resumo de lógica (formal e informal)
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A lógica formal estuda argumentos dedutivos, procurando estabelecer qual a
relação entre a forma de um argumento e a sua validade, sendo um argumento
válido aquele que tem forma válida.
A validade de um argumento prende-se somente com a forma deste, não
dependendo do seu conteúdo.
A lógica foi criada por Aristóteles com vista a estabelecer as condições do
pensamento científico, ou seja, a lógica pretendia avaliar os argumentos e
estruturar o pensamento. Ao avaliar os argumentos era possível distinguir os
erros de raciocínio, levando-nos até um saber seguro.
A lógica aristotélica é conhecida por “teoria dos silogismos” (raciocínios
dedutivos) existindo 3 tipos de silogismos: categórico, disjuntivo e condicional.
OS aristotélicos desenvolveram a lógica das proposições categóricas enquanto
que os estóicos se interessavam pelos argumentos condicionais. No entanto,
ambos os sistemas são complementares e não alternativos.
As premissas são proposições que afirmam ou negam algo de forma absoluta.
Silogismo Condicional: a premissa maior afirma ou nega algo sob condição.
Se A, então B.
A.
Logo B
Disjuntivo: a premissa maior estabelece uma alternativa.
Ou A ou B.
A.
Logo, não B.
Os argumentos são o objecto de estudo da lógica. A lógica ensina-nos a
distinguir argumentos de não argumentos e argumentos válidos dos não válidos.
A lógica permite estruturar e clarificar o pensamento, ajudando-nos a evitar erros
de raciocínio, pelo que a lógica é bastante importante para a Filosofia, já que
para se dar resposta a um problema é necessário apresentar teorias e
argumentos que são avaliados e criticados pela lógica.
o A lógica permite avaliar criticamente os problemas filosóficos;
o A lógica permite avaliar criticamente as teorias dos filósofos;
o A lógica permite avaliar criticamente os argumentos apresentados pelos
filósofos.
Sem esta atitude crítica não há atitude filosófica, logo sem lógica não há uma
atitude verdadeiramente filosófica.
Um argumento é o conjunto da conclusão e das premissas.
o As premissas são proposições que afirmam ou negam algo de forma
absoluta de modo a fundamentarem/apoiarem/justificarem a conclusão.
o A conclusão é a proposição onde se exprime algo que se crê ser
verdadeiro e que se pretende justificar através das premissas, logo a
conclusão depende das premissas.
Para se identificar um argumento, deve-se identificar a conclusão, pois se há
conclusão há argumento.
Para se identificar a conclusão deve-se verificar se há alguma afirmação a ser
defendida, se há afirmações que pretendem convencer alguém de algo ou se há
afirmações que se destinam a apoiar outra.
Muitas vezes a identificação das premissas e conclusão é facilitada pelos
indicadores correspondentes:
Indicadores de conclusão
Logo Segue-se
Portanto Consequentemente
Por isso E por essa razão
Por conseguinte Daí que
Infere-se que Concluo
A validade de um argumento prende-se com a sua forma lógica e não com o seu
conteúdo, ou seja, um argumento é válido quando a conclusão deriva
necessariamente das premissas, independentemente de as premissas e a
conclusão serem ou não de facto verdadeiras.
Um argumento sólido é válido e tem premissas e conclusão de facto verdadeiras.
O facto de pudermos deduzir consequências verdadeiras das nossas teorias não
é condição suficiente para dizermos que estas são verdadeiras.
A conclusão só é falsa de umas das premissas for falsa, pois de premissas
verdadeiras só se pode deduzir uma conclusão verdadeiras. (A conclusão segue
sempre a parte mais fraca)
Um argumento não é verdadeiro nem falso. Ou é válido ou inválido.
A verdade e a falsidade são características das proposições que constituem os
argumentos.
