resenha visão baseada em recursos

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Teorias da Estratégia Christiana Metzker Denise Campos Márcio Rosa Marina Araújo Paulo V. Costa Professor: Carlos Alberto Gonçalves A Evolução da Visão Baseada em Recursos Em 1991, Jay Barney escreveu um artigo defendendo a idéia de que os recursos devem ser considerados fonte de vantagem competitiva sustentável desde que sejam raros, valiosos, difíceis de imitar e substituir. Esta foi uma forma de sistematizar uma discussão sobre a estratégia que considera a função de assegurar a sustentabilidade da organização como sendo dos recursos internos à ela, retirando do ambiente a responsabilidade. A análise ambiental é importante para o estrategista, mas incompleta se não houver, por parte da organização, a competência necessária para utiliza-la. Dez anos depois, o mesmo autor une-se a Wright e Ketchen para analisar como a RBV foi citada e utilizada ao longo destes anos. Os autores buscaram dividir a gestão em 5 áreas do conhecimento organizacional e saber como a teoria foi tratada e como contribuiu com cada corrente. A relação da Visão Baseada em Recursos e a Administração de Recursos Humanos foi bastante explorada. O gerenciamento de RH é fonte de vantagem competitiva sustentável uma vez que o conjunto de sistemas e rotinas de gestão de pessoas desenvolvido ao longo do tempo contribui para o desenvolvimento de habilidades essenciais e específicas dos indivíduos, o que é exclusivo de determinada organização. O comportamento dos indivíduos contribui para a estratégia de gestão de pessoas, mas não há uma comprovação empírica de que as práticas de gestão de pessoas impactam, necessariamente, nas habilidades e no comportamento dos funcionários ou no desempenho destes.

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Em 1991, Jay Barney escreveu um artigo defendendo a idéia de que os recursos devem ser considerados fonte de vantagem competitiva sustentável desde que sejam raros, valiosos, difíceis de imitar e substituir. Esta foi uma forma de sistematizar uma discussão sobre a estratégia que considera a função de assegurar a sustentabilidade da organização como sendo dos recursos internos à ela, retirando do ambiente a responsabilidade. A análise ambiental é importante para o estrategista, mas incompleta se não houver, por parte da organização, a competência necessária para utiliza-la. Dez anos depois, o mesmo autor une-se a Wright e Ketchen para analisar como a RBV foi citada e utilizada ao longo destes anos. Os autores buscaram dividir a gestão em 5 áreas do conhecimento organizacional e saber como a teoria foi tratada e como contribuiu com cada corrente.

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Page 1: Resenha Visão Baseada em Recursos

Teorias da EstratégiaChristiana MetzkerDenise CamposMárcio RosaMarina AraújoPaulo V. Costa

Professor: Carlos Alberto Gonçalves

A Evolução da Visão Baseada em Recursos

Em 1991, Jay Barney escreveu um artigo defendendo a idéia de que os recursos devem ser considerados fonte de vantagem competitiva sustentável desde que sejam raros, valiosos, difíceis de imitar e substituir. Esta foi uma forma de sistematizar uma discussão sobre a estratégia que considera a função de assegurar a sustentabilidade da organização como sendo dos recursos internos à ela, retirando do ambiente a responsabilidade. A análise ambiental é importante para o estrategista, mas incompleta se não houver, por parte da organização, a competência necessária para utiliza-la.

Dez anos depois, o mesmo autor une-se a Wright e Ketchen para analisar como a RBV foi citada e utilizada ao longo destes anos. Os autores buscaram dividir a gestão em 5 áreas do conhecimento organizacional e saber como a teoria foi tratada e como contribuiu com cada corrente.

A relação da Visão Baseada em Recursos e a Administração de Recursos Humanos foi bastante explorada. O gerenciamento de RH é fonte de vantagem competitiva sustentável uma vez que o conjunto de sistemas e rotinas de gestão de pessoas desenvolvido ao longo do tempo contribui para o desenvolvimento de habilidades essenciais e específicas dos indivíduos, o que é exclusivo de determinada organização. O comportamento dos indivíduos contribui para a estratégia de gestão de pessoas, mas não há uma comprovação empírica de que as práticas de gestão de pessoas impactam, necessariamente, nas habilidades e no comportamento dos funcionários ou no desempenho destes.

