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1 Ensaio de uma Etnobiografia: memórias entre grades 1 . Marcelo Santos Sodré (SEDUC/PA UFPA) Resumo Este trabalho (que é mais um ensaio do que um artigo) parte de uma narrativa exemplar (a de Regina) para refletirmos metodologicamente sobre a Etno/bio/grafia(no conjunto de seus conceitos e métodos) e principalmente sobre o mundo que fazemos parte, considerando as relações sociais que se desenrola(ra)m (convivências) em um determinado locus (a “Rua Eliezer Levy” ) enquanto forma de compreender o processo atual de eliminação das vias de compartilhamentos de memórias, fato que ocorreu através do aumento da criminalidade urbana, especificamente na rua em questão. Refletiremos a partir de um conjunto de categorias (memória, comunidade afetiva, performance, locus, socialização, sociabilidade, biografia, etnobiografia, narrativa, oralidade, fala do crime, arranjo, point de encontro, etc.) para interpretar a narrativa de Regina acerca da relações sociais ancoradas na Rua Eliezer Levy, elucidando algumas das transformações que ocorreram nela a partir da década de 1980 e que se estenderam até os dias atuais. Demonstraremos simultaneamente a constituição de novos locus enquanto espaços de convivência social, porém, o enclausuramento das relações sociais entre muros e grades se revela como a característica central dos novos arranjos de compartilhamento de memórias e de sociabilidade estabelecidos pelos moradores, algo que reconfigurou o espaço de convívio na Rua Eliezer Levy e as relações sociais em seu seio. Palavras-chave: Memória, Etnobiografia, Visual. 1) Introdução Este Artigo é o trabalho final e exigência curricular avaliativa da disciplina “Etnobiografia: memórias, oralidades e narrativas” do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais/UFPA, ministrada pela Professora Dra. Denise Cardoso. A disciplina 1 “Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA”.

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Page 1: Resumo - EAVAAM · 2020. 3. 15. · 1 Ensaio de uma Etnobiografia: memórias entre grades1. Marcelo Santos Sodré (SEDUC/PA – UFPA) Resumo Este trabalho (que é mais um ensaio do

1

Ensaio de uma Etnobiografia: memórias entre grades1.

Marcelo Santos Sodré (SEDUC/PA – UFPA)

Resumo

Este trabalho (que é mais um ensaio do que um artigo) parte de uma narrativa

exemplar (a de Regina) para refletirmos metodologicamente sobre a “Etno/bio/grafia”

(no conjunto de seus conceitos e métodos) e principalmente sobre o mundo que fazemos

parte, considerando as relações sociais que se desenrola(ra)m (convivências) em um

determinado locus (a “Rua Eliezer Levy”) enquanto forma de compreender o processo

atual de eliminação das vias de compartilhamentos de memórias, fato que ocorreu

através do aumento da criminalidade urbana, especificamente na rua em questão.

Refletiremos a partir de um conjunto de categorias (memória, comunidade afetiva,

performance, locus, socialização, sociabilidade, biografia, etnobiografia, narrativa,

oralidade, fala do crime, arranjo, point de encontro, etc.) para interpretar a narrativa de

Regina acerca da relações sociais ancoradas na Rua Eliezer Levy, elucidando algumas

das transformações que ocorreram nela a partir da década de 1980 e que se estenderam

até os dias atuais. Demonstraremos simultaneamente a constituição de novos locus

enquanto espaços de convivência social, porém, o enclausuramento das relações sociais

entre muros e grades se revela como a característica central dos novos arranjos de

compartilhamento de memórias e de sociabilidade estabelecidos pelos moradores, algo

que reconfigurou o espaço de convívio na Rua Eliezer Levy e as relações sociais em seu

seio.

Palavras-chave: Memória, Etnobiografia, Visual.

1) Introdução

Este Artigo é o trabalho final e exigência curricular avaliativa da disciplina

“Etnobiografia: memórias, oralidades e narrativas” do Programa de Pós-Graduação de

Ciências Sociais/UFPA, ministrada pela Professora Dra. Denise Cardoso. A disciplina

1 “Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre

os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA”.

Page 2: Resumo - EAVAAM · 2020. 3. 15. · 1 Ensaio de uma Etnobiografia: memórias entre grades1. Marcelo Santos Sodré (SEDUC/PA – UFPA) Resumo Este trabalho (que é mais um ensaio do

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se constitui num convite a repensar, teórica e metodologicamente, a prática de pesquisa

de todos aqueles que atuam na área da memória e do visual enquanto elementos

interpretativos da vida real seja ele o antropólogo, o etnólogo, o sociólogo, etc. Assim,

este artigo se configurou como um ensaio que objetivou demonstrar quanto uma

(pequena) narrativa pode revelar para uma determinada comunidade as transformações

que ocorrem no tempo e no espaço (locus Eliezer Levy).

