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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina Realização: ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP menu ICTR2004 | menu inicial PRÓXIMA RESÍDUOS SÓLIDOS EM INDÚSTRIAS DE ABATE FRIGORÍFICO Gilberto Caldeira Bandeira de Melo Artur Tôrres Filho Liliane Rossi Abreu Leonardo Costa Dias Elder Antônio Beirigo Daniela Scherer

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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina

Realização:

ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento SustentávelNISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP

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PRÓXIMA

RESÍDUOS SÓLIDOS EM INDÚSTRIAS DE ABATE FRIGORÍFICO

Gilberto Caldeira Bandeira de MeloArtur Tôrres Filho

Liliane Rossi AbreuLeonardo Costa Dias

Elder Antônio Beir igoDaniela Scherer

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RESUMO DO TRABALHO 1) Título: RESÍDUOS SÓLIDOS EM INDÚSTRIAS DE ABATE FRIGORÍFICO 2) Objetivo: Diagnóstico quantitativo e qualitativo da geração de resíduos sólidos em cinco indústrias de abate frigorífico de médio e grande porte na Região de Belo Horizonte, visando a concepção de um manejo integrado e compartilhado dos resíduos entre as empresas. 3) Metodologia: Levantamento detalhado de cada etapa de geração dos resíduos, que foram divididos em duas categorias: resíduos biológicos, compreendendo o sangue, conteúdo ruminal, lodos, e demais resíduos gerados no processamento da matéria-prima animal, e resíduos não-biológicos, gerados no manuseio de insumos e atividades operacionais. Medição por meios gravimétricos, volumétricos, e inventários/contagem direta da quantidade de resíduos e suas taxas de geração. Análises físico-quimicas dos resíduos, classificação, pesquisa de usos a aplicações efetivas ou potenciais para cada resíduo. 4) Resultados alcançados ou esperados: Obteve-se a geração média de sangue bovino em 15 litros por cabeça, e suínos de 3,6 litros. O conteúdo ruminal bovino de 35,6 litros por cabeça, com teor de sólidos de 97% em peso. Para o abate típico das 5 empresas pesquisadas são gerados 18,4 m3/dia de sangue 32 m3/dia de conteúdo ruminal. Dentre os demais resíduos, os mais significativos são os lodos das ETEs, a fuligem ou cinzas das caldeiras, o papelão e o plástico, este último nas unidades dotadas de salsicharia. A partir das medições e da caracterização, está em andamento a concepção de sistema compartilhado para gestão dos resíduos pelas cinco empresas, com pesquisas e projetos em cada alternativa de processamento e destino final identificadas para os diferentes resíduos.

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RESÍDUOS SÓLIDOS EM INDÚSTRIAS DE ABATE FRIGORÍFICO

Gilberto Caldeira Bandeira de Melo2)

Artur Tôrres Filho3)

Liliane Rossi Abreu4)

Leonardo Costa Dias5)

Elder Antônio Beirigo6)

Daniela Scherer7)

Resumo Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada para o levantamento de resíduos sólidos gerados por cinco indústrias de abate frigorífico de bovinos e suínos, de médio e grande portes, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os resíduos gerados em cada indústria foram quantificados e caracterizados, sendo subdivididos em duas categorias: os biológicos, resultantes do abate e processamento dos derivados, e os lodos gerados nos sistemas de tratamento de efluentes, e os resíduos não-biológicos, gerados das demais instalações industriais, envolvendo as áreas de insumos e processamento de derivados. Os resíduos foram medidos por gravimetria, volumetria, e inventários, de forma padronizada. Obteve-se para a geração de sangue de origem bovina a taxa média de 15,0 litros por cabeça, e para suínos de 3,6 litros. O conteúdo ruminal dos bovinos é gerado na taxa de 35,6 litros por cabeça, com teor de sólidos de 97% em peso. Para o abate típico do conjunto das empresas pesquisadas são gerados 18,4 m3/dia de sangue 32 m3/dia de conteúdo ruminal. Dentre os demais resíduos gerados, os mais significativos são os lodos das ETEs, a fuligem ou cinzas em caldeiras, o papelão e o plástico, este último especialmente nas unidades dotadas de salsicharia. A partir dos resultados das medições e da caracterização, está em andamento a concepção de sistema compartilhado para gestão dos resíduos pelas cinco empresas, onde serão testadas e propostas as técnicas mais adequadas de processamento e destino final para cada categoria e tipo de resíduo. Palavras-chave Abate frigorífico, resíduos sólidos industriais, reciclagem, disposição de resíduos (2) Engenheiro Químico, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG, Doutor em Ciências de Engenharia pela Universidade de Karlsruhe, Alemanha, Professor Adjunto do Departamanto de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG; (3) Engenheiro Agrônomo, Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Mestrando em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG. (4) Engenheiro Civil; (5) Engenheiro Civil; (6) Engenheiro Civil; (7) Engenheira Química.

