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Resinagem do Pinus Introdução Resinar é a ação de retirar a goma resina de árvores vivas de Pinus. Esta é uma atividade muito antiga, havendo relatos da utilização da resina para fins religiosos da civilização egípcia. O mesmo produto tornou-se importante na indústria naval, onde parte de componentes da resina foram utilizados como “isolantes” na calafetagem de barcos dos fenícios e mais tarde da marinha real inglesa. Dai surgiu a denominação "naval stores", associada a ela. Existem citações bíblicas, onde um dos produtos da resina, o breu, foi utilizado com este mesmo fim na construção da arca de Noé e também para impermeabilizar o berço de João Batista (Neves et al. apud Aresb, 2001). Apenas as coníferas são consideradas árvores resiníferas. Possuem canais de resina em sua estrutura anatômica, responsáveis por conduzir esse conjunto de extrativos ricos em energia até as regiões de necessidade pela árvore. Apesar disso, somente a extração da resina dos Pinus é economicamente viável, sendo que em muitas coníferas pelo menos é possível extraí-la, mesmo que sem fins comerciais. Logo, a atividade iniciou-se onde as florestas de pinheiros eram mais abundantes, como na América do Norte, Europa e alguns locais da Ásia (Baena, 1994; Aresb apud Neves et al., 2001). No Brasil, a resinagem teve princípio nas décadas de 60 a 70, utilizando-se plantações que primeiramente serviriam para a indústria de celulose, sendo consideradas demasiadamente adensadas para a boa produção de resina. Com o passar do tempo, o cultivo de Pinus para extração da goma resina evoluiu, sendo algumas das árvores das áreas produtoras desbastadas, garantindo melhores índices de produção para as remanescentes. Desta forma, a partir de 1989, o país passou a ser exportador de resina, ocupando hoje o segundo lugar na produção, junto com a Indonésia, e perdendo apenas para a produção chinesa (Remade, 2002). Atualmente, o uso e a demanda da goma resina são superiores e muito mais abrangente ao da antigüidade. Seus produtos, a terebintina (fase volátil) e o breu (fase sólida) são utilizados para fins cosméticos, farmacêuticos, para produtos de higiene, na fabricação de tintas, vernizes, colas, solventes, adesivos, borrachas e papéis (Harima do Paraná Ind., 1978). Técnicas de resinagem Inicialmente, existiam técnicas pouco sofisticadas para a resinagem, que consistiam apenas da remoção da parte da casca e feitio de cortes no lenho para permitir o fluxo da resina e coleta da mesma com potes coletores fixados na árvore. A cada semana, removia-se a resina endurecida destes cortes para não barrar a produção (ARESB, 2008). Com o passar do tempo, estas técnicas foram aprimoradas. Com estudos fisiológicos e anatômicos, descobriu-se que os canais resiníferos se dispõem vertical e horizontalmente no tronco da árvore e que há diferenciais de pressão envolvidos no transporte da resina na árvore, auxiliando na descoberta de novas tecnologias. Passaram a ser utilizados produtos anti-aglutinantes e estimulantes de liberação de resina pela árvore, permitindo menor mão-de-obra, por não mais necessitar a limpeza e realização de novas estrias e consequentemente permitindo maior produção (Baena, 1994; Aresb, 2008). A técnica mais utilizada atualmente consiste de: 1. remoção da casca a 18 cm do solo e elaboração de estrias verticais com cerca de dois cm de altura no lenho;

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Page 1: Resinagem 2 (1)

Resinagem do Pinus

Introdução

Resinar é a ação de retirar a goma resina de árvores vivas de Pinus. Esta é uma atividade muito antiga, havendo relatos da utilização da resina para fins religiosos da civilização egípcia. O mesmo produto tornou-se importante na indústria naval, onde parte de componentes da resina foram utilizados como “isolantes” na calafetagem de barcos dos fenícios e mais tarde da marinha real inglesa. Dai surgiu a denominação "naval stores", associada a ela. Existem citações bíblicas, onde um dos produtos da resina, o breu, foi utilizado com este mesmo fim na construção da arca de Noé e também para impermeabilizar o berço de João

Batista (Neves et al. apud Aresb, 2001). Apenas as coníferas são consideradas árvores resiníferas. Possuem canais de

resina em sua estrutura anatômica, responsáveis por conduzir esse conjunto de extrativos ricos em energia até as regiões de necessidade pela árvore. Apesar disso, somente a extração da resina dos Pinus é economicamente viável, sendo que em muitas coníferas pelo menos é possível extraí-la, mesmo que sem fins comerciais. Logo, a atividade iniciou-se onde as florestas de pinheiros eram mais abundantes, como na América do Norte, Europa e alguns locais da Ásia (Baena, 1994; Aresb apud Neves et al., 2001).