Para o profissional das ciências humanas, as contribuições avançam no sentido

de oferecer aos pesquisadores os construtos conceituais e teóricos os quais podem

nortear, do ponto de vista hermenêutico (explicação e compreensão) e epistemológico,

as interpretações acerca do objeto de estudo. Então, vários autores contribuem, entre

eles destacam-se Arruda, Benjamin, Bosi, Caldeira, Cardoso, Cunha, Elias, Geertz,

Gonçalves, Halbwachs, Hartmann, Marques, Moura, Oliveira, Ricoeur, Spotti e Turner.

Os autores citados contribuem de maneira significativa para compreendermos

diversos fenômenos e de que formas eles estão ligados ou vão se ligando entre si. Por

sua vez, esta compreensão pode nos nortear preliminarmente antes de desenvolver a

pesquisa em campo, pois interpretar uma cultura, uma memória, uma narrativa, etc., é

uma tarefa complexa, e que exige uma atividade detalhada por parte do pesquisador.

Portanto, nossas reflexões se direcionarão neste sentido.

2) A Rua Eliezer Levy: narrativa e memórias entre grades

“Nem tudo nessa vida é modelar,

mas tudo é exemplar”

Walter Benjamin, 2012a.

“Nossa! Aqui na rua (Eliezer Levy) era tão bom para se viver, hoje não é mais!

Meus filhos brincavam à vontade até altas horas, jogavam bola, vôlei,

corriam, conversavam, namoravam.

A nossa rua não pode mais ser hoje o que foi um dia, noooossa! Que pena!

Não vejo mais crianças correndo por aí, nós (vizinhos) não conversamos mais, pois

nem nas portas de casa podemos ficar.

A gente não pode mais, só assalto, tiro, roubo!

Nós que somos pessoas do bem tem que ficar atrás das grades,

e os bandidos soltos na rua”

(Regina2, em 04/06/2016)

2 Nome Fictício, pois não foi autorizada a publicação do nome da pessoa.

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Este depoimento é de uma moradora (idade: 63 anos) que reside a mais de 42

anos na Passagem Major Eliezer Levy (que ela chama de rua e é o locus de nossa

reflexão), localizada em Belém, bairro do Souza, entre as Avenidas Almirante Barroso e

João Paulo II. Tal relato é revelador de um “tempo presente” que é vivenciado num

lugar que outrora, ao ver da própria depoente, não é mais como era antes. Em relação ao

passado, algo mudou na “Rua Eliezer Levy”, e esta mudança substanciou e continua

substanciando as lembranças e as percepções que a narradora tem do local que reside,

seja relativo às definições e classificações que ela fez em sua narrativa acerca do antes

e/ou do agora (do depois), seja também em relação às mudanças que ocorreram no

âmbito das experiências vivenciadas em comum com o grupo social que permeia o

locus. É somente neste patamar que o depoimento da narradora, segundo Halbwachs

(1990), é dotado de sentido.

A narrativa expõe lembranças, estas têm como base determinados quadros

sociais reais os quais se constituem enquanto pontos de referências para a reconstrução

daquilo que se denomina de “memória” (cf. Jean Duvignaud, Prefácio à obra Memória

Coletiva de Maurice Halbwachs, 1990, p.3). Tais quadros reais, ou horizontes3, ou

“pré-compreensão”4, são formados pelas experiências vividas em comum de um “eu”

com o grupo social no contexto de um locus, no caso a “Rua Eliezer Levy”. Ou seja, a

memória individual existe de uma forma enraizada nestes horizontes, e, neste sentido,

Paul Ricouer (2007) ressalta que as duas memórias (a individual e a coletiva) se

entrelaçam no momento do testemunho. Segundo Duvignaud (cf. HALBWACHS,

1990:06), Maurice Halbwachs contribui para a Sociologia justamente porque ele

percebeu a dinâmica entre a articulação das consciências individuais e coletivas para o

entendimento das memórias individuais e coletivas, sendo que as lembranças se

constituem das articulações relacionais entre o indivíduo e o grupo no qual participa:

Que seria desse "eu", senão fizesse parte de uma "comunidade

afetiva" de um "meio efervescente", do qual tenta se afastar no

momento em que ele se "recorda"? (...) A rememoração pessoal

3 Quando utilizarmos o termo “Horizonte”, estaremos nos referindo ao conceito de Gadamer (1977:344-

353) chamado “Horizonte de Compreensão”. Este se define como “vivência histórica” relativa ao

conjunto de percepções, preconceitos, crenças, que temos do mundo e que adquirimos através de nossa

convivência com o grupo social. 4 O que Gadamer (1977) chama de “Horizonte”, Paul Ricoeur (1991) denomina “pré-compreensão”. Esta

se refere ao conhecimento prévio que o sujeito carrega no que diz respeitos aos seus pressupostos

pessoais e socioculturais. A noção de “círculo hermenêutico” em Ricoeur advém deste conceito, pois o

movimento circular (que é constante) parte da “pré-compreensão” em direção à compreensão, ou seja,

deve-se compreender (explicar) mais para compreender melhor. Seja o conceito de Gadamer ou o de

Ricoeur, ambos nos ajudam a entender que o(a) narrador(a), ao depor, lança mão de sua compreensão do

mundo, pois parte de sua interpretação acerca das próprias vivências no locus.

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situa-se na encruzilhada das malhas de solidariedades múltiplas

dentro das quais estamos engajados. Nada escapa à trama

sincrônica da existência social atual, e é da combinação destes

diversos elementos que pode emergir esta forma que chamamos de

lembrança, porque a traduzimos em uma linguagem.

Através da linguagem, o depoente não apenas expressa suas lembranças mais

significativas de forma oral, mas principalmente corporal. A forma como o(a)

narrador(a) rememora os “casos” da “Rua Eliezer Levy” exterioriza as suas

características pessoais por meio daquilo que Hartmann (2013) chama de performance.

A performance da narradora no momento de seu relato deixa claro seu

sentimento a respeito das mudanças que ocorreram no locus e, por conseguinte, nas

relações socais, situando a sua própria vida no tempo e no espaço. Enquanto este último

é expresso no patamar das vivências de Regina em um determinado locus, aquele é

referido na forma como ela mesma exalta o passado como algo “bom” e “positivo”, e

pondera o presente como algo “ruim” e “negativo”. Performance, segundo Luciana

Hartmann (2013:61), são “as práticas estéticas que envolvem padrões de

comportamento, maneiras de falar, maneiras de se comportar corporalmente – cujas

repetições situam os atores sociais no tempo e no espaço, estruturando identidades

individuais e de grupo”.

Assim, o “olhar nostálgico que é direcionado suavemente para cima”, o

“levantar o peito e respirar profundo”, o “sorrir”, são ações e sentimentos que a

narradora (Regina) exterioriza no momento em que descreve o “Antes” como algo

“bom” e “positivo”; já os atos pautados na indignação são retratados com o “frisar da

testa e da sobrancelha”, o “entortar os lábios” e o “colocar em seguida a mão esquerda

no queixo (enquanto postura de análise de um fato)”. Esses últimos comportamentos

ocorreram no instante em que a narradora retratava o “agora” como algo “ruim” e

“negativo”. Desta forma, é possível observar que a vida, a vivência no locus, as relações

com as pessoas, os sentimentos, os pensamentos e os gestos estão imbrincados na

oralidade de uma narrativa.

É possível perceber que a narradora é afetada por sentimentos quando ela mesma

aciona a própria memória (individual) para falar do passado da “Eliezer Levy”, e sua

performance está impregnada de tais sentimentos e de suas perspectivas (horizontes,

pré-compreensões), as mesmas que elaboram os mundos socioculturais que permeiam a

“Rua Eliezer Levy”. Entre outros, prevalecem três: 1) um sentimento de pertencimento

a um locus; 2) um sentimento nostálgico do passado referente às vivências neste locus,

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justamente aquelas vivências que não são mais possíveis no “agora”, sendo apenas

manifestadas pela memória, quer dizer, constata-se uma “Eliezer Levy” que “não pode

mais ser hoje o que foi um dia” (Regina); e, por isso, o relato do “agora” enquanto

algo “ruim” e “negativo” é experienciado por 3) um sentimento de indignação,

sentimento este que tem como base exatamente as mudanças que ocorreram na “Eliezer

Levy” no que diz respeito ao aumento da criminalidade na “rua”.

Se hierarquizarmos estes sentimentos, o de pertencimento tem importância

fundamental em relação aos outros dois. Seu status é maior porque dele derivam os

outros: o de nostalgia e o de indignação. Esta primazia está ancorada no sentimento de

pertencimento porque este é reflexo justamente das vivências e das experiências da

narradora, não apenas com o locus, mas também com o grupo de pessoas que o abrange

e convive: a rua não é meramente “um lugar qualquer”, mas é o locus Eliezer Levy.

