responsabilidade civil dos esponsais...giovanna rozo ortiz responsabilidade civil dos esponsais...
TRANSCRIPT
GIOVANNA ROZO ORTIZ
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESPONSAIS
Centro Universitário Toledo
Araçatuba – SP
2012
2
GIOVANNA ROZO ORTIZ
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESPONSAIS
Trabalho científico apresentado no curso de graduação
em Direito, sob a orientação da professora Ms. Priscila
Simões Garcia Oliveira, como requisito parcial do
Trabalho de Conclusão de Curso.
Centro Universitário Toledo
Araçatuba – SP
2012
3
BANCA EXAMINADORA
Prof. Me. Priscila Simões Garcia Oliveira
Prof. Cristiano Carlos Garcia do Santos
Profª. Diego Gustavo Pereira
Araçatuba, 27 de Setembro de 2012.
4
Dedico este trabalho aos meus pais que sempre
me ensinaram a nunca desistir e lutar pelos
meus ideais. Aqueles que em momento algum
deixaram de acreditar em mim e assim
proporcionaram meus estudos.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por proporcionar na minha vida momentos
inesquecíveis e colocar pessoas tão especiais nela.
Aos meus pais por todo esforço voltado aos meus estudos, pela paciência,
pelo carinho e dedicação na minha educação.
Aos meus familiares pela compreensão, incentivo.
Aos meus amigos por proporcionar horas de diversão, em especial a
Fernanda por tudo que aprendi com ela nessa a convivência de cinco anos, demonstrando que
devemos acreditar em nós acima de qualquer outra coisa, além de dedicar parte do seu tempo
para discutir comigo sobre o presente trabalho, a Caroline, por fazer com que naqueles
tenebrosos dias eu sorria ao final, sempre me escutando.
Ao meu namorado por toda a paciência e apoio dedicado para a
concretização do presente trabalho.
A minha orientadora Priscila por sempre ter a paciência e o cuidado de sanar
as minhas dúvidas. Sem a qual não seria possível à realização deste.
6
“Não basta dar os passos que nos devem levar
um dia ao objetivo, cada passo deve ser ele
próprio um objetivo em si mesmo, ao mesmo
tempo que nos leva para diante.”
Johann Goethe
7
RESUMO
Ante ao silencio da atual legislação brasileira a respeito da ruptura injustificada do noivado,
vem este trabalho demonstrar a possibilidade de uma reparação pelos danos sofridos por
aquele noivo que de forma abrupta teve sua promessa de casamento rompida. Noivado ou
promessa de casamento ocorre quando duas pessoas decidem perante a sociedade firmarem
um compromisso de que futuramente constituirão matrimônio. O assunto em tela trata-se de
algo excepcional, pois embora exista um compromisso, os noivos não estão obrigados a se
casarem. Porém quando há uma quebra desse compromisso de forma injustificada, o que
acaba gerando danos tanto na esfera patrimonial, por exemplo, gasto com a futura cerimônia
de casamento, quanto na esfera moral, como exemplo um rompimento de forma humilhante;
entra em cena o direito para tentar resolver esse litígio. Afinal, por mais que alguém não
esteja obrigado a casar, existem regras na sociedade que devem ser respeitadas, como a
confiança, a lealdade, a ética e o respeito entre todas as pessoas. O instituto da
responsabilidade civil é o meio de solução para tal litígio a fim de se reparar os danos
sofridos, desde que preenchido os pressupostos autorizadores da responsabilidade civil.
Todavia, a doutrina e a jurisprudência acabam divergindo quanto ao cabimento da
indenização somente pelos danos patrimoniais, ou abrangendo ainda os danos morais. Para
tanto vem o presente trabalho expor o posicionamento de alguns autores e o seu próprio
entendimento.
Palavras-chave: Noivado. Responsabilidade civil. Prejuízos.
8
ABSTRACT
Before the silence of the current Brazilian legislation regarding the unjustified disruption of
courtship, this work has demonstrated the possibility of compensation for damages suffered
by that groom who abruptly had broken his promise of marriage. Engagement or promise of
marriage is when two people decide to society enter into a compromise that will constitute
future marriage. The issue at hand this is something exceptional, because although there is a
commitment, newlyweds are not forced to marry. But when there is a breach of that
commitment unjustifiably, which ends up causing damage both in the asset, for example,
spent a future wedding ceremony, as in the moral sphere, such as a breakup so humiliating;
enters the scene right to try to resolve this dispute. After all, as much as someone is not
obliged to marry, there are rules in society that must be met, such as trust, loyalty, ethics and
respect among all people. The institute civil liability is the means of solution to this dispute in
order to repair the damage, since filled authorizers assumptions of liability. However, the
doctrine and jurisprudence end up disagreeing about the appropriateness of compensation for
property damage only, or even covering the damages. Therefore this work has exposed the
positioning of some authors and their own understanding.
Keywords: Engagement. Liability. Losses.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
CAPÍTULO I - FAMÍLIA ........................................................................................... 13
1.1. PRINCÍPIOS ................................................................................................. 13
1.1.1 Dignidade da Pessoa Humana ................................................................ 13
1.1.2 Da Afetividade ....................................................................................... 14
1.1.3 Da Liberdade .......................................................................................... 15
1.1.4 Da Pluralidade Familiar .......................................................................... 16
1.1.5 Da Igualdade ........................................................................................... 17
1.2 NOIVADO, PROMESSA DE CASAMENTO E ESPONSAIS ..................... 17
1.2.1 Origem .................................................................................................... 17
1.2.2 Validade .................................................................................................. 19
1.2.3 Natureza jurídica..................................................................................... 19
1.2.4 Rompimento ........................................................................................... 21
1.2.5 Distinção para eventual contrato de namoro .......................................... 26
CAPÍTULO II - RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................................... 28
2.1 ORIGEM DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................... 29
2.2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................... 30
2.3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................. 31
2.4 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................. 33
2.5 REPARAÇÃO DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES
DO ROMPIMENTO DO NOIVADO ........................................................... 38
2.5.1 A restituição dos presentes no rompimento do noivado ......................... 41
CAPÍTULO III - DAS PROVAS ................................................................................. 42
3.1 DAS ESPÉCIES DE PROVA ......................................................................... 43
3.1.1 Da prova testemunhal ............................................................................. 44
3.1.2 Da prova documental .............................................................................. 46
3.1.3 Da exibição de documento ou coisa ....................................................... 47
3.1.4 Do depoimento pessoal ........................................................................... 48
3.1.5 Da prova pericial .................................................................................... 48
3.1.6 Da inspeção judicial ............................................................................... 49
3.2 PROVA DA PROMESSA DE CASAMENTO .............................................. 50
10
3.3 PROVA DA RECUSA INJUSTIFICADA .................................................... 51
3.4 PROVA DO DANO ........................................................................................ 52
3.5 PROVA DO NEXO DE CAUSALIDADE ..................................................... 54
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 59
ANEXOS ....................................................................................................................... 62
11
INTRODUÇÃO
Promessas de casamento são feitas a todo tempo, assim como são desfeitas a
qualquer momento. Todavia, o problema a ser discutido no presente trabalho não é o simples
rompimento de um noivado, mas sim o rompimento injustificado deste. O tema em questão
vem sendo discutido pela doutrina e pela jurisprudência, justamente pela preocupação de não
se usar o Judiciário como meio de solução para desentendimentos amorosos. É justamente
essa a preocupação da presente pesquisa, demonstrar quando realmente cabe uma reparação
pelos danos sofridos pelo rompimento do noivado e qual seria a extensão dessa reparação.
Assim, o trabalho foi desenvolvido trazendo no primeiro capítulo os princípios do direito de
família, sendo estes: princípio da dignidade da pessoa humana, princípio da afetividade,
princípio da liberdade, princípio da pluralidade familiar e princípio da igualdade. Além de
toda uma explanação a respeito dos esponsais, desde suas origens até uma explicação a
respeito de sua natureza jurídica e sua validade. Como este deve ser tratado uma vez que o a
legislação brasileira nada disciplinou a respeito. Abordando ainda o problema do rompimento
no que tange a indenização por danos patrimoniais e morais. Sempre buscando um
entendimento sobre o que é o noivado e qual o instituto utilizado para solucionar o dano
gerado pelo seu rompimento injustificado. Esclarecido alguns aspectos da promessa de
casamento, se busca no segundo capítulo discorrer sobre o instituto da responsabilidade civil,
trazendo primeiramente o seu conceito, espécies e pressupostos autorizadores dela, a fim de
entender a aplicabilidade de tal instituto no rompimento injustificado do noivado e quais são o
requisitos necessários para se falar em indenização por rompimento do noivado. Conseguinte
no terceiro capítulo se demonstra à necessidade de se provar por meio de todos os tipos de
provas admitidos pelo direito, explicando algumas delas a fim de que fique esclarecidos os
meios pelos quais se pode provar o que foi alegado. Além de expor o que se provar no caso de
um noivo abandonado buscar a responsabilização do outro pelos danos que este causou ao
romper injustificadamente o noivado. E com a finalidade de concluir o estudo solucionando o
problema apresentado, ou seja, apontado se cabe o não a responsabilidade civil pelo
rompimento do noivado e se caso deferida abrangeria os danos morais e os patrimoniais ou
apenas no tocante aos danos patrimoniais, apresentar-se-á a conclusão. Destarte, se buscou
traçar um liame de forma a explicar no primeiro capítulo sobre o noivado e expor a
problemática, trazer a solução da mesma no segundo capítulo, por meio da responsabilidade
civil, quando esta couber, ou seja, no caso de serem preenchidos os seus requisitos, e no
12
terceiro, demonstrar que devem ser provados os requisitos que dão ensejo a indenização pelo
rompimento do noivado, fechando tudo com a conclusão.
13
I - FAMÍLIA
A união entre humanos trata-se de um fator natural, devido sua aversão a
solidão e para a finalidade de perpetuação da espécie.
Tal união acontece agregada a uma carga emocional, por isso que se
levando em conta a convivência em sociedade, a diversidade de ideias percebe-se o
nascimento de conflitos rotineiros, solucionados as vezes pelo ordenamento jurídico.
A dissolução do noivado de forma injustificada trata-se de um dos conflitos
no qual o judiciário é o meio procurado para solucionar.
E para uma melhor compreensão e interpretação do tema em estudo, é
necessário a abordagem de alguns princípios que norteiam o Direito de Família e o do
conceito de noivado.
1.1 Princípios
1.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
É um princípio de suma importância, de tal forma que já se encontra
previsto no primeiro artigo, inciso III da Constituição Federal. Trata-se do ponto de partida
para toda a ordem constitucional, todas as normas devem observância a ele.
Inegavelmente aplicável a todas entidades familiares , dando tratamento
igualitário para homens e mulheres, não fazendo distinção entre os filhos havidos dentro ou
fora do casamento, consanguíneos ou adotados.
Torna a família, algo unido por uma afeição, carinho mútuo, levando a plena
comunhão de vida. É o que leciona Maria Helena Diniz (2007, p. 22) “princípio do respeito
da dignidade da pessoa humana(CF, art. 1º,III), que constitui base da comunidade familiar
(biológica ou socioafetiva), garantindo, tendo como parâmetro a afetividade, o pleno
desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do
adolescente (CF, art. 227).”
14
O princípio da dignidade da pessoa humana gera para o Estado a proibição
de ferir a dignidade humana e a obrigação de agenciar tal dignidade através de ações. No
campo do direito de família garante o desenvolvimento de todos os membros que integram a
entidade familiar, proporcionando para os filhos, por exemplo, o direito de acesso a educação,
a proteção, a saúde, entre outros.
Sendo as palavras de Maria Berenice Dias (2010, p. 63) a tradução de tal
princípio no direito de família, “[...] O princípio da dignidade humana significa, em última
análise, igual dignidade para todas as entidades familiares. Assim, é indigno dar tratamento
diferenciado às várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição de família, com o
que se consegue visualizar a dimensão do espectro desse princípio, que tem contornos cada
vez mais amplos.”
Levando em conta a diversidade de famílias existentes hoje, os laços
afetivos que as unem, a importância da família, o direito do ser humano ser feliz, criar o seu
núcleo familiar, conclui-se que o princípio da dignidade da pessoa humana é atualmente
imprescindível na sociedade.
1.1.2 Princípio da Afetividade
O Estado tem o dever de asseverar o afeto, por mais que este não venha
expresso no rol de direitos individuais e sociais garantidos pela Constituição Federal, firmou-
se quando a união estável foi reconhecida como uma entidade familiar, digna da tutela
jurisdicional, afinal, união estável é a ligação entre duas pessoas por meio da afetividade com
o intuito de constituir uma família.
O afeto faz surgir um sentimento de solidariedade entre os irmãos
biológicos e adotivos, ultrapassando qualquer interesse patrimonial, para Maria Berenice Dias
(2010,p. 71), o afeto é:
[...] o salto à frente da pessoa humana nas relações familiares, como diz Paulo Lôbo,
que identifica na Constituição quatro fundamentos essenciais do princípio da
afetividade (a) a igualdade de todos os filhos independentemente da origem (CF 227
§6.º); (b) a adoção, como escolha afetiva com igualdade de direitos (CF 227 §§5.º e
6.º); (c) a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, incluindo
os adotivos, com a mesma dignidade da família (CF 226 §4.º); e (d) o direito à
convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do adolescente (CF 227).
15
Os laços de afeto derivam da convivência, do respeito, da admiração entre
as pessoas, portanto o afeto também se encontra presente na comunhão plena de vida no
casamento, por mais complexa que seja a relações familiares na atualidade, são construídas
em cima do afeto, solidariedade, respeito, perdão. Por isso, que a sua ausência é um dos
embasamentos do direito de dissolução da sociedade conjugal.
Logo, o princípio da afetividade talvez seja a base, o indicador, no direito de
família, e dele derivam o dever de lealdade e de cooperação recíproca.
1.1.3 Princípio da Liberdade
A liberdade integra o princípio da dignidade da pessoa humana, e só
existindo em conjunto com a igualdade, posto que é necessário a esta para que não ocorra
domínio, sujeição, restringindo totalmente a liberdade. E este é o papel do Direito, garantir,
ordenar e limitar as liberdades.
A Constituição assegura a liberdade no âmbito da entidade familiar, quando
dá direito a pessoa de escolher seu parceiro, bem como o livre-arbítrio de escolher a espécie
de família que construirá, e a forma de constituição da família, por exemplo. Fez isso quando
reconheceu a união estável como entidade familiar, quando ampliou as espécies de família
abrangendo a monoparental, formada por um dos pais com seus filhos.
Por meio da liberdade, a pessoa pode decidir se divorciar, pode optar pela
união estável ou casamento, pode decidir seu planejamento familiar, escolher o regime de
bens mais conveniente, a livre conduta em escolher a religião, o modelo de formação
educacional e cultural da prole, não se afastando em momento algum do respeito à integridade
física e moral de cada componente do seio familiar.
É por isso, que o princípio da liberdade não se traduz em livre-arbítrio para
a pratica do que bem entender, de certa forma tal liberdade é limitada a dignidade da pessoa
humana, quem defende tal ideia é Olney Queiroz Assis e Márcia Freitas (2007, p.54):
Enfim, no Direito de Família, o princípio da liberdade não implica uma vontade
totalmente livre para fazer ou deixar de fazer qualquer coisa. A autonomia da
vontade, de algum modo, é condicionada pelas leis estatais e pelas práticas sociais.
Como já se disse, as leis e as práticas sociais não podem, entretanto, ser jamais
atentatórias à dignidade da pessoa humana.
16
Com isso, resume-se que o princípio da liberdade deve observância ao
princípio da dignidade da pessoa humana, e que o Estado irá intervir na entidade familiar,
apenas para garantir os recursos educacionais, sociais e científicos necessários ao exercício
amplo de tais direitos.
1.1.4 Princípio da Pluralidade Familiar
Anteriormente o ordenamento jurídico apenas reconhecia como entidade
familiar o casamento, consequentemente só existiam normas de proteção a ele. Para tanto
nasceu tal princípio, para trazer o reconhecimento e proteção às demais formas de constituir
uma família.
As demais formas de união eram vistas como sociedades de fato e eram
tratadas pelo instituto do direito obrigacional.
