reseña o universalismo europeu- a retórica do poder- immanuel wallerstein

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Revista Brasileira de Política Internacional ISSN: 0034-7329 [email protected] Instituto Brasileiro de Relações Internacionais Brasil Muller, Paulo Ricardo Reseña de "O universalismo europeu: a retórica do poder" de Immanuel WALLERSTEIN Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 52, núm. 1, enero-junio, 2009, pp. 185-186 Instituto Brasileiro de Relações Internacionais Brasília, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=35811695010 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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  • Revista Brasileira de Poltica InternacionalISSN: [email protected] Brasileiro de Relaes InternacionaisBrasil

    Muller, Paulo RicardoResea de "O universalismo europeu: a retrica do poder" de Immanuel WALLERSTEIN

    Revista Brasileira de Poltica Internacional, vol. 52, nm. 1, enero-junio, 2009, pp. 185-186Instituto Brasileiro de Relaes Internacionais

    Braslia, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=35811695010

    Como citar este artigo

    Nmero completo

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    Sistema de Informao CientficaRede de Revistas Cientficas da Amrica Latina, Caribe , Espanha e Portugal

    Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto

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    O universalismo europeu: a retrica do poder*

    Paulo RicaRdo MulleR**

    Em O universalismo europeu (traduo do original de 2006, The european universalism) Wallerstein confronta o realismo da construo das relaes internacionais contemporneas com uma necessidade humanista de produo de alternativas aos modelos hegemnicos de sistema-mundo. A partir deste conceito sistema-mundo , forjado em obras anteriores suas, o autor busca sistematizar uma srie de argumentos que compem crticas globalizao e aos discursos universalistas que a acompanham, explicitando de que forma estes discursos representam vises europias particulares universalizadas junto aos processos de expanso econmica, poltica, cultural e militar de pases da Europa ocidental e dos Estados Unidos sobre o restante do mundo. Este universalismo europeu incorporado prpria historiografia ocidental como narrativa central da evoluo dos povos e pases em direo formao de um sistema-mundo moderno fundado nas relaes entre Estados-nao e no valor do desenvolvimento e do progresso como processos que devem levar, necessariamente, s formas de organizao social identificadas como civilizadas, exemplificadas pelas sociedades europias em diferentes perodos histricos.

    O universalismo europeu deve ser substitudo por um universalismo universal, ou seja, um projeto de sistema-mundo que busque incorporar e representar valores largamente compartilhados tanto na escala das relaes interpessoais quanto na escala das relaes interestatais. As condies sociais para a construo de um universalismo total so apontadas pela anlise de situaes de disputa entre a viso expansionista do modelo europeu de civilizao e vises alternativas que buscaram relativizar a superioridade evolutiva auto-atribuda do ocidente em relao a outros contextos geopolticos. Ao explicitar estas disputas, Wallerstein desmistifica a posio hegemnica da Europa ocidental e dos Estados Unidos no sistema-mundo moderno mostrando processos histrica e socialmente localizados de construo e consolidao desta posio por meio de mecanismos de poder econmico, poltico e militar. Estes mecanismos so analisados nos

    Resenha

    * Resenha de WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retrica do poder. So Paulo: Boitempo, 2007, 146 p. ISBN: 978-85-7559-097-3.** Mestrando em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas Unicamp([email protected]).

  • Resenha

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    trs captulos centrais dos livros, respectivamente dedicados aos discursos universalistas do colonialismo, do orientalismo e da cientificidade, mostrando como estes discursos articulam valores que se reproduzem, contemporaneamente, na globalizao, nos direitos humanos e na democracia.

    Ao relacionar estes discursos com diferentes perodos histricos, o autor procura desconstruir a retrica que legitima o status quo das relaes de poder na arena internacional, mostrando que os processos de dominao se consolidam em meio a debates e questionamentos do cerne dos argumentos que afirmam a universalidade do modelo ocidental de desenvolvimento e civilizao. a funo da anlise do debate sobre o direito de interveno (droit d ingrence) agenciado pelo colonialismo espanhol para justificar a imposio de prticas crists aos amerndios sob o argumento de que as prticas pags seriam contrrias s leis naturais. Tambm o que fica expresso na anlise sobre a constituio do orientalismo como doutrina poltica que justifica o colonialismo na sia sob o argumento de que as civilizaes orientais as sociedades asiticas dotadas de cdigos escritos: China, Imprio Otomano, ndia e Prsia teriam estancado seu progresso rumo modernidade por no articularem os valores universais pregados pelo cristianismo e pelo iderio civilizatrio.

    Estes argumentos so reiterados contemporaneamente pelos movimentos de dominao e expanso econmica e geopoltica dos pases ricos sobre o restante do mundo, desta vez em nome dos direitos humanos dos grupos mais fracos em pases com conflitos civis ou em nome da implantao da democracia nestes pases, ou ainda da incluso de um nmero cada vez maior de pessoas na globalizao de mercado. A pergunta que o livro nos traz : quem tem o direito de intervir em nome dos direitos humanos ou da democracia, se ao faz-lo tambm o direito bsico autodeterminao desrespeitado? Em uma poca que sinaliza uma crise de legitimidade das potncias dominantes, a resposta sugerida a de que os questionamentos ao universalismo europeu ainda hegemnico possam resultar em estruturas de relaes internacionais que no tenham apenas os Estados como atores centrais, mas tambm redes sociais que promovam encontros entre diferentes vises de mundo, e a partir da constatao dos valores compartilhados nestes espaos, construir uma proposta de universalismo universal.

    Recebido em 05 de Janeiro de 2009Aprovado em 15 de maio de 2009