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MESTRADO EM PSICOLOGIA
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO
Tocar de Ouvido: Correlatos do Sucesso na Reprodução Auditiva de Progressões Harmónicas Tonais em Músicos
Gabriela Meguie da Silva Silveira
M 2020
i
Tocar de Ouvido: Correlatos do Sucesso na Reprodução
Auditiva de Progressões Harmónicas Tonais em Músicos
Gabriela Meguie da Silva Silveira
Novembro 2020
Dissertação apresentada no Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, orientada pela Doutora Susana Silva (FPCEUP)
ii
AVISOS LEGAIS
O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as interpretações do
autor no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto
conceptuais como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento
posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos
deve ser exercida com cautela.
Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas, encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na
secção de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de
propriedade industrial.
iii
Agradecimentos
À Doutora Susana Silva, por me ter permitido realizar a dissertação sobre este
tema, partilhando do meu entusiasmo sobre esta investigação, tendo estado sempre
sensível às minhas preferências. Pela sua disponibilidade, rigor, sensibilidade e
cordialidade que tornaram a realização do trabalho muito mais agradável.
Aos meus pais, pela disponibilidade, envolvimento, entusiasmo e partilha de
ideias que ajudaram na reflexão e ainda pelas palavras de conforto e confiança em
momentos cruciais.
Ao Professor Brendan Hemsworth pela sua disponibilidade, interesse
manifestado pelo projeto e pela ajuda fundamental no recrutamento dos participantes.
Ao Professor Óscar Rodrigues pelos seus conselhos e material disponibilizado.
Aos Diretores dos estabelecimentos de ensino Curso de Música Silva Monteiro e
Escola Superior de Educação pelo interesse e disponibilidade demonstrados desde a
primeira hora e pela divulgação indispensável ao recrutamento dos participantes no
estudo.
Aos participantes do 1º estudo pela forte vontade em colaborar, tendo-se
esforçado por reservar uma parte do seu tempo para, nas entrevistas, partilharem as suas
valiosas e enriquecedoras experiências.
Aos participantes do 2º estudo pelo altruísmo manifestado no esforço, sentido de
missão e disponibilidade necessários para a realização das tarefas solicitadas sem o qual
não teria sido possível a concretização deste projeto.
Aos meus amigos, em particular ao Gonçalo Reis, pela disponibilidade
permanente em prestar apoio e ao Ricardo Araújo, pela sua generosidade,
disponibilidade e conselhos técnicos.
A todas as pessoas que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a
realização deste projeto.
iv
Resumo
Para os músicos, a capacidade de reprodução auditiva das sequências de acordes
(progressões harmónicas) de uma peça (‘tocar de ouvido’) é da máxima importância no
processo de aprendizagem da música, no processo de execução, bem como no processo
criativo musical, sendo necessário um maior entendimento dos processos envolvidos
nesta competência. Atendendo à escassez de investigação sobre este tema, realizámos
dois estudos relativos aos processos utilizados pelos músicos na reprodução auditiva de
progressões harmónicas tonais. O primeiro estudo, de caráter exploratório, foi realizado
através de entrevistas com músicos que possuem esta competência, com o objetivo de
investigar as suas perceções relativamente aos fatores que lhes permitiram desenvolvê-
la.
O segundo estudo investigou a influência de outras competências auditivas incluídas no
Ensino Artístico Especializado em Música em Portugal, bem como do conhecimento
teórico da harmonia na capacidade de reprodução auditiva de progressões harmónicas.
Foram ainda exploradas questões que incluíram variáveis não associadas aos programas
oficiais de ensino da música. O estudo contou com a participação de 17 pianistas que
realizaram tarefas de identificação auditiva de intervalos melódicos, acordes isolados e
de compasso. Tiveram ainda que reproduzir auditivamente as progressões harmónicas
relativas a dois excertos musicais compostos exclusivamente para o efeito. Os
resultados revelaram um efeito significativo da audição melódica e identificação
auditiva de acordes isolados na reprodução harmónica auditiva, enquanto que a audição
métrica e o conhecimento teórico não parecem ter tido influência. Outro fator que se
revelou diferenciador foi a prática regular e espontânea da reprodução auditiva de
progressões harmónicas. Este estudo sugere que os currículos do Ensino Artístico
Especializado em Música em Portugal podem beneficiar de ajustes, tendo como enfoque
a prática regular de reprodução auditiva de progressões harmónicas.
Palavras-chave: audição harmónica; cognição da harmonia tonal; reprodução
auditiva de progressões harmónicas; audição melódica; audição métrica; conhecimento
teórico da harmonia
v
Abstract
For musicians, the ability to reproduce chord progressions of a piece by ear
('playing by ear') is of utmost importance to music learning, performance and creation,
and thus a greater understanding of the processes involved in this skill is necessary.
Given the scarcity of research on this subject, we conducted two studies on the
processes used by musicians in the reproduction of auditorily-presented tonal chord
progressions. The first study was exploratory. It was carried out through interviews with
musicians who possess this skill, with the objective of investigating their perceptions
regarding the factors that allowed them to develop it. The second study investigated the
influence of aural skills included in the Portuguese specialized music education
syllabus, as well as the influence of theoretical knowledge of harmony in the
reproduction of auditorily-presented chord progressions. Other potential influences –
unrelated to official, music programs – were also explored. Seventeen pianists took part
in this study. They performed aural tasks of melodic intervals, isolated chords and time
signature identification. They were also asked to reproduce by ear the chord
progressions of two musical pieces composed exclusively for this purpose. The results
revealed a significant effect of melodic hearing and auditory identification of isolated
chords on harmonic reproduction, while metric hearing and theoretical knowledge did
not seem to have had any influence. The regular and spontaneous practice of auditory
reproduction of chord progressions seemed to play an important role in harmonic
reproduction skills. This study suggests that the curricula of the specialized artistic
education in music in Portugal may benefit from adjustments, focusing on the regular
practice of auditory reproduction of chord progressions.
Keywords: harmonic hearing; tonal harmony cognition; auditorily-presented
reproduction of chord progressions; melodic hearing; metric hearing; theoretical
knowledge of harmony
vi
Resumé
Pour les musiciens, la capacité de reproduire auditivement les séquences
d'accords (progressions harmoniques) d'une pièce (‘jouer d'oreille’) est de la plus haute
importance dans le processus d'apprentissage de la musique, dans le processus de
performance, ainsi que dans le processus de création musicale, exigeant une meilleure
compréhension des processus impliqués dans cette compétence. Compte tenu de la
rareté des recherches sur ce sujet, nous avons réalisé deux études sur les processus
utilisés par les musiciens dans la reproduction auditive de progressions harmoniques
tonales. La première étude, à caractère exploratoire, a été menée à l’aide d’entretiens
avec des musiciens possédant cette compétence, afin d'enquêter sur leurs perceptions
des facteurs qui leur ont permis de la développer. La deuxième étude a examiné
l'influence d'autres compétences auditives présentes dans l'enseignement artistique
spécialisé en musique au Portugal, ainsi que des connaissances théoriques de l'harmonie
dans la capacité de reproduction auditive des progressions harmoniques. Des questions
qui comprenaient des variables non associées aux programmes officiels d'éducation
musicale ont également été étudiées. L'étude s’est basée sur la participation de 17
pianistes qui ont réalisé des tâches d'identification auditive d’intervalles mélodiques,
d’accords isolés et de mesures. Ils devaient également reproduire les progressions
harmoniques liées à deux extraits musicaux composés exclusivement à cet effet. Les
résultats ont révélé un effet significatif de l'audition mélodique et de l'identification
auditive d'accords isolés dans la reproduction harmonique auditive, tandis que l'audition
métrique et les connaissances théoriques ne semblent pas avoir eu d'influence. En plus
de ceux déjà mentionnés, un autre facteur qui s'est avéré différenciateur était la pratique
régulière et spontanée de la reproduction auditive des progressions harmoniques. Cette
étude suggère que les programmes d'enseignement artistique spécialisé en musique au
Portugal pourraient bénéficier d'ajustements, ciblés sur la pratique régulière de la
reproduction auditive des progressions harmoniques.
Mots-clés: audition harmonique; cognition de l'harmonie tonale; reproduction
auditive de progressions harmoniques; audition mélodique; audition métrique;
connaissance théorique de l'harmonie
vii
Índice
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
Harmonia tonal ............................................................................................................ 1
Cognição da harmonia tonal ....................................................................................... 4
O objeto de estudo ...................................................................................................... 8
ESTUDO I ................................................................................................................. 108
[1.] Método ............................................................................................................ 109
[1.1.] Amostra ................................................................................................. 109
1.1.[1.2.] Estímulos ........................................................................................... 10
1.2.[1.3.] Procedimento .................................................................................... 10
[1.4.] Análise .................................................................................................. 110
[2.] Resultados ....................................................................................................... 110
[3.] Discussão ........................................................................................................ 132
ESTUDO II ................................................................................................................. 142
[1.] Método ............................................................................................................ 143
[1.1.] Amostra ................................................................................................. 143
[1.2.] Estímulos ............................................................................................... 154
[1.3.] Procedimento ........................................................................................ 165
[1.4.] Análise de dados ................................................................................... 187
[1.5.] Análise estatística .................................................................................. 210
[2.] Resultados ....................................................................................................... 221
[2.1.] Outras competências auditivas na reprodução harmónica .................... 242
[2.2.] Conhecimento teórico sobre harmonia e reprodução harmónica .......... 254
[2.3.] Questões exploratórias .......................................................................... 254
[2.3.1.] Utilização de estratégias de identificação ..................................... 254
[2.3.2.] Utilização de estratégias de memorização .................................... 275
[2.3.3.] Tempo de formação ...................................................................... 276
[2.3.4.] Estilos de formação ....................................................................... 287
[2.3.5.] Estilos musicais no repertório ..................................................... 3028
[2.3.6.] Práticas de reprodução auditiva de progressões harmónicas ........ 310
[3.] Discussão e Conclusões .................................................................................. 321
Referências ................................................................................................................... 41
Anexos ......................................................................................................................... 445
viii
Índice de Quadros
Quadro 1. Graus e notas das escalas de Dó Maior e Dó menor e respetiva distribuição
intervalar......................................................................................................................... 32
Quadro 2. Progressões harmónicas frequentes ............................................................. 43
Quadro 3. Medidas de variabilidade entre participantes para as três medidas de
reprodução harmónica em cada peça ............................................................................232
Quadro 4. Correlação de Pearson entre as tarefas de identificação auditiva e a tarefa de
reprodução auditiva de progressões harmónicas (2 peças) .......................................... 243
Quadro 5. Testes t de Sstudent – Estratégias de identificação e pontuação obtida nas
duas peças .................................................................................................................... 265
Quadro 6. Testes t de Sstudent – Estratégias de memorização e pontuação obtida nas
duas peças .................................................................................................................... 276
Quadro 7. Correlação de Pearson entre o número de anos de formação em música e
piano e a pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas .
286
ix
Índice de Figuras
Figura 1. Médias da pontuação obtida na tarefa de identificação auditiva de progressões
harmónicas pelo grupo dos participantes que estudou Jazz e o grupo dos participantes
que não estudou Jazz ....................................................................................................297
Figura 2. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões
harmónicas pelo grupo dos participantes que estudou estilos musicais alternativos à
música clássica e ao Jazz e o grupo dos participantes que não estudou outros estilos
musicais ........................................................................................................................298
Figura 3. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões
harmónicas pelo grupo dos participantes que têm o hábito de tocar música clássica e o
grupo dos participantes que não apresenta esse hábito ...............................................3029
Figura 4. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões
harmónicas pelo grupo dos participantes que tem o hábito de tocar Jazz e o grupo dos
participantes que não apresenta esse hábito ................................................................3029
Figura 5. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões
harmónicas pelo grupo dos participantes que reproduz auditivamente progressões
harmónicas fora do âmbito das aulas e pelo grupo que não reproduz ..........................310
x
Introdução
Harmonia Tonal
No âmbito da investigação em Psicologia da Música, vários são os autores que
têm vindo a interessar-se pelo domínio da harmonia musical e que têm procurado
perceber como o ser humano a perceciona. Para a compreensão do conceito de
harmonia, é importante ter em consideração que a música é composta por três
dimensões que se relacionam entre si: a melodia, a harmonia e o ritmo. Enquanto que O
ritmo refere-se às combinações de batimentos e silêncios de durações mais longas e
mais curtas que permanecem em constante mudança e que obedecem a uma métrica. A
métrica fornece a estrutura que permite a organização de batimentos e ritmos em
padrões. Estes padrões rítmicos possuem batimentos acentuados (tempos fortes) e não
acentuados, e são agrupados em compassos que, por sua vez, são delimitados por
barras de compasso. Os padrões são frequentemente encontrados em grupos de dois,
três ou quatro batimentos (compassos binários, ternários e quaternários respetivamente,
Laitz, 2008o ritmo se refere às combinações de batimentos e silêncios de durações mais
longas e mais curtas que permanecem em constante mudança). Contrariamente à
dimensão rítmica, (Laitz, 2008), as dimensões da melodia e da harmonia envolvem a
combinação de sons de várias frequências designados em música por notas musicais. A
melodia é, portanto, uma sucessão de sons no tempo combinada com um padrão de
ritmo, sendo geralmente o aspeto que mais se destaca num a peça e, por isso, mais
memorizável para o ouvinte (Perricone, 2000). Já a harmonia diz respeito ao modo
como as notas soam simultaneamente, bem como, ao modo como estas relações são
organizadas no tempo (DonMichael, 1986). Para criar harmonia são frequentemente
utilizados conjuntos de três ou mais notas, denominados acordes. A sucessão dos
acordes ao longo da música é denominada sequência harmónica ou progressão
harmónica. Deste modo, enquanto a melodia possui apenas uma dimensão horizontal, a
harmonia, para além de uma dimensão horizontal, envolve uma dimensão vertical.
