responsabilidade civil na auditoria mÉdica · auditoria médica. monografia de conclusão no curso...

55
ANTONIO CARLOS BARREIROS DE SOUZA SUELI KAZUE MURAMATSU PEREIRA RESPONSABILIDADE CIVIL NA AUDITORIA MÉDICA Londrina 2010

Upload: others

Post on 04-Feb-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ANTONIO CARLOS BARREIROS DE SOUZA SUELI KAZUE MURAMATSU PEREIRA

    RESPONSABILIDADE CIVIL NA AUDITORIA MÉDICA

    Londrina 2010

  • 2

    ANTONIO CARLOS BARREIROS DE SOUZA SUELI KAZUE MURAMATSU PEREIRA

    RESPONSABILIDADE CIVIL NA AUDITORIA MÉDICA

    Trabalho de Monografia apresentado à Unifil – Centro Universitário Filadelfia, para conclusão da Especialização do Curso de Auditoria em Saúde. Orientador: Prof. Ms. Ivan Pozzi

    Londrina 2010

  • 3

    ANTONIO CARLOS BARREIROS DE SOUZA

    SUELI KAZUE MURAMATSU PEREIRA

    RESPONSABILIDADE CIVIL NA AUDITORIA MÉDICA

    Trabalho de Monografia apresentado à Unifil – Centro Universitário Filadelfia, para conclusão da Especialização do Curso de Auditoria em Saúde. Orientador: Prof. Ms. Ivan Pozzi

    COMISSÃO EXAMINADORA

    _____________________________________

    Prof. Ms. Ivan Pozzi

    Centro Universitário Filadélfia

    _____________________________________

    Prof. Ms. Paulo Cesar Vieira Tavares

    Centro Universitário Filadélfia

    Centro Universitário Filadélfia

    Londrina, __ de ___________ de 2011.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    - Agradecemos a Deus por sua infinita bondade e misericórdia dispensadas ao nosso favor ao longo de nossa vida. Por manter viva em nosso coração uma fé maravilhosa que nos deixa mais forte em cada amanhecer. - Ao nosso orientador e a todos os mestres que, em conjunto, proporcionaram-nos o alcance deste momento.

  • 5

    “Concedeu aos homens a ciência e lhes entregou como herança a lei da vida. Fez com ele uma aliança eterna e deu-lhes a conhecer

    suas sentenças. Os olhos dos homens contemplaram a grandeza da glória de Deus, e seus ouvidos ouviram à majestade de sua voz.

    E disse a eles “Cuidado para não cometer injustiça!”. E ordenou que cada um se

    preocupasse com o próximo.

    Eclesiástico 17:9-12

  • 6

    SOUZA, Antonio Carlos B., PEREIRA, Sueli K. M. Responsabilidade Civil na Auditoria Médica. Monografia de Conclusão no Curso de Especialização de Auditoria em Saúde: Centro Universitário Filadelfia – Unifil, Londrina, 2010.

    RESUMO

    De acordo com o Art. 196 da CF/1988, a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Na atividade da auditoria médica, várias são as circunstâncias que eventualmente serão consideradas aptas a levarem o auditor a responder civilmente por danos causados aos usuários. A responsabilidade civil na legislação brasileira baseia-se no estatuto da culpa, ou seja, incumbe à vítima provar o dolo ou culpa do agente para obter a reparação do dano. Ainda, das relações cotidianas entre o paciente e seu plano de saúde, conjunta ou isoladamente com médicos, laboratórios ou hospitais conveniados, muitas situações hipotéticas podem surgir diante de um caso concreto como fonte de litígios. Com o objetivo de avaliar a função do médico auditor e a repercussão de seus atos no âmbito civil, com pesquisas no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná das decisões relativas à responsabilização civil na saúde suplementar, no período de 2008 a 2010, demonstrar-se-ão as situações mais freqüentes que geraram litígios e os seus respectivos resultados finais.

    Palavras-chave:. Auditoria Médica, Direitos na Saúde Suplementar, Responsabilidade Civil.

  • 7

    SOUZA, Antonio Carlos B., PEREIRA, Sueli K. M. Responsabilidade Civil na Auditoria Médica. Monografia de Conclusão no Curso de Especialização de Auditoria em Saúde: Centro Universitário Filadelfia – Unifil, Londrina, 2010.

    ABSTRACT

    According to Article 196 of CF/1988, health is everyone's right and duty of the state, guaranteed through social and economic policies aimed at reducing the risk of disease and other health problems and the universal and egalitarian access to actions and services for its promotion, protection and recovery. In the activity of medical audit, there are several circumstances that may be considered able to take the auditor to respond civilly liable for damage caused to users. Liability under Brazilian law is based on the status of the blame, or responsibility for the victim to prove fraud or negligence of the agent to obtain compensation for the damage. Still, the daily relations between the patient and his health care plan, jointly or separately with physicians, laboratories or private hospitals, many hypothetical situations that may arise before a particular case as a source of disputes. Aiming to evaluate the role of the medical auditor and the repercussions of their actions in civil, with research at the Court of the State of Parana of decisions concerning civil liability in the health insurance during the period 2008 to 2010, prove to will be the most frequent situations that led to judicial disputes and their outcome.

    Key-words: Medical Audit, Human Rights in Health Insurance, Public Liability.

  • 8

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

    2 DA AUDITORIA...................................................................................................... 12

    2.1 AUDITORIA E SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOs................................................................. 14

    2.2 AUDITORIA NA SAÚDE PÚBLICA E SUPLEMENTAR..................................................... 16

    3 DA AUDITORIA NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA........................................ 19

    3.1 AUDITORIA NO ÂMBITO DA SAÚDE SUPLEMENTAR...................................................... 21

    3.1.1 Histórico na Saúde Suplementar...................................................................... 21

    3.1.2 Os marcos da Regulação da Saúde Suplementar no Brasil............................ 22

    3.1.3 Regulação da Saúde Suplementar no Brasil................................................... 23

    3.2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL.................................................................................. 25

    3.3 DA RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL..................................... 29

    4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS OPERADORAS DE PLANOS DE

    SAÚDE...................................................................................................................... 32

    5 RESPONSABILIZAÇÃO DECORRENTE DA AUDITORIA MÉDICA................... 37

    5.1 ÁREA ADMINISTRATIVA........................................................................................... 37

    5.2 ÁREA JUDICIAL CÍVEL............................................................................................. 38

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 44

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 45

    Anexo A – Tabela de Conjunto de Direitos dos Planos de Saúde........................... 52

    Anexo B – Tabela de Índice de Reclamações do Setor de Saúde Suplementar..... 54

  • 9

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMB – Associação Médica Brasileira ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica CBHPM – Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos CID – Classificação Internacional de Doenças CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CONSU – Conselho de Saúde Suplementar CPP – Código de Processo Civil DATASUS – Departamento de Informática do SUS DESAS – Departamento de Saúde Suplementar DIOPE – Diretoria de Normas e Habilitação de Operadoras DIOPS – Documento de Informações Periódicas das Operadoras DIPRO – Diretoria de Normas e Habilitação de Produtos IAP – Institutos de Aposentadorias e Pensões IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social INPS – Instituto Nacional de Previdência Social LOA – Lei Orgânica da Saúde MARE – Ministério da Administração e Reforma do Estado MP – Medida Provisória MS – Ministério da Saúde PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio RE – Resolução Específica RDC – Resolução de Diretoria Colegiada RN – Resolução Normativa SAS – Secretaria de Assistência à Saúde SDE – Secretaria de Direito Econômico SIA – Sistema de Informação Ambulatorial SIH – Sistema de Informação Hospitalar SIOPS – Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde STF – Supremo Tribunal Federal SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUS – Sistema Único de Saúde SUSEP – Superintendência de Seguros Privados

  • 10

    1 INTRODUÇÃO

    A responsabilidade civil na legislação brasileira baseia-se no

    estatuto da culpa, ou seja, incumbe à vítima provar o dolo ou culpa do agente para

    obter a reparação do dano. Essa posição é encontrada nos artigos 1861 e 9272 do

    atual Código Civil Brasileiro, cuja aplicação se dá inteiramente na responsabilidade

    profissional do médico (KFOURI NETO, 2003a).

    Rodrigues (1985) afirma acerca dos conceitos de

    responsabilidade subjetiva (fulcrada na culpa), e objetiva (que a desconsidera), que,

    a rigor, não se podem vislumbrar espécies diferentes de responsabilidade, mas, sim,

    maneiras diferentes de encarar a obrigação de reparar o dano. Com efeito, aduz,

    subjetiva é a responsabilidade inspirada na idéia de culpa; objetiva, quando esteada

    na teoria do risco.

    Na atividade da auditoria médica, várias são as circunstâncias

    que eventualmente poderão ser identificadas como aptas a levarem a instituição em

    que o auditor trabalha a responder civilmente por danos causados aos usuários.

    E, ainda, das relações cotidianas entre o paciente e seu plano

    de saúde, conjunta ou isoladamente com médicos, laboratórios ou hospitais

    conveniados, muitas situações hipotéticas podem surgir diante de um caso concreto

    como fonte de litígios (KFOURI NETO, 2003b).

    Uma das formas mais visíveis de conflitos na atuação da

    auditoria médica, refere-se às negativas de cobertura a determinadas doenças, que

    são excluídas do plano de assistência à saúde ao qual aderiu o usuário, e que,

    conjuntamente com as glosas de faturas dos procedimentos já realizados, cobrados

    em excesso ou de maneira indevida pelos prestadores de serviços hospitalares,

    evidenciam um terreno fértil e crescente para que ocorra a solução no âmbito

    judicial, como forma de reivindicação de supostos direitos e valores que não se

    obteve êxito na esfera administrativa (KFOURI NETO, 2003b).