Os juízos têm 3 elementos constituintes:
o Sujeito – aquilo acerca do qual se afirma ou nega algo.
o Predicado – qualidade ou característica que se afirma pertencer ou não
ao sujeito.
o Cópula – elemento de ligação entre o sujeito e o predicado.
Os quantificadores permitem indicar se o predicado se encontra ou não
distribuído, assim como o sujeito.
Indicadores de Premissa
Ora Visto que
Dado que Devido a
Porque A razão é que
Como Por causa de
Os juízos nos quais se diz que alguns ou todos os membros da classe nomeada
pelo sujeito se incluem ou não se incluem na classe representa pelo predicado
dá-se o nome de juízos categóricos.
Os juízos podem ser classificados quanto à quantidade em:
o Uma proposição universal é aquela na qual o sujeito representa todos
os membros de uma classe, ou seja, é tomado em toda a sua extensão.
[Quantificadores -> todo(s) e nenhum(ns)]
o Uma proposição particular é aquela na qual o sujeito representa uma
parte não determinada dos membros de uma classe, isto é, é tomada em
parte indeterminada da sua extensão. [Quantificadores -> algum(s)]
o Os juízos singulares são os que têm como sujeito um ente concreto,
determinado, sendo equiparados aos juízos universais, pois a extensão
de um termo singular é, contendo um só ente, tomado em toda a sua
extensão neste juízo.
A qualidade de uma proposição é a propriedade que ela tem de ser afirmativa
ou negativa.
o Proposição negativa – cópula indica que o predicado não convém
ao sujeito. -> Predicado universal.
o Proposição afirmativa – cópula indica que o predicado convém ao
sujeito. -> Predicado particular.
Um silogismo categórico é um raciocínio dedutivo constituído por 3 proposições:
2 premissas e 1 conclusão que deve derivar necessariamente das premissas.
Um silogismo categórico contém 3 termos, que aparecem duas vezes nas
diferentes proposições.
O termo médio é aquele que aparece em ambas as premissas, mas não aparece
nem pode aparecer na conclusão.
O termo maior é o predicado da conclusão, aparecendo também na premissa
maior.
O termo menor é o sujeito da conclusão e aparece na premissa menor.
Regras da validade dos silogismos:
1. O silogismo categórico só pode conter 3 termos e cada termo deve ter o
mesmo significado ao longo do argumento.
2. O termo médio só pode aparecer nas premissas.
3. Os termos maior e menor não podem ter maior extensão na conclusão do
que têm nas premissas, ou seja, os termos têm de estar distribuídos nas
premissas se estiverem distribuídos na conclusão.
4. O termo médio dever ter extensão universal em elo menos umas das
premissas, ou seja, o termo médio tem de estar distribuído pelo menos uma
vez.
5. Premissas afirmativas exigem uma conclusão afirmativa.
6. De premissas negativas nada se pode concluir.
7. De premissas particulares nada se pode concluir.
8. A conclusão segue sempre a parte mais fraca: será negativa se houver uma
premissa negativa, será particular havendo uma premissa particular.
Usando padrões válidos de argumentação, identificados pela lógica dedutiva,
temos a garantia de que, se as premissas forem verdadeiras, as conclusões
também são verdadeiras. Esta garantia só pode ser dada pela dedução e, por
isso, as conexões dedutivas são as mais seguras de que dispomos.
Os instrumentos da lógica formal são indispensáveis para a construção e
avaliação crítica do corpo de crenças ou conhecimentos.
A dedução não abrange todo o domínio da argumentação pelo que tem de ser
complementada com outros padrões de argumentação, estudados pela lógica
não dedutiva ou informal.
Na lógica dedutiva, logo que se detecta a invalidade de um argumento, este é
abandonado sem que se lhe reconheça qualquer grau de força. Contudo a
lógica informal permite estudar argumentos, que embora a conclusão possa ser
falsa, nos dão razões para aceitarmos que a conclusão é plausível, provável ou
verosímil.
