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REPRESENTAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO DA ARQUITETURA RESIDENCIAL: Estudo de caso com arquitetos brasileiros contemporâneos CHAGAS, ESTEVAN BOGADO (1); DIHL, FERNANDA DE BARROS (2); STUMPP, MONIKA MARIA (3); MANICA, CARLO ROSSANO (4) 1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Arquitetura [email protected] 2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Arquitetura [email protected] 3. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Arquitetura [email protected] 4. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós Graduação em Design [email protected] RESUMO O presente artigo integra a pesquisa “A Representação Gráfica no Projeto de Arquitetura” (UFRGS, Universidade Positivo) que tem como objetivo principal construir, por amostragem, um quadro que reflita as práticas de representação gráfica contemporânea no Brasil, identificando através de análise gráfica e textual, a representação e divulgação dos projetos de arquitetura. Tem como objeto de estudo os desenhos divulgados por 25 jovens arquitetos ou escritórios, eleitos em 2010 como a “nova geração da arquitetura brasileira” (Editora PINI, 2010). Esse estudo apresenta a catalogação dos desenhos de seis escritórios e tem como objeto de estudo os projetos de habitação unifamiliar desses escritórios: Arquitetos Associados, Bernardes Arquitetura, Metro Arquitetos Associados, Mapa, SIAA e SPBR. A análise desta produção permite, por amostragem, compor um cenário da representação gráfica contemporânea brasileira, mais especificamente, da representação da arquitetura residencial, que representa o acervo mais volumoso de obras construídos e/ou projetos dos arquitetos eleitos. Objetiva-se investigar a representação e divulgação dos projetos de arquitetura residencial. Este artigo apresenta a caracterização da representação gráfica da arquitetura residencial, descreve a metodologia para a tabulação dos dados e apresenta os resultados obtidos. Palavras-chave: Representação gráfica, projeto de arquitetura, residências brasileiras.

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REPRESENTAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO DA ARQUITETURA RESIDENCIAL: Estudo de caso com arquitetos brasileiros

contemporâneos

CHAGAS, ESTEVAN BOGADO (1); DIHL, FERNANDA DE BARROS (2); STUMPP, MONIKA MARIA (3); MANICA, CARLO ROSSANO (4)

1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Arquitetura

[email protected]

2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Arquitetura [email protected]

3. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Arquitetura

[email protected]

4. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós Graduação em Design [email protected]

RESUMO

O presente artigo integra a pesquisa “A Representação Gráfica no Projeto de Arquitetura” (UFRGS, Universidade Positivo) que tem como objetivo principal construir, por amostragem, um quadro que reflita as práticas de representação gráfica contemporânea no Brasil, identificando através de análise gráfica e textual, a representação e divulgação dos projetos de arquitetura. Tem como objeto de estudo os desenhos divulgados por 25 jovens arquitetos ou escritórios, eleitos em 2010 como a “nova geração da arquitetura brasileira” (Editora PINI, 2010). Esse estudo apresenta a catalogação dos desenhos de seis escritórios e tem como objeto de estudo os projetos de habitação unifamiliar desses escritórios: Arquitetos Associados, Bernardes Arquitetura, Metro Arquitetos Associados, Mapa, SIAA e SPBR. A análise desta produção permite, por amostragem, compor um cenário da representação gráfica contemporânea brasileira, mais especificamente, da representação da arquitetura residencial, que representa o acervo mais volumoso de obras construídos e/ou projetos dos arquitetos eleitos. Objetiva-se investigar a representação e divulgação dos projetos de arquitetura residencial. Este artigo apresenta a caracterização da representação gráfica da arquitetura residencial, descreve a metodologia para a tabulação dos dados e apresenta os resultados obtidos.

Palavras-chave: Representação gráfica, projeto de arquitetura, residências brasileiras.