Toda a música que é composta por mais do que uma nota em simultâneo, ou
seja, que possuiu uma harmonia, tem uma determinada organização harmónica, sendo
que, essa organização deve obedecer aos princípios de um sistema. De acordo com
Winham (1970, citado em Lima & Oliveira, 20110), um sistema harmónico é um
conjunto bem definido de regras ou princípios referentes ao modo de sucessão das
1
organizações verticais (acordes). Existem vários sistemas harmónicos, nomeadamente, o
sistema tonal, modal, atonal, atonal livre, serial, híper-serial, espectral, minimal, entre
outros. (Ferraz, 2008, como citado em Lima & Oliveira, 20110). A música erudita
escrita durante os períodos do barroco, classicismo e romantismo (entre
aproximadamente 1650 e 1900), bem como, toda a música escrita de acordo com a
prática comum desses períodos estilísticos, obedece aos princípios do sistema tonal
(Laitz, 2008). Embora, especialmente no início do século XX, tenham sido
desenvolvidos diversos sistemas harmónicos alternativos, a prevalência do sistema tonal
ainda é muito clara, sendo o sistema que, para além de ter orientado grande parte das
obras produzidas ao longo da História da Música é ainda o sistema vigente em diversos
estilos musicais inseridos na cultura musical ocidental e facilmente encontrado noutras
culturas em todo o mundo (Laitz, 2008). É devido a esta prevalência que a música que
tem vindo a ser mais considerada na investigação é a música que se baseia num sistema
harmónico tonal, designada de música tonal.
Uma peça composta de acordo com os princípios do sistema harmónico tonal
implica a existência de uma tonalidade, que por sua vez, implica a existência de uma
escala. Essa escala consiste numa seleção de sete notas de entre as doze
tradicionalmente utilizadas na música ocidental, que são organizadas de um modo
sequencial e cujos intervalos entre elas são medidos em meios-tons. A escolha e a
organização das sete notas selecionadas determinam o tipo de escala, podendo esta ser
maior ou menor, consoante a distribuição dos intervalos (Quadro 1). Existem, portanto,
doze escalas maiores e doze escalas menores possíveis, cada uma delas começando em
cada uma das doze notas, o que implica respetivamente a existência de doze tonalidades
maiores e dozes tonalidades menores. A título de exemplo, a tonalidade de Dó Maior
pressupõe a utilização da escala de Dó Maior, escala essa que é composta pelas notas
Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si. Já a escala de Dó Menor é constituída pelas notas Dó, Ré,
Mi bemol (Mi♭), Fá, Sol, Lá bemol (Lá♭) e Si. A cada nota é atribuído um grau
consoante a posição que ocupa na escala e a cada grau é atribuído um nome. Nos
exemplos citados, o primeiro grau da escala é ocupado pela nota Dó e assim
sucessivamente até ao sétimo grau ocupado pela nota Si, como ilustrado no seguinte
quadro:
2
Quadro 1
Graus e notas das escalas de Dó Maior e Dó Menor e respetiva distribuição intervalar
Grau I II III IV V VI VII
Nome/
Função
Tónic
a
Sobretóni
ca
Median
te
Subdomina
nte
Domina
nte
Sobredomin
ante
Sensív
el
Dó Maior Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si
Intervalos0 ½
tons2 ½ tons 2 ½ tons 1 ½ tom 2 ½ tons 2 ½ tons 2 ½ tons
Dó Menor Dó Ré Mi♭ Fá Sol Lá♭ Si
Intervalos0 ½
tons2 ½ tons 1 ½ tom 2 ½ tons 2 ½ tons 2 ½ tons 1 ½ tom
A partir de cada grau da escala, é possível construir acordes. Por exemplo, sobre o 1º grau de uma escala de Dó Maior (Dó), pode-se construir o acorde de Dó Maior, que possuiu as notas Dó, Mi e Sol. As diferentes combinações de acordes dão origem às sequências harmónicas também denominadas progressões harmónicas. As sequências harmónicas podem ser simples, contendo apenas dois acordes, ou mais complexas contendo um número elevado de acordes.
Numa progressão harmónica tonal existe uma hierarquia entre os acordes, (Cuddy, Cohen & Miller, 1979; Trainor & Trehub, 1992, citado em Trainor & Trehub, 1994) sugerindo um paralelo com a sintaxe linguística (Rohrmeier, 2011). No topo da hierarquia encontra-se o primeiro grau da escala, designado por tónica (I), que é o repouso natural, visto que representa o ponto de partida, a estabilidade e ponto de chegada, sendo este o acorde mais estável da sequência tonal (Pascoal & Pascoal, 2000). É também ele que dá o nome à tonalidade. Cada um dos restantes acordes possui igualmente a sua função na hierarquia do sistema tonal - a função tonal, sendo que, para entender as funções, é necessário considerar que os acordes não estão isolados, pertencendo a um todo. A progressão desenvolve-
3
se com os restantes acordes, tendendo sempre a voltar à tónica que exerce a função de centro tonal. Por exemplo, o quinto grau da escala - a dominante (V grau), exerce na tonalidade a função de tensão, conflito e de aproximação para a entrada da tónica. Já a subdominante (IV grau) exerce na tonalidade a função de movimento e contraste. Estas são, assim, as três principais funções tonais (Pascoal
& Pascoal, 2000).
O sistema tonal é, portanto, um jogo constante entre a tensão e a resolução, isto é, os acordes criam tensão procurando uma resolução. A resolução de um acorde para o seguinte designa-se por cadência. Estas regras, do ponto de vista psicológico, estão associadas à expectativa e quando esta é violada há a perceção de incongruências. Estes processos psicológicos ocorrem em músicos e não músicos (Koelsch, et al., 20006).
Quadro 2
Progressões harmónicas frequentes
I – V - I
iiª – V - I
I – IV – V – I
i – iv – V - i
I – vi – IV – V – I
ª É utilizada numeração romana maiúscula para os acordes maiores e numeração minúscula para os acordes menores.
Na música ocidental, algumas sequências harmónicas são utilizadas com
muito maior frequência do que as outras. A título de exemplo, no quadro 2 são
apresentadas algumas das mais utilizadas.:
Cognição da Harmonia Tonal
4
Até agora, no âmbito da Ciência Cognitiva, vários são vários os autores que têm
reconhecido a importância de investigar os processos envolvidos no processamento da
harmonia e, neste sentido, têm vindo a desenvolver vários estudos que exploram alguns
tipos de competências de audição harmónica que envolvem diferentes níveis de
complexidade. Uma dessas competências consiste na capacidade em detetar
incongruências harmónicas, isto é, a capacidade de percecionar acordes que se desviam
do contexto harmónico habitual, considerando as convenções da música ocidental tonal.
Neste âmbito, Brattico e colaboradores (Brattico et al., 2013) investigaram,
através de eletroencefalogramas, o modo como músicos e não músicos percecionam
incongruências nas progressões harmónicas apresentadas. Além da comparação das
respostas eletroencefalográficas entre músicos e não músicos, os autores analisaram as
diferenças nas respostas obtidas pelos músicos que foram expostos à música ocidental
apenas e os músicos que, além da sua natural exposição à música ocidental tonal,
possuem uma exposição intensiva à música folk finlandesa, estilo que produzem. Com
este estudo foi possível verificar que o tipo de respostas varia, por um lado, consoante a
posição em que se encontra o acorde incongruente na sequência harmónica ouvida e,
por outro lado, consoante a cultura musical exposta e aprendida. Conclui-se, desta
forma que, a expertise em várias culturas musicais altera o processamento harmónico,
pois modifica o modo como os acordes são percecionados.
Já Trainor e Trehub (1994) estudaram a perceção de incongruências numa
perspetiva mais desenvolvimental, quando compararam o desempenho de crianças com
o desempenho de adultos em tarefas de deteção de mudança harmónica. Para tal, foi
apresentado um excerto musical que respeitava o sistema ocidental tonal, contendo três
tipos de mudanças harmónicas. Numa dessas mudanças a nota não se encontrava na
tonalidade (e.g. nota Mi bemol numa tonalidade de Dó Maior), numa outra mudança a
nota pertencia à tonalidade, mas não pertencia ao acorde (e.g. nota Si na presença do
acorde de Ré Menor na tonalidade de Dó Maior), e na terceira mudança, a nota era
pertencente à tonalidade e ao acorde (e.g, nota Sol na presença do acorde de Sol Maior
na tonalidade de Dó Maior). Nestas tarefas, os adultos e crianças de 7 anos de idade
obtiveram um melhor desempenho na deteção das primeira e segunda mudanças
comparativamente à terceira mudança, refletindo um conhecimento implícito da
tonalidade e da harmonia implicada. No entanto, as crianças de 5 anos de idade
obtiveram um melhor desempenho na primeira mudança comparativamente às restantes,
sugerindo a consciência da tonalidade, mas não da harmonia implicada. Este estudo
5
demonstra que a consciência da tonalidade é desenvolvida mais precocemente do que a
consciência da harmonia implicada. Carol e Krumhansl e Keil (1982), num estudo
sobre a aquisição da hierarquia tonal, puderam igualmente concluir que a consciência da
escala é adquirida desde cedo, uma vez que, as crianças que participaram no estudo
distinguiram notas pertencentes à escala das não pertencentes à escala.
Além da deteção de incongruências, autores como Jonaitis e Saffran (2009) e
Kim e colaboradores (Kim et al., 2018) procuraram estudar as expectativas que os
ouvintes possuem em relação à resolução dos vários acordes ao longo de uma
progressão. Sugerem que todos os indivíduos, músicos e não músicos, possuem
expectativas face ao modo como os acordes progridem na música tonal, sendo que essas
expectativas se baseiam no conhecimento prévio, mesmo que implícito, que cada
indivíduo possui relativamente ao modo como se sucedem os acordes. Esse
conhecimento prévio é adquirido através da exposição aos padrões de sequências de
acordes que são frequentes na música tonal e que fazem o indivíduo antecipar a
resolução de acordes com base na frequência com que ouviu tais acordes combinados. À
frequência com que determinados acordes surgem associados no âmbito da música tonal
chama-se informação estatística. Por exemplo, é possível antecipar a resolução do
acorde Dó de Sétima da Dominante (Dó7) para Fá Maior (FáM) pois é a resolução mais
frequentemente ouvida na música tonal. Após estes autores terem investigado o grau de
influência da informação estatística na expectativa do ouvinte face ao desenvolvimento
de uma sucessão de acordes, verificaram que, de facto, a informação estatística aparenta
ter um forte efeito, não só na assimilação de um novo tema que segue os princípios do
sistema tonal, mas também, na aquisição harmónica de temas musicais que obedecem a
sistemas harmónicos alternativos (Jonaitis & Saffran, 2009). Ainda no domínio da
expectativa, Loui e colaboradores (2005) investigaram o papel da atenção seletiva no
processamento das cadências expectáveis e não expectáveis em indivíduos não músicos,
sugerindo que o nível de atenção afeta a perceção dessas cadências e que, portanto,
influencia o processamento neuronal da sintaxe harmónica.
Uma outra competência que tem vindo a ser investigada encontra-se já num
nível de complexidade superior às anteriormente abordadas, uma vez que envolve a
capacidade de discriminação entre dois acordes que se sucedem numa sequência. Neste
âmbito, Costa-Giomi (1994b) realizou um estudo com o objetivo de perceber as
capacidades das crianças para discriminar entre dois acordes (na 1ª cadência: entre I e
V6/5 e na 2ª cadência: entre I e VII) em duas condições. Na primeira condição, apenas
6
os acordes eram tocados enquanto que, na segunda condição, os acordes tocados eram
acompanhados de uma melodia. Com este estudo foi possível concluir que a melodia
parece dificultar a discriminação entre os acordes. Mais ainda, foi possível verificar um
efeito da idade na capacidade de discriminação de acordes. Outro estudo da mesma
autora (Costa-Giomi, 1994a) apresentou resultados consensuais no que diz respeito à
influência não só da idade, mas igualmente da presença da melodia na capacidade de
deteção de mudanças harmónicas, além de relacionar variáveis tais como, mudança de
timbre e registo, demonstrando facilitarem a capacidade de detetar mudanças entre
acordes.
Outros autores têm vindo a explorar uma outra competência que requer um nível
de processamento harmónico mais elaborado. Esta competência consiste no
reconhecimento de progressões harmónicas de excertos musicais conhecidos. Jimenez e
Kuusi (20178) estudaram a capacidade de ouvintes de diversos níveis de expertise
musical para identificar peças clássicas e Pop/Rock conhecidas a partir de progressões
harmónicas. Concluíram que um nível elevado de expertise musical não é condição
necessária para a capacidade de identificar peças através da progressão, uma vez que,
em todos os níveis de expertise, existiram ouvintes que se mostraram capazes de o fazer.
Contudo, verificaram que o treino musical tem um efeito claramente vantajoso nesta
tarefa. Já um outro estudo (Jimenez & Kuusi, 2020) apresentou resultados contraditórios
com o seu anterior estudo. Os autores investigaram se a aprendizagem formal do Jazz, o
contacto profissional com a música e o contacto específico com o domínio da harmonia
possuem um efeito significativo na capacidade de identificar standards (temas)
conhecidos de Jazz) através de progressões harmónicas. Concluíram que, embora o
envolvimento a longo-prazo com atividades musicais, bem como a prática de um
instrumento harmónico, a prática de identificação e reprodução auditiva de progressões
(“tirar de ouvido”), bem comoe a transcrição de progressões harmónicas possam
facilitar o desempenho desta tarefa, é frequente quefrequentemente estes fatores por si
só, não sejamão suficientes para garantir a identificação de peças através de progressões
harmónicas. Esta tarefa parece, por outro lado, parece estar muito mais fortemente
associada ao facto de os músicos tocarem tais progressões e serem capazes de escrever
as cifras (símbolos correspondentes aos acordes) das peças.
Os estudos referidos são importantes para compreender os processos cognitivos
envolvidos na audição harmónica. Todavia, estes apenas exploram as competências de
reconhecimento de elementos e mudanças harmónicas. Desta forma, é da máxima
7
pertinência considerar os estudos que procuram investigar os fatores e processos
associados a um nível de capacidade de audição harmónica superior à simples
capacidadeà de reconhecimento. Neste sentido, alguns autores demonstraram
preocupação em estudar as competências que implicam, não só o reconhecimento, mas
também a identificação harmónica. Neste âmbito, Butler e Brown (1984) investigaram
os fatores que auxiliam os ouvintes na identificação de centros tonais, notando que esta
capacidade percetiva depende do contexto em que a tónica surge. Além da ordenação
temporal dos acordes facilitar ou dificultar o reconhecimento a identificação de centros
tonais, o treino musical formal aparenta igualmente ter um impacto no desempenho
desta tarefa. No entanto, este estudo demonstrou uma correlação mais forte entre a pré-
disposição dos ouvintes para identificar centros tonais em geral e o desempenho na
tarefa, do que entre o estatuto de músico ou não músico dos ouvintes e o seu
desempenho na tarefa. O estudo de Carol e Krumhansl e Keil (1982) já abordado
anteriormente, também investigou a perceção de centros tonais em crianças e adultos,
concluindo que o grupo dos adultos foi capaz de distinguir a tríade da tónica de outras
componentes da escala e expressou uma preferência pela escolha do acorde mais estável
da hierarquia tonal para o final das sequências. Contudo, o grupo das crianças não se
mostrou ainda capaz de reconhecer identificar esses centros tonais.
