proc. resumo

41
Tutela jurisdicional executiva Obs: executar- satisfazer uma prestação devida O principal objetivo do título executivo é possibilitar que a parte vá a juízo requerendo que se promova a execução forçada para satisfação de seu crédito. Esse requerimento da atividade jurisdicional tem como fundamento a existência de um título executivo judicial. Esta provocação possibilita ao Estado se sub-rogar no patrimônio do devedor a fim de que a obrigação não cumprida por ele, e que é representada no título judicial, tenha a sua satisfação garantida. Esse é, inclusive, o objetivo primordial da execução. nulla executio sine titulo”, ou seja, não há execução sem título art.586 cpc exceção: poderá ser tomada medida executiva ainda que não haja o título disponível à parte, o que acontece na antecipação de tutela (art. 273 CPC), onde se promove a execução sem um título. Mas dizer que a execução em si será promovida sem um título é temerário. Apenas nos casos de se evitar danos irreparáveis ao credor. Classificação da execução: Quanto aos créditos: a) Execução comum b) Execução especial Quanto ao tipo de titulo a) Fundada em titulo judicial – 475 I / 475 R CPC- aquele resultante de uma atividade jurisdicional. Exceção: sentença arbitral – título judicial não resultante de uma atividade jurisdicional. A execução por título judicial é, em regra, imediata e prescinde de processo autônomo, desenvolvendo-se como fase de cumprimento da sentença, excepcionalmente será feita de forma tradicional. b) Fundada em titulo extrajudicial - é um documento ao qual a lei atribui eficácia executiva, como a nota promissória, o cheque, etc. São documentos produzidos fora do procedimento jurisdicional, aos quais a lei atribui eficácia executiva. A execução por título extrajudicial pressupõe processo autônomo, com a citação do devedor, para o cumprimento de

Upload: ckparise

Post on 01-Jul-2015

316 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: proc. resumo

Tutela jurisdicional executiva

Obs: executar- satisfazer uma prestação devida

O principal objetivo do título executivo é possibilitar que a parte vá a juízo requerendo que se promova a execução forçada para satisfação de seu crédito. Esse requerimento da atividade jurisdicional tem como fundamento a existência de um título executivo judicial. Esta provocação possibilita ao Estado se sub-rogar no patrimônio do devedor a fim de que a obrigação não cumprida por ele, e que é representada no título judicial, tenha a sua satisfação garantida. Esse é, inclusive, o objetivo primordial da execução.

nulla executio sine titulo”, ou seja, não há execução sem título art.586 cpcexceção: poderá ser tomada medida executiva ainda que não haja o título disponível à parte, o que acontece na antecipação de tutela (art. 273 CPC), onde se promove a execução sem um título. Mas dizer que a execução em si será promovida sem um título é temerário. Apenas nos casos de se evitar danos irreparáveis ao credor.

Classificação da execução: Quanto aos créditos:

a) Execução comumb) Execução especial

Quanto ao tipo de tituloa) Fundada em titulo judicial – 475 I / 475 R CPC- aquele resultante de uma atividade

jurisdicional. Exceção: sentença arbitral – título judicial não resultante de uma atividade jurisdicional. A execução por título judicial é, em regra, imediata e prescinde de processo autônomo, desenvolvendo-se como fase de cumprimento da sentença, excepcionalmente será feita de forma tradicional.

b) Fundada em titulo extrajudicial - é um documento ao qual a lei atribui eficácia executiva, como a nota promissória, o cheque, etc. São documentos produzidos fora do procedimento jurisdicional, aos quais a lei atribui eficácia executiva. A execução por título extrajudicial pressupõe processo autônomo, com a citação do devedor, para o cumprimento de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa, ou pagar determinada quantia.

Quanto a participação do executado ( tipo de providencia executiva tomada pelo magistrado)a) Execução direta - Chama-se de execução por sub-rogação aquela em que o Poder

Judiciário prescinde da colaboração do executado para a efetivação da prestação devida. O magistrado toma as providências que deveriam ter sido tomadas pelo devedor, sub-rogando-se na sua posição. Há substituição da conduta do devedor por outra do Estado Juiz, que gere a efetivação do direito do executado.

b) Execução indireta - aquela em que o Estado Juiz pode promover a execução com a colaboração do executado, forçando a que ele próprio cumpra a prestação devida. Em vez de o juiz tomar as providências que deveriam ser tomadas pelo executado, há imposição, por meio de coerção psicológica, a que o próprio executado cumpra a prestação.

Page 2: proc. resumo

Quanto a estabilidade do titulo executivo em que se funda a execuçãoa) Execução definitiva – titulo definitivo- coisa julgada material 587 cpc - é a que se

embasa em título executivo judicial que já transitou em julgado ou em título executivo extrajudicial .

b) Execução provisória - 475 O CPC - é a que se embasa em título executivo judicial que ainda não transitou em julgado. A decisão que lhe serve de título executivo ainda não é definitiva, uma vez que pende sobre ela recurso. Tal recurso, entretanto, não tem efeito suspensivo, razão pela qual o título executivo pode desde já ser executado, só que provisoriamente, pois pode ser alterado ou mesmo deixar de existir, caso seja provido o recurso. Em razão de seu caráter precário, a execução provisória apresenta peculiaridades em relação à definitiva, que visam ressarcir danos que eventualmente o devedor sofra com a execução, caso posteriormente o título executivo provisório seja reformado ou cassado. Também são provisórias as execuções de decisões judiciais de antecipação de tutela e outras interlocutórias que imponham uma obrigação para cumprimento imediato do réu.

Princípios da execução 1) Principio da efetividade - parte do pressuposto de que o processo deve dar, a quem

tenha o direito, na medida do possível, exatamente aquilo que o indivíduo tenha o direito de conseguir.

2) Principio da tipicidade - expressa a idéia de que os meios de execução devem estar previstos na lei e, assim, que a execução não pode ocorrer através de formas executivas não tipificadas.

3) Principio da boa Fe processual - tendo em vista que a execução é solo fértil para a prática de comportamentos que contrariam o princípio da boa-fé, o legislador pátrio previu um rigoroso sistema de combate à fraude na execução.

4) Principio da responsabilidade patrimonial ou de que toda execução é real – No direito brasileiro, toda execução forçada é real, pois recai exclusivamente sobre o patrimônio do devedor e não sobre sua pessoa. "Art. 591- O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo restrições estabelecidas em lei". – incide sobre o patrimônio do devedor ou do terceiro responsável e não sobre a pessoa. Obs: a CF e o CPC admitem a prisão civil do devedor inadimplente de prestação alimentícia. Essa hipótese, contudo, não configura exceção ao princípio da patrimonialidade, pois a prisão civil constitui medida de execução indireta (coerção), para induzir o adimplemento do devedor.

5) Principio da primazia da tutela especifica ou principio da maior coincidência possível ou principio do resultado – A execução deve ser específica, devendo proporcionar ao credor, na medida do possível, precisamente aquilo que obteria se não houvesse o inadimplemento do devedor. Não é dado nem ao credor exigir, nem ao devedor cumprir, prestação diversa daquela constante do título executivo. A substituição da prestação específica pelo equivalente em dinheiro, na impossibilidade de seu cumprimento, ou de sua recusa, deve ser tida como medida com caráter de excepcionalidade.

6) Principio do contraditório – na execução não se pode negar a existência do contraditório. Todavia é preciso esclarecer que nesta fase é eventual e mitigado

Page 3: proc. resumo

7) Principio da menor onerosidade da execução - toda execução deve ser econômica, isto é, deve realizar integralmente o crédito do exeqüente, mas da forma menos prejudicial possível ao devedor. O CPC, no seu art. 620, estabelece que, havendo mais de uma possibilidade de se efetivar a execução, será ela feita do modo menos oneroso para o devedor.

8) Principio da cooperação - trata da participação efetiva dos envolventes na execução, quer seja, sujeitos - passivo e ativo - , e poder jurisdicional. A participação se dá com relação ao executado quando ele indica bens a penhora, podendo também, impugnar o valor da execução.O juiz age quando busca advertir o executando quanto a prática de determinados atos que venha lesar o poder jurisdicional, (Art. 599, II, CPC).

9) Principio da proporcionalidade - tem a finalidade de criar uma execução equilibrada, ou seja, sem que cause atos injustos, demasiados ou onerosos. Também se privilegia o a dignidade da pessoa humana, a partir do momento que não permite o sacrifício  exagerado do devedor. O juiz tem autonomia na prática do princípio da proporcionalidade.

10) Principio da adequação - se revela importante na execução a partir do momento que se busca o meio mais propicio na efetivação obrigação. O artigo 461, §5º, CPC, orienta, por meio de cláusulas gerais, as melhores formas de agir ante o caso concreto. O juiz ele não está limitado ao disposto no artigo citado, tendo poder de ampliação na prática da efetividade. Na prisão civil por exemplo usa-se a coação coerciva para efetivação de uma obrigação que entende-se ser imprescindível, e não passível de demora, que é a de alimentos. A forma de coação é proporcional ao valor do bem tutelado pelo direito. Enfim, princípio adequado é aquele cuja sua análise se faz mediante dois elementos na busca de uma finalidade, ou seja, no exemplo citado, temos a sanção imposta, ante o pagamento, cuja finalidade é cumprimento de certa obrigação.

