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Atualidades Ornitológicas, 202, março e abril de 2018 - www.ao.com.br 67 Representação da avifauna nos brasões, bandeiras e hinos dos estados e de municípios brasileiros João Baptista de Moraes Canto¹ “Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança Estandarte que a luz do céu encerra, E as promessas divinas da esperança...” Castro Alves Resumo. Representação da avifauna nos brasões, bandeiras e hinos dos estados e nos brasões e bandeiras dos municípios bra- sileiros. Na pesquisa constatou-se que dos 26 estados e Distrito Federal, oito brasões apresentam aves (AM, PA, RJ, SC, MT, RR, PR, CE). Nas bandeiras as aves estão representadas apenas em três (RJ, SC, CE). Nas letras dos hinos, quatro entre eles têm citação de aves (AM, GO, PE, MT). Dos 5570 municípios brasileiros e das1919 aves, 5,10% deles, ou 284 dos municípios, têm brasões com aves, enquanto que nas bandeiras temos 3,92% delas ou 26 bandeiras. Introdução Símbolos nacionais e, por extensão, os provinciais, regionais, estaduais, assim como os municipais, portam-se como claras afirmações de identidade (Berg 2009). Os símbolos constituem- -se em elementos distintivos de reconhecimento mútuo entre os membros de um determinado grupo. Os símbolos podem ser considerados uma “carteira de iden- tidade” da nação, de uma comunidade, reunindo elementos ca- racterísticos em sua formação histórico-social; para Guibernau (1997) os símbolos “mascaram a diferença e põem em relevo a comunidade, criando assim um sentido de grupo”. As pessoas constroem a comunidade de uma forma simbólica e acabam por transformá-la num referencial de identidade. Para Berg “Símbolos como bandeiras, brasões e hinos não são idealizados apenas pelo capricho dos poderosos, eles refle- tem uma realidade histórica e são a crônica viva de um povo” (Nogueira 2010). A análise da evolução dessas representações, através das fontes oficiais e da pesquisa do conteúdo geográfico presente nas bandeiras, brasões e hinos dos estados do Brasil, levou Berg, professor da Unesp, campus Rio Claro (SP), à cons- tatação da dificuldade de se encontrar de forma uniforme um material que abranja a maioria dos estados brasileiros, pois não existe qualquer padrão para a apresentação de seus símbolos no que tange às referências biográficas, dados históricos e legisla- tivos (Berg 2009). Um brasão de armas geralmente é composto de dois elemen- tos. O primeiro é o escudo, que é a parte principal, e que contém os símbolos e divisões, onde são inseridas as figuras ou “peças heráldicas”, que podem ser homens, animais etc. O segundo ele- mento é a “ornamentação exterior” que é composta por todos os elementos que cercam o escudo. Uma bandeira, com suas cores, formas, divisões e iconografia sempre tem uma razão de ser. Tal como os brasões e hinos as bandeiras pertencem a um grupo de tradições associadas a valo- res que expressam o sentimento coletivo e até a emoção cívica dos membros de uma comunidade. Os símbolos são fatores im- portantes no processo de formação da identidade de determinada comunidade, fato esse que implica tanto na semelhança entre seus membros quanto na diferença em relação a estranhos. Essas composições artísticas e musicais idealizadas são sím- bolos portadores de uma mensagem refletora de uma realidade histórica e ao mesmo tempo portam-se como uma crônica viva de um determinado povo e lugar (Nogueira 2010) e, por conse- guinte, os símbolos são capazes de traduzir o sentimento coleti- vo dos habitantes de determinada região. Objetivos A pesquisa visou elencar a participação das aves como “carga” (figura, na vexilologia) nas bandeiras de estados e municípios brasileiros e como “figura” (na heráldica) nos brasões de estados e municípios brasileiros, e ainda, os hinos de estados brasileiros que homenageando as aves, contemplaram-nas em suas compo- sições. 1- Episódios da nossa história que influíram na presença de aves nos símbolos e brasões. O primeiro episódio ocorreu quando os holandeses, que entre 1624 e 1654 dominaram diversos territórios do Norte e Nordeste do Brasil, foram os primeiros a entoar um hino nacional Wilheel- mus va Nassouwe dos Países Baixos. Os holandeses também criaram armas para os territórios que estavam sob seu controle, como Sergipe e Serinhaém (Pernam- buco). O Conde João Maurício de Nassau, em 1639, deu a cada capi- tania o seu brasão. O do Rio Grande foi descrito pelo humanista e narrador Barleus (1584-1648) da seguinte forma: “A Capitania do Rio Grande tinha por brasão um rio, a cuja margem via-se uma avestruz (ema), ave que se encontra em abundância naquelas pa- ragens” (Carvalho 1904: 576-577). A ema, nesse caso, refere-se também à fidelidade do chefe indígena Janduí, amigo de Nassau, que reconhecera a postura afável do Conde para com os povos primitivos. Janduí é realmente nhanduí, ema pequena, o corredor, e o escudo era uma homenagem heráldica à fidelidade da gente

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Atualidades Ornitológicas, 202, março e abril de 2018 - www.ao.com.br 67

Representação da avifauna nos brasões, bandeiras e hinos dos estados e de municípios brasileiros

João Baptista de Moraes Canto¹

“Auriverde pendão de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balançaEstandarte que a luz do céu encerra,

E as promessas divinas da esperança...”Castro Alves

Resumo. Representação da avifauna nos brasões, bandeiras e hinos dos estados e nos brasões e bandeiras dos municípios bra-sileiros. Na pesquisa constatou-se que dos 26 estados e Distrito Federal, oito brasões apresentam aves (AM, PA, RJ, SC, MT, RR, PR, CE). Nas bandeiras as aves estão representadas apenas em três (RJ, SC, CE). Nas letras dos hinos, quatro entre eles têm citação de aves (AM, GO, PE, MT). Dos 5570 municípios brasileiros e das1919 aves, 5,10% deles, ou 284 dos municípios, têm brasões com aves, enquanto que nas bandeiras temos 3,92% delas ou 26 bandeiras.

IntroduçãoSímbolos nacionais e, por extensão, os provinciais, regionais,

estaduais, assim como os municipais, portam-se como claras afirmações de identidade (Berg 2009). Os símbolos constituem--se em elementos distintivos de reconhecimento mútuo entre os membros de um determinado grupo.

Os símbolos podem ser considerados uma “carteira de iden-tidade” da nação, de uma comunidade, reunindo elementos ca-racterísticos em sua formação histórico-social; para Guibernau (1997) os símbolos “mascaram a diferença e põem em relevo a comunidade, criando assim um sentido de grupo”. As pessoas constroem a comunidade de uma forma simbólica e acabam por transformá-la num referencial de identidade.

Para Berg “Símbolos como bandeiras, brasões e hinos não são idealizados apenas pelo capricho dos poderosos, eles refle-tem uma realidade histórica e são a crônica viva de um povo” (Nogueira 2010). A análise da evolução dessas representações, através das fontes oficiais e da pesquisa do conteúdo geográfico presente nas bandeiras, brasões e hinos dos estados do Brasil, levou Berg, professor da Unesp, campus Rio Claro (SP), à cons-tatação da dificuldade de se encontrar de forma uniforme um material que abranja a maioria dos estados brasileiros, pois não existe qualquer padrão para a apresentação de seus símbolos no que tange às referências biográficas, dados históricos e legisla-tivos (Berg 2009).

Um brasão de armas geralmente é composto de dois elemen-tos. O primeiro é o escudo, que é a parte principal, e que contém

os símbolos e divisões, onde são inseridas as figuras ou “peças heráldicas”, que podem ser homens, animais etc. O segundo ele-mento é a “ornamentação exterior” que é composta por todos os elementos que cercam o escudo.

Uma bandeira, com suas cores, formas, divisões e iconografia sempre tem uma razão de ser. Tal como os brasões e hinos as bandeiras pertencem a um grupo de tradições associadas a valo-res que expressam o sentimento coletivo e até a emoção cívica dos membros de uma comunidade. Os símbolos são fatores im-portantes no processo de formação da identidade de determinada comunidade, fato esse que implica tanto na semelhança entre seus membros quanto na diferença em relação a estranhos.