No Brasil, a resinagem teve princípio nas décadas de 60 a 70, utilizando-se plantações que primeiramente serviriam para a indústria de celulose, sendo consideradas demasiadamente adensadas para a boa produção de resina. Com o passar do tempo, o cultivo de Pinus para extração da goma resina evoluiu, sendo algumas das árvores das áreas produtoras desbastadas, garantindo melhores

índices de produção para as remanescentes. Desta forma, a partir de 1989, o país passou a ser exportador de resina, ocupando hoje o segundo lugar na produção, junto com a Indonésia, e perdendo apenas para a produção chinesa (Remade, 2002).

Atualmente, o uso e a demanda da goma resina são superiores e muito mais abrangente ao da antigüidade. Seus produtos, a terebintina (fase volátil) e o breu (fase sólida) são utilizados para fins cosméticos, farmacêuticos, para produtos de higiene, na fabricação de tintas, vernizes, colas, solventes, adesivos, borrachas e

papéis (Harima do Paraná Ind., 1978).

Técnicas de resinagem

Inicialmente, existiam técnicas pouco sofisticadas para a resinagem, que consistiam apenas da remoção da parte da casca e feitio de cortes no lenho para permitir o fluxo da resina e coleta da mesma com potes coletores fixados na árvore. A cada semana, removia-se a resina endurecida destes cortes para não barrar a produção (ARESB, 2008).

Com o passar do tempo, estas técnicas foram aprimoradas. Com estudos fisiológicos e anatômicos, descobriu-se que os canais resiníferos se dispõem vertical e horizontalmente no tronco da árvore e que há diferenciais de pressão envolvidos no transporte da resina na árvore, auxiliando na descoberta de novas tecnologias. Passaram a ser utilizados produtos anti-aglutinantes e estimulantes de liberação de

resina pela árvore, permitindo menor mão-de-obra, por não mais necessitar a limpeza e realização de novas estrias e consequentemente permitindo maior produção (Baena, 1994; Aresb, 2008).

A técnica mais utilizada atualmente consiste de:

1. remoção da casca a 18 cm do solo e elaboração de estrias verticais com cerca de dois cm de altura no lenho;

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2. aplicação de dois gramas de pasta estimulante a base de H2SO4 junto ao corte (casca e lenho) para a "abertura" dos canais resiníferos. A pasta estimulante é aplicada diretamente na estria, o que permite uma exudação de seiva por cerca de 15 dias. Hoje já existem pastas ácidas que permitem um incremento deste período para 21 dias devido às maiores concentrações utilizadas. Isso diminui ainda mais a mão-de-obra da atividade (Baena, 1994);

3. fixar com grampos ou arame os sacos plásticos (35x25x0,20cm) de coleta de goma resina. Cada saco demora em média dois meses para encher.

4. colocar um pouco de água no saco para evitar a volatilização da terebintina.

5. realizar nova estria acima da anterior a cada 15 dias; 6. monitorar o enchimento dos sacos de coleta, evitando perda de goma

resina e coletando esta em latas de 18-20 litros assim que houver o enchimento do volume determinado. Cuidados com a danificação dos sacos de coleta devem ser levados em conta principalmente durante as chuvas, em que suas águas excedem suas capacidades de retenção, podendo romper e causar a perda da resina existente em seu interior;

7. acondicionar a goma resina das latas em tonéis metálicos de 200 litros;

8. depois de cheios, fechar os tonéis devidamente e transportá-los para a unidade beneficiadora da resinífera ou diretamente para a exportação (Baena, 1994; Neves et al. 2001; Aresb, 2008).