    No entanto, o Conselho Federal de Medicina, confere ao

    médico a liberdade profissional de prescrever ao seu paciente, após anamnese,

    exames e diagnóstico, o que considerar melhor para o seu tratamento, desde que

    esteja dentro das normas éticas da Instituição (KFOURI NETO, 2003b).

    1 ―Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia, violar direito ou

    causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito‖.

  • 11

    O médico revestido na função de auditor deve observar ao

    Capítulo XI do Código de Ética Médica, que trata especificamente da Auditoria e

    Pericia Médica. Neste encontra-se o que é vedado ao médico no Artigo 97:

    ―Autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor ou de perito,

    procedimentos propedêuticos ou terapêuticos instituídos, salvo, no último caso, em

    situações de urgência, emergência ou iminente perigo de morte do paciente,

    comunicando, por escrito, o fato ao médico assistente‖ (CONSELHO FEDERAL DE

    MEDICINA, 2010).

    Além disso, em relação aos auditores médicos, o Conselho

    Federal de Medicina (1999), taxativamente, esclarece que: ―usar de auditores para a

    função de autorizar ou não exames e procedimentos é, enfim, expô-los a riscos

    desnecessários que deveriam ser assumidos pelos próprios sistemas através de sua

    regulação, pois uma vez denegado um determinado procedimento e desta negativa

    advierem prejuízos, responderá o auditor, e somente ele, por aquele ato‖. A

    responsabilidade civil, por óbvio, também atingirá as entidades às quais se

    vincularem os auditores (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA – PROCESSO

    CONSULTA No 5.544/95, 5566/96 e 3.305/98 – AUDITORIA MÉDICA-

    CONSELHEIRO RELATOR PAULO EDUARDO BEHRENS, APR. EM 07.4.99).

    Diante destas informações, o presente trabalho terá o objetivo

    de avaliar a função do médico auditor e a repercussão de seus atos no âmbito civil,

    com pesquisas no Tribunal de Justiça do Paraná, das decisões relativas a

    responsabilização civil na saúde suplementar, no período de 2008 a 2010, com o

    intuito de demonstrar quais são as situações mais freqüentes que geraram litígios e

    qual o seu resultado final.

    2 ―Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo‖.

  • 12

    2 DA AUDITORIA

    Inicialmente, a palavra auditor, de origem latina (auditore),

    significando apenas ―que ou aquele que ouve; ouvinte‖ (HOUAISS; VILLAR;

    FRANCO, 2001:343). Já o termo auditoria foi usado pelos ingleses para rotular a

    tecnologia contábil da revisão (auditing), com o significado de ―fazer ou fazendo

    balanço‖, mas que hoje tem sentido mais abrangente (SÁ, 2002:21).

    Existem diferentes conceituações para auditoria, variando

    conforme o autor e de acordo com sua finalidade. Holmes (1956) postula que

    auditoria é o exame de demonstrações e registros administrativos. Caleman, Moreira

    e Sanches (1998) assinalam que o termo audit foi proposto para os serviços de

    saúde, pela primeira vez, em 1956, por Lambeck, com a finalidade de avaliar a

    qualidade dos processos e os resultados desses serviços, realizada por meio da

    observação direta do registro e da história clínica do usuário. Segundo Zanon

    (2001), no entanto, a auditoria médica foi criada em 1943, por Vergil Slee.

    (Santos;Barcellos, 2009).

    E, o termo, por sua vez de auditoria em saúde teve início nos

    Estados Unidos, aparecendo pela primeira vez no trabalho realizado pelo médico

    George Gray Ward, em 1918, quando este verificava a qualidade da assistência

    prestada aos pacientes por intermédio dos registros em seus prontuários (PEREIRA;

    TAKAHASHI, 1991).

    Em 1972, os Estados Unidos da América criaram a

    Professional Standard Review Organization, buscando regulamentar essa

    modalidade de avaliação, só que com uma perspectiva de auditoria. Essa entidade

    incorporou aos programas de acreditação hospitalar o Peer Review, sistema de

    revisão por pares, seguindo padrões estabelecidos pelo Colégio Americano de

    Cirurgiões (AZEVEDO; KORYCAN, 1999; ZANON, 2001).

    A partir da década de 1980, à luz dos conceitos de Donabedian

    (1980), passou a ser empregada com maior ênfase para a avaliação da qualidade

    dos serviços médicos prestados, bem como de seus custos (MALIK; SCHIESARI,

    1998; MELO; VAITSMAN, 2008; PAIM; CICONELLI, 2007; PIMENTEL, 2006).

    No Brasil, não há relatos na literatura, a respeito do início

    preciso da auditoria no campo da saúde pública, mas há evidências da utilização da

    mesma pelo extinto Instituto Nacional de Assistência da Previdência Social –

  • 13

    Inamps, que deu início à auditoria paralela em seus hospitais próprios e de terceiros

    conveniados, procurando o acompanhamento e o controle formal técnico dos

    serviços prestados e seus resultados bem como, a revisão técnica e administrativa

    de contas médicas. (MOTTA; LEÃO;ZAGATTO;2009)

    A importância dessa ferramenta foi reconhecida através do

    Decreto n. 809 (BRASIL, 1993a), que, ao aprovar a Estrutura Regimental do Inamps,

    em seu art. 3º, define que esse instituto terá em sua estrutura básica órgãos de

    assistência direta e imediata ao presidente, compostos pela Procuradoria- Geral e

    Auditoria. O decreto estabelece que compete à Auditoria: controlar e fiscalizar a

    aplicação dos recursos orçamentários e financeiros destinados à assistência à

    saúde e aos pagamentos de serviços prestados e repassados aos Estados, Distrito

    Federal e municípios, pelo Inamps.

    No Brasil, a finalidade da implantação de processos de

    auditoria no Sistema Único de Saúde – SUS procura resguardar ao usuário e à

    União, Estados e Municípios a qualidade dos serviços profissionais e institucionais,

    além de preservar o uso adequado do dinheiro público. A Lei n. 8.080, de 19 de

    setembro de 1990 (BRASIL, 1990) ao regular as ações e os serviços de saúde em

    todo o território nacional, estabelece o Sistema Nacional de Auditoria – SNA como

    um mecanismo de controle técnico e financeiro, sob competência do SUS e em

    cooperação com os Estados, Distrito Federal e Municípios. No entanto, a instituição

    desse sistema deu-se apenas em 27 de julho de 1993, pelo art. 6º da Lei n. 8.689

    (BRASIL, 1993b), e sua regulamentação ocorreu pelo Decreto n. 1.651 de 28 de

    setembro de 1995 (BRASIL, 1995).

    Para Sá (2002), o auditor observa a exatidão, a integridade e a

    autenticidade de tais demonstrações, registros e documentos. Conforme assevera

    Chiavenato (2006), a auditoria é um sistema de revisão de controle para informar a

    administração sobre a eficiência e a eficácia dos programas em desenvolvimento,

    não sendo sua função somente indicar os problemas e as falhas, mas também

    apontar sugestões e soluções, assumindo, portanto, um caráter educador.

    Na assistência à saúde, a auditoria pode ser desenvolvida em

    vários setores e por diferentes profissionais, destacando-se entre elas a auditoria

    médica, caracterizada por uma sequência de ações administrativas, técnicas e

    observacionais, com o intuito de analisar a qualidade dos serviços prestados a fim

    de assegurar seu melhor desempenho e resolubilidade (MOTTA; LEÃO; ZAGATTO,

  • 14

    2009). Atualmente, a auditoria na saúde pode ser realizada em hospitais, clínicas,

    ambulatórios, home care, por operadoras de planos e seguros de saúde

    (MEDEIROS, 2008).

    A auditoria de enfermagem, integrada ao trabalho da auditoria

    médica, avalia continuamente a qualidade da assistência que o corpo de

    enfermagem de uma determinada instituição de saúde presta aos pacientes, desde

    a internação até a alta. Isso é alcançado por meio de análise da documentação da

    assistência registrada nos prontuários, verificação do atendimento prestado ao

    paciente durante o período de internação, bem como por visitas in loco, a fim de

    assegurar o pagamento de todos os procedimentos com exatidão (MOTTA; LEÃO;

    ZAGATTO, 2009).

    Acrescenta-se a essas modalidades, a auditoria de gestão,

    definida como função organizacional de revisão, avaliação e emissão de opinião

    quanto ao ciclo administrativo (planejamento, execução, controle) em todos os

    momentos e ambientes das entidades (GIL, 2000).

    2.1 AUDITORIA E SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

    O Ministério da Saúde edita em 1998, o Manual de Normas de

    Auditoria, para normatizar a auditoria na saúde, definindo a maneira de atuação e

    ditando princípios a serem seguidos pelos auditores, que, são responsáveis não só

    perante a administração da organização a que prestam serviço, mas também

    perante aos usuários da mesma. Os auditores que atuam na área da saúde, por sua

    vez, devem conduzir-se de modo a justificar a confiança individual e institucional que

    lhe é depositada.

    Assim, o auditor, no exercício de sua atividade, deve manter o

    princípio da independência que assegure a imparcialidade do seu julgamento, nas

    fases de planejamento, execução e emissão de seu parecer, bem como nos demais

    aspectos relacionados com sua atividade profissional. Não devem ter qualquer

    relação com a área/elemento a ser auditado de forma a preservá-lo de influências

    que possam afetar os resultados.

    Durante o desenvolvimento do seu trabalho, o auditor deverá

    possuir o domínio do julgamento profissional, pautando-se, exclusiva e livremente a

    seu critério, no planejamento dos seus exames, na seleção e aplicação de

  • 15

    procedimentos técnicos e testes de auditoria, na definição de suas conclusões e na

    elaboração dos seus relatórios e pareceres.