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Introdução

Desde que a computação gráfica trouxe à tona o debate sobre os novos meios de

representação da arquitetura há um esforço pedagógico para investigar novas maneiras de

relacionar os meios tradicionais com os meios eletrônicos. Esse esforço aponta cada vez

mais para a necessidade de interações complementares entre os vários meios disponíveis

para a comunicação de idéias arquitetônicas. Reconhecendo as possibilidades e as

limitações de cada um dos meios, a interação complementar entre o desenho, as

simulações eletrônicas e a fotografia, pode compensar as restrições de cada meio isolado, e

ampliar as possibilidades de diálogo sobre o projeto (Rozestraten, 2006). Como afirma

Piñon (2009) não é propósito perder tempo com a polêmica sobre se é preferível o “desenho

manual” ao “desenho digital” ou o inverso. “Não há porque se comparar instrumentos que ao

longo da história serviram para determinados fins, nem ao menos criticar suas eventuais

limitações.” (Piñon, 2009).

Atualmente, tanto o universo profissional quanto acadêmico vem estudando a representação

gráfica com o intuito de avaliar novas formas de representação, desde desenhos à mão livre

até a inserção da ferramenta computacional, incluindo a mescla destas duas técnicas. Aqui

se encontra o desafio: como articulam-se as ferramentas computacionais com os métodos

convencionais de representação gráfica na representação de projetos de arquitetura? Como

tais técnicas estão sendo utilizadas para a divulgação dos projetos de arquitetura para a

sociedade?

Diante de tais questionamentos é apresentado esse artigo, que integra a pesquisa “A

Representação Gráfica no Projeto de Arquitetura” que tem como objetivo principal construir,

por amostragem, um quadro que reflita as práticas de representação gráfica contemporânea

no Brasil, identificando através de análise gráfica e textual, a representação e divulgação

dos projetos de arquitetura. Tem como objeto de estudo os desenhos divulgados por 25

jovens arquitetos ou escritórios, eleitos em 2010 como a “nova geração da arquitetura

brasileira” (Editora PINI, 2010).

Esse estudo apresenta a catalogação dos desenhos de seis escritórios e tem como objeto

de estudo os projetos de habitação unifamiliar desses escritórios: Arquitetos Associados

(Minas Gerais), Bernardes Arquitetura (São Paulo), Metro Arquitetos Associados (São

Paulo), Mapa (Rio Grande do Sul), SIAA (São Paulo) e SPBR (São Paulo). A análise desta

produção permite, por amostragem, compor um cenário da representação gráfica

contemporânea brasileira, mais especificamente, da representação da arquitetura

residencial, que representa o acervo mais volumoso de obras construídos e/ou projetos dos

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arquitetos eleitos. Objetiva-se investigar, através de análise gráfica e textual, a

representação e divulgação dos projetos de arquitetura residencial.

Pretende-se com isso ampliar os estudos sobre as diferentes maneiras de representação

gráfica utilizadas na publicação de obras arquitetônicas residenciais e identificar as

estratégias de representação predominantes nas diversas etapas projetuais.

Com vistas a alcançar os objetivos propostos, o trabalho é desenvolvido através de

procedimentos de pesquisa bibliográfica e documental, seguidas de análise. Na pesquisa

bibliográfica, aborda-se o desenho nas etapas do processo de projeto (Gregotti, 1972) e a

utilização de sistemas analógicos, digitais e híbridos (Alves, 2009; Bermudez, 1998;

Bermudez e Kevin, 1999). A pesquisa documental trata de identificar, selecionar e digitalizar

documentos sobre obras e/ou projetos residenciais dos arquitetos eleitos como objeto de

estudo. Para a tabulação dos dados foi criada uma tabela que catagola o material

apresentado no website, distinguindo a fase de projeto ao qual se refere (concepção ou

apresentação), o conteúdo representado (desenhos de localização, plantas baixas, cortes,

fachadas) e as técnicas de representação (desenho analógico, digital, híbrido, bi ou

tridimensional) (Sainz, 1990; Forseth, 2004). A análise classifica os desenhos segundo a

cronologia; a etapa de projeto, o método de construção gráfica, e o sistema de desenho.