Geralmente, a coleta da resina dura em torno de nove meses no ano. Assim, realizam-se de 18 a 20 estrias em uma árvore. Estas estrias tem altura (espaçamento) de dois cm e largura de 20 cm. Logo, forma-se um painel com aproximados 800 cm2 de área no tronco. A idade mínima para iniciar a resinagem no Pinus é de oito anos, ou com DAP (diâmetro na altura do peito) mínimo de 17 cm. O Pinus pode ser resinado aproximadamente durante 16 anos (Indústrias Químicas Carbomafra S.A, 1978; Baena, 1994; Neves et al. 2001; Marto et AL

2006; Aresb, 2008). Cabe ressaltar que a largura do painel deve obedecer ao DAP de cada

árvore, podendo prejudicar o desenvolvimento e a qualidade da madeira destas caso contrário (Berzagui apud Baena, 1994).

Para resinagem em 2a face (chamada de "à morte"), que pode ser feita antes do manejo florestal para a retirada de algumas árvores, deve-se deixar no mínimo 10 cm de casca de cada lado (Baena, 1994).

Os rendimentos operacionais da resinagem são de 10.000 a 15.120

árvores/homem/safra-ano (Aresb apud Neves et al. 2001; Caser apud Neves et al. 2001), com todas estas etapas sendo realizadas e com retornos de 14 dias.

De julho a agosto, (épocas mais frias, principalmente na região Sul do Brasil), ocorre o “descanso” da árvore, que por causa das baixas temperaturas, diminui o seu metabolismo, gerando menores produções e transportes de resina. Assim, nesta época do ano, a mão de obra é aproveitada não mais para a coleta de resina e sim para a realização das raspagens e limpezas do tronco da árvore e

reinstalação de materiais (novos sacos de coleta) (Baena, 1994). Nas regiões quentes em que se pratica resinagem, o descanso dos Pinus ocorre obedecendo às épocas de baixa precipitação pluviométrica (Baena, 1994).

Segurança no trabalho

Alguns equipamentos de proteção individual devem ser utilizados pelos

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resinadores a fim de proteger contra acidentes e propiciar melhores condições de saúde laboral. Os principais E.P.I.s exigidos pelas CIPAs são:

botas de P.V.C., luvas de P.V.C., aventais plásticos, viseira e capacete na atividade de aplicação da pasta a base de ácido sulfúrico;

luvas de P.V.C., botina e capacete para a coleta de resina;

sapatos com biqueira de aço, luvas de P.V.C. e capacete durante o

transporte (Harima..., 1978; Neves et al., 2001).

Componentes, qualidade e tipos de resina

A resina é composta por terpenos, ácidos resinosos, ácidos graxos e ésteres e outros compostos neutros associados. Há na resina substâncias insolúveis em água e também solúveis em solventes neutros como ésteres (Brito & Barrichelo apud Baena, 1994). Segundo os mesmos autores, as árvores folhosas também possuem resina, só que em concentrações de 1% ou menos na madeira, ao passo

que as árvores resinosas (coníferas) e principalmente os Pinus, possuem a resina em concentrações bem superiores. Os Pinus se sobressaem na extração de resina frente às outras Pináceas (Gêneros Abies, Picea), visto que é a única que possui pressão em seus canais resiníferos a ponto de permitir a extração da resina com maior facilidade.

As principais frações da goma resina bruta são o breu (pêz ou colofônia), considerado a parte sólida, formado principalmente por ácido abiético; e a terebintina. A terebintina é a parte volátil da resina, constituída por compostos orgânicos cíclicos, e tem como principal destino as indústrias farmacêuticas e químicas, sendo utilizada como principal componente de solvente de algumas tintas (Harima..., 1978).

No Brasil, de 80 a 90% da terebintina é utilizada para a produção de óleo de pinho (Neves et al. 2001). Já do breu produzem-se vernizes, plásticos, lubrificantes, inseticidas, tintas, germinadas, bactericidas, mas é principalmente usado em indústrias de papel na colagem do mesmo. Segundo Homa apud Neves et

al. (2001), os principais constituintes do breu são os ácidos resinosos, e destes, o principal é o ácido levopimárico, que ao ser destilado isomeriza-se em ácido abiético.

Hoje em dia, segundo Augusto Filho (1994) apud Baena (1994), há pelo menos 30 utilizações para o breu e mais 40 para a terebintina. Apesar disso, o breu é ainda mais requisitado que a terebintina.

No Brasil, Homa apud Neves et al. (2001) ressalta que 30 % do breu é

utilizado para fabricação de cola de papel, outros 30 % para resinas diversas, 20 % utilizados na fabricação de borrachas sintéticas e 10 % usados na indústrias de chicletes.