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Introdução A indústria de abate frigorífico de bovinos e suínos é uma modalidade que está entre as que mais possuem poder de contaminação e poluição, quando não tratam seus efluentes e resíduos de maneira efetiva. Os efluentes líquidos dessas indústrias podem ser subdivididos em alguns fluxos, que consistem de águas servidas coletadas e encaminhadas de forma separada e independente, tais como:· 1. Linha Verde: água de lavagem dos currais, pocilgas, rampas de descarga,

canais de circulação do gado, bucharia, triparia, graxaria, juntamente com todo resíduo gerado em cada um desses setores.

2. Linha Vermelha: percurso feito pela água de lavagem da área de abate e das salas anexas, que têm o sangue como o principal contaminante.

3. Linha de Tratamento Sanitário: efluente dos banheiros e refeitórios. 4. Linha Negra: efluentes em oficinas, casa de caldeira, sala de máquinas,

manutenção, etc.. Embora coletados de forma independentes, os efluentes líquidos das diferentes linhas são geralmente encaminhados à mesma estação de tratamento de efluentes (ETE). O tratamento em sistemas convencionais de estabilização biológica e remoção de DBO, aeróbios e anaeróbios, vêm sendo adotados com sucesso, devido à natureza orgânica e a alta biodegradabilidade. O mesmo não pode ser dito em relação aos resíduos sólidos, pois nem sempre existe uma destinação adequada. Neste trabalho será considerado resíduo todo material para o qual não existe, ainda, de forma organizada e definitiva, um fluxo de recirculação, reutilização, e reaproveitamento. Estes resíduos podem ser gerados nos diferentes setores de abate e processamento dos produtos gerados após o abate, bem como os resíduos separados por processos físicos (peneiras, grades, decantadores, etc.) no percurso dos efluentes líquidos das diversas linhas, e os resíduos gerados na própria ETE. A Figura 1 abaixo apresenta um diagrama típico do processamento realizado em uma indústria de abate frigorífico, nos moldes como praticada hoje nas cercanias de Belo Horizonte, onde se concentram um razoável número dessas indústrias, todas com características semelhantes, mas com nuances individuais. No projeto de pesquisa, cinco empresas do setor, situadas num raio de aproximadamente 30 km em torno do Município de Belo Horizonte, foram diagnosticadas. Trata-se de unidades de médio a grande porte, com abate de animais em torno de 300 bovinos e 600 suínos por dia. O volume de resíduos gerados é muito grande, e nem sempre o destino final hoje praticado é o mais adequado. Após esta etapa de caracterização, que ora se relata, o projeto pretende apresentar uma solução para o gerenciamento o compartilhado da coleta, tratamento e aplicações, e destino final dos resíduos por elas gerados. Os resultados aqui apresentados podem ser considerados como uma referência para indústrias do gênero, para as quais não se encontrou na literatura consultada nenhuma referência de resultados experimentais diretos, apenas indicações sobre quantidades médias geradas dos resíduos (STOOP, 1999).

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Figura 1 Diagrama Típico do processamento em uma Indústria de Abate Frigorífico indicando os principais pontos de geração de

Material e Métodos A presente pesquisa realizou um diagnóstico de geração de resíduos em cada uma das cinco empresas participantes do projeto. Inicialmente, foram caracterizados os setores onde ocorre a geração dos resíduos em cada uma das indústrias, que podem ser subdivididos nas seguintes etapas: 1. Setor de recepção de animais: envolve a recepção de caminhões e vagões de

transporte rural, os currais, sala de necropsia, o funil ou rampa de acesso à área de abate, e as duchas. Os animais enfermos ou com suspeita de estarem contaminados são desviados para isolamento ou observação. Neste setor os resíduos sólidos são formados essencialmente pelo esterco obtido por raspagem. No caso de limpeza por uso de água, essa será encaminhada à ETE, e os resíduos serão separados lá.

