder a pessoa jurídica pratica ato ou contrai para

si negócio fora do limite da outorga ou autoridade conferida, quer seja por

infração de lei, fato ou ato ilícito, quer seja por violação do contrato social,

representando sempre o não cumprimento das obrigações impostas às

pessoas pela lei ou pelos atos constitutivos.

No que se refere ao segundo grupo de hipóteses o texto legal

introduz um elemento não especificamente ligado ao interesse do consumidor,

que é a má administração. Não há que se confundir a má administração com a

prática abusiva citada na parte inicial do caput. A má administração a que se

refere o mencionado artigo refere-se a gerência incompetente frente a própria

pessoa jurídica ou frente aos demais sócios. Questiona-se, no entanto, a

relevância deste fato frente ao direito do consumidor. Não é crível que uma

pessoa administraria mal uma empresa com o fito exclusivo de fraudar os

direitos do consumidor. Ficaria, então, uma lacuna em relação à empresa bem

administrada, que desativada, tenha lesionado consumidores.

Desta forma, a inserção da terminologia “má administração” no

texto legal tem gerado certa controvérsia entre os doutrinadores em razão da

falta de nexo entre qualidade da administração e eventuais prejuízos ao

Page 48: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

47

consumidor, e pela falta de isonomia entre o tratamento dado ao consumidor

da empresa encerrada por má administração e o dado ao cliente de uma

empresa bem administrada que encerrou suas atividades.

É certo, porém, que o consumidor deve ser protegido na hipótese

em a pessoa jurídica tenha cessado a atividade ou esteja extinta, e isto

independentemente dos motivos que ensejaram tal encerramento de atividade,

quer seja por administração incompetente, incapaz e até mesmo imprudente ou

negligente.

No terceiro grupo, a hipótese contemplada no § 5º, parece

inconciliável com o caput em razão da utilização de expressões

demasiadamente genéricas, tais como “sempre” e “de qualquer forma”, que,

segundo muitos doutrinadores, parecem inutilizar as hipóteses do caput.

Genérico, abrangente e ilimitado também o é o parágrafo, que aplicado

literalmente, dispensaria o caput, tornando inócua a própria construção teórica

do instituto da desconsideração, implicando na derrogação da limitação da

responsabilidade de toda e qualquer empresa no que diz respeito às relações

de consumo.

Para Zelmo Denari28, com a autoridade de ser um dos autores do

anteprojeto da Lei 8.078/90, postula mesmo o “aberratio ictus da caneta

presidencial”. O parágrafo a ser vetado teria sido o 5º, e não o 1º como

28 Ibidem.

Page 49: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

48

apareceu no diário oficial, que segundo Denari é essencial para a aplicação do

artigo.

Pata Genacéia da Silva Alberton 29, no que diz respeito ao § 5º do

art. 28, faz-se necessário interpretá-lo com cautela, uma vez que a mera

existência de prejuízo patrimonial do consumidor não é suficiente para a

desconsideração da personalidade jurídica. O texto legal, de acordo com a

autora, teria deixado significado em aberto na medida em que assevera que a

pessoa jurídica poderá também ser desconsiderada quando sua personalidade

“de alguma forma” for obstáculo ao ressarcimento justo do consumidor.

De tal sorte, para os doutrinadores, a interpretação mais correta

parece ser a de que o § 5º, constitui uma abertura ao rol de hipóteses do caput

do art. 28 do Código de Defesa do Consumidor, sem prejuízo dos pressupostos

teóricos da doutrina que o dispositivo visou consagrar. A aplicação do § 5º

deve restringir-se às situações em que o fornecedor do produto ou serviço ao

consumidor constitui a pessoa jurídica, ou dela se utiliza, especificamente para

livrar-se da responsabilização de prejuízos causados ao próprio consumidor.

4.3 LEI DE DEFESA DA ORDEM ECONÔMICA

O segundo dispositivo do direito brasileiro a fazer menção

expressa à desconsideração da personalidade jurídica é o art. 18 da Lei n.

29 ALBERTON, Genacéia da Silva. A Desconsideração da Pessoa Jurídica no Código de Defesa do Consumidor, Aspectos Processuais. São Paulo. Forense. 1998.

