resenha - a estrutura

7
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA – UCB PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM PSICOLOGIA Disciplina: Família e Saúde Mental Professoras: Maria Alexina Ribeiro e Maria Aparecida Penso Aluna: Luisa Villela Soares Resenha texto: A Estrutura O texto A Estrutura é o segundo capítulo do livro intitulado: Trabalhando com Famílias Pobres (1999) escrito por Salvador Minuchin, criador da Terapia Familiar Estrutural e seus discípulos Patrícia Minuchin e Jorge Colapinto. O livro tem o intuito de ampliar a visão de terapia familiar e proporcionar ao leitor uma nova possibilidade de atuação junto a famílias pobres, levando em consideração que essas se inserem em um contexto com especificidades únicas, sendo diretamente influenciadas pelas instituições e seus trabalhadores, que alteram toda a estrutura e dinâmica dessas famílias. Desta forma os autores neste capítulo buscam fazer uma contextualização sistemática iniciando pela idéia de base sobre a teoria dos sistemas, assim como o que é família; a família como sistema, para á partir deste ponto contextualizar o trabalho com famílias pobres em sua especificidade, assim como a perspectiva de trabalho junto a essa conjuntura. Dentre os principais aspectos trabalhados no texto podemos destacar dentro do tópico da Orientação Sistêmica a idéia dos autores sobre o que são sistemas, consistindo na

Upload: luisa-soares

Post on 10-Dec-2014

115 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Resenha - A Estrutura

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA – UCBPRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM PSICOLOGIA

Disciplina: Família e Saúde Mental Professoras: Maria Alexina Ribeiro e Maria Aparecida PensoAluna: Luisa Villela Soares

Resenha texto: A Estrutura

O texto A Estrutura é o segundo capítulo do livro intitulado: Trabalhando com

Famílias Pobres (1999) escrito por Salvador Minuchin, criador da Terapia Familiar

Estrutural e seus discípulos Patrícia Minuchin e Jorge Colapinto. O livro tem o intuito

de ampliar a visão de terapia familiar e proporcionar ao leitor uma nova possibilidade de

atuação junto a famílias pobres, levando em consideração que essas se inserem em um

contexto com especificidades únicas, sendo diretamente influenciadas pelas instituições

e seus trabalhadores, que alteram toda a estrutura e dinâmica dessas famílias.

Desta forma os autores neste capítulo buscam fazer uma contextualização

sistemática iniciando pela idéia de base sobre a teoria dos sistemas, assim como o que é

família; a família como sistema, para á partir deste ponto contextualizar o trabalho com

famílias pobres em sua especificidade, assim como a perspectiva de trabalho junto a

essa conjuntura.

Dentre os principais aspectos trabalhados no texto podemos destacar dentro do

tópico da Orientação Sistêmica a idéia dos autores sobre o que são sistemas, consistindo

na idéia de como as partes se relacionam de maneiras específicas e que nos mais

variados tipos de sistemas, há sempre a concepção de relação/conexão, dos padrões que

se repetem e a presença e organização dos subsistemas que são diretamente

influenciados e influenciam o sistema maior e que essa relação não necessariamente é

de igualdade. Também correlacionam que todos os sistemas passam períodos de

estabilidade e períodos de mudança, trazendo a idéia de movimento, onde a estabilidade

pode ser caracterizada por um processo de repetição de padrão e a mudança como

período de “crise” onde o sistema deve buscar por novo padrão.

A Família é então vista como um sistema, que também se insere em diversos

outros sistemas. Os autores entendem família como: “um tipo especial de sistema, com

estrutura, padrões e propriedades que organizam a estabilidade e a mudança (...) cujos

membros têm contato direto, laços emocionais e uma história compartilhada” (p. 22).

Page 2: Resenha - A Estrutura

Ao pensar na família e sua estrutura há de ir além e compreender a rede de padrões de

interações que ali se estabelecem, eles refletem as estruturas de hierarquia, sistema de

poder, alianças, coalizões, características culturais e étnicas entre outros, que são

fundamentais para pensar a organização da sociedade humana, compreendendo que

esses padrões organizados são a expressão de normas implícitas do sistema que

fundamentalmente “definem as expectativas e limites” (p. 24) permitindo que cada

componente do sistema saiba seu papel e possibilidades de atuação.

Os Subsistemas podem ser entendidos como as diversas possibilidades de

divisão dos membros do sistema por categorias, por exemplo, subsistemas fraternal,

filial, conjugal, parental, de gênero, geracional, e muitas outras que variam de acordo

com a especificidade de cada família. São esses subsistemas que irão definir as

fronteiras. As fronteiras são como linhas de limites invisíveis que variam em

permeabilidade de acordo com a necessidade do sistema/subsistema e de acordo com a

capacidade da organização da estrutura familiar.

O indivíduo é descrito pelos autores como a menor unidade do sistema familiar,

que molda os padrões familiares, assim como, é moldado por ela. É a por meio do

movimento de complementaridade que a família reconhece o indivíduo a partir de

características individuais que vem para compor os papeis/funções dentro do sistema,

que de maneira circular acaba por compor a auto-imagem desse indivíduo, como

também o tolhe de expandir o self. “O processo é circular e o comportamento é

complementar, o que significa que o comportamento é mantido por todos os

participantes” (p. 26).

