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Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados Aplicado a um Gerador Síncrono de Magnetos Permanentes e Baixas Velocidades com Topologia Eletromagnética Desconhecida Filipe dos Reis Borges Ferreira Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Orientador: Professor Paulo José da Costa Branco Co-orientador: Engenheiro Bruno Painho Júri Presidente: Professor Rui Manuel Gameiro de Castro Orientador: Professor Paulo José da Costa Branco Vogal: Professor Manuel Ventura Guerreiro das Neves Outubro de 2015

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Page 1: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados Aplicado a um Gerador

Síncrono de Magnetos Permanentes e Baixas Velocidades com Topologia Eletromagnética

Desconhecida

Filipe dos Reis Borges Ferreira

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Orientador: Professor Paulo José da Costa Branco

Co-orientador: Engenheiro Bruno Painho

Júri Presidente: Professor Rui Manuel Gameiro de Castro

Orientador: Professor Paulo José da Costa Branco Vogal: Professor Manuel Ventura Guerreiro das Neves

Outubro de 2015

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer a várias pessoas de partes diferentes da minha vida que me apoiaram,

de um modo ou de outro, na realização deste trabalho, embora a ordem pela qual o faço não deva

refletir a importância de cada um desses apoios, sendo todos eles de igual valor.

Agradeço à minha família, nomeadamente os meus pais, João e Helga, pelo apoio

incondicional, económico e emocional e pela fé de que seria capaz de superar este desafio, ainda que

de mais tempo precisasse.

Agradeço aos meus amigos, aqueles que me permiti ver no decorrer do trabalho, por me

ajudarem a sair de casa para descansar a cabeça e ganhar um pouco de perspetiva.

Agradeço à minha namorada, Luciana, pela paciência com que lidou comigo nestes meses a

certa altura stressantes, nos quais o meu humor poderá não ter sido o melhor.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Paulo Branco, pelo apoio fornecido na navegação entre

hipóteses a testar e caminhos a perseguir, bem como ao apoio imprescindível no mesmo sentido do

colega João Fernandes e dos restantes colegas dos diferentes “clusters”, nas palavras do Professor.

Por fim, agradeço ainda aos meus colegas de trabalho ao longo de todo o curso, especialmente

aos mais chegados que sabem quem são, pois a troca de ideias com eles foi fundamental na minha

evolução enquanto estudante e pessoa, de forma a chegar ao patamar onde estou hoje, esperando ter

contribuído para o mesmo efeito nas suas vidas.

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Resumo

Nos anos recentes tem-se observado um crescimento significativo do estudo da aplicação de

magnetos permanentes (MPs) em geradores síncronos destinados ao aproveitamento de energia

eólica, por razões relacionadas nomeadamente com a redução de custos de construção e de

manutenção. No âmbito da parceria existente entre a RESUL Equipamentos de Energia S.A. e o

Instituto Superior Técnico, foi desenvolvida uma topologia inovadora de máquinas elétricas para um

gerador de magnetos permanentes de alta potência e baixa velocidade para turbinas eólicas, tendo um

elevando número de polos de forma a aumentar a força eletromotriz para a operação a baixas

velocidades. Depois da construção de um primeiro protótipo à escala 1:10, foram executados alguns

testes preliminares para comparação com o modelo teórico. Neste contexto, esta tese procura

desenvolver um modelo em circuito elétrico equivalente do gerador numa aproximação em “caixa-

negra”, isto é, estudando o gerador sem conhecimento da sua inovadora topologia interior, somente

recorrendo a ensaios laboratoriais e aos resultados dos mesmos.

Esta dissertação parametriza e executa um conjunto de ensaios laboratoriais que caracterizam

força eletromotriz, corrente nominal, as impedâncias dos parâmetros concentrados, forças

eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito

aberto, de curto-circuito, em carga e com imposição de corrente externa com rotor bloqueado

providenciaram resultados que permitiram o cálculo das características funcionais do gerador para uma

gama predefinida de frequências do rotor, bem como os parâmetros do circuito elétrico equivalente.

Palavras-chave: Circuitos Lineicos, Energia Eólica, Máquinas Elétricas, Gerador Síncrono.

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Abstract

In recent years, a significant growth has been observed in the study of the application of

permanent magnets (PMs) in synchronous generators meant for harvesting wind energy, mainly due to

reasons such as cost reduction in construction and maintenance. Within the existing partnership

between RESUL Equipamentos de Energia S.A. and the Instituto Superior Técnico, a novel electric

machine topology for a high power and low-speed PM generator for wind turbines was designed having

a high number of poles to increase the electromotive force for low speed operations. After its

construction on a first 1:10 prototype, some preliminary tests were performed for comparison with the

theoretical model. Within this context, this thesis looks to develop an equivalent electric circuit model of

the generator in a “black-box” approach, studying the generator without knowledge of its internal novel

topology, only resorting to laboratorial tests and achieved results.

This dissertation parametrizes and executes a set of laboratorial tests that characterized the

electromotive force, the rated current, the impedances for the lumped-system, electromechanical forces,

harmonics and power losses in the generator. Tests as open-circuit, short-circuit, load and external

current injection with blocked rotor provided results that allowed for the calculation of its functional

characteristics for a pre-defined range of rotor frequencies as well as the value of the electric circuit

parameters.

Keywords: Electrical machines, Lineic Circuits, Synchronous Generator, Wind Energy

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Conteúdo

Agradecimentos ............................................................................................................................i

Resumo....................................................................................................................................... iii

Abstract ....................................................................................................................................... iv

Conteúdo .....................................................................................................................................v

Lista de Figuras ......................................................................................................................... vii

Lista de Tabelas .......................................................................................................................... ix

Lista de Acrónimos ......................................................................................................................x

Lista de Símbolos ....................................................................................................................... xi

Capítulo 1 ................................................................................................................................... 1

Introdução ............................................................................................................................ 1

Protocolo RESUL/IST ...................................................................................................... 2

Enquadramento ............................................................................................................... 2

Capítulo 2 ................................................................................................................................... 3

Caracterização por parâmetros concentrados de Máquinas Síncronas ............................. 3

Modelo base .................................................................................................................... 3

Modelo adotado ............................................................................................................... 4

Capítulo 3 ................................................................................................................................... 7

Bancada experimental e considerações prévias em relação aos ensaios programados ... 7

Bancada experimental ..................................................................................................... 7

Considerações prévias em relação aos ensaios programados ...................................... 9

3.2.1 Ensaio para a determinação das resistências elétricas de cada fase .................... 9

3.2.2 Ensaios em circuito aberto e curto-circuito ........................................................... 10

3.2.3 Ensaios em carga ................................................................................................... 11

3.2.4 Ensaios térmicos ................................................................................................... 12

3.2.5 Ensaios com rotor bloqueado ................................................................................ 12

Considerações relativas ao gerador síncrono de magnetos permanentes em análise 13

3.3.1 Resistências internas ............................................................................................ 13

3.3.2 Ensaios em circuito aberto .................................................................................... 13

3.3.3 Ensaios em curto-circuito ...................................................................................... 15

3.3.4 Ensaios em carga .................................................................................................. 16

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3.3.5 Ensaios com rotor bloqueado ................................................................................ 19

Capítulo 4 ................................................................................................................................. 23

Ensaios laboratoriais realizados ao gerador síncrono de magnetos permanentes .......... 23

Obtenção das resistências elétricas por fase ................................................................ 23

Circuito aberto ............................................................................................................... 23

Curto-circuito ................................................................................................................. 25

Carga resistiva ............................................................................................................... 26

Carga indutiva ................................................................................................................ 28

Rotor bloqueado ............................................................................................................ 30

Ensaios térmicos ........................................................................................................... 34

Capítulo 5 ................................................................................................................................. 35

Elaboração do modelo em parâmetros concentrados do gerador síncrono de magnetos

permanentes (GSMP) ............................................................................................................................ 35

Modelo adotado ............................................................................................................. 35

5.1.1 Cálculo do fluxo ligado entre cada fase e os magnetos permanentes ................. 35

5.1.2 Cálculo da matriz dos coeficientes de indução ..................................................... 36

Circuito elétrico equivalente .......................................................................................... 37

Análise harmónica ......................................................................................................... 39

Modelo em componentes simétricas aplicadas ao sistema trifásico desequilibrado

anterior 42

Conclusão ................................................................................................................................. 48

Trabalho futuro .......................................................................................................................... 50

Referências bibliográficas......................................................................................................... 51

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Lista de Figuras

Figura 1 – Bancada experimental elaborada para os ensaios do gerador no Laboratório de Máquinas

Elétricas do DEEC/IST ...................................................................................................................... 7

Figura 2 – Chapa característica da máquina assíncrona de rotor bobinado .......................................... 9

Figura 3 – Montagem para medição das resistências internas dos enrolamentos do gerador .............. 9

Figura 4 – Esquema da montagem realizada para os ensaios em circuito aberto ............................... 10

Figura 5 – Esquema da montagem realizada para os ensaios em curto-circuito .................................. 11

Figura 6 – Esquema da montagem elaborada para os ensaios em carga (resistiva e indutiva) do gerador

......................................................................................................................................................... 11

Figura 7 – Esquema da montagem elaborada para os ensaios térmicos do gerador .......................... 12

Figura 8 – Esquema da montagem realizada para os ensaios ao gerador com rotor bloqueado para

determinação dos elementos da matriz de coeficientes de indução .............................................. 13

Figura 9 – Formas de onda das forças eletromotrizes nas três fases para uma velocidade do gerador

(a) muito baixa, igual a (2,3rpm) e (b) mais elevada, igual a (55rpm) ............................................ 24

Figura 10 – Características de circuito aberto por fase do gerador ...................................................... 24

Figura 11 – Características de curto-circuito por fase do gerador ........................................................ 26

Figura 12 – Característica Tensão-Frequência por fase para uma carga resistiva trifásica de 5 Ohm 27

Figura 13 – Característica Corrente-Frequência por fase para uma carga resistiva trifásica de 5 Ohm

........................................................................................................................................................ 27

Figura 14 – Características Tensão-Frequência na carga para vários valores de carga resistiva ....... 28

Figura 15 – Características Corrente-Frequência na carga para vários valores de carga resistiva ..... 28

Figura 16 – Características Tensão-Frequência numa carga indutiva trifásica de 266mH................... 29

Figura 17 – Características Corrente-Frequência numa carga indutiva trifásica de 266mH ................ 29

Figura 18 – Características Tensão-Frequência na carga para vários valores de carga indutiva ........ 30

Figura 19 – Características Corrente-Frequência na carga para vários valores de carga indutiva ...... 30

Figura 20 – Forças eletromotrizes induzidas nas fases face à posição do rotor com corrente imposta na

fase A .............................................................................................................................................. 31

Figura 21 – Forças eletromotrizes induzidas nas fases face à posição do rotor com corrente imposta na

fase B .............................................................................................................................................. 32

Figura 22 – Forças eletromotrizes induzidas nas fases face à posição do rotor com corrente imposta na

fase C .............................................................................................................................................. 32

Figura 23 – FEMs induzidas face à intensidade da corrente imposta na fase A .................................. 33

Figura 24 – FEMs induzidas face à intensidade da corrente imposta na fase B .................................. 33

Figura 25 – FEMs induzidas face à intensidade da corrente imposta na fase C .................................. 33

Figura 26 – Evolução da temperatura do enrolamento da fase B para as correntes contínuas de 2,5A e

5A impostas ..................................................................................................................................... 34

Figura 27 – Circuito elétrico equivalente para a fase A assumido para o gerador síncrono de magnetos

permanentes ................................................................................................................................... 38

Figura 28 – Esquema do circuito elétrico tido por equivalente para as três fases do gerador síncrono de

magnetos permanentes trifásico alternado sinusoidal .................................................................... 39

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Figura 29 – Evolução transiente (a) e conteúdo harmónico (b) das tensões em circuito aberto para

frequência elétrica f1=0.61Hz .......................................................................................................... 40

Figura 30 – Evolução transiente (a) e conteúdo harmónico (b) das correntes em curto-circuito para

frequência elétrica f1=0.98Hz .......................................................................................................... 40

Figura 31 – Conteúdo harmónico das tensões em circuito aberto para várias frequências ................. 41

Figura 32 – Conteúdo harmónico das correntes em curto-circuito para várias frequências ................ 41

Figura 33 – Formas de onda das tensões em circuito aberto para f1=0.61Hz e o aparecimento do efeito

da perturbação mecânica nas mesmas .......................................................................................... 42

Figura 34 – Formas de onda das correntes em curto-circuito para f1=0.98Hz e o aparecimento do efeito

da perturbação mecânica nas mesmas .......................................................................................... 42

Figura 35 – Diagramas de fasores para sistemas de tensão trifásicos direto (esquerda), inverso (centro)

e homopolar (direita) ....................................................................................................................... 43

Figura 36 – Evoluções aproximadas dos módulos das impedâncias simétricas com a frequência elétrica

........................................................................................................................................................ 46

Figura 37 – Esquemas dos circuitos elétricos independentes equivalentes para as componentes

simétricas do gerador síncrono de magnetos permanentes .......................................................... 47

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Lista de Tabelas

Tabela 1- Valores medidos das resistências elétricas dos enrolamentos de cada fase do gerador ..... 23

Tabela 2 – Equações e coeficientes de determinação relativos a cada regressão linear para as tensões

em circuito aberto das fases do gerador ........................................................................................ 25

Tabela 3 – Equações e respetivos coeficientes de determinação das regressões lineares efetuadas aos

dados para as correntes em curto-circuito das fases do gerador .................................................. 26

Tabela 4 – Valores eficazes do fluxo ligado entre uma fase e os magnetos permanentes .................. 36

Tabela 5 – Valores dos coeficientes de indução própria e mútua obtidos para as fases A, B e C ....... 37

Tabela 6 – Equações e coeficientes de determinação relativos a cada regressão para os módulos das

impedâncias simétricas ................................................................................................................... 46

Tabela 7 – Valores das componentes resistivas e indutivas das impedâncias simétricas.................... 47

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Lista de Acrónimos

Acrónimo Descrição

GSMP Gerador Síncrono de Magnetos Permanentes

MP Magnetos Permanentes

MA Máquina Assíncrona

LME Laboratório de Máquinas Elétricas do DEEC/IST

FEM Força Eletromotriz

RMS “root-mean-square” ou valor eficaz

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Lista de Símbolos

Sím-bolo

Descrição Uni-dade

𝑑

𝑑𝑡 Derivada em ordem ao tempo -

[𝑒] Vetor das forças eletromotrizes induzidas nas fases do estator 𝑉 𝑒𝐴 Força eletromotriz induzida na fase A do estator 𝑉

𝐴 Fasor da força eletromotriz induzida na fase A (excluindo reação do induzido na fase A) do estator

𝑉

𝑒𝐵 Força eletromotriz induzida na fase B do estator 𝑉 𝑒𝐶 Força eletromotriz induzida na fase C do estator 𝑉

𝑓𝑟 Frequência linear de rotação do rotor 𝐻𝑧 𝑓𝑒𝑙 Frequência linear das grandezas elétricas 𝐻𝑧 [𝑖] Vetor das correntes do estator (ou do estator e do circuito de excitação) 𝐴 [𝐼] Vetor de fasores das correntes do estator 𝐴

𝑖𝐴 Corrente na fase A do estator 𝐴

𝐼 Fasor da corrente na fase A do estator 𝐴 [𝐼𝐵𝐶] Vetor dos fasores das correntes nas fases do estator 𝐴 [𝐼𝐵𝐶]𝐶𝐶 Vetor dos fasores das correntes de curto-circuito nas fases do estator 𝐴

𝑖𝐵 Corrente na fase B do estator 𝐴

𝐼 Vetor da corrente na fase B do estator 𝐴

𝑖𝐶 Corrente na fase C do estator 𝐴

𝐼 Vetor da corrente na fase C do estator 𝐴

𝐼𝐶𝐶𝐴𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da corrente de curto-circuito na fase A do estator 𝐴

𝐼 Fasor da componente direta das correntes nas fases do estator 𝐴

𝐼𝐶𝐶 Fasor da componente direta das correntes de curto-circuito nas fases do estator 𝐴

𝑖𝑓 Corrente no circuito de excitação 𝐴

𝐼ℎ Fasor da componente homopolar das correntes nas fases do estator 𝐴

𝐼ℎ𝐶𝐶 Fasor da componente homopolar das correntes de curto-circuito nas fases do estator