Page 50: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

49

8.884/9430, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a

ordem econômica (Lei Antitruste), onde é possibilitada a aplicação da

desconsideração em proteção às estruturas livres de mercado, quando

configurada infração à ordem econômica e, ainda, na aplicação de sanções,

conforme se pode observar abaixo:

Art. 18. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

Importante salientar que a Constituição da República Federativa

do Brasil31, em seu artigo 173, § 5º já determinava que, que tanto pessoa

jurídica, quanto seus membros, deveriam ser responsabilizados por atos

praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

Acerca da Lei de Defesa da Ordem Econômica, faz-se mister

tecer alguns comentários. O primeiro deles refere-se à primeira parte do art. 18

da referida lei, que é um tanto quanto confusa. Quando se diz que a

personalidade do infrator pode ser desconsiderada, parece que se esta

fazendo menção à pessoa jurídica. Entretanto, logo a seguir, faz-se referência

a um abuso praticado pela. O abuso é praticado, portanto, pelo membro da

30 BRASIL, Lei de Defesa da Ordem Econômica, Lei nº 8.884 de 11 de junho de 1994. 31 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Senado, 1988.

Page 51: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

50

pessoa jurídica, e não por ela, pois, se assim fosse, não haveria porque

desconsiderá-la, responsabilizando diretamente o agente que o praticou.

Portanto, o "abuso de direito, excesso de poder, infração da lei,

fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social" devem ser

praticados pelos membros da pessoa jurídica.

Da mesma forma que o Código de Defesa do Consumidor, essa

lei já havia extrapolado os parâmetros originais da teoria da desconsideração

da personalidade jurídica, prevendo sua aplicação em hipóteses que

ultrapassavam os simples casos de abuso de direito e fraude, merecendo, por

conseguinte, as mesmas críticas, no sentido de incluir casos que não se

confundem com a doutrina da desconsideração, como no encerramento da

empresa por má administração, por exemplo.

No que diz respeito à má administração, esse tema já foi

abordado quando por ocasião da análise do art. 28 do Código de Defesa do

Consumidor, no tópico 4.2 supra.

4.4 LEI DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Com a entrada em vigor da Lei nº 9.605 32, de 13.2.98 (Lei dos

Crimes Ambientais), o instituto da desconsideração da personalidade jurídica,

que já vinha sendo amplamente utilizado em outros ramos do Direito Pátrio, foi

32 BRASIL, Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605 de 13 de fevereiro de 1998.

Page 52: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

51

inserido no contexto legal do Direito Ambiental, no qual encontrou previsão

específica em se tratando de ilícitos de cunho ambiental.

A supramencionada lei ambiental prevê também inovações, tais

como a possibilidade de condenação do diretor, administrador, membro de

conselho e órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa

jurídica que sabendo da conduta criminosa de outrem elencada na lei, deixar

de impedir sua prática, quando podia agir para evitá-la (art. 2º) 33.

Prevê, ainda, a possibilidade de responsabilização administrativa,

civil e penal das pessoas jurídicas por infrações cometidas por decisão de seu

representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado no interesse ou

benefício da sua entidade (art. 3º).

No art. 4º da lei em comento, verifica-se que poderá ser

desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo

ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente,

estando aí prevista expressamente a figura da “desconsideração da

personalidade jurídica” na esfera dos crimes ambientais.

A aplicação deste instituto possibilitou que a justiça inibisse a

fraude de pessoas que se utilizavam das regras jurídicas da sociedade para

fugir de suas responsabilidades.

33 SÁ, Élida , CARRERA Francisco. Planeta terra: uma abordagem de direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.

Page 53: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

52

Ademais, não se pode esquecer que no caso dos crimes

ambientais o bem tutelado é o meio ambiente, que é considerado como sendo

bem de uso comum do povo nos termos do art. 225 da Constituição da

República Federativa do Brasil34.

Assim, a pessoa jurídica que praticar algum ilícito ambiental

responderá juntamente com a pessoa física causadora do dano entre as

elencadas no art. 2º, pelos atos praticados por esta em seu nome (art. 3º).

Também aquele que se esconder por detrás de uma sociedade, seja qual for,

para praticar atos delituosos contra a qualidade do meio ambiente natural,

artificial, cultural e do trabalho, deverá responder administrativa, civil e

penalmente por eles, com aplicação do instituto da “desconsideração da

pessoa jurídica”35.

Cumpre salientar que quanto a indenização na esfera civil a

responsabilidade objetiva está em vigor, bastando ser averiguado o dano e a

autoria para gerar a obrigação de indenizar, uma vez que a Lei 9.603/98 não

excluiu a responsabilidade na esfera civil.

