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EDITORES WELTSTADT: MATTHIAS BÖTTGER, ANGELIKA FITZ, TIM RIENIETS WELTSTADT BANGALORE, BELGRADE, CURITIBA, DAKAR, JOHANNESBURG, LISBON, MADRID, NEW YORK, PORTO ALEGRE, RIGA, SALVADOR, SAO PAULO, SEOUL, TOULOUSE, TURIN, ULAN BATOR O PROJETO WELTSTADT – WHO CREATES THE CITY? É UMA INICIATIVA CONJUNTA DO GOETHE-INSTITUT E DO MINISTÉRIO FEDERAL ALEMÃO DO TRANSPORTE, CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO URBANO. №1.2 PORTO ALEGRE WWW.GOETHE.DE / WELTSTADT ESTE JORNAL FOI PUBLICADO NO ÂMBITO DO PROJETO NÓS BRASIL! WE BRAZIL! , A CONTRIBUIÇÃO DA ALEMANHA PARA A X BIENAL DE ARQUITETURA DE SÃO PAULO, CIDADES – MODOS DE FAZER, MODOS DE USAR. 12 de outubro a 1 de dezembro NÓS BRASIL! WE BRAZIL! — PORTO ALEGRE O FUTURO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

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ESTE JORNAL FOI PUBLICADO NO âMBITO DO PROJETO NóS BRASIL! WE BRAzIL!, A CONTRIBUIÇÃO DA ALEMANHA PARA A X BIENAL DE ARqUITETURA DE SÃO PAULO, CIDADES – MODOS DE FAzER, MODOS DE USAR. 12 de outubro a 1 de dezembro

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impressionante sentido de auto-organização que agora está fornecendo apoio a outras comunidades, de modo que elas possam também lutar por suas próprias demandas. Por meio de seus próprios processos participativos e de auto-organização, essas comunidades acabam vendo seus pedidos atendidos pelas autoridades locais com os recursos correspondentes. E em alguns casos, essas iniciativas assumem responsabilidade por serviços que deveriam normalmente ser fornecidos pelo município – por exemplo, creches ou escolas. Mas devemos mencionar que mesmo dentro das comunidades há disputas, como a briga por recursos. Muitas comunidades demandam recursos que são limitados no Orçamento Participativo. Conseqüentemente, quanto mais bem organizada é uma comunidade, melhores as possibilidades de que suas demandas sejam atendidas. Isso se torna muito claro no caso do Bairro Farrapos, que está num processo de auto-organização e onde os moradores, com seus próprios meios, visam assegurar seu direito de permanecer naquela área.

DURANTE O WORKSHOP NóS BRASIL! WE BRAzIL! HAVERá UMA êNFASE ESPECíFICA NO BAIRRO FARRAPOS. VOCê PODE NOS CONTAR MAIS SOBRE AS qUESTõES ATUAIS EM DISCUSSÃO Lá?O Bairro Farrapos é um exemplo pungente de uma área que está passando por um processo de mudança rápida. Esse tipo de ocupação dentro da cidade é um grande problema no Brasil. São áreas que não estão regulamentadas e cujos direitos de propriedade não estão bem definidos. Conseqüentemente isso causa muitos problemas. Em Porto Alegre vemos intervenções – especialmente investimentos em grandes instalações e em infraestrutura de mobilidade urbana – que têm um impacto grande na cidade. O Bairro Farrapos fica próximo da Arena do Grêmio, um estádio de futebol recém-construído que produziu

top-down associada com as figuras do planejador e do prefeito. Como ninguém conhece mais as necessidades locais que os moradores de uma determinada área, é evidente que esses mesmos moradores são o principal foco desse processo.

VOCê DIRIA ENTÃO qUE PORTO ALEGRE ESTá SENDO MOLDADA POR SEUS CIDADÃOS POR MEIO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO?O Orçamento Participativo é uma ferramenta que permite que os cidadãos comuns expressem demandas importantes. E o sucesso dessas demandas ocorre quando a comunidade está organizada e coesa. A participação está intimamente relacionada à força da comunidade em uma vizinhança ou, como chamamos, uma Ú vila. Em uma vila bem organizada, podemos encontrar sociedades com um forte sentido de liderança. Isso funciona muito bem no Condomínio dos Anjos, por exemplo – uma comunidade com um

WELTSTADT PERGUNTA: “qUEM CRIA A CIDADE?” qUEM É qUE ESTá CRIANDO PORTO ALEGRE NO MOMENTO?MRA: Porto Alegre tem um plano diretor que define as diretrizes para o desenvolvimento da cidade. Mas o que é especial sobre Porto Alegre é seu longo histórico de Ú Orçamento Participativo, pelo qual as pessoas desempenham um papel ativo no processo de tomada de decisão das políticas públicas. Há diversas iniciativas que servem como bons exemplos de participação na criação de cidade em Porto Alegre, como a Vila Planetário, a Vila Bom Jesus e o Condomínio dos Anjos. Em decorrência de problemas específicos – a luta pelo direito à moradia e pelo direito de permanecer em uma área ocupada – essas comunidades manifestaram suas demandas com a ajuda do Orçamento Participativo. Os moradores conseguiram levantar fundos e adquirir o direito de se estabelecer, trabalhando com os processos políticos e por meio de um forte sentido de auto-organização. Em vez de serem deslocados para outras áreas, como acontece geralmente, eles conseguiram continuar vivendo onde estavam.

VOCê PODE NOS FALAR UM POUCO MAIS SOBRE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO? COMO VOCê RESUMIRIA SUAS CARACTERíSTICAS PRINCIPAIS PARA ALGUÉM qUE NÃO ESTá FAMILIARIzADO COM ELE?O Orçamento Participativo é basicamente um processo de gestão pelo qual os cidadãos recebem o direito de ter uma palavra nas prioridades do orçamento público. Esses processos são baseados na participação de comunidades representadas pelos respectivos moradores locais. Esses moradores reúnem-se em assembléias para definir suas prioridades e o financiamento de intervenções, tais como creches, infraestrutura urbana e assim por diante. É um processo altamente democrático, que evita ao mesmo tempo a típica abordagem

um forte desenvolvimento econômico na área. Novas vias públicas e sofisticados condomínios estão sendo construídos – e junto com isso vem a valorização imobiliária. Por causa desse fenômeno, muitas famílias que vivem no Bairro Farrapos estão enfrentando uma pressão tremenda e estão começando a lutar por seu direito de permanecer no bairro. Além disso, recentemente houve um incêndio que destruiu a Vila Liberdade, que fica no Bairro Farrapos, afetando mais de cem famílias. Hoje, algumas dessas famílias permanecem no bairro através do programa de Ú aluguel social, enquanto outras estão abrigadas em Ú casas de emergência. Para garantir que essas famílias possam ficar permanentemente em seu bairro, vejo a necessidade de fortalecer o que já existe lá e de promover a coesão e a auto-organização sociais.

VOCê PODE NOS DAR UMA ESTIMATIVA DO qUE ACONTECERá COM O BAIRRO FARRAPOS E SEUS MORADORES NO FUTURO PRóXIMO?Vejo o futuro do Bairro Farrapos como um processo de várias camadas que depende de diversos fatores. Um primeiro fator tem a ver com a luta dessa população para obter o direito legal de permanecer em sua área. Relacionado a isso, devemos considerar um segundo fator, que é a necessidade de uma mobilização política e habilidade de auto-organização. Em terceiro lugar, há também uma dinâmica do mercado: será que essas pessoas serão capazes de lidar com as pressões do mercado? Devido a todos esses fatores, é difícil prever com certeza um determinado resultado. No entanto, uma coisa é certa, um cenário positivo requererá muito esforço e envolvimento da comunidade. Os moradores terão que se organizar em associações de bairro, cooperativas, etc. Eu acho que isso é

EM PORTO ALEGRE, MáRCIO ROSA DʼAVILA – CURADOR LOCAL DO NóS BRASIL! WE BRAzIL! – LANÇOU O WORKSHOP COM UM DEBATE SOBRE A HISTóRIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E SOBRE COMO ELE PODE SER INTEGRADO NUM AMBIENTE DE ESPECULAÇÃO ECONôMICA. PARA ILUSTRAR A qUESTÃO, ELE FOCOU-SE NO BAIRRO FARRAPOS, UMA COMUNIDADE NA PERIFERIA AO NORTE DE PORTO ALEGRE E NA VILA PLANETáRIO, NO CENTRO DA CIDADE. NA PREPARAÇÃO PARA O WORKSHOP, FALAMOS COM MáRCIO SOBRE A CONSTRUÇÃO DE CIDADES NO BRASIL, AS ESPECIFICIDADES DA PARTICIPAÇÃO PúBLICA EM PORTO ALEGRE E SUAS EXPECTATIVAS PARA O WORKSHOP.

Ú VilaEm geral, o termo vila refere-se a áreas que foram ocupadas durante o processo de democratização do Brasil com o fim da ditadura militar nos anos 1980. Essas ocupações levaram à aprovação do Estatuto da Cidade em 2001, como parte da Constituição Federal do Brasil, que criou uma nova moldura legal para a urbanização favorecendo o acesso à terra e a equidade em grandes áreas urbanas. Porto Alegre tem 470 vilas com diversas sub-vilas. O Bairro Farrapos, por exemplo, consiste não somente da Vila Liberdade mas também de diversas outras vilas – cada uma com sub-vilas interconectadas. Juntas, essas “comunidades enfraquecidas” (Márcio Rosa D'Avila) correspondem a uma parte significativa da população de Porto Alegre.