𝐴

[𝐼ℎ𝑑𝑖] Vetor dos fasores das componentes direta, inversa e homopolar das correntes das fases do estator

𝐴

[𝐼ℎ𝑑𝑖]𝐶𝐶 Vetor dos fasores das componentes direta, inversa e homopolar das correntes de curto-circuito nas fases do estator

𝐴

𝐼 Fasor da componente inversa das correntes nas fases do estator 𝐴

𝐼𝑚𝑝 Fasor da corrente imposta numa fase 𝐴 𝐼𝑖𝑚𝑝𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da corrente imposta numa fase 𝐴

𝐼𝐶𝐶 Fasor da componente inversa das correntes de curto-circuito nas fases do es-tator

𝐴

𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da corrente na carga aplicada a uma fase do estator 𝐴

𝑗 Unidade imaginária - [𝐿] Matriz dos coeficientes de indução 𝐻

𝐿𝐴 Coeficiente de indução própria da fase A do estator 𝐻

𝐿𝐵 Coeficiente de indução própria da fase B do estator 𝐻

𝐿𝐶 Coeficiente de indução própria da fase C do estator 𝐻 𝐿𝑑 Componente indutiva da impedância direta 𝐻

𝐿𝑑𝑟 Coeficiente de indução própria do circuito de amortecimento alinhado com o eixo direto

𝐻

𝐿𝑓 Coeficiente de indução própria do circuito de excitação 𝐻

𝐿ℎ Componente indutiva da impedância homopolar 𝐻

𝐿𝑖 Componente indutiva da impedância inversa 𝐻

𝐿𝐿 Componente indutiva da carga aplicada a uma fase do estator do GSMP 𝐻

𝐿𝑞𝑟 Coeficiente de indução própria do circuito de amortecimento alinhado com o eixo de quadratura

𝐻

𝑀𝐴𝐵 Coeficiente de indução mútua entre as fases A e B do estator 𝐻

𝑀𝐴𝐶 Coeficiente de indução mútua entre as fases A e C do estator 𝐻 𝑀𝐴𝑓 Coeficiente de indução mútua entre a fase A do estator e o circuito de excitação 𝐻

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𝑀𝐴𝑑𝑟 Coeficiente de indução mútua entre a fase A do estator e o circuito de amorte-cimento alinhado com o eixo direto

𝐻

𝑀𝐴𝑞𝑟 Coeficiente de indução mútua entre a fase A do estator e o circuito de amorte-cimento alinhado com o eixo de quadratura

𝐻

𝑀𝐵𝐶 Coeficiente de indução mútua entre as fases B e C do estator 𝐻

𝑀𝐵𝑓 Coeficiente de indução mútua entre a fase B do estator e o circuito de excitação 𝐻

𝑀𝐵𝑑𝑟

Coeficiente de indução mútua entre a fase B do estator e o circuito de amorte-cimento alinhado com o eixo direto

𝐻

𝑀𝐵𝑞𝑟 Coeficiente de indução mútua entre a fase B do estator e o circuito de amorte-cimento alinhado com o eixo de quadratura

𝐻

𝑀𝐶𝑓 Coeficiente de indução mútua entre a fase C do estator e o circuito de excitação 𝐻

𝑀𝐶𝑑𝑟 Coeficiente de indução mútua entre a fase C do estator e o circuito de amorte-cimento alinhado com o eixo direto

𝐻

𝑀𝐶𝑞𝑟 Coeficiente de indução mútua entre a fase C do estator e o circuito de amorte-cimento alinhado com o eixo de quadratura

𝐻

𝑀𝑑𝑟𝑞𝑟 Coeficiente de indução mútua entre os circuitos de amortecimento alinhados com o eixo direto e com o eixo de quadratura

𝐻

𝑀𝑓𝑑𝑟 Coeficiente de indução mútua entre o circuito de excitação e o circuito de amor-tecimento alinhado com o eixo direto

𝐻

𝑀𝑓𝑞𝑟 Coeficiente de indução mútua entre o circuito de excitação e o circuito de amor-tecimento alinhado o eixo de quadratura

𝐻

𝑁𝑟𝑝 Velocidade de rotação do rotor do GSMP à escala 1:10 𝑟𝑝𝑚

𝑁𝑟𝑟 Velocidade de rotação do rotor do GSMP à escala real 𝑟𝑝𝑚 𝑃𝑝 Número de pares de polos do GSMP - [𝑅] Matriz diagonal de resistências elétricas dos enrolamentos do estator Ω

𝑅𝐴 Resistência elétrica do enrolamento da fase A do estator Ω 𝑅𝐵 Resistência elétrica do enrolamento da fase B do estator Ω

𝑅𝐶 Resistência elétrica do enrolamento da fase C do estator Ω

𝑅𝑑 Componente resistiva da impedância direta Ω

𝑅𝑓 Resistência elétrica do enrolamento do circuito de excitação Ω

𝑅ℎ Componente resistiva da impedância homopolar Ω

𝑅𝑖 Componente resistiva da impedância inversa Ω 𝑅𝐿 Componente resistiva da carga aplicada a uma fase do estator do GSMP Ω

𝑟𝑟𝑝 Raio do rotor do GSMP à escala 1:10 𝑚

𝑟𝑟𝑟 Raio do rotor do GSMP à escala real 𝑚 [] Matriz da Transformação de Fortescue - [𝑢] Vetor de tensões do estator (ou do estator e do circuito de excitação) 𝑉 [𝑈] Vetor dos fasores das tensões do estator 𝑉

𝑢𝐴 Tensão na fase A do estator 𝑉

𝑈𝐴 Fasor da tensão na fase A do estator 𝑉

𝐴𝐵 Fasor da tensão composta entre as fases A e B do estator 𝑉

[𝑈𝐴𝐵𝐶] Vetor dos fasores das tensões nas fases do estator 𝑉

𝐴𝐶 Fasor da tensão composta entre as fases A e C do estator 𝑉

[𝑈𝐴𝐵𝐶]𝐶𝐴 Vetor dos fasores das tensões de circuito aberto nas fases do estator 𝑉

𝑈𝐴𝑑 Fasor da contribuição da tensão na fase A do estator para a tensão direta 𝑉

𝑈𝐴ℎ Fasor da contribuição da tensão na fase A do estator para a tensão homopolar 𝑉

𝑈𝐴𝑖 Fasor da contribuição da tensão na fase A do estator para a tensão inversa 𝑉

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da tensão na fase A do estator 𝑉

𝑢𝐵 Tensão na fase B do estator 𝑉

𝑈𝐵 Fasor da tensão na fase B do estator 𝑉

𝐵𝐶 Fasor da tensão composta entre as fases B e C do estator 𝑉

𝐵𝑑 Fasor da contribuição da tensão na fase B do estator para a tensão direta 𝑉

𝑈𝐵ℎ Fasor da contribuição da tensão na fase B do estator para a tensão homopolar 𝑉

𝑈𝐵𝑖 Fasor da contribuição da tensão na fase B do estator para a tensão inversa 𝑉

𝑈𝐵𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da tensão na fase B do estator 𝑉

𝑢𝐶 Tensão na fase C do estator 𝑉

𝑈𝐶 Fasor da tensão na fase C do estator 𝑉

𝑈𝐶𝑑 Fasor da contribuição da tensão na fase C do estator para a tensão direta 𝑉

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𝑈𝐶ℎ Fasor da contribuição da tensão na fase C do estator para a tensão homopolar 𝑉

𝑈𝐶𝑖 Fasor da contribuição da tensão na fase C do estator para a tensão inversa 𝑉

𝑈𝐶𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da tensão na fase C do estator 𝑉

𝑈𝑑 Fasor da componente direta das tensões nas fases do estator 𝑉

𝑈𝑑𝐶𝐴 Fasor da componente direta das tensões de circuito aberto nas fases do estator 𝑉

𝑈ℎ Fasor da componente homopolar das tensões nas fases do estator 𝑉

𝑈ℎ𝐶𝐴 Fasor da componente homopolar das tensões de circuito aberto nas fases do estator

𝑉

[𝑈ℎ𝑑𝑖] Vetor dos fasores das componentes direta, inversa e homopolar das tensões das fases do estator

𝑉

[𝑈ℎ𝑑𝑖]𝐶𝐴 Vetor dos fasores das componentes direta, inversa e homopolar das tensões de circuito aberto nas fases do estator

𝑉

𝑈𝑖 Fasor da componente inversa das tensões nas fases do estator 𝑉

𝑈𝑖𝐶𝐴 Fasor da componente inversa das tensões de circuito aberto nas fases do esta-tor

𝑉

𝑢𝑓 Tensão no circuito de excitação 𝑉

𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz da tensão na carga aplicada a uma fase do estator 𝑉

𝐴 Fasor da impedância do enrolamento da fase A do estator Ω

𝑍𝐴 Módulo da impedância do enrolamento da fase A do estator Ω [𝐴𝐵𝐶] Vetor dos fasores das impedâncias dos enrolamentos das fases do estator Ω

𝑑 Fasor da impedância direta Ω

|𝑑| Módulo da impedância direta Ω

ℎ Fasor da impedância homopolar Ω

|ℎ| Módulo da impedância homopolar Ω [ℎ𝑑𝑖] Vetor dos fasores das impedâncias direta, inversa e homopolar Ω

𝑖 Fasor da impedância inversa Ω

|𝑖| Módulo da impedância inversa Ω

𝐿 Fasor da impedância da carga aplicada a uma fase do estator do GSMP Ω

𝑍𝐿 Módulo da impedância da carga aplicada a uma fase do estator do GSMP Ω

𝑇 Fasor da impedância total do circuito de uma fase em carga Ω

𝑍𝑇 Módulo da impedância total do circuito de uma fase em carga Ω

𝛼 Fasor representativo de desfasagem de 120º - 𝛿 Profundidade de penetração do efeito pelicular 𝑚

𝛿𝑒𝑙 Ângulo das grandezas elétricas do GSMP º

𝛿𝑚𝑒𝑐𝐺 Ângulo mecânico do veio do gerador º

𝛿𝑚𝑒𝑐𝑀𝐴 Ângulo mecânico do veio da MA º

𝜃 Posição angular do rotor 𝑟𝑎𝑑

𝜇0 Permeabilidade magnética dos condutores de cobre do GSMP 𝐻𝑚−1

𝑣𝑟𝑝 Velocidade linear nominal do protótipo do GSMP à escala 1:10 𝑚𝑠−1 𝑣𝑟𝑟 Velocidade linear nominal do protótipo do GSMP à escala real 𝑚𝑠−1 𝜎 Condutividade elétrica dos condutores de cobre do GSMP 𝑆𝑚−1

𝜏𝑡 Constante térmica do GSMP 𝑚𝑖𝑛

[𝛹] Vetor dos fluxos ligados com as fases do estator (ou com as fases do estator e com o circuito de excitação)

𝑊𝑏

Ψ𝐴 Fluxo ligado com a fase A do estator 𝑊𝑏

Ψ𝐵 Fluxo ligado com a fase B do estator 𝑊𝑏

Ψ𝐶 Fluxo ligado com a fase C do estator 𝑊𝑏 Ψ𝑓 Fluxo ligado com o circuito de excitação 𝑊𝑏

[𝛹𝑀𝑃] Vetor dos fluxos ligados entre as fases do estator e os MPs 𝑊𝑏 [Ψ𝑀𝑃] Vetor de fluxos ligados entre as fases do estator e os MPs 𝑊𝑏

𝛹𝑀𝑃𝐴 Fluxo ligado entre a fase A do estator e os MPs 𝑊𝑏

Ψ𝑀𝑃𝐴 Fasor do fluxo ligado entre a fase A do estator e os MPs 𝑊𝑏

Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz do fluxo ligado entre a fase A do estator e os MPs 𝑊𝑏

𝛹𝑀𝑃𝐵 Fluxo ligado entre a fase B do estator e os MPs 𝑊𝑏

Ψ𝑀𝑃𝐵 Fasor do fluxo ligado entre a fase B do estator e os MPs 𝑊𝑏

Ψ𝑀𝑃𝐵𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz do fluxo ligado entre a fase B do estator e os MPs 𝑊𝑏

𝛹𝑀𝑃𝐶 Fluxo ligado entre a fase C do estator e os MPs 𝑊𝑏

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xiv

Ψ𝑀𝑃𝐶 Fasor do fluxo ligado entre a fase C do estator e os MPs 𝑊𝑏

Ψ𝑀𝑃𝐶𝑟𝑚𝑠 Valor eficaz do fluxo ligado entre a fase C do estator e os MPs 𝑊𝑏

𝜔 Frequência angular das grandezas elétricas 𝑅𝑎𝑑𝑠−1 𝜔𝑖𝑚𝑝 Frequência angular elétrica da corrente imposta numa fase 𝑅𝑎𝑑𝑠−1 𝜔𝑟 Frequência angular mecânica da rotação do rotor do GSMP 𝑅𝑎𝑑𝑠−1

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Capítulo 1

Introdução

Na última década, foi observável um crescimento regular na exploração de energia eólica para

produção de energia elétrica ao nível off-shore. Este crescimento incitou a investigação e concretização

de novas topologias para geradores síncronos, que permitissem aos mesmos operar em condições de

baixas velocidades e binários elevados. Adicionalmente, o cenário off-shore incitou a procura de

topologias que permitem uma redução nos custos de construção e, principalmente, de manutenção dos

geradores, bem como na complexidade do sistema de geração de energia elétrica.

A empresa RESUL Equipamentos de Energia, S.A. elaborou um projeto de um gerador

síncrono de magnetos permanentes com uma topologia inovadora, a partir do qual foi construído um

protótipo a uma escala 1:10. Através de um protocolo assinado pela empresa RESUL e pelo Instituto

Superior Técnico (IST), este protótipo foi relocalizado para o Laboratório de Máquinas Elétricas do

Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do IST, a fim de se proceder à sua

análise termoelétrica no âmbito da presente dissertação de mestrado.

Objetivos

O trabalho desenvolvido nesta dissertação consiste numa abordagem ao Gerador Síncrono de

Magnetos Permanentes (GSMP) que trata o mesmo como uma “caixa-negra”, isto é, sem que seja

facultada qualquer informação a nível construtivo ou de funcionamento interno do GSMP. Sendo esta

a abordagem escolhida, a análise termoelétrica do GSMP foi realizada apenas com recurso a ensaios

laboratoriais eletromecânicos tipicamente definidos para geradores síncronos, nomeadamente ensaios

em circuito-aberto, em curto-circuito, em carga e com imposição de correntes de fontes externas com

rotor bloqueado, além de ensaios térmicos. Contudo, estes ensaios são tipicamente definidos para

geradores síncronos com um circuito de excitação, normalmente alimentado por uma corrente DC,

sendo assim necessário redefini-los para um GSMP como aquele em estudo. Como tal, é inserido no

âmbito desta dissertação a definição, parametrização e execução dos ensaios já referidos bem como

a interpretação dos seus resultados, a fim de extrair um modelo em grandezas elétricas capaz de

descrever o seu funcionamento adequadamente.

Estrutura

A estrutura desta dissertação é repartida em 4 capítulos, excluindo o presente, Conclusão e

Trabalho futuro. No Capítulo 2, é estudado um modelo base em coordenadas de fase, que é

posteriormente adaptado ao GSMP em estudo, constituindo o modelo adotado. No capítulo 3, é

introduzido o material utilizado em laboratório e definidos e parametrizados, os ensaios a realizar ao

GSMP. São também tecidas considerações prévias quanto aos resultados expectáveis para esses

ensaios, com base no modelo adotado. No Capítulo 4, são apresentados e interpretados os resultados

dos ensaios realizados, sendo no Capítulo 5 esses resultados utilizados para o cálculo dos parâmetros

do modelo base, a fim de o completar. É também realizada uma análise harmónica dos resultados dos

ensaios em circuito aberto e curto-circuito e é criado um modelo aproximado em componentes

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simétricas.

Protocolo RESUL/IST

Esta dissertação foi desenvolvida sob o protocolo a decorrer desde 2014 entre a empresa

RESUL Equipamentos de Energia S.A. (http://www.resul.pt/) e o Instituto Superior Técnico. Incluída

nesta parceria está a caracterização em termos de circuito elétrico equivalente de uma nova topologia

de geradores síncronos de magnetos permanentes de alta potência e baixa velocidade para turbinas

eólicas.