A separação do breu da terebintina é feita através da destilação. Primeiro, a resina bruta é misturada com 20% de terebintina para a diluição. Logo, é filtrada, lavada e branqueada, eliminando as impurezas. Separa-se a terebintina em autoclaves de destilação (Sanderman apud Baena, 1994).

Existem três tipos de resina no mercado que se diferenciam de acordo com os seus métodos de extração, que são: a resinagem, a extração e a destilação do óleo do licor preto kraft da fabricação da celulose ("tall oil") (Harima do Paraná Ind. Química Ltda, 1978).

Na extração, a retirada da resina ocorre após o corte do Pinus em áreas de solo mais valiosas, que precisam ser destocadas. Logo, ocorre geralmente em tocos de árvores mais velhas. Estes são picados e recebem benzina para a extração da resina que se separa após por destilação. É uma técnica ainda não muito utilizada

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no Brasil, mas em algumas regiões dos Estados Unidos á bastante empregada. A resina extraída deste processo possui de 70 a 85 % de breu (Neves et al., 2001).

Já a destilação do "tall oil" é feita em sub-produtos de fábricas de celulose. O "tall oil" é uma resina de pior qualidade extraída através da destilação da lixívia ou licor preto (lignina + resina). A aplicação de ácido sulfúrico e posterior purificações da lixívia negra, gera a resina de "tall oil" e o ácido sebácico (Sanderman apud Baena, 1994). Apesar da menor qualidade do breu do “tall oil”, este é bastante encontrado no mercado e apresenta valores comerciais bem inferiores ao breu vivo extraído pelo método da resinagem de árvores vivas (Neves et al. 2001).

Principais espécies produtoras de resina

Atualmente, segundo Neves et al. (2001) os Pinus mais utilizados para a atividade resinífera são:

Pinus caribaea Morelet – Esta espécie e suas variedades são conhecidas como os pinheiros tropicais. Com origem na América Central, são muito plantadas no Brasil, principalmente nas regiões quentes. As variedades mais plantadas no Brasil para a resina são a bahamensis e a hondurensis. A variedade caribaea ocorre em menor freqüência. Os pinheiros tropicais, após processo de destilação, produzem 68% de breu e de 4 a 9% de terebintina, todos produtos de boa qualidade comercial (Assunção apud Neves et al. 2001).

P. elliottii - Originário da América do Norte, mais especificamente dos Estados Unidos, P. elliottii é a maior fonte produtora de resina no Brasil, sendo muito utilizada em regiões mais frias do país, como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e no sudoeste de São Paulo. Nos EUA também é bastante plantada, principalmente na região sudeste, sendo utilizado não apenas para a resina, mas para a serraria e para a indústria de celulose.

Orlandini citado por Neves et al. (2001) afirma que, além de produzir mais quantidade de resina, P. elliottii tem outra vantagem em relação aos pinheiros

tropicais: a sua resina não oxida em contato com a casca do pinheiro como ocorre nos pinheiros tropicais, o que dificulta a extração do produto a campo.

P. elliottii também possui a melhor qualidade de seus componentes extraídos na destilação a vapor de água: 68% de breu, 17% de terebintina, 10% de umidade e 5% de impurezas sólidas e água das chuvas (Assunção apud Neves et al. 2001). P. palustris - Pinheiro de origem norte americana, ainda é muito cultivado nos EUA, principalmente nas zonas mais quentes, indo dos estados da Carolina do

Norte ao Texas. Não são plantados no Brasil.

P. pinaster – Pinheiro originário da Europa, é muito encontrado em regiões marítimas por se desenvolver bem em solos arenosos.

P. sylvestris – Pinheiro Europeu, é encontrado na maioria dos países; contudo, é mais cultivado para fins econômicos na Alemanha, Finlândia, Turquia e Rússia.

No Brasil, além de P. elliottii, P. caribaea e suas três variedades, também são extraídas resinas de P. taeda, P. oocarpa, P. patula e P. kesya, esses em menores proporções. (Gurgel e Faria, 1978; Baena, 1994).