    O auditor está obrigado a abster-se de intervir nos casos onde

    há conflitos de interesses que possam influenciar a absoluta isenção do seu

    julgamento. Respeitar o princípio da imparcialidade, não deve tomar partido ou emitir

    opiniões e, na execução de suas atividades, o auditor se apoiará em fatos e

    evidências que permitam o convencimento razoável da realidade ou a veracidade

    dos fatos, documentos ou situações examinadas, permitindo a emissão de opinião

    com bases consistentes.

    Não obstante, deve possuir um conjunto de conhecimentos

    técnicos específicos das diversas áreas relacionadas com as atividades auditadas, o

    que lhe permitirá comprovar a legitimidade e a legalidade no desempenho dos

    objetivos do órgão ou entidade sob exame; experiência obtida de um somatório de

    atuações, possibilitando o amadurecimento do julgamento profissional e o

    discernimento entre situações gerais e particulares; capacidade profissional

    atualizando-se quanto ao avanço das normas, procedimentos e técnicas aplicáveis.

    Assim como deve manter sua competência técnica, atualizando-se quanto ao

    avanço de normas, procedimentos e técnicas aplicáveis à auditoria.

    No desempenho de suas funções, o auditor deve ater-se aos

    objetivos da auditoria. Na elaboração do relatório e emissão de sua opinião, deve

    agir com precaução, zelo, acatar as normas de ética profissional, usar bom senso

    em seus atos e recomendações, cumprir as normas gerais e o adequado emprego

    dos procedimentos de auditoria geral ou específica; respeitando as normas de:

    conduta ético-profissional, confidencialidade das informações recebidas, salvo nos

    casos de obrigação legal e profissional de assim proceder; habilidade; precaução;

    prudência; zelo profissional; bom senso em seus atos e recomendações.

    O princípio do sigilo profissional é regra mandatória e

    indeclinável no exercício da auditoria. O auditor é obrigado a utilizar os dados e as

    informações do seu conhecimento tão somente e exclusivamente na execução dos

    serviços que lhes foram confiados. Salvo determinação legal ou autorização

    expressa da alta administração, nenhum documento, dados, informações e

    demonstrações poderão ser fornecidos ou revelados a terceiros, nem deles poderá

    utilizar-se o auditor, direta ou indiretamente, em proveito e interesses pessoais ou de

    terceiros.

  • 16

    O auditor, no decorrer de qualquer trabalho de auditoria,

    deverá prestar especial atenção àquelas situações que denotem indícios de

    irregularidades, mesmo quando não seja objeto do seu escopo inicial e, na

    possibilidade de obtenção de evidências destas situações, deverá ser dado o

    destaque devido, quando do parecer, com vistas à adoção de providências

    corretivas pertinentes. Não obstante a busca de impropriedades ou irregularidades

    no decorrer dos exames, não ser objetivo maior da auditoria, o auditor deverá estar

    consciente da probabilidade do risco de tais ocorrências.

    As normas relativas à conduta do auditor são taxativas no

    Manual de Auditoria, que, embora criada com a finalidade de preservar o

    cumprimento de normas reguladoras e regulamentadoras no âmbito do Sistema

    Único de Saúde (SUS), para atender as suas proposições, se tratam de princípios e

    normas que devem ser seguidas por todos aqueles na função de auditor, no sistema

    público ou suplementar.

    2.2 AUDITORIA NA SAÚDE PÚBLICA E SUPLEMENTAR

    No sistema público de saúde, um parecer deverá ser emitido

    quando o auditor verificar a qualidade e efetividade da assistência à saúde, serviços

    de saúde, aplicação, utilização ou guarda dos bens e valores públicos e para todo

    aquele que der causa à perda, subtração ou estrago de valores, bens e materiais de

    propriedade ou responsabilidade da União, Estados e Municípios.

    Por sua vez, na saúde complementar, com quase 40 anos de

    funcionamento sem regulação no Brasil, o mercado de planos e seguros privados de

    atenção à saúde vem apresentando crescimento desordenado neste período. Na

    época em que o Brasil vivia uma situação de inflação galopante, os reajustes

    mensais de preços constituíam a rotina e os planos de saúde mantinham excelente

    relacionamento com seus prestadores de serviço (médicos, laboratórios, hospitais,

    entre outros), pois auferiam lucros de capital na ciranda financeira. Com a

    estabilização da moeda, as operadoras deixaram de ganhar com as aplicações

    financeiras e passaram a focalizar sua atenção em economizar na assistência à

    saúde (JUNQUEIRA, 2001).

  • 17

    Sob esta perspectiva, essas empresas começaram a auditar

    contas médicas e hospitalares com caráter restritivo, baseado em autorizações de

    internações hospitalares e suas necessidades, passando pela autorização de

    procedimentos em diagnose e terapia, órteses, próteses, materiais e medicamentos

    especiais (PRISZKULNIK, 2008).

    Na mesma época, foi regulamentado o Código de Defesa do

    Consumidor, que estabelece como direitos básicos do consumidor a proteção à

    saúde e a segurança contra riscos decorrentes da prestação de serviços à saúde

    (BRASIL, 1990). Os consumidores passaram a ser mais cautelosos, críticos e

    exigentes, buscando no mercado aqueles planos e seguros de saúde que lhes

    oferecem a melhor relação entre custo e benefício, cada vez mais fazendo uso de

    seus direitos estabelecidos e levando suas reclamações aos órgãos existentes

    (PAIM; CICONELLI, 2007). Diante da repercussão negativa que a atuação desse

    setor da saúde teve perante a opinião pública, passou a ser alvo de preocupação

    dos agentes públicos, percebendo-se a necessidade de intervenção estatal sobre a

    atuação das operadoras de planos de saúde (GOUVEIA, 2004; JUNQUEIRA, 2001).

    Esses fatos culminaram com a aprovação da lei nº 9.656/1998

    (BRASIL, 1998), que estabeleceu as normas de regulação para os planos e seguros

    privados de assistência à saúde, e a Lei nº 9.961/2000 (BRASIL, 2000), que criou a

    Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

    A partir de então, a regulação de planos e seguros de saúde

    passou a ser uma atividade do governo federal, que por meio de leis e resoluções,

    tem procurado melhorar a qualidade dos contratos, corrigindo as falhas de mercado,

    visando contribuir para que as empresas se sustentem e gerem incentivos que

    beneficiem os consumidores. Para tanto, foram propostas ações para ampliação de

    cobertura, ressarcimento ao SUS, registro das operadoras, acompanhamento de

    preços pelo governo, obrigatoriedade da comprovação de solvência, reservas

    técnicas, permissão para a atuação de empresas de capital estrangeiro e proibição

    do monopólio dessas atividades.

    As organizações que formam o setor de saúde suplementar

    tiveram de se adequar e cumprir a regulamentação estabelecida. Ademais, para

    manter posição competitiva no mercado, precisaram se reorganizar e reestruturar,

    passando por uma série de transformações que permitissem sua adaptação aos

    novos processos de trabalho (MOTTA; LEÃO; ZAGATTO, 2005).

  • 18

    Ao fornecer conhecimentos sobre o verdadeiro estado da

    organização, a auditoria tornou-se facilitadora dessas mudanças, deixando de ser

    apenas um instrumento fiscalizador para promover a contenção de custos. Lançando

    mão das atividades de auditoria interna, a organização consegue atingir os seus

    objetivos internos de custos, produtividade, qualidade e satisfação dos clientes.

    O auditor, por sua vez, tem o papel de melhorar as formas de

    atendimento, disponibilizar os recursos de forma técnica, acompanhar a qualidade

    dos serviços oferecidos e verificar a exatidão na indicação de sua execução. Nesse

    mister, deve agir sempre de forma conciliadora, atuando de forma a propiciar

    orientação, incentivo à parceria e melhoria da relação entre prestadores e usuários

    na execução dos benefícios previstos nas regras do sistema (FRANCO, 2007). Sua

    análise criteriosa, aliada a sugestões de melhoria, aperfeiçoa sobremaneira o

    desempenho operacional, bem como a qualidade técnica dos serviços ou mesmo da

    produção.

    Essa regulação trouxe avanços que tornaram o ambiente da

    saúde suplementar melhor na atualidade que no período anterior a ela. Embora

    ainda haja inúmeros conflitos entre os diversos atores sociais, existe um ponto de

    convergência de objetivos, que é a qualificação daqueles que atuam no setor.

    Focada nessa nova perspectiva, a regulação da ANS passou a dar ênfase à

    qualificação de todos os envolvidos no processo, como operadoras, prestadores de

    serviços, beneficiários e órgão regulador. Oportunizando a qualificação, a ANS

    procura significar o setor de saúde suplementar como local de produção de saúde,

    conduzindo as operadoras de planos de saúde a se transformarem em gestoras de

    saúde, os prestadores de serviços em produtores de cuidado de saúde, os

    beneficiários em usuários com consciência sanitária e o próprio órgão regulador

    qualificando-se para corresponder à tarefa de regular um setor cujo objetivo é

    produzir saúde (BRASIL, 2007)3.

    3 V. Anexo A para tabela do conjunto de direitos inerentes a um plano de saúde, de acordo com

    algumas características do contrato.

  • 19

    3 DA AUDITORIA NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA

    No serviço público, as atividades de auditoria no Brasil, já

    ocorriam antes de 1976, iniciadas no então Instituto Nacional de Previdência Social

    (INPS), sendo executadas pelos supervisores por meio de apurações em prontuários

    e em contas hospitalares, porquanto à época não havia auditorias diretas em

    hospitais. A partir de 1976, as denominadas contas hospitalares foram

    transformadas em Guias de Internação Hospitalar (GIH) e as atividades de auditoria

    ficaram estabelecidas como Controle Formal e Técnico (BRASIL, 2009).