Essas composições artísticas e musicais idealizadas são sím-bolos portadores de uma mensagem refletora de uma realidade histórica e ao mesmo tempo portam-se como uma crônica viva de um determinado povo e lugar (Nogueira 2010) e, por conse-guinte, os símbolos são capazes de traduzir o sentimento coleti-vo dos habitantes de determinada região.

ObjetivosA pesquisa visou elencar a participação das aves como “carga”

(figura, na vexilologia) nas bandeiras de estados e municípios brasileiros e como “figura” (na heráldica) nos brasões de estados e municípios brasileiros, e ainda, os hinos de estados brasileiros que homenageando as aves, contemplaram-nas em suas compo-sições.

1- Episódios da nossa história que influíram na presença de aves nos símbolos e brasões.

O primeiro episódio ocorreu quando os holandeses, que entre 1624 e 1654 dominaram diversos territórios do Norte e Nordeste do Brasil, foram os primeiros a entoar um hino nacional Wilheel-mus va Nassouwe dos Países Baixos.

Os holandeses também criaram armas para os territórios que estavam sob seu controle, como Sergipe e Serinhaém (Pernam-buco).

O Conde João Maurício de Nassau, em 1639, deu a cada capi-tania o seu brasão. O do Rio Grande foi descrito pelo humanista e narrador Barleus (1584-1648) da seguinte forma: “A Capitania do Rio Grande tinha por brasão um rio, a cuja margem via-se uma avestruz (ema), ave que se encontra em abundância naquelas pa-ragens” (Carvalho 1904: 576-577). A ema, nesse caso, refere-se também à fidelidade do chefe indígena Janduí, amigo de Nassau, que reconhecera a postura afável do Conde para com os povos primitivos. Janduí é realmente nhanduí, ema pequena, o corredor, e o escudo era uma homenagem heráldica à fidelidade da gente

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“cariri” (Cascudo 1956). Por esse motivo, suplanta o valor simbó-lico do rio, cuja dimensão deveria evidenciar a região pelo emble-ma. Havia ainda, uma estrela de prata, na parte superior e o mote: “velociter”. Para alguns autores a ema foi escolhida para ilustrar o brasão porque essa ave existia em grande número nessa região. Câmara Cascudo, contudo, discorda e afirma: “...a ema nunca foi em tempo algum característica da fauna norte-rio-grandense e es-pecialmente no domínio holandês”. Outro argumento apresentado por Cascudo: “...caso Nassau desejasse colocar algo característico da capitania, teria, naturalmente, escolhido o gado, uma das ra-zões da conquista da região”.

Cascudo argumenta ainda, que “...sem Janduí a companhia não sustinha o Rio Grande por duas semanas. Natural, portanto, que Nassau prestasse uma homenagem ao fiel amigo. E ainda, os janduis eram notáveis pela rapidez com que se deslocavam, justificando, assim o mote Velociter”. Desta forma a razão fica-ria com Cascudo que concluiria que “...janduí é a ema do brasão holandês no Rio Grande do Norte” (Cascudo 1956).

Segundo Berg (Nogueira 2010) que analisou símbolos nacio-nais e estaduais, outros episódios refletiam os humores de três movimentos diferentes da História Republicana: a República Velha, o Estado Novo e a Ditadura Militar.

Quando da proclamação da república multiplicaram-se os símbolos, na tentativa de recuperá-los muitos em função das in-surreições do período imperial.

No período seguinte, nota-se, por exemplo, que Getúlio Var-gas, alçado à posição de ditador e com a Constituição promulga-da em 10 de novembro de 1934, nomeou interventores para os estados e riscou o federalismo do mapa, proibindo a existência de hinos, brasões, escudos e bandeiras estaduais.

Após esse período veio a Constituição de 1946, quando então houve a afirmação da liberdade dos estados e municípios para a escolha de seus próprios símbolos.

A partir de 1964 com o retorno do ciclo autoritário, a esfera simbólica foi atingida, tornando os símbolos nacionais inalterá-veis. Porém não se estendendo aos símbolos estaduais e muni-cipais.

Os hinos, bandeiras e brasões são símbolos dos quais um esta-do independente proclama sua identidade e soberania, ao mesmo tempo em que são signos que carregam uma afinidade especial. Eles projetam valores culturais associados a uma identificação política e à ideia de pertencimento a uma territorialidade, uma comunidade política imaginada.

Mas o importante é o exame bem acurado dos símbolos, pois estes símbolos podem nos ensinar coisas novas sobre a nossa história e nosso país.

Algumas peculiaridades quanto aos brasões de armas dos esta-dos brasileiros que contemplam aves, merecem registro.

2- A importância da paisagem e do lugar.É necessário ponderar ainda nos símbolos os componentes:

natureza, lugar e região, aliás, importantes na representação da paisagem, figurando estes elementos simbolicamente no dese-nho gráfico de bandeiras e brasões. Mais ainda, estão no con-texto e na narrativa dos hinos e canções que são expressões que, de certa forma, buscam capturar de maneira seletiva os compo-nentes necessários à criação desse imaginário, através dos quais, “re-presentamos seus significados” (Cosgrove 2004).

A paisagem, enquanto pluralidade semântica da produção humana, é também um recorte espacial (terra, província, país,

região, território) possuindo da mesma forma as raízes subjeti-vas que se alicerçam pelos recursos dos sinais simbólicos que ostentam (Gomes 2001).

Nesta perspectiva, “paisagem e lugar” contemplam represen-tações geográficas os brasões dos estados do Espírito Santo, Mato Grosso, Roraima, Rio de Janeiro, Ceará, o antigo e atual brasão de Alagoas.

Antes, porém, lembremos que diferentemente das bandeiras, com seu uso mais geral, os brasões foram concedidos apenas

a alguns núcleos urbanos, res-saltando a importância que es-tes tinham no Brasil colonial, conforme Luz (1999). Durante dois séculos foram concedidos a cidades coloniais brasileiras apenas seis brasões. Destes des-tacam-se, tendo em vista o obje-tivo deste trabalho, apenas três: o da cidade de Salvador, em 1549 (Figura 1), o da cidade de Vila Bela de Mato Grosso, em 1715 (Figura 2) e o de Cuiabá, a Vila do Bom Jesus de Cuiabá, em 1727 (Figura 3).

Concedido o primeiro brasão por D. João III, ocorrido na Bahia, juntamente com o novo nome de “Cidade do Salvador”, tinha-se um escudo blasonado oval em campo sinople com uma pomba branca e um ramo de oliveira no bico; tempos depois, nova versão deste escudo ganhou duas torres com suas ameias expostas. Uma âncora e dois golfinhos ao estilo da heráldica, adornados por ramos de oliveira (Berg 2010). Segundo Luz, “em campo sinople, uma pomba branca com um ramo de oliveira no bico; num listel, em letras de ouro, o mote: Sic illa ad arcam reversa est” (Luz 1999). A tradução seria: “Assim ela voltou à arca”.

O brasão outorgado à Vila Bela de Mato Grosso, em 1715, um dos últimos do Brasil colonial, está descrito no ato de fundação da Vila Bela de Mato Grosso e assim blasonado: “(...) que em reverência da mesma Trindade Santíssima simbolicamente teria (a vila então fundada) em meio de um escudo branco com dois círculos, um encarnado e outro azul, uma ave com corpo e cabe-ça do meio de águia, ao lado esquerdo de pomba e ao lado direito de pelicano, ferindo o peito (...)” (Ribeiro 1933).

Finalmente, o brasão da Vila do Bom Jesus do Cuiabá, outor-gado em 1727, assim descrito conforme ato de sua fundação:

Figura 2. Vila Bela de Mato Grosso (1715).

Figura 1. Salvador (1549).

Figura 3. Bom Jesus de Cuiabá (1727).