O Locus se diferencia de “um lugar qualquer” porque este último pode ser

concebido enquanto espaço vazio de relações sociais, de vivências, de sociabilidades, de

significados, etc. Ao contrário, podemos chamar de locus o lugar formado por uma

“comunidade afetiva e efervescente” (cf. HALBWACHS, 1990) que atribui significados

ao lugar para além da percepção geométrica do mesmo. Desta forma, para esta

“comunidade afetiva e efervescente”, a rua se constitui enquanto locus na medida em

que passa a servir como um “lugar de suporte simbólico” para a socialização

(OLIVEIRA, 2002), para a sociabilidade (ELIAS, 1993, 1994) e para as práticas

ritualísticas, orientando, por sua vez, as relações sociais.

A socialização, a sociabilidade, os rituais, os símbolos, os significados, os

sentimentos, as diversas práticas relacionais possíveis, como os arranjos (cf. TURNER,

1982), etc., são elementos que dão sentido ao rememorar. O processo de rememoração

individual se faz

na tessitura das memórias dos diferentes grupos com que nos

relacionamos. Esta rememoração está impregnada das memórias

dos que nos cercam, de forma que, mesmo não estando na

presença destes, elas se alimentam das diversas memórias

oferecidas pelo grupo, denominada de ‘comunidade afetiva’ (...)

Tanto nos processos de produção da memória como nos da

rememoração, essa memória coletiva tem a importante função de

contribuir para o sentimento de pertencimento a um grupo de

passado comum cujas memórias são compartilhadas. Esses

processos garantem o sentimento de identidade do indivíduo

calcado numa memória compartilhada não só no campo histórico,

mas no campo real e no campo simbólico. As memórias

individuais alimentam-se da memória coletiva e histórica e

incluem elementos mais amplos do que a memória construída pelo

indivíduo e seu grupo (SPOTTI, MOURA, CUNHA, 2013:5-6).

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A “Rua Eliezer Levy” é um locus que serve de referência para a constituição da

memória, ou seja, para a rememoração. O locus é composto, no entender de Rossi

(2010), por imagens (e porque não dizer “cenas do cotidiano”?) as quais incidem

diretamente em nossa memória: “o mundo em que vivemos há muito tempo está cheio

de lugares nos quais estão presentes imagens que têm a função de trazer alguma

coisa à memória” (p.23). Tais imagens nutrem pela rememoração “a biografia” (grifo

meu) acerca da comunidade de um locus, mas somente enquanto “biografia parcial”

(idem).

Com base nos pressupostos de Geertz (1978), podemos conceber esta “biografia

parcial” como uma “Ficção”5 elaborada pelo pesquisador acerca de uma comunidade,

pois ao interpretar a intepretação do(a) narrador(a) (é o que estamos fazendo neste

trabalho), o antropólogo/etnólogo faz a tradução do universo (horizonte/pré-

compreensão) do pesquisado para outras pessoas (por meio, por exemplo, de um

documento escrito), e este traduzir já é marcado por modificações, podendo incidir em

“erros”. São os “erros” que fornecem à “biografia” o caráter de “parcialidade”, mas não

de “inverdade”.

O locus é o palco onde se desenvolvem as práticas relacionais de socialização,

de sociabilidade, de rituais, etc., portanto, como pensa Geertz (1978), o

antropólogo/etnólogo não estuda “um locus” ou “uma comunidade”, mas “no locus” ou

“na comunidade”, ou seja, não se está estudando a comunidade como um todo, mas os

problemas e hipóteses levantados pela pesquisa referentes a um determinando aspecto

da comunidade. Deste ponto de vista, o locus de estudo não é objeto de estudo, e a

biografia de um locus, é na verdade, a biografia sobre alguns aspectos específicos de

uma comunidade, ou seja, o locus serve de suporte para esta “biografia sempre parcial”.

Geertz (1978), por ter sido influenciado pela semiótica americana, pela

hermenêutica e por Max Weber, acredita que o antropólogo/etnólogo está diante de um

objeto de estudo complexo, e para tornar a complexidade compreensiva, ele deve

desenvolver um trabalho densamente descritivo a fim de ordenar esta complexidade e

poder retratar a comunidade de forma mais fiel possível. Não é possível estudar e

compreender a comunidade ou sociedade como um todo, apenas seus aspectos

específicos, sem fechar os olhos para o fato das possibilidades de “erros” de

5 Ficção entendida como “tipo ideal”, categoria proposta por Max Weber, quem muito influenciou Geertz.

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interpretação, o que tanto caracteriza a “compreensão parcial” acerca da “biografia” de

uma comunidade.