De tal forma, as empresas ou indústrias em geral devem estar

atentas às questões ambientais para que possam adaptar suas atividades e

parques industriais aos novos anseios mundiais preservacionistas, se não

34 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Senado, 1988. 35 SÁ, Élida , CARRERA Francisco op.cit.

Page 54: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

53

quiserem estar expostas a sanções que poderão inviabilizar seu

empreendimento.

4.5 NOVO CÓDIGO CIVIL

O Novo Código Civil, que entrou em vigor no dia 11 de janeiro de

2002, e já tramitava no Congresso Nacional desde 1975, é o diploma legal que

trouxe as maiores mudanças e aperfeiçoamentos à Teoria da Desconsideração

da Personalidade Jurídica.

No que diz respeito à redação, pouco se alterou o art. 50 do Novo

Código Civil36 desde o que foi proposto por José Carlos Moreira Alves no

anteprojeto ofertado na década de 70. Desta forma, temos o artigo 50 do Novo

Código Civil:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidas aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Verifica-se, sem muita dificuldade, que a redação do mencionado

dispositivo legal encontra-se em um nível muito superior que a do art. 28 do

Código de Defesa e Proteção do Consumidor, uma vez que neste há a idéia de

exigência de culpa ou ilícito para que se aplique a desconsideração da pessoa

jurídica:

36 BRASIL, Código Civil. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002.

Page 55: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

54

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provados por má administração.

Do disposto no art. 50 da Lei Civil não mais se vêem a necessidade

da perquirição da culpa ou do dolo do agente, uma vez que pode extrair a regra

de que se considera existir o abuso da personalidade jurídica quando houver a

simples ocorrência dos fatos objetivos do desvio de finalidade ou da confusão

patrimonial.

.

Como causas deflagradoras da aplicação da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica 37existem três hipóteses: O desvio

de finalidade, a confusão de patrimônio e o abuso de personalidade.

O desvio de finalidade é o uso indevido ou o destino diferente que

se deu à coisa em vez do uso ou destino que, no caso da pessoa jurídica,

deveria ser aquele previsto em seus estatutos, para os fins sociais nele

previstos.

A expressão desvio de finalidade, inclusive, já é bem conhecida no

Direito Administrativo, herdada do Direito Francês, se expressando quando o

37 .SLAIB FILHO, Nagib, A desconsideração da personalidade jurídica no Novo Código Civil. Disponível em < http://www.abdpc.org.br > Acesso em 25 out 2004.

Page 56: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

55

agente público age em prol de interesse diverso do interesse público. Assim

sendo, o desvio de finalidade é a utilização de meios ou a busca de fins que

não vão a favor da pessoa jurídica, mas a favor de outrem, sócio ou qualquer

beneficiário.

A confusão do patrimônio ocorre quando não se consegue distinguir

os patrimônios da pessoa jurídica e do seu sócio, de modo que impossibilita o

discernimento das obrigações concernentes a cada um deles.

Por fim, o abuso da personalidade jurídica constitui espécie do

abuso de direito a que se refere o disposto no art. 187 do Novo Código Civil, e

se verifica quando a pessoa jurídica foi utilizada para encobrir finalidades

diversas do seu fim institucional ou quando daí decorre confusão patrimonial

entre a pessoa jurídica e a pessoa beneficiada.

Segundo o Nagib Slaibi Filho38, professor da EMERJ e

desembargados:

A nova previsão legislativa se mostra muito mais rigorosa do que está no Código de Defesa do Consumidor, uma vez que se admite o abuso da personalidade jurídica tão-somente em decorrência de um dos dois fatos objetivos, quais sejam, o desvio da finalidade ou a confusão patrimonial. Daí decorre que basta a demonstração de qualquer um deles, em densidade suficiente para autorizar a deflagração de seus efeitos, para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam

38 Ibidem.

Page 57: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

56

estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Em respeito ao Princípio da Inércia do Poder Judiciário, onde o

processo deve ser impulsionado pelas partes, sendo vedado na maioria das

situações que o juiz aja de ofício, a aplicação da Teoria da Desconsideração da

Personalidade Jurídica deve ser precedida de requerimento da parte

interessada ou do Ministério Público, quando este intervier no feito.

A promulgação do Novo Código Civil, e consequentemente do seu

art. 50 foi de vital importância e mais um grande avanço no Direito Brasileiro,

uma vez que resgatou os verdadeiros fundamentos e princípios da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica, inserindo tal teoria na Lei Comum.

