resenha a ideia da cultura

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EAGLETON, Terry. Versões de cultura in: A idéia de cultura. Tradução Sandra Casttelo Branco. São Paulo: Editora UNESP, 2005. Almiranes dos Santos Silva 1 Ao longo da história as sociedades estão em constantes modificações, assim também como as visões acerca dos fatos e as significações atribuídas a eles, essa mutação também ocorre na língua, onde alguns vocábulos com o passar do tempo ganham novas acepções, no livro a idéia de cultura Terry Eagleton, professor de Teoria Cultural na Universidade de Manchester, descreve inicialmente o aparecimento do conceito de cultura, referindo-se às diversas versões de cultura, dá-nos no capítulo 1 – Versões da cultura, uma perspectiva geral de toda a obra. Somos levados a perceber os diferentes significados da palavra cultura. Faz-se uma decodificação do termo que acompanha o êxodo rural para as cidades, inicialmente ligada com o campo, num processo material, numa atividade, o termo cultura estava imbricado com a natureza, com o cultivo passa a fazer parte de uma ligação com o espírito; ou seja, a significação do termo constitui uma metáfora da própria humanidade inicialmente o homem de tradição rural passa a buscar os grandes centros urbanos, cultura então passa a ter uma acepção imaterial, faz parte de uma população que não se relaciona diretamente com as atividades da terra, mas antes daqueles que têm tempo para se instruir; como refere o autor (2003: 12), a “agricultura não permite tempo livre para a cultura”, ser culto é ser detentor de conhecimentos teóricos, é saber e não cultivar. Eagleton levanta um pouco do véu da relação entre cultura e natureza. A natureza estabelece continuidade entre o Homem e o ambiente. Já cultura tem um significado diferente: realça as diferenças. O Homem apesar de fazer 1 Estudante da especialização em Literatura e Estudos Culturais pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI.

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A IDEIA DA CULTURA APRESENTA A VISÃO DO CONCEITO AO LONGO DA HISTÓRIA, PROMOVENDO UMA REFLEXÃO ACERCA DO TEMA, RELACIONANDO-O COM O MOMENTO HISTÓRICO E AS DEMANDAS DE CADA ÉPOCA.

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Page 1: resenha a ideia da cultura

EAGLETON, Terry. Versões de cultura in: A idéia de cultura. Tradução Sandra Casttelo Branco. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

Almiranes dos Santos Silva 1

Ao longo da história as sociedades estão em constantes modificações, assim também como as visões acerca dos fatos e as significações atribuídas a eles, essa mutação também ocorre na língua, onde alguns vocábulos com o passar do tempo ganham novas acepções, no livro a idéia de cultura Terry Eagleton, professor de Teoria Cultural na Universidade de Manchester, descreve inicialmente o aparecimento do conceito de cultura, referindo-se às diversas versões de cultura, dá-nos no capítulo 1 – Versões da cultura, uma perspectiva geral de toda a obra. Somos levados a perceber os diferentes significados da palavra cultura.

Faz-se uma decodificação do termo que acompanha o êxodo rural para as cidades, inicialmente ligada com o campo, num processo material, numa atividade, o termo cultura estava imbricado com a natureza, com o cultivo passa a fazer parte de uma ligação com o espírito; ou seja, a significação do termo constitui uma metáfora da própria humanidade inicialmente o homem de tradição rural passa a buscar os grandes centros urbanos, cultura então passa a ter uma acepção imaterial, faz parte de uma população que não se relaciona diretamente com as atividades da terra, mas antes daqueles que têm tempo para se instruir; como refere o autor (2003: 12), a “agricultura não permite tempo livre para a cultura”, ser culto é ser detentor de conhecimentos teóricos, é saber e não cultivar. Eagleton levanta um pouco do véu da relação entre cultura e natureza. A natureza estabelece continuidade entre o Homem e o ambiente. Já cultura tem um significado diferente: realça as diferenças. O Homem apesar de fazer parte da natureza pode ser distinguido pela capacidade de se automodelar. Aqui é introduzida uma outra versão de cultura, relacionada com uma cultura de Estado.Há passagem do natural para o artificial. Como é referido “Os interesses políticos governam os culturais definindo assim uma versão de humanidade” (2003: 19). Cultura, não sendo o mesmo que civilização, é uma forma de poder que depende da sociedade devendo ser promovida pelo estado para que a sociedade civil seja harmoniosa e responsável, seja humana que é o mesmo que “livre de conflito”. Os cidadãos são “formatados” de acordo com as necessidades políticas; assim cultura passa a conceber uma espécie de aparelho ideológico, capaz de modelar o ser humano de acordo com os interesses de um grupo dominante, sendo um poder disciplinar que harmoniza a vivência humana, cultura é sinônimo de estado e prima pela ordem, desse modo visa tornar os seres humanos seres dóceis, que se reconheçam

1 Estudante da especialização em Literatura e Estudos Culturais pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI.

Page 2: resenha a ideia da cultura

membros de um determinado grupo e com isso sigam as regras presentes nesse meio, a fim de serem aceitos ou de não sofrerem represálias.

No entanto a cultura é contrária à política, pois favorece todas as qualidades humanas e não uma em especial. A cultura implica uma visão global não só dos interesses próprios, mas também dos outros. Existe uma interligação entre cultura e vida social no mundo pós-moderno, cultura é sinônimo de identidade o ser se confunde com a cultura, ele é membro, é parte dela e ao mesmo tempo em que é modelado também é agente dessa mudança, não sendo essa eterna ao ser. A cultura floresceu na modernidade, com o advento dos movimentos reivindicatórios e libertários, que propunham um ideal de liberdade e igualdade, reclamando a cultura como algo comum a todos, cultura passou a ser concebida como costumes, hábitos de uma determinada sociedade, não necessariamente ligada a valores, mas enquanto manifestação de um povo, nem boa nem ruim, mas diferente.

Ainda neste capítulo são analisadas as variantes da cultura num domínio mais geral como as ciências e filosofia e num mais específico como a música, a pintura e a literatura. Esta redução faz com que esta ideia de cultura se restrinja a uma pequena parte da população, tendo em vista que o acesso a esses bens não é algo comum a todos, assim os cultos ou detentores da cultura passam a ser uma pequena parte da população e nesse particular Eagleton (2003) aborda o perigo de declínio da cultura apoiada na arte, pois esta tem tendência a desaparecer. Para Eagleton há uma alienação na sociedade que atrela o termo cultura aos bens materiais, dessa forma tal conceito está sendo admitido exatamente ao contrário das implicações que contidas no termo, pois ao mesmo tempo em que é imanente a tais condições trancesdentaliza os próprios limites entre ser humano e sociedade.

O capitulo versões de cultura provoca inúmeras reflexões acerca do termo cultura e das implicações pertinentes a este adquiridas com as mudanças sociais ao longo da história, verificando de uma forma breve a relação de trocas mútuas e influências que se estabelecem entre o ser individual e a cultura, sendo este ao mesmo tempo construtor e construído pela cultura.