representação racial e política no brasil. parlamentares negros no congresso nacional

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  • 8/8/2019 Representao racial e poltica no Brasil. Parlamentares negros no Congresso Nacional

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    Representao racial e poltica no Brasil:parlamentares negros no Congresso Nacional (1983-

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    Ollie A. Johnson III

    Recebido para publicao em 23 de maro de 2000 Professor assistente da Universidade de Maryland

    O objetivo desse artigo analisar o Congresso brasileiro no que tange sub-representao de negros e seu comportamento neste mbito. O seu argumento principal consiste de duas afirmaes: os afro-brasileiros esto dramaticamente sub-representados no Congresso em relao a sua proporo na populao geral; e essa

    sub-representao e os fatores polticos e culturais relacionados a ela reduzemenormemente a eficcia dos afro-brasileiros no Congresso.

    Palavras-chave:representao poltica, parlamentares negros, representao racial,Congresso Nacional.

    "H um esteretipo sobre quem pode ser inteligente e competente, quem pode exercer o poder. No Brasil, so homens brancos e ricos que representam a face do poder".

    Benedita da Silva, Senadora da Repblica negra

    Ao examinar a atividade poltica, as legislaturas e os polticos eleitos, os estudiososfreqentemente fazem uma distino entre dois tipos no mutuamente excludentes derepresentao: a descritiva e a substantiva. Na primeira, os representantes compartilhamas caractersticas sociais ou demogrficas dos representados (Mansbridge 1996; Pitkin1967: 60-90); na segunda, buscam estabelecer polticas favorveis aos interessesdaqueles que representam (Swain 1993: 5; Lublin 1997: 12). Na perspectiva dessesautores, a representao substantiva pode ser atingida sem a descritiva.

    Vrios eventos enfatizaram, nos anos 1980 e 1990, a sobre-representao de brancos e asub-representao de negros na poltica brasileira. Contudo, durante esse perodo

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    Abdias do Nascimento tornou-se o primeiro deputado federal (e mais tarde senador)negro a estabelecer uma defesa consistente e explcita da populao afro-brasileiradentro do Congresso Nacional; Benedita da Silva tornou-se a primeira mulher negracom mandato de deputada federal e posteriormente senadora; o deputado Paulo Paim props uma legislao que reivindicava a reparao para os descendentes de escravos;

    Celso Pitta tornou-se o primeiro prefeito negro de So Paulo, a maior cidade brasileira euma das mais populosas do mundo; e polticos afro-brasileiros como Alceu Collares,Joo Alves e Albuno Azeredo exerceram mandatos como governadores. Atravs dessasvitrias eleitorais, atividades polticas ou apoio a polticas pblicas com contedo racialespecfico, esses polticos negros de presena nacional tm acentuado desde ento aquesto da representao racial.

    O presente estudo utiliza tanto os termosnegro quantoafricano brasileiro e afro-brasileiro para se referir a brasileiros de ascendncia africana, inclusive pessoas que odiscurso popular costuma chamar de "morenos", "mulatos" ou outros termos indicativosde background racial ou tnico misto. O censo oficial brasileiro possui cinco categoriasde cor (ou raa): branco, preto, amarelo, pardo e indgena. O IBGE tambm contabilizaos indivduos que no declaram sua cor ou raa. Seguindo Nascimento (1978) eAndrews (1991), este artigo combina, para propsitos de anlise, as categorias preto e pardo.

    Este estudo a primeira tentativa acadmica de investigar a composio racial doCongresso brasileiro, analisar a sub-representao dos negros e examinar ocomportamento dos membros negros do Congresso. Seu argumento principal divide-seem duas afirmaes: os afro-brasileiros esto dramaticamente sub-representados noCongresso em relao a sua proporo na populao geral; e essa sub-representao e osfatores polticos e culturais relacionados a ela reduzem enormemente a eficcia dosafro-brasileiros no Congresso.

    Os parlamentares negros do Congresso tm tentado introduzir algumas importantesmudanas na poltica brasileira. Polticos negros encorajam atores polticos brancos e o pblico mais amplo a confrontar o racismo e a desigualdade racial, e se organizamformal e informalmente dentro dos partidos polticos e instituies governamentais, buscando polticas pblicas que levem em conta o fator racial, alm de advogar umnovo e mais proeminente papel para os negros na poltica e na sociedade brasileira.

    A maioria dos estudos sobre a poltica brasileira geralmente ignora ou diminui o peso da

    questo racial2

    , em funo de dois fatores principais. Primeiro, argumenta-se que asociedade brasileira no organizada de uma maneira racial rgida, e portanto a raano uma clivagem relevante, que possa provocar conflitos, violncia ou algum tipo dedistrbio da vida poltica (isto , movimentos de massa ou revoltas). Segundo, algunsanalistas alegam que os brasileiros no possuem forte conscincia racial, econseqentemente no se comportam racialmente em formas politicamente relevantes(isto , votando de acordo com a linha racial ou recorrendo discriminao racial clarae persistente). Bolvar Lamounier, um dos cientistas polticos brasileiros mais proeminentes, observa que

    enquanto as diferenas e tenses eventuais nas relaes entre grupos tnicos e

    religiosos possam existir no Brasil, at o momento no tem havido uma projeoexplosiva das clivagens desse tipo na arena poltica que merecesse tratamento especial

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    ou privilegiado. As divises bsicas da sociedade brasileira so essencialmente socioeconmicas e, em grau inferior, regionais e ideolgica s (Lamounier 1993: 120).3

