renovaÇÃo do rio: a cidade decide - aippyc.org20guggenheim%20… · sublinham a auto-estima...

83

Upload: vuongkiet

Post on 23-Sep-2018

213 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

RENOVAÇÃO DO RIO: A CIDADE DECIDE As CIDADES são organismos vivos que se desenvolvem renovando-se. Renovam

sua infra-estrutura, renovam-se urbanisticamente, renovam seus equipamentos privados, seus equipamentos públicos. Renovam-se defendendo o meio ambiente. Renovam-se preservando a sua história. Renovam-se expandindo e qualificando seus serviços. Renovam-se expandindo seu perímetro urbano. Renovam-se para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Renovam-se para se tornarem mais e mais competitivas, multiplicando as oportunidades para todos. A marca da decadência urbana é a perda da capacidade de renovação. Os desafios de renovação são permanentes em todas as cidades e muito maiores naquelas que combinam crescimento demográfico e exclusão social, pois estas devem se renovar ampliando e incluindo. Nos paises de maior renda, a renovação das CIDADES incorpora os governos centrais e o setor privado e ocorre de forma permanente. No Brasil, o setor privado concentra-se nos equipamentos privados - comerciais ou habitacionais - e o governo central, a cada dia mais, apenas através do crédito de suas agências de fomento. O esforço maior e crescente concentra-se em estados e municípios, limitados financeiramente. Por isso, a renovação urbana se dá em ciclos, ou mesmo golfadas, devido a uma conjuntura de oportunidades. E esta não pode ser desperdiçada. O Rio teve suas energias reativadas como sede da Eco-92. Afirmou seu sinal de cidade global. Relançou a auto-estima carioca. A Constituição de 1988 atendeu especialmente às capitais e criou a base para uma gestão pró-ativa. Porém, isso seria insuficiente para um programa de renovação urbana devido aos seus imensos custos. O setor privado manteve seu foco natural: os novos edifícios e condomínios, os shoppings centers…. E o setor público renovou e ampliou relativamente sua infra-estrutura para que a cidade, pelo menos, funcionasse. Ai estão o abastecimento de água, os túneis, aterros, grandes vias públicas e, timidamente, o metrô.

A renovação urbanística se deu na lógica privada de re-criação de bairros, linearmente. A ela correspondeu a degeneração de outros e a ocupação desordenada do solo. Sofreu a qualidade ambiental. Se pensarmos em grandes e sofisticados equipamentos de uso público, talvez o último tenha sido o Riocentro, há 30 anos, ou o Maracanã, há 50 anos. Alguns prédios federais sem uso, após a mudança da capital, deram umas poucas notas positivas e intermediárias. A Eco-92 não trouxe os equipamentos que Lisboa ou Sevilha obtiveram em eventos menores. Trouxe a Linha Vermelha, para sermos justos. Deixando de ser Capital, o governo central não tinha mais pretexto para discriminar positivamente o Rio. O nosso Estado, por seu hibridismo e pela reiterada crise financeira de mesma origem, não tem tido - e não tem - fôlego para intervir. Este esforço matriz cabe à nossa Cidade. Não podemos perder oportunidades. A Cidade precisa de todos. Um erro de gestão, em 1993, foi a personalização que se evita hoje. Surgiram duas conjunturas de oportunidades que permitiram ao Rio entrar num ciclo longo de renovação, obtendo recursos proporcionais para isso. Uma, com o advento do Plano Real, quando a Prefeitura projetou uma conjuntura positiva. Com isso, obteve recursos financeiros extra-orçamentáveis que alavancaram uma renovação urbanística diversificada como nunca, num mesmo momento, o Rio viveu: os programas Favela-Bairro, Rio-Cidade e alternos, que continuam e completam, em 2003, dez anos.

A infra-estrutura social - rede de esgotos naqueles programas, escolas, unidades de saúde pública e unidades sócio-esportivas - se expandiu. Isso permanece e também completa dez anos. A Linha Amarela - nossa primeira diagonal - foi possível graças àqueles recursos combinados com um sistema de concessão. O Riocentro foi duplicado. As grandes vias públicas - Brasil, Américas, Alvorada, Lagoa-Barra, Rebouças... - municipalizadas e qualificadas, assim como todas as demais vias troncais suburbanas. Temos, hoje, um ciclo decenal de renovação urbana que ainda está a menos da metade. Em 2001 surgiu uma nova conjuntura de oportunidades. Desta vez, ao contrário da primeira, projetando uma conjuntura negativa. Outra vez a Prefeitura obteve expressivos recursos extra-orçamentáveis aos quais adicionou, e adiciona, linhas de crédito das agências de fomento federais e internacionais. Neste momento, está sendo aprovado, com apoio federal, um programa junto ao Banco Mundial, que dobrará, universalizando, as

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 1

matrículas em Educação Infantil, depois de uma década em que elas já foram quadruplicadas. São 100 milhões de dólares. Estamos em fase final de decisão com o Governo Federal quanto a um programa, financiado pelo Fundo Ambiental Japonês-JBIC, de 18 bilhões de ienes com juros de 2,5% e sete anos de carência, que irá recuperar. ambiental e socialmente, as lagoas da Barra-Jacarepaguá e seu entorno. Os recursos conquistados no mercado financeiro em 2001 e 2002, e disponíveis hoje, permitem à nossa Cidade dar passos próprios de uma cidade de renda média muitas vezes maior. Permite ao Rio ingressar num ciclo de renovação de grandes e sofisticados equipamentos de uso público, com um amplo efeito multiplicador urbano, econômico e social. Estas decisões não podem ser entendidas no seu próprio universo. Impactam a Cidade em sua identidade internacional única no Brasil. Impactam o ambiente urbano que a circunda. Ativam sua capacidade turística. Sublinham a auto-estima carioca. E cumprem, claro, suas funções específicas.

A metodologia utilizada nas decisões levou em conta esse leque de desdobramentos. Não podem ser entendidos como investimentos de rotina. Não podem ser avaliados pelos custos, mas pelo retorno de seus desdobramentos para a cidade. Ativarão a sua economia de serviços e, com ela, o emprego qualificado e a inclusão. Elas convergem com o relançamento global do Rio, com os Jogos Pan-Americanos de 2007, com os eventos que fazem parte de nossa identidade, como o Carnaval, com o turismo de negócios em congressos continuados,como o da Abras e o dos Agentes de Viagem. E, quem sabe, com as Olimpíadas de 2012, pavimentando, com estes fatos realizados, a estrada para um Rio muito melhor. Já lançamos o edital de um novo Centro de Convenções para atender a demanda de eventos de porte médio. Ficará na Cidade Nova. Estamos assinando um contrato para projeto e construção da Cidade da Musica, na Barra da Tijuca, tendo como referência La Villete, onde o Rio terá uma sala de concertos de fronteira, apta a receber qualquer espetáculo e competir com as melhores do mundo. Estamos concluindo o contrato com o sistema de museus Guggenheim-Hermitage-Kunsthistorisches, incluindo também, por este sistema, o ZKM. Muito mais que um museu com arquitetura ousada e única, será um deflagrador da revitalização urbana da área portuária e do Centro Histórico, além de recolocar o Rio no circuito das grande cidades globais, recuperando sua centralidade cultural. Longe de concorrer com os demais equipamentos culturais, cria demanda específica para eles, como nas grandes cidades do mundo.

Para o Pan-Americano, a cidade terá que realizar investimentos em novos equipamentos esportivos e com despesas contratuais. Finalmente, a Prefeitura solicitou ao Estado a gestão da concessão da Linha 6 do Metro - Barra/Galeão - que ordenará o acesso e, mais do que isso, eliminará os riscos de uso ilegal do solo ao aproximar uma área de expansão urbana de toda a cidade, com ganhos inestimáveis de estabilidade residencial. Por tudo aqui exposto, em função do tempo de efetivação destas decisões, de hoje e pelos próximos dez anos, pelo seu caráter permanente, pela continuidade administrativa na democrática possibilidade de descontinuidade política, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, consciente de que tais decisões podem ser estimuladas ou obstruídas no plano parlamentar ou social, vem reafirmar essas decisões, que implicam em investimentos em equipamentos culturais e de convenções no valor de 800 milhões de reais em um lustro, de 400 milhões de reais em equipamentos esportivos e contratos até 2007, e de infra-estrutura de transportes de 1 bilhão de reais em uma década. Ao convidarmos o carioca ao debate sobre nossa Cidade, apresentamos, anexo, o Estudo de Viabilidade do Museu Guggenheim-Hermitage-Kunsthistorisches-Rio, em sua fase de discussão final e ajuste de detalhes, dando a máxima transparência a uma decisão que se encontra em curso.

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 2

MUSEU GUGGENHEIM-HERMITAGE-KUNSTHISTORISCHES-RIO - RELATÓRIO DO ESTUDO DE VIABILIDADE Versão para Discussão Índice 1. Apresentação 2. O Rio de Janeiro no século XXI (em preparação) 3. A paisagem cultural do Rio de Janeiro (em preparação) 4. O Guggenheim global 5. Programa de arte e exposições 6. O local 7. A arquitetura: o projeto 8. A arquitetura: análise técnica e custos de construção 9. Estrutura legal 10. O modelo operacional 11. Estudo de mercado 12. Análise do impacto econômico 13. Conclusões 1- APRESENTAÇÃO Este estudo de viabilidade é o produto de uma colaboração internacional que reflete a natureza cada vez mais global da cultura. A cidade do Rio de Janeiro escolheu a Fundação Solomon R. Guggenheim, uma instituição que atualmente opera em quatro países, para avaliar a viabilidade da implantação de um Museu Guggenheim no Rio. O arquiteto escolhido para o projeto foi Jean Nouvel, de renome internacional e que tem sua base em Paris, e os serviços de consultoria foram realizados por empresas localizadas em Bilbao, Nova York, Rio e São Paulo. De qualquer forma, a perspectiva de um Museu Guggenheim-Rio tem significado específico localmente para a cidade do Rio de Janeiro, e se adapta claramente à missão definida dos Guggenheim. O museu, construído no Pier Mauá, seria um catalisador da retomada do desenvolvimento da área do Cais do Porto, que é parte do centro histórico da cidade e que sofreu significativo declínio ao longo dos anos. O projeto é considerado o mais ousado dos investimentos culturais do Rio, com impacto econômico atingindo muito além do distrito imediato do Museu. Para a Fundação Guggenheim, o Museu apresentaria uma oportunidade de levar adiante a sua missão de atingir o mais amplo público possível como intérprete privilegiado e influenciador da cultura internacional contemporânea, enriquecendo a sua rede global por meio de um compromisso de longo prazo com a América Latina. É nesse contexto que este estudo tentou verificar se há uma confluência de interesses que sustente um novo e internacionalmente importante museu de arte contemporânea e moderna, que beneficiasse mutuamente o Rio e a sua economia local, regional e nacional, e o Guggenheim. Em termos amplos, uma entidade com base no Rio proporcionaria o local para o Museu físico, capitalizando-o e mantendo-o, e garantindo fundos operacionais. O Guggenheim forneceria o conhecimento especializado em

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 3

desenvolvimento, administração, operações, coleções e programação para museus, além de um nome forte, internacionalmente respeitado. Analisando simultaneamente o projeto a partir das perspectivas arquitetônica, técnica, financeira, econômica, demográfica, legal e cultural, este estudo tratou dos custos e benefícios que poderiam resultar da realização do projeto e das condições nas quais poderia operar. Objetivos do Rio Para a cidade do Rio de Janeiro, o Museu Guggenheim-Rio atingiria três objetivos locais e regionais principais: 1. Seria um avanço substancial no programa da retomada do desenvolvimento urbano do

Cais do Porto, que vem enfrentando grave deterioração, trazendo maior progresso e atividade. O Rio tem diversos planos para a revitalização da área, em diversos estágios de planejamento. Os objetivos básicos desses planos são: (i) melhorar a qualidade urbana da área; (ii) melhorar ou fornecer, onde faltarem, os equipamentos urbanos, e (iii) otimizar os setores que já foram ocupados por usos portuários com uma variedade de novos usos que reforçariam e permitiriam a expansão do centro tradicional da cidade. O Museu Guggenheim-Rio seria a parte mais poderosa desses planos e forneceria um ímpeto para outros projetos públicos e privados. Se o Museu fizesse parte de uma estratégia para implementar os elementos essenciais de um plano geral, funcionaria como o fulcro do projeto de total regeneração urbana e social da área portuária do Rio.

2. Teria um significativo impacto econômico positivo na região. A reputação internacional e o forte reconhecimento do nome da Fundação Guggenheim, bem como o seu conhecimento especializado sobre coleções, afiliações e programações, aliados ao arrojado projeto arquitetônico de Jean Nouvel, aumentariam o turismo, estimulariam a economia, gerariam impostos e valorizariam os imóveis da área portuária.

3. Traria uma experiência cultural única para a cidade e a região, com um significado e um alcance que o Rio não poderia atingir sozinho. As coleções Guggenheim e a sua colaboração especial com o Museu Estatal Hermitage de São Petersburgo e o Kunsthistorisches Museum de Viena, além de suas afiliações com outras instituições em todo o mundo, forneceriam recursos de coleções que o Rio estaria virtualmente impossibilitado de obter independentemente e que poucas instituições podem oferecer. Tais recursos, aliados ao conhecimento de curadoria do Guggenheim para o desenvolvimento de programações de reconhecimento internacional, que podem ser exibidos em alguns dos seus seis outros museus, permitiriam exposições do mais alto nível em uma base de custos mais eficiente. Isso iria inserir o Rio no circuito internacional de arte, com todo o prestígio que isso implica.

Objetivos do Guggenheim Para a Fundação Solomon R. Guggenheim, o Museu Guggenheim-Rio atenderia a quatro objetivos institucionais principais: 1. Traria novas oportunidades para a Fundação, para que esta continuasse a realizar os

termos do seu documento original de fundação , “viabilizar a promoção da arte e o aperfeiçoamento mental ou moral de homens e mulheres pela ampliação de sua educação, esclarecimento e gosto estético, e pelo desenvolvimento do entendimento e da apreciação da arte pelo público; estabelecer, manter e operar … museu ou museus,

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 4

ou outro local ou locais adequados para a exibição pública da arte”. A Fundação Guggenheim vem buscando essa missão desde a sua formação, em 1937. O Museu Rio permitiria à Fundação Guggenheim ampliar a apresentação das suas extraordinárias coleções e exposições para o público, e criar novos diálogos e oportunidades educacionais entre os públicos dos Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Itália e Brasil.

2. Permitiria à Fundação Guggenheim dirigir-se a um público mais amplo em nível internacional, e expandir a sua Visão Global Guggenheim à América Latina. A Guggenheim funcionou, durante 20 anos, somente no seu prédio Frank Lloyd Wright. A primeira expansão ocorreu em 1979, quando a coleção Peggy Guggenheim foi doada à Fundação Guggenheim. Em 1989, os conselheiros da Guggenheim começaram a desenvolver a sua estratégia global para ampliar a capacidade da Fundação de realizar a sua missão e, desde 1997, implementou-se a visão Global Guggenheim através da abertura de espaços em Berlim, Bilbao e Las Vegas. O Museu Guggenheim-Rio continuaria essa abordagem com o seu primeiro museu na América Latina e estabeleceria um forte e harmônico intercâmbio cultural entre três continentes.

3. O extraordinário projeto de Jean Nouvel mantém a preocupação da Guggenheim com a excelência arquitetônica. O edifício Frank Lloyd Wright em Nova York e o Museu de Bilbao, de Frank Gehry, tornaram-se pontos de referência internacionais logo após a sua abertura, devido à ousadia e ao brilho dos seus projetos. As duas sedes do Museu Guggenheim em Las Vegas foram projetadas pelo arquiteto Rem Koolhaas, vencedor do Prêmio Pritzker, e dão continuidade aos princípios arquitetônicos superiores e ousados. O surpreendente projeto de Jean Nouvel, levando a arquitetura do século XXI e a beleza natural do Rio de Janeiro à superfície e abaixo da Baía de Guanabara, avança nesse compromisso com o inesperado e o excepcional.

4. Acrescentar outro museu dessa escala à rede global Guggenheim aumentará as eficiências institucionais e as economias de escala. A Fundação Guggenheim, hoje, opera seis museus de diversas escalas e âmbitos. A cada nova unidade surge potencial para eficiências operacionais que nenhuma delas obteria isoladamente. As atividades consolidadas de apoio às coleções, tais como a conservação, a pesquisa e o desenvolvimento das exposições, além de certas operações geradoras de receita, tais como a produção de catálogos e o desenvolvimento de produtos de varejo podem ser realizadas centralmente. Além disso, como o Guggenheim tem a sua própria rede de exposições itinerantes, não tem que estar continuamente em busca de outras instituições para o desenvolvimento de projetos conjuntos, dividir custos e maximizar a receita. Estas economias seriam aumentadas pelo Museu Guggenheim-Rio.

Histórico do Projeto No final da década de 1990, o diretor Thomas Krens e o Conselho Diretor do Guggenheim começaram a considerar seriamente um local na América do Sul que fizesse parte da estratégia global da Fundação Guggenheim. Os países considerados foram a Argentina, o Brasil e o Chile. Krens e os membros da equipe Guggenheim fizeram a primeira viagem ao Brasil no final de 1999, para explorar projetos que envolvessem a arte e a cultura daquele país. Em uma outra viagem, em maio de 2000, viram uma exposição monumental em São Paulo, organizada pelo empresário e promotor de arte Edemar Cid Ferreira através da sua empresa AB500/BrasilConnects. A exposição era uma comemoração dos 500 anos de história cultural brasileira e apresentava materiais de uma ampla gama de disciplinas,

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 5

inclusive arte indígena, colonial, contemporânea e moderna, arquitetura, obras afro-brasileiras, cultura popular e artefatos religiosos. Ver essa exposição inspirou Krens a organizar e apresentar uma exposição similar, em escala menor, mas ainda assim impressionante, em Nova York, como o título “Brazil: Body and Soul” (Brasil: corpo e alma, de outubro de 2001 a janeiro de 2002). Uma parte significativa da visita em maio foi um encontro com o presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, que deu o seu apoio à idéia de desenvolver a exposição de Nova York. Essa primeiras viagens também incluíram visitas a Brasília, Rio de Janeiro e Salvador. Em novembro de 2000, Ferreira organizou e patrocinou uma viagem ao Brasil para Krens e membros da equipe Guggenheim, durante a qual visitaram Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e Recife, explorando locações potenciais para museus. Em cada uma das cidades, o grupo reuniu-se com dirigentes locais e estaduais, que os receberam entusiasticamente, e visitaram os possíveis locais para museus. Krens desenvolveu a idéia de criar uma “rede de museus”, como um braço Guggenheim em cada uma das cidades visitadas em novembro. Em março de 2001, viajaram a Nova York representantes do Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e Recife, para discutir a idéia de uma parceria com a Guggenheim em todos esses locais. O resultado das reuniões não foi conclusivo e nos dez meses que se seguiram continuaram as discussões entre a Guggenheim e cada município. Devido a uma variedade de fatores políticos, sociais e econômicos, o Rio de Janeiro emergiu como a cidade com maior interesse e respaldo financeiro mais seguro para participar de um estudo de viabilidade. Em dezembro de 2001, estabeleceu-se que a cidade do Rio de Janeiro contrataria a Fundação Solomon R.Guggenheim para realizar este estudo de viabilidade. O estudo começou em 7 de janeiro de 2002 e foi concluído em 7 de novembro de 2002. Argumentação operacional O argumento fundamental para que a cidade do Rio de Janeiro e a Fundação Solomon R. Guggenheim prosseguissem com o estudo de viabilidade do Museu Guggenheim Rio foi a perspectiva de uma fusão sinergética de interesses e recursos. O Rio deseja um catalisador cultural para a retomada do desenvolvimento urbano e um estímulo para as economias local e regional, e tem recursos para financiar a construção principal e os custos operacionais. A Guggenheim tem grande riqueza de objetos culturais e tem acesso a valores incalculáveis muito maiores por meio da colaboração e da afiliação, além de um nome e reputação fortes e internacionalmente reconhecidos, grande conhecimento em programação do mais alto nível e o desejo de continuar a desenvolver o seu programa cultural e uma abordagem global em um novo mercado. A combinação dos respectivos interesses e recursos poderia resultar em benefícios substanciais para ambas as partes. Esta argumentação foi testada como parte deste estudo. Características Principais do Museu Guggenheim Rio Nome O Museu seria conhecido como “Museu Guggenheim-Hermitage-Kunsthistoriches-Rio”

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 6

Identidade arquitetônica Por definição, o projeto para o Museu proposto busca criar um marco que prenda a visão e que pertença de forma intrínseca ao local específico do Pier Mauá, que se alonga 400 metros para dentro da Baía de Guanabara. O arquiteto Jean Nouvel, de renome mundial, foi selecionado para projetar o Museu. O projeto audacioso de Nouvel toma como premissa a cidade de Atlântida. Ele transforma o próprio Pier e faz o visitante passar por uma série de ambientes e espaços que surpreendem e prendem, abaixo e sobre a superfície da água, trazendo a flora tropical do Rio para o mar, cercando tudo isso por um passeio público. Definição do programa de artes e exposições O programa de arte e exposições do Museu Guggenheim Rio teria quatro componentes principais, cada um deles com o seu edifício próprio dentro do complexo oceânico do projeto de Nouvel: (1) arte moderna e contemporânea brasileira e latino-americana; (2) exposições mediante empréstimos de longo prazo, principalmente do acervo da Fundação Guggenheim e seu parceiros, o Hermitage de São Petersburgo e o Kunsthistorisches Museum de Viena; (3) obras de multimídia focalizando formas de arte, além da pintura e escultura tradicionais, explorando novas expressões artísticas, inclusive as artes de representação, e (4) exposições temporárias especiais com a qualidade e o âmbito das que a Guggenheim atualmente apresenta em outros locais. A programação incluiria exposições em grande e pequena escala, desenvolvidas por curadores Guggenheim e exibidas em outras instituições Guggenheim, e também as desenvolvidas pelos curadores Guggenheim exclusivamente para o Rio ou desenvolvidas por outros grandes museus e apresentadas como parte de exposição itinerante negociada (que poderá ou não incluir outros museus Guggenheim). Coleção Permanente Brasileira e Latino-Americana Uma parte fundamental da identidade do Museu, e para o programa de exposições, será o desenvolvimento de uma coleção internacionalmente importante de arte brasileira e latino-americana dos séculos XX e XXI, que também poderia funcionar como complemento à coleção Guggenheim. Essa coleção se desenvolveria por meio de aquisições financiadas pela Cidade, doações, testamentos, empréstimos de longo prazo e acesso especial às coleções já existentes. Pessoal e Experiência em Administração e Curadoria A Fundação Guggenheim forneceria seu conhecimento de administração e curatorial para o Museu Guggenheim-Rio. Cerca de 180 vagas permanentes, para serem preenchidas localmente, seriam abertas de início para a administração e operação geral do Museu. Plano Operacional1 O Museu Guggenheim-Rio operaria com um orçamento bruto anual de aproximadamente US$ 24.000.000,00. O Museu geraria receita através das entradas, vendas a varejo e das diversas formas de patrocínio privado e empresarial. Considera-se que os custos anuais de exposição de aproximadamente US$ 9.000.000,00 seriam totalmente financiados por empresas pelos incentivos da Lei Rouanet ou mecanismos similares. A cidade do Rio seria responsável por subsídios operacionais anuais projetados

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 7

atualmente em US$ 8.000.000,00 a US$ 12.000.000,00, em quantias precisas a serem determinadas por meio das negociações orçamentárias anuais, além de suprir alguma falta no financiamento de exposições pela Lei Rouanet ou similares. Obs.: Os valores em dólar americano se referem a uma taxa de câmbio de equilíbrio do início do ano de 2002 Propriedade e estrutura legal Seria criada uma fundação privada controlada pela Cidade do Rio de Janeiro, que seria responsável pela construção do Museu com assessoramento da Guggenheim. A cidade seria responsável pelo financiamento e por todos os custos de construção. Esta nova fundação e a Fundação Guggenheim formariam juntas uma nova associação, privada e sem fins lucrativos, com base no Rio, na qual a fundação Rio forneceria uma licença permanente e irrevogável, e concessão para usar as instalações do Museu, através de um aluguel nominal para que a associação opere o Museu. A associação faria com a Fundação Guggenheim um acordo de programação e administração, nos termos do qual a Guggenheim fica com autoridade programática e administrativa exclusivas para o novo Museu. O Museu Guggenheim concederá uma licença não exclusiva para o uso do nome “Guggenheim”, em relação ao Museu, mediante taxa a ser paga pela Cidade. Condições para a continuidade Este estudo desenvolveu uma série de condições que deveriam ser tratadas antes de um compromisso final para a construção do Museu Guggenheim Rio. Elas envolvem, principalmente, aquisição do local, progresso em certos aspectos críticos de outros planos de retomada do desenvolvimento no Cais do Porto, incluindo as áreas da Praça Mauá e adjacências, desenvolvimento adicional de programas e certas garantias financeiras. 4- O GUGGENHEIM GLOBAL A visão Um Museu Global para uma sociedade global; uma instituição de arte com ramificações por todo o mundo, funcionando como embaixadores da experiência Guggenheim – tal é o conceito subjacente à visão Guggenheim global. A nova família de museus Guggenheim saiu de um número de visitas de 350.000 em 1989 para os 2,5 milhões de hoje, em todo o mundo. No processo, o Museu criou locais em Berlim, Bilbao e Las Vegas, além das locações já existentes em Nova York e Veneza, dando a mais pessoas acesso à sua coleção e a suas exposições especiais. O círculo em permanente expansão da Guggenheim é um esforço contínuo de realização da sua missão de “tentar alcançar o maior público possível”, bem como o seu responsável método fiscal de compartilhar os custos das exposições com os diversos locais, visando a uma economia de escala. A noção de abrir o Museu Guggenheim do Rio de Janeiro complementa a concepção global que a instituição persegue desde o início dos anos noventa. A Guggenheim é uma organização internacional, não somente em termos de prédios e locais, mas também por meio do seu compromisso de expandir a sua programação, que se reflete no crescimento da coleção permanente e na profundidade das exposições especiais. A possibilidade da sua primeira iniciativa na América Latina, entabulando um diálogo cultural com a cultura e o povo vibrantes do Brasil e, ao mesmo tempo, ajudando a realizar uma mudança econômica em

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 8

uma área desvalorizada do Rio de Janeiro, é uma oportunidade que se encaixa perfeitamente na missão e na história da Guggenheim. Uma Missão Global, desde o início O documento de constituição da Fundação Solomon R. Guggenheim, de 1937, declara que o propósito da instituição é “estabelecer, manter e operar museu ou museus, ou outro local ou locais para a exibição pública da arte”, em um esforço para “promover e estimular a arte e a educação artística”. Com tal declaração, o magnata da mineração Solomon Guggenheim quis garantir, desde o início, que a sua instituição nunca teria de ser confinada a um prédio ou a uma cultura. Continuando nessa linha, os propósitos contidos na atual declaração de missão da Fundação também dizem: Estabelecer e sustentar a Fundação Solomon R. Guggenheim como intérprete privilegiada e influenciadora da cultura internacional contemporânea, projetando os mais altos padrões de qualidade e tentando alcançar o maior público possível. Manter e expandir o compromisso institucional da Guggenheim com as artes visuais e a arquitetura dos séculos XX e XXI por meio de suas coleções, edifícios e programas. O compromisso com a programação da mais alta qualidade para um público internacional e a expansão cuidadosamente planejada é a base sobre a qual a Fundação, dirigida pelo seu diretor Thomas Krens, vem buscando construir a Guggenheim Global. As Coleções do Museu Guggenheim – uma História de Crescimento Nova York O Guggenheim foi fundado com base em uma só grande coleção: as obras-primas não objetivas que pertenciam a Solomon R. Guggenheim. O seu crescimento subseqüente deu-se basicamente por meio de doações e compras de muitas outras grandes coleções: a coleção de Justin e Hilde Tannhauser de obras primas do Impressionismo, Pós Impressionismo e início do moderno; a de Karl Nierendorf de Expressionismo Alemão; pinturas e esculturas de Katherine Dreier sobre a vanguarda histórica; a coleção de Peggy Guggenheim concentrava igualmente o abstrato e o surrealista; e o vasto acervo de arte minimalista e conceitual do Conde Guiseppe Panza di Biurno. Mais recentemente, foi feita a doação da coleção da Fundação Bohen, aumentando consideravelmente o acervo da arte pós anos sessenta, com um foco particular sobre a nova mídia. O Guggenheim nunca se valeu de uma abordagem estritamente enciclopédica. O que faz é buscar força na visão e na persistência de uma rede internacional de colecionadores individuais.