1.1.5 Princípio da Igualdade
Previsto no artigo 5º da Constituição Federal, está entre os principais da lista
de direitos e garantias individuais, trazendo a obrigação de sua observância em todo o
ordenamento jurídico.
O princípio da igualdade é uma forma de proibir que o legislador crie
normas que promovam a desigualdade, sendo ao mesmo tempo uma forma de permitir a
criação de políticas públicas voltadas a solução de desigualdades reais ainda existentes.
No que tange ao direito de família, prevê a igualdade entre homens e
mulheres dentro da sociedade conjugal, artigo 226 §5.º da Constituição Federal, e até no
Código Civil em seu artigo 1.511.
Com o advento de tal princípio a figura do patriarca, o homem que comanda
a família, desapareceu, transformando as decisões unitárias em decisões de comum acordo,
não existindo mais a submissão da mulher ao marido.
Os papéis dentro do casamento se tornaram equivalentes, o planejamento
familiar é feito pelos dois, a responsabilidade pela direção da família tornou-se obrigação de
ambos. Sendo assim, ambos tanto o homem como a mulher possuem o poder familiar.
17
Além da igualdade entre cônjuges e companheiros, a Constituição prevê a
igualdade entre os filhos, no seu artigo 227, §6.º, trouxe que não pode haver qualquer
discriminação no campo da filiação, veja o que diz Olney Queiroz Assis e Márcia Freitas
(2007, p.51):“Em síntese, a igualdade jurídica dos filhos implica: a) vedação discriminatória
relativa à filiação; b) proibição de distinção entre filhos legítimos, naturais e adotivos, quando
ao nome, direitos, poder familiar, alimentos e sucessão; c) permissão para o reconhecimento
de filhos havidos fora do casamento”.
Por fim, por mais que na realidade existam diferenças, o ordenamento
nasceu para acabar com as mesmas, tratando de forma igual os que assim devem ser tratados
ou tratando de forma diferente para conseguir na realidade uma igualdade, ideia esta trazida
por Paulo Lôbo (2010, p. 60):
A igualdade e seus consectários não podem apagar ou desconsiderar as diferenças
naturais e culturais que há entre pessoas e entidades. Homem e mulher são
diferentes; pais e filhos são diferentes; criança e adulto ou idoso são diferentes; a
família matrimonial, a união estável, a família monoparental e as demais entidades
familiares são diferentes. Todavia, as diferenças não podem legitimar tratamento
jurídico assimétrico ou desigual, no que concernir com a base comum dos direitos e
deveres, ou com o núcleo intangível da dignidade de cada membro da família.
Contudo se vislumbra, que não se pode haver distinção no direito de família,
nem hierarquização, dentro do Direito de Família, entre marido e mulher, entre filhos e entre
maneiras de se constituir família.
1.2 Noivado, promessa de casamento, esponsais.
1.2.1 Origem
O termo esponsais teve origem no Direito Romano, sendo um contrato
verbal, denominado sponsio que servia como uma promessa entre duas pessoas de casamento
futuro.
Tal compromisso era feito com consentimento dos pais na presença dos
parentes e amigos, firmado pelo anel dado pelo noivo à noiva. Caso ocorresse o rompimento
desse compromisso permitia-se o ingresso com uma ação de perdas e danos, chamada de actio
de sponsu.
18
Já nas Ordenações Portuguesas o noivado transformava-se em escritura
pública gerando a obrigação alternativa de casar ou pagar certa indenização.
Quanto ao Brasil, foi na lei de 06 de outubro de 1784 (anexo I) e inserção na
Consolidação das Leis Civis, artigos 76 e seguintes, que surgiu a terminação esponsais.
Tratava-se de um contrato no qual o homem e a mulher assumiam o dever
de contrair matrimônio, com estipulação de condições e prazos, sendo escrito e formalizado
por escritura pública, caso fosse por instrumento particular tinha o prazo de validade de um
mês, decorrido tal prazo e não cumprido ou não transformado em escritura pública, perdia sua
eficácia.
Ocorrendo o descumprimento por uma das partes era possível, a vítima
ingressar com uma ação visando o cumprimento do compromisso ou uma indenização.
No Código Civil de 1916 a questão dos esponsais foi tratada como uma
interpretação do artigo 1.548, que previa o direito da mulher receber um dote no caso de ser
iludida com uma promessa de casamento, tendo o agente não reparado o dano pelo
casamento.
O atual Código Civil nada fala a respeito, entendendo que deva ser tratado
no campo da responsabilidade civil. Embora nosso diploma civil seja omisso acerca do tema,
o ilustre professor Silvio de Salvo Venosa (2011, p. 33):
[...] O negócio jurídico do casamento somente é concluído no momento da
celebração. Até lá, existe mera promessa. Importa saber seus respectivos efeitos
jurídicos. O Código Civil brasileiro anterior e o de 2002 não trataram expressamente
da questão, o que não significa que a matéria seja estranha ao nosso Direito, pois
não há proibição expressa, como ocorre em outras legislações. O Direito Canônico
sempre atribuiu relevância aos esponsais, mostrando-se zeloso para o fiel
cumprimento do compromisso nupcial. No Direito pré-codificado, os esponsais
tinham a natureza contratual cujo inadimplemento gerava possibilidade de
indenização.
Dessa forma, percebe-se que o termo em estudo vem de tempos atrás e seu
significado nada mais é do que noivado ou ainda promessa de casamento e que nos tempos
antigos seu descumprimento, ou seja, a não concretização do casamento, gerava certa
indenização para a parte que descumprisse o pactuado. Atualmente, não temos a previsão
desse instituto no nosso Diploma Civil o que obrigou a se utilizar de outro instituto para
resolver os entraves o envolvendo, tal instituto é o da responsabilidade civil, quanto ao
rompimento, será melhor abordado no próximo subtítulo.
19
1.2.2 Validade
No quesito validade se discute se seria legítimo um contrato-promessa de
casamento.
Conforme demonstrado anteriormente, antigamente o noivado chegou a ser
feito por escritura pública que gerava direito a indenização, diversamente do que ocorre hoje,
em que o noivado não possui sequer previsão no atual Código.
O fato de não haver previsão, não se trata de erro do legislador, mas sim de
um silêncio proposital, pois qualquer disposição no Código prevendo sanção a ruptura de um
noivado retiraria a liberdade de escolha do companheiro.
Ora, como um dos pressupostos do casamento é a vontade livre e consciente
de contrair matrimônio, de tal forma que o artigo 1.535 do Código Civil explicita que na
celebração do casamento deve haver a afirmação dos noivos que pretendem se casar por livre
e espontânea vontade, não se pode realmente haver nenhum dispositivo sancionando a
desistência de um noivado, pois assim estar-se-ia se restringindo a livre manifestação de
vontade, de forma que o nubente estaria sendo obrigado a se casar para cumprir a promessa de
casamento, inibindo sua total liberdade de escolha.
É por isso, que não se pode obrigar a cumprir uma promessa de casamento,
porém, nem por isso seu ato deverá ficar impune, essas são as palavras de Carvalho Neto
(2002, p. 468):
Mas, se não é possível se obrigar aquele que prometeu casamento a cumprir sua
promessa, nem por isso seu ato ficará completamente impune. É possível que o
promitente faltoso seja obrigado a indenizar danos causados em função do
descumprimento.[...].
Dessa forma, muito embora não se possa obrigar o nubente a cumprir com a
promessa de casamento, não seria justo à outra parte ter rompida tal promessa contra a sua
vontade e nada poder fazer contra o promitente que injustificadamente desistiu das núpcias,
uma indenização seria maneira minimamente eficaz para punir tal ato, mesmo que tal
indenização sirva apenas para um consolo material o que jamais poderá reparar os estragos
feitos com a quebra por parte do faltoso.
20
1.2.3 Natureza jurídica
Justamente pelo fato de existir uma plena liberdade de escolha do nubente
até o momento da celebração do casamento, se tem uma dificuldade em definir se o noivado
seria um negócio jurídico ou uma relação de fato.
Em relação, ao noivado ser um negócio jurídico, inúmeras são as objeções
opostas, sendo uma delas o fato de o negócio jurídico ter como característica a vinculação da
partes ao objeto convencionado, o que vai totalmente contra o instituto do casamento.
Olhando rapidamente a ideia da promessa de casamento, a primeira
impressão é que a mesma deve ser tratada no campo do direito obrigacional, o que na visão de
Sílvio de Salvo Venosa (2011, p. 34) seria de forma equivocada, veja:
Vimos que o casamento-ato é um negócio jurídico e o casamento-estado é uma
instituição. Evidentemente, a promessa de casamento não pertence ao campo
obrigacional, não tendo cunho patrimonial. Em se tratando de ato pessoal de direito
de família, não é possível a execução específica da promessa de emissão de vontade
e adesão à instituição do matrimônio, porque essa ideia conflita com a liberdade
individual. O Código português refere-se expressamente a essa proibição . Como tal,
a frustração culposa da promessa de concluir esse negócio deve ser indenizada na
medida que dispõe o ordenamento a respeito dos lucros cessantes e dos danos
emergentes: o que efetivamente se perdeu e o que razoavelmente se deixou de
lucrar.
Por isso, que a doutrina dominante trata as consequências da ruptura do
noivado com extracontratuais, sendo defensor entre estes, além de Venosa como visto acima,
Maria Helena Diniz “a quebra da promessa esponsalícia tem apenas o efeito de acarretar
responsabilidade extracontratual, dando lugar a uma indenização por ruptura injustificada”
(2007, p. 182).
O noivado é, portanto, um compromisso assumido pelos noivos que
pretendem se casar, perante a sociedade. Sendo apenas uma vínculo emocional, ético, não
formalizado por contrato algum, é por isso que não se pune o fato de não se ter cumprido a
proposta, a ponto de fazer desta uma obrigação que deveria ser cumprida. O que não se
admite é o comportamento de romper injustificadamente um noivado, de forma que acabe
causando dano ao outro noivo. È o sustentado por Carvalho Neto (2002, p. 470):
Na realidade a lei não pune a violação da promessa, mas somente o comportamento
do promitente que recusa contrair casamento. E o atinge com efeitos que não
representam o reconhecimento de uma vontade contida na promessa, mas, ao
21
contrário, representam a sua antítese. Quem sofre o rompimento pode pedir
restituição e indenização: mas não era isso que queria quando ocorreu a promessa.
Nessa linha de entendimento, percebe-se que a ruptura do noivado acarreta
conseqüências jurídicas, no âmbito extracontratual, sendo resolvido no instituto da
responsabilidade civil, seria uma indenização pelo comportamento negativo de um dos
nubentes, apenas um ressarcimento pelos prejuízos causados devido a tal comportamento, não
se tratando do descumprimento de uma obrigação.
1.2.4 Rompimento
Como já foi tratado, em leis anteriores, o descumprimento da promessa de
casamento gerava o dever de indenizar ou a obrigação de se casar, na atualidade o tema
passou a ser tratado no âmbito da responsabilidade civil, devendo ser analisando caso a caso a
necessidade de uma indenização.
Geralmente o descumprimento de uma promessa gera automaticamente o
dever de indenizar, no caso a promessa certa de casamento futuro, que acabou até suscitando
em compra de um imóvel em conjunto, deslocamento da sua cidade para a cidade do noivo,
abandono do emprego (algumas vezes imposta pelo noivo, outras vezes como forma de
acompanhar o mesmo), rompida injustificadamente por uma das partes, deveria ao certo gerar
o dever de indenizar. Sem contar os danos psicológicos gerados devido a ruptura, que podem
ocasionar ao certo danos morais.
Como o casamento atualmente só acontece se for de livre e espontânea
vontade, pois ninguém esta obrigado a contrair matrimônio, surge certa discussão sobre o
cabimento ou não de indenização da ruptura do noivado.
Segundo Maria Helena Diniz (2009, p. 46) se tem uma boa parte de autores
que apóiam o cabimento da reparação dos danos causados pelo rompimento:
A grande maioria dos civilistas, dentre eles Barassi, Bianchi, De Ruggiero , Cicu,
Jemolo, Lopez Herrera, entende que no moderno direito civil a promessa
esponsalícia não cria nenhum vínculo de parentesco nem de família entre os noivos,
nem entre cada um deles e os consanguíneos do outro, nem mesmo faz surgir
impedimentos matrimoniais, tendo unicamente, o efeito de acarretar
responsabilidade extracontratual, dando lugar a uma ação de indenização por ruptura
injustificada. Pois, como pondera Jemolo, a atitude impudente, tola ou malvada, de
estabelecer esponsais, despertando a confiança de um próximo matrimônio a tal
ponto que uma pessoa realize despesas com vistas a esse fim, e de retira-se depois
22
sem motivo plausível, caracteriza uma atitude culposa e causadora de prejuízos; daí
a obrigação de reparação.
Por se tratar o assunto à luz do artigo 186 do Código Civil, alguns autores
trazem certos requisitos necessários para a configuração da responsabilidade pela ruptura do
noivado. Tais como a promessa deve partir do próprio nubente, a ruptura do noivado deve ser
injustificada, e deve ter causado certo dano. Nessa linha de pensamento se tem Maria Helena
Diniz (2009, p. 47) trazendo quatro requisitos:
a) Que a promessa de casamento tenha sido feita, livremente, pelos noivos e não por
seus pais [...] b) Que tenha havido a recusa de cumprir a promessa esponsalícia por
parte do noivo arrependido e não de seus genitores, desde que esta tenha chegado ao
conhecimento da outra parte. Tal ruptura deve ser clara e expressa, embora nada
impeça que seja tácita, quando o comportamento do noivo seja de tal monta que leve
a noiva a crer que há vontade de romper o compromisso [...]; c) Que haja ausência
de motivo justo, dando ensejo à indenização do dano, uma vez que, neste caso, não
há responsabilidade alguma se não houver culpa [...], d) Que exista dano, pois
comumente, o desfazimento dos esponsais traz repercussões psicológicas,
pecuniárias e morais [...].
Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 67) menciona as palavras de
Washington de Barros Monteiro que enumera apenas três requisitos para o cabimento da
responsabilidade, sendo estes:
a) Que a promessa de casamento tenha emanado do próprio arrependido, e não de
seus genitores; b) que o mesmo não ofereça motivo justo para retratar-se,
considerando-se como tal, exemplificativamente, a infidelidade, a mudança de
religião ou de nacionalidade, a ruína econômica, a moléstia grave, a condenação
criminal e o descobrimento de defeito físico oculto durante o noivado; c) o dano.
A jurisprudência também aplica a necessidade do preenchimento de tais
requisitos para o cabimento da indenização, abaixo se traz a exemplo a jurisprudência do
Tribunal de Justiça de São Paulo que não concede a indenização devido o noivado não ter
sido rompido inesperadamente por um dos noivos:
TJSP, APELAÇÃO CÍVEL 4756334300
Ementa: Ação de indenização por danos materiais e morais. Rompimento de
noivado. Ausência de comprovação de abrupto e unilateral término da relação.
Indicativo na prova de que a relação terminou por consenso mútuo. Inexistência,
ademais, de cerimônia de casamento agendada e distribuição de convites. Fim do
relacionamento que importou em mero aborrecimento, sem status de lesão moral
indenizável. Danos materiais. Realização de despesas suportadas em prol do
patrimônio dos noivos. Pagamentos realizados pela autora. Comprovação. Pretensão
de elevação repelida. Juros de mora. Incidência a partir da citação. Aplicação do
disposto no artigo 219 do Código de Processo Civil. Apelo da autora improvido,
com parcial acolhimento do recurso intentado pelo réu. (Apelação com Revisão
23
4756334300, Relator(a): Donegá Morandini, Comarca: Jundiaí, Órgão julgador: 3ª
Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 11/03/2008, Data de registro:
24/03/2008).
Preenchido tais requisitos resta dirimir a dúvida quanto à extensão do dano
indenizável, neste ponto a doutrina se divide em aqueles que defendem o cabimento da
indenização por dano moral e patrimonial e parte que defende apenas o cabimento da
indenização por dano patrimonial.