    Em 1978, foi criada a Secretaria de Assistência Médica,

    subordinada ao Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

    (INAMPS). Percebeu-se a necessidade de aperfeiçoar a GIH, criando-se, então, a

    Coordenadoria de Controle e Avaliação nas capitais e o Serviço de Medicina Social

    nos municípios. Posteriormente, em 1983, a GIH foi substituída pela Autorização de

    Internação Hospitalar (AIH), no Sistema de Assistência Médica da Previdência

    Social (SAMPS), e no mesmo ano se reconheceu o cargo de auditor-médico,

    passando a auditoria a ser conduzida nos próprios hospitais (BRASIL, 200?).

    A Constituição Federal de 1988 dispõe no seu artigo 197:

    São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos Termos da Lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. (BRASIL,1988).

    A Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, ao prever a

    criação do Sistema Nacional de Auditoria (SNA), estabeleceu as instâncias de

    gestão do SUS de acompanhar, controlar e avaliar as ações e serviços de saúde,

    ficando reservada à União a competência privativa para "estabelecer o SNA, e

    coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em todo o território nacional em

    cooperação técnica com estados, municípios e Distrito Federal".

    Caleman, Moreira e Sanchez (1998) relatam que a criação do

    SUS, em 1988, instituiu o acesso universal e igualitário às ações e serviços de

    saúde, com regionalização e hierarquização, descentralização com direção única em

    cada esfera de governo, participação da comunidade e atendimento integral, com

  • 20

    prioridade para a atenção primária. Para consolidar todas essas ações, superando

    fatores contrários, como carência de recursos financeiros, crescentes custos do

    processo de atenção e corporativismo dos profissionais da saúde, e também visando

    permitir a tomada de melhores decisões, foi criado o SNA (BRASIL, 1993).

    Tem o SNA então como competência maior, a avaliação

    técnica, científica, contábil, financeira e patrimonial do SUS e sua ação deve ocorrer

    de forma descentralizada por meio de órgãos estaduais, municipais e da

    representação do Ministério da Saúde em cada estado da federação. O

    Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DENASUS), órgão central do SNA,

    exerce atividades de auditoria e fiscalização especializada no SUS, acompanhando

    as ações propostas e analisando seus resultados (BRASIL, 2009).

    Como o SUS é um sistema complexo, dinâmico e em constante

    evolução, para acompanhar seu processo de crescimento, ações, indicadores e

    resultados, foram desenvolvidos diferentes sistemas e redes de informações

    estratégicos, gerenciais e operacionais, que são usados pelo SNA para obtenção de

    dados, análise e suporte à realização de auditorias analíticas e operacionais

    (BRASIL, 2005).

    A auditoria analítica no âmbito do SUS consiste no exame do

    todo ou de partes de processos, assim como de acompanhamento, controle e

    avaliação à distância de um prestador ou de um processo. Deve ser utilizada como

    rotina e permitir traçar o perfil de um sistema, atividade ou serviço. Na análise

    pormenorizada de relatórios e documentos, visa aferir a eficácia, a eficiência e a

    efetividade dos serviços prestados, bem como a adequação dos recursos aplicados.

    A propriedade ou veracidade das informações colhidas poderá

    ser conferida in loco durante a auditoria operativa, que compreende a atividade

    desenvolvida na própria unidade em que as ações e os serviços são realizados,

    mediante a observação direta de controles internos, fatos, dados, documentos e

    situações. Busca-se aferir de modo contínuo a adequação, a eficiência, a eficácia e

    os resultados dos serviços de saúde, identificar distorções, promover correções e

    buscar aperfeiçoamento do atendimento médico-hospitalar, procurando obter melhor

    relação custo–benefício na política de atendimento das necessidades do paciente e

    promover processo educativo com vistas à melhoria da qualidade do atendimento

    em busca da satisfação do usuário (BRASIL, 2009).

  • 21

    Com a evolução do SUS, a auditoria vem passando por um

    processo de mudança de conceitos, normas e procedimentos, onde antigas práticas

    voltadas para a assistência individual e focadas no erro estão sendo substituídas

    pelo acompanhamento dos serviços de saúde, das ações preventivas, da qualidade

    de assistência e da gestão de análise de resultados. Desse modo, contribui para a

    garantia de acesso e atenção aos cidadãos usuários e em defesa da vida.

    Desenvolvendo-se como instrumento de gestão para fortalecer o SUS, colaborando

    para a alocação e a utilização adequada dos recursos, a garantia do acesso e a

    qualidade da atenção à saúde oferecida aos cidadãos (BRASIL, 2009).

    3.1 AUDITORIA NO ÂMBITO DA SAÚDE SUPLEMENTAR 3.1.1 Histórico na Saúde Suplementar

    A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

    assegura o direito à saúde. Embora o direito à saúde seja seu dever, o Estado

    permite à iniciativa privada a prestação de serviços de assistência à saúde. A

    Constituição define, por um lado, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), e, por

    outro, que a saúde seja livre à iniciativa privada. Assim, o Art. 199 da CF/1988:

    Art. 199 - A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. § 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. § 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. (BRASIL,1988)

    Os serviços privados de assistência à saúde no Brasil surgem

    no final da década de 1960, sob a forma de planos de assistência médica, e na

    década de 1970 surgem e se consolidam os chamados ―seguros‖ de saúde. Nesse

    período, os consumidores encontram na legislação civil e nas conciliações o

  • 22

    caminho das soluções dos problemas advindos das relações contratuais, que se

    apresentam sob a forma de contratos de adesão.

    Foram necessários 10 anos de discussões e de negociações

    entre os principais agentes do mercado, após a promulgação da Constituição

    Federal de 1988, para formalizar os marcos da regulação e da regulamentação do

    mercado de saúde suplementar no Brasil.

    3.1.2 Os marcos da regulação da saúde suplementar no Brasil

    O crescimento do setor de assistência suplementar à saúde

    decorre da conjugação de muitos fatores. Pereira Filho (2004) advoga que isto

    acontece especialmente em conseqüência direta das falhas dos governos na

    montagem lenta e precária do Sistema Único de Saúde.

    Os princípios da Constituição Federal de 1988 estabelecem

    que a política social inclusiva e universal implica em novas responsabilidades

    financeiras para o Estado comprometido na sua capacidade de sustentar as ações e

    os serviços públicos de saúde (Brasil, 1988).

    O processo de construção do SUS enfrenta uma crise

    profunda, afetando sua capacidade de prover promoção e cuidados da saúde com

    qualidade para todos. Assim, parcelas crescentes da população são induzidas a

    buscar a promoção e, especialmente, os cuidados da saúde com as operadoras de

    assistência suplementar.

    Por um lado, muitas empresas privadas decidem incorporar os

    benefícios dos planos de saúde como salário indireto para seus empregados. Por

    outro, importantes frações das classes médias insatisfeitas com a ―má qualidade‖ da

    assistência oferecida pelo SUS aderem aos planos e aos seguros de saúde

    (COSTA, 2004).

    Pereira Filho (2004) observa que a não regulação do mercado

    em expansão faz com que o mesmo apresente na década de 1990 uma ampla gama

    de problemas e imperfeições, que geram conflitos e tensões entre operadoras,

    prestadores de serviços e beneficiários, tais como: restrições de cobertura e

    exclusão de procedimentos; cobrança ou cobertura irregular para portadores de

    doenças preexistentes; exigências indevidas para admissão de pacientes, prazos e

    carências irregulares; condições de validade e rescisão de contratos; falta de

  • 23

    cobertura para doenças crônicas e degenerativas; insuficiência na abrangência

    geográfica do plano de saúde; e descumprimento das normas de atendimento de

    urgência e emergência.

    Este mesmo autor (PEREIRA FILHO, 2004) afirma que regular

    o mercado de assistência suplementar à saúde fez-se necessário para racionalizar e

    reordenar o setor:

    As demandas por intervenção reguladora no setor se originam da repercussão negativa da opinião pública quando da ação unilateral de algumas empresas de seguro e planos de saúde de aumento indiscriminado de preços e restrições de cobertura. Essas queixas alcançaram ampla divulgação, nos meios de comunicação, e vários consumidores obtiveram ganhos de causa nas instâncias judiciárias.

    O aumento dos conflitos da assistência suplementar à saúde,

    no Brasil, segundo Mendes (2001) resultou na regulação do mercado, pois que a

    percepção de assimetria na relação entre agentes econômicos entre si e com os

    consumidores gerou pressão política e intervenção do governo federal no sentido de

    regular o setor em âmbito nacional.

    Finalmente, Bahia (2001) observa que a agenda de discussões

    no início da regulação do mercado de saúde suplementar é, principalmente, uma

    negociação em torno da garantia da saúde: a regulação pública dos planos de saúde

    requer a construção de novas relações, em torno do compartilhamento de riscos à

    saúde, entre Estado e sociedade nas quais devem ser convocadas as empresas de

    assistência médica suplementar.

    3.1.3 Regulação da Saúde Suplementar no Brasil

    A Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, publicada no Diário

    Oficial em 4/6/98, dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à

    saúde. Esta lei estabelece os principais marcos da regulação da saúde suplementar,

    definindo relações entre operadoras, produtos e seus beneficiários. Quase

    simultaneamente, em 5 de junho, é editada uma Medida Provisória de nº 1.665,

    alterando essa lei. A Medida Provisória foi reeditada quase mensalmente (por força

    da legislação vigente) até agosto de 2001, chegando a sua versão nº 44

    (MONTONE, 2004).

  • 24

    Nessa Lei, se estabelece que se submetem às suas

    disposições, as pessoas jurídicas de direito privado que operam planos de

    assistência à saúde, definindo os conceitos de plano privado, de operadora de plano

    e de carteira, sobre os quais são expedidos os atos normativos básicos para operar

    no mercado privado de assistência à saúde.

    A regulamentação, aprovada em junho de 1998, entra em vigor

    efetivamente a partir de janeiro de 1999 e neste intervalo são editadas várias

    resoluções do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), necessárias para

    viabilizar as exigências da legislação federal. É preciso lembrar que o setor de saúde

    suplementar existe desde a década de 1960, funcionando como setor não

    regulamentado e regulado. Tudo, ou quase tudo, carecia de definição,

    principalmente na dimensão da assistência à saúde.