    Alm disso, os numerosos estudos sobre poltica partidria, presidencialismo edemocratizao no Brasil e na Amrica Latina tm prestado muito pouca ateno s

    questes raciais em geral e ao papel dos negros em particular (ODonnell & Schmitter 1986; Reis & O'Donnell 1988; Stepan 1989; Mainwaring & Scully 1995; Mainwaring &Shugart 1997). Entretanto, a raa tem sido relevante na poltica brasileira. Muito emboraos brasileiros nem sempre falem ou lutem na poltica em termos explicitamente raciais,a poltica racial tem desempenhado um importante papel histrico e contemporneo. Aescravido negra existiu no Brasil durante aproximadamente 350 anos, embora tenhasido matizada com desigualdades socioeconmicas, diversidade regional e diferenasideolgicas. A representao racial significativa porque, em nveis genricos, osdirigentes do Brasil no sculo XX tm sido em sua ampla maioria brancos ourelativamente claros, enquanto que a maioria dos pobres e marginalizados tm sido denegros ou de aparncia mais escura (Nascimento 1978; Toledo 1989). Essa realidade poltica, especialmente considerando-se que ela sucede trs sculos de escravido negra,merece tanto investigao emprica quanto reflexo terica.

    Este artigo est dividido em quatro sees. Uma breve reviso da poltica brasileiramostra que a questo racial, especialmente a preocupao da elite com o papel dosnegros no pas, tm estado presente ao longo de todo o sculo XX. Segundo, umaanlise da representao poltica e racial enfatiza a marcante sub-representao de afro- brasileiros no Congresso. Uma terceira seo examina a atividade poltica negra noCongresso, recorrendo a entrevistas com vrios parlamentares negros. A conclusodiscute a necessidade de pesquisas adicionais sobre as questes da raa, darepresentao e da poltica no Brasil e em toda a Amrica Latina.

    Vises raciais, mudana de regime e poltica partidria

    A poltica nacional brasileira ps-abolio da escravatura pode ser dividida basicamenteem cinco perodos: o perodo republicano inicial dominado pela oligarquiaconstitucional (1889-1930); a revoluo de 1930 e o primeiro governo de GetlioVargas (1930-45); o perodo de competio poltica (1945-64); o autoritarismo militar (1964-85); e finalmente o perodo de (re)democratizao, de 1985 at hoje. Uma das

    caractersticas mais notveis dessa histria de mais de cem anos sua natureza elitista.Como salientado pela senadora Benedita da Silva na epgrafe e em sua autobiografia(Silvaet al 1997: 61), a maioria dos lderes brasileiros so homens originrios dossetores brancos, abastados e privilegiados da sociedade (Conniff & McCann 1989;Lamounier 1989; e Roett 1992), enquanto muitos pobres e negros tm sido impedidosde participar da poltica em funo do pr-requisito da alfabetizao eleitores e outrosmecanismos de controle da elite (Love 1970; Leal 1986).

    Atravs dos anos as elites polticas tm tido vises raciais explcitas. No primeiro perodo, a viso dominante pode ser descrita como abertamente racista (Skidmore1993b; Schwarcz 1993), chegando mesmo a haver uma preocupao generalizada deque a populao do Brasil fosse muito negra ou escura, o que contribuiu para anegligncia da populao recentemente "liberta" e a motivao para importar

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    trabalhadores imigrantes, "mais claros" e "melhores". O embranquecimento, assim,tornou-se a poltica no oficial daqueles que acreditavam na superioridade branca e nainferioridade negra, explcita no estado de So Paulo, que recebeu a maior parte dosimigrantes europeus do pas durante esse perodo (Andrews 1991: 54-89). Os negroseram vistos como fsica e intelectualmente inferiores aos brancos (Nascimento 1978).

    Nos anos 1930, a composio racial e tnica do pas havia mudado dramaticamente. A proporo de negros diminuiu e a porcentagem de brancos aumentou. A influnciaeuropia (especialmente portuguesa, italiana e alem) era mais forte nas regies Sul eSudeste. Durante esse perodo, o embranquecimento como ideologia foi formalmentecriticado pela elite brasileira, e vrios polticos e intelectuais repudiaram uma dasexpresses ltimas da supremacia branca, a Alemanha nazista de Hitler. De formadramtica, a elite fez uma reviso de si mesma: Gilberto Freyre e outros intelectuaisiniciaram o argumento de que os brasileiros eram um povo de sangue misturado e queesse dado era fundamental para suas relaes raciais supostamente harmoniosas.

    Casa grande e senzala , o principal livro de Freyre, foi lanado em 1933, explorando aescravido e a miscigenao; em 1934, ele organizou um congresso afro-brasileiro paraexaminar as contribuies dos negros para a sociedade brasileira. Orgulhosamente, aelite comeou a fazer comparaes entre a situao racial brasileira e a segregaoracial dos Estados Unidos. Logo depois, no entanto, o Brasil entrou em um de seus perodos mais repressivos, o Estado Novo (1937-45). Ironicamente, enquanto as elites brancas brasileiras celebravam as relaes raciais harmoniosas, o grupo poltico negromais proeminente - a Frente Negra Brasileira - foi banido como os outros partidos. Essa proibio serve como exemplo de como uma poltica formalmente no racial, isto , aeliminao da oposio poltica, pode ter explcitas conseqncias raciais; nesse caso, adesorganizao de um movimento poltico negro (Fernandes 1969; 1978; Leite & Cuti1992).