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2. Zona Suja: o boxe de atordoamento, e a banheira de sangria. Aqui, o principal contaminante é o sangue. E, também, os líquidos provenientes das lavagens das partes do animal já abatido e dos utensílios utilizados pelos funcionários. O vômito produzido durante o atordoamento e a sangria do animal também constitui outro tipo de contaminante dos efluentes líquidos.

3. Zona Intermediária: extração do couro; extração de mãos (dianteiras) e patas (traseiras); extração de cabeça; extração de vísceras verdes; extração de vísceras vermelhas; serra (divisão da carcaça ao meio). Na Zona Intermediária, além do sangue proveniente do gotejamento e dos líquidos das diversas lavagens das vísceras, há também resíduos dos couros, matéria verde, resíduos dos vômitos e líquidos contendo graxas ou gorduras.

4. Zona Limpa: inspeção veterinária (de carnes, vísceras); lavagem (túnel de lavagem); palco de classificação; sala de peso; câmaras frigoríficas (maturação); expedição; serrinha (divisão dos quartos). Na Zona Limpa é comum a presença de efluentes e graxas provenientes do sangue, de matéria orgânica arrastada pela lavagem, dentre outros.

5. Salas anexas à área de abate: sala da cabeça; sala do bucho e tripas (vísceras verdes); sala de vísceras vermelhas; sala do couro; sala de desossa; sala de elaboração de farinha de carne e ossos. Neste complexo de salas são gerados resíduos sanguinolentos, resíduos verdes provenientes da limpeza das cavidades das vísceras, buchos e tripas e resíduos graxos (que chegam das diversas tarefas de limpeza).

Algumas indústrias efetuam diferentes espécies de cortes, em salas climatizadas onde se originam resíduos graxos e restos ósseos. Há também aquelas industrias que contam com salas de elaboração de farinhas de carnes e ossos. Neste caso, os equipamentos trituram os resíduos, que se convertem em farinhas para o uso na alimentação animal. O sangue também pode ser tratado em digestores térmicos para obtenção da farinha de sangue. Para finalizar, em numerosos estabelecimentos realizam-se também outras atividades como a elaboração de embutidos, conservas, semiconservas, carnes cozidas e congeladas, tratamentos de couro e outras. Quantificação dos Resíduos: Os resíduos gerados no processo industrial foram subdivididos em duas categorias: os resíduos biológicos, e os resíduos não-biológicos. Foram quantificadas as taxas de geração de cada categoria e tipo, por métodos volumétricos, gravimétricos, ou por inventários/contagens. A quantificação fez-se de forma padronizada nas cinco indústrias, resguardadas as particularidades de cada uma delas. 1. Resíduos Biológicos: a) Sangue: O sangue pode ser coletado na sangria de várias formas, dependendo do seu destino. No caso de produção da farinha, é coletado pela banheira de sangria, e segue daí para o processo de cozimento e digestor. Ao ser utilizado pela salsicharia, a coleta é feita por sucção diretamente no pescoço do animal, visando maior higiene. Além disso, o sangue é também coletado pelos ralos que se encontram na área de abate e salas anexas, os quais coletam também toda a água de lavagem dos utensílios e instalações da indústria. Este percentual é enviado à Estação de Tratamento de Efluentes ou à rede de esgoto, sem oferecer portanto condições de medição. Neste projeto, em cada uma das indústrias foi feita uma