Enquadramento

A topologia do GSMP da RESUL em estudo tem vindo a ser desenvolvida e otimizada ao longo

dos três últimos anos, desde a criação do seu conceito até, atualmente, à realização de um protótipo à

escala 1:10.

Após a construção do protótipo à escala 1:10, executaram-se alguns ensaios preliminares para

comparação com os modelos teóricos e um estudo de comparação com uma tecnologia concorrente

baseada apenas nos modelos analíticos.

Agora, para uma caracterização detalhada da dinâmica elétrica do gerador, um conjunto

completo de ensaios laboratoriais são necessários de forma a obter o seu modelo em circuito elétrico.

Em relativa dualidade com esta dissertação, foi desenvolvida, também através do mesmo

protocolo celebrado entre a empresa RESUL e o IST, uma dissertação intitulada “Estudo e

caracterização dos fenómenos térmicos limitativos em geradores elétricos de baixa velocidade para

aproveitamento das energias renováveis”. É objetivo desta dissertação a formulação de um modelo

térmico em parâmetros concentrados para GSMPs de baixa velocidade, categoria na qual se insere o

gerador em estudo na presente dissertação, para o qual se pretende formular um modelo elétrico de

parâmetros concentrados.

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Capítulo 2

Caracterização por parâmetros concentrados de Máquinas

Síncronas

Modelo base

O modelo de parâmetros concentrados é a escolha habitual para a caracterização de máquinas

síncronas. Na literatura, é também mencionado como “Phase Coordinate Model”. Este tipo de modelo

modelo “baseia-se em equações de fase usando os circuitos do estator e do rotor” [1] da máquina

síncrona. Considera-se, a título de exemplo, um estator de três fases: A, B e C e um rotor de polos

salientes com circuito de excitação único. Considera-se ainda a existência de circuitos de

amortecimento no rotor. Deste modo, a matriz de coeficientes de indução [𝐿] que caracteriza a máquina

síncrona pode escrever-se de acordo com a expressão (2.1), equivalente à expressão encontrada em

[1].

[𝐿] =

[ 𝐿𝐴 𝑀𝐴𝐵 𝑀𝐴𝐶 𝑀𝐴𝑓 𝑀𝐴𝑑𝑟 𝑀𝐴𝑞𝑟𝑀𝐴𝐵 𝐿𝐵 𝑀𝐵𝐶 𝑀𝐵𝑓 𝑀𝐵𝑑𝑟 𝑀𝐵𝑞𝑟

𝑀𝐴𝐶 𝑀𝐵𝐶 𝐿𝐶 𝑀𝐶𝑓 𝑀𝐶𝑑𝑟 𝑀𝐶𝑞𝑟

𝑀𝐴𝑓 𝑀𝐵𝑓 𝑀𝐶𝑓 𝐿𝑓 𝑀𝑓𝑑𝑟 𝑀𝑓𝑞𝑟𝑀𝐴𝑑𝑟 𝑀𝐵𝑑𝑟 𝑀𝐶𝑑𝑟 𝑀𝑓𝑑𝑟 𝐿𝑑𝑟 𝑀𝑑𝑟𝑞𝑟

𝑀𝐴𝑞𝑟 𝑀𝐵𝑞𝑟 𝑀𝐶𝑞𝑟 𝑀𝑓𝑞𝑟 𝑀𝑑𝑟𝑞𝑟 𝐿𝑞𝑟 ]

(2.1)

Em (2.1), 𝐿𝐴, 𝐿𝐵 e 𝐿𝐶 representam os coeficientes de indução própria das fases A, B e C do

estator, respetivamente, enquanto 𝐿𝑓, 𝐿𝑑𝑟 e 𝐿𝑞𝑟 os coeficientes de indução própria do circuito de

excitação e dos circuitos de amortecimento alinhados com o eixo direto e de quadratura,

respetivamente. 𝑀𝑋𝑌, com 𝑥, 𝑦 = 𝐴, 𝐵, 𝐶, 𝑓, 𝑑𝑟 , 𝑞𝑟 e 𝑥 ≠ 𝑦, representa o coeficiente de indução mútua

entre o enrolamento 𝑥 e o enrolamento 𝑦, ou vice-versa, em cada caso.

No gerador em estudo pressupõem-se ausentes os circuitos de amortecimento, pelo que na

expressão em (2.1) as linhas e colunas correspondentes a esses circuitos podem ser eliminadas,

conduzindo à expressão presente em (2.2).

[𝐿] =

[ 𝐿𝐴 𝑀𝐴𝐵 𝑀𝐴𝐶 𝑀𝐴𝑓𝑀𝐴𝐵 𝐿𝐵 𝑀𝐵𝐶 𝑀𝐵𝑓

𝑀𝐴𝐶 𝑀𝐵𝐶 𝐿𝐶 𝑀𝐶𝑓

𝑀𝐴𝑓 𝑀𝐵𝑓 𝑀𝐶𝑓 𝐿𝑓 ]

(2.2)

Neste caso, as restantes equações que definem o modelo podem ser escritas de acordo com

as equações (2.3) a (2.7).

[𝑒] = [𝑅][𝑖] + [𝑢] (2.3)

[𝑒] = [𝑒𝐴 𝑒𝐵 𝑒𝐶 0]𝑇 (2.4)

[𝑖] = [𝑖𝐴 𝑖𝐵 𝑖𝐶 𝑖𝑓]𝑇 (2.5)

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[𝑢] = [𝑢𝐴 𝑢𝐵 𝑢𝐶 𝑢𝑓]𝑇 (2.6)

[𝑅] = 𝑑𝑖𝑎𝑔[𝑅𝐴 𝑅𝐵 𝑅𝐶 𝑅𝑓] (2.7)

Em (2.3) o vetor das forças eletromotrizes induzidas nas três fases do estator, expresso em

(2.4), é equivalente, pela Lei de Ohm, à soma do vetor das tensões em todos os enrolamentos,

expresso em (2.6), com outra parcela. Essa parcela consiste da multiplicação de duas quantidades: a

matriz de resistências elétricas de todos os enrolamentos, [𝑅], expressa em (2.7), e o vetor das

correntes que circulam em todos os enrolamentos [𝑖], expresso em (2.5).

O vetor das forças eletromotrizes é por sua vez uma função dos vetor dos fluxos ligados com

todos os enrolamentos, segundo a equação (2.8), sendo esses fluxos expressos em (2.9), pela

multiplicação da matriz de coeficientes de indução [𝐿] pelo vetor de correntes [𝑖].

[𝑒] = −

𝑑

𝑑𝑡[𝛹] (2.8)

[𝛹] = [Ψ𝐴 Ψ𝐵 Ψ𝐶 Ψ𝑓]𝑇= [𝐿][𝑖] (2.9)

Modelo adotado

Considerando agora que o gerador em estudo é um gerador síncrono de magnetos

permanentes (GSMP), o enrolamento de excitação será inexistente, estando em seu lugar os próprios

magnetos permanentes (MPs) encastrados no veio do gerador. Estes serão responsáveis pela geração

do campo magnético que de outra forma seria produzido pelo circuito de excitação.

O estator do gerador é considerado estático, pelo que apenas a rotação do veio do gerador

tornará variável o campo magnético produzido pelos MPs. A esse campo magnético variável com a

posição do rotor, 𝜃, corresponderá também um fluxo ligado com cada fase do estator do gerador,

𝛹𝑀𝑃𝐴, 𝛹𝑀𝑃𝐵 e 𝛹𝑀𝑃𝐶. Estes fluxos também serão funções da posição do rotor.

Esses fluxos podem ser escritos sob a forma de vetor como indicado na expressão (2.10) e

equiparados aos fluxos associados ao enrolamento de excitação no modelo base através da equação

(2.11).

[𝛹𝑀𝑃] = [𝛹𝑀𝑃𝐴 𝛹𝑀𝑃𝐵 𝛹𝑀𝑃𝐶]𝑇 (2.10)

[𝛹𝑀𝑃] =

𝛹𝑀𝑃𝐴𝛹𝑀𝑃𝐵𝛹𝑀𝑃𝐶

𝑀𝐴𝑓𝑖𝑓𝑀𝐵𝑓𝑖𝑓𝑀𝐶𝑓𝑖𝑓

(2.11)

Para que se verifique a identidade expressa em (2.11), 𝑖𝑓 terá que ser uma corrente contínua

constante e impossível de regular, bem como os coeficientes de indução mútua funções da posição do

rotor, 𝜃.

Isoladas as contribuições dos MPs para os fluxos ligados com as fases do estator, a matriz dos

coeficientes de indução pode ser reescrita sem a linha e coluna referente ao circuito de excitação, agora

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inexistente. A nova matriz apresenta-se em (2.12).

[𝐿] = [

𝐿𝐴 𝑀𝐴𝐵 𝑀𝐴𝐶𝑀𝐴𝐵 𝐿𝐵 𝑀𝐵𝐶

𝑀𝐴𝐶 𝑀𝐵𝐶 𝐿𝐶

] (2.12)

Deste modo, os fluxos ligados com cada fase do estator podem obter-se através da soma de

duas componentes, como indicado na expressão (2.13).

[𝛹] = [Ψ𝐴 Ψ𝐵 Ψ𝐶]𝑇 = [𝐿][𝑖] + [𝛹𝑀𝑃] (2.13)

Em (2.13), a primeira componente é dada pela multiplicação da nova matriz de coeficientes de

indução, [𝐿], expressa em (2.12), pelo vetor das correntes nas fases do estator, [𝑖] expresso em (2.14).

A segunda componente é dada pela contribuição dos MPs expressa em (2.10) e (2.11).

[𝑖] = [𝑖𝐴 𝑖𝐵 𝑖𝐶]𝑇 (2.14)

Por fim, as restantes equações que regem o modelo adotado obtém-se por simplificação das

equações (2.3) a (2.8), cujo resultado se apresenta nas equações (2.15) a (2.19).

[𝑒] = [𝑅][𝑖] + [𝑢] (2.15)

[𝑒] = [𝑒𝐴 𝑒𝐵 𝑒𝐶]𝑇 (2.16)

[𝑢] = [𝑢𝐴 𝑢𝐵 𝑢𝐶]𝑇 (2.17)

[𝑅] = 𝑑𝑖𝑎𝑔[𝑅𝐴 𝑅𝐵 𝑅𝐶] (2.18)

[𝑒] = −

𝑑

𝑑𝑡[𝛹] (2.19)

Para o GSMP em estudo, as grandezas elétricas do estator presentes no modelo adotado

assumem-se à partida sinusoidais e estabelecendo um sistema trifásico equilibrado. As perdas de

potência no ferro consideram-se desprezáveis, a saturação magnética do mesmo ferro ausente e a

característica dos MPs linear. Estas premissas serão avaliadas através de ensaios laboratoriais

realizados ao gerador.

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Capítulo 3

Bancada experimental e considerações prévias em relação aos

ensaios programados

Bancada experimental

Com o objetivo caracterizar o comportamento do GSMP e obter os seus parâmetros

concentrados e características, realizam-se ensaios típicos de máquinas elétricas síncronas, dos quais

são exemplos os ensaios em circuito aberto, em curto-circuito ou em carga. Cada ensaio produziu um

conjunto de resultados que, após análise, permitem caracterizar o funcionamento do gerador, sendo

que a combinação dos resultados de vários ensaios pode ainda permitir o estabelecimento de outras

particularidades relativas ao seu funcionamento.

Nos ensaios em que se revelou necessário, o acionamento mecânico do veio do gerador foi

efetuado através da montagem presente no Laboratório de Máquinas Elétricas do DEEC/IST (LME),

visível na Figura 1.

Figura 1 – Bancada experimental elaborada para os ensaios do gerador no Laboratório de

Máquinas Elétricas do DEEC/IST

A bancada experimental consistiu no acoplamento do GSMP (na figura, à esquerda) a uma

máquina assíncrona de rotor bobinado (MA, na figura, à direita) por meio de uma caixa de velocidades

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(na figura, ao centro), com razão 24:1 de rotação do veio. Esta teve por objetivo adaptar a velocidade

de rotação do veio da máquina assíncrona àquela do GSMP, para a obtenção de resultados dentro das

velocidades de rotação previstas para o funcionamento do gerador, isto é, entre 0 e 60 rpm.

Este intervalo é escolhido porque se prevê que o protótipo deste GSMP à escala real funcione

a uma velocidade de rotação nominal de 6 rpm. Deste modo, para que o protótipo em estudo, construído

à escala 1:10, seja também ensaiado em condições nominais, deve garantir-se a igualdade das

velocidades lineares nominais dos GSMPs em ambas as escalas, real e 1:10, segundo a equação (3.1):

𝑣𝑟𝑝 = 𝑣𝑟𝑟 (3.1)

Em (3.1), 𝑣𝑟𝑝 representa a velocidade linear nominal do protótipo à escala 1:10 e 𝑣𝑟𝑟 a

velocidade linear nominal do protótipo à escala real. Estas velocidades podem ser escritas como

funções da respetiva velocidade de rotação do rotor e raio do mesmo, para que a expressão (3.1) seja

equivalente à expressão (3.2), simplificada em (3.3):

2𝜋𝑁𝑟𝑝𝑟𝑟𝑝

60=2𝜋𝑁𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟60

(3.2)

𝑁𝑟𝑝𝑟𝑟𝑝 = 𝑁𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 (3.3)

Em (3.2) e (3.3), 𝑁𝑟𝑝 e 𝑟𝑟𝑝 representam, respetivamente, a velocidade de rotação do rotor e raio

do mesmo para o protótipo à escala 1:10 e 𝑁𝑟𝑟 e 𝑟𝑟𝑟 as mesmas grandezas para o protótipo à escala

real. Conhecida a escala do protótipo em estudo (1:10), da equação (3.3) conclui-se que a velocidade

angular nominal para o protótipo do GSMP em estudo deve ser de 60rpm, como exemplificado na

equação (3.4).

𝑁𝑟𝑝 =

𝑁𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑝

= 6 × 10 = 60𝑟𝑝𝑚 (3.4)

Escolhido o intervalo de velocidades a utilizar, foi variada a velocidade de rotação do GSMP

entre 3 e 60 rpm, por via de um autotransformador ligado à rede para alimentação da MA, intervalo

esse correspondente a frequências de rotação do rotor entre 0.05Hz e 1Hz, aproximadamente. O limite

mínimo de velocidade obtido deve-se facto do binário resistente imposto à MA pelo acoplamento

mecânico dos três aparelhos ser superior ao binário de arranque da MA. Já o limite máximo é obtido

quando são impostas as condições nominais de alimentação elétrica à MA, não sendo portanto

possível, com o material utilizado, obter resultados para outras frequências mais elevadas. Contudo,

estando a velocidade de rotação nominal para este protótipo incluída nesse intervalo, as condições de

ensaio consideram-se satisfatórias. As características da MA utilizada apresentam-se na Figura 2,

através de uma foto da respetiva chapa característica.

Ao longo de todos os ensaios, os enrolamentos das três fases do GSMP mantiveram-se ligados

em estrela (ponto neutro comum às três fases e isolado) e as grandezas observadas aos seus

terminais, tensões ou correntes, consideraram-se sinusoidais e trifásicas, com base no modelo definido

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na secção 2.2. Esta mesma hipótese foi assumida relativamente aos fluxos magnéticos ligados com

cada fase.

Figura 2 – Chapa característica da máquina assíncrona de rotor bobinado

Considerações prévias em relação aos ensaios programados

3.2.1 Ensaio para a determinação das resistências elétricas de cada fase

Para o trabalho desenvolvido e reportado nesta dissertação, o primeiro ensaio realizado

consistiu na medição das resistências elétricas dos enrolamentos de cada fase do GSMP. Estas foram

medidas com um multímetro. Um esquema da montagem realizada para este ensaio apresenta-se na

Figura 3.

GSABC

N

m

Figura 3 – Montagem para medição das resistências internas dos enrolamentos do gerador

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Na Figura 3, “GS” representa o GSMP com neutro “N” e ligado em estrela, “A B C” os terminais

dos enrolamentos de cada fase e “Ω” um multímetro ligado a cada uma das fases, no modo de medição

de resistência. A ligação “m” representa o veio do gerador, neste caso sem acionamento.

3.2.2 Ensaios em circuito aberto e curto-circuito

Seguiram-se os ensaios em circuito aberto e em curto-circuito. Em ambos, o GSMP é acionado

mecanicamente pela MA através da caixa de velocidades, mantendo-se o rotor a uma velocidade de

rotação constante. Nesta condição, procedeu-se à medição das grandezas elétricas presentes nos

enrolamentos das fases do GSMP, tensão ou corrente, sendo o ensaio repetido para diferentes valores

de velocidade.