Nessa etapa são verificadas similaridades entre os desenhos, identificando se possuem

uma certa regularidade na forma de representar os projetos. Serão consideradas também as

datas de cada projeto, buscando verificar possível aumento ou diminuição de frequência do

uso de alguma técnica de representação. Para realizar a análise dos dados são gerados

gráficos, através dos quais a representação gráfica do escritório pode ser interpretada e

podem ser geradas considerações sobre o desenho nas diferentes etapas do processo de

projeto.

A representação gráfica em projetos de arquitetura

As representações materializadas graficamente de que os arquitetos fazem uso — e que de

forma genérica poder-se-ia denominar como desenho de arquitetura — se relacionam

àqueles dois modos reconhecidos como fundamentais para a operação projetual (Gregotti,

1972, 1996): a) a formação, conceituação e resolução da imagem da edificação,

representada por notação gráfica de concepção, esquemas, croquis, esboços, diagramas,

etc.; b) sua comunicação formal representada por um conjunto de símbolos e códigos

predeterminados — desenhos técnicos de precisão, desenhos técnicos de apresentação,

desenhos de execução, etc.

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São chamados de notações gráficas de estudo e de concepção (Frazer e Henmi, 1994) os

registros gráficos empregados para a primeira modalidade. Variam de esquemas simples a

diagramas mais elaborados (Barki, 2003) e podem ser definidos como um tipo de registro

gráfico que, nascendo de um processo que tanto pode ser rápido e espontâneo como lento

e elaborado, mesmo quando executados com o auxílio de instrumentos, acham-se, num

sentido mais geral, pouco ligados à convenções ou técnicas rígidas.

Por se tratar de um tipo de registro que combina pequenas ilustrações e esquemas gráficos

de natureza variada, essas notações recebem uma gama variada de denominações:

desenho de estudo, desenho de concepção, esquema, esboço, delineação, demarcação,

marcação, bosquejo, rascunho, croqui, diagrama, gráfico, etc. Independente da

nomenclatura utilizada por cada autor, as definições são bastante semelhantes, sendo

possível considerá-las equivalentes.

Fraser e Henmi (1994) tratam este tipo de representação como desenho de concepção, um

desenho de estudo com um certo rigor geométrico e dimensional, em que se reconhecem as

demandas e as condicionantes do projeto e se especula possíveis soluções. Esse tipo de

desenho combina esquemas, croquis, diagramas, plantas, cortes, elevações e perspectivas

esquemáticas com os quais o projetista testaria as primeiras tentativas e hipóteses de

implantação no sitio e algumas soluções formais e construtivas.

Os sistemas de representação

Os meios ou sistemas de produção empregados como ferramentas de trabalho pelo

arquiteto podem ser distinguidos em duas categorias: sistemas analógicos e sistemas

digitais (Bermudez, 1998).

Os sistemas analógicos utilizam papel, grafite, hidrocor, nanquim, cartolina, etc. Os sistemas

digitais (eletrônicos, virtuais, assistidos por computador) utilizam scanner, manipulação de

imagens, animação e rendering, dentre outros. Os sistemas híbridos, por sua vez, fazem

uso desses dois sistemas (Bermudez e King, 1999).

Como combinar esses sistemas passa a ser uma decisão de cada arquiteto em função do

seu próprio processo projetual. Para tanto, é necessário conhecer as suas características e

experimentá-los. Nascimento e Neves (2010) consideram que a representação por meios

tradicionais implica no domínio de pelo menos, três diferentes campos de conhecimento: o

conhecimento de projeções; o traçado gráfico das formas resultantes das projeções e a

compreensão das relações espaciais da forma.

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O sistema digital, se diferencia do método tradicional na agilização do traçado, na utilização

de bibliotecas gráficas e na facilidade de modificar um projeto, visualizando o desenho em

diferentes posições do observador. A flexibilidade formal desse sistema permite que em

estudos volumétricos sejam geradas várias possibilidades de composição (Fernandes et al.,

2007).