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medição da quantidade de sangue gerada no abate bovino e suíno. A medição foi feita de forma volumétrica, isto é, determinando o volume gerado de sangue durante o abate em um dia típico de operação. b) Rúmen: O conteúdo ruminal, isto é, o bolo alimentar em várias fases de digestão extraído dos compartimentos ruminais dos animais abatidos, é um dos resíduos biológicos mais significativos dentre os gerados pela indústria. Por um lado, o volume produzido é muito grande, e por outro lado o seu destino incerto. Em todos os frigoríficos o resíduo é produzido na bucharia, durante a limpeza dos buchos, e segue pela linha verde, sendo separado em uma esterqueira (por decantação) ou em caçamba que recebe os resíduos extraídos por uma rosca sem fim. Foi feita a medição volumétrica dos resíduos gerados em cada indústria, em um dia típico de operação. A água de limpeza do bucho e o resíduo mais fino, que restaram no tanque metálico, são drenados e não está computado no volume total medido. Da mesma forma, no abate de suínos, o conteúdo alimentar denominado “papinha”, retirado do estômago, também é encaminhado como um efluente líquido, e não foi quantificado separadamente. 2. Resíduos Não-Biológicos: a) Cinzas: A utilização de madeira como combustível para geração de vapor, que é adotada em uma das indústrias participantes, deixa como resíduo as cinzas, que foram quantificadas. b) Fuligem: A fuligem é o resíduo gerado pelas caldeiras durante a queima de combustível para geração de vapor, que, neste caso, é o óleo BPF. A fuligem é separada em equipamentos de tratamento de emissões (multiciclones), e foi quantificada a taxa de geração. c) Equipamentos de Proteção Individual: são descartados quando não mais se prestam ao uso (ou por desgaste ou por danificação). A quantidade relaciona-se com o número de funcionários da indústria. d) Bombonas Plásticas: chegam aos frigoríficos como embalagens de produtos utilizados e, geralmente, nos últimos tempos são recolhidos pelos seus fornecedores para reutilização, não consistindo mais, nestes casos, um resíduo. e) Embalagens e Tambores Metálicos: chegam aos frigoríficos como embalagens de produtos (óleos lubrificantes, principalmente). São utilizadas pelo frigorífico (para armazenamento de bílis, por exemplo) ou descartadas como sucata quando não se prestam mais ao uso. f) Óleo Lubrificante: proveniente da manutenção das máquinas e caminhões. A taxa de geração É coletado, armazenado em tanques ou tambores, e posteriormente vendido para o rerrefino. g) Lixo Comum: lixo dos escritórios, sanitários, refeitórios, pátios e também entulhos. A geração está diretamente associada com a estrutura funcional. A circulação e permanência de pessoas, veículos e animais; as atividades desenvolvidas, enfim, o próprio funcionamento do frigorífico. h) Tripa Celulose: é utilizada nas salsicharias como uma espécie de fôrma na produção de salsichas. Trata-se de um tubo que, colocado no orifício de saída da máquina responsável pela extrusão da salsicha, dá a forma característica ao produto. Nas indústrias onde a produção da salsicharia é alta, a geração deste

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resíduo é bastante considerável. A tripa celulose é um material não reciclável. Geralmente sua disposição final é feita nos aterros municipais. i) Papelão Limpo: aquele que chega ao frigorífico como embalagem secundárias ou terciárias de produtos utilizados, e é liberado ao se abrir e descartar estas embalagens. j) Papelão Sujo: é gerado como descarte de embalagens de carnes provindas de retorno da comercialização, e de outras indústrias frigoríficas. Além dessas, foi estimado que 2% do papelão utilizado para embalar os próprios produtos são danificados durante o processo produtivo. O papelão sujo não desperta interesse das indústrias de reciclagem. k) Plástico Limpo: chega como embalagem de produtos utilizados pelo processo produtivo. É gerado no almoxarifado, e por ser uma parcela muito pequena, a sua destinação final é quase sempre junto ao plástico sujo. Quando não, a sua disposição é feita junto ao lixo comum gerado pela Indústria. l) Plástico Sujo: chega ao frigorífico como embalagem de carnes retornadas da comercialização, e de outras indústrias frigoríficas. Além disso, considera-se que 2% dos sacos plásticos utilizados para embalar os produtos fabricados pelo frigorífico são danificadas durante o processo produtivo. O abate e as atividades das salas anexas (bucharia, triparia desossa e, principalmente, salsicharia) são as fontes geradoras desse resíduo. m) Sucata e madeira: A geração não é estável, pois depende dos serviços de manutenção. Atualmente estes resíduos são armazenados e vendidos periodicamente. Resultados A Tabela 1 abaixo apresenta os resultados de medições de geração de resíduos biológicos nas indústrias, indicando o dia das medições com o respectivos abates, e os resultados encontrados. O sangue é indicado em taxa de geração por cabeça de animal abatido e por tonelada de carne produzida, já o conteúdo ruminal dos bovinos é indicado em volume por cabeça abatida. Os demais resíduos referem-se ao dia de medição, ou aos períodos indicados, ou por animal, conforme indicações na própria tabela. A Tabela 2 apresenta os resultados de geração de resíduos não-biológicos, indicando-se para cada um a forma de expressão dos resultados. Para alguns resíduos foram coletadas amostras com um grau de representatividade suficiente para uma caracterização preliminar, e foram procedidas análises do conteúdo em sólidos totais, fixos e voláteis, teor de cloretos, e determinação de metais pelo ensaio de solubilização e lixiviação. As análises de teor de umidade, teor de sólidos (massa seca), teor de sólidos voláteis e teor de sólidos fixos foram realizadas de acordo com a norma alemã DIN 38414 (Teil2/Teil3). As análises de teor de cloretos foram realizadas via titulação com nitrato de mercúrio após as amostras terem sido abertas com ácido nítrico concentrado, filtradas, neutralizadas com hidróxido de sódio e novamente filtradas. Os resultados dessas análises é apresentado na Tabela 3 abaixo.