A lógica informal é necessária para avaliar os argumentos que apesar de
inválidos, dão algum apoio à conclusão.
o Existem argumentos fortes, que apesar de inválidos, justificam a nossa
aceitação da conclusão.
A lógica informal estuda as regras ou padrões que tornam um argumento forte.
o A lógica informal admite que os argumentos tenham graus de força,
permitindo-nos estudar os padrões ou critérios segundo os quais
graduamos os argumentos informais.
A lógica informal é necessária, porque precisamos de uma lógica que não
prescinda de referências aos conteúdos.
A lógica informal é necessária para estudar os aspectos concretos da
argumentação.
o Reconhece que a argumentação em concreto exige pelo menos 2
argumentadores, que têm um conhecimento parcelar e inseguro que
ajuda a distinguir as maneiras correctas de orientar o pensamento para a
verdade.
Os erros típicos da argumentação designam-se falácias, podendo estas ser
involuntárias (paralogismos) ou voluntárias (sofisma).
As falácias formais são erros de raciocínio que resultam exclusivamente da
forma lógica.
As falácias informais são erros de raciocínio que não resultam exclusivamente da
forma lógica, ou seja, são erros argumentativos, cuja invalidade não resulta de uma
deficiência lógica, mas sim do conteúdo do argumento, da sua matéria –
dependente, portanto da linguagem natural comum.
Generalização Indutiva:
o Consiste em atribuir a todos os casos possíveis de certo tipo aquilo que se
verificou em alguns desses casos.
o A generalização justifica uma conclusão universal a partir de premissas
menos gerais, ou seja, as premissas podem ser singulares, particulares ou
universais desde que menos abrangentes que a conclusão. Tanto a
premissa como a conclusão podem ser universais, mas a premissa tem de
ser particular em relação à conclusão, porque se refere a todos os casos
observados, enquanto que a conclusão se refere a todos os casos
possíveis.
o EX: Cada um dos casos x já verificados tem a propriedade y.
Logo, todos os casos x têm a propriedade y.
o A generalização não garante que a sua conclusão é verdadeira, pois
não pode garantir que um dos casos não observados não venha a refutar
a conclusão. O máximo que conseguimos com este tipo de argumentos é
legitimidade para tratar a conclusão como muito provável, tanto que nos
é possível desprezar a possibilidade de erro.
Regra 1: a amostra deve ser ampla.
Regra 2: a amostra deve ser relevante, ou seja, dever ter a maior
variedade de características daquela classe.
Regra 3: Não deve omitir informação relevante.
Falácia “depois disso, por causa disso” (post hoc engo propter hoc)
o Consiste em inferência causais precipitadas em que se infere que a) é
causa de b) só porque nas premissas se diz que a) se deu antes de b).
o O argumento é falacioso, porque não satisfaz as condições da relevância
ou da não omissão de conhecimento relevante.
Indução por analogia:
o O argumento por analogia atribui uma propriedade de um acontecimento
ou objecto por tal propriedade se ter verificado em algum objecto ou
acontecimento semelhante.
o As previsões podem ter de ser avaliadas pelas regras da dedução e da
generalização ou por todas em conjunto. Indução para o caso seguinte, é
semelhante à do argumento analógico.
“Como todos s 27 feijões que até agora retirei deste saco são brancos, o próximo
feijão que vou retirar deste saco será branco.”
o Previsão em dois passos, que num primeiro caso efectua uma
generalização e, no segundo, uma dedução.
o É um erro reduzir as previsões (e outras analogias) a este padrão de 2
passos (generalização e dedução). A analogia não tem de subentender a
universal e, portanto, não se compromete com a afirmação de que todos os
feijões sejam brancos.
o A analogia dá-nos razões para fazermos a previsão em qualquer destas
circunstâncias, mas a generalização apenas nos permite prever se aceitamos
que a primeira circunstância é verdadeira.
