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REPÚBLICA DE ANGOLA INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO MARAVILHA CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS O SISTEMA DE PARTIDO LIDERANTE EM REGIME DITATORIA, MAS QUE SE PODE RECONDUZIR, NA PRÁTICA, AO SISTEMA DE PARTIDO ÚNICO AUTOR: Hélder Freitas BENGUELA, ABRIL DE 2013

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REPÚBLICA DE ANGOLA

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO MARAVILHA

CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O SISTEMA DE PARTIDO LIDERANTE EM REGIME DITATORIA,

MAS QUE SE PODE RECONDUZIR, NA PRÁTICA, AO SISTEMA

DE PARTIDO ÚNICO

AUTOR:

Hélder Freitas

BENGUELA, ABRIL DE 2013

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO MARAVILHA

CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O SISTEMA DE PARTIDO LIDERANTE EM REGIME DITATORIA,

MAS QUE SE PODE RECONDUZIR, NA PRÁTICA, AO SISTEMA

DE PARTIDO ÚNICO

Avaliação Sistemática da Cadeira de Introdução à Ciência Política

AUTOR:

Hélder Freitas

O DOCENTE:

Dr. António Chamãle

BENGUELA, ABRIL DE 2013

A todos

que buscam e

desenvolvem o

conhecimento

“AS GUERRAS DEMORADAS TERMINAM SEMPRE COM A DESTRUIÇÃO

OU COM A DESGRAÇA DOS DOIS BELIGERANTES”.

XENOFONTE

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ……………………………………………………………………… iv

PENSAMENTO ……………………………………………………….……………… v

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 6

CAP. I ORIGEM DOS PARTIDOS ............................................................. 8

1.1 CONCEITO DE PARTIDO POLÍTICO ........................................ 10

1.2 NATUREZA JURÍDICA DOS PARTIDOS POLÍTICOS .................. 11

CAP. II TIPOLOGIA PARTIDÁRIA, SISTEMA DE PARTIDOS POLÍTICOS .... 12

2.1 QUANTO À ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS PARTIDOS ............... 12

2.2 QUANTO À ORGANIZAÇÃO EXTERNA ..................................... 12

2.3 QUANTO AO ÂMBITO DE ACTUAÇÃO DOS PARTIDOS ............. 14

CAP. III SISTEMA DE PARTIDO LIDERANTE EM REGIME DITATORIAL, MAS

QUE SE PODE RECONDUZIR, NA PRÁTICA, AO SISTEMA DE PARTIDO ÚNICO ........ 15

3.1 A REALIDADE ANGOLANA .................................................... 18

CONCLUSÃO.................................................................................................. 21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 22

6

INTRODUÇÃO

Este trabalho surgiu no âmbito da disciplina de Introdução à

Ciência Política, leccionada no 1º Ano do Curso de Ciência Politica e

Relações Internacionais do Instituto Superior Politécnico Maravilha de

Benguela e que tem como finalidade explicar o que está relacionado com

o Sistema de Partido Liderante em Regime Ditatorial, mas que se pode

reconduzir, na prática, ao Sistema de Partido Único.

Entende-se por Sistema de Partido Único ou sistema de partido

dominante o sistema partidário próprio dos regimes autoritários em que

um único partido político é legal, confundindo-se com o próprio Estado,

sendo que legalmente não podem existir outros partidos. É um partido

político que detém o poder governamental embora existam outros

partidos políticos de oposição que podem legalmente operar.

Com efeito, neste trabalho manifestaremos que os partidos

políticos são imprescindíveis para a realização e manutenção do bem-

estar de um determinado território. Mas, na realidade, a história mostra

que apenas um detém o poder político e carrega consigo a governação

do Estado conforme reza a Constituição Angolana1.

Para a elaboração deste trabalho recorremos a livros bem como à

Internet para que pudéssemos manifestar, de forma escalonada, a

estrutura que o mesmo apresenta. O trabalho está revestido de três

capítulos.

No primeiro, partiremos da Origem dos Partidos, ou seja, veremos

que os partidos remontam do século XIX. Nesta vertente,

apresentaremos o conceito de partido político e a natureza jurídica dos

partidos políticos.

1 Artigo 4: o poder político é exercido por quem obtenha legitimidade mediante processo

eleitoral livre e democraticamente exercido, nos termos da Constituição e da Lei.

7

No segundo capítulo, falaremos sobre Tipologia Partidária, Sistema

de Partidos Políticos. Manifestaremos igualmente essa tipologia quanto à

organização interna dos partidos, quanto à organização externa e quanto

ao âmbito de actuação dos partidos.

Finalmente no terceiro capítulo abordaremos o nosso tema

propriamente dito – O Sistema de Partido Liderante em Regime

Ditatorial, mas que se Pode Reconduzir, na Prática, ao Sistema de

Partido Único. Nessa perspectiva, a realidade angolana fará parte dessa

abordagem, pois é um dos exemplos de como um sistema de partido

liderante exerce sua política.

Esperamos que este trabalho sirva de auxílio à compreensão de

certos fenómenos ligados à política, uma vez que esta incide sobre a

responsabilidade de quaisquer estudantes, investigadores, docentes,

políticos e politólogos.

8

CAP. I ORIGEM DOS PARTIDOS

Os primeiros partidos políticos modernos com as funções e

características semelhantes às de hoje, surgiram na Inglaterra em 1832,

nos Estados Unidos em meados de 1859 e na França associados à

revolução de 1848.

Daí a pertinência de se retomar as análises feitas por importantes

cientistas políticos europeus e americanos a respeito das principais

abordagens sobre os partidos e os sistemas partidários.

Duverger (1967), quando expôs suas idéias, ainda na década de

1950, abriu uma nova perspectiva na discussão a respeito dos sistemas

partidários e eleitorais, bem como do nascimento, consolidação e queda

dos partidos políticos. Contudo, hoje, após tantas mudanças no cenário

político-partidário e nos resultados do jogo eleitoral dos países ocidentais

desenvolvidos, suas idéias já se encontram relativamente superadas,

ainda que tenham tido grande importância para a ciência política, pois foi

o fundador da linha de pensamento político que centra a atenção nas

regras de funcionamento dos sistemas partidários e eleitorais como

principal elemento definidor dos resultados político-institucionais,

principalmente quando se trata da disputa eleitoral.

Sartori (1976), também segue na mesma linha, remontando sua

análise a respeito dos sistemas partidários à história das ideias e à

semântica. Ele descreve como a palavra “partida” se firmou

historicamente e toda a dificuldade em torno dessa afirmação que, na

realidade, faz parte da evolução democrática das sociedades liberais do

Ocidente. Primeiramente, ele procura diferenciar facção de partido,

mostrando como os interesses específicos das facções se contrapõem

ao bem comum que, em tese, é o objectivo final dos partidos.

Grandes pensadores políticos, como Maquiavel, Locke e

Rousseau, sempre centraram sua discussão no conflito entre os

interesses específicos e o bem comum, despreocupando-se com as

9

regras do jogo político. Para Locke, os indivíduos eram aqueles “homens

livres”, logo, uma minoria da população. Eram pessoas com interesses

comuns, daí as classes sociais, ou seja, eram grupos de pessoas com

interesses em comum e que divergiam entre si. Já para Rousseau, a

sociedade deveria ser homogênea, sem esses conflitos de interesses,

que deveriam ser resolvidos através de uma democracia directa,

impossível numa sociedade de massas.

A facção busca interesses específicos, ainda que isso leve à cisão

e a ruptura da ordem institucional, já o partido busca sempre o bem

comum buscando a unidade e preservação das instituições políticas, seja

ele qual for.

De Maquiavel até a independência dos EUA, os partidos sempre

foram mal vistos. A própria constituição americana de 1787 não previa a

existência de partidos, tratava apenas da instituição dos poderes do

Estado Executivo, Legislativo e Judiciário. Um dos axiomas do

pensamento liberal americano é que o bem comum é o equilíbrio dos

interesses específicos, e o que ele deve impedir é que um interesse

tiranize o outro. Assim, havia o receio de que o voto da maioria da

população mais pobre pudesse impedir a satisfação dos interesses dos

mais ricos e poderosos, por isso, não acreditavam em partidos2.

2 Cf. Ferreira, Dimas Éneas Soares. Acerca dos Partidos e dos Sistemas Partidários.

Disponível em <http://www.achegas.net/numero/vinteeseis/dimas_ferreira_26.htm#_edn3>.

Acesso em 30 de Abril de 2013, 7 horas.

10

1.1 CONCEITO DE PARTIDO POLÍTICO

No final do século XVIII, Edmund Burke já se referia ao partido

como "um corpo de homens que se unem, para colocar seus esforços

comuns a serviço do interesse nacional, sobre a base de um princípio ao

qual todos aderem".

Benjamim Constant, no início do séc. XIX, conceituava o partido

como "uma reunião de homens que professam a mesma doutrina

política”. Burdeau achou esse conceito excessivamente restrito, pois tal

reunião é apenas um meio necessário para a consecução de objectivos

muito mais amplos.

Duverger considera extremamente difícil uma tipologia dos partidos

e não chega a tentar uma definição. Burdeau considera inútil pretender

encontrar uma definição precisa de partido, sem situá-la, previamente,

em certa época e num determinado meio político e social. Na verdade, a

extrema variedade dos partidos torna bastante difícil a formulação de um

conceito de validade universal, devendo-se concluir em face de cada

caso concreto, e tendo em conta o respectivo sistema jurídico, se trata ou

não de partido político.

Partido político é tido, por parte da ciência política, como

organização durável e complexa, do nível nacional com vontade

deliberada de exercer directamente o poder em favor da sociedade.

Pode-se definir um partido político como uma coalizão de homens que

busca controlar o governo através das eleições, e esse controle da

máquina pública governamental é importante porque permite ao partido

ter acesso à renda, prestígio e poder. (DOWNS, 1999)3.

Assim, teoricamente esses homens devem governar para todos

para a satisfação do bem comum, não apenas para aqueles que o

elegeram. Cada político eleito deve ser responsável por suas acções

3 Cf. Ferreira, Dimas Éneas Soares. Apud.

11

pessoais perante aqueles que o elegeram ou reelegeram, mas as acções

políticas do seu governo acabam sendo determinadas pelas acções

colectivas de muitos indivíduos que ocupam os cargos públicos. Dessa

forma, nenhum político deve tomar decisões só pelas casas

parlamentares, mas pelas decisões colectivas de suas bases (DOWNS,

1999). Logo, o único caminho existente para assumir responsabilidades

públicas é através dos partidos políticos, e essa responsabilidade exige

que sejam partidos políticos coesos.

1.2 NATUREZA JURÍDICA DOS PARTIDOS POLÍTICOS

Quanto à natureza jurídica dos partidos, não há, praticamente,

divergências, estando superada a ideia de que sejam pessoas jurídicas

de direito privado. Inúmeros autores italianos atribuíram aos partidos a

natureza de entes auxiliares do Estado.

Ferreira Filho vai mais além, considerando que os partidos são

instituições, dotadas de personalidade jurídica e situadas no âmbito do

direito público interno, sendo esta a conclusão predominante entre os

modernos autores.

12

CAP. II TIPOLOGIA PARTIDÁRIA, SISTEMA DE PARTIDOS POLÍTICOS

Tendo-se afirmado no início do século XIX como instrumentos

eficazes da opinião pública, dando condições para que as tendências

preponderantes no Estado influam sobre o governo, os partidos políticos

se impuseram como o veículo natural da representação política. Em

consequência, multiplicaram-se vertiginosamente os partidos,

apresentando as mais variadas características.

Entretanto, considerando alguns dos aspectos fundamentais, é

possível fazer-se uma classificação dos Sistemas Partidários segundo

cada um desses aspectos, chegando-se à seguinte tipologia:

2.1 QUANTO À ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS PARTIDOS

Partidos de Quadros: preocupam-se com a qualidade de seus membros

do que com a quantidade deles, não buscam reunir o maior número

possível de integrantes. Preferem atrair as figuras mais notáveis,

capazes de influir positivamente no prestígio do partido ou os indivíduos

mais abastados, dispostos a oferecer contribuição económico-financeira

substancial à agremiação partidária.

Partidos de Massas: preocupam-se em buscar o maior número possível

de adeptos, sem qualquer espécie de discriminação, procuram servir de

instrumento para que indivíduos de condição económica inferior possam

aspirar às posições de governo.

2.2 QUANTO À ORGANIZAÇÃO EXTERNA

Sistemas de Partido Único: caracterizam-se pela existência de um só

partido no Estado. Pretendem que os debates políticos sejam travados

dentro do partido, não havendo, assim, um carácter necessariamente

antidemocrático nos sistemas unipartidários. Na prática, porém, o que se

13

verifica é que o partido único se prende a princípios rígidos e imutáveis,

só havendo debates quando há aspectos secundários.

Sistemas Bipartidários: caracterizam-se pela existência de dois

grandes partidos que se alternam no governo do Estado. Não se excluem

outros partidos, os quais, porém, por motivos diversos, sem qualquer

interferência do Estado, permanecem pouco expressivos, embora

possam ganhar maior significação sob o impacto de algum novo factor

social.

Os sistemas bipartidários típicos são o da Inglaterra e o dos

Estados Unidos da América, onde se tem verificado a alternância, no

comando do Estado, de duas grandes agremiações partidárias. Dois

pontos são básicos para caracterizar esse sistema: a predominância de

dois grandes partidos, sem exclusão de outros e a autenticidade do

Sistema, que deve decorrer de circunstâncias históricas, em função das

quais a maioria do eleitorado se concentra em duas grandes correntes de

opinião.

Sistemas Pluripartidários: são a maioria caracterizando-se pela

existência de vários partidos igualmente dotados da possibilidade de

predominar sobre os demais. Tem várias causas, na perspectiva de

Duverger que há duas mais importantes, que são o Fraccionamento

interior das correntes de opinião e a superposição de dualismos.

Por outro lado, verifica-se também que num mesmo povo é comum a

existência concomitante de várias opiniões quanto ao factor social

preponderante. Para uns, o mais importante é o económico, para outros,

o social ou o religioso, e assim por diante.

A cada um desses factores existe um dualismo, havendo sempre duas

posições fundamentais e opostas quanto a cada um deles.

Se houver absoluta predominância de um dualismo, forma-se um sistema

bipartidário. Entretanto, quando coexistem vários dualismos com

14

significação política semelhante, todos eles darão margem ao

aparecimento de dois partidos, havendo, portanto, a pluralidade

partidária.

2.3 QUANTO AO ÂMBITO DE ACTUAÇÃO DOS PARTIDOS

Partidos de Vocação Universal: pretendem actuar além das fronteiras

dos Estados, baseando-se à solidariedade entre seus membros numa

teoria política de carácter universal, embora aparentemente limitados a

um Estado, para se adaptarem a exigências legais, os partidos actuam

em estreita relação com os congéneres de outros Estados, havendo

unidade não só quanto aos princípios, mas também quanto aos métodos

de acção.

Partidos Nacionais: têm adeptos em número considerável em todo o

território do Estado, não é necessário que haja a distribuição uniforme do

eleitorado por todo o território do Estado, podendo ocorrer, como no caso

norte-americano, que determinado partido seja fortemente predominante

em algumas regiões e pouco expressivo em outras. O que importa é que

a soma de seus eleitores e a sua presença em todos os pontos do

Estado confiram-lhe expressão nacional.

Partidos Regionais: são aqueles cujo âmbito de actuação se limita a

determinada região do Estado, satisfazendo-se os seus líderes e adeptos

com a conquista do poder político nessa região.

Partidos Locais são os de âmbito municipal, que orientam sua actuação

exclusivamente por interesses locais, em função dos quais almejam a

obtenção do poder político municipal.

15

CAP. III SISTEMA DE PARTIDO LIDERANTE EM REGIME DITATORIAL,

MAS QUE SE PODE RECONDUZIR, NA PRÁTICA, AO SISTEMA DE

PARTIDO ÚNICO

Maurice Duverger4 foi o criador da expressão "partido dominante",

para qualificar um sistema multipartidário autêntico. Esse partido

dominante representa características como: domínio completo de outros

partidos durante um período determinado; imposição de doutrinas, ideias

à nação durante um tempo determinado; número de legislaturas durante

as quais ele detém o poder; número de votos obtidos e grande número

de lugares ocupados na assembleia; Sua disposição em votos e

assentos em relação ao partido que está na segunda posição.

Denomina-se Sistema Unipartidário, Sistema de Partido Único ou

sistema de partido dominante o sistema partidário próprio dos regimes

autoritários em que um único partido político é legal, confundindo-se com

o próprio Estado, sendo que legalmente não podem existir outros

partidos. É um partido político que detém o poder governamental embora

existam outros partidos políticos de oposição que podem legalmente

operar. Além disso, esse partido liderante é eficaz na mediada em que

concorre para sentimentos de união, força e comunhão proporcionando

desenvolvimento económico e político.

4 Originou sua carreira académica com formação jurídica e foi passando paulatinamente

para a ciência política, e também para a sociologia política. Foi professor da Faculdade de

Direito e Ciências Económicas de Paris. Sua paixão de infância foram os insetos e veria,

no direito, a possibilidade de um sistema classificatório científico. Os quadros jurídicos são

classificações artificiais, produzidos pelos homens, e por isso se diferenciavam dos

quadros zoológicos expressos nas tipologias de Linné e Cuvier. O seu objetivo era inserir

os problemas jurídicos no processo político e social mais amplo, que são sua fonte de

explicação. Seu principal objecto de estudo foi um conjunto de temas considerados

políticos, tal como os partidos, as constituições políticas, os regimes políticos, entre outros.

De entre suas obras destacam-se: Os Partidos Políticos; Ciência Política: Teoria e Método;

Sociologia Política; Os Regimes Políticos; O Regime Semipresidencialista.

16

Cientistas políticos afirmam que esse sistema partidário torna-se

rígido e menos disposto a aceitar as mudanças. É fortemente associado

com a ditadura, pois como existe apenas um partido, o poder político

concentra-se exclusivamente neste partido e por consequência, é fácil

para ele ignorar leis anteriores ou a Constituição do Estado, criando

através do partido uma ditadura.

Carvalho elucida que a República Democrática Alemã constitui

exemplo do facto em análise por demonstrar a hegemonia de um partido

que detinha o poder - o Partido Socialista Unificado5 que na verdade era

comunista. No exercício da sua política constatava-se opressão dos

outros partidos, visto ser um exercício de governação ditador6.

No sistema de partido dominante a presença de um mesmo partido

a frente de um estado por um período longo de histórico não se explica

pela força de estado, e sim pela influência política que esse partido

conquistou na sociedade. Assim a vigência de um Sistema de Partido

Dominante não equivale a negação de regime político democrático e sim

a um modo específico de funcionamento deste regime. Duverger sentiu a

necessidade da constituição deste conceito ao reflectir sobre a

predominância política do partido radical na França após desagregação

do Bonapartismo. Mas tarde aplicou esse conceito na análise de

sistemas partidários das jovens Nações africanas.

5 O Partido Socialista Unificado da Alemanha (PSUA ou SED) foi um partido político que

governou a República Democrática Alemã Oriental desde sua fundação, em 7 de Outubro

de1949, até as eleições de 18 de Março de 1990. O PSUA foi fundado em abril de 1946

mediante a unificação do Partido Comunista Alemão (KPD) e do Partido Social-Democrata

Alemão (SPD) na zona soviética de ocupação da Alemanha depois da Segunda Guerra

Mundial. O resultado foi a criação de um partido poderoso, com mais de 1.260.000 filiados. Em

Outubro do mesmo ano, foram realizadas eleições e o SED obteve quase 50% dos votos na

Alemanha Oriental. O PSUA formou em seguida a Frente Nacional da Alemanha Democrática

com a Juventude Livre Alemã, a Federação Alemã de Sindicatos Livres e as organizações

democratas-cristãs e liberais do Leste.

6 Cf.Manuel Proença de Carvalho. Manual de Ciência Política e Sistemas Políticos e

Constitucionais, 3ª ed. Lisboa, Quid Juris, 2010, p. 107.

17

O Sistema de partido liderante, dominante ou unipartidário não é

considerado um sistema verdadeiramente democrático, devido ao fato de

que um partido único representa uma escolha única para o eleitor, não

possuindo nenhuma outra opção7.

Por um lado, em alguns Estados de partido dominante os partidos

políticos da oposição estão sujeitos a diferentes graus de assédio oficial

e na maioria das vezes lidam com restrições à liberdade de

expressão (como a imprensa), acções judiciais contra a oposição, regras

ou sistemas eleitorais destinados a colocá-los em situação de

desvantagem. Por outro lado, o partido dominante usa fraude

eleitoral para manter seus votos.

As razões pelas quais um sistema de partido dominante domina

um país são frequentemente debatidas: apoiantes do partido dominante

tendem a argumentar que o seu partido simplesmente realiza um bom

trabalho no governo e a oposição propõe continuamente alterações

irrealistas ou impopulares, enquanto os apoiantes da oposição tendem a

defender que o sistema eleitoral é fraudulento ou que o partido

dominante recebe uma quantidade desproporcional de financiamentos de

várias fontes e, portanto, é capaz de montar campanhas mais

persuasivas.

7 Confirmar Wikipédia, Unipartidarismo. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Unipartidarismo >. Acesso em 30 de Abril de 2013, 10 horas.

18

3.1 A REALIDADE ANGOLANA

Durante os primeiros dezasseis anos de independência o país

viveu sob o império do partido único. Em 1991, a Lei Constitucional é

alterada e passa a admitir o multipartidarismo embora o Estado continue

a ser dominado exclusivamente pelo partido de poder. Apenas em

Setembro de 1992 é que o sistema multipartidário vai ser concretizado

com a realização das primeiras eleições pluralistas no país.

Desde então, o sistema de partidos, no país, aparece

aparentemente como um sistema fragmentado por uma imensa multitude

de pequenas formações, embora a grande política se fizesse em torno de

uma pretendida bipolarização entre o partido de poder de tendência

hegemónica e totalitária e a oposição protagonizada pelo seu parceiro de

Bicesse (Lusaka e Luena) ou colateralmente por uma ou outra formação

política (nomeadamente, por aquelas que estavam representadas no

parlamento).

Vive-se então uma espécie de partidarite que segregava a ideia de

que havia partidos políticos em excesso, de natureza parasitária, cuja

função era unicamente a absorção indevida de dinheiros públicos que

tanta falta faziam em outros sectores e áreas sociais. Por detrás disto,

ressoava a ideia de que o país podia viver sem partidos ou, pelo menos,

sem a maior parte deles, resultando na desclassificação dos partidos

políticos e, particularmente, do papel destes na democracia.

Apesar da importância atribuída aos partidos políticos nas

democracias modernas, onde jogam um papel fundamental, a mera

proclamação da democracia formal contrasta com o papel que lhes é

reservado no plano da economia política do poder em concreto no país,

onde deveriam representar, antes de mais, a materialização de um

principio fundamental que é o de permitir as pessoas partilharem de

ideias e objectivos similares de se aliarem para defenderem um

programa comum e promover uma acção conjunta.

19

A constituição angolana é clara ao definir os partidos políticos

como organizações que concorrem, através de um projecto de sociedade

e de um programa político, “para a organização e para a expressão da

vontade dos cidadãos”, quer através da vida política, quer através do

sufrágio universal (artigo 4 da Lei Constitucional). Entendendo-se o

sufrágio universal como uma das formas de expressão da soberania

popular, os partidos políticos são concebidos pela Constituição de 1992

como um dos meios dos cidadãos de participação na vida da Nação e de

exercício dessa soberania (nº 2 do artigo 3 da Lei Constitucional).

A constatação (de facto) da existência de partidos em excesso, do

seu carácter parasitário e, sobretudo, da sua condição de sorvedouros

indevidos de recursos tinha como corolário uma espécie de consenso

mole na opinião pública, segundo o qual havia que terminar com este

estado de coisas e acabar com a maior parte dos partidos políticos,

fazendo com que existissem apenas aqueles que verdadeiramente

tinham uma existência real.

Apesar desta opinião geral espelhada na acção da comunicação

social, uma série de ditos partidos políticos continuavam a beneficiar do

beneplácito do poder, continuavam a multiplicar-se e a encontrar

financiamento fácil sem que tivessem que dar provas da sua utilidade

política, enquanto aqueles que protagonizavam acções de verdadeira

oposição, dando sentido ao sistema democrático, viam aumentar os

obstáculos ao normal desenvolvimento da sua acção.

O propósito do poder sempre foi o de provocar a proliferação deste

tipo de formações para as poder manipular, fazendo delas instrumentos

de combate da oposição e de descrédito da democracia, empolado o

sistema de partidos até a sua justificada implosão.

Com a ordem decorrente da paz romana estabelecida após a

derrota militar da UNITA (2002); sinal dos tempos, a partir do pacote

legislativo de preparação da retomada da normalidade constitucional e

20

eleitoral (entendida como o retorno da vida política ao quadro e limites da

Constituição), o poder, não tendo mais necessidade destes instrumentos

de política, vai, por um lado, estabelecer uma série de mecanismos

tendentes a alterar o quadro de proliferação de partidos que antes havia

estimulado e, sobretudo, por outro, procurar fazer desaparecer ou

integrar os restantes num sistema de controlo mais eficaz, manietando a

sua capacidade de representarem uma alternativa ou de funcionarem

como marginalidade opositora em relação ao sistema de poder e de

dominação estabelecido.

Entretanto, as Eleições Legislativas de 5 de Setembro de 2008

foram pois tidas como a oportunidade de uma reconfiguração do sistema

de partidos políticos, que se veio a confirmar e que importa compreender:

Primeiramente, de uma visão panorâmica da origem do

sistema político actual e dos partidos políticos que sirva de

pano de fundo para falar;

Em segundo lugar, da sua organização em sistema e,

finalmente, verificar as mudanças assinaladas;

Em terceiro lugar e último a reestruturação do sistema de

partidos políticos.

21

CONCLUSÃO

Com vista a compreender o fenómeno político mais concretamente

o exercício do poder político, somos a considerar que o Sistema de

Partido Liderante em Regime Ditatorial, Mas que se Pode Reconduzir, na

prática, ao Sistema de Partido Único consistiu há já bastante tempo o

dilema de qualquer Estado. A República Democrática Alemã viveu este

fenómeno durante 41 anos, justamente por causa da ascensão ao poder do

partido Socialista Unificado aos 7 de Outubro de 1949, poderio que se

estendeu até às eleições de 18 de Março de 1990.

Compreendemos que é sempre um partido político que sustém a

hegemonia, a supremacia, o domínio político. Mas em contrapartida

verificámos ainda que essa prerrogativa de exercer o poder é acompanhada de

ditadura, aquela ordem que a todos impera, julga, sanciona e dissemina de

forma lenta, branda a atemporalidade do movimento líder no poder.

A permanência no exercício do poder político corrobora a ideia de

Super-Homem, Príncipe, Homem-Novo, Soberania e muitas vezes categoriza a

figura do Leviatã. E isto é inerente ao próprio homem, que se vê apreensivo em

engendrar metas, caminhos que visem a concretização de um objectivo já

preconizado.

Por um lado, essa visão é benéfica porque atiça a criatividade e mostra

aos demais que é sempre possível triunfar. Por outro lado, fomenta o

descontentamento, o dissabor, a luta desenfreada bem como impede a

afirmação de quem está na oposição.

Contudo, é necessário que haja mais abertura e transparência na gestão

do erário público, da res publica. Um sistema de partido liderante em regime

ditatorial só tem méritos quando transparece união, patriotismo e luta com

constância para afirmação do povo promovendo igualdade (não no sentido da

própria palavra) e bem-estar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA. 2010

DE CARVALHO, Manuel Proença. Manual de Ciência Política e Sistemas

Políticos e Constitucionais, 3ª ed. Lisboa, Quid Juris, 2010.

DUVERGER, Maurice. Les Partes Politiques, 10ª ed. Librairie Armand,

1976.

FERREIRA, Dimas Éneas Soares. Acerca dos Partidos e dos Sistemas

Partidários. Disponível em

<http://www.achegas.net/numero/vinteeseis/dimas_ferreira_26.htm#_edn

3>. Acesso em 30 de Abril de 2013.

WIKIPÉDIA, Unipartidarismo. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Unipartidarismo >. Acesso em 30 de Abril de

2013.