Entre os autores que defendem o cabimento do dano moral encontramos
Maria Helena Diniz (2007, p. 183), ao afirmar que deve ser ressarcido não somente os gastos
com o futuro casamento como a lesão à moral do noivo repudiado.
Com o mesmo entendimento segue-se Silvio Rodrigues ao apoiar o
cabimento da indenização por dano moral, tendo como único requisito o rompimento injusto
do noivado (2007,p. 40):
A meu ver, repito, desde que haja rompimento injusto do noivado-e esse é o
requisito básico para que a demanda possa prosperar-, pode o prejudicado, a
despeito do silêncio da lei, reclamar a indenização do prejuízo experimentado.
Entendo ademais que, em face do rompimento injustificado do noivado, poderá o
juiz, igualmente, fixar uma indenização moderada para a reparação do dano moral.
Não distante se tem Carlos Roberto Gonçalves, defendendo o cabimento “se
o arrependimento for imotivado, além de manifestado em circunstâncias constrangedoras e
ofensivas à sua dignidade e respeito (abandono no altar ou negativa de consentimento no
instante da celebração), o direito à reparação do dano moral parece-nos irrecusável” (2007,p.
70).
Na visão de Venosa (2011, p. 34) a indenização por danos morais cabe a
depender do caso concreto:
[...] Por outro lado, no cômputo da indenização desse jaez, é forte o conteúdo
emocional a possibilitar a indenização por danos morais. A constituição de 1988
admitiu expressamente a indenização por dano moral (art. 5°, X), no que foi seguida
pelo artigo 186 do atual Código. O mais dependerá do caso concreto. O nubente que
se veja frustrado com o abandono do outro às portas da igreja ou do local da
celebração, aquele que responde “não” no momento da cerimônia, o que se casa com
outra pessoa na mesma época que fizera a promessa a outrem etc. são situações
extremas que inelutavelmente ensejariam uma reparação por danos morais[...].
Perante, tais ponderações se faz mister o cabimento dos danos morais, no
caso do rompimento injustificado do noivado gerar um dano ao noivo abandonado, conforme
aduz Moura Bittencourt, citado por Maria Helena Diniz (2009, p. 49):
24
[...] Para melhor esclarecer esta questão convém trazer à colação o fato lembrado por
Edgard de Moura Bittencourt, ocorrido em León, Espanha, em que um rapaz,ao ser
interrogado se era de sua livre e espontânea vontade receber a noiva como legítima
esposa , disse: “ Bem, para ser franco, não!”. Assim respondeu e retirou-se da igreja,
deixando a moça desmaiada, e atônita a alta sociedade que se comprimia no templo.
Essa noiva veio a sofrer, além da perda do noivo, uma humilhação pública. Para
Moura Bittencourt o noivo não seria punido civilmente pelo rompimento da
promessa, mas pelo dano moral quando este se converte em prejuízos materiais. É
direito seu reconsiderar a escolha da esposa, mas é obrigação fazê-lo de forma
discreta, sem ofensa, nem injúria. Por agir de modo cruel, continua ele, e abusivo,
por isso e não pelo arrependimento, é que deve pagar.
No caso trazido pelo renomado autor, a forma como o noivado foi rompido
é o motivo que enseja o dano moral, não havia a necessidade de um rompimento agressivo
assim, na frente de tantas pessoas, ensejando em humilhação pública ao noivo abandonado.
Contudo, se leva a crer que a indenização não provém pura e simplesmente
da ruptura, mas sim como uma forma de punir o noivo que enganou, iludiu, criou toda uma
áurea de expectativa de uma casamento futuro, fez o outro desistir de planos e ao final acaba
com tudo do nada, por que não terminou com tudo antes? Precisava esperar chegar a tal ponto
de beirar o altar? E precisa fazer isso de forma que humilhe a outra pessoa?
É por isso que a indenização não envolve o fato do direito de escolha do
parceiro, trata-se de uma solução justa aquele que teve sua dignidade ferida, sua moral
O Tribunal de Justiça do Paraná reconheceu todos os desprazeres causados
por rompimento abrupto, poucos dias antes do casamento e injustificado, causando lesões
psicológicas e constrangimentos perante a sociedade.
TJPR APELAÇÃO CÍVEL 0330981-5
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AGRAVO RETIDO. NÃO CONHECIMENTO.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ROMPIMENTO DE PROMESSA DE
CASAMENTO. RUPTURA INJUSTIFICADA. DANOS MATERIAIS. NÃO
CONHECIMENTO DO RECURSO NESTA PORÇÃO. DANOS MORAIS.
CONFIGURAÇÃO. REDUÇÃO DO QUANTUM. HONORÁRIOS. EXEGESE
DO ART. 20, §3º, DO CPC. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Não se
conhece de agravo retido se não reiterado o pedido de seu julgamento nas razões ou
contra-razões de apelação (art. 523, §1º, CPC). 2. Evidenciadas circunstâncias
gravemente injuriosas para a nubente em razão do rompimento da promessa de
casamento, não há como afastar-lhe do direito à indenização almejada, sendo certo
que o art. 5º, inc. X, da Constituição Federal, garante o direito à reparação de danos
materiais e morais nas hipóteses de ofensa aos direitos de personalidade. 3. Tendo
em conta que os danos materiais, representados pelos gastos realizados em prol do
casamento, não foram desconstituídos por prova em sentido contrário, devem ser
ressarcidos à nubente abandonada. 4. Os danos morais não reclamam prova robusta
e são inferidos das circunstâncias do caso concreto, estando eles representados na
dor, na vergonha ou qualquer outra sensação que cause sofrimento à pessoa. Sem
dúvida que o comportamento daquele que rompe injustificadamente o noivado,
poucos dias antes da data marcada para o enlace e após serem realizados todos os
preparativos para o evento, provoca dor, tristeza e sofrimento para a
25
noiva,acarretando a perda de sua auto-estima e, principalmente, fazendo-a passar por
constrangimentos e humilhações perante seus convidados, amigos e familiares, além
do trauma emocional em virtude da ruptura da convivência, motivo pelo qual
subsiste o dever de indenizar. 5. Na fixação do dano moral, deve o magistrado levar
em conta critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendidas as condições do
ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, não podendo constituir fonte de
enriquecimento ilícito e tampouco representar valor ínfimo que não sirva como
forma de desestímulo ao agente. Em razão das peculiaridades do caso em tela,
impõe-se a redução do valor fixado pelo juízo monocrático. 6. Observados os
critérios indicados no art. 20, §3º, do CPC, não há que se falar em redução do
percentual arbitrado para os honorários advocatícios. (TJPR - 8ª C.Cível - AC
0330981-5 - Foro Regional de Fazenda Rio Grande da Região Metropolitana de
Curitiba - Rel.: Des. Macedo Pacheco - Unanime - J. 06.07.2006).
Por outro lado, encontra-se parte da doutrina que defende o não cabimento
da indenização do por danos morais, aceitando a indenização apenas no que tange aos danos
materiais, se pautando na ideia que o noivado é apenas um compromisso moral e perante a
sociedade demonstrando a intenção de se casarem e tal compromisso pode ser desfeito a
qualquer momento e os sentimentos gerados da quebra do compromisso não podem
comportar dano moral.
Defensora de tal corrente se encontra Maria Berenice Dias, (2010, p. 123):
Com o fim do noivado, cabe tão só buscar os danos materiais, competindo à parte
demonstrar circunstâncias prejudiciais em face das providências porventura tomadas
em vista da expectativa do casamento. Não se indenizam lucros cessantes, mas os
prejuízos diretamente causados pela quebra do compromisso, a outro título que não
o de considerar um casamento como um negócio, uma forma de obter lucro ou
vantagem.
Na visão da supracitada autora, o rompimento do noivado não pode servir
como meio de se ganhar dinheiro, não se pode lucrar pelo fato de desfazer o noivado, pois isto
é de certa forma autorizado por lei.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul se posiciona neste sentido, não
reconhecendo o dano moral por entender ser fatos da vida se ter decepções, ou pelo fato do
noivo abandonado não ter sofrido humilhações.
TJRS, Apelação Cível 70012349718
EMENTA: DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ROMPIMENTO DE NOIVADO
PROLONGADO. 1. Não se pode desconhecer que inúmeros fatos da vida são
suscetíveis de provocar dor, de impor sofrimento, nem se olvida que qualquer
sentimento não correspondido pode produzir mágoas e decepção. E nada impede que
as pessoas, livremente, possam alterar suas rotas de vida, quer antes, quer mesmo
depois de casadas. 2. Descabe indenização por dano moral decorrente da ruptura,
quando o fato não é marcado por episódio de violência física ou moral e também
não houve ofensa contra a honra ou a dignidade da pessoa. 3. Não tem maior
relevância o fato do namoro ter sido prolongado, sério, ter havido relacionamento
26
próximo com a família e a ruptura ter causado abalo emocional, pois são fatos
próprios da vida. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70012349718, Sétima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos
Chaves, Julgado em 07/12/2005)
A discussão a respeito do tema está longe de acabar, cabendo a cada caso
concreto ser analisado se será cabível ou não. Mas se torna provável o cabimento dos danos
morais quando a ruptura do noivado foi algo inesperado e essa ruptura trouxe um dano ao
outro, dano este causado as vezes pela forma humilhante em que o outro rompeu.
1.2.5 Distinção para eventual contrato de namoro
Contrato de namoro apareceu na atualidade como uma maneira de se afastar
eventual reconhecimento de união estável. O Código Civil de 2002 trouxe como união estável
a convivência publica, longa e duradoura entre duas pessoas visando constituir família.
Como hoje em dia o namoro se tornou algo mais sério, chegando a dividir
apartamento, ficou difícil haver uma separação entre união estável e namoro. Foi diante dessa
problemática que nasceu o chamado contrato de namoro.
Na visão de Pablo Stolze Gagliano (2006, p. 01), o contrato de namoro é
nulo, afinal não se tem como antever nada nas relações afetivas:
Trata-se, pois, de contrato nulo, pela impossibilidade jurídica do objeto.
Lembre-se, ademais, em abono de nosso pensamento, que a Lei n. 9278 de 1996
teve alguns de seus artigos vetados pelo Presidente da República exatamente porque
se pretendia admitir a "união estável contratual", em detrimento do principio
segundo o qual a relação de companheirismo seria um fato da convivência humana e
que não poderia ser previamente discutida pelas partes em um contrato.
O que é possível, sim, ressalve-se, é a celebração de um contrato que regule aspectos
patrimoniais da união estável – como o direito aos alimentos ou à partilha de bens -,
não sendo lícita, outrossim, a declaração que, simplesmente, descaracterize a relação
concubinária, em detrimento da realidade.
Sendo nulo tal contrato não há o que se falar em efeitos, todavia o tema aqui
tratado aborda questões relacionadas ao noivado, promessa de casamento feita perante a
sociedade e já foi demonstrado anteriormente que o noivado não se trata de contrato e por isso
o seu rompimento passa a ser discutido no âmbito da responsabilidade civil.
27
Contrato de namoro nada tem a ver com noivado, posto que aquele serve
para afastar reconhecimento de futura união estável e este é apenas uma promessa de
casamento, não se fazendo um contrato solene.
Até mesmo porque, caso se reconheça a validade de eventual contrato de
namoro este se resolverá perante o direito obrigacional.
Portanto, além de terem finalidades diversas, ambos são diferentes na
composição (contrato de namoro é solene, noivado promessa feita perante uma sociedade).
Por isso, não se pode confundir contrato de namoro com promessa de casamento.
28
II - RESPONSABILIDADE CIVIL
A legislação brasileira não disciplinou a respeito dos esponsais, como já
fora dito no capítulo anterior, restando à doutrina esclarecer a respeito do instituto que irá
solucionar os conflitos gerados pela ruptura do noivado. Assim, os doutrinadores optaram
que a ruptura deve ser regida pelas leis do ato ilícito, ou seja, pela responsabilidade civil.
A respeito do tema se encontra o renomado autor Yussef Said Cahali (2011,
p. 568), lecionando que ante a ausência de legislação, cabe ao instituto do ato ilícito
solucionar o rompimento da promessa de casamento:
Como é sabido, nosso legislador civil houve por bem não disciplinar os esponsais
como instituto autônomo, divergindo sob esse aspecto dos diplomas legais
alienígenas; optou-se, conforme assinalaram os doutrinadores, por deixar a
responsabilidade civil pelo rompimento da promessa sujeita à regra geral do ato
ilícito.
Nas palavras ditas acima por Yussef se retira também a ideia de que
algumas legislações estrangeiras disciplinaram a respeito do tema, mencionando inclusive que
se chegou a considerar os esponsais como um contrato, conforme dispõe Rui Stoco, ao citar
Eduardo Espínola, (2007, p. 898):
Eduardo Espínola mostrou que os institutos dos esponsais esteve disciplinado em
várias legislações modernas, havendo algumas que o consideraram verdadeiro
contrato, cujo o inadimplemento produz a obrigação plena de indenizar ( Códigos
Civis alemão e suíço, leis escandinavas e direito anglo-americano). Outras não o
trataram como um contrato, mas atribuíram à parte repudiada uma indenização
(Códigos Civis austríaco, espanhol, holandês, italiano, grego, mexicano, peruano,
português e venezuelano). Os Códigos Civis brasileiro, francês e romeno
silenciaram completamente a respeito, enquanto outros, como argentino, o chileno, o
colombiano e o uruguaio, expressamente negaram-lhe qualquer efeito.
E ante a concepção de que cabe ao instituto da responsabilidade civil
resolver a respeito da ruptura injustificada do noivado, irá se discorrer no presente capítulo o
instituto responsabilidade civil.
29
2.1 Origem da Responsabilidade Civil
O instituto responsabilidade civil, como bem se sabe, não é algo que nasceu
na atualidade, de modo que nos primórdios da humanidade a simples produção de um dano
resultava em uma imediata reação violenta por parte do ofendido, o que acabou culminando
na lei do Talião com o famoso “olho por olho” era a reparação do mal pelo mal, conforme se
resolvia naquela época, com violência, e sem verificar se houve culpa ou não, sendo uma
responsabilidade objetiva.
Com o avanço das civilizações a justiça com as próprias mãos passou a ser
vedada pelo legislador, passando a existir a composição entre o autor do dano e o prejudicado,
de forma que aquele pagaria certa quantia.
Mas a reparação do dano por meio de prestação pecuniária se firmou mesmo
na Lei Aquília, sendo base para a responsabilidade extracontratual e finalmente começando a
analisar o fator culpa, a respeito dela Maria Helena Diniz (2007, p. 11) alude que:
A Lex Aquilia de damno veio cristalizar a ideia de reparação pecuniária do dano,
impondo que o patrimônio do lesante suportasse o ônus da reparação, em razão do
valor da res, esboçando-se a noção de culpa como fundamento da responsabilidade,
de tal sorte que o agente se isentaria de qualquer responsabilidade se tivesse
procedido sem culpa. Passou-se a atribuir o dano à conduta culposa do agente. A Lex
Aquilia de damno estabeleceu as bases da responsabilidade extracontratual, criando
uma forma pecuniária de indenização do prejuízo, com base no estabelecimento de
seu valor. Esta lei introduziu o damnum iniuria datum, ou melhor, prejuízo causado
a bem alheio, empobrecendo o lesado, sem enriquecer o lesante.
Contudo percebe-se que não se tem ainda uma nítida separação entre
reparação civil e penal, tendo um pequeno aparecimento no direito romano, onde tal
composição possuía a característica de pena privada e reparação, conforme leciona Carlos
Roberto Gonçalves a discorrer a respeito da diferença entre pena e reparação, veja (2003, p.
05):
A diferenciação entre pena e a reparação, entretanto, somente começou a ser
esboçada ao tempo dos romanos, com a distinção entre os delitos públicos (ofensas
mais graves, de caráter perturbador da ordem) e os delitos privados. Nos delitos
públicos, a pena econômica imposta deveria ser recolhida aos cofres públicos, e, nos
delitos privados, a pena em dinheiro cabia à vítima.
Afinal foi com a definição de dolo e de culpa strictu sensu, na época da
idade média onde finalmente se conseguiu uma distinção entre responsabilidade civil e pena.
30
E foi no direito francês que se estabeleceu os princípios gerais, os
pressupostos da responsabilidade civil, influenciando as demais legislações.