Apelo à autoridade:
o Num argumento de apelo à autoridade declara-se que a conclusão é
verdadeira por uma pessoa ou organização tidas por autoridades no assunto
declarado.
As pessoas ou organizações citadas tem de ser reconhecidos
especialistas nas matérias em questão. (Ad verecundiam – apelo a uma
autoridade não qualificada).
Deve haver consenso entre os especialistas sobre as matérias em
questão.
Apelo à ignorância:
o São apelos à ignorância os argumentos em que, por uma premissa negar
que uma proposição esteja provada, se conclui que a sua contraditória é
verdadeira. Argumenta-se que uma proposição é verdadeira, porque não foi
provado que é falsa ou conclui-se que uma proposição é falsa, porque não
foi provado que é verdadeira.
“Ninguém provou que Deus existe.
Logo, Deus não existe.”
o Um apelo à ignorância será relevante (não falacioso) apenas se a negação
da sua conclusão não colidir com o nosso conhecimento seguro.
Apelo à força:
o Um apelo à força é um argumento que pretende defender a conclusão na
base de ameaças directas ou veladas.
o Um apelo à força será falacioso em todos os casos em que se deveriam
apresentar razões para uma aceitação ou crítica, livres e ponderadas, da
conclusão.
o Os apelos falaciosos à força apelam a uma emoção, o medo, quando se
impunham razões.
Ataque à Pessoa (ad hominem):
o Com um argumento ad hominem pretende-se concluir que uma afirmação é
falsa atacando ou, de alguma forma, desvalorizando a pessoa que a
defendeu. O ataque à pessoa pode ser feito de muitas maneiras.
Um argumento ad hominem é legítimo se as questões relativas às
características da pessoa forem relevantes para o assunto em
discussão.
o Um domínio onde se passa facilmente do ataque não falacioso à pessoa ao
ataque falacioso é o da política.
Argumento Circular ou Petição de Princípio:
o Um argumento circular consiste em provar uma conclusão, tendo como
premissa a própria conclusão.
Apelo à Misericórdia (ad misericordiam):
o Consistem em apelos à piedade. Argumenta-se a favor de uma certa
proposição tentando despertar os sentimentos de compaixão daqueles
que se quer persuadir.
o EX: Eu estudei desalmadamente durante as duas últimas semanas.
Logo, o professor deve dar-me uma boa nota.
Falso Dilema:
o São argumentos em que se parte de uma disjunção enganadora. Sugere-
se que existem apenas duas hipóteses, quando na verdade essas duas
hipóteses não esgotam todas as possibilidades.
o EX: Ou concordas comigo ou não.
É pegar ou largar.
Se não és meu amigo, és meu inimigo.
Retórica = Arte da persuasão (arte da palavra), técnica que estuda os
procedimentos que permitem a um orador fazer com que o auditório adira aos
seus pontos de vista.
A retórica também estuda os argumentos, contudo esta não pretende descobrir e
estabelecer as condições que permitem saber que determinadas proposições são
verdadeiras ou plausíveis, mas tentar compreender e usar a capacidade
persuasiva da argumentação na comunicação.
A capacidade de persuasão fascinou os gregos, principalmente após a
instauração da democracia.
Segundo uma tradição que remonta a Aristóteles, a retórica teria sido fundada
por Empédocles de Agrigento. Outra tradição diz que a retórica foi criada por
Córax e Tísias.
Com a democracia a palavra passou a estar no entro da acção política e social
e o seu domínio a ser fundamental nos tribunais para convencer os juízes e nas
assembleias para persuadir o povo.
Protágoras e Górgias (sofistas) tentaram entender o poder persuasivo do
discurso, afirmando que não existem verdades nem valores objectivos, pois,
segundo eles, a verdade é uma construção do momento que depende da
persuasão de cada um.
Os sofistas e os retores investigaram alguns aspectos centrais do discurso e da
língua, como a erística (arte da discussão com o objectivo de vencer uma
contenda verbal) e a gramática.