Essa inserção possibilitou aos operadores do direito a utilização de forma livre

e desimpedida da desconsideração da personalidade jurídica, uma vez que o

aspecto extremamente positivo do Direito Pátrio constituía-se como sendo um

obstáculo à aplicação da referida teoria, que a partir de então passou a contar

com previsão normativa na Lei Civil.

4.6 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA E TRABALHISTA.

Não poderia o Direito Tributário “o grande observador da

realidade econômica que se apresenta no fundo das realidades jurídicas”,

Page 58: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

57

como observa Suzy Koury39 ao citar os pensamentos do alemão Rolf Serick,

ignorar a teoria da desconsideração da personalidade jurídica. E realmente não

o fez, sendo possível no Direito Tributário Brasileiro aplicar-se tal teoria, em

razão da grande importância dos tributos no orçamento do país, o que levou o

legislador brasileiro a procurar proteger o crédito tributário. De acordo ainda

com essa mesma autora40, ao fazer menção aos comentários de Celso

Machado, “em nenhum outro sistema jurídico se encontra uma tessitura de

amparo ao crédito tributário, semelhante à que se armou entre nós”.

Distingue-se, entretanto, a aplicação do instituto neste ramo dos

outros ramos do direito, onde se faz necessário observar o princípio da

legalidade quando da aplicação no Direito Tributário, uma vez que “tributo não

encontra fundamento nem na noção de ilicitude nem na idéia de

comutatividade. Aquele que está obrigado ao pagamento da prestação

tributária encontra-se em tal situação jurídica por exclusiva decorrência de, em

última análise, ser portador de riqueza” 41. De tal sorte, portanto, somente por

meio de lei anteriormente editada, definindo a hipótese de incidência tributária

em todos os seus aspectos, inclusive o sujeito passivo da obrigação, pode ser

aplicada a desconsideração da personalidade jurídica no Direito Tributário

Pátrio.

Nas hipóteses do contribuinte tentar, de maneira abusiva, escapar

à obrigação tributária furtando-se à prática de condutas a ele obrigadas, é

39 BRUTEAU, José Puig, apud KOURY, Op. Cit., p. 157. 40 MACHADO, Celso Cordeiro, apud KOURY, op. cit., p. 158. 41 JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da personalidade societária no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 107.

Page 59: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

58

possível ao aplicador da lei, ao verificar a não coincidência do ato com o

modelo normativo vigente, avaliar o caso e invocar a teoria da

despersonificação com argumentos sustentados na função econômica e

jurídica da conduta praticada pelo contribuinte.

Mas, como não poderia deixar de ser diferente, essa posição não

é unânime na doutrina tributária brasileira. Marçal Justen Filho42 explica que: a

regra do artigo 135 do Código Tributário Nacional não teve origem nas

concepções indicadas como teoria da desconsideração da personalidade

jurídica. Segundo o autor, esta regra de direito tributário não dispõe apenas das

sociedades personificadas, abrangendo outras situações distintas como o caso

dos mandatários e sendo, portanto, um gênero de condutas abusivas e não a

espécie prevista em lei de desconsideração da personalidade jurídica em

virtude, fundamentalmente, de um resultado fraudulento. Ainda segundo o

autor, a tipicidade característica do direito tributário exclui a incidência da

desconsideração, quando inexista expressa previsão normativa, do que se

pode concluir pela não adoção da disregard doctrine no direito tributário pátrio

por inexistência de lei específica prevendo os seus aspectos, excetuando a

situação específica explicada adiante.

Para que se possa aplicar corretamente a Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica no âmbito do Direito Tributário, é

requisito a verificação de um resultado danoso, propiciado justamente pela

42 Ibidem

Page 60: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

59

incidência do regime jurídico correspondente à personificação societária. E tal

fato somente encontrará previsão legal se houver favorecimento do particular

em desfavorecimento do interesse público, conforme disposto nos artigos 60 e

seguintes do Decreto-lei n.º 1.598/77, com nova redação dada pelo artigo 20

do Decreto-lei n.º 2.065/83, que trata da desconsideração da personalidade

jurídica no direito tributário. A desconsideração, porém, só será aplicada de

forma restrita às hipóteses ali previstas, ou seja, nos casos de distribuição

disfarçada de lucros aos acionistas-controladores e quando estes tenham

interesse direto ou indireto na sociedade ou no negócio realizado.