OBS: PRINCIPIOS COMENTADOS EM SALA: Princípio do Respeito à Dignidade Humana: “a execução não deve levar o executado

a uma situação incompatível com a dignidade humana”. A execução não pode levar o devedor a ruína, a fome, ao desabrigo, razão pela qual há previsão no código de impenhorabilidade de certos bens como salário, instrumentos de trabalho, etc. (art 649, CPC).

Princípio da Disponibilidade da Execução: o credor tem a faculdade de desistir da execução ou de apenas algumas medidas executivas (art 569, CPC) como a penhora de determinado bem ou a alienação de outro.

Mérito na execução Obs: Não há julgamento de mérito mas resposta de mérito -

Extinção normal de execução ( somente esta faz coisa julgada material) art. 794 cpc – somente nas hipóteses deste artigo, podendo ser objeto de ação rescisória

Extinção anormal ou anômala – 267 cpc DA COMPETÊNCIA NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

O Código de Processo Civil regula de maneira diversa a competência na execução forçada, conforme o título executivo seja judicial ou extrajudicial; mesmo se

Page 4: proc. resumo

tratando de títulos judiciais, há variações de competência, de acordo com os tipos de sentença a executar.

Fundamentalmente, a competência está regulada no art. 475-P, quando a execução for baseada em título judicial, e no art. 576, quando fundada em título extrajudicial.A competência pode ser absoluta ou relativa, dependendo da hipótese. Em qualquer processo executivo, a incompetência absoluta deverá ser conhecida de ofício pelo juiz, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (art. 598 c/c art. 113); a relativa terá de ser argüida mediante exceção, no prazo para propositura de embargos do devedor (art. 742 e art. 598 c/c art. 112).

Via de regra, a competência será absoluta nas hipóteses descritas no art. 475-P, I e II, tendo em vista o critério adotado para a fixação da competência ser o funcional. Nos demais casos, em razão do critério adotado ser o territorial, a competência será relativa.

Vejamos a análise, em separado, de cada hipótese.

Competência na execução por título judicial

Dispõe o art. 475-P, do CPC:

“Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se perante:

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória,

de sentença arbitral ou de sentença estrangeira.Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exeqüente poderá

optar pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.”

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;

Os processos chegam aos Tribunais em duas circunstâncias distinta: a) como conseqüência de recurso, que faz a causa ascender do juízo de primeiro grau para o reexame do Tribunal; ou b) por conhecimento direto do Tribunal, em razão de ser a causa daquelas que se iniciam e findam perante a instância superior. No primeiro caso, a competência do Tribunal será recursal, no segundo caso será originária.Em matéria de competência da execução de sentença é irrelevante que o feito tenha tramitado pelo Tribunal em grau de recurso, nem mesmo importa o fato de ter o Tribunal reformado a sentença de primeiro grau. Ele será competente para executar a sentença somente nas causas em que processou e julgou de forma originária. Nos demais casos, de competência recursal, o cumprimento se dará perante o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição, hipótese do inciso II do art. 475-P.São exemplos de causas de competência originária dos tribunais: ação rescisória, e; ação movida pela União em face de um Estado da Federação, que é proposta diretamente no Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, f).

Page 5: proc. resumo

II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;

A regra fundamental é que a execução da sentença compete ao juízo da causa e, como tal, entende-se aquele que a aprecia em primeira ou única instância, ou seja, juízo da causa é o órgão judicial perante o qual se formou a relação processual ao tempo do ajuizamento do feito. A competência, neste caso, não se liga à pessoa física do juiz, como deixa claro este inciso, mas sim ao órgão judicial que ele representa. Por isso são irrelevantes eventuais alterações ou substituições da pessoa do titular do juízo.O parágrafo único do art. 475-P trouxe uma importante novidade com relação à competência para a execução de sentença. Antes da lei 11.232/2005, só havia possibilidade de a execução processar-se perante o juízo onde a sentença foi proferida; agora surgiu a possibilidade de o credor optar por três foros concorrente, à sua escolha: do juízo onde foi proferida a sentença, do local onde se encontram os bens sujeitos à expropriação ou do atual domicílio do executado. A competência continua sendo absoluta, mas há três opções para o credor, ou seja, o credor poderá formular o requerimento de execução em três foros concorrentes. Não se trata de eleição de foro, mas tão-somente de opção, pelo credor, entre os foros concorrentes estabelecidos em lei.Caberá ao exeqüente formular requerimento ao juízo de origem, que ordenará a remessa dos autos. A inovação é de ordem prática, na medida que visa evitar a multiplicidade de cartas precatórias entre dois juízos, pois os próprios autos do processo serão deslocados de um juízo para o outro. Feita a solicitação ao juízo de origem, este só poderá recusar a remessa dos autos se verificar que não estão preenchidos os requisitos do art. 475-P, parágrafo único, do CPC, caso em que deverá suscitar conflito positivo de competência.* Na execução de alimentos, há ainda a possibilidade do credor/alimentando optar pelo foro do seu próprio domicílio (art. 100, II, CPC).

III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira.

Como regra geral, as três hipóteses descritas nesse inciso tratam-se de competência relativa e territorial, regidas pelas regras comuns da ação de conhecimento, reguladas nos art. 94 a 100, do CPC.A sentença penal condenatória torna certo o dever de reparar civilmente o dano provocado pelo delito. Desta forma, a vítima ou seus dependentes podem utilizar a sentença penal diretamente como título executivo, não havendo necessidade de propor ação civil indenizatória contra o réu condenado na esfera penal.Como o juízo penal não é competente para a execução civil, esta será fixada entre os juízos cíveis, dentro das regras comuns de competência do processo de conhecimento. Será competente para a execução, o juízo que seria competente para a ação condenatória, caso tivesse que ser ajuizada. Desta forma temos a competência geral do foro do domicílio do réu, além da regra do forum delicti commissi, ou seja, o do lugar do ato ou fato, por força do disposto no art. 100, V, a, do CPC. Ainda no caso de acidente de trânsito, temos a faculdade do parágrafo único do art. 100, ou seja, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato, à escolha do ofendido.Quanto a sentença arbitral, também trata-se de competência territorial e relativa, igualmente regida pelos art. 94 a 100 do CPC. A sentença arbitral não está mais, como antigamente, sujeita à homologação pela jurisdição. A execução, no entanto, caberá ao

Page 6: proc. resumo

juízo cível que teria competência para julgar a causa, se originariamente tivesse sido submetida à apreciação pelo Poder Judiciário. No entanto, nada impede que, no compromisso arbitral, as partes elejam o foro para a execução da sentença dos árbitros, o que de fato, na prática, é extremamente comum.Por fim, a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, será executada perante a justiça federal de primeira instância, na forma do art. 109,X, da CF. Para a definição do foro competente, aplicar-se-ão as regras gerais de competência (art. 94 a 100).

Competência na execução por título extrajudicial

A competência para a execução de título extrajudicial vem disciplinada no art. 576 e deverá ser apurada de acordo com as regras gerais de competência estabelecidas no CPC para o processo de conhecimento (Livro I, Título IV, Capítulos II e III).

Prevalece de forma ordinária o critério do foro do domicílio do devedor. Contudo há regras especiais previstas nos arts. 111, caput, 2ª parte, e art. 100, IV, d, onde se estabelece a prevalência do foro de eleição e do lugar do pagamento, sempre que tais previsões constarem do título a executar.

Para fixar, então, a competência para a ação de execução fundada em título extrajudicial deve-se observar a seguinte ordem de preferência: 1) foro de eleição; 2)lugar do pagamento; 3) domicílio do devedor.

Em virtude de as regras de fixação de competência comum presumirem-se feitas a benefício do credor, é permitido ao mesmo dispensar a cláusula de eleição de foro ou de lugar do pagamento, para preferir o ajuizamento no foro do domicílio do réu, que, por sua vez, não poderá recusar a escolha porque só benefício lhe proporciona. Poderá, é claro, opor-se quando, in concreto, o desvio do foro de eleição acarretar-lhe comprovado prejuízo.

Competência para a execução fiscal

Na execução fiscal devem ser observadas as regras específicas do art. 578 do CPC, que estabelece a competência do foro do domicílio do réu; se não o tiver, no de sua residência ou no lugar onde for encontrado. Se vários forem os devedores, a execução fiscal poderá ser proposta no domicílio de qualquer um deles.

O parágrafo único do art. 578 estabelece que a ação poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou ocorreu o fato que deu origem à dívida, embora nele não mais resida o réu, ou no foro de situação dos bens, quando a dívida destes originar-se. Trata-se de hipótese de foros concorrentes.

CONDIÇÕES DA AÇÃO EXECUTIVA

Constituindo-se a execução forçada uma forma de ação, o seu manejo sofre subordinação aos pressupostos processuais e às condições da ação, tal como se passa no processo de conhecimento. A relação processual há de ser validamente estabelecida e validamente conduzida até o provimento executivo final, para o que se reclamam a capacidade das partes, a regular representação nos autos por advogado, a competência do órgão judicial e o procedimento legal compatível com o tipo de pretensão deduzida

Page 7: proc. resumo

em juízo. Da mesma forma, necessário, na ação de execução, a presença das condições da ação (legitimidade de parte, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido).