No caso dos ensaios em circuito aberto, as grandezas elétricas mencionadas são as forças

eletromotrizes (FEMs) induzidas aos terminais em aberto dos enrolamentos, enquanto no caso dos

ensaios em curto-circuito, essas grandezas consistem nas correntes elétricas observáveis através do

curto-circuito trifásico e simétrico de todas as fases do GSMP. Em ambos os casos, os dados obtidos

permitem construir as características de funcionamento em circuito aberto e em curto-circuito do

gerador, para várias velocidades e, no caso dos ensaios em circuito aberto, a determinação dos fluxos

magnéticos ligados com cada fase por influência única dos MPs. Apresentam-se na Figura 4 e na Figura

5 os esquemas das montagens para o ensaio em circuito aberto e em curto-circuito, respetivamente.

Nos esquemas da Figura 4 e da Figura 5, “AUTO-T” representa o autotransformador trifásico

alimentado pela rede, cujo secundário se encontra ligado à MA “M”, a qual se encontra mecanicamente

ligada através do veio “m” à caixa de velocidades “D” e através desta ao gerador síncrono de magnetos

permanentes “GS”. Aos terminais dos enrolamentos do gerador encontram-se sondas de tensão “V” ou

de corrente “A”, consoante os ensaios realizados, as quais realizam a medição das grandezas do

estator e subsequente registo das mesmas através do osciloscópio “OSC”.

No decorrer de todos os ensaios, a MA de rotor bobinado foi mantida com os circuitos do rotor

curto-circuitados e os enrolamentos do estator ligados em estrela.

Figura 4 – Esquema da montagem realizada para os ensaios em circuito aberto

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Figura 5 – Esquema da montagem realizada para os ensaios em curto-circuito

3.2.3 Ensaios em carga

Realizaram-se também ensaios em carga resistiva e indutiva ao gerador, com o objetivo de

construir as características do GSMP para este modo de funcionamento e para diversos valores de

velocidade. Nestes ensaios, aplicaram-se cargas equilibradas de vários valores aos terminais do

GSMP, procedendo-se ao registo das tensões e correntes impostas às cargas aplicadas, obtendo-se

assim as características de tensão e corrente na carga para os diversos valores de velocidade. Para

estes ensaios, a montagem usada foi a indicada no esquema da Figura 6.

Figura 6 – Esquema da montagem elaborada para os ensaios em carga (resistiva e indu-

tiva) do gerador

Na Figura 6, “ZZZ” representa a carga trifásica aplicada aos terminais do GSMP (resistiva ou

indutiva), estando as sondas de tensão e corrente colocadas de forma a medir as grandezas elétricas

entregues a essa mesma carga. A ligação das sondas de corrente ao osciloscópio encontra-se a

tracejado pois foi feita em alternado com a ligação das sondas de tensão, sempre com as mesmas

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condições estacionárias de funcionamento (velocidade do rotor) uma vez que a quantidade de canais

disponível no osciloscópio não permitia uma solução para a gravação em simultâneo dos dados.

3.2.4 Ensaios térmicos

Com o objetivo de averiguar a existência de condições para um sobreaquecimento do GSMP

quando em funcionamento normal, realizaram-se também ensaios térmicos ao gerador. Nestes, com o

rotor bloqueado, foi imposta uma corrente DC contínua numa das fases do GSMP, procedendo-se ao

mesmo tempo à medição da temperatura dos enrolamentos através de um termopar ligado a um

multímetro e com uma das suas pontas colocada o mais perto possível do enrolamento da fase usada.

A temperatura foi registada para dois valores de corrente imposta, 2,5A e 5A, e em intervalos de 5

minutos enquanto não se verificaram sinais claros de sobreaquecimento, nomeadamente cheiro a

queimado ou fumo.

Os valores de corrente imposta foram escolhidos com base na secção do fio de cobre usado

nos enrolamentos do GSMP, a qual corresponde ao número 18 na AWG, de acordo com [2]. A este

número 18 corresponde, na escala, uma corrente máxima de 2,45A, pelo que se pensou adequada a

escolha dos valores de 2,5A e 5A para a investigação relacionada com o sobreaquecimento dos

condutores.

Um esquema da montagem para estes ensaios mostra-se na Figura 7.

Figura 7 – Esquema da montagem elaborada para os ensaios térmicos do gerador

3.2.5 Ensaios com rotor bloqueado

Por fim realizaram-se ensaios do GSMP com o rotor bloqueado, nos quais foi imposta uma

corrente sinusoidal, à vez, em cada uma das fases do GSMP, sendo medidas e registadas as FEMs

sinusoidais induzidas nas restantes fases, bem como a tensão na fase onde foi imposta a corrente.

Com estes ensaios pretendeu-se a obtenção dos vários elementos da matriz de coeficientes de indução

expressa em (2.12), bem como verificar a dependência desses valores com a posição do rotor e com

a intensidade de corrente imposta, de forma a tirar ilações acerca da ligação magnética entre o estator

e o rotor. A metodologia para o cálculo da matriz de coeficientes de indução a partir dos resultados

destes ensaios apresenta-se descrita na secção 4.6. O esquema da montagem usada nestes ensaios,

seguindo o exemplo da aplicação de corrente na fase A do estator, encontra-se na Figura 8.

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Figura 8 – Esquema da montagem realizada para os ensaios ao gerador com rotor bloque-

ado para determinação dos elementos da matriz de coeficientes de indução

Considerações relativas ao gerador síncrono de magnetos permanentes

em análise

A abordagem do GSMP como uma “caixa-negra” impõe muitas incertezas quanto ao

funcionamento interno do mesmo e, consequentemente, quanto à previsão de resultados, pois não se

conhece a topologia do seu circuito magnético. Contudo, algumas hipóteses podem ser formuladas “a

priori” as quais são descritas nesta secção.

3.3.1 Resistências internas

Dos ensaios para determinação das resistências elétricas dos enrolamentos do estator,

esperam-se valores iguais de resistência elétrica para cada um dos enrolamentos, a fim de assegurar

o funcionamento equilibrado do GSMP. Além disto, assume-se que o seu valor tenha alterações pouco

significativas durante o funcionamento normal do gerador, tanto em relação à temperatura, quanto

devido ao efeito pelicular. Para este último efeito, a profundidade de penetração 𝛿 é obtida através da

expressão (3.5), equivalente à expressão encontrada em [3].

𝛿 = √2

𝜔𝜇0𝜎 (3.5)

Na expressão, 𝜔 identifica a frequência angular das grandezas elétricas presentes no condutor

de um enrolamento do GSMP, 𝜎 a condutividade elétrica do mesmo e 𝜇0 a permeabilidade magnética

desse mesmo condutor. Conhecendo estes dois últimos valores para o cobre usado nos condutores e

tendo em consideração que a frequência elétrica máxima atingida nos ensaios é de 16Hz, é possível

obter um valor de 𝛿 = 16.5𝑚𝑚. Uma vez que o diâmetro do condutor usado, número 18 na AWG

segundo [2], é muito menor que 𝛿, é razoável considerar o efeito pelicular desprezável nos ensaios

realizados.

3.3.2 Ensaios em circuito aberto

Dos ensaios em circuito aberto será possível obter uma característica (por fase) das FEMs

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geradas por influência única do campo magnético produzido pelos MPs. Isto é possível uma vez que

na ausência de correntes nas fases do estator, e consequentemente da reação do induzido, apenas o

fluxo ligado entre as fases e os MPs irá contribuir para a indução de tensões sinusoidais aos terminais

dos enrolamentos do estator.

Assim, de acordo com o modelo adotado, partindo das equações (2.15), (2.19) e (2.13), obtém-

se a equação (3.6).

−𝑑

𝑑𝑡([𝐿][𝑖] + [𝛹𝑀𝑃]) = [𝑅][𝑖] + [𝑢] (3.6)

Na ausência de correntes no estator, o vetor de correntes [𝑖] é nulo, pelo que a equação (3.6)

se simplifica, obtendo-se a equação (3.7).

−𝑑

𝑑𝑡[𝛹𝑀𝑃] = [𝑢] (3.7)

Convertendo-se os resultados em (3.7) para notação complexa, obtêm-se os resultados

presentes em (3.8).

[𝑈] = −𝑗𝜔[Ψ𝑀𝑃] (3.8)

Na equação (3.8), [𝑈] representa o vetor dos fasores das tensões nas fases do estator, 𝜔 a

frequência elétrica dessas tensões e [Ψ𝑀𝑃] o vetor dos fasores dos fluxos ligados com cada fase por

influência única dos MPs. Os vetores [𝑈] e [Ψ𝑀𝑃] são explicitados em função dos fasores que os

constituem nas equações (3.9) e (3.10), respetivamente.

[𝑈] = [𝑈𝐴 𝑈𝐵 𝑈𝐶]𝑇 (3.9)

[Ψ𝑀𝑃] = [Ψ𝑀𝑃𝐴 Ψ𝑀𝑃𝐵 Ψ𝑀𝑃𝐶]𝑇 (3.10)

Nas equações (3.9) e (3.10), 𝑈𝐴, 𝑈𝐵 e 𝑈𝐶 representa, os fasores das tensões nas fases A, B e

C do estator, respetivamente, bem como Ψ𝑀𝑃𝐴, Ψ𝑀𝑃𝐵 e Ψ𝑀𝑃𝐶, representam os fasores dos fluxos ligados

com as fases A, B e C, respetivamente, por influência única dos MPs. Inserindo os resultados das

equações (3.12)(3.9) e (3.10) na equação (3.8), obtém-se o sistema de equações complexas presente

em (3.11).

𝑈𝐴 = −𝑗𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑈𝐵 = −𝑗𝜔Ψ𝑀𝑃𝐵𝑈𝐶 = −𝑗𝜔Ψ𝑀𝑃𝐶

(3.11)

Por fim, das equações em (3.11) obtém-se um novo sistema de equações reais, relacionando

os valores eficazes das tensões e fluxos ligados, o qual se apresenta em (3.12).

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15

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝑈𝐵𝑟𝑚𝑠 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐵𝑟𝑚𝑠𝑈𝐶𝑟𝑚𝑠 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐶𝑟𝑚𝑠

(3.12)

Do sistema de equações em (3.12), é possível concluir que as características de tensão eficaz

em circuito aberto para cada fase serão funções lineares da frequência elétrica das mesmas e

consequentemente da velocidade do ensaio em circuito aberto.

Esta linearidade prevista é uma consequência direta de duas premissas assumidas para o

funcionamento do GSMP no intervalo de velocidades escolhido para os ensaios: a ausência de

saturação magnética do ferro no estator do GSMP e a linearidade da característica dos MPs. Os

ensaios em circuito aberto irão testar estas hipóteses.

3.3.3 Ensaios em curto-circuito

Quanto aos ensaios em curto-circuito, desses poderá obter-se uma característica (por fase) da

corrente eficaz de tendência crescente com a frequência elétrica, atingindo um valor máximo constante

para frequências elétricas mais elevadas. Esta previsão justifica-se através do crescimento linear do

valor de duas grandezas face à frequência de duas grandezas elétricas: as FEMs induzidas nos

enrolamentos (desconsiderando o efeito da reação do induzido) e o valor da impedância dos

enrolamentos das fases.

Esta FEM é equivalente às tensões observadas nas fases do estator nos ensaios em circuito

aberto, cujos valores eficazes se encontram expressos em (3.12) e se confirmam como funções lineares

da frequência, para qualquer fase. Quanto ao valor de impedância de cada fase do estator, esse pode

obter-se, por exemplo, para a fase A, através da equação (3.13), sendo essa equação adaptável para

as restantes fases do estator.

𝐴 = 𝑅𝐴 + 𝑗𝜔𝐿𝐴 (3.13)

Na equação (3.13) 𝐴 representa a impedância do enrolamento da fase A do estator, 𝜔 a

frequência angular das grandezas elétricas, 𝑅𝐴 a resistência elétrica do enrolamento da fase A do

estator e 𝐿𝐴 o coeficiente de indução própria do enrolamento da fase A do estator. O seu valor em

módulo, 𝑍𝐴, pode então ser expresso pela equação (3.14).

𝑍𝐴 = √𝑅𝐴

2 + (𝜔𝐿𝐴)2 (3.14)

Deste modo, a expressão para o valor eficaz da corrente de curto-circuito da fase A do estator

obtém-se aproximadamente através do quociente entre a tensão eficaz na fase A, na equação (3.12),

e o valor do módulo da impedância do enrolamento da fase A, na equação (3.14). O resultado

apresenta-se na equação (3.15).

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16

𝐼𝐶𝐶𝐴𝑟𝑚𝑠

≈𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠𝑍𝐴

≈𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√𝑅𝐴2 + (𝜔𝐿𝐴)

2 (3.15)

A equação (3.15), adaptável para as restantes fases do estator, evidencia a tendência crescente

com a frequência elétrica prevista para o valor eficaz da corrente de curto-circuito numa fase.

O limite do valor eficaz da corrente numa fase para elevados valores de frequência elétrica

obtém-se na expressão (3.16), para a fase A.

lim𝜔>>

𝐼𝐶𝐶𝐴𝑟𝑚𝑠≈ lim

𝜔>>

𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√𝑅𝐴2 + (𝜔𝐿𝐴)

2=𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√(𝜔𝐿𝐴)2=Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐴

= 𝑐𝑡𝑒 (3.16)

Do resultado em (3.16) confirma-se a previsão de que o valor eficaz da corrente de curto-

circuito na fase A do estator atinja um valor máximo constante para elevados valores de frequência

elétrica, sendo essa previsão também válida para as restantes fases do estator.

3.3.4 Ensaios em carga

As previsões consideradas para os ensaios do gerador em carga, sendo as cargas aplicadas

equilibradas, são idênticas para qualquer das fases do estator do gerador pelo que, a título de exemplo,

são feitas previsões apenas para a fase A, as quais serão extensíveis às restantes fases do estator do

gerador.

A corrente de curto-circuito da fase A do estator expressa em (3.15) representa-se

aproximadamente pelo quociente entre uma tensão e uma impedância, aquela do enrolamento da fase

do estator. Uma carga ligada a essa fase do estator pode considerar-se como uma impedância de carga

colocada em série com a impedância do enrolamento da fase A. Assim sendo, a tensão aplicada à série

dessas duas impedâncias é a mesma aplicada apenas à impedância do enrolamento quando em curto-

circuito: 𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠 em (3.12).

Essa impedância de carga, 𝐿, é dada pela expressão (3.17).

𝐿 = 𝑅𝐿 + 𝑗𝜔𝐿𝐿 (3.17)

Na expressão (3.17), 𝑅𝐿 e 𝐿𝐿 representam, respetivamente, a resistência e o coeficiente de

indução própria (ou indutância) da carga aplicada. O valor em módulo dessa impedância, 𝑍𝐿, é então

obtido pela equação (3.18).

𝑍𝐿 = √𝑅𝐿

2 + (𝜔𝐿𝐿)2 (3.18)

Das expressões (3.13) e (3.17), é possível concluir que a impedância total, 𝑇, correspondente

à série de 𝐴 com 𝐿, se pode obter através da equação (3.19).

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17

𝑇 = 𝐴 + 𝐿 = 𝑅𝐴 + 𝑅𝐿 + 𝑗𝜔(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿) (3.19)

Assim, de (3.19) é possível concluir que o módulo da impedância total, 𝑍𝑇, se obtém através

da expressão (3.20).

𝑍𝑇 = √(𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)2 + 𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2 (3.20)

Deste modo, conclui-se que o valor eficaz da corrente na carga ligada à fase A do estator do

GSMP, 𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ,que é a corrente que circula na malha da fase A, pode obter-se aproximadamente pela

expressão em (3.21):

𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠𝑍𝑇

=𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√(𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)2 + 𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2 (3.21)

Por fim, a tensão eficaz na carga da fase A do estator do gerador, 𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠, será dada através da

Lei de Ohm, isto é, pela multiplicação do módulo da impedância da carga, 𝑍𝐿, pela corrente eficaz que

a percorre, 𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠, como se expressa na equação (3.22):

𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ 𝑍𝐿𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 =

𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠√𝑅𝐿2 + (𝜔𝐿𝐿)

2

√(𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)2 + 𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2 (3.22)

Relembra-se que estes resultados se consideram válidos para todas as fases do estator do

GSMP.