Ú Orçamento ParticipativoEm 1988, a nova Constituição Brasileira introduziu o direito do exercício direto da cidadania e reforçou a participação popular nas políticas públicas. Conseqüentemente, em 1989 o prefeito Olívio Dutra instaurou o Orçamento Participativo em Porto Alegre. Cada cidadão que participasse nas sessões plenárias locais passaria a ter o direito de votar nas demandas a serem atendidas pelo governo municipal. Depois disso, um conselho de representantes eleitos selecionaria os projetos a serem incluídos no orçamento municipal, considerando a distribuição proporcional entre os campos de investimento (educação, saúde, transporte público, etc.) e as diferentes áreas da cidade.O Orçamento Participativo ganhou reconhecimento internacional. A ONU considerou um dos melhores modelos de gestão pública urbana do mundo. O Banco Mundial reconhece a iniciativa como um exemplo bem sucedido de ação conjunta entre o governo e a sociedade civil. Contudo, o Orçamento Participativo também enfrenta alguns problemas como desequilíbrios na participação pública e atribuição de fundos.

Ú Aluguel SocialO Aluguel Social é um serviço fornecido pelo Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB) de Porto Alegre, que consiste em um subsídio mensal destinado a ajudar as famílias que, devido a uma emergência, encontram-se sem um lar. Por cinco meses, a família beneficiária recebe uma quantia equivalente a um aluguel médio.

Ú Casas de emergênciaUm recurso destinado exclusivamente à população de baixa renda, para ajudar em situações de emergência, como incêndios ou inundações. As casas de emergência tem dimensões padrão de 3,10 m × 4 m e são construídas com materiais recicláveis e madeira de reflorestamento. Têm isolamento acústico e térmico e fornecem resistência à umidade e às chamas. O Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre (DEMHAB) monta a casa em um local especificado pelo beneficiário.

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Ú Minha Casa Minha Vida Minha Casa Minha Vida é o programa de habitação social do governo federal e foi lançado em 2009. Seu objetivo é facilitar o acesso das famílias brasileiras à casa própria. Em uma primeira fase foram atribuídas 1 milhão de casas. A segunda fase do programa foi anunciada em março de 2010, prevendo a construção de mais 2 milhões de casas até 2014. Todos os fundos para o Minha Casa Minha Vida são fornecidos pela Caixa Econômica Federal, que financia o desenvolvimento e fornece hipotecas para as famílias que se qualificam, de acordo com sua renda conjunta. O programa trabalha em parceria com estados, municípios, empresas e organizações sem fins lucrativos.

muito importante. Estamos falando sobre uma comunidade que é economicamente frágil; uma grande parte dessas pessoas – os catadores – vive da renda obtida da coleta de materiais recicláveis. Assim, acredito que a permanência dos moradores e sua vontade de permanecer devem ser acompanhadas dos esforços para a inclusão social. O mais importante é que essas pessoas necessitam alcançar um determinado nível social e econômico. No Bairro Farrapos há diversas iniciativas, diversas ações populares que estão ajudando a assegurar a permanência dos moradores. O local onde nós estamos realizando o workshop, por exemplo: a associação de moradores do bairro – a Associação de Defesa da Comunidade do Bairro Farrapos (ASSDECOM).

O qUE VOCê ACHA SERIAM qUESTõES INTERESSANTES PARA OS MORADORES DO BAIRRO FARRAPOS?Acho que as questões ou temas que devem ser abordados com os moradores estão relacionadas a seus processos participativos. Como se estruturam esses processos? E em que circunstâncias eles ocorrem hoje? O Bairro Farrapos compreende várias sub-vilas. Então seria importante saber como cada sub-vila se organiza. E como elas interagem umas com as outras? Acho que essas são algumas questões que devem ser discutidas. Uma outra questão que deve ser considerada está relacionada à inclusão social, porque, na verdade, há uma certa dinâmica nessas comunidades. Dinâmica tanto no sentido de atender as demandas – projetos de infraestrutura urbana e outras responsabilidades do Estado – mas também dinâmica de inclusão social e acesso ao emprego, questões da classe média. O pano de fundo de uma parte considerável da classe média é similar à situação enfrentada por essas pessoas. Então, como é que os moradores veem essa inclusão dentro da sociedade deles? Essa discussão girará em torno do emprego, infraestrutura urbana e assim por diante.

Uma outra pergunta que poderíamos fazer a eles seria: Como estão lidando com a dramática transformação do Bairro Farrapos? Como estão reagindo ao que está acontecendo lá? O estádio pode servir como um exemplo: será que ele pode se tornar um gerador de renda para os moradores? Como eles veem o relacionamento com outros cidadãos de Porto Alegre – de outras

camadas sociais – que agora também estão usando o bairro? Acredito que isso também possa ser uma questão. E acho que essas questões ajudarão a esclarecer o potencial dessas transformações. Em que medida essas transformações podem encorajar a permanência ou o deslocamento dos moradores? Também acho importante para nós aprender com outras experiências que funcionaram, que conseguiram com sucesso melhorar a vizinhança sem deslocar seus moradores, como a Vila Planetário ou o Condomínio dos Anjos, que mencionei anteriormente. Vejo isso como um desafio importante: para construir uma base sólida, precisamos estabelecer uma rede, uma teia de experiências e conhecimento, que poderá nos ajudar a compreender mais completamente as coisas e conseqüentemente pensar soluções melhores junto com aquelas comunidades.

UM TEMA qUE ESTAMOS ABORDANDO EM NOSSO WORKSHOP É O SURGIMENTO DA CHAMADA “NOVA CLASSE MÉDIA”. qUAL É O PAPEL DESSA NOVA CLASSE MÉDIA?O Brasil hoje está passando por um crescimento econômico positivo. Durante os últimos anos, o Brasil mudou muito e as pessoas agora têm acesso a bens de consumo que não eram acessíveis antes. Os programas sociais iniciados pelo governo federal – como, por exemplo, Ú Minha Casa, Minha Vida – hoje estão ajudando não somente a famílias de baixa renda, mas também a famílias de maior renda. Do mesmo modo, podemos ver que o acesso aos bens de consumo também significa que mais famílias podem ter acesso à educação.A questão social tem muito a ver com a questão econômica. A inclusão social no Brasil ocorre através do consumo. Com o crédito mais fácil, centenas de milhares de brasileiros têm acesso pela primeira vez a bens de consumo que vão de automóveis à casa própria. Conseqüentemente, minha definição da “nova classe média” está relacionada ao aumento da renda e à demanda de hoje por bens de consumo que não eram desejados no passado. Vejo a classe média como um símbolo do acesso cada vez mais fácil ao dinheiro que, dependendo da situação, envolve também a questão do endividamento.Assim, vejo que essa classe média emergente, o aumento do poder aquisitivo

e o acesso fácil ao crédito estão sendo refletidos no contexto urbano e na mobilidade. A taxa de construção está passando por um grande crescimento; há muitos empreendimentos novos no país. E tudo isso tem um impacto grande nas cidades e na demanda de infraestrutura urbana. Também vejo isso no contexto do aumento da renda, que está tendo um impacto na demanda por bens de consumo. No final, tudo isso tem um impacto na cidade. Mas aí, também é importante observar que nós no Brasil temos uma infraestrutura muito frágil que não pode suportar esse crescimento acelerado. No contexto dos bens de consumo, torna-se evidente o risco de um colapso, tal como no passado ocorreu muitas vezes após tais desenvolvimentos.

A CLASSE MÉDIA ESTá PARTICULARMENTE ENVOLVIDA NO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM PORTO ALEGRE? ELA DESEMPENHA ALGUM PAPEL?Sim. Nas comunidades que implementaram com sucesso o orçamento participativo, como o Condomínio dos Anjos, podemos ver famílias que estão vivendo nessas vizinhanças há muito tempo. Muitas dessas famílias agora têm dois ou três carros e estão mandando seus filhos para a universidade. Com esse exemplo podemos compreender que a nova classe média inclui muitas pessoas que já têm uma forte história de participação no Orçamento Participativo. E certamente essas são pessoas ainda ativas nesse processo de tomada de decisão.

COMO VOCê ACHA qUE O MUNDO PODE APRENDER COM PORTO ALEGRE?Acho que o grande legado de Porto Alegre é o Orçamento Participativo. Ele prevê um processo democrático focado no estímulo

da participação na tomada de decisão de políticas públicas no maior âmbito possível. O processo é geralmente focado nas decisões de investimento, mas também para fazer com que as demandas reais das pessoas sejam ouvidas. Assim, acredito que esta seja uma experiência muito válida com a qual outras partes do mundo também podem aprender. Mas, naturalmente, acho que nada pode ser replicado na íntegra. Podemos tomar isso como referência e ajustá-lo a outras realidades específicas. Finalmente, podemos ver o Orçamento Participativo como um processo democrático de gestão pública.As experiências que nós discutimos anteriormente revelam situações de exclusão social, falta de acesso à moradia, etc. – cenários que podem ser encontrados no mundo inteiro. Em Porto Alegre, o Orçamento Participativo está sendo usado como uma ferramenta para financiar intervenções na infraestrutura urbana e para promover a permanência de moradores locais. Mas incentiva também a participação de cidadãos comuns nas políticas públicas. Para mim, o Orçamento Participativo tem também esse ideal: ele dá aos cidadãos comuns a possibilidade de ter uma voz no processo de gestão política. Este é um aspecto muito importante que podemos testemunhar nas vilas.

