arquitetura e representação - casas de papel de eiseum e textos de derrida

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  • 8/4/2019 Arquitetura e representao - casas de papel de Eiseum e textos de Derrida

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO E PESQUISA EM ARQUITETURA

    PROPAR

    !"#$%&'&$"()')"'*"'+',&(-./0)(+)1(+(+)2')*(*'34)2')5'&'")6%+',7(,)')&'8&/+)2()2'+9/,+&"$-./4)2'):(9#$'+);'""%2(4)(,/+)=)

    Professor orientador:Dr. Fernando Freitas Fuo

    Beatriz Regina DorfmanOutubro de 2009

    TtuloArquitetura e representao : as Casas de papel, de Peter Eisenman e textos da

    desconstruo, de Jacques Derrida, anos 60 a 80

    Autor Dorfman, Beatriz Regina

    Orientador Fuo, Fernando Freitas

    Data 2009

    Nvel Doutorado

    Instituio Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Arquitetura. Programa

    de Pesquisa e Ps-Graduao em Arquitetura.

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    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao ePesquisa em Arquitetura, PROPAR, da Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do

    Rio Grande do Sul, como requisito parcialpara a obteno do ttulo de doutor

    Professor orientador:Dr. Fernando Freitas Fuo

    Beatriz Regina DorfmanOutubro de 2009

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    D695a Dorfman, Beatriz Regina Arquitetura e representao : as Casas de

    papel de Peter Eisenman e textos dadesconstruo, de Jacques Derrida, anos 60 a 80 /Beatriz Regina Dorfman ; orientao de FernandoFreitas Fuo. 2009.

    336 p.: il.

    Tese (doutorado) Universidade Federal doRio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura,Programa de Pesquisa e Ps-graduao em

    Arquitetura, Porto Alegre, RS, 2009.

    1. Arquitetura desconstrutivista : 1960 a 19802. Desconstruo. 3. Desconstrutivismo. 4.

    Arquitetura ps-moderna I. Eisenman, Peter. II.Derrida, Jacques. III. Fuo, Fernando Freitas.IV. Ttulo.

    CDU: 72.0371960/1980

    Bibliotecria Responsvel

    Elenice Avila da Silva CRB-10/880

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    Agradecer preciso e muito fcil, quando se tem tantos amores, tantas pessoasqueridas com quem compartilhar, que merecem este gesto no momento deconcluir um trabalho to pesado como a elaborao de uma tese.Agradeo aos meus filhos pelo carinho e pela compreenso amorosa; ao Ramiro,de longe; e a Francisca, aqui pertinho. Obrigada por existirem, por terem nascidode mim e por me fazerem sentir o amor imenso que eu tenho por vocs.Aos meus pais, como reconhecimento pelos seus exemplos de vida, de trabalho,de amor e de dedicao.Ao meu prncipe, Joo Carlos, por me fazer acreditar num sonho de amor muitomaior do que eu sempre sonhei.Ao Fernando Fuo, orientador, amigo e parceiro, pelo exemplo de rigor, seriedade,

    trabalho e dedicao, valor e integridade de mestre.Agradeo UFRGS, a universidade onde fiz o curso de graduao em Arquiteturae Urbanismo e que me acolheu, quando retornei ao PROPAR, para o mestrado edoutorado aos professores e colegas.Um agradecimento especial memria de minha querida professora SandraPesavento, no apenas pelas contribuies na banca de qualificao, mas portoda a sua atuao profissional, como professora e pesquisadora, pelo exemplocomo mestra e inspiradora, entusiasmada e criativa, com sua habilidade e agenerosidade ao transmitir a riqueza de seus conhecimentos aos seus alunosencantados.Aos meus amigos, pelo ombro consolador e pela pacincia de esperarem por mim.

    Aos colegas da PUCRS, Ana, Raquel, Cris, Bregatto, Suzaninha, Leila, Dalila, Z,Hubner, Regal, Menegotto, Campos, Muller, Flavio, e tambm aos que eu nocitei, pelo carinho, interesse e acompanhamento amigo e atencioso, no dia a dia.Aos alunos da PUCRS, pela inspirao e pela motivao para continuar apesquisar e a aprender, que no termina nunca...

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    A inteligncia e a paixo. No h arte sem emoo, nem emoo sempaixo. As pedras so inertes, dormentes nas pedreiras, e as absides de SoPedro constituem um drama. Em torno das obras decisivas da humanidade est odrama. Drama-arquitetura = homem do universo e dentro do universo.(Le Corbusier, Por uma arquitetura1)

    Entretanto, se, sem amar a literatura em geral e por ela mesma, amoalguma coisa nela que no se reduz de modo algum a uma qualidade esttica, auma fonte de fruio formal, isto seria em lugar do segredo. Em lugar de umsegredo absoluto. A estaria a paixo. No h paixo sem segredo, este segredo,mas no h segredo sem paixo. Em lugar do segredo: a, entretanto, onde tudoest dito e o resto nada mais seno o resto, nem mesmo literatura.(Jacques Derrida, Paixes2)

    1 CORBUSIER, Le. Por uma arquitectura. So Paulo: Perspectiva, 1977, p. 121.2 DERRIDA, Jacques. Paixes. Traduo: Lris Z. Machado. Campinas: Papirus, 1995, p. 46, 47.

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    Os avanos cientficos e tecnolgicos e a superao dos paradigmasfilosficos que fundamentaram o pensamento moderno provocaram profundasmodificaes na representao, ao longo do sculo XX. A arquitetura e a filosofia,como as mais diversas manifestaes contemporneas associaram-se nessasmudanas. Nas dcadas de 1960 a 80, os trabalhos do arquiteto Peter Eisenmane os do filsofo Jacques Derrida partiram de questes da linguagem e darepresentao e propuseram uma srie de rupturas em termos formais e

    conceituais. Este processo ganhou expresso na arquitetura e em suarepresentao e obteve projeo internacional na exposio que deu nome aofenmeno que ficou conhecido como arquitetura desconstrutivista. Aps esteperodo, as obras do arquiteto e o pensamento do filsofo seguiram por caminhosdiferentes.

    Arquitetura e representao: as Casas de papel de Peter Eisenman e textosda desconstruo em Jacques Derrida, anos 60 a 80analisa obras selecionadasdo arquiteto e do filsofo que abordam questes da linguagem e darepresentao. Discute conceitos da desconstruo, que permanecem vlidospara a arquitetura contempornea, e relaciona-os com outras modalidades deexpresso artstica. Demonstra que no h correspondncia entre a filosofia da

    desconstruo e o fenmeno que ficou conhecido como arquiteturadesconstrutivista.

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    !A+&"(9&)

    Scientific and technological advances and the passing by of philosophicparagons witch founded modern thought promoted deep changes in

    representation, all over XX century. Architecture and philosophy, as many of thecontemporary expressions are associated in this changes. In the decades of 1960to 80, the works of the architect Peter Eisenman and of the philosopher JacquesDerrida began from questions of language and representation and proposed aseries of breakings in formal and conceptual terms. This process had expression inarchitecture and in its representation and was internationally known in theexposition that gave name to the phenomena and is known as deconstructivistarchitecture. After this period, the works of the architect and the thinking of thephilosopher followed different ways.

    Architecture and representation, Paper houses by Peter Eisenman and textsof deconstruction by Jacques Derrida, years 60 to 80analyses selected works of

    the architect and of the philosopher about language and representation. Discussesquestions and concepts of deconstruction, that keep on valid to contemporaryarchitecture, and searches for relationships other modalities of artistic expression.Demonstrates that there is no correspondence between philosophy ofdeconstruction and the phenomena that became known as deconstructivistarchitecture.

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    B%+&()2')%3$+&"(-C'+)Figura 01 Aquarela 01, Esquema conceitual e visual da tese.......................25Figura 02 rvore Evolucionista. Fonte: JENCKS, Charles. Movimentosmodernos em arquitectura. So Paulo: Martins Fontes, p. 32. .....................25

    Figura 03 Paul Citroen (1896/1983), Metropolis, collage ..............................29Figura 04 Slidos platnicos .........................................................................32Figura 05 Representao na Antiguidade egpcia ........................................32Figura 06 Hierglifos em relevo.....................................................................32Figura 07 Hierglifos ....................................................................................33Figura 08 Rebatimento em pura, representao da geometria descritiva ...35Figura 09 Pirmides do Egito, 2700 a. C. .....................................................35Figura 10 Slidos platnicos ........................................................................35Figura 11 Ren Descartes (1596/1650) .......................................................38Figura 12 Leonardo da Vinci (1442/1519),Homem segundo Vitrvio, inscrito num crculo e num quadrado ....................38

    Figura 13 Engrenagens ................................................................................39Figura 14 Imagem ilustrativa, borboletas e furaces ....................................42Figura 15 Cartaz de Mindwalk, 1992, drama dirigido por Bernt Capra .........43Figura 16 Atrator de Lorenz ..........................................................................46Figura 17 Exemplos da geometria fractal .....................................................47Figura 18 Conjunto de Mandelbrot ...............................................................48Figura 19 Les menines daprs Velazquez, Pablo Picasso, 1957. Fonte:WALTER, Ingo F. (ed.) Pablo Picasso. Cologne: Tasken, 1994, p. 609. .......50Figura 20 As meninas, Diego Velazquez, 1656 ..........................................51Figura 21 Les mnines daprs Velazquez, Pablo Picasso, 1957 Fonte:WALTER, Ingo F. (ed.) Pablo Picasso. Cologne: Tasken, 1994, p. 602.........51