Ao que tange as transições que vivenciam uma família, os autores vão

caracterizar como um período de desorganização, onde há a necessidade de busca por

novos padrões, mais adequados a situação atual da família, o que pode ser um processo

difícil e doloroso. Dividem os desencadeadores dessas transições em dois tipos: o do

ciclo de vida normal do desenvolvimento humano (nascimento, infância, adolescência,

casamento, filhos, envelhecimento, etc.) e os desencadeadores que estão relacionados

aos acontecimentos da vida moderna, eventos inesperados (divórcios, recasamento,

doenças, mortes inesperadas, acidentes, desastres naturais, desemprego repentino, etc.) e

o mais importante é compreender que a desorganização, as dificuldades de

comportamentos e os componentes emocionais envolvidos não serão sempre

patológicos muito menos permanentes. O que muitas vezes não é percebido pelos

agentes sociais, em famílias com múltiplas crises, que acabam por serem caracterizadas

Page 3: Resenha - A Estrutura

como sendo patológicas e disfuncionais, julgando como permanente o que de veras

pode ser situacional de um processo de crises.

Outro ponto norteador descrito pelos autores é o das famílias como pequenas

empresas sociedades, isso quer dizer que para eles ao discorrer sobre sistema familiar,

algo falta, é como se apenas o conceito de sistema fosse falho ao pensar em todos os

sentimentos e a complexidade das interações, assim como o sentimento de

pertencimento e preservação dos membros, além de partilha da “história familiar”, esse

balanço positivo também têm outro lado: os conflitos familiares, que podem levar a

verdadeiros rompimentos caso não consigam ser negociados/administrados pelos

membros da família.

Em as Famílias da “Agência”: Os Pobres que enfrentam Crises Múltiplas os

autores começam a pontuar as especificidades dessa realidade, onde ao pensar esse

modelo de estrutural descrito anteriormente, é possível ver neste contexto, diversos

fatores da estrutura do sistema familiar, que são negligenciados, em prol do que os

agentes sociais e instituições crêem como melhor para o individuo, consequentemente

interferindo em sua família. Essas famílias são destituídas do poder de escrever suas

próprias histórias, tendo seus laços e vínculos afetivos muitas vezes rompidos por serem

considerados diante da violência em que esse insere, como incapazes.

As fronteiras nesse tipo de famílias são “fluidas”, o poder é externo, e a

hierarquia passa a ser inexistente. Para os autores muitas vezes a intervenção é

necessária, porém há de ser pensar junto a elas maneiras de ajudar os membros da

família a darem conta da realidade, buscando preservar os vínculos que possuem

potencial protetivo, reconhecendo que muitas vezes o padrão considerado disfuncional

não é fixo, mas sim, transitório devido ao número de crises vivenciadas, e que pode ser

sim modificado.

Desta maneira é proposto que a abordagem sistêmica da família seja utilizada neste

contexto. Porém, os autores pontuam as dificuldades que englobam esta proposta. A

primeira é a natureza da burocracia. Essa surge com intuito de organizar os processos,

mas com o aumento das demandas sociais acaba por não ser suficiente, enrijecendo, e

acabando por fragmentar os serviços, criando como os autores chamam uma verdadeira

“colcha de retalhos”, onde os serviços não se comunicam e moldam seus processos de

acordo com os recursos disponíveis. Essa situação burocrática enrijecida, voltada para

procedimentos com foco individualizado, acaba por treinar e condicionar os

profissionais desde sua entrada no sistema. Os prendendo há uma prática padronizada,

Page 4: Resenha - A Estrutura

que protege em seus processos burocráticos. Por último as atitudes sociais para com os

pobres acaba por criar uma definição de família limitada, moralizante e

culpabilizadora/vitimizadora, que é reforçada pelos sistemas de atendimento sociais,

assim como pela burocracia.

Para finalizar os autores colocam o trabalho rumo à mudança, como apesar de

difícil, como possível, compreendendo que a visão de sistemas, organização de

hierarquias, padrões, papeis e funções ele já têm, como trabalhadores de um sistema

social, o que falta é que esse conhecimento possa ser transposto para os processos da

família também, pontuando que possibilidades de trabalho e de processos de interação

dos agentes e famílias serão trabalhadas mais ao longo do livro.

Concluindo a resenha do presente texto, gostaria de expor que mais uma vez

Salvador Minuchin e colaboradores, constroem de maneira muito simples e sistemática,

uma possibilidade real de trabalho, neste contexto de famílias pobres, que também é

vivido diariamente em nosso país e constitui uma grande demanda não apenas para os

serviços de assistência social e jurídica, como também um problema diretamente

relacionado aos serviços de saúde. Sendo assim o texto contribui para a construção do

que é a família no contexto da saúde mental.

MINUCHIN, P; COLAPINTO, J; MINUCHIN, S. A Estrutura: Uma Orientação Sistêmica e uma Abordagem Centrada na Família. Em: MINUCHIN, P; COLAPINTO, J; MINUCHIN, S. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artmed, 1999.