1 Vila Mario Quintana 2 Vila Liberdade 3 Vila Tecnologica 4 Vila Pampa 5 Vila Farrapos 6 Jardim Navegantes 7 Beco da X 8 Beco da Amizade 9 Tio Zeca 10 Vila da Areia 11 Vila Progresso 12 A.J. Renner 13 N.S. da Paz 14 Por do Sol 15 Vila Famelo 16 VIla Dona Teodora 17 Vila Santo Antônio 18 Vila Santo André 19 Vila Arco-Íris 20 Vila Jardim BelaVista

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FOTOGRAFIAS DAS VISITAS àS COMUNIDADES EM PORTO ALEGRE Coordenação: Márcio D’Avila Fotografias: Guilhermo Gil

A Bairro Farrapos: Habitações e a variação de acabamentos e reformas

B Márcio Rosa D’Avila © Amália Machado Gonçalves

C Bairro Farrapos: Espaço da via pública sendo utilizado como comércio

D Condomínio dos Anjos: Muro lateral e edificação pré-existente na área do futuro projeto residencial

E Bairro Farrapos: Habitações provisórias para abrigar as famílias após o incêndio

F Bairro Farrapos: Vista da rua e visualização da Arena do Grêmio ao fundo

G Bairro Farrapos: Praça central da vila Mário Quintana

H Bairro Farrapos: Habitações provisórias

I Bairro Farrapos: Habitações familiares com diversidade de reformas

AS MUITAS VILAS DO BAIRRO FARRAPOS

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BAIRRO FARRAPOSO Bairro Farrapos é uma comunidade situada no norte de Porto Alegre e é uma das áreas mais carenciadas da cidade. Essencialmente residencial, o bairro inclui um centro de saúde comunitário e também tem um pequeno setor de venda de alimentos. De acordo com números oficiais, no ano 2010 o bairro tinha uma população de 17.019 habitantes sobre uma área de 165 hectares. O Bairro Farrapos foi estabelecido oficialmente em 1988, na vizinhança dos bairros Humaitá e Navegantes. A partir dos anos 1960, o crescimento da população em Porto Alegre resultou na falta de moradia, transporte e infraestrutura. Esse contexto levou à expansão da cidade para o norte, onde os preços da moradia e a proximidade relativa do centro da cidade revelavam o potencial da área.

O Estádio Arena do Grêmio foi construído recentemente muito perto da Vila Liberdade – uma vila no Bairro Farrapos – e sua influência na economia da vizinhança já é evidente. Muitos moradores locais começaram a usar terrenos baldios perto do estádio para alugar como estacionamento para os freqüentadores dos eventos esportivos como uma fonte de renda extra. Outros tipos de negócio parecem também estar florescendo no bairro, que havia sido afetado anteriormente por elevadas taxas de desemprego. Mas, apesar dos resultados positivos, a área em torno do estádio também tem alguns inconvenientes: para melhorar a acessibilidade e construir infraestrutura de apoio, alguns moradores tiveram de ser retirados e suas casas demolidas. A valorização crescente dos imóveis e a conseqüente gentrificação do bairro também estão entre os desafios mais evidentes, deixando-nos supor a fragmentação da comunidade que residia na área antes. A questão que fica é se tal equipamento também pode provocar novas formas de participação ativa e de associação coletiva dos moradores.

Em 27 de janeiro de 2013, um grande incêndio devastou a área. Cerca de 200 famílias perderam suas casas, mas algumas decidiram ficar na área, recusando a moradia provisória oferecida pelas autoridades. Algumas por razões práticas, mas outras como “símbolo de resistência”. De acordo com o DEMHAB, Departamento Municipal de Habitação, houve uma reunião em 3 de fevereiro de 2013 com os antigos moradores e os representantes do DEMHAB, onde a proposta para o desenvolvimento futuro foi apresentada e discutida. Foi proposto um projeto grande o suficiente para abrigar 600 famílias, incluindo as que perderam suas casas. A ocupação anteriormente irregular seria substituída por uma outra onde os moradores teriam posse de suas próprias casas, garante Everton Braz, diretor do DEMHAB. Para o DEMHAB o importante continua sendo que as pessoas não tenham de abandonar seu bairro e que as condições de vida melhorem.

ENTREVISTAS A MORADORES

qUAL O PAPEL DA ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA COMUNIDADE DO BAIRRO FARRAPOS (ASSDECOM)?

A ASDECOM é responsável por elaborar os projetos e propostas encaminhadas à prefeitura e com o maior enfoque na reivindicação de melhorias. A associação também representa a principal comunicação entre o povo e o poder público. Estamos presentes em protestos, orçamentos participativos, reuniões, assembléias e outros eventos.

VILA PLáNETARIOA Vila Planetário fica na Avenida Ipiranga, ao lado do Planetário da UFRGS, no bairro de Santana. Entre o fim dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, a área passou por um processo da renovação e as casas anteriormente irregulares foram substituídas por novas moradias, uma operação que foi subsidiada por meio do Orçamento Participativo. Esses novos desenvolvimentos foram planejados e construídos através de um alto grau de participação pública. Em 1992, Olívio Dutra (PT), prefeito de Porto Alegre na época, entregou as unidades habitacionais a seus moradores atuais.A comunidade apresenta uma instituição educacional que foi criada através da iniciativa popular. Ela cuida e fornece educação às crianças, cujos pais são na maior parte coletores de lixo reciclável que residem na vizinhança.Atualmente residem cerca de 600 pessoas na Vila Planetário. O projeto representa um passo importante na história da habitação social em Porto Alegre pois marca a recuperação do interesse público acerca da necessidade de moradia e da participação pública. Na campanha 2012 de Adão Villaverde (PT), o ex-prefeito Olívio Dutra disse: “Eles queriam expulsar as pessoas daqui e mandá-las para longe da cidade devido ao valor elevado da terra nesta área. Mas a comunidade organizada mobilizou-se e foi extremamente paciente e persistente. Junto com essas pessoas, o poder político municipal conseguiu construir esta comunidade.”

ENTREVISTAS A MORADORES

JUSSARA, ANTôNIO, qUAL O SEU PAPEL NA VILA?

A: Eu sou o presidente da Associação de Moradores da Vila Planetário. Ajudo a organizar o que for preciso aqui na vila. A nossa associação é responsável pela construção e orçamentação através do orçamento participativo.

J: Sou a coordenadora pedagógica da escola. Além de ter sido integrante da Associação de Mães, já exerci funções na Associação de Moradores da Vila Planetário, e participo dos orçamentos participativos junto com o Antônio.

NA SUA OPINIÃO, qUEM ESTá CRIANDO PORTO ALEGRE NO MOMENTO?

A: Eu acho que quem está construindo e tomando decisões é o orçamento participativo. Muitas coisas já foram realizadas através dele. E claro que a prefeitura também cria cidade.

J: Na minha opinião, é o governo que cria a cidade. No momento eles estão apenas interessados na Copa do Mundo 2014. Existem muitos interesses políticos que a gente não vê. Não é o orçamento participativo que cria cidade. De fato, o orçamento participativo é frustrante. É necessário muito tempo e trabalho em conseguir as verbas que chegam menos do que o prometido, e bem mais tarde.

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NA SUA OPINIÃO, qUEM ESTá CRIANDO PORTO ALEGRE NO MOMENTO?

O principal ator na construção da cidade é o governo, mais especificamente a equipe da prefeitura, onde existe pouca participação pública e onde, no momento, os interesses, estão voltados para a Copa do Mundo 2014. O orçamento participativo é uma idéia boa, mas solitária, que funcionou entre 1998 e 1999 mas que, atualmente, tendo em conta a burocracia e a complexidade dos problemas de gestão urbana, tem resultados decepcionantes.

A PARTICIPAÇÃO PúBLICA TEM UM PAPEL IMPORTANTE NO BAIRRO FARRAPOS?

Ao longo do tempo, a participação nessa comunidade vem perdendo força, pois devido a frustração da falta de efetividade dos pedidos e requisições, a comunidade se afasta da luta e dos orçamentos participativos. Mas mesmo pouco efetivo, o orçamento participativo ainda é nossa única arma, é um meio de contato. Precisamos dele. Sem ele é muito mais complicado. Percebe-se que as pessoas e as associações se aliam por interesses subjetivos e individuais, ao invés de temas comunitários, gerando assim muitas brigas separadas. Mas ainda assim, a participação é sempre positiva, e existem membros de diversas comunidades e vilas vizinhas que lutam por interesses semelhantes.

A qUALIDADE DE VIDA DO BAIRRO FARRAPOS MELHOROU?