Para Ricardo Lobo Torres43 existe a figura da personalização do

agente que praticou infrações conceituadas como crimes ou contravenções

penais (sonegação, contrabando, etc.), ainda que praticadas por meio da

pessoa jurídica. Somente se o agente ao praticar as aludidas infrações o fez no

exercício regular da administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou

ainda no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito, é que

haverá a responsabilidade do contribuinte, sendo possível, a partir de então,

levantar o véu da pessoa jurídica e desconsiderá-la.

O Direito do Trabalho é regido sob o princípio do in dubio pro

operario, onde se vislumbra uma tutela que tenta beneficiar, primordialmente, o

trabalhador, que sem dúvidas é a parte mais fraca da relação de trabalho.

Tenta-se, desta forma, compensar com superioridade jurídica a sua

inferioridade econômica.

43 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 17ª ED. São Paulo: Renovar, 2010.

Page 61: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

60

A consolidação das Leis do Trabalho44, em seu art. 2º, § 2º prevê:

art. 2º (...) § 1º(...) § 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.

Com base no referido dispositivo legal, tanto a doutrina quanto a

jurisprudência vêm procurando conceituar o que seria “grupo de empresas” no

direito trabalhista, além de determinar quais seriam suas formas típicas.

Nos ensinamentos de Suzy Koury 45, no que tange a tal conceito,

devem-se reunir todas as posições da doutrina em dois grupos: primeiramente

daqueles que são favoráveis a uma interpretação do dispositivo da

Consolidação das Leis do Trabalho de uma maneira mais restritiva, e de outro

lado os que acreditam que se deve proceder a uma interpretação mais

extensiva.

Na realidade, como bem observa Koury, o mais importante é que

esse art. 2º, § 2º seja aplicado e interpretado de maneira que o possibilite

alcançar o seu verdadeiro objetivo, visando sobrepor-se ao formalismo jurídico

e realidade social.

44 BRASIL, Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-Lei 5.452 de 1º de maio de 1943. 45 KOURY, op. cit. , p. 167.

Page 62: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

61

Roberto Santos 46considera que existe a figura do grupo

empresarial sempre que as mais importantes decisões técnicas, comerciais,

administrativas e financeiras forem tomadas em função do interesse do lucro

do conjunto, e não necessariamente de cada empresa em particular. Configura-

se, desta forma, o consórcio trabalhista sempre quando uma empresa, de

maneira parcial ou total, influencia na atividade da outra.

O objetivo, portanto, da aplicação da disregard doctrine no Direito

do Trabalho não é outro senão evitar que a personalidade jurídica daquela

empresa que está contratando um determinado funcionário seja abusivamente

utilizada, tentando encobrir a real vinculação do dito empregado com o grupo

de empresas.

Entretanto o assunto é mais complexo do que possa parecer e

muito controvertido entre os doutrinadores, magistrados e demais operadores

do Direito. Muitos entendem que o referido artigo da CLT não acolhe a

desconsideração da personalidade jurídica, apenas excepciona a solidariedade

das várias empresas integrantes de um grupo, sem sequer cogitar abuso de

direito ou fraude.

Nagib Slaib Filho47, magistrado e professor da EMERJ, em artigo

publicado na internet, diz que em relação à teoria da desconsideração da

46 SANTOS, Roberto, 1973, apud KOURY, Ibidem. 47 SLAIB FILHO, Nagib, op. cit.

Page 63: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

62

personalidade jurídica, especial atenção deve ser voltada quanto a sua

aplicação no Direito do Trabalho. Segundo Nagib, a disregard doctrine nesse

ramo de direito tem sido utilizada sem o necessário rigor técnico e sem muita

“parcimônia”. Neste mesmo artigo faz duras críticas ao Tribunal Superior do

Trabalho, órgão judicante de maior hierarquia, em razão do mesmo proferir

com freqüência pronunciamentos, no sentido de desconsiderar a personalidade

jurídica, sem qualquer pesquisa se aquela determinada pessoa jurídica teria

sido utilizada de forma abusiva ou fraudulenta. Aduz que em razão do crédito

trabalhista possuir caráter alimentar, este estaria sendo super protegido e

super privilegiado, pelos juízes trabalhistas, desejosos de praticarem uma

justiça mais célere, que estariam levantando o véu societário pelo simples fato

de não terem sido encontrados bens da sociedade para a penhora, muitas

vezes chegando a penhorar bens de sócios que sequer fizeram parte da

administração, não obedecendo, portanto, o rigor técnico que deve preceder à

aplicação da referida teoria. Por fim, traz um questionamento muito

interessante: com a “generalização” da aplicação da teoria da desconsideração

da personalidade jurídica valeria a pena aos empresários continuarem

exercendo atividade econômica no país? Não estaria a Justiça do Trabalho

contribuindo para “matar a galinha dos ovos de ouro”, pois na medida em que a

empresa for aniquilada, não restarão direitos trabalhistas a serem protegidos,

uma vez que simplesmente faltarão empregos.