    O terceiro perodo poltico (1945-64) foi caracterizado pela poltica competitiva e pelanoo de democracia racial. Pela primeira vez, o Brasil teve partidos nacionais de participao de massas (Santos 1986; 1987). Foi um momento de otimismo, poltica eracialmente. Freyre e outros continuaram a promover a noo de que o Brasil seria onico pas a resolver o problema racial com mistura racial, fluidez da identidade racial ediviso racial ou segregao no explcitas. Para confirmar que a discriminao racialera intolervel no Brasil, o Congresso aprovou, em 1951, a Lei Afonso Arinos, que punia atos abertos de discriminao racial, tais como negar atendimento a uma pessoa

    em um hotel por causa de sua raa. O governo continuou a argumentar que todos os brasileiros tinham acesso semelhante aos canais de desenvolvimento social (Skidmore1993b: 212-3).

    Ao mesmo tempo, intelectuais e polticos negros tinham grandes dificuldades em ter suas preocupaes ouvidas e eleger candidatos negros. A realizao mais notvel desse perodo talvez tenha sido o trabalho do Teatro Experimental do Negro, um frum deexpresso da cultura e da poltica negras (Nascimento & Nascimento 1994: 24-33).4 Emum artigo importante, mas esquecido, Souza (1971) argumentou que no incio dos anos1960 havia uma polarizao racial das preferncias partidrias no estado da Guanabara.Os negros se inclinavam a favor do PTB, enquanto os brancos apoiavam a conservadora

    UDN.

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    No quarto perodo, de 1964 a 1985, os militares governaram com mo de ferro,tolerando apenas uma moderada participao civil (Sorj & Almeida 1984; Skidmore1988). A maioria dos radicais e progressistas foi exilada ou banida e os oponentes daditadura militar eram freqentemente torturados e assassinados. Os militares permitirama existncia de dois partidos polticos, um pr-regime, a ARENA, e um moderado

    partido oposicionista, o MDB. O milagre econmico brasileiro de 1968-73 e as rpidastaxas de crescimento no perodo trouxeram algum alvio econmico, especialmente paraas classes mdia e alta.

    A primeira metade desse perodo representou um desafio s elites raciais brasileiras. Nos Estados Unidos, o movimento dos direitos civis tinha triunfara; os negros ganharamo direito ao voto no sul e derrotaram as chamadas leis de Jim Crow, que regiam asegregao. No Brasil, a atividade poltica negra explcita era considerada subversiva.Os intelectuais brasileiros comearam a considerar a democracia racial um mito que, emcerto grau, perpetuava a desigualdade e a discriminao ao desviar a ateno daopresso racial e da subordinao dos negros (Fernandes 1969: 197; Hasenbalg 1979;Hanchard 1994).

    Na segunda metade, esse mito foi ainda mais questionado. Negros das principais reasurbanas, especialmente So Paulo e Rio de Janeiro, organizaram um movimento contraa discriminao racial e clamaram pelo orgulho racial, pela democracia poltica e pelamelhoria das condies sociais e econmicas da populao negra. No contexto daliberalizao poltica do fim dos anos 1970, comeo dos 1980, os negros participaramde todos os movimentos sociais, questionando o status quo , inclusive o movimentotrabalhista, o movimento estudantil e o movimento de mulheres.

    Durante o mesmo perodo, ativistas negros comearam a lutar por reconhecimentodentro de vrios partidos polticos. Como estratgia para dividir a oposio e prolongar o regime autoritrio, o governo militar permitira a organizao de mltiplos partidos. Aoposio de fato se dividiu, mas os militares no anteciparam que alguns lderesoposicionistas abraariam a questo racial e tentariam se mobilizar e incorporar negros.Leonel Brizola, um veterano poltico esquerdista que passou 15 anos no exlio, foi o primeiro poltico branco de vulto a considerar a questo racial um problema nacionalimportante. Ele tambm postulou um socialismo moreno como forma de articular raa,classe e a necessidade de redistribuio de riqueza e poder (Soares & Silva 1987; Nascimento & Nascimento 1994: 68-9). O partido poltico de Brizola, o PDT,identificou os negros como a quarta prioridade no seu programa, depois das crianas,

    dos trabalhadores e das mulheres (Monteiro & Oliveira 1989: 122).Os militares deixaram o governo em 1985. Desde ento o Brasil tem experimentado suamais profunda experincia em democracia. A Constituio de 1988 garantiu a praticamente todos os brasileiros adultos (inclusive analfabetos) o direito ao voto. Essecontexto deu aos polticos negros a oportunidade de expressar suas preocupaes.Embora, comparando-se com sua percentagem na populao nacional, os negros sejamsub-representados no Congresso, eles so visveis em cargos eletivos como nunca antes.Essa presena j tem conseqncias identificveis para a poltica e para a sociedade brasileira.

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    Membros negros do Congresso nos anos 1980 e 1990

    Antes dos anos 1980, muito poucos negros eram lderes em partidos nacionais outinham sido eleitos para o Congresso. Adalberto Camargo, de So Paulo, e AlceuCollares, do Rio Grande do Sul, so os dois raros exemplos de deputados federaisnegros nos anos 1970. A emergncia do movimento negro nesse perodo contribuiudiretamente para o surgimento do atual grupo de polticos negros. Ativistas polticos,acadmicos, estudiosos e trabalhadores afro-brasileiros lutaram por espao na poltica brasileira, ao mesmo tempo em que novos partidos polticos estavam sendoorganizados, exilados polticos retornavam ao pas e alguns lderes brancos de posturatradicional comeavam a prestar ateno aos negros como votantes, grupos de interessee competidores (Gonzalez 1985; Mitchell 1985; Fontaine 1985a; 1985b).

