resgate do protagonismo do desenhista industrial por meio da gestão do design

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  • 7/24/2019 Resgate do protagonismo do desenhista industrial por meio da gesto do design

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    ResumoA gesto do design aparece,

    nestes ltimos anos, como a

    ferramenta de gerenciamento que

    falta para o designer recuperar o

    protagonismo no marco da nova

    tipologia das mutaes de

    contexto produzidas nos fatores

    sociais, culturais, econmicos e

    tecnolgicos e que afetam o

    desenvolvimento de produto.

    AbstractDesign management has

    appeared as the missing

    management tool to allow the

    designer to regain the leadposition in a scenario of new

    typology pertaining to context

    mutations produced in social,

    cultural, economic and

    technological factors and which

    affect product development.

    eSGATeDO

    PROTAGONISMO DO

    DESeNHISTA INDuSTRIAL

    POR MeIO DA GeSTO DO

    DeSIGN

    Luis Emiliano Costa Avendao

    Orientadora:

    Profa. Dra. Maria Ceclia Loschiavor

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    Apresentao

    A temtica se resume velha questo que perturba e angustia a ns,

    designers a transferncia dessa cultura complexa, subjetiva, de pouca histria,

    para o mundo real dos objetos e de sua produo, colocando essa transfernciade informao como dilogo entre o processo industrial e o designer, e tentar, por

    meio dessa anlise, propor uma estratgia que permita uma compreenso melhor

    desse impasse.

    Tambm para entender a questo da insero do design nas empresas e,

    por conseqncia, aumentar a industrializao dos produtos com ganhos

    competitivos por meio do design, com a prpria capacitao do profissional,

    necessrio entend-la dentro da amplitude de sua atuao, analisando os

    elementos os quais interferem, direta ou indiretamente, no ofcio do design e do

    processo industrial.

    Essa anlise coloca que o problema no o design, mas sim o designer.

    Mostra que o profissional no est suficientemente preparado para atuar perante

    os desafios atuais e futuros da indstria, em um mundo globalizado e altamente

    competitivo. A gesto do design entra como a ferramenta a ter a funo de

    resgatar o protagonismo do designer nesse contexto.

    Contexto do mercado

    Nos ltimos 100 anos o design como atividade profissional realizou uma

    rpida evoluo, desde a tarefa individual de artista-arteso do fim do sculo

    passado at as realizaes mais representativas da tecnologia contempornea,

    incluindo todas as tipologias de produtos. Embora o mais alto grau de evoluo do

    design no se tenha produzido em pases como o Brasil, carentes do necessriodesenvolvimento industrial, em troca, este fato tem acontecido, majoritariamente,

    nos pases hegemnicos, como: Estados Unidos, Europa Ocidental e Japo. Dessa

    maneira o design tem alcanado, na atualidade, uma posio de destaque dentro

    do universo dos produtos industriais, assim como uma reconhecida hierarquia

    acadmica por meio da presena nos diferentes centros universitrios mais

    importantes do mundo. Sinalize-se tambm que a trajetria mais transcendente do

    design tem se dado em sua permanente busca dos valores sociais e culturais do

    produto, com o objetivo prioritrio de configurar um hbitat compatvel com as

    pautas e os requerimentos de um desenvolvimento sustentvel.

    No obstante a destacada evoluo dessa atividade profissional, nas ltimas

    dcadas seu desenvolvimento teve uma trajetria de certa forma defasada emrelao ao processo de mudanas no contexto social e tecnolgico, mais

    especificamente no mbito em que se desenvolve o projeto do produto industrial,

    ou seja, na gesto empresarial. Esse desencontro no se d somente no campo do

    design de produtos, mas tambm em quase todas as reas do design, seja dos

    pases perifricos ou hegemnicos.

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    Essa absoro (parcial ou total, dependendo do caso), dos objetivos

    estratgicos de produto pelos agentes empresariais, foi mudando a atuao do

    designer para uma responsabilidade cada vez mais circunscrita a de operador do

    design, instrumentando polticas e decises formuladas margem de sua atuao

    ou nas quais sua participao nem sempre teve o significado previsvel, e, o maisimportante, o designer no conseguiu coordenar, guiar e preservar um processo

    de mudanas, nas quais culminavam muitos dos objetivos histricos de sua

    ideologia projetual e, em especial, o reconhecimento do design como um dos

    fatores prioritrios da gesto empresarial.

