renata egreja | a regra do jogo

28

Upload: zipper-galeria

Post on 22-Mar-2016

223 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Catálogo da exposição 'A Regra do Jogo' de Renata Egreja realizada na Zipper Galeria | De 26 de Maio a 23 de Junho 2012.

TRANSCRIPT

Renata Egreja A Regra do Jogo26 de maio a 23 de junho de 2012

Rua Estados Unidos, 1494CEP 01427 001São Paulo - SP - Brasil+55 (11) 4306 4306www.zippergaleria.com.br

2a a 6a 10:00 - 19:00sábados 11:00 - 17:00

A regra do jogo

“Queria colocar tudo dentro do quadro até que ele caísse como um fruto podre no chão” Jorge Guinle

Talvez o principal nome da prosa romântica brasileira, José de Alencar é conhecido por uma narrativa de estilo rebuscado, refletido em seus romances em períodos extensos e minuciosamente descritivos sobre a flora e a exuberância da natureza e do homem natural, além dos exageros de elogios às mulheres, verdadeiras heroínas românticas. Em Senhora, Alencar resume em uma frase, em meio a descrições que se estendem por páginas e se desdobram em adjetivos, Aurélia Camargo, a personagem-título do romance urbano publicado em 1875: “Um traço basta para desenhá-la sob esta face”.

Assim como Alencar, a obra da artista paulistana Renata Egreja, que iniciou seus estudos em Artes Plásticas na Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) e graduou-se na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (ENSBA), em Paris, se constrói pelos excessos. Nesta exposição encontra-se reunido um conjunto de pinturas e aquarelas, algumas inéditas, revelando um pouco da produção recente da artista.

Em um primeiro encontro, a produção de Renata Egreja revela-se pelo grande acúmulo de informações. Pinturas de grandes dimensões e aquarelas apresentam como lógica pictórica um raciocínio voltado para a construção caótica. Grandes campos de cor são invadidos por linhas, tramas, escorridos, formas geométricas, formas de contornos mais arredondados e dividem espaço com referências da história da arte brasileira, principalmente uma história da pintura brasileira (com as cores de Tarsila do Amaral e as formas de Leda Catunda e Beatriz Milhazes), além de referências do Oriente e de elementos da botânica. Cores, formas, padrões e movimentos são combinados e recombinados, sobrepostos, ora velando e ora revelando umas as outras, construindo a memória do trabalho. Nesse jogo, cada uma dessas “peças” é colocada no “tabuleiro” de maneira pensada, visando o equilíbrio. O acaso tem espaço nessa lógica de construção. Já a gratuidade, não.

“Queria colocar tudo dentro do quadro até que ele caísse como um fruto podre no chão”, disse uma vez o pintor Jorge Guinle (1947-1987)1. “A operação é vertiginosa, exaustiva e engaja um olhar físico, pronto a sentir as palpitações da matéria, a energia dos gestos, as diferentes e divergentes decisões do artista – os ataques bruscos, as manobras obsessivas, os vários humores que cada tela parece literalmente exalar. Não há como percorrê-las a partir de um ponto de vista ideal: é necessário experimentá-las pelos poros da pintura”, escreveu o crítico Ronaldo Brito2 sobre a vigorosa pintura de Guinle. Em certo sentido, Renata Egreja parece querer dialogar com essa lógica, com essa herança de um dos nomes mais importantes da Geração 80 no Brasil.

Nesse embate pictórico, cores, formas, motivos e toda uma série de intenções de pintura se misturam, mas olhando com mais calma, vemos que todo esse excesso tem como ponto de partida um interesse primeiro: o gesto. Todas as pinturas e aquarelas são como estudos das inúmeras possibilidades desse movimento simples, que se repete, sobrepõe-se, potencializa-se, apaga-se e se transforma em outro. O gesto que pode servir para dar contornos às formas também é o responsável por borrar os limites estabelecidos dentro da tela entre dois campos de cor. Vistas lado a lado, essas pinturas evidenciam esses traços, esses gestos, como estudos sobre as possibilidades da prática da pintura. É como se a cada movimento a artista se perguntasse: “Até onde um traço, um gesto pode ir? Até onde ele consegue ser esticado?”.

Vemos então que a regra do jogo é só uma: um traço basta.