Após a construção da Arena do Grêmio, a estagnada situação social dos moradores sofreu uma mudança fundamental. Os bares passaram a ter mais movimento, as ruas ganharam novos tratamentos e principalmente, muitos empregos foram gerados. Grande parte dos moradores são empregados ou prestam serviços no estádio. Isso gerou uma maior permanência no local, o que resulta em mais vitalidade. Nesses casos, não é necessário pegar ônibus nem se locomover grandes distâncias para chegar ao trabalho. Além disso, a possibilidade de dizer “moro próximo a Arena do Grêmio” gerou, além de referência, uma apropriação do lugar que antes, nas instalações irregulares, não existia.

COMO VêM O FUTURO DO BAIRRO FARRAPOS?

No setor do trabalho estamos muito otimistas, visto que a Arena do Grêmio vem gerando empregos e sucesso nos comércios de entorno. Mas o vício e tráfico de drogas ainda são problemas graves. Isto está diretamente relacionado com a segurança do Bairro Farrapos, que ainda é um problema esperando solução.

DE qUE FORMA ISSO AFETA A VILA PLANETáRIO?

J: O orçamento participativo é cruel! As verbas só chegam depois – quando chegam – da pressão sobre o governo. Se a gente não fica em cima o tempo todo, simplesmente não chega a verba nem projeto. É cansativo.

A: A participação não é efetiva; já foi melhor. Apenas algumas pessoas da nossa vila estão presentes no orçamento participativo. Antes eram muitas mais.

A qUALIDADE DE VIDA NA VILA PLANETáRIO MELHOROU?

A: Depois da construção das casas, existiu um aumento de qualidade de vida. Muitos barracões eram feito com materiais ruins, e a área não estava organizada. Depois que a gente ganhou o projeto e começou a construção, as coisas começaram a se movimentar.

J: As condições melhoraram muito ao longo do tempo. Hoje em dia quase todos os moradores têm seu carro. Outros, com mais dinheiro, estão até colocando ar condicionado. Além de coisas, as pessoas também têm mais identidade. A visão de fora, quando se olha pra comunidade, também mudou ao longo do tempo. Nesses anos, muito poucas pessoas se mudaram daqui.

APESAR DOS PROBLEMAS DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO, EXISTE PARTICIPAÇÃO PúBLICA NA VILA PLANETáRIO?

J: Existe pouca participação frente aos problemas pequenos e as nossas constantes reivindicações. Mas quando o problema é grande todo mundo sai de casa e vai brigar junto!

A: Acho que a participação é muito positiva. De uma forma ou outra todos trabalham quando é preciso.

qUAL É SEU DESEJO PARA VILA PLANETáRIO?

J: Que as crianças não se percam para as drogas. Eu gostaria muito de um posto policial no meio da vila. É um sonho.

A: Gostaria de uma praça para as crianças. Um futuro mais amparado.

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CONDOMíNIO DOS ANJOS Em 1991, a comunidade da Vila das Placas, um bairro auto-construído ao longo da importante Avenida Ipiranga, reivindicou o direito de permanecer na área e de ter suas condições de vida melhoradas. Para isso, a população local recorreu, com sucesso, ao Orçamento Participativo. Em 1993, a demanda pela posse da terra foi incluída no orçamento municipal e o projeto para a renovação da área foi lançado. Sessenta apartamentos foram construídos em doze edifícios para abrigar as famílias que viviam na Vila das Placas. Em 2001, os últimos moradores mudaram-se para o recém-construído e o rebatizado Condomínio dos Anjos, uma comunidade também equipada com um jardim de infância.

A participação dos moradores no projeto arquitetural foi de importância crucial e revelou a mobilização e o compromisso dessas pessoas em conquistar seu direito à cidade. Diversos indicadores sugerem que essa oportunidade teve uma influência grande em melhorar o estilo de vida de seus moradores, seja no índice crescente de estudantes em cursos superiores ou na porcentagem de propriedade de automóveis na vizinhança.

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ENTREVISTAS A MORADORES

CHIqUINHO, qUAL O SEU PAPEL NO CONDOMíNIO DOS ANJOS?

Eu sou educador social e faço parte da Grupo de Unidade Solidária. Entre outras atividades, a gente se organiza e decide as demandas do Condomínio dos Anjos e depois faz a reivindicação no poder público.

NA SUA OPINIÃO, qUEM ESTá CRIANDO PORTO ALEGRE NO MOMENTO?

O terceiro setor é responsável por muita coisa. Mas na minha opinião, quem está criando a cidade agora é o movimento popular. Pelo menos eu percebo assim. Esses movimentos, juntamente com ONGs e outras associações criam possibilidades para participação pública.

A PARTICIPAÇÃO PúBLICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISõES ESTá FUNCIONANDO BEM NO CONDOMíNIO DOS ANJOS?

A participação é efetiva, muito efetiva. A gente vem dando continuidade nas reivindicações. Os Orçamentos Participativos são a ligação entre as

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reivindicações e as resoluções da prefeitura. Hoje, com o projeto do condomínio, todo mundo participa da segurança, porque todo mundo fica olhando sempre diretamente para a rua. Ninguém entra para fazer coisas erradas. A comunidade participa muito.

A PARTICIPAÇÃO PúBLICA SEMPRE FOI BEM SUCEDIDA NO CONDOMíNIO DOS ANJOS?

No começo, por volta de 1988, era difícil. Mas juntamos forças com as outras vilas e lutamos pela regularização fundiária. Na plenária tínhamos 528 votos e mobilização de mais de 900 pessoas. Na época, mesmo com frio, todo mundo estava na rua. Conseguimos muitas coisas e estamos nos organizando pra mais projetos. Até hoje, depois de bastante trabalho, grande parte dos pedidos foram atendidos. Agora estamos lutando por um lugar para os nossos idosos. Temos que encontrar um lugar para eles. E estamos na fase final do projeto para a Associação de Mulheres Negras, que vai alojar 60 famílias.

A SITUAÇÃO ESTá MELHORANDO NO CONDOMíNIO?

Sim. E é muito claro de ver. Há alguns anos atrás só um ou dois moradores tinham carro. Hoje todos têm um; alguns até dois. Todo o mundo tem acesso à internet e telefone. O tráfico de drogas reduziu muito. Embora haja ainda alguns viciados, não há mais tráfico e todo o mundo tem trabalho. Muitos começaram trabalhando nos supermercados. Hoje já se vê placas de jovens que passaram no vestibular, temos alguns formados em direito e pedagogia. Isso acaba gerando mais permanência. Antigamente éramos conhecidos como Vila das Placas. Hoje somos o Condomínio dos Anjos. O lugar qualifica as pessoas e a comunidade inteira.

O qUE VOCê DESEJA PARA O CONDOMíNIO DOS ANJOS?

Eu gostaria que existisse um acordo ou uma parceria com a PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) para os nossos jovens poderem estudar lá. Queria que continuassem os estudos para se afastarem das drogas. Precisamos reduzir o vício.

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FOTOGRAFIAS DAS VISITAS àS COMUNIDADES EM PORTO ALEGRECoordenação: Márcio D’Avila Fotografias: Guilhermo Gil

J Vila Planetário: Vista de uma das ruas que compõe o conjunto de casas

K Vila Planetário: Praça central tomada pelo trabalho com resíduos

L Vila Planetário: Espaço utilizado pelos coletores / separadores de resíduos para executarem o trabalho

M Bairro Farrapos: Terreno vazio após incêncio

N Bairro Farrapos: Parte da área que sofreu o incêndio

O Bairro Farrapos: Igreja sendo demolida próxima à estrada

P Condomínio dos Anjos: Pequena edificação destinada à assistência social e apoio à escola

Q Condomínio dos Anjos: Vista geral do condomínio pela entrada / saída

R Condomínio dos Anjos: Escola infantil

BAIRRO FARRAPOS

VILA PLáNETARIO

CONDOMíNIO DOS ANJOS

PORTO ALEGRE

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CONSTRUÇÃO DA MESA-YPORTO ALEGRELuis Berríos-Negrón / The Anxious Prop

Em Porto Alegre, produzimos a Mesa-Y com e para Ivone Gomez e Vania Fabian, líderes da Associação de Defesa da Comunidade do Bairro Farrapos (ASSDECOM). Essa vila sofre os mesmos transtornos de várias comunidades carentes no Brasil e no mundo, como o direito fundamental à saúde, educação, habitação e infraestrutura. E a única ferramenta que essa população possui é a força como comunidade para lutar por esses direitos naturais. Em Farrapos, tal como em todo Porto Alegre, a tradição de participação e mobilização é muito forte. Aqui, a Mesa-Y procurou fazer parte dessa tradição e contribuir para seu fortalecimento. A comunidade, em conjunto com Guilhermo Gil e Lucas Burmann, estudantes de arquitetura do Prof. Márcio Rosa D’Avila, forneceram o suporte e as habilidades necessários para produzir a Mesa-Y de Porto Alegre. Essa versão utiliza araucária recuperada, uma “madeira de lei” regional e usada tradicionalmente para vigas e colunas estruturais na arquitetura colonial do Paraná. Concebemos a superfície da Mesa-Y manualmente, para servir tanto de fórum para os workshops como de local para a comunidade se reunir, organizar demonstrações, refeições em grupo, oficinas de costura e outras atividades que a associação oferece à comunidade. O conceito de iluminação foi desenvolvido pelos estudantes, usando o mesmo material disponível e uma montagem simples em cantilever, funcionando não apenas como conexão entre as alas da mesa e o hexágono central, mas também podendo ser enganchado ao longo de suas bordas. A Mesa-Y de Porto Alegre pertence agora ao Bairro Farrapos e já existem planos para que ela seja usada na exibição da comunidade, no fim do mês.

