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RESPONSABILIDADE CIVIL DOS EMPREITEIROS E CONSTRUTORES Larissa Meneghel Marcolino Natalia Megumi Tsukamoto

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Page 1: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS EMPREITEIROS E CONSTRUTORES

Larissa Meneghel Marcolino

Natalia Megumi Tsukamoto

Page 2: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

CONTRATO DE CONSTRUÇÃO

Conceito: “todo ajuste para execução de obra certa e determinada, sob direção e responsabilidade do construtor, pessoa física ou jurídica legalmente habilitada a construir, que se incumbe dos trabalhos especificados no projeto, mediante as condições avençadas com o proprietário ou comitente” (Hely Lopes Meirelles)

Pelo contrato, o construtor assume uma obrigação de resultado, que só se extingue com a entrega da obra pronta e acabada. Contrato de construção é o gênero, do qual o contrato

de empreitada é espécie.

Page 3: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

CONSTRUÇÃO POR EMPREITADA

Empreiteiro: assume obrigação de resultado – deve garantir ao dono da obra a sua solidez e a sua capacidade para servir ao destino para o qual foi encomendada.

Construtor: é um técnico, com responsabilidade ético-profissional pela segurança e perfeição da obra. A responsabilidade técnica pela solidez e perfeição da obra é sempre pessoal e intransferível do profissional ao proprietário.

Page 4: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

ESPÉCIES DE EMPREITADA (ART. 610, CC)

de mão-de-obra (ou de lavor): empreiteiro contribui apenas com o seu trabalho (risco por caso fortuito na conta do proprietário da obra, salvo houver concorrência com culpa do empreiteiro)

de material: empreiteiro fornece também os materiais necessários à execução da obra (riscos por caso fortuito por sua conta até a entrega da obra)

Page 5: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

RESPONSABILIDADES DO EMPREITEIRO

Perante o proprietário, o empreiteiro é obrigado a cumprir o contrato e executar fielmente o projeto da obra contratada, com a técnica, materiais, perícia e ética necessários. Faltando estes requisitos, dará ensejo à

resolução contratual, com indenização à parte prejudicada.

Concluída e entregue a obra, subiste a responsabilidade do empreiteiro pela solidez e segurança da construção (art. 618).

Page 6: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

A RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR

Contratual: por inexecução culposa de suas obrigações, ao não executar a obra ou fazê-lo de maneira defeituosa – responderá civilmente como contratante inadimplente, pelas perdas e danos (arts. 389 e 402) – salvo caso fortuito ou força maior (ônus da prova do construtor inadimplente) Lucros cessantes podem incluir: valorização do prédio,

resultado do negócio que seria explorado, alugueis que renderia

Extracontratual: de ordem pública, diz respeito à responsabilidade pela perfeição da obra, sua solidez e segurança, e à responsabilidade por danos a vizinhos e a terceiros.

Page 7: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

RESPONSABILIDADE PELA PERFEIÇÃO DA OBRA

É encargo ético-profissional do construtor, decorrente não só dos conhecimentos técnicos mas também das noções de estética e arte. Cliente pode rejeitar a obra imperfeita ou

defeituosa (art. 615), ou pode receber com abatimento de preço, se assim lhe convier (art. 616)

Ato verificatório: se o cliente receber a obra como boa e perfeita, não poderá reclamar posteriormente, salvo vícios ocultos ou redibitórios – prazo de 1 ano para reclamar de defeitos ocultos (desde que não afetem a segurança e a solidez da obra, para os quais há prazo de 5 anos – art. 618)

Page 8: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

RESPONSABILIDADE PELA SOLIDEZ E SEGURANÇA DA OBRA

Concluída e entregue a obra, subsiste a responsabilidade do empreiteiro, durante 5 anos, pela solidez e segurança da construção – art. 618.

O prazo de 5 anos é de garantia da obra, mas a ação derivada de falta de solidez deve ser ajuizado em 180 dias, contado do surgimento do defeito, sob pena de decadência do direito.

A responsabilidade do construtor permanece perante o dono da obra e também perante quem o suceda na propriedade ou a compre.

Page 9: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

RESPONSABILIDADE PELOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS

Defeitos visíveis: cessa a responsabilidade do construtor se houver recebimento da obra sem reclamação (art. 615).

Defeitos ocultos: persiste a responsabilidade do construtor por 1 ano após a entrega da obra (art. 445). Se, por sua natureza, só puder ser conhecido

mais tarde, o prazo será contado a partir do momento em que dele se tiver ciência, até o prazo máximo de 1 ano (art. 445).

Page 10: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

RESPONSABILIDADE POR DANOS A VIZINHOS E A TERCEIROS

Danos causados a vizinhos serão ressarcidos por quem der origem a eles e por quem aufere os proveitos da construção.

Há responsabilidade solidária do construtor e do proprietário, decorrente da simples nocividade da obra, independentemente de culpa de qualquer deles.