3.3.4.1 Carga resistiva

Considerando a carga aplicada à fase A puramente resistiva, isto é, 𝐿𝐿 = 0, é possível

simplificar as equações (3.21) e (3.22), para que a corrente e a tensão eficazes nessa carga sejam

determinadas aproximadamente pelas equações (3.23) e (3.24), respetivamente.

𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠𝑍𝑇

=𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√(𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)2 + (𝜔𝐿𝐴)

2 (3.23)

𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ 𝑅𝐿𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 =

𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝑅𝐿

√(𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)2 + (𝜔𝐿𝐴)

2 (3.24)

Uma comparação entre o resultado da equação (3.15) e o da equação (3.23) mostra que a

corrente eficaz na carga 𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 apresenta uma evolução semelhante com a frequência elétrica à evolução

da corrente eficaz de curto circuito 𝐼𝐶𝐶𝐴𝑟𝑚𝑠, sendo a única diferença a presença da resistência de carga

𝑅𝐿 no denominador da função em (3.23).

Uma análise do limite do valor eficaz da corrente na carga 𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 para elevados valores de

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18

frequência elétrica é feita na equação (3.25).

lim𝜔>>

𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ lim𝜔>>

𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√(𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)2 + (𝜔𝐿𝐴)

2=𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√(𝜔𝐿𝐴)2=Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐴

= 𝑐𝑡𝑒 (3.25)

O resultado em (3.25) revela não só que a corrente eficaz na carga, tal como a corrente de

curto-circuito, atinge um valor máximo constante para elevados valores de frequência elétrica, como

também que esse valor máximo é, em aproximação, igual para ambas as correntes.

Quanto à evolução da corrente eficaz na carga da fase A do estator com a frequência elétrica,

essa será semelhante à evolução da corrente de curto-circuito, embora de crescimento mais lento que

esta, dada a influência do valor da resistência de carga 𝑅𝐿 na expressão (3.23). Deste modo, quanto

maior for o valor de resistência de carga, maior será a frequência elétrica necessária para atingir o valor

máximo da corrente na carga, isto é, para que se verifique a expressão (3.26).

(𝜔𝐿𝐴)2 ≫ (𝑅𝐴 + 𝑅𝐿)

2 (3.26)

Contudo, esse valor máximo atingido será independente do valor de 𝑅𝐿, como sugere o

resultado em (3.25).

A tensão eficaz na carga aplicada à fase A do estator, 𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠, é dada simplesmente pela Lei de

Ohm, como é visível em (3.24). Isto significa que a evolução desta grandeza será semelhante à da

corrente na mesma carga, embora afetada de forma diferente pelo valor da resistência de carga 𝑅𝐿. O

limite do valor eficaz da tensão na carga pra elevados valores de frequência elétrica será também

afetado pelo valor de 𝑅𝐿, como determina a equação (3.27), usando o resultado de (3.25).

lim𝜔>>

𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 = 𝑅𝐿 lim𝜔>>𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ 𝑅𝐿

Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐴

= 𝑐𝑡𝑒 (3.27)

De (3.27) conclui-se que o valor máximo atingido pela tensão eficaz na carga será tanto maior

quanto maior for a resistência da carga aplicada.

Note-se mais uma vez que estas previsões são válidas para todas as fases do estator.

3.3.4.2 Carga Indutiva

Considerando agora a carga aplicada à fase A como puramente indutiva, isto é, 𝑅𝐿 = 0, é

possível simplificar as equações (3.21) e (3.22), para que a corrente e a tensão eficazes nessa carga

sejam determinadas aproximadamente pelas equações (3.28) e (3.29), respetivamente.

𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠𝑍𝑇

=𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√𝑅𝐴2 +𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2 (3.28)

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19

𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ 𝑍𝐿𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 =

𝜔2Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐿

√𝑅𝐴2 + 𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2 (3.29)

Comparando agora as expressões (3.15) e (3.28), nota-se que a evolução da corrente eficaz

na carga (indutiva) 𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 com a frequência elétrica é também semelhante à evolução da corrente eficaz

de curto-circuito na fase A, 𝐼𝐶𝐶𝐴𝑟𝑚𝑠.

Em (3.30) mostra-se o resultado do limite da corrente na carga (indutiva) para elevados valores

de frequência elétrica.

lim𝜔>>

𝐼𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ lim𝜔>>

𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√𝑅𝐴2 + 𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2=

𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠

√𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)2=Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐴 + 𝐿𝐿

= 𝑐𝑡𝑒

(3.30)

Da equação (3.30) é possível concluir que também a corrente eficaz na carga indutiva atingirá

um valor máximo constante para elevados valores de frequência elétrica, sendo esse valor dependente

inversamente do valor da indutância de carga, como indica a própria expressão. Contudo, a presença

da carga indutiva 𝐿𝐿 também implica que a frequência elétrica necessária para atingir esse valor máximo

de corrente eficaz na carga será menor que aquela frequência necessária para atingir o valor máximo

de corrente eficaz de curto-circuito na fase A, ou seja, para que se verifique a expressão (3.31).

𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)2 ≫ 𝑅𝐴

2 (3.31)

Quanto a tensão eficaz na carga (indutiva), 𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 , prevê-se que a mesma apresente uma

tendência crescente com a frequência elétrica, se bem que mais rápida que a da corrente eficaz na

carga. Isto verifica-se porque na tensão, de acordo com a equação (3.29), o numerador é uma função

quadrática da frequência elétrica, enquanto na corrente o numerador é uma função linear dessa mesma

frequência.

Em (3.32) apresenta-se o resultado do limite da tensão eficaz na carga (indutiva) para elevados

valores de frequência elétrica:

lim𝜔>>

𝑈𝐿𝑟𝑚𝑠 ≈ lim𝜔>>

𝜔2Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐿

√𝑅𝐴2 +𝜔2(𝐿𝐴 + 𝐿𝐿)

2=𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝐿𝐿

𝐿𝐴 + 𝐿𝐿 (3.32)

Da equação (3.32) é então possível concluir que, para elevados valores de frequência elétrica,

a tensão eficaz na carga (indutiva) apresentará a tendência duma função linear da frequência elétrica.

O declive dessa função linear prevê-se tanto maior quanto maior for o valor da carga indutiva 𝐿𝐿.

3.3.5 Ensaios com rotor bloqueado

Considere-se novamente a equação (3.6), repetida em (3.33), que representa o modelo

adotado simplificado:

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−𝑑

𝑑𝑡([𝐿][𝑖] + [𝛹𝑀𝑃]) = [𝑅][𝑖] + [𝑢] (3.33)

Estando o rotor do gerador bloqueado, o campo magnético devido aos MPs não é variável no

tempo, pelo que os fluxos ligados com as fases do estator produzidos pelos MPs partilham essa

propriedade, isto é, verifica-se a equação (3.34).

𝑑

𝑑𝑡([𝛹𝑀𝑃]) =

𝑑

𝑑𝑡([𝛹𝑀𝑃𝐴 𝛹𝑀𝑃𝐵 𝛹𝑀𝑃𝐶]

𝑇) = [0 0 0]𝑇 (3.34)

Assim, das equações (3.33) e (3.34) é possível obter a equação (3.35).

−𝑑

𝑑𝑡([𝐿][𝑖]) = [𝑅][𝑖] + [𝑢] (3.35)

De (3.35) conclui-se que o fluxo magnético responsável pelas tensões induzidas em cada fase

será unicamente produzido pela corrente presente na fase em que for imposta.

Considere-se, de agora em diante, o exemplo de imposição de uma corrente alternada

sinusoidal na fase A do estator.

Convertendo o resultado de (3.35) para notação complexa, obtém-se a equação (3.36).

[𝑈] = −⌈𝑅⌉[𝐼] − 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝[𝐿][𝐼] (3.36)

Em (3.36), [𝑈] representa o vetor dos fasores das tensões nas fases do estator, expresso em

(3.37) e [𝑅] a matriz de resistências elétricas dos enrolamentos das fases do estator, expressa em

(3.38). [𝐼] representa o vetor de fasores das correntes nas fases do estator e 𝜔𝑖𝑚𝑝 representa a

frequência elétrica da corrente imposta na fase A e, consequentemente, das tensões nas fases do

estator. [𝐿] representa a matriz de coeficientes de indução, expressa em (3.39).

[𝑈] = [𝑈𝐴 𝑈𝐵 𝑈𝐶]𝑇 (3.37)

[𝑅] = 𝑑𝑖𝑎𝑔[𝑅𝐴 𝑅𝐵 𝑅𝐶] (3.38)

[𝐿] = [

𝐿𝐴 𝑀𝐴𝐵 𝑀𝐴𝐶𝑀𝐴𝐵 𝐿𝐵 𝑀𝐵𝐶

𝑀𝐴𝐶 𝑀𝐵𝐶 𝐿𝐶

] (3.39)

Uma vez que se considera imposta apenas uma corrente na fase A do estator, corrente essa

que terá sentido inverso àquele de geração, o vetor [𝐼] pode ser expresso pela equação (3.40), na qual

𝐼𝑚𝑝 representa o fasor da corrente imposta.

[𝐼] = [𝐼 𝐼 𝐼]𝑇 = [−𝐼𝑚𝑝 0 0]

𝑇 (3.40)

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Por fim, tendo em conta o resultado da equação (3.40) e as expressões de (3.37) a (3.39), a

equação (3.36) pode converter-se no sistema de equações complexas presente em (3.41).

𝑈𝐴 = (𝑅𝐴 + 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝𝐿𝐴)𝐼𝑚𝑝

𝑈𝐵 = 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝𝑀𝐴𝐵𝐼𝑚𝑝

𝑈𝐶 = 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝𝑀𝐴𝐶𝐼𝑚𝑝

(3.41)

De acordo com (3.41), prevê-se que a imposição de corrente alternada sinusoidal numa fase

do estator (neste caso, na fase A) implique a indução de forças eletromotrizes alternadas sinusoidais

nas restantes fases (neste caso, B e C), pelo que aos terminais de todas as fases do estator serão

observáveis tensões alternadas sinusoidais. Uma vez que esta previsão é valida para corrente imposta

em qualquer fase do estator, prevê-se que estes ensaios permitam averiguar a dependência dos

coeficientes de indução própria e mútua com a posição do rotor, a velocidade de rotação e a intensidade

de corrente nas fases do estator.

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23

Capítulo 4

Ensaios laboratoriais realizados ao gerador síncrono de

magnetos permanentes

Obtenção das resistências elétricas por fase

Com o rotor bloqueado e por via de um multímetro, as resistências de cada uma das fases do

GSMP foram medidas à temperatura ambiente (cerca de 20ºC). Os valores obtidos para as resistências

de cada fase apresentam-se na Tabela 1, na qual se verifica a prevista igualdade entre os valores para

cada fase.

Tabela 1- Valores medidos das resistências elétricas dos enrolamentos de cada fase do gera-

dor

Fase Valor [Ω]

A 10

B 10

C 10

Circuito aberto

Nos ensaios em circuito aberto (ou em vazio) o veio do GSMP foi acionado mecanicamente

através de uma caixa de velocidades ligada a uma máquina assíncrona. Registaram-se em vários

intervalos de tempo e com vários valores de velocidade as formas de onda das FEMs observadas aos

terminais dos enrolamentos de cada fase do gerador (A, B e C). Verificou-se que essas FEMs

apresentavam uma forma de onda sinusoidal para praticamente todo o intervalo de velocidade

ensaiado (6 a 60rpm). No entanto, para valores muito pequenos de velocidade, as FEMs apresentavam

distorções da sua forma sinusoidal, as quais se encontram assinaladas por retângulos na Figura 9 (a).

Estes efeitos devem-se a um acoplamento mecânico imperfeito (desalinhamento), sendo estas

irregularidades filtradas para maiores valores de velocidade, como se mostra na Figura 9 (b).

A frequência das FEMs verificou-se 16 vezes superior à frequência mecânica do rotor. Isso

permite concluir, através da equação (4.1), que o GSMP possui 16 pares de polos no rotor. Em (4.1),

tem-se que ω representa a frequência angular das grandezas elétricas, 𝑃𝑝 o número de par de polos e

𝜔𝑟 a frequência angular do rotor.

ω = 𝑃𝑝𝜔𝑟 (4.1)

Com os restantes ensaios em vazio, foi possível construir a característica em vazio do GSMP

para cada uma das suas fases, sendo essas características apresentadas na Figura 10.

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(a)

(b)

Figura 9 – Formas de onda das forças eletromotrizes nas três fases para uma velocidade do

gerador (a) muito baixa, igual a 2,3rpm e (b) mais elevada, igual a 55rpm

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10

5

10

15

20

25

Frequênciarotor

[Hz]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 10 – Características de circuito aberto por fase do gerador

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

Tempo [s]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 4-30

-20

-10

0

10

20

30

Tempo [s]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

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25

Os dados apresentam uma tendência claramente linear, pelo que foi feita uma regressão linear

para cada característica a partir dos pontos apresentados, cujas equações e valores de coeficientes de

determinação1, R2, são apresentados na Tabela 2:

Tabela 2 – Equações e coeficientes de determinação relativos a cada regressão linear para as

tensões em circuito aberto das fases do gerador

Fase Equação Coeficiente de Determinação (R2):

A 𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠 = 17,03𝑓𝑟 0,995

B 𝑈𝐵𝑟𝑚𝑠 = 21,76𝑓𝑟 0,997

C 𝑈𝐶𝑟𝑚𝑠 = 17,56𝑓𝑟 0,997

Sendo todos os coeficientes R2 de valor muito aproximado da unidade, confirma-se que as

características de cada uma das fases são lineares, como esperado. Contudo, nota-se uma

discrepância entre as características de cada fase, mais concretamente a fase B que apresenta uma

FEM aos seus terminais 28% maior que aquelas das fases A ou C à mesma frequência de rotação.

Esta discrepância está também presente nas diferenças em amplitude das formas de onda na Figura

9.

Curto-circuito

Nos ensaios em curto-circuito, foram curto-circuitados os enrolamentos das fases do gerador e

subsequentemente medidas e registadas as correntes a circular nesses enrolamentos. Através destes

dados, foi possível obter a característica em curto-circuito do GSMP para cada uma das fases. Essas

características são apresentadas na seguinte Figura 11.

As características na Figura 11, ao contrário daquelas em circuito aberto, não apresentam uma

tendência linear, mas sim a tendência do racional entre uma função linear e uma de potência fracionária,

como previsto na secção 3.2.2. As características estão de acordo com as curvas de regressão

sobrepostas na Figura 11, cujas equações e valores de coeficiente de determinação se apresentam na

Tabela 3. Verifica-se ainda que, para uma mesma frequência do rotor, a fase B apresenta maior valor

de corrente que as fases A e C, à semelhança do que se verifica nas tensões em circuito aberto.

As distorções nas FEMs induzidas nos enrolamentos a baixas velocidades de rotação

observadas na Figura 9 (a) manifestam-se também nas correntes de curto-circuito observadas, embora

de forma menos significativa, devido à influência dos coeficientes de indução própria desses mesmos

enrolamentos.

1 O coeficiente de determinação (R2) de uma regressão linear indica o grau de ajustamento dos dados analisados ao modelo escolhido (linear, exponencial, ou outro), sendo este ajustamento melhor quanto mais perto da unidade o valor do coeficiente se apresentar.

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0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

Frequênciarotor

[Hz]

Co

rre

nte

Efica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 11 – Características de curto-circuito por fase do gerador

Tabela 3 – Equações e respetivos coeficientes de determinação das regressões lineares efetu-

adas aos dados para as correntes em curto-circuito das fases do gerador

Fase Equação Coeficiente de Determinação (R2):

A 𝐼𝐴𝑟𝑚𝑠 =17,02𝑓𝑟

√102 + (13,96𝑓𝑟)2 0,996

B 𝐼𝐵𝑟𝑚𝑠 =21,34𝑓𝑟

√102 + (18,97𝑓𝑟)2 0,995

C 𝐼𝐶𝑟𝑚𝑠 =15,93𝑓𝑟

√102 + (17,73𝑓𝑟)2 0,991

Carga resistiva

Para os ensaios do gerador em carga resistiva foram utilizadas três resistências monofásicas

ajustáveis, uma aos terminais de cada fase do GSMP, reguladas de forma obter-se uma carga resistiva

trifásica equilibrada. Assim, para cinco valores diferentes de resistências de carga, foram medidas e

registadas as tensões e correntes nas mesmas, para diferentes valores de frequência do rotor similares

aos ensaios anteriores (circuito aberto e curto-circuito). Conhecido o valor das resistências dos

enrolamentos internos de cada fase do GSMP (10Ω), os valores escolhidos para as resistências de

carga foram de 2.5Ω, 5Ω, 10Ω, 20Ω, e 40Ω por forma a observar o comportamento do GSMP com

cargas de valores superiores, iguais ou inferiores de resistência em relação ao dos seus enrolamentos

internos.