A Mesa-Y em Porto Alegre foi produzida com Guilhermo Gil e Lucas Burmann.

IMPRESSõES DO WORKSHOP E DA CONSTRUÇÃO DA MESA-YFotógrafa: Amália Machado Gonçalves

a O coração e o espírito do workshop em Porto Alegre: Ivone Gomez e Vania Fabian, líderes da Associação de Defesa da Comunidade do Bairro Farrapos

b Construir três Mesas-Y diferentes em menos de três semanas requer planejamento cuidadoso e atenção ao detalhe

c Guilhermo Gil transformando a madeira recuperada numa ala da Mesa-Y

d Luis Berríos-Negrón contou com o generoso apoio de Guilhermo Gil e Lucas Burmann

e O workshop em Porto Alegre teve lugar no centro comunitário do Bairro Farrapos, um bairro carenciado em Porto Alegre

f A Mesa-Y em Porto Alegre foi construída com araucária recuperada, uma “madeira de lei” regional tradicionalmente utilizada em vigas e colunas estruturais na arquitetura colonial do Paraná

g A educação assume um papel crucial em Brasilópolis, um dos três cenários futuros para Porto Alegre

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h Lisi Lo Carmini Gammel e Luiz Floroaldo Silva discutindo o futuro do Bairro Farrapos

i Ivone Beatriz G. Rodrigues especulando sobre um dia possível em Porto Real, outro futuro para Porto Alegre

j Identificar motores de mudança específicos para o ambiente urbano de Porto Alegre foi crucial no workshop

k Partindo de premissas com diferentes graus de dificuldade, os participantes tinham a tarefa de criar futuros especulativos mas possíveis para Porto Alegre

l Perguntamos: que estratégias podemos implementar no presente para lidar com a incerteza dos muitos desenvolvimentos do futuro

m A estrutura do workshop permitiu que participantes como Betânia Moraes Alfonsín liberassem suas idéias partindo de condicionantes contemporâneas

n Lidiajiara Barbosa apresentando os resultados do workshop a uma platéia local interessada

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O FUTURO DAS DECISõES PARTICIPATIVASMatthias Böttger

Porto Alegre é conhecida por seus movimentos sociais, o Fórum Social Mundial e o Orçamento Participativo. Com o curador local Márcio Rosa D'Avila, exploramos algumas das comunidades mais proativas em Porto Alegre para ver sua rica história de participação e seus desafios contemporâneos. O Condomínio dos Anjos na Avenida Ipiranga é um antigo exemplo de como iniciativas locais usaram o orçamento participativo para estabilizar sua vizinhança. Lá, encontramo-nos com o líder local João Alberto de Souza Lima, conhecido como Chiquinho dos Anjos, para uma visita pelo bairro e o jardim de infância Integração dos Anjos. Os moradores pagam um aluguel baixo fixado pelo salário mínimo brasileiro e desfrutam de uma prosperidade modesta com empregos recentemente adquiridos. Alguns habitantes encaixam-se na chamada “Nova Classe Média”, orgulhosamente anunciando a admissão de seu filho em uma prestigiada escola de advocacia e lavando seu VW Golf numa tarde de sábado. O bairro parece estar indo muito bem, já que uma extensão da comunidade está planejada para um campo de futebol próximo e uma escola está prestes a ser acrescentada ao jardim de infância. Ainda assim, o esforço de Chiquinho para defender a segurança do bairro é infindável. Similarmente, a Vila Planetário foi entregue à sua comunidade há mais de 20 anos. O líder local Antônio Marciano Maciel nos guiou pela pequena ilha de ruas estreitas e prédios baixos localizada em um bairro rico de blocos de apartamentos modernistas. O centro da Vila Planetário é a Creche Piu Piu – mais uma vez um jardim de infância – que é dirigida por Jussara Beckstein da Silva e Patrícia Goulart dos Santos. Na Vila Pinto, no Bairro Bom Jesus, um bairro no extremo leste de Porto Alegre, a empreendedora social Marli Medeiros tem administrado desde há muitos anos e com sucesso um galpão de reciclagem, um jardim de infância e diversos programas sociais. Ela fornece empregos e estabilidade a uma comunidade muito frágil e foi convidada para a TEDex e a Expo 2000 em Hanover para apresentar seu projeto. Todos esses casos mostram como líderes locais fortes podem fazer a diferença e como o orçamento participativo ajudou a florescer seus esforços.O objetivo do workshop era aprender com essas realidades específicas como compartilhar conhecimento em projetos participativos, com foco particular no Bairro Farrapos e na Vila Liberdade, no extremo norte de Porto Alegre. Devido a sua proximidade do aeroporto e da nova Arena do Grêmio, as comunidades de Farrapos estão enfrentando forte pressão, lutando para se manter no bairro. Depois de um incêndio em 27 de janeiro de 2013, mais de 150 casas foram destruídas na Vila Liberdade, a parte mais precária de Farrapos. A maior parte da terra não foi ainda reclamada e uma nova estrada diretamente adjacente está abrindo caminho à especulação, com o desenvolvimento de novos blocos residenciais.Em nossa primeira visita a Farrapos, encontramo-nos com Vania Lucia Fabian por acaso na rua. Ela tornou-se nosso elo com a comunidade e mais tarde anfitriã do workshop na ASSDECOM. Junto com Ivone Beatriz Gomes Rodrigues, ela e a equipe local da ASSDECOM prepararam comida deliciosa e nos fizeram sentir como parte da vizinhança por alguns dias. Os trabalhadores comunitários de outros bairros, acadêmicos universitários, artistas e ativistas também foram convidados por Márcio Rosa D'Avila, tornando essa Mesa-Y uma experiência muito especial.

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CENáRIOS FUTUROS PARA PORTO ALEGRE: TRêS VISõES PARA A CIDADE PARTICIPATIVA

O orçamento participativo, outrora uma ferramenta efetiva de administração pública, há muito que está ultrapassado. Contudo, à medida que os espaços públicos se tornavam cada vez mais privatizados, os cidadãos de PORTÚ foram se unindo, lutando contra a venda da sua cidade. Através da mobilização popular, eles conseguiram proteger e revitalizar os espaços públicos que tinham uma função verdadeiramente social. A educação e a consciência para os aspectos ambientais e sociais do meio urbano foram essenciais para construir essa resistência. Hoje, esses lugares são cuidados por movimentos cívicos, proporcionando serviços coletivos acessíveis e para todos.

Ao invés de focar em habitação social, o desenvolvimento urbano de PORTÚ se centrou ao redor do urbanismo social. Assim, reabilitar um bairro deixou de significar apenas construir algumas casas, focando agora na construção de todo um sistema urbano conectado ao resto da cidade. Da mesma forma, ao invés de apenas construir novas escolas, os cidadãos procuraram gerar um meio educacional, um processo de educação coletivo a diferentes escalas.

Este meio educacional culminou nos espaços públicos que temos hoje e também gerou uma enorme diminuição no uso de carros, não apenas porque os carros não eram mais úteis, mas também porque deixaram de significar ascensão social ou status, como antes. Para alcançar isso, o transporte público foi renovado. Novas linhas de metrô, ônibus e trem foram construídas, além de outras alternativas, como ciclovias.

Hoje, temos parques abertos que ficam iluminados à noite, estacionamento subterrâneo e restrição de tráfego no centro da cidade. Com disse um de seus habitantes: “a PORTÚ de 2050 é uma cidade para ‘nós’, e não para ‘mim’.”

PORTúOUTRORA UMA CIDADE MARCADA PELO CONTRASTE e separação, portÚ é hoje, em 2050, célebre POR SEUS CIDADÃOS FORTES, ENGAJADOS E RESISTENTES. PRATICANDO UM URBANISMO SOCIAL, ELES CONSEGUIRAM CRIAR UMA CIDADE DE BASE IGUALITáRIA, ONDE TODOS VIVEM EM MORADIAS APROPRIADAS E DESFRUTAM DOS BENEFíCIOS DOS SERVIÇOS PúBLICOS.

PARTICIPANTESBetânia de Moraes Alfonsín, Daniel Escobar, Loreni Lucas, Eva Polli, Jussara Beckstein da Silva, Luiz Augusto da Silva Freitas, Guilhermo Gil

PORTO ALEGRE CONTA COM UMA GRANDE TRADIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO CíVICA NOS PROCESSOS DE PLANEJAMENTO URBANO. DURANTE O WORKSHOP, OS PARTICIPANTES TRABALHARAM PARTINDO DE SITUAÇõES COMPLEXAS, TANTO COM UMA PERSPECTIVA SOMBRIA SOBRE O FUTURO, COMO COM EXPECTATIVAS BASTANTE POSITIVAS. CADA CENáRIO MOSTRA POSSIBILIDADES FUTURAS PARA PORTO ALEGRE ONDE A PARTICIPAÇÃO PúBLICA É ESSENCIAL PARA UMA CIDADE HABITáVEL E BEM-SUCEDIDA.