    Figura 22 Ceci nest pas une pipe, Ren Magritte, 1929 ...........................51Figura 23 Ceci nest pas une mnine, aprs Velasquez, Magritte ePicasso.............................................................................................................51Figura 24 Robert Rauschenmberg, 1960 ......................................................52Figura 25 Jasper Jones, Fools House ..........................................................52Figura 26, 27, 28, 29 Iber Camargo (1912/ 1994), pinturas ........................53Figura 30 A dana, Henry Matisse (1869/1954)............................................54Figura 31 Ginger e Fred, edifcio de Frank Gehry, em Praga, 1992..............54Figura 32 Ginger Rogers e Fred Astaire, danarinos norte-americanos .......54Figura 33 Kandinsky, pintura.........................................................................56Figuras 33, 34 Construtivismo russo, pinturas ..............................................56

    Figuras 24, 25, 26 Daniel Libeskind, Museu Judaico, Berlin ........................58Figura 27 Daniel Libeskind, Marco Zero, memorial 11 de setembro ............58Figura 28 Pina Bausch, Caf Muler ..............................................................60Figura 29 Pina Bauch, gua, Wupperthal Tanztheatre ...............................61Figura 30 Anjos barrocos, capa do livro A dobra .......................................62Figura 31 Desenho de Saul Steinberg .........................................................67Figura 32 Giotto di Bondone .........................................................................69Figura 33 Albrecht Drer, gravura ................................................................69

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    Figura 34 Joris van Son, Natureza morta, 1664. Fonte: site Museu doPrado ...............................................................................................................70Figura 35 Capa da lArchitecture dAujourdhui, dez/2003 ............................72Figura 36 Beaubourg ....................................................................................72Figura 37 Asymptote (EUA) HydraPier, 2001 ...............................................72

    Figura 38 Peter Cook, Kunsthaus, Graz .......................................................73Figura 39 Selfridges Bimingham, Arquitetos Jan Kaplicky eAmanda Levette, Reino Unido .........................................................................73Figura 40 UN Studio (Pays-Bas) Mercedes-Benz Museum, Stuttgart,Allemagne, 2002-2006 ....................................................................................73Figura 41 Kol/Mac Studio (EUA) Sulan Kolatan e William Mac Donald,Resi/Rise Skyscraper, New York, USA,1999. .................................................74Figura 42 Albrecht Durer, Melancolia, gravura .............................................75Figura 43 Desenho de Frank Gehry para o Museu de Bilbao ......................77Figura 44 Vladimir Tatlin, Modelo para o Monumento da TerceiraInternacional, 1920 ..........................................................................................79Figura 45 Filipo Brunelleschi, Catedral Santa Maria dei Fiori, Firenze .........82Figura 46 Marcel Duchamp (1887/1968), A fonte, 1917 ...............................83Figura 47 Piet Mondrian (1872/1944), Composio pintura .........................83Figura 48 Wassily Kandinsky (1866/1944) ...................................................86Figura 49 Paul Klee (1879/1940), pintura .....................................................86Figura 50 Filipo Brunelleschi, Catedral Santa Maria dei Fiori, Firenze .........88Figura 51 Robert Venturi, Ecletic House series, 1977 ..................................89Figura 52 Mies van der Rohe, Lake Shore Drive Housing, Chicago, 1950 ..91Figura 53 Le Corbusier, Villa Savoie, Poissy, 1932 ......................................91Figura 54 Vladimir Tatlin (1885/1953), Relevo de canto ..............................94Figura 55 Zaha Hadid, The Peak ..................................................................94Figura 56 Frank Gehry, Vitra Design Museum, 1989 ...................................95Figura 57 Alexandr Rodchenko (1891/1956), pintura ...................................95Figura 58 Kasimir Malevich (1878/1935), Branco sobre branco ...................95Figura 59 El Lisitzky (1890/1941), pintura ....................................................96Figura 60 Rodchenko, pintura ......................................................................96Figura 61 Arquitetura construtivista, Alexander, Leonid e Victor Vesnin,Palcio do Trabalho, 1923 ..............................................................................96Figura 62 Capa do livro de Mark Wigley ......................................................97Figura 63 Frank Gehry, casa em Santa Mnica ...........................................97Figura 64 Daniel Libeskind, City Edge .........................................................97Figura 65 Peter Eisenman, Biocentrum ........................................................98Figuras 66, 67 Zaha Hadid, The Peak ..........................................................98Figuras 68, 69, 70 Coop Himmelblau, Rooftop Remodeling, Viena, 1985 ....99Figura 71 Bernard Tschumi, Folies, Parc de La Villette, 1985.....................100Figura 72 Desiderio Mons, sc .XVII, Torre de Babel ..............................100Figura 73 Hieronymus Bosch (1450/1516) .................................................100Figura 74 Vladimir Tatlin, Modelo para o Monumento da TerceiraInternacional, 1920 ........................................................................................101Figura 75 Aquarela n. 2 ..............................................................................103Figura 76 Jacques Derrida (1930/2004) .....................................................105

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    Figura 77 Derrida com G. Deleuze, J. F. Lyotard, M. de Gandillac, P.Klossowski e B. Pautrat, 1972. Fonte: BENNINGTON, Geoffrey, DERRIDA,Jacques. Jacques Derrida. Traduo de Anamaria Skinner. Rio deJaneiro, Jorge Zahar, 1996. ..........................................................................106Figura 78 Turquia, 1997 Fonte: BENNINGTON, Geoffrey, DERRIDA,

    Jacques. Jacques Derrida. Traduo de Anamaria Skinner. Rio deJaneiro, Jorge Zahar, 1996. ...........................................................................107Figura 79 Martin Heidegger (1889/1976) ...................................................108Figura 80 Capa de A carta postal. Fonte: BENNINGTON, Geoffrey eDERRIDA, Jacques. Jacques Derrida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996..111Figura 81 Antonin Artaud (1896/1948), criador do Teatro da crueldade .....112Figura 82 Sigmund Freud (1856/1939) .......................................................115Figura 83 Plato..........................................................................................119Figura 84 Escrita chinesa............................................................................120Figura 85 Hierglifos em relevo...................................................................120Figura 86 Hierglifos ...................................................................................120Figura 87 O desenho e o gesto...................................................................127Figura 88 Desenho......................................................................................128Figura 89 Desenho......................................................................................129Figura 90 Desenho......................................................................................130Figura 91 Desenho......................................................................................132Figura 92 Plato e Aristteles em afresco de Rafael Sanzio, 1511.............133Figura 93 Derrida ........................................................................................134Figura 94 Teatro grego................................................................................134Figura 95 Desenho......................................................................................135Figura 96 O filme Babel (2006), do diretor mexicano Alejandro GonzalezIarritu ............................................................................................................136Figura 97 Desenho......................................................................................143Figura 98 Derrida ........................................................................................146Figura 99 Aldo Rossi, desenho sobre o afresco de Rafael A escola deAtenas...........................................................................................................150Figura 100 Banda de Moebius ....................................................................158Figura 101 Esquema do Parc de la Villette. Fonte:http://www.villette.com/fr/................................................................................163Figura 102 Slidos platnicos .....................................................................164Figura 103 Elementos de arquitetura ..........................................................165Figura 104 Residncia de Frank Gehry, Santa Mnica...............................165Figura 105 La Villete, convivncia entre o antigo e o novo .........................167Figura 106 Desenho feito pelo filsofo Jacques Derrida, para o projeto do

    jardim Chora L Works, feito em parceria com o arquiteto Peter Eisenman ...169Figuras 107, 108, 109, 110, 111, 112 jardins de La Villette. Fonte:http://www.villette.com/fr/................................................................................171Figuras 113, 114, 115 folies ........................................................................172Figura 117 Residncia Frank Gehry............................................................178Figura 118 Peter Eisenman, Casa Guardiola..............................................178Figura 119 Residncia de Frank Gehry.......................................................180Figura 120 Charles Jencks o final simblico do modernismo...................189

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    Figura 121 Pirmides de Guiz, Egito, 2700 a. C. ......................................190Figura 122 Museu da Universidade Estadual da Califrnia, PeterEisenman, Long Beach, 1986 ........................................................................196Figura 123 Desenho do escritrio Coop Himmelblau..................................197Figura 124 Coop Himmelblau, Red Angel, reconstruo de um Wine Bar,

    1980 ...............................................................................................................197Figura 125 Emilio Ambaz, Estufa Lucile Halsell, 1988 ................................197Figura 126 Museu do Louvre com a Pirmide, I. M. Pei, 1989...................199Figura 127 Desenho gestual .......................................................................204Figura 128 Aquarela n. 6 .............................................................................205Figura 129 Auguste Rodin (184/1917) Cathedral, escultura.....................207Figura 130 Peter Eisenman.........................................................................207Figura 131 Le Corbusier (1887/1965) .........................................................208Figura 132 Peter Eisenman.........................................................................208Figura 133 Peter Eisenman, Casa II, Hardwick, Vermont, 1969/70 ............209Figura 134 Casa Hanselmann, Michael Graves, 1967/73...........................209Figura 135 Casa Douglas, Richard Meier, 1973..........................................209Figura 136 Ponte de Arles, Van Gogh, 1888...............................................212Figura 137 Edouard Monet, A ponte de Giverny .........................................212Figura 138 Ponte JK, Braslia......................................................................212Figura 139 Ponte sobre o Rio Guaba, Porto Alegre...................................212Figura 140 Pontes de Madison, 1995, filme dirigido e estrelado por ClintEastwood........................................................................................................213Figura 141 One Half House, projeto de John Hejduk, 1966 ........................213Figura 142 Casa das Canoas, Oscar Niemayer, 1951................................214Figura 143 Ivan Leonidov, bases suprematistas para o planejamento........214Figura 144 El Lissitsky, cartaz, 1919...........................................................214Figura 145 Caixa dgua Krasniy Gvozdilshchik Chernikov, 1931 ..............215Figura 146 Zaha Hadid, desenho para o concurso, The peak club,Hong Kong .....................................................................................................215Figura 147 Konstantin Melnikov. Residncia do arquiteto, Moscou 1927 ...215Figuras 148,149 Trabalhos de David Carson..............................................216Figuras 150, 151, 152 Desenhos criados pela Bauhaus.............................217Figura 153 Alunos trabalhando, na Architectural Association, London .......218Figuras 154, 155 Apresentao do Trabalho Final de Graduao doarquiteto Vicente Brando e Silva, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismoda UFRGS (2009/01) .....................................................................................218Figuras 157, 158 Apresentao do Trabalho Final de Graduao doarquiteto Vicente Brando e Silva, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismoda UFRGS (2009/01) .....................................................................................219Figuras 157, 158 Apresentao do mesmo Trabalho do arquiteto..............220Figura 161 Zaha Hadid, The Peak ..............................................................221Figura 162 Desenhos de Lina Bo Bardi.......................................................221Figura 163 Villa Savoye, Le Corbusier, 1929 ..............................................222Figura 164 Villa Rotonda, Andrea Palladio, 1566.........................................222Figura 165 Coluna jnica, detalhe...............................................................222Figura 166 Partenon, Atenas, sc V a. C. ...................................................222