2.2 Conceito de responsabilidade civil
O conceito de responsabilidade civil não é bem definido pela doutrina, a
razão para tanto seria a diversidade de atos humanos que podem ser abrangidos pela
responsabilidade, essa são as palavras de José Aguiar Dias a respeito do tema (2006, p. 03):
“toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da responsabilidade. Isso
talvez dificulte o problema de fixar o seu conceito, que varia tanto como os aspectos que pode
abranger, conforme as teorias filosóficas-jurídicas”
Por isso que na visão de alguns autores o conceito se baseia na reparação de
uma ação ou omissão que causou injustamente um dano, diferente de responsabilidade
penal,essa é basicamente a ideia de Plácido e Silva (1998, p. 713):
È a expressão usada na linguagem jurídica, em distinção à responsabilidade penal.
Designa a obrigação de reparar o dano ou de ressarcir o dano, quando injustamente
causado a outrem. Revela-se, assim, ou melhor, resulta da ofensa ou da violação de
direito, que redunda em dano ou prejuízo a outrem. Pode ter como causa a própria
ação ou o ato ilícito, como , também, o fato ilícito de outrem, por quem, em virtude
de regra legal, se responde ou se é responsável.
Já Maria Helena Diniz, também menciona no conceito de responsabilidade
civil basicamente a mesma ideia de Plácido e Silva, porém acrescenta a ideia de culpa ou não
na produção do ato ilícito, (2007, p. 34):
Com base nessas considerações poder-se-á definir a responsabilidade civil como a
aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial
causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele
responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples
imposição legal. Definição esta que guarda em sua estrutura, a ideia da culpa quando
se cogita da existência do ato ilícito (responsabilidade subjetiva), e a do risco, ou
seja, da responsabilidade sem culpa (responsabilidade objetiva).
E por tudo exposto, chega-se a conclusão que responsabilidade civil é
reparação de um dano, tanto no aspecto patrimonial como no moral, que atingiu um terceiro.
Essa reparação será feita tanto por aquele que causou o dano como também por aquele que
31
tinha a obrigação de cuidar daquele que gerou o dano. Não se esquecendo de que se pode
responder pelo dano causado por culpa como também sem culpa.
2.3 Espécies de Responsabilidade Civil
Como todo objeto em estudo, após se conhecer sua origem histórica e seu
conceito, nada mais justo seria demonstrar a sua classificação, suas espécies. E na visão de
Maria Helena Diniz (2007, p. 126) a responsabilidade civil possui três, conforme o ângulo que
se analisa. Se o ângulo for seu fato gerador, a responsabilidade poderá ser contratual ou
extracontratual.
Contratual é aquela oriunda do inadimplemento ou da mora no
cumprimento de um contrato, de um negócio jurídico que pode ser bilateral ou unilateral, feito
pela vontade livre dos contratantes, as palavras de Maria Helena Diniz traduzem bem o que
seria a responsabilidade contratual (2007, p. 127):
Quando ocorre o inadimplemento do contrato, não é a obrigação contratual que
movimenta a responsabilidade, uma vez que surge uma nova obrigação que se
substitui à preexistente no todo ou em parte: a obrigação de reparar o prejuízo
consequente à inexecução da obrigação assumida. A responsabilidade contratual é o
resultado da violação de uma obrigação anterior, logo, para que exista é
imprescindível a preexistência de uma obrigação.
No caso da extracontratual ou aquiliana, é a pratica de um ato ilícito, as
pessoas não estão ligadas por nenhuma obrigação ou contrato, no caso em questão é a lesão a
um direito que acarreta essa responsabilidade. Para Maria Helena Diniz, a quebra da promessa
de casamento é uma responsabilidade extracontratual, essas são suas palavras (2007, p. 182):
[...] Não há obrigação legal de cumprir os esponsais e muito menos autorização
normativa para propor qualquer ação para cobrança de multa contratual em caso de
sua inexecução. Nada há que obrigue um promitente a respeitar seu
comprometimento matrimonial. A quebra da promessa esponsalícia tem apenas o
efeito de acarretar responsabilidade extracontratual, dando lugar a uma ação de
indenização por ruptura injustificada[..]
Agora se o ângulo a ser analisado é em relação ao fundamento da
responsabilidade civil, a responsabilidade poderá ser subjetiva ou objetiva.
Será subjetiva quando tiver a culpa como fundamento da responsabilidade
civil. É necessário provar que o agente agiu com culpa para o dano ser indenizável. Ao
32
contrário da objetiva, em que a lei traz que a depender de algumas situações e da pessoa, esta
terá que reparar o dano ocorrido independente de culpa. Satisfaz-se apenas com a verificação
do nexo de causalidade e do dano.
A responsabilidade objetiva não exige a prova da culpa do agente, pois esta
pode vir presumida pela lei ou prescindível, fundada no risco, chamada de objetiva
propriamente dita ou pura. Conforme leciona Carlos Roberto Gonçalves (2003, p. 21)
“quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só precisa provar a
ação ou omissão e o dano resultante da conduta do réu, porque sua culpa já é presumida”,
como exemplo de culpa presumida encontra-se o artigo 936 do Código Civil, o qual presume
culpa do dono do animal no caso deste causar dano a outrem, cabendo algumas excludentes.
Quanto aos casos em que se prescinde a culpa, basta à existência de relação
entre o nexo causal e o dano.
A teoria que justifica a responsabilidade civil objetiva é a denominada teoria
do risco, a qual defende que quem exerce determinada atividade cria risco de dano a terceiro,
que obrigatoriamente deve ser reparado independente de culpa. Carlos Roberto Gonçalves (
2003, p. 22) em suas palavras abaixo transcritas traduz bem a ideia da teoria do risco:
[...] A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco, ora
encarado como “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é
reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em
benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi ônus); ora mais genericamente
como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa,
expuser alguém a suportá-lo.
O Código Civil, conforme se verifica no seu artigo 186, adotou como regra
a responsabilidade subjetiva, sem prejuízo de adotar em alguns casos a responsabilidade
objetiva.
O rompimento do noivado por sua vez está dentro da responsabilidade
subjetiva, haja vista que um dos nubentes só será responsabilizado pelo rompimento se for
comprovado sua culpa.
A última espécie de responsabilidade civil, diz respeito a agente, aquele que
pratica a ação que ocasionou o dano. Assim, a responsabilidade poderá ser direta ou indireta.
Direta no caso de o agente ser o próprio causador do dano, portanto, neste
caso o agente responde por ato próprio. Já a indireta, o que vincula o agente é o ato de um
terceiro, com o qual possui uma ligação legal de responsabilidade, ou seja, ele responde pelo
33
ato que o terceiro que está sob sua responsabilidade praticou, é o caso do dono do animal,
responde pelos danos que o seu animal causar.
2.4 Pressupostos da responsabilidade civil
Em uma análise do artigo 186 do Código Civil, “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, se retiram os quatro pressupostos da
responsabilidade civil.
Pressuposto estes que obrigatoriamente devem ser observados é o que
leciona Michel Mascarenhas (2009, p. 53):
Os pressupostos contidos no referido dispositivo, que devem se configurar,
inafastável e cumulativamente, são: ação ou omissão; nexo causal; dano real, certo e
efetivo; e culpa (dolo ou culpa stricto sensu). Inexistindo qualquer deles, estará
afastado o direito à indenização. Já foi demonstrado que a prova da culpa, quando a
responsabilidade é subjetiva, é da vítima. Entretanto, ressalva-se que o pressuposto
da culpa é afastado quando a responsabilidade for objetiva (artigos 187 e 927 do
Código Civil).
O primeiro, então, seria a ação ou omissão. Aparentemente o artigo traz que
qualquer pessoa que por ação ou omissão causar dano responde, porém, como já fora visto, a
responsabilidade pode decorrer de ato próprio ou de ato de terceiro, o qual o agente é
responsável.
Ação ou comissão seria a pratica de um ato o qual não deveria ser feito, já a
omissão seria um não fazer, o não cumprimento do dever de agir.
Elas podem ser lícitas ou ilícitas, no caso de ilícitas deve ser levado em
conta a culpa, veja o que Maria Helena Diniz (2007, p. 39) expõe a respeito:
No nosso ordenamento jurídico vigora a regra geral de que o dever ressarcitório pela
prática de atos ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou da
censurabilidade da conduta do agente. O comportamento do agente será reprovado
ou censurado quando, ante as circunstâncias concretas do caso, se entende que ele
poderia ou deveria ter agido de modo diferente. Portanto, o ato ilícito qualifica-se
pela culpa. Não havendo culpa, não haverá, em regra, qualquer responsabilidade.
34
Então ato ilícito está diretamente ligado a culpa, assim afirmado por Venosa
(2005, p. 32) “na responsabilidade subjetiva, o centro de exame é o ato ilícito”.
Por sua vez, na responsabilidade civil objetiva como não se leva em conta a
culpa como fundamento, consequentemente não se fala em ato ilícito, é assim que Maria
Helena Diniz entende (2007, p. 54): “na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o
dano é lícita, mas causou perigo a outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a
obrigação de velar para que dela não resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples
nexo causal”.
Cumpre por fim, lembrar que tanto a ação ou omissão deve ser voluntária,
intencional ou consciente, não haverá responsabilidade se o agente agiu coagido ou por erro.
O segundo pressuposto seria culpa, esta inclui a conduta dolosa ou culposa
do agente. O dolo é a vontade livre e consciente de violar dever jurídico, já a culpa é a falta de
diligência.
Como a teoria adotada pelo Código Civil é em regra a subjetiva, então para
haja a reparação do dano cabe à vítima provar culpa ou dolo do agente. Porém, mesmo que a
responsabilidade seja objetiva tal pressuposto não será totalmente afastado. Michel
Mascarelhas (2009, p. 56) transmite bem tal ideia ao afirmar que:
Por outro lado, sendo a responsabilidade de natureza objetiva, a culpa deixa de ser
pressuposto a ser cumulado com os demais. Mesmo assim, é preciso dizer que não
se afastará a discussão sobre a culpa, pois o acusador de ser o autor da ação ou
omissão, do nexo causal e do dano poderá provar uma excludente de
responsabilidade, alegando não ter tido culpa.
O dolo, como já dito, é a intenção livre de agir de forma contrária ao dever
jurídico. Já a culpa é a inobservância do dever jurídico. As várias espécies de culpa são
aludidas por Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 34), quando abordou a respeito da culpa,
como pressuposto da responsabilidade civil:
A teoria subjetiva desce a várias distinções sobre a natureza e extensão da culpa.
Culpa lata ou “grave” é a falta imprópria ao comum dos homens, é a modalidade que
mais avizinha do dolo. Culpa “leve” é a falta evitável com atenção ordinária. Culpa
“levíssima” é a falta só evitável com atenção extraordinária, com especial habilidade
ou conhecimento singular. Na responsabilidade aquiliana, a mais ligeira culpa
produz obrigação de indenizar (in lege Aquilia et levissima culpa venit).
A culpa pode ser, ainda in eligendo: decorre da má escolha do representante, do
preposto; in vigilando:decorre da ausência de fiscalização; in committendo: decorre
de uma ação, de uma ato positivo; in omittendo: decorre de uma omissão, quando
havia o dever de não se abster; in custodiendo: decorre da falta de cuidados na
guarda de algum animal ou de algum objeto.
35
O terceiro pressuposto da responsabilidade civil seria o nexo causal, uma
ligação entre a conduta do agente e o dano. Se ocorrer um dano, porém este não estiver ligado
ao comportamento do agente, não existe um liame entre os dois, não há que se falar em
responsabilidade civil.
No caso de vários agentes, várias condutas e vários danos se terão vários
nexos de causalidade, sempre buscando o que causou o dano, é o que Michel Mascarenhas
apresenta como Teoria do Dano Direto e Imediato (2009, p. 56), conforme exposto:
O nexo de causalidade é analisado sob o prisma da efetiva e verdadeira “mãe” ou
geradora do dano real, certo e concreto suportado pela vítima. Para isso, adota-se no
Brasil a chamada TEORIA DO DANO DIRETO E IMEDIATO, pois deve-se buscar
a identificação da causa que verdadeiramente determinou a ocorrência do prejuízo,
com a exclusão de qualquer outra. Se vários foram os danos sofridos pela vítima e
vários foram seus autores, variados também serão os nexos de causalidade. Por
óbvio, afinal o autor de uma ação ou omissão que causou certo dano não pode ser o
causador nem ser responsabilizado por outros danos ocasionados pela conduta e
causas originadas de outrem.
O nexo causal, portanto, seria o que liga a ação ao prejuízo, cabendo assim o
ressarcimento de todos os prejuízos decorrentes daquela ação.
O último pressuposto da responsabilidade civil é o dano, sem ele não se fala
em responsabilizar alguém, pois não existirá o que deve ser reparado. Por isso o dano tem que
ser real, nunca imaginário segundo Misael Montenegro Filho (2007, p. 154) “ este deve ser
real e concreto, não se admitindo a condenação do promovido ao pagamente de indenização
como consequência do denominado dano imaginário ou hipotético, muito menos em face de
meros aborrecimentos do cotidiano, [...]”.
A ideia do renomado autor supra citado vem completada pelas palavras de
Michel Mascarenhas (2009, p. 54) “[...] o dano, por sua vez, precisa ser CERTO, REAL,
ATUAL, CONCRETO, senão não será dano para efeito de responsabilização civil [...]”.
O dano por sua vez, pode ser patrimonial ou moral, conforme será melhor
explicado abaixo.
Dano patrimonial é aquele que atinge o patrimônio da vítima, seria a perda,
deterioração de bens materiais, os quais são possíveis avaliar o valor. Segundo Maria Helena
Diniz (2007, p. 66):
[...] o dano, portanto, estabelece-se pelo confronto entre patrimônio realmente
existente após o prejuízo e o que provavelmente existiria se a lesão não se tivesse
produzido. O dano corresponderia à perda de um valor patrimonial, pecuniariamente
determinado. O dano patrimonial é avaliado em dinheiro e aferido pelo critério
36
diferencial. Mas, às vezes, não se faz necessário tal cálculo, se for possível a
restituição ao status quo ante por meio de uma reconstituição natural.
Se faz mister notar que o dano patrimonial é quantitativo, se tem como
analisar o quanto realmente se perdeu, ou seja, dar um valor conforme o que realmente vale,
como exemplo se o prejuízo da pessoa foi do muro que cercava o seu terreno, é possível
avaliar o quanto custava o muro e pagar a indenização de forma justa, o real valor do muro.
Além de que o dano patrimonial ainda possui a vantagem de que às vezes a
sua reparação faz voltar a ser tudo como era antes, a coisa pode ser reconstruída na integra ou
até devolvida por inteira.
Aplicando aqui mais uma vez os ensinamentos de Michel Mascarenhas
(2009, p. 58):
O dano material tem natureza econômica, de avaliação objetiva, referindo-se aos
danos emergentes, ou seja, a perda efetiva e imediata sofrida pela vítima, e os lucros
cessantes, isto é , aquilo que ela deixou de auferir no período em que operaram os
efeitos do dano [...].
Contudo se faz notório que o dano patrimonial abrange os lucros cessantes e
o dano emergente. O dano emergente é perda real, concreta, a efetiva diminuição do
patrimônio, neste caso segundo Maria Helena Diniz (2007, p. 67), a indenização poderá ser de
duas maneiras: “[...] o lesante será condenado a proceder à restauração do bem danificado ou
a pagar o valor das obras necessárias a essa reparação [...]”. Seria, assim, uma forma de
retornar ao estado em que se encontrava anteriormente o patrimônio.
O lucro cessante é o que se deixou de ganhar, a perda de uma chance, aqui a
indenização seria em cima daquilo que razoavelmente se deixou de lucrar, levando em conta o
bom senso e o fato de que se não tivesse ocorrido o dano tudo ocorreria de forma normal.
O dano moral, por sua vez, vem como uma preocupação quanto a pessoa,
por isso possui uma natureza íntima, de dentro da pessoa. O dano aqui para ser reparado não
precisa ter causado prejuízos externos, por isso é imaterial e extrapatrimonial, não interfere na
vida econômica da pessoa. Sua avaliação, diferente do dano patrimonial não possui critérios
objetivos.