Brito et al. (1978) estudaram a variação de quantidade e qualidade de resinas de quatro espécies de Pinus, relacionando-as também com a temperatura

ambiente. Sobre essa última, os autores concluíram que de modo geral a produção

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de resina é afetada pela queda na temperatura. Os pinheiros tropicais (P. caribaea e P. oocarpa), apresentaram uma queda brusca na produção com a queda na temperatura. Já em P. elliottii e P. kesya, essa queda foi mais leve. Com o aumento da temperatura após a queda, foi P. elliottii que passou a produzir maiores quantidades de resina, ao passo que P. caribaeafoi o que obteve menor produção neste período. A qualidade da terebintina do P. elliottiifoi superior à das outras três espécies por possuir maiores teores de alfa e beta-pineno, que são os componentes mais relevantes desse produto. P. kesya possuiu a terebintina de pior qualidade.

Migliorini et al. (1980), em estudos de qualidade dos produtos da goma resina em diferentes espécies de Pinus em Minas Gerais, mostraram, no conjunto, a qualidade superior do breu para o P. caribaea var. bahamensis, P. caribaea var.

caribaea e P. elliottii var. elliottii. Já P. patula foi a espécie que produziu breu de pior qualidade.

Fatores que influenciam a produção

Existem duas categorias de fatores que influenciam na produção da goma resina, estes são os físicos ou externos e os intrínsecos ou genéticos (Brito & Barrichelo apud Baena, 1994). Estes últimos são considerados como base para o sucesso da produção de um projeto de reflorestamento. Os fatores intrínsecos ligados à escolha da espécie e de suas características genéticas devem ter premissa de importância visto a potencialidade da produção de resina de algumas espécies em relação a outras (Remade, 2002).

Outros fatores intrínsecos de relevância são os ligados ao projeto de reflorestamento e manejo deste:

Sanidade da planta - Plantio de mudas idôneas de Pinus com genética e

condições fitossanitárias adequadas são essenciais para uma boa produção de goma resina (Remade, 2002).

Idade da planta - Conforme já mencionado anteriormente, a resinagem deve obedecer ao desenvolvimento do Pinus. Para P. elliottii a idade mínima para a atividade é considerada ser a de oito anos (Gurgel e Faria, 1978).

Espaçamento - Altas densidades de uma área resinífera de Pinus constitui em fator limitante de produção. Espécies de Pinus em espaçamentos reduzidos tem menores tamanhos de copa, menor DAP e consequentemente produzirão menos resina (Baena, 1994).

Dimensões da planta - Árvores maiores de Pinus são as mais recomendadas para a resinagem, obedecendo a um DAP mínimo de 16 cm (Baena, 1994).

A altura da copa da árvore também influencia na quantidade de resina extraída. Árvores com altura de copa superior a 40% de sua altura são as recomendadas para iniciar a resinagem (Baena, 1994).

Os fatores externos que mais influem na produção da resina são aqueles que têm relação ao manejo e cuidados com as florestas e com a atividade de resinar.

Estes são:

Época do ano para a resinagem – Geralmente inicia-se a resinagem no início da primavera, indo até o final do outono. Considera-se que é esta a época de produção máxima de resina da árvore; contudo, são as condições climáticas de umidade e temperatura, principalmente, que determinam a quantidade de resina produzida (Gurgel e Faria, 1978).

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Diâmetro e largura do painel de resinagem - Novas tecnologias de uso de pastas ácidas fizeram com que a largura do painel de resinagem diminuísse, tendo então menor relação com o DAP da árvore. Estas técnicas já são utilizadas em Portugal (Baena, 1994).

Fertilidade do solo - A fertilidade em condições ideais, contribui para o melhor desenvolvimento do Pinus, influindo no seu metabolismo e na sua fisiologia e consequentemente aumentando a produção de goma resina (Gurgel e Faria, 1978).

Operações de resinagem - Todas as operações que envolvem a resinagem devem ser feitas de forma adequada a fim de se otimizar a produção da goma resina. Logo, o treinamento dos operários é pratica que deve ser priorizada, habilitando-os desde a realização das estrias, aplicação da pasta ácida, coleta e transporte da goma resina (Gurgel e Faria, 1978).

Manejo de florestas para a produção de resina e efeitos da resinagem no Pinus

Florestas para a produção de resinas devem possuir espaçamentos adequados a fim de aumentar o potencial gerado pelos fatores do ambiente. Assim a quantidade de árvores por unidade de área, a altura destas e seus diâmetros de copa são alguns destes fatores que atuam na qualidade e quantidade de goma resina extraídas (Neves et al. 2001).