No desenho com sistema manual, é o desenhista quem dirige a ponta do lápis,

demonstrando com seu traço sua perícia. Já no desenho digital, a perícia não está

relacionada ao traço, mas é associada à maneira de organizar sequências de comandos e

ao planejamento de uma estratégia prévia ao próprio ato de desenhar (Menegotto e Araujo,

2000). “Desenhar com ferramentas digitais significa lidar a todo o momento com dois níveis

de informação: informação gráfica, de natureza visual e informação alfanumérica,

materializada em uma base de dados que permanece oculta aos olhos.” (Menegotto e

Araujo, 2000, p. 14).

O aparecimento do computador e das ferramentas de desenho digital permitiu que os

arquitetos pudessem materializar novas concepções de projetos, que até então seriam muito

difíceis de realizar. Em função de uma arquitetura de fluidez formal complexa, os arquitetos

buscaram o auxílio de programas computacionais desenvolvidos pela indústria aeroespacial

para representar geometrias complexas.

Estudos sobre a utilização de sistemas analógico, digital e híbrido na representação de

projetos de arquitetura são apresentados por Bermudez e King (1999), Leggit (2004),

Farrelly (2008) e Pruna (2009). A pesquisa de Bermudez e King (1999) inclui, dentre outros

aspectos, a caracterização dos meios e os aspectos fundamentais de interface entre eles.

Os autores comentam que as características dos meios digitais para apresentar formas e

espaços em três ou quatro dimensões, associada ao uso das representações analógicas

dirigidas ao desenvolvimento das articulações materiais e formais estão produzindo

melhores resultados nos desenhos de aspectos formais, espaciais, tecnológicos e materiais.

Segundo esses autores, as ferramentas analógicas são mais fluidas, sendo, portanto, mais

apropriados ao desenvolvimento inicial e rápido das ideias, à estimulação da imaginação, à

manipulação e à visualização de escala, ao estudo de questões lumínicas e à expressão de

estados emocionais. Os meios digitais demandam um maior nível de definição e abstração

geométrica, sendo assim adequados ao desenvolvimento de detalhes do projeto, como

determinadas questões tecnológicas. Permitem ainda a geração e articulação de múltiplos

pontos de vista, a manipulação de imagens, simulações realistas, além de facilitar o

arquivamento das informações (Bermudez e King, 1999).

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A interface entre os meios pode ser dada de várias maneiras, a partir da utilização de

diversos recursos manuais e computacionais. Leggit (2004) e Pruna (2009) apontam que a

mesma pode ocorrer através de preenchimento digital sobre croquis, tratamento manual em

desenho modelado virtualmente e fotomontagem.

O preenchimento digital é o processo de manipulação digital de representações análogas,

exemplificado pelo escaneamento de croquis (Bermudez e King, 1999). Parte de um esboço

realizado a mão, que após ser digitalizado, recebe tratamento digital, com a utilização de

ferramentas de pintura e retoque que permitem traçar diretamente sobre a imagem e

modificá-la (Pruna, 2009). O processo inverso trata da manipulação análoga de

representações digitais, chamado de tratamento manual em desenho modelado

virtualmente. Nesse caso é inicialmente realizada a estrutura básica do desenho através de

modelagem virtual no computador, com o uso de ferramentas como CAS (Computer Aided

Sketching) e CAD (Computer Aided Designing). O tratamento análogo é realizado sobre a

imagem resultante da modelagem com ferramentas de desenho manual, como lápis grafite,

lápis de cor ou até mesmo canetas hidrocor.

A fotomontagem é a inserção de fotos ou desenhos em uma imagem realizada com técnica

convencional ou computacional (Farrelly, 2008). A importância dessa técnica reside no fato

de combinar fotos ou impressões de lugares reais com ideias arquitetônicas imaginadas,

que criam uma imagem final que parece real. Com o surgimento da fotografia digital,

desenvolveram-se programas de edição de imagens, que, segundo Pruna (2009), permitem

trabalhar com camadas que oferecem a possibilidade de obter transparências e outros

efeitos de montagem.