Embora estes estudos já demonstrem uma preocupação em perceber os
processos mentais envolvidos na identificação harmónica, referem-se à capacidade em
identificar apenas pequenos elementos da harmonia, como é o caso da identificação da
tónica ou centro tonal. O estudo de Johansson (2004) procurou perceber o impacto de
alguns fatores na capacidade de reproduzir auditivamente progressões harmónicas
(ear playing). Para tal, foram compostas e gravadas três canções exclusivamente para o
estudo, as quais os participantes ouviram pela primeira vez. As reproduções dos
participantes foram gravadas, convertidas em partitura e analisadas por vários músicos
investigadores. Os resultados revelaram um melhor desempenho nestas tarefas nos
participantes que ouviamtinham o hábito de ouvir e reproduzir progressões harmónicas
de temas inseridos em vários estilos musicais, pois ao ouvirem e reproduzirem os
diversos temas nesses estilos aprendiam os clichés e fórmulas das suas sequências
harmónicas, bem como, outras características estilísticas típicas de cada género musical.
8
O objeto de estudo
Como já referido, vários autores têm investigado alguns dos fatores e processos
mentais associados à audição harmónica. Porém, a investigação realizada no âmbito dos
fatores que explicam a identificação explícita de acordes, cadências e progressões
harmónicas ainda é escassa.
O presente estudo procura investigar os processos mentais subjacentes à
reproduçãoidentificação auditiva de sequências harmónicas, competência que se
considera da máxima importância no processo de aprendizagem da música, no processo
de execução, bem como no processo criativo musical. O desenvolvimento desta
competência permite liberdade e autonomia no músico, bem como o desprendimento da
leitura musical. Neste sentido, permite a um músico ser capaz de executar inúmeras
peças no âmbito de diversos estilos musicais, sem depender da disponibilização de
partituras, problema frequente em diversos géneros musicais. Além desta utilidade, a
reproduçãoidentificação auditiva de sequências harmónicas facilita o processo de leitura
de uma peça, bem como a sua memorização e consolidação, garantindo o entendimento
musical de uma peça a um nível mais profundo. Esta capacidade possuiu ainda um
papel inquestionável no processo criativo, sendo crucial para o bom domínio das
competências de improvisação e composição musical.
Apesar da máxima importância do desenvolvimento desta capacidade, o Ensino
Artístico Especializado em Música em Portugal ainda não integra nos seus currículos
oficiais um método de desenvolvimento de competências específicas de identificação e
reprodução auditiva de progressões harmónicas. Além disso, embora estes currículos
contenham métodos de desenvolvimento de outras competências auditivas,
nomeadamente, tarefas de identificação de intervalos, tarefas de identificação de
acordes isolados e, nos níveis mais avançados de ensino, tarefas de identificação de
cadências raramente ministradas, a leitura e a escrita musical ainda são os domínios que
merecem elevado destaque nos programas, recebendo a maior preocupação por parte
dos docentes e alunos. É necessário, portanto, perceber de que forma se pode incluir, de
modo eficaz, métodos de ensino e de desenvolvimento de competências auditivas, nas
quais se insere a capacidade de identificar e reproduzir auditivamente progressões.
Neste sentido, é relevante investigar aquilo que é necessário para adquirir esta
competência.
Tentando dar resposta a esta necessidade, realizámos dois estudos com o intuito
de investigar os processos mentais usados pelos músicos na identificação reprodução
9
auditiva de sequências progressões harmónicas. Dada a escassez de respostas existentes
na literatura da área musical, conduzimos um primeiro estudo de caráter exploratório e
qualitativo, no qual investigámos as perceções de músicos que se consideram
competentes nesta área no que diz respeito aos fatores cruciais para o desenvolvimento
da capacidade de reproduzir e identificar auditivamente sequências harmónicas. Os
resultados deste primeiro estudo originaram possíveis questões de investigação a serem
abordadas num segundo estudo quantitativo. Neste segundo estudo, investigámos (1) o
impacto de outras competências auditivas (melódicas, de reconhecimento de acordes
isolados e de reconhecimento de padrões métricos) e (2) o impacto do conhecimento
teórico da harmonia do sistema tonal na identificação reprodução auditiva de sequências
progressões harmónicas. Para além destas duas questões principais, explorámos
possíveis efeitos de outros fatores na identificação harmónica, tais como as estratégias
utilizadas na tarefa, o percurso de aprendizagem e as suas práticas musicais.
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ESTUDO I
Dada a escassez de respostas existentes na literatura, foi realizado um estudo
exploratório qualitativo com músicos que se consideram competentes nas tarefas de
identificação e reprodução auditiva de sequências harmónicas, tendo como objetivo
investigar as suas perceções face aos fatores intrínsecos (inerentes ao músico) e/ou não
intrínsecos (fatores ambientais) essenciais para a aquisição de competências de
reprodução harmónica.
1. Método
1.1. Amostra
Neste estudo participaram quatro músicos do sexo masculino com idades
compreendidas entre os 33 e os 57 anos, que consideravam cumprir os pré-requisitos
necessários para a participação no estudo, nomeadamente as competências de audição
harmónica já mencionadas. Todos os participantes tinham formação em música com
diferentes níveis de ensino e atividade musical. Os quatro músicos tocavam um
instrumento harmónico, sendo que dois deles tinham como instrumento principal o
piano e os restantes dois músicos tinham como instrumento principal a guitarra. Os
participantes tiveram conhecimento de que a sua participação era voluntária, tendo o
direito de desistir a qualquer momento do estudo se assim o desejassem. Para o efeito,
assinaram um consentimento informado que obedeceu ao formato pré-definido pela
declaração de Helsínquia (anexo A).
1.2. Estímulos
Foi realizada uma entrevista semiestruturada com 11 questões pré-estabelecidas
(ver guião em anexo B), que teve o intuito de conhecer o percurso e práticas musicais de
cada participante, bem como a diversidade e/ou convergência de estratégias utilizadas
na identificação e reprodução de sequências harmónicas.
1.3. Procedimento
11
As entrevistas foram agendadas com cada músico, sendo que o local ficou ao
critério dos participantes, devendo estes apenas garantir um lugar silencioso que
permitisse uma gravação de áudio percetível e o decorrer da entrevista sem
interrupções. Num primeiro momento, foi solicitado aos participantes o preenchimento
do consentimento informado que continha os termos e condições da entrevista e da sua
participação neste estudo. Em seguida, deu-se início à gravação autorizada pelo
participante e à realização da entrevista. A sua duração foi variável, estando dependente
do tempo despendido por cada participante na elaboração das suas respostas. Para
efeitos de posterior análise, procedeu-se a uma gravação de áudio da entrevista efetuada
com o conhecimento dos voluntários.
1.4. Análise
Após os registos em formato áudio, o conteúdo de cada entrevista foi analisado
qualitativamente com base no método proposto por Erlingsson e Brysiewicz (2017). De
acordo com este método, a informação revelada pelos participantes é transformada
numa síntese organizada que inclui unidades de significado, isto é, transcrições dos
relatos considerados relevantes para o estudo. Posteriormente, essas transcrições são
convertidas em códigos que consistem nas reduções dessas transcrições das mesmas ao
essencial. As ideias comuns relatadas por dois ou mais participantes são reduzidas ao
mesmo código. Os autores das transcrições são sempre identificados na síntese. As
unidades de significado foram agrupadas em temas, todos eles relacionados com os
fatores importantes na audição harmónica e que são a seguir descritos.
2. Resultados
A análise revelou cinco temas, agrupáveis em dois grandes conjuntos. O
primeiro conjunto de temas (A) incidiu sobre as motivações que os levaram a para
querer reproduzir auditivamente sequências harmónicas.
(A1) O interesse teórico e prático como motivação: O grande interesse em
desvendar os mistérios associados à harmonia e superar o desafio de identificar
auditivamente sequências harmónicas, bem como a vontade em utilizar esta
12
competência no processo criativo associado às áreas da improvisação e composição
foram referências recorrentes.
(A2) A necessidade imposta por alguns estilos musicais: Antes do surgimento da
internet, a quantidade de oferta dos materiais referidos variava significativamente
consoante o estilo musical. A música clássica, por exemplo, tal como nos dias de hoje,
possuía uma infindável quantidade de partituras musicais acessíveis no mercado. O
Jazz, já possuía igualmente inúmeras partituras de música, bem como, outros materiais,
tais como as cifras, pelas quais os músicos de Jazz se baseiam para tocar e improvisar.
Contudo, outros estilos musicais, tais como oo Pop e o, Rock, entre outros, não
beneficiavam destes materiais, obrigando a uma procura de outros recursos para ser
possível tocar repertório neste registo. Os resultados demonstraram que todos os
participantes, desde cedo, ouviam e tocavam estilos variados além da música clássica e
do Jazz e foi precisamente essa vontade em tocar repertório no âmbito destes estilos que
os fez procurar novos métodos de aprendizagem.
(A3) A importância do tipo de instrumento: Foi ainda possível perceber que a
consolidação desta competência é fruto de um processo no qual o instrumento tocado
tem um papel importante. Tratando-se de músicos que tocam um instrumento
harmónico, estes consideraram o seu instrumento um meio crucial de desenvolvimento
neste processo, pois permite uma utilização mais experimental ao nível harmónico que
se traduz na exploração de diversas possibilidades tais como, combinações de acordes,
cadências e progressões que se mostram potenciais correspondentes aos estímulos alvo.
O segundo conjunto de temas (B) incidiu sobre as competências que tornam um
músico capaz de reproduzir auditivamente sequências harmónicas.
(B1) A importância de outros tipos de competências auditivas: Os participantes
referiram que, desde cedo, apresentaram um bom desempenho noutras competências
auditivas, tais como, identificação de intervalos melódicos e harmónicos, identificação
de acordes isolados, identificação do baixo, bem como a consciência das partes no seu
todo, isto é, a identificação de todos os instrumentos presentes num tema e a separação
mental da linha melódica presente em cada instrumento que compõe os temas. Estas
competências adicionais foram consideradas como potenciais fatores de
desenvolvimento da audição e reprodução harmónica.
(B2) Importância do conhecimento teórico: Verificou-se que a importância
atribuída ao conhecimento teórico adquirido ao longo do percurso da aprendizagem da
música varia entre os músicos. Um dos participantes referiu que o conhecimento teórico
13
não assumiu qualquer influência nas capacidades de identificação e reprodução de
sequências harmónicas, contudo, outro participante defendeu a ideia contrária, referindo
que, o conhecimento teórico foi fundamental para o desenvolvimento dessas mesmasa
capacidades de identificação de sequências harmónicas. Os restantes participantes
partilharam da opinião de que o conhecimento teórico contribuiu para o
desenvolvimento destas competências, porém, não foi indispensável ao
desenvolvimento das mesmas. Estes resultados mostram uma variabilidade da utilização
do conhecimento teórico durante o desenvolvimento da identificação e reprodução
auditiva de sequências harmónicas.
3. Discussão
Os temas identificados no conjunto A, relativo às motivações para o
desenvolvimento da identificação e reprodução harmónica, sugerem diversas questões
de investigação, como as relativas à necessidade vs. suficiência de cada uma das fontes
de motivação apontadas - endógenas (interesse) ou exógenas (necessidade decorrente do
estilo tocado e/ou apreciado, tipo de instrumento) - ou ao contributo relativo de cada
uma destas fontes.
Para o segundo estudo da presente dissertação, foram centralizadas as duas
questões do conjunto temático B. Procurámos (1) perceber se o grau de sucesso em
outros tipos de competências auditivas se relaciona com o grau de sucesso na
reprodução auditiva de sequências harmónicas. Além desta questão, procurou-se
igualmente (2) perceber se o conhecimento teórico adquirido relativamente à harmonia
tem influência no grau de sucesso da reprodução e identificação auditiva de sequências
harmónicas. A razão para a seleção destas duas questões deveu-se ao facto de estas
variáveis serem facilmente manipuláveis no ensino da música através de adaptações
curriculares no âmbito da formação auditiva e teórica, contrariamente aos fatores como
a necessidade e a motivação dos alunos, a escolha de um instrumento ou o seu gosto
musical pessoal, que dificilmente se podem controlar no ensino da música. Algumas das
questões do conjunto A foram também abordadas, mas apenas num contexto
exploratório.
14
15
ESTUDO II
Realizámos um estudo quantitativo que, de acordo com os resultados obtidos no
estudo I, teve como objetivos perceber a influência de outras competências auditivas
abordadas ao longo da aprendizagem formal da música na capacidade de reprodução
auditiva de sequências harmónicas e perceber qual a importância do conhecimento
teórico na aquisição da competência de reprodução auditiva de sequências harmónicas.
Com base nestes objetivos, este estudo pretende responder às seguintes questões de
investigação: (1) O treino das competências auditivas que integram os programas
oficiais do Ensino Artístico Especializado em Música, nomeadamente, as competências
de audição melódica, as competências de identificação de acordes isolados e as
competências de identificação de compasso, favorecem a reprodução auditiva de
sequências harmónicas? (2) O programa atual das disciplinas teóricas do Ensino
Artístico Especializado em Música, tais como, Formação Musical e Análise e Técnicas
de Composição, contribui para a aquisição da capacidade de reproduzir auditivamente
sequências harmónicas?
Para efeitos exploratórios, examinámos ainda a potencial influência de variáveis
externas ao programa oficial, tais como as estratégias que os participantes utilizam na
reprodução auditiva de sequências harmónicas, as horas de prática desta competência, o
número de anos dedicados à aprendizagem musical e os estilos musicais presentes no
repertório dos participantes.
1. Método
1.1. Amostra
Para a realização deste estudo, foi solicitada a colaboração de duas escolas: uma
escola de Ensino Artístico Especializado em Música e uma escola superior com
licenciatura em Educação Musical e mestrado em Ensino de Educação Musical no
Ensino Básico. Inicialmente previa-se o apoio destas instituições na divulgação deste
estudo, bem como na disponibilização de espaços adequados à sua realização. Porém,
com o surgimento da pandemia de COVID-19, o número de casos de contágio
registados aumentou de forma preocupante, evidenciando uma grave crise de saúde
pública a nível mundial. Dada a grave situação epidemiológica, o Presidente da
República declarou a 18 de março de 2020 o estado de emergência nacional (Decreto-
16
Lei n.o 14-A/2020), decretando o encerramento dos estabelecimentos de ensino, juntamente com a tomada de outras medidas extraordinárias de caráter urgente. Neste sentido, as escolas contactadas apenas puderam colaborar na divulgação do estudo, sendo que o mesmo foi adaptado com o intuito de poder ser realizado à distância. Além da divulgação nestas duas escolas (anexo C e anexo D), o estudo foi divulgado nas redes sociais de forma a aumentar a probabilidade de um maior número de voluntários no estudo (anexo E).