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“um escudo com o campo verde, e nele um morro ou monte todo salpicado com folhetos e granitos de ouro; e por timbre em cima do escudo, uma fênix”, a ave mitológica nascida do fogo e que ressurge de suas próprias cinzas, representando a imorta-lidade (Luz 1999). Cabe ressaltar que as armas concedidas às antigas vilas brasileiras, permanecem até hoje. Os brasões das capitanias brasileiras, no período da invasão holandesa, com a finalidade de marcar os objetivos dos batavos na colonização, foram concedidos primeiramente a quatro capitanias: Pernam-buco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Itamaracá. Destas, apenas a do Rio Grande do Norte possuía uma ave em seu interior. Ti-nha por brasão um rio de prata filetado de azul, na qual figurava uma avestruz (sic) [ema], ave que na época se encontrava em grande abundância naquelas paragens (Berg 2009) e conforme descreveu Barleus (Gutlich 2005), muito embora discordante do que afirmou Cascudo.

Passando para a federação brasileira, analisemos os brasões dos estados sob a perspectiva “paisagem e lugar” e que contem-plam as aves, escopo principal desta pesquisa e acima citados.

O brasão do antigo estado de Mato Grosso (Figura 4), hoje englobando os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, foi criado por iniciativa do go-vernador Dom Francisco de Aquino, em 1918, preenche a ideia do monumento natural, in-cluindo no caso uma ave como elemento do brasão. O brasão compõe-se de um escudo por-

tuguês, filetado de ouro, que apresenta em sua base um campo verde no qual se assenta o morro de ouro de dois cabeços, um maior, ao centro, e outro menor, em direção ao flanco sinistro, desenho que representa as terras mato-grossenses e a fidelidade às cores nacionais. Dom Francisco Aquino, assim se manifestou: “nele, [...] tentei simbolizar a nossa terra, a nossa gente, a nossa história, os nossos ideais” (Jucá 1994). Completa o escudo o céu em azul, símbolo da pureza, no qual domina, em chefe, um bra-ço armado a empunhar uma bandeira com a flâmula quadriden-tada, tudo em prata, ornada com a cruz da ordem de Cristo em goles, peça esta que já se encontrava consagrada no brasão da cidade de São Paulo (1917) e que simboliza os bandeirantes pau-listas que desbravaram o estado (Berg 2009). Por timbre aparece uma fênix dourada, ave fantástica da mitologia que é símbolo da imortalidade, a renascer sobre as chamas em brasa, insígnia essa usada no primeiro brasão de armas que foi concedido à Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá, em 1727. Os ramos estão enlaçados por uma faixa, na cor vermelha, onde se lê, por divisa, com le-tras de ouro, a frase em latim: “VIRTUTE PLUSQUAM AURO”, significando: “mais pela virtude do que o ouro”. Tal frase quer expressar que Mato Grosso será grande pela virtude e pelo tra-balho de seus filhos, pelo seu ideal de justiça e patriotismo, e não apenas por suas riquezas naturais e minerais. O brasão pro-cura representar assim, por seu sentido simbólico através de seus elementos (as peças heráldicas), a ideia da natureza enquanto recurso (morro de ouro, ramos de seringueira e erva mate) com a ação humana através da história (braço armado bandeirante), o renascimento (econômico) da região (simbolizado pela ave fê-nix), que configuraram aquele espaço geográfico da época em que o símbolo foi elaborado.

O modelo atual de brasão do estado do Rio de Janeiro (Fi-gura 5) foi sancionado pelo governador Paulo Francisco Torres, pela lei 5558, de 5 de outubro de 1965, cujo desenho foi feito pelo delegado Alberto Rosa Fioravante e pela profes-sora Robertina M. Barros. Antes desta data o estado possuía um modelo instituído em 1892 pelo decreto n° 3 de 29 de junho do mesmo ano, através da sanção do governador José Thomaz da

Porciúncula (Ribeiro 1933). Neste primeiro modelo de brasão havia geralmente uma pomba branca carregando em seus pés o escudo redondo de prata que se erguia da água do mar, tendo em um dos pés um maço de loureiros e no bico um ramo de oliveira; figurava ao fundo a Serra dos Órgãos, com a estrela de prata, que representa o estado dentro do escudo oval, acima do pico “Dedo de Deus”. A autoria é creditada a Ricardo Honorato Teixeira de Carvalho (Ribeiro 1933).

O brasão atual, a partir de 1965, é composto de um escudo oval ou eclesiástico, simbolizando os anseios cristãos do povo fluminense. O desenho divide-se em três partes. A primeira em azul, no alto do escudo, refere-se ao céu e simboliza a justiça, a verdade e lealdade, tendo como silhueta geográfica a Serra dos Órgãos, com destaque para o pico do “Dedo de Deus” em sua cor característica como símbolos naturais do estado do Rio de Janeiro. A segunda, em verde, representa a Baixada Fluminense e, abaixo desta, há uma faixa em azul, lembrando o mar e suas praias. Em brocante está uma águia revestida de prata, com suas asas abertas, em atitude de alçar voo, representando o governo, que deve ser forte, honesto e justo, portador de confiança, es-perança e ação aos mais longínquos rincões do estado. A águia carrega em suas garras um escudo redondo, na cor azul, com faixa em prata, tendo as inscrições: “9 de abril de 1892”, re-lembrando a promulgação da primeira constituição do estado do Rio de Janeiro e, circundando esta, a escrita em latim: “RECTE REMPUBLICAM GERERE” (gerir a coisa pública com retidão), traduzindo a preocupação constante que deve ter o homem pú-blico fluminense. No interior do escudo, acima da faixa de prata com a data, uma estrela também em prata, representa a capital do estado. Localizada acima do escudo ovalar encontra-se um estrela em prata, chamada Beta, da constelação do Cruzeiro do Sul, que representa o Rio de Janeiro como unidade federativa do Brasil. Como suportes, à direita do escudo há uma haste de cana de açúcar e, à esquerda, um ramo de café frutificado, repre-sentando as principais culturas do estado. Os ramos cruzados na parte inferior são atravessados por uma fita de prata onde se lê, escrito em letras negras: “ESTADO DO RIO DE JANEIRO”. Em primeiro plano aparece a águia como símbolo da ação go-vernamental: do papel do estado forte.

O brasão de Roraima (Figura 6) foi criado por Antônio Bar-bosa de Melo e adotado em 14 de junho de 1996, através da lei estadual nº 133. O referido brasão compõe-se de um escudo suíço cortado em chefe, isto é, no terço superior, onde se encon-tra a representação (ao amanhecer) do Monte Roraima, origem do nome do estado; paisagem esta localizada na Serra de Pa-caraima, na fronteira norte, que junto com a Serra Parima, fa-

Figura 4. Mato Grosso.

Figura 5. Rio de Janeiro.

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zem parte do conjunto cristalino pertencente ao chamado escudo Guianense (IBGE 1977a). À destra, partido em campo azul, encontra-se pousada em galho, uma garça branca, ave típica da região e símbolo da eterna vigi-lância. À sinistra, encontra-se em campo de prata a figura de um garimpeiro em atividade de lavra, rendendo uma homena-gem histórica à primeira ativi-dade econômica e representan-

do a riqueza mineral existente no estado. Adornam o escudo dois ramos de arroz, um à esquerda e outro à direita, representando o principal produto de exportação e importância agrícola para Roraima. Encontra-se ainda, a figura de um arco e flecha entre-cruzados, representando os diferentes povos indígenas e simbo-lizando a defesa do território. Abaixo, está disposta uma faixa verde, de pontas bipartidas, onde se escreve com letras negras: “ESTADO DE RORAIMA”.