Inicialmente, Solomon R. Guggenheim e sua esposa começaram uma coleção de obras dos velhos mestres. Houve uma mudança definitiva no foco e na magnitude da coleção Guggenheim a partir de um encontro afortunado com a jovem baronesa alemã Hilla Rebay, em 1927. Rebay, que havia recebido sua iniciação na arte de vanguarda mundial da dadaísta Jean Arp, era uma ardorosa defensora das tendências experimentais da pintura européia contemporânea. Rebay mudou-se para os EUA em 1927 e começou uma cruzada pessoal para promover a arte na qual ela acreditava profundamente. Diferenciando a abstração como derivação estética das formas encontradas no mundo empírico da não objetividade como invenção artística pura, ela dedicou-se a esta última, acreditando que encontrava-se cheia de essência mística. O termo veio a significar, para ela, a unidade dos mais altos princípios estéticos e espirituais. Guggenheim encarregou-a de pintar o seu retrato naquele mesmo

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 9

ano. Impressionado com o compromisso desapaixonado de Rebay e tentado, talvez, pelo pensamento de ser um pioneiro em uma área de coleções ainda relativamente inédita, Guggenheim começou, em 1929, a comprar sistematicamente obras de artistas não objetivos. Durante a primavera de 1929, os Guggenheim acompanharam Rebay em uma viagem pela Europa. Apresentado a Kandinsky no seu estúdio em Dessau, Alemanha, Guggenheim comprou um óleo importante, Composição 8 (1923), a primeira de mais de 150 obras do artista que entraram na coleção ao longo dos anos. As obras e idéias de Kandinsky tiveram influência extraordinária na formação da coleção. Outras aquisições do primeiro período foram Chagall, Delaunay, Gleizes, Léger, Modigliani e Moholy-Nagy. Logo, as paredes da suíte de Guggenheim no Hotel Plaza já não deixavam mais espaço para outras coleções. Em 1937, ele criou a Fundação Solomon R. Guggenheim para “a promoção e o estímulo e a educação artísticos, e o esclarecimento do público”. Em 1939, Guggenheim alugou uma antiga exposição de automóveis em Manhattan, na rua cinqüenta e quatro Leste, que Rebay transformou em uma exposição temporária chamada Museu da Pintura Não Objetiva. Rebay foi a primeira diretora do Museu. O museu foi um grande sucesso, atraindo muitos jovens pintores abstratos americanos, a quem Rebay deu as boas vindas e apoiou, exibindo o seu trabalho mais tarde. Imediatamente ela instituiu uma série de exibições itinerantes de empréstimo dedicadas à coleção Guggenheim, enquanto, simultaneamente, organizava shows no museu. Em 1943, Rebay começou a campanha para a construção de um espaço permanente para abrigar a coleção Guggenheim e as atividades da Fundação. Frank Lloyd Wright foi escolhido o arquiteto do projeto. As suas idéias de arquitetura orgânica eram compatíveis com as idéias de Rebay sobre arte: uma arquitetura plena de um senso de estrutura que tomará a sociedade orgânica. Em 1952, três anos após a morte de Solomon Guggenheim, o nome do museu foi mudado para Museu Solomon R. Guggenheim. A modificação no nome do museu para um nome mais neutro e não circunscrito a um campo estético estritamente definido também refletiu revisões institucionais que vieram na época da morte de Guggenheim. Em 1947, o museu comprou toda a propriedade de Karl Nierendorf, um marchand de Nova York especializado em pintura alemã, e expandiu o âmbito do museu para incluir as obras expressionistas e surrealistas mais importantes. No início da década de cinqüenta, o museu passou por um processo de redefinição de suas políticas de programação e exposições. Na busca de uma mudança na política de exposição para refletir tendências mais contemporâneas e uma área de interesse mais ampla, James Johnson Sweeny foi escolhido diretor em 1952. Sweeny desempenhou o seu papel com uma sensibilidade mais ampla, aumentando a coleção com obras que abrangiam mais aspectos da arte moderna. Durante a sua liderança (1953-1960), muitas obras importantes foram compradas, de artistas tais como Brancusi, Archipenko, Calder, Cezanne, Ernst e Giacometti, juntamente com as pinturas expressionistas seminais abstratas de Kooning, Kline e Pollock. Além das aquisições de Sweeny, em 1953, o Museu recebeu uma doação inventariada de Katherine S. Dreier, que, juntamente com Marcel Duchamp, fundou a Societé Anonyme. Resultou daí que obras importantes de Bracusi, Gris, Mondrian e Schwitters foram acrescentadas à coleção.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 10

Quando o edifício Wright abriu as suas portas, em 21 de outubro de 1959, formaram-se enormes filas para ver a arquitetura controversa e de ruptura e a impressionante exposição inaugural de obra importantes da coleção – estava se criando uma referência internacional. Em 1961, Thomas M. Messer assumiu a diretoria do Guggenheim. Com Messer, as aquisições seguiram a mesma tendência abrangente, acrescentando obras importantes de artistas modernos importantes, tais como Bacon, Dubuffet, Kiefer, Rauschenbert, Smith e Miro. Forte defensor da vanguarda, Messer também adquiriu obras de artistas latino-americanos e do Leste Europeu durante a sua gestão, dando continuidade à perspectiva global da coleção. A coleção foi dramaticamente enriquecida em 1963, quando a Fundação recebeu uma parte da importante coleção de impressionistas, pós impressionistas e franceses modernos de Justin K. Thannhauser. Seguiram-se presentes e heranças do Thannhauser. A coleção Thannhauser apresenta uma resenha histórica importante do período imediatamente precedente ao representado pelo acervo original Guggenheim, aumentando a sua concentração de obras de Braque, Cezanne, Degas, Gauguin, Klee, Maillol, Manet, Matisse, Monet, Pascin, Picasso, Pissaro, Renoir, Toulouse-Lautrec, Van Gogh e Vuillard. Em 1988, Tom Krens substituiu Thomas Messer como Diretor. Em 1992, o edifício original Frank Lloyd Wright passou pela sua primeira grande reforma, trazendo de volta muito do projeto de interiores original que tinha sido alterado ao longo dos anos, e fazendo uma expansão do prédio original, acrescentando-lhe nove andares, como no projeto de Wright. Logo após essa restauração, a Fundação abriu um novo espaço no centro de Manhattan, o Guggenheim Museum SoHo. Krens também continuou o programa de aquisições, expandindo a coleção em diversas direções significativas. A aquisição, no início dos anos noventa, da Coleção Panza di Biumo de Arte Americana Minimalista e Conceitual confirmou a posição do Guggenheim como um dos mais importantes museus do mundo da arte de todo o século vinte. O âmbito dessa coleção Guggenheim ainda seria aumentado em dezembro de 1992, quando a Fundação Robert Mapplethorpe deu ao museu sua base de coleção de fotografia do século vinte. A Fundação Bohen contribuiu em 2001 com uma coleção que enriqueceu a coleção com obras da nova mídia, inclusive vídeos de Shirin Neshat, Vanessa Beecroft e obras de grandes artistas contemporâneos como Vik Muniz e Jack Lerner. Durante muitos anos o Museu também instituiu obras de arte na Internet, reconhecendo o grande futuro da nova mídia, e da Internet em particular, para a transformação e a criação da cultura visual e do seu acesso. Através dos seus comitês de aquisições, o Guggenheim continua a expandir a coleção com exemplos importantes de arte moderna e contemporânea. Coleção Peggy Guggenheim, Veneza Antes de sua recente expansão global, o Guggenheim já tinha uma sede fora de Nova York. A Coleção Peggy Guggenheim de Veneza é parte integrante da Fundação Solomon R. Guggenheim desde 1976, quando Peggy Guggenheim contribuiu com a sua arte e a sua casa para a instituição baseada em Nova York. A Coleção fica no Palazzo Venier dei Leone, um palácio não terminado do século XVIII, de um só andar, projetado por Lorenzo Boschetti para ser a estrutura mais larga do Grande Canal. A sensibilidade de Peggy Guggenheim às correntes estilísticas que o seu tio Solomon considerou menores, a saber o surrealismo e a pintura gestural americana do início do pós-guerra resultou em uma

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 11

coleção de mais de trezentos objetos, rica em gêneros que complementa o acervo do Museu de Nova York. A Coleção Peggy Guggenheim tem obras primas de cubismo, futurismo, pintura metafísica, abstração européia, surrealismo e expressionismo abstrato americano. Dentre os artistas representado têm-se Balla, Caro, Dali, Delaunay, Depero, Duchamp, Giacometti, Marinim Merz, Moore, Picabia, Picasso, Rothko, Severini e Takis. Consideradas em seu conjunto, essas duas coleções formam uma entidade bicontinental que começa a traçar a história complexa e multivalente da arte do século XX. A década passada – argumentação subjacente à concepção global Guggenheim Além da restauração do edifício Wright e a expansão contínua da coleção, os Conselheiros da Fundação Guggenheim, nos últimos dez anos, dirigidos pelo Diretor Krens, buscaram uma estratégia global para implementar a visão internacional de alcançar um público amplo e diverso. A argumentação subjacente à concepção global da Guggenheim pode ser discutida em termos de quatro categorias amplas: alcance do público, maximização da coleção, reconhecimento do nome e compartilhamento de recursos. Alcance Público Desde a fundação da instituição, a missão do Guggenheim tem sido alcançar o público mais amplo possível. Nos últimos doze anos, a Fundação vem buscando agressivamente esses objetivos, operando, hoje, seis sedes em quatro países diferentes e com um público total de aproximadamente 2.500.000 visitantes por ano. As iniciativas educacionais foram incorporadas à programação dirigida aos visitantes diários, às escolas locais e à comunidade em geral. Acesso à Coleção Praticamente todos os grandes museus colocam no estoque uma grande parte das suas coleções, mostrando ao público, de cada vez, somente uma pequena seleção da sua coleção permanente. A Fundação Guggenheim não é exceção, mantendo sempre a grande maioria das peças da coleção em estoque. Cada novo museu que fique sob os auspícios da Fundação Guggenheim permite que uma porção maior da coleção permanente seja exibida e apreciada pelo público. Reconhecimento do Nome A cada novo local desenvolvido e operado pela Fundação, o nome Guggenheim se torna mais reconhecido, entendido e influente, atendendo à missão da instituição de ser uma influência importante na cultura contemporânea internacional, e trazendo mais visitantes do mundo inteiro, que associam o Guggenheim a exposições e arquitetura do mais alto nível. A marca Guggenheim, de reconhecimento internacional, dá à instituição maior acesso aos colecionadores, artistas, financiadores e parceiros, cujas contribuições e participações nos programas de exposições e educacionais do Guggenheim permitem que o museu eleve continuamente o âmbito e a qualidade da programação. Compartilhamento de recursos A filosofia de compartilhamento de recursos amplia o âmbito e a qualidade dos programas e exposições Guggenheim através de diversas afiliações com outras instituições

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 12

de arte, e também serve como base para o sucesso visto em Bilbao e previsto para o Rio. Com parceiros tais como o Hermitage (São Petersburgo) e o Kunsthistorisches Museum (Viena), o Guggenheim pode oferecer aos seus visitantes oportunidades de programação e educação que não estão prontamente disponíveis em outros museus. Como diz um guia do visitante recente, “este consórcio de instituições permite uma colaboração sem precedentes entre museus, incluindo exposições, programas de empréstimo, projetos Internet, pesquisa de escolaridade, publicações e alcance educacional. O aspecto mais significativo desta colaboração é a iniciativa de compartilhamento de coleções que faz com que o acervo de cada instituição fique disponível para outra”. As iniciativas de compartilhamento de recursos também se apresentam na forma de colaborações com administrações municipais e parceiros de negócios. A relação entre a Fundação Guggenheim e o governo basco é um exemplo de sucesso mútuo, com o governo basco financiando a criação do Museu Guggenheim-Bilbao e hoje colhendo os benefícios econômicos do investimento, e o Guggenheim assumindo o risco de expandir-se para uma área de tráfego de visitantes relativamente baixo, que tem hoje a oportunidade de um público muito maior. Uma parceria similar inspirou a colaboração com o Casino Resort de Veneza para a realização dos museus Guggenheim-Las Vegas e Guggenheim-Hermitage Museum (ver o Guggenheim Global – Colaborações e Alianças de Conteúdo – a Rede Guggenheim). Expansão da Guggenheim Na busca de uma estratégia global Guggenheim, a última década assistiu à transformação da Fundação Guggenheim de um museu relativamente pequeno da cidade de Nova York, com a sua única outra sede em Veneza, para um destino internacional de arte com locações múltiplas. Imediatamente após a restauração do museu de Nova York, começou o trabalho do esforço de expandir a presença internacional da instituição no Museu Guggenheim-Bilbao. Em 1997, o museu de Bilbao abriu-se para o aplauso internacional e a Fundação Guggenheim suplementou o investimento com uma parceria com o Deutsche Bank, formando a Deutsche Guggenheim-Berlim. Na virada do século, a Fundação operava cinco museus no mundo inteiro: o Museu Solomon R. Guggenheim, a Coleção Peggy Guggenheim, o Guggenheim Museum SoHo, o Deutsche Guggenheim-Berlim e o Museu Guggenheim-Bilbao. No outono de 2001, abriram-se as unidades mais novas, o Guggenheim Las Vegas e o Guggenheim-Hermitage Museum, na mesma cidade. Um Milagre em Bilbao (1997) Bilbao, Espanha, representou a primeira expansão geográfica da era Krens. Concebida pelo Conselho da Fundação para dar continuidade à missão da instituição, e pelo governo basco como um motor de crescimento econômico, foi bem sucedida nos dois níveis. Projetada pelo arquiteto Frank Gehry, construída pelo governo basco e administrada pela Fundação Guggenheim, o Museu Guggenheim Bilbao foi saudado como uma obra-prima arquitetônica. Essa maravilha da arquitetura começou a maravilhar o mundo no dia em que foi aberta e continuou a tradição de Frank Lloyd Wright de pioneirismo arquitetônico, hoje uma missão Guggenheim à parte. São aproximadamente 9.880m² de espaço para exposições, dando à Fundação uma grande sede para apresentar a sua coleção, bem como as grandes exposições oficiais que organiza para o museu de Nova York e a programação desenvolvida especificamente para esta instituição.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 13

O governo basco também contribuiu com recursos consideráveis para construir uma coleção de arte moderna e contemporânea, que é compartilhada com o Guggenheim. Já contém obras de alguns dos artistas mais significativos da segunda metade do século XX, incluindo Chilida, Yves Klein, de Kooning, Motherwell, Rauschenberg, Rosenquist, Rothko, Clyfford Still, Antoni Tàpies e Warhol. A arte européia recente também tem lugar de destaque na coleção, que tende a refletir o âmbito extraordinário de mídia, técnicas e materiais característicos da prática artística atual. A coleção também adquirirá um número considerável de obras de diversos artistas individuais, tais como Anselm Kiefer, para dar uma visão geral das suas carreiras artísticas e desenvolvimentos criativos. O Museu Guggenheim-Bilbao está procurando, assim, tornar-se um foco para o estudo em profundidade de uma série de artistas específicos, cujos resultados podem ser considerados representativos da segunda metade do século XX. Uma característica mobilizadora da coleção de Bilbao, que também será explorada pelo Museu Guggenheim-Rio, é o grupo de obras de arte específicas para o local e para instalações feitas para diversas áreas específicas do edifício de Frank Gehry. São trabalhos de artistas europeus e americanos contemporâneos, tais como Francesco Clemente, Jenny Holzer, Jeff Koons, Sol LeWiett, Fujiko Nakaya e Richard Serra. Sendo a integração com a comunidade local um dos objetivos principais, a coleção permanente do Museu Guggenheim-Bilbao também tem obras de importantes jovens artistas bascos e espanhóis, dentre eles Txomin Badiola, Miquel Barceló, Cristina Iglesias, Prudencio Irazabal, Juan Muñoz, Juan Luis Mooraza, Javier Perez, Susana Solano, Francesc Torres e Dario Urzay. Este compromisso com a arte da região também é uma componente significativa do programa proposto para o Museu Guggenheim Rio (ver capítulo 3, “Programa da Arte e das Exposições”) O Museu Guggenheim Bilbao também catalisou os esforços do governo local para transformar Bilbao em um grande centro metropolitano. Desde a partida, em 1997, a província basca de Biscaia, na qual fica Bilbao, o número de turistas anuais subiu 55%, um aumento que o Escritório Estatístico Basco atribui em grande parte ao museu. Além disso, estima-se que o museu tenha contribuído com mais de US$ 560 milhões em impacto econômico para a cidade, na forma de aumento dos empregos, visitantes e arrecadação fiscal. Para Bilbao, considerada uma cidade fabril em decadência no início dos anos noventa, e a revitalização iniciada pela presença da Guggenheim deu nova vida à região. Nos primeiros cinco anos após a abertura, muitas outras cidades procuraram a Fundação, buscando o “efeito global”, buscando para si o “efeito Bilbao”. As semelhanças entre o local do Museu Guggenheim até a sua construção e o Píer Mauá, local designado para o museu Guggenheim-Rio, dizem respeito ao ímpeto da cidade do Rio de Janeiro no sentido de manter o Guggenheim e realizar este estudo de viabilidade. Ambos são áreas portuárias que já viram tempos mais prósperos, com os dois locais intrinsecamente ligados à história, à economia e à cultura das cidades em que estão. Deutsche Guggenheim-Berlin (1997) O Deutsche Guggenheim-Berlin, que também abriu em 1997, resulta da colaboração com a empresa internacional de serviços financeiros, a Deutsche Bank. Fica no térreo da sede da Deutsche Bank, um edifício de arenito da década de vinte, projetado pelo arquiteto americano Richard Gluckman. É um espaço de exposição relativamente pequeno, de cerca de 302 metros quadrados. O programa de exposições tem seu foco em comissões de obras

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 14

principais dos mestres modernos, artistas em metade de carreira, artistas multimídia e talentos emergentes, além de mostras de alto nível organizadas pelos curadores Guggenheim. Nos seus primeiros cinco anos de operação, 15 exposições foram organizadas pela Guggenheim para esta galeria, com trabalhos de Jeff Koons, Gerhard Richter, James Rosenquist, Andreas Slominski, Hiroshi Sugimoto, Bill Viola, Lawrence Weiner e Rachel Whiteread. O local transformou-se em um destino cultural poderoso em Berlim. Para a Deutsche Bank, que já tinha um forte compromisso com a arte moderna no seu próprio programa empresarial, a parceira deu acesso a artistas, coleções e exposições que somente um museu de categoria mundial poderia dar. Para o Guggenheim, permitiu expandir o seu público em um dos cenários artísticos mais dinâmicos da Europa, e deu recursos para a aquisição de trabalho recentemente comissionado e desenvolver exposições interessantes não somente em Berlim, mas em outros museus da rede. Las Vegas – Dois Museus (2001) Em outubro de 2001 o Guggenheim abriu dois museus em Las Vegas. Embora ambos fiquem no Venetian Casino Resort, são muito diferentes. Em outra junção de interesses, o Venetian estava interessado em abrir um museu para trazer as artes a Las Vegas e aumentar a visibilidade do hotel, mas não queria investir na formação de uma coleção. Para o Guggenheim, era uma oportunidade de trazer a sua coleção e as suas exposições para a cidade que só perde para Orlando, Flórida, em número de turistas visitando uma cidade americana, com um público que não visitaria, tipicamente, a instituição de Nova York. O Guggenheim Museum Las Vegas tem um espaço para exposições de cerca de 3.640 metros quadrados, em um edifício que tem praticamente o tamanho da Grand Central Station de Nova York. Essa instalação foi concebida para a apresentação de exposições especiais, desde a pintura e escultura contemporâneas até a arquitetura e projeto, arte multimídia, na maior escala já organizada em Nova York, Bilbao e, seu o projeto vingar, no Museu Guggenheim Rio. A exposição inaugural foi a Arte da Motocicleta, que já tinha sido apresentada, com enorme sucesso, em Nova York e em Bilbao. O Museu Guggenheim Hermitage nasceu da colaboração de longo prazo entre o Guggenheim e o Museu Hermitage, discutida abaixo. Com aproximadamente 412 metros quadrados, é um museu do gênero “caixinha de jóias”, com a idéia de fazer mostra das preciosidades das coleções de cada instituição e as de outra coleções comparáveis em todo o mundo. Os dois museus foram projetados pelo arquiteto Rem Koolhaas, ganhador do prêmio Pritzker, dando continuidade ao compromisso Guggenheim de agregar uma arquitetura de nível mundial aos seus planos de programação e expansão. O Guggenheim Las Vegas é um espaço maciço, industrial, que contrasta com a atitude extravagante e excessiva do Venetian e, na realidade, de toda Las Vegas. O Museu Guggenheim Hermitage tem paredes exteriores e interiores de aço Cor-Ten, um material de superfície oxidada que lembra as paredes cobertas de veludo das galerias clássicas do Hermitage, do século XVIII. Colaborações e Alianças de Conteúdo: a Rede Guggenheim Além do crescimento geográfico, o conceito de Guggenheim Global depende da formação de alianças-chave: parcerias que permitam à Fundação continuar a sua busca de

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 15

servir a um público tão grande quanto possível com exposições da mais alta qualidade, com acesso a uma coleção exponencialmente maior, em tamanho e âmbito. A mais forte e mais produtiva dessas parcerias foi a aliança entre a Fundação Guggenheim, o Museu Hermitage de São Petersburgo e o Kunsthistorisches Museum de Viena. Aliança Guggenheim-Hermitage-Kunsthistorisches A Fundação Guggenheim foi pioneira no desenvolvimento de alianças com outras instituições em todo o mundo. Em junho de 2000, a Guggenheim e o Museu Hermitage assinaram um acordo de colaboração de longo prazo para realizar conjuntamente iniciativas culturais. Em janeiro de 2001 e Kunsthistorisches Museum se juntou a eles, formando um acordo de cooperação trilateral. O Hermitage é famoso pelas suas muitas coleções, com mais de 3.000.000 milhões de objetos, desde as culturas pré-históricas até a arte moderna, passando pelas culturas do Oriente Médio, Egito, Grécia, Roma, culturas islâmica e oriental e obras da Renascença italiana, da pintura flamenga e dos séculos XIX e XX. A sua coleção conta com obras-primas de Corot, Delacroix, Giorgione, Leonardo, Michelangelo, Rafael, Rembrandt, Reynolds, Tytian e van Dyck. A sua extensa coleção de pintura francesa inclui importantes acervos de obras de Degas, Gauguin, Matisse, Monet, Picasso, Poussin, Renoir, Watteau e Van Gogh. A coleção do Kunsthistorisches Museum, montada pelos Habsburgos ao longo dos séculos, conta com arte egípcia, do Oriente Próximo, grega e romana, pintura neerlandesa antiga e arte flamenga, esplêndidas coleções da Renascença italiana e do Barroco, escultura e artes aplicadas e tesouros eclesiásticos e seculares. O Kunsthistorisches tem a maior coleção de pinturas de Bruegel do mundo, além de obras-primas de Cranach, Dürer, van Dyck, Gainsborough, Holbein, Montegna, Poussin, Rafael, Rubens, Steen, Tintoretto, Ticiano, Velazquez, Vermeer e van der Weyden. Os amplos objetivos estratégicos da colaboração Guggenheim-Hermitage-Kunsthistorisches são: a expansão das relações culturais internacionais, tornar as coleções de cada museu acessíveis ao públicos mais amplos; buscar coleções pelo compartilhamento de estratégias que complementem o acervo de cada instituição; implementar exposições, publicações e programas educacionais conjuntos e facilitar os objetivos de longo prazo de cada instituição. Esta colaboração tem potencial para apresentar todo um espectro de projetos de exposições e de pesquisa acadêmica dos tempos pré-históricos ao presente. As iniciativas de planejamento das exposições conjuntas permitem que as três instituições combinem o seu conhecimento de curatela, suas coleções e o acesso a obras de arte, criando programas de exposições de extraordinários âmbito e qualidade. O resultado é uma rede intercultural com acesso a um público de milhões que pode se engajar em um novo discurso intercontinental. Além disso, o Guggenheim, o Hermitage e o Kunsthistorisches resolveram desenvolver e implementar programas educacionais conjuntos e utilizar as novas tecnologias da informação para alcançar esses objetivos educacionais. Os três parceiros concentrarão sua atenção no desenvolvimento e implementação de programas especiais de treinamento para pessoal de museu, especialistas e acadêmicos nas áreas de museologia, inventário de exposições, restauração e conservação, edição, marketing e novas tecnologias educacionais, e farão um intercâmbio permanente de conhecimento especializado nessas áreas.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 16

Projeto Guggenheim-Hermitage-Kunsthistorisches O primeiro grande projeto conjunto com o Hermitage foi a criação do Museu Guggenheim Hermitage em Las Vegas, que abriu suas portas em outubro de 2001. A exposição inaugural, Masterpieces and Master Collectors: Impressionist and Modern Paintings from the Hermitage and Guggenheim Museums (Grandes Obras e Grandes Coleções: Pintura Impressionista e Moderna dos Museus Hermitage e Guggenheim) trazia, pela primeira vez, grandes obras de ambas as coleções em um diálogo rico. Com esta exposição, o público pode ver algumas das obras mais importantes do cânone da arte histórica, obras que poucos teriam possibilidade de ver de outra forma. O Guggenheim pôde realizar uma exposição que foi um verdadeiro tour de force, em um nível que de outra forma não se poderia ter, e o Hermitage pôde ampliar o seu público até os Estados Unidos. Essa fusão de interesses simboliza a concepção Guggenheim Global.

A segunda exposição feita no Museu Guggenheim Hermitage, chamada Art Through the Ages: Masterpieces of Painting from Titan to Picasso (A Arte Através do Tempo: Obras-Primas da Pintura, de Titan a Picasso) foi enriquecida pela participação do Kunsthistorisches Museum de Viena, com jóias das coleções dos três museus dos séculos XV a XX.

A recente exposição chamada “Connecting Museums” (Ligando museus) exibiu obras de cada uma dessas três instituições, com exibições simultâneas em todos os museus – um evento emblemático da concepção Guggenheim Global. ZKM/ Centro de Arte e Mídia O Museu Guggenheim também tem uma relação próxima com o Centro de Arte e Mídia (ZKM) de Karlsruhe. O Museu ZKM é uma instituição dedicada às artes interativas. O seu espectro temático cobre áreas tais como o cinema interativo, a simulação, técnicas de ciberespaço e uso do mais moderno software na Internet. O trabalho combina produção e pesquisa, exposições e eventos, coordenação e documentação. Para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares e promoção das colaborações internacionais o ZKM tem diversos recursos à sua disposição: o Museu de Arte Contemporânea, o Museu da Mídia, o Instituto da Mídia Visual, o Instituto de Música e Acústica e dois novos departamentos: o Instituto de Pesquisa Básica e o Instituto para Desenvolvimentos Web. A maior parte dos projetos do ZKM inclui elementos educacionais, funcionando como centro de uma fonte significativa de experimentação e conhecimento sobre a nova mídia. O ZKM serve como uma plataforma de experimentação e discussão, com a missão de participar ativamente no trabalho em direção ao futuro e participando do debate contínuo sobre o uso sensato e significativo da tecnologia. O Guggenheim Global e o Rio de Janeiro O Rio de Janeiro, centro histórico da atividade cultural, política e educacional do Brasil, adapta-se bem à concepção Guggenheim Global. Tradicionalmente, a rota cultural básica da arte americana passa por Londres, Paris, Nova York e Tóquio, sem interagir, verdadeiramente, com as comunidades das Américas Latina e do Sul. Em uma entrevista coletiva dada no Rio de Janeiro em novembro de 2000 o Diretor do Guggenheim, Thomas Krens, proclamou: “A história cultural aqui é inacreditavelmente rica. Já é tempo de termos um intercâmbio cultural que se dê ao norte e ao sul, e não somente a leste e a oeste.” Com a mostra “Brazil: Body and Soul”, exibida no Guggenheim de Nova York de outubro de 2001

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 17

a maio de 2002, a ligação entre a oferta cultural do Brasil e a instituição se tornou forte, estabelecendo-se um compromisso do museu com as artes e cultura da América Latina e do Sul. Na publicação para essa exposição Krens afirmou que “as conquistas culturais do Brasil não são conhecidas, principalmente no mundo de fala inglesa.” A exposição, e a concepção subjacente do Museu Guggenheim Rio são esforços para corrigir a situação. Além disso, o impacto econômico potencial sobre a área em torno da Praça Mauá e para o Rio de Janeiro, de um modo geral, encontra compatibilidade com o modelo Guggenheim de Bilbao (ver o capítulo 12, Análise do Impacto Econômico). O Rio de Janeiro é um dos destinos turísticos mais populares da América do Sul, e embora haja multiplicidade de ofertas culturais para os residentes e visitantes, o Museu Guggenheim Rio traria uma perspectiva para um público local e internacional que ainda não existe. Um museu no Rio de Janeiro permitiria à Fundação Guggenheim apresentar mais arte para o seu público na sua coleção, e apresentar arte brasileira e de outros países da América Latina para públicos que viessem visitar outros locais. O Museu proposto permitiria aos curadores Guggenheim tirar dos estoques obras de arte importantes e colocá-las em contextos novos e desafiadores. A coleção da Fundação também ficaria grandemente enriquecida pela aquisição de, e pelo acesso a arte brasileira e da América Latina, proposta que está discutida no capítulo 5, “Programa de Arte e Exposições”. Além disso, um museu no Rio aumentaria a abrangência Guggenheim, permitindo à cidade atrair e ter acesso a obras de primeira classe que de outra forma não seriam vistas. Assim, a criação do Museu Guggenheim Rio daria continuidade aos esforços da Fundação no sentido de dar a um público novo e internacional a oportunidade de desfrutar e aprender a partir de uma coleção e um programa de exposições ampliados. 5 - PROGRAMA DE ARTE E EXPOSIÇÕES Foco e Objetivos A arquitetura do Museu Guggenheim Rio e os seus programas de exposições se transformarão em um destino que será buscado pelas comunidades local, nacional e internacional. Levando em conta a paisagem variada e culturalmente rica do Rio de Janeiro e do Brasil, o Museu não duplicará a experiência das instituições locais, e sim fará uma complementação a elas. Como parte integrante da constelação Guggenheim, o Museu se beneficiará das grandes coleções dos museus Guggenheim e seus afiliados. Atrairá o público com apresentações de classe internacional e interpretações de arte moderna e contemporânea, explorará civilizações inteiras, temas e épocas por meio de exposições temporárias, produzirá novas artes de mídia e apresentará um programa impressionante de cultura brasileira e latino-americana. A ênfase do Museu na nova mídia e em suas coleções brasileiras e latino-americanas se constituirão na característica de curadoria específica e distinta desta instituição. A maravilha arquitetônica de Jean Nouvel, a riqueza e a variedade dos programas de exposições e educacionais, a relação entre os espaços internos e externos e o equilíbrio entre a recreação e a apreciação da arte atrairão os moradores e turistas para numerosas e repetidas visitas.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 18

Visão Geral da Programação de Exposições Guggenheim Os museus Guggenheim oferecem exposições da mais alta qualidade e investigações em profundidade sobre a arte moderna e contemporânea. Por meio de uma programação cada vez mais diversificada, a escala de exposições Guggenheim abrange uma ampla variedade de artistas, apresentando exposições de monografias históricas que incluem muitos dos grandes artistas do pós-guerra, tais como Antoni Tapis (1959), Joseph Cornell (1967), Adolph Gottlieb (1968), Willem de Kooning (1978), Mark Rothko (1978) e Claes Oldenburg (1995). O Museu também apresentou exposições dedicadas à arte de diferentes culturas, como por exemplo Africa: the Art of a Continent (1996), China: 5.000 years (1998) e Brazil: Body and Soul (2001). As suas coleções e colaborações com outras instituições permitiram ao Guggenheim organizar mostra experimentais de diversos períodos e movimentos artísticos, tais como, The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932 (1992) e 1900: Art at the Crossroads (2000). As exposições de projeto e de arquitetura também são parte significativa do que a curadoria oferece, com exposições importantes como Art of the Motorcycle (1998), Georgio Armani (2000) e Frank Gehry, Architect (2001). O Museu Guggenheim também ofereceu exposições inovadoras da nova mídia, entre elas Frames of Reference: Reflexions on Media (1999), Worlds of Nam June Paik (2000) e Moving Pictures (2002). Padrão de Excelência A Fundação Guggenheim quer estabelecer no Rio um dos melhores museus de arte do mundo, atendendo aos mais elevados padrões da profissão. O Museu definirá todo o âmbito de programas que favorecerá a paisagem cultural do Rio e atrairá público internacional. O padrão de programação do Museu será o mesmo de todos os museus Guggenheim, compartilhando recursos e programas para se beneficiar das economias de escala e manter o mais alto grau de excelência no campo. Todos os recursos do Guggenheim – coleções, recursos acadêmicos, especialização em programação – serão usados a serviço do Museu. Com exceção de obras de arte que, devido a contrato ou outra restrição legal não possam ser emprestadas, ou cujas condições precárias as impeçam de viajar, todas as obras das coleções da Fundação Guggenheim podem ser exibidas no Museu. Os recursos da Fundação Guggenheim em arte moderna e contemporânea expandiram-se para um nível enciclopédico devido às alianças globais com o Kunsthistorisches Museum, o State Hermitage Museum e outras instituições de categoria internacional. O programa artístico e de exposições do Museu será desenvolvido em estreita cooperação com o resto da rede Guggenheim. O componente educacional do Museu será colocado em ação para proporcionar uma experiência única de ensino, e uma visão da arte e do seu processo. O departamento de educação do Museu, juntamente com o Centro Sackler de Educação Artística do Museu Solomon R. Guggenheim de Nova York desenvolverá programas para escolares de todas as idades, bem como programas educacionais para adultos e famílias. Haverá seminários, conferências e palestras para fazer do Museu um fórum de debate e intercâmbio intelectual; um recurso internacional de pensamento vivo para as questões atuais sobre as artes, arquitetura, filosofia, novas tecnologias e mídia e a sua interação com a sociedade de um modo geral.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 19

Ritmo das Exposições As exposições mudam em períodos que vão de dois meses a um ano, dependendo do seu tamanho e conteúdo. As grandes exposições internacionais, as apresentações das coleções principais e a maioria das exposições com componente educacional importante ficam por períodos de tempo mais longos para beneficiar um público mais amplo e maximizar o envolvimento com o sistema da escola pública. As exposições menores, de foco mais estreito, salas de projeção e produções de multimídia mudam em ritmo mais rápido para permitir variedade de experimentação e criar um ritmo dinâmico e criativo. As atividades de palco e externas mudam com freqüência ainda maior para estimular a volta dos visitantes ao Museu. Os diferentes ritmos de renovação das exposições maximizarão os públicos e ao mesmo tempo permitirão a amortização dos investimentos em exposições grandes. Os públicos diferentes serão atingidos em momentos diferentes. Especialização em curadoria A direção de curadoria do Museu será função de uma equipe internacional de curadores que serve a todos os museus Guggenheim. Este grupo, que inclui muitos dos mais conhecidos curadores internacionais de arte moderna e contemporânea, será responsável pelas decisões de curadoria para o Museu. Programa e Princípios de Distribuição do Espaço de Exposição O projeto de Jean Nouvel para o Museu permite a descoberta de quatro espaços de exposição, distribuídos por todo o espaço do Museu. Cada espaço é tratado de uma maneira arquitetônica distinta, oferecendo conteúdo de natureza específica. As galerias não contíguas permitem a descoberta íntima de cada um dos programas e espaços, e as transições entre cada uma das galerias criam um diálogo com a ambiente natural externo, gerando descobertas próprias. As Galerias Brasileira e Latino-Americana As Galerias Brasileira e Latino-Americana serão os primeiros prédios a acolherem os visitantes depois de percorrerem o Salão Principal. Essas Galerias serão dedicadas à apresentação, ao estudo e a apreciação da arte brasileira e latino americana. As exposições serão escolhidas dentre as obras em poder de outras instituições, uma coleção a ser desenvolvida pelo Museu e outras coleções locais e regionais às quais este terá acesso. Estas Galerias podem exibir uma exposição grande ou duas a três exposições pequenas ou médias. A flexibilidade desses espaços permite vários arranjos.