As árvores de Pinus defeituosas (bifurcadas, tortas, doentes e/ou dominadas) devem ser eliminadas através de desbaste em seleção massal, garantindo a melhor população genética e consequentemente melhores produções da goma resina. (Allard apud Neves et al. 2001).

Como principal efeito da resinagem, a diminuição do crescimento volumétrico do Pinus é estimado em 25 % em nossas condições, segundo Gurgel Filho apud Neves et al. (2001). A árvore resinada também perde qualidade de sua madeira na serraria, possuindo manchas e defeitos, o que leva a uma destinação

menos nobre e uma receita inferior como madeira.

Aspectos econômicos sociais e ambientais da resinagem

Apesar da resinagem ser uma atividade recente no Brasil, comparada com o seu uso na história, ela já alcançou destaques econômicos, passando o país de importador no início dos anos 80 para exportador em pouco menos de 10 anos. A goma resina passou a ser exportada no ano de 87 e já em 89 o país alcançava o segundo lugar na produção mundial, passando a ser uma atividade florestal

relevante. Logo, com o avanço das atividades resiníferas foi promulgada em 1982 a Portaria Normativa no. 465, a qual instituiu o plano de atividade da resinagem, normalizando a situação no país (Neves et al. 2001).

Baena (1994), em estudo sobre viabilidade da resinagem com P. elliottii no sul do Paraná e sul e sudoeste de São Paulo, concluiu que a atividade é rentável e atrativa para as três regiões, não havendo diferenças estatísticas. O mesmo autor também apontou a superioridade de produção de goma resina em povoamentos com melhoramento genético para esta finalidade.

Figueiredo Filho et al. (1992) compararam a rentabilidade de P. elliottii resinado e não resinado em oito anos de estudos. Como resultados obtidos, a floresta resinada apresentou 18 % de renda superior à não resinada. A atividade foi considerada lucrativa quando a produção por árvore Marcelino e Fenner (2005), em estudo de viabilidade de custos na resinagem de P. elliottii, concluíram que os custos de arrendamento de terra foram os maiores (53%

do total), seguidos pelos de mão de obra e encargos sociais (18,37 %).

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Ferreira citado por Baena (1994), estimou que 70 % da produção de goma resina brasileira eram originados de São Paulo. Segundo a mesma pesquisa, das 70.000 toneladas da produção anual brasileira, cerca de 45.000 t são beneficiadas no próprio país em 17 indústrias instaladas nas regiões sudoeste e sul. Outras 25.000 t de resina bruta tem como destino a exportação para países como Argentina, Índia, Portugal, entre outros.

A resinagem é uma atividade que cresceu no Brasil na décadas de 80's e 90's. É importante geradora de emprego no campo e ainda pode garantir renda antecipada da floresta, principalmente nas pequenas propriedades, que antes geraria lucro apenas com sua madeira (Capitani et al. 1980).

Em 2002, a resinagem passou a gerar empregos diretos para mais de 12 mil pessoas, sem contar nos indiretos, responsáveis pelo beneficiamento da resina.

Nesta época, foram mais de 45 milhões de árvores de Pinus utilizadas para a resinagem em todo o país, gerando produção que se aproxima a 100.000 toneladas, o que representa mais de 25 milhões de dólares circulando em movimentações financeiras, oriundos principalmente de exportações. (Brito apud Neves et al. 2001).

Segundo estudo econômico em áreas resiníferas de São Paulo feito por Neves e colaboradores (2001), o investimento feito no reflorestamento dessas áreas é viável economicamente. A taxa interna de retorno de reflorestamento

resinífero foi de 27,13 % a.a., que é superior à taxa de projeto de reflorestamento sem a resinagem (16,70% a.a). Logo, os autores ressaltam que a resinagem é uma ótima alternativa de renda, melhorando o lucro da pequena propriedade agro-florestal.

Uma recente safra nacional de goma resina registrada pela ARESB (2006/2007) produziu cerca de 106 mil toneladas, sendo o estado de São Paulo ainda o maior produtor (43.378 t de goma resina provindos de P. elliottii e 2.550 t de Pinus tropicais). Minas Gerais, com sua produção de 23.828 t de goma resina de pinheiros tropicais está em segundo lugar, seguido do Rio Grande do Sul (19.600 t de P. elliottii), Mato Grosso (8.990 t de pinheiros tropicais), Paraná com uma produção de goma resina de P. elliottii de 4.920 t e ainda a Bahia que produziu 2.200 t de goma resina de pinheiros tropicais. O preço por tonelada da resina vem aumentando, sendo vendida sua tonelada a US$ 539,39 em 2006; contudo, a exportação total da resina bruta vem caindo, passando de 20.000 t em 2003 a

pouco mais de 7.300 t em 2006. Nos dias de hoje, isso poderia ser explicado pela baixa do dólar frente a moeda brasileira.