    Antes de examinar a representao negra no Congresso, faz-se imperativa uma revisodo sistema poltico brasileiro. Desde as eleies de 1982, o Brasil tem novamente umsistema poltico competitivo e multipartidrio. A partir de 1985, quando Jos Sarneytornou-se o primeiro presidente civil em 21 anos, o pas mantm um sistema presidencial civil de governo. A Constituio de 1988 delineou a estrutura formalinstitucional atual. Os membros da Cmara dos Deputados so eleitos em cada estado para um mandato de quatro anos, utilizando-se um sistema de representao proporcional de lista aberta. Todo o estado funciona como um distrito eleitoral; o Brasilno tem o sistema de distritos legislativos intra-estaduais que, nos Estados Unidos, temsido to importante para a eleio de negros para a House of representatives (Swain1993; Lublin 1997). O nmero total de deputados (513, atualmente) deve ser proporcional populao, no tendo nenhum estado menos de oito ou mais de setentadeputados. Cada estado tambm elege, pelo voto majoritrio, trs senadores, cujosmandatos duram oito anos. Com 27 estados (incluindo o Distrito Federal), o Brasil tem portanto 81 senadores.

    A maior parte das anlises sobre a representao poltica no Brasil enfoca a histrica (econtempornea) sobre-representao dos pequenos estados e a sub-representao dosgrandes, especialmente So Paulo, na Cmara dos Deputados (Nicolau 1993: 86-91;Lima e Santos 1991). Esse problema nasce da contradio entre duas clusulasconstitucionais: o artigo 14, que garante o sufrgio universal e os direitos iguais de voto,e o artigo 45, que estipula os nmeros mnimo e mximo das delegaes estaduais emoito e setenta deputados, respectivamente. A proporo de oito para setenta muitomaior que a proporo de populao (ou eleitorado) entre o estado menos e o mais

    populoso. Se a cmara tivesse representao proporcional com uma nica cadeira comoa representao mnima do estado, por exemplo, o estado de So Paulo teriaaproximadamente 115 deputados, e Roraima, Amap e Acre, um deputado cada um.

    Alm dos outros problemas do sistema eleitoral, essa desproporcionalidade chama aateno no apenas por ser bvia e corrigvel, mas tambm porque os especialistasacreditam que ela traz substantivas conseqncias s votaes importantes na Cmarados Deputados (Soares 1984: 106-8). Esse sistema altamente desproporcional derepresentao proporcional persiste porque as pessoas eleitas nos pequenos estados tmsido capazes de criar e manter uma coalizo majoritria no Congresso que resiste aquaisquer esforos srios de reforma (Arago e Fleisher 1991: 10-1).

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    Desde 1983, 29 parlamentares negros (nmero estimado) exercem mandado noCongresso. Dezessete foram eleitos para dois mandatos ou mais. A tabela 1 lista esses parlamentares por estado, filiao partidria e perodo de mandado. Entre 1983 e 1987,dos 479 membros da cmara dos Deputados, quatro (0,84%) eram negros; entre 1987 e1991, dos 487 membros, dez (2,05%); entre 1991 e 1995, de 503 membros, 16 (3,18%);

    e entre 1995 e 1999, dos 513 membros, os negros eram em nmero de 15 (2,92%).Como se pode ver claramente, os afro-brasileiros representam uma percentagem muito pequena do nmero total de deputados.

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    No Senado, embora o nmero de negros continue pequeno, sua porcentagem maior que a de deputados. Nelson Carneiro, poltico de ascendncia africana, permaneceu noCongresso por mais de trinta anos, seja como deputado, seja como senador. Embora

    fosse um legislador distinto e respeitado, raras vezes fez referncia questo racial emsuas iniciativas e atividades legislativas. Abdias do Nascimento, senador negro, exerceu brevemente o mandato no comeo dos anos 1990 e retornou no fim da mesma dcada.Duas mulheres negras, Benedita da Silva e Marina Silva, foram eleitas para o SenadoFederal em 1994. Assim, havia trs senadores negros no Senado Federal.

    Em termos de representao descritiva, a porcentagem de afro-brasileiros na populaoem geral muito maior que sua porcentagem no Congresso. O conceito de sub-representao diz respeito diferena entre a porcentagem de negros na populao gerale a porcentagem de negros no Congresso. Isso mostrado na ltima coluna databela 2.Por essa medida, os negros so sub-representados em cada estado da federao brasileira. Por outro lado, os brancos esto sobre-representados no Congresso, uma vezque so a esmagadora maioria congressional, embora representando somente 52% da populao. H tambm alguns poucos membros de ascendncia asitica, rabe eindgena.

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    Quinze estados de todas as cinco regies no tm representantes negros na Cmara dosDeputados. O maior diferencial entre a populao e nmero de representantes -aproximadamente 70% - ocorre no Norte e Nordeste, exatamente as regies com porcentagens mais altas de afro-brasileiros na populao.

    As regies Centro-Oeste e Sudeste apresentam diferenciais de aproximadamente 50% e40% entre a populao afro-brasileira e sua representao, respectivamente. A regioSul tem a menor populao afro-brasileira e a menor porcentagem mdia - 14% - desub-representao afro-brasileira. Se os negros estivessem representados na Cmara dosDeputados em nmero igual ao de sua porcentagem na populao geral, haveria 236deputados negros. A porcentagem nacional de afro-brasileiros na populao de 47%(5% pretos e 42% pardos), e o pas tem 69.651.215 habitantes afro-brasileiros (IBGE1991).