A retórica é o estudo das técnicas discursivas que visam provocar ou aumentar a
adesão dos espíritos às teses que lhe são apresentadas. (definição de retórica
por parte de Perelman)
A retórica não é a arte da persuasão, mas a arte que permite determinar quais
são os meios de persuasão mais adequados a cada caso. (definição aristotélica
de retórica)
Para Aristóteles, a retórica é a arte que trata de questões que são do domínio do
conhecimento comum e para as quais não existe nenhuma arte específica, isto é,
questões que não têm resposta científica e podem ser objecto de deliberação
por parte de um auditório, que é constituído por pessoas simples e
influenciáveis, incapazes de seguir longas cadeias de raciocínio, pelo que é a
natureza das questões e do auditório que tornam a retórica necessária.
Aristóteles considera a retórica útil, pois:
o A verdade e a justiça não devem ser vencidas.
o Há auditórios que nem mesmo a ciência mais exacta consegue persuadir.
o É preciso ser capaz de argumentar sobre coisas contrárias para dominar
o tema e para, sempre que alguém argumente contra a justiça, seja
possível refutar os seus argumentos.
o Devemos ser capazes de nos defender verbalmente.
A retórica é, portanto, a arte que estuda os meios de persuasão. Aquele que
conhece estes meios é também aquele que está em melhores condições para os
aplicar e, por conseguinte, para ser persuasivo. A retórica não é apenas uma
arte que visa compreender o discurso persuasivo, mas também permite ser
persuasivo.
Existem 3 géneros de discurso retórico:
o Discurso deliberativo – tem por auditório os membros da assembleia,
a quem procura aconselhar ou dissuadir, mostrando por meio do exemplo
que uma possível acção futura é conveniente ou prejudicial. (discurso
político)
o Discurso judicial – tem por auditório os juízes e como intenção acusar
ou defender, por meio do entimema, que uma determinada acção
passada é justa ou injusta.
o Discurso epidíctico – tem por auditório os espectadores no conselho e
a sua intenção é elogiar ou censurar por meio da amplificação que
alguém, devido às acções que praticou, é virtuoso ou vicioso, belo ou feio
O orador, para persuadir, pode recorrer a provas não técnicas (são específicas
do discurso judicial, já existem e estão aptas a ser utilizadas no discurso do
orador. EX: leis, testemunhos, contratos, confissões sob tortura e os juramentos)
ou a provas técnicas:
o Ethos – é o tipo de prova centrado na figura do orador, dependendo do
seu carácter. O facto do auditório se deixar muitas vezes persuadir mais
pela imagem que faz do orador, por aquilo que pensa ser o seu carácter,
do que pelos seus argumentos faz do ethos um elemento que o orador
não pode desprezar se quiser ter a garantia de que é persuasivo. O
orador persuade por intermédio do carácter moral quando é visto pelo
auditório como alguém que inspira confiança, logo, é necessário que o
discurso crie no auditório uma imagem do orador como pessoa prudente,
virtuosa e benevolente.
o Pathos – é o tipo de prova centrado no auditório. Se o orador quiser ser
persuasivo deve suscitar sentimentos e emoções no auditório de forma a
impressioná-lo e a seduzi-lo de tal forma que o predisponha de forma
favorável para a tese que defende. Aristóteles reconhece a importância
de emoções como a ira, a compaixão e o medo para a persuasão do
auditório.
o Logos – é o tipo de prova centrada na tese. Esta deve ser bem
estruturada do ponto de vista lógico-argumentativo para ser clara e bem
compreendida.
Existe uma relação estreita entre o logos, o ethos e o pathos, uma vez que as
emoções (pathos) que o discursos (logos) do orador suscita no auditório têm um
papel importante na construção da imagem que este faz do carácter (ethos) do
orador e, desse modo, da sua capacidade de persuasão.