    O ofcio do designer

    O designer que trabalha com projeto tem o eterno conflito entre

    sua conscincia social, fator subjetivo do design, e o laborar concreto,

    determinado por um contexto socioeconmico, espao no qual possveltrabalhar. O discurso do designer observa o usurio de seus objetos como um

    ente anatmico e fisiolgico, carregado de necessidades prticas, privado de

    histria e predilees culturais socialmente adquiridas. O designer tem uma

    tendncia a inventar para o usurio um espao perfeito, esquecendo as

    condies econmicas e polticas da realidade de vida, projetando o uso

    imaginrio dos objetos.

    No contexto da racionalidade da produo, o ser racional no produzir

    algo que seja intrinsecamente bom, e sim produzir algo que funcione

    harmonicamente com o mercado. O designer vive disso. A utopia da satisfao

    no existe. Est tudo planejado para uma troca.

    O discurso inicial, vindo da observao da arquitetura, passou, nos tempos

    atuais, para um discurso empresarial, corporativo e de mercado, no qual oproduto o smbolo. Nesse novo contexto econmico mundial, o discurso da

    gesto tornou-se no somente um discurso do design, mas tambm do marketing,

    da gesto empresarial e do desenvolvimento da competitividade das empresas.

    O empresrio no um mero fabricante, tambm um comunicador, pois o

    que passa a ser decisivo no xito do produto no mercado o imaginrio a rodear

    esse produto. Compreendendo esse universo imaginrio, o empresrio ter xito

    no mercado. Nessa sociedade o designer tem, por um lado, a funo de entender

    as necessidades de lucro das empresas e, por outro lado, realizar os desejos do

    cliente (consumidor), mas com uma viso que vai alm dos intramuros da

    indstria; a cadeia produtiva, os fatores macroeconmicos, as novas tecnologias

    e as novas estratgias de gerenciamento (viso prpria e do industrial). Ento,como se coloca o designer nessa sociedade, sem uma base crtica dessa situao

    e de suas mudanas naturais? Como a formao do designer brasileiro atende a

    essa necessidade da sociedade industrial? possvel elaborar uma estratgia que

    atenda s necessidades da indstria brasileira dentro de suas peculiaridades

    culturais e econmicas?

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    A formao

    Se o designer um profissional a atuar em um mercado altamente

    competitivo e dinmico, tendo de estar em contato com as mais recentes

    tecnologias, tanto de produo de bens de consumo como tambm no tratamentoe disseminao da informao, de esperar-se que sua formao seja adequada

    de modo a prepar-lo para essa realidade.

    As universidades no esto respondendo real necessidade da sociedade e

    de contexto do setor produtivo. Santos (1971) comenta sobre esse ponto:

    Todavia, existem diversas falhas no processo de ensino de design, algumas

    inerentes prpria estrutura de ensino do pas, outras intrinsecamente ligadas

    maneira como se iniciou o ensino dessa atividade no Brasil e a maneira com tem

    sido desenvolvida.

    Ampliando para o meio gerencial, Santos ainda comenta: No que se refere

    rea gerencial e planejamento estratgico da qualidade e qualificao dos

    designers, em nvel de ensino universitrio, bastante fraca, se transformando em

    um elemento de excluso do profissional que v algumas atividades inerentes

    sua formao sendo ocupadas por demais profissionais melhor capacitados, como,

    por exemplo, as reas de gerncia de produto e direo de arte, constantemente

    ocupada por engenheiros, administradores e pessoal de marketing e publicidade

    respectivamente. Esse fato crtico no ensino do design, estamos afastando o

    graduado da realidade profissional, trabalhando com o aluno, s vezes, realidades

    empricas as quais no mostram a realidade das mudanas do contexto.

    necessrio analisar o ensino do design por meio de um prisma amplo das

    necessidades acadmicas e da realidade do Brasil. Esse prisma foi apresentado

    por Whitely, observando o ensino do design sob vrios pontos de vista ou modelos

    definidos em diversas entidades de ensino no mundo, a partir de uma experincia

    prpria do autor. Whitely comenta, abrindo essa discusso: O ensino do designtem sido transformado de uma maneira freqentemente aleatria, reagindo a

    mudanas circunstanciais ou ideolgicas, em vez de se transformar por meio de

    uma reavaliao radical de prioridades e necessidades.