A arte brasileira e latino-americana contemporânea, moderna e histórica será explorada e interpretada na íntegra através de exposições temporárias, retrospectivas de artistas conhecidos, estudos de artistas mais novos em meio de carreira, exposições experimentais, programas de residência e comissões. As galerias podem abrigar retrospectivas profundas e explorações professorais de figuras e movimentos importantes. As exposições podem abranger retrospectivas de artistas como Tarsila do Amaral, Volpi, Cavalcanti, Wilfredo Lam, Matta, Siqueiros, Torres Garcia, Rivera, Kahlo; movimentos como a Arte Madi, Neo-Concretismo, Los Grupos e Os Muralistas Mexicanos, e apresentações da obra de artistas contemporâneos.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 20

Estas Galerias permitirão ainda o estudo das tendências emergentes na América Latina e no Caribe, e apresentar coleções desenvolvidas ao longo dos anos por colecionadores visionários brasileiros e internacionais que estejam se concentrando nas artes das Américas e do Caribe. Além disto, as Galerias de Exposição Brasileira e Latino-Americana apresentarão a coleção permanente dessa região, que o Museu desenvolverá ao longo de seu crescimento e instituição como coleção principal e abrangente da arte contemporânea brasileira e latino-americana. Para expandir-se, a coleção contará com doações, empréstimos de longo prazo provenientes de outras coleções, coleções pessoais de artistas, aquisições diretas e comissões especiais. As Galerias da Coleção Guggenheim As Galerias da Coleção Guggenheim, com tratamento de madeira e concreto e teto funcional com pirâmides truncadas para iluminação zenital, apresentarão seleções escolhidas dentre a coleção da Fundação Guggenheim e sua rede de museus associados. As obras-primas dessas coleções serão apresentadas em esquema de longo prazo e rodízio nessas galerias, cuja concepção voltou-se em especial à apreciação e desfrute dos artistas e movimentos internacionais mais renomados. O enfoque dessas exposições será apresentar a coleção básica da Fundação Guggenheim de pintura e escultura européia e americana desde os fins do século XIX até hoje. (Ver Capítulo 4, intitulado “Guggenheim Global”, para discussão da coleção do Guggenheim). As exposições podem abranger desde a apresentação de artistas individuais presentes em coleções que vão desde os pais fundadores do modernismo, como Brancusi, Chagall, Kandinsky, Klee e Mondrian, até as figuras definidoras da Segunda metade do século XX, dentre as quais podem estar Albers, Dubuffet, Flavin, Judd, Klein, Pollock, Rothko, Ryman e Serra, e aos artistas mais contemporâneos definidores das questões atuais no cenário internacional. A amplitude das coleções Guggenheim permite o estudo profundo da arte moderna e contemporânea, e a farta oportunidade fartas para a realização de programas e simpósios educativos. As coleções da Fundação Guggenheim serão complementadas pela apresentação de seleções escolhidas entre as coleções permanentes de suas instituições parceiras. O âmbito enciclopédico do Museu Kunsthistorisches e do Hermitage, coleções entre as mais importantes do mundo, virá contribuir para fazer do Museu a primeira e única instituição na América Latina a poder apresentar exposições que abrangem desde a era dos gregos e romanos aos impressionistas, juntamente com os tesouros da Renascença e do Barroco. Essas vastas coleções, além de trazerem para o Brasil os tesouros dos Czares e das cortes imperiais da Europa, forçarão ainda o entendimento maior e mais profundo da história e da evolução da arte ocidental. Para a descrição dessas coleções, ver Capítulo 4, “Guggenheim Global”. Essas coleções vão propiciar aos visitantes inspiração e informação de uma maneira jamais apresentada na América Latina. Os programas educativos e a apresentação de artistas serão ambos estruturados em torno dessas exposições com vistas a gerar uma nova geração de visitantes ilustrados e discernidores. Galerias Multimídia e Espaços Performáticos Jean Nouvel criou vários espaços que permitem o Museu Guggenheim Rio engajar-se na história global e em várias artes do cinema e dos meios de comunicação. O Brasil, cuja contribuição para o cinema mundial se destaca, e cuja contribuição para as artes da

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 21

instalação e performance é vital, é parte vital da exploração artística do final do século XX. O Museu terá um teatro, uma câmara escura inovadora e flexível, e galerias multimídia que podem servir para a exibição de teatro, cinema, vídeo e apresentações virtuais, e como espaço para performances e exposição de instalações. Os espaços para produção e apresentação de multimídia darão ao Rio a dianteira exclusiva na rede Guggenheim e internacional. O programa envolverá artistas locais e internacionais por meio da apresentação de trabalhos em multimídia e da realização de residências e oficinas de produção, assim gerando um centro exclusivo de criatividade e excelência nas Américas. A constelação de recintos próprios à apresentação e produção de multimídia distingue o Museu ao permitir a criação de novos projetos simultaneamente à apresentação de trabalhos históricos. O prisma arquitetônico dinâmico criado por Jean Nouvel, com a interligação de vários espaços de exposição vinculados entre si por uma rede dinâmica de passadiços, permite assistir ao mesmo tempo a artes produzidas por meios de comunicação e a artes plásticas e performáticas, e estabelece um novo padrão de visualização. A estratégica rede de espaços permite uma flexibilidade capaz de acomodar peças de projeção em pequena e larga escala e telas com muitos visores e canais. Será possível a exibição das formas cinemáticas tradicionais e de peças de instalação e performance que exijam novos meios de comunicação e projeção de filmes. Além disto, pontos de acesso interativos do público permitem a apresentação de projetos internacionais de arte na Internet em toda a planta arquitetônica. Ao refletir e adaptar-se a um leque de tecnologias antigas e contemporâneas de produção e aos vários espaços de exibição, o Museu propicia a capacidade física única de acomodar conceitos amplos e íntimos de curadoria e projetos de arte midiática. Como complemento desses novos espaços midiáticos, ali estarão os arquivos correspondentes para permitir ao público assistir a vídeos, CD Rom e outros projetos, seja individualmente seja participando de programas criados especialmente para o Museu. Galerias de Exposições Temporárias As Galerias de Exposições Temporárias são as mais distantes da entrada, situadas no grande cilindro que se ergue na extremidade do Cais do Porto. São espaços monumentais onde os visitantes desejarão entrar e percorrer o imenso lugar do Museu. Sua distância constrói o momentum e a expectativa de conhecer o programa de exposições temporárias. Umas das forças de um museu de categoria mundial é função da qualidade da programação de exposições especiais, e existe estreita relação simbiótica entre a força da coleção de uma instituição e sua capacidade de desenvolver importantes exposições especiais. Essa relação baseia-se no princípio simples da troca reciprocamente benéfica entre os museus possuidores de coleções fortes. O êxito de um museu, aferido em termos de freqüência e apoio financeiro, é também função de um forte programa de exposições. O fluxo de programações de alto calibre propicia o incentivo fundamental para as revisitas. A importância de suas coleções e sua proeminência internacional como instituição desenvolvedora de exposições colocam o Guggenheim em posição de desenvolver programações especiais.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 22

As exposições especiais apresentadas no Museu viriam de três fontes principais: • Exposições desenvolvidas pelos curadores do Guggenheim, apresentadas em

outros foros da rede de museus Guggenheim e, possivelmente, em outros museus importantes de vários países.

• Exposições desenvolvidas pelos curadores do Guggenheim, especificamente para o Museu e nele exibidas com exclusividade.

• Exposições desenvolvidas por outros museus importantes com os quais o Guggenheim mantém relacionamento privilegiado, realçando a relação do Museu com outras instituições internacionais fora da rede Guggenheim e propiciando oportunidades para compartilhar e intercambiar exposições das coleções brasileira e latino americana do Museu.

Espaços Auxiliares, Espaços Ao Ar Livre e Instalações Localizadas O excepcional diálogo entre os espaços externos e internos, e a natureza criativa e surpreendente que foi encapsulada de modo a adentrar o velho Cais do Porto, permitem várias experiências estéticas. Dentre estas talvez constem instalações permanentes e temporárias e comissões localizadas. O projeto permite várias localizações para os trabalhos criados especificamente para o Museu Guggenheim Rio. O espaço externo pode conter também cenários programados para apresentações de música e dança, cinema ao ar livre, projeções de vídeo e outras propostas. O clima do Rio, quase sempre estável, e o pródigo espaço externo criado por Jean Nouvel permitem ao Museu realizar festivais ao ar livre. Aquisições e Desenvolvimento de Coleções Parte crítica do programa brasileiro e latino americano do Museu é o desenvolvimento de uma coleção permanente da arte local. A força a longo prazo do Museu será em grande parte função de uma coleção em constante desenvolvimento, exclusiva do Museu. A coleção brasileira e latino-americana do Museu Guggenheim Rio possui o potencial de ser uma das mais significativas do mundo, através de seu relacionamento com as coleções da Fundação Solomon R. Guggenheim e seus parceiros. O grande potencial dos museus Guggenheim do Rio, Nova York, Veneza, Bilbao e Berlim, de ultrapassarem a soma das partes, reside precisamente nas maneiras pelas quais estes se complementam. O potencial de exposição da coleção pode ser maximizado quando as partes forem recombinadas para as apresentações de determinados artistas ou tópicos em vários foros. A coleção do Museu Guggenheim Rio viria fortalecer e aprofundar a apreciação universal das artes do Brasil e da América Latina através de sua interface com os acervos que a Fundação possui em arte norte-americana e européia. A importância das novas aquisições e o desenvolvimento de uma coleção permanente não pode ser subestimada. As coleções e obras adquiridas com verbas da Cidade, empréstimos a longo prazo, doações e legados, bem como o acesso especial a outras coleções brasileiras, servirão às seguintes funções:

• contribuir para dar ao Museu uma identidade única dentro da rede Guggenheim; • fortalecer o apelo internacional do Museu com enfoque local e regional;

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 23

• criar um corpo de trabalho com o qual ancorar o Museu no Rio e sua comunidade; • assegurar a participação a longo prazo do Guggenheim no Museu; • prover um complemento para as coleções da Fundação Guggenheim; • fixar e equilibrar o relacionamento do programa entre a Fundação Guggenheim e a

Cidade.

Programa Educativo A filosofia educacional do Guggenheim é inclusiva, procurando aprofundar o entendimento e o engajamento de cada visitante com a arte moderna e contemporânea. Através do envolvimento integral dos artistas e a integração criativa da tecnologia, o centro educacional do Museu Guggenheim Rio servirá aos visitantes da comunidade local, nacional e internacional, de todas as idades. Será um centro dinâmico e laboratório de aprendizagem para exploração e apresentação de uma magna amplitude de programas oferecidos para as artes visuais, performáticas e literárias. Os programas, no local e fora dele, serão destinados a: • Utilizar a coleção permanente, a arquitetura particular do Museu e as exposições

especiais para ilustrar importantes temas, artistas e movimentos culturais para uma ampla faixa de visitantes, desde colegiais de todos os níveis a adultos e famílias.

• Promover oportunidades de aprendizagem que possibilitem a uma variada congregação de adultos, jovens e famílias experiências pessoais e significativas com as obras de arte.

• Motivar as crianças a aprender a partir de novas e instigantes explorações. • Trabalhar com artistas convidados como parceiros colaboradores no

desenvolvimento de propostas educacionais inovadoras. • Demonstrar a excelência do ensino através da utilização de métodos mais eficazes

baseados na investigação e de outras práticas educacionais relacionadas às propostas programáticas no local e fora dele, utilizando a pesquisa estratégica e as tecnologias educacionais para assistir ao cumprimento dessas metas.

• Desenvolver e promover elos significativos e eficazes entre os museus internacionais do Guggenheim, e alianças que aprimorem a qualidade da experiência do visitante e fomente para a educação artística, local, nacional e internacionalmente, um ambiente globalizado de aprendizagem.

Além do compromisso curador com o cinema, vídeo, Internet e outras artes midiáticas, o Guggenheim há muito tempo defende a educação artística e seu engajamento com as novas tecnologias. Em novembro de 2001, o Guggenheim logrou novo avanço a serviço da educação artística para a população, ao inaugurar o Centro Sackler de Educação Artística. Estado da arte, o Centro Sackler é um centro educacional dinâmico, sincronizado com o século XXI, e um “laboratório de aprendizagem” que oferece programas populares inovadores nas artes. A exploração e a experimentação de novas tecnologias são marcos do Centro, possibilitando ao Guggenheim ampliar e enriquecer seus programas educacionais para jovens, adultos e famílias. Artistas e instituições culturais e acadêmicas envolvem-se na íntegra como parceiros colaboradores no desenvolvimento de programas. Ao longo da expansão do Centro Sackler, todos os Museus Guggenheim podem envolver-se com tais recursos.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 24

Os artistas envolvem-se em todas as facetas dos programas educacionais que o Museu oferece para jovens, adultos e famílias. O premiado programa do Guggenheim, Learning Through Art (LTA) (“Aprender Através da Arte”), hoje em seu 32o ano, oferece durante todo o ano residências escolares que apóiam o currículo letivo e ao mesmo tempo apresentam aos alunos as técnicas da arte e o processo artístico. Através do LTA, os artistas visuais e performáticos trabalham em estreito contato com os professores para prepararem projetos exclusivos a serem ministrados em várias sessões. Visitas de turma aos Museus, passes de ingresso gratuito para estudantes e seus familiares, e o extensivo desenvolvimento profissional de professores reforçam o impacto. Esse programa começou em Nova York, e foi implantado em outras cidades, em conjunto com organizações parceiras, tendo logrado êxito ao ser reproduzido na Cidade do México, México; Quito, Equador; Bilbao, Espanha; e Trenton, Nova Jersey. Como parte do programa, o LTA realizou intercâmbios de educadores-artistas com seus parceiros de programa no exterior. Há pouco tempo atrás, os artistas-professores de Bilbao foram a Nova York, e vice-versa, para propiciar simultaneamente a exploração intercultural on-line com estudantes que documentavam e trocavam idéias sobre suas comunidades por meio de fotografia. Os artistas trabalharam também com as equipes de educadores e curadores para co-desenvolverem possíveis objetivos educacionais de seu trabalho ou o lançamento de uma exposição. O programa Learning Through Art pode ser parte importante da missão educacional do Museu Guggenheim Rio. 6 - O LOCAL O lugar proposto para o Museu Guggenheim Rio é o Cais do Porto da Praça Mauá. Todo local de construção, em especial de um projeto de natureza pública que vai ser parte de um plano de desenvolvimento urbano, apresenta contextos múltiplos: históricos, sociais, geográficos, ambientais, técnicos, legais e políticos. A análise local deste estudo visualiza o Cais do Porto a partir dessas perspectivas. Para essa fase, o Guggenheim contratou a IDOM, uma firma de engenharia sediada em Bilbao, Espanha, e escritórios em São Paulo. A IDOM realizou análises semelhantes para o Guggenheim em seu estudo de viabilidade do Museu Guggenheim Bilbao. O trabalho da IDOM enfocou o lugar de construção como um todo, o plano de desenvolvimento urbano das áreas do Cais do Porto e da Zona Central onde se localiza o Cais, o Cais em si, as considerações ambientais e os regulamentos e as permissões necessárias à construção do Museu. Zona Central, Cais do Porto e Centro da Cidade – Condições Atuais Visão Geral O Cais Mauá projeta-se 400 metros adentro da Baía de Guanabara, corpo d’água onde os portugueses navegaram pela primeira vez em 1500. Faz parte do Cais do Porto e situa-se perto do Centro, coração histórico da Cidade, que estão na Zona Central do Rio. Em virtude dessa proximidade, apresenta a vantagem de fazer parte do núcleo vivo do Centro, dependente do desenvolvimento futuro do bairro e de outras partes da área urbana maior. É preciso levar em conta, entretanto, a possibilidade de sua possível exclusão de certas tendências de desenvolvimento, em razão do crescimento turístico e comercial de outras partes da Cidade.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 25

O Cais Mauá e o Porto apresentam forte centralidade na Cidade, onde foram durante muitos anos o núcleo de atividade mais importante devido à presença da movimentação portuária, dos terminais de navios de passageiros e das atividades comerciais do Centro. Entretanto, o Rio sofreu uma deslocação em seu desenvolvimento, do centro para áreas mais periféricas, que se pronunciou nas últimas décadas, em conseqüência do significativo poder econômico dos setores financeiro, de serviços e turístico. Tais atividades estão se mudando cada vez mais ao sul, primeiro para Copacabana, Ipanema e Leblon, e ultimamente para a Barra da Tijuca, que apresenta grande atratividade ambiental, instalações mais modernas e maior segurança. Isto desafia a vitalidade da Zona Central em continuar sendo o centro da atividade do Rio. Ainda, as fortes discrepâncias sociais e econômicas da população, significativo fator que contribui para a alta taxa de criminalidade no Rio, são particularmente agudas no interior e ao redor do Centro. Porém, são essas deslocações e fatores que parecem motivar a decisão da Cidade de renovar e restabelecer o caráter da área do Porto, do Centro e do entorno. A localização do Cais tem importância histórica. O Mosteiro de São Bento, sede dos beneditinos, com vista para o lugar de construção, foi fundado em 1587. O Porto é centro de navegação comercial há muito tempo. O lugar onde está a Praça Mauá, à frente do Cais, há quatro séculos é centro de várias atividades econômicas que foram mudando, como tráfico de escravos, exportação de café, entrada de imigrantes e viajantes, terminal de transportes e centro de comércio. Grande parte do terreno onde está o Porto, a Praça e o Cais é aterro, conseqüência de projetos iniciados no final do século XIX. Se a Praça perdeu seu caráter original de ponto central de encontro e de intercâmbio comercial, ainda continua a ser uma referência histórica da Cidade. Resenha Sócio-Econômica O Cais situa-se ao longo da parte mais antiga da Cidade e pertence ao bairro da Saúde. Esta parte da Cidade é ocupada principalmente por atividades comerciais, e apenas uma pequena parte é residencial. Das atividades empresariais, a maioria é do setor comercial e de serviços. A população residencial vem declinando muito desde 1980, em contraste com o aumento progressivo da população do Rio como um todo. O poder aquisitivo da população que mora na área situa-se na faixa de renda média a baixa, e são significativamente mais pobres que a média da cidade (a renda média mensal do bairro em 2000 era 36% abaixo da média da Cidade). O maior declínio populacional ocorreu na área mais próxima ao Porto, deslocando-se da parte mais antiga do Rio para o norte, oeste e sul em conseqüência da perda de qualidade de vida residencial, devido à inexistência de infra-estrutura de atendimento às compras do cotidiano, ao ruído, ao trânsito, ao superpovoamento, aos engarrafamentos, à valorização dos imóveis, à disputa pelo uso da terra entre a atividade residencial e a atividade econômica/de serviços, e ao aumento da criminalidade. Isto acarretou um aumento das doenças sociais correlatas, dentre elas a falta de moradia e a prostituição na Praça Mauá, no Porto e no entorno. Se, por um lado, é pequena a população residente, por outro, a área apresenta altos índices de atividade e trânsito de pessoas, devido às atividades empresariais no Centro durante os dias úteis. Entretanto, à noite e nos fins de semana, a área permanece quase vazia, com poucos serviços para os turistas.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 26

Apesar de o Rio ainda ser um centro financeiro e empresarial, com muitos bancos e sedes de empresas estrangeiras e outras empresas de serviços e prestação de serviços profissionais, a área do Centro perdeu atratividade e prestígio. Isto se deve primariamente ao superpovoamento e ao envelhecimento dos locais de provisão do cotidiano, dos serviços públicos (inclusive telecomunicações e dos prédios de escritórios, à degradação do entorno, ao difícil acesso e à distância dos centros residenciais das classes média e alta. Na área do Porto, as atividades pertinentes continuam fortes, com armazéns, firmas de embalagem e transporte de mercadorias. Existem alguns empreendimentos comerciais voltados para a população residencial na área e vizinhança, e os camelôs proliferam com ou sem barracas. Como mencionado, o novo centro comercial vem se desenvolvendo na Barra da Tijuca, com prédios de escritórios, locais de provisão do cotidiano e serviços públicos mais modernos, áreas verdes, proximidade dos bairros residenciais das classes média e alta e dos modernos centros comerciais, e maior prestígio. Desde 1998, muitas empresas multinacionais, como Esso, Shell, Renault, Smithkline Beecham e Glaxo Welcome, transferiram suas sedes de São Paulo para a Barra da Tijuca. Tem havido desenvolvimento paralelo de hotéis e cadeias hoteleiras naquela parte da Cidade. Como indicador de relativo status, o aluguel de escritórios na Barra da Tijuca é mais do que o dobro do Centro. O Centro, apesar de ainda apresentar demanda de espaço, deixou de ser atraente para as empresas mais modernas, e é ocupado cada vez mais por pequenos escritórios e firmas com pouca capacidade de investir. Segurança A segurança é importante preocupação do Cais, de seu entorno e da Cidade de um modo geral. O Centro, contendo apenas 5% da população do Rio, em 2000 foi palco de 10% dos delitos principais do Rio (assassinato, assalto, roubo, furto, seqüestro, estupro e roubo de automóveis). Isto se explica em parte pela grande quantidade de transeuntes na área, que a utilizam como região comercial em razão das atividades comerciais e empresariais que ali ocorrem, tornando-a atraente para os criminosos. Os principais delitos cometidos no Centro são o furto, o roubo de telefones celulares e o assalto de transeuntes, que estão acima da média da Cidade. No bairro da Saúde, próximo dali, o roubo de celulares e o assalto de transeuntes são também os crimes mais freqüentes. A quantidade de furtos e assaltos a turistas no Centro e na Saúde é baixa, mas não há muitos turistas nesses locais. Como o bairro do Centro é em sua maioria comercial, as ruas ficam quase desertas à noite, nos fins de semana e feriados, elevando a percepção da insegurança na área. O corrente ano testemunhou aumento significativo e conturbador da violência e da criminalidade no Rio, gerado na maioria pelas quadrilhas de traficantes de entorpecentes das favelas, causando preocupação generalizada quanto à segurança pública em toda a Cidade. Em março, homens armados metralharam uma Delegacia de Polícia com tiros de armas automáticas. Em maio, a seção Rio da Secretaria de Direitos Humanos foi atingida por muitos tiros e uma granada, e no mesmo mês os traficantes de entorpecentes bloquearam o trânsito em importante túnel do Rio durante uma hora. Em junho, homens portando armas de ataque abriram fogo contra a Prefeitura com 100-200 rajadas, e lançaram granadas de mão, levando o Prefeito César Maia a pedir ao Presidente Fernando Henrique Cardoso a declaração de “estado de defesa” na Cidade. À noite, é rotina as quadrilhas bloquearem túneis e se posicionarem em ruas ermas, sem serem incomodadas pela Polícia, para assaltar ou seqüestrar os motoristas incautos. Em 30 de setembro, a

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 27

quadrilha mais poderosa do Rio, em demonstração de força, forçou colégios, o comércio e o transporte coletivo em toda a Cidade, inclusive em Ipanema e Copacabana, a fecharem as portas naquele dia, a despeito do incentivo em contrário da Polícia. Membros de uma quadrilha também queimaram alguns ônibus, paralisando o transporte coletivo. Em seguida à agressão, e em resposta às ameaças dos chefes da quadrilhas de impedirem a realização das eleições, o governo federal mobilizou o Exército, a pedido das autoridades do Rio, para impedir atos de violência durante as o primeiro turno das eleições em 6 de outubro. O pedido repetiu-se no segundo turno. Em meados de outubro, bandos armados de metralhadoras alvejaram o Palácio do Governo do Rio, lançaram uma granada de mão em um grande centro comercial e atacaram delegacias e carros de polícia. Os resultados das pesquisas realizadas durante a campanha eleitoral classificaram a segurança pública em segundo lugar entre os desafios do país, depois da economia. Por fim, apesar do baixo número de crimes contra turistas no Rio nos últimos anos, devido à maior presença policial nas áreas por eles freqüentadas, este problema também apresentou modificações. Segundo os dados oficiais de criminalidade, há uma média de sete delitos, predominantemente assaltos, contra turistas no Rio todos os dias. Os alvos mais comuns são americanos, franceses e alemães. Mais de 50% dos assaltos ocorreram em Copacabana. Apesar do uso de armas de fogo e facas em quase todos os incidentes, não houve feridos. A preocupação com a segurança pública foi a maior crítica dos turistas que visitaram o Rio em 1999 (15%), segundo pesquisa da EMBRATUR. A percepção do problema já acarretara um declínio geral no turismo na década de 1990. Não surpreende que a pesquisa de mercado realizada para fins deste estudo tenha revelado que a segurança é a maior preocupação dos brasileiros que pensam em visitar o Museu, fator mencionado também por potenciais visitantes internacionais (ver Capítulo 11, “Estudo de Mercado”). Turismo, Cultura e Serviços Afins O Rio é uma cidade turística de primeira classe, com atrações conhecidas em todo o mundo. O turismo nacional e internacional será fator-chave no êxito do Museu Guggenheim Rio. O nível de acessibilidade do Museu de e para as áreas turísticas, sua posição no circuito turístico do Rio e a qualidade, adequação e disponibilidade de serviços complementares, como restaurantes e lojas, será crítico. Segundo a EMBRATUR e a Secretaria de Turismo da Prefeitura do Rio, dos cerca de 2 milhões de visitantes estrangeiros em 2001, cerca de 69% vieram a turismo e 27% vieram para convenções ou a negócio. Segundo a Prefeitura, o Rio é a 7a cidade mais popular do mundo para fins de turismo. A ocupação dos hotéis à taxa de 67% em 2001 esteve um pouco mais baixa em 2000 e 1999. O pico desta ocupação ocorre em janeiro e fevereiro, meses de pouca chuva e do Carnaval. A construção de hotéis continua, em grande parte na Barra da Tijuca. O espaço para convenções é muito valioso, mas o Rio, apesar de possuir o maior parque de convenções da América Latina, por falta de espaço perde substancial porção do turismo destinado a convenções. Conseqüentemente, a Prefeitura aprovou a construção de um novo centro de convenções com 100.000 m² no Centro da Cidade. O Rio explora a atividade econômica do turismo com base principalmente nas praias, em outras atividades ao ar livre e no Carnaval. O Cais não se situa hoje em área de interesse turístico da Cidade. Porém, está a apenas 8 km da principal área turística, que se define nas cinco atrações de destaque:

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 28

Corcovado, Estádio do Maracanã, Pão de Açúcar, Praia de Copacabana e Praia de Ipanema. O Cais Mauá, apesar de não se situar nesse território, está perto de seu entorno, a 15 minutos de carro da mais próxima e 30 minutos da atração mais distante. A presença do Museu e do desenvolvimento a ele relacionado pode ampliar a região turística, incluindo-o e a adjacente porção colonial e imperial do Centro da Cidade. Grande parte dessa área e sua arquitetura não está em bom estado e não vem sendo desenvolvida para atrair o turismo. Entretanto, a sinergia pode nascer do impacto positivo do Museu sobre a regeneração daquela área da Cidade. A Barra da Tijuca situa-se significativamente mais ao sul da região turística tradicional, e está a considerável distância do Cais. O desenvolvimento de hotéis e praias turísticas na região dificultará o acesso ao Museu. Hoje o turismo cultural é desprezível, mas os turistas que chegam à Cidade amiúde vão visitar alguns museus, igrejas, monumentos e outros lugares arquitetônicos. O Cais fica próximo ao Mosteiro de São Bento, a apenas 1,2 km do Museu de Arte Moderna e perto de outras propostas culturais. Os cruzeiros turísticos são relativamente novos no Rio. A Secretaria de Turismo do Rio e a EMBRATUR desenvolveram um programa para expandir a atividade, tendo havido um movimento de 135 mil passageiros de outubro de 2001 a março de 2002. O terminal de navios de passageiros é adjacente ao Cais. Aumentar esse turismo pode beneficiar o Museu. A maioria dos hotéis está no sul da Cidade, perto das praias e do turismo, e o Centro representa apenas 1% da capacidade hoteleira do Rio. Os hotéis do Centro destinam-se mais a quem viaja a negócios. A atividade comercial próxima ao Cais é mínima, consistindo principalmente de varejo de baixa qualidade dirigido à população das imediações de baixo e médio poder aquisitivo. Há concentrações maiores desse tipo de comércio na parte colonial. A área não possui centros comerciais. O Cais está a 10 minutos a pé de uma área que contém uma significativa quantidade de restaurantes, na maioria lanchonetes e serviço a quilo, dirigidos a quem trabalha de dia na parte comercial. Há poucos restaurantes de qualidade para escolha dos turistas. Acessibilidade O Cais Mauá é acessível de táxi, ônibus, metrô e automóvel e, com o Museu, por barco e helicóptero. Está a cerca de 15-20 minutos de táxi de Copacabana e Ipanema, ao custo de US$ 10-12. Os ônibus urbanos de um modo geral não são convenientes ao turista. Não têm ar-condicionado, lotam demasiadamente nos horários de pico, apresentam sinalização precária, e há ocorrência de roubos. Há um ônibus para turistas, mais confortável e apropriado, com ponto final na Praça Mauá. A estação do metrô mais próxima dista 15 minutos a pé do Cais, considerado o trajeto mais direto. O sistema de metrô é pequeno, mas seguro, confortável e confiável. Quinze minutos demora a viagem de Copacabana ao Centro. O acesso dos pedestres é problemático. Há três trajetos principais. Um é ao longo do litoral, que pode vir a ser também uma ciclovia. Os outros dois vêm do Centro, um através da histórica cidade portuguesa (Morro da Conceição) e o outro através do eixo principal do Centro do Rio (Avenida Rio Branco). O acesso é simples e direto. Entretanto, todos os trajetos tornam-se complexos ao se aproximarem do Cais, devido à necessária travessia de

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 29

ruas de tráfego intenso. A caminhada não é agradável devido à densidade do tráfego, que gera também ruído e fumaça, e pode ser perigosa fora do horário de expediente. Além disto, os trajetos passam por áreas urbanas deterioradas. O trajeto litorâneo, apesar de mais agradável, apresenta acesso restrito por atravessar áreas pertencentes ao Ministério da Marinha. O estacionamento também apresenta problemas. Há hoje apenas um estacionamento perto do Cais, com 750 vagas, das quais apenas 300 destinam-se ao público em geral. O estacionamento é permitido nas ruas secundárias, mas a capacidade é baixa e em geral está lotada, exceto nos fins de semana. Além disto, a Secretaria de Transportes adotou a política de extinguir aos poucos esse tipo de estacionamento no Centro da Cidade. Há vários projetos que visam a aumentar o número de vagas de estacionamento na área. O mais significativo para o Museu seria uma garagem com 1.200 vagas debaixo da Praça Mauá. Já houve duas convocações para a concorrência pública, que vai conceder o serviço por 35 anos, mas ninguém apresentou proposta em nenhuma das duas. Isto se deve ao desconhecimento das características do subsolo da Praça Mauá, que impossibilitava o preparo dos orçamentos de escavação. Uma análise geotécnica vem sendo realizada para solucionar o problema até a próxima convocação da concorrência, cuja data ainda não foi marcada. Não houve reserva de vagas específicas para o estacionamento do Museu, e as especificações de estacionamento parecem, segundo a IDOM, não alocar espaço suficiente para ônibus de turismo. Há uma proposta de construção de uma garagem para 950 veículos embaixo da Antiga Imprensa Nacional, como parte de um projeto maior de um centro comercial e empresarial, e de uma garagem para 950 veículos embaixo da Avenida Barão de Tefé. Os dois projetos não têm data marcada. Características Urbanas e Estéticas do Cais e Sua Área Adjacente O núcleo financeiro do Centro, com seus prédios de escritórios e sua atividade comercial, termina na Praça Mauá. A seção colonial e imperial da Zona Central também se situa depois da Praça. À medida que se vai aproximando do Cais, a área começa a apresentar uma qualidade deteriorada. A área adjacente ao Cais sofre em virtude do abandono de várias edificações. Além disto, a pista elevada de rodagem da Avenida Rodrigues Alves é importante obstáculo visual de e para o Cais. A área vizinha mais próxima não possui áreas verdes. Apenas a Praça Mauá possui um pequeno canteiro em volta da estátua central. Quando se vai para a área do Porto, vindo do Cais, a sensação de abandono aumenta. Os inúmeros armazéns antigos, tanto ao longo do litoral quanto da segunda linha, apresentam fachadas muito deterioradas, e, por ocuparem quarteirões inteiros em tamanho, um aspecto assustador. Na área mais próxima do Cais, há pequenas indústrias, antigos caminhos para a Cidade e trilhos de trem. As áreas residenciais vizinhas estão também muito castigadas. As fachadas são sujas e mal conservadas, e a arquitetura não é particularmente interessante. Muitas residências estão em mau estado. À medida que se vai afastando ainda mais dali, podem-se avistar os morros próximos com seus aglomerados de favelas, o que contribui ainda mais para o aspecto urbano degradado da área.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 30

Há vários prédios de significado histórico e arquitetônico na área do Porto, alguns em bom estado de conservação e outros carentes de renovação ou reutilização para fins de adaptação. Além disto, há dois prédios grandes que, em razão de sua altura, podem impedir que se aviste o Museu de outros pontos da Cidade. Cais do Porto – Planos de Retomada do desenvolvimento A área do Porto é tratada nas primeiras etapas da implantação do Plano Municipal de Regeneração (Programa de Revivência da Zona Portuária do Rio), promovido pela Prefeitura através da Secretaria de Planejamento Urbano, do Instituto Pereira Passos e da Assessoria de Planejamento Estratégico do Rio de Janeiro (o “Plano de Retomada do desenvolvimento do Porto”). É intenção da Cidade que os projetos incluídos no Plano apresentem um relacionamento sinérgico com o Museu, cada um possibilitando o êxito do outro. A releitura dos projetos constantes no Plano de Desenvolvimento do Porto indica que seus objetivos são, primariamente, melhorar a qualidade urbana da área e das atividades de provisão do cotidiano da população, e concretizar reutilizações adaptativas das áreas não mais necessárias às atividades do Porto. Esses projetos podem ser divididos em curto prazo (com orçamento definido, podendo ser executados por volta de 2004), médio prazo (ainda não orçados, não podendo terminar antes de 2007) e longo prazo. A Prefeitura é hoje a única entidade que investe na área. Os projetos de curto prazo abrangem primariamente a reabilitação do litoral portuário até o Armazém 8 e das ruas da vizinhança, a restauração das fachadas de 82 prédios residenciais, a construção do estacionamento-garagem embaixo da Praça Mauá e a construção de um estádio esportivo nas imediações da Gamboa, perto do Morro da Conceição. Apesar de todos esses projetos contribuírem para a melhoria geral das áreas envolvidas, o único de significado crítico para o Museu é o estacionamento-garagem que, como observado acima, ainda não foi atribuído a qualquer concessionário. O Armazém 5 já foi reformado pela Cidade para ser utilizado como local de exposições artísticas. Os projetos de médio prazo abrangem a conversão do prédio de 40.000 m² do Departamento de Polícia Federal para uso de escritórios e comércio, a conversão do prédio da Cibrazem em espaço comercial, a conversão dos Armazéns ao longo do litoral portuário para uso comercial, estacionamento subterrâneo na Avenida Barão de Tefé, a isolação acústica do elevado da Avenida Rodrigues Alves, um sistema de bondes, projetos de reformas de moradias, a relocalização da estação rodoviária da Praça Mauá e alguns projetos adicionais em fase conceitual. Para o Museu, os projetos significativos neste grupo são a isolação acústica da Avenida Rodrigues Alves, o bonde, o acréscimo do estacionamento e a relocalização da estação rodoviária. A aceleração desses projetos seria ótima e recomendável. Além disto, os prédios de uso comercial (por exemplo, restaurantes, lojas e hotéis) que fornecem serviços aos turistas trariam significativo benefício para o Museu. Os projetos de longo prazo ainda estão em fase muito conceitual e de planejamento inicial. Visam a dar maior atenção à reabilitação e revitalização da área portuária, a impedir a perda de população e até a atrair mais moradores, e melhorar a qualidade da presença comercial. Apesar de apenas uns poucos projetos dentre os tratados no Plano de Retomada do desenvolvimento do Porto estarem em execução, a Prefeitura manifestou-se confiante em

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 31

seu êxito, por dois motivos. Primeiro, estão próximos à área do Centro, com bom acesso ao Porto através da Avenida Rio Branco. Entretanto, isto não dá conta do fato de que, no todo, o crescimento urbano hoje vem se desenvolvimento na área da Barra da Tijuca, e para ali estão se dirigindo o investimento e a construção privados. É preciso um empenho maior para que o Porto e o Centro sejam atraentes aos investidores privados. Segundo, a Prefeitura acredita que o Museu Guggenheim Rio seria um estímulo para o maior interesse na área, a valorização dos imóveis e a atenção internacional. A análise do impacto econômico realizada para este estudo confere credibilidade a esse ponto-de-vista (Ver Capítulo 12, intitulado “Análise do Impacto Econômico”). Entretanto, por mais que a presença do Museu venha gerar atividade turística direta, a presença do Museu por si só não basta para gerar as atividades adicionais que a Cidade busca. Para lograr êxito, o esforço conjunto de investidores públicos e privados, e o forte apoio da população, são críticos. Os dados revelam aparentemente que todos os projetos do Plano de Retomada do desenvolvimento do Porto precisam ser executados para se lograrem os objetivos propostos pela Secretaria de Planejamento Urbano, pois aqueles atuariam, como concebido, como plano total de regeneração urbana e social. Parece ainda que uma maior sinergia com o Museu poderia ser criada com objetivos urbanos mais ambiciosos que viriam desenvolver ainda mais as áreas portuárias deterioradas com vistas a atrair o investimento do setor privado. Por este motivo, acredita-se também que, por mais necessário que se considere o Plano de Retomada do desenvolvimento do Porto, há ainda a necessidade de esforços emblemáticos adicionais capazes de gerar, com o Museu, esforços de regeneração ao nível internacional. A definição desses projetos poderia se dar através de licitação internacional, dentro do contexto de um plano estratégico integral, considerando-se a mescla dos usos comercial, cultural e de lazer, para trazer projetos específicos que valorizem a área e sirvam de complemento para o Museu Guggenheim Rio. Esse plano total pode incluir salões de convenção e exposição, um centro empresarial mundial, outros centros de cultura e lazer e a remoção das barreiras arquitetônicas e urbanas (exemplo, enterrar a Avenida Rodrigues Alves). A esse respeito, deve-se notar que, quando Bilbao estava em processo de estudo de viabilidade, havia também planos sendo desenvolvidos para os projetos de Norman Foster de um novo sistema de metrô, planos de James Stirling para modernização da central ferroviária, além das novas edificações e da infra-estrutura pública a serem projetadas por I. M. Pei e Santiago Calatrava. O êxito do retomada do desenvolvimento do porto de Baltimore foi fruto da sinergia do novo Aquário Nacional, do centro empresarial mundial, do Museu Marítimo e de um grande centro comercial. Em Buenos Aires, a fase inicial do projeto do Porto Madero abrangeu a reforma dos armazéns que hoje abrigam 40 restaurantes, a Universidade de Buenos Aires, dois museus marítimos e prédios de escritórios. Manchester, Inglaterra, recebeu recente aclamação internacional ao inaugurar o Imperial War Museum North de Daniel Libeskind. O projeto é parte de um plano maior que abrange o Centro Lowry de Artes Visuais e Performáticas projetado por Michael Wilford & Partners, Urbis, um museu de cidades modernas projetado por Ian Simpson e, em construção hoje, um novo pavilhão de Tadao Ando nos novos Jardins Picadilly, cujo paisagismo é de autoria de Michael Hopkins & Partners.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 32

O Cais Mauá O cais foi construído entre 1949 e 1951, para navios de até 30 mil toneladas, primariamente como área de carga e descarga para contêineres transportadores pesados. As mercadorias armazenadas, carregadas e descarregadas eram sólidas ou a granel. As mercadorias principais eram materiais de construção e veículos importados. Não há registro de carga ou armazenamento de líquidos no local. O Cais era utilizado como terminal de navios de calado superior ao projetado na construção, gerando problemas de instabilidade que causaram o encerramento das atividades na década de 1990 e seu atual estado de abandono. O Cais tem aproximadamente 400 metros de comprimento e 83 metros de largura. Todo local de construção apresenta desafios além do programa e do projeto. O Cais não é diferente nesse aspecto. No caso do Cais Mauá, os desafios enfocam a propriedade e o controle do lugar, as questões geológicas e estruturais e as questões ambientais e reguladoras. Propriedade e Controle O Cais Mauá é propriedade da DOCAS S.A., empresa estatal federal. A DOCAS fez uma concessão de arrendamento mercantil e desenvolvimento para a Cais Mauá S.A., consórcio particular. O contrato abrange o terreno ocupado pelo atual Cais, o terreno e as benfeitorias do terminal de passageiros adjacente e os Armazéns 1-5, e vigora até 2023 com opção de prorrogar-se por mais 25 anos. A Cais Mauá S.A. hoje opera o terminal de passageiros. A outra parte interessada que parece ter manifestado interesse no Cais é o Ministério da Marinha, para utilizar o lado leste do Cais para barcos de atracação. Como condição para levar adiante o projeto do Museu, a Cidade do Rio de Janeiro terá que tratar e implementar, às suas custas, os acordos que se façam necessários com as partes pertinentes, para adquirir à DOCAS S.A. a propriedade ou o controle do Cais Mauá, livre de quaisquer compromissos com terceiros (inclusive a Cais Mauá S.A.) e quaisquer outras obrigações, gravames ou encargos. Características Geológicas Para fins de investigação geológica, a IDOM realizou uma série de perfurações e testes de decomposição para confirmar se a composição estrutural do Cais coincide com a indicada nos desenhos de construção a ela apresentados e para determinar a integridade da estrutura e a composição geológica do lugar. As perfurações revelaram a existência de uma camada superficial de areia lodosa fina não coesiva, que forma grande parte do material de aterro colocado no Cais durante sua construção. Isto é indício de uma forma típica de construção de Cais que utiliza material dragado do mar e utilizado como aterro. A camada de aterro tem a espessura quase uniforme de 14-15 metros. Abaixo do material de aterro estão os subsolos marinhos naturais, compostos de argilas muito macias, cinza-escuro e orgânicas, cuja espessura varia entre 1 a quase 3 metros. Embaixo das argilas marinhas há areias argilosas razoavelmente compactas, com alto grau de profundidade variável. Embaixo dessa camada, há granito gasto pelo tempo. A natureza muito permeável e não coesiva das camadas arenosas tornam-nas impróprias para qualquer estrutura de fundações. A implicação natural primária de qualquer

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 33

construção no local é que todos os futuros elementos estruturais, como estacas, âncoras ou paredes em diafragma, devem ser incrustados nas camadas de granito do fundo. Informações precisas das características das camadas de granito quanto a sua suportação de carga se fazem necessárias ao desenvolvimento de soluções estruturais e econômicas adequadas, e uma completa investigação geotécnica, inclusive testes de laboratório, também se faz necessária caso o projeto do Museu tenha prosseguimento. Toda a escavação durante a construção será feita obviamente abaixo do lençol freático em terra muito permeável, fazendo com que seja inevitável a constante escavação de água durante a construção. Outra implicação da natureza permeável das camadas superficiais é que se devem esperar altas pressões de levantamento da água em todas as lajes de terra, criando a necessidade de ancorar a laje de terra ou drená-la com constante evacuação de água durante todo o projeto de construção. Como já se observou, e o será também o Capítulo 8, “A Arquitetura: Análise Técnica e Custo de Construção”, o projeto de Jean Nouvel apresentado como parte deste estudo contempla a demolição quase total do Cais e não emprega a laje de terra tradicional. Aspectos Estruturais Os testes de decomposição do Cais confirmaram que seus 50 metros centrais foram construídos com grupos de estacas de concreto reforçado encimadas por topos ligados por uma armação de vigas de concreto reforçado. Estes e outros elementos estruturais encontrados não foram apresentados nos desenhos de construção originais. O perímetro externo do Cais consiste de estacas pontudas inclinadas de concreto reforçado e comprimento variável. Uma laje de transição, composta de painéis de concreto reforçado pré-moldado assenta-se, sem conectar-se a eles, nos topos das estacas. Todo o Cais é encimado por uma laje estrutural de concreto reforçado. Como observado acima, toda a estrutura do Cais assenta-se sobre aterro marinho que foi utilizado para rechear à volta das estacas antes da colocação da laje superior. Ao redor do perímetro do Cais e das estacas inclinadas há um anel de matacões e material bruto utilizado para conter no interior do Cais o aterro de areia lodosa. O estudo geotécnico e os testes locais revelaram que a grande maioria das estacas do perímetro falharam, tornando o perímetro de 15 metros impróprio para outro uso que não o de pedestres. Qualquer projeto no Cais que precisasse dessa área para fins de construção exigiria uma operação completa de demolição e reconstrução porque as estacas estão muito danificadas para serem reforçadas. A faixa central do Cais está em bom estado. Dada a integridade estrutural do Cais central, e levando em conta seu uso original, a IDOM pôde fazer uma estimativa da capacidade de suportação de carga da área. Segundo seu ponto-de-vista, não deverão ser encontrados grandes problemas desde que a edificação não ultrapasse três pavimentos com carga viva de 5 KN/m², que seria um prédio semelhante ao Museu Guggenheim Bilbao. Esta estimativa teria que ser confirmada antes de terminado o projeto definitivo, principalmente se for prevista qualquer interferência sobre a estrutura do Cais. O teste completo de carga teria que ser realizado para confirmar a capacidade estimada de carga e estudar o comportamento do assentamento. Entretanto, a integridade estrutural do Cais é de importância menor para o projeto de Jean Nouvel apresentado como parte deste estudo. Excetuados os 70 metros ao fim do Cais, aquele projeto contempla a demolição parcial do Cais a uma profundidade média de cerca de 11 metros abaixo do nível do mar. Esse grau de intervenção tornaria o atual Cais

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 34

totalmente inútil em termos de capacidade de suportação de carga e de estabilidade. Uma subestrutura completamente nova seria necessária para suportar 83% das instalações do Museu. A principal tarefa da nova subestrutura seria resistir às pressões hidrostáticas tanto lateralmente quanto de levantamento sobre a base ou a laje de terra. Apenas a estrutura que suporta a extremidade final do Cais seria utilizada para suportar o prédio que abriga as Galerias de Exposição Temporárias. As implicações estruturais desse projeto são discutidas no Capítulo 8 deste relatório, intitulado “A Arquitetura: Análise Técnica e Custos de Capital”. Utilidades e Serviços As redes elétrica, sanitária, de gás e de água chegam todas à Praça Mauá e ao Porto, e podem estender-se ao Cais para o Museu. Há uma rede telefônica na Praça e um sistema de fibra óptica está sendo instalado na Zona Central. Presume-se que a Cidade estenda esses serviços ao Cais. Considerações Ambientais – Impacto Sobre o Projeto Qualquer discussão das questões ambientais, em especial as de um local contaminado, envolve inevitavelmente questões jurídicas e reguladoras. Para analisá-las, é preciso entender os níveis de governo potencialmente envolvidos. No caso, todos os níveis. A Baía de Guanabara, como corpo de água do mar, pertence ao governo federal. Os rios que deságuam na Baía pertencem ao governo estadual. Quinze municípios compartilham o território de sua Bacia de Apanhamento. Situação Ambiental Atual da Baía de Guanabara A Baía de Guanabara é considerada herança natural estratégica pelas autoridades ambientais brasileiras. É também uma das mais ameaçadas pela atividade humana, exigindo ação corretiva urgente e enérgica. A poluição substancial da Baía decorre de três fontes principais: poluição doméstica, poluição industrial e acidentes ambientais. Mais de 8 milhões de pessoas habitam a bacia da Baía, a maioria no Rio de Janeiro metropolitano, que vem sendo uma das regiões de crescimento mais rápido do Brasil nos últimos anos. A falta de tratamento urbano das águas servidas é um dos maiores agentes poluentes da Baía. Grande parte das águas servidas produzidas pela população, enviada aos rios, dutos ou galerias, termina na Baía. Em 1994, estimou-se que as águas servidas que ali desaguavam sem tratamento representavam 17 m3/s, somando 465 t/dia de poluição orgânica. O outro significativo problema doméstico ambiental são os dejetos sólidos relativos ao assentamento da população. Treze mil toneladas de dejetos sólidos são gerados diariamente na Bacia. Quatro mil toneladas não são coletadas e são descarregadas em rios, canais ou terras úmidas. As restantes 9.000 são coletadas e descarregadas em aterros (8.000) e vazadouros (1.000). Existem mais de 6.000 indústrias na Bacia da Guanabara, produzindo 52.000 t/mês de dejetos industriais, dos quais 15.000 são perigosos. Dizem os relatórios que essas indústrias são responsáveis por 20% da contaminação orgânica das águas e por 100% da poluição tóxica das águas. As autoridades ambientais classificaram 450 indústrias como prioritárias para fins de controle de emissões residuais, das quais 50 são responsáveis por 80% da poluição industrial total capaz de afetar a Baía. As demais atividades econômicas que podem contribuir significativamente para a poluição são os 16 terminais de cabotagem de produtos oleosos, dois portos comerciais, duas refinarias, 12 estaleiros, mais de 1.000

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 35

postos de gasolina e uma complexa rede de dutos para transporte de derivados de petróleo e de águas servidas. Segundo estimativas, as indústrias despejam na Baía 64t de matéria orgânica e 7t de óleo por dia, contendo 0,3t de metais pesados como chumbo, cromo, zinco e mercúrio. Por fim, ocorreram inúmeros acidentes de vazamento de produtos derivados de petróleo na Baía. O mais grave foi o da Petrobrás, em janeiro de 2000, vazando mais de 1,2 milhões de litros de óleo. O Cais Mauá não foi afetado pelo incidente. Em conseqüência desses agentes poluentes, os dados estudados pela IDOM revelam significativos problemas de qualidade da água devido à presença de substâncias e nutrientes fecais. Também há metais pesados no sedimento da Baía, embora a maior concentração ocorra no lado oeste, que recebe grande parte da água proveniente dos rios de drenagem das áreas industriais, decrescendo nos lados centro e sul da Baía. Na última década, as instituições e indústrias ambientais localizadas na área tomaram inúmeras providências para limpar a Baía. As providências concentraram-se no tratamento dos dejetos líquidos e sólidos e na educação ambiental da população de um modo geral. Dois programas governamentais estão em vigor. Um é um programa de $ 800 milhões destinado primariamente a criar uma infra-estrutura de abastecimento de água, e limpeza, coleta e tratamento dos dejetos sólidos. O outro é um programa federal de $ 20 milhões destinado a fortalecer as instituições ambientais, criando agendas ambientais, revitalizando as reservas naturais e apoiando a pesquisa e a educação. O acompanhamento dos dados revela uma melhora lenta porém contínua. Ainda, dois fatores principais restringem a eficácia dessas medidas. Um é orçamentário, o outro é a falta de coordenação institucional dentre as várias repartições públicas competentes. Segundo o ponto-de-vista da IDOM, a ação combinada de todas as forças atuantes pode acarretar uma melhora lenta, porém digna de nota e contínua, com a recuperação ambiental eficaz dos impactos reversíveis dentro de 15-20 anos. É preciso salientar, entretanto, que a Baía apresenta extraordinária capacidade de regeneração. Embora a qualidade da Baía em volta do Cais não seja boa, é melhor do que a média da Baía, em virtude da localização do Cais e dos mecanismos naturais presentes capazes de dispersar a poluição aquática e atmosférica. Situação Ambiental Atual do Cais Mauá O Cais, as docas vizinhas, a Praça Mauá e os bairros residenciais dos arredores foram todos criados com aterro. Antes, os morros da Zona Central eram ilhas de granito unidas por pântanos, dunas, mangues e lagoas. Além dos fatores ambientais que afetam toda a Baía de Guanabara, discutidas acima, as principais fontes de impacto ambiental real ou potencial para o Cais e seus arredores imediatos são: • Os sistemas de descarga de águas pluviais que deságuam no Porto. O mais

importante, em termos de volume e potencial poluente é o Canal do Mangue, embora existam muitos outros. Esses sistemas são fonte poluidora tanto da água quanto dos sedimentos, uma vez que alguns sistemas de esgotamento deságuam nos sistemas de drenagem das águas pluviais, levando com eles o correspondente efluente urbano. Levam os dejetos eliminados displicentemente pela população e os

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 36

dejetos e sedimentos trazidos pelos transbordamentos decorrentes da limpeza das ruas e das chuvas.

• Os sistemas de esgotamento ao longo do cais. São fonte de poluição da água e dos sedimentos que se espera eliminar em futuro próximo, com a abertura de um novo coletor para levar as águas servidas urbanas para a estação de tratamento de esgotos.

• A bóia de descarga que abastece de óleo a Refinaria de Manguinhos, que se liga à terra por meio de um oleoduto. É fonte potencial de poluição da água e de sedimentos.

• As atividades relativas às atividades dos navios, inclusive os possíveis vazamentos de óleo, as descargas de dejetos e a poluição acústica e atmosférica. Os terminais mais próximos ao Cais movimentam apenas carga limpa, os materiais potencialmente contaminantes são manuseados no terminal mais distante.

• O solo poluído no local dos gasômetros perto do Canal do Mangue. • Os estaleiros e os cais militares da Ilha das Cobras são fontes poluentes potenciais

da água e de dos sedimentos, e também a poluição aérea e acústica. • O Aeroporto Santos Dumont é fonte de poluição aérea e acústica. • A porção elevada da Avenida Rodrigues Alves e o tráfego no Centro e Zona Central

vizinhos são fontes de poluição aérea e acústica.