Page 64: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

63

Maurício Cunha Peixoto48, Procurador da Assembléia Legislativa

do Estado de Minas Gerais, defende o posicionamento de que a invocação do

supramencionado § 2º do art.2º da Consolidação das Leis do Trabalho pra

fundamentar a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica nas

relações de trabalhistas seria errônea. O dispositivo legal, na realidade, estaria

criando uma responsabilidade solidária no que concerne aos débitos

trabalhistas entre pessoas jurídicas distintas. Estaria, então, a teoria sendo

utilizada de forma anômala, uma vez que não estaria se desconsiderando a

personalidade jurídica de uma determinada sociedade comercial. O que estaria

ocorrendo, a rigor, seria a consideração da personalidade jurídica de outras

sociedades, com fito de responsabilizá-las por um débito trabalhista.

Segundo o Professor Euller da Cunha Peixoto49, é possível

desconsiderar-se a personalidade jurídica no caso em que o empregador,

visando escamotear a relação de emprego, exige que o empregado se

constitua em uma pessoa jurídica, com a qual firmará um contrato de prestação

de serviços. Desta forma, aplicando-se a disregard doctrine, será reconhecida

a relação de trabalho com o empregado, e desconhecida a personalidade

jurídica da firma por este constituída.

Apesar dos mais controvertidos entendimentos doutrinários e

jurisprudenciais, os jurisconsultos são quase que unânimes ao afirmar que, no

Direito Processual do Trabalho, da mesma forma que o é no Direito Processual

Civil, faz-se necessária a participação do empregador na fase cognitiva

48 PEIXOTO, Maurício Cunha de. Op. Cit 49 PEIXOTO, Euller da Cunha apud PEIXOTO, Maurício, Ibidem.

Page 65: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

64

processual. Caso isso não seja feito, poderá não ser possível a aplicação da

desconsideração da personalidade jurídica por cerceamento do direito de

defesa e por desrespeito ao princípio do contraditório, pilares basilares do

ordenamento jurídico-processual brasileiro.

Tal posição, entretanto sofre duras críticas, sob argumento de

que se estaria contrariando o princípio da celeridade e o princípio da proteção

do trabalhador, que, ao menos, deveriam informar o Direito do Trabalho.

Urge ressaltar, contudo, que a maioria dos estudos que versam

sobre a disregard doctrine são dirigidos ao Direito Material e não ao Direito

Processual. Ainda que a responsabilidade patrimonial se afigure como sendo

um instituto do direito material, por ser decorrente da relação obrigacional,

também será um instituto de direito processual, quando necessária à atuação

do Estado, mediante a tutela jurisdicional para o cumprimento forçado de uma

determinada obrigação.

Na execução trabalhista brasileira, a Justiça do Trabalho detém o

poder de subtrair a livre disponibilidade do patrimônio do devedor através de

seus bens, uma vez que este, no prazo legal, não pagou de forma espontânea

o que era devido.

O art. 591 do CPC impõe a responsabilidade patrimonial do

devedor através de seus bens. O fundamento jurídico que justifica essa

Page 66: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

65

constrição do patrimônio do devedor decorre da relação jurídica obrigacional,

composta de 2 (dois) elementos: o débito, que possui natureza de direito

material e a responsabilidade, de natureza processual.

Essa diferenciação entre dívida e responsabilidade é fundamental

quando se pretende estabelecer a possibilidade de alcance de patrimônio de

terceiro, através da doutrina da desconsideração, não podendo, portanto, a

dívida se confundir com a responsabilidade. A dívida é pessoal, vinculando no

Direito do Trabalho o empregado e o empregador. A responsabilidade, por sua

vez, vincula o crédito exeqüendo com o patrimônio do executado, mas com a

diferença de que esse executado poderá ser o devedor ou terceiro

responsável, quer seja em decorrência de normas legais, quer seja em face da

aplicação da doutrina da desconsideração.