Com uma carga resistiva trifásica equilibrada de 5Ω, obtiveram-se resultados que permitiram

construir as características Tensão-Frequência e Corrente-Frequência apresentadas na Figura 12 e na

Figura 13, respetivamente.

Nestes resultados pode observar-se uma tendência que vai de acordo ao previsto para ambas

as grandezas na secção 3.3.4.1, isto é, o racional entre uma função linear uma de potência fracionária,

de modo semelhante ao que foi visto para as correntes de curto-circuito. Há contudo uma clara

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27

disparidade na evolução de cada fase: A fase A apresenta valores menores, a fase B valores maiores

e a fase C valores intermédios, tanto de corrente (Figura 12) como de tensão (Figura 13), para uma

mesma frequência do rotor.

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.80

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Frequênciarotor

[Hz]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 12 – Característica Tensão-Frequência por fase para uma carga resistiva trifásica de 5

Ohm

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.80.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Frequênciarotor

[Hz]

Co

rre

nte

Efica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 13 – Característica Corrente-Frequência por fase para uma carga resistiva trifásica de

5 Ohm

Uma análise semelhante foi realizada para os outros valores de resistência de carga

mencionados, mostrando-se a evolução das grandezas observadas semelhante a este primeiro caso,

no que toca à comparação das fases entre si. Assim sendo, optou-se por fazer uma média dos

resultados por fase de cada grandeza para cada valor de resistência de carga. Os resultados obtidos,

ou seja, as características médias de Tensão VS Frequência e Corrente VS Frequência para cada valor

de resistência de carga, são apresentados na Figura 14 e na Figura 15.

Nestes resultados, as evoluções das duas grandezas para cargas diferentes mostram-se

também com tendências semelhantes, sendo que o aumento da resistência de carga implica uma

Page 44: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

28

diminuição nos valores de corrente observados e uma tendência inversa nos valores de tensão, como

previsto na secção 3.3.4.

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10

20

40

60

80

100

120

140

Frequênciarotor

[Hz]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Rc=2.5 Ohm

Rc=5 Ohm

Rc=10 Ohm

Rc=20 Ohm

Rc=40 Ohm

Figura 14 – Características Tensão-Frequência na carga para vários valores de carga resis-

tiva

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

Frequênciarotor

[Hz]

Co

rre

nte

Efica

z [

V]

Rc=2.5 Ohm

Rc=5 Ohm

Rc=10 Ohm

Rc=20 Ohm

Rc=40 Ohm

Figura 15 – Características Corrente-Frequência na carga para vários valores de carga resis-

tiva

Carga indutiva

Para a realização dos ensaios em carga indutiva utilizou-se uma carga indutiva trifásica de

entreferro regulável, através do qual se conseguiu obter diferentes valores de indutância a aplicar aos

terminais de cada uma das fases do GSMP. Deste modo, também foram medidas e registadas as

tensões e correntes de cada fase da carga, para diferentes valores de frequência do rotor, tendo-se

ajustado o entreferro de forma a obter três valores de indutância (por fase) diferentes: 130mH, 204mH

e 266mH. Para este último valor de carga, 266mH, apresentam-se na Figura 16 e na Figura 17 as

evoluções das tensões e correntes registadas em cada fase, respetivamente.

Os resultados obtidos mostram tendências bastante diferentes para as tensões e para as

Page 45: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

29

correntes em cada fase da carga, apresentando ambas as evoluções coma frequência previstas na

secção 3.3.4: para a corrente o racional entre uma função linear e uma de potência fracionária e para

a tensão o racional entre uma função quadrática e uma de potência fracionária, o qual se traduz

aproximadamente numa tendência linear.

Uma análise semelhante para os outros dois valores de carga indutiva aplicada revelou

evoluções similares para a tensão e corrente em cada fase, no que diz respeito à comparação entre

fases, pelo que se optou por apresentar as evoluções das tensões e correntes médias das fases com

a frequência, graficamente representadas na Figura 18 e na Figura 19, respetivamente.

Os resultados para diferentes valores de carga apresentam evoluções semelhantes com a

frequência mas, para um dado valor de frequência, nota-se que a um valor de carga indutiva maior

correspondem maiores valores de tensão e menores valores de corrente, igualmente como previsto na

secção 3.3.4.

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10

5

10

15

Frequênciarotor

[Hz]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 16 – Características Tensão-Frequência numa carga indutiva trifásica de 266mH

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

Frequênciarotor

[Hz]

Co

rre

nte

Efica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 17 – Características Corrente-Frequência numa carga indutiva trifásica de 266mH

Page 46: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

30

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10

2

4

6

8

10

12

14

Frequênciarotor

[Hz]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Lc=130mH

Lc=204mH

Lc=266mH

Figura 18 – Características Tensão-Frequência na carga para vários valores de carga indu-

tiva

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

0.55

Frequênciarotor

[Hz]

Co

rre

nte

Efica

z [

V]

Lc=130mH

Lc=204mH

Lc=266mH

Figura 19 – Características Corrente-Frequência na carga para vários valores de carga indu-

tiva

Rotor bloqueado

Nestes ensaios o rotor do GSMP não foi acionado mecanicamente, sendo ao invés imposta

uma corrente alternada sinusoidal numa fase de cada vez, para que o fluxo magnético produzido pela

mesma induzisse FEMs nas restantes fases, registando-se em simultâneo essas FEMs e a tensão na

fase da corrente imposta para todos os ensaios.

O conjunto destes testes foram realizados com o objetivo de obter os coeficientes de indução

própria e mútua das três fases do GSMP, bem como verificar a sua dependência de outras grandezas

como a posição do rotor, a frequência das grandezas elétricas e também a intensidade de corrente

imposta em cada enrolamento. Com esse intuito, parte-se da equação (3.41) para concluir que, caso o

valor dos coeficientes de indução dependa da posição do rotor, para uma corrente injetada de amplitude

e frequência constante a amplitude da FEM induzida em cada fase apresentará valor variável.

Para averiguar esta hipótese, realizaram-se ensaios nos quais cada corrente imposta nas fases

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31

apresentou sempre uma amplitude constante (e de frequência elétrica 50Hz, sendo proveniente da

rede), variando-se então manualmente a posição do rotor de forma a completar um período das

grandezas elétricas observadas. Para este efeito, a rotação manual teve de tomar lugar no veio unindo

a MA à caixa de velocidades (pois neste a rotação manual requer menos força), em 13 incrementos de

22,5º mecânicos, de forma a perfazer 270º mecânicos. Este valor é deduzido tendo em conta o número

de par de polos do gerador (16) e a razão de 1:24 do desmultiplicador, pela expressão (4.2).

𝛿𝑚𝑒𝑐𝐺 =

𝛿𝑒𝑙2𝑝𝑝

, 𝛿𝑚𝑒𝑐𝑀𝐴 = 24𝛿𝑚𝑒𝑐𝐺 (4.2)

Nesta expressão, 𝛿𝑚𝑒𝑐𝐺 representa o ângulo mecânico do veio unindo o gerador ao

desmultiplicador, 𝛿𝑒𝑙 o ângulo das grandezas elétricas do gerador e 𝛿𝑚𝑒𝑐𝑀𝐴 o ângulo mecânico no veio

unindo a MA ao desmultiplicador. Assim, para completar um período elétrico, o veio do gerador deve

rodar 360

2×16= 11.25°, pelo que o veio da MA deve rodar 11,25 × 24 = 270°.

Realizados estes ensaios, os resultados obtidos foram os que se apresentam na Figura 20, na

Figura 21 e na Figura 22. Nota-se que em nenhum dos casos existe uma variação significativa das

FEMs induzidas face à posição do rotor, o que permite concluir que o rotor é de simetria cilíndrica e

que os valores dos coeficientes de indução própria e mútua das fases do estator não são funções da

posição do rotor.

Contudo, a imposição de corrente na fase B leva a valores semelhantes de FEM induzida nas

fases A e C, não se verificando o mesmo para a imposição de corrente nas fases A ou C. Nestes dois

casos, a tensão induzida na fase C ou A (consoante a corrente é imposta na fase A ou C,

respetivamente) apresenta um valor muito menor que aquela induzida na fase B. Este resultado sugere

que o circuito magnético do estator apresenta assimetrias geométricas.

0 50 100 150 200 250 300 3500

0.5

1

1.5

2

Posição angular elétrica associada ao rotor

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 20 – Forças eletromotrizes induzidas nas fases face à posição do rotor com corrente

imposta na fase A

Page 48: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

32

0 50 100 150 200 250 300 3500

0.5

1

1.5

2

Posição angular elétrica associada ao rotor

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 21 – Forças eletromotrizes induzidas nas fases face à posição do rotor com corrente

imposta na fase B

0 50 100 150 200 250 300 3500

0.5

1

1.5

2

Posição angular elétrica associada ao rotor

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 22 – Forças eletromotrizes induzidas nas fases face à posição do rotor com corrente

imposta na fase C

Num segundo conjunto de ensaios, o valor da corrente imposta foi regulado para diferentes

valores entre 0 e 3A, a fim de se estudar a dependência entre os coeficientes de indução e a intensidade

das correntes no estator. Esta dependência pode ser explicada a partir da equação (3.41) da qual é

possível concluir que, caso exista, a relação entre os valores de tensão induzida e os valores de

corrente injetada será outra que não linear, devido à presença de saturação magnética no ferro e/ou

uma característica não-linear dos MPs.

De forma a testar essa hipótese, o valor máximo de corrente imposta escolhido é de 3A,

representando pouco mais do dobro do valor máximo observado para as correntes de curto-circuito,

permitindo então averiguar a presença ou ausência dos fenómenos mencionados acima em condições

normais de funcionamento do GSMP.

Os resultados destes ensaios apresentam-se na Figura 23, na Figura 24 e na Figura 25, onde

facilmente se observa que a relação entre as duas grandezas é linear em todos os casos ensaiados,

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33

confirmando a linearidade da característica dos MPs e a ausência de saturação magnética no ferro,

bem como histerese, por consequência. Contudo, estes resultados também mostram evidências de um

circuito magnético do estator com graves assimetrias, de modo semelhante aos resultados do conjunto

de ensaios anterior.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 30

20

40

60

80

100

Corrente Eficaz Imposta [A]

Tensão E

ficaz [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 23 – FEMs induzidas face à intensidade da corrente imposta na fase A

0 0.5 1 1.5 2 2.5 30

20

40

60

80

100

120

Corrente Eficaz Imposta [A]

Te

nsã

o E

fica

z [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 24 – FEMs induzidas face à intensidade da corrente imposta na fase B

0 0.5 1 1.5 2 2.5 30

20

40

60

80

100

Corrente Eficaz Imposta [A]

Tensão E

ficaz [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

Figura 25 – FEMs induzidas face à intensidade da corrente imposta na fase C

Page 50: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

34

Ensaios térmicos

Estes ensaios foram realizados com o objetivo de verificar sobre que condições de

funcionamento o GSMP poderia apresentar sinais de sobreaquecimento interno. Com este intuito,

optou-se por injetar na fase B uma corrente DC, registando a temperatura aproximada do cobre dessa

fase através de uma sonda térmica colocada o mais perto possível dos enrolamentos. Os valores de

corrente imposta foram de 2,5A e 5A e os registos de temperatura foram feitos a cada 5min, propiciando

os resultados mostrados na Figura 26 para os valores de corrente mencionados. Das duas curvas no

gráfico pode-se estimar o valor a constante de tempo térmica associada ao gerador, 𝜏𝑡 = 20 𝑚𝑖𝑛.

Para uma injeção de 2,5A, nota-se uma clara estabilização da temperatura do enrolamento,

embora para uma injeção de 5A o ensaio tenha sido terminado mais cedo, devido ao aparecimento de

evidências de queima de material plástico no interior do GSMP (fumo e cheiro a plástico queimado).

Uma vez que se estima, como visto na Figura 11, que o valor eficaz da corrente em curto-circuito nas

diversas fases do GSMP não ultrapassa os 1,5A, é seguro concluir que o gerador não apresenta risco

de sobreaquecimento em condições de funcionamento regulares, sobretudo considerando a

contribuição extra da rotação do veio para o arrefecimento do interior do GSMP.

Figura 26 – Evolução da temperatura do enrolamento da fase B para as correntes contínuas

de 2,5A e 5A impostas

0 10 20 30 40 50 6010

20

30

40

50

60

70

Tempo [min]

Tem

pera

tura

[ºC

]

Iimp

=2,5A

Iimp

=5A

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35

Capítulo 5

Elaboração do modelo em parâmetros concentrados do gerador

síncrono de magnetos permanentes (GSMP)

Neste capítulo pretende-se, através dos resultados dos ensaios laboratoriais efetuados ao

GSMP, a determinação dos parâmetros do modelo adotado para descrevê-lo. Depois deste cálculo,

verifica-se a possibilidade de descrever o gerador através de um circuito elétrico equivalente, de forma

a facilitar a análise e simulação dos fenómenos eletromagnéticos observáveis externamente durante o

funcionamento do gerador.

Modelo adotado

5.1.1 Cálculo do fluxo ligado entre cada fase e os magnetos permanentes

Utilizando os valores eficazes das FEMs induzidas em cada fase do gerador em função da

frequência elétrica, listados na Tabela 2, é possível calcular o valor eficaz dos fluxos magnéticos ligados

com cada fase por influência única dos MPs. Esta relação é definida pela expressão (3.12), repetida

em (5.1).

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠𝑈𝐵𝑟𝑚𝑠 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐵𝑟𝑚𝑠𝑈𝐶𝑟𝑚𝑠 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐶𝑟𝑚𝑠

(5.1)

Substituindo os resultados da Tabela 2 em (5.1), obtém-se (5.2).

17,03𝑓𝑟 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠21,76𝑓𝑟 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐵𝑟𝑚𝑠17,56𝑓𝑟 = 𝜔Ψ𝑀𝑃𝐶𝑟𝑚𝑠

(5.2)

Na expressão (5.2), 𝑓𝑟 é a frequência de rotação mecânica do rotor, em Hz, à qual corresponde

uma frequência angular de rotação do rotor 𝜔𝑟. Por sua vez, 𝜔𝑟 relaciona-se com a frequência angular

elétrica 𝜔 através do número de pares de polos magnéticos 𝑃𝑝, como (4.1), reescrita em (5.3).

𝜔 = 𝑃𝑝𝜔𝑟 (5.3)

Inserindo (5.3) em (5.2), obtêm-se as expressões em (5.4).

Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠 =

17,03

2𝜋𝑃𝑝

Ψ𝑀𝑃𝐵𝑟𝑚𝑠 =21,76

2𝜋𝑃𝑝

Ψ𝑀𝑃𝐶𝑟𝑚𝑠 =17,56

2𝜋𝑃𝑝

(5.4)

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36

Por fim, sabendo que 𝑃𝑝 = 16, calculam-se os valores eficazes dos fluxos magnéticos ligados

por fase, que são listados na Tabela 4.

Tabela 4 – Valores eficazes do fluxo ligado entre uma fase e os magnetos permanentes

Grandeza Valor [Wb]

Ψ𝑀𝑃𝐴𝑟𝑚𝑠 0,169

Ψ𝑀𝑃𝐵𝑟𝑚𝑠 0,217

Ψ𝑀𝑃𝐶𝑟𝑚𝑠 0,175

É importante notar que estas grandezas são consideradas funções da posição do rotor de forma

sinusoidal, estando desfasadas de 120º elétricos umas das outras. A discrepância entre as

características de circuito aberto de cada fase observada na secção 4.2 reflete-se então na diferença

entre valores eficazes dos fluxos ligados com cada fase, como mostra a Tabela 4.