O reconhecimento do local e do solo e as amostras da água do lençol freático do píer, realizados pelo - IDOM, revelaram que havia PCBs no solo e PAH na água. As águas subterrâneas também contêm uma carga orgânica equivalente à da água urbana residual sem tratamento e uma carga química que é característica da água de condensação industrial. Presume-se que a poluição do solo foi causada pelas atividades realizadas no píer (por exemplo, o manejo inadequado dos fluidos dos transformadores) e pela presença, também no píer, de sedimentos provenientes da dragagem. A causa da poluição da água é de origem externa, devido à contaminação da água da Baía de Guanabara. As conclusões se baseiam em um padrão internacional, já que não existe nenhuma lei ou jurisdição específica no Rio de Janeiro que possa definir se o solo está poluído ou não. No entanto, o risco para a saúde humana e para o ecossistema é pequeno, já que os níveis de concentração são baixos. Uma solução adequada para esta poluição seria a escavação e a disposição do solo afetado por PCB´s num aterro controlado. Haverá necessidade de uma análise mais controlada se o projeto tiver seguimento. Além dessas origens permanentes de poluição, desde o ano 2000 houve dois incêndios, derramamentos, acidentes e outros acontecimentos a cada ano que tiveram como resultado a poluição excessiva do ar e da água nas proximidades do píer. A proximidade do tráfego de navios e de aviões continuará a apresentar riscos de acidente. Apesar de não haver uma estação de monitoramento no píer, para medir o resultado de todas esses efeitos no meio ambiente, existe uma nas proximidades do Canal do Mangue. As águas nesta estação têm níveis altos de coliformes, DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e outros nutrientes. Os sedimentos contêm níveis altos de cádmio e de zinco. Os aspectos visíveis da água no píer incluem a presença de iridescência na superfície, dejetos flutuantes e água extremamente viscosa. No entanto, o ambiente aquático do píer tem uma boa capacidade para dissolver a poluição, o que pode ser constatado pelas correntes rápidas, marés altas e águas profundas que favorecem a diluição e contribuem

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 37

para a ausência de cheiro, indicando que não há fermentação, além da evidência da pesca ilegal de camarão, o que indica que a qualidade da água é suficientemente boa para os camarões sobreviverem. A estação de monitoramento do ar mais próxima está no Centro da cidade. As medições mostram boa qualidade do ar. No píer, o ar é consideravelmente melhor graças à sua distância das fontes de poluição e aos ventos da costa. Não existe nenhum controle de níveis de barulho no píer e seus arredores. De dia, o visitante estaria exposto a níveis altos de barulho da auto-estrada, do tráfego de aviões e de navios. Como uma área portuária, a lei local permite níveis de barulho de 65dB durante o dia e 55dB durante a noite. O resultado do monitoramento realizado pelo IDOM confirma que os níveis de barulho em volta do píer e nas proximidades dele excedem estes níveis máximos consideravelmente, com uma média de 75dB durante o dia e 69dB durante a noite. Os níveis máximos excederam 80dB, resultado do tráfego de aviões, barcos a motor, helicópteros, sirenes de navios e ambulâncias. O único risco natural que poderia ser uma ameaça ao museu seria uma tempestade. O pior cenário apresentado pelo píer às autoridades seria o causado por uma tempestade SE. Nestas circunstâncias, ondas já alcançaram 1,5 metro na Ilha de Enxadas. No entanto, as ondas no píer seriam menores, já que ele estaria protegido pela Ilha das Cobras. O Impacto do Estado Ambiental Atual no Projeto Em um nível geral, deve-se observar que as condições do solo e do subsolo no píer são características de um ambiente marítimo de um país tropical. É um ambiente agressivo, com maresia, brisas, ventos, temperaturas altas e muito sol. Estes fatores influenciam a escolha do material de construção, aditivos e proteções. Apesar haver otimismo com relação à melhora da qualidade da água em curto prazo, a água está contaminada com poluentes dissolvidos e suspensos, com óleos e graxas, espuma e elementos sólidos flutuantes (por exemplo, garrafas e sacos plásticos). Além disto, acontecem derramamentos de derivados de óleo freqüentes produzindo picos altos de poluição próxima ao píer. Tudo leva a um impacto estético na superfície da água, além das manchas nos elementos estruturais em contato com a água. Além do mais, devido à poluição na baía, recomenda-se o uso limitado da água pelo IDOM para os elementos aquáticos da estrutura do museu. O aterro usado para construir o píer também está contaminado. A estrutura do museu requer a demolição e a escavação de uma parte extensa do aterro. Isto vai exigir um plano para transformar um aterro escavado em um aterro controlado, bem como a contenção do aterro remanescente (ver capítulo 8, “A Arquitetura: Análise Técnica e Custo de Construção”). Existe o risco potencial de acidentes em duas áreas: acidentes portuários com impacto ambiental (como, por exemplo, vazamento de óleo e fogo) e acidentes aéreos ou marítimos. Experiências anteriores indicam que existe o risco de ocorrência de um ou dois acidentes marítimos por ano, e um risco quase insignificante de acidentes aéreos. Os países tropicais sempre apresentam um risco potencial de saúde derivado da existência de insetos, roedores e outras pestes biológicas. Isto é agravado pelo projeto do museu, que inclui jardins tropicais e elementos aquáticos. O museu exigirá medidas para minimizar os efeitos deste risco com saneamento que seja compatível com medidas de controle de pestes, além da redução da presença de água parada.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 38

Como se pode ver, o píer e seus arredores mais próximos estão sujeitos a bastante poluição sonora durante o dia, de 72 a 75 decibéis (com picos que vão além de 80 decibéis e 69 decibéis à noite). Considerações ambientais – O impacto do projeto na baía e seus arredores Todo projeto de construção tem um impacto no meio ambiente. Do ponto de vista do IDOM e baseando-se na sua própria análise e nas entrevistas com autoridades ambientais municipais, estaduais e federais, parece que o impacto ambiental não será tão significativo ou determinante, ou mesmo um fator limitante para a construção do museu. Os possíveis principais impactos ambientais que seriam específicos deste projeto e necessitariam de análise, se for o caso, incluem: Possíveis impactos no ambiente terrestre Há a possibilidade de um impacto severo como conseqüência de um manejo inadequado do material escavado do píer em quaisquer umas das suas fases de manejo (condicionamento, transporte e disposição final). Possíveis impactos no ambiente aquático O projeto atual do museu contempla um píer que teria a função de proteção no caso da colisão de um navio com o local. Além disto, os limites estruturais das fundações excedem os limites do píer atual. Estes dois elementos representam uma ocupação irreversível da Área de Marinha, considerando-se, conseqüentemente, um impacto severo. A presença do píer diminuirá a capacidade de dispersão da poluição existente no ambiente aquático local devido à diminuição da velocidade da água, e pode ter um impacto negativo na qualidade da água. Qualquer minipíer periférico na construção pode afetar as correntes marítimas também. O IDOM sugere um projeto que minimize a redução da velocidade atual. Durante a escavação e a construção, a água do mar será jogada para fora continuamente. Isto terá que ser feito de modo ambientalmente correto, com um tratamento adequado da água do mar e do solo com o qual ela possa entrar e contato. A construção também aumentará as partículas suspensas na água. A Marinha tem demonstrado preocupação de que estes sedimentos venham a se depositar no canal navegável que ela utiliza, o que reduzirá a tração exigida para navegar. Se isto vier a ocorrer, será necessário um monitoramento batimétrico e, se preciso, dragagem. Possíveis impactos na atmosfera A remoção da matéria escavada do píer, estimada em 270 mil m³, aumentaria a poluição atmosférica e os níveis de ruído. Centenas de viagens de caminhões, do e para o píer, seriam necessárias. Durante a construção, o impacto corresponderia a outras construções civis. Se a remoção for feita pelo mar, a magnitude do impacto seria reduzida. A tela que faz parte do desenho do museu pode apresentar um impacto único. A superfície poderia funcionar como um ponto de ondas que refletem focos específicos de ruído (por exemplo, aviões, navios, auto-estradas), aumentando os níveis de ruído em pontos específicos do museu. O IDOM recomenda que sejam utilizados na cobertura da tela materiais que absorvam os ruídos. Além disto, a tela tem que ter um formato e um tamanho grande o suficiente para gerar mudanças microclimáticas nos seus arredores mais próximos,

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 39

principalmente nos ventos e na luz do sol no local, mas que só exigisse mudanças corretivas gerais no desenho. Possíveis impactos na saúde e no bem-estar do público Um dos elementos mais proeminentes do desenho do museu é o lago com 6.500m³ de capacidade, ocupando uma área significativa da superfície do local. A água fresca estagnada em países tropicais atrai insetos, roedores e outros animais que podem transmitir doenças. Conseqüentemente, existe um risco em potencial para a saúde pública que terá que ser minimizado. As instalações aquáticas terão que ser projetadas para evitar áreas estagnadas e para gerar um impacto residual na qualidade do ar, da água e da fauna aquática. É necessário que se alcance um equilíbrio entre ambos impactos. Considerações similares se aplicam a jardins tropicais. A vegetação atrairá fauna que inclui roedores e insetos que espalham doenças. As melhores medidas são pesticidas químicos, mas seu uso pode acarretar danos ambientais. Tratamentos biológicos não trazem tantos danos ao meio ambiente, mas são menos eficientes e confiáveis. Novamente, é necessário que haja um equilíbrio entre a proteção ambiental e a saúde. O museu aumentará o trânsito de veículos durante a construção e funcionamento. Isso é grave, uma vez que o Centro do Rio já apresenta problemas de congestionamento do trânsito. Um planejamento mais cuidadoso do fluxo do trânsito será necessário. O IDOM recomenda o uso do transporte marítimo para a entrada e saída de materiais durante a fase de construção, para minimizar este impacto potencial. Finalmente, a tela pode aumentar o efeito do vento na auto-estrada, o que pode ser minimizado regulamentando a velocidade máxima dos carros na área. Possíveis impactos na fauna e nos ecossistemas, início de riscos naturais e herança cultural Até o momento, não estão previstos sérios riscos em potencial deste tipo, devido ao projeto. Considerações ambientais – Estudos adicionais Se o projeto do museu for realizado, o IDOM recomenda os seguintes estudos ambientais:

• mapa do ruído local no presente momento; • densidade do tráfego; • dinâmica do mar e dos arredores do píer; • qualidade do solo detalhada, com medições do volume de solo poluído que será

removido; • destino do material escavado no local, de acordo com a sua qualidade e

composição, e o possível reaproveitamento do material de boa qualidade. Licença e regulamentos A aquiescência e o licenciamento regulador para o projeto do museu basear-se-iam primordialmente no planejamento urbano e nos regulamentos ambientais. Quanto ao planejamento urbano, o píer de Mauá está dentro do sistema portuário e é regulamentado pelos planos da Companhia das Docas para a área que no momento inclui amarração de navios para embarque e desembarque de passageiros, bem como uso comercial e terciário. Seu uso para o museu exigiria aprovação da comissão para

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 40

planejamento urbano da Secretaria de Planejamento Urbano Municipal da Prefeitura. Além disso, o plano para reurbanização da zona portuária propõe novos regulamentos que afetariam o píer. Esses regulamentos estão em fase de aprovação no momento. Terão que ser adotados ou adaptados regulamentos para demonstrar a aplicação do museu e suas exigências se ele for construído. Com relação à lei ambiental, existe um esquema amplo de regulamentos para assuntos aquáticos e atmosféricos, com padrões definidos de qualidade e de emissões. O regulamento para a poluição do solo é mínimo, mas recomenda-se que diretrizes internacionais sejam adotadas. É importante ressaltar que a supervisão para regulamentos ambientais é muito fragmentada em todos os níveis, e as instituições responsáveis por consentimento ambiental têm poucos funcionários e recursos financeiros limitados para controlar e reforçar as leis ambientais. No entanto, nos últimos anos, essas leis foram fortalecidas progressivamente. A regulamentação ambiental e a licença seriam feitas nos âmbitos federal, estadual e local. Já que o limite físico do projeto vai além do espaço físico ocupado pelo píer, entra no domínio público da Marinha, e a escavação e construção ocorrerão em águas federais, algumas permissões federais serão necessárias. Como o projeto está localizado dentro da cidade do Rio de Janeiro, estará sujeito a licença municipal também, o que exigirá uma análise de impacto ambiental. O processo para licenciamento ambiental em todos os níveis governamentais para obter-se a licença ambiental exigida – que é pré-requisito para todos as outras permissões e licenças – será coordenado pela agência ambiental estadual, a Comissão de Controle Ambiental – CECA. O IDOM tem explicado que o processo para se obter uma licença ambiental é complexo. Se este processo se torna ainda mais complexo devido à falta de entendimento claro entre agências ambientais e a jurisdição da cidade, interpretações diferentes dos regulamentos pelas diversas agências ambientais e um alto grau de politização do processo, isto pode ser melhorado através de um estudo de alta qualidade e relatório com soluções, consultas intensivas aos vários setores que participam do processo de licenciamento, bem como aos representantes que são afetados pelo projeto e à sua consciência política. 7 - ARQUITETURA: O PROJETO A escolha de Jean Nouvel como o arquiteto que irá desenvolver o projeto conceitual deste estudo foi feita não somente devido ao seu extraordinário bom gosto, mas também à sua habilidade única de projeção para um contexto específico, respeitando não só o local escolhido, mas seu meio ambiente, sua história e textura. O projeto de Nouvel para o Museu Guggenheim do Rio de Janeiro envolve tanto a sua locação, que não se pode imaginar construí-lo em nenhum outro local que não seja a Baía de Guanabara. Ela é uma extensão do porto, torna-se parte do mar, permite que de lá se observem o horizonte da cidade, o Pão de Açúcar e o Corcovado, e contém parte da floresta tropical que cerca a cidade. Ela contém um calçadão em volta, piscinas, jardins e caminhos públicos que demonstram que a vida no Rio de Janeiro é uma vida ao ar livre. À medida que se anda pelos prédios para exposições e pelos pavilhões, observa-se que cada um é uma exploração ambiental. Uma série de experiências espaciais únicas provoca emoções interligadas e sensações de diferentes origens: arte, natureza e arquitetura. No

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 41

entanto, o projeto não oprime a primazia que a arte deve ter em um museu, e as galerias oferecem uma flexibilidade máxima para programação de excelência internacional, em uma escala íntima e grandiosa.

Notas arquitetônicas – Atelier Jean Nouvel A nossa cultura – pedindo emprestada uma metáfora de Guimarães Rosa – se assemelharia à “terceira margem do rio”. Uma terceira margem que pode ser percebida como uma mistura, não só racial, mas cultural também. Uma espécie de simultaneidade, uma superposição permanente de espaços. (Desde a descoberta do Brasil por Cabral), a assimilação do acaso tem feito parte da nossa educação. Nenhum projeto rígido foi realizado do modo como foi concebido. A experiência e pequenos tropeços ao longo do caminho infletem uma linha estreita, a lógica, e trazem para nós o que é mágico, surrealista e irracional no nosso discurso.

Affonso Romano de Sant´Anna, em “Modernidade”

Sensações desconhecidas A primeira condição para a existência deste museu é o seu compromisso com a atração, uma obrigação de despertar o desejo no turista, que irá visitá-lo considerando-o um “must”, e nós, cariocas, iremos adotá-lo como o nosso passeio favorito. Para ter-se uma chance de provocar este tropismo duplo, é necessária a “ultra-especificidade”. Tem que impressionar. É necessário algo nunca visto, nunca sentido antes. Impressionar. Nós estamos no Rio de Janeiro. Nós sabemos bem, queremos nos expandir. O museu deverá ser uma parte viva da Baía de Guanabara, e com certeza deverá tornar-se um ponto de referência na cidade, um local especial que pertence a um território específico. Devemos fazer um trocadilho com um mito antigo. Atlantis, a cidade perdida, submergida no oceano. Mas de maneira distante, não é Disneyworld! A cidade é um “porto submergido”. Nós nos submergimos da água e um jardim é descoberto – nos tempos antigos, o local onde ficava o jardim era um dos segredos mais bem guardados. Aqui, a arquitetura tem uma característica marítima, evocativa da simplicidade repetitiva de prédios funcionais nos portos. Depois, metade deles estará submersa nas águas da baía. Progressões Uma tela enorme, luminosa, paira sobre a entrada. Essa parede imensa é um sinal urbano poderoso que pode ser visto da auto-estrada e do cais. Erguida na margem do território do museu, a tela tem um papel simbólico e significativo. Como um signo, ela é vista da auto-estrada elevada, como uma linha alta e estreita, marcada verticalmente pelo logo do Guggenheim. Da praça Mauá, ela emerge como um objeto estranho que irá caracterizar o programa do museu em um modo sutil de branco sobre branco. A partir do píer, ela irá a suavizar a visão da cidade, principalmente da auto-estrada elevada, e absorverá o barulho do trânsito. Simbolicamente, o retângulo em branco é visto tradicionalmente como uma tela virgem, sobre a qual as percepções viram memórias, uma figura da psique.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 42

O retângulo em branco é um limite que tende a preservar o mistério e a atratividade do que vem além. Visto da baía, ele irá interagir com alguns objetos do local, primariamente como um fundo claro para uma torre sombria. A luz do sol que é refletida pela água do teto do hall de entrada projetará sombras dançantes sobre o retângulo. À noite, iremos observar o vigor sofisticado da luz “Um show de sombras brasileiro” enevoado, dançante, rítmico como um fogo numa chaminé. Esta superfície pura e vazia é curiosa: o que desapareceu da superfície? Para onde foi a cidade? A entrada por baixo do cais de pedra compacta leva a uma abertura sob a superfície da baia. A rampa extensa indica ao visitante que ele está abaixo do nível do mar. Uma vez atravessadas as paredes pesadas que marcam a entrada para o museu, este se depara com um átrio enorme entre a parede de água do mar e um chão de aço lustrado. Um lugar para difração de luz vibrante, um encandear de luz refletindo entre o vidro e o metal. A luz do sol refrate levemente na água movida pela brisa e projeta sombras que se movem no aço (e no visitante também) O sentido de espaço tende a realçar a emoção de estar em baixo do nível do mar. O Salão imenso dá acesso a um pátio no qual está plantada uma arvore solitária. Profundas perspectivas filtradas sugerem espaços diferentes para exposição, alternando-os com pátios cheios de plantas. É aqui que a primeira surpresa poderá ocorrer, quando a pessoa depara-se cara a cara com uma tipologia nunca antes experimentada na multi profundidade do horizonte pesado embora infinito. Visitar este local é como atravessar um labirinto. O pavilhão de arte latino-americana contém espaços abertos bem como salas sob o mesmo teto pontuadas com grandes alçapões. A galeria de coleções Guggenheim está iluminada por meio de pirâmides truncadas, permitindo uma iluminação precisa. Fora, uma série de pátios acomodam esculturas e instalações. As galerias para multimídia e performance abrem os espaços secretos das galerias, conectando-as com as salas maiores situadas sob os laboratórios, os corredores para performances e estúdios de produção, uma pletora de escalas e propósitos. Entra-se dentro da vegetação densa de uma floresta tropical, um fragmento da natureza urbana com rampas íngremes, um jardim selvagem imperscrutável rodeado pelo mar e totalmente abaixo do nível do mar. Como um prolongamento do relevo da extensão da costa, é um pedaço pequeno da Mata Atlântica, com arvores tropicais e plantas nas rampas íngremes, passagens suspensas para dentro da vegetação densa, um arquétipo de uma natureza encantada sem vista para fora, exceto pelo céu acima. Uma cachoeira de 35 metros dá uma idéia da profundidade desse espaço. A baía parece transbordar neste abismo profundo e misterioso. A cachoeira é uma evocação distante de algumas das mais belas paisagens do Brasil. Passarelas de madeira penetram a vegetação densa, um labirinto tridimensional conduz das pedras e árvores a um restaurante ao ar livre. Do restaurante na floresta, um mecanismo simples com dois espelhos dá ao visitante somente um vislumbre da baia, uma visão do oeste a fim de contemplar o mar, uma ilha e um porto com navios. Depois, passamos por trás da cachoeira através da vegetação rica e encontramo-nos no cilíndrico Galeria Temporária de Exibições, um espaço enorme composto de duas salas de exibição justapostas de 17 metros cada, conectadas entre si e, portanto, atingindo uma altura de 35 metros. Igual ao porto no seu tamanho e na sua silhueta, a torre imensa age como um sinal em direção à ponte e à baia. Elevadores industriais levam os visitantes ao mirante, incrível devido ao seu chão côncavo, a partir do qual a paisagem terrena e marítima

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 43

pode ser vista. O jardim do Museu pode ser visto de cima, as passagens perimetrais fazendo divisa com o local, os píeres e os navios, a tela luminosa, a cidade. Ninguém sabe onde se está. Nos tetos do belvedere, uma enorme fotografia mostra um rosto que pode pertencer a um Deus, um santo ou um mártir, uma evocação dos céus. Logo chegamos ao topo do edifício, que contém um restaurante com chão de teca sob uma tenda branca. A partir dele, podemos contemplar a linha do horizonte toda, participando em uma experiência arquitetônica nunca sentida antes. Este é um museu e um local onde o desconhecido tem vocação para tornar-se conhecido. 8 - A ARQUITETURA: ANÁLISE TÉCNICA E CUSTOS DE CONSTRUÇÃO Além de um amplo exame do local (Ver Capítulo 6, sob o título “O Local”), a IDOM realizou uma revisão técnica do projeto do Museu de Jean Nouvel e uma análise de custo baseada na revisão técnica. O projeto de Nouvel apresenta desafios muito específicos. Demolindo-se 330 dos 400 metros de comprimento do Píer Mauá, ocupando ainda seu espaço na Baía de Guanabara, bem como incorporando jardins, uma floresta, piscinas e cascatas, construindo abaixo do nível do mar e colocando as galerias em edifícios e pavilhões independentes, ele foi muito além de um museu tradicional. Esta é uma das maiores forças de sua visão extraordinária. Ainda que com isso crie circunstâncias especiais de construção e manutenção, todas têm implicações nos custos. Os custos de construção fazem parte deste Capítulo. As questões de manutenção são discutidas neste Capítulo e os custos a elas associados foram incorporados no modelo de operação financeira do Museu presente no Capítulo 10, sob o título “O Modelo Operacional”. O Local – A Perspectiva Técnica Breve Descrição do Local O local proposto para construção do futuro Museu Guggenheim no Rio chama-se Píer Mauá e tem 400 metros de comprimento e 83 de largura. O píer foi construído na Baía de Guanabara nos anos 50 em aterro de 17 a 26 m de profundidade, dragado da Baía. Por baixo do aterro existe granito de intemperismo. No aterro, há uma grade estrutural central de estacas de concreto pré-moldado e cabeças de estaca ligadas por vigas aterradas. Estas conseguem suportar grandes cargas e encontram-se em boas condições de preservação. No entanto, o perímetro de 15 metros do píer foi construído com concreto reforçado juntando estacas envoltas por uma laje no topo. Essas estacas encontram-se seriamente danificadas e não podem suportar a construção. O material do aterro no píer está um tanto contaminado. À medida que o aterro marítimo for escavado, o material deve ser removido para que seja mantido o controle do aterro. Onde não houver escavação, recomenda-se o confinamento do aterro restante. A umidade relativa da cidade do Rio de Janeiro é de 79% e as temperaturas variam entre 11,1 e 38,2 graus. A medição precisa realizada pela IDOM no píer mostra que há uma variação de 72 a 77 db, com picos de 89 db. A força média dos ventos no Rio de Janeiro é de 3,6 m/s, atingindo picos de 4,9 m/s. Foram registradas quatro tempestades com ventos fortes e chuva pesada, entre os anos de 1986 e 1996. A dilatação média no Pier Mauá é de 1,5 m, e a variação da maré é de 1,5 m.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 44

Demolições e Escavações no Local O projeto de Nouvel exige o trabalho de demolição e escavação de 83% do Pier Mauá, para que seja possível construir a laje geral da plataforma de concreto no nível básico de –6,75 metros (6,75 metros abaixo do nível do mar). Somente os 70 metros finais do Pier seriam parcialmente utilizados em fundações, onde as nove estacas existentes serão empregadas para suportar parte da construção que abriga as Galerias de Exposições Temporárias. O trabalho de demolição e escavação exigirá a transferência de toda a terra contaminada escavada do local para um aterro controlado, e o confinamento do aterro restante. As Fundações O trabalho estrutural principal exigirá a contenção do mar em volta da plataforma de concreto. A IDOM e Nouvel propõem fundações em muros de diafragma de concreto reforçado de 1,00 m de espessura, com escoras de 2,0 m de largura do mesmo material a cada 2,5 m, cravadas no granito. As lajes de concreto seriam drenadas na base através de um forro de PVC impermeável e uma camada de cascalho que fica em torno de uma camada de geotêxtil. Uma rede de tubulação drena e evacua todas as infiltrações possíveis de águas subterrâneas, em tanques submersos reforçados de concreto. Em seguida, a água é bombeada desses tanques de armazenamento na Baía. O grande orifício projetado para a cascata tropical na floresta e os poços de elevador para a Construção de Galerias de Exposições Temporárias é elevado à cota +3,00 e utiliza as estacas existentes em suas fundações. O peso significativo da tela (700t) é distribuído em duas grandes colunas e sujeito a ventos severos (150kg/m² em 3,198 m²). Isto exige um tipo específico de fundação com estacas de concreto reforçado para absorver a força do vento.

A construção global desta fundação exigirá um aterro inclinado provisório da baía e a ancoragem provisória do muro de filtragem através de cabos de aço. Quando as lajes de fundação estiverem assentadas no nível básico – 6.75 e os muros laterais de concreto estiverem no lugar, o aterro e a maior parte dos elementos de ancoragem em aço que invadiram provisoriamente a baía podem ser removidos, exceto os da floresta tropical, que não têm laje de fundação. Como a floresta tropical não tem laje no solo, seus elementos de ancoragem seriam permanentes e, portanto, exigem permissão das autoridades locais. O aterro restante seria apenas parcialmente removido (por exemplo, para cerca de 11m abaixo do nível do mar), permitindo que a terra ofereça proteção contra a movimentação de grandes navios. Seria necessário um levantamento geotécnico detalhado antes de prosseguir com o projeto final das fundações. O Museu – Uma Visita Técnica As instalações do Museu consistem em um caminho através de diversas áreas abertas/fechadas, cobertas/descobertas, que dão acesso aos diversos edifícios localizados na área do Pier. Foi projetada uma grande Rampa de acesso, que parte da Avenida Rio Branco e vai até o futuro estacionamento subterrâneo na Praça Mauá, no nível básico de –6,75m (para pedestres e veículos). Desta rampa os visitantes entram em um espaço de 381m² utilizado para lojas e passam sob uma grande Tela com alumínio branco extrudado (82m de comprimento, 39m de altura e 7m de profundidade). Sob esta Tela, os visitantes

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 45

têm acesso ao Hall Principal, que consiste de uma grande área (73 x 27m), coberta por uma estrutura vidrada, em aço inoxidável, que suporta um reservatório de 50 cm de espessura. Essa estrutura de cobertura é suportada por 16 colunas de metal e uma série de vigas em forma de caixa de largura variável. Uma área deste hall principal (44 x 12m) destina-se a Eventos Especiais, e pode ficar separada por uma série de portas de vidro deslizantes. Uma série de aquários de 60cm de largura foram colocados ao longo das laterais dos muros do hall principal. O hall principal contém toaletes, bilheterias e guarda-roupas, e também é conectado através de um pátio ao ar livre a uma área de 212m² contendo uma cafeteria, cozinhas e dispensas. Do pátio ao ar livre, os visitantes atravessam uma passagem (com dois jardins descobertos) para o resto do complexo. Galerias do Brasil e da América Latina Depois de atravessar uma série de espaços abertos com jardins, encontra-se o acesso às Galerias do Brasil e da América Latina, abrigadas em dois edifícios. O primeiro é uma caixa de vidro com uma estrutura metálica medindo 30 x 58m e 9,8m de altura. O segundo prédio tem 30 x 21m, altura de 16,4m e fica –8,25m abaixo do nível do mar. Parte dos telhados desses prédios são cobertos por clarabóias com grandes respiradouros de aço pintado, medindo cada uma 5,4 x 5,5m e acionadas por motor para controlar a luz do sol. Essas superfícies vidradas também são adaptadas interiormente com toldos que permitem duas posições: uma translúcida e outra opaca. Outros telhados desses prédios são completados com jardins cobertos por laternins. Essas galerias contêm um espaço de exibição agregado de aproximadamente 1.539m². Galerias da Coleção do Guggenheim Depois de cruzar uma série de áreas paisagísticas, ao ar livre, tem-se acesso às Galerias de Exposições Permanentes. Essas Galerias situam-se em prédio de concreto reforçado (63 x 28m), revestidas de madeira, com sete pirâmides truncadas sobre elas. Essas pirâmides têm 13,6m de altura e 13,5m de lado. Três dessas laterais são revestidas de madeira escura, não-tratada, do Brasil. O quarto lado e o forro são revestidos e têm tiras para controlar a luz do sol. Essas galerias abrigam aproximadamente 1.179m² de espaço para mostras. Instalações Multimídia e Educacionais Espaço para Apresentações e Caixa Preta Multimídia O Espaço para Apresentações e a Caixa Preta ficam localizados em um prédio de concreto reforçado de 70 x 14m, revestido com estacada de revestimento em aço pintado. O Espaço de Apresentações tem 13,5m de altura e é coberto por uma laje de concreto. Inclui um mezanino contendo sala de controle de maquinário e uma sala de ensaio. O auditório tem aproximadamente 381m². A Caixa Preta Multimídia é um espaço de 30 x 15m com altura de 16m. Contém, também, mezaninos para áreas técnicas. Estúdios de Produção Multimídia e Educação: As instalações de Produção Multimídia e Educação situam-se em prédio único de 5 pavimentos de 15 x 15m, construído em concreto reforçado. As duas fachadas e o telhado são revestidos com vigas de madeira do Brasil alcatroadas de 25x20cm, seguras com

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 46

barras angulares de aço inoxidável. O primeiro, o segundo e o terceiro pisos abrigam o Programa de Educação. O quarto e o quinto abrigam o Programa de Produção Multimídia. Essas galerias contêm um espaço de exibição de aproximadamente 618m². Galerias Multimídia Do pátio do Prédio de Exposições Permanentes, os visitantes têm acesso às Galerias Multimídia Crípticas. Sua construção baseia-se em uma caixa de concreto reforçado de formato irregular coberta por um jardim. Contêm diversas galerias com os espaços técnicos correspondentes. Floresta Tropical e Cascata Entre os prédios de Educação Multimídia e as Galerias Multimídia, tem-se acesso a uma vasta Floresta Tropical em forma de pirâmide invertida, que cobre uma área de 11.500m² e tem 35m de profundidade. Este jardim contém uma série de passagens que levam a um restaurante (215m² em nível básico de –6.25m) localizado em um terraço em cantiléver sobre a floresta. Essas passagens também dão acesso ao prédio das Galerias de Exposições Temporárias, a –3,25m, através de um saguão que também interliga as passagens que vêm do restaurante e da floresta, todas unidas atrás da cascata. A floresta é construída em camada dupla de gunita ecológica, de 15cm de espessura cada (30cm no total), reforçada com uma malha dupla de 3mm de diâmetro e uma rede de 20x20cm em uma camada impermeável de PVC, que evita possíveis infiltrações de água do mar no cimento a jato, seguras em muros de gunita reforçada de 50 cm de espessura. A gunita dupla ecológica tem um sistema automático de irrigação. A terra é hidratada. Todos os arbustos e árvores serão selecionados de acordo com as condições climáticas. As raízes protegerão a gunita ecológica da erosão. A cascata é uma lâmina d´água com 12cm de espessura, queda de 35m e 15m de largura. Cai em uma piscina na base da floresta, com 35 m de elevação. A piscina tem uma área superficial de 375m² e 1m de profundidade. Galerias de Exposições Temporárias e Restaurante O prédio de Exposições Temporárias foi projetado com fachadas curvas de concreto reforçado com acabamento externo em tinta acrílica. Este prédio tem 51m de altura, 54m de diâmetro e é quase totalmente cercado pelo mar. Contém uma grande área central com interiores definidos por elementos verticais de concreto reforçado, pilares de aço, grandes estacas de aço e lajes de concreto suportados sobre vigas de aço. Um saguão de entrada no edifício é acessível pelas passagens por trás da cascata –3,25m abaixo do nível do mar. Há um outro saguão de entrada, acessível pela passagem colocada no nível 3 em volta do perímetro do píer. Este nível também abriga a área do depósito de obras de arte e as instalações técnicas do edifício. É necessária alguma forma de locomoção para acessar esse depósito e as áreas técnicas da passagem. A IDOM propôs um trailer de grande capacidade com ar-condicionado. Dos saguões de entrada, têm-se acesso a dois andares de exposições localizados nos níveis +9m e +27m, agregando aproximadamente 2.909m² de área de exposição. Os saguões de entrada também dão acesso ao piso destinado aos escritórios (nível +45m) e à plataforma em cantiléver do restaurante no nível +57m. A plataforma do restaurante é coberta por um compensado e uma tenda em fibra de vidro, que alcança o nível +75,5m. A estrutura do restaurante tem que resistir à alta pressão

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 47

do vento. É suportada sobre 10 pilares e dois núcleos de concreto, e é composto de uma estrutura metálica grande envolvendo um total de 1.050t de aço. Acabamento Interno Em geral, a proposta do acabamento das partes internas do edifício é simples, compreendendo pavimentos em concreto estrutural com acabamento em “helicóptero” impermeável, partições em gesso pintado e tetos em gesso pintado. Jardins Além da Floresta Tropical, estão previstos jardins horizontais e verticais distribuídos pelo Museu. Jardins Horizontais: Consistem de grama e arbustos plantados sobre 30cm de solo superior. Estão presentes tanto na elevação geral do Museu (-6,75m) quanto construídos em lajes de concreto reforçado nos telhados das Galerias Multimídia, no Espaço de Apresentações Multimídia, na área de Coleções do Brasil e da América Latina e no restaurante da floresta. Os jardins são convencionais e consistem de uma camada básica de PVC impermeável, seguida por uma camada de cascalho e geotêxtil e depois pelo solo superior com a vegetação. Por este método, os jardins são drenados e à prova d´água. Jardins Verticais: Consistem de um muro de instalação ao longo dos passeios ao ar livre do Edifício das Coleções Permanentes. São construídos em estrutura de malha de fios em aço inoxidável de 0,6 x 0,6m e cobertos com uma lâmina de PVC expandido de 10mm, revestida com uma lâmina dupla de feltro poliamida. Estão localizados em 1.500m² de muros de concreto ao longo dos passeios dos edifícios das Coleções Permanentes. Elementos Aquáticos Adicionais Além da cascata da floresta tropical, estão previstos outros elementos aquáticos no projeto do Museu. À medida que os visitantes descem a rampa para o hall principal, uma piscina de 1.971m² com 0,5m de profundidade pode ser vista através do vidro. Em todo o comprimento e largura do perímetro do píer há três piscinas. Uma delas fica ao longo do lado oeste do píer, com uma área superficial de 1.079m² e 0,30m de profundidade. Outra fica ao longo do lado leste do píer, com uma área superficial de 3.848m² e 0,30m de profundidade. A terceira piscina, com 1.600m² de superfície e 1m de profundidade, fica ao longo da parte norte do píer, em volta de parte da circunferência do edifício de Exposições Temporárias. Todas as piscinas são suportadas por lajes de concreto reforçado à prova d´água.