Se o proprietário pagar a indenização, terá direito a ação regressiva contra o construtor, se os danos decorreram de imprudência, negligência ou imperícia do construtor.

Page 11: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

DESABAMENTOS, RUÍDO, POEIRA

Com relação a danos provenientes de desabamentos, queda de materiais, ruído, poeira e etc., a responsabilidade será aquiliana (art. 186), e deve ser atribuída diretamente àquele que executa a obra – o construtor, que é quem guarda a coisa e a direção dos trabalhos.

Hely Lopes: “se se trata de vizinhos, haveria solidariedade entre o proprietário e o construtor, e seria independente da culpa de um e de outro. Em relação ao terceiro “não vizinho”, a responsabilidade é do construtor; o proprietário somente com ele se solidariza se houver confiado a obra a pessoa inabilitada para os trabalhos de engenharia e arquitetura”.

Page 12: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

JURISPRUDÊNCIA

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo APELAÇÃO N° 7.119.553-4 APEL ANTES: Waldemar Martins Aydar Júnior, Paula Maria Calixto Lapera Aydar e Carlos Roberto Bertellini APELADOS: Os mesmos COMARCA: Catanduva (3a Vara Cível)

INDENIZAÇAO — Danos materiais e morais -Execução de obras de engenharia — Erros que acarretaram prejuízos aos autores — Admissibilidade Ao celebrar o contrato, o construtor assume uma obrigação de resultado, que só se exaure com a entrega da obra pronta e acabada a contento de quem a encomendou, O seu trabalho deve-se pautar pelas normas técnicas e imposições legais que seguem os trabalhos de Engenharia e Arquitetura - Os defeitos apresentados na construção evidenciam falhas técnicas, decorrentes da negligência do construtor na condução da obra — Indenização devida

Page 13: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

ALEGAÇÕES: Pedido: alegam que contrataram o réu para

execução de obra de engenharia, que foi executada com erros, o que acarretou prejuízos para os autores; danos materiais de R$ 48.112,87, custo para sanar os defeitos da construção e indenização e por dano moral, valor a ser estimado pelo juízo

Pedido reconvencional: de R$ 8.000,00, referente a serviços executados e não pagos, bem como a uma indenização por dano moral, valor a ser arbitrado pelo juízo.

 

Page 14: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

PROBLEMAS IDENTIFICADOS PELA PERÍCIA:

A causa dessas infiltrações são pela falta de rufos no muro lateral. A conseqüência desse fato é uma umidade profunda nas paredes e no contrapiso, levando o reboco a se desgastar"

"O contra-piso executado pelo autor foi utilizado concreto usinado FCK 15 MPA, assentado em terreno sem compactação" sendo que "em diversos locais apresentam-se trincas oriundas da não compactação do solo"

Page 15: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

PROBLEMAS IDENTIFICADOS NA PERÍCIA:

"Não houve impermeabilização das paredes externas das piscinas e nem ao menos foi rebocada. Tal medida é necessária, utilizando produto altamente impermeável para que o contato com o solo aterro não ultrapasse umidade para a parte interna, o que provocaria infiltrações e conseqüentemente trincas profundas em toda sua extensão"

“E o não assentamento adequado nos rufos laterais provocam infiltrações de água na edícula", muro de animo não provido de manta asfáltica, enfatizando que para os defeitos de construção constatados (contra-piso, rufos, beirais, paredes externas da piscina, vigas e pilares, nivelamento de portas e vidros) "é necessário sanar os defeitos para posteriormente prosseguir a obra"

Page 16: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

"A responsabilidade do construtor pode ser contratual ou extracontratual. A primeira decorre da inexecução culposa de suas obrigações. Violando o contrato ao não executar a obra ou ao executá-la defeituosamente, inobservando as normas nele estabelecidas, o construtor responderá civilmente, como contratante inadimplente, pelas perdas e danos, com base nos arts.389 e 402 do Código Civil.”Hely Lopes Meirelles

Page 17: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

“Na avaliação do lucro cessante podem ser incluídos: 'a valorização do prédio, o resultado do negócio que nele seria explorado, os aluguéis que renderia, e tudo o mais que a construção pudesse produzir para seu dono. Incluem-se, ainda, na indenização de perdas e danos a correção monetária, os juros, as custas judiciais, os salários dos peritos e os honorários do advogado que demandou os prejuízos.”Hely Lopes Meirelles

Page 18: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

"A responsabilidade pela perfeição da obra, embora não consignada no contrato, é de presumir-se em todo ajuste de construção como encargos ético-profissional do construtor. Isto porque a construção civil é, modernamente, mais que um empreendimento leigo, um processo técnico-artístico de composição e coordenação de materiais e ordenação de espaços para atender às múltiplas necessidades do homem. Dentro dessa conceituação, o construtor contemporâneo está no dever ético-profissional de empregar em todo trabalho de sua especialidade, além de peritia artis dos práticos do passado, a peritia technica dos profissionais da atualidade.” Carlos Roberto Gonçalves

Page 19: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

“É uma responsabilidade decorrente não só dos conhecimentos técnicos mas também das noções de estética e arte. Fundado nessa responsabilidade é que o Código Civil autoriza o cliente a rejeitar a obra imperfeita ou defeituosa (art. 615) ou a recebê-la com abatimento no preço, se assim lhe convier (art. 616) " Carlos Roberto Gonçalves

Resultado: Mantida a procedência da ação quanto aos danos materiais.