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Tabela 1 Taxas de geração de resíduos biológicos

A B C D E Frigorífico 20/09/01 28/09/01 21/09/01 14/09/01 19/11/01

Abate: 132 Bov. e Abate: 147 Bov. Abate: 333 Bov. Abate: 210 Bov. Abate: 80 Bov. Resíduos 220 Suínos 254 Suínos 510 Suínos 570 Suínos 378 Suínos

63,32 L/ton 57,85 L/ton 68,72 L/ton 64,85 L/ton 52,01 L/tonSangue Bovino 15,40 L/cb 13,89 L/cb 15,34 L/cb 14,98 L/cb 15,28 L/cb

58,55 L/ton 42,72 L/ton 47,81 L/ton 55,56 L/ton 41,92 L/tonSangue Suíno 4,32 L/cb 2,96 L/cb 3,55 L/cb 4,07 L/cb 2,91 L/cb

Conteúdo Ruminal (Rosca sem Fim) 33,50 l/cb 36,26 L/cb 26,49 L/cb 46,10 L/cb

Peneira Linha Vermelha 0,43 m³/dia 0,14 m³/dia 0,15 m³/dia

Peneira (Finos) 5,79 m³/dia Esterqueiras (finos) 3,12 m³/dia 26,33 m³/dia

Flotador 1,34 m³/dia 0,42 m³/dia Esterco (lavado) 0,87 m³ 6,00 m³/semana* (lavado) Não Quant.

Lodo ETE 3,00 m³/semana não Quant.

Pêlo Suíno 300 g/cb (estufa) Não Quant. 174 g/cb (digestor) não Quant. (farinha

de sangue)Tabela 2 Taxas de geração de resíduos não-biológicos.

Taxa de Geração de Fuligem (g de fuligem/ton de óleo BPF) A B C D E

Equipamento de coleta em

manutenção

utiliza madeira como combustível. 5,40 utiliza gás natural

como combustível

Não há controle atmosférico de

fuligem Equipamentos de Proteção Individual Descartados (média mensal)

Indústria (funcionários)Tipo de EPI A (367) B (300) C (340) D (150) E (86)

Roupas de Proteção em geral 455 107 81 173 173 Bota ou Botina 369 41 74 43 30 Luvas em geral 337 141 140 122 110 Protetor Auricular 79 112 100 42 25 Capacete n.d. 3 2 6 10 Óculos de Segurança 6 2 2 1 15 Outros (diversos) * 3 130 4 45

Óleo Lubrificante (litros/mês) A B C D E

200 troca de óleo terceirizada 200 troca de óleo

terceirizada 200

LIXO COMUM INDÚSTRIA

(funcionários) A

(367) B

(300) C

(340) D

(150) E

(86) Volume de lixo

(m³/mês) 12 8 12 10 12

TRIPA CELULOSE INDÚSTRIA A B C D E

Tripas por mês 300 150 450 67.500 300 Kg tripas por

dia 3 2 5 717 -

Sucata (kg/mês) A B C D E

800 Não há informação Não há informação 450 Não há informação

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A fuligem foi também submetida a ensaios de lixiviação e solubilização de metais presentes, de acordo com as normas da ABNT NBR 10005 e NBR 10006. De acordo com os resultados obtidos três metais, cádmio, chumbo e cromo, excederam os limites máximos especificados na norma da ABNT NBR 10004 para o teste de solubilização, o que inviabiliza uma disposição do resíduo em um aterro convencional. Tabela 3 Resultados de Caracterização físico-química de algumas amostras.