No cálculo dos custos das bombas d´água e do trabalho de tratamento e desinfecção de todos os elementos aquáticos, bem como da manutenção, foram considerados os custos de construção projetados pela IDOM e os custos de manutenção fornecidos a McKinsey and Company no modo de operações financeiras.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 48

Passagens do Perímetro As passagens do perímetro foram projetadas ao longo das partes leste e oeste do píer, no nível +3m. Essas passagens foram projetadas em aço e vidro. A passagem do lado ocidental destina-se aos pedestres e o acesso é feito através de um elevador e uma escada que sai do Hall Principal, bem como de um pequeno hall no nível +3m das Galerias de Exposições Temporárias. Está sendo considerada também o projeto de uma escada de conexão que liga a passagem à floresta tropical. A passagem no lado leste é utilizada por pedestres, bem como para carga e descarga dos dois restaurantes e do edifício de Exposições Temporárias, e deve ser capaz de suportar cargas pesadas. O ponto de acesso da Avenida Rio Branco tem que ter uma plataforma de elevação de cargas pesadas, já que a passagem está localizada acima do nível correspondente a este ponto de acesso. Foram projetadas três escadas ao longo desta passagem. Uma delas dá acesso à floresta tropical. A IDOM propôs um elevador de serviço para acesso ao restaurante da floresta. Por esta passagem os veículos acessam os depósitos e as instalações técnicas das Galerias de Exibições Temporárias através do nível +3m. Outras Áreas de Acesso Há um túnel submerso (215m de comprimento e 4m de largura) no nível básico (-6,75m) no lado ocidental do píer, que dá acesso às baias de carga, aos depósitos, às salas de workshops e controle centralizado de administração. Com exceção das instalações das Galerias de Exposições Temporárias (que ficam no próprio edifício), essas áreas incluem espaços para as instalações de todos os demais edifícios.

Com redução de 5,4% nas áreas de superfície do Projeto AJN de setembro de 2002

Superfície útil (m2) Área construída total M2)

Áreas internas

Varejo Total 302.1 361.95 Serviço aos visitantes Total 836 994.65 Área pública Exposições 536.75

Café 201.4

Total 738.15 738.15 Contemporânea Exposições 1539

Circulação 157.7

Total 1696.7 1754.65

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 49

Permanente Exposições 1178.95

Arte 244.15

Total 1423.1 1706.2 Multimídia Auditório 380.95

Hall 67.45

Ensaios 67.45

Técnica 37.05

Sala de controle 21.85

Circulação 45.6

Total 620.35 667.85 Box Multimídia Multimídia 572.85

Técnica 48.45

Circulação 85.5

Total 706.8 827.45 Produção Multimídia Multimídia 281.2

Educação 531.05

Circulação 187.15

Total 999.4 1227.4 Críptico de Multimídia Multimídia 617.5

Técnica 346.75

Total 964.25 1229.3 Jardim Restaurante Restaurante 204.25

Serviço 121.6

Técnica 25.65

Circulação 62.7

Total 414.2 466.5

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 50

Temporária Exposições 2908.9

Administrativo 815.1

Educação 439.85

Técnica 361

Arte 460.75

Túnel 637.45

Circulação 242.25

Salas de circulação 399

Entrada de circulação 434.15

Toaletes 112.1

Total 6810.55 8018.95 Galerias temporárias Total 524.4 570 Carregamento Carregamento 201.4

Controle 91.2

Despacho 340.1

Ateliês 152.95

Vestiário 85.5

Jardinagem 91.2

Arte 368.6

Circulação 527.25

Túnel 763.8

Técnica 676.4

Total 3298.4 3685.05 Áreas Externas Acesso 5967.9

Hall 1872.45

Público 855

Brasil 1083

Permanente 116.85

Artes cênicas 750.5

Perimetral 2698

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 51

Jardim 361

Cilíndrica 1353.75

Jardim 230.85

Segurança 15,289 Jardins 395.2

Jardim 10925

Jardim 11.320 Total Áreas Externas 26,609 26,609

Total Áreas Internas e Externas 45,943 48,856

Exames Adicionais Devido a determinadas características exclusivas do projeto, a IDOM recomenda exames adicionais de certas circunstâncias que serão encontradas no projeto do Museu. Riscos de Inundação Grande parte do Museu (com exceção do edifício de Exposições Temporárias) está localizada em contêiner de concreto reforçado, 6,75m abaixo do nível do mar. A maré média da Baía oscila entre +1,50 e -1,50m e a dilatação média é de 1,5m. Será necessário um equipamento especial para coletar e bombear a água produzida durante condições anormais de tempo. Deverão ser realizadas análises e avaliações adicionais dos riscos de inundações e infiltrações. Plataforma do Restaurante O restaurante no topo do edifício de Exposições Temporárias fica numa plataforma em cantiléver excentricamente localizada no nível +57m. É suportado por 10 pilares de metal e dois núcleos de concreto e está coberto por um compensado de madeira e uma tenda de fibra de vidro, que alcança o nível de +7,25m. Será necessário analisar e avaliar os riscos que possam surgir caso haja tempestades da magnitude das quatro que ocorreram na baía entre 1986 e 1996, com chuvas pesadas e ventanias. Áreas Abertas Além do restaurante a ser construído no edifício das Exposições Temporárias, há outros espaços abertos em todo o projeto do Nouvel que os visitantes podem atravessar, como o Hall Principal, o espaço para eventos especiais e a cafeteria, e as passagens que interligam os diferentes edifícios do Museu (algumas cobertas e outras não). Será necessário analisar e avaliar a suscetibilidade desses espaços aos efeitos das condições climáticas predominantes no Rio (por exemplo: chuva, vento, ruído, tempestades, umidade atmosférica, salinidade e temperatura), bem como controlar a entrada de insetos, pássaros, roedores e outros animais.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 52

Acústica Considerando-se os níveis sonoros registrados pela IDOM no Píer Mauá (de 72 a 77db, com picos de 89db), e os esperados na cascata da floresta (80db para visitantes e 100db na base da cascata), deverá ser desenvolvido um estudo detalhado de isolamento acústico nos edifícios do Museu, para que sejam obtidos níveis de 35db no interior. Acessibilidade O acesso à plataforma geral a –6,75m é feito através de uma rampa, que deve prever a passagem de deficientes físicos. Das duas passagens do perímetro colocadas no nível +3m (projetadas em aço e vidro), uma delas será utilizada por pedestres, com uma série de escadas de acesso às áreas de carga e descarga, que no entanto não servem de acesso às áreas do Museu (exceto o edifício de Exposições Temporárias). A outra passagem será utilizada por visitantes, bem como para carga e descarga de obras de arte no edifício de Exposições Temporárias. Por este motivo, esta última passagem terá que suportar grandes cargas (30Tm), além de alguns meios de transporte para movimentação das obras de arte e de alimentos. A IDOM propôs um trailer com ar-condicionado e a respectiva baia. O projeto não inclui área de estacionamento para os veículos dos funcionários, o que deve ser revisto oportunamente. No modelo de custo, a IDOM propôs um elevador de serviço para movimentação de alimentos e do lixo de e para o restaurante da Floresta Tropical. Isto terá que ser examinado em função de custos e praticidade. Floresta Tropical O projeto propõe um grande orifício em forma de pirâmide invertida para localização da floresta tropical e da cascata no nível básico de 6,75m (com dimensões planas de aproximadamente 70x70m), que desce a –35m (cerca de 15m abaixo do nível de granito existente). Construir essa estrutura representa um grande desafio econômico e técnico, e seria necessário providenciar um levantamento geotécnico detalhado da área. Diversas das empreiteiras de grande porte consultadas tanto pela empresa do Nouvel quanto pela IDOM manifestaram sérias preocupações com a construção. Água e Jardins A existência no projeto de piscinas e cascatas, bem como de diversos tipos de jardins e florestas, envolve investimentos pesados em equipamento e manutenção, além de riscos potenciais de infecções devidos à provável existência de mosquitos e ratos. Este aspecto deve ser analisado em detalhes. Contaminação Considerando-se o fato de que o levantamento preliminar de contaminação do terreno desenvolvido pela IDOM indicou a existência de contaminantes no solo e nas águas do Pier Mauá, e que o projeto do Nouvel exige trabalho substancial de demolição e escavação, deve ser desenvolvido um estudo detalhado da contaminação existente.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 53

Custo da Construção Metodologia de Análise de Custos De acordo com as estimativas da IDOM, o orçamento para construção do Museu considerou primeiro a medição das áreas de superfície de cada elemento e foram aplicados preços unitários fornecidos por subempreiteiros em Bilbao. Os preços foram comparados com alguns projetos específicos de construção atuais em que a IDOM está trabalhando e em seguida foram ajustados de acordo com o mercado do Rio. Além disso, a IDOM usou os custos do Museu Guggenheim de Bilbao como referência para determinados elementos, inclusive dispositivos de eletricidade, segurança, combate a incêndio, voz e dados, mobília e equipamentos, além de ajustá-los aos custos do Rio. Os escritórios da IDOM em São Paulo e em Bilbao examinaram e avaliaram os custos de construção do Museu, projetados com algumas das maiores companhias de construção do Brasil (Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Hotchief, Mendes Junior, Metodo e Racional). Essas companhias de construção do Brasil receberam uma cópia do projeto do Museu para esta finalidade. A equipe da IDOM no Brasil participou de uma série de reuniões com esses empreiteiros, para obtenção e confirmação de preços locais realísticos. Em todos os casos, as empreiteiras brasileiras consultadas pela IDOM confirmaram que há partes do projeto que precisam ser importadas, uma vez que não são produzidas no Brasil (por exemplo: grande parte da mobília, dos acessórios e do equipamento, unidades sofisticadas de ar-condicionado, sistemas centralizados de administração e iluminação do museu). Essas importações estão sujeitas a taxação de 40% sobre o preço original na Europa. Em todos os demais casos, os custos de material foram baseados nos custos no Brasil e os custos de mão-de-obra foram baseados no mercado de trabalho do Brasil. As empreiteiras brasileiras indicaram que sem planos detalhados seria difícil definir com precisão os preços de determinados elementos e de seus custos e lucros industriais em geral.

MODELO DE CUSTOS DE CONSTRUÇÃO Custo em R$

A OBRAS CIVIS

A.1 ESTRUTURA DE CONTENÇÃO DO PIER $57.377.992,00

A.2 LAJE DE FUNDO A –6,75 E OUTROS NÍVEIS $12.180.097,00

A.3 FUNDAÇÕES DO JARDIM $27.204.213,00

A.4 GALERIAS TEMPORÁRIAS $8.938.430,00

A.5 TELA $608.241,00

A.6 FUNDAÇÕES $253.675,00

A.7 FUNDAÇÕES $734.086,00

B ACESSO $7.654.879,00

C VAREJO $1.290.343,00

D TELA $12.963.177,00

E PÚBLICO $16.315.510,00

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 54

F BRASIL $8.869.788,00

G PERMANENTE $9.749.882,00

H ARTES CÊNICAS $9.288.279,00

I MULTIMÍDIA $4.135.749,00

J MULTIMÍDIA $5.417.004,00

K JARDIM $8.714.101,00

L TEMPORÁRIO $40.711.489,00

M RESTAURANTE $20.895.915,00

N PLANTA $8.641.469,00

O PERÍMETRO $10.364.409,00

P JARDINS $1.324.723,00

Q EXTERNA $1.885.219,00

R MOBÍLIA $38.218.804,00

MARGEM TOTAL DE 10% INCLUÍDA $313.835.450,00 CUSTO TOTAL $313.835.450,00

Certos elementos do projeto de Nouvel levam os custos da construção a um nível

mais alto do que o de um Museu tradicional. A parcela mais significativa é de aproximadamente R$ 105.800.000,00 para as obras civis do edifício no local e a demolição da maior parte do Pier Mauá. Outros elementos que se acrescentam ao custo são a tela, a Floresta Tropical, a cascata e a posição do restaurante no topo do Edifício de Exposições Especiais. Implicações de Manutenção Certos aspectos do projeto têm um impacto significativo sobre as despesas de manutenção. Os custos de equipamento são significativamente mais altos do que os do Museu Guggenheim Bilbao, por exemplo, devido ao investimento no movimento e tratamento de água doce e às bombas para a retirada de águas pluviais e do mar. O bombeamento e a limpeza da água também se constituem em despesa contínua de manutenção. Haverá despesas adicionais de manutenção para a pintura regular do exterior do Edifício de Exposições Especiais e para a limpeza da Tela. Devido ao ambiente tropical e marinho esta manutenção será mais freqüente do que seria em uma locação mais temperada e em terra. Esses custos foram levados em consideração no modelo operacional financeiro (ver capítulo 10, “Modelo Operacional”). Os jardins e poços também exigem equipe, equipamento e materiais especializados para seu cuidado e manutenção, que deverá incluir o controle biológico.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 55

Finalmente, será necessário realizar um estudo adicional sobre segurança. Como já se disse no capítulo 6, “O Local”, o Rio de Janeiro em geral, e a Praça Mauá em particular, têm fortes índices de criminalidade. Existem também fortes questões de segurança quanto à percepção do mercado potencial (capítulo 11, “Estudo de Mercado”). O projeto do Museu inclui um passeio público em torno da instalação, e compreende edifícios e jardins em uma área muito grande. Será necessário estabelecer um controle claro do acesso, e desenvolver um plano de segurança forte. Considera-se que os custos de segurança serão, no mínimo, o dobro dos do Museu Guggenheim Bilbao. 9 - ESTRUTURA LEGAL A elaboração de uma estrutura jurídica para a construção, propriedade, operação e administração do Museu Guggenheim Rio foi um esforço conjunto dos advogados da Fundação Guggenheim, da firma brasileira de advocacia Tozzini, Freire Teixeira e Silva e do Procurador Geral do Rio de Janeiro, Dr. Julio Horta, e sua equipe. O objetivo deste grupo era o de elaborar uma estrutura que reconheça a contribuição volumosa e diversificada dos recursos provindos das duas partes envolvidas na realização deste projeto, seus interesses individuais e mútuos, bem como a intensa cooperação e colaboração que serão necessárias para criar no Rio um museu moderno e contemporâneo de classe mundial e realizar isto da maneira menos complicada possível.

A estrutura proposta, resumida abaixo, requer a criação de duas novas entidades brasileiras: uma Fundação privada formada e controlada pelo Rio (a “Fundação Rio”), responsável principalmente pela aquisição do controle do local, da construção do Museu e do fornecimento de fundos de construção e de operação, e uma associação privada sem fins lucrativos (a “Associação do Museu “), formada em conjunto com a Fundação Rio e a Solomon R. Guggenheim Foundation, responsável principalmente pela administração e funcionamento do Museu e pelo levantamento de fundos operacionais. A Fundação Solomon R. Guggenheim terá um papel de consultora durante a fase de construção, conforme um acordo assinado com a Fundação Rio e, após a construção, será responsável pela direção e operação do Museu, conforme um acordo de serviços de gerenciamento e programação. Controle do Local e Construção do Museu Atualmente, o Píer Mauá é de propriedade da empresa federal DOCAS S.A., que concedeu a concessão a um consórcio particular, o Píer Mauá, até o ano de 2023, com renovação de direitos. Estes fatos, junto com o substancial comprometimento de fundos públicos necessários para a construção do Museu, levou à conclusão de que uma entidade controlada pela Cidade do Rio de Janeiro seria a parte interessada mais apropriada para a obtenção da propriedade e controle do local, para ser o condutor do financiamento da construção e da própria construção do Museu através de contratos públicos de licitação. Uma Fundação privada criada e controlada pela Fundação Rio com o único propósito de implementar o projeto do Museu foi considerada um veículo apropriado. Como uma fundação governamental, a Fundação Rio não ficará sujeita a qualquer imposto além de alguns impostos indiretos (tais como ICM ou Imposto sobre Valor Agregado) . Como a criação de uma nova Fundação requer a promulgação de uma lei pela Câmara dos Vereadores e isto poderia levar vários meses para ser efetivada, o projeto Rio poderá

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 56

começar usando uma fundação cultural já existente, aceita tanto pela Fundação Rio como pela Guggenheim, e depois transferir seus direitos e obrigações referentes ao empreendimento à fundação Rio quando esta estivesse formada. A estrutura, estatutos e membros da Diretoria da Fundação Rio estariam sujeitos a um acordo mútuo entre a Fundação Rio e a Guggenheim. Os estatutos da Fundação Rio e o acordo de consultoria entre a Fundação e a Guggenheim estabelecerão os direitos de aprovação conjunta da Guggenheim para decisões fundamentais relacionadas ao projeto e seu papel no processo de construção, conforme descrição abaixo. Durante as fases de elaboração e construção do empreendimento, a Fundação Rio ficará responsável por: • celebrar os acordos necessários para a aquisição da propriedade ou controle do Pier

Mauá das DOCAS S.A., livre de qualquer compromisso com terceiros (incluindo a Pier Mauá S.A.) e de qualquer outra obrigação, gravame ou ônus;

• fornecer todos os fundos necessários para a elaboração e construção do Museu Guggenheim Rio;

• obter todos os registros, aprovações e licenças necessários para a construção e funcionamento do Museu;

• providenciar o desenvolvimento do local e a construção da infra-estrutura; • contratar o arquiteto e outros consultores do projeto e engenharia; • contratar a equipe de gerenciamento da construção e empreiteiros para a construção

das instalações do museu dentro das regulamentações contidas no processo de licitação pública; e

• garantir a construção do Museu dentro dos parâmetros de prazo, orçamento e padrões acordados entre a Fundação Rio e a Guggenheim.

Durante a fase de elaboração e construção, a Fundação Solomon R. Guggenheim terá o papel de consultora para a Fundação Rio, e • trabalhará com a Fundação Rio, o arquiteto e os engenheiros na elaboração do projeto

do museu; • terá direitos de aprovação conjunta com a Fundação Rio relativos ao projeto final e os

acabamentos propostos pelo arquiteto para o Museu bem como qualquer modificação no projeto e acabamentos;

• participará na supervisão da construção a fim de assegurar que a construção esteja procedendo conforme o projeto arquitetônico, os objetivos gerais do Museu, o programa de arte e exibição e os padrões de museu internacionalmente reconhecidos; e

• definirá futuramente, após consulta à Associação do Museu, os programas de arte e exibição com base nos princípios delineados no Capítulo 5 do “Programas de Arte e Exibição”.

Após o término da construção, a Fundação Rio transferirá o controle do local do Píer Mauá, as instalações do Museu e todos os registros, aprovações e licenças para a Associação do Museu, através de propriedade ou de um arrendamento de longo prazo ao valor nominal de aluguel. A Fundação Rio continuará a ser responsável, junto com a

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 57

Associação do Museu, pelo financiamento anual de subsídios operacionais para o funcionamento do Museu. Administração do Museu Associação do Museu Após examinar as opções disponíveis na legislação brasileira, foi determinado que o controle e administração final do Museu deverá ser de responsabilidade privada de uma associação cultural de fins não lucrativos, criada em conjunto pela Fundação Rio e a Solomon R. Guggenheim Foundation, seus membros iniciais. Qualquer membro adicional ficará sujeito à aprovação conjunta da Fundação Rio e da Guggenheim. A Associação do Museu será a responsável final pela administração do Museu, financiará todas as despesas operacionais do Museu e terá direito a qualquer receita extra gerada pelas atividades do Museu. Qualquer receita extra será usada apenas para fins do Museu. As fontes de receita estão descritas no Capítulo 10, “O Modelo Operacional”, e incluem entradas, vendas a varejo e outras atividades comerciais relacionadas ao Museu, além de doações e patrocínios privados e públicos. A direção e funcionamento do Museu serão delegados à Fundação Solomon R. Guggenheim, dentro de um acordo de programação e administração. A vigência do acordo será de no mínimo 20 anos, renovável pela Guggenheim por um número indefinido de prazos sucessivos. O principal papel da Associação do Museu será o de supervisão, consultoria e levantamento de fundos, e incluirá: • elaboração anual conjunta de orçamentos operacionais com a Guggenheim; • revisão do desempenho do Guggenheim conforme os termos do acordo de programação

e administração; • celebração de um acordo de licenciamento não exclusivo com o Guggenheim para uso

de sua marca registrada “Guggenheim” relacionado com o Museu Guggenheim Rio, conforme as práticas adotadas pelo Guggenheim no mundo todo (ou assumindo o acordo de licenciamento se este for inicialmente assinado pela Prefeitura);

• elaboração (após consulta com a Guggenheim) de programas de levantamento de fundos e implementação destes programas;

• financiamento anual de subsídios operacionais; e • manutenção das instalações físicas do Museu. Serviços de Programação de Arte e Administração Pelo acordo de programação e administração, a Guggenheim prestará serviços de assessoria especializada em curadoria, técnica e administração para a operação de várias facetas do museu, incluindo: • Elaboração conjunta de orçamentos operacionais com a Associação do Museu; • elaboração da programação de coleções e exibições; • elaboração de projetos de programação educacional para os visitantes do Museu; • publicação e pesquisa; • assessoria na elaboração de planos de marketing e vendas a varejo; • recrutamento e treinamento de empregados determinados para o Museu; e

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 58

• condução das funções de conservação, armazenamento, fotografia e outras funções próprias de um museu deste gabarito e qualidade.

Uma responsabilidade básica da Fundação Guggenheim será a de disponibilizar para o Museu Guggenheim-Rio os trabalhos de suas próprias coleções para exibição, conforme estabelecido no capítulo 5, “Programas de Arte e Exibição”. Além disso, a Fundação Guggenheim oferecerá seu conhecimento durante aquisições feitas pela Associação Rio especificamente para o Museu Guggenheim-Rio. Levantamento de Fundos Políticas de levantamento de fundos serão acordadas pela Fundação Rio, a Associação do Museu e a Guggenheim, e serão implementadas pela Fundação Rio e a Associação do Museu. Ao mesmo tempo em que se contempla que a Fundação Rio será o principal canal para o financiamento da construção (principalmente de agências governamentais locais, estaduais e federais), ela também participará do levantamento de fundos para as operações do Museu. Além dos fundos públicos, entidades privadas e individuais serão solicitadas a fazer doações e participar de patrocínios. Como a Associação do Museu será uma entidade de fins não lucrativos, as doações feitas por terceiros serão dedutíveis dos impostos. A Associação do Projeto também poderá se beneficiar do tratamento de isenção de imposto dado às entidade de fins não lucrativos com base nas qualificações que obtiver, como por exemplo, os certificados de Utilidade Pública, Organização Social e Organização Social de Interesse Público, conforme a Lei Federal N.91 de 28 de agosto de 1935, da Lei federal N.9637 de 15 de maio de 1998 e da Lei Federal N.9790 de 23 de março de 1999, respectivamente). Finalmente, espera-se que a Associação do Projeto se beneficiará dos incentivos da Lei Rouanet (Lei N. 8313 de 23 de dezembro de 1991). A Lei Rouanet estabelece que pessoas físicas e entidades legais têm direito a deduzir do total de sua receita devida anual a parte das doações e patrocínios feitos a projetos culturais qualificados. As regras gerais para a dedução de doações e patrocínios dos impostos estabelecidas pela Lei Rouanet são: • As pessoas físicas têm o direito de deduzir do total do imposto devido em suas

declarações anuais o equivalente a 80% das doações e 60% dos patrocínios, sendo que estas deduções ficam limitadas a 6% do total do imposto devido.

• As entidades legais sujeitas ao imposto estimado pelo sistema de lucro presumido podem deduzir 40% do total de doações e 30% de patrocínios, limitados a 4% do total do imposto devido.

• As entidades legais sujeitas ao imposto estimado pelo sistema de lucro real têm o direito de usar a quantidade total da doação ou do patrocínio como despesa operacional.

Com base nas entrevistas realizadas no decorrer do estudo com Diretores de museus em São Paulo, parece que a maior parte dos museus brasileiros contam com financiamento provindos dos incentivos da Lei Rouanet para a maior parte, senão todos, dos custos das exibições anuais. Este estudo supõe que este será o caso para o Museu Guggenheim Rio, conforme está detalhado mais adiante no Capítulo 10: “O Modelo Operacional”. Embora tenham outros incentivos fiscais para contribuições a organizações

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 59

culturais, os incentivos da Lei Rouanet terão impactos mais significativos para o Museu Guggenheim Rio. 10 - O MODELO OPERACIONAL Visão Geral A estrutura e o plano operacional do Museu Guggenheim Rio, elaborado por uma equipe da McKinsey and Company, com base no Rio em conjunto com a equipe do Guggenheim, com base em Nova York, visam a proporcionar uma fundação sadia e de longo prazo para um museu de padrão internacional. O plano financeiro e administrativo recomendado capitaliza-se na força e acervo tanto do governo do Rio como da Fundação Guggenheim. O Guggenheim trará como colaboração sua vasta lista de exibições internacionais, acesso às coleções internacionais da mais alta qualidade, expertise em gerenciamento e curadoria e uma sólida reputação profissional. O governo do Rio contribuirá com sua autoridade política, o local, recursos financeiros e o compromisso de redesenvolvimento do Cais do Porto. O Modelo Financeiro A seguinte análise descreve uma estrutura financeira para esta aliança e apresenta demonstrativos pro forma para os primeiros cinco anos de funcionamento. A finalidade deste exercício foi a de avaliar a viabilidade financeira a longo prazo do novo museu e compreender a magnitude dos riscos envolvidos no projeto. A tarefa inicial da equipe McKinsey-Guggenheim era a de definir a estrutura-modelo e seus principais pressupostos. Através da medição dos resultados da pesquisa de mercado (conforme discussão no Capítulo 11, “Estudo de Mercado”) e uma análise detalhada do padrão dos museus Guggenheim em Bilbao e Nova York, foram elaboradas projeções para os demonstrativos financeiros do museu para os primeiros cinco anos de funcionamento, refletindo as condições locais e o projeto preliminar e programa de exibição do Museu. O modelo estabelece com um grau de certeza relativamente alto que o Museu Guggenheim Rio requererá um orçamento anual para programação e funcionamento de aproximadamente R$ 56 milhões. Projeta-se que 57% destes custos estarão compensados pelo receita operacional anual de R$ 31 milhões, deixando uma diferença de cerca de R$ 24,2 milhões que precisa ser subsidiados pelo governo ou outras fontes. É importante que se observe que este modelo deverá servir como um veículo de planejamento, e não um projeto final, para o financiamento e funcionamento do Museu. Durante o decorrer do estudo, a equipe McKinsey-Guggenheim teve que adotar pressupostos importantes, detalhados neste Capítulo, relativos aos métodos de tratamento de incertezas que têm um impacto considerável sobre as projeções. A Estrutura Administrativa Como parte integrante da rede internacional de museus do Guggenheim, o Museu Guggenheim Rio terá uma rara vantagem programática e organizacional dentre os novos museus, beneficiando-se da expertise, reputação e recursos de suas instituições-irmãs. O corpo de empregados do Museu incluirá curadores, educadores, técnicos-especializados, fornecedores de serviços ao visitante, especialistas em marketing e outros administradores, todos treinados para atingir os mais altos padrões profissionais. A sinergia vigente mais

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 60

significativa será entre o Museu Guggenheim Rio e o Solomon R. Guggenheim Museum em Nova York, na qual os dois museus irão operar em conexão estreita em níveis de gerenciamento sênior e planejamento de curadoria, bem como através de sistemas de gerenciamento de informação compartilhada e serviços editoriais e de projeto. Desde o início, o Guggenheim Rio se beneficiará com o privilégio de ter acesso aos empréstimos de arte, exibições itinerantes e técnicos especialistas que colocarão imediatamente a instituição em igualdade de condições com outros museus maduros e internacionalmente respeitados. O Museu irá financiar totalmente com seu orçamento interno todos os custos relativos à administração básica, manutenção das instalações, serviços, segurança e funções de serviço ao visitante, bem como todos os custos com instalações de todas as exibições e todos os programas educacionais pertinentes. É esperado que o corpo de empregados do Rio se desenvolva e apresente exibições que se originam no Rio e que visitem outras instituições através do mundo. Os custos relacionados às exibições itinerantes incluem expedição, preparo, seguro, translado de matéria impressa. Uma parte pro-rata dos custos com pesquisa e desenvolvimento será compartilhada por todas as instituições participantes do tour da exibição. Viajar com uma exibição para diversos locais não só reduz os custos totais para cada acontecimento como também proporciona um valor agregado aos patrocinadores na forma de um aumento de exposição internacional e benefícios das relações públicas, melhorando consideravelmente as expectativas com o levantamento de fundos. Receita Anual e Análise de Despesas Principais Pressupostos Financeiros e Operacionais A seguir, está a lista dos principais pressupostos que foram aplicados no decorrer da análise (a menos que indicada de outra forma, as cifras neste Capítulo estão em dólares americanos): • O horário para o público do Museu seguirá os de Nova York e Bilbao com 50-60 horas e

um dia fechado por semana. • O preço médio final da entrada de R$ 7,30 foi estabelecido a partir de um modelo de

preços em dois níveis, que admite um preço total de R$ 14,10 para visitantes internacionais e de R$ 10,00 para outros visitantes. O preço médio da entrada reflete um desconto de 35% sobre a média ponderada dos preços totais, que é o mesmo desconto observado em Nova York e em Bilbao.