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    Figura 167 Andrea Palladio, Villa Rotonda, sc. XVI ..................................223Figura 168 Casa Citroen, Le Corbusier, 1922.............................................223Figuras 169, 170 Fotos de Cindy Sherman (1954)......................................225Figura 171 David Salle (1952), pintura........................................................225Figura 172 Sebastiano Serlio, cena trgica, perspectiva, sc. XVI .............228

    Figura 173 A ltima ceia, Tintoretto, sc. XVI .............................................229Figura 174 Giovani Piranesi, sc. XVIII.......................................................229Figura 175 Georges Braque........................................................................229Figura 176 Les deux mistres, 1966, Ren Magritte...................................230Figura 177 Casa II capa da revista italiana Casabella .............................232Figura 178 John Hejduk, Casa 10...............................................................232Figura 179 Rudolf Wittkower, esquemas de anlises das plantasPalladianas.....................................................................................................233Figura 180 Colin Rowe, diagramas analticos de Malcontenta e deGarches..........................................................................................................233Figuras 181,182 Pinturas de Theo van Doesburg (1883/1931), artista neo-plasticista holands ........................................................................................235Figura 183 Maison Dom-ino (Domus produzidos em srie),Le Corbusier, 1914.........................................................................................236Figura 184 Casa Del Fascio, Giuseppe Terragni, 1932 ..............................236Figura 185 Estudos axonomtricos da Casa IVI.........................................237Figura 186 Diagrama Casa VI.....................................................................236Figura 187 Casa VI.....................................................................................240Figura 188 Casa VI.....................................................................................240Figura 189 Jacques Derrida e Jorge Luis Borges, Buenos Aires, 1985 ......244Figura 190 Casa I, Barenholtz, 1967-8. Princeton, New Jersey..................255Figuras 191, 192, 193 Casa I......................................................................256Figuras 194, 195 Casa I..............................................................................258Figuras 196, 197, 198 Trabalhos de Helio Oiticica......................................260Figuras 199, 200, 201 Trabalhos de Helio Oiticica......................................261Figura 202 Casa II famlia Falk, Hardwick, Vermont (1969-70)................263Figura 203, 204, 205 Casa II.......................................................................264Figuras 206, 207, 208, 209 Folies do Parc de la Villete ..............................265Figura 210 Casa III famlia Miler, Lakeville, Connecticut (1969-71) .........267Figuras 211, 212, 213, 214 Casa III............................................................268Figuras 215, 216, 217 Love house, Lars Lerup...........................................270Figura 218 De Chiricco, pintura...................................................................271Figura 219 Casa IV, Falls Vilage, 1971 .......................................................274Figuras 220, 221, 222, 223 Casa IVdiagramas e maquete ........................275Figuras 224, 225 Casa VI famlia Franck, Cornwall, Connecticut(1972-75). Fonte: CIORRA, Pippo. Peter Eisenman: opere e projeti.Milo: Electra, 2000, p. 48..............................................................................276Figura 226, 227, 228 Casa VI......................................................................277Figura 229 Casa V, 1972 ............................................................................278Figura 230 Daniel Libeskind, Micromegas, Little Universe. Fonte:LIBESKIND, Daniel. The space of encounter. New York: Universe,2000, p. 85 .....................................................................................................279

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    Figura 231 Jackson Pollock, pintura............................................................283Figura 232 Hans Holbein, Os embaixadores...............................................284Figura 233 Daniel Libeskind, Micromegas, Maldorors Equation. Fonte:LIBESKIND, Daniel. The space of encounter. New York: Universe,2000, p. 86 .....................................................................................................285

    Figuras 234 Casa X famlia Aronoff, Bloomfield Hills, Michigan,projeto (1975) .................................................................................................287Figura 235 Casa VIII, 1975..........................................................................288Figuras 236, 237 Casa X famlia Aronoff, Bloomfield Hills, Michigan,projeto (1975). Fonte: CIORRA, Pippo. Peter Eisenman: opere e projeti.Milo: Electra, 2000, p. 52..............................................................................288Figura 238, 239 esquema dos planos e maquete da Casa X......................289Figura 240 Cena do filme O maior amor do mundo, de Cac Diegues.....290Figura 241 Casa El even od........................................................................294Figura 242 Croqui esquemtico da Fin dou T Hou S..................................295Figuras 243, 244, 245, 246 Fin dOu T Hou S(1983). Fonte: CIORRA,Pippo. Peter Eisenman: opere e projeti. Milo: Electra, 2000, p. 72...........296Figuras 247, 248, 249 Casa Guardiola........................................................299Figuras 250, 251, 252 Casa 11a, Cannaregio.............................................300Figuras 253 Parc de la Villette (1986) .........................................................301Figura 254 Esboo de Derrida para Chora L Works....................................301Figura 255 Partenon, 480/323 a.C. .............................................................301Figura 256 Casa Del Fascio, Terragni, 1934...............................................301Figura 257 Habitao coletiva, IBA, Berlin, 1981 ........................................301Figura 258 La Villette, maquete...................................................................302Figura 259 Moving Arows and other errors Romeu e Julieta.......................303Figura 261, 262 Wexner Center, Ohio, 1989...............................................305Figura 264 Rebstockpark Frankfurt.............................................................306Figuras 265, 266 Biocentrum ......................................................................306Figura 267 Proposta para o concurso do World Trade Center....................308Figura 268 Monumento s vtimas do Holocausto, Berlin, 2005 .................309Figura 269 Aquarela n. 8 .............................................................................327

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    D$7E"%/)F,&"/2$-./ ................................................................................GH!"#$%&'&$"(4)?'/7'&"%()')"'*"'+',&(-./ ......... IHOrigens da geometria......................................................................................... 30

    Geometria e complexidade................................................................................. 38Representao: as meninas e o cachimbo ........................................................ 49A dobra............................................................................................................... 62Arquitetura em revista ........................................................................................ 72Arquitetura desconstrutivista .............................................................................. 79Arquitetura e crtica ............................................................................................ 81Crticas ao movimento moderno......................................................................... 91A exposio Deconstructivist Architecture, no MoMA, 1988 .............................. 94Arquitetura e desconstruo............................................................................. 100:(9#$'+);'""%2(4)(,/+)=0)&'8&/+)2()2'+9/,+&"$-./ ....................................................G=J)Derrida e a desconstruo ............................................................................... 108Sobre A escritura e a diferena...................................................................... 111No h nada fora do texto: Gramatologia ...................................................... 119Uma arquitetura onde o desejo pode morar................................................... 133Outros textos de Derrida .................................................................................. 134Arquitetura e desconstruo, a tese de Solis ................................................... 144Derrida e as Razes ...................................................................................... 181Desconstruo, arquitetura e arte .................................................................... 184Desconstruo ................................................................................................. 2025'&'")6%+',7(,4)(,/+)=0)(+)1(+(+)2')*(*'3 ......................................................................I=KNeovanguardas e representao ..................................................................... 213Os escritos de Eisenman, nos anos 80 ............................................................ 222Diagramas, uma introduo aos projetos das Casas ....................................... 232Projetos experimentais: as Casas de papel. ................................................... 241A viso de Eisenman sobre as Casas .............................................................. 245A Casa Ie os Parangols................................................................................. 255A Casa IIe as Folies ........................................................................................ 263A Casa IIIe a Love House ............................................................................... 267A Casa IV ........................................................................................................ 274A Casa VIe os desenhos de Daniel Libeskind................................................. 277

    A Casa Xe O maior amor do mundo ............................................................... 288Casa El even odd............................................................................................. 294Casa Fin dOu T Hou S.................................................................................... 295Casa Guardiola ................................................................................................ 299Casa 11a ......................................................................................................... 300Desconstruindo as Casas................................................................................. 3101/,+%2'"(-C'+)L%,(%+ ..............................................................MGKReferncias ...................................................................................................... 329

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    "#$%&'()*&!As profundas modificaes ocorridas na estrutura da

    representao, ao longo da segunda metade do sculo XX,foram consequncias da superao dos paradigmas

    filosficos que fundamentaram o pensamento moderno, almdo desenvolvimento cientfico e tecnolgico. Arquitetura efilosofia associaram-se nestas modificaes, e a arquiteturadesconstrutivista foi um marco dentro desse processo.