Por fim, cabe ressaltar que não existe uma única maneira de levar adiante um processo

projetual. A gradação de representações de maior generalidade até aquelas de maior

definição, ainda que válida para a maioria dos processos projetuais, não indica um

procedimento único. Isso pode variar de pessoa para pessoa dependendo do método de

projeto utilizado, em função de diferentes problemas, situações e propostas de projeto

(Martinez, 2000).

A partir do exposto acima, sobre a prática do desenho nas etapas do processo de projeto e a

utilização de sistemas analógico, digital e híbrido, foram elaborados os procedimentos

metodológicos desse trabalho, apresentados a seguir.

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Procedimentos

Com vistas a alcançar os objetivos propostos, este trabalho é desenvolvido através de

procedimentos de pesquisas bibliográfica e documental, seguidas de análise.

A pesquisa bibliográfica abordou a prática do desenho nas etapas do processo de projeto,

levando-se em conta a utilização de meios tradicionais e digitais, a partir de dois enfoques

principais: o conceito dos desenhos de concepção e de apresentação do projeto e a utilização

de sistemas analógicos, digitais e híbridos na representação desses tipos de desenho.

A pesquisa documental se deu com os desenhos dos projetos e obras residenciais

documentados no website do escritório. Para a tabulação de dados foi criada uma tabela,

que teve como objetivo catalogar quantitativamente todo o material apresentado no website,

distinguindo a fase de projeto ao qual se referia, o conteúdo representado e as técnicas de

representação.

Os itens mapeados de cada projeto foram:

Caracterização: Identificação do projeto, ano do projeto, além da verificação se o

mesmo foi executado;

Desenhos de concepção: analógico, digital, híbrido, 2D, 3D, maquetes de estudo;

Desenhos de apresentação: desenho de localização, plantas baixas, cortes,

fachadas, detalhes (estes diferenciados em analógicos, digitais, híbridos).

Os desenhos agrupados como sendo de concepção, foram classificados em bi ou

tridimensionais e em analógicos, digitais e ou híbridos. Também observou-se a utilização de

maquete de estudo. No material classificado como de apresentação, observou-se a

presença de planta de localização e situação, plantas baixas dos pavimentos, cortes,

fachadas e desenhos de detalhamento. Neste estudo não foram consideradas as imagens

tridimensionais e as fotografias. Tais elementos são objeto de estudo de outros trabalhos.

Esta etapa apresenta um panorama geral que compreende o inventário produzido a partir do

site do escritório em questão, tanto na quantificação como na identificação do caráter e do

conteúdo do material gráfico apresentado.

A análise é realizada por meio de observação e comparação. Os desenhos foram analisados e

descritos, gráfica e textualmente, por meio de critérios eleitos para a análise. Num segundo

momento serão verificadas similaridades e especificidades entre os desenhos do arquiteto.

A investigação sobre os desenhos pode se dar a partir de diversas categorias, como o

conteúdo (concepção ou apresentação) o modo de representação, a técnica gráfica e o efeito

ilustrativo (Sainz, 1990; Forseth, 2004). Nesse estudo verifica-se a etapa de projeto que o

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desenho representa (concepção ou apresentação), o método de construção gráfica, se

bidimensional (planta, corte ou fachada) ou tridimensional (desenhos axonométricos, em

perspectiva, vista explodida), e o sistema de desenho, se analógico, digital ou híbrido.

Ao final foram gerados gráficos síntese de cada etapa do processo de projeto. Através

desses a representação gráfica do escritório pode ser interpretada e podem ser geradas

considerações sobre o desenho nas diferentes etapas do processo de projeto.