Page 20: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

JURISPRUDÊNCIA

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Apelação nº: 9102826-73.2008.8.26.0000 Comarca: Santos Apelante: STIELFELMANN EMPREENDIMENTOS E CONSTRUÇÕES LTDA Apelado: HELDER RODRIGUES DO NASCIMENTO E OUTRA

EMENTA AÇÃO REPARATÓRIA - DEFEITO NA ESTRUTURA DA OBRA - RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR - PROVA PRODUZIDA QUE É CONCLUSIVA QUANTO AOS DEFEITOS ESTRUTURAIS - DEVER DE INDENIZAR OS PREJUÍZOS - DANO MORAL RECONHECIDO - INDENIZAÇÃO DEVIDA - AÇÃO JULGADA PROCEDENTE - SENTENÇA MANTIDA RECURSO DESPROVIDO

Page 21: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

ALEGAÇÕES: Pedido apelados: Cuida-se de ação de indenização

ajuizada por condôminos visando a reparação de prejuízos na unidade n. 112 do Condomínio Edifício Residencial Gaudi, que os autores adquiriram da ré em 28 de junho de 2000, conforme documentado às fls. 14/38. Sustentam que experimentam danos ao apartamento, os quais são decorrentes da má execução dos serviços por parte da ré, a construtora e incorporadora.

Pretendem seja a ré responsabilizada pelos prejuízos decorrentes de infiltração de água pela fachada, falhas no sistema de impermeabilização do terraço da cobertura, redução de pé direito e trincas nos pisos, dentre outros prejuízos materiais, além de indenização por danos morais.

Pedido apelante: inocorrência de dano moral; também excesso na fixação das verbas indenizatórias, por já reparados a maior parte dos defeitos apontados.

Page 22: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

 FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

I- O condomínio tem legitimidade ativa para pleitear reparação de danos por defeitos de construção ocorridos na área comum do Edifício, bem como na área individual de cada unidade habitacional, podendo defender tanto os interesses coletivos quanto individuais homogêneos dos moradores.

II - Verificado o defeito de construção no prazo de garantia a que alude o art. 618 do Código Civil, tem a parte interessada vinte anos para aforar a demanda de reparação de danos (enunciado n. 194 da Súmula/STJ)

Page 23: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

III- Em princípio, solidez e segurança estariam ligadas à estrutura de sustentação do prédio, de modo que os defeitos que as afetassem deveriam estar provocando transtorno que pudesse impossibilitar de toda forma a continuação da moradia. Entretanto, já há muito a melhor doutrina tem conferido uma interpretação extensiva a essa expressão para abonar a tese da prescindibilidade de haver perigo de desabamento e abarcar os casos em que os defeitos pudessem comprometer a construção e tomá-la, ainda que num futuro mediato, perigosa, como ocorre com rachaduras e infiltrações.

Page 24: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO:

“ O art. 618 do Código Civil deve ser interpretado e aplicado tendo em vista as realidades da construção civil nos dias atuais. Vazamentos nas instalações hidráulicas, constatados pericialmente e afirmados como defeitos de maior gravidade nas instâncias locais. Prejuízos inclusive à saúde dos moradores. Não é seguro um edifício que não proporcione a seus moradores condições normais de habitabilidade e salubridade.

Page 25: Responsabilidade Civil Dos Empreiteiros e Construtores

QUANTO AO DANO MORAL:

Não se pode ignorar que, na espécie, os autores quando compraram o apartamento que estava sendo construído pela ré, fizeram-no na esperança e certeza de que a construção se daria da melhor maneira possível, ou seja, com solidez e segurança. Tal expectativa, quando frustrada pelo aparecimento de rachaduras e infiltrações importantes, com a queda de teto de gesso, excede a esfera de normalidade, ainda mais, quando, colocam em risco a integridade física dos moradores.

 

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QUANTO AO DANO MORAL:

A mais moderna doutrina passou a distinguir entre os danos morais subjetivos e objetivos. Objetivos seriam aqueles que se referem, propriamente, aos direitos da personalidade. Subjetivos, aqueles que se correlacionam com o mal sofrido pela pessoa em sua subjetividade, e sua intimidade psíquica, sujeita a dor ou sofrimento (Maria Celina Bodin de Moraes)

Na função punitiva, ou de desestímulo do dano moral, olha-se para o lesante de tal modo que a indenização represente advertência, sinal de que a sociedade não aceita seu comportamento (Carlos Alberto Bittar)

  Resultado: Decisão mantida quanto aos danos

materiais e aos danos morais.