    Foi criada pela Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, a

    Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), autarquia sob o regime especial,

    vinculada ao Ministério da Saúde, com sede na cidade do Rio de Janeiro (RJ), com

    prazo de duração indeterminado e atuação em todo o território nacional, como órgão

    de regulação, normatização, controle e fiscalização das atividades que garantam a

    assistência suplementar à saúde.

    A ANS tem, nos termos da Lei, por finalidade institucional

    promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde,

    regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com

    prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações de

    saúde no País. É uma agência reguladora que incorpora vantagens deste

    instrumento de intervenção do Estado: maior poder de ação; autonomias

    administrativa, financeira e política, expressas por uma arrecadação própria;

    decisões em Diretoria Colegiada, cujos membros têm mandato definido em lei; e

    poder legal em relação à efetivação de suas resoluções.

    A ANS exerce a autoridade estatal, normatizando as relações

    existentes entre as operadoras de planos privados de assistência à saúde e os seus

    respectivos beneficiários consumidores (função quase legislativa), atribuindo direitos

    de ingresso no mercado, fiscalizando, determinando condutas e Informação e

    Regulação da Assistência Suplementar à Saúde específicas (função quase

    executiva) e aplicando sanções, após o devido processo legal, inclusive com a

    retirada de operadoras do setor regulado (função quase judicial).

  • 25

    Ela exerce poder de polícia no âmbito administrativo, que vem

    a ser qualquer controle – condicionamento (encargo positivo) ou restrição (encargo

    negativo) – que se faz ao interesse individual em prol do interesse geral. Em outras

    palavras, consiste na obrigação imposta ao administrado (no caso, as operadoras de

    planos de saúde) em praticar um ato ou abster-se dele, por atos administrativos

    sempre com respaldo em lei.

    A implantação da ANS enfrentou dois pontos críticos: 1) a

    ausência de informações estruturadas sobre o setor; 2) a inexistência de quadro de

    pessoal próprio. A ANS foi criada para regular uma atividade privada existente,

    extremamente complexa, no setor essencial da saúde, e que não havia sido objeto

    de regulação pelo Estado (MONTONE, 2004).

    A regulação do mercado de saúde suplementar nesta primeira

    fase está focada principalmente na publicação de normas de organização das

    operadoras privadas e de seus planos de assistência suplementar à saúde,

    especificamente da regulamentação dos riscos e das bases empresariais deste

    mercado.

    Antes da regulamentação as operadoras eram organizadas

    livremente, submetendo-se à legislação do tipo societário escolhido e depois, elas

    passaram a ter de cumprir requisitos especiais como: autorização de funcionamento,

    regras de operação padronizadas, exigência de reservas e garantias financeiras e

    estão sujeitas aos processos de intervenção e liquidação. O produto possuía livre

    definição de cobertura, seleção de risco, livre exclusão de usuários e rompimento de

    contratos, livre definição de carências e livre reajuste de preços. E, após a

    regulamentação é obrigatória a assistência integral à saúde, é proibida a seleção de

    risco e rescisão unilateral dos contratos, há definição e limitação das carências e os

    reajustes de preços passaram a ser controlados (MONTONE, 2004).

    3.2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL

    Leciona José de Aguiar Dias que ―Toda manifestação da

    atividade humana traz em si o problema da responsabilidade‖ (DIAS, 1979,p.1-3).

    No princípio, a história registrada da responsabilidade principia

    com a vida civilizada, segundo Prux, (2007), onde dominava a vingança coletiva,

    com a reação conjunta do grupo contra o agressor. Com o tempo, passou-se a

  • 26

    pertencer ao indivíduo lesado o direito de vingar o dano causado; nessa fase, o

    poder público comparecia apenas para declarar quando e como a vítima poderia se

    vingar. Passou-se a seguir, para a reparação do lesado com o patrimônio do

    ofensor. E, atribuía-se ao poder público o encargo de decidir sobre a pertinência ou

    não da reparação, e o valor a ser atribuído a ela.

    SOUZA (2006), relata que o Direito Brasileiro seguia a

    orientação da Lei da Boa Razão, devendo ser aplicado o direito romano nos casos

    em que as Ordenações do Reino, apresentassem uma omissão, inclusive para a

    responsabilidade civil.

    Observa-se que o direito da responsabilidade civil, em todos

    os ordenamentos jurídicos, tem como objetivo primordial regular e dar resposta ao

    problema social da distribuição da adversidade, ou seja, é necessário definir se,

    diante de uma adversidade, de uma calamidade, ou de um acidente, o dano deve

    ser suportado por aquele que o experimenta, ou se cabe a mais alguém assumi-lo,

    integral ou parcialmente. Observa-se que o mesmo se refere a um processo de

    investigação, em síntese, em função de um dano, quem haverá de por ele

    responsabilizar-se, e em que medida (FAZZIO JUNIOR, 2003).

    Observa-se que o ser humano almeja da ordem jurídica e a

    função de ―proteger o licito e reprimir o ilícito‖, o qual comenta Cavalieri Filho (2005),

    o seguinte:

    Tem o dever jurídico originário enquanto gene que faz nascer à

    responsabilidade civil, ao ser violado, como conseqüência um dever

    secundário, ou "dever jurídico sucessivo," por parte de quem violou a Ordem

    Jurídica, que é o dever de reparar o dano ou indenizar o prejuízo causado

    (CAVALIERI FILHO, 2005, p. 77).

    Desse contexto, pode-se obter a seguinte conclusão em

    relação à responsabilidade civil: em sentido etimológico, responsabilidade exprime a

    idéia de obrigação, encargo, contraprestação. Em sentido jurídico, o vocábulo não

    foge dessa idéia, designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente

    da violação de outro dever jurídico. Em síntese, responsabilidade civil é um dever

    jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um

    dever jurídico originário.

  • 27

    Ainda, se faz necessário ressaltar a diferença subliminar que

    separa a obrigação da responsabilidade, consistindo tal diferença em que a primeira

    é um dever jurídico originário e permanente, enquanto a segunda decorre da

    violação daquela. Comparando-se ao Código Civil francês, a responsabilidade surge

    da resolução da obrigação inexeqüida por parte do devedor (ROPPO, 1985 apud

    REALE, 1986, p. 12).

    Em relação à correta definição de Responsabilidade civil,

    observa-se que os doutrinários nem sempre chegam a um consenso. Para

    determinados autores, a "responsabilidade" consiste em "responder", já outros

    doutrinadores estabelecem na conceituação de responsabilidade como referência a

    uma das causas do dever de reparação, atribuído-a ao fato culposo do agente.

    Rodrigues (1997) ressalta que a questão é:

    O de saber se o prejuízo experimentado pela vítima deve ou não ser reparado por quem o causou. Se a resposta for afirmativa, cumpre indagar em condições e de que maneira será tal prejuízo reparado (RODRIGUES, 1997, p. 45).

    Observa-se que esse é o campo que a responsabilidade civil

    procura garantir.

    Dessa forma, considera-se a responsabilidade civil como a

    obrigação de reparar um dano, seja por decorrência de uma culpa ou de outra

    circunstância legal que a justifique, como por uma circunstância simplesmente

    objetiva ou por culpa presumida.

    Neste contexto, se a responsabilidade se fizer caracterizada, o

    agente desta ação deve ressarcir o prejuízo experimentado pela vítima. Pode se

    ressaltar que a indenização é decorrente de uma ação ou omissão do lesante que

    transgride um dever legal, contratual ou social, ou seja, se praticado abuso de

    direito.

    Assim, considera-se que a responsabilidade civil tem

    fundamentalmente uma função reparadora ou indenizatória, e da mesma forma,

    assegura o direito lesado à segurança e serve como sanção civil, de natureza

    compensatória. Em relação a sua natureza, a responsabilidade pode ser moral, civil

    ou criminal.

    Por conseguinte, o direito da responsabilidade civil, em todos

  • 28

    os ordenamentos jurídicos, tem como finalidade primordial regular e fornecer

    resposta ao problema social da distribuição dos infortúnios ocorridos. Em outro

    sentido, observa-se que é necessário definir-se, diante de um infortúnio, de uma

    calamidade ou de um acidente, o dano deve ser necessariamente suportado por

    aquele que o vivencia, ou se compete a mais alguém assumi-lo, parcial ou

    integralmente. Observa-se que a questão aqui, se refere a investigar, em síntese,

    em decorrência de um dano gerado, quem haverá de por ele responsabilizar-se, e

    em que proporção.

    SOUZA (2006) relata que desde a antiguidade, os diversos

    povos, elaboraram legislações em que se responsabilizava o médico por eventuais

    danos no seu desempenho profissional. E, que ás vezes a punição se tornara tão

    severa, como na Idade Média, que chegaram a causar retraimento do desempenho

    da atividade deste profissional.

    De forma geral, podem-se distinguir dois critérios principais de

    atribuição ou imputação da responsabilidade civil por danos gerados, ou seja, o

    critério da culpa e o critério do risco.

    Segundo o critério da culpa, Prux (2007a) observa-se que o

    mesmo que informa a responsabilidade dita subjetiva, responsável será aquele que,

    agindo de forma culposamente, gerar dano a outrem, que em sua substância, a

    doutrina da culpa é fundada previamente na existência de dolo, imprudência,

    imperícia ou negligência por parte do ofensor. Não se questiona mais a obrigação de

    reparar o dano fruto de ação dolosa que viesse a prejudicar. Já se reconhecia que a

    culpa poderia vir de um descumprimento contratual ou não; surgir uma ação ou

    mesmo uma omissão; provir ou não de um delito.