Possibilidade jurídica do pedido

Assim como na ação de conhecimento, na execução também é necessário que a pretensão do autor não contrarie o ordenamento jurídico. Não é possível, por exemplo, que se ajuíze execução por quantia certa, postulando penhora e expropriação de bens, tendo por ré a Fazenda Pública; ou que se ajuíze ação que tenha por objeto obrigação de fazer ilícita, como matar alguém ou comercializar substância entorpecente.

Interesse de agir

É formado pelo binômio necessidade e adequação. Para que o credor de uma obrigação possa valer-se da execução, é preciso que ela seja indispensável para satisfazer seus interesses. Não haverá, portanto, interesse se o devedor satisfizer espontaneamente a obrigação; é preciso que haja o inadimplemento. Daí resultam fundamentais as regras de direito material, a respeito do termo de cumprimento das obrigações. Para aquelas que têm data certa de vencimento, o devedor estará inadimplente automaticamente, tanto que seja ultrapassada a data indicada, sem que ele tenha cumprido a sua obrigação. Quando a obrigação não tem termo certo de vencimento, é preciso constituir o devedor em mora, notificando-o para que a cumpra. Ademais, quando a obrigação for sujeita a condição, há necessidade que a condição tenha ocorrido para que o credor possa pleitear sua execução (art. 572).

Legitimidade ad causam

Tal como no processo de conhecimento, só pode ir a juízo solicitar o provimento jurisdicional aquele que tenha legitimidade. Os art. 566 a 568 do CPC estabelecem quais são os legitimados para promover a execução, e em face de quem ela deve ser ajuizada.

DAS PARTES

Na conceituação técnica do direito processual, partes no processo de execução são as pessoas que pedem ou em face das quais se pede a tutela jurisdicional do Estado. A sua identificação tem como parâmetro a demanda concretamente posta em juízo. Os art. 566 a 568 do CPC trazem a disciplina sobre quem pode figurar como sujeito ativo e passivo no processo de execução.

Nomenclatura

No processo de execução atribui-se a parte ativa a denominação de exeqüente e à parte passiva executado. No entanto, o código de processo civil, prefere denominá-los simplesmente de credor e devedor.

Legitimação Ativa

Page 8: proc. resumo

Dispõe os art. 566 e 567 do CPC:

“Art. 566. Podem promover a execução forçada:I – o credor a quem a lei confere título executivo;II – o Ministério Público, nos casos prescritos em lei.”

“Art. 567. Podem também promover a execução, ou nela prosseguir:I – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte

deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo;II – o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi

transmitido por ato entre vivos;III – o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.”

Cabe inicialmente fazer a distinção entre legitimação ordinária e extraordinária. Em tema de legitimação vigora em nosso sistema regra geral segundo a qual deve ser reproduzido, no processo, o elenco subjetivo da relação jurídica material. No que se refere especificamente ao demandante, estabelece o CPC, no art. 6º, que “ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei”. É a legitimação ordinária, que se contrapõe à extraordinária, aquela em que alguém fica autorizado por lei a, em nome próprio, demandar em juízo direito de outrem. Regula o art. 566 hipótese de legitimação ordinária, no seu inciso I, e legitimação extraordinária, no seu inciso II.

A legitimação ordinária pode ser ainda originária ou superveniente. O art. 566, I, do CPC elenca hipótese de legitimação originária, na medida que dispõe as pessoas que fazem parte do título executivo de forma primitiva. Já o art. 567 regula hipóteses de legitimação ativa superveniente, arrolando os casos em que estranhos à formação do título executivo tornaram-se, posteriormente, sucessores do credor, assumindo, por isso, a posição que lhe competia no vínculo obrigacional primitivo. A modificação subjetiva da lide pode ocorrer tanto antes como depois de iniciada a execução forçada, e os fatores determinantes da sucessão tanto podem ser causa mortis como inter vivos, sendo ainda indiferente que o título executivo transmitido seja judicial ou extrajudicial.

Legitimação ativa originária do credor: compete promover a execução, em primeiro lugar, ao credor “a quem a lei confere o título executivo”. A força executiva atribuída aos títulos de crédito decorre de lei. A legitimação das partes, por sua vez, será extraída, quase sempre, do próprio conteúdo do título. Assim, no título judicial, credor será o vencedor da causa, como tal apontado na sentença. No título extrajudicial, será a pessoa em favor de quem se contraiu a obrigação.

Legitimação ativa extraordinária do Ministério Público: estabelecida no art. 566, II, do CPC. A legitimidade do Ministério Público é extraordinária, porque ele não ajuíza execução em defesa de um interesse próprio, mas de interesse alheio, cuja defesa é atribuição de lei. São exemplos de legitimação ativa extraordinária do MP: a execução de sentença condenatória proferida em ação popular, se em sessenta dias outro cidadão não o fizer (Lei 4.717/65, art. 16); execução de sentença condenatória obtida em processo coletivo que teve como autor algum dos outros legitimados do art. 82 do CDC, quando, decorrido o prazo de um ano, não houve “habilitação de interessados em

Page 9: proc. resumo

número compatível com a gravidade do dano” (CDC, art. 100, caput); execução de sentença condenatória obtida por ação civil pública, quando decorridos sessenta dias sem que a associação autora lhe promova a execução (Lei 7.347/85, art. 15), etc.

Legitimação ativa derivada ou superveniente: como dito anteriormente vem regulada no art. 567 do CPC, em três incisos, que serão abordados separadamente para melhor entendimento da matéria.

Espólio, herdeiros e sucessores: o art. 567, I, atribui legitimidade ativa às pessoas que não participaram da formação do título executivo, mas tornaram-se sucessoras do credor por ato causa mortis. Por herdeiro deve-se entender quem sucede ao autor da herança, a título universal, ou seja, recebendo toda a massa patrimonial do de cujos, ou uma quota ideal dela, de modo a compreender todas as relações econômicas deixadas, tanto ativas como passivas. E por sucessor simplesmente, tem-se o legatário, que sucede o de cujos a título singular, sendo contemplado, no testamento, com um ou alguns bens especificados e individuados. Desta forma, ocorrendo a sucessão por morte, a legitimidade passará ao espólio, enquanto não ultimado o inventário com a partilha de bens, ou aos herdeiros do credor, após a efetivação da partilha. O espólio será representado pelo inventariante nomeado pelo juiz, exceto se o inventariante for dativo, caso em que a representação será feita por todos os herdeiros (art. 12, §1º, CPC).

Cessionário: é o beneficiário da transferência negocial de um crédito por ato inter vivos, oneroso ou gratuito. Para que haja a transferência negocial do crédito é preciso que a isso não se oponham a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção entre as partes (CC, art. 286). Casos mais comuns de cessão são os de endosso dos títulos cambiais, que se regem por legislação específica e cuja circulabilidade é ampla e da própria natureza das obrigações neles corporificadas. Para execução forçada, o cessionário, além de exibir o título executivo, terá o ônus de demonstrar a cessão, a fim de legitimar-se à causa.

Sub-rogado: pela sub-rogação, o terceiro que paga a dívida ao credor assume o direito de cobrá-la junto ao devedor, ou seja, por sub-rogado entende-se aquele que satisfaz obrigação alheia e, com isso, assume a posição jurídica do antigo credor. Os arts. 346 e 347 do Código Civil enumeram, respectivamente, as hipóteses de sub-rogação convencional ou legal. Haverá sub-rogação legal do credor que paga dívida do devedor comum, do fiador (art. 595, parágrafo único, CPC) e do avalista que pagam a dívida do devedor principal e, haverá sub-rogação convencional quando um terceiro quita a obrigação e o credor expressamente lhe transfere todos os seus direitos, ou ainda quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. Legitimação Passiva

Dispõe o art. 568 do CPC:

“Art. 568. São sujeitos passivos na execução:I – o devedor, reconhecido como tal no título executivo;II – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;

Page 10: proc. resumo

III – o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo;

IV – o fiador judicial;V – o responsável tributário, assim definido na legislação própria.”

Também na legitimidade passiva temos a diferenciação entre legitimidade ordinária originária e derivada, assim como a figura do responsável pela dívida, qual seja o fiador judicial e o responsável tributário.

Legitimidade passiva ordinária originária (devedor): quem figura como devedor no título executivo, submeter-se-á ao processo de execução no pólo passivo. Exemplos: o condenado na sentença civil ou penal; o sacado na duplicata; o emitente do cheque; o inscrito em dívida ativa, etc.

Legitimidade passiva ordinária derivada: regulada no art. 568, II, do CPC, consiste na legitimidade passiva superveniente/derivada do espólio, dos herdeiros ou do sucessor do devedor. A morte é o fim natural da pessoa humana e com ela se extingue também a personalidade e a capacidade jurídica, transmitindo-se direitos e obrigações do de cujos aos sucessores legais. Enquanto não efetuada a partilha, o espólio figurará como legitimado passivo, representado pelo inventariante. Efetivada a partilha, desaparece a figura do espólio e cada herdeiro individualmente responderá pelas dívidas do de cujos, “na proporção da parte que na herança lhe coube” (art. 597). Se a execução já estiver em curso quando ocorrer o óbito do devedor, sua substituição pelo espólio ou pelos sucessores, dar-se-á através de habilitação incidente, com observância dos arts. 43 e 1.055 a 1.062, do CPC, suspendendo-se o processo pelo prazo necessário à citação dos interessados. Ocorrendo a morte antes do início da execução, esta será ajuizada diretamente contra o espólio, representado pelo inventariante, se ainda não houver partilha. Se já houver partilha ou o inventariante for dativo, a execução será ajuizada contra os herdeiros. Por fim, temos a legitimidade passiva das pessoas jurídicas nos casos de sucessão de empresas, em situações como as de incorporação, fusão e cisão, as quais provocam a transferência universal de direitos e obrigações. Desta forma, as empresas sucessoras podem ser executadas pelas dívidas constantes de títulos executivos das empresas extintas ou sucedidas, observando-se o limite do patrimônio absorvido pela empresa sucessora.