    Se analisarmos que a discusso do ensino do design tem de tomar como

    base as reais necessidades da indstria, em uma viso pragmtica, faremos desse

    designer um profissional tecnolgico, mas sem o senso crtico necessrio para

    conceituar os produtos em uma real insero do objeto na sociedade. Por outro

    lado, no podemos negar que, no Brasil, o problema a qualidade do ensino do

    design, haja vista a dificuldade que o formando enfrenta para conseguir um

    simples estgio e, futuramente, para conseguir colocar-se no mercado de trabalho,

    especialmente na rea do design de produtos. O designer valorizado, discutido no

    texto acima, menciona a necessidade de que os designers sejam criativos,

    construtivos de viso independente, que no sejam lacaios do sistema

    capitalista, nem idelogos de algum partido ou doutrinaou geninhos

    tecnolgicos, mas antes profissionais capazes de desempenhar o seu trabalho

    com conhecimento, inovao, sensibilidade e conscincia.

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    Hoje existem, no Brasil, duas vertentes no ensino. Algumas faculdades

    observam que o importante formar profissionais com viso universal e,

    principalmente, com capacidade de questionar e de pesquisar, fugindo da idia

    de criar designers para dar soluo aos problemas da indstria. Para outras, o

    importante fornecer as ferramentas necessrias ao profissional para se inserir naindstria, que sua fonte de trabalho, na qual o conhecimento adquirido nas

    disciplinas tem uma viso mais tecnolgica e menos fundamental. Assim sendo,

    esto surgindo cursos de graduao a atenderem a nichos especficos do

    mercado, como: ensino do design de embalagens, design txtil, design de jias,

    web design, design de calados, design de moda, etc.

    Como exemplo da especializao, a prpria engenharia, assim como outras

    profisses servem de modelo, pois a universidade no forma engenheiros

    universais, e sim engenheiros metalrgicos, mecnicos, navais, de produo,

    qumicos, transporte, etc. A prpria medicina j se especializou h muito tempo, e

    outras profisses tambm esto nesse caminho ou bem prximas.

    Ser que a resposta s necessidades da indstria no a de capacitar os

    profissionais de design dentro de necessidades especficas, com conhecimentos

    universais em reas como: filosofia, sociologia, ergonomia, etc., mas, dirigidos aos

    setores industriais mais especficos, dando nfase nas tecnologias e processos

    desse setor, com os conhecimentos dos movimentos econmicos?

    Como foi comentado anteriormente, para os industriais, e respondendo

    questo anterior, hoje o designer no atende adequadamente indstria, pelo

    contrrio, em sua atuao acaba prejudicando sua prpria imagem,

    especialmente pela falta de conhecimento de cho de fbrica, crticas reais do

    empresariado. Outra preocupao a de os industriais no terem tempo para

    ensinar as novas tecnologias e processos que esto sendo utilizados ou

    capacitar em questes simples, como o uso de materiais e mtodos de gesto. O

    industrial imagina que o designer sai da faculdade com todos osconhecimentos de processo, de tecnologia e materiais utilizados em sua empresa.

    Porm, ao contrat-lo, percebe que este no possui conhecimento suficiente e

    ter de ensin-lo, o que, segundo ele, obrigao das entidades de ensino.

    Acrescenta que o profissional no muito criativo e, aliado a uma

    desinformao da subjetividade do significado do design, percebemos que esta

    condio s prejudica a empregabilidade e a insero do profissional no setor

    produtivo.

    Obviamente a viso dos industriais, em especial na pequena e mdia

    indstria, imediatista e econmica, mas a realidade que este o cliente do

    designer. O discurso do designer com o cliente/indstria, falando do

    conhecimento do processo e das tecnologias, um fator de diferenciao que,sem dvida, permitir sua insero no mercado com mais facilidade. Hoje,

    dentro dessa viso, a faculdade no o prepara adequadamente para essa

    demanda.

    Muito se fala sobre a importncia do design e acredito que, nesse sentido,

    todos, de maneiras diferentes, entendem que a ferramenta de competitividade

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    da indstria. Essa proposta j vem sendo levantada h muito tempo. Nos pases

    do Primeiro Mundo j entendida como inovao, haja vista a viso global dos

    escritrios de design, nos quais s o design no a soluo para a empresa.