Fernanda LopesRio de Janeiro, maio de 2012

1 Em entrevista a Frederico Morais. O Globo, Rio de Janeiro, 31 de maio de 1982.2 BRITO, Ronaldo. “Paroxismos de pintura”. In: GUINLE, Jorge. Jorge Guinle. São Paulo: Galeria Luisa Strina, 1984. p. [3-6].

The rule of the game

“I wanted to put everything inside the frame until it fell like rotten fruit on the ground” Jorge Guinle

José de Alencar, perhaps Brazil’s foremost romantic prose writer, is known for an elaborate narrative style that was reflected in his novels in extensive passages and meticulously described details on flora, on the exuberance of nature and of natural man, as well as exaggerated eulogies for women, true romantic heroines. In Senhora, amid descriptions that go on for several pages and ramify into adjectives, Alencar takes just one sentence to summarize Aurélia Camargo, the title character of this urban romance published in 1875: “A trace is enough to draw her under this face.”

Just like Alencar’s, the work by artist Renata Egreja, from São Paulo, who studied Fine Arts at Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) before graduating from École Nationale Superiéure des Beaux-Arts (ENSBA) in Paris, is built through excesses. This exhibition brings together a group of paintings and watercolors, some seen for the first time, revealing a little about the artist’s recent production.

At first sight, Renata Egreja’s work displays a huge accumulation of information. Large-scale paintings and watercolors present a line of thought turned towards chaotic construction as their pictorial logic. Great color fields are invaded by lines, weaves, drips, geometric shapes, more rounded shapes sharing space with references to the history of Brazilian art, especially to the history of Brazilian painting (with the colors of Tarsila do Amaral and the shapes of Leda Catunda and Beatriz Milhazes), and references from the East and elements of botany. Colors, shapes, patterns and movements are combined and recombined, overlapping, here veiling, there revealing each other, assembling the memory of the work. In this game, each of these “pieces” is thoughtfully placed on the “board”, in pursuit of equilibrium. Chance has space in this logic of construction. But not gratuitousness.

“I wanted to put everything inside the frame until it fell like rotten fruit on the ground”, the painter Jorge Guinle (1947-1987)1 once said. The critic Ronaldo Brito2 wrote of Guinle’s vigorous painting: “The operation is vertiginous, exhausting and engages a physical gaze, ready to feel the pulse of matter, the energy of gestures, the artist’s differing and diverging decisions – the sudden attacks, obsessive maneuvers, the various moods that each canvas seems to be literally exhaling. They cannot be perused from an ideal point of view: they have to be experienced through the pores of painting”. In a certain sense, Renata Egreja seems to desire a dialogue with this logic, with this heritage of one of the leading members of Geração 80 in Brazil.

In this pictorial clash, colors, shapes, motifs and a whole series of intentions for paintings are mixed. However on looking more calmly, we see that all this excess has as its starting point a primary interest: gesture. All paintings and watercolors are like studies of the numerous possibilities of this simple motion that is repeated, overlapped, potentialized, wiped out and transformed into another. The gesture may be used to give outlines to shapes and is also responsible for blurring boundaries established inside the painting between two color fields. Viewed side by side, these paintings bring out these traits, these gestures, as studies on the possibilities of the practice of painting. It is as if with each movement the artist seemed to be asking: “How far can a trace or a gesture go? How long may it be stretched?”

We then see that there is just one rule of the game: a trace is enough.Fernanda Lopes

Rio de Janeiro, May 2012 1 Interview with Frederico Morais. O Globo, Rio de Janeiro, May 31, 1982.2 BRITO, Ronaldo. “Paroxismos de pintura”. [Paroxysms of Painting] In: GUINLE, Jorge. Jorge Guinle. São Paulo: Galeria Luisa Strina, 1984. pp [3-6]

Renata Egreja Ipaussu, Brasil [Brazil], 1984

Vive e trabalha em [lives and works in] São Paulo, Brasil [Brazil]

Formação [Education]2010 •Mestrado em Artes Plásticas [Masters Degree in Fine Arts]. École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, Paris, França [France].2008 •Artes Plásticas [Fine Arts]. École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, Paris, França [France]; Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil]