    Já em relação ao Critério do risco, o mesmo é inerente a

    responsabilidade objetiva, sendo considerado responsável pelo dano gerado aquele

    em pleno exercício de sua atividade, por sua natureza, implicar um risco não

    tolerado à esfera jurídica alheia. Para Marton (1938 apud PRUX, 2007,p.73):

    Os precursores da doutrina do risco foram alguns partidários da escola do direito natural no Século XVIII, em particular Thomasius e Heineccius, que sustentavam a opinião de que o autor de um dano deve ser responsabilizado independentemente da existência de culpa de sua parte.

    Ressalta-se que ambos os critérios são acatados pela lei, no

  • 29

    Brasil, com campos de incidência que se pretendem excludentes, mas que, por

    inúmeras vezes, não se apresentam nitidamente afastados. E, que, apesar da teoria

    da culpa ter reinado absoluta no direito brasileiro até meados deste século, com a

    comunicação global, a teoria da responsabilidade objetiva, veio ocupar seu espaço.

    O Código de Proteção e Defesa do Consumidor é um exemplo nacional inédito, por

    inovar na forma de aplicar e combinar as já existentes legislações, gerando fórmulas

    de resolver questões que as modernas relações sociais fazem surgir a cada dia

    (PRUX ,2007b).

    Neste contexto, observa-se que a atividade médica em

    auditoria, como qualquer outra atividade humana, não se apresenta indiferente à

    problemática acima anunciada. Dessa forma, em decorrência de um infortúnio

    ocorrido do exercício da medicina, é necessário indagar a quem, e em que

    condições, há de ser imputada a respectiva responsabilidade.

    Em relação às condições da responsabilidade civil, observa-se

    segundo Gonçalves (2002), que a responsabilidade civil se faz presente de

    diferentes formas, entre elas menciona-se as seguintes: quanto ao fato gerador de

    responsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual; em relação ao ser

    fundamento de responsabilidade objetiva - fundamentada no risco provocado pelo

    agente e responsabilidade subjetiva – baseada na culpa ou no dolo do agente; e

    relativo ao agente e sua responsabilidade indireta ou complexa – decorrente de ação

    de terceiro, fato animal ou de coisa inanimadas sob responsabilidade do agente e

    responsabilidade direta – decorrente do próprio ato do agente.

    Sobre a responsabilidade dos profissionais liberais, Batisti

    (2008) relata que a lei brasileira, que rege as relações de consumo, mesmo tendo

    reconhecido a responsabilidade objetiva mitigada em relação aos defeitos pelo fato

    do produto ou serviço, excepcionou os serviços dos profissionais liberais. E, que em

    relação a estes, requer-se a verificação de culpa para o acolhimento da

    responsabilidade. Trata-se portanto de responsabilidade subjetiva, não significando

    que sempre os serviços dos profissionais liberais se submetem à essa modalidade

    de responsabilidade.

    3.3 DA RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

  • 30

    Segundo Venosa (2004), a grande questão a respeito desta

    matéria é distinguir se o ato danoso ocorreu em razão de uma obrigação

    preexistente, contrato ou negócio jurídico unilateral. Pois, a existência de um

    contrato ou de um negócio, nem sempre é clara, porque tanto a responsabilidade

    contratual ou extracontratual com freqüência se interpenetram e ontologicamente

    não são distintas: quem transgride um dever de conduta, com ou sem negócio

    jurídico, pode ser obrigado a ressarcir o dano. O dever violado, será o ponto de

    partida, não importando se dentro ou fora de uma relação contratual. Mas, uma e

    outra fundam-se na culpa. Na culpa contratual, porém, examina-se o

    inadimplemento como seu fundamento e os termos e limites da obrigação.

    Portanto, o ato voluntário é o primeiro pressuposto da

    responsabilidade civil. Mas, o ato da vontade, contudo, no campo da

    responsabilidade deve ser revestida de ilicitude e que, na ilicitude há, geralmente,

    uma cadeia ou sucessão de atos ilícitos, uma conduta culposa. Venosa (2004:26)

    define que o ato ilícito traduz-se em um comportamento voluntário que transgride um

    dever. E que, não se pode afastar a noção de culpa do conceito de dever.

    Luiz Roldão de Freitas Gomes (2000:33) anota que a

    jurisprudência introduziu matizes na distinção, alargando a compreensão da culpa

    contratual:

    1) quando um contratante comete uma falta dolosa na execução do contrato, pode-se considerar que ela faz desaparecer o contrato: aplicam-se as regras delituais; 2) verifica-se, nos últimos anos, uma extensão da responsabilidade contratual. Admite-se, com efeito, que os terceiros interessados no contrato possam agir e deviam agir sobre uma base contratual.

    Observa-se que a responsabilidade extracontratual ou

    aquiliana, conforme se observa pelos artigos 1864 e 1875 do Código Civil de 2002

    (BRASIL, 2009b) está ligada a um ato ilícito e, dessa forma, compete ao reclamante

    o ônus da prova, a conduta e o nexo causal.

    4 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

    causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 5 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente

    os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

  • 31

    E, que em relação à responsabilidade contratual inverte-se o

    ônus da prova, conforme determina o artigo 2196, parágrafo único do Código Civil

    (BRASIL, 2009b).

    Quanto ao profissional liberal, segundo Batisti (2008), são

    aqueles que exercitam profissões regulares e que sua contratação se dá em razão

    de qualidades pessoais específicas, como médicos, dentistas, advogados,

    engenheiros, etc. Há contudo profissionais liberais que se organizam em

    associações, sociedades e que quanto a estes, a responsabilidade deve ser guiada

    pela natureza da contratação real, ou seja, se a contratação se der em razão da

    sociedade e sem caráter pessoal, a responsabilidade pode ser objetiva. E, nestas

    mesmas condições, se der em caráter pessoal, singular de certo profissional, a

    responsabilidade depende de demonstração de culpa.

    Em relação à ausência de prova, basta o descumprimento do

    estabelecido em contrato, conforme o dita artigo 389 do Código Civil (BRASIL,

    2009b):

    Art. 389. Não cumprida à obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

    Ressalva-se que não se deve esquecer que o contrato pode

    ser concebido de forma expressa ou tácita. Por conseguinte, resta àquele que o

    descumpriu provar que o fez por motivo lícito ou demonstrar que ocorreu culpa

    "exclusiva" da vítima, caso aleatório ou de força maior, eximindo-se da obrigação de

    indenizar.

    6 Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em

    relação aos signatários. Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais ou com a legitimidade das partes, as declarações enunciativas não eximem os interessados em sua veracidade do ônus de prová-las.

  • 32

    4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE

    As Operadoras de Planos de Saúde, conceituadas pelo

    Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) como: ―pessoa jurídica constituída sob a

    modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão,

    que opere produto, serviço ou contrato‖, são compostos por planos privados de

    assistência à saúde pela prestação contínua de serviços médicos-hospitalares com

    a cobertura dos custos assistenciais a preço pré (chamado de pré-pagamento) ou

    pós-estabelecido (chamado custo operacional), a fim de assegurar a assistência à

    saúde por meio de profissionais habilitados que compões a rede de serviços

    credenciados. As condições, benefícios e regras de prestação de serviços e

    pagamentos dos serviços médico e odontológicos serão efetuados de acordo com o

    contrato firmado entre as partes (MOTTA, LEÃO, ZAGATTO,2009).

    Para SCHAEFER (2003): ―As operadoras de planos de saúde

    são pessoas jurídicas de direito privado, consideradas pelo ordenamento como

    fornecedoras ou prestadoras de serviços típicas que desenvolvem atividade

    subordinada à tutela do Código de Defesa do Consumidor.‖ E que, o mesmo

    conceito se estende às cooperativas de médicos, como afirma PASQUALOTTO

    (1999), ―As cooperativas, em essência, também praticam medicina de grupo,

    prestando serviços diretamente ao consumidor, mediante pré-pagamento.‖

    Antes da implantação da Lei n⁰ 9656/98 o que regia a

    administração dos planos de saúde era a força do mercado e econômica, não

    existindo nenhum mecanismo de controle para a regulação desses planos. Após a

    regulamentação imposta pela lei, houve a implantação de regras entre as ações de

    prestadores (a operadora) e os usuários. As coberturas foram normatizadas e os

    dirigentes e administradores responsabilizados. (MOTTA, LEÃO, ZAGATTO, 2009a).

    Segundo SOUZA (2008), na relação de consumo que se

    estabelece entre os serviços privados de saúde e seus pacientes, que é contratual,

    existe a presença de uma cláusula de incolumidade. Em que, o usuário dos planos

    de saúde pode sofrer danos no seu atendimento médico-hospitalar. O plano de

    saúde privado será responsável por danos, não só oriundos de suas próprias

    atividades e condutas, como devido à solidariedade, mas também com as teorias da

    responsabilidade civil denominadas ―in eligendo‖ e ―in vigilando‖ pelos danos

    causados por aqueles profissionais e serviços diversos, tanto próprios, como

  • 33

    credenciados ou referenciados. Na responsabilidade civil ―in eligendo‖, o plano de

    saúde é responsável por coordenar, fiscalizar, o atuar daquele que exerce as

    atividades pelas quais ele se comprometeu com o contratante do plano de saúde.

    Tanto técnico, quanto moral.

    Isso se evidencia na lição de BAÚ (1999), quando é citado que

    há no contrato de prestação de serviço médico por parte do contratado as seguintes

    obrigações: dever de vigilância, de dispor de pessoal capacitados às atividades

    propostas, de zelar, constantemente, pela qualificação e aprimoramento, de

    implementar mecanismos de controle de qualidade da prestação do serviço de

    saúde. Porque, mesmo quando não ocorre a colisão direta de alguma regra jurídica,

    devem ser reprimidas, pelo direito, atos praticados com abuso de direito ou atitudes

    que colidam com o fim social que se almeje. E, se esse comportamento abusivo do

    agente causar dano a outrem, caberá a obrigação da reparação.