Resultados

Contabilização e caracterização geral do material encontrado no sites

Foram contabilizados no website dos escritórios o seguinte número de projetos residenciais:

Bernardes Arquitetura (43), Arquitetos Associados (23), SPBR (18), SIAA (13), MAPA (8) e

METRO (6). A catalogação desse material foi realizada em tabelas, distinguindo a fase de

projeto ao qual o desenho se refere (concepção e representação), o conteúdo (plantas,

cortes, fachadas, detalhes) e a técnica de representação (analógico, digital ou híbrido).

A observação das tabelas mostrou que constam em todos os websites dos escritórios

desenhos das etapas de concepção e apresentação, cuja contabilização e caracterização é

apresentada abaixo.

Contabilização e caracterização da etapa de concepção

Na etapa de concepção, nota-se a presença de desenho analógico em cinco escritórios

(Arquitetos Associados, Bernardes Arquitetura, Metro Arquitetos Associados, SIAA e SPBR).

Apesar disso o número de projetos demonstrados por meio analógico é pequeno, se

comparado ao montante total: um projeto nos escritórios Arquitetos Associados, Metro e

SIAA; dois projetos no SPBR e sete no Bernardes Arquitetura.

Os escritórios Bernardes Arquitetura e SIAA adotam o desenho analógico bidimensional na

fase de concepção (8% nos projetos do SIAA e 16% no Bernardes). No Bernardes o

desenho analógico é utilizado para representar plantas baixas e cortes que demonstram as

ideias iniciais do projeto. Caracterizam-se por serem esquemáticos e na grande maioria

monocromáticos. Exceção ao uso do desenho analógico é verificada no MAPA, que utiliza

somente esquemas gráficos digitais na etapa de concepção.

O desenho digital foi observado na tabulação de dados de três escritórios: Arquitetos

Associados (13%), MAPA (38%) e Metro Arquitetos Associados (17%). Nos Arquitetos

Associados prevalece o desenho digital bidimensional, contabilizado em 13% do material. O

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modo tridimensional é observado em 4% do material, sendo perspectivas axonométricas. O

desenho de concepção torna-se recorrente na apresentação de projetos a partir de 2011.

Dentre esses escritórios o desenho digital prevalece no material apresentado no website do

MAPA, onde cerca de 38% dos projetos adotam esquemas digitais tridimensionais. Constam

de representações axonométricas construídas com sistemas CAD que demonstram

aspectos relativos aos condicionantes físicos e climáticos, à ocupação do lote, distribuição

do programa e estudos formais (Fig. 1). Em alguns casos os diagramas são acompanhados

de textos, que explicam e comparam visualmente características do edifício. Esse tipo de

representação se tornou característico da linguagem gráfica do escritório.

Figura 1: Contabilização do desenho de concepção do escritório MAPA

Representações híbridas foram observadas apenas em dois escritórios, METRO (17%) e

SPBR (6%). No caso do SPBR o desenho híbrido faz parte de um projeto e utiliza

representação analógica tridimensional (axonométrica) com preenchimento digital. No

METRO esse tipo de representação foi utilizado em uma planta baixa onde foram feitos

desenhos a mão sobre um desenho digital. No escritório METRO consta ainda a utilização

de maquetes de estudo (17%), presente também no MAPA (37%). Cabe ressaltar que o

METRO foi, dentre os escritórios analisados, o único que apresentou em seu website todas

as ferramentas e técnicas eleitas para a tabulação (desenho analógico, digital e híbrido;

desenho bi e tridimensional e maquete de estudo) (Fig. 2).

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Figura 2: Contabilização do desenho de concepção do escritório METRO

Contabilização e caracterização da etapa de apresentação

Nessa etapa, verifica-se a recorrência de desenhos bidimensionais - plantas baixas, cortes,

fachadas e plantas de localização/situação. São desenhos que utilizam ferramentas

computacionais, atendem as normas de representação do desenho técnico e são

normalmente produzidos com sistemas CAD. Alguns são manipulados em programas de

edição de imagem.

