resenha amor liquido

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  • 7/28/2019 Resenha Amor Liquido

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    RESENHA

    INFINITO ENQUANTO DURE

    BAUMAN, Zygmunt. Amor lquido: sobre a fragilidade dos laos humanos. Rio

    de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

    RESUMO

    Esta resenha analisa a obra Amor Lquido: sobre a fragilidade dos laos

    humanos, do socilogo Zygmunt Bauman. O autor disserta sobre os efeitos doque ele chama de modernidade lquida sobre os relacionamentos humanos

    procurando demonstrar como o processo de individualizao levou a

    fragilizao dos vnculos humanos. A modernidade lquida que no se enraza,

    voltil e no leva em conta a longa durao, afeta os relacionamentos, que se

    tornaram tambm lquidos, de pouca durao infinito enquanto dure.

    PALAVRAS CHAVE: ZYGMUNT BAUMAN; RELACIONAMENTOS; AMORLQUIDO, MODERNIDADE.

    Em uma conversa entre Jesus e os seus discpulos sobre o divrcio, o

    mestre galileu ensinou que pecado se divorciar da sua mulher. Os discpulos

    argumentaram que assim era melhor no casar. Jesus contra argumentou que

    a exigncia da castidade ainda algo mais restrito, coisa para poucos. O ideal

    cristo de uma unio monogmica, de um sentimento eterno, sempre foiconsiderado algo inatingvel para muitas pessoas, contudo, tornou-se o ideal

    burgus por excelncia. Na modernidade slida cultivou-se um ideal de

    relacionamento em que a famlia monogmica era idealizada e o amor definido

    como eterno.

    No Brasil o poeta Vnicius de Morais intuiu outro ideal de amor e paixo:

    [...]Eu possa me dizer do amor (que tive):Que no seja imortal, posto que chama

    Mas que seja infinito enquanto dure.(Soneto de fidelidade)

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    O socilogo Zygmunt Baumann pergunta sobre a influncia da

    modernidade lquida sobre os relacionamentos humanos e disserta sobre a

    fragilidade dos vnculos humanos, o sentimento de insegurana que ela inspira

    e os desejos conflitantes (estimulado por tal sentimento) de apertar os laos e

    ao mesmo tempo mant-los frouxos. (p.8). A questo de fundo a

    possibilidade de relacionamento em um mundo de furiosa individualizao. A

    construo de relacionamentos baseados em parentesco, parcerias, que

    lembram a solidariedade mecnica de Durkheim, d lugar a relacionamentos

    em rede, relaes virtuais.

    No seu pequeno livro O Amor Lquido, Baumann escreve na forma de

    ensaios, lembrando mais um livro de sabedoria do que de sociologia. Mas

    como falar com linguagem cientfica e acadmica sobre o mais fludo dos

    assuntos? Quem procura uma dissertao sociolgica sobre os

    relacionamentos certamente se decepcionar. Temos no livro as impresses

    do que est acontecendo no mundo atual sobre os vnculos afetivos, sobre as

    coisas que valem a pena conversar: o amor e os relacionamentos. A

    modernidade lquida que no se enraza, voltil e no leva em conta a longa

    durao. Isso afeta os relacionamentos, que se tornaram tambm lquidos, de

    pouca durao infinito enquanto dure.

    No primeiro ensaio captulo o objeto da anlise a paixo. Ou a

    capacidade de apaixonar-se e desapaixonar-se diversas vezes. Baumann faz a

    distino entre o amor e o desejo. O amor se relaciona a vontade de possuir

    (cuidar, preservar, assumir responsabilidades) enquanto o desejo ao de

    consumir. Ele utiliza a metfora da compra no shopping center para falar dos

    relacionamentos: como num shopping: os consumidores hoje no compram

    para satisfazer um desejo [...] compram por impulso.(p.26). Esta situao de

    impulso consumista leva os relacionamentos a uma situao de insegurana.

    Temos assim os relacionamentos de curta durao as relaes de bolso

    que se traduzem no ideal dos CSSs: casais-semi-separados ,

    revolucionrios do relacionamento, que romperam a sufocante bolha do

    casale seguem seus prprios caminhos.

    No segundo ensaio o tema a sociabilidade. Partindo da idia de LvyStrauss que do impulso sexual que surgiu a cultura (o ato fundador da

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    Estados-nao imps a regra de aceitao: apenas o natural que aceito na

    famlia nacional. Os que esto fora da esfera da soberania do Estado-nao

    so considerados vida que no vale a pena ser vivida (um ser humano que se

    pode matar sem medo de punio; p.158).

    A soluo para o problema do estrangeiro no Estado-nao tipificada

    de duas formas: antropofgica comer os estrangeiros at o fim; ou

    antropomica vomitar os estrangeiros. A atual tendncia a restrio a

    entrada dos emigrantes econmicos. Tambm aumenta o nmero de campos

    de refugiados que possuem a qualidade de transitoriedade congelada. Nesse

    sentido temos os refugiados como pessoas despidas de identidades definidas.

    Baumann defende que s uma comunidade global inclusiva poderia tirar os

    atuais refugiados do vcuo sociopoltico a que foram relegados. Para Baumann

    s h uma soluo para o problema da xenofobia: o fim do Estado-nao e a

    busca por uma humanidade comum.

    O ideal humanista e universalista de Baumann se insere na mesma

    vertente daqueles que acreditam que a humanidade tende para unidade. o

    ideal da modernidade slida de que se pode produzir um padro universal, uma

    governana universal, um mundo em que no h separao entre os homens.

    Baumann acredita que necessrio e possvel apostar em um projeto de

    civilizao em que as relaes sociais podem ser transformadas na direo de

    uma boa sociedade. Com relao ao amor e aos relacionamentos que se

    caracterizam pela curta durao nos tempos lquidos, caberia uma sugesto de

    Baumann em uma entrevista concedida Maria Pallares-Burke, publicada na

    revista Tempo Social: em um tempo em que no se pode contar com nenhuma

    instituio de longa permanncia, mas em que a vida individual est cada vez

    mais longa, talvez valesse a pena investir no amor durvel, constante ecompromissado.