resenha - arretche - federalismo e igualdade territorial uma contradição em termos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL RESENHA DO ATIGO “FEDERALISMO E IGUALDADE TERRITORIAL: UMA CONTRADIÇÃO EM TERMOS?” DE MARTA ARRETCHE, 2010, PUBLICADO NA DADOS – REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, vol 53. MÍRIAM MAIA CAVALCANTE Profº MARCELO RIBEIRO

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Page 1: Resenha - Arretche - Federalismo e Igualdade Territorial Uma Contradição Em Termos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL

RESENHA DO ATIGO “FEDERALISMO E IGUALDADE TERRITORIAL: UMA CONTRADIÇÃO EM TERMOS?” DE MARTA ARRETCHE, 2010, PUBLICADO NA DADOS – REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, vol 53.

MÍRIAM MAIA CAVALCANTE

Profº MARCELO RIBEIRO

Setembro 2015

Page 2: Resenha - Arretche - Federalismo e Igualdade Territorial Uma Contradição Em Termos

Martha Arretche é socióloga, professora titular do Departamento de Ciência Política da USP, Diretora do Centro de Estudos da Metrópole e editora da Brazilian Political Science Review. Dentro de sua área de formação, dedicou-se ao estudo da Ciência Política com ênfase em políticas públicas, análise institucional e comparada cujas recentes pesquisas destinam-se à análise comparada dos Estados federativos e a análise comparada dos sistemas de proteção social.

No artigo “Federalismo e igualdade territorial: uma contradição em termos?”, a autora inicia comparando três resultados existentes a partir da comparação das teorias institucionais. Os três resultados indicam que:

“federalismo implica desigualdade” (2010, p. 591).; “não é realista esperar que governos centrais possam eficientemente desempenhar

funções redistributivas” (2010, p. 592); e estados federativos não são antitéticos à redução das desigualdades entre jurisdições”

(2010, p. 593).

Em seguida, a autora revisa as origens da centralização e da construção do Estado-nação. Informa que o processo de construção do Estado-nação no Brasil concentrou autoridade decisória, poder regulatório e de gasto no governo central, dando prioridade para a construção de políticas nacionais homogêneas em detrimento da autonomia regional. Arretche apresenta a existência de um receio das elites, no decorrer da República Velha, em relação à incapacidade das províncias periféricas de desempenhar funções governativas, fazendo-se necessária a centralização de autoridade na União. Contudo, ainda evidenciou-se que a política local tornara sinônimo de corrupção e clientelismo, fato que justificou o estabelecimento de governos autoritários nos períodos de 1930 e 1964.

A autora demonstra que a centralização, pode não garantir resultados igualitários, conforme pode ser observado, nas regiões Sul e Sudeste que concentraram o crescimento econômico. Isto porque a arrecadação própria dos estados que as compõe é muito maior do que as outras. Logo, as redistribuições não compensam essa disparidade.

No que se refere às políticas nacionais de redução das desigualdades de receita, identifica-se a existência de autoridade tributária regida por regras federais homogêneas, impedindo os governos locais e estaduais de coletar impostos livremente. Tal situação faz com que a arrecadação dos governos municipais origine-se de recursos próprios e de transferências – que podem ser constitucionais da federação ou do estado, bem como vinculadas a políticas específicas. Todas as transferências recebidas pelos municípios compões o montante principal de suas receitas e não dependem de relações políticas de acordo com o enfoque oportunizado por Arretche.

Por outro lado, caso os municípios brasileiros contassem apenas com sua arrecadação própria, as capacidades de gastos seriam muito desiguais. Por esta razão, a soma das arrecadações próprias com as transferências federais promove a diminuição das desigualdades.

Contudo, segundo o artigo, as transferências condicionais universais, que são redistributivas e visam a promoção do desenvolvimento de setores estratégicos, pouco influenciam no impacto sobre as receitas, pois limitam a autonomia para alocação dos recursos.

Arretche apresenta a existência de discordância e variações entre as jurisdições, identificada na priorização dos gastos em cada política setorial. Evidencia-se, deste modo, que, as políticas

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reguladas possuem maior prioridade, mesmo havendo municípios que discordam delas. Logo, as políticas reguladas visam diminuir a desigualdade territorial, com destaque para o papel da União operando funções regulatórias e redistributivas.

Por fim, a autora identifica que, se existisse plena autonomia tributária, as jurisdições além de possuírem grande desigualdade nas receitas também estabeleceriam como um dos principais objetivos não só se livrar dos pobres, investindo mais em desenvolvimento e recebendo mais contribuintes. Por este motivo, a regulação do Estado, garante a existência de investimentos em políticas voltadas para os mais pobres e a universalização dos serviços.

Portanto, a partir da leitura do artigo de Arretche, conclui-se que, as políticas reguladas têm alta prioridade e baixa desigualdade, enquanto que as políticas não reguladas têm prioridade baixa e alta desigualdade. Além disso, apesar do papel redistributivo da União enfrentar uma possibilidade de discordância limitada que resulta em uma desigualdade também limitada, as transferências federais atuam no sentido de redução das desigualdades, especialmente as condicionadas às políticas de educação e saúde.