A respeito do dano moral, cumpre citar o que Yussef Said Cahali diz a
respeito (2011, p. 20):
Na realidade, multifacetário o ser anímico, tudo aquilo que molesta gravemente a
alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua
37
personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se,
em linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los exaustivamente,
evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um
ente querido falecido; no desprestígio, na desconsideração social, no descrédito à
reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio
da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste
psicológico, nas situações de constrangimento moral.
Sendo assim, o dano moral vem não para restaurar o status quo anterior, ele
apenas vem como indenização, como punição, por violar valores essências da pessoa, por lhe
causar transtornos perante a sociedade que vive. Não se trata de retirar a dor, pois não se tem
como retirar a dor de alguém que teve a honra ofendida, por exemplo, o valor pago seria uma
forma de diminuir os prejuízos sofridos e fazer com que tenha, quem sabe, um futuro
melhorado.
O dano moral pode ser classificado segundo alguns autores como dano
moral direto ou indireto, tal ensinamento é delineado por Carlos Roberto Gonçalves ao citar
Eduardo Zannoni (2003, p. 549):
Aduz Zannoni que o dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a
satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da
personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a
intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou no atributos da pessoa
(como o nome, a capacidade o estado de família). O dano moral indireto consiste na
lesão a um interesse tendente à satisfação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais,
que produz um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que
provoca prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem
patrimonial da vítima. Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial (El
daño, cit., p.239 e 240). É a hipótese, por exemplo, da perde de objeto de valor
afetivo.
Por fim, para se arbitrar o valor da indenização do dano moral é mais
complexo do que a do dano patrimonial, no qual se tem pelo menos dados e números para
serem calculados, por isso a regra é que o juiz arbitre.
Quanto ao arbitramento pelo juiz, há quem critique tal forma, Gonçalves
(2003, p. 569) explica que:
[...] A critica que se faz a esse sistema é que não há defesa eficaz contra uma
estimativa que a lei submeta apenas ao critério livremente escolhido pelo juiz,
porque, exorbitante ou ínfima, qualquer que seja ela estará sempre em consonância
com a lei, não ensejando a criação de padrões que possibilitem o efetivo controle de
sua justiça ou injustiça.
38
É por isso, que cabe ao juiz fixar o valor do dano moral com prudência,
analisando cada caso os seus detalhes e se a indenização não irá ser uma fonte de
enriquecimento e nem algo tão inexpressivo.
E justamente por não ter como se determinar de pronto às consequências
geradas pelo ato ou fato ilícito, admite-se na ação um pedido genérico, embora a regra seja de
que o pedido deve ser certo e determinado. Cumpre diferenciar que o que não se especifica é
o valor da indenização, porém quanto ao pedir a indenização pelo dano moral este deve ser
certo e determinado, ou seja, tem que ser especificado o prejuízo que será ressarcido e deve
ser descrito a lesão sofrida pela vítima do ato ou fato ilícito. O valor da causa por sua vez, não
poderá ser suprido mesmo que o pedido seja genérico.
2.5 Reparação dos danos morais e materiais decorrentes do rompimento do noivado
A questão a ser discutida vem a ser a possibilidade do cabimento de
indenização quando um dois noivos quebra a promessa de casamento. Cabendo a indenização
vem outra dúvida a ser dirimida, qual dano deve ser reparado, só dano patrimonial ou o moral
também.
Como resposta para o cabimento da indenização fora visto no item anterior
que para o cabimento da responsabilidade civil são necessários a presença dos quatro
pressuposto, assim, para que seja caracterizado a indenização por ruptura do noivado é
necessário que exista um compromisso de futuro casamento e que essa promessa seja
quebrada de forma injustificada, sem motivos ponderáveis para tanto, e que esse rompimento
acarrete prejuízos ao noivo largado. Por isso, o simples rompimento do noivado não dá ensejo
à indenização, ou seja, não constitui ato ilícito. Vale ainda lembrar que no capítulo anterior já
foi abordado, nos dizeres de Maria Helena Diniz, os quatro requisitos que autorizam a
responsabilidade civil pelo rompimento do noivado.
Assim, cabe a indenização quando presente os quatro pressupostos
ensejadores da responsabilidade civil, como conduta, culpa, dano e nexo causal, no caso em
tela seriam a prova de que realmente existe uma promessa de casamento, a prova da conduta
de um dos noivos em romper sem motivos o casamento, a prova do dano ocasionado por tal
rompimento e a prova do nexo causal interligando o rompimento injustificado ao dano.
Cumpre salientar que o rompimento deve ser injustificado, de modo que a
vítima não deva ter dado causa a tal rompimento, caso contrário poderá o réu se utilizar da
39
excludente culpa exclusiva da vítima, a qual quebra o nexo causal entre a causa e o prejuízo e
o exime de arcar com a indenização, seria, por exemplo, o caso de um dos nubentes ter traído
seu parceiro e o outro acaba descobrindo perto do casamento e assim termina o noivado, ou
acaba descobrindo no dia do casamento e assim resolve não aparecer. Neste caso por mais que
o noivo abandonado sofreu abalos psicológicos não cabe a indenização, afinal o noivado não
foi rompido injustificadamente. Não se pode olvidar que o noivo abandonado deu causa para
tanto e que no seu intimo ele sabia o motivo do rompimento, descaracterizando assim a
ruptura sem motivos. A respeito da culpa exclusiva da vítima aduz Carlos Roberto Gonçalves
(2010, p. 463) que:
Quando o evento danoso acontece por culpa exclusiva da vítima, desaparece a
responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e efeito
entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima, o causador do dano não
passa de mero instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato
e o prejuízo da vítima.
Por sua vez então o rompimento de forma injustificada acarreta tanto danos
patrimoniais quanto morais.
O ressarcimento patrimonial abrange os dispêndios com o futuro casamento,
gastos com a festa, enxoval, compra de casa e até, vestido de noiva. A respeito do assunto
leciona Rui Stoco ao citar Washington de Barros Monteiro (2007, p. 900):
Predomina contudo, o entendimento no sentido de que a indenização há de ser ampla
e abranger todos os danos advindos do rompimento sem causa do compromisso,
incluindo-se todas as despesas feitas e voltadas para futuro casamento, como
aquisição de bens em geral, residência futura do casal, roupas, jóias, abandono de
emprego pela mulher, suspensão dos estudos etc.
É necessário uma reparação patrimonial, pois todos os dispêndios realizados
para o casamento tem a finalidade de concretizar o sonho de se construir uma vida a dois.
Assim, o fato de se avisar antes a decisão de romper o noivado impede a realização de gastos
dispensáveis.
Quanto ao cabimento do dano moral, por mais que o noivado seja cheio de
riscos e que não existe a obrigação de se casar, quando este rompido de forma a gerar
humilhações, a ofender a honra do outro merece o cabimento do dano moral, Rui Stoco
defende essa ideia (2007, p. 899):
40
Assim, esse rompimento quando normal e civilizado, não tem o condão de ofender a
moral ou a honra da pessoa, apta a configurar ato ilícito, posto que tal ruptura
prende-se aos riscos e à fragilidade de tais relacionamentos.
Somente em hipóteses excepcionais em que o rompimento ocorra de forma anormal,
através da mentira, do engodo e da indução em erro e, principalmente, da ofensa, do
vilipêndio, humilhação infamante e ignóbil é que se justifica a reparação civil,
através da composição do dano material ou da compensação por dano moral, como
na hipótese do indivíduo, casado, que se diz solteiro e livre, mas que mantém sua
noiva em erro até as vésperas do suposto casamento, obrigando-a a despesas
vultosas, providências urgentes com aquisição de bens, confecção de roupas e
submetendo-a ao ridículo junto à comunidade.
Como a própria Constituição em seu artigo 5°, inciso X assegurou a
indenização por danos morais não há porque não aceitar seu cabimento no rompimento
injustificado do noivado, que gerou dor, humilhação, ofendeu sua dignidade perante toda
sociedade que vive, sobre o assunto Yussef explica que (2011, p. 574):
Desse modo, desde que identificada (no exame do caso concreto) a existência de um
procedimento gravemente injurioso envolvendo o ato de arrependimento, com
injusta agressão à dignidade, à estima e ao respeito que o ofendido faz por merecer,
evidencia-se a ocorrência de um dano moral passível de reparação.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais reconheceu como exercício regular
de direito o rompimento do noivado, conforme o julgado abaixo:
APELAÇÃO CÍVEL 1.0040.04.021738-8/001(1)
Ementa: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS –
ROMPIMENTO DO NOIVADO - EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO -
DANOS MORAIS E MATERIAIS - ÔNUS DA PROVA - FATOS
CONSTITUTIVOS DO DIREITO DA AUTORA - ART. 333, I, DO CPC - ÔNUS
DO QUAL A AUTORA NÃO SE DESINCUMBIU. - Incumbe ao autor produzir as
provas referentes aos fatos constitutivos de seu alegado direito, conforme art. 333, I,
do CPC. Não comprovada a conduta imputada ao réu que teria dado causa aos danos
alegados, não se pode falar em responsabilidade civil. - O desfazimento do noivado
não se reputa ilícito, porquanto aos nubentes é dada a possibilidade de se arrepender
antes da celebração das bodas. - Não configura dano moral mero dissabor ou
aborrecimento, sendo necessário, para que surja o direito à compensação, que haja
intenso abalo psicológico capaz de agredir a imagem e a honra da apelante. -
Restando demonstrado que ambos os nubentes arcaram com as despesas referentes
aos preparativos do casamento, não há que se falar em reparação por danos
materiais. Súmula: Negaram provimento (TJMG APELAÇÃO CÍVEL
1.0040.04.021738-8/001, Relator: ELPÍDIO DONIZETTI ,Data do Julgamento:
01/12/2005, Data da Publicação: 11/03/2006).
Todavia, cumpre ressaltar que por mais que seja permitido o rompimento do
noivado, não é autorizado ofender a honra do outro, portanto, os danos morais não foram
concedidos porque não se provou ofensa a sua dignidade capaz de gerar abalos psicológicos,
caso contrário o mesmo seria deferido.
41
Por todo exposto, que se atinge o seguinte entendimento: a responsabilidade
civil pelo rompimento do noivado acontece se houve uma promessa de casamento e a sua
ruptura foi injustificada, algo inesperado e sem motivos justos, além de que tal ação deve ter o
condão de gerar um dano, patrimonial e moral quando ofender a dignidade da pessoa. Assim
como em todos os casos para o cabimento da responsabilidade civil se faz necessário a
presença dos quatro requisitos, ação ou omissão, culpa, nexo causal e dano.
2.5.1 A restituição dos presentes no rompimento do noivado
Após a discussão da reparação dos danos causados pelo rompimento do
noivado resta tratar da devolução dos presentes.
Como todo rompimento o que ocorre são os presentes devolvidos e no caso
de doações futuras que tem como condição a realização do casamento, estas perderão o efeito.
Maria Helena Diniz (2007, p.183) leciona a respeito do assunto que:
O inadimplemento doloso ou culposo dos esponsais por parte de um dos noivos
acarreta:
a) Efeitos comuns aos simples desfazimento, ou seja, devolução dos presentes
trocados, das cartas e dos retratos. A esse respeito seria de bom alvitre fazer menção
ao art. 546 do Código que dispõe que, se tiver havido doação feita em contemplação
de casamento futuro, ficará sem efeito, se o casamento não se realizar. Presentes
oferecidos em consequência de noivado são regulados por esta norma (RT,
298:513). Da mesma forma, a instituição de beneficiária de seguro, feito em vista de
casamento futuro, cessa se este não se efetivar (RT, 195:245).
As doações em razão de casamento futuro são feitas sobre tal condição,
visando um evento futuro e incerto, desta feita, os presentes recebidos em função do noivado
usarão a mesma regra das doações feitas condicionadas ao casamento, tudo será entregue de
volta, afinal ambos visavam como condição um futuro casamento.
42
III - DAS PROVAS
As provas são de suma importância ao resultado do processo, uma vez que
determinam a procedência ou improcedência da demanda. Por mais que uma petição inicial
ou uma contestação estejam ótimas, se não acompanhada de provas, certamente a parte a
quem a lei incumbiu o ônus de provar não ira obter êxito. As provas servem como meios de
convencimento do julgador, os quais demonstram a veracidade dos fatos alegados, afinal no
processo civil a verdade buscada, é a verdade formal, ou seja, aquela produzida nos autos, não
a verdade real, que seria o que realmente aconteceu.
Destarte, se faz mister mencionar o conceito de prova aduzido por Pontes de
Miranda (1979, p. 311):
A prova refere-se a fatos; portanto: a elementos do suporte fáctico, ao suporte
fáctico e aos fatos jurídicos que de suportes fácticos resultam. Direitos, pretensões,
ações e exceções são efeitos de fatos jurídicos: é preciso que se provem os fatos
jurídicos para que se tenham por existentes, no tempo e no espaço, esses efeitos.
Quando de diz “prove o seu direito”, “prove a pretensão, a ação, ou a exceção”,
emprega-se forma elíptica; em verdade o que se pensou foi: “prove o fato jurídico de
que se irradia o direito, a pretensão, a ação, ou a exceção de que se trata”. A prova
concerne, portanto, a existência e à inexistência no mundo fáctico ou no mundo
jurídico. Há prova de fatos do mundo fáctico e prova de fatos do mundo jurídico (=
de suportes fácticos + entrada no mundo jurídico).
Mas o que se pretende provar? O fato, aquilo que parte alega que aconteceu,
porque o direito alegado não precisa ser provado, exceto se o direito alegado for municipal,
estadual, estrangeiro ou consuetudinário, conforme o artigo 337 do Código de Processo Civil:
“a parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o
teor e a vigência, se assim o determinar o juiz”, uma vez que tais normas podem não ser
comumente manuseadas pelo juiz, que pode não ter acesso fácil a elas.
Entretanto alguns fatos não precisam ser provados, são eles: a) os fatos
notórios, porque são conhecidos por todos, exemplo ninguém precisa provar que dia vinte
cinco de dezembro é natal; b) os fatos afirmados por uma parte e confessados pela outra parte,
aqui seria porque o réu acaba confessando os fatos na audiência de instrução e julgamento; c)
fatos incontroversos seriam os fatos que afirmados pelo autor não são contestados pelo réu e;
d) fatos que militam presunções legais de existências ou de veracidade seriam no caso, por
exemplo, de revelia, na qual a não apresentação de contestação pelo réu enseja em presunção
de veracidade dos fatos alegados pelo autor.
43
Tal análise a respeito das provas no processo civil é importante para
compreender que a responsabilidade civil pelo rompimento da promessa de casamento só
ocorrerá ante prova dos requisitos como promessa de casamento, rompimento injustificado,
dano e nexo causal.
3.1 Das espécies de prova
Várias são as espécies de provas previstas no Código de Processo Civil,
denominadas de provas nominadas ou típicas, são elas: prova testemunhal, prova pericial,
prova documental, depoimento pessoal, confissão, exibição de documento ou coisa e,
inspeção judicial.
Já as provas atípicas seriam todas aquelas provas não previstas no Código
de Processo Civil, em suma seriam os indícios e presunções, havendo doutrinadores que
consideram a prova emprestada como tal, entretanto há posição diversa conforme aduz Misael
Montenegro (2009, p. 445):
[...] parte da doutrinária catalogando a prova emprestada como espécie de prova
atípica ou inominada. Não entendemos dessa forma, já que a prova emprestada nada
mais é do que uma prova documental, uma prova pericial, uma prova testemunhal
ou qualquer outra espécie de prova típica ou nominada, extraída de processo no qual
a instrução foi ultimada, regra geral envolvendo as mesmas partes do processo para
qual a espécie probatória migrou.
Ainda a respeito das provas inominadas, compete mencionar o conceito de
presunções e indícios feito por Misael Montenegro (2009, p. 420):
No nosso modo de pensar, a presunção é qualificada pela existência de uma base de
fato que permite ao magistrado, associando-a a circunstâncias, concluir pela
existência ou inexistência (e correspondente veracidade ou não) do fato
controvertido. No indício, não temos essa base de fato, própria à presunção. Temos
apenas circunstâncias associadas.