    Entender como o industrial pensa seu produto, e analisar a maneira de

    transferir sua experincia e conhecimento neste processo a preocupao dodesigner e no o contrrio. A adaptao no vir do empresrio. funo

    do designer convencer o industrial que a parceria entre eles ter resultado

    positivo dentro de sua viso de lucro.

    Essa problemtica est sendo solucionada, em parte, pelos cursos tcnicos1e

    tecnlogos2em design. O curso de tecnlogo o que mais interfere na ao do

    designer com o bacharelado3, j que ele pode, como graduado, desenvolver um

    mestrado como o prprio bacharel, as prprias grades curriculares desse tecnlogo

    assemelham-se com as do bacharel, o diferencial est no nmero de horas e no

    foco da especificidade tecnolgica. Atualmente, existem vrias entidades nacionais

    de ensino com cursos de tecnologia. Pelo perodo em que esses cursos esto

    funcionando, ainda cedo para definir seu perfil e verificar sua participao nas

    indstrias. Entretanto, importante observar que o currculo, no qual

    aparecem as disciplinas de criao, histria da arte, gesto e design, leva-nos a

    pensar se o industrial no vai preferir um tecnlogo com formao em design a

    um bacharel, o qual, teoricamente, possui menos conhecimento tcnico naquele

    setor industrial.

    Os professores dos cursos tecnolgicos comentam: os alunos formados so

    absorvidos facilmente pela indstria, porque atendem sua necessidade real,

    como conhecimento de mquinas, processos, prtica e ainda possuem a cultura

    do design, tudo isso, obviamente, com um custo menor, uma vez que o tecnlogo

    recebe um salrio menor.

    Ento, qual o desafio para a universidade?

    O desafio melhorar o perfil das competncias e capacitao dos alunos degraduao, formando alunos com capacidade para pesquisar e teorizar nos

    diferentes campos do design, os quais atendam s necessidades da indstria e

    saibam dar soluo aos problemas reais de competitividade e inovao, com

    competncia para gerenciar processos.

    Resumindo. Se o design, como diferencial competitivo dos produtos e como

    elemento estratgico para o negcio das organizaes, j uma realidade de

    mercado, ele tem de passar tambm a ser uma realidade acadmica, de ensino e

    pesquisa em design.

    Gesto do DesignO uso do termo gesto relativamente recente, pois sua difuso aconteceu

    nos anos 70, na rea da economia, desenvolvendo temas de gerenciamento,

    planejamento estratgico, logstica e marketing, como resposta verstil e flexvel da

    empresa para um contexto cada vez mais complexo e incerto.

    (1) Curso Tcnico emDesign (com vriascompetncias) parecerCNE/CEB n. 16/99, 800horas, p. 66.

    (2) Curso Tecnlogo emDesign Parecer CNE/CESn. 436/2001, 1.600 horas,podendo aumentar em50% o tempo, p. 18.

    (3) Curso de graduao emDesign Parecer CES/CNEn. 146/2002, 3.300 horas(mdia).

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    Nas formulaes tericas do design, o conceito de gesto j estava definido

    pelo International Council of Societies of Industrial Design (ICSID), conforme

    proposta realizada por Tomas Maldonado em 1963.

    A definio mantida pelo ICSID at a atualidade continua como um

    referente epistemolgico aceito e citado em, praticamente, todos os textos dedesign.

    De acordo com esta definio, projetar a forma significa coordenar, integrar

    e articular todos os fatores que de alguma maneira, participam no processo

    constitutivo da forma do produto. Com isto estamos nos referindo aos fatores

    relativos ao uso, consumo individual ou social do produto (fatores funcionais,

    simblicos, ou culturais), como aos que se referem produo (fatores tcnico-

    econmicos, tcnico-construtivos, tcnicos-sistemticos, tcnicos-produtivos e

    tcnico-distributivos).

    Maldonado faz tambm seus prprios comentrios sobre a definio anterior:

    Apesar da sua generalidade, a definio segue sendo vlida, embora depois das

    controvrsias dos ltimos anos sobre o papel do design na sociedade, temos que

    acrescentar que somente valida com a condio de que se reconhea que a

    atividade de coordenar, integrar e articular os diversos fatores est sempre

    fortemente condicionada pela maneira como se manifestam as foras produtivas e

    as relaes de produo numa determinada sociedade. Dito em outras palavras

    admite-se que o design no uma atividade autnoma, embora suas opes

    projetuais possam parecer livres, e at podem ser, sempre se trata de opes no

    contexto de um sistema de prioridades estabelecidas de uma maneira bastante

    rgida. Em definitivo, este sistema de prioridades que regula o desenho

    industrial. Nesse sentido no de estranhar que os objetos deste projetar mudem

    substancialmente sua fisionomia quando a sociedade decide privilegiar certos

    fatores em lugar de outros, por exemplo: os fatores tcnicos-econmicos ou

    tcnicos-produtivos pelos funcionais; ou os fatores simblicos pelos tcnicos-construtivos ou tcnicos-distributivos.