Legitimidade passiva do novo devedor: outra hipótese de legitimação passiva derivada está prevista no art. 568, III, ou seja, cessão de débito ou assunção de dívida por terceiro. No direito material brasileiro é indispensável a concordância do credor para que se dê a cessão da posição passiva na relação obrigacional, ainda que tal transferência possa ocorrer sem o consentimento do devedor originário (art. 299, caput, do CC); essa diretriz está refletida na regra processual. No entanto, não há necessidade que tal consentimento seja prévio, nem concomitante ao negócio translatício. Pode ser posterior (art. 299, parágrafo único) e, às vezes, até mesmo tácito ou presumido (303, do CC).

Fiador judicial: é o terceiro que, no curso de um processo, compromete-se perante o juízo a garantir obrigação que, eventualmente, venha a ser imposta a uma das partes naquela relação processual (art. 826 e seguintes do Código). O fiador judicial responde pela execução sem ser obrigado pela dívida e a execução contra ele não depende de

Page 11: proc. resumo

figurar o seu nome na sentença condenatória. É garantido ao fiador judicial o benefício de ordem (art. 828, II, CC), bem como uma vez solvendo a dívida, terá direito de regresso contra o devedor, sub-rogando-se nos direitos do credor e legitimando-se a propor execução forçada contra o afiançado, nos mesmos autos (art. 595, parágrafo único).

Responsável tributário: este sujeito passivo da execução é específico da legislação fiscal e consta no rol do art. 568 devido à unificação da execução forçada procedida pelo Código de 1973, de forma a abranger também a cobrança de dívida ativa da Fazenda Pública. Com o advento da Lei 6.830, de 22.09.1980, no entanto, fixou-se procedimento especial para a execução da dívida ativa, através dos executivos fiscais, desta forma, o CPC será aplicado apenas subsidiariamente. O responsável tributário é a pessoa ligada ao fato gerador e que responde pelo pagamento do tributo caso o devedor não o pague; sua obrigação decorre expressamente de disposição de lei. O Código Tributário Nacional traçou as linhas gerais da responsabilidade tributária nos arts. 128 a 138, as quais são completadas pela legislação específica de cada tributo em vigor no País.

Pluralidade de partes na Execução (litisconsórcio) - Na execução é possível a formação de litisconsórcio ativo, passivo e misto, seja o título judicial ou extrajudicial. Normalmente o litisconsórcio na execução é facultativo, uma vez que não são usuais as hipóteses em que a execução tenha de ser necessariamente movida em face dos vários devedores ou requerida por todos os credores. No entanto, se a obrigação for indivisível e tiver que ser cumprida conjuntamente pelos devedores, o litisconsórcio será necessário. Mas tais situações são excepcionais, pois a regra é que na execução o litisconsórcio será sempre facultativo.

Intervenção de terceiros

Considerada a natureza da ação de execução, que se caracteriza por buscar solução para crise de cumprimento da norma concreta e não para a sua identificação, não se mostram com ela compatíveis os institutos da intervenção de terceiros, como a oposição, a nomeação à autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao processo. Tais institutos são típicos do processo de conhecimento, já que intimamente relacionados com a atividade jurisdicional destinada a obter, por sentença, a solução para as crises de identificação do preceito normativo concretizado. Por outro lado, a figura do assistente é conciliável com o processo de execução, mas sendo raros os casos em que se configura o interesse jurídico ensejador da intervenção assistencial. Configura hipótese de assistência a que decorre do art. 834 do Código Civil: a intervenção do fiador ou do abonador, para promover o andamento do processo, retardado, sem causa, pelo credor.

DOS REQUSITOS NECESSÁRIOS PARA A EXECUÇÃO “No processo de execução não haverá discussão acerca da efetiva existência do direito; não se ouvirão – senão pela propositura de ação incidental de embargos – os argumentos do réu, no que tange ao mérito. O mesmo ocorre na fase de cumprimento da sentença: as poucas defesas relativas ao mérito que o executado pode suscitar precisam ser apresentadas mediante incidente de “impugnação” ao cumprimento da sentença. Para concretizar a sanção, o Estado intromete-se no patrimônio do devedor, independentemente de sua concordância, ou impõe-lhe meios coercitivos, de pressão

Page 12: proc. resumo

psicológica. Em suma, a execução é bastante rigorosa para quem nela figura como executado. Bem por isso, impõem-se à execução requisitos especiais”1.

A admissibilidade da execução forçada exige a ocorrência de dois requisitos básicos e indispensáveis, que são: I – o inadimplemento do devedor, que constitui requisito material, regulado nos arts. 580 e seguintes, do CPC, e; II – o título executivo, judicial ou extrajudicial, requisito formal, regulado pelos arts. 475-N e 585, respectivamente. Ademais, como conseqüência direta da existência de regime geral comum para a atividade jurisdicional cognitiva e executiva, aplicam-se ao processo de execução e à fase de cumprimento de sentença as regras sobre pressupostos processuais e condições da ação (arts. 2º, 3º, 6º, 267, 301) previstas no Livro I do CPC, verificadas na aula passada.

→ DO TÍTULO EXECUTIVO - Juntamente com o inadimplemento do devedor, o título executivo é considerado por lei requisito indispensável para qualquer execução (nulla executio sine titulo). Título executivo é cada um dos atos jurídicos que a lei reconhece como necessário e suficiente para legitimar a realização da execução. Assim, só será título executivo aquele ato jurídico que a lei qualificar como tal. Há numeração exaustiva dos títulos executivos no ordenamento, ou seja, não é facultado as partes criar novos títulos executivos. O rol legal dos títulos executivos é numerus clausus Eles somente decorrem de expressa disposição de lei. Registre-se, no entanto, que existem títulos executivos previstos fora do Código de Processo Civil, em legislação esparsa, o que não descaracteriza a taxatividade legal. São classificados em títulos executivos judiciais, regulados no art. 475-N e, títulos executivos extrajudiciais, enumerados no art. 585, todos do CPC.

a) Requisitos do título executivo - Não basta a presença do título. Dispõe o art. 586, do CPC: “A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.” Ainda o art. 618, I, do CPC, comina de nulidade a execução, sempre que não preencher esse requisito (Art. 618: “É nula a execução: I – se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível”). Não se trata, propriamente, de nulidade, mas de verdadeira carência de execução. A ausência dos requisitos do título executivo constitui matéria de ordem pública, argüível a qualquer tempo, podendo ser conhecida de oficio pelo juiz.

a.1) Certeza: quando a lei impõe, como condição para executar, que o título traga a representação de obrigação certa, não está exigindo certeza quanto à existência do direito; a certeza da obrigação refere-se à exata definição de seus elementos. Ou seja, o título executivo retratará obrigação certa, quando nele estiver estampada a natureza da obrigação (obrigação de entregar, fazer ou não fazer), o seu objeto (entregar o quê; fazer o quê; não fazer o quê) e os seus sujeitos (credores e devedores). O fato de a obrigação ser alternativa (aquela onde há escolha da prestação entre duas ou mais, pelo credor ou devedor - art. 571, CPC), ou para entrega de coisa incerta (art. 629, CPC), não afeta o requisito em comento, pois o conteúdo da obrigação é identificável.

a.2) Liquidez: a liquidez refere-se ao quantum debeatur, isto é, à quantidade de bens que são objeto da obrigação a ser cumprida pelo devedor. É líquida a obrigação contida no título quando, de sua leitura, ou pela simples realização de cálculos aritméticos, possa apurar-se a quantidade de bens devidos.

1 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil V. 2. 10ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 61.

Page 13: proc. resumo

a.3) Exigibilidade: estará satisfeito o requisito da exigibilidade se houver a precisa indicação de que a obrigação já deve ser cumprida, seja porque ela não se submete a nenhuma condição ou termo, seja porque estes inequivocamente já ocorreram ou estão demonstrados.

b) Títulos executivos judiciais - Dispõe o art. 475-N, do CPC: “São títulos executivos judiciais:

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; Ao contrário da sentença civil, a sentença criminal só constitui título executivo depois de transitada em julgado, em razão do princípio da presunção de inocência do réu (art. 5º, LVII, da CF). Assim, não há que se falar em execução provisória de sentença penal. Deverá haver a liquidação prévia do quantum debeatur, uma vez que a sentença penal só torna certo o dever de indenizar, mas não fixa o valor da indenização. De outra banda, a sentença penal só pode ser executada contra aquele que foi condenado na ação penal, jamais contra terceiros. Assim, nos casos em que a lei reconhece a responsabilidade civil dos pais por ato do filho menor, ou do patrão por ato do empregado, é necessário o ajuizamento prévio de processo de conhecimento visando a indenização, onde figure no pólo passivo o terceiro responsável, para que se forme o título executivo em relação ao mesmo.