    Respondendo, então, objetivamente a empresa, e o médico

    pela teoria da culpa, ao paciente fica conveniente acionar a empresa, que terá

    direitos regressivos contra o médico, provada a culpa direta deste.

    A responsabilidade subsidiária e regressiva do Auditor e o

    dilema do impeditismo de sua atuação devem ser encarados como fatores

    essenciais em qualquer análise que se faça sobre a questão.

    Dessa forma, são necessários levantados dos princípios e

    garantias constitucionais que regem a atividade humana, aplicáveis, por

    conseguinte, ao exercício da Auditoria Médica.

    Observa-se que o erro médico não é apenas aquele que

    resulta na morte do paciente, mas também aquele notabilizado pelos erros de

    conduta, tais como a realização de exames em excesso, internações prolongadas

    colocando o paciente em risco desnecessário, etc., sendo desnecessário o resultado

    físico no paciente, mesmo porque este pode ser tardio, como a exposição excessiva

    à radiação em pacientes gestantes e a prescrição de medicamentos contra-

    indicados dada uma natureza específica do paciente.

    Na Súmula 421, do Supremo Tribunal Federal, como

    confirmadora deste entendimento, cujo enunciado estabelece: ―É presumida a culpa

    do patrão ou comitente pelo ato do empregado ou preposto‖.

    Nesse sentido, KFOURI NETO (2002): ―Os Planos de Saúde

    têm grave compromisso com a qualidade do trabalho do serviço que colocam à

  • 34

    disposição de seus associados. E, indubitavelmente, a melhor forma de fazê-los

    jamais descurar desse controle é a responsabilização solidária em caso de danos

    infligidos aos pacientes pelos médicos e hospitais credenciados‖.

    Na esfera da responsabilidade civil, o Superior Tribunal de

    Justiça assim posicionou-se:

    CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESSARCIMENTO DE DESPESAS MÉDICO-HOSPITALARES. PLANO DE SAÚDE. ALEGAÇÃO DE ERRO DE DIAGNÓSTICO NO ATENDIMENTO PELA REDE CREDENCIADA. CIRURGIA DE URGÊNCIA REALIZADA EM NOSOCÔMIO DIVERSO. COBERTURA NEGADA. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. INCORREÇÃO. PROCEDIMENTO DA LIDE. I. A prestadora de serviços de plano de saúde é responsável, concorrentemente, pela qualidade do atendimento oferecido ao contratante em hospitais e por médicos por ela credenciados, aos quais aquele teve de obrigatoriamente se socorrer sob pena de não fruir da cobertura respectiva. II. Recurso conhecido e provido, para reconhecer a legitimidade passiva da ré e determinar o prosseguimento do feito.. (STJ - Recurso Especial 164084/SP; 1998/0009897-6)

    E a responsabilidade solidária é também entendida por outros

    Tribunais, conforme se observa:

    Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 0000549-24.2004.8.19.0209 - APELACAO - 1ª Ementa - DES. JACQUELINE MONTENEGRO - Julgamento: 17/08/2010 - DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ERRO MÉDICO. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO. OMISSÃO NO DEVER DE CUIDADO PÓS-OPERATÓRIO A EXIGIR NOVO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA (ART. 14, § 4°, DO CDC). CULPA PROVADA. DANO MORAL CONFIGURADO. CLÍNICA CIRÚRGICA. SERVIÇO DEFEITUOSO. QUEIMADURA NA PACIENTE COM PLACA DE CAUTÉRIO. ACIDENTE DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, CAPUT, E § 1°, DO CDC). PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA REJEITADA. OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA COM O MÉDICO E A CLÍNICA CREDENCIADOS (ART. 30 DO CDC). TRATAMENTO PSICOLÓGICO DA AUTORA. REJEIÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA TÉCNICA ESPECIALIZADA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA (ART. 21, CAPUT, DO CPC). GRATUIDADE DE JUSTIÇA DA AUTORA (ART. 12 DA LEI N° 1.060/50). 1ª, 3ª e 4ª APELAÇÕES (DOS RÉUS) NÃO PROVIDAS. AGRAVO RETIDO REJEITADO E 2ª APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (grifo nosso)

    De igual modo, a jurisprudência em decisão proferida pelo STJ

    – 3° Turma – Resp n° 138.059-MG, que aduz: ―[...] qualquer acidente de consumo,

    isto é, falha no serviço prestado pelo médico, impõe-se a responsabilidade pelos

    danos para a operadora e o médico, sendo que aquela responderá objetivamente

  • 35

    em virtude do risco proveito assumido pela empresa que desenvolve esta atividade

    com a finalidade de lucro‖.

    Por conseguinte, observa-se que os Planos de Saúde

    respondem solidariamente pela qualidade do serviço oferecido a seus clientes.

    KFOURI NETO, 2003, relata que é induvidoso caber ao

    médico, após anamnese, exame e diagnóstico da enfermidade, indicar o tratamento

    adequado – essa liberdade profissional, segundo ele não pode ser tolhida.

    E, nesse contexto, o médico auditor não pode interferir na

    atuação de outro profissional, para alterar prescrições ou a própria conduta do

    colega, a menos em situações de excepcional gravidade, que deve ser comunicado

    ao médico responsável e documentar-se, só depois, adotar as providências que o

    caso recomendar.

    Em parecer do Conselheiro Relator do Conselho Federal de

    Medicina, Paulo Eduardo Behrens, observa que: ―À guisa da nomenclatura de

    auditoria paralela, estes mesmos planos e até o SUS reduzem tais nobres funções,

    atribuindo, quase unicamente aos auditores, a função de recusar ou aprovar

    solicitações de médicos assistentes dos pacientes, num claro prejuízo a estes,

    desrespeitando-os e lesando a livre decisão do médico para a formulação do

    diagnóstico e para a instituição da terapia que entende melhor convir àquele a quem

    assiste. O CFM, pelo que vimos através do Código de Ética Médica, resoluções e

    pareceres, tem que preservar, sobretudo, a autonomia profissional e quem ganha,

    em última análise, é o paciente, beneficiário maior desta conceituação. Este Plenário

    não pode, portanto, tolerar qualquer forma de intervenção, seja de quem for, que

    venha a restringir, limitar o trabalho assistencial do médico, sob pena de ter que

    rasgar o CEM, por lesão aos princípios fundamentais que o norteiam. Mas, por outro

    lado, Este Plenário não pode fechar os olhos às distorções, às fraudes, às

    desobediências de regras básicas perpetradas por muitos profissionais e instituições

    que prestam assistência à saúde. Elas existem, estão aí e devem ser contidas. A

    auditoria médica exerce, então, um fundamental e indispensável papel na sua

    detecção.‖

    Neste contexto, observa-se o artigo 159 do Código Civil

    (BRASIL, 2009b), a qual determina que todo aquele que por ação ou omissão gerar

    prejuízo a outrem fica obrigado a reparar o dano. Dessa forma, as restrições

    impostas pelos Conselhos Federal e Regionais de Medicina (CFM e CRM) à

  • 36

    atividade de auditoria médica dificultam a prática desta especialidade, mesmo que

    ainda que não seja oficialmente reconhecida, na extensão necessária.

    Nota-se que a natureza das responsabilidades do Médico

    Auditor, derivadas de seu contrato de trabalho e da sua condição de médico,

    autoriza-o a proceder de forma a evitar erros médicos, aqui entendidos como

    qualquer prática contrária à devida aplicação dos recursos técnicos e científicos

    disponíveis, sendo legítimo demandar do médico assistente quaisquer elementos de

    prova esclarecedores de uma situação onde se conjeture a possibilidade de dano,

    sendo que, fazê-lo apenas quando indiscutível é presunção e nem sempre os dados

    disponíveis permitem qualquer conclusão. O auditor poderá examinar o prontuário

    médico e quaisquer outros documentos do paciente, desde que observado o sigilo

    médico. Eventual quebra da confidencialidade poderá gerar demanda indenizatória.

    Atuando desta forma o auditor ampara-se no exercício regular do direito e no estrito

    cumprimento do dever legal. (KFOURI NETO, 2003).

  • 37

    5 RESPONSABILIZAÇÃO DECORRENTE DA AUDITORIA MÉDICA

    5.1 ÁREA ADMINISTRATIVA

    Com o objetivo de ajudar os consumidores a avaliar a atuação

    das operadoras de planos privados de saúde, a ANS publica mensalmente o Índice

    de Reclamações. Esse Índice permite comparar a atuação das diversas operadoras,

    facilitando a decisão sobre a compra de um plano de saúde ou a permanência em

    uma determinada operadora.

    O Índice de Reclamações do setor de Saúde Suplementar é

    calculado considerando o total de reclamações e de beneficiários de todas as

    operadoras registradas na ANS no mês.

    Para o cálculo do Índice de Reclamações por Operadora é

    utilizado o total de reclamações e de beneficiários dessa operadora no mês7.

    Diante da análise dos dados fornecidos da Tabela de Índice de

    Reclamações, destacam-se como causas mais freqüentes no âmbito administrativo

    as restrições de cobertura e exclusão de procedimentos; cobrança ou cobertura

    irregular para portadores de doenças preexistentes; exigências indevidas para

    admissão de pacientes, prazos e carências irregulares; condições de validade e

    rescisão de contratos; falta de cobertura para doenças crônicas e degenerativas;

    insuficiência na abrangência geográfica do plano de saúde; e descumprimento das

    normas de atendimento de urgência e emergência.

    5.2 ÁREA JUDICIAL CÍVEL

    Passa-se a discorrer acerca de alguns acórdãos selecionados,

    oriundos do Tribunal de Justiça do Paraná, dentre os anos de 2008 e 2010, para que

    se possam apontar as causas mais freqüentemente discutidas no âmbito judicial

    cível.