A questão se torna mais complexa quando consideramos os pressupostos de

Gonçalves, Marques e Cardoso (2012) acerca da “etnobiografia”, a qual nasce da tensão

entre “biografia” e “etnografia”. Segundo dissertam esses autores (2012), o indivíduo,

ao narrar, constrói “mundos socioculturais” a partir de sua imaginação pessoal e de suas

perspectivas (universo, horizonte, pré-compreensão). Isso quer dizer, como ainda

afirmam esses autores (2012:10), que a realidade sociocultural “não é mais que as

histórias contadas sobre isso6, as narrativas pelas quais ela é representada”. No

momento em que o indivíduo narra sua memória, ele constrói uma “realidade

sociocultural” (podendo ser no plural) acerca de uma comunidade situada num

determinado locus, e desta forma, o indivíduo demonstra “autonomia de significados”

diante da

força imanente da sociedade. Pelo contrário, o improviso, a

parole, a narração, em vez de tomados como discursividade

neutra, assumem o papel de pura agência, na medida em que

criam e agregam novos significados ao mundo e às coisas ao

mesmo tempo em que transformam aqueles que constroem a

narrativa etnográfica, seja o antropólogo, seja seus personagens

etnográficos (GONÇALVES, MARQUES, CARDOSO, 2012:10)

Portanto, sua “individuação criativa” como construtor de um “mundo

sociocultural” (ou como diria Geertz, construtor de “uma ficção”, ou Weber, construtor

de “um tipo ideal”) e sua “autonomia de significados”, conforme observações de

Gonçalves, Marques e Cardoso (2012), convidam os pesquisadores a problematizarem

os conceitos-chaves do pensamento sociológico clássicos, tais como indivíduo e

sociedade, subjetividade e objetividade, sujeito e cultura, etc. Na verdade, a perspectiva

da complexidade nega quaisquer “construtos” conceituais reduzidos a dicotomias e

conclusões generalizantes, e também recusa, por um lado, a separação entre memória

individual e memória coletiva (cf. RICOEUR, 2007), e por outro lado, a separação entre

linguagem, discurso e experiência (cf. GONÇALVES, MARQUES, CARDOSO, 2012),

pois a “realidade sociocultural” é apreendida pela experienciação do mundo, e não pela

representação. Esta apreensão pode até partir de uma narrativa dicotômica (como

evidenciada na narrativa de Regina), mas esta deve ser superada pelo trabalho

etnográfico, principalmente quando partimos da abordagem biográfica.

6 O “isso” se refere às perspectivas ou horizonte do narrador.

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Ainda neste âmbito, os estudos de Spotti, Moura e Cunha (2013) acerca da

memória, da oralidade e das narrativas no interior de uma prática educacional escolar

indígena, contribuem para a reflexão referente ao caráter complexo do “trabalho

etnográfico” na medida em que elas mencionam que o estudo com as memórias de um

povo (no caso da pesquisa dessas autoras uma comunidade indígena) é uma produção

onde o narrador

não deixa de produzir uma versão do ocorrido carregada de

subjetividade, pois está impregnada dos anseios e crenças por ele

compartilhados. O entrevistado empresta seu olhar de sujeito-

autor à narrativa que transmite a experiência vivenciada com

ingredientes pessoais, emoções, reações, observações,

idiossincrasias, relatos pitorescos. Em meio à ficção, resgatam-se

dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos,

linguagem, arquitetura, etc., chegando a ser considerada como um

aspecto crucial da humanidade (2013:06)

Ainda segundo estas autoras,

escrever sobre as memórias de uma pessoa é se colocar no lugar

do entrevistado, o que significa escrever o texto em primeira

pessoa. Essas lembranças devem estar relacionadas com o lugar

onde vivem e devem reavivar acontecimentos, histórias, costumes

interessantes e pitorescos do passado. O texto deve trazer o olhar

particular do entrevistado sobre aquilo que viu e viveu. Portanto,

não revelará apenas fatos, mas também sentimentos, sensações e

impressões. Assim, os registros escritos são uma possibilidade de

perpetuar as memórias de um indivíduo ou de uma coletividade

(2013:15)

Neste contexto de reflexão, acreditamos que documentar de maneira escrita

(digitalizada) um passado rememorado várias vezes pela mesma pessoa, em diversas

condições e épocas, para múltiplos ouvintes, considerando toda a complexidade das

experiências vivenciadas (horizontes, pré-compreensão, universo) num intervalo de

tempo e situada num locus, não é tarefa nada fácil, principalmente para aqueles quem

ouvem o(a) narrador(a) pela primeira vez. Nesta perspectiva, podemos fazer da

afirmativa de Walter Benjamin (2012b:213) uma voz para declarar que o “bom

narrador” é aquele quem sabe “intercambiar experiências”. A experiência no

pensamento de Benjamin (2012b) é a fonte que todos os narradores recorrem para

transmiti-la de boca a boca, e a narração oral se constitui na troca de experiência entre

locutor e pesquisador. Deste ponto de vista, acreditamos que o “bom pesquisador”

requer para si uma tripla qualidade essencial: o de bom “interpretador”, “tradutor” e

“registrador/ documentador” daquilo que é transmitido boca a boca no interior de um

universo complexo.