Em suma, para execução civil da sentença penal, exigem-se os seguintes requisitos: a sentença criminal deve ser definitiva, de maneira que as sentenças de pronúncia, que

mandam o réu ao julgamento perante o tribunal do júri, nenhuma conseqüência têm no tocante à execução civil;

a condenação criminal há de ter transitado em julgado, de maneira que não cabe, na espécie, a execução provisória;

a vítima deve, preliminarmente, promover a liquidação do quantum da indenização a que tem direito. Em atenção ao parágrafo único do art. 475-N, haverá a citação inicial do devedor no processo executivo.

III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; A sentença de homologação de conciliação ou transação, de que fala o art. 475-N, III, refere-se a negócio jurídico estabelecido entre as partes para pôr fim a processo pendente. A transação devidamente homologada equipara-se à sentença de mérito da causa (art. 269, III, CPC). O mesmo ocorre com a conciliação das partes em audiência, reduzida a termo e homologada pelo juiz, tem força de sentença (art.449, CPC).

IV – a sentença arbitral; A sentença arbitral é título executivo por força de lei. Está regulada nos arts. 23 e seguintes da Lei n. 9.307/96, não há necessidade de ser homologada pelo Judiciário e será executada em processo autônomo, com a citação inicial do executado. Estabelece o art. 31 da Lei da Arbitragem: “A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.”

V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;

VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; A Emenda Constitucional n. 45/2004 modificou o dispositivo constitucional que atribuía ao Supremo

Page 14: proc. resumo

Tribunal Federal a homologação das sentenças estrangeiras, transferindo essa competência para o STJ.

VII – o formal de partilha e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal. Transitada em julgado a homologação da partilha extrai-se o formal de partilha ou certidão de partilha, espécie de carta de sentença que indicará os bens que couberam a cada herdeiro. Nos pequenos inventário ou arrolamentos, quando o quinhão resultante da sucessão hereditária não ultrapasse cinco vezes o salário mínimo, “o formal de partilha poderá ser substituído por certidão” (art. 1.027, parágrafo único).

c) Títulos executivos extrajudiciais - “Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:

I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; Este primeiro inciso refere-se aos títulos de crédito aos quais a lei atribui força executiva. São os chamados títulos cambiais ou cambiariformes. Pertence ao direito material a regulamentação dos modos de criar e formalizar esses títulos, bem como de fixar a responsabilidade e as obrigações deles decorrentes.

II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;Este inciso faz referência a três hipóteses de títulos executivos extrajudiciais: 1º - Por escritura pública ou documento público entende-se o lavrado por um tabelião ou funcionário público, no exercício de suas funções. 2º - Toda e qualquer declaração, na qual o devedor reconheça a existência de uma obrigação, terá força executiva, se vier subscrita por duas testemunhas. 3º - Instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores: trata-se de transação extrajudicial, não homologada pelo juiz, porque a que foi homologada pelo juiz constitui título executivo judicial, como visto anteriormente.

III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;Hipoteca, penhor e anticrese são direitos reais de garantia, tratados pelo Código Civil. Pressupõe uma obrigação principal, cujo cumprimento é por eles garantido. A hipoteca recai sobre bens imóveis, o penhor sobre bens móveis e a anticrese recai sobre os frutos e rendimentos de um imóvel. A palavra caução é de significado amplo e no seu sentido lato, significa garantia que o devedor oferece ao credor. E como tal, abrange as garantias reais e a pessoal. Diz-se, portanto que a garantia pode ser real (hipoteca, penhor e antricrese) ou fidejussória (fiança). Como as garantias reais vêm especificadas no inciso, ao constar da redação a palavra caução, o dispositivo abrangeu também o contrato de fiança. Por fim, é também título executivo o seguro de vida. Registre-se que a lei 11.382/2006 alterou este dispositivo, uma vez que anteriormente também era previsto como título extrajudicial o seguro de acidentes pessoais de que resultasse morte ou incapacidade. Com a reforma, a força executiva ficou limitada ao contrato de seguro de vida.

IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio; Foro e laudêmio são créditos decorrentes do contrato de enfiteuse. O foro é uma prestação anual que o enfiteuta, titular do domínio útil, paga ao titular da propriedade pura; laudêmio é o pagamento devido pelo enfiteuta quando transfere o domínio útil. O Código Civil de 2002 (art. 2.038) proibiu a constituição de novas enfiteuses, mantidas as já existentes até à sua extinção e reguladas pelo CC de 1916.

Page 15: proc. resumo

V – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; Certidão de dívida ativa é o título que deve embasar a execução fiscal, regulada pela Lei 6.830/80.

VIII – todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.Um número significativo de diplomas legais atribui força executiva a títulos extrajudiciais. Dentre outros podemos citar: cédula de crédito industrial e rural, de crédito comercial, contrato de alienação fiduciária em garantia, além dos honorários advocatícios, que veremos a seguir.

Estabelece o art. 24 da Lei n. 8.906/94 que o contrato escrito que estipular honorários advocatícios é título executivo extrajudicial. Não se pode confundi-lo com aqueles honorários nos quais o sucumbente é condenado no processo. Os honorários de sucumbência serão fixados na sentença e podem ser executados nos mesmos autos, constituindo título executivo judicial. Não é necessário que o contrato de honorário venha firmado por duas testemunhas, nem que tenha qualquer outra formalidade, mas é preciso que seja líquido. Para a execução do contrato, é preciso que o advogado o faça acompanhar das provas de que o serviço foi efetivamente prestado.

d) Títulos estrangeiros - O título executivo judicial estrangeiro só adquire força no território nacional depois de homologado pelo STJ, conforme abordado anteriormente (art. 475-N, VI, do CPC). Com relação aos títulos executivos extrajudiciais estrangeiros, dispõe o parágrafo segundo do art. 585: “Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para serem executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação.” Se a língua utilizada na redação do título não for o português, deverá ele ser traduzido previamente, por tradutor oficial (art. 157, CPC).

e) Art. 585, § 1º - “A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.” Não existe entre a execução forçada e a ação de conhecimento sobre o mesmo título (anulatória, por exemplo) a figura da litispendência, tal como configurada no art. 301, § 3º, do CPC. A matéria posta em juízo na ação de conhecimento pode voltar a ser deduzida perante o juiz executivo, sob a forma de embargos do devedor, ocorrendo a suspensão da execução até que se solucionem os embargos, desde que respeitadas as condições do art. 739-A, § 1º. Segundo o doutrinador Humberto Theodoro Júnior, “o que se nota então, é que a controvérsia sobre a causa debendi não impede a instauração da execução que deve caminhar normalmente até a penhora; mas, pode gerar a suspensão da atividade executiva, quando revestir a forma de embargos (art. 741 e 745). Por outro lado, entre os embargos à execução e a anulatória do débito quando se refiram à mesma obrigação existe, sem dúvida, a conexão em virtude de identidade de causa de pedir (art. 103). Deverão os respectivos autos ser reunidos para que a decisão das duas ações seja simultânea (art. 105).”

Page 16: proc. resumo

f) Pluralidade de títulos executivos - “Art. 573. É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para todas elas seja competente o juiz e idêntica a forma do processo.” Trata-se da hipótese de se executar, em um mesmo processo, dois ou mais títulos diferentes, desde que relacionados entre si.

→ DO INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR

Enquanto não houver o inadimplemento da obrigação por parte do devedor, faltará ao credor o interesse para promover a execução. O art. 580 do CPC estabelece como inadimplente o devedor que não satisfaça obrigação líquida, certa e exigível, consubstanciada em título executivo, judicial ou extrajudicial. A exigência do requisito em questão é geral, aplicando-se indistintamente a todas as espécies de execução, sejam das obrigações de pagar quantia certa, sejam das obrigações de dar, de fazer ou não fazer. Relaciona-se a idéia de inadimplemento com a de exigibilidade da prestação, de maneira que, enquanto não vencido o débito, não se pode falar em descumprimento da obrigação do devedor.

Cabe ao direito material fixar as regras sobre o inadimplemento. O Código Civil brasileiro trata do assunto nos arts. 389 e seguintes. Nas obrigações com termo certo de vencimento, o devedor estará em mora desde que não satisfaça a obrigação na data estabelecida para o cumprimento, sem necessidade de outras providências por parte do credor.

No entanto, existem obrigações que não possuem termo certo de vencimento, nestes casos é preciso que o devedor seja notificado, para então se constituir em mora. É o que estabelece o art. 397, parágrafo único, do CC: “Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial”. Nas obrigações de não fazer, o devedor estará inadimplente desde o dia em que praticar o ato, de que deveria se abster (art. 391, CC). Nas obrigações por ato ilícito, o devedor está em mora desde o dia do fato, conforme art. 398 do CC: “Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou” (Ver súmula 54 do STJ).

A lei material distingue termo de condição. Termo é o evento futuro e certo, enquanto condição é um evento futuro e incerto. Neste raciocínio, obrigações a termo são aquelas cuja exigibilidade está subordinada a evento futuro e certo, enquanto as condicionais são aquelas cuja exigibilidade está condicionada a evento futuro e incerto.