O desenho de apresentação aparece em maior número em quatro escritórios (Arquitetos

Associados, MAPA, METRO e SPBR). Dentre esses, o MAPA é o único que apresenta um

número igual de projetos com plantas, cortes e fachadas (87%) (Fig. 3)

Figura 3: contabilização dos desenhos de apresentação: MAPA

Os escritórios Arquitetos Associados, SPBR e METRO apresentam, em ordem decrescente,

plantas baixas, cortes, plantas de localização e fachadas (Fig. 4 e Fig. 5). O METRO

apresenta número menor de plantas de localização e fachadas, se comparado aos outros

dois escritórios.

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2D analógico digital híbrido 3D MaqueteEstudo

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Plantas baixas Cortes Fachadas Localização

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Figura 4: contabilização dos desenhos de apresentação: Arquitetos Associados e SPBR

Figura 5: contabilização dos desenhos de apresentação: METRO

Desenhos de plantas, cortes e fachadas estão presentes em cinco escritórios (Arquitetos

Associados, MAPA, Metro Arquitetos Associados, SIAA e SPBR). Desenhos de cortes estão

presentes em todos os websites observados, em maior número nos Arquitetos Associados

(97%), SPBR (95%), MAPA (87%) e METRO (84%), e em menor porcentagem no SIAA

(23%) e Bernardes (7%). Plantas baixas são apresentadas pelos Arquitetos Associados

(95%), SPBR (95%), MAPA (87%), METRO (84%) e SIAA (23%).

Plantas de situação e localização estão presentes em cinco escritórios, com exceção do

SIAA (Fig. 6). Alguns escritórios, como os Arquitetos Associados apresentam a plantas

Arquitetos Associados

SPBR

METRO

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baixa junto da planta de localização. Nos projetos mais recentes o escritório adota imagens

de satélite como parte integrante da planta de situação.

Figura 6: contabilização dos desenhos de apresentação: SIAA

Fachadas estão presentes em cinco escritórios, com exceção do Bernardes. Dentre os

analisado esse escritório é o que apresenta um número menor de desenhos de

apresentação, como demonstra a imagem abaixo (Fig. 7). O escritório privilegia a

apresentação de perspectivas digitais e fotos, elementos esses que não foram analisados.

Figura 7: Contabilização do desenho de apresentação: Bernardes Arquitetura

Desenhos de detalhes não são representativos na produção dos escritórios, estando

presentes apenas no site de três escritórios (Arquitetos Associados, Metro e SPBR). Estão

presentes em dois projetos dos Arquitetos Associados e em um projeto dos demais. São

desenhos técnicos que utilizam sistemas CAD.

Considerações Finais

A investigação acerca da representação gráfica da arquitetura residencial dos escritórios

permitiu testar os procedimentos e instrumentos de pesquisa, além de responder as

questões levantadas na introdução desse trabalho.

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Plantas baixas Cortes Localização Fachadas

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Através dos resultados foi possível identificar a produção dos projetos residenciais, bem

como verificar a ocorrência do desenho nas etapas de concepção e apresentação.

Os resultados preliminares demonstram o uso de ferramentas computacionais de

representação gráfica nas etapas de concepção e apresentação. Desenhos analógicos e

híbridos são encontrados apenas na fase de concepção. Observou-se que a maior parte das

representações refere-se a desenhos de apresentação, o que demonstra a preferência dos

escritórios em divulgar o projeto final.

Pode-se observar que os desenhos de um mesmo escritório apresentam similaridades

quanto ao conteúdo e ao modo de representação, demonstrando assim que o arquiteto optou

por utilizar a mesma linguagem gráfica para apresentar os projetos.

Para as análises dos demais escritórios fica o questionamento sobre a real articulação entre

as ferramentas computacionais com os métodos convencionais de representação gráfica na

divulgação de projetos de arquitetura. A representação gráfica contemporânea é

caracterizada pela utilização quase que total de ferramentas computacionais ou ainda

existem exemplos de articulação entre os dois sistemas.

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