resenha 5 - estudo dos processos de comunicação científica e tecnológica

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Page 1: Resenha 5 - Estudo dos Processos de Comunicação Científica e Tecnológica

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE UNIDADES DE INFORMAÇÃO - PPGinfo

Disciplina: Estudo dos Processos de Comunicação Científica e Tecnológica Profª: Lani Lucas Aluna: Juliana Aparecida Gulka Data: 27/04/2015

RESENHA

MARCOVICH, Anne; SHINN, Terry. Posfácio. In: MERTON, Robert. Ensaios de sociologia da ciência. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia; Ed. 34, 2013. BOURDIEU, P. O campo científico. In: ORTIZ, R. (Org.). A Sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Olho d´Agua, 2003. p. 112-143. LORENZI, Bruno Rossi; ANDRADE, Thales Novaes de. Latour e Bourdieu: rediscutindo as controvérsias. Teoria & Pesquisa: Revista de Ciência Política, v.20, n. 2, 2011. BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento – II: da enciclopédia à Wikipédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. (Capitulo – Geografias do conhecimento) URBIZAGASTEGUI-ALVARADO, Ruben. A Cientometria como um campo científico. Informação & Sociedade: Estudos, v. 20, n. 3, set./dez. 2010, p. 41-62.

A noção de campo é como um mundo social, que possui agentes e

instituições que produzem e reproduzem a ciência. Alguns interpretam esse campo

apenas a partir de textos, enquanto outros o entendem por meio da relação dos

textos com a realidade, relacionando-os em um viés social ou econômico. Com a

ciência e o campo científico também existem imposições e solicitações, e assim,

todo campo possui a força e a luta que vai conservá-lo ou transforma-lo.

A partir disso, um campo pode se tornar autônomo, e quanto mais autonomia

mais dominação pode exercer sobre os demais. Há ainda a economia e a política

que acabam por influenciar quem vai ter mais ou menos autonomia, mais condições

de poder e monopólio sobre os demais.

Há também a questão da autoridade, na qual o capital científico confere ao

pesquisador o reconhecimento necessário para “ditar as regras do jogo”. Isso

evidencia que os campos são locais simbólicos nos quais tendências são lançadas e

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refutadas, em um jogo de forças. A autoridade está ainda ligada à discussão das

carreiras dentro do campo científico, no qual existe uma corrida em busca de

melhores temas e publicações. O campo científico é objeto de luta, no qual os

pesquisadores sempre querem chegar primeiro, e, portanto, se destacar. Assim, um

pesquisador está sempre contaminado pelo seu próprio percurso, a sua própria

carreira, de modo que as suas práticas são sempre voltadas para a aquisição de

autoridade e prestígio.

A autoridade garante tanto a capacidade técnica como científica e social para

legitimar o campo e fazer com que aqueles que o seguem ajam dentro dos

conformes, obtendo reconhecimento, em detrimento daqueles que não o seguem e,

portanto, não tem condições nem autoridade para dar crédito sobre algo. A

dominação parte de quem é autoridade no campo, que consegue fazer a descoberta

científica primeiro, e perante os demais ser reconhecido como aquele que definiu o

campo científico, estabelecendo a “forma de fazer” correta. Assim, tem-se também a

concentração de pesquisadores em temas considerados importantes, pois estes

quando estudados e provedores de contribuições, tem maiores chances de trazer

um lucro simbólico.

Bourdieu afirma que não há escolha científica que não seja pautada em uma

estratégia de investimento político a fim de resultar em lucros simbólicos e a

obtenção de autoridade e reconhecimento. Logo, a atividade científica não está

implicada puramente na concorrência de bons argumentos, da força da razão, nela

também influencia o poder.

Para Bourdieu existem duas formas de poder que são respectivamente dois

tipos de capital científico. Um é o político, ligado, sobretudo a cargos e posições

importantes dentro de instituições, como por exemplo, laboratórios, comitês e

departamentos. O outro considera o prestígio que vai além do vinculo

institucionalizado, é o reconhecimento perante a academia, sendo o capital científico

puro. O autor afirma que o acumulo dos dois tipos de capital é extremamente difícil,

mas que a transformação do capital político para o poder científico é mais fácil e

rápida, principalmente para quem já detém de algum prestígio e poder.

O capital pode ser acumulado, reconvertido e transmitido. O maior capital

científico estará relacionado tanto ao prestígio quanto o caminho percorrido na

ciência, mediante inclusive a legitimação da produção por seus pares. Retoma-se

aqui não apenas a corrida por quem publica primeiro o resultado de uma pesquisa, o

Page 3: Resenha 5 - Estudo dos Processos de Comunicação Científica e Tecnológica

que teoricamente baixaria o valor de pesquisas e resultados semelhantes publicados

posteriormente pelos pares, mas também a divulgação de dados e resultados

parciais que garantem o futuro da produção naquele campo científico, e, portanto, o

capital científico. O capital político, por sua vez, propicia que o pesquisador angarie

fundos para pesquisas e tenha acesso a bolsas, convites e prêmios.

Há dessa forma uma concorrência pela autoridade científica, mas que de

acordo com o autor, pode levar ao fato dos concorrentes serem os próprios clientes

dessa produção, pois somente eles detêm conhecimento suficiente para consumi-

las. Os campos científicos são locais que implicam em tendências, não se

orientando ao acaso, mas sim onde são travadas as lutas simbólicas em função do

capital. A ciência é um jogo de busca por monopólios e autoridade, que trava

sempre uma luta de interesses e força.

Bourdieu fez ainda uma proposição chamada Teoria da Prática, a qual

revelaria as condições institucionais e materiais preexistentes a produção simbólica.

Urbizagastegui-Alvarado afirma que as estratégias, os interesses e as tentativas dos

grupos ou indivíduos são norteados pela sociedade, e assim há a possibilidade de

tomar caminhos diferentes cada vez que os interesses exigirem isso.

No estudo de Urbizagastegui-Alvarado, o autor se propõem a investigar se os

autores da elite e da frente de pesquisa na área de produtividade de autores e lei de

Lotka, são prevalecidos pela posição em que ocupam dentro do campo da

Bibliometria. Alguns pontos são levantados como fatores que favorecem essa

situação, como o fato dos autores serem professores universitários, editores de

periódicos científicos, ou mesmo ser diretor de alguma organização profissional. Ter

o grau de doutor também facilitaria a posição na elite ou na frente de pesquisa.

Para Merton, a ciência é pública, mas as condições nas quais ela é praticada

são controladas e privadas, sendo limitada para os especialistas que dominam

certas práticas, que regem as regras do jogo e ditam os debates. Seria assim o

ethos científico, que é o complexo de valores e normas a que os cientistas seguem.

O autor propõem que a ciência incorporaria quatro perspectivas: cosmopolitismo,

universalismo, desinteresse e ceticismo organizado. Em suma, essas perspectivas

apontam para uma ciência que pode ser usada livremente pelos indivíduos, na qual

religião ou raça não devem interferir, e que o conceito de propriedade intelectual

está ausente.