Todavia, não existe hierarquia entre as várias espécies de prova, nenhuma
vale mais do que a outra. A prova a ser utilizada vai depender do direito material alegado e
dos pontos contestados pela outra parte, os quais merecem ser esclarecidos. Como exemplo
Misael Montenegro (2009, p. 445), alude que: “assim, em ações de indenização por perdas e
danos, por exemplo, é mais comum assistimos à produção da prova testemunhal, para que o
magistrado avalie a extensão do prejuízo que o autor diz ter sofrido [...]”
44
3.1.1 Da prova testemunhal
A prova testemunhal pode ser o meio de prova mais antigo, ainda assim
existem doutrinadores que não são a favor dela pelo simples fato de que a testemunha pode
mudar a verdade dos fatos. Entretanto para aqueles que acreditam não ser ela um meio
confiável, vale a pena lembrar que o sistema de avaliação de provas é o do livre
convencimento racional ou motivado, ou seja, o juiz deve expor todas as razões pela quais o
fez levar em conta o depoimento de uma testemunha em face de uma prova documental, por
exemplo. É por isso que não há perigo algum em se utilizar da prova testemunhal.
Na visão de Misael Montenegro (2009, p. 447) “a testemunha é uma terceira
pessoa, desinteressada no julgamento do processo, marcada pela imparcialidade, que vem a
juízo para relatar os contornos do seu contato com fatos relevantes para o julgamento da
causa”. Assim, a testemunha não irá dar parecer técnico e nem irá interpretar os fatos, a ponto
de dar algum parecer ou opinião, apenas irá relatar o que presenciou ou sentiu.
Contudo, os artigos 400 e 401 do Código de Processo Civil, preveem
hipóteses em que as provas testemunhais são inadmissíveis, quando: a) o fato já foi provado
por documentos ou por confissão; b) fatos que só podem ser provados por meio de
documentos ou perícia; e c) para comprovar a existência de contrato cujo o valor acabe
excedendo o décuplo do maior salário mínimo, vigente no país no momento em que for
celebrado o contrato.
Além das hipóteses em que as provas testemunhais são inadmissíveis, o
supracitado Código também pressupõe as testemunhas que não devem prestar depoimento,
dividindo-as em 3 grupos: incapazes, impedidas e suspeitas.
As testemunhas são incapazes porque possuem uma deficiência que afeta a
sua compreensão aos fatos discutidos no processo, essa deficiência pode ser tanto psíquica
como física. Na psíquica encontram-se os interditados por demência na época que ocorreram
os fatos ou no momento de prestar o depoimento. O menor de dezesseis anos se enquadra
neste caso, devido à lei presumir que o mesmo não possui amadurecimento mental para tanto.
Já a física, a lei só não permite o depoimento no caso em que a deficiência
acabe atrapalhando o esclarecimento do fato, assim, o cego pode depor a respeito do que
ouviu sobre os fatos.
No caso de testemunhas impedidas, não se admite seu depoimento por
presumir que poderia ocorrer uma quebra na imparcialidade, a ponto de não dizer a verdade a
fim de beneficiar a pessoa a qual mantém uma grande proximidade. Seria o caso do cônjuge,
45
abrangendo neste caso também o companheiro, ascendente, descendente, ou colateral até
terceiro grau por consanguinidade ou afinidade. Todavia tal regra é amenizada, podendo o
juiz determinar a oitiva da testemunha impedida quando o interesse público exigir ou quando
a ação versar sobre estado da pessoa e não tiver como obter de outra forma à prova.
A respeito da oitiva de testemunhas impedidas em ações que versem sobre
estado da pessoa, leciona Misael Montenegro que (2009, p. 455):
Como os fatos próprios às ações de família desdobram-se no interior do domicílios,
a parte à qual foi imposta a responsabilidade de provar a veracidade das suas
afirmações sofre dificuldade natural de se valer de depoimentos de terceiros, que não
tenham presenciado o acontecimento que gerou a postulação, como uma agressão
física, tentativa de morte, sevícia ou injúria grave, conduta desonrosa etc., fatos que
são presenciados por filhos ou outros parentes próximos, admitindo-se, de forma
excepcional, a tomada dos seus depoimentos em juízo.
Além desses impedidos acima mencionados, o parágrafo segundo do artigo
405 em seus incisos II e III do Código de Processo Civil, prevê que ainda são impedidos:
Art. 405. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes,
impedidas ou suspeitas.
§ 2o São impedidos:
II - o que é parte na causa;
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor na causa do menor, o
representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou
tenham assistido as partes.
Por fim, as testemunhas são suspeitas porque possuem uma certa
aproximação com a parte, mas sem relação de parentesco, segundo o parágrafo terceiro do
artigo 405 do Código de Processo Civil, são elas:
Art. 405. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes,
impedidas ou suspeitas.
§ 3o São suspeitos:
I - o condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a
sentença;
II - o que, por seus costumes, não for digno de fé;
III - o inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo;
IV - o que tiver interesse no litígio.
Cumpre lembrar que, simples simpatia ou antipatia entre a testemunha e a
parte, não caracteriza a testemunha como suspeita.
46
A prova testemunha é produzida geralmente na audiência de instrução e
julgamento. Para depor a testemunha tem que prestar compromisso, ou seja, uma promessa
que irá dizer a verdade, sob pena de responder por crime de falo testemunho.
3.1.2 Da prova documental
Quando se fala em documento automaticamente se associa a ideia de
escrito, mas nem sempre documento é algo escrito, podem ser documentos fotos, gráficos,
fitas de vídeo, conforme menciona o renomado autor Misael Montenegro (2009, p. 461):
[...] podemos afirmar que a prova documental consiste no registro material (não
necessariamente escrito), no seu sentido lato ou estrito, da ocorrência de um fato.
Há, portanto, um registro material do fato, diferente da prova testemunhal,
notabilizada pela circunstância de o registro constar apenas na memória da
testemunha.
Os documentos podem ser públicos ou privados. Documento público é
aquele que provêm de uma autoridade pública, e documento particular é aquele originado de
um particular. Tais documentos podem ser impugnados, a ponto de serem declarados falsos
pelo juiz, conforme leciona Cassio Scarpinella Bueno, (2011, p. 318): “o documento público
ou particular, pode ser impugnado pela parte contra quem ele foi produzido no que diz
respeito à sua constituição, assinatura ou conteúdo[...]”.
Permite-se, ainda, que os documentos sejam classificados em autênticos e
não autênticos. Nos documentos autênticos se tem a certeza de quem o produziu; nos não
autênticos não há como identificar quem os produziu.
Em uma interpretação literal do artigo 396 do CPC, acredita-se que a prova
documental deve ser juntada aos autos junto com a petição inicial ou com a contestação,
contudo o próprio código prevê em artigo seguinte que se podem juntar documentos após, a
fim de provar fatos que ocorreram depois dos articulados ou para contradizê-los.
Assim, o que deve ser juntado com a inicial ou com a contestação seriam
documentos os quais Misael Montenegro Filho (2009, p. 466-467) denomina como: “[...]
documentos substanciais (exigidos pela lei) e fundamentais (que se apresentem como
fundamento da causa de pedir), subespécies do gênero indispensáveis (essenciais à
compreensão do fato constitutivo, extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor)”
47
Desta forma, os demais documentos podem ser juntados a qualquer
momento para provar algo que aconteceu depois ou para de defender de algo alegado depois,
sempre observando o princípio do contraditório e da ampla defesa, com a juntada de novos
documentos abre-se a outra parte prazo para manifestar-se a respeito.
3.1.3 Da exibição de documento ou coisa
A exibição de documento ou coisa aparece no Código de Processo Civil
duas vezes, uma como uma forma de se obter elemento de prova, quando não se consegue
sem a ajuda do Poder Judiciário e a outra como medida cautelar, que por sua vez deve atender
os requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora.
A exibição de documento visando se obter uma prova no curso da ação,
poderá ser feito mediante requerimento ao juiz, demonstrando seu interesse em tal exibição, a
importância dessa prova e que a mesma se encontra em poder da outra parte ou de terceiro.
Caso a alegação seja que a prova se encontra com a outra parte no processo,
esta terá cinco dias para exibir o que se pede, ou provar que não se encontra com a coisa,
podendo neste caso o requerente provar que isso não é verdade, ou demonstrar que não tem
como exibir a coisa, fundamentando em alguma das razões do artigo 363 do Código de
Processo Civil:
Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a
coisa:
I - se concernente a negócios da própria vida da família
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra;
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem
como a seus parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar
perigo de ação penal;
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou
profissão, devam guardar segredo;
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz,
justifiquem a recusa da exibição.
No entanto, o magistrado não irá aceitar tais razões expostas pelo requerente
se existir obrigação legal de se exibir a coisa ou o documento, se o mesmo fez alusão ao
documento ou a coisa no processo com a intenção de constituir prova ou se o documento for
comum a ambos.
48
Agora no caso de o requerimento para exibição for contra terceiro, aquele
que não integra a relação processual, tal requerimento passa a ser uma ação incidental, no qual
o terceiro será citado para apresentar resposta em 10 dias.
3.1.4 Do depoimento pessoal
O depoimento pessoal possui a finalidade de retirar das partes e de terceiros
intervenientes, informações relativas ao litígio, conferindo, na maioria das vezes, ao
magistrado o condão de ter contato direto com as partes. Misael Montenegro (2009, p. 476)
aduz a importância do depoimento pessoal usando como exemplo uma ação de indenização:
Na realidade, de uma ação de indenização por perdas e danos, como exemplo,
revelador da importância do depoimento pessoal, pode o magistrado, colhendo o
depoimento pessoal do autor, extrair impressões relacionadas a extensão do dano,
verificando, com detalhes, a repercussão do ato ilícito na vida do promovente.
O depoimento pessoal é produzido na audiência de instrução e julgamento,
tendo o juiz a faculdade de determinar sua produção a qualquer momento.
3.1.5 Da prova pericial
A prova pericial é necessária em ações que necessitam de esclarecimento
técnico, que só podem ser dados por um terceiro que não integra a relação processual. Sobre o
seu conceito menciona Misael Montenegro (2009, p. 479), que:
Assim, de forma introdutória, podemos afirmar que a perícia é espécie de prova que
objetiva fornecer esclarecimentos ao magistrado a respeito de questões técnicas, que
extrapolam o conhecimento científico do julgador, podendo ser de qualquer natureza
e originada de todo e qualquer ramo do ser humano, destacando-se os
esclarecimentos nas áreas de engenharia, da contabilidade, da medicina e da
topografia.
A produção da prova pericial pode ser indeferida pelo juiz, desde que este
fundamente no fato de as partes já juntaram todos os documentos técnicos explicativos a
interpretação do caso, ou que a perícia não precisa se produzida, posto que não se possui
49
nenhuma questão técnica controversa que necessite dela, ou, ainda, conforme o inciso III do
parágrafo único do artigo 420 do CPC “ a verificação for impraticável”.
O juiz também pode requerer a produção da perícia, como de qualquer outra
espécie de prova, de ofício, pois é o destinatário da prova judicial, posto ser ele quem julga o
mérito da ação.
O perito é nomeado pelo juiz e as partes possuem o prazo de até 5 dias para
nomearem assistente técnico. Os assistentes técnicos podem concordar ou discordar das
conclusões dos peritos.
Os peritos estão sujeitos a impedimentos e suspeições, os assistentes não.
Todavia, nenhum dos dois presta compromisso. Conforme prevê o artigo 422 do CPC “O
perito cumprirá escrupulosamente o encargo que Ihe foi cometido, independentemente de
termo de compromisso. Os assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a
impedimento ou suspeição.”
O pedido para a produção da prova pericial deve ocorrer na inicial ou na
contestação, conforme se pede a produção de todas as provas necessárias a elucidação do fato.
Já a sua admissão pode ocorre em, audiência preliminar ou, não, no caso do processo ser
saneado por meio de despacho.
As partes além de poderem indicar assistentes técnicos; apresentam quesitos
para a perícia.
3.1.6 Da inspeção judicial
A inspeção judicial diferente das demais permite que o juiz tenha contato
com os fatos sem intermediação de pessoa ou coisa, como nas demais espécies de prova em
que os fatos são demonstrados por meio de um documento ou segundo conta uma testemunha.
Menciona Cassio Scarpinella, (2011, p. 348), que a inspeção judicial:
[...] Trata-se de ato do próprio juiz que, por observação direta de pessoas ou de
coisas, tende a formar sua própria convicção para melhor compreensão do objeto de
conhecimento e, consequentemente, viabilizar o proferimento de uma melhor
decisão[...].
Caso o juiz ou as partes entendam que no caso cabe a inspeção judicial, o
juiz poderá se deslocar para o lugar onde se encontrarem as pessoas ou coisas, objetos da
50
prova, ou a inspeção judicial poderá ser produzida em audiência própria para tanto ou até
mesmo na audiência de instrução e julgamento. Na sua produção é garantida a participação
das partes e de assistentes técnicos, sendo os mesmos intimados do dia, local e hora.
Após o término da inspeção é lavrado um auto circunstanciado,
documentando todos os acontecimentos.
3.2 Prova da promessa de casamento
Conforme fora exposto, a prova é meio necessário para julgamento de uma
ação e para tanto existem várias espécies de provas. Toda explicação fora indispensável para
que agora se demonstre como são imprescindíveis as provas em uma ação de responsabilidade
civil pelo rompimento do noivado, a fim de que fique no processo claramente demonstrado os
pressupostos autorizadores dela.
Assim, para que haja a reparação dos danos causados pelo rompimento do
noivado é preciso que tenha existido um compromisso, uma promessa de casamento. Não
basta que apenas uma pessoa idealize que haverá casamento, sem que a outra parte tenha
ciência disso e aceite voluntariamente.
Cumpre ressaltar que a promessa deve ser feita pelo noivo e não por sua
família, conforme leciona Venosa (2011, p. 36): “a promessa deve provir do nubente, não
sendo idônea para a pretensão aquela emanada de seus pais ou de outros parentes e
interessados”.
Também, não poderá ser objeto da pretensão uma promessa nula por conta
de serem impedidos de casar nos casos descritos em lei, compreende desta forma Venosa (
2011, p. 36), ao dizer que “existindo óbices e impedimentos legais para o casamento, a
promessa pode ser considerada nula por ausência de objeto idôneo”.
Portanto, a primeira prova a ser produzida no processo vem a ser a da
promessa de casamento. Esta pode ser provada através de fotos do noivado, ou que
demonstrem que ambos usavam uma aliança selando tal compromisso. Ou por depoimentos
de pessoas que conviviam com ambos. Além de documentos que demonstrem gastos com o
futuro casamento, como contratos com o Buffet, com a empresa que irá decorar.
As provas admitidas no processo de indenização pela ruptura injustificada
do noivado são quaisquer meios admitidos pelo direito, pois não se exige mais escritura
pública ou particular formalizando tal ato, conforme explicita Maria Helena Diniz (2009, p.
51
47): “ [...] Não mais se exige escritura pública ou particular, como outrora, ou publicação de
editais de proclamas, permitindo-se quaisquer meios de prova admitidos por lei: confissão,
correspondência, convites para o casamento, prova testemunhal etc.”
Acrescenta ainda, Inácio Carvalho Neto (2002, p. 479) a respeito da prova
da promessa, que “quem alegar o rompimento, deverá provar a existência dos esponsais,
podendo lançar mão dos meios de prova existentes: convites, correspondências, testemunhas,
confissão, cerimônia com o fim de formalizar o noivado, entrega de alianças, etc.”
Destarte, a prova da promessa de casamento pode ser feita por qualquer
meio de prova admitido pelo direito, sempre demonstrando que existiu uma promessa livre e
consciente de futuramente se contrair núpcias.
3.3 Prova da recusa injustificada
Se houve uma promessa de casamento, a sua não realização deve ter se dado
de forma injustificada, portanto essa seria a segunda prova a ser produzida no processo de
indenização pelo rompimento do noivado.