Neste estudo participaram 17 músicos residentes em Portugal, com idades
compreendidas entre os 19 e os 48 anos (M=25,18; DP=2,75), sendo que oito dos
participantes eram do sexo feminino e nove do sexo masculino. De modo a garantir a
familiaridade com as tarefas solicitadas, participaram no estudo músicos que possuem
habilitações equivalentes ou superiores ao 5º grau do Ensino Artístico Especializado em
Música. A amostra foi apenas constituída por músicos pianistas devido à maior
facilidade em registar em formato MIDI o conteúdo reproduzido pelos participantes,
sabendo que, apenas este formato possibilita a análise da execução dos participantes
com recurso à partitura. Para a participação neste estudo, os participantes assinaram um
consentimento informado que garantia o seu direito de desistir do estudo se assim o
desejassem, bem como, a confidencialidade dos seus dados e conteúdos produzidos
durante a realização do estudo (anexo F).
1.2. Estímulos
Tarefa de identificação auditiva de intervalos melódicos: Os estímulos desta
tarefa consistiram em 5 intervalos melódicos (dois sons sequenciais) apresentados e
gravados em piano (anexo F), os quais os participantes deveriam identificar
auditivamente, escrevendo o símbolo correspondente (e.g. 3M; 5P; 4A/5D; etc.).
Tarefa de identificação auditiva de acordes isolados: Nesta tarefa, os
participantes identificaram auditivamente cinco acordes, (anexo G), quanto ao seu tipo
(maior/menor/diminuto/aumentado/acordes de sétima) - acordes estes que
correspondem a graus de dificuldade diferenciados - e quanto às suas respetivas
inversões (ordem como as notas do acorde são apresentadas da mais grave para a mais
17
aguda). Por exemplo, o acorde de Dó Maior (Dó, Mi, Sol) pode ser apresentado por esta
exata ordem, designado por acorde em estado fundamental, ou pode ser apresentado
numa ordem diferente, nomeadamente por Mi, Sol Dó (1ª inversão) ou Sol, Dó, Mi (2ª
inversão). Os acordes foram reproduzidos e gravados em piano.
Tarefa de identificação auditiva de compasso: Os estímulos desta tarefa
consistiram na apresentação de dois excertos musicais, um primeiro excerto escrito de
acordo com uma divisão quaternária (ver registo em notação musical em anexo H) e um
segundo excerto escrito numa divisão ternária (ver registo em notação musical em
anexo I). Os excertos musicais utilizados para esta tarefa foram compostos
exclusivamente para o estudo de forma a garantir a inexistência de conhecimento prévio
dos excertos por parte dos participantes e assim assegurar a homogeneidade entre estes
face à tarefa. Os excertos foram gravados em piano. Para a sua gravação utilizou-se a
workstation Roland Fantom 8 e o software de gravação Logic Pro X (versão 10.5.1).
Tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas: Esta tarefa foi a mais
desafiantedora e a mais demorada deste estudo. Utilizou como estímulos dois excertos
musicais apresentados, cuja harmonia os participantes deveriam reproduzir da forma
mais exata possível num teclado. Com vista a assegurar a igualdade de circunstâncias
entre os participantes, os excertos foram compostos exclusivamente para o presente
estudo, de modo a garantir a inexistência de conhecimento prévio dos participantes face
aos excertos apresentados. Os excertos foram gravados com o mesmo equipamento
utilizado nos excertos da tarefa de identificação de compasso. O primeiro (ver registo
em notação musical em anexo J) era constituído por 20 acordes (sendo que, alguns dos
acordes eram repetidos ao longo da peça) e tinha uma duração de 40 segundos. O
segundo (ver registo em notação musical em anexo K) possuía um grau de dificuldade
mais elevado, sendo constituído por 30 acordes e tendo uma duração de 47 segundos.
Questionário: Após a realização destas tarefas os participantes responderam a
um breve questionário composto por 13 questões (anexo L). Este questionário solicitava
informação acerca da formação em harmonia, (operacionalizando a variável
conhecimento teórico), bem como questões relativas ao número de anos de formação
em Música, os estilos musicais estudados formalmente, os estilos musicais presentes no
seu repertório, e práticas de reprodução harmónica.
1.3. Procedimento
18
Foram agendadas sessões on-line, com uma duração de aproximadamente 1 hora e que decorreram na plataforma mais conveniente para o participante. Por razões de vigilância, todas as tarefas eram realizadas em videochamada à exceção da tarefa de reprodução das sequências harmónicas, na qual o participante poderia desligar o seu microfone caso se sentisse mais confortável, permanecendo apenas com o vídeo. Dada a impossibilidade de disponibilizar o equipamento necessário à realização do estudo e de registar em direto o conteúdo produzido em formato MIDI, inicialmente apenas os participantes que possuíam um teclado com possibilidade de gravação e exportação em formato MIDI entraram na amostra. No entanto, devido ao número de músicos interessados que possuíam todas as condições necessárias à realização do estudo ser reduzido, comunicou-se a possibilidade de os restantes voluntários poderem participar no estudo necessitando apenas de possuir um teclado e um dispositivo eletrónico apto a gravar ficheiros de vídeo com a possibilidade de realizar a gravação num ângulo favorável à visualização do teclado. Este equipamento seria utilizado para o registo da tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas, de forma a poder ser analisado numa fase posterior.
As sessões on-line iniciaram com uma breve explicação e descrição das tarefas, bem como um possível esclarecimento de dúvidas e informação sobre os termos e condições do estudo. Além disso, foi solicitada a assinatura de um consentimento informado que garantia a confidencialidade dos dados e o direito de desistir do estudo caso o participante desejasse. Após este momento inicial, a primeira tarefa a ser realizada foi a identificação auditiva de intervalos melódicos. Nesta tarefa, foram enviados aos participantes ficheiros de áudio em formato mp3, sendo que cada um dos ficheiros continha um intervalo gravado. Os ficheiros eram enviados pela via on-line mais conveniente, um a um, por uma ordem pré-definida. De modo a garantir o conhecimento de cada intervalo apenas no momento necessário, cada ficheiro foi enviado após o participante comunicar a finalização da resposta ao intervalo anterior. Os
19
participantes podiam ouvir cada intervalo duas vezes e a linguagem de escrita dos
intervalos permaneceu ao critério de cada participante, desde que, garantisse a sua
compreensão por parte do investigador.
Em seguida foram realizadas as tarefas de identificação auditiva de acordes. Para esta tarefa foram igualmente enviados por ordem pré-definida ficheiros áudio em formato mp3, cada ficheiro correspondente a um acorde diferente. À semelhança da tarefa anterior, os acordes eram enviados individualmente após a finalização da resposta ao item anterior. Os participantes podiam ouvir cada
acorde duas vezes e, se garantida a posterior compreensão, poderiam escrever os
acordes pedidos na linguagem que lhes fosse mais familiar, inclusive por extenso, se
assim o pretendessem.
Após a realização destas duas tarefas, deu-se início à tarefa de identificação
auditiva do compasso. Os dois excertos musicais necessários para a tarefa foram
enviados em formato mp3 sendo que os participantes deveriam ouvi-los no máximo
duas vezes e identificar o compasso de cada excerto. A sua resposta podia ser escrita por
extenso ou conter apenas o símbolo do compasso.
Nestas três tarefas, o participante deveria escrever as suas respostas numa folha e
digitalizá-la para enviar no final da sessão. Em alternativa, poderia escrever num
documento digital e enviar após a finalização das tarefas.
Uma vez terminados estes exercícios, prosseguiu-se com a realização da tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas após uma explicação da mesma. Para o primeiro excerto, os participantes tinham 10 minutos para tentar reproduzir a sua harmonia no
teclado. Já no segundo excerto, os participantes tinham 20 minutos, uma vez que o grau
dificuldade era superior. Antes do início da contagem do tempo, o participante tinha a
possibilidade de ouvir uma vez o excerto uma vez, sendo que, após o investigador
iniciar a cronometragem, o participante poderia ouvir o excerto as vezes que desejasse.
Para que fosseser possível registar todo o processo envolvido nesta tarefa, assim que o investigador desse início à contagem do tempo, o participante deveria iniciar a sua gravação em vídeo ou em formato MIDI, consoante as suas possibilidades, e terminá-la apenas quando o investigador comunicasse o fim do limite de tempo. Após a realização
20
desta última tarefa, o participante deveria enviar o seu vídeo ao investigador e dava-se por terminada a sessão.
Para além da participação nesta sessão, foi pedido aos participantes que preenchessem um breve questionário que abordava o seu percurso e práticas musicais.
1.4. Análise de dados
Após recebidos os conteúdos dos participantes, procedeu-se à análise dos dados.
Para a tarefa de identificação auditiva de intervalos melódicos, criou-se uma escala de
erro para cada item, em que 0 corresponde à ausência de erro, portanto, à resposta
correta e quanto mais elevada a pontuação, maior o erro. Para a avaliação do grau de
erro recorreu-se ao critério de grau de afastamento do intervalo respondido pelo
participante em relação ao intervalo correspondente à resposta correta em termos de
número de meios-tons da escala cromática. De acordo com este critério, se o intervalo
respondido corresponde ao intervalo correto, o participante tem 0 de pontuação, sendo
que por cada meio-tom de distância do intervalo correto, foram somados 0.2 pontos
(duas décimas). Nesta lógica, se o intervalo respondido se distanciasse de apenas um
meio-tom do intervalo correto, o participante obtinha 0.2, se o intervalo respondido se
distanciasse de dois meios-tons do intervalo correto, obtinha uma pontuação de 0.4 e
assim sucessivamente. De acordo com este sistema de cotação e considerando os 11
intervalos de erro possíveis, o máximo de erro que uma resposta podia atingir seria 2.2
(0.2 x 11 = 2.2). Após a cotação das respostas, calculou-se, para cada participante, a
média de erro para os cinco intervalos, obtendo-se uma pontuação de erro para
intervalos.
Para a tarefa de identificação auditiva de acordes, criou-se novamente uma
escala de erro para cada item, em que o valor 0 corresponde à ausência de erro: neste
caso, o participante identificou o tipo de acorde e a respetiva inversão corretamente. O
valor 1 correspondia ao erro numa das dimensões, isto é, à correta identificação do tipo
de acorde, mas não da inversão, e o valor 2 correspondia ao erro nas duas dimensões, ou
seja, à incorreta identificação do tipo de acorde e a sua respetiva inversão. Para o 4º
acorde apresentado (acorde aumentado) não foi avaliada a identificação da inversão
uma vez que, esse tipo de acordes possui intervalos idênticos entre o seu 1º e 3º grau e o
3º e 5º grau (duas terceiras maiores), tornando impossível a discriminação da inversão
sem a capacidade inata de audição absoluta. Desta forma, o máximo de erro possível no
21
item relativo ao acorde aumentado foi 1 enquanto que nos restantes acordes foi 2. Após
a obtenção das respostas, calculou-se para cada participante a média de erro dos cinco
acordes, obtendo-se uma pontuação de erro para acordes.
Para a tarefa de identificação auditiva de compasso, foi igualmente utilizada
uma escala de erro para a avaliação de cada item, em que o valor 0 correspondeu à
ausência de erro, isto é, à identificação correta do compasso do excerto musical, e o
valor de 1 corresponde ao erro. Para cada participante calculou-se a média de erro dos 2
itens de identificação de compasso.
Para a quantificação da variável do conhecimento teórico da harmonia foram
incluídas no questionário duas questões relativas à familiaridade dos participantes com
o conhecimento teórico da harmonia: rRegistou-se quais os participantes que estudaram
teoria da harmonia durante o seu percurso e recolheu-se ainda o número de anos em que
os participantes estudaram harmonia.
Finalmente, para a tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas, foi
analisada cada tentativa de reprodução de cada uma das duas peças do participante,
usando o registo em notação musical fornecido pelos ficheiros em formato MIDI
(visualizada através do software de edição de partituras Sibelius - versão 8.5.0) no caso
de seis participantes, e a partir de ficheiros de vídeo, no caso dos outros 11 participantes
que não tinham possibilidade de gravar e exportar o seu conteúdo em formato MIDI.
Para a avaliação do desempenho nesta tarefa foram utilizadas 3 medidas: (1) uma
medida de acuidade, que consiste na exatidão da sua resposta na
reprodução/identificação de cada acorde de cada sequência harmónica; (2) o número de
tentativas, que corresponde ao número de vezes que o participante experimentou várias
possibilidades de acordes até chegar à resposta correta; (3) finalmente, o tempo
despendido no desempenho da tarefa para cada excerto musical. Para a medida de
acuidade foram criadas duas escalas de pontuação, uma escala de sucesso para os
acordes de três notas e outra escala de sucesso para os acordes de quatro notas. De
acordo com a escala de pontuação dos acordes de três notas, o participante obtém 0 se
não identificar o acorde corretamente; 1 se o acorde reproduzido não corresponder ao
acorde ouvido, mas possuir uma função tonal idêntica (por exemplo, a função de ii grau,
ré-fá-lá, é idêntica à de IV grau, fá-lá-dó, visto que possuem duas notas em comum,
além de que a nota dó do IV grau é também a sétima do ii grau); 2 se apenas o tipo de
acorde for identificado corretamente, mas não a sua inversão; e a pontuação máxima 3,
se o tipo e inversão do acorde forem identificados corretamente. No que diz respeito à
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escala de pontuação para os acordes de 4 notas, o participante obtém 0 se não identificar
corretamente o acorde; 1 se não identificar corretamente o acorde mas o acorde
reproduzido possuir uma função tonal idêntica; 2 se identificar corretamente apenas a
tríade do acorde mas não a sua inversão; 3 se identificar corretamente apenas a tríade e a
inversão do acorde; 4 se identificar corretamente o acorde completo (tríade + extensão)
mas não a sua inversão e 5, se identificar o acorde completo (tríade + extensão) e a sua
respetiva inversão. O segundo excerto incluía ainda um acorde de 5 notas, sendo que
para este caso, a pontuação mantém-se até ao nível 5, contudo, acrescentando um nível
6 que será a pontuação máxima caso o participante identifique corretamente as 5 notas
do acorde. (Para tríades – um valor máximo de 3; tétrades – valor máximo de 5; acorde
de 5 notas – 6). Para cada participante calculou-se a média de acerto para os 20 acordes
no 1º excerto musical e dos 30 acordes no 2º excerto musical, obtendo-se uma
pontuação de acerto para cada peça.