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É muito importante que o pesquisador forneça as melhores condições para que

o(a) narrador(a) possa expor suas experiências e vivências com tranquilidade e

serenidade, assim como dispor de instrumentos capazes para registrar o relato oral e a

performance do pesquisado. Esses procedimentos podem garantir a elaboração de um

documento escrito de forma menos distintiva em relação à história oral. Deste prisma,

Benjamin dialoga com os pressupostos de Geertz, pois aquele acredita que “entre as

narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais

contadas pelos inúmeros narradores anônimos” (2012:214).

Com base nas reflexões que levantamos até o momento, a narrativa de Regina

não diz respeito à apenas o seu “horizonte”, ou sua “individuação criativa”, ou sua

“autonomia de significados”, mas é reveladora de aspectos específicos da comunidade

onde vive (tais como acontecimentos, sentimentos, costumes, cultura, etc.), comunidade

esta que tem como suporte a “Rua Eliezer Levy”. Estes aspectos formam uma

Etnobiografia desta comunidade, mas não a única. Quer dizer, a “Rua Eliezer Levy”

pode possuir diversas Etnobiografias, pois a comunidade possui vários narradores, cada

um com seus horizontes específicos de vivências neste locus.

Como exemplar desta diversidade, a narração de Regina evidencia não apenas a

complexidade que advém das narrativas e das realidades construídas (enquanto tipos

ideais, ficção, realidade sociocultural) ou do relativismo presente na interpretação das

diversas narrativas, mas também salienta um recurso narrativo que, além de está

intimamente ligado ao ato de rememorar e de revelar as mudanças que ocorreram na

comunidade e no locus em questão, é fonte ou conteúdo socializador, justamente por

orientar, organizar e ordenar as relações sociais. Neste trabalho nos limitamos apenas a

citar este caráter socializador devido o espaço exíguo para tratarmos dele aqui, mas fica

registrado que é a partir dele que o locus e a comunidade são dotados de sentido(s).

Então, este recurso narrativo surge como expressão de um fenômeno que

reordenou a vivência na comunidade nos últimos 40 anos no locus, o mesmo que

permeia o horizonte da narradora: o fenômeno da violência urbana (especialmente o

aumento da criminalidade no locus). Este é alusivo ao seguinte trecho da narração de

Regina: “Não vejo mais crianças correndo por aí, nós (vizinhos) não conversamos

mais, pois nem nas portas de casa podemos ficar. A gente não pode mais, só assalto,

tiro, roubo! Nós que somos pessoas do bem tem que ficar atrás das grades, e os

bandidos soltos na rua”.

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E, ao falar do crime, a narradora situa no tempo a vivência no locus a partir das

nomenclaturas do “antes” e do “agora”, assim como classifica as pessoas: aquelas

concebidas como do bem (“Nós do locus”) e aquelas como do mal (“bandidos soltos, os

de fora”). Estabelece também os lugares no locus: “atrás das grades” ficam, por

questão de segurança, as “pessoas do bem”, e “soltos na rua” os (maus) bandidos.

Assim sendo, conforme Caldeira (2000:36), o crime “oferece uma linguagem para

expressar, de maneira sintética, os sentimentos relacionados às mudanças no bairro,

na cidade e na sociedade brasileira de modo geral”. Esta linguagem, em termos de

recurso narrativo, é denominada por esta autora (2000) de “fala do crime”. É através

deste recurso narrativo (o crime como linguagem) que se torna possível investigar as

mudanças que se processam em uma determinada comunidade e locus, já que,

compreendemos que é uma linguagem da “vida real”.

E por ser uma linguagem da “vida real”, a fala do crime expressa as mudanças

que ocorreram na convivência no locus, e são expostas pela narrativa de Regina,

principalmente quando rememora o passado e evidencia o presente. No entanto, é

importante ressaltar que a “vida real”, as linguagens (inclusive a fala do crime), as

vivências individuas e coletivas, as convivências e os sentimentos envoltos, estão

conectados entre si, atribuindo à rua um sentido para além de seu significado espacial: o

de point de encontro, este entendido como o locus “privilegiados da sociabilidade

mobilizadora do processo civilizacional” (cf. ARRUDA, 2001:61, e para o conceito

de processo civilizacional cf. ELIAS, 1993), ou seja, é o lugar onde o “jogo sociável

acontece” (grifo meu), pois as relações sociais são organizadas (como point de

encontro) a partir de determinadas regras de convivências sociais, quer dizer, os

moradores da rua7 (Eliezer Levy) concebem esta como espaço próprio de “convivência

particular” em relação e até contra os “de fora” (não moradores e desconhecidos), e por

isso, é um espaço de suporte à socialização e à sociabilidade.