    5.2.1 Decisões no Tribunal de Justiça do Paraná

    7 Vide Anexo B para a Tabela do Índice de Reclamações do setor de Saúde Suplementar.

  • 38

    Nesta seção do presente trabalho, são trazidas à baila algumas

    ementas de acórdãos relacionados ao objeto deste trabalho, de forma a demonstrar

    elementos em comum às contendas de âmbito judicial, conforme segue:

    AGRAVO DE INSTRUMENTO. COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. 1. Unimed Foz do Iguaçu - Cooperativa de Trabalho Médico interpôs agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, à decisão do MM. Juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Foz do Iguaçu que, nos autos de obrigação de fazer ajuizada por Irio Damian Preve, deferiu o pedido de tutela antecipada determinando que a agravante custeie os exames do agravado e de sua doadora, bem como a cirurgia e recuperação do transplante de rim, despesas hospitalares e remédios. A agravante alega inicialmente que o recorrido ajuizou a presente ação visando obter liminarmente o custeio dos exames prévios à cirurgia de transplante de rim, a serem realizados nele e em sua doadora, realizados no dia 15.08.2008, bem como o custeio do próprio transplante, que ocorreu no dia 19.08.2008 em hospital desta Capital, o quE foi deferido pelo juízo a quo, por entender que há prova inequívoca, verossimilhança nas alegações e fundado receio de dano irreparável. Aduz a agravante em suas razões recursais que a r.decisão não merece prosperar, pois o agravado aderiu ao Modulo Básico do plano de saúde, o qual exclui expressamente o transplante de rim, estando inclusive tal cláusula expressa e de forma clara e de fácil compreensão no contrato de adesão, atendendo assim aos preceitos do CDC e o art. 16, inc. VI, da lei 9.656/98. Salienta ainda que o recorrido optou também pelo módulo adicional, que da mesma forma não inclui o tratamento pretendido pelo agravado. Frisa que o despacho guerreado consiste em clara violação às cláusulas contratuais constantes no contrato celebrado entre as partes, sobretudo no que diz respeito à cláusula 10.1 letra "j" e destaca que somente o Estado tem a obrigação ilimitada de prestar serviços de saúde, já as operadoras do plano de saúde se obrigam nos exatos limites estabelecidos no instrumento contratual, sob pena de se colocar em risco a segurança jurídica de todos os planos de saúde que comercializa, haja vista o equilíbrio econômico que deve haver entre os valores que recebe e as coberturas que contempla. Enfatiza que o agravado escolheu a modalidade de plano desejada e pactou com a agravante, entretanto agora pretende que esta custeie tratamentos expressamente excluídos da cobertura em total violação ao contrato que deve seguir de acordo com as cláusulas e condições nele previstos. Diante de todo o exposto, requer a concessão de efeito suspensivo ao presente recurso, e ao final, pleiteia que seja julgado procedente o presente agravo, com o fim de cassar a liminar deferida, desobrigando, desta forma, a agravante de arcar com encargos não contratados. 2. O presente recurso não pode ser conhecido, porquanto a sistemática processual vigente exige a devida autenticação das cópias de peças e documentos destinados à instrução dos procedimentos judiciais, quer pelo escrivão ou pelo próprio advogado, por disposição dos arts. 525, I e 384, do Código de Processo Civil e do art. 246, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e ainda por extensão analógica à regra inserta no art. 544, § 1º, do Código de Processo Civil e no caso em exame, não se vislumbra nos autos a certidão do escrivão acerca da autenticidade das cópias anexadas ao presente agravo, nem tampouco o reconhecimento de autenticidade pelo advogado. Ademais, sendo a responsabilidade pela formação do instrumento, ônus do recorrente, deve o recurso, quando da sua interposição, por ausência de oportunidade para sua emenda posterior, estar completo, sob pena de não ser conhecido. Constata-se, desta forma, a irregularidade formal do presente agravo, consistente na ausência de declaração de autenticidade das cópias das peças do processo, razão pela qual o mesmo não merece seguimento.

  • 39

    Neste sentido, tem decidido este Tribunal: "PROCESSUAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AUSÊNCIA DE AUTENTICAÇÃO DAS PEÇAS QUE INSTRUÍRAM O RECURSO - INOBSERVÂNCIA DA REGULARIDADE FORMAL CONFIGURADA - EXIGÊNCIA DOS ARTIGOS 525, I, cc. 384 e 544, § 1º DO CPC - RECURSO NÃO CONHECIDO." (Agravo de Instrumento nº 261.523-4, da 18ª Câmara Cível do TJPR, Rel.: Luiz Sérgio Neiva de L Vieira - julgado em 15/02/2005). "PROCESSUAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AUSÊNCIA DE AUTENTICAÇÃO DAS PEÇAS QUE INSTRUÍRAM O RECURSO - FALTA DE CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA - NÃO CUMPRIMENTO DAS REGULARIDADES FORMAIS - INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 525, I, 384 e 544, § 1º DO CPC - RECURSO NÃO CONHECIDO." (Agravo de Instrumento nº 364435-3 da 8ª Câmara Cível deste TJPR, relator Rui Portugal Bacellar, unânime, julgado em 28/09/2006). "AGRAVO INOMINADO - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO SINGULAR DO RELATOR PROFERIDA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO, QUE NEGA SEGUIMENTO AO RECURSO. AUSÊNCIA DE AUTENTICAÇÃO DAS CÓPIAS OU DE DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO INOMINADO DESPROVIDO. Nega-se seguimento a Agravo de Instrumento instruído com peças não autenticadas. Inteligência do art. 525, I, do CPC, combinado com o art. 384, do mesmo Codex." (Agravo nº 325.853-3/01, da 1ª Câmara Cível suplementar do TJPR, Rel. Luiz Antônio Barry, pub. 24/03/2006). Também assim já decidi ao julgar o agravo nº379850-3/01: "AGRAVO INTERNO - NEGATIVA DE SEGUIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO POR FORMAÇÃO DEFICIENTE - FALTA DE AUTENTICAÇÃO VÁLIDA DE DOCUMENTOS - REQUISITO FORMAL. - DECISÃO DO RELATOR MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. A falta de autenticação ou de declaração de autenticidade pelo advogado, das cópias que instruem o recurso de agravo de instrumento acarreta o seu não conhecimento, por ausência de pressuposto formal, ex-vi do disposto nos arts. 544, § 1º, 365, III; 384, do Código de Processo Civil, e art. 246, § 6º do Regimento Interno do Tribunal de Justiça." (8ª Câmara Cível do TJPR, publicado em 12/01/2007). Isto posto, com fundamento no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao presente recurso eis que manifestamente inadmissível. Intimações e comunicações necessárias. Curitiba, 22 de setembro de 2008. Macedo Pacheco Relator (TJPR, AI nº 417.324-4, Rel. Des. Guimarães Costa, j. 16.08.2007)

    É necessário analisar os julgados elencados à luz da

    Resolução CFM de n. 1.614/2001, que menciona, em seus Artigos 81, 108, 118 e

    121, respectivamente, a vedação aos médicos de alterar prescrição ou tratamento

    de paciente, determinado por outro médico, mesmo quando investido em função de

    chefia ou de auditoria, salvo em situação de indiscutível conveniência para o

    paciente, devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável; facilitar

    manuseio e conhecimento dos prontuários, papeletas e demais folhas de

    observações médicas sujeitas ao segredo profissional, por pessoas não obrigadas

    ao mesmo compromisso; deixar de atuar com absoluta isenção quando designado

    para servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites das suas

    atribuições e competência; e, finalmente, de intervir, quando na função de auditor ou

  • 40

    perito, nos atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação em

    presença do examinado, reservando suas observações para o relatório.

    Diante dessa vedação por parte do Conselho Federal de

    Medicina no Código de Responsabilidade Ética e Profissional da Atividade Médico-

    Profissional de interferir diretamente em um tratamento determinado por outro

    médico, percebe-se a incoerência em revestir-se do instituto da solidariedade a

    responsabilidade do médico auditor em um processo sob o devido processo legal, à

    revelia do que está estabelecido no seu Código de Ética, assim como na autonomia

    de conduta que é concedida aos médicos quando este se relaciona com seus pares.

    Assim:

    Vistos e examinados estes autos de agravo de instrumento de nº 587.814-6, em que é agravante CONSTANTINO CONSTANTINI ORTIZ e agravado SOCIEDADE COOPERATIVA DE MÉDICOS - UNIMED CURITIBA. Relatório Trata-se de Agravo de Instrumento em Ação Ordinária com Preceito Cominatório interposta por Constantino Constantini Ortiz pretendendo sua inclusão no quadro de médicos cooperados da Unimed Curitiba. A decisão de primeiro grau indeferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela por ausência de verossimilhança das alegações do agravante, acolhendo os argumentos da agravada de que a inclusão de novos afiliados depende de condições além da mera capacitação técnica e que não há prejuízo ao agravante já que, desenvolve atividade profissional, atendendo em clínica que possui convênio com outros planos. Justifica o objeto da ação ordinária, a inclusão do agravante no quadro de médicos cooperados da agravada, uma vez que a maioria dos pacientes possui plano de saúde Unimed, além do que esta tem absoluto domínio do mercado de planos de saúde. Inconformado, requer o agravante seja reconhecido o direito de ingressar na cooperativa como médico cardiologista. Sustenta que preenche todos os requisitos exigidos para ingressar no quadro de médicos da agravada, além do que é o regime de admissão de associados não segue critérios das demais sociedades. Aponta como princípio basilar do cooperativismo o denominado princípio das portas abertas, pelo qual a sociedade acolhe a todos que preenchem as condições estabelecidas. Entende que a argüição da agravada quanto a impossibilidade técnica, se refere a intenção de limitar o número de médicos cooperados. Requer a concessão do efeito suspensivo ativo. É o relatório. DECISÃO Dos pressupostos de admissibilidade O recurso preenche os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, merecendo portanto, conhecimento. O artigo 557 § 1º - A do Código de Processo Civi