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BRASILOPOLISBRASILóPOLIS FOI POR MUITO TEMPO CONHECIDA COMO UMA CIDADE DIVIDIDA: UMA PARTE PARA OS RICOS E OUTRA PARA OS POBRES. CONTUDO, NO ANO 2050, brasIlÓpolIs está agora vIva e pulsante. INVESTINDO EM EDUCAÇÃO E, COM ISSO, EM SUA PRóPRIA POPULAÇÃO, BRASILóPOLIS FOI CAPAz DE SE TRANSFORMAR INTERNAMENTE, PERMITINDO A SEUS HABITANTES PARTICIPAR DA CRIAÇÃO DA CIDADE. ATRAVÉS DA PARTICIPAÇÃO PúBLICA, AS PESSOAS PASSARAM A PODER ENFRENTAR OS DESAFIOS RELACIONADOS à EDUCAÇÃO, MORADIA, ESPAÇOS PúBLICOS E SAúDE, DE MANEIRA TRANSPARENTE, INDEPENDENTE E IGUALITáRIA.

Hoje, os habitantes de BRASILÓPOLIS veem a felicidade como o maior bem da sustentabilidade. Embora diversificada e complexa, BRASIlÓPOLIS está livre do preconceito e todos têm oportunidades iguais para buscar seus sonhos. Por meio da educação gratuita as pessoas são capazes de participar de discussões para, em conjunto, decidirem as intervenções necessárias. Nesse contexto, o bem social é muito valorizado, melhorando a qualidade de vida para todos. Pode-se facilmente mudar de bairro, já que não há mais uma linha segregante dividindo a cidade. Os vizinhos vivem pacificamente lado a lado.

PORTO REALPORTO REAL FOI CONSIDERADA POR MUITO TEMPO UMA BANAL CIDADE DORMITóRIO. Lá, AS PESSOAS TINHAM CASAS BONITAS E DESFRUTAVAM DE UMA VIDA DECENTE, MAS PARA TRABALHAR TINHAM DE VIAJAR PARA A VIzINHA BRASILóPOLIS. hoje, em 2050, através da cultura e de INFRAESTRUTURAS COMUNITáRIAS, PORTO REAL FOI REVITALIzADA TORNANDO-SE UMA CIDADE DE TAMANHO MÉDIO MAS COM UMA qUALIDADE DE VIDA ELEVADA.

Uma eficiente infraestrutura de transporte intermunicipal foi muito provavelmente o único aspecto que manteve PORTO REAL viva. Mas as pessoas se cansaram das longas viagens e demandaram uma cidade que oferecesse mais do que apenas condições de moradia decentes. Investindo fortemente em cultura, educação e instalações comunitárias, como estruturas de saúde e de espaço público, PORTO REAL já não é mais dependente de cidades maiores, tendo se tornado em uma aglomeração urbana completa e auto-suficiente.

Os cidadãos de PORTO REAL decididamente optaram contra os métodos tradicionais de desenvolvimento. Em vez disso, se concentraram em permanecer flexíveis, sempre capazes e dispostos a reinventar sua cidade. Focando na regeneração cultural, PORTO REAL deixou de ser uma cidade de espaços públicos segregados para transformar-se numa espécie de fluxo de vida, nunca cansada de se reconstruir.

Aqui, além de poderem ter uma vida decente, as pessoas já não têm que lidar com o parco acesso a serviços de educação e informação. Seus instruídos habitantes conseguiram transformar PORTO REAL em um interessante centro, uma cidade onde pode se encontrar de tudo, onde todos podem desfrutar de uma alta qualidade de vida.

Hoje, PORTO REAL é símbolo do que uma cidade deveria ser: uma cidade que está viva e vive para todos

A imagem do estádio chegando representa o espetáculo em uma lógica tradicional. No ano 2050, o espetáculo não estará pairando sobre BRASILÓPOLIS, mas a própria BRASILÓPOLIS será o espetáculo, porque não haverá mais uma divisão entre os ricos e os pobres. Até há bem pouco tempo, os estádios simbolizavam um tipo de imposição, a privatização do outrora público, a incapacidade das pessoas de reagir à invasão privada. Hoje, os habitantes de BRASILÓPOLIS são capazes de se apropriar dessas forças externas, subvertendo-as para seu próprio bem.

Os habitantes de BRASILÓPOLIS, outrora uma cidade dividida, foram capazes de transformar-se em cidadãos igualitários, instruídos e autoconfiantes

PARTICIPANTESAdão Clóvis Martins dos Santos, Ivone Beatriz G. Rodrigues, Jõao Telmo de Oliveira, Marina Camargo, Patrícia Goulart dos Santos, Lucas Fernando de Faria Burmann, Lidiajiara Barbosa

PARTICIPANTESMarcos Pereira Diligenti, Rommulo Vieira Conceição, João Alberto de Lima Souza, Luís Berrios-Negrón, Ana Reni, Vânia Lucia Fabian, Geni José Pereira

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EXCURSO. O PARADOXO DA NOVA CLASSE MÉDIA

A OPORTUNIDADE DE UMA NOVA CLASSE MÉDIANós falamos com Rainer Hehl sobre o clima sócio-econômico atual no Brasil e as possibilidades para estabelecer processos participativos e de construção destinados aos cidadãos.

O BRASIL PASSOU POR UMA DÉCADA DE RáPIDO CRESCIMENTO ECONôMICO. COM A PRIMEIRA DEPRESSÃO NO CRESCIMENTO, O BRILHO DO SUPOSTAMENTE NOVO PODER ECONôMICO GLOBAL ESTá DIMINUINDO MAIS UMA VEz…

A força econômica do Brasil baseia-se principalmente na exportação de suas enormes reservas de matéria prima. Infelizmente o país não está conseguindo processar seus recursos de maneira muito satisfatória para reforçar o mercado doméstico. Tal como muitos outros países emergentes, as esperanças no Brasil agora estão colocadas em uma ambiciosa classe média baixa em ascensão – a chamada Classe C – para expandir seu mercado doméstico e, desse modo, fazer avançar a economia nacional. Contudo, essa lógica contem alguns problemas fundamentais. Cultivar uma tal “classe de consumo” em um clima econômico neoliberal com a finalidade de estimular a economia dificilmente será sustentável a longo prazo. O Brasil não pode começar a pensar sobre o consumo de energia e a poluição de ar depois que cada cidadão estiver instalado em um apartamento com ar condicionado e de onde ele só sai para ficar parado no tráfego em seu carro particular. E também devemos considerar que a inflação elevada que está prejudicando atualmente a economia do Brasil após anos de forte crescimento não é um problema nacional, mas sim global. Por exemplo, os problemas econômicos da China são refletidos imediatamente na diminuição das exportações no Brasil, e mesmo a “antiga” classe média estabelecida de repente já não consegue pagar suas dívidas. No Brasil nos últimos três anos, os preços para determinados bens essenciais, aluguéis, etc. dobraram e os salários não estão acompanhando. Conseqüentemente, cada vez mais bens são comprados a crédito,

na expectativa de um futuro dourado que atualmente não está visível. Por isso, a classe média baixa está sob uma enorme pressão.

OS PROTESTOS ATUAIS SÃO SIMPLESMENTE UMA REAÇÃO A ISSO? OU VOCê Vê NAS DEMONSTRAÇõES IMPULSOS PARA MUDANÇAS FUNDAMENTAIS, DE LONGO PRAzO?

Ao mesmo tempo em que a Nova Classe Média em ascensão no Brasil demanda um padrão mais elevado de vida, a classe média estabelecida deve enfrentar o fato de que está cada vez mais difícil pagar todas as contas no final do mês. O Brasil é um país muito rico! Por que esses setores da população não podem aproveitar já que agora compõem a maior parte da população em geral? A situação real do país já não é mais apropriada ao nível de desenvolvimento de uma ampla camada da população. Aí as mídias sociais, que são ainda mais extensamente divulgadas no Brasil que na Europa, provocaram uma explosão, uma repentina descarga de descontentamento reprimido que ninguém realmente esperava. Tal como o movimento Occupy, os alvos dos protestos não eram claros e as demonstrações formaram-se sem organização ou estrutura, o que garante que as idéias se estabilizem e que as demandas sejam comunicadas através de grupos ativistas. Na ausência de discussões um tanto concretas e institucionalizadas, as demonstrações não terão nenhum efeito. Agora as pessoas terão que deixar as ruas e voltar a um lugar onde possam realmente continuar seu trabalho. Essa crescente classe média deve definir e organizar-se novamente e desenvolver novos conceitos

econômicos e culturais. Isso também significa definir novos valores para eles próprios. Isto é naturalmente muito difícil em um país onde a segregação de classes é tradicionalmente tão incrivelmente forte.

O GOVERNO BRASILEIRO PODERá INTEGRAR ESSAS NOVAS VOzES NA DISCUSSÃO POLíTICA, EM OUTRAS PALAVRAS MEDIAR OU MODERAR ENTRE AS CLASSES?