Aristóteles distingue dois tipos de raciocínios:
o Os raciocínios analíticos são os que constituem formas de inferência
válida, isto é, que têm uma forma tal que sempre que as suas premissas
são verdadeiras a conclusão também é verdadeira. Aristóteles chama
estes silogismos de silogismos científicos, pois são demonstrativos e
impessoais, porque devido à sua forma, sendo as premissas verdadeiras,
provam a conclusão, que é independente da opinião humana. Quer
queiramos quer não, a conclusão de um silogismo analítico com
premissas verdadeiras só pode ser verdadeira e a sua recusa implicaria
necessariamente uma contradição.
o Os silogismos dialécticos, pelo contrário, são aqueles cujas premissas
são apenas prováveis, ou geralmente aceites. Para Perelman, isso
significa que, ao contrário do que a acontece com os silogismos
científicos, os silogismos dialécticos têm por fim persuadir ou convencer.
Os argumentos dialécticos não são nem demonstrativos nem impessoais.
São raciocínios persuasivos, que incidem sobre a opinião e que, por isso,
devem ser distinguidos dos analíticos, que incidem sobre a verdade.
Perelman descobriu que não existe uma lógica de juízos de valor e que a lógica
que procurava era a antiga retórica greco-latina. Quando se trata de valores, a
questão já não é, como nas matemáticas e nas ciências positivas, descobrir a
verdade, mas estabelecer o que é preferível e, para o fazer, o método não
consiste em deduções e induções correctas, mas todo o género de argumentos,
por intermédio dos quais se visa provocar e ganhar a adesão do auditório às
teses que lhe são apresentadas.
A retórica antiga era um conjunto de técnicas de discurso, de processos
argumentativos que visam provocar a adesão dos espíritos através da
persuasão. Perelman considerou a necessidade de alargar a noção de razão e
juntar ao estudo da lógica formal o estudo dos raciocínios cujo fim é persuadir
ou convencer. É esta a tarefa que, prolongando e amplificando a retórica de
Aristóteles, se dedica a nova retórica.
A retórica antiga diz respeito às técnicas usadas para persuadir um auditório
que é composto por pessoas simples e incapazes de seguir longas cadeias de
argumentos. A nova retórica, pelo contrário, dirige-se a toda e qualquer espécie
de auditório.
A nova retórica abrange e ultrapassa os domínios que Aristóteles tinha repartido
pela dialéctica e pela retórica e tem como objecto de estudo o discurso não
demonstrativo, os raciocínios que não são inferências formalmente correctas, isto
é, todo o discurso que tenha por fim convencer ou persuadir todo e qualquer
auditório sobre o que quer que seja.
A teoria da argumentação distingue-se da argumentação de várias maneiras:
o Demonstração (lógica formal):
Visa mostrar a relação necessária entre a conclusão e as
premissas.
É do domínio da evidência e da necessidade.
As conclusões são necessárias.
Caracteriza-se pela univocidade própria da lógica e das suas
regras.
Permite uma única interpretação pela pobreza das línguas formais.
Reduz-se a um cálculo lógico-formal.
É independente da matéria ou do conteúdo.
A prova é impessoal, a sua validade não depende em nada da
opinião.
É isolada de todo o contexto.
Domina a autoridade lógica.
É independente do orador e do auditório.
o Argumentação (retórica – lógica informal):
Visa provocar a adesão do auditório.
É do domínio do verosímil, do plausível, do provável.
As conclusões são sugeridas.
Caracteriza-se pela equivocidade própria da linguagem natural.
Permite uma pluralidade de interpretações pela riqueza da
linguagem natural.
Apresenta razões pró ou contra uma determinada tese.
É dependente da matéria ou conteúdo.
É pessoal, pois dirige-se a indivíduos com relação aos quais se
esforça por obter adesão.
È contextualizada.
Domina a intersubjectividade.
É dependente do orador e do auditório.
Demonstração (lógica formal) Argumentação (lógica informal)
Os signos utilizados não são ambíguos,
mas cuidadosamente definidos.
Os signos são frequentemente ambíguos
e confusos.
Utiliza regras explicitadas em sistemas
formalizados.
As regras não dependem de sistemas
formais.
Os axiomas, os princípios de que se
parte, não estão sujeitos a discussão.
Os princípios podem ou não ser aceites
pelo auditório.
Os argumentos são constringentes e
necessários.
Os argumentos têm mais ou menos força,
são mais ou menos plausíveis.
A opinião que o auditório forma do
orador não é importante para a
avaliação das suas teses.
A opinião que o auditório tem do orador
é importante para a avaliação das teses
que apresenta.
A sua finalidade é deduzir consequências
de certas premissas.
Tem como finalidade provocar a adesão
do auditório.
As consequências são necessariamente
verdadeiras.
A verdade é apenas um dos motivos de
adesão; uma tese pode ser aceite ou
recusada por outros motivos: ser ou não
oportuna, justa, útil, etc.
Demonstrar é fornecer provas lógicas irrefutáveis encadeando proposições de
tal modo que a partir da primeira é racionalmente constrangido a aceitar a
conclusão.
Argumentar é fornecer razões a favor ou contra uma determinada tese, tendo
por finalidade provocar a adesão das pessoas a essa tese ou conclusão se ela
lhes parecer razoável.
Argumentação tem por objectivos específicos:
o Persuadir e convencer, de modo a provocar a adesão do auditório.
o Agradar, seduzir ou manipular e justificar as suas ideias para as fazer
passar por verdadeiras ou, porque o são, ou porque se crê nisso.
o Fazer passar o verosímil, a opinião e o provável com boas razões e
argumentos.
o Sugerir o implícito por meio do explícito.
o Instituir um sentido figurado, inferir do literal e utilizar para o efeito
figuras de estilo e histórias.
o Utilizar uma linguagem figurada e estilizada – o literário.
A adesão do auditório é, para Perelman, de grande importância porque
pressupõe um contacto entre o orador e o auditório. E como esse contacto tem
por finalidade, da parte do orador, agir sobre o auditório, modificar as suas
convicções por meio do discurso, provoacar a sua adesão, incitá-lo à acção, a
credibilidade do orador junto do auditório (ethos) é um aspecto que nenhum
orador pode negligenciar. Outro aspecto que o orador deve ter um conta é a
utilização de métodos apropriados tanto ao objecto do discurso, como,
sobretudo, ao tipo de auditório a que se dirige. “O orador deve sempre
adaptar-se ao seu auditório”.
A força de um argumento depende, segundo Perelman, das premissas e da
pertinência da argumentação, das objecções que lhe podem ser feitas e como
podem ser refutadas e tudo isto depende das convicções, das tradições e dos
métodos de raciocínio do auditório.
Para Perelman, o auditório é constituído pelo conjunto daqueles que o orador
que influenciar pela sua argumentação.
Este conjunto pode ir desde o orador, numa deliberação íntima, até à totalidade
da humanidade e, por isso, pode ser de dois tipos:
o Auditório particular – variedade infinita, podendo ser constituído por
um único individuo ou por qualquer grupo restrito de pessoas com as
mesmas características.
o Auditório universal – constituído por todas aquelas pessoas que são
capazes de seguir uma argumentação, competentes e razoáveis, e cujo
acordo determina o que é verdade objectiva. Grupo de pessoas com
características diversificadas.
A distinção entre os dois tipos de auditório está na base da distinção entre
discurso persuasivo e discursos convincente:
o Discurso persuasivo – é aquele que visa persuadir os auditórios
particulares por intermédio de argumentos que lhes são adequados.
o Discurso convincente – é o que se dirige ao auditório universal e
cujas premissas e argumentos são universalizáveis, isto é, podem ser
aceites por todos os membros do auditório universal, tendo assim este
auditório o papel de decidir se a argumentação é ou não convincente.