O estado do Ceará ganhou o seu brasão instituído pelo go-vernador Antônio Pinto Accio-ly, em 11 de setembro de 1897, cujo desenho mandara criar anteriormente. Nesta versão, as armas do Ceará eram compos-tas de um escudo polônio fen-dido e cosido (dividido com a mesma cor) em verde, bordado de prata. O plano inferior do es-cudo estava semeado de estrelas brancas, dispostas quantos fos-sem os municípios cearenses na época; o plano superior era

adornado por uma pomba estilizada em prata. Por timbre um forte de construção antiga, na cor ouro e com uma porta negra relembrando a origem da capital Fortaleza. O escudo ladeado desta forma permaneceu em dois períodos de 1897-1937 e de 1947-1967. Já o segundo modelo de brasão do Ceará veio pela necessidade de atualização, sendo que o brasão foi alterado pe-las leis nº 13878 de 23 de fevereiro de 2007 e pela lei 13897 de 21 de junho do mesmo ano. Do desenho original de 1897, composto de um escudo polônio, fendido e cosido (dividido e da mesma cor), em verde e bordado de prata, cuja metade inferior apresenta sete estrelas do mesmo metal, representando atual-mente as mesorregiões do estado: Metropolitana de Fortaleza, Jaguaribe, Sertões, Noroeste, Norte, Centro-Sul e Sul Cearense. No desenho atual (Figura 7), a pomba branca, símbolo da paz, da liberdade e do abolicionismo, foi deslocada para o alto do escudo oval. Complementam a figura, a representação do litoral e do sertão, ambas ao natural. Em verde, destacam-se as serras (em especial a região da Serra do Maciço de Baturité), como referências à beleza natural do Ceará.

Cabe registro, ainda, a evolução do brasão de armas do estado de Alagoas. O primeiro modelo de desenho do brasão (Figura 8) foi oficializado pelo decreto nº 53 de 26 de maio de 1894. Havia, entre outros componentes, por timbre, uma águia des-lumbrada em prata, emblema da força, com as asas estendidas

e pousada sobre o escudo e cercada, ao fundo, por uma auréola de ouro. Porém, foi adotado outro modelo (Figura 9) a partir de 23 de setembro de 1963, através da lei 2628 vigendo até os dias de hoje. Nesse desenho adotado a águia não figura mais como componente.

3- Brasões como expressão cartográfica e paisagística – Amazonas

Segundo Berg, há brasões de estados brasileiros que: “con-templando diferentes dimen-sões de ordem geográfica, as referências espaciais aparecem através dos mapas, cuja repre-sentação é dada como uma parte ou dimensão da realidade obser-vada” (Berg 2009). Os estados do Amapá, Goiás, Tocantins, Rondônia e o Distrito Federal (Brasília) estão enquadrados nesta categoria de análise. Mas, tendo em vista o objetivo deste trabalho, nos ateremos ao es-tado do Amazonas, pois entre

outros componentes apresenta uma ave. O Amazonas teve seu brasão (Figura 10) criado por decreto de 24 de novembro de 1897, sob o nº 204. Entre outros elementos componentes do bra-são, no alto do escudo pode-se ver o sol radiante, símbolo da boa fama da glória e da liberdade e pousada sobre um pedes-tal há uma águia amazonense estilizada de asas abertas, tudo da mesma cor, a simbolizar a grandeza e a força. O decreto acima foi oficialmente regulamentado por outro de n° 50534 de 16 de setembro de 1987.

4- Brasões do Paraná e Santa Catarina – uma visão biogeo-gráfica e da economia agrícola

O objeto de estudo da geografia é o estudo das interações, a organização e os processos de ordem espacial, a biogeografia é parte integrante da ciência geográfica, pois segue os mesmos objetivos. A biogeografia objetiva documentar e compreender os padrões espaciais da biodiversidade própria, através da fito-geografia e zoogeografia em diversas escalas. Desta forma há uma busca por uma conexão em relação à perspectiva de sua representatividade, na qual suas espécies, muitas delas de ordem regional-nacional, aparecerão em determinado símbolo estadu-al, eleitas por suas características e qualidades (Berg 2009). En-

Figura 6. Roraima.

Figura 7. Ceará (Atual).

Figura 8. Alagoas (1895 –1963). Figura 9. Alagoas (atual).

Figura 10. Amazonas.

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tretanto, contrastando com a exaltação da natureza através das espécies naturais, está a agricultura como atividade humana do ponto de vista de sua dimensão econômica.

Neste viés de análise estão os brasões de diversos estados, en-tretanto vamos analisar os estados do Paraná e Santa Catarina que contemplam aves.

O estado do Paraná, ao longo de sua história, teve diversos brasões oficiais, muito embora, já em 1853, ano de sua indepen-dência, houvesse tido diversos projetos de brasão. Mas as aves só foram introduzidas para compor o brasão no terceiro, quinto e atual modelo.

Destarte, surgiu uma ave no terceiro modelo de brasão de armas do Paraná, instituído pela lei nº 904 de 21 de março de 1910, idealizado por Alfredo Emílio Andersen, pintor de origem norueguesa. O brasão recebeu, por timbre, um falcão paranaen-se, também chamado de gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) pairando sobre o topo do escudo simbolizando a avifauna local e a manutenção da liberdade conquistada (Berg 2009).

O quarto modelo de brasão de armas e bandeira foi inicialmen-te introduzido por decreto-lei de 31 de março de 1947. Neste mo-delo o gavião-real ou harpia se apresentava de asas estendidas, pousado sobre o escudo, com a cabeça para frente ligeiramente voltada para a direita. Nota-se que a ave foi substituída.Entre-tanto, veio a ser alterado pela lei complementar nº 52 de 24 de setembro de 1990 e nesse mo-delo o gavião-real ou harpia se

apresentou, entre outras alterações, de asas estendidas, pousan-do sobre o escudo, agora com a cabeça para frente, ligeiramente voltada para a direita do mesmo. Tanto o brasão como a ban-deira foram revogados pelo decreto-lei nº 5713 de 27 de maio de 2002, voltando a vigorar como símbolos do Paraná aqueles adotados em 1947 (Figura 11).

Desta forma, entre as alterações efetuadas ressurgiu, por tim-bre, pousando sobre o escudo, um gavião real, também chamado de “harpia, nhapecani ou uiraçu” (Harpia harpyja). Apresenta--se todo de prata e de asas abertas. Convém lembrar que é a maior ave do Brasil, cujo habitat preferencial são as florestas tropicais, no caso presente, a região da Mata Atlântica.

Muito embora a gralha-azul seja a ave símbolo do Paraná, por seu trabalho de perpetuador da espécie araucária, Alfredo Andersen, ilustrador do brasão do estado (1910), colocou por timbre uma ave nobre, usada na heráldica, no caso o gavião-real.

O brasão do estado de Santa Catarina (Figura 12) foi esta-belecido pela lei 126 de 15 de agosto de 1895, baseado em desenho de Lucas Alexandre Boiteux. O art. 2º da referida lei estabeleceu que as armas devessem conter entre outros componentes, uma águia vista de frente, de asas estendidas, e esta seguraria uma chave com a garra direita e com a esquerda

uma âncora. Ornando-lhe o peito, um escudo com o dístico 17 de novembro, escrito horizontalmente. Esta referência diz res-peito à data da implantação da república em Santa Catarina (17 de novembro de 1889). A águia representa as forças produtivas do estado.

5- A uma linha do Equador – o brasão do ParáNo brasão do Pará (Figura 13)

notam-se elementos da situação geográfica da região simboliza-do por uma estrela significando, na época de sua criação, a única unidade federativa cuja capital situava-se a uma linha do equa-dor. O componente histórico se faz presente pela cor vermelha que se refere à própria repúbli-ca e do sangue derramado dos paraenses nas diversas lutas em

defesa da soberania da pátria. A “banda” branca faz menção à linha imaginária do equador, que corta o estado ao norte. O viés da economia agrícola e a riqueza são representados pelos ramos do cacaueiro e seringueira com sua produção da época. A águia, como timbre, representa a altivez, nobreza e realeza do povo do estado. Traz ainda o lema: “SUB LEGE PROGREDIAMUR” (“Sob a lei progredimos”).

O brasão foi criado em 9 de novembro de 1903, através da lei nº 912 tendo como autores José Carlos Figueiredo (arquiteto) e Henrique Santa Rosa (historiador e geógrafo).