A responsabilidade patrimonial pode ser classificada em primária

e secundária. A doutrina da desconsideração da personalidade jurídica dirige-

se à responsabilidade patrimonial secundária, nos casos onde não houve

previsão legal do alcance do patrimônio de terceiros.

A CLT tratou da responsabilidade patrimonial nos artigos 876 a

892. Contudo, é omissa no que concerne à responsabilidade secundária,

devendo ser aplicados, de forma subsidiária, os arts. 591 e 597 do CPC, que

versam sobre a execução.

Page 67: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

66

Preconiza o art. 592 do Código de Processo Civil50

Art. 592. Ficam sujeitos à execução os bens:

I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução de sentença proferida em ação fundada em direito real; II - do sócio, nos termos da lei; III - do devedor, quando em poder de terceiros; IV - do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida; V - alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.

Nesse dispositivo legal encontram-se grande acervo de hipóteses

em que a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica do devedor se

aplica. O entendimento majoritário é que a relação dos referidos incisos é

exemplificativa e não taxativa.

É importante tecer alguns comentários acerca do excesso de

preciosismo que se tem praticado hoje em dia no Direito do Trabalho, no que

concerne à matéria alvo do presente estudo. Independentemente do nomen

juris que se dê ao ato de se atingir o patrimônio dos sócios de uma

determinada sociedade comercial, o que importa é a maneira e a razão pela

qual isso está sendo feito. Na realidade, pouco importa se estar-se-ia aplicando

a desconsideração da personalidade jurídica ou a responsabilização pessoal

daquele determinado sócio. O que importa, na realidade, é que esse sócio

sofrerá a constrição do seu patrimônio pessoal a fim de dar uma maior

efetividade à sentença trabalhista, ressaltando-se que o crédito trabalhista

possui natureza alimentar, evitando-se que o trabalhador possua um título

50 BRASIL, Código de Processo Civil. Lei nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973.

Page 68: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

67

judicial em mãos que seria inexecutável, o que acontecia com muita freqüência

no Direito do Trabalho.

Page 69: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

68

CONCLUSÃO

Após o árduo estudo sobre o controvertido tema constata-se que

as pessoas jurídicas, entes corpóreos que podem ser sujeitos de direito, foram

criadas pelo homem que, visando um objetivo comum, que é o seu crescimento

no cenário econômico mundial, necessitava de um organismo que

possibilitasse ao mesmo um maior controle e melhor administração dos seus

negócios.

Entretanto, em razão da ganância desse mesmo homem, as

pessoas jurídicas passaram a ser utilizadas de forma diferente para a qual

foram legalmente constituídas. Atos atentatórios à lei, aos estatutos ou

contratos sociais, fraudes, simulações, abusos de direito, confusão patrimonial,

tornaram-se uma prática comum. E essas práticas espúrias deviam de alguma

forma ser combatidas. Nada mais justo dar ao mesmo Estado que autorizou a

constituição da pessoa jurídica o poder de, em certas ocasiões, desconsiderar

a sua personalidade jurídica, levantando o véu societário e penetrando na

sociedade.

Não obstante o fato de até os anos noventa a referida teoria ainda

não estar normatizada, desde muito antes a mesma era utilizada, através de

uma construção doutrinário-jurisprudencial. Com o Código de Defesa do

Consumidor e posteriormente com a Lei de Crimes Ambientais houve a tão

esperada inserção da teoria em nossa legislação, desfazendo, de forma

Page 70: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

69

inquestionável o muito da autonomia patrimonial da sociedade, até então

considerada absoluta.

Verifica-se também a grande importância que tem o Judiciário

quando por ocasião da aplicação da desconsideração da personalidade

jurídica. A sua aplicação deve ser precedida da mais absoluta parcimônia, uma

vez que se assim não o for, pode-se gerar uma insegurança jurídica tamanha

que pode afastar ou até mesmo impossibilitar os investimentos nas atividades

econômicas no país, levando à crise e à recessão.

O magistrado não pode, e nem deve, no afã de fazer justiça,

desconsiderar a personalidade jurídica das sociedades comerciais de uma

maneira descriteriosa e descuidada, afinal deve-se lembrar que todo o nosso

ordenamento jurídico foi criado no sentido de respeitar tão importante instituto.