Para efeitos exploratórios, foram analisadas as estratégias que cada participante
utilizou para reproduzir auditivamente os excertos (identificação do baixo, identificação
inicial da melodia, identificação da melodia e acordes em simultâneo e entoação da
melodia), bem como as estratégias que cada participante utilizou para memorizar cada
excerto, isto é, se optou por reproduzir a peça numa etapa apenas ou se optou por dividir
a reprodução da peça em várias etapas (fragmentação) e se utilizou ou não cifras. Com o
pedido de preenchimento do questionário foram ainda recolhidos dados acerca dos
estilos musicais que integraram a formação em música, tendo sido registados os
participantes que estudaram o domínio clássico, os que estudaram a vertente Jazz e os
participantes que estudaram outros estilos musicais durante o seu percurso de
aprendizagem. Foram igualmente recolhidos dados acerca dos estilos musicais
pertencentes ao seu repertório, sendo que para o efeito, registaram-se os participantes
que responderam ter o hábito de tocar música clássica, o hábito de tocar Jazz e o hábito
de tocar outros estilos musicais. Finalmente, foram recolhidas as respostas acerca da
prática de reprodução harmónica. Para tal, verificou-se quantos estudantes já
reproduziram auditivamente progressões harmónicas no âmbito das aulas e fora do
âmbito das aulas. No caso dos participantes que já reproduziram numa ou nas duas
condições, registou-se a frequência com que cada participante reproduziu no período de
maior atividade, sendo que, para tal, foi utilizada uma escala de 1 a 6, onde o nível 1
correspondia a “menos de uma vez por ano”, o nível 2 a “pelo menos uma vez por ano”,
23
o nível 3 a “uma vez por mês”, o nível 4 a “uma vez por semana”, o nível 5 corresponde
a “mais do que uma vez por semana” e o nível 6 a “todos os dias”.
1.5. Análise Estatística
Para a análise estatística dos conteúdos recolhidos foi utilizado o software SPSS
Statistics (versão 26.0.0.0).
Para analisar a relação entre outros tipos de competências auditivas e a
capacidade de reprodução auditiva de acordes (objetivo 1), realizaram-se três
correlações: uma correlação entre a média de desempenho obtida na tarefa de
reprodução auditiva de intervalos melódicos e os níveis de desempenho obtidos na
tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas; uma correlação entre a média
de desempenho obtida na tarefa de identificação auditiva de acordes isolados e os níveis
de desempenho na tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas; e uma
correlação entre a média de desempenho na tarefa de identificação auditiva de compasso
e os níveis de desempenho na tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas.
As três correlações foram realizadas para cada excerto musical, dada a elevada
correlação entre as variáveis independentes (identificação auditiva de intervalos
melódicos; identificação auditiva de acordes; identificação auditiva do compasso).
Foram aplicadas correções de Bonferroni para múltiplas correlações.
Para perceber se existem diferenças entre os participantes que estudaram
harmonia e os que não estudaram harmonia no desempenho obtido na tarefa de
reprodução auditiva de progressões harmónicas (objetivo 2), foi realizada uma ANOVA
mista sendo o excerto musical/peça (peça 1 e peça 2) o fator intra-sujeitos e o estudo da
harmonia (sim/não) o fator inter-sujeitos. Para analisar a relação entre o tempo de
estudo de harmonia e o nível de desempenho na tarefa harmónica foi realizada uma
correlação de Pearson.
Os restantes níveis de análise incidiram em questões exploratórias. Com o
objetivo de perceber se existiram diferenças entre os participantes em função da
estratégia de identificação (sim/não para um conjunto de estratégias) utilizada em cada
peça, fizemos testes t de Sstudent para amostras independentes, correndo um teste por
peça. Não foi possível aplicar um método de ANOVA mista (peça como fator intra-
sujeitos), uma vez que as estratégias variaram de peça para peça. Para analisar as
diferenças em cada peça entre os vários participantes consoante a estratégia de
24
memorização utilizada em cada peça foram igualmente realizados testes t para amostras
independentes.
Para perceber se existe diferenças no desempenho da tarefa de reprodução
harmónica entre os estudantes em função dos estilos musicais que integraram a sua
formação em música, foram realizadas ANOVAs mistas, sendo a variável peça o fator
intra-sujeitos e o estilo musical o fator inter-sujeitos. Para analisar as diferenças no
desempenho de reprodução harmónica entre os participantes em função dos estilos
musicais presentes no seu repertório foi feita uma análise equivalente.
Por fim, com vista a perceber se existem diferenças entre os participantes que já
reproduziram auditivamente progressões harmónicas no âmbito das aulas e/ou fora do
âmbito das aulas no desempenho obtido na tarefa de reprodução harmónica, foi
novamente realizada uma ANOVA mista. Para analisar a relação entre a frequência com
que os participantes reproduzem auditivamente progressões harmónicas de forma
espontânea e o desempenho obtidoa na tarefa de reprodução harmónica foi realizada
uma correlação de Kendall.
2. Resultados
Previamente à realização dos testes estatísticos referidos, foi analisada a
variabilidade entre os participantes nas variáveis dependentes deste estudo,
correspondendo às medidas de desempenho na tarefa de reprodução auditiva de
progressões harmónicas (pontuação obtida, número de tentativas e tempo despendido).
No quadro 3, são apresentados os valores da média, desvio padrão, amplitude e
coeficiente de variação de cada uma destas variáveis para cada peça musical.
25
Quadro 3
Medidas de variabilidade entre participantes para as três medidas de reprodução harmónica em cada peça
Peça 1
M DP R CV
Pontuação(máx = 3.900)
1.889 1.141 3.65 .604
Tentativas 1.646 .526 1.73 .320
Tempo (máx = 10 m)
8.865 2.379 7.00 .268
Peça 2
M DP R CV
Pontuação(máx = 4.300)
1.362 1.244 3.90 .913
Tentativas 1.811 .663 2.57 .366
Tempo (máx = 20 m)
19.331 1.784 6.70 .092
Nota. Média (M) = Média dos participantes relativamente aos
três critérios; Desvio padrão (DP); Amplitude (R); Coeficiente
de variação (CV)
Verifica-se que a medida de número de tentativas apresenta pouca variabilidade
na primeira peça (CV = .320) e na segunda peça (CV = .366) pois em ambos, o
coeficiente de variação está mais próximo de 0 do que de 1. Para a variável tempo o
coeficiente está claramente abaixo do limiar crítico .30 que é normalmente considerado
(Pimentel-Gomes, 1985, citado em Scapim et al., 1995). Para a variável tentativas o
valor esteve pouco acima do limiar. No que diz respeito ao tempo despendido pelos
participantes, verifica-se igualmente uma baixa variabilidade entres os participantes na
primeira peça (CV = 2.69) e ainda mais baixa na segunda peça (CV = .092), dado que
nesta última, o coeficiente de variabilidade é quase 0. Relativamente à pontuação obtida
na tarefa, esta apresenta maior variabilidade na peça 1 (CV = .604), tratando-se de um
valor mais próximo de 1 do que de 0, e apresenta ainda maior variabilidade na peça 2
(CV = .913), encontrando-se muito próximo de 1.
26
2.1. Outras competências auditivas e reprodução harmónica
No quadro 4 são apresentados os resultados das correlações realizadas entre o
desempenho nas tarefas de identificação auditiva de intervalos melódicos, a
identificação auditiva de acordes e a identificação auditiva do compasso, e o
desempenho na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas em cada peça,
atendendo às três medidas consideradas para a avaliação do desempenho dos
participantes: pontuação obtida, o número de tentativas e o tempo despendido.
Quadro 4
Correlação de Pearson entre as tarefas de identificação auditiva e a tarefa de
reprodução auditiva de progressões harmónicas (2 peças)
Peça 1 Peça 2
Pontuação Tentativas Tempo Pontuação Tentativas Tempo
r p r p r p r p r p r p
Intervalos - .805 *** -.166 .523 .436.080
/.720a - .607.010*/.090
-.134 .609 .309 .244
Acordes - .824 *** .038 .885 .523.031*/.279
- .711.001**/.009*
.042 .872 .386 .140
Compasso
- .069 .794 .400 .112 .307 .231 -.269 .296 .208 .422 .252 .346
ª valor anterior/posterior à correção Bonferroni para as correlações múltiplas (n = 9, 3 medidas x 3 competências)
* p < .05. ** p < .01 *** p < .001
A pontuação obtida na reprodução auditiva da primeira peça correlacionou-se de
forma significativa, negativa e forte com o desempenho na tarefa de identificação
auditiva de intervalos melódicos (r = - .805, p < .001) e com o desempenho na tarefa de
identificação auditiva de acordes (r = - .824, p < .001), demonstrando que, quanto
27
menor é o erro (maior acuidade) nas tarefas de identificação auditiva de intervalos e
acordes, maior é a pontuação obtida na reprodução auditiva da progressão harmónica
correspondente à primeira peça. No que diz respeito à segunda peça, os resultados
foram semelhantes, embora não totalmente sobrepostos: a correlação negativa entre
reprodução harmónica e identificação auditiva de intervalos mostrou um valor de
significância marginal após a correção de Bonferroni (p = .090), apesar de a correlação
ter sido forte (r = - .607). A correlação com a identificação auditiva de acordes foi
significativa e forte (r = - .711, p = .009).
O teste z de Fisher não revelou diferenças significativas entre as peças 1 e 2
relativamente à correlação entre identificação de intervalos e pontuação (z = - .026, p
= .489). Também não revelou diferenças significativas para a correlação entre
identificação de acordes e pontuação (z = - .003, p = .499).
As medidas de número de tentativas e tempo despendido não mostraram associações
significativas com as competências de identificação de intervalos, acordes ou compasso.
A identificação de compasso não se correlacionou com nenhuma das medidas de
reprodução harmónica.
2.2. Conhecimento teórico sobre harmonia e reprodução harmónica
Tendo em conta que as medidas de número de tentativas e tempo despendido na
tarefa (potenciais índices da eficácia da reprodução harmónica) apresentaram uma baixa
variabilidade entre os participantes – tendo sido isto reforçado na insensibilidade aos
efeitos de outras competências auditivas na reprodução harmónica – restringimos as
restantes análises à medida de acuidade, i.e., à pontuação obtida em cada peça em
função da exatidão do acorde reproduzido face ao acorde alvo.
A ANOVA mista com estudo da harmonia (variável inter-sujeitos) e peça (intra-
sujeitos) como fatores indicou um efeito principal significativo da peça (F (1,15) =
8.073, p = .012, η2p = .350) na acuidade da reprodução harmónica (tal como esperado,
peça 1 reproduzida de forma mais exata que peça 2), mas o efeito do estudo da
harmonia foi nulo (p = .818), tal como a interação entre o estudo de harmonia e a peça
(p = .303).
Relativamente ao tempo de estudo de harmonia, não se observou uma correlação
significativa entre o número de anos em que os participantes estudaram harmonia e a
pontuação obtida na reprodução harmónica em nenhuma das duas peças (peça 1: r =
-.074, p = .778; peça2: r = .004, p = .989).
28
2.3. Questões exploratórias
2.3.1. Utilização de estratégias de identificação
O quadro 5 sintetiza os efeitos da adoção vs. não adoção de quatro estratégias de
identificação das sequências harmónicas em cada uma das duas peças: identificação do
baixo (nota mais grave de cada acorde), identificação inicial da melodia, identificação
simultânea da melodia e harmonia, e entoação da melodia. Tal como referido
anteriormente, os participantes variaram as estratégias da peça 1 para a peça 2, pelo que
não foi viável uma comparação omni combinando o fator intra-sujeitos peça com o fator
inter-sujeitos estratégia.
Quadro 5
Testes t de Sstudent – Estratégias de identificação e pontuação obtida nas duas peças
Pontuação (N=17)Peça 1 Peça 2
A/NA N M DP p N M DP pIdentificação do baixo A
NA215
1.6751.917
1.5201.147 .788 3
141.7561.277
1.2831.268 .562
Identificação inicial da melodia A
NA89
1.5192.217
1.0451.178 .218 6
11.5861.785
.4521.247 .018*
Identificação da melodia e acordes em simultâneo A
NA89
2.5621.289
.950
.977 .016* 89
2.021.776
1.226.978 .034*
Entoação da melodia A
NA314
1.7501.918
1.4421.130 .826 2
15.5671.468
.7541.274 .352
Nota. Adoção ou não adoção da estratégia (A/NA); Pontuação relativa aos participantes que adotaram a estratégia (A); Pontuação relativa aos participantes que não adotaram a estratégia (NA) Tamanho da amostra (N); Média (M) = média da pontuação obtida na reprodução da peça; Desvio Padrão (DP); valor da significância do teste t de student (P).* p < .05. ** p < .01.
Os testes t de Sstudent revelaram diferenças significativas entre os participantes
que identificaram a melodia inicialmente (antes de tentarem identificar a progressão) e
os participantes que não identificaram a melodia previamente (t (13) = -2.688, p = .018),
29
mas apenas para a segunda peça. Os participantes que identificaram a melodia
previamente estiveram em desvantagem relativamente aos que o fizeram.
Quanto à estratégia de identificar melodia e acordes em simultâneo, esta teve
impacto quer na peça 1 (t (15) = 2.718, p = .016), quer na peça 2 (t (15) = 2.328, p
= .034). Ao contrário da estratégia anterior, esta beneficiou os participantes que a
adotaram.
As estratégias de identificação do baixo e entoação da melodia não tiveram
efeitos significativos na acuidade da reprodução harmónica.
30
2.3.2. Utilização de estratégias de memorização
O quadro 6 sintetiza os efeitos de duas estratégias de memorização:
fragmentação da peça (tentar reproduzir uma parte de cada vez vs. toda a peça) e escrita
de cifras (notação de símbolos para cada acorde à medida que a reprodução é tentada).