    O PT, partido poltico de esquerda, tem enviado o maior nmero de representantesnegros para o Congresso. Dos 29 parlamentares negros desde 1983, 12 so do PT. Seisdeles so do PMDB e trs do PDT e do PC do B. Isso significativo, visto que alguns

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    lderes nacionais do PT ainda se sentem desconfortveis com a questo racial (Santana1994), argumentando que a questo de classe fundamental, e o aspecto racial,secundrio ou "uma distrao". O PT sempre postulou uma representao maior dostrabalhadores no Congresso, e alguns ativistas polticos negros tm apoiado arepresentao descritiva em termos raciais anlogos a essa convocao do PT por uma

    maior presena de elementos da classe trabalhadora.O estado do Rio de Janeiro mandou mais polticos negros para o Congresso quequalquer outro estado. Ao longo do perodo analisado, sete polticos negrosrepresentaram o Rio de Janeiro, e quatro, a Bahia. Dessa forma, o pequeno nmero denegros eleitos como parlamentares merece alguma considerao. A Bahia amplamentereconhecida como o estado de presena negra mais forte em termos culturais e sociais.Em sua populao, de cerca de 12 milhes de habitantes, aproximadamente 80% deafro-brasileiros. O nmero de polticos baianos negros eleitos para o Congresso temsido historicamente muito baixo. So Paulo, o estado brasileiro mais populoso, tambmtem uma grande populao negra e um dos movimentos polticos negros mais bemorganizados e mais efetivo (Hanchard 1994). Entretanto, sua representao negra noCongresso foi mnima durante os ltimos 15 anos.

    Por ltimo, uma notvel caracterstica dos congressistas negros que eles geralmenteso homens. Somente trs mulheres negras foram eleitas para o Congresso desde 1983.Benedita da Silva a mais proeminente dessas mulheres e tem sido eleita regularmentedesde 1986. A sub-representao de mulheres negras similar sub-representao geralde mulheres no Congresso e na poltica brasileira em geral. Esse quadro confirma queos lderes polticos no Brasil tm sido homens e brancos (Silvaet al. 1997: 60:7).

    Por que os negros so to significativamente sub-representados no pas? H candidatosnegros qualificados em nmero suficiente para concorrer aos cargos eletivos? Essescandidatos tm tido recursos adequados para promover campanhas efetivas? Poucosestudos tm se preocupado com essas questes (Valente 1986). Aparentemente, no temhavido falta de candidatos negros ao Congresso, mas eles provavelmente sofreram defalta de recursos e fizeram campanhas ineficientes, considerando que as campanhaseleitorais brasileiras podem estar entre as mais caras do mundo (Fleisher 1993;Mainwaring 1995: 381). Alguns estudiosos e polticos tm apontado que a supremaciados brancos e o racismo podem produzir um eleitorado menos inclinado a votar emnegros (Silvaet al. 1997: 61-2; Twine 1998: 62-3). Somente a realizao de mais pesquisas poder ajudar a explicar a sub-representao de negros no Congresso.

    A experincia dos negros no Congresso

    As atividades de negros no Congresso Brasileiro ficaram comprometidas com atransio para a democracia poltica ocorrida nos anos de 1980 e 1990. Nas eleies de1982, o regime militar permitiu a realizao de eleies multipartidrias pela primeiravez desde 1965. Apesar da manipulao autoritria do processo eleitoral, a oposio,sob a liderana de Ulysses Guimares (PMDB So Paulo), ganhou o controle daCmara dos Deputados, mas um militar, o general Joo Figueiredo, continuava sendo o presidente, e um novo partido pr-militar, o PDS, controlava o Senado. Dessa forma, odilema dos lderes da oposio no Congresso era como continuar e aprofundar o

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    processo de democratizao sem causar o abandono da transio e recrudescimento doautoritarismo (Fleisher 1988). A situao dos negros no Congresso era ainda pior durante esse perodo, uma vez que eles tendiam a pertencer a partidos polticos emradical oposio ao conservador regime militar, como o PT e o PDT, obrigando-os aserem cuidadosos em seus discursos, apresentao de projetos ou investigao de

    problemas.A natureza da representao racial no Congresso tem inibido a tramitao da legislaovoltada para a populao negra e a criao de uma frente negra entre seusrepresentantes. Os representantes negros so poucos no apenas em relao composio total do Congresso, mas tambm em seus prprios partidos - esse tem sidoo caso em cada sesso legislativa desde o comeo dos anos 1980. Alm disso, a altarepresentao de negros no PT os tem isolado das lideranas do Congresso, uma vezque, no cenrio brasileiro, o PT um partido radical de esquerda (Keck 1992;Mainwaring 1995: 379-82).

    O senador Abdias do Nascimento (PDT Rio de Janeiro), poltico e lder ativista negro por mais de cinqenta anos, tem usado seu mandato parlamentar para registrar a posiosubordinada dos negros no Brasil, propor legislaes que penalizem a discriminaoracial, promover programas de ao afirmativa e estabelecer um feriado nacional negro,entre outras iniciativas. Embora seus projetos legislativos raramente tenham sidoaprovados, Nascimento usou o Congresso para educar seus colegas congressistas,negros brasileiros e todos os brasileiros em nome da populao negra.

    Eu sempre digo que eu fui o primeiro deputado negro no Congresso [...]no sentido deconscincia. Eu estava defendendo a causa [negra]como minha prioridade, isso queeu estou fazendo aqui (Nascimento 1994).