Dispõe o art. 572 do CPC, que: “Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou termo, o credor não poderá executar a sentença sem provar que se realizou a condição ou que ocorreu o termo”. Sem um ou outro, a obrigação ainda não será exigível.

O inadimplemento pressupõe uma situação de inércia culposa do devedor. Assim, se ocorrer o cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor, “o credor não poderá iniciar a execução” (art. 581, primeira parte, CPC). Se a execução já foi iniciada e houver a quitação da obrigação pelo devedor, será cessada imediatamente a execução forçada e extinto o processo executivo.

No entanto, para obter a quitação da obrigação, é imprescindível que o devedor cumpra a prestação exatamente como define o título executivo. Caso não o faça, será lícito ao credor recusar o pagamento e dar curso ao processo executivo, como dispõe o art. 581, segunda parte, do CPC.

Page 17: proc. resumo

Por fim, cumpre analisar o inadimplemento nas obrigações que tenham por base contratos bilaterais. Prescreve o art. 582 do CPC: “Em todos os casos em que é defeso a um contraente, antes de cumprida a sua obrigação, exigir o implemento da do outro, não se procederá à execução, se o devedor se propõe satisfazer a prestação, com meios considerados idôneos pelo juiz, mediante a execução da contraprestação pelo credor, e este, sem justo motivo, recusar a oferta. Parágrafo único. O devedor poderá, entretanto, exonerar-se da obrigação, depositando em juízo a prestação ou a coisa; caso em que o juiz suspenderá a execução, não permitindo que o credor a receba, sem cumprir a contraprestação, que lhe tocar”.

Há negócios jurídicos em que após seu aperfeiçoamento apenas uma das partes tem obrigações, como no empréstimo, por exemplo. Em outros, ambas as partes assumem deveres e direitos recíprocos (compra e venda, parceria agrícola, etc.). Diz-se que o contrato é unilateral no primeiro caso e bilateral no segundo.

Nos contratos bilaterais ambos os contraentes são, a um só tempo, credor e devedor entre si. Assim, aquele que pretender executar o respectivo crédito, terá antes que deixar de ser devedor, solvendo o débito a seu cargo e fazendo cessar a bilateralidade do vínculo obrigacional.

Mesmo sem o prévio adiantamento da contraprestação do exeqüente, o executado, pode pretender cumprir sua parte no contrato, oferecendo sua prestação em juízo para exonerar-se da dívida. Isto ocorrendo, o juiz suspenderá a execução e só permitirá ao exeqüente o respectivo levantamento “se cumprir a contraprestação que lhe tocar.”

RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL2

No direito moderno, o objeto da execução forçada são os bens e direitos que integram o patrimônio do devedor. Isto decorre de um dos princípios informativos do processo de execução, ou seja, o de que toda a execução é real (e não pessoal). Para Humberto Theodoro Jr. (p. 198) “o crédito compreende um dever para o devedor e uma responsabilidade para o seu patrimônio. É da responsabilidade que cuida a execução forçada, ao fazer atuar contra o inadimplente a sanção legal. Sendo, dessa maneira, patrimonial a responsabilidade, não há execução sobre a pessoa do devedor, mas apenas sobre seus bens”.

Para Wambier3, “responsabilidade patrimonial consiste na situação de sujeição à atuação da sanção. É a situação em que se encontra o devedor de não poder impedir que a sanção seja realizada mediante a agressão direta ao seu patrimônio. Traduz-se na destinação dos bens do devedor a satisfazer o direito do credor”.

A obrigação como dívida é objeto de direito material. A responsabilidade como sujeição dos bens do devedor à sanção, que atua pela submissão à expropriação executiva, é uma noção absolutamente processual.

Em regra, somente o devedor inadimplente tem a responsabilidade pelo pagamento, respondendo com seu patrimônio próprio pela satisfação do credor. Obrigação e

2 Baseado a obra de Humberto Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil (referência bibliográfica complete no plano de ensino).3 Luiz Rodrigues Wambier, Curso Avançado de Processo Civil, v. 2. (referência bibliográfica completa no plano de ensino). p. 128

Page 18: proc. resumo

responsabilidade quase sempre andam juntas. Mas há casos em que haverá uma sem a outra, e outros em que a responsabilidade estende-se para além do próprio devedor.

A responsabilidade patrimonial tem sua diretriz geral insculpida no art. 591: “O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Essa fórmula fundamental desdobra-se em duas proposições: todos os bens do devedor respondem por suas obrigações (inclusive os que ingressarem em seu patrimônio depois de contraída a dívida ou iniciada a execução); somente os bens do devedor respondem por suas obrigações. Porém, o próprio preceito citado deixa claro haver exceções. Daí que: (I) há bens do devedor que não respondem por suas obrigações; (II) há bens de terceiros que por elas respondem”4. Façamos a análise dessas hipóteses.

► Art. 591 – Responsabilidade patrimonial do devedor - “O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Este dispositivo imputa a responsabilidade prioritária ao próprio devedor. Tanto os bens existentes ao tempo da constituição da obrigação como os que o devedor adquiriu posteriormente, ficam vinculados à responsabilidade na execução. Portanto, no decorrer da execução, pouco importa se o objeto a ser penhorado já existia ou não ao tempo em que a dívida foi contraída. Ressalte-se que o patrimônio aqui abordado é aquele composto apenas por bens de valor pecuniário, assim, não o integram a honra, a vida, o nome entre outros bens de igual natureza. A lei estabelece ainda, em circunstâncias especiais, a exclusão de alguns bens da execução, qualificando-os como impenhoráveis por motivo de ordem moral, religiosa, sentimental, pública, etc (art. 649).

► Art. 592 – Bens de terceiros submetidos à responsabilidade patrimonialHá casos em que a conduta de terceiros, sem levá-los a assumir a posição de devedores ou de partes na execução, torna-os sujeitos aos efeitos do processo executivo. Isto é, seus bens particulares passam a responder pela execução, muito embora inexista assunção da dívida constante do título executivo. O art. 592 enumera hipóteses de responsabilidade patrimonial subsidiária de terceiros, a quem ela se estende. Só deve prevalecer se a responsabilização do devedor for insuficiente para a satisfação do credor. Em todas elas, haverá uma dissociação entre débito e responsabilidade. Os terceiros não são os devedores, mas respondem com seu patrimônio, ou parte dele, pelo cumprimento da obrigação. Trata-se, como se vê, de responsabilidade puramente processual.

A responsabilidade patrimonial de terceiros vêm estabelecida no art. 592 do CPC, que assim dispõe: “Ficam sujeitos à execução os bens:

I – do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; Por sucessor a título singular, entende-se aquele que adquiriu um bem alienado pelo devedor, quando ele já era litigioso. É o bem adquirido e não a pessoa do adquirente que se vincula à responsabilidade executiva. O campo de incidência deste inciso é o das execuções para a entrega de coisa (art. 461-A c/c 475-I e arts. 585, II, c/c 621 a 631). Não importa se o exeqüente esteja reclamando a entrega com fundamento em direito real ou pessoal, ou se o título executivo é judicial ou extrajudicial.

4 Wambier, p. 130.

Page 19: proc. resumo

Nos termos do art. 42, caput, do CPC, a alienação da coisa ou do direito litigioso não altera a legitimidade das partes. O § 3º deste mesmo artigo estabelece que a sentença proferida entre as partes originárias estende os seus efeitos ao adquirente ou cessionário. A alienação da coisa ou do direito litigioso é ineficaz perante o credor, que poderá buscá-la em mãos do adquirente.

Para Luiz Guilherme Marinoni5, a hipótese retratada neste inciso “decorre do direito de seqüela, que caracteriza os direitos reais e as obrigações reipersecutórias”. O direito de seqüela permite ao titular do direito alcançar o bem onde quer que ele esteja. Desta forma, poderá o credor submeter o bem litigioso alienado à execução e o terceiro adquirente terá de defender seus direitos mediante embargos de terceiro.

II – do sócio, nos termos da lei; A regra básica é de que a sociedade, como tem personalidade jurídica, responda por suas obrigações, somente respondendo os bens particulares dos sócios nos casos expressos em lei (art. 596). Enquanto a empresa for solvente, os bens particulares dos sócios não poderão ser atingidos, e mesmo em caso de insolvência a responsabilidade do sócio, quando existir, será subsidiária, isto é, depende de se terem esgotados os bens da pessoa jurídica. Em virtude da separação do patrimônio da empresa e dos sócios com freqüência as pessoas jurídicas têm sido usadas de forma fraudulenta, para prejudicar credores. A finalidade delas é desvirtuada, uma vez que os sócios utilizam-se da autonomia da empresa para obterem lucros ou vantagens pessoais. No intuito de evitar esse tipo de fraude, a doutrina criou a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, que foi consolidada no Código Civil de 2002, regulada no art. 50. Feita pelo credor a prova de que a empresa foi utilizada de forma fraudulenta, o juiz desconsiderará a pessoa jurídica e estenderá a responsabilidade patrimonial aos sócios, permitindo que a penhora recaia sobre os bens pessoais. Não há extinção da empresa ou dissolução. Ela continuará existindo e sendo devedora. Mas os bens dos sócios passam a responder pelo pagamento da dívida.