    O texto de Maldonado foi transcrito por extenso, no somente por conter

    precises que mantm sua vigncia, mas, principalmente, porque oferece uma

    descrio epistemolgica a qual permite compreender que, se existe uma

    defasagem na atividade do design, esta no se origina nas diferentes instncias do

    processo projetual, e sim na falta de uma adequada considerao das

    modificaes produzidas, tanto no sistema de preferncias da sociedade como nos

    campos da economia e da empresa.

    Se propusssemos uma definio de gesto do design em termos atuais,

    poderamos afirmar, em grande parte, ratificando o mencionado nos textos de

    Maldonado, ser o conjunto de atividades de diagnstico, coordenao, negociaoe design que, levada a cabo tanto na atividade de consultoria externa como no

    mbito da organizao empresarial, interagindo com os setores responsveis da

    produo, da programao econmico-financeira e da comercializao, com a

    finalidade de permitir uma participao ativa do design nas decises dos

    produtos.

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    Nessa proposta a gesto do design tem por objetivo, precisamente, o de

    aprofundar e adequar os postulados fundamentais do design s novas condies

    de seu contexto (condies de mutaes permanentes, aceleradas e turbulentas),

    visando ao saber integrador de todas as disciplinas as quais, na atualidade,

    participam nas decises relativas ao produto industrial. A gesto est formuladacomo uma modalidade de pensamento e de ao, destinada a recuperar o

    protagonismo do design no marco da nova tipologia dessas mutaes produzidas

    nos fatores sociais, culturais, econmicos e tecnolgicos.

    Estratgia e design

    Se o conceito de estratgia existe h vrios sculos antes de Cristo (do grego

    strategos, general), evidente que sua recente introduo nas disciplinas

    mencionadas no implica na apario de um novo conceito, mostra a

    transformao do cenrio no qual se desenvolvem as gestes em um campo deao globalizado, com caractersticas que, em muitos aspectos, tm adquirido a

    agressividade e os riscos prprios de um conflito de beligerncia pela

    subsistncia comercial.

    Em linhas gerais, pode-se definir a estratgia como a maximizao dos

    recursos humanos e materiais disponveis e adquirveis, com o fim de alcanar

    determinados objetivos, dentro de certa margem de risco e conforme a avaliao

    do comportamento presente e futuro do contexto, no qual se levar a cabo as

    mencionadas decises.

    Essa maximizao dos recursos implica na definio de um pacote de

    objetivos a mdio e longo prazos e uma seqncia de metas intermedirias

    (tticas), as quais sero ajustadas de acordo com as modificaes produzidas

    tanto no interior do projeto, da organizao a lev-lo em frente, como nocontexto no qual o projeto deve acontecer. Com diferentes prioridades, respeito a

    determinados recursos e aspectos do contexto, essa definio aplicvel a

    toda ao humana individual e coletiva, independente de seu grau de

    complexidade.

    O que, atualmente, tem exaltado o protagonismo da estratgia no a

    apario de um novo processo, mas a conformao de um grau substancialmente

    maior de complexidade do referido processo. Ao referirmo-nos, mais

    precisamente, ao design de produtos, a origem dessa complexidade,

    fundamentalmente, pode reduzir-se a quatro situaes:

    1) incorporao de novas ferramentas da informtica para o

    processamento de dados.2) Aos novos comportamentos do contexto do produto que constituem, sem

    dvida, o aspecto mais significativo do grau de complexidade que gerou a

    denominao do design estratgico.

    3) globalizao que criou um mercado praticamente de extenso mundial,

    no qual surgem situaes contraditrias e conflitivas; e,

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    4) acelerao e imprevisibilidade das mudanas no territrio do design a

    constiturem, sem dvida, o fator de maior incidncia na complexidade do

    diagnstico e planificao do produto, dado que o risco envolvido em uma

    previso equivocada cada dia maior.