    Como deputado federal na 47a. Legislatura, Abdias do Nascimento denunciou o racismo brasileiro, o mito da democracia racial e a pobreza generalizada dos negros. Seusdiscursos e propostas foram editados pela Cmara em uma coletnea de seis volumes,intituladaCombate ao racismo . Por sua nfase no tema do racismo, Nascimento foicapaz de concentrar suas atividades e provocar seus colegas. Em 21 de maro de 1985, para a frustrao de um de seus colegas deputados, argumentou que o racismo era toonipresente na sociedade brasileira que os afro-brasileiros viviam em condies maisopressivas que os negros nos Estados Unidos ou na frica do Sul. O deputadoconservador Gerson Peres (PDS Par) interrompeu o pronunciamento dizendo que no

    Brasil no existia discriminao racial, embora ele admitisse a existncia de preconceitosocial. Uma acalorada discusso se seguiu entre os dois deputados (Nascimento 1985:15-21). Esse tipo de contestao, contudo, no deteve Abdias do Nascimento, que emgeral usou seu gabinete de deputado federal para articular politicamente algumas posies-chave de grupos do movimento negro.

    Os negros raramente foram ou so lderes no Congresso ou nos partidos. Comosabemos, o Congresso Nacional organizado ao longo de linhas partidrias, apesar doalto grau de autonomia individual de seus membros (Baaklini 1992: 39-55; Mainwaring1995; Ziker 1995; Desposato 1997). Antigidade e servios ao partido so os doisfatores-chave para a seleo de lderes congressistas, e quase todos os parlamentares

    negros do Congresso foram eleitos pela primeira vez somente nos anos de 1980 ou1990, enquanto a maioria dos lderes congressistas brancos tem vrios anos de

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    experincia. Ulysses Guimares, por exemplo, foi eleito para a Cmara pela primeiravez nos anos 1950. Assim, os polticos negros no tm experincia a nvel nacional eainda no alcanaram posies de liderana dentro de seus partidos, no exercendomaior influncia na definio de suas agendas polticas e legislativas (Silvaet al. 1997:53-81).

    A 48a Legislatura teve a responsabilidade de escrever uma nova constituio. Embora onmero de negros eleitos tivesse mais que duplicado, eles ainda perfaziam apenas 3%do Congresso. Embora Abdias do Nascimento no tenha sido reeleito, vrios novosdeputados negros, incluindo Carlos Alberto Ca, Benedita da Silva e Paulo Paim,continuaram e expandiram sua atividade parlamentar atravs do compromisso com aluta contra o racismo e em favor dos negros empobrecidos. O deputado Carlos AlbertoCa se concentrou em aprovar legislaes que tornassem ilegal a discriminao racial.Ele e a maioria dos ativistas negros acreditavam que a Lei Afonso Arinos de 1951 eraintil porque no podia ser aplicada: a inteno racista tinha de ser provada e, ainda queo fosse, a penalidade ou multa era mnima. A deputada Benedita da Silva usou suaenergia para descrever a difcil vida das mulheres negras e pobres e propor umalegislao que melhorasse sua condio (Silva 1988). O deputado Paulo Paim, um doslderes sindicais negros na Cmara, trabalhou no sentido de melhorar o emprego e ascondies de vida de negros e outros trabalhadores (Paim 1997). Esses e outros parlamentares foram bem-sucedidos em aprovar, na nova constituio, uma lei quetornava o racismo explicitamente ilegal (artigo 5o., seo 42) e delineava vrios direitose garantias socioecnomicas (Ttulo 8, Da ordem social).

    A Assemblia Constituinte, entretanto, mostrou que, medida que cresceu o nmero derepresentantes negros, cresceu tambm a diversidade de suas opinies em questessocioeconmicas fundamentais. Essa realidade pode ser demonstrada na nota que oDepartamento Inter-sindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), uma organizao de pesquisa elobby em assuntos sindicais, deu aos deputados com base em seus votos emdez questes de importncia para os trabalhadores (cf.tabela 3). A nota dez indica a pontuao mxima em favor dos interesses dos trabalhadores, e zero a pontuaomxima contra eles.

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2000000200001&lng=pt&nrm=iso#tab03http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2000000200001&lng=pt&nrm=iso#tab03
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    A avaliao dos parlamentares negros em parte semelhante diviso geral entre ascoalizes conservadora e progressista dentro da Assemblia, a primeira representada peloCentro e a segunda pelas foras de esquerda e nacionalistas (Fleisher 1990).

    Na 49a Legislatura, alguns parlamentares negros defenderam a necessidade de uma ao

    unitria e coordenada no enfrentamento da situao de empobrecimento e desigualdadedos negros no Brasil (Hasenbalg 1979; Silva 1985; Lovell 1994). Benedita da Silvaliderou esses esforos durante seu segundo mandato como deputada federal (1991-95),organizando encontros formais e informais em sua residncia e iniciando conversas pessoais com os parlamentares negros no Congresso a fim de promover a idia de umaconveno de congressistas negros. Ela no teve sucesso em formalizar o grupo, em parte por causa da grande diversidade partidria e ideolgica dos negros no Congresso.Os 16 parlamentares negros da Cmara dos Deputados nessa poca seguiam orientaes polticas tanto conservadoras, liberais e de centro quanto social-democratas, socialistas ecomunistas, e representavam sete partidos polticos. Alm disso, alguns deles tinhamsentimentos ambguos em relao sua prpria identidade racial (Vigilante 1994).