Apenas duas capitais brasileiras contemplam aves em seus brasões: Salvador (Fig.14) que traz uma pomba branca alçando voo, carregando um ramo de oliva verde no bico no centro do brasão e Campo Grande (Figura 15) que apresenta uma águia, simbolizando o poder, prosperidade e altruísmo.

6- Aves inseridas nas bandeiras dos estados brasileirosAs aves não tiveram a mesma sorte que tiveram nos brasões

quando foram criadas as bandeiras dos estados brasileiros. Va-mos encontrá-las apenas em três dos estados da federação.

A atual bandeira de Santa Ca-tarina (Figura 16), estabelecida pela lei nº 975 de 29 de outubro de 1953 e sancionada pelo então governador Irineu Bornhaus-sen, foi regulamentada em 19 de fevereiro de 1954, através do decreto nº 605. Este decreto alterou o desenho original da

Figura 11. Paraná.

Figura 13. Pará.

Figura 14. Salvador.

Figura 16. Santa Catarina.

Figura 15. Campo Grande.

Figura 12. Sta. Catarina.

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bandeira, baseado na obra de Artur Boiteux de 1895. Assim, na bandeira atual, além de outras alterações, recebe no seu centro o brasão de Santa Catarina (criado em 1895). E neste brasão está contida uma águia, como abordado no tópico sobre brasões.

A bandeira cearense atual (Figura 17) apresenta o mesmo modelo de desenho que a ban-deira nacional, mas traz em sua elipse branca o brasão de armas do estado. É composta por um campo verde dividido, sendo um lado semeado de estrelas e outro ocupado por uma pomba

branca, símbolo da paz, da liberdade e do abolicionismo, des-locada agora para o alto do escudo oval. A particularidade do Ceará é que no seu curso histórico teve três versões de bandeira. A ave é introduzida na segunda versão que permaneceu em vigor de 1967 a 2007. Na terceira e atual versão, a partir de 2007, a ave, pomba da paz, permanece.

O estado do Rio de Janeiro teve a sua bandeira atual (Figu-ra 18) instituída pela lei 5588 de 5 de outubro de 1965. A autoria desse modelo pertence a Alber-to Rosa Fioravante e à Profa. Robertina M. Barros. A lei foi sancionada pelo governador do estado, o General Paulo Torres

que anteriormente havia solicitado um modelo de desenho. A bandeira contém em seu centro o brasão das armas (descrito em página anterior) e nele, a águia de asas abertas, em atitude de alçar voo. A águia segura um escudo redondo azul com faixas na cor prata.

Duas capitais brasileiras apresentam em suas bandeiras aves: Salvador (Figura 19) traz no centro da bandeira uma pomba branca alçando voo, carregando um ramo de oliva verde no bico e Campo Grande (Figura 20) traz em sua bandeira uma águia simbolizando poder e prosperidade.

7- Hinos dos estados brasileiros que fazem referências às aves.

É importante destacar a relação entre a paisagem e os hinos dos estados, onde se encontra uma grande variedade de signifi-cações que envolvem a natureza, o território e a cultura, como formas de construção do imaginário dos habitantes de cada es-tado.

Além do elemento histórico argumenta-se que os hinos, bem como as bandeiras e brasões estaduais, revelam os aspectos da paisagem geográfica contribuindo para desvendamento das di-versas formas de representação espacial (Berg (2009).

Segue uma breve análise, sob a perspectiva da narração do território, dos hinos dos estados brasileiros.

Ao propor o estudo geográfico presente nos hinos dos esta-dos brasileiros, Berg (2009) faz uma análise das narrativas, onde busca a interpretação da espacialidade humana, pelos elementos que a compõe: paisagem, território, regionalismo e lugar. Sendo o hino também uma obra poética, seu método de análise deve ser o tratamento do texto não como objeto, mas como sujeito com o qual o geógrafo deve dialogar (Brosseau 2007).

Para o presente trabalho selecionamos dois hinos de estados brasileiros que se referem às aves, que Berg analisou conside-rando o espaço-tempo, enquanto trama principal nas formas de apresentação dos aspectos geográficos, a saber: Mato Grosso e Goiás que podem ser considerados exemplos dessa representa-tividade.

O hino do Mato Grosso, música do maestro e tenente da po-lícia militar, Emílio Heine, com letra de autoria de Francisco de Aquino Corrêa, foi cantado em público, pela primeira vez durante a cerimônia principal das comemorações do bicente-nário da fundação de Cuiabá, em 8 de abril de 1919, mesmo antes de ser oficializado como hino do seu estado. O hino foi oficializado e adotado pelo decreto nº 208 de 5 de setembro de 1983. A letra do hino surgiu ainda quando o território ocupado hoje pelo Mato Grosso do Sul e a unidade federativa (Territó-rio) de Rondônia pertenciam ao Mato Grosso. A visão descrita em seus versos é do começo do século XX. Assim, na visão de Pedro Rocha Jucá (Jucá 1994): “a ideia intrínseca do poe-ma evoca referências clássicas, históricas e fatores ambientais e telúricos regionais”. Nos derradeiros versos da 4ª e última estrofe D. Aquino traz a citação da ave Fênix – ave quimérica que ressurge das cinzas relembrando por seu simbolismo os períodos de prosperidade e marasmo econômico que se alter-naram na história mato-grossense.

Goiás ganhou seu primeiro hino em 1919, através da lei 650 de 30 de julho, a mesma lei que instituiu o brasão e a bandei-ra para o estado. Ao poeta goiano Antônio Eusébio Abreu Jr. (1869-1954) coube a letra e ao pianista fluminense Custódio Góes (1886-1948). Na oitava estrofe as descrições pelo autor são feitas de forma romântica quando diz “clima salutar”, a “bri-sa embalsamada”, onde “noite e dia, são cantados nos trinos da passarada”.

Entretanto, o território goiano se transformou e com isso aca-bou por influenciar na adoção de um novo hino, instituído pela lei 13907, sancionada pelo governador Marconi Perillo Júnior em 21 de setembro de 2001. A letra do novo hino é da autoria de José de Mendonça Teles (1936-) e a música é da lavra do maes-tro e professor goiano Joaquim Thomas Jayme. Neste a passara-da não consta em sua letra.

No presente hino aves não são mencionadas, razão pela qual deixamos de analisar.

O hino oficial da Paraíba não faz referências às aves. Mas existe na Paraíba uma canção popular que é conhecida como o hino popular da Paraíba, e intitulada “Meu sublime torrão”. A música de Genival Macedo foi composta em 1937 e exalta as belezas da Paraíba.

Na quinta estrofe o autor escreve: “Minha terra tem / O cantar dos passarinhos / Na lagoa, os gansinhos / Com seu nado deva-gar”. Nesses versos, ao falar do “cantar dos passarinhos” e do “nado dos gansinhos” procura o autor, construir a imagem de um aprazível lugar, onde se respira tranquilidade, paz e sossego. Afinal, estas eram as características da terra na época em que o autor escreveu a letra.

Figura 17. Ceará.

Figura 18. Rio de Janeiro.

Figura 19. Salvador. Figura 20. Campo Grande.

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O hino do Amazonas, lançado originalmente em 1º de setembro de 1980 pelo governador Jorge Bernardino Lendoso, foi escolhido através de concurso realizado pelo Conselho de Cultura, cabendo a criação ao maestro e compositor Claudio Santoro, falecido em 1989 e ao poeta Jorge Tufic, membro da Academia Amazonense de Letras. A peculiaridade é que a letra nasceu antes da música e exalta a natureza e o homem, fugindo sobremaneira à tônica do belicismo e do mero ufanismo, quando faz referência às lutas do passado, às conquistas do presente e às esperanças do futuro, mas, de olhos na nossa floresta. Ao que tudo indica a letra pende sim, para a ecologia. Por muitos tem sido considerado o melhor hino de estado. Significativa é a 8ª estrofe: “Mas viver é destino dos fortes / nos ensina, lutando, a floresta / pela vida que vibra em seus ramos / pelas aves, suas cores, sua festa”. Nada mais correto e ajustado à realidade atual que este hino penda para o ecológico, pois nos dias atuais é grande a devastação ambiental na Amazônia. São várias as atividades responsáveis por esta devasta-ção: derrubadas, queimadas, desmatamento, extinção de espécies,

oriundas de fracassos agropecuários, rodovias, loteamentos de es-paços silvestres com ausência administrativa, tudo isso faz com que a região e o mundo se preocupem com seu futuro, pois se trata da maior reserva florestal do mundo.