    Ao longo das dcadas de 1960 a 80, as ideias doarquiteto Peter Eisenman e do filsofo Jacques Derridapartiram de questes da linguagem e propuseram uma sriede rupturas em termos conceituais, formais e nacompreenso da representao. Juntamente com outrosarquitetos, em especial com Bernard Tschumi, discutiramdiversos aspectos da arquitetura como linguagem e como

    representao, desenvolvendo ideias sobre forma, estruturae articulao do pensamento. Trabalharam juntos no projetodo Parc de La Villette, mas, aps um determinado perodo,seguiram por caminhos diferentes. Os trabalhos do arquitetoencaminharam-se para arquiteturas radicais em termosformais, que se apoiam em tecnologias sofisticadas deprojeto e de execuo, deixando de lado o vis filosfico. Aomesmo tempo, Derrida passou a dedicar-se a temas ligados tica e poltica, como o perdo e o amor, que oconduziram questo da hospitalidade.

    Arquitetura e representao: as Casas de papel de

    Peter Eisenman a desconstruo em Jacques Derridadiscute questes e conceitos da desconstruo quepermanecem vlidos para a arquitetura contempornea.Prope o pensamento de uma arquitetura que se aproximados processos de criao artstica, de um desenho querepresenta a hospitalidade e que valoriza os espaos para avida.

    O fenmeno da desconstruo abrangeu as maisdiversas manifestaes culturais, como arquitetura, literatura,artes plsticas, comunicao, design, sociologia e encontroufundamentao na filosofia de Jacques Derrida. Na

    arquitetura, o processo conhecido como Arquiteturadesconstrutivista foi marcado por uma exposio e limitou-seao perodo histrico de pouco mais de uma dcada. Mas osignificado da desconstruo para a arquitetura manifesta-seat os dias atuais, por meio de da ampliao das estruturasdo pensamento e das categorias conceituais.

    A paixo conduz a filosofia ao que est alm dostijolos, porque o que funda a arquitetura no so apenas os

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    seus elementos materiais. A arquitetura no se limita construo, mais do que uma tcnica de produo deobjetos habitveis, blocos, cubos, formas espaciais. Opensamento arquitetnico vai alm da materialidade daforma construda. A discusso do sentido da arquitetura

    conduz ao pensamento filosfico e a configurao formal uma de suas mltiplas expresses.O pensamento de Jacques Derrida desencadeou a

    discusso sobre a representao e permite ir alm dasespecificidades da arquitetura. Analisa questes para asquais a representao no o mais importante, quando elano reclama mais por si ou de si e abre-se para outrasdimenses, como a hospitalidade, sua representao social epoltica, no nos moldes dos discursos dos anos 60 e 70,mas em novos modelos. A reflexo sobre a representaoprocura a cerzidura, o bordado, a cola, ou o que unificadiversas manifestaes que pertencem aos domnios daarquitetura.

    Arquitetura e representao: as Casas de papel dePeter Eisenman e textos da desconstruo de JacquesDerrida, anos 60 a 80analisa questes atuais da arquiteturacontempornea e suas relaes com o pensamento dofilsofo contemporneo francs. Os projetos das Casas de

    papel, do arquiteto americano Peter Eisenman, realizadosentre as dcadas de 1960 e 80, foram escolhidos comoobjetos de anlise, porque representam de maneira visualmuitos dos conceitos desenvolvidos por Derrida. Os textosdo arquiteto trazem as reflexes desenvolvidas ao longo dosprocessos dos projetos publicados. O conjunto formado pelosdesenhos e ensaios tericos de Eisenman ilustra ecomplementa o pensamento do filsofo.

    Os projetos experimentais das Casas de papel, deautoria de Eisenman, realizados nas dcadas de 1960 a 80,espacializaram o pensamento da desconstruo, conferiramvisualidade s mesmas ideias que Derrida desenvolvianaquele perodo. Estas obras constituram instrumentos paratransportar ideias filosficas para o espao da arquitetura epermitiram o desenvolvimento de relaes e de reflexes.

    Os desenhos das Casas so representaes grficasda desconstruo em arquitetura. Nem todas foramconstrudas, mas mesmo as que ficaram apenas nosdesenhos, incorporam os mesmos conceitos equestionamentos que deram surgimento ao pensamento dadesconstruo. Tornaram visvel o processo de pensamento,conferiram forma arquitetnica e visual s estratgias e srupturas realizadas por Derrida, ao subverterem os caminhosdo pensamento convencional.

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    O uso do neologismo desconstruo refere-se a esteprocesso, no significa destruio, como a palavra podesugerir, mas, ao contrrio, prope novos processos deconstruo do pensamento.

    O Parc de la Villette, em Paris, o exemplo

    consagrado do projeto da desconstruo em arquitetura,especialmente pela parceria entre Eisenman e Derrida. Apartir das leituras realizadas, do estudo, anlises e reflexessobre o material coletado, concluiu-se que a srie de Casasde papel e os textos do arquiteto so exemplos maissignificativos como objetos de anlise, para a compreensodo processo. Estes projetos tm um carter de estudo dasrelaes espaciais e das estratgias de composio,investigam as questes da linguagem, aprofundam temas darepresentao e, assim, representam visualmente muitas dasideias escritas por Derrida.

    A escrita de Derrida tem uma esttica peculiar,literria, que responsvel por polmicas e incompreenses.Seu texto apresenta uma estrutura formal que integraretrica, metfora e poesia.

    Para Derrida, a cultura ocidental impe uma relaode contradio entre pares de conceitos, um sistema deoposies, que dominado pela lgica binria de sim ouno, certo ou errado, dentro ou fora. O filsofo denunciou ocarter obscuro dessas relaes, que impedem acompreenso do bem sem o mal, do certo sem o errado, naqual o dentro define-se como o que no est fora. Aaceitao deste descentramento uma questo dehonestidade, e honestidade diferente de verdade, daverdade que norteou toda a metafsica, que constitui ofundamento da cultura ocidental.

    Derrida partiu da anlise literria e reuniu, em suaextensa obra, discusses sobre filosofia, poltica, arte,arquitetura, psicanlise, literatura e teologia. Desconstruiu algica do pensamento ocidental, criou leituras alternativas domundo, em suas reflexes sobre a diferena, o rastro e adesconstruo do logocentrismo. Seu pensamento foimarcado pelo ps-estruturalismo, assim como os de RolandBarthes, Michel Foucault, Jacques Lacan e Gilles Deleuze.

    A verdade o oposto da falsidade, absoluta,enquanto a honestidade apenas uma verdade, ou uma dasverdades possveis, um lado da verdade. A honestidadeimplica a aceitao de limites e admite as diferenas podehaver diversas verses da honestidade, sem que hajaoposio entre elas. A honestidade refere-se condio dehumanidade, de humildade, de valores e de princpios, noprocura o certo, o perfeito, o centro, procura o humano. O

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    pensamento de Derrida funda-se no humano e na aceitaodos limites.

    Esta tese apresenta um processo, um trabalho deinvestigao, de busca, de pensamento, de desvelarassociaes, por meio de uma aventura com a linguagem,

    com a leitura, o desenho e a escrita. Revela-se no desejo deprocurar, de conhecer, de pensar (de cogitar), de encontrar ede construir sentido. As relaes entre os textos filosficos eos textos arquitetnicos, por obras construdas ou escritasformam a arquitetura e a construo da tese.

    O objetivo geral deste trabalho atualizar opensamento da desconstruo, revelando sua contribuiopara a arquitetura contempornea. Ou seja, propor outrasmaneiras de ver, de pensar e de viver a arquitetura, umaarquitetura alm do desenho, que ultrapasse os limites doprojeto e do papel. Um desenho que seja mais do querepresentao, uma arquitetura sem centro, sem princpio esem fim.

    Os objetivos especficos so estudar filosofia dadesconstruo, atravs de alguns textos de Derrida eanalisar os projetos da Casas de papel de Eisenman. Serestudado tambm o contexto, no qual estes objetos tiveramsurgimento e sero analisadas algumas obras de artesvisuais, como elementos de comparao com os projetos dearquitetura.

    O termo desconstruo conhecido do pblico, mas oseu sentido tem sido frequentemente confundido, graas auma aplicao inadequada a um estilo de arquitetura. Aconotao destrutiva do termo responsvel por umaincompreenso que ocorre, at mesmo nos meiosprofissionais.

    Um dos objetivos deste trabalho demonstrar que aobra de Derrida muito mais importante e expressiva, doque pode ser o preconceito contra a palavra desconstruo.O pensamento da desconstruo conduziu o filsofo areflexes sobre a hospitalidade, a incluso e o perdo. Suafilosofia constitui uma valiosa contribuio para a arquitetura,como a concepo de um espao mais humano, para aconvivncia social.

    Arquitetura e representao: as Casas de papel, dePeter Eisenman e textos da desconstruo, de JacquesDerrida, anos 60 a 80 discute questes da desconstruoque continuam sendo vlidas para a arquiteturacontempornea. Uma arquitetura que seja um reflexo davida, o desenho de uma arquitetura mais humana, maishonesta, uma arquitetura onde o desejo possa morar, naspalavras do filsofo. Uma arquitetura que se define pela

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    dimenso humana que a habita, na hospitalidade e no namaterialidade de seus elementos construtivos.

    A desconstruo em arquitetura acentuou os aspectosartsticos e a dimenso humana do objeto construdo e desua insero no espao da cidade. O pensamento do filsofo

    da desconstruo props a aceitao das diferenas, aincluso e a hospitalidade. Arquitetura e representao: asCasas de papel, de Peter Eisenman e textos dadesconstruo, de Jacques Derrida, anos 60 a 80 faz umaanlise do que significou o processo da desconstruo emarquitetura e em filosofia, por meio de do estudo de obras ede questes da arquitetura contempornea e do pensamentode Jacques Derrida. A filosofia que leva este nome umprocesso muito mais amplo do que aquele que ficouconhecido como arquitetura desconstrutivista.