Quadro 6
Testes t de Sstudent – Estratégias de memorização e pontuação obtida nas duas peças
PontuaçãoPeça 1 Peça 2
A/NA N M DP p N M DP p
Fragmentação da peça
ANA
125
1.4462.950
.998
.685 .008* 134
.9452.717
.8431.483 .008*
Escrita de cifras ANA
116
3.8001.769
-1.063 .083 3
143.256.956
.667
.911 .001*
Nota. Adoção ou não adoção da estratégia (A/NA); Pontuação relativa aos participantes que adotaram a estratégia (A); Pontuação relativa aos participantes que não adotaram a estratégia (NA) Tamanho da amostra (N); Média (M) = média da pontuação obtida na reprodução da peça; Desvio Padrão (DP); valor da significância do teste t de student (P).* p < .05. ** p < .01.
Os participantes que optaram por reproduzir auditivamente a totalidade da peça
numa única etapa obtiveram benefício significativo relativamente aos que optaram por
dividir a reprodução da peça por várias etapas (1ª Peça: t (15) = 3.055, p = .008; 2ª Peça:
t (15) = 3.085, p = .008).
A escrita de cifras beneficiou os participantes que adotaram esta estratégia, de
forma significativa na peça 2 (t (15) = 4.098, p = .001) e marginalmente na peça 1 (p
= .083)
2.3.3. Tempo de formação
[2.3.4.]
O quadro 7 apresenta a correlação entre a pontuação obtida na tarefa de
reprodução auditiva de progressões harmónicas e o número de anos em que o
participante estudou música e piano.
31
Quadro 7
Correlação de Pearson entre o número de anos de formação em música e piano e a
pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas
PontuaçãoPeça 1 Peça 2
Nº anos de estudo de músicap = .265 r = .551
ª p = .027*/.054
Nº anos de estudo de piano p =.156 p = .061
ª valor anterior/posterior à correção Bonferroni para as correlações múltiplas (n = 2, duas peças)* p < .05.
Após realizada a correção de Bonferroni observou-se uma correlação marginal
entre o número de anos de estudo de música e o valor da pontuação obtida na
reprodução auditiva da progressão harmónica relativa à segunda peça (p = .054), sendo
que, esta correlação, embora marginal, foi positiva e forte (r = .551). Para o número de
anos de estudo de piano, verificou-se uma correlação não significativa para ambas as
peças.
2.3.4.[2.3.5.] Estilos de formação.
[2.3.6.]
O efeito da formação em música clássica não foi avaliado porque todos os
participantes beneficiaram desta formação.
A ANOVA mista com formação em Jazz (sim vs. não) como fator inter-sujeitos
(Figura 1) revelou um efeito principal não significativo (p = .236, n2p = .288). Existiu,
contudo, uma interação entre estudo de Jazz e peça (F (1,15) = 1.108, p = .026, n2p
= .288).
Uma vez que ANOVA mista revelou uma interação, foi realizado um teste t de
student para amostras independentes para perceber se existiam diferenças significativas
entre os dois grupos para cada peça. Os testes não indicaram diferenças significativas
para a primeira peça (p = .589), mas na segunda peça a significância das diferenças foi
marginal (t (15) = 1.838, p = .086): músicos com formação em Jazz (n = 5) mostraram
melhor desempenho que músicos sem formação (n = 12).
32
Figura 1. Médias da pontuação obtida na tarefa de identificação auditiva de progressões harmónicas pelo grupo dos participantes que estudou Jazz e o grupo dos participantes que não estudou Jazz.
No que diz respeito ao estudo de outros estilos musicais (Sim vs. Não, Figura 2),
o teste revelou um efeito principal não significativo na reprodução harmónica (p = .315,
n2p = .067). No entanto, observou-se uma interação entre o estudo de estilos musicais
alternativos e peça (F (1,15) = 5.132, p = .039, n2p = .255). Os testes t subsequentes
indicaram que o estudo de outros estilos prejudicou significativamente o desempenho na
peça 1 (t (15) = -1.757, p = .009) mas não teve qualquer efeito na peça 2 (p = .711).
Figura 2. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas pelo grupo dos participantes que estudou estilos musicais alternativos à música clássica e ao Jazz e o grupo dos participantes que não
estudou outros estilos musicais.
33
2.3.5.[2.3.7.] Estilos musicais no repertório.
[2.3.8.]
Relativamente aos estilos musicais presentes no repertório dos participantes, a
ANOVA revelou que a presença da música clássica no repertório dos participantes
(Figura 3) não teve um efeito significativo na pontuação obtida na tarefa de reprodução
de progressões harmónicas nas duas peças (p = .964, n2p = .005). A interação entre
repertório clássico e peça foi marginalmente significativa (F (2,14) = .562, p = .089,
n2p = .292, Figura 3). Contudo, os testes t subsequentes não mostraram diferenças entre
grupos para nenhuma das peças (Peça 1: p = .538; Peça 2: p = .714).
Figura 3. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas pelo grupo dos participantes que tem o hábito de tocar música clássica e o grupo dos participantes que não apresenta esse hábito.
Quanto à presença do Jazz no repertório dos participantes (Figura 4), esta
variável apresentou um efeito principal marginalmente significativo na reprodução de
progressões harmónicas (F (1,14) = 3.179, p = .096, n2p = .185, Figura 4). A interação
entre o hábito de tocar Jazz e a peça não foi significativa (p = .697).
34
Figura 4. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas pelo grupo dos participantes que tem o hábito de tocar Jazz e o grupo dos participantes que não apresenta esse hábito.
Finalmente, o efeito de tocar estilos musicais alternativos à música clássica e ao Jazz
foi nulo foi nulo (p = .933, n2p = .001), bem como a , bem como a interação com a peça
com a peça (F (1,14) = .007, p = .933, n2p = .001).
2.3.6.[2.3.9.] Práticas de reprodução auditiva de progressões harmónicas
[2.3.10.]
A ANOVA mista revelou um efeito não significativo do hábito de reprodução
harmónica dentro das aulas na acuidade da reprodução durante a prova (p = .803, n2p =
.065). A interação entre hábito de reprodução harmónica dentro das aulas e peça não foi
significativa (p = .628).
A ANOVA mista para hábito de reprodução harmónica fora do âmbito das
aulas revelou um efeito significativo na pontuação obtida na tarefa de reprodução (F
(1,14) = 4.804, p = .046, n2p = .255), indicando vantagem nos participantes que tinham
esse hábito, indicando vantagem nos participantes que tinham esse hábito. A interação
com o fator peça não foi significativa (p = .954).
35
Figura 5. Médias da pontuação obtida na tarefa de reprodução auditiva de progressões harmónicas pelo grupo dos participantes que reproduz auditivamente progressões harmónicas fora do âmbito das aulas e pelo grupo que não
reproduz.
Foi ainda realizada uma correlação entre a frequência com que os participantes
reproduzem auditivamente progressões harmónicas e a pontuação obtida na tarefa de
reprodução. Para ambas as peças, observou-se uma correlação forte e positiva entre a
frequência de reprodução harmónica espontânea e a pontuação obtida na tarefa de
reprodução harmónica. (Peça 1: r = .658, p < .001; peça 2: r = .642, p = .001).
O teste z de Fisher não revelou diferenças significativas entre as duas correlações (z
= .109, p = .457).
3. Discussão e Conclusões
A reprodução auditiva de progressões harmónicas (“tirar de ouvido”) é uma
competência da máxima relevância para um músico, necessária para o real
entendimento da música, facilitadora da leitura e aprendizagem de uma peça, importante
na interpretação e memorização da execução de uma peça, e indispensável no processo
criativo. Contudo, o Ensino Artístico Especializado em Música em Portugal não integra
esta competência nos currículos oficiais, contendo apenas outras competências auditivas
tais como a identificação de intervalos, identificação de acordes e, raras vezes,
identificação de cadências (resolução de um acorde para o seguinte) no ensino
complementar. Simultaneamente, a investigação nesta área é ainda escassa, sendo
necessário um maior entendimento dos processos envolvidos nesta competência,
nomeadamente, se outras competências auditivas contribuem para o desenvolvimento da
reprodução e identificação auditiva de progressões harmónicas.36
De forma a contribuir para o desenvolvimento científico nesta área e, em
consequentementeência, fundamentar possíveis propostas de mudança curricular,
realizámos dois estudos relativos aos processos utilizados pelos músicos na reprodução
e identificação auditiva de progressões harmónicas. Um primeiro estudo, de caráter
exploratório e qualitativo, teve como objetivo analisar as perceções de músicos quanto
aos fatores cruciais para a aquisição desta competência. Num segundo estudo, baseado
nos resultados obtidos no estudo exploratório, pretendemos responder a duas questões
de investigação. No âmbito da primeira questão (1), analisámos o impacto das
competências de identificação auditiva de intervalos melódicos, de acordes e de
compasso – competências típicas dos programas oficiais de música - no
desenvolvimento da reprodução auditiva de progressões harmónicas. À luz da segunda
questão de investigação (2), procurámos perceber o impacto do conhecimento teórico da
harmonia na aquisição da competência de reprodução auditiva de progressões
harmónicas. Além destas duas questões de investigação, foram exploradas questões que
incluíram variáveis não associadas aos programas oficiais de ensino da música,
nomeadamente, o impacto das estratégias de identificação auditiva e de memorização,
do estudo e presença no repertório da música clássica, do Jazz e de outros estilos
musicais, e do hábito de reprodução auditiva de progressões harmónicas dentro e fora
do âmbito das aulas no desempenho de tarefas de reprodução auditiva de progressões
harmónicas.
No que diz respeito à primeira questão de investigação, verificou-se uma
correlação entre a audição melódica e a reprodução harmónica auditiva, sugerindo que
elevados níveis de desempenho em tarefas de identificação auditiva de intervalos
melódicos facilitam a reprodução auditiva de progressões harmónicas. Esta associação
tornou-se mais frágil quando o grau de dificuldade do excerto a ser reproduzido
aumentou (correlação marginal, embora equivalente à da primeira peça segundo o teste
z de Fisher). Embora a literatura não forneça muita informação acerca da relação da
audição melódica com a reproduçãoidentificação auditiva de progressões, esta pode ser
explicada pelo facto de os acordes serem o resultado de relações intervalares. Se cada
relação intervalar existente no acorde for melhor percebida, a totalidade do acorde será
possivelmente melhor identificada. Além de a audição melódica poder auxiliar na
identificação de um acorde na progressão, ou seja, na dimensão vertical da harmonia, a
audição melódica pode igualmente ter impacto na dimensão horizontal da harmonia ao
facilitar a identificação do movimento das vozes, o qual pode fornecer pistas acerca do
37
acorde seguinte. Por outras palavras, a identificação da direção da linha melódica de
cada voz do acorde (a voz mais aguda, a voz do baixo ou as vozes intermédias), pode
facilitar a identificação do acorde que lhe sucede. Por exemplo, se o músico percebe
que, no momento de uma mudança de acorde, o baixo (a nota mais grave do acorde) se
move uma segunda maior acima em relação à nota anterior, sabe que o acorde seguinte
terá de ser construído sobre essa nota.
No que diz respeito à identificação auditiva de acordes isolados, verificou-se
uma relação forte entre esta competência e a reprodução auditiva de progressões
harmónicas, sendo que, mais uma vez, o tamanho do efeito diminui quando o nível de
dificuldade da peça aumentou, embora a correlação se tenha mantido significativa e a
comparação de correlações não tenha encontrado diferenças significativas entre as duas
peças. Estes resultados são esperados, uma vez que, a identificação auditiva do tipo do
acorde e da sua inversão são tarefas inevitáveis na reprodução auditiva de progressões
harmónicas. Contudo, é de salientar que, embora esta competência possa facilitar a
reprodução auditiva de progressões harmónicas, a capacidade de identificar de forma
auditiva acordes isolados, por si só não garante o sucesso na reprodução harmónica
auditiva. Esta ideia pode ser explicada pelo próprio conceito de tonalidade, uma vez que
a perceção auditiva do acorde é diferente se este se encontrar isolado ou
inseridotroduzido numa progressão harmónica tonal. Por outras palavras, de acordo com
Schoenberg (1948), citado em Dudeque (2005), um acorde isolado é inteiramente
indefinido no seu sentido harmónico, podendo ser a tónica de uma tonalidade ou um
grau de várias outras. Desta forma, além de ser necessária a identificação do tipo e
inversão de cada acorde da progressão, é necessária a identificação da sua função tonal,
permitindo que acordes da mesma natureza sejam percecionados auditivamente de
forma distinta quando introduzidos num contexto, dado que se relacionam de forma
diferente com a tónica. Por exemplo, considerando a tonalidade de Dó Maior, os
acordes de Dó Maior (I) e Fá Maior (IV) construídos a partir da fundamental são ambos
acordes maiores na mesma inversão. Porém, embora ambos apresentem uma sonoridade
maior, estes não são percecionados de modo idêntico no contexto de Dó Maior, dado
ocuparem uma posição diferente na hierarquia tonal. Em suma, cada acorde da
progressão, não só apresenta a sonoridade fornecida pela sua estrutura, como apresenta
também uma sonoridade característica que é fornecida pelo seu contexto tonal. É esta
sonoridade que, de acordo com Schoenberg, (1948), citado em Dudeque (2005),
expressa a noção de função tonal.
38
No que diz respeito às competências de identificação de compasso, estas não
mostraram uma relação significativa com o sucesso na reprodução auditiva de
progressões harmónicas. Embora a ideia de ritmo harmónico (frequência de mudança de
acorde) faça parte da identidade de uma progressão harmónica, e, nesse sentido,
pudéssemos esperar alguma influência do processamento métrico, é possível que, na
fase avançada de desenvolvimento em que os participantes se encontravam, esta
influência fosse já irrelevante. Por outro lado, a dissociação observada entre audição
melódico-harmónica e audição métrica está em linha com o conceito multidimensional
de aptidão musical. Gordon (1991, citado em Frederick, 2008) entende aptidão musical
como o potencial para o desenvolvimento de competências musicais e distingue dois
estágios de aptidão: a aptidão musical evolutiva, que surge após o nascimento e
corresponde à fase de maior potencial de aprendizagem musical, e a aptidão musical
estabilizada, que surge numa fase posterior à primeira infância e cujo o nível não sofre
mais modificações ao longo da vida. Neste contexto, Gordon, afirma que existem
diversas aptidões musicais inseridas no âmbito da aptidão musical estabilizada e duas
grandes dimensões no âmbito da aptidão musical evolutiva: a dimensão tonal e a
dimensão rítmica. Defende que é possível ter elevadas competências numa das
dimensões e fracas competências na outra. A dimensão rítmica entendida como uma
aptidão separada da dimensão tonal, perspetiva que considera a discrepância no grau de
competência entre as duas dimensões já encontrada em várias crianças, suporta a
máxima de que a aptidão rítmica é independente da aptidão tonal, mostrando-se
consonante com a ausência de relação entre a identificação auditiva do compasso e a
reprodução auditiva de progressões harmónicas encontrada no presente estudo.