Neste momento, os manifestantes na rua estão exigindo uma reformulação pessoal por parte dos próprios políticos. Em vista da corrupção e do clientelismo tão difundidos, essa demanda é certamente legítima. Por outro lado, políticos conscienciosos enfrentam o obstáculo de que não podem mudar o próprio sistema tão rapidamente. A própria Dilma Rousseff ficaria feliz em atender muitas das demandas dos manifestantes.Mas ela está diante de grandes obstáculos, uma vez que esse instrumento não está completamente sob seu controle, e ela não o pode mudar na direção desejada tão rapidamente. Esses políticos devem, portanto, principalmente moderar entre as necessidades da população e os interesses da elite econômica, do capital financeiro e dos grandes lobbies, o que obviamente ainda não está funcionando muito bem.Isso pode ser visto muito bem no exemplo do programa do governo Minha Casa Minha Vida, através do qual mais de um milhão de unidades de habitação para grupos da população de baixa renda foram construídas nos últimos quatro anos. Com o objetivo declarado de estimular simultaneamente a economia brasileira, os contratos foram dados principalmente às grandes companhias de construção, que foram sustentadas por fortes esforços lobistas dentro do governo. A indústria da construção empreendeu os projetos sem envolver arquitetos ou urbanistas – com resultados desastrosos para o desenvolvimento urbano!Podemos naturalmente criticar severamente essa política de moradia. Mas também devemos levar em consideração que 5% de todo o orçamento foi alocado para construir as unidades de moradia pela própria iniciativa de movimentos sociais e associações de moradores, promovendo conceitos de construção cooperativa. Embora tenha sido somente uma porcentagem pequena, os fundos não puderam ser completamente distribuídos já que não havia grupos suficientes que estivessem em condições de implementar os projetos de modo independente. Para mim, isso é um aspecto realmente interessante, já que sempre se reivindica que devemos fortalecer essas estruturas

bottom-up ou então levá-las mais em conta. Mas antes de tudo, é preciso estabelecer a base e disponibilizar os recursos necessários para que essas iniciativas sociais tenham uma estrutura sólida e possam funcionar de forma operacional. Infelizmente, no Brasil esse ainda não é necessariamente o caso. No final das contas, isso significa que mesmo se os responsáveis pelas políticas dirigirem sua atenção para as questões relevantes, não haverá nenhuma grande mudança, se não houver mobilização ativa e participação por parte dos cidadãos.

COMO ACONTECERIA UM AVANÇO DA SOCIEDADE CIVIL? POR ONDE SE COMEÇARIA?

Basicamente, me parece que há uma falta de conscientização coletiva. Para alguém de fora, isso não é fácil de compreender porque o Brasil se apresenta como um país com incrível riqueza social e cultural, refletida no típico jeito brasileiro. Mas se fizermos um exame mais cuidadoso da situação, as exigências políticas estão principalmente alinhadas com os interesses privados. Em minha opinião, no Brasil é necessário antes de mais negociar o que constitui uma comunidade e o que significa um projeto coletivo. As organizações coletivas devem ser desenvolvidas para que possam transmitir esse conceito sem serem ideológicas em relação a ele. Atualmente, em todo caso, o mito fundamental do Brasil moderno, que se baseia nas liberdades individuais de cada pessoa, parece estar se expressando fundamentalmente numa forma extrema de segregação de classe. Além disso, o Brasil precisa investir mais em educação, que é cada vez mais privatizada seguindo os padrões de segregação.

O qUE ESTá ACONTECENDO AGORA COM ESSA SOCIEDADE TOTALMENTE SEGREGADA, qUE NÃO TEVE SUCESSO EM CRIAR UMA COMUNIDADE?

O Brasil deve agora abrir-se para o mundo. O país tem se fixado em si próprio por tempo demais. O Brasil deve criar essa abertura e ao mesmo tempo encontrar seus próprios valores, nos quais se baseia a identidade de uma nova sociedade. No momento, as tentativas para resolver os problemas de uma economia de mercado neoliberal são dirigidas no sentido da economia de mercado ainda mais neoliberal. Mas o país já exagerou uma vez com a liberalização do mercado nos anos 1980, depois do fim da ditadura. Para o Brasil, essa foi a pior época, os chamados “anos 80 perdidos”. De repente, não havia mais liderança nem coesão social. As favelas e a criminalidade cresceram rapidamente e tornaram-se incontroláveis. O conceito de uma contenção do mercado em favor da implementação de necessidades coletivas produziu forças muito interessantes orientadas para a reforma. Isso pode ser visto na nova Constituição de 1988 – uma das mais exemplares em existência. Por exemplo, a necessidade de a propriedade privada cumprir uma finalidade social está estabelecida na Constituição. E a ascensão de Lula da Silva de metalúrgico a presidente também pode ser atribuída aos

Essa crescente classe média deve definir e organizar-se novamente e desenvolver novos conceitos econômicos e culturais. Isso também significa definir novos valores para eles próprios. — Rainer Hehl

Em minha opinião, no Brasil é necessário antes de mais negociar o que constitui uma comunidade e o que significa um projeto coletivo. RH

Para melhorar a vida urbana, teremos que incluir uma gama de atividades informais como alternativas sérias às práticas convencionais que conduziram à situação atual. RH

durante a nossa pesquisa sobre a influência da nova classe média nos modos de fazer cidade no brasil, nos deparamos com um paradoxo: por um lado vemos a existência de iniciativas bottom-up e movimentos sociais que procuram estabelecer uma classe média politizada, no sentido de fortalecimento comunitário e interesses comuns. por outro lado, verifica-se uma discussão generalizada nos meios e círculos intelectuais estabelecidos, onde a nova classe média é apresentada como uma classe de consumo meramente hedonista, voltada a questões de status e individualista. neste momento vemos o brasil dividido entre os seguintes desenvolvimentos: a nova classe média como uma classe de consumo sólida, conduzindo o brasil para a era do neoliberalismo, ou a nova classe média como uma nova e poderosa entidade política moldando o futuro da sociedade brasileira. considerando o contexto “fazer cidade”, esta seção do jornal investiga este paradoxo em especial, expondo idéias e contributos de diferentes atores, relacionados com as correntes contemporâneas que vêm conduzindo a nova classe média e, com isso, uma parte do destino do brasil para o futuro.

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SOBRE O PARADOXO DA NOVA CLASSE MÉDIAPaloma Siqueira

Para nós no Interurbano, a Nova Classe Média no Brasil representa hoje uma pressão indireta nos métodos estabelecidos de construção de cidade. Algumas perguntas que fazemos são: esta Nova Classe Média está influenciando a forma como vivemos ou como usamos o espaço público? Este fenômeno está mudando a composição social ou territorial? Os novos clientes também viverão em condomínios e estarão contentes com seus próprios “espaços gourmet” apesar de agora terem moradias minúsculas?Apenas é necessário observar as tendências de produção de moradia social para compreender, por exemplo, que a reabilitação urbana de assentamentos informais replica e consolida os problemas dos assentamentos formais seguindo, portanto, inevitavelmente em direção à homogeneização recorrendo a modelos ultrapassados – inseguros, individualistas e fadados à necessidade de novas reabilitações, pouco tempo depois.Concordamos que os eventos atuais parecem paradoxais e que há diversas bolhas prontas a explodir. A integração das classes mais baixas pelo consumo de massa acaba expondo a fragilidade dos serviços mais básicos à vida urbana brasileira que, por sua vez, expõe a fragilidade da “velha” classe média. Quando um número significativo de cidadãos começarem a recorrer a serviços privados – que até agora eram as únicas alternativas aos precários serviços públicos – esses serviços também terminarão entrando em colapso. Um exemplo disto é o setor de saúde privado onde, em alguns casos, a demora para o atendimento pode ser comparada com a do serviço público. Outro exemplo é a educação privada, onde a qualidade ainda está muito abaixo daquela necessária para a formação de uma massa crítica de profissionais qualificados que poderão confrontar os “desafios de desenvolvimento” que o país está enfrentando atualmente. A democratização de acesso a serviços urbanos privados (planos de saúde, escolas, centros comerciais, etc.) destaca a precariedade das condições da classe média estabelecida, que outrora se sentiu mais próxima do status social dos ricos que dos pobres. Isso dificulta superar as limitações históricas com relação a um consenso para a qualidade da vida urbana.Esta pressão indireta à qual nos referimos anteriormente é causada pela ameaça sentida pela “velha” classe média, que se sente ameaçada pela Nova Classe Média ascendente. Nós acreditamos que entre as diferentes “bolhas” de tensão resultantes desta dinâmica, a questão da mobilidade urbana possa ter o maior potencial para se tornar um catalisador de mudança na paisagem urbana, visto que ela parece incorporar as necessidades de diversos grupos sociais.Os cidadãos atingiram agora seu limite de tolerância quanto a congestionamentos de trânsito e baixa qualidade do transporte público. Comprar um carro não é mais uma solução razoável. Nós acreditamos que a questão da mobilidade possa somente ser resolvida se optarmos por uma cultura de planejamento urbano inclusivo, que se baseie em um consenso de todos os atores. Isso não se traduz necessariamente em uma alternativa à construção neo-liberal de cidades, ainda que possa trazer grandes transformações territoriais.Nós compreendemos que as mudanças estão iminentes. Contudo, a transformação do paradigma atual da construção de cidades somente poderá ser alcançada através de um projeto de cidadania para o qual algumas questões precisam ser abordadas: o Brasil quer uma nova classe média que contribua para as novas diretrizes de seu desenvolvimento urbano? O Brasil deseja ver diversidade como uma oportunidade? O Brasil deseja aprender com a cidade informal?Caso afirmativo, devemos então prestar mais atenção aos atores e aos formadores de opinião que alimentam os paradigmas atuais. Para melhorar a vida urbana, teremos que incluir uma gama de atividades informais como alternativas sérias às práticas convencionais que conduziram à situação atual. As demandas são enormes e superar a falta de recursos através de