    A hiptese desta tese que no existe umacorrespondncia direta entre a filosofia da desconstruo e aarquitetura desconstrutivista. A filosofia da desconstruoampliou os limites da representao e da arquitetura, comorepresentao da vida e trouxe contribuies significativaspara a construo de um mundo melhor.

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    +,$&'&-&./0!A metodologia adotada para a pesquisa qualitativa,

    bibliogrfica e fenomenolgica. O processo de pesquisa

    passou por uma etapa de levantamento e catalogaoexaustivos do material disponvel sobre a desconstruo,sobre a representao em arquitetura entre outros temasrelacionados, com o objetivo de delimitar o campo do estudo,sem perder conexes importantes e esclarecedoras. Asfontes de consulta foram obtidas nas colees de revistasespecializadas e nos amplos catlogos bibliogrficos,disponveis nas bibliotecas das Faculdades de Arquitetura daUFRGS, da PUCRS e da Uniritter, alm dos sitesespecficos, na internet. O material coletado e garimpado,paciente e exaustivamente, foi estudado, discutido em

    seminrios, no PROPAR, e foi alvo de reflexo atenta e decrtica constante.As obras de arquitetura selecionadas para estudo e

    anlise foram as Casas de papel, de Peter Eisenman. Trata-se de exemplos adequados para serem analisados do pontode vista da geometria e da representao, da arquitetura edas relaes espaciais, que abrem possibilidades de exploraros significados das relaes e das articulaes da formaespacial e que conferem visualidade s estratgias filosficasda desconstruo. Os textos do arquiteto foram estudadospelas contribuies que trazem compreenso do seu

    pensamento e dos projetos.Foram selecionados alguns textos dentro da extensaobra produzida por Jacques Derrida. Os livros A escritura ea diferena, Gramatologia e Posies foram escolhidospor serem textos fundamentais, escritos na dcada de 60,que definem conceitos importantes para a compreenso daobra do pensador. Khra e Uma arquitetura onde o desejopode morar tratam de temas ligados diretamente a questesdo espao. A verdade na pintura e Envios foramestudados por abordarem diretamente as questes darepresentao. Jacques Derrida por Geoffrey Bennington e

    Jacques Derrida analisa a vida e o pensamento do filsofo.Paixes, Papel Mquina e Anne Dufourmantelle convidaJacques Derrida a falar da hospitalidade trata de seus temasmais recentes, como a incluso e a hospitalidade.

    Tambm foram estudados textos de estudiosos daobra do filsofo, como Robert Mugerauer, Ricardo Timm deSouza e Dirce Eleonora Nigro Solis.

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    O crtico de arquitetura Charles Jenks sintetizouquestes conceituais, evolutivas e histricas, em quadroscomparativos e analticos que serviram como modelos para amontagem de um esquema visual da estrutura de seuestudo. Ele desenhou uma viso da arquitetura, comorepresentao, como manifestao expressiva do mundo,contextualizando-a com questes culturais, sociais, polticase econmicas e suas modificaes ao longo da histria. Nolivro Movimentos modernos em arquitetura1, CharlesJencks apresenta um esquema, designado como rvoreEvolucionista (fig. 01), que descreve o perodo histrico quevai de 1920 a 1970, baseado numa anlise histrica feita apartir do pensamento de Claude Levi-Strauss. O desenhoorienta a leitura de todo o texto. Os conceitos de diversasreas da cultura e da poltica so relacionados com odesenvolvimento dos estilos da arquitetura de cada perodo.Em outra publicao, The language of post modern

    1 JENCKS, Charles. Movimentos modernos em arquitectura. So Paulo: Martins Fontes, p. 32.

    Figura 02 rvore Evolucionista,Charles Jencks

    Figura 01 Aquarela 1 Esquema conceitual e visual da tese.

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    architecture2, aparece um outro esquema deste tipo, queabrange um perodo um pouco mais curto, de 1955 a 1980, eque se restringe aos nomes dos arquitetos e dos projetosexecutados, agrupados ao redor da designao de suasrespectivas tendncias estilsticas.

    Estas representaes visuais vo ao encontro dopensamento aristotlico, pelo qual o homem pensa por meiode imagens. A apresentao desta tese constituda poruma trama de textos e imagens. As imagens no soilustrativas, so parte do texto, so tramadas, tecidas junto,emaranhadas; a linguagem do o trabalho visual. A aquarela(fig. 02) uma tentativa de representar um esquema visualda estrutura da tese. So manchas coloridas e irregulares,que contm palavras soltas, que sero organizadas ao longodo texto. Filosofia e arquitetura se encontram, se enlaam ese complementam na desconstruo e conduzem a outrasquestes, tais como a hospitalidade, a incluso, o perdo. Oesquema tem movimento, as manchas de cor danam noespao do papel, configurando espaos conceituais, cujoslimites so imprecisos e facilmente rompidos ouultrapassados, so limites borrosos, e as suas reas no tmformas definidas. As bordas no escondem a fragilidade desuas definies, suas verdades e conceitos no soabsolutos, no so definitivos, so dobras, so reversveis.

    Os textos estudados em outros idiomas foramtraduzidos livremente pela autora. As fontes de muitas dasimagens nem sempre esto citadas, porque a maioria estdisponvel na rede, e foram consultadas, analisadas econferidas em diferentes mdias: internet, livros, revistas.

    O primeiro captulo, Arquitetura, geometria erepresentao, inicia contextualizando temas que surgiramnas discusses sobre novas geometrias e suas repercussesnas questes da representao. Apresentam artigos ereportagens publicados em revistas especializadas que vmtratando destes assuntos desde a dcada de 1960 at osdias atuais. Questes da cultura contempornea e problemasda representao apresentam o contexto do surgimento daarquitetura da desconstruo. Aprofunda alguns tpicos, pormeio de autores como Michel Serres, Frijof Capra, ArthurNestrovski, Mrcio Seligmann-Silva, Greg Lynn, entre outros.Aborda como se deu o desmonte da representao, com odesenvolvimento do pensamento dos filsofos ps-estruturalistas, com as anlises da representao em MichelFoucault e a dobra em Gilles Deleuze.

    2 JENCKS, Charles. The language of post-modern architecture. London: Academy Editions,1981, p. 80.

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    Ainda dentro do primeiro captulo, est o relato dealgumas crticas ao Movimento Moderno em arquitetura,apoiado em textos de autores como Manfredo Tafuri, JosepMaria Montaner, Charles Jencks, Roland Barthes, UmbertoEco, Bruno Zevi, Giulio Carlo Argan, Alan Colquhoun, entre

    outros nomes. Estes textos fundamentam pontos especficosdas anlises, respeitando as divergncias entre cada um dosautores e pinando temas considerados pertinentes squestes abordadas.

    Apresenta tambm um panorama do que foi aexposio Deconstructivist Architecture, que inaugurou oconceito de arquitetura desconstrutivista, especialmente naviso de seus criadores, Philip Johnson e Mark Wigley. Noforam estudados detalhadamente cada um dos projetos edos arquitetos participantes da exposio Deconstructivist

    Architecture, porque isso aumentaria muito a extenso dotrabalho e no constituiria o seu foco central. Muitosdaqueles projetos no foram executados e s estopublicados no catlogo da exposio, com imagens einformaes insuficientes para serem analisados.

    O segundo captulo, Jacques Derrida, anos 60 a 80:textos da desconstruo, aborda a questo dadesconstruo, na obra do filsofo, por meio da leitura crticade alguns de seus textos, que foram considerados maisimportantes para os objetivos do trabalho. Alm dos textosde Derrida, apoia-se nos trabalhos de estudiosos de suasobras.

    A obra de Derrida divide-se em dois momentos, doisperodos temticos bem distintos. Este trabalho, assim comoo exemplo de Eisenman, deteve-se apenas no primeiro. Atos anos 80, o filsofo dedicou-se ao estudo da linguagem,estabelecendo estratgias de pensamento comodesconstruo. Para ele, a linguagem portadora de sentidoe no h nada fora do texto. Na segunda etapa, Derridapassou a empregar os mesmos conceitos em reflexespolticas, sobre a democracia, a incluso social, a questo doestrangeiro, a hospitalidade e o perdo. Esta tese no pde iralm da primeira parte, em funo de seus limites de tempoe de objetivos.

    O terceiro captulo, Peter Eisenman, anos 60 a 80:desenhos de arquitetura, aborda os projetos experimentaisda srie de Casas de papele os textos de Peter Eisenman.Fundamenta-se em textos de autores como Josep MariaMontaner, Joan Puebla Pons, Robert Somol, Otlia Arantes eRafael Moneo, alm do prprio Eisenman.

    Aborda as questes da desconstruo e no se limitas questes especficas da representao, que foram

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    exploradas exaustivamente pela ps-modernidade. Discuteaspectos levantados nos artigos escritos por Fernando Fuo,numa tentativa de ir alm das relaes entre arquitetura efilosofia, estabelecendo conexes com as demais formas deexpresso artstica e com temas que vo alm dos limites da

    representao. Analisa, como exemplos ilustrativos,desenhos de Daniel Libeskind e obras de diversos artistas,como Helio Oiticica, Robert Rauschemberg e Cac Diegues,entre outras manifestaes artsticas. Estas obras realizamuma passagem da arquitetura para a expresso mais pura dodesenho como manifestao artstica.