Resíduos

Amostra Teor de umidade

Sólidos (% massa

seca)

Sólidos voláteis (%)

Sólidos fixos (%)

Cloretos (mg/l)

1,5 1 54,0 46,0 69,9 30,1 1,5 5,7 2 51,7 48,3 69,4 30,6 3,6 3,6 3 51,8560 48,1 69,6 30,4 3,6

Lodo da ETE

Valor médio 52,5 47,5 69,6 30,4 3,3 104,5 1 2,8 97,2 86,4 13,6

126,1(**)

94,2 2 2,7 97,3 86,2 13,8 92,2 87,0 3 2,6 97,4 86,2 13,8 89,0

Conteúdo ruminal(*)

Valor médio 2,7 97,3 86,3 13,7 93,4 1 2,3 97,7 98,7 1,3 5,7

1 - Lixiviação - - - - 10,0 2 - Lixiviação (neutralizada) - - - - 9,5

Valor médio - - - - 9,8 1 -

Solubilização - - - - 43,2

2 - Solubilização - - - - 44,3

Fuligem (óleo BPF-1A)

Valor médio - - - - 43,8

Observações: (*) As análises foram feitas após secagem na estufa durante 2 dias à temperatura de 103˚C, 2 dias à temperatura ambiente e 1 dia à 50˚C. O teor de umidade calculado anteriormente ao início das análises é 85,7 %. (**) Esse valor não foi considerado no cálculo do valor médio porque a turbidez devida à não filtração após a neutralização tornou mais difícil a visualização da titulação.

Discussão Os resultados obtidos podem ser indicadores de custos e investimentos a serem feitos para o dimensionamento e operação de um sistema compartilhado de gestão de resíduos sólidos industriais para o setor. Vejamos por exemplo, o caso do sangue dos animais abatidos, que hoje é destinado pelas empresas a um uso comercial (farinha de sangue, usada na fabricação de rações). Este uso descarta a hipótese de considerá-lo um resíduo. Porém, sabe-se que em função de alguns riscos de natureza sanitária, por exemplo, a síndrome Bovine Spongiform Encephalopathy (BSE), popularmente conhecida

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como mal da vaca louca (JACOB AND HELLSTROM, 2000), pode eventualmente evoluir no sentido de proibir o uso do sangue em ração animal. Neste caso, é possível obter-se das medições realizadas, que cada animal bovino gera em média 15,0 litros de sangue, e cada suíno 3,6 litros. Para o conjunto das cinco empresas consorciadas, em um dia típico de trabalho, com abate total de 902 bovinos e 1362 suínos, isso implicaria na geração de 18.433 litros de sangue. O problema dos resíduos gerados pelo conteúdo ruminal é ainda mais crucial, pois para ele não existe uma destinação nobre no momento, e é portanto um resíduo no sentido estrito do termo, gerado à taxa de 35,6 litros por cabeça. Atualmente o resíduo é disposto em aterros (que já começam a não mais aceitá-lo). Ele não tem estabilidade biológica suficiente para um uso agrícola, tal como o esterco, nem tem característica alimentar que permita seu uso direto na alimentação animal. Para o abate típico do conjunto de empresas são gerados 32 m3 diários. Das opções consideradas para o destino deste resíduo, algumas foram estudadas neste trabalho, como por exemplo a desidratação do mesmo e o uso energético, como biocombustível para alimentação de caldeiras. Tal uso entretanto teve de ser descartado, devido ao elevado teor de cloretos que o conteúdo ruminal apresenta, como resultado do sal suprido aos animais. Conforme se sabe, a presença de cloretos representa riscos ao processo de uso combustível pela formação de organoclorados, especialmente dioxinas e furanos. Já para o Lodo da ETE esse problema dos cloreto é menos relevante, mas a elevada estabilidade biológica aponta também para o uso agrícola direto, desde que previamente avaliados os riscos ambientais e sanitários. A fuligem gerada no tratamento dos gases de caldeiras a óleo, é outro resíduo problemático, que vem sendo gerado e acumulado, pois não existe ainda um destino seguro, dada a contaminação por metais. Os possíveis destinos e aplicações dos resíduos gerados estão na Tabela 4 abaixo. Novas pesquisas estão em andamento, para análise de segurança e riscos ambientais nos casos onde ainda não há uma comprovação de viabilidade técnica e ambiental dessas rotas.