A recusa deve ser imotivada, algo inesperado, sendo a intenção de um dos
noivos romper de forma brusca, sem motivos justos, sem ter demonstrado antes qualquer
intenção de acabar com o noivado. Não é o caso de quando um dos noivos decide largar
porque não ama mais o outro, e assim resolve conversar com o outro esclarecendo toda a
situação, sem qualquer humilhação ao parceiro, agora terminar um noivado por telefone as
vésperas do casamento dizendo apenas não quero casar, caracteriza com clareza um
rompimento injustificado.
A prova da recusa injustificada pode se dar da mesma forma que a prova da
promessa de casamento, pode ser por meio de prova testemunhal de convidados do casamento
que viram um dos noivos esperando no altar o outro que não apareceu, pode ser uma prova
documental no caso uma notícia de jornal sobre o réu se dizendo comprometido com outra
pessoa enquanto o outro noivo estava preparando as coisas para o casamento e nem sabia que
tudo havia terminado.
Destarte, não há o que se falar em recusa injustificada quando a quebra da
promessa de casamento se deu devido a um grave motivo conhecido por todos. Nesse sentido
explicita Venosa (2011, p. 36) que “[...] a ruptura injustificada a ser provada é aquela que
concluirá pela culpa do renitente. Nesse aspecto, avulta a importância das circunstâncias da
52
recusa e o quadro social e cultural dos envolvidos”. Assim, ocorrendo qualquer uma das
excludentes da responsabilidade civil não há o dever de indenizar. As excludentes seriam caso
fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima, no caso se deu por culpa do outro nubente.
O que finalmente leva a conclusão que o fato de haver uma justificativa para
o rompimento do noivado deverá ser provada pelo réu como uma maneira de isentá-lo do
dever de indenizar, conforme aduz Humberto Theodoro Júnior, (2009, p. 420):
Quando, todavia, o réu se defende através de defesa indireta, invocando fato capaz
de alterar ou eliminar as consequências jurídicas daquele outro fato invocado pelo
autor, a regra inverte-se. É que, ao se basear em fato modificativo, extintivo, ou
impeditivo do direito do autor, o réu implicitamente admitiu como verídico o fato
básico da petição inicial, ou seja, aquele que causou o aparecimento do direito que,
posteriormente veio a sofrer as consequências do evento a que alude a contestação.
A controvérsia deslocou-se para o fato trazido pela resposta do réu. A este, pois,
tocará o ônus de prová-lo.
Assim, a ocorrência de uma justa causa para o rompimento do noivado não
acarreta o dever de indenizar, porque o fato de não haver uma justificativa para tal conduta,
ser algo tão inesperado, que se traduz no ato ilícito ensejador da responsabilidade civil. É isso
que o juiz irá verificar as razões, a forma, a justificativa para o rompimento do noivado,
baseando-se nas provas constituídas nos autos.
3.4 Prova do dano
Não basta uma promessa de casamento desfeita de forma injustificada para
que haja responsabilidade civil, deve existir um dano. Sem o dano não existe responsabilidade
civil porque não existe o que se deve reparar, ou seja, o dano é fundamento para a existência
de uma indenização.
Assim o noivo largado deve ter sofrido prejuízos tanto no âmbito
patrimonial como podendo até sofrer em termos psicológicos, que afetam diretamente sua
dignidade, é por isso que o dano pode ser patrimonial ou moral.
Haja vista a quantidade de despesas feitas com o futuro casamento e que o
mesmo não aconteceu porque um dos noivos sem motivo algum rompeu, necessário se faz
uma compensação a lesão ao patrimônio suportada pelo noivo abandonado. Concluindo,
portanto, que cabe a reparação dos danos patrimoniais, em decorrência do ato ilícito de um
dos noivos.
53
Mas a reparação não deve ficar somente no campo patrimonial, ficando
comprovado que a ruptura injustificada causou abalos na esfera moral do outro noivo,
necessário se faz a reparação dos danos morais.
Cumpre ressaltar que o judiciário não é um meio de solucionar conflito
interno da pessoa, nem meio de vingança ou forma de tentar ganhar dinheiro fácil, por isso
cabe ao magistrado analisar no caso concreto os danos psicológicos gerados pelo rompimento
injustificado, não se esquecendo de que a reparação do dano se dá em razão da forma em que
o noivado foi rompido, em momento algum pode se falar em reparação somente pelo fato de
se ter terminado o compromisso.
Sempre que a recusa imotivada for de forma vexatória, ofender a dignidade
do outro noivo, expor ele ao ridículo perante a sociedade, diminuindo sua auto estima e sua
independência, caberá uma indenização pelos danos morais. Afinal está será uma forma de
minimizar o que ele sofreu e até uma tentativa de construir um futuro melhor.
A prova do dano patrimonial é simples comparada a do dano moral, pois
para provar aquele basta se apresentar os comprovantes das despesas com o futuro casamento.
Já no dano moral não há o que se falar em prova concreta, pois o dano acontece no interior
das pessoas e isso não tem como ser quantificado, a respeito do tema aduz Venosa (2005, p.
49):
A prova do dano moral, por se tratar de aspecto imaterial, deve lastrear-se em
pressupostos diversos do dano material. Não há, como regra geral, avaliar, por
testemunhas ou mensurar em perícia a dor pela morte, pela agressão moral, pelo
desconforto anormal ou pelo desprestígio social. Valer-se-á o juiz, sem dúvida, de
máximas de experiência. Por vezes, todavia, situações particulares exigirão exame
probatório das circunstâncias em torno da conduta do ofensor e da personalidade da
vítima. A razão da indenização do dano moral reside no próprio ato ilícito. Deverá
ser levada em conta também, para estabelecer o montante da indenização, a
condição social e econômica dos envolvidos [...]
Contudo, o dano moral deve ser arbitrado pelo juiz de forma justa, sem a
finalidade de enriquecer ou empobrecer o autor do ato ilícito.
Destarte, provar-se-á o dano patrimonial apresentando os dispêndios com o
futuro casamento, como até a compra de uma casa, já no dano moral pode-se usar do
depoimento de testemunhas, por exemplo, depondo como o nubente abandonado foi
humilhado, qual foi sua reação, a fim de demonstrar que o rompimento injustificado trouxe
abalos psicológicos, mas cumpre lembrar que o dano moral não tem como ser provado de
forma concreta, sendo assim, arbitrado pelo juiz.
54
3.5 Prova do nexo de causalidade
Não basta que exista uma promessa de casamento recusada de forma
injustificada, que acabou causando um dano, para gerar a responsabilidade pela reparação do
dano, todos esses acontecimentos devem estar interligados. Por isso, a prova do nexo causal, a
demonstração de que tudo está correlacionado, afinal se o dano fosse ocasionado por alguma
outra conduta que não esteja ligada ao rompimento injustificado do noivado, não faz sentido
uma ação de indenização pelo rompimento do mesmo.
Se faz mister mencionar as palavras de Maria Helena Diniz, (2007, p.
107):”[...] tal nexo representa, portanto, uma relação necessária entre o evento danoso e a ação
que o produziu, de tal sorte que esta é considerada como sua causa[...]”.
Desse modo, no caso concreto deve ser verificado que o prejuízo
patrimonial e a ofensa moral foi resultado de um ato ilícito, portanto, toda a humilhação do
noivo abandonado e os seus gastos devem estar ligados a conduta da quebra da promessa de
casamento sem motivos. Devendo assim, o autor da ação demonstrar que se tivesse ocorrido o
inverso da ruptura sem motivos não haveria danos patrimoniais e nem psíquicos.
O dano sofrido pela vítima deve ser justificável pelo grau de
constrangimento gerado pela recusa injustificada, assim, não se fala em reparação quando o
autor da ação demonstra um abalo muito maior do que realmente ocorreu, como no caso de
um rompimento que não se deu de maneira gravosa ou não foi sem motivos. O Tribunal de
Justiça de Santa Catarina não concedeu a indenização pela ausência da prova do nexo causal
devido a forma do rompimento não ter sido capaz de gerar um forte abalo psíquico, veja:
APELAÇÃO CÍVEL AC 73227 SC 2008.007322-7
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. NAMORO DESFEITO. DECEPÇÕES. PROMESSA DE
CASAMENTO NÃO COMPROVADA. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.
NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE
O DANO E A CONDUTA ILÍCITA DO AGENTE. FRAUDE, PERSEGUISSÕES
E AGRESSÕES POR PARTE DO REQUERIDO. AUSÊNCIA DE PROVAS.
DANO MORAL DECORRENTE DO ABALO PSÍQUICO SOFRIDO PELA
MANEIRA PELA QUAL ACABOU O RELACIONAMENTO DOS
LITIGANTES. NEXO DE CAUSALIDADE NÃO DEMONSTRADO. ÔNUS QUE
CABIA A AUTORA NOS TERMOS DO ART 333, INCISO I, DO CPC. DANOS
MATERIAIS IGUALMENTE NÃO COMPROVADOS. RECURSO CONHECIDO
E DESPROVIDO.A caracterização da responsabilidade civil subjetiva depende da
coexistência do ato ilícito, do dano e do nexo causal entre a conduta do lesante e o
prejuízo sofrido pelo lesado. [...] "A simples ruptura do noivado não legitima só por
isso a pretensão indenizatória, se não vislumbrada a ilicitude no rompimento. Mas
também para a configuração dos pressupostos necessários à responsabilidade civil,
reclama-se que a promessa não cumprida de casamento tenha se revestido de
seriedade, firmeza e certeza de convicção quanto à sua viabilidade (...)" (Yussef Said
55
Cahali, Dano Moral. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 649/650) (Apelação
Cível n. , de Criciúma, Rel. Desa. Subst. Denise Volpato, j. 29-1-2010). [...] As
frustrações, desapontamento e tristeza enfrentados pela autora, em decorrência da
descoberta da traição do namorado e do consequente fim do relacionamento,
conquanto de todo lamentáveis, são cenas que não se mostram estranhas ao universo
dos relacionamentos sociais e amorosos. Não guardam, assim, qualquer aspecto de
excepcional idade, de estranheza, que justifiquem algum choque anormal na esfera
psicológica da autora, salvo por ingenuidade, de molde a ensejar a reparação de
danos morais. Não há demonstração, de qualquer modo, da configuração do quadro
depressivo alegado. Está-se, pois, diante de situação que não configura abalo de
ordem moral na ordem daqueles que autorizam a pretensão de se ver indenizado pelo
responsável [...] (Apelação Cível n. , de Sombrio, Relator: Des. Carlos Prudêncio, j.
9-11-2010). Apelação cível: AC 73227 SC 2008.007322-7. Relator: Stanley da Silva
Braga. Florianópolis, em 27 de setembro de 2011.
Assim, o nexo causal como um dos requisitos autorizadores da
responsabilidade civil deve ser provado por meio de testemunhas descrevendo que o
rompimento injustificado do noivado foi a causa geradora do dano. Pode ser provado também
por meio de documentos, por confissão, dependendo do caso chegar até a ser provado por
perícia.
A prova do nexo causal é imprescindível para ficar demonstrado claramente
que o dano patrimonial ou moral só se deu devido a ruptura injustificada, pois o judiciário não
pode ser utilizado como meio de resolver frustrações pessoais preexistentes a ruptura do
noivado.
56
CONCLUSÃO
A busca pelo parceiro o qual se pretende construir uma vida a dois não é
uma das tarefas mais fáceis. Pois, para dividir sua vida com outro se faz necessário que
sempre esteja presente confiança, respeito, admiração e amor.
É por isso que em nosso ordenamento ninguém está obrigado a se casar sem
ser de livre e espontânea vontade. Existindo assim o direito de romper um namoro ou um
noivado. Todavia, quando esse rompimento acaba por ofender outros direitos protegidos pelo
mesmo ordenamento jurídico, como dignidade da pessoa humana, automaticamente nasce
uma lide a ser resolvida no judiciário.
Contudo, antes de se resolver essa lide no judiciário é preciso saber que o
noivado não é uma obrigação a ser cumprida, ninguém está obrigado a se casar porque apenas
firmou tal compromisso, assim não se resolve a sua dissolução como descumprimento de um
contrato, mas sim por meio da responsabilidade civil, tratando o rompimento injustificado do
noivado como um ato ilícito. Mesmo entre aqueles que defendem a concepção contratualista
do casamento, ou seja, que o casamento seria um contrato especial, no qual não é aplicável
todas as regras da teoria geral dos contratos, não se deve entender que o noivado é um
contrato, sob pena de obrigar o outro a se casar e assim ferir a vontade livre e consciente de se
casar.
Como já fora dito ao longo do trabalho o judiciário não deve ser usado para
solucionar conflitos amorosos, apenas ensejando qualquer responsabilização por rompimento
quando presente os seguintes pressupostos:
O primeiro seria a promessa de casamento feita de livre e espontânea
vontade pelo réu, sendo esta concreta e real, não basta que uma das partes tenha a intenção de
se casar e a outra não, aqui deve existir um compromisso ente os dois, de forma que toda a
sociedade esteja ciente. Vale lembrar que a promessa deve partir do noivo, não se fala em
indenização quando a promessa fora feita pelos familiares do noivo.
Existindo realmente uma promessa o segundo pressuposto vem a ser o
rompimento injustificado, o que não equivale apenas não decidir mais casar e expor isso ao
outro, aqui o rompimento tem que ser sem motivos, de maneira surpreendente, que o outro
não esperava que isso fosse ocorrer, como no caso de ser largado no altar sem ter a mínima
ideia do porque isso ocorreu, afinal tudo estava normal e não havia motivos para tanto.
57
Todavia, se a outra parte deu causa ao rompimento o réu pode usar isso como uma forma de
se defender na ação de indenização, como uma excludente de ilicitude, até mesmo porque se
perde a essência de injustificado porque passa a existir um motivo para o rompimento, sendo
que na consciência da parte abandonada, mesmo sem saber diretamente pelo noivo se esta
fora a razão do rompimento, existe a desconfiança que o rompimento se deu por sua culpa.
Contudo, o motivo dado pelo outro capaz de ensejar o rompimento deve ser
plausível, aceitável, não uma explicação sem noção, que se ocorresse com qualquer outra
pessoa não seria capaz de acarretar um rompimento, como exemplo a noiva abandona o noivo
no dia do casamento porque não gostou das flores que ele a enviou.
De tal modo, a responsabilidade civil aqui abordada é uma responsabilidade
subjetiva, deve ser provada a culpa do nubente para caracterizar a mesma, daí surge à
necessidade da prova de que o noivado foi rompido por um dos noivos de forma totalmente
inesperada, sem motivos.
Mas não basta que o rompimento tenha sido sem motivos, é necessário que
este rompimento tenha causado algum prejuízo ou dano ao noivo abandonado, e aqui se
defende que cabe indenização tanto pelo desfalque no patrimônio do noivo deixado, como
pelos danos psicológicos que resultaram dessa ação, principalmente se levando em conta a
sociedade que se está inserida o casal, veja, no caso do casal serem pessoas notáveis, e um
acaba deixando o outro a esperar no altar sem nenhuma explicação, causando-lhe humilhação
perante toda a cidade, pois certamente a imprensa publicaria todo o ocorrido, fora a
quantidade de acessos que isso teria ao ser publicado na internet.
O último requisito vem a ser o nexo causal, é de suma importância a ligação
entre todos estes fatores. Só pode responsabilizar o noivo que rompeu injustificadamente o
noivado quando esta for realmente à causa do dano.
Sendo assim, é certo que presente esses quatro requisitos dever ser
concedido uma indenização. Esta deve abranger não somente os prejuízos decorrentes dos
dispêndios feitos em função do futuro casamento, mas também os danos psicológicos gerados
pela ofensa a sua dignidade.
A indenização pelo dano patrimonial deve ser uma forma de ressarcimento a
lesão sofrida no patrimônio do noivo abandonado, que efetivou vários gastos confiantes na
realização de um futuro casamento. Devem ser abrangidos todos os gastos como vestido de
noiva, gastos com a festa em geral, com a moradia do casal.
Quanto ao dano moral, a compensação se dá pela falta de respeito, por toda
humilhação sofrida, lembrando que a Constituição prevê em seu artigo 5°, inciso X, o
58
cabimento do dano moral sempre que houver ofensa à honra, a imagem, assim não existe
motivo oportuno pelo não cabimento da indenização por toda humilhação, ofensa gerada em
razão do rompimento injustificado. Claro que só existirá uma indenização pelo dano moral se
este realmente existiu e ficou provado no processo a sua existência.