    O PT possua marxistas-leninistas como o deputado Carlos Santana, que acreditava queo capitalismo era um sistema econmico fundamentalmente injusto, enquanto o PFLtinha neoliberais como Rubem Bento, que apoiava o capitalismo com mnimainterveno do Estado na economia. Apesar de se identificaram como brasileiros deascendncia africana, esses polticos tinham vises polticas radicalmente diferentessobre as mudanas necessrias para ajudar o pas e sua populao negra. Carlos Santanaacreditava que a classe era mais importante que a raa para a organizao poltica e de poltica pblica, embora reconhea que h elo entre raa e classe em termos das chancesde vida dos afro-brasileiros (Santana 1994). Rubem Bento, ao contrrio, rejeita a raacomo base legtima de organizao poltica ou mesmo uma questo poltica importante(Bento 1994). Conseqentemente, a combinao de vises socialistas e visesracialmente conscientes de alguns membros do PT, como Benedita da Silva, tem sidoem ltima anlise incompatvel com as perspectivas moderadas e no raciais demembros do PFL como Rubem Bento.

    O deputado afro-brasileiro Chico Vigilante confirma a dificuldade de criar um frumnegro.

    Voc pode abordar a questo ao nvel da representao que ns temos aqui. Tome oalto comando das forcas armadas. Eu no sei se h algum general negro em posio de

    comando nas foras armadas. Em um pas em que a maioria negra, mais de 50% do pas negro, e o alto comando no tem [nenhum negro]. Voc toma as eleies presidenciais. Voc no v um candidato negro disputando as eleies presidenciais. Abancada negra aqui muito pequena. E alm de tudo, no unida. Eu acho que aquesto racial est acima de ideologia, independente de partido [...] Benedita da Silvatentou de todas as formas [...]. Mas a coisa no foi adiante porque as pessoas noaceitam sua negritude (Vigilante 1994).

    Apesar dessas dificuldades, a 50a. Legislatura tinha alguns dos mais proeminenteslderes polticos negros do pas, inclusive Abdias do Nascimento e Benedita da Silva,ambos senadores, e os deputados Paulo Paim e Luiz Alberto. Esses lderes renovaram

    esforos para criar um frum negro, e embora tenham sido realizados alguns encontrosno Congresso, no foi criada nenhuma estrutura organizacional formal.

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    Ao mesmo tempo, iniciava-se um debate nacional sobre raa e poltica pblica, do qualos principais parlamentares negros do Congresso foram participantes ativos. Em 20 denovembro de 1995, ativistas negros de todo o pas mobilizaram milhares de pessoas nacapital federal para marcar os trezentos anos de aniversrio da morte do heri afro- brasileiro Zumbi dos Palmares (Cardoso 1996). No mesmo momento, o deputado Paulo

    Paim apresentou seu projeto (Projeto de Lei n. 1.239) de reparao no valor de R$102.000,00 para cada descendente de escravos no Brasil (Paim 1997 44:5). Em umevento paralelo, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou um grupointerministerial de trabalho para desenvolver polticas pblicas que melhorem a situaodos negros.

    Finalmente, alguns ativistas e intelectuais negros que no eram parlamentarestrabalhavam fora do Congresso para auxiliar parlamentares negros e informar acomunidade negra sobre vrios acontecimentos. Os lderes do movimento negro CarlosMedeiros, do Rio de Janeiro, e Edson Cardoso, da Bahia, por exemplo, trabalhavamcom o senador Abdias do Nascimento e o deputado Paulo Paim, respectivamente(Medeiros 1997; Cardoso 1997). Em 1996, Edson Cardoso e outros ativistas negroscriaram um boletim chamado Irohin , especialmente elaborado para informar acomunidade negra sobre a legislao relevante, documentar e divulgar as atividades de parlamentares negros do Congresso e promover o interesse na poltica institucional e em poltica pblica entre organizaes do movimento negro ( Irohin 1996: 1). Em 1997,Abdias do Nascimento criou a revistaThoth , como uma forma de se comunicar com sua base e dar cobertura adicional a vrios desenvolvimentos histricos, polticos, culturaise econmicos relacionados comunidade afro-brasileira.

    Concluses

    Este artigo pretendeu demonstrar que os parlamentares negros do Congresso participamde forma significante das atividades polticas. Eles tm proposto legislaes paracriminalizar e penalizar severamente os atos de racismo e discriminao racial, paraintroduzir a histria africana e afro-brasileira nas escolas pblicas, para instituir programas de ao afirmativa e para prover a reparao dos descendentes de escravos,entre muitos outros projetos especificamente raciais, alm de estarem usando oCongresso Nacional para educar o pblico sobre as condies afro-brasileiras. Algunsdiscursos de Abdias do Nascimento, por exemplo, foram essencialmente conferncias

    sobre a histria negra e a relao entre essa histria e a realidade contempornea dosnegros.

    Entretanto, vrios fatores tm tornado esses esforos mais difceis. Primeiro, os afro- brasileiros esto dramaticamente sub-representados no Congresso em relao a sua proporo na populao brasileira. Pode-se dizer que eles tm muito trabalho a fazer,mas poucos trabalhadores. Segundo, os lderes negros mais ativos so membros do PT ePDT, partidos de esquerda, e em conseqncia geralmente no so parte da liderana doCongresso e tem grande dificuldade de obter apoio majoritrio para suas propostas.Terceiro, os esforos para unir e formar um frum negro tm sido inconclusivos devido diversidade ideolgica partidria. O deputado Chico Vigilante argumenta que htambm uma hesitao entre alguns parlamentares negros de aceitar sua prpria

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    negritude; isto , sua identidade racial como negros e sua responsabilidade polticacomo negros privilegiados de trabalhar para melhorar a situao da populao negra.