Exposições Individuais [Solo Exhibitions]2012 •A Regra do Jogo. Zipper Galeria, São Paulo, Brasil [Brazil]; Museu Histórico de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil [Brazil] •Um Traço Basta. Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil [Brazil]2011 •Museu de Arte de Goiânia, Brasil [Brazil] •A Pintura É Uma Festa, Mas Não se Perca na Purpurina. Museu de Arte Contemporânea, Jataí, Brasil [Brazil]2010 •A Pintura É Uma Festa, Mas Não se Perca na Purpurina. Investart, São Paulo, Brasil [Brazil] •Diplome National Superieure des Beaux-Arts de Paris. Atelier D. Gauthier, Paris, França [France]2008 •A Pintura Peregrina. Atelier D. Gauthier, Paris, França [France]

Exposições Coletivas [Group Exhibitions]2011 •Os Primeiros 10 Anos. Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil [Brazil] •18º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande. Palácio das Artes, Praia Grande, Brasil [Brazil] •36º Salão de Arte de Ribeirão Preto. Museu de Arte de Ribeirão Preto, Brasil [Brazil]2010 •Programa de Exposições do Museu de Arte de Ribeirão Preto. Casa da Cultura, Ribeirão Preto, Brasil [Brazil]•Expo Jeunes Talents. Université Paris-Dauphine, Paris, França [France] •Galerie Droite, Palais des Études, École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, Paris, França [France]2009 •40º Chapel Art Show. Chapel School, São Paulo, Brasil [Brazil]2008 •Salon DArt Realités Nouvelles. Parc Floral, Paris, França [France] •Entretiras. Círculo 3, São Paulo, Brasil [Brazil]2007 •38ª Anual de Artes da FAAP. Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil] •Atelier D. Gauthier. Galerie Gauche, Paris, França [France]

Prêmios [Awards]2011 •Menção Honrosa [Honorable Mention]. 18º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande. Palácio das Artes, Praia Grande, Brasil [Brazil]2010 •Expo Jeunes Talents. Paris Dauphine, Paris, França [France]2007 •38ª Anual de Artes da FAAP. Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil]

Beatriz, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]180 x 140 cm [70.8 x 55.1 in]

Nikki, 2011caneta hidrográfica sobre papel [felt-tip pen on paper]20 x 12 cm [8 x 5 in]

As Piores Intenções, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]

200 x 200 cm [78.7 x 78.7 in]

A Regra do Jogo, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]

180 x 180 cm [70.8 x 70.8 in]

Encarnação, 2012aquarela sobre papel [watercolor on paper]

56 x 76 cm [22 x 30 in]

Chumaço Efervescente, 2012aquarela sobre papel [watercolor on paper]

56 x 76 cm [22 x 30 in]

As Cinco Intenções, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]180 x 150 cm [70.8 x 59 in]

A Hereditariedade Astral, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]

150 x 150 cm [59 x 59 in]

Pia, 2012aquarela sobre papel [watercolor on paper]

56 x 76 cm [22 x 30 in]

Alpinia da Gia, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]200 x 150 cm [78.7 x 59 in]

Ponto 1/Ponto 2, 2012aquarela sobre papel [watercolor on paper]

56 x 76 cm [22 x 30 in]

Tristan, 2012acrílica sobre tela [acrylic on canvas]

140 x 120 cm [55.1 x 47.2 in]

OPI 190, 2011acrílica sobre tela [acrylic on canvas]180 x 180 cm [70.8 x 70.8 in]

É Inútil Resistir Tanto à Morte Quanto ao Amor, 2012acrílica sobre tela [acrylic on canvas]

140 x 120 cm [55.1 x 47.2 in]

A Tanga da Sereia, 2011aquarela sobre papel [watercolor on paper]

56 x 76 cm [22 x 30 in]

Realização I Accomplished by

Impressão I Printed by

Projeto Gráfico l Graphic Design

Fotos | Photos byclaus lehmann

© maio 2012

A Regra do Jogo, 2011aquarela sobre papel [watercolor on paper]56 x 76 cm [22 x 30 in]

Volcano, 2011aquarela sobre papel [watercolor on paper]56 x 76 cm [22 x 30 in]

I Love You too, 2011aquarela sobre papel [watercolor on paper]56 x 76 cm [22 x 30 in]

I Love You, 2011aquarela sobre papel [watercolor on paper]56 x 76 cm [22 x 30 in]

Acredite na Humanidade, 2010caneta hidrográfica sobre papel [felt-tip pen on paper]23 x 32 cm [9 x 12.5 in]