8- Nos símbolos municipais a presença das aves.Ao se abordar o tema de símbolos municipais torna-se im-

perioso ponderar o que Lauro Ribeiro Escobar (especialista no estudo e confecção de brasões e bandeiras) escreveu em 1972: “a elaboração de um brasão, em verdade, está adstrita às leis da heráldica, além de obrigatoriamente prestar reverência ao bom gosto e representar algo típico do município no qual é símbolo”. E mais: “deve o brasão municipal representar alguma coisa liga-da a comuna seja um fato histórico, sua flora, fauna, acidentes geográficos significativos ou fontes de riqueza da região” (Es-cobar 1972).

Feita a pesquisa nos símbolos municipais brasileiros apurei as informações assim sintetizadas.

Tabela 1. Aves constantes em brasões e bandeiras de municípios do Brasil.Estado/Município Brasão Bandeira Observações

ACREMâncio Lima Japim JapimMarechal Thaumaturgo PombaALAGOASCacimbinhas Duas águias Duas águias Aguieta*AMAPÁItaubal Ave em voo Ave em vooSerra do Navio Duas aves Ave Brasão: 2 aves; Bandeira: ave diversa das duas do brasãoAMAZONASAlvarães ÁguiaAnamã ÁguiaAtalaia do Norte Papagaio PapagaioNovo Aripuanã Pomba Pauini AveBAHIAAbaré Pomba PombaBanzaê AveBarrocas Pomba PombaCandeias Duas pombas Guaratinga Guaratinga Guaratinga=garça pequena (tupi)Mutuípe MutumSalvador Pomba Pomba De asas abertasCEARÁAcarape Ave em voo Ave em vooAcaraú Garça em voo Garça em vooAurora Ave em vooSantana do Acaraú Ave Provável anseriformeDISTRITO FEDERAL (Regiões Administrativas)Taguatinga Águia branca Em pousoVicente Pires Ave em voo ESPÍRITO SANTOÁguia Branca Águia Águia Águia branca em posição estendida*Baixo Guandu Pomba Pomba

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Dores do Rio Preto Águia Águia Águia de duas cabeças - Águia imperial*Ecoporanga Inhambu InhambuGuarapari Guará GuaráMimoso do Sul Ave De asas abertasSanta Maria de Jetibá Águia Santa Teresa Beija-flor Beija-florViana Águia Águia De asas abertasGOIÁSAcreúna Pato PatoAruanã Ave Ave De asas abertasInhumas Inhuma Inhuma Duas inhumasJandaia Jandaia JandaiaJataí Ave Ave De asas abertasPanamá Ave AveMutunópolis MutumSanta Cruz de Goiás Ave Ave EstilizadaSão João D’Aliança Pomba PombaTerezópolis de Goiás Ave Ave EstilizadaUirapuru UirapuruUruaçu Ave Ave EstilizadaMARANHÃOBalsas Águia Asas abertasGonçalves Dias Pomba PombaGodofredo Viana Ave Em vooViana Águia Asas abertasMATO GROSSO Alto Taquari Garça Aripuanã Águia Águia De asas abertas – estendida*Barra dos Garças Garça Campo Novo dos Parecis Fênix Colíder Harpia Harpia De asas abertasCuiabá Fênix Diamantino Fênix Dom Aquino Mutum Mutum Mutum do topete vermelhoGuiratinga Garça branca Garça branca Guiratinga = Garça-branca (tupi guarani)Indiavaí Pomba Itanhangá Ave Ave em vooJangada Pomba PombaNova Mutum Mutum Estilizado, com letras N e MPontal do Araguaia Águia EstilizadaPorto dos Gaúchos Arara Arara Espécie da família das araras.Santa Rita do Trivelato Ave Ave bico longo - ciconiformeSorriso Ave EstilizadaTangará da Serra Três tangarás Três tangarás Tangarás voantesVila Bela da Santíssima Trindade Águia De asas abertasMATO GROSSO DO SULBodoquena Ave EstilizadaCampo Grande Águia Águia VoanteCaracol Águia Águia Asas abertas –estendida*Coxim Pomba Pomba

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Jateí Ave Ave EstilizadaTacuru Águia Asas abertas – estendida*Vicentina Ave Estilizada em voo MINAS GERAISÁguas Formosas Águia Asas abertasAlto Caparaó AveAraújos Pomba Pomba Asas abertasBuritizeiro Ave Ave Duas avesCampestre Águia Águia EstilizadaCantagalo Galo GaloCaparaó Águia Águia de asas abertasCarmo de Minas Ave Ave Ave em vooConfins Cisne Cisne Três cisnesCordislândia Águia Águia Águia de asas abertasDivinésia Pomba Pomba Pomba em vooDivino das Laranjeiras Ave Ave estilizadaDivinolândia de Minas Águia Águia Águia de asas abertasDurandé Ave Ave Ave de asas abertasEspinosa Ave AveGuaraciaba Ave AveGuarani Pomba Pomba Pomba de asas abertasGurinhatã Gurinhatã Gurinhatã estilizadoIapu IapuImbé Ave Ave Ave pousandoInhapim Inhapim Inhaúma AnhumaItaú de Minas Águia Águia Águia de asas abertasJacutinga Jacutinga Duas jacutingasLima Duarte Águia Águia Águia de asas abertasMartim Soares Águia Águia Águia estilizada de asas abertasMorro da Garça Garça GarçaMutum MutumPatos de Minas Pato Pato Cinco patosPeriquito Periquito Periquito Dois periquitosQuartel Geral Ave Ave Ave de asas abertasReduto Ave AveRio Pomba Pomba Pomba Pomba em vooSanto Antônio do Monte Ave Ave Duas avesSão Francisco da Glória AveSão João Evangelista Ave Ave Ave estilizadaSão João Nepomuceno Águia Águia Águia de Asas abertasSerro Águia Águia Águia de asas abertasVarginha Pomba Pomba Pomba de asas abertasViçosa Águia Águia de asas abertasPARÁAurora do Pará Ave AveInhangapi AveIrituia Ave AveJuruti Juruti JurutiSão Domingos do Capim Ave Ave

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PARAIBAAmparo Pomba PousandoAparecida AveArara AraraAraruna Araruna ArarunaBom Sucesso Ave AveCaaporã AvePatos Pato Dois patosPARANÁAlmirante Tamandaré Águia Águia De asas abertasAlvorada do Sul Galo GaloArapongas Araponga Três estilizadasAraruna Araruna Araruna Araruna=Arara-azul-grandeAstorga Galo GaloBom Sucesso Pomba De asas abertasBrasilândia do Sul ÁguiaCambará Águia Águia De asas abertasChopinzinho ChopimCruzeiro do Iguaçu Águia Águia De asas abertasCuriúva Pomba Pomba De asas abertasFênix Fênix Fênix De asas abertasFlorestópolis Águia ÁguiaFoz do Jordão PombaFrancisco Beltrão PatoGuaraniaçu AveGuaratuba Guará Três guarásIguaraçu ÁguiaJandaia do Sul Jandaia JandaiaJapira Japuira (Guaxe) Japuira (Guaxe) Japuira=Guaxe (Japuyra)Manfrinópolis GaloMiraselva ÁguiaPato Branco Pato PatoPiên AvePinhão Ave AvePonta Grossa Pomba Pomba Duas pombasPontal do Paraná JacuPranchita AveSanta Amélia AveSanta Cecília do Pavão Pavão PavãoSão Jorge do Patrocínio AveSiqueira Campos Ave Ave De asas abertasTupãssi Águia De asas abertasPERNAMBUCOAraripinha PombaBelém do São Francisco Águia De asas abertas – estendida, encimando o brasão.Belo Jardim Ave Ave em voo.Bom Conselho Ave Em pousoCupira Ave Ave De asas abertasGaranhuns Anu Anu Três anus.Goiana Águia Águia De asas abertas.