    Por fim, as consideraes finais do trabalho apontamcaminhos para a compreenso da desconstruo e para odesenvolvimento de uma filosofia que d conta dosproblemas e das relaes entre arquitetura e representao.

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    !"#$%&'&$"()*+',-'&"%(*'*"'."'/'0&(12,* 34*

    *

    !"#$%&'&$"()**+',-'&"%(*'*"'."'/'0&(12,Um dia, o homem riscou, traou no cho, na terra nua,

    a arquitetura de seu abrigo, sua morada, marcou um

    desenho que viria a se tornar o rastro de sua passagem poreste mundo. Vestgios das construes do passado noscontam como foi a vida em sociedade em diversosmomentos da histria. Mas, ao longo dos sculos, arepresentao do projeto sofisticou-se e afastou-se dohomem e do seu sentido original de marcao do espao deconvivncia e da hospitalidade, do que foi, um dia, o sentidoda construo. Ao criar um cdigo hermtico de signos, todauma linguagem especfica, a arquitetura afastou-se dousurio, daquele que vem bater sua porta, sem nmero,sem papel, sem identidade, um corpo procura de abrigo.

    Os recentes desenvolvimentos da cincia e da filosofiae suas relaes com a arquitetura, como o caso dastecnologias digitais, acarretam novos problemas para arepresentao. As rupturas dos paradigmas mecanicistas e afsica quntica acarretaram mudanas nas concepes demundo, de tempo e de espao.

    A complexidade do pensamento visual e davisualizao espacial exige que o arquiteto desenvolvahabilidades especiais para a imaginao e para amanipulao das formas no espao. E a imaginao joga umimportante papel tambm no pensamento filosfico, em

    especial na desconstruo.A arquitetura tem uma vocao especial para o uso dalinha reta, do plano e do volume idealizado dos assimchamados slidos platnicos, ou seja, para a idealizaogeomtrica. A estratgia platnica, adotada pela geometriaeuclidiana da desmaterializao das formas dos objetos, esua abstrao levada a cabo pela geometria eliminaram ascaractersticas fsicas da matria, como peso, cor, textura echeiro, com a inteno de simplificar o pensamento espacial.

    As origens da geometria e da arquitetura misturam-see confundem-se, na histria do pensamento ocidental. Os

    elementos da geometria esquematizam, simplificam, facilitamo pensamento espacial. Mas, paradoxalmente, estasimplificao, esta retificao, o emprego generalizado delinha reta, do ngulo reto e dos planos perfeitos muitas vezes responsvel pela criao de espaos frios e imprpriospara a vida.

    Figura 03 Paul Citroen(1896/1983), Metropolis, collage

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    !"#$%&'&$"()*+',-'&"%(*'*"'."'/'0&(12,* 56*

    *

    7"%+'0/*8(*+',-'&"%(*O prefcio e a traduo para a edio francesa de

    Origem da geometria, de Edmund Husserl2, foram

    assinados por Derrida em 1961, mas o manuscrito originaldata de 1936. Este um dos trabalhos mais importantes dofilsofo e citado em escritos de diversos autores. Apesar detratar-se de um texto um pouco mais antigo, os temasabordados permanecem atuais. Estuda os objetos ideais dacincia, dos quais a geometria um exemplo, e trata daspossibilidades dos objetos ideais que so a linguagem, aintersubjetividade, o mundo, como unidade de um solo e deum horizonte.

    A preocupao de Husserl era ir alm das reflexes deGalileu, lanando um olhar no apenas sobre a geometria,

    mas sobre o sentido do seu pensamento e tambm dosherdeiros de seu saber geomtrico mais antigo, aplicado nassuas prticas. Suas consideraes dirigiam-se aos maisprofundos problemas de sentido, da cincia e da histria dacincia em geral e, por suas explicaes tocarem ageometria da Galileu, apresentam uma significaoexemplar.

    Husserl procurou, por meio de meditaes histricassobre a filosofia moderna, a partir de Galileu, revelarproblemas concernentes origem do sentido da geometria e,sobre esse fundamento, da origem do sentido da sua nova

    fsica. A ideia era lanar uma luz sobre as meditaeshistricas, e assim tomar conscincia da situao filosfica,tomar posse do sentido, do mtodo e do incio da filosofia. Oexemplo da questo da origem da geometria teve a intenode mostrar o sentido da pesquisa histrica.

    A expresso Origem da geometria uma abreviao rene, sob esse termo, todas as disciplinas que tratam deformas cuja existncia matemtica se desdobra dentro deuma espao-temporalidade. Esta preocupao vai emdireo a uma questo que retorna sobre o sentido maisoriginal, segundo o qual a geometria nasceu um dia e, desde

    ento, tornou-se presente como uma tradio milenar e quese mantm viva at os dias atuais, numa elaboraoincessante.

    Husserl analisou os princpios da geometria, desdesuas formas antigas, uma questo que atende a umanecessidade de generalizaes que afetam a nossa prpria

    2 HUSSERL, Edmund. lorigine de la geometrie. Paris: Presses Universitaires de France, 1999.Sem traduo para o portugus.

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    existncia humana. A cultura assume uma dimenso detradio que se projeta sob todas as suas formas e originaum no-saber que oculta a existncia de um saber implcito.

    J o filsofo Michel Serres3, em 1993, apresentou osconceitos da geometria a partir de uma abordagem analtica

    e descritiva dos conceitos, do ponto de vista da histria dacincia e do conhecimento. Abordou fundamentosimportantes para a construo do pensamento o qualestamos propondo, que foram explorados tambm porDerrida, no j citado prefcio ao texto de Husserl que leva omesmo ttulo de Origens da geometria.

    Serres contraps os ideais de um humanismouniversal ao reconhecimento da diferena, que mediada emedida pela geometria. A geometria prope a construo deum universal sem guerra nem dominao, uma matemtica,uma medida. A geometria universal nenhum culturalismoconseguiu relativizar a sua evidncia nem a suanecessidade.

    Quando, no meio das evidncias locais, a diferenacomo dogma se abate, o relativismo chega ao vazio do niilismopela generalizao dos conflitos regionais; permanecem,invariantes e fortes, a medida e a razo que a demonstra. (...)Elas unem sem opor, juntam-nos sem hierarquizar, ensinam que,nem solitrios nem em grupo, os homens so a medida de todasas coisas.4

    A linguagem da geometria universal e aplicvel fsica, astronomia, qumica, biologia, para citar algumas

    reas em que pode ser empregada. A origem da geometriapode ser identificvel na medida da terra cultivvel e com finsconstrutivos, nas figuras arcaicas da aritmtica pitagrica,nas formas ideais platnicas, nos Elementos de Euclides,na representao cartesiana, na representao mongeana,nas reconstrues no euclidianas, no clculo de Leibniz, natopologia, na geometria algbrica contempornea... A histriadas cincias desenvolve-se numa trama descontnua, nonuma sequncia contnua, linear.

    Os elementos mais simples da primeira geometriagrega eram o ponto, o segmento e o ngulo; e a figura mais

    simples era o tringulo, considerado como a metade de umparalelogramo, o que conduz estrutura do espao vetorial.

    A diagonal mtrica foi historicamente vivida como odrama do irracional e evidente morte do pensamento puro. (...)

    3 SERRES, Michel. As origens da geometria. Traduo: Ana Simes e Maria da Graa Pinho.Lisboa: Terramar, 1997.4 SERRES, op. cit., p. 10.

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    Recomecemos: apoiemo-nos, no mais no espao vetorial, masnas estruturas topolgicas. Eis-nos reconduzidos s origens: no

    j origem lgica ou histrica, mas s condies fundamentaisda constituio das formas no espao. Por esta anlise deretorno, a geometria descobre uma nova pureza que no devenada medida, anterior a ela e suspende de novo vinte sculosde tradio equvoca, entendendo-os como impuros e confusos,tecnolgicos e aplicados, em resumo no matemticos, ausentese defeituosos.5

    De acordo com Serres, foi por obra do acaso que osgregos consideraram como puro e milagroso algo que, defato, era complexo e misturado, e que passou a ser aceitocomo verdadeiro durante todos esses sculos. Conferiram,assim, um carter anistrico para a forma pura, ignorando acomplexidade do tempo. Descartes transps os atos dospedreiros para um plano abstrato. A contemplao douniverso foi tomada como modelo para as cincias e para a

    filosofia na histria do pensamento ocidental.Serres descreveu que a origem da palavra tempo

    tem dois sentidos distintos, o cronolgico e o meteorolgico,que constituem dois aspectos relacionados agricultura, smisturas e percolao.

    De acordo com Serres, para que o homem pudessecultivar a terra, era preciso, primeiro, desnud-la, destruir,cortar, arrancar toda a sua cobertura natural purificar oespao, sacrificar, preparar um lugar limpo, antes defecundar a terra. Este processo de preparao e separaoestabelecia a diferena e criava limites entre o interior e o

    exterior, o sagrado e o profano. O corte, gesto violentointencional ou cataclismo, catstrofe meteorolgica,determinava a separao entre os elementos, a anlise, otalho. Serres lembrou que seria neste espao que o groteria as condies de se multiplicar, no processo que deusurgimento agricultura e tambm propriedade.

    Herdoto descreveu o processo de medio e dedistribuio das terras, depois das enchentes, s margens doRio Nilo. A elevao do nvel das guas, ao mesmo tempoem que fertilizava a terra, tambm destrua qualquer vestgiode vida, ou de diferenciao, homogeneizava, transformava

    tudo em lama. O terreno pode ento ser medido porque setornou abstrato. Serres relata que a demarcao dapropriedade passou a exigir o estabelecimento de umadiferenciao, uma delimitao; para tanto, foi necessria acriao de critrios, instrumentos de anlise, parmetros. Ageometria constituiu a ferramenta abstrata, conceitual,

    5 SERRES, op. cit., p. 18.

    Figura 04 Slidos

    platnicos

    Figura 05 representao na

    Antiguidade egpcia

    Figura 06 hierglifos emrelevo

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    estrutural capaz de diferenciar, de separar o que erailimitado, o que no se diferenciava por si mesmo. A culturanasceu a partir da necessidade e do ato de excluir. Osharpedonaptas egpcios foram os primeiros gemetras eutilizavam o cordo, a unidade e a medida.