5.1.2 Cálculo da matriz dos coeficientes de indução

Dos resultados presentes na secção 4.6, é possível estabelecer algumas conclusões acerca

da dependência dos valores dos coeficientes de indução quer com a posição do rotor, quer com a

intensidade das correntes no estator. Nesse sentido, uma vez que nos resultados da Figura 20, Figura

21 e Figura 22 não se verifica uma variação significativa das FEMs induzidas face à posição do rotor,

considerou-se este de geometria cilíndrica, assim como os coeficientes de indução própria e mútua

tendo os seus valores independentes da posição do rotor. Por outro lado, uma análise dos resultados

da Figura 23, Figura 24 e Figura 25, permite concluir a existência de uma relação linear entre os valores

de FEM induzida e as correntes em cada fase e, consequentemente, a ausência de saturação

magnética do ferro.

Considera-se, adicionalmente, que a profundidade de penetração do campo magnético no ferro

do estator para o maior valor de frequência ensaiado é maior que a espessura das lâminas de ferro

usadas, pelo que se assume que os valores dos coeficientes de indução própria e mútua são também

independentes da frequência elétrica.

Na secção 3.3.5 mostrou-se que, para um ensaio com rotor bloqueado e corrente sinusoidal

imposta na fase A do estator, as tensões nas fases do estator estão relacionadas com a corrente

imposta 𝐼𝑚𝑝, de frequência angular elétrica 𝜔𝑖𝑚𝑝, através de coeficientes de indução própria e mútua

segundo as expressões em (3.41), repetidas em (5.5).

𝑈𝐴 = (𝑅𝐴 + 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝𝐿𝐴)𝐼𝑚𝑝

𝑈𝐵 = 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝𝑀𝐴𝐵𝐼𝑚𝑝

𝑈𝐶 = 𝑗𝜔𝑖𝑚𝑝𝑀𝐴𝐶𝐼𝑚𝑝

(5.5)

De (5.5) pode obter-se um conjunto de equações que relaciona os valores eficazes das tensões

nas fases do estator com o valor eficaz da corrente imposta, neste caso, na fase A. Essas equações

apresentam-se em (5.6).

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37

𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠 = √𝑅𝐴2 + (𝜔𝑖𝐿𝐴)

2𝐼𝑖𝑚𝑝𝑟𝑚𝑠

𝑈𝐵𝑟𝑚𝑠 = 𝜔𝑖𝑀𝐴𝐵𝐼𝑖𝑚𝑝𝑟𝑚𝑠𝑈𝐶𝑟𝑚𝑠 = 𝜔𝑖𝑀𝐴𝐶𝐼𝑚𝑝𝑖𝑟𝑚𝑠

(5.6)

Tendo em conta a ausência de saturação magnética e de efeito pelicular, os valores dos

coeficientes de indução consideram-se constantes, incluindo 𝐿𝐴, 𝑀𝐴𝐵 𝑀𝐴𝐶 , pelo que os valores destes

podem ser obtidos através das equações em (5.7), extraídas de (5.6) por manipulação algébrica.

𝐿𝐴 =

√(𝑈𝐴𝑟𝑚𝑠𝐼𝑖𝑚𝑝𝑟𝑚𝑠

)2

− 𝑅𝐴2

𝜔𝑖𝑚𝑝

𝑀𝐴𝐵 =𝑈𝐵𝑟𝑚𝑠

𝐼𝑖𝑚𝑝𝑟𝑚𝑠𝜔𝑖𝑚𝑝

𝑀𝐴𝐶 =𝑈𝐶𝑟𝑚𝑠

𝐼𝑖𝑚𝑝𝑟𝑚𝑠𝜔𝑖𝑚𝑝

(5.7)

Seguindo um processo semelhante para as restantes fases, é então possível determinar os

valores dos coeficientes de indução própria e mútua de cada fase. Na Tabela 5 apresentam-se os

valores obtidos de todos aqueles coeficientes de indução.

Tabela 5 – Valores dos coeficientes de indução própria e mútua obtidos para as fases A, B e C

Coeficiente Valor [H]

𝐿𝐴 0,111

𝐿𝐵 0,131

𝐿𝐶 0,107

𝑀𝐴𝐵 0,051

𝑀𝐵𝐶 0,049

𝑀𝐴𝐶 0,014

Circuito elétrico equivalente

Partindo modelo de parâmetros concentrados por fase adotado na secção 2.2, cujos

parâmetros se encontram calculados na secção 5.1, procura-se agora elaborar um circuito elétrico

equivalente do GSMP. Este circuito, tal como o gerador que ele irá procurar representar, será um circuito

trifásico, podendo ser representado por três circuitos semelhantes, um por cada fase do gerador.

O modelo eletromagnético por parâmetros concentrados adotado para o GSMP é descrito pelas

equações (2.15) a (2.19), das quais se selecionam aquelas associadas à fase A, visto as outras fases

apresentarem equações de formato semelhante. Deste modo, obtém-se as relações (5.8) a (5.10) para

a fase A.

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38

𝑒𝐴 = 𝑅𝐴𝑖𝐴 + 𝑢𝐴 (5.8)

𝑒𝐴 = −

𝑑

𝑑𝑡𝛹𝐴

(5.9)

𝛹𝐴 = 𝐿𝐴𝑖𝐴 +𝑀𝐴𝐵𝑖𝐵 +𝑀𝐶𝐴𝑖𝐶 +Ψ𝑀𝑃𝐴 (5.10)

Usando notação complexa, considerando que o gerador funciona em regime forçado alternado

sinusoidal, é possível reescrever e sintetizar as equações (5.8) a (5.10), de forma a obter uma única

equação, (5.11).

−𝑗𝜔𝑀𝐴𝐵𝐼 − 𝑗𝜔𝑀𝐶𝐴𝐼 − 𝑗𝜔Ψ𝑀𝑃𝐴 = 𝑅𝐴𝐼 + 𝑗𝜔𝐿𝐴𝐼 + 𝑈𝐴 (5.11)

O termo esquerdo da equação (5.11) é uma força eletromotriz 𝐴, podendo agora reescrever-

se (5.11) como (5.12).

𝐴 = 𝑅𝐴𝐼 + 𝑗𝜔𝐿𝐴𝐼 + 𝑈𝐴 (5.12)

As relações presentes na equação (5.12) podem ser representadas então por um circuito

elétrico equivalente como aquele que se mostra na Figura 27, típico de geradores síncronos trifásicos

alternados sinusoidais.

Figura 27 – Circuito elétrico equivalente para a fase A assumido para o gerador sín-

crono de magnetos permanentes

Na Figura 27, a força eletromotriz 𝐴 gerada é aplicada à resistência 𝑅𝐴 e à indutância 𝐿𝐴, sendo

que nos terminais equivalentes aos da fase A do estator do GSMP, ocorre uma tensão 𝑈𝐴 após ser

retirada a queda de tensão devido à passagem de uma corrente 𝐼, caso o gerador alimente uma carga

nesta fase.

Estendendo o raciocínio anterior para as restantes fases do GSMP, o circuito elétrico trifásico

equivalente do mesmo pode ser representado de acordo com o esquema da Figura 28, atentando à

ligação em estrela com ponto neutro isolado das fases.

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39

Figura 28 – Esquema do circuito elétrico tido por equivalente para as três fases do gera-

dor síncrono de magnetos permanentes trifásico alternado sinusoidal

No entanto, na representação da Figura 28 pressupõe-se que as FEMs geradas, bem como as

restantes grandezas elétricas, apresentam uma evolução sinusoidal, representada graficamente pelo

respetivo fasor. Torna-se portanto necessário avaliar essa premissa, através de uma análise harmónica

das tensões e correntes nas fases.

Análise harmónica

De forma a avaliar o conteúdo harmónico das tensões e correntes observadas durante o

funcionamento do gerador, realizou-se uma análise em frequência (através da Transformada de

Fourier) dos sinais obtidos nos ensaios em circuito aberto e curto-circuito. Na Figura 29 e na Figura 30

mostram-se os resultados dessa análise, para a tensão e corrente em cada fase, respetivamente, e

para o valor mais baixo de velocidade do gerador, equivalente a uma frequência elétrica de 0,61Hz

para as tensões e 0,98Hz para as correntes. Os três gráficos da Figura 29 (a) mostram a evolução da

tensão em cada fase do gerador, enquanto a Figura 29 (b) apresenta o conteúdo harmónico presente

em cada tensão através das primeiras 10 harmónicas. Os resultados para as correntes em curto-circuito

são apresentados de forma semelhante na Figura 30 (a) e na Figura 30 (b).

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

Tempo [s]

Tensão E

ficaz [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

(a)

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40

(b)

Figura 29 – Evolução transiente (a) e conteúdo harmónico (b) das tensões em circuito aberto

para frequência elétrica f1=0.61Hz

(a)

(b)

Figura 30 – Evolução transiente (a) e conteúdo harmónico (b) das correntes em curto-cir-

cuito para frequência elétrica f1=0.98Hz

0 1 2 3 4 5 6 70

20

40

60

80

100

Frequênciaelétrica

[Hz]

Tensão E

ficaz [

% d

a c

om

ponente

fundam

enta

l]

Fase A

Fase B

Fase C

3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

Tempo [s]

Co

rre

nte

Efica

z [

A]

Fase A

Fase B

Fase C

0 2 4 6 8 10 120

20

40

60

80

100

Frequênciaelétrica

[Hz]

Corr

ente

Eficaz [

% d

a c

om

ponente

fundam

enta

l]

Fase A

Fase B

Fase C

3ª4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª

Page 57: Formulação de um Modelo Elétrico a Parâmetros Concentrados ... · eletromecânicas, conteúdo harmónico e perdas de potência no gerador. Ensaios como os de circuito aberto,

41

Na Figura 30 é também possível notar o desequilíbrio entre fases, como na Figura 29 e nas

características em circuito aberto e curto-circuito traçadas anteriormente na Figura 10 e na Figura 11.

Assim, sendo já conhecida esta situação, optou-se por simplificar a apresentação dos resultados na

Figura 31 e na Figura 32, calculando a partir dos resultados a média das três fases, para cada

frequência elétrica do gerador ensaiada, e apresentando-se esses resultados na Figura 31 e na Figura

32, normalizados para cada frequência ensaiada, para as tensões em circuito aberto e correntes em

curto-circuito, respetivamente.

Deve notar-se que as frequências elétricas ensaiadas são diferentes para as tensões em

circuito aberto e para as correntes em curto-circuito, em número e valor, devido à natureza instável da

montagem utilizada no acionamento mecânico do veio do gerador, realizado por ação direta na

regulação da alimentação da MA, isto é, no autotransformador.

Figura 31 – Conteúdo harmónico das tensões em circuito aberto para várias frequências

Figura 32 – Conteúdo harmónico das correntes em curto-circuito para várias frequências

Os resultados da Figura 31 e da Figura 32 mostram claramente que, no geral, o conteúdo

harmónico das tensões e das correntes é desprezável, uma vez que as componentes harmónicas

1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

20

40

60

80

100

Ordem da harmónica

Tensão E

ficaz [

% d

a c

om

ponente

fundam

enta

l]

f1=0.61 Hz

f1=1.46 Hz

f1=3.42 Hz

f1=8.54 Hz

f1=12.21 Hz

f1=14.65 Hz

1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

20

40

60

80

100

Ordem da harmónica

Corr

ente

Eficaz [

% d

a c

om

ponente

fundam

enta

l]

f1=0.98 Hz

f1=3.17 Hz

f1=12.21 Hz

f1=14.65 Hz

f1=15.87 Hz

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42

apresentam valores residuais face ao valor da componente fundamental de frequência. Contudo, no

caso particular da frequência elétrica mais baixa ensaiada (0,61Hz/0,98Hz), verifica-se que a 2ª e a 3ª

harmónica apresentam valores não desprezáveis (acima dos 5% da componente fundamental). Este

resultado pode ser justificado pelo efeito do acoplamento mecânico efetuado através da caixa de

velocidades entre o GSMP e a máquina motriz, a máquina assíncrona. A caixa de velocidades, ao

apresentar folgas entre os seus dentes é responsável por uma perturbação mecânica periódico

presente durante a rotação do veio do gerador. Esta perturbação, por sua vez, implicou uma

deformação local na forma de onda das tensões em circuito aberto (Figura 33) e também nas correntes

em curto-circuito (Figura 34) observadas, sendo mais evidente nas tensões em circuito aberto.

Figura 33 – Formas de onda das tensões em circuito aberto para f1=0.61Hz e o apareci-

mento do efeito da perturbação mecânica nas mesmas

Figura 34 – Formas de onda das correntes em curto-circuito para f1=0.98Hz e o apareci-

mento do efeito da perturbação mecânica nas mesmas

Modelo em componentes simétricas aplicadas ao sistema trifásico

desequilibrado anterior

Através dos resultados da secção anterior, confirma-se que o conteúdo harmónico das tensões

e correntes no estator do GSMP é pouco significativo, pelo que o circuito elétrico apresentado na Figura

28 constitui uma representação adequada do GSMP. No entanto, esse circuito elétrico, na forma em

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

Tempo [s]

Tensão E

ficaz [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

Tempo [s]

Corr

ente

Eficaz [

A]

Fase A

Fase B

Fase C

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43

que é apresentado, apresenta alguma dificuldade na sua análise, nomeadamente devido à

interdependência magnética entre os circuitos das fases do estator. Por esta razão, é importante a

criação de um novo circuito elétrico, ou conjunto dos mesmos, cuja análise seja de mais fácil execução.

Para o efeito, no estudo de geradores, síncronos e outros, e dos modelos que regem o seu

funcionamento, é prática comum usar transformações ortogonais aplicadas aos modelos de parâmetros

concentrados, como é o adotado, a fim de obter um novo modelo representativo do gerador, que

possibilita uma análise mais simples do seu circuito elétrico equivalente.

No caso dos geradores síncronos, é frequentemente usada a Transformada de Park. Esta,

quando aplicada a um sistema trifásico equilibrado de grandezas elétricas alternadas, permite reduzir

esse sistema a um outro composto apenas por duas grandezas constantes, facilitando assim futuros

cálculos, nomeadamente aqueles referentes ao controlo vetorial de máquinas síncronas. Isto é

conseguido através da rotação da referência do sistema trifásico inicial, sendo que a transformada

transfere as grandezas trifásicas para uma única referência rotacional, de forma a eliminar os efeitos

produzidos por coeficientes de indução variáveis com o tempo.

Contudo, no caso do GSMP em estudo, os coeficientes correspondentes às três fases do

estator presentes na matriz [𝐿] não são variáveis no tempo mas sim constantes, e o modelo de

parâmetros concentrados adotado é expresso ultimamente em fasores, pelo que se opta antes por

aplicar a Transformada de Fortescue.

A Transformada de Fortescue, quando aplicada a um sistema trifásico de tensões ou correntes,

equilibrado ou não, permite obter três sistemas trifásicos equilibrados independentes, de tensões ou

correntes, cujas fases se encontram polarizadas em sentido direto (d), inverso (i) e homopolar (h).

Usando para exemplo o sistema trifásico de tensões do estator do GSMP, definido por 𝑈𝐴, 𝑈𝐵

e 𝑈𝐶, as polarizações referidas são exemplificadas através dos diagramas de fasores da Figura 35,

sendo que as tensões trifásicas se relacionam com as suas componentes diretas, inversas e

homopolares segundo as equações em (5.13).

𝑈𝐴 = 𝑈𝐴𝑑 + 𝑈𝐴𝑖 + 𝑈𝐴ℎ𝑈𝐵 = 𝑈𝐵𝑑 + 𝑈𝐵𝑖 + 𝑈𝐵ℎ𝑈𝐶 = 𝑈𝐶𝑑 + 𝑈𝐶𝑖 + 𝑈𝐶ℎ

(5.13)

-2π 3

-4π 3

UCd

UAd

UBd

UBi

UCi

UAi

UAh UBh UCh

Figura 35 – Diagramas de fasores para sistemas de tensão trifásicos direto (esquerda),

inverso (centro) e homopolar (direita)

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A utilidade da Transformada de Fortescue reside na independência dos três novos sistemas,

vistos na Figura 35, cada um dos quais, sendo equilibrado, pode ser expresso por um fasor apenas

(uma vez que os três têm igual módulo e são desfasados de 120º entre si), o que vem facilitar

significativamente a análise do circuito elétrico equivalente do GSMP. Deste modo, as componentes

𝑈𝐴𝑑 , 𝑈𝐵𝑑 e 𝑈𝐶𝑑 passam a ser representadas por um único fasor, 𝑈𝑑, obtendo–se de modo semelhante

as componentes 𝑈𝑖 e ℎ.