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Itapissuma Pomba Pomba De asas abertasJupi Ave Ave Ave estilizada.Pesqueira AvePombos Pomba Duas pombasPrimavera Ave Ave Três aves em vooSaloá Ave Ave Estilizada em vooTrindade Ave Ave Ave de asas abertas.PIAUÍAcauã Acauã AcauãHugo Napoleão Pomba Em pousoJaicós Galo GaloParnaíba Ave Ave De asas abertasUnião Ave De asas abertasRIO DE JANEIROBom Jardim Cisnes Cisnes Dois cisnes.Cantagalo Galo GaloItaboraí Águia Águia Águia asas abertasItalva Águia Águia Águia de asas abertas – estendida*Itatiaia Harpia Harpia De asas abertasMacuco Macuco MacucoPetrópolis Águia Águia De asas abertasPorto Real Ave Ave Duas avesRio das Ostras Gaivota Três gaivotas São Pedro da Aldeia Ave Ave Duas aves em vooSaquarema Ave Ave Oito aves em vooRIO GRANDE DO NORTECeará Mirim Ave AveEspírito Santo AveFernando Pedrosa AveJaçanã Jaçanã JaçanãJanduis Ema Ema Ema pequenaJardim do Seridó Águia Águia Águia de asas abertas – estendida*Serrinha dos Pintos Ave Ave Ave em vooRIO GRANDE DO SULÁgua Santa Pomba PombaArambaré Ave Ave Ave em vooAratiba Ave Ave Duas avesBalneário Pinhal Ave Ave Brasão: três aves; bandeira: duas avesBarracão Águia Águia De asas abertasBoa Vista do Sul Galo e pomba Galo e pomba Dois galos e pomba Bom Princípio Galo GaloCandelária Ave Ave De asas abertasCandiota Ave Ave Em vooCapitão Galo Galo Três galosChapada Tesoura TesouraChuí AveCondor Condor CondorCoqueiro Baixo Galo Galo Dois galosCoronel Pilar Galo Galo e galinhaIgrejinha Pomba Pomba Em voo

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Marques de Souza Pomba Pomba Em vooNovo Cabrais Ave Ave Em vooPaverama Pomba EstilizadaProtássio Alves Pomba Pomba Em vooPutinga Galo GaloRoque Gonzalez Àguia Águia De asas abertasSão Paulo das Missões Águia Águia De asas abertasSerafina Corrêa Águia De asas abertasSério Águia De asas abertasSete de Setembro Águia Águia De asas abertasSeveriano de Almeida Águia Águia De asas abertasTavares Águia Águia Em vooVale Verde Ave Ave Em vooWestfália Galo e galinha Galo e galinha Casal: galo e galinhaRONDONIACacaulândia Arara Arara Arara ou assemelhadoCujubim Ave Ave Em pousoMinistro Andreazza Ave Duas aves estilizadasNova Mamoré Pomba De asas abertasUrupá Ave Em pousoRORAIMAAlto Alegre Pomba Pomba Ave em vooCaracaraí Ave Ave Brasão - Ave em pouso; bandeira - cabeça da ave.Pacaraíma Ave Ave estilizadaSANTA CATARINABalneário Gaivota Gaivota Gaivota Duas gaivotas em vooBlumenau Águia Águia De asas abertasCapão Alto Ave Ave De asas abertasGuaramirim Guará GuaráIomerê Ave Ave em vooIporã do Oeste Galo GaloLindóia do Sul Galo GaloSanta Terezinha do Progresso Ave De asas abertasTreze Tílias Águia Águia De asas abertasSÃO PAULO Amparo Águia Águia De asas abertasAngatuba Pomba Pomba Araçariguama Ave Ave Avaí Águia Asas abertas – estendida*Barretos Pomba Asas abertasBastos Galo Galo Campinas Fênix Cosmorama Ave Ave Divinolândia Ave Ave Ao que tudo indica seja da família do Columbidae (pomba)Dois Córregos Pomba Pomba Elias Fausto Águia Águia Asas abertas – estendida* Franco da Rocha Pombo Pombo Pombo argente pousadoGarça Garça Garça Guaratinguetá Guará Guará Ave em vooGuarulhos Anhuma Anhuma Holambra Pombo Pombo Ave em voo

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Iacri Galo Galo Ibaté Águia Águia Asas abertas – estendida*Ibirá Ave Ave em vooIbiúna Garça Garça Três garçasIporanga Águia Águia Estendida ao centroIrapuru Irapuru Irapuru Irapuru em vooItapeva Águia Águia Asas abertas - estendidaItápolis Pomba Pomba Pomba alada de bláo azulItatiba Águia Águia Estilizada e estendidaJacupiranga Jacupiranga Jacupiranga Jales Garça Garça Jaú Águia Águia Asas abertas – estendida*Lourdes Águia Águia Asas abertas – estendida*Marapoama Águia Águia Asas abertas – estendida*Marília Águia Águia Asas abertas – estendida*Natividade da Serra Águia Águia Asas abertas – estendida*Nhandeara Águia Águia Asas abertas – estendida*Olímpia Águia Águia Asas abertas – estendida*Orlândia Ave Ave EstilizadaPaulistânia Águia Águia Asas abertas – estendida*Pedregulho Águia Águia Asas abertas – estendida*Pedrinhas Paulista Águia Águia Asas abertas – estendidas*Planalto Ave Ave em vooPontalinda Águia Águia Asas abertasPopulina Águia Águia Asas abertas – estendida*Ribeirão Preto Águia Águia EstilizadaSaltinho Águia Águia Asas abertas – estendida*Salto Taperá Taperá Dois taperás voantesSão José do Rio Preto Águia negra Águia negra São Miguel Arcanjo Pombo Pombo Asas distendidasSuzano Águia Águia Asas abertasTaquarivaí Águia Ave encimando o brasãoTietê Anhuma Anhuma De asas abertasUru Uru Uru Valparaíso Pomba Pomba EstilizadaVargem Grande Paulista Garça Garça SERGIPE Indiaroba Pomba Pomba em vooLaranjeiras Ave Ave Ave estilizadaPacatuba Garça-branca São Cristóvão Pomba Pomba em pousoSão Francisco Pomba Pomba Pomba em pousoTobias Barreto Ave De asas abertasTOCANTINS Juarina Ave Três aves em vooMaurilândia do Tocantins Ave Quatro aves em vooPraia Norte Ave Sucupira Ave

*Segundo as normas da heráldica, representa-se geralmente a águia com as asas abertas, de pontas voltadas para cima, a cauda es-palmada, as pernas abertas, com as garras estendidas, a cabeça voltada para o flanco direito, ereta, com a língua de fora. Nesta posição chama-se “estendida”. Aguieta é a designação que toma a águia quando está em número superior a um.

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Algumas observaçõesO brasão do município de Vicentina (MS) foi resultado de um con-

curso promovido pela Associação de Amigos de Vicentina – AAV, entre alunos das escolas, em 1989/1990. Os autores do Brasão vence-dor foram os alunos, Daniel Pinhel Júnior e Neuma Moraes Ferreira.

O brasão do município de Santa Maria do Jetibá (ES) é de au-toria de Natalina Roepke. Nele consta, entre outros elementos, a figura de uma águia, em cima do escudo que não é só o símbolo das alturas (representando uma região montanhosa) como tam-bém um dos mais antigos símbolos da República Federal Alemã.

O brasão do município de Ecoporanga (ES) teve uma ave incluí-da e consagrada no brasão de armas do município, onde se destaca em negro contra um fundo branco da parte inferior. Ao que tudo indica, a tradição oral nos diz que Ecoporanga tem origem nas pala-vras Eco e Poranga, pois na época da colonização se ouvia muito o eco do inhambu, ave chamada pelos indígenas de poranga.