No que diz respeito à segunda questão de investigação, os resultados não
revelaram associações significativas entre o conhecimento teórico da harmonia e a
capacidade de reprodução auditiva de progressões harmónicas. Ao estudar o efeito do
treino musical na discriminação auditiva de acordes Kussi (2013) concluiu que o treino
formal per se não demonstra uma considerável influência ao nível desta competência,
mas as formações em música mais focadas no estudo da teoria da harmonia favorecem
consideravelmente o desempenho em tarefas harmónicas. Embora o estudo de Kussi
(2013) não aborde especificamente tarefas de reprodução auditiva de progressões
harmónicas, os resultados relativos a competências semelhantes mostram-se
contraditórios com a inexistência de relação entre o nível de conhecimento teórico da
harmonia e o desempenho na tarefa harmónica observada. No entanto, os resultados de
39
Kussi podem não exprimir necessariamente a influência do treino orientado para a teoria
da harmonia: É possível que uma prévia aptidão para a área da harmonia possa ter
influenciado a escolha vocacional dos participantes. Melhor dizendo, a escolha por parte
destes músicos em orientarem-se para cursos de composição e áreas que envolvem
análise harmónica não foi certamente devido ao acaso, sendo antes uma escolha
possivelmente derivada da motivação e facilidade neste domínio. Desta forma, é
possível que as elevadas competências nesta área não sejam significativamente
influenciadas pelo tipo de formação que estes participantes obtiveram, mas por uma
eventual aptidão prévia que influenciou estes participantes a orientarem-se para esta
vertente. Se assim é, é compreensível a ausência de relação encontrada no presente
estudo. No entanto, a resposta a esta questão ainda não é clara, sendo pertinente um
maior esclarecimento deste tópico no futuro.
Relativamente às questões exploratórias abordadas neste estudo, procurámos, em
primeiro lugar, perceber as estratégias utilizadas pelos participantes para reproduzir
auditivamente as progressões de cada excerto e analisar o efeito de cada estratégia no
desempenho desta tarefa. Verificou-se que os participantes que identificaram a melodia
e os acordes em simultâneo obtiveram um melhor desempenho nos dois excertos.
Embora possamos admitir que estamos perante uma estratégia eficaz, também
poderemos admitir uma interpretação diferente destes resultados. Se, por um lado, a
reprodução da melodia pode dar pistas sobre o seu contexto harmónico (estratégia
eficaz), por outro lado a dualidade de tarefas na reprodução auditiva pode dificultar a
realização de cada uma delas. Por outras palavras, dado que existe uma divisão da
atenção, o esforço direcionado para a tentativa de reprodução da melodia pode reduzir a
disponibilidade mental necessária para a tentativa de reprodução dos acordes. Nesta
perspetiva, aqueles que reproduziriam os acordes e a melodia em simultâneo seriam os
que, à partida, já identificam o acorde de forma mais imediata e, desta forma, estariam
mais disponíveis para integrar a melodia na reprodução. Mais ainda, se de facto a
simultânea identificação da melodia tem impacto na identificação dos acordes, então
faria sentido o surgimento de diferenças significativas entre os participantes que
entoaram a melodia e os que não o fizeram, o que não é o caso. Consonante com esta
visão – a capacidade harmónica determina a execução simultânea ou não da melodia
(determina a estratégia) - verificou-se que os participantes que tentaram identificar a
melodia antes de reproduzirem os acordes obtiveram um desempenho
significativamente inferior no segundo excerto. Assim, é provável que aqueles que
40
tentaram identificar previamente a melodia sejam também aqueles que mostraram mais
dificuldade em identificar os acordes de modo mais imediato especialmente no segundo
excerto, tendo por isso recorrido a esta estratégia, a qual não acrescentou nenhum
benefício. Poder-se-á concluir que a reprodução simultânea dos acordes e da melodia
pressupõe nos participantes um grau de competência superior, enquanto que a
reprodução prévia da melodia pressupõe um grau de competência inferior, explicando a
maior dificuldade na realização desta tarefa. Os resultados revelam-se mais coerentes
admitindo como verdadeira esta hipótese.
Relativamente às estratégias utilizadas para melhor memorizar o excerto, os
participantes que tentaram sempre reproduzir a totalidade do excerto obtiveram um
desempenho significativamente superior ao desempenho dos participantes que optaram
por reproduzir a harmonia por etapas. Uma explicação baseada na ideia de que a
fragmentação da peça prejudica a memorização do excerto não parece muito forte,
sendo mais plausível que os participantes que não fragmentaram a peça sejam aqueles
que não sentiram tal necessidade, certamente por identificarem a progressão de modo
mais imediato. Relativamente à identificação de cifras, esta mostrou ser uma estratégia
de memorização benéfica para o desempenho, dado que os participantes que recorreram
ao uso de cifras obtiveram um melhor desempenho. Tal resultado pode ser explicado
pelo facto de os participantes, ao escreverem cifras, não terem que realizar o esforço de
evocarem constantemente os acordes que já identificaram anteriormente noutros
momentos e de antecipar as devidas resoluções.
A correlação entre o tempo de aprendizagem formal da música e o nível de
desempenho na tarefa de reprodução auditiva de sequências harmónicas foi marginal
(embora forte), e restrita à peça de maior dificuldade. Os resultados da investigação
nesta área são mistos. Uma fraca relação entre o treino musical e outras competências
harmónicas tem sido encontrada em mais estudos. Corrigall e Trainor (2009) realizaram
um estudo que teve como principal objetivo perceber o efeito do treino musical na
perceção harmónica, concluindo que o treino auditivo favorece a perceção harmónica,
mas de uma forma pouco expressiva. Butler e Brown (1984) também analisaram a
influência do treino musical na identificação de centros tonais, ao compararem músicos
com não músicos e concluíram que esta capacidade é mais influenciada pela aptidão de
determinados participantes do que pela aprendizagem formal da música. Johansson
(2004) também não verificou nenhum efeito do treino musical na reprodução auditiva
de progressões harmónicas, sendo que a influência do treino musical era apenas
41
evidente no tipo de linguagem harmónica utilizada (conceitos tais como o ciclo de
quintas; os nomes dos diferentes graus da escala, etc.). No seu estudo sobre
reconhecimento de temas conhecidos através de progressões harmónicas, Jimenez e
Kussi (20177) constataram que os participantes que aprenderam música obtiveram um
desempenho significativamente mais elevado. Contudo, num outro estudo que
investigou o mesmo tópico usando standards de jazz – composições musicais de
referência neste estilo e que já contaram com diversas interpretações - os autores
verificaram que o treino musical não possuiu uma especial influência no nível do
desempenho deste tipo de tarefas, estando mais relacionado com outros fatores,
nomeadamente com o facto dos participantes já terem tocado e serem capazes de
escrever de memória as cifras das peças alvo de memória (Jimenez & Kussi, 20178).
Considerando os diferentes resultados da investigação, a influência do treino musical no
processamento harmónico não parece ser inquestionável. O treino musical parece
beneficiar, ainda que com moderadamentederação, competências harmónicas de nível
mais básico. Contudo, pode não ser suficiente para melhorar de forma significativa
competências harmónicas mais complexas como a reprodução auditiva de progressões
harmónicas, tarefa avaliada no presente estudo.
Se, por um lado, a aprendizagem formal da música e o conhecimento teórico da
harmonia apresentam associações nulas ou marginais com a reprodução auditiva de
progressões harmónicas, por outro lado, a prática regular deste tipo de tarefa
influenciou fortemente o desempenho. Quando falamos na prática desta atividade,
referimo-nos a uma prática independente do programa das aulas do Ensino Artístico
Especializado em Música e outros formatos de ensino, ou seja, a uma prática espontânea
dos participantes. Johansson (2004), ao estudar as estratégias utilizadas pelos músicos
que têm o hábito de “tocar de ouvido”, concluiu que o elevado nível nesta competência
é explicado pela experiência, uma vez que estes músicos reconhecem fórmulas
harmónicas por as terem ouvido e identificado diversas vezes. O autor salienta que esta
familiaridade com diversas progressões advém da exposição a determinados estilos
musicais. Deste modo, um músico que “toca de ouvido” irá ter um melhor desempenho
em géneros musicais que este conhece, ouve e toca mais vezes. Quando confrontado
com géneros musicais com os quais se encontra menos familiarizado, a identificação
harmónica será menos imediata. Johansson acrescenta ainda que as competências de
reprodução e identificação harmónica auditiva parecem ser aprendidas ao serem tocados
de ouvido diferentes géneros musicais dentro e fora das instituições de ensino musical.
42
Considerando estes resultados com os resultados obtidos no presente estudo, pode-se
concluir que, mais do que conhecer o que a teoria musical nos diz, é necessária uma
escuta musical ativa acompanhada da prática sistemática de reprodução auditiva de
progressões harmónicas, sistematização esta que só é possível fora do âmbito das aulas
de música. Contudo, é necessário considerar que, o que influenciou o desempenho dos
participantes neste estudo não foi uma prática exigida ou estimulada, mas antes uma
prática espontânea dos participantes, o que envolve inevitavelmente um fator
motivacional na sua base e possivelmente uma pré-disposição para este tipo de tarefas.
É possível que esta motivação esteja associada às competências que avaliámos aqui e
que mostraram forte relação com a reprodução harmónica: Mais Udificilmente um
aluno com dificuldades nestas competências harmónicas dificilmente vai escolher como
sua atividade habitual de lazer, praticar a reprodução auditiva de progressões
harmónicas.
Quanto ao efeito da aprendizagem de diferentes estilos, observou-se que o
estudo de outros estilos musicais prejudicou significativamente o desempenho na
primeira peça. Observou-se também um benefício marginal do estudo do Jazz no
desempenho obtido na segunda peça. Relativamente ao efeito dos estilos presentes no
repertório dos participantes, a presença do Jazz foi marginalmente benéfica para o
desempenho nas duas peças, enquanto que a música clássica e outros estilos não tiveram
qualquer efeito. Considerando por um lado, a influência marginal do treino musical,
bem como da inexistência de efeito do conhecimento teórico da harmonia e por outro
lado, a inexistência de efeito da prática de reprodução harmónica no âmbito das aulas no
desempenho da reprodução auditiva de progressões harmónicas, o benefício encontrado
no estudo e prática do Jazz revela-se surpreendente. Não sendo evidentes neste estudo
os eventuais outros fatores que produziram este resultado, pode ser interessante numa
futura investigação perceber se existem e quais são. Surpreendente é também o efeito
negativo do estudo de outros estilos musicais no desempenho da reprodução auditiva de
progressões harmónicas, facto que poderá igualmente ser tema de nova investigação.
Em suma, entre os aspetos praticados nos programas oficiais do Ensino Artístico
Especializado, apenas a audição melódica e a identificação auditiva de acordes isolados
parecem estar relacionadas com o desempenho na reprodução auditiva de progressões
harmónicas, apesar de esta relação ser débil, uma vez que tende a diminuir à medida que
o grau de dificuldade da tarefa aumenta. A ausência de relação entre o conhecimento
teórico e o desempenho demonstra que o conhecimento em si é inútil a menos que seja
43
ativamente acionado pelo músico. Posto isto, conclui-se que o conhecimento e as
experiências proporcionadas pelo Ensino Artístico Especializado em Música não são
suficientes para o desenvolvimento desta competência, sendo necessárias adaptações
curriculares a este nível.
Na análise de fatores externos ao programa, foram encontradas possíveis fontes
de desenvolvimento da audição harmónica que poderiam ser introduzidas no ensino,
nomeadamente a prática de reprodução auditiva de progressões harmónicas. Esta
atividade pode ser introduzida nas aulas de instrumento, no âmbito das aulas de
Formação Musical ou/e Análise e Técnicas de Composição. Contudo, para que a prática
desta competência sejar eficaz, poderá ser benéfico envolver o trabalho em casa por
parte dos alunos. Nas aulas os professores poderiam assim incluir tarefas de reprodução
auditiva guiada com temas escolhidos pelo próprio professor que estejam adaptados ao
nível do aluno e complementá-las através da marcação de trabalhos de casa. Poderá
também ser benéfico que os professores incentivem os alunos a tentar reproduzir
auditivamente outros temas com os quais se identifiquem, ensinando-os sempre a
avaliar o grau de dificuldade dos temas e consciencializando-os para os temas que
correspondem ao seu nível ótimo de desafio. Contudo, esta reprodução harmónica
auditiva orientada requer a transmissão de algumas estratégias e, desta forma, seria
necessário um maior entendimento das estratégias que se mostram eficazes nesta tarefa.
Além disso, poderá ser importante garantir que os professores se encontram aptos para
orientar e avaliar os alunos nesta dimensão, uma vez que podem não a ter desenvolvido
durante o processo de aprendizagem, visto que o ensino atual não a garante.
É de ter em consideração que este estudo apresenta algumas limitações. A
amostra é reduzida, pois contém apenas 17 participantes. Análises de sensibilidade
feitas no software G*power (Faul et al., 2007) revelaram que o tamanho da nossa
amostra (N = 17) apenas conseguia captar como significativas correlações fortes,
superiores a .56. Desta forma, serão necessários estudos semelhantes com uma amostra
maior e mais representativa da comunidade dos músicos e estudantes de música, quer
em termos de percursos formativos, quer em termos de idades dos participantes. É
igualmente relevante referir que este estudo não manipulou o desempenho melódico e o
desempenho harmónico - apenas o mediu, não sendo assim possível garantir que a
audição melódica e a identificação auditiva de progressões harmónicas sejam os fatores
responsáveis pela reprodução auditiva de progressões harmónicas e não o oposto.
44
Concluindo, apesar de já existirem alguns estudos que investigam competências
harmónicas, há ainda muito pouca investigação no domínio específico da identificação e
reprodução auditiva de progressões. Deste modo, seria necessário investir em estudos
experimentais que manipulem o desempenho melódico e de reconhecimento de acordes
isolados, bem como estudos que esclareçam os mecanismos através dos quais a audição
melódica e de acordes isolados subjaz a uma audição harmónica. Por exemplo, seria
interessante perceber se a audição melódica favorece o desempenho harmónico devido
aos participantes recorrerem à melodia para identificar os acordes. Para tal, poderia ser
realizada uma tarefa de reprodução harmónica que incluísse progressões com melodia e
progressões sem melodia. Seria igualmente necessária uma maior compreensão acerca
das estratégias eficazes para o sucesso na reprodução harmónica auditiva de modo a
poder transmiti-las no âmbito da reprodução harmónica auditiva guiada pelo professor.