É por isso que verificado e provado no processo a existência de um noivado
rompido sem motivos, que acabou ocasionando lesão ao patrimônio do noivo abandonado
existirá o dever do outro ressarci-lo dos danos patrimoniais, e quando está recusa for
vexatória, ou de forma a expor o outro a humilhações, ao ridículo, ou ofender a sua honra
sendo capaz de gerar abalos psicológicos no noivo abandonado, cabe à indenização pelo dano
moral. Sendo assim, uma maneira de minimizar toda dor e todo prejuízo.
59
REFERÊNCIAS
BRASIL.Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação cível nº 4756334300. Relator(a):
Donegá Morandini. Comarca: Jundiaí, Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado, 11 de
março de 2008. Disponível em:˂http://www.ligiera.com.br/jurisprudencia_esponsais_19.
html˃. Acesso em: 20 de junho de 2012.
________. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Apelação cível nº 0330981-5. Apelante:
Marcos A. Negrelli. Apelada: Daiana Pereira De Andrade. Relator: Macedo Pacheco.
Curitiba, em 06 de julho de 2006. Disponível em: ˂http://www.jusbrasil.com.br//
jurisprudencia/6306015/apelacao-civel-ac-3309815-pr-0330981-5-tjpr˃. Acesso em: 15 de
junho de 2012.
________. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação cível nº 70012349
718. Apelante: Nádia Beatriz Fleck. Apelado: Clóvis Rogério Lima de Almeida. Relator:
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Santa Maria , em 07 de dezembro de 2005.
Disponível em: ˂ http://www.ligiera.com.br/esponsais_19.html>. Acesso em 10 de abril de
2012.
________. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação cível 1.0040.04.021738-
8/001(1) . Relator: Elpídio Donizatti. Araxá , em 11 de março de 2006. Disponível em: ˂
http://www.ligiera.com.br/esponsais_19.html>. Acesso em 23 de junho de 2012.
________. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação cível: AC 73227 SC
2008.007322-7. Relator: Stanley da Silva Braga. Florianópolis, em 27 de setembro de 2011.
Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20492730/apelacao-civel-ac-
73227-sc-2008007322-7-tjsc/inteiro-teor>. Acesso em 10 de agosto de 2012.
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: procedimento
comum: procedimento ordinário e sumário. 4. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva,
2011.
60
CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 4. ed ver., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011.
CARVALHO NETO, Inacio de. Responsabilidade civil no direito de família. 1. ed. Curitiba:
Juruá, 2002.
DE PLÁCIDO E SILVA, Oscar Joseph. Vocabulário Jurídico. 15. ed. atualização de Nagib
Slaibi Filho e Geraldo Magela Alves. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7. ed. rev., atual. E ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2010.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 5° volume: responsabilidade civil. 21
ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
______, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil. 21
ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil, volume1: teoria geral do
processo e processo de conhecimento. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
FREITAS, Marcia; ASSIS, Olney Queiroz. Tratado do direito de família. São Paulo: Primeira
Impressão, 2007.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
____________, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 4: responsabilidade civil. 5.
ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
61
MIRANDA, Pontes. Comentários ao Código de Processo Civil, tomo IV. 2. ed. Rio de
Janeiro, Forense, 1979.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil, volume 4. 20. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
SILVA, Michel Mascarenhas. A responsabilidade civil no rompimento do casamento e da
união estável. 1. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009.
STOLZE, Pablo. Contrato de namoro. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1057, 24 maio2006
. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/8319>. Acesso em: 20 de maio de 2012
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 50. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família, volume 6. 11. ed. São Paulo:
Atlas, 2011.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade Civil. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2005.
62
ANEXOS
ANEXO I - LEI DE 6 DE OUTUBRO DE 1784.
Regulava solemnidade dos Esponsaes, a providencia acerca das querellas de
estupro (1).
D. Maria, por graça de Deos, etc.
Faço saber que esta carta de Lei virem: Que sendo-me presentes os muitos,
e gravissimos abusos, que se praticão na celebração do contracto esposalicio, por não haver
Leis, que regulem a forma delle, e servir tão somente de norma a livre vontade dos
contranhentes, os quaes muitas vezes se obrigão a casar por promessa, pactos, e convenções
clandestinas, feitas, sem conselho e consentimento dos pais, e na falta destes dos respectivos
Tutores, ou Curadores por méro impulso de suas próprias, e desordenadas paixões, ou por
solicitaçòes de pessoas interessadas em semelhantes acções; vendo-se por isso nascer a
obrigação esponsalicia no seio do vicio, da precipitação, e do engano, e ser o fecundo
princípio de imnuneraveis desordens, dissensões, e escandalos, que perturbão a paz interior
das familias, arruinão as casa, pervertem os costumes, e impedem o feliz exito dos
matrimonios, com grave, e consideravel prejuizo do bem publico, e particular dos meus
Reinos, e senhorios:
E por que para ocorrer a estes, e a outros tristes abusos, que resultavão da ,
clandestinidade dos matrimonios, ordenou a Igreja no Concílio de Trento, que elles se
contrahissem publicamente com certa froma e solemnidade, ficando aliás sem vigor, irritos,
nullos, e de nenhum effeito; e estas saudaveis, e providentes disposições, posto que
auxíliadas nestes Reino com as penas de competencia secular, pelo Alvará de treze de
Novembro de mil seiscentos cincoenta e hum, à instancias das Cortes, celebradas na cidade de
Lisboa no anno de mil seiscentos quarenta e hum, se tem frustrado, illudido em grande parte,
por se não haverem nellas expressamente comprehendido os esponsaes clandestinos, os quaes
reputando-se validos, e capazes de produzir acção em Juizo, fizerão continuar os referidos
pessimos abusos, vindo os matrimonios celebrados por effeito de taes esponsaes a ser
63
clandestinos na sua propria origem, com manifesta fraude das pias intenções, e santos fins da
Igreja na sobreditas disposições(1).
Querendo eu prover de remedio eficaz, e presentaneo a tantos, e tão
publicos males: e que os meus Vassallos se disponhão para os matrimonios com o acerto,
religião, e decencia que pede esta santa e importante alliança; depois de mandar examinar a
presente e delicada materia por huma junta de Prelados, e de Ministros do meu, Conselho,
muito zelosos do serviço de Deos,e meu, com o parecer de todos elles, Sou sevida a este
respeito ordenar o seguinte:
1° - Ordeno, que da publicação desta em diante nenhuma pessoa de
qualquer qualidade, ou condição que seja, possa contrahir esponsaes sem ser por escriptura
publica, lavrada por Tabellião, e assignada pelos contrahentes, e pelos pais de cada hum
delles; e na falta dos pais pelos seus respectivos Tutores, ou Curadores, e por duas
testemunhas ao menos; e que não produzão effeito algum quaesquer promessas, pactos, ou
convenções esponsalicias, que não forem contrahidas por esta fórma, sem que em razão dellas
possão admitir-se em Juizo acções algumas, nem ainda querendo deixa-se a certesa das
mesmas promessas, pactos ou convençoes no juramente daquelles, que as negarem;
derogando a esse fim as Ordenaçöes do livro terceiro, titulo vinte e cinco no principio,
paragraphos quinto, undécimo, décimo quinto, e vigesimo primo do livro quarto titulo
dezenove (2)
2° - Não havendo Tabelião nas terras, e estando distante mais de duas leguas
do lugar de habitação dos contrahentes, poderão estes ajustar-se-a casar por escripto
particular na presença dos pais, Tutores, ou Curadores, e quatro testemunhas, os quaes todos
deverão assignal-o: Este escrípio particular se não for cumprido no espeço de hum mez, para
ter effeito depois delle passado, será reduzido a escriptura pública: e não o tendo sido não
poderá produzir-se em Juizo nem ter validade alguma(1).
3 ° - Far-se-ha na escriptira menção expressa dos pais do contrahentes, do
lugar onde nascerão, e forão baptizados, da idade que tem, da Freguezia onde morão, e de que
por sua espontanea, e livre vontade, e sem a menor coacção, fizerão e aceitarão suas mutuas, e
reciprocas promessas. Se forem parentes, se dirá genero, e qualidade de parentesco que ha
entre elles, e o grao em que se achão declarando que se obrigão debaixo da condição de lhes
ser concedida a dispensa legitima(2).
4 ° - Os filhos familias, e os menores não poderão contrahir Esponsaes ate a
idade de vinte e cinco anos, sem consentimento dos pais, Tutores, ou Curadores; prestando
estes o seu consentimento, delle se fará espressa menção na escriptura. Se porem não
64
quizerem consentir, sendo para isso requeridos, a instados pelos filhos, ou menores poderão
estes recorrer à Meza do Desembargo do Paço, e aos Corregedores ou Provedores das
Comarcas, para supprirem por sua publica authoridade o consentimento dos pais, Tutores, ou
Curadores, na forma que dispoz El Rey meu senhor, pai, de saudosa memoria, a respeito dos
Matrimonios, na saudavel, e providente Lei de vinte e nove de Novembro de mil setecentos e
sessenta e cinco; e com esta authoridade, e licença no caso de lhes ser assim concedida, se
poderá proceder a escriptura dos Esponsaes, incorporando-se nella a Provisão, ou sentença,
que alcançarem os filhos, ou menores, e não podendo os pais, Tutores, ou Curadores
embaraçar por modo algum a execução das ditas Provisões ou sentenças(3).
5° - Para que as discussões que ocorrerem, e das decisões, que se proferirem
sobre a concessão ou denegação das licenças que se pedirem para estes contractos se não
revele ao publico, cousa alguma, que por qualquer modo possa prejudicao ao decoro, e
reputação das familias, ou de cada hum dos individuos dellas, sou servida ordenar(4):
Primeiro: que assim as informações, que se pedirem a este respeito à
quaesquer Juizes pelos Tribunaes respectivos, como os processos, que a este fim, se
formarem, não possão sahir das mãos dos respectivos Juizes ou dos seus Escrivães, a que
forão distribuidos os ditos processos, ou informações, em que se houverem de inquirir
testemunhas, e que os escriptorios dos mesmos Escrivães vão as proprias partes, ou seus
bastantes procuradores, a dizerem, ou responderem por escripto o que lhes convier, havendo a
esse fim copias, que poderão tirar, do que contra elles tiverem dito os seus contendores.
Segundo: que assim nas sentenças que se proferirem sobre as referidas
contestações, como nas Proviões, que sobre ellas se expedirem pela Meza do Desembargo do
Paço, nos casos da sua competencia, simplesmente se conceda, ou denegue a licença pedida,
com absoluta. e indistincta relação. As provas, e informações do processo, e sem que se
individuem fumdamentos alguns: sem embrago da Ordenação do livro terceiro, título sessenta
e seis, paragrapho setimo, que nestes casos somente hei por derogada
Terceiro: que nos recursos, que se interpuzerem dos Corregedores do Civel
da Corte, dos da Cidade, ou dos das Comarcas do Reino se entreguem os processos pelos
Juizes delles aos Presidentes das Relações respectivas, ou se remellão pelos correios em
segredo de Justiça; e que sendo Escrivães delles os respectivos Guardas-móres, sejão
sentenciados pelos Juizes, a que forem distribuidos pelos igualmente respectivos Presidentes
na conformidade da dita Lei de vinte e nove de Novembro de mil setecentos sessenta e cinco.
Quarto: que passados seis mezes, depois da decisão das referidas
contestaçöes, e de se haverem expedido às partes as suas sentenças, ou provisões, sejão
65
mandados queimar os processos, pelos Presidentes do Tribunaes, ou pelos Magistrados, que
houverem proferido as ultimas sentenças.
E quinto finalmente, que todo, e qualquer Magistrado, ou Oficial, que for
legitimamente convencido de haver faltado ao segredo de Justiça, que nestes casos lhe hei por
muito recomendado seja irremissivelmente punido na conformidade da Ordenação do livro
quinto. titulo nono.
6° - Os filhos maiores de vinte e cinco annos, que quizerem contrahir
Esponsaes, deverão indispensavelmente pedir o consentimento dos pais; e repugnando estes,
depois de terem elles satisfeito, e cumprido com os importantes, e religiosos oflicios da
obdiencia, e respeito, que se devem a estes chefes de poderão proceder a celebração do
contracto sem o seu consentimento: E com esta modificação, e as dos dous precedentes
paragraphos, se entenderá a Lei de vinte e nove de Novembro de mil setecentos setenta e
cinco(1).
7° - Não querendo algum dos contrahentes cumprir os Esponsaes celebrados
na fórma acima determinada, e sendo necessario por isso recorrer se ao Juizo, para ser nelle.
obrigado a encher a fé dada, se procederá nesta causa breve, e summariamente, como a
naturesa della pede, e requer. Para que assim melhor se possa propôr a acção, que produzirem
os Esponsaes, terá a mesma naturesa da assignação de dez dias, que resulta dos contractos
celebrados por Escriptura publica: procedendo-se nella como dispões a Ordenação do livro
terceiro, titulo vinte e cinca, em tudo que lhe fôr applicavel.
8° - Para se evitarem demandas, e se facilitarem os meios se haverem as
partes o seu Direito, quando alguma dellas fica às outras obrigada por todo e qualquer damno,
que cause com o seu injusto repudio, poderão os contrahentes, com consentimento, e
approvação de seus pais, Tutores, e Curadores, definir, e ajustar na escriptura dos Esponsaes a
quantia, que deverá servir de compensação à parte lesa, em tal caso. E succedendo tratar-se
em Juizo da satisfação da mesma quantia assim definida, e estipulada, se procederá nelle na
fôrma da Ordenação referida e na falta de especial estipulação das partes, de indemnisação, e
interesse, ficarão ao prudente arbítrio dos Julgadores., conforme as circumstancias que no
caso ocorrerem(l).
9° - Por quanto, sendo declaradas nullas, irritas, e de nenhum valor as
promessas, pactos, e convenções esponsalicias, que não forem contrahidás pela fórma, que
sou servida prescrever nesta Lei, poderá succeder que se frequentem os estupros, para por este
meio illicito, e criminoso se adquirir o direito ao rnatrimonio, ou ao dote: Querendo desde
logo occorrer a tão perniciosos abusos, e fraudes: Hei por bem abolir, e extinguir a querella de
66
estupro, que pela Ordenação do livro quinto, tíitulo vinte e trez compete às mulheres virgens,
que se deixão corromper por sua vontade(2).
E mando:
Primeiro: que nenhuma dellas, excedendo a idade de dezesete anos
completos(3), ainda que tenha contrahido esponsaes, possa por este motivo ser ouvida em
Juizo, excepto o caso, em que seja real, e verdadeiramente forçada.
Segundo: que aquelle que a corromper, sendo maior de dezesete annos, seja
condemnado a arbítrio do Juiz, regulado pela qualidade, estado, e condição de hum e outro;
não arbitrando porem, nos casos ordinarios menor pena, que a de degredo por cinco annos
para as Colonias de Arfiica, ou da Asia; a qual só se poderá proceder a requerimento dos pais,
Tutores, e Curadores, e na falta delles, dos Irmãos.
IO. - Para evitar duvidas, e opiniões: Ordeno, que na disposição desta Lei se
entendão comprehendidos os Esponsaes preteritos, se dentro de trez meses, contador da sua
publicação na Cabeça da Comarca, não forem ajuizados celebrados na antiga forma por
escriptos, e testemunhas ajuizando-se no dito termo, se procedem nestas causas ( assim como
nas que se achão pendentes) conforme a Jurisprudencia até agora recebida. Da mesma forma,
e dentro do referido termo de trez rnezes, se procederá nas querellas de estupro, que se
pretenderem intentar, assim como nos processos, que actualmente penderem em Juizo. Esta se
cumprirá tão inteiramente como nella se contém, sem duvida ou embrago algum, qualquer que
elle seja. Pelo que mando, etc.
Dado no Palacio de Queluz em 6 dc Outubro de 1784. - Com a Assignatura
da Rainha com guarda.
Disponível em http://www.uc.pt/ihti/proj/filipinas/14pa1029.htm, acessado
em 13 de setembro de 2.012.