• O corpo de empregados em horário integral do Museu será de aproximadamente 180 pessoas, das quais 80 serão da equipe de segurança e vigilância. As taxas salariais estão baseadas em padrões setoriais e regionais.

• As projeções não incluem as remunerações para licenciamento da marca registrada à Fundação Guggenheim ou financiamento para a aquisição de uma coleção brasileira/latino-americana.

• As projeções não incluem os pagamentos anuais para um fundo separado destinado a reparos e melhoramentos capitais a longo prazo que é altamente recomendado pela Fundação devido à natureza do projeto do Museu.

• Para haver consistência com os dados do padrão-comparativo de Nova York e Bilbao, todas as projeções em moeda local foram transformadas em dólares usando-se a taxa média de câmbio de 2001 de R$2,35 = US$1,00.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 61

• A equipe de estudo de viabilidade do Guggenheim forneceu todos os custos do programa de exibição e as taxas de administração e “content alliance”. Presume-se que os custos com exibição serão totalmente financiados por patrocínios de empresas levantados através dos incentivos da Lei Rouanet (discutida no Capítulo 9, “Estrutura Jurídica”, e abaixo).

• Durante os primeiros cinco anos de funcionamento, presume-se que a variação no número de visitantes e membros individuais siga o mesmo padrão observado em Bilbao. A situação estável das receitas do Museu irá começar no quinto ano de funcionamento do Museu.

• As receitas com vendas a varejo são líquidas (livres) das despesas relacionadas a elas. • Todos os cálculos para receitas e despesas são equiparados através de um ajuste de

Paridade do Poder de Compra. Especificamente, as fontes para estes cálculos expressam o nível de preços em dólares americanos e, ao mesmo tempo, refletem o fato de que os mercados brasileiros têm diferentes poderes de compra para a mesma cesta fixa de produtos e serviços.

Resumo de Cinco Anos Os gráficos apresentados abaixo ilustram a distribuição das receitas e despesas operacionais nos primeiros cinco anos. Todos os cálculos são feitos pela média da taxa de câmbio descrita acima. Embora as variações na receita ao longo do período de cinco anos possam ser projetada com base na experiência obtida em outros museus (independentemente do mercado do Rio), as despesas não foram ajustadas desta forma. A McKinsey determinou que seria muito especulativo prever-se aumentos de preços no mercado do Rio para todos os componentes das despesas ao longo de um período de cinco anos, especialmente quando não se sabe em que ponto este período irá começar. Presumiu-se então para o modelo que as despesas seriam fixas em termos reais, ou seja, que elas não mudariam com o número de visitantes ou membros durante os primeiros cinco anos de funcionamento. Entretanto, é provável que as despesas aumentem pelo menos à taxa da inflação do momento, durante os primeiros cinco anos de funcionamento real.

Projeção Pro-Forma para 5 anos

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 62

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 RECEITA ANUAL (US$ 1000) Entradas

Membro Individual

Membro Individual ($500-

Exibição e Especial

Receita líq. vendas a varejo

Todos os Outros

DESPESA ANUAL (US$ 1000)

14.766

3.956

186

95

9.000

721

808

23.809

13.930

3.226

213

95

9.000

588

808

23.809

13.633

2.952

240

95

9.000

538

808

23.809

13.517

2.830

268

95

9.000

516

808

23.809

13.486

2.782

295

95

9.000

507

808

23.809

Salários

Benefícios

Serviços Públicos e Aluguel

Suprimentos, Equip. e TI

Remunerações Profissionais

Viagens e Entretenimento

Exibições e Programas

Todos os Outros

Taxa de Administração

Taxa de "Content Alliance"

OPERACIONAL LÍQUIDO*

1.744

1.362

1.088

2.742

2.312

506

9.000

1.118

938

3.000

-9.042

1.744

1.362

1.088

2.742

2.312

506

9.000

1.118

938

3.000

-9.879

1.744

1.362

1.088

2.742

2.312

506

9.000

1.118

938

3.000

-10.175

1.744

1.362

1.088

2.742

2.312

506

9.000

1.118

938

3.000

-10.292

1.744

1.362

1.088

2.742

2.312

506

9.000

1.118

938

3.000

-10.323

* Será financiado pelo subsídio municipal

Receitas Espera-se que o total das receitas anuais será de aproximadamente US$14,8 milhões no primeiro ano de funcionamento do Museu. À medida que o tempo passa e a onda inicial de visitantes regionais se estabiliza, espera-se que a receita se nivele em US$13,5 milhões no quinto ano de funcionamento. As principais fontes de receita neste quinto ano, considerado como estável, são as seguintes: • Tendo por base 910.000 visitantes por ano a uma média de preço de entrada de

US$3,10, espera-se uma receita total com entradas de aproximadamente US$2,8 milhões.

• As pessoas físicas serão estimuladas a se tornarem membros do Museu, dando-lhes o direito a vários benefícios. Um plantel básico de associados de aproximadamente 17.500 pessoas, a uma taxa média de US$18, irá gerar US$315.000; espera-se que associações adicionais avaliadas em mais de US$500 cada irá gerar outros US$90.000 para um total de US$400.000.

• Como foi observado anteriormente, espera-se que os custos de exibição totalizando US$9 milhões serão cobertos por receita de empresas geradas através da Lei Rouanet. Qualquer déficit irá aumentar o gap operacional.

• A receita líquida gerada pelas atividades de venda a varejo foi projetada usando-se os dados do padrão-comparativo de Nova York e Bilbao, levando-se em consideração as vendas por metro quadrado e vendas por visitante. Espera-se que o lucro líquido seja de aproximadamente US$500.00.

• Receitas adicionais geradas por atividades auxiliares tais como serviços de alimentação, taxas de empréstimos e direitos autorais e de patentes foram calculadas em US$800.000 usando-se Nova York e Bilbao como padrão.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 63

As receitas geradas por eventos especiais, palestras, filmes e outros programas educacionais não foram projetadas uma vez que estes itens representam uma pequena parcela da receita total em Nova York e Bilbao e no momento não têm precedentes no mercado do Rio. A receita gerada de membros empresariais foram consideradas como parte do patrocínio empresarial gerado através da Lei Rouanet para cobrir as despesas com exibição. Despesas Espera-se que o total anual das despesas permaneça em uma taxa estável de aproximadamente US$23,8 milhões nos primeiros cinco anos. As principais fontes de despesas são as seguintes: • O total esperado de despesas com salários e benefícios é de US$2,5 milhões. Isto foi

calculado a partir de um plano para um corpo de empregados de 181 cargos e uma análise do padrão de salários e benefícios no Brasil.

• O custo anual do programa de exibições tem por base um estudo detalhado de custos de programa em Bilbao e Nova York. Os custos médios com exibições anteriores foram calculados com base no tamanho e conteúdo, ajustado para viajar para o Brasil e comparado com o programa proposto no Rio. O custo anual final do programa está estimado em US$9 milhões.

• Uma taxa anual de administração de US$900.000 irá contrabalançar os custos com planejamento estratégico, curadoria, financeiros e outros custos menores contraídos pelo Solomon R. Guggenheim Museum para sustentar o funcionamento do Rio.

• Uma taxa de Associação de US$3 milhões foi incorporada antecipando-se parcerias estratégicas com outras instituições (conforme discutido no Capítulo 4, “O Guggenheim Global”, e Capítulo 5, “Programa de Arte e Exibição”).

• Outros custos operacionais, totalizando US$7,2 milhões, tiveram por base os dados do padrão-comparativo e podem ser divididos em cinco categorias:

• serviços públicos e aluguel - US$990.000; • suprimentos e equipamento - US$2,24 milhões; • remunerações profissionais (incluindo seguro, marketing e remunerações legais) -

US$2,31 milhões; • viagens e entretenimento - US$510.000; • todos os outros (incluindo impostos e taxas financeiras) - US$1,12 milhões. • Espera-se que a natureza singular do projeto da construção gere despesas adicionais

relacionadas com o projeto, totalizando US$1,2 milhões. Estes custos são considerados incrementais aos custos operacionais típicos que foram projetados usando-se os dados do padrão-comparativo. Eles se subdividem em:

• serviços públicos adicionais e manutenção de piscinas e jardim - US$100.000; • operação e manutenção de elementos aquáticos - US$500.000; • segurança adicional para cobrir ambientes diversos e extensos de diferentes níveis -

US$600.000.

Lei Rouanet Conforme discutido no Capítulo 9, os patrocínios corporativos da “Estrutura Legal” no Brasil baseiam-se nos incentivos fiscais da Lei Rouanet. Os dados oficiais e as entrevistas

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 64

feitas com especialistas no Brasil permitiram que a equipe do McKinsey-Guggenheim conclua que, desde que a legislação permaneça em vigência e sem mudança material adversa ao longo da duração do projeto, o novo Museu deve poder cobrir por completo seus custos de exibição através de patrocínios corporativos. Segundo o ministro da Cultura, cerca de US$ 160 milhões foram captados para o patrocínio das artes e da cultura através da Lei Rouanet em 2001. Deste total, 17% (aproximadamente, US$ 30 milhões), foram direcionados aos projetos plásticos e de artes integrados, principalmente para patrocínios de exibição. A análise demonstra uma substancial oportunidade de captar fundos adicionais. Por exemplo, o encargo do imposto de renda dos dez maiores contribuintes era de US$ 250 milhões, mas somente US$ 70 milhões foram conseguidos para patrocínio pela Lei Rouanet, deixando um balanço de aproximadamente US$ 180 milhões a ser captado. Mesmo uma análise mais conservadora mostra que em 2001, dentre as dez maiores companhias que fizeram uso da lei, somente 50% dos US$ 180 milhões em imposto de renda que poderiam ter dado apoio à atividade cultural foram usados. Análise de Sensibilidade Uma análise de sensibilidade foi conduzida para avaliar o impacto que a visitação poderia ter sobre a diferença operacional. Concluiu-se que uma variação positiva ou negativa de 20% (180.000 visitantes) teria um impacto líquido de aproximadamente US$ 500.000. Há, contudo, dois elementos de maior sensibilidade que devem ser observados. Conforme acima discutido, o modelo admite que os custos de exibição serão totalmente custeados pelos patrocínios corporativos. Assim, uma significativa mudança adversa ou revogação da Lei Rouanet prejudicaria de forma substancial a capacidade do Museu levantar patrocínios corporativos, e assim aumentar a projetada diferença operacional orçada. A fim de ser condizente com os dados de referência, todas as projeções em moeda local foram traduzidas para dólares usando a taxa média do câmbio médio de 2001¹. Uma análise de sensibilidade sobre a variação da taxa de câmbio mostra que a diferença operacional calculada diminuiria um pouco, de fato, se o real fosse depreciado mais do que a diferença entre as taxas de inflação brasileira e americana. Contudo, já que os custos de exibição, em sua maioria, são cotados em dólares, e a receita anexada do patrocínio corporativo é apresentada em moeda local, o Museu enfrentaria um risco maior de não cobrir os custos de exibição através dos patrocínios corporativos no caso de uma significativa depreciação da moeda brasileira. Conclusões A análise preliminar das projeções dos demonstrativos financeiros mostra que o Museu deveria ter receitas de entradas, associações pessoais e das vendas a varejo² de aproximadamente US$ 4 milhões e custos operacionais de aproximadamente US$ 15 milhões por ano, excluindo os custos de exibição. Nesta condição estável, o Museu terá um déficit operacional anual de US$ 8 a US$ 12 milhões, excluindo o financiamento de aquisição e os gastos de capital. Este cálculo é feito na suposição de que o Museu venha a ter êxito em cobrir de forma continuada seus custos de exibição através dos patrocínios corporativos.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 65

A partir das análises de referências, parece improvável que fontes alternativas de receitas, como restaurantes, aluguel de espaços e eventos locais venham a gerar receita suficiente para cobrir esta diferença. A fim de permitir a viabilidade econômica do Museu, esta diferença operacional terá de ser custeada pelo governo municipal do Rio de Janeiro, outras instituições governamentais, investidores privados e/ou contribuições de grandes companhias. 11 - ESTUDO DE MERCADO O estudo de mercado realizado para este estudo de exeqüibilidade avaliou o público potencial e os mercados-alvo para o Museu Guggenheim no Rio, e desenvolveu um modelo de preço para o visitante. O Guggenheim trabalhou com McKinsey e a Companhia e com a Research International neste aspecto. Estas firmas realizaram pesquisas de mercado qualitativa e quantitativa a fim de compreender os mercados tanto local quanto o de turismo. Além disto, o Guggenheim e McKinsey obtiveram uma ampla variedade de população e de estatísticas de turismo que foram aplicadas em toda esta parcela do estudo. A Research International, uma empresa global especializada em pesquisa de mercado por encomenda, nomes para marcas, comunicação e avaliação de publicidade, com o apoio da McKinsey, realizou a pesquisa qualitativa e quantitativa. Os objetivos da pesquisa qualitativa foram avaliar a aceitação pública de um Museu Guggenheim no Rio, investigar os padrões de comportamento e as expectativas de visitantes em potencial e lançar luz sobre temas a serem posteriormente explorados na pesquisa quantitativa. Os objetivos da pesquisa quantitativa foram também os de avaliar a aceitação do público e entender os padrões de comportamento, assim como fornecer os dados principais para projetar a visitação, os preços de exploração, avaliar filiação potencial e fornecer dados para a análise de impacto econômico (Ver Capítulo 12, intitulado “Análise de Impacto Econômico”). As estatísticas sobre a população e o turismo no Rio foram reunidas de diversos departamentos locais, inclusive EMBRATUR, o principal organismo de turismo do governo federal, Riotur, uma empresa de turismo da municipalidade do Rio e focada em promover o turismo, e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outras informações foram obtidas diretamente de museus e atrações turísticas locais. Metodologia A metodologia para a pesquisa qualitativa foi a de conduzir dois grupos com participantes de idades variadas, entre 25 e 50 anos, de nível sócio-econômico alto e médio. Um grupo consistia de moradores no Rio de janeiro, e o outro de residentes em São Paulo. A pesquisa quantitativa foi realizada em cinco segmentos, totalizando 600 entrevistas individuais com 200 moradores do Rio de Janeiro, 200 moradores de São Paulo, 75 visitantes domésticos, 75 visitantes internacionais no Rio e 50 visitantes internacionais em São Paulo. O perfil da amostra consistia de participantes, masculinos e femininos, em igualdade de nível sócio econômico alto e médio. Os dados estatísticos coletados dos organismos e museus locais foram usados para corroborar, testar e ajustar certas descobertas das pesquisas quantitativa e qualitativa. Nos casos em que a pesquisa de mercado parecia estar exagerada, foram feitos ajustes baseados em dados externos a fim de apresentar um resultado mais preciso.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 66

Principais Descobertas da Pesquisa de Mercados Atitudes em relação à Cultura e aos Museus Embora as exibições de artes visuais não sejam atualmente parte da rotina local de lazer, os dois grupos em foco fizeram, ambos, associações de “aspiração” positiva com as atividades culturais, associando-as com o aumento do status, relaxamento e diversão, e a melhora do pensamento crítico, educação, imaginação e abertura a novas experiências. No Rio, há uma grande preferência por visitar pontos turísticos que se referem às belezas naturais da cidade. Embora a maioria dos entrevistados não pense que no Rio esteja faltando qualquer atividade, quando indagados sobre que fontes gostariam de ver desenvolvidas, todos os grupos sugeriram de forma consistente uma gama maior de atividades culturais. Quando os grupos foram solicitados a comparar os museus locais e os internacionais, os entrevistados dos dois grupos preferiram de forma consistente os últimos. Descreveram os museus internacionais como luxuosos, atraentes, bem promovidos e cuidadosamente mantidos, o que por sua vez agregava valor à percepção da obra de arte e de toda a experiência. Ao contrário, os entrevistados de ambos os grupos descreveram as instituições locais como deixando de oferecer conteúdo bem organizado recente, serviço ao visitante, promoção, fácil acesso, infra-estrutura e segurança. Eles observaram que os estrangeiros parecem investir maiores recursos nas alternativas culturais enquanto, apesar da diversidade cultural do Brasil, há relativamente pouco investimento e pouca promoção da cultura local. Ao realizar a pesquisa de mercado, uma distinção interessante e reveladora foi feita entre os museus e os centros culturais. A de que um museu é um espaço tradicional para a exibição de objetos, ou para explanações de ciência ou história, enquanto a missão de um centro cultural é mais dinâmica e interdisciplinar, enfocando geralmente os interesses contemporâneos e locais. Mais sutil, mas aplicável aos museus de arte em particular, é a interpretação de que um centro cultural é um ambiente de aprendizado que está aberto a todos, enquanto um museu atrai aficcionados. A pesquisa quantitativa destacou esta distinção que os brasileiros fazem entre os centros culturais e os museus. Os habitantes em São Paulo e Rio, assim como os visitantes domésticos ao Rio, declararam todos preferência pelo desenvolvimento de centros culturais em lugar de museus. O Centro Cultural Banco do Brasil é de longe a mais freqüentemente mencionada atividade cultural dentre os habitantes tanto de São Paulo quanto do Rio, estes últimos revelando uma média de oito visitas por ano. Além disto, embora um terço dos turistas internacionais ao Rio tenha visitado um museu, metade deste grupo visitou o Centro Cultural Banco do Brasil. Atitudes em relação ao Desenvolvimento do Cais do Porto Os grupos responderam positivamente à idéia de revitalização do Cais do Porto. Os grupos do Rio e de São Paulo estavam sabendo do sucesso de Puerto Madero, em Buenos Aires, e acharam que há oportunidade similar para capitalizar o porto do Rio. Contudo, alguns entrevistados expressaram preocupações sobre os prévios esforços sem sucesso de revitalização em outras áreas da cidade. Além disto, expressaram preocupação de que o governo local não realizasse de forma bem sucedida este desenvolvimento em especial, e expressaram preocupações adicionais de que o projeto Guggenheim pudesse ser ambicioso

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 67

demais. Alguns se preocuparam também que talvez não houvesse retorno suficiente sobre o investimento e que somente a elite se beneficiasse. A revitalização do porto e o projeto para um Museu Guggenheim estão indissoluvelmente ligados na mente do visitante potencial. O potencial Museu Guggenheim é percebido como a âncora para a revitalização do porto, com mais de 30% de todos os entrevistados afirmando que não considerariam visitar a área do porto revitalizada sem o Guggenheim. Aproximadamente 90% dos entrevistados brasileiros vêem a completa revitalização da área do Cais do Porto como essencial para visitar o novo Museu. Vários conceitos para construir um Museu Guggenheim em conjunto com a revitalização do Píer Mauá foram testados, envolvendo variações de museus pequenos, médios e grandes em combinação com atividades que variam de entretenimento direcionado até projetos maiores de lazer. O conceito mais amplamente aceito foi o de um museu maior, com uma arquitetura ousada e um conjunto mais simples de atividades. Isto produziu de forma consistente a maior intenção em visitar como também a maior probabilidade de visitar com freqüência, tornando-se um membro e conhecer mais durante cada visita. Os entrevistados citaram restaurantes e cafés, galerias de arte, oficinas de arte, lojas de artesanato, teatros, livrarias e salas de concerto como as mais importantes alternativas de entretenimento na área revitalizada do porto. Atitudes em relação ao Museu Guggenheim no Rio Mas de metade dos residentes no Rio, e mais de um terço dos de São Paulo e de outros brasileiros conhecem o Guggenheim. Depois de verem fotos dos museus Guggenheim existentes e das coleções do Guggenheim, 95% dos entrevistados brasileiros ficaram favoráveis a todo o conceito de trazer um Museu Guggenheim para o Rio. Da mesma maneira, aproximadamente dois terços dos visitantes internacionais a São Paulo e ao Rio eram familiarizados com o Guggenheim, com mais de 95% afirmando que visitariam pelo menos uma vez. Quando solicitados a responder a diversas declarações sobre o projeto de um Guggenheim no Rio, os residentes foram extremamente positivos, com aproximadamente 80% parcialmente ou fortemente concordando com as seguintes declarações: • A chegada do Guggenheim é uma vitória para o Rio de Janeiro que deveria ser tratada

como uma prioridade nos campos turístico e cultural da cidade. • O Guggenheim despertará tanto interesse no exterior como outras atrações tradicionais

da cidade, como o Corcovado, Pão de Açúcar e o Maracanã. • O cais do Porto é uma localização apropriada para o Guggenheim. No Rio, os preços dos ingressos são significantemente mais elevados para as “atrações” do que para os museus.

Adultos Crianças* Estudantes Idosos çúcar R$ 24.00 R$ 12.00 R$ 24.00

orcovado ** R$ 25.00 Grátis R$ 12.50 Grátisrte

ontemporâneo, Niterói R$ 2.00 Grátis R$ 1.00 Grátis

acional de Belas es

R$ 4.00 Grátis R$ 1.00 Grátis

rte Moderna, Rio R$ 8.00 Grátis R$ 4.00 R$ 4.00

Pão de A C Museu A C Museu N Art Museu A

68 C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3

* A definição varia – vai de menos 5 a menos 12 ** Mais $ 5 são exigidos para estacionar o veículo Fonte: Guggenheim Independentemente destas comparações de preços, houve uma percepção entre 64% de todos os entrevistados de que os preços para o novo Museu Guggenheim num Píer revitalizado poderia ser comparável com os de outras atrações turísticas como o Pão de Açúcar, Corcovado e Maracanã (R$ 15,00). Os resultados da pesquisa sugerem dois modelos de preços, cobrando aos visitantes estrangeiros o preço pleno de R$ 15,00 (US$ 6,00) e aos visitantes brasileiros R$ 10,00 (US$ 4,00). O conceito de tornar-se um membro do Guggenheim Rio foi bem recebido pelos residentes locais. Aproximadamente 54% dos entrevistados do Rio acreditavam que a filiação, conforme descrita de forma similar à filiação ao Guggenheim Bilbao, é uma boa ou excelente idéia. Um terço dos entrevistados locais disse que provavelmente ou certamente se tornaria membro de um novo Museu. Também acreditavam que R$ 60 (US$ 24) seria uma taxa de filiação “aceitável”. Este nível de taxa, ajustada pela Paridade do Poder de Compra, é comparável à taxa média que está sendo cobrada no Guggenheim Bilbao. Principais Tendências e Estatísticas Perfil e Tendências do Turista O turismo internacional e doméstico ao Rio cresceu entre 1996 e 2000. A ocupação dos hotéis corrobora estes dados, subindo 11% entre 1996 e 2000³. Uma queda no turismo internacional ocorreu em 2001 quando a economia argentina entrou em colapso e os eventos de 11 de setembro reprimiram as viagens no mundo inteiro. Os organismos locais também voltaram sua atenção para o desenvolvimento do turismo associado com cruzeiros e convenções. A visitação de cruzeiros aumentou 23% entre as temporadas de 2000/2001 e 2001/2002 para mais de 144.000 visitantes. O novo desenvolvimento do Cais do Porto estabelecerá novas oportunidades para posteriormente desenvolver este negócio. O espaço de convenções dobrou para 100.000 metros quadrados entre 1993 e 1999, enquanto o número de eventos quadruplicou.

A visitação ao Rio é impulsionada pelo turismo para os visitantes internacionais e pelos negócios para os visitantes domésticos. Embora o número total de visitantes internacionais seja menor do que o de visitantes domésticos, eles são, mais provavelmente público-alvo, já que os visitantes a negócios têm um histórico demonstrado de falta de tempo para buscar atividades culturais.

A maioria dos visitantes internacionais ao Rio de Janeiro estão provavelmente familiarizados com o nome Guggenheim desde que venham principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Conclusões Com base nesta pesquisa, a visitação total é esperada como sendo similar à dos Museus Guggenheim em Nova York e em Bilbao, abaixo de um milhão. A visitação anual de 910.000 foi projetada usando os resultados da pesquisa de mercado quantitativa, assim como as estatísticas de população e de turismo. A origem dos visitantes é esperada como sendo similar à do Museu Solomon R. Guggenheim em Nova York e ao Pão de Açúcar, com

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 69

os turistas domésticos chegando, grosso modo, a 50% de seus visitantes, e os visitantes internacionais e locais compreendendo 25% cada. Composição dos Visitantes ao Guggenheim Rio com Sugestão de Preço Reside B Inte T

Visitantes (000) # de Visitas com o Fluxo

Atual *

Incremento de visitas ao Rio com o Museu

Total de Visitas, menores de 20

anos

Total Anual de Visitas ao Museu

ntes no Rio 220 N/A 24 244rasileiros 350 45 43 438

rnacionais 180 25 23 228otal 750 70 90 910

* Pessoas acima de 20 anos das classes A e B Fonte: McKinsey O Guggenheim-Rio deverá ser a principal atração turística, tendo mais visitantes do que o Corcovado, o Pão de Açúcar e qualquer outro museu. No mercado potencial para o Museu, o desenvolvimento do Cais do Porto é amplamente apoiado e o Guggenheim é visto como a âncora desta revitalização. Há, contudo, ampla evidência de que uma completa revitalização da área é fundamental para o sucesso do Museu, particularmente para os residentes na cidade e os visitantes domésticos, que tendem a focar sobre assuntos atuais em torno da segurança e do estacionamento. O desenvolvimento do porto terá também provavelmente o efeito do posterior aumento no número de navios de cruzeiros que ancoram no Rio, o que, embora muito especulativo para incorporar neste estudo, teria também um impacto altamente positivo na visitação ao Museu. Embora todos os alvos tenham concordado de forma firme de que desejariam visitar um museu de padrões internacionais no Rio, os turistas e os residentes igualmente são atualmente atraídos para atividades que se centram nas abundantes características naturais do Rio. Vencer este obstáculo exigirá uma mudança significativa no comportamento do visitante conforme evidenciado pelo fato de que atualmente a maioria dos museus do Rio tem comparecimento anual bem abaixo de 300.000 e menos de 25% de todos os turistas visitam o centro histórico do Rio6. A pesquisa de mercado revelou que um museu arquitetonicamente significativo com exibições que se alterem, uma razoável variedade de atividades secundárias, estacionamento e segurança atrairá a visitação tanto dos residentes quanto dos turistas. Posicionar o Guggenheim Rio como um centro cultural em vez de um museu apresenta uma oportunidade ainda maior de ganhar apoio público e aumentar a visitação, já que este conceito é considerado mais dinâmico tanto por residentes quanto por turistas. Embora a pesquisa de mercado tenha confirmado que os visitantes potenciais estão querendo pagar um valor um pouco mais elevado para o Guggenheim do que para qualquer outro museu no Rio, a variedade de opções culturais baratas e gratuitas será um desafio. Há, porém, diversos fatores que distinguirão o Museu como um destino preferível. O acesso do Guggenheim a coleções internacionais da mais elevada qualidade proporcionará um conteúdo exclusivo e permitirá uma gama de programação tanto local quanto internacional atualmente inigualável no mercado do Rio. A fim de atrair repetidas visitas pelo público local, uma programação rotativa de mostras especiais terá de ser agressivamente elaborada,

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 70

posicionando o Guggenheim como uma alternativa dinâmica a outros museus mais baratos da cidade. A arquitetura marcante e a imagem do Museu também proporcionarão uma vantagem adicional, tornando-o um ponto obrigatório dentre os viajantes domésticos e estrangeiros ao Rio. Ao longo do tempo, as premissas exclusivas podem até se tornar conhecidas como uma das “belezas naturais” que o Rio tem a oferecer. A localização do Museu no Cais do Porto revitalizado também será outro benefício, proporcionando potencialmente aos visitantes uma gama de atividades internas e ao ar livre que não são atualmente oferecidas num único local. O mercado do Rio é rota de saída para outras localizações atuais do Guggenheim, que tendem a ficar cheias de alternativas culturais e de entretenimento (Nova York, Veneza, Las Vegas) ou destacar a cidade (Bilbao). O Guggenheim Rio é um casamento das duas circunstâncias. Além disto, tem o potencial de rejuvenescer a área urbana, como aconteceu com grande êxito em Bilbao. Além do mais, embora o Rio tenha abundância de atividades pela beleza natural da cidade, há alternativas culturais dinâmicas insuficientes que possam atrair a visitação repetida dos habitantes ou conquistar os turistas numa base consistente. É esta brecha que o Museu Guggenheim Rio pode preencher. 12 - ANÁLISE DE IMPACTO ECONÔMICO Visão Geral Motivação Fundamental dos Estudos de Impacto Econômico De Baltimore a Bilbao, Detroit a Puerto Madero, Londres a Sídnei, os esforços para o novo desenvolvimento urbano têm se processado juntamente com as novas instituições culturais e outras atividades de lazer e educacionais. Um método empregado para predizer o impacto potencial que um novo projeto, política ou instituição pode ter numa dada região é uma análise de impacto econômico em profundidade, traçando fluxos de gastos associados com a dada atividade a fim de predizer e avaliar as mudanças no aumento dos gastos locais, emprego, valores de propriedade e receitas fiscais que acompanham a iniciativa. Esta avaliação é vital para uma decisão baseada em informações a ser feita com os olhos voltados para a exeqüibilidade do projeto proposto. As instituições culturais demonstraram uma capacidade única de produzir um impacto econômico positivo, oferecendo uma abordagem distinta para a destinação turística, o desenvolvimento urbano e as iniciativas de emprego. Capitalizando esta realização, cidades por todo o mundo estão cada vez mais olhando para as artes como uma ferramenta para a revitalização econômica. Uma compreensão da metodologia e das limitações deste tipo de análise é fundamental para quem toma decisões. Impacto Econômico das Artes e das Instituições Culturais No final de 1990, Bilbao era uma cidade de tamanho moderado, com uma economia em transição e uma localização a meio caminho de vários destinos. Com um plano de novo desenvolvimento urbano nas obras, a cidade esperava revitalizar a região, mas a falta de uma identidade concreta fez desta uma tarefa desencorajadora. Mais de uma década antes, uma Baltimore que se deteriorava estava apenas dando início a um escopo da renovação necessária para a comunidade e o retorno financeiro necessários em grande parte por causa do declínio de seu porto depois da Segunda Guerra Mundial. Puerto Madero, a área

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 71

portuária de Buenos Aires, foi abandonada desde a década de 40 até o final da década de 80. Cada uma destas cidades é agora louvada como um primeiro estudo de caso de um novo desenvolvimento urbano bem sucedido, demonstrando que o novo planejamento da infra-estrutura direta, juntamente com grandes instituições culturais e outras atividades de lazer e educacionais podem inspirar o crescimento econômico. Desde a abertura, em 1977, do Museu Guggenheim de Bilbao, aquela cidade tornou-se uma grande destinação turística, e dentro do primeiro ano de sua abertura o governo basco viu um aumento de 44 milhões em seu PNB. O aquário largamente aclamado de Baltimore obteve um ressurgimento de seus visitantes para o porto da cidade, que já fora negligenciado, e sua popularidade continua conforme demonstrado por planos para a construção de oito novos hotéis com 3.200 quartos ao longo dos próximos anos. O novo desenvolvimento de Puerto Madero, em Buenos Aires, depois do término de sua segunda fase, incluirá um museu e o complexo desportivo, e já tem recebido nos fins-de-semana uma visitação superior a 20.000 pessoas.