O brasão do município de Acaraú (CE) é de autoria do poeta Nicodemos Araújo evocando as riquezas do município. A fauna é representada pela garça estilizada em seu voo. A origem da pa-lavra Acaraú vem provavelmente de uma palavra da população indígena (índios Tremembé) que viviam em território do delta do rio Acaraú, ou seja, Acaraú é composta de Acará (Garças) e Hu (água), significando Rio das Garças.

O brasão do município de Mimoso do Sul (ES) foi oficializado pela lei municipal nº 435/1971.

O brasão e a bandeira do município de Guarulhos, SP, apre-sentam aves anhumas em voo e como suportes. Estes símbolos foram oficializados pelas leis 3761 de 24/4/91 e 1679 de 7/12/91, respectivamente.

O brasão e a bandeira do município de Tietê (SP) foram oficia-lizados pela lei 1717/86. Nesses símbolos de Tietê uma anhuma ao natural, em voo abatido.

Sérgio Buarque de Holanda, em Caminhos e fronteiras nos confirma que: “Anhembi quer dizer rio das Anhumas (inhambu) ou de Anhimas” (Holanda 1995), aves que desde o início do po-voamento eram procuradas pelos caboclos que buscavam nelas o remédio ou preservativo para toda sorte de males.

Embora não seja objetivo deste trabalho e não apresentando brasões, bandeiras e hinos, constatou-se, como curiosidade, que o Parque Eco-lógico Municipal de Americana (SP) tem como símbolo o João-de-bar-ro, e que há aves símbolos de algumas regiões brasileiras: Guará, Delta do Parnaíba (PI); Seriema, do Cerrado; Tuiuiú, do Pantanal.

Bandeiras de alguns municípios em que constam aves.

Araruna (PR).

Cujubim (RO).

Caracaraí (RR).

Guarulhos (SP).

Arara (PB). Cantagalo (RJ).

Brasões de alguns municípios brasileiros em que constam aves.

Considerações geraisA análise da evolução dos símbolos espalhados pelos muni-

cípios e estados brasileiros levou-me a concluir que a criação e concepção desses foram primeiramente feita pela metrópole portuguesa, dado que esses símbolos se limitavam às cidades e vilas coloniais (Nogueira 2010). Em meados do século XVII a própria colônia se encarregou disto. Somente após a independên-cia nacional e com o caminhar da República é que os membros da federação cunharam seus símbolos próprios, muitos deles já em pleno século XX. As dificuldades de se encontrar de forma sistematizada ou uniforme o material que abranja todos estados e municípios brasileiros deve ser destacada, bem como a falta de um padrão para apresentação dos símbolos, pois há carência de referências bibliográficas e históricas. A contribuição do site da empresa MBI, fundada em 1990, atuante na área de desenvolvi-mento de ferramentas para desenvolvimento de software e recur-sos da tecnologia da informação foi importante na compilação de dados. A Wikipédia, enciclopédia livre portadora de muitas informações serviu como fonte, assim como o “Projeto símbolos municipais brasileiros”, dedicado a identificar, catalogar e divul-gar os símbolos municipais, projeto articulado com a finalidade de colaborar na divulgação das cidades.

Guaratinga (BA).

Tangará da Serra (MT).

Iapu (MG).

Atalaia do Norte (AM).

Guarapari (ES).

Inhumas (GO).

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Considerações finaisApesar das dificuldades em se encontrar de forma sistema-

tizada ou uniforme o material que abranja todos os estados e municípios, as aves estão representadas em brasões e bandeiras de muitos municípios brasileiros. Quanto aos estados em que as informações já estão sistematizadas para consulta, constatei que dos 26 estados e mais o Distrito Federal, 8 brasões apresentam aves (AM, PA, RJ, SC, MT, RR, PR e CE) ou seja 29,7% deles. Nas bandeiras dos estados as aves estão representadas apenas em 3 (RJ, SC e CE) ou em 11,12%. Nas letras dos hinos dos estados 4 entre elas tem citação das aves (AM, GO, PB e MT). O Brasil possui atualmente 5570 municípios e 1919 espécies de aves, contudo, apurei que as aves estão presentes nos brasões em 5,10% ou 284 municípios, enquanto que nas bandeiras o nú-mero diminui, ou seja, 3,92% ou 216 municípios. O estado de São Paulo, com 645 municípios lidera com 52 brasões e 46 ban-deiras. Minas Gerais, com 853 municípios, aparece em seguida com 40 municípios com brasões e 28 bandeiras e em terceiro lugar o Rio Grande do Sul, com 497 municípios, possui 29 bra-sões e 26 bandeiras. Em quarto lugar está o estado do Paraná, com 399 municípios, possuindo 32 brasões e 17 bandeiras nos quais figuram aves. Os Estados do Acre, Alagoas e o Distrito Federal (em que pese a dimensão deste) apresentam os menores números de municípios com brasões e bandeiras portadoras de aves em seus símbolos, com apenas um. Grande parte dos muni-cípios arrolados tem em seus símbolos a águia. A águia, através dos tempos foi reconhecida pela proeminência, entre outras, por sua coragem e o poder que lhe atribuem, além da postura altiva, dominação e força. A pomba é uma ave figurante em significa-tiva parcela de símbolos pois simboliza a paz, pureza, simplici-dade, harmonia e esperança, é a herança do uso cristão de sua imagem. Outras aves encontradas em diversos símbolos, na ver-dade representam o regionalismo do ponto de vista geográfico, ecológico e histórico. Como símbolo do estado, o Rio Grande do Sul tem a sua ave: o quero-quero, através da lei 7418 de 1º de dezembro de 1980, muito embora não faça parte dos seus três símbolos, brasão, bandeira e hino. O Paraná tem a gralha-azul como ave símbolo, através da Lei 9957 de 21 de novembro de 1984, por seu trabalho de perpetuador da espécie de araucária. Entretanto, no brasão do Paraná como timbre está o gavião-real ou harpia, uma ave nobre usada na heráldica e não constante da bandeira e hino. Seguimos um roteiro ecológico, histórico e

cívico, onde a heráldica e a história abraçam a avifauna da nossa terra. A pesquisa apresenta um panorama variado e articulado, pois ganha sentido quando as representações da avifauna se re-lacionam com a história, geografia e biogeografia.

AgradecimentosAgradeço a Luiz Fernando de A. Figueiredo e Sérgio Almeida

pelo incentivo e pela revisão do texto e sugestões.

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lo.Wikipédia (2014) Fundação Wikipédia. Disponível em <http://pt.wikipedia.

org>. Acesso em 23 de junho de 2015.

¹Pedagogo. E-mail: [email protected]

Tabela 2. Resultados obtidos na presente pesquisa.

Estados Nº de municípios

Nº de brasões % Nº de

bandeiras %

AC 22 1 4,5 1 4,5AL 102 1 0,98 1 0,98AP 16 2 12,5 2 12,5AM 62 4 6,45 2 3,22BA 417 5 1,19 4 0,95CE 184 4 2,17 2 1,08DF 1 1 - 1 -ES 78 9 11,53 8 10,2GO 246 11 4,47 11 4,47MA 217 3 1.38 2 0,92MS 79 6 7,59 5 6,32MT 141 17 12,05 9 6,38MG 853 40 0,46 28 0,23

PA 144 4 2,77 5 3,47PB 223 5 2,24 3 1,34PR 399 32 8,02 17 4,26PE 185 13 7,02 9 4,86PI 224 4 1,78 4 1,78RJ 92 11 11,95 10 10,86RN 167 4 2,39 5 2,99

RGS 497 29 5,83 26 5,23RO 52 5 9,51 2 3,34RR 15 2 13,33 2 13,33SC 295 10 3,38 8 2,71SP 645 52 8,06 46 7,23SE 75 6 8 2 2,56TO

Total1395570

3284

2,155,10

1216

0,713,92