A integração das classes mais baixas pelo consumo de massa acaba expondo a fragilidade dos serviços mais básicos à vida urbana brasileira que, por sua vez, expõe a fragilidade da “velha” classe média. — Paloma Siqueira

movimentos sociais dos anos 1990, como uma reação direta às forças de mercado liberais. Para transformar uma sociedade em uma comunidade, não seria preciso agora construir tudo novamente partindo de zero, apenas seria necessário garantir que as condições da estrutura sócio-econômica fossem aplicadas corretamente. No presente, o Brasil ainda está muito dependente de um capitalismo brutal. Embora seja estruturado democraticamente e tenha uma excelente constituição, as pessoas que tomam as decisões não são necessariamente políticos, mas sim acionistas privados da indústria, do capital financeiro, da indústria de construção, etc. Há alguns lobbies inacreditavelmente poderosos no Brasil.

COMO PODE SER qUEBRADO ESSE PODER?

A política no Brasil está demasiado envolvida em conflitos de interesse, e portanto não pode simplesmente tomar uma decisão contra um lobby. Seria com certeza mais eficaz, se alternativas aos procedimentos habituais evoluíssem a partir de movimentos cívicos. Acho que isso é mais promissor que apenas acusar os políticos por seus defeitos. Do mesmo modo, no contexto do desenvolvimento urbano, associações de construção e cooperativas seriam um instrumento mais eficaz contra estruturas monopolistas. Agora seria o momento ideal para propagar tais estruturas na realidade. Se a classe emergente conseguir se organizar, apropriando-se de programas do governo, como o Minha Casa Minha Vida, gerenciando-os eles mesmos como um tipo de associação de construção, isso então certamente também teria um impacto na política. Precisamente iniciativas como

políticas sustentáveis e sustentadas não parece estar na pauta atual da sociedade. Ver a natureza informal das práticas urbanas auto-construídas como uma fraqueza ainda é um grande obstáculo a ser superado pela sociedade brasileira. O conservadorismo tanto da classe média estabelecida como da classe média ascendente não lhes permite valorizar os recursos criativos advindos da diversidade e na adversidade. Acreditamos que somente um projeto de cidadania consensual, incluindo todas as classes deste complexo e enorme país, possa transformar esta fraqueza em uma oportunidade para conseguirmos a cidade criativa.Finalmente, gostaríamos de enfatizar que se a Nova Classe Média aspira ser como a “velha”, devemos ver mais de perto como ela vive, consome, se educa e circula, para podermos avaliar se este padrão é realmente adequado para os desafios urbanos contemporâneos. Somente então estaremos prontos para lançar os alicerces para um pacto que inclua e aceite novas formas de fazer a cidade.

Paloma Siqueira é arquiteta e planejadora urbanista, formada pela Universidade Mackenzie em São Paulo, Brasil, e Mestra em Meio Ambiente e Arquitetura Bioclimática pela Universidade Politécnica de Madri, Espanha. Ele é sócia fundadora do Interurbano, atualmente sediado

em São Paulo e em Madri. Em São Paulo, coordena atualmente um projeto de moradia social e de planejamento urbano dentro do programa municipal Renova SP, no bairro de Vila Clara. Em Madri e em São Paulo, entre outras atividades, ela liderou pesquisas, workshops e palestras sobre espaços urbanos mais seguros e regeneração urbana sustentável, e também sobre processos participativos para projetar e construir espaço público.

essas deveriam ser maciçamente propagadas agora. Mas isso é incrivelmente difícil, uma vez que a conscientização não está suficientemente desenvolvida. No Brasil, simplesmente não se prestou suficiente atenção a essas abordagens até agora. Por outro lado, o Brasil é um país em que as idéias espalham-se com muita rapidez, muito mais rapidamente do que na Europa. Tudo é muito menos desenvolvido e menos estabelecido e de certa maneira mais aberto à mudança. Quando uma idéia pega fogo, os resultados também podem ser muito mais poderosos que num contexto europeu. As abordagens a esse processo que estamos vendo nas ruas do Brasil estes dias necessitarão definitivamente de um período mais longo para impactar a sociedade – mas em todo caso eles contêm um estupendo potencial para essa transformação social e política.

Rainer Hehl é arquiteto, pesquisador e planejador urbano. Além de ter lecionado muito sobre informalidade urbana, arquitetura popular e urbanidades híbridas, ele tem doutorado em estratégias de urbanização para povoamentos informais no Brasil. Ele foi diretor do Mestrado de Estudos Avançados

em Design Urbano no ETH, Zurique e atualmente é professor convidado para o Programa de Inovação de Arquitetura e Design na TU, em Berlim. Mais recentemente, Rainer Hehl editou Building Brazil! (Ruby Press, 2011) e Cidade de Deus – City of God (Ruby Press, 2012), ambos tratando das práticas de construção informal no Brasil.

Cultivar uma tal “classe de consumo” em um clima econômico neoliberal com a finalidade de estimular a economia dificilmente será sustentável a longo prazo. RH

Os cidadãos atingiram agora seu limite de tolerância quanto a congestionamentos de trânsito e baixa qualidade do transporte público. Comprar um carro não é mais uma solução razoável. Nós acreditamos que a questão da mobilidade possa somente ser resolvida se optarmos por uma cultura de planejamento urbano inclusivo, que se baseie em um consenso de todos os atores. PS

Gostaríamos de enfatizar que se a Nova Classe Média aspira ser como a ‘velha’, devemos ver mais de perto como ela vive, consome, se educa e circula, para podermos avaliar se este padrão é realmente adequado para os desafios urbanos contemporâneos. Somente então estaremos prontos para lançar os alicerces para um pacto que inclua e aceite novas formas de fazer a cidade. PS

As abordagens a esse processo que estamos vendo nas ruas do Brasil estes dias necessitarão definitivamente de um período mais longo para impactar a sociedade – mas em todo caso eles contêm um estupendo potencial para essa transformação social e política. RH

LIGIA NOBRE: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A NOVA CLASSE MÉDIALigia Nobre é co-curadora da X Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Nos últimos dez anos o Brasil viveu profundas transformações societais e urbanas, em parte devido ao crescimento da chamada “Nova Classe Média”. Parece-me que, num futuro próximo e durante esta década, viveremos a continuidade dessa divisão entre ambos os desenvolvimentos que você coloca, em um jogo de forças difícil de prever. Seja apontando para o colapso negativo dos nossos modelos e paradigmas de viver e “fazer cidade” – com a exacerbação e exaustão do modelo individualista, consumista, com mais carros, poluição, trânsito, especulação imobiliária e falência dos serviços públicos acentuando as extremas desigualdades sociais e econômicas – seja para um colapso positivo – novos valores, baseados no compartilhamento, na reinvenção dos papéis e relações entre público e privado, a transição da economia para e ecologia, o fortalecimento dos espaços coletivos, novos modos de existir. A ver que escolhas faremos.

Page 12: ETES JORNAL FOI PUBLICADO NO âMBITO DO PROJETO …

FICHA TÉCNICAEditores Weltstadt: Matthias Böttger, Angelika Fitz, Tim Rieniets

Editores Weltstadt: Matthias Böttger, Ludwig Engel, Leona Lynen, Filipe Serro

Projeto Gráfico: Studio Matthias Görlich (Matthias Görlich, Charalampos Lazos, Jan Aulbach)

Fotografia: Amália Machado Gonçalves, Guilhermo Gil

Ilustradores: Felipe Caldas, Augusto Lima, Alexandre De Nadal

Traduções: Filipe Serro, Edith Watts, Grupo Wort (Fábio Maya)

Revisão: Edith Watts

Impressão: BC Gráfica, São Paulo

Curador Local: Márcio Rosa D’Avila

Produção Local: Lisi Lo Carmine Gammel

Nós Brasil!! We Brazil! é um projeto do Goethe-Institut em nome do Ministério Federal Alemão do Transporte, Construção e Desenvolvimento Urbano. Teve a curadoria de Matthias Böttger e do artista / arquiteto convidado Luis Berríos-Negrón. Realizado conjuntamente com os Goethe-Institut em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Salvador.

ISBN 978-3-939670-93-3

Agradecimentos especiais a: Lucas Burmann, Guilhermo Gil, Marina Ludemann, Reinhard Sauer, Mônica Schreiner, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e Faculdade de Comunicação Social (FAMECOS) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

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