Importante salientar o fato de que a Teoria da Desconsideração

da Personalidade Jurídica não visa em hipótese alguma desvalorizar o instituto

da pessoa jurídica, e sim valorizá-lo, de maneira a impedir que as sociedades

comerciais que estejam em desacordo com a lei gozem dos mesmos direitos e

prerrogativas daquelas que ajam dentro da lei, devendo portanto, sofrer

sanções.

Page 71: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

70

Conclui-se, portanto, que tal medida extrema é excepcional,

justificada e não duradoura. Após levantar-se o véu corporativo que protege a

sociedade, para aquele caso concreto, onde tal medida extrema

momentaneamente se fez necessária, recobre-se novamente a sociedade.

Suspende-se, não elimina-se.

Verifica-se também o grande avanço que foi a inserção da

referida teoria no novo Código Civil, que, inclusive, encontra-se em um nível

muito superior que a do art. 28 do Código de Defesa e Proteção do

Consumidor, uma vez que neste há a idéia de exigência de culpa ou ilícito para

que se aplique a desconsideração da pessoa jurídica, o que não ocorre na Lei

Civil.

Desta forma, conclui-se que o instituto da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica, advindo do direito alienígena

encontrou campo fértil no ordenamento jurídico brasileiro, sendo aplicado nos

mais diversificados ramos de direito, sempre com o objetivo de evitar o prejuízo

de terceiros em razão de fraudes e/ou abusos de direito cometidos pelas

pessoas jurídicas, fazendo-se, dessa forma, a lídima , curial e esperada

Justiça.

Page 72: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

71

REFERÊNCIAS

ALBERTON, Genacéia da Silva. A Desconsideração da Pessoa Jurídica no Código de Defesa do Consumidor, Aspectos Processuais. São Paulo: Forense. 1998. BASTOS, Eduardo Lessa, Desconsideração da Personalidade Jurídica. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2003. BRASIL, Código Civil. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. _______, Código Civil. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. _______, Código de Defesa do Consumido. Lei nº 8.069 de 11 de setembro de 1990. _______, Código de Processo Civil. Lei nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973. _______, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Senado, 1988. _______, Lei de Defesa da Ordem Econômica. Lei nº 8.884 de 11 de junho de 1994. _______, Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605 de 13 de fevereiro de 1998. DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro. 24ª Ed.São Paulo: Saraiva, 2009. FREITAS, Elisabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica: análise à luz do código de defesa do consumidor e o novo código civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da personalidade societária no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. KOURY, Susy Elisabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) e os grupos de empresas, Rio de Janeiro: Forense, 1998. MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Forense, 2010. PEIXOTO, Maurício Cunha de. A desconsideração da personalidade jurídica e o art. 50 do Novo Código Civil. Disponível em < http://www.almg.gov.br > Acesso em 25 out 2004. PELLEGRINI, Grinover... [et al.]. Código brasileiro de defesa do consumidor : comentado pelos criadores do anteprojeto. Rio de Janeiro, Forense. 2001.

Page 73: RESUMORESUMO Em breve síntese, o presente estudo versa sobre a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, importante instituto oriundo do direito alienígena, e …

72

REALI, Ronaldo Roberto. A desconsideração da personalidade jurídica no direito positivo brasileiro. Disponível em < http://www1.jus.com.br. > Acesso em 25 out 2004. REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais 410/12. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 22. ed., 1° vol. São Paulo: Saraiva, 1995. RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil – Parte Geral, São Paulo: Saraiva: 1985. SÁ, Élida , CARRERA, Francisco. Planeta terra: uma abordagem de direito ambiental. Rio de Janeiro. Lumen Juris, 1999. SARAI, Leandro. A doutrina da desconsideração da personalidade jurídica e alguns de seus reflexos no ordenamento jurídico brasileiro: Lei nº 8.078/90, Lei nº 8.884/94, Lei nº 9.605/98 e Lei nº 10.406/02. Disponível em <www.jus.com.br. SILVA, Alexandre Couto. Aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no direito brasileiro. São Paulo: LTR, 1999. .SLAIB FILHO, Nagib. A desconsideração da personalidade jurídica no Novo Código Civil. Disponível em < http://www.abdpc.org.br. TOMAZETTE, Marlon. A desconsideração da personalidade jurídica: a teoria, o CDC e o Novo Código Civil, Disponível em < http://www1.jus.com.br. TORRES. Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 17ª ED. São Paulo. Renovar, 2010 Oliveira , de Andrade Filho, Edmar. Desconsideração da Personalidade Jurídica no Novo Código Civil. Editora MP. São Paulo.