Tabela 4 Rotas identificadas para o uso e destino final dos resíduos gerados.

Resíduo Alternativa Sangue Digestão Térmica (Farinha de Sangue); Compostagem Pêlo Suíno Digestão Térmica (Farinha de Sangue); Queima Conteúdo do Trato Digestivo Reaproveitamento (ração); Digestão anaeróbia; Queima Esterco dos currais de espera Uso agrícola, Queima Lodo (leitos de secagem) Uso agrícola, Queima Cinzas (caldeiras a lenha) Uso agrícola; Co-processamento (cimento); Disposição FinalFuligem (caldeiras a óleo) Queima; Co-processamento; Disposição Final EPI’s descartados Disposição Final Papelão (limpo e contaminado) Reciclagem; Queima Plástico (limpo e contaminado) Reciclagem; Queima Sucata Reciclagem; Venda Madeira Queima Embalagens Plásticas Venda; Reciclagem Tambores e Baldes metálicos Venda; Reciclagem Óleos lubrificantes descartados Venda (rerefino) Material biológico condenado Incineração Tripa Celulósica Compostagem

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Conclusão Para um conjunto de cinco empresas situadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram realizadas medições das taxas de geração de resíduos e caracterização preliminar dos mesmos. Deste trabalho é possível concluir que:

• A taxa de geração de resíduos biológicos é bastante similar nos diferentes estabelecimentos, a quantidade unitária gerada por animal abatido ou por unidade de carne produzida tem pequenas variações. Em média, cada bovino abatido gera 15 Litros de sangue e 32 Litros de conteúdo ruminal. O suíno gera 3,6 litros de sangue.

• A taxa de geração de resíduos não biológicos é função da natureza das instalações anexas do frigorífico (processamento em salsicharia, etc), do número de empregados, e dos tipos de equipamentos auxiliares e insumos utilizados (combustíveis, manutenção, etc).

• Para o gerenciamento compartilhado dos resíduos gerados pelo conjunto das empresas pesquisadas, é possível vislumbrar uma concepção integrada que utilize soluções finais de processamento e destino dos resíduos, após pesquisas que comprovem a seguranca ambiental e viabilidade técnica.

Agradecimentos Agradece-se as empresas participantes do projeto, pelo financiamento e apoio na realização do mesmo, individualmente, bem como através de sua Associação no Estado de Minas Gerais (AFRIG). Referências bibliográficas Stoop, M.L.M. (Eindhoven Univ of Technology). Application of a mathematical calculation model to reduce slaughterhouse (water) pollution in developing countries. Technovation, v 19, n 5, May, 1999, p 323-331. Jacob, Merle (Chalmers Univ of Technology); Hellstrom, Tomas. Policy understanding of science, public trust and the BSE-CJD crisis. Journal of Hazardous Materials, v 78, n 1, Nov, 2000, p 303-317.

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marca_textos2.pdf 30/6/2005 23:00:35marca_textos2.pdf 30/6/2005 23:00:35

Abstract Experimental results of direct measurements of the amount of solid wastes generated in five large units of slaughterhouses for cows and pigs situated close to the city of Belo Horizonte, Brazil, are reported. A description of the industrial process, the sources for the generation of biological and non biological refuses area presented, the methodology for the measurements and the results are presented and commented. The data reported in this article can act as a frame of reference on the same kind of industry under brazilian conditions. On average, each slaughter cow will generate 15 liters of blood, and 32 liters of rumen constituted of 97% dry solids. Each pig will generate 3,6 liters blood. Other main residues are the sludge from the wastewater treatment, soot collected from the flue gases of the steam generation units, plastics and hard paper. The results of the analysis done for chemical characterization of some of the wastes are presented, and a conception for the integrated collecting, processing, recycling and final disposal of the wastes of the five industries are discussed. Keywords: Slaughterhouse, industrial solid wastes, recycling, solid wastes disposal.

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