    Este processo de corte, de limpeza e separao estpresente na origem do conceito de lugar. Quando Jpiter, odeus dos sacerdotes, separou o sagrado do profano paraconstruir o templum. Pagum, locus, hortus, terreno. Serresafirmou que a expresso tbua rasa tem origem no trabalhodo escrivo, que tinha de limpar, preparar a madeira, papiro,pgina, na qual nasceu a escrita. Templo, terreno e camposofrem o mesmo processo de excluso, a destruio precedea criao. Depois de limpo, o espao torna-se mensurvel eassim pode ser representvel.

    A geometria, assim como a linguagem e a escrita, ouseja, assim como a representao, no depende da histria,pelo contrrio, responsvel pela prpria histria e,

    juntamente com a crena no monotesmo, surgiu comoproteo contra o medo da morte, contra a finitude da vida.Deus d conta de explicar o precedente, enquanto ageometria projeta o futuro.

    De acordo com Michel Serres, as explicaes para asorigens da vida e do universo, como espao e tempo semfronteiras ou limites, permitem a compreenso dos conceitosdas formas abstratas e do prprio infinito, que esto naorigem do pensamento geomtrico, imaterial.

    A partir do legado dos harpedonaptas egpcios, osgregos desenvolveram as formas matemticas puras, umsistema espacial de representao que manifestaexpressamente, em sua configurao e na sua prpriaconceituao, o pensamento e a poltica da Grcia, naqueleperodo histrico.

    Para Michel Serres, a representao dos modelosvistos de um ponto de vista superior

    uma demonstrao da existncia de um outro mundo.(...) Enganadora, a geometria faz tudo ver desse ponto cegosobre o qual ns meditamos. (...) os gregos inventaram talvez o

    corte, a teoria: dito de outro modo, a cena da viso. De Plutarcoou de Digenes, uma outra lio inaugural por em cena Tales noteatro do ver, na sombra das Pirmides. Eles inventaram orepresentar. (...) A representao, eis o prprio milagre: admirar,a partir dum ponto de mira, o mundo-espetculo ou teatro. (...) Aproduo dos gregos a projeo. E a otimizao de um sitioprojetante: sobrevo no alto ou de fora do mundo.6

    6 SERRES, op. cit., p.111, 112.

    Figura 07 hierglifos

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    A origem da geometria est tambm na construo e

    nas tcnicas dos pedreiros, que no podiam prescindir dosinstrumentos de medida e desenvolveram a geometriaaplicada.

    A geometria diferencia, separa, cria limites.O centro das formas determinado geometricamentee constitui o limite pontual no qual o homem se coloca. Ogora constituiu um modelo para a cidade, para o templo ououtros espaos cujas formas so centradas.

    Ainda com relao origem, Serres especulou emtorno de como se teria dado a passagem da linguagemescrita para a linguagem geomtrica, da notao alfabticapara a representao numrica das frmulas e figuras.

    O relato de Serres apresenta um contraponto com asideias apresentadas na Gramatologia7 por Derrida, texto queser analisado no prximo captulo, sobre as origens daslnguas, e sobre os cdigos lingusticos. So duasabordagens que se enriquecem reciprocamente, pelaintroduo de elementos e de relaes diferentes. Serresenfocou as questes mais histricas e especficas dageometria como representao enquanto as reflexes dotexto de Derrida, reportando a Rousseau e a Saussureaprofundaram mais as questes da lingustica.

    De acordo com Serres, o contraste entre a abstraoda forma geomtrica pura da pirmide e a concretude docorpo morto enterrado dentro dela dava margem aosurgimento de mitos e fantasias, que a irracionalidade dovalor da diagonal do quadrado veio reforar a crise dasirracionalidades.

    Serres descreveu toda a demonstrao daincomensurabilidade numrica da diagonal do quadrado emrelao medida de seu lado, a partir do teorema dePitgoras, que foi definida por Aristteles como sendo areduo ao absurdo. Juntamente com o teorema de Tales,da correspondncia entre as dimenses dos tringulos, estesso os dois teoremas fundamentais da geometria, que estona base da idealizao das formas platnicas. O grandeparadoxo que, apesar de ser incomensurvel ou irracional,a diagonal do quadrado, traduzida pela 2, representvelgraficamente, de maneira muito simples.

    A representao grfica seguida pela linguagemmatemtica, texto que descreve, explica, fala sobre odesenho.

    7 DERRIDA, Jacques. Gramatologia. So Paulo: Perspectiva, 1999.

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    Tales calculou a altura das pirmides, ao estabelecera relao entre as medidas de um objeto e da sombraprojetada por este, e comparando esta relao com a sombrada pirmide projetada no cho. Serres relatou que Euclidessistematizou e desenvolveu um mtodo de anlise e de

    transmisso dos conhecimentos existentes, que transcreveunos Elementos. A partir de Tales e de Euclides, Descartesinventou a geometria algbrica, uma linguagem apropriadapara descrever as verdades grficas em frmulas. Seu planoinfinito e abstrato reproduz o cenrio do deserto egpcio.

    So trs linguagens, trs lgicas diferentes paraexplicar ou dar a compreender o mesmo processo, a verbal,a grfica e a geomtrica.

    Ao contrrio do que se costuma acreditar, amatemtica no exata ou inexata, como o so as cinciasaplicadas; a geometria anexata. O papel milimetrado positivista ou cartesiano, e os agrimensores egpcios janteciparam a geometria descritiva, que viria a ser criada porGaspard Monge, no sculo XVIII. Para Serres, a geometriasurgiu como uma traduo ou sntese do encontro entre osconhecimentos desenvolvidos pelos egpcios e pelos gregos.

    Os hierglifos representavam as coisas em pequenosdesenhos esquemticos, que foram sendo partidos, primeiroem slabas, para depois darem origem s letras do alfabeto.Assim a linguagem escrita surgiu de um processo, de umasrie de etapas, para chegar a ser finalmente convenoformal, discurso.

    De acordo com Serres, a geometria tambm umaforma de discurso, o discurso de um desenho, cujo tema apura abstrao, um sistema de signos que designamsignos. Desenhos e signos, em conjunto, constituem umalinguagem e uma metalinguagem. Este discurso interminvelconstitui uma das grandes narrativas. A prpria histriasurgiu deste encontro entre o sistema de signos realista e oconvencional.

    Tales inventou a escala, ao descobrir a maneira decalcular a altura da Grande Pirmide pela proporo entre oobjeto e a sua sombra projetada e desta maneira mediu umobjeto inacessvel, distante, intangvel. Ao mesmo tempo,descobriu a projeo. Elementos fundamentais para aarquitetura e para a representao de arquitetura.

    Na passagem a seguir, Serres define:

    A viso um tato sem contato. Descartes, que sabia oque uma medida, descreveu o olhar do cego na ponta, afastadamas ttil, do seu bordo. Por vezes, a viso tem acesso a esseinacessvel. Da a medio a olho do Sol e da Lua, do navio e da

    Figura 08 rebatimento empura, representao dageometria descritiva

    Figura 09 pirmides doEgito, 2700 a. C.

    Figura 10 slidos platnicos

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    Os livros de Euclides sobre os elementos marcaramas origens da geometria. Para Serres, as cincias humanasno apresentam esses problemas de origem porque no tmelementos. Pontos, traos, crculos, marcas, vestgios sofixados por instrumentos como rgua, compasso, esquadro,

    a partir de cnones.Abstrair o ato de extrair a medida, a compreensoou ideia, a partir de um instrumento, de uma forma rgida. Aabstrao tornou possvel medir a terra indiferenciada,tornada abstrata, pela inundao. A origem da geometriaprovm da necessidade de decidir sobre limites e fronteiras,uma questo de poltica, de relaes sociais medir oslimites das propriedades, calcular impostos e tributos, direitocivil e privado. Ao medir a terra, a geometria mede osinteresses polticos e as relaes de poder e depois de limpa,dessa terra vai brotar o arroz e o trigo.

    A geometria tem origem neste ato de reconstruirsimultaneamente o direito e os limites, atravs dopensamento analtico o direito e a cincia nascem assim deum mesmo ato. A corda e o n, no templo, delimitam,separam o profano e o sagrado, direito, moral e ordem soestabelecidos com rigor e preciso. A Maat egpcia significaverdade, e relaciona-se com a retido lisa de um plano. ParaSerres, se os egpcios tivessem escrito esta histria, e noos gregos (Herdoto), ela daria origem ao direito e no geometria e, desta forma, as origens abstratas e sagradasdestes dois campos do saber tornaram-se inseparveis.

    O lodo negro da terra inundada, assim como a pginaem branco, abre espao para a representao, para amedida das mudanas, da diferena.

    Sim, as coisas do mundo e os nossos corpos tornaram-se, ento, euclidianos e fixaram-se de tal maneira nesta terraparadoxal, estranha porque isotrpica e translcida, que aindahoje temos dificuldade de mostrar aos filsofos que os nossossentidos mergulham, por vezes, em espaos completamenteoutros, topolgicos ou projetivos, caticos ou fractais, to fortecontinua a ser a crena deles em que o espao decorrente dageometria antiga continua a ser a nossa nica terra, quando aTerra, arcaica e nova, totalmente construda noutro lado, sem o

    olhar cego deles.9

    O texto de Michel Serres ilustra, contextualiza, epermite a compreenso da revoluo ocasionada pelasmudanas de paradigmas que foram geradas a partir dos

    9 SERRES, op. cit., p. 291.

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    avanos do pensamento contemporneo e das descobertasinovadoras matemtica da complexidade.