3) Considerações Finais: abrindo para novas reflexões

A rua como point de encontro é substanciada pelas convivências (ou funções

que as dinamizam) de lazer, trabalho, política, namoro, rodas de conversas (nas portas

das casas), etc. justamente os elementos que, segundo Regina, a comunidade perdeu. A

7 Um estudo consagrado neste âmbito é o de Walter Benjamin (1985) sobre as ruas francesas.

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mudança a qual se refere à narradora é a perda da “Rua Eliezer Levy” como point de

encontro devido o aumento da criminalidade. Inclusive, se fôssemos registrar outras

narrativas (o que não foi nosso objetivo para a elaboração deste ensaio), constataríamos

com muita facilidade que esta mudança no locus e na comunidade está hoje presente de

maneira viva na memória coletiva dos moradores do locus.

A fala do crime como recurso linguístico utilizado por Regina demonstra

também a migração do point de encontro para o interior de muros e grades como uma

forma de arranjo (cf. TURNER, 1982) que se caracteriza como uma “busca por um

novo espaço de convivência”. Assim, outros espaços menores e específicos, como vilas

fechadas e as próprias casas dos moradores, assumem significados importantes para a

convivência, principalmente quando são vistas enquanto únicas alternativas.

O aumento dos dias dedicados às realizações das “novenas” (cerimônias

católicas que ocorrem todos os dias em casas diferentes, reunindo os moradores da “Rua

Eliezer Levy” em momentos de convivência) é um reflexo deste contexto de

enclausuramento? Logo, compreendemos que a “Rua Eliezer Levy” deixou de ser

um locus de convivência, constituindo-se apenas como via de passagem entre duas

avenidas. Perdeu, como diria Benjamin(1985), a sua “aura” enquanto point de encontro.

A narrativa de Regina exterioriza ao mesmo tempo a alegria ancorada num passado

nostálgico, que substancia a memória com momentos que não voltam mais, como

também a angústia vivida no tempo presente pela narradora em relação a esta perda.

A criminalidade (exposta pela “fala do crime”) é o “divisor de águas”, já que no

momento em que o crime avança, esvazia a rua de convivências (assim como a “fala do

crime” enquanto mecanismo socializador deste mesmo processo de esvaziamento), não

permitindo que pessoas conversem nas portas das casas com tranquilidade e alegria,

eliminando, por sua vez, a via de comunicação entre memórias.

Sem querer teorizar sobre o capitalismo, mas fazendo uma analogia com a crítica

de Ecléa Bosi (1994) a esta sociedade, vista como fonte de eliminação do “velho” e de

suas memórias e ensinamentos, a violência urbana e a criminalidade eliminam qualquer

tipo de via de compartilhamento entre memórias, independente das idades dos

narradores, gerando consequências devastadoras, como a eliminação das vozes as quais

não apenas ensinam, mas revelam também os problemas que clamam por soluções.

Memória e cidadania dialogam neste ponto.

A narrativa de Regina é exemplar e pode ser ponto de partida não apenas para

refletir metodologicamente a Etnobiografia, seus conceitos e métodos, como também

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compreender, da ótica da complexidade, o mundo que vivemos atualmente. No que diz

respeito às mudanças no locus e na comunidade da “Rua Eliezer Levy” (ver fotos em

anexos), a narrativa de Regina é um convite para se pensar a cidadania? Pois um espaço

público sem convivência devido o aumento da criminalidade, é um espaço público sem

cidadãos? O enclausuramento8 das convivências sociais em pequenos espaços (os das

próprias casas e das vilas fechadas) é reflexo desta perda de cidadania? Qual

hermenêutica de liberdade e de prisão se aplica para compreender esta realidade? São

questões que convidam ao diálogo interdisciplinar entre a etnografia, a biografia, a

sociologia, a filosofia, etc. para ampliar os estudos e compreensões sobre o mundo mais

próximo de nós, como a Rua Eliezer Levy.

Desta forma, autores como Halbwachs, Hartmann, Oliveira, Elias, Turner,

Spotti, Moura, Cunha, Geertz, Ricoeur, Benjamin, Caldeira, Arruda, Bosi, Gonçalves,

Marques e Cardoso, contribuem no conjunto de suas categorias (memória, comunidade

afetiva, performance, locus, socialização, sociabilidade, biografia, etnobiografia,

narrativa, oralidade, fala do crime, arranjo, point de encontro, etc.) para a interpretação

da narrativa de Regina acerca da relações sociais ancoradas na Rua Eliezer Levy,

elucidando algumas das transformações que ocorreram nela a partir da década de 1980 e

que se estenderam até os dias atuais.