Segundo a Dotação Nacional dos estados Unidos para a Arte, as instituições artísticas americanas sem fins lucrativos geram uma estimativa de US$ 53,2 bilhões em gastos por organizações de arte e US$ 80,8 bilhões em gastos relacionados a eventos pelo público que freqüenta as mostras e pelos visitantes. Elas proporcionam um retorno de US$ 10,5 bilhões em receita de imposto de renda federal, US$ 7,3 bilhões em receita de impostos de renda estaduais e US$ 6,6 bilhões em impostos de renda municipais por ano. As organizações de arte sem fins lucrativos dão apoio ao equivalente a 4,85 milhões de empregos americanos em tempo integral. Em agosto de 1998, a Dotação Nacional para as Artes e Parceiros no Turismo realizou um estudo sobre o turismo cultural, descobrindo que 46% de todos os adultos viajantes norte-americanos envolviam-se numa atividade cultural enquanto estavam numa viagem de 80 quilômetros ou mais de distância de suas casas, com 24% destes viajantes culturais identificando um museu como sua atividade cultural preferida. Os turistas culturais devem gastar mais do que o viajante médio e devem viajar por um período de tempo maior. Estas estatísticas servem como prova de um segmento de mercado substancial e influente que até recentemente não era reconhecido em sua própria magnitude. Com os esforços de desenvolvimento cultural bem sucedidos em Bilbao, Baltimore, Puerto Madero e outras cidades, não é difícil imaginar que cidades que criem planos de novo desenvolvimento urbano de longo prazo estejam em busca de museus, como o Guggenheim, a fim de permitir que elas atinjam seus objetivos. Benefícios e Limitações de uma Análise de Impacto Econômico Benefícios Mesmo com o sucesso que instituições culturais específicas já tiveram na efetivação da mudança econômica, é um engano pensar que um estudo de impacto econômico não necessita ser conduzido para um projeto proposto. A fim de determinar se os substanciais custos de capital serão recuperados dentro deste impacto regional ou produzir retornos, é necessário prever o escopo do crescimento esperado. Embora Bilbao, Baltimore e Puerto Madero sejam todos exemplos concretos do novo desenvolvimento eficaz, nem sempre ocorre isto. Um complexo desportivo construído em Detroit não renovou o declínio daquela cidade e em St. Louis, o rejuvenescimento esperado de uma área deprimida por um caro estádio de futebol não ocorreu também. Uma análise de impacto econômico deve ser conduzida como parte de um estudo responsável de exeqüibilidade, porque o crescimento econômico, comensurado com o custo do projeto, jamais é garantido.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 72

Embora revitalizando uma área deprimida do centro da cidade ou animando um bairro pouco conhecido, a maioria dos esforços de um novo desenvolvimento são, no fundo, esforços para converter uma área raramente visitada numa destinação dos visitantes. Na tentativa de ganhar apoio de dirigentes governamentais, doadores privados e do grande público, os proponentes de uma iniciativa cara podem usar os resultados de uma análise de impacto econômico positiva em sua vantagem a fim de tocar o projeto. A capacidade de demonstrar às pequenas empresas locais que turistas adicionais estarão freqüentando restaurantes, lojas e hotéis numa determinada região, mostrar aos residentes que os valores de suas propriedades aumentarão, demonstrar aos dirigentes governamentais que mais receita fiscal será gerada ou prometer a um departamento de educação governamental que seus cidadãos locais terão um centro para o aprendizado e as artes renovadas pelo mundo todo, é um argumento persuasivo para conseguir fundos, apoio e alocação de recursos. Limitações Embora uma análise de impacto econômico possa responder a muitas das perguntas de exeqüibilidade que surgem com o conceito de um novo projeto, há importantes considerações que tal estudo intrinsecamente não aborda. Os benefícios do usuário e os impactos sociais, inclusive a atratividade para a comunidade e a identidade, orgulho local, edificação pública, deslocamento e ruptura da comunidade imediata podem ultrapassar o âmbito de uma avaliação do impacto econômico. Com as organizações sem fins lucrativos, tais considerações tornam-se mais relevantes, já que a missão e a visão são de igual ou até mais importância do que o sucesso financeiro. No caso do projeto da Fundação Guggenheim em Bilbao, um preceito fundamental da missão da Fundação foi abordada – “atingir o maior público possível”, e a cidade, nas palavras de seu Vice-Prefeito, “reganhou (seu) auto-respeito após ter experimentado uma profunda depressão”. Tais realizações não podem ser previstos ou incorporados numa análise econômica, então a decisão de exeqüibilidade deve levar em conta estas questões conceituais também. Outra limitação da análise de impacto econômico é seu alto potencial de má interpretação. A importância de dissociar o aumento de visitantes daqueles que gastaram tempo e dinheiro na região independentemente da presença do projeto proposto é uma parte essencial da correta avaliação. Embora os proponentes de uma iniciativa possam desejar usar o maior número de gastos projetados (dos locais e dos não residentes) por todos os visitantes, este não seria um reflexo preciso da atividade econômica adicional inspirada pela dada proposta. Também é freqüente o caso de que o dinheiro gasto pelo aumento segmentado de visitantes não é gasto totalmente na região de impacto. Os visitantes gastaram parte de seu dinheiro de viagem em casa, preparando-se para a viagem, e a caminho de suas destinações finais. Um modelo consistente, contudo, e a compreensão destas más interpretações potenciais devem aliviar a preocupação sobre a avaliação imprecisa. Finalmente, deve-se dizer que nenhum estudo de impacto econômico é infalível. Na melhor das hipóteses, é uma sólida projeção baseada nos fatos que são precisos e nas premissas que são razoáveis, à época do estudo. Se estes fatos e as bases destas premissas mudarem ao longo do tempo, o estudo pode se transformar em algo que forneça menos previsão.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 73

Faz sentido realizar um estudo Autorizar uma análise de impacto econômico demonstra o desejo de considerar o investimento numa dada região. A maioria dos esforços para um novo desenvolvimento são iniciativas de longo prazo, exigindo gastos de capital que não são imediatamente recuperados. Embora o investimento no potencial rejuvenescimento de centros urbanos deprimidos possa ser um projeto de grande rendimento, os riscos associados são geralmente proporcionalmente significativos. A análise de impacto econômico é um mecanismo pelo qual estes riscos podem ser previstos e minorados. Os benefícios econômicos de uma nova instituição podem assumir a forma tanto de um impacto econômico direto quanto de um impacto econômico catalítico. A geração de novas receitas fiscais, a criação de oportunidades de emprego e os aumentos no turismo podem criar um aumento tangível na atividade empresarial bruta da região, com efeitos ondulantes sentidos em setores muito distantes do projeto. Além deste crescimento econômico direto, o impacto catalítico demonstra o menos quantificável, mas igualmente importante, impacto de uma nova instituição. A capacidade de reter uma força de trabalho preparada, capaz de se empregar em setores afetados pelo projeto, assim como atrair executivos que buscam uma cidade que ofereça uma alta qualidade de vida, são motivos significativos para dar início aos esforços de um novo desenvolvimento, particularmente aqueles que envolvam um museu de categoria internacional. Mais importante ainda, o valor simbólico de uma instituição de renome mundial – demonstrando o desejo de investir no futuro de uma região e servindo como ponto de reunião de uma área em declínio – é potencialmente um impacto econômico positivo que não pode ser ignorado. Metodologia Geral Em geral, as análises de impacto econômico traçam o fluxo de despesas associado com uma atividade específica, identificando mudanças nas vendas, receitas fiscais, receita e empregos. Os principais métodos incluem pesquisas de mercado, análises de estatísticas econômicas regionais, modelos econômicos básicos, modelos de entrada e saída (volume de vendas) e multiplicadores publicados. Em sua forma mais básica, o impacto econômico é determinado pelo uso da análise do multiplicador de receita – “a medida estatística da receita acumulada gerada por uma despesa inicial. Uma despesa inicial de US$ 1 torna-se receita para um vendedor que economize parte de US$ 1 e gaste parte. Aquela parte do dólar inicial gasto torna-se por sua vez receita para alguém que gaste parte e economize parte”. Usando as pesquisas de mercado e certificando-se de que os entrevistados estão devidamente segmentados em grupos daqueles que visitariam, gastariam ou trabalhariam somente devido à instituição em questão e aqueles que teriam agido assim na dada região de qualquer modo, a análise de impacto pode ser precisa e serve como uma base para quem toma decisões. Isto pode ser conseguido através de pesquisas com os visitantes solicitando aos viajantes em potencial que classifiquem a importância de dada instituição em sua decisão de visitar a região. Se, por exemplo, com base nas pesquisas, no conhecimento profissional e nas tendências econômicas ficar previsto que haverá um aumento de 2% nos visitantes a uma dada região após a abertura de uma atração turística, esta informação pode servir como uma base para o cálculo da análise econômica. Este aumento de 2% nos visitantes teria de ser segmentado em visitantes locais e visitantes viajantes, a fim de se ter certeza de não atribuir ao projeto em questão gastos que teriam ocorrido independentemente de sua presença. Depois deste “aumento” de visitantes ter sido isolado

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 74

(ou seja, os visitantes que vieram à área somente devido à presença da instituição), a quantidade que eles relatam ter vontade de gastar durante tal viagem pode ser sujeita a multiplicadores aplicáveis publicados a fim de apurar os efeitos de sucessivas rodadas de gastos. Quando a análise profissional é utilizada, um modelo para este fluxo de gastos pode ser produzido, levando em conta diversos outros fatores que afetam o aumento da quantia gasta. Com uma estimativa desta transferência de fluxo de caixa, emprego, valor da propriedade e receita fiscal podem ser avaliados com o novo projeto ou instituição. Museu Guggenheim-Rio: Principais Descobertas e Implicações da Análise de Impacto Econômico A firma de consultoria administrativa McKinsey and Company, num amplo e detalhado modelo, previu vários resultados econômicos do projeto do Museu, incorporando as exigências de projeto do arquiteto Jean Nouvel, as avaliações operacionais da equipe do Guggenheim e de consultores externos, e os resultados da pesquisa de mercado dos visitantes em potencial (descritos no Capítulo 11 deste relatório, intitulado “Estudo de Mercado”). A análise da McKinsey também incluiu significativos dados reunidos na macroeconomia do Rio e no setor turístico da cidade obtidos através de entrevistas, análises cruzadas de informações estatísticas locais disponíveis de vários organismos governamentais e de escritórios de turismo, pesquisa de mercado e registros governamentais. O objetivo da análise de impacto econômico da McKinsey and Company foi estimar o impacto potencial que o Museu teria na economia global do Rio em termos de aumento de despesa, geração de empregos, elevação dos valores de propriedade e receita fiscal adicional. Eles usaram um modelo de impacto econômico que projeta a despesa direta gerada pelo aumento do turismo no Rio devido à existência do Museu. O estudo de impacto econômico para o proposto Museu Guggenheim Rio de Janeiro produziu três conclusões principais: 1. O Museu é projetado para ter um impacto de mais de R$ 176 milhões por ano em aumento de gastos na cidade do Rio de Janeiro, gerando 5.000 empregos de longo prazo. Isto se deve principalmente a um aumento projetado no fluxo tanto de visitantes domésticos quanto internacionais e ao aumento da duração média da estada. 2. A elevação dos valores dos imóveis das propriedades em torno do Museu é estimada em aproximadamente R$ 705 milhões, derivada tanto da apreciação dos imóveis existentes quanto do desenvolvimento de novas propriedades. 3. O aumento nos gastos e nos valores da propriedade é projetada para gerar R$ 21 milhões em impostos anuais para a cidade do Rio de Janeiro, e R$ 14 milhões em receitas fiscais para o governo federal. Embora esta receita fiscal local possa subsidiar quase todos os custos operacionais anuais do Museu (conforme descrito no Capítulo 10 deste relatório, intitulado “O Modelo Operacional”), não produzirá um retorno sobre o investimento pelo desembolso do custo de construção. Medindo o Impacto Econômico do Museu Guggenheim Rio Elementos e Indicadores O impacto econômico projetado para o proposto Museu Guggenheim Rio foi segmentado em três principais categorias: gastos, geração de empregos e aumentos no valor da propriedade. O aumento das despesas, indicado pelas mudanças nas receitas de

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 75

impostos sobre as vendas, é o volume adicional dos recursos financeiros injetados na economia local devido à existência do Museu. A geração de empregos indica o emprego adicional na economia local devido ao aumento dos gastos, conforme mostrado pelas mudança no nível de desemprego. A elevação no valor da propriedade na área em torno do Museu, conforme indicado pelos impostos sobre as propriedades, demonstra o impacto potencial do Museu sobre o valor dos espaços residenciais e comerciais locais. Cada uma destas categorias contribui para todo o impacto econômico do projeto Guggenheim no Rio de Janeiro. Aumento de Despesas O aumento de despesas estimado foi dividido em três tipos: direta, indireta e despesa induzida. TRÊS TIPOS DE AUMENTO DE DESPESA NA ECONOMIA LOCAL Di Ind I 76

Despesa Descrição Exemplos

reta

56 • Recursos financeiros adicionais injetados na economia local devido à existência de uma nova atração

• Despesas feitas por visitantes internacionais na cafeteria do museu

ireta

11 - Despesa na cadeia de oferta da economia local como resultado de despesa direta

• Despesa feita pela cafeteria do museu para comprar alimentos no atacado, na cidade

nduzida

9 - Despesa por rodadas sucessivas de detentores de renda da despesa gerada por atividades diretas e indiretas na economia local

• Despesa em itens pessoais pelos funcionários da cafeteria

Aumento Direto de Despesa O total de R$ 131 milhões no aumento direto de despesas anuais vem de estimativas de gastos adicionais, devido somente à presença do Museu, por não residentes e empresas. Este impacto é aproximadamente um terço o do Carnaval na economia local e metade o da passagem de ano. Os habitantes do Rio de Janeiro não estão incluídos devido à premissa de que os gastos deles ocorreriam em algum outro lugar na área do Rio,

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 76

independentemente do Museu. Na análise, os não residentes foram subdivididos em visitantes domésticos e internacionais, e estas categorias foram então avaliadas para se prever a porção de cada uma que provavelmente ficaria mais uma noite no Rio devido ao Museu, e a porção que gastaria mais sem ficar mais uma noite. Também foi determinado que alguns destes gastos adicionais ocorreriam dentro do Museu, alguns na área do Cais do Porto e alguns na região do Rio como um todo. Este quadro demonstra as várias fontes dos R$ 131 milhões no aumento direto de gastos devido ao Museu Guggenheim Rio.

MATRIZ DE INCREMENTO DE DESPESA DIRETA Milhares de dólares, 2001 Tipo de despesa no

RioFontes

Museu

Cais do Porto1

Outras

despesas

• Não residentes 3,560 4,610 43,250

- Internacionais 1,380 2,050 15,350

• Adicional 140 250 12,900 • Noite extra 120 170 2,4503 • Despesa extra 1,120 1,630 -

- Domésticas 2,180 2,560 27,900

• Adicional 220 140 16,600 • Noite extra 760 940 11,3003 • Despesa extra 1,200 1,480 -

• Empresas 4,5002 - -

Total 7,960 4,610 43,250 55,900

Aumento de Gastos Indireto e Induzido A fim de quantificar o aumento de gastos indiretos e induzidos, premissas preliminares foram feitas sobre os padrões de gastos com base em informações reunidas no IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e estatística) e Secretarias da Fazenda da Cidade e do Estado. Estas premissas foram então sujeitas ou ao multiplicador de gastos indiretos ou de gastos induzidos. O aumento de gastos indiretos detalha a rodada secundária da circulação em que a receita inicial dos gastos diretos é redistribuída na cadeia de suprimento da economia local. Os gatos induzidos referem-se às rodadas sucessivas de gastos na economia local por aqueles que receberam receita através dos gastos diretos e indiretos. Geração de Empregos Com os gastos adicionais previstos para acontecerem em resposta à presença do Museu, novos empregos terão de ser criados para manter os serviços necessários para estes consumidores não residentes e corporativos. Estima-se a geração de 5.000 novos empregos de longo prazo. Durante a construção, estimada para de três a cinco anos, há uma geração adicional de empregos estimada em 4.000 postos de trabalhos devotados à construção do Museu.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 77

O Museu em si é projetado para empregar aproximadamente 180 pessoas, em grande escala no setor de serviços. Os novos empregos incluirão administração, curadoria, marketing, publicidade, levantamento de fundos e postos de segurança pública. Valorização Imobiliária A elevação no valor das propriedades é também um importante aspecto do impacto econômico, e é estimado que haveria aproximadamente R$ 705 milhões na apreciação dos imóveis ao longo dos cinco primeiros anos de operação do Museu. Isto inclui alguns novos desenvolvimentos na área do Cais do Porto. Atualmente, esta propriedade está estimada num valor de aproximadamente UR$ 423 milhões para o espaço residencial e comercial, uma área de 2 milhões de metros quadrados. Geração de Impostos O aumento de gastos e o aumento nos valores da propriedade afetarão diretamente a receita fiscal acareada para o Rio de Janeiro. Com mais de R$ 176 milhões em aumento de gastos, e R$ 705 milhões estimados de apreciação da propriedade, a cidade pode esperar aproximadamente R$ 21 milhões de receitas fiscais locais adicionais para a cidade do Rio de Janeiro a cada ano devido à presença do Museu Guggenheim Rio, e aproximadamente R$ 14 milhões fluirão para o governo federal. Já que este aumento de receita para a cidade representa aproximadamente o subsídio operacional anual exigido para o Museu, é improvável que o investimento das autoridades locais na construção do Museu retorne através de futuro fluxo de caixa para os cofres da cidade. Impacto Econômico Catalisador McKinsey corretamente destaca que da perspectiva da cidade este projeto não deve ser medido puramente sobre uma base quantificável. O Museu teria um impacto sobre a cidade maior do que os aspectos tangíveis de gastos, empregos, valores da propriedade e impostos, e atuaria como um catalisador para o futuro desenvolvimento cultural e econômico no Rio. Há muitos aspectos intangíveis que adviriam deste projeto, como o maior prestígio da cidade no Brasil e no exterior e o desenvolvimento de artistas locais, que não apenas terão um espaço físico de alta qualidade disponível para mostras potenciais, mas também melhor acesso às coleções de arte e experiências internacionais. Finalmente, outras instituições culturais se beneficiarão igualmente, já que os visitantes culturais atraídos pelo Museu irão buscar outras experiências culturais locais e regionais. Em Bilbao a freqüência ao Museu de Belas Artes de Bilbao aumentou substancialmente após a abertura do Museu Guggenheim Bilbao. A base econômica do Rio é cada vez maior no setor de serviços. A fim de reter e atrair a força de trabalho altamente capacitada para dar apoio à economia terciária, uma cidade deve oferecer uma alta qualidade de vida, inclusive algumas amenidades como atrações culturais. A presença deste Museu de categoria mundial proporcionaria uma nova fonte de entretenimento visual e edificação para os residentes do Rio, aumentando as instituições existentes e fortalecendo-as. Ao investir maciçamente num museu do calibre e escopo do Museu Guggenheim Rio de janeiro, a cidade estaria emitindo um claro sinal de seu desejo de investir em seu futuro.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 78

13 - CONCLUSÕES Este relatório é o resultado de um estudo de dez meses realizado por uma equipe internacional sofisticada. Ao final não produziu uma resposta “sim ou não” ou “vai ou não vai”. Em vez disto, foi confirmada a argumentação do trabalho apresentado no Capítulo 1, “Introdução” para o desenvolvimento do Museu Guggenheim no Rio, produziu um conjunto de resultados que indicam que o Museu poderia ser um risco para ambas as partes e desenvolveu um conjunto de temas que necessitam ser satisfatoriamente tratados antes que as mesmas continuem com o projeto a fim de que este tenha uma razoável probabilidade de êxito. Argumentação Básica A argumentação para o Museu foi sustentada por este estudo. Para mencionar de novo, a argumentação principal para a cidade do Rio de Janeiro e a Fundação Solomon Guggenheim prosseguirem com o Museu Guggenheim Rio é, em síntese, uma fusão sinérgica de interesse de recursos. O Rio deseja um catalisador cultural para o novo desenvolvimento urbano e um estímulo para a economia local e regional e tem os recursos para financiar a construção capital e os custos operacionais. O Guggenheim possui uma riqueza de objetos culturais e tem acesso a valores incalculáveis através de seus acertos de colaboração e de afiliação, assim como um nome forte, internacionalmente reconhecido, e uma reputação, experiência em programação de grande monta e o desejo de continuar a desenvolver seu programa e abordagem cultural num novo mercado. Benefícios substanciais para ambas as partes podem resultar da combinação dos respectivos interesses e recursos. Indicadores Positivos Há vários indicadores positivos para o Museu que evoluíram ou foram confirmados com o estudo. Programa Um programa foi desenvolvido para o Museu que complementaria as ofertas culturais do Rio, dando acesso a toda a gama de obras do Guggenheim Global, o State Hermitage Museum e o Kunsthistorisches Museum para a potencial apresentação, mostras atuais de um vulto e consistência não produzidos em qualquer parte do Rio, ou no Brasil, e que o Rio não poderia atrair de outra forma. O Museu teria sua própria identidade única dentro da rede Guggenheim com sua particular ênfase nos novos meios e a arte do Brasil e de outras partes da América Latina. Projeto Jean Nouvel criou um projeto ousado que considera o Píer Mauá como seu ponto de partida, e então cria um ambiente interno e externo de terra e mar, com galerias sob medida para as programações, inseparáveis do Rio e da Baía de Guanabara. Seria uma destinação em si e por si, dentro da extraordinária tradição da arquitetura do Guggenheim de Frank Lloyd Wright, Frank Gehry e Rem Koolhaas.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 79

Local O Píer Mauá, Cais do Porto e Região Central apresentam desafios significativos para o projeto em sua condição sócio-econômica, atual estado de deterioração, falta de atrações e instalações, acessibilidade, estética, segurança e condições ambientais. Contudo, nada disto é intransponível com a dedicação apropriada de recursos pela cidade. Na verdade, alguns destes desafios motivaram o interesse da cidade num Museu Guggenheim, apresentando a motivação para o novo desenvolvimento e o impacto econômico positivo que são parte do que torna o projeto atraente para ambas as partes. Mercado A pesquisa de mercado demonstrou um forte público doméstico e internacional para o Museu, atraindo uma projeção de 910.000 visitantes por ano. Impacto Econômico Um impacto econômico positivo, substancial na cidade foi projetado para resultar do Museu na forma de R$ 178 milhões de aumento de gastos no Rio, 5.000 novos empregos, aproximadamente R$ 705 milhões em aumento nos valores dos imóveis, R$ 21 milhões em receitas fiscais adicionais locais e R$ 14 milhões em receitas fiscais adicionais federais. Modelo Operacional Um modelo operacional foi desenvolvido e no qual o subsídio operacional anual projetado para operar o Museu (admitindo-se custeio total do programa de mostras atrás do levantamento de fundos corporativos segundo a Lei Rouanet) aproxima-se do aumento anual em impostos locais. Temas Adicionais Este estudo tocou em vários temas importantes que precisam ser tratados de uma maneira que satisfaça tanto o Rio quanto o Guggenheim para que as duas partes prossigam com uma significativa probabilidade de sucesso. Propriedade do Controle do Local Uma exigência fundamental que deve ser atendida antes que a cidade e o Guggenheim possam prosseguir é que a mesma, à sua custa, adquira a propriedade ou o controle do Píer Mauá das DOCAS S.A., livre de quaisquer compromissos com terceiros (inclusive o Píer Mauá S. A.) e quaisquer outras obrigações, ônus ou empecilhos. Segurança É claro que a pesquisa e as circunstâncias que se deram este ano que o crime, a violência e a segurança são os principais temas em todo o Rio e nas proximidades do Píer Mauá em particular. Isto é especialmente sensível para uma atração nova, altamente visível, prevendo um grande número de turistas e contendo incalculáveis obras de arte. Além disto, é claro pelo estudo de mercado que uma prioridade para os turistas domésticos e internacionais que visitarem o Museu seria a condução satisfatória da percepção deles de uma substancial segurança. Um plano de segurança para o Píer e para a vizinhança precisa ser desenvolvido e aprovado, e a implementação do plano precisa ser evidente.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 80

Novo desenvolvimento do Cais do Porto Embora o novo desenvolvimento da área do Porto e do projeto do Museu Guggenheim estariam ligados de muitas formas, o Plano para o Novo Desenvolvimento do Porto precede o conceito do Museu. Precisa haver progresso substancial sobre os componentes de curto prazo e de médio prazo daquele Plano, o que ainda não ocorreu. Mesmo assim, todos os projetos precisariam ser executados para se atingirem os objetivos de um plano total de regeneração urbana e social. De importância específica para o Museu é a garagem sob a Praça Mauá, assim como instalações adicionais para estacionamento, remoção de pontos de ônibus da praça, construção de um sistema de linha férrea ou outro transporte público para o Píer e um melhor acesso aos pedestres. Além disto, devem ser tomadas medidas para estimular o investimento privado, já que atualmente a cidade é a única entidade a investir na área, e o investimento privado concentrou-se na barra da Tijuca. Finalmente, projetos adicionais que incluiriam mais atrações públicas e comerciais (ou seja, centro de convenções, centro mundial de comércio e atrações adicionais de cultura e lazer) e um aumento nas amenidades para os turistas (ou seja, restaurantes, lojas e hotéis) aumentariam as atrações da área e a probabilidade de êxito. Nivelar a Avenida Rodrigues Alves aumentaria a experiência estética de visitar o Museu. Seguros Financeiros Os custos de capital projetados para construir o Museu são de R$ 313.835.450,00. Há uma projetada diferença operacional anual de R$ 21.000.000,00 a R$ 28.000.000,00, o que admite que R$ 21.000.000 para despesas anuais de exibições serão totalmente custeadas pelos patrocínios corporativos usando a Lei Rouanet. O Guggenheim precisaria de seguros tangíveis da disponibilidade de total custeio da construção do Museu, do orçamento operacional cobrindo pelo menos 10 anos e qualquer insuficiência na exibição proposta. Programa de Aquisição e Custeio Seguindo o modelo de Bilbao, uma parcela crítica que define o programa artístico do Museu é o desenvolvimento de uma coleção principal de arte brasileira e de outros países latino-americanos. A cidade e o Guggenheim precisam concordar sobre aquele aspecto do programa e desenvolver uma aquisição e um plano de custeio a ser adotado pela cidade. Melhoras de Capital A natureza do local, estendendo-se sobre uma lâmina d’água num clima tropical, em conjunto com certos elementos do projeto precisarão de significativas substituições de capital durante a existência do Museu. Um plano de substituição de capital de longo prazo precisa ser desenvolvido. A identificação das quantias apropriadas através de um cronograma de depreciação e a criação de um fundo de amortização devem ser estabelecidos. Taxa para Licença da Marca Um grande ativo que o Guggenheim traz para este empreendimento é um nome e a reputação altamente valorizados e internacionalmente reconhecidos. O valor da marca do Guggenheim aumentou substancialmente ao longo dos últimos cinco anos com a abertura

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 81

do Museu Guggenheim Bilbao, o Guggenheim Berlim, o Guggenheim Hermitage Museum e o Museu Guggenheim Las Vegas, e o concomitante aumento dos visitantes. As partes precisam concordar sobre a taxa e um cronograma de pagamento para o licenciamento da marca Guggenheim. Concluindo O Museu Guggenheim Rio pode ser um projeto extraordinariamente excitante, dando uma inestimável contribuição tanto para a cidade do Rio de Janeiro quanto para a Fundação Solomon Guggenheim. Há uma grande sinergia em suas respectivas contribuições e oportunidades. Há muitos indicadores de êxito e esse estudo lança os fundamentos para alcançar este objetivo.

C O L E Ç Ã O E S T U D O S D A C I D A D E / F E V . 2 0 0 3 82