A relevância social da atividade da resinagem é alta, pois gera empregos diretos nas atividades de resinagem e indiretos nas indústrias de beneficiamento da resina. No Brasil, são mais de 10 mil pessoas trabalhando diretamente com a extração da resina, o que contribui para o aumento de renda no campo e também diminui a migração destes trabalhadores para as zonas urbanas (Neves et al. 2001).

A atividade de resinagem demanda projetos de reflorestamentos, o que pode ajudar a preservação das áreas de floresta nativa por ser nova fonte de madeira de qualidade, diminuindo o desmatamento em determinadas regiões (Vale et al. apud Neves et al. 2001). As florestas de Pinus, por serem implantadas em áreas anteriormente degradadas pela agricultura, em áreas muitas vezes ociosas, declivosas, ou que antes eram erroneamente usadas, não obedecendo a aptidão agrícola, ajudam na recuperação das mesmas. Além disso, os Pinus podem

contribuir para o mercado do carbono, ajudando a retirada do CO2 da atmosfera e tendo grande importância ambiental (Neves et al. 2001).

Considerações finais

A resinagem do Pinus é uma atividade de alta importância sócio-econômico-

ambiental, por gerar empregos e renda para o país e por diminuir o desmatamento

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das áreas nativas remanescentes. Logo, estudos sobre novos usos dos produtos da goma resina devem ser incentivados. Promover maior qualidade do produto final com a utilização de novas tecnologias, tanto na coleta, como no beneficiamento, é outra sugestão de melhoria na atividade resinífera brasileira. Isso tornaria o breu e terebintina mais competitivos no exterior, adquirindo também melhores preços e fazendo frente aos outros tipos de resinas existentes e seus produtos.

Para aumentar ainda mais o potencial dos Pinus resiníferos no Brasil, novas pesquisas de melhoramento genético das espécies para este fim e também estudos com técnicas de manejo de áreas resinadas deveriam ser efetuados.

Assim, os governos deveriam incentivar, não somente a pesquisa, mas

também o plantio dos Pinus para esta finalidade, ajudando o agricultor a adquirir maior renda por aproveitar de forma mais lucrativa o seu reflorestamento. Uma atividade como essa merece o apoio das entidades governamentais e empresariais em termos de desenvolvimentos em infra-estrutura, logística, divulgação e ajuda na formação da competitividade da cadeia produtiva.

Bibliografia citada e recomendada para leitura complementar

Potencialidade e perspectivas do mercado de resina de Pinus. Harima do Paraná Indústria Química Ltda.

Circular Técnica N° 41 IPEF. (1978)

http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr041.pdf

Resinagem e qualidade de resinas de pinheiros tropicais: I. Comparação entre espécies e época de

resinagem. J. O. Brito; L. E. G. Barrichelo; L. E. Gutierrez; J. F. Trevisan. Circular Técnica N° 35 IPEF. (1978)

http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr035.pdf

Fatores que influem na resinagem de Pinus. O. A. Gurgel; A. J. Faria. Circular Técnica N°37 IPEF. (1978)

http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr037.pdf

Resinagem em escala comercial. Equipe Técnica da Cia. Agro Florestal. Circular Técnica N° 34 IPEF. (1978)

http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr034.pdf

O Pinus elliottii, a goma resina e derivados. Indústrias Químicas Carbomafra S.A. Circular Técnica N° 38.

IPEF. (1978)

http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr038.pdf

A potencialidade de resinagem de quatro espécies de Pinus tropicais, na região de Sacramento –

MG.L. R. Capitani; G. E. Speltz; J. O. Brito; L. E. G. Barrichelo. Circular Técnica N° 110 IPEF. (1980)

http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr110.pdf

Qualidade da resina de espécies de Pinus implantados no estado de Minas Gerais: análise do breu e

terebintina. A.J.Migliorini; J.O.Brito; L.E.G.Barrichelo. Circular Técnica Nº 105 IPEF. (1980) http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr105.pdf

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