Por fim, o art. 596 estabelece ainda que o sócio demandado pela dívida da sociedade tem direito de exigir que sejam primeiro excutidos os bens da sociedade, cabendo a ele indicar bens da sociedade livres e desembargados suficientes para quitar o débito, é o chamado benefício de ordem. Ademais, se o sócio pagar a dívida da sociedade, poderá executar a mesma nos próprios autos do processo de execução (art. 596, §§ 1º e 2º).

III - do devedor, quando em poder de terceiros; Neste inciso não se trata de responsabilidade do terceiro, mas do próprio devedor, uma vez que o bem pertence ao devedor, mas se encontra em poder de terceiro. Os bens do devedor respondem pelas suas dívidas sendo irrelevante com quem estejam. Naturalmente se o terceiro desfrutar de uma posse contratual legítima sobre bem, como no caso do contrato de locação com eficácia perante o adquirente, o bem poderá ser penhorado, mas a execução contra o locador/proprietário não excluirá a continuidade dos direitos do locatário até o final do contrato. O arrematante, adquirindo a propriedade do bem, ficará sub-rogado na posição do devedor, isto é, de locador, devendo respeitar o contrato de locação.

IV – do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida;

5 Luiz Guilherme Marinoni, Execução. p. 260. (referência bibliográfica completa no plano de ensino)

Page 20: proc. resumo

Quando a dívida é contraída por ambos os cônjuges, a responsabilidade patrimonial, não há dúvida, será dos dois. Marido e mulher serão devedores e o patrimônio de um e outro responderá pela dívida. Há casos, porém, em que a dívida é contraída somente por um. A responsabilidade de um cônjuge pelo pagamento de dívida contraída pelo outro dependerá de esta dívida ter sido revertida em proveito do casal ou da família. Se sim, o credor poderá sujeitar o patrimônio de ambos, ainda que a dívida seja de apenas um deles. Se não, só aquele que a contraiu responderá, não se podendo atingir os bens do outro. Presume-se, até prova em contrário, que a dívida contraída por um beneficia o outro, ou a família. O ônus da prova é do que pretende livrar sua meação, já que a presunção é do benefício comum.

V – alienados ou gravados com ônus real em fraude a execução.

O adquirente do bem em fraude à execução não responde pela dívida, mas o bem que lhe foi transmitido está sujeito à constrição, uma vez que a alienação é ineficaz perante o credor, que pode requerer a penhora sobre ele como se a alienação não tivesse ocorrido. Só o bem adquirido em fraude à execução responde pelo pagamento da dívida. Outros bens do adquirente não. Não é o patrimônio todo do adquirente, mas o objeto da fraude, que poderá ser atingido.

► Art. 593 – Fraude de execução - São duas as formas comuns de fraude: a contra credores e à execução. São grandes as distinções entre elas: a primeira é de direito material e constitui uma das modalidades de defeito dos negócios jurídicos. Vem disciplinada no Código Civil, a partir do art. 158. A segunda é instituto de direito processual, considerada ato atentatório à dignidade da Justiça. Somente nesta há ofensa ao Poder Judiciário, porque existe um processo em curso.

Ambas têm em comum o fato de o devedor desfazer-se de um bem, ou de parte de seu patrimônio, em detrimento do credor. Mas na fraude contra credores ainda não há uma ação em curso.

Haverá fraude contra credores quando houver qualquer ato capaz de diminuir ou onerar o patrimônio do devedor, desfalcando-o ou eliminando a garantia do pagamento das dívidas, praticado por devedor insolvente ou que, pelo ato, reduziu-se à insolvência. São dois os elementos que caracterizam a fraude contra credores: um objetivo (o evento danoso) e outro subjetivo (o consilium fraudis). O primeiro é o prejuízo ao credor, que decorre da insolvência do devedor. O segundo é a necessidade da má-fé do adquirente, que depende de prova do credor. Se o terceiro estava de boa-fé, não se reconhecerá a ineficácia do negócio. O art. 159 do CC presume a má-fé do adquirente “quando a insolvência (do alienante) for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante”. A ação competente para atacar a fraude contra credores é a ação pauliana, fundada no duplo pressuposto do eventus damni e do consulim fraudis.

Já a fraude à execução pressupõe um processo pendente, conforme dispõe o art. 593: “Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens:

I – quando sobre eles pender ação fundada em direito real;

II – quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo a insolvência;

III – nos demais casos previstos em lei”.

Page 21: proc. resumo

Não é necessário que esse processo pendente seja o de execução; considera-se em fraude à execução desde o momento do ingresso de qualquer ação, seja ela de conhecimento ou de execução. Também não é necessária nenhuma ação para anular ou desconstituir o ato de disposição fraudulento, o qual será declarado nos próprios autos do processo de execução ou na fase de cumprimento da sentença (fase de execução).

O art. 593 estabelece duas hipóteses de fraude à execução, que serão examinadas separadamente.

A primeira hipótese é a da alienação de bem sobre qual penda ação fundada em direito real. O direito real grava a coisa e a segue com quem esteja. Nesse tipo de fraude há verdadeira alienação de coisa litigiosa. Pende um litígio sobre determinado bem e o devedor, depois de citado, o aliena. “O primeiro inciso refere-se a hipótese análoga à do art. 592, I. Ambos tutelam o direito de seqüela que integra todos os direitos reais. A diferença é que o art. 592, I, cuida da ineficácia da alienação ocorrida durante a execução, seja ela apoiada em título judicial ou extrajudicial, ao passo que o art. 593, I, antecipa a proteção à seqüela, fazendo a ineficácia atingir mesmo as alienações verificadas antes do julgamento definitivo da causa no processo de conhecimento”6.

A segunda hipótese, prevista no inciso II, é quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo a insolvência. Aqui não há litígio sobre um bem determinado, mas uma ação de natureza patrimonial que, em caso de procedência do pedido, possa ensejar execução por quantia contra o devedor. Se citado na fase de conhecimento, o devedor alienar bens e na execução constatar-se que está insolvente, o juiz declarará a ineficácia da alienação permitindo que a execução recaia sobre os bens alienados.

Desta forma, tratando-se de fraude à execução onde houver vinculação do bem alienado ou onerado ao processo fraudado (penhora, direito real, arresto, seqüestro), como na hipótese do inc. I, a caracterização da fraude à execução independe de qualquer outra prova, uma vez que o gravame acompanha o bem, perseguindo-o no poder de quem quer o detenha, mesmo que o alienante seja solvente, ou seja, nesta hipótese não há que se falar em prova da insolvência do executado.

No entanto, não havendo prévia sujeição do bem à execução, para configurar-se a fraude na hipótese do inciso II, deverá o credor demonstrar o eventus damni, isto é, a insolvência do devedor decorrente da alienação ou oneração de bens. O evento danoso decorrerá normalmente da inexistência de outros bens passíveis de constrição ou da insuficiência dos encontrados para solver a dívida.

Assim sendo, se terceiro adquiriu bem judicialmente constrito ou sobre qual pendia ação de direito real, devidamente registrados no registro público, o ato aquisitivo é ineficaz perante o credor, sendo desnecessário demonstrar a insolvência do executado. Mas, quando a constrição judicial ainda não se consumou e não for hipótese de direito real, a fraude dependerá da prova do evento danoso, que é a insolvência do executado. O consilium fraudis, regra geral, é presumido, devendo o adquirente provar a sua boa-fé (ler as jurisprudências encaminhadas).

O adquirente do bem alienado em fraude à execução, uma vez que não é parte na execução, se pretender negar a fraude ou eximir-se de suas conseqüências, terá de valer-se dos embargos de terceiros.

6 Humberto Theodoro Júnior

Page 22: proc. resumo

Por fim, a lei n. 11.382/2006 introduziu importante novidade em nosso ordenamento jurídico. O art. 615-A do CPC permite ao exeqüente, no ato de distribuição do processo, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e valores da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto. A finalidade dessa averbação é tornar pública a existência da execução para que eventuais adquirentes dos bens do devedor não possam beneficiar-se da alegação de boa-fé, uma vez que dispõe o §3º deste mesmo artigo, que presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação.

O exeqüente deverá ainda comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de 10 dias e, uma vez formalizada a penhora sobre bens suficientes para solver o débito, será determinado o cancelamento das averbações sobre àqueles bens que não tenham sido penhorados.

Se o exeqüente promover averbação manifestamente indevida, terá de indenizar a parte contrária pelos prejuízos suportados, nos termos do §2º do art. 18 do CPC. Não haverá necessidade de ajuizamento de ação de reparação de danos, bastando o mero incidente, que será processado em autos apartados (art. 615-A, §4º).

► Art. 594 – Bens sujeitos ao direito de retenção - O credor, que estiver, por direito de retenção, na posse de coisa pertencente ao devedor, não poderá promover a execução sobre outros bens senão depois de excutida a coisa que se achar em seu poder. Há casos, no direito substancial, em que o credor retém legalmente bens do devedor para garantir a satisfação da obrigação, como ocorre, por exemplo, com o credor pignoratício, com o depositário, com o locatário, etc. Nessas circunstâncias, o devedor, que já está privado da posse de determinados bens, poderá suscitar o benefício de excussão, de modo que se tenha de executar, primeiro, a coisa que o credor retém ou possui. Só depois de excutidos os bens retidos e havendo saldo remanescente do débito, é que será lícito ao credor penhorar outros bens do devedor. Assim, não é permitido ao credor somar duas garantias, a da retenção e a da penhora sobre outro bem do devedor. Se já exerce o direito de retenção, é sobre os bens retidos que deverá incidir a penhora, sob pena de praticar-se excesso de execução.