    A implementao da gesto estratgica no processo de design est baseada,precisamente, na adequao dos objetivos projetuais em um contexto, o qual

    resulta cada vez mais extenso, complexo e incerto.

    O designer na complexidade do design

    O problema do dilogo do designer com o empresrio est na dificuldade de

    entender a complexidade do design no mundo atual e traduzi-lo em um

    pensamento prtico que fornea solues reais para o processo produtivo.

    A prpria complexidade desse design no atendida pelo processo

    formativo das faculdades. Hoje, o aluno est desnorteado por um lado, precisaser criativo, e, por outro lado, ter capacidade de gerenciar processo; precisa ser

    um pensador e ser prtico ao mesmo tempo. No primeiro uma atitude intimista,

    no segundo a situao mais generalista; portanto, estamos falando do momento

    particular ao geral, um espao virtual amplo e complexo em suas informaes.

    O designer, sozinho, no consegue atender s necessidades dos desafios de

    uma indstria moderna e as necessidades de gerar inovao e tornar as empresas

    mais competitivas. A proposta a de inserir no ensino do design, no s,

    disciplinas que formem um profissional com caractersticas de gerenciador, mas

    tambm na prpria ao do profissional designer em sua atuao nas empresas

    neste sentido, a proposta de ao do designer d-se em trs nveis:

    Figura 1: Os trs nveisde atuao do designerCrdito: Autor

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    Gestor de DesignGestor de DesignGestor de DesignGestor de DesignGestor de Design O gestor de design teria o perfil para gerenciar

    processos, com conhecimentos de gesto; viso de negcios; caractersticas de

    empreendedor; viso global e competitiva; liderana aliada a um forte esprito de

    equipe; conhecimentos da cadeia produtiva e do ciclo de vida do produto; grande

    capacidade de inovao; conhecimento bsico de macroeconomia e dasmudanas sociais. Sua funo no a de criar o objeto em si, mas a de

    implantar as polticas e estratgias de design com o objetivo de tornar os produtos

    e a imagem da empresa (marca) competitiva.

    Sua funo estratgica, permitindo, assim, a insero da cultura do design

    no cerne da filosofia da empresa, reportando-se diretamente sua direo.

    Permitir abrir o espao aos designers, transformando-se em um grande

    impulsionador da empregabilidade destes profissionais.

    DesignerDesignerDesignerDesignerDesigner um profissional altamente criativo e inovador, com

    conhecimento de sistemas de anlise de tendncias e capacidade para gerenciar

    informaes sociais, tecnolgicas e de materiais, aliados subjetividade da

    observao e criatividade, o que permitir a ele desenvolver os novos produtos.

    TTTTTecnlogo em Designecnlogo em Designecnlogo em Designecnlogo em Designecnlogo em Design Conhecedor profundo do cho de fbrica, dos

    processos industriais, tecnologias e materiais. Ser o tradutor da viso do

    designer para o processo produtivo. dotado da cultura do design, poder criar

    solues projetuais com o designer.

    A gesto do design4, uma ferramenta ainda pouco conhecida no mbito

    acadmico brasileiro e no definida como disciplina, no mximo analisa a

    questo do gerenciamento a atuar nos intramuros da indstria, deixando de lado

    a insero da atuao do designer na cadeia produtiva5e na anlise da

    sociedade inserida na viso global do produto, viso atual com o objetivo de

    tornar o produto competitivo.

    A proposta est, ento, na implementao de uma estratgia de integrao

    pela viso dos recursos humanos (competncias) e no pelo produto. O produto conseqncia da integrao e no o fim, alis o fim (sucesso do produto) uma

    condio humana (consumidor/usurio).

    Essa estratgia de integrao poder ser chamada de DesenvolvimentoDesenvolvimentoDesenvolvimentoDesenvolvimentoDesenvolvimento

    Integrado de Produtos por meio de Competncias.Integrado de Produtos por meio de Competncias.Integrado de Produtos por meio de Competncias.Integrado de Produtos por meio de Competncias.Integrado de Produtos por meio de Competncias.

    Na rea do design, a integrao j faz parte do mtodo de trabalho, fala-se

    da interdisciplinaridade como fator de comunicao entre as profisses

    participantes; na realidade, esta integrao se d com desvantagem para o

    designer devido sua falta de viso, do contexto, ou seja, falta competncia para

    o designer atuar de igual para igual no gerenciamento de processos, perfil

    necessrio para definir polticas de atuao e de projeto.