Neste sentido, seria pertinente perceber se a reprodução dos acordes e melodia em
simultâneo é uma estratégia que favorece a reprodução harmónica auditiva ou se é antes
uma consequência da maior preparação para a realização desta tarefa. Para tal, poderiam
ser apresentadas progressões com interdição de tocar a melodia e outras progressões em
que a execução da melodia fosse exigida ou estimulada.
Por fim, uma vez que a investigação demonstra resultados contraditórios com os
deste estudo, seria pertinente considerar novamente a relação do treino musical e do
conhecimento teórico da harmonia na capacidade de reprodução auditiva de progressões
harmónicas.
45
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48
49
Anexos
Anexo A
Estudo I - Informação ao participante e Consentimento Informado
Informação para o participante
Gabriela Silveira, investigadora da nossa equipa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, está a realizar um estudo com o objetivo de investigar os processos mentais usados pelos músicos para ouvir a harmonia.
Vimos, por isso, convidá-lo(a) a participar neste estudo. Vamos propor-lhe que dê o seu testemunho enquanto músico, respondendo a nove questões que fazem parte de uma curta entrevista. A duração da entrevista é variável, dependendo do entrevistado, não havendo duração mínima.
Para efeitos de análise, solicitaremos a sua permissão para efetuar a gravação áudio da entrevista.
Os dados pessoais que nos facultar serão confidenciais e os resultados obtidos neste estudo serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho.
A sua participação é voluntária e pode ser interrompida a qualquer momento, caso assim o entenda.
Estamos disponíveis para esclarecer qualquer dúvida que possa surgir.
Declaração de Consentimento Informado Eu, __________________________________________________, abaixo-assinado, compreendi a explicação escrita e oral que me foi fornecida acerca da investigação que se tenciona realizar, e para qual é pedida a minha participação. Pude fazer as perguntas que julguei necessárias, e para todas obtive resposta satisfatória.
Foi-me dada informação sobre os objetivos, os métodos, os benefícios previstos, os riscos potenciais e eventuais momentos de desconforto inerentes à minha participação. Além disso, foi-me dito que tenho o direito de aceitar ou recusar livremente e a qualquer momento a minha participação no estudo. Sei que, se recusar, não haverá qualquer prejuízo na assistência que me é prestada.
Foi-me dado todo o tempo de que necessitei para refletir sobre esta proposta de participação.
Nestas circunstâncias, decido livremente aceitar participar neste projeto de investigação, tal como me foi apresentado pela investigadora.
___ de ____________ de 20____
_______________________________________Assinatura do(a) Participante
Para qualquer esclarecimento, contacte Susana Silva, E: [email protected]
Anexo B
Questões elaboradas para a entrevista (Estudo I)
44
Guião da Entrevista
1. Que idade tem?
2. Há quanto tempo estuda música?
3. Quais os estilos de música que costuma ouvir? E quais os estilos de música que costuma tocar?
4. Costuma tocar de ouvido em instrumentos harmónicos (e.g. piano)?
5. Costuma reconhecer os acordes de uma música enquanto a ouve apenas, isto é, sem a tocar?
6. Quando e como se apercebeu que podia ser capaz de tocar música de ouvido?
7. Este aprendizado foi estimulado por outro músico ou foi uma descoberta e percurso individuais?
8. O conhecimento da teoria musical foi indispensável, apenas contributo, ou desnecessário para adquirir esta competência?
9. Que estratégias usa atualmente para reproduzir uma música de ouvido ou (se for o caso), para identificá-la apenas de ouvido?
10. Acha que há diferenças nas estratégias que usa para identificar acordes ou sequências de acordes conhecidas (e.g. V-I), comparativamente a acordes ou sequências de acordes não conhecidas?
11. Considera que existiu evolução no nível de performance desde o momento em que começou a praticar esta competência e o momento atual? Em que aspetos sentiu esta evolução?
45
Anexo CEstudo II - Informação para o participante divulgada na Escola Superior de
Educação (ESE)
Informação para o participante
Gabriela Silveira, investigadora da nossa equipa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, está a realizar um estudo com o objetivo de investigar os processos mentais usados pelos músicos na identificação de sequências harmónicas.
Vimos, por isso, convidá-lo(a) a participar neste estudo. Vamos propor-lhe que participe numa experiência que, devido às circunstâncias atuais de pandemia de COVID-19, não poderá ser realizada na Escola Superior de Educação (ESE) como previsto inicialmente, tendo sido adaptada para poder ser realizada à distância. Esta experiência consistirá numa única sessão individual on-line dividida em dois momentos. No primeiro momento, serão enviados vários ficheiros áudio em formato mp3 necessários para a aplicação de uma prova auditiva constituída por três tarefas: A primeira, consistirá na identificação auditiva de cinco intervalos melódicos, a segunda, consistirá na identificação auditiva de cinco acordes (inversões e qualidade dos mesmos) e a terceira, consistirá na identificação do compasso de dois excertos apresentados pela investigadora. O total das três tarefas terá uma duração máxima de 15 minutos. O segundo momento do estudo consistirá numa tarefa de reprodução auditiva, com recurso ao teclado, de duas sequências de acordes, cuja duração não irá exceder os 30 minutos.
Para efeitos de posterior análise dos dados do participante, todo o conteúdo reproduzido no teclado deverá ser gravado em formato MIDI, pelo que só poderão realizar o estudo os participantes que apresentarem as condições necessárias. Para tal, devem possuir um piano ou teclado com a possibilidade de gravação em formato MIDI ou software externo que permita fazê-lo. É importante referir que nenhuma das tarefas mencionadas acima tem o objetivo de avaliar musicalmente o participante, nem é esperado que o participante as cumpra sem erro: pelo contrário, esperamos que exista alguma dificuldade e algum erro, pois só nestas condições conseguiremos interpretar os dados.
Os dados pessoais que nos facultar serão confidenciais e os resultados obtidos neste estudo serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho.
A sua participação é voluntária e pode ser interrompida a qualquer momento, caso assim o entenda.
Estamos disponíveis para esclarecer qualquer dúvida que possa surgir.
46
Anexo DEstudo II - Informação para o participante divulgada no Curso de Música Silva
Monteiro (CMSM)
Informação para o participante
Gabriela Silveira, investigadora da nossa equipa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, está a realizar um estudo com o objetivo de investigar os processos mentais usados pelos músicos na identificação de sequências harmónicas.
Vimos, por isso, convidá-lo(a) a participar neste estudo. Vamos propor-lhe que participe numa experiência que, devido às circunstâncias atuais de pandemia de COVID-19, não poderá ser realizada no Curso de Música Silva Monteiro (CMSM) como previsto inicialmente, tendo sido adaptada para poder ser realizada à distância. Esta experiência consistirá numa única sessão individual on-line dividida em dois momentos. No primeiro momento, serão enviados vários ficheiros áudio em formato mp3 necessários para a aplicação de uma prova auditiva constituída por três tarefas: A primeira, consistirá na identificação auditiva de cinco intervalos melódicos, a segunda, consistirá na identificação auditiva de cinco acordes (inversões e qualidade dos mesmos) e a terceira, consistirá na identificação do compasso de dois excertos apresentados pela investigadora. O total das três tarefas terá uma duração máxima de 15 minutos. O segundo momento do estudo consistirá numa tarefa de reprodução auditiva, com recurso ao teclado, de duas sequências de acordes, cuja duração não irá exceder os 30 minutos.
Para efeitos de posterior análise dos dados do participante, todo o conteúdo reproduzido no teclado deverá ser gravado em formato MIDI, pelo que só poderão realizar o estudo os participantes que apresentarem as condições necessárias. Para tal, devem possuir um piano ou teclado com a possibilidade de gravação em formato MIDI ou software externo que permita fazê-lo. É importante referir que nenhuma das tarefas mencionadas acima tem o objetivo de avaliar musicalmente o participante, nem é esperado que o participante as cumpra sem erro: pelo contrário, esperamos que exista alguma dificuldade e algum erro, pois só nestas condições conseguiremos interpretar os dados.
Os dados pessoais que nos facultar serão confidenciais e os resultados obtidos neste estudo serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho.
A sua participação é voluntária e pode ser interrompida a qualquer momento, caso assim o entenda.
Estamos disponíveis para esclarecer qualquer dúvida que possa surgir.
Anexo E
47
Estudo II - Informação para o participante divulgada através das Redes Sociais
Informação para o participante
Gabriela Silveira, investigadora da nossa equipa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, está a realizar um estudo com o objetivo de investigar os processos mentais usados pelos músicos na identificação de sequências harmónicas.
Vimos, por isso, convidá-lo(a) a participar neste estudo. Vamos propor-lhe que participe numa experiência que, devido às circunstâncias atuais de pandemia de COVID-19, não poderá ser realizada presencialmente como previsto inicialmente, tendo sido adaptada para poder ser realizada à distância. Esta experiência consistirá numa única sessão individual on-line dividida em dois momentos. No primeiro momento, serão enviados vários ficheiros áudio em formato mp3 necessários para a aplicação de uma prova auditiva constituída por três tarefas: A primeira, consistirá na identificação auditiva de cinco intervalos melódicos, a segunda, consistirá na identificação auditiva de cinco acordes (inversões e qualidade dos mesmos) e a terceira, consistirá na identificação do compasso de dois excertos apresentados pela investigadora. O total das três tarefas terá uma duração máxima de 15 minutos. O segundo momento do estudo consistirá numa tarefa de reprodução auditiva, com recurso ao teclado, de duas sequências de acordes, cuja duração não irá exceder os 30 minutos.
Para efeitos de posterior análise dos dados do participante, todo o conteúdo reproduzido no teclado deverá ser gravado em formato MIDI, pelo que só poderão realizar o estudo os participantes que apresentarem as condições necessárias. Para tal, devem possuir um piano ou teclado com a possibilidade de gravação em formato MIDI ou software externo que permita fazê-lo. É importante referir que nenhuma das tarefas mencionadas acima tem o objetivo de avaliar musicalmente o participante, nem é esperado que o participante as cumpra sem erro: pelo contrário, esperamos que exista alguma dificuldade e algum erro, pois só nestas condições conseguiremos interpretar os dados.
Os dados pessoais que nos facultar serão confidenciais e os resultados obtidos neste estudo serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho.
A sua participação é voluntária e pode ser interrompida a qualquer momento, caso assim o entenda.
Estamos disponíveis para esclarecer qualquer dúvida que possa surgir.
48
Anexo F
Estudo II - Declaração de Consentimento Informado
Declaração de Consentimento Informado Eu, __________________________________________________, abaixo-assinado, compreendi a explicação escrita e oral que me foi fornecida acerca da investigação que se tenciona realizar, e para qual é pedida a minha participação. Pude fazer as perguntas que julguei necessárias, e para todas obtive resposta satisfatória.
Foi-me dada informação sobre os objetivos, os métodos, os benefícios previstos, os riscos potenciais e eventuais momentos de desconforto inerentes à minha participação. Além disso, foi-me dito que tenho o direito de aceitar ou recusar livremente e a qualquer momento a minha participação no estudo. Sei que, se recusar, não haverá qualquer prejuízo na assistência que me é prestada.
Foi-me dado todo o tempo de que necessitei para refletir sobre esta proposta de participação.
Nestas circunstâncias, decido livremente aceitar participar neste projeto de investigação, tal como me foi apresentado pela investigadora.
___ de ____________ de 20____
_______________________________________Assinatura do(a) Participante
Para qualquer esclarecimento, contacte Susana Silva, E: [email protected]
Anexo G
49
Intervalos melódicos e acordes utilizados para as tarefas de identificação auditiva de intervalos melódicos e de acordes
Intervalos
Acordes
50
Intervalo 1 Intervalo 2 Intervalo 3
Intervalo 4 Intervalo 5
Acorde 1 Acorde 2 Acorde 3
Acorde 4 Acorde 5
Anexo H
Partitura da peça musical composta para o 1º item da tarefa de identificação
auditiva do compasso
51
Anexo I
Partitura da peça musical composta para o 2º item da tarefa de identificação
auditiva do compasso
52
Anexo J
Partitura da peça musical composta para o 1º item da tarefa de reprodução
auditiva de sequências harmónicas
53
Anexo K
Partitura da peça musical composta para o 1º item da tarefa de reprodução
auditiva de sequências harmónicas
54
Anexo L
Questionário sobre práticas musicais e histórico de ensino
ESTUDO SOBRE AUDIÇÃO HARMÓNICAQUESTIONÁRIO
Nome: ________________________________________ Data: _____________
Por favor, responda às seguintes questões:
1. Por quanto tempo estudou Piano? ____________________
2. Por quanto tempo estudou Música? ___________________
3. Estudou música numa instituição de ensino clássico (oficial ou não oficial)?Sim ___ Não ___
4. A sua aprendizagem de Música incluiu alguma vertente Jazz?Sim ___ Não ___
5. Frequentou alguma instituição de ensino de Música fora do estilo clássico e Jazz? (E.g. Rockinschool/Escola de Fado; entre outras).Sim ___ Não ___
6. Tem o hábito de tocar música clássica?Sim ___ Não ___
7. Tem o hábito de tocar Jazz?Sim ___ Não ___
8. Tem o hábito de tocar outros estilos de música diferentes da Música Clássica e do Jazz?Sim ___ Não ___
55
9. Ao longo do seu percurso alguma vez estudou harmonia? (Análise harmónica, estudo dos princípios da harmonia; estudo das regras e organização da sucessão de acordes; abordagem aos diferentes estilos de composição; etc).Sim ___ Não ___
10. Se respondeu “Sim” à questão 9: Durante quanto tempo estudou harmonia? _________________
11. No âmbito do programa das aulas, já alguma vez “tirou de ouvido” a harmonia de determinado tema/peça?Sim ___ Não ___
12. Fora das aulas, já alguma vez “tirou de ouvido” a harmonia de determinado tema/peça?Sim ___ Não ___
Se a sua resposta foi “Sim” nas questões 11 e/ou 12, por favor, responda à seguinte questão:
13. Com que regularidade toca/tocou música “tirada de ouvido” no seu período mais ativo desta atividade?
Menos de 1 vez por ano: ___Pelo menos 1 vez por ano: ___Pelo menos 1 vez por mês: ___1 vez por semana: ___Mais do que 1 vez por semana: ___Todos os dias: ___
56