O que pretende formar uma ponte entre o processo de atração, desenvolvimento, motivação e retenção das pessoas e a literatura de estratégia são os estudos de competências essenciais, capacidades dinâmicas e conhecimento. Todos eles direcionados aos recursos internos à organização.

A relação da RBV com a Economia e a área financeira está implícita, apesar da pouca referência destas áreas a RBV. Algumas pesquisas poderiam ser ligadas a RBV como a relação entre performance e diversificação, inovação. A capacidade de inovar advém das pessoas e dos recursos materiais e tecnológicos que a organização pertence. Deixando clara a estratégia de valorização dos recursos. A RBV ainda contribuirá muito com as finanças na medida em que propicia um suporte à análise da governança corporativa com a teoria da agência, além de ter uma relação com a teoria econômica dos Custos de Transação.

Com relação ao empreendedorismo, é inegável a participação do empreendedor e sua capacidade cognitiva, de descobertas, compreensão das oportunidades do mercado na transformação dos recursos em produtos diversos. O empreendedor tem um papel

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fundamental para identificar as oportunidades e transforma-las em um negócio rentável, lançando mão de recursos conhecidos, porém atribuindo-lhes novos usos.

No Marketing, os estudos demonstram como recursos materiais utilizados como matéria prima transformam-se em valor para o cliente. É muito importante que a organização possua um recurso difícil de ser imitado pela concorrência, como fonte de vantagem competitiva sustentável. Analisando a contemporaneidade, quase mais dez anos depois do artigo, a importância da diferenciação mercadológica é crescente. O fluxo das mudanças é frenético e a dificuldade de se imitar está sendo reduzida. As empresas de alta tecnologia são capazes de acompanhar com grande fidelidade as inovações propostas pelos concorrentes. Estão liderando o mercado aquelas que possuem a maior diversidade de idéias criativas, para sempre ter algo pronto quando o lançamento anterior for imitado. As fontes de idéias são os recursos humanos.

Na área internacional a RBV contribuiu, ao longo dos seus 10 primeiros anos nos estudos sobre alianças estratégicas, empreendedorismo internacional e estratégias de mercados emergentes. Estas questões são cada vez mais aprofundadas com a eliminação de distâncias e redução das fronteiras proporcionadas por alianças não só entre organizações, mas entre países, que intensificam o domínio da globalização.

Pensando em agendas futuras para o desenvolvimento da RBV, os autores comentam o empreendedorismo, o financiamento por venture capital, ética e responsabilidade social, o ambiente institucional. Mas, cabe destacar discussão sobre a compatibilidade ou não da RBV com a teoria das capacidades dinâmicas.

Há alguns pontos a favor e outros contra a congruência das idéias. Enquanto as capacidades que são modificadas ao longo do tempo não podem ser consideradas fontes de vantagem competitiva, a capacidade de se adaptar rapidamente, antes do concorrente, de forma inteligente, é difícil de imitar, rara e valiosa. Quando se pensa em capacidades dinâmicas, é possível associa-las à idéia de estratégias emergentes. A organização que opta por desenvolver capacidades dinâmicas percebe a rápida mudança do mercado e está preparada para adaptar-se mais facilmente.

A discussão sobre o futuro da governança corporativa foi bem acertada, se analisada neste momento, pois as práticas de governança ganharam destaque no mercado financeiro, mas não podem ser consideradas fonte de vantagem competitiva sustentável já que se tornaram um pré-requisito para se tornar um player do novo mercado, captando investidores. O mesmo ocorreu com as práticas de Responsabilidade Social, ampliadas na idéia do tripé da sustentabilidade, que acrescenta a estas as questões econômica e ambiental.

Enfim, quase vinte anos após a primeira publicação de Barney sobre a Visão Baseada em Recursos, há muito o que explorar sobre a importância desta estratégia e a discussão está cada vez mais adequada à realidade dinâmica que está vigente e exigindo cada vez mais que as organizações pensem em algo valioso, raro, difícil de imitar e ser substituído.

BARNEY, J. WRIGHT, M. KETCHEN JR, D.J. The resource-based view of the firm: Ten years after 1991. Journal or Management. n. 27. 2001. p. 625-641.