Estas três componentes, organizadas no vetor [𝑈ℎ𝑑𝑖], podem ser calculadas partindo do vetor

de tensões trifásicas [𝑈𝐴𝐵𝐶], por meio da matriz representativa da Transformada de Fortescue [𝑇],

segundo as equações (5.14) e (5.15), onde se verifica a mesma igualdade para as correntes. A matriz

[𝑇] é expressa em (5.16).

[𝑈ℎ𝑑𝑖] = []−1[𝑈𝐴𝐵𝐶] (5.14)

[𝐼ℎ𝑑𝑖] = []−1[𝐼𝐵𝐶] (5.15)

[] = [

1 1 11 𝛼2 𝛼1 𝛼 𝛼2

] , 𝛼 = 𝑒𝑗2𝜋3

(5.16)

O funcionamento do GSMP em qualquer condição pode então ser descrito pelas tensões e

correntes trifásicas no seu estator que, transformadas segundo as equações em (5.14) e (5.15),

equivalem a três sistemas trifásicos equilibrados e independentes.

Por outro lado, o vetor de tensões trifásicas do estator e o vetor de correntes trifásicas do

estator podem ser relacionados um com o outro através de uma matriz de impedâncias: [𝐴𝐵𝐶], pela

forma indicada na equação (5.17). As entradas desta matriz são funções das resistências internas dos

enrolamentos e dos coeficientes de indução própria e mútua do circuito magnético do estator do GSMP,

da forma expressa em (5.18).

[𝑈𝐴𝐵𝐶] = [𝐴𝐵𝐶][𝐼𝐵𝐶] (5.17)

[𝐴𝐵𝐶] = [

𝑅𝐴 + 𝑗𝜔𝐿𝐴 𝑗𝜔𝑀𝐴𝐵 𝑗𝜔𝑀𝐶𝐴

𝑗𝜔𝑀𝐴𝐵 𝑅𝐵 + 𝑗𝜔𝐿𝐵 𝑗𝜔𝑀𝐵𝐶

𝑗𝜔𝑀𝐶𝐴 𝑗𝜔𝑀𝐵𝐶 𝑅𝐶 + 𝑗𝜔𝐿𝐶

] (5.18)

Assim, em alternativa ao conceito exposto nas equações (5.14) e (5.15), é possível aplicar a

Transformada de Fortescue à matriz [𝐴𝐵𝐶], com o objetivo de a transformar numa matriz diagonal

contendo os valores das impedâncias direta, inversa e homopolar, 𝑑, 𝑖 e ℎ, respetivamente. Essa

transformação realiza-se através da expressão em (5.19). As impedâncias 𝑑, 𝑖 e ℎ, por sua vez, são

compostas por partes resistivas, 𝑅𝑑, 𝑅𝑖, 𝑅ℎ e indutivas, 𝐿𝑑, 𝐿𝑖, 𝐿ℎ e relacionam-se com as tensões e

correntes diretas, inversas e homopolares, segundo as equações (5.20) a (5.22).

[ℎ𝑑𝑖] = []−1[𝐴𝐵𝐶][] = [

𝑑 0 0

0 𝑖 0

0 0 ℎ

] (5.19)

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𝑑 = 𝑅𝑑 + 𝑗𝜔𝐿𝑑 =

𝑈𝑑

𝐼

(5.20)

𝑖 = 𝑅𝑖 + 𝑗𝜔𝐿𝑖 =

𝑈𝑖

𝐼

(5.21)

ℎ = 𝑅ℎ + 𝑗𝜔𝐿ℎ =

𝑈ℎ

𝐼ℎ

(5.22)

A vantagem deste método resiste no facto de as impedâncias em [ℎ𝑑𝑖] descreverem o GSMP

através de circuitos elétricos independentes, válidos para qualquer frequência de rotação do veio.

Contudo, o método não é aplicável ao GSMP, pois de forma a obter uma matriz diagonal através

da transformação presente na equação (5.19), a matriz [𝐴𝐵𝐶] deve apresentar simetria cíclica, o que,

neste caso, requer a igualdade entre os valores dos coeficientes de indução mútua, expressa na

equação (5.23).

𝑀𝐴𝐵 = 𝑀𝐶𝐴 = 𝑀𝐵𝐶 (5.23)

Uma consulta dos valores calculados para essas grandezas na Tabela 5 revela que as

igualdades expressas em (5.23) não se verificam, confirmando a impossibilidade de aplicar este método

para cálculo das impedâncias simétricas 𝑑, 𝑖 e ℎ. Deve notar-se que ainda que fosse possível usar

este método, os resultados obtidos não teriam em conta a contribuição dos MPs para o funcionamento

do GSMP, sendo portanto inadequados.

Assim, confirma-se a impossibilidade de definir analiticamente as impedâncias simétricas de

forma a descrever o GSMP através de circuitos elétricos independentes. Contudo, é possível

aproximações dessas grandezas, usando os valores e evoluções obtidos para as tensões de circuito

aberto e correntes de curto-circuito nas secções 4.2 e 4.3, respetivamente. Essas aproximações

expressam-se nas equações (5.24) a (5.26), partindo das equações (5.20) a (5.22).

𝑑 =

𝑈𝑑

𝐼≈𝑈𝑑𝐶𝐴𝐼𝐶𝐶

(5.24)

𝑖 =

𝑈𝑖

𝐼≈𝑈𝑖𝐶𝐴𝐼𝐶𝐶

(5.25)

ℎ =

𝑈ℎ

𝐼ℎ≈𝑈ℎ𝐶𝐴𝐼ℎ𝐶𝐶

(5.26)

As tensões 𝑈𝑑𝐶𝐴, 𝑈𝑖𝐶𝐴, 𝑈ℎ𝐶𝐴 e correntes 𝐼𝐶𝐶, 𝐼𝐶𝐶, 𝐼ℎ𝐶𝐶 nas equações (5.24) a (5.26) podem ser

expressas através dos vetores [𝑈ℎ𝑑𝑖]𝐶𝐴 e [𝐼ℎ𝑑𝑖]𝐶𝐶 e os seus valores obtidos aplicando a transformação

de Fortescue às tensões e correntes trifásicas em circuito aberto e curto-circuito, [𝑈𝐴𝐵𝐶]𝐶𝐴 e [𝐼𝐵𝐶]𝐶𝐶,

respetivamente, como se exemplifica nas equações matriciais (5.27) e (5.28).

[𝑈ℎ𝑑𝑖]𝐶𝐴 = [𝑇]−1[𝑈𝐴𝐵𝐶]𝐶𝐴 (5.27)

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[𝐼ℎ𝑑𝑖]𝐶𝐶 = [𝑇]−1[𝐼𝐵𝐶]𝐶𝐶 (5.28)

Os valores eficazes das tensões no vetor [𝑈𝐴𝐵𝐶]𝐶𝐴 apresentam-se em função da frequência de

rotação na Tabela 2, verificando-se o mesmo para as correntes no vetor [𝐼𝐵𝐶]𝐶𝐶 na Tabela 3. Através

destes resultados é então possível proceder ao cálculo aproximado da evolução módulo das

impedâncias simétricas 𝑑, 𝑖 e ℎ com a frequência elétrica, de acordo com o método exposto nas

equações (5.24) a (5.28). Estas evoluções apresentam-se na Figura 36.

Figura 36 – Evoluções aproximadas dos módulos das impedâncias simétricas com a fre-

quência elétrica

Na Figura 36, são também apresentadas regressões de cada evolução aproximada em função

da frequência elétrica, 𝒇𝒆𝒍 , cujas equações e valores de coeficiente de determinação são apresentados

na Tabela 6. Estas regressões foram adaptadas ao máximo às aproximações efetuadas, tentando-se

simultaneamente manter o formato das respetivas equações fiel à evolução do módulo de uma

impedância com a frequência elétrica. Além disso, teve-se ainda em conta que os valores das

resistências do estator do GSMP são iguais e de 10 Ohm, pelo que seria expectável que também as

impedâncias simétricas apresentassem esse mesmo valor resistivo.

Estes padrões revelaram-se impossíveis de manter, ainda que parcialmente, para a evolução

do módulo da impedância homopolar a frequências elétricas superiores a 9,6Hz, pelo que a regressão

efetuada para essa curva é apenas válida para frequências elétricas entre os 0 e os 9,6Hz, sendo as

restantes válidas para toda a gama de frequência.

Tabela 6 – Equações e coeficientes de determinação relativos a cada regressão para os módu-

los das impedâncias simétricas

Impedância Equação Coeficiente de Determinação (R2):

Direta |𝑑| = √102 + (2𝜋𝑓𝑒𝑙0,179)2 0,994

Inversa |𝑖| = √7.6832 + (2𝜋𝑓𝑒𝑙0,107)2 0,953

Homopolar |ℎ| = √102 + (2𝜋𝑓𝑒𝑙21,377)2 0,978

0 2 4 6 8 10 12 14 160

10

20

30

40

50

60

Frequênciaelétrica

[Hz]

dulo

da

s I

mp

edâ

ncia

s [

Oh

m]

|Zd|

|Zi|

|Zh|

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Uma análise às equações da Tabela 6 revela que os padrões referidos no parágrafo anterior

são apenas cumpridos na totalidade para a regressão do módulo da impedância direta. A regressão

referente à impedância inversa, embora mantendo o formato de equação ideal, apresenta um valor

resistivo da impedância diferente dos expectáveis 10 Ohm. Por último, na regressão referente à

impedância homopolar, embora se verifiquem os 10 Ohm expectáveis de valor resistivo, é também

observável uma componente indutiva com uma dependência linear da frequência elétrica.

As irregularidades nas aproximações das evoluções das impedâncias simétricas e respetivas

regressões são consequência direta do desequilíbrio na geometria interna do GSMP, cuja evidência

está presente nos próprios resultados dos ensaios em circuito aberto e curto-circuito usados para

construir estas aproximações.

Ainda assim, partindo das equações da Tabela 6 e comparando-as às equações (5.20) a (5.22)

é possível definir valores aproximados das componentes resistivas e indutivas das impedâncias

simétricas, os quais se apresentam na Tabela 7, sendo o valor indutivo da impedância homopolar, como

já definido, dependente linearmente da frequência elétrica.

Tabela 7 – Valores das componentes resistivas e indutivas das impedâncias simétricas

Grandeza Valor [Ω] Grandeza Valor [H]

𝑅𝑑 10 𝐿𝑑 0,179

𝑅𝑖 7,683 𝐿𝑖 0,107

𝑅ℎ 10 𝐿ℎ 1,377𝑓𝑒𝑙

Por fim, com base nas componentes das impedâncias simétricas calculadas, é possível

esquematizar os circuitos independentes que caracterizam aproximadamente o funcionamento do

GSMP, relacionando as tensões, correntes e impedâncias simétricas, os quais se apresentam na Figura

37.

Figura 37 – Esquemas dos circuitos elétricos independentes equivalentes para as com-

ponentes simétricas do gerador síncrono de magnetos permanentes

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Capítulo 6

Conclusão

Com o trabalho desenvolvido nesta dissertação, foram definidos, parametrizados e executados

ensaios laboratoriais que permitiram caracterizar a força eletromotriz, a corrente de curto-circuito e o

funcionamento em carga resistiva e indutiva de um gerador síncrono de magnetos permanentes, bem

como desenvolver um modelo em circuito elétrico que descreve o funcionamento eletromagnético

desse mesmo gerador. A partir desses mesmos ensaios, foi possível realizar uma análise das

componentes harmónicas das tensões em circuito aberto e correntes em curto-circuito, que revelou a

inexistência conteúdo harmónico relevante, sendo por fim realizados ensaios térmicos que permitiram

tecer conclusões positivas acerca da possibilidade de sobreaquecimento do gerador em funcionamento

regular.

Quanto a perdas de potência no estator, essas estão incluídas no modelo desenvolvido sob a

forma da impedância interna dos enrolamentos desse mesmo estator, sendo as perdas no rotor

virtualmente inexistentes, visto este ser um GSMP, sem enrolamentos no rotor.

Infelizmente, com a aparelhagem disponível em laboratório, não foi possível realizar ensaios

que permitissem criar uma característica de binário para este gerador, dado o acoplamento mecânico

imperfeito na montagem da Figura 1.

Ainda no que toca a condições menos favoráveis em laboratório, há que notar que o controlo

da frequência do rotor em todos nos ensaios (exceto térmicos e com rotor bloqueado) foi realizado

apenas por atuação na tensão fornecida à MA através do autotransformador, não sendo aplicado

controlo V/f. Este foi o caso pois uma tentativa de usar o aparelho ALTIVAR 31 para regular a frequência

do rotor revelou uma quantidade de ruído de alta frequência induzido nas grandezas elétricas

observadas que não permitiu uma interpretação correta dos dados. Para além disso, também não

estava disponível uma resistência trifásica equilibrada de valor regulável, a qual colocada em série com

os enrolamentos do rotor da MA e regulada para valores suficientemente baixos permitiria um melhor

controlo da frequência do rotor. Esta mesma resistência teria sido útil na realização dos ensaios em

carga resistiva, produzindo resultados mais exatos com menor embaraço.

A análise dos resultados dos primeiros ensaios laboratoriais permite concluir que o

funcionamento do GSMP é bastante desequilibrado, sendo este facto reforçado pelos resultados dos

restantes ensaios laboratoriais e refletido em todas as relações, equações e modelos derivados dos

mesmos, desde as características em circuito aberto e curto-circuito aos parâmetros do modelo de

parâmetros concentrados criado. Como indicado repetidamente ao longo desta dissertação, conclui-se

que este desequilíbrio no funcionamento do GSMP reflete um desequilíbrio na sua geometria interna,

nomeadamente na ligação magnética entre os MPs e os enrolamentos do estator. Uma definição mais

concreta desse desequilíbrio interno seria possível apenas através de uma análise construtiva do

GSMP, a qual se encontra fora do âmbito desta dissertação, na qual se aborda o gerador como uma

“caixa-negra”.

Apesar deste desequilíbrio, os resultados dos ensaios realizados vão de encontro àqueles

previstos na secção 3.3, validando o modelo de parâmetros concentrados proposto, e sendo através

deles possível o cumprimento da maior parte dos objetivos propostos inicialmente para esta

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49

dissertação. Foi ainda possível criar um modelo aproximado do GSMP em componentes simétricas,

partindo não do modelo em parâmetros concentrados, mas sim diretamente dos resultados dos ensaios

em circuito aberto e curto-circuito. Neste modelo, o desequilíbrio na geometria interna do gerador fez-

se mais uma vez notar, na medida em que o comportamento das impedâncias simétricas calculadas

face à frequência não coincidiu com aquele expectável, notando-se ainda que o modelo não é válido

para toda a gama de frequências ensaiada em laboratório.

Para a utilização deste gerador como componente útil na produção de energia, dados os

desequilíbrios apresentados pelo mesmo, sugere-se o pré-tratamento das grandezas elétricas do

estator a fim de possibilitar uma ligação à rede elétrica em regime trifásico, através de eletrónica de

energia, nomeadamente, um sistema retificador e ondulador.

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50

Capítulo 7

Trabalho futuro

Os primeiros passos na continuação do trabalho desenvolvido nesta dissertação deverão

passar, essencialmente, pelo cumprimento dos objetivos em falta nesta dissertação, nomeadamente, a

realização de ensaios para construção de uma característica de torque para o gerador e quantificação

dos seus parâmetros mecânicos. Além disso, será ainda útil o desenvolvimento de um modelo de

simulação (em ambiente Simulink, por exemplo), através do qual seja possível simular

computacionalmente diversas condições de funcionamento do gerador, bem como gerar resultados

passíveis de comparação com aqueles obtidos em laboratório, nomeadamente, os resultados dos

ensaios em carga resistiva e indutiva.

Na construção de um modelo deste GSMP à escala real, sugere-se que se tenha em conta os

desequilíbrios no funcionamento deste GSMP, averiguando as suas causas e procedendo à mitigação

ou eliminação desses desequilíbrios.

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Referências bibliográficas

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Out. 1973.

[3] J. B. Faria, Electromagnetic Foundations of Electrical Engineering, John Wiley & Sons,

Ltd, 2008.

[4] C. V. Jones, The Unified Theory of Electrical Machines, London: Butterworths, 1967.

[5] P. Vas, Vector Control of AC Machines, Oxford: Clarendon Press, 1990.

[6] I. Boldea e L. Tutelea, Electric Machines - Steady State, Transients, and Design with

MATLAB®, Boca Raton, Florida: CRC Press - Taylor and Francis Group, LLC, 2010.