► Art. 595 – Bens do Fiador - O fiador, quando executado, poderá nomear à penhora bens livres e desembargados do devedor. Os bens do fiador ficarão, porém, sujeitos à execução, se os do devedor forem insuficientes à satisfação do direito do credor. Parágrafo único. O fiador, que pagar a dívida, poderá executar o afiançado nos autos do mesmo processo. Nas obrigações garantidas por fiança ocorre a dissociação entre dívida e responsabilidade: quem deve é o obrigado principal, mas responde tanto ele como o fiador pelo não adimplemento da obrigação. No entanto, é garantido ao fiador o benefício de ordem, podendo nomear à penhora bens livres e desembargados do devedor, que deverão ser excutidos primeiro. A nomeação deverá ser feita no prazo de três dias da citação (art. 652, caput). O benefício de ordem é renunciável expressa e tacitamente. Haverá renúncia expressa quando constar do próprio contrato de fiança e tácita quando, iniciada a execução o fiador não invocar a exceção no prazo que antecede a penhora. Por fim, como deixa claro o parágrafo único do artigo, ao fiador compelido a saldar a dívida, é facultado executar, regressivamente, o devedor nos próprios autos em que se efetuou o pagamento. Ocorre uma sub-rogação de pleno direito do fiador nos direitos do credor.

► Art. 597 – Bens do Espólio - O espólio responde pelas dívidas do falecido; mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas na proporção da parte que na herança lhe couber.

Page 23: proc. resumo

Ocorrendo o falecimento do devedor originário, o seu espólio continua respondendo pelas dívidas. O que deve ser observado é que as dívidas da herança executam-se nos bens da herança, e não podem alcançar outros bens dos herdeiros (art. 1.821, CC). Feita a partilha entre os herdeiros e sucessores, cada um responde pelas obrigações do de cujos, mas apenas na proporção da parte que na herança lhe coube.

→ BENS DO DEVEDOR QUE NÃO SE SUBMETEM À RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

Por razões de ordem política, social e humanitária, a lei exclui da responsabilidade patrimonial alguns bens específicos do executado. Trata-se dos bens absolutamente e relativamente impenhoráveis. A primeira é, em linhas gerais, disciplinada pelo art. 649 do CPC, enquanto a impenhorabilidade relativa vem tratada logo a seguir, no art. 650.

= Bens Absolutamente ImpenhoráveisO rol do art. 649 do CPC apresenta amplo elenco de bens que não se sujeitam à execução, porque impenhoráveis. Essa exclusão absoluta da execução é que dá a idéia de impenhorabilidade absoluta. Ainda que não haja outros bens do devedor passíveis de serem arrecadados pela execução, os bens apontados na regra estão a salvo da responsabilidade patrimonial do devedor. Vejamos cada um dos incisos:

I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;Os bens públicos são sempre impenhoráveis, dada a sua intrínseca inalienabilidade (art. 100 do CC). Não há penhora na execução contra a fazenda pública, que segue rito próprio (ver art. 730, CPC). Os bens particulares podem se tornar inalienáveis, em atos de vontade unilaterais ou bilaterais, como nas doações, testamentos, instituição do bem de família, etc.

A lei nº 8.009/90 instituiu também a impenhorabilidade do imóvel residencial do casal ou da entidade familiar, por qualquer dívida, salvo as exceções de seus artigos 3º e 4º. Para efeitos dessa impenhorabilidade, a Lei 8.009 considera “residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente” (art. 5º). Havendo pluralidade de imóveis utilizados para aquele fim, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor.

A lei 11.382/2006, enquanto projeto, contemplava limitações em relação à impenhorabilidade absoluta, admitindo a penhora de imóvel, ainda que considerado bem de família, desde que de grande valor (superior a mil salários mínimos) e também de parcela de salário de alta monta (quarenta por cento do total recebido mensalmente, desde que superior a vinte salários mínimos). Todavia, estes dispositivos, contidos nos arts. 649, §3º e art.650, parágrafo único, foram vetados pelo Presidente da República. As razões do veto estão em documento anexo.

II – os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

III – os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;

Page 24: proc. resumo

IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no §3º deste artigo; A impenhorabilidade abordada neste inciso decorre do reconhecimento de que a remuneração do trabalho pessoal, de maneira geral, destina-se ao sustento do indivíduo e de sua família, tratando-se, pois, de verba de natureza alimentar. Em relação a todas as verbas deste inciso, há uma ressalva legal que abre possibilidade para a penhora, qual seja: se o débito em execução consistir em prestação de alimentos, torna-se cabível a penhora sobre salários, remunerações e outras verbas equivalentes auferidas por aquele que responda pela pensão alimentícia (§2º, art. 649). Constava, ainda, do §3º, em texto aprovado pelo Congresso, a previsão de um limite para a impenhorabilidade das verbas alimentares, de sorte que acima do valor correspondente a 20 salários mínimos, 40% da remuneração tornar-se-iam penhoráveis. Essa limitação, todavia, não se converteu em lei, uma vez que foi atingida por veto do Presidente da República (mensagem de veto anexa).

*Montepio = associação em que cada membro, mediante uma quota mensal, adquire o direito de deixar, por sua morte, um subsídio à família, ou de ser subsidiado, em caso de invalidez;

V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI – o seguro de vida; O seguro de vida tem a função de gerar em favor do beneficiário um fundo de caráter alimentar, razão pela qual sua impenhorabilidade.

VII – os materiais necessários para obras em andamento, salvo se estas forem penhoradas; Os materiais são, por antecipação, parte integrante da obra. Como tal só podem ser penhorados se a obra toda também for.

VIII – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; Compete à legislação agrária definir o que se entende por pequena propriedade rural.

IX – os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.É preservada da penhora a quantia mantida em depósito de caderneta de poupança, atribuindo-lhe uma função de segurança alimentícia ou de previdência pessoal e familiar. A impenhorabilidade, porém, não é total, uma vez que sendo o saldo superior a 40 salários mínimos, a penhora poderá alcançar o valor excedente. No entanto, serão sempre preservados na execução os quarenta salários mínimos.

§ 1º. A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem.Seria injusto que o credor que propiciou ao atual titular do bem sua própria aquisição não tivesse como haver o respectivo preço. Dar-se-ia um intolerável locupletamento por parte do adquirente. De duas formas pode surgir o crédito: I - o alienante concede ao adquirente prazo para pagar o preço do bem que lhe é desde logo transferido, ou; II - o adquirente obtém financiamento com terceiro para custear o preço da coisa adquirida. Nos dois casos, configurar-se-á o crédito capaz de elidir a impenhorabilidade legal.

Page 25: proc. resumo

§ 2º. O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia. Não subsiste a impenhorabilidade diante de execução para pagamento de prestação alimentícia.

Bens Relativamente Impenhoráveis

“Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia”.Os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis seguem, em princípio, o destino destes e são impenhoráveis. Os credores comuns do titular do bem inalienável, por isso, não podem penhorar seus frutos e rendimentos. A imunidade, contudo, não é total. Prevalece enquanto seja possível recair a penhora sobre outros bens livres do executado. Não existindo bens livres do executado, cessará a impenhorabilidade, e os frutos e rendimentos terão de submeter-se à penhora. Por isso falar-se, na espécie, de impenhorabilidade relativa.A situação é outra quando o crédito exeqüendo for decorrente de prestação alimentícia. Neste caso, a penhorabilidade deixa de ser relativa e torna-se plena. O credor pode, desde logo, fazer a penhora recair sobre os frutos e rendimentos do bem inalienável, sem ter de demonstrar a inexistência de outros bens livres que possam assegurar a execução.Da mesma forma ocorre com os salários e vencimentos disciplinados no art. 649, IV. Estes são, de regra, impenhoráveis. Porém, se a execução for relativa a débito alimentar, a impenhorabilidade deixa de existir (art. 649, §2º). É exatamente o que se passa com os frutos e rendimentos da coisa inalienável: não são livremente penhoráveis pelos credores em geral, mas se o credor é de prestação alimentícia, pode fazer com que a penhora incida sobre eles.

Obs: PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO

 O processo executivo deve observar os pressupostos processuais comuns ao processo de conhecimento. Porém, para que se possa buscar a tutela jurisdicional executiva há que serem atendidos também alguns requisitos específicos:

Page 26: proc. resumo

1. Inadimplemento da obrigação – considera-se inadimplente o devedor que não satisfaz espontaneamente a obrigação ou o direito reconhecido em sentença.

2. Existência de patrimônio – para efetivação do processo de execução é necessário que o devedor possua bens penhoráveis que possam tornar exequível a execução, sob pena desta restar ineficaz ao final do processo.

3. Existência de um título executivo – sem o título não há como executar a obrigação. O título executivo dá a certeza da existência da obrigação, para assim poder atingir o patrimônio do devedor

Ademais, o título executivo deve ser certo (sabe-se o que se deve), líquido (sabe-se quanto se deve) e exigível (obrigação vencida).