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    Ao longo da histria, a geometria tem dado suporte arquitetura, no domnio material e tambm no sensorial. Noprimeiro, a geometria d as medidas e tambm produz aimagem de um mundo sensato. No segundo, a ordemconceitual da geometria afirma sua relevncia no plano darepresentao, da idealizao, acima do mundo sensorial concretiza as relaes matemticas entre linhas e nmeros.

    No sculo XVII, Descartes, na Gomtrie, formulou asoluo para o problema levantado por Pitgoras, j naAntiguidade, da incomensurabilidade numrica dasmagnitudes lineares. Os matemticos gregos conceberam os

    nmeros naturais ou inteiros, cujas relaes deveriamexpressar as relaes espaciais do mundo natural. O mundofsico era visto at ento dentro de um modelo regido pelalgica das formas geomtricas. A descoberta de que arelao entre as dimenses do lado e da diagonal doquadrado no podem ser expressas por nmeros inteiros,por menor que seja a unidade de medida adotada,contradisse o antigo princpio de ordem natural numrica danatureza, estabelecendo uma crise matemtica e filosfica einstaurou a necessidade de uma geometria no euclidiana,que deu origem fsica quntica.

    Para a arquitetura, a geometria aporta elementos dalgica, da ordem e da medida. E a necessidade de medidatem sido compreendida como a origem histrica dageometria, na cultura ocidental, a medida como verificao eseparao. A geometria emergiu como assunto, com anecessidade de demarcao das propriedades aps asenchentes do rio Nilo. A geometria surgiu como umprocedimento e como estratgia para diferenciar o que nose diferenciava por si mesmo e identificou a propriedade.Para a arquitetura, a geometria marca e faz a diferena, alinha que manifesta a segregao.

    No editorial da revista Architectural design de 1997,Peter Davidson e Donald Bates abordaram a atrao que aarquitetura sempre teve pela geometria, explorandopossibilidades de um jogo de foras entre estes doisdomnios. Para eles, a arquitetura est alm da geometria,na busca e na institucionalizao de formas ideais. Ageometria representa simultaneamente uma imagem ideal euma ordem abstrata, que se materializam na arquitetura,

    Figura 11 Ren Descartes(1596/1650)

    Figura 12 Leonardo da Vinci

    (1442/1519), Homemsegundo Vitrvio, inscrito numcrculo e num quadrado

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    simultaneamente pela imagem construda e pela formamaterial. Propostas alm da geometria no supem o fim dageometria em arquitetura, aps o que estes autoresdefiniram como um romance geomtrico. Novas tcnicas etticas de organizao e ordenao arquitetnica incluem as

    geometrias convencionais, numa postura crtica, promovendoa substituio de seu papel dentro do processo de projeto.Ao criar as primeiras ferramentas, na Idade da Pedra,

    o homem transferiu para um objeto a funo dos seusprprios dentes. A partir da, ferramentas cada vez maiscomplexas foram sendo desenvolvidas e aperfeioadas, econstituram as inmeras prteses, objetos capazes desubstituir e amplificar partes ou funes do prprio corpo. Ainteligncia artificial uma realidade e, mesmo que ocomputador ainda no seja capaz de pensar pelo homem,constitui uma ferramenta poderosa de apoio ao raciocnio eao pensamento, com sua capacidade de memria e decruzamento de informaes infinitamente maior que a docrebro humano.

    Luiz Alberto Oliveira10, em workshop realizado emPorto Alegre, em 2006, explicou que, se os artefatosmecnicos, desenvolvidos pela cincia, com o auxlio dafilosofia, constituem prteses do corpo, a arte responsvelpela criao de prteses para o esprito ou a arte a prpriaprtese do esprito. Para ele, a aplicao generalizada domtodo cartesiano, que consiste em separar um todocomplexo em unidades menores e mais simples, paraanalis-las, foi responsvel por uma compreenso douniverso como um grande mecanismo, onde todos osfenmenos tinham explicao em processos de causa eefeito. De acordo com o paradigma mecanicista, o mundopoderia ser explicado pelo funcionamento das engrenagensde um relgio.

    O mtodo sistematizado por Descartes consiste naobservao atenta e na anlise detalhada. No pensamentodo sculo XVII, um conjunto infinito de pares de conceitosopostos, de pares dicotmicos, dava conta da compreensode todo o universo. Todas as questes podiam ser reduzidasa sim ou no, dentro ou fora, grande ou pequeno, simples oucomplexo. Separando cincia, filosofia e arte emcompartimentos isolados e estanques, a viso mecanicista ereducionista do mundo dominou todo o pensamento ocidental

    10 OLIVEIRA, Luiz Alberto, Workshop em Porto Alegre, em 7 e 8 de outubro de 2006. Sobre oassunto, veja-se: GREENE, Brian. O universo elegante: supercordas, dimenses ocultas e abusca de uma teoria definitiva. Traduo Jos Viegas Filho. So Paulo: Companhia das Letras,2004.

    Figura 13 engrenagens

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    desde Galileu, passando por Descartes e chegando atNewton.

    Teorias contemporneas sobre a complexidade, adobra e tambm sobre os ns, compreendem a natureza e avida de maneira dinmica e em constante mutao. De

    acordo com a teoria quntica, a dobra um processo,atravs do qual as coisas se repetem sobre si mesmas emodificam suas prprias estruturas.

    A dobra j se fazia presente na pintura medieval, paradar conta da representao da profundidade, quando oprocesso de representao em perspectiva ainda no estavasistematizado. A representao das dobras e rugas dospanos dava a sensao dos volumes dos corpos, aodestaca-los do fundo chapado.

    Na teoria mecanicista e reducionista, o todo era vistocomo uma soma organizada de unidades simples. Nacompreenso da complexidade, a totalidade pode ser ou noser mais simples, do que os sistemas menores que acompem e os sistemas so abertos, inacabados. Ossistemas se modificam constantemente e modificam as suasregras de funcionamento, logo o paradigma mecnico, decausa e efeito, no d mais conta de explicar todos osprocessos. A dobra pe em contato o que estava separado ed surgimento a superfcies visveis e invisveis, o explcito eo implcito.

    A descoberta de elementos cada vez menores daconstituio da matria e da energia, quarks, leptons, colas,cordas, que formam os prtons, que formam os tomos, queformam as molculas, que formam os corpos, que formam ouniverso.

    No sculo XX, deu-se uma verdadeira revoluo dosprocessos de pensamento e do conhecimento, tudo passa aser relativo e o homem foi retirado definitivamente do centrodo universo. A representao em perspectiva, ao geometrizaro olhar e a viso do espao fsico, atravs do ponto de fuga ede outras estratgias da geometria, criou uma abstrao quefoi seguida pela cincia, como um modelo. A dobra inseriu adiferena.

    A arte, como prtese do esprito, antecipa opensamento e aponta os caminhos para a cincia e para afilosofia. A riqueza e a complexidade da literatura de JorgeLuis Borges exemplificam vivamente, quando propem umnovo modelo do universo, como estrutura de integraessucessivas, no qual cada sntese permite que a seguinteacontea.

    Para o pensamento complexo, o tempo no existe,porque um conceito que no est na natureza. O que

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    existe uma pluralidade de tempos, uma pluralidade dereais, o antes e o depois, a multiplicidade do real. At o ano1200, o tempo era cclico, era medido pelos ciclos naturais. Otempo linear, com diviso em anos, meses, dias e horas, emuma sucesso de pedaos fixos, independentemente dos

    ciclos da natureza, atravs do relgio mecnico, com seu tictac. A geometrizao do tempo teve origem na estrutura daharmonia musical. O tempo um conceito abstrato e adurao um pedao de tempo de tamanho arbitrrio, queignora as descontinuidades, uma figura de tempo que projetada sobre o mundo. Para Descartes, o instante umpedao de tempo que no dura.

    O enigma constitua um paradigma, um fragmento,que permitia a possibilidade de restaurao da unidadeperdida, atravs da reconstruo de uma ordem, como natragdia. O problema diferente, porque aceita o caos epermite mltiplas possibilidades, o futuro permite a criaode novas unidades, novas propostas de integrao, comoordenao provisria, parcial. A ordem emerge do caos.

    A vida um tempo que veio se instalar sobre ostempos.

    Em Complexidade: a vida no limite do caos, RogerLewin11 descreveu, de uma forma literria, de que maneira oscientistas e os pesquisadores de reas to diferentes comomatemtica, fsica, geologia, antropologia, arqueologia,biologia e outras sentiram a necessidade de cruzareminformaes para explicar as formas da natureza. Entre asmais diversas reas do conhecimento, encontram-seestruturas de funcionamento semelhantes, nas quais,periodicamente, uma ordem nova emerge a partir de umsistema organizado. Estes sistemas emergentes trazemmudanas, que no so necessariamente evolutivas, masque so sempre inovadoras.

    A cincia da complexidade, em especial pela questoda emergncia, veio derrubar a hegemonia do pensamentomecanicista, seja do ponto de vista platnico ou aristotlico,que interpretavam os seres vivos como sendo estruturasorganizadas, previsveis e evolutivas, em todos os sentidos.

    Numa perspectiva holstica, os cientistas tmprocurado uma compreenso profunda da fonte da ordem danatureza, uma explicao para a complexidade das formasda vida e da natureza,