    Os estudiosos, especialmente cientistas polticos, devem investigar essas questes.Devido sua sub-representao descritiva no legislativo, os negros esto claramente em

    grande desvantagem na distribuio de poder poltico e recursos econmicos no Brasil.As pesquisas em curso de Oliveira (1991), Guimares (1995), Prandi (1996),Reichmann (1995) e outros intelectuais e ativistas negros ligados a universidades,centros de pesquisa e movimentos polticos iro expandir a compreenso sobre asquestes bsicas relacionadas raa, representao e poltica no Brasil.

    Nesse sentido, h uma srie de questes que exigem investigao. Os negros esto sub-representados tambm em cargos eletivos nos nveis estadual e municipal? Por que oRio de Janeiro e o PT tm enviado mais polticos negros para o Congresso que outrosestados e partidos polticos? O Rio de Janeiro e o PT tambm tm a mesmacaracterstica de eleger polticos negros nos nveis estadual e municipal? Por que os parlamentares negros do Congresso tm sido quase sempre homens, e no mulheres?

    O papel dos negros na poltica tambm precisa ser examinado de uma perspectivainternacional. Winant (1994) e Skidmore (1993a) tm perguntado se os Estados Unidose o Brasil so ou no mais similares que diferentes em suas relaes raciais. Skidmoreobserva que os estudiosos tradicionalmente enfatizam a dimenso bi-racial, negro- branco, das relaes raciais nos Estados Unidos, salientando os aspectos multirraciais,negro-branco-mulato, das relaes raciais brasileiras. Skidmore concluiu que os EstadosUnidos podem estar se tornando crescentemente multirracial, enquanto o Brasil dsinais de crescente bi-racialismo, e sugere mais pesquisas sobre desigualdade racial,discriminao e identidade.

    Os especialistas devem tambm estudar e comparar a poltica racial nesses dois pases,como por exemplo o papel que dos negros na poltica legislativa, presidencial e judicialdo sculo XX. Embora trs trabalhos recentes (Walters 1993; Minority Rights Group1995; Mooreet al . 1995) forneam novas e importantes informaes sobre a atividade poltica negra, mais anlises comparativas so necessrias, principalmente sobre asituao poltica negra na Amrica Latina, em especial naqueles pases nos quais osnegros formam uma proporo visvel e substantiva da populao: Brasil, Colmbia,Cuba, Repblica Dominicana, Equador, Estados Unidos e Venezuela (Hasenbalg 1996;Wade 1997). O enfoque sobre poltica e negros ajudar a colocar a raa e o processo

    poltico brasileiro no apropriado contexto nacional e internacional.

    Notas

    1. Artigo publicado originalmente em Journal of Interamerican Studies and World Affairs , 40 (4). Pelas discusses iniciais e pela pesquisa sobre esse assunto, agradeo ao professor Gil Shidlo. Pelos comentrios s verses prvias deste artigo, agradeo professora Luiza Bairros, Kim Butler, Ken Conca, Rosana Heringer, Bolvar Lamounier, Rebecca Reichmann, Eric Uslaner, Ernest Wilson e colegas da Brazilian

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    Studies Association. A University of Maryland em College Park proporcionou apoiocrtico atravs de seu comit sobre frica, frica nas Amricas e Conselho Geral dePesquisa. Agradecimentos especiais aos assistentes de pesquisa Pam Burke e Wen-HengChao.

    2.Wade observa que "falar sobre negros, ndios e raa na Amrica Latina, ou mesmo emqualquer outro lugar, em si mesmo problemtico. Aceita-se em geral que raas soconstrues raciais, definies categricas baseadas em um discurso sobre aparnciafsica ou ancestralidade. Essa no uma definio universalizante que seja boa paratodos os lugares e tempos, porque o que conta como relevantes diferenas fsicas ourelevante ancestralidade longe de ser auto-evidente"(Wade 1993: 3).

    3.Deve-se notar que Lamounier escreveu sobre raa, classe e poltica no Brasil(Lamounier 1968), e tambm participou de uma pesquisa comparativa sobre poltica brasileira e sul-africana (Lamounier 1993: 3).

    4.Fundado em 1944, o TEN se tornou o grupo teatral negro mais importante do pas no perodo aps a Segunda Guerra Mundial. Suas apresentaes desafiaram os esteretiposraciais brasileiros e deram aos negros trabalhadores e pobres no Rio de Janeiro umaauto-imagem positiva. Alm disso, o fundador do TEN, Abdias do Nascimento,assiduamente debatia na mdia com as elites brancas do Brasil.

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    SUMMARY

    Racial and political representation in Brazil: black congresspersons in the nationalcongress, 1983-1999

  • 8/8/2019 Representao racial e poltica no Brasil. Parlamentares negros no Congresso Nacional

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    This paper proposes to examine the Brazilian Congress with respect to theunderrepresentation and behavior of Blacks in this arena. Its major argument consists of two assertions: Afro-Brazilians are dramatically underrepresented in Congress ascompared to their proportion in the general population, and both thisunderrepresentation and the political and cultural factors relating to it bring about an

    immense reduction of Afro-Brazilians effectiveness in Congress.

    RSUM

    Reprsentation sociale et politique au Brsil: des parlementaires noirs au CongrsNational, 1983-1999

    Le but de cet article est d'analyser le Congrs brsilien sous l'angle de la sous-reprsentation des noirs et de leurs comportements dans ce domaine. L'argument principal repose sur deux affirmations: les Afro-brsiliens sont dramatiquement sous-reprsents au Congrs par rapport leur proportion dans la population globale et cettesous-reprsentation et les facteurs politiques et culturels lis elle rduisent grandementl'efficacit des Afro-brsiliens au Congrs.