    Na proposta dessa estratgia est implcito o reconhecimento do grupo detrabalho, o qual poder ser chamado de Grupo de Gesto do Design GGD e do

    lder do grupo, o prprio gestor do design.

    (4) Importantes entidadesde ensino desenvolvematividades acadmicas narea da Gesto do Design,nos diferentes grausacadmicos:Universidade Estadual deLondrina UEL/ Curso dePs-Graduao Lato-sensu/ Curso deespecializao em Gesto

    do Design/ www.uel.br/ceca/spg/ges.htm.Universidade Federal deSanta Catarina UFSC/Programa de Ps-graduao em Engenhariade Produo/Departamento deEngenharia de Produo eSistemas/ rea deconcentrao: Engenhariade Produto e Processos.Universidade do Estado deSanta Catarina UDESC/Centro de Arte CEART/Curso de Ps-GraduaoLato-sensuem nvel de

    especializao / Gestodo Design de Mveis/www.ceart.udesc.br.

    (5) O designer deveentender que adiversificao e ocrescimento das cadeiasprodutivas, assim como ainfluncia decondicionantes como asnormas internacionais,fazem com que a empresadeva considerar de formaestratgica o ambientetecnolgico na qual se

    encontra inserida, parapoder desenvolver-se emanter-se competitiva.

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    Consideraes finais

    O presente estudo, levantando questes sobre a atuao do designer, e

    refletindo sobre as necessidades de formao desse profissional, infunde,

    certamente, nesse meio, o germe da discusso do que seria o universo da gestodo design nas empresas. A satisfao e a confiana do cliente, alcanadas pela

    imagem positiva da empresa no mercado, ficam evidentes na fidelidade do

    mesmo. No contexto da gesto do design tal fato se constitui em um significativo

    instrumento de avaliao a demonstrar o sucesso do processo de Design

    Management, com a questo das vendas, volume de negcios e publicidade.

    A busca do entendimento e compreenso da atuao do designer nesse

    contexto, estimula, interna e externamente, a reflexo sobre a aplicabilidade real

    da gesto do design, aproximando teoria e prtica, a fim de viabilizar a criao de

    contedos, formas de fazer e conceitos acerca do assunto. Podendo favorecer

    outras reas e campos de atuao do designer, at mesmo em escolas e

    instituies voltadas atividade, incentivando o crescimento e o reconhecimento

    da profisso em sua totalidade. Contribui na visualizao do potencial existente

    em cada designer para constituir um gerente de design em seu local de trabalho,

    bem como provoca a reflexo das empresas, para possibilitar a criao de espaos

    de atuao profissional, cujo retorno social ou financeiro, em geral, bastante

    positivo para a empresa que nele investe.

    As caractersticas, j descritas e analisadas, da atividade do design no meio

    empresarial, levam a crer que o espao de atuao do designer tende a

    desenvolver-se e a ampliar-se, tornando-se, certamente, um propulsor da criao e

    da abertura de oportunidades de trabalho em reas anlogas de outros setores da

    indstria brasileira. Essa viso otimista no ignora as dificuldades enfrentadas

    pelo profissional em seu cotidiano de trabalho, ao contrrio, resgata, por meio

    delas, os novos valores envolvidos na atuao do designer, os quais serviro debase para aes futuras na rea, em termos da relao ensino/prtica profissional.

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    Palavras-chave (key words)

    Design, gesto, inovao, estratgia.

    Design, design management, professional training, innovation, strategy.

    Obs.:

    Este texto parte constitutiva da dissertao de mestrado apresentada no ano de

    2003, na FAUUSP, sob orientao da Profa. Dra. Maria Ceclia Loschiavo.

    Luis Emiliano Costa Avendao

    Desenhista industrial pela Universidad Catlica de Valparaso Chile. Mestre pelaFaculdade de Arquitetura e Urbanismo FAUUSP. Professor e coordenador do curso

    de Desenho Industrial das Faculdades Integradas Interamericanas FAITER / FDI

    Coordenador pedaggico do curso de ps-graduao em Design das FaculdadesOswaldo Cruz. Membro das comisses de avaliao dos cursos de tecnlogos emdesign SETEC/MEC Consultor de design.