Além disso, é possível constatar a riqueza de informações contida na narrativa

de Regina, expressa através do processo de rememoração, a qual demonstrou

simultaneamente a constituição de novos locus enquanto espaços de convivência social,

porém, o enclausuramento das relações sociais entre muros e grades se revela como a

característica central dos novos arranjos de compartilhamento de memórias e de

sociabilidade estabelecidos pelos moradores, algo que reconfigurou o espaço de

convívio na Rua Eliezer Levy, e que norteiam as relações sociais em seu seio.

Podemos evidenciar a partir da próxima página essas transformações através das

fotos antigas/desenhos antigos e atuais do locus e dos novos espaços de convivências

que se constituíram como suporte de socialização e sociabilidade.

8 Este processo de enclausuramento é um movimento atual, observado no aparecimento de condomínios

residenciais e comerciais, arenas de futebol e de shows, centro de consumo, restaurantes, cinemas e

parques de diversões localizados no interior de shoppings centers, etc.

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Imagem 01 - “Rua Eliezer Levy” Hoje. (04/07/2016)

Sentido Av. Almirante Barroso

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 02 - “Rua Eliezer Levy” Hoje. (04/07/2016)

Sentido Av. João Paulo II

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 03 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 1989

Sentido Av. João Paulo II Área de Convivência (Eu sou o da direita)

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 04 - “Rua Eliezer Levy”, setembro de 1990

Amigos sentados no muro da casa de Rogério e Nair, completamente diferente hoje, como mostra imagem 05

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 05 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Sentido Av. João Paulo II

Enclausuramento em grades das Casas

“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes” Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 06 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Casa do “Seu Luís” e “Dona Raíza”

Enclausuramento em grades das Casas

“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Casa de Rogério e Nair Hoje

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Imagem 11 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Conjunto Lígia 01 – espaço de convivência no interior Enclausuramento das vilas por Portões Eletrônicos

“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 12 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Conjunto Lígia 02 – espaço de convivência no interior

Enclausuramento das vilas por Portões Eletrônicos “Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 09 - “Conjunto Ligia 01”, Julho de 1990

Casas pouco Gradeadas “Espaço de Convivência”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 10 - “Conjunto Ligia 01”, Julho de 2016

As mesmas casas da imagem 09 fortemente gradeadas e enclausuradas já no interior de uma “vila fechada”

“Espaço Interno de Convivência”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 07 - “Rua Eliezer Levy”, Março de 1990

Casa do “Ulisses” – Palco de convivências entre amigos, pois durante 3 anos foi uma das primeiras locadoras de

filmes, jogos do bairro, sendo lanchonete também.

Fonte: Desenho do próprio autor do artigo-1990

Imagem 08 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Ex-Casa do “Ulisses” – apesar dos novos moradores residirem a mais de 8 anos, não há convivência com eles

Enclausuramento em grades das Casas

“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

... a mesma casa hoje

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Imagem 13 - “Rua Eliezer Levy”, Dezembro de 1990 Conjunto Lígia 01 – Vista de dentro para fora da Vila

numa época que não havia necessidade de Portão

Eletrônico. Rua e Vila estão integradas como espaços de

convivência entre moradores

Fonte: Desenho do próprio o autor do artigo-1990

Imagem 14 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Conjunto Lígia 01 – Vista atual de dentro para fora da

Vila, onde rua e vila estão separadas pelo portão

eletrônico, consolidando apenas a vila como espaço de

convivência e a Rua como o de “passagem”

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

Imagem 15 - “Rua Eliezer Levy”, Junho de 2014

Conjunto Lígia 01 – Reunião dos moradores em dia de

Festa Junina na área de convivência da Vila fechada.

Fonte: Luciene, moradora da Vila.

Imagem 16 - “Rua Eliezer Levy”, Fevereiro de 2014

Conjunto Lígia 01 – Reunião dos moradores em dia de

Festa de Carnaval na área de convivência da Vila fechada.

Fonte: Rosana, moradora da Vila.

Imagem 17 - “Rua Eliezer Levy”, Junho de 2014

Conjunto Lígia 01 – Reunião das crianças/moradores em

dia de Festa Junina na área de convivência da Vila

Fonte: Luciene, moradora da Vila.

Imagem 18 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016

Conjunto Lígia 01 – Espaço da área de convivência da Vila

Fonte: arquivo próprio do autor do artigo

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