reprise 2009.04.06 - proc. penal - tribunal do júri iv

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17.07.2009 Proc. Penal – Renato Brasileiro Reprise do dia 06/04/2009 – Tribunal do Júri TRIBUNAL DO JÚRI IV 21. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS E SUA LEITURA EM PLENÁRIO De acordo com o art. 231 do CPP, a no processo penal é que a juntada de documentos pode ser feita a qualquer momento. Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do processo. Antes da reforma tínhamos duas exceções, uma delas é a do art. 479, CPP. Agora o tribunal do júri esses documentos devem ser juntados aos autos com pelo menos três dias úteis de antecedência, dando-se ciência à parte contrária. Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Imaginando que o julgamento se daria no dia 08/04/2009, uma 4ª-feira; a juntada, então deve ser feita na 6ª feira, dia 03/04/2009. Assim sendo, a mostra de filmes em plenário, por exemplo, só é possível se juntado aos autos com os três dias de antecedência. Saliente-se que não faz parte da proibição a leitura de livros técnicos, livros jurídicos.

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Page 1: Reprise 2009.04.06 - Proc. Penal - Tribunal do Júri IV

17.07.2009

Proc. Penal – Renato Brasileiro

Reprise do dia 06/04/2009 – Tribunal do Júri

TRIBUNAL DO JÚRI IV

21. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS E SUA LEITURA EM PLENÁRIO

De acordo com o art. 231 do CPP, a no processo penal é que a juntada de documentos pode ser feita a qualquer momento.

Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do processo.

Antes da reforma tínhamos duas exceções, uma delas é a do art. 479, CPP. Agora o tribunal do júri esses documentos devem ser juntados aos autos com pelo menos três dias úteis de antecedência, dando-se ciência à parte contrária.

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Imaginando que o julgamento se daria no dia 08/04/2009, uma 4ª-feira; a juntada, então deve ser feita na 6ª feira, dia 03/04/2009.

Assim sendo, a mostra de filmes em plenário, por exemplo, só é possível se juntado aos autos com os três dias de antecedência. Saliente-se que não faz parte da proibição a leitura de livros técnicos, livros jurídicos.

É possível, ainda, mostrar aos jurados a arma utilizada para a prática do delito (não é proibida, até porque via de regra ela já está apreendida), sobretudo porque ela já deve ter sido apreendida, sendo lavrado o auto de apreensão. Promotores gostam de mostrar a arma do crime aos jurados, sobretudo quando for uma faca, um bastão, uma barra de ferro, etc. STF, HC 92. 958.

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22. POSIÇÃO OCUPADA PELO MP EM PLENÁRIO

A posição a ser ocupada pelo promotor é do lado direito do juiz.

Em concurso para o MP, trata-se de prerrogativa do membro do MP, prevista na lei orgânica nacional (lei 8.625/93, art. 41, XI).

XI – tomar assento à direita dos Juízes de Primeira Instância ou do Presidente do Tribunal, Câmara ou turma.

Todavia, para uma prova da defensoria pública, e talvez até mesmo para uma prova da magistratura, a presença do MP ao lado do juiz ofende a dialética processual, e faz com que o jurado seja influenciado em seu voto (ofende a ampla defesa além de exercer influência indevida nos jurados).

23. DISSOLUÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA

Imagine que ao final do processo o advogado de defesa sustente a necessidade de realização de uma diligência durante a tréplica. Suscitada essa necessidade o juiz é obrigado a realizá-la?

Requerida pelas partes a realização de uma diligência, cabe ao juiz decidir a respeito, deferindo ou indeferindo o pedido. CPP, art. 497, XI:

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente referidas neste Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

XI – determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Se a realização da diligência for deferida pelo juiz, há duas possibilidades:

(i) Caso a diligência possa ser realizada imediatamente (ex.: acareação, reconhecimento de pessoas e coisas), deve o juiz suspender a sessão pelo tempo necessário.

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente referidas neste Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

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(ii) Caso a diligência não possa ser realizada imediatamente, deve o juiz dissolver o conselho de sentença, marcando nova data para o julgamento. Geralmente essa dissolução se dá em caso de provas periciais.

Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização das diligências entendidas necessárias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará quesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Se por acaso a realização dessa diligência for requerida pelo jurado; o juiz estaria vinculado a esse pedido?

1ª corrente: se o jurado insistir na realização da diligencia deve o juiz atendê-lo, caso contrário esse jurado não estaria habilitado ao julgamento. Tal corrente tem base no §1º do art. 480, CPP.

§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

2ª corrente: é a corrente majoritária. Compete ao juiz presidente analisar a pertinência ou não do pedido formulado pelo jurado. De acordo com essa o juiz continua decidindo. Se deixa nas mãos do jurado essa decisão, poderíamos estar dando margem a alguma manobra fraudulenta, porque o jurado querendo se abster de votar, pede a diligência.

24. SOCIEDADE INDEFESA

Interessante para provas de magistratura.

Ex.: promotor que em debates finais diz: “exmo. Jurados, o acusado e culpado e deve ser condenado”.

Essa defesa porca é admissível?

Para o MP => trata-se de independência funcional do promotor, podendo realizar de acordo com seu entendimento.

Para magistratura => a ação penal pública é obrigatória; e não deve depender da discricionariedade do órgão do MP. Caracterizada uma atuação negligente do MP, bem como

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um descaso em relação ao tribunal do júri e seus preceitos constitucionais, deve o juiz declarar a sociedade indefesa, dissolvendo o conselho de sentença e designando nova data para o julgamento. Deve, ainda, ser comunicado ao procurador geral, que deve tomar as providências correicionais.

De certa forma ele viola o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, e a própria competência do jurado que precisa ter conhecimento e explicação pela acusação quanto aos fatos, e provas colhidas.

25. QUESITAÇÃO

É o ponto mais complexo da reforma do procedimento do júri, e ainda vai gerar polêmica.

Pergunta-se: qual o sistema adotado pelo legislador brasileiro em relação à quesitação: francês ou anglo-americano?

O sistema francês caracteriza-se pela formulação de vários quesitos. Antes da lei 11.689/08 não havia dúvida alguma de que se adotava o sistema francês.

O sistema anglo-americano é o que vemos em filmes norte-americanos: uma pergunta única: “culpado ou inocente?”.

Depois a lei 11.689/08 essa discussão aqui ganha relevo pela inserção do quesito “o jurado absolve o acusado?”. Com base nesse quesito a lei brasileira quis se aproximar do sistema anglo-americano. Mas o problema é que esse quesito não é o únic; antes dele deve perguntar sobre a materialidade, a autoria, etc. e mesmo se o jurados absolverem o acusado, tem que perguntar sobre causas de aumento, e outros.

Então agora diz-se que o Brasil adota um sistema misto: continuo formulando vários quesitos, mas agora há um quesito genérico.

Isso vai ajudar muito a defesa = absolvição por motivos diversos.

Os quesitos devem ser sempre formulados em proposições afirmativas.

Quanto mais simples o quesito, melhor. Deve ser sempre de maneira afirmativa, nos termos do art. 482 do CPP:

Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e

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necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Fonte dos quesitos.

Onde o juiz deve buscar inspiração para os quesitos. Antigamente o libelo era a fonte dos quesitos.

Hoje as fontes dos quesitos são: (i) a pronúncia, (ii) decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, (iii) interrogatório do acusado (pela plenitude de defesa, se ele trouxer uma tese diferente da do advogado, deve ser quesitado), e (iv) alegações das partes.

Jurado deve ser quesitado sobre o quê?

Jurado não é quesitado sobre matéria de direito, porque se trata de leigo sem formação técnica. Então eles devem ser quesitados sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido.

Art. 484, CPP. O juiz lê os quesitos e depois questiona às partes se há alguma questão a mais. Esse é o momento adequado para eventual impugnação aos quesitos. Se quer reclamar, deve fazê-lo aqui, sob pena de preclusão; se ficar calado neste momento, não adianta tentar questionar depois.

Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o significado de cada quesito. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Por mais que o juiz indefira o pedido, é possível suscitar ela em apelação. STF, HC 87.358. Eventual impugnação aos quesitos, caracteriza nulidade relativa.

Ex.: a defesa técnica trabalha com uma tese e o acusado trabalha com outra tese; o juiz deveria fazer os dois quesitos, mas o faz tão somente em relação à tese do advogado; e o advogado não faz nada, não impugna.

Ordem dos quesitos:

Art. 483, CPP.

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

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I – a materialidade do fato; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

II – a autoria ou participação; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

III – se o acusado deve ser absolvido; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação: (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

O jurado absolve o acusado?

§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre: (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (segundo) ou 3o (terceiro) quesito, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:

I – a materialidade do fato;

Apesar de o CPP dizer que o primeiro quesito será o da materialidade, ele deve ser desdobrado em dois quesitos:

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1º quesito: Ex.: no dia ..., no local ..., a vítima foi atingida por disparo de arma de fogo sofrendo as lesões descritas no laudo de folhas ...?

Esse primeiro quesito está ligado à lesões corporais.

Caso quatro jurados respondam “não”, a votação estará encerrada, estando o acusado absolvido porque reconhecida a inexistência do fato.

É preciso questionar a respeito das lesões porque o crime de homicídio é progressivo: primeiro ocorre lesão.

2º quesito: Ex.: essas lesões corporais foram a causa eficiente da morte da vítima?

Tem por objetivo aferir o nexo causal. Saber se aquelas lesões causadas foram a causa da morte da vítima.

Caso quatro jurados respondam “não” ao segundo quesito, ocorre a desclassificação própria, passando a competência para o juiz presidente, para apreciar eventual crime de lesão corporal. No caso de homicídio tentado, a competência prossegue nas mãos dos jurados.

II – a autoria ou participação;

Ex.: O acusado foi o autor dos disparos referidos no quesito anterior?

III – se o acusado deve ser absolvido;

Ex.: o jurado absolve o acusado?

Quanto a esse surge alguns problemas; há duas correntes se digladiando quanto a esse quesito:

1ª corrente: (Rogério e LFG e Ronaldo Batista Pinto) desde que sustentadas duas ou mais teses defensivas, é indispensável a individualização das teses em quesitos próprios (ex.: negativa de autoria, legítima defesa, coação moral irresistível). Ex.: o jurado absolve o acusado em razão da legítima defesa? O jurado absolve o acusado em razão da coação moral irresistível?

Essa posição tem dois fundamentos básicos: (i) por razões recursais – se eu não individualizo o quesito, estou inviabilizando o recurso; como recorrer se não sei qual tese gerou a absolvição; (ii) em virtude das implicações civis de eventual sentença absolutória.

2ª corrente: deve prevalecer. Não é necessária a individualização desse quesito. A própria lei já traz o quesito, devendo ser feito na forma do §2º. Mais: se pergunto para o jurado se ele absolve o acusado em virtude da legítima defesa, questiona-se sobre questão de direito

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(antes a legitima defesa era desdobrado em 9 quesitos: a vitima reagiu em defesa de si ou de outrem? Foi ação proporcional? ...).

Em virtude da impossibilidade de se saber qual o motivo da decisão dos jurados, eventual sentença absolutória com base nesse terceiro quesito, não fará coisa julgada no cível.

Isso não passou batido pelos autores do anteprojeto, que já estavam preparados para essa argumentação do LFG; diziam que são muitas nulidades causadas pela formulação de quesitos deficientes; por isso optaram pela simplificação dos quesitos.

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

Ex.: semi-imputabilidade; participação de menor importância; homicídio privilegiado (relevante valor moral, social, e sob domínio de grande emoção logo após provocação da vítima).

Esse quesito deve ser individualizado.

Ex.: O acusado assim agiu por relevante valor moral (eutanásia), social (morte de traficante), violenta emoção (Ricardão)?

OBS.: É possível homicídio qualificado-privilegiado? Sim, desde que a qualificadora tenha natureza objetiva. Em outras palavras: não se pode admitir um homicídio praticado por relevante valor moral e motivo fútil; mas posso admitir relevante valor moral e emprego de veneno, por exemplo.

É quesitado primeiro o privilégio. Reconhecendo os jurados a existência de um homicídio privilegiado, automaticamente estarão afastados os quesitos referentes às qualificadoras de natureza subjetiva. Se justifica por sua incompatibilidade.

Súmula 162, STF = “é absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes”.

Apesar de estar escrito “circunstancias agravantes” a doutrina sempre leu essa súmula como “qualificadoras e causas de aumento de pena”. As teses da defesa devem sempre preceder a tese da acusação.

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

Qualificadoras (tem um novo mínimo e máximo) e causas de aumento de pena (tem um quanto de aumento), reconhecidas na pronúncia ou decisão posterior que julgou admissível a acusação.

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Ex. causas de aumento de pena: praticado contra menor de 14 ou maior de 60; aborto que resulte morte ou lesão corporal.

Esse quesito deve ser individualizado. Não basta perguntar se agiu por motivo fútil. Deve discriminar;

Ex.: o agente agiu por motivo fútil, caracterizado por uma divida de 2 reais?

Agravantes e atenuantes:

Antes da reforma: Sofremos aqui uma profunda alteração em relação à quesitação destas. Antes da lei elas eram quesitadas aos jurados; mesmo que a defesa não alegasse qualquer atenuante, havia um quesito obrigatório sobre a presença de circunstância atenuante genérica1.

Nesta esteira, veio a súmula 156, STF – “é absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito obrigatório” que era o atenuante genérico.

Depois da reforma: agravantes e atenuantes devem ser decididas pelo juiz presidente. Ou seja, já não são mais os jurados que decidem se há ou não determinada agravante, ou circunstância atenuante.

Art. 492, I, “b”, CPP.

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

I – no caso de condenação: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Para o professor Nucci, caso haja requerimento das partes, agravantes e atenuantes deverão ser quesitadas aos jurados.

OBS.: Ex.: cidadão foi denunciado por homicídio qualificado pela torpeza (matou para ficar com o dinheiro da herança). Na hora da pronúncia o juiz sumariante entendeu que não havia um único indício quanto á torpeza, pronunciando o acusado por homicídio simples (desqualificação). O mp nada fez. Na hora da quesitação poderá o juiz quesitar a qualificadora, ou é obrigado a quesitar o homicídio simples?

1 Ex.: co-culpabilidade.

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O quesito terá de ser sobre o homicídio simples. Os jurados condenam. Na hora de redigir a sentença condenatória, o juiz condena pelo crime de homicídio simples. Mas verifica-se a existência da agravante do art. 61, II, “a” do CP – crime praticado por motivo torpe.

A qualificadora estava originalmente na denuncia; não foi pronunciado. Ao final se verifica ela. Não pode o juiz incluí-la depois, como circunstancia agravante. Se a agravante também é uma qualificadora, que entre como; não pode entrar depois como circunstancia agravante.

Qualquer circunstância com previsão no art. 121, §2º, CP, deve constar da imputação desde o início, ingressando na pronúncia como qualificadora. Se essa circunstancia não foi incluída na pronúncia como qualificadora, não pode ser posteriormente reconhecida como circunstancia agravante pelo juiz presidente (STF, AIQO 540.287 – questão de ordem; HC 90.265.)

Tentativa:

O quesito da tentativa deve ser formulado após o quesito relativo à autoria. Deve ser quesitado de maneira individualizada. Ex.: o acusado deu inicio a execução de crime de homicídio que não se consumou por circunstâncias alheias a vontade dele, qual seja, intervenção de policiais?

Art. 483, §5º.

§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Desclassificação:

Muito comum em caso de dolo eventual em veiculo automotor. Pede para ser considerado crime culposo.

§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (segundo) ou 3o (terceiro) quesito, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Quando sustentada no plenário como única tese defensiva a de desclassificação para crime de competência do juiz singular, a pergunta deve ser formulada após o 2º quesito. Se no plenário a única tese da defesa é de que não foi doloso, mas culposo, não é da competência do jurado decidir isso. Então pergunta-se da desclassificação antes da absolvição.

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Se a principal tese da defesa for a de absolvição, figurando como tese secundária a de desclassificação para crime não doloso contra a vida, o q uesito correspondente deve ser incluído logo após o terceiro quesito.

Excludentes de ilicitude:

Antigamente elas eram desdobradas.

Agora, tudo entra no quesito genérico do “o jurado absolve o acusado?”.

Mas é problema nas hipóteses de excesso. Como configurar o excesso se quesita-se de forma genérica? Então:

Preenchidos todos os requisitos de uma excludente da ilicitude, deve o quesito “o jurado absolve o acusado” ser respondido afirmativamente.

Se o excesso for exculpante ou acidental (ex.: casos de medo, de pavor, que provoca o excesso), também devem os jurados responder “sim” ao quesito relativo à absolvição.

Caso haja excesso culposo, os jurados devem negar o quesito relativo à absolvição do acusado, formulando-se em seguida, outro quesito: o excesso do acusado derivou de culpa? Se os jurados respondem que não houve excesso culposo, estão reconhecendo que houve excesso doloso; prosseguindo-se a quesitação com as causas de diminuição, qualificadoras, e causas de aumento. Por outro lado, se os jurados reconhecem que o excesso foi culposo estão fazendo uma desclassificação imprópria, passando a competência para o juiz presidente.

Absolvição imprópria:

Como é que se quesita a absolvição imprópria?

Dessa absolvição imprópria resultará a aplicação de medida de segurança.

Se os jurados reconhecem a inimputabilidade, dizem que a ele deve ser aplicada a medida de segurança. A questão é; o inimputável deve ser levado ao tribunal do júri?

O inimputável só é levado a júri se houver outra tese defensiva; o problema é que ele sempre chega no júri com duas teses defensivas; ai se absolve, não se sabe se foi por legitima defesa ou por inimputabilidade.

Na hipótese de existir a tese da inimputabilidade cumulada com outra tese defensiva, deve o juiz presidente fazer o desmembramento do quesito genérico da absolvição em dois. Assim: (i) O jurado absolve o acusado? (ii) Deve ser aplicada medida de segurança ao acusado?

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26. SENTENÇA

Absolutória e condenatória.

Alguns doutrinadores dizem que essa sentença do tribunal do júri seria subjetivamente complexa. Isso porque ela envolve:

a) Opinião dos jurados que são responsáveis pela apreciação dos fatos e das circunstancias do caso concreto;

b) Entra em sua formação a opinião do juiz presidente que deve decidir questões relacionadas à aplicação da pena, agravantes e atenuantes.

Nessa sentença não há relatório.

Pelos jurados vige o sistema da intima convicção. Então não há fundamentação, salvo em relação a fixação da pena.

Juiz não tem que fundamentar porque os jurados entenderam o acusado culpado; mas deve fundamentar a aplicação da pena.

Em se tratando de sentença condenatória, detalhes importantes:

Prisão = na hora da sentença condenatória, ela só pode ser decretada se com base no art. 312. Não existe mais a prisão como efeito automático da sentença. Art. 492, I, “e”, CPP.

27. DESCLASSIFICACAO PROPRIA X DESCLASSIFICACAO IMPROPRIA

DESCLASSIFICAÇÃO PRÓPRIA DESCLASSIFICAÇÃO IMPRÓPRIA

Ocorre quando os jurados desclassificam para crime que não é da competência do júri, porém, sem especificar qual seria o delito;

Ocorre quando os jurados reconhecem sua incompetência para julgar o crime, mas indicam qual teria sido o delito praticado.

Ex.: desclassificação de tentativa de homicídio para lesão corporal – não dizem se foi leve, grave, gravíssima, culposa...;

Ex.: desclassificação de homicídio doloso para homicídio culposo;

Se os jurados não especificam o delito, o juiz presidente assume total capacidade decisória para julgar a imputação, podendo, inclusive, absolver o acusado;

Nesse caso para a maioria da doutrina, o juiz presidente é obrigado a acatar a decisão dos jurados, condenando o acusado pelo delito por eles indicado (decisão dos jurados é absoluta).

Se por acaso, na desclassificação chega a uma Infração de Menor Potencial Ofensivo (IMPO - ex.: lesão leve). Quem aplica o

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procedimento da lei 9.099?

1ª corrente: Tratando-se de infração de menor potencial ofensivo, caberá ao juiz presidente aplicar o procedimento estabelecido na lei 9.099. é texto expresso de lei tal mandamento, constante do art. 492, §1º do CPP.

A própria lei 11.689 diz:

§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Para o professor Gustavo Badaró, esse dispositivo seria inconstitucional, pois viola a competência absoluta dos juizados.

2ª corrente: pacceli. A competência dos juizados não é de natureza absoluta.

O prazo decadencial de seis meses para o oferecimento da representação deve ser contado a partir da desclassificação (foge da regra do conhecimento da autoria).

28. CRIME CONEXO E DESCLASSIFICAÇÃO.

